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ITA 2024

AULA 11
Sintaxe III

Prof. Celina Gil


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Sumário

1 – O Período e sua construção 3

1.1 – Orações coordenadas 4

1.2 – Orações subordinadas 7

2- Exercícios 13

2.1- Exercícios comentados 13

2.2 - Gabarito 91

2.3- Exercícios comentados 92

6 - Considerações Finais 202

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Apresentação
Olá!

Nessa aula, vamos continuar com aquele assunto que vocês odeiam: os processos de coordenação
e subordinação. Esse assunto abarca:

- Orações Coordenadas
Aula 11 – Conectivos, coordenação e subordinação
- Orações Subordinadas

pela minha experiência, eu sei bem por que os alunos não gostam dessa matéria. É um tema
extenso e cheio de detalhes. Mas não se desespere ainda!

Antes de tentar decorar tudo, é importante que você entenda o assunto. Você não precisa saber
de cor o nome de todos os tipos de oração se você for capaz de identificar:

 Qual o papel que cada palavra desempenha na frase;

 Qual papel que cada oração desempenha no período; e

 Qual a relação que os termos de um período estabelecem entre si.

Sem dúvidas, o assunto mais importante da aula é o valor da relação entre orações. Esse tem sido
um tema de gramática frequente nos últimos anos. Já começamos a explorá-lo quando falamos de
conectivos. Agora, vamos nos aprofundar no assunto.

Vamos lá?

1 – O Período e sua construção


O período é um enunciado composto de uma ou mais oração, ou seja, de construções que contém
um ou mais de um verbo/forma verbal. Quando contém apenas um verbo, é chamado de período
simples; quando contém dois ou mais verbos, é chamado de período composto.

Aqui, vamos nos debruçar sobre o período composto. Ele é estruturado e classificado a partir da
relação que as orações estabelecem entre si em dois tipos: período composto por coordenação e
período composto por subordinação.

Três tipos de oração formam um período composto. Eles são divididos de acordo com como se
comportam sintaticamente:

Oração principal: não exerce função sintática no período.

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Oração subordinada: exerce função sintática no período, assumindo funções como sujeito, objeto,
complemento, adjunto etc., em relação à principal. Pode também assumir função de adjetivo ou advérbio
da oração principal.

Oração coordenada: oração independente sintaticamente, ou seja, não possui orações que se referem a
ela de modo a lhe completar o sentido.

Vamos ver essa classificação com mais detalhes para tornar a ideia mais clara.

1.1 – Orações coordenadas

Períodos compostos por coordenação contém orações coordenadas, ou seja, independentes. São
orações que possuem sentido completo em si mesmas, não necessitando de complemento. Elas podem
aparecer ligadas uma a outra por meio de um conectivo (conjunções coordenativas) ou sem ele.

Ex.:

Chegou em casa e tomou banho.

Orações que compõe o período:

- “Chegou em casa”

- “tomou banho”

As orações são ligadas pela conjunção “e”.

Vim, vi, venci.

Orações que compõe o período:

- “Vim”

- “vi”

- “venci”

As orações não são ligadas por conjunção, mas por vírgulas.

Às orações coordenadas ligadas por conectivos, dá-se o nome de orações coordenadas sindéticas.
Às orações coordenadas sem conectivos, dá-se o nome de orações coordenadas assindéticas.

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Orações coordenadas sindéticas


As orações coordenadas sindéticas recebem o nome das conjunções que aparecem no período.
Lembre-se da classificação dos conectivos e observe como formam orações homônimas:

Aditiva
•- Relacionam pensamentos similares. Expressa adição, sequência de fatos ou pensamentos.
•- Conjunções: "e", "não só ... mas também", "nem", "não ... nem".
•Ex.: Ele telefonou e saiu de casa.
• Ele não telefonou nem saiu de casa.

•As orações formadas são orações coordenadas sindéticas aditivas.

Adversativa
•- Relacionam pensamentos opostos. Expressa ressalva, oposição ou contraste.
•- Quando posterior ao verbo, a conjunção vem entre vírgulas.
•- Conjunções: "contudo", "entretanto", "mas", "no entanto", "porém", "todavia"
•Ex.: Gosto de flores, mas prefiro folhas.
• Gosto de flores; prefiro, porém, folhas.

•As orações formadas são orações coordenadas sindéticas adversativas.

Alternativa
•- Relacionam pensamentos excludentes. Expressa alternância ou exclusão.
•- Conjunções: ou, já/já, ora/ora, quer/quer, seja/seja.
•Ex.: Vamos à praia ou à piscina?
• Ora quer ir, ora quer ficar

•As orações formadas são orações coordenadas sindéticas alternativas.

Conclusiva
•- Relacionam pensamentos em que o segundo conclui o primeiro. Expressa conclusão ou dedução.
•- A conjunção “pois” se emprega entre vírgulas.
•- Conjunções: consequentemente, logo, pois, por conseguinte, portanto.
•Ex.: O carro quebrou; logo, não podemos viajar.
• Você está atrasado; deve, pois, pedir desculpas.

•As orações formadas são orações coordenadas sindéticas conclusivas.

Explicativa
•- Relacionam pensamentos em que a segunda frase explica a primeira. Expressa explicação ou motivo.
•- Conjunções: pois, porque, que.
•Ex.: Espere um pouco que ele não demora.
• Espere, porque daqui a pouco ele chega.

• As orações formadas são orações coordenadas sindéticas explicativas.

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Orações coordenadas assindéticas


As orações coordenadas assindéticas são separadas por pausas. No texto escrito, essas pausas são
marcadas por vírgula, ponto e vírgula ou dois pontos.

Ex.:

O sol saiu, o dia estava bonito.

As orações não são ligadas por conjunção, mas por vírgula.

Cinco pessoas foram a favor da mudança; duas foram contra.

As orações não são ligadas por conjunção, mas por ponto e vírgula.

Toquei seu rosto: estava frio.

As orações não são ligadas por conjunção, mas por dois pontos.

Orações coordenadas

Assindéticas Sindéticas

Aditiva

Adversativa

Alternativa

Conclusiva

Explicativa

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1.2 – Orações subordinadas

Períodos compostos por subordinação contém oração principal e oração subordinada. A oração
principal é independente e a subordinada se relaciona com ela sintaticamente. Há três tipos de oração
subordinada, cada uma assumindo funções ligadas a uma classe gramatical diferente: substantivas,
adjetivas e adverbiais.

Ex.:

Imploro que desistas.

Orações que compõe o período:

- “Imploro” = Oração principal

- “que desistas” = Oração subordinada substantiva

A oração “que desistas” tem função de objeto direto (o que eu imploro?).

Essa é a verdade que ninguém conta.

Orações que compõe o período:

- “Essa é a verdade” = Oração principal

- “que ninguém conta” = Oração subordinada adjetiva

A oração “que ninguém conta” tem função de adjunto adnominal (caracteriza “a verdade”).

Não comprou nada porque estava sem dinheiro.

Orações que compõe o período:

- “Não comprou nada” = Oração principal

- “porque estava sem dinheiro” = Oração subordinada adverbial

A oração “porque estava sem dinheiro” tem função de adverbio de causa (por que não comprou?).

Orações subordinadas coordenadas


Duas ou mais orações subordinadas com a mesma função podem estar coordenas. Isso ocorre apenas
com orações da esma espécie e função:
Ex.: Teus pais desejam que estudes e que te formes.
Ambas as orações são subordinadas substantivas objetivas diretas.

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Orações subordinadas substantivas


As orações subordinadas substantivas equivalem a substantivos. Exercem em relação à oração
principal funções próprias de substantivos: sujeito, predicado, objeto direto, objeto indireto,
complemento nominal e aposto. Costumam ser iniciadas por conjunções integrantes (“que” e “se”), mas
também podem se iniciar por pronome indefinidos (quem, qual, quanto, que) e advérbios nas
interrogações diretas (como, onde, porque, quão).

DICA: Para identificar uma oração subordinada substantiva, substitua a oração subordinada pela palavra
“ISSO”.
Subjetiva
• Quando uma oração exerce a função de sujeito, é chamada de oração subordinada
substantiva subjetiva.
• Ex.: É certo que ela chega hoje. (= Isso é certo.)

Predicativa
• Quando uma oração exerce a função de predicativo, é chamada de oração
subordinada substantiva predicativa. Atenção para a necessidade do verbo de
ligação para essa relação.
• Ex.: A verdade é que estamos perdidos. (= A verdade é isso.)
Objetiva direta
• Quando uma oração exerce a função de objeto direto, é chamada de oração
subordinada substantiva objetiva direta.
• Ex.: Entendi que deveria ficar quieto. (= Entendi isso.)

Objetiva indireta
• Quando uma oração exerce a função de objeto indireto, é chamada de oração
subordinada substantiva objetiva indireta.
• Ex.: Não me arrependi do que falei. (= Não me arrependi disso.)

Completiva nominal
• Quando uma oração exerce a função de complemento nominal, é chamada de oração
subordinada substantiva completiva nominal.
• Ex.: Ela tem medo de que você vá embora. (Ela tem vontade disso.)

Apositiva
• Quando uma oração exerce a função de aposto, é chamada de oração subordinada
substantiva apositiva.
• Ex.: Só peço uma coisa: que você seja honesto.

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Agente da passiva?
Cegalla admite a possibilidade de que algumas orações possam assumir função de agente da passiva,
ainda que isso não seja amplamente estudado na norma gramatical brasileira.
Ex.: O quadro foi comprado por quem o apreciou mais.
A obra foi apreciada por quem a viu ao vivo.

Orações subordinadas adjetivas


As orações subordinadas adjetivas equivalem a adjetivos. Exercem em relação à oração principal
a função de adjunto adnominal de algum substantivo ou pronome da oração principal. Elas podem ser
de dois tipos:

Restritiva
• Quando restringe ou limita o significado do termo a que se refere, a oração é classificada
como oração subordinada adjetiva restritiva.
• Ex.: Você é a pessoa que mais gostei na vida. (= De todas as pessoas que gostei na vida, me
refiro a uma em especial)

Explicativa
• Quando acrescenta qualidades ou esclarece melhor o significado do termo a que se refere,
a oração é classificada como oração subordinada adjetiva explicativa.
• Ex.: Eu, que era muito indecisa, não consegui escolher a sobremesa. (= Um dado novo é
adicionado a "eu", caracterizando-o. )

Essas orações podem vir precedidas de preposição caso o verbo demande:

Ex.: Esse é um título a que todos aspiram.

Algumas colegas, com quem estudo, são brilhantes.

DICA!
Um modo fácil de identificar o tipo de oração adjetiva é observar a existência de vírgula ou não.
Orações subordinadas adjetivas restritivas: não há vírgula separando a subordinada da principal.
Orações subordinadas adjetivas explicativas: não há vírgula separando a subordinada da principal.

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Orações subordinadas adverbiais


As orações subordinadas adverbiais equivalem a advérbios. Exercem em relação à oração principal
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal.

Esse tipo de oração costuma ser iniciado por conjunções subordinativas. As orações subordinadas
adverbiais são classificadas a partir do nome da conjunção que as antecede:

Causais
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime causa, é chamada de
oração subordinada adverbial causais.
• Conjunções: como, já que, pois, porque, que, uma vez que.
• Ex.: Ela foi embora, porque estava muito triste.

Comparativas
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime comparação, é
chamada de oração subordinada adverbial comparativa.
• Cuidado: ne sepre o verbo da segunda oração estará expresso. Muitas vezes ele
aparecerá subentendido.
• Conjunções: como (relacionado a tal, tão, tanto), como se, do que (relacionado a
mais, menos, maior, menor, melhor, pior), que.
• Ex.: Prata vale menos do que ouro.
• O lugar é tal como você descreveu.

Concessivas
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime contraste, é chamada
de oração subordinada adverbial concessiva.
• Conjunções: ainda que, embora, posto que, se bem que.
• Ex.: Vou encontra-lo, embora ache que não tem mais solução.

Condicionais
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime condição, é chamada
de oração subordinada adverbial condicional.
• Em alguns casos, pode prescindir do uso do conectivo: Escrevesse eu mais um
livro, estaria rica.
• Conjunções: caso, desde que, contanto que, se.
• Ex.: Irei se puder.

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Conformativas

• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime conformidade, é


chamada de oração subordinada adverbial conformativa.
• Conjunções: como, conforme, segundo.
• Ex.: Resolvi a questão conforme você me ensinou.

Consecutivas

• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime consequência, é


chamada de oração subordinada adverbial consecutiva.
• Conjunções: de forma que, de maneira que, de modo que, que (relacionado a tal,
tão, tanto, tamanho).
• Por vezes, pode prescindir do termo na oração principal: Bebia que era uma
lástima (= Bebia tanto que era uma lástima).
• Ex.: Era tão alta que não passava na porta.

Finais
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime finalidade, é
chamada de oração subordinada adverbial final.
• Pode ocorrer elipse parcial ou total da locução adverbial final (Fiz-lhe sinal
que se calasse).
• Conjunções: a fim de que, para que, porque, que.
• Ex.: Menti para que não brigasse comigo.

Proporcionais
• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime proporção, é
chamada de oração subordinada adverbial proporcionais.
• Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que.
• Ex.: À medida que andávamos, ficava mais escuro.

Temporal

• Quando uma oração se inicia com conjunção que exprime tempo, é chamada
de oração subordinada adverbial temporal.
• Conjunções: antes que, apenas, assim que, até que, depois que, logo que,
quando, tanto que
• Ex.: Assim que a vi, me emocionei

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Orações locativas?
Cegalla admite a possibilidade da existência de orações locativas, ou seja, indicando noção de adjunto
adverbial de lugar. Essa modalidade, porém, ainda não é amplamente aceita na norma gramatical.
Ex.: Fico onde me mandam.
Quero ir aonde estás.

Orações subordinadas

Substantivas Adjetivas Adverbiais

Subjetivas Explicativas Causais

Predicativas Restritivas Consecutivas

Objetivas diretas Condicionais

Objetivas Concessivas
indiretas

Comparativas
Completivas
nominais
Conformativas
Apositivas
Finais

Proporcionais

Temporais

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2- Exercícios

2.1- Exercícios comentados


Texto para as questões 1 e 2:

Pichação-arte é pixação?

As discussões muitas vezes acaloradas sobre o reconhecimento da pixação como expressão


artística trazem à tona um questionamento conceitual importante: uma vez considerado arte
contemporânea, o movimento perderia sua essência? Para compreendermos os desdobramentos
da pixação, alguns aspectos presentes no graffiti são essenciais e importantes de serem resgatados.
O graffiti nasceu originalmente nos EUA, na década de 1970, como um dos elementos da cultura
hip-hop (Break, MC, DJ e Graffiti). Daí até os dias atuais, ele ganhou em força, criatividade e técnica,
sendo reconhecido hoje no Brasil como graffiti artístico. Sua caracterização como arte
contemporânea foi consolidada definitivamente por volta do ano 2000.

A distinção entre graffiti e pixação é clara; ao primeiro é atribuída a condição de arte, e o


segundo é classificado como um tipo de prática de vandalismo e depredação das cidades, vinculado
à ilegalidade e marginalidade. Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela
institucionalização do graffiti, com os primeiros resquícios já na década de 1970.

Esse desenvolvimento técnico e formal do graffiti ocasionou a perda da potência subversiva


que o marca como manifestação genuína de rua e caminha para uma arte de intervenção
domesticada enquadrada cada vez mais nos moldes do sistema de arte tradicional. O grafiteiro é
visto hoje como artista plástico, possuindo as características de todo e qualquer artista
contemporâneo, incluindo a prática e o status. Muito além da diferenciação conceitual entre as
expressões – ainda que elas compartilhem da mesma matéria-prima – trata-se de sua força e
essência intervencionista.

Estudos sobre a origem da pixação afirmam que o graffiti nova-iorquino original equivale à
pixação brasileira; os dois mantêm os mesmos princípios: a força, a explosão e o vazio. Uma das
principais características do pixo é justamente o esvaziamento sígnico, a potência esvaziada. Não
existem frases poéticas, nem significados. A pichação possui dimensão incomunicativa, fechada,
que não conversa com a sociedade. Pelo contrário, de certa forma, a agride. A rejeição do público
geral reside na falta de compreensão e intelecção das inscrições; apenas os membros da própria
comunidade de pixadores decifram o conteúdo.

A significância e a força intervencionista do pixo residem, portanto, no próprio ato. Ela é


evidenciada pela impossibilidade de inserção em qualquer estatuto pré-estabelecido, pois isso
pressuporia a diluição e a perda de sua potência signo-estética. Enquanto o graffiti foi sendo

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introduzido como uma nova expressão de arte contemporânea, a pichação utilizou o princípio de
não autorização para fortalecer sua essência.

Mas o quão sensível é essa forma de expressão extremista e antissistema como a pixação?
Como lidar com a linha tênue dos princípios estabelecidos para não cair em contradição? Na 26ª
Bienal de Arte de São Paulo, em 2004, houve um caso de pixo na obra do artista cubano naturalizado
americano, Jorge Pardo. Seu comentário, diante da intervenção, foi “Se alguém faz alguma coisa no
seu trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram a minha peça entre as expostas” […].
“Quem fez isso deve discordar de alguma coisa na obra. Pode ser outro artista fazendo sua própria
obra dentro da minha. Pode ser só uma brincadeira” e finalizou dizendo que “pichar a obra de
alguém também não é tão incomum. Já é tradicional”.

É interessante notar, a partir do depoimento de Pardo, a recorrência de padrões em


movimentos de qualquer natureza, e o inevitável enquadramento em algum tipo de sistema,
mesmo que imposto e organizado pelos próprios elementos do grupo. Na pixação, levando em conta
o “sistema” em que estão inseridos, constatamos que também passa longe de ser perfeito; existe
rivalidade pesada entre gangues, hierarquia e disputas pelo “poder”.

Em 2012, a Bienal de Arte de Berlim, com o tema “Forget Fear”, considerado ousado, priorizou
fatos e inquietações políticas da atualidade. Os pixadores brasileiros, Cripta (Djan Ivson), Biscoito,
William e R.C., foram convidados na ocasião para realizar um workshop sobre pixação em um espaço
delimitado, na igreja Santa Elizabeth. Eles compareceram. Mas não seguiram as regras impostas
pela curadoria, ao pixar o próprio monumento. O resultado foi tumulto e desentendimento entre
os pixadores e a curadoria do evento.

O grande dilema diante do fato é que, ao aceitarem o convite para participar de uma bienal de
arte, automaticamente aceitaram as regras e o sistema imposto. Mesmo sem adotar o
comportamento esperado, caíram em contradição. Por outro lado, pela pichação ser
conhecidamente transgressora (ou pelo jeito, não tão conhecida assim), os organizadores deveriam
pressupor que eles não seguiriam padrões pré-estabelecidos.

Embora existam movimentos e grupos que consideram, sim, a pixação como forma de arte,
como é o caso dos curadores da Bienal de Berlim, há uma questão substancial que permeia a
realidade dos pichadores. Quem disse que eles querem sua expressão reconhecida como arte? Se
arte pressupõe, como ocorreu com o graffiti, adaptar-se a um molde específico, seguir determinadas
regras e por consequência ver sua potência intervencionista diluída e branda, é muito improvável
que tenham esse desejo.

A representação da pixação como forma de expressão destrutiva, contra o sistema, extremista


e marginalizada é o que a mantêm viva. De certo modo, a rejeição e a ignorância do público é o que
garante sua força intervencionista e a tão importante e sensível essência.

Adaptado de: CARVALHO, M. F. Pichação-arte é pixação? Revista Arruaça, Edição nº 0. Cásper Líbero, 2013. Disponível em <https://casperlibero.edu.br/revistas/pichacao-arte-e-pixacao/> Acesso em: maio 2018.

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(ITA - 2019)

Assinale a alternativa em que o trecho sublinhado expressa ideia de causa.

a) Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela institucionalização do graffiti, com os
primeiros resquícios já na década de 1970.

b) Enquanto o graffiti foi sendo introduzido como uma nova expressão de arte contemporânea, a
pichação utilizou o princípio de não autorização para fortalecer sua essência.

c) A rejeição do público geral reside na falta de compreensão e intelecção das inscrições; apenas os
membros da própria comunidade decifram o conteúdo.

d) Mesmo sem adotar o comportamento esperado, caíram em contradição.

e) O grafiteiro é visto hoje como artista plástico, possuindo as características de todo e qualquer
artista contemporâneo, incluindo a prática e o status.

Assinale a alternativa cujo trecho sublinhado denota uma condição.

a) [...] trazem à tona um questionamento conceitual importante: uma vez considerado arte
contemporânea, o movimento perderia sua essência?

b) [...] ele ganhou em força, criatividade e técnica, sendo reconhecido hoje no Brasil como graffiti
artístico.

c) Muito além da diferenciação conceitual entre as expressões – ainda que elas compartilhem da
mesma matéria-prima [...]

d) Ela é evidenciada pela impossibilidade de inserção em qualquer estatuto pré-estabelecido, pois


isso pressuporia a diluição e a perda de sua potência signo-estética.

e) “Se alguém faz alguma coisa no seu trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram a
minha peça entre as expostas” [...]

(ITA - 2012)

Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que 6a abertura de uma


estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar
que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com
a inexistência de transporte público de massa por ali.

Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se
refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir
que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.

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Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte


coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de
metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma
determinada cidade.

Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta


pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.

A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área,


não destruí-la.

Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, 2a avenida ficou menos tétrica, quase
bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus
sem dar vazão a desembarques, 3a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de
relações públicas.
Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs
e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o
Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de
livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar
convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte
público.

Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro


de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos
materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes,
ótimo.

Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que


beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do
Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa
circular por São Paulo.

(Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)

(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona
Oeste da cidade de São Paulo.

Em sentido amplo, a relação de causa e efeito nem sempre é estabelecida por conectores (porque, visto
que, já que, pois etc.). Outros recursos também são usados para atribuir relação de causa e efeito entre
dois ou mais segmentos. Isso ocorre nas opções abaixo, exceto em

AULA 11 – Sintaxe III 16


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a) [...] a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao
bairro.

b) [...] a escuridão afugenta pessoas à noite [...].

c) A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área [...].

d) Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica [...].

e) [...] a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas.

(ITA – 2012)

Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do
ouro da classe C. A classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando
jovem pato. Lembro do futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca para obter suas
primeiras patacas. Era preciso conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se
busca, agora, fincar a bandeira do consumo no seio dos emergentes brasileiros.

Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a
massa. É preciso dar o que a classe C quer ler – ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler.
Daí as políticas de didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor
e tornar estanque a informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender
algo, ele fosse beber em outras fontes. Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de
quase todo mundo.

Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma
revista popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher
da classe C” ou “nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir
cada vez mais artigos de decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com
beleza, sobretudo o cabelo; que está preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e
profissionalmente. É com base nestes números que a editora oferece o produto – a revista – ao
mercado de anunciantes. Normal.

Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas
amalucadas? A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30
kg com fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com
florais de Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo
linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai passar o dia comendo linhaça? Estão confundindo a
classe C com passarinho, só pode.

Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar
como tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que
ninguém vai fazer, tipo uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte de

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ascensão profissional vem em matérias como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate
feitos em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus doces”. Falar das possibilidades de voltar a
estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido no trabalho? Nada. Dicas
culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar.

Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas.
A internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova
classe média quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada
impressionante. São todas inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a “Take a
Break”. A fórmula é a mesma de uma “Sou + Eu”: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e
distribuição de prêmios. Além deste tipo de abordagem também fazem sucesso as publicações de
fofocas de celebridades ou sobre programas de TV – aqui, as novelas.

Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as
pessoas a se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque
se come mal. Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast food e guloseimas, sem se preocupar
em perder anunciantes. Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância
de fazer exercícios e de levar uma vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres
da classe C a se sentirem bem com seu próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de
simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando
pouco, sem se importar com marcas.

Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos
televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do
computador e de levá-las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o
mundo, ciências, artes – é possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para
conhecedores, como se a cultura fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas
populares que fossem feitas para ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que
a classe C tenha suas próprias ideias?

(Cynara Menezes, 15/07/2011, em: http:/www.cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c)

Considere as seguintes afirmações relativas a aspectos sintático-semânticos do texto:

I. A chamada “perdi 20 quilos só comendo linhaça” foi interpretada como “perdi 20 quilos comendo
só linhaça”.

II. Nos dois últimos parágrafos, há recorrência de períodos fragmentados em que faltam as orações
principais.

III. Devido à estrutura da frase “Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando pouco,
sem se importar com marcas”, o segundo período ficaria melhor se fosse assim: “sem se
importassem com marcas”.

AULA 11 – Sintaxe III 18


Prof. Celina Gil

Está correto o que se afirma apenas em

a) I.

b) I e II.

c) II.

d) II e III.

e) III.

Texto para as questões 5 e 6:


(ITA - 2009)

A vegetação do cerrado é influenciada pelas características do solo e do clima, bem como pela
frequência de incêndios. O excesso de alumínio provoca uma alta acidez no solo, o que diminui a
disponibilidade de nutrientes e o torna tóxico para plantas não adaptadas. A hipótese do
escleromorfismo oligotrófico defende que a elevada toxicidade do solo e a baixa fertilidade das
plantas levariam ao nanismo e à tortuosidade da vegetação.

Além disso, a variação do clima nas diferentes estações (sazonalidade) tem efeito sobre a
quantidade de nutrientes e o nível tóxico do solo. Com baixa umidade, a toxicidade se eleva e a
disponibilidade de nutrientes diminui, influenciando o crescimento das plantas.

Já outra hipótese propõe que o formato tortuoso das árvores do cerrado se deve à ocorrência de
incêndios. Após a passagem do fogo, as folhas e gemas (aglomerados de células que dão origem a
novos galhos) sofrem necrose e morrem. As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são
substituídas por gemas internas, que nascem em outros locais, quebrando a linearidade do
crescimento.

Quando a frequência de incêndios é muito elevada, a parte aérea (galhos e folhas) do vegetal pode
não se desenvolver e ele se torna uma planta anã. Pode-se dizer, então, que a combinação entre
sazonalidade, deficiência nutricional dos solos e ocorrência de incêndios determina as
características da vegetação do cerrado.

(André Stella e Isabel Figueiredo. Ciência hoje, março/2008, adaptado.)

Considere o trecho abaixo:

“Após a passagem do fogo, as folhas e gemas (aglomerados de células que dão origem a novos
galhos) sofrem necrose e morrem. As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são substituídas
por gemas internas, que nascem em outros locais, quebrando a linearidade do crescimento.” (3°
parágrafo)

AULA 11 – Sintaxe III 19


Prof. Celina Gil

Nesse trecho, as orações adjetivas permitem afirmar que

I. nem todas as células produzem novos galhos.

II. algumas gemas se localizam nas extremidades dos galhos.

III. todas as gemas internas nascem em outros pontos do galho.

Está(ão) correta(s)

a) apenas a I.

b) apenas I e II.

c) apenas a II.

d) apenas a III.

e) todas.

(ITA – 2009)

As relações de causalidade são estabelecidas no texto, entre outros recursos, pelos verbos. Assinale
a opção em que o sujeito e o complemento do verbo NÃO correspondem, respectivamente, à ordem
causa-consequência:

a) O excesso de alumínio provoca uma alta acidez no solo [...].

b) [...] a elevada toxicidade do solo e a baixa fertilidade das plantas levariam ao nanismo e à
tortuosidade da vegetação.
c) Com baixa umidade, a toxicidade se eleva e a disponibilidade de nutrientes diminui, influenciando
o crescimento das plantas.

d) [...] o formato tortuoso das árvores do cerrado se deve à ocorrência de incêndios.

e) [...] a combinação entre sazonalidade, deficiência nutricional dos solos e ocorrência de incêndios
determina as características da vegetação do cerrado.

(ITA - 2002)

Tem gente que junta os trapos, outros juntam os pedaços.


O que, empregado como conectivo, introduz uma oração:
a) substantiva.
b) adverbial causal.
c) adverbial consecutiva.
d) adjetiva explicativa.

AULA 11 – Sintaxe III 20


Prof. Celina Gil

e) adjetiva restritiva.

(IME – 2015)

“Podia ser o verso mais delicado do mundo, eu tinha medo.”

O fragmento em destaque expressa ideia de:

a) Causa.

b) Finalidade.

c) Condição.

d) Concessão.

e) Consequência.

(UNIFESP - 2016)

Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor
em 1962.

É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que
está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que
mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o
assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se
sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na
própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais;
e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a
justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria:
“O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho
certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que
não matou”.

Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não
matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim
não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.

Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio
de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem
de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo
minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo

AULA 11 – Sintaxe III 21


Prof. Celina Gil

chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero
ser o outro.

Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo
e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como
primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se
eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno,
o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que
Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu
erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos
salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que
em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me
espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)

facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada.

Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela
polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

“O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro.” (3° parágrafo)

Em relação à oração que a precede, a oração destacada tem sentido de

a) consequência.

b) conclusão.

c) alternância.

d) causa.

e) finalidade.

AULA 11 – Sintaxe III 22


Prof. Celina Gil

(IBMEC - 2016)

Mãe galinha

Tente uniformizar o design dos aviões sem ouvir os comandantes, os controladores de voo, os
engenheiros, o pessoal de terra, os meteorologistas e as aeromoças. As turbinas acabarão no lugar
das rodas e as asas sairão do nariz do avião, como bigodes. Foi o que aconteceu à língua portuguesa
com o "Acordo" Ortográfico imposto pelo Brasil e, até hoje, não aceito nem assimilado por Portugal.

Há dias, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, admitiu que "talvez tenhamos errado no processo
de normatização, que teve um caráter tecnicista e não envolveu os criadores de todos os países".
Exatamente: esqueceram-se de combinar conosco, que lidamos com a língua nas escolas, nos livros,
nos jornais e na publicidade. Sem necessidade, baniram grafias seculares de Portugal, assim como
o hífen, o trema e os acentos diferenciais. (...) De que adianta o "acordo" criar uma escrita comum
se as pronúncias continuam diferentes, além da particularidade de milhares de conteúdos? No
Brasil, uma mãe que se orgulha dos filhos e os protege é uma mãe coruja. Em Portugal, é uma mãe
galinha. Vá dizer aos portugueses que eles deveriam mudar isso. (...)

A magia da língua portuguesa é a de que, não importa a variedade de grafias ou pronúncias, ela
é sempre compreensível para os que a falam e leem, sejam portugueses, brasileiros ou africanos.
"A língua é viva, e temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico", disse o ministro. Eu
não tenho. Por isso, não aderi a ele. Continuo escrevendo linguiça e, se quiserem, me corrijam.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/

2015/08/1675694-mae-galinha.shtml. Acesso em 16/04/2016. (Adaptado)

Em “... para os que a falam”, os termos em destaque exercem, respectivamente, a função sintática
de

a) objeto direto em ambas as ocorrências.

b) objeto direto e sujeito.

c) adjunto adnominal e sujeito.

d) sujeito e adjunto adnominal.

e) sujeito e objeto direto.

(FGV - 2015)

Redundâncias

Ter medo da morte

AULA 11 – Sintaxe III 23


Prof. Celina Gil

é coisa dos vivos


o morto está livre
de tudo o que é vida

Ter apego ao mundo


é coisa dos vivos
para o morto não há
(não houve)
raios rios risos

E ninguém vive a morte


quer morto quer vivo
mera noção que existe
só enquanto existo
(Ferreira Gullar, Muitas vozes)

Em relação à oração – é coisa dos vivos –, os enunciados – Ter medo da morte – (1.ª estrofe) e – Ter
apego ao mundo – (2.ª estrofe) exercem a função sintática de

a) sujeito.

b) predicativo do sujeito.

c) objeto direto.

d) adjunto adnominal.

e) complemento nominal.

(ITA – 2010 adaptada)

Indique a opção em que o MAS tem função aditiva.

a) Atenção: na minha coluna não usei “careta” como quadrado, estreito, alienado, fiscalizador e
moralista, mas humano, aberto, atento, cuidadoso.

b) Não apenas no sentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem autoestima, sem amor,
sem sentido de vida, sem esperança e sem projetos.

c) Não solto, não desorientado e desamparado, mas amado com verdade e sensatez.
d) [...] (não me refiro a nomes importantes, mas a seres humanos confiáveis) [...].

