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Petróleo Brasileiro S. A.
Exercícios 2018-2019
6 de janeiro de 2021
Controladoria-Geral da União (CGU)
Secretaria Federal de Controle Interno (SFC)
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
Órgão: Ministério de Minas e Energia
Unidade Examinada: Petróleo Brasileiro S. A.
Município/UF: Brasília / DF
Relatório de Avaliação: 818785
Missão
Elevar a credibilidade do Estado por meio da participação social, do controle
interno governamental e do combate à corrupção em defesa da sociedade.
Avaliação
O trabalho de avaliação, como parte da atividade de auditoria interna, consiste
na obtenção e na análise de evidências com o objetivo de fornecer opiniões ou
conclusões independentes sobre um objeto de auditoria. Objetiva também
avaliar a eficácia dos processos de governança, de gerenciamento de riscos e de
controles internos relativos ao objeto e à Unidade Auditada, e contribuir para o
seu aprimoramento.
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO O principal objetivo da auditoria foi contribuir
REALIZADO para o ajustamento da auditada às práticas de
transparência para participação em políticas
PELA CGU? públicas definidas pela Lei das Estatais, bem
como às melhores práticas
Auditoria sobre as
internacionalmente reconhecidas sobre o
participações da Petrobras
tema, apresentadas no documento “Diretrizes
em programas de governo e
da Organização para a Cooperação e o
outras atividades da empresa
Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre
que, preliminarmente,
governança corporativa de empresas estatais
poderiam cumprir funções
(edição 2015)”.
normalmente atribuídas a
políticas públicas.
Contemplou os seguintes
subtemas:
QUAIS AS CONCLUSÕES
(1) Atividades equivalentes a
ALCANÇADAS PELA CGU? QUAIS
políticas públicas, realizadas AS RECOMENDAÇÕES QUE
por iniciativa da auditada, DEVERÃO SER ADOTADAS?
imposição legal, demanda do
governo federal etc.; Foi verificado que as Cartas Anuais (2018 e
2019) informaram as bases legais das
(2) Comunicação, na Carta participações em políticas públicas, mas não
Anual de Políticas Públicas e atenderam completamente aos requisitos de
Governança Corporativa, transparência propostos no modelo de
sobre as participações da documento da Secretaria de Coordenação e
empresa na execução de Governança das Empresas Estatais (SEST).
políticas públicas; Além disso, há oportunidades de melhoria no
(3) Regras e procedimentos processo de apuração de custos decorrentes
para apuração de custos e da participação da empresa no Programa
receitas decorrentes das Prioritário de Termeletricidade (PPT). A carta
referidas participações; evidencia, ainda, que estes custos, de elevada
materialidade, não são ressarcidos. A partir
(4) Reflexo das participações
destes achados, a CGU recomendou elaborar
nas demonstrações contábeis
estudos para verificar a viabilidade de haver
divulgadas pela empresa.
ressarcimento pelo fornecimento de gás às
usinas do PPT com preços regulados, bem
como para aprimoramento da metodologia de
apuração dos custos, hoje não ressarcidos.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO 6
RECOMENDAÇÕES 16
CONCLUSÃO 17
ANEXOS 18
Este relatório trata de auditoria, realizada entre fevereiro e novembro de 2020, sobre as
participações da Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A.) em programas governamentais e outras
atividades da empresa que, preliminarmente, poderiam cumprir funções normalmente
atribuídas a políticas públicas. Então, para uma visão abrangente, foram exploradas
informações sobre os exercícios de 2018, 2019 e 2020 (estimativas).
A principal referência normativa foi a Lei nº 13.303/2016 (art. 8°, §2°), ao dispor que as
empresas estatais não devem realizar atividades equivalentes a políticas públicas sem
compromisso formal com ente público competente. Mas, para contribuir com o ajustamento
às melhores práticas internacionalmente reconhecidas, foram consideradas também as
orientações do documento “Diretrizes da OCDE sobre governança corporativa de empresas
estatais (edição 2015)”, divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE). A terceira referência foi o Pronunciamento CPC 5(R1)/2010, orientação do
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que trata da divulgação sobre “partes
relacionadas” (conceito que abrange a relação entre a auditada e o governo federal, inclusive
as participações em políticas públicas), cuja aplicação é obrigatória para as companhias
abertas (Deliberação CVM 642/2010).
