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Protocolo de Práticas Integrativas e Complementares para enfermagem: Auriculoterapia e

Acupuntura Auricular

1. INTRODUÇÃO

Dos anos 90 à atualidade, o uso das Práticas Integrativas e Complementares


(PICS) tem aumentado em proporções mundiais. Este crescimento ocorreu,
principalmente, em decorrência do estímulo da Organização Mundial de Saúde
(OMS), em 2002, por meio da elaboração de um documento normativo para seus
países membros, visando o desenvolvimento e a regulamentação das PICS nos
serviços de saúde, além da ampliação do acesso, do uso racional e da avaliação da
eficácia e da segurança de tais técnicas (WHO, 2002).
No Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPICS), é hoje uma política abrangente, e suas diretrizes estabelecem o
fortalecimento da atenção em PICS no Sistema Único de Saúde (SUS) através do
incentivo à inserção dessas práticas em todos os níveis de atenção, especialmente
na APS, com desenvolvimento por equipe multiprofissional. Tais diretrizes
preconizam também a qualificação dos profissionais em PICS no SUS e o apoio
técnico e financeiro necessário para tal, levando em consideração os princípios e
diretrizes da educação permanente em saúde (BRASIL, 2015).
A Portaria MS nº 971/2006 abrangia 5 práticas (acupuntura, homeopatia,
fitoterapia, antroposofia e termalismo). Posteriormente, em 2017, por meio da
Portaria nº 849/2017 foram incluídas mais 14 práticas (arteterapia, ayurveda,
biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia,
quiropraxia, reflexoterapia, reiki, santhala, terapia comunitária integrativa e yoga).
No ano seguinte, a Portaria nº 702/2018 incluiu mais 10 práticas (apiterapia,
aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia,
hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais), totalizando,
atualmente, 29 práticas.
Ao considerar a visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção
global do cuidado humano, as PICS constituem ferramentas para “ações destinadas
a garantir às pessoas e a coletividade condições de bem-estar físico, mental e
social, como fatores determinantes e condicionantes da saúde” (BRASIL, 1990;
BRASIL, 2006). Elas não substituem a medicina convencional, mas complementam
qualquer tratamento para recuperação da saúde e bem-estar. Essas práticas são

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procuradas por diversos segmentos da sociedade e são adotadas por diferentes


profissionais (COFEN, 2020).
A enfermagem, assim como demais profissionais que compõem a equipe de
saúde, precisa visualizar as PICS como um modelo de cuidado a ser ensinado e
praticado no ambiente de assistência (MENDES et al.,2019) fortalecendo a RAS
(Rede de Atenção à Saúde), haja vista que proporcionam a melhoria da qualidade
de vida das pessoas através de práticas que estimulam o bem-estar físico e mental
(COFEN, 2020; MENDES et al., 2019).
Neste contexto, os enfermeiros são profissionais de destaque na
implementação e utilização das PICS, uma vez que os princípios de sua formação
são congruentes aos paradigmas desta ciência. Além do mais, possuem respaldo
legal para a atuação em serviços públicos e privados (AZEVEDO et al., 2019).
Ademais, a Resolução Cofen 581/2018 reconhece a “Enfermagem em
Práticas Integrativas e Complementares” como uma especialidade dos enfermeiros,
sendo a Acupuntura, que abrange técnicas de puntura sistêmica,
auriculoterapia/acupuntura auricular, moxaterapia e ventosas, uma das doze práticas
reconhecidas (COFEN, 2018).

