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Dissertação orientada
pelo Prof. Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira e
coorientada pelo Doutor Pedro José Lopes Tavares Ferreira
2021
Universidade de Lisboa
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território
Dissertação orientada
pelo Prof. Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira e
coorientada pelo Doutor Pedro José Lopes Tavares Ferreira
Júri:
Presidente: Professor Doutor Marcelo Henrique Carapito Martinho Fragoso do
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa
Vogais:
- Professor Doutor Miguel Ángel de Pablo Hernández da Facultad de Ciencias da
Universidad de Alcalá de Henares
- Professor Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira do Instituto de Geografia e
Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa
2021
Este trabalho enquadra-se nos projetos PERMANTAR 2018-19 e PERMANTAR 2019-20
(Permafrost and Climate Change in the Maritime Antarctic) financiados pelo Programa Polar
Português / Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e no projeto Ecophysiology of KGI
terrestrial organisms to reveal mechanisms of adaptation to changing environment, do Korea
Polar Research Institute (KOPRI). Contou com co-financiamento do Swiss GCOS Office.
i
Aos meus pais e ao meu irmão João.
ii
RESUMO
Palavras-chave: Permafrost, Regime Térmico do Solo, TTOP, Ilha de Rei Jorge, Antártida
Marítima.
iii
ABSTRACT
Permafrost is very sensitive to climate change and in the Maritime Antarctic exists close
to its climatic limits. Considering the predicted climate warming scenarios, assessing the
thermal state of permafrost is of great relevance for estimating the impacts of its future
modifications on the terrestrial and nearshore environment. This research aims at contributing
to filling the gap on the knowledge on the permafrost thermal state and its controlling factors
in Barton Peninsula (King George Island). Therefore, in February 2019, we installed a 13m
deep borehole to monitor the thermal state of permafrost (King Sejong Station borehole, 128m
asl), contributing to the Global Terrestrial Network for Permafrost. The first year of observations
(2019-20) provided a mean annual air temperature of -2 ºC, a mean annual ground
temperature at 13m of -1.5 ºC, a TTOP of -1.7 ºC, and a mean annual ground surface
temperature of -1.8 ºC. In addition, 20 ground surface temperature loggers were installed to
study the ground thermal regime and to identify its controlling factors. A One-Way ANOVA
analysis highlighted the importance of altitude, curvature and snow cover in the mean annual
ground temperature, in the intensity and duration of freezing and thawing seasons and in the
frequency of freezing and thawing cycles. The importance of these factors was evident in the
range of values obtained according to local conditions. The freezing season showed 438 to
1041 FDD and the thawing season (until 02/03/2020), varied between 149 and 643 TDD. The
analysis of the daily thermal regimes in a study area, supported by detailed geomorphological
mapping, allowed the analysis of the thermal regimes and their influencing factors at the
microclimatic scale. The results allowed, for the first time, to characterise the thermal
conditions of permafrost in Barton Peninsula and the analysis of local conditioning factors.
Keywords: Permafrost, Ground Temperature Regime, TTOP, King George Island, Maritime
Antarctica.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por todos os dias de frio e calor passados entre montanhas e bosques
a norte. Proporcionaram-me a neblina das manhãs que habita nos vales no início dos nossos
passeios e o pôr do sol do fim de tarde entre sombras de carvalhos antigos e blocos graníticos.
Despertaram em mim o gosto pela natureza. Estarei sempre grata pelo apoio, motivação e
liberdade.
Ao meu irmão pelos passeios fugazes nos jardins da Gulbenkian, pelas voltas de
bicicleta em Sintra e pelas chávenas de chá que alegraram as tardes de trabalho.
Ao Doutor Pedro Ferreira pela coorientação da tese, pela ajuda prestada no tratamento
das carotes de rocha recolhidas na perfuração King Sejong Station e pela disponibilização de
amostras de rocha recolhidas na Península de Barton.
À equipa da Base Coreana King Sejong Station, em especial ao Doutor Soon Gyu
Hong e ao Doutor Hyoungseok Lee, investigadores principais do projeto Ecophysiology of KGI
terrestrial organisms to reveal mechanisms of adaptation to changing environment, por
proporcionarem o enquadramento científico, bem como pela partilha de dados, que permitiu
a realização dos trabalhos.
v
Ao Professor Doutor Pedro Pina, pela disponibilização do levantamento realizado com
VANT na área de pormenor de Jeonjaegyu e pelo apoio prestado na campanha antártica de
2018/19.
Ao Doutor Sangjong Park pelo apoio no acesso aos dados meteorológicos da estação
de King Sejong Station.
A Seonung Choi e Sung Gu Lee, por proporcionarem as condições logísticas para que
se realizassem os trabalhos de campo.
Ao Korea Polar Research Institute (KOPRI) pelo apoio logístico e acolhimento durante
as campanhas antárticas de 2018/19 e 2019/20.
vi
ÍNDICE
ABSTRACT ........................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v
vii
3.4.1. Características dos sensores ..............................................................................61
3.5.3. Análise das propriedades termofísicas das carotes e amostras rochosas ...........75
5.3. Análise dos efeitos dos fatores de controle sobre os regimes térmicos de superfície do
solo ...................................................................................................................................99
5.3.2. Análise das temperaturas do solo no Monte Goguryeo para avaliar o efeito da
exposição ....................................................................................................................104
5.3.3. Análise das temperaturas do solo no vale de Jeonjaegyu para avaliar o efeito da
curvatura .....................................................................................................................109
viii
5.3.5. Análise das temperaturas do solo próximo do neveiro N3 em Jeonjaegyu e o efeito
da cobertura de neve ..................................................................................................118
5.3.6. Conclusões........................................................................................................123
6.3.3. Conclusões........................................................................................................145
6.4.4. Conclusões........................................................................................................155
7. CONCLUSÃO.................................................................................................................160
8. BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................168
ix
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
No relatório especial de 2018, Special Report on Global Warming of 1.5 °C, estima-se
que as atividades humanas tenham já provocado um aquecimento de 1 ºC acima dos níveis
pré-industriais, sendo previsto um aquecimento de 1,5 ºC entre 2030 e 2052 (IPCC, 2018).
Este aumento terá uma distribuição desigual no planeta, sendo mais pronunciado nas regiões
polares com impactes na cobertura de neve, extensão dos glaciares e no estado térmico do
permafrost (Figura 1) (IPCC, 2019).
Figura 1 - Temperaturas médias do ar projetadas para um aumento da temperatura em 1,5 e 2 ºC (IPCC, 2018)
1
A monitorização do estado térmico do permafrost foi descrita por Smith & Brown (2009)
como essencial para o aperfeiçoamento das previsões das alterações climáticas futuras, e
para a verificação de modificações à escala regional e global provocadas pelas mesmas.
Guglielmin & Cannone (2012), que reforçam a importância da Antártida para o clima global,
mencionam a utilidade da monitorização e estudo do permafrost para a compreensão das
recentes alterações climáticas e, do seu impacte na criosfera.
2
Figura 2 - Localização de perfurações no continente Antártico (Vieira et al., 2010)
3
Começando pela campanha antártica 2018/2019, as atividades realizadas na
Península de Barton consistiram na instalação da perfuração King Sejong Station, com 13
metros de profundidade, e na instalação de um conjunto de 20 sensores térmicos iButton, a
aproximadamente 2 cm de profundidade, para registo das temperaturas do solo à superfície.
De forma complementar, foram ainda instalados dois postos termométricos para registo das
temperaturas do ar num gradiente altitudinal.
4
O terceiro objetivo proposto, é o de compreender os impactes do regime térmico do
solo nas formas periglaciárias. Desta forma, foi necessário a elaboração da cartografia
geomorfológica, realizada para a área de Jeonjaegyu, envolvente da perfuração King Sejong
Station. O quarto objetivo, avaliar a sensibilidade climática do permafrost e aferir os impactes
possíveis na dinâmica dos ecossistemas, constituiu um ponto de reflexão e discussão, no qual
o conhecimento do estado térmico do permafrost e o conhecimento das temperaturas à
superfície do solo, condicionadas pelas características topográficas, foram relacionados com
as tendências de evolução do clima no contexto territorial do arquipélago das Shetland do Sul.
O último objetivo, de carácter prático, foi o de contribuir para a melhoria da densidade da
Global Terrestrial Network for Permafrost (GTN-P) no contexto antártico, traduzido na
instalação e instrumentalização da perfuração King Sejong Station com 13 metros de
profundidade.
5
No contexto antártico, o desenvolvimento desta rede impulsionada pelo International
Polar Year (IPY), esteve dependente do grupo Antarctic Permafrost, Periglacial Environments
and Soils (ANTPAS). Derivado do grupo de trabalho da IPA, com foco no Hemisfério Sul, o
projeto ANTPAS definiu como objetivo a promoção da investigação interdisciplinar de forma
a potenciar o conhecimento sobres as dinâmicas ambientais nas áreas livres de gelo da
Antártida (Guglielmin & Vieira, 2014). Para tal, foi necessário estabelecer várias colaborações
internacionais com foco no estudo da Península Antártica, envolvendo países como Argentina,
Brasil, Chile, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos da América, Itália, Portugal, Reino
Unido e Rússia (Guglielmin & Vieira, 2014; Streletskiy et al., 2017).
1.2.1. Conceitos
a) Permafrost
6
Na segunda metade do século XVIII, ocorreu uma intensa produção de conhecimento
relativo à distribuição do solo gelado na Sibéria com as expedições de Vrangel, Matyushkin,
Koz'min, as primeiras medições de Erman em 1825 num poço com 18 metros no Berezovo e
com a expedição de Middendorf entre 1842 e 1845 entre o Mar de Okhotsk e o rio de Yenisei,
que deu origem às primeiras hipóteses sobre a espessura do solo gelado (Williams, 1965;
Yershov, 1998). A terminologia utilizada variava entre academias e os critérios não eram ainda
padronizados.
7
maior relevância à influência do conteúdo de água presente no solo. Desta forma, o conceito
de permafrost seria utilizado quando o material permanecesse a uma temperatura inferior a 0
ºC por um período superior a dois anos e se, na presença de água, uma “percentagem
suficientemente elevada” desta estivesse congelada de forma a cimentar as partículas
minerais e orgânicas. Embora o desenvolvimento de novas definições tivesse como objetivo
enriquecer e dotar de maior rigor o conceito permafrost, essas tentativas limitaram a sua
utilização isenta de ambiguidades. Em 1988, no decorrer da 5th International Conference on
Permafrost na Noruega, a problemática foi abordada pela International Permafrost Association
que assumiu a tarefa de “desenvolver um conjunto de termos relacionados com o permafrost,
internacionalmente aceites, para utilização na engenharia e ciência” (van Everdingen, 1998).
No seguimento dos trabalhos desenvolvidos, é publicada em 1998, a primeira versão do Multi-
Language Glossary of Permafrost and Related Ground-Ice Terms (van Everdingen, 1998).
Descrita no documento, a definição de permafrost que também é a adotada no presente
trabalho, é referente ao solo ou rocha, que podem incluir matéria orgânica, e que permanecem
a uma temperatura inferior ou igual a 0ºC por um período mínimo de dois anos consecutivos
(van Everdingen, 1998).
A camada ativa, influenciada diretamente pelo regime térmico do solo, tem uma
espessura variável, controlada pela capacidade de aquecimento (Figura 3). Nas regiões
polares, tende a ser mais fina, com uma espessura decimétrica, evoluindo para as regiões
subárticas ou subantárticas onde a sua espessura supera 1 metro (Ballantyne & Harris, 1994;
French, 2007).
8
Nas regiões montanhosas, a espessura e composição da camada ativa estão dependentes
do clima, dos declives, da altitude, do tipo de substrato e espessura, e da influência dos
glaciares, entre outros aspetos, podendo resultar numa camada composta por sedimentos
finos ou em acumulações de detritos em formas morénicas ou em cones de detritos (Haeberli
& Gruber, 2009).
9
Figura 3 - Modelo de perfil vertical com representação da camada ativa, camada de transiente e permafrost
adaptado de French (2007)
c) Classificação do permafrost
10
Relativamente à classificação baseada na distribuição espacial do fenómeno, são
contempladas quatro classes de permafrost (Figura 4): contínuo; descontínuo; esporádico; e
isolado. O permafrost contínuo, cobre 90 a 100% da superfície do solo e ocorre em regiões
de climas frios e em altas latitudes, onde apenas o solo por baixo de grandes corpos de água
se encontra descongelado, dando origem a taliks (Washburn, 1979; Ballantyne & Harris, 1994;
French, 2007). Estes últimos constituem níveis de solo descongelado, que ocorrem devido a
anomalias locais de carácter térmico, hidrológico e/ou químico (van Everdingen, 1998).
N S
Figura 4 - Distribuição espacial do permafrost num transecto latitudinal norte-sul, adaptado de Ballantyne &
Harris (1994)
11
aumento da temperatura não ultrapasse os 2 ºC até ao ano de 2100, o permafrost manterá
uma tendência de degradação afetando uma área significativa, com consequências nos
ecossistemas, nos sistemas hidrológicos e na integridade das infraestruturas. Este
aquecimento do clima, terá também impactes no retrocesso dos glaciares, na desintegração
das plataformas de gelo e no processo de greening do Ártico e da Antártida Marítima, com o
desenvolvimento da flora sobre o solo (Amesbury et al., 2017).
Turner et al. (2005, 2016) e Vieira et al. (2010), destacam a Península Antártica como
uma das regiões da Terra onde o aumento das temperaturas médias do ar tem sido mais
acentuado, com uma subida de aproximadamente 2,5 ºC (estação de Vernadsky) desde 1950.
Adicionalmente, Bockheim et al. (2013) referem, para a região ocidental da península, um
aumento da temperatura média anual do ar de 3,4 ºC durante o mesmo período. Na região
oriental, onde o número de estações de monitorização é mais reduzido, a desintegração da
plataforma de gelo Larsen, constitui um indicador de modificações do clima (Turner et al.,
2005).
Na análise das alterações térmicas do permafrost, feita com recurso aos dados
provenientes das perfurações da GTN-P, Biskaborn et al. (2019) concluíram que, no período
2007-2016, a temperatura do solo próxima da profundidade de amplitude anual zero, onde as
variações térmicas sazonais no solo não são significativas, aumentou em todas as zonas de
permafrost da Terra. Na Antártida, o aquecimento do permafrost nas perfurações analisadas
foi de 0,37 ºC (±0,10ºC/década), mas sem significado estatístico e não correspondendo à
tendência de forte aquecimento global (Biskaborn et al., 2019) (Figura 5). Este facto, deve-se
ao número reduzido de perfurações, conjugado com a sua em concentração em áreas com
condições ambientais muito diferentes (especialmente no norte da Península Antártica e na
Terra de Victoria). Tal impede a definição de uma tendência para a evolução da temperatura
do permafrost (Figura 5).
12
Figura 5 - Temperatura do permafrost e variação da temperatura à profundidade da amplitude anual de zero
entre 2014-2016 (Biskaborn et al., 2019)
13
no Mar de Amundsen, tem tido um papel relevante na redução do gelo marinho e no aumento
das temperaturas, resultado do aumento do fluxo de ventos e da deslocação para norte da
depressão, com forte impacte no clima na região oeste do continente e Península Antártica.
A Oscilação do Pacífico, corresponde a variações da temperatura do oceano à superfície, com
influência nas temperaturas na região antártica e na dinâmica da ALS (Oliva et al., 2017; Jones
et al., 2019; Turner et al., 2019)
Embora os fatores SAM, ENSO, ACL e IPO, tenham contribuído para uma tendência
marcada de aquecimento durante a segunda metade do século XX no continente antártico,
durante períodos mais curtos, são observadas tendências de arrefecimento regionais,
nomeadamente nos meses de dezembro a fevereiro no período de 1999 a 2016, e nos meses
de março a abril no período de 1979 a 2016, com especial destaque para a região oriental da
Antártida (Jones et al., 2019). Na Península Antártica, esta tendência de arrefecimento de
curta duração na primeira década do século XXI, atenuada pela tendência de aquecimento a
longo prazo, é muito marcada, tendo sido mencionada por Oliva et al. (2017), Gonzalez &
Fortuny (2018) e Turner et al. (2016, 2019). Turner et al. (2016) referem que a diminuição da
temperatura do ar nestes períodos, se deve a uma maior frequência dos ventos frios
provenientes do quadrante este e que dão origem a condições ciclónicas na região norte do
Mar de Weddell. As modificações na circulação provocaram um aumento da advecção de gelo
até à costa este da Península Antártica. Os autores enfatizam ainda que estas mudanças da
temperatura registadas a uma escala temporal decenal, estão associadas com a variabilidade
interna natural da circulação atmosférica regional, e que durante os últimos 1000 anos a região
experienciou períodos de rápido aquecimento e arrefecimento semelhantes.
