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RELATÓRIO DE APURAÇÃO

JANDIRA GABINETE PREFEITO


Exercícios 2018 e 2019

19 de dezembro de 2019
Controladoria-Geral da União - CGU
Secretaria Federal de Controle Interno

RELATÓRIO DE APURAÇÃO
Órgão: MINISTÉRIO DA SAÚDE
Unidade Examinada: SECRETARIA MUNICIPAL DE JANDIRA
Município/UF: Jandira/São Paulo
Ordem de Serviço: 201900743
Missão
Promover o aperfeiçoamento e a transparência da Gestão Pública, a
prevenção e o combate à corrupção, com participação social, por meio da
avaliação e controle das políticas públicas e da qualidade do gasto.

Apuração
O trabalho de apuração consiste na execução de procedimentos com a
finalidade de averiguar atos e fatos inquinados de ilegalidade ou de
irregularidade praticados por agentes públicos ou privados, na utilização de
recursos públicos federais.
POR QUE A CGU REALIZOU ESSE
QUAL FOI O TRABALHO?
TRABALHO Os trabalhos foram realizados devido à
REALIZADO criticidade inerente às parcerias da
Administração Pública com entidade do
PELA CGU? terceiro setor, uma vez que em Jandira/SP a
gestão do Pronto Atendimento Municipal é
Avaliação quanto à gerida pelo Instituto Brasileiro de Gestão
adequação das despesas Hospitalar – IBGH.
realizadas no Contrato de
Gestão nº 01/2018, firmado
entre a Prefeitura Municipal
de Jandira/SP e o Instituto
Brasileiro de Gestão
Hospitalar – IBGH. QUAIS AS CONCLUSÕES
Avaliação da regularidade dos
ALCANÇADAS PELA CGU? QUAIS
processos de contratação e de AS RECOMENDAÇÕES QUE
pagamento. DEVERÃO SER ADOTADAS?
Verificou-se não terem ocorrido os devidos
estudos que demonstrassem os ganhos de
eficiência para respaldar a opção pelo contrato
de gestão.
Ademais, observou-se inadequação nas
contratações efetuadas pela organização
social, além de falhas na comprovação do
cumprimento de metas e nos próprios serviços
médicos previstos no Contrato de Gestão.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAA - Comissão de Avaliação e Acompanhamento do Contrato de Gestão n.º 01/2018


CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
CPF - Cadastro de Pessoa Física
Cremesp - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Fenaesc - Federação Nacional das Entidades Sociais e Comunitárias
IBGH - Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar
Iages - Instituto de Apoio e Gestão à Saúde
Imapis - Instituto Marie Pierre de Saúde
INDSH - Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano
OS - Organização Social
PMJ - Prefeitura Municipal de Jandira
SMS - Secretaria Municipal de Saúde do município de Jandira
PAM - Pronto Atendimento Municipal
UPA - Unidade de Pronto Atendimento
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7

RESULTADOS DOS EXAMES 8

1. Contratação de Organização Social para a operacionalização do Pronto Atendimento


Municipal de Jandira/SP. 8

2. Ausência de estudos que demonstrem os quantitativos e custos unitários dos serviços,


bem como de ganhos de eficiência esperados que fundamentem a adoção do modelo de
Contrato de Gestão. 9

3. Inexistência de proposta de preços detalhada com a estimativa, por área de atuação, de


quantitativos e custos unitários dos serviços no âmbito do Contrato de Gestão nº 01/18. 11

4. Pagamento de despesas administrativas da sede do IBGH no Estado de Goiás não previstas


no Edital de Chamamento n.º 01/2018. Contrato pactuado em desacordo com minuta
prevista no certame. Atuação não padronizada da CAA ao longo do tempo. 12

5. Pagamento de despesas para deslocamento de colaboradores do IBGH de Goiânia para


Jandira não previstas no Edital de Chamamento n.º 01/2018. Contrato pactuado em
desacordo com minuta prevista no certame. 14

6. Lucro obtido pelo IBGH na contratação de serviços médicos. 15

7. Produtividade relatada pelo IBGH não corresponde quantitativamente aos registros em


sistemas de informação. 26% dos registros de produção médica não foram comprovados. 15

8. Médico consta como paciente e consultado por ele próprio em ficha de atendimento. 17

9. Falta de registro da empresa contratada e da carga horária dos médicos contratados pelo
IBGH no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES. 18

10. Registros de carga horária no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES


não correspondem aos apresentados na prestação de contas. 20

11. Médicos cumprem jornada excessiva nos plantões médicos. 21

12. Irregularidades em processos de contratação de empresas prestadoras de serviços. 22

13. Repasses da Prefeitura Municipal de Jandira para o IBGH foram realizados com atraso. 28

RECOMENDAÇÕES 28

CONCLUSÃO 29

ANEXOS 30
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA EQUIPE DE AUDITORIA 30

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INTRODUÇÃO
A fiscalização teve como objetivo a análise do processo do Contrato de Gestão 01/2018,
firmado entre a Prefeitura Municipal de Jandira/SP e o Instituto Brasileiro de Gestão
Hospitalar - IBGH, tendo sido os trabalhos de campo executados no período de 20 a
31.05.2019.

O objetivo da presente fiscalização constitui-se na avaliação realizada por meio das


seguintes questões de auditoria:

1 - O processo de contratação da entidade escolhida contempla todos os parâmetros


exigidos pela Lei nº 9.637/1998 e Lei nº 8.666/1993 ou lei equivalente promulgada pelo
poder executivo local para a celebração de contrato de gestão entre Organização Social
e Poder Público?

2 - Há regularidade nas contratações de bens e serviços realizadas pela entidade


contratada no âmbito do Contrato de Gestão nº 01/2018?

3 - O contrato de gestão tem sido fiscalizado adequadamente pela SMS de Jandira?

Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis


ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção
física, análise documental e realização de entrevistas.

Sendo assim, procedeu-se ao levantamento das despesas realizadas pelo IBGH,


selecionando-se amostra englobando os contratos de maior materialidade e relevância.

7
RESULTADOS DOS EXAMES

1. Contratação de Organização Social para a operacionalização


do Pronto Atendimento Municipal de Jandira/SP.
A execução das ações de saúde do Pronto Atendimento Municipal – PAM é efetuada
pela contratação de organização social pela Prefeitura Municipal de Jandira/SP por meio
de contrato de gestão. O PAM de Jandira surgiu da transformação do Hospital Municipal
em dezembro de 2016.

Antes da transformação do Hospital Municipal para o Pronto Atendimento, a prestação


de serviço de gerência, operacionalização e execução das ações de saúde eram
executadas pelo Instituto de Apoio e Gestão à Saúde – Iages, por meio de Convênio
firmado em 10.12.2014, com vigência de doze meses. Em 10.12.2015, a vigência foi
prorrogada por mais doze meses. Em 10.12.2016, a vigência foi prorrogada por mais três
meses. Em 24.02.2017, a vigência foi prorrogada por mais três meses ou até o término
do processo para a nova contratação.

No entanto, em 17.04.2017, a Prefeitura resolveu rescindir o convênio tendo em vista


diversos problemas encontrados na execução dos serviços prestados pelo Iages.

Posteriormente, em 18.04.2017, foi firmado o Contrato de Gestão com a Federação


Nacional das Entidades Sociais e Comunitárias – Fenaesc, com vigência de doze meses.

Porém, em 13.06.2017, a Prefeitura decretou intervenção no PAM de Jandira, também


por diversos problemas encontrados na execução dos serviços prestados pela Fenaesc.
Além disso, houve recomendação do Ministério Público do Estado de São Paulo para
suspensão do contrato em razão de que na cidade de Cajamar/SP, na execução dos
serviços prestados pela citada organização social, havia fortes indícios de malversação e
desvio do patrimônio público.

A Prefeitura Municipal de Jandira, para substituir o Contrato de Gestão firmado com a


Fenaesc, realizou processo de chamamento público para seleção de organização social
qualificada no âmbito do município, ou demais entidades que assim se qualificassem até
a data de realização da sessão pública de abertura dos envelopes referente ao
Chamamento Público nº 01/18, Processo Administrativo nº 1306/2018.

A autorização para a realização do chamamento público foi dada em 24.01.2018. O


extrato do edital de chamada pública foi publicado no jornal Agora e no Diário Oficial do
Estado de São Paulo, em 06.03.2018. Não houve publicação no Diário Oficial da União
(DOU). O prazo de apresentação das propostas era até 22.03.2018.

Onze organizações sociais manifestaram interesse em participar da chamada pública. A


Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação na fase de verificação da documentação

8
necessária para o credenciamento das entidades excluiu quatro organizações por não
apresentarem a documentação exigida no edital.

Na fase de verificação da documentação de habilitação para qualificação foram


excluídas mais quatro organizações por descumprimento parcial dos requisitos legais e
editalícios. Portanto, restaram apenas três organizações para a fase 2 – proposta de
trabalho:

- Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar – IBGH (Goiânia/GO), CNPJ 18.972.378/0001-


12;

- Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano – INDSH (Pedro


Leopoldo/MG), CNPJ 23.453.830/0001-70;

- Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Mutuípe / Instituto Marie Pierre


de Saúde – Imapis (Mutuípe/BA), CNPJ 14.812.333/0001-20.

Mas o Imapis desiste de continuar sua participação no processo seletivo, em desacordo


com o disposto no item 7.5 do edital de chamamento: “Após a fase de habilitação, não
caberá desistência da proposta, salvo por motivo justo decorrente de fato superveniente
e aceito pela Comissão Especial de Seleção”. Não constou do processo justificativa para
a desistência do Imapis, e que foi aceita pela Comissão Especial de Licitação.

Em 04.06.2018, a Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação considerou vencedor


do chamamento o Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar – IBGH. A homologação
ocorreu em 04.06.2018 e o respectivo contrato foi assinado em 01.08.2018. O Contrato
de Gestão nº 01/18 foi celebrado com o IBGH, com prazo de vigência de doze meses,
contados a partir da data de início de serviços, 01.09.2018. O valor total do referido
contrato, objeto de análise desta fiscalização, é de R$ 18.599.998,74, e o valor mensal é
de R$ 1.549.999,90.

O Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar – IBGH é uma associação civil de direito


privado, sem fins lucrativos, qualificada como organização social, fundada no ano de
2013. Conforme dados obtidos no sítio eletrônico do IBGH, este atua como organização
social nos estados de Goiás, São Paulo e Tocantins.

Em 25.03.2019 os serviços do PAM de Jandira foram transferidos para UPA de Jandira,


localizada em prédio recém construído. Entretanto, a Prefeitura decretou intervenção
na UPA de Jandira em 15.05.2019, também por diversos problemas encontrados na
execução dos serviços prestados pelo IBGH.

2. Ausência de estudos que demonstrem os quantitativos e


custos unitários dos serviços, bem como de ganhos de eficiência
esperados que fundamentem a adoção do modelo de Contrato
de Gestão.

9
A Prefeitura não apresentou e, também, não consta do Processo Administrativo nº
1306/2018, no qual se processou o Chamamento Público nº 01/18, demonstrativo
detalhado relacionado a quantitativos e custos unitários de serviços, bem como ganhos
de eficiência esperados que possam respaldar a opção pelo modelo de Contrato de
Gestão, adotado pela Prefeitura Municipal de Jandira/SP.

Tal fato foi objeto de apontamento em parecer da Procuradoria-Geral do Município, no


qual informa sobre a necessidade de justificativa técnica demonstrando a
economicidade da contratação de organização social em relação à execução direta pela
Prefeitura.

Em atendimento ao parecer foi adicionada justificativa técnica para contratação de


organização social. A justificativa apresentada trata de soluções de problemas
administrativos e financeiros do ente municipal, bem como, da maior autonomia
administrativa e financeira na execução pela organização social, com a obtenção de
maior qualidade e produtividade com menores custos.

Porém, não há informações de que a transferência do gerenciamento para a organização


social mostra-se a melhor opção para o município com os ganhos esperados de
eficiência, eficácia e economicidade que poderiam resultar em melhor desempenho ou
menor custo na prestação dos serviços à população. Consta uma planilha com custo
global estimado, no montante de R$ 18.600.000,00 para doze meses de contrato.
Ocorre que não se depreende do processo a forma pela qual a Administração chegou a
esta estimativa.

Na justificativa apresentada para a terceirização consta um comparativo de custos para


o cargo de médico, entre os valores pagos pela gestão própria e os pagos na gestão
terceirizada, concluindo que haveria uma economia mensal em torno de R$ 97.000,00.

No entanto, a simples comparação de custos para o cargo de médico, entre a gestão


própria e a terceirizada, não pode se constituir em parâmetro para justificar uma
contratualização de tal vulto, haja vista que o valor total mensal era de R$1.550.000,00,
e o valor mensal estipulado para o cargo de médico era em torno de RS450.000,00.

O resultado do chamamento mostrou que os estudos efetuados estavam incorretos,


pois a organização social que foi a vencedora do chamamento cotou, no item de
contratação de médicos, o valor mensal de R$ 556.400,00, acima do valor estimado pela
Prefeitura. O valor total mensal de R$ 1.549.999,90, cotado pela organização social,
também não foi inferior, havendo redução de apenas dez centavos em relação ao valor
estimado pela Prefeitura.

Por se tratar de um contrato que abrange múltiplas áreas de atuação, deve-se levar em
conta a ocorrência de uma série de outros itens relevantes que impactam o custo total
dos serviços a serem contratados e que não foram considerados.

Ressalta-se que a demonstração da economicidade e eficiência estão intrinsicamente


ligadas à demonstração da motivação do ato de contratação, sem o qual resta
prejudicada.
10
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TC-000527/003/10-Primeira Câmara, TC-
000561/007/09-Primeira Câmara, TC-000213/012/12-Tribunal Pleno, dentre outros) e o
Tribunal de Contas da União (Acórdão nº 3239/2013 – Plenário, Acórdão nº 352/2016 –
Plenário, Acórdão nº 2057/2016 – Plenário, dentre outros) tem entendimento de que
para qualquer terceirização na área da Saúde é obrigatória a realização de estudo
detalhado, justificando as razões e demonstrando as vantagens, sobretudo as
financeiras, para a Administração, que esta decisão traria.

Assim sendo, a celebração de contrato de gestão com uma organização social deve ter
como valor de referência, além de outros parâmetros como a produtividade e a
qualidade, o montante dos custos incorridos pelo próprio poder público para executar
os serviços que se quer contratar com tal organização social, o que não se verificou no
caso em pauta.

Portanto, diante da ausência desses estudos preliminares detalhados, demonstrando os


ganhos econômicos da contratação, maior eficiência e eficácia nos serviços de saúde,
não se pode afirmar que a Prefeitura Municipal de Jandira/SP obteve uma proposta
vantajosa para a administração pública ao celebrar o contrato de gestão. Verificou-se
que o IBGH relacionou, nas prestações de contas, despesas administrativas de sua sede
localizada no município de Goiânia, no valor total de R$ 318.155,77, que não estavam
previstas no Edital de Chamamento n.º 01/2018.

3. Inexistência de proposta de preços detalhada com a


estimativa, por área de atuação, de quantitativos e custos
unitários dos serviços no âmbito do Contrato de Gestão nº
01/18.
O IBGH apresentou somente a Planilha de Despesas Mensal para os doze meses, que
especifica o repasse mensal a ser efetuado à entidade no primeiro ano de vigência do
contrato. Não houve a apresentação da Planilha Orçamentária Mensal (conforme Anexo
VI, do Edital de Chamamento Público 01/2018 – SMS), que solicita o detalhamento do
quantitativo, os respectivos cargos, a remuneração de cada cargo, encargos, benefícios
e outros custos.

A ausência de detalhamento dos custos por meio de planilhas contendo estimativas de


quantitativos e de custos unitários em relação à cada item específico de custo
componente de uma determinada atividade abrangida pelo contrato de gestão
impossibilita a análise objetiva da adequação dos preços dos serviços a serem
contratados, dos resultados alcançados e das respectivas prestações de contas.

Também possibilitará a ocorrência de irregularidades na fase de execução e


desvirtuamento do objeto, como no caso de eventuais alterações nas atividades ou
metas previstas no plano original, porquanto não existindo uma correlação clara e
inequívoca entre as atividades/áreas contratualizadas e os respectivos custos
individualizados.

11
Assim, em face do que foi apontado, conclui-se que a estimativa de preços apresentada
pelo IBGH constante do Contrato de Gestão nº 01/18, pela ausência de detalhamento
suficiente dos custos envolvidos na contratualização dos respectivos serviços, não é
apropriada para assegurar a adequação entre os meios sugeridos, seus custos,
cronogramas e resultados, porquanto não possibilita uma avaliação precisa dos
mesmos, quando cotejados com as atividades/áreas envolvidas no referido contrato.

4. Pagamento de despesas administrativas da sede do IBGH no


Estado de Goiás não previstas no Edital de Chamamento n.º
01/2018. Contrato pactuado em desacordo com minuta prevista
no certame. Atuação não padronizada da CAA ao longo do
tempo.
Verificou-se que o IBGH relacionou, nas prestações de contas, despesas administrativas
de sua sede localizada em Goiânia, no valor total de R$ 318.155,77, que não estavam
previstas no Edital de Chamamento n.º 01/2018.

Constatou-se que, conforme cláusula sexta, parágrafo oitavo, da minuta de contrato que
constava do Edital de Chamamento n.º 01/2018, essas despesas não poderiam ter sido
custeadas com recursos do Contrato de Gestão: “Os recursos financeiros repassados
para a execução do objeto do presente CONTRATO DE GESTÃO são exclusivos para
custear ações e atividades realizadas na unidade de saúde objeto deste contrato, bem
como despesas de investimentos exclusivos para esta unidade de saúde, não podendo,
em hipótese alguma, serem utilizados para outros fins como custeio de despesas da sede
da entidade, deslocamentos entre a sede da entidade e a unidade de saúde, ou despesas
pessoais de seus dirigentes e empregados.”(original sem grifo)

Entretanto, por motivo não identificado nos documentos verificados durante esta
fiscalização, o contrato firmado entre a OS e a PMJ não seguiu essa previsão, sendo
alterado de forma a permitir despesas administrativas da sede da OS: “Os recursos
financeiros repassados para a execução dos objeto do presente CONTRATO DE GESTÃO
são exclusivos para custear ações e atividades realizadas na unidade de saúde objeto
deste contrato, bem como despesas de investimentos exclusivos para esta unidade de
saúde, não podendo, em hipótese alguma, serem utilizados para outros fins, exceto o
custeio de despesas compartilhadas da sede da entidade e deslocamentos entre a sede
da entidade e a unidade de saúde, sendo vedado o custeio de despesas pessoais de seus
dirigentes e empregados e a cobrança de taxa de administração.”(original sem grifo)

Essa alteração não poderia ter sido realizada, pois modificou significativamente uma
regra concorrencial prevista no certame. Caso outras Organizações Sociais tivessem o
conhecimento de que elas poderiam lançar despesas administrativas na prestação de
contas, é razoável supor que poderiam ter maior interesse em participar do
Chamamento.

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Ademais, conforme modelos que também constavam do Edital de Chamamento Público
n.º 01/2018, não havia previsão de despesas administrativas na planilha orçamentária
mensal e de custos/despesas mensais.

As despesas administrativas relacionadas pelo IBGH nas prestações de contas


correspondiam ao rateio de 14,30% do custeio total da sede da Organização Social,
obtido pela divisão de 100% pela quantidade total de sete contratos de gestão que o
IBGH possuía em execução à época. Essas despesas incluíam, em especial, recursos
humanos, encargos sociais, imposto de renda sobre a folha de pagamento, limpeza,
vigilância e locação do imóvel.

