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Universidade de Lisboa

Instituto de Geografia e Ordenamento do Território

Regime térmico do solo e do permafrost na Península de Barton


(Ilha de Rei Jorge, Antártida): Características e fatores condicionantes

Joana Pedro Baptista

Dissertação orientada
pelo Prof. Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira e
coorientada pelo Doutor Pedro José Lopes Tavares Ferreira

Mestrado em Geografia Física e Ordenamento do Território

2021
Universidade de Lisboa
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território

Regime térmico do solo e do permafrost na Península de Barton


(Ilha de Rei Jorge, Antártida): Características e fatores condicionantes

Joana Pedro Baptista

Dissertação orientada
pelo Prof. Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira e
coorientada pelo Doutor Pedro José Lopes Tavares Ferreira

Júri:
Presidente: Professor Doutor Marcelo Henrique Carapito Martinho Fragoso do
Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa
Vogais:
- Professor Doutor Miguel Ángel de Pablo Hernández da Facultad de Ciencias da
Universidad de Alcalá de Henares
- Professor Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira do Instituto de Geografia e
Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa

2021
Este trabalho enquadra-se nos projetos PERMANTAR 2018-19 e PERMANTAR 2019-20
(Permafrost and Climate Change in the Maritime Antarctic) financiados pelo Programa Polar
Português / Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e no projeto Ecophysiology of KGI
terrestrial organisms to reveal mechanisms of adaptation to changing environment, do Korea
Polar Research Institute (KOPRI). Contou com co-financiamento do Swiss GCOS Office.

i
Aos meus pais e ao meu irmão João.

ii
RESUMO

O permafrost é um fenómeno muito sensível às alterações climáticas, encontrando-se


na Antártida Marítima próximo do seu limite climático. Considerando os cenários de
aquecimento previstos, o aprofundamento do conhecimento sobre o estado térmico do
permafrost é de elevada relevância para estimar os impactes das suas mudanças futuras. O
trabalho desenvolvido na Península Barton (Ilha de Rei Jorge) visa contribuir para o
aprofundamento deste conhecimento, numa área em que tal era inexistente. Assim, em
fevereiro de 2019, instalámos uma perfuração com 13m de profundidade para monitorização
do estado térmico do permafrost (King Sejong Station, 128m de altitude, 13 m de
profundidade) que contribui para a Global Terrestrial Network for Permafrost. Os dados do
primeiro ano de observações mostraram as seguintes temperaturas: média do ar de -2 ºC,
média anual do permafrost de -1,5 ºC a 13m de profundidade; TTOP de -1,7 ºC; e média anual
à superfície de -1,8 ºC. Instalaram-se ainda 20 registadores de temperatura de superfície do
solo, com o objetivo de estudar o regime térmico e de identificar os fatores com maior impacte
no mesmo. Uma análise One-Way ANOVA destacou a importância da altitude, curvatura e
cobertura de neve na temperatura média anual do solo, na intensidade e duração das
estações de congelação e descongelação e na frequência dos ciclos de congelação e fusão.
A importância destes fatores ficou evidente na amplitude de valores obtidos em função das
condições locais. A estação de congelação registou entre 438 e 1041 FDD e a de
descongelação (até 02/03/2020), variou entre 149 e 643 TDD. O estudo detalhado dos
regimes térmicos numa área de grande pormenor, apoiado em cartografia geomorfológica de
detalhe, permitiu analisar os regimes térmicos à escala microclimática. Os resultados obtidos
permitiram, pela primeira vez, caracterizar as condições térmicas do permafrost na Península
Barton e a análise dos fatores locais condicionantes.

Palavras-chave: Permafrost, Regime Térmico do Solo, TTOP, Ilha de Rei Jorge, Antártida
Marítima.

iii
ABSTRACT

Permafrost is very sensitive to climate change and in the Maritime Antarctic exists close
to its climatic limits. Considering the predicted climate warming scenarios, assessing the
thermal state of permafrost is of great relevance for estimating the impacts of its future
modifications on the terrestrial and nearshore environment. This research aims at contributing
to filling the gap on the knowledge on the permafrost thermal state and its controlling factors
in Barton Peninsula (King George Island). Therefore, in February 2019, we installed a 13m
deep borehole to monitor the thermal state of permafrost (King Sejong Station borehole, 128m
asl), contributing to the Global Terrestrial Network for Permafrost. The first year of observations
(2019-20) provided a mean annual air temperature of -2 ºC, a mean annual ground
temperature at 13m of -1.5 ºC, a TTOP of -1.7 ºC, and a mean annual ground surface
temperature of -1.8 ºC. In addition, 20 ground surface temperature loggers were installed to
study the ground thermal regime and to identify its controlling factors. A One-Way ANOVA
analysis highlighted the importance of altitude, curvature and snow cover in the mean annual
ground temperature, in the intensity and duration of freezing and thawing seasons and in the
frequency of freezing and thawing cycles. The importance of these factors was evident in the
range of values obtained according to local conditions. The freezing season showed 438 to
1041 FDD and the thawing season (until 02/03/2020), varied between 149 and 643 TDD. The
analysis of the daily thermal regimes in a study area, supported by detailed geomorphological
mapping, allowed the analysis of the thermal regimes and their influencing factors at the
microclimatic scale. The results allowed, for the first time, to characterise the thermal
conditions of permafrost in Barton Peninsula and the analysis of local conditioning factors.

Keywords: Permafrost, Ground Temperature Regime, TTOP, King George Island, Maritime
Antarctica.

iv
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por todos os dias de frio e calor passados entre montanhas e bosques
a norte. Proporcionaram-me a neblina das manhãs que habita nos vales no início dos nossos
passeios e o pôr do sol do fim de tarde entre sombras de carvalhos antigos e blocos graníticos.
Despertaram em mim o gosto pela natureza. Estarei sempre grata pelo apoio, motivação e
liberdade.

Ao meu irmão pelos passeios fugazes nos jardins da Gulbenkian, pelas voltas de
bicicleta em Sintra e pelas chávenas de chá que alegraram as tardes de trabalho.

Ao Professor Doutor Gonçalo Vieira, meu orientador, pela oportunidade proporcionada


de participar no projeto PERMANTAR. Agradeço todo o envolvimento, apoio, sugestões e
correções que permitiram a realização deste trabalho. Não posso deixar de referir a
transmissão de conhecimento em campo absolutamente cativante.

Ao Doutor Pedro Ferreira pela coorientação da tese, pela ajuda prestada no tratamento
das carotes de rocha recolhidas na perfuração King Sejong Station e pela disponibilização de
amostras de rocha recolhidas na Península de Barton.

À equipa da Base Coreana King Sejong Station, em especial ao Doutor Soon Gyu
Hong e ao Doutor Hyoungseok Lee, investigadores principais do projeto Ecophysiology of KGI
terrestrial organisms to reveal mechanisms of adaptation to changing environment, por
proporcionarem o enquadramento científico, bem como pela partilha de dados, que permitiu
a realização dos trabalhos.

Ao investigador Jehyuck Shin, pelo apoio na campanha antártica de 2019/20 e pela


sua disponibilidade em recolher os dados da perfuração King Sejong Station durante o ano
de 2020.

Ao Doutor Daniel Vonder Mühll, pelo entusiasmo na partilha de conhecimento e


experiências vividas na sua primeira perfuração e pelo apoio prestado nas atividades de
campo, realizadas durante a campanha antártica de 2018/19.

Ao Professor Doutor Carlos Neto, admirador da flora e fauna da Península de Barton,


pelo apoio prestado na realização nas atividades de campo durante a campanha antártica de
2018/19.

v
Ao Professor Doutor Pedro Pina, pela disponibilização do levantamento realizado com
VANT na área de pormenor de Jeonjaegyu e pelo apoio prestado na campanha antártica de
2018/19.

Ao Investigador e cinéfilo Vasco Miranda, pelo apoio prestado na campanha antártica


de 2018/19 e pelas partidas de ping-pong realizadas na base.

Ao Professor Doutor António Correia, pela disponibilidade e ajuda prestada na


realização das determinações termofísicas na Universidade de Évora.

Ao Doutor Alper Gürbüz pela ajuda prestada no transporte de material e na instalação


da perfuração King Sejong Station durante a campanha antártica de 2018/19.

Ao Doutor Sangjong Park pelo apoio no acesso aos dados meteorológicos da estação
de King Sejong Station.

A Seonung Choi e Sung Gu Lee, por proporcionarem as condições logísticas para que
se realizassem os trabalhos de campo.

Ao Korea Polar Research Institute (KOPRI) pelo apoio logístico e acolhimento durante
as campanhas antárticas de 2018/19 e 2019/20.

Ao Programa Polar Português (PROPOLAR) e Fundação para a Ciência e a


Tecnologia (FCT) pelo apoio logístico e financiamento que permitiram a realização das
campanhas antárticas de 2018/19 e 2019/20.

Ao Comité Polar Español pelo apoio logístico no transporte dos equipamentos e


materiais utilizados.

Ao Instituto Antártico Chileno (INACH) pelo apoio logístico, armazenamento dos


equipamentos e acolhimento durante a campanha antártica de 2018/19.

Ao Instituto Antartico Uruguayo (IAU) pelo apoio logístico prestado no transporte do


equipamento durante a campanha antártica de 2018/19.

vi
ÍNDICE

RESUMO .............................................................................................................................. iii

ABSTRACT ........................................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v

ÍNDICE ................................................................................................................................. vii

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1

1.1. Importância do permafrost no sistema climático.......................................................... 1

1.2. O permafrost na região da Península Antártica ........................................................... 6

1.2.1. Conceitos ............................................................................................................. 6

1.2.1. O permafrost num clima em mudança .................................................................11

1.2.2. Distribuição espacial do permafrost na Península Antártica ................................15

1.3. Fatores condicionantes do regime térmico do permafrost ..........................................22

1.3.1. Conceitos ............................................................................................................22

1.3.2. Fatores condicionantes........................................................................................29

CAPÍTULO 2 - QUADRO FÍSICO .........................................................................................33

2.1. A Península Antártica ................................................................................................33

2.2. A Península de Barton ...............................................................................................36

CAPÍTULO 3 - MÉTODOS E TÉCNICAS .............................................................................52

3.1. Introdução ..................................................................................................................52

3.2. Cartografia .................................................................................................................54

3.2.1. Cartografia topográfica e modelos derivados.......................................................54

3.2.2. Cartografia geomorfológica de pormenor ............................................................56

3.3. Análise climática ........................................................................................................57

3.3.1. Significado climático do período de estudo: Série de dados de temperatura do ar


da estação de Bellingshausen (1969-2020)...................................................................58

3.3.2. O clima da Península de Barton ..........................................................................58

3.4. Temperaturas de superfície do solo ...........................................................................61

vii
3.4.1. Características dos sensores ..............................................................................61

3.4.2. Distribuição espacial dos sensores ......................................................................62

3.4.3. Índices térmicos ..................................................................................................65

3.4.4. Tipos de regime térmico diário.............................................................................68

3.4.5. Análise dos fatores de controlo no regime térmico do solo ..................................71

3.5. Temperaturas do permafrost ......................................................................................72

3.5.1. Instalação da perfuração King Sejong Station .....................................................72

3.5.2. Características da perfuração e dos sensores .....................................................72

3.5.3. Análise das propriedades termofísicas das carotes e amostras rochosas ...........75

3.6. O modelo TTOP .........................................................................................................79

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE CLIMÁTICA DO PERÍODO DE ESTUDO.....................................82

4.1. Representatividade do período de estudo ..................................................................82

4.1.1. Temperatura média mensal .................................................................................82

4.1.2. Precipitação média mensal..................................................................................84

4.1.3. Espessura da cobertura de neve .........................................................................85

4.1.4. Direção e velocidade do vento.............................................................................86

CAPÍTULO 5 - AVALIAÇÃO DO CONTROLO DA TOPOGRAFIA NOS REGIMES TÉRMICOS


DO SOLO .............................................................................................................................88

5.1. Introdução ..................................................................................................................88

5.2. Topografia e regimes térmicos do solo: análise de variância .....................................88

5.3. Análise dos efeitos dos fatores de controle sobre os regimes térmicos de superfície do
solo ...................................................................................................................................99

5.3.1. Análise das temperaturas do solo ao longo de um perfil altitudinal ....................100

5.3.2. Análise das temperaturas do solo no Monte Goguryeo para avaliar o efeito da
exposição ....................................................................................................................104

5.3.3. Análise das temperaturas do solo no vale de Jeonjaegyu para avaliar o efeito da
curvatura .....................................................................................................................109

5.3.4. Análise das temperaturas do solo no Vale de Araon e o efeito da posição


topográfica ..................................................................................................................114

viii
5.3.5. Análise das temperaturas do solo próximo do neveiro N3 em Jeonjaegyu e o efeito
da cobertura de neve ..................................................................................................118

5.3.6. Conclusões........................................................................................................123

CAPÍTULO 6 - O REGIME TÉRMICO DO SOLO E PERMAFROST NA ÁREA DE


JEONJAEGYU ...................................................................................................................126

6.1. Introdução ................................................................................................................126

6.2. Caracterização geomorfológica................................................................................126

6.2.1. As vertentes do circo .........................................................................................128

6.2.2. Fundo do circo e do valeiro do Monte Jeonjaegyu .............................................130

6.2.3. Esporão rochoso da perfuração King Sejong Station.........................................130

6.2.4. Patamar do Monte Gaya....................................................................................131

6.3. Regimes térmicos do solo diários ............................................................................135

6.3.1. Regimes térmicos diários no vale de Jeonjaegyu ..............................................135

6.3.2. Regimes térmicos diários na base do neveiro N3 ..............................................141

6.3.3. Conclusões........................................................................................................145

6.4. O regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station ........................146

6.4.1. Caracterização macroscópica da carote da perfuração .....................................146

6.4.2. Análise das propriedades termofísicas da carote de rocha ................................149

6.4.3. Regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station ....................151

6.4.4. Conclusões........................................................................................................155

6.5. Aplicação do modelo TTOP na perfuração King Sejong Station...............................155

7. CONCLUSÃO.................................................................................................................160

8. BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................168

ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................................178

ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................................184

ÍNDICE DE EQUAÇÕES ....................................................................................................186

ix
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1. Importância do permafrost no sistema climático

O permafrost, conceito que, se refere ao substrato que permanece a uma temperatura


inferior ou igual a 0ºC por um período mínimo de dois anos consecutivos (van Everdingen,
1998), distribui-se no planeta pelas altas latitudes e regiões montanhosas ocupando 17% das
áreas emersas do Hemisfério Norte (van Everdingen, 1998; French, 2007; Biskaborn et al.,
2019). Fenómeno condicionado pelo balanço energético entre o solo e a atmosfera, o
permafrost é sensível a alterações no clima, mas também a alterações nas condições do solo
e da sua superfície. Tal sensibilidade é particularmente relevante no contexto de aquecimento
da atmosfera que, segundo Biskaborn et al. (2019) foi duas vezes mais rápido nas regiões
polares e montanhosas do que em outra parte do planeta. No mesmo trabalho, é ainda referido
que um aumento de 2 ºC até ao ano de 2100, pode levar à degradação do permafrost sobre
uma área significativa, o que teria sérias implicações nos ecossistemas, sistemas
hidrológicos, atmosférico, entre outros.

No primeiro relatório, publicado em 1990, do Intergovernmental Panel on Climate


Change (IPPC, 1990), as alterações no clima foram avaliadas segundo projeções de emissão
de gases com efeito de estufa, derivadas de quatro cenários com diferentes níveis de
mitigação. No cenário A (Business-as-Usual) para um contexto onde foram tomadas poucas
ou nenhumas medidas de controlo, o aumento da temperatura média global do ar previsto no
decorrer do presente século atingia os 0,3 ºC por década (IPCC, 1992).

No relatório especial de 2018, Special Report on Global Warming of 1.5 °C, estima-se
que as atividades humanas tenham já provocado um aquecimento de 1 ºC acima dos níveis
pré-industriais, sendo previsto um aquecimento de 1,5 ºC entre 2030 e 2052 (IPCC, 2018).
Este aumento terá uma distribuição desigual no planeta, sendo mais pronunciado nas regiões
polares com impactes na cobertura de neve, extensão dos glaciares e no estado térmico do
permafrost (Figura 1) (IPCC, 2019).

Figura 1 - Temperaturas médias do ar projetadas para um aumento da temperatura em 1,5 e 2 ºC (IPCC, 2018)

1
A monitorização do estado térmico do permafrost foi descrita por Smith & Brown (2009)
como essencial para o aperfeiçoamento das previsões das alterações climáticas futuras, e
para a verificação de modificações à escala regional e global provocadas pelas mesmas.
Guglielmin & Cannone (2012), que reforçam a importância da Antártida para o clima global,
mencionam a utilidade da monitorização e estudo do permafrost para a compreensão das
recentes alterações climáticas e, do seu impacte na criosfera.

A importância da monitorização do estado térmico do permafrost é fortalecida em 2019


com a publicação do Special Report on the Ocean and Cryosphere in a Changing Climate,
onde é referido um aumento da temperatura global do permafrost, nas regiões polares e
montanhosas de 0,29 ºC desde 1980 (IPCC, 2019). Em regiões onde este aumento de
temperatura contribui para a degradação de um permafrost rico em matéria orgânica, pode
haver o aumento da libertação de gases com efeito de estufa (dióxido de carbono e metano)
para a atmosfera e oceano. Não obstante o destaque dado ao permafrost nesse relatório, o
seu impacte no ciclo do carbono não é ainda completamente contabilizado nos modelos dos
sistemas terrestres que dão origem às projeções do IPCC. Tal deve-se ao carácter
subsuperficial do permafrost, à sua difícil parametrização nos modelos dos sistemas terrestres
e à necessidade de um maior entendimento sobre os fenómenos envolvidos na sua
degradação (Biskaborn et al., 2019; IPCC, 2019).

Na Antártida Marítima o aumento de temperatura e degradação do permafrost, com


um reduzido conteúdo de matéria orgânica, terá maiores implicações na dinâmica dos
ecossistemas terrestres, nomeadamente nos processos pedológicos, hidrológicos e na
dinâmica geomorfológica (Bockheim, 1995; Vieira et al., 2010; Convey & Peck, 2019).

Na Península Antártica (PA), esta degradação do permafrost é já referida por


Bockheim et al. (2013) como resultado do aquecimento “dramático” do clima de 2,4 a 3,4 ºC
durante os últimos 50 anos. Normalmente a monitorização do estado térmico do permafrost e
da sua degradação, são realizadas através de perfurações instaladas, responsáveis pelo
registo da temperatura em profundidade.

2
Figura 2 - Localização de perfurações no continente Antártico (Vieira et al., 2010)

No território antártico, o número de perfurações para monitorização do estado térmico


do permafrost é mais reduzido face ao que se verifica no Hemisfério Norte. Ademais, no que
concerne à sua distribuição e utilizando as regiões de Greene et al. (1967) citado por Vieira
et al. (2010), as perfurações concentram-se preferencialmente na Terra Rainha Maud, na
Terra de Vitória e na região norte da Península Antártica (Figura 2). No que diz respeito à
profundidade, considerando a base de dados da Global Terrestrial Network for Permafrost,
apenas 14 perfurações possuem mais de 10 metros, enquanto apenas 7 têm mais de 25
metros (Streletskiy et al., 2017; "Global Terrestrial Network for Permafrost (GTN-P) - Maps of
Boreholes,”acedido a 24 de janeiro de 2020).

Neste cenário de alterações do clima, com um aquecimento das temperaturas na


Antártida Marítima e incerteza quanto à evolução do estado térmico do permafrost, é relevante
o aprofundamento do conhecimento deste fenómeno, sobretudo numa das regiões mais
sensíveis, com obtenção da temperatura para profundidades superiores a 10 metros.

O trabalho desenvolvido no âmbito da dissertação de mestrado, na Península de


Barton, ilha de Rei Jorge, visa precisamente contribuir para o aprofundamento deste
conhecimento através das atividades realizadas nas campanhas antárticas de 2018/19 e
2019/20, e do processamento e análise dos dados obtidos com uma contextualização teórica
do fenómeno permafrost e da sua distribuição na Península Antártica.

3
Começando pela campanha antártica 2018/2019, as atividades realizadas na
Península de Barton consistiram na instalação da perfuração King Sejong Station, com 13
metros de profundidade, e na instalação de um conjunto de 20 sensores térmicos iButton, a
aproximadamente 2 cm de profundidade, para registo das temperaturas do solo à superfície.
De forma complementar, foram ainda instalados dois postos termométricos para registo das
temperaturas do ar num gradiente altitudinal.

A perfuração King Sejong Station, localizada na área oeste da península, num


afloramento rochoso a 128 m de altitude, foi instalada e instrumentalizada com o intuito de
registar as temperaturas a diferentes profundidades e permitir uma análise do estado térmico
do permafrost no período de estudo, ocorrido entre 2 de março de 2019 e 19 de março de
2020. O conjunto de sensores térmicos iButton, instalados na península de acordo com
diferentes fatores topográficos de que são exemplo a altitude, exposição, declives e curvatura
topográfica, visaram o registo das temperaturas do solo, em intervalos de 3 horas, para o
período de estudo de 2 de março de 2019 a 31 de janeiro de 2020. Finalmente, os dois postos
termométricos, instalados a 13 e 128 m de altitude, tiveram como função o registo da
temperatura do ar durante o período de estudo para correlação com as temperaturas
registadas nas estações de Bellingshausen (Península de Fildes) e de King Sejong (Península
de Barton), e para suporte na modelação das temperaturas do solo à superfície.

Na campanha antártica 2019/20, as atividades desempenhadas permitiram a recolha


dos dados registados, a manutenção dos equipamentos instalados e a cartografia
geomorfológica da área adjacente à perfuração King Sejong Station.

As atividades levadas a cabo na Península de Barton e o trabalho desenvolvido no


âmbito da dissertação de mestrado, foram movidos por cinco objetivos principais. O primeiro,
caracterizar o estado térmico do permafrost na Península de Barton, ilha de Rei Jorge. Para
tal, foram analisadas as temperaturas registadas na perfuração de King Sejong Station com
um intervalo de 1 hora, a diferentes profundidades até 13 metros - durante o período de
estudo. O segundo objetivo, estudar o regime térmico do solo à superfície e identificar as
condições físicas com maior impacte no regime térmico, esteve afeto às temperaturas
registadas pelos sensores térmicos iButton, instalados a 2 cm de profundidade. A análise
destas temperaturas permitiu a identificação dos regimes térmicos do solo ao longo do período
de estudo, bem como a identificação dos regimes térmicos diários para os diferentes locais
de instalação, selecionados de acordo com diferentes características topográficas.
Adicionalmente, o conhecimento das características físicas da superfície, permitiu uma
avaliação das condições com maior impacte nos regimes térmicos do solo através da
aplicação da análise de variância One-Way ANOVA.

4
O terceiro objetivo proposto, é o de compreender os impactes do regime térmico do
solo nas formas periglaciárias. Desta forma, foi necessário a elaboração da cartografia
geomorfológica, realizada para a área de Jeonjaegyu, envolvente da perfuração King Sejong
Station. O quarto objetivo, avaliar a sensibilidade climática do permafrost e aferir os impactes
possíveis na dinâmica dos ecossistemas, constituiu um ponto de reflexão e discussão, no qual
o conhecimento do estado térmico do permafrost e o conhecimento das temperaturas à
superfície do solo, condicionadas pelas características topográficas, foram relacionados com
as tendências de evolução do clima no contexto territorial do arquipélago das Shetland do Sul.
O último objetivo, de carácter prático, foi o de contribuir para a melhoria da densidade da
Global Terrestrial Network for Permafrost (GTN-P) no contexto antártico, traduzido na
instalação e instrumentalização da perfuração King Sejong Station com 13 metros de
profundidade.

Importa referir que as atividades realizadas nas campanhas antárticas na Península


de Barton, estiveram enquadradas no projeto PERMANTAR. Este projeto visa contribuir para
o fortalecimento da rede de observatórios de permafrost na região oeste da Península
Antártica, também designada PERMANTAR - Western Antarctic Peninsula Permafrost
Observatories, criada em 2007 pelo CEG/IGOT - Universidade de Lisboa. Com um importante
contributo para a Global Terrestrial Network for Permafrost, a rede PERMANTAR integra
atualmente 14 perfurações com profundidades entre 1 e 25 metros situadas na Península
Antártica (Cierva Cove) e em 5 ilhas adjacentes Dundee, Rei Jorge, Livingston, Deception e
Amsler (“PERMANTAR | Western Antarctic Peninsula Permafrost Observatories - News,”
acedido a 23 fevereiro 2020). O foco neste território advém da sua localização na região limite
setentrional do permafrost antártico, da complexa resposta às alterações climáticas e da
necessidade de melhor compreender as consequências dessas mesmas alterações sobre
ambientes terrestres muito sensíveis e relevantes do ponto de vista ecológico (Vieira et al.,
2010; Bockheim et al., 2013; Biskaborn et al., 2019). Recuperando a noção de que o
permafrost possui uma resposta direta à variação das condições climáticas, e que estes
ambientes são dominados pela sua presença, a monitorização é fundamental para um maior
entendimento dos impactes exercidos na dinâmica dos ecossistemas.

A Global Terrestrial Network for Permafrost, anteriormente mencionada, surge da


necessidade de estabelecer uma rede global para a monitorização do permafrost. Criada pela
International Permafrost Association, (IPA) e associada ao Global Climate Observing System
(GCOS) e à Global Terrestrial Observing Network (GTOS), esta rede de observatórios de
longo prazo, visa um maior entendimento da distribuição espacial, estado térmico e tendência
de evolução do permafrost, bem como da variabilidade da espessura da camada ativa
(Streletskiy et al., 2017).

5
No contexto antártico, o desenvolvimento desta rede impulsionada pelo International
Polar Year (IPY), esteve dependente do grupo Antarctic Permafrost, Periglacial Environments
and Soils (ANTPAS). Derivado do grupo de trabalho da IPA, com foco no Hemisfério Sul, o
projeto ANTPAS definiu como objetivo a promoção da investigação interdisciplinar de forma
a potenciar o conhecimento sobres as dinâmicas ambientais nas áreas livres de gelo da
Antártida (Guglielmin & Vieira, 2014). Para tal, foi necessário estabelecer várias colaborações
internacionais com foco no estudo da Península Antártica, envolvendo países como Argentina,
Brasil, Chile, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos da América, Itália, Portugal, Reino
Unido e Rússia (Guglielmin & Vieira, 2014; Streletskiy et al., 2017).

1.2. O permafrost na região da Península Antártica

1.2.1. Conceitos

a) Permafrost

A perceção da existência de um solo permanentemente gelado remonta ao século XVI,


com descobertas a serem documentadas juntamente com as primeiras tentativas de
explicação do fenómeno. No continente americano, em 1597, Martin Frobisher refere pela
primeira vez a presença de um solo permanentemente gelado na América do Norte. No
continente euroasiático, consequência da intensificação das rotas entre a Rússia e China, as
descobertas do fenómeno tiveram destaque em 1598, com a publicação do trabalho A
Description why there is no Way to sail from Archangel to the Chinese State and then to East
India, onde era mencionada a presença de gelo permanente no solo, consequência da menor
incidência de radiação solar, característica das altas latitudes no continente europeu
(Williams, 1965; Yershov, 1998). Embora o fenómeno fosse relacionado com a diminuição da
radiação solar, carecia de um entendimento científico objetivo. Este teve início no século XVIII,
com o importante contributo de Lomonosov que apresentou uma explicação científica para a
distribuição do solo permanente gelado na natureza. Em 1757, refere que "os vastos territórios
da Sibéria (…) bem como, os que compõem as altas montanhas que separam a Sibéria da
China, têm solos com espessuras geladas entre 1 e 1,5 m durante o verão". Como justificação,
o autor apresenta a sobreposição do frio do inverno ao calor do verão motivado pelo clima da
região e pela "privação do efeito atmosférico" a altitudes mais elevadas próximas da camada
fria da atmosfera. Lomonosv foi também responsável por estabelecer a ideia de que as trocas
de calor entre o solo e o ambiente envolvente, eram o principal fator responsável pelo estado
térmico da camada superficial da litosfera (Williams, 1965; Yershov, 1998).

6
Na segunda metade do século XVIII, ocorreu uma intensa produção de conhecimento
relativo à distribuição do solo gelado na Sibéria com as expedições de Vrangel, Matyushkin,
Koz'min, as primeiras medições de Erman em 1825 num poço com 18 metros no Berezovo e
com a expedição de Middendorf entre 1842 e 1845 entre o Mar de Okhotsk e o rio de Yenisei,
que deu origem às primeiras hipóteses sobre a espessura do solo gelado (Williams, 1965;
Yershov, 1998). A terminologia utilizada variava entre academias e os critérios não eram ainda
padronizados.

No século XIX, o estudo do solo permanentemente gelado foi marcado pela


associação da Criologia à engenharia, o que contribuiu para uma maior complexidade dos
critérios utilizados na definição do permafrost. Os estudos de Maydel, Yachevskiy, Obruchev
e Koz'min na Sibéria, e Leffingwell, Brooks e Porsild na América do Norte, mais concretamente
no Alasca e Canadá, tinham nessa altura o propósito de contribuir para adaptação das
infraestruturas construídas nas áreas onde os processos dinâmicos associados ao
permafrost, provocavam deformações e limitavam a construção (Williams, 1965; Yershov,
1998). Para a intensificação do conhecimento sobre o solo permanentemente gelado, foi ainda
relevante o confronto entre as duas potências da II Guerra e o carácter estratégico de alguns
dos territórios no Ártico e Subártico, que foram ocupados por bases militares e outras
infraestruturas de que são exemplo as linhas férreas (Williams, 1965; Yershov, 1998). Esta
ocupação estava dependente de um maior conhecimento da influência do permafrost na
superfície de forma a minimizar impactes ou danos que tornassem as infraestruturas
construídas inoperacionais.

No processo de consolidação do conhecimento, ocorreram alterações na terminologia


utilizada para definir o solo permanentemente gelado. São exemplos de terminologias usadas
na literatura: permafrost, perennially frozen ground, pergelisol, pereletok (Washburn, 1979;
Yershov, 1998; van Everdingen, 1998; French, 2007).

O termo permafrost, segundo a definição de Muller (1947), refere-se a uma espessa


camada de solo, depósito superficial ou substrato rochoso que se estende da superfície até
uma profundidade variável, com uma temperatura inferior à de congelação por um período
contínuo de tempo (Washburn, 1979). Este período é variável, podendo estender-se de dois
até vários milhares de anos. Muller adotou como critério base a presença de material a uma
temperatura inferior a 0 ºC, não considerando fatores como a textura, a litologia, composição
química ou o conteúdo em água, que condicionam o ponto de congelação. Esta perspetiva à
variabilidade de condições presentes nos ambientes periglaciários ou montanhosos, levou a
que outros autores procurassem definições mais flexíveis e abrangentes. Exemplo disso, foi
Stearns (1966), apresentado por Washburn (1979), que reformulou o conceito, atribuindo uma

7
maior relevância à influência do conteúdo de água presente no solo. Desta forma, o conceito
de permafrost seria utilizado quando o material permanecesse a uma temperatura inferior a 0
ºC por um período superior a dois anos e se, na presença de água, uma “percentagem
suficientemente elevada” desta estivesse congelada de forma a cimentar as partículas
minerais e orgânicas. Embora o desenvolvimento de novas definições tivesse como objetivo
enriquecer e dotar de maior rigor o conceito permafrost, essas tentativas limitaram a sua
utilização isenta de ambiguidades. Em 1988, no decorrer da 5th International Conference on
Permafrost na Noruega, a problemática foi abordada pela International Permafrost Association
que assumiu a tarefa de “desenvolver um conjunto de termos relacionados com o permafrost,
internacionalmente aceites, para utilização na engenharia e ciência” (van Everdingen, 1998).
No seguimento dos trabalhos desenvolvidos, é publicada em 1998, a primeira versão do Multi-
Language Glossary of Permafrost and Related Ground-Ice Terms (van Everdingen, 1998).
Descrita no documento, a definição de permafrost que também é a adotada no presente
trabalho, é referente ao solo ou rocha, que podem incluir matéria orgânica, e que permanecem
a uma temperatura inferior ou igual a 0ºC por um período mínimo de dois anos consecutivos
(van Everdingen, 1998).

O desenvolvimento do permafrost está dependente do processo de agradação,


condicionado pelo regime térmico. O processo de agradação pode ser de carácter
singenético, se houver sedimentação, ou epigenético, sem a ocorrência de sedimentação
(Washburn, 1979). No processo de agradação epigenético, a formação de permafrost,
posterior à formação da rocha ou solo, ocorre através da segregação de gelo nos horizontes
superiores, resultado da deslocação da água num sentido ascendente (Washburn, 1979). No
processo singenético, o permafrost é formado juntamente com o solo ou rocha pelo processo
de sedimentação e congelação sem deslocação da água em profundidade (Washburn, 1979).

b) Camada Ativa e Camada de Transição

Em áreas de permafrost, a superfície do solo ou rocha afetada por um ritmo de


congelação e descongelação sazonal, controlado pelo aquecimento da superfície no Verão e
pelo seu arrefecimento durante o Inverno, é designada por camada ativa.

A camada ativa, influenciada diretamente pelo regime térmico do solo, tem uma
espessura variável, controlada pela capacidade de aquecimento (Figura 3). Nas regiões
polares, tende a ser mais fina, com uma espessura decimétrica, evoluindo para as regiões
subárticas ou subantárticas onde a sua espessura supera 1 metro (Ballantyne & Harris, 1994;
French, 2007).

8
Nas regiões montanhosas, a espessura e composição da camada ativa estão dependentes
do clima, dos declives, da altitude, do tipo de substrato e espessura, e da influência dos
glaciares, entre outros aspetos, podendo resultar numa camada composta por sedimentos
finos ou em acumulações de detritos em formas morénicas ou em cones de detritos (Haeberli
& Gruber, 2009).

Entre a base da camada ativa e o topo do permafrost, encontra-se a camada


transiente, geralmente caracterizada pela presença de um horizonte rico em gelo (French,
2007). Verifica-se que nos anos em que o aquecimento no verão é mais intenso, o
descongelamento da camada ativa propaga-se até à camada transiente, provocando uma
maior concentração de água sobre o topo do permafrost. A presença do fluído sobre uma
superfície sólida promove uma maior instabilidade do material que se lhe sobrepõe, podendo
dar origem a rápidos movimentos de massa ou intensificar o processo de solifluxão (French,
2007). Andersson (1906), citado por French (2007), descreve a solifluxão como um o
movimento lento de uma massa saturada em água de uma área elevada para uma área mais
baixa. Esta camada transiente, representada no modelo vertical Figura 3, é de difícil
delimitação nos dados térmicos do solo. Não obstante, nas carotes de material não
consolidado, a camada transiente pode ser identificada pela presença de lentículas ou
horizontes enriquecidos em gelo.

A presença de um horizonte rico em gelo tem um forte impacte no regime térmico do


solo, uma vez que condiciona os valores de condutividade térmica e as trocas de calor latente
(Williams & Smith, 1989; French, 2007). A condutividade térmica, a velocidade de propagação
do calor é mais elevada no gelo do que na água em estado líquido ou no solo descongelado
(Williams & Smith, 1989). Desta forma, a presença de um horizonte rico em gelo, promove a
propagação de calor no solo de forma mais rápida em profundidade. Esta pode resultar num
aquecimento e fusão total ou parcial do horizonte de gelo e na absorção de calor latente pela
mudança de estado. Esta absorção de calor, passível de observação no regime térmico do
solo, resulta num nível em que a temperatura é constante em torno dos 0 ºC, até que todo o
gelo seja fundido.

9
Figura 3 - Modelo de perfil vertical com representação da camada ativa, camada de transiente e permafrost
adaptado de French (2007)

c) Classificação do permafrost

De acordo com a distribuição, o permafrost pode ser classificado segundo a sua


distribuição no planeta, de acordo com a latitude e altitude, e segundo a continuidade da sua
presença.

French (2007) apresenta uma classificação do permafrost de acordo com as regiões


geográficas do planeta, diferenciando o permafrost latitudinal ou polar, o permafrost alpino e
o permafrost de planalto. O permafrost latitudinal, diz respeito ao permafrost que se encontra
nas altas latitudes (acima dos 66º) e onde, por consequência, a temperatura média anual do
ar é negativa. Brown & Péwé (1973) apresentam como limite térmico, para as regiões com
permafrost mo continente americano, a isotérmica dos -8 ºC de temperatura média anual do
ar. O permafrost alpino, encontra-se em regiões montanhosas nas latitudes baixas, médias
ou altas, onde o tipo de solo, a altitude e a cobertura de neve permitem a existência do
fenómeno. Por sua vez, o permafrost de planalto combina características dos dois tipos de
permafrost anteriormente mencionados, mas com uma associação a um clima frio e seco
continental. Com presença nos planaltos do continente asiático, como é o caso do Planalto
tibetano, este tipo de permafrost ocorre em áreas onde a temperatura média anual do ar varia
entre -3,5 e 0 ºC (French, 2007).

10
Relativamente à classificação baseada na distribuição espacial do fenómeno, são
contempladas quatro classes de permafrost (Figura 4): contínuo; descontínuo; esporádico; e
isolado. O permafrost contínuo, cobre 90 a 100% da superfície do solo e ocorre em regiões
de climas frios e em altas latitudes, onde apenas o solo por baixo de grandes corpos de água
se encontra descongelado, dando origem a taliks (Washburn, 1979; Ballantyne & Harris, 1994;
French, 2007). Estes últimos constituem níveis de solo descongelado, que ocorrem devido a
anomalias locais de carácter térmico, hidrológico e/ou químico (van Everdingen, 1998).

A latitudes mais baixas, onde o clima é menos severo e a insolação permite o


desenvolvimento de uma cobertura vegetal ou de neve menos espessa, o desenvolvimento
de solo e de corpos de água, o permafrost torna-se descontínuo, cobrindo 50 a 90% da
superfície. A sua presença é determinada pela conjugação de condições favoráveis que, por
serem variáveis, resultam num padrão espacial mais complexo (Washburn, 1979; Ballantyne
& Harris, 1994; French, 2007). Nos casos do permafrost esporádico, que cobre 10 a 50% do
terreno, a sua presença restringe-se a áreas que pela sua localização ou pelas suas
características físicas, permitem a ocorrência de permafrost, normalmente associado a
sedimentos orgânicos de turfeira (French, 2007).

N S

Figura 4 - Distribuição espacial do permafrost num transecto latitudinal norte-sul, adaptado de Ballantyne &
Harris (1994)

1.2.1. O permafrost num clima em mudança

O permafrost é um fenómeno muito sensível às alterações do clima, nomeadamente


ao aumento da temperatura do ar e às mudanças no regime de neve (Riseborough, 2002;
Biskaborn et al., 2019). Durante a última década, o aumento de temperatura foi desigual no
planeta, tendo ocorrido com maior intensidade nas regiões polares e montanhosas, áreas
normalmente associadas à presença de permafrost. Desta forma, a perturbação sobre estes
ambientes, resulta numa perturbação do estado térmico do permafrost, com potenciais
impactes significativos. Biskaborn et al. (2019) referem que mesmo numa situação em que o

11
aumento da temperatura não ultrapasse os 2 ºC até ao ano de 2100, o permafrost manterá
uma tendência de degradação afetando uma área significativa, com consequências nos
ecossistemas, nos sistemas hidrológicos e na integridade das infraestruturas. Este
aquecimento do clima, terá também impactes no retrocesso dos glaciares, na desintegração
das plataformas de gelo e no processo de greening do Ártico e da Antártida Marítima, com o
desenvolvimento da flora sobre o solo (Amesbury et al., 2017).

Turner et al. (2005, 2016) e Vieira et al. (2010), destacam a Península Antártica como
uma das regiões da Terra onde o aumento das temperaturas médias do ar tem sido mais
acentuado, com uma subida de aproximadamente 2,5 ºC (estação de Vernadsky) desde 1950.
Adicionalmente, Bockheim et al. (2013) referem, para a região ocidental da península, um
aumento da temperatura média anual do ar de 3,4 ºC durante o mesmo período. Na região
oriental, onde o número de estações de monitorização é mais reduzido, a desintegração da
plataforma de gelo Larsen, constitui um indicador de modificações do clima (Turner et al.,
2005).

Na análise das alterações térmicas do permafrost, feita com recurso aos dados
provenientes das perfurações da GTN-P, Biskaborn et al. (2019) concluíram que, no período
2007-2016, a temperatura do solo próxima da profundidade de amplitude anual zero, onde as
variações térmicas sazonais no solo não são significativas, aumentou em todas as zonas de
permafrost da Terra. Na Antártida, o aquecimento do permafrost nas perfurações analisadas
foi de 0,37 ºC (±0,10ºC/década), mas sem significado estatístico e não correspondendo à
tendência de forte aquecimento global (Biskaborn et al., 2019) (Figura 5). Este facto, deve-se
ao número reduzido de perfurações, conjugado com a sua em concentração em áreas com
condições ambientais muito diferentes (especialmente no norte da Península Antártica e na
Terra de Victoria). Tal impede a definição de uma tendência para a evolução da temperatura
do permafrost (Figura 5).

12
Figura 5 - Temperatura do permafrost e variação da temperatura à profundidade da amplitude anual de zero
entre 2014-2016 (Biskaborn et al., 2019)

A dificuldade em identificar tendências na evolução térmica do permafrost está


também afeta à complexidade das tendências de evolução da temperatura do ar. Esta
complexidade resulta da existência limitada de séries de dados com um período mínimo de
30 anos (Gonzalez & Fortuny, 2018).

Jones et al. (2019) na análise dos dados de temperatura do ar em diferentes estações


do Hemisfério Sul, referem uma tendência de aquecimento significativa sobre as altas e
médias latitudes nos últimos 60 anos. No caso do continente Antártico, esta tendência é mais
heterógena, uma vez que a temperatura não muda de forma constante espacial ou
temporalmente entre as diferentes regiões. Para esta heterogeneidade contribuem fatores
com um forte impacte no clima regional de que são exemplo a Oscilação Antártica ou Southern
Annular Mode (SAM), a oscilação do El Niño (ENSO), a depressão do Mar de Amundsen ou
Amundsen Sea Low (ASL), e a Oscilação do Pacífico ou Interdecadal Pacific Oscillation (IPO).

