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3. TRANSFORMAR 50
AS PRESTAÇÕES
SOCIAIS PARA
COMBATER A POBREZA
E O PRECONCEITO
4. UMA MUDANÇA 54
NA POLÍTICA
DE CUIDADOS:
O SERVIÇO NACIONAL
DE CUIDADOS
4
6. DEMOCRATIZAR 70 7. ADAPTAÇÃO 77 C/UMA 92
A ENERGIA PARA DA PRODUÇÃO ECONOMIA
RESPONDER ÀS E DO TERRITÓRIO PELA
ALTERAÇÕES ÀS ALTERAÇÕES IGUALDADE
CLIMÁTICAS E À CLIMÁTICAS
POBREZA ENERGÉTICA 7.1. Proteger a 77 8. RESPONDER 96
6.1. Mais eletricidade 70 biodiversidade e a natureza À EMERGÊNCIA
renovável 7.2. Reconversão industrial 78 NA HABITAÇÃO
6.2. Produção solar 72 para redução de emissões 8.1. Uma política para a 96
descentralizada baseada 7.3. Transformar a 79 habitação
no autoconsumo agricultura e a floresta 8.1.1. 100 mil novos fogos 99
partilhado 7.3.1. Responder aos 79 de habitação pública
6.3. Programa para a 72 incêndios florestais 8.1.2. Recuperar e 101
eficiência energética na 7.3.2. Limitar a produção 80 construir 50 mil fogos
habitação intensiva e superintensiva e para habitação com renda
6.4. Descer a fatura, 74 reduzir os seus impactos condicionada/apoiada
eliminar rendas excessivas 7.3.3. Promover a produção 82 8.1.3. Fechar a porta aos 101
e erradicar a pobreza agroflorestal extensiva e fundos imobiliários
energética multifuncional 8.1.4. Eliminar a Lei 102
6.4.1. Cortar os “lucros 74 7.3.4. Promover políticas 83 Cristas: uma nova lei do
caídos do céu” de territorialização da arrendamento
6.4.2. Novo modelo de 74 produção e do consumo em
mercado elétrico proximidade 9. MEDIDAS FISCAIS 103
6.4.3. Eliminar as rendas 75 7.3.5. Promover o trabalho 84 PARA COMBATER
excessivas profissionalizado e com ABUSOS E PROMOVER
6.4.4. Descida do IVA 75 direitos A IGUALDADE
da eletricidade e do gás 7.4. Defender a água 85 9.1. Justiça e 103
para 6% como recurso ecológico, progressividade fiscal
6.4.5. Consumo mínimo 76 económico e social 9.2. Tributação das 105
garantido nos três meses 7.5. Redução do plástico e 87 grandes empresas e
de inverno eliminação do uso único atividades especulativas
6.5. Criação do 76 7.6. Responder pelos 9.3. Combate à evasão 110
comercializador municipal trabalhadores do mar e pela 88 e à despesa fiscal
de energia biodiversidade marinha injustificada
6.6. Criação do Ministério 76 7.6.1. Proteger a
da Ação Climática biodiversidade marinha 88
7.6.2. Garantir a
sustentabilidade das pescas 89
7.6.3. Combater a
precariedade e proteger os 90
trabalhadores do mar
5
10. RECUPERAR 113 12. GARANTIR A 129 D/A 142
O CONTROLE DE SUSTENTABILIDADE CAPACIDADE
SETORES LUCRATIVOS DAS CONTAS PÚBLICAS ESTRATÉGICA
E ESTRATÉGICOS 12.1. Reduzir a despesa 129 DOS SERVIÇOS
10.1. Uma banca pública 113 em juros da dívida PÚBLICOS
estratégica soberana
10.2. Um programa para a 120 12.2. A dívida detida pelo 133 14. VALORIZAR OS 146
legislatura BCE SERVIÇOS PÚBLICOS
10.2.1. ANA 120 12.3. A negociação das 134 14.1. Ampliar a capacidade 146
10.2.2. CTT 121 regras europeias para o profissional nos serviços
10.2.3. REN 123 défice públicos
10.3. Renacionalização da 123 12.4. Estimular a 134 14.2. Valorizar os 147
EDP e da GALP, objetivos poupança interna trabalhadores e
de soberania económica trabalhadoras da
10.4. Participação 123 13. A DEMOCRACIA 134 Administração Pública
democrática dos CONTRA A CORRUPÇÃO
trabalhadores nas E O CRIME ECONÓMICO 15. ESCOLA PÚBLICA, 148
empresas 13.1. Um combate eficaz 134 PILAR DE IGUALDADE
à corrupção e o crime 15.1. Uma escola inclusiva, 148
11. INVESTIR NA 124 económico moderna e democrática
COESÃO TERRITORIAL 13.2. Tolerância zero aos 137 15.2. Uma proposta para 152
11.1. Serviços públicos e 124 offshores a sustentabilidade da
democracia 13.3. A tecnologia 140 escola pública
11.2. Regiões Autónomas: 126 ao serviço do crime 15.3. Um programa 156
solidariedade e económico de requalificação das
democracia escolas públicas
15.4. Uma rede pública de 156
creches
6
17. O DIREITO À 160 E/UMA 172 F/GARANTIR 210
CULTURA, ÀS ARTES E SOCIEDADE LÁ FORA O QUE
AO PATRIMÓNIO JUSTA, QUEREMOS
PROGRESSISTA CÁ DENTRO
18. ENSINO SUPERIOR 165 E INCLUSIVA
E INVESTIGAÇÃO 26. UMA POLÍTICA 214
CIENTÍFICA 20. UM PAÍS FEMINISTA 174 EUROPEIA PARA
18.1. Por uma política de 166 DEFENDER O PAÍS
investimento público 21. NÃO DAR TRÉGUAS 183
no Ensino Superior e na AOS PRECONCEITOS E 27. UMA POLÍTICA 216
Ciência À DISCRIMINAÇÃO EXTERNA PARA
18.2. Democratizar as 166 21.1. Combater o racismo 183 DEFENDER A
Instituições de Ensino estrutural DEMOCRACIA E OS
Superior, combater 21.2. Um novo ciclo de 188 DIREITOS HUMANOS
a mercantilização e políticas para a imigração
reverter a precariedade 21.3. Afirmar direitos 191
18.3. Desenvolvimento 170 contra a homofobia e a
científico ao serviço do transfobia
interesse público 21.4. Uma política 193
responsável para as
19. SERVIÇOS 170 drogas, os consumos e o
PÚBLICOS JUNTO álcool
DAS COMUNIDADES 21.5. Despenalizar a 195
EMIGRANTES morte assistida
PORTUGUESAS
22. DIREITOS DAS 195
PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
INTRODUÇÃO
A esquerda
tem programa
COMPROMISSOS CLAROS:
TRAVAR DEVASTAÇÃO DO SNS,
RECUPERAR SALÁRIO MÉDIO,
JUSTIÇA PARA
QUEM TRABALHOU
2022
2026
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A esquerda
tem programa
O
Bloco de Esquerda política do ressentimento fará
apresenta-se às o seu caminho. O Bloco é a
eleições de 2022 com esquerda que não fica à espera.
um programa que traduz o
nosso percurso de luta por uma Razões fortes pela
sociedade mais igual, mais livre e transformação do país
mais inclusiva e que é atualizado A política dos pequenos passos
pela experiência recente: o e recuos não será capaz de
balanço do ciclo de austeridade, responder a nenhuma das
da posterior recuperação e urgências e das grandes crises
da legislatura que agora foi dos nossos dias. A crise climática
interrompida, marcada pela exige uma transformação na
estagnação nas principais áreas energia, nos transportes e nos
da vida nacional. Em particular, modos de produção e obriga
face aos efeitos económico- à adaptação do território. O
sociais da crise Covid, revelaram- Bloco propõe metas e avanços
se graves vulnerabilidades claros para a transição climática,
sociais, do mundo do trabalho concretizando e aprofundando
e dos serviços públicos e, a recentemente aprovada Lei
com elas, a permanência de do Clima, e medidas de justiça
impasses políticos que impedem social para a transição climática,
transformações necessárias. À com combate às rendas do setor
saída do momento pandémico, elétrico, empregos para o clima,
a esquerda é responsável a participação da população
por apresentar o seu projeto na construção das soluções, o
transformador, condição de combate à crescente litoralização
abertura de perspetivas e do país e promoção da coesão
mobilização, sem a qual só a territorial.
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Foto / Ana Mendes
A ESQUERDA PROGRAMA ELEITORAL
TEM PROGRAMA BLOCO DE ESQUERDA
É o reforço da esquerda
que trava a derrapagem
para o pântano político
e para a estagnação
social, e que impõe
compromissos claros que
defendem o país.
A crise da habitação, que apenas médicos, enfermeiros, técnicos
se aprofundou durante a crise e demais trabalhadores exige
pandémica, exige medidas carreiras dignas e a dedicação
de combate determinado à ao serviço público. O Bloco
especulação, uma nova lei do afirma o seu compromisso com
arrendamento e a limitação do a concretização da Lei de Bases
valor das rendas, bem como a da Saúde, no sentido da proposta
construção de parque público de Arnaut e Semedo e não aceita
de habitação, que não se limite à o adiamento dos investimentos
resposta social urgente e garanta fundamentais no SNS. Outros
preços justos na habitação em todo serviços públicos, desde logo
o território. A crise dos salários, a Escola Pública, estão em
com congelamentos com mais situação de rutura. Se nada dos cuidados. Não há oferta
de uma década e desvalorização for feito, e rapidamente, a falta suficiente de estruturas
até dos salários das profissões de profissionais da Educação residenciais, lares ou outras
que exigem mais qualificações, como professores e professoras, respostas qualificadas para
não se ultrapassará sem a educadores e educadoras, bem pessoas idosas e dependentes,
coragem de enfrentar o patronato: como técnicos especializados, o apoio domiciliário é muito
subida do salário mínimo que psicólogos e assistentes limitado, faltam creches e floresce
tire da pobreza quem trabalha operacionais, abrirá a mais grave o negócio privado. É um erro a
e novas leis do trabalho para crise neste serviço público externalização de toda a resposta
combater a precariedade, forçar o essencial. O Bloco apresenta uma social; o Estado tem obrigação
descongelamento dos salários e a proposta para a sustentabilidade de cuidar. Propomos a criação
subida do salário médio. da Escola Pública e um programa de um Serviço Nacional de
O Serviço Nacional de Saúde, para ampliar os serviços públicos Cuidados, com tutela articulada
pressionado pela pandemia e valorizar os seus trabalhadores. da área da segurança social, da
e pela predação do negócio Aprendemos com a pandemia saúde e da educação, que inclua
privado, não sobreviverá sem e as tantas crises que esta estruturas residenciais, como
os seus profissionais. Fixar tornou visíveis, como a crise lares e residências partilhadas ou
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A ESQUERDA PROGRAMA ELEITORAL
TEM PROGRAMA BLOCO DE ESQUERDA
1.
maioria absoluta, fosse ela imposta maiorias absolutas como as que
através da chantagem sobre viveu com Cavaco Silva ou José
os partidos de esquerda (que Sócrates. E sabe que uma viragem
acabou por falhar) ou por via de para um bloco central acordado
uma crise política que conduziu formal ou informalmente, só O primeiro é impedir a
a eleições. Esta estratégia traduz pode traduzir-se num regresso desagregação do Serviço
a recusa consistente de medidas à agenda privatizadora, de Nacional de Saúde. O Partido
sociais elementares e propostas degradação dos serviços públicos Socialista governou o SNS
orçamentais que a esquerda vem e de desproteção das pessoas, com uma política de desgaste,
colocando, em respeito pelo seu no trabalho e na pobreza. É o que prolongou a situação de
próprio mandato, como condição reforço da esquerda que trava insuficiência e sobrecarga deixada
de aprovação dos Orçamentos do a derrapagem para o pântano pelo governo. O subinvestimento,
Estado. político e para a estagnação social aliado ao aumento da pressão
Se a maioria absoluta é o plano e que impõe compromissos claros privada sobre os quadros do
A do PS, o seu plano B parece que defendem o país. SNS e à sua exaustão pelo longo
ser um bloco central, formal esforço na resposta à pandemia,
ou informal, como já enunciou Compromissos claros: travar a exige medidas de efeito real, tanto
explicitamente. Essa deriva indica devastação do SNS, recuperar na disponibilidade de efetivos
que, para se manter no poder e o salário médio, justiça para médicos, de enfermagem e outros,
continuar a bloquear as respostas quem trabalhou mas também hospitalares e de
necessárias à drenagem do SNS Assente nas razões fortes do equipamentos. O adiamento dessa
pelos privados ou à estagnação seu programa, o Bloco assume resposta está a atribuir ao negócio
salarial, António Costa estará a abertura de sempre para privado, que faltou à chamada
disponível a sentar-se à mesa compromissos claros na proteção no pior momento da Covid, o
com Rui Rio para entendimentos das pessoas contra a estagnação. mais imerecido dos prémios: a
cujas consequências na vida das Em particular, o Bloco assume substituição do SNS junto de
pessoas só depois de janeiro se objetivos em torno dos quais setores sociais alargados na
poderá conhecer. contribuirá para formar maioria no prestação de um amplo espectro
O país conhece os perigos de Parlamento. de serviços.
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PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
Aprender
com a Crise
Pandémica
e Responder
pelo País
RECUPERAR OS RENDIMENTOS
DO TRABALHO E COMBATER
A PRECARIEDADE
SALVAR O SNS
TRANSFORMAR
AS PRESTAÇÕES SOCIAIS PARA
COMBATER A POBREZA E O
PRECONCEITO
/ 17
A
O problema
pandemia expôs a falta
de profissionais no
Serviço Nacional de
PRR: um A resposta à crise pandémica
através do Plano de Recuperação
Saúde, a pobreza entre tantos instrumento e Resiliência tardou. Meses
pensionistas, as respostas de propaganda sobre a
insuficientes e degradantes nos importante, chamada bazuca europeia
equipamentos sociais de apoio a
idosos e dependentes, o alastrar
mas limitado culminaram na apresentação
de um plano de recuperação
dos vínculos precários e a prisão e resiliência mais restrito que
dos salários baixos. Esta é a o inicialmente anunciado, e
forma da crise que vivemos em sujeito a condicionalismos e
2022: pobreza no emprego e nos contrapartidas.
salários e pensões, desgaste dos A dimensão do PRR, distribuído
nossos bens comuns, como o pelos anos em que poderá
acesso a médico de família ou ser aplicado, representa
a qualidade dos serviços dos menos de 1,3% do PIB
centros de saúde e hospitais, e português, distribuído a conta-
a insuficiência das respostas do
Estado no cuidado a quem mais
precisa.
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A/ APRENDER COM A CRISE PANDÉMICA
E RESPONDER PELO PAÍS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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2. Mantém-se a pobreza
assalariada: continuamos
essa a percentagem em 2009. Já
foi mais de 60%. 5. A criação de emprego tem-se
feito sobretudo em setores
caracterizados pela prática
a ter um em cada 10
trabalhadores abaixo do limiar
de pobreza. De acordo com
4. A desigualdade salarial
atravessa a sociedade e é
também interna às empresas. As
de salários inferiores à média
nacional e com emprego precário,
o que induz a estagnação dos
dados do INE, mais de 9,5% mulheres recebem em média salários médios. De acordo com
da população empregada em cerca de 20% menos que os os dados dos Quadros de Pessoal
2020 era considerada pobre homens, se forem considerados (2019), o salário médio de um
(rendimentos líquidos inferiores não apenas os salários (caso em precário é 300 euros abaixo do
a 540 euros mensais). Por outro que a percentagem é de 14,4%), de um trabalhador com contrato
lado, quase 60% dos pobres mas também prémios, subsídios e efetivo (cerca de 1100€ euros
com mais de 18 anos trabalham. horas extra. Em grandes empresas, versus 800€).
44,1%
43,6%
43,1%
42,3%
41,6%
41,1%
39,0% 39,3%
37,9%
37,0%
1 242,6€
1 155,0€
1 168,6€
1 195,8€
1 185,2€
1286,8€
1325,3€
1 141,2€
1 177,0€
1 211,2€
840,5€
833,0€
846,4€
829,6€
912,0€
837,4€
951,4€
825,1€
877,4€
827,1€
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Contratos permanentes Contratos não permanentes Diferença entre permanentes e não permanentes (%)
Fonte: Quadros de Pessoal de 2019. In GEP/ Relatório sobre a retribuição mínima mensal garantida. Novembro de 2021.
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A/ APRENDER COM A CRISE PANDÉMICA
E RESPONDER PELO PAÍS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
Gráfico 2 / A maior parte da riqueza produzida não vai para 1.1. Aumentar o salário mínimo e o
quem trabalha salário médio
(Evolução do peso relativo das remunerações no PIB.)
Nos últimos anos, o aumento
do salário mínimo nacional tem
50% sido uma política fundamental de
49% recuperação de rendimentos, de
48% dinamização do mercado interno
47% (mais salário significa mais procura)
46% e de introdução de um pouco mais
45% de justiça. O aumento do salário
44% mínimo desmentiu os cenários
43% catastrofistas da direita sobre os
42%
41%
40%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 As propostas
UE Portugal do Bloco
Fonte: INE, Contas Nacionais. In GEP/MTSS, Relatório sobre a retribuição mínima mensal garantida, novembro
de 2021.
650 17
15
600
13
550 11
9
500
7
450 5
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Fonte: Cadernos do Observatório sobre Crises e Alternativas, n.º 14, Centro de Estudos Sociais, outubro de 2019.
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2026
impactos negativos que poderia ter na valorização de salários do atual Código de Trabalho, deve
ter no emprego. Pelo contrário, e de rendimentos do trabalho dar-se prioridade à eliminação
constatou-se a existência de uma uma prioridade. Isso passa pela das regras que foram introduzidas
relação entre o aumento do SMN e valorização do salário mínimo, mas pela direita para produzir a
o aumento do emprego: entre 2015 não só. Para recuperar e valorizar desvalorização salarial e que ainda
e 2021, o aumento de 31,7% no SMN os salários médios é preciso uma permanecem na lei, bem como
foi acompanhado de aumento do estratégia para o emprego que das regras que têm incentivado a
emprego e redução do desemprego. não seja assente em setores de substituição de trabalhadores com
Assim, a trajetória de valorização do trabalho precário e combater de direitos por trabalhadores precários
SMN deve ser reforçada ao longo da forma decisiva a precariedade que com salários mais baixos, por via de
próxima legislatura (ver gráfico 3). produz baixos salários. Para isso, e despedimentos seguidos de recurso
Uma política de esquerda deve sem prejuízo da futura substituição ao outsourcing.
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A/ APRENDER COM A CRISE PANDÉMICA
E RESPONDER PELO PAÍS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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Um quarto dos
trabalhadores têm
trabalho precário,
centenas de milhares Às formas clássicas de
precariedade (contratos a
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A/ APRENDER COM A CRISE PANDÉMICA
E RESPONDER PELO PAÍS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
A vaga de despedimentos
em grandes empresas
e bancos foi um
aproveitamento para
substituir trabalhadores
com direitos por
precários.
de uma plataforma digital e entre enquadrados por acordos de
2 a 4% dos trabalhadores tinha
nas plataformas digitais a sua
empresa, contratação coletiva e
direito a uma carreira, por outros 35 horas
principal (ou única) fonte de
rendimento. O país foi tristemente
ocupados por trabalhadores
externos, em outsourcing,
no privado,
pioneiro na aprovação, pelo
PS, PSD e CDS, da “Lei Uber”,
precários, fora dos instrumentos
de contratação coletiva e com
dever de
que consagrou um modelo de salários mais baixos. Ao mesmo desconexão
intermediários, impedindo a
celebração de contrato entre
tempo que estas empresas
perseguem trabalhadores com
e semana
trabalhadores e plataformas
digitais. Mais recentemente, o
muitos anos de casa, cresce o
número dos outsourcings. Na
de 4 dias?
Bloco apresentou um projeto Altice, a contratação recente
de lei para a criação de um de centenas de trabalhadores
contrato de trabalho por conta para a Intelcia é um exemplo
de outrem com as plataformas dessa estratégia. No Santander,
digitais, obrigando à inclusão dos há hoje mais trabalho e o
trabalhadores de plataforma no banco socorre-se de empresas
Código de Trabalho, garantindo de trabalho temporário para
proteção social e eliminando as colmatar os lugares que
figuras do intermediário. Esse extingue, incluindo funções
passo terá de ser dado. permanentes e essenciais. Esta
Por outro lado, a precarização manobra apoia-se nas alterações
faz-se através do recurso que tornaram os despedimentos
aos despedimentos e ao muito mais baratos, apoia-se
outsourcing. Em 2021, a vaga na norma de amordaçamento
de despedimentos em grandes dos trabalhadores que os
empresas e bancos não impede de, uma vez recebida
teve a ver com dificuldades a compensação, exercerem o
económicas, mas sim com o direito legal de contestarem um
aproveitamento do contexto despedimento ilícito e é ainda
pandémico para substituir facilitada pela passividade das
milhares de postos de trabalho autoridades.