Também, obedecendo o rateio de 14,30%, foram incluídas despesas com remuneração


de membros da Alta Administração do IBGH, contratados por meio de terceirização de
mão-de-obra (“pejotização”) dos ocupantes dos seguintes cargos: Superintendente
Executivo, que também é Presidente da OS, Diretor Geral, Diretor Administrativo,
Diretor de Planejamento, Diretor Financeiro, Diretor Operacional e Gestor de Compras.
Somente o pagamento desses cargos corresponde à aproximadamente metade do total
das despesas administrativas mensais que foram absorvidas pelo Contrato de Gestão
firmado com a PMJ, que questionou e glosou parcela dessas despesas, conforme será
relatado a seguir.

A responsabilidade pela análise das prestações de contas na PMJ é da Comissão de


Avaliação e Acompanhamento do Contrato de Gestão n.º 01/2018 - CAA, que realizou
glosas nos meses de dezembro de 2018, janeiro e fevereiro de 2019. As motivações para
essas glosas foram, principalmente, a sobreposição de serviços prestados entre
contratados, falta de comprovação de serviços realizados e a emissão de relatórios
genéricos.

Ao todo, segundo Relatórios Finais de Avaliação da Comissão para esse período, foram
glosados R$ 47.303,43 em despesas administrativas (já rateadas para este Contrato de
Gestão).

Assim, considerando que R$ 318.155,77 foram cobrados indevidamente pelo IBGH,


conforme condições estabelecidas no Edital de Chamamento Público n.º 01/2018, e que
foram glosados R$ 47.303,43, por outros motivos, restam R$ 270.852,34 que ainda
devem ser ressarcidos ao Erário.

Em relação à atuação da Comissão de Avaliação e Acompanhamento do Contrato de


Gestão n.º 01/2018, constatou-se falta de padronização na avaliação ao longo do tempo,
em contraponto às despesas que basicamente eram mantidas, em descrição e
quantidade, mês a mês. Por exemplo, nos meses de setembro a novembro de 2018, não
houve questionamentos em relação às despesas administrativas nos relatórios finais.
Mesmo após as observações que ocorreram entre dezembro de 2018 e fevereiro de
2019, o relatório parcial de março de 2019 voltou a não apresentar glosas para as
despesas administrativas.

13
5. Pagamento de despesas para deslocamento de colaboradores
do IBGH de Goiânia para Jandira não previstas no Edital de
Chamamento n.º 01/2018. Contrato pactuado em desacordo
com minuta prevista no certame.
Verificou-se que o IBGH relacionou nas prestações de contas despesas de deslocamento
(ida e volta) de colaboradores de sua sede, localizada no município de Goiânia/GO, para
o município Jandira/SP, no valor total de R$ 189.788,26, que não estavam previstas no
Edital de Chamamento n.º 01/2018.

Desse valor, R$ 40.903,12 foram gastos em diárias e reembolsos de despesas de


colaboradores nas viagens realizadas, tais como refeições e transporte local, e R$
148.885,14 foram gastos em passagens aéreas e hospedagem que, entre os meses de
setembro de 2018 e março de 2019, foram adquiridas junto à empresa All Turismo Eireli,
CNPJ 03.794.297/0001-00 e, no mês de abril de 2019, junto à empresa Brasil Viagens e
Turismo Ltda., CNPJ 24.882.011/0001-00.

Constatou-se que, conforme cláusula sexta, parágrafo oitavo, da minuta de contrato que
constava no Edital de Chamamento n.º 01/2018, essas despesas não poderiam ter sido
custeadas com recursos do Contrato de Gestão: “Os recursos financeiros repassados
para a execução do objeto do presente CONTRATO DE GESTÃO são exclusivos para
custear ações e atividades realizadas na unidade de saúde objeto deste contrato, bem
como despesas de investimentos exclusivos para esta unidade de saúde, não podendo,
em hipótese alguma, serem utilizados para outros fins como custeio de despesas da sede
da entidade, deslocamentos entre a sede da entidade e a unidade de saúde, ou despesas
pessoais de seus dirigentes e empregados.”(original sem grifo)

Entretanto, por motivo não identificado nos documentos verificados durante esta
fiscalização, o contrato firmado entre a OS e a PMJ não seguiu essa previsão, sendo
alterado de forma a permitir despesas de deslocamento: “Os recursos financeiros
repassados para a execução dos objeto do presente CONTRATO DE GESTÃO são
exclusivos para custear ações e atividades realizadas na unidade de saúde objeto deste
contrato, bem como despesas de investimentos exclusivos para esta unidade de saúde,
não podendo, em hipótese alguma, serem utilizados para outros fins, exceto o custeio
de despesas compartilhadas da sede da entidade e deslocamentos entre a sede da
entidade e a unidade de saúde, sendo vedado o custeio de despesas pessoais de seus
dirigentes e empregados e a cobrança de taxa de administração.” (original sem grifo)

Essa alteração não poderia ter sido realizada, pois modificou significativamente uma
regra concorrencial prevista no certame. Caso outras Organizações Sociais tivessem o
conhecimento de que elas poderiam lançar despesas de deslocamento na prestação de
contas, é razoável supor que poderiam ter maior interesse em participar do
Chamamento.

14
6. Lucro obtido pelo IBGH na contratação de serviços médicos.
O IBGH contratou a empresa Lemes e Trancoso Gestão em Saúde Ltda., CNPJ
31.275.474/0001-70, para prestação de serviços médicos pelo valor de R$ 1.400,00 por
plantão de 12 horas para médico clínico geral, e R$ 1.450,00, por plantão de 12 horas
noturno para médico especialista. Ocorre que, na proposta apresentada pelo IBGH para
o contrato de gestão, o custo era de R$ 1.600,00 por plantão de 12 horas, no item de
serviços médicos. Portanto, somente neste item o IBGH está tendo um lucro aproximado
de mais de 11,5%, conforme detalhado abaixo.

As notas fiscais pagas pelo IBGH a Lemes & Trancoso foram planilhadas, no período de
outubro/2018 a abril/2019, possibilitando a comparação do montante recebido pelo
IBGH no contrato de gestão e o montante pago pelo IBGH a Lemes & Trancoso.

As informações estão consolidadas conforme quadro abaixo:

Quadro 1 - Despesas com Serviços Médicos


Mês NF Data NF Valor (R$) A*1 B*2
out/18 4 05/10/2018 244.150,00 105 67
nov/18 5 23/10/2018 12.750,00 6 3
nov/18 7 05/11/2018 433.100,00 183 122
dez/18 8 04/12/2018 424.600,00 179 120
jan/19 9 08/01/2019 435.850,00 186 121
fev/19 10 04/02/2019 435.950,00 184 123
mar/19 11 07/03/2019 394.800,00 166 112
abr/19 12 02/04/2019 438.750,00 166 123
TOTAL 2.819.950,00 1175 791
Fonte: Notas fiscais constantes dos processos de prestações de contas do período de outubro/2018
à abril/2019
*1 A – quantidade de plantões de 12 horas (médico clínico geral)
*2 B - quantidade de plantões de 12 horas (médico especialista)

Conforme quadro acima, foram pagos a empresa Lemes & Trancoso 1.175 plantões de
12 horas (médico clínico geral) e 795 plantões de 12 horas (médico especialista),
totalizando 1.966 plantões de 12 horas.

Portanto, o IBGH recebeu do contrato de gestão o valor de R$ 3.145.600,00


(1.966xR$1.600,00), referente aos 1.966 plantões executados, enquanto que o valor
pago a empresa contratada foi de R$ 2.819.950,00, evidenciando que o IBGH teve um
lucro de R$ 325.650,00, no período de outubro/2018 a abril/2019, para o item de
prestação de serviços médicos.

7. Produtividade relatada pelo IBGH não corresponde


quantitativamente aos registros em sistemas de informação.
26% dos registros de produção médica não foram comprovados.

15
Verificou-se, para o mês de fevereiro de 2019, se a produção dos serviços de exames
laboratoriais, de radiologia e de atendimento médico, informada pelo IBGH no 2º
Relatório Trimestral de Produção Assistencial e Qualidade (dezembro de 2018 a
fevereiro de 2019) estava embasada em evidências de sua efetiva realização, tendo sido
constatadas as discrepâncias descritas no Quadro a seguir.

Quadro 2 – Discrepâncias entre o resultado informado e registros – fevereiro de 2019.


Serviço Produção informada Produção verificada nos
pelo IBGH (quantidade) registros (quantidade)
Atendimento Médico –Clínico 8.526 7.938
Geral+ Pediatria
Atendimento Médico - 949 1.131
Ortopedista
Exames Laboratoriais 4.075 4.699
Exames Radiológicos 1.350 1.238
Fonte: Clínico geral e pediatria – fls. 4 e 698, ortopedista – fl. 10 e 698, exames laboratoriais – fl. 8 e
exames radiológicos – fl. 9 do Relatório Trimestral de Produção Assistencial e Qualidade; Relatórios
sintéticos de atendimentos médicos (Sistema Saúde - Focus), resposta à Solicitação de Fiscalização n.º
201900743/03 e livro ata de exames radiológicos.

Em relação aos atendimentos médicos, houve, também, verificação do sistema de


informações e registros físicos, para validação dos resultados apresentados pelo IBGH.
A UPA de Jandira registra os atendimentos médicos no Sistema Saúde, desenvolvido
pela Focus Desenvolvimento de Sistemas Ltda. Nesse sistema, é possível a extração de
relatórios sintéticos, que contêm a produção por médico e por dia, e analíticos, que
detalham os pacientes atendidos. Ressalta-se que a “produção verificada” do quadro
anterior foi baseada em relatórios sintéticos.

Após análise dos dados, constatou-se discrepância entre o relatório sintético e analítico
para o mês de fevereiro de 2019. Enquanto o relatório sintético aponta 9.069
atendimentos por clínicos gerais, pediatras e ortopedistas, o relatório analítico, com
detalhamento do nome dos pacientes e para o mesmo período, registra 8.473
atendimentos, o que resulta na diferença de 596 atendimentos (aproximadamente 7%
de divergência).

Examinaram-se, ainda, os comprovantes de atendimentos para uma amostra de seis


profissionais: um pediatra, um ortopedista e quatro clínicos gerais. Novamente,
observou-se discrepância de dados, conforme pode ser visualizado no Quadro a seguir.

Quadro 3 – Discrepâncias na quantidade de comprovantes de atendimento médicos


disponibilizados em comparação com registros no sistema de informação.
Médico (n.º
Relatório Relatório Comprovantes
no Sistema
Especialidade Referência Sintético Analítico disponibilizados
Saúde –
(qtde.) (qtde.) (qtde.)
Focus)
14.02.19 e
891 Pediatra 58 55 53
18.02.19
08.02.19 e
841 Ortopedista 69 71 69
11.02.19
792 Clínico Geral fev/19 81 61 48

16
Médico (n.º
Relatório Relatório Comprovantes
no Sistema
Especialidade Referência Sintético Analítico disponibilizados
Saúde –
(qtde.) (qtde.) (qtde.)
Focus)
822 Clínico Geral fev/19 86 66 38

1.086 Clínico Geral 15.02.2019 85 79 78*

1.147 Clínico Geral fev/19 92 76 63


Total 471 408 349
Fonte: Resposta às Solicitações de Fiscalização n.º 201900743/02, 03 e 04, relatório sintético e analítico
referente ao mês de fevereiro de 2019.
* excluída uma ficha de atendimento, tendo em vista o item a seguir

Dessa forma, aproximadamente 26% (122/471) dos comprovantes de atendimento


relativos aos dados constantes do Relatório Sintético não foram disponibilizados a esta
equipe de auditoria. Questionou-se também a SMS da PMJ em relação à divergência de
dados do mesmo Sistema (relatório sintético x relatório analítico), entretanto, não
houve resposta.

Em suma:

- há divergência entre o Relatório Trimestral de Produção Assistencial e Qualidade e os


relatórios sintéticos e registros que evidenciariam a produção médica, laboratorial e de
radiologia;

- o relatório analítico de produção médica, com discriminação dos pacientes atendidos,


diverge em 7%, a menor, em relação ao relatório sintético; e

- não foram apresentados comprovantes para 26% dos registros de produção médica.

Dessa forma, constata-se que os dados de produção apresentados pelo IBGH não são
confiáveis e podem ter gerado uma avaliação equivocada quanto ao atendimento das
metas quantitativas que a Organização Social deveria cumprir.

8. Médico consta como paciente e consultado por ele próprio em


ficha de atendimento.
Durante a verificação da produção médica, contatou-se que o médico H, CPF
***.306.898-**, n.º 1.086 do Sistema Saúde – Focus, consta como paciente e médico,
ao mesmo tempo, em ficha de atendimento de 15.02.2019.

Ele foi registrado como o paciente n.º 325.375 e se autoprescreveu medicamentos que
foram retirados na própria Unidade de Saúde, conforme assinatura de técnica de
enfermagem que trabalhava no local.

Em Parecer do Cremesp, referente à Consulta n.º 103.167/07, aprovado na 3.750ª


Reunião Plenária, o Conselho assim se pronunciou sobre o assunto:

17
“Ainda que o Código de Ética Médica não tenha nenhum artigo abordando o tema,
julgamos inapropriado o médico solicitar exames para si próprio ou realizar qualquer ato
médico em si, como se auto-prescrever, se auto-examinar etc.

A concomitância da situação de ser médico de si próprio traz alguns perigos, sendo o


maior deles o prejuízo a um julgamento isento de seu estado de saúde e,
consequentemente, prejuízo a tomada de decisão mais correta.”

Dessa forma, a autoprescrição médica é um procedimento não recomendável à própria


saúde do médico, além de gerar riscos de prejuízos ao SUS por ausência de avaliação
independente em relação à necessidade do tratamento.

9. Falta de registro da empresa contratada e da carga horária dos


médicos contratados pelo IBGH no Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde - CNES.
A prestação de serviços médicos no Pronto Atendimento Municipal de Jandira é
efetuada pela empresa Lemes & Troncoso, contratada pelo IBGH. Por meio de pesquisa
no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde - CNES, verificou-se que essa
empresa não está cadastrada no referido sistema.

Também, na análise das folhas de ponto dos médicos contratados pela empresa Lemes
& Troncoso, constantes das prestações de contas dos meses de outubro/2018 a
abril/2019, verificou-se que, por amostragem, não há registro da carga horária
registrada no CNES, conforme relacionado abaixo:

a) médico A, CPF ***.242.548-**, prestou serviços médicos no Pronto Atendimento


Municipal, nos meses de dezembro 2018, janeiro 2019 e fevereiro 2019, perfazendo em
média 24 horas semanais.

Em consulta realizada ao CNES em junho 2019, o médico A tem carga horária total
registrada de 31 horas semanais em quatro estabelecimentos de saúde:

- Unidade Básica de Saúde Central (municipal), São Roque/SP, médico clínico


(estatutário – 16 h);

- Posto de Saúde da Vila Nova (municipal), São Roque/SP, médico clínico (estatutário –
4 h);

- Hospital Unimed (privado), São Roque/SP, médico ortopedista e traumatologista


(cooperado – 6 h);

- Hospital Unimed (privado), Ibiúna/SP, médico ortopedista e traumatologista (contrato


prazo determinado – 5 h);

18
b) médico B, CPF ***.275.208-**, prestou serviços médicos no Pronto Atendimento
Municipal, nos meses de outubro 2018, novembro 2018, dezembro 2018, janeiro 2019,
fevereiro 2019 e março 2019, perfazendo em média 36 horas semanais.

Em consulta realizada ao CNES em junho 2019, o médico B tem carga horária total
registrada de 48 horas semanais em dois estabelecimentos de saúde:

- Unidade Mista e Maternidade Central (municipal), Embu das Artes/SP, médico clínico
(autônomo – 12 h);

- Unidade Pré-Hospitalar Zona Oeste (municipal), Sorocaba/SP, médico pediatra


(autônomo – 36 h).

Conforme os dados registrados acima, a carga horária nesses dois estabelecimentos de


saúde é equivalente a 192 horas/mês, o que, somada à prestação de serviços no Pronto
Atendimento Municipal, que tem carga horária média de 144 horas/mês, totaliza uma
carga horária mensal de 336 horas, equivalendo a trabalhar em torno de 11 horas por
dia, nos 30 dias do mês.

c) médico C, CPF ***.150.568-**, prestou serviços médicos no Pronto Atendimento


Municipal, nos meses de novembro 2018, dezembro 2018, janeiro 2019, fevereiro 2019
e março 2019, perfazendo em média 30 horas semanais.

Em consulta realizada ao CNES em junho 2019, o médico C tem carga horária total
registrada de 20 horas semanais em um estabelecimento de saúde:

- Hospital Regional Dr. Vivaldo Martins Simões (estadual), Osasco/SP, médico clínico
(estatutário – 20 h).

d) médico D, CPF ***.187.851-**, prestou serviços médicos no Pronto Atendimento


Municipal, nos meses de novembro 2018, dezembro 2018, janeiro 2019 e fevereiro
2019, perfazendo em média 30 horas semanais.

Em consulta realizada ao CNES em junho 2019, o médico D tem registro como Médico
Generalista bolsista na Unidade de Saúde da Família do Jardim São Manuel, em
Santos/SP, com carga horária de 40 horas semanais.

O Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde – CNES foi instituído pela Portaria
MS/SAS nº 376, de 03 de outubro de 2000, e a Portaria MS/SAS nº 511, de 29 de
dezembro de 2000, passa a normatizar o processo de cadastramento de
estabelecimentos de saúde em todo o território nacional.

O CNES é uma obrigatoriedade instituída a todos os estabelecimentos de saúde


existentes no país, sejam eles prestadores de serviços de saúde ao SUS ou não. Segundo
o Ministério de Saúde, estabelecimento de saúde é a denominação dada a qualquer
local destinado à realização de ações e/ou serviços de saúde, coletiva ou individual,
qualquer que seja o seu porte ou nível de complexidade. Para efeito deste cadastro, o
estabelecimento de saúde poderá ser tanto um hospital de grande porte, quanto um

19
consultório médico isolado ou, ainda, uma Unidade de Vigilância Sanitária ou
Epidemiológica.

O cadastro visa disponibilizar informações atualizadas sobre as condições de


infraestrutura, recursos humanos, equipamentos e serviços ambulatoriais e hospitalares
dos estabelecimentos de saúde de todas as esferas federativas. Nesse sentido, o
referido cadastro constitui uma importante ferramenta de gestão na área da saúde,
porque objetiva construir uma base de dados atualizada, fidedigna e de âmbito nacional,
que permite aos gestores estaduais e municipais, responsáveis pela sua contínua
atualização, um planejamento mais consistente das ações relativas à saúde.

A Portaria SAS/MS nº 134, de 04.04.2011, estabeleceu no caput do art. 1º a


responsabilidade dos gestores: “Constitui responsabilidade dos gestores municipais,
estaduais e do Distrito Federal/DF, bem como dos gerentes de todos os estabelecimentos
de saúde na correta inserção, manutenção e atualização sistemática dos cadastros no
SCNES dos profissionais de saúde em exercício nos seus respectivos serviços de saúde,
públicos e privados.”

Portanto, dadas as relevantes inconsistências na inserção de dados no Cadastro


Nacional dos Estabelecimentos de Saúde – CNES no tocante à contratação de
profissionais médicos que são servidores públicos, entende-se restar fragilizada a
comprovação da efetiva prestação de serviços e do cumprimento da carga horária
faturada, e, ainda, da compatibilidade de horário no exercício de suas atividades.

