Em “O narrador – considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, Walter
Benjamin faz disposições sobre o que seria o narrador sob suas perspectivas. Segundo ele, as pessoas que sabem narrar de forma devida estão se tornando cada vez mais escassas, pois a ação da experiência tem, gradativamente, se extinguido. O que Benjamin quer dizer é que a melhor narração escrita é aquela que mais se aproxima às histórias contadas por meio da oralidade. E quando ele fala da ação da experiência estar se extinguindo, refere-se ao fato de que o coletivo vem diminuindo drasticamente de forma que as experiências vividas por indivíduos com mais idade não têm mais espaço para serem compartilhadas e divididas com as gerações emergentes. Com isso, começa a morrer a cultura de se transmitir conselhos pragmáticos para os mais jovens. Essas considerações devem-se ao fato de que, para Benjamin, a narrativa sofre processos de modificações com a evolução das forças produtivas. Como exemplo o surgimento do romance no período moderno que acaba por assassinar a narrativa, pois no romance existe um isolamento do individuo que o separa dessa preocupação em compartilhar experiências bem como dar e receber conselhos. Mostra ele na obra “Dom Quixote”, que considera o primeiro grande livro do gênero, que os conselhos do herói são terminantemente declináveis e passíveis de repúdio, mesmo sendo o Dom Quixote, de acordo com suas próprias perspectivas, um corajoso, nobre, generoso e sábio cavaleiro. Ainda segundo Benjamin, um grande narrador tem suas raízes fincadas no povo passando pelas camadas artesanais onde um único individuo trabalha em toda a produção de seu “artesanato”, desde a seleção de matéria prima até a finalização. Por isso ele considera o Leskov como um bom narrador, enraizado ao povo e livre de influencias estrangeiras e que é um dos poucos que foi intimo dos contos de fadas. Pois com ele a voz da natureza fala mais do que a voz do homem e um fato passado é naturalmente lembrado pela memória da experiência.