1.1 FUNDAMENTOS DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC)

A MTC se desenvolveu com base na filosofia Taoísta, também recebendo


influências filosóficas do Budismo e Confucionisno. De acordo com Yamamura
(2001), a MTC faz parte do grande tesouro da medicina e farmacopeia da China e
baseia-se na observação dos fenômenos que regem a natureza, buscando
compreender todos os princípios que a organizam. Com base conceitual Naturalista,
considera o homem (microcosmo) como um aspecto da natureza (macrocosmo),
dentre milhares de outros e, como tal, regido pelas mesmas leis que comandam o
universo (AUTEROCHE, 1992; ZHAO, 2009). Segundo Zhao (2009, p.27), “cada ser
humano é um corpo-mente-espírito orgânico unificado”, não podendo isolar uma
doença e tratá-la sem entender de que forma ela afeta o restante do corpo.
Assim, o paradigma da MTC inclui os conceitos do Yin-Yang, dos Cinco
Elementos, Qi e Sangue, e dos Zang-Fu, sendo que para realizar o diagnóstico e
tratamento de diversas patologias, é necessário basear-se nestes conceitos.

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A teoria do Yin Yang considera o mundo como um todo e que esse todo é o
resultado das unidades opostas desses dois princípios, sendo que a reunião dessas
duas partes existe em todos os fenômenos e objetos no meio natural, “não havendo
Yin sem Yang, nem Yang sem Yin” (AUTEROCHE, 1992). Da mesma forma, Zhao
(2009) lembra que o ser humano também é uma combinação de Yin e Yang, ou
seja, cada parte do corpo é descrita como predominantemente Yin ou Yang, e a
saúde como a capacidade de manter um equilíbrio entre estas duas energias e a
doença como um desequilíbrio entre elas. Vale ressaltar que os estados Yin e Yang
não são estáticos, mas sim dinâmicos, podendo ser mudados a depender das
condições em que se encontram na relação com o meio.
A teoria dos Cinco Elementos constitui o segundo pilar da MTC e sustenta que a
natureza está constituída por cinco substâncias que representam simbolicamente os
elementos Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Considera que o universo é formado
pelo movimento contínuo e transformação desses cinco elementos, sendo que entre
eles, há relações constantes de geração e dominância recíprocas (AUTEROCHE,
1992). Essa teoria explica as características fisiopatológicas dos órgãos internos e
dos tecidos do corpo humano, as relações entre eles e as relações entre o corpo e o
meio ambiente que são sempre mutantes (Figura 1 e Quadro 1).

Figura 1 – Pentagrama dos Cinco Elementos na MTC com ciclo de geração e dominação.

Fonte: próprio autor, 2022.

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Quadro 1 – Relação da Teoria dos Cinco Elementos com a natureza e o corpo humano.
ELEMENTOS MADEIRA FOGO TERRA METAL ÁGUA
YIN FÍGADO CORAÇÃO/CS BAÇO/PÂNCREAS PULMÃO RIM
YANG VESÍCULA B INT. DELG/ T.A ESTÔMAGO INT. BEXIGA
GROSSO
SENTIDO VISÃO FALA PALADAR OLFATO AUDIÇÃO
NUTRIÇÃO TENDÃO VASO MÚSCULO PELE OSSOS
MANIFESTAÇÃO UNHAS FACES LÁBIOS PÊLOS CABELOS
LÍQUIDOS LÁGRIMAS SUOR SALIVA MUCO URINA
TEMPERAMENTOS RAIVA ALEGRIA PREOCUPAÇÃO TRISTEZA MEDO
SABORES AZEDO AMARGO DOCE PICANTE SALGADO
SONS GRITO RISO CANTO CHORO GEMIDO
CLIMA VENTO CALOR UMIDADE SECO FRIO
ESTAÇÕES PRIMAVERA VERÃO INTER OUTONO INVERNO