Os trabalhos na auditada, que foi selecionada por ser uma das cinco sociedades de economia
mista federais com maior participação de particulares no capital social, trataram dos seguintes
subtemas:
6
e) divulgação, na Carta Anual da holding, sobre as origens dos recursos e os impactos
das participações em políticas públicas;
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RESULTADOS DOS EXAMES
As políticas declaradas na Carta Anual foram adequadamente descritas com relação aos
seguintes aspectos:
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c) comunicação sobre os impactos econômico-financeiros das atividades nos resultados
da Petrobras, embora para o PPT essa comunicação seja indireta (em 2018, gerou
receitas de aproximadamente R$ 889 milhões e custos de R$ 2.276 milhões e, em 2019,
receitas de aproximadamente R$ 1.235 milhão e custos de R$ 2.341 milhões).
Não foi identificado, na Carta Anual (2018 e 2019), o atendimento ao modelo da SEST quanto
à apresentação de comentários sobre o desempenho da empresa em relação às políticas
públicas, com destaque para métricas, objetivas e mensuráveis, sobre os “benefícios
efetivamente percebidos pela sociedade” e a eficiência na gestão dos custos envolvidos de
cada participação em políticas públicas.
Para o PPT não cabe à empresa estabelecer metas, pois ela vai, essencialmente, depender do
consumo das usinas, o que por sua vez depende do despacho do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS). Já para o Conpet, poderiam ser apresentadas as métricas do programa
em si, e em que medida a Petrobras contribui para o seu atingimento.
Dessa forma, em que pese a Petrobras não ser responsável direta pelos programas, ela deveria
explicitar, nas suas Cartas Anuais, as metas definidas pelo Ministério supervisor para o
atingimento dos objetivos das políticas públicas das quais a companhia participa.
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1.2. Inexistência de Políticas Públicas não declaradas na Carta Anual
Como resultado desses esforços, não foi constatada atividade equivalente a política pública
realizada por iniciativa recente da Petrobras.
Para o Conpet é realizada a estimativa e apuração de gastos com mão de obra própria (HH),
serviços de terceiros, viagens e materiais por meio do Sistema de Planejamento Orçamentário
(SIPO) e do Sistema SAP/R3. O procedimento se mostrou suficiente para apuração dos seus
custos.
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Os custos utilizados no cálculo da molécula de gás fornecida às termelétricas que compõem a
carteira do PPT são uma composição de vários outros custos:
A partir da metodologia acima, foi apurado que o fornecimento de gás às usinas do PPT, em
2018, gerou receitas de aproximadamente R$ 889 milhões e custos de R$ 2.276 milhões e, em
2019, receitas de aproximadamente R$ 1.235 milhão e custos de R$ 2.341 milhões.
A premissa adotada pela Petrobras de que 80% do gás é importado e que apenas 20% é
nacional é baseada na Portaria MME/MF nº 234/2002, que estabeleceu, para as usinas
participantes do PPT, preço máximo e regra para reajuste baseados nesta composição para
origem do gás1. Entretanto, passados mais de 16 anos da existência do Programa e da entrada
em operação das UTE’s Termopernambuco, Norte Fluminense e Termofortaleza é esperado
que o gás importado não corresponda mais a 80% do fornecimento ao parque de térmicas.
Em sua manifestação ao relatório preliminar, a Petrobras esclareceu que como o gás natural
é um bem fungível e que não é possível identificar a origem física do gás que é entregue a um
determinado cliente conectado à malha integrada de transporte, adotou-se a premissa citada
acima para valoração dos custos. Duas alternativas citadas pela companhia, para o cálculo do
custo de fornecimento de gás para as usinas do PPT, poderiam ser a aplicação do custo médio,
pela sua simplicidade, ou pelo custo de oportunidade, sendo a diferença a ser percebida pela
Petrobras correspondente à diferença entre o preço PPT e o preço do gás natural praticado
para clientes com perfil de consumo semelhante às usinas do PPT, cujos contratos, porém,
tenham sido celebrados fora do âmbito do Programa.