14
Figura 6 - Variação da temperatura anual do permafrost em diferentes regiões (Biskaborn et al., 2019)
15
Dividimos a análise do estado térmico do permafrost na Península Antártica (PA) em
9 áreas, baseando-nos nas respetivas perfurações (Figura 7):
A presença de permafrost nestes territórios foi estimada por Bockheim (1995) que,
através das isotérmicas da temperatura média anual do ar, definiu como limite do permafrost
contínuo na PA, o paralelo dos 68 ºS. O permafrost descontínuo, por sua vez, estaria restrito
às áreas mais elevadas das ilhas subantárticas da Georgia do Sul, das ilhas de Sandwich, de
Bouvetoya, das ilhas de Princípe Edward e Marion, das ilhas Crozet, Kerguelen, Heard,
MacDonald, das ilhas Macquaire e, por fim, das ilhas Falkland e Auckland (Bockheim, 1995).
Mais tarde, Bockheim et al. (2013) definem como limite para a presença de permafrost na PA,
uma temperatura do ar média anual inferior ou igual a -2,5 ºC ao nível do mar. Tendo em
consideração a dissimetria entre a região oeste e este na península, importa referir que a
diferença da temperatura média anual do ar à mesma latitude, varia entre 3 a 5 ºC, sendo
mais quente na região oeste. Os gradientes térmicos latitudinais são, muito diferentes com a
região oeste a registar -0,77 ºC/grau de latitude e, a região este a registar -0,85 ºC /grau de
latitude.
16
Na região oeste, e considerando os dados obtidos da perfuração de Rothera na Ilha
de Adelaide (67º S), a MGST regista valores de -2,8 ºC. Esta tem presente permafrost a uma
profundidade de 1,22 m com uma temperatura no topo do permafrost (TTOP) de -3,1 ºC
(Guglielmin et al., 2008; Bockheim et al., 2013). A norte de Rothera, a 64º S, Cierva Cove na
costa oeste da PA, regista uma temperatura no topo do permafrost mais elevada (-1,2 ºC) e
uma profundidade variável entre os 2 e 6 m. A TMAS, assume valores entre -6 e -4 ºC
(Bockheim et al., 2013; Ramos, 2018; Obu et al., 2020).
Na região norte, na região este da Península Antártica, Marambio, regista uma MGST
de -6,6 ºC, temperatura muito inferior à registada no TTOP de Cierva Cove a uma latitude
próxima. A camada ativa tem uma espessura de 0,6 metros e o permafrost possui uma
espessura estimada de 35 a 200 metros (Guglielmin et al., 2008; Bockheim et al., 2013). A
diferença entre as temperaturas registadas nas duas perfurações – Marambio e Cierva Cove
- deve-se ao contraste climático este-oeste mencionado e à forte influência do relevo da
península que atua como barreira orográfica.
17
Na Ilha de Livingston, mais concretamente na Península Hurd, a monitorização do
permafrost é feita através de perfurações superficiais (2 a 10 metros) e pouco profundas (10
a 25 metros) que providenciam maior informação quanto ao estado térmico do permafrost.
18
A monitorização e registo das temperaturas do solo, são também condicionadas pelo
número limitado de perfurações e a sua distribuição relativamente concentrada nas áreas de
estudos mencionadas.
O efeito de latitude resulta, por sua vez, num aumento progressivo da temperatura com
a diminuição de latitude, resultado do aumento de radiação solar derivada de um maior
número de horas de sol e do aumento do ângulo de incidência. À semelhança do efeito de
altitude, está associado a um gradiente latitudinal, embora este seja ligeiramente diferente
entre a região oeste (−0,77 °C/grau latitude) e este (−0,85 °C/grau latitude) da Península
Antártica (Bockheim et al., 2013).
19
Tabela 1 - Distribuição do permafrost na Península Antártica adaptado de Bockheim et al. (2013)
Papagal 5 -62.6484 -60.3637 147 - -1.71 -1.3 - - Desconhecido Ferreira et al. (2016)
Collado Ramos 1.3 -62.6678 -60.3919 117 - -1.58 -1.16 a -1.39 - - Contínuo Ferreira et al. (2016)
King George Island Bellingshausen 11.0 -62.1967 -58.9656 16 -2.0 0.7 a 2.3 - 0.5 a 1.8 20 a 100 Desconhecido Bockheim et al. (2013)
Marambio Marambio 8.0 -64.2333 -56.6167 200 -5.5 -6.6 - 0.6 35 a 200 Desconhecido Bockheim et al. (2013)
Ilha Adelaide Rothera Point 31.0 -67.5720 -68.1207 32 -6.4 -2.8 -3.1 1.22 28 Desconhecido Guglielmin (unpublished)
20
Figura 7 - Temperatura do permafrost modelada com base nas temperaturas de superfície obtidas do ERA-Interim (Obu et al.2020)
21
1.3. Fatores condicionantes do regime térmico do
permafrost
1.3.1. Conceitos
(1)
𝑅 = (1 − 𝛼)𝑅𝑆 + 𝑅𝐸 − 𝑅𝐿 − (1𝜀0)𝑅𝐿
22
Durante o dia, o balanço radiativo é positivo com a energia recebida em pequeno
comprimento de onda a ser superior às perdas radiativas. Por sua vez, no período noturno, o
balanço é negativo com uma maior perda de energia em grande comprimento de onda (Oke,
1987).
(2)
∆𝑄 𝐿
𝐾= .
𝐴. ∆𝑡 ∆𝑇
(𝑄 – quantidade de calor que se propaga; 𝐿 – espessura do material por onde o calor se propaga; 𝐴 – área de
condutividade térmica; ∆𝑇 – variação de temperatura)
23
Tabela 2 - Propriedades térmicas de diferentes materiais (Williams & Smith, 1993)
O calor específico (Cm), refere-se à quantidade de calor que tem de ser acumulada
numa unidade de massa de 1 kg, de forma a provocar uma mudança de temperatura em 1 K
(Oke, 1988; Williams & Smith, 1993; French, 2007). As variações de temperatura, resultantes
de uma dada quantidade de calor fornecida, são maiores em materiais cuja capacidade de
aquecimento é mais baixa, isto é, em materiais com um baixo calor específico (Williams &
Smith, 1993; Vieira, 2004).
(3)
𝐶𝑣 = 𝜌 ∗ 𝐶𝑚
24
Nos solos gelados, o calor específico é condicionado pelo conteúdo de água líquida e
pelo efeito do calor latente de fusão (Qi). Este corresponde à quantidade de energia libertada
por uma unidade de volume de solo ou rocha na mudança de estado.
(4)
𝑄𝑖 = 𝐿 ∗ 𝜌𝑑 ∗ (𝑊 − 𝑊𝑢)
(𝜌𝑑 – densidade a seco; 𝐿 – calor latente da fusão da água; 𝑊 – conteúdo de água total; 𝑊𝑢 – conteúdo de água
não gelado)
A difusividade térmica (α) corresponde, por sua vez, à divisão da condutividade térmica
pelo calor específico volumétrico que traduz a medida de tempo necessária para a deslocação
do calor (Oke, 1988; Williams & Smith, 1993).
(5)
𝛼 = 𝐾|𝐶𝑣 = 𝐾|𝐶𝑚 ∗ 𝜌
(6)
𝜇𝑠 = (𝐾𝑠 𝐶𝑠 )1/2
25
Figura 8 - Regime térmico do permafrost (Washburn, 1979)
26
solo permanece gelado durante todo o ano até à base do permafrost, profundidade em que
devido ao gradiente geotérmico, as temperaturas sobem e ultrapassam os 0 ºC (Williams &
Smith, 1993; French, 2007). Este gradiente representa o aumento de temperatura de 1 ºC por
30 a 60 m de profundidade, resultante do fluxo de calor proveniente do interior da terra
(French, 2007). A profundidade a que a temperatura do solo é positiva está também
dependente da condutividade térmica e da temperatura média do ar à superfície. Williams &
Smith (1993) apresentam valores aproximados para a espessura do permafrost com base em
valores conhecidos de condutividade e de temperatura média do ar à superfície, que permitem
uma aproximação à profundidade a que as temperaturas são positivas. Considerando uma
temperatura média do ar à superfície de -2 ºC e um valor de condutividade de 4 K, a espessura
do permafrost é de aproximadamente 200 m. Com temperaturas médias do ar inferiores de -
5 e -10 ºC as espessuras variam entre 100 a 550 m e 200 a 1100 m.
27
Controlado pelo conteúdo de água no solo, o efeito de zero curtain é condicionado pela
presença de uma cobertura de neve e pela temperatura do ar à superfície. Ora, aquando do
início do processo de congelação, a temperatura mantém-se constante, resultado da
libertação de calor latente, até que a formação de gelo diminua juntamente com o conteúdo
de água no solo e, por consequência, haja uma diminuição do calor latente libertado que
promove um maior arrefecimento do solo (French, 2007). No processo de descongelação, a
fusão do gelo, resulta na absorção do calor latente que impede o aumento acentuado da
temperatura até que todo o gelo seja fundido (French, 2007).
(7)
𝑇𝑧 = 𝑇𝑠 + 𝐺𝑔 ∗ 𝑍
(𝑇𝑧 - temperatura do solo (ºC); 𝑍 – profundidade; 𝑇𝑠 – temperatura média anual do solo à superfície (ºC); 𝐺𝑔 –
gradiente geotérmico (ºC m-1))
28
E a espessura do permafrost:
(8)
𝑇
𝐻𝑝 =
−𝑖𝑔
(𝐻𝑝 – espessura do permafrost (m); 𝑇 – temperatura média anual do ar (ºC); −𝑖𝑔 – gradiente geotérmico (ºC/m))
O horizonte mais estável do permafrost é aquele que é apenas afetado pelas ondas
térmicas anuais e pelas de longa duração. O horizonte menos estável encontra-se acima da
zona de amplitude anual zero, onde as variações sazonais dominam o regime térmico. É esta
parte superficial do solo que é mais crítica para os processos resultantes da ação de
congelação e de fusão.
29
Figura 9 - Fatores condicionantes da distribuição do permafrost, adaptado de Ballantyne & Harris (1994)
30
exerce maior influência nas zonas de permafrost descontínuo onde as trocas de energia entre
a atmosfera e o solo, marcadas por um ritmo sazonal, possuem maior impacte no estado
térmico do permafrost. Tal influência resulta do efeito isolante e da proteção contra a radiação
solar exercido pela vegetação com variações inerentes ao tipo de espécies. Outro efeito
exercido pela vegetação, tem que ver com a capacidade de retenção de água no solo com
impactes nas propriedades térmicas e, por consequência no regime térmico do solo. Em
regiões onde a presença de uma cobertura vegetal tenha um forte impacte no controlo do
regime térmico do solo, a sua remoção ou distúrbio podem ter um forte impacte no estado
térmico do permafrost, sobretudo em zonas de permafrost descontínuo (Brown & Péwé, 1973;
Hrbáček et al., 2020).
Nas áreas livres de gelo da Antártida Marítima, a vegetação é composta por musgos,
líquenes e duas espécies de plantas vasculares. No caso dos musgos, com uma presença
disseminada, temos uma espécie com capacidade de armazenar água e com forte impacto
nos fluxos de calor entre o solo e a atmosfera (Hrbáček et al., 2020). O armazenamento de
água feito por esta cobertura tem impacte na condutividade do solo. De forma contrária, a sua
presença desprovida de água é responsável por um aumento do efeito isolante. Hrbáček et
al. (2020) para as áreas livres de gelo da Península Antártica, referem que a presença de uma
cobertura por musgos resulta num arrefecimento da temperatura do solo no período estival e
primaveril. No mesmo estudo, é referido que uma cobertura fina de musgos (1cm) é ainda
capaz de influenciar as temperaturas do solo à superfície a uma escala sazonal, contrariando
as observações de Soudzilovskaia et al. (2013) que menciona a ausência de influências na
temperatura média do solo provocadas pela cobertura de musgos, responsável apenas por
reduzir a amplitude das flutuações térmicas e os ciclos de congelação e descongelação.
Outro fator condicionante do regime térmico do solo, diz respeito ao albedo, fração da
radiação solar incidente que é refletida por uma superfície (van Everdingen, 1998). Esta fração
varia de acordo com a humidade presente no solo, a granulometria, o conteúdo em matéria
orgânica, a rugosidade da superfície e a composição mineral (Hartmann, 1994; Oliver, 2008).
Superfícies que tenham um albedo elevado, absorvem menos energia, o que faz com a
quantidade de energia transferida para o solo seja menor. Desta forma, o albedo constitui-se
um fator de controlo do regime térmico do permafrost e da espessura da camada ativa.
31
absorverem mais radiação, permitem uma maior transferência de calor para o solo e, por
consequência, uma camada ativa mais espessa do que rochas com cores claras. Não
obstante, as características termofísicas das rochas desempenham um importante papel na
transferência de calor para o solo.
32
CAPÍTULO 2 - QUADRO FÍSICO
Ferreira et al. (2015) referem que a formação da Península Antártica está associada à
constituição de um arco vulcânico na margem continental Andina / Antárctica-Oeste no
Triássico superior. Durante o Cretácio deu-se a migração do magmatismo afeto ao arco para
o extremo Oeste da península Antárctica. Esta migração originou o desenvolvimento de um
outro arco magmático com a subducção da placa Phoenix sob a placa Antárctica. No final do
Cretácico e/ou durante o Cenozóico, os autores referem um alastramento oceânico ao longo
da crista Antárctica – Phoenix, que ficou inativo há cerca de 4 Ma. Durante o Pliocénico,
associada a esta crista forma-se a bacia marginal de Bransfield, com uma direção ENE-WSW
e com 500 km de comprimento por 100 km de largura. Nesta bacia associada a um bloco
crustal individualizado, surge o arquipélago das Shetland do Sul (Bentley et al., 2009; Jordan
et al., 2014; Ferreira et al., 2015).
A presença e distribuição dos glaciares, plataformas de gelo e áreas livres de gelo são,
entre outros fatores, condicionadas pelo clima, mais temperado da Península Antártica face
ao do continente antártico e distinto entre a região ocidental e oriental. Na primeira, a
exposição aos ventos de sudoeste promove um clima polar de influência marítima marcado
por condições de forte nebulosidade, precipitação, vento forte e queda de neve (Reynolds,
33
1981; Bentley et al., 2009). Na parte mais a norte da península, esta influência marítima está
inclusivamente associada a massas de ar quentes e húmidas provenientes das latitudes
médias. Na região oriental, a barreira orográfica limita a influência exercida pelos ventos de
oeste e a influência das massas de ar continental contribuem para um clima polar de influência
continental, mais seco e frio do que o da fachada ocidental (Reynolds, 1981; Bentley et al.,
2009). Reynolds (1981) estimou a diferença de temperaturas médias anuais do ar entre as
duas fachadas da Península Antárctica em função da latitude e refere que na região oriental
as temperaturas são aproximadamente 5º C mais baixas do que as registadas na região
ocidental. Como exemplo, a 65º S, as médias anuais ao nível do mar apresentam valores de
-9,8º C na fachada leste, face a -4,2º C na fachada oeste.
Figura 10 - Enquadramento das ilhas Shetlands do Sul no arco de Scotia (Stone, 2015)
34
Figura 11 - Enquadramento da Península de Barton nas Shetlands do Sul
O arquipélago das Shetlands do Sul é composto por 11 ilhas, sendo a ilha de Rei
Jorge, situada no setor nordeste do arquipélago a maior com cerca de de 2 600 km2 (Figura
11, Cañadas, 2008). Parte da ilha está coberta por um extenso manto de gelo, com 1 250 km2,
cuja altitude máxima se aproxima dos 720 m. Este manto de gelo estende-se pela parte central
da ilha numa forma alongada e alimenta numerosos glaciares que o drenam, muitos dos quais
formam glaciares de maré (tidewater glaciers), incluindo o glaciar de Marian Cove entre a
Península de Barton e a Península de Weaver, próximo do setor estudado (Rückamp et al.,
2011; Shin et al., 2014).
As áreas livres de gelo na ilha de Rei Jorge, restringem-se a algumas faixas costeiras,
penínsulas e nunataks (Figura 12), a maior parte delas deglaciadas durante o Holocénico
(Oliva et al., 2019). O processo de deglaciação resultou numa paisagem marcada por
testemunhos da dinâmica glaciária (vales em U, rochas aborregadas, superfícies polidas e
moreias), posteriormente retrabalhados por intensa dinâmica periglaciária, que resultou na
formação de mantos de material crioclástico modelados por solifluxão, crioturbação e pela
deformação do permafrost (López-Martínez et al. 2012; Mink et al., 2014).
35
Península de Barton
Figura 12 – Tipos de glaciares e distribuição das áreas livres de gelo na ilha de Rei Jorge (Hobbs, 1968)
A Península de Barton, situada no setor sudoeste da ilha de Rei Jorge, virada para a
Baía de Maxwell, é a segunda maior área livre de gelo da ilha com 10 km2 (Shin et al., 2014).