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A experiência portuguesa e que a economia francesa criasse e com uma utilização muitas
internacional relativa à redução 350 mil empregos entre 1997- vezes fraudulenta por parte
do horário de trabalho faculta- 2001, que ela foi acompanhada das empresas) e da “laboração
nos conhecimento suficiente para de uma aceleração dos ganhos contínua” (cujos critérios são
perceber que esta é uma medida de produtividade e que permitiu o totalmente permissivos). São ainda
possível e dá-nos indicações relançamento do diálogo social e necessários sinais fortes, como o
sobre como conduzir um processo uma melhoria na articulação entre que foi dado com a consagração
deste tipo. Se tomássemos como o tempo passado no trabalho e o do dever patronal de desconexão,
referência a experiência francesa tempo consagrado a atividades uma proposta que o Bloco vinha
de 1998, a aplicação das 35 horas pessoais, familiares e associativas. defendendo desde 2017 e que ficou
no setor privado em Portugal Nalguns países, tem vindo a ser consagrada no Código do Trabalho
poderia criar mais de 200 mil testado o modelo de uma semana no final de 2021, suscitando grande
postos de trabalho. É sensato e de 4 dias, reorganizando-se os interesse internacional. Trata-se de
tem de ser feito: mais emprego e tempos de trabalho e os tempos uma disposição original por colocar
mais tempo para viver. sociais. Vários modelos têm estado o ónus da desconexão no patrão e
Em Portugal, a redução para as 40 em cima da mesa, mas uma na empresa e não no trabalhador,
horas, em 1996, permitiu a criação hipótese é a combinação entre a ao contrário das propostas relativas
de 5% de emprego líquido no redução do horário semanal para ao “direito a desligar” noutros
primeiro ano e 3% no segundo. Em 35 horas e a sua concentração países. E é uma norma que vale
França, a aplicação das leis Aubry em 4 dias da semana, libertando para todos os trabalhadores: fora
(a primeira de 1998 e a segunda assim três dias para descanso. do horário de trabalho, é tempo
de 2000) que reduziram o horário No Estado Espanhol decorre um de descanso e a esse tempo de
de trabalho paras as 35 horas, foi projeto piloto para apoiar empresas descanso corresponde um dever
objeto, em 2014, de uma “Comissão que adiram à semana das 32 horas, de abstenção de contactos por
de Inquérito sobre o impacto concentradas em 4 dias. parte da empresa, sob pena
societal, social, económico e A limitação da jornada de trabalho de serem aplicadas contra-
financeiro da redução progressiva faz-se também combatendo os ordenações graves. É uma lei para
do tempo de trabalho”. Essa abusos nas horas extra (muitas contrariar uma verdadeira cultura
Comissão conclui que a redução delas não pagas), o abuso da de “ligação e disponibilidade
do tempo de trabalho decidida figura legal da “isenção de permanente” que existe em alguns
pela lei de 1998 contribuiu para horário” (cada vez mais frequente setores da economia.
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A/ APRENDER COM A CRISE PANDÉMICA
E RESPONDER PELO PAÍS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
As propostas ▶ Relançamento da
contratação coletiva e do
▶ Regularização dos falsos
recibos verdes, com metas
do Bloco sistema coletivo de relações concretas para obrigar à
laborais, garantindo o fim celebração de contrato a dezenas
da caducidade unilateral dos de milhares de trabalhadores
instrumentos de regulação utilizando a Ação Especial de
coletiva de trabalho, a reposição Reconhecimento do Contrato
do tratamento mais favorável ao de Trabalho (a “Lei contra a
trabalhador (para impedir que Precariedade”) e com a inclusão
os contratos coletivos tenham de um critério de exclusão de
normas piores que as da lei empresas com falsos recibos
geral) e o alargamento dos verdes em qualquer contrato com
mecanismos de arbitragem; o Estado;
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iv) possibilidade de quem está sistemáticos; iii) revogando do pai, aumento da licença
em outsourcing optar por ser a norma que impõe que o partilhada, redução de horário
representado pelas organizações recebimento da compensação nos primeiros 3 anos de vida da
da empresa utilizadora do trabalhador vale como criança), e dos direitos de pais e
(nomeadamente poderem eleger presunção de que ele aceita mães de filhos com deficiência,
e ser eleitos para as Comissões o despedimento e não pode doença crónica ou oncológica
de Trabalhadores); v) proibição de contestar a sua licitude; e para acompanhamento de
empresa que extingue posto de pessoa dependente (licenças
trabalho contratar em outsourcing ▶ Reconhecimento de mais para os e as cuidadoras
para funções equivalentes; vi) direitos a quem trabalha informais);
proibição de externalização de por turnos, nomeadamente
funções relativas ao objeto social através de: i) consagração ▶ Aumentar a percentagem
central da empresa; legal da obrigatoriedade de do pagamento do Subsídio
subsídio por turnos; ii) maior de Doença para garantir
▶ Remoção das medidas acompanhamento médico; iii) rendimentos substitutivos dos
da troika da lei laboral: i) definição de pausas e tempos de rendimentos do trabalho no
devolução dos três dias de descanso e fins de semana; iv) período em que os trabalhadores
férias retirados pela direita participação dos trabalhadores se encontram doentes;
(regresso à norma dos 25 e das trabalhadoras na definição
dias, sem depender de das escalas de turnos; v) ▶ Obrigar à celebração de
outro critério); ii) reposição redução dos tempos de trabalho; contratos entre trabalhadores
dos valores do trabalho vi) majoração dos dias de férias; e plataformas digitais, sempre
suplementar e do descanso vii) direito à reforma antecipada que se verifiquem os indícios
compensatório; iv) reposição em proporção do tempo que se de laboralidade adaptados
do valor das compensações trabalhou por turnos; ao trabalho em plataforma,
por despedimento e das regras eliminando também a figura do
anteriores à intervenção da ▶ Reconhecer e enquadrar no intermediário, que foi consagrada
troika, instituindo o princípio Código do Trabalho o trabalho pela “Lei Uber”;
geral de um mês/por cada ano doméstico assalariado
de trabalho prestado (neste e o trabalho profissional ▶ Limitação da utilização
momento, está em 12 dias); associado aos cuidados (apoio abusiva de estágios apoiados
domiciliário, amas de creche pelo IEFP, valorização da sua
▶ Combater os familiar, ajudantes familiares), remuneração e criação da
despedimentos. Além da retoma pondo fim à discriminação que obrigação, pelas empresas, de
das compensações: i) impedindo a lei estabelece e garantindo a integrar pelo menos um em
despedimentos, exceto por mesma proteção social de que cada três estagiários. Reforço
justa causa, em empresas gozam todos os trabalhadores da fiscalização relativa aos
com resultados positivos no por conta de outrem; falsos estágios e à utilização
ano anterior; ii) eliminando o de estágios sucessivos para
despedimento por inadaptação, ▶ Alargar os direitos de ocupar funções permanentes nas
que dá origem a abusos parentalidade (licença inicial empresas.
29
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BLOCO DE ESQUERDA
1.3. Valorizar as pensões e fazer ambos os cortes nas muito longas Quem se reformou com 40 anos
justiça a quem trabalhou carreiras contributivas (com mais de descontos aos 60 ou mais de
Portugal continua a ter pensões de 46 anos de descontos, reforma idade, mas foi penalizado para
muito baixas, resultantes de a partir dos 60 anos sem cortes), toda a vida por tê-lo feito antes
salários baixos e carreiras nas profissões de desgaste rápido da entrada em vigor das atuais
contributivas débeis, uma (deixou de se aplicar qualquer regras em outubro de 2019. A todas
baixa taxa de substituição de dos cortes) e, mais recentemente, essas pessoas ainda se aplicam
rendimentos na velhice (ou seja, para quem aos 60 anos tenha penalizações injustas e que devem
a maioria das pessoas ganha na uma carreira contributiva de mais terminar.
reforma significativamente menos de 15 anos de descontos com
do que os rendimentos que auferia 80% ou mais de incapacidade
enquanto tinha um emprego) e (reforma sem nenhum dos cortes
uma elevada taxa de pobreza entre
os idosos.
para este subgrupo de pessoas
com deficiência ou incapacidade).
Acabar
Ao mesmo tempo que a idade
da reforma tem vindo a aumentar
Além disso, foi eliminado o fator
de sustentabilidade para quem,
com a dupla
devido às regras que a vinculam aos 60 anos, tenha 40 ou mais penalização
à esperança média de vida (até
2013, a idade legal da reforma
anos de descontos (neste caso,
mantendo o “fator de redução”) e
nas pensões
era fixa: 65 anos; em 2022 será
de 66 anos e 7 meses); o regime
foi criada uma “idade pessoal de
reforma” (reduz-se a idade legal da
é possível e
das reformas antecipadas é de reforma em 4 meses por cada ano sustentável
grande complexidade, com uma de desconto acima dos 40 anos de
miríade de regras diferenciadas, contribuições), à qual não se aplica
algumas das quais provocam nenhum dos cortes, nem fator
legítimas apreensões e grandes de sustentabilidade nem fator de
injustiças relativas que acabam redução.
por descredibilizar o sistema. Se a Restam, contudo, grupos de
regra é que a reforma antecipada trabalhadores a quem continuam
acontece apenas a partir dos 60 a aplicar-se duplos cortes
anos, e é sujeita a dois cortes - o injustificados. Quem começou a
“fator de sustentabilidade” (corte trabalhar criança e se reformou
de 15,5% em 2021) e o “fator de com 46 anos de descontos, hoje
redução” (corte de 0,5% por cada não sofreria qualquer penalização,
mês que falta até à idade legal) mas como pediu a sua pensão
- o facto é que a maioria das antes de 2018, continuará a sofrer,
pensões antecipadas requeridas toda a vida, um duplo corte na
já não se encontra abrangida por pensão. Quem se reformou através
estas regras, enquadrando-se em do regime de desemprego de longa
regimes especiais. Esses regimes duração. Quem teve pensões de
resultam de decisões tomadas desgaste rápido entre 2014 e 2018
entre 2017 e 2020, nomeadamente (antes disso, e depois, corte de
no que diz respeito à eliminação de “sustentabilidade” não se aplica).
30
2022
2026
Quando foi criado em 2008, o “fator de redução” (um corte de Aposentações, estimando na
pelo PS, o chamado “fator de de 6% por cada ano que faltar mesma percentagem (cerca de
sustentabilidade” (FS) aplicava-se para a idade pessoal ou legal de 11% do universo de reformados em
a todas as pensões, porque a idade reforma). Este fator funciona como 2020) e considerando que o valor
da reforma era fixa: 65 anos. O um forte dissuasor das reformas médio mensal destas pensões
chamado “fator de sustentabilidade” antecipadas. Desde 2014, o é mais elevado (1098 euros),
pretendia fazer repercutir o efeito chamado “fator de sustentabilidade” chegamos a um impacto de mais
do aumento da esperança média (adicional ao “fator de redução”) de 5 milhões de euros.
de vida no valor da pensão, porque deixou de ser um elemento Recalcular o valor a 62 mil
o sistema assentava numa idade estruturante do sistema e passou a reformas antecipadas pedidas
legal da reforma fixa. Se a pessoa configurar uma dupla penalização entre 2014 e 2018, que tiveram
quisesse trabalhar para além ilegítima e sem fundamento, mesmo severos cortes que não ocorreriam
dos 65 anos, podia continuar a à luz dos argumentos com que sob as regras atuais, mas que
trabalhar mais uns meses e anulava foi imposto. A mera eliminação permanecem para aquelas pessoas
esse corte. do “fator de sustentabilidade” não perpetuamente, é uma medida
Desde 2013 que não há uma idade elimina o “fator de redução”, não que se aplica a um universo
fixa de reforma, mudando todos mexe na idade móvel da reforma fechado e sempre decrescente, por
os anos. Por outro lado, PSD e nem nas regras de acesso às razões demográficas. Tendo em
CDS alteraram a base a partir pensões antecipadas. conta o valor médio das pensões
da qual se calcula o corte de Aplicada aos pensionistas que antecipadas requeridas nesse
“sustentabilidade”, tomando como requereram a reforma em 2020, a período (que rondará os 500 euros),
referência a diferença com o ano proposta de eliminação do fator de a eliminação deste corte teria um
2000 e não com o ano de 2006, sustentabilidade teria tido como impacto de cerca de 60 milhões,
triplicando o valor do corte. universo 10 mil pessoas. Tendo em descrescendo em cada ano.
Atualmente, os dois grandes conta o valor médio mensal das As duas propostas em conjunto
instrumentos de sustentabilidade pensões da Segurança Social (474 representam, em despesa, menos
do sistema por via do fator euros em 2019), o impacto seria de um terço do valor anual que
demográfico são a “idade móvel de cerca de 11 milhões de euros o adicional do IMI (proposto pelo
de reforma” (que varia em função num ano. Mesmo considerando a Bloco) tem dado de receita à
da esperança média de vida) e aplicação também à Caixa Geral Segurança Social.
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BLOCO DE ESQUERDA
salariais) e os mecanismos de
funcionamento e de financiamento
do próprio sistema (contribuições
Bloco A recuperação de rendimentos
e a criação de emprego permitiu
e diversificação das fontes de
financiamento da segurança
defende e já equilibrar o sistema previdencial
de Segurança Social: a receita
social). Os fatores de desequilíbrio conseguiu de contribuições é hoje superior
da sustentabilidade da Segurança
Social no período da austeridade
reforçar a à despesa com pensões do
sistema previdencial. Mas, além
resultaram das escolhas de
política económica: aumento do
sustentabili- disso, outras propostas do Bloco
têm reforçado a sustentabilidade
desemprego (menos contribuições dade da da Segurança Social trazendo
e mais despesa social),
precariedade (que atira pessoas Segurança mais receita ao sistema.
Só com as receitas que
para fora do sistema), baixos
salários (a que correspondem
Social resultaram do adicional ao IMI
sobre o património de luxo foi
baixas contribuições, incapazes possível reforçar com mais 477
de garantir pensões decentes),
emigração (que levou meio milhão
de pessoas para fora do país
nesse período). As propostas
da direita para a Segurança
Social continuam a ser os cortes viver e maior qualidade de vida.
nas pensões, a compressão da No período entre 2015-2019, foi
proteção social, a descapitalização possível avançar num conjunto
por via de descontos às empresas, de medidas que trouxeram mais
o modelo de baixos salários e a justiça ao sistema de pensões
capitalização de uma parte dos e, simultaneamente, mais fontes
sistemas que deveria migrar para o de financiamento da Segurança
negócio privado. Social, reforçando sobretudo
A recuperação de rendimentos o seu Fundo de Estabilização
e a criação de emprego permitiu Financeira. Mas o equilíbrio
equilibrar o sistema previdencial de do sistema deve passar ainda
Segurança Social. Mas o sistema pelo combate à informalidade e
enfrenta desafios, resultantes precariedade do emprego e pela
nomeadamente das mudanças melhoria dos salários, fatores
da estrutura demográfica e das cruciais para romper o padrão
transformações na estrutura de pensões muito baixas, e pelo
de produção (robotização, aprofundamento da contribuição
aumento de produtividade). Esses das empresas de capital intensivo,
desafios devem ser respondidos não apenas em função do
fazendo reverter os ganhos número de trabalhadores e de
de produtividade e a inovação trabalhadoras, mas também do
tecnológica em mais tempo para seu valor acrescentado líquido.
32
2022
2026
milhões de euros nos últimos e 2021. Com estas medidas, receitas de cerca de 300 milhões
3 anos (2018-2020) o Fundo o esgotamento do Fundo de de euros/ano para a Segurança
de Estabilização Financeira da Estabilização Financeira da Social. Persistimos nessa
Segurança Social. Em 2020, Segurança Social foi adiado em proposta, que será fundamental
foram transferidos 304 milhões quase 20 anos. para o futuro do sistema.
para a segurança social por via Por outro lado, o Bloco A este conjunto de medidas
desta proposta do Bloco que se propôs uma outra forma de corresponde um valor muitíssimo
tornou lei. diversificação das fontes de maior de receita do que toda
Mas não só. O Bloco também financiamento da Segurança a despesa das propostas que
apoiou a consignação de uma Social: uma contribuição de o Bloco apresenta para fazer
parte do IRC à Segurança Social, 0,75% sobre o valor acrescentado mais justiça nas pensões.
o que permitiu reforçar o seu das grandes empresas (que As propostas do Bloco
financiamento com 377 milhões exclui todas as micro, pequenas reforçam a segurança social
de euros em cada ano, ou seja, e médias empresas), o que pública e aprofundam a sua
mais de 1000 milhões entre 2019 representaria um acréscimo de sustentabilidade.
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BLOCO DE ESQUERDA
36
2022
2026
5.8
5.3
4.7 4.8 4.8
4.1 4.1
3.8 3.8 4.0
3.4 3.4 3.4 3.5 3.5 3.6 3.7 3.7 3.7
2.9 2.9 2.9 2.9 3.0 3.1 3.1 3.2
2.5 2.6 2.6 2.7 2.8
2.3 2.4 2.4
2.1 2.3
1.7 1.9 1.9 2.0
1.3
Turquia
Colômbia
Luxemburgo
Eslovénia
França
Nova Zelândia
Polónia
Costa Rica
Eslováquia
República Checa
Países Baixos
Japão
Reino Unido
Irlanda
Islândia
Canadá
EUA
Alemanha
Israel
Austrália
OECD38
Dinamarca
Finlândia
Estónia
Itália
Suécia
Noruega
Espanha
México
Brazil
Áustria
Lituânia
Hungria
Bélgica
Letónia
Rússia
Grécia
Portugal
China
Chile
Coreia
Suiça
estavam previstos 180 milhões foi executado. Em 2021 o cenário Os profissionais continuam a ver
de euros para internalização repetiu-se nesta e noutras áreas, as suas carreiras estagnadas e as
de meios complementares de como na concretização do Plano suas remunerações são das mais
diagnóstico e terapêutica. Nada Nacional de Saúde Mental. baixas da Europa.
6.8
5.4
4.7
3.2 3.7 3.3
2.4 2.8 2.3 2.7 2.1
1.6 1.8
1.2 1.0 1.4 0.9 1.2 1.1 1.3 1.4
0.7 0.7 0.7
GPs Especialistas
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82.1
79.4
67.9 67.4
65.7
58.9 57.7 56.8
56.6 56.4 56.0 55.8
54.6 51.5
48.9 48.1 47.4
42.8 41.4 40.7
40.1 40.0 39.3 39.0 37.9
36.6
32.0 29.4 28.2
27.5 27.3
24.0 23.9 22.8
Luxemburgo
Bélgica
EUA
Austrália
Islândia
Países Baixos
Alemanha
Canadá
Israel
Costa Rica
Noruega
Nova Zelândia
Suiça
Espanha
Irlanda
Chile
OECD34
Reino Unido
Finlândia
França
Japão
Coreia
Eslovénia
Turquia
Itália
Polónia
República Checa
Grécia
México
Estónia
Portugal
Hungria
Letónia
Lituânia
Eslováquia
Gráfico 11 / Gastos do SNS com meios complementares de diagnóstico
Ao mesmo tempo que se
e terapêutica contratados a privados
desinveste nas carreiras do SNS, (em milhões de euros)
aumentam os gastos do Estado
com convenções com o privado
e aumenta a despesa com a
contratação de profissionais
através de empresas de trabalho
temporário. Em 2019, o Estado
financiou 54% da despesa dos 507
hospitais privados e 70% dos
gastos dos laboratórios privados 484,1
473,8
de análises e exames.
Esta recusa tem custos para os 450,1
utentes e para o SNS. Piora-se
439,6
o serviço prestado à população
e desperdiça-se dinheiro que
deveria estar a ser utilizado
para contratar mais profissionais
e investir em equipamentos e
edifícios. 2016 2017 2018 2019 2020
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2022
2026
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possam integrar o SNS, ao não estes anos, o peso do SNS em dos 2% do orçamento do SNS.
revogar o decreto que impõe a percentagem do PIB não passou É necessário contrariar esse
municipalização da saúde ou o dos 5,6% e as verbas dedicadas percurso de enfraquecimento e
decreto que permite a criação de a investimento não foram além delapidação.
novas PPP, o Estatuto do SNS
proposto pelo Governo entra
em conflito com a Lei de Bases
aprovada em 2019. O Estatuto
propõe ainda a criação de uma As propostas ▶ Aumento do orçamento do
SNS em percentagem do PIB,
“direção executiva do SNS”, sem
clarificar métodos de nomeação
do Bloco acabando com o subfinanciamento
crónico e proporcionando margem
alheia a interesses político- para um efetivo investimento;
partidários e sem clarificar o
papel da Administração Central ▶ Criação de um plano
do Sistema de Saúde e das plurianual de investimentos
administrações regionais de saúde. associado a uma carta
Nestas e noutras matérias, o nacional de equipamentos
PS foi um travão, um obstáculo de saúde, com dotação
no caminho que é preciso própria, que permita combater
percorrer. É preciso, por isso, outro a obsolescência tecnológica
compromisso com o SNS e pelo pela renovação e aquisiçãoo
SNS. É esse o compromisso do de novos equipamentos, com
Bloco de Esquerda. especial atenção para meios
A lei de bases da Saúde de complementares de diagnóstico
Semedo e Arnaut deixou as e para as infraestruturas,
sementes necessárias para aumentando assim a capacidade
o SNS do futuro, que seja de resposta do SNS;
verdadeiramente universal,
moderno e de excelência. Agora é ▶ Exclusão do SNS da aplicação
necessário concretizar essa lei e da Lei dos Compromissos;
salvar o SNS.