A Oscilação Antártica corresponde à deslocação norte-sul dos ventos fortes


constantes de oeste (correntes de jato) (Ho et al., 2012). No contexto antártico, a tendência
positiva desta oscilação, com os ventos a deslocarem-se para sul, condicionada pela depleção
de ozono na atmosfera, provocou mudanças regionais na circulação atmosférica. Estas
mudanças possuem maior ou menor intensidade de acordo com o estado do fenómeno
ENSO, nomeadamente com as situações de El Niño e El Niña. Por sua vez, a baixa pressão

13
no Mar de Amundsen, tem tido um papel relevante na redução do gelo marinho e no aumento
das temperaturas, resultado do aumento do fluxo de ventos e da deslocação para norte da
depressão, com forte impacte no clima na região oeste do continente e Península Antártica.
A Oscilação do Pacífico, corresponde a variações da temperatura do oceano à superfície, com
influência nas temperaturas na região antártica e na dinâmica da ALS (Oliva et al., 2017; Jones
et al., 2019; Turner et al., 2019)

Embora os fatores SAM, ENSO, ACL e IPO, tenham contribuído para uma tendência
marcada de aquecimento durante a segunda metade do século XX no continente antártico,
durante períodos mais curtos, são observadas tendências de arrefecimento regionais,
nomeadamente nos meses de dezembro a fevereiro no período de 1999 a 2016, e nos meses
de março a abril no período de 1979 a 2016, com especial destaque para a região oriental da
Antártida (Jones et al., 2019). Na Península Antártica, esta tendência de arrefecimento de
curta duração na primeira década do século XXI, atenuada pela tendência de aquecimento a
longo prazo, é muito marcada, tendo sido mencionada por Oliva et al. (2017), Gonzalez &
Fortuny (2018) e Turner et al. (2016, 2019). Turner et al. (2016) referem que a diminuição da
temperatura do ar nestes períodos, se deve a uma maior frequência dos ventos frios
provenientes do quadrante este e que dão origem a condições ciclónicas na região norte do
Mar de Weddell. As modificações na circulação provocaram um aumento da advecção de gelo
até à costa este da Península Antártica. Os autores enfatizam ainda que estas mudanças da
temperatura registadas a uma escala temporal decenal, estão associadas com a variabilidade
interna natural da circulação atmosférica regional, e que durante os últimos 1000 anos a região
experienciou períodos de rápido aquecimento e arrefecimento semelhantes.

A variabilidade interna natural da circulação atmosférica regional, conjugada com a


inexistência de séries longas de dados e com a sensibilidade local às interações entre a
atmosfera, oceano e gelo, torna complexa a perceção dos efeitos das alterações climáticas
(Figura 6) (Biskaborn et al., 2019).

14
Figura 6 - Variação da temperatura anual do permafrost em diferentes regiões (Biskaborn et al., 2019)

1.2.2. Distribuição espacial do permafrost na Península Antártica

No continente antártico, Cañadas (2008) diferencia três ambientes geográficos


distintos. Os inlandsis e domos glaciares que ocupam 98% da superfície, as montanhas e
relevos altos gelados com presença estimada em aproximadamente 2% da superfície, e por
fim, as áreas livres de gelo dispersas pela Antártida Marítima e presentes em 0,05% da
superfície. Na Península Antártica e nas áreas insulares adjacentes, as áreas livres de gelo
representam 6 000 km2 e correspondem na sua maioria a desertos frios recentemente
deglaciados que ocupam geralmente extensões até poucas dezenas de quilómetros
quadrados. O estudo e monitorização do permafrost neste contexto territorial, é feito com
suporte nos dados térmicos obtidos das perfurações pertencentes à GTN-P e em estudos de
resistividade elétrica, ganhando especial relevância pela sensibilidade da região às variações
climáticas. As atividades de perfuração e os estudos de resistividade, são geralmente
coordenados no quadro do grupo Antarctic Permafrost, Periglacial Environments and Soils
(ANTPAS) do Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR) e da International
Permafrost Association (IPA) (Cañadas, 2008; Guglielmin & Vieira, 2014).

15
Dividimos a análise do estado térmico do permafrost na Península Antártica (PA) em
9 áreas, baseando-nos nas respetivas perfurações (Figura 7):

− Cierva Cove (15 m de profundidade) a 64 ºS e 60 ºW na PA;


− Ilha de Adelaide a oeste da Península Antártica com a perfuração de Rothera (31 m)
a 67 ºS e 68 ºW;
− Ilha James Ross e a Ilha Seymour (Marambio) a 67 ºS e 57 ºW na parte este da
península com perfurações de 8,3 e 8 m respetivamente;
− Ilha de Amsler (14 m) a 64 ºS e 64 ºW;
− Ilha Livingston nas Shetland do Sul a 62 ºS e 60 ºW
− Ilha Deception nas Shetland do Sul a 62 ºS e 60 ºW
− Ilha Rei Jorge nas Shetland do Sul a 62 ºS e 58 ºW;
− Orcadas Sul com a perfuração de Signy (2,5 m).

A presença de permafrost nestes territórios foi estimada por Bockheim (1995) que,
através das isotérmicas da temperatura média anual do ar, definiu como limite do permafrost
contínuo na PA, o paralelo dos 68 ºS. O permafrost descontínuo, por sua vez, estaria restrito
às áreas mais elevadas das ilhas subantárticas da Georgia do Sul, das ilhas de Sandwich, de
Bouvetoya, das ilhas de Princípe Edward e Marion, das ilhas Crozet, Kerguelen, Heard,
MacDonald, das ilhas Macquaire e, por fim, das ilhas Falkland e Auckland (Bockheim, 1995).
Mais tarde, Bockheim et al. (2013) definem como limite para a presença de permafrost na PA,
uma temperatura do ar média anual inferior ou igual a -2,5 ºC ao nível do mar. Tendo em
consideração a dissimetria entre a região oeste e este na península, importa referir que a
diferença da temperatura média anual do ar à mesma latitude, varia entre 3 a 5 ºC, sendo
mais quente na região oeste. Os gradientes térmicos latitudinais são, muito diferentes com a
região oeste a registar -0,77 ºC/grau de latitude e, a região este a registar -0,85 ºC /grau de
latitude.

Considerando as 8 áreas previamente mencionadas, dispersas pela península, cabe


analisar os diferentes valores referentes à temperatura média anual à superfície do solo
(TMASS) à temperatura média anual do solo (TMAS), à espessura da camada ativa e à
temperatura no topo do permafrost, sintetizados na Tabela 1 e modelados por Obu et al.
(2020) para o período de 2000 a 2017 (Figura 7).

Na Terra de Graham, a TMAS modelada evidencia um aumento da temperatura na


região este, com valores entre -12 e -8 ºC, para a região oeste da península, que apresenta
valores superiores a -8 ºC e inferiores a 0 ºC. (Obu et al., 2020) (Figura 7).

16
Na região oeste, e considerando os dados obtidos da perfuração de Rothera na Ilha
de Adelaide (67º S), a MGST regista valores de -2,8 ºC. Esta tem presente permafrost a uma
profundidade de 1,22 m com uma temperatura no topo do permafrost (TTOP) de -3,1 ºC
(Guglielmin et al., 2008; Bockheim et al., 2013). A norte de Rothera, a 64º S, Cierva Cove na
costa oeste da PA, regista uma temperatura no topo do permafrost mais elevada (-1,2 ºC) e
uma profundidade variável entre os 2 e 6 m. A TMAS, assume valores entre -6 e -4 ºC
(Bockheim et al., 2013; Ramos, 2018; Obu et al., 2020).

Na região norte, na região este da Península Antártica, Marambio, regista uma MGST
de -6,6 ºC, temperatura muito inferior à registada no TTOP de Cierva Cove a uma latitude
próxima. A camada ativa tem uma espessura de 0,6 metros e o permafrost possui uma
espessura estimada de 35 a 200 metros (Guglielmin et al., 2008; Bockheim et al., 2013). A
diferença entre as temperaturas registadas nas duas perfurações – Marambio e Cierva Cove
- deve-se ao contraste climático este-oeste mencionado e à forte influência do relevo da
península que atua como barreira orográfica.

No arquipélago das Shetland do Sul, entre 62º S 63º S, as ilhas de Deception,


Livingston e Rei Jorge, concentram um elevado número de perfurações com profundidades
variáveis. Parte destas perfurações (superficiais) foram instaladas como contributo para a
Circumpolar Active Layer Monitoring (CALM) com o objetivo de, através do estudo da camada
ativa, identificar áreas afetas à presença de permafrost. Adicionalmente, estas perfurações
contribuem também para o estudo da resposta da camada ativa ao contexto de alterações no
clima. No arquipélago, a TMAS modelada por Obu et al. (2020) encontra-se geralmente acima
de -1 ºC ao nível médio do mar. Em áreas como por exemplo nas penínsulas de Byers e Hurd,
em Livingston, e Fildes na ilha Rei Jorge, os valores de TMAS descem para -2 ºC, e para -4
ºC nas áreas mais elevadas (ilha Livingston).

Na Ilha Deception, das dez perfurações inventariadas pela GTN-P, é apenas


considerada a perfuração Crater Lake 3. Instalada a uma altitude de 85 m. Esta perfuração,
de 6 metros de profundidade, está associada a uma temperatura média anual do ar de -3,3
ºC e a uma temperatura média anual à superfície do solo de -1,7 ºC (Vieira et al., 2008; Ramos
et al., 2017). Relativamente à espessura da camada ativa, em Crater Lake 3, os valores são
de apenas 0,3 a 0,4 m, e a TTOP é -0,9 ºC (Vieira et al., 2008; Ramos et al., 2017). Na
verdade, o permafrost nesta ilha vulcânica é muito particular devido às características
isolantes dos solos porosos de lapilli (Ramos et al., 2017). No interior da caldeira colapsada,
o permafrost está presente até ao nível do mar, embora possua uma espessura muito fina.
Nas praias da costa exposta ao Estreito de Bransfield, o permafrost está ausente (Ramos et
al., 2017)

17
Na Ilha de Livingston, mais concretamente na Península Hurd, a monitorização do
permafrost é feita através de perfurações superficiais (2 a 10 metros) e pouco profundas (10
a 25 metros) que providenciam maior informação quanto ao estado térmico do permafrost.

Na perfuração Incinerador, a 30 m de altitude, a TMASS regista um valor próximo de


0 ºC, estando no limiar para a ocorrência de um permafrost descontínuo (Hauck et al., 2007).
A TTOP calculada por Ferreira et al. (2016) com recurso a dados obtidos para os anos 2007
e 2009, encontra-se entre -0,69 e -0,57 ºC, o que não garante a presença de permafrost.

Nas duas perfurações Permamodel-Gulbenkian (PG) instaladas no Monte Reina Sofia,


a 272 e 269 m de altitude, os valores de TMASS, calculados para o ano de 2008, são mais
baixos do que os registados em Incinerador (-0,78 ºC). No PG 1 a TMASS varia entre -2,6 e
-2,1 ºC e o permafrost está presente por baixo de uma camada ativa com 0,7 a 1,2 m de
espessura, estendendo-se em profundidade por mais de 25 m (Hauck et al., 2007; Ramos et
al., 2009). No PG 2, a perfuração está situada num afloramento rochoso. Neste local, a
TMASS é de -1,9 ºC.

Nas perfurações de Papagal e Collado Ramos, a 147 e 117 m, respetivamente, os


valores de TMASS de -1,71 e -1,58 ºC respetivamente, são ligeiramente mais elevados, uma
vez que estas estão a menor altitude. O permafrost é definido como contínuo, com valores de
TTOP de -1,3 ºC, em Papagal, e -1,39 ºC a -1,16 ºC em Collado Ramos (Ferreira et al., 2016).

Por fim, na Ilha de Rei Jorge, a perfuração de Bellingshausen na Península de Fildes,


instalada a 16 m de altitude, regista valores de TMASS entre 0,7 e 2,3 ºC (Bockheim et al.,
2013).

Relativamente às áreas cobertas pela calote de gelo, a presença de permafrost


subglacial está dependente da permanência de um clima muito frio. Waller & Tuckwell (2005),
com os estudos feitos na Antártida, entre outros locais, referem a importância da interação
entre glaciares e um permafrost presente além das margens das massas de gelo.
Ruskeeniemi et al. (2018), para o manto de gelo na Islândia, concluiu que o permafrost,
formado durante o Holocénico encontra-se presente a pelo menos 2 km da margem do manto
de gelo, resultado da sua espessura reguladora das trocas entre a atmosfera e o solo.

Em conclusão, as temperaturas médias anuais do solo nas áreas livres de gelo da


Península Antártica estão ligeiramente abaixo dos 0 ºC. No entanto, este valor tem associado
um intervalo de variação significativo como resultado da extensão da península e da
diversidade dos territórios que a compõem.

18
A monitorização e registo das temperaturas do solo, são também condicionadas pelo
número limitado de perfurações e a sua distribuição relativamente concentrada nas áreas de
estudos mencionadas.

As diferenças de temperatura mencionadas, foram justificadas por Obu et al. (2020)


como resultado do efeito de continentalidade, sobretudo quando consideradas áreas cuja
altitude supera os 200 m, do efeito de altitude e do efeito da latitude. O efeito de
continentalidade tem especial destaque nas diferenças de temperatura entre a perfuração de
Cierva Cove, a oeste da península com um clima polar marítimo e temperaturas mais
elevadas, e Marambio, a este da península com um clima polar mais frio e seco e com
temperaturas mais baixas. No que diz respeito ao efeito de altitude, importa referir que a
perfuração mais elevada, instalada na península, encontra-se a 275 m. Esta altitude não é
representativa face ao relevo montanhoso da Península Antártica. Neste caso, a modelação
das temperaturas médias anuais do solo, é relevante pois traduz as diferenças
proporcionadas pelo gradiente altitudinal de 0,47 °C 100 m-1 (Obu et al., 2020).

O efeito de latitude resulta, por sua vez, num aumento progressivo da temperatura com
a diminuição de latitude, resultado do aumento de radiação solar derivada de um maior
número de horas de sol e do aumento do ângulo de incidência. À semelhança do efeito de
altitude, está associado a um gradiente latitudinal, embora este seja ligeiramente diferente
entre a região oeste (−0,77 °C/grau latitude) e este (−0,85 °C/grau latitude) da Península
Antártica (Bockheim et al., 2013).

19
Tabela 1 - Distribuição do permafrost na Península Antártica adaptado de Bockheim et al. (2013)

Profundidade Profundidade da Espessura


Localização Perfuração Latitude Longitude Elevação (m) MAAT (°C) MAGST (°C) TTOP (°C) Tipo permafrost Referência
perfuração (m) camada ativa (m) permafrost (m)

Guglielmin et al. (2008);


Signy Island (Orcadas do Sul) Signy 2.5 -60.7000 -45.5833 90 -3.5 -2.5 - 0.4 a 2 - Descontínuo
Bockheim et al. (2013)
Hauck et al. (2007); Ferreira et
Incinerador 2.4 -62.6647 -60.3856 30 -1.9 -0.78 -0.57 a -0.69 - - Descontínuo
al. (2016)
Hauck et al. (2007); Ferreira et
Reina Sofia 1.2 -62.6703 -60.3822 274 -5.7 -1.83 -2.24 - - Contínuo
al. (2016)
Hauck et al. (2007); Ramos et
Permamodel-Gulbenkian 1 25.0 -62.6703 -60.3822 272 -3.2 -2.1 a -2.6 - 0.7 a 1.2 +25 Desconhecido
al. (2009)
Hurd Peninsula (Livingston)
Permamodel-Gulbenkian 2 15.0 -62.6703 -60.3822 269 -3.2 -1.9 - 0.7 a 1.2 +16 Desconhecido Ramos et al. (2009)

Papagal 5 -62.6484 -60.3637 147 - -1.71 -1.3 - - Desconhecido Ferreira et al. (2016)

Collado Ramos 1.3 -62.6678 -60.3919 117 - -1.58 -1.16 a -1.39 - - Contínuo Ferreira et al. (2016)

King George Island Bellingshausen 11.0 -62.1967 -58.9656 16 -2.0 0.7 a 2.3 - 0.5 a 1.8 20 a 100 Desconhecido Bockheim et al. (2013)

Ramos et al. 2016; Vieira et


Deception Crater Lake 3 6.0 -62.9833 -60.6667 85 -3.3 -1.7 -0.9 0.3 a 0.4 - Contínuo
al., 2008
Bockheim et al. (2013); Obu et
Palmer Amsler 14.0 -64.7615 -64.0743 67 - 0 a -2 - - - Descontínuo
al. (2020)

Marambio Marambio 8.0 -64.2333 -56.6167 200 -5.5 -6.6 - 0.6 35 a 200 Desconhecido Bockheim et al. (2013)

Bockheim et al. (2013) Obu et


James Ross James Ross 8.3 -63.9000 -57.6667 25 -6.3 -6 a -8 - 0.4 a 1.07 6 a 45 Contínuo
al. (2020)
Bockheim et al. (2013); Obu et
Península Antártica Cierva Cove 15.0 -64.1620 -60.9509 182 -2.3 -2.5 a -3 -0.9 a -1.21 2a6 8.5 Descontínuo
al. (2020); Ramos (2018)

Ilha Adelaide Rothera Point 31.0 -67.5720 -68.1207 32 -6.4 -2.8 -3.1 1.22 28 Desconhecido Guglielmin (unpublished)

20
Figura 7 - Temperatura do permafrost modelada com base nas temperaturas de superfície obtidas do ERA-Interim (Obu et al.2020)

21
1.3. Fatores condicionantes do regime térmico do
permafrost

1.3.1. Conceitos

O conceito de ambiente periglaciário, definido no XI Geological Congress (1910),


surgiu com o intuito de descrever as regiões do planeta onde as condições climáticas e
geomorfológicas foram condicionadas pela proximidade dos mantos de gelo e glaciares
durante as fases frias do Pleistocénico (French, 2007). Este conceito evoluiu e atualmente
refere-se aos ambientes afetados por processos de congelação e descongelação diurnos e
sazonais, controlados pelo balanço radiativo e pelo balanço energético do solo, que exercem
influência sobre o regime térmico do mesmo (Oke, 1988; Williams & Smith, 1993; French,
2007). Estes ambientes, sensíveis às alterações no clima, estão associados a uma
diversidade de condições superficiais e subsuperficiais que, por sua vez, resultam em
variações na humidade e aridez e no balanço radiativo, mais significativas nas altas latitudes
e altitudes (Hauck & Kneisel, 2008; Knight & Harrison, 2009). Knight & Harrison (2009) referem
que estas variações condicionam as trocas de calor entre a atmosfera e o solo, o balanço
hídrico e o ciclo bioquímico do solo.

O balanço radiativo é um fator determinante nos fluxos de energia entre o solo, a


vegetação e a atmosfera e é responsável por controlar os fluxos de calor turbulentos, uma vez
que as variações de temperatura horizontais entre a atmosfera e superfície terrestre originam
variações de pressão horizontais que resultam na movimentação do ar. Desta forma, a
energia calorífica proveniente do balanço radiativo é convertida em energia cinética dos
sistemas de vento. O funcionamento em cascata faz com que a transferência de energia seja
feita a escalas mais pequenas pela turbulência (Oke, 1987). O balanço radiativo, expresso
na equação 1, traduz a energia recebida pela superfície, tendo por base a radiação incidente
em pequeno e grande comprimento de onda, a radiação refletida por influência do albedo e a
radiação emitida em grande comprimento de onda de acordo com a emissividade (Oke, 1987).

(1)

𝑅 = (1 − 𝛼)𝑅𝑆 + 𝑅𝐸 − 𝑅𝐿 − (1𝜀0)𝑅𝐿

(𝑅 – balanço radiativo em Wm-2; α – albedo; 𝑅𝑆 – radiação incidente de pequeno comprimento de onda; 𝑅𝐸 –


radiação incidente de grande comprimento de onda; 𝑅𝐿 – radiação emitida de grande comprimento de onda; εo –
emissividade)

22
Durante o dia, o balanço radiativo é positivo com a energia recebida em pequeno
comprimento de onda a ser superior às perdas radiativas. Por sua vez, no período noturno, o
balanço é negativo com uma maior perda de energia em grande comprimento de onda (Oke,
1987).

A energia recebida à superfície é conduzida em profundidade através do solo em


função de quatro propriedades térmicas: i) condutividade; ii) calor específico; iii) difusividade
térmica; iv) admissão térmica (Washburn, 1979; Oke, 1988; French, 2007).

A condutividade térmica (K), fator de controlo do regime térmico do permafrost e da


espessura da camada ativa, é medida como a capacidade de condução do calor, mais
concretamente, a quantidade de calor (J) que se propaga por uma unidade de área (solo ou
rocha) por uma unidade de tempo segundo um gradiente térmico (Oke, 1988; Williams &
Smith, 1993; French, 2007).

(2)

∆𝑄 𝐿
𝐾= .
𝐴. ∆𝑡 ∆𝑇

(𝑄 – quantidade de calor que se propaga; 𝐿 – espessura do material por onde o calor se propaga; 𝐴 – área de
condutividade térmica; ∆𝑇 – variação de temperatura)

De acordo com os materiais e o estado físico dos mesmos, a velocidade de


propagação do calor é bastante distinta. No caso do gelo, a condutividade térmica de 2,23 K
é superior à da água 0,605 K (Tabela 2). Desta forma, os solos que possuam matéria orgânica
saturada e estejam congelados, detém valores de condutividade superiores (2 K) a solos cuja
matéria orgânica saturada esteja descongelada (0,5 K). Sendo o volume de gelo no solo
variável, de acordo com a temperatura e água disponível, a definição de um valor de
condutividade genérico que se possa aplicar ao solo gelado tem aplicabilidade prática limitada
(Williams & Smith, 1993).

Considerando o estado térmico do permafrost, o calor à superfície propaga-se de


forma mais lenta no material descongelado, isto é, através da camada ativa. No material
gelado, que caracteriza a camada de transição e o permafrost, a propagação de calor é mais
acelerada. Desta forma, o calor à superfície proveniente das flutuações térmicas diárias,
propaga-se de forma lenta, exercendo influência sobretudo na camada superficial, acabando
por se dissipar em profundidade. Outra noção relevante, é a de que em duas localizações
com temperaturas médias do ar iguais, o permafrost tende a estender-se a uma maior
profundidade naquela cujo valor de condutividade térmica é superior, uma vez que a perda de
calor é também mais acentuada e rápida (Washburn, 1979).

23
Tabela 2 - Propriedades térmicas de diferentes materiais (Williams & Smith, 1993)

O calor específico (Cm), refere-se à quantidade de calor que tem de ser acumulada
numa unidade de massa de 1 kg, de forma a provocar uma mudança de temperatura em 1 K
(Oke, 1988; Williams & Smith, 1993; French, 2007). As variações de temperatura, resultantes
de uma dada quantidade de calor fornecida, são maiores em materiais cuja capacidade de
aquecimento é mais baixa, isto é, em materiais com um baixo calor específico (Williams &
Smith, 1993; Vieira, 2004).

O calor específico volumétrico corresponde, por sua vez, à capacidade de


aquecimento em massa, multiplicada pela densidade de uma determinada substância.

(3)

𝐶𝑣 = 𝜌 ∗ 𝐶𝑚

(𝐶𝑣 – capacidade de aquecimento volumétrica; 𝜌 – densidade de substância; 𝐶𝑚 – capacidade de aquecimento


por massa)

24
Nos solos gelados, o calor específico é condicionado pelo conteúdo de água líquida e
pelo efeito do calor latente de fusão (Qi). Este corresponde à quantidade de energia libertada
por uma unidade de volume de solo ou rocha na mudança de estado.

(4)

𝑄𝑖 = 𝐿 ∗ 𝜌𝑑 ∗ (𝑊 − 𝑊𝑢)

(𝜌𝑑 – densidade a seco; 𝐿 – calor latente da fusão da água; 𝑊 – conteúdo de água total; 𝑊𝑢 – conteúdo de água
não gelado)

A difusividade térmica (α) corresponde, por sua vez, à divisão da condutividade térmica
pelo calor específico volumétrico que traduz a medida de tempo necessária para a deslocação
do calor (Oke, 1988; Williams & Smith, 1993).

(5)

𝛼 = 𝐾|𝐶𝑣 = 𝐾|𝐶𝑚 ∗ 𝜌

( 𝛼 – difusividade térmica medida em cm-2s-1; 𝐾 – condutividade térmica; 𝐶𝑣 – capacidade de aquecimento


volumétrica)

Os solos que possuem uma elevada difusividade térmica, permitem a rápida


propagação do calor. De forma contrária, os solos com uma baixa difusividade térmica,
concentram as trocas de calor na camada superficial. Tal contribui para o registo de
amplitudes térmicas mais elevadas próximo da superfície (Oke, 1987).

A admissão térmica (μ), é a capacidade da superfície receber e libertar calor.

(6)

𝜇𝑠 = (𝐾𝑠 𝐶𝑠 )1/2

Superfícies cujo material possua valores de admissão elevados, transferem mais


rapidamente o calor quando entram em contacto com outra superfície.

Tendo presentes as principais propriedades térmicas responsáveis por controlar os


fluxos de energia no solo, cabe explicitar o regime térmico do permafrost, de acordo com as
variações sazonais que o caracterizam à superfície, a influência do regime geotérmico em
profundidade e a sua evolução no tempo (Figura 8).

25
Figura 8 - Regime térmico do permafrost (Washburn, 1979)

A parte mais estável do perfil térmico encontra-se abaixo da profundidade de amplitude


zero, refletindo um sinal médio anual do ar e as tendências térmicas a longo prazo, não
registando as variações sazonais. A parte mais variável, diz respeito à área acima da zona de
amplitude anual zero, onde as variações sazonais e diárias dominam o regime térmico e são
críticas para os processos resultantes da ação de congelação e descongelação.

Se consideradas as regiões polares e as altas altitudes nas regiões temperadas, o


regime térmico à superfície, incidente sobretudo na camada ativa, é caracterizado por um
período de descongelação estival de curta duração com temperaturas acima dos 0ºC. O calor
responsável por este aumento da temperatura, penetra no solo e dá origem a um aquecimento
que se vai atenuando com a profundidade. Por sua vez, o período de congelação, ocorre
geralmente durante o Inverno, com a permanência das temperaturas abaixo de 0ºC (Williams
& Smith, 1993; French, 2007).

À profundidade da amplitude anual zero, são praticamente indetetáveis as flutuações


térmicas da superfície. Neste nível, a temperatura encontra-se próxima da temperatura média
anual à superfície, sendo 1 a 5 ºC mais elevada do que a temperatura média anual do ar
(Williams & Smith, 1993). Ultrapassada a profundidade de amplitude térmica anual zero, o

26
solo permanece gelado durante todo o ano até à base do permafrost, profundidade em que
devido ao gradiente geotérmico, as temperaturas sobem e ultrapassam os 0 ºC (Williams &
Smith, 1993; French, 2007). Este gradiente representa o aumento de temperatura de 1 ºC por
30 a 60 m de profundidade, resultante do fluxo de calor proveniente do interior da terra
(French, 2007). A profundidade a que a temperatura do solo é positiva está também
dependente da condutividade térmica e da temperatura média do ar à superfície. Williams &
Smith (1993) apresentam valores aproximados para a espessura do permafrost com base em
valores conhecidos de condutividade e de temperatura média do ar à superfície, que permitem
uma aproximação à profundidade a que as temperaturas são positivas. Considerando uma
temperatura média do ar à superfície de -2 ºC e um valor de condutividade de 4 K, a espessura
do permafrost é de aproximadamente 200 m. Com temperaturas médias do ar inferiores de -
5 e -10 ºC as espessuras variam entre 100 a 550 m e 200 a 1100 m.

Retomando ao horizonte superficial do solo, as flutuações térmicas de curta duração


são resultado do ritmo radiativo e das dinâmicas sinópticas que exercem influência sobre a
superfície. Estas flutuações tem uma maior influência no solo à superfície, onde é registada
uma variação da temperatura diária. Em profundidade, a variação da temperatura acompanha
o ritmo das flutuações térmicas sazonais de arrefecimento e aquecimento. Estas flutuações
térmicas, diárias ou sazonais, têm impacte nos processos de congelação e descongelação,
bem como, na duração e frequência dos seus ciclos.

O processo de descongelação, iniciado com a permanência de temperaturas acima


dos 0 ºC possui uma duração variável de acordo com a latitude, altitude exposição, entre
outros fatores. Quando associado à presença de água no solo, este descongelamento é
potenciado pelo início da percolação de água no estalo líquido que transfere calor para o solo
gelado (calor sensível) e intensifica o processo de descongelação. Com o prolongar das
temperaturas positivas responsáveis pelo início do processo de descongelação, a temperatura
vai aumentado também em profundidade, contribuindo para atuação do processo em
profundidade (Ballantyne & Harris, 1994; French, 2007). O processo de recongelamento, mais
lento, resulta da diminuição da temperatura que permanece de forma constante, abaixo dos
0 ºC. Este processo é, no entanto, mais complexo do que o processo de descongelação, uma
vez que é realizado em duas direções. Uma descendente, a partir da superfície do solo, e
outra ascendente com início no topo do permafrost (French, 2007).

Outro efeito que condiciona o processo de congelação e descongelação, é o de zero


curtain, caracterizado pela permanência de uma temperatura quase constante, próxima do
ponto de congelação durante o período de congelação e durante o período de descongelação
da camada ativa, resultado da dissipação e absorção de calor latente (van Everdingen, 1998).

27
Controlado pelo conteúdo de água no solo, o efeito de zero curtain é condicionado pela
presença de uma cobertura de neve e pela temperatura do ar à superfície. Ora, aquando do
início do processo de congelação, a temperatura mantém-se constante, resultado da
libertação de calor latente, até que a formação de gelo diminua juntamente com o conteúdo
de água no solo e, por consequência, haja uma diminuição do calor latente libertado que
promove um maior arrefecimento do solo (French, 2007). No processo de descongelação, a
fusão do gelo, resulta na absorção do calor latente que impede o aumento acentuado da
temperatura até que todo o gelo seja fundido (French, 2007).

No que diz respeito ao permafrost, o seu desenvolvimento é resultado do balanço


energético à superfície (controlado pelo balanço radiativo e fluxos de calor turbulentos) e do
balanço energético em profundidade (controlado pelo fluxo de calor geotérmico) (Ballantyne
& Harris, 1994; French, 2007). Como apontamento, e no que diz respeito à velocidade das
transformações, Terzaghi (1952) citador por Washburn (1979), define que um aumento da
temperatura média anual do ar de 2 ºC (de -1 para 1 ºC) em menos de 100 anos, resultaria
na descongelação de 15 metros do permafrost desde o topo (sentido descendente) e 2 metros
desde a base (sentido ascendente).

Sobre o balanço energético em profundidade, o gradiente geotérmico, corresponde ao


aumento de temperatura resultado do fluxo térmico proveniente do interior da Terra.
Washburn (1979) menciona a ocorrência de gradientes entre 1ºC/22 m a 1ºC/ 60m. Este fluxo
é responsável por inibir o processo de congelação na base estável do permafrost. Numa
situação em que o permafrost esteja num estado de degradação, este mesmo fluxo pode
inclusivamente provocar a sua descongelação (Washburn, 1979; Lachenbruch et al., 1988;
French, 2007).

Ora com o conhecimento das temperaturas à superfície do solo e o gradiente


geotérmico, é possível determinar de forma aproximada a temperatura do solo em
profundidade seguindo a equação:

(7)

𝑇𝑧 = 𝑇𝑠 + 𝐺𝑔 ∗ 𝑍

(𝑇𝑧 - temperatura do solo (ºC); 𝑍 – profundidade; 𝑇𝑠 – temperatura média anual do solo à superfície (ºC); 𝐺𝑔 –
gradiente geotérmico (ºC m-1))

28
E a espessura do permafrost:

(8)

𝑇
𝐻𝑝 =
−𝑖𝑔

(𝐻𝑝 – espessura do permafrost (m); 𝑇 – temperatura média anual do ar (ºC); −𝑖𝑔 – gradiente geotérmico (ºC/m))

Não obstante, a determinação de ambos os parâmetros pode ser condicionada por


diversos fatores entre os quais: i) a presença de grandes corpos de água que exercem um
efeito de aquecimento sobre as massas de terra na proximidade; ii) o efeito dos climas
passados que pode resultar em diferenças entre a temperatura média anual do ar e a a
temperatura do solo em profundidade, resultado de uma herança; iii) a presença de
descontinuidades no substrato, de que são exemplo as falhas (Washburn, 1979; French,
2007).

O horizonte mais estável do permafrost é aquele que é apenas afetado pelas ondas
térmicas anuais e pelas de longa duração. O horizonte menos estável encontra-se acima da
zona de amplitude anual zero, onde as variações sazonais dominam o regime térmico. É esta
parte superficial do solo que é mais crítica para os processos resultantes da ação de
congelação e de fusão.

1.3.2. Fatores condicionantes

A distribuição do permafrost no planeta é controlada principalmente pelo clima à macro


escala. Não obstante, à escala local, os fatores que condicionam a presença e distribuição do
permafrost são mais variados (Oke, 1988; Oliver, 2005). Brown & Péwé (1973), Bockheim
(1995) e French (2007) destacam como fatores condicionantes desta distribuição o relevo, a
vegetação, o tipo de rocha e solo presentes à superfície, a presença de neve ou gelo e a
hidrologia.

29
Figura 9 - Fatores condicionantes da distribuição do permafrost, adaptado de Ballantyne & Harris (1994)

O relevo, mais concretamente a exposição e o declive, condicionam a quantidade de


radiação solar direta recebida por uma determinada superfície, bem como a quantidade de
neve que nela se acumula. A orientação de uma superfície tem impacte no tempo a que a
mesma se encontra exposta à radiação solar, enquanto o declive determina o ângulo de
incidência da radiação. Em conjunto, ambos os fatores definem a energia recebida à
superfície do solo e condicionam as trocas de calor entre o solo e atmosfera. Ora esta energia
recebida constitui-se como uma das condições para a possível acumulação de neve que, é
mais favorável em áreas côncavas ou onde o declive é pouco acentuado. A influência destes
fatores tem especial relevância em regiões montanhosas ou de relevo mais acidentado onde,
por consequência, os efeitos são mais marcados.

Nas zonas de permafrost descontínuo, a exposição da superfície pode inclusivamente


determinar a sua presença ou ausência. Isto é, uma superfície que no hemisfério norte esteja
exposta a sul, terá menos condições para a presença de permafrost, motivada por uma maior
radiação solar potencial (Brown & Péwé, 1973; French, 2007). O mesmo acontece com uma
exposição a norte no hemisfério sul. Por outro lado, de forma recíproca, a presença de
permafrost pode também influenciar a configuração da superfície através dos movimentos de
solifluxão e dos movimentos de massa afetos aos processos de congelação e descongelação
sazonal (Bockheim, 1995).

Adicionalmente, a exposição e o declive, determinam a presença de uma cobertura


vegetal que, por sua vez, condiciona a espessura da camada ativa e o regime térmico do
permafrost, sendo assim, um indicador das condições superficiais numa determinada
localização (Brown & Péwé, 1973). À semelhança do relevo, também a cobertura vegetal

30
exerce maior influência nas zonas de permafrost descontínuo onde as trocas de energia entre
a atmosfera e o solo, marcadas por um ritmo sazonal, possuem maior impacte no estado
térmico do permafrost. Tal influência resulta do efeito isolante e da proteção contra a radiação
solar exercido pela vegetação com variações inerentes ao tipo de espécies. Outro efeito
exercido pela vegetação, tem que ver com a capacidade de retenção de água no solo com
impactes nas propriedades térmicas e, por consequência no regime térmico do solo. Em
regiões onde a presença de uma cobertura vegetal tenha um forte impacte no controlo do
regime térmico do solo, a sua remoção ou distúrbio podem ter um forte impacte no estado
térmico do permafrost, sobretudo em zonas de permafrost descontínuo (Brown & Péwé, 1973;
Hrbáček et al., 2020).

Nas áreas livres de gelo da Antártida Marítima, a vegetação é composta por musgos,
líquenes e duas espécies de plantas vasculares. No caso dos musgos, com uma presença
disseminada, temos uma espécie com capacidade de armazenar água e com forte impacto
nos fluxos de calor entre o solo e a atmosfera (Hrbáček et al., 2020). O armazenamento de
água feito por esta cobertura tem impacte na condutividade do solo. De forma contrária, a sua
presença desprovida de água é responsável por um aumento do efeito isolante. Hrbáček et
al. (2020) para as áreas livres de gelo da Península Antártica, referem que a presença de uma
cobertura por musgos resulta num arrefecimento da temperatura do solo no período estival e
primaveril. No mesmo estudo, é referido que uma cobertura fina de musgos (1cm) é ainda
capaz de influenciar as temperaturas do solo à superfície a uma escala sazonal, contrariando
as observações de Soudzilovskaia et al. (2013) que menciona a ausência de influências na
temperatura média do solo provocadas pela cobertura de musgos, responsável apenas por
reduzir a amplitude das flutuações térmicas e os ciclos de congelação e descongelação.

Outro fator condicionante do regime térmico do solo, diz respeito ao albedo, fração da
radiação solar incidente que é refletida por uma superfície (van Everdingen, 1998). Esta fração
varia de acordo com a humidade presente no solo, a granulometria, o conteúdo em matéria
orgânica, a rugosidade da superfície e a composição mineral (Hartmann, 1994; Oliver, 2008).
Superfícies que tenham um albedo elevado, absorvem menos energia, o que faz com a
quantidade de energia transferida para o solo seja menor. Desta forma, o albedo constitui-se
um fator de controlo do regime térmico do permafrost e da espessura da camada ativa.

Brown & Péwé (1973) para as superfícies rochosas, apresentam valores de


refletividade entre 12% e 15% enquanto que, para as superfícies compostas por solo nu, os
valores aumentam para 15% a 30%. MacNamara (1973 e 1969) citado por Bockheim (1995)
refere também diferenças inerentes à espessura da camada ativa, de acordo com a coloração
da rocha presente à superfície. Tendencialmente, rochas com uma cor escura, por

31
absorverem mais radiação, permitem uma maior transferência de calor para o solo e, por
consequência, uma camada ativa mais espessa do que rochas com cores claras. Não
obstante, as características termofísicas das rochas desempenham um importante papel na
transferência de calor para o solo.

Transitando para a cobertura de neve, condicionada pelo relevo e pelo vento, à


semelhança da vegetação, tem um impacte na transferência de calor entre o solo e a
atmosfera. No entanto, esta influência varia de acordo com o regime de queda de neve, a sua
duração e o tempo em que esta permanece no solo (Brown & Péwé, 1973). A intensa queda
de neve durante o outono e início do inverno, é inibidora da penetração do frio no solo,
limitando a capacidade de congelação do mesmo. Por outro lado, uma cobertura de neve
espessa e persistente durante a Primavera, atrasa o processo de descongelação e reduz a
perda de calor do solo. Ora a relação entre estas situações determina o efeito produzido pela
cobertura de neve no regime térmico do solo (Brown & Péwé,1973; French, 2007). Em zonas
de permafrost descontínuo, a presença da cobertura de neve pode mesmo ser o fator
diferenciador entre a presença e ausência do permafrost. Aí, a cobertura de neve influencia a
espessura da camada ativa, que tende a ser superior onde há mais neve.

Recuperando a menção à influência do vento na presença de neve, importa referir o


seu papel na redistribuição desta. Além da transferência de calor de uma área para outra, o
vento é responsável por transportar as partículas de gelo até que estas sejam depositadas
em superfícies côncavas ou associadas a obstáculos presentes à superfície (Brown & Péwé,
1973; Bockheim, 1995). Outro fator condicionante, inerente à criosfera, é o gelo glaciário que
à semelhança da vegetação e da neve, atua como uma capa protetora do solo contra as trocas
de energia com a atmosfera. Ademais, a presença desta capa, em alguns casos com dezenas
de metros de espessura, promove um ponto de fusão mais baixo que pode resultar na
presença de água descongelada na base do glaciar ou, inclusive de um lago subglaciário.

No que diz respeito à componente hidrológica, a percolação de água no solo,


intensifica o processo de descongelação, resultado da transferência de calor para o material
gelado. Por outro lado, os corpos de água representados por lagos ou mares são também
relevantes uma vez que limitam a presença de permafrost nas áreas inferiores ou adjacentes.
Assim, surgem zonas descongeladas dependentes da profundidade dos corpos de água e da
sua temperatura (Brown & Péwé, 1973; Bockheim, 1995).

Outro fator condicionante, o fogo, não se coaduna com o contexto antártico. No


entanto, em áreas cuja superfície detenha uma cobertura vegetal mais desenvolvida, a sua
ação, pode provocar mudanças no regime térmico do solo (French, 2007).

32
CAPÍTULO 2 - QUADRO FÍSICO

2.1. A Península Antártica

A Península Antártica é a região mais setentrional do continente antártico, estendendo-


se entre 74º e 63º S, formando um espigão alongado para norte na Antártida Ocidental, entre
os meridianos 25º W e 74º W. A sua área é de cerca de 1 230 000 km2, e o relevo é marcado
por uma cadeia montanhosa com aproximadamente 250 km de largura e 1 250 km de
comprimento, prolongando a Cordilheira Transantártica (Cañadas, 2008; Bentley et al., 2009).
Esta, encimada por um planalto alongado com algumas depressões abaixo dos 2 000 m,
atinge na sua área mais elevada 3 500 m de altitude (Bentley et al., 2009). A Península
Antárctica tem adjacentes vários arquipélagos, um dos quais é o das Shetlands do Sul, onde
se integra a ilha de Rei Jorge, na qual foi realizado este trabalho.