A energia (Qi) e o sangue (Xue) são considerados materiais básicos do


organismo. O Qi pode ser definido como a força vital que move e gera a vida,
sustentando o corpo, mente, coração e espírito, sendo considerado “a raiz do
homem” (ZHAO, 2009; AUTEROCHE, 1992). Ele se apresenta de dois modos:
participando na formação dos elementos constitutivos do corpo e permitindo à vida
se manifestar; e sendo constituído pela atividade fisiológica dos tecidos orgânicos. O
Xue provém da transformação da essência dos alimentos e tem como função nutrir e
umedecer os tecidos do corpo, além de servir de base material para a atividade
mental (AUTEROCHE, 1992).
Desse modo, o Qi é fundamental para a produção de Xue, que, por sua vez, gera
o Qi. Assim, o Xue representa a base material (Yin) do Qi enquanto, o Qi (Yang) é a
manifestação da atividade do Xue. A relação harmoniosa e constante entre Xue e Qi
representa as relações de dependência e complementaridade entre o Yin e Yang
(AUTEROCHE, 1992; ZHAO, 2009).
O termo ZangFu designa o estudo da atividade fisiológica e das manifestações
patológicas do conjunto de órgãos e vísceras do corpo humano, e representa a
interconexão entre eles através da dinâmica da circulação energética. Os órgãos Yin
são conhecidos como Zang, e as vísceras Yang, como Fu. Cada um dos seis órgãos
Zang (Fígado, Coração, Pericárdio, Baço-Pâncreas, Pulmão e Rins) tem vísceras Fu
correspondentes (Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Triplo Aquecedor, Estômago,
Intestino Grosso e Bexiga, respectivamente), e cada par está relacionado segundo a
simbologia de um dos cinco elementos, além de manter relações com todos os
tecidos, órgão dos sentidos e estados emocionais do corpo humano. Dada à

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interdependência destes sistemas, um padrão de desequilíbrio em determinado


órgão ou víscera tem efeito profundo em todos os outros, o que, por fim, pode levar
à ocorrência de doenças (AUTEROCHE, 1992; ZHAO, 2009).
Ainda que as causas das doenças sejam diversas, segundo Auteroche (1992),
para a MTC o ser humano adoece em decorrência dos desequilíbrios entre Yin e
Yang que podem ser explicados por dois princípios: 1 - perda da resistência corporal
por diminuição da energia vital (Energia Correta), ou 2 - influência de um agente
patogênico sobre o organismo (Energia Perversa).
A força ou a debilidade o Qi Correto está associada a fatores como constituição
física, estado mental, meio externo, alimentação e resistência adquirida por
treinamento (AUTEROCHE, 1992), e para a conceituação energética esses fatores
podem ser classificados em três fatores: os patogênicos externos (que representam
os extremos do clima - vento, calor, umidade, secura, frio), os internos (que se
referem primariamente aos excessos das emoções - raiva, alegria, preocupação,
melancolia e medo) e aqueles que não são externos nem internos, ou chamados de
outras causas (referindo-se primariamente a dieta, fadiga excessiva, venenos,
lesões traumáticas, sexualidade, entre outros) (IPES, 2013; SOUZA, 2008).

1.2 ACUPUNTURA AURICULAR E AURICULOTERAPIA

A acupuntura auricular e auriculoterapia são técnicas que utilizam pontos no


pavilhão auricular para a prevenção e o tratamento de desequilíbrios orgânico-
emocionais que podem acarretar em uma doença (GORI e FIRENZUOLI, 2007).
Parte do conceito de que o pavilhão auricular é um microssistema, onde uma região
do corpo representa todo o organismo, (WANG, 2008) permitindo tratar diferentes
tipos de problemas. Esses pontos podem ser estimulados por meio de agulhas,
moxabustão, sementes de mostarda, esferas de ouro ou prata, magnetos, dentre
outros (OLESON, 2013; SHI-YING et al., 2012).
A OMS reconhece a acupuntura auricular e auriculoterapia como uma técnica
terapêutica de microssistema que pode favorecer a regulação das funções corporais
(WHO, 1990).
Na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS
(BRASIL, 2006), a auriculoterapia é descrita como

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“uma técnica terapêutica que promove a regulação psíquico-


orgânica do indivíduo por meio de estímulos nos pontos
energéticos localizados na orelha – onde todo o organismo
encontra-se representado como um microssistema – por meio
de agulhas, esferas de aço, ouro, prata, plástico, ou sementes
de mostarda, previamente preparadas para esse fim” (BRASIL,
2006).

