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PREFÁCIO

A natureza sustenta uma interdependência mútua entre os seres vivos e o meio


ambiente. Todas as vidas que coabitam o planeta Terra, nas suas mais variadas formas,
integram um sistema orgânico que é único e indivisível, daí a importância de se trabalhar de
forma cooperativa para a preservação, recuperação e proteção da teia da vida.
“Tudo o que acontece com a Terra, acontece com os filhos e filhas da Terra. O homem
não tece a teia da vida; ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia, ele faz a si mesmo” 1. A
inter-relação existente no âmago dos fios que edificam a teia da vida dão forma a ela, ou seja,
são fatores determinantes para a sua estrutura. Todos os elementos que a compõem são
resultados da conjunção com as outras partes.
No decorrer da história da humanidade essa estrutura foi sendo modificada por um
único fio “condutor” e a natureza foi usurpada de seu processo natural, tendo seu ciclo afetado
de forma significativa. A estrutura da teia da vida foi condicionada às vontades humanas. O
meio ambiente, com toda sua multidimensionalidade, foi transformado em simples
mercadoria. As demais formas de vida – assim como tudo que se formou por um longo
processo de transformação física, por componentes químicos – ficaram relegadas à miséria
pela visão do homem como centro do universo, detentor de todas as decisões e piloto do curso
da vida.
As sociedades, na busca desenfreada pelo progresso econômico, alteraram de forma
célere o curso natural do SER para o TER – como se estivéssemos indo para algum lugar que
não a mãe Terra e a existência humana fosse em função do usufruir. Há estímulos para
consumir, produzir e fazermos algo útil a todo tempo, em vez de apenas vivermos, existirmos.
Mas, enquanto seres “racionais”, não aceitamos a simples insignificância e essa atitude
egoísta e ambiciosa interferiu tanto na Terra que a transformou em mera fonte de recursos,
como se tudo tivesse um significado funcional2.
Todavia, a noção de superioridade humana não se sustenta mais em sua finalidade,
isso porque as sociedades que englobam o planeta vem sendo afetadas cada vez mais pela
degradação ambiental, que é causada pela própria a humanidade, bem como sentenciou às
demais formas de vida. Por mais que nós3 nos vejamos como donos da Terra, somos apenas
1
PERRY, Ted. A carta do cacique Seattle. In.: CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão
científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 9.
2
LEVAI, Laerte Fernando. Ética ambiental biocêntrica: pensamento compassivo e respeito à vida. In.:
ANDRADE, Silvana (org.). Visão abolicionista: ética e direitos animais. São Paulo: Libra Três, 2010. p. 127.
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Incluo aqui o “nós”, em primeira pessoa do plural, enquanto partes integrantes desse árduo processo de
superioridade às demais formas de vida, infelizmente, geração após geração.
inquilinos e essa compreensão precisa ser difundida cientificamente, e não somente por meio
dela, pelas mais diversas perspectivas.
Portanto, o Direito, enquanto área do saber, possui um papel importante na
reestruturação desse sistema único e indivisível que é a Terra, primordialmente pela égide de
proteção e preservação. Em vista disso, nessa obra as autoras e autores instigam o leitor para
explorar criticamente os temas relativos às demandas ambientais e animais que emergem
nessa sociedade globalizada.
Por meio de pesquisas ricas e profundas, são levantadas algumas discussões como: a
sigla ESG/ASG e a sua aplicabilidade no direito ambiental brasileiro; a importância do plano
diretor democrático e seu papel para a preservação ambiental; os animais não humanos como
sujeitos de direito no sistema jurídico das famílias no Brasil; o ecofeminismo aplicado ao
direito animal; o desenvolvimento sustentável e o consumo/produção responsáveis na
agricultura familiar; a divulgação científica sobre direito ambiental e animal relacionada com
a percepção pública do risco; e, por fim, a permacultura e fontes renováveis de energia
enquanto planejamento sustentável.
Feita essa breve introdução, convido os leitores para degustar – e digerir – cada
capítulo. Ademais, parabenizo as organizadoras – Bibiana, Nariel e Roana –, dada a
importância desse projeto para a divulgação científica nas áreas ambiental e animal. Estendo
os cumprimentos aos autores e autoras pela excelência no que se propuseram a contribuir com
os temas.
Façam uma boa leitura!

Agudo-RS, dezembro de 2022.


Katiele Daiana da Silva Rehbein4

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Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria – PPGD/UFSM. Mestranda em Ciências
Ambientais pela Universidade de Passo Fundo – UPF; Bolsista Capes/Prosuc I. Especialista em Direito
Ambiental pelo Centro Universitário Internacional. Especialista em Direito Constitucional Aplicado pela
Faculdade Legale. Bacharel em Direito pela Faculdade Antonio Meneghetti – AMF. Técnica em Meio Ambiente
pelo Instituto Federal Farroupilha – IFSUL. Membra do Grupo de Pesquisa em Direitos Animais –
GPDA/UFSM, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria –
UFSM. E-mail: katirehbein.direito@gmail.com

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