AULA 11 – Sintaxe III 24


Prof. Celina Gil

e) Pois, na hora da angústia, não são os amiguinhos que vão orientá-los e ampará-los, mas o pai e
a mãe – se tiverem cacife.

INÉDITA – Celina Gil

Observe este trecho de “Senhora”, de José de Alencar:

No dia seguinte, à hora marcada, com pontualidade mercantil, parava à porta do sobradinho da rua
do Hospício um carro, no qual poucos momentos depois seguia o Lemos a caminho das Laranjeiras
com o noivo que ele havia negociado para sua pupila.

Durante rápido trajeto, o velho divertiu-se em meter sustos no rapaz acerca da noiva, a quem
sorrateiramente ia emprestando certos senões, a pretexto de os desculpar. Ora dava a entender
que a moça tinha um olho de vidro; ora inculcava que era uma perfeita roceira, a qual o marido
devia depois do casamento mandar para o colégio.

(Senhora, José de Alencar, 2013)

Qual alternativa apresenta um período – também retirado de Senhora – que pode ser
classificado a mesma maneira que o destacado no texto?

a) Aurélia não gostava de Byron, embora o admirasse.

b) A jovialidade do Seixas e o seu carinho, não só desvaneceram as queixas da Nicota, como


restabelecem a cordialidade entre duas meninas (...).

c) O ciúme é o zelo do senhor pela coisa que lhe pertence (...), seja essa animada ou inanimada.
d) A porta do gabinete estava fechada interiormente, e ele esquecera essa manhã de levar a chave.
Foi obrigado portanto a dar a volta pela saleta.

e) Aurélia deixou perceber ligeira comoção. Entretanto foi com a voz firme que respondeu.

INÉDITA – Celina Gil

Observe os itens abaixo:

I. Como estivesse doente, não foi à aula.

II. É bom levar um guarda-chuva, pois vai chover.

III. Já que você não gosta dessa música, vou desligar o rádio.

IV. Não terminou a lição, uma vez que não tinha o livro.
Há relação de causa entre as orações nos itens:

AULA 11 – Sintaxe III 25


Prof. Celina Gil

a) I., II., III.

b) II., III., IV.

c) I., II., IV.

d) I., III., IV.

e) todas.

Texto para as próximas questões:

Sobre a importância da ciência

Parece paradoxal que, no início deste milênio, durante o que chamamos com orgulho de “era
da ciência”, tantos ainda acreditem em profecias de fim de mundo. Quem não se lembra do bug do
milênio ou da enxurrada de absurdos ditos todos os dias sobre a previsão maia de fim de mundo no
ano 2012?

Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos, de que
promessas não foram cumpridas. Afinal, lutamos para curar doenças apenas para descobrir outras
novas. Criamos tecnologias que pretendem simplificar nossas vidas, mas passamos cada vez mais
tempo no trabalho. Pior ainda: tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica
impossível acompanhar o passo da tecnologia.

Os mais jovens se comunicam de modo quase que incompreensível aos mais velhos, com
Facebook, Twitter e textos em celulares. Podemos ir à Lua, mas a maior parte da população continua
mal nutrida.

Consumimos o planeta com um apetite insaciável, criando uma devastação ecológica sem
precedentes. Isso tudo graças à ciência? Ao menos, é assim que pensam os descontentes, mas não
é nada disso.

Primeiro, a ciência não promete a redenção humana. Ela simplesmente se ocupa de


compreender como funciona a natureza, ela é um corpo de conhecimento sobre o Universo e seus
habitantes, vivos ou não, acumulado através de um processo constante de refinamento e testes
conhecido como método científico.

A prática da ciência provê um modo de interagir com o mundo, expondo a essência criativa da
natureza. Disso, aprendemos que a natureza é transformação, que a vida e a morte são parte de
uma cadeia de criação e destruição perpetuada por todo o cosmo, dos átomos às estrelas e à vida.
Nossa existência é parte desta transformação constante da matéria, onde todo elo é igualmente
importante, do que é criado ao que é destruído.
A ciência pode não oferecer a salvação eterna, mas oferece a possibilidade de vivermos livres
do medo irracional do desconhecido. Ao dar ao indivíduo a autonomia de pensar por si mesmo, ela

AULA 11 – Sintaxe III 26


Prof. Celina Gil

oferece a liberdade da escolha informada. Ao transformar mistério em desafio, a ciência adiciona


uma nova dimensão à vida, abrindo a porta para um novo tipo de espiritualidade, livre do
dogmatismo das religiões organizadas.

A ciência não diz o que devemos fazer com o conhecimento que acumulamos. Essa decisão é
nossa, em geral tomada pelos políticos que elegemos, ao menos numa sociedade democrática. A
culpa dos usos mais nefastos da ciência deve ser dividida por toda a sociedade. Inclusive, mas não
exclusivamente, pelos cientistas. Afinal, devemos culpar o inventor da pólvora pelas mortes por
tiros e explosivos ao longo da história? Ou o inventor do microscópio pelas armas biológicas?

A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos, TVs, aviões,
carros. As pessoas vivendo no mato, sem os confortos tecnológicos modernos, caçando para comer.
Quantos optariam por isso?

A culpa do que fazemos com o planeta é nossa, não da ciência. Apenas uma sociedade versada na
ciência pode escolher o seu destino responsavelmente. Nosso futuro depende disso.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College (EUA).

Fonte: www.ufrgs.br/blogdabc/sobre-importancia-da-ciencia/ (postado em 18/10/2010). Acesso em 5 de abril de


2020.

(EsPCEx - 2021)

No trecho “Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos,
de que promessas não foram cumpridas”, as orações sublinhadas são classificadas,
respectivamente, como

(A) oração subordinada substantiva objetiva indireta, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.

(B) oração subordinada substantiva subjetiva, oração subordinada substantiva subjetiva.

(C) oração subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.

(D) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva


completiva nominal.

(E) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.

AULA 11 – Sintaxe III 27


Prof. Celina Gil

(EsPCEx - 2021)

Em “tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica impossível acompanhar o passo
da tecnologia”, a oração subordinada sublinhada é

(A) adverbial causal.

(B) Adverbial consecutiva.

(C) substantiva objetiva direta.

(D) adjetiva explicativa.

(E) substantiva subjetiva.

(EsPCEx - 2021)

No fragmento “A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos,
TVs, aviões, carros”, temos

(A) um período composto por subordinação substantiva subjetiva e objetiva direta.

(B) duas orações absolutas, num período composto por coordenação assindética.

(C) duas orações absolutas, num período composto, com verbos transitivos e seus adjuntos.

(D) dois períodos simples, com um verbo transitivo direto, outro indireto e seus complementos.

(E) dois períodos simples, com verbos transitivos e seus respectivos objetivos diretos.

(AFA – 2020)

Apelo

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não
senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana:
o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha
de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto,
até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora
da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as
aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate – meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na

AULA 11 – Sintaxe III 28


Prof. Celina Gil

camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

(TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5ª ed. Record. Rio de Janeiro, 1996.)

Em relação à organização textual e aspectos sintáticos do texto IV, assinale a alternativa que
apresenta uma análise correta.

A) O texto é uma carta pessoal cujo emitente é o marido e o destinatário, a mulher, o que se
comprova pelo vocativo e pelo desfecho com o pedido de volta da Senhora.

B) O sinal de dois pontos (l. 5) tem a função de introduzir uma oração explicativa para o fato
mencionado anteriormente.

C) O travessão (l. 10) tem a função de separar o aposto do termo principal ao qual ele se refere.

D) O sujeito da primeira oração do período “ Às violetas, na janela, não lhes poupei água e elas
murcham” está marcado na desinência verbal.

Texto para as próximas questões:

Sobre a importância da ciência

Parece paradoxal que, no início deste milênio, durante o que chamamos com orgulho de “era
da ciência”, tantos ainda acreditem em profecias de fim de mundo. Quem não se lembra do bug do
milênio ou da enxurrada de absurdos ditos todos os dias sobre a previsão maia de fim de mundo no
ano 2012?

Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos, de que
promessas não foram cumpridas. Afinal, lutamos para curar doenças apenas para descobrir outras
novas. Criamos tecnologias que pretendem simplificar nossas vidas, mas passamos cada vez mais
tempo no trabalho. Pior ainda: tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica
impossível acompanhar o passo da tecnologia.

Os mais jovens se comunicam de modo quase que incompreensível aos mais velhos, com Facebook,
Twitter e textos em celulares. Podemos ir à Lua, mas a maior parte da população continua mal
nutrida.

Consumimos o planeta com um apetite insaciável, criando uma devastação ecológica sem
precedentes. Isso tudo graças à ciência? Ao menos, é assim que pensam os descontentes, mas não
é nada disso.

Primeiro, a ciência não promete a redenção humana. Ela simplesmente se ocupa de


compreender como funciona a natureza, ela é um corpo de conhecimento sobre o Universo e seus

AULA 11 – Sintaxe III 29


Prof. Celina Gil

habitantes, vivos ou não, acumulado através de um processo constante de refinamento e testes


conhecido como método científico.

A prática da ciência provê um modo de interagir com o mundo, expondo a essência criativa da
natureza. Disso, aprendemos que a natureza é transformação, que a vida e a morte são parte de
uma cadeia de criação e destruição perpetuada por todo o cosmo, dos átomos às estrelas e à vida.
Nossa existência é parte desta transformação constante da matéria, onde todo elo é igualmente
importante, do que é criado ao que é destruído.

A ciência pode não oferecer a salvação eterna, mas oferece a possibilidade de vivermos livres
do medo irracional do desconhecido. Ao dar ao indivíduo a autonomia de pensar por si mesmo, ela
oferece a liberdade da escolha informada. Ao transformar mistério em desafio, a ciência adiciona
uma nova dimensão à vida, abrindo a porta para um novo tipo de espiritualidade, livre do
dogmatismo das religiões organizadas.

A ciência não diz o que devemos fazer com o conhecimento que acumulamos. Essa decisão é
nossa, em geral tomada pelos políticos que elegemos, ao menos numa sociedade democrática. A
culpa dos usos mais nefastos da ciência deve ser dividida por toda a sociedade. Inclusive, mas não
exclusivamente, pelos cientistas. Afinal, devemos culpar o inventor da pólvora pelas mortes por
tiros e explosivos ao longo da história? Ou o inventor do microscópio pelas armas biológicas?

A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos, TVs, aviões,
carros. As pessoas vivendo no mato, sem os confortos tecnológicos modernos, caçando para comer.
Quantos optariam por isso?

A culpa do que fazemos com o planeta é nossa, não da ciência. Apenas uma sociedade versada na
ciência pode escolher o seu destino responsavelmente. Nosso futuro depende disso.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College (EUA).

Fonte: www.ufrgs.br/blogdabc/sobre-importancia-da-ciencia/ (postado em 18/10/2010). Acesso em 5 de abril de


2020.

(EsPCEx - 2021)

No trecho “Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos,
de que promessas não foram cumpridas”, as orações sublinhadas são classificadas,
respectivamente, como

a) oração subordinada substantiva objetiva indireta, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

b) oração subordinada substantiva subjetiva, oração subordinada substantiva subjetiva.

c) oração subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

AULA 11 – Sintaxe III 30


Prof. Celina Gil

d) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva completiva


nominal.

e) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

(EsPCEx - 2021)

Em “tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica impossível acompanhar o passo
da tecnologia”, a oração subordinada sublinhada é

a) adverbial causal.

b) Adverbial consecutiva.

c) substantiva objetiva direta.


d) adjetiva explicativa.

e) substantiva subjetiva.

(EsPCEx – 2020)

O fim do canudinho de plástico

Por Devorah Lev-Tov / Quinta-feira, 5 de Julho de 2018

Em 2015, um vídeo perturbador de uma tartaruga marinha oliva sofrendo com um canudo
plástico preso em sua narina viralizou, mudando a atitude de muitos espectadores quanto ao
utensílio plástico tão conveniente para muitos.

Mas, como pode o canudo plástico, um item insignificante utilizado brevemente antes de ser
descartado, causar tanto estrago? Primeiramente, ele consegue chegar facilmente aos oceanos
devido a sua leveza. Ao chegar lá, o canudo não se decompõe. Pelo contrário, ele se fragmenta
lentamente em pedaços cada vez menores, conhecidos como microplásticos, que são
frequentemente confundidos com comida pelos animais marinhos.

E, em segundo lugar, ele não pode ser reciclado. “Infelizmente, a maioria dos canudos plásticos
são leves demais para os separadores manuais de reciclagem, indo parar em aterros sanitários,
cursos d’água e, por fim, nos oceanos”, explica Dune Ives, diretor executivo da organização Lonely
Whale. A ONG viabilizou uma campanha de marketing de sucesso chamada “Strawless in Seattle”
(ou “Sem Canudos em Seattle”) em apoio à iniciativa “Strawless Ocean” (ou “Oceanos Sem
Canudos”).

AULA 11 – Sintaxe III 31


Prof. Celina Gil

Nos Estados Unidos, milhões de canudos de plástico são descartados todos os dias. No Reino
Unido, estima-se que pelo menos 4,4 bilhões de canudos sejam jogados fora anualmente. Hotéis
são alguns dos piores infratores: o Hilton Waikoloa Village, que se tornou o primeiro resort na ilha
do Havaí a banir os canudos plásticos no início deste ano, utilizou mais de 800 mil canudos em 2017.

Mas é claro que os canudos são apenas parte da quantidade monumental de resíduos que vão
parar em nossos oceanos. “Nos últimos 10 anos, produzimos mais plástico do que em todo o século
passado e 50% do plástico que utilizamos é de uso único e descartado imediatamente”, diz Tessa
Hempson, gerente de operações do Oceans Without Borders, uma nova fundação da empresa de
safáris de luxo & Beyond. “Um milhão de aves marinhas e 100 mil mamíferos marinhos são mortos
anualmente pelo plástico nos oceanos. 44% de todas as espécies de aves marinhas, 22% das baleias
e golfinhos, todas as espécies de tartarugas, e uma lista crescente de espécies de peixes já foram
documentados com plástico dentro ou em volta de seus corpos”.

Mas, agora, o próprio canudo plástico começou a finalmente se tornar uma espécie ameaçada,
com algumas cidades nos Estados Unidos (Seattle, em Washington; Miami Beach e Fort Myers
Beach, na Flórida; e Malibu, Davis e San Luis Obispo, na Califórnia) banindo seu uso, além de outros
países que limitam itens de plástico descartável, o que inclui os canudos. Belize, Taiwan e Inglaterra
estão entre os mais recentes países a proporem a proibição.

Mesmo ações individuais podem causar um impacto significativo no meio ambiente e influenciar
a indústria: a proibição em uma única rede de hotéis remove milhões de canudos em um único ano.
As redes Anantara e AVANI estimam que seus hotéis tenham utilizado 2,49 milhões de canudos na
Ásia em 2017, e a AccorHotels estima o uso de 4,2 milhões de canudos nos Estados Unidos e Canadá
também no último ano.

Embora utilizar um canudo não seja a melhor das hipóteses, algumas pessoas ainda os preferem
ou até necessitam deles, como aqueles com deficiências ou dentes e gengivas sensíveis. Se quiser
usar um canudo, os reutilizáveis de metal ou vidro são a alternativa ideal. A Final Straw, que diz ser
o primeiro canudo retrátil reutilizável do mercado, está arrecadando fundos através do Kickstarter.

“A maioria das pessoas não pensa nas consequências que o simples ato de pegar ou aceitar um
canudo plástico tem em suas vidas e nas vidas das futuras gerações” diz David Laris, diretor de
criação e chef do Cachet Hospitality Group, que não utiliza canudos de plástico. “A indústria
hoteleira tem a obrigação de começar a reduzir a quantidade de resíduos plásticos que gera”.

Adaptado de https://www.nationalgeographicbrasil.com/planeta-ou-plastico/2018/07/ fim-canudinhoplastico-


canudo-poluicao-oceano . Acesso em 14 de março de 2019.

Analise o período a seguir e marque a alternativa correta.


“Se quiser usar canudo, os reutilizáveis de metal ou vidro são a alternativa ideal.”

AULA 11 – Sintaxe III 32


Prof. Celina Gil

A) O termo “se quiser usar canudo” é a oração principal do período e estabelece uma condição em
relação a outra oração.

B) A expressão “os reutilizáveis de metal ou vidro” é um termo com valor substantivo classificado
sintaticamente como sujeito composto.

C) O termo “a alternativa ideal” é um predicativo do sujeito que tem como núcleo o vocábulo
“ideal”.

D) O vocábulo “canudo” é um termo com valor adverbial que modifica o valor semântico da locução
verbal “quiser usar”

E) A expressão “de metal ou vidro” é um termo com valor adjetivo classificado sintaticamente como
adjunto adnominal.

(EsPCEx – 2018)
Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos

O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo.
No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida mas nunca comprovada
empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum
tipo de crime após saírem da cadeia.

Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de um sistema
que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece,
para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total,
pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo
cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é
bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).

Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país
para se viver (1° no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante
Brasil, o 8° país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar
80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das
menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca,
essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali
passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia
é 50%.

A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na
reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso,
não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena

AULA 11 – Sintaxe III 33


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máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente
reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração
seja comprovada.

O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos
corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso
sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro
para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de
esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de
música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos
educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer
muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia.

A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e
pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela
prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado
interno para abastecer seus refrigeradores.

Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de
preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar
respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros
também aprenderão a respeitar.

A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos


países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a
privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança.

O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e


comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade
novamente junto à sociedade.

A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e
praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e
matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população
manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança
é uma festa, dizia Nietzsche).

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal
atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e
pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/noruega-como-
modelo-dereabilitacao-de-criminosos/ Acessado em 17 de março de 2017.

AULA 11 – Sintaxe III 34


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Assinale a alternativa em que a oração sublinhada é subordinada substantiva predicativa:

A) A comida é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado
interno.

B) Ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade.

C) Se o indivíduo não comprovar que está totalmente reabilitado, a pena será prorrogada.

D) A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao brasileiro é que ele é pautado
na reabilitação.

E) Uma sinistra cultura de que bandido bom é bandido morto.

(EsPCEx – 2017)

Em “A velha disse-lhe que descansasse”, do conto Noite de Almirante, de Machado de Assis, a


oração grifada é uma subordinada

A) substantiva objetiva indireta.

B) adverbial final.

C) adverbial conformativa.

D) adjetiva restritiva.

E) substantiva objetiva direta.

(EsPCEx – 2015)

No período “Ninguém sabe como ela aceitará a proposta", a oração grifada é uma subordinada

A) adverbial comparativa.

B) substantiva completiva nominal.

C) substantiva objetiva direta.

D) adverbial modal.

E) adverbial causal.

(EsPCEx – 2015)

Assinale a alternativa em que está destacada uma oração coordenada explicativa.

A) Peço que te cales.

B) O homem é um animal que pensa.

AULA 11 – Sintaxe III 35


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C) Ele não esperava que a mãe o perdoasse.

D) Leve-a até o táxi, que ela precisa ir agora.

E) É necessário que estudes.

(EsPCEx – 2014)

Assinale a alternativa que analisa corretamente a oração sublinhada na frase a seguir.

“Os animais que se alimentam de carne chamam-se carnívoros.”

A) A oração adjetiva sublinhada serve para explicar como são chamados os animais que se
alimentam de carne e, portanto, por ser explicativa, deveria estar separada por vírgulas.

B) Como todos os animais carnívoros alimentam-se de carne, não há restrição. Nesse caso, a oração
sublinhada só poderá ser explicativa e, portanto, deveria estar separada por vírgulas.

C) Trata-se de uma oração evidentemente explicativa, pois ensina como são chamados os animais
que se alimentam de carne. Sendo assim, a oração adjetiva sublinhada deveria estar separada por
vírgulas.

D) A oração adjetiva sublinhada tanto pode ser explicativa, pois esclarece, em forma de aposto, o
termo antecedente, quanto pode ser restritiva, por limitar o sentido do termo “animais”.

E) A oração adjetiva sublinhada só pode ser restritiva, pois reduz a categoria dos animais e é
indispensável ao sentido da frase: somente os que comem carne é que são chamados de carnívoros.

(EsPCEx – 2014)

“Chovesse ou fizesse sol, o Major não faltava.”

Assinale a alternativa que apresenta a oração subordinada com a mesma ideia das orações grifadas
acima.

A) Você não sairá sem antes me avisar

B) Aprendeu a ler sem ter frequentado escola.

C) Retirei-me discretamente, sem ser percebido.

D) Não podia fitá-lo sem que risse.

E) Aqui viverás em paz, sem ser incomodado.

AULA 11 – Sintaxe III 36


Prof. Celina Gil

(EsPCEx – 2013)

Assinale a alternativa correta quanto à classificação sintática das orações grifadas abaixo,
respectivamente.

– Acredita-se que a banana faz bem à saúde.

– Ofereceram a viagem a quem venceu o concurso .

– Impediram o fiscal de que recebesse a propina combinada.

– Os patrocinadores tinham a convicção de que os lucros seriam compensadores.

A) subjetiva – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal

B) subjetiva – objetiva indireta – completiva nominal – completiva nominal

C) adjetiva – completiva nominal – objetiva indireta – objetiva indireta


D) objetiva direta – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal

E) subjetiva - completiva nominal - objetiva indireta - objetiva indireta

(EFOMM - 2021)

Um caso de burro

Machado de Assis

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo
de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no
leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve
a importância; os gostos não são iguais.

Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao
pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros,
donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo),
vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos
fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar
próximo do fim.

Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado
inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com
essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e
acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água;
estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de

AULA 11 – Sintaxe III 37


Prof. Celina Gil

curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se
não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer
meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a
verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos
minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal
foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.

O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao
capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo.
Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos
que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário.
Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o
exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou
outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura
que não podia exprimi-las verbalmente.
E diria o burro consigo:

"Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não
menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três
coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do
verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente
é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de
agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve
algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que
nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade."

"Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver
pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a
própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais
direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou.
Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da
minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco
temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio
dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem
chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males
que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."

''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa
da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a
moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor
importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na

AULA 11 – Sintaxe III 38


Prof. Celina Gil

quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os
amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...

Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta,
não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração,
porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que
ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente
o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também,
coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais
racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?

Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.

Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno
a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos
deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora,
também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace.

Assinale a opção em que se encontra um período composto por coordenação e por subordinação.

A) "Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao
pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado."

B) "Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando."

C) "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso."

D) "Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa."

E) "Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para
um espetáculo [... ] "

(EFOMM - 2018)

Passeio à Infância

Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz
calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar
bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas
para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É
janeiro, grande mês de janeiro!

AULA 11 – Sintaxe III 39


Prof. Celina Gil

Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até
a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem,
vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro
lado do jardim tem um pé de saboneteira.

Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e
vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de
panela?

Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei
uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver
pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia.
Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar
papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de
sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado.
Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de
abóbora e coco.

Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há
rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na
correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora
até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os
outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão
morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio
gritando.

Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira?
Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma
que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria
gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e
vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos
daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um
pouco mais alta da ponta direita do banco.

Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho


miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto
coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre
os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a
onda clara, junto da pedra.

Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria
uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele

AULA 11 – Sintaxe III 40


Prof. Celina Gil

não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da
água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina
de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.

Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um
homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu
cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual
com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um
sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas
cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.

Assinale a opção em que a oração sublinhada NÃO se classifica como subordinada adverbial.

A) (...) os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe.

B) Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar
tabatinga para fazer formas de máscaras.

C) Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa?

D) Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de
abóbora e coco.

E) Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas.

(EFOMM – 2014)

UM QUARTO DE RAPAZ

Elsie Lessa

Abro as venezianas na alegria do sol desta manhã e só não ponho a mão na cabeça porque, afinal
das contas, o correr dos anos nos dá uma certa filosofia. Essa rapaziada parece que é mesmo toda
assim.

Quem sai para uma prova de matemática não há mesmo de ter deixado a cama feita, tanto mais
quando ficou lendo Carlos Drummond de Andrade até às tantas, como prova este Poesia até agora,
rubro de vergonha de ter sido largado no chão junto a este cinzeiro transbordante e às meias azuis
de náilon. E dizer que desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já não estamos – hélas!
– no tempo da escravidão e que somos nós mesmos, brancos, pretos ou amarelos, intelectuais ou

AULA 11 – Sintaxe III 41


Prof. Celina Gil

estudantes em provas, que devemos encaminhar ao destino conveniente as roupas da véspera.


Qual, ele não se convence. Também uma manta escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente
trouxe embaixo do braço da Inglaterra até aqui, para que nos aqueça nas noites de inverno, não
devia ser largada no chão, nem mesmo na companhia de um livro de versos. E quem é que está
ligando para tudo isso?

Ó mocidade inquieta, só mesmo o que está em ordem dentro deste quarto são os montes de
discos. E estes livros, meu Deus? Como é que gente que gosta de ler pode deixar os próprios livros
numa bagunça dessas? Coitado do Pablo Neruda, olha onde foi parar! E o Dom Quixote de la
Mancha, Virgem Santíssima! Há três gerações que os antepassados desse menino não fazem outra
coisa senão escrever livros, e ele os trata assim!

− Livro é pra ler! Não é para enfeitar estante!

− Está certo! Que não enfeite, mas também não precisam ser empurrados desse jeito, lá para o
fundo, com esse monte de revistas de jazz em cima! E custava, criatura, custava você pendurar essas
calças nesse guarda-roupa que é para você, sozinho, que é provido de cabides, que não têm outro
destino senão abrigar as suas calças?

− Mania de ordem é complexo de culpa, já te avisei! Meu quarto está ótimo, está formidável. E
não gosto que mexa, hein, senão depois não acho as minhas coisas!

E pensar que esse menino um dia casa e vai levar essas noções de arrumação para a infeliz da
esposa, e que juízo, que juízo vai fazer essa moça de mim, meu Deus do céu! Há bem uns quinze
anos que esse problema me atormenta, tenho trocado confidências com amigas e há várias opiniões
a respeito. Umas acham que um dia dá um estalo de Padre Vieira na cabeça desses moleques e
passam a pendurar a roupa, tirar pó de livro, desamarrar o sapato antes de tirar do pé.

Pode ser. Deus permita! Mas que agonia, enquanto isso não acontece.

Dizer que peregrinei por antiquários para descobrir nobres jacarandás, de boa estirpe, que o
rodeassem em todas as suas horas, que lhe infundissem o gosto das coisas belas. Qual! Pendurei a
balada do “If”1 em cima de todos esses discos de jazz, e sobre a vitrola, já nem sei por quê, esse belo
retrato de Napoleão, em esmalte, vindo das margens do Sena! E ele está se importando? O violão
está sem cordas, e em cima do meu retrato, radioso retrato da minha juventude, ele já pôs o Billy
Eckstine, a Sarah Vaughan, a Ava Gardner de biquíni e duas namoradas ora descartadas! E não tira
um, antes de colocar o outro! Vai empurrando por cima e já a moldura estoura com essa variedade
de predileções! São Sebastião, na sua peanha dourada, está de olhos erguidos para o alto e,
felizmente, não vê a desordem que anda cá por baixo.

Vejo eu, olho em roda para saber por onde começar. Custava ele despejar esses cinzeiros? Onde
já se viu fumar na cama e fazer furos nos meus lençóis? E, em tempos de provas, é hora de ficar
folheando livros de versos, até tarde da noite, desse jeito? O caderno de física está assim de poesias
e letras de fox e caricaturas de colegas, não sei também se de algum professor! E para que seis caixas

AULA 11 – Sintaxe III 42


Prof. Celina Gil

de fósforo em cima dessa vitrola? E onde já se viu misturar na mesma mesa esse nunca assaz
manuseado Manuel Bandeira, e El son entero, de Nicolás Guillén, e os poemas de Mário de Andrade,
e os Pássaros Perdidos de Tagore, e Fernando Pessoa, e esse pocket book policial? Quer ler Graham
Greene, e fazer versos, e fumar feito um desesperado, e não perder praia no Arpoador, nem broto
na vizinhança, nem filme na semana e passar nas provas. E em que mundo isso é possível?

Guardo os chinelos, que ficam sempre emborcados. Já lhe disse que isso é atraso de vida. E ele
morre de rir. E ponho as cobertas em cima da cama. E abro as janelas, para sair esse cheiro de fumo.
E deixo só uma caixa de fósforos. Mas não faço mais nada, porque abri um caderno, de letra muito
ruim, até a metade com os seus versos.
1
Poema célebre do escritor indiano Rudyard Kipling (1865- 1936), Prêmio Nobel de Literatura de 1907.

OBS.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.

Assinale a opção em que NÃO aparece uma oração adjetiva.

A) E dizer que desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já não estamos (...)

B) Também uma manta escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente trouxe embaixo do
braço (...)

C) Como é que gente que gosta de ler pode deixar os próprios livros numa bagunça dessas?

D) (...) custava você pendurar essas calças nesse guarda-roupa que é para você, sozinho, que é
provido de cabides (...)

E) Guardo os chinelos, que ficam sempre emborcados.

Texto para as próximas questões:

UM CINTURÃO

Graciliano Ramos

As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão.
Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam
feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento.
Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando
findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de
manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes
lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma
discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-

AULA 11 – Sintaxe III 43


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se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não
fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do
cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.

Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes
extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando,
levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente
não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma
exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo
dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei
ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastarse-
ia em palavras.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos
caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria
ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões.
Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem
daquele perigo.

Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me
dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil
explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos
brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram
depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui
sacudido. O assombro gelavame o sangue, escancarava-me os olhos.

Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto,
emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da
minha infância, e as consequências delas me acompanharam.

O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a


entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de
semelhante maneira.

Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte,
desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas
adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada
a martelo.

AULA 11 – Sintaxe III 44


Prof. Celina Gil

A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido,
movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro
entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes,
mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia
fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina,
o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu
corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum,
a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás de caixões, livre
do martírio.

Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do
torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de
couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que gogos e
adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobrediabo.
Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo,
recordo-me de cemitérios e de ruínas malassombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto
negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a
aprendizagem dolorosa.

Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as


vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a
carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala
como carrapeta eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir,
quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me num desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a
mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca
a mastigar uma interrogação incompreensível.

Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e
embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as
varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que
desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão
de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram
o refúgio onde me abatia, aniquilado.

Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se
tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não
se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.

Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo,
insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.

AULA 11 – Sintaxe III 45


Prof. Celina Gil

Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.

OBS.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.

(EFOMM – 2013)

Assinale a opção em que se analisou ERRONEAMENTE a circunstância estabelecida pela oração


destacada.

A) Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria (...). – concessão.

B) Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava
a dor. – tempo.

C) O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação
da fase preparatória (...) – concessão.

D) Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede (...). – tempo.

E) E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que
trabalhavam na telha negra. – consequência.

(EFOMM – 2013)

Assinale a opção em que NÃO se estabelece uma relação de condição entre as orações.

A) Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago.

B) Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me (...).

C) O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia (...).

D) Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem.

E) Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio (...).

(EPCAR - 2021)

TEXTO I

Agressividade is the new black

RUTH MANUS

Para que dialogar se nós podemos jogar pedras?

The new black. Expressão inglesa que designa uma nova tendência, algo que está tão na moda
que poderia até mesmo funcionar como um pretinho básico. Adoraria que este fosse um texto sobre
jaqueta jeans, mas não é.

AULA 11 – Sintaxe III 46


Prof. Celina Gil

“Se prepare, Ruth, a agressividade nas redes sociais é algo que você não pode imaginar.”

Foi o que me disseram pouco antes da estreia do blog. Eu, fingindo não estar com medo,
balancei a cabeça positivamente como quem diz “tô sabendo, tô sabendo”. Mas como diria
Compadre Washington, “sabe de nada, inocente”.

