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A “COLÔNIA INTERNACIONAL” NO NORTE DO PARANÁ -

CONSIDERAÇÕES SOBRE A OCUPAÇÃO DAS TERRAS E


A TOPONÍMIA

Manuela Powidayko Alberici (PIBIC/CNPq-UEL), Jaqueline Yuriko Shigueoka


(PIBIC/CNPq-UEL), Humberto Tetsuya Yamaki (Orientador),
e-mail: yamaki@ymail.com.

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Arquitetura e


Urbanismo/Londrina, PR.

Ciências Sociais Aplicadas; Arquitetura e Urbanismo.

Palavras-chave: Norte do Paraná, CTNP, Imigrantes, Toponímia.

Resumo:

O estudo trata do processo de ocupação das terras da Companhia de


Terras Norte do Paraná a partir da década de 30. Visando fortalecer a
identidade dos grupos de imigrantes, a Companhia de Terras e os próprios
compradores de terras davam denominações que tinham forte significado
cultural. Assim, entre os imigrantes japoneses o empreendimento como um
todo era chamado de a “Colônia Internacional”. Além disso, bairros rurais ou
colônias foram sendo implantados e recebendo denominações específicas
associadas à cultura dos imigrantes ou relacionadas com as características
geográficas. Conforme análise dos registros da Companhia e a iconografia
existente, a toponímia constituiu estratégia e parte importante na formação
da paisagem etnográfica paranaense.

Introdução

O Norte do Paraná era de difícil acesso e pouco explorado, de solo de


terra roxa muito fértil e coberto de densa mata nativa. Em 1924, o escocês
Lord Lovat, membro da Missão Montagu e assessor de assuntos de
agricultura e reflorestamento, vislumbrou o potencial da região. Com a
organização da Paraná Plantations em Londres, foi criada a subsidiária local
com o nome de Companhia de Terras Norte Paraná (CTNP) que colonizou
uma área de 546.078 alqueires de terras no Norte do Paraná. A empresa
passou a se chamar Companhia Melhoramentos Norte do Paraná em 1944,
com a sua nacionalização (COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO
PARANÁ, 1977, p. 39).
Um empreendimento deste porte só seria possível após um minucioso
levantamento do sítio físico: seu relevo e bacias hidrográficas e elaboração
de detalhada cartografia. Já na primeira década havia compradores de
terras de mais de 30 nacionalidades, evidenciando o interesse dos
imigrantes pelas novas terras.

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.


Além dos topógrafos geodesistas da CTNP, de várias nacionalidades,
que iam definindo o nome de rios, ribeirões e córregos, de glebas rurais e
patrimônios, os próprios grupos de imigrantes iam dando denominações a
bairros rurais ou colônias. Segundo Corrêa (2003, p.176), “a toponímia, o
nome dos lugares, constitui importante marca cultural e expressa efetiva
apropriação do espaço por um dado grupo cultural, além de poderoso
elemento identitário (...)”. Não por acaso, as terras da CTNP ficaram
conhecidas como a “Colônia Internacional” ou Kokusai Shokuminchi entre os
imigrantes japoneses. A denominação havia sido dada por Hikoma Udihara,
gerente geral de vendas de terras aos nipônicos (YAMAKI, Humberto; 2008,
p.11).

