Você está na página 1de 4

Nome: Luíza Olimpio Ramos Pinto

Obra Comentada: Macbeth

Tema Escolhido na Obra: O embate entre a ética cristã e a tirania e seus efeitos no
direito positivado

Desenvolvimento:

William Shakespeare era um autor britânico que escreveu a maior parte de suas
peças durante a era elisabetana e o reinado de Jaime Stuart. Dessa forma, percebe- se
o contexto de alta intolerância religiosa, visto que esses dois monarcas foram
conhecidos por perseguirem católicos e instaurarem com força o anglicanismo na
Inglaterra. Entretanto, apesar da rigidez dos governos Tudor/Stuart, ainda houve
revoluções como, primeiramente, a de Mary I, rainha da Escócia que pretendia tomar
o trono inglês da prima para retomar o catolicismo, e a da Pólvora, em que houve uma
tentativa de assassinato contra o Rei Jaime e os membros do Parlamento em prol da
liberdade religiosa.

Nesse sentido, Shakespeare, inspirado pelas observações do embate tirania


versus ética cristã (apesar de, muitas vezes, não respeitar a liberdade alheia, ainda
defendia um mínimo Código Bíblico), escreveu a peça Macbeth, que narrava o embate
entre um tirano (Macbeth) e dois defensores da liberdade (Malcolm e McDuff).

Narra-se que Macbeth, um prestigiado general escocês, recebeu uma profecia


de três bruxas de que em algum momento se tornaria rei da Escócia. Seu amigo
Banquo, em contrapartida, nunca se tornaria monarca, mas seus descendentes sim.
Mesmo sendo inicialmente cético, Macbeth, influenciado por sua ambiciosa mulher
Lady Macbeth, começa a ter aspirações ao trono. Assim, quando o Rei da Escócia
Duncan os visita, Macbeth o assassina e sua mulher incrimina os guardas que estavam
alcoolizados. Temendo por suas vidas, os filhos do rei fogem do país e Macbeth, por
ser um parente próximo, é coroado rei.

Com medo de perder o poder, Macbeth torna-se cada vez mais tirânico.
Contrata assassinos para matar Banquo e seu filho Fleance, conseguindo matar o
primeiro, mas falhando no segundo. Tudo isso faz com que o novo Rei da Escócia
passe a ter alucinações com seu antigo amigo. Em consequência, visita novamente as
três bruxas que lhe dão novos avisos: cuidado com McDuff, um outro nobre escocês;
nenhum homem nascido de uma mulher pode prejudicá-lo. E sua segurança será
realizada até que a Grande Madeira Birnam chegue ao Monte Dunsinane. Com essas
novas profecias, Macbeth assassina todos os parentes de McDuff, menos o próprio, que
não estava em seu castelo na hora da chacina.

Lady Macbeth, exaurida pela culpa, comete suicídio. McDuff se junta com
Malcolm, filho de Duncan, e usando dos galhos da árvores da Birnan Wood, se
camuflam e conseguem atacar Macbeth, desse modo, cumprindo o que as bruxas
profetizaram. McDuff, nascido de uma cesariana, mata Macbeth. Através do Rei Jaime
I, os descendentes de Banquo, se tornaram reis.

Ao observar o enredo de Macbeth, percebe-se que o contexto em que a peça foi


escrita reflete em seu enredo. Dessa forma, assim como os reis da Inglaterra tinham
poderes para decretar perseguições, Macbeth ordenava genocídios como o da família
McDuff e saía impune, uma vez que era monarca. Isso se dava pelo cenário absolutista
em que a peça foi escrita, em que os reis acreditavam que eram a lei, como enunciado
por Luís XIV, da França, o Rei Sol, em sua famosa frase, “L´État C´est Moi” ou
traduzido, “O Estado sou eu”.

Dessa forma, percebe-se que os monarcas detinham todo o poder e agiam de


forma tirânica. Entretanto, por uma ética cristã remanescente nas sociedades ocidentais,
é possível dizer que existia um paradoxo dentro do corpo social entre a obediência à
ordem positivada ou à ordem divina, que exigia dos cidadãos uma determinada
compaixão. Mesmo os reis eram submetidos ao Código de Ética de Jesus Cristo, uma
vez que, mesmo nessa época, Deus era o representante da principal força existente,
sendo sempre primordial viver sob as leis de Deus nos olhos do corpo social dos
Estados Modernos.