10. Registros de carga horária no Cadastro Nacional de


Estabelecimentos de Saúde - CNES não correspondem aos
apresentados na prestação de contas.
A prestação de serviços médicos no Pronto Atendimento Municipal de Jandira é
efetuada pela empresa Lemes & Troncoso contratada pelo IBGH. Na análise das folhas
de ponto dos médicos contratados pela empresa Lemes & Troncoso, constantes das
prestações de contas dos meses de outubro/2018 a abril/2019, verificou-se que, por
amostragem, a carga horária registrada no CNES não corresponde às apresentadas nas
folhas de ponto, havendo registro de carga horária menor do que as apresentadas nas
prestações de contas, conforme relacionado abaixo:

a) De acordo com os registros nas folhas de ponto constantes das prestações de contas
dos meses de outubro/2018 a abril/2019, o médico E, CPF ***.053.762-**, prestou
serviços médicos no Pronto Atendimento Municipal, nos meses de outubro 2018,
novembro 2018, dezembro 2018, janeiro 2019, fevereiro 2019 e março 2019,
perfazendo média semanal de 75 horas. No entanto, no registro do CNES constam 36
horas semanais relativas ao Pronto Atendimento Municipal, portanto, em quantidade
de horas muito menor do que as horas pagas pelo IBGH nesses seis meses.

b) De acordo com os registros nas folhas de ponto constantes das prestações de contas
dos meses de outubro/2018 a abril/2019, o médico F, CPF ***.238.948-**, prestou
serviços médicos no Pronto Atendimento Municipal, nos meses de outubro 2018,
20
novembro 2018, fevereiro 2019 e março 2019, perfazendo média semanal de 24 horas.
No entanto, no registro do CNES consta 12 horas semanais relativas ao Pronto
Atendimento Municipal, portanto em quantidade de horas muito menor do que as horas
pagas pelo IBGH nesses quatro meses.

Em consulta realizada ao CNES em junho 2019, o médico F tem registro como Médico
da Estratégia de Saúde da Família bolsista na UBS Gabriela, em Jandira, com carga
horária de 40 horas semanais.

Portanto, considerando as inconsistências na inserção de dados no Cadastro Nacional


dos Estabelecimentos de Saúde – CNES envolvendo a contratação de profissionais
médicos, entende-se restar fragilizada a comprovação da efetiva prestação de serviços
e do cumprimento da carga horária faturada.

11. Médicos cumprem jornada excessiva nos plantões médicos.


A prestação de serviços médicos no Pronto Atendimento Municipal de Jandira é
efetuada pela empresa Lemes & Troncoso contratada pelo IBGH. Na análise das folhas
de ponto dos médicos contratados pela empresa citada, constantes das prestações de
contas dos meses de outubro/2018 a abril/2019, verificou-se, por amostragem, que a
carga horária de alguns profissionais médicos ultrapassa 24 horas de plantões
ininterruptos, conforme relacionado abaixo:

a) O médico E, CPF ***.053.762-**, prestou plantões médicos no Pronto Atendimento


Municipal, com jornada de 36 horas ininterruptas: no mês de novembro 2018, nos dias
04(12h) e 05(24h), 11(12h) e 12(24h), e 25(12h) e 26(24h); no mês de dezembro 2018,
nos dias 02(12h) e 03(24h), 7(12h) e 8(24h), 14(12h) e 15(24h),e 16(12h) e 17(24h); e no
mês de janeiro 2019, nos dias 13(12h) e 14(24h), 20(12h) e 21(24h), e 27(12h) e 28(24h);
e no mês de fevereiro 2019, nos dias 10(12h) e 11(24h), e 17(12h) e 18(24h).

Ainda, realizou plantão com jornada de 72 horas ininterruptas entre os meses de


dezembro 2018 e janeiro de 2019, entrou no dia 30.12.2018, às 19:00hs e saindo no dia
02.01.2019 às 19:00hs. Também, realizou plantão com jornada de 48 horas ininterruptas
no mês de fevereiro, entrou no dia 03.02.2019, às 19:00hs e saindo no dia 05.02.2019
às 19:00hs.

b) O médico C, CPF ***.150.568-**, prestou plantões médicos no Pronto Atendimento


Municipal, com jornada de 36 horas ininterruptas: no mês de janeiro 2019, nos dias
02(24h) e 03(12h), 09(24h) e 10(12h), 15(12h) e 16(24h), 23(24h) e 24(12h), e 30(24h) e
31(12h); e no mês de fevereiro 2019, nos dias 06(24h) e 07(12h), e 13(24h) e 14(12h).

c) O médico D, CPF ***.187.851-**, prestou plantões médicos no Pronto Atendimento


Municipal, com jornada de 36 horas ininterruptas: no mês de dezembro 2018, nos dias
22(24h) e 23(12h), e 29(24h) e 30(12h); no mês de janeiro 2019, nos dias 04(12h) e
05(24h), 11(12h) e 12(24h), e 26(24h) e 27(12h); e no mês de fevereiro 2019, nos dias
02(24h) e 03(12h), 16(24h) e 17(12h), e 24(24h) e 25(12h)

21
d) O médico G, CPF ***.611.158-**, prestou plantões médicos no Pronto Atendimento
Municipal, no mês de fevereiro 2018, com jornada de 48 horas ininterruptas, nos dias
16 e 17, e 23 e 24.

A situação apontada acima contraria a Resolução do Conselho Regional de Medicina do


Estado de São Paulo - Cremesp 90 de, de 21.03.2000, que no seu artigo 8º determina
que a jornada de plantão médico não deve ultrapassar 24 horas.

Ainda, há pareceres do Cremesp que indicam um limite máximo razoável de 12 horas


em plantão presencial para uma boa atuação médica (Consulta nº 49.656/06).

Pela legislação trabalhista, o hospital corre sério risco em caso de fiscalização do


Sindicato ou do Ministério do Trabalho, caso não tenha Convenção ou Acordo Coletivo
que respalde a jornada de trabalho acima de 10 (dez) horas diárias, limite estabelecido
pela CLT, já computadas duas horas extras diárias. (artigos 58 e 59 da CLT).

Ademais, plantões acima de 24 horas, em caráter presencial e ininterrupto, além de


proibidos pela resolução do Cremesp, expõem o profissional médico a um desgaste
físico e emocional, com prejuízos diretos à sua capacidade de trabalho e,
consequentemente, aos pacientes. Portanto, plantões acima de 24 horas não deveriam
ser aceitos pela SMS.

Pesquisas nacionais e internacionais sobre os efeitos da privação aguda e crônica de


sono e da fadiga no desempenho profissional, bem como sobre alterações fisiológicas e
psicológicas de profissionais da saúde submetidos a jornadas prolongadas mostram
queda no desempenho, produtividade, dificuldade para manter um desempenho ideal
para as tarefas a serem realizadas, além de frequentes queixas de alterações de estados
do humor; com implicações significativas na vida profissional e pessoal./Fato
#.;

Cabe ressaltar que as situações acima tendem a estar atreladas a sistemas de rodízios
entre os profissionais escalados para o mesmo plantão, os quais se revezam durante o
período de atendimento, e à elaboração de escalas que preconizam os interesses
privados do corpo clínico em detrimento do interesse público, onde se permite a
possibilidade de repousar durante a jornada, saídas antecipadas, ausências e atrasos
previamente acordados entre os plantonistas.

Portanto, dados os registros de carga horária potencialmente inexequível em plantões,


cuja duração excede todas orientações e recomendações técnicas sobre o assunto,
entende-se não ter sido evidenciada comprovação da efetiva prestação de serviços e do
cumprimento da carga horária faturada, e, ainda, a compatibilidade das jornadas
registradas com as atividades dos profissionais, o que pode resultar no
comprometimento da continuidade (formação de lacunas) e da qualidade da
assistência.

12. Irregularidades em processos de contratação de empresas


prestadoras de serviços.

22
Para operacionalizar o Contrato de Gestão nº 01/2018, firmado entre o IBGH e a
Prefeitura Municipal de Jandira, o Instituto contratou serviços de terceiros de diversas
áreas, seguindo o regulamento próprio de compras, editado em 07.08.2018.

Para a escolha da melhor proposta é estabelecida uma série de fatores como:


idoneidade do fornecedor/prestador de serviço, preço ofertado, garantia de
manutenção, reposição de peças, assistência técnica, cumprimento de prazos ao
atendimento da solicitação, qualidade e outras exigências consideradas necessárias. O
referido regulamento de compras estabelece que o mínimo de cotações necessárias
para instrução do regular processo de compras seria de três orçamentos, entretanto,
em muitos dos processos analisados esse requisito não foi cumprido.

Visando avaliar os processos de contratação realizados pelo IBGH, no âmbito do


Contrato de Gestão nº 01/2018, foi analisada uma amostra de processos.
Preliminarmente verificou-se que em nenhum dos processos de contratação analisados
constava uma estimativa prévia de preços a ser contratado, cabendo destacar que, no
Regulamento de Compras do IBGH, não se prevê a pesquisa prévia de preços como
procedimento necessário nos processos de compras e contratações.

Em análise a tais processos, verificaram-se falhas inerentes à seleção de fornecedores,


como direcionamento e favorecimento a um grupo de pessoas que apresentam
relacionamentos em comum em diversas empresas, as quais, por seu turno, apresentam
algum tipo de ligação com ex-presidentes do IBGH, conforme detalhes a seguir:

a) Inconsistências e potencial direcionamento na contratação da empresa Fiel Limpeza


e Terceirização de Serviços Ltda. - EPP, CNPJ 09.195.329/0001-20, para prestação de
serviços de recepcionista, porteiro, maqueiro, vigilância eletrônica, dedetização,
desratização, limpeza, asseio e conservação

Conforme Processo Seletivo nº 001/2018-PAM – Jandira, de 24.08.2018, apenas duas


empresas apresentaram propostas: Buriti – Serviços Empresariais S/A, CNPJ
02.011.310/0001-37, e Fiel Limpeza e Terceirização de Serviços Ltda-EPP, CNPJ
09.195.329/0001-20.

Há relevante inconsistência no processo de contratação, pois, conforme ata de abertura


e julgamento, tanto a abertura quanto o julgamento teriam ocorrido em 29.08.2018,
entretanto, as diversas declarações da empresa Buriti – Serviços Empresariais S/A
constantes do processo estão com data de 30.08.2018.

Ainda, a comissão considerou inabilitada a Buriti por não apresentação do comprovante


de inscrição estadual ou declaração de que não é contribuinte estadual (item 3.3.1 d do
edital) e prova de regularidade para com a Fazenda Estadual do Estado de São Paulo
(item 3.3.1 h do edital). Tratam-se de itens meramente formais que poderiam ser
sanados ou relevados, pois, como a empresa apresentou a certidão negativa da
Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás, a apresentação do comprovante de inscrição
seria desnecessária, e para prova de regularidade para com a Fazenda Estadual do
Estado de São Paulo poderia ser até consultado o sítio do Governo do Estado de São
Paulo.
23
O contrato com a Fiel Limpeza e Terceirização foi assinado em 31.08.2018, no valor
mensal de R$ 234.348,29. A Fiel Limpeza tem como administradores: sócio A, CPF
***.469.051-**, sócio B, CPF ***.342.861-**, sócio C, CPF ***.493.191-**, sócio D, CPF
***.171.571-**, sendo importante apontar que a empresa contratada tem ligação com
o ex-Presidente A do IBGH, CPF ***.508.501-**, do período de 12.08.2014 a 19.01.2015,
que é proprietário da empresa EUROSEC – Europe Security Services do Brasil Eirelli, CNPJ
08.926.488/0001-94, mas que já teve como sócios os administradores acima citados, e
o contador da empresa é o sócio D, CPF ***.171.571-**.

Cabe ressaltar que outras empresas dos administradores da empresa Fiel Limpeza já são
prestadores de serviços da sede do IBGH, por meio das empresas Total Administração e
Serviços Ltda, CNPJ 02.312.256/0001-60, responsável pela prestação de serviços de
limpeza e copeira, e Fiel Vigilância Ltda., CNPJ 01.775.654/0001-50, responsável por
serviços de monitoramento eletrônico.

b) Direcionamento na contratação da empresa Ápice Contabilidade S/S Ltda. para


prestação de serviços contábeis, fiscal, departamento de pessoal, recursos humanos,
apoio administrativo, patrimônio, frota, logística e suprimentos. Existência de
relacionamento entre as empresas participantes do processo seletivo

Conforme Processo Seletivo nº 002/2018-PAM – Jandira, de 24.08.2018, apenas três


empresas apresentaram propostas: Athos Contabilidade Eirelli, CNPJ 09.664.457/0001-
75, T-13 Serviços Contábeis S/S Ltda., CNPJ 05.919.647/0001-35 e Ápice Contabilidade
S/S Ltda., CNPJ 05.547.430/0001-41.

Consta nos contratos sociais das três empresas que o objetivo social é a atividade de
contabilidade; no entanto, o objeto da licitação prevê outros serviços que não são da
área de contabilidade, como por exemplo, apoio administrativo, gestão de patrimônio,
de frota, logística e de suprimentos, de modo que as três empresas que apresentaram
as propostas deveriam ser desclassificadas, por serem empresas que não executam
atividades previstas na licitação.

De acordo com a ata de abertura e julgamento, realizada em 30.08.2018, a empresa T-


13 Serviços Contábeis foi desclassificada por não apresentar comprovante de inscrição
estadual ou declaração de que é contribuinte estadual e comprovante de inscrição
municipal e declaração de conhecimento dos termos do edital.

Novamente, tem-se que tais itens de desclassificação são meramente formais e


poderiam ser sanados ou relevados, pois a empresa apresentou a certidão negativa para
débito inscrito em dívida ativa da Secretaria da Fazenda do Estado de Goiás, o que já
comprovaria a sua inscrição estadual, e a certidão negativa para débito de qualquer
natureza da Secretaria Municipal de Finanças da Prefeitura Municipal de Goiânia, o que
já comprovaria a sua inscrição municipal.

Então, foram consideradas habilitadas apenas as empresas Athos Contabilidade e Ápice


Contabilidade. A empresa vencedora foi a Ápice Contabilidade, em cujo contrato social
consta explicitamente que é vedado o uso da firma em negócios alheios aos fins sociais
(cláusula sétima). O contrato com a Ápice foi assinado em 30.09.2018, no valor mensal
24
de R$ 68.350,00, por seu sócio E, CPF ***.668.721-**, que também figura, conforme
registros da Secretaria da Receita Federal, como contador da empresa Athos
Contabilidade, outra empresa habilitada da licitação. Portanto, a licitação apresentou
propostas de somente duas empresas que tem relacionamento entre si.

Ainda, há o relacionamento da pessoa de CPF ***.008.021-**, com as duas empresas


participantes da licitação, visto que foi sócia da Athos Contabilidade (sócio E, CPF
***.668.721-**, é contador), no período de 01/07/2008 a 12/07/2017, e da Ápice
Consultoria em Gestão Empresarial Ltda., CNPJ 18.630.879/0001-10 (sócio E, CPF
***.668.721-**, é contador), no período de 02/08/2013 a 07/08/2017. Foi funcionária
da Ápice Contabilidade, no período de 01/09/2005 a 15/10/2008 e da Ápice
Processamento de Dados S/S Ltda., CNPJ 09.394.832/0001-04 (sócio E, CPF ***.668.721-
**, é contador), no período de 16/10/2008 a 31/07/2017.

Acrescenta-se que a empresa Athos Contabilidade presta serviços de monitoramento de


processos e auditoria contínua da sede do IBGH, pelo valor mensal de R$ 9.000,00.

c) Inconsistências no processo de contratação de serviços de assessoria em tecnologia


da informação com possível favorecimento de empresa com ligação junto a ex-
Presidente do IBGH

Conforme Processo Seletivo nº 009/2018-PAM – Jandira, de 28.08.2018, apenas três


empresas apresentaram propostas: Múltipla Soluções Tecnológicas Eirelli - ME, CNPJ
13.431.767/0001-17, Voz Digital Soluções em Tecnologia e Consultoria Ltda. - ME, CNPJ
07.178.954/0001-38, e Mega Telecomunicações Ltda., CNPJ 37.372.331/0001-62.

De acordo com a ata de abertura e julgamento, realizada em 31.08.2018, a empresa


Mega Telecomunicações foi desclassificada por não apresentar prova de regularidade
para com a Fazenda Estadual do Estado de São Paulo. Novamente, entende-se que
desclassificação se embasou em quesito meramente formal que poderia ser sanado ou
relevado.

Então, foram consideradas habilitadas as empresas Múltipla Soluções Tecnológicas e


Voz Digital Soluções em Tecnologia e Consultoria. A empresa vencedora foi a Múltipla
Soluções Tecnológicas, com valor mensal de R$ 13.500,00. O contrato com a Múltipla
foi assinado em 10.09.2018 por seu sócio F, CPF ***.065.031-**, que também foi
funcionário da empresa Master Gestora de Serviços, CNPJ 14.850.970/0001-90, que
presta serviços de contabilidade em outras unidades gerenciadas pelo IBGH, e Fiel
Vigilância Ltda, CNPJ 01.775.654/0001-50, que presta serviços de monitoramento
eletrônico da sede do IBGH. O sócio G, CPF ***.042.378-**, da Master Gestora figura,
conforme registros da Secretaria da Receita Federal, como contador das seguintes
empresas: 1) Patrimonial Sistemas Monitorados de Alarmes Ltda, CNPJ
06.278.955/0001-72, 2) Eurotech – Tecnologia e Serviços Ltda, CNPJ 17.688.216/0001-
94, 3) Empire Participações e Empreendimentos Ltda, CNPJ 26.326.026/0001-18, e 4)
Inter Participações e Empreendimentos Ltda, CNPJ 26.326.034/0001-64. Os sócios
destas empresas e da Fiel Vigilância são os mesmos da Fiel Limpeza, cujo contrato está
detalhado no item a.

25
Ainda, o endereço da Múltipla Soluções Tecnológicas foi o mesmo da empresa EUROSEC
– Europe Security Services do Brasil Eirelli, CNPJ 08.926.488/0001-94, de propriedade
do ex-Presidente A do IBGH, CPF ***.508.501-**, no período de 12.08.2014 a
19.01.2015, que já teve como sócios os administradores da empresa Fiel Limpeza.

O contador, CPF ***.682.511-**, da Múltipla Soluções, que já foi sócio da Master


Gestora de Serviços, no período de 09.01.2012 a 29.12.2015, é também contador das
empresas Fiel Locadora de Veículos Blindados Ltda., CNPJ 13.777.194/0001-88 (os
sócios são os mesmos da Fiel Limpeza) e VBA Empreendimentos e Participações S/S,
CNPJ 18.862.477/0001-44 (tem como sócio A, CPF ***.469.051-**, um dos sócios da Fiel
Limpeza).

Cabe ressaltar que a empresa Múltipla, também, presta serviços de suporte de TI da


sede do IBGH, pelo valor mensal de R$ 3.500,00.

d) Falha no embasamento de contratação por inexigibilidade da empresa Teixeira


Sociedade Individual de Advocacia para prestação de serviços de assessoria jurídica e
possível favorecimento de empresa com ligação junto a ex-Presidente do IBGH

Para serviços de assessoria jurídica o IBGH contratou a empresa Teixeira Sociedade


Individual de Advocacia, CNPJ 09.330.313/0001-82, em 28.09.2018, no valor mensal de
R$ 10.000,00. A contratação foi realizada por inexigibilidade de processo seletivo, por
notória especialização. No entanto, os documentos constantes do processo não
comprovam a notória especialização da empresa ou do advogado de CPF ***.587.971-
**, proprietário da empresa.

Para a documentação que comprova a especialização do advogado foi apresentado um


certificado de especialização em Direito da Economia e da Empresa (449 horas), e dois
certificados de curso de atualização online de 30 horas, uma em licitações e contratos
administrativos e a outra de falências e recuperação judicial.

Para comprovação de capacidade técnica foram apresentados atestados do município


de Damolândia/GO (possui cerca de 3.000 habitantes) e da Performance Place de
Cirurgia Plástica Ltda., CNPJ 05.784.444/0001-89. Ressalta-se que nos dois atestados
apresentados não consta o período em que o referido advogado prestou os serviços.