Ademais, salienta que esta prática, no Brasil, é constituída da fusão das


técnicas terapêuticas de origem nas escolas chinesas e francesas (BRASIL, 2006).
A literatura aponta o tratamento de enfermidades através de estimulação da
orelha nas antigas civilizações, como o Egito, a Índia, a Arábia e a China (GORI,
2007; SOUZA, 2007). Muitos textos chineses atribuem à descoberta da acupuntura
auricular para as mesmas fontes que conduziram o desenvolvimento da acupuntura
sistêmica, e a acupuntura específica na orelha externa era usada há mais de 4.000
anos para o alívio de várias desordens orgânicas, como aponta “O Nei Ching –
Clássico da Medicina Interna do Imperador Amarelo”, além de descrever, em 2.697
a.C, como os ramos profundos dos meridianos convergiam para a orelha,
relacionando esse microssistema do corpo humano, com os órgãos e vísceras, os
ZangFu, e aos meridianos (ABBATE, 2016; CASADO, 2012; JUNIOR, 1994).
Assim, quando algum meridiano tem seu fluxo obstruído no corpo, aparecem
pontos dolorosos na orelha, como uma reação do local obstruído. Além disso, as
funções dos órgãos e vísceras (ZangFu) descritas na MTC podem ser estimuladas e
equilibradas através dos pontos auriculares (ABBATE, 2016; OLESON, 2013).
Já a auriculoterapia, desenvolvida pelo médico francês Paul Nogier, na
década de 1950, é entendida como um microssistema com áreas reflexas na orelha
e propõe que qualquer alteração em um determinado órgão ou parte do corpo
poderá ser detectada e tratada pelo pavilhão auricular (OLESON, 2013).
A experiência acumulada na prática e a pesquisa em acupuntura auricular e
auriculoterapia em países como França, China, Rússia e Alemanha geraram a
elaboração de diferentes mapas auriculares e distintas visões sobre sua prática
(ABBATE, 2016; GORI e FIRENZUOLI, 2007). Os mapas mais consagrados são os
designados como Auriculoterapia de origem francesa, e Auriculoterapia Chinesa, ou
Acupuntura Auricular (OLESON, 2013). Nogier (1998) considera que existem mapas
auriculares com pontos diferentes, segundo a escola de origem (chinesa ou

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francesa), no entanto, ambas seguem a visualização de um feto invertido no


pavilhão auricular com pontos localizados em áreas reflexas do corpo humano
(NOGIER, 1998) (Figura 2).

Figura 2 – Representação do feto invertido intrauterino projetado no pavilhão auricular.

Fonte: Landgen (2008).

Assim temos:
⮚ os pontos na área do lóbulo da orelha estão relacionados à cabeça e a face;
⮚ os pontos na área da escafa estão relacionados aos membros superiores;
⮚ os pontos na área da anti-hélice representam o sistema musculoesquelético;
no ramo superior da anti-hélice os membros inferiores, e no ramo inferior a
região glútea e o ciático;
⮚ os pontos na região da concha representam os órgãos internos sendo que na
área da cimba estão os órgãos da região abdominal e na cavidade da cava os
órgãos da região torácica;
⮚ os pontos da região da fossa triangular estão relacionados aos órgãos da
pelve e genitais internos.
Ambos os mapas, formulados por Nogier e os desenvolvidos na China, foram
baseados em achados experimentais, não só em postulações teóricas. Pesquisas
posteriores conduzidas na Universidade da Califórnia proveram apoio e controle
científico às técnicas usadas nos diagnósticos auriculares. Estes métodos são
baseados na observação de que quando há deficiência orgânica ou desconforto em
certa parte do corpo há um aumento na sensibilidade para palpação e uma

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diminuição da resistência eletrodérmica na pele e na área correspondente do


pavilhão auricular (IPES, 2013).
Para efeito deste protocolo, seguiremos a recomendação da PNPICS-SUS
com utilização das pranchas Chinesa e Francesa para aplicação da técnica (Anexo
1, Anexo 2, Anexo 3).