Ferreira et al. (2015) referem que a formação da Península Antártica está associada à
constituição de um arco vulcânico na margem continental Andina / Antárctica-Oeste no
Triássico superior. Durante o Cretácio deu-se a migração do magmatismo afeto ao arco para
o extremo Oeste da península Antárctica. Esta migração originou o desenvolvimento de um
outro arco magmático com a subducção da placa Phoenix sob a placa Antárctica. No final do
Cretácico e/ou durante o Cenozóico, os autores referem um alastramento oceânico ao longo
da crista Antárctica – Phoenix, que ficou inativo há cerca de 4 Ma. Durante o Pliocénico,
associada a esta crista forma-se a bacia marginal de Bransfield, com uma direção ENE-WSW
e com 500 km de comprimento por 100 km de largura. Nesta bacia associada a um bloco
crustal individualizado, surge o arquipélago das Shetland do Sul (Bentley et al., 2009; Jordan
et al., 2014; Ferreira et al., 2015).

Atualmente, a Península Antártica está, quase na totalidade, coberta por glaciares,


alguns dos quais com o seu término no oceano, em ambas as margens da península, dando
origem a plataformas de gelo, de que é exemplo a Plataforma de Larsen (Bentley et al., 2009).
As áreas livres de gelo na península estão, por sua vez, essencialmente associadas a setores
costeiros nas ilhas de James Ross, nas ilhas Shetlands do Sul, na ilha de Alexandre e na Baía
Margarita, bem como a nunataks e a vertentes de elevado declive.

A presença e distribuição dos glaciares, plataformas de gelo e áreas livres de gelo são,
entre outros fatores, condicionadas pelo clima, mais temperado da Península Antártica face
ao do continente antártico e distinto entre a região ocidental e oriental. Na primeira, a
exposição aos ventos de sudoeste promove um clima polar de influência marítima marcado
por condições de forte nebulosidade, precipitação, vento forte e queda de neve (Reynolds,

33
1981; Bentley et al., 2009). Na parte mais a norte da península, esta influência marítima está
inclusivamente associada a massas de ar quentes e húmidas provenientes das latitudes
médias. Na região oriental, a barreira orográfica limita a influência exercida pelos ventos de
oeste e a influência das massas de ar continental contribuem para um clima polar de influência
continental, mais seco e frio do que o da fachada ocidental (Reynolds, 1981; Bentley et al.,
2009). Reynolds (1981) estimou a diferença de temperaturas médias anuais do ar entre as
duas fachadas da Península Antárctica em função da latitude e refere que na região oriental
as temperaturas são aproximadamente 5º C mais baixas do que as registadas na região
ocidental. Como exemplo, a 65º S, as médias anuais ao nível do mar apresentam valores de
-9,8º C na fachada leste, face a -4,2º C na fachada oeste.

A área de estudo localiza-se na região noroeste da Península Antártica, no arquipélago


das Shetlands do Sul entre a passagem de Drake e o Estreito de Bransfield (Figura 10). A
formação deste arquipélago esteve associada à atividade vulcânica do início do Cretácico e
no Miocénico, resultante da subdução da placa do Pacífico por baixo da placa antártica e da
formação do arco de Scotia (Figura 10) (Cañadas, 2008; Hwang et al., 2011).

Figura 10 - Enquadramento das ilhas Shetlands do Sul no arco de Scotia (Stone, 2015)

34
Figura 11 - Enquadramento da Península de Barton nas Shetlands do Sul

O arquipélago das Shetlands do Sul é composto por 11 ilhas, sendo a ilha de Rei
Jorge, situada no setor nordeste do arquipélago a maior com cerca de de 2 600 km2 (Figura
11, Cañadas, 2008). Parte da ilha está coberta por um extenso manto de gelo, com 1 250 km2,
cuja altitude máxima se aproxima dos 720 m. Este manto de gelo estende-se pela parte central
da ilha numa forma alongada e alimenta numerosos glaciares que o drenam, muitos dos quais
formam glaciares de maré (tidewater glaciers), incluindo o glaciar de Marian Cove entre a
Península de Barton e a Península de Weaver, próximo do setor estudado (Rückamp et al.,
2011; Shin et al., 2014).

As áreas livres de gelo na ilha de Rei Jorge, restringem-se a algumas faixas costeiras,
penínsulas e nunataks (Figura 12), a maior parte delas deglaciadas durante o Holocénico
(Oliva et al., 2019). O processo de deglaciação resultou numa paisagem marcada por
testemunhos da dinâmica glaciária (vales em U, rochas aborregadas, superfícies polidas e
moreias), posteriormente retrabalhados por intensa dinâmica periglaciária, que resultou na
formação de mantos de material crioclástico modelados por solifluxão, crioturbação e pela
deformação do permafrost (López-Martínez et al. 2012; Mink et al., 2014).

35
Península de Barton

Figura 12 – Tipos de glaciares e distribuição das áreas livres de gelo na ilha de Rei Jorge (Hobbs, 1968)

2.2. A Península de Barton

A Península de Barton, situada no setor sudoeste da ilha de Rei Jorge, virada para a
Baía de Maxwell, é a segunda maior área livre de gelo da ilha com 10 km2 (Shin et al., 2014).
É também a área selecionada para o estudo do estado térmico do permafrost neste trabalho,
através da perfuração King Sejong Station, e para o estudo do regime térmico da superfície
do solo no período de 2019-20. Desta forma, é relevante o conhecimento da geologia,
morfologia, clima e flora para o enquadramento físico da área de estudo e para a análise e
discussão dos resultados.

a) Enquadramento Geológico

A geologia da Península de Barton é marcada por três formações: a) A formação


Cardozo Cove Group (CCG) com idade paleocénica (63 – 60 Ma) representada por um
complexo vulcânico estratificado; b) a formação de Wegger Peak Group (WPG) com idade
eocénica (52 - 42 Ma) representada pela intrusão do plutão calco-alcalino de Noel Hill; c) a
formação Admiralty Bay Group (ABG) do fim do Eocénico, associada à intrusão de diques
máficos (Birkenmajer, 1989; So et al., 1995; Lee et al., 2002).

A formação Cardozo Cove Group, mais antiga, é composta por lavas andesíticas e
basalto-andesíticas, presentes numa sucessão estratificada resultante dos episódios de
atividade vulcânica, e por tufos de lapilli e brechas vulcânicas que ocupam uma área de

36
aproximadamente de 6,7 km2 da Península de Barton (Figura 13) (Hobbs, 1968; Kim et al.,
2002; Hwang et al., 2011). Nesta formação, a diferenciação entre episódios de atividade
vulcânica permite a definição de duas unidades estratigráficas. Uma mais baixa,
correspondente à formação de Sejong, e uma alta, correspondente a lavas máficas
(Birkenmajer, 1989; So et al., 1995; Tokarski, 1998). A Formação de Sejong, (Figura 13) está
presente nos setores sudoeste e sul da península em áreas escarpadas (Hobbs, 1968; Kim
et al., 2002; Lee et al., 2002; Hwang et al., 2011). Sobrepostas a esta formação, estão as
lavas máficas de basalto e andesito, com fenocristais euédricos de plagióclase ou por uma
combinação de plagióclase e piroxenas.

A formação intermédia de Wegger Peak Group, representada pela intrusão do plutão


de Noel Hill, é composta por granodioritos e dioritos, responsáveis por metamorfismo de
contacto, que ocupam uma área de aproximadamente 0,7 km2 no setor norte da península
(Birkenmajer, 1989; So et al., 1995; Hwang et al., 2011) (Figura 13). A formação de Admiralty
Bay Group, mais recente, é representada pelos diques máficos que surgem no limite da
Formação de Sejong, e interrompem as áreas de praia a oeste, sudoeste e sul da Península
de Barton.

No que concerne ao processo de metamorfismo hidrotermal, responsável pelos


minerais secundários presentes nas rochas vulcânicas, de que são exemplo a horneblenda,
actinolite, epidote, clorito, calcite, entre outros, são associados à Península de Barton quatro
episódios com ocorrência ao longo de zonas de fratura (Kim et al., 2002; Lee et al., 2002;
Hwang et al., 2011). O episódio mais antigo, controlado por falhas, consiste num processo de
silicificação que sucedeu durante a deposição da sequência inferior de tufos e está presente
na sequência de lavas superior afeto a quartzo branco com tonalidades verdes, que ocorre
numa área oval com 750 m de largura a nordeste do plutão de Noel Hill (Willan & Armstrong,
2002). Parte da silicificação foi cimentada e condicionada por uma alteração argílica, restrita
às lavas da sequência superior localizadas a 1 000 m nordeste do plutão de Noel Hill (Willan
& Armstrong, 2002). Posteriormente, a intrusão do plutão de Noel Hill, provocou a alteração
intensa nas rochas já transformadas pelo processo de argilificação (Willan & Armstrong,
2002). Por fim, o quarto episódio de alteração ocorrido ao longo das falhas, teve um carácter
propilítico. Não obstante, Willan & Armstrong (2002) mencionam alguma incerteza quanto a
este episódio de alteração e à sua relação com os veios de quartzo ou com a circulação de
água subterrânea em torno do plutão de Noel Hill.

37
Figura 13 - Mapa geológico da Península de Barton (adaptado de Lee et al. (2002)

b) Relevo

O aumento da temperatura que precedeu o Último Máximo Glaciário (UMG), deu


origem ao processo de deglaciação na região oeste da Península Antártica. Este processo,
terá sido iniciado à aproximadamente 14/15 milhares de anos BP (Oliva et al., 2019). Na
Península de Barton, este processo resultou à 15,5 milhares de anos BP num retrocesso do
Glaciar Collins, que se prolongou durante o Holocénico, e na constituição de uma área livre
de gelo limitada a este pelo glaciar, a norte pela Enseada de Mariana (Marian Cove), a sul
pela Enseada de Potter (Potter Cove) e a oeste pela Baía de Maxwell (Maxwell Bay) (Oliva et
al., 2019).

Na área livre de gelo da Península de Barton o relevo divide-se nas seguintes unidades
(Figuras 14, 15 e 16):

− A crista de Noel Hill;


− Os planaltos de Silla Hill e Gaya Hill;
− Os vales de Araon, Arirang, Baekje e Jeonjaegyu;
− As colinas
− As praias levantadas

38
Figura 14 - Mapa hipsométrico da Península de Barton

Figura 15 - Mapa de declives da Península de Barton

39
a) b)

Noel Hill

Noel Hill

c) d)

Baekje Hill

e) f)

g) h)

Figura 16 - O relevo da Península de Barton: a) Crista de Noel Hill; b) Crista de Noel Hill (vertente norte); c)
Planalto superior e elevação de Baekje Hill; d) Vale de Araon (NO); e) Setor inferior do vale SE; f) Setor inferior
do vale SE; g) Colinas no setor norte; h) Praias levantadas no setor sul.

40
A crista de Noel Hill, localizada no setor norte da península, estende-se de nordeste,
no limite do Glaciar Collins (230 m), para sudoeste, até Noel Hill (290 m) e Sejong Hill (250
m). No setor sudoeste, onde afloram os granodioritos, as vertentes expostas a noroeste e a
sul, são mais inclinadas com valores acima de 36º (Figura 13 e 15). Na vertente exposta a
norte da crista os declives são ligeiramente inferiores, variando entre 21 e 40º. Para tal
contribui a presença de taludes de detritos, cartografados por López-Martínez et al. (2012), e
a consequente regularização do troço inferiores da vertente.

A sul da crista de Noel Hill, e no interior da península, estão presentes, a diferentes


altitudes, dois planaltos (Figura 14). O planalto mais elevado, de Silla Hill, entre os 170 e 180
m de altitude e com uma área de aproximadamente 0,2 km2, situa-se no setor central da
península, a sul do Vale de Araon e a sudoeste da frente do Glaciar Collins. No seu interior,
destacam-se, de oeste para este, as elevações de Baekje Hill (200 m), Silla Hill (196 m) e
Balhae Hill (202 m). A sudoeste deste planalto, entre os 110 e 120 m de altitude e com uma
área de aproximadamente 0,1 km2, está presente um outro nível aplanado, de Gaya Hill,
limitado a oeste pela arriba de Narae (Narae Cliff).

Os vales distribuem-se na península a norte, sul e oeste do planalto superior. O vale


de Araon estende-se do planalto superior para noroeste por 1,4 km de extensão. É um vale
glaciário em forma de U, sendo atravessado por uma falha com orientação NO-SE que divide
a Península de Barton (Figura 13, 14, 16-d e 17). A vertente orientada a sul, que faz a ligação
a Noel Hill, é predominantemente retilínea e tem declives acentuados, superando 36º e um
comando de cerca de 120 m. A vertente oposta tem declives menores, variando entre 26 e
30º e um comando de 60 m.

Figura 17 - Perfis longitudinal e transversal do Vale de Araon

41
O vale Arirang que se estende para sudeste do planalto superior tem
aproximadamente 2 km de extensão, é igualmente cortado pela referida falha NO-SE. No
entanto, é um vale amplo e pouco encaixado, expecto no setor terminal, onde a sobreposição
à falha parece justificar o desnível acentuado e o entalhe muito pronunciado (Figura 13).

Figura 18 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Arirang

O vale Baekje, com 1 km de extensão, situa-se a sudoeste do planalto superior, entre


Gaya Hill (120 m) e Nabi Hill (130 m), e está inserido na Área de Proteção Especial Narębski
Point (ASPA nº 171). Este vale é mais entalhado dividindo a costa sudoeste da península em
dois setores (Figura 19-c). Um a norte, onde se encontra o planalto inferior, e um a sul,
caracterizado por uma sucessão de elevações, das quais fazem parte Nabi Hill e Hwaseok
Hill (114 m).

Figura 19 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Baekje

42
O vale incipiente de Jeonjaegyu, estende-se de este para oeste do planalto superior
de Silla Hill por 520 m. É caracterizado por uma cabeceira correspondente a um circo glaciário
e por ser um vale pouco encaixado com um fundo de vale com um declive inferior a 15º (Figura
14 e 20).

Figura 20 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Jeonjaegyu

Na Península de Barton, afetas a diferentes níveis de erosão, estão ainda as colinas


que se sucedem em áreas de depósitos glaciários e em áreas dominadas pelos processos
periglaciários até a uma atitude próxima do planalto superior (170 m).

a) Finalmente, o litoral da Península de Barton, é marcado por sequências de praias


levantadas,
) paralelas à linha de costa, em diferentes níveis até a uma altitude aproximada de
20 m. A constituição destes níveis é consequência do efeito de levantamento isostático
durante a deglaciação (Fretwell, Hodgson, Watcham, Bentley, & Roberts, 2010).

Fi
c) Dinâmica geomorfológica
g
ur Nas áreas livres de gelo da Península de Barton a dinâmica geomorfológica é
a
dominada pelos processos glaciários e periglaciários (López-Martínez et al., 2012). Os
1
primeiros exerceram a sua influência aquando da presença do glaciar Collins. Os processos
a)
periglaciários, dominantes na península são aqueles em que a congelação e descongelação
da) água condiciona a morfogénese, um importante papel na segregação de gelo, congelação
in situ, crioexpulsão, criorreptação, crioclastia e gelifluxão (Shroder, 2013).

Na Península de Barton (Figura 21 e 22), os processos glaciários deram origem a uma


grande variedade de formas, de entre as quais se destacam os circos glaciários na crista de
Noel Hill e o vale de Araon, vale glaciar em forma de U, no setor norte da península. Este vale
conserva ainda uma massa de gelo isolada, deixada no processo de recuo do glaciar Collins
(Oliva et al. 2019). Outros vestígios relevantes dos processos glaciários, são os depósitos
glaciários presentes no setor terminal do Vale de Araon, no setor a sul do planalto superior
(Vale SE), no setor a norte da crista de Noel Hill e no setor composto por colinas até aos 170

43
m a norte do planalto superior. Associadas aos depósitos glaciários, identificaram-se moreias,
formas criadas pela deposição de sedimentos não consolidados pela ação de um glaciar
(Singh et al., 2011).

Nos depósitos glaciários situados a sul do planalto superior, são ainda cartografadas
por López-Martínez, Serrano, & Lee, (2002) rochas aborregadas que conservam o efeito
erosivo provocado pela deslocação do glaciar e depressões aprofundadas pelo mesmo. No
setor a norte da crista de Noel Hill, outros vestígios dos processos glaciários são os blocos
erráticos que assumem destaque na paisagem pela sua dimensão face à cobertura de clastos
envolventes. Alguns destes blocos, fragmentados em pequenos clastos pela crioclastia,
mantêm-se juntos numa posição próxima da original em áreas onde os processos erosivos
não tiveram ainda capacidade de deslocar o material (Figura 22-f).

Os processos periglaciários, atualmente dominantes na Península de Barton, ocorrem


sobretudo no setor sudoeste desta e no topo da crista de Noel Hill. Os tipos de formas
resultantes destes processos são condicionados pela litologia, pelo período desde a
deglaciação em que ficaram expostos e pela altitude e o declive da superfície. Associados à
altitude e declive, os solos ordenados são referidos por López-Martínez et al. (2012) como a
forma mais frequente nas ilhas do arquipélago das Shetlands do Sul associada a áreas
aplanadas, onde a camada ativa possui espessuras entre os 20 e 50 cm, e onde há
disponibilidade de água em períodos curtos conjugada com a ausência de uma cobertura de
neve de janeiro a março. Dentro da classificação de solos ordenados, são identificados para
a Península de Barton, os círculos de pedras, os solos poligonais e os solos estriados, ainda
que estes últimos estejam associados a superfícies mais declivosas e se situem no setor
sudoeste da península (Vale Baekje), entre os 80 e 120 m de altitude, em superfícies cujo
declive é superior a 15º. Ainda associados a declives suaves, entre os 10 e 20º, encontram-
se os lóbulos de solifluxão dispersos pela península, entre os 20 e 250 m de altitude. As
formas periglaciárias associadas a superfícies declivosas, correspondem, na Península de
Barton, a taludes e cones de detritos. Estes localizam-se em áreas com declives superiores a
25º, associados a escarpas (por ex: Narae Hill e a crista de Noel Hill). Nas praias levantadas
da Península de Barton, a presença de formas periglaciárias é limitada a solos ordenados
com uma ocorrência pontual e à ação da crioclastia.

44
Figura 21 - Mapa geomorfológico da Península de Barton (López-Martínez, Serrano, & Lee, 2002)

45
a) Massa de gelo b) Taludes de
isolada no recuo detritos
do glaciar

c) d)
Solos
ordenados
Moreia

e) f)
Bloco
errático

Direção do
glaciar

g) h)

Lóbulos de
solifluxão

Solos
estriados

Figura 22 - Exemplos de formas geomorfológicas na Península de Barton: a) Vale de Araon (NO); b) Taludes de
detritos na escarpa a norte da crista de Noel Hill; c) Moreia no Vale de Araon; d) Solos ordenados no planalto
superior; e) Rocha aborregada a norte da crista de Noel Hill; f) Bloco errático a norte da crista de Noel Hill; g)
Círculos de pedras; h) Lóbulos de solifluxão e solos estriados.

46
d) Enquadramento Climático

A Península de Barton com um clima polar de influência marítima, tem inerente uma
variabilidade das condições climáticas inter-anual. Esta variabilidade torna necessária uma
caracterização do clima baseada em séries de dados longas. A estação antártica com a série
de dados mais longa, próxima da Península de Barton, é a estação russa de Bellingshausen,
localizada na Península de Fildes a uma distância de 10 km, com dados de temperatura média
mensal para o período de 1969 a março de 2020. É, portanto, a estação cuja série
complementa os dados referentes às variáveis temperatura, precipitação, direção e
velocidade do vento e espessura de neve, disponibilizados pelo Korea Polar Research
Institute (KOPRI) para a Península de Barton no período de 2005 a março de 2020.

No período entre 1969 a 2020, na estação de Bellingshausen, a 6 m de altitude, a


temperatura variou entre -14 e 4 ºC (Figura 23). No período entre 1969 e 1987 constata-se
que as temperaturas máximas foram inferiores a 2 ºC e que as temperaturas mínimas
estiveram próximas de -10 ºC, com exceção dos anos de 1975, 1978 e 1980 onde foram
registadas temperaturas próximas de -12 ºC e identificados invernos mais frios (Figura 23).
Este registo de temperaturas mais frias até aos -12 ºC é interrompida no ano de 1987 onde é
registada uma temperatura máxima de 1 ºC e uma temperatura mínima de -14 ºC. Somente
no ano de 1995 volta a registar temperaturas mínimas próximas deste valor. No período que
se segue, de 1987 até 2020, observa-se na série, com maior frequência, temperaturas
máximas superiores a 2 ºC, o que resulta em verões mais quentes, e temperaturas mínimas
superiores a -8 ºC que sugerem invernos menos frios do que os iniciais da série.

No que diz respeito à temperatura média anual, é registado um valor de -2,3 ºC. Turner
et al. (2019) para a mesma estação refere uma temperatura média anual de -2,1 ºC
considerando a série climática de 30 anos de 1981 a 2010.

Figura 23 - Temperaturas médias mensais ao longo do ano na estação de Bellingshausen (1969 – 2020)

47
Considerando os valores de temperatura máximos, médios e mínimos mensais (Figura
24), no período estival, são registadas temperaturas médias mensais positivas, com valores
entre 0,4 ºC, em março, e 1,5 ºC, em fevereiro. Nos verões de 1997, 2006 e 2020, com
temperaturas mais altas, as médias mensais nunca ultrapassaram os 3 ºC, enquanto que nos
verões de 1973, 2010, 2014 e 2016, com temperaturas mais baixas, os valores aproximaram-
se dos 0ºC, chegando a inclusive a baixar de 0 ºC no mês de fevereiro (2014) (Figura 24). No
outono regista-se uma ligeira descida das temperaturas, passando estas a apresentar valores
entre -4, nos anos de 1970, 1980, 1989 1990 e 2012, e 0 ºC nos anos de 1998, 1999, 2000 e
2002. No Inverno, a descida da temperatura acentua-se, com os valores médios mensais a
descerem abaixo de -4 ºC. Esta estação possui as maiores diferenças interanuais, atingindo
quase 13 ºC entre o inverno mais quente, com uma temperatura média mensal em julho de -
1 ºC (1989), e o mais frio, com uma temperatura média mensal em julho de -13,8 (1987).

Figura 24 – Temperaturas médias mensais obtidas para uma série temporal entre 1969 e 2019 na estação de
Bellingshausen

A estação meteorológica pertencente à estação coreana King Sejong, situada na


Península de Barton a aproximadamente 10 m de altitude, encontra-se num contexto
topográfico próximo do da estação de Bellingshausen. A correlação entre as temperaturas do
ar médias mensais das duas estações é também muito forte, com um valor de R2 de 0,99,
possibilitando a utilização da série da estação de Bellingshausen para o enquadramento das
condições climáticas da Península de Barton (Figura 25).

Figura 25 – Correlação entre a temperatura do ar média mensal da estação de King Sejong e de Bellingshausen

48
Na variável precipitação, da série de King Sejong, os valores de precipitação anuais
até ao ano de 2013 encontram-se entre os 500 mm e 600 mm, com exceção do ano de 2009
onde são registados valores de aproximadamente 860 mm (Figura 26). No período de 2013 a
2020 é observada uma maior irregularidade nos valores de precipitação anuais, com os anos
de 2014, 2016, 2019 a registarem valores inferiores a 400 mm e os anos de 2015 e 2017 a
registarem valores superiores a 700 mm.

Figura 26 – Precipitação anual na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020

No que diz respeito à distribuição ao longo do ano (Figura 27), os valores de


precipitação tendem a concentrar-se nas estações do outono e primavera, com valores
médios mensais entre 50 e 100 mm. Nos anos em que a precipitação média mensal é mais
elevada (abril e outubro) são registados valores próximos de 350 mm. No inverno, os valores
diminuem para menos de 100 mm. Nesta estação, a precipitação predominante é sólida o que
acarreta maiores dificuldades na sua quantificação por parte do equipamento de medição
utilizado (pluviómetro), sobretudo se esta precipitação está associada a vento.

Figura 27 - Precipitação mensal na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020

49
A espessura da cobertura de neve no solo, resultante da precipitação sólida é
condicionada pelo período do ano na qual ocorre, pela quantidade de precipitação e pelas
condições térmicas da superfície, determinantes para a sua manutenção e para o aumento
de espessura. Na Figura 28, observa-se que os valores mais elevados de espessura de neve
estão concentrados no outono e inverno, onde os valores de precipitação tendem a ser mais
elevados (Figura 27) e as temperaturas médias mensais do ar mais baixas (< - 4 ºC). Nesta
variável é ainda observado um afastamento entre os valores médios, inferiores a 100 cm, e
os valores máximos registados, que no inverno são superiores a 200 cm.

Figura 28 - Espessura da cobertura de neve por mês na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020

A espessura da cobertura de neve (Figura 29) está ainda inerente a uma variabilidade
inter-anual com anos a registarem valores inferiores a 50 cm (2005, 2006, 2008, 2013, 2014,
2016, 2018 e 2019), anos a registarem valores entre 50 e 150 cm (2010, 2011, 2015 e 2017)
e anos a registarem valores superiores a 150 cm (2009 e 2012).

Figura 29 - Espessura da cobertura de neve por ano na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020

50
O vento dominante na Península de Barton tem origem no quadrante sul (21% dos
dias da série), seguido pelo vento com origem no quadrante oeste (20% dos dias da série) e
este (18% dos dias) (Figura 30). A sua velocidade tende a ser superior nos meses de outono
e inverno, embora apenas 21% dos dias na série tenham registado valores superiores a 10
m/s e apenas 2%, valores superiores a 15 m/s. Nos restantes dias da série, o vento tende a
registar velocidades entre os 0 e 5 m/s (26%) e entre os 5 e 10 m/s (53%).

No que concerne à direção do vento por mês e estações do ano (Figura 31), não são
observadas variações significativas, sendo que a direção predominante permanece a de
noroeste.

Figura 30 – Direção e velocidade do vento na estação de King Sejong (2005-2020)

Figura 31 - Direção e velocidade do vento por mês e estação na estação de King Sejong (2005 - 2020)

51
CAPÍTULO 3 - MÉTODOS E TÉCNICAS

3.1. Introdução

O estudo do regime térmico do permafrost e da superfície do solo foi organizado em


quatro fases (Figura 32). A primeira, referente ao trabalho de campo da campanha antártica
de 2018/19, no qual se procedeu à instalação dos equipamentos para aquisição dados de
temperatura do ar e solo, e ao reconhecimento do terreno para suporte da cartografia de base.
Uma segunda, ocorreu na campanha antártica de 2019/20, em que foi feito o levantamento
geomorfológico de pormenor e a recolha de dados termométricos. A terceira fase, relativa à
análise e processamento de dados, na qual se inclui o trabalho laboratorial, constituiu a etapa
mais demorada e complexa. Nesta está incluído o trabalho de pesquisa que fundamentou a
componente teórica e permitiu a definição de abordagens metodológicas no tratamento e
análise dos dados. Estes últimos foram, numa quarta fase, organizados para a apresentação
dos resultados obtidos no estudo. Neste capítulo serão apresentados os procedimentos
adotados na instalação dos equipamentos e os métodos utilizados no tratamento e análise de
dados.

Figura 32 – Esquematização das etapas de trabalho

52
O trabalho realizou-se a duas escalas de análise (Figura 33). Uma maior e de maior
detalhe, focada na área de estudo de pormenor de Jeonjaegyu e, uma outra, na área de
enquadramento Araon que se estende do planalto central até ao limite norte da Península de
Barton.

A área de estudo de pormenor Jeonjaegyu enquadra a perfuração de King Sejong


Station e tem uma superfície de 0,11 km2, correspondendo ao setor montante do vale amplo
Jeonjagyu que faz a ligação entre o planalto superior de Silla Hill (170 a 180 m de altitude) e
o planalto inferior Gaya Hill (110 a 120 m). O setor estudado, localiza-se próximo da cabeceira
do Vale de Jeonjaegyu, correspondendo a um circo glaciário incipiente, onde foram instalados
7 sensores com o intuito de estudar o regime térmico do solo. A área foi cartografada com um
Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) em fevereiro de 2019 pelo Prof. Pedro Pina (projeto
VEGETANTAR), o que permitiu realizar um mapa geomorfológico de pormenor, relevante
para a análise do regime térmico do solo e para o estudo da dinâmica periglaciária.

Figura 33 - Enquadramento das áreas de estudo da Península de Barton

A área de estudo de Araon, mais abrangente, corresponde ao setor a norte do planalto


de Silla Hill, com aproximadamente 5 km2, onde o relevo é caracterizado pela presença da
crista de Noel Hill, pelo vale de Araon e pela sucessão de colinas que tornam o relevo a norte
do planalto mais acidentado. Foi nesta área que foram instalados os equipamentos para
medição da temperatura do ar e do solo, com o objetivo de estudar o regime térmico do solo.
A ausência de equipamentos no setor a sul do planalto, distinto no que concerne ao relevo e
exposição, levaram à sua exclusão da área de estudo de enquadramento.

53
3.2. Cartografia

A cartografia de base e derivada da Península de Barton foi utilizada como suporte


para a caracterização física, como ferramenta para enquadramento dos instrumentos
instalados e espacialização dos parâmetros calculados e, como complemento na análise do
regime térmico do solo, através da associação de cada sensor às variáveis altitude,
exposição, declive, radiação solar, curvatura e Índice Topográfico de Posicionamento (Figura
34).

Figura 34 – Esquematização da abordagem SIG utilizada na cartografia de base e derivada

3.2.1. Cartografia topográfica e modelos derivados

O Modelo Digital de Elevação (MDE) com uma resolução de 10 m foi criado usando os
dados vetoriais de pontos cotados e curvas de nível com equidistância de 5 metros fornecidos
pelo KOPRI. O MDE permitiu calcular os mapas de declives, exposição, radiação solar global,
curvatura e o Índice de Posicionamento Topográfico (Figura 33).

a) Radiação Solar Global

O modelo de radiação solar global foi calculado no software ArcGIS através da


ferramenta “Area Solar Radiation”, utilizando-se como input o MDE e definindo dois períodos
temporais, cada um de 6 meses. Um referente ao outono e inverno de 2019, com início a 21
de março de 2019 e fim a 23 de setembro de 2019, e outro à primavera e verão com início a

54
23 de setembro de 2019 e fim a 20 de março de 2020. O objetivo destes dois modelos é o de
obter estimativas inerentes à radiação solar incidente para o período de congelação e
descongelação de forma a apoiar o processo de análise.

Foi utilizado o modelo “Standard Overcast Sky”, que considera uma variação da
radiação difusa de acordo com o ângulo zenital, e um valor de 70% de radiação difusa (0,7),
correspondente a condições de céu nublado, e um valor de transmissividade de 0,2 ajustado
às condições atmosféricas na Península de Barton. Os valores de transmissividade variam
entre 0 (opaco) e 1 (total transmissividade), sendo o valor de 0,5 referente a condições de céu
geralmente limpo. Uma vez que na Península de Barton há um domínio de condições de
nebulosidade, optou-se pela utilização de um valor mais baixo (0,2), seguindo as abordagens
de Fu & Rich (1999) e Andrade et al. (2018).

b) Curvatura da superfície

O modelo da curvatura da superfície, calculado com a ferramenta “Curvature”, foi


utilizado com o intuito de identificar as superfícies concavas (>0), convexas (<0) e retilíneas
(=0). A curvatura da superfície é especialmente relevante pela influência exercida na
acumulação de neve com impacte no regime térmico do solo através do efeito de isolamento
térmico. Os valores obtidos possibilitam a análise com os fatores-n.

c) Índice de Posição Topográfica

O Índice de Posição Topográfica (TPI) possibilita a classificação das formas de relevo


em topos, cristas, vertentes, depressões, vales e áreas aplanadas. A classificação é realizada
através da diferença dos valores de altitude de uma célula e a elevação média das células na
vizinhança (Jenness et al., 2013). Os valores positivos são indicativos de que a célula se
encontra a maior altitude face às células da vizinhança, enquanto valores negativos indicam
uma posição de menor altitude. O grau a que cada célula é mais elevada ou mais baixa e o
declive da vertente permitem a classificação da célula quanto à sua posição topográfica. Nesta
classificação, valores positivos elevados estão associados a cristas ou topos, e valores
negativos a fundos de vale. Os valores próximos de 0 são referentes a áreas planas e a
vertentes. A distinção entre ambas é realizada através do mapa de declives. A aplicação deste
índice foi feita com a toolbox “Land Facet Corridor Tools” da Jenness Enterprises. Nesta,
converteu-se o MDE num raster TPI, definindo como parâmetros a utilização de uma forma
de vizinhança circular que englobasse células num raio de 20 m. Foram assim calculadas três
classes: depressões, vertentes e cristas. Na terceira etapa, o raster com as três classes foi
associado ao raster de declives de forma a classificar as vertentes segundo o declive.

55
Este passo permitiu a identificação nas superfícies aplanadas. Por fim, o raster TPI foi
produzido com as classes: i) Depressão; ii) Superfície aplanada; iii) Topos ou Cristas; iv)
Vertentes.

d) Mapa geológico e geomorfológico

O mapa geológico de Lee et al. (2002) e o mapa geomorfológico de López-Martínez et


al. (2002) procedem de cartas rasterizadas em formato TIFF no GEOMODLAB do CEG, que
georreferenciámos. No primeiro, após a georreferenciação, procedeu-se à vectorização das
unidades geológicas (Figura 13).

3.2.2. Cartografia geomorfológica de pormenor

A cartografia geomorfológica de pormenor, elaborada para a área de estudo de


Jeonjaegyu, teve como objetivo cartografar as formas de relevo, os tipos de depósito e os
processos periglaciários. Esta cartografia aliada aos dados de temperatura do solo, permite
uma melhor avaliação da dinâmica geomorfológica e do impacte dos regimes térmicos na
mesma.

3.2.2.1. Cartografia de base de ultra-alta resolução

Para a realização da cartografia geomorfológica de pormenor, usou-se um


levantamento aéreo com um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), levado a cabo pelo Prof.
Pedro Pina no dia 23 de fevereiro de 2019. Este levantamento, realizado a 60 metros de altura
com um DJI Phantom 3, equipado com uma camara RGB FC300C, é constituído por 251
fotografias que cobrem uma área de 0,12 km2. Estas fotografias, necessárias para a etapa de
processamento e para a criação do ortofotomosaico, foram alvo de uma correção de
luminosidade que minimizasse o escurecimento das fotografias provocado pela leitura do
sensor quando sobrexposto devido à reflexão de uma superfície de neve. De seguida,
procedeu-se à sua importação para o software Pix4D, onde foi executado o processamento
3D Maps, tendo por base os parâmetros: i) Image scale: multiscale ½; ii) Point density: optimal;
iii) Minimum number of matches: 3. Em fevereiro de 2019 foram recolhidos pontos de controle
no terreno com recurso a um GPS diferencial, usados para a georreferenciação detalhada da
nuvem de pontos 3D. O resultado final do processamento foi uma nuvem de pontos 3D,
utilizada para visualização, um ortofotomosaico e um Modelo Digital de Superfície (MDS) com
uma resolução de 2,11 cm/pixel.

56
Do MDS foram extraídas as curvas de nível com equidistância de 1 metro, utilizadas
como base para o esboço geomorfológico de campo realizado em fevereiro de 2020 (Figura
35). Adicionalmente, foi feito o registo fotográfico da área de estudo e das diferentes formas
de relevo, depósitos e processos identificados. O esboço geomorfológico, o registo fotográfico
e o modelo 3D, constituíram ferramentas de suporte à vectorização das unidades
geomorfológicas, realizada sobre o ortofotomosaico, permitindo a criação do mapa
geomorfológico. No que diz respeito à simbologia adotada, foram utilizados como suporte os
trabalhos de Salvatore et al. (1997), Vieira et al. (2000), Salvatore et al. (2001), Navas et al.
(2008), Mink et al. (2014) e Lambiel et al. (2015), tendo-se criado uma legenda de base
genética adequada à área de estudo, destacando-se a dinâmica periglaciária e a dinâmica
glaciária.

Figura 35 – Esboço geomorfológico da área de estudo Jeonjaegyu

3.3. Análise climática

Os dados climáticos analisados visam caracterizar o clima da Península de Barton,


analisar a representatividade do período de estudo e apoiar a análise do regime térmico do
solo. Para tal, foram utilizados os dados da série da estação russa de Bellingshausen (1969
– 2020), da série da estação sul coreana King Sejong (2005 – 2020) e os dados obtidos dos
dois dataloggers instalados na Península de Barton (03/03/2019 – 03/03/2020).

57
3.3.1. Significado climático do período de estudo: Série de dados
de temperatura do ar da estação de Bellingshausen (1969-2020)

A série meteorológica da estação russa de Bellingshausen, com dados para o período


de 1969 a 2020, é a mais longa na proximidade da Península de Barton. A estação, localizada
a 10 km da área de estudo, na Península de Fildes (62.2º S, 58.9º W, 16 m), tem disponíveis
as temperaturas médias mensais do ar compiladas na base de dados MET-READER (SCAR).
A duração da série de Bellingshausen é especialmente relevante para caracterizar o clima na
Península de Barton, e para enquadrar o período de 2019-20, de forma a avaliar a sua
representatividade temporal. A validade deste procedimento é apoiada pelos valores do
coeficiente de correlação entre as temperaturas médias mensais de ambas as estações, com
um r2= 0,99. Assim, para avaliar a representatividade do ano estudado, os valores de
Bellingshausen de 2019-20, foram comparados com os valores das temperaturas médias e
extremas mensais, bem como com os do 1º e 3º quartil, do período 1969-2020.

3.3.2. O clima da Península de Barton

Para a caracterização do clima na Península de Barton, foi necessária uma análise


sobre um conjunto mais amplo de variáveis meteorológicas, possível através da série de
dados da estação sul coreana King Sejong. Foi também necessária a determinação do
gradiente altitudinal para o período de estudo, usando para a estimativa da temperatura do ar
nos locais de instalação dos sensores térmicos de superfície. Para a determinação deste
gradiente, foram utilizadas as temperaturas registadas pelos dois dataloggers por nós
instalados na praia e na perfuração KSS.

a) Série de dados da Base Antártica Coreana King Sejong (2005 - 2020)

A série de dados da estação sul coreana King Sejong refere-se ao período de 2005 a
2020. Esta série disponibilizada pelo KOPRI, possui um maior número de variáveis e uma
maior discriminação temporal dos dados do que a série de Bellingshausen disponível no
METREADER. Estão disponíveis dados com frequência horária de velocidade (m/s) e direção
(graus) do vento, temperatura do ar (ºC) e humidade relativa (%). A estes, e numa frequência
diária, acrescem os valores de precipitação (mm) e espessura de neve (cm). Estes dados
permitem uma caracterização mais detalhada do clima do período de estudo, de modo a
melhor compreender os regimes térmicos do solo.

58
b) Postos termométricos e estimação do gradiente altitudinal de
temperaturas

A instalação dos dois postos termométricos na Península de Barton, teve como


objetivo o registo de temperaturas do ar a duas altitudes: uma próxima do nível do mar e outra
mais elevada (Figura 36-c e d). Este registo permitiu o cálculo do gradiente altitudinal para
cada hora do período de estudo e a estimativa da temperatura do ar a diferentes altitudes.
Esta estimativa permitiu determinar a temperatura do ar nos locais de instalação dos sensores
de superfície a assim calcular os Freezing and Thawing Degree Days e os Fatores-n.

O posto termométrico mais elevado foi instalado junto à perfuração de King Sejong
Station a 128 m de altitude, ficando ancorado num afloramento rochoso (62.228846 S;
58.770317 W). O posto termométrico foi instalado numa praia levantada a 13 m de altitude,
no local de instalação do sensor de superfície Alt_N13, próximo dos armazéns da estação
coreana (62.22084 S; 58.77293 W). Para efeitos de identificação, doravante, serão usadas as
designações “KSB” para o posto termométrico instalado na perfuração King Sejong Station e
a designação “Praia” para o posto termométrico instalado a menor altitude.

O registo das temperaturas em cada um dos postos é feito com um datalogger


Geoprecision M-Log 5W-Cable, com uma capacidade de armazenamento de 2,048 kb (400
000 registos), uma precisão de ± 0,1°C a 0ºC e uma resolução de 0,01ºC (Figura 36-a). Estes
dataloggers possibilitam a programação e recolha de dados através do interface wireless.

No processo que antecedeu a instalação, os dois dataloggers foram calibrados num


banho de gelo, no qual foram submersos num recipiente com uma mistura de água destilada
e gelo, juntamente com a sonda do termómetro Fluke 1551A (precisão ± 0,05 °C).

No processo de instalação, os dois dataloggers foram protegidos por um escudo de


radiação, fixo a um poste de madeira a 1,5 m de altura (Figura 36-e). Durante a campanha de
2019/20, os dois postes foram vistoriados de forma a avaliar a estabilidade e resistência
conservada. Embora ambos se mantivessem em boas condições, na perfuração de King
Sejong Station procedeu-se à substituição do poste de madeira por um de aço inoxidável, que
assegura uma maior resistência (Figura 36-f). Esta substituição levou a uma interrupção no
registo de dados no período de 31/01/2020 a 06/02/2020. Excluindo este hiato, os dois
dataloggers registaram dados de 2 de março de 2019 até 2 de março de 2020, sem
interrupções ou falhas. Na fase de processamento, calculou-se a correlação entre os dados
obtidos nos dois sensores, para os quais foi obtido um valor de r2 de 0,99 (correlação muito
forte) (Figura 37). A reta de regressão foi usada para estimar os valores de temperatura do ar
no dataloggers KSB para o período de interrupção referido acima.

59
a) b)

c) d)

e) f)

Figura 36 - a) Instalação dataloggers no escudo radiativo; b) Preparação do solo para fixação do poste de
madeira; c) Datalogger na perfuração KSS; d) Datalogger na praia; e) Identificação do datalogger no escudo
radiativo; f) Substituição do poste de madeira por um metálico no datalogger da perfuração KSS

Figura 37– Correlação entre os valores registados pelos dataloggers KSB e Praia

60
3.4. Temperaturas de superfície do solo

O registo das temperaturas de superfície do solo em locais com diferentes


características topográficas de que são exemplo a altitude, exposição e curvatura, teve como
objetivo o estudo dos regimes térmicos do solo e a análise dos fatores topográficos com maior
impacte nos mesmos.

