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Disciplina: Teoria da Narrativa

Letras - Língua Portuguesa e suas Literaturas

Atividade: Estudo Dirigido Data: 17/10/2021


Docente: Juliana Borges Oliveira de Morais
Discente: Rita de Cássia Barros Ramos N° de matricula:

Questões

1. Explique, à luz de Benjamin: “A arte de narrar está em vias de extinção.”

Walter Benjamin (1986) traz reflexões acerca da narração em seu texto intitulado “O
Narrador”, considerando Nikolai Leskov como percursor.

Benjamin aponta que é necessário a vivência de experiências para que a narração exista,
sem essa vivência estaríamos privados de uma faculdade antes segura e inalienável, a faculdade
de intercambiar experiências. Além disso, afirma que “uma das causas desse fenômeno é óbvia:
as ações da experiência estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor
desapareça de todo” (BENJAMIN, 1986, p. 198).

Portanto, à luz de Benjamin, o ato de narrar está se extinguindo, já que as experiências


vividas não estão sendo compartilhadas.

2. Qual seria a fonte primordial dos narradores?

De acordo com Walter Benjamin (1986, p. 198), “a experiência que passa de pessoa a pessoa
é a fonte a que recorreram todos os narradores”, ou seja, o processo de contar experiências
vividas torna a narrativa um processo contínuo.

Benjamin cita dois grupos distintos de narradores, aqueles que viajam e vivem experiências
marcantes que se transformam em narrativas e aqueles que vivem toda a sua vida em um único
país, mas conhecem suas histórias e tradições.

A partir disso, é possível concluir seu ponto de que a fonte primordial dos narradores se dá
pelo compartilhamento de histórias, sejam elas presenciados ou apenas passadas de geração em
geração.
3. Para Benjamin, a morte da narrativa está intimamente ligada ao silêncio dos
soldados que voltavam da guerra. Explique.

Walter Benjamin (1986) afirma que que a narração está presente no ato de contar
experiências vividas por quem narra. Segundo ele, “são cada vez mais raras as pessoas que
sabem narrar devidamente” (BENJAMIN, 1986, p. 197).

A morte da narrativa estar ligada ao silêncio dos soldados se dá por intermédio das
experiências vividas pelos mesmos em meio ao campo de batalha. Segundo Benjamin (1986,
p. 198) “nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência
estratégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação, a experiência do
corpo pela guerra de material e a experiência ética pelos governantes”.

Os soldados que voltavam da guerra se tornaram mais calados e não compartilhavam as


experiências que viviam, experiências extremamente traumáticas e, portanto, não praticavam o
ato de narrar.

4. Quais seriam os “tipos fundamentais” de narradores? Caracterize-os.

Walter Benjamin (1986), em seu texto, alega que a narrativa acontece quando experiências
são passadas de pessoa a pessoa. O narrador seria alguém viajante, com inúmeras vivências
extraordinárias a serem contadas, ou até mesmo alguém simples que viveu toda a sua vida em
um único lugar, mas que conhece tradições e histórias que são contadas por gerações.

Os dois narradores são caracterizados de forma a exemplificarem o seu modo de narrar. O


narrador viajante é classificado como “marinheiro comerciante”, ou seja, um narrador que
compartilha as experiências vividas por ele e são passadas a quem queira ouvir. Já o narrador
simples é exemplificado como “camponês sedentário”, aquele que permanece em um mesmo
lugar e narra as experiências vividas ali, sua cultura e tradições. “Na realidade, esses dois estilos
de vida produziram de certo modo suas respectivas famílias de narradores. Cada uma delas
conservou, no decorrer dos séculos, suas características próprias” (BENJAMIN, 1986, p. 199).

5. Segundo Benjamin, a natureza da verdadeira narrativa tem uma dimensão


utilitária. Explique.

Walter Benjamin (1986, p. 200) afirma que “o narrador é um homem que sabe dar
conselhos”. Essa afirmação tem como base a natureza da verdadeira narrativa, que por sua vez,
trata-se da “narrativa conselheira”, ou seja, uma dimensão utilitária que consiste em um
ensinamento moral, uma sugestão prática, ou até mesmo um provérbio popular.

O ato de aconselhar não é continuar uma narrativa de um certo ponto. Para que isso ocorra
é necessário o conhecimento da história que é narrada, a partir disso começa o processo de
sugestão e aconselhamento. O conselho a partir dessa pragmática é conhecido como sabedoria.

Portanto, a natureza da verdadeira narrativa tem uma dimensão utilitária por se tratar de
uma narrativa visada na sabedoria e aconselhamento por meio de uma história.

6. Benjamin associa “a morte da narrativa” ao surgimento do romance. Por quê?

O que difere o romance da narrativa é o veículo pelo qual ele é apresentado, ou seja, o
romance é apresentado como um livro e a narrativa é contada a alguém. A narrativa tem uma
natureza oral, que passa a se perder com o surgimento dos romances em livros no início do
período moderno.

Benjamin (1986, p. 201) afirma que “o que distingue o romance de todas as outras formas
de prosa – contos de fada, lendas e mesmo novelas – é que ele nem procede da tradição oral
nem a alimenta. Ele se distingue, especialmente, da narrativa.”. Portanto, ao associar “a morte
da narrativa” ao surgimento do romance, Benjamin alega que a narrativa morreria por ser
unicamente oral, isto é, algo que seria esquecido à medida que os romances impressos
ganhassem espaço entre as pessoas.

7. Que outra forma de comunicação ameaçaria as narrativas?

Walter Benjamin (1986) apresenta outras transformações que ameaçam a narrativa. Além
do romance, que levou centenas de anos para que ganhasse espaço em meio à burguesia arcaica,
Benjamin também cita uma nova forma de comunicação ameaçadora à narrativa, a informação.

Benjamin (1986, p. 203) diz que a informação “é incompatível com o espirito da narrativa.
Se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse
declínio.”.

A informação está diretamente ligada ao saber próximo, ou seja, o saber que está próximo
ao ouvinte tem mais relevância do que o saber que vem de longe, que chegam junto com os
narradores viajantes. Outro ponto que torna a informação uma ameaça é o fato de que ela tem
uma verificação imediata.

8. Por que a relação do narrador com a sua matéria seria uma relação artesanal?

Walter Benjamin, em seu texto, enaltece a presença do narrador, principalmente para que
escuta, e também para quem lê. Mas afirma que o leitor romancista é solitário e se apodera
firmemente da matéria de sua leitura. “Quer transformá-la em coisa sua, devorá-la, de certo
modo. Sim, ele destrói, devora a substância lida, como o fogo devora lenha na lareira.”
(BENJAMIN, 1986, p. 213)

Em análise a isso, é possível concluir que a relação do narrador com sua matéria é uma
relação artesanal pelo fato de que, ouvinte ou leitor, há uma necessidade de construção de um
vínculo com o narrador, seja ele presente ou onisciente.

9. Crie uma imagem (desenho, colagem, etc) para simbolizar a figura do narrador,
segundo Benjamin. *Essa questão (número nove) vale 4 pontos. As demais valem
2 pontos, cada.

Referências

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1986b. (Obras Escolhidas, v. 1)

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