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Nº 32.  Junho de 2013

Principais conclusões da pesquisa

Análise de gênero na pesquisa florestal


O que os formuladores de políticas deveriam saber

•• O que é gênero? Gênero refere-se aos atributos econômicos, políticos e culturais associados a ser um homem ou uma mulher. Esses
atributos variam entre países e dentro deles e podem mudar ao longo do tempo. Os papéis de gênero são as tarefas socialmente definidas,
responsabilidades e comportamentos que são considerados adequados para homens e mulheres em uma determinada comunidade. É
importante compreender a complexidade dos papéis de gênero, pois isso resulta na identificação de oportunidades para melhoria do manejo
florestal e para a construção de uma maior equidade. Negligenciar as diferenças entre os sexos pode resultar em avaliações incorretas dos
tradeoffs (perdas e ganhos) e efeitos das políticas nas comunidades das florestas1.
•• Gênero influencia o manejo florestal. O gênero influencia os papéis dos indivíduos no manejo florestal, seu acesso às florestas e como eles
usam os recursos florestais1. Existe uma variação incrível de tipos de produtos florestais não-madeireiros (PFNM) entre países e dentro deles,
e dos estágios de produção nos quais homens e mulheres estão envolvidos. Por exemplo, no sul da Etiópia, são principalmente as mulheres
que cortam e coletam a goma de olibanum, enquanto no norte e noroeste da Etiópia essas atividades são feitas por homens2. Infelizmente, há
uma falta de dados em torno da participação das mulheres em muitas atividades florestais, bem como na silvicultura em larga escala, o que
torna difícil obter uma imagem precisa do seu envolvimento. Isso pode sugerir que o papel das mulheres no setor florestal é invisível e informal,
levando à mais condições de trabalho e menor remuneração3.
•• As mulheres dependem das florestas para garantir renda e subsistência. De acordo com o Banco Mundial, a metade da renda das
mulheres de comunidades florestais é proveniente de florestas, enquanto apenas um terço da renda dos homens é derivada das florestas3. A
pesquisa da Rede de Pobreza e Meio Ambiente (PEN), do CIFOR, constatou que os rendimentos de atividades florestais representam cerca de
um quinto da renda familiar total para famílias rurais que vivem dentro ou perto de florestas; os homens contribuem mais do que as mulheres
porque suas atividades geram uma renda enquanto as mulheres estão mais envolvidas em atividades de subsistência. Embora as atividades
florestais dos homens e das mulheres contribuam para os meios de vida das famílias, existem consideráveis diferenciações de gênero na coleta
de produtos florestais4.
•• Gênero e tomada de decisão. O manejo florestal tem sido frequentemente considerado um setor dominado por homens, o que torna difícil a
participação das mulheres no manejo florestal e na tomada de decisões1. As mulheres são frequentemente excluídas da tomada de decisões por
causa de barreiras sociais, barreiras logísticas, pelas regras que regem o manejo florestal comunitário e pelo viés masculino nas atitudes daqueles
que promovem iniciativas de manejo florestal comunitário. Estudos recentes sugerem que a participação das mulheres é provável quando há
instituições menos exclusivas, maiores níveis de educação nas famílias e existe pequena desigualdade econômica entre os gêneros5. A maior
participação das mulheres nos comitês de tomada de decisões nas instituições florestais comunitárias tem levado a uma melhor governança
florestal e à sustentabilidade de recursos6,7.
•• Gênero e mudanças climáticas. Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reconheceu que as mudanças
climáticas terão diferentes consequências para homens e mulheres. As mudanças climáticas têm o potencial de exacerbar as desigualdades
de gênero e aumentar a vulnerabilidade das mulheres em uma série de maneiras1. Por exemplo, as mulheres rurais que obtêm sua renda de
florestas terão os seus meios de vida alterados por mudanças que afetam a disponibilidade de recursos. No entanto, a participação ativa das
mulheres no manejo e conservação de florestas e outros recursos naturais as tornam atores-chave nos esforços de mitigação e adaptação8.
Enquanto técnicas agrícolas climaticamente inteligentes vão sendo identificadas, elas precisarão ser adaptadas e disseminadas de forma que
homens e mulheres tenham a oportunidade de adotá-las.
•• Mulheres e REDD+. É importante considerar a dimensão de gênero nas políticas globais e esquemas de mitigação das mudanças
climáticas, tais como REDD+. Para permitir o sucesso de REDD+, no campo, no longo prazo, as necessidades diferenciadas de gênero, usos
e conhecimentos sobre a floresta serão insumos essenciais para a formulação de políticas e para guiar intervenções9. Os riscos potenciais de
REDD+ para mulheres incluem restrições nas atividadesde subsistência ou acesso à floresta, as quais podem levar a cargas de trabalho maiores
ou perda de renda, e exclusões de mecanismos de repartição de benefícios10.
•• Mulheres e posse da terra. Possuir bens, como terra ou árvores, reforça a posição das mulheres nas famílias e comunidades11, e lhes fornece
incentivos para manejar de forma sustentável os seus recursos. No entanto, um foco estreito sobre a propriedade ignora o acesso das mulheres
a tais recursos e seu uso. Enquanto o conhecimento sobre leis consuetudinárias e de direito de fato são importantes, muito mais foco precisa ser
colocado nos espaços intermediários aos quais as mulheres têm acesso, espaços estes que estão entre os cultivos e árvores dos homens, ou em
terras degradadas, onde as mulheres podem coletar lenha ou alimentos silvestres12. O conhecimento sobre a dimensão de gênero nos direitos
territoriais e de posse da terra existentes levarão a políticas mais eficazes e flexíveis de manejo sustentável que salvaguardam as necessidades de
vários usuários.
•• Homens e mulheres no manejo florestal sustentável. Existem vários benefícios de envolver homens e mulheres em políticas de manejo
florestal6. Envolver mulheres na tomada de decisões sobre o manejo florestal em nível da comunidade tem apresentado efeitos positivos sobre
uma gama de questões do manejo florestal, incluindo a regulamentação de atividades ilegais e da capacidade de grupos comunitários para
gerenciar conflitos. A inclusão de mulheres nos comitês executivos do manejo florestal e a sua participação efetiva na tomada de decisões
melhora a governança florestal e a sustentabilidade dos recursos. Em muitas florestas e países, portanto, uma maior equidadede gênero é uma
das chaves para o manejo florestal sustentável.
•• Abordar as disparidades de gênero em pesquisas. Existem lacunas significativas na pesquisa que visa entender como os papéis
complementares e responsabilidades de homens e mulheres poderiam aprimorar o manejo florestal sustentável. Essas incluem mais pesquisas
sobre os tipos de governança que permitem que mais mulheres tomem decisões13, 14, a distribuição de responsabilidades, benefícios e
informação entre homens e mulheres em grupos mistos, as implicações das reformas sobre os direitos das mulheres às árvores e recursos
florestais, e os papéis e as contribuições das mulherese dos homens no que diz respeito à ação coletiva e restrições em ambientes florestais.
Também é necessário um exame mais detalhado dos impactos diferenciados por gênero de processos e políticas globais emergentes, como por
exemplo, a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Será vital abordar essas lacunas para melhorar as políticas de manejo florestal, em
particular, para a alocação equitativa de recursos e distribuição de benefícios14.

