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LIVRE
— o farisaísmo dos
— da liberdade justa;
pseudos sábios;
— do conhecimento
— as falsas elites; honesto;
— o primarismo e o ne- — da filosofia positiva e
gativismo filosófico. concreta.
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Pág. n.o 2 O HOMEM LIVRE São Paulo, março de 1965
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Pag. li.» G O HOMEM LIVRE São Paulo, março de 1985
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Pág. n.° 8 C HOMEM LIVRE São Paulo, março de 1965
o simbolizado, o simbolo ofe- cie uma mente (estrutura psí- te que sinal teria de ser estu-
rece uma analogia com o sim- quico-somática do homem), e dado no âmbito da categoria
bolizado, como muito bem o essa mente, como é fácil com- da relação e, portanto, sujeito
demonstrou Mário Ferreira preender, é algo que o dis- a ter as propriedades que tem
dos Santos em seu «Tratado tingue, especificamente, dos a relação, já que as proprie-
de Simbólica». Assim o enten- outros animais, porque o ho- dades do gênero são também
deram as religiões. As máxi- mem é um ser capaz de jul- propriedades da espécie.
mas pitagórias, que se refe- gar, raciocinar, apreciar valo- Assim o sinal une, por meio
rem a analogias não intrínse- res, buscar os nexos das coi- de algo, uma coisa significa-
cas, mas extrínsecas, são ale- sas, captar possibilidades de da ao cognoscente.
gorias, que é uma espécie de possibilidades, traçar rumos Mesmo quem não conheça
símbolo. Assim entenderam as para a sua práxis, etc. E isso bem as regras da divisão e
religiões de todos os tempos, chama-se racionalidade. é, da disjunção, logo perceberá
e em todos os países, em to- pois, um animal racional (al- que um sinal ou é dado pela
dos os ciclos culturais. Mas os guns irracionalistas poderão natureza (sinal natural), ou
geniais criadores da logística estremecer de repugnância é escolhido pelo homem (arbi-
resolveram acabar com isso. ante esta afirmação, e outros, trário). S possível ainda ser
Símbolo = sinal, e nada mais. que não acreditam na inteli- dado pela natureza e arbitra-
Não é espécie, não; não tem gência humana, por experiên- riamente ter um aspecto sig-
nenhuma diferença específica, cia própria, são capazes de nalativo dado pelo homem
é igual ao gênero. sorrir. Mas, sorrir senhores, (que é o caso do símbolo, co-
Mas que bestial progresso, não o fazem os animais. Es- rno ainda veremos).
como exclamaria um lisboeta! tes apenas fazem esgares,
Mas senhores, o símbolo é não são capazes de sorrir, Então, temos: sinal natural
um intermédio entre o sinal pensem bem nisto, e, pronto, arbitrário ou convencional.
natural e o sinal convencio- desaparecerá o sorriso).
nal. Tratemos, pois, deste pon- Essa situação do homem Natural é o sinal instituído
to. (lamentável para alguns) le- pela natureza, como a fuma-
va-o a ter pensamentos, e co- ça, que é sinal do fogo.
VISÃO PROPEDÊUTICA DO mo vive com seus semelhan- Arbitrário ou convencional
QUE Ê SINAL tes, tem de comunicá-los para é o estabelecido pela vontade
que estes o entendam. E terá (arbitrária) de um ser inte-
Os estudos sígnicos não fo- que usar algum meio para fa- ligente, que convenciona que
ram iniciados pelos que atual- zê-lo, e este meio é o que se signifique isto ou aquilo.
mente tratam dos mesmos, chama sinal, o que assinala, o O sinal natural ou é imagem
pois já os gregos haviam se que aponta ao que pretende (no lat. imago, no grego ei-
dedicado a eles, e os escolás- comunicar. Deste modo, e konos, de onde ícono, empre-
ticos desenvolveram obras ex- aqui parece haver total acei- gado pelos modernos estudio-
traordinárias sobre o tema, tação, sinal é algo que aponta sos da matéria), ou não é
totalmente desconhecidas des- a outro que êle. Mas neste imagem.