▶ Desburocratização do SNS
2.4. Um compromisso para e otimização do processo de
salvar o SNS modernização tecnológica
Investimento e financiamento. através da unificação e
O SNS não pode estar simplificação dos sistemas de
constantemente subjugado ao informação, colocando hospitais
subfinanciamento ou à falta e cuidados primários em rede - o
de investimento. Segundo o Processo Clínico Único centrado
Conselho de Finanças Públicas, no cidadão, e investindo em
o défice acumulado do SNS plataformas informáticas para
entre 2014 e 2020 foi de quase profissionais e cidadãos.
3000 milhões de euros. Em todos
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2022
2026
▶ Concretizar a
transformação do Laboratório
Militar num laboratório
nacional de produção de
medicamentos articulado
com a investigação científica
para melhorar o acesso a
medicamentos e produtos de
saúde.
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▶ Captação e contratação de
médicos que não puderam
obter especialidade por
falta de vagas para apoio a
atividades nos Cuidados de
Saúde Primários e posterior
lançamento de concurso
extraordinário para a sua
especialização em Medicina
Geral e Familiar;
▶ Estabelecimento de um
enfermeiro de referência para
cada família e da revisão
do quadro de competências
e atribuições destes
profissionais, permitindo
libertar médicos de família
de algumas funções que
42
2022
2026
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▶ Lançamento de um concurso
extraordinário para formação
médica especializada em saúde
pública destinado às centenas
de médicos recém-licenciados
que nos últimos anos têm sido
impedidos de frequentar formação
especializada;
▶ Reconhecimento da profissão
de epidemiologista;
▶ Retirada da realização de
juntas médicas da alçada das
unidades de saúde pública,
criando uma resposta específica
para este efeito, e automatizando
o acesso a atestado multiuso
para patologias ou situações
clínicas consideradas altamente
incapacitantes, conforme matriz a
definir pela DGS.
44
2022
2026
O país precisa de
recuperar os cuidados
adiados pela emergência
Gestão pública. Para que a
saúde não seja um negócio, é sanitária, reforçar as
preciso dotar o SNS de todos
os recursos e meios de que respostas à população
necessita, mas também de um
modelo de gestão pública que e responder aos
respeite a sua missão. Para isso
é necessário ultrapassar a lógica
empresarial hoje dominante.
profissionais de saúde.
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2022
2026
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▶ Desenvolvimento de respostas
na área dos Cuidados
Continuados em Saúde Mental
e na área da Autonomização
e Reabilitação Psicossocial da
pessoa com doença mental,
garantindo a inserção na
comunidade e o acesso a uma
vida ativa e autónoma.
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As propostas
do Bloco
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4. UMA MUDANÇA NA a taxa de risco de pobreza deste pública. Por outro lado, a
POLÍTICA DE CUIDADOS: grupo geracional, sendo que as escassez de cuidados formais
O SERVIÇO NACIONAL DE mulheres se encontram entre as não é sequer compensada com
CUIDADOS mais atingidas por este flagelo. o reconhecimento do cuidado
A pandemia expôs as várias O nosso país tem, além disso, uma informal e com transferências
dimensões da “crise de cuidados” escassa taxa de cuidados formais: sociais para as famílias: o estatuto
que vivemos. A provisão de menos de 13% dos idosos têm do cuidador informal tem vindo a
cuidados sociais continua a acesso a apoio de profissionais, ser boicotado pelo Governo e não
assentar, em grande medida, seja apoio domiciliário, seja abrange mais do que 900 pessoas
nas famílias e, dentro destas, a apoio institucional (centros de em todo o país, as prestações por
sobrecarregar as mulheres no dia e lares). A rede de cuidados dependência oscilam entre os 105
cuidado de crianças, idosos e continuados não tem mais de 15 e os 190 euros mensais.
pessoas dependentes. mil vagas, num país em que as O modelo de cuidados que temos
Portugal é um dos países mais necessidades ultrapassam muito é injusto, promove a desigualdade
envelhecidos do mundo. No ano a oferta. A despesa pública em e a divisão sexual do trabalho
de 2020, 23% da sua população cuidados de longa duração é e assenta na externalização e
tinha mais de 65 anos de idade, o irrisória: 0,4% do PIB, quando em na precariedade. As respostas
que torna mais urgente a adoção países do norte da Europa, por para a infância, para a velhice
de políticas públicas eficazes a exemplo, é dez vezes mais. 37% e para a dependência são
enfrentar o combate ao isolamento dos mais de 100 mil lugares em protagonizadas pelo setor social
e solidão, bem como a diminuir creche não têm comparticipação privado, financiado por acordos
de cooperação com a Segurança
Social (cerca de 1500 milhões de
euros por ano) e tem vindo a ser
paradigmática. Essa
de respostas para a velhice e a
dependência ou de uma bolsa
transformação no modo
pública de ajudantes familiares
ou assistentes pessoais. Nos
de organizar os cuidados
cuidados continuados, só 2%
da oferta é pública. Em algumas
dimensões: culturais,
parte comparticipada pelo Estado.
Entre as profissionais de cuidados
laborais e económicas.
e do serviço doméstico (em
ambos os casos, cerca de 90%
tempos.
área dos cuidados é das que
mais tem criado emprego, mas
num modelo precário. Ao mesmo
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PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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2022
2026
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PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
Um Programa
de Investimentos
para Responder
à Crise Climática
TRANSPORTES PÚBLICOS
PARA TODA A GENTE
DEMOCRATIZAR A ENERGIA
PARA RESPONDER ÀS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E À
POBREZA ENERGÉTICA
ADAPTAÇÃO DA PRODUÇÃO
E DO TERRITÓRIO ÀS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
2022
2026
/ 59
Um programa
de investimentos
para responder
à crise climática
D
O problema o apoio aos países mais pobres
esde que as Nações continuam subjugados ao lóbi
Unidas reconheceram a das indústrias poluentes, à
existência de alterações hipocrisia do “capitalismo verde”
climáticas, nos anos 70, as e ao egoísmo de quem não quer
emissões mundiais praticamente abdicar do seu privilégio.
duplicaram. Em 2015, o Acordo O acordo para travar a
de Paris estabeleceu um desflorestação até 2030
compromisso: a contenção do celebrado na COP26 é o seu
aumento da temperatura global melhor retrato: não é vinculativo
para que não ultrapasse 2.ºC até e vem substituir um outro que
2100, o que requer a redução para tinha 2020 como a data para o fim
metade das emissões de gases da desflorestação. A cimeira do
poluentes até 2030. A ciência clima mostra que o capitalismo
declara-o e a ONU confirma-o: é incapaz de encontrar soluções
o tempo das declarações de para a crise climática que criou.
intenções acabou. Apesar disso, A crise climática agravou-se
a 26ª cimeira global sobre o enquanto os governos mais
clima (COP26), que se seguiu ao poderosos lutam pelas indústrias
relatório internacional que assume poluentes, protegiam a finança
o aquecimento global como predatória e ignoravam os
consequência da ação humana alertas dos cientistas. Essa
e em aceleração, foi incapaz de irresponsabilidade voltou a impor-
avanços efetivos. No momento de se: mesmo se cumpridos os
todas as decisões, os governos objetivos definidos na COP26 (e
mundiais falham aos povos: não são imperativos) a subida
os compromissos necessários da temperatura média poderá
para a descarbonização e para duplicar o objetivo limite de 1,5ºC.
60
2022
2026
61
Foto / Ana Mendes
B/ UM PROGRAMA DE INVESTIMENTOS
PARA RESPONDER À CRISE CLIMÁTICA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
Reafirmamos o nosso
programa assente em
políticas de investimento
A solução
Perante este cenário, Portugal
público e de justiça
não pode arrastar o passo ou
ceder à tentação de imputar a
emergência climática.
tem que ser sistémica e justa.
Para a emergência climática, o
Bloco de Esquerda reafirma o seu
programa assente em políticas de
investimento público e de justiça
social.
Portugal tem de cumprir a
sua parte. Apresentamos os do transporte público, ferroviário e o combate à produção de
seguintes eixos fundamentais e rodoviário; a adaptação plásticos descartáveis e de uso
para uma transição energética territorial e produtiva às único; a aceleração da transição
que previna a catástrofe alterações climáticas, com uma para as energias renováveis,
e defenda as pessoas: o nova política agrícola e florestal, com foco na produção solar
desenvolvimento e eletrificação a proteção dos recursos hídricos descentralizada.
62
2022
67 mil 101 mil
2026
(A8) (A1)
Mafra
V. F. Xira
Loures
67 mil
Sintra 17 mil
(IC19)
(IC17)
5. TRANSPORTES PÚBLICOS
Alcochete
PARA TODA A GENTE 80 mil (A5) Lisboa
A repartição modal das
Montijo
deslocações em Portugal é 31 mil
desequilibrada face à média
Cascais
Barreiro (A12)
da UE27. Segundo dados da
Comissão Europeia (Statistical Seixal
Pocket Book 2021), em 2019,
87% dos passageiros por Km
utilizaram transporte rodoviário
73 mil
individual, 7% recorreram ao (A2)
Setúbal
transporte público rodoviário, 5%
utilizaram o comboio e apenas
1% o Metro ou o Metro Ligeiro
de Superfície. Em contrapartida,
na UE27, a repartição modal
dos passageiros por Km foi,
respetivamente, 82% para o
transporte individual, 9% para o
transporte público rodoviário, 8% Gráfico 13 / Por onde entram os carros em Lisboa
para a ferrovia e 2% para o Metro.
Fonte: Expresso “Saiba por onde entram 370 mil carros todos os dias em Lisboa”
Esta repartição modal, como
uma grande predominância do
automóvel, tanto na UE como
em Portugal, está associada uma
relevância maior dos transportes
e, nesses, do transporte
rodoviário individual, no total das A estratégia de favorecimento percentagem mais de 10 p.p.
emissões de CO2. Em 2019, em do automóvel individual é superior à registada nos
Portugal, 41% das emissões de especialmente visível nas maiores Censos de 2001. Segundo
CO2 tiveram origem no setor dos áreas urbanas, de onde entram um estudo da Câmara
transportes, 30% na indústria e saem milhares de veículos Municipal de Lisboa
da produção de Energia, 21% diariamente. Segundo os Censos de 2018, cerca de 370
na Indústria Transformadora, de 2011, a população da Grande mil carros entravam
3,1% no setor residencial e 4,3% Lisboa gastava em média 52 todos os dias em
serviços/agricultura. Na UE27, minutos a deslocar-se entre casa Lisboa, além dos
a repartição das emissões de e o local de trabalho ou estudo, 160 mil que já estavam
CO2 por setor apontava para sendo o valor correspondente na cidade. As implicações
32,6% nos transportes, 30,3% para o Grande Porto de 42 em termos de emissões
na Energia, 21,2% na Indústria minutos. Em Lisboa, 54% desta de CO2, poluição diversa e
Transformadora, 9,2% no população usava o automóvel desperdício de tempo são
Residencial e 6,4% nos serviços/ como o meio de transporte muito consideráveis (ver
agricultura. para estas deslocações, uma gráfico 13).
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B/ UM PROGRAMA DE INVESTIMENTOS
PARA RESPONDER À CRISE CLIMÁTICA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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2026
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PARA RESPONDER À CRISE CLIMÁTICA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
Privados à entrada da
cidade em sistema de park
and ride;
▶ Extensão da Linha
Verde entre Telheiras - Av.
Nações Unidas - Bairro
As propostas ▶ Expansão do Metro Sul do
Tejo às fases de desenvolvimento
Padre Cruz - Pontinha,
num total de 3 km.
do Bloco já previstas (Seixal, Barreiro,
Moita) e posterior prolongamento
a Montijo e Alcochete, num total
▶ Porto: alargamento segundo de 40 km;
as linhas previstas no plano de
expansão de 2007: nova linha ▶ Três novas linhas semi-
rosa para a zona ocidental do circulares na Margem norte
Porto/Matosinhos, expansão para veículos ferroviários ligeiros
para Gondomar e Vila d’Este de superfície, de modo a cobrir
(esta última em curso). ligações transversais a norte da
AML:
▶ Renovação e ampliação em
20% da frota de autocarros ▶ Circular Regional Exterior
da Carris (Lisboa) e da STCP de Lisboa, ligando à superfície
(Porto) numa legislatura, o corredor Algés/Est.CP -
contrariando a opção pela Carnaxide - Amadora - Odivelas
aquisição de veículos a diesel - Loures - Sacavém - Gare do
e gás natural, com a aposta Oriente, num total de 30 km;
nos veículos elétricos. A opção
por autocarros elétricos é ▶ Linha de Metro Ligeiro
vantajosa face ao diesel em de Superfície no traçado
cerca de 300 mil euros por do antigo SATU em Oeiras
unidade. Esta redução de custos ligando transversalmente as
pode ultrapassar os 50% com linhas de Cascais e de Sintra
a incorporação dos fundos (Oeiras - Tagus Park - Lagoas
POSEUR; Park - Cacém), num total de
17km;
▶ Construção de novos silos
de estacionamento (10 na ▶ Ligação das linhas de
Grande Lisboa e 7 no Grande Cascais a Sintra ao longo
Porto) nas zonas de confluência do corredor da EN9 e com
com os transportes suburbanos. extensão posterior à Linha
do Oeste na estação CP Mira
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5.3. Transformar a mobilidade em destino fora dessas áreas. Essa CIM (15% do total do PART) foi
todo o território, sem exclusões realidade não foi abrangida pelo diminuto como os critérios de
Um terço das deslocações pen- Plano de Apoio à Redução Tari- financiamento dos sistemas de
dulares nas áreas metropolitanas fária (PART), que continua a não transportes públicos não respeita-
de Lisboa e do Porto têm origem/ incluir o transporte inter-regional ram a equidade entre territórios e
rodoviário e ferroviário com as populações.
regiões metropolitanas ou entre No Orçamento do Estado para
Comunidades Inter-Municipais 2022, o Governo incluiu uma
Sintra/Meleças, num total (CIM), preterindo quem se deslo- diminuição de verba a alocar ao
de 25 km. ca em torno de cidades de média PART, menos 60 milhões face a
dimensão, do litoral ou do interior. 2021 (198,5 milhões de euros em
▶ Criação de uma nova O Bloco de Esquerda foi o único 2021 vs 138,6 milhões de euros
linha em modo tram-train na partido que apresentou propostas previstos para 2022). Esta opção
AMP na sub-região do Vale nesse sentido, rejeitadas pelo PS. contraria o reforço do caminho de
do Sousa ligando Valongo- Não só o envelope distribuído às descarbonização da economia.
Paredes-Paços de Ferreira-
Lousada-Felgueiras, num total
de 36 km;
▶ Integração e reabilitação
As propostas ▶ Reforço anual das verbas afe-
tas ao PART todos os anos e corre-
do antigo ramal ferroviário do Bloco ção das desigualdades nos critérios
da Trofa. de financiamento;
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PARA RESPONDER À CRISE CLIMÁTICA
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BLOCO DE ESQUERDA
5.4. Um plano ferroviário ▶ Toda a rede deve estar ele- formas logísticas regionais e
nacional trificada e gerida com recur- fronteiras - por onde circula-
O Plano Ferroviário Nacional so a sistemas automatizados rão os serviços ferroviários;
(PFN) que o Bloco tem vindo a de- de sinalização, controlo e
fender assenta num programa de gestão de tráfego; ▶ Deve estar garantido aos
investimentos públicos ao longo cidadãos com mobilidade
de duas décadas para: ▶ Todas as capitais regio- reduzida pleno acesso à rede
nais ou distritais devem estar ferroviária e às composições
▶ requalificação integral da ligadas por via ferroviária de ferroviárias que nela circulem;
Rede Ferroviária Nacional; modo que permita a multimo-
dalidade no transporte inter- ▶ O peso da quota ferroviá-
▶ reforço e extensão da Rede no e internacional; ria no transporte terrestre de
nos territórios deficitários de pessoas e mercadorias de-
transporte ferroviário; ▶ Devem estar asseguradas verá ser 40% das toneladas-
ligações funcionais entre os -quilómetros transportadas e
▶ reequilíbrio da repartição vários sistemas logísticos 40% dos passageiros-quiló-
modal entre os vários modos de – portos, aeroportos, plata- metros transportados.
transporte;
Tabela 1 / Grandes números do Plano Ferroviário Nacional 2040 face
▶ correção das assimetrias aos previstos nos Planos Ferrovia 2020
e reforço da coesão social e e ao PNI 2030/Ferrovia
territorial.
F2020
Para além dos efeitos positivos na Indicador PFN 2040 Var %
+PNI2030
redução do esforço financeiro do
país no comércio de licenças de Extensão da RFN intervencionada
+1776 km +1950 km +9,8%
emissão de CO2, o PFN contribui- (construção + reabilitação)
rá fortemente para a descarboni- Nova construção de RFN +486 km +1737 km +257%
zação da economia. Custo total dos investimentos (M€) 4 900 M€ 6 500 M€ +33%
No final do período do Plano (até
2040): Nota: valores não incluem as redes ferroviárias ligeiras consideradas no ponto anterior
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5.5. Um plano complementar de dos casos, à conclusão de alguns ficos, como o que se verifica na
acessibilidade rodoviária itinerários principais e comple- ponte da Chamusca que torna
O Plano Rodoviário Nacional mentares (ex: IP8, IP3, IC35, IC9, imperativo a construção do troço
(PRN) está quase construído, mas etc) à requalificação de estradas da A13, assim como a ponte que
permanece por fazer cerca de 15% principais que constituem ligações liga a Chamusca à Golegã.
do total da rede rodoviária nacio- internas em falta, ou à solução Apenas a vertente rodoviária de
nal, equivalendo, na maior parte para estrangulamentos especí- fechamento de alguns troços está
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inscrita no PRR, na rubrica dos 6. DEMOCRATIZAR A ENERGIA dos combustíveis fósseis como
chamados “missing links”. No en- PARA RESPONDER fonte de energia primária, uma
tanto, tal não corresponde, nem de ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS fatura de quase 3000 milhões de
perto, às necessidades existentes, E À POBREZA ENERGÉTICA euros anuais.
em especial no interior do país. Portugal é um país marcado pela É, pois, urgente redirecionar o
É também indispensável aprovar pobreza energética, fruto em modelo energético nacional rumo
uma nova estratégia de acessibi- grande parte dos elevados cus- à neutralidade carbónica, anteci-
lidade rodoviária e romper com o tos finais dos combustíveis e da pando de forma socialmente justa
modelo de saque do erário público eletricidade, e pela elevada depen- as metas do Roteiro 2050, sem
e do bolso dos portugueses para dência energética (cerca de 75% comprometer os indicadores de
financiar as rendas milionárias nos últimos 5 anos), o que resulta independência energética.
das parcerias público-privadas. na elevada importação de produ- O foco deve ser direcionado para
Em 2021, a UTAO registava um tos energéticos a preços especu- as formas de produção de energia
aumento dos encargos com PPP, lativos, no aumento dos custos de de fontes renováveis comprovadas
sobretudo rodoviárias, tendo os produção industrial, agrícola e de (solar fotovoltaica, eólica em terra
encargos líquidos aumentado 86 serviços. e no mar, ou energia das ondas),
milhões de euros (+13,8%) no 1º Ao ritmo atual, Portugal falhará bem como a promoção de no-
semestre de 2020, face ao período as metas do PNEC 2030. Ainda vas formas de armazenamento e
homólogo. dependemos em cerca de 70-75% produção de energia, incluindo na
geoenergia, a par de mecanismos
de captura de emissões de CO2 e
da sua reutilização.
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É urgente redirecionar
o modelo energético
nacional rumo à
neutralidade carbónica
sem comprometer
excluir megacentrais solares com
excessivos impactos ambientais e
os indicadores de
nas economias locais. O Bloco de
Esquerda continuará ao lado das
independência energética.
populações que se opõem a esse
tipo de empreendimento.
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PARA RESPONDER À CRISE CLIMÁTICA
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amortizado num prazo de no edificado público deverá ser com redução de emissões, pou-
até oito anos pela absorção acompanhada de um aumento da panças substanciais e melhores
de parte das poupanças eficiência energética residencial, condições de habitação.
realizadas pelos utilizado-
res. Os utilizadores conse-
guem assim adoptar estes
sistemas e obter imedia-
tamente uma poupança
Uma boa Em 2017, o Instituto da Habita-
ção e da Reabilitação Urbana
líquida, sem a necessidade medida anunciou a intervenção em
do investimento inicial. O 1600 fogos de 17 bairros so-
objetivo será atingir uma ciais, incluindo “remodelação
potência instalada de 1500 e isolamento das coberturas,
MW, com um investimen- revestimento das fachadas com
to de 1300M€ e taxas de materiais eficientes em termos
rentabilidade para o Estado energéticos, substituição de
superiores a 5%. todas as janelas e respetivas
caixilharias e reparação e bene-
▶ Criação de gabinetes ficiação das áreas comuns dos
à escala municipal para edifícios, nomeadamente esca-
facilitação da agregação de das e redes comuns de água e
cidadãos interessados na eletricidade”, num investimento
formação de sistemas co- total de 16,3 milhões de euros,
munitários de autoconsumo. 10 mil euros/fogo.