É também a área selecionada para o estudo do estado térmico do permafrost neste trabalho,
através da perfuração King Sejong Station, e para o estudo do regime térmico da superfície
do solo no período de 2019-20. Desta forma, é relevante o conhecimento da geologia,
morfologia, clima e flora para o enquadramento físico da área de estudo e para a análise e
discussão dos resultados.
a) Enquadramento Geológico
A formação Cardozo Cove Group, mais antiga, é composta por lavas andesíticas e
basalto-andesíticas, presentes numa sucessão estratificada resultante dos episódios de
atividade vulcânica, e por tufos de lapilli e brechas vulcânicas que ocupam uma área de
36
aproximadamente de 6,7 km2 da Península de Barton (Figura 13) (Hobbs, 1968; Kim et al.,
2002; Hwang et al., 2011). Nesta formação, a diferenciação entre episódios de atividade
vulcânica permite a definição de duas unidades estratigráficas. Uma mais baixa,
correspondente à formação de Sejong, e uma alta, correspondente a lavas máficas
(Birkenmajer, 1989; So et al., 1995; Tokarski, 1998). A Formação de Sejong, (Figura 13) está
presente nos setores sudoeste e sul da península em áreas escarpadas (Hobbs, 1968; Kim
et al., 2002; Lee et al., 2002; Hwang et al., 2011). Sobrepostas a esta formação, estão as
lavas máficas de basalto e andesito, com fenocristais euédricos de plagióclase ou por uma
combinação de plagióclase e piroxenas.
37
Figura 13 - Mapa geológico da Península de Barton (adaptado de Lee et al. (2002)
b) Relevo
Na área livre de gelo da Península de Barton o relevo divide-se nas seguintes unidades
(Figuras 14, 15 e 16):
38
Figura 14 - Mapa hipsométrico da Península de Barton
39
a) b)
Noel Hill
Noel Hill
c) d)
Baekje Hill
e) f)
g) h)
Figura 16 - O relevo da Península de Barton: a) Crista de Noel Hill; b) Crista de Noel Hill (vertente norte); c)
Planalto superior e elevação de Baekje Hill; d) Vale de Araon (NO); e) Setor inferior do vale SE; f) Setor inferior
do vale SE; g) Colinas no setor norte; h) Praias levantadas no setor sul.
40
A crista de Noel Hill, localizada no setor norte da península, estende-se de nordeste,
no limite do Glaciar Collins (230 m), para sudoeste, até Noel Hill (290 m) e Sejong Hill (250
m). No setor sudoeste, onde afloram os granodioritos, as vertentes expostas a noroeste e a
sul, são mais inclinadas com valores acima de 36º (Figura 13 e 15). Na vertente exposta a
norte da crista os declives são ligeiramente inferiores, variando entre 21 e 40º. Para tal
contribui a presença de taludes de detritos, cartografados por López-Martínez et al. (2012), e
a consequente regularização do troço inferiores da vertente.
41
O vale Arirang que se estende para sudeste do planalto superior tem
aproximadamente 2 km de extensão, é igualmente cortado pela referida falha NO-SE. No
entanto, é um vale amplo e pouco encaixado, expecto no setor terminal, onde a sobreposição
à falha parece justificar o desnível acentuado e o entalhe muito pronunciado (Figura 13).
42
O vale incipiente de Jeonjaegyu, estende-se de este para oeste do planalto superior
de Silla Hill por 520 m. É caracterizado por uma cabeceira correspondente a um circo glaciário
e por ser um vale pouco encaixado com um fundo de vale com um declive inferior a 15º (Figura
14 e 20).
Fi
c) Dinâmica geomorfológica
g
ur Nas áreas livres de gelo da Península de Barton a dinâmica geomorfológica é
a
dominada pelos processos glaciários e periglaciários (López-Martínez et al., 2012). Os
1
primeiros exerceram a sua influência aquando da presença do glaciar Collins. Os processos
a)
periglaciários, dominantes na península são aqueles em que a congelação e descongelação
da) água condiciona a morfogénese, um importante papel na segregação de gelo, congelação
in situ, crioexpulsão, criorreptação, crioclastia e gelifluxão (Shroder, 2013).
43
m a norte do planalto superior. Associadas aos depósitos glaciários, identificaram-se moreias,
formas criadas pela deposição de sedimentos não consolidados pela ação de um glaciar
(Singh et al., 2011).
Nos depósitos glaciários situados a sul do planalto superior, são ainda cartografadas
por López-Martínez, Serrano, & Lee, (2002) rochas aborregadas que conservam o efeito
erosivo provocado pela deslocação do glaciar e depressões aprofundadas pelo mesmo. No
setor a norte da crista de Noel Hill, outros vestígios dos processos glaciários são os blocos
erráticos que assumem destaque na paisagem pela sua dimensão face à cobertura de clastos
envolventes. Alguns destes blocos, fragmentados em pequenos clastos pela crioclastia,
mantêm-se juntos numa posição próxima da original em áreas onde os processos erosivos
não tiveram ainda capacidade de deslocar o material (Figura 22-f).
44
Figura 21 - Mapa geomorfológico da Península de Barton (López-Martínez, Serrano, & Lee, 2002)
45
a) Massa de gelo b) Taludes de
isolada no recuo detritos
do glaciar
c) d)
Solos
ordenados
Moreia
e) f)
Bloco
errático
Direção do
glaciar
g) h)
Lóbulos de
solifluxão
Solos
estriados
Figura 22 - Exemplos de formas geomorfológicas na Península de Barton: a) Vale de Araon (NO); b) Taludes de
detritos na escarpa a norte da crista de Noel Hill; c) Moreia no Vale de Araon; d) Solos ordenados no planalto
superior; e) Rocha aborregada a norte da crista de Noel Hill; f) Bloco errático a norte da crista de Noel Hill; g)
Círculos de pedras; h) Lóbulos de solifluxão e solos estriados.
46
d) Enquadramento Climático
A Península de Barton com um clima polar de influência marítima, tem inerente uma
variabilidade das condições climáticas inter-anual. Esta variabilidade torna necessária uma
caracterização do clima baseada em séries de dados longas. A estação antártica com a série
de dados mais longa, próxima da Península de Barton, é a estação russa de Bellingshausen,
localizada na Península de Fildes a uma distância de 10 km, com dados de temperatura média
mensal para o período de 1969 a março de 2020. É, portanto, a estação cuja série
complementa os dados referentes às variáveis temperatura, precipitação, direção e
velocidade do vento e espessura de neve, disponibilizados pelo Korea Polar Research
Institute (KOPRI) para a Península de Barton no período de 2005 a março de 2020.
No que diz respeito à temperatura média anual, é registado um valor de -2,3 ºC. Turner
et al. (2019) para a mesma estação refere uma temperatura média anual de -2,1 ºC
considerando a série climática de 30 anos de 1981 a 2010.
Figura 23 - Temperaturas médias mensais ao longo do ano na estação de Bellingshausen (1969 – 2020)
47
Considerando os valores de temperatura máximos, médios e mínimos mensais (Figura
24), no período estival, são registadas temperaturas médias mensais positivas, com valores
entre 0,4 ºC, em março, e 1,5 ºC, em fevereiro. Nos verões de 1997, 2006 e 2020, com
temperaturas mais altas, as médias mensais nunca ultrapassaram os 3 ºC, enquanto que nos
verões de 1973, 2010, 2014 e 2016, com temperaturas mais baixas, os valores aproximaram-
se dos 0ºC, chegando a inclusive a baixar de 0 ºC no mês de fevereiro (2014) (Figura 24). No
outono regista-se uma ligeira descida das temperaturas, passando estas a apresentar valores
entre -4, nos anos de 1970, 1980, 1989 1990 e 2012, e 0 ºC nos anos de 1998, 1999, 2000 e
2002. No Inverno, a descida da temperatura acentua-se, com os valores médios mensais a
descerem abaixo de -4 ºC. Esta estação possui as maiores diferenças interanuais, atingindo
quase 13 ºC entre o inverno mais quente, com uma temperatura média mensal em julho de -
1 ºC (1989), e o mais frio, com uma temperatura média mensal em julho de -13,8 (1987).
Figura 24 – Temperaturas médias mensais obtidas para uma série temporal entre 1969 e 2019 na estação de
Bellingshausen
Figura 25 – Correlação entre a temperatura do ar média mensal da estação de King Sejong e de Bellingshausen
48
Na variável precipitação, da série de King Sejong, os valores de precipitação anuais
até ao ano de 2013 encontram-se entre os 500 mm e 600 mm, com exceção do ano de 2009
onde são registados valores de aproximadamente 860 mm (Figura 26). No período de 2013 a
2020 é observada uma maior irregularidade nos valores de precipitação anuais, com os anos
de 2014, 2016, 2019 a registarem valores inferiores a 400 mm e os anos de 2015 e 2017 a
registarem valores superiores a 700 mm.
Figura 26 – Precipitação anual na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
Figura 27 - Precipitação mensal na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
49
A espessura da cobertura de neve no solo, resultante da precipitação sólida é
condicionada pelo período do ano na qual ocorre, pela quantidade de precipitação e pelas
condições térmicas da superfície, determinantes para a sua manutenção e para o aumento
de espessura. Na Figura 28, observa-se que os valores mais elevados de espessura de neve
estão concentrados no outono e inverno, onde os valores de precipitação tendem a ser mais
elevados (Figura 27) e as temperaturas médias mensais do ar mais baixas (< - 4 ºC). Nesta
variável é ainda observado um afastamento entre os valores médios, inferiores a 100 cm, e
os valores máximos registados, que no inverno são superiores a 200 cm.
Figura 28 - Espessura da cobertura de neve por mês na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
A espessura da cobertura de neve (Figura 29) está ainda inerente a uma variabilidade
inter-anual com anos a registarem valores inferiores a 50 cm (2005, 2006, 2008, 2013, 2014,
2016, 2018 e 2019), anos a registarem valores entre 50 e 150 cm (2010, 2011, 2015 e 2017)
e anos a registarem valores superiores a 150 cm (2009 e 2012).
Figura 29 - Espessura da cobertura de neve por ano na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
50
O vento dominante na Península de Barton tem origem no quadrante sul (21% dos
dias da série), seguido pelo vento com origem no quadrante oeste (20% dos dias da série) e
este (18% dos dias) (Figura 30). A sua velocidade tende a ser superior nos meses de outono
e inverno, embora apenas 21% dos dias na série tenham registado valores superiores a 10
m/s e apenas 2%, valores superiores a 15 m/s. Nos restantes dias da série, o vento tende a
registar velocidades entre os 0 e 5 m/s (26%) e entre os 5 e 10 m/s (53%).
No que concerne à direção do vento por mês e estações do ano (Figura 31), não são
observadas variações significativas, sendo que a direção predominante permanece a de
noroeste.
Figura 31 - Direção e velocidade do vento por mês e estação na estação de King Sejong (2005 - 2020)
51
CAPÍTULO 3 - MÉTODOS E TÉCNICAS
3.1. Introdução
52
O trabalho realizou-se a duas escalas de análise (Figura 33). Uma maior e de maior
detalhe, focada na área de estudo de pormenor de Jeonjaegyu e, uma outra, na área de
enquadramento Araon que se estende do planalto central até ao limite norte da Península de
Barton.
53
3.2. Cartografia
O Modelo Digital de Elevação (MDE) com uma resolução de 10 m foi criado usando os
dados vetoriais de pontos cotados e curvas de nível com equidistância de 5 metros fornecidos
pelo KOPRI. O MDE permitiu calcular os mapas de declives, exposição, radiação solar global,
curvatura e o Índice de Posicionamento Topográfico (Figura 33).
54
23 de setembro de 2019 e fim a 20 de março de 2020. O objetivo destes dois modelos é o de
obter estimativas inerentes à radiação solar incidente para o período de congelação e
descongelação de forma a apoiar o processo de análise.
Foi utilizado o modelo “Standard Overcast Sky”, que considera uma variação da
radiação difusa de acordo com o ângulo zenital, e um valor de 70% de radiação difusa (0,7),
correspondente a condições de céu nublado, e um valor de transmissividade de 0,2 ajustado
às condições atmosféricas na Península de Barton. Os valores de transmissividade variam
entre 0 (opaco) e 1 (total transmissividade), sendo o valor de 0,5 referente a condições de céu
geralmente limpo. Uma vez que na Península de Barton há um domínio de condições de
nebulosidade, optou-se pela utilização de um valor mais baixo (0,2), seguindo as abordagens
de Fu & Rich (1999) e Andrade et al. (2018).
b) Curvatura da superfície
55
Este passo permitiu a identificação nas superfícies aplanadas. Por fim, o raster TPI foi
produzido com as classes: i) Depressão; ii) Superfície aplanada; iii) Topos ou Cristas; iv)
Vertentes.
56
Do MDS foram extraídas as curvas de nível com equidistância de 1 metro, utilizadas
como base para o esboço geomorfológico de campo realizado em fevereiro de 2020 (Figura
35). Adicionalmente, foi feito o registo fotográfico da área de estudo e das diferentes formas
de relevo, depósitos e processos identificados. O esboço geomorfológico, o registo fotográfico
e o modelo 3D, constituíram ferramentas de suporte à vectorização das unidades
geomorfológicas, realizada sobre o ortofotomosaico, permitindo a criação do mapa
geomorfológico. No que diz respeito à simbologia adotada, foram utilizados como suporte os
trabalhos de Salvatore et al. (1997), Vieira et al. (2000), Salvatore et al. (2001), Navas et al.
(2008), Mink et al. (2014) e Lambiel et al. (2015), tendo-se criado uma legenda de base
genética adequada à área de estudo, destacando-se a dinâmica periglaciária e a dinâmica
glaciária.
57
3.3.1. Significado climático do período de estudo: Série de dados
de temperatura do ar da estação de Bellingshausen (1969-2020)
A série de dados da estação sul coreana King Sejong refere-se ao período de 2005 a
2020. Esta série disponibilizada pelo KOPRI, possui um maior número de variáveis e uma
maior discriminação temporal dos dados do que a série de Bellingshausen disponível no
METREADER. Estão disponíveis dados com frequência horária de velocidade (m/s) e direção
(graus) do vento, temperatura do ar (ºC) e humidade relativa (%). A estes, e numa frequência
diária, acrescem os valores de precipitação (mm) e espessura de neve (cm). Estes dados
permitem uma caracterização mais detalhada do clima do período de estudo, de modo a
melhor compreender os regimes térmicos do solo.
58
b) Postos termométricos e estimação do gradiente altitudinal de
temperaturas
O posto termométrico mais elevado foi instalado junto à perfuração de King Sejong
Station a 128 m de altitude, ficando ancorado num afloramento rochoso (62.228846 S;
58.770317 W). O posto termométrico foi instalado numa praia levantada a 13 m de altitude,
no local de instalação do sensor de superfície Alt_N13, próximo dos armazéns da estação
coreana (62.22084 S; 58.77293 W). Para efeitos de identificação, doravante, serão usadas as
designações “KSB” para o posto termométrico instalado na perfuração King Sejong Station e
a designação “Praia” para o posto termométrico instalado a menor altitude.
59
a) b)
c) d)
e) f)
Figura 36 - a) Instalação dataloggers no escudo radiativo; b) Preparação do solo para fixação do poste de
madeira; c) Datalogger na perfuração KSS; d) Datalogger na praia; e) Identificação do datalogger no escudo
radiativo; f) Substituição do poste de madeira por um metálico no datalogger da perfuração KSS
Figura 37– Correlação entre os valores registados pelos dataloggers KSB e Praia
60
3.4. Temperaturas de superfície do solo
c) d)
Sensor
Top_N_SW129
Figura 38 - a) Modelo esquemático da estrutura de instalação dos sensores de superfície; b) Instalação sensor
Top_N_SW129; c) Local de instalação; d) Recolha do sensor Top_N_SW129 na campanha antártica de 2019/20.
61
3.4.2. Distribuição espacial dos sensores
A escolha dos locais de instalação dos sensores de temperatura do solo, foi realizada
após um reconhecimento da área e a identificação das localizações com maior potencial para
avaliar a influência dos fatores altitude, exposição e morfologia nos regimes térmicos (Tabela
3 e Figura 39).
62
Figura 39 – Localização dos sensores térmicos de superfície na Península de Barton
Para o fator exposição, os sensores foram instalados nas vertentes norte (Exp_N183),
este (Exp_E179), sul (Exp_S183) e sudoeste (Exp_SW179) do monte Goguryeo (Tabela 3 e
Figura 39), de forma a avaliar a influência das quatro orientações. A ausência de um sensor
orientado a oeste deve-se à impossibilidade de ter sido instalado pelo forte declive. Neste
conjunto, a sigla de identificação é Exp.
63
Os sensores instalados para análise do efeito da morfologia foram organizados em 4
subgrupos com diferentes propósitos (Tabela 3):
- No vale a sul do monte Jeonjaegyu foram instalados quatro sensores num transecto
em locais com pequenas variações topográficas, ilustrando as condições num interflúvio
(Top_VJ_W135), na concavidade na base de uma vertente (Top_VJ_N132), numa área plana
(Top_VJ_NE133) e numa declivosa com depósitos de vertente (Top_VJ_S134). Este conjunto
é identificado através da designação Top_VJ (Figura 41).