ses novos colombos retarda- sentido, sinal estaria sendo É imagem quando repre-
dos. E faziam-no com mais tomado em latíssimo sentido. senta outro por semelhança;
proficiência e segurança, por- E é simples, porque esse quando não representa desse
que, munidos de melhor mens apontar a outro que êle é uma modo, não é imagem.
philosophica, e de maior dis- relação que implica outro ter- A imagem pode ser instru-
ciplina mental, eram capazes mo, o haver algo que o en- mental ou formal. O primeiro
de dar à matéria uma segu- tenda. Deste modo, sinal é al- sinal é o que, mediante prévia
rança que permitia a sua ho- go que aponta a outro e o notícia de si mesmo, represen-
mogênea aplicação, e não a torna pelo menos cognoscível ta outro que êle;
confusão que ora se observa a outro. O sinal está, pois, em formal o que, sem prévia
em que uns, açulados pelas lugar de outro, que é o assi- notícia de si mesmo, repre-
idéias confusas, acusam os nalado, que êle aponta, indica. senta imediatamente outro
outros de confusão, tornando- Portanto, o sinal requer: a) que êle. A estátua é uma ima-
-se o campo dos estudos so- alguma coisa significante (si- gem, e é um sinal instrumen-
bre os sinais, modernamente, nal); b) a coisa significada tal.
o mesmo saco de gatos que (assinalado); c) o nexo entre O gemido é sinal natural
criaram na estética, e sobre êle e a coisa significada (a es- instrumental da dor; o sinal
o tema dos valores, que deu pécie desse nexo é que esta- verde do trânsito um sinal
ensanchas a tanto literato ma- belece a espécie de sinal, se- instrumental arbitrário. O
logrado vir distilar sua pro- nhores logísticos); d) o sujei- conceito formal é um sinal
funda ciência nesse campo, to cognoscente, ou seja algo formal (forma intencional),
onde os mais fantásticos pal- apto a compreender o que pois sem prévia notícia de si
piteiros deram os mais fan- aponta o sinal, pois um sinal mesmo representa outro que
tásticos palpites. que não tenha essa relação si mesmo.
Ora, o ser humano é um não é sinal para nada. Assim a palavra é um ter-
ente composto de um corpo e Deste modo, se vê facilmen- mo oral, uma voz, um som
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ou não, articulado ou não, que
significa alguma coisa. Tem
uma universalidade de signifi-
PRÓXIMAS EDIÇÕES DA EDITORA
cação, pois aponta para um MATESE
conceito. Este, por sua vez,
também sinal, tem uma uni- A Editora MATESE lançará em breve as se-
versalidade de representação, guintes obras:
pois significa a forma inten- «Dos Sinais» — de João de São Tomás, tradução, no-
cional. Até aí um nominalista, tas e comentários de Mário Ferreira dos Santos.
que tenha alguma firmeza Eis uma obra clássica sobre um tema atual, que
mental, pode chegar. O resto foi tomado com clareza e precisão por esse fa-
vem depois, e já exige mais, moso autor (De Signum secundum se), em con-
como veremos. traposição à maneira confusa e bárbara como é
Partindo-se destes conceitos tratado em nossos dias.
simples, podem-se esclarecer
outros muito comuns: símbo- «Do Primeiro Princípio» (De primo principio) de Duns
lo, como vimos, é um interme- Scot, com notas, comentários e um prefácio so-
diário entre o sinal natural e bre a obra e o pensamento do famoso Doctor
o convencional; o indício (in- Subtilis, por Mário Ferreira dos Santos.
dex para alguns modernos), «Sobre a Verdade» — Textos de Tomás de Aquino,
chamado pelos antigos vesti- sobre o aspecto mais genérico desta matéria, de
gium, é um sinal instrumental. tanta atualidade, quando é comum, entre os que
Esta rápida explanação, desconhecem os estudos já realizados sobre tal
contudo, tem apenas uma in- tema, afirmarem, com ares de superioridade, que
tenção: dar as noções gerais não há verdade, ou que interrogam «que é a ver-
para que se possa discutir a dade?», como se se tratasse de tema sobre o
teoria dos sinais, e nos permi- qual nada se pode responder. A tradução, as no-
ta fazer, nos próximos núme- tas e comentários desta obra são de autoria de
ros, algumas análises sobre o Mário Ferreira dos Santos.