Não fez parte do escopo da presente auditoria a análise do custo de atividades específicas ou
a conferência de registros e cálculos da participação da Petrobras em políticas públicas, ou
seja, não foi realizada a análise, caso ela fosse ressarcida pelo governo por sua participação
em políticas públicas, se ela estaria recebendo a mais ou a menos do efetivamente devido.
Apesar disso, tendo em vista que a Carta Anual é um instrumento de transparência, entende-
se relevante a elaboração de estudo para verificar, dentre as metodologias citadas, qual
representa de forma mais adequada os custos da participação da Petrobras no PPT. Considera-
1
80% do reajuste com base na variação cambial e no índice de preços ao atacado no mercado dos EUA (PPI –
Producer Price Index) e 20% pela variação do IGPM – FGV.
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se, ainda, que a metodologia para apuração do custo deve ser formalizada, por meio de norma
interna que positive metodologia atualmente utilizada para o PPT. Em caso de adoção de nova
metodologia, que seja aplicável para os demais clientes de gás natural, a exemplo do cálculo
do custo médio, pode-se prescindir de norma específica para apuração de custo do PPT.
Os exemplos que acompanham o referido pronunciamento do CPC, mas não são sua parte
integrante, deixam clara a natureza do relacionamento:
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e percentual de custo da infraestrutura de GNL encontram-se na rubrica de custo de produto
vendido, CPV; e (iii) os gastos de transporte dutoviário e percentual da infraestrutura de GNL
encontram-se na rubrica despesa de vendas. Todavia, para ambos os casos essas informações
dos programas não estão dispostas, de forma segregada, na DFP, prejudicando a
transparência e entendimento dos usuários das demonstrações contábeis.
O Formulário de Referência, instituído pela CVM, e um dos principais documentos para
prestação de informações periódicas aos investidores de uma companhia aberta, tem o seu
item 16 especialmente dedicado às transações com partes relacionadas (TPR). O critério de
materialidade para divulgação de uma TPR no Formulário, estabelecido pelo CAE é de R$ 1,5
bilhões. Também neste documento, as políticas mencionadas não são tratadas como
transações com a União.
Conforme documentação recebida, não há, no âmbito do Conpet e do PPT, contratos firmados
com a União, sendo que o amparo para a participação da Petrobras vem diretamente da
legislação. Sobre o PPT, a Petrobras se comprometeu com a garantia de suprimento a que
fariam jus os empreendimentos enquadrados no Programa por meio da celebração de
contratos de compra e venda de gás natural diretamente com os respectivos produtores
independentes de energia elétrica, sem a participação da União.
Embora a demanda da Lei nº 13.303/2016 possa ser acusada de mera formalidade, diante da
existência de leis estabelecendo a participação da Petrobras nos referidos programas, a
ausência de instrumento contratual não se trata de algo facultativo, pois o inciso mencionado
não coloca o contrato como alternativa à existência de base legal, mas como complemento
necessário. Adicionalmente, na ausência de contrato, a auditada fica desprovida de
instrumento que estabeleça alguma “equidade” entre as partes, útil para demandas
relacionadas ao equilíbrio econômico-financeiro como será tratado no próximo achado (em
relação ao PPT, a existência de contratos com as termelétricas não impede a Petrobras de ter
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prejuízos). Por outro lado, na perspectiva do governo, a ausência de contrato gera carência de
regras para aplicação de sanções punitivas e premiais relacionadas ao cumprimento de
obrigações.
Ressalta-se que o inciso legal citado menciona que deve existir contrato ou instrumento
congênere entre União e Petrobras, pois esta assume obrigação, onerosa, associada à sua
participação em política pública determinada pelo controlador. Desta forma, no que tange ao
PPT, não é suficiente a existência de contratos firmados entre a Petrobras e as termelétricas.