3.4.1. Características dos sensores

Utilizaram-se como sensores miniloggers de temperaturas de superfície iButtons


DS1922L (Maxim Integrated), com uma memória de 8 kb, uma resolução de 8 bits (0,5 ºC) ou
11 bits (0,0625ºC) e uma precisão de cerca de ±0,125 ºC a 0 ºC (Gubler et al., 2011). A sua
utilização é abordada nos estudos de Hubbart et al. (2005), que testam a sua precisão, em
Brabyn et al. (2014),que aplica-os nos Dry Valleys na Antártida e por por Ferreira et al. (2016)
no estudo das temperaturas do solo na Península de Hurd (ilha de Livingston). Estes sensores
possuem uma memória de 8 kb e registam temperaturas com uma resolução de 8 bits (0,5ºC)
ou 11 bits (0,0625ºC).

Os iButton foram acoplados a uma placa metálica com 20 x 20 cm, de elevada


difusidade, facilitando a transferência do calor e uma medição mais correta da temperatura do
solo, e enterrados a uma profundidade de cerca de 2 cm (Figura 38). Todos os sensores foram
calibrados num banho de gelo e programados para registar as temperaturas num intervalo de
3 horas, o que perfaz 8 leituras diárias (03:00, 06:00, 09:00, 12:00, 15:00, 18:00, 21:00 e 24:00
horas).
a) b)

c) d)
Sensor
Top_N_SW129

Figura 38 - a) Modelo esquemático da estrutura de instalação dos sensores de superfície; b) Instalação sensor
Top_N_SW129; c) Local de instalação; d) Recolha do sensor Top_N_SW129 na campanha antártica de 2019/20.

61
3.4.2. Distribuição espacial dos sensores

A escolha dos locais de instalação dos sensores de temperatura do solo, foi realizada
após um reconhecimento da área e a identificação das localizações com maior potencial para
avaliar a influência dos fatores altitude, exposição e morfologia nos regimes térmicos (Tabela
3 e Figura 39).

Para a análise do controle da altitude foram selecionados quatro locais ao longo de um


gradiente altitudinal, mas com características morfológicas semelhantes, de forma a reduzir a
interferência de outras variáveis. Assim, estes sensores foram instalados a 13 (Alt_N13), 73
(Alt_W73), 182 (Alt_NE182) e 254 m (Alt_W254) em superfícies planas e expostas com uma
cobertura de calhaus e blocos com exceção do sensor a menor altitude (Alt_N13) cuja
cobertura é um solo arenoso grosseiro (Figura 40). Este conjunto de sensores será
identificado pela sigla Alt.

Tabela 3 – Referências dos sensores de superfície instalados


Designação Fator Latitude Longitude Altitude Superfície

Alt_N13 Altitude 62,22084 58,77293 13 Material arenoso (depósito de leque aluvial).

Clastos angulosos (2 a 6 cm) suportados pela matriz. Material inferior


Alt_W73 Altitude 62,22646 58,78371 73 composto por silte argiloso com granulos. Depósito heremétrico não
calibrado suportado pela matriz.
Clastos angulosos com 2 a 6 cm e uma cobertura vegetal esparsa de
Alt_NE182 Altitude 62,22722 58,76133 182
Usnea.
Círculo de pedras com rebordo de calhaus angulosos (10 a 20 cm).
Alt_W254 Altitude 62,22377 58,74777 254 Interior do círculo composto por diamicton silto argiloso com areia e
clastos centimétricos.
Alto de vertente com cobertura esparsa de blocos angulosos. Pequeno
Exp_N183 Exposição 62,22646 58,76697 183
setor com calhaus angulosos com matriz areno argilosa.
Lóbulo de pedras. Clastos centimétricos suportados por calhaus
Exp_E179 Exposição 62,22667 58,76569 179
angulosos com dimensões entre os 10 e 15 cm.
Terraço. Cobertura superficial de calhaus angulosos centimétricos.
Exp_S183 Exposição 62,22692 58,76619 183
Depósito arenoso com granulos achatados abundantes.
Terraço com lóbulo de solifluxão. Cobertura de clastos centimétricos
Exp_SW179 Exposição 62,22690 58,76699 179
suportados por calhaus angulosos com dimensões de 10 a 15 cm.
Clastos centimétricos e decimétricos angulosos em matriz. Material
Topografia - Vale
Top_VJ_W135 62,22863 58,77065 135 inferior composto por solo silto argiloso suportado pela matriz (em
Jeonjaegyu
parte gelado).
Topografia - Vale Clastos centimétricos suportados pela matriz. Argila e areia saturada
Top_VJ_NE132 62,22856 58,77070 132
Jeonjaegyu com segregação de gelo.
Topografia - Vale Círculo de pedras com material argilo siltoso e clastos centimétricos
Top_VJ_W133 62,22822 58,77032 133
Jeonjaegyu esparsos.
Mud-boil com película de granulos achatados angulosos, clastos
Topografia - Vale
Top_VJ_S134 62,22749 58,77027 134 centimétricos com matriz silto argilosa. Camada inferior composta por
Jeonjaegyu
argila siltosa saturada, com pequenos granulos esparsos.
Topografia - Vale Moreia (vertente). Depósito de calhaus angulosos sem matriz de
Top_VA_N133 62,22575 58,75894 133
Araon suporte.
Topografia - Vale Fundo de vale. Depósito heterométrico com calhaus sub angulosos e
Top_VA_NE118 62,22474 58,75773 118
Araon angulosos argilo siltoso com saturação de água.
Topografia - Vale
Top_VA_S128 62,22371 58,75797 128 Depósito de vertete. Talude detritico composto por clastos.
Araon
Topografia - Vertente de declive suave na base do neveiro. Calhaus achatados e
Top_N_SW132 62,22902 58,77024 132
Neveiro angulosos de 5 a 6 cm. Depósito silto arenoso com argila e granulos.
Topografia - Vertente de declive suave na base do neveiro. Círculo de pedras com
Top_N_SW130 62,22902 58,77051 130
Neveiro depósito areno siltoso com argila.
Topografia - Vertente de declive suave na base do neveiro. Blocos e calhaus
Top_N_SW129 62,22908 58,77109 129
Neveiro angulosos centimétricos sem matriz (corrente de blocos)
Praia levantada. Cobertura de musgos com 2 cm e camada inferior
Top_P_N16 Topografia - Praia 62,22061 58,77293 16
areno siltosa.
Setor estável de leque aluvial composto por blocos e calhaus sub
Top_P_NW25 Topografia - Praia 62,22107 58,77195 25
angulosos e rolados com colonização densa de Usnea.

62
Figura 39 – Localização dos sensores térmicos de superfície na Península de Barton

Figura 40 – Cobertura do sensor Alt_N13 constituída por solo arenoso

Para o fator exposição, os sensores foram instalados nas vertentes norte (Exp_N183),
este (Exp_E179), sul (Exp_S183) e sudoeste (Exp_SW179) do monte Goguryeo (Tabela 3 e
Figura 39), de forma a avaliar a influência das quatro orientações. A ausência de um sensor
orientado a oeste deve-se à impossibilidade de ter sido instalado pelo forte declive. Neste
conjunto, a sigla de identificação é Exp.

63
Os sensores instalados para análise do efeito da morfologia foram organizados em 4
subgrupos com diferentes propósitos (Tabela 3):

- No Vale de Araon foram instalados três sensores, pertencentes ao conjunto Top_VA


- nas vertentes com exposição a norte (Top_VA_N133), a sul (Top_VA_S128) e no fundo de
vale (Top_VA_NE118). Este subgrupo visou a análise do impacte da posição no vale no
regime térmico do solo.

- A baixa altitude (entre 16 e 25 m), no setor norte da Península de Barton, instalaram-


se dois sensores pertencentes ao conjunto Top_P - um numa superfície convexa num terraço
marinho (Top_P_N16) e outro numa área de declive associada a um leque aluvial
(Top_P_NW25). Esta instalação teve o intuito de analisar a influência da morfologia em dois
sensores instalados a uma altitude próxima e com uma exposição a norte e noroeste.

- Próximo da perfuração King Sejong Station foram instalados três sensores do


conjunto Top_N (Top_N_SW132; Top_N_SW130 e Top_VJ_SW129) num transecto com
afastamento progressivo à base de um neveiro. Tal localização foi escolhida com o propósito
de perceber a influência do neveiro e do número de dias sem neve no solo no regime térmico
do solo no período de descongelação.

- No vale a sul do monte Jeonjaegyu foram instalados quatro sensores num transecto
em locais com pequenas variações topográficas, ilustrando as condições num interflúvio
(Top_VJ_W135), na concavidade na base de uma vertente (Top_VJ_N132), numa área plana
(Top_VJ_NE133) e numa declivosa com depósitos de vertente (Top_VJ_S134). Este conjunto
é identificado através da designação Top_VJ (Figura 41).

Figura 41 – Sensores instalados no vale de Jeonjaegyu

64
3.4.3. Índices térmicos

Todos os sensores de superfície foram instalados no dia 28 de fevereiro de 2019 e


recolhidos nos dias 1 e 3 de fevereiro de 2020. Não obstante, o período de dados em análise
começa no dia 2 de março de 2019, para correspondência com os dados obtidos dos restantes
instrumentos. Já o fim de registo é antecipado face ao fim estipulado no período de estudo,
não perfazendo 1 ano de dados, aspeto que se deveu à segunda campanha no terreno ter
sido realizado no início de fevereiro de 2020. De forma a colmatar o período de dados em falta
de 31 de janeiro de 2020 a 2 de março de 2020, procedeu-se a uma estimativa das
temperaturas do solo. Esta estimativa foi feita através da reta de regressão determinada a
partir da correlação entre as temperaturas do ar no local de instalação de cada sensor e as
temperaturas do solo à superfície para o período de 21 de dezembro a 31 de janeiro de 2020,
representativo das condições de solo sem neve (Figura 42). É importante notar que as
temperaturas do ar em cada local foram estimadas usando os gradientes altitudinais obtidos
a partir das observações dos sensores da praia e KSB. As temperaturas do ar instantâneas
em cada sensor, foram também elas estimadas através dos gradientes térmicos altitudinais
instantâneos calculados para cada hora de observação.

Figura 42 – Correlação da temperatura do ar e do solo de cada sensor superficial instalado

65
Os dados de temperatura do ar e da superfície do solo de cada sensor, foram utilizados
para o cálculo de um conjunto de índices que permitiram a análise do regime térmico do solo
e dos efeitos de diferentes fatores topográficos (altitude, exposição, curvatura, posição
topográfica e cobertura de neve) nos mesmos. Foram assim calculados os ciclos de gelo-
degelo, os freezing e thawing degree days e os fatores-n de congelação e descongelação.
Adicionalmente, foram definidos e analisados os regimes térmicos diários.

a) Ciclos gelo-degelo

O número de ciclos de gelo-degelo reflete a frequência com que a temperatura oscila


acima e abaixo do ponto de congelação, com impacte na segregação de gelo e na
meteorização das rochas (French, 2007). Não obstante, a utilização deste parâmetro
apresenta algumas limitações por não estar associado diretamente à congelação da água no
solo, uma vez que a temperatura pode descer abaixo de 0º C sem que haja congelação, seja
pelo teor de humidade do solo ou pela presença de sais dissolvidos. Outro aspeto limitativo é
a intensidade dos ciclos de gelo-degelo. No seu cálculo é considerada a frequência das
oscilações em torno de 0ºC e não a amplitude térmica ou taxa de arrefecimento. Assim, podem
surgir situações onde um número elevado de ciclos de menor intensidade, tenha um menor
morfogénico, face a um número reduzido de ciclos de grande intensidade (French, 2007).

Na Península de Barton, o cálculo dos ciclos de gelo-degelo permite uma análise sobre
a frequência de oscilações associadas às condições topográficas nas quais os sensores foram
instalados. Outros trabalhos utilizaram o cálculo deste parâmetro para o estudo da camada
ativa (Michel et al., 2014) e para o estudo da distribuição do solo gelado (Serrano et al., 2020).

b) Freezing Degree Days e Thawing Degree Days

Os Freezing e Thawing Degree Days são índices que traduzem a severidade do clima
e a intensidade dos períodos de congelação e descongelação do ar e do solo à superfície
(Karunaratne & Burn, 2003; French, 2007).

O cálculo dos índices de congelação e descongelação, segundo a abordagem seguida


de Karunaratne & Burn (2003, 2004), está dependente da delimitação dos períodos
correspondentes de congelação e descongelação. Esta delimitação é feita com recurso às
curvas da temperatura média diária do ar e do solo à superfície, onde ser determina o
momento a partir do qual a temperatura permanece de forma constante, em ambas as curvas,
abaixo de 0º C. Observando a Figura 43, o início do período de congelação corresponde ao
fim do mês de março. O período de descongelação tem, por sua vez, início no momento a

66
partir do qual as temperaturas médias diárias do ar e do solo à superfície se mantêm de forma
constante acima dos 0ºC. Neste caso no fim do mês de outubro.

Figura 43 – Temperaturas médias diárias do ar e do solo à superfície no sensor Top_VJ_W133

Com a definição dos períodos de congelação e descongelação, são calculados os


freezing/thawing degree days diários e anuais para cada sensor. Tal cálculo é feito através do
somatório do módulo das temperaturas médias diárias da superfície do solo (FDDs) e do ar
(FDDa), abaixo dos 0 ºC para o período de congelação, e ao somatório das temperaturas
médias diárias da superfície do solo (TDDs) e do ar (TDDa), acima dos 0 ºC para o período
de descongelação (Smith & Riseborough, 1996; Klene et al. 2001).

c) Fator-n

O fator-n, índice que é função da transferência de calor à superfície, corresponde a um


rácio entre os freezing degree days da superfície e do ar, durante o período de congelação, e
entre os thawing degree days da superfície e do ar durante o período de descongelação
(Lunardini, 1978). É calculado através das expressões:

(9)

𝐹𝐷𝐷𝑠
𝑛𝑓 =
𝐹𝐷𝐷𝑎

(10)

𝑇𝐷𝐷𝑠
𝑛𝑡 =
𝑇𝐷𝐷𝑎

(𝑛𝑓 – fator-n de congelação; 𝑛𝑡 – fator-n de descongelação; 𝐹𝐷𝐷𝑠 – índice de congelação do solo; 𝐹𝐷𝐷𝑎 – índice
de congelação do ar; 𝑇𝐷𝐷𝑠 – índice de descongelação do solo; 𝑇𝐷𝐷𝑎 – índice de descongelação do ar)

O valor de fator-n obtido é indicativo da proximidade térmica entre o ar e a superfície


do solo. Se for igual a 1, temos uma situação onde a temperatura é a mesma e há uma
transferência de calor entre o ar e a superfície do solo ótima. Se o valor obtido for inferior a 1,
na estação de congelação a temperatura na superfície do solo é superior à temperatura do
ar, resultante de um efeito isolante de que é exemplo o efeito de uma cobertura de neve.

67
De forma contrária, um valor inferior a 1 na estação de descongelação, é indicativo de uma
temperatura do solo à superfície inferior à temperatura do ar, frequentemente associado a
situações onde existe uma cobertura vegetal (Smith & Riseborough, 1996, 2002;
Karunaratne & Burn, 2004).

3.4.4. Tipos de regime térmico diário

O estudo dos tipos de regimes térmicos diários teve por base a abordagem adotada
por Vieira et al., (2003), no contexto da Serra da Estrela, e por Nieuwendam (2009) na
Península de Hurd (Ilha Livingston, Antártida), onde foi considerada a ciclicidade das
oscilações térmicas diárias em torno dos 0 ºC e a profundidade dessas mesmas oscilações,
com exclusão das amplitudes térmicas.

No caso dos sensores de superfície instalados na Península de Barton, o registo da


temperatura foi feito a uma profundidade de aproximadamente 2 cm. Desta forma, não são
detidos registos que permitam uma análise a diferentes profundidades das oscilações de
temperatura. Assim, optou-se por utilizar juntamente com o critério das oscilações térmicas
diárias em torno dos 0 ºC, a amplitude das mesmas. Para determinar esta última calculou-se
a temperatura média, máxima e mínima diária, bem como o valor de desvio-padrão, que foram
utilizadas na definição de 7 regimes térmicos diários (2 regimes sem congelação, 2 regimes
com congelação fusão e 3 regimes com congelação) (Tabela 4 e Figura 44):

- Regime sem congelação e com reduzida amplitude térmica (U1) – As temperaturas


do solo estão acima dos 0 ºC e a temperatura máxima é inferior à média mais o desvio-padrão.
Tal resulta num regime com temperaturas positivas e sem oscilações térmicas diárias
pronunciadas (Figura 44-a).

- Regime sem congelação e com amplitude térmica pronunciada (U2) – As


temperaturas do solo estão acima dos 0 ºC e a temperatura máxima é superior à média mais
uma vez o desvio-padrão. Tal resulta num regime com temperaturas positivas e com
oscilações térmicas diárias pronunciadas (Figura 44-b).

- Regime com congelação e fusão com reduzida amplitude térmica (FT1) – A


temperatura máxima é superior a 0 ºC e a temperatura mínima é inferior a 0º C e superior à
média menos uma vez o desvio-padrão. Tal resulta num regime com oscilação em torno dos
0 ºC, sem que seja registada uma amplitude térmica pronunciada (Figura 44-c).

68
- Regime com congelação e fusão com amplitude térmica pronunciada (FT2) – A
temperatura máxima é superior a 0 ºC e a temperatura mínima é inferior a 0º C e inferior à
média menos uma vez o desvio-padrão. Tal resulta num regime com oscilação em torno dos
0º C, em que é registada uma amplitude térmica pronunciada (Figura 44-d).

- Regime com congelação e com reduzida amplitude térmica (F1) – As temperaturas


são inferiores a 0 ºC e a temperatura mínima é superior à média menos uma vez o desvio-
padrão. Tal resulta num regime em que as temperaturas são negativas e sem oscilações
térmicas diárias pronunciadas (Figura 44-e).

- Regime com congelação e com amplitude térmica pronunciada (F2) - As


temperaturas são inferiores a 0º C e a temperatura mínima é inferior à média menos uma vez
o desvio-padrão. Tal resulta num regime em que as temperaturas são negativas com
oscilações térmicas diárias pronunciadas (Figura 44-f).

- Regime com congelação e temperaturas próximas de 0º C (F3) – Regime onde aa


temperaturas permanecem estáveis nos 0 ºC (Figura 44-g).

Os regimes térmicos quando representados graficamente, serão codificados através


de uma palete de cores presente na Tabela 4.

Tabela 4 – Codificação regimes térmicos do solo

69
Figura 44 – Tipos de regimes térmicos diários nos sensores de superfície do solo

70
3.4.5. Análise dos fatores de controlo no regime térmico do solo

A aplicação do método One-Way ANOVA teve por objetivo avaliar a significância dos
fatores topográficos (variáveis independentes), na determinação de diferenças nos regimes
térmicos do solo associados a cada sensor de superfície.

O método One-Way ANOVA, baseado na análise de variância, visa comparar as


médias de uma variável dependente entre dois ou mais grupos, definidos segundo as
categorias da variável independente (X) (Warner, 2013). A classificação pode ser natural ou
realizada pelo operador. Este método determina, assim, através de um valor de significância
(p), se existem diferenças significativas entre as médias dos grupos e, se essas diferenças se
devem a erro ou são aleatórias (Judd et al., 2009; Herzog et al., 2019). Para tal, é colocada
como hipótese a priori de que as diferenças entre os grupos definidos segundo a variável
independente, não resultam de erros ou são aleatórias. A comprovação desta hipótese é dada
pelo valor de F (rácio entre a média quadrada entre grupos e a média quadrada dentro de
cada grupo) e pelo valor de significância calculado na análise (p< 0,05).

Na aplicação do método foi necessário proceder a uma estruturação dos dados com a
definição das variáveis dependentes e independentes a utilizar e a sua organização. Como
variáveis dependentes foram selecionados os parâmetros térmicos do solo que possam
traduzir o efeito dos fatores topográficos: temperatura média anual da superfície do solo
(TMASS), Freezing Degree Days (VD_FDD), Thawing Degree Days (VD_TDD), fatores-n de
congelação (VD_FNC), fatores-n de descongelação (VD_FND), ciclos de gelo-degelo
(VD_CF), duração do período de congelação (VD_PC) e duração do período de
descongelação (VD_PD). Como variáveis independentes, foram escolhidas: altitude,
exposição, curvatura, morfologia (Índice Topográfico de Posicionamento) e os números de
dias com e sem cobertura de neve.

As variáveis independentes nominais foram convertidas em categóricas, com cada


classe a ser responsável pela definição de um grupo de sensores. Isto é, se considerarmos
a variável independente altitude, os 20 sensores com altitudes entre os 13 e 254 m foram
agrupados em classes referentes a intervalos de altitude: 10-25, 61-130, 131-160 e > 160 m.
O mesmo foi feito para a variável independente cobertura de neve. Esta é referente ao número
de dias em que cada sensor possuí uma cobertura de neve isolante, responsável por diminuir
a amplitude térmica do solo. Nos 20 sensores o número de dias variou entre 0 e 281, pelo que
foram criadas as classes: 0, 1-50, 51-100, 101-150, 151-200, 201-250, 251-300.

71
A ANOVA foi realizada juntamente com teste de homogeneidade de Levene, de forma
a analisar a equidade das variâncias de cada grupo. Esta equidade é representada por um
valor de sig > 0,05. Adicionalmente, foi realizado o teste Post Hoc LSD onde são determinados
os pares de grupos cujas diferenças entre a média são significativas (<0,05) (George &
Mallery, 2019).

3.5. Temperaturas do permafrost

3.5.1. Instalação da perfuração King Sejong Station

A instalação da perfuração King Sejong Station (KSS) em fevereiro de 2019 resultou


da cooperação entre o programa PERMANTAR e o projeto do KOPRI “Long-Term Ecological
Researches on King George Island to Predict Eco-system Responses to Climate Change”,
coordenado por Soon-Gyu Hong e Hyoungseok Lee (desde 2018). Em planeamento desde
2015, a instalação da perfuração na Península de Barton, integrada nas redes GTN-P e
PERMANTAR, tem como objetivo a monitorização e estudo do estado térmico do permafrost
a uma profundidade superior a 10 metros. Para tal, foi necessária a seleção de um local de
onde se verificassem os seguintes requisitos: i) presença de um afloramento de rocha dura e
maciça, que permitisse a ancoragem da perfuradora e que suportasse as vibrações da
mesma; ii) proximidade de água para arrefecimento da coroa de perfuração; iii) acessibilidade
para transporte do equipamento. Dos vários locais avaliados, o que apresentou um maior
potencial, foi o local localizado a sul da elevação Jeonjaegyu num afloramento rochoso
andesítico a 128 m de altitude próximo de um pequeno lago, que escolhemos para realizar a
perfuração (Figura 33).

Para as atividades de perfuração foi preciso preparar e transportar os equipamentos,


destacando-se: a perfuradora (Weka DK12), a estrutura para fixação da perfuradora, o
conjunto de tubos metálicos e coroas diamantadas utilizadas para a perfuração do
afloramento rochoso, a bomba de água, os dois bidons de armazenamento com 200 l, as
mangueiras utilizadas no sistema de arrefecimento, o gerador de combustão (Honda GX390),
para alimentação do sistema de perfuração.

3.5.2. Características da perfuração e dos sensores

A perfuração de King Sejong Station alcançou 13,2 m de profundidade, tendo sido


equipada com um datalogger Geoprecision M-Log5W-Dallas, ao qual está ligada uma cadeia
termométrica com 15 sensores a diferentes profundidades (40, 80, 120, 160, 200, 250, 300,
350, 400, 500, 600, 800, 1000, 1150 e 1300 cm), com um intervalo de registo de 1 hora. O

72
sistema foi calibrado em banho de água-gelo e tem uma precisão de ±0,1 ºC e capacidade de
armazenamento de 2,048 kb (400 000 registos), sendo programado através de um interface
wireless. O sistema de aquisição de dados e cadeia termométrica estão instalados no interior
de um tubo de polietileno com 50 mm de diâmetro, fechado em ambas as extremidades. Este
protocolo seguem as normas definidas em Streletskiy et al. (2017) na estratégia para a
implementação da Global Terrestrial Network on Permafrost (GNT-P).

O sistema de aquisição de dados permitiu o registo das temperaturas para o período


de 2 de março de 2019 a 2 de março de 2020, com uma interrupção de 31/01/2020 a
07/02/2020, resultado da recolha e calibração dos sensores no decorrer da campanha de
2019/20. Esta calibração, realizada no laboratório da estação King Sejong visou a preparação
dos sensores para mais um ano de medições e assegurar-nos que o sistema não tinha sofrido
deriva, garantindo a qualidade dos dados, facto que se confirmou.

73
a) b)

c) d)

e) f)

g) h)

Figura 45 – A instalação da perfuração King Sejong Station: a) Equipamento utilizado nas atividades de
perfuração; b) Transporte do gerador; c) Plataforma utilizada na perfuração; d) Lago; e) Bidons utilizados para
armazenamento de água; f) Atividades de perfuração; g) Instalação do tubo de politeno; h) Instalação dos
sensores de temperatura na perfuração.

74
3.5.3. Análise das propriedades termofísicas das carotes e
amostras rochosas

As propriedades termofísicas da rocha, nomeadamente a condutividade térmica (K), o


calor específico volumétrico (Cv) e a difusividade térmica (α), são importantes fatores de
controlo do regime térmico do permafrost, com impacte na espessura da camada ativa e na
base do permafrost. Desta forma, a sua determinação dependente da análise de amostras
rochosas, constitui-se como um importante passo para a modelação da propagação do calor
no solo. Neste estudo, analisámos amostras da perfuração de King Sejong Station e de
amostras de distintas unidades geológicas da Península de Barton, recolhidas por Pedro
Ferreira no decorrer do projeto GEOPERM.

a) Preparação das amostras

As amostras da perfuração King Sejong Station correspondem a secções das carotes


rochosas obtidas durante o processo de perfuração. Ainda no terreno, estas foram descritas,
protegidas e identificadas, para depois serem limpas já no IGOT, analisadas e organizadas
em caixas de arquivo. A análise das amostras teve por base as orientações definidas em
Hughes (1982) e no manual A Guide to Core Login for Rock Engineering da Core Logging
Committee of the South Africa Section of The Association of Engineering Geologists (1978),
onde são definidos os parâmetros cor, meteorização, descontinuidades, e dureza. No
parâmetro cor, o manual propõe a identificação de uma cor principal, exemplo da cor cinzenta,
e a utilização de uma cor secundária para adjetivação, exemplo da cor verde. Assim, a cor da
rocha seria designada como cinzenta esverdeada. No que diz respeito à meteorização, foram
consideradas as classificações apresentados no manual do Core Logging Committee of the
South Africa Section of The Association of Engineering Geologists (1978).

- Sem alteração – Rocha sem alteração visível. Pode conter descoloração nos planos
de fratura;

- Ligeiramente alterada – Fraturas possuem descoloração e podem conter um


preenchimento fino. A descoloração pode estender-se desde o plano de fratura até
20% da rocha;

- Mediamente alterada – Descoloração estende-se dos planos de fratura até mais de


20% da rocha. As fraturas podem conter um preenchimento de material alterado. A
superfície da carote não é quebradiça e a textura original foi preservada;

75
- Intensamente alterada – Descoloração está presente em toda a rocha. A superfície
da carote é quebradiça e pode haver corrosão resultado da percolação de água;

- Completamente alterada – Rocha descolorada na totalidade e com aparência


semelhante à de solo. Grãos completamente separados.

Sobre a textura da rocha, foram consideradas as classes (Hughes, 1982):

− Grão fino – Grão com dimensão inferior a 1 mm


− Grão médio – Grão com dimensão entre 1 e 5 mm
− Grão grosseiro – Grão com dimensão entre 5 e 30 mm
− Grão muito grosseiro – Grão com dimensão superior a 30 mm
Relativamente às descontinuidades, foram tidas em conta as ocorridas nas superfícies
de fratura derivadas de descontinuidades mecânicas na rocha, isto é, as quebras mecânicas.
E as resultantes das descontinuidades geológicas designadas com joint. Por fim, para
avaliação da dureza da rocha foram utilizados os critérios compilados na Tabela 5.

Tabela 5 – Classificação da dureza da rocha, adaptado do manual do Core Logging Committee of the South
Africa Section of The Association of Engineering Geologists (1978)

Força
Classificação Teste compressiva
(MPa)
Pode ser escamada com uma faca, o material desfaz-se
Muito branda mediante golpes firmes da ponta afiada do martelo de 1a3
geólogo
Só pode ser riscada com uma faca de serrilha com bicos de
Branda 3 a 10
2 a 4 mm
Não pode ser riscada ou escamada com uma faca. É
Média 10 a 25
fragmentada através golpes firmes do martelo de geólogo
Dura 25 a 70
Muito dura Tem de ser realizados testes de carga pontual 70 a 200
Extremamente dura > 200

Após a análise das carotes procedeu-se depois à seleção das amostras para as
determinações termofísicas. Selecionaram-se unidades preferencialmente não fraturadas, de
diferentes profundidades ao longo da perfuração, que apresentassem variações de textura,
cor ou a presença de fenocristais. Dos 52 fragmentos que constituem as carotes obtidas na
perfuração, foram selecionadas 7 para preparação e análise. A preparação, realizada nas
instalações do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), consistiu no corte em
secções com um comprimento de 5,5 cm e no polimento de duas faces de cada secção
cilíndrica, para as determinações termofísicas (Figura 47-e).

76
As amostras rochosas de diferentes locais da Península de Barton são fragmentos
irregulares recolhidos no terreno, cortadas em duas metades, polidas na face recém exposta.
Destas, procedeu-se à seleção de um grupo de 14 exemplares representativos da diversidade
litológica de Barton, dando-se preferência às amostras recolhidas próximo dos sensores de
superfície instalados (Figura 46).

Figura 46 – Localização das amostras rochosas analisadas na Península de Barton

b) Análises termofísicas

Antes de analisadas em laboratório, as amostras de rocha foram submergidas em


água doce durante 24h, com o objetivo de ter uma aproximação às condições de humidade
no terreno e para que as determinações termofísicas fossem delas representativas. Estas
foram realizadas no laboratório do Departamento de Física da Universidade de Évora, onde
com o apoio do Prof. António Correia, se procedeu à sua análise através de um equipamento
ISOMET 2104 com sonda de superfície (Figura 47-f e h). Este instrumento realiza um método
de medição dinâmica que reduz o tempo de medição da condutividade térmica. Começa por
fazer a leitura da temperatura na superfície da rocha, para de seguida prosseguir para a
medição dos parâmetros de condutividade térmica, calor específico volumétrico e difusividade
térmica. Tendo em consideração que cada amostra possuía duas faces, foram nelas
registados os valores lidos para cada parâmetro e calculadas as respetivas médias.

77
a) b)

c) d)

e) f)

g) h)

Figura 47 – Análise termofísica das amostras rochosas: a) Recolha das carotes da perfuração King Sejong
Station; b) Descrição das carotes; c) Armazenamento dos carotes rochosas; d) Amostra selecionada e cortada;
e) Processo de corte das amostras; f) Análise de condutividade com instrumento de medição ISOMET 2104; g)
Análise das amostras rochosas do projeto GEOPERM; h) Sonda de superfície.

78
3.6. O modelo TTOP

A aplicação do modelo TTOP (Temperature at the Top of Permafrost) no estudo do


regime térmico do permafrost, enquadra-se no trabalho como uma abordagem exploratória,
tendo sido utilizado na perfuração King Sejong Station, onde são conhecidas as temperaturas
em profundidade para o período de estudo. O intuito desta aplicação é o de avaliar a
capacidade de o modelo calcular a temperatura no topo do permafrost no contexto territorial
da Península de Barton, quando são conhecidos os valores de temperatura do ar e solo à
superfície, bem como os valores de condutividade da rocha. Do resultado desta avaliação,
será discutido o potencial dos dados de temperatura do solo à superfície, registados nos 20
sensores instalados, para a modelação do TTOP na Península de Barton. Embora a aplicação
do modelo tenha sido feita a uma escala local, outros autores têm vindo a explorar o seu
potencial no estudo dos impactes das alterações climáticas no permafrost (Smith &
Riseborough, 1996), na identificação dos limites climáticos do permafrost (Smith &
Riseborough, 2002) e na análise da sua distribuição (Henry & Smith, 2001; Bockheim et al.,
2013; Way & Lewkowicz, 2016; Ferreira et al., 2016; Obu et al., 2020).

O modelo TTOP desenvolvido por Smith & Riseborough (1996, 1998, 2002), estima a
temperatura no topo do permafrost tendo por base a relação permafrost-clima definida por
Lachenbruch et al. (1988), representada em três níveis: 1) temperatura média do ar medida a
uma altura padrão acima da cobertura de neve (TMAA); 2) temperatura média anual do solo
à superfície (TMASS); e 3) temperatura no topo do permafrost (TTOP).

Figura 48 – Modelo esquemático do perfil de temperatura média anual desde a superfície do solo até ao topo do
permafrost (Smith & Riseborough, 2002)

79
Em cada um destes níveis, as temperaturas tem associada uma variação intra-anual
resultante da dinâmica climática, da influência de uma cobertura de superfície e das
propriedades térmicas do solo (Smith & Riseborough, 2002). É também através do regime
térmico destes três níveis que são calculados os parâmetros utilizados no modelo
(Freezing/Thawing Degree Days e Fator-n) juntamente com os valores de condutividade do
solo (Smith & Riseborough, 2002).

Para o cálculo da condutividade térmica do solo deve-se considerar o tipo de solo e o


seu conteúdo em água, uma vez que determinam os valores de condutividade e a sua
variação de acordo com o estado físico. Esta variação leva a que na equação do modelo
TTOP sejam considerados dois valores de condutividade, um referente ao solo gelado e outro
ao solo não gelado, posteriormente utilizados para o cálculo do rácio entre ambas.

(11)

𝑘𝑡
𝑟𝑘 =
𝑘𝑓

(𝑟𝑘 – rácio entre a condutividade térmica do solo não gelado e a condutividade térmica do solo gelado; 𝑘𝑡–
condutividade térmica do solo não gelado; 𝑘𝑓 – condutividade térmica do solo gelado)

O valor deste rácio varia nos solos minerais entre 0,6 e 0,9, consoante o conteúdo de
água (Riseborough & Smith, 1998). Já nos solos orgânicos, a variação pode ser muito mais
pronunciada, oscilando entre 0,3 (condições húmidas) e 1 (condições secas) (Riseborough &
Smith, 1998). No caso do substrato rochoso, com aplicação à perfuração de King Sejong
Station, o valor deverá ser próximo de 1, o que indica a inexistência de diferenças significativas
entre a condutividade térmica da rocha na estação de congelação e na estação de
descongelação. Tal facto é reforçado pelos valores de offset térmico iguais ou próximos a 0
ºC registados em substrato rochoso que traduzem a quase ausência de diferenças entre a
temperatura média anual do solo à superfície (TMASS) e a temperatura no topo do permafrost
(TTOP) (Brown & Péwé, 1973; Riseborough & Smith, 1998). Este comportamento da
condutividade térmica no substrato rochoso, é relevante no estudo realizado para a
perfuração King Sejong Station por permitir a utilização dos valores de condutividade térmica
obtidos das determinações termofísicas, feitas nas carotes rochosas sem que estas
estivessem geladas. Adicionalmente, o conhecimento da temperatura em profundidade,
permitiu o cálculo do offset térmico e a verificação de um valor de 0,1 que a escassa influência
da diferença da condutividade entre o verão e o inverno.

80
(12)

𝑂𝑓𝑓𝑠𝑒𝑡 𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = 𝑇𝑇𝑂𝑃 − 𝑀𝐴𝐺𝑆𝑇

Finalmente, a compilação de todos os parâmetros necessários, permitiu a aplicação


da equação do modelo TTOP:

(13)

𝑘𝑡
𝑛𝑡 𝑇𝐷𝐷𝑎 − 𝑛𝑓 𝐹𝐷𝐷𝑎
𝑘𝑓
𝑇𝑇𝑂𝑃 =
𝑃

( 𝑘𝑡– condutividade térmica do solo não gelado; 𝑘𝑓 – condutividade térmica do solo gelado; 𝑛𝑡 – fator-n do solo
descongelado; 𝑇𝐷𝐷𝑎 – Thawing Degree Days do ar; 𝑛𝑓 – fator-n de congelação; 𝐹𝐷𝐷𝑎 – Freezing Degree Days
do ar; 𝑃 – período de 365 dias)

81
CAPÍTULO 4 – ANÁLISE CLIMÁTICA DO PERÍODO
DE ESTUDO

4.1. Representatividade do período de estudo

A análise das condições meteorológicas na Península de Barton, de março de 2019 a


março de 2020, requer um enquadramento numa série longa de dados, de modo a que se
avalie a sua representatividade temporal. Para as temperaturas médias do ar, usou-se como
referência a estação de Bellingshausen, com dados de 1969 a 2020, pois esta localiza-se a
apenas 10 km da Península de Barton e tem um comportamento térmico muito semelhante à
estação de King Sejong, como referido no capítulo 2. Para as restantes variáveis climáticas
(precipitação, espessura de neve, direção e velocidade do vento), usou-se a estação de King
Sejong, embora esta apenas tenha dados a partir de 2005.

4.1.1. Temperatura média mensal

Considerando a série de temperaturas médias mensais do ar na estação de


Bellingshausen, janeiro, fevereiro e março de 2019 registaram valores entre 0 e 1 ºC, os quais
são inferiores à mediana mensal que apresenta valores de 1,4 a 1,8 ºC (Figura 49). É de
realçar o mês de fevereiro, em que é registada uma temperatura de 0,2 ºC, inferior às
temperaturas registadas no Q1. Com o começo do outono, as temperaturas de abril e maio,
quase sobrepostas à mediana, não diferem dos valores médios da série, variando de -1,7 a
-3,5 ºC. Por outro lado, junho (-3,9 ºC), julho (-4,3 ºC) e agosto (-4,9 ºC), foram meses muito
quentes, atingindo os valores registados no quartil 3 de -4,2 (junho e julho) e -4,6 ºC (agosto).
A diferença mais pronunciada foi de +2 ºC, registada em julho que, no período de estudo,
registou uma temperatura média mensal de -4,3 ºC comparativamente aos -6,3 ºC da série.
No final do inverno e na primavera, os valores registados começam por se sobrepor à mediana
e por se aproximarem ao quartil 3. Em setembro, a temperatura registada de -4,2 ºC, coloca
este mês acima da mediana (-4,3 ºC). No mês de novembro e dezembro, os -0,3 e 0,5 ºC
registados sobrepõem-se já aos -1 e 0,4 ºC da mediana e, no caso do mês de novembro, aos
valores do quartil 3 (-0,6 ºC). No começo do período estival, o aumento das temperaturas
médias mensais foi muito pronunciado, de 0,5 para 2,6 e 2,4 ºC, com um registo de valores
próximos dos valores médios mensais máximos de 2,8 e 2,7 ºC de janeiro de 1997 e fevereiro
de 1990. Desta forma, consideramos que esta foi uma estação atípica, com valores de
temperatura representativos dos verões mais quentes sentidos na região desde 1969.

82
Figura 49 - Enquadramento das temperaturas do ar médias mensais do período 2019-20 na série da estação de
Bellingshausen (1969 – 2020)

O forte aumento das temperaturas no período estival, não foi exclusivo da Península
de Barton, mas sim um fenómeno com impactes em diferentes regiões do continente que
registaram valores de temperatura positivos anómalos face aos valores médios das séries
climatológicas (Figura 50) (Robinson et al., 2020). Lewis (2019) sugere que este tipo de
fenómeno poderá estar relacionado com um forte aquecimento da estratosfera e com a
modificação das correntes de jet stream. Robinson et al. (2020) mencionam o registo da
primeira onda de calor na estação australiana Casey (Antártida Oriental) e o recorde de
temperatura máxima registado na estação argentina Esperanza de 18,4 ºC no dia 6 de
fevereiro de 2020 (WMO, 2020).

Figura 50 – Anomalia média mensal da temperatura (NCEP/NCAR Reanalysis 1) para os meses de novembro de
2019 a fevereiro de 2020 (Robinson et al., 2020)

83
4.1.2. Precipitação média mensal

A precipitação na Península de Barton concentra-se em dois períodos do ano (Figura


51). Um referente ao outono, de março a maio, e outro referente à primavera, de outubro a
novembro. Nestes períodos, se considerados os valores de precipitação média, é registado
um aumento significativo da precipitação com uma subida de aproximadamente 25 mm.
Durante o Inverno, os valores de precipitação diminuem, não ultrapassando os 50 mm, no
caso dos valores médios.

No que diz respeito aos valores de precipitação mensal do período de estudo, é


observada uma correspondência com os valores no quartil 1 e uma variação entre os 10 e 30
mm, o que corresponde a aproximadamente metade da média. Exceção é o mês de dezembro
onde há uma sobreposição dos valores de precipitação do período de estudo (33,8 mm) face
ao quartil 3 (34 mm). Neste mês a tendência da série é marcada por uma diminuição dos
valores de precipitação, decorrente do fim da primavera.

Em conclusão, a posição dos valores de precipitação do período de estudo próximos


dos valores do quartil 1 são indicativos de que este período se enquadra em 25% dos anos
com os valores de precipitação mais baixos.

Figura 51 - Enquadramento da precipitação mensal do período 2019-20 na série da estação de King Sejong
(2005 – 2020)

84
4.1.3. Espessura da cobertura de neve

A espessura da cobertura de neve na Península de Barton varia de acordo com as


estações (Figura 52). Durante o verão os valores médios de 0 cm são indicativos da ausência
de uma cobertura de neve. Os valores máximos registados em fevereiro e março de 55 e 49
cm estão associados, respetivamente, aos anos de 2010 e 2009 com valores excecionais.
Com o fim do verão e início do outono, há um aumento progressivo da espessura de cobertura
de neve, que é máxima nos meses de inverno (agosto e setembro). Com o fim do inverno e
início da primavera, volta a ser registada uma diminuição da espessura da cobertura de neve.