64
3.4.3. Índices térmicos
65
Os dados de temperatura do ar e da superfície do solo de cada sensor, foram utilizados
para o cálculo de um conjunto de índices que permitiram a análise do regime térmico do solo
e dos efeitos de diferentes fatores topográficos (altitude, exposição, curvatura, posição
topográfica e cobertura de neve) nos mesmos. Foram assim calculados os ciclos de gelo-
degelo, os freezing e thawing degree days e os fatores-n de congelação e descongelação.
Adicionalmente, foram definidos e analisados os regimes térmicos diários.
a) Ciclos gelo-degelo
Na Península de Barton, o cálculo dos ciclos de gelo-degelo permite uma análise sobre
a frequência de oscilações associadas às condições topográficas nas quais os sensores foram
instalados. Outros trabalhos utilizaram o cálculo deste parâmetro para o estudo da camada
ativa (Michel et al., 2014) e para o estudo da distribuição do solo gelado (Serrano et al., 2020).
Os Freezing e Thawing Degree Days são índices que traduzem a severidade do clima
e a intensidade dos períodos de congelação e descongelação do ar e do solo à superfície
(Karunaratne & Burn, 2003; French, 2007).
66
partir do qual as temperaturas médias diárias do ar e do solo à superfície se mantêm de forma
constante acima dos 0ºC. Neste caso no fim do mês de outubro.
c) Fator-n
(9)
𝐹𝐷𝐷𝑠
𝑛𝑓 =
𝐹𝐷𝐷𝑎
(10)
𝑇𝐷𝐷𝑠
𝑛𝑡 =
𝑇𝐷𝐷𝑎
(𝑛𝑓 – fator-n de congelação; 𝑛𝑡 – fator-n de descongelação; 𝐹𝐷𝐷𝑠 – índice de congelação do solo; 𝐹𝐷𝐷𝑎 – índice
de congelação do ar; 𝑇𝐷𝐷𝑠 – índice de descongelação do solo; 𝑇𝐷𝐷𝑎 – índice de descongelação do ar)
67
De forma contrária, um valor inferior a 1 na estação de descongelação, é indicativo de uma
temperatura do solo à superfície inferior à temperatura do ar, frequentemente associado a
situações onde existe uma cobertura vegetal (Smith & Riseborough, 1996, 2002;
Karunaratne & Burn, 2004).
O estudo dos tipos de regimes térmicos diários teve por base a abordagem adotada
por Vieira et al., (2003), no contexto da Serra da Estrela, e por Nieuwendam (2009) na
Península de Hurd (Ilha Livingston, Antártida), onde foi considerada a ciclicidade das
oscilações térmicas diárias em torno dos 0 ºC e a profundidade dessas mesmas oscilações,
com exclusão das amplitudes térmicas.
68
- Regime com congelação e fusão com amplitude térmica pronunciada (FT2) – A
temperatura máxima é superior a 0 ºC e a temperatura mínima é inferior a 0º C e inferior à
média menos uma vez o desvio-padrão. Tal resulta num regime com oscilação em torno dos
0º C, em que é registada uma amplitude térmica pronunciada (Figura 44-d).
69
Figura 44 – Tipos de regimes térmicos diários nos sensores de superfície do solo
70
3.4.5. Análise dos fatores de controlo no regime térmico do solo
A aplicação do método One-Way ANOVA teve por objetivo avaliar a significância dos
fatores topográficos (variáveis independentes), na determinação de diferenças nos regimes
térmicos do solo associados a cada sensor de superfície.
Na aplicação do método foi necessário proceder a uma estruturação dos dados com a
definição das variáveis dependentes e independentes a utilizar e a sua organização. Como
variáveis dependentes foram selecionados os parâmetros térmicos do solo que possam
traduzir o efeito dos fatores topográficos: temperatura média anual da superfície do solo
(TMASS), Freezing Degree Days (VD_FDD), Thawing Degree Days (VD_TDD), fatores-n de
congelação (VD_FNC), fatores-n de descongelação (VD_FND), ciclos de gelo-degelo
(VD_CF), duração do período de congelação (VD_PC) e duração do período de
descongelação (VD_PD). Como variáveis independentes, foram escolhidas: altitude,
exposição, curvatura, morfologia (Índice Topográfico de Posicionamento) e os números de
dias com e sem cobertura de neve.
71
A ANOVA foi realizada juntamente com teste de homogeneidade de Levene, de forma
a analisar a equidade das variâncias de cada grupo. Esta equidade é representada por um
valor de sig > 0,05. Adicionalmente, foi realizado o teste Post Hoc LSD onde são determinados
os pares de grupos cujas diferenças entre a média são significativas (<0,05) (George &
Mallery, 2019).
72
sistema foi calibrado em banho de água-gelo e tem uma precisão de ±0,1 ºC e capacidade de
armazenamento de 2,048 kb (400 000 registos), sendo programado através de um interface
wireless. O sistema de aquisição de dados e cadeia termométrica estão instalados no interior
de um tubo de polietileno com 50 mm de diâmetro, fechado em ambas as extremidades. Este
protocolo seguem as normas definidas em Streletskiy et al. (2017) na estratégia para a
implementação da Global Terrestrial Network on Permafrost (GNT-P).
73
a) b)
c) d)
e) f)
g) h)
Figura 45 – A instalação da perfuração King Sejong Station: a) Equipamento utilizado nas atividades de
perfuração; b) Transporte do gerador; c) Plataforma utilizada na perfuração; d) Lago; e) Bidons utilizados para
armazenamento de água; f) Atividades de perfuração; g) Instalação do tubo de politeno; h) Instalação dos
sensores de temperatura na perfuração.
74
3.5.3. Análise das propriedades termofísicas das carotes e
amostras rochosas
- Sem alteração – Rocha sem alteração visível. Pode conter descoloração nos planos
de fratura;
75
- Intensamente alterada – Descoloração está presente em toda a rocha. A superfície
da carote é quebradiça e pode haver corrosão resultado da percolação de água;
Tabela 5 – Classificação da dureza da rocha, adaptado do manual do Core Logging Committee of the South
Africa Section of The Association of Engineering Geologists (1978)
Força
Classificação Teste compressiva
(MPa)
Pode ser escamada com uma faca, o material desfaz-se
Muito branda mediante golpes firmes da ponta afiada do martelo de 1a3
geólogo
Só pode ser riscada com uma faca de serrilha com bicos de
Branda 3 a 10
2 a 4 mm
Não pode ser riscada ou escamada com uma faca. É
Média 10 a 25
fragmentada através golpes firmes do martelo de geólogo
Dura 25 a 70
Muito dura Tem de ser realizados testes de carga pontual 70 a 200
Extremamente dura > 200
Após a análise das carotes procedeu-se depois à seleção das amostras para as
determinações termofísicas. Selecionaram-se unidades preferencialmente não fraturadas, de
diferentes profundidades ao longo da perfuração, que apresentassem variações de textura,
cor ou a presença de fenocristais. Dos 52 fragmentos que constituem as carotes obtidas na
perfuração, foram selecionadas 7 para preparação e análise. A preparação, realizada nas
instalações do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), consistiu no corte em
secções com um comprimento de 5,5 cm e no polimento de duas faces de cada secção
cilíndrica, para as determinações termofísicas (Figura 47-e).
76
As amostras rochosas de diferentes locais da Península de Barton são fragmentos
irregulares recolhidos no terreno, cortadas em duas metades, polidas na face recém exposta.
Destas, procedeu-se à seleção de um grupo de 14 exemplares representativos da diversidade
litológica de Barton, dando-se preferência às amostras recolhidas próximo dos sensores de
superfície instalados (Figura 46).
b) Análises termofísicas
77
a) b)
c) d)
e) f)
g) h)
Figura 47 – Análise termofísica das amostras rochosas: a) Recolha das carotes da perfuração King Sejong
Station; b) Descrição das carotes; c) Armazenamento dos carotes rochosas; d) Amostra selecionada e cortada;
e) Processo de corte das amostras; f) Análise de condutividade com instrumento de medição ISOMET 2104; g)
Análise das amostras rochosas do projeto GEOPERM; h) Sonda de superfície.
78
3.6. O modelo TTOP
O modelo TTOP desenvolvido por Smith & Riseborough (1996, 1998, 2002), estima a
temperatura no topo do permafrost tendo por base a relação permafrost-clima definida por
Lachenbruch et al. (1988), representada em três níveis: 1) temperatura média do ar medida a
uma altura padrão acima da cobertura de neve (TMAA); 2) temperatura média anual do solo
à superfície (TMASS); e 3) temperatura no topo do permafrost (TTOP).
Figura 48 – Modelo esquemático do perfil de temperatura média anual desde a superfície do solo até ao topo do
permafrost (Smith & Riseborough, 2002)
79
Em cada um destes níveis, as temperaturas tem associada uma variação intra-anual
resultante da dinâmica climática, da influência de uma cobertura de superfície e das
propriedades térmicas do solo (Smith & Riseborough, 2002). É também através do regime
térmico destes três níveis que são calculados os parâmetros utilizados no modelo
(Freezing/Thawing Degree Days e Fator-n) juntamente com os valores de condutividade do
solo (Smith & Riseborough, 2002).
(11)
𝑘𝑡
𝑟𝑘 =
𝑘𝑓
(𝑟𝑘 – rácio entre a condutividade térmica do solo não gelado e a condutividade térmica do solo gelado; 𝑘𝑡–
condutividade térmica do solo não gelado; 𝑘𝑓 – condutividade térmica do solo gelado)
O valor deste rácio varia nos solos minerais entre 0,6 e 0,9, consoante o conteúdo de
água (Riseborough & Smith, 1998). Já nos solos orgânicos, a variação pode ser muito mais
pronunciada, oscilando entre 0,3 (condições húmidas) e 1 (condições secas) (Riseborough &
Smith, 1998). No caso do substrato rochoso, com aplicação à perfuração de King Sejong
Station, o valor deverá ser próximo de 1, o que indica a inexistência de diferenças significativas
entre a condutividade térmica da rocha na estação de congelação e na estação de
descongelação. Tal facto é reforçado pelos valores de offset térmico iguais ou próximos a 0
ºC registados em substrato rochoso que traduzem a quase ausência de diferenças entre a
temperatura média anual do solo à superfície (TMASS) e a temperatura no topo do permafrost
(TTOP) (Brown & Péwé, 1973; Riseborough & Smith, 1998). Este comportamento da
condutividade térmica no substrato rochoso, é relevante no estudo realizado para a
perfuração King Sejong Station por permitir a utilização dos valores de condutividade térmica
obtidos das determinações termofísicas, feitas nas carotes rochosas sem que estas
estivessem geladas. Adicionalmente, o conhecimento da temperatura em profundidade,
permitiu o cálculo do offset térmico e a verificação de um valor de 0,1 que a escassa influência
da diferença da condutividade entre o verão e o inverno.
80
(12)
(13)
𝑘𝑡
𝑛𝑡 𝑇𝐷𝐷𝑎 − 𝑛𝑓 𝐹𝐷𝐷𝑎
𝑘𝑓
𝑇𝑇𝑂𝑃 =
𝑃
( 𝑘𝑡– condutividade térmica do solo não gelado; 𝑘𝑓 – condutividade térmica do solo gelado; 𝑛𝑡 – fator-n do solo
descongelado; 𝑇𝐷𝐷𝑎 – Thawing Degree Days do ar; 𝑛𝑓 – fator-n de congelação; 𝐹𝐷𝐷𝑎 – Freezing Degree Days
do ar; 𝑃 – período de 365 dias)
81
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE CLIMÁTICA DO PERÍODO
DE ESTUDO
82
Figura 49 - Enquadramento das temperaturas do ar médias mensais do período 2019-20 na série da estação de
Bellingshausen (1969 – 2020)
O forte aumento das temperaturas no período estival, não foi exclusivo da Península
de Barton, mas sim um fenómeno com impactes em diferentes regiões do continente que
registaram valores de temperatura positivos anómalos face aos valores médios das séries
climatológicas (Figura 50) (Robinson et al., 2020). Lewis (2019) sugere que este tipo de
fenómeno poderá estar relacionado com um forte aquecimento da estratosfera e com a
modificação das correntes de jet stream. Robinson et al. (2020) mencionam o registo da
primeira onda de calor na estação australiana Casey (Antártida Oriental) e o recorde de
temperatura máxima registado na estação argentina Esperanza de 18,4 ºC no dia 6 de
fevereiro de 2020 (WMO, 2020).
Figura 50 – Anomalia média mensal da temperatura (NCEP/NCAR Reanalysis 1) para os meses de novembro de
2019 a fevereiro de 2020 (Robinson et al., 2020)
83
4.1.2. Precipitação média mensal
Figura 51 - Enquadramento da precipitação mensal do período 2019-20 na série da estação de King Sejong
(2005 – 2020)
84
4.1.3. Espessura da cobertura de neve
Figura 52 - Enquadramento da espessura da cobertura de neve diária por mês do período 2019-20 na série da
estação de King Sejong (2005 - 2020)
85
a) b)
Base argentina
Carlini
Base argentina
Carlini
Baía Potter
Baía Potter
No que diz respeito à direção e velocidade do vento, foi apresentado no capítulo 2.2.
para a série da estação King Sejong, o domínio de ventos provenientes do quadrante noroeste
e oeste, com velocidades entre 0 e 10 m/s (Figura 30). No período de estudo, é verificada
uma aproximação dos valores percentuais de cada intervalo de velocidade com os valores
percentuais dos mesmos intervalos na série. Desta forma, os dias com velocidades do vento
entre 0 e 5 m/s correspondem a 34%, enquanto que os dias com velocidades do vento entre
5 e 10 m/s correspondem a 57% (Figura 54). Na componente direção, são registadas
variações face aos valores da série. O vento com origem no quadrante este, é o segundo mais
frequente no período de estudo com presença em 23% dos dias, seguido pelo vento com
origem no quadrante oeste, presente em 16% dos dias. O vento dominante continua a ser o
vento com origem no quadrante noroeste com um peso de 26%.
86
Na análise da direção do vento por estação (Figura 55), são visíveis dois padrões. Um
em que o vento com origem no quadrante este é dominante, com presença em 27% dos dias
de outono e em 25% dos dias de primavera. E um em que o vento com origem no quadrante
noroeste é dominante, com presença em 33% dos dias de verão e em 28% dos dias de
inverno.
Em suma, o período de março de 2019 a março de 2020 foi marcado, no inverno, por
temperaturas ligeiramente superiores à média que contribuíram para uma cobertura de neve
pouco espessa. Esta cobertura, foi fortemente afetada pelas elevadas temperaturas do verão
de 2020, em que foram registados valores superiores aos máximos da série de referência.
87
CAPÍTULO 5 - AVALIAÇÃO DO CONTROLO DA
TOPOGRAFIA NOS REGIMES TÉRMICOS DO SOLO
5.1. Introdução
88
Tabela 6 –Parâmetros
Parâmetros para
para realização
realização da análise
da análise de variância
de variância One-WayOne-Way
ANOVA ANOVA
Variáveis dependentes Variáveis independentes
Sensor VD_TMASS VD_FDD VD_TDD VD_FNC VD_FND VD_CF VD_PC VD_PD VI_ALT VI_EXP VI_CV VI_TPI VI_N
Alt_N13 0,6 438 602 0,6 2,0 49 185 136 1 1 0 1 5
Alt_W73 -0,9 894 525 1,1 2,1 80 204 135 2 3 -1 2 1
Alt_NE182 -1,7 941 303 0,9 2,0 81 237 102 4 8 0 2 6
Alt_W254 -2,0 1041 300 0,9 2,7 48 230 109 4 3 -1 2 5
Exp_N183 -1,6 848 262 0,8 1,7 73 238 102 4 1 1 3 6
Exp_S183 -1,8 981 330 0,9 2,1 65 230 109 4 5 -1 3 7
Exp_E179 -1,5 904 342 0,9 2,2 70 230 109 4 7 -1 3 6
Exp_SW179 -1,6 942 330 0,9 2,1 55 231 109 4 4 -1 3 5
Top_VA_N133 -1,1 853 431 0,9 2,1 91 206 133 3 1 0 3 4
Top_VA_NE118 -1,0 817 405 0,9 1,9 69 208 131 2 8 0 4 6
Top_VA_S128 -1,8 891 258 1,0 1,3 62 209 131 2 5 0 3 5
Top_P_N16 -0,3 654 496 0,9 1,7 51 198 136 1 1 0 1 4
Top_P_NW25 0,2 637 643 0,8 2,2 49 198 136 1 2 -1 3 6
Top_N_SW129 -1,6 886 306 1,0 1,5 84 209 131 2 4 0 3 3
Top_N_SW130 -1,2 831 362 0,9 1,9 61 229 110 2 4 0 3 6
Top_N_SW132 -1,8 828 149 0,8 1,1 39 281 57 3 4 0 3 7
Top_VJ_W135 -1,5 918 362 1,0 1,8 87 207 133 3 3 -1 2 4
Top_VJ_NE132 -1,2 833 383 0,9 2,0 64 216 118 3 8 1 4 6
Top_VJ_W133 -1,4 943 401 1,0 1,9 82 206 133 3 3 0 1 1
Top_VJ_S134 -1,6 836 233 0,9 1,3 25 275 63 3 5 0 3 5
89
Tabela 7 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente altitude
Para perceber entre que grupos as diferenças são mais acentuadas, procedeu-se ao
teste Tukey HSD (Tabela 9), onde foi observada, para as 4 variáveis dependentes, uma
diferença significativa (sig. < 0,05) entre o grupo 1 (10 a 25 m) e os restantes grupos. Isto
significa que as diferenças mais significativas entre as médias de cada grupo estão nos pares
onde a comparação é feita com o grupo de sensores instalados a baixa altitude.
