Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
portuGal
estudos luso-amazônicos
Inclui bibliografias
isbn 978-85-63728-72-2
Impresso no Brasil
1 mairi dos tupinambá
e belém dos portuGueses:
encontro e confronto
de memórias
Aldrin Moura de Figueiredo1
19
De fato, estamos lidando especialmente com uma imensa paisagem cul-
tural, por sua clara associação com aspectos particulares do que podería-
mos chamar de cultura das águas, cultura ribeirinha, cultura de várzeas, de
uma sociedade haliêutica eivada de historicidade patrimonial4. O próprio
conceito de Amazônia foi gestado na confluência e na interface de natureza
e da tradição. Está claro que, pelo menos desde o final do século xviii, o
que hoje conhecemos como a região amazônica da América do Sul passou
principalmente a ser identificada a partir de vários conceitos relativos ao
mundo natural, especialmente ao ambiente de mata fechada e clima quente
e úmido: floresta amazônica, selva amazônica, floresta equatorial da Ama-
zônia, floresta pluvial ou hileia amazônica. Certamente foi o cientista pru-
ssiano Friedrich Alexander von Humboldt (1769-1859) quem usaria pela
primeira vez o termo hileia (Hyleae) para denominar e centralizar essa
região no planeta5, porém a marca do território é muito mais antiga, tão
antiga quanto a própria ideia de Brasil.
Desde 1540, quando Francisco de Orellana (1490-1550?) desceu o imenso
Paraná-Assú dos tupis, o batismo do rio Amazonas correu o mundo, evo-
cando imagens das mulheres guerreiras da mitologia grega e das narrativas
indígenas das índias icamiabas6. A centralidade do rio Amazonas na carto-
grafia da América já era atestada no mapa de Antonio Gutierrez, de 1554
(Figura 1), em que descreve uma das quatro partes do mundo. Da natureza
à história, a ideia de território amazônico, como espaço vivido, começava a
ser construída. Em 1833, Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva (1808-1865)
utilizaria a expressão “País das Amazonas” para denominar a extensa área
do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão, nos tempos da América colo-
nial portuguesa7. Essa noção faria percurso de mão dupla no campo cientí-
fico oitocentista, entre a Ilustração e o Romantismo, tanto que, em 1835,
Johann Moritz Rugendas (1802-1858) utilizaria “região do Amazonas” para
nomear a região Norte do Brasil, enquanto o barão Frederico José de San-
9. Vale citar aqui, além do conhecido Sermão da Sexagésima, do Padre Antônio Vieira, o Fado
Tropical, de Chico Buarque (L. L. Barreto, A. M. Kieffer, Antonio Vieira: do Tejo ao Ama-
zonas, álbum musical; O. Rios, O Amazonas Deságua no Tejo: Ensaios Literários).
10. M. N. Pereira, Moronguetá: um Decameron Indígena, p. 394.
11. E. Stradelli, “Vocabularios da Língua Geral Portuguez-nheêngatú e Nheêngatú-portuguez”,
p. 149.
12. A. A. da Matta, Vocabulário Amazonense: Contribuição para Seu Estudo, p. 46.
46. B. de F. T. Aranha, Obras litterarias, p. 38; F. Lacerda, “‘Sou Livre’: Narrativas e Repre-
sentações de mulheres em Belém do Pará (Século xix)”, pp. 25-33.
47. J. Affonso, Três Séculos de Modas, pp. 223-224.
Uerequitáua.
O ventilador era coisa que roda.
Quando se machucava, dizia: Ai Zizuz!”.48
54. “Família fugindo durante a rebelião popular”. Sobre a percepção francesa do movimento
cabano em áreas de fronteira, ver D. B. Alves, “Reação Francesa às Ameaças de Cabanos
e Bonis no Território Litigioso entre o Brasil e a Guiana Francesa (1836-1841)”.
55. S. Suliman, “Os Índios Munduruku e o ‘Zeloso Capuchinho’ no Rio Tapajós (Pará, 1848-
1854)’”; A. M. de Figueiredo, “O Museu como Patrimônio, a República como Memória:
Arte e Colecionismo em Belém do Pará (1890-1940)”.
56. M. Ricci, “Cabano Paraense de Alfredo Norfini”, pp. 50-53; A. M. de. Figueiredo, “Os
Pintores e a Cidade: Belém, Arte e Paisagem (Séculos xix e xx)”, p. 25.
adalberto da prússia, Príncipe. Brasil – Amazonas – Xingu. Belo Horizonte: Itatiaia, 1977.
affonso, João. Três séculos de modas. 2. ed. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1976.
alves, Débora Bendocchi. Reação francesa às ameaças de Cabanos e Bonis no território
litigioso entre o Brasil e a Guiana Francesa (1836-1841). Almanack, Guarulhos,
n. 14, p. 126-95, set./dec. 2016.
aranha, Bento de Figueiredo Tenreiro. Obras litterarias. 2. ed. Lisboa: Typ. da Companhia
Nacional, 1899.
bandeira, Manuel. Cunhantã (1927). In: bandeira, Manuel. Libertinagem. Rio de Ja-
neiro: Pongetti, 1930.
barata, Manoel. Formação histórica do Pará. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973.
barbosa, Mário Médice C. Sete de Janeiro da Cabanagem: as efemérides cabanas e as
dissonâncias sociais em Belém (1985-2002). In: neves, Fernando Arthur de Freitas;
lima, Maria Roseane Pinto (org.). Faces da história da Amazônia. Belém: Paka-Tatu,
2006. p. 491-518.
barreto, Luis Lima; Kieffer, Anna Maria. Antonio Vieira: do Tejo ao Amazonas. São
Paulo: Akron, 2016. cd-livro.
bates, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1977.
brandão, Ambrósio Fernandes. Diálogos das grandezas do Brasil. 2. ed. integral, segun-
do o apógrafo de Leiden, aumentada por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife:
Imprensa Universitária, [1618] 1966.
calheiros, Jayme. Álbum comercial do Pará. Belém: Typ. Delta, 1915.
campos, Humberto. O selvagem. In: haddad, Jamil Almansur. História poética do
Brasil. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras, 1946.
carvaJal, Gaspar de. Descubrimiento del rio de las Amazonas [...]. Sevilla: Imprenta de E.
Rasco, 1894.
carvalho Júnior, Almir Diniz. A revolta dos primeiros índios cristãos: guerra e conflitos
na construção da Amazônia portuguesa – século xvii. Fronteiras & Debates, Macapá,
v. 2, n. 1, p. 21-49, 2015.
chambouleYroN, Rafael; bonifácio, Monique; melo, Vanice S. Pelos sertões “estão
todas as utilidades”: trocas e conflitos no sertão amazônico (século xvii). Revista de
História, São Paulo, n. 162, p. 13-49, 2010.
chaves, Maria Annunciada. Noite de música paraense. Revista de Cultura do Pará,
Belém, n. 32, 1978.
costa, Dayseane Ferraz. Além da pedra e cal: a (re)construção do Forte do Presépio em
Belém do Pará, 2000-2004. 2007. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade
Federal do Pará, Belém, 2007.
cruz, Ernesto. História do Pará. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973.
cruz, Ernesto. Ruas de Belém. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1970.
dantas, Hélio. Colonização e civilização na Amazônia: escrita da história e construção
do regional na obra de Arthur Reis (1931-1966). 2008. Dissertação (Mestrado em
História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Ama-
zonas, Manaus, 2008.