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No entanto, para argumentarmos sobre os primeiros encontros entre europeus e povos
indígenas, vamos privilegiar os povos Karíb e Arawak, registrados nos relatos dos viajantes
e cronistas do fim do século XV e século XVI. Os relatos identificaram esses nativos como
habitantes nas ilhas do Caribe e do litoral da ilha da Guiana. São povos de línguas e
culturas distintas, mas envolvidos na rede comercial amazônica caribenha, com variados
produtos alimentícios, ferramentas, amuletos, redes, canoas, que consolidaram a produção
da cultura material ameríndia amazônica caribenha.
Assim, a região do rio Orinoco ganhou relevância nos primeiros estudos a respeito desse
contexto regional amazônico caribenho. Foi uma das primeiras regiões visitadas pelos
viajantes espanhóis em busca de produtos para o mercado europeu, do mito de El Dorado e
de terras. É um território com extensão para o conjunto de montanhas ou serras Pacaraima,
Parima e outras que incorporam o Escudo das Guianas, com diversificadas famílias
indígenas.
No início do contato europeu com os povos indígenas, essa região era descrita como “litoral
selvagem”, com áreas alagadiças em sua costa caribenha, que dificultavam o contato com
as áreas de terra firme. Foi nesse cenário litorâneo, pantanoso e selvagem que o navegador
espanhol ampliou o conhecimento sobre o rio Orinoco, integrado à rede aquática do Escudo
das Guianas.
O Orinoco tornou-se o principal caminho fluvial entre o litoral e o interior, com uma complexa
terra de relação sociocultural, política e mítica dos povos Karíb e Arawak. Povos indígenas
que, integrados ao pensamento mítico dos ancestrais, enfatizavam aspectos da memória
oral e suas tradições acerca do herói cultural Makunaima. Um sistema cosmogônico descrito
por mito e lenda, presente nas trajetórias históricas dos povos do território do Monte
Roraima: o Circum-Roraima. São processos históricos, caminhos culturais e mundo
cosmogônico dos nativos, dando unicidade às transformações históricas eurocêntricas na
ilha da Guiana (CRUZ; HULSMAN; OLIVEIRA, 2014).
No mapa holandês da Amazônia do século XVI, elaborado pelo cartógrafo Hondius, ficou
evidente que o caminho fluvial do rio Orinoco era o mais conhecido. Percebem-se as várias
informações indicando o trajeto para o interior amazônico em direção ao suposto lago do El
Dorado. São caminhos fluviais e terrestres, em conexão, guiados pelos povos indígenas no
principal caminho fluvial do litoral Atlântico Norte para o interior da Guiana, em direção aos
Andes. O rio das Amazonas ainda era quase desconhecido na cartografia do século XVI, e
vai ter destaque no século XVII após a expedição do português Pedro Teixeira.
A partir do século XVII, o rio Amazonas definiu a fronteira entre o Estado do Maranhão,
depois Maranhão e Grão-Pará, e a Amazônia Caribenha, limitada pela margem direita do rio
Amazonas e do rio Negro. A margem esquerda do rio Amazonas e do rio Negro era o marco
da fronteira da ilha da Guiana ou Amazônia Caribenha.
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Amazônia Caribenha na academia
Ao realizar esse conjunto de tarefas no contato com os povos indígenas, a grafia do termo
“Costa Selvagem” foi a primeira denominação europeia para o litoral Atlântico da ilha
Amazônia Caribenha (VAN WALLENBURG et al., 2015). Para o viajante espanhol, era um
litoral povoado por “selvagens”, que passaram a dialogar com os tripulantes dos navios
europeus, que desbravaram a Guiana pelo rio Orinoco e o mar do Caribe. Historicamente, o
termo Costa Selvagem foi grafado pela Terceira Viagem de Colombo (1498), quando
navegou pelo referido litoral amazônico, conheceu o delta dos rios Essequibo e Orinoco,
produzindo o registro do encontro com povos Karíb e Arawak.