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6.4. Descer a fatura, eliminar as pobreza energética convive com Em particular, são beneficiadas
rendas excessivas e erradicar a uma economia de privilégio no as barragens já existentes à data
pobreza energética setor e com uma tributação injus- de entrada em vigor do mercado
A atribuição automática da tarifa ta em IVA, uma herança da troika de direitos de emissão, em 2005,
social aos agregados elegíveis, que o PS insiste em conservar. e cujos investimentos não con-
fruto da intervenção do Bloco de sideraram estes ganhos fruto de
Esquerda, permitiu que, de 100 mil 6.4.1. Cortar os “lucros caídos regulação posterior.
agregados, se passasse a abran- do céu”
ger 800 mil. Foi um passo impor- Portugal deve acompanhar a 6.4.2. Novo modelo de mercado
tante, mas não suficiente. Portugal recente legislação espanhola com elétrico
ainda é um dos países com maior vista à recuperação dos ganhos Desenhado há duas décadas
taxa de mortalidade no inverno excessivos resultantes de um para rentabilizar o oligopólio saído
e 40% da população em risco modelo de mercado que reflete da privatização do setor elétrico,
de pobreza vive sem condições custos de carbono na remunera- quando predominava a produção
adequadas de conforto térmico. A ção de centrais não emissoras. a partir de fontes fósseis, o atual
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A pobreza energética
convive com uma
modelo europeu de mercado elé- economia de privilégio
no setor e com uma
trico é conservado por Bruxelas,
apesar dos efeitos catastróficos
PS insiste em conservar.
mercado grossista não reflete os
custos ambientais e de produção
de cada megawatt-hora (seja este
caro e poluente (como produzido
a gás), seja tendencialmente mais
barato e sustentável (como o pro-
duzido em barragens). Por esse váveis despacháveis (biomassa ou 2) Recuperação dos ganhos
motivo, na atual situação de alta hídrica, por exemplo), mas também indevidos da EDP com a
dos preços do gás e do carbono de serviços de sistema, armaze- titularização de dívida tarifá-
emitido, a eletricidade de origem namento de energia, gestão de ria: estes ganhos, passados e
hídrica é paga em excesso. Este procura, veículos elétricos ligados à futuros, devem ser partilhados
modelo é perverso e insustentável. rede ou tecnologias de conversão com os consumidores (100
Formas de remuneração alternati- de energia renováveis em combus- M€);
vas têm sido estudadas por orga- tíveis. Os atuais mercados de curto 3) Recuperação dos ganhos
nizações de consumidores e am- prazo, com preços variáveis, devem indevidos da EDP com a utili-
bientalistas. O Bloco de Esquerda também ser modificados para zação da central de Sines en-
destaca o conceito de mercado permitir a participação de recursos tre 2017 e o seu encerramento
grossista dual, que traduz uma de gestão de procura e armaze- em 2021 (cerca de 400M€);
divisão do mercado grossista em namento. Esta nova organização 4) Reposição do regime de
dois mercados complementares: o do mercado deve repercutir-se no remuneração dos produtores
mercado elétrico renovável, assen- cálculo das tarifas para os clientes eólicos anterior a 2013 (per-
te em contratos de longo prazo, e finais, assegurando preços mais das para os consumidores até
o mercado de entrega flexível, que baixos e justos. 1000 M€ entre 2021 e 2032).
resolve desvios de produção no
curto e curtíssimo prazo. 6.4.3. Eliminar rendas 6.4.4. Descida do IVA da
O mercado elétrico renovável ofe- excessivas eletricidade e do gás para 6%
rece segurança aos investimentos, O Bloco de Esquerda continuará a A redução da taxa de IVA sobre
devendo fornecer um mix ade- defender a concretização de todas a eletricidade introduzida no final
quado de geração (centralizada e as medidas recomendadas pela de 2020 pelo governo do PS
descentralizada) e de tecnologias Comissão de Inquérito às rendas ficou longe de reverter integral-
(despacháveis e intermitentes). O excessivas pagas aos produtores mente o aumento introduzido sob
mercado de entrega flexível é pro- de eletricidade. A aprovação desse o memorando da troika. A ener-
jetado para prover a necessidades pacote legislativo permite: gia é um bem de primeira ne-
momentâneas da segurança do 1) Recuperação dos ganhos in- cessidade. O Bloco de Esquerda
fornecimento de energia a partir da devidos da EDP com CMEC (510 defende a reposição da taxa de
produção a gás ou de fontes reno- M€ identificados pela ERSE); 6% que vigorou até 2011.
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Portugal é o país da
tíveis a pragas e doenças. Ape- União Europeia com as
sar do progresso tecnológico, a
aplicação excessiva de muitos áreas protegidas mais
fertilizantes e pesticidas man-
teve-se ao longo das últimas degradadas e é o quarto
décadas, gerando preocupantes
níveis de contaminação em solos país com mais espécies
e recursos hídricos. Além disso,
a sua expansão desregulada está
a destruir património natural e
ameaçadas.
cultural.
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7.3.5. Promover o trabalho salariado tem seguido um modelo remuneração, paga à tarefa. A fal-
profissionalizado e com assente em mão-de-obra de baixa ta de competências técnico-cien-
direitos qualificação, sobretudo imigrante, tíficas nas explorações agroflores-
Em Portugal, como em toda a Eu- muitas vezes subcontratada ou tais dificulta medidas de proteção
ropa do sul, o trabalho agrícola as- sem vínculo formal, com reduzida ambiental e de saúde pública.
As propostas
do Bloco
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O trabalho agrícola
assalariado segue
um modelo muito assente
7.4. Defender a água como
em mão de obra
recurso ecológico, económico e
social
com baixa qualificação,
No quadro das alterações climá-
ticas, a ocorrência de secas ou
imigrante e sem vínculo
laboral.
▶ Reforço da atuação da Au- cheias tem cada vez menos caráter intensiva, com maiores impactos
toridade para as Condições excepcional e passa a ser cada vez ambientais em sistemas reversí-
do Trabalho no setor agroflo- mais frequente. veis (flutuação de caudais, erosão,
restal; As grandes obras hidráulicas, ao segurança das populações). Os
longo do século passado, trou- atuais sistemas de gestão, enco-
▶ Criação de um programa de xeram valiosas oportunidades de rajando o aumento da procura de
integração e regularização de desenvolvimento económico e de água, vêm exaurindo os ecossiste-
trabalhadores e trabalhado- melhoria nas condições de vida mas. Com o Plano de Recuperação
ras imigrantes que operam no das populações. Contudo, o uso e Resiliência parece ter voltado a
setor agroflorestal; múltiplo das albufeiras (abaste- vontade de grandes construções
cimento público, rega, lazer) tem hidráulicas, nomeadamente uma
▶ Inclusão do trabalho fami- ficado subordinado à produção vontade de artificialização sem
liar e das condições de traba- energética ou à produção agrícola precedentes do Rio Tejo.
lho assalariado como fatores
de ponderação na atribuição
de apoios públicos, garantindo
maior justiça e equidade social e
territorial;
Mau exemplo A autorização do governo aos
estudos para a expansão em
▶ Criação de cursos pro- no rio Tejo 300 mil hectares da área rega-
fissionais em agroecologia, da no Ribatejo, Oeste e Setúbal
reconhecidos pelo Ministério da com recurso à construção de
Agricultura, direcionados a pes- mais de uma dezena de barra-
soas com competências técni- gens no Tejo e afluentes - um
cas, produtoras e trabalhadoras investimento de 4500 milhões
agroflorestais; de euros quando concluído - é
um triste exemplo. Basta re-
▶ Regulamentação da ativida- cordar a poluição deste rio em
de das pessoas com forma- pleno mês de janeiro de 2018 e
ção em engenharia agrónoma o aumento da cunha salina para
e florestal que garantem apoio montante, para termos ideia da
às diversas explorações agroflo- enormidade ambiental deste
restais e são responsáveis pelos projeto acarinhado pelos gran-
respetivos planos de gestão; des agrários e pela CAP.
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O uso generalizado de
plásticos criou ilhas
compostas de resíduos
de plásticos nos oceanos
Acresce que a extinção do Insti-
tuto da Água e a integração dos
crescer.
presentou um retrocesso: menos
autoridade, competência e meios,
administrações de região hidro-
gráfica quase paralisadas.
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7.5. Redução do plástico material produzido a partir de do-se muito relevante o depósito
e eliminação matérias fósseis potenciou emis- em aterro.
do uso único sões de gases com efeito de Faltam as medidas de início de
A generalização do uso de plás- estufa e a acumulação descon- linha e de responsabilização da
ticos em todas as esferas da trolada de resíduos muito dura- cadeia de produção e distribuição.
produção e do consumo pro- douros. Esse problema atinge o A produção deve obedecer a ne-
moveu formas de uso único e território global, mas também os cessidades sociais e à sustenta-
descartável. Esse recurso a um oceanos, onde há mais de vinte bilidade do planeta, pelo que deve
anos flutuam gigantescas ilhas existir a transição do plástico para
compostas de resíduos plásticos materiais biodegradáveis e do
e que não param de crescer. Em descartável para o permanente/
Comissão para a Aplicação Portugal, o plástico está fora de reutilizável.
e Desenvolvimento da Con- controlo: os resíduos de plástico A estratégia para enfrentar um
venção de Albufeira, entidade reciclados triplicam as quanti- modelo insustentável é a prioridade
obscura no funcionamento e dades introduzidas na cadeia de à redução, o pilar mais esquecido
nos resultados. forma regular. A cadeia não tem dos 3 R. O uso único deve ser ab-
registo e a cobrança de taxas solutamente excecional e dar lugar
▶ Criação de um Plano de não ocorre. As metas de recicla- à reutilização, o que implica ruturas
Gestão da Bacia Hidrográfica gem ficam por cumprir manten- com um modelo insustentável.
do Rio Tejo à escala ibérica,
que estabeleça um calendário
de cumprimento das medi-
das necessárias à melhoria e
manutenção das massas de
As propostas ▶ Redução de embalagens
de bebidas. Até 2024, pelo
água para o estado “bom”, de
montante para jusante, cum-
do Bloco menos metade do produto de
bebidas deve ser colocado
prindo assim a Diretiva Quadro no mercado em embalagens
da Água; reutilizáveis, mediante tara
recuperável. Cabe aos opera-
▶ Garantia da componente dores organizarem um sistema
financeira para a execução de recolha junto dos comerciali-
das medidas previstas no 3º zadores e encaminhamento para
ciclo do Plano de Gestão das reutilização (tara recuperável).
Regiões Hidrográficas tendo O mesmo sistema deverá re-
em conta o cumprimento da ceber embalagens (ex: deter-
DQA/LA; gente, champô) compostas por
materiais reutilizados. As gran-
▶ Garantia, às autarquias, de des superfícies providenciarão
uma linha de financiamento do estruturas para a devolução de
Estado para resgate, pelos mu- embalagens pelos consumido-
nicípios, dos sistemas de água res finais. Os operadores devem
privatizados. ainda garantir a recolha das ▶
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PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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7.6.2. Garantir a
As propostas ▶ Criação de uma rede de áreas
marinhas protegidas que garanta
sustentabilidade das pescas
A pesca sustentável requer
do Bloco a preservação da biodiversidade conhecimento científico e mo-
em pelo menos 30 por cento do nitorização dos ecossistemas
mar nacional, dotada de meios que a sustenta. Mas há muito
humanos, financeiros e técnicos que os governos se demitiram
suficientes para a sua gestão, moni- da responsabilidade de garantir
torização e fiscalização; meios adequados e suficientes às
entidades públicas que têm por
▶ Aplicação de uma moratória à missão investigar, monitorizar e
mineração no mar, protegendo os gerir matérias do domínio do mar.
ecossistemas marinhos; A renovação do setor não regis-
ta investimentos substanciais há
▶ Criação de incentivos à utiliza- décadas. Além disso, a gestão
ção de artes de pesca seletivas dos recursos marinhos e a inves-
e, sempre que possível, compostas tigação científica estão direcio-
por materiais biodegradáveis; nadas sobretudo para a pesca
industrial, apesar de cerca de
▶ Eliminação de apoios públicos 80% da frota de pesca nacional
a atividades de pesca lesivas ser de pequena escala. Este viés
para o meio marinho; resulta num grande desconheci-
mento da atividade da maioria da
▶ Restrições à pesca de arrasto, frota de pesca. Melhorar a gestão
a defender pelo governo português passa por aumentar o orçamento
no plano europeu e internacional; e os meios dos Laboratórios do
Estado, aprofundar o conheci-
▶ Minimização das capturas mento científico, reforçar a moni-
acidentais de cetáceos (baleias e torização da atividade de toda a
golfinhos), elasmobrânquios (tuba- frota, bem como criar comissões
rões, raias e quimeras) e espécies de cogestão que possibilitem a
protegidas ou ameaçadas, através gestão partilhada da pesca, ao
da melhoria da seletividade de artes invés da imposição de medidas
de pesca e de restrições à atividade às comunidades piscatórias sem
piscatória em locais ou épocas do que os pescadores tenham uma
ano mais suscetíveis de provocar palavra a dizer sobre os recursos
capturas acidentais; dos quais dependem. Só adap-
tando as possibilidades de pesca
▶ Aplicação de planos de ação aos recursos disponíveis é possí-
para a recuperação e conserva- vel garantir a sustentabilidade das
ção de espécies marinhas protegi- pescarias, a proteção da biodiver-
das ou ameaçadas. sidade e rendimentos justos aos
pescadores.
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PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
7.6.3. Combater a precariedade tes em acordos informais, como direitos. Além da precariedade, o
e proteger os trabalhadores do a divisão em partes, ou quinhões, trabalho nas pescas muitas ve-
mar dos proveitos das capturas. A zes não gera rendimentos justos
O universo das pescas no país é informalidade e precariedade do aos pescadores. Não é incomum
heterogéneo, mas a precariedade trabalho nas pescas prejudicam os o preço de venda ao consumidor
das relações laborais é uma ca- pescadores, deixando-os despro- ser mais de dez vezes superior ao
racterística comum no setor. Os tegidos e suscetíveis ao abuso preço de primeira venda. A fixação
vínculos laborais entre armadores patronal. Para contrariar a situação, de preços mínimos e a definição de
e pescadores são frequentemente os apoios públicos ao setor devem margens máximas de intermedia-
desprovidos de contrato ou assen- beneficiar o trabalho estável e com ção responde a estes problemas.
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2022
2026
91
PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
Uma Economia
pela Igualdade
RESPONDER À EMERGÊNCIA
NA HABITAÇÃO
RECUPERAR O CONTROLE
DE SETORES LUCRATIVOS
E ESTRATÉGICOS E
DEMOCRATIZAR AS EMPRESAS
INVESTIR NA COESÃO
TERRITORIAL
GARANTIR A
SUSTENTABILIDADE DAS
CONTAS PÚBLICAS
A DEMOCRACIA CONTRA
A CORRUPÇÃO E O CRIME
ECONÓMICO
2022
2026
/ 93
Uma Economia
pela Igualdade
N
O problema de riqueza e retiraram ao país o
o início dos anos 1980, os uso de bens comuns essenciais
10% mais ricos em Portu- ao seu desenvolvimento econó-
gal detinham 24% de todo mico e produtivo, como é o caso
o rendimento nacional, enquanto dos sistemas de energia ou de
que os 50% mais pobres dividiam comunicações. Em vários casos
25% do rendimento. Em 2018, os identificados tardiamente pelas
50% mais pobres continuavam a autoridades judiciais, evidências
dividir um quarto de todo o ren- de corrupção ou de favorecimento
dimento, mas os 10% mais ricos mostraram o perigo das políticas
tinham passado a obter 30% do destinadas a promover grupos
rendimento. E isto sem contabilizar económicos privados.
ainda, por falta de dados, os efei- Por falta de políticas públicas ade-
tos da pandemia na distribuição quadas, a habitação, em vez de
dos rendimentos e na pobreza. um direito, tornou-se um luxo, com
O sistema de tributação contribuiu o valor das rendas e da compra
decisivamente para aumentar as de casa a disparar à medida da
desigualdades no país ao transferir especulação imobiliária. A energia
para o trabalho e para o consumo doméstica é uma das mais caras
de bens essenciais o peso a carga da Europa, e os combustíveis pe-
fiscal. Enquanto isso, os rendimen- sam na carteira de quem não tem
tos de capital e os altos rendimen- alternativas de transporte público.
tos foram protegidos, e até favo- Por falta de investimentos estru-
recidos, com benefícios fiscais e turais, sacrificados em nome de
sucessivas reduções das taxas de uma abordagem curto-prazista
tributação. às contas públicas, o país perma-
As sucessivas vagas de privatiza- nece refém de uma economia de
ções promoveram a concentração baixos salários; excessivamente
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Foto / Ana Mendes
C/ UMA ECONOMIA
PELA IGUALDADE
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
A solução
O Programa Eleitoral do Bloco de
Esquerda apresenta alternativas
realizáveis e prioritárias para trans-
formar o atual modelo económico
desigual. Propomos uma verda-
deira política pública de habitação,
que inclui a oferta pública de habi-
tação, o controle do valor das ren-
das e a proteção dos moradores
face à especulação e os abusos
dos grandes fundos financeiros.
Defendemos propostas de equi-
dade fiscal, como o englobamento,
um novo regime de tributação das
mais-valias imobiliárias, e a tribu-
tação de atividades especulativas
até agora isentas. Apresentamos
um plano para recuperar empresas
estratégicas e lucrativas, a come-
çar pelos CTT e pela REN, e me- tervenção, como a política de juros Agravada pela política liberaliza-
didas concretas para combater a bonificados. Como consequência, dora de PSD e CDS, assistimos
corrupção, o crime económico e o o parque habitacional é hoje quase nos últimos anos a uma aguda
abuso fiscal. Identificamos políticas exclusivamente privado e extrema- crise no setor. Continua o estímulo
para combater as desigualdades mente vulnerável à especulação. à aquisição de casa própria - 75%
regionais e respeitar as regiões
autónomas. Apontamos caminhos
para uma gestão responsável das
contas públicas, para que a dívida
deixe de ser um risco.
O parque O parque habitacional público é
constituído por apenas 120 mil
habitacional alojamentos e representa uns es-
8. RESPONDER À
EMERGÊNCIA NA HABITAÇÃO
público cassos 2% do total de habitações,
quando a média europeia é de 15%.
8.1. Uma política para a A administração central provê ape-
habitação nas 11 mil destes fogos, menos de
Há muito que o investimento metade do que oferece o município
público em habitação foi preterido de Lisboa (cerca de 25 mil).
em favor de formas indiretas de in-
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tuais nos últimos 5 anos. Estes sendo depois alugadas até à re- da população mais desprotegida
valores poderão apoiar a política cuperação do investimento. Desse e promover a inclusão urbana,
municipal de habitação se não fo- modo, os proprietários modestos reforçando assim as condições
rem isentados, bem como poderão ficarão protegidos da pressão das sociais para a escolarização das
refrear os ímpetos especulativos agências financeiras e imobiliá- crianças, para a promoção da
das transações. rias para uma venda precipitada segurança de quem neles habita e
Por outro lado, assumindo uma e recuperarão a sua propriedade para a qualidade de vida de toda a
renda mensal média de 350 euros modernizada. comunidade.
por alojamento, uma vez em pleno
funcionamento o programa gerará 8.1.2. Recuperar e construir 50 8.1.3. Fechar a porta aos fundos
receitas próprias estimadas no mil fogos para habitação com imobiliários
montante de 350 € x 12 meses x renda condicionada/apoiada Os fundos imobiliários são veí-
100 mil alojamentos = 420 milhões Com escassas exceções, a pro- culos de aplicações financeiras
de euros por ano. visão direta pelo Estado (em muito ativos em Portugal nos
O custo orçamental líquido poderá geral definida e aplicada ao nível últimos anos, comprando prédios
ser de cerca de 500 M€ durante das autarquias) tem-se limitado e adquirindo posições. Todos os
cada um dos quatro anos, com principalmente ao segmento da efeitos desta atividade são noci-
uma comparticipação de fundos habitação social de mais baixo vos: aumenta o preço das casas,
de coesão ou PRR a metade, custo e mais baixa qualidade (de criando uma procura inflacionada,
havendo um encaixe líquido de construção, arquitetónica e urba- impede ou dificulta o exercício
420 M€ a partir de então, uma vez nística), levada a cabo no contexto dos direitos dos inquilinos, cria um
realizada a despesa infraestrutural. de programas como o Programa stock de prédios desocupados e
Ou seja, o Estado terá recuperado Especial de Realojamento lançado que só servem como reserva de
todo o seu investimento a partir em 1993, que levou ao realojamen- valor. O Bloco propõe a extinção
do quinto ano do programa (ou um to de cerca de 45 mil famílias. Este dos benefícios fiscais criados para
pouco depois, consoante os juros Programa nunca chegou a estar estes fundos e a punição fiscal
considerados). concluído e manteve lógicas de destas propriedades não coloca-
O programa incluirá ainda a possi- gueto com as quais lidamos ainda das no mercado. Tal como sucede
bilidade de o Estado se substituir hoje. Em 2017, quase 26 mil famí- em outros países, deve ser impos-
a proprietários que não tenham lias viviam em condições precá- to um limite à quantidade de fogos
recursos e cujas casas sejam rias ou indignas. Estes programas detidos por fundos, agências e
recuperadas pelo fundo público, devem responder às carências bancos.