A empresa contratada teve como sócio o ex-Presidente do IBGH B CPF ***.943.391-**,


no período de 23.09.2013 a 12.08.2014, e possui sociedade com o advogado contratado
nas empresas Agrojuris Participações Ltda., CNPJ 22.822.257/0001-61, e SCA Serviços e
Consultoria Ltda., CNPJ 13.009.272/0001-02, indicando ligação entre o advogado e um
dos ex-Presidentes do IBGH.

Acrescenta-se que há outra empresa contratada para a prestação de serviços de


advocacia para a sede do IBGH, que pela similaridade dos serviços poderiam ser
executados em um mesmo contrato. A empresa contratada para a execução dos
serviços para a sede é a Camardelli Cançado Sociedade Individual de Advocacia, CNPJ
26.546.054/0001-40 pelo valor mensal de R$ 12.000,00.

26
e) Direcionamento na contratação da empresa All Turismo Ltda. para fornecimento de
passagens aéreas e terrestres e reservas de hospedagens

A empresa All Turismo – Eirelli - EPP, CNPJ 03.794.297/0001-00, foi contratada para o
fornecimento de passagens aéreas e terrestres e reservas de hospedagens. A
contratação, realizada em caráter emergencial, segundo as justificativas apresentadas
no processo de contratação, era para suprir a necessidade de locomoção do corpo
diretivo do IBGH de Goiânia para Jandira em 48 horas.

O contrato foi assinado em 07.08.2018, com prazo de vigência de 90 dias. O prazo de


vigência foi prorrogado, em 04.11.2018, por mais 30 dias, e em 04.12.2018, por até 180
dias.

O contrato com a All Turismo foi assinado pela sua sócia H, CPF ***.095.831-**, que já
foi sócia da empresa Fiel Limpeza, no período de 12.09.2008 a 17.05.2011, e é também
irmã de um dos administradores da Fiel Limpeza, sócio A, CPF ***.469.051-**, que
também já foi sócio-administrador dessa empresa, no período de 16.08.2000 a
25.08.2008, e da empresa EUROSEC – Europe Security Services do Brasil Eirelli, CNPJ
08.926.488/0001-94, no período de 08.07.2011 a 29.09.2016. O atual sócio da EUROSEC
é o ex-Presidente A do IBGH, CPF ***.508.501-**, no período de 12.08.2014 a
19.01.2015.

f) Direcionamento na contratação da empresa Lemes Troncoso Gestão e Saúde Ltda.


para prestação de serviços médicos

Conforme Processo Seletivo nº 003/2018-PAM – Jandira, de 28.08.2018, apenas a


empresa Lemes &Troncoso Gestão e Saúde Ltda., CNPJ 31.275.474/0001-70, apresentou
proposta. Inicialmente, cabe ressaltar que o IBGH descumpriu o seu regulamento de
compras ao não publicar o processo seletivo em jornal de grande circulação (art. 5º, §
1º, Inc. II), pois a contratação extrapola o valor de R$ 600.000,00/anual, e ainda, foi
cumprido somente o prazo mínimo de três dias para apresentação das propostas (art.
5º, § 1º). Esses fatores podem ter contribuído para a ausência de outras empresas.

Nesse processo a comissão interna de seleção não atuou com rigor como em outros
processos. A única empresa que apresentou a proposta não cumpriu as exigências do
edital em diversos itens solicitados, portanto deveria ter sido desclassificada, como
ocorreu em outros processos acima analisados. A seguir estão os itens que não foram
cumpridos: 1) prova de regularidade com a Fazenda Federal (item 3.3.1 – g); 2) prova de
regularidade com a Fazenda Municipal (item 3.3.1 – 1); 3) comprovação de aptidão por
meio da apresentação de atestado de capacidade técnica emitida por pessoa jurídica de
direito público ou privado compatíveis com o objeto deste edital (item 3.4.3 – b).

Ainda, a empresa contratada foi constituída em 20.08.2018, dez dias antes da abertura
do processo de contratação, portanto, a empresa não teria a capacidade técnica para
atender à referida contratação.

27
O contrato foi assinado em 10.09.2018, com prazo de vigência de doze meses, pelo valor
de R$ 440.200,00/mensal. Foram encontradas diversas irregularidades na execução do
contrato, relatadas nos itens 10, 11, 12, 13, 14 e 15.

13. Repasses da Prefeitura Municipal de Jandira para o IBGH


foram realizados com atraso.
Constatou-se que os pagamentos previstos no Contrato de Gestão n.º 01/2018 não
foram realizados em conformidade com a sua Cláusula Sétima: “Os repasses financeiros
à CONTRATADA, para custeio da execução do objeto deste contrato, serão efetivados
mensalmente, até o quinto dia após o envio pela CONTRATADA da prestação de contas
mensal, em conta corrente específica aberta para este contrato.” Assim, na pior das
hipóteses, os pagamentos deveriam ter sido realizados até o dia quinze de cada mês,
considerando o prazo de até cinco dias para a efetivação dos repasses e o prazo de até
dez dias para apresentação da prestação de contas pelo IBGH.

Entretanto, o regime de pagamentos foi realizado com atraso desde outubro de 2019,
conforme demonstrado no Quadro a seguir:

Quadro 7 – Atraso nos pagamentos pela PMJ.


mês de referência/ano data prevista de repasse data efetiva do repasse
outubro/2018 15/10/2019 22/11/2019
novembro/2018 15/11/2019 12/12/2019
dezembro/2018 15/12/2019 23/01/2019
janeiro/2019 15/01/2019 12/02/2019
fevereiro/2019 15/02/2019 27/02/2019
março/2019 *16/03/2019 11/04/2019
Fonte: Prestação de contas referente ao regime de caixa de abril de 2019.
* houve um dia de atraso na prestação de contas do IBGH

O atraso frequente no regime de pagamentos por parte do Contratante pode ocasionar


obstáculos para a Contratada pagar seus colaboradores/fornecedores e,
consequentemente, ocasionar prejuízos no atendimento à população.

Não foram realizados ainda pagamentos para os meses de abril e maio de 2019,
entretanto, como o Decreto Municipal n.º 4.080 (intervenção) foi publicado em
15.05.2019, considera-se, neste caso, que a necessidade de zelar por eventuais
ressarcimentos a serem realizados pode justificar esse atraso.

RECOMENDAÇÕES
Não se aplica

28
CONCLUSÃO
1 - O processo de contratação da entidade escolhida contempla todas os parâmetros
exigidos pela Lei nº 9.637/1998 e Lei nº 8.666/1993 ou lei equivalente promulgada pelo
poder executivo local para a celebração de contrato de gestão entre Organização Social
e Poder Público?

Verificou-se ausência de demonstrativo detalhado relacionado a quantitativos e custos


unitários de serviços, bem como ganhos de eficiência esperados que possam respaldar
a opção pelo modelo de Contrato de Gestão.

Verificou-se, também, restrição à competição no Edital de Chamamento n.º 01/2018,


com a proibição de despesas da sede administrativa e de deslocamentos na minuta que
constou do Edital. Entretanto, no momento da assinatura do contrato com o IBGH, essas
despesas foram permitidas.

2 - Há regularidade nas contratações de bens e serviços realizadas pela entidade


contratada no âmbito do Contrato de Gestão nº 01/2018?

Verificaram-se falhas inerentes à seleção de fornecedores, como direcionamento e


favorecimento a um grupo de pessoas que apresentam relacionamentos em comum em
diversas empresas.

3 - O contrato de gestão tem sido fiscalizado adequadamente pela SMS de Jandira?

Constatou-se falta de padronização da Comissão de Avaliação e Acompanhamento do


Contrato de Gestão n.º 01/2018 na avaliação das prestações de contas ao longo do
tempo, permitindo e glosando as mesmas despesas a cada mês.

Verificou-se, também, falta de comprovantes para 26% dos registros de atendimento


médico do IBGH, entretanto, esse fato não foi observado pela Secretaria Municipal de
Saúde de Jandira.

29
ANEXOS
I – MANIFESTAÇÃO DA UNIDADE EXAMINADA E ANÁLISE DA
EQUIPE DE AUDITORIA
Achado n.º 1. Contratação de Organização Social para a operacionalização do Pronto
Atendimento Municipal de Jandira/SP.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Inicialmente cabe registrar que a Lei Federal nº 9.637 de 15/5/1998, permite


que o poder público qualifique, como Organizações Sociais - OS, instituições
sem fins lucrativos com atividades voltadas às áreas da saúde, cultura,
pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e à proteção e preservação
do meio ambiente e que por meio da ADI 1.923/DF, o Supremo Tribunal
Federal - STF decidiu, em 16 de abril de 2015, pela validade da prestação de
serviços públicos não exclusivos por Organizações Sociais em parceria com o
poder público. Registra-se ainda que segundo o ACÓRDÃO Nº 3239/2013 -
TCU – Plenário, a escolha da organização social para celebração de contrato
de gestão deve, sempre que possível, ser realizada a partir de chamamento
público com definição de critérios objetivos previamente estabelecidos
utilizados na escolha de determinada entidade, a teor do disposto no art. 7º
da Lei nº 9.637/1998 e no art. 3º combinado com o art. 116 da Lei 8.666/1993.
Para regular a contratação de OS no município de Jandira, existe a Lei
Municipal 1.939 de 30 de novembro de 2011, alterada pela Lei Municipal nº
2.068 de 03 de julho de 2014, alterada pela Lei Municipal 2.173 de 04 de julho
de 2017.
Reforçando a adoção do modelo de Parcerias com Entidade Parceira para o
gerenciamento do PAM Jandira, a adoção deste modelo foi aprovada na 6ª
Conferência Municipal de Saúde de 2015 (Propostas nº 30 e 31) conforme
Relatório Final (Anexo I). O modelo de Contrato de Gestão para o
gerenciamento do PAM Jandira também foi aprovado pela Plenária do
Conselho Municipal de Saúde em sua reunião ordinária de 11/08/2016,
conforme Ata (ANEXO II). O Conselho Municipal de Saúde aprovou ainda o
Plano Operativo e Planilha de custos, além de participar ativamente de todo
o processo de seleção e contratação da entidade vencedora, como pode ser
verificado pelas ata do CMS de 15/01/2018, constante nas páginas 28 e 29 do
volume 1 do Processo de Licitação, (ANEXO III) e pelas da Comissão de
Análise, Qualificação e Pontuação para o Chamamento Público 01/2018
(ANEXO IV).

O PRONTO ATENDIMENTO MUNICIPAL DE JANDIRA – PAM JANDIRA

O Pronto Atendimento Municipal de Jandira era a maior unidade de saúde do


município e o único serviço de urgência e emergência, servindo de referência
para o SAMU e para as outras quatorze unidades de saúde do município. Hoje
os serviços são executados na UPA – Unidade de Pronto Atendimento.
O processo de contratação de parceiros para gerenciar a unidade de saúde
vem de longa data, pois se mostrou naquela oportunidade mais efetivo do
que o gerenciamento próprio desta unidade.

30
Para o funcionamento normal do PAM Jandira, era necessário a contratação
de 10 plantões médicos por dia (3 clínicos/dia, 3 clínicos/noite, 2 pediatras
/dia, 1 pediatra/noite e 1 ortopedista/dia), o que equivale a 300 plantões por
mês e mais de 3.600 por ano, além dos médicos Diretor Técnico, Diretor
Clínico e dos demais profissionais de saúde (não médicos) podendo chegar
até 72 profissionais de saúde, além de mais 52 funcionários para as atividades
administrativas e de apoio. E mesmo que o governo optasse por um modelo
de gerenciamento próprio, o limite de gastos com pessoal poderia superar o
limite de Receita Corrente Liquida, previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal.
O PAM Jandira, foi gerenciado por parceiros há muitos anos, conforme
quadro abaixo. Não há servidores efetivos para sua operacionalização por
meios próprios, pois, todos estes funcionários teriam de ser contratados por
meio de concurso público e efetivados, o que oneraria enormemente a folha
de pagamento.

Período Administração
Antes de 23/09/1993 Gerência própria e única pela SMS/PMJ
23/09/1993 a março/2003 Gerência pela empresa AMEVE - Associação Médica Venezian S/C
LTDA
Março/2003a21/04/2009 Gerencia pela OSCIP Associação Comunitária de Jandira que
depois mudou o nome para Associação Paulista de Serviços
Comunitários.
22/04/2009 a 05/05/2009 Gerência própria pela SMS/PMJ.
06/05/2009a06/11/2009 Contrato para prestação de serviços (contratação de pessoal) com
a cooperativa CPESP - Cooperativa dos Profissionais Estaduais e
Municipais do Estado de São Paulo.
07/11/2009 a 14/05/2012 Gerência própria pela SMS/PMJ.
15/05/2012 a 31/01/2013 Gerência pela OSS IBJ - instituto Bom Jesus por meio de contrato
de gestão.
01/02/2013 a 07/02/2013 Gerência própria e única pela SMS/PMJ
08/02/2013 a 10/03/2014 Gerência própria pela SMS/PMJ com contrato de prestação de
serviços médicos pela CAPES - Centro de Apoio Profissionalizante,
Educacional e Social.
11/03/2014 a 09/12/2014 Gerência própria e única pela SMS/PMJ.
10/12/2014 a 18/04/2017 Gerência pela FENAESC - Federação Nacional das Entidades
Sociais e Comunitárias.
13/06/2017 a 31/08/2019 intervenção do município no contrato com a FENAESC.
01/09/2018 a 31/08/2019 Gerência pelo IBGH - Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar
15/05/2019 a atual Intervenção por meio do Decreto 4.080 de 15/05/20/2019 do
município no contrato com o IBGH

O PROCESSO DE SELEÇÃO Nº 01/2018

O Edital de Chamamento Público nº 01/2018 - SMS (Processo nº 1.306/18)


sucedeu vários outros processos de seleção de entidades para gerenciar o
PAM Jandira (Editais nº 001/2016; 001/2017; 002/2017 e 003/2017), alguns

31
então foram suspensos pelo Tribunal de Contas, outros fracassados, pelos
mais diversos motivos.
No Edital de Chamamento 01/2018 foram tomados todos os cuidados para
que não ocorresse nenhum tipo de impugnação, todos os pontos dos Editais
fracassados foram revistos e corrigidos. Foi designada uma Comissão de
Análise, Qualificação e Pontuação para o Chamamento Público 01/2018, para
processar e julgar o processo, nos termos da Portaria nº. 33.055 de 02 de
março de 2018; esta Comissão atuou da forma mais transparente possível e
sua composição contou com a participação de três membros do Conselho
Municipal de Saúde, inclusive um destes membros é um ex-vereador (Sr. R.
C.S. editado), que havia sido candidato a Prefeito no pleito em que foi eleito
o atual Prefeito. O trabalho desta Comissão transcorreu sem nenhuma forma
de pressão, indução ou direcionamento de qualquer forma, para beneficiar
ou prejudicar qualquer uma das entidades participantes e foi pautado nos
princípios da transparência, legalidade, probidade administrativa, ampla
participação licitatória, isonomia, igualdade e impessoalidade, como pode ser
observado pelas atas das reuniões da Comissão (ANEXO IV).
Ao final no processo de seleção, foi escolhida a Organização Social de Saúde,
qual seja o Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar, conforme Ata da Sessão
Reservada da Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação para o
Chamamento Público 01/2018 do dia 16/05/2018 (ANEXO IV).
Houve ampla divulgação através do extrato do edital de chamada pública, em
Jornal de grande circulação (jornal Agora), no Diário Oficial do Estado de São
Paulo, e disponibilizada no site da Prefeitura Municipal de Jandira.
Diz o relatório em seguida que “o IMAPIS desiste de continuar sua
participação no processo seletivo, em desacordo com o disposto no item 7.5
do edital de chamamento: “Após a fase de habilitação, não caberá
desistência da proposta, salvo por motivo justo decorrente de fato
superveniente e aceito pela Comissão Especial de Seleção”. Não constou do
processo justificativa para a desistência do IMAPIS, e que foi aceita pela
Comissão Especial de Licitação.”
Primeiramente, cabe registrar que o processo de qualificação do IMAPIS foi
tumultuado pelo representante do Conselho Municipal de Saúde na Comissão
de Análise, Qualificação e Pontuação para o Chamamento Público 01/2018,
Sr. R. C. S. (editado) que registrou sua posição de não concordar com a
habilitação da entidade IMAPIS, sugerindo que a referida entidade
apresentara um Contrato de Locação de sede na cidade de Jandira de origem
duvidosa, além de ter participado de uma diligência com os membros da
Comissão que constatou que a sala alugada pela entidade encontrava-se
totalmente vazia e sem funcionamento, como pode ser observado na ata de
sessão reservada da Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação para o
Chamamento Público 01/2018 para análise dos contra recursos apresentados
pelas entidades participantes do dia 23/04/2018 (ANEXO IV). A Comissão
qualificou a referida entidade por entender que, embora não haja registro de
sede da entidade nos órgãos públicos competentes, houve declaração por
parte da entidade de que havia sede no município. Foi realizada diligência
pelos membros da Comissão, onde se verificou que a sala não estava
preparada para tal finalidade. Contudo, esta não era uma exigência prevista
no edital, logo, não justificaria sua inabilitação e seguiu o certame. Houve
pressão dos Conselheiros de Saúde (em especial do Sr. R. C. editado) pelo fato
da Comissão ter qualificado a entidade IMAPIS que, no entendimento do
Conselheiro, havia cometido irregularidades no processo licitatório. No dia 14
de maio de 2018, a representante do IMAPIS, Sra. L. A. A. (editado), enviou

32
um e-mail para o Presidente da Comissão que consta do Volume XIII do
Processo 1.306/18 nas páginas 2.771 a 2.775, com o seguinte texto:
“Na data de 13.05 e 14.05.2018, a Matriz do Instituto Marie Pierre de Saúde
recebeu mais de 20 (vinte) ligações VOLTANDO AO ASSUNTO DO CONTRATO
DE LOCAÇÃO da sala comercial na cidade de Jandira pelo Instituto. Com falas
ofensivas e sérias ameaças, repetindo várias vezes que este contrato de
locação não é válido, no entanto, já foi demonstrado o contrário a esta Digna
Comissão, e não acreditamos que partiu desta Comissão nenhuma ofensiva.
Diante da situação, e prosseguindo também exposições em MÍDIAS SOCIAIS,
locais de Jandira, veiculando o Nome da Instituição várias vezes, que, em
reunião convocada pelo Instituto se DECIDIU abdicar do Certame para Gestão
do PAM de Jandira, Chamamento Público nº 01/2018, uma vez que por
conhecimento de históricos ocorridos na Cidade de Jandira o Instituto prefere
retirar-se do Certame.
Registra-se que a COMISSÃO DE LICITAÇÃO em nada tem a ver com as
condutas em Paralelo citadas, e que em todo momento a Comissão atuou de
Forma Digna e Coerente frente aos Princípios da Administração Pública. Essa
é uma Posição Unilateral e em preservação a Instituição. Cientes de que não
haverá Danos, uma vez que a Comissão dispõe de mais 2 concorrentes aptas
ao Pleito.
Encerra-se assim a relação de interesse do IMAPIS para com o Chamamento
nº 01/2018 – SMS – Jandira – SP.
Que este e-mail sirva de prova documental para o Declínio. Estando o IMAPIS
a disposição de qualquer outra via documental que se faça necessário a esta
confirmação.
Que esta decisão é irrevogável pelo Instituto. Favor acusar recebimento.
Atenciosamente: L. A. A. M. (editado) - Diretora Administrativa e
representante no certame Tel: 11 (98688-nnnn) (editado). (ANEXO V).
Desta forma, a Comissão entendeu que houve sim, motivo justo decorrente
de fato superveniente e que foi prontamente aceito pela Comissão Especial
de Seleção e que conforme demonstrado anteriormente, constou do
processo a justificativa para a desistência do IMAPIS, nas páginas 2.770 a
2.775 do Volume XIII do Processo 1.306/18 (ANEXO V).
Mediante os eventos ocorridos, fatos relatados, justificativas apresentadas
pelo IMAPIS e a ausência de penalidades passíveis de serem aplicadas
previstas em edital, a comissão acatou a desistência do IMAPIS.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa para a desistência do IMAPIS foi a seguinte: “Na data de 13.05 e


14.05.2018, a Matriz do Instituto Marie Pierre de Saúde recebeu mais de 20 (vinte)
ligações VOLTANDO AO ASSUNTO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO da sala comercial na
cidade de Jandira pelo Instituto. Com falas ofensivas e sérias ameaças, repetindo várias
vezes que este contrato de locação não é válido[...]”. No entanto, consta somente esta
declaração da dirigente da entidade, não havendo comprovação documental das suas
afirmações.