Cabe reconhecer, porém, que ambos os programas decorrem de normativos cuja vigência é
anterior à Lei nº 13.303/2016 e que a auditada não pode, sozinha, solucionar a pendência de
formalização contratual, necessitando da disposição de outros atores do governo federal.
Além das diretrizes da OCDE, para atender aos requisitos legais (Lei nº 13.303/16 e Decreto
nº 8.945/16) e regulatórios (Ofício-circular CVM/SEP nº 1/2017) que determinam a
explicitação dos compromissos realizados para consecução de objetivos de políticas públicas,
bem como dos recursos e dos impactos financeiros, a Petrobras, em dezembro/2017,
promoveu a alteração do seu Estatuto Social de forma a explicitar o relevante interesse
coletivo que justificou sua criação e que orientações de governo não poderiam colocar em
risco sua rentabilidade e sustentabilidade financeira. Ficou estabelecido que caberá à União a
compensação, anualmente, pela diferença entre as condições de mercado e o resultado
operacional ou retorno econômico da obrigação assumida.
Sobre o Conpet, foram aplicados R$ 865 mil em 2018 e R$ 689 mil, em 2019.
Não existem estudos internos e/ou pareceres (inclusive jurídicos), sobre a possibilidade ou
inviabilidade de a Petrobras demandar, ao governo federal, compensação pela sua atuação
nas políticas públicas declaradas na Carta Anual.
Trata-se de uma relevante perda que é suportada pelo caixa operacional da empresa e que
ainda deverá ocorrer nos próximos anos, tendo em vista a vigência dos contratos ainda
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existentes firmados em base PPT: UTE Termopernambuco (2024), UTE Norte Fluminense
(2024) e UTE Termofortaleza (2023)2.
A Tabela 1 apresenta os valores incorridos pela Petrobras na participação das duas políticas
públicas declaradas em sua Carta Anual para o período de 2017 a 2019.
Vale ressaltar que essas obrigações foram assumidas anteriormente à Lei das Estatais e às
alterações de seu Estatuto Social promovidas em dezembro/2017. No entanto, considerando
as diretrizes da OCDE, da Lei das Estatais e o próprio Estatuto da Petrobras, como foi o governo
quem deu causa ao custo, ele deve ressarcir a estatal. Defende-se aqui a aplicação de um
princípio geral, de que as estatais devem deixar de financiar políticas públicas. Não se trata
especificamente de discussão sobre renegociação dos contratos com as termelétricas, mas
sim de ressarcimento à estatal, pela União, em função de subsídio implícito nos contratos do
PPT.
2
Obrigação de fornecimento de gás natural em razão de decisão judicial provisória.
3
Formulário de Referência 2020, v.3
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RECOMENDAÇÕES
1 – Explicitar, nas próximas Cartas Anuais, as metas definidas pelo Ministério supervisor para
o atingimento dos objetivos das políticas públicas das quais a companhia participa.
Achado n° 1
2 – Elaborar estudo para verificar a metodologia que melhor se adequa à apuração de custos
do Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT), considerando, dentre outras aplicáveis, a
metodologia atual, a de custo médio e a de custo de oportunidade.
Achado n° 2
4 – Elaborar estudo para verificar a viabilidade de haver ressarcimento, por parte do governo
federal, e buscar soluções, junto ao governo federal e/ou à Aneel, para que a empresa passe
a ser ressarcida pelos custos que venha a incorrer em decorrência da legislação do Programa
Prioritário de Termeletricidade (PPT) e do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos
Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet). Caso se verifique o direito ao ressarcimento,
reavaliar o enquadramento de tais participações em políticas públicas como transações com
partes relacionadas, conforme Pronunciamento CPC 05(R1)/2010.
Achado n° 5
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CONCLUSÃO
Como resultado da presente auditoria, não foi constatada atividade equivalente a política
pública realizada por iniciativa recente da Petrobras.
Foi verificado que as Cartas Anuais (2018 e 2019) declaram a participação da Petrobras em
duas políticas públicas, informando as bases legais das participações, mas não atenderam
completamente aos requisitos de transparência propostos no modelo de documento da
Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST). Além disso, há
oportunidades de melhoria no processo de apuração de custos decorrentes da participação
da empresa no Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT).
