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Saudades

Definição de saudade Eu já vi muitos poetas falando sobre saudade, da


dor que a danada causa e de sua crueldade. Meu resumo é mais miúdo,
é a lembrança de tudo que faz falta de verdade. Quem tem um pé de
saudade no vaso do coração, adubado de lembrança, regado de solidão,
vê a raiz se espalhar, sem conseguir respirar, vai bater no pulmão.
Saudade é uma inquilina que aluga nossa mente, sem contrato de
aluguel, sem nos pagar mensalmente, e ligeiro se revela, que a gente
mora nela, e ela mora na gente. A Saudade se espalha na alma, feito
alergia, quanto mais a gente coça, parece até que dá cria. Uma doença
comum que atinge qualquer um que já foi feliz um dia. Há quem viva
nessa vida, poupando tudo o que tem, se ocupando em deixar carro,
moto, ou outro bem, mas lhe digo uma verdade, bom mesmo é deixar
saudade, no coração de alguém. A medicina, a medicina evolui, pro bem
da sociedade, vi cientistas curando tudo o que é enfermidade, mas até
hoje eu duvido inventarem um comprimido pra aliviar a saudade. Por
mais que seja cruel, não age com preconceito, pelo menos nesse ponto
admiro seu conceito, baseado em igualdade, tem um tipo de saudade
pra todo tipo de peito. Falando em peito, se abrir um coração e revirar
pelo avesso, tem um mapa de um tesouro que ninguém conhece o
preço, tem rua, bairro e cidade, afinal toda saudade tem um nome e um
endereço.

Bráulio Bessa

Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá

Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

Manuel Bandeira
Fonte: T​ rem de ferro, Manuel Bandeira. ​Disponível em:
<​http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_infantil/manuel_bandeira.html​>.
Acesso em: 24 nov. 2018.

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,


ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles

Fonte: M
​ EIRELES, C. Ou isto ou aquilo. São Paulo: Global, 2012.
Ocorrência

Aí o homem sério entrou e disse: bom dia

Aí o outro homem sério respondeu: bom dia

Aí a mulher séria respondeu: bom dia

Aí a menininha no chão respondeu: bom dia

Aí todos riram de uma vez

Menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores, as paredes,

o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, o mata-borrão, os

sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços.

Ferreira Gullar

Fonte: G
​ ULLAR; F.; BOSI; A. Melhores poemas de Ferreira Gullar. São Paulo:
Global, 2004.

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