1.3 ANATOMIA DO PAVILHÃO AURICULAR

A orelha é dividida em três partes: externa, média e interna. O pavilhão


auricular, em forma de concha, é a parte externa da orelha, sendo dividido em duas
faces: a anterior e a posterior. É constituído ainda de uma cartilagem elástica,
inervada e vascularizada. O lóbulo da orelha é a única região do pavilhão que não
apresenta cartilagem, sendo constituída de tecido adiposo. Está localizado no osso
temporal, e sua conexão com o crânio é por meio dos ligamentos e dos músculos
auriculares (UFSC, 2016).
O pavilhão auricular é irrigado por artérias que procedem da artéria temporal
superficial e da artéria auricular posterior, ambas ramos da artéria carótida externa.
Os músculos auriculares se dividem em extrínsecos e intrínsecos, os quais
conectam a orelha ao crânio e couro cabeludo e movem a orelha como um todo,
além de conectarem as diferentes partes da orelha (UFSC, 2016).
O pavilhão auricular tem uma complexa e abundante inervação sensorial,
sendo três nervos principais: Nervo auricular magno (maior), que supre a maior parte
da face anterior e posterior, lóbulo e cauda da hélice; Ramo auricular do nervo vago,
que supre ambas as faces da orelha, abrange o ramo da hélice e a concha da
orelha, e Ramo auriculotemporal do nervo trigêmeo, que supre a região do trago,
anti-hélice , escafa e fossa e parte superior da hélice. Compõem ainda a inervação
da orelha: nervo occipital menor, nervo facial e nervo glossofaríngeo (UFSC, 2016).

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Figura 3 - Zonas de inervação da face externa do Pavilhão Auricular

Fonte: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/42176/1/GustavoEVilares.pdf

Em relação à estrutura, a face anterior do pavilhão auricular ainda é


subdividida em:
⮚ Hélice: margem superior, curva e proeminente da orelha, que começa na
cavidade da concha do pavilhão da orelha e segue circundando o pavilhão
até encontrar o lóbulo.
⮚ Ramo da Hélice: é o início da formação hélice, situa-se na concha da orelha.
⮚ Tubérculo da Hélice ou Tubérculo de Darwin: É uma proeminência localizada
na face póstero-superior da hélice, junto à transição do ramo transverso da
hélice com o ramo descendente. Nem todas as orelhas possuem esse
acidente anatômico, outras possuem o tubérculo deslocado e algumas dois
tubérculos.
⮚ Cauda da Hélice: situa-se na parte terminal da Hélice, que se conecta com o
lóbulo da orelha.
⮚ Anti-hélice: Situa-se na saliência longitudinal ascendente mais interna e
central da orelha que se divide na parte superior dando origem a 2 ramos:
superior e inferior.
⮚ Ramo Superior da Anti-hélice: ramo superior da bifurcação da anti-hélice.

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⮚ Ramo Inferior da Anti-hélice: ramo inferior da bifurcação da anti-hélice.


⮚ Fossa Triangular: Depressão triangular entre o ramo superior e inferior da
anti-hélice.
⮚ Escafa: depressão curvilínea entre a Hélice e a Anti-hélice.
⮚ Trago: proeminência localizada sobre o meato acústico externo, em geral é
triangular ou arredonda. Sua parte interna é chamada de subtrago.
⮚ Incisura anterior (superior do trago): uma depressão formada pela região
anterior e externa da hélice e a margem superior do trago pouco visível, mas
facilmente identificável por palpação.
⮚ Antitrago: pequena proeminência triangular de pontas abauladas, localizada
abaixo da anti-hélice, oposta ao trago e superior ao lóbulo da orelha.
⮚ Incisura intertrágica: sulco formado entre o trago e o antitrago.
⮚ Lóbulo da orelha: região não cartilaginosa, de tecido adiposo, localizada na
parte inferior do pavilhão auricular.
⮚ Concha da orelha: sulco mais profundo e interno localizado entre a anti-
hélice, o trago e o antitrago. O ramo da hélice divide a concha em duas
partes: uma superior, mais estreita, também chamada de Concha Cimba, e
uma parte inferior chamada de Concha Cava.