Achado n.º 2. Ausência de estudos que demonstrem os quantitativos e custos


unitários dos serviços, bem como de ganhos de eficiência esperados que
fundamentem a adoção do modelo de Contrato de Gestão.

33
Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira
apresentou a seguinte manifestação:

Diz o relatório que: “A Prefeitura não apresentou e, também, não consta do


Processo Administrativo nº 1306/2018, no qual se processou o Chamamento
Público nº 01/18, demonstrativo detalhado relacionado a quantitativos e
custos unitários de serviços, bem como ganhos de eficiência esperados que
possam respaldar a opção pelo modelo de Contrato de Gestão, adotado pela
Prefeitura Municipal de Jandira/SP.”

Ao contrário do que foi observado pelos membros da equipe de fiscalização


da CGU, a Prefeitura apresentou e consta do Processo Administrativo nº
1306/2018, no qual se processou o Chamamento Público nº 01/18,
demonstrativo detalhado relacionado a quantitativos e custos unitários de
serviços e pode ser observado nas folhas 33, 34 e 35 do Volume 1 do Processo
1.306/18 (ANEXO VI), onde consta uma Planilha com Custo Mensal do
Pronto Atendimento Municipal de Jandira, destacando o custo de cada
profissional, de cada atividade, bem como dos contratos de laboratório de
análises clínicas, dos contratos dos prestadores de serviços (alimentação,
controle de acesso, segurança, lavanderia, gás medicinal, manutenção
predial, locação de equipamentos e etc.), totalizando o valor global mensal e
o valor global anual do Contrato de Gestão. Esta Planilha com Custo Mensal
do Pronto Atendimento Municipal de Jandira foi inserida no EDITAL DE
CHAMAMENTO PÚBLICO Nº 01/2018 – SMS (ANEXO VI- Planilha
Orçamentária Mensal do PAM Jandira) sem os valores de cada item,
justamente para dar liberdade às entidades participantes de apresentarem
menores preços e menores custos para cada um destes itens.

Cabe registrar que a Planilha com Custo Mensal do Pronto Atendimento


Municipal de Jandira apresentada pela SMS, foi aprovada por unanimidade
pela plenária do Conselho Municipal de Saúde em reunião de 15 de agosto de
2017 e ratificada em reunião de 15 de janeiro de 2018 (ANEXO VII),
apresentando um limite máximo de orçamento previsto, referente aos 12
(doze) primeiros meses de operação do objeto, do respectivo Contrato de
Gestão, no valor de R$ 18.600.000,00 (dezoito milhões e seiscentos mil reais),
perfazendo um valor de R$ 1.550.000,00 (um milhão, quinhentos e cinquenta
mil reais) por mês, o menor custo já apresentado para o gerenciamento
desta unidade.

Diferentemente do que foi observado pelos membros da equipe de auditoria


da CGU, houve estudos demonstrando os ganhos de eficiência esperados que
fundamentaram a adoção do modelo de Contrato de Gestão, alcançando
ganhos de eficiência provocado pela economia realizada no limite máximo do
orçamento previsto.

A opção pelo modelo de Contrato de Gestão, adotado pela Prefeitura


Municipal de Jandira/SP foi bem justificado em todo o processo de
contratação, como será descrito em seguida. Na folha 3 do Volume 1 do
Processo 1.306/18 (ANEXO VIII) consta a Requisição de Contratação nº
014/2018 de 15/01/2018, e neste documento já é apresentada uma
justificativa e os ganhos de eficiência esperados que fundamentem a adoção
do modelo de Contrato de Gestão:

“O crescimento vertiginoso dos custos de assistência à saúde tem gerado


diversas propostas de mudanças na organização de equipamentos de saúde
financiados com recursos próprios, e a parceria com Organização Social de

34
Saúde (OSS), é uma alternativa concreta para obtenção de maior qualidade e
produtividade com menores custos. Neste modelo, a responsabilidade direta
pela administração da unidade passa a ser da Organização Social, mas o
município continua com a Gestão do Sistema Público de Saúde, onde a
unidade está inserida. No modelo de OSS, o município planeja o serviço a ser
executado, define as metas de produção e de qualidade, garante os recursos
orçamentários para o custeio dos serviços e cobra os resultados previamente
definidos em contrato além de prestar contas de forma transparente e
permanente, permitindo o indispensável controle social, em benefício do
atendimento das necessidades da população usuária do Sistema Único de
Saúde”

Nas folhas 31 e 32 do Volume 1 do Processo 1.306/18 consta também uma


justificativa para a adoção do modelo de Contrato de Gestão (ANEXO IX):

JUSTIFICATIVA

O processo de implantação de Organizações Sociais para o gerenciamento do


Pronto Atendimento Municipal de Jandira (PAM Jandira) já vem ocorrendo há
anos, inclusive com aprovação na última Conferência Municipal de Saúde,
quando o PAM Jandira ainda tinha alguma característica de hospital
municipal. Essa opção visa otimizar o modelo de gerenciamento para atuar
nas ações do PAM Jandira, sobretudo na melhoria de toda estrutura já
disponível, vinculado a gestão da Secretaria Municipal da Saúde.

O Município de Jandira tem por objetivo implementar o sistema funcional de


saúde por meio do qual os cidadãos tenham acesso garantido a todas as ações
e serviços para o atendimento de suas necessidades, tendo em vista a
integralidade da atenção aos cidadãos pertencentes ao espaço regionalizado
do sistema de saúde.

Sob essa perspectiva, o Pronto Atendimento Municipal de Jandira (PAM


Jandira) deve ser entendido como uma das funções de fortalecimento da
capacidade de gestão do SUS, pois é o mecanismo que permite ao Município
otimizar as redes de serviços e garantir o acesso a atenção integral. A
operacionalização deve ser ascendente e em ligação com a Política de
Atenção Básica e a Rede de Atenção às Urgências e Emergências do município
e da Região Rota dos Bandeirantes.

O PAM Jandira deve contemplar a concepção de hierarquia e território, tanto


para a utilização de procedimentos, como de internações via Central de
Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (CROSS) nos hospitais da grade de
referência hospitalar. Nesse sentido, a Secretaria Municipal da Saúde de
Jandira tem realizado ações preconizadas na Rede de Atenção às Urgências e
Emergências (RUE), no que tange a missão de um equipamento de saúde com
características de Pronto Atendimento, equivalente a uma Unidade de Pronto
Atendimento (UPA), atendendo as demandas da população do município,
segundo os fluxos e protocolos estabelecidos.

Neste contexto, o Município de Jandira, sensível às necessidades da


população, resolveu otimizar o modelo de gestão para atuar nas ações do
PAM Jandira, sobretudo na melhoria de toda estrutura já disponível,
vinculada à estrutura da Secretária Municipal da Saúde.

Assim sendo, o Município de Jandira adota o modelo de gestão por


organização social apoiando o PAM Jandira para garantir o desenvolvimento

35
das ações, tecnologias e relações, visando intermediar a demanda dos
usuários por serviços de saúde e o efetivo acesso a estes, de forma a garantir
a eficiência, eficácia e efetividade do acesso aos serviços oferecidos pelas
unidades de saúde integrantes da Rede de Atenção à Saúde - RAS, tanto da
rede própria como da rede de referência, para que o usuário seja atendido no
local mais próximo de sua residência, no nível de complexidade necessário e
no menor tempo.

No modelo de parceria com Organizações Sociais, segundo experiências


exitosas em outras unidades da federação, há um expressivo ganho de
agilidade, economicidade e qualidade nas aquisições de bens e serviços;
imposição de limites para execução de despesas administrativas e da
remuneração dos dirigentes; implantação de normas e rotinas
administrativas nas áreas de faturamento, financeiro, contabilidade,
patrimônio e almoxarifado resultando na eficiência na gestão, menor custo e
maior eficiência na prestação de serviços de saúde.

Observando que o Município de Jandira conta com específico sistema de


controle interno na área de saúde pública, devidamente estruturado, que se
incumbirá de executar o acompanhamento e monitoramento sistemáticos do
contrato de gestão da organização social de saúde por meio de Comissão de
Avaliação, com a possibilidade de incremento nas metas de produção,
desempenho e qualidade a cada período de avaliação, ou mesmo a rescisão
do contrato por não cumprimento das metas estabelecidas.

Desse modo, será realizado o Chamamento Público 001/2018, por meio do


qual habilitará e selecionará entidade parceira apta a firmar Contrato de
Gestão com a Secretaria Municipal da Saúde, atendidos os requisitos legais e
as normas técnicas específicas estabelecidas.

A experiência na gestão do PAM Jandira durante o período de intervenção ora


vigente, permitiu que os técnicos da Secretaria Municipal da Saúde,
aprimorassem mecanismos de controle interno e de qualidade no
atendimento aos munícipes Esse período de intervenção deve ser entendido
como um período de exceção, em que a administração se vê tolhida em alguns
aspectos, principalmente no que se refere à contratação de pessoal. Isso não
refletiu em diminuição na qualidade no atendimento, inclusive houve
aumento considerável do número de atendimentos diários realizados, devido
a reorganização dos processos de trabalho interno.

Outro ponto importante é uma previsão de custo mais próxima à realidade do


atual contexto do PAM Jandira, como abaixo demonstrado. Esse servirá de
parâmetro para a composição do custo no Chamamento Público 001/2018.

Ante o exposto, submeto esta justificativa ao Departamento Jurídico e demais


órgãos de controle e fiscalização da Prefeitura Municipal de Jandira.

Jandira, 15 de janeiro de 2018


J. P.(editado)
Secretária Municipal da Saúde

Nas folhas 120 a 124, do Volume, 1 do Processo 1.306/18 consta também


uma Justificativa Técnica para Contratação de Organização Social para
Gerenciamento do PAM Jandira, neste documento é reforçada a justificativa
e os ganhos de eficiência esperados e inclusive de economicidade que
fundamentam a adoção do modelo de Contrato de Gestão. (ANEXO X):

36
JUSTIFICATIVA TÉCNICA PARA CONTRATAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL PARA
GERENCIAMENTO DO PAM JANDIRA

Pautada em estudos que apontam que a contratação de Organização Social,


por meio de Contrato de Gestão, tem importante papel na autonomia
administrativa e financeira, possibilitando o emprego de instrumentos e
práticas gerenciais inovadoras, como fator condicionante para o ganho de
eficiência para esse modelo de gerenciamento, passaremos a abordar os
elementos capazes de explicar esta diferença de desempenho entre os dois
modelos: administração direta e gerenciamento por Organização Social para
o Pronto Atendimento Municipal de Jandira (PAM Jandira). Ressalte-se que,
em relação a economicidade do projeto, por se tratar do setor saúde, nem
sempre os números são traduzidos em redutores de gasto, mas sim em ganhos
sociais, já que o ganho em eficiência deve ser traduzido em menor taxa de
morbidade/mortalidade e suas sequelas na população usuária do serviço.

Vale lembrar de antemão, que o governo do Estado de São Paulo, optou por
este modelo de gestão para algumas de suas unidades hospitalares e
ambulatoriais, com a implantação de organizações sociais de saúde (OSS),
gerenciadas por entidades públicas não-estatais, submetidas a contratos de
gestão, que são acompanhados e avaliados por estrutura da Secretaria
Estadual de Saúde, criada especificamente para este fim, mesmo modelo que
se pretende implantar para o PAM Jandira.

A presente justificativa não pretende demonstrar ou fazer qualquer inferência


sobre a ineficiência do setor público, mas sim assinalar que a necessidade de
contratação de organização social para o gerenciamento do PAM Jandira
deve se traduzir em inovações que possam ser apropriadas e implementadas,
observados os aspectos centrais - os ganhos de eficiência, economicidade,
vantajosidade e a preservação do interesse público.

Passamos, então, a numerar os pontos relativos aos aspectos centrais:

1. O grau de autonomia administrativa e financeira concedido à Organização


Social mediante Contrato de Gestão, seja na aquisição de bens e serviços ou
contratação de recursos humanos, permite que, obedecendo os limites
orçamentários estabelecidos, haja arranjos institucionais que garantam o
melhor uso possível dos recursos destinados. Obviamente, a aquisição de bens
e serviços deve obedecer rigorosamente ao preconizado em regulamento de
compras estabelecido para este tipo de organização. A simplificação desse
processo permitirá que o abastecimento do PAM Jandira sob este regime de
gestão seja feito em intervalos menores e focado nas necessidades de
consumo para o período, gerando maior rotatividade no estoque com menor
ativo imobilizado. Ter processos simplificados, com uma pequena quantidade
de estações de trabalho (dos setores solicitantes ao setor de compras, deste
aos fornecedores selecionados e destes ao almoxarifado), além da agilidade
na execução da tarefa, tende a torná-la menos dispendiosa.

2. Com a adoção de contrato de gestão com organização social haverá uma


desoneração de parte da administração pública, já que a rotina do PAM
Jandira em seus amplos aspectos, envolvem variados setores da
municipalidade, entre outros, o departamento jurídico, manutenção,
almoxarifado central, Recursos Humanos, secretaria de administração, de
finanças, de licitações e compras, secretaria da saúde e seus diversos setores.
Além disso, pode-se ressaltar uma significativa redução de custo do
profissional médico, como apontado na tabela abaixo, que traz um

37
comparativo entre os salários praticados pela Gestão Própria da Prefeitura,
segundo dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Administração, e a
média salarial praticada pelos municípios da região apurado via contato
telefônico, os quais foram levados em conta para compor o custo mensal do
contrato com a entidade parceira, gerando uma economia anual na ordem de
R$ 1.013.018,40.

Tabela 1. Comparativo entre os salários de médicos, praticados pela Gestão


Própria da Prefeitura, e a média salarial praticada pelos municípios da região,
os quais foram levados em conta para compor o custo mensal do contrato
com a entidade parceira.

Profissional Gestão Gestão Própria Contrato Contrato de


Própria (por (por plantão) de Gestão
plantão) Com encargos Gestão Custo Mensal
Com encargos - Cargo Efetivo Custo por
- Cargo Efetivo - Custo Mensal Plantão
- Custo por
Plantão
Médico Clínico 1.678,54 302.137,20 1.400,00 252.000,00
Geral
(3 dia e 3 noite)
Médico Pediatra 1.678,54 151.068,60 1.450,00 130.500,00
(2 dia e 1 noite)
Médico 1.678,54 100.712,40 1.450,00 87.000,00
Ortopedista
(1 dia e 1 noite)
Gasto total mensal com médicos 553.918,20 469.500,00
plantonistas
Diferença entre o custo mensal de Gestão Própria e de Contrato 84.418,20
de Gestão
Diferença entre o custo anual de Gestão Própria e de Contrato de 1.013.018,40
Gestão

3. A reorganização de fluxos de aquisição de bens e serviços de forma


desburocratizada permite a negociação de condições de pagamento e de
reposição de medicamentos, insumos hospitalares e material favoráveis à
organização. Os critérios para efetuação do processo envolvem os
profissionais de saúde que devem fazer a justificativa e comprovação da
eficácia de materiais e insumos indicados para aquisição e análise de
disponibilidade orçamentária e financeira. Vale lembrar que a criação de
figuras jurídicas tais como autarquias, fundações, empresas públicas,
organizações sociais, representam alternativas aos limites impostos pelas
regras atuais para garantir abastecimento das unidades do sistema, dentro
de limites de tempo e qualidade necessários. A busca do ajuste possível entre
os tempos técnico e administrativo representa um desafio do sistema na
busca da qualificação do seu processo de gestão.

4. Na administração direta, predomina uma situação de baixa autonomia em


relação ao controle sobre os RH, que combina limites na capacidade de
regulação do sistema, condicionado pelo estabelecido por instrumentos que
regulam os gastos públicos, de uma legislação que define a forma de ingresso
e permanência no serviço público, e uma gestão centralizada de vários
elementos que compõem a política de RH (recrutamento, seleção, incentivos
ao desempenho, sanções administrativas). A forma de contratação é sempre
por concurso público, entretanto, depende de autorização da área financeira,

38
que observa, além dos limites legais para gasto com pessoal, critérios próprios
para alocação de recursos que nem sempre levam em consideração a
relevância do setor saúde para o desenvolvimento de um país, estado ou
município, mas apenas os gastos envolvidos com a oferta de serviços. Essa
lógica tecnocrática não incorpora a projeção sobre mudanças no perfil
demográfico e epidemiológico das regiões onde estão inseridas.

5. As limitações quanto ao gerenciamento das relações de trabalho, no


âmbito das unidades da administração direta, são evidenciadas, ainda, nos
aspectos relativos ao controle sobre os processos de
demissão/descontratação, bem como ao da progressão funcional, com
implicações sobre os níveis de eficiência destas organizações, considerando a
forma burocratizada como estas questões são tratadas.

6. Sob gerenciamento da administração pública, qualquer ausência de


profissional que presta atendimento direto à população, seja por afastamento
temporário, férias ou falta ao serviço ocasionado por qualquer contratempo
causará impacto importante na eficiência do serviço, pois, por não haver
mecanismos legais previstos para essas substituições com a celeridade
necessária e por se tratar de um Pronto Atendimento haverá diretamente uma
queda na qualidade do atendimento, com consequências diretas sobre o
tempo de espera para atendimento. Sob a gestão de organização social, é
possível contar com mecanismos possíveis para substituições e cobertura de
eventuais ausências com maior rapidez, além de potencial no aumento de
atendimentos à população.

7. A definição sobre formas de contratação de pessoal, sob qualquer forma de


vínculo, é de decisão exclusiva da OSS, respeitado a legislação vigente e o
limite orçamentário para gasto com pessoal.

8. Não há na estrutura de cargos efetivos no município de Jandira, pessoal


suficiente para dar conta de manter em funcionamento do PAM Jandira que
atende, em média, 350 pacientes por dia. Esta unidade, historicamente foi
gerenciada por entidades privadas, com pequenos intervalos de gestão
própria, de modo provisório. O processo de criação de novos cargos e funções
na estrutura de RH do município, bem como realização de concurso público,
contratação, treinamento, distribuição de uniformes e EPI etc., oneraria todo
o sistema, inclusive a previdência municipal que é regime próprio. Além disso,
as unidades de Pronto Atendimento são estabelecimentos de saúde que
devido suas características, carece de agilidade na gestão de pessoas, de
suprimentos e financeira não podendo ficar submissa ao “engessamento” da
burocrática máquina administrativa da Prefeitura, mas sem deixar de cumprir
os princípios da transparência, impessoalidade e economicidade. O modelo de
gestão através de parceiros privados qualificados como OSS além de legal, é
muito mais ágil e comprovadamente mais eficiente, tanto que é utilizado,
como mencionado anteriormente, como modelo preferencial pela Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo e por vários outros estados e municípios
brasileiros.