No período de estudo, a espessura da cobertura de neve aumentou com a


aproximação ao inverno. No entanto, os valores médios registados correspondem a metade
dos valores da média da série, tendo variado entre 23 e 50 cm. Esta espessura reduzida no
período de estudo contribui, juntamento com o registo de temperaturas elevadas no verão de
2020, para uma redução da extensão dos neveiros na Península de Barton. Esta redução
pode ser observada na Figura 53 referente ao planalto de Silla Hill a 28 de fevereiro de 2019
e a 3 de fevereiro de 2020.

Figura 52 - Enquadramento da espessura da cobertura de neve diária por mês do período 2019-20 na série da
estação de King Sejong (2005 - 2020)

85
a) b)

Base argentina
Carlini
Base argentina
Carlini
Baía Potter
Baía Potter

Figura 53 - Planalto superior da Península de Barton: a) 28 de fevereiro de 2019; b) 3 fevereiro 2020

4.1.4. Direção e velocidade do vento

No que diz respeito à direção e velocidade do vento, foi apresentado no capítulo 2.2.
para a série da estação King Sejong, o domínio de ventos provenientes do quadrante noroeste
e oeste, com velocidades entre 0 e 10 m/s (Figura 30). No período de estudo, é verificada
uma aproximação dos valores percentuais de cada intervalo de velocidade com os valores
percentuais dos mesmos intervalos na série. Desta forma, os dias com velocidades do vento
entre 0 e 5 m/s correspondem a 34%, enquanto que os dias com velocidades do vento entre
5 e 10 m/s correspondem a 57% (Figura 54). Na componente direção, são registadas
variações face aos valores da série. O vento com origem no quadrante este, é o segundo mais
frequente no período de estudo com presença em 23% dos dias, seguido pelo vento com
origem no quadrante oeste, presente em 16% dos dias. O vento dominante continua a ser o
vento com origem no quadrante noroeste com um peso de 26%.

Figura 54 – Direção e velocidade do vento do período de 2019-20 (dados KOPRI)

86
Na análise da direção do vento por estação (Figura 55), são visíveis dois padrões. Um
em que o vento com origem no quadrante este é dominante, com presença em 27% dos dias
de outono e em 25% dos dias de primavera. E um em que o vento com origem no quadrante
noroeste é dominante, com presença em 33% dos dias de verão e em 28% dos dias de
inverno.

Figura 55 – Direção do vento por estação no período de 2019-20 (dados KOPRI)

Em suma, o período de março de 2019 a março de 2020 foi marcado, no inverno, por
temperaturas ligeiramente superiores à média que contribuíram para uma cobertura de neve
pouco espessa. Esta cobertura, foi fortemente afetada pelas elevadas temperaturas do verão
de 2020, em que foram registados valores superiores aos máximos da série de referência.

87
CAPÍTULO 5 - AVALIAÇÃO DO CONTROLO DA
TOPOGRAFIA NOS REGIMES TÉRMICOS DO SOLO

5.1. Introdução

A análise do regime térmico do solo e dos fatores topográficos de controlo foi


desenvolvida para a área de enquadramento de Araon (Figura 33 no capítulo 3). Nesta área,
o registo das temperaturas do solo em locais com distintas características topográficas, teve
como objetivo a avaliação do impacte dos fatores topográficos altitude (VI_ALT), exposição
(VI_EXP), curvatura (VI_CV) e posição topográfica (VI_TPI), bem como o impacte da
cobertura de neve (VI_N) nas temperaturas médias da superfície do solo (TMSS), nos índices
de Freezing Degree Days (VD_FDD) e Thawing Degree Days (VD_TDD), nos valores de fator-
n de congelação (VD_FNC) e descongelação (VD_FND), nos ciclos de congelação fusão
(VD_CF) e na duração dos períodos de congelação (VD_PC) e descongelação (VD_PD). Esta
avaliação foi feita com recurso ao método de análise de variância One-Way ANOVA e a uma
posterior análise detalhada dos conjuntos de sensores instalados com o prepósito de estudar
cada fator topográfico.

5.2. Topografia e regimes térmicos do solo: análise de


variância

A análise de variância One-Way ANOVA, apresentada no capítulo 3.4.5., foi realizada


para o conjunto dos 20 sensores instalados na área de Araon. Estes sensores foram
agrupados segundo categorias pré-estabelecidas referentes às variáveis independentes, que
permitiram uma avaliação da influência de cada fator topográfico (Tabela 6).

88
Tabela 6 –Parâmetros
Parâmetros para
para realização
realização da análise
da análise de variância
de variância One-WayOne-Way
ANOVA ANOVA
Variáveis dependentes Variáveis independentes
Sensor VD_TMASS VD_FDD VD_TDD VD_FNC VD_FND VD_CF VD_PC VD_PD VI_ALT VI_EXP VI_CV VI_TPI VI_N
Alt_N13 0,6 438 602 0,6 2,0 49 185 136 1 1 0 1 5
Alt_W73 -0,9 894 525 1,1 2,1 80 204 135 2 3 -1 2 1
Alt_NE182 -1,7 941 303 0,9 2,0 81 237 102 4 8 0 2 6
Alt_W254 -2,0 1041 300 0,9 2,7 48 230 109 4 3 -1 2 5
Exp_N183 -1,6 848 262 0,8 1,7 73 238 102 4 1 1 3 6
Exp_S183 -1,8 981 330 0,9 2,1 65 230 109 4 5 -1 3 7
Exp_E179 -1,5 904 342 0,9 2,2 70 230 109 4 7 -1 3 6
Exp_SW179 -1,6 942 330 0,9 2,1 55 231 109 4 4 -1 3 5
Top_VA_N133 -1,1 853 431 0,9 2,1 91 206 133 3 1 0 3 4
Top_VA_NE118 -1,0 817 405 0,9 1,9 69 208 131 2 8 0 4 6
Top_VA_S128 -1,8 891 258 1,0 1,3 62 209 131 2 5 0 3 5
Top_P_N16 -0,3 654 496 0,9 1,7 51 198 136 1 1 0 1 4
Top_P_NW25 0,2 637 643 0,8 2,2 49 198 136 1 2 -1 3 6
Top_N_SW129 -1,6 886 306 1,0 1,5 84 209 131 2 4 0 3 3
Top_N_SW130 -1,2 831 362 0,9 1,9 61 229 110 2 4 0 3 6
Top_N_SW132 -1,8 828 149 0,8 1,1 39 281 57 3 4 0 3 7
Top_VJ_W135 -1,5 918 362 1,0 1,8 87 207 133 3 3 -1 2 4
Top_VJ_NE132 -1,2 833 383 0,9 2,0 64 216 118 3 8 1 4 6
Top_VJ_W133 -1,4 943 401 1,0 1,9 82 206 133 3 3 0 1 1
Top_VJ_S134 -1,6 836 233 0,9 1,3 25 275 63 3 5 0 3 5

a) Avaliação da influência da altitude nos regimes térmicos do solo

Na variável independente altitude, os sensores instalados entre 13 e 254 m, foram


agrupados segundo 4 grupos referentes aos intervalos de altitude: grupo 1 (10 a 25 m), grupo
2 (61 a 130 m), grupo 3 (131 a 160 m) e grupo 4 (160 a 255 m).

A organização dos sensores nos 4 grupos, permitiu analisar a semelhança entre os


valores de variância de cada grupo (Tabela 7). Esta análise, feita com o teste de
homogeneidade de Levene, identifica as variáveis com variâncias semelhantes, cujos valores
de significância são superiores a 0,05, e que serão consideradas no teste ANOVA.

A Tabela 7 mostra que as variáveis dependentes a serem consideradas no teste


ANOVA são a temperatura média anual da superfície do solo (TMASS, sig. = 0,179), os
Freezing Degree Days (FDD, sig. = 0,081), os Thawing Degree Days (TDD, sig. = 0,078), os
fatores-n de congelação (FNC, sig. = 0,062), e os fatores-n de descongelação (FND, sig. =
0,338). Destas, apenas 4 apresentam um valor de sig. < 0,05 no teste ANOVA (Tabela 8).
Assim, a One-Way ANOVA revela que a influência da altitude foi significativa na TMASS com
F(3,16) = 26,5 (p=0,000), nos FDD com F(3,16) = 21,5 (p=0,000), nos TDD com F(3,16) = 7,4
(p=0,003) e nos FNC com F(3,16) = 3,5 (p=0,022). Esta significância sugere que as diferenças
nestes quatro parâmetros, entre os 4 grupos de sensores, são fortemente condicionadas pelas
variações de altitude.

89
Tabela 7 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente altitude

Tabela 8 – Teste ANOVA para a variável independente altitude

Para perceber entre que grupos as diferenças são mais acentuadas, procedeu-se ao
teste Tukey HSD (Tabela 9), onde foi observada, para as 4 variáveis dependentes, uma
diferença significativa (sig. < 0,05) entre o grupo 1 (10 a 25 m) e os restantes grupos. Isto
significa que as diferenças mais significativas entre as médias de cada grupo estão nos pares
onde a comparação é feita com o grupo de sensores instalados a baixa altitude.

90
Tabela 9 – Teste de Tukey HSD para a variável independente altitude

91
b) Avaliação da influência da exposição nos regimes térmicos do solo

Para análise do efeito da exposição, os sensores foram classificados segundo a sua


orientação, não tendo sido incluída a exposição a sudeste, por não termos instalado qualquer
sensor com essas condições. (Tabela 6).

No teste de homogeneidade de Levene (Tabela 10), as variáveis dependentes a serem


consideradas no teste ANOVA são os Thawing Degree Days (TDD, sig = 0,558), os fatores-n
de congelação (FNC, sig. = 0,289), os fatores-n de descongelação (FND, sig. = 0,104), os
ciclos de congelação e fusão (CF, sig. = 0,586), a duração do período de congelação (PC, sig.
= 0,468) e a duração do período de descongelação (PD, sig. = 0,320).

Das 6 variáveis selecionadas, nenhuma apresentou um valor de sig. inferior a 0,05


(Tabela 11). Tal é indicativo de que as diferenças entre as médias de cada grupo, não são
estatisticamente significativas, e que o fator exposição não exerce uma influência significativa
nos parâmetros do regime térmico do solo a nível anual, visível entre os sensores instalados
com diferentes orientações. A ausência da influência da exposição, sobretudos nos
parâmetros associados à estação de descongelação, é pouco provável, uma vez que numa
superfície sem cobertura de neve ou vegetal, o aquecimento é fortemente condicionado pela
radiação solar incidente durante o período diurno, com impacte nas flutuações térmicas.

Tabela 10 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente exposição

92
Tabela 11 – Teste ANOVA para a variável independente exposição

c) Avaliação da influência da curvatura no regime térmico do solo

Na variável independente curvatura, os sensores instalados, foram agrupados em três


categorias: superfícies convexas (-1), superfícies concavas (1) e superfícies retilíneas (0)
(Tabela 6).

A análise da Tabela 12 mostra que as variáveis dependentes a serem consideradas


no teste ANOVA são os Thawing Degree Days (TDD, sig. = 0,215), os fatores-n de congelação
(FNC, sig. = 0,309), os fatores-n de descongelação (FND, sig. = 0,916), a frequência de ciclos
de congelação e fusão (CF, sig = 0,886) a duração do período de congelação (PC, sig. =
0,516) e a duração do período de descongelação (PD, sig. = 0,335).

Das 6 variáveis, apenas 2 apresentam um valor de sig. inferior a 0,05 (Tabela 13).
Desta forma, a análise One-Way ANOVA revela que a influência da curvatura foi significativa
na PC com F(2,17) = 5,645, p=0,013 e PD com F(2,17) = 5,405, p=0,015. Estes valores de
significância sugerem que as diferenças na duração dos períodos de congelação e
descongelação são condicionadas pelas variações da curvatura da superfície.

93
Tabela 12 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente curvatura topográfica

Tabela 13 – Teste ANOVA para a variável independente curvatura topográfica

Para compreender entre que curvaturas as diferenças são mais acentuadas, realizou-
se o teste Tukey HSD, onde foi observado, para as 2 variáveis dependentes, uma diferença
significativa (sig. < 0,05) entre as superfícies concavas e as superfícies retilíneas (0,102). Isto
significa que as diferenças mais significativas entre as médias de cada grupo estão entre os
sensores instalados nas superfícies concavas e retilíneas. Na análise da duração média do
período de congelação, constata-se que os sensores instalados em superfícies retilíneas têm
uma duração mais curta, em média de 209 dias. Os sensores instalados em superfícies
concavas têm a duração mais prolongada, com uma média de 260 dias. Na estação de
descongelação, a relação é inversa com os sensores instalados em superfícies retilíneas a
registarem, em média, os períodos mais longos com cerca de 127 dias. Já os sensores das
superfícies concavas registaram, em média 80 dias.

94
Tabela 14 – Teste de Tukey HSD para a variável independente curvatura topográfica

d) Avaliação da influência da posição topográfica nos regimes térmicos do


solo

Na variável independente índice da posição topográfica, os sensores foram agrupados


em 4 categorias de acordo com as formas de relevo associadas aos locais de instalação: 1 -
áreas planas, 2 - topos e cristas, 3 - vertentes e 4 - depressões (Tabela 6).

A Tabela 15 tem presentes as variáveis dependentes a serem consideradas no teste


ANOVA. Estas são a temperatura média anual da superfície do solo (TMASS, sig. = 0,439),
os Freezing Degree Days (FDD, sig. = 0,06), os Thawing Degree Days (TDD, sig. = 0,723), os
fatores-n de descongelação (FND, sig. = 0,055), a frequência de ciclos de congelação e fusão
(CF, sig = 0,563), a duração do período de congelação (PC, sig. = 0,475), e a duração do
período de descongelação (PD, sig. = 0,300.

Das 7 variáveis selecionadas no teste de homogeneidade, nenhuma apresentou um


valor de sig. inferior a 0,05 (Tabela 16). Tal é indicativo de que as diferenças entre as médias
de cada grupo, não são estatisticamente significativas, e que a posição topográfica não exerce
uma influência nos parâmetros do regime térmico do solo, visível entre os sensores instalados.
Esta situação, à semelhança do observado para o fator de exposição, é na realidade pouco
provável, o que denota uma limitação deste método de análise. Esta limitação está associada
à sobreposição do efeito de outro fator topográfico, sobre o fator em análise, e resulta das
diferentes características topográficas dos locais de instalação dos sensores.

95
Tabela 15 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente posição topográfica

Tabela 16 – Teste ANOVA para a variável independente posição topográfica

e) Avaliação da influência da cobertura de neve

Na variável independente cobertura de neve, os sensores foram agrupados em 7


categorias de acordo com o número de dias em que tiveram presente uma cobertura de neve
(Tabela 6 e 17).

Tabela 17 - Categorias para organização dos sensores segundo o número de dias com cobertura de neve

96
Na análise da Tabela 18, as variáveis dependentes a serem consideradas no teste
ANOVA são a temperatura média anual da superfície do solo (TMASS, sig. = 0,404), os
Freezing Degree Days (FDD, sig. = 0,421), os Thawing Degree Days (TDD, sig. = 0,878), os
fatores-n de congelação (FNC, sig. = 0,878), a frequência de ciclos de congelação e fusão
(CF, sig = 0,182), a duração do período de congelação (PC, sig. = 0,101) e a duração do
período de descongelação (PD, sig. = 0,092).

Das 7 variáveis selecionadas no teste de homogeneidade, apenas os ciclos de


congelação e fusão, apresentam um valor de sig. inferior a 0,05 (Tabela 19). Desta forma, a
análise One-Way ANOVA revela que a influência da cobertura de neve foi significativa nos CF
com F(5,14) = 3,2, p=0,039. Este valor de significância sugere que as diferenças na frequência
dos ciclos de congelação e fusão é condicionada pela duração da cobertura de neve.

Tabela 18 – Teste de homogeneidade de Levene para variável independente cobertura de neve

Tabela 19 – Teste ANOVA para a variável independente cobertura de neve

97
Contrariamente ao que acontece com as variáveis altitude e curvatura, na cobertura
de neve, não são identificados no teste Tukey HSD (Tabela 20), os pares de categorias cujas
diferenças são mais significativas (sig. < 0,05), isto é, os pares onde as diferenças são mais
acentuadas e permitem uma individualização de um grupo face a outro.

Tabela 20 – Teste de Tukey HSD para a variável independente cobertura de neve isolante

f) Conclusão

Em conclusão, dos fatores topográficos considerados na análise de variância, apenas


a altitude, curvatura da superfície e a cobertura de neve, obtiveram valores de significância
inferiores a 0,05, com impacte no regime térmico do solo. Na variável altitude, a influência é
exercida sobre a TMASS, os Freezing e Thawing Degree Days e sobre os valores do fator-n
de congelação. Já no caso da variável curvatura, a influência exercida está relacionada com
a duração dos períodos de congelação e fusão. A cobertura de neve, exerce influência,
principalmente, sobre a frequências dos ciclos de congelação e fusão.

No caso das variáveis exposição e posição topográfica, os valores de significância


obtidos não destacam uma influência destas duas variáveis sobre os parâmetros do regime
térmico do solo, o que suscitou algumas questões quanto às limitações do método. Se
considerarmos os dados introduzidos, é percetível que cada sensor está associado a um
conjunto de características topográficas próprias, que em conjunto determinam o regime
térmico do solo à superfície. Na análise de uma determinada variável independente, os
sensores são agrupados de acordo com a variação dessa característica topográfica, ficando
excluídas as restantes. Se num grupo associado a uma exposição a norte, estiverem
introduzidos sensores com uma grande variação de altitude, é expectável que o efeito da
exposição seja atenuado. Isto quer dizer que na análise de variância, um fator topográfico
com influência no regime térmico do solo, pode não ser identificado como tendo uma influência
significativa nas diferenças entre as médias de cada grupo, uma vez que estas são atenuadas
pela influência de outro fator. Para colmatar esta limitação, seria necessário instalar um

98
conjunto estatisticamente significativo de sensores associados a cada variável independente,
garantindo que as restantes características topográficas se mantinham exatamente iguais. Tal
não foi viável pelos recursos materiais limitados e pela disponibilidade de tempo para
execução de todas as atividades de campo.

5.3. Análise dos efeitos dos fatores de controle sobre os


regimes térmicos de superfície do solo

A análise de variância permitiu a identificação dos fatores topográficos com influência


no regime térmico do solo, embora associada a limitações anteriormente referidas. Com o
intuito de realizar uma análise detalhada de cada fator topográfico, foram utilizados grupos de
controle, que correspondem a sensores instalados com o propósito de avaliar a influência de
cada fator topográfico, minimizando a influência dos restantes. Estes sensores foram
identificados no capítulo 3.4.2 (Figura 56).

Figura 56 - Localização dos conjuntos de sensores de temperatura de superfície do solo instalados na Península
de Barton

99
5.3.1. Análise das temperaturas do solo ao longo de um perfil
altitudinal

A análise da influência do fator altitude, foi realizada através de um conjunto de 4


sensores (Alt) instalados a 13, 73, 182 e 254 m de altitude em superfícies planas e expostas
(Figura 56). Neste conjunto, a TMASS variou entre 0,6 e -2 ºC, diminuindo com o aumento da
altitude (Tabela 21 e Figura 57-a). A mesma tendência é observada nos Thawing Degree Days
do solo (TDDs), com valores entre 602 e 300. No caso dos Freezing Degree Days do solo
(FDDs), com valores entre 438 e 1041, a tendência é para um aumento da severidade da
estação de congelação com o aumento da altitude (Figura 57-b).

Figura 57 – Correlação entre o fator topográfico altitude e os parâmetros do regime térmico do solo: a) TMASS;
b) TDDs; c) FDDs

Os três parâmetros mencionados, são aqueles em que as diferenças entre categorias


de altitude foram estatisticamente significativas para o conjunto dos 20 sensores instalados,
resultado da influência exercida por este fator.

Tabela 21 – Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Alt entre março de 2019 e
fevereiro de 2020

A frequência dos ciclos de congelação e fusão, para o conjunto Alt, não apresentou
uma relação linear com a altitude, tendo os valores mais baixos (49 e 48 ciclos), sido
registados nos sensores a menor (Alt_N13, 13 m) e maior (Alt_W254, 254 m) altitude. As
frequências mais elevadas de 80 e 81 ciclos foram registadas nos sensores Alt_W73 e
Alt_NE182, instalados a altitudes intermédias (73 e 182 m). Na Figura 58 b e c, verifica-se
que estão são os mesmos sensores onde a temperatura do solo regista flutuações próximas
das registadas pela temperatura do ar e com uma elevada amplitude térmica, oscilando em
torno dos 0 ºC. No sensor a maior altitude (Alt_W254) a variação da temperatura do solo
também está próxima da variação da temperatura do ar, embora com valores mais baixos que

100
limitam as oscilações em torno de 0 ºC. Outro aspeto relevante para as frequências mais
elevadas de ciclos, é o valor de fator-n mais elevado que traduz um menor efeito isolante da
cobertura de neve e permite um maior arrefecimento e aquecimento da superfície.

A estação de congelação, nos 3 sensores acima dos 70 m de altitude, teve início no


fim do mês de março (30/03/2019) (Tabela 21 e Figura 58 e 59). Contudo, no sensor instalado
a 13 m (Alt_N13), este início só ocorreu a meio do mês de abril (17/04/2019). Este sensor
registou a estação de congelação mais curta dos quatro, com 185 dias, resultado de um fim
do período de congelação a 18 de outubro. Teve um fator-n de 0,6, indicativo da forte
influência de um efeito isolante sobre a superfície do solo. A duração da estação de
congelação, juntamente com o valor baixo de fator-n, contribuiu para uma menor severidade
do período de congelação, traduzida no valor de FDDs de 438.

No caso dos 3 sensores instalados acima de 70 m, a duração da estação de


congelação não aumentou linearmente com o aumento da altitude, uma vez que é o sensor
Alt_NE182 instalado a 182 m, que regista o período mais longo com 237 dias, seguido pelo
sensor Alt_W254 com 230 dias. Este último possui o período de descongelação mais severo
(1041 FDDs).

101
Figura 58 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Alt entre março de
2019 e fevereiro de 2020: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d) Alt_W254

Figura 59 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Alt entre março de 2019 e fevereiro de
2020

102
A severidade da estação de congelação, anteriormente mencionada pela sua relação
com o fator altitude, é ainda condicionada pelo efeito isolante da cobertura de neve, traduzido
pelos valores de fator-n, que promove um afastamento entre os FDDs e FDDa. Na Figura 60
é observada, para os 4 sensores, a evolução dos FDDs e FDDa na estação de congelação,
juntamente com os valores de fator-n.

a) b)

c) d)

Figura 60 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d) Alt_W254

O sensor Alt_N13, com o valor de fator-n mais baixo do conjunto (0,6), regista o maior
afastamento entre os FDDs e os FDDa, com uma diferença de aproximadamente 300 FDD.
Esta diferença é indicativa de um arrefecimento mais pronunciado no ar do que no solo, visível
na amplitude térmica do ar e na estabilização da temperatura do solo entre 0 e -5 ºC (Figura
58-a e 60-a). Por oposição, o sensor Alt_W73, com o valor de fator-n mais elevado (1,07),
regista uma sobreposição entre os valores de FDDs e FDDa até ao mês de julho, e um
afastamento inferior a 60 FDD até ao fim do período de congelação (Figura 60-b). Este sensor,
instalado a 73 m de altitude, não possui o período de congelação mais severo, mas é onde a
transferência de calor entre o solo e o ar é mais eficiente. Esta eficiência faz com que a

103
temperatura do solo acompanhe a variação da temperatura do ar e registe amplitudes
térmicas pronunciadas (Figura 58-b).

Os sensores Alt_NE182 e Alt_W254, com valores de fator-n de 0,89 e 0,88, registam


um ligeiro afastamento entre os FDDs e FDDa, que é constante até ao mês de outubro. De
outubro a novembro há uma estabilização dos FDDs e um ligeiro aumento dos FDDa que
provocam um pequeno afastamento no final do período de congelação (Figura 60-c e d).

O período de descongelação, aqui apenas considerado até ao limite dos registos a 2


de março de 2020, regista durações de 102 e 109 dias, nos sensores instalados a maior
altitude (Alt_NE182 e Alt_W254), e de 136 e 135 dias nos sensores instalados a menor altitude
(Alt_N13 e Alt_W73). Para a duração mais curta do sensor Alt_NE182, contribui um início do
período de descongelação mais tardio (22/11/2019), provocado pela estabilização da
temperatura do solo nos 0 ºC desde 23 de outubro de 2019 (Figura 58-c). Esta estabilização
é controlada pela presença de uma cobertura de neve que, aquando da sua fusão, absorve
calor latente.

No sensor Alt_W254, o período de fusão da cobertura de neve mais reduzido face ao


sensor Alt_NE182, antecipa o início do período de descongelação para o dia 15 de novembro
de 2019 (Figura 58-d).

Em síntese, no conjunto de sensores Alt, constatou-se a existência de uma relação


forte entre a altitude e a TMASS, os FDDs e os TDDs, como a identificado na análise de
variância. A menor frequência de ciclos de congelação e fusão, associada a valores de fator-
n mais baixos, mostrou a influência que a cobertura de neve tem sobreposta ao fator altitude,
com impacte na duração da estação de congelação e descongelação.

5.3.2. Análise das temperaturas do solo no Monte Goguryeo para


avaliar o efeito da exposição

A análise do efeito da exposição, foi realizada através de um conjunto de 4 sensores


instalados nas vertentes expostas a norte (Exp_N183), este (Exp_E179), sul (Exp_S183) e
sudoeste (Exp_SW179) do Monte Goguryeo, mantendo-se a altitude constante (Figura 56).
Neste conjunto, a TMASS com valores entre -1,8 e -1,5 ºC, foi mais alta no sensor com
exposição a este (Exp_E179) e mais baixa no sensor com exposição a sul (Exp_S183) (Tabela
22). Os sensores com exposição a norte (Exp_N183) e sudoeste (Exp_SW179), registam
ambos uma TMASS de -1,6 ºC. Esta variação de valores, destaca a relevância do fator
exposição, não detetado na análise de variância.

104
Embora o valor de TMASS do sensor com exposição a norte seja o segundo mais
elevado (-1,6 ºC), era esperado que fosse o primeiro, uma vez que a exposição é promotora
de uma fusão da cobertura de neve mais rápida que diminuiria a duração do período de
congelação e provocaria um maior aquecimento da superfície durante a estação de
descongelação (Figura 61). No entanto, a duração do período de congelação (238 dias) e o
valor de fator-n (0,8) denotam uma situação particular neste sensor onde a cobertura de neve
permanece por mais tempo com um efeito isolante.

Tabela 22 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Exp entre março de 2019 e
fevereiro de 2020

Figura 61 – Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Exp

A frequência dos ciclos de congelação e fusão, entre 55 e 73 ciclos, foi mais elevada
nos sensores cuja exposição promove valores de radiação solar mais elevados, isto é, os
sensores Exp_N182 (73 ciclos) e Exp_E179 (70 ciclos) (Tabela 22). Os sensores Exp_S183
e Exp_SW179 registam respetivamente 65 e 55 ciclos de congelação e fusão. Os ciclos de
congelação e fusão tendem a concentrar-se nos períodos em que a temperatura do ar começa
a arrefecer, no início da estação de congelação, ou aquecer, no fim da estação de congelação.
Nestes períodos, embora a temperatura média diária do ar possa estar próxima de 0 ºC, a

105
radiação solar incidente tem capacidade de provocar um aquecimento da superfície do solo,
com resultado numa numa subida da temperatura para valores positivos. Esta capacidade é
maior na exposição a norte e este, onde os valores de radiação solar potencial incidente estão
próximos de 120 000 e 300 000 W/m2 para os dois períodos, comparativamente com as
exposições a sul e oeste, com valores de radiação de 93 000 e 225 000 W/m2, o que explica
os diferentes valores registados (Figura 61).

Relativamente à estação de congelação, o início foi quase simultâneo nos 4 sensores,


tendo sido registada uma diferença de um dia entre os sensores com exposição a norte e
sudoeste (29/03/2019) e os sensores com exposição a este e sul (30/03/2019). Esta diferença
não foi estabelecida entre os sensores com maior ou menor exposição à radiação solar, nem
entre os sensores a maior ou menor altitude dentro do intervalo do conjunto, pelo que é
colocada a hipótese de uma influência exercida pelo vento, dominante de noroeste e oeste,
responsável por um arrefecimento mais rápido do solo nas vertentes com exposição a norte
e sudoeste.

Por sua vez, a duração da estação de congelação foi semelhante nos 3 sensores com
exposições a este, sul e sudoeste, com aproximadamente 230 dias. No caso do sensor
Exp_N183 o período de congelação é mais longo com 238 dias. Esta maior duração seria
expectável num sensor cuja exposição não favorecesse a incidência de radiação solar e o
aquecimento da superfície do solo, exemplo do sensor instalado na vertente exposta a sul, o
que reforça a influência, anteriormente mencionada, de uma cobertura de neve que
permaneça no solo. Esta permanência é controlada pela curvatura concava da superfície.

106
No que diz respeito à intensidade do período de congelação, com valores de FDDs
entre 848 e 981, o sensor com exposição a sul (Exp_S183) regista o valor de FDDs mais
elevado (981), indicativo de uma maior severidade do período de congelação. Já o sensor
com exposição a norte (Exp_N183) regista o valor de FDDs mais baixo (848). Este sensor
possui o valor de fator-n mais baixo do conjunto (0,8) sugestivo de um maior efeito isolante
da neve. Na Figura 62-a, o efeito isolante no sensor Exp_N183 é visível através do
afastamento entre os FDDs e os FDDa de aproximadamente 200 FDD. Este afastamento no
sensor Exp_S183 é inferior a 100 FDD (Figura 62-b). Nos sensores Exp_E179 e Exp_SW179,
a evolução dos FDDs e FDDa é semelhante com um afastamento pouco pronunciado,
associado a valores de fatores-n de 0,87 e 0,90 (Figura 62-c e d).
a) b)

c) d)

Figura 62 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_SW179; d) Exp_E179

O efeito de um isolante no solo quantificado através do valor de fator-n, é também


observado mediante a análise da temperatura do solo e da sua menor amplitude térmica,
quando comparada a da temperatura do ar. No conjunto dos 4 sensores (Figura 63), a
amplitude térmica do solo é semelhante e não são observadas variações pronunciadas quanto
à duração do período de congelação. A duração do período de fusão, identificável pela
permanência da temperatura do solo estável nos 0 ºC, é ligeiramente distinta entre sensores,
pelo desfasamento na subida da temperatura do solo para os 0 ºC e a subida da temperatura
do ar para o mesmo valor. No sensor Exp_N183 esse desfasamento é quase inexistente.

107
No período de descongelação, a duração apenas é distinta no sensor Exp_N183 com
102 dias, face aos 109 dias registados pelos restantes 3 sensores (Figura 63-a). A menor
duração do período de descongelação, associada a um valor de fator-n de 1,74, teve impacte
na intensidade do aquecimento, traduzida no valor de TDDs mais baixo do conjunto (262).
Nos sensores com exposição a este, sul e sudoeste, os valores de TDDs foram de 342 e 330,
no caso dos dois últimos.

Figura 63 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Exp entre março de
2019 e fevereiro de 2020: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_E179; d) Exp_SW179

Quando analisada a radiação solar potencial estimada para o período de 23/09/2019


a 20/03/2020, são identificados nos sensores Exp_N183 e Exp_E179 os valores mais
elevados do conjunto (aproximadamente 300 000 W/m2). Estes valores de radiação no
período de descongelação podem ter um forte impacte no aquecimento do solo. Não obstante,
este aquecimento pronunciado não é verificado no sensor Exp_N183 com o valor de TDDs
mencionado. Esta discrepância é determinada pelo menor período de descongelação de 102
dias, controlado pela presença de uma cobertura de neve mais prolongada.

Sintetizando, contrariamente ao observado na análise de variância, a exposição tem


influência no regime térmico do solo, sobretudo nos valores de TMASS e na frequência de

108
ciclos de congelação e fusão, que tendem a ser mais elevados nas superfícies cuja exposição
é mais favorável à incidência da radiação solar. Os FDDs pelo contrário, tendem a ser mais
elevados nas superfícies menos favoráveis à incidência da radiação solar. À semelhança do
que acontece no conjunto Alt, é também observada uma sobreposição do efeito da cobertura
de neve na duração da estação de congelação. Este efeito é especialmente marcado no
sensor com exposição a norte, cujas características da superfície concava se sobrepõem à
exposição.

5.3.3. Análise das temperaturas do solo no vale de Jeonjaegyu


para avaliar o efeito da curvatura

A análise do efeito da curvatura, foi realizada através do conjunto de Top_VJ, instalado


no vale de Jeonjaegyu, na área de pormenor. Este conjunto é constituído por 4 sensores
instalados segundo a curvatura da superfície ao longo de um transecto de 128 m, com início
no esporão rochoso da perfuração King Sejong Station e fim na vertente do Monte Jeonjaegyu
(Figura 56). A sua instalação num transecto transversal ao vale, fez com que a exposição de
cada sensor variasse, pelo que também este fator será considerado na análise do regime
térmico do solo. Desta forma, temos o sensor Top_VJ_W135 instalado no esporão rochoso
numa convexidade com exposição a oeste, o sensor Top_VJ_NE132 instalado numa
concavidade na lateral do esporão rochoso, com exposição a nordeste, o sensor
Top_VJ_W133 instalado numa superfície retilínea aplanada no fundo do vale Jeonjaegyu,
com exposição a oeste, e o sensor Top_VJ_S134 instalado numa superfície retilínea declivosa
(13º) na vertente do Monte Jeonjaegyu com exposição a sul (Figura 64).

Figura 64 - Perfil longitudinal: Transecto de instalação dos sensores do Vale Jeonjaegyu

Neste conjunto, os sensores pela altitude semelhante, registaram o mesmo valor


estimado de temperatura média anual do ar (TMAA) para o período de estudo (-2,1 ºC)
(Tabela 23). A TMASS com temperaturas entre -1,6 e -1,2 ºC, foi mais alta no sensor instalado
na concavidade do esporão rochoso da perfuração KSS (Top_VJ_NE132) e mais baixa no
sensor instalado na superfície retilínea da vertente do monte Jeonjaegyu (Top_VJ_S134) com
exposição a sul com uma diferença de 0,4 ºC. No caso dos sensores instalados na superfície

109
convexa (Top_VJ_W135) e na superfície aplanada retilínea, os valores registados de TMASS
foram, respetivamente, de -1,5 e -1,4 ºC. Estes sensores apresentam as frequências mais
elevadas de ciclos de congelação e fusão com 87 e 82 ciclos. Já os sensores Top_VJ_NE132
e Top_VJ_S134, com os valores máximos (-1,2 ºC) e mínimos (-1,6 ºC) de TMASS, registam
frequências de 64 e 25 ciclos. As diferenças entre frequências de ciclos de congelação e fusão
encontram-se sobretudo no fim do período de congelação e são controladas pela fusão da
cobertura de neve (Figura 65). Esta fusão é mais lenta nos sensores Top_VJ_NE132, com
aproximadamente 20 dias, e no sensor Top_VJ_S134, com aproximadamente 60 dias (Figura
65-b e d). Tal resulta numa estabilização da temperatura do solo nos 0 ºC, enquanto a
temperatura do ar regista oscilações em torno dos 0 ºC. Nos sensores Top_VJ_W133 e
Top_VJW135, a fusão mais rápida com uma duração de aproximadamente 10 dias, faz com
que a transferência de calor entre o ar e superfície do solo seja mais eficiente, e que sejam
registadas oscilações em torno dos 0 ºC afetas a uma maior amplitude térmica (Figura 65-a e
c).

Tabela 23 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VJ entre março de 2019 e
fevereiro de 2020
Ciclos de
Altitude TMASS TMAA Estação de Estação de
Sensor Exposição congelação/ FDDs FDDa Fator-n TDDs TDDa Fator-n
(m) (ºC) (ºC) congelação descongelação
fusão
Período Nº dias Período Nº dias
Top_VJ_W135 135 O -1,5 -2,1 87 29/03 - 21/10 207 918 938 0,98 22/10 - 02/03 133 362 199 1,82
Top_VJ_NE132 132 NE -1,2 -2,1 64 04/04 - 05/11 216 833 940 0,89 06/11 - 02/03 118 383 188 2,04
Top_VJ_W133 133 O -1,4 -2,1 82 30/03 - 21/10 206 943 934 1,01 22/10 - 02/03 133 401 209 1,92
Top_VJ_S134 134 S -1,6 -2,1 25 30/03 - 30/12 275 836 974 0,86 31/12 - 02/03 63 233 143 1,28

110
Figura 65 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134

A estação de congelação, com início entre o mês de março (29/03/2019) e o mês de


abril (04/04/2019), teve uma duração entre 206 e 275 dias nos 4 sensores (Tabela 23 e Figura
65). Na Tabela 23 observa-se que o sensor com o período de congelação mais curto
(Top_VJ_W133) é também o sensor com o valor de fator-n mais elevado (1,01) numa
superfície coberta por uma diamicton fino e um elevado teor de humidade, enquanto o sensor
com o período de congelação mais longo (Top_VJ_S134), regista o valor de fator-n mais baixo
(0,89). Embora a curvatura da superfície neste sensor não promova a acumulação de neve,
a sua presença, identificada pelo valor de Fator-n 0,89, é preservada pelo menor aquecimento
da superfície, controlado pela exposição a sul e por uma menor radiação solar potencial

111
incidente (Figura 66). Nos restantes sensores, a duração do período de congelação é
semelhante, com valores próximos de 210 dias (Figura 65 e 67).

Figura 66 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VJ

No que diz respeito à intensidade do período de congelação, os valores mais elevados


de FDDs são registados nos sensores Top_VJ_W133 (943) e Top_VJ_W135 (933) instalados
respetivamente, numa superfície retilínea plana e na convexidade do esporão rochoso da
perfuração KSS. Ambos os sensores registam valores de Fator-n próximos de 1 (Tabela 23)
indicativos de uma transferência térmica ótima entre o ar e o solo, com as curvas de
temperatura do ar e da superfície do solo quase síncronas na estação de congelação (Figura
68-c e a), e com a sobreposição dos FDDs e FDDa (Figura 68-c e a).

Figura 67 – Duração e intensidade do período de congelação no conjunto Top_VJ entre março de 2019 e
fevereiro de 2020

112
Os valores mais baixos de FDDs são registados nos sensores Top_VJ_S134 (836) e
Top_VJ_NW132 (833), associados a valores de Fator-n de 0,86 e 0,89. Embora os valores
sejam próximos entre os dois sensores, a evolução dos índices de congelação regista
pequenas diferenças, sobretudo no que respeita ao afastamento entre os FDDs e FDDa, que
é constante no Top_VJ_NE132 e crescente no Top_VJ_S134 a partir do mês de julho (Figura
68-b e d). Tal afastamento crescente sugere um aumento do efeito isolante com início neste
mês que resulta na estabilização da temperatura do solo nos -5 ºC (Figura 65-d).
a) b)

c) d)

Figura 68 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d)
Top_VJ_S134

O aumento do efeito isolante e a duração da estação de congelação no sensor


Top_VJ_S134, contribuem para um início da estação de descongelação a 31 de dezembro,
mais tardio, quando comparado com os restantes sensores, cujo início está entre o fim do
mês de outubro (22/10/2019) e início do mês de novembro (06/11/2019). Este início mais
tardio, associado com a exposição a sul, condiciona o aquecimento do solo, que é menos
intenso, com um valor de TDDs de 233 (Tabela 23 e Figura 65-d). Nos restantes sensores, o
aumento da duração da estação de descongelação contribui para o aumento da intensidade
do aquecimento no solo. Se observados os sensores instalados na superfície retilínea
Top_VJ_W133 e na superfície convexa Top_VJ_W135, ambos com uma estação de
descongelação com 133 dias (até ao fim dos registos) são registados valores de TDDs de 401
e 362 (Tabela 23 e Figura 65-c e a). Já o sensor Top_VJ_NE132, com uma estação de
descongelação com 118 dias, regista um valor de TDDs de 383, superior ao do sensor

113
Top_VJ_W135. Esta diferença resulta da influência da exposição com maior impacte no
sensor Top_VJ_NE132.

Em resumo, a curvatura da superfície, nomeadamente as concavidades, são


promotoras de uma acumulação de neve mais espessa e duradoura, contrariamente ao que
acontece nas superfícies convexas e retilíneas. Não obstante, neste conjunto é observada
uma situação particular no sensor instalado na vertente retilínea exposta a sul, onde a
presença da cobertura de neve tem uma importante influência na duração mais prolongada e
na menor severidade da estação de congelação e na frequência de ciclos de congelação e
fusão. A presença prolongada desta cobertura de neve é condicionada pela exposição a sul,
o que revela a sua sobreposição ao fator curvatura.

Nos restantes sensores do conjunto, constata-se que as superfícies retilíneas planas


e convexas apresentam as maiores frequências de ciclos de congelação e fusão, uma vez
que a cobertura de neve é mais limitada e a exposição favorece um maior aquecimento da
superfície do solo durante o período diurno, no início e fim da estação de congelação, em que
a temperatura média diária do ar está próxima de 0 ºC. Quanto ao sensor da superfície
concava, onde a acumulação de neve é mais influente, a tendência é para uma reduzida
frequência dos ciclos de congelação e fusão e para uma duração mais prolongada da estação
de congelação resultante. Neste sensor o efeito da curvatura é indissociável do da cobertura
de neve.