No meu segundo texto, quase desisti de tudo. Eu realmente não tinha dimensão do nível sem
cabimento que as pessoas poderiam atingir para atacar algo que na maioria das vezes nem mesmo
as provocou.

Há muito tempo venho tentando digerir, mas não consigo. Achava que a agressividade vinha só
de alguns leitores meio pancadas. Engano meu. Ela vem de todo lado: de quem lê, de quem não lê,
de quem lê só o título e até de quem escreve.

E eu pensava que isso acontecia porque o computador torna as pessoas intocáveis, assim como
os carros e que por isso elas canalizavam toda sua agressividade nas redes sociais ou no trânsito.
Engano meu. Tá generalizado, como uma peste que se espalha pelo país e ninguém faz nada
para conter. Mesa de bar, fila da farmácia, ponto do ônibus. Discursos de ódio e ignorância estão
por toda parte.

Acho que existe um erro de conceito. As pessoas passaram a utilizar a agressividade como um
artifício para aumentar a própria autoestima.

Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem informadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo agressivas.

Entendam: pessoas inteligentes não jogam pedras. E pessoas equilibradas não berram, nem
mesmo via caps lock.

Sempre me vem à mente aquela passagem de Sagarana, em que Augusto Matraga diz que vai
para o céu “nem que seja a porrete”. As pessoas tentam reduzir a violência com agressividade.
Tentam melhorar o país com agressividade. Tentam educar seus filhos com agressividade. Tentam
fazer justiça amarrando pessoas em postes.

“Pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço”. Será que um dia essa gente vai
entender que o antônimo de agressividade não é passividade? Mas é assim que tá sendo.

Porque argumentar dá muito trabalho. Pesquisar então, nem se fala. Articular um discurso está
fora de questão. Tentar persuadir é bobagem. E tolerar_ Tolerar é um verbo morto. Agressividade
is the new black.

(Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/ agressividade-is-the-new-black/ - Acesso em 28/08/2020)

AULA 11 – Sintaxe III 47


Prof. Celina Gil

Analisando a construção e a forma de organização do texto I, é correto afirmar que

A) há uma predominância de frases mais curtas, períodos com poucas subordinações, parágrafos
menores com o intuito de reproduzir uma linguagem mais próxima da informal, do cotidiano.

B) as explicações que a autora dá para o aumento da agressividade resultam de uma pesquisa


científica cuidadosa evidente no texto.

C) as interrogações presentes são meramente retóricas, já que são respondidas no decorrer do texto
e não afetariam a construção do sentido, caso não o fossem.

D) o vocábulo “até” (l. 21), denota a inclusão de escritores na categoria de agressivos, tal qual os
leitores, mas sendo aqueles mais amenos que estes.

(EPCAR - 2017)

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao
presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que
pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o
desabafo do cacique tem uma incrível atualidade.

“(...) De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso
Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir
a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem
vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo
Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.
Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos.
Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas
misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde
ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à
andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência. (...)

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as


esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem
para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos
do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio
caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez
possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver
partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma
do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-
nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a

AULA 11 – Sintaxe III 48


Prof. Celina Gil

amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou
posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e
ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra
é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

(www.culturabrasil.pro.br/seattle1.htm. Acesso em 16/04/2016)

Assinale a opção que contém uma análise correta dos períodos abaixo.

A) “O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.” –
Período composto, no qual se verifica que há entre a oração principal e a subordinada uma relação
de comparação.

B) “De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o
mesmo Deus.” – Período composto por subordinação, no qual identificamos duas orações
substantivas apositivas.

C) “Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador.” – Período simples, constituído por
objeto direto, verbo de ligação e complementos nominais.

D) “Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos.” – Período composto por uma
oração principal, intermediada, respectivamente, por uma condicional e outra conformativa.

(EPCAR - 2016)

BOM HUMOR FAZ BEM PARA SAÚDE

O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem

Por Fábio Peixoto

“Procure ver o lado bom das coisas ruins.” Essa frase poderia estar em qualquer livro de auto-
ajuda ou parecer um conselho bobo de um mestre de artes marciais saído de algum filme ruim. Mas,
segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver bem.

(...)

O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem. Ele depende de fatores
físicos e culturais e varia de acordo com a personalidade e a formação de cada um. Mas, mesmo
sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma visão otimista
do mundo. “Um indivíduo bem-humorado sofre menos porque produz mais endorfina, um
hormônio que relaxa”, diz o clínico geral Antônio Carlos Lopes, da Universidade Federal de São
Paulo. Mais do que isso: a endorfina aumenta a tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais

AULA 11 – Sintaxe III 49


Prof. Celina Gil

bem-humorado você está, maior o seu bem-estar e, consequentemente, mais bem-humorado você
fica. Eis aqui um círculo virtuoso, que Lopes prefere chamar de “feedback positivo”. A endorfina
também controla a pressão sanguínea, melhora o sono e o desempenho sexual. (Agora você se
interessou, né?)

Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor
sobre o corpo já seriam suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz.
Novamente Lopes explica por quê: “O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o que provoca a
liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa palpitação, arritmia cardíaca, mãos
frias, dor de cabeça, dificuldades na digestão e irritabilidade”. A vítima acaba maltratando os outros
porque não está bem, sente-se culpada e fica com um humor pior ainda. Essa situação pode ser
desencadeada por pequenas tragédias cotidianas – como um trabalho inacabado ou uma conta para
pagar -, que só são trágicas porque as encaramos desse modo.

Evidentemente, nem sempre dá para achar graça em tudo. Há situações em que a tristeza é
inevitável – e é bom que seja assim. “Você precisa de tristeza e de alegria para ter um convívio social
adequado”, diz o psiquiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “A alegria
favorece a integração e a tristeza propicia a introspecção e o amadurecimento.” Temos de saber
lidar com a flutuação entre esses estágios, que é necessária e faz parte da natureza humana.

O humor pode variar da depressão (o extremo da tristeza) até a mania (o máximo da euforia).
Esses dois estados são manifestações de doenças e devem ser tratados com a ajuda de psiquiatras
e remédios que regulam a produção de substâncias no cérebro. Uma em cada quatro pessoas tem,
durante a vida, pelo menos um caso de depressão que mereceria tratamento psiquiátrico.

Enquanto as consequências deletérias do mau humor são estudadas há décadas, não faz muito
tempo que a comunidade científica passou a pesquisar os efeitos benéficos do bom humor. O
interesse no assunto surgiu há vinte anos, quando o editor norte-americano Norman Cousins
publicou o livro Anatomia de uma Doença, contando um impressionante caso de cura pelo riso. Nos
anos 60, ele contraiu uma doença degenerativa que ataca a coluna vertebral, chamada espondilite
ancilosa, e sua chance de sobreviver era de apenas uma em quinhentas.

Em vez de ficar no hospital esperando para virar estatística, ele resolveu sair e se hospedar num
hotel das redondezas, com autorização dos médicos. Sob os atentos olhos de uma enfermeira, com
quase todo o corpo paralisado, Cousins reunia os amigos para assistir a programas de “pegadinhas”
e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi se recuperando até poder voltar a viver e a trabalhar
normalmente. Cousins morreu em 1990, aos 75 anos. Se Cousins saiu do hospital em busca do
humor, hoje há muitos profissionais de saúde que defendem a entrada das risadas no dia a dia dos
pacientes internados.

Uma boa gargalhada é um método ótimo de relaxamento muscular. Isso ocorre porque os
músculos não envolvidos no riso tendem a se soltar – está aí a explicação para quando as pernas

AULA 11 – Sintaxe III 50


Prof. Celina Gil

ficam bambas de tanto rir ou para quando a bexiga se esvazia inadvertidamente depois daquela
piada genial. Quando a risada acaba, o que surge é uma calmaria geral. Além disso, se é certo que a
tristeza abala o sistema imunológico, sabe-se também que a endorfina, liberada durante o riso,
melhora a circulação e a eficácia das defesas do organismo. A alegria também aumenta a capacidade
de resistir à dor, graças também à endorfina.

Evidências como essa fundamentam o trabalho dos Doutores da Alegria, que já visitaram
170.000 crianças em hospitais. As invasões de quartos e UTIs feitas por 25 atores vestidos de
“palhaços-médicos” não apenas aceleram a recuperação das crianças, mas motivam os médicos e
os pais. A psicóloga Morgana Masetti acompanha os Doutores há sete anos. “É evidente que o
trabalho diminui a medicação para os pacientes”, diz ela.

O princípio que torna os Doutores da Alegria engraçados tem a ver com a flexibilidade de
pensamento defendida pelos especialistas em humor – aquela ideia de ver as coisas pelo lado bom.
“O clown não segue a lógica à qual estamos acostumados”, diz Morgana. “Ele pode passar por um
balcão de enfermagem e pedir uma pizza ou multar as macas por excesso de velocidade.” Para se
tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num curioso teste de autoconhecimento:
reconhece o que há de ridículo em si mesmo e ri disso. “Um clown não tem medo de errar – pelo
contrário, ele se diverte com isso”, diz Morgana. Nem é preciso mencionar quanto mais de saúde
haveria no mundo se todos aprendêssemos a fazer o mesmo.

(super.abril.com.br/saúde/bom-humor-faz-bem-saude-441550.shtml - acesso em 11 de abril de 2015, às 11h.)

Observando os trechos a seguir, assinale aquele que apresenta uma correta análise sintática da
oração adverbial sublinhada.

A) “Mas, segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para
viver bem. (Adverbial Conformativa)

B) “Mas, mesmo sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma
visão otimista do mundo...” (Adverbial Consecutiva)

C) “Para se tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num curioso teste de
autoconhecimento:...” (Adverbial Causal)

D) “Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre
o corpo...” (Adverbial Condicional)

AULA 11 – Sintaxe III 51


Prof. Celina Gil

(EPCAR - 2014)

AS FERIDAS ABERTAS DA ESCRAVIDÃO

Mais de um século após abolir a escravatura, Brasil e EUA apenas agora começam a reconstruir a
história de seus heróis negros.

Doze anos de escravidão, produção do diretor britânico Steve McQueen, entrou para a história
do cinema ao ganhar o Oscar de Melhor Filme, na premiação do último dia 2. É o primeiro filme de
um diretor negro a ganhar a estatueta. (…)

Antes do filme, lançado no ano passado, quase ninguém conhecia a história de Salomon
Northup, negro livre e bem-educado de Nova York. Em 1842, ele foi sequestrado e forçado à
escravidão, por 12 anos, em fazendas no sul dos Estados Unidos. Resgatado por seus amigos
brancos, Northup lutou pela abolição da escravatura e contou sua história a um escritor de livros,
David Wilson. O texto foi encontrado e reeditado em 1960, sem grande repercussão, até chegar às
mãos de McQueen. “Minha ideia era transformar Northup num herói, porque ele é um verdadeiro
herói americano”, disse o cineasta.

A consagração do filme, ao mesmo tempo, serviu para realçar como a escravidão de


negros, abolida nos Estados Unidos há 148 anos e no Brasil há 125, ainda é pouco conhecida. No
Brasil, por mais de um século, prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o passado
dos negros. Os arquivos sobre a escravidão, dizia-se, perderam-se em 1890. (…)

“A carência e a imprecisão de registros históricos reduziu o brilho de heróis nacionais”,


diz Patrícia Xavier, mestre em história social pela PUC, SP. Em sua tese de mestrado, Patrícia estudou
a vida de Francisco José do Nascimento, O Chico da Matilde, líder abolicionista morto em 6 de março
de 1914 – portanto, há 100 anos. Sua vida também daria um filme. Negro livre, Chico trabalhava
como prático no porto da província do Ceará. Segundo relatos da época, em 1881, Chico liderou os
jangadeiros, ao se recusar transportar escravos. Influenciado pela insurreição dos jangadeiros, o
Ceará aboliu a escravidão em 1884, quatro anos antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea. (...)

O resgate histórico do período de escravidão ganha força à medida que documentos são
descobertos e que a sociedade ganha distanciamento. Um século e meio de abolição é pouco tempo,
mesmo para países jovens como EUA e Brasil. O diretor Steve McQueen pôde usar, em seu filme,
fazendas do Mississippi onde houve a escravidão. O tronco onde dois escravos são espancados, na
obra de ficção, foi usado para o chicoteamento, um século atrás. “Aquelas árvores viram tudo”, diz
McQueen. Método de trabalho largamente empregado na Europa, na Ásia e na África, a escravidão
foi extinta apenas na década de 1980 em países como Serra Leoa. Suas feridas continuam abertas.

(Época/ nº 823, 10 de março de 2014, editora Globo, p.55)

AULA 11 – Sintaxe III 52


Prof. Celina Gil

Ao término de cada trecho, foi indicada a função sintática da oração sublinhada. Assinale a
alternativa correta.

A) “No Brasil, por mais de um século, prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o
passado dos negros." - Subordinada substantiva objetiva indireta

B) “O resgate histórico do período de escravidão ganha força à medida que documentos são
descobertos..." - Subordinada adverbial causal

C) “Os arquivos sobre a escravidão, dizia-se, perderam-se em 1890." - Subordinada substantiva


subjetiva

D) “Minha ideia era transformar Northup num herói, porque ele é um verdadeiro herói
americano..." - Coordenada sindética conclusiva

(EPCAR - 2014)
“Eu dei a minha alma para que o Stallone expressasse a realidade de um down que luta para
materializar seus sonhos." (l. 12 a 14)

Assinale a alternativa correta em relação aos termos sublinhados acima.

A) Nas duas ocorrências o para tem a mesma classificação sintática e o que, em ambas as
ocorrências, tem a mesma classificação morfológica.

B) Em “Ficou claro que ele não nos queria lá." o que tem a mesma função sintática do segundo que
do excerto acima. (l. 26 e 27)

C) Em “Entrei no site 'Grandes Encontros', que é uma sala de bate-papo para pessoas com
deficiência", (l. 29 e 30) os elementos sublinhados se classificam morfologicamente tais quais os
primeiros que e para do excerto.

D) O que sublinhado em “...filme 'Colegas', que estreou na sexta..." (lead) possui a mesma
classificação sintática e morfológica da segunda ocorrência marcada no fragmento acima.

(EPCAR - 2013)

Você reconhece quando chega a felicidade?

Tenho uma forte antipatia pela obrigação de ser feliz que acompanha o Carnaval. Quem foge
da folia ganha o rótulo de antissocial, depressivo ou chato. Nada contra o Carnaval. Apenas contra
essa confusão de conceitos. Uma festa alegre não significa que você esteja plenamente feliz. E forçar
uma situação de felicidade tem tudo para terminar em arrependimento e frustração.
Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega? Sabe que está sendo feliz naquele
momento? Espere um pouco antes de responder. Pense de novo. Estamos falando de felicidade!

AULA 11 – Sintaxe III 53


Prof. Celina Gil

Não de uma alegria qualquer. E qual é a diferença? Bem, descrever a felicidade não é fácil. Ela é
muito recatada. Não fica ali posando para foto, sabe? Mas um Manual de Reconhecimento da
felicidade diria mais ou menos o seguinte: ela é mansa. Não faz barulho. Ao mesmo tempo é farta.
Quando chega, ocupa um espaço danado. Apesar disso, você quase não repara que ela está ali. Se
chamar a atenção, não é ela. É euforia. Alegria. A licenciosidade de uma noite de Carnaval. Ou um
reles frenesi qualquer, disfarçado de felicidade.

A dita cuja é discreta. Discretíssima. E muito tranquila. Ela o faz dormir melhor. E olha, vou lhe
contar uma coisa: a felicidade é inimiga da ansiedade. As duas não podem nem se ver. Essa é a
melhor pista para o seu Manual de Reconhecimento da Felicidade. Se você se apaixonou e está
naquela fase de pura ansiedade, mesmo que esteja superfeliz, não é felicidade. É excitação.
Paixonite. Quando a ansiedade for embora, pode ser que a felicidade chegue. Mas ninguém garante.

É temperamental a felicidade. Não vem por qualquer coisa. E para ficar então... hi, não conheço
nenhum caso de alguém que a tenha tido por perto a vida inteira. Por isso é tão importante
reconhecê-la quando ela chega. Entendeu agora por que a minha pergunta? Será que você sabe
mesmo quando está feliz?

Ou será que você só consegue saber que foi feliz quando a felicidade já passou?

Eu estudo muito a felicidade. Mas não consigo reconhecê-la. Talvez porque eu seja péssima
fisionomista. Ou porque ela seja muito mais esperta do que eu. Mais sábia. Fato é que eu só sei que
fui feliz depois. No futuro. Olho para o passado e reconheço: “Nossa, como eu fui feliz naquela
época!” Mas no presente ela sempre me dá uma rasteira. Ando por aí, feliz da vida e nem sei que
estou nesse estado. Por isso aproveito menos do que poderia a graça que é ter assim, tão pertinho,
a tal felicidade.

Nos últimos tempos, dei para fazer uma lista de momentos felizes. E aqui é importante deixar
claro que esses momentos devem durar um certo período de tempo. Um episódio isolado feliz -
como quatro dias de Carnaval, por exemplo – como quatro dias de Carnaval – não significa
felicidade. A felicidade, quando vem, não vem de passagem. Não dura para sempre, mas dura um
tempinho. Gosta de uma certa estabilidade, [...] Sabendo quando você foi feliz, é mais fácil descobrir
por que foi feliz. Para ser ainda mais funcional, é bom que a lista seja cronológica. Lendo a minha,
constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo.

Será que ela está aqui agora? Não sei dizer. Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela.
E isso não tem nada a ver com a tal obrigação de ser feliz desfilando no Sambódromo. Continuo
meus estudos. Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade do que jamais fui em
qualquer tempo.

Ana Paula Padrão (adaptado) Revista ISTOÉ 2206, de 22/02/2012.

AULA 11 – Sintaxe III 54


Prof. Celina Gil

Todas as afirmativas estão corretas, EXCETO:

A) Em “Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade...” (l. 67 e 68), observa-se um
período composto por subordinação.

B) Em “Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela” (l. 64 e 65), existe uma conjunção que
inicia uma oração substantiva completiva nominal.

C) Em “Lendo a minha, constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo.” (l. 62 e 63), tem-se
o pronome possessivo que se refere ao vocábulo lista.

D) Em “Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega?” (l. 9 e 10), pode-se classificar as
orações, respectivamente, como principal e como subordinada adverbial temporal.

(EPCAR - 2011)

Leia com atenção o fragmento a seguir.


“Pesquisas recentes indicam que o número de obras literárias de poesia e ficção tem crescido
consideravelmente dentro do espaço cibernético nos últimos anos.” (l. 09 a 12)

Sobre esse fragmento, só NÃO se pode afirmar que

A) há duas orações e uma frase.

B) ocorrem três circunstâncias adverbiais.

C) trata-se de um período composto por coordenação e subordinação.

D) há uma conjunção integrante.

(Estratégia Militares – 1º simulado EPCAR 2022 – Professor Wagner Santos)

Assinale a alternativa em que a oração destacada em “Em linha com o senso comum, usuários de
mídias sociais e mecanismos de busca acabaram encontrando fontes de notícias mais polarizadas,
o que pode se traduzir numa visão de mundo mais extrema” está classificada corretamente.

a) Oração subordinada adjetiva restritiva

b) Oração coordenada sindética explicativa

c) Oração subordinada adjetiva explicativa

d) Oração subordinada substantiva objetiva direta

AULA 11 – Sintaxe III 55


Prof. Celina Gil

Texto para as próximas questões

Diminutivos

Sempre pensei que ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo, essa nossa mania de
reduzir tudo à mesma dimensão, seja um cafezinho, um cineminha ou uma vidinha. Só o que varia
é a inflexão da voz. Se alguém diz, por exemplo, "Ó vidinha!" você sabe que ele está se referindo a
uma vida com todas as mordomias. Nem é uma vida, é um comercial de cigarro com longa-
metragem. Um vidão. Mas, se disser "Ah vidinha ... ", o coitado está se queixando dela e com toda
-a razão. Há -anos que o seu único divertimento é tirar sapatos e fazer xixi. Mas, nos dois casos, o
diminutivo é usado com o mesmo carinho.

O francês tem o seu tout petit peu, que não é um diminutivo, é um exagero. Um "pouco todo
pequeno" é muita explicação para tão pouco. Os mexicanos usam o poco, o poquito e menos ainda
do que o poquito - o poquetim! Mas ninguém bate o brasileiro.

Era o que eu pensava até o dia, na Itália, em -- que ouvi alguém dizer que alguma coisa duraria
um mezzoretto. Não sei se a grafia é essa mesma, mas um povo que consegue, numa_ palavra.,
reduzir uma meia hora de tamanho - e você não tem nenhuma dúvida de que um mezzoretto dura
os mesmos 30 minutos de uma meia hora - convencional, mas passa muito mais depressa é
invencível em matéria de diminutivo.

O diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e precavida de usar a linguagem.


Afetuosa porque geralmente o usamos para designar o que é agradável, aquelas coisas tão afáveis
que se deixam diminuir sem perder o sentido. E precavida porque também o usamos para desarmar
certas palavras que, na sua forma original, são ameaçadoras demais.

Operação, por exemplo. É uma palavra assustadora. Pior do que intervenção cirúrgica, porque
promete uma intromissão muito mais radical nos intestinos. Uma operação certamente durará
horas, e os resultados são incertos. Suas chances de sobreviver a uma operação ... sei não. Melhor
se preparar para o pior.

Já uma operaçãozinha é uma mera formalidade. Anestesia local e duas aspirinas depois. Uma
coisa tão banal que quase dispensa a presença do paciente.

( ... )

Se alguém disser que precisa ter uma conversa com você, cuidado. É coisa da maior importância.
Os próprios destinos do Pacto do Atlântico podem estar em jogo. Uma conversa é sempre com hora
marcada.

Já uma conversinha raramente passa do nível da mais cândida inconsequência. E geralmente é


fofoca. A hora para uma conversinha é sempre qualquer hora dessas.
Num jogo você arrisca tudo, até a hora. Num joguinho, aceita-se até o cheque frio.

AULA 11 – Sintaxe III 56


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Entre ter um caso e ter um casinha, a diferença, às vezes, é a tragédia passional.

No Brasil, usa-se o diminutivo principalmente com relação à comida. Nada nos desperta
sentimentos tão carinhosos quanto uma boa comidinha.

- Mais um feijãozinho?

O feijãozinho passou dois dias borbulhando num daqueles caldeirões de antropófagos com
capacidade para três missionários. Leva porcos inteiros, todos os miúdos e temperos conhecidos e,
parece, um missionário. Mas a dona da casa o trata como um mingau de todos os dias.

(...)

O diminutivo é também uma forma de disfarçar o nosso entusiasmo pelas grandes porções. E
tem um efeito psicológico inegável. Você pode passar horas tomando cervejinha em cima
de cervejinha sem nenhum dos efeitos que sofreria depois de apenas duas cervejas.

- E agora, um docinho.
E surge um tacho de ambrosia que é um porta-aviões.

(Adaptado de VERÍSSIMO, L. F. Diminutivos. Comédia da vida privada. 101 crônicas escoihídas. Porto Alegre: LP&M, 1994).

(EAM - 2012)

Assinale a opção em que as orações mantem entre si o mesmo valor semântico que se apresenta
em "Era uma coisa banal, porque chamou de operaçãozinha".

A) Não usou diminutivos, mas tentou convencê-lo.

B) Traga logo o feijãozinho, que eu estou morrendo de fome.


C) O italiano diz "mezzoretto", e o brasileiro diz "meia horinha".

D) Queria disfarçar o entusiasmo, portanto pediu uma cervejinha.

E) Pediu uma comidinha, mas também queria uma cervejinha gelada.

(EAM - 2012)

Qual opção apresenta um período cujas orações estabelecem entre si uma relação de causa e
consequência, evidenciada pelo uso do conectivo?

A) A dona de casa trata o feijãozinho como um mingau de todos os dias.

B) Nada desperta em nós sentimentos tão bons quanto uma boa comidinha.

C) Aquela é uma situação tão banal que dispensa a presença do paciente.

D) As coisas afáveis se deixam diminuir, sem perder seu valioso sentido.

AULA 11 – Sintaxe III 57


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E) Certas palavras, que são ameaçadoras, precisam ser desarmadas .

(Col. Naval - 2019)

Redes sociais: o reino encantado da intimidade de faz de conta

Recebi, por e-mail, um convite para um evento literário. Aceitei, e logo a moça que me convidou
pediu meu número de Whatsapp para agilizar algumas informações. No dia seguinte, nossa
formalidade havia evoluído para emojis de coraçãozinho. No terceiro dia, eia iniciou a mensagem
com um "bom dia, amiga". Quando eu fizer aniversário, acho que vou convidá-la pra festa.

Postei no Instagram a foto de um cartaz de cinema, e uma leitora deixou um comentário no


Direct. Disse que vem passando por um drama parecido como do filme; algo tão pessoal, que ela só
quis contar para mim, em quem confia 100%. Como não chamá-la para a próxima ceia de Natal aqui
em casa? Fotos de recém-nascidos me são enviadas por mulheres que eu nem sabia que estavam
grávidas. Mando condolências pela morte do avô de alguém que mal cumprimento quando
encontro num bar. Acompanho a dieta alimentar de estranhos. Fico sabendo que o amigo de uma
conhecida troca, todos os dias, as fraldas de sua mãe velhinha, mas que não faria isso pelo pai, que
sempre foi seco e frio com ele - e me comovo; sinto como se estivesse sentada a seu lado no sofá,
enxugando suas lágrimas.

Mas não estou sentada a seu lado no sofá e nem mesmo sei quem ele é; apenas li um comentário
deixado numa postagem do Facebook, entre outras milhares de postagens diárias que não são pra
mim, mas que estão ao alcance dos meus olhos. É o reino encantado das confidências instantâneas
e das distâncias suprimidas: nunca fomos tão íntimos de todos.

Pena que esse mundo fofo é de faz de conta, intimidade, pra valer, exige paciência e convivência,
tudo o que, infelizmente, tornou-se sinônimo de perda de tempo. Mais vale a aproximação ilusória:
as pessoas amam você, mesmo sem conhecê-la de verdade. É como disse, certa vez, o ator Daniel
Dantas em entrevista à Marilia Gabriela: "Eu gostaria de ser a pessoa que meu cachorro pensa que
eu sou".

Genial. Um cachorro começa a seguir você na rua e, se você der atenção e o levar pra casa, ganha
um amigo na hora. O cachorro vai achá-lo o máximo, pois a única coisa que ele quer é pertencer. Ele
não está nem aí para suas fraquezas, para suas esquisitices, para a pessoa que você realmente é:
basta que você o adote.

A comparação é meio forçada, mas tem alguma relação com o que acontece nas redes. Farejamos
uns aos outros, ofertamos um like e, de imediato, ganhamos um amigo que não sabe nada de
profundo sobre nós, e provavelmente nunca saberá. A diferença - a favor do cachorro - é que este
está realmente por perto, todos os dias, e é sensível aos nossos estados de ânimo, tornando-se
íntimo a seu modo. Já alguns seres humanos seguem outros seres humanos sem que jamais venham

AULA 11 – Sintaxe III 58


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a pertencer à vida um do outro, inaugurando uma nova intimidade: a que não existe de modo
nenhum.

Martha Medeiros <https://www, revistaversar.com. br/redes-sociais-inttmÍdade/> - (com adaptações)

Assinale a opção que apresenta apenas um período composto por coordenação.

A) "Um cachorro começa a seguir você na rua e, se você der atenção e o levar pra casa, ganha um
amigo na hora". (6°§)

B) "Quando eu fizer aniversário, acho que vou convidá-la pra festa" (1°§)

C) "A diferença — a favor do cachorro — é que este está realmente por perto, todos os dias, e é
sensível aos nossos estados de ânimo, tornando-se íntimo a seu modo." (7°§)

D) "Farejamos uns aos outros, ofertamos um like e, de imediato, ganhamos uma amigo que não
sabe nada de profundo sobre nós, e provavelmente nunca saberá." (7°§)
E) "Postei no Instagram a foto de um cartaz de cinema e uma leitora deixou um comentário no
Direct." (2°§)

(Col. Naval - 2018)

Correndo risco de vida

Em uma de suas histórias geniais, Monteiro Lobato nos apresenta o reformador da natureza,
Américo Pisca-Pisca. Questionando o perfeito equilíbrio do mundo natural, Américo Pisca-Pisca
apontava um desequilíbrio flagrante no fato de uma enorme árvore, como a jabuticabeira, sustentar
frutos tão pequeninos, enquanto a colossal abóbora é sustentada pelo caule fino de uma planta
rasteira. Satisfeito com sua grande descoberta, Américo deita-se sob a sombra de uma das
jabuticabeiras e adormece. Lá pelas tantas, uma frutinha lhe caí bem na ponta do seu nariz.
Aturdido, o reformador se dá conta de sua lógica.

Se os reformadores da natureza, como Américo Pisca-Pisca, já caíram no ridículo, os reformadores


da língua ainda gozam de muito prestígio. Durante muito tempo era possível usar a expressão
“fulano não corre mais risco de vida”. Qualquer falante normal decodificava a expressão "risco de
vida" como “ter a vida em risco”. E tudo ia muito bem, até que um desses reformadores da língua
sentenciou, do alto da sua vã inteligência: “não é risco de vida, é risco de morte”. Quer dizer que só
ele teve essa brilhante percepção, todos os outros falantes da língua não passavam de obtusos
irrecuperáveis. É o tipo de sujeito que acredita ter inventado a roda. E impressiona a fortuna crítica
de tal asneira. Desde então, todos os jornais propalam “o grande líder sicrano ainda corre o risco de
morte”. E me desculpem, mas risco de morte é muito pernóstico.

AULA 11 – Sintaxe III 59


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Assim como o reformador da natureza não entende nada da dinâmica do mundo natural, esses
gramáticos que pretendem reformar o uso linguístico invocando sua pretensa racionalidade não
percebem coisa alguma da lógica de funcionamento da língua. Como bem ensinou Saussure,
fundador da linguística moderna, tudo na língua é convenção. A expressão risco de vida, estava
consagrada pelo uso e não se criava problemas na comunicação, porque nenhum falante, ao ouvir
tal expressão, pensava que o sujeito corra risco de viver.

A relação entre as formas linguísticas e o seu conteúdo é arbitrária e convencionada socialmente.


Em Japonês, por exemplo, o objeto precede o verbo. Diz-se "João o bolo comeu” em vez de “João
comeu o bolo”, como em português. Se o nosso reformador da língua baixasse por lá, tentaria
convencer os japoneses de que o verbo preceder o seu objeto é muito mais lógico!

Mas os ingênuos poderiam argumentar: o nosso oráculo gramatical não melhorou a língua
tornando-a mais lógica? Não, meus caros, ele a empobreceu. Pois, ao lado da expressão mais trivial
“correr o risco de cair do cavalo”, a língua tem uma expressão mais sofisticada: correr risco de vida.
Tal construção dissonante ampla as possibilidades expressivas da língua, criando um veio que pode
vir a ser explorado por poetas e demais criadores da língua. “Corrigir” risco de vida por risco de
morte é substituir uma expressão mais sutil e sofisticada por sua versão mais imediata, trivial e
óbvia. E um recurso expressivo passou a correr risco de vida pela ação nefanda dos fariseus no
templo democrático da língua.

LUCCHESI, Dante. Correndo risco de vida. A Tarde, 17 set.2006, p.3, Opinião - adaptado

Analise os enunciados abaixo e assinale a opção correta.

I- “Se os reformadores da natureza, como Américo Pisca - Pisca, já caíram no ridículo, os


reformadores da língua ainda gozam de muito prestígio.” (§2º)

II- “Se o nosso reformador da língua baixasse por lá, - tentaria convencer os japoneses de que o
verbo “preceder o seu objeto é muito mais lógico.” (§4º)

a) Os enunciados evidenciam um desvio do padrão normativo da Língua portuguesa, por apresentar


o início de um período por meio da conjunção.

b) Não há paralelismo sintático entre os enunciados.

c) O enunciado I configura um período composto coordenado e o enunciado II configura um período


composto por subordinação.

d) Os dois enunciados configuram períodos compostos por subordinação, cujas orações


subordinadas têm a mesma função.