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em média, as heranças e doações dos pelas famílias mais pobres doações podem desempenhar um
relatados pelas famílias mais ricas (os 20% mais pobres). A OCDE papel mais importante na aborda-
(os 20% mais ricos) são quase 50 considerava assim que os impos- gem da desigualdade e na melho-
vezes maiores do que os relata- tos sobre herança, propriedade e ria das finanças públicas.
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9.2. Tributação das grandes 24
empresas e atividades 22
especulativas
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
Consolidou-se, ao longo das
últimas décadas, um desequi-
líbrio estrutural nos sistemas High-income Middle-income Low-income OECO Europe
de tributação, em benefício do OECO Non-Europe
capital e das grandes fortunas
e em prejuízo do trabalho e dos Fonte: FMI
consumos básicos. Para além
de contribuir diretamente para o
agravamento das desigualdades
económicas, este enviesamen-
to priva o Estado de recursos Gráfico 15 / Relação entre imposto sobre os lucros e crescimento
económico
essenciais para financiar servi-
ços públicos abrangentes e de 70
qualidade (ver gráfico 14).
Statutory corporate tax rate (%) (1-year tag)
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dentro do grupo EDP e depois todos os elementos do negócio, e te suportado pela EDP sobre as
vendeu as participações sociais tendo mesmo sido alertado para o mais-valias da venda. Finalmente,
dessa nova empresa a uma outra, risco de planeamento fiscal agres- a operação foi ainda isenta de IMT,
a ser fundida na Engie. A empresa sivo, o Governo autorizou a ven- uma vez que a EDP disputou em
alegará que esta é uma reestru- da das concessões sem colocar tribunal arbitral a anterior decisão
turação fiscalmente neutra, em- como condição o cumprimento da Autoridade Tributária de cobrar
bora seja claro que o objetivo da das respetivas obrigações fiscais. IMI e, logo, IMT, sobre as cons-
operação foi apenas a obtenção Para além do imposto de selo, que truções afetas às barragens. Esta
de vantagem fiscal, o que viola o será agora disputado pela Autori- matéria, em particular, deve ser
princípio da neutralidade. dade Tributária, persistem dúvidas clarificada do ponto de vista legal.
Embora tivesse em sua posse relativamente ao IRC efetivamen-
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Exemplo 1 Exemplo 5
Compra: 105 mil €
Compra: 100 mil €
Obras: 50 mil €
Obras: 200 mil €
Venda: 180 mil €
Venda: 2 M€
Passado um ano com mais-valia de 25 mil €
Passado 1 ano com mais-valia de 1,7 M€
IRS*: Atual: 22,5% | Novo modelo: 18%
IRS: Atual*: 24% | Novo modelo*: 35%
* Simulação para particular com IRS
* Simulação para particular com IRS pago no 7.º
pago no 6.º escalão
escalão
Exemplo 2 Exemplo 6
Compra: 105 mil €
Obras: 50 mil € Compra: €1 Milhão
Venda: 255 mil € Não faz obras
Passado um ano com mais-valia de 100 mil € Venda: 1,25 M€
IRS*: Atual: 24% | Novo modelo: 31,8% Passado 1 ano mais-valia de 250 mil €, reinvestindo
* Simulação para particular com IRS pago no 7.º tudo noutro imóvel (ex.: fábrica)
escalão IRC: Atual: 10,5% | Novo modelo: 10,5%
Exemplo 3 Exemplo 7
Compra: 105 mil €
Compra: 400 mil €
Obras: 50 mil €
Obras: 500 mil €
Venda: 255 mil €
Venda: 1,150 M€
Passados onze anos com mais-valia de 88 450€
Passado 1 anos por com mais-valia de 250 mil €
IRS*: Atual: 24% | Novo modelo: 24%
IRC: Atual: 21% | Novo modelo: 21%
* Simulação para particular com IRS pago no 7.º
escalão
Exemplo 8
Exemplo 4 Compra: 400 mil €
Obras: 500 mil €
Compra: 105 mil €
Venda: 1,9 M€
Não faz obras
Empresa vende passado um ano com mais-valia de
Venda: 130 mil €
1 M€
Passado um ano com mais-valia de 25 mil €
IRC: Atual: 21% | Novo modelo: 27,8%
IRS*: Atual: 22,5% | Novo modelo: 33,8%
Exemplo 9
Compra: 400 mil €(fundo imobiliário)
Faz obras de 500 mil €
Vende passado um ano por 1,9 M€ com mais-valia
de 1 M€
IRC: Atual: 0% | IRC novo modelo: 6,8%
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200
100
0
Luxemburgo
Dinamarca
Alemanha
Finlândia
Áustria
Suécia
Países Baixos
Bélgica
França
EU
Irlanda
Itália
Grécia
Espanha
Estónia
Républica Checa
Eslovénia
Croácia
Chipre
Portugal
Eslováquia
Lituânia
Malta
Polónia
Letónia
Hungria
Bulgária
Roménia
Noruega
Fonte: Eurostat
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Na venda do Novo
Banco ao Lone Star: o
10. RECUPERAR O
CONTROLE DE SETORES
Estado ficou com 25%
LUCRATIVOS E
ESTRATÉGICOS
do capital e 75% da
O Bloco tem como prioridade a
recuperação do controlo público
responsabilidade sobre
sobre a banca e sobre empresas
estratégicas nos transportes e
as perdas futuras.
energia. O programa de reversão
das privatizações será adequado
às condições de cada empresa,
negociado com os acionistas no
âmbito de um quadro legal ade-
quado, financiado pela emissão 10.1. Uma banca pública tos especulativos. As impari-
de dívida pública e estendido ao estratégica dades foram, em parte, pagas
longo do tempo necessário para A transformação de um modelo com fundos públicos. Depois de
minimizar os riscos e efeitos. económico que alia a financei- várias transferências a fundo
rização às desigualdades e à perdido no BPN, BPP e no Banif,
destruição ambiental requer o o sistema bancário foi financiado
controlo democrático do sis- pelo Fundo de Resolução que,
tema financeiro. Para isso, a por sua vez, foi financiado pelo
neamento fiscal com vista à propriedade pública é condição Estado, direta e indiretamente
erosão da base tributável; essencial, mas não suficiente. (além do contributo da CGD, as
Ao controlo acionista dos ban- contribuições obrigatórias das
▶ Criação de taxas desa- cos devem corresponder uma outras instituições bancárias são
gravadas de imposto sobre estratégia económica clara para receitas do Estado).
os lucros de fundações e o desenvolvimento do país e Desde 2008, o Estado colocou-
associações sem fins lucrati- uma gestão profissional, limpa e -se assim numa situação de
vos a partir de 15 mil euros de transparente. financiador de última instância
matéria coletável; A fragilidade do atual modelo do capital dos bancos, tendo,
ficou exposta com a crise e a no entanto, abdicado dos seus
▶ Revisão do regime aplicá- derrocada de todos os grandes direitos de gestão e proprieda-
vel ao Centro Internacional negócios alavancados em dívida de. Estas opções desastrosas
de Negócios da Madeira, no pressuposto de uma eterna resultaram também, em larga
limitando e adaptando a atri- valorização dos ativos financei- medida, de pressões europeias,
buição de benefícios fiscais à ros. Para além da destruição de como foi visível na decisão de
efetiva criação de emprego e tecido empresarial das PME, venda do Novo Banco ao fundo
atividade económica, com a muito dependente da procura norte-americano Lone Star: o
aplicação de novos critérios de interna atacada pela austerida- Estado ficou com 25% do capi-
verificação e transparência; de, os bancos foram obrigados tal, e 75% da responsabilidade
a registar nos seus balanços sobre as perdas futuras e tendo
▶ Eliminação do SIFIDE. milhares de milhões de euros ainda abdicado de participar na
de perdas associadas a crédi- administração.
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C/ UMA ECONOMIA
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PROGRAMA ELEITORAL
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Não foi apenas no Novo Banco. da Comissão Europeia as deci- setor segurador, depois da venda
Os casos recentes do Banif e sões estratégicas sobre a banca da Fidelidade e da Tranquilidade,
mesmo da Caixa Geral de Depó- nacional: o momento da interven- 86% do capital é estrangeiro.
sitos deixam claro que as insti- ção, a sua forma (liquidação ou Esta opção é errada. Por um lado,
tuições europeias têm promovido resolução) e o destino privado do já ficou claro que a banca é um
ativamente um quadro legal que banco de transição. Além disso, bem público e um setor estratégi-
retira soberania aos Estados na- em Portugal, da aplicação des- co demasiado importante para ser
cionais com o objetivo de promo- tas regras resultou, não apenas gerido de acordo com os inte-
ver a privatização e concentração a entrega do sistema bancários resses financeiros dos acionistas
das instituições bancárias a nível aos interesses de curto prazo dos privados. Uma política industrial
internacional. seus acionistas, mas também o orientada para o emprego e para
As novas regras europeias de controlo de 61% da banca na- a conversão energética precisa de
resolução bancária, conjugadas cional por acionistas estrangei- instrumentos financeiros democra-
com o regime das ajudas de Es- ros, em particular por fundos de ticamente controlados e geridos.
tado, transferiram para o BCE e investimento, cuja submissão à lei Esta conclusão é ainda mais grave
para a Direção de Concorrência nacional é mais difícil. No caso do se a banca for dominada por fun-
114
2022
2026
Gráfico 17
cobrança a grandes devedores,
soma-se agora a certeza de que
o Estado não garantiu os meca-
nismos para defender os seus in- 112 3 405
317
teresses no caso do Novo Banco. 1 035
Depois de praticamente esgotada
a garantia pública, o banco volta 1 149
agora aos lucros, antecipando-se
a sua venda a um outro fundo
792
internacional.
A privatização do Novo Banco foi
um erro que o Bloco de Esquerda
procurou evitar desde o primei- Pagamento Pagamento Pagamento Pagamento Em análise Valores totais
ro momento, ao defender que a 2018 2019 2020 2021
utilização de recursos públicos
deveria ser acompanhada da pro- Pagamentos totais: 3 293 018 330,00€
priedade do banco. Essa posição Em análise: 112 000 000,00€
permanece válida e justifica a
intervenção para recuperar o con-
trole público do banco, tal como
proposto neste programa. Fonte: Fundo de Resolução
dos de investimento estrangeiros como serviço público. Para preve- no país e entre 2007 e 2018 fo-
sem ligação ao tecido empresarial nir formas de instrumentalização ram disponibilizados aos bancos
português, nem vocação para uma da banca pública por interesses portugueses 23.800 M€ milhões
gestão de longo-prazo e muito particulares, é necessário garan- em fundos públicos. Esta soma
expostos aos riscos dos mercados tir objetivos estratégicos claros contabiliza valores entretanto
internacionais. e democraticamente discutidos, devolvidos, bem como uma parte
A propriedade pública é, assim, padrões de excelência a nível das dívidas dos bancos ao Estado
uma condição essencial para a comportamental e prudencial e através do Fundo de Resolução,
transformação do sistema bancá- regras firmes de fiscalização e que entretanto atingiu o valor de
rio num fator de desenvolvimento transparência. 4682 M€, mas exclui outras formas
da economia e não de acumu- Para além da questão principal do de apoio. Entre elas estão garan-
lação de desequilíbrios macroe- controlo público da banca, o país tias públicas e, em particular, os
conómicos. É por esta razão que depara-se também agora com a ativos por impostos diferidos, cria-
o Bloco de Esquerda defende fatura da crise, agravada por anos dos ao abrigo do regime especial
o controlo público do sistema de gestão ruinosa dos bancos. De de 2014, que constituem verdadei-
bancário e a sua recuperação acordo com o Banco de Portugal, ras ajudas de Estado à banca.
115
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BLOCO DE ESQUERDA
Tabela 8
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C/ UMA ECONOMIA
PELA IGUALDADE
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
Tabela 9
Total
2015 2016 2017 2018
Requerido
CGD 420 575 259 420 575 259
Haitong Bank 586 696 22 855 734 10 057 187 245 900 33 745 517 O Estado
Efisa 216 519 241 183 238 843 129 010 825 555 como
Banif BI 441 921 64 747 54 862 27 588 589 117
Banif AS 35 980 632 53 611 142 89 591 774 acionista
Novo Banco 160 865 993 120 905 689 136 403 199 161 973 806 580 148 688 do Novo
Fonte: Relatórios e Contas dos bancos. banco
Tabela 10
Período Montante
Instituição Financeira Total
Fiscal certificado
CGD 2016 420 575 259 420 575 259
2015 3 080 243
Haitong Bank
2016 11 997 279
15 077 521 As propostas
2015 212 882 do Bloco
2016 241 183
Efisa 821 871
2017 238 796
2018 129 010
2015 441 921
Banif BI 2016 64 747 561 529
2017 54 862
2015 153 555 360
Novo Banco 253 030 212
2016 99 474 852
Total 690 066 393
Fonte: Relatórios e Contas dos bancos.
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O Novo Banco recebeu do do. Este prazo termina em 2022 interesses do Estado, foi aceite
Estado 253 M€ em injeções de (para os direitos com referência pelo governo no processo de pri-
capital por conta de ativos por aos períodos de 2015 e 2016) e vatização do Novo Banco. Ape-
impostos diferidos referentes ao em 2023 (para os direitos com sar disso, uma vez realizadas as
período entre 2015 e 2017, tendo referência a 2017). Caso não o injeções de capital com recursos
pedidos pendentes relativos aos faça, o Estado ficará com uma públicos, o governo deve exer-
anos subsequentes. O Fundo de participação de 5,69% no Novo cer o seu direito de conversão,
Resolução, como acionista do Banco que, no entanto, apenas tornando-se acionista do banco
Novo Banco, dispõe de três anos diluirá a posição do Fundo de e titular de uma parte dos lucros
para se pronunciar quanto ao Resolução no banco, mas não garantidos pela limpeza do ba-
direito de adquirir estes direitos a do acionista Lone Star. Esta lanço com recurso a uma garan-
de conversão atribuídos ao Esta- disposição, altamente lesiva dos tia, também ela, pública.
119
C/ UMA ECONOMIA
PELA IGUALDADE
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
Proteger os clientes da banca ANA foi assim de 1880 milhões, pagos equivale a 40,2% do valor
As sucessivas alterações de dos quais 700 M€ de passivo da aquisição da ANA. Assim,
taxas, de regras de acesso e de e 1180 M€ de ativos, incluindo a manter-se o mesmo nível de
padrões contratuais têm vindo os dez principais aeroportos do recuperação do investimento,
a prejudicar os depositantes continente e regiões autónomas. no final desta década esse valor
e clientes dos bancos. Para o Nestes termos, esta venda deve estará totalmente recuperado.
Bloco, é essencial preservar as ser classificada como uma ope- Depois disso, a Vinci apenas
regras dos serviços mínimos ração de delapidação do patrimó- terá de pagar uma renda anual
universais, do direito a usar uma nio público e do Tesouro Nacio- de 24 milhões de euros por dez
conta bancária, a receber infor- nal, tomada pelo último governo aeroportos, transformando o ne-
mação fidedigna e compreensível. PSD/CDS. gócio da ANA no mais lucrativo
Pela mesma razão, é fundamental Em apenas oito anos (2013- de todos os negócios do grupo
proteger os clientes de todos os 2020), o valor dos dividendos francês.
abusos e, no caso dos lesados
do BES e do Banif, garantir que
são ressarcidos dos valores a
que têm legalmente direito, no-
meadamente com a agilização A direita promoveu o contrato
dos processos burocráticos junto O erro ruinoso da privatização da ANA.
das instituições de supervisão e
do apoio às situações económi-
do aeroporto Frente à necessidade de cons-
trução de um novo aeroporto, o
cas e sociais mais dramáticas. do Montijo governo do PS apoia a solução
da Vinci – aeroporto no Montijo -,
10.2. Um programa de a solução mais barata e que não
desprivatizações para a envolve qualquer investimento dos
legislatura acionistas, pois está desenhada
10.2.1. ANA para ser paga apenas com as re-
A ANA constitui um dos ativos ceitas aeroportuárias do aeroporto
estratégicos mais valiosos do de Lisboa. A suposta “solução”
país, sendo a entidade responsá- tem graves impactos ambientais
vel por todas as infraestruturas na fauna e na flora da zona de
aeroportuárias nacionais. Até reserva internacional do Tejo e
2012 foi uma empresa públi- identificam-se impactes negativos
ca lucrativa que constituía um ao nível do ruído em zonas densa-
monopólio natural em regime de mente povoadas no Arco Ribei-
exclusividade conferido por lei. rinho Sul, especialmente as que
No final desse ano, foi comprada se situam por baixo do corredor
pelo grupo francês Vinci a troco aéreo de aproximação.
de 3080 M€, dos quais 1200 M€ A solução Montijo carece de es-
correspondem à concessão dos tudo de impacte ambiental, e no
aeroportos por cinquenta anos e final de 2020 o Governo optou por
700 M€ corresponderam a dívida deixar caducar a Declaração de
assumida. O valor da compra da
120
2022
2026
10.2.2. CTT
Os CTT foram, até 2012, uma
empresa pública prestadora
do serviço público universal
de comunicações em todo o
território nacional, com apre-
ciáveis níveis de qualidade e
de rentabilidade. Entre, 2005
e 2012, os Correios realiza-
ram mais de 500 milhões de
euros de lucro para o Estado,
integrando o ranking dos 5
melhores serviços postais da
Europa.
Em 2013-14, o governo do
PSD/CDS vendeu a empresa
a privados por 920 milhões de
Impacte Ambiental de Alcochete, Montijo seria o acesso apenas ro- euros e a partir daí começa-
única opção verdadeiramente es- doviário. Como serão feitos quase ram os problemas para o país.
tudada no século XXI. O governo em exclusivo pela ponte Vasco da Portugal tornou-se o quarto
continua a ceder aos interesses Gama, (gerida em regime de PPP país da União Europeia em
da Vinci, como ficou patente no pela Lusoponte, cujo acionista que o serviço postal universal
Memorando financeiro assinado principal é a Vinci), o governo ofe- é totalmente privado, depois
no início de 2019 e como ficou rece assim de mão beijada mais da Holanda, Malta e Reino
patente na insistência numa opção uma vantagem à multinacional Unido.
claramente má para o futuro do francesa, não cuidando sequer de Em cinco anos, o serviço
setor aeroportuário, do ambiente e garantir uma acessibilidade ferro- postal piorou radicalmente.
das populações. viária ao aeroporto, facto único na Até novembro de 2018, encer-
O Governo lançou já em outu- Europa. raram 69 estações de Cor-
bro de 2021 um concurso público A questão de um novo aeroporto reio e, segundo a ANACOM
internacional para a realização da de Lisboa cuja necessidade está (10/01/2019), “subiu para 33 os
avaliação ambiental estratégica inscrita no próprio contrato de concelhos em Portugal que já
da futura solução aeroportuária de concessão da ANA à Vinci con- não têm estações de correios”.
Lisboa, com previsão de entrega figura-se como uma das razões Em novembro de 2021 reabri-
em 2023. É o momento de olhar substantivas para corrigir o grave rá a última das estações de
novamente para a opção Alcoche- erro estratégico de privatizar a correios encerradas em 2018,
te, cujos dados já nos indicam que ANA. A nacionalização da ANA é mas continua a haver um
seria a opção mais viável, caso não apenas condição para resol- défice de postos de correio,
venha a ser necessário no contex- ver a questão de um novo aero- que tantas vezes funcionam a
to de uma política adequada de porto, como também para respon- expensas do Estado.
transportes e transição climática. der às insuficiências que diversos Com a privatização, o total
O outro risco com a opção de aeroportos já apresentam. de reclamações aumentou
122%, originadas por atrasos,
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A REN detém
a exclusividade
do transporte em alta 10.3. Desprivatização da
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nacionais e solidárias em municí- anterior legislatura, não passou territorial”, é preciso construir
pios sem escala, recursos huma- de um processo de municipaliza- essa coesão com a organização
nos com densidade técnica e/ou ção de algumas tarefas do Esta- administrativa que lhe dê susten-
recursos financeiros, é condenar do, feito sem os corresponden- tação. A solução não passa por
a população do interior a servi- tes meios financeiros e mesmo medidas pontuais como a criação
ços públicos (da saúde à educa- humanos, sem que daí saiam de Ministérios ou secretarias de
ção) ainda mais frágeis. medidas efetivas de descentrali- estado que se ocupam do interior
O processo de “descentralização zação das políticas públicas. do país, é preciso um pensamen-
para os municípios” iniciado na Não basta falar de “coesão to estrutural e estruturado.
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▶ Um processo participado,
aberto e democrático com
vista à regionalização. Os
serviços públicos devem estar
adstritos ao nível do Estado
mais ajustado ao seu cumpri-
mento e escrutínio e, em muitos
casos, essa escala é regional.