90
Tabela 9 – Teste de Tukey HSD para a variável independente altitude
91
b) Avaliação da influência da exposição nos regimes térmicos do solo
92
Tabela 11 – Teste ANOVA para a variável independente exposição
Das 6 variáveis, apenas 2 apresentam um valor de sig. inferior a 0,05 (Tabela 13).
Desta forma, a análise One-Way ANOVA revela que a influência da curvatura foi significativa
na PC com F(2,17) = 5,645, p=0,013 e PD com F(2,17) = 5,405, p=0,015. Estes valores de
significância sugerem que as diferenças na duração dos períodos de congelação e
descongelação são condicionadas pelas variações da curvatura da superfície.
93
Tabela 12 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente curvatura topográfica
Para compreender entre que curvaturas as diferenças são mais acentuadas, realizou-
se o teste Tukey HSD, onde foi observado, para as 2 variáveis dependentes, uma diferença
significativa (sig. < 0,05) entre as superfícies concavas e as superfícies retilíneas (0,102). Isto
significa que as diferenças mais significativas entre as médias de cada grupo estão entre os
sensores instalados nas superfícies concavas e retilíneas. Na análise da duração média do
período de congelação, constata-se que os sensores instalados em superfícies retilíneas têm
uma duração mais curta, em média de 209 dias. Os sensores instalados em superfícies
concavas têm a duração mais prolongada, com uma média de 260 dias. Na estação de
descongelação, a relação é inversa com os sensores instalados em superfícies retilíneas a
registarem, em média, os períodos mais longos com cerca de 127 dias. Já os sensores das
superfícies concavas registaram, em média 80 dias.
94
Tabela 14 – Teste de Tukey HSD para a variável independente curvatura topográfica
95
Tabela 15 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente posição topográfica
Tabela 17 - Categorias para organização dos sensores segundo o número de dias com cobertura de neve
96
Na análise da Tabela 18, as variáveis dependentes a serem consideradas no teste
ANOVA são a temperatura média anual da superfície do solo (TMASS, sig. = 0,404), os
Freezing Degree Days (FDD, sig. = 0,421), os Thawing Degree Days (TDD, sig. = 0,878), os
fatores-n de congelação (FNC, sig. = 0,878), a frequência de ciclos de congelação e fusão
(CF, sig = 0,182), a duração do período de congelação (PC, sig. = 0,101) e a duração do
período de descongelação (PD, sig. = 0,092).
97
Contrariamente ao que acontece com as variáveis altitude e curvatura, na cobertura
de neve, não são identificados no teste Tukey HSD (Tabela 20), os pares de categorias cujas
diferenças são mais significativas (sig. < 0,05), isto é, os pares onde as diferenças são mais
acentuadas e permitem uma individualização de um grupo face a outro.
Tabela 20 – Teste de Tukey HSD para a variável independente cobertura de neve isolante
f) Conclusão
98
conjunto estatisticamente significativo de sensores associados a cada variável independente,
garantindo que as restantes características topográficas se mantinham exatamente iguais. Tal
não foi viável pelos recursos materiais limitados e pela disponibilidade de tempo para
execução de todas as atividades de campo.
Figura 56 - Localização dos conjuntos de sensores de temperatura de superfície do solo instalados na Península
de Barton
99
5.3.1. Análise das temperaturas do solo ao longo de um perfil
altitudinal
Figura 57 – Correlação entre o fator topográfico altitude e os parâmetros do regime térmico do solo: a) TMASS;
b) TDDs; c) FDDs
Tabela 21 – Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Alt entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
A frequência dos ciclos de congelação e fusão, para o conjunto Alt, não apresentou
uma relação linear com a altitude, tendo os valores mais baixos (49 e 48 ciclos), sido
registados nos sensores a menor (Alt_N13, 13 m) e maior (Alt_W254, 254 m) altitude. As
frequências mais elevadas de 80 e 81 ciclos foram registadas nos sensores Alt_W73 e
Alt_NE182, instalados a altitudes intermédias (73 e 182 m). Na Figura 58 b e c, verifica-se
que estão são os mesmos sensores onde a temperatura do solo regista flutuações próximas
das registadas pela temperatura do ar e com uma elevada amplitude térmica, oscilando em
torno dos 0 ºC. No sensor a maior altitude (Alt_W254) a variação da temperatura do solo
também está próxima da variação da temperatura do ar, embora com valores mais baixos que
100
limitam as oscilações em torno de 0 ºC. Outro aspeto relevante para as frequências mais
elevadas de ciclos, é o valor de fator-n mais elevado que traduz um menor efeito isolante da
cobertura de neve e permite um maior arrefecimento e aquecimento da superfície.
101
Figura 58 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Alt entre março de
2019 e fevereiro de 2020: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d) Alt_W254
Figura 59 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Alt entre março de 2019 e fevereiro de
2020
102
A severidade da estação de congelação, anteriormente mencionada pela sua relação
com o fator altitude, é ainda condicionada pelo efeito isolante da cobertura de neve, traduzido
pelos valores de fator-n, que promove um afastamento entre os FDDs e FDDa. Na Figura 60
é observada, para os 4 sensores, a evolução dos FDDs e FDDa na estação de congelação,
juntamente com os valores de fator-n.
a) b)
c) d)
Figura 60 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d) Alt_W254
O sensor Alt_N13, com o valor de fator-n mais baixo do conjunto (0,6), regista o maior
afastamento entre os FDDs e os FDDa, com uma diferença de aproximadamente 300 FDD.
Esta diferença é indicativa de um arrefecimento mais pronunciado no ar do que no solo, visível
na amplitude térmica do ar e na estabilização da temperatura do solo entre 0 e -5 ºC (Figura
58-a e 60-a). Por oposição, o sensor Alt_W73, com o valor de fator-n mais elevado (1,07),
regista uma sobreposição entre os valores de FDDs e FDDa até ao mês de julho, e um
afastamento inferior a 60 FDD até ao fim do período de congelação (Figura 60-b). Este sensor,
instalado a 73 m de altitude, não possui o período de congelação mais severo, mas é onde a
transferência de calor entre o solo e o ar é mais eficiente. Esta eficiência faz com que a
103
temperatura do solo acompanhe a variação da temperatura do ar e registe amplitudes
térmicas pronunciadas (Figura 58-b).
104
Embora o valor de TMASS do sensor com exposição a norte seja o segundo mais
elevado (-1,6 ºC), era esperado que fosse o primeiro, uma vez que a exposição é promotora
de uma fusão da cobertura de neve mais rápida que diminuiria a duração do período de
congelação e provocaria um maior aquecimento da superfície durante a estação de
descongelação (Figura 61). No entanto, a duração do período de congelação (238 dias) e o
valor de fator-n (0,8) denotam uma situação particular neste sensor onde a cobertura de neve
permanece por mais tempo com um efeito isolante.
Tabela 22 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Exp entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
Figura 61 – Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Exp
A frequência dos ciclos de congelação e fusão, entre 55 e 73 ciclos, foi mais elevada
nos sensores cuja exposição promove valores de radiação solar mais elevados, isto é, os
sensores Exp_N182 (73 ciclos) e Exp_E179 (70 ciclos) (Tabela 22). Os sensores Exp_S183
e Exp_SW179 registam respetivamente 65 e 55 ciclos de congelação e fusão. Os ciclos de
congelação e fusão tendem a concentrar-se nos períodos em que a temperatura do ar começa
a arrefecer, no início da estação de congelação, ou aquecer, no fim da estação de congelação.
Nestes períodos, embora a temperatura média diária do ar possa estar próxima de 0 ºC, a
105
radiação solar incidente tem capacidade de provocar um aquecimento da superfície do solo,
com resultado numa numa subida da temperatura para valores positivos. Esta capacidade é
maior na exposição a norte e este, onde os valores de radiação solar potencial incidente estão
próximos de 120 000 e 300 000 W/m2 para os dois períodos, comparativamente com as
exposições a sul e oeste, com valores de radiação de 93 000 e 225 000 W/m2, o que explica
os diferentes valores registados (Figura 61).
Por sua vez, a duração da estação de congelação foi semelhante nos 3 sensores com
exposições a este, sul e sudoeste, com aproximadamente 230 dias. No caso do sensor
Exp_N183 o período de congelação é mais longo com 238 dias. Esta maior duração seria
expectável num sensor cuja exposição não favorecesse a incidência de radiação solar e o
aquecimento da superfície do solo, exemplo do sensor instalado na vertente exposta a sul, o
que reforça a influência, anteriormente mencionada, de uma cobertura de neve que
permaneça no solo. Esta permanência é controlada pela curvatura concava da superfície.
106
No que diz respeito à intensidade do período de congelação, com valores de FDDs
entre 848 e 981, o sensor com exposição a sul (Exp_S183) regista o valor de FDDs mais
elevado (981), indicativo de uma maior severidade do período de congelação. Já o sensor
com exposição a norte (Exp_N183) regista o valor de FDDs mais baixo (848). Este sensor
possui o valor de fator-n mais baixo do conjunto (0,8) sugestivo de um maior efeito isolante
da neve. Na Figura 62-a, o efeito isolante no sensor Exp_N183 é visível através do
afastamento entre os FDDs e os FDDa de aproximadamente 200 FDD. Este afastamento no
sensor Exp_S183 é inferior a 100 FDD (Figura 62-b). Nos sensores Exp_E179 e Exp_SW179,
a evolução dos FDDs e FDDa é semelhante com um afastamento pouco pronunciado,
associado a valores de fatores-n de 0,87 e 0,90 (Figura 62-c e d).
a) b)
c) d)
Figura 62 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_SW179; d) Exp_E179
107
No período de descongelação, a duração apenas é distinta no sensor Exp_N183 com
102 dias, face aos 109 dias registados pelos restantes 3 sensores (Figura 63-a). A menor
duração do período de descongelação, associada a um valor de fator-n de 1,74, teve impacte
na intensidade do aquecimento, traduzida no valor de TDDs mais baixo do conjunto (262).
Nos sensores com exposição a este, sul e sudoeste, os valores de TDDs foram de 342 e 330,
no caso dos dois últimos.
Figura 63 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Exp entre março de
2019 e fevereiro de 2020: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_E179; d) Exp_SW179
108
ciclos de congelação e fusão, que tendem a ser mais elevados nas superfícies cuja exposição
é mais favorável à incidência da radiação solar. Os FDDs pelo contrário, tendem a ser mais
elevados nas superfícies menos favoráveis à incidência da radiação solar. À semelhança do
que acontece no conjunto Alt, é também observada uma sobreposição do efeito da cobertura
de neve na duração da estação de congelação. Este efeito é especialmente marcado no
sensor com exposição a norte, cujas características da superfície concava se sobrepõem à
exposição.
109
convexa (Top_VJ_W135) e na superfície aplanada retilínea, os valores registados de TMASS
foram, respetivamente, de -1,5 e -1,4 ºC. Estes sensores apresentam as frequências mais
elevadas de ciclos de congelação e fusão com 87 e 82 ciclos. Já os sensores Top_VJ_NE132
e Top_VJ_S134, com os valores máximos (-1,2 ºC) e mínimos (-1,6 ºC) de TMASS, registam
frequências de 64 e 25 ciclos. As diferenças entre frequências de ciclos de congelação e fusão
encontram-se sobretudo no fim do período de congelação e são controladas pela fusão da
cobertura de neve (Figura 65). Esta fusão é mais lenta nos sensores Top_VJ_NE132, com
aproximadamente 20 dias, e no sensor Top_VJ_S134, com aproximadamente 60 dias (Figura
65-b e d). Tal resulta numa estabilização da temperatura do solo nos 0 ºC, enquanto a
temperatura do ar regista oscilações em torno dos 0 ºC. Nos sensores Top_VJ_W133 e
Top_VJW135, a fusão mais rápida com uma duração de aproximadamente 10 dias, faz com
que a transferência de calor entre o ar e superfície do solo seja mais eficiente, e que sejam
registadas oscilações em torno dos 0 ºC afetas a uma maior amplitude térmica (Figura 65-a e
c).
Tabela 23 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VJ entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
Ciclos de
Altitude TMASS TMAA Estação de Estação de
Sensor Exposição congelação/ FDDs FDDa Fator-n TDDs TDDa Fator-n
(m) (ºC) (ºC) congelação descongelação
fusão
Período Nº dias Período Nº dias
Top_VJ_W135 135 O -1,5 -2,1 87 29/03 - 21/10 207 918 938 0,98 22/10 - 02/03 133 362 199 1,82
Top_VJ_NE132 132 NE -1,2 -2,1 64 04/04 - 05/11 216 833 940 0,89 06/11 - 02/03 118 383 188 2,04
Top_VJ_W133 133 O -1,4 -2,1 82 30/03 - 21/10 206 943 934 1,01 22/10 - 02/03 133 401 209 1,92
Top_VJ_S134 134 S -1,6 -2,1 25 30/03 - 30/12 275 836 974 0,86 31/12 - 02/03 63 233 143 1,28
110
Figura 65 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134
111
incidente (Figura 66). Nos restantes sensores, a duração do período de congelação é
semelhante, com valores próximos de 210 dias (Figura 65 e 67).
Figura 66 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VJ
Figura 67 – Duração e intensidade do período de congelação no conjunto Top_VJ entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
112
Os valores mais baixos de FDDs são registados nos sensores Top_VJ_S134 (836) e
Top_VJ_NW132 (833), associados a valores de Fator-n de 0,86 e 0,89. Embora os valores
sejam próximos entre os dois sensores, a evolução dos índices de congelação regista
pequenas diferenças, sobretudo no que respeita ao afastamento entre os FDDs e FDDa, que
é constante no Top_VJ_NE132 e crescente no Top_VJ_S134 a partir do mês de julho (Figura
68-b e d). Tal afastamento crescente sugere um aumento do efeito isolante com início neste
mês que resulta na estabilização da temperatura do solo nos -5 ºC (Figura 65-d).
a) b)
c) d)
Figura 68 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d)
Top_VJ_S134
113
Top_VJ_W135. Esta diferença resulta da influência da exposição com maior impacte no
sensor Top_VJ_NE132.
114
Tabela 24 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VA entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
Figura 69 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VA
115
Figura 70 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128
No que diz respeito à estação de congelação, com início no fim do mês de março nos
3 sensores, é observada uma relação com a posição topográfica e com a exposição da
superfície. O sensor instalado na vertente com exposição a sul (Top_VA_S128), regista o
período mais longo (209 dias), seguido pelo sensor instalado no fundo do vale com exposição
a noroeste (Top_VA_NE118), com 208 dias (Tabela 25 e Figura 70-b e c). Neste sensor, a
posição numa depressão limita a quantidade de radiação solar incidente e contribui para uma
maior duração da estação de congelação (Figura 69). Por oposição, o sensor instalado na
vertente com exposição a norte (Top_VA_N133), com um período de congelação de 206 dias,
encontra-se numa posição favorável a um maior aquecimento da superfície, controlado pela
radiação solar incidente (Figura 69 e 70-a).