AULA 11 – Sintaxe III 60


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e) Os dois enunciados configuram períodos compostos por coordenação, cujas orações


coordenadas têm a mesma função.

(Col. Naval - 2017)

Encontros e desencontros

Hoje, jantando num pequeno restaurante aqui perto de casa, pude presenciar, ao vivo, uma cena
que já me tinham descrito. Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da minha. Feitos os
pedidos ao garçom, o homem, bem depressinha, tira o celular do bolso, e não mais o deixa, a
merecer sua atenção exclusiva. A mulher, certamente de saber feito, não se faz de rogada e apanha
um livro que trazia junto à bolsa. Começa a lê-lo a partir da página assinalada por um marcador.
Espichando o meu pescoço inconveniente (nem tanto, afinal as mesas eram coladinhas) deu para
ver que era uma obra da Martha Medeiros.
Desse modo, os dois iam usufruindo suas gulodices, sem comentários, com algumas reações dele,
rindo com ele mesmo com postagens que certamente ocorriam em seu celular. Até dois estranhos,
postos nessa situação, talvez acabassem por falar alguma coisa. Pensei: devem estar juntos há
algum tempo, sem ter mais o que conversar. Cada um sabia tudo do outro, nada a acrescentar, nada
de novo ou surpreendente. E assim caminhava, decerto, a vida daquele casal.

O que me choca, mesmo observando esta situação, como outras que o dia a dia me oferece, é a
ausência de conversa. Sem conversa eu não vivo, sem sua força agregadora para trocar ideias, para
convencer ou ser convencido pelo outro, para manifestar humor, para desabafar sobre o que
angustia a alma, em suma, para falar e para ouvir. A conversa não é a base da terapia? Sei não, mas,
atualmente, contar com um amigo para jogar conversa fora ou para confessar aquele temor que lhe
está roubando o sossego talvez não seja fácil. O tempo também, nesta vida corre-corre, tem lá
outras prioridades. Mia Couto é contundente: “Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta
comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão.” Até se fala muito, mas ouvir o outro? Falo
de conversas entre pessoas no mundo real, Vive-se hoje, parece, mais no mundo digital. Nele, até
que se conversa muito; porém, é tão diferente, mesmo quando um está vendo o outro. O
compartilhamento do mesmo espaço, diria, é que nos proporciona a abrangência do outro, a
captação do seu respirar, as batidas de seu coração, o seu cheiro, o seu humor...

Desse diálogo é que tanta gente está sentindo falta. Até por telefone as pessoas conversam,
atualmente, bem menos. Pelo whatsApp fica mais fácil, alega-se. Rapidinho, rapidinho. Mas e a
conversa? Conversa-se, sim, replicam. Será? Ou se trocam algumas palavras? Quando falo em
conversa, refiro-me àquelas que se esticam, sem tempo marcado, sem caminho reto, a pularem de
assunto em assunto. O whatsApp é de graça, proclamam. Talvez um argumento que pode ser
robusto, como se diz hoje, a favor da utilização desse instrumento moderno.

AULA 11 – Sintaxe III 61


Prof. Celina Gil

Mas será apenas por isso? Um amigo me lembra: nos whatsApps se trocam mensagens por
escrito. Eu sei. Entretanto, língua escrita é outra modalidade, outro modo de ativar a linguagem, a
começar pela não co-presença física dos interlocutores. No telefone, não há essa co-presença física,
mas esse meio de comunicação não é impeditivo de falante e ouvinte, a cada passo, trocarem de
papéis e até mesmo de falarem ao mesmo tempo, configurando, pois, características próprias da
modalidade oral, Contudo, não se respira o mesmo ar, ainda que já se possa ver o outro. As pessoas
passaram a valer-se menos do telefone, e as conversas também vão, por isso, tornando-se menos
frequentes.

Gosto, mesmo, é de conversas, de preferência com poucos companheiros, sem pauta, sem temas
censurados, sem se ter de esmerar na linguagem. Conversa sem compromisso, a não ser o de evitar
a chatice. Com suas contundências, conflitos de opiniões e momentos de solidariedade. Conversa
que é vida, que retrata a vida no seu dia a dia. No grupo maior, há de tudo: o louco, o filósofo, o
depressivo, o conquistador de garganta, o saudosista ...Nem sempre, é verdade, estou motivado
para participar desses grupos. Porém, passado um tempo, a saudade me bate.
Aqueles bate-papos intimistas com um amigo de tantas afinidades, merecedores que nos
tornamos da confiança um do outro, esses não têm nada igual. A apreensão abrangente do amigo,
de seu psiquismo, dos seus sentimentos, das dificuldades mais íntimas por que passa, faz-nos sentir,
fortemente, a nossa natureza humana, a maior valia da vida.

Esses momentos vão se tornando, assim me parece, uma cena menos habitual nestes tempos
digitais. A pressa, os problemas a se multiplicarem, as tarefas a se diversificarem, como encontrar
uma brecha para aquela conversa, que é entrega, confiança, despojamento? Conversa que exige
respeito: um local calminho, sem gritos, vozes esganiçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas
estourando de geladas e uns tira-gostos de nosso paladar a exigirem nova pedida. Não queria perder
esses encontros. Afinal, a vida está passando tão depressa...

Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/

No contexto, o termo destacado em "[...] trocarem de papéis e até mesmo de falarem ao mesmo
tempo, configurando, pois, características próprias da modalidade oral." (5º §) expressa a ideia de

a) explicação.

b) concessão.

c) conclusão.

d) reiteração.

e) causa.

AULA 11 – Sintaxe III 62


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Texto para as próximas questões

O desaparecimento dos livros na vida cotidiana e a diminuição da leitura é preocupante quando


sabemos que os livros são dispositivos fundamentais na formação subjetiva das pessoas. Nos
perguntamos sobre o que os meios de comunicação fazem conosco: da televisão ao computador,
dos brinquedos ao telefone celular, somos formados por objetos e aparelhos.

Se em nossa época a leitura diminui vertiginosamente, ao mesmo tempo, cresce o elogio da


ignorância, nossa velha conhecida. Há, nesse contexto, dois tipos de ignorância em relação às quais
os livros são potentes ou impotentes. Uma é a ignorância filosófica, aquela que em Sócrates se
expunha na ironia do "sei-que-nada-sei". Aquele que não sabe e quer saber pode procurar os livros,
esses objetos que guardam tantas informações, tantos conteúdos, que podemos esperar deles
muita coisa: perguntas e, até mesmo, respostas. A outra é a ignorância prepotente, à qual alguns
filósofos deram o nome de "burrice". Pela burrice, essa forma cognitiva impotente e, contudo,
muito prepotente, alguém transforma o não saber em suposto saber, a resposta pronta é
transformada em verdade. Nesse caso, os livros são esquecidos. Eles são desnecessários como
"meios para o saber". Cancelada a curiosidade, como sinal de um desejo de conhecimento, os livros
tornam-se inúteis. Assim, a ignorância que nos permite saber se opõe à que nos deforma por
estagnação, A primeira gosta dos livros, a segunda os detesta.

[ ... ]

Para aprender a perguntar, precisamos aprender a ler. Não porque o pensamento dependa da
gramática ou da língua formal, mas porque ler é um tipo de experiência que nos ensina a
desenvolver raciocínios, nos ensina a entender, a ouvir e a falar para compreender. Nos ensina a
interpretar. Nos ajuda, portanto, a elaborar questões, a fazer perguntas. Perguntas que nos ajudam
a dialogar, ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem que este outro seja, em um primeiro
momento, apenas cada um de nós mesmos.

Pensar, esse ato que está faltando entre nós, começa aí, muitas vezes em silêncio, quando nos
dedicamos a esse gesto simples e ao mesmo tempo complexo que é ler um livro, É lamentável que
as pessoas sucumbam ao clima programado da cultura em que ler é proibido. Os meios tecnológicos
de comunicação são insidiosos nesse momento, pois prometem uma completude que o ato de ler
um livro nunca prometeu. É que o ato da leitura nunca nos engana. Por isso, também, muitos
afastam-se dele. Muitos que foram educados para não pensar, passam a não gostar do que não
conhecem. Mas há quem tenha descoberto esse prazer que é o prazer de pensar a partir da
experiência da linguagem - compreensão e diálogo - que sempre está ofertada em um livro.
Certamente para essas pessoas, o mundo todo - e ela mesma - é algo bem diferente.

(TIBURI, Márcia. Potência do pensamento: por uma filosofia política da leitura. Disponível em
http://revistacult.uol.com.br - 31 de jan. 2016 - com adaptações)

AULA 11 – Sintaxe III 63


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(Col. Naval - 2016)

Em qual opção o termo destacado tem a mesma classificação morfológica que "[...] é preocupante
quando sabemos que os livros são dispositivos fundamentais[...]." (1°§)?

A) "Aquele que não sabe e quer saber[...]." (2°§)

B) "Nem que este outro seja, [...]." (3°§)

C) "Perguntas que nos ajudam a dialogar[...]." (3°§)

D) "[...]há quem tenha descoberto esse prazer[...]." (4 °§)

E) "[...] impotente e, contudo, muito prepotente, [...]." (2° §)

(Col. Naval - 2016)

Assinale a opção na qual o uso da conjunção mantém o sentido original do período "A primeira gosta
dos livros, a segunda os detesta. " (2°§).

A) A primeira gosta dos livros, e a segunda os detesta.

B) A primeira gosta dos livros, logo a segunda os detesta.

C) A primeira gosta dos livros, porque a segunda os detesta.

D) A primeira gosta dos livros, quando a segunda os detesta.

E) A primeira gosta dos livros, portanto a segunda os detesta.

(Col. Naval - 2015)

Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de opinião, qual seria o problema
fundamental do Brasil, a maioria indica a precariedade da educação. Os entrevistados costumam
apontar que o sistema educacional brasileiro não é capaz de preparar os jovens para a compreensão
de textos simples, elaboração de cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento
elementar de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais.

[...]

Certa vez, participava de uma reunião de pais e professores em uma escola privada brasileira de
destaque e notei que muitos pais expressavam o desejo de ter bons professores, satas de aula com
poucos alunos, mas não se sentiam responsáveis para participarem ativamente das atividades
educacionais, inclusive custeando os seus serviços. Se os pais não conseguiam entender que esta
aritmética não fecha e que a sua aspiração estaria no campo do milagre, parece difícil que consigam
transmitir aos seus filhos o mínimo de educação.

Para eles, a educação dos filhos não se baseia no aprendizado dos exemplos dados pelos pais.

AULA 11 – Sintaxe III 64


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Que esta educação seja prioritária e ajude a resolver os outros problemas de uma sociedade como
a brasileira parece lógico. No entanto, não se pode pensar que a sua deficiência depende somente
das autoridades. Ela começa com os próprios pais, que não podem simplesmente terceirizar essa
responsabilidade.

Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja
convencida de que todos precisam contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que
partilhem desta convicção e não estejam pensando somente nos seus benefícios pessoais.

Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se
tornando disponíveis no Brasil, nota-se que muitos estão se convencendo de que eles ajudam na
sua ascensão social, mesmo sendo precários. O número daqueles que trabalham para obter o seu
sustento e ajudar a sua família, e ao mesmo tempo se dispõe a fazer um sacrifício adicional
frequentando cursos até noturnos, parece estar aumentando.

A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão
está em alta. É tratada como prioridade tanto no governo como em instituições representativas das
empresas. O mercado observa a carência de pessoal qualificado para elevar a eficiência do trabalho.

Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras
penas, a sua distribuição de renda. Mas, para que este processo de melhoria do bem-estar da
população seja sustentável, há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que
permita, também, o aumento da parcela da renda destinada à poupança, que vai sustentar os
investimentos indispensáveis.

A população que deseja melhores serviços das autoridades precisa ter a consciência de que uma
boa educação, não necessariamente formal, é fundamental para atender melhor as suas aspirações.

(YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em http://www, cartacapital.com.br/ educacao/os-problemas-


da-educacao-no-brasil- 657.html -—- Com adaptações)

Assinale a opção na qual o termo em destaque inicia uma oração subordinada substantiva.

a) "A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão
está em alta." (7º§)

b) "Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras
penas, a sua distribuição [...].” (8º§)

c) "Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se
tornando disponíveis [...].” (6º§)

d) "[...] há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que permita, também, o


aumento [...]." (8º§)

AULA 11 – Sintaxe III 65


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e) "Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja
convencida [...]."(5º§)

(Col. Naval - 2014)

Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por
muito tempo. São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente
desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. Nós nos tornamos, à
semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade?

Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. Ela precisa estar atenta aos veículos que
vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do
GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, às informações de alguma emissora
de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito várias vezes do trajeto que
deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.
Quando me vejo em tal situação, eu me lembro que dirigir, após um dia de intenso trabalho no
retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestressante.

O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não mais
observamos os detalhes, por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações.
Quantas vezes sentei em frente ao computador para buscar textos sobre um tema e, de repente,
me dei conta de que estava em temas que em nada se relacionavam com meu tema primeiro.

Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. Sofremos
de uma tentação permanente de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto.
O problema é que alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase,
para que faça sentido. Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza
a um texto?

Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. Elas
já nasceram neste mundo de profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o
início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes
objetos, sons, imagens etc.

Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as
crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. E quando elas não conseguem,
reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que
exigem tratamento etc.

A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos
em seus aparelhos eletrônicos, brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos
detalhes e, se deixarmos, passam horas em uma única atividade de que gostam.

AULA 11 – Sintaxe III 66


Prof. Celina Gil

Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é preciso, e não no que gostam.
E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.

As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, boa parte
desse trabalho é nosso, e não delas.

Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada as ajuda. O que pode ajudar, por
exemplo, é analisarmos o contexto em que estão quando precisam focar a atenção e organizá-lo
para que seja favorável a tal exigência. E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção
delas por muito tempo: o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e gradual.

SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 - adaptado.

Assinale a opção em que está expressa a ideia de consequência.

A) "E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que
sejam portadoras de síndromes [...]."(7 °§)

B) "Sofremos de uma tentação permanente de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos
direto ao ponto." (5°§)

C) "Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é preciso, e não no que gostam."
(9°§)

D) "O que pode ajudar, por exemplo, é analisarmos o contexto [ .. .] e organizá-lo para que seja
favorável a tal exigência." (11°§)

E) "São tantos os estímulos e tanta a pressão [ . . . ] que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas
ao mesmo tempo [...]." (1°§)

Texto para as próximas questões:

Eles blogam. E você?

Após o surgimento da rede mundial de computadores, no início da década de 1990,


testemunhamos uma revolução nas tecnologias de comunicação instantânea. Nós, que nascemos
em um mundo anterior à Internet, aprendemos a viver no universo constituído por coisas palpáveis:
casas, máquinas, roupas etc. O contato se estabelecia entre seres humanos reais por meios "físicos":
cartas, telefonemas, encontros.

Em um mundo concreto, a escola não poderia ser diferente: livros, giz, carteiras, quadro-negro,
mural. Esse espaço é ainda hoje definido por uma série de símbolos de um tempo passado e tem se
mantido relativamente inalterado desde o século XIX. Os alunos atuais, porém, são nativos digitais.
Em outras palavras: nasceram em um mundo no qual já existiam computadores, Internet, telefone

AULA 11 – Sintaxe III 67


Prof. Celina Gil

celular, tocadores de MP3, videogames, programas de comunicação instantânea (MSN, Google Talk
etc.) e muitas outras ferramentas da era digital. Seu mundo é definido por coisas imateriais:
imagens, dados e sons que trafegam e são armazenados no espaço virtual.

Um dos aspectos mais sedutores do ciberespaço é o seu poder de articulação social. Foi no fim
da década de 1990 que os usuários da Internet descobriram uma ferramenta facilitadora da
interação escrita entre diferentes pessoas conectadas em uma rede virtual: os weblogs, que logo
ficaram conhecidos como blogs. O termo é formado pelas palavras web (rede, em inglês) e log
(registro, anotação diária). A velocidade de reprodução da blogosfera é assustadora: 120 mil novos
blogs por dia, 1,4 blog por semana.

O blog se caracteriza por apresentar as observações pessoais de seu "dono" (o criador do blog)
sobre temas que variam de acordo com os interesses do blogueiro e também de acordo com o tipo
de blog. As possibilidades são infinitas: há blogs pessoais, políticos, culturais, esportivos,
jornalísticos, de humor etc.
Os textos que o blogueiro insere no blog são chamados de posts. Em português, o termo já deu
origem a um verbo, "postar", que significa "escrever uma entrada em um blog". Os posts são
cronológicos, porém apresentados em ordem inversa: sempre do mais recente para o mais antigo.
Os internautas que visitam um blog podem fazer comentários aos posts.

Justamente porque facilitam a comunicação e permitem a interação entre usuários de todas as


partes, os blogs são interessantes ferramentas pedagógicas. Se a escola é o espaço preferencial para
a construção do conhecimento, nada mais lógico do que levar os blogs para a sala de aula, porque
eles têm como vocação a produção de conteúdo. Por que não criar um blog de uma turma, do qual
participem todos os alunos, para comentar temas atuais, para debater questões polêmicas, para
criar um contexto real em que o texto escrito surja como algo natural?

Na blogosfera, informação é poder. E os jovens sabem disso, porque conhecem o ciberespaço. O


entusiasmo pela criação de um blog coletivo certamente será acompanhado pelo desejo de
transformá-lo em ponto de parada obrigatória para os leitores que vagam no universo virtual. E esse
desejo será um motivador muito importante. Para conquistar leitores, os autores de um blog
precisam não só ter o que dizer, mas também saber como dizer o que querem, escolher imagens
instigantes, criar títulos provocadores.

Uma vez criado o blog da turma, as possibilidades pedagógicas a ele associadas multiplicam-se.
Para gerar conteúdo consistente é necessário pesquisar, considerar diferentes pontos de vista sobre
temas polêmicos, avaliar a necessidade de ilustrar determinados conceitos com imagens, definir
critérios para a moderação dos comentários, escolher os temas preferenciais a serem abordados
etc. Todos esses procedimentos estão na base da construção de conhecimento.

AULA 11 – Sintaxe III 68


Prof. Celina Gil

Outro aspecto muito importante é que os jovens, em uma situação rara no espaço escolar, vão
constatar que, nesse caso, quem domina o conhecimento são eles. Pela primeira vez não precisarão
virar "analógicos" para se adaptar ao universo da sala de aula. Eu blogo. Eles blogam. E você?

Maria Luiza Abaurre, in Revista Carta na Escola. (adaptado)

(Col. Naval - 2009)

Assinale a opção em que a correspondência entre o conectivo e seu emprego sintático-semântico


está correta.

A) "Foi no fim da década de 1990 que os usuários da Internet..." (3° § ) - consequência

B) "Se a escola é o espaço preferencial para a construção..." (6° § ) - causa


C) "Justamente porque facilitam a comunicação e permitem..." (6° § ) - finalidade

D) "Por que não criar um blog de uma turma, do qual..." (6° § ) - explicação

E) "E os jovens sabem disso, porque conhecem. . . " (7 ° § ) – causa

(Col. Naval - 2009)

Em "Os internautas que visitam um blog podem fazer comentários aos posts" (5° § ), a oração
destacada

A) explica a relação internauta/blog.

B) particulariza o termo ao qual se refere.

C) expressa a finalidade da visita a um blog.

D) opõe-se àquilo que foi mencionado na oração anterior.

E) acrescenta uma informação suplementar a um termo já definido.

(ESA - 2017)

Marque a alternativa em que há uma relação de causa e consequência entre as orações.

a) A criança era tão determinada como seus pais o foram em seus tempos de escola.

b) Haverá vacinação no próximo mês como foi anunciado pelo Ministério da Saúde.

c) Como motorista conseguiu sobreviver àquele grave acidente?

d) Não só faltou a muitas aulas, como deixou de fazer as provas na data prevista.

AULA 11 – Sintaxe III 69


Prof. Celina Gil

e) Como estava dispensado pelo médico, permaneceu o resto do dia em casa.

(ESA - 2016)

Em todas as alternativas, há Orações Subordinadas Adverbiais, exceto:

A) Estude bastante, porque amanhã haverá uma prova.

B) Estudou tanto que teve um ótimo desempenho na prova.

C) Você terá um excelente desempenho desde que estude.

D) Os alunos realizaram a prova assim que chegaram na escola.

E) Não compareceu à aula ontem porque viajou.

Texto para as próximas questões


Falta de educação e velocidade

Os anjos da morte estão cansados de nos recolher, a nós que nos matamos ou somos
assassinados no tráfego das estradas, cidades, esquinas deste país. Os anjos da morte estão
exaustos de pegar restos de vidas botadas fora. Os anjos da morte andam fartos de corpos mutilados
e almas atônitas. Os anjos da morte suspiram por todo esse desperdício.

Não sei se as propagandas que tentam aos poucos aliviar essa tragédia ajudam tanto a preservar
vidas quanto as intermináveis, ricas e coloridas propagandas de cerveja ajudam a beber mais e mais
e mais, colaborando para uma parte dessa carnificina. Mas sei que estou no limite. Não apenas
porque abro jornais, TV e computador e vejo a mortandade em andamento, mas porque tenho
observado as coisas em questão. Recentemente, dirigindo numa autoestrada, percebi um motorista
tentando empurrar para o canteiro central um carro que seguia à minha frente na faixa esquerda,
na velocidade adequada ao trajeto. Chegava provocadoramente perto, pertinho, pertíssimo, quase
batia no outro, que se desviava um pouco lutando para manter-se firme no seu trajeto sem
despencar.

[...]

Atenção: os jovens são – em geral, mas não sempre – mais arrojados, mais imprudentes, têm
menos experiência na direção. Portanto, são mais inclinados a acidentes, bobos ou fatais, em que a
gente mata e morre. Mas há um número impressionante de adultos – mais homens do que
mulheres, diga-se de passagem, porque talvez sejam biologicamente mais agressivos – cometendo
loucuras ao dirigir, avançando o sinal, quase empurrando o veículo da frente com seu parachoque,
não cedendo passagem, ultrapassando em locais absurdos sem a menor segurança, bebendo antes
de dirigir, enfim, usando o carro como um punhal hostil [...].

AULA 11 – Sintaxe III 70


Prof. Celina Gil

Cada um se porta como quer – ou como consegue. Isso vem do caráter inato, combinado com
a educação recebida em casa. Quando esse comportamento ultrapassa o convívio cotidiano e pode
mutilar pais de família, filhos e filhas amados, amigos preciosos, ou seja lá quem for, então é preciso
instaurar leis férreas e punições comparáveis. Que não permitam escapadelas nem facilitem
cometer a infração com branda cobrança. Que não admitam desculpas e subterfúgios, não premiem
o erro, não pequem por uma criminosa omissão.

Precisamos em quase tudo de autoridade e respeito, para que haja uma reforma
generalizada, passando da desordem e do caos a algum tipo de segurança e bem-estar. [...]

Autoridade justa, mas muito rigorosa, é o que talvez nos deixe mais lúcidos e mais bem-educados:
em casa, na escola, na rua, na estrada, no bar, no clube, dentro do nosso carro. E os fatigados anjos
da morte poderão, se não entrar em férias, ao menos relaxar um pouco.

Lya Luft

(ESA - 2013)

Em “Todos os soldados viram, durante o combate, que os inimigos foram derrotados”, pode-se
classificar a oração que foi sublinhada como oração subordinada substantiva

A) completiva nominal.

B) predicativa.

C) objetiva indireta.

D) objetiva direta.

E) apositiva.

(ESA - 2013)

No período: “Espero que ele venha a São Paulo.”, a oração em destaque classifica-se sintaticamente
como

A) subordinada substantiva objetiva direta.

B) subordinada substantiva objetiva indireta.

C) subordinada substantiva subjetiva.

D) subordinada adjetiva restritiva.

E) subordinada adjetiva explicativa.

AULA 11 – Sintaxe III 71


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(ESA - 2012)

01 Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho

vagaroso com vagarosas

paradas

em cada estaçãozinha pobre

05 para comprar

pastéis

pés-de-moleque

sonhos

- principalmente sonhos!

10 porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar;


elas suspirando maravilhosas viagens

e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando

sempre...Nisto,

o apito da locomotiva

15 e o trem se afastando

e o trem arquejando é preciso partir

é preciso chegar

é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

20 ...no entanto

eu gostava era mesmo de partir...

e - até hoje - quando acaso embarco

para alguma parte

acomodo-me no meu lugar

25 fecho os olhos e sonho:

viajar, viajar

mas para parte nenhuma...

viajar indefinidamente...

como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

AULA 11 – Sintaxe III 72


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(QUINTANA, Mário. Baú de Espantos. in: MARÇAL, Iguami Antônio T. Antologia Escolar, Vol.1; BIBLIEX; p. 169.)

“Não era um craque, mas sua perda desfalcaria o time”.

No trecho, a segunda oração é, na gramática normativa, uma oração:

A) subordinada substantiva.

B) coordenada assindética.

C) subordinada adjetiva.

D) coordenada sindética

E) subordinada adverbial.

(ESA - 2009)

No período “Não esqueçam que só nós temos Um canal aberto para lá (...) e que pode ser vital, se
nada der certo.” a oração destacada é:

A) subordinada adverbial consecutiva

B) subordinada adverbial concessiva

C) subordinada adverbial causal

D) subordinada adverbial condicional

E) subordinada adverbial comparativa

(ESA - 2007)

Em “E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em


um só segundo”, os dois pontos foram empregados para:

A) introduzir uma citação.

B) anunciar a fala da personagem no discurso direto.

C) introduzir uma oração apositiva.

D) introduzir uma oração objetiva direta.

E) introduzir uma enumeração

AULA 11 – Sintaxe III 73


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(EEAR – 2020/2)

Em qual alternativa a oração em destaque é subordinada adjetiva reduzida?

a) Ele é nossa principal testemunha, pois foi a primeira pessoa a entrar no local do crime.

b) Entrando repentinamente no recinto, ele foi o primeiro a presenciar a cena do crime.

c) Sendo o primeiro a entrar no recinto, ele é nossa principal testemunha.

d) Ao entrar no recinto, ele presenciou primeiramente a cena do crime.

(EEAR – 2020/2)

Se transformarmos os períodos simples em períodos compostos, em qual alternativa haverá uma


oração coordenada sindética adversativa?

a) “Tenha paciência. Deus está contigo”.


b) “Eu quis dizer. Você não quis escutar”.

c) “Não me venham com conclusões. A única conclusão é morrer”.

d) “O mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos”.

(EEAR – 2020/2)

Leia:

“O taverneiro declarou que nada podia saber ao certo. Tinha certeza de que lhe invadiram a
propriedade.”

No texto acima, as orações substantivas em destaque são, respectivamente,

a) subjetiva e predicativa.

b) objetiva direta e objetiva indireta.

c) objetiva direta e completiva nominal

d) objetiva indireta e completiva nominal.

(EEAR – 2020/2)

Em qual alternativa há uma oração subordinada adverbial final?


a) Os professores, quando decidiram fazer um trabalho de reforço com os alunos, tinham a intenção
de obter um resultado melhor no Exame Nacional, em relação ao ano anterior.

AULA 11 – Sintaxe III 74


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b) O trabalho de reforço daqueles professores foi tão importante que o resultado no Exame
Nacional, em relação ao ano anterior, foi bem melhor.

c) Como os professores fizeram um trabalho de reforço com os alunos, o resultado no Exame


Nacional, em relação ao ano anterior, foi bem melhor.

d) Para que o resultado do Exame Nacional fosse melhor em relação ao ano anterior, os professores
fizeram um trabalho de reforço com os alunos.

(EEAR – 2019/2)

Leia as frases e responda ao que se pede.

1 – As esculturas expostas nesta galeria são de um artista desconhecido.

2 – Os políticos, que estão engajados no processo eleitoral, só pensam na vitória.


3 – O supermercado do centro foi o primeiro a expor o novo produto em suas prateleiras.

4 – O jogador de Futebol Rogério Ceni, desafiando o tempo, jogou até os 42 anos de idade em alto
nível.

Em qual alternativa há oração subordinada adjetiva explicativa?

a) 1 e 4.

b) 1 e 3.

c) 2 e 3.

d) 2 e 4.

(EEAR – 2019/2)

Leia:

“Doutor Urbino era demasiado sério para achar que ela dissesse isso com segundas intenções. Pelo
contrário: perguntou a si mesmo, confuso, se tantas facilidades juntas não seriam uma armadilha
de Deus.”

As orações subordinadas em destaque são, respectivamente,

a) substantiva objetiva direta e substantiva objetiva direta.

b) substantiva objetiva direta e adverbial condicional.


c) substantiva subjetiva e substantiva objetiva direta.

AULA 11 – Sintaxe III 75


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d) adjetiva restritiva e adverbial condicional.

(EEAR – 2019/2)

Leia os períodos e depois assinale a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as orações
adverbiais em destaque.

1 – A filha é traiçoeira como o pai.

2 – O Chefe de Estado agiu como manda o regulamento.

3 – Como era esperado, ele negou a participação no sequestro.

4 – Como não estava bem fisicamente, não participou da maratona.

a) Causal, comparativa, causal, comparativa.


b) Comparativa, conformativa, causal, causal.

c) Comparativa, conformativa, conformativa, causal.

d) Conformativa, causal, comparativa, conformativa.

(EEAR – 2018/2)

Há, no texto abaixo, uma oração reduzida em destaque. Leia-a com atenção e, a seguir, assinale a
alternativa que traz sua correspondente classificação sintática.

...o foco narrativo mostra a sua verdadeira força na medida em que é capaz de configurar o nível de
consciência de um homem que, tendo conquistado a duras penas um lugar ao sol, absorveu na sua
longa jornada toda a agressividade latente de um sistema de competição. (Alfredo Bosi)

a) oração subordinada adverbial consecutiva

b) oração subordinada adjetiva explicativa

c) oração subordinada adjetiva restritiva

d) oração subordinada adverbial causal

(EEAR – 2017/B)

Leia:

AULA 11 – Sintaxe III 76


Prof. Celina Gil

I. Todos os brasileiros que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira devem gastar longas horas
de estudo e dedicação.

II. Todos os brasileiros, que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira, devem gastar longas horas
de estudo e dedicação.

Marque a alternativa correta.

a) A frase I possibilita a conclusão de que todos os brasileiros, indiscriminadamente, desejam


ingressar na Força Aérea Brasileira.

b) As frases I e II estão em desconformidade com as normas gramaticais vigentes em relação às


Orações Subordinadas Adjetivas.

c) A frase I, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, não apresenta vírgulas. Esse fato
está em conformidade com as normas gramaticais vigentes.

d) A frase II, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, apresenta vírgulas. Esse fato está
em conformidade com as normas gramaticais vigentes.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Assinale, a seguir, a alternativa em que a reescrita da oração destacada mantém-se com o mesmo
significado da oração original.

“E ela consegue isso por uma estranha norma estética: a que decreta a criatividade deturpada da
publicidade enquanto as potências da arte são confinadas ao espaço dos especialistas.”

a) “quando há confinamento, no espaço dos especialistas, das potências de arte”.

b) “ao mesmo tempo em que são confinadas, ao espaço dos especialistas, as potências da arte”.

c) “de modo que há confinamento das potências da arte ao espaço dos especialistas”.

d) “depois que as potências da arte são confinadas ao espaço dos especialistas”.

e) “agora que há confinamento, no espaço dos especialistas, das potências da arte”.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Em “da verruga que se perdia no meio uma cabeleira crespa e bela”, a oração destacada apresenta
significação de
a) consequência.

AULA 11 – Sintaxe III 77


Prof. Celina Gil

b) causa.

c) restrição.

d) explicação.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Assinale, a seguir, a alternativa em que as orações se relacionam somente por coordenação.

a) Os pais que iam à escola sempre eram muito educados com os professores.

b) Estávamos estudando muito, passaremos, pois, na nossa prova desse mês.

c) É improvável que todos consigam sair de casa ao mesmo tempo, como pensado.

d) Quando ficamos em casa e nos alimentamos, temos uma vida mais saudável.