Em geral, as falhas apontadas são eventuais (pontuais) e, por isso, poderão ser corrigidas com
a atenção dos gestores ao que está registrado. Outros achados, que têm causas externas à
auditada, contribuirão para a busca de soluções junto à SEST/ME e ao MME.
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ANEXOS
Achado nº 1
Nesse sentido, o estabelecimento de meta física com base no volume fornecido para as usinas
do PPT não refletiria os benefícios efetivamente percebidos pela sociedade, de forma que a
métrica proposta não seria adequada a essa finalidade. Ademais, considerando que as usinas
integrantes do Sistema Interligado Nacional – SIN são despachadas em função das condições
hidrológicas vigentes, de forma a permitir a gestão dos estoques de água armazenada nos
reservatórios das usinas hidrelétricas e assegurar o atendimento futuro, o estabelecimento
de meta física com base no volume fornecido pela Petrobras pode vir a gerar um sinal
equivocado em relação ao despacho ótimo do ONS.
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companhia por meio de métricas objetivas e mensuráveis, além de estabelecer metas para os
programas nos quais participa, a Carta Anual é um documento de prestação de contas próprio
das estatais focado em políticas públicas e governança, assim como o Relatório de Gestão é
para os órgãos da Administração Direta.
A Petrobras deve buscar as informações sobre metas dos programas junto ao Ministério
supervisor, responsável pelos programas, para que possa, dessa maneira, atender ao que é
solicitado no modelo de Carta Anual estabelecido pela SEST.
Achado nº 2
Pelo fato de ser caracterizado como um bem fungível, não é possível determinar a origem
física do gás natural que é entregue a um determinado cliente que esteja conectado à malha
integrada de transporte. Sendo assim, no caso de avaliações relativas ao suprimento de gás
natural a clientes individualizados, faz-se necessário arbitrar um critério de alocação para a
valoração dos custos e, por consequência, o resultado do referido contrato.
No caso do PPT, a Petrobras fez a opção de adotar a premissa explicitada pela Portaria
Interministerial MME/MF nº 234/2002 de 22/07/2002 para definição do preço a ser aplicado,
que, por sua vez, considerou que, na concepção do Programa, 80% do volume de gás
destinado à geração termelétrica seria lastreado na importação e 20% seria de produção
nacional.
A referida premissa permite sinalizar o atual descasamento entre o preço de venda do gás
natural baseado na referida Portaria Interministerial e o custo do gás natural no mercado
nacional e internacional que, de forma não esperada, disparou a patamares que não puderam
ser previstos quando da celebração dos contratos PPT.
Alternativamente, poderia ser feita a aplicação do custo médio, por simplicidade, ou ainda se
buscar a mensuração com base no custo de oportunidade. Nesse caso, a diferença a ser
percebida pela Petrobras corresponderia à diferença entre o preço PPT e o preço do gás
natural praticado para clientes com perfil de consumo semelhante às usinas do PPT, cujos
contratos, porém, tenham sido celebrados fora do âmbito do Programa.
[item 2.1]
Entendemos, pela descrição no Relatório, que não existem melhorias a realizar nos
procedimentos relativos ao Conpet, posto que a metodologia de previsão e apuração,
baseadas nas normas gerais da empresa, é suficiente para apuração dos custos.
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Análise da equipe de auditoria
Conforme apontado pela CGU, contudo, esta proporção não reflete, necessariamente, a
proporção utilizada pela Petrobras para fornecimento do gás para todos os clientes, incluindo
aqueles que compõem a carteira do PPT. Como se trata de um produto típico da empresa, é
preciso apenas que haja norma sobre apuração de custos que contemple a “apreciação” de
gás em geral. Assim, uma solução mais adequada seria utilizar a norma geral já existente, em
substituição à metodologia específica para o PPT.