Relação com casos ou discussões atuais:

O embate entre a ética cristã e a tirania e seus efeitos no direito positivado,


apesar de ser oriundo desde os tempos do Estado Moderno, é um fenômeno que
repercute até a atualidade. Logo, percebemos o exemplo da Primavera Árabe, uma
onda de protestos ocorridas no norte da África e no Oriente Médio que destituiu
diversos governos ditatoriais de cunho fundamentalista religioso.
Um exemplo famoso de um país que sofreu os efeitos da Primavera Árabe foi o
Egito. Denominada também de Revolução do Nilo, Dias de Fúria ou Revolução de
Lótus, teve como principal característica a luta contra a ditadura autoritária de Hosni
Mubarak, que ficou desde 1981 a 2011 no poder da nação mulçumana. Dessa forma,
após a onda de protestos, o tirano renunciou, finalmente, ocorrendo eleições livres no
país. Entretanto, o eleito pela população, Mohamed Morsi, logo foi deposto por um
golpe militar em 2013. Desde então, o país vive grande instabilidade política.

Pode-se fazer um paralelismo entre a situação do Egito com Macbeth. Se for


feita uma comparação, percebe-se que tanto o tirano escocês quanto Hosni Mubarak se
utilizaram da premissa de se considerarem um uno quanto ao Estado, sendo sua
palavra a principal fonte do direito, para se manterem no poder e instaurem o terror e
o fim da liberdade. Ainda, vê-se na figura dos manifestantes, o papel de McDuff e
Malcolm, como figuras que trouxeram novamente a liberdade ao local em questão.
Nesse sentido, até a instabilidade política e o novo golpe militar podem ser
representados por Malcolm em seu diálogo com McDuff:

“Esto1u falando de mim mesmo, pessoa de quem conheço todos os vícios, dos maiores aos
menores, vícios esses tão bem nutridos que, ao amadurecerem, farão o negro Macbeth
parecer impoluto como a neve recém-caída. E o pobre Estado terá por ele estima, como
um cordeirinho, se comparado com minhas ilimitadas iniquidades.”

Dessa forma, entende-se que até mesmo o mais puro dos heróis pode ser
corrompido. Assim, vê-se Malcolm nesse trecho em específico, no intuito dos rebeldes
que instauraram uma instabilidade política, mesmo tendo as melhores intenções de
criar uma democracia sólida.

Ainda, percebe-se que o debate entre a ética religiosa e o poder são presentes
nas duas sociedades. Em Macbeth, registra-se a questão do misticismo e da religião
amplamente presente, sendo que o protagonista enlouquece justamente por ter uma
Ética Cristã que condena suas ações. Já na sociedade egípcia, tem-se a lógica do
Alcorão como principal bula moral da sociedade. Assim, vê-se que novas
interpretações do Livro Sagrado mulçumano podem ter sido vitais para incitarem
revoltas em busca de mais liberdade.

1
SHAKESPEARE, W. Macbeth. Trad. de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM
Pocket, 1988.
Conclusões:

Conclui-se que independentemente do momento histórico, a exemplo do


observado em Macbeth ou mesmo na Primavera Árabe em 2011, é possível ter-se
presente o déspota que se utiliza da religião ou mesmo da tirania para manter o poder,
não obstante, sob também o manto de preceitos religiosos (ética), pode-se realizar o
caminho inverso, munindo sujeitos de forças contrárias à tirania, em favor do
restabelecimento do direito.

REFERÊNCIAS:

GHIRAHDI, José Garcez. Somos todos rematados canalhas: notas sobre a vingança e
a justiça em Macbeth. Disponível em < Dialnet-SomosTodosRematadosCanalhas-
5771544.pdf >

LUZ, Camila. Primavera Árabe: O que está acontecendo no Oriente Médio?


Disponível em < Primavera Árabe: o que aconteceu no Oriente Médio? | Politize! >

MENDES, Eliana Pereira Rodrigues. Macbeth: Entre o ideal e a ambição. Disponível


em < Macbeth, entre o ideal e a ambição (bvsalud.org)>

SIMÕES, Rogério. O que foi e como terminou a primavera árabe. Disponível em < O
que foi e como terminou a Primavera Árabe? - BBC News Brasil>

SHAKESPEARE, W. Macbeth. Trad. de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM


Pocket, 1988.

Você também pode gostar