INÉDITA – Celina Gil

Entre as várias técnicas do yoga, os exercícios respiratórios (Pránayáma) parecem ser os que
exercem maior influência nos estados de humor, justamente pela notória relação das emoções com
a respiração. A regulação respiratória depende de uma série de mecanismos involuntários, podendo
ser realizada sem a interferência do controle voluntário. Assim, as características da respiração se
ajustam de acordo com as emoções. Entretanto, é possível alterar voluntariamente seu ritmo,
frequência e profundidade. As técnicas respiratórias orientam justamente esse controle voluntário,
exercendo influência em mecanismos involuntários que regulam a respiração e o sistema
cardiovascular, podendo modular a interação entre sistema nervoso simpático e parassimpático e,
consequentemente, o eixo HPHPA. Esses exercícios ativam o sistema nervoso autônomo com a
finalidade de inibir o sistema simpático e estimular o sistema parassimpático.

Com a prática dos exercícios propostos pelo yoga, os quimiorreceptores sensíveis à elevação de CO2,
localizados no centro respiratório do cérebro (no tronco cerebral), começam a responder menos a
esse aumento durante a expiração, de modo que o indivíduo consegue expirar mais
prolongadamente, reduzindo a frequência cardíaca. As técnicas têm como finalidade prolongar a
expiração e valorizar a retenção de ar. Esse princípio conduz a um treinamento tão forte do SNA que
ocorre um aumento das variações da frequência cardíaca, mesmo quando o indivíduo não está
praticando, pois o padrão respiratório involuntário é profundamente alterado. Essas pesquisas
talvez expliquem por que os praticantes de ioga sejam menos propensos a desenvolver transtornos
de ansiedade e de humor e respondam melhor às alterações emocionais negativas.

Uol, setembro de 2009. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_ciencia_da_ioga.html>


Acesso em 01 mai.2019.

AULA 11 – Sintaxe III 78


Prof. Celina Gil

Assinale a alternativa em que a oração destacada expressa ideia de consequência:

a) “(...) mesmo quando o indivíduo não está praticando, pois o padrão respiratório involuntário é
profundamente alterado”

b) “(...) começam a responder menos a esse aumento durante a expiração, de modo que o indivíduo
consegue expirar mais prolongadamente, reduzindo a frequência cardíaca”

c) “Com a prática dos exercícios propostos pelo yoga, os quimiorreceptores sensíveis à elevação de
CO2”

d) “Esses exercícios ativam o sistema nervoso autônomo com a finalidade de inibir o sistema
simpático e estimular o sistema parassimpático.”

e) “Essas pesquisas talvez expliquem por que os praticantes de ioga sejam menos propensos a
desenvolver transtornos de ansiedade.”

INÉDITA – Celina Gil

Nenhuma linhagem é tão icônica para a Paleontologia quanto a linhagem dos dinossauros.
Muitas crianças despertam seu interesse pela ciência desde cedo quando começam a ler sobre estes
gigantes (nem todos) da Era Mesozóica. Neste mês, senti um misto de nostalgia e de felicidade ao
me deparar com relançamento do famoso álbum do extinto chocolate Surpresa. Em minha infância,
colecionando os cards que continham informações dos animais no verso, pude retornar ao tempo
pela primeira vez. Nem todos os cards retratavam dinossauros, havia um pterossauro, um
lepidossauro, um ictiossauro e até mesmo um sinapsídeo. É comum que o conhecimento popular e
a própria divulgação científica nomeiem erroneamente de dinossauros todas estas linhagens
distintas. Cabe aos professores de Paleontologia colocar “cada dinossauro no seu galho”. E cabe
aos mesmos ensinar sobre uma das mais conhecidas divisões dentro de uma linhagem de
organismos. Tradicionalmente, os dinossauros são divididos em dois grupos: os ornitísquios
(Ornithischia), que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos répteis, e os saurísquios
(Saurischia), que apresentam os ossos da pelve como nas aves, sendo estes últimos divididos em
saurísquios saurópodes (Saurischia Sauropodomorpha), herbívoros, e saurísquios terópodes
(Saurischia Theropoda), carnívoros.

No entanto, há poucos dias, três pesquisadores da Universidade de Cambridge e do Museu de


História Natural de Londres propuseram, em um artigo da revista Nature, uma nova hipótese que
fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros. Como contam em seu artigo, desde 1887 já são
reconhecidas as linhagens Ornisthischia e Saurischia. Desde antes de que a própria linhagem
Dinossauria fosse proposta, o que aconteceu em 1974, com a junção daquelas duas linhagens. Como
se vê, por mais de um século, os paleontólogos consideram os ornitísquios e os saurísquios como

AULA 11 – Sintaxe III 79


Prof. Celina Gil

representantes de linhagens distintas. Este se tornou um dogma da Paleontologia. Na opinião dos


autores do artigo, muitas análises filogenéticas foram feitas ao longo dos anos sem dar a devida
atenção a possibilidade de que a clássica divisão da linhagem Dinossauria pudesse estar equivocada.
Através de um levantamento muito completo de inúmeros caracteres de dinossauros basais (tanto
de saurísquios quanto de ornitísquios) e de representantes dos Dinosaurophorma (grupo-irmão dos
dinossauros, composto por répteis que quase são dinossauros), os autores propõe uma hipótese
nova para as relações de parentesco dentro da linhagem Dinossauria. É a derrocada de um dogma
centenário!

[...]

Rafael Faria, Dinossauros e Dogmas In: PaleoMundo, 11/04/2017. Disponível em:


<https://www.blogs.unicamp.br/paleoblog/2017/04/11/dinossauros-e-dogmas/> Acesso em 02 mai.2019.

Assinale a única alternativa em que o termo destacado não pode ser considerado uma oração
subordinada adjetiva:

a) “os ornitísquios (Ornithischia), que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos répteis,”

b) “e os saurísquios (Saurischia), que apresentam os ossos da pelve como nas aves,”

c) “(...) uma nova hipótese que fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros.”

d) “grupo-irmão dos dinossauros, composto por répteis que quase são dinossauros”

e) “É comum que o conhecimento popular e a própria divulgação científica nomeiem erroneamente


(...).”

INÉDITA – Celina Gil

Aurélia concentra-se de todo dentro de si; ninguém ao ver essa gentil menina, na aparência tão calma
e tranquila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência; e prepara-
se para sacrificar irremediavelmente todo o seu futuro.

Alguém que entrava no gabinete veio arrancar a formosa pensativa à sua longa meditação. Era D.
Firmina Mascarenhas, a senhora que exercia junto de Aurélia o ofício de guarda-moça.

A viúva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina, que só nessa
ocasião acordou da profunda distração em que estava absorta.

Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura
por uma cadeia de ouro fosco.

Entretanto D. Firmina, acomodando a sua gordura semissecular em uma das vastas cadeiras de
braços que ficavam ao lado da conversadeira, dispunha-se a esperar pelo almoço.

AULA 11 – Sintaxe III 80


Prof. Celina Gil

- Está fatigada de ontem? Perguntou a viúva com expressão de afetada ternura que exigia seu cargo.

- Nem por isso; mas sinto-me lânguida; há de ser o calor, respondeu a moça para dar uma razão
qualquer de sua atitude pensativa.

Estes bailes que acabam tão tarde não devem ser bons para a saúde; por isso é que no Rio de Janeiro
há tanta moça magra e amarela. Ora, ontem, quando serviram a ceia pouco faltava para tocar matinas
em Santa Teresa. Se a primeira quadrilha começou com o toque do Aragão!... Havia muita confusão; o
serviço não esteve mau, mas andou tão atrapalhado!...

D. Firmina continuou por aí além a descrever suas impressões do baile de véspera, sem tirar os olhos
do semblante de Aurélia, onde espiava o efeito de suas palavras, pronta a desdizer-se de qualquer
observação, ao menor indício de contrariedade.

Deixou-a a moça falar, desejosa de desprender-se e embalar-se ao rumor dessa voz que ouvia, sem
compreender. Sabia que a viúva conversava acerca do baile; mas não acompanhava o que ela dizia.

(José de Alencar, Senhora, 2013, p.40)

Assinale a alternativa que não apresenta período composto por coordenação:

a) “A viúva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina”

b) “Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa à
cintura por uma cadeia de ouro fosco.”

c) “Nem por isso; mas sinto-me lânguida”

d) “Estes bailes que acabam tão tarde não devem ser bons para a saúde; por isso é que no Rio de
Janeiro há tanta moça magra e amarela”

e) “o serviço não esteve mau, mas andou tão atrapalhado!...”

Texto para as próximas questões

Um caboclo mal-encarado entrou na sala. Mendonça franziu a testa. Quis despedir-me; receei,
porém, que o momento fosse impróprio e conservei-me sentado, esperando modificar a impressão
desagradável que produzia. As moças me achavam maçador, evidentemente.

- Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo: isto vira lama e não nasce um pé de
mandioca.

- Decerto, concordou Mendonça, visivelmente aporrinhado com o caboclo, que me olhava


tranquilo, sem levantar a cabeça.

AULA 11 – Sintaxe III 81


Prof. Celina Gil

- Pois até logo, exclamei de chofre. A eleição domingo, hem? Entendido. Mato um... (Ia dizer
um boi. Moderei-me: todo o mundo sabia que eu tinha meia dúzia de eleitores.) um carneiro. Um
carneiro é bastante, não? Está direito. Até domingo.

E saí, descontente. Creio que foi mais ou menos o que aconteceu. Não me lembro com precisão.
Atravessei o pátio e entrei no atalho que ia ter a São Bernardo. Que vergonha! Tomar a terra dos
outros e deixá-la com aquelas veredas indecentes, cheias de camaleões, o mato batendo no rosto
de quem passava!

Percorri a zona da encrenca. A cerca ainda estava no ponto em que eu a tinha encontrado no
ano anterior. Mendonça forcejava por avançar, mas continha-se; eu procurava alcançar os limites
antigos, inutilmente. Discórdia séria só esta: um moleque de São Bernardo fizera mal à filha do
mestre de açúcar de Mendonça, e Mendonça, em consequência, metera o alicate no arame; mas eu
havia consertado a cerca e arranjado o casamento do moleque com a cabrochinha.

(Graciliano Ramos, São Bernardo, 2013, p. 37 – 38)

INÉDITA – Celina Gil

“Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo: isto vira lama e não nasce um pé de
mandioca.”

Sobre o período acima, é correto afirmar que:

I. Em “Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo” há uma construção na ordem indireta,
já que a oração subordinada vem escrita antes da principal.

II. Há uma coordenação assindética presente nesse período.

III. Em “isto vira lama e não nasce um pé de mandioca” há uma noção de somatória na relação entre
as orações.

Está correto o que se afirma em:


a) I. e II.
b) I. e III.
c) II. e III.
d) Apenas III.
e) Todas.

INÉDITA – Celina Gil

Assinale a alternativa em que a oração destacada assume o valor de objeto direto:

AULA 11 – Sintaxe III 82


Prof. Celina Gil

a) “visivelmente aporrinhado com o caboclo, que me olhava tranquilo, sem levantar a cabeça.”

b) “todo o mundo sabia que eu tinha meia dúzia de eleitores”

c) “receei, porém, que o momento fosse impróprio”

d) “entrei no atalho que ia ter a São Bernardo”

e) esperando modificar a impressão desagradável que produzia.

Texto para as próximas questões

As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira não devia ter sido feia, aos vinte e cinco
anos; mas Sofia primava entre todas elas.

Não seria tudo o que o nosso amigo sentia, mas era muito. Era daquela casta de mulheres que
o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias. Essas
esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os vinte e oito anos; estava mais bela que aos
vinte e sete; era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se não quisesse
prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos.

Os olhos, por exemplo, não são os mesmos da estrada de ferro, quando o nosso Rubião falava
com o Palha, e eles iam sublinhando a conversação... Agora, parecem mais negros, e já não
sublinham nada; compõem logo as coisas, por si mesmos, em letra vistosa e gorda, e não é uma
linha nem duas, são capítulos inteiros. A boca parece mais fresca. Ombros, mãos, braços, são
melhores, e ela ainda os faz ótimos por meio de atitudes e gestos escolhidos. Uma feição que a dona
nunca pôde suportar, — coisa que o próprio Rubião achou a princípio que destoava do resto da cara,
— o excesso de sobrancelhas, — isso mesmo, sem ter diminuído, como que lhe dá ao todo um
aspecto muito particular.

Traja bem; comprime a cintura e o tronco no corpinho de lã fina cor de castanha, obra simples,
e traz nas orelhas duas pérolas verdadeiras, — mimo que o nosso Rubião lhe deu pela Páscoa.

A bela dama é filha de um velho funcionário público. Casou aos vinte anos com este Cristiano
de Almeida e Palha, zangão da praça, que então contava vinte e cinco. O marido ganhava dinheiro,
era jeitoso, ativo, e tinha o faro dos negócios e das situações. Em 1864, apesar de recente no ofício,
adivinhou, — não se pode empregar outro termo, — adivinhou as falências bancárias.

— Nós temos coisa, mais dia menos dia; isto anda por arames. O menor brado de alarme leva
tudo.

O pior é que ele despendia todo o ganho e mais. Era dado à boa-chira; reuniões frequentes,
vestidos caros e joias para a mulher, adornos de casa, mormente se eram de invenção ou adoção
recente, — levavam-lhe os lucros presentes e futuros. Salvo em comidas, era escasso consigo
mesmo. Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco, — mas ia

AULA 11 – Sintaxe III 83


Prof. Celina Gil

menos por si que para aparecer com os olhos da mulher, os olhos e os seios. Tinha essa vaidade
singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para mostrar aos outros as
suas venturas particulares. Era assim um rei Candaules*, mais restrito por um lado, e, por outro,
mais público.

E aqui façamos justiça à nossa dama. A princípio, cedeu sem vontade aos desejos do marido;
mas tais foram as admirações colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às circunstâncias, que
ela acabou gostando de ser vista, muito vista, para recreio e estímulo dos outros. Não a façamos
mais santa do que é, nem menos. Para as despesas da vaidade, bastavam-lhe os olhos, que eram
ridentes, inquietos, convidativos, e só convidativos: podemos compará-los à lanterna de uma
hospedaria em que não houvesse cômodos para hóspedes. A lanterna fazia parar toda a gente, tal
era a lindeza da cor, e a originalidade dos emblemas; parava, olhava e andava. Para que escancarar
as janelas? Escancarou-as, finalmente; mas a porta, se assim podemos chamar ao coração, essa
estava trancada e retrancada.

*Rei Candaules: lenda helênica sobre rei de acreditava ser casado com a mulher mais bela de todas.
Ele obriga um criado a vê-la nua escondido para provar seu ponto. Ele não sabia, porém, que havia
uma maldição: se outro homem a visse nua, um deles deva morrer. O criado, então, o mata e se
casa com a rainha.

(Machado de Assis, Quincas Borba, CAPÍTULO XXXV, 1994)

INÉDITA – Celina Gil

Quais orações estabelecem entre si relação de causa e consequência

a) “(...) era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se não quisesse
prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos”

b) “(...) mas tais foram as admirações colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às
circunstâncias, que ela acabou gostando de ser vista”

c) “Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco”

d) “Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para
mostrar aos outros as suas venturas particulares”

e) “podemos compará-los à lanterna de uma hospedaria em que não houvesse cômodos para
hóspedes”

INÉDITA – Celina Gil


Casou aos vinte anos com este Cristiano de Almeida e Palha, zangão da praça, que então contava
vinte e cinco.

AULA 11 – Sintaxe III 84


Prof. Celina Gil

Sobre o período transcrito acima, é correto afirmar que:


I. O sujeito dessa oração é indeterminado, pois não está expresso na oração e não é possível
identificá-lo a partir da flexão verbal.
II. O termo “zangão da praça” assume a função sintática de aposto, caracterizando Cristiano
de Almeida e Palha a partir de uma metáfora.
III. “que então contava vinte e cinco” é uma oração que assume função de adjunto adnominal
de “Cristiano de Almeida e Palha”, ainda que esses termos estejam separados por outro
termo entre vírgulas.

A alternativa que apresenta os itens incorretos é:

a) I. e II.

b) I. e III.
c) II. e III.

d) I.

e) II.

(INÉDITA – Celina Gil)

Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu
ou ensinou, ou se fez ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi
somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas
da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

— Está na sala, penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.

(Dom Casmurro, Machado de Assis)

Leia atentamente o trecho destacado e assinale a alternativa correta.

D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

O trecho destacado transmite a ideia de

a) causa.

b) consequência.

c) explicação.

AULA 11 – Sintaxe III 85


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d) restrição.

e) tempo.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

As orações destacadas no trecho “Descobriu-se que o Facebook realiza experiências clandestinas


para avaliar o efeito psicológico em seus usuários manipulando o ‘conteúdo emocional’ das
publicações e notícias sugeridas” são classificadas, respectivamente, como:

a) subordinada substantiva subjetiva e subordinada adverbial causal reduzida de gerúndio.

b) subordinada substantiva objetiva direta e subordinada adverbial modal reduzida de gerúndio.

c) subordinada substantiva predicativa e subordinada adjetiva restritiva reduzida de gerúndio.

d) subordinada substantiva completiva nominal e subordinada adverbial temporal reduzida de


infinitivo.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Considere a frase:

“É o cheiro dela que é o cheiro da minha casa em qualquer lugar do mundo”.

Pode-se dizer que a frase apresentada conta com uma expressão que

a) substitui um nome.

b) tem valor de realce.

c) introduz oração subordinada.

d) exprime uma reação.

e) tem valor prepositivo.

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

No trecho “E mesmo que ela nunca me obedeça, eu continuarei dizendo” a palavra sublinhada
expressa ideia de

a) adição.

b) comparação.

c) concessão.

d) hipótese.

AULA 11 – Sintaxe III 86


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e) condição.

(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

Observe os itens abaixo:

I. Como estivesse doente, não foi à aula.

II. É bom levar um guarda-chuva, pois vai chover.

III. Já que você não gosta dessa música, vou desligar o rádio.

IV. Não terminou a lição, uma vez que não tinha o livro.

Há relação de causa entre as orações nos itens:

a) I., II., III.


b) II., III., IV.

c) I., II., IV.

d) I., III., IV.

e) todas.

(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

O termo em destacado tem valor

a) adição.

b) adversidade.

c) concessão.

d) hipótese.

e) condição.

AULA 11 – Sintaxe III 87


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(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

Assinale a opção que contém o maior número de orações.

a) De qualquer forma, como poderia um homem da minha geração - nasci em 1917 - não ser
otimista?

b) Os marcos da era incluem a fundação da Organização das Nações Unidas e da Unesco, a


proclamação dos direitos do homem e a descolonização.

c) Em termos mais gerais, houve o reconhecimento das culturas não europeias, do qual derivou uma
queda do eurocentrismo e da suposta desigualdade entre os povos "civilizados" e os "não-
civilizados".

d) Houve também uma redução na distância entre as classes sociais, pelo menos nos países
ocidentais.

e) No momento da queda do Muro de Berlim, começamos a acreditar que enfim seria realizada a
transição da cultura da guerra para a cultura da paz.

(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

No trecho “E cantaram na chuva: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, a palavra sublinhada
expressa ideia de

a) conclusão.

b) certeza.

c) temporalidade.

d) hipótese.

e) ressalva.

(Estratégia Vestibulares – Inédita 2020 – Prof. Celina Gil)

Assinale a alternativa que relaciona de maneira incorreta o conectivo destacado e seu valor
semântico

a) Já reparou como as pessoas sempre mudam de opinião quando confrontadas com dados que
contradizem suas convicções mais profundas? – temporalidade.

b) Os criacionistas, por exemplo, rejeitam as provas da evolução oferecidas por fósseis e pelo DNA,
porque temem que os poderes laicos estejam avançando sobre o terreno da fé religiosa. –
explicação.

AULA 11 – Sintaxe III 88


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c) Isso os leva a defender que as vacinas causam autismo, embora o único estudo que relacionava
essas duas coisas tenha sido desmentido há bastante tempo – concessão.

d) acreditam que o Governo mentia e realizou operações secretas a fim de criar uma nova ordem
mundial. – finalidade.

e) Se os dados que deveriam corrigir uma opinião só servem para piorar as coisas, o que podemos
fazer para convencer o público sobre seus equívocos? – causa

(Estratégia Vestibulares – Inédita 2020 – Prof. Celina Gil)

A alternativa cujo termo destacado exerce função sintática diferente das demais é

a) Pensei que viesse vestida esportivamente

b) Juro que eu tinha que ver ainda uma vez toda essa beleza
c) Veja que lama.

d) E você acha que eu iria?

e) a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...

(IBMEC - 2012)

Ele se encontrava sobre a estreita marquise do 18º andar. Tinha pulado ali a fim de limpar pelo lado
externo as vidraças das salas vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupadas em breve por uma firma
de engenharia. Ele era um empregado recém-contratado da Panamericana – Serviços Gerais. O fato
de haver se sentado à beira da marquise, com as pernas balançando no espaço, se devera
simplesmente a uma pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele não queria
dispensar este prazer, misturando-o com o trabalho.

Quando viu o ajuntamento de pessoas lá embaixo, apontando mais ou menos em sua direção, não
lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções. Não estava habituado a ser este
centro e olhou para baixo e para cima e até para trás, a janela às suas costas.

Talvez pudesse haver um princípio de incêndio ou algum andaime em perigo ou alguém prestes a
pular. Não havia nada identificável à vista e ele, através de operações bastante lógicas, chegou à
conclusão de que o único suicida em potencial era ele próprio. Não que já houvesse se cristalizado
em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando... E digamos
que a pouca importância que dava a si próprio não permitia que aflorasse seriamente em seu campo
de decisões a possibilidade de um gesto tão grandiloquente. E que o instinto cego de sobrevivência
levava uma vantagem de uns quarenta por cento sobre seu instinto de morte, tanto é que ele viera
levando a vida até aquele preciso momento sob as mais adversas condições.

AULA 11 – Sintaxe III 89


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(In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores contos brasileiros do século.

R. Janeiro: Objetiva, 2000)

Em “... não lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções”, os pronomes
pessoais destacados exercem, respectivamente, a função sintática de

a) objeto indireto, sujeito.

b) complemento nominal, objeto direto.

c) adjunto adnominal, sujeito.

d) objeto indireto, predicativo do objeto.

e) adjunto adnominal, predicativo do sujeito.

(UNESP - 2010)

“Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da utopia.”

Na oração, “o terreno da utopia” exerce a função sintática de:

a) objeto direto.

b) complemento nominal.

c) sujeito.
d) predicativo do sujeito.

e) predicativo do objeto.

AULA 11 – Sintaxe III 90


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2.2 - Gabarito
A C E C

A D A B

C E B B

B B E E

E A B A

D E B E

E C E C

D A A B

D E D D

E C A C
A A D C

B A D B

C A C C

D C A D

D D B B

B B C A

E C D E

D A D E

D B A E

B C C C

E E D C

D D C

E C B

AULA 11 – Sintaxe III 91


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2.3- Exercícios comentados


Texto para as questões 1 e 2:

Pichação-arte é pixação?

As discussões muitas vezes acaloradas sobre o reconhecimento da pixação como expressão


artística trazem à tona um questionamento conceitual importante: uma vez considerado arte
contemporânea, o movimento perderia sua essência? Para compreendermos os desdobramentos
da pixação, alguns aspectos presentes no graffiti são essenciais e importantes de serem resgatados.
O graffiti nasceu originalmente nos EUA, na década de 1970, como um dos elementos da cultura
hip-hop (Break, MC, DJ e Graffiti). Daí até os dias atuais, ele ganhou em força, criatividade e técnica,
sendo reconhecido hoje no Brasil como graffiti artístico. Sua caracterização como arte
contemporânea foi consolidada definitivamente por volta do ano 2000.
A distinção entre graffiti e pixação é clara; ao primeiro é atribuída a condição de arte, e o
segundo é classificado como um tipo de prática de vandalismo e depredação das cidades, vinculado
à ilegalidade e marginalidade. Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela
institucionalização do graffiti, com os primeiros resquícios já na década de 1970.

Esse desenvolvimento técnico e formal do graffiti ocasionou a perda da potência subversiva


que o marca como manifestação genuína de rua e caminha para uma arte de intervenção
domesticada enquadrada cada vez mais nos moldes do sistema de arte tradicional. O grafiteiro é
visto hoje como artista plástico, possuindo as características de todo e qualquer artista
contemporâneo, incluindo a prática e o status. Muito além da diferenciação conceitual entre as
expressões – ainda que elas compartilhem da mesma matéria-prima – trata-se de sua força e
essência intervencionista.

Estudos sobre a origem da pixação afirmam que o graffiti nova-iorquino original equivale à
pixação brasileira; os dois mantêm os mesmos princípios: a força, a explosão e o vazio. Uma das
principais características do pixo é justamente o esvaziamento sígnico, a potência esvaziada. Não
existem frases poéticas, nem significados. A pichação possui dimensão incomunicativa, fechada,
que não conversa com a sociedade. Pelo contrário, de certa forma, a agride. A rejeição do público
geral reside na falta de compreensão e intelecção das inscrições; apenas os membros da própria
comunidade de pixadores decifram o conteúdo.

A significância e a força intervencionista do pixo residem, portanto, no próprio ato. Ela é


evidenciada pela impossibilidade de inserção em qualquer estatuto pré-estabelecido, pois isso
pressuporia a diluição e a perda de sua potência signo-estética. Enquanto o graffiti foi sendo
introduzido como uma nova expressão de arte contemporânea, a pichação utilizou o princípio de
não autorização para fortalecer sua essência.

AULA 11 – Sintaxe III 92


Prof. Celina Gil

Mas o quão sensível é essa forma de expressão extremista e antissistema como a pixação?
Como lidar com a linha tênue dos princípios estabelecidos para não cair em contradição? Na 26ª
Bienal de Arte de São Paulo, em 2004, houve um caso de pixo na obra do artista cubano naturalizado
americano, Jorge Pardo. Seu comentário, diante da intervenção, foi “Se alguém faz alguma coisa no
seu trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram a minha peça entre as expostas” […].
“Quem fez isso deve discordar de alguma coisa na obra. Pode ser outro artista fazendo sua própria
obra dentro da minha. Pode ser só uma brincadeira” e finalizou dizendo que “pichar a obra de
alguém também não é tão incomum. Já é tradicional”.

É interessante notar, a partir do depoimento de Pardo, a recorrência de padrões em


movimentos de qualquer natureza, e o inevitável enquadramento em algum tipo de sistema,
mesmo que imposto e organizado pelos próprios elementos do grupo. Na pixação, levando em conta
o “sistema” em que estão inseridos, constatamos que também passa longe de ser perfeito; existe
rivalidade pesada entre gangues, hierarquia e disputas pelo “poder”.
Em 2012, a Bienal de Arte de Berlim, com o tema “Forget Fear”, considerado ousado, priorizou
fatos e inquietações políticas da atualidade. Os pixadores brasileiros, Cripta (Djan Ivson), Biscoito,
William e R.C., foram convidados na ocasião para realizar um workshop sobre pixação em um espaço
delimitado, na igreja Santa Elizabeth. Eles compareceram. Mas não seguiram as regras impostas
pela curadoria, ao pixar o próprio monumento. O resultado foi tumulto e desentendimento entre
os pixadores e a curadoria do evento.

O grande dilema diante do fato é que, ao aceitarem o convite para participar de uma bienal de
arte, automaticamente aceitaram as regras e o sistema imposto. Mesmo sem adotar o
comportamento esperado, caíram em contradição. Por outro lado, pela pichação ser
conhecidamente transgressora (ou pelo jeito, não tão conhecida assim), os organizadores deveriam
pressupor que eles não seguiriam padrões pré-estabelecidos.

Embora existam movimentos e grupos que consideram, sim, a pixação como forma de arte,
como é o caso dos curadores da Bienal de Berlim, há uma questão substancial que permeia a
realidade dos pichadores. Quem disse que eles querem sua expressão reconhecida como arte? Se
arte pressupõe, como ocorreu com o graffiti, adaptar-se a um molde específico, seguir determinadas
regras e por consequência ver sua potência intervencionista diluída e branda, é muito improvável
que tenham esse desejo.

A representação da pixação como forma de expressão destrutiva, contra o sistema, extremista


e marginalizada é o que a mantêm viva. De certo modo, a rejeição e a ignorância do público é o que
garante sua força intervencionista e a tão importante e sensível essência.

Adaptado de: CARVALHO, M. F. Pichação-arte é pixação? Revista Arruaça, Edição nº 0. Cásper Líbero, 2013. Disponível
em <https://casperlibero.edu.br/revistas/pichacao-arte-e-pixacao/> Acesso em: maio 2018.

AULA 11 – Sintaxe III 93


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(ITA - 2019)

Assinale a alternativa em que o trecho sublinhado expressa ideia de causa.

a) Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela institucionalização do graffiti, com os
primeiros resquícios já na década de 1970.

b) Enquanto o graffiti foi sendo introduzido como uma nova expressão de arte contemporânea, a
pichação utilizou o princípio de não autorização para fortalecer sua essência.

c) A rejeição do público geral reside na falta de compreensão e intelecção das inscrições; apenas os
membros da própria comunidade decifram o conteúdo.

d) Mesmo sem adotar o comportamento esperado, caíram em contradição.

e) O grafiteiro é visto hoje como artista plástico, possuindo as características de todo e qualquer
artista contemporâneo, incluindo a prática e o status.
Comentários: Um modo de analisar se uma oração é causal é tentar substitui-la por conjunções
como “porque” ou até mesmo “por causa de”. A oração que pode ter sua conjunção substituída
por outra de causa sem prejuízo é alternativa A: “Essa distinção das expressões deu-se em boa
parte por causa da institucionalização do graffiti”.
A alternativa B está incorreta, pois trecho grifado sugere uma relação temporal entre as orações:
ao longo do tempo, o grafitti foi sendo (...) e a pichação (...).
A alternativa C está incorreta, pois trecho grifado dá a ideia de exclusão: somente os membros
decifram o conteúdo.
A alternativa D está incorreta, pois trecho grifado indica uma ideia de concessão: apesar de não
adotar o comportamento adequado (...).
A alternativa E está incorreta, pois trecho destacado é a Oração Principal do período e, portanto,
não apresenta classificação sintática.
Gabarito: A
Assinale a alternativa cujo trecho sublinhado denota uma condição.

a) [...] trazem à tona um questionamento conceitual importante: uma vez considerado arte
contemporânea, o movimento perderia sua essência?

b) [...] ele ganhou em força, criatividade e técnica, sendo reconhecido hoje no Brasil como graffiti
artístico.

c) Muito além da diferenciação conceitual entre as expressões – ainda que elas compartilhem da
mesma matéria-prima [...]

d) Ela é evidenciada pela impossibilidade de inserção em qualquer estatuto pré-estabelecido, pois


isso pressuporia a diluição e a perda de sua potência signo-estética.

AULA 11 – Sintaxe III 94


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e) “Se alguém faz alguma coisa no seu trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram a
minha peça entre as expostas” [...]
Comentários: Um dos modos mais fáceis de encontrar o valor dos conectivos e classificar as
orações é substituir a conjunção da oração por outra que você tenha certeza do significado. Uma
das conjunções mais comuns para condição é o “se”. A única oração que pode ter sua conjunção
substuída pelo “se” sem prejuízo é a alternativa A: “se fosse considerado arte contemporânea, o
movimento perderia sua essência?”
A alternativa B está incorreta, pois a oração destacada caracteriza o grafitti, não impõe nenhuma
condição.
A alternativa C está incorreta, pois o trecho destacado indica uma concessão (embora
compartilhem da mesma matéria-prima).
A alternativa D está incorreta, pois o trecho destacado indica uma causa (porque isso pressuporia
a diluição).
A alternativa E está incorreta pelo mesmo motivo que D: o trecho destacado indica uma causa.
Gabarito: A
(ITA - 2012)

Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que 6a abertura de uma


estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil imaginar
que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento garantido com
a inexistência de transporte público de massa por ali.

Mas à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas e se
refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em desmentir
que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.

Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em transporte


coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por diversas linhas.
Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que circundam estações de
metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte público tem em uma
determinada cidade.

Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e a escuridão afugenta


pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do transporte de massa.

A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área,


não destruí-la.

Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, 2a avenida ficou menos tétrica, quase
bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam diversos ônibus
sem dar vazão a desembarques, 3a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de
relações públicas.

AULA 11 – Sintaxe III 95


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Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das cidades alemãs
e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país emergente como o
Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos caprichados – em formato de
livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros porque a ideia ali era tentar
convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em casa e usarem o transporte
público.

Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla do centro


de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto, detalhamento dos
materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. Se forem como os antigos bondes,
ótimo.

Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte público, que


beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam trabalhar na região do
Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente diferenciada que precisa
circular por São Paulo.

(Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)

(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à Zona
Oeste da cidade de São Paulo.

Em sentido amplo, a relação de causa e efeito nem sempre é estabelecida por conectores (porque, visto
que, já que, pois etc.). Outros recursos também são usados para atribuir relação de causa e efeito entre
dois ou mais segmentos. Isso ocorre nas opções abaixo, exceto em

a) [...] a abertura de uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao
bairro.

b) [...] a escuridão afugenta pessoas à noite [...].

c) A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma área [...].

d) Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, a avenida ficou menos tétrica [...].

e) [...] a imagem do engarrafamento e da bagunça vira um desastre de relações públicas.


Comentários: A única questão que não apresenta relação de causa e efeito (ou causa e
consequência) é alternativa C. Em “A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de
ônibus precisa vitaminar uma área” não há uma causa, mas sim uma necessidade.
Na alternativa A, a relação de causa e efeito está em: o metrô é a causa do afluxo de gente
diferenciada ao bairro.
Na alternativa B, a relação de causa e efeito está em: a escuridão causa a não permanência das
pessoas

AULA 11 – Sintaxe III 96


Prof. Celina Gil

Na alternativa D, a relação de causa e efeito está em: a retirada das grades causa melhoria na
paisagem urbana.
Na alternativa E, a relação de causa e efeito está em: o engarrafamento e a bagunça causam
desastre na opinião pública.
Gabarito: C
(ITA – 2012)

Gosto de olhar as capas das revistas populares no supermercado nestes tempos de corrida do
ouro da classe C. A classe C é uma versão sem neve e de biquíni do Yukon do tio Patinhas quando
jovem pato. Lembro do futuro milionário disneyano enfrentando a nevasca para obter suas
primeiras patacas. Era preciso conquistar aquele território com a mesma sofreguidão com que se
busca, agora, fincar a bandeira do consumo no seio dos emergentes brasileiros.

Em termos jornalísticos, é sempre aquela concepção de não oferecer o biscoito fino para a
massa. É preciso dar o que a classe C quer ler – ou o que se convencionou a pensar que ela quer ler.
Daí as políticas de didatismo nas redações, com o objetivo de deixar o texto mastigado para o leitor
e tornar estanque a informação dada ali. Como se não fosse interessante que, ao não compreender
algo, ele fosse beber em outras fontes. Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao alcance da vista de
quase todo mundo.

Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que dizem as pesquisas na hora de confeccionar uma
revista popular. Tomemos como exemplo a pesquisa feita por uma grande editora sobre “a mulher
da classe C” ou “nova classe média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher da classe C vai consumir
cada vez mais artigos de decoração e vai investir na reforma de casa; que ela gasta muito com
beleza, sobretudo o cabelo; que está preocupada com a alimentação; e que quer ascender social e
profissionalmente. É com base nestes números que a editora oferece o produto – a revista – ao
mercado de anunciantes. Normal.

Mas no que se transformam, para o leitor, estes dados? Preocupação com alimentação? Dietas
amalucadas? A principal chamada de capa destas revistas é alguma coisa esdrúxula como: “perdi 30
kg com fibras naturais”, “sequei 22 quilos com cápsulas de centelha asiática”, “emagreci 27 kg com
florais de Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo
linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai passar o dia comendo linhaça? Estão confundindo a
classe C com passarinho, só pode.

Quer reformar a casa? Nada de dicas de decoração baratas e de bom gosto. O objetivo é ensinar
como tomar empréstimo e comprar móveis em parcelas. Ou então alguma coisa “criativa” que
ninguém vai fazer, tipo uma parede toda de filtros de café usados. Juro que li isso. A parte de
ascensão profissional vem em matérias como “fiquei famosa vendendo bombons de chocolate
feitos em casa” ou “lucro 2500 reais por mês com meus doces”. Falar das possibilidades de voltar a

AULA 11 – Sintaxe III 97


Prof. Celina Gil

estudar, de ter uma carreira ou se especializar para ser promovido no trabalho? Nada. Dicas
culturais de leitura, filmes, música, então, nem pensar.

Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a mídia impressa está em baixa penso nestas revistas.
A internet oferece grátis à classe C um cardápio ainda pobre, mas bem mais farto. Será que a nova
classe média quer realmente ler estas revistas? A vendagem delas é razoável, mas nada
impressionante. São todas inspiradas nas revistas populares inglesas, cuja campeã é a “Take a
Break”. A fórmula é a mesma de uma “Sou + Eu”: dietas, histórias reais de sucesso ou escabrosas e
distribuição de prêmios. Além deste tipo de abordagem também fazem sucesso as publicações de
fofocas de celebridades ou sobre programas de TV – aqui, as novelas.

Sei que deve ser utopia, mas gostaria de ver publicações para a classe C que ensinassem as
pessoas a se alimentar melhor, que mostrassem como a obesidade anda perigosa no Brasil porque
se come mal. Atacando, inclusive, refrigerantes, redes de fast food e guloseimas, sem se preocupar
em perder anunciantes. Que priorizassem não as dietas, mas a educação alimentar e a importância
de fazer exercícios e de levar uma vida saudável. Gostaria de ver reportagens ensinando as mulheres
da classe C a se sentirem bem com seu próprio cabelo, muitas vezes cacheado, em vez de
simplesmente copiarem as famosas. Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando
pouco, sem se importar com marcas.

Gostaria de ler reportagens nas revistas para a classe C alertando os pais para que vejam menos
televisão e convivam mais com os filhos. Que falassem da necessidade de tirar as crianças do
computador e de levá-las para passear ao ar livre. Que tivessem dicas de livros, notícias sobre o
mundo, ciências, artes – é possível transformar tudo isso em informação acessível e não apenas para
conhecedores, como se a cultura fosse patrimônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de ver revistas
populares que fossem feitas para ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas a quem interessa que
a classe C tenha suas próprias ideias?

(Cynara Menezes, 15/07/2011, em: http:/www.cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c)

Considere as seguintes afirmações relativas a aspectos sintático-semânticos do texto:

I. A chamada “perdi 20 quilos só comendo linhaça” foi interpretada como “perdi 20 quilos comendo
só linhaça”.

II. Nos dois últimos parágrafos, há recorrência de períodos fragmentados em que faltam as orações
principais.

III. Devido à estrutura da frase “Que mostrassem como é possível se vestir bem gastando pouco,
sem se importar com marcas”, o segundo período ficaria melhor se fosse assim: “sem se
importassem com marcas”.

Está correto o que se afirma apenas em

AULA 11 – Sintaxe III 98


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a) I.

b) I e II.

c) II.

d) II e III.

e) III.
Comentários:
A afirmação I. está correta, pois a autora de fato o significado da frase é “comer exclusivamente
linhaça” – como um passarinho, referência que aparece na próxima oração.
A afirmação II. está correta, pois tanto no segundo parágrafo há orações iniciadas pela conjunção
“que” não acompanhadas de uma oração principal que diga a quem essa conjunção se refere. É
possível apenas presumir pelo contexto que ela fala de revistas e reportagens.
A afirmação III. está incorreta, pois não há erro na correlação de tempos e modos verbais nessa
frase.
Gabarito: B
Texto para as questões 5 e 6:
(ITA - 2009)

A vegetação do cerrado é influenciada pelas características do solo e do clima, bem como pela
frequência de incêndios. O excesso de alumínio provoca uma alta acidez no solo, o que diminui a
disponibilidade de nutrientes e o torna tóxico para plantas não adaptadas. A hipótese do
escleromorfismo oligotrófico defende que a elevada toxicidade do solo e a baixa fertilidade das
plantas levariam ao nanismo e à tortuosidade da vegetação.

Além disso, a variação do clima nas diferentes estações (sazonalidade) tem efeito sobre a
quantidade de nutrientes e o nível tóxico do solo. Com baixa umidade, a toxicidade se eleva e a
disponibilidade de nutrientes diminui, influenciando o crescimento das plantas.

Já outra hipótese propõe que o formato tortuoso das árvores do cerrado se deve à ocorrência de
incêndios. Após a passagem do fogo, as folhas e gemas (aglomerados de células que dão origem a
novos galhos) sofrem necrose e morrem. As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são
substituídas por gemas internas, que nascem em outros locais, quebrando a linearidade do
crescimento.

Quando a frequência de incêndios é muito elevada, a parte aérea (galhos e folhas) do vegetal pode
não se desenvolver e ele se torna uma planta anã. Pode-se dizer, então, que a combinação entre
sazonalidade, deficiência nutricional dos solos e ocorrência de incêndios determina as
características da vegetação do cerrado.

(André Stella e Isabel Figueiredo. Ciência hoje, março/2008, adaptado.)

AULA 11 – Sintaxe III 99


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Considere o trecho abaixo:

“Após a passagem do fogo, as folhas e gemas (aglomerados de células que dão origem a novos
galhos) sofrem necrose e morrem. As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são substituídas
por gemas internas, que nascem em outros locais, quebrando a linearidade do crescimento.” (3°
parágrafo)

Nesse trecho, as orações adjetivas permitem afirmar que

I. nem todas as células produzem novos galhos.

II. algumas gemas se localizam nas extremidades dos galhos.

III. todas as gemas internas nascem em outros pontos do galho.

Está(ão) correta(s)

a) apenas a I.

b) apenas I e II.

c) apenas a II.

d) apenas a III.

e) todas.
Comentários:
As orações adjetivas presentes no trecho são:
- “aglomerados de células que dão origem a novos galhos”
Oração de valor restritivo: apenas as gemas são células cuja característica é dar origem a novos
galhos.
- “As gemas que ficam nas extremidades dos galhos são substituídas por gemas internas”
Oração de valor restritivo: apenas as gemas das extremidades dos galhos são substituídas.
- “gemas internas, que nascem em outros locais,”
Oração de valor explicativo: as gemas internas são aquelas que nascem em outros locais.
Lembre-se que orações adjetivas restritivas não possuem vírgula e orações adjetivas
explicativas possuem vírgula!
A afirmação I. está correta, pois se apenas as gemas são células cuja característica é dar origem a
novos galhos, significa que há outras células que não possuem a mesma característica.

AULA 11 – Sintaxe III 100


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A afirmação II. está correta, pois se apenas as gemas das extremidades dos galhos são substituídas
quer dizer que há outras, em outros locais do galho – que por consequência não são substituídas.
A afirmação III. está correta, pois a definição de gemas internas é “aquelas que nascem em outros
locais”.
Gabarito: E
(ITA – 2009)

As relações de causalidade são estabelecidas no texto, entre outros recursos, pelos verbos. Assinale
a opção em que o sujeito e o complemento do verbo NÃO correspondem, respectivamente, à ordem
causa-consequência:

a) O excesso de alumínio provoca uma alta acidez no solo [...].

b) [...] a elevada toxicidade do solo e a baixa fertilidade das plantas levariam ao nanismo e à
tortuosidade da vegetação.
c) Com baixa umidade, a toxicidade se eleva e a disponibilidade de nutrientes diminui, influenciando
o crescimento das plantas.

d) [...] o formato tortuoso das árvores do cerrado se deve à ocorrência de incêndios.

e) [...] a combinação entre sazonalidade, deficiência nutricional dos solos e ocorrência de incêndios
determina as características da vegetação do cerrado.
Comentários: Na alternativa D há uma estrutura diferente da proposta no exercício. “o formato
tortuoso das árvores do cerrado” é a consequência e “a ocorrência de incêndios” é a causa.
Portanto, o sujeito contém a ideia de consequência e o objeto (aqui, indireto) contém a ideia de
causa.
Seria possível resolver essa questão percebendo que, caso fosse utilizado o verbo “causar”, a frase
seria “o formato tortuoso das árvores do cerrado é causado pela ocorrência de incêndios”. Seria,
portanto, uma voz passiva em que “o formato tortuoso das árvores do cerrado” = Sujeito
paciente; e “ocorrência de incêndios” = Agente da passiva. Perceba como nas outras alternativas,
o verbo está na voz ativa.
Na alternativa A, a relação de causa e consequência está em: é o excesso de alumínio que causa
alta acidez no solo
Na alternativa B, a relação de causa e consequência está em: são a elevada toxicidade do solo e a
baixa fertilidade das plantas que causam o nanismo e a tortuosidade da vegetação.
Na alternativa C, a relação de causa e consequência está em: a baixa umidade causa elevação da
toxidade e a diminuição da disponibilidade de nutrientes.
Na alternativa E, a relação de causa e consequência está em: são a combinação entre
sazonalidade, a deficiência nutricional dos solos e a ocorrência de incêndios que causam as
características da vegetação do cerrado.
Gabarito: D

AULA 11 – Sintaxe III 101


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(ITA - 2002)

Tem gente que junta os trapos, outros juntam os pedaços.


O que, empregado como conectivo, introduz uma oração:
a) substantiva.
b) adverbial causal.
c) adverbial consecutiva.
d) adjetiva explicativa.
e) adjetiva restritiva.
Comentários: A oração “que junta os trapos” é adjetiva: ela caracteriza a palavra “gente” da
oração principal. É uma oração restritiva, pois especifica o sentido de “gente”: nessa oração,
refere-se apenas a um tipo específico de gente – aquele que junta os trapos. Por isso, a alternativa
correta é alternativa E.
A alternativa A está incorreta, pois não é uma frase que assume nenhuma função sintática de um
substantivo.
Lembre-se de tentar substituir a frase por um “isso” para tentar resolver.
A alternativa B está incorreta, pois não há relação de causa e consequência nessa oração.
A alternativa C está incorreta pelo mesmo motivo que B: não há relação de causa e consequência
nessa oração.
A alternativa D está incorreta, pois pesar de ser uma oração adjetiva, não explica ou adiciona
características a “gente”, mas sim restringe a que tipo de “gente” a oração se refere.
Gabarito: E
(IME – 2015)

“Podia ser o verso mais delicado do mundo, eu tinha medo.”

O fragmento em destaque expressa ideia de:

a) Causa.

b) Finalidade.

c) Condição.

d) Concessão.

e) Consequência.
Comentários: Esse período está na ordem indireta. Na ordem direta, a oração principal “eu tinha
medo” viria primeiro e “Podia ser o verso mais delicado do mundo”, a oração subordinada viria
depois.
Adicionando-se um conectivo nessa estrutura, sem perder o sentido da mensagem, teríamos:
Eu tinha medo, ainda que fosse o verso mais delicado do mundo.

AULA 11 – Sintaxe III 102


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Por isso, a alternativa correta é alternativa D.


Vamos construir o período com conectivos das alternativas para perceber como não há outra
relação possível:
Alternativa A está incorreta, pois a construção “Eu tinha medo, porque era o verso mais delicado
do mundo” não preserva o sentido.
Alternativa B está incorreta, pois a construção “Eu tinha medo, a fim de que fosse o verso mais
delicado do mundo” não preserva o sentido.
Alternativa C está incorreta, pois a construção “Eu tinha medo, se fosse o verso mais delicado do
mundo” não preserva o sentido.
Alternativa E está incorreta, pois a construção “Eu tinha medo, de forma que era o verso mais
delicado do mundo” não preserva o sentido.
Gabarito: D
(UNIFESP - 2016)
Leia o excerto da crônica “Mineirinho” de Clarice Lispector (1925-1977), publicada na revista Senhor
em 1962.

É, suponho que é em mim, como um dos representantes de nós, que devo procurar por que
está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que
mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o
assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se
sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na
própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais;
e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a
justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria:
“O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho
certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que
não matou”.

Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não
matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim
não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.

Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio
de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem
de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo
minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo

AULA 11 – Sintaxe III 103


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chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero
ser o outro.

Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo
e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como
primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se
eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno,
o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais – vinte e oito anos depois que
Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu
erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos
salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que
em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me
espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu
modo de viver.
(Clarice Lispector. Para não esquecer, 1999.)

facínora: diz-se de ou indivíduo que executa um crime com crueldade ou perversidade acentuada.

Mineirinho: apelido pelo qual era conhecido o criminoso carioca José Miranda Rosa. Acuado pela
polícia, acabou crivado de balas e seu corpo foi encontrado à margem da Estrada Grajaú-
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

“O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro.” (3° parágrafo)

Em relação à oração que a precede, a oração destacada tem sentido de

a) consequência.

b) conclusão.

c) alternância.

d) causa.

e) finalidade.
Comentários: O conectivo “porque” é majoritariamente de causa. Nesse caso, a relação de causa
estabelecida é bastante clara: a causa do tiro me assassinar é que “eu sou o outro”. Logo, a
alternativa correta é alternativa D.

AULA 11 – Sintaxe III 104


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A alternativa A está incorreta, pois não há relação de consequência. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de consequência: “O décimo terceiro tiro me assassina — de modo
que eu sou o outro.”
A alternativa B está incorreta, pois não há relação de conclusão. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de conclusão: “O décimo terceiro tiro me assassina — logo, eu sou o
outro.”
A alternativa C está incorreta, pois não há relação de alternância. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de alternância: “Ora décimo terceiro tiro me assassina, ora eu sou o
outro.”
A alternativa E está incorreta, pois não há relação de finalidade. É possível confirmar isso
adicionando um conectivo de finalidade: O décimo terceiro tiro me assassina —a fim de que eu
seja o outro.”
Gabarito: D
(IBMEC - 2016)

Mãe galinha

Tente uniformizar o design dos aviões sem ouvir os comandantes, os controladores de voo, os
engenheiros, o pessoal de terra, os meteorologistas e as aeromoças. As turbinas acabarão no lugar
das rodas e as asas sairão do nariz do avião, como bigodes. Foi o que aconteceu à língua portuguesa
com o "Acordo" Ortográfico imposto pelo Brasil e, até hoje, não aceito nem assimilado por Portugal.

Há dias, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, admitiu que "talvez tenhamos errado no processo
de normatização, que teve um caráter tecnicista e não envolveu os criadores de todos os países".
Exatamente: esqueceram-se de combinar conosco, que lidamos com a língua nas escolas, nos livros,
nos jornais e na publicidade. Sem necessidade, baniram grafias seculares de Portugal, assim como
o hífen, o trema e os acentos diferenciais. (...) De que adianta o "acordo" criar uma escrita comum
se as pronúncias continuam diferentes, além da particularidade de milhares de conteúdos? No
Brasil, uma mãe que se orgulha dos filhos e os protege é uma mãe coruja. Em Portugal, é uma mãe
galinha. Vá dizer aos portugueses que eles deveriam mudar isso. (...)

A magia da língua portuguesa é a de que, não importa a variedade de grafias ou pronúncias, ela
é sempre compreensível para os que a falam e leem, sejam portugueses, brasileiros ou africanos.
"A língua é viva, e temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico", disse o ministro. Eu
não tenho. Por isso, não aderi a ele. Continuo escrevendo linguiça e, se quiserem, me corrijam.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/

2015/08/1675694-mae-galinha.shtml. Acesso em 16/04/2016. (Adaptado)

Em “... para os que a falam”, os termos em destaque exercem, respectivamente, a função sintática
de

AULA 11 – Sintaxe III 105


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a) objeto direto em ambas as ocorrências.

b) objeto direto e sujeito.

c) adjunto adnominal e sujeito.

d) sujeito e adjunto adnominal.

e) sujeito e objeto direto.


Comentários: O período a ser analisado aqui é:
“A magia da língua portuguesa é a de que, não importa a variedade de grafias ou pronúncias, ela
é sempre compreensível para os que a falam e leem, sejam portugueses, brasileiros ou africanos.”
Isolando-se a oração com os termos destacados, para melhor analisa-la, temos:
“ela é sempre compreensível para os que a falam”
Oração principal: “ela é sempre compreensível” (a oração com os termos destacados subordina-
se a essa)
Oração subordinada: “para os que a falam”
Essa oração é completiva nominal, ou seja, complementa o sentido do termo
“compreensível”.
“os” é pronome oblíquo. Aqui, denota o conjunto de pessoas que falam o português. Pode
ser substituído por um “pessoas”, já que não há referência posterior a quem seriam
especificamente esses falantes da língua: “ela é sempre compreensível para pessoas que a
falam”.
“que” é pronome relativo. Aqui, se refere ao pronome “os” que o antecede.
Reconstruindo-se a oração promovendo essa substituição, teríamos: “pessoas a falam”.
“a” é pronome oblíquo. Aqui, ser refere à língua portuguesa, aquela que é falada.
Reconstruindo-se a oração promovendo essa substituição, teríamos: “pessoas falam a
língua portuguesa”.
Agora que já encontramos os correspondentes a que os termos se referem, podemos fazer a
análise sintática mais facilmente:
Em “Pessoas falam a língua portuguesa”
Sujeito: Pessoas
Verbo: falam
Complemento verbal: a língua portuguesa (objeto direto).
Portanto:
que = sujeito
a = objeto direto
Gabarito: E

AULA 11 – Sintaxe III 106


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(FGV - 2015)

Redundâncias

Ter medo da morte


é coisa dos vivos
o morto está livre
de tudo o que é vida

Ter apego ao mundo


é coisa dos vivos
para o morto não há
(não houve)
raios rios risos

E ninguém vive a morte


quer morto quer vivo
mera noção que existe
só enquanto existo
(Ferreira Gullar, Muitas vozes)

Em relação à oração – é coisa dos vivos –, os enunciados – Ter medo da morte – (1.ª estrofe) e – Ter
apego ao mundo – (2.ª estrofe) exercem a função sintática de

a) sujeito.
b) predicativo do sujeito.

c) objeto direto.

d) adjunto adnominal.

e) complemento nominal.
Comentários: Os períodos a serem analisados são:
Ter medo da morte é coisa dos vivos
Oração principal: é coisa dos vivos
Oração subordinada: ter medo da morte
Essa oração é uma oração subordinada substantiva subjetiva, ou seja, exerce a função de
sujeito em relação à principal. Se substituirmos a oração por um “isso”, teremos: Isso é
coisa dos vivos.
Classificando-se todos os termos:

AULA 11 – Sintaxe III 107


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Sujeito: Ter medo da morte


Verbo: é (verbo de ligação)
Predicativo do sujeito (coisa dos vivos)

O mesmo ocorre na outra oração destacada:


Ter apego ao mundo é coisa dos vivos
Oração principal: é coisa dos vivos
Oração subordinada: Ter apego ao mundo
Essa oração é uma oração subordinada substantiva subjetiva, ou seja, exerce a função de
sujeito em relação à principal. Se substituirmos a oração por um “isso”, teremos: Isso é
coisa dos vivos.
Classificando-se todos os termos:
Sujeito: Ter apego ao mundo
Verbo: é (verbo de ligação)
Predicativo do sujeito (coisa dos vivos)

Portanto, as orações exercem ambas a função de sujeito da oração.


Gabarito: A
(ITA – 2010 adaptada)

Indique a opção em que o MAS tem função aditiva.

a) Atenção: na minha coluna não usei “careta” como quadrado, estreito, alienado, fiscalizador e
moralista, mas humano, aberto, atento, cuidadoso.

b) Não apenas no sentido econômico, mas emocional e psíquico: os sem autoestima, sem amor,
sem sentido de vida, sem esperança e sem projetos.

c) Não solto, não desorientado e desamparado, mas amado com verdade e sensatez.

d) [...] (não me refiro a nomes importantes, mas a seres humanos confiáveis) [...].

e) Pois, na hora da angústia, não são os amiguinhos que vão orientá-los e ampará-los, mas o pai e
a mãe – se tiverem cacife.
Comentários: A alternativa B apresenta função aditiva. Em construções como “não apenas (...)
mas”, há um aspecto de adição. Nesse caso: “No sentido econômico e no emocional e psíquico.”
Na alternativa A, o “mas” tem valor adversativo (pode ser substituído por conjunções adversativas
como “porém”, “todavia”, “contudo”, etc.).

AULA 11 – Sintaxe III 108


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Na alternativa C, o “mas” tem valor adversativo.


Na alternativa D, o “mas” tem valor adversativo.
Na alternativa E, o “mas” tem valor adversativo.
Gabarito: B
INÉDITA – Celina Gil

Observe este trecho de “Senhora”, de José de Alencar:

No dia seguinte, à hora marcada, com pontualidade mercantil, parava à porta do sobradinho da rua
do Hospício um carro, no qual poucos momentos depois seguia o Lemos a caminho das Laranjeiras
com o noivo que ele havia negociado para sua pupila.

Durante rápido trajeto, o velho divertiu-se em meter sustos no rapaz acerca da noiva, a quem
sorrateiramente ia emprestando certos senões, a pretexto de os desculpar. Ora dava a entender
que a moça tinha um olho de vidro; ora inculcava que era uma perfeita roceira, a qual o marido
devia depois do casamento mandar para o colégio.

(Senhora, José de Alencar, 2013)

Qual alternativa apresenta um período – também retirado de Senhora – que pode ser
classificado a mesma maneira que o destacado no texto?

a) Aurélia não gostava de Byron, embora o admirasse.

b) A jovialidade do Seixas e o seu carinho, não só desvaneceram as queixas da Nicota, como


restabelecem a cordialidade entre duas meninas (...).
c) O ciúme é o zelo do senhor pela coisa que lhe pertence (...), seja essa animada ou inanimada.

d) A porta do gabinete estava fechada interiormente, e ele esquecera essa manhã de levar a chave.
Foi obrigado portanto a dar a volta pela saleta.

e) Aurélia deixou perceber ligeira comoção. Entretanto foi com a voz firme que respondeu.

Comentários: A oração destacada no texto tem noção de alternativa, ou seja de alternância de ideias: em
alguns momentos dava a entender X, em outros momentos, dava a entender Y. Na alternativa C, há a
mesma relação na descrição de “coisa que lhe pertence”, podendo ser ou algo animado, ou algo
inanimado, demonstrando também alternância de ideias.

A alternativa A está incorreta, pois a relação presente no período é de concessão, a partir do conectivo
embora”.

A alternativa B está incorreta, pois a relação expressa é de adição, a partir da construção “não só” – “como
[também]”.

AULA 11 – Sintaxe III 109


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A alternativa D está incorreta, pois a relação expressa no período é de explicação, a partir do conectivo
“portanto”.

A alternativa E está incorreta, pois a relação presente no período é de oposição, a partir do conectivo
“entretanto”.
Gabarito: C
INÉDITA – Celina Gil

Observe os itens abaixo:

I. Como estivesse doente, não foi à aula.

II. É bom levar um guarda-chuva, pois vai chover.

III. Já que você não gosta dessa música, vou desligar o rádio.

IV. Não terminou a lição, uma vez que não tinha o livro.

Há relação de causa entre as orações nos itens:

a) I., II., III.

b) II., III., IV.

c) I., II., IV.

d) I., III., IV.

e) todas.
Comentários:
No item I. há uma relação de causa: a razão de não ir à aula era a doença.
No item II. há uma relação de explicação: a justificativa da necessidade de levar um guarda-chuva
é a potencial chuva.
No item III. há uma relação de causa: vou desligar o rádio por causa do seu sentimento.
No item IV. há uma relação de causa: o motivo para não terminar a lição é a não ter o livro.
CUIDADO: a linha entre causa e explicação é muito tênue!
Explicação: Há duas informações independentes, porém uma explica a outra.
Causa: Uma informação depende da outra para ser entendida.
Gabarito: D

Texto para as próximas questões:

Sobre a importância da ciência

Parece paradoxal que, no início deste milênio, durante o que chamamos com orgulho de “era
da ciência”, tantos ainda acreditem em profecias de fim de mundo. Quem não se lembra do bug do

AULA 11 – Sintaxe III 110


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milênio ou da enxurrada de absurdos ditos todos os dias sobre a previsão maia de fim de mundo no
ano 2012?

Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos, de que
promessas não foram cumpridas. Afinal, lutamos para curar doenças apenas para descobrir outras
novas. Criamos tecnologias que pretendem simplificar nossas vidas, mas passamos cada vez mais
tempo no trabalho. Pior ainda: tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica
impossível acompanhar o passo da tecnologia.

Os mais jovens se comunicam de modo quase que incompreensível aos mais velhos, com
Facebook, Twitter e textos em celulares. Podemos ir à Lua, mas a maior parte da população continua
mal nutrida.

Consumimos o planeta com um apetite insaciável, criando uma devastação ecológica sem
precedentes. Isso tudo graças à ciência? Ao menos, é assim que pensam os descontentes, mas não
é nada disso.
Primeiro, a ciência não promete a redenção humana. Ela simplesmente se ocupa de
compreender como funciona a natureza, ela é um corpo de conhecimento sobre o Universo e seus
habitantes, vivos ou não, acumulado através de um processo constante de refinamento e testes
conhecido como método científico.

A prática da ciência provê um modo de interagir com o mundo, expondo a essência criativa da
natureza. Disso, aprendemos que a natureza é transformação, que a vida e a morte são parte de
uma cadeia de criação e destruição perpetuada por todo o cosmo, dos átomos às estrelas e à vida.
Nossa existência é parte desta transformação constante da matéria, onde todo elo é igualmente
importante, do que é criado ao que é destruído.

A ciência pode não oferecer a salvação eterna, mas oferece a possibilidade de vivermos livres
do medo irracional do desconhecido. Ao dar ao indivíduo a autonomia de pensar por si mesmo, ela
oferece a liberdade da escolha informada. Ao transformar mistério em desafio, a ciência adiciona
uma nova dimensão à vida, abrindo a porta para um novo tipo de espiritualidade, livre do
dogmatismo das religiões organizadas.

A ciência não diz o que devemos fazer com o conhecimento que acumulamos. Essa decisão é
nossa, em geral tomada pelos políticos que elegemos, ao menos numa sociedade democrática. A
culpa dos usos mais nefastos da ciência deve ser dividida por toda a sociedade. Inclusive, mas não
exclusivamente, pelos cientistas. Afinal, devemos culpar o inventor da pólvora pelas mortes por
tiros e explosivos ao longo da história? Ou o inventor do microscópio pelas armas biológicas?

A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos, TVs, aviões,
carros. As pessoas vivendo no mato, sem os confortos tecnológicos modernos, caçando para comer.
Quantos optariam por isso?

AULA 11 – Sintaxe III 111


Prof. Celina Gil

A culpa do que fazemos com o planeta é nossa, não da ciência. Apenas uma sociedade versada na
ciência pode escolher o seu destino responsavelmente. Nosso futuro depende disso.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College (EUA).

Fonte: www.ufrgs.br/blogdabc/sobre-importancia-da-ciencia/ (postado em 18/10/2010). Acesso em 5 de abril de


2020.

(EsPCEx - 2021)

No trecho “Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos,
de que promessas não foram cumpridas”, as orações sublinhadas são classificadas,
respectivamente, como

(A) oração subordinada substantiva objetiva indireta, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.
(B) oração subordinada substantiva subjetiva, oração subordinada substantiva subjetiva.

(C) oração subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.

(D) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva


completiva nominal.

(E) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva objetiva
indireta.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque as orações não estão ligadas a um verbo, mas a um nome, senso,
sendo classificadas como completivas nominais. Essa classificação se liga a quem as orações completam.
A alternativa B está incorreta, porque as orações, além de preposicionadas, fato que impossibilita o uso
como sujeito, estão ligadas ao nome senso. Pense que as orações introduzidas por preposição, quando
substantivas, completam um verbo transitivo indireto ou um nome.
A alternativa C está incorreta, porque as duas orações complementam o sentido de um nome e não de
um verbo, como ocorre nas duas orações. Assim, a classificação das duas, como sabemos, é a de
completivas nominais.
A alternativa D está correta, porque as duas orações complementam o sentido da palavra “senso”, que
precisa, por sua abstração, de uma complementação. Como as duas orações estão coordenadas entre si,
temos claramente a relação de completiva nominal, ou melhor, de completivas nominais.
A alternativa E está incorreta, porque a primeira é realmente completiva nominal, assim como a segunda.
Como as orações estão coordenadas entre si, precisam receber a mesma classificação, a de completiva
nominal.
Gabarito: D
(EsPCEx - 2021)

AULA 11 – Sintaxe III 112


Prof. Celina Gil

Em “tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica impossível acompanhar o passo
da tecnologia”, a oração subordinada sublinhada é

(A) adverbial causal.