Assim, é necessário dotar as 11.2. Regiões Autónomas: entre a República e os governos
estruturas intermédias do Esta- solidariedade e democracia regionais.
do de legitimidade democrática. Os custos da insularidade colo- Tem faltado a solidariedade
Os cidadãos e as cidadãs têm cam desafios especiais à coesão orçamental da República para
o direito de eleger os órgãos social e territorial. Segundo os responder às necessidades da
e participar na definição das dados do INE, a população das condição ultraperiférica das
políticas da sua região. A cons- regiões autónomas é a mais ex- regiões autónomas e falta com-
tituição de regiões serve a pro- posta ao risco de pobreza. promisso para os investimentos
moção de políticas de coesão As respostas devem obedecer estratégicos. O aprofundamento
territorial e o escrutínio popular a uma dupla responsabilidade: a das autonomias está ainda refém
do investimento público e de solidariedade nacional e o res- de mecanismos institucionais
políticas económicas com vista peito pela autonomia. Mas com que as menorizam e que lhes re-
a suprir as desigualdades entre demasiada frequência, assiste-se tiram capacidade de decisão em
territórios. a uma total desresponsabilização matérias fundamentais ao seu
com um jogo de passa culpas desenvolvimento.
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de programação no contexto dos sidade dos Açores, tendo em mente daqueles com maior défice
arquipélagos, incluindo mais de- conta a sua insularidade e tripo- ao nível das instalações e meios
legações, profissionalização dos laridade e concretizar o acordo já humanos como a justiça e forças
correspondentes nas ilhas sem firmado entre esta e o governo da de segurança;
delegação, substituição de equi- república;
pamento obsoleto e vinculação ▶ Garantia dos meios necessários
dos e das profissionais em situa- ▶ Garantia de que a ANA pro- com a fiscalização da ZEE;
ção precária. longa a pista do aeroporto da
Horta com vista à melhoria das ▶ Cumprimento do compromis-
Para a Região Autónoma dos condições de operacionalidade; so do governo da república em
Açores, o Bloco propõe ainda: financiar em 85% os prejuízos
▶ Instalação no imediato do causados pelo Furacão Loren-
▶ Fim da presença norte-ame- radar meteorológico da Ter- zo.
ricana na Base das Lajes, com ceira e, no espaço de um ano,
exigência de indemnização para dos radares das Flores e de São Para a Região Autónoma da
reparação de danos sociais e Miguel; Madeira, o Bloco propõe ainda:
ambientais e obrigação de cum-
primento da legislação laboral ▶ Construção do estabele- ▶ Renegociação da dívida da
nacional no período de transição; cimento prisional de Ponta Região ao Estado, permitindo re-
Delgada em local adequado, dução de encargos anuais e dos
▶ Aprofundamento, sistematiza- requalificação do estabelecimento juros totais;
ção, controlo e divulgação de for- prisional da Horta e reforço dos
ma transparente do processo de meios humanos e materiais das ▶ Programa para a melhoria da
requalificação ambiental dos forças de segurança; operacionalidade do Aeroporto
terrenos na Ilha Terceira; da Madeira, incluindo investi-
▶ Pagamento da remuneração mento em meios tecnológicos e
▶ Garantia de duas tripulações complementar a todos os tra- estudo dos ventos;
dos helicópteros da Força Aé- balhadores da administração
rea estacionados nas Lajes que pública central, à semelhança ▶ Reposição da ligação marí-
permitam assegurar evacua- dos trabalhadores da administra- tima regular de passageiros
ções médicas de emergência a ção local e regional; entre a Região e o continente;
todo o tempo;
▶ Cumprimento das obrigações ▶ Concretização da obrigação
▶ No quadro de uma nova política de serviço público de transpor- de financiamento de 50% do
para o mar, constituição no Faial te de carga aérea previstas na Novo Hospital Central da Ma-
de um laboratório do Estado lei e sem aplicação desde 2015; deira;
com estatuto de Instituto Pú-
blico Nacional e no quadro dos ▶ Cumprimento das obriga- ▶ Programa de recuperação dos
projetos de interesse comum; ções do Estado ao nível das serviços públicos da responsa-
condições físicas dos serviços bilidade da República;
▶ Reforço do apoio à Univer- do estado na região, nomeada-
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As medidas que o Bloco apresenta assinou com o Grupo Parlamentar na sequência desse relatório,
já foram discutidas durante a do PS as recomendações do as seguintes políticas, que
vigência do acordo PS-Bloco e relatório do Grupo de Trabalho da constituíram um plano que deve
houve então um compromisso. Em Dívida Pública. O Bloco manteve continuar a ser a agenda de uma
abril de 2017, o Bloco de Esquerda a sua palavra e propôs em 2019, reestruturação da dívida.
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rejeitar o pagamento de uma 12.2. A dívida detida pelo BCE chegam à sua maturidade. Essa
dívida privada. Em novembro O BCE e o Banco de Portugal são deveria ser a regra estável dos
de 2018, uma decisão do Tri- detentores de um stock importante procedimentos futuros, mesmo de-
bunal Europeu de Justiça, no de dívida pública e privada portu- pois do fim do programa compras
caso Kuhn, comprovou que guesa, obtida sobretudo no âmbito de títulos, de modo a não reduzir o
um Estado nacional pode, se do programa de compra de ativos stock de dívida soberana nos ban-
necessário, proceder a cor- durante o período do programa cos centrais, por via de venda de
tes unilaterais a dívida que de expansão monetária do BCE títulos, mantendo-se a reciclagem
esteja sob alçada da jurisdi- (2015-2018). Até setembro de 2021, do stock. Essa política suscita forte
ção nacional, sem que seja em termos líquidos, esse stock oposição por parte das autoridades
possível recorrer a tribunais detido pelo BdP e pelo BCE alcan- da Alemanha e de outros governos
internacionais como sede de ça quase 80 mil milhões de euros que pretendem a reinstauração das
resolução do conflito com de dívida pública portuguesa, i.e., regras da austeridade.
os credores. Fica, portan- correspondente a aproximadamen- A não renovação automática deste
to, confirmado que, se uma te 37% do PIB. stock teria efeitos perigosos nos
reestruturação da dívida pú- Apesar de não ter sido anunciada juros a pagar por novas emissões
blica sob jurisdição nacional uma estratégia de longo prazo para de dívida pública. Por isso mesmo,
não é alcançada por acordo, a gestão desta dívida, o BCE tem o Estado português deve proteger
existe o direito legal da sua tomado medidas para que o stock a sua posição e obter um compro-
imposição pelo Estado. seja reposto com novas compras misso de longo prazo de compras
à medida que alguns dos títulos pelo BCE para, pelo menos, alcan-
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13.2. Tolerância zero aos Suíça, Luxemburgo e Reino Uni- jurisdições, que promovem uma
offshores do - a que se juntam a Irlanda, os corrida para o fundo em impos-
Depois de muitos outras revela- EUA (Delaware e Nevada), Hong tos e impedem padrões mínimos
ções mediáticas, como a suscita- Kong ou Singapura, e também o de decência financeira. Ao invés
da pela investigação jornalística Panamá e as conhecidas ilhas Cai- de promover o investimento ou
aos Panamá Papers, os Pandora mão, Jersey, Virgens Britânicas ou o emprego, como às vezes é
Leaks voltaram a revelar como os Bahamas. Cada um destes países sugerido, os offshores criam uma
offshores estão no centro do crime ou regiões cumpre uma função economia de opacidade e desi-
financeiro. Com base em milhões específica, especializando-se em gualdade. Às grandes empresas
de documentos associados a diferentes serviços oferecidos pela e detentores de fortunas indivi-
14 empresas especializadas em rede offshore, que funciona por duais é assim concedido o privi-
offshores, a investigação revela centros geográficos. Se a Suíça, légio de escaparem às normas e
como líderes mundiais, celebrida- por exemplo, é exímia na proteção leis que, por questões de justiça
des e criminosos utilizam estes do segredo bancário, o Luxem- ou de segurança, se aplicam
serviços para ocultar a origem das burgo facilita a criação de veículos a todas as restantes pessoas.
as suas fortunas, para fugirem aos financeiros, e a Holanda oferece O resultado é a facilitação de
impostos, para evitarem perguntas vantagens fiscais às empresas eu- atividades ilegais ou abusivas, a
incómodas ou até mesmo escapa- ropeias. Hong Kong serve o capital descredibilização dos sistema de
rem à justiça. chinês, e as Bahamas ou o Belize justiça, o agravamento das desi-
Ainda que estejam associadas a são tipicamente utilizados por cri- gualdades e a perda de impor-
ilhas paradisíacas, metade do mer- minosos internacionais. tantes recursos financeiros que
cado offshore é detido por apenas Nenhuma razão é boa para financiam os serviços públicos e
quatro países europeus - Holanda, justificar a existência destas o desenvolvimento económico.
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PROGRAMA ELEITORAL
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Ainda que nenhum país possa adotar um quadro legal de tole- 13.3. A tecnologia
declarar de forma unilateral o rância mínima ao recurso a estas ao serviço do crime
fim dos offshores, Portugal pode jurisdições. económico
Se as contas offshore e o
sistema financeiro sombra
têm estado tipicamente liga-
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A explosão de ativos
como a Bitcoin
ainda, neste universo digital, sites
serve o propósito da
que, a troco de uma comissão,
misturam grandes quantidades de
especulação financeira
criptomoedas, confundindo o seu
rasto (as “misturadoras” ou “blen-
mas também tem estado
ders”).
Num relatório submetido ao
ligada a atividades
Parlamento britânico em 2018,
a jornalista do Financial Times
criminosas.
Izabella Kaminska e o analista
Martin Walker, concluem que as
“criptomoedas e outros ativos
evoluíram de dinheiro fictício de
entusiastas para uma ferramenta As propostas ▶ Criação de um sistema de re-
porte obrigatório dos montantes
de apoio à atividade criminosa
[e daí] para uma ferramenta para
do Bloco detidos em criptomoedas, bem
como de todas as transações
especulação/jogo e evasão fiscal. efetuadas, quer de conversão em
Em nenhum momento, elas tive- moeda corrente como de aqui-
ram uma adesão significativa no sição de bens/serviços ou de
mundo real.” outros ativos digitais;
A rápida adaptação do crime à
tecnologia torna necessária a cria- ▶ Tributação das operações com
ção de mecanismos de controlo criptoativos, nomeadamente
e supervisão, de forma a impedir das suas mais-valias, até agora
o uso das criptomoedas de forma isentas.
abusiva e ilegal.
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PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
A Capacidade
Estratégica
Ados
Capacidade
Serviços
Estratégica
Públicos
dos Serviços
Públicos
VALORIZAR OS SERVIÇOS
PÚBLICOS
ESCOLA PÚBLICA,
PILAR DE IGUALDADE
UM SERVIÇO NACIONAL
DE JUSTIÇA
O DIREITO À CULTURA,
ÀS ARTES E AO PATRIMÓNIO
ENSINO SUPERIOR
E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
SERVIÇOS PÚBLICOS
JUNTO DAS COMUNIDADES
PALAVRAS-CHAVE
EMIGRANTES PORTUGUESAS
DO CAPÍTULO
2022
2026
/ 143
PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
A Capacidade
Estratégica
dos Serviços
Públicos
F
O problema A solução
altam funcionários públicos Um Estado justo e eficiente re-
em quase todos os serviços quer a contratação de funcionários
que garantem o funciona- públicos que garantam a resposta
mento do país e a qualidade da do Estado em todas as áreas e
nossa democracia. Durante mais a valorização dos seus salários e
uma década, governos do PSD/ carreiras. Robustecer e ampliar os
CDS, mas também os do PS, serviços públicos é a prioridade
impuseram uma regra de não do Bloco de Esquerda: uma escola
substituição dos trabalhadores com a melhor educação para todas
que saiam dos quadros do Estado. as crianças e jovens, sem exce-
Simultaneamente, os salários da ções ou propinas que são mecanis-
função pública foram congelados, mos de promoção das desigualda-
mantendo-se uma política de bai- des; um serviço nacional de justiça
xos salários nos primeiros esca- que seja acessível e que garanta a
lões da tabela, entretanto ultrapas- segurança mais básica de toda a
sados pelo aumento dos salários população; uma cultura que multi-
mínimos. O resultado desta políti- plique a acessibilidade, a criação e
ca deliberada de desinvestimento a fruição em todas as suas ativi-
é a escassez de trabalhadores e dades, um investimento sério na
trabalhadoras, com a perda de ciência e no Ensino Superior. São
capacidade do Estado para atrair estas as condições estratégicas
profissionais qualificados e para para uma sociedade mais justa e
responder em áreas chave. uma economia mais sustentável.
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PROGRAMA ELEITORAL
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O combate às
desigualdades é a
principal tarefa da Escola
Pública nos próximos 15. ESCOLA PÚBLICA, PILAR
DE IGUALDADE
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Mesmo perante as exigências diversidade cultural e de capaci- das. No primeiro ciclo observamos
da pandemia, os investimentos dades, e que promova o sucesso e uma das médias mais altas da Eu-
foram sendo feitos a conta gotas a participação de todas as crian- ropa de horas passadas em con-
e dependentes de financiamentos ças e jovens. texto de sala de aula dos alunos.
europeus, como os 400 milhões Isso será impossível sem a partici- A este debate tem de ser asso-
de euros de fundos europeus para pação de docentes e não docen- ciado o debate sobre a formação
recursos digitais. Ainda assim, os tes na organização da escola, sem contínua específica de docentes
computadores, tal como a contra- um processo de reforma curricular deste ciclo de ensino.
tação de assistentes operacionais, participado por toda a comunida- A escola que prepara para o futu-
chegou tarde e insuficiente. Por de educativa, sem a valorização ro não é compatível com modelos
outro lado, o anunciado reforço de de todo pessoal que trabalha na pedagógicos antiquados, expo-
docentes não chega para as ne- Escola e o respeito pelos e pelas sitivos, decorrentes do elevado
cessidades de uma Escola Pública estudantes. Até as tentativas de número de alunos por turma e da
com escassez crónica de pro- implementar práticas pedagógicas necessidade de formar e treinar
fessores, sobretudo em algumas inovadoras, como o programa de para exames anacrónicos. Há ain-
disciplinas. autonomia e flexibilidade curricular da um longo caminho pela frente
Pede-se hoje à Escola quase tudo e a introdução de aprendizagens até a escola pública conseguir eli-
e não se pode exigir menos: que essenciais, esbarram na conti- minar o abandono escolar, baixar
seja espaço de aprendizagem para nuidade de programas extensos as taxas de retenção e assegurar
a cidadania, para a liberdade, para e obsoletos, metas curriculares a possibilidade de terminar a es-
os conhecimentos técnicos e cien- inalcançáveis, um modelo de colaridade obrigatória garantindo
tíficos atuais, para a cultura, a arte avaliação obcecado por exames e igualdade de oportunidades e
e o desporto e que garanta condi- na desarticulação entre os novos frequência para que a sua conclu-
ções de igualdade. Não há escola modelos desejados e a ausência são seja uma realidade em toda a
inclusiva sem uma política educati- de alterações significativas na sociedade. Se os manuais esco-
va que trabalhe esse objetivo. formação de professores. lares gratuitos foram um primeiro
Uma verdadeira educação inclusi- É necessário ainda abrir o debate passo, é necessário, agora, refor-
va passa, entre outros aspetos, por sobre a organização por ciclos. çar a ação social escolar e dotar
uma educação antirracista, uma Portugal tem o primeiro ciclo mais as escolas e todos os alunos e
educação sexual sem preconcei- curto da Europa, decorrente de alunas com as melhores condi-
tos, uma educação laica, aberta à lógicas anacrónicas e desatualiza- ções de aprendizagem possíveis.
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▶ Reforço das respostas de dos vínculos dos profissionais; lização com base na autonomia
educação inclusiva nas esco- das escolas;
las, com contratação direta de ▶ Gestão pública das cantinas
terapeutas e técnicos e técnicas escolares com produção local ▶ Recuperação de um modelo
especializados e alargamento e circuitos curtos de abasteci- de gestão democrático e fim
da rede de unidades de ensino mento; dos mega-agrupamentos;
estruturado e multideficiência;
▶ Revisão da portaria de rá- ▶ Criação, na escola pública, de
▶ Revisão do modelo de Ati- cios, recuperação da especi- cursos pós-laborais dirigidos
vidades de Enriquecimento ficidade funcional do pessoal aos adultos que pretendam me-
Curricular (AEC), Componen- não docente, revisão da tabela lhorar a sua escolaridade;
tes de Apoio à Família (CAF) salarial das carreiras de assis-
e Atividades de Animação de tente operacional e assistente ▶ Adoção de uma estratégia
Apoio à Família (AAF) de modo técnico; descentralizada de erradica-
a valorizar as atividades lúdicas, ção do analfabetismo, com
combatendo a sua excessiva ▶ Reversão da municipalização especial foco na população mais
curricularização e a precariedade e novo modelo de descentra- distante da rede escolar pública.
15.2. Uma proposta para a Gráfico 21 / Distribuição dos docentes (%) por grupo etário
sustentabilidade da escola e nível de ensino (2019/2020)
pública
Todos os anos a falta de profes-
3.º ciclo do Ensino 1,2 9,7 35,3 53,8
sores na escola pública faz-se
Básico e Ensino Sec.
sentir com mais força e mais
cedo. Este é um problema com 1,9 9,5 32,0 56,7
2.º ciclo do Ensino
causas identificadas: a combina-
Básico
ção do envelhecimento, da pre-
cariedade e da desvalorização da 1,5 13,4 43,8 41,3
1.º ciclo do Ensino
carreira docente. No ano letivo
Básico
2021/22, passado o primeiro mês
de aulas já faltavam 691 profes-
3,4 16,0 26,0 54,7
Educação pré-escolar
sores nas escolas de todo o país
e Alemão e Latim eram as únicas 0 20 40 60 80 100
disciplinas em que não havia alu-
nos sem docente.
A percentagem de docentes do
< 30 anos 30-39 anos 40-49 anos ≥ 50 anos
3º ciclo do ensino básico e ensi-
no secundário com menos de 30
anos? É de 1,2%. O alerta parte Fonte: Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, Perfil do Docente 2019/2020
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O envelhecimento da classe do- na formação inicial e no regres- do Corpo Docente, que permitirá
cente representa um risco para so de professores e professoras a substituição voluntária de do-
a sustentabilidade da Escola precários que abandonaram o centes com mais longas carrei-
Pública e é um fator negativo sistema com o acesso à apo- ras contributivas por jovens no
para o desenvolvimento econó- sentação antecipada. Assim, início da carreira, com benefícios
mico do país. A única forma de o Bloco propõe um Programa para um sistema educativo mais
o evitar é combinar uma aposta Especial de Rejuvenescimento inovador (ver tabela 11).
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Tabela 11 / Distribuição dos docentes, por grupo etário, natureza do estabelecimento de ensino e nível de
ensino (2016/2017)
Grupo etário e
Total < 30 anos 30-39 anos 40-49 anos ≥ 50 anos
natureza
Privado Privado Privado Privado Privado
Dependente do
Dependente do
Dependente do
Dependente do
Independente
Independente
Independente
Independente
Independente
Dependente
Público
Público
Público
Público
Público
do Estado
Nível de ensino
Estado
Estado
Estado
Estado
Educadores de
8 133 3 854 2 874 13 157 366 343 1 324 1 239 1 743 1 661 759 6 034 712 510
infância
Docentes do 1.º ciclo
24 435 379 2 468 16 29 260 5 432 221 1 350 9 689 87 482 9 298 42 376
do ensino básico
Docentes do 2.º
ciclo do ensino 19 398 872 1 722 118 24 108 2 366 260 727 6 643 300 528 10 271 288 359
básico
Docentes do 3.º
ciclo do ensino
básico 63 473 2 654 4 364 290 53 188 8 389 848 1 760 24 552 1 107 1 472 30 242 646 944
e do ensino se-
cundário
3.º Ciclo
Ciclo e ano letivo 1.º Ciclo 2.º Ciclo
e Secundário
Grupo etário 2000/01 2019/20 2000/01 2019/20 2000/01 2019/20
Total 36 722 27 548 33 222 21 716 81 724 71 862
< 30 anos 5 759 409 4 665 403 16 697 840
30-39 anos 8 108 3 697 9 089 2 053 29 867 6 994
40-49 anos 15 202 12 061 11 339 6 950 22 898 25 344
≥ 50 anos 7 653 11 381 8 129 12 310 12 262 38 684
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Justiça são um legado crítico da acima das médias europeias, o de reforço dos quadros de profis-
governação do PS. governo nada fez para qualificar sionais para a década 2017-2027.
Esta degradação estende-se às o parque prisional e para conferir É preciso traduzir também na
condições do sistema penitenciá- centralidade à reinserção social, Justiça a centralidade dos ser-
rio. Confrontado com uma taxa de deixando na gaveta o relatório viços públicos de que se faz o
encarceramento e uma duração por si mesmo elaborado com uma nosso modelo constitucional de
média das penas de prisão muito programação de intervenções e democracia.