9. O estabelecimento de metas e indicadores que servirão de base para a


avaliação da organização social, deve estabelecer a direcionalidade dos
processos de trabalho, além de permitir melhor avaliação do desempenho do
gerenciamento do Pronto Atendimento e indicar critérios de eficiência
objetivos. Além disso, o cumprimento de metas estabelecidas no contrato de
gestão configura cláusula contratual que condiciona a manutenção do
contrato.

39
10. O contrato de gestão, assim concebido, é ferramenta indutora de busca
de eficiência do sistema ou como instrumento de regulação entre o setor
público e o privado. Para compor o custo mensal da contratação de entidade
para o gerenciamento do PAM Jandira foi considerado uma média de custeio
(materiais e insumos, contratos diversos, medicamentos, concessionárias e
etc.), baseado em meses anteriores, que pode ser reduzido, devido a agilidade
no processo de contratação. Esta redução está prevista na apresentação das
propostas pelas entidades interessadas, podendo chegar a um desconto de
5% sobre o montante total, resultando em uma economia de até R$
930.000,00 por ano.

11. Como mencionado anteriormente, esses argumentos não referendam


uma imagem do público como expressão de ineficiência administrativa, mas
ressaltam alguns elementos condicionantes em seu desempenho, ancorados
em regras incompatíveis com a velocidade das respostas que a administração
pública deve promover, tendo em vista as demandas e necessidades da
população. O descompasso entre os tempos técnico e administrativo em um
setor como saúde tem repercussões importantes sobre a capacidade do setor
em operar mudanças nos indicadores de morbidade e mortalidade da
população. Além disso, novas formas de gerenciamento de unidades de saúde
podem gerar aprendizagem organizacional necessárias ao aprimoramento do
Sistema Único de Saúde local.

Em resumo, os limites e possibilidades advindas da adoção de contrato de


gestão com organização social devem ser capazes de indicar os elementos
centrais que comporão os projetos de reestruturação da administração
pública. Os resultados destas experiências e a possibilidade de sua
incorporação ao processo de gestão pública podem ser determinantes para o
desenho de uma nova forma de organização administrativa para o setor, que
seja eficiente, efetiva e voltada para a preservação do interesse público.

Isto posto, esta Secretaria Municipal da Saúde é favorável à contratação de


Organização Social para o gerenciamento do PAM Jandira.

Bibliografia consultada

1. BARBOSA, Nelson Bezerra and ELIAS, Paulo Eduardo Mangeon. As


organizações sociais de saúde como forma de gestão público/privado. Ciênc.
saúde coletiva [online]. 2010, vol.15, n.5 [cited 2018-02-23], pp.2483-2495.

2. IBANEZ, Nelson et al. Organizações sociais de saúde: o modelo do Estado


de São Paulo. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2001, vol.6, n.2 [cited 2018-02-
23], pp.391-404.

3. André M 1993. Contratos de gestão como instrumentos de promoção de


qualidade, produtividade no serviço público. Indicadores de Qualidade e
Produtividade IPEA (1) fev.

J. P. (editado) J. A. S. N. (editado)
Secretária da Saúde Assessor Técnico Conv. e Planej.

40
Análise da equipe de auditoria

Nas justificativas apresentadas, a Prefeitura Municipal não apresentou nova


documentação além da já existente no processo analisado.

Conforme informado no texto do fato apontado, no estudo apresentado não há


informações de que a transferência do gerenciamento para a organização social mostra-
se a melhor opção para o município com os ganhos esperados de eficiência, eficácia e
economicidade que poderiam resultar em melhor desempenho ou menor custo na
prestação dos serviços à população. A vantagem econômica apresentada não traz
memória de cálculo no processo de contratação, com planilha detalhada por atividade
apresentando os quantitativos de serviços e custos unitários correspondentes que
pudessem permitir uma análise apropriada acerca de sua razoabilidade, bem como
realizar comparação com os preços de mercado.

Ressalta-se que, conforme a tabela apresentada no item 01 da justificativa, a


transferência do gerenciamento para a organização social não tem apresentado bons
resultados, pois nos últimos 6 anos foram assinados três contratos de gestão que não
tiveram duração superior a um ano, tendo que a Prefeitura assumir a continuidade da
execução dos serviços no hospital.

Achado n.º 3. Inexistência de proposta de preços detalhada com a estimativa, por área
de atuação, de quantitativos e custos unitários dos serviços no âmbito do Contrato de
Gestão nº 01/18.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Disse o relatório que “o IBGH apresentou somente a Planilha de Despesas


Mensal para os doze meses, que especifica o repasse mensal a ser efetuado
à entidade no primeiro ano de vigência do contrato. Não houve a
apresentação da Planilha Orçamentária Mensal (conforme Anexo VI, do
Edital de Chamamento Público 01/2018 – SMS), que solicita o detalhamento
do quantitativo, os respectivos cargos, a remuneração de cada cargo,
encargos, benefícios e outros custos”.

Ao contrário do que foi observado pelos membros da equipe de auditoria da


CGU, o IBGH apresentou a proposta de preços detalhada com a estimativa,
por área de atuação, de quantitativos e custos unitários dos serviços no
âmbito do Contrato de Gestão nº 01/18.

As informações exigidas pelo Anexo VI do Edital foram devidamente


respondidas. Nas páginas 1755 a 1757 do Anexo X do Processo 1.306/18
consta o Dimensionamento do Quadro de Pessoal (ANEXO XI) que apresenta
as quantidades, as remunerações e a carga horária de cada cargo,
complementando, a Planilha de Custos/Despesas Mensais (ANEXO XII) na
página 1.902 do mesmo anexo X, foram apresentados os demais
detalhamentos solicitados no Anexo V e Anexo VI, do Edital de Chamamento
Público 01/2018 – SMS. A Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação para

41
o Chamamento Público 01/2018 entendeu que, a entidade apresentou as
informações exigidas no Anexo V e no Anexo VI, todas contempladas no
Dimensionamento do Quadro de Pessoal e na Planilha de Custos/Despesas
Mensais; e que, embora o formato não estava idêntico ao que foi solicitado
no Anexo VI do edital, as informações apresentadas nestas duas planilhas
atendiam ao detalhamento do quantitativo, os respectivos cargos e a
remuneração de cada cargo. Por fim, a Comissão de Análise, Qualificação e
Pontuação para o Chamamento Público 01/2018 entendeu que a exigência da
formalidade da formatação da planilha constante no anexo VI, poderia ser
vista como uma forma de ferir o princípio da ampla concorrência.

Desta forma, a Comissão de Análise, Qualificação e Pontuação para o


Chamamento Público 01/2018 entendeu que a forma como foi apresentado
pela entidade os anexos, continha detalhamento suficiente dos custos
envolvidos na contratação dos respectivos serviços, e suficiente para
assegurar a adequação entre os meios sugeridos, seus custos, cronogramas e
resultados, possibilitando uma avaliação precisa dos mesmos, quando
cotejados com as atividades/áreas envolvidas no Contrato de Gestão nº
01/18.

Análise da equipe de auditoria

Ao contrário da justificativa apresentada, não se encontra no processo analisado a


proposta de preços detalhada com os quantitativos, os custos dos encargos e benefícios,
os custos unitários e total de cada cargo; essas informações eram solicitadas no anexo
VI do Edital de Chamamento Público 01/2018 – SMS. Na proposta apresentada pelo
IBGH consta somente o cargo com a respectiva remuneração, não constando o
quantitativo de pessoal necessário para execução das atividades, bem como o valor
correspondente a cada item que compõe cada salário, com os respectivos encargos
trabalhistas, sociais e benefícios, os custos unitários e total de cada cargo. Quanto ao
quantitativo, o IBGH apresentou somente referente à equipe de enfermagem. Portanto,
a proposta apresentada pelo IBGH não atendeu plenamente às exigências do Edital de
Chamamento Público por não conter detalhamento suficiente dos custos envolvidos de
cada item necessário para a execução do contrato para que a Comissão de Análise,
Qualificação e Pontuação para o Chamamento Público 01/2018 pudesse realizar uma
avaliação precisa dos mesmos, quando cotejados com as atividades/áreas envolvidas do
contrato.

Achado n.º 4. Pagamento de despesas administrativas da sede do IBGH no Estado de


Goiás não previstas no Edital de Chamamento n.º 01/2018. Contrato pactuado em
desacordo com minuta prevista no certame. Atuação não padronizada da CAA ao
longo do tempo.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Em relação a esse item a CGU diz que constava na minuta contratual contida
no edital do chamamento 01/2018, uma vedação quanto ao custeio das
despesas da sede da entidade, e que, segundo o órgão, por motivos não

42
identificados, o contrato firmado foi alterado, passando a permitir o custeio
de despesas compartilhadas da sede da entidade e os deslocamentos, entre
a sede e a unidade de saúde.
Inicialmente, é importante dizer que a minuta contratual que acompanha o
edital não pode ser considerada imutável. Como é cediço, a Administração
tem a faculdade de proceder alterações contratuais, em especial quando as
peculiaridades do objeto assim exigirem. Importa destacar que o contratado
IBGH, por ocasião da apresentação da proposta financeira, discriminou todos
os custos inerentes inclusive o rateio das despesas administrativas da sede da
entidade.
É evidente que não haveria a possibilidade de uma Organização Social
administrar totalmente à distância uma unidade hospitalar, sem o devido
compartilhamento das despesas da sede da entidade, mesmo que esta fosse
instalada dentro do próprio Município contratante. A infraestrutura
tecnológica, diretoria, colaboradores, que trabalhassem externamente
gerariam custos já previstos nas planilhas do edital, e que teriam que ser
suportados pelo contrato. E no caso presente, como a estrutura
administrativa da entidade contratada fica lotada na sede geral, portanto,
não seria razoável nem tampouco proporcional que o Contratante utilizasse
a referida estrutura sem qualquer contraprestação pecuniária proporcional.
O contrato pode e deve ser firmado de modo diverso do disposto no
instrumento convocatório ou do ato de liberação da licitação e seus
respectivos anexos, se as novas condições favorecerem a Administração
Pública, a exemplo da diminuição do prazo de entrega do objeto contratado,
da oferta de garantia, quando esta não fora prevista no instrumento
convocatório ou no ato de liberação da licitação, e da entrega de
equipamento de última geração em lugar do licitado não ser assim
qualificado, sempre que ditas vantagens forem conseguidas em amigável
entendimento com o vencedor do certame ou do escolhido diretamente.
Conhecido o proponente vitorioso ou o escolhido diretamente, pode a
Administração Pública licitante interceder, na defesa do interesse público,
junto a esse licitante para obter uma proposta ainda melhor. Nada há de ilegal
ou inconstitucional nesse procedimento. De fato, trata-se, em relação ao
vencedor da licitação ou ao escolhido diretamente, de acerto que tem por
objeto direitos disponíveis e, no que é pertinente à Administração Pública
licitante, do cumprimento do princípio da boa administração, na medida em
que está obrigada a buscar o que há de melhor para o interesse público.
Consensualmente, criaram-se mais ônus, responsabilidades e obrigações ao
proponente e, ainda, conseguem-se mais vantagens para a Administração
Pública licitante. Nessas hipóteses, direito ou interesse algum, seja de quem
for, foi violado, pois se todos os participantes licitatórios aceitaram o
julgamento dado ser a proposta vencedora a mais vantajosa, não há por que
reclamar se com esse procedimento a oferta restará ainda melhor. Nada
podem exigir ou reclamar, pois nada lhes foi negado, retirado ou
desrespeitado. Melhor sorte não têm os não participantes da licitação, pois
se não tinham qualquer direito face à ausência do certame, nada podem
reivindicar ante a melhora da proposta feita pelo proponente vitorioso.
Atente-se: se seu afastamento do procedimento licitatório era demonstração
cabal de seu desinteresse, é certo, lógica e seguramente, afirmar-se que dito
desinteresse será ainda maior com a melhora da proposta. Diga-se, mais, que
a melhora da proposta sobre não afrontar qualquer norma licitatória,
prestigia o princípio da boa administração. Semelhantemente ocorre quando
a Administração Pública propugna e consegue amigavelmente melhorar a
proposta apresentada pelo escolhido diretamente. Mediante tal acordo a

43
Administração Pública ganha vantagens sem ferir direitos de quem quer que
seja. No caso, por cuidar-se de licitação prescindível e de proposta em
condições de aceitação, nada há de ilegal ou impediente desse procedimento
e da contratação em condições e termos diversos do que se anunciará.
A possibilidade de alteração de contratos administrativos, neste caso
encontra previsão no Art. 65, da Lei 8666/93, que dispõe:
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as
devidas justificativas, nos seguintes casos:
.....
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os
encargos do contratado e a retribuição da administração para a justa
remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção
do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de
sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de consequências
incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou,
ainda, ainda em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe,
configurando álea econômica extraordinária e extracontratual”.
Neste sentido, cabe transcrever posicionamento doutrinário com discussões
sobre a obrigatoriedade de o contrato corresponder à minuta contratual
anexada ao ato convocatório:
“Não obstante ao que se disse acima, Adilson Abreu Dallari (2014) assinala
que ‘não se pode exigir que o texto do futuro contrato seja exatamente igual
à minuta que figurou no edital’. E continua. ‘Na verdade nada impede que se
aumentem os encargos do particular e as vantagens ou garantias da
Administração Pública. Isso não violaria os direitos ou interesses de eventuais
licitantes que não apresentaram propostas’.
Excepcionalmente, existem situações em que a doutrina tem admitido a
divergência entre a minuta do conteúdo do contrato e do contrato
propriamente dito, quando, por exemplo, a modificação se fizer necessária
para melhor atender aos interesses públicos, trouxer benéficos ou favorecer
a Administração Pública, assim como dela não decorrer prejuízo (restrições),
à competitividade, preservando-se, por conseguinte, o princípio da isonomia
entre os licitantes. (CEZAR, Cassiana de Almeida. Apontamentos sobre a
obrigatoriedade de o contrato corresponder à Minuta contratual anexada ao
ato convocatório. Disponível em:
HTTP://www.jmleventos.com.br/arquivos/coluna_juridica/doutrina-
parecer_69_3._apontamentos_sobre_a_obrigatoriedade_de_o_contrato_co
rresponder_a_minuta_contratual_anexada_ao_ato_convocat.pdf Acesso em
11/09/2019
Desta forma, no caso em que seja necessário a inserção de cláusulas distintas
das previstas no procedimento licitatório, tendo em vista o interesse público
e os benefícios à Administração, respeitando-se a isonomia entre os licitantes,
preço e condições de execução, poderá o Poder Público acrescentar
dispositivos ao ajuste assinado.”
Insta observar que a Administração Pública Municipal buscou, ao efetuar a
alteração na cláusula contratual citada, observou que a melhor opção para o
atingimento dos princípios da economicidade e da eficiência seria permitir o
custeio de despesas compartilhadas da sede da entidade, e também os
deslocamentos entre a sede da entidade e a unidade de saúde, por meio de
recursos repassados por força do contrato de gestão.
Restou demonstrado pelas planilhas apresentadas que o custo de
manutenção de todos os serviços necessários para o atingimento da plena

44
funcionalidade da unidade, como RH, contabilidade, finanças, compras etc.,
se feitos de forma centralizada, com rateio de custos, se mostrava muito mais
econômico, o que ajudaria na plena aplicação dos recursos.
E a economicidade consiste em um dever a ser observado não apenas quando
do julgamento das propostas, mas também quando da execução do contrato;
em outras palavras, desde o seu início e durante todo o prazo contratual
também se exige dos contratados e da Administração a comprovação
atualizada da economicidade.
A economicidade se encontra estritamente vinculada à eficiência, que
consiste em um dos fins perseguidos pela Administração Pública na execução
dos serviços públicos. A eficiência aliada à economicidade consiste em
benefícios que assegure não haver desperdício de recursos públicos na
escolha do melhor custo-benefício mediante a observação da conformidade
e do desempenho da opção realizada pelo agente em relação aos resultados
efetivamente obtidos com a ação administrativa.
Tendo em vista que a Administração Pública do município de Jandira atendeu
aos princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da manutenção do
equilíbrio contratual; tendo em vista que se não houvesse o rateio das
despesas da sede, certamente a execução do Contrato de Gestão n. 01/2018
sofreria consequências incalculáveis e retardadoras, prejudicando
demasiadamente o interesse público, que no caso é a prestação de serviços
de saúde, com consequente funcionamento pleno da entidade gerenciada;
optou-se em proceder a alteração para que o contrato pudesse ter plena
aplicabilidade.
Aponta o Relatório Preliminar, que ocorreu o rateio de 14,30% no custeio
total da sede da entidade; todavia, ele se encontra amparado na previsão
contratual contida na Cláusula sexta, Parágrafo oitavo do Contrato de Gestão
01/2018.
A CGU aponta ainda no rateio de 14,30% das despesas da sede foram
incluídas despesas de remuneração de membros da alta administração do
IBGH por meio de contratos de terceirização (pejotização) de mão de obra
dos seguintes cargos: Superintendente executivo que também é presidente
do IBGH, Diretor Geral, Diretor Administrativo, Diretor de Planejamento,
Diretor Financeiro, Diretor Operacional e Gestor de Compras. E que a
Comissão de Avaliação de Prestação de Contas do Contrato de Gestão
01/2018 realizou glosas referentes à sobreposição de atividades dos
dirigentes da OS nos meses de dezembro, de 2018, janeiro e fevereiro de
2019, revendo seus atos e apresentando sugestão de glosas administrativas
conforme Pareceres Finais de Prestação de Contas e Ofícios 062/2019 e
063/2019, no valor de R$ 47.303,43 (quarenta e sete mil trezentos e três reais
e quarenta e três centavos), não acatando as justificativas apresentadas pelo
IBGH neste sentido. E que em relação à atuação da Comissão de Avaliação e
Acompanhamento do Contrato de Gestão n.º 01/2018, teria ocorrido falta de
padronização na avaliação ao longo do tempo, em contraponto às despesas
que basicamente eram mantidas, em descrição e quantidade, mês a mês.
Disse, por exemplo, que nos meses de setembro a novembro de 2018, não
houve questionamentos em relação às despesas administrativas nos
relatórios finais. Mesmo após as observações que ocorreram entre dezembro
de 2018 e fevereiro de 2019, o relatório parcial de março de 2019 voltou a
não apresentar glosas para as despesas administrativas.
Mas não podemos deixar de mencionar que tão logo identificados erros na
aplicação dos recursos repassados, bem como nas prestações de contas, a
Administração Municipal determinou as devidas glosas, como constou no
relatório. E ocorreu o bloqueio de recursos que seriam repassados para a

45
entidade, no importe de R$ 397.887,17 (trezentos e noventa e sete mil,
oitocentos e oitenta e sete reais e dezessete centavos), através do processo
1001548-58.2019.8.26.0299, em trâmite perante a 1ª Vara Cível da Comarca
de Jandira, movido por esta Administração Municipal. Urge esclarecer que a
entidade também move ação de rescisão contratual contra a Prefeitura, e
onde requer que lhe sejam repassados recursos do montante de R$
3.486.056,81 (três milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil, cinquenta e seis
reais e oitenta e um centavos), no processo 1001747-80.2019.8.26.0299, em
tramite perante a mesma 1ª Vara Cível.
Nota-se, pois, que a Administração Municipal não somente efetuou glosas
sobre os valores que entendeu não serem corretos quando das prestações de
contas, mas, cautelarmente, reteve recursos que seriam destinados à
Contratada, para compensação sobre eventuais valores indevidos. Tudo isto
é objeto ainda de levantamentos, pois, há de se considerar que são inúmeros
os dados para prestação de contas, e diante do clima de rescisão, alguns
documentos ainda não foram repassados para a Comissão de
Acompanhamento, de forma que se possa chegar aos números finais.