Figura 4: Estruturas anatômicas da face anterior do pavilhão auricular

Fonte: ZORZETTO, 2006.

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1.4 EXAME FÍSICO DO PAVILHÃO AURICULAR

A inspeção deve ser o primeiro passo no exame da orelha. Essa inspeção


deve ser efetuada sem qualquer manipulação como lavar ou esticar a orelha a fim
de evitar que sejam retiradas as descamações bem como para não modificar a cor
da pele. Para o exame completo da orelha é importante analisar a textura e o
tamanho dos nódulos e também verificar a sensibilidade à pressão de determinada
área com auxílio de um apalpador (YAMAMURA, 2013).
As pessoas podem apresentar alterações no pavilhão auricular e não
apresentar queixa em relação ao ponto ou área com alteração. Neste caso, associe
o método de palpação para investigar melhor. Se o ponto ou região apresentar
sensibilidade alterada considere como um indicativo a ser melhor investigado
(YAMAMURA, 2013).

1.5 DIAGNÓSTICO AURICULAR

Para a MTC os doze meridianos reúnem-se na orelha, e a aurícula é uma das


principais zonas onde o Yin e o Yang se inter-relacionam. Quando algum canal é
obstruído e a circulação do sangue e Qi perde seu fluxo, aparecem pontos alterados
na orelha. Deste modo, as desarmonias dos órgãos e das vísceras podem
manifestar-se na orelha e provocar alterações como pápulas, eczemas e mudança
de cor, dor, e alteração de potencial em relação à região adjacente (YAMAMURA,
2013).
O diagnostico auricular pode ser realizado também com base nas alterações
da aurícula, através da inspeção/observação e a palpação do pavilhão auricular, e
também nas desarmonias detectadas conforme a teoria dos Cinco Elementos.

Quadro 2: Alterações gerais encontradas na orelha


MANIFESTAÇÃO ALTERAÇÃO CONDIÇÃO
Processos Inflamatórios
Vermelha, roxa
agudos
Condição aguda
Mudança de coloração Vermelho claro e brilhante
Processos dolorosos
Vermelho escuro Condição crônica
Branca Condição crônica

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Possível enfermidade
Cinza
oncológica
Castanha escura Condição crônica
Processos crônicos.
Cordões/proeminências (nódulos
Obstruções dolorosas e
Ou elevações)
algias
Afecções dermatológicas
Mudanças morfológicas
Descamação e
Condição aguda
Lesões
Depressões
ulcerativas/cirurgia
Angiectasias (dilatação dos vasos
Sanguíneos) e Telangiectasias Processos inflamatórios
(vasos dilatados – “aranhas Algias
Mudanças vasculares Vasculares”) Disfunções circulatórias
vermelho brilhante
Angiectasias e telangiectasias
Processos crônicos
Vasos azulados
Fonte: Apostila módulo II - Formação em Auriculoterapia para profissionais de saúde da Atenção
Básica, 2016.