que se tem escrito moderna- «Diálogos de Platão» em 12 vols. Traduzidos e co-
mente pelos colombos retarda- mentados por Mário Ferreira dos Santos.
dos de nossa época. Mostrare- Estas obras são algumas que constituem a
mos que essas novas descober- biblioteca Filosófica Matese», sob a direção de
tas da pólvora são apenas ve- Mário Ferreira dos Santos.
lhos conhecimentos indevida- Em breve anunciaremos seus próximos lança-
mente esquecidos, mas que mentos.
têm um aspeto negativo: defi-
cientes e confusos, num terre-
do fim do século XIX e prin-
no onde havia clareza e pro- AS NOSSAS ELITES cípios deste com a que existe
ficiente. O leitor não perderá
por esperar. hoje, nesta segunda metade do
Realmente, um dos temas séc. XX. A disparidade espan-
N. T. que mais preocupam, ou pelo ta, e sentimos uma distância
menos deveriam preocupar o que nos preocupa. O problema
brasileiro que se sente respon- das nossas elites é um tema
Se nos apoia, apoie os sável pelos destinos do país. que deve ser colocado na me-
que nos apoiam, anuncian- é o que se refere às nossa:! sa e sobre êle realizarem-se
do em nossas colunas, per- elites intelectuais. Sente-se, grandes debates. Estamos
mitindo que esta folha pos- realmente numa decadência
normalmente, que há uma
sa chegar às mãos do queda, se acaso comparamos o pasmosa, onde apenas raras
maior número e possa au- que somos hoje com o que já excepções ainda se impõem
xiliar os que desejam lu- fomos, se se faz um paralelo para afirmar que nem tudo es-
tar contra as trevas. da intelectualidade brasileira tá perdido?
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Mentiras Históricas
Damos, nesta secção, uma série de mentiras históricas, que são esgrimidas pelos que
'desejam comprometer o passado, segundo os interesses escusos que defendem, de modo a
atirar a responsabilidade histórica de certos fatos a entidades escolhidas, que desejam malsi-
Jiar, infamar, denegrir.
Vejamos alguns desses fatos, e a verdade correspondente:
A MENTIRA A VERDADE
Diz-se que os mestres de Salamanca afirma- Colombo não pretendia descobrir a América,
ram que Colombo era um visionário. No mas um novo caminho para as Índias, e
entanto, esse visionário descobriu a Amé- este êle não achou. O que êle achou, foi
rica. o que era possível de achar para os que
examinaram as suas pretensões: novas
terras, não o caminho das Índias.
O clero espanhol combateu Colombo e tudo Não é verdade. O maior defensor de Colom-
fêz para que êle não pudesse realizar a bo foi o cardeal primaz de Espanha, nes-
sua empresa. O que Colombo representa- sa época Mendonza, que tudo envidou pa-
va era alguma coisa que não interessava ra que o rei e a rainha auxiliassem Co-
ao clero espanhol. lombo. O confessor da rainha, que era o
padre Perez, influiu decisivamente no
auxilio que lhe foi prestado.
Os jesuítas foram os criadores da Inquisição, Não é verdade! A inquisição foi instaurada
deram-lhe força e perseguiram por meio antes de nascer a avó de Loyola, e foi
dela os seus inimigos. estimulada pelos príncipes. Por sua vez
os jesuítas foram das maiores vítimas
da Inquisição, inclusive Loyola, que es-
teve preso por quase 9 anos.
Galileu foi combatido pelo clero, porque suas Não é verdade. Os mestres de Galileu foram
idéias vinham a pôr em risco as concep- os jesuítas, e o defenderam sempre. Suas
ções religiosas. idéias já eram expostas por homens de
saber da Companhia de Jesus, que como
se deve saber, sempre na primeira plana
do conhecimento, têm os seus represen-
tantes.
Iniciamos hoje, com alguns apanhados. Mas são apenas alguns, porque em torno de
Colombo e de Galileu há ainda muito que dizer, como há em relação a Paracelso, Giordano
Bruno, Inquisição, Jesuítas etc. Também iremos compendiar mentiras filosóficas; ou sejam,
postulados atribuídos a autores que nunca os defenderam. E provaremos com citações de
textos e daremos provas para confundir aqueles que gostam de mentir, e mentir para em-
baucar a boa fé dos inadvertidos.