Materiais e métodos

A pesquisa utiliza como material de análise os Mapas Parciais da


CTNP e os registros de vendas de terras nas primeiras décadas. Uma
equipe de topógrafos geodesistas que confeccionavam as plantas de glebas
e patrimônios, “constituindo-se em uma das raízes-matrizes do processo de
assentamentos rurais e urbanos de Londrina e do norte do Paraná”
(NAKAGAWARA, Yoshiya in YAMAKI; 2003, p.4).
A confrontação de dados de vendas de lotes com o “MAPA DA
COLONIZAÇÃO DA CIA. MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ”
(YAMAKI, Humberto; 2003; p.71) é possível identificar a lógica de
organização e ocupação do território. Pode-se observar a subdivisão em:
1) Zonas - no caso de estorno de lotes, 2)Glebas – de acordo com as bacias
hidrográficas, 3)Gleba Patrimônio – o núcleo urbano mais uma faixa de
terras circundante e 4) Patrimônio – o núcleo urbano propriamente dito.
(YAMAKI, Humberto; 2010, mimeo).
Segundo Wladimir Babkov, engenheiro topógrafo da CTNP em
depoimento de 1975:
O batismo das águas encontradas ficava a cargo do Departamento
de Topografia, que para a escolha dos nomes aproveitou o
dicionário guarani, a relação de acidentes geográficos dos países de
onde vinham os imigrantes (Espanha, Portugal, Itália), bem como os
nomes de santos, de marcas de cigarro, de quadros de futebol, ou
mesmo de namoradas e esposas dos agrimensores. Somente os
nomes dos rios e ribeirões constantes das escrituras primitivas não
foram alterados. Os povoados – ou patrimônios, como os
chamávamos – recebiam geralmente o nome da aguada mais
próxima. Assim foram batizadas Marialva, Jussara, Astorga, Iroi
(atual Castelo Branco), Jandaia, Floriano, Floraí, e outras.
(COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ; 1977,
p.128).
A denominação “Glebas dos ribeirões” aparece em mapas como a
“PLANTA PARCIAL GLEBA PATRIMÔNIO LONDRINA, 1933” (YAMAKI,
Humberto; 2003, p.52-53) e na “PLANTA PARCIAL N. 1 / COLONIZAÇÃO
DAS GLEBAS DOS RIBEIRÕES TRES BOCCAS, JACUTINGA E

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VERMELHO, 1937” (YAMAKI, Humberto; 2003, p. 60-61). Por exemplo, as
colônias de imigrantes japoneses recebiam nomes que indicavam ordem,
direção ou localização, nome de ribeirão ou gleba mais próxima, nome de
fazenda ou proprietário de terras e ainda nomes associados à cultura
japonesa (YAMAKI, Humberto; 2008, p.13).
A partir de informações do registro de vendas de terras da CTNP,
entre 1930 a 1948, pode-se compreender o processo de ocupação do
empreendimento. Elaborou-se a partir destes dados, tabelas que permitem a
leitura de informações como: 1) data de venda do primeiro lote de cada
Gleba/Gleba Patrimônio/ Patrimônio, 2) determinação das frentes de
ocupação do território, 3) concentração de compras por ano em determinada
área, 4) relação entre colônias dos imigrantes japoneses e glebas, 5)
predominância de determinada etnia por ano, 6) lógica na determinação de
Zonas através da leitura de registros estornados.

Resultados e Discussão

A divisão em zonas, o parcelamento de glebas e a determinação de


patrimônios foram sendo efetivadas gradativamente. Ao ser analisada a área
total do empreendimento, observa-se um sentido de ocupação leste a oeste
segundo uma espiral imaginária. De 1930 a 1941, foram ocupadas 52 áreas,
sendo 36 glebas rurais, 12 glebas patrimônio e 4 patrimônios. A ocupação
nos primeiros anos foi lenta e gradual.

Conclusões

Os nomes de ribeirões, glebas, patrimônios e colônias nas terras da


CTNP refletem a origem multicultural dos imigrantes e migrantes que se
fixaram no local. A toponímia é uma das formas encontradas pelos pioneiros
na construção de uma identidade e era utilizada pela Companhia como uma
das estratégias de ocupação e administração.
Os imigrantes procuravam moldar a paisagem com seus significados,
construir espaços reconhecíveis e transmitir segurança, evocando em muitos
momentos a terra natal.

Agradecimentos

Agradeço ao meu orientador pela oportunidade, pelo aprendizado, pela


paciência e pelo contato que proporcionou aos métodos de pesquisa
científica. Aos meus pais que sempre me incentivaram e aos meus amigos
pelo apoio.

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Referências

COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ; Colonização e


Desenvolvimento do Norte do Paraná; 2. ed. São Paulo, SP: Editora “Ave
Maria” LTDA, 1977.

CORREA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny ; Introdução à Geografia


Cultural, org R.L; 1 ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2003.

YAMAKI, Humberto; Atlas da Colônia Internacional: as Terras da CTNP,


Londrina, PR: Edições Humanidades, 2008.

YAMAKI, Humberto; Colônia Internacional, as Terras da CTNP:


Significados e Símbolos; Londrina, PR, mimeo, 2010.

YAMAKI, Humberto; Iconografia Londrinense; Londrina, PR: Edições


Humanidades, 2003.

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