116
com a localização do sensor Top_VA_N133, ainda que com um efeito isolante limitado
traduzido num valor de fator-n de 0,9 (Figura 71-a). A presença de uma cobertura de neve
durante a estação de congelação faz com que no sensor instalado no fundo do vale
(Top_VA_NE118), a temperatura do solo tenha uma menor amplitude térmica face à
temperatura do ar e que haja um maior afastamento entre os FDDs e os FDDa (Figura 70-b e
71-b). O mesmo não acontece no sensor instalado na vertente com exposição a norte
(Top_VA_N133), onde a amplitude térmica do solo é muito pronunciada durante a estação de
congelação e onde há uma sobreposição entre os FDDs e FDDa (Figura 70-a e 71-a).
a) b)
c)
Figura 71 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Top_VJ entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128
117
Figura 72 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_VA entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
A análise do efeito da cobertura de neve foi feita através do conjunto Top_N, situado
na área de pormenor de Jeonjaegyu. Este, inclui 3 sensores instalados a uma distância
progressivamente maior da base do neveiro N3, considerando a sua extensão no início de
março de 2019: um sensor próximo do limite inferior do neveiro (Top_N_SW132), um a 15 m
a jusante (Top_N_SW130) e um último a 45 m (Top_N_SW129). A TMAA foi de -2 ºC (Tabela
25). A TMASS é, por sua vez, ligeiramente distinta com valores entre -1,8 e -1,2 ºC. No sensor
mais próximo da base do neveiro (Top_N_SW132) é registado o valor de TMASS mais baixo
(-1,8 ºC), enquanto o valor mais elevado (-1,2 ºC) é registado no sensor a 15 m do neveiro
(Top_N_SW130). O sensor Top_N_SW129, a uma maior distância do neveiro, registou um
118
valor de TMASS de -1,6 ºC. Uma vez que a diminuição dos valores de TMASS não é linear
face ao afastamento da base do neveiro, e que os três sensores têm a mesma exposição,
sugere-se que a as diferenças resultem das características do solo (Figura 73). Este é
constituído por clastos decimétricos suportados por clastos de menor calibre em
Top_N_SW129 (Figura 73-a), enquanto que, nos sensores Top_N_SW130 e Top_N_SW132
(Figura 73- b e c), é constituído por clastos centimétricos e decimétricos suportados por uma
matriz silto argilosa. Este tipo de cobertura mais compacta limita a presença de ar nos espaços
intersticiais e exerce um menor efeito isolante.
No que diz respeito aos ciclos de congelação e fusão, parâmetro sobre o qual, na
análise de variância foi detetada uma influência significativa da duração da cobertura de neve,
é observada uma tendência para um aumento da frequência com o afastamento à base do
neveiro (Tabela 25). Tal que, o sensor instalado a aproximadamente 45 metros
(Top_N_SW129) regista 84 ciclos, mais 45 ciclos do que os registados no sensor
Top_N_SW132 instalado na base do neveiro (39 ciclos).
Figura 73 – Características do solo nos locais de instalação do conjunto de sensores Top_N: a) Sensor
Top_N_SW129; b) Sensor Top_N_SW130; c) Sensor Top_N_SW132
119
Relativamente à estação de congelação, com início quase simultâneo nos 3 sensores,
sendo a 29 de março no Top_N_SW129 e Top_N_SW132 e a 30 de março no Top_N_SW130,
é registada uma duração entre 209 e 281 dias, com o sensor instalado na base do neveiro
(Top_N_SW132) a registar o período mais longo e o sensor instalado a uma maior distância
(Top_N_SW129), a registar o período mais curto (Tabela 25 e Figura 74).
A intensidade da estação de congelação é, por sua vez, maior no sensor mais afastado
da base do neveiro, e onde a estação de congelação é mais curta, e menor no sensor
instalado na base do neveiro onde a estação é mais prolongada (Figura 74). O mesmo
acontece com o valor de fator-n com uma variação entre 0,85 e 0,95.
No sensor instalado numa posição intermédia, foi registado um valor de 831 FDDs e
um valor da fator-n de 0,87. Neste sensor o afastamento entre os FDDs e FDDa é mais
pronunciado (aproximadamente 100 FDD) e constante ao longo do período de congelação
(Figura 75-b). As temperaturas de superfície do solo mostram que este afastamento resulta
de um menor arrefecimento do solo, com temperaturas a variar entre os 0 e -10 ºC, face ao
arrefecimento do ar com temperaturas até -15 ºC. Verifica-se também que no fim do período
de congelação, entre outubro e novembro, o aumento da temperatura do solo é mais lento
face ao aumento da temperatura do ar e há uma permanência em torno dos 0º C durante 20
dias, devido à manutenção de uma cobertura de neve húmida (Figura 76-b).
120
O sensor instalado na base do neveiro Top_N_SW132, regista o período de
congelação menos intenso com o valor de 821 FDDs e um fator-n de 0,84. Quando analisada
a evolução dos FDDs e FDDa é verificado um afastamento progressivo a partir do mês de
julho com uma diferença entre os dois índices de cerca de 50 FDD (Figura 75-a). Esta
diferença evolui para no fim do período de congelação ser de aproximadamente 150 FDD.
Este afastamento é promovido por uma maior duração da cobertura de neve com efeito
isolante. Se analisado o mesmo período na Figura 76-a, vemos que a temperatura estabiliza
nos -5 ºC a partir do mês de julho, não acompanhando as variações de temperatura do ar. No
fim do período de congelação, a fusão da cobertura de neve neste sensor faz com que o solo
permaneça a uma temperatura de 0 ºC por aproximadamente 60 dias (novembro e dezembro).
Adicionalmente, esta cobertura reduz a frequência de ciclos de congelação e fusão no início
da estação de descongelação (Figura 76-a).
a) b)
c)
Figura 75 - Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Top_N entre abril e dezembro de 2019: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c) Top_N_SW129
121
numa posição intermédia e com um período de descongelação de 110 dias. Tal diferença
deve-se às características do solo mencionadas, que no sensor Top_N_SW129, permitem a
existência de ar entre os clastos decimétricos suportados por clastos de menor calibre. Esta
presença de ar exerce um efeito isolante limitativo do aquecimento do solo.
Na análise da TMASS foi sugerido que as diferenças entre estes dois sensores
pudessem resultar das características distintas do solo (Figura 73), nomeadamente da sua
compactação. Ora no caso do solo no sensor Top_N_SW129, constituído por clastos
decimétricos suportados por clastos de menor calibre, a compactação é menor e há uma maior
presença de ar entre os espaços vazios. Tal presença contribui para um efeito isolante a um
nível subsuperficial limitativo de um maior aquecimento, sobretudo em eventos com vento. No
sensor Top_N_SW130 onde o solo é constituído por clastos centimétricos suportados por uma
matriz fina, a menor quantidade de poros promove uma maior condutividade térmica e por
consequência um maior aquecimento do solo à superfície.
Por fim, no sensor Top_N_SW132, com um período de descongelação mais curto (57
dias) resultado da permanência de uma cobertura de neve prolongada, o valor de TDDs
registado é o mais baixo do conjunto com 149 TDDs.
122
Figura 76 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no sensor Top_N_S129 entre março de 2019 e
fevereiro de 2020: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c) Top_N_SW129
5.3.6. Conclusões
123
No conjunto de sensores instalados no Monte Goguryeo, verificou-se que a influência
exercida pela exposição, mais marcada nos sensores com exposição a norte e este onde a
radiação solar potencial tem maior influência, é ligeiramente atenuada pela sobreposição de
outros fatores com impacte no regime térmico do solo. Exemplo foi a influência, a uma escala
de pormenor, da curvatura, que no sensor com exposição a norte promoveu uma maior
acumulação de neve e valores de TMASS mais baixos, face aos registados no sensor com
exposição a este, e uma duração mais prolongada da estação de congelação.
124
A posição topográfica, sem diferenças significativas nos parâmetros afetos ao regime
térmico do solo segundo a análise de variância, mostrou-se como uma combinação dos
fatores curvatura e exposição, que em conjunto determinam a acumulação de neve, durante
a estação de congelação, e o aquecimento do solo, durante a estação de descongelação.
125
CAPÍTULO 6 - O REGIME TÉRMICO DO SOLO E
PERMAFROST NA ÁREA DE JEONJAEGYU
6.1. Introdução
A área de Jeonjaegyu foi escolhida como sector de estudo detalhado dos regimes
térmicos diários da superfície do solo e do permafrost, enquadrando a perfuração King Sejong
Station, em cerca de 0,1 km2. A área localiza-se no setor sudoeste da Península de Barton,
entre o monte Jeonjaegyu e o monte Gaya. O mapa geomorfológico da mesma serviu de base
para a caracterização das formas de relevo e para a análise da dinâmica geomorfológica e foi
realizado a partir de observações de terreno e com o apoio de um ortofotomosaico e de um
modelo digital de superfície de ultra-alta resolução. Esta análise permite complementar o
estudo dos regimes térmicos diários da superfície do solo apresentados no subcapítulo 6.3 e
o enquadramento da perfuração KSS e do regime térmico do permafrost apresentado no
subcapítulo 6.4.
No caso das formas glaciárias, a sua identificação é mais limitada pela sobreposição
dos processos de meteorização e erosão ocorridos após o retrocesso do glaciar Collins. Não
obstante, são identificadas rochas aborregadas, associadas a afloramentos rochosos que
conservam uma superfície polida e a existências das duas faces características. Os depósitos
126
glaciários, duas moreias laterais perpendiculares à vertente com exposição a sudoeste, são
observados na área de pormenor como testemunhos do processo de recuo do glaciar.
Figura 77 – Modelo Digital de Elevação da área de pormenor de Jeonjaegyu derivado do levantamento com
VANT realizado na campanha antártica de 2018-2019
127
6.2.1. As vertentes do circo
No setor central da vertente V1_C, onde os declives são inferiores a 25º, surge um
diamicton fino com clastos angulosos centimétricos e a presença de uma matriz de suporte.
No setor onde o depósito é mais fino e o declive mais suave, surgem círculos de pedra
calibrados, que neste setor apresentam uma forma ligeiramente alongada no sentido do
declive, resultante da ação gravítica (Figura 77, 78 e 79). Estes, são formas resultantes de
crioturbação associada à congelação e fusão da água, que origina a movimentação das
partículas do solo (French, 2007). Quando a água presente no solo congela e se dá a
formação de lentículas de gelo, há um levantamento do material que tende a ser mais
pronunciado na área central do círculo, onde há uma maior acumulação de gelo. Com a fusão
do gelo intersticial, dá-se o assentamento das partículas levantadas. Tal resulta numa
deposição dos elementos mais grosseiros, em torno da área onde o levantamento foi mais
acentuado. Na frente destes círculos de pedra surgem frequentemente lóbulos de solifluxão,
formas também resultantes dos processos de crioturbação. Estes lóbulos resultam do
movimento lento do material presente numa área com declive, provocado pela congelação e
levantamento do material e consequente fusão, perda de coesão e deposição por ação
gravítica (Ballantyne & Harris, 1994).
No setor oeste da vertente V1_O, com forma convexa, o declive volta a registar valores
superiores a 25º, resultado da sucessão de escarpas com aproximadamente 3 m de altura
que delimitam terraços a 136, 141 e 144 m de altitude (Figura 77, 78, 79 e 80-b). Estes,
encontram-se cobertos por um diamicton de grão médio de clastos angulosos decimétricos,
suportados por clastos centimétricos. Nos setores dos terraços com diamicton fino e matriz
fina, surgem de novo círculos de pedras, ali com diâmetro entre 50 e 80 cm. O setor inferior
da vertente V1 apresenta um diamicton grosseiro com clastos angulosos decimétricos e
blocos métricos desabados, passam gradualmente a uma vertente de blocos.
128
b) Vertente do Planalto do Monte Baekjo
129
6.2.2. Fundo do circo e do valeiro do Monte Jeonjaegyu
No fundo do circo glaciário está presente um setor aplanado com um declive entre 5 e
10º, caracterizado por uma cobertura de diamicton fino com clastos centimétricos suportados
por uma matriz de silte e argila (Figura 77, 78, 79 e 80-e). Neste setor, na base do neveiro N3,
está presente ainda um pequeno lago. A presença deste corpo de água influencia o teor de
humidade ou a saturação do solo no setor aplanado e intensifica os processos de
crioturbação, nomeadamente os processos de segregação de gelo e levantamento criogénico
(French, 2007). Tais processos resultam, como visto anteriormente, na formação de solos
ordenados, dominantes neste setor com a forma de círculos de pedra na sua maioria não
calibrados. Estes possuem diâmetros entre 1 e 3 m.
Conforme avançamos no valeiro de este para oeste, o diamicton fino vai dando lugar
a um diamicton médio e grosseiro e os declives ultrapassam os 10º. Como consequência,
surgem lóbulos de solifluxão e fluxos de clastos resultantes do movimento de massa
canalizado. No setor ocidental do valeiro (FV), observa-se uma nova suavização do declive e
uma cobertura superficial com círculos de pedra, cujo núcleo é composto por clasto
centimétricos, mas sem a presença de matriz fina e com os limites constituídos por clastos de
maior calibre.
130
6.2.4. Patamar do Monte Gaya
O Patamar do Monte Gaya (PG) corresponde a uma superfície erosiva aplanada, mas
irregular no pormenor, com altitudes entre 123 e 107 m. Esta unidade pode ser dividida em
três setores: o setor a jusante do neveiro N3, caracterizado por uma cobertura de diamicton
grosseiro e médio (PG1); o setor a sudoeste do esporão KSS, marcado por afloramentos
rochosos (PG2); e um setor que se estende pelo limite sul da área de pormenor, com uma
cobertura de superfície dominada por um diamicton fino (PG3) (Figura 77, 78, 79 e 80-f).
No setor PG1 a jusante do neveiro N3, onde o declive regista valores entre 10 e 15º,
estão presentes lóbulos de solifluxão. Estes assumem sentido de fluxo distintos, respeitando
as variações do declive. À semelhança do que acontece na vertente exposta a sul, onde o
declive é mais acentuado, também aqui surgem associados aos lóbulos de solifluxão
pequenos círculos de pedras cujos núcleos são constituídos por material fino.
No setor a sudoeste da elevação KSS (PG2), onde a superfície possui uma cobertura
mais grosseira, surgem com maior frequência blocos rochosos com dimensões métricas que,
quando concentrados, dão origem a campos de blocos. Nas áreas do setor PG2 associadas
a afloramentos rochosos, surgem pequenos rebordos evidenciados pelo aumento do declive
na (Figura 78-C)
No setor sul da área (PG3), onde os declives registam valores inferiores a 10º,
observa-se a transição de um diamicton médio para um fino, em que os clastos angulosos se
encontram envoltos numa matriz fina de silte e argila. Neste setor surgem solos ordenados e
círculos de pedra não calibrados, cuja forma alongada acompanha o declive. Paralelos à área
de solos ordenados, e na área mais entalhada, surgem fluxos de clastos.
131
Figura 78 - Área de Jeonjaegyu: a) Ortofotomosaico; b) Mapa hipsométrico; c) Mapa de declives (graus); d) Mapa
de exposição
132
Figura 79 – Mapa geomorfológico de pormenor da área de Jeonjaegyu
133
a) b) Rechãs
Talude de
detritos
N1
N2
N3
Vertente a sudeste da
perfuração KSS
e) Esporão rochoso da f)
perfuração KSS
Patamar do Monte
Gaya
Fundo do valeiro de
Jeonjaegyu
Esporão rochoso da
perfuração KSS
N3
Fundo do circo
c))
glaciário
g) h)
Figura 80 - Área de pormenor Jeonjaegyu: a) Vertente do Monte Jeonjaegyu; b) Rechãs da vertente do Monte
Jeonjaegyu; c) Vertente do Planalto Baekjo; d) Vertente 3 a SE da perfuração KSS; e) Fundo do circo glaciário e
esporão rochoso da perfuração KSS; f) Patamar do Monte Gaya e fundo do valeiro Jeonjaegyu; g) Afloramento
no esporão rochoso da perfuração KSS com vestígios de corrasão nivo-eólica; h) Círculos de pedras no fundo
do valeiro de Jeonjaegyu
134
6.3. Regimes térmicos do solo diários
Assim, para a análise dos regimes térmicos diários foram utilizados o conjunto Top_VJ,
composto por 4 sensores instalados no vale de Jeonjaegyu e o conjunto Top_N, constituído
por 3 sensores instalados na base do neveiro N3 (Figura 77).
- Com estação de congelação mais prolongada (275 dias), em que predominam dias
com congelação do solo, e em que, no início da estação de congelação, mais tardio, os
regimes com congelação e fusão estão praticamente ausentes (Top_VJ_S134).
135
padrão intermédio, com a segunda maior frequência de regimes térmicos com congelação,
está afeto ao sensor instalado na concavidade do esporão rochoso de KSS.
136
b) Estação de congelação de 2019
O início da estação de congelação, nos três tipos de padrões, foi também distinto pelo
momento em que ocorreu e pelo tipo de regimes que a antecederam (Figura 81-a). No sensor
instalado na vertente V1 (Top_VJ_S134), com início da estação de congelação a 30 de março
de 2019, os regimes com congelação e com amplitude térmica pronunciada (F2) sucederam-
se a regimes sem congelação também com amplitudes térmicas pronunciadas (U2). Tal
sucessão, sem a presença significativa de regimes com congelação e fusão, é indicativa de
um rápido arrefecimento do solo, no momento a partir do qual, as temperaturas do ar descem
e permanecem constantes abaixo de 0 ºC. No período de 25 a 29 de abril, e 7 a 11 de maio,
em que a temperatura média diária do ar esteve próxima de 3 ºC, surgiram intercalados
regimes sem congelação U2 e regimes com congelação e fusão FT2. Não obstante, quando
observada a Figura 81-e, verifica-se que 70 a 80 % dos dias dos meses de abril e maio tiveram
a ocorrência do regime térmico com congelação e com amplitude térmica pronunciada F2.