Continuaremos com as mentiras históricas e iniciaremos em breve as filosóficas.
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POLÍTICA conduta, para que esta não temente, com os interesses co-
afronte ao que convém aos ou- letivos.
tros. Tudo isso sabemos e sa- E se isso não fôr verdade,
0 POR QUE DESTA SECCÍ0 bemos também que tudo isso,
mais ou menos, dizem saber
respondam a esta pergunta:
onde estão os verdadeiramen-
os políticos. Contudo, o que, te grandes pensadores da hu-
No programa deste jornal manidade que andaram fazen-
havia sido estabelecido um na verdade sabemos é o que
se dá na prática, que é visce- do política?
princípio programático: não Se algum grande o foi, o
se trataria de política, porque ralmente o inverso do que se
diz, já que os políticos têm si- foi apenas num instante de
não gostamos de tratar de coi- desfalecimento, ou num rom-
sas sujas. do mais um entrave ao bom
entendimento entre os inte- pante de idealismo em que
Depois, considerando os tre- julgou que a política era o
mendos estragos que os polí- resses dos particulares e os
da coletividade: uns provoca- caminho seguro para fazer o
ticos realizam num país, e co- bem de seu semelhante. E por
rno entre nós sua ação nefasta dores de questões que não pre-
cisavam surgir, e uns criado- outro lado responda-se, tam-
é das mais terríveis, fomos bém, a esta pergunta: os
forçados a tratar dela, como res de crises das mais nefas-
tas aos interesses de todos, maiores bemfeitores da Hu-
iremos fazer nesta página. Se- manidade, os que maior soma
remos obrigados, tapando o menos deles, políticos, quase
sempre. de bens criaram para os ho-
nariz, e vencendo os engulhos mens, não foram precisamente
que nos provoca, tratar dessa O que se tem visto, e a boa
caracterologia pode mostrar, não políticos?
coisa suja e torpe que se cha- Estas duas perguntas de-
ma política, o maior entrave é que, na maioria das vezes,
buscam a política aqueles fa- vem fazer meditar quem pro-
para o progresso humano. cura saber o que na verdade
Mas o faremos, não para fa- lhos de prestígio pessoal, que
sofrem de qualquer deficiên- é a política, e porque não po-
.zer política, porque despreza- demos nos alinhar ao lado dos
mos os cargos públicos, mas cia quanto ao seu valor na-
tural, e que buscam nas ati- que lhe prestam homenagens,
apenas para denunciar a sua e porque teremos, inevitavel-
deletéria ação, seus efeitos re- tudes e nos cargos do políti-
co, o que lhes dê um prestígio mente, de, nesta meia página,
pugnantes, para tentarmos buscar tratar de algum aspe-
despertar em alguns, pelo me- que, por si sós, não são capa-
zes de gozar e, na prática, to geral, tecendo-lhe as críti-
nos, um melhor faro e uma cas que se impõem, e pondo a
sensibilidade mais acurada, vão mostrar que sabem muito
bem como conciliar os seus nu o que, na verdade, é essa
para que sintam o cheiro nau- arte de enganar os povos e de
seabundo que ela exala, que interesses pessoais com o car-
go que ocupam, sem se preo- conquistar o poder, e conser-
nem todas as narinas são ca- vá-lo à custa seja do que fôr.
pazes de sentir. cuparem muito, senão aparen-
Pois bem, quem tiver nari- lições aos que conhecem a
nas de tom cheirar, que chei-
re. . .