5.3.4. Análise das temperaturas do solo no Vale de Araon e o efeito


da posição topográfica

A análise do efeito da posição topográfica foi feita com o conjunto de sensores


Top_VA, instalados no vale de Araon, em vertentes expostas a norte (Top_VA_N133), a sul
(Top_VA_S128) e no fundo de vale (Top_VA_NE118) (Fig. 63). Neste conjunto, e tendo em
consideração as diferenças de altitude, entre os sensores instalados na vertente a
aproximadamente 130 m e o sensor do fundo do vale a 118 m, há uma variação da TMAA
estimada entre -2,1 e -1,9 ºC (Tabela 24). Por sua vez, a TMASS registou temperaturas entre
-1,8 e -1 ºC, sendo o valor mais baixo registado no sensor da vertente exposta a sul
(Top_VA_S128) e o mais elevado, o do fundo de vale com exposição a nordeste
(Top_VA_NE118). Embora a temperatura do solo seja mais elevada neste último sensor, a
radiação solar estimada para os períodos de inverno/outono, e primavera/verão é mais
elevada, com 116 000 e 315 000 W/m2, na vertente exposta a norte, local de instalação do
sensor Top_VA_N133, onde é registado um TMASS de -1,1 ºC (Figura 69).

114
Tabela 24 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VA entre março de 2019 e
fevereiro de 2020

Figura 69 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019- 23/09/2019 e 23/09/2019-
20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VA

O sensor Top_VA_N133 regista a frequência mais elevada de ciclos de congelação e


fusão (91) concentrados no fim do período de congelação (Tabela 24). Já o sensor instalado
no fundo do vale (Top_VA_NE113) regista a segunda frequência mais elevada com 69 ciclos,
seguido pelo sensor da vertente exposta a sul (Top_VA_S128) com 62 ciclos (Tabela 25).
Destas, verifica-se que o maior número ocorre na vertente onde a influência da radiação solar
é mais marcada e onde a amplitude térmica do solo está próxima da do ar, sobretudo durante
a estação de congelação (Figura 69 e 70-a). No sensor Top_VA_NE118, instalado no fundo
do vale, não é observada uma amplitude térmica tão acentuada nas temperaturas do solo
durante a estação de congelação, o que sugere um maior efeito isolante sobre a superfície,
com expressão num fator-n de 0,9, que limita as oscilações em torno de 0 ºC e assim reduz a
frequência de ciclos de congelação e fusão (Figura 70-b). No caso do sensor instalado na
vertente com exposição a sul, o aquecimento da superfície resultado da incidência da radiação
solar no início da estação de descongelação, é mais limitado pelo que, nos dias em que nos
outros sensores há uma oscilação em torno dos 0 ºC, neste sensor a temperatura permanece
abaixo de 0 ºC (Figura 69 e 70-c).

115
Figura 70 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128

No que diz respeito à estação de congelação, com início no fim do mês de março nos
3 sensores, é observada uma relação com a posição topográfica e com a exposição da
superfície. O sensor instalado na vertente com exposição a sul (Top_VA_S128), regista o
período mais longo (209 dias), seguido pelo sensor instalado no fundo do vale com exposição
a noroeste (Top_VA_NE118), com 208 dias (Tabela 25 e Figura 70-b e c). Neste sensor, a
posição numa depressão limita a quantidade de radiação solar incidente e contribui para uma
maior duração da estação de congelação (Figura 69). Por oposição, o sensor instalado na
vertente com exposição a norte (Top_VA_N133), com um período de congelação de 206 dias,
encontra-se numa posição favorável a um maior aquecimento da superfície, controlado pela
radiação solar incidente (Figura 69 e 70-a).

Na intensidade da estação de congelação, com valores de FDDs entre 817 e 891,


verifica-se que o arrefecimento é mais intenso no sensor instalado na vertente com exposição
a sul (Top_VA_S128), onde o período de congelação é mais longo e onde a radiação solar
incidente é menor (Figura 71-c). O arrefecimento menos intenso é registado no sensor
instalado no fundo do vale (Top_VA_NE118), embora associado ao segundo período de
congelação mais longo (Figura 71-b). A localização deste sensor numa depressão, contribui
para presença de uma cobertura de neve mais espessa e prolongada, quando comparada

116
com a localização do sensor Top_VA_N133, ainda que com um efeito isolante limitado
traduzido num valor de fator-n de 0,9 (Figura 71-a). A presença de uma cobertura de neve
durante a estação de congelação faz com que no sensor instalado no fundo do vale
(Top_VA_NE118), a temperatura do solo tenha uma menor amplitude térmica face à
temperatura do ar e que haja um maior afastamento entre os FDDs e os FDDa (Figura 70-b e
71-b). O mesmo não acontece no sensor instalado na vertente com exposição a norte
(Top_VA_N133), onde a amplitude térmica do solo é muito pronunciada durante a estação de
congelação e onde há uma sobreposição entre os FDDs e FDDa (Figura 70-a e 71-a).

a) b)

c)

Figura 71 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Top_VJ entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128

Embora a presença de uma cobertura de neve provoque diferenças no regime térmico


do solo durante a estação de congelação, esta não aparenta ser suficientemente espessa
para que sejam registadas diferenças na duração do período de descongelação ou no início
da estação de descongelação, próxima nos 3 sensores, entre 22 e 24 de outubro (Tabela 25).
Apesar de o início da estação de descongelação ter sido semelhante nos três sensores, esta
foi menos intensa na vertente com exposição a sul (Top_VA_S128) (Figura 72). Nesta, o valor
de TDDs é de 258, ou seja, menos 173 TDD do que o valor registado em Top_VA_N133,
instalado na vertente com exposição a norte (431).

117
Figura 72 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_VA entre março de 2019 e
fevereiro de 2020

Contrariamente ao observado na análise de variância, a posição topográfica revelou-


se determinante para as diferenças de TMASS, com valores mais elevados no fundo do vale
onde a acumulação de uma cobertura de neve é mais favorável, para a frequência de ciclos
de congelação e fusão, superior na vertente exposta a norte onde a acumulação de neve é
menos favorável e onde o aquecimento do solo durante o período diurno no fim e início da
estação de congelação permite a subida da temperatura acima de 0 ºC, e para a duração da
estação de congelação, mais curta na vertente onde a exposição a norte e acumulação de
neve menos espessa permitem um aquecimento do solo antecipado face aos restantes
sensores. Também os FDD e TDD são condicionados pela posição topográfica em que se
encontram os sensores instalados, sobretudo pela exposição e potencial para acumulação de
neve, resultante da curvatura da superfície. Estas varáveis exposição e curvatura, exercem
uma influência conjunta nas diferentes categorias do Índice de Posição Topográfica, o que
torna a identificação dos efeitos na análise de variância mais complexa pela multiplicidade de
condições topográficas associadas a cada categoria.

5.3.5. Análise das temperaturas do solo próximo do neveiro N3 em


Jeonjaegyu e o efeito da cobertura de neve

A análise do efeito da cobertura de neve foi feita através do conjunto Top_N, situado
na área de pormenor de Jeonjaegyu. Este, inclui 3 sensores instalados a uma distância
progressivamente maior da base do neveiro N3, considerando a sua extensão no início de
março de 2019: um sensor próximo do limite inferior do neveiro (Top_N_SW132), um a 15 m
a jusante (Top_N_SW130) e um último a 45 m (Top_N_SW129). A TMAA foi de -2 ºC (Tabela
25). A TMASS é, por sua vez, ligeiramente distinta com valores entre -1,8 e -1,2 ºC. No sensor
mais próximo da base do neveiro (Top_N_SW132) é registado o valor de TMASS mais baixo
(-1,8 ºC), enquanto o valor mais elevado (-1,2 ºC) é registado no sensor a 15 m do neveiro
(Top_N_SW130). O sensor Top_N_SW129, a uma maior distância do neveiro, registou um

118
valor de TMASS de -1,6 ºC. Uma vez que a diminuição dos valores de TMASS não é linear
face ao afastamento da base do neveiro, e que os três sensores têm a mesma exposição,
sugere-se que a as diferenças resultem das características do solo (Figura 73). Este é
constituído por clastos decimétricos suportados por clastos de menor calibre em
Top_N_SW129 (Figura 73-a), enquanto que, nos sensores Top_N_SW130 e Top_N_SW132
(Figura 73- b e c), é constituído por clastos centimétricos e decimétricos suportados por uma
matriz silto argilosa. Este tipo de cobertura mais compacta limita a presença de ar nos espaços
intersticiais e exerce um menor efeito isolante.

Tabela 25 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_N

No que diz respeito aos ciclos de congelação e fusão, parâmetro sobre o qual, na
análise de variância foi detetada uma influência significativa da duração da cobertura de neve,
é observada uma tendência para um aumento da frequência com o afastamento à base do
neveiro (Tabela 25). Tal que, o sensor instalado a aproximadamente 45 metros
(Top_N_SW129) regista 84 ciclos, mais 45 ciclos do que os registados no sensor
Top_N_SW132 instalado na base do neveiro (39 ciclos).

Figura 73 – Características do solo nos locais de instalação do conjunto de sensores Top_N: a) Sensor
Top_N_SW129; b) Sensor Top_N_SW130; c) Sensor Top_N_SW132

119
Relativamente à estação de congelação, com início quase simultâneo nos 3 sensores,
sendo a 29 de março no Top_N_SW129 e Top_N_SW132 e a 30 de março no Top_N_SW130,
é registada uma duração entre 209 e 281 dias, com o sensor instalado na base do neveiro
(Top_N_SW132) a registar o período mais longo e o sensor instalado a uma maior distância
(Top_N_SW129), a registar o período mais curto (Tabela 25 e Figura 74).

A intensidade da estação de congelação é, por sua vez, maior no sensor mais afastado
da base do neveiro, e onde a estação de congelação é mais curta, e menor no sensor
instalado na base do neveiro onde a estação é mais prolongada (Figura 74). O mesmo
acontece com o valor de fator-n com uma variação entre 0,85 e 0,95.

Figura 74 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_N

A intensidade do período de congelação, está associada no sensor mais afastado da


base do neveiro, a um valor de 886 FDDs e a um fator-n de 0,95. Neste sensor os valores de
FDDs e FDDa encontram-se praticamente sobrepostos o que indica um bom acoplamento
entre a superfície do solo e o ar, resultado da ausência de um reduzido efeito isolante da neve
(Figura 75-c). A ausência deste é observada na Figura 76-c com a temperatura da superfície
do solo durante o período de congelação a registar amplitudes térmicas próximas das do ar.
No fim do período de congelação, é ainda visível que o aumento da temperatura do solo
acompanha o ritmo de aumento de temperatura do ar.

No sensor instalado numa posição intermédia, foi registado um valor de 831 FDDs e
um valor da fator-n de 0,87. Neste sensor o afastamento entre os FDDs e FDDa é mais
pronunciado (aproximadamente 100 FDD) e constante ao longo do período de congelação
(Figura 75-b). As temperaturas de superfície do solo mostram que este afastamento resulta
de um menor arrefecimento do solo, com temperaturas a variar entre os 0 e -10 ºC, face ao
arrefecimento do ar com temperaturas até -15 ºC. Verifica-se também que no fim do período
de congelação, entre outubro e novembro, o aumento da temperatura do solo é mais lento
face ao aumento da temperatura do ar e há uma permanência em torno dos 0º C durante 20
dias, devido à manutenção de uma cobertura de neve húmida (Figura 76-b).

120
O sensor instalado na base do neveiro Top_N_SW132, regista o período de
congelação menos intenso com o valor de 821 FDDs e um fator-n de 0,84. Quando analisada
a evolução dos FDDs e FDDa é verificado um afastamento progressivo a partir do mês de
julho com uma diferença entre os dois índices de cerca de 50 FDD (Figura 75-a). Esta
diferença evolui para no fim do período de congelação ser de aproximadamente 150 FDD.
Este afastamento é promovido por uma maior duração da cobertura de neve com efeito
isolante. Se analisado o mesmo período na Figura 76-a, vemos que a temperatura estabiliza
nos -5 ºC a partir do mês de julho, não acompanhando as variações de temperatura do ar. No
fim do período de congelação, a fusão da cobertura de neve neste sensor faz com que o solo
permaneça a uma temperatura de 0 ºC por aproximadamente 60 dias (novembro e dezembro).
Adicionalmente, esta cobertura reduz a frequência de ciclos de congelação e fusão no início
da estação de descongelação (Figura 76-a).

a) b)

c)

Figura 75 - Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n no conjunto de
sensores Top_N entre abril e dezembro de 2019: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c) Top_N_SW129

Na estação de descongelação, a data de início é controlada pela duração do processo


de fusão da neve. Desta forma, são observadas diferenças pronunciadas no início do período
de descongelação e na duração do mesmo com valores entre 57 dias (Top_N_SW132) e 131
dias (Top_N_SW129). Quanto à intensidade, e contrariamente ao observado nos restantes
conjuntos, não é o sensor com o período mais longo, aquele que regista o valor de TDDs mais
elevado (Tabela 25). O sensor instalado a uma maior distância da base do neveiro
(Top_N_SW129) e com o período de descongelação mais longo, registou um valor de 306
TDDs, menos 56 TDD do que os registados pelo sensor Top_N_SW130 (362 TDDs), instalado

121
numa posição intermédia e com um período de descongelação de 110 dias. Tal diferença
deve-se às características do solo mencionadas, que no sensor Top_N_SW129, permitem a
existência de ar entre os clastos decimétricos suportados por clastos de menor calibre. Esta
presença de ar exerce um efeito isolante limitativo do aquecimento do solo.

Na análise das Figura76-b verifica-se que, embora o sensor Top_N_SW130 registe


um início do período de descongelação mais tardio, a temperatura do solo à superfície durante
o período de descongelação é superior à temperatura do ar. Tal não acontece no sensor
Top_N_SW129 onde há quase uma sobreposição entre as duas temperaturas (Figura 76-c).

Na análise da TMASS foi sugerido que as diferenças entre estes dois sensores
pudessem resultar das características distintas do solo (Figura 73), nomeadamente da sua
compactação. Ora no caso do solo no sensor Top_N_SW129, constituído por clastos
decimétricos suportados por clastos de menor calibre, a compactação é menor e há uma maior
presença de ar entre os espaços vazios. Tal presença contribui para um efeito isolante a um
nível subsuperficial limitativo de um maior aquecimento, sobretudo em eventos com vento. No
sensor Top_N_SW130 onde o solo é constituído por clastos centimétricos suportados por uma
matriz fina, a menor quantidade de poros promove uma maior condutividade térmica e por
consequência um maior aquecimento do solo à superfície.

Por fim, no sensor Top_N_SW132, com um período de descongelação mais curto (57
dias) resultado da permanência de uma cobertura de neve prolongada, o valor de TDDs
registado é o mais baixo do conjunto com 149 TDDs.

A influência da duração da cobertura de neve, identificada na análise de variância, foi


verificada no conjunto Top_N, embora com particularidades inerentes ao sensor intermédio
onde o efeito da cobertura da superfície se sobrepõe à influência da cobertura de neve,
sobretudo no que diz respeito à intensidade de aquecimento e arrefecimento do solo. Fora
esta particularidade, a duração prolongada da cobertura de neve contribuiu para uma duração
prolongada da estação de congelação, com menor intensidade, e para uma estação de
descongelação mais curta e com um aquecimento do solo menos intenso. No caso do sensor
instalado a maior distância, a menor duração da cobertura de neve tem o efeito oposto.

122
Figura 76 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no sensor Top_N_S129 entre março de 2019 e
fevereiro de 2020: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c) Top_N_SW129

5.3.6. Conclusões

A influência do fator altitude sobre a TMASS, os FDDs, os TDDs, identificada na


análise de variância, confirmou-se de forma clara ao analisar os 4 sensores instalados
segundo um gradiente altitudinal (Alt). Nestes, o aumento da altitude refletiu-se numa
diminuição da TMASS e dos TDDs. Já os FDDs registaram uma tendência de aumento com
a progressão em altitude. A diminuição da TMASS com altitude, é referida por Ferreira et al.
(2016) no estudo da distribuição da temperatura do solo para a Península de Hurd (Ilha
Livingston, Antártida). Embora o fator altitude seja muito marcado nos 4 sensores do conjunto
Alt, nos restantes sensores do conjunto, onde as condições de instação são mais variadas, é
observada a sobreposição do efeito da curvatura e da presença de uma cobertura de neve,
que reduzem a intensidade das estações de congelação.

No fator exposição, a análise de variância não detetou diferenças significativas nos


parâmetros afetos ao regime térmico do solo de acordo a exposição dos locais de instalação.
A não identificação está inerente às limitações do método em quantificar a significância de
uma variável independente nas diferenças entre as médias de cada grupo, quando outra
variável exerce uma influência pronunciada.

123
No conjunto de sensores instalados no Monte Goguryeo, verificou-se que a influência
exercida pela exposição, mais marcada nos sensores com exposição a norte e este onde a
radiação solar potencial tem maior influência, é ligeiramente atenuada pela sobreposição de
outros fatores com impacte no regime térmico do solo. Exemplo foi a influência, a uma escala
de pormenor, da curvatura, que no sensor com exposição a norte promoveu uma maior
acumulação de neve e valores de TMASS mais baixos, face aos registados no sensor com
exposição a este, e uma duração mais prolongada da estação de congelação.

O efeito da curvatura da superfície, analisado através da variância, mostrou ter impacte


na duração da estação de congelação e descongelação. No conjunto Top_VJ, este efeito
revelou-se mais complexo e condicionado pela exposição. Exemplo, foram os resultados
obtidos entre os sensores instalados na concavidade do esporão rochoso de KSS e na
vertente sul do Monte Jeonjaegyu. Entre estes dois sensores, a acumulação e permanência
de neve é mais relevante na vertente retilínea com exposição a sul, do que na superfície
concava, prevalecendo a influência da exposição. Esta permanência de neve nos dois
sensores foi determinante para o início da estação de descongelação.

Nos restantes parâmetros, a influência da curvatura é menos condicionada pela


exposição. No caso da TMASS os valores mais elevados foram registados na concavidade
com exposição a norte, onde a acumulação de neve na estação de congelação limita o
arrefecimento do solo. Adicionalmente, a exposição afeta à concavidade permite um maior
aquecimento durante a estação de descongelação. Goodrich (1982), sobre a relação entre a
cobertura de neve e TMASS, refere uma tendência para o registo de valores de TMASS mais
elevados nas superfícies onde a cobertura de neve está presente durante a estação de
congelação e é mais espessa e duradoura.

Nos ciclos de congelação e fusão, a maior frequência é registada nos sensores


instalados nas superfícies convexas e retilíneas planas, ambas com exposição a oeste, onde
a acumulação de neve é menor no início e fim da estação de congelação e o aquecimento
diurno resultante da radiação solar incidente é mais elevado. Na análise de variância, mais
concretamente no teste de Turkey, verificou-se que as maiores diferenças são registadas
entre as superfícies retilíneas e concavas, que registam as frequências mais baixas. A
severidade do período de congelação foi também superior nas superfícies onde a acumulação
de neve é menor (convexa e retilínea). Já a severidade de aquecimento, na ausência de uma
cobertura de neve, é controlada pela exposição e pela altitude.

124
A posição topográfica, sem diferenças significativas nos parâmetros afetos ao regime
térmico do solo segundo a análise de variância, mostrou-se como uma combinação dos
fatores curvatura e exposição, que em conjunto determinam a acumulação de neve, durante
a estação de congelação, e o aquecimento do solo, durante a estação de descongelação.

A cobertura de neve, com influência assinalada nos ciclos de congelação e fusão na


análise de variância, reforçou o seu efeito no conjunto Top_N onde as frequências mais
elevadas foram registadas nos sensores mais afastados na base do neveiro e onde a duração
da cobertura de neve é menor.

Adicionalmente, no conjunto Top_N, verificou-se que o aumento da duração da


estação de congelação, controlada pelo período em que há uma cobertura de neve isolante
no solo, fez diminuir a intensidade do arrefecimento (FDDs). Zhang (2005) referem que nas
regiões onde o solo à superfície congela sazonalmente, a cobertura de neve pode reduzir
substancialmente a profundidade a que esta congelação afeta o solo. Outros autores, como
Ferreira et al. (2016), Hrbáček et al. (2016) e Hrbáček, Láska & Engel, (2016) mencionam a
importância da cobertura de neve pelo seu efeito isolante sobre o solo e pela diminuição da
intensidade da estação de congelação.

Embora o efeito da presença de uma cobertura de neve seja muito marcado no


conjunto de sensores Top_N, para a estação de descongelação na ausência dessa cobertura,
é verificada a influência resultante das diferentes características do solo, nomeadamente da
sua granulometria e estrutura, que no sensor instalado numa posição inferior, contribuíram
para a existência de ar nos espaços vazios entre fragmentos. A presença e ar teve um efeito
isolante no solo e contribuiu para um ritmo de aquecimento mais lento face aos restantes
sensores. Hrbáček et al. (2017) no estudo da camada ativa na Ilha de James Ross (Antártida)
refere que a textura do solo e teor de humidade têm também uma importante influência no
regime térmico do solo, uma vez que condicionam as suas propriedades térmicas.

Em conclusão, a monitorização do regime térmico do solo é muito complexa, uma vez


que os diferentes fatores microclimáticos e topográficos, de que são exemplo a altitude,
exposição, curvatura, cobertura de neve, radiação solar incidente, teor de humidade, entre
outros, exercem uma influência conjunta no regime térmico do solo com efeitos e intensidades
distintas (Williams & Smith, 1993).

125
CAPÍTULO 6 - O REGIME TÉRMICO DO SOLO E
PERMAFROST NA ÁREA DE JEONJAEGYU

6.1. Introdução

A área de Jeonjaegyu foi escolhida como sector de estudo detalhado dos regimes
térmicos diários da superfície do solo e do permafrost, enquadrando a perfuração King Sejong
Station, em cerca de 0,1 km2. A área localiza-se no setor sudoeste da Península de Barton,
entre o monte Jeonjaegyu e o monte Gaya. O mapa geomorfológico da mesma serviu de base
para a caracterização das formas de relevo e para a análise da dinâmica geomorfológica e foi
realizado a partir de observações de terreno e com o apoio de um ortofotomosaico e de um
modelo digital de superfície de ultra-alta resolução. Esta análise permite complementar o
estudo dos regimes térmicos diários da superfície do solo apresentados no subcapítulo 6.3 e
o enquadramento da perfuração KSS e do regime térmico do permafrost apresentado no
subcapítulo 6.4.

6.2. Caracterização geomorfológica

A área de pormenor de Jeonjaegyu é encimada a nordeste pelo planalto do monte


Baekjo, a cerca de 180 m de altitude, estendendo-se até ao patamar erosivo do monte Gaya,
a cerca de 110 m de altitude. Estas duas superfícies aplanadas estão divididas por um setor
de vertentes abruptas, com uma forma em anfiteatro retalhado, formando um circo glaciário
incipiente (Figura 77).

Na área de pormenor de Jeonjaegyu, os processos periglaciários contribuem para a


meteorização da rocha, através da crioclastia, e para o desenvolvimento de formas
periglaciárias nos setores onde a cobertura da superfície média ou fina, suportada por uma
matriz também ela fina, onde os declives são inferiores a 20º. Ambos os parâmetros
contribuem para uma maior retenção de água no solo, fundamental para os processos de
crioturbação que dão origem a estas formas. É também observado que o nível de
desenvolvimento das formas é mais acentuado nas áreas onde o declive é inferior a 10º.

No caso das formas glaciárias, a sua identificação é mais limitada pela sobreposição
dos processos de meteorização e erosão ocorridos após o retrocesso do glaciar Collins. Não
obstante, são identificadas rochas aborregadas, associadas a afloramentos rochosos que
conservam uma superfície polida e a existências das duas faces características. Os depósitos

126
glaciários, duas moreias laterais perpendiculares à vertente com exposição a sudoeste, são
observados na área de pormenor como testemunhos do processo de recuo do glaciar.

No que concerne à cobertura da superfície, são observados depósitos heterométricos,


compostos maioritariamente por clastos angulosos, fragmentados por ação de uma
meteorização física (crioclastia). Quando o calibre do material é mais fino, é frequente a
presença de uma matriz constituída por silte e argila. Quando o calibre do material é mais
grosseiro, os clastos de maior dimensão são suportados por clastos de dimensões
centimétricas ou milimétricas. Os depósitos de diamicton grosseiro surgem, na área de
Jeonjaegyu, alinhados de forma paralela com uma direção dominante de ENE-OSO e
sugerem uma influência exercida pela litologia e pela dureza da rocha que será neste caso
mais dura. As áreas onde está presente uma rocha mais branda, tem associada uma
cobertura por um diamicton médio e fino.

Na análise de pormenor, o setor pode ser dividido em 4 unidades de relevo (Figura


77): as vertentes do circo, dominando a parte norte e noroeste; o fundo do circo e o valeiro a
sul do monte Jeonjaegyu; o pequeno esporão rochoso da perfuração King Sejong Station; e
o patamar do monte Gaya no setor meridional.

Figura 77 – Modelo Digital de Elevação da área de pormenor de Jeonjaegyu derivado do levantamento com
VANT realizado na campanha antártica de 2018-2019

127
6.2.1. As vertentes do circo

a) Vertente do Monte Jeonjaegyu

A vertente V1 do Monte Jeonjaegyu, no setor norte da área de pormenor e com


exposição a sul, destaca-se das restantes pelos declives superiores a 20º. Tem um perfil
retilíneo no setor este e tem um comando de 17 m. Está coberta por um diamicton grosseiro,
composto por clastos angulosos decimétricos e por grandes blocos desabados do setor
superior, formando um talude de detritos (Figura 77, 78, 79 e 80-a).

No setor central da vertente V1_C, onde os declives são inferiores a 25º, surge um
diamicton fino com clastos angulosos centimétricos e a presença de uma matriz de suporte.
No setor onde o depósito é mais fino e o declive mais suave, surgem círculos de pedra
calibrados, que neste setor apresentam uma forma ligeiramente alongada no sentido do
declive, resultante da ação gravítica (Figura 77, 78 e 79). Estes, são formas resultantes de
crioturbação associada à congelação e fusão da água, que origina a movimentação das
partículas do solo (French, 2007). Quando a água presente no solo congela e se dá a
formação de lentículas de gelo, há um levantamento do material que tende a ser mais
pronunciado na área central do círculo, onde há uma maior acumulação de gelo. Com a fusão
do gelo intersticial, dá-se o assentamento das partículas levantadas. Tal resulta numa
deposição dos elementos mais grosseiros, em torno da área onde o levantamento foi mais
acentuado. Na frente destes círculos de pedra surgem frequentemente lóbulos de solifluxão,
formas também resultantes dos processos de crioturbação. Estes lóbulos resultam do
movimento lento do material presente numa área com declive, provocado pela congelação e
levantamento do material e consequente fusão, perda de coesão e deposição por ação
gravítica (Ballantyne & Harris, 1994).

No setor oeste da vertente V1_O, com forma convexa, o declive volta a registar valores
superiores a 25º, resultado da sucessão de escarpas com aproximadamente 3 m de altura
que delimitam terraços a 136, 141 e 144 m de altitude (Figura 77, 78, 79 e 80-b). Estes,
encontram-se cobertos por um diamicton de grão médio de clastos angulosos decimétricos,
suportados por clastos centimétricos. Nos setores dos terraços com diamicton fino e matriz
fina, surgem de novo círculos de pedras, ali com diâmetro entre 50 e 80 cm. O setor inferior
da vertente V1 apresenta um diamicton grosseiro com clastos angulosos decimétricos e
blocos métricos desabados, passam gradualmente a uma vertente de blocos.

128
b) Vertente do Planalto do Monte Baekjo

A vertente V2 do Planalto do monte Baekjo, exposta a sudoeste é marcada pela


presença de um neveiro que limita a análise da sua forma e declive (Figura 77, 78, 79 e 80-
c). Não obstante, através das pequenas áreas expostas é calculado um comando de
aproximadamente 44 m. Esta vertente, no seu setor inferior está associada à presença de
uma cobertura morénica pelicular que se estende até ao setor inferior da vertente do Monte
Jeonjaegyu. Este depósito é um diamicton médio constituído por clastos decimétricos, com
frequentes blocos métricos.

c) Vertente a sudeste da perfuração de King Sejong Station

A vertente V3 a sudeste da perfuração de King Sejong tem exposição a oeste e está


enquadrada por dois neveiros (N2 e N3). Apresenta uma forma complexa, resultante dos
vários afloramentos rochosos que surgem à superfície (Figura 77, 78, 79 e 80-d). Esta
complexidade permite a definição de três setores. Da base para o topo, no primeiro setor
ocorrem rochas aborregadas, associadas a rebordos pronunciados, e está presente uma
cobertura composta por diamicton grosseiro. No setor intermédio, os depósitos de diamicton
grosseiro mantêm-se, resultado da intensa meteorização física e erosão dos afloramentos
rochosos presentes no setor. Estes afloramentos rochosos estão, por sua vez, associados à
dinâmica glaciária uma vez que constituem rochas aborregadas com uma superfície polida
pelo processo de abrasão. Na face a jusante, as rochas aborregadas formam pequenos
rebordos.

Na transição do setor intermédio para o setor superior da vertente, há uma modificação


da cobertura. O diamicton grosseiro dá lugar a um diamicton fino, no qual os clastos angulosos
são suportados por uma matriz fina. No que diz respeito às formas periglaciárias, dominam
neste setor pequenos lóbulos de solifluxão (Figura 79). No limite inferior deste setor surgem,
associados aos lóbulos de solifluxão, círculos de pedra com um núcleo fino de clastos
centimétricos e milimétricos suportados por uma matriz fina, limitados por clastos e blocos.

No limite norte da vertente V3, a presença de afloramentos rochosos é mais limitada


e dá lugar a depósitos de vertente, nomeadamente a uma vertente de blocos e a um cone de
detritos, através do qual é depositado o material mais fino da vertente. No limite sul, está
presente o terceiro neveiro da área de estudo, que tem especial relevância para a análise do
regime térmico da superfície, apresentado no capítulo 5.3.5., e para os processos
geomorfológicos que ocorrem no setor no fundo do valeiro.

129
6.2.2. Fundo do circo e do valeiro do Monte Jeonjaegyu

No fundo do circo glaciário está presente um setor aplanado com um declive entre 5 e
10º, caracterizado por uma cobertura de diamicton fino com clastos centimétricos suportados
por uma matriz de silte e argila (Figura 77, 78, 79 e 80-e). Neste setor, na base do neveiro N3,
está presente ainda um pequeno lago. A presença deste corpo de água influencia o teor de
humidade ou a saturação do solo no setor aplanado e intensifica os processos de
crioturbação, nomeadamente os processos de segregação de gelo e levantamento criogénico
(French, 2007). Tais processos resultam, como visto anteriormente, na formação de solos
ordenados, dominantes neste setor com a forma de círculos de pedra na sua maioria não
calibrados. Estes possuem diâmetros entre 1 e 3 m.

Conforme avançamos no valeiro de este para oeste, o diamicton fino vai dando lugar
a um diamicton médio e grosseiro e os declives ultrapassam os 10º. Como consequência,
surgem lóbulos de solifluxão e fluxos de clastos resultantes do movimento de massa
canalizado. No setor ocidental do valeiro (FV), observa-se uma nova suavização do declive e
uma cobertura superficial com círculos de pedra, cujo núcleo é composto por clasto
centimétricos, mas sem a presença de matriz fina e com os limites constituídos por clastos de
maior calibre.

6.2.3. Esporão rochoso da perfuração King Sejong Station

No sector central da área de estudo encontra-se um pequeno esporão rochoso (E1),


alongado no sentido este-oeste, com uma altitude entre 128 e 120 m e cerca de 1 a 3 m acima
das superfícies envolventes: o fundo do valeiro (FV) a sul do monte Goguryeo, a norte, e o
patamar do Monte Gaya (PG) a sul. Com uma altitude máxima de 128 m, este esporão
apresenta uma forma próxima de uma rocha aborregada, afloramento rochoso assimétrico
onde a face a montante é modelada pela abrasão glaciária e a face a jusante pela
fragmentação e desalojamento de blocos (Vieira, 2004) (Figura 77, 78, 79 e 80-f). Não
obstante, a ação intensa dos processos de meteorização física e erosão, foram responsáveis
por uma acentuada fragmentação da rocha e pela suavização das formas glaciárias. Esta
meteorização resultou na cobertura do afloramento rochoso por clastos angulosos
decimétricos. São observados nos afloramentos rochosos vestígios de uma corrasão nivo-
eólica dominante nas faces mais expostas (Figura 80-g).

130
6.2.4. Patamar do Monte Gaya

O Patamar do Monte Gaya (PG) corresponde a uma superfície erosiva aplanada, mas
irregular no pormenor, com altitudes entre 123 e 107 m. Esta unidade pode ser dividida em
três setores: o setor a jusante do neveiro N3, caracterizado por uma cobertura de diamicton
grosseiro e médio (PG1); o setor a sudoeste do esporão KSS, marcado por afloramentos
rochosos (PG2); e um setor que se estende pelo limite sul da área de pormenor, com uma
cobertura de superfície dominada por um diamicton fino (PG3) (Figura 77, 78, 79 e 80-f).

No setor PG1 a jusante do neveiro N3, onde o declive regista valores entre 10 e 15º,
estão presentes lóbulos de solifluxão. Estes assumem sentido de fluxo distintos, respeitando
as variações do declive. À semelhança do que acontece na vertente exposta a sul, onde o
declive é mais acentuado, também aqui surgem associados aos lóbulos de solifluxão
pequenos círculos de pedras cujos núcleos são constituídos por material fino.

No setor a sudoeste da elevação KSS (PG2), onde a superfície possui uma cobertura
mais grosseira, surgem com maior frequência blocos rochosos com dimensões métricas que,
quando concentrados, dão origem a campos de blocos. Nas áreas do setor PG2 associadas
a afloramentos rochosos, surgem pequenos rebordos evidenciados pelo aumento do declive
na (Figura 78-C)

Os depósitos de blocos em áreas planas constituem na área de pormenor campos de


blocos. Nas áreas do setor onde estão presentes afloramentos rochosos, surgem também
pequenos rebordos que contribuem para aumentos de declive mais pronunciados.

No setor sul da área (PG3), onde os declives registam valores inferiores a 10º,
observa-se a transição de um diamicton médio para um fino, em que os clastos angulosos se
encontram envoltos numa matriz fina de silte e argila. Neste setor surgem solos ordenados e
círculos de pedra não calibrados, cuja forma alongada acompanha o declive. Paralelos à área
de solos ordenados, e na área mais entalhada, surgem fluxos de clastos.

131
Figura 78 - Área de Jeonjaegyu: a) Ortofotomosaico; b) Mapa hipsométrico; c) Mapa de declives (graus); d) Mapa
de exposição

132
Figura 79 – Mapa geomorfológico de pormenor da área de Jeonjaegyu

133
a) b) Rechãs
Talude de
detritos

c) Vertente do d) Esporão rochoso da


Planalto Baekjo perfuração KSS

N1
N2
N3

Vertente a sudeste da
perfuração KSS

e) Esporão rochoso da f)
perfuração KSS
Patamar do Monte
Gaya

Fundo do valeiro de
Jeonjaegyu
Esporão rochoso da
perfuração KSS
N3

Fundo do circo
c))
glaciário

g) h)

Figura 80 - Área de pormenor Jeonjaegyu: a) Vertente do Monte Jeonjaegyu; b) Rechãs da vertente do Monte
Jeonjaegyu; c) Vertente do Planalto Baekjo; d) Vertente 3 a SE da perfuração KSS; e) Fundo do circo glaciário e
esporão rochoso da perfuração KSS; f) Patamar do Monte Gaya e fundo do valeiro Jeonjaegyu; g) Afloramento
no esporão rochoso da perfuração KSS com vestígios de corrasão nivo-eólica; h) Círculos de pedras no fundo
do valeiro de Jeonjaegyu

134
6.3. Regimes térmicos do solo diários

O estudo dos regimes térmicos diários do solo na área de pormenor de Jeonjaegyu


teve como objetivo uma análise mais detalhada, apoiada pela cartografia geomorfológica que
permitiu uma interpretação dos regimes térmicos associados à morfologia e ao substrato
cartografado (Figura 79). Como explicado no capítulo 3.4.4. da metodologia, os regimes
térmicos diários foram classificados em função do modo como a temperatura da superfície do
solo varia, em particular considerando a sua amplitude, a duração da congelação ou da fusão,
bem como os ciclos de gelo-degelo.

Assim, para a análise dos regimes térmicos diários foram utilizados o conjunto Top_VJ,
composto por 4 sensores instalados no vale de Jeonjaegyu e o conjunto Top_N, constituído
por 3 sensores instalados na base do neveiro N3 (Figura 77).

6.3.1. Regimes térmicos diários no vale de Jeonjaegyu

No vale de Jeonjaegyu, para o período de estudo de março de 2019 a março de 2020,


foram observados três tipos padrões afetos aos regimes térmicos diários do solo (Figura 81-
a):

- Com estação de congelação mais prolongada (275 dias), em que predominam dias
com congelação do solo, e em que, no início da estação de congelação, mais tardio, os
regimes com congelação e fusão estão praticamente ausentes (Top_VJ_S134).

- Em que, no início e fim da estação de congelação são frequentes os regimes térmicos


diários com congelação e fusão e em que a estação de congelação é mais curta (200 dias)
(Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133).

- Em que o início da estação de congelação é caracterizado por regimes térmicos


diários com congelação, mas em que no fim regista uma maior frequência de regimes térmicos
diários com congelação e fusão (Top_VJ_NE132).

Se considerada a localização de cada sensor (Figura 64 e 76), observamos que o


padrão em que a frequência de regimes térmicos diários com congelação é maior, diz respeito
ao sensor instalado na vertente V1 do Monte Jeonjaegyu exposta a sul com a TMASS mais
baixa de -1,6 ºC. Os padrões com frequências elevadas de regimes térmicos diários de
congelação e fusão, no fim da estação de congelação, são referentes aos sensores instalados
na convexidade do esporão rochoso de KSS e na área plana no fundo do circo glaciário. Já o

135
padrão intermédio, com a segunda maior frequência de regimes térmicos com congelação,
está afeto ao sensor instalado na concavidade do esporão rochoso de KSS.

a) Fim da estação de descongelação de 2019

O fim da estação de descongelação de 2019, permitiu a identificação de algumas


características próprias de cada padrão. No caso do sensor Top_VJ_S134, instalado na
vertente V1 com exposição a sul, o fim do período de descongelação foi marcado por dias
com regimes térmicos de congelação F2 (com amplitude térmica pronunciada) e F3 (0 ºC),
associados a situações com temperaturas do ar negativas (Figura 81-a). Nos mesmos dias,
nos sensores com exposição a oeste (Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133), são observados com
maior frequência regimes térmicos com congelação e fusão FT1 e FT2, sem e com amplitudes
térmicas pronunciadas. Esta diferença traduz o efeito da exposição que, mesmo em dias com
temperaturas médias do ar negativas pode levar, durante o período diurno, a um aquecimento
do solo suficientemente intenso para que sejam registadas temperaturas acima dos 0 ºC. O
mesmo não acontece no sensor com exposição a sul onde a radiação solar incidente é menor.

No caso do sensor instalado na concavidade na base da vertente do esporão rochoso


de KSS (Top_VJ_NE132), a sucessão de dias com regimes térmicos de congelação e fusão
foi menor durante o período em que a temperatura média diária do ar foi inferior a 0 ºC. Neste
período foram observados regimes sem congelação U1, caracterizado por uma menor
amplitude térmica, e regimes com congelação F3, no qual as temperaturas permanecem nos
0 ºC. Neste sensor, a exposição a nordeste favorece um menor arrefecimento do solo durante
a estação de descongelação, na qual o período diurno é mais longo. Como resultado, o início
da estação de congelação é mais tardio (04/04/2019). Este início mais tardio traduz-se em
menos de 10% de dias de março com regimes com congelação (Figura 81-c). Por oposição,
o regime térmico mais destacado neste sensor é o regime sem congelação U2 e com
amplitudes térmicas pronunciadas, associado também a radiação solar incidente.

Nos três sensores anteriormente mencionados, as diferenças no mês de março mais


destacadas, estão nos valores percentuais dos regimes térmicos diários com congelação e
fusão, superiores a 20% nos sensores com exposição a oeste e inferiores a 20% no sensor
instalado na vertente com exposição a sul. No sensor instalado com exposição a norte, a
frequência de regimes térmicos diários com congelação e fusão é menor, não obstante,
sucedem-se dias com regimes de congelação F2 e de descongelação U2, o que traduz uma
acentuada amplitude térmica entre dias.

136
b) Estação de congelação de 2019

O início da estação de congelação, nos três tipos de padrões, foi também distinto pelo
momento em que ocorreu e pelo tipo de regimes que a antecederam (Figura 81-a). No sensor
instalado na vertente V1 (Top_VJ_S134), com início da estação de congelação a 30 de março
de 2019, os regimes com congelação e com amplitude térmica pronunciada (F2) sucederam-
se a regimes sem congelação também com amplitudes térmicas pronunciadas (U2). Tal
sucessão, sem a presença significativa de regimes com congelação e fusão, é indicativa de
um rápido arrefecimento do solo, no momento a partir do qual, as temperaturas do ar descem
e permanecem constantes abaixo de 0 ºC. No período de 25 a 29 de abril, e 7 a 11 de maio,
em que a temperatura média diária do ar esteve próxima de 3 ºC, surgiram intercalados
regimes sem congelação U2 e regimes com congelação e fusão FT2. Não obstante, quando
observada a Figura 81-e, verifica-se que 70 a 80 % dos dias dos meses de abril e maio tiveram
a ocorrência do regime térmico com congelação e com amplitude térmica pronunciada F2.

No caso dos sensores com exposição a oeste, caracterizados pela elevada frequência
de regimes com congelação e fusão (FT1 e FT2) e com início da estação de congelação a 30
de março de 2019, é precisamente um destes regimes (FT2) que antecede os regimes com
congelação do solo, no período em que a temperatura do ar varia entre 2 e -9 ºC. A ocorrência
de dias com o regime FT2 indica que no início da estação de congelação, o arrefecimento do
solo é interrompido, durante o período diurno, por um aquecimento resultante incidência de
radiação solar. a diminuição da temperatura do ar levou a um arrefecimento do solo com
temperaturas abaixo de 0 ºC, interrompido por um aquecimento diurno que provocou uma
subida da temperatura até valores positivos. Se considerados os meses de abril e maio,
apenas nestes dois sensores a percentagem de dias no mês de com regimes FT2, aproxima-
se de 20% (Figura 81-a e d).