No caso dos sensores com exposição a oeste, caracterizados pela elevada frequência
de regimes com congelação e fusão (FT1 e FT2) e com início da estação de congelação a 30
de março de 2019, é precisamente um destes regimes (FT2) que antecede os regimes com
congelação do solo, no período em que a temperatura do ar varia entre 2 e -9 ºC. A ocorrência
de dias com o regime FT2 indica que no início da estação de congelação, o arrefecimento do
solo é interrompido, durante o período diurno, por um aquecimento resultante incidência de
radiação solar. a diminuição da temperatura do ar levou a um arrefecimento do solo com
temperaturas abaixo de 0 ºC, interrompido por um aquecimento diurno que provocou uma
subida da temperatura até valores positivos. Se considerados os meses de abril e maio,
apenas nestes dois sensores a percentagem de dias no mês de com regimes FT2, aproxima-
se de 20% (Figura 81-a e d).
137
Durante o período em que dominou o regime térmico com congelação F2, com
presença em 60 a 80% dos dias de cada mês, a temperatura do ar esteve entre 0 e -14 ºC
nos três tipos de padrões. Este regime foi intercalado por dias com um regime com congelação
e com reduzida amplitude térmica F1. Este último surge em dias onde a temperatura média
diária do ar varia entre 0 e -6 ºC ou quando são registados episódios de neve. Se considerado,
como exemplo o sensor Top_VJ_S134, no dia 26 de junho há um aumento da espessura da
cobertura de neve, quantificado na estação de King Sejong em 22 cm. Este, foi coincidente
com a sucessão, durante 3 dias, de um regime térmico com congelação e com reduzida
amplitude térmica (F1) (Figura 81-a). O mesmo acontece, para os 4 sensores, durante o mês
de setembro, em que a espessura de neve aumenta de 20 para 50 cm. Desta forma, é
percetível que a ocorrência do regime térmico F1, está associada a uma menor amplitude
térmica da temperatura do ar e ao aumento da espessura da cobertura de neve, responsável
por exercer um efeito isolante à superfície do solo e por reduzir a perda de calor. Isto mostra
também que embora a neve esteja presente ao longo da estação de congelação, o seu efeito
isolante, é menos expressivo do que após o evento nivoso. A presença de uma cobertura de
neve teve também implicações no aquecimento do solo no fim da estação de congelação e
no aumento do teor de humidade do mesmo que pode ter tido impacte nos processos
periglaciários.
138
Este correu em quase 90 % dos dias dos meses de novembro e dezembro (Figura 81-e). Na
análise detalhada dos regimes térmicos, no capítulo 5.3.3, foi referido que o local de instalação
deste sensor promoveu a permanência de uma cobertura de neve. Esta cobertura com efeito
isolante, juntamente com a exposição a sul, limitam o aquecimento do solo e fazem com que
a sua temperatura permaneça constante, sem flutuações resultantes da indecência da
radiação no período diurno.
139
Figura 81 – Regimes térmicos diários do solo à superfície no vale de Jeonjaegyu: a) Espessura de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no
posto termométrico da perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b) Regimes térmicos diários do solo por mês no
sensor Top_VJ_W135; c) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_NE132; d) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_W133;
e) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_S134.
140
6.3.2. Regimes térmicos diários na base do neveiro N3
141
esteve presente em aproximadamente 50% dos dias e que em abril teve expressão em cerca
de 30% dos dias.
A estação de congelação teve um início quase síncrono nos três sensores no dia 29 e
30 de março de 2019. À semelhança do fim do período de descongelação, também neste
período inicial os sensores instalados a menor e maior distância da base do neveiro foram
semelhantes. Nos períodos de 4 a 6 dias ambos os sensores registaram regimes térmicos
com congelação com amplitude térmica pronunciada F2. Nos dias em que a temperatura do
ar subiu, estes sensores registaram regimes térmicos com congelação e fusão, desta vez com
menor amplitude térmica no sensor a menor distância da base do neveiro (Top_N_SW132), o
que ilustra um aquecimento menos intenso. Se observadas as Figuras 82-b e 82-d, é visível
nos dois sensores, a proximidade dos valores percentuais afetos a cada regime, registados
nos meses de abril e maio.
Embora este regime tenha sido dominante, no sensor instalado a menor distância da
base do neveiro (Top_N_SW132), é observado desde o aumento da espessura de neve a 15
de agosto (27 cm), uma maior frequência do regime F1. Este, torna-se dominante a partir do
dia 8 de setembro, quando foi registado um novo aumento da espessura de neve (30 a 50
cm), com presença em 50% dos dias do mês de setembro, 60% dos dias do mês de outubro
e 90 e 100% dos dias dos meses de novembro e dezembro (Figura 82-b).
142
A permanência do solo congelado até ao início do mês de janeiro, resultado da
manutenção da neve no solo, fez com que este local tivesse a estação de congelação mais
longa e a menor frequência de regimes com congelação e fusão.
143
Figura 82 – Regimes térmicos diários do solo à superfície na base do neveiro N3: a) Espessura de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no
posto termométrico da perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b) Regimes térmicos diários do solo por mês no
sensor Top_N_SW132; c) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW130; d) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW129
144
6.3.3. Conclusões
Desta forma, conclui-se que a existência de dois perfis de regimes térmicos muito
semelhantes pode resultar em formas distintas, resultado das diferenças topográficas e da
cobertura da superfície.
No caso do conjunto Top_N, observou-se ainda que dois locais muito semelhantes
quanto à exposição, declive e curvatura, podem também originar perfis distintos derivados
das diferenças na cobertura do solo com impacte na condutividade térmica e no efeito isolante.
145
6.4. O regime térmico do permafrost na perfuração King
Sejong Station
O estudo do regime térmico do solo na perfuração de King Sejong Station teve como
objetivo a análise do estado e do regime térmico do permafrost ao longo do ano, bem como
da dinâmica térmica da camada ativa. Nesta análise foram considerados os valores de
condutividade da rocha, obtidos através das determinações termofísicas, o perfil de
temperatura média anual, as temperaturas médias diárias e horárias a diferentes
profundidades e as temperaturas do ar.
- Até 1 m a rocha apresenta textura afanítica, com uma cor cinzento-esverdeada clara,
e com minerais isolados com cerca de 1 mm. As fraturas denotam ligeira alteração, patente
através de uma descoloração incipiente.
- Dos 4 aos 5 m a cor é cinzenta clara ainda associada a um grão médio e a rocha está
moderadamente alterada.
146
- Aos 6 m surge um nível de silte compacto, cuja origem estará no processo de
perfuração e desgaste da rocha com a fricção provocada pelas coroas e tubos metálicos.
- Entre 6 e 6,5 m a rocha é cinzenta escura, com pequenos veios de cor clara de
espessura submilimétrica.
- Entre 7 e 9 m a rocha regista cor cinzenta, desta vez ligeiramente alterada e com
grão médio.
- Entre 12 e 13 m a rocha tem cor cinzenta escura e está ligeiramente alterada e tem
grão médio.
Figura 83 – Carotes de rocha da perfuração King Sejong Station: a) Carotes até 5 m de profundidade; b) Carotes
dos 5 aos 10 m de profundidade; c) Carotes dos 11 aos 13 m de profundidade
147
Tabela 26 - Caracterização das carotes de rocha na perfuração King Sejong Station
Caracterização das carotes de rocha da perfuração King Sejong Station
Cinzento esverdeado
C01 Sim 13 0 13 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C02 47 13 60 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C03 6 60 66 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C04 35 66 101 2 Carote rocha Mediamente alterada Grão médio Joint Média
claro
C05 24 101 125 6 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C06 16 125 141 3 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão médio Média
Joint
C07 20 141 161 5 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C08 26 161 187 5 Carote rocha Cinzento claro Mediamente alterada Grão médio Média
Joint
Fragmentos de
C09 20 187 207 11 Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Rubble zone Média
rocha
C10 17 207 224 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Joint Média
C11 16 224 240 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C12 15 240 255 2 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Média
Joint
C13 Sim 29 255 284 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Joint Média
C14 35 284 319 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
C15 11 319 330 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
C16 32 330 362 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
Cinzento médio com raias Quebra mecânica /
C17 26 362 388 4 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Média
brancas Joint
Cinzento médio com raias
C18 30 388 418 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Joint Média
brancas
Cinzento claro com raias Quebra mecânica /
C19 Sim 28 418 446 2 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
brancas Joint
Quebra mecânica /
C20 17 446 463 3 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Fragmentos de
C21 25 463 488 - Cinzento claro Mediamente alterada Grão grosseiro Rubble zone Média
rocha
C22 26 488 514 3 Carote rocha Cinzento claro Mediamente alterada Grão grosseiro Joint Média
Quebra mecânica /
C23 23 514 537 2 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Média
Joint
C24 13 537 550 1 Carote rocha Cinzento clara Mediamente alterada Grão médio Joint Média
Quebra mecânica /
C25 22 550 572 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Cinzento médio com raias Quebra mecânica /
C26 18 572 590 2 Carote rocha Mediamente alterada Grão médio Média
brancas Joint
C27 11 590 601 1 Silte Silte - - - -
Cinzento escuro com
C28 24 601 625 6 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
raias brancas
Cinzento escuro com
C29 30 625 655 3 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
raias brancas
C30 Sim 50 655 705 0 Carote rocha Cinzento clara Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
C31 63 705 768 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
C32 18 768 786 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
C33 57 786 843 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Cinzento médio
C34 Sim 22 843 865 4 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
esverdeado
C35 25 865 890 2 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
C36 Sim 45 890 935 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Cinzento esverdeado
C37 26 935 961 1 Carote rocha Mediamente alterada - Joint Elevada
escuro
C38 30 961 991 4 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
C51 20 1322 1342 0 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
C52 Sim 23 1342 1365 0 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
148
6.4.2. Análise das propriedades termofísicas da carote de rocha
Os valores de condutividade térmica obtidos, na sua maioria, variam entre 2,02 e 2,10
W/m.K nas carotes com cor cinzenta escura e clara, ligeiramente alteradas e com grão médio.
A 4 metros de profundidade, no setor da carote de cor cinzenta clara com veios claros,
ligeiramente alterada e com grão grosseiro, é registado um valor de condutividade superior
aos restantes com 2,43 W/m.K (Tabela 27). Tal significa que a capacidade de a rocha conduzir
o calor varia ao longo da perfuração, com valores próximos de 2 W/m.K, sendo pontualmente
registados valores mais elevados. Os valores de capacidade volumétrica, referentes à
capacidade de aquecimento em massa, multiplicada pela densidade de uma determinada
substância, variaram entre 1,58.106 J/m/K, na superfície da perfuração e 2,14.106 J/m/K num
setor de cor cinzenta, ligeiramente alterada e com uma textura de grão médio a
aproximadamente 9 m de profundidade. A difusividade térmica, que traduz o tempo
necessário para a deslocação do calor, variou entre 1,32.10-6 m2/s, na superfície da
perfuração, e 0,967.10-6 m2/s a 13 m de profundidade o que denota uma redução do tempo
com o aumento da profundidade.
149
Tabela 27 - Resultados das determinações termofísicas realizadas nas carotes de rocha da perfuração KSS
Determinações termofísicas nas carotes de rocha da perfuração King Sejong Station
K Cv α-
Comprimento Profundidade Profundidade Condutividade Capacidade Difusividade
Código Amostra Tipo de rocha
(cm) inicial (cm) final (cm) térmica volumétrica térmica
(W/m.K) .10⁺⁶ (J/m/K) .10⁻⁶ (m²/s)
150
6.4.3. Regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong
Station
151
Figura 85 - Perfil da temperatura média anual na perfuração King Sejong Station
152
b) Temperatura média diária na perfuração King Sejong Station em 2019-20
153
temperaturas de 3 a 5 ºC, enquanto em março de 2019, estas tinham sido de 0 a 1 ºC. Esta
progressão da frente de descongelação provocou um aumento da espessura da camada ativa
até cerca de 3 m, a qual com a série de dados que dispomos, só é possível monitorizar até
meio de março de 2020. No entanto, a extensão deste aquecimento pode ter sido superior e
com impactes ainda desconhecidos.
Figura 86 - Análise do regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station: a) Temperatura do ar
média diária no posto KSS; b) Temperatura do solo horária na perfuração King Sejong Station.
154
6.4.4. Conclusões
A aplicação do modelo TTOP usando os dados da perfuração KSS teve como objetivo
a avaliação da capacidade de o modelo calcular a temperatura no topo do permafrost e a sua
aplicabilidade em trabalhos futuros a outras áreas da região da Península Antártica, pois o
modelo foi escassamente testado à escala de pormenor. Desta forma, procedeu-se ao cálculo
dos parâmetros necessários, através das temperaturas de superfície do solo e das
temperaturas do ar no posto termométrico KSS (ver capítulo 3.6, Tabela 28). Uma vez que o
valor de Offset térmico registado para a perfuração foi de 0,1 ºC, o que sugere a inexistência
de diferenças significativas entre a condutividade térmica da rocha na estação de congelação
e na estação de descongelação, o valor do rácio destes parâmetros utilizado na determinação
do TTOP foi de 1 (Smith & Riseborough, 1996, 2002).
Tabela 28 – Parâmetros e resultados do modelo TTOP aplicado à perfuração King Sejong Station para o período
2019-20
155
Foi obtido um valor para a temperatura no topo do permafrost de -1,73 ºC, que é
apenas 0,01 ºC inferior ao valor registado a uma profundidade de 2,5 m (-1,74 ºC). A
proximidade entre o valor registado e o estimado sugerem um elevado potencial do modelo
para o cálculo da temperatura no topo do permafrost na Península de Barton, num contexto
onde sejam conhecidas as temperaturas do ar ou o gradiente altitudinal que permita a sua
estimação, as temperaturas do solo à superfície e os valores de condutividade no solo gelado
e descongelado.
Nos valores estimados de TTOP, e tendo presente a assunção de que todos os locais
correspondem a afloramentos de rocha, observou-se uma distribuição da temperatura no topo
do permafrost fortemente controlada pela altitude (Figura 87). Os sensores instalados entre
10 e 30 m estiveram associados a valores estimados positivos e entre 0 e -0,4 ºC. Estes,
foram mais elevados do que os valores calculados por Ferreira et al. (2016) para locais
situados a 36 m (-1,3 e -1,0 ºC) e 35 m (-0,7 e -0,6 ºC) na Península Hurd (Livingston) para
os anos de 2007 e 2009.
156
Figura 87 – Distribuição dos valores TTOP estimados para os locais de monitorização da temperatura à
superfície do solo na Península de Barton
Estação de Estação de
Sensor FDDs FDDa Fator-n TDDs TDDa Fator-n TMASS (ºC) TTOP
congelação descongelação
157
No sensor instalado a cerca de 70 m (Alt_W73), o valor de TTOP estimado foi
ligeiramente mais baixo (-0,9 a -0,5 ºC) do que os valores estimados para os sensores entre
os 10 e 30 m. Acima dos 100 m, o TTOP variou entre -2 e -1 ºC. Esta variação, em sensores
instalados aproximadamente à mesma altitude, sugere a influência dos fatores topográficos
na ocorrência de um permafrost mais frio. Nos sensores instalados no Vale de Araon, com
altitudes entre 118 e 133 m, o permafrost mais frio com uma temperatura entre -2,0 e -1,5 ºC,
parece encontrar-se na vertente com exposição a sul. No fundo do vale e na vertente com
exposição a norte, a temperatura estimada indica a presença de um permafrost com
temperaturas ligeiramente superiores (-1,4 a -1,0 ºC). Estes valores estão próximos dos
calculados por Ferreira et al. (2016) para o Collado Ramos a 113 m (-1,4 a -1,2 ºC) e para a
perfuração CALM a 140 m (-1,8 a -1,5 ºC).
158
TTOP estimado de -0,3 ºC o que sugere a presença de permafrost a baixa altitude. Já o sensor
Top_P_NW25 instalado a 25 m no leque aluvial apresenta um valor de 0,3 ºC indicativo da
ausência de permafrost. Tendo em consideração os valores de TMAA de -1,1 ºC, superiores
aos -2,5 ºC mencionados por Bockheim et al. (2013) como limite para a presença de
permafrost, e a modelação feita segundo a assunção que os locais monitorizados
correspondem a afloramentos de rocha e logo, offsets muito pequenos, é pouco provável a
sua ocorrência a esta altitude.
Figura 88 – Correlação entre o fator altitude e os valores de TTOP estimados para os sensores de superfície
instalados na Península de Barton
A partir desta altitude, são também mais frequentes as formas periglaciárias de que
são exemplo os solos ordenados e os lóbulos de solifluxão. Serrano et al. (2008) na análise
das formas associadas à presença de permafrost no arquipélago das Shetlands do Sul,
referem que acima de 40 m, mais de 70% das formas periglaciárias estão associadas à
presença de permafrost e que este será contínuo e que abaixo deste limiar, o permafrost é
descontínuo ou esporádico.