OS NETINHOS DA FILOSOFIA matéria melhor que eles. Vem
descobrir coisas já velhas e
Quando alguém é avó conhe- descobertas, e, pior, já pos-
POLÍTICA O QUE DEVERIA tas na lata de lixo, que eles
SER, MAS O QUE NA ce uma das mais deliciosas ex-
periências. É a dos netinhos vão remexer e apresentar co-
REALIDADE É mo novidades estupendas. São
que lhe dão conselhos, ou que
Sem dúvida, sabemos nós o pretendem explicar-lhe coi- os netinhos da filosofia mo-
que deveria ser a política, co- sas que êle conhece de sobe- derna. . .
mo muitos políticos também No futuro, iremos mostrar
jo. «Vovô não ande na chuva,
dizem que sabem o que é. Sa- as suas inúmeras ingenuida-
que faz mal...» ou «ah! isso des. Mas há uma diferença: é
bemos que para conduzir os é assim, vovô. Vou ensinar ao
polloi, os muitos na polis, na que a ingenuidade infantil é
cidade, é mister uma certa senhor como é. . .» A ingenui- deliciosa, e a desses bárbaros,
habilidade para harmonizar dade infantil comove, traz casados, vacinados, é simples-
os interesses individuais com consigo uma beleza que provo- mente ridícula. Mas, assim
os coletivos, que inevitavel- ca emoções estéticas até. como os netinhos causam as-
mente colidem. Sabemos que Mas tudo isso, que é cheio sombro aos de sua idade,
o ser humano, em sua parte de beleza na criança, é cheio também esses adultos assom-
.social, não é tão grandemente de ridículo quando vemos pro- bram como Vascos da Gama,
desenvolvido que, no choque ceder assim adultos. Ê o es- descobridores de um novo
dos interesses entre o que é petáculo que oferecem esses mundo para outros de mente
de sua conveniência e o que é cavalheiros do Circulo de Vie- infantil de nossa época, que
da coletividade, não sacrifi- na e tios sub-circulos que pro- desconhecem, o que já se fêz
que o indivíduo o que é da co- liferam entre nós, desses lo- sobre a matéria.
letividade em benefício do que gísticos que não conhecem a Iremos apresentar em nos-
lhe é pessoal. Sabemos que há Lógica, e que, como outras sos números pérolas dos neti-
necessidade de regular a sua crianças, vêm dar conselhos e nhos da filosofia.
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Pág. n.° 14 O HOMEM LIVRE São Paulo, março de 1965
dirá com suas propriedades
Neo-Positivismo e Classificação específicas, nem com as ge-
néricas, por mais neo-positi-
Acidente é o que acontece do enquanto líquido. Ora, o vista e logístico que seja.
com a substância individual, líquido está para a água nu- Êle saberá que esta gota dá-
mas a propriedade, é o que ma relação de gênero para es- gua, enquanto água, tem tais
acontece com o gênero e com pécie. As propriedades, que propriedades; enquanto líqui-
as espécies, decorrentes destes são dadas ao líquido, devem do, tais outras propriedades,
acidentalmente, mas fundados também ser propriedades da enquanto mineralóide, tais
nas suas qüididades. água, já que a água é um lí- outras.
Para examinar o pensamen- quido, mas com uma diferen- E dirá que, por ser minera-
to de alguns cientistas, esta- ça específica. As propriedades lóide, tem estas propriedades;
beleçamos alguns comentá- da água são as propriedades porque é líquido, tem aquelas;
rios: do líquido, e mais as que são porque é água, tem estas ou-
qualquer cientista, na Quí- da sua especificidade. Qual- tras; e porque é esta gota
mica, por exemplo, sabe que a quer cientista, neste caso, sa- aqui, tem ainda estas.
água tem certas propriedades, be, se há um líquido neste pla- Êle não fará confusões nor-
como também as tem o líqui- neta, deve ter êle tais proprie- malmente. Agora se lhe Vie-
dades e as enumerará. rem dizer que tudo isso era
Êle saberá distinguir, na como os antigos lógicos clas-
ESTA Ê A NOSSA LUTA: água, as propriedades do seu sificavam, então desaba um
denunciaremos a moeda estado líquido e as que não temporal de mil demônios, e
falsa intelectual, a menti- são, e se a água deixar de êle passa a citar Bertrand
ser líquida, terá as proprie- Russell, Wittgenstein, Broad,
ra cheia de ouropéis, a fal-
sa cultura travestida de dades do sólido ou do gazoso Cassirer, Moore etc, para di-
pompas; etc. zer que nada disso tem fun-
Êle saberá, ainda, distin- damento.