Notas
1 Manfre, C. e Rubin, D. 2012. Integrating gender into forestry research: A guide for CIFOR scientists and programme administrators. CIFOR,
Bogor, Indonesia.
2 Shackleton, S., Paumgarten, F., Kassa, H., Husselman, M. e Zida, M. 2011. Opportunities for enhancing poor women’s socio economic empowerment in the
value chains of three African non-timber forest products (NTFPs). International forestry Review 13(2):136-151.
3 World Bank, International Fund for Agricultural Development (IFAD) e FAO. 2009. Gender and agriculture sourcebook. World Bank, Washington, D.C. 764 p.
4 Sunderland, T., Ickowitz, A., Reyes-Perez, V., Babimigura, R. e Achdiawan, R. [In review]. Myths and truths about men, women, and forest resources: Results
from the PEN global dataset. World Development.
5 Coleman, E.A. e Mwangi, E. 2012. Women’s participation in forest management: A cross-country analysis. Global Environmental Change 23(1):193-205.
http://dx.doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2012.10.005.
6 Agarwal, B. 2009. Gender and forest conservation: the impact of women’s participation in community forest governance. Ecological Economics
68(1):2785-2799. http://dx.doi.org/10.1016/j.ecolecon.2009.04.025.
7 Agarwal, B. 2010. Does women’s proportional local forests in SouthAsia. World Development 38(1):98-110. http://dx.doi.org/10.1016/j.
worlddev.2009.04.001.
8 Djoudi, H. e Brockhaus, M. 2011. Is adaptation to climate change gender neutral? A case study from northern Mali. International Forestry Review
13(2):123-135.
9 UN-REDD Programme. 2011. The business case for mainstreaming gender in REDD+. UN-REDD Programme Secretariat, Genebra, Suíça.
10 Gurung, J., Giri, K., Setyowati, A.B. e Lebow, E. 2011. Getting REDD+ right for women: an analysis of the barriers and opportunities for women’s
participation in the REDD+ sector in Asia. USAID, Washington, D.C. 112 p.
11 Meinzen-Dick, R., Brown, L.R, Sims Feldstein, H. e Quisumbing, A.R. 1997. Gender, property rights, and natural resources. FCND Discussion Paper No. 29.
IFPRI, Washington, D.C.
12 Rocheleau, D. e Edmunds, D. 1997. Women, men and trees: gender, power and property in forest and agrarian landscapes. World development
25(8):1351-1371.
13 Acharya, K.P. e Gentle, P. 2006. Improving the effectiveness of collective action: sharing experiences from community forestry in Nepal. CAPRi Working
Paper No 54. International Food Policy Research Institute, Washington, D.C.
14 FAO. 2007. Gender mainstreaming in forestry in Africa. Regional report. Report of a project carried out under the FAO Netherlands partnership program.
Food and Agriculture Organization of the United Nations, Roma.

www.cifor.org/forests-trees-agroforestry

Esta pesquisa foi conduzida pelo CIFOR, como parte do Programa de Pesquisa do CGIAR sobre Florestas, Árvores
e Agroflorestas (CRP-FTA). Este programa colaborativo visa melhorar o manejo e o uso de florestas, agroflorestas
e recursos genéticos de árvores distribuídos por toda a paisagem, de florestas a fazendas. O CIFOR lidera o CRP-
FTA em parceria com Bioversity International, o CIRAD, o Centro Internacional de Agricultura Tropical e o Centro
Mundial Agroflorestal.

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