159
7. CONCLUSÃO
160
características do fator em análise. Esta organização permite uma comparação dos
comportamentos térmicos do solo entre os grupos representativos de uma característica do
fator topográfico. Na análise de variância ANOVA, constatou-se que a identificação da
influência de um fator topográfico pode ser limitada pela sobreposição de outro fator, que
atenue as diferenças entre as categorias. Tal aconteceu na análise do efeito da exposição e
posição topográfica. Já a influência dos fatores altitude, curvatura e cobertura de neve foi
evidenciada nesta análise.
161
baixos. Se este efeito da curvatura condiciona a duração dos períodos de congelação e fusão,
é, como referido por Hrbáček et al. (2016) para as Penínsulas de Ulu e Byers (Península
Antártica), determinante para o regime térmico do solo.
162
havendo absorção ou perda de calor, o que faz com que a temperatura permaneça constante
(Smith & Riseborough, 1996).
163
do que o registado no sensor com exposição a este. Tal deveu-se à permanência prolongada
da cobertura de neve, sendo que esta acumulação poderá ter resultado de variações da
curvatura a microescala ou da deposição a sotavento de um obstáculo destacado, de que é
exemplo um fragmento rochoso. Esta relação complexa entre a exposição e curvatura tinha
sido já verificada nos dois sensores instalados no vale de Jeonjaegyu.
A análise do regime térmico diário do solo permite, por sua vez, um estudo detalhado
da dinâmica térmica do solo ao longo da estação de congelação e descongelação,
considerando as componentes temperatura, duração e amplitude térmica. Esta análise foi
desenvolvida para a área de pormenor de Jeonjaegyu, com o intuito de estudar a influência
dos fatores microclimáticos e associar as possíveis relações entre os 7 regimes térmicos
identificados e a dinâmica geomorfológica caracterizada através do mapa geomorfológico de
pormenor. Os padrões de temporais dos regimes térmicos diários da superfície do solo
diferenciaram-se pela duração da estação de congelação, pela frequência de dias com
congelação e fusão e pela amplitude térmica.
164
frequência mais elevada de dias com regimes térmicos com congelação e fusão, apresentou
uma relação com a curvatura da superfície, com a ausência de uma cobertura de neve no
início e fim da estação de congelação e com o substrato presente à superfície. No que diz
respeito à curvatura e cobertura de neve, as superfícies convexas e retilíneas, promotoras de
uma menor acumulação de neve, sobretudo quando expostas à radiação solar, destacaram-
se com as frequências de regimes térmicos de congelação e fusão mais elevados, resultado
da ausência de um efeito isolante que impedisse o aquecimento radiativo do solo à superfície,
durante o período diurno, e o arrefecimento por condução, durante o período noturno. O
destaque da radiação solar é também mencionado por Nieuwendam (2009) no estudo dos
regimes térmicos diários para a Península de Hurd, onde através da análise discriminante,
evidencia a radiação solar como um dos fatores determinantes para os regimes térmicos
diários do solo.
O efeito das características superficiais do solo sobre os regimes térmicos diários ficou
evidente na análise dos sensores instalados na base do neveiro N3. Neste conjunto, o sensor
mais distante do neveiro, possui uma cobertura de clastos centimétricos e decimétricos,
suportados por clastos de menor calibre, que permitem a existência de ar no solo e, por
consequência um maior efeito isolante. Este, na estação de descongelação, limitou o
aquecimento do solo e consequentemente, a ocorrência de regimes térmicos sem
congelação. A influência do substrato, visível num conjunto de três sensores que distam a
menos de 45 metros, e onde as condições topográficas são muito semelhantes, reforçam a
afirmação de Hrbáček et al. (2017), para a Ilha de James Ross (Antártida), de que a textura
do solo, tem influência no regime térmico do mesmo, por condicionar as suas propriedades
térmicas.
Por fim, no que concerne ao regime térmico do permafrost, importa ter presente que o
estudo foi realizado para apenas um ano de dados e que, neste mesmo ano, no fim da estação
de descongelação de 2018-19, as temperaturas médias diárias do ar estiveram próximas das
temperaturas dos meses mais frios da série de 1969-2019, e indicaram um verão frio. Na
estação de congelação de 2019, as temperaturas médias mensais estiveram próximas do 3º
quartil e as temperaturas médias diárias da estação de descongelação de 2019-2010
165
estiveram próximas ou sobrepostas às temperaturas dos meses mais quentes na série
climática de 1969-2019, pelo que as comparações com dados de outras perfurações da GTN-
P devem ser cautelosas.
Na perfuração KSS, para uma TMAA de -2,1 ºC em 2019-20, próxima dos -2,5 ºC
definidos por Bockheim et al. (2013) como o limite para a presença de permafrost, a TMAS
registada à profundidade de 13 m é de -1,5 ºC e a temperatura no topo do permafrost é de -
1,7 ºC. Estes resultados mostram, pela primeira vez, que na Península Barton a 128 m de
altitude há a presença de permafrost, ainda que com uma temperatura elevada. Esta é, no
entanto, inferior ao valor de TTOP estimado por Obu et al. (2020) para a Península de Barton
(-1,01 ºC). No que diz respeito aos valores de TMASS registados nas perfurações GTN-P e
CALM noutros observatórios do arquipélago das Shetlands do Sul, há uma grande
proximidade entre o valor de -1,8 ºC registado em KSS e o valor de -1,83 ºC registado na
perfuração de Reina Sofia a uma altitude superior (247 m).
166
ativa, que em 02/03/2020 atingiu 3 m. Uma vez que o registo dos dados não engloba a
totalidade da estação de descongelação, não é registada a espessura máxima da camada
ativa, embora seja evidente uma tendência contínua, no fim da série de dados, para um
aquecimento do solo em profundidade. Este rápido aquecimento do solo e aumento da
espessura da camada ativa num verão com temperaturas elevadas, traduz a sensibilidade a
modificações de curta duração nas condições meteorológicas. Se tais modificações forem
mais marcadas ou prolongadas no tempo, os impactes na camada ativa e no permafrost serão
mais intensos e atingirão uma maior profundidade, podendo contribuir para a sua degradação
ao longo do tempo, com implicações na atividade biológica, no sistema hidrológico, nos fluxos
de nutrientes e na dinâmica geomorfológica (Bockheim et al., 2013).
167
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ÍNDICE DE FIGURAS
178
Figura 22 - Exemplos de formas geomorfológicas na Península de Barton: a) Vale de Araon
(NO); b) Taludes de detritos na escarpa a norte da crista de Noel Hill; c) Moreia no Vale de
Araon; d) Solos ordenados no planalto superior; e) Rocha aborregada a norte da crista de
Noel Hill; f) Bloco errático a norte da crista de Noel Hill; g) Círculos de pedras; h) Lóbulos de
solifluxão e solos estriados. ..................................................................................................46
Figura 23 - Temperaturas médias mensais ao longo do ano na estação de Bellingshausen
(1969 – 2020) .......................................................................................................................47
Figura 24 – Temperaturas médias mensais obtidas para uma série temporal entre 1969 e 2019
na estação de Bellingshausen ..............................................................................................48
Figura 25 – Correlação entre a temperatura do ar média mensal da estação de King Sejong e
de Bellingshausen ................................................................................................................48
Figura 26 – Precipitação anual na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020 49
Figura 27 - Precipitação mensal na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
.............................................................................................................................................49
Figura 28 - Espessura da cobertura de neve por mês na estação de King Sejong para o
período de 2005 a 2020 .......................................................................................................50
Figura 29 - Espessura da cobertura de neve por ano na estação de King Sejong para o período
de 2005 a 2020 ....................................................................................................................50
Figura 30 – Direção e velocidade do vento na estação de King Sejong (2005-2020) ...........51
Figura 31 - Direção e velocidade do vento por mês e estação na estação de King Sejong (2005
- 2020)..................................................................................................................................51
Figura 32 – Esquematização das etapas de trabalho ...........................................................52
Figura 33 - Enquadramento das áreas de estudo da Península de Barton ...........................53
Figura 34 – Esquematização da abordagem SIG utilizada na cartografia de base e derivada
.............................................................................................................................................54
Figura 35 – Esboço geomorfológico da área de estudo Jeonjaegyu .....................................57
Figura 36 - a) Instalação dataloggers no escudo radiativo; b) Preparação do solo para fixação
do poste de madeira; c) Datalogger na perfuração KSS; d) Datalogger na praia; e)
Identificação do datalogger no escudo radiativo; f) Substituição do poste de madeira por um
metálico no datalogger da perfuração KSS ..........................................................................60
Figura 37– Correlação entre os valores registados pelos dataloggers KSB e Praia .............60
Figura 38 - a) Modelo esquemático da estrutura de instalação dos sensores de superfície; b)
Instalação sensor Top_N_SW129; c) Local de instalação; d) Recolha do sensor
Top_N_SW129 na campanha antártica de 2019/20. ............................................................61
Figura 39 – Localização dos sensores térmicos de superfície na Península de Barton ........63
179
Figura 40 – Cobertura do sensor Alt_N13 constituída por solo arenoso ...............................63
Figura 41 – Sensores instalados no vale de Jeonjaegyu ......................................................64
Figura 42 – Correlação da temperatura do ar e do solo de cada sensor superficial instalado
.............................................................................................................................................65
Figura 43 – Temperaturas médias diárias do ar e do solo à superfície no sensor Top_VJ_W133
.............................................................................................................................................67
Figura 44 – Tipos de regimes térmicos diários nos sensores de superfície do solo ..............70
Figura 45 – A instalação da perfuração King Sejong Station: a) Equipamento utilizado nas
atividades de perfuração; b) Transporte do gerador; c) Plataforma utilizada na perfuração; d)
Lago; e) Bidons utilizados para armazenamento de água; f) Atividades de perfuração; g)
Instalação do tubo de politeno; h) Instalação dos sensores de temperatura na perfuração. .74
Figura 46 – Localização das amostras rochosas analisadas na Península de Barton ..........77
Figura 47 – Análise termofísica das amostras rochosas: a) Recolha das carotes da perfuração
King Sejong Station; b) Descrição das carotes; c) Armazenamento dos carotes rochosas; d)
Amostra selecionada e cortada; e) Processo de corte das amostras; f) Análise de
condutividade com instrumento de medição ISOMET 2104; g) Análise das amostras rochosas
do projeto GEOPERM; h) Sonda de superfície. ....................................................................78
Figura 48 – Modelo esquemático do perfil de temperatura média anual desde a superfície do
solo até ao topo do permafrost (Smith & Riseborough, 2002)...............................................79
Figura 49 - Enquadramento das temperaturas do ar médias mensais do período 2019-20 na
série da estação de Bellingshausen (1969 – 2020) ..............................................................83
Figura 50 – Anomalia média mensal da temperatura (NCEP/NCAR Reanalysis 1) para os
meses de novembro de 2019 a fevereiro de 2020 (Robinson et al., 2020) ...........................83
Figura 51 - Enquadramento da precipitação mensal do período 2019-20 na série da estação
de King Sejong (2005 – 2020) ..............................................................................................84
Figura 52 - Enquadramento da espessura da cobertura de neve diária por mês do período
2019-20 na série da estação de King Sejong (2005 - 2020) .................................................85
Figura 53 - Planalto superior da Península de Barton: a) 28 de fevereiro de 2019; b) 3 fevereiro
2020 .....................................................................................................................................86
Figura 54 – Direção e velocidade do vento do período de 2019-20 (dados KOPRI) .............86
Figura 55 – Direção do vento por estação no período de 2019-20 (dados KOPRI) ..............87
Figura 56 - Localização dos conjuntos de sensores de temperatura de superfície do solo
instalados na Península de Barton .......................................................................................99
Figura 57 – Correlação entre o fator topográfico altitude e os parâmetros do regime térmico
do solo: a) TMASS; b) TDDs; c) FDDs ...............................................................................100
180
Figura 58 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Alt entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d)
Alt_W254............................................................................................................................102
Figura 59 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Alt entre março de
2019 e fevereiro de 2020....................................................................................................102
Figura 60 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c)
Alt_NE182; d) Alt_W254.....................................................................................................103
Figura 61 – Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Exp .................................105
Figura 62 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c)
Exp_SW179; d) Exp_E179 .................................................................................................107
Figura 63 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Exp entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_E179; d)
Exp_SW179 .......................................................................................................................108
Figura 64 - Perfil longitudinal: Transecto de instalação dos sensores do Vale Jeonjaegyu.109
Figura 65 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Top_VJ entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c)
Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134 .......................................................................................111
Figura 66 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VJ ...........................112
Figura 67 – Duração e intensidade do período de congelação no conjunto Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020 ...............................................................................................112
Figura 68 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VJ_W135; b)
Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134 ........................................................113
Figura 69 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VA ...........................115
Figura 70 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Top_VJ entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c)
Top_VA_S128 ....................................................................................................................116
Figura 71 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Top_VJ entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VA_N133; b)
Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128.....................................................................................117
181
Figura 72 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_VA entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................118
Figura 73 – Características do solo nos locais de instalação do conjunto de sensores Top_N:
a) Sensor Top_N_SW129; b) Sensor Top_N_SW130; c) Sensor Top_N_SW132 ..............119
Figura 74 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_N ............120
Figura 75 - Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Top_N entre abril e dezembro de 2019: a) Top_N_SW132; b)
Top_N_SW130; c) Top_N_SW129 .....................................................................................121
Figura 76 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no sensor Top_N_S129
entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c)
Top_N_SW129 ...................................................................................................................123
Figura 77 – Modelo Digital de Elevação da área de pormenor de Jeonjaegyu derivado do
levantamento com VANT realizado na campanha antártica de 2018-2019 .........................127
Figura 78 - Área de Jeonjaegyu: a) Ortofotomosaico; b) Mapa hipsométrico; c) Mapa de
declives (graus); d) Mapa de exposição .............................................................................132
Figura 79 – Mapa geomorfológico de pormenor da área de Jeonjaegyu ............................133
Figura 80 - Área de pormenor Jeonjaegyu: a) Vertente do Monte Jeonjaegyu; b) Rechãs da
vertente do Monte Jeonjaegyu; c) Vertente do Planalto Baekjo; d) Vertente 3 a SE da
perfuração KSS; e) Fundo do circo glaciário e esporão rochoso da perfuração KSS; f) Patamar
do Monte Gaya e fundo do valeiro Jeonjaegyu; g) Afloramento no esporão rochoso da
perfuração KSS com vestígios de corrasão nivo-eólica; h) Círculos de pedras no fundo do
valeiro de Jeonjaegyu ........................................................................................................134
Figura 81 – Regimes térmicos diários do solo à superfície no vale de Jeonjaegyu: a) Espessura
de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no posto termométrico da
perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b)
Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_W135; c) Regimes térmicos
diários do solo por mês no sensor Top_VJ_NE132; d) Regimes térmicos diários do solo por
mês no sensor Top_VJ_W133; e) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor
Top_VJ_S134. ...................................................................................................................140
Figura 82 – Regimes térmicos diários do solo à superfície na base do neveiro N3: a) Espessura
de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no posto termométrico da
perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b)
Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW132; c) Regimes térmicos
diários do solo por mês no sensor Top_N_SW130; d) Regimes térmicos diários do solo por
mês no sensor Top_N_SW129...........................................................................................144
182
Figura 83 – Carotes de rocha da perfuração King Sejong Station: a) Carotes até 5 m de
profundidade; b) Carotes dos 5 aos 10 m de profundidade; c) Carotes dos 11 aos 13 m de
profundidade ......................................................................................................................147
Figura 84– Amostras selecionadas para realização das determinações termofísicas .........149
Figura 85 - Perfil da temperatura média anual na perfuração King Sejong Station .............152
Figura 86 - Análise do regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station: a)
Temperatura do ar média diária no posto KSS; b) Temperatura do solo horária na perfuração
King Sejong Station. ...........................................................................................................154
Figura 87 – Distribuição dos valores TTOP estimados para os locais de monitorização da
temperatura à superfície do solo na Península de Barton ..................................................157
Figura 88 – Correlação entre o fator altitude e os valores de TTOP estimados para os sensores
de superfície instalados na Península de Barton ................................................................159
183
ÍNDICE DE TABELAS
184
Tabela 23 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VJ entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................110
Tabela 24 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VA entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................115
Tabela 25 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_N ....119
Tabela 26 - Caracterização das carotes de rocha na perfuração King Sejong Station ........148
Tabela 27 - Resultados das determinações termofísicas realizadas nas carotes de rocha da
perfuração KSS ..................................................................................................................150
Tabela 28 – Parâmetros e resultados do modelo TTOP aplicado à perfuração King Sejong
Station para o período 2019-20 ..........................................................................................155
Tabela 29 – Cálculo do TTOP para os locais de instalação dos sensores de superfície.....157
185
ÍNDICE DE EQUAÇÕES
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