Análise da Equipe de Auditoria


Em suma, a Prefeitura Municipal de Jandira argumenta que a minuta de contrato, anexa
ao Edital de Chamamento, poderia ter sido alterada, desde que o procedimento fosse
vantajoso para Administração Pública e respeitando-se a lisura entre os licitantes, preço
e condições de execução.
Entretanto, verifica-se que a alteração não foi vantajosa ao erário, considerando que
permitiu despesas extras que não estavam destacadas na planilha orçamentária
apresentada pelo IBGH. Não se vislumbram quais vantagens e garantias a Prefeitura
obteve com a alteração realizada.
Além disso, resta claro que houve restrição à competição, pois outros participantes
poderiam se interessar pelo objeto, caso soubessem que a prestação de contas
permitiria despesas da sede da Entidade.
A Prefeitura alega, ainda, que os participantes aceitaram o resultado. Porém, eles não
tinham conhecimento de que a minuta de contrato seria alterada e de que a planilha de
custos do IBGH teria acréscimos não previstos quando da execução do contrato.
Ressalta-se que não houve um pedido do IBGH para manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro “na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis,
porém de consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do
ajustado, ou ainda em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe,
configurando álea econômica extraordinária e extracontratual”. A condição contratual
foi simplesmente alterada quando da sua assinatura, sem motivação demonstrada no
processo administrativo.

Achado n.º 5. Pagamento de despesas para deslocamento de colaboradores do IBGH


de Goiânia para Jandira não previstas no Edital de Chamamento n.º 01/2018. Contrato
pactuado em desacordo com minuta prevista no certame.

46
Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira
apresentou a seguinte manifestação:

Novamente o relatório aponta que ocorreu a alteração da cláusula 6ª do


contrato que teria modificado radicalmente a regra concorrencial prevista no
certame. Como já explicado no item anterior, entendemos que não ocorreu a
alteração que possa ter ocasionado prejuízos ao certame como apontado.

Importa destacar inicialmente que as viagens e despesas foram realizadas no


estrito atendimento das finalidades do Contrato de Gestão firmado, uma vez
que na unidade hospitalar concentravam-se os funcionários de nível
operacional, sem poder de decisão e de gerência, em especial no início do
contrato, até que fossem nomeadas pessoas que fariam seu gerenciamento
no dia a dia. E no começo dirigentes da entidade se deslocaram até o local da
prestação de serviços, de maneira a proceder a montagem da estrutura de
atendimento que seria adotada, e nas tratativas com a Administração em
geral.

Se não fosse suportado pelo contrato, há de se fazer os seguintes


questionamentos: os recursos para custeio dessas atividades seriam
provenientes de qual fonte orçamentária? Somente poderiam participar do
certame Organizações Sociais com sede no Estado de São Paulo, em especial
no mesmo Município da prestação dos serviços para se evitar maiores custos?
Tendo em vista que as Organizações Sociais não possuem finalidade lucrativa,
o custeio das suas despesas ocorreria de que forma? Se as planilhas que
constavam no edital já previam despesas administrativas, as agora apontadas
como irregulares não estariam nelas embarcadas?

A Administração Municipal, através da Comissão de Acompanhamento


nomeada, se cercou de todas as cautelas para não pagar o que entendeu
verdadeiramente indevido, tanto que no Ofício 062/19 (ANEXO XVI) foram
glosadas todas as despesas relacionadas aos deslocamentos, ocorridos no
mês de agosto de 2018, dos dirigentes da sede ao município de Jandira. Mas,
porém, aquilo que disse respeito a plena aplicabilidade e funcionalidade do
contrato, não teria por que se furtar a pagar as despesas devidamente
comprovadas e legalizadas, para que ocorresse o fiel cumprimento
contratual.

As justificativas apresentadas pelo IBGH para os deslocamentos de


colaboradores da sede em Goiânia para o município de Jandira versavam
sobre o atendimento das finalidades do Contrato de Gestão, uma vez que na
unidade gerenciada estavam os colaboradores de nível operacional, sem
qualquer poder decisório ou de gerência, razão pela qual a maioria dos
deslocamentos eram realizadas por dirigentes da entidade, para tratativas
diretas em atendimento a demandas da administração sendo realizadas
reuniões com a Secretária da Saúde, Comissão de Avaliação ou com o Sr.
Prefeito. (ANEXO XVII).

Análise da Equipe de Auditoria


Assim como no item anterior, considera-se que a alteração da minuta de contrato
restringiu a competição e ocasionou prejuízos à Administração, tendo em vista que a
planilha de custos da Organização Social não previa despesas com deslocamento.

47
A Prefeitura Municipal de Jandira questiona se os deslocamentos não estariam incluídos
na despesa administrativa previstas nas planilhas do edital. Entretanto, não foi
localizado esse item no Anexo V do Edital de Chamamento – Modelo de Planilha de
Custos e Despesas Mensais.
Depreende-se que a PMJ considera que tais despesas seriam justas. Dessa forma, elas
deveriam estar previstas no Edital de Chamamento Público, entretanto, constata-se
que, na realidade, elas estavam vedadas.
Caso as despesas de deslocamento estivessem previstas, haveria maior probabilidade
de vantagem concorrencial para Organizações Sociais mais próximas do município de
Jandira, ou com condições de viabilizar uma sede administrativa mais próxima do local
de prestação de serviços.

Achado n.º 6. Lucro obtido pelo IBGH na contratação de serviços médicos.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Este questionamento foi levado ao IBGH que apresentou a seguinte resposta:

“Convém ressaltar que a atividade desenvolvida pelo IBGH não possui


finalidades lucrativas a teor do que dispõe o Art. 2°, b) da Lei 9637/98 e demais
normas que regulamentam a qualificação e a atuação das Organizações
Sociais.

Esta entidade possui o compromisso com uma gestão transparente, de modo


que todas as prestações de contas, incluindo-se aí os pagamentos feitos aos
serviços médicos prestados no âmbito do Contrato de Gestão, sempre foram
acompanhados por todos os relatórios de prestação de serviços, onde o
próprio IBGH aplicava glosas por eventuais faltas de médicos, reduzindo o
valor a receber da empresa prestadora de serviços.

Quando da confecção da proposta para a participação do chamamento, o


IBGH estimou o valor dos serviços médicos, todavia, ao buscar empresas no
mercado, reduzindo o valor estimado, cumpriu o princípio da economicidade,
demonstrando eficiência na contratação realizada.

É no mínimo contraditório que o órgão condene o IBGH por realizar uma


despesa abaixo do previsto. Impende ressaltar que, em nenhum momento os
valores obtidos com contratos abaixo do valor estimado se reverteram em
lucro e sempre foram devolvidos à Municipalidade ou revertidos em melhorias
no nosocômio em atendimento ao interesse público.

Seguindo a linha de raciocínio do órgão, caso algum serviço tenha sido mal
estimado, ocorrendo contratação com valores maiores, neste caso o IBGH
teria prejuízo? Óbvio que não!”

Seguem anexos os Demonstrativos de Receitas e Despesas e a Relação de


Pagamentos apresentados nas Prestações de Contas de setembro de 2018 a
março de 2019 apresentados pelo IBGH onde consta que os valores

48
repassados para pagamento de despesas referentes aos serviços médicos
foram utilizados para suprir necessidades do próprio contrato de gestão,
neste sentido, não foram observadas evidências de lucro por parte do IBGH.
(ANEXO XVIII).

Análise da equipe de auditoria

A justificativa apresentada é de que quando ocorreu a contratação de serviços médicos


conseguiu-se reduzir o valor estimado. Não entanto, não informou onde está sendo
utilizado o saldo da redução conseguida na contratação, pois a planilha de custos do
contrato de gestão não foi atualizada.

Achado n.º 7. Produtividade relatada pelo IBGH não corresponde quantitativamente


aos registros em sistemas de informação. 26% dos registros de produção médica não
foram comprovados.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

O relatório de produção mensal/trimestral é o registro de atendimentos


realizados no mês de competência na íntegra, sem considerar requisitos
básicos para o faturamento, já o relatório de faturamento, que alimenta o
sistema Focus reflete os atendimentos que estão validados e prontos para ser
apresentados no SIA/SUS, ou seja, atendimentos que foram analisados e
sanadas as inconformidades do prontuário para que sejam apresentados na
remessa.

O faturamento trabalha com a apresentação e reapresentação de prontuários


e isto nem sempre se dá dentro de um mês de competência específico,
podendo ser apresentados para o faturamento os atendimentos realizados
há 90 dias e a produção informada no Relatório da CGU trata da produção
realizada de 01/02/2019 a 28/02/2019.

Além disso, a avaliação das metas quantitativas era baseada no sistema do


Boletim de Produção Ambulatorial – BPA, do Ministério da Saúde, sendo um
aplicativo de captação do SIA/SUS que não utiliza o sistema Focus para avaliar
as metas.

Ressaltamos ainda que no Plano Operativo eram considerados de 85 a 100%


do cumprimento das metas quantitativas para OS obter 100% do repasse
vinculado ao cumprimento das metas nos três meses subsequentes.

Análise da Equipe de Auditoria


A Prefeitura Municipal de Jandira apresentou manifestação restrita à diferença entre o
relatório de produção trimestral e o Sistema Focus. Entende-se que a justificativa
apresentada impede que se afirme categoricamente que houve, de fato, uma falha,
considerando que podem existir processos de contabilização distintos. Dessa forma,

49
retirou-se a falha “Produtividade relatada pelo IBGH não corresponde
quantitativamente aos registros em sistemas de informação” do título deste achado.
Entretanto, não houve manifestação em relação às discrepâncias intrínsecas do Sistema
Focus e, tampouco, em relação à ausência de registro para 26% dos atendimentos
médicos.

Achado n.º 8. Médico consta como paciente e consultado por ele próprio em ficha de
atendimento.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

A despeito do parecer CREMESP emitido na Consulta n° 103.167/07, que


recomenda ser inapropriado o médico solicitar exames para si próprio ou
realizar qualquer ato médico em si, como se autoprescrever, se
autoexaminar, entre outros, tem-se também que no Código de Ética Médica
não aparece nenhum artigo abordando o referido tema.

Assim, também consideramos que é recomendável que o médico evite se


autoprescrever ou examinar, mas como nem o próprio código de Ética Médica
não traz nada sobre o tema, não há penalidades a serem aplicadas, isso
considerando o princípio da legalidade que também rege a Administração
Pública, como também a máxima constitucional implícita no Art. 5°, Inciso II,
da Constituição da República Federativa do Brasil que expõe “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”,
indo ao encontro do disposto também no Art. 5°, inciso xxxix, da mesma Carta
Magna que diz “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal” (princípio da legalidade).

Análise da Equipe de Auditoria


Não há que se falar em punição neste caso, pois, a princípio, não houve descumprimento
normativo. Entretanto, há necessidade de orientação aos médicos para evitar prejuízos
ao SUS e aos próprios profissionais.

Achado n.º 9. Falta de registro da empresa contratada e da carga horária dos médicos
contratados pelo IBGH no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES, como seu próprio


nome diz é um cadastro de estabelecimento de saúde, a Lemes & Trancoso
não é um estabelecimento de saúde, mas uma unidade administrativa não
destinada a atendimento médico, não se enquadra no perfil de
estabelecimento de saúde, por não possuir nenhum dos critérios exigidos
pelo CNES.

50
Seguem anexos os registros profissionais no CNES (ANEXO XX), dos meses de
outubro de 2018 a fevereiro de 2019 onde constam os registros no CNES e
suas atualizações. É rotina institucional ao ingresso de novos profissionais,
ainda que não diretamente vinculados, ou seja, através de prestadores de
serviço ou do contrato de gestão, realizar o cadastro e atualização de carga
horária no CNES (ANEXO XXI). Contudo há a possibilidade de que
eventualmente tenha havido a realização de plantões médicos sem o seu
registro no CNES, devido à cobertura esporádica de plantões por profissionais
médicos que não compõe o corpo clínico designado para a UPA. Essas
substituições se davam com o objetivo de suprir ausências em plantões a fim
de não prejudicar a assistência, além da falta de consolidação de um corpo
clínico e da dificuldade de fixação de profissionais.

Análise da equipe de auditoria

A Prefeitura alega que: “...eventualmente tenha havido a realização de plantões


médicos sem o seu registro no CNES, devido à cobertura esporádica de plantões por
profissionais médicos que não compõe o corpo clínico designado para a UPA. Essas
substituições se davam com o objetivo de suprir ausências em plantões a fim de não
prejudicar a assistência, além da falta de consolidação de um corpo clínico e da
dificuldade de fixação de profissionais.” Porém, os médicos citados no campo fato não
realizaram eventuais plantões médicos e sim realizaram plantões rotineiros na unidade
conforme detalhado no campo fato.

Achado n.º 10. Registros de carga horária no Cadastro Nacional de Estabelecimentos


de Saúde - CNES não correspondem aos apresentados na prestação de contas.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Os métodos para avaliar a presença do médico se davam por meio do registro


manual de folha de ponto e diligências para verificação do cumprimento da
escala por parte da Comissão de Fiscalização do Contrato de Gestão, com as
devidas solicitações de esclarecimentos e providências quando do não
cumprimento ou quando necessário. É importante informar que a
alimentação dos dados do CNES é um processo dinâmico e contínuo
independente da estabilidade das equipes, uma vez que o corpo clínico não é
fixo na UPA Jandira.

Análise da equipe de auditoria

A Prefeitura alega que: “...a alimentação dos dados do CNES é um processo dinâmico e
contínuo independente da estabilidade das equipes, uma vez que o corpo clínico não é
fixo na UPA Jandira.” Porém os médicos citados no apontamento realizaram plantões
rotineiros na unidade conforme detalhado na constatação, não se podendo aceitar a
justificativa de que o corpo clínico não é fixo.

51
Achado n.º 11. Médicos cumprem jornada excessiva nos plantões médicos.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Diante deste apontamento foi feito o questionamento junto ao IBGH que


apresentou a seguinte resposta:

“Consta no contrato entre Lemes & Trancoso que os plantões deveriam


respeitar a cláusula 4.39 que versa:

‘4.39. A CONTRATADA se obriga a elaborar escalas de trabalho dos


profissionais, de forma que não ultrapasse a jornada de 12 horas consecutivas
de trabalho e considerando 11 horas de descanso, conforme a Súmula 110 do
Tribunal Superior do Trabalho.’

Posto isso, informamos que todas as medidas foram tomadas por este
Instituto nos casos de descumprimento da referida cláusula.

A empresa Lemes & Trancoso alegou diversas vezes que a região não
disponibilizava profissionais médicos em quantidade adequada para atender
a escala de modo que não ultrapasse a carga de 12 horas, sugerindo a
descontinuidade do contrato e suspensão imediata das atividades caso não
fosse permitido os plantões de 24 horas.

Segundo justificativa da empresa a dificuldade de logística, trânsito e


distância entre uma unidade hospitalar dificultava demasiadamente a
composição da escala por parte da empresa que prestava os serviços.

Destacamos que, este instituto notificou a empresa Lemes & Trancos pelos
episódios dos quais acarretaram jornadas de trabalho acima de 24 horas,
entretanto, todos os plantões acima do tempo permitido foram justificados
pela empresa devido ausência não prevista pelo profissional e a necessidade
da continuidade da assistência, sendo ainda mais prejudicial a unidade não
ter a presença do profissional. Notem que as datas de maior prevalência
foram nas festividades de fim de ano ou ainda em feriados prolongados, dos
quais se o profissional permaneceu de plantão visando a continuidade da
assistência, tendo a unidade uma responsabilidade difícil de mensurar, em se
tratando da manutenção e a continuidade da assistência ao paciente e aos
usuários do SUS.”

Análise da equipe de auditoria

A justificativa apresentada para plantões médicos excessivos foi: “...as datas de maior
prevalência foram nas festividades de fim de ano ou ainda em feriados prolongados, dos
quais se o profissional permaneceu de plantão visando a continuidade da assistência,
tendo a unidade uma responsabilidade difícil de mensurar, em se tratando da
manutenção e a continuidade da assistência ao paciente e aos usuários do SUS.” Porém,
os médicos citados no apontamento realizaram plantões rotineiros acima de 12 horas
na unidade conforme detalhado na constatação.

52
Achado n.º 12. Irregularidades em processos de contratação de empresas prestadoras
de serviços.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Diante da não governabilidade do município perante a contratação de


empresas prestadoras de serviços pelo IBGH, o IBGH foi questionado
apresentando a seguinte resposta:

“Analisando alguns processos de contratação de empresas, a Controladoria


Geral da União apontou irregularidades nos processos seletivos para a
contratação de empresas, preliminarmente, antes de esmiuçar alguns
procedimentos reverberou que: ‘o referido regulamento de compras
estabelece que o mínimo de cotações necessárias para a instrução regular do
processo de compras seria de três orçamentos, entretanto em muitos
processos analisados este requisito não foi cumprido, e ainda que em nenhum
dos processos de contratação analisados constava uma estimativa prévia de
preços a ser contratado, cabendo destacar que, no regulamento de compras
do IBGH, não se prevê a pesquisa prévia de preços como procedimento
necessário nos processos de compras e contratações.”

“Importante observar inicialmente que o modelo e gestão através de


Organizações Sociais possui peculiaridades, de modo que a atuação da
entidade não pode ser idêntica ao da administração pública sob pena de
quebrar a lógica da flexibilidade pretendida com a adoção do modelo. A
doutrina corrobora com esta afirmação¹:

“Analogamente, à autonomia inata, a flexibilidade não é concedida, é


inerente à natureza do parceiro privado. Logo, não pode ser considerada um
bônus à pactuação, mas uma condição necessária, uma “vantagem
comparativa”, que deve ser revertida em ganhos estruturais de eficiência. Já
foi abordado anteriormente que há uma questão cultural (o mito de que
“qualquer ganho de autonomia e flexibilidade é uma porta aberta à
corrupção”) e uma questão histórica (de que quando há problemas
decorrentes da não regulação, não direcionamento da autonomia, opta-se
por cassá-la, não por melhor regulá-la e direcioná-la) subjacentes a esta
questão. É os atores que a tratam tão mal, porque a compreendem tão mal,
são, principalmente, os denominados órgãos de controle. É no exercício do
controle – bem entendido de forma ampla com os processos de verificação
e transparência do alcance de resultados, execução das iniciativas e
aplicação dos recursos, que usualmente compreendem desde o
monitoramento e avaliação do contrato de gestão até a prestação de contas
e a disponibilização de dados e informações sobre atos e fatos de gestão –
que a flexibilidade é sistematicamente mal compreendida e restringida.”

Nesse sentido o STF também se manifestou por ocasião do julgamento da ADI


1923/2015:

“7. Na essência, preside a execução deste programa de ação institucional a


lógica, que prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada pode
ser mais eficiente do que a pública em determinados domínios, dada a
agilidade e a flexibilidade que marcam o regime de direito privado.”

53
O supremo ao julgar a constitucionalidade da Lei n° 9637/98 aplicou
interpretação conforme da Constituição Federal, deixando expressamente
consignado que as Organizações Sociais não se submetem ao dever de licitar:

“15. As Organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem


parte do conceito constitucional de Administração Pública, razão pela qual
não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao dever de licitar, o
que consistiria em quebra de lógica de flexibilidade do setor privado,
finalidade por detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei. Por
receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, porém, seu
regime jurídico tem de ser minimamente informado pela incidência do núcleo
essencial dos princípios da Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre
os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo que suas
contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei n°
9637/98, art. 4°, VIII), fixando regras objetivas e impessoais para dispêndio de
recursos públicos.”

“Disso podemos extrair que a Controladoria Geral da União, em seu relatório


preliminar pretendeu engessar e estatizar a atuação do IBGH, que por
evidente deve ser marcada pela flexibilidade com ganho exponencial de
produtividade e a efetiva entrega do serviço público contratado, qual seja a
saúde.