Achado nº 3
Essa Portaria está no contexto do Decreto nº 3.771, de 24/02/2000, que instituiu o PPT,
estabelecendo (alínea I do Art. 2º) que as usinas integrantes do Programa fariam jus à garantia
de suprimento de gás natural, pelo prazo de até 20 anos, de acordo com as regras a serem
estabelecidas pelo MME, a quem cabe a coordenação do PPT.
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Assim, à Petrobras cabe o cumprimento da legislação e dessa forma o atendimento do
programa do governo federal. Logo, pelas razões expressas, não entendemos adequado o
enquadramento do programa em si como uma Transação com Parte Relacionada.
(...)
Critérios de materialidade
2- A Instrução CVM 480 de 2009 determina que devem ser comunicadas transações com
partes relacionadas, cujo valor total supere o menor dos seguintes valores: I) R$50.000.000,00
(...); ou II) 1% (um por cento) do ativo total do emissor. A Política de Transações com Partes
Relacionadas da Petrobras, em seu item 4.4 reforça os ditames da instrução CVM 480/2009;
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3- O capítulo 16.4 do FRE indica o critério de materialidade de R$ 1,5 bilhões para as TPRs
divulgadas no referido documento. Este critério de materialidade é definido pelo Conselho de
Auditoria Estatutário.
Há uma divergência de interpretação da norma pela CGU e pela Petrobras de que a simples
existência do PPT e do Conpet não significa uma transferência de qualquer ativo ou obrigação
para a Petrobras, tendo em vista que, como ela mesmo apresenta em sua manifestação, o CPC
05 estabelece que “Transação com parte relacionada é a transferência de recursos, serviços
ou obrigações entre uma entidade que reporta a informação e uma parte relacionada,
independentemente de ser cobrado um preço em contrapartida” (grifo nosso), é justamente
o que acontece com os dois programas.
Por força de dispositivos legais, a Petrobras é obrigada a fornecer gás a um preço fixo para
determinadas termelétricas e, também, a participar das ações do Conpet sem receber
nenhum tipo de ressarcimento.
A interpretação de que uma imposição normativa do poder executivo federal, por meio
decreto, descaracterizaria a situação de transação com parte relacionada é insuficiente, pois,
caso se trate de regra que estabeleça obrigação específica para a empresa estatal, estaria
caracterizada a imposição de obrigação do controlador para a empresa.
Achados nº 4 e 5
No que se refere ao achado n° 5 [passou a ser o nº 4], o relatório preliminar indica que, em
cumprimento ao disposto no art. 8°, §2°, inciso I da Lei nº 13.303/2016, a Petrobras deveria
formalizar contratos com a União referentes às participações em políticas públicas,
especialmente em relação ao PPT e ao Conpet.
(...)
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(...)
Nesse contexto, cumpre esclarecer que o Conpet é um programa cuja criação data de 1991,
via decreto presidencial, e o PPT foi criado pelo Decreto nº 3.371, de 24/02/2000, ou seja,
ambos os programas decorrem e obedecem a atos normativos cuja vigência é anterior à Lei
das Estatais, às alterações pertinentes realizadas em relação ao Estatuto Social e às Diretrizes
da OCDE, estas últimas ainda sem a anuência do governo brasileiro.
Neste ponto, cabe destacar o que dispõe o artigo 91, §3º, da Lei 13.303/16:
Decerto, ao destacar, no art. 91, § 3º, a aplicação da “legislação anterior” quanto à regência
de procedimentos licitatórios e contratos iniciados ou celebrados no período prescrito,
reconhece o legislador os princípios constitucionais da vedação à surpresa como decorrência
da confiança legítima, da segurança jurídica e do ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI,
CRFB/1988).
Registra-se que a eventual utilização de meios judiciais para buscar o ressarcimento dos
supostos danos causados à Petrobras pode causar sérios prejuízos para a Companhia,
especialmente em relação à sucumbência em eventual insucesso da demanda.
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Cabe registrar que não houve a indicação por parte da equipe de auditoria de que, diante de
eventuais conflitos com a legislação nacional, a auditada optasse pelas diretrizes da OCDE. As
ponderações trazidas foram acatadas e serviram para a modificação das recomendações que
constavam do relatório preliminar.
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