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A advocacia obteve uma vitória O Bloco de Esquerda continuará categorias; do preenchimento inte-
histórica no referendo que abriu a a opor-se, como já o fez, a esta gral dos lugares vagos e da regula-
porta à possibilidade de os advo- medida; mentação do acesso ao regime de
gados descontarem para a Se- pré-aposentação;
gurança Social, em vez de serem ▶ Dignificação do sistema de
forçados a manter-se numa CPAS execução de penas, criando ▶ Dotação do Instituto de Re-
que não lhes garante a devida condições para que a reinserção gistos e Notariado dos meios
proteção social e perpetua um sis- social deixe de ser desvalorizada e humanos indispensáveis para a
tema injusto. Essa vitória deu força retomando a dinâmica interrompi- garantia de um serviço público
à proposta do Bloco de Esquerda da de aplicação de penas alterna- de qualidade. A inexistência de
de integrar a CPAS na Seguran- tivas à de prisão para a pequena concursos externos há mais de 20
ça Social. A rejeição da proposta criminalidade; requalificando o anos e o aumento progressivo de
do Bloco pelos votos contrários parque penitenciário e proceden- responsabilidades ao longo dos
de PS, PSD, CDS e IL clarifica do à contratação dos profissionais anos degradaram a capacidade
quem defende o quê. O Bloco de necessários, nos termos assumi- de responder adequadamente aos
Esquerda continuará a bater-se dos no Relatório “Olhar o futuro cidadãos e aos requisitos de segu-
para que a CPAS seja integrada na para guiar a ação presente – 2017- rança jurídica na área dos registos
Segurança Social, com a garantia 2027”; pondo fim ao entendimento e notariado. O Bloco de Esquerda
de que quem descontou durante das prisões como offshores de bater-se-á pela urgente abertura
toda uma vida para a CPAS não é legalidade, fazendo cumprir direitos de recrutamento externo, pela revi-
prejudicado; tão básicos como o apoio jurídico são do sistema remuneratório, pela
aos reclusos, a instalação em celas regulamentação em falta da adap-
▶ Recusa das restrições impos- individuais dignas ou a saúde em tação do SIADAP e dos prémios
tas pela Ordem dos Advogados todas as suas valências; de desempenho e produtividade e
no acesso à profissão. A decisão pela atualização urgente dos meios
da ordem de fazer depender o ▶ Respeito dos direitos dos técnicos afetos a este serviço;
acesso à profissão de advogado oficiais de justiça, através da
do grau de mestre revela uma inclusão do suplemento de recu- ▶ Na jurisdição de família e me-
orientação restritiva que, sendo peração processual nos 14 meses nores:
errada em si mesma, é agravada de vencimento, com efeitos a 1 de ▶ Criação de um corpo de
pela evidente carga de discrimina- janeiro de 2021; da abertura de peritos (pediatras, psicólogos,
ção socioeconómica que envolve. concursos para acesso a todas as psiquiatras, técnicos de serviço ▶
159
D/ A CAPACIDADE ESTRATÉGICA
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
social) nos quadros per- 17. O DIREITO À CULTURA, ÀS insuficientes e as redes de so-
manentes dos tribunais de ARTES E AO PATRIMÓNIO lidariedade entre trabalhadores
família; A cultura foi um dos setores mais foram (e são) essenciais.
afetados pela pandemia, com as O Estatuto dos Profissionais da
▶ Formação específica dos medidas sanitárias a impedirem Cultura, aprovado pelo governo
magistrados; ou condicionarem fortemente ati- sem debate parlamentar e com
vidades ao longo do tempo. Com um simulacro de diálogo com as
▶ Revisão dos trâmites a paragem - e num ambiente cró- organizações do setor, não dá
dos processos penais que nico de desregulação laboral e garantias de uma mudança signi-
envolvam menores, no fragilidade das políticas públicas ficativa. Faltam mecanismos de
sentido de evitar repetição - milhares de trabalhadores fica- imposição do cumprimento da le-
de atos em sede cível (que ram sem trabalho e , em tantos gislação laboral, de promoção do
penalizam duplamente as casos sem acesso ao subsídio contrato de trabalho e combate
vítimas obrigadas a reviver de desemprego ou mesmo aos aos falsos recibos verdes, e um
as situações); apoios extraordinários criados regime de proteção no desem-
neste período. A quebra de re- prego abrangente e adequado às
▶ Criação de secções da ceitas das instituições culturais - especificidades do setor.
família e da criança nos das artes ao património - pôs em A desregulação laboral e a des-
tribunais superiores. causa tarefas básicas de manu- proteção social dos trabalhado-
tenção e ditou mesmo encerra- res é um dos problemas estrutu-
▶ Criação de um julgado de mentos definitivos. Os programas rais do setor cultural, mas não o
paz por município, ou por lançados pelo governo durante a único. Nos últimos vinte anos, as
agrupamento de municípios, pandemia, e em resposta à força políticas públicas para a Cul-
cuja população seja igual ou reivindicativa sem precedentes tura sofreram uma estagnação,
superior a 50 mil habitantes. de um sector em desespero, tanto orçamental como teórica,
revelaram-se desadequados e com as suas atividades nuclea-
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D/ A CAPACIDADE ESTRATÉGICA
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
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BLOCO DE ESQUERDA
As propostas
do Bloco
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▶ Alteração do Estatuto dos com apoio à retoma de atividade bliotecas e arquivos nacionais),
Profissionais da Cultura, com de micro e pequenas empresas e das orquestras regionais e das
medidas concretas para a pro- de associações, agentes e produ- entidades privadas que contra-
moção de contratos dos trabalho tores, salas de espetáculos e ou- tualizam serviço público com o
e combate à precariedade - em tros espaços culturais de pequena Estado; concursos, protocolos e
especial ao falso trabalho autóno- dimensão, incluindo apoio à regu- financiamento em prazos com-
mo - , mais apoio à reconversão larização de contratos de trabalho patíveis com a programação;
nas profissões de desgaste rápido e à recontratação de trabalhado- transparência e simplificação dos
e universalização do acesso à res da cultura que se viram for- respetivos procedimentos;
proteção social na intermitência; çados a procurar outra atividade
desde o início da pandemia; ▶ Revisão da tutela dos mu-
▶ Programa de combate ao tra- seus, património classificado e
balho informal, com responsabi- ▶ Inscrição no Orçamento do património arqueológico, com-
lização das entidades patronais e Estado a dotação de 1% do PIB batendo o gigantismo da DGPC,
possibilidade de reconstituição de para a Cultura; e efetivar a aplicação da Lei da
carreiras contributivas; Autonomia e Monumentos;
▶ Criação de uma Lei de Bases
▶ Vinculação dos trabalhado- da Cultura que redefina o papel ▶ Recuperação dos laborató-
res precários dos organismos do Estado na democratização rios de conservação e restau-
públicos e autonomia de con- e universalização dos serviços ro, dotando-os dos meios neces-
tratação das instituições públicas públicos de Cultura, reorganizan- sários e salvaguardando o saber
para preenchimento dos lugares do legislação e reativando e redes acumulado durante décadas
de quadro vazios; existentes, como a Lei Quadro nesta área;
dos Museus Portugueses, a Lei
▶ Garantia do cumprimento da de Bases do Património Cultural, a ▶ Definição de estratégias dife-
legislação laboral, nomeada- Rede Nacional de Bibliotecas e a renciadas para os usos de inte-
mente a celebração de contratos Rede de Teatros e Cineteatros; resse público do Património;
de trabalho, nos protocolos e pro-
gramas de financiamento público ▶ Reativação do Observatório ▶ Promoção dos Arquivos
a instituições e projetos culturais; das Atividades Culturais como Nacionais, com garantias de
organismo do Ministério da Cul- autonomia, meios adequados e
▶ Criação de uma plataforma tura e redefinição do Conselho política de novas incorporações
online com recursos e mate- Nacional de Cultura como local de para a Torre do Tombo e para o
riais úteis aos trabalhadores da pensamento estratégico das políti- Arquivo Nacional das Imagens
cultura, como legislação laboral, cas públicas de cultura, nomeada- em Movimento e com a concreti-
informação sobre proteção social mente garantindo a autonomia da zação do Arquivo do Som;
e fiscalidade, minutas de contra- secção de património e extinguin-
tos, documentos de boas práticas do a secção de tauromaquia; ▶ Programa de salvamen-
e contactos úteis; to e valorização de arquivos
▶ Financiamento plurianual e inventários do Património
▶ Programa excepcional de dos equipamentos públicos Cultural Português material e
recuperação do tecido cultural (museus, teatros nacionais, bi- imaterial;
163
D/ A CAPACIDADE ESTRATÉGICA
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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2022
2026
▶ Promoção da produção
e fruição da cultura: pre-
sença de produção nacional
na web, com disponibili-
zação gratuita de todas as
obras nacionais em domínio
público, descriminalização
da partilha não comercial,
programa estratégico para
arquivos, definição de crité-
rios de coleção, preservação,
documentação, digitalização
e acesso público;
▶ Criação de um plano de
visibilização, fomento e
mediação dirigido a mani-
festações culturais de comu-
nidades minoritárias; 18. ENSINO SUPERIOR E público anémico e manifestamente
INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA insuficiente, optando frequente-
▶ Garantia do acesso pleno A produção de conhecimento mente por preterir ciência funda-
a pessoas com diversidade através da ciência, a sua dissemi- mental por ciência aplicada de du-
funcional a equipamentos nação e partilha são instrumentos vidosa qualidade centrada numa
culturais, apoio à interpreta- essenciais para a luta contra o visão utilitarista da ciência como
ção em língua gestual por- obscurantismo e a ignorância em mero instrumento económico e as-
tuguesa nos espetáculos ao geral, que põem em causa não só sente na ideia simplista e redutora
vivo e à produção de versões a compreensão e resolução das de que crescimento económico é
em braille ou em áudio dos presentes emergências ambien- sinónimo de qualidade de vida.
materiais impressos; tais, sanitárias e sociais, mas São assim urgentes políticas que
também a maneira como perspe- revertam esta situação e que
▶ Política de preços que tivamos e lidamos com potenciais garantam a execução de objetivos
garanta o direito de aces- desafios e crises futuras. definidos após reflexão profunda e
so aos equipamentos cul- Assiste-se atualmente a uma discussão alargada, e que viabili-
turais: programas de acesso rápida e preocupante erosão da zem e consolidem infraestruturas
livre para estudantes, de- confiança do público na evidência de investigação científica e a for-
sempregados e reformados, científica e a uma degradação sis- mação e manutenção de traba-
bilhetes de família a preços témica da governança da ciência, lhadores qualificados que dentro
acessíveis e dias de acesso frequentemente sem estratégias do sistema científico nacional
gratuito. informadas e de difícil aplicação, promovam efetivamente a criação
sustentadas por um investimento de conhecimento e inovação, a
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D/ A CAPACIDADE ESTRATÉGICA
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PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
A despesa em Portugal
com o Ensino Superior é
de tal forma limitada que
não atinge 1,5 do PIB.
defesa dos valores imateriais da em Ciência, mas dois terços desse défice democrático, transformou o
ciência e da cultura científica e, di- valor dependem de investimen- Ensino Superior numa fábrica de
reta e indiretamente o aumento da to privado e são incertos. Esta gente precária: falsos bolseiros e
prosperidade, saúde, segurança e inversão do papel do Estado na bolseiras, docentes contratados
bem estar de todos os cidadãos. garantia de investimento públi- e contratadas de semestre em
co num setor tão fundamental é semestre para assegurar tarefas
18.1. Por uma política de justamente aquilo que o Bloco se permanentes, uso e abuso da
investimento público no Ensino propõe alterar. figura de “docente convidado ou
Superior e na Ciência convidada” para evitar a aber-
Na última década, as instituições 18.2. Democratizar as tura de concursos para lugar de
de Ensino Superior e todo o setor Instituições de Ensino Superior, carreira são apenas alguns exem-
sofreram uma quebra de cerca de combater a mercantilização e plos do estado de degradação
um terço no seu financiamento, reverter a precariedade que o setor atingiu. A abertura
conduzindo-as a uma política de O Regime Jurídico das Instituições do Processo de Regularização
gestão de curto prazo e de so- de Ensino Superior (RJIES) intro- Extraordinária de Vínculos Labo-
brevivência, baseada na procura duziu uma lógica mercantil no fun- rais Precários na Administração
de receitas próprias - propinas, cionamento do sistema, patente na Pública (PREVPAP) trouxe luzes
contratos com empresas privadas, entrada para os Conselhos Gerais sobre a dimensão da precariedade
taxas e emolumentos. A despesa dos representantes dos principais na investigação e no ensino supe-
em Portugal com o Ensino Supe- grupos económicos, ao mesmo rior. No entanto, quer o PREVPAP
rior é de tal forma limitada que não tempo que remeteu para um nível quer a Lei 57/2017 têm tido uma
atinge 1,5 do PIB. A pressão para quase simbólico a democracia aplicação muito limitada, tendo
as instituições de Ensino Superior na gestão da academia. O RJIES esbarrado na oposição de muitos
procurarem financiamento próprio estabeleceu ainda uma hierarquia reitores e na inação do governo.
implica uma transformação brutal inaceitável entre universidades Durante a pandemia, o aumento
na natureza da sua gestão e do do mesmo sistema, introduzindo do assédio laboral e a maior con-
próprio fim do Ensino Superior incentivos financeiros em função centração de poder nos reitores
Público enquanto serviço público. das escolhas de modelo de gestão e presidentes dos politécnicos
Os objetivos traçados pelo atual e condicionando, por essa via, a tornaram ainda mais desigual esta
ministro não são animadores. Nos autonomia das instituições. relação que, na verdade, deveria
seus cálculos, Portugal deverá A empresarialização da gestão pautar-se por um respeito profis-
alcançar a meta dos 3% do PIB académica, combinada com o sional e académico entre pares.
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Por um novo Desde meados da década de 90, as escolas privadas tenham trans-
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PROGRAMA ELEITORAL
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▶ Plano Nacional com fundos ▶ Revisão dos estatutos das ▶ Revogação do Estatuto
públicos para o alargamento da carreiras docentes com de- de Bolseiro de Investigação
rede de residências estudan- finição de critérios claros de Científica e obrigatoriedade
tis e revisão do regulamento avaliação de desempenho e de contratação de investigado-
de bolsas com reformulação da regras justas de progressão; res e investigadoras ao abri-
fórmula de cálculo e definição de go do Estatuto da Carreira de
um calendário certo e regular para ▶ Valorização do Ensino Investigação Científica através
a transferência das bolsas; Superior Politécnico, aprofun- de um rácio mínimo de pes-
dando o seu financiamento e soal na carreira para aceder
▶ Revisão do Regime Jurídi- os mecanismos de ação social, a financiamento estatal e/ou
co das Instituições de Ensino garantindo efetivamente a pos- comunitário;
Superior, recuperando o princípio sibilidade destas instituições
da participação paritária entre ministrarem doutoramentos e ▶ Regulamentação das Car-
corpos e de género nos órgãos reforçando a sua capacidade na reira de Docente no Ensino
de gestão e o princípio da eleição área da investigação científica; Superior Privado, em nego-
do ou da reitora/presidente por ciação com as organizações
um colégio eleitoral alargado e ▶ Alteração do modelo de representativas da classe;
representativo; funcionamento da FCT, atra-
vés da contratação de pessoal ▶ Alargamento dos Centros
▶ Discussão sobre um Novo especializado, um modelo de de Ciência Viva no país, apro-
Modelo de Acesso ao Ensino governança que garanta mais ximando este programa da
Superior e o fim dos exames autonomia na decisão e melhor realidade educativa, social e
nacionais; ligação com o setor científico; cultural desses territórios.
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D/ A CAPACIDADE ESTRATÉGICA
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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ral e não respondem sequer às mais fundamentais como passaporte e que frequentam este ensino. O Blo-
básicas formalidades administrati- Cartão de Cidadão ou por resposta co propôs a reversão desta propina
vas. Os seus trabalhadores sofrem em processos da segurança social. criada no período da Troika, mas o
a pressão de afluxo de solicitações O ensino da língua portuguesa para PS votou contra.
a que não conseguem responder e crianças de segunda geração tam- Apesar de iniciativas bem sucedidas
que não foram – e em muitos casos, bém sofreu limitações: foi reduzido do Bloco na criação do recensea-
nem podem ser - resolvidas pela em termos territoriais e passou a ser mento eleitoral automático na área de
digitalização dos serviços. Hoje, pago através da chamada “propina”. residência do emigrante e do voto ter
as e os emigrantes portugueses A introdução da propina fez cair passado a ser gratuito, a participação
esperam meses por documentos para metade o número de crianças eleitoral é reduzida e complicada.
171
PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
Uma Sociedade
Justa, Progressista
e Inclusiva
UM PAÍS FEMINISTA
DEMOCRACIA
COM QUALIDADE
PALAVRAS-CHAVE
DEFENDER O BEM ESTAR
DOANIMAL
CAPÍTULO
2022
2026
/ 173
Uma Sociedade
Justa,
Progressista
e Inclusiva
O
O problema Portugal é atravessado por muitas
discurso que menoriza fronteiras internas que impedem
as mulheres e as práticas que se concretizem os princípios
sociais que as condenam da igualdade e respeito por todas
à dupla jornada de trabalho, à as pessoas, sem exceção.
desigualdade salarial e à pobre-
za reforçam-se mutuamente no A solução
preconceito e no abuso. Um velho O Bloco de Esquerda bate-se por
racismo sistémico que se mani- uma agenda feminista que afirme
festa de muitas formas, desde a a igualdade plena entre homens
saudade colonial até à violência e mulheres. Enfrentamos o racis-
contra comunidades racializadas, mo, que destrói a vida social e
que enfrentam inúmeras discri- combatemos todas as formas de
minações no seu quotidiano, do discriminação. À política do ódio e
acesso ao trabalho à violência desinformação da extrema-direita
policial. Uma política de imigra- contrapomos uma cultura de res-
ção que, embora envolta num peito, uma democracia informada
discurso de tolerância e aco- e a garantia de direitos iguais,
lhimento, nega aos migrantes e sem exceções. Contra a violência
refugiados direitos essenciais. e o desrespeito por todas as for-
A discriminação que permanece mas de vida, apresentamos ainda
contra a comunidade LGBTQI, medidas concretas para defender
apesar das conquistas legais dos o bem-estar animal.
últimos anos. A invisibilidade das
pessoas com deficiência, das 20. UM PAÍS FEMINISTA
suas dificuldades quotidianas e As mulheres são exploradas na
do seu direito à autonomia. To- desigualdade salarial e no traba-
das estas realidade provam que lho doméstico e oprimidas por
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Foto / Ana Mendes
E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
sobre algumas das suas opções cia obstétrica como a manobra de tomia em Portugal acima dos 70%.
possíveis no trabalho de parto e Kristeller, a episiotomia de rotina, Entretanto, o Consórcio Português
parto” e 44% não foram consul- e o escandalosamente chamado de Dados Obstétricos, compos-
tadas sobre as intervenções às “ponto do marido”. to por serviços de 13 hospitais,
quais foram sujeitas. Impõe-se uma chamada de aten- registou uma taxa de episiotomia
Apesar de recentes alterações ção particular para a episiotomia na ordem dos 25% em partos va-
positivas, a lei está longe de se (corte no períneo, área muscu- ginais (próxima da preconizada a
traduzir numa mudança efetiva no lar entre a vagina e o ânus, para nível das recomendações interna-
combate à violência obstétrica. De ampliar o canal), que tem sido cionais) e 63% em partos instru-
tal modo que, em maio de 2021, desaconselhada pela OMS como mentados. Sendo de salientar que
uma ampla maioria na Assem- prática de rotina. Dados do Euro- faltam dados mais globais e mais
bleia da República aprovou uma -Peristat e do Observatório Por- completos sobre o parto e o cum-
recomendação ao Governo para a tuguês dos Sistemas de Saúde, primento dos direitos na gravidez
eliminação de práticas de violên- apontam para uma taxa de episio- e no parto.
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Total
40 34 36 22 46 29 44 27 42 38 45 30 22 20 28 31 35 569
Ano após ano, os números da A marca de género na violência violências. Sendo de referir a
violência contra as mulheres con- sobressai também nos crimes situação particularmente preo-
tinuam a envergonhar o país. De contra a liberdade e a autodeter- cupante das mulheres trans. O
acordo com o Relatório Anual de minação sexual, conforme de- Trans Murder Monitoring regis-
Segurança Interna (RASI 2021) monstra o RASI 2021. Nos crimes tou a nível mundial 350 pessoas
mais recente, a violência doméstica de violação, 99% dos arguidos trans assassinadas em 2019,
contra cônjuge ou situação análoga, são homens e 92% das vítimas 98% das quais do género femini-
apesar de ter diminuído em 2020 são mulheres. Nos casos de abu- no, 50% imigrantes.
face ao ano anterior, continuou a so sexual de menores, 93% dos Em Portugal, desde que foi cria-
ser o crime mais participado em arguidos são homens e as suas do o Observatório de Mulheres
Portugal, representando 85% das vítimas correspondem a 80% de Assassinadas (UMAR) há registo
mais de 27 mil queixas por violên- raparigas e 23% de rapazes. de 569 mortes (2004-2020). Só
cia doméstica. Do total de vítimas Acresce que as mulheres mais em em 2020 registaram-se 35
de violência doméstica, 75% são pobres, as mulheres lésbicas, mulheres assassinadas, tendo
mulheres e raparigas, enquanto bissexuais e trans, as pessoas sido 19 vítimas de femicídio em
81% dos denunciados são homens. não-binárias, as pessoas racia- contexto de relações de intimi-
A estes registos faltam todos os lizadas e as pessoas com de- dade e 16 mulheres assassina-
casos que ficaram em silêncio. ficiência são alvo de múltiplas das noutros contextos.