1.6 PANORAMA GERAL DA LITERATURA EM ACUPUNTURA


AURICULAR/AURICULOTRAPIA

A OMS reconhece a auriculoterapia como um microssistema que pode


produzir um impacto positivo na regulação das funções corporais e seu efeito
terapêutico tem sido pesquisado em diferentes contextos de cuidados à saúde
devido a sua praticidade de aplicação, segurança e baixo custo (HOW et al., 2015).
Estudos realizados sugerem que o uso da auriculoterapia é uma tecnologia efetiva e
segura, pois os efeitos adversos são substancialmente menores quando
comparados ao uso de medicamentos (BECKMAN et al., 2021). Ademais, é um
método que pode ser usado de forma complementar no acompanhamento tanto de
disfunções físicas quanto psicossomáticas (HOU et al., 2015).
A partir da década de 1980 intensificou-se a realização de estudos
experimentais que buscaram correlacionar estímulos do pavilhão auricular com
possíveis mecanismos neurobiológicos de controle da dor e da inflamação
(OLESON, 2005). Verificaram-se resultados positivos em estudos com lesões por
esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
(DORT) (ARAÚJO et al., 2006); controle da dor em idosos (OLIVEIRA et al., 2011;

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CAVALCANTE et al., 2021); dor pós operatória (HE et al., 2013; MORA et al., 2007)
dor relacionada à fratura do quadril (BARKER et al., 2006), lombalgia, (VAS et al.,
2014), e dor relacionada ao câncer (YEH et al., 2015).
Em um estudo multicêntrico conduzido no contexto da atenção primária à
saúde, VAS e col. (2014) avaliaram 265 pacientes com lombalgia ou cervicalgia
crônica inespecífica, distribuídos em dois grupos: auriculoterapia verdadeira e
auriculoterapia placebo (VAS et al., 2014). Os pacientes do grupo intervenção
obtiveram redução da intensidade da dor logo após o término das sessões e 6
meses após a terapia. Além disso, houve melhora no componente físico da
qualidade de vida após 6 meses de seguimento. Outros estudos em pacientes com
dor lombar crônica mostram resultados promissores na melhora da funcionalidade
em paciente idosos (VAS et al., 2014b).
Também foi observada que o uso da auriculoterapia tem efeitos positivos no
tratamento da dismenorreia (WANG et al., 2009; YEH et al., 2013). YEH e col.
(2013) investigaram o efeito da auriculoterapia por acupressão em 113 adolescentes
com dismenorreia. Houve uma redução de cerca de 5 pontos na escala visual
análoga de dor (VAS) após o tratamento. Já no estudo de WANG e col. (2009), os
sintomas menstruais sofreram uma maior redução no grupo que utilizou as
sementes de estimulação (WANG et al., 2009).
Também foram verificados resultados positivos no uso da auriculoterapia para
crianças e adolescentes com obesidade, miopia e transtorno de atenção e
hiperatividade (TDAH) (CHA e PARK, 2019; NIELSEN e GEREAU, 2020; GAO et al.,
2020; BINESH et al., 2020).
A acupressão sobre pontos auriculares e outras formas de auriculoterapia têm
sido utilizadas há um longo tempo no tratamento de transtornos relacionados ao
abuso de substâncias (DI et al., 2014; MCLELLAN et al., 1993). Em uma revisão
sistemática com 7 publicações que avaliaram o uso desta técnica para a cessação
do tabagismo, os autores encontraram uma taxa entre 22-30% de cessação do
tabagismo ao final do tratamento (DI et al., 2014).
Resultados favoráveis também são vistos em publicações de estudos sobre
ansiedade (KUREBAYASHI et al., 2017; LIN et al., 2019; PINTO, 2015); tratamento
da obesidade (BONIZOL et al., 2016; SCHUKRO, 2014), sintomas de estresse
(FIGUEIREDO, 2017; KUREBAYASHI et al., 2014); insônia (LAN et al., 2015; ZHAO

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et al., 2019a; ZHAO et al., 2019b); depressão (SOUZA, 2019), bournout (OLSHAN,
2019), cefaleia crônica (BAXTER, 2019; KRAINSKI, 2021; VERCELINO, 2010), dor
por procedimentos odontológicos (DELLOVO, 2019; IUNES, 2015; SILVA, 2018);
entre outros.
Não se pretende esgotar o assunto, mas sim trazer um panorama geral sobre
o tema, bem como as diversas oportunidades terapêuticas para o uso da técnica em
diferentes contextos.

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