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eram os mesmos povos indígenas que foram registrados pela sua tripulação como
habitantes das ilhas do mar do Caribe em 1492.
O próprio termo “Caribe” foi conhecido na Europa pelo registro da expedição de Colombo,
que interpretou a região e os habitantes do mar do Caribe (GAZTAMBIDE-GÉI GEL, 2014;
PONS, 2007; TIERRA FIRME, 2003, v. 21).
De acordo com os relatos dos primeiros viajantes, os povos Arawak da família Taino
receberam a tripulação de Colombo no mar do Caribe. Os mesmo também foram
identificados por outras expedições espanholas como moradores no delta do rio Suriname e
em outras ilhas caribenhas, como a ilha de Cuba e a ilha Espanhola (hoje ocupada pela
República Dominicana e o Haiti).
“Descobrimentos”
Por volta de 1499, os registros históricos neerlandeses e espanhóis deram notícias sobre o
navegador e mercador italiano Américo Vespúcio. Ele foi um viajante que fez parte da
expedição espanhola de Alonso de Ojeda e ampliou os conhecimentos geopolíticos,
históricos, socioculturais e econômicos sobre o território descoberto por Colombo. Foi
Vespúcio quem esclareceu que o Novo Mundo não era parte da Ásia, mas uma terra
desconhecida do povo da Europa. Ele considerava a Europa, a África e a Ásia como os
únicos territórios conhecidos mundialmente.
Para o navegante italiano, era um novo continente com povos que não usavam roupas,
manifestando ações culturais e linguísticas bem distintas dos povos da Ásia (Índia, China,
Japão). As contribuições históricas e geopolíticas de Américo Vespúcio foram reconhecidas
e homenageadas com a denominação das novas terras descobertas: América. No período
dos descobrimentos, as interpretações de Vespúcio sobre o Novo Mundo foram confirmadas
e ampliadas pela viagem espanhola de Vicente Yáñez Pinzón, entre 1499 e 1500.
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De acordo com seu relato, o explorador desembarcou em um litoral que seria mais tarde
denominado Brasil e registrou o encontro com o povo indígena Potiguara (Nordeste do
Brasil). Ao navegar pelo litoral em direção ao denominado mar do Caribe, Pinzón descreveu
a foz do rio Amazonas como “Mar Dulce” (ou Mar Doce). Ao continuar navegando e
explorando o litoral da Guiana, ele ampliou o conhecimento cartográfico da época,
registrando o rio Oiapoque e as possibilidades de rotas comerciais por meio do contato com
os povos indígenas Karíb e Arawak.
Novas fronteiras
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Durante o século XIX, com o fim das Guerras Napoleônicas e o processo de independência
na América, a Guiana Espanhola foi integrada ao território da República da Venezuela e a
Guiana Portuguesa, ao Brasil Império. Assim, o grande território da Guiana Portuguesa foi
dividido em duas áreas: o litoral (Amapá), como área da Província Imperial do Pará, e o
interior (Roraima), como área da Província Imperial do Amazonas. Esse evento histórico de
mudanças geopolíticas, envolvendo os Estados independentes portugueses na América e
sua incorporação ao território do Brasil Império, realizou-se no reinado de D. Pedro II, após
a Revolta da Cabanagem (1835-1840).
Em 1808, com a chegada da Corte Portuguesa à América, o reino português possuía quatro
Estados independentes na América Portuguesa: Brasil, com sede no Rio de Janeiro;
Maranhão e Piauí, com sede em São Luís; Grão-Pará e Rio Negro, com sede em Belém;
Guiana Portuguesa, com Fortes Administrativos governados por São Luís e, depois, por
Belém.