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40 38 37
31 31 32 31
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25 25
23 23
20 19 19
14 14
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
A desigualdade salarial entre Tabela 14 / Diferença salarial entre homens e mulheres em regime de
trabalho a tempo inteiro, 2019
homens e mulheres é outra das
consequências da sociedade
patriarcal. Em 2021, o Dia Europeu
da Igualdade Salarial foi come- Média de ganhos Média (H) Média (M) GPG simples GPG ajustado
morado a 10 de novembro, data Ganho mensal 1 268,76€ 1 043,78€ 17,73% 21,97%
a partir da qual, simbolicamen- Ganho por hora 7.40€ 6.19€ 16,29% 20,69%
te, as mulheres deixaram de ser
pagas, devido à diferença salarial.
É como se trabalhassem gratuita- Fonte: Projeto “Os benefícios sociais e económicos da igualdade salarial entre mulheres e homens”, ISEG/CEMA-
mente o resto do ano. PRE/CESIS 2021
É um facto que as mulheres estão
mais representadas em profis-
sões com salários mais baixos,
mas isso está bem longe de
explicar 85% da diferença salarial. remuneratória entre mulheres e nibilização de mais informação,
Essa desigualdade faz-se sentir homens por trabalho igual ficou abrangência de todos os empre-
de forma mais aguda entre as ainda longe do desejável. É ne- gadores, prazos mais apertados
mais velhas: das 162 mil pessoas cessário avaliar o impacto de uma para as empresas resolverem a
abrangidas pelo complemento so- lei cuja aplicação se limitava nos situação, reforço da fiscalização
lidário para idosos em 2021, 70% primeiros três anos às empresas e das penalizações por incumpri-
são mulheres. com mais de 250 trabalhadores. mento da igualdade salarial (ver
A aprovação da lei da igualdade E revê-la no sentido da dispo- tabela 14 e gráfico 24).
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
1 069,00€
993,80€
997,40€
977,60€
876,80€
840,30€
920,00€
801,80€
816,20€
712,70€
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
PROGRAMA ELEITORAL
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▶ Inclusão, no desenvolvimen-
to de todas estas medidas,
da participação direta de
organizações antirracistas e
representativas das comuni-
dades racializadas.
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2026
Em 2019 as pessoas
migrantes residentes em
Portugal contribuíram
oito vezes mais do
que receberam para a
Segurança Social.
As pessoas migrantes estão sua força de trabalho e a determi-
sujeitas a maior precariedade e nação de conquistar uma vida dig-
exploração laboral. Estão sobre na, estende-se o tempo exasperan-
representadas nas profissões te de espera por um atendimento
menos qualificadas, nos grupos no SEF, a permanência interminá-
profissionais de base associados vel em condição irregular, excluídos
à construção, indústria e transpor- dos apoios e proteção social e nas
tes. Nestas profissões têm salários margens da inclusão e pertença à
mais baixos, maior risco de sinis- sociedade, tornadas cidadãos de
tralidade laboral, são mais afetados segunda categoria.
pelo desemprego e beneficiam Para os e as imigrantes ricos, que
menos do subsídio de desemprego, tenham 500 mil euros para com-
enfrentando assim maior risco de prar habitação de luxo, estende-se
pobreza e exclusão social. a passadeira vermelha dos vistos
Um país, dois sistemas – bem se gold, com inteira complacência
poderia sintetizar assim o modo com a corrupção e o branquea-
como Portugal se relaciona com mento de capitais a que podem es-
os e as imigrantes: para os e as tar associados; ou são concedidos
imigrantes que aqui chegam com a benefícios fiscais como o regime
fiscal para residentes não habituais.
Por outro lado, o compromisso de
acolhimento de pessoas em situa-
ção de refúgio e requerentes de
asilo não tem sido acompanhado
de uma política de acolhimento se-
As pessoas Em 2019 as pessoas migrantes
residentes em Portugal contri-
riamente programada, o que resulta
em frustração e desapontamento
migrantes buíram oito vezes mais do que dos e das requerentes de proteção
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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PROGRAMA ELEITORAL
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E/ UMA SOCIEDADE JUSTA,
PROGRESSISTA E INCLUSIVA
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
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2022
2026
21.5. Despenalizar a morte o Bloco de Esquerda esteve na pletar o processo legislativo até à
assistida primeira linha desse trabalho que aprovação definitiva da lei.
Dando voz a uma luta de déca- resultou numa aprovação por lar-
das, o Bloco de Esquerda este- ga maioria da nova versão da lei. 22. DIREITOS DAS PESSOAS
ve na primeira linha da luta por A devolução à Assembleia da COM DEFICIÊNCIA
uma lei que despenalize a morte República por Marcelo Rebelo de Em seis meses de pandemia a
assistida em Portugal. No progra- Sousa a nova versão da lei, que já taxa de desemprego das pessoas
ma eleitoral que apresentámos integrava a resposta às questões com deficiência voltou aos ní-
ao país em 2018 assumimos o suscitadas pelo Tribunal Consti- veis de 2016. Este aumento, que
compromisso de apresentar uma tucional, mostra à evidência que se reflete na subida do número
proposta de despenalização da o Presidente da República se de pessoas em busca de novo
morte assistida nos mesmos constituiu numa força de bloqueio emprego ou desempregadas há
termos da que havíamos apresen- à decisão da maioria do parla- mais de 12 meses, está relacio-
tado em 2018. Assim fizemos e a mento e da opinião da maioria da nado com a situação de preca-
aprovação, em fevereiro de 2020, sociedade portuguesa. O Bloco riedade laboral destes trabalha-
das propostas do Bloco e de ou- de Esquerda não esmorecerá dores. Quando não se convertem
tros partidos, abriu caminho para diante desta persistente oposição em desemprego, os estágios de
uma lei tolerante e rigorosa que de Belém à adoção de uma lei de inserção dão origem a contratos a
não obriga ninguém e que res- respeito por todas as pessoas e prazo sem estabilidade de longo
peita a decisão de cada pessoa. assume o compromisso de com- prazo.
Chamámos-lhe Lei João Semedo,
porque o país inteiro reconhece o
seu papel determinante na mobili-
zação de saber, de sensibilidades
Gráfico 27 / Desemprego na população com deficiência
e de apoio político e parlamentar
para dotar Portugal de uma lei
progressista e de grande huma- 14 000
nismo sobre esta matéria. 13 183 12 911 13 270
12 000 12 135 12 027 ▲10%
Por iniciativa do Presidente da
República, o Tribunal Constitucio-
10 000
nal pronunciou-se pela incons-
titucionalidade da lei aprovada 8 000 7 645 7 261
pelo parlamento. Mas, rejeitando 7 048
6 570 6 395
a tese ultraconservadora de uma 6 000
inconstitucionalidade absoluta por 6 222
4 000 5 538 5 650 5 545 5 632
alegada violação do direito à vida,
o Tribunal declarou expressamen-
2016 2017 2018 2019 Jan-Jun
te que o direito à vida não implica
(2020)
uma obrigação de viver e exigiu
apenas que se especificasse me-
Homens Mulheres Homens+Mulheres
lhor um dos conceitos fundamen-
tais usados na lei. Foi isso que o
parlamento fez e, uma vez mais, Fonte: IEFP
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2026
35% 32,8
30% 29,1
27,1 28,1
25%
18,1 17,9
20% 18,3
15%
10%
5%
0%
Sem Deficiência Deficiência Mulheres Homens Mulheres Homens
deficiência moderada grave com deficiência com deficiência sem deficiência sem deficiência
197
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Esta realidade mostra um país em Tanto a direita como o PS perpe- restringiu o financiamento de
que o discurso sobre os direitos tuam essas políticas. O governo tal forma que é impossível os
humanos é frequentemente pouco do PS entregou os projetos-pi- utilizadores e utilizadoras de
mais que isso mesmo. A focagem loto de assistência pessoal/vida assistência pessoal mais depen-
assistencialista e institucionaliza- independente às IPSS, em vez de dentes terem o número de horas
dora das políticas é parte desse reforçar a organização autónoma de assistência que necessitam e
problema. das pessoas com deficiência, e que a lei prevê.
198
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2026
Estar institucionalizado
É mais que tempo de abandonar
definitivamente as políticas assis-
significa a perda da
tencialistas e institucionalizadoras
que têm sido dominantes e pro-
capacidade de decisão
mover uma política baseada nos
direitos humanos, que crie todas
sobre a vida.
as condições necessárias ao cum-
primento do que está estabelecido
na Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência.
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▶ Revisão da PSI para alterar as aprendizagem da Língua Ges- ▶ Introdução do Direito a 150h
regras de acesso e condição de tual Portuguesa para todos; anuais de Interpretação de
recursos de modo a não incluir os Língua Gestual Portuguesa no
rendimentos de familiares para a ▶ Reforço da áudio descrição, código do trabalho;
capitação do beneficiário; alargar legendagem e interpretação de
acesso a todas as pessoas com Língua Gestual Portuguesa dos ▶ Financiamento para a adap-
60% ou mais de incapacidade; e conteúdos audiovisuais; tação e eliminação de barreiras
fazer convergir progressivamente o arquitetonicas em habitações;
valor da PSI para adultos em idade ▶ Promoção do reconhecimento
ativa com o valor do salário míni- da Língua Gestual Portuguesa ▶ Alargamento para 100% do
mo; como idioma oficial do Estado financiamento em regime de
português; crédito bonificado à habitação
▶ Aumento do Complemento por e criação de um contingente
dependência e do Subsídio por ▶ Criação de condições para para pessoas com deficiência
assistência de terceira pessoa; a inclusão de estudantes com na oferta pública de habitação a
necessidades educativas espe- custos controlados;
▶ Alargamento da antecipação ciais no ensino superior através
da idade pessoal de reforma e da garantia de verbas para as ▶ Garantia de financiamento
majoração dos dias de férias instituições de ensino superior para público à adaptação de barrei-
para pessoas com deficiência, garantir recursos especializados, ras arquitetónicas e urbanísti-
em função do grau de capacidade; materiais pedagógicos, alojamen- cas dos espaços públicos, com
tos adaptados e assistência pes- a fiscalização do cumprimento do
▶ Simplificação e reforço do sis- soal; Decreto Lei 163/06, cujo prazo
tema de atribuição de produtos terminou em 2017;
de apoio, com vista à sua gratuiti- ▶ Criação de condições para o
dade, e estabelecimento de prazos efetivo cumprimento do Regime ▶ Adaptação das infraestrutu-
para o financiamento e a entrega do Maior Acompanhado, nomea- ras de transportes e respetivo
dos mesmos; damente através da criação de material circulante; atribuição do
um sistema de apoio à tomada de Passe Social a preço reduzido para
▶ Sensibilização da comunidade decisão por pessoas com deficiên- pessoas com grau de incapacida-
médica para os direitos sexuais cia, e da formação de magistrados de superior a 60%; e atribuição de
e reprodutivos das pessoas com e demais profissionais da Justiça título de transporte gratuito para
deficiência, nomeadamente na sobre os direitos tutelados na Con- Assistentes Pessoais e Cuidadores
pré- concepção, na procriação me- venção dos Direitos das Pessoas informais quando a acompanhar a
dicamente assistida, na gravidez, com Deficiência; pessoa com deficiência;
no parto, no nascimento, no pós-
-parto e na interrupção voluntária ▶ Cumprimento da legislação ▶ Generalização do Balcão da
da gravidez; de quotas de emprego e alar- Inclusão a todos os Municípios,
gamento do novo regime para mediante apoio da Administração
▶ Reforço da Educação Bilín- o teletrabalho às pessoas com Central às autarquias para a sua
gue para os alunos Surdos e da deficiência; instalação.
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▶ Neutralidade e liberdade
de expressão na Internet.
Nenhuma censura pode ser
tolerada, nenhuma filtragem de
conteúdos em estabelecimen-
tos públicos, sejam bibliotecas
públicas, académicas, de inves-
tigação ou arquivos sejam ou-
tros postos públicos de acesso.
Os filtros já instalados deverão
ser removidos;
▶ Promoção do uso de
Repositórios Abertos para a
produção científica e de apren-
dizagem.
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co em desporto ronda os 52 euros A sustentabilidade das instituições mente num momento de crise, ser
por habitante, muito abaixo da que promovem a prática desportiva escamoteados.
média da europeia, que se situa está a ser posta em causa. O papel A par das matérias orçamentais, o
nos 108 euros por habitante. Esse deste setor na coesão territorial Bloco reafirma o seu compromisso
baixo investimento crónico deve e no combate ao abandono das para a busca de respostas fortes
ser contrabalançado na resposta zonas de baixa densidade popula- no combate a todas as manifesta-
à crise. A pandemia da Covid-19 cional é indiscutível. A par disso, os ções de violência e ódio patentes
provocada pelo novo coronavírus escalões de formação têm desem- nos espetáculos desportivos, tal
SARS-COV-2 tornou-se não ape- penhado uma função de combate como está apostado em defen-
nas uma crise da saúde pública, ao abandono escolar, pedagogia de der os direitos laborais de todos
mas também uma crise socioeco- trabalho em grupo, desenvolvimen- os atletas e agentes sociais en-
nómica que afeta os mais variados to físico saudável e fortalecimento volvidos. O papel inclusivo e de
setores. O setor do desporto é um da saúde mental. Os impactos promoção da igualdade no Des-
dos mais afetados, dada a para- positivos nas políticas públicas e porto deve ser encarado como um
gem longa a que a maioria das no bem-estar da população são objetivo social e uma regra para o
modalidades está sujeita. evidentes e não podem, principal- seu funcionamento.
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PROGRAMA BLOCO
ELEITORAL DE ESQUERDA
Garantir
Lá Fora
o que Queremos
Cá Dentro
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Uma Sociedade
Justa,
Progressista
e Inclusiva
P
O problema operam no país.
Por demasiado tempo, os Outros compromissos interna-
diversos governos aceita- cionais agravam estas depen-
ram um princípio implacá- dências, como a participação na
vel: as regras da Comissão Euro- NATO que, malgrado o seu fra-
peia, da tecnocracia europeia, ou casso no Afeganistão, continua a
das principais potências como o prolongar os interesses imperiais
da Alemanha, são indiscutíveis e da Casa Branca e dos seus po-
imperativas em Portugal. Assim, deres satelizados, e até promove
apesar de promessas sucessivas estratégias de tensão em todo o
e sempre violadas, nunca houve mundo.
um referendo sobre a adesão à
UE, ao euro ou aos tratados que A solução
têm transformado a relação de O Bloco de Esquerda defende
soberania com as instituições como prioridade a desvinculação
europeias. A decisão parlamentar do Tratado Orçamental e a recu-
sobre matérias essenciais da vida sa da União Bancária, de modo a
nacional, como os Orçamentos retomar a capacidade de decisão
de Estado, normas fiscais ou de autónoma sobre investimento e
gestão de empresas e programas sobre a gestão do sistema ban-
públicos, é submetida a vigilância cário e financeiro, manifestando
ou até a autorização prévia por a sua insubmissão em relação às
parte de autoridades de Bruxe- regras do euro.
las e Estrasburgo. O Banco de Uma política externa assente nos
Portugal tornou-se uma agência direitos humanos e na solidarie-
do BCE e o governo português dade implica igualmente a rejei-
perdeu a capacidade de decidir ção da participação na NATO e
sobre os principais bancos que nas suas operações militares.
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2026
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F/ GARANTIR LÁ FORA O QUE
QUEREMOS CÁ DENTRO
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
A capacidade de concretizar as
propostas que aqui apresentamos
joga-se na robustez do movimento
popular, na relação de forças re-
sultante das eleições e no enfren-
tamento determinado dos cons-
trangimentos externos resultantes
de alinhamentos que têm roubado
ao país a possibilidade de fazer
escolhas em favor dos e das de-
baixo. Uma esquerda de confiança
é também aquela que desafia os
cânones da política externa para
garantir lá fora o que queremos cá
dentro. Isso faz-se em dois planos:
na política europeia e na política desta dívida. A dívida pública serviços públicos e o investimen-
externa mais vasta. portuguesa, que estava contro- to. O problema destas respostas é
lada em 50% do PIB antes da que amarram o país a um per-
26. UMA POLÍTICA EUROPEIA entrada no Euro e começou a curso de subdesenvolvimento e
PARA DEFENDER O PAÍS crescer paulatinamente devido à divergência. A estagnação eco-
A entrada na União Económica e estagnação económica dos anos nómica agrava os problemas de
Monetária alterou por completo que se seguiram, disparou para endividamento público. O colapso
as regras e os instrumentos das 130% graças à recessão provoca- do investimento agrava a depen-
políticas económicas nacionais. da pela crise financeira e, subse- dência externa.
Com o desaparecimento das quentemente, pelo programa de A alternativa da esquerda parte
políticas monetária e cambial, ajustamento da troika. A redução do problema do fundo da nossa
os desequilíbrios entre Estados- dos últimos anos ficou a dever-se inserção na União Económica
-membros dispararam com exce- à criação de emprego resultante e Monetária. A única estratégia
dentes correntes crescentes nas da reversão de uma parte das sustentável é uma política que
economias do centro e défices políticas da troika. A expressão investe nos setores determinantes
também crescentes na periferia. “Crise das dívidas soberanas” ou para a nossa dependência exter-
O endividamento externo de Por- “dívidas públicas” é por isso um na, retendo os as trabalhadoras
tugal, medido pela sua Posição de equívoco. e trabalhadores qualificados que
Investimento Internacional Líquida A resposta da direita é simples e estão a abandonar o país. A tran-
(PIIL) começou a aumentar ainda foi cristalizada na formulação de sição energética, os transportes
durante o processo de conver- Passos Coelho: “Só saímos da coletivos, a reabilitação urbana
gência nominal e não parou de crise empobrecendo.” A resposta e eficiência energética, a política
crescer até 2014. Entre 1996 e ao endividamento externo seria a para a agricultura e distribuição
2014, a PIIL em percentagem do compressão dos salários impos- juntam-se à libertação do Estado
PIB aumentou de 13% para 119% ta através da desregulação das Social dos setores rentistas para
do PIB, nove vezes mais. relações de trabalho. A resposta responder ao problema da dívida
A crise financeira provocou a ao endividamento público seria a na sua raiz: o atraso económico e
nacionalização de uma parte compressão da despesa com os o ciclo da dependência.
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2022
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F/ GARANTIR LÁ FORA O QUE
QUEREMOS CÁ DENTRO
PROGRAMA ELEITORAL
BLOCO DE ESQUERDA
▶ Definição de padrões de
proteção laboral, social e
ambiental em todo o espaço
europeu, que trave a corrida
para o fundo nos direitos e na
sustentabilidade, e imposição
desses padrões em quaisquer
acordos comerciais com países
ou regiões terceiras.
27. UMA POLÍTICA EXTERNA Portugal, mais que tudo, definem Por outro lado, os acordos de co-
PARA DEFENDER A um espaço político para as esco- mércio livre promovidos pela União
DEMOCRACIA E OS DIREITOS lhas internas. E, a esse respeito, Europeia na relação com outros
HUMANOS o governo do PS significou a países e blocos comerciais foram
De todas as políticas de que se manutenção do status quo, com entusiasticamente aceites pelo
faz a política em Portugal, a polí- um alinhamento com dinâmicas governo português que desconsi-
tica externa é porventura aquela internacionais contrárias ao que derou as elevadas consequências
em que o consenso centrista se a Constituição define como papel económicas, sociais e ambientais
afigura mais blindado. O argu- que o país deve assumir nas rela- que a sua ratificação implica para a
mento de que se trata de uma ções internacionais. Manteve-se sociedade portuguesa.
“política de Estado” e que, por também o seguidismo em relação Ora, este é um tempo em que
isso, deve estar imune às mudan- à NATO: a aceitação de aumentos os tambores da guerra soam de
ças de política interna é o álibi de despesa com a defesa, com novo com intensidade. Um tempo
com que se perpetua o grande a qual o governo português se em que os EUA mantêm o apoio
consenso do bloco central: uma comprometeu junto das institui- à política agressiva e colonial de
soma da sacralização da disci- ções europeias e da NATO, choca Israel e das petro-ditaduras como
plina da NATO com uma leitura abertamente com a insuficiência a Arábia Saudita, ao mesmo
mercadocêntrica (e, por isso, de recursos para políticas de in- tempo que ao povo da Palestina
desvitalizada) da Europa. vestimento e de qualificação dos continua a ser vedado o cumpri-
Os alinhamentos externos de serviços públicos. mento do seu direito fundamental
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2022
2026
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O Bloco de Esquerda apresenta-se às
eleições de 2022 com um programa
que traduz o nosso percurso de luta
por uma sociedade mais igual, mais
livre e mais inclusiva e que é atualizado
pela experiência recente: o balanço
do ciclo da austeridade, da posterior
recuperação e da legislatura que
agora foi interrompida, marcada pela
estagnação nas principais áreas da vida
nacional. Em particular, face aos efeitos
económico-sociais da crise Covid,
revelaram-se graves vulnerabilidades
sociais, do mundo do trabalho e
dos serviços públicos e, com elas, a
permanência de impasses políticos que
impedem transformações necessárias.
O Bloco é a esquerda
que não fica à espera.
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