Quando o órgão aponta que o regulamento traz a exigência de no mínimo três


orçamentos e que em muitos processos analisados este requisito não foi
cumprido, além de tudo é preciso analisar o disposto no próprio regulamento
que nos informa:

“Art. 6°. O processo de seleção compreenderá os seguintes critérios:

I. Para as aquisições regulamentadas por este procedimento de compras com


valores estimados abaixo do valor monetário de R$ 8.000,00 (oito mil reais)
anuais, para compras e alienações, serão feitas por simples Cotação de Preços
com apresentação de, no mínimo, 3 (três) orçamentos, ficando dispensada a
sua publicação prévia;

II. Para as aquisições regulamentadas por este procedimento de compras com


valores estimados abaixo do valor monetário de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) anuais, para obras e serviços, serão feitas por simples Cotação de
Preços, com apresentação de, no mínimo 3 (três) orçamentos, ficando
dispensada a sua publicação prévia, sendo que, quando tratar-se de obras,
deverá ser precedido de autorização expressa da Secretaria Municipal da
Saúde de Jandira;”

De acordo com a interpretação do artigo supra, é possível identificar que


apenas é exigível os três orçamentos quando se tratar das compras realizadas
com fundamento nos incisos I e II, que são aquisições de baixo valor. Todavia,
impende observar que não raro, muitas empresas se desinteressam em
apresentar proposta dada a vasta gama de exigências documentais e do sério
risco de inadimplência, uma vez que a Administração Pública via de regra
atrasa os repasses.

Já no que tange às contratações e aquisições de grande vulto, não são


exigidos 3 orçamentos, devendo ser seguido o seguinte procedimento:

54
“Art. 5°. O procedimento de compras e contratações compreende
procedimento aberto, os quais serão amplamente divulgados e publicados no
sítio do Instituto Brasileiro de Gestão Hospitalar, sendo acessíveis ao público
e à participação de diversos fornecedores interessados.

Parágrafo primeiro – O IBGH dará publicidade prévia da compra, contratação


e alienação, por meio de publicação nos seguintes canais de comunicação, no
prazo mínimo para apresentação das propostas de 03 (três) dias úteis:

I. Sítio do IBGH na internet, para todas as aquisições e contratações, e para


aquelas que forem realizadas por meio de plataforma eletrônica de compras
será publicado o aviso contendo o endereço eletrônico da plataforma.

II. Jornal de grande circulação, para valores acima de R$ 600.000,00


(seiscentos mil reais) considerando o valor global anual contratação/
aquisição.”

Este dispositivo e o corolário da alocação do princípio da publicidade e da


impessoalidade, para que sejam atraídas a maior quantidade possível de
empresas interessadas, todavia frisamos que nem todas elas se arriscam a
contratar com Organizações Sociais tendo a vista a vasta gama de exigência
documental e o sério risco de inadimplência, pois os repasses são atrasados
com frequência rotineira, razão pela qual muitos processos são fracassados
em razão de deserção. Por isso entendemos que o regulamento foi
interpretado de forma equivocada pela CGU, uma vez que os 3 orçamentos
são exigíveis para as contratações/ compras com fundamento no Art. 6°, I e II
e, não sobrevindo a apresentação do mínimo de propostas exigíveis, por óbvio
o IBGH precisa mesmo assim contratar sob pena de prejudicar o bom
funcionamento do hospital comprometendo o interesse público.

No que toca à estimativa prévia de preços, conforme bem consignado pela


CGU, a mesma não é exigida, pois a entidade não se sujeita ao engessado e
condenado procedimento de licitação interna com a confecção do projeto
básico.

Análise da equipe de auditoria

Ressalta-se que no seu Regulamento de Compras e Contratações de Serviços, artigo 1º,


parágrafo segundo consta o seguinte: “Todos os dispêndios feitos pelo Instituto reger-
se-ão pelos princípios da moralidade, boa-fé, probidade, impessoalidade,
economicidade, eficiência, isonomia, publicidade, legalidade, razoabilidade e do
julgamento objetivo, além da busca permanente de qualidade e durabilidade, bem como
pela adequação ao interesse público”. Portanto, quando não houver estimativas de
custos elaboradas, amparadas, por exemplo, em levantamentos de preços, pesquisas de
mercados ou técnicas estimativas consistentes, de modo a evidenciar que os gastos
seriam dotados de razoabilidade, de economicidade e adequação ao interesse público,
não há como atender aos princípios do seu regulamento de compras e contratações de
serviços, sobretudo da eficiência, impessoalidade e economicidade.

Por amostragem foram vistoriados alguns processos de


contratação, os quais passamos a justificar os apontamentos
realizados pela CGU.

55
Item 12.a) Inconsistências e potencial direcionamento na contratação da empresa Fiel

“São demasiadamente incongruentes os apontamentos feitos, a uma porque


as declarações da empresa Buriti datadas de 30/08/2018 foram relevadas
pela Comissão por se tratar de erro material na aposição das datas. De acordo
com as certidões apresentadas, todas elas são de datas anteriores à
participação no certame o que leva à única e lógica conclusão de que a
empresa estava de fato se preparando para a concorrência que ocorreria em
26/08/2019.

Por evidente, seria um excesso de formalismo por parte da comissão fazer


qualquer apontamento quanto às datas, por se tratar nitidamente de erro
material, que não poderia prejudicar o IBGH e a outra participante.

No que toca a inabilitação, a comissão agiu conforme o edital, privilegiando o


princípio da isonomia e da vinculação ao instrumento convocatório, de modo
que se por conta própria realizasse qualquer consulta no estado de São Paulo,
estaria infringindo os princípios basilares aos quais se deve observância.

Ou seja, o Órgão uma hora pretendeu que a comissão fosse rígida, noutro giro
apontou a sua inflexibilidade, o que demonstra desproporcionalidade da
análise realizada. Portanto, podemos afirmar que toda análise realizada foi
tendenciosa!!!

Quanto às narrativas inerentes às ligações empresariais da empresa Fiel com


ex dirigentes do IBGH, importa observar que todo o processo foi conduzido de
forma transparente e impessoal, donde ocorreram todas as publicações
necessárias seguindo-se o rito estabelecido pelo Regulamento de Compras da
entidade.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa dada para a desclassificação da empresa Buriti foi que: “[...] a comissão
agiu conforme o edital, privilegiando o princípio da isonomia e da vinculação ao
instrumento convocatório, de modo que se por conta própria realizasse qualquer
consulta no estado de São Paulo, estaria infringindo os princípios basilares aos quais se
deve observância”. No entanto, em contradição à manifestação acima, em outra parte
da justificativa informa que: “Importante observar inicialmente que o modelo e gestão
através de Organizações Sociais possui peculiaridades, de modo que a atuação da
entidade não pode ser idêntica ao da administração pública sob pena de quebrar a lógica
da flexibilidade pretendida com a adoção do modelo.” Portanto, agindo dessa forma,
não é possível verificar se o Instituto obteve condições mais vantajosas na contratação,
bem como, a comprovação de atendimento aos princípios da economicidade,
impessoalidade, eficiência e razoabilidade na contratação de serviços.

Item 12.b) Direcionamento na contratação da empresa Ápice Contabilidade para


prestação de serviços contábeis, fiscal, departamento de pessoal, recursos humanos, apoio
administrativo, patrimônio, frota, logística e suprimentos. Existência de relacionamento entre
as empresas participantes do processo.

56
Neste ponto o Órgão sustenta que as três empresas que participaram
deveriam ser desclassificadas, por serem empresas que não executam
atividades previstas na licitação.

Ainda que a empresa T-13 contabilidade foi desclassificada por não


apresentar comprovante de inscrição municipal e de que a Athos
Contabilidade e a Ápice contabilidade possuem o mesmo contador,
demonstrando relacionamento entre si.

Primeiramente é de bom alvitre observar que de acordo com a Doutrina, o


direcionamento ocorre quando o objeto e as exigências de concorrência, tais
como características da prestação de serviços e exigências documentais são
detalhados de forma excessiva de modo a privilegiar um único concorrente, o
que in casu não se observa em hipótese alguma.

No que tange à inabilitação da empresa T-13, a Comissão Interna agiu


conforme os princípios de vinculação ao instrumento convocatório e da
isonomia entre os participantes, de modo que não poderia infringir estes
preceitos, sob pena de aí sim privilegiar um concorrente que não observou as
exigências editalícias em prejuízo aos demais.

Curioso observar que o simples fato de as empresas remanescentes possuírem


o mesmo contador não pode ser suficiente para induzir que ouve qualquer tipo
de combinação, tendo em vista que os escritórios contábeis prestam serviços
para várias empresas de forma simultânea, o que é praxe no mercado.

As ligações pessoais mencionadas pelo Órgão quanto à empresa Ápice e


Athos, são de total desconhecimento do IBGH, mas que de toda forma, não
impediria a participação das empresas, uma vez que as pessoas mencionadas
não mais possuem vínculo direto conforme mencionado pelo próprio Órgão.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa dada para a desclassificação da empresa T-13 Serviços foi que: “[...]a
Comissão Interna agiu conforme os princípios de vinculação ao instrumento
convocatório e da isonomia entre os participantes, de modo que não poderia infringir
estes preceitos, sob pena de aí sim privilegiar um concorrente que não observou as
exigências editalícias em prejuízo aos demais.” No entanto, em contradição a
justificativa acima, em outra parte da justificativa informa que: “Importante observar
inicialmente que o modelo e gestão através de Organizações Sociais possui
peculiaridades, de modo que a atuação da entidade não pode ser idêntica ao da
administração pública sob pena de quebrar a lógica da flexibilidade pretendida com a
adoção do modelo.” Assim, não é possível verificar se o Instituto obteve condições mais
vantajosas na contratação, bem como, a comprovação de atendimento aos princípios
da economicidade, da impessoalidade, eficiência e da moralidade.

Sobre as ligações societárias apresentou o seguinte: “[...] As ligações pessoais


mencionadas pelo Órgão quanto à empresa Ápice e Athos, são de total
desconhecimento do IBGH [...]” No entanto, a conexão dos sócios com as empresas
pode ser facilmente verificada pela análise dos respectivos contratos sociais constantes
dos processos de contratação.

57
Item 12.c) Inconsistências de contratação de serviços de assessoria em tecnologia da
informação com possível favorecimento de empresa com ligação junto a ex-presidente do
IBGH.

Para a contratação dos serviços de tecnologia da informação foi aberto o


processo seletivo n 009/2018 e conforme se extraiu da ata de julgamento das
propostas a empresa Mega Telecomunicações foi desclassificada por não
apresentar prova de regularidade para com a Fazenda Estadual do Estado de
São Paulo.

Novamente, relevamos o comportamento da Comissão interna de seleção que


observou fielmente o disposto no ato convocatório agindo conforme os
princípios de vinculação ao instrumento e da isonomia entre os participantes,
de modo que não observou as exigências editalícias sem prejuízo das demais.

As ligações apontadas pelo órgão são de total desconhecimento do IBGH, que


ao realizar processos seletivos não se vê na incumbência de investigar a vida
pregressa dos proprietários e contadores das empresas participantes.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa dada para a desclassificação da empresa Mega Telecomunicações foi que:


“[...] o comportamento da Comissão interna de seleção que observou fielmente o
disposto no ato convocatório agindo conforme os princípios de vinculação ao
instrumento e da isonomia entre os participantes, de modo que não observou as
exigências editalícias sem prejuízo das demais.” No entanto, em contradição a
justificativa acima, em outra parte da manifestação informa que: “Importante observar
inicialmente que o modelo e gestão através de Organizações Sociais possui
peculiaridades, de modo que a atuação da entidade não pode ser idêntica ao da
administração pública sob pena de quebrar a lógica da flexibilidade pretendida com a
adoção do modelo.” Assim, não é possível verificar se o Instituto obteve condições mais
vantajosas na contratação, bem como, a comprovação de atendimento aos princípios
da economicidade, da impessoalidade, eficiência e da moralidade.

Sobre as ligações societárias apresentou o seguinte: “[...] são de total desconhecimento


do IBGH, que ao realizar processos seletivos não se vê na incumbência de investigar a
vida pregressa dos proprietários e contadores das empresas participantes.” No entanto,
a conexão dos sócios com as empresas pode ser facilmente verificada pela análise dos
respectivos contratos sociais constantes dos processos de contratação.

Item 12.d) Falha no embasamento de contratação por inexigibilidade da empresa


Teixeira Sociedade Individual de Advocacia para a prestação de serviços de assessoria jurídica
e possível favorecimento da empresa com ligação junto a Ex- presidente do IBGH.

Como se sabe os serviços jurídicos são peculiares e estão intimamente ligados


à relação de confiança estabelecido entre o contratante e o contratado, nesse
sentido o Min. Sepúlveda Pertence já se manifestou, nos autos do RE 466.705:

“Trata-se da contratação de serviços de advogado, definidos pela Lei como


serviços técnicos profissionais especializados, isto é, serviços que a
Administração deve contratar sem licitação, escolhendo o contratado de

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acordo, em última instância, com o grau de confiança que ela própria,
Administração, deposite na especialização desse contratado. É isso,
exatamente isso, o que diz o direito positivo. Vale dizer: nestes casos, o
requisito da confiança da Administração em quem deseje contratar é
subjetivo; logo, a realização de procedimento licitatório para a contratação
de tais serviços--- procedimento regido, entre outros pelo princípio do
julgamento objetivo--- é incompatível com a atribuição de exercício de
subjetividade que o direito positivo confere à Administração para a escolha
do trabalho essencial e indiscutivelmente mais adequado à plena satisfação
do objeto do contrato (cf. o parágrafo 1° do artigo 25 da Lei 8.666/93.
Ademais, a licitação desatenderia ao interesse público na medida em que
sujeitaria a Administração a contratar com quem, embora vencedor na
licitação, segundo a ponderação de critérios objetivos, dela não merecesse
o mais elevado grau de confiança” (grifamos)

Os parágrafos abaixo foram transferidos do item 15.e:

Todavia, sabemos que o tema continua como discussão pendente no âmbito


do STF através da RE 656.658, todavia, conforme já explicitamos, não se pode
imprimir às Organizações Sociais a fórmula regida pela Lei 8.666/93, sob pena
de desvirtuamento do modelo com a quebra de lógica da flexibilidade
pretendida, conforme já decidido pelo STF no âmbito do julgamento da ADI
1.923/DF.

Os documentos apresentados pelo escritório atenderam à comprovação de


prestação de serviços anterior, bem como às necessidades do instituto, razão
pela qual o escritório foi contratado para prestar serviços âmbito do Contrato
de Gestão firmado com Jandira, atendendo única e exclusivamente as
demandas judiciais da unidade.

Noutro giro, sobreveio apontamento com relação ao contrato firmado com o


escritório Camardelli Cançado Sociedade Individual de Advocacia. Impende
ressaltar que tal pessoa jurídica foi contratada para remunerar os serviços de
gerência jurídica, prestados diretamente pelo seu sócio, no âmbito interno do
IBGH, cujas funções de coordenação dos serviços jurídicos prestados por
outros advogados/ bancas, ainda a de representação da entidade na falta de
advogados constituídos e também o aconselhamento e a manifestação direta
nas demandas internas rotineiras da entidade.

Frise-se que ambos os contratos foram firmados em períodos distintos sendo


o do escritório Teixeira e Sociedade Individual de Advocacia firmado em 28 de
setembro de 2018 e do escritório Camardelli Cançado Sociedade Individual de
Advocacia em 05 de fevereiro de 2019, para o exercício de funções distintas
com valores totalmente dentro do mercado.

Ante ao aumento de demandas jurídicas, a administração da entidade optou


pela criação do Cargo de Gerência Jurídica – apoio interno, cujo ato foi
devidamente aprovado pelo conselho de administração do Instituto, inclusive
no que tange à remuneração compatível com o mercado.

Uma entidade do porte do IBGH por evidente necessita de um corpo jurídico


interno e externo extremamente atuante, pois são várias as demandas que
necessitam da intervenção de advogados.

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No que toca a eventuais favorecimentos apontados, equivoca-se a CGU, pois
a mera ligação societária entre sócio da empresa Teixeira Sociedade
Individual de Advocacia e o ex presidente do IBGH não são capazes de induzir
eventual favorecimento, eis que o advogado foi contratado pela sua sabida
competência na condução de outros processos.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa apresentada pelo IBGH para a contratação de escritório de advocacia


decorreu do fator confiança existente entre o contratante e o contratado, entretanto,
não há previsão legal para tal hipótese (necessidade de confiança) como suficiente para
a inexigibilidade. É necessária a presença dos requisitos de notória especialização e
confiança, ao lado da magnitude do trabalho a ser contratado, com respaldo de
inequívoca prova documental. Mesmo nas situações de comprovada inviabilidade de
competição deve ser atendido o princípio da impessoalidade, constante no seu
regulamento de compras.

Item 12.e) Direcionamento na contratação da empresa ALL Turismo Ltda, para


fornecimento de passagens aéreas e terrestres e reservas de hospedagens

Conforme delineado nos itens anteriores, reiteramos todos os processos de


contratação do IBGH seguiam fielmente o disposto no regulamento de
compras e no que tange à indicação de ligações societárias e empresariais
entre pessoas de acordo com o mencionado no relatório preliminar, não faz
parte do escopo do IBGH diligenciar sobre a vida pregressa dos sócios das
empresas que pretendem prestar serviços à entidade.

Outrossim, reiteramos que na doutrina jurídica no âmbito do Direito


Administrativo, significa incluir exigências demasiadas em determinados
editais com o intuito de favorecer empresas pré-determinadas o que não
ocorreu no caso vertente.

Análise da equipe de auditoria

A justificativa apresentada foi a de que: “[...] não faz parte do escopo do IBGH diligenciar
sobre a vida pregressa dos sócios das empresas que pretendem prestar serviços à
entidade”. No entanto, a conexão dos sócios com as empresas pode ser facilmente
verificada pela análise dos respectivos contratos sociais constantes dos processos de
contratação. Assim, não é possível verificar se o Instituto obteve condições mais
vantajosas na contratação, bem como, a comprovação de atendimento aos princípios
da economicidade, da impessoalidade, eficiência e da moralidade.

Item 12.f) Direcionamento na contratação da Empresa Lemes & Trancoso Gestão e


Saúde Ltda para a prestação de serviços médicos

A controladoria aponta que no processo seletivo n°03/2018 o IBGH


descumpriu o seu regulamento de compras, uma vez que não publicou o
referido processo seletivo em jornal de grande circulação. Discordamos do
apontado, pois, conforme documentos que seguem anexados comprovamos
a publicação do referido processo no jornal Página Zero do Município de
Jandira na data de 24 de agosto de 2018 e ainda toda a documentação
apresentada pela empresa Lemes & Trancoso por ocasião da participação na

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concorrência, o que desmantela a análise imparcial feita pela Controladoria
Geral da União.

Impende ressaltar que apesar do órgão ter realizado apontamento, o edital


não previa comprovação de experiência prévia, razão pela qual a empresa não
o apresentou.

Análise da equipe de auditoria

A publicação em jornal foi comprovada. No entanto, fica mantida a constatação quanto


à falta de apresentação da documentação exigida no edital, principalmente a não
comprovação de experiência anterior conforme solicitado no item 3.4.3-b do edital.

Achado n.º 13. Repasses da Prefeitura Municipal de Jandira para o IBGH foram
realizados com atraso.

Por meio de mensagem eletrônica de 17.09.2019, a Prefeitura Municipal de Jandira


apresentou a seguinte manifestação:

Os repasses foram efetuados com atraso devido à necessidade de


esclarecimentos aos apontamentos apresentados nas prestações de contas,
no sentido de zelar pelo erário, garantindo assim a legalidade e lisura do
processo.

Análise da Equipe de Auditoria


Não foram apresentados comprovantes de que o atraso sistemático foi ocasionado pela
necessidade de esclarecimentos aos apontamentos nas prestações de contas.

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