No padrão do sensor Top_VJ_NE133, observamos um início da estação de


congelação mais tardio, a 4 de abril de 2019, mas com uma sucessão de regimes semelhantes
às do padrão do sensor instalado na vertente do Monte de Jeonjaegyu (Top_VJ_S134).
Quando a temperatura do ar registou -5 ºC (04/04/2019), foram registados neste sensor
regimes com congelação do solo F1 e F2. No entanto, nos dias em que a temperatura média
diária atingiu cerca de 3 ºC, foram registados regimes sem congelação U2. Tal sugere uma
maior influência da radiação solar, que neste sensor permitiu um aquecimento intenso do solo
e o registo de temperaturas positivas durante todo o dia, o que faz com que no mês de abril,
este seja o único sensor onde em aproximadamente 40% dos dias o solo não teve congelação.

137
Durante o período em que dominou o regime térmico com congelação F2, com
presença em 60 a 80% dos dias de cada mês, a temperatura do ar esteve entre 0 e -14 ºC
nos três tipos de padrões. Este regime foi intercalado por dias com um regime com congelação
e com reduzida amplitude térmica F1. Este último surge em dias onde a temperatura média
diária do ar varia entre 0 e -6 ºC ou quando são registados episódios de neve. Se considerado,
como exemplo o sensor Top_VJ_S134, no dia 26 de junho há um aumento da espessura da
cobertura de neve, quantificado na estação de King Sejong em 22 cm. Este, foi coincidente
com a sucessão, durante 3 dias, de um regime térmico com congelação e com reduzida
amplitude térmica (F1) (Figura 81-a). O mesmo acontece, para os 4 sensores, durante o mês
de setembro, em que a espessura de neve aumenta de 20 para 50 cm. Desta forma, é
percetível que a ocorrência do regime térmico F1, está associada a uma menor amplitude
térmica da temperatura do ar e ao aumento da espessura da cobertura de neve, responsável
por exercer um efeito isolante à superfície do solo e por reduzir a perda de calor. Isto mostra
também que embora a neve esteja presente ao longo da estação de congelação, o seu efeito
isolante, é menos expressivo do que após o evento nivoso. A presença de uma cobertura de
neve teve também implicações no aquecimento do solo no fim da estação de congelação e
no aumento do teor de humidade do mesmo que pode ter tido impacte nos processos
periglaciários.

O fim da estação de descongelação a 21 de outubro (Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133),


5 de novembro (Top_VJ_NE132) e 30 de dezembro (Top_VJ_S134), foi o segundo momento
no qual foi possível observar as maiores diferenças entre os três locais, sobretudo no que diz
respeito à duração da estação de congelação. A partir do dia 12 de outubro, foi registada uma
subida progressiva da temperatura do ar de -12 para 0 ºC, registados a 18 de outubro. De 18
de outubro a 15 de dezembro, a temperatura média diária do ar oscilou entre -3 e 5 ºC, sendo
registada uma tendência de subida das temperaturas mínimas. Esta subida da temperatura
do ar esteve a par de um aumento da temperatura do solo, nos três sensores com exposição
a oeste e nordeste, provocada pela maior influência da radiação solar incidente. Este aumento
da temperatura levou a que ocorressem regimes térmicos diários com congelação e fusão
FT1 e FT2, associados a oscilações em torno dos 0 ºC, e que nestes sensores fosse iniciada
a estação de descongelação.

No sensor da vertente do Monte Jeonjaegyu (Top_VJ_S134), com o período de


congelação mais longo, durante o período em que a temperatura do ar aumentou para valores
próximos de 0 ºC, o regime térmico com congelação e com amplitude térmica pronunciada
(F2) deu lugar a um regime com congelação, mas onde a amplitude térmica é menor (F1).

138
Este correu em quase 90 % dos dias dos meses de novembro e dezembro (Figura 81-e). Na
análise detalhada dos regimes térmicos, no capítulo 5.3.3, foi referido que o local de instalação
deste sensor promoveu a permanência de uma cobertura de neve. Esta cobertura com efeito
isolante, juntamente com a exposição a sul, limitam o aquecimento do solo e fazem com que
a sua temperatura permaneça constante, sem flutuações resultantes da indecência da
radiação no período diurno.

c) Estação de descongelação de 2019-2020

Enquanto no sensor da vertente do Monte Jeonjaegyu, o solo permaneceu congelado,


nos sensores com exposição a oeste e nordeste foi iniciada a estação de descongelação,
caracterizada por uma frequência elevada de regimes com congelação e fusão (FT1 e FT2).

Nos sensores com exposição a oeste (Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133) o regime FT1


surgiu destacado no mês de novembro com 42 e 37% dos dias e em dezembro com 52 e 36%
dos dias, respetivamente nos sensores Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133 (Figura 81-b e d).
Este regime surge associado a dias em que a temperatura média diária do ar esteve próxima
dos 0 ºC. Nos dias em que a temperaturas média diária do ar estiveram ligeiramente acima
dos 0 ºC e até 2 ºC, foram registados regimes com congelação e fusão e com amplitude
térmica pronunciada FT2. Estes representam 20 a 30 % dos dias nos meses de novembro e
dezembro em ambos os sensores (Figura 81-b e d).

No sensor Top_VJ_NE132, o início da estação de descongelação foi ligeiramente mais


tardio, a 5 de novembro, e sucedeu a regimes F1. Anteriormente, foi referido que pela
curvatura concava, o local de instalação deste sensor promoveu a acumulação de neve,
ausente nos dois sensores com exposição a oeste. Por esta razão, e até que a fusão da neve
terminasse, o solo permaneceu congelado. Após a fusão da neve, o perfil com os regimes
térmicos diários assemelhou-se ao dos dois sensores instalados com exposição a oeste.

No fim do mês de dezembro, momento em que a temperatura média diária do ar foi


superior a 0 ºC e regista até 7 ºC (08/01/2020), ocorreu com maior frequência um regime
térmico sem congelação e com amplitude térmica pronunciada U2, em aproximadamente 80%
dos dias no mês de janeiro e fevereiro (Figura 81-b, c, d e e). A ocorrência deste regime é
pontualmente interrompida nos dias em que a temperatura média diária regista um valor de 0
ºC e o solo regista um regime com congelação e fusão com amplitude térmica pronunciadas.

139
Figura 81 – Regimes térmicos diários do solo à superfície no vale de Jeonjaegyu: a) Espessura de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no
posto termométrico da perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b) Regimes térmicos diários do solo por mês no
sensor Top_VJ_W135; c) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_NE132; d) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_W133;
e) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_S134.

140
6.3.2. Regimes térmicos diários na base do neveiro N3

No conjunto de sensores Top_N, instalados na base do neveiro N3, para o período de


estudo de março de 2019 a março de 2020, foram observados três tipos de comportamentos
nos regimes térmicos diários do solo (Figura 82-a):

- O sensor Top_N_SW132, instalado próximo do neveiro mostrou uma estação de


congelação muito prolongada (281 dias) com 73% dos dias do período de estudo a registarem
regimes térmicos diários com congelação do solo F1 e F2. Este sensor é ainda caracterizado
pela baixa frequência de regimes sem congelação no fim da estação de descongelação de
2019.

- O sensor instalado em posição intermédia (Top_N_SW130), mostrou uma estação


de congelação prolongada (229 dias) e a segunda frequência de regimes com congelação e
fusão mais elevada (18% dos dias do período de estudo).

- O sensor instalado a maior distância do neveiro (Top_NSW129), apresentou uma


estação de congelação prolongada (209 dias) e a frequência mais elevada de regimes com
congelação e fusão (25% dos dias do período de estudo).

a) Fim da estação de descongelação de 2019

No fim da estação de descongelação de 2019, os regimes dos sensores instalados a


maior e menor distância da base do neveiro, foram semelhantes. Ambos registaram regimes
térmicos com congelação e fusão FT1 e FT2. Nos dias em que a temperatura se aproximou
dos -4 ºC houve uma tendência para no sensor instalado a menor distância (Top_N_SW132)
ser registado um regime térmico com congelação com amplitude térmica pronunciada F2,
enquanto que, no sensor instalado a maior distância (Top_N_SW129) foram registados
regimes térmicos com congelação e com reduzida amplitude térmica (F1) ou com congelação
e fusão (FT1 e FT2). Tal indica que o arrefecimento do solo foi mais intenso no sensor
instalado próximo do neveiro. Nos dias em que as temperaturas foram positivas, estes
sensores registaram regimes sem congelação e com amplitude térmica pronunciada (U2).

O sensor instalado em posição intermédia (Top_N_SW130), teve uma menor


frequência de regimes com congelação e fusão FT1 e FT2. Nos dias em que nos outros
sensores foram registados regimes com congelação e fusão FT1 e FT2, neste sensor foi
registado um regime térmico sem congelação e com amplitude térmica pronunciada U2. Na
análise da Figura 82-c é possível observar o destaque deste regime que no mês de março

141
esteve presente em aproximadamente 50% dos dias e que em abril teve expressão em cerca
de 30% dos dias.

A diferença sensor instalado em posição intermédia face aos outros sensores


instalados a menos de 30 m de distância, no fim da estação de descongelação, reforça a ideia
abordada no capítulo 5.3.5. de que as características do solo contribuem para as diferenças
do regime térmico do solo, uma vez que neste período não houve uma cobertura de neve.

b) Estação de congelação de 2019

A estação de congelação teve um início quase síncrono nos três sensores no dia 29 e
30 de março de 2019. À semelhança do fim do período de descongelação, também neste
período inicial os sensores instalados a menor e maior distância da base do neveiro foram
semelhantes. Nos períodos de 4 a 6 dias ambos os sensores registaram regimes térmicos
com congelação com amplitude térmica pronunciada F2. Nos dias em que a temperatura do
ar subiu, estes sensores registaram regimes térmicos com congelação e fusão, desta vez com
menor amplitude térmica no sensor a menor distância da base do neveiro (Top_N_SW132), o
que ilustra um aquecimento menos intenso. Se observadas as Figuras 82-b e 82-d, é visível
nos dois sensores, a proximidade dos valores percentuais afetos a cada regime, registados
nos meses de abril e maio.

No sensor instalado numa posição intermédia, nos períodos, de 10 a 15 e de 23 a 29


de abril, em que a temperatura do ar subiu para valores próximos de 2 ºC, foi registado um
regime térmico U2, contrariamente aos regimes com congelação e fusão registados pelos
outros dois sensores. Só no período de 5 a 13 de maio, em que nos outros dois sensores são
registados regimes U2, é que neste sensor surge uma sucessão de dias com um regime FT2,
intercalado por um dia com U1. A partir de 17 de maio e até 14 de outubro, a temperatura
média diária do ar foi quase sempre inferior a 0 ºC e o regime térmico diário dominante nos
três locais foi o F2.

Embora este regime tenha sido dominante, no sensor instalado a menor distância da
base do neveiro (Top_N_SW132), é observado desde o aumento da espessura de neve a 15
de agosto (27 cm), uma maior frequência do regime F1. Este, torna-se dominante a partir do
dia 8 de setembro, quando foi registado um novo aumento da espessura de neve (30 a 50
cm), com presença em 50% dos dias do mês de setembro, 60% dos dias do mês de outubro
e 90 e 100% dos dias dos meses de novembro e dezembro (Figura 82-b).

142
A permanência do solo congelado até ao início do mês de janeiro, resultado da
manutenção da neve no solo, fez com que este local tivesse a estação de congelação mais
longa e a menor frequência de regimes com congelação e fusão.

c) Estação de descongelação de 2019-2020

Enquanto a estação de congelação se prolongou no sensor instalado na base do


neveiro, nos sensores intermédio (Top_N_SW130) e a maior distância (Top_N_SW129), a
estação de descongelação foi iniciada a 24 de outubro e 15 de novembro, respetivamente. A
mesma, foi caracterizada pela ocorrência de regimes FT1 e FT2 e U2.

No sensor intermédio (Top_N_SW130), a resposta do solo às variações da


temperatura do ar foi mais rápida e intensa face ao sensor instalado a maior distância
(Top_N_SW129) para três períodos de curta duração no início da estação. No primeiro, de 4
a 12 de novembro, em que a temperatura do ar registou valores negativos, o sensor intermédio
registou um regime FT2, enquanto que, o sensor inferior começou por registar um regime FT1
nos primeiros dias, seguido por um regime FT2. No período seguinte, de 12 a 14 de novembro,
com a temperatura do ar a registar temperaturas positivas, são registados no sensor instalado
numa posição intermédia ocorrem regimes F2 e F3. No sensor instalado a maior distância,
apenas no dia 13/11/2019 foi registado um regime F2. No último período, de 16 a 19 de
novembro, com a temperatura do ar a oscilar em torno dos 0 ºC, são registados no sensor
intermédio, a ocorrência de dias com um regime U2. Já no sensor inferior, ocorrem dias com
um regime FT1 em que as temperaturas oscilaram em torno de 0 ºC.

Após o período inicial da estação de descongelação, nos sensores intermédio e


inferior, ocorreram regimes com congelação e fusão FT1 e FT2, ainda que com destaque para
o sensor a maior distância (Top_N_SW129), onde estes regimes foram registados em 35 e
42% dos dias do mês de dezembro (Figura 82-d), enquanto que no sensor instalado na
posição intermédia foram registados em menos de 30% (Figura 82-c).

A partir de 5 de janeiro, e até ao fim do período de estudo, a temperatura média diária


do ar foi superior a 0 ºC, o que levou a que fosse registado nos 3 sensores, um regime sem
congelação com amplitude térmica pronunciada U2.

143
Figura 82 – Regimes térmicos diários do solo à superfície na base do neveiro N3: a) Espessura de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no
posto termométrico da perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b) Regimes térmicos diários do solo por mês no
sensor Top_N_SW132; c) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW130; d) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW129

144
6.3.3. Conclusões

Em síntese, nos regimes térmicos diários com congelação e fusão, na estação de


descongelação, a exposição da superfície do solo exerce uma importante influência na
frequência. Esta tende a ser maior em superfícies cuja orientação é mais favorável à
incidência de radiação solar, uma vez que no período diurno, esta incidência pode provocar
um forte aquecimento do solo e o registo de temperaturas superiores a 0 ºC, mesmo quando
a temperatura média diária do ar é negativa. Para que este aquecimento seja possível, é
também necessária a ausência de uma cobertura de neve isolante que tende a provocar um
aumento do período em que o solo permanece com regimes térmicos diários com congelação.

Se considerarmos a meteorização por crioclastia, a sua intensidade e frequência não


está apenas dependente da frequência dos regimes com congelação e fusão, mas também
da disponibilidade de água que tem de congelar, para que através da sua expansão e pressão
exercida, seja capaz de fragmentar a rocha. O mesmo acontece nos processos de
crioturbação, dependentes ainda do material que constitui o solo, nomeadamente do seu
calibre.

A importância do calibre dos fragmentos nos processos de crioturbação, mais


concretamente no levantamento criogénico, é observada nos dois sensores com exposição a
oeste do conjunto Top_VJ (Top_VJ_W135 e Top_VJ_W133) que apesar de possuírem um
perfil de regimes térmicos diários muito semelhante, apresentam coberturas à superfície
distintas. Ora é no sensor com a cobertura mais fina (Top_VJ_W133) que são observadas
formas periglaciárias, nomeadamente solos ordenados. No caso do sensor com a cobertura
mais grosseira na parte superior de um afloramento rochoso (Top_VJ_W135) o material
encontra-se estável e não apresenta indícios de movimentação recente.

Desta forma, conclui-se que a existência de dois perfis de regimes térmicos muito
semelhantes pode resultar em formas distintas, resultado das diferenças topográficas e da
cobertura da superfície.

No caso do conjunto Top_N, observou-se ainda que dois locais muito semelhantes
quanto à exposição, declive e curvatura, podem também originar perfis distintos derivados
das diferenças na cobertura do solo com impacte na condutividade térmica e no efeito isolante.

145
6.4. O regime térmico do permafrost na perfuração King
Sejong Station

O estudo do regime térmico do solo na perfuração de King Sejong Station teve como
objetivo a análise do estado e do regime térmico do permafrost ao longo do ano, bem como
da dinâmica térmica da camada ativa. Nesta análise foram considerados os valores de
condutividade da rocha, obtidos através das determinações termofísicas, o perfil de
temperatura média anual, as temperaturas médias diárias e horárias a diferentes
profundidades e as temperaturas do ar.

6.4.1. Caracterização macroscópica da carote da perfuração

A perfuração para monitorização do permafrost de KSS foi instalada num afloramento


de rocha andesítica, que regista ao longo dos 13,2 m das carotes variações quanto à cor, grau
de meteorização, textura, fraturas e dureza (Tabela 27). Nas variações de cor, as rochas
lávicas com cores acinzentadas estão associadas a um metamorfismo menos evidente. Por
outro lado, as rochas lávicas metamorfizadas surgem nas amostras com uma cor esverdeada
pela presença de epídoto e clorite. Nas variações de textura, as rochas vulcanoclásticas que
intervalam as seções de rochas lávicas de carácter andesítico são mais heterogéneas,
apresentado uma textura mais granular e onde a alteração é normalmente maior. Estas
variações no testemunho permitem a sua divisão, a partir da superfície, nas seguintes
unidades:

- Até 1 m a rocha apresenta textura afanítica, com uma cor cinzento-esverdeada clara,
e com minerais isolados com cerca de 1 mm. As fraturas denotam ligeira alteração, patente
através de uma descoloração incipiente.

- de 1 a 2 m, a rocha fortemente fragmentada, mantem a textura, mas a cor é cinzenta


a cinzenta clara, esta última nas secções moderadamente alteradas, com a descoloração a
estender-se a partir das diaclases.

- de 2,5 a 4 m aumenta a dimensão do grão, tornando-se grosseiro, e a cor


predominante é o cinzento. A alteração varia entre ligeiramente a moderadamente alterada.

- Dos 4 aos 5 m a cor é cinzenta clara ainda associada a um grão médio e a rocha está
moderadamente alterada.

146
- Aos 6 m surge um nível de silte compacto, cuja origem estará no processo de
perfuração e desgaste da rocha com a fricção provocada pelas coroas e tubos metálicos.

- Entre 6 e 6,5 m a rocha é cinzenta escura, com pequenos veios de cor clara de
espessura submilimétrica.

- Entre 7 e 9 m a rocha regista cor cinzenta, desta vez ligeiramente alterada e com
grão médio.

- Entre 10 e 12 m surge o segundo setor de silte compacto, sucedido por carotes de


cor cinzento-esverdeada com veios brancos e verdes.

- Entre 12 e 13 m a rocha tem cor cinzenta escura e está ligeiramente alterada e tem
grão médio.

Figura 83 – Carotes de rocha da perfuração King Sejong Station: a) Carotes até 5 m de profundidade; b) Carotes
dos 5 aos 10 m de profundidade; c) Carotes dos 11 aos 13 m de profundidade

147
Tabela 26 - Caracterização das carotes de rocha na perfuração King Sejong Station
Caracterização das carotes de rocha da perfuração King Sejong Station

Comprimento Profundidade Profundidade Tipo de


Carote Amostra Fraturas Cor Meteorização Textura Descontinuidades Dureza
(cm) inicial (cm) final (cm) amostra

Cinzento esverdeado
C01 Sim 13 0 13 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C02 47 13 60 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C03 6 60 66 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
claro
Cinzento esverdeado
C04 35 66 101 2 Carote rocha Mediamente alterada Grão médio Joint Média
claro
C05 24 101 125 6 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C06 16 125 141 3 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão médio Média
Joint
C07 20 141 161 5 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C08 26 161 187 5 Carote rocha Cinzento claro Mediamente alterada Grão médio Média
Joint
Fragmentos de
C09 20 187 207 11 Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Rubble zone Média
rocha
C10 17 207 224 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Joint Média

C11 16 224 240 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
Quebra mecânica /
C12 15 240 255 2 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Média
Joint
C13 Sim 29 255 284 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Joint Média

C14 35 284 319 1 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média

C15 11 319 330 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média

C16 32 330 362 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
Cinzento médio com raias Quebra mecânica /
C17 26 362 388 4 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Média
brancas Joint
Cinzento médio com raias
C18 30 388 418 0 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Joint Média
brancas
Cinzento claro com raias Quebra mecânica /
C19 Sim 28 418 446 2 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
brancas Joint
Quebra mecânica /
C20 17 446 463 3 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Fragmentos de
C21 25 463 488 - Cinzento claro Mediamente alterada Grão grosseiro Rubble zone Média
rocha
C22 26 488 514 3 Carote rocha Cinzento claro Mediamente alterada Grão grosseiro Joint Média
Quebra mecânica /
C23 23 514 537 2 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Média
Joint
C24 13 537 550 1 Carote rocha Cinzento clara Mediamente alterada Grão médio Joint Média
Quebra mecânica /
C25 22 550 572 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Cinzento médio com raias Quebra mecânica /
C26 18 572 590 2 Carote rocha Mediamente alterada Grão médio Média
brancas Joint
C27 11 590 601 1 Silte Silte - - - -
Cinzento escuro com
C28 24 601 625 6 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
raias brancas
Cinzento escuro com
C29 30 625 655 3 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
raias brancas
C30 Sim 50 655 705 0 Carote rocha Cinzento clara Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

C31 63 705 768 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

C32 18 768 786 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

C33 57 786 843 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Cinzento médio
C34 Sim 22 843 865 4 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
esverdeado
C35 25 865 890 2 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média

C36 Sim 45 890 935 0 Carote rocha Cinzento médio Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média
Cinzento esverdeado
C37 26 935 961 1 Carote rocha Mediamente alterada - Joint Elevada
escuro
C38 30 961 991 4 Carote rocha Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média

C39 35 991 1026 Silte Silte - - Rubble zone -


Cinzento esverdeado
C40 30 1026 1056 4 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
médio
Cinzento claro com raias
C41 22 1056 1078 3 Carote rocha Mediamente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
verdes
Quebra mecânica /
C42 23 1078 1101 2 Carote rocha Cinzento claro Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Cinzento escuro com
Quebra mecânica /
C43 37 1101 1138 1 Carote rocha raias brancas Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
esverdeadas
Cinzento escuro com
Quebra mecânica /
C44 24 1138 1162 2 Carote rocha raias brancas Mediamente alterada Grão grosseiro Média
Joint
esverdeadas
Fragmentos de
C45 20 1162 1182 Cinzento médio Mediamente alterada Grão grosseiro Rubble zone Média
rocha
C46 24 1182 1206 0 Carote rocha Cinzento claro Ligeiramente alterada Grão grosseiro Quebra mecânica Média
Cinzento claro com raias
C47 38 1206 1244 1 Carote rocha Ligeiramente alterada Grão grosseiro Joint Média
brancas
Quebra mecânica /
C48 36 1244 1280 2 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão grosseiro Média
Joint
Quebra mecânica /
C49 31 1280 1311 4 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Média
Joint
C50 11 1311 1322 2 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

C51 20 1322 1342 0 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

C52 Sim 23 1342 1365 0 Carote rocha Cinzento escuro Ligeiramente alterada Grão médio Quebra mecânica Média

148
6.4.2. Análise das propriedades termofísicas da carote de rocha

As amostras selecionadas para a realização das determinações termofísicas foram


escolhidas de forma a serem representadas as variações mencionadas no ponto anterior
(Figura 84). O objetivo foi a determinação da condutividade térmica, capacidade volumétrica
e difusividade térmica a diferentes profundidades, variáveis determinantes para a modelação
do permafrost (Tabela 27). Estas, apesar de não serem praticamente usadas na presente
dissertação, serão úteis para trabalhos futuros para a modelação espacial do permafrost.

Os valores de condutividade térmica obtidos, na sua maioria, variam entre 2,02 e 2,10
W/m.K nas carotes com cor cinzenta escura e clara, ligeiramente alteradas e com grão médio.
A 4 metros de profundidade, no setor da carote de cor cinzenta clara com veios claros,
ligeiramente alterada e com grão grosseiro, é registado um valor de condutividade superior
aos restantes com 2,43 W/m.K (Tabela 27). Tal significa que a capacidade de a rocha conduzir
o calor varia ao longo da perfuração, com valores próximos de 2 W/m.K, sendo pontualmente
registados valores mais elevados. Os valores de capacidade volumétrica, referentes à
capacidade de aquecimento em massa, multiplicada pela densidade de uma determinada
substância, variaram entre 1,58.106 J/m/K, na superfície da perfuração e 2,14.106 J/m/K num
setor de cor cinzenta, ligeiramente alterada e com uma textura de grão médio a
aproximadamente 9 m de profundidade. A difusividade térmica, que traduz o tempo
necessário para a deslocação do calor, variou entre 1,32.10-6 m2/s, na superfície da
perfuração, e 0,967.10-6 m2/s a 13 m de profundidade o que denota uma redução do tempo
com o aumento da profundidade.

Figura 84– Amostras selecionadas para realização das determinações termofísicas

149
Tabela 27 - Resultados das determinações termofísicas realizadas nas carotes de rocha da perfuração KSS
Determinações termofísicas nas carotes de rocha da perfuração King Sejong Station

K Cv α-
Comprimento Profundidade Profundidade Condutividade Capacidade Difusividade
Código Amostra Tipo de rocha
(cm) inicial (cm) final (cm) térmica volumétrica térmica
(W/m.K) .10⁺⁶ (J/m/K) .10⁻⁶ (m²/s)

C01 C Andesito 5,5 4 9 2,08 1,58 1,32


C13 B Andesito 5,5 259 265 2,16 2,02 1,07
C19 B Andesito 5,5 434 439 2,43 2,03 1,19
C30 B Andesito 5,5 668 674 2,02 1,92 1,06
C34 B Andesito 5,5 846 851 2,05 2,02 1,01
C36 B Andesito 5,5 899 904 2,12 2,14 0,99
C52 B Andesito 5,5 1354 1359 2,02 2,09 0,97
Valor médio Andesito - - - 2,12 1,97 1,09
Para este conjunto, o valor médio de condutividade térmica obtido foi de 2,12 W/m.K
(Tabela 27). Este valor de condutividade térmica, pela natureza da rocha, nomeadamente pela
reduzida porosidade limitativa de uma saturação em água, será constante ao longo do ano,
não sofrendo variações resultantes da congelação da água no solo.

Com o intuito de definir um meio de comparação, foram analisados os valores de


condutividade e difusividade térmica, apresentados por Amaral (2011) no estudo realizado
sobre o fluxo geotérmico na Península de Hurd, Ilha de Livingston (Península Antártica).
Nestra trabalho, o autor procedeu à leitura dos parâmetros através do aparelho ISOMET 2104,
o mesmo utilizado nas determinações termofísicas das amostras de rocha da Península de
Barton. Para as amostras de rochas ígneas hipabissais de composição andesítica, obtidas
das perfurações CALM e Papagal na Península de Hurd, foram registados valores de
condutividade, difusividade e capacidade volumétrica superiores aos da perfuração KSS.

Nas amostras 24 amostra da perfuração CALM, com uma profundidade máxima de 4


m, foi obtido um valor de condutividade médio de 3,30 W/m.K, aproximadamente 1 W/m.K
superior ao valor médio das amostras de KSS. Na perfuração de Papagal, o valor médio de
condutividade das 48 amostras analisadas, com uma profundidade máxima de 5,7 m, está
nos 3,22 W/m.K. No caso dos valores de difusividade térmica, as diferenças são menos
pronunciadas, uma vez que na perfuração CALM é registado um valor de 1,54.10-6 m2/s e na
perfuração Papagal um valor de 1,62.10-6 m2/s, aproximadamente 0,5.10-6 m2/s acima do
valor de difusividade térmica média na perfuração KSS. Relativamente aos valores de
capacidade volumétrica, as diferenças registadas são pequenas, com as amostras da
perfuração CALM a registarem 2,15.10+6 J/m/K e as amostras da perfuração Papagal a
registarem 1,99.10+6 J/m/K.

150
6.4.3. Regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong
Station

a) Temperatura média na perfuração King Sejong Station em 2019-20

As temperaturas médias mensais para o período de 2 de março de 2019 a 2 de março


de 2020, permitiram calcular uma temperatura média anual do solo (TMAS) de -1,5 ºC a 13 m
de profundidade (Figura 85) e uma temperatura no topo do permafrost de -1,7 ºC. Este valor
está abaixo dos -1,01 ºC, estimados por Obu et al. (2020) para a Península de Barton.

Na temperatura média da superfície do solo (TMASS), o valor calculado para a


perfuração de KSS foi de -1,8 ºC. Considerando as perfurações instaladas nas Shetlands do
Sul (Tabela 1) e apresentadas no capítulo 1.2.3., este valor de TMASS, registado para o
período de um ano, está próximo do registado nas perfurações de Reina Sofia (247 m, -1,83
ºC), Permamodel-Gulbenkian 2 (269 m, -1,9 ºC) e Papagal (147 m, -1,71 ºC), instaladas a
maior altitude na Península de Hurd (Livingston) (Hauck et al., 2007; Ramos et al., 2009). Este
valor está ainda próximo do registado na perfuração de Crater Lake 3 (85 m, -1,7 ºC) instalado
na ilha de Deception a menor altitude (Ramos et al., 2017).

Relativamente aos extremos térmicos, na perfuração KSS, a temperatura média do


mês mais frio registada à superfície foi de -5,9 ºC, enquanto que a temperatura média do mês
mais quente foi de 4,5 ºC o que resulta numa amplitude anual de aproximadamente 10º C
(Figura 85). A camada ativa registou uma espessura de aproximadamente 2,5 m (Figura 85).
A temperatura no topo do permafrost (TTOP) a 2,5 m foi de -1,7 ºC, ou seja, inferior às
temperaturas registadas nas perfurações anteriormente mencionadas (Tabela 1). A 13 m de
profundidade, a temperatura do permafrost é 0,2 ºC superior, registando -1,5º C. Embora a
esta profundidade as temperaturas do mês mais quente e frio aparentem estar sobrepostas,
possuem uma diferença de 0,1º C o que significa que a 13 m não foi alcançada a profundidade
de amplitude anual zero.

151
Figura 85 - Perfil da temperatura média anual na perfuração King Sejong Station

152
b) Temperatura média diária na perfuração King Sejong Station em 2019-20

No estudo do regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station, as


temperaturas médias diárias permitiram a análise do comportamento térmico em profundidade
ao longo do período de estudo e a evolução da descongelação na camada ativa (Figura 86-
a). No fim da estação de descongelação de 2019, no dia 1 de março, a temperatura a 2,5 m
de profundidade encontra-se a 0 ºC e acima, o solo encontra-se descongelado. Este momento
define a espessura da camada ativa na estação de descongelação de 2018-19. Acima de 1
m é visível, próximo do final da estação de descongelação, o aquecimento do solo que
permanece até ao início do mês de abril (Figura 86-b). Na estação de congelação, com início
em abril e fim em novembro, é observado um arrefecimento do solo que acompanha a
variação da temperatura do ar e está associado também à redução da radiação solar durante
o inverno austral (Figura 86-a). De 1 a 2 m de profundidade, o arrefecimento do solo não
apresenta um desfasamento pronunciado face ao arrefecimento do ar e da superfície,
indicativo da ausência de um efeito isolante à superfície do solo (cobertura de neve) e de uma
elevada condutividade térmica, anteriormente quantificada em 2,12 W/mK.

Dos 2 aos 6 m de profundidade, os sensores registam uma variação da temperatura


que acompanha a tendência de arrefecimento e aquecimento sazonal, mas sem o registo de
amplitudes térmicas diárias. A diferença entre a temperatura mais alta e baixa registadas ao
longo do ano, é inferior a 4 ºC. Dos 8 aos 13 m de profundidade, a variação da temperatura
durante o período de estudo é inferior a 1 ºC, pelo que não tem representadas as tendências
de arrefecimento e aquecimento sazonais e representará um sinal próximo do sinal anual.

No período de descongelação, de dezembro a março de 2020, um aspeto alvo de


destaque é o aquecimento acentuado do solo verificado no início de 2020. Quando comparado
com o fim do período de descongelação de 2019, o início de 2020 apresenta uma clara
diferença nas temperaturas registadas à superfície e também na profundidade da frente de
descongelação, bem como na sua propagação, refletindo um período muito mais quente. Na
análise das condições meteorológicas do período de estudo (capítulo 4), identificámos
temperaturas médias mensais do ar nos meses de janeiro e fevereiro de 2020 de
aproximadamente 3 ºC, ou seja, próximas dos máximos absolutos da série de 1969-2019.
Estas temperaturas elevadas tiveram um forte impacte no aquecimento do solo à superfície,
que em janeiro de 2020 registou temperaturas próximas dos 10 ºC, e na penetração do calor
em profundidade. Esta penetração fez com que a isotérmica dos 0 ºC atingisse uma
profundidade superior a 2,5 m e que, entre os 0,4 e 1,2 m de profundidade, fossem registadas

153
temperaturas de 3 a 5 ºC, enquanto em março de 2019, estas tinham sido de 0 a 1 ºC. Esta
progressão da frente de descongelação provocou um aumento da espessura da camada ativa
até cerca de 3 m, a qual com a série de dados que dispomos, só é possível monitorizar até
meio de março de 2020. No entanto, a extensão deste aquecimento pode ter sido superior e
com impactes ainda desconhecidos.

A profundidade da variação sazonal está na perfuração de KSS entre os 2 e 8 m.


Nesta, são observadas curvas de aquecimento e arrefecimento com um desfasamento face
ao período de aquecimento e arrefecimento, respetivamente. Conforme avançamos em
profundidade, há uma desaceleração da propagação do calor. Esta desaceleração faz com
que após o início do período de congelação à superfície em 2019, continue a registar-se o
aquecimento do solo entre 4 e 5 m de profundidade. O inverso acontece no início do período
de descongelação de 2020, em que o solo à superfície regista temperaturas superiores a 0º
C, e entre os 2 e 8 m de profundidade, continua a haver arrefecimento até meio de dezembro.

Figura 86 - Análise do regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station: a) Temperatura do ar
média diária no posto KSS; b) Temperatura do solo horária na perfuração King Sejong Station.

154
6.4.4. Conclusões

Em conclusão, na perfuração KSS as propriedades termofísicas são homogéneas com


valores de condutividade térmica, difusividade térmica e capacidade de aquecimento
volumétrica próximos nas amostras analisadas a diferentes profundidades, pelo que a
propagação de calor em profundidade não terá associadas oscilações pronunciadas. Nesta
perfuração foi registada uma TMASS de -1,8 ºC e uma temperatura no topo do permafrost de
-1,7 ºC. A 13 m de profundidade, a temperatura do permafrost registada foi de -1,5 ºC,
associada a uma variação anual, uma vez que não foi atingida a profundidade de amplitude
anual zero. A variação sazonal da temperatura situa-se, na perfuração entre os 3 e os 8 m.
Na camada ativa, foi observado um aumento de espessura de 2,5 m em 2019 para 3 m em
2020, resultado do forte aquecimento registado no período estival.

6.5. Aplicação do modelo TTOP na perfuração King


Sejong Station

A aplicação do modelo TTOP usando os dados da perfuração KSS teve como objetivo
a avaliação da capacidade de o modelo calcular a temperatura no topo do permafrost e a sua
aplicabilidade em trabalhos futuros a outras áreas da região da Península Antártica, pois o
modelo foi escassamente testado à escala de pormenor. Desta forma, procedeu-se ao cálculo
dos parâmetros necessários, através das temperaturas de superfície do solo e das
temperaturas do ar no posto termométrico KSS (ver capítulo 3.6, Tabela 28). Uma vez que o
valor de Offset térmico registado para a perfuração foi de 0,1 ºC, o que sugere a inexistência
de diferenças significativas entre a condutividade térmica da rocha na estação de congelação
e na estação de descongelação, o valor do rácio destes parâmetros utilizado na determinação
do TTOP foi de 1 (Smith & Riseborough, 1996, 2002).

Tabela 28 – Parâmetros e resultados do modelo TTOP aplicado à perfuração King Sejong Station para o período
2019-20

Estação de congelação Estação de descongelação K Condutividade


térmica TTOP
Período Nº dias FDDs FDDa Fator-n Período Nº dias TDDs TDDa Fator-n (W/m.K)
29/03 - 30/10 215 957 930 1,0 31/10 - 28/03 150 324 232 1,4 2,124 -1,73

155
Foi obtido um valor para a temperatura no topo do permafrost de -1,73 ºC, que é
apenas 0,01 ºC inferior ao valor registado a uma profundidade de 2,5 m (-1,74 ºC). A
proximidade entre o valor registado e o estimado sugerem um elevado potencial do modelo
para o cálculo da temperatura no topo do permafrost na Península de Barton, num contexto
onde sejam conhecidas as temperaturas do ar ou o gradiente altitudinal que permita a sua
estimação, as temperaturas do solo à superfície e os valores de condutividade no solo gelado
e descongelado.

O potencial do modelo TTOP para o cálculo da temperatura no topo do permafrost, na


perfuração de King Sejong Station, levou a que o mesmo fosse aplicado aos outros sensores
instalados na área de estudo, o que permitiu uma primeira análise sobre a distribuição espacial
da temperatura do permafrost (Tabela 29 e Figura 87). Esta aplicação está, no entanto,
associada a duas limitações. A primeira é referente ao período de dados, que não engloba a
totalidade da estação de descongelação de 2020, uma vez que o registo de temperaturas nos
sensores de superfície terminou a 2 de março de 2020. A segunda, é a ausência de dados
para o cálculo do rácio de condutividade térmica. Desta forma, foram assumiu-se que: 1) o
comportamento do período em falta de dados na estação de descongelação de 2020, foi
idêntico ao de 2019, tendo-se usado os dados desse ano; 2) na ausência de dados que
permitam calcular o rácio de condutividade térmica, considerou-se que os locais
monitorizados correspondem a afloramentos de rocha sã e compacta em que o rácio é 1.

Nos valores estimados de TTOP, e tendo presente a assunção de que todos os locais
correspondem a afloramentos de rocha, observou-se uma distribuição da temperatura no topo
do permafrost fortemente controlada pela altitude (Figura 87). Os sensores instalados entre
10 e 30 m estiveram associados a valores estimados positivos e entre 0 e -0,4 ºC. Estes,
foram mais elevados do que os valores calculados por Ferreira et al. (2016) para locais
situados a 36 m (-1,3 e -1,0 ºC) e 35 m (-0,7 e -0,6 ºC) na Península Hurd (Livingston) para
os anos de 2007 e 2009.

156
Figura 87 – Distribuição dos valores TTOP estimados para os locais de monitorização da temperatura à
superfície do solo na Península de Barton

Tabela 29 – Cálculo do TTOP para os locais de instalação dos sensores de superfície

Estação de Estação de
Sensor FDDs FDDa Fator-n TDDs TDDa Fator-n TMASS (ºC) TTOP
congelação descongelação

Período Nº dias Período Nº dias


Alt_N13 17/04 - 18/10 185 438 731 0,6 19/10 - 16/04 180 660 354 1,9 0,6 0,6
Alt_W73 30/03 - 19/10 204 894 836 1,1 20/10 - 29/03 161 562 278 2,0 -0,9 -0,9
Alt_NE182 30/03 - 21/11 237 941 1056 0,9 22/11 - 29/03 128 317 167 1,9 -1,7 -1,7
Alt_W254 30/03 - 14/11 230 1041 1186 0,9 15/11 - 29/03 135 310 120 2,6 -2,0 -2,0
Exp_N183 29/03 - 21/11 238 848 1060 0,8 22/11 - 28/03 127 277 166 1,7 -1,6 -1,6
Exp_S183 30/03 - 14/11 230 981 1049 0,9 15/11 - 29/03 135 344 169 2,0 -1,8 -1,7
Exp_E179 30/03 - 14/11 230 904 1041 0,9 15/11 - 29/03 135 360 172 2,1 -1,5 -1,5
Exp_SW179 29/03 - 14/11 231 942 1043 0,9 15/11 - 28/03 134 348 172 2,0 -1,6 -1,6
Top_VA_N133 30/03 - 21/10 206 853 934 0,9 22/10 - 29/03 159 460 222 2,1 -1,1 -1,1
Top_VA_NE118 30/03 - 23/10 208 817 909 0,9 24/10 - 29/03 157 433 235 1,8 -1,0 -1,1
Top_VA_S128 29/03 - 23/10 209 891 927 1,0 24/10 - 28/03 156 277 226 1,2 -1,8 -1,7
Top_P_N16 04/04 - 18/10 198 654 748 0,9 19/10 - 03/04 167 536 336 1,6 -0,3 -0,3
Top_P_NW25 04/04 - 18/10 198 637 761 0,8 19/10 - 03/04 167 690 327 2,1 0,2 0,1
Top_N_SW129 29/03 - 23/10 209 886 929 1,0 24/10 - 28/03 156 330 225 1,5 -1,6 -1,5
Top_N_SW130 30/03 - 14/11 228 830 949 0,9 15/11 - 29/03 135 388 210 1,8 -1,2 -1,2
Top_N_SW132 29/03 - 13/12 260 821 978 0,8 14/12 - 28/03 105 162 158 1,0 -1,8 -1,8
Top_VJ_W135 29/03 - 21/10 207 918 938 1,0 22/10 - 28/03 158 385 220 1,8 -1,5 -1,5
Top_VJ_NE132 04/04 - 05/11 216 833 940 0,9 06/11 - 03/04 149 409 209 2,0 -1,2 -1,2
Top_VJ_W133 30/03 - 21/10 206 943 934 1,0 22/10 - 29/03 159 425 222 1,9 -1,4 -1,4
Top_VJ_S134 30/03 - 30/12 237 831 966 0,9 31/12 - 29/03 89 251 164 1,5 -1,6 -1,6

157
No sensor instalado a cerca de 70 m (Alt_W73), o valor de TTOP estimado foi
ligeiramente mais baixo (-0,9 a -0,5 ºC) do que os valores estimados para os sensores entre
os 10 e 30 m. Acima dos 100 m, o TTOP variou entre -2 e -1 ºC. Esta variação, em sensores
instalados aproximadamente à mesma altitude, sugere a influência dos fatores topográficos
na ocorrência de um permafrost mais frio. Nos sensores instalados no Vale de Araon, com
altitudes entre 118 e 133 m, o permafrost mais frio com uma temperatura entre -2,0 e -1,5 ºC,
parece encontrar-se na vertente com exposição a sul. No fundo do vale e na vertente com
exposição a norte, a temperatura estimada indica a presença de um permafrost com
temperaturas ligeiramente superiores (-1,4 a -1,0 ºC). Estes valores estão próximos dos
calculados por Ferreira et al. (2016) para o Collado Ramos a 113 m (-1,4 a -1,2 ºC) e para a
perfuração CALM a 140 m (-1,8 a -1,5 ºC).