Nesse processo histórico, os atuais estados do Amapá (litoral) e de Roraima (interior) eram
unificados como Guiana Portuguesa. No desenrolar das Guerras Napoleônicas, o território
da Guiana Portuguesa foi ampliado com a ocupação portuguesa na Guiana Francesa, por
ordem do príncipe regente D. João, entre 1809 e 1817. Para essa ação contra a França
napoleônica amazônica, o príncipe foi apoiado pelos militares do Rio de Janeiro,
Pernambuco, Maranhão, Grão-Pará e Guiana Portuguesa, coordenados pela Inglaterra, com
fornecimento de navios de guerra, militares britânicos e ajuda financeira. Com assinatura de
Tratado de Paz durante o Congresso de Viena (1814-1815), o território francês amazônico
foi devolvido à França.
Foi a partir dessa compreensão histórica, ao dar visibilidade à ilha da Guiana no século XXI
– com apoio teórico-metodológico dos estudos pós-coloniais e decoloniais que
desmistificaram a invenção historiográfica das classes dominantes europeias, por meio do
contato com os povos indígenas das Américas –, que os pesquisadores do Nupepa
homenagearam os povos indígenas Karíb. Eles são maioria nessa particular região da
Amazônia, mantendo um diálogo sociocultural com os povos das ilhas Caribenhas no
Atlântico Norte.
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Povos indígenas
Nos Estados Nacionais, além da língua e cultura, os marcos visíveis são fixados para
delimitar o espaço da fronteira nacional que sobrepôs as fronteiras culturais e linguísticas
dos povos indígenas do Circum-Roraima.
Encontros difíceis
Nesse contexto geopolítico internacional, mesclado com narrativas míticas e lendárias dos
povos indígenas amazônicos, as visitas técnico-científicas, parcerias e convênios realizados
em seminários e simpósios entre as instituições universitárias e embaixadas do Brasil
ampliaram o conhecimento da História Regional. São espaços acadêmicos e diplomáticos
internacionais, interligados pela parceria e pelo pertencimento ao território da ilha Amazônia
Caribenha. Os diplomáticos e científicos favoreceram as novas interpretações históricas e
socioculturais por meio dos estudos e da troca de saberes entre os especialistas
amazônicos.
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Foram realizadas muitas reuniões e encontros entre os diferentes pesquisadores
amazônicos caribenhos. Eventos solenes, mas com abertura e possibilidade para o
intercâmbio histórico e sociocultural das instituições acadêmicas e governamentais. Ações
coletivas entre os estudiosos que aproximaram os temas comuns e os diferentes sobre esse
novo contexto geopolítico amazônico caribenho: a antiga ilha Guiana. Foi nesse âmbito de
troca de conhecimentos regionais que o citado grupo do Nupepa liderou e propôs os
estudos desenvolvidos pelos pesquisadores internacionais e amazônicos.
A realização dos encontros não foi fácil, em razão das elaborações históricas eurocêntricas
pertencentes às cinco nações presentes na região: Brasil, Venezuela, Guiana, Suriname e
Departamento Ultramarino da França, herdeiras da língua e cultura europeias. Suas
interpretações nacionais são particulares, sem muito diálogo histórico e cultural regional.
Para organizar a compreensão do debate, escolheu-se a língua inglesa, que dominou a
troca entre os participantes. No entanto, em alguns eventos, houve a colaboração de
intérpretes em holandês, português, francês, inglês e espanhol, facilitando o diálogo entre
os distintos participantes internacionais.
Depois dessa estratégia comparativa, os encontros foram ampliados com realização nas
outras universidades internacionais parceiras, como em Amsterdam, na Holanda, na
Universidade de Amsterdam (UvA) e na Universidade de Leiden; em Viena, na Áustria, na
Universidade de Viena; na Califórnia, nos Estados Unidos, no Pitzer College; em Trinidad,
na Universidade West Indies (UWI).
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Nessa perspectiva, a ferramenta jurídico-diplomática e sociopolítica da paradiplomacia não
apenas aproximou o sistema das relações internacionais, ou “subnacionais”, na Amazônia
Caribenha, mas também auxiliou no fortalecimento das cooperações técnico-científicas. O
apoio do corpo diplomático das Embaixadas brasileiras tornou estáveis as parcerias entre as
universidades e instituições governamentais dos países da referida região.
Participação indígena
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