(B) Adverbial consecutiva.

(C) substantiva objetiva direta.

(D) adjetiva explicativa.

(E) substantiva subjetiva.


Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque a causa, no período do enunciado, a causa está na oração principal,
enquanto a consequência está na oração subordinada. Sempre olhe para a posição de causa e
consequência para determinar a classificação do período.
A alternativa B está correta, porque a oração subordinada, destacada no trecho do enunciado, apresenta-
se como a consequência da causa encontrada na oração principal. Essa relação é essencial para a
classificação das orações subordinadas.
A alternativa C está incorreta, porque a oração destacada é uma adverbial e não uma oração substantiva.
A alternativa D está incorreta, porque as orações adjetivas modificam nomes, cumprindo função de
adjetivos. A oração em destaque, como apresentado anteriormente, é uma adverbial consecutiva, visto
que modifica uma ação verbal e não nominal.
A alternativa E está incorreta, porque a oração destacada é uma adverbial e não uma oração substantiva.
Gabarito: B
(EsPCEx - 2021)

No fragmento “A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos,
TVs, aviões, carros”, temos

(A) um período composto por subordinação substantiva subjetiva e objetiva direta.

(B) duas orações absolutas, num período composto por coordenação assindética.

(C) duas orações absolutas, num período composto, com verbos transitivos e seus adjuntos.

(D) dois períodos simples, com um verbo transitivo direto, outro indireto e seus complementos.

(E) dois períodos simples, com verbos transitivos e seus respectivos objetivos diretos.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, no enunciado transcrito, temos dois períodos simples, não há
período composto. Perceba que o primeiro tem somente o verbo “contrariou”, enquanto o segundo tem
somente o verbo “imagine”. Como estão separados por ponto final, são dois períodos simples.
A alternativa B está incorreta, porque, no enunciado transcrito, temos dois períodos simples, não há
período composto. Perceba que o primeiro tem somente o verbo “contrariou”, enquanto o segundo tem
somente o verbo “imagine”. Como estão separados por ponto final, são dois períodos simples.

AULA 11 – Sintaxe III 113


Prof. Celina Gil

A alternativa C está incorreta, porque, no enunciado transcrito, temos dois períodos simples, não há
período composto. Perceba que o primeiro tem somente o verbo “contrariou”, enquanto o segundo tem
somente o verbo “imagine”. Como estão separados por ponto final, são dois períodos simples.
A alternativa D está incorreta, porque, no enunciado transcrito, temos dois períodos simples, não há
período composto. Perceba que o primeiro tem somente o verbo “contrariou”, enquanto o segundo tem
somente o verbo “imagine”. Como estão separados por ponto final, são dois períodos simples.
A alternativa E está incorreta, porque “A ciência não contrariou nossas expectativas” é um período
simples, por apresentar somente uma oração, ou seja, há somente um verbo no trecho transcrito. O
segundo período, “Imagine um mundo sem antibióticos, TVs, aviões, carros”, também apresenta somente
um verbo, ou seja, uma oração.
Gabarito: E

(AFA – 2020)

Apelo

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não
senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana:
o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha
de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto,
até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora
da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as
aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate – meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na
camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

(TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5ª ed. Record. Rio de Janeiro, 1996.)

Em relação à organização textual e aspectos sintáticos do texto IV, assinale a alternativa que
apresenta uma análise correta.

A) O texto é uma carta pessoal cujo emitente é o marido e o destinatário, a mulher, o que se
comprova pelo vocativo e pelo desfecho com o pedido de volta da Senhora.

B) O sinal de dois pontos (l. 5) tem a função de introduzir uma oração explicativa para o fato
mencionado anteriormente.

C) O travessão (l. 10) tem a função de separar o aposto do termo principal ao qual ele se refere.

D) O sujeito da primeira oração do período “ Às violetas, na janela, não lhes poupei água e elas
murcham” está marcado na desinência verbal.

AULA 11 – Sintaxe III 114


Prof. Celina Gil

Comentários:
Alternativa A está incorreta, pois o texto não é uma carta, mas uma conversa aparentemente interna do
homem, como se conversasse com sua esposa de maneira imaginada.
Alternativa B está incorreta, pois em “A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no
chão, ninguém os guardou debaixo da escada” não temos a introdução de uma oração, apenas de um
aprofundamento do adjunto adverbial “aos poucos”. Ainda que haja valor explicativo, “a pilha de jornais
ali no chão” não é uma oração.
Alternativa C está incorreta, pois o travessão introduz um comentário do narrador, não um aposto.
Alternativa D está correta, pois o verbo “poupei” indica um sujeito oculto em primeira pessoa: “(Eu) não
lhes poupei água e elas murcham”.
Gabarito: D

Texto para as próximas questões:

Sobre a importância da ciência

Parece paradoxal que, no início deste milênio, durante o que chamamos com orgulho de “era
da ciência”, tantos ainda acreditem em profecias de fim de mundo. Quem não se lembra do bug do
milênio ou da enxurrada de absurdos ditos todos os dias sobre a previsão maia de fim de mundo no
ano 2012?

Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos, de que
promessas não foram cumpridas. Afinal, lutamos para curar doenças apenas para descobrir outras
novas. Criamos tecnologias que pretendem simplificar nossas vidas, mas passamos cada vez mais
tempo no trabalho. Pior ainda: tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica
impossível acompanhar o passo da tecnologia.

Os mais jovens se comunicam de modo quase que incompreensível aos mais velhos, com Facebook,
Twitter e textos em celulares. Podemos ir à Lua, mas a maior parte da população continua mal
nutrida.

Consumimos o planeta com um apetite insaciável, criando uma devastação ecológica sem
precedentes. Isso tudo graças à ciência? Ao menos, é assim que pensam os descontentes, mas não
é nada disso.

Primeiro, a ciência não promete a redenção humana. Ela simplesmente se ocupa de


compreender como funciona a natureza, ela é um corpo de conhecimento sobre o Universo e seus
habitantes, vivos ou não, acumulado através de um processo constante de refinamento e testes
conhecido como método científico.

A prática da ciência provê um modo de interagir com o mundo, expondo a essência criativa da
natureza. Disso, aprendemos que a natureza é transformação, que a vida e a morte são parte de
uma cadeia de criação e destruição perpetuada por todo o cosmo, dos átomos às estrelas e à vida.
Nossa existência é parte desta transformação constante da matéria, onde todo elo é igualmente
importante, do que é criado ao que é destruído.

AULA 11 – Sintaxe III 115


Prof. Celina Gil

A ciência pode não oferecer a salvação eterna, mas oferece a possibilidade de vivermos livres
do medo irracional do desconhecido. Ao dar ao indivíduo a autonomia de pensar por si mesmo, ela
oferece a liberdade da escolha informada. Ao transformar mistério em desafio, a ciência adiciona
uma nova dimensão à vida, abrindo a porta para um novo tipo de espiritualidade, livre do
dogmatismo das religiões organizadas.

A ciência não diz o que devemos fazer com o conhecimento que acumulamos. Essa decisão é
nossa, em geral tomada pelos políticos que elegemos, ao menos numa sociedade democrática. A
culpa dos usos mais nefastos da ciência deve ser dividida por toda a sociedade. Inclusive, mas não
exclusivamente, pelos cientistas. Afinal, devemos culpar o inventor da pólvora pelas mortes por
tiros e explosivos ao longo da história? Ou o inventor do microscópio pelas armas biológicas?

A ciência não contrariou nossas expectativas. Imagine um mundo sem antibióticos, TVs, aviões,
carros. As pessoas vivendo no mato, sem os confortos tecnológicos modernos, caçando para comer.
Quantos optariam por isso?
A culpa do que fazemos com o planeta é nossa, não da ciência. Apenas uma sociedade versada na
ciência pode escolher o seu destino responsavelmente. Nosso futuro depende disso.

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College (EUA).

Fonte: www.ufrgs.br/blogdabc/sobre-importancia-da-ciencia/ (postado em 18/10/2010). Acesso em 5 de abril de


2020.

(EsPCEx - 2021)

No trecho “Existe um cinismo cada vez maior com relação à ciência, um senso de que fomos traídos,
de que promessas não foram cumpridas”, as orações sublinhadas são classificadas,
respectivamente, como

a) oração subordinada substantiva objetiva indireta, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

b) oração subordinada substantiva subjetiva, oração subordinada substantiva subjetiva.

c) oração subordinada substantiva objetiva direta, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

d) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva completiva


nominal.

e) oração subordinada substantiva completiva nominal, oração subordinada substantiva objetiva


indireta.

Comentários:

AULA 11 – Sintaxe III 116


Prof. Celina Gil

A alternativa A está incorreta, porque as orações não estão ligadas a um verbo, mas a um nome, senso,
sendo classificadas como completivas nominais. Essa classificação se liga a quem as orações completam.

A alternativa B está incorreta, porque as orações, além de preposicionadas, fato que impossibilita o uso
como sujeito, estão ligadas ao nome senso. Pense que as orações introduzidas por preposição, quando
substantivas, completam um verbo transitivo indireto ou um nome.

A alternativa C está incorreta, porque as duas orações complementam o sentido de um nome e não de
um verbo, como ocorre nas duas orações. Assim, a classificação das duas, como sabemos, é a de
completivas nominais.

A alternativa D está correta, porque as duas orações complementam o sentido da palavra “senso”, que
precisa, por sua abstração, de uma complementação. Como as duas orações estão coordenadas entre si,
temos claramente a relação de completiva nominal, ou melhor, de completivas nominais.

A alternativa E está incorreta, porque a primeira é realmente completiva nominal, assim como a segunda.
Como as orações estão coordenadas entre si, precisam receber a mesma classificação, a de completiva
nominal.

Gabarito: D

(EsPCEx - 2021)

Em “tem sempre tanta coisa nova e tentadora no mercado que fica impossível acompanhar o passo
da tecnologia”, a oração subordinada sublinhada é

a) adverbial causal.

b) Adverbial consecutiva.

c) substantiva objetiva direta.

d) adjetiva explicativa.

e) substantiva subjetiva.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque a causa, no período do enunciado, a causa está na oração principal,
enquanto a consequência está na oração subordinada. Sempre olhe para a posição de causa e
consequência para determinar a classificação do período.

A alternativa B está correta, porque a oração subordinada, destacada no trecho do enunciado, apresenta-
se como a consequência da causa encontrada na oração principal. Essa relação é essencial para a
classificação das orações subordinadas.

A alternativa C está incorreta, porque a oração destacada é uma adverbial e não uma oração substantiva.

A alternativa D está incorreta, porque as orações adjetivas modificam nomes, cumprindo função de
adjetivos. A oração em destaque, como apresentado anteriormente, é uma adverbial consecutiva, visto
que modifica uma ação verbal e não nominal.

AULA 11 – Sintaxe III 117


Prof. Celina Gil

A alternativa E está incorreta, porque a oração destacada é uma adverbial e não uma oração substantiva.

Gabarito: B

(EsPCEx – 2020)

O fim do canudinho de plástico

Por Devorah Lev-Tov / Quinta-feira, 5 de Julho de 2018

Em 2015, um vídeo perturbador de uma tartaruga marinha oliva sofrendo com um canudo
plástico preso em sua narina viralizou, mudando a atitude de muitos espectadores quanto ao
utensílio plástico tão conveniente para muitos.

Mas, como pode o canudo plástico, um item insignificante utilizado brevemente antes de ser
descartado, causar tanto estrago? Primeiramente, ele consegue chegar facilmente aos oceanos
devido a sua leveza. Ao chegar lá, o canudo não se decompõe. Pelo contrário, ele se fragmenta
lentamente em pedaços cada vez menores, conhecidos como microplásticos, que são
frequentemente confundidos com comida pelos animais marinhos.

E, em segundo lugar, ele não pode ser reciclado. “Infelizmente, a maioria dos canudos plásticos
são leves demais para os separadores manuais de reciclagem, indo parar em aterros sanitários,
cursos d’água e, por fim, nos oceanos”, explica Dune Ives, diretor executivo da organização Lonely
Whale. A ONG viabilizou uma campanha de marketing de sucesso chamada “Strawless in Seattle”
(ou “Sem Canudos em Seattle”) em apoio à iniciativa “Strawless Ocean” (ou “Oceanos Sem
Canudos”).

Nos Estados Unidos, milhões de canudos de plástico são descartados todos os dias. No Reino
Unido, estima-se que pelo menos 4,4 bilhões de canudos sejam jogados fora anualmente. Hotéis
são alguns dos piores infratores: o Hilton Waikoloa Village, que se tornou o primeiro resort na ilha
do Havaí a banir os canudos plásticos no início deste ano, utilizou mais de 800 mil canudos em 2017.

Mas é claro que os canudos são apenas parte da quantidade monumental de resíduos que vão
parar em nossos oceanos. “Nos últimos 10 anos, produzimos mais plástico do que em todo o século
passado e 50% do plástico que utilizamos é de uso único e descartado imediatamente”, diz Tessa
Hempson, gerente de operações do Oceans Without Borders, uma nova fundação da empresa de
safáris de luxo & Beyond. “Um milhão de aves marinhas e 100 mil mamíferos marinhos são mortos
anualmente pelo plástico nos oceanos. 44% de todas as espécies de aves marinhas, 22% das baleias
e golfinhos, todas as espécies de tartarugas, e uma lista crescente de espécies de peixes já foram
documentados com plástico dentro ou em volta de seus corpos”.

Mas, agora, o próprio canudo plástico começou a finalmente se tornar uma espécie ameaçada,
com algumas cidades nos Estados Unidos (Seattle, em Washington; Miami Beach e Fort Myers
Beach, na Flórida; e Malibu, Davis e San Luis Obispo, na Califórnia) banindo seu uso, além de outros

AULA 11 – Sintaxe III 118


Prof. Celina Gil

países que limitam itens de plástico descartável, o que inclui os canudos. Belize, Taiwan e Inglaterra
estão entre os mais recentes países a proporem a proibição.

Mesmo ações individuais podem causar um impacto significativo no meio ambiente e influenciar
a indústria: a proibição em uma única rede de hotéis remove milhões de canudos em um único ano.
As redes Anantara e AVANI estimam que seus hotéis tenham utilizado 2,49 milhões de canudos na
Ásia em 2017, e a AccorHotels estima o uso de 4,2 milhões de canudos nos Estados Unidos e Canadá
também no último ano.

Embora utilizar um canudo não seja a melhor das hipóteses, algumas pessoas ainda os preferem
ou até necessitam deles, como aqueles com deficiências ou dentes e gengivas sensíveis. Se quiser
usar um canudo, os reutilizáveis de metal ou vidro são a alternativa ideal. A Final Straw, que diz ser
o primeiro canudo retrátil reutilizável do mercado, está arrecadando fundos através do Kickstarter.

“A maioria das pessoas não pensa nas consequências que o simples ato de pegar ou aceitar um
canudo plástico tem em suas vidas e nas vidas das futuras gerações” diz David Laris, diretor de
criação e chef do Cachet Hospitality Group, que não utiliza canudos de plástico. “A indústria
hoteleira tem a obrigação de começar a reduzir a quantidade de resíduos plásticos que gera”.

Adaptado de https://www.nationalgeographicbrasil.com/planeta-ou-plastico/2018/07/ fim-canudinhoplastico-


canudo-poluicao-oceano . Acesso em 14 de março de 2019.

Analise o período a seguir e marque a alternativa correta.

“Se quiser usar canudo, os reutilizáveis de metal ou vidro são a alternativa ideal.”

A) O termo “se quiser usar canudo” é a oração principal do período e estabelece uma condição em
relação a outra oração.

B) A expressão “os reutilizáveis de metal ou vidro” é um termo com valor substantivo classificado
sintaticamente como sujeito composto.

C) O termo “a alternativa ideal” é um predicativo do sujeito que tem como núcleo o vocábulo
“ideal”.

D) O vocábulo “canudo” é um termo com valor adverbial que modifica o valor semântico da locução
verbal “quiser usar”

E) A expressão “de metal ou vidro” é um termo com valor adjetivo classificado sintaticamente como
adjunto adnominal.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois essa oração é subordinada adverbial condicional, contando inclusive
com a partícula “se”.

AULA 11 – Sintaxe III 119


Prof. Celina Gil

A alternativa B está incorreta, pois há apenas um núcleo nesse termo, “reutilizáveis”, os demais são
adjuntos adnominais.

A alternativa C está incorreta, pois ainda que “a alternativa ideal” de fato seja predicativo do sujeito, o
núcleo é “alternativa”, sempre a palavra substantiva quando houver.

A alternativa D está incorreta, pois “canudo” é substantivo, objeto direto de “usar”.

A alternativa E está correta, pois esse termo de fato tem valor adjetivo, qualificando “reutilizáveis”.

Gabarito: E

(EsPCEx – 2018)

Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos

O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo.
No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida mas nunca comprovada
empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum
tipo de crime após saírem da cadeia.

Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de um sistema
que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece,
para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total,
pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo
cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é
bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).

Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país
para se viver (1° no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante
Brasil, o 8° país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar
80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das
menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca,
essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali
passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia
é 50%.

A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na
reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso,
não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena
máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente
reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração
seja comprovada.

AULA 11 – Sintaxe III 120


Prof. Celina Gil

O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos
corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso
sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro
para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de
esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de
música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos
educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer
muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia.

A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e
pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela
prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado
interno para abastecer seus refrigeradores.

Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de
preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar
respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros
também aprenderão a respeitar.

A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos


países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a
privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança.

O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e


comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade
novamente junto à sociedade.

A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e
praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e
matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população
manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança
é uma festa, dizia Nietzsche).

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal
atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e
pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/noruega-como-
modelo-dereabilitacao-de-criminosos/ Acessado em 17 de março de 2017.

Assinale a alternativa em que a oração sublinhada é subordinada substantiva predicativa:

A) A comida é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado
interno.

AULA 11 – Sintaxe III 121


Prof. Celina Gil

B) Ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade.

C) Se o indivíduo não comprovar que está totalmente reabilitado, a pena será prorrogada.

D) A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao brasileiro é que ele é pautado
na reabilitação.

E) Uma sinistra cultura de que bandido bom é bandido morto.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois essa oração é adjetiva explicativa, iniciada pelo pronome relativo
“que”, substituindo o termo “detentos”.

A alternativa B está incorreta, pois essa oração é completiva nominal, trazendo um complemento para o
termo substantivo “ideia”, sendo iniciada por preposição + conjunção integrante.

A alternativa C está incorreta, pois essa oração é objetiva direta, complementando o verbo “comprovar”.

A alternativa D está correta, pois essa oração é predicativa, trazendo uma característica a oração principal,
sendo antecedida por um verbo de ligação “ser”.

A alternativa E está incorreta, pois essa oração é completiva nominal, trazendo um complemento para o
termo substantivo “cultura”, sendo iniciada por preposição + conjunção integrante.

Gabarito: D
(EsPCEx – 2017)

Em “A velha disse-lhe que descansasse”, do conto Noite de Almirante, de Machado de Assis, a


oração grifada é uma subordinada

A) substantiva objetiva indireta.

B) adverbial final.

C) adverbial conformativa.

D) adjetiva restritiva.

E) substantiva objetiva direta.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o objeto indireto desse verbo é o pronome “lhe”, não a oração.

A alternativa B está incorreta, pois não há aqui noção de finalidade. Não se pode dizer que a velha disse
algo a alguém com o objetivo de faze-lo descansar.

A alternativa C está incorreta, pois não há aqui noção de conformidade. Não se descansa conforme algo
ou alguém.

AULA 11 – Sintaxe III 122


Prof. Celina Gil

A alternativa D está incorreta, pois a partícula “que” é conjunção integrante, não pronome relativo, logo,
não pode ser uma oração adjetiva.

A alternativa E está correta, pois essa oração tem valor de objeto direto do verbo “dizer” que aqui é
bitransitivo: a oração “que descansasse” é objeto direto e o pronome “lhe” é objeto indireto.

Gabarito: E
(EsPCEx – 2015)

No período “Ninguém sabe como ela aceitará a proposta", a oração grifada é uma subordinada

A) adverbial comparativa.

B) substantiva completiva nominal.

C) substantiva objetiva direta.

D) adverbial modal.

E) adverbial causal.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o “como” aqui não estabelece comparação. Não se está comparando
a informação da principal com a da subordinada.

A alternativa B está incorreta, pois a oração complementa o sentido de um verbo, não de um substantivo.

A alternativa C está correta, pois a oração complementa o sentido do verbo “saber” na oração principal
(Ninguém sabe isso).

A alternativa D está incorreta, pois ainda que se pudesse ler uma noção de modo nessa oração, o verbo
“saber” é transitivo direto nesse caso, logo, demanda complemento.

A alternativa E está incorreta, pois não se aponta na oração subordinada a causa de não saber algo

Gabarito: C
(EsPCEx – 2015)

Assinale a alternativa em que está destacada uma oração coordenada explicativa.

A) Peço que te cales.

B) O homem é um animal que pensa.

C) Ele não esperava que a mãe o perdoasse.

D) Leve-a até o táxi, que ela precisa ir agora.

E) É necessário que estudes.

Comentários:

AULA 11 – Sintaxe III 123


Prof. Celina Gil

A alternativa A está incorreta, pois aqui a oração é objetiva direta, completando o sentido do verbo
“pedir”.

A alternativa B está incorreta, pois aqui a oração é adjetiva restritiva, iniciada pelo pronome relativo
“que”, substituindo a palavra “animal”.

A alternativa C está incorreta, pois aqui a oração é objetiva direta, completando o sentido do verbo
“esperar”.

A alternativa D está correta, pois o “que” nessa oração tem o mesmo valor que “porque”, “pois”. Indica
uma ideia de explicação da oração principal. Como as orações são independentes entre si sintaticamente,
são coordenadas.

A alternativa E está incorreta, pois aqui a oração é subjetiva, agindo como sujeito do verbo “ser”.

Gabarito: D
(EsPCEx – 2014)

Assinale a alternativa que analisa corretamente a oração sublinhada na frase a seguir.

“Os animais que se alimentam de carne chamam-se carnívoros.”

A) A oração adjetiva sublinhada serve para explicar como são chamados os animais que se
alimentam de carne e, portanto, por ser explicativa, deveria estar separada por vírgulas.

B) Como todos os animais carnívoros alimentam-se de carne, não há restrição. Nesse caso, a oração
sublinhada só poderá ser explicativa e, portanto, deveria estar separada por vírgulas.

C) Trata-se de uma oração evidentemente explicativa, pois ensina como são chamados os animais
que se alimentam de carne. Sendo assim, a oração adjetiva sublinhada deveria estar separada por
vírgulas.

D) A oração adjetiva sublinhada tanto pode ser explicativa, pois esclarece, em forma de aposto, o
termo antecedente, quanto pode ser restritiva, por limitar o sentido do termo “animais”.

E) A oração adjetiva sublinhada só pode ser restritiva, pois reduz a categoria dos animais e é
indispensável ao sentido da frase: somente os que comem carne é que são chamados de carnívoros.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a oração tem sentido restritivo: apenas os animais que se alimentam
por carne são chamados de carnívoros.

A alternativa B está incorreta, pois não se pode inverter a ordem de análise: a restrição é para os animais,
já que o pronome relativo “que” substitui a palavra “animais”. Assim, a restrição está correta.

AULA 11 – Sintaxe III 124


Prof. Celina Gil

A alternativa C está incorreta, pois se ela fosse explicativa ela estaria se referindo a todo um conjunto de
animais. Dentro todos os animais que existem, não se pode dizer que todos sejam carnívoros.

A alternativa D está incorreta, pois essa oração não tem valor que aposto. Para que ela fosse apositiva
seria preciso uma construção que deixasse claro que a oração complementa a ideia de carnívoros.

A alternativa E está correta, pois para que não se confunda o sentido e se acabe sugerindo que todos os
animais comem carne, é preciso fazer uma restrição.

Gabarito: E

(EsPCEx – 2014)

“Chovesse ou fizesse sol, o Major não faltava.”

Assinale a alternativa que apresenta a oração subordinada com a mesma ideia das orações grifadas
acima.
A) Você não sairá sem antes me avisar

B) Aprendeu a ler sem ter frequentado escola.

C) Retirei-me discretamente, sem ser percebido.

D) Não podia fitá-lo sem que risse.

E) Aqui viverás em paz, sem ser incomodado.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois essa é uma oração de valor condicional, podendo ser reescrita
desenvolvida “Você não sairá se não me avisar antes”.

A alternativa B está correta, pois a oração aqui, assim como a do enunciado, tem valor concessivo. Perceba
que ambas as orações poderiam ser reescritas com o uso do “embora” sem prejuízo de sentido: “O major
não faltava, embora chovesse”, “O major não faltava, embora fizesse sol”; e “Aprendeu a ler, embora não
tivesse frequentado a escola.

A alternativa C está incorreta, pois essa é uma oração de valor consecutivo, podendo ser reescrita: Retirei-
me discretamente, logo, não fui percebido”.

A alternativa D está incorreta, pois essa é uma oração de valor consecutiv, podendo ser reescrita “Não
podia fita-lo, pois ria”.

A alternativa E está incorreta, pois a oração aqui é de valor consecutivo, podendo ser reescrita “Aqui
viverás em paz, já que não será incomodado”.

Gabarito: B

(EsPCEx – 2013)

AULA 11 – Sintaxe III 125


Prof. Celina Gil

Assinale a alternativa correta quanto à classificação sintática das orações grifadas abaixo,
respectivamente.

– Acredita-se que a banana faz bem à saúde.

– Ofereceram a viagem a quem venceu o concurso .

– Impediram o fiscal de que recebesse a propina combinada.

– Os patrocinadores tinham a convicção de que os lucros seriam compensadores.

A) subjetiva – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal

B) subjetiva – objetiva indireta – completiva nominal – completiva nominal

C) adjetiva – completiva nominal – objetiva indireta – objetiva indireta

D) objetiva direta – objetiva indireta – objetiva indireta – completiva nominal


E) subjetiva - completiva nominal - objetiva indireta - objetiva indireta

Comentários:

A primeira oração em destaque é uma oração subjetiva. Ela é sujeito do verbo “Acredita-se”.

A segunda oração em destaque é uma oração objetiva indireta. O verbo “ofereceram” é bitransitivo,
sendo “a viagem” objeto direto e a oração em destaque objeto indireto.

A terceira oração em destaque é uma oração objetiva indireta. Nesse caso, o verbo impedir é bitransitivo
(impedir alguém de algo). Logo, “o fiscal” é objeto direto e a oração em destaque objeto indireto.

A quarta oração em destaque é uma oração completiva nominal. Ela se liga ao termo nominal “convicção”
a partir de uma preposição, logo, é completiva nominal.

Gabarito: A

(EFOMM - 2021)

Um caso de burro

Machado de Assis

Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo
de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no
leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve
a importância; os gostos não são iguais.

Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao
pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros,
donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo),

AULA 11 – Sintaxe III 126


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vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos
fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar
próximo do fim.

Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado
inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com
essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e
acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água;
estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de
curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se
não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer
meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a
verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos
minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal
foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao
capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo.
Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos
que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário.
Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o
exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou
outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura
que não podia exprimi-las verbalmente.

E diria o burro consigo:

"Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não
menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três
coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do
verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente
é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de
agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve
algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que
nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade."

"Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver
pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a
própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais
direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou.
Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da
minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco

AULA 11 – Sintaxe III 127


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temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio
dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem
chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males
que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."

''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa
da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a
moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor
importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na
quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os
amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...

Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta,
não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração,
porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que
ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente
o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também,
coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais
racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?

Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.

Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno
a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos
deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora,
também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace.

Assinale a opção em que se encontra um período composto por coordenação e por subordinação.

A) "Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao
pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado."

B) "Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando."

C) "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso."

D) "Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa."

E) "Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para
um espetáculo [... ] "

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois “onde era o antigo passadiço” é subordinada adjetiva e “ao pé dos
trilhos de bondes estava um burro deitado” é oração principal.

AULA 11 – Sintaxe III 128


Prof. Celina Gil

A alternativa B está incorreta, pois há duas orações coordenadas assindétcas no trecho, sem nenhuma
forma de subordinação.

A alternativa C está incorreta, pois a oração “por mais que vasculhe a consciência” é subordinada
adverbial; “não acho pecado” é oração principal; e “que mereça remorso” é subordinada adjetiva.

A alternativa D está incorreta, pois todas as orações são classificadas como coordenadas assindéticas.

A alternativa E está correta, pois o “porém” entre vírgulas caracteriza a existência de uma oração
coordenativa; e “achar no leitor menor gosto” apresenta classificação de oração subordinada substantiva
objetiva direta em relação ao verbo “receio”. Além disso, “que eu para um espetáculo” é uma
comparativa.

Gabarito: E
(EFOMM - 2018)

Passeio à Infância

Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz
calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar
bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas
para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É
janeiro, grande mês de janeiro!

Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até
a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem,
vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro
lado do jardim tem um pé de saboneteira.

Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e
vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de
panela?

Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei
uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver
pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia.
Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar
papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de
sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado.
Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de
abóbora e coco.
Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há
rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na

AULA 11 – Sintaxe III 129


Prof. Celina Gil

correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora
até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os
outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão
morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio
gritando.

Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira?
Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma
que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria
gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e
vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos
daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um
pouco mais alta da ponta direita do banco.

Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho


miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto
coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre
os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a
onda clara, junto da pedra.

Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria
uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele
não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da
água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina
de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.

Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um
homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu
cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual
com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um
sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas
cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.

Assinale a opção em que a oração sublinhada NÃO se classifica como subordinada adverbial.

A) (...) os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe.

AULA 11 – Sintaxe III 130


Prof. Celina Gil

B) Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar
tabatinga para fazer formas de máscaras.

C) Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa?

D) Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de
abóbora e coco.

E) Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois aqui temos uma oração subordinada adverbial causal.

A alternativa B está incorreta, pois aqui temos uma oração subordinada adverbial causal.

A alternativa C está correta, pois a oração “onde o sol dourado” é uma oração subordinada adjetiva
restritiva. “onde” aqui é pronome relativo substituindo “areia”: “o sol dourado atravessa a água rasa na
areia”.

A alternativa D está incorreta, pois aqui temos uma oração subordinada adverbial comparativa.

A alternativa E está incorreta, pois aqui temos uma oração subordinada adverbial temporal.

Gabarito: C

(EFOMM – 2014)

UM QUARTO DE RAPAZ

Elsie Lessa

Abro as venezianas na alegria do sol desta manhã e só não ponho a mão na cabeça porque, afinal
das contas, o correr dos anos nos dá uma certa filosofia. Essa rapaziada parece que é mesmo toda
assim.

Quem sai para uma prova de matemática não há mesmo de ter deixado a cama feita, tanto mais
quando ficou lendo Carlos Drummond de Andrade até às tantas, como prova este Poesia até agora,
rubro de vergonha de ter sido largado no chão junto a este cinzeiro transbordante e às meias azuis
de náilon. E dizer que desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já não estamos – hélas!
– no tempo da escravidão e que somos nós mesmos, brancos, pretos ou amarelos, intelectuais ou
estudantes em provas, que devemos encaminhar ao destino conveniente as roupas da véspera.
Qual, ele não se convence. Também uma manta escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente
trouxe embaixo do braço da Inglaterra até aqui, para que nos aqueça nas noites de inverno, não
devia ser largada no chão, nem mesmo na companhia de um livro de versos. E quem é que está
ligando para tudo isso?