Nos sensores instalados na área de pormenor de Jeonjaegyu, as temperaturas


estimadas mais baixas, entre -2,0 e -1,5 ºC, estão no sensor instalado na base do neveiro N3,
no sensor mais afastado do neveiro N3 e na vertente exposta a sul do Monte Jeonjaegyu. Os
sensores instalados no fundo do Vale de Jeonjaegyu e no esporão rochoso de KSS, tem
associadas temperaturas estimadas entre -1,4 e -1,0 ºC.

No conjunto Alt, cujos sensores foram instalados num gradiente altitudinal, a


diminuição da temperatura no topo do permafrost com o aumento da altitude é reforçada. No
sensor instalado a 13 m de altitude, no setor a norte da Península de Barton, a temperatura
estimada de 0,6 ºC indica a ausência de permafrost a baixa altitude. Nos restantes três
sensores do conjunto Alt, as temperaturas estimadas variam entre -0,9 ºC (73 m), -1,7 ºC (182
m) e -2,0 ºC (254 m). Este último valor estimado está associado ao sensor instalado a maior
altitude do total de sensores de superfície instalados na península. Na Península de Hurd, o
valor de TTOP calculado por Ferreira et al. (2016) para uma altitude próxima foi o da
perfuração de Reina Sofia (275 m), onde os valores de TTOP estiveram entre -1,9 e -1,4 ºC.

Na análise da Tabela 29 e Figura 87, um conjunto alvo de destaque pelos valores


estimados, é o instalado na base do neveiro N3, na área de Jeonjaegyu. Neste conjunto, com
sensores a uma distância entre si inferior a 45 m, são estimados valores de TTOP entre -1,8
e -1,2 ºC, com uma diferença de 0,6 ºC. Esta é uma diferença muito acentuada tendo em
consideração a proximidade entre os sensores, o que significa que poderão haver gradientes
horizontais importantes nas características do permafrost, em função de fatores
microclimáticos. O segundo conjunto que se destaca é o dos dois sensores instalados a baixa
altitude (a 16 e 25 m), junto à praia, no setor norte da Península de Barton. Neste, o sensor a
16 m, instalado numa superfície convexa num terraço marinho (Top_P_N16), tem um valor de

158
TTOP estimado de -0,3 ºC o que sugere a presença de permafrost a baixa altitude. Já o sensor
Top_P_NW25 instalado a 25 m no leque aluvial apresenta um valor de 0,3 ºC indicativo da
ausência de permafrost. Tendo em consideração os valores de TMAA de -1,1 ºC, superiores
aos -2,5 ºC mencionados por Bockheim et al. (2013) como limite para a presença de
permafrost, e a modelação feita segundo a assunção que os locais monitorizados
correspondem a afloramentos de rocha e logo, offsets muito pequenos, é pouco provável a
sua ocorrência a esta altitude.

Em conclusão, e ressalvando que se tratam de valores para apenas 1 ano de


observações, os valores de TTOP estimados sugerem a presença de permafrost na Península
de Barton acima de 40 m, com valores inferiores a -0,1 ºC, e acima dos 111 m, com valores
inferiores a -1,0 ºC (Figura 87 e 88).

Figura 88 – Correlação entre o fator altitude e os valores de TTOP estimados para os sensores de superfície
instalados na Península de Barton

A partir desta altitude, são também mais frequentes as formas periglaciárias de que
são exemplo os solos ordenados e os lóbulos de solifluxão. Serrano et al. (2008) na análise
das formas associadas à presença de permafrost no arquipélago das Shetlands do Sul,
referem que acima de 40 m, mais de 70% das formas periglaciárias estão associadas à
presença de permafrost e que este será contínuo e que abaixo deste limiar, o permafrost é
descontínuo ou esporádico.

159
7. CONCLUSÃO

O trabalho realizado na Península de Barton foi desenvolvido com o intuito de


contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre o permafrost e o regime térmico do
solo na região oeste da Península Antártica, particularmente sensível às alterações climáticas.
Com este propósito, foram definidos um conjunto de objetivos e passos associados que
orientaram o desenvolvimento do estudo.

O primeiro objetivo deste trabalho foi caracterizar o estado térmico do permafrost na


Península de Barton, que foi atingido através da instalação da perfuração de King Sejong
Station, com 13 m de profundidade, e da análise das temperaturas do solo. A instalação da
perfuração, permitiu ainda contribuir para a melhoria da densidade da Global Terrestrial
Network for Permafrost (GTN-P) no contexto antártico.

O segundo objetivo proposto, foi estudar o regime térmico do solo à superfície e


identificar as condições físicas com maior impacte neste. Para isso, instalaram-se 20
registadores automáticos de temperaturas de superfície do solo e analisaram-se as
temperaturas registadas entre 02/03/2019 e 02/03/2020. Esta análise, juntamente com o
conhecimento das características topográficas dos locais de instalação, permitiu a aplicação
de uma análise de variância One-way ANOVA, utilizada como primeira abordagem para a
identificação dos fatores topográficos com maior influência no regime térmico do solo.

Finalmente, tentámos compreender os impactes do regime térmico do solo na


dinâmica periglaciária, comparando os resultados anteriores com um mapa geomorfológico
realizado para a área de pormenor de Jeonjaegyu. Este mapa constitui uma ferramenta de
suporte na análise mais detalhada dos regimes térmicos diários do solo, levada a cabo para
a mesma área.

Começando pelo regime térmico superficial do solo, na Antártida Marítima a sua


dinâmica é caracterizada pela sucessão de ciclos de congelação e fusão. Estes podem ocorrer
diariamente ou sazonalmente, constituindo estações de congelação e descongelação. Estes
ciclos têm a sua intensidade, duração e frequência influenciada pelos fatores climáticos e
topográficos.

Na identificação dos fatores topográficos com maior influência no regime térmico do


solo, recorreu-se à análise de variância One-Way ANOVA, método que tem como vantagem
a possibilidade de categorizar os sensores de superfície instalados, de acordo com as

160
características do fator em análise. Esta organização permite uma comparação dos
comportamentos térmicos do solo entre os grupos representativos de uma característica do
fator topográfico. Na análise de variância ANOVA, constatou-se que a identificação da
influência de um fator topográfico pode ser limitada pela sobreposição de outro fator, que
atenue as diferenças entre as categorias. Tal aconteceu na análise do efeito da exposição e
posição topográfica. Já a influência dos fatores altitude, curvatura e cobertura de neve foi
evidenciada nesta análise.

No fator altitude, a influência exercida sobre a TMASS, FDD e TDD está em


alinhamento com o apresentado no estudo de Ferreira et al. (2016), na Península de Hurd,
Ilha de Livingston, onde o aumento da altitude está associado a uma diminuição da TMASS.
No caso da Península de Barton, esta relação estabelecida entre as duas variáveis
apresentou uma correlação forte com r=0,88. Os FDD, associados à severidade do período
de congelação, têm uma relação inversa com a altitude face à da TMASS, uma vez que
tendem a aumentar com o incremento altitudinal. Esta intensificação do arrefecimento do solo
acompanha a intensificação do arrefecimento do ar resultante do gradiente térmico vertical.

Nos TDD, à semelhança da TMASS, a intensidade do aquecimento diminui com o


aumento da altitude, embora com uma correlação menos pronunciada (r=0,73). Tal deve-se
à importante influência exercida pela exposição e curvatura da superfície que, em conjunto,
controlam a duração da estação de congelação e a presença da cobertura de neve no solo.

O fator curvatura, foi identificado na análise de variância, pela sua influência na


duração dos períodos de congelação e descongelação, sobretudo quando consideradas as
superfícies concavas. Este tipo de curvatura da superfície promove uma maior acumulação
de neve, nos eventos de vento em que se dá a sua redistribuição. Oliva et al. (2017) abordam
a influência da redistribuição do vento na Península de Byers (Ilha Livingston), para áreas
deprimidas, enquadradas por montes mais elevados. Nesses locais, a acumulação de neve
contribui para um efeito isolante que, na estação de congelação, minimiza as perdas de calor
do solo por condução, e atenua o seu arrefecimento. A curvatura da superfície promotora de
uma maior acumulação de neve espessa, está associada a um maior efeito isolante e a
valores de fator-n mais baixos. No fim da estação de congelação, esta cobertura prolonga
também a duração do período de fusão, em que a temperatura do solo está estável nos 0 ºC,
resultado da absorção de calor latente de fusão (Lunardini, 1978; Lunardini, 1981; Goodrich,
1982). A maior duração da estação de congelação com cobertura de neve, reduz
inevitavelmente a duração da estação de descongelação e a possibilidade de um aquecimento
da superfície resultante da incidência da radiação solar, traduzido-se em valores de TDD mais

161
baixos. Se este efeito da curvatura condiciona a duração dos períodos de congelação e fusão,
é, como referido por Hrbáček et al. (2016) para as Penínsulas de Ulu e Byers (Península
Antártica), determinante para o regime térmico do solo.

Porém, a duração da cobertura de neve não resulta exclusivamente da curvatura da


superfície, sendo também resultado da exposição. Um exemplo desta influência é o
observado no sensor Top_VJ_S134, que embora ter sido instalado numa superfície retilínea
declivosa, teve uma cobertura de neve mais prolongada (30/12/2019) do que o sensor
Top_VJ_NE132 (06/11/2019), instalado numa superfície concava. A maior duração da
cobertura deveu-se a uma exposição a sul onde o aquecimento da superfície pela radiação
solar potencial foi menor. No sensor instalado na superfície concava, a exposição foi mais
favorável a um aquecimento provocado pela energia radiativa, o que fez com que a cobertura
de neve, ainda que espessa, começasse a fundir e a aquecer o solo pela advecção de água,
fenómeno retratado por de Pablo et al. (2013).

Ainda relativamente à influência da cobertura de neve no regime térmico do solo, foi


identificada, na análise de variância, a existência de diferenças significativas entre grupos de
sensores na frequência de ciclos de congelação e fusão. Esta influência é também
mencionada por Oliva et al. (2017), no contexto da Península de Byers, onde os autores
referem uma frequência limitada de ciclos de congelação e fusão, bem como uma menor
intensidade dos processos periglaciários na depressão do Lago Escondido, onde a
acumulação de neve foi mais espessa. No caso da Península de Barton, observou-se que
esta frequência é também menor nos locais de instalação dos sensores de superfície onde a
cobertura de neve permaneceu durante mais tempo, em especial no início e fim da estação
de congelação. No início desta última, há um arrefecimento progressivo do solo, resultante da
diminuição do período diurno. No entanto, em superfícies cuja exposição seja favorável (norte
e este), o aquecimento da superfície é suficientemente intenso para que a temperatura do
solo registe valores acima de 0 ºC. Durante o período noturno, mais longo, o calor absorvido
pela superfície é perdido para a atmosfera e a temperatura desce para valores abaixo de 0
ºC.

No fim da estação de congelação o processo é oposto. Neste caso, há um progressivo


aumento da temperatura, provocado pela maior duração do período diurno em que o solo
aquece por ação da radiação solar incidente. No período noturno, cada vez mais curto, a
quantidade de calor perdida vai sendo progressivamente menor. Ora, numa situação em que
a cobertura de neve, cuja condutividade é baixa, está presente no solo no início ou fim da
estação de congelação, as trocas entre a superfície do solo e a atmosfera são limitadas, não

162
havendo absorção ou perda de calor, o que faz com que a temperatura permaneça constante
(Smith & Riseborough, 1996).

Embora a influência da cobertura de neve tenha sido identificada de forma nítida, o


seu efeito sobre o regime térmico do solo é complexo e difícil de modelizar, pois está
dependente do tipo de neve, da sua densidade, da sua duração, do momento em que esta
precipita, e da temperatura do solo que antecede a acumulação nival (Brown & Péwé, 1973;
French, 2007). Adicionalmente, o conhecimento da distribuição da neve é também difícil de
determinar, pela sua redistribuição em eventos de vento, mencionada por Guglielmin & Vieira
(2014).

No trabalho realizado para a Península de Barton, procurou-se identificar a cobertura


de neve através de deteção remota, com recurso a amostragens de campo e à análise de
imagens de satélite de micro-ondas (Sentinel-1). Estas, foram processadas e classificadas
segundo diferentes métodos de análise com o objetivo de caracterizar a distribuição da neve
no solo ao longo do ano. Não obstante, verificou-se a falta de capacidade da banda C para a
deteção da cobertura de neve seca, ficando os resultados limitados à evolução dos neveiros
durante verão, período em que domina a neve húmida. Nesse sentido, acabámos por não
usar os dados, pois interessava-nos particularmente comparar os mapas gerados com a
cobertura de neve identificada a partir da análise dos regimes térmicos dos sensores, fazendo
uma validação cruzada de ambos. O mapa da duração da cobertura de neve, poderia ser
também usado em trabalhos futuros dedicados à modelação espacial do TTOP.

Sobre a influência das variáveis exposição e posição topográfica, cuja significância no


regime térmico do solo foi excluída na análise de variância, foram observados nos grupos de
sensores de controlo, efeitos relevantes. Começando pela exposição, foi compreendido para
as vertentes do Monte Gogureyo, que nas superfícies orientadas a norte e a este, os valores
de TMASS são tendencialmente mais altos do que os registados nas superfícies orientadas a
sul e oeste, o que sugere uma compensação do arrefecimento registado na estação de
congelação, provocado pelo forte aquecimento do solo na estação de descongelação. A
frequência de ciclos de congelação e fusão tende, também, a ser mais elevada nas
exposições associadas a valores de radiação solar incidente mais elevados, pelo já referido
aquecimento da superfície, em particular, durante o início e fim da estação de congelação. No
caso da intensidade da estação de descongelação, e tendo por base os 20 sensores
instalados na Península de Barton, a exposição é determinante para os valores de TDD
registados. Todavia, no conjunto de sensores instalados do Monte Gogureyo, foi observada
uma particularidade no sensor com exposição a norte, onde o arrefecimento foi menos intenso

163
do que o registado no sensor com exposição a este. Tal deveu-se à permanência prolongada
da cobertura de neve, sendo que esta acumulação poderá ter resultado de variações da
curvatura a microescala ou da deposição a sotavento de um obstáculo destacado, de que é
exemplo um fragmento rochoso. Esta relação complexa entre a exposição e curvatura tinha
sido já verificada nos dois sensores instalados no vale de Jeonjaegyu.

Relativamente à posição topográfica, em que a altitude, curvatura, declive e exposição


exercem uma influência conjunta no regime térmico do solo, foi visível uma interferência na
TMASS, nos FDD e nos TDD. Na TMASS o valor mais elevado foi registado na área deprimida
do fundo do vale, com exposição a nordeste, favorável a uma maior acumulação de neve (que
na estação de congelação minimiza as perdas de calor), e a um maior aquecimento pela
exposição à radiação solar durante a estação de descongelação. Os valores mais baixos,
estão por sua vez, associados à vertente orientada a sul, onde a acumulação de neve é menos
favorável, e há uma perda de calor durante a estação de congelação, e o aquecimento
reduzido pela menor radiação solar incidente. Nos FDD a severidade da estação de
congelação é mais intensa na vertente orientada a sul, onde a acumulação de neve não tem
um efeito isolante capaz de limitar as perdas de calor. Já nos TDD, a intensidade do
aquecimento é mais pronunciada na vertente orientada a norte, que pela reduzida espessura
da cobertura de neve e fusão mais acelerada, fica exposta à radiação solar. Brown & Péwé
(1973) destacam a influência conjunta da exposição e do declive na quantidade de radiação
solar recebida pela superfície e na acumulação de neve com impacte no regime térmico do
solo.

A análise do regime térmico diário do solo permite, por sua vez, um estudo detalhado
da dinâmica térmica do solo ao longo da estação de congelação e descongelação,
considerando as componentes temperatura, duração e amplitude térmica. Esta análise foi
desenvolvida para a área de pormenor de Jeonjaegyu, com o intuito de estudar a influência
dos fatores microclimáticos e associar as possíveis relações entre os 7 regimes térmicos
identificados e a dinâmica geomorfológica caracterizada através do mapa geomorfológico de
pormenor. Os padrões de temporais dos regimes térmicos diários da superfície do solo
diferenciaram-se pela duração da estação de congelação, pela frequência de dias com
congelação e fusão e pela amplitude térmica.

A duração mais prolongada da estação de congelação com regimes F1 e F2, foi


fortemente controlada pela exposição a sul, no caso dos sensores do vale de Jeonjaegyu, e
pela duração da cobertura de neve isolante no solo, no caso dos sensores instalados na base
do neveiro N3, o que reforça a importância dos dois fatores anteriormente mencionada. Já a

164
frequência mais elevada de dias com regimes térmicos com congelação e fusão, apresentou
uma relação com a curvatura da superfície, com a ausência de uma cobertura de neve no
início e fim da estação de congelação e com o substrato presente à superfície. No que diz
respeito à curvatura e cobertura de neve, as superfícies convexas e retilíneas, promotoras de
uma menor acumulação de neve, sobretudo quando expostas à radiação solar, destacaram-
se com as frequências de regimes térmicos de congelação e fusão mais elevados, resultado
da ausência de um efeito isolante que impedisse o aquecimento radiativo do solo à superfície,
durante o período diurno, e o arrefecimento por condução, durante o período noturno. O
destaque da radiação solar é também mencionado por Nieuwendam (2009) no estudo dos
regimes térmicos diários para a Península de Hurd, onde através da análise discriminante,
evidencia a radiação solar como um dos fatores determinantes para os regimes térmicos
diários do solo.

O efeito das características superficiais do solo sobre os regimes térmicos diários ficou
evidente na análise dos sensores instalados na base do neveiro N3. Neste conjunto, o sensor
mais distante do neveiro, possui uma cobertura de clastos centimétricos e decimétricos,
suportados por clastos de menor calibre, que permitem a existência de ar no solo e, por
consequência um maior efeito isolante. Este, na estação de descongelação, limitou o
aquecimento do solo e consequentemente, a ocorrência de regimes térmicos sem
congelação. A influência do substrato, visível num conjunto de três sensores que distam a
menos de 45 metros, e onde as condições topográficas são muito semelhantes, reforçam a
afirmação de Hrbáček et al. (2017), para a Ilha de James Ross (Antártida), de que a textura
do solo, tem influência no regime térmico do mesmo, por condicionar as suas propriedades
térmicas.

A análise dos regimes térmicos diários do solo na área de pormenor de Jeonjaegyu


tornou evidente a complexidade da resposta térmica à ação conjugada dos diversos fatores
topográficos considerados no estudo. Ficou ainda claro que estes não são os únicos fatores
a exercer influência sobre o regime térmico do solo e que, o vento e nebulosidade,
considerados por Nieuwendam (2009), são também determinantes.

Por fim, no que concerne ao regime térmico do permafrost, importa ter presente que o
estudo foi realizado para apenas um ano de dados e que, neste mesmo ano, no fim da estação
de descongelação de 2018-19, as temperaturas médias diárias do ar estiveram próximas das
temperaturas dos meses mais frios da série de 1969-2019, e indicaram um verão frio. Na
estação de congelação de 2019, as temperaturas médias mensais estiveram próximas do 3º
quartil e as temperaturas médias diárias da estação de descongelação de 2019-2010

165
estiveram próximas ou sobrepostas às temperaturas dos meses mais quentes na série
climática de 1969-2019, pelo que as comparações com dados de outras perfurações da GTN-
P devem ser cautelosas.

Na perfuração KSS, para uma TMAA de -2,1 ºC em 2019-20, próxima dos -2,5 ºC
definidos por Bockheim et al. (2013) como o limite para a presença de permafrost, a TMAS
registada à profundidade de 13 m é de -1,5 ºC e a temperatura no topo do permafrost é de -
1,7 ºC. Estes resultados mostram, pela primeira vez, que na Península Barton a 128 m de
altitude há a presença de permafrost, ainda que com uma temperatura elevada. Esta é, no
entanto, inferior ao valor de TTOP estimado por Obu et al. (2020) para a Península de Barton
(-1,01 ºC). No que diz respeito aos valores de TMASS registados nas perfurações GTN-P e
CALM noutros observatórios do arquipélago das Shetlands do Sul, há uma grande
proximidade entre o valor de -1,8 ºC registado em KSS e o valor de -1,83 ºC registado na
perfuração de Reina Sofia a uma altitude superior (247 m).

Sobre a cobertura de neve nas áreas de permafrost descontínuo, Biskaborn et al.


(2019) abordam a influência das alterações de espessura e sugerem que o aquecimento
contínuo do permafrost é facilitado pelo aumento da espessura da cobertura de neve, que
reduz a perda de calor do solo durante o inverno. Na Antártida Marítima, Ramos et al. (2017)
referem para Crater Lake (Ilha Deception) que o aumento da espessura da cobertura de neve,
em setores menos expostos ao vento e mais baixos, contribuiu para uma diminuição da
espessura da camada ativa. O mesmo foi detetado para os locais de instalação das
perfurações PG1 e PG2 (Ilha Livingston) (Ramos et al., 2020). Assim, para a análise de um
período mais longo, seria relevante o estudo das modificações no regime de precipitação de
neve, juntamente com o regime térmico do permafrost na Península de Barton.

Relativamente à espessura da camada ativa, apresentada por Hrbáček et al. (2020)


como um importante indicador para monitorização dos impactes das alterações climáticas nas
regiões de permafrost, é de referir a sua evolução desde a estação de descongelação de
2018-2019, até à estação de descongelação de 2019-2020. Como anteriormente mencionado,
a estação de descongelação de 2018-2019 foi caracterizada por temperaturas médias
mensais próximas das temperaturas médias mensais dos meses mais frios da série de 1969-
2019. Durante este período, a camada ativa possuiu uma espessura máxima de 2,5 m até à
frente de congelação. Na estação de descongelação de 2019-2020, foram registadas
temperaturas médias mensais próximas das temperaturas dos meses mais quentes desde
1969, o que resultou num intenso aquecimento do solo. Este, fez com que a frente de
congelação avançasse em profundidade e houvesse um aumento da espessura da camada

166
ativa, que em 02/03/2020 atingiu 3 m. Uma vez que o registo dos dados não engloba a
totalidade da estação de descongelação, não é registada a espessura máxima da camada
ativa, embora seja evidente uma tendência contínua, no fim da série de dados, para um
aquecimento do solo em profundidade. Este rápido aquecimento do solo e aumento da
espessura da camada ativa num verão com temperaturas elevadas, traduz a sensibilidade a
modificações de curta duração nas condições meteorológicas. Se tais modificações forem
mais marcadas ou prolongadas no tempo, os impactes na camada ativa e no permafrost serão
mais intensos e atingirão uma maior profundidade, podendo contribuir para a sua degradação
ao longo do tempo, com implicações na atividade biológica, no sistema hidrológico, nos fluxos
de nutrientes e na dinâmica geomorfológica (Bockheim et al., 2013).

Em conclusão, o trabalho desenvolvido permitiu ampliar o conhecimento sobre a


distribuição do permafrost no arquipélago das Shetlands do Sul e em particular na ilha de Rei
Jorge. Permitiu também o conhecimento da temperatura do permafrost e do regime térmico
até uma profundidade de 13 metros, para um primeiro ano de dados, que se revelou particular
no contexto climático regional, por possuir uma estação de descongelação fria em 2018/19,
seguida por uma estação de descongelação muito quente em 2019/20. Este conhecimento
juntamente com a identificação dos fatores topográficos com maior influência no regime
térmico do solo, constituem-se como base para, num trabalho futuro, se proceder a uma
análise estatística apoiada numa série de dados mais longa, e de cariz multivariado, bem
como à modelação espacial da temperatura no topo do permafrost para a Península de
Barton. Esta modelação possibilitará a comparação com os resultados de modelos de TTOP
regionais, como é o caso do modelo apresentado em Obu et al. (2020), e uma avaliação do
seu desempenho no contexto da Antártida Marítima. Permitirá também avaliar o potencial do
mesmo para o downscalling e para uma análise sub-grelha. Adicionalmente, poderá
proporcionar uma análise dos impactes que os diferentes cenários climáticos terão na
evolução da temperatura no topo do permafrost, da eventual degradação deste e dos
impactes potenciais na dinâmica dos ecossistemas terrestres e costeiros.

167
8. BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Temperaturas médias do ar projetadas para um aumento da temperatura em 1,5 e


2 ºC (IPCC, 2018) ................................................................................................................. 1
Figura 2 - Localização de perfurações no continente Antártico (Vieira et al., 2010) ............... 3
Figura 3 - Modelo de perfil vertical com representação da camada ativa, camada de transiente
e permafrost adaptado de French (2007) .............................................................................10
Figura 4 - Distribuição espacial do permafrost num transecto latitudinal norte-sul, adaptado de
Ballantyne & Harris (1994) ...................................................................................................11
Figura 5 - Temperatura do permafrost e variação da temperatura à profundidade da amplitude
anual de zero entre 2014-2016 (Biskaborn et al., 2019) .......................................................13
Figura 6 - Variação da temperatura anual do permafrost em diferentes regiões (Biskaborn et
al., 2019) ..............................................................................................................................15
Figura 7 - Temperatura do permafrost modelada com base nas temperaturas de superfície
obtidas do ERA-Interim (Obu et al.2020) ..............................................................................21
Figura 8 - Regime térmico do permafrost (Washburn, 1979) ................................................26
Figura 9 - Fatores condicionantes da distribuição do permafrost, adaptado de Ballantyne &
Harris (1994) ........................................................................................................................30
Figura 10 - Enquadramento das ilhas Shetlands do Sul no arco de Scotia (Stone, 2015) ....34
Figura 11 - Enquadramento da Península de Barton nas Shetlands do Sul..........................35
Figura 12 – Tipos de glaciares e distribuição das áreas livres de gelo na ilha de Rei Jorge
(Hobbs, 1968) ......................................................................................................................36
Figura 13 - Mapa geológico da Península de Barton (adaptado de Lee et al. (2002) ...........38
Figura 14 - Mapa hipsométrico da Península de Barton .......................................................39
Figura 15 - Mapa de declives da Península de Barton..........................................................39
Figura 16 - O relevo da Península de Barton: a) Crista de Noel Hill; b) Crista de Noel Hill
(vertente norte); c) Planalto superior e elevação de Baekje Hill; d) Vale de Araon (NO); e) Setor
inferior do vale SE; f) Setor inferior do vale SE; g) Colinas no setor norte; h) Praias levantadas
no setor sul...........................................................................................................................40
Figura 17 - Perfis longitudinal e transversal do Vale de Araon..............................................41
Figura 18 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Arirang ...............................................42
Figura 19 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Baekje ...............................................42
Figura 20 - Perfis longitudinal e transversais do Vale Jeonjaegyu ........................................43
Figura 21 - Mapa geomorfológico da Península de Barton (López-Martínez, Serrano, & Lee,
2002) ....................................................................................................................................45

178
Figura 22 - Exemplos de formas geomorfológicas na Península de Barton: a) Vale de Araon
(NO); b) Taludes de detritos na escarpa a norte da crista de Noel Hill; c) Moreia no Vale de
Araon; d) Solos ordenados no planalto superior; e) Rocha aborregada a norte da crista de
Noel Hill; f) Bloco errático a norte da crista de Noel Hill; g) Círculos de pedras; h) Lóbulos de
solifluxão e solos estriados. ..................................................................................................46
Figura 23 - Temperaturas médias mensais ao longo do ano na estação de Bellingshausen
(1969 – 2020) .......................................................................................................................47
Figura 24 – Temperaturas médias mensais obtidas para uma série temporal entre 1969 e 2019
na estação de Bellingshausen ..............................................................................................48
Figura 25 – Correlação entre a temperatura do ar média mensal da estação de King Sejong e
de Bellingshausen ................................................................................................................48
Figura 26 – Precipitação anual na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020 49
Figura 27 - Precipitação mensal na estação de King Sejong para o período de 2005 a 2020
.............................................................................................................................................49
Figura 28 - Espessura da cobertura de neve por mês na estação de King Sejong para o
período de 2005 a 2020 .......................................................................................................50
Figura 29 - Espessura da cobertura de neve por ano na estação de King Sejong para o período
de 2005 a 2020 ....................................................................................................................50
Figura 30 – Direção e velocidade do vento na estação de King Sejong (2005-2020) ...........51
Figura 31 - Direção e velocidade do vento por mês e estação na estação de King Sejong (2005
- 2020)..................................................................................................................................51
Figura 32 – Esquematização das etapas de trabalho ...........................................................52
Figura 33 - Enquadramento das áreas de estudo da Península de Barton ...........................53
Figura 34 – Esquematização da abordagem SIG utilizada na cartografia de base e derivada
.............................................................................................................................................54
Figura 35 – Esboço geomorfológico da área de estudo Jeonjaegyu .....................................57
Figura 36 - a) Instalação dataloggers no escudo radiativo; b) Preparação do solo para fixação
do poste de madeira; c) Datalogger na perfuração KSS; d) Datalogger na praia; e)
Identificação do datalogger no escudo radiativo; f) Substituição do poste de madeira por um
metálico no datalogger da perfuração KSS ..........................................................................60
Figura 37– Correlação entre os valores registados pelos dataloggers KSB e Praia .............60
Figura 38 - a) Modelo esquemático da estrutura de instalação dos sensores de superfície; b)
Instalação sensor Top_N_SW129; c) Local de instalação; d) Recolha do sensor
Top_N_SW129 na campanha antártica de 2019/20. ............................................................61
Figura 39 – Localização dos sensores térmicos de superfície na Península de Barton ........63

179
Figura 40 – Cobertura do sensor Alt_N13 constituída por solo arenoso ...............................63
Figura 41 – Sensores instalados no vale de Jeonjaegyu ......................................................64
Figura 42 – Correlação da temperatura do ar e do solo de cada sensor superficial instalado
.............................................................................................................................................65
Figura 43 – Temperaturas médias diárias do ar e do solo à superfície no sensor Top_VJ_W133
.............................................................................................................................................67
Figura 44 – Tipos de regimes térmicos diários nos sensores de superfície do solo ..............70
Figura 45 – A instalação da perfuração King Sejong Station: a) Equipamento utilizado nas
atividades de perfuração; b) Transporte do gerador; c) Plataforma utilizada na perfuração; d)
Lago; e) Bidons utilizados para armazenamento de água; f) Atividades de perfuração; g)
Instalação do tubo de politeno; h) Instalação dos sensores de temperatura na perfuração. .74
Figura 46 – Localização das amostras rochosas analisadas na Península de Barton ..........77
Figura 47 – Análise termofísica das amostras rochosas: a) Recolha das carotes da perfuração
King Sejong Station; b) Descrição das carotes; c) Armazenamento dos carotes rochosas; d)
Amostra selecionada e cortada; e) Processo de corte das amostras; f) Análise de
condutividade com instrumento de medição ISOMET 2104; g) Análise das amostras rochosas
do projeto GEOPERM; h) Sonda de superfície. ....................................................................78
Figura 48 – Modelo esquemático do perfil de temperatura média anual desde a superfície do
solo até ao topo do permafrost (Smith & Riseborough, 2002)...............................................79
Figura 49 - Enquadramento das temperaturas do ar médias mensais do período 2019-20 na
série da estação de Bellingshausen (1969 – 2020) ..............................................................83
Figura 50 – Anomalia média mensal da temperatura (NCEP/NCAR Reanalysis 1) para os
meses de novembro de 2019 a fevereiro de 2020 (Robinson et al., 2020) ...........................83
Figura 51 - Enquadramento da precipitação mensal do período 2019-20 na série da estação
de King Sejong (2005 – 2020) ..............................................................................................84
Figura 52 - Enquadramento da espessura da cobertura de neve diária por mês do período
2019-20 na série da estação de King Sejong (2005 - 2020) .................................................85
Figura 53 - Planalto superior da Península de Barton: a) 28 de fevereiro de 2019; b) 3 fevereiro
2020 .....................................................................................................................................86
Figura 54 – Direção e velocidade do vento do período de 2019-20 (dados KOPRI) .............86
Figura 55 – Direção do vento por estação no período de 2019-20 (dados KOPRI) ..............87
Figura 56 - Localização dos conjuntos de sensores de temperatura de superfície do solo
instalados na Península de Barton .......................................................................................99
Figura 57 – Correlação entre o fator topográfico altitude e os parâmetros do regime térmico
do solo: a) TMASS; b) TDDs; c) FDDs ...............................................................................100

180
Figura 58 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Alt entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c) Alt_NE182; d)
Alt_W254............................................................................................................................102
Figura 59 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Alt entre março de
2019 e fevereiro de 2020....................................................................................................102
Figura 60 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Alt_N13; b) Alt_W73; c)
Alt_NE182; d) Alt_W254.....................................................................................................103
Figura 61 – Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Exp .................................105
Figura 62 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c)
Exp_SW179; d) Exp_E179 .................................................................................................107
Figura 63 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Exp entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Exp_N183; b) Exp_S183; c) Exp_E179; d)
Exp_SW179 .......................................................................................................................108
Figura 64 - Perfil longitudinal: Transecto de instalação dos sensores do Vale Jeonjaegyu.109
Figura 65 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Top_VJ entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VJ_W135; b) Top_VJ_NE132; c)
Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134 .......................................................................................111
Figura 66 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VJ ...........................112
Figura 67 – Duração e intensidade do período de congelação no conjunto Top_VJ entre março
de 2019 e fevereiro de 2020 ...............................................................................................112
Figura 68 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Alt entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VJ_W135; b)
Top_VJ_NE132; c) Top_VJ_W133; d) Top_VJ_S134 ........................................................113
Figura 69 - Radiação solar global estimada em W/m2 para os períodos de 21/03/2019-
23/09/2019 e 23/09/2019- 20/03/2020 no conjunto de sensores Top_VA ...........................115
Figura 70 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no conjunto de sensores
Top_VJ entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_VA_N133; b) Top_VA_NE118; c)
Top_VA_S128 ....................................................................................................................116
Figura 71 – Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Top_VJ entre abril e dezembro de 2019: a) Top_VA_N133; b)
Top_VA_NE118; c) Top_VA_S128.....................................................................................117

181
Figura 72 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_VA entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................118
Figura 73 – Características do solo nos locais de instalação do conjunto de sensores Top_N:
a) Sensor Top_N_SW129; b) Sensor Top_N_SW130; c) Sensor Top_N_SW132 ..............119
Figura 74 – Duração e intensidade da estação de congelação no conjunto Top_N ............120
Figura 75 - Evolução dos índices de congelação do solo (FDDs), do ar (FDDa) e do Fator-n
no conjunto de sensores Top_N entre abril e dezembro de 2019: a) Top_N_SW132; b)
Top_N_SW130; c) Top_N_SW129 .....................................................................................121
Figura 76 – Temperatura média diária do ar e do solo à superfície no sensor Top_N_S129
entre março de 2019 e fevereiro de 2020: a) Top_N_SW132; b) Top_N_SW130; c)
Top_N_SW129 ...................................................................................................................123
Figura 77 – Modelo Digital de Elevação da área de pormenor de Jeonjaegyu derivado do
levantamento com VANT realizado na campanha antártica de 2018-2019 .........................127
Figura 78 - Área de Jeonjaegyu: a) Ortofotomosaico; b) Mapa hipsométrico; c) Mapa de
declives (graus); d) Mapa de exposição .............................................................................132
Figura 79 – Mapa geomorfológico de pormenor da área de Jeonjaegyu ............................133
Figura 80 - Área de pormenor Jeonjaegyu: a) Vertente do Monte Jeonjaegyu; b) Rechãs da
vertente do Monte Jeonjaegyu; c) Vertente do Planalto Baekjo; d) Vertente 3 a SE da
perfuração KSS; e) Fundo do circo glaciário e esporão rochoso da perfuração KSS; f) Patamar
do Monte Gaya e fundo do valeiro Jeonjaegyu; g) Afloramento no esporão rochoso da
perfuração KSS com vestígios de corrasão nivo-eólica; h) Círculos de pedras no fundo do
valeiro de Jeonjaegyu ........................................................................................................134
Figura 81 – Regimes térmicos diários do solo à superfície no vale de Jeonjaegyu: a) Espessura
de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no posto termométrico da
perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b)
Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_VJ_W135; c) Regimes térmicos
diários do solo por mês no sensor Top_VJ_NE132; d) Regimes térmicos diários do solo por
mês no sensor Top_VJ_W133; e) Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor
Top_VJ_S134. ...................................................................................................................140
Figura 82 – Regimes térmicos diários do solo à superfície na base do neveiro N3: a) Espessura
de neve na estação King Sejong, temperatura média diária do ar no posto termométrico da
perfuração King Sejong Station e perfis com regimes térmicos diários do solo à superfície; b)
Regimes térmicos diários do solo por mês no sensor Top_N_SW132; c) Regimes térmicos
diários do solo por mês no sensor Top_N_SW130; d) Regimes térmicos diários do solo por
mês no sensor Top_N_SW129...........................................................................................144

182
Figura 83 – Carotes de rocha da perfuração King Sejong Station: a) Carotes até 5 m de
profundidade; b) Carotes dos 5 aos 10 m de profundidade; c) Carotes dos 11 aos 13 m de
profundidade ......................................................................................................................147
Figura 84– Amostras selecionadas para realização das determinações termofísicas .........149
Figura 85 - Perfil da temperatura média anual na perfuração King Sejong Station .............152
Figura 86 - Análise do regime térmico do permafrost na perfuração King Sejong Station: a)
Temperatura do ar média diária no posto KSS; b) Temperatura do solo horária na perfuração
King Sejong Station. ...........................................................................................................154
Figura 87 – Distribuição dos valores TTOP estimados para os locais de monitorização da
temperatura à superfície do solo na Península de Barton ..................................................157
Figura 88 – Correlação entre o fator altitude e os valores de TTOP estimados para os sensores
de superfície instalados na Península de Barton ................................................................159

183
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição do permafrost na Península Antártica adaptado de Bockheim et al.


(2013)...................................................................................................................................20
.............................................................................................................................................20
Tabela 2 - Propriedades térmicas de diferentes materiais (Williams & Smith, 1993) ............24
Tabela 3 – Referências dos sensores de superfície instalados ............................................62
Tabela 4 – Codificação regimes térmicos do solo.................................................................69
Tabela 5 – Classificação da dureza da rocha, adaptado do manual do Core Logging
Committee of the South Africa Section of The Association of Engineering Geologists (1978)
.............................................................................................................................................76
Tabela 6 – Parâmetros para realização da análise de variância One-Way ANOVA..............89
Tabela 7 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente altitude .......90
Tabela 8 – Teste ANOVA para a variável independente altitude ..........................................90
Tabela 9 – Teste de Tukey HSD para a variável independente altitude................................91
Tabela 10 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente exposição 92
Tabela 11 – Teste ANOVA para a variável independente exposição ....................................93
Tabela 12 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente curvatura
topográfica ...........................................................................................................................94
Tabela 13 – Teste ANOVA para a variável independente curvatura topográfica ..................94
Tabela 14 – Teste de Tukey HSD para a variável independente curvatura topográfica ........95
Tabela 15 – Teste de homogeneidade de Levene para a variável independente posição
topográfica ...........................................................................................................................96
Tabela 16 – Teste ANOVA para a variável independente posição topográfica .....................96
Tabela 17 - Categorias para organização dos sensores segundo o número de dias com
cobertura de neve ................................................................................................................96
Tabela 18 – Teste de homogeneidade de Levene para variável independente cobertura de
neve .....................................................................................................................................97
Tabela 19 – Teste ANOVA para a variável independente cobertura de neve .......................97
Tabela 20 – Teste de Tukey HSD para a variável independente cobertura de neve isolante98
Tabela 21 – Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Alt entre março
de 2019 e fevereiro de 2020 ...............................................................................................100
Tabela 22 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Exp entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................105
...........................................................................................................................................105

184
Tabela 23 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VJ entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................110
Tabela 24 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_VA entre
março de 2019 e fevereiro de 2020 ....................................................................................115
Tabela 25 - Características do regime térmico do solo no conjunto de sensores Top_N ....119
Tabela 26 - Caracterização das carotes de rocha na perfuração King Sejong Station ........148
Tabela 27 - Resultados das determinações termofísicas realizadas nas carotes de rocha da
perfuração KSS ..................................................................................................................150
Tabela 28 – Parâmetros e resultados do modelo TTOP aplicado à perfuração King Sejong
Station para o período 2019-20 ..........................................................................................155
Tabela 29 – Cálculo do TTOP para os locais de instalação dos sensores de superfície.....157

185
ÍNDICE DE EQUAÇÕES

Equação 1 – Balanço radiativo (Wm2) ..................................................................................22


Equação 2 – Condutividade térmica (K) ...............................................................................23
Equação 3 – Calor específico volumétrico (Cv) ....................................................................24
Equação 4 – Calor latente de fusão (Qi) ...............................................................................25
Equação 5 – Difusividade térmica (α) ...................................................................................25
Equação 6 – Amidssão térmica (μ).......................................................................................25
Equação 7 – Gradiente geotérmico (Tz) ...............................................................................28
Equação 8 – Espessura do permafrost (Hp) .........................................................................29
Equação 9 – Fator-n de congelação (nf) ..............................................................................67
Equação 10 – Fator-n de descongelação (nt) .......................................................................67
Equação 11 - Condutividade térmica do solo (rk) .................................................................80
Equação 12 – Offset térmico ................................................................................................81
Equação 13 -TTOP ..............................................................................................................81

186

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