contra o charlatanismo guir os acidentes desta gota
diplomado dos fariseus in- Mas, depois, no laboratório,
d'água aqui, que é esverdeada, continuará classificando como
I telectuais; mais grossa que aquela, que
contra a desesperança os antigos lógicos aconselha-
se acha à borda desta mesa, vam, embora usando outros
infundada, a confusão pro-
enquanto aquela está suspen- termos, e estando convencido
positada e impelida pela sa numa folha de árvore, etc.
má intenção; que descobriu uma nova Amé-
contra as falsas razões Êle distinguira os acidentes rica das classificações. ..
sem fundamento; contra dessa gota e não os confun- Nicolau Bruno
os argumentos sem de- CSREBROS RETARDADOS zão), outros aos medicamen.
monstração; — UM PROBLEMA tos modernos, outros à ausên-
contra o domínio dos MODERNO cia de práticas mentais salu-
meios de publicidade por Psicólogos, pedagogos, psi- tares, outros à automatização
grupos, que representam quiatras, etc. responsáveis, da nossa vida, etc. Não va-
interesses inconfessáveis; que sentem ter um papel em mos, aqui, tentar discutir a
contra a valorização da relação à humanida.de, um de- matéria já, mas abrir a sua
astúcia, da malícia, do ver para os seus semelhantes, problemática, e solicitar a co-
mórbido, da especulação preocupam-se hoje, mais do operação dos nossos leitores
sobre os baixos valores; que nunca, com o processo para o assunto, dada a sua
contra a ignorância atre. progressivo do retardamento gravidade e extensão. Segun-
vida e auto-suficiente; mental que se observa de mo- do certos cálculos, se assim
contra a demagogia e as do tremendo na juventude prosseguir essa progressão,
falsas reivindicações so- moderna. Exames feitos sobre dentro de 30 a 50 anos forma-
ciais, que não representam os trabalhos intelectuais dos remos uma humanidade de
nenhuma elevação huma- jovens do século passado, com- imbecis, já que o número dos
na; parados com os que realizam débeis mentais cresce assusta-
contra as expressões un- hoje os nossos jovens, vêm doramente, com a progTessão
tuosas de falsa piedade na comprovar um índice crescen- não menor dos idiotas.
exposição do que é digno te de retardamento mental. Gostaríamos que nossas co-
para o homem; Os jovens do passado davam lunas não só abrigassem ma-
contra a tentativa de uma média intelectual supe- téria sobre o assunto, a pro-
impor, definitivamente, as rior. Não é de admirar que blemática que implica, bem
trevas sobre os homens! testes para crianças do pas.sa- como soluções oferecidas. Se-
Os que sentirem que a do não sejam respondidos no gundo o material recebido,
nossa luta também é a de- mesmo grau por alunos de daremos uma ordem à publi-
les, que marchem, juntos cursos superiores. Por que tal cação da matéria, pois nosso
conosco e juntos conosco degenerescência se dá? intuito é contribuir para que
combatam no mesmo cam- A essa interrogação há tal índice desça, e que não nos
po de batalha! muitas respostas. Uns acusam abismemos num oceano de es-
a pedagogia (e têm muita ra- tupidez.
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Mário Ferreira dos San-
DO BREVIARIO DO DO BREVIARIO DO
HOMEM LIVRE RATO
(continuação)
O ar das montanhas revigora os pulmões. O ar dos esgotos é o mais agradável. Nada
Ê preciso ascender às alturas. como remexer as imundícies.
O homem pode construir a sua personalida- Nada como deixar à solta os seus instintos,
de, animado pelo anelo do amor, com a viver a vida como ela é, sem tentar mo-
vontade assistida pela razão. dificá-la. Um queijo é o paraíso. . .
Não somos guiados exclusivamente por leis Somos apenas o resultado de um jogo de
mecânicas. Somos uma vida capaz de al- forças, de reações a estímulos exteriores
cançar a liberdade, e traçar destinos pa- e interiores, cuja liberdade é apenas uma
ra si mesma. quimera.
O alimento da alma é a vitória, vitória so- A alma não existe; o que há é o estômago.
bre si mesmo. Empanturrem-nos. Esta é a nossa glória
e a nossa beatitude.
As.sim fala o Homem Livre. Assim fala o Rato.
Foi composto e impresso na Gráfica e Editora Minox à Av. Conceição, 645
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