AULA 11 – Sintaxe III 131


Prof. Celina Gil

Ó mocidade inquieta, só mesmo o que está em ordem dentro deste quarto são os montes de
discos. E estes livros, meu Deus? Como é que gente que gosta de ler pode deixar os próprios livros
numa bagunça dessas? Coitado do Pablo Neruda, olha onde foi parar! E o Dom Quixote de la
Mancha, Virgem Santíssima! Há três gerações que os antepassados desse menino não fazem outra
coisa senão escrever livros, e ele os trata assim!

− Livro é pra ler! Não é para enfeitar estante!

− Está certo! Que não enfeite, mas também não precisam ser empurrados desse jeito, lá para o
fundo, com esse monte de revistas de jazz em cima! E custava, criatura, custava você pendurar essas
calças nesse guarda-roupa que é para você, sozinho, que é provido de cabides, que não têm outro
destino senão abrigar as suas calças?

− Mania de ordem é complexo de culpa, já te avisei! Meu quarto está ótimo, está formidável. E
não gosto que mexa, hein, senão depois não acho as minhas coisas!

E pensar que esse menino um dia casa e vai levar essas noções de arrumação para a infeliz da
esposa, e que juízo, que juízo vai fazer essa moça de mim, meu Deus do céu! Há bem uns quinze
anos que esse problema me atormenta, tenho trocado confidências com amigas e há várias opiniões
a respeito. Umas acham que um dia dá um estalo de Padre Vieira na cabeça desses moleques e
passam a pendurar a roupa, tirar pó de livro, desamarrar o sapato antes de tirar do pé.

Pode ser. Deus permita! Mas que agonia, enquanto isso não acontece.

Dizer que peregrinei por antiquários para descobrir nobres jacarandás, de boa estirpe, que o
rodeassem em todas as suas horas, que lhe infundissem o gosto das coisas belas. Qual! Pendurei a
balada do “If”1 em cima de todos esses discos de jazz, e sobre a vitrola, já nem sei por quê, esse belo
retrato de Napoleão, em esmalte, vindo das margens do Sena! E ele está se importando? O violão
está sem cordas, e em cima do meu retrato, radioso retrato da minha juventude, ele já pôs o Billy
Eckstine, a Sarah Vaughan, a Ava Gardner de biquíni e duas namoradas ora descartadas! E não tira
um, antes de colocar o outro! Vai empurrando por cima e já a moldura estoura com essa variedade
de predileções! São Sebastião, na sua peanha dourada, está de olhos erguidos para o alto e,
felizmente, não vê a desordem que anda cá por baixo.

Vejo eu, olho em roda para saber por onde começar. Custava ele despejar esses cinzeiros? Onde
já se viu fumar na cama e fazer furos nos meus lençóis? E, em tempos de provas, é hora de ficar
folheando livros de versos, até tarde da noite, desse jeito? O caderno de física está assim de poesias
e letras de fox e caricaturas de colegas, não sei também se de algum professor! E para que seis caixas
de fósforo em cima dessa vitrola? E onde já se viu misturar na mesma mesa esse nunca assaz
manuseado Manuel Bandeira, e El son entero, de Nicolás Guillén, e os poemas de Mário de Andrade,
e os Pássaros Perdidos de Tagore, e Fernando Pessoa, e esse pocket book policial? Quer ler Graham
Greene, e fazer versos, e fumar feito um desesperado, e não perder praia no Arpoador, nem broto
na vizinhança, nem filme na semana e passar nas provas. E em que mundo isso é possível?

AULA 11 – Sintaxe III 132


Prof. Celina Gil

Guardo os chinelos, que ficam sempre emborcados. Já lhe disse que isso é atraso de vida. E ele
morre de rir. E ponho as cobertas em cima da cama. E abro as janelas, para sair esse cheiro de fumo.
E deixo só uma caixa de fósforos. Mas não faço mais nada, porque abri um caderno, de letra muito
ruim, até a metade com os seus versos.
1 Poema célebre do escritor indiano Rudyard Kipling (1865- 1936), Prêmio Nobel de Literatura de
1907.

OBS.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.

Assinale a opção em que NÃO aparece uma oração adjetiva.

A) E dizer que desde que esse menino nasceu tento provar-lhe que já não estamos (...)

B) Também uma manta escocesa, de suaves lãs macias, que a mãe da gente trouxe embaixo do
braço (...)

C) Como é que gente que gosta de ler pode deixar os próprios livros numa bagunça dessas?

D) (...) custava você pendurar essas calças nesse guarda-roupa que é para você, sozinho, que é
provido de cabides (...)

E) Guardo os chinelos, que ficam sempre emborcados.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois aqui temos um período composto por subordinação substantiva: “que
desde que esse menino nasceu” e “já não estamos” são orações subordinadas substantivas objetivas
diretas.

A alternativa B está incorreta, pois “que a mãe da gente trouxe embaixo do braço” é uma oração adjetiva,
com pronome relativo “que” remetendo a “uma manta escocesa”.

A alternativa C está incorreta, pois “que gosta de ler” é uma oração adjetiva, com pronome relativo “que”
remetendo a “gente”.

A alternativa D está incorreta, pois “que é para você” e “que é provido de cabides” são orações adjetivas,
com pronome relativo “que” remetendo a “guarda-roupa” em ambas.

A alternativa E está incorreta, pois “que ficam sempre emborcados” é uma oração adjetiva, com pronome
relativo “que” remetendo a “chinelos”.

Gabarito: A
Texto para as próximas questões:

UM CINTURÃO

Graciliano Ramos

AULA 11 – Sintaxe III 133


Prof. Celina Gil

As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão.
Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam
feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento.
Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando
findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de
manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes
lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma
discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-
se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não
fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do
cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.

Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes
extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando,
levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente
não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma
exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo
dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei
ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastarse-
ia em palavras.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos
caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria
ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões.
Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem
daquele perigo.

Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me
dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil
explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos
brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram
depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui
sacudido. O assombro gelavame o sangue, escancarava-me os olhos.

Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto,
emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da
minha infância, e as consequências delas me acompanharam.

AULA 11 – Sintaxe III 134


Prof. Celina Gil

O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a


entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de
semelhante maneira.

Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte,
desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas
adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada
a martelo.

A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido,
movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro
entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes,
mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia
fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina,
o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu
corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos – e, nesse zunzum,
a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás de caixões, livre
do martírio.

Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do
torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de
couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que gogos e
adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobrediabo.

Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo,
recordo-me de cemitérios e de ruínas malassombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto
negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a
aprendizagem dolorosa.

Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as


vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a
carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala
como carrapeta eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir,
quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me num desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a
mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca
a mastigar uma interrogação incompreensível.

Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e
embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as
varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que

AULA 11 – Sintaxe III 135


Prof. Celina Gil

desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão
de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram
o refúgio onde me abatia, aniquilado.

Pareceu-me que a figura imponente minguava – e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se
tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não
se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.

Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo,
insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.

Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.

OBS.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico.

(EFOMM – 2013)

Assinale a opção em que se analisou ERRONEAMENTE a circunstância estabelecida pela oração


destacada.

A) Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria (...). – concessão.

B) Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava
a dor. – tempo.

C) O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação
da fase preparatória (...) – concessão.

D) Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede (...). – tempo.


E) E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que
trabalhavam na telha negra. – consequência.

Comentários:

A alternativa A está correta, pois há uma noção de concessão estabelecida a partir do conectivo “ainda
que”.

A alternativa B está correta, pois há uma noção de temporalidade estabelecida a partir do conectivo
“quando”.

A alternativa C está correta, pois há uma noção de concessão estabelecida a partir a ideia de que o suplício
durou bastante, mas independentemente disso, não igualava ao que sentira na fase preparatória.
Poderíamos reescrever com o uso do “embora”: “O suplício durou bastante, mas, embora tenha sido
muito prolongado, não igualava a mortificação da fase preparatória (...)”

A alternativa D está correta, pois há uma noção de temporalidade estabelecida a partir do conectivo
“Antes de”.

AULA 11 – Sintaxe III 136


Prof. Celina Gil

A alternativa E está incorreta, pois aqui a oração tem valor comparativo, não consecutivo.

Gabarito: E

(EFOMM – 2013)

Assinale a opção em que NÃO se estabelece uma relação de condição entre as orações.

A) Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago.

B) Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me (...).

C) O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia (...).

D) Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem.

E) Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio (...).

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois em “Se não fosse ele” há uma ideia de condição: o que aconteceria
caso ele não tivesse aparecido.

A alternativa B está incorreta, pois em “Se o pavor não me segurasse” há uma ideia de condição: o que
aconteceria caso o pavor não me segurasse.

A alternativa C está correta, pois o “se” aqui é uma conjunção integrante, introduzindo uma oração
subordinada substantiva objetiva direta.

A alternativa D está incorreta, pois em “Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala” há uma ideia
de condição: o que aconteceria caso o moleque José ou um cachorro entrasse na sala.

A alternativa E está incorreta, pois em “Se meu pai se tivesse chegado a mim” há uma ideia de condição:
o que aconteceria caso o pai tivesse se chegado.

Gabarito: C
(EPCAR - 2021)

TEXTO I

Agressividade is the new black

RUTH MANUS

Para que dialogar se nós podemos jogar pedras?

The new black. Expressão inglesa que designa uma nova tendência, algo que está tão na moda
que poderia até mesmo funcionar como um pretinho básico. Adoraria que este fosse um texto sobre
jaqueta jeans, mas não é.

AULA 11 – Sintaxe III 137


Prof. Celina Gil

“Se prepare, Ruth, a agressividade nas redes sociais é algo que você não pode imaginar.”

Foi o que me disseram pouco antes da estreia do blog. Eu, fingindo não estar com medo,
balancei a cabeça positivamente como quem diz “tô sabendo, tô sabendo”. Mas como diria
Compadre Washington, “sabe de nada, inocente”.

No meu segundo texto, quase desisti de tudo. Eu realmente não tinha dimensão do nível sem
cabimento que as pessoas poderiam atingir para atacar algo que na maioria das vezes nem mesmo
as provocou.

Há muito tempo venho tentando digerir, mas não consigo. Achava que a agressividade vinha só
de alguns leitores meio pancadas. Engano meu. Ela vem de todo lado: de quem lê, de quem não lê,
de quem lê só o título e até de quem escreve.

E eu pensava que isso acontecia porque o computador torna as pessoas intocáveis, assim como
os carros e que por isso elas canalizavam toda sua agressividade nas redes sociais ou no trânsito.
Engano meu. Tá generalizado, como uma peste que se espalha pelo país e ninguém faz nada
para conter. Mesa de bar, fila da farmácia, ponto do ônibus. Discursos de ódio e ignorância estão
por toda parte.

Acho que existe um erro de conceito. As pessoas passaram a utilizar a agressividade como um
artifício para aumentar a própria autoestima.

Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem informadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo agressivas.

Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo agressivas.

Entendam: pessoas inteligentes não jogam pedras. E pessoas equilibradas não berram, nem
mesmo via caps lock.

Sempre me vem à mente aquela passagem de Sagarana, em que Augusto Matraga diz que vai
para o céu “nem que seja a porrete”. As pessoas tentam reduzir a violência com agressividade.
Tentam melhorar o país com agressividade. Tentam educar seus filhos com agressividade. Tentam
fazer justiça amarrando pessoas em postes.

“Pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço”. Será que um dia essa gente vai
entender que o antônimo de agressividade não é passividade? Mas é assim que tá sendo.

Porque argumentar dá muito trabalho. Pesquisar então, nem se fala. Articular um discurso está
fora de questão. Tentar persuadir é bobagem. E tolerar_ Tolerar é um verbo morto. Agressividade
is the new black.

AULA 11 – Sintaxe III 138


Prof. Celina Gil

(Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/ agressividade-is-the-new-black/ - Acesso em


28/08/2020)

Analisando a construção e a forma de organização do texto I, é correto afirmar que

A) há uma predominância de frases mais curtas, períodos com poucas subordinações, parágrafos
menores com o intuito de reproduzir uma linguagem mais próxima da informal, do cotidiano.

B) as explicações que a autora dá para o aumento da agressividade resultam de uma pesquisa


científica cuidadosa evidente no texto.

C) as interrogações presentes são meramente retóricas, já que são respondidas no decorrer do texto
e não afetariam a construção do sentido, caso não o fossem.

D) o vocábulo “até” (l. 21), denota a inclusão de escritores na categoria de agressivos, tal qual os
leitores, mas sendo aqueles mais amenos que estes.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque o texto busca uma forma mais direta e próxima da realidade conversar
com o leitor. É como uma conversa, na realidade.

A alternativa B está incorreta, porque não há nenhuma referência a pesquisa científica por parte da
autora, que fala a partir de suas experiências.

A alternativa C está incorreta, porque as perguntas, caso não fossem respondidas, alterariam o sentido
do texto, dado que auxiliam na construção de argumentação da autora.

A alternativa D está incorreta, porque não temos uma indicação de quem seria mais agressivo na
intolerância nas redes.

Gabarito: A
(EPCAR - 2017)

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao
presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que
pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o
desabafo do cacique tem uma incrível atualidade.

“(...) De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso
Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir
a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem
vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo
Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.

AULA 11 – Sintaxe III 139


Prof. Celina Gil

Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos.
Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas
misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde
ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à
andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência. (...)

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as


esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem
para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos
do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio
caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez
possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver
partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma
do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-
nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a
amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou
posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e
ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra
é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

(www.culturabrasil.pro.br/seattle1.htm. Acesso em 16/04/2016)

Assinale a opção que contém uma análise correta dos períodos abaixo.

A) “O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.” –
Período composto, no qual se verifica que há entre a oração principal e a subordinada uma relação
de comparação.

B) “De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o
mesmo Deus.” – Período composto por subordinação, no qual identificamos duas orações
substantivas apositivas.

C) “Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador.” – Período simples, constituído por
objeto direto, verbo de ligação e complementos nominais.

D) “Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos.” – Período composto por uma
oração principal, intermediada, respectivamente, por uma condicional e outra conformativa.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque aqui temos mais de uma oração, respectivamente construídas em
torno da locução verbal “vai desaparecer”. Em construções comparativas é comum que o verbo venha
subentendido na segunda oração. Assim, se estivesse totalmente desenvolvida, essa construção seria: “O

AULA 11 – Sintaxe III 140


Prof. Celina Gil

homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças [vão desaparecer].”.
O “do que” indica a comparação entre as orações.

A alternativa B está incorreta, porque apenas a oração “o nosso Deus é o mesmo Deus” é apositiva.

A alternativa C está incorreta, porque há o aparecimento de três verbos aqui, sem que eles estejam
formando uma locução verbal: Causar, é e demonstrar.

A alternativa D está incorreta, porque ainda que a primeira oração seja condicional, “como nós a
amávamos” é uma comparativa, não conformativa.

Gabarito: A

(EPCAR - 2016)

BOM HUMOR FAZ BEM PARA SAÚDE

O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem

Por Fábio Peixoto

“Procure ver o lado bom das coisas ruins.” Essa frase poderia estar em qualquer livro de auto-
ajuda ou parecer um conselho bobo de um mestre de artes marciais saído de algum filme ruim. Mas,
segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver bem.

(...)

O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem. Ele depende de fatores
físicos e culturais e varia de acordo com a personalidade e a formação de cada um. Mas, mesmo
sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma visão otimista
do mundo. “Um indivíduo bem-humorado sofre menos porque produz mais endorfina, um
hormônio que relaxa”, diz o clínico geral Antônio Carlos Lopes, da Universidade Federal de São
Paulo. Mais do que isso: a endorfina aumenta a tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais
bem-humorado você está, maior o seu bem-estar e, consequentemente, mais bem-humorado você
fica. Eis aqui um círculo virtuoso, que Lopes prefere chamar de “feedback positivo”. A endorfina
também controla a pressão sanguínea, melhora o sono e o desempenho sexual. (Agora você se
interessou, né?)

Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor
sobre o corpo já seriam suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz.
Novamente Lopes explica por quê: “O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o que provoca a
liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa palpitação, arritmia cardíaca, mãos
frias, dor de cabeça, dificuldades na digestão e irritabilidade”. A vítima acaba maltratando os outros
porque não está bem, sente-se culpada e fica com um humor pior ainda. Essa situação pode ser

AULA 11 – Sintaxe III 141


Prof. Celina Gil

desencadeada por pequenas tragédias cotidianas – como um trabalho inacabado ou uma conta para
pagar -, que só são trágicas porque as encaramos desse modo.

Evidentemente, nem sempre dá para achar graça em tudo. Há situações em que a tristeza é
inevitável – e é bom que seja assim. “Você precisa de tristeza e de alegria para ter um convívio social
adequado”, diz o psiquiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “A alegria
favorece a integração e a tristeza propicia a introspecção e o amadurecimento.” Temos de saber
lidar com a flutuação entre esses estágios, que é necessária e faz parte da natureza humana.

O humor pode variar da depressão (o extremo da tristeza) até a mania (o máximo da euforia).
Esses dois estados são manifestações de doenças e devem ser tratados com a ajuda de psiquiatras
e remédios que regulam a produção de substâncias no cérebro. Uma em cada quatro pessoas tem,
durante a vida, pelo menos um caso de depressão que mereceria tratamento psiquiátrico.

Enquanto as consequências deletérias do mau humor são estudadas há décadas, não faz muito
tempo que a comunidade científica passou a pesquisar os efeitos benéficos do bom humor. O
interesse no assunto surgiu há vinte anos, quando o editor norte-americano Norman Cousins
publicou o livro Anatomia de uma Doença, contando um impressionante caso de cura pelo riso. Nos
anos 60, ele contraiu uma doença degenerativa que ataca a coluna vertebral, chamada espondilite
ancilosa, e sua chance de sobreviver era de apenas uma em quinhentas.

Em vez de ficar no hospital esperando para virar estatística, ele resolveu sair e se hospedar num
hotel das redondezas, com autorização dos médicos. Sob os atentos olhos de uma enfermeira, com
quase todo o corpo paralisado, Cousins reunia os amigos para assistir a programas de “pegadinhas”
e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi se recuperando até poder voltar a viver e a trabalhar
normalmente. Cousins morreu em 1990, aos 75 anos. Se Cousins saiu do hospital em busca do
humor, hoje há muitos profissionais de saúde que defendem a entrada das risadas no dia a dia dos
pacientes internados.

Uma boa gargalhada é um método ótimo de relaxamento muscular. Isso ocorre porque os
músculos não envolvidos no riso tendem a se soltar – está aí a explicação para quando as pernas
ficam bambas de tanto rir ou para quando a bexiga se esvazia inadvertidamente depois daquela
piada genial. Quando a risada acaba, o que surge é uma calmaria geral. Além disso, se é certo que a
tristeza abala o sistema imunológico, sabe-se também que a endorfina, liberada durante o riso,
melhora a circulação e a eficácia das defesas do organismo. A alegria também aumenta a capacidade
de resistir à dor, graças também à endorfina.

Evidências como essa fundamentam o trabalho dos Doutores da Alegria, que já visitaram
170.000 crianças em hospitais. As invasões de quartos e UTIs feitas por 25 atores vestidos de
“palhaços-médicos” não apenas aceleram a recuperação das crianças, mas motivam os médicos e
os pais. A psicóloga Morgana Masetti acompanha os Doutores há sete anos. “É evidente que o
trabalho diminui a medicação para os pacientes”, diz ela.

AULA 11 – Sintaxe III 142


Prof. Celina Gil

O princípio que torna os Doutores da Alegria engraçados tem a ver com a flexibilidade de
pensamento defendida pelos especialistas em humor – aquela ideia de ver as coisas pelo lado bom.
“O clown não segue a lógica à qual estamos acostumados”, diz Morgana. “Ele pode passar por um
balcão de enfermagem e pedir uma pizza ou multar as macas por excesso de velocidade.” Para se
tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num curioso teste de autoconhecimento:
reconhece o que há de ridículo em si mesmo e ri disso. “Um clown não tem medo de errar – pelo
contrário, ele se diverte com isso”, diz Morgana. Nem é preciso mencionar quanto mais de saúde
haveria no mundo se todos aprendêssemos a fazer o mesmo.

(super.abril.com.br/saúde/bom-humor-faz-bem-saude-441550.shtml - acesso em 11 de abril de 2015, às 11h.)

Observando os trechos a seguir, assinale aquele que apresenta uma correta análise sintática da
oração adverbial sublinhada.

A) “Mas, segundo os especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para
viver bem. (Adverbial Conformativa)

B) “Mas, mesmo sendo o resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma
visão otimista do mundo...” (Adverbial Consecutiva)

C) “Para se tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num curioso teste de
autoconhecimento:...” (Adverbial Causal)

D) “Mas, mesmo que não houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre
o corpo...” (Adverbial Condicional)

Comentários:

A alternativa A está correta, porque aqui temos uma oração que indica quem falou a citação presente no
trecho destacado. Assim, temos uma relação de conformidade, ou seja, de acordo com especialistas.

A alternativa B está incorreta, porque aqui há uma relação de concessão, não de consequência. Poderia
ser reescrita, por exemplo, com “embora”.

A alternativa C está incorreta, porque aqui há uma relação de finalidade, não de causa. Poderia ser
reescrita, por exemplo, com “a fim de”.

A alternativa D está incorreta, porque aqui há uma relação de concessão, não de condição. Poderia ser
reescrita, por exemplo, com “embora”.

Gabarito: A
(EPCAR - 2014)

AS FERIDAS ABERTAS DA ESCRAVIDÃO

AULA 11 – Sintaxe III 143


Prof. Celina Gil

Mais de um século após abolir a escravatura, Brasil e EUA apenas agora começam a reconstruir a
história de seus heróis negros.

Doze anos de escravidão, produção do diretor britânico Steve McQueen, entrou para a história
do cinema ao ganhar o Oscar de Melhor Filme, na premiação do último dia 2. É o primeiro filme de
um diretor negro a ganhar a estatueta. (…)

Antes do filme, lançado no ano passado, quase ninguém conhecia a história de Salomon
Northup, negro livre e bem-educado de Nova York. Em 1842, ele foi sequestrado e forçado à
escravidão, por 12 anos, em fazendas no sul dos Estados Unidos. Resgatado por seus amigos
brancos, Northup lutou pela abolição da escravatura e contou sua história a um escritor de livros,
David Wilson. O texto foi encontrado e reeditado em 1960, sem grande repercussão, até chegar às
mãos de McQueen. “Minha ideia era transformar Northup num herói, porque ele é um verdadeiro
herói americano”, disse o cineasta.
A consagração do filme, ao mesmo tempo, serviu para realçar como a escravidão de
negros, abolida nos Estados Unidos há 148 anos e no Brasil há 125, ainda é pouco conhecida. No
Brasil, por mais de um século, prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o passado
dos negros. Os arquivos sobre a escravidão, dizia-se, perderam-se em 1890. (…)

“A carência e a imprecisão de registros históricos reduziu o brilho de heróis nacionais”,


diz Patrícia Xavier, mestre em história social pela PUC, SP. Em sua tese de mestrado, Patrícia estudou
a vida de Francisco José do Nascimento, O Chico da Matilde, líder abolicionista morto em 6 de março
de 1914 – portanto, há 100 anos. Sua vida também daria um filme. Negro livre, Chico trabalhava
como prático no porto da província do Ceará. Segundo relatos da época, em 1881, Chico liderou os
jangadeiros, ao se recusar transportar escravos. Influenciado pela insurreição dos jangadeiros, o
Ceará aboliu a escravidão em 1884, quatro anos antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea. (...)

O resgate histórico do período de escravidão ganha força à medida que documentos são
descobertos e que a sociedade ganha distanciamento. Um século e meio de abolição é pouco tempo,
mesmo para países jovens como EUA e Brasil. O diretor Steve McQueen pôde usar, em seu filme,
fazendas do Mississippi onde houve a escravidão. O tronco onde dois escravos são espancados, na
obra de ficção, foi usado para o chicoteamento, um século atrás. “Aquelas árvores viram tudo”, diz
McQueen. Método de trabalho largamente empregado na Europa, na Ásia e na África, a escravidão
foi extinta apenas na década de 1980 em países como Serra Leoa. Suas feridas continuam abertas.

(Época/ nº 823, 10 de março de 2014, editora Globo, p.55)

Ao término de cada trecho, foi indicada a função sintática da oração sublinhada. Assinale a
alternativa correta.

AULA 11 – Sintaxe III 144


Prof. Celina Gil

A) “No Brasil, por mais de um século, prevaleceu a crença de que seria improdutivo vasculhar o
passado dos negros." - Subordinada substantiva objetiva indireta

B) “O resgate histórico do período de escravidão ganha força à medida que documentos são
descobertos..." - Subordinada adverbial causal

C) “Os arquivos sobre a escravidão, dizia-se, perderam-se em 1890." - Subordinada substantiva


subjetiva

D) “Minha ideia era transformar Northup num herói, porque ele é um verdadeiro herói
americano..." - Coordenada sindética conclusiva

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque esse trecho se refere a um termo nominal (crença), logo, a oração
é completiva nominal.

A alternativa B está incorreta, porque nesse caso temos uma oração proporcional, representada pelo
conectivo “à medida que”.

A alternativa C está correta, porque aqui temos uma oração que indica quem realiza a ação expressa pelo
verbo “dizer”. Se substituída por um pronome demonstrativo, essa oração seria: “dizia-se isso” ou “Isso
dizia-se”. Logo, é um sujeito.

A alternativa D está incorreta, porque aqui temos uma oração coordenada explicativa. Repare que a
oração e destaque não tem função sintática sobre a oração anterior.

Gabarito: C
(EPCAR - 2014)

“Eu dei a minha alma para que o Stallone expressasse a realidade de um down que luta para
materializar seus sonhos." (l. 12 a 14)

Assinale a alternativa correta em relação aos termos sublinhados acima.

A) Nas duas ocorrências o para tem a mesma classificação sintática e o que, em ambas as
ocorrências, tem a mesma classificação morfológica.

B) Em “Ficou claro que ele não nos queria lá." o que tem a mesma função sintática do segundo que
do excerto acima. (l. 26 e 27)

C) Em “Entrei no site 'Grandes Encontros', que é uma sala de bate-papo para pessoas com
deficiência", (l. 29 e 30) os elementos sublinhados se classificam morfologicamente tais quais os
primeiros que e para do excerto.

D) O que sublinhado em “...filme 'Colegas', que estreou na sexta..." (lead) possui a mesma
classificação sintática e morfológica da segunda ocorrência marcada no fragmento acima.

AULA 11 – Sintaxe III 145


Prof. Celina Gil

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque “para que” não tem função sintática e é uma conjunção prepositiva;
“para” também não tem função sintática e é uma preposição.

A alternativa B está incorreta, porque na alternativa o “que” é conjunção integrante e no enunciado o


“que” é pronome relativo.

A alternativa C está incorreta, porque os primeiros “que” e “para” são parte de uma locução conjuntiva.
Já na alternativa o “que” é pronome relativo e o “para” é preposição.

A alternativa D está correta, porque assim como no enunciado, o “que” aqui é pronome relativo

Gabarito: D

(EPCAR - 2013)

Você reconhece quando chega a felicidade?


Tenho uma forte antipatia pela obrigação de ser feliz que acompanha o Carnaval. Quem foge
da folia ganha o rótulo de antissocial, depressivo ou chato. Nada contra o Carnaval. Apenas contra
essa confusão de conceitos. Uma festa alegre não significa que você esteja plenamente feliz. E forçar
uma situação de felicidade tem tudo para terminar em arrependimento e frustração.

Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega? Sabe que está sendo feliz naquele
momento? Espere um pouco antes de responder. Pense de novo. Estamos falando de felicidade!
Não de uma alegria qualquer. E qual é a diferença? Bem, descrever a felicidade não é fácil. Ela é
muito recatada. Não fica ali posando para foto, sabe? Mas um Manual de Reconhecimento da
felicidade diria mais ou menos o seguinte: ela é mansa. Não faz barulho. Ao mesmo tempo é farta.
Quando chega, ocupa um espaço danado. Apesar disso, você quase não repara que ela está ali. Se
chamar a atenção, não é ela. É euforia. Alegria. A licenciosidade de uma noite de Carnaval. Ou um
reles frenesi qualquer, disfarçado de felicidade.

A dita cuja é discreta. Discretíssima. E muito tranquila. Ela o faz dormir melhor. E olha, vou lhe
contar uma coisa: a felicidade é inimiga da ansiedade. As duas não podem nem se ver. Essa é a
melhor pista para o seu Manual de Reconhecimento da Felicidade. Se você se apaixonou e está
naquela fase de pura ansiedade, mesmo que esteja superfeliz, não é felicidade. É excitação.
Paixonite. Quando a ansiedade for embora, pode ser que a felicidade chegue. Mas ninguém garante.

É temperamental a felicidade. Não vem por qualquer coisa. E para ficar então... hi, não conheço
nenhum caso de alguém que a tenha tido por perto a vida inteira. Por isso é tão importante
reconhecê-la quando ela chega. Entendeu agora por que a minha pergunta? Será que você sabe
mesmo quando está feliz?

Ou será que você só consegue saber que foi feliz quando a felicidade já passou?

AULA 11 – Sintaxe III 146


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Eu estudo muito a felicidade. Mas não consigo reconhecê-la. Talvez porque eu seja péssima
fisionomista. Ou porque ela seja muito mais esperta do que eu. Mais sábia. Fato é que eu só sei que
fui feliz depois. No futuro. Olho para o passado e reconheço: “Nossa, como eu fui feliz naquela
época!” Mas no presente ela sempre me dá uma rasteira. Ando por aí, feliz da vida e nem sei que
estou nesse estado. Por isso aproveito menos do que poderia a graça que é ter assim, tão pertinho,
a tal felicidade.

Nos últimos tempos, dei para fazer uma lista de momentos felizes. E aqui é importante deixar
claro que esses momentos devem durar um certo período de tempo. Um episódio isolado feliz -
como quatro dias de Carnaval, por exemplo – como quatro dias de Carnaval – não significa
felicidade. A felicidade, quando vem, não vem de passagem. Não dura para sempre, mas dura um
tempinho. Gosta de uma certa estabilidade, [...] Sabendo quando você foi feliz, é mais fácil descobrir
por que foi feliz. Para ser ainda mais funcional, é bom que a lista seja cronológica. Lendo a minha,
constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo.
Será que ela está aqui agora? Não sei dizer. Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela.
E isso não tem nada a ver com a tal obrigação de ser feliz desfilando no Sambódromo. Continuo
meus estudos. Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade do que jamais fui em
qualquer tempo.

Ana Paula Padrão (adaptado) Revista ISTOÉ 2206, de 22/02/2012.

Todas as afirmativas estão corretas, EXCETO:

A) Em “Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade...” (l. 67 e 68), observa-se um
período composto por subordinação.

B) Em “Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela” (l. 64 e 65), existe uma conjunção que
inicia uma oração substantiva completiva nominal.

C) Em “Lendo a minha, constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo.” (l. 62 e 63), tem-se
o pronome possessivo que se refere ao vocábulo lista.

D) Em “Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega?” (l. 9 e 10), pode-se classificar as
orações, respectivamente, como principal e como subordinada adverbial temporal.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque a oração “de que hoje sou mais amiga da felicidade” tem função de
objeto indireto.

A alternativa B está incorreta, porque a oração “de que desfruto agora” tem valor adjetivo em relação à
palavra paz: desfruto agora da paz.

AULA 11 – Sintaxe III 147


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A alternativa C está correta, porque o contexto em que essa oração aparece é “Para ser ainda mais
funcional, é bom que a lista seja cronológica. Lendo a minha, constato que fico cada vez mais feliz e por
mais tempo”. Logo, vê-se que “minha” é referente a lista.

A alternativa D está correta, porque “você reconhece a felicidade” é uma oração principal e “quando ela
chega” uma “subordinada adverbial temporal”.

Gabarito: B
(EPCAR - 2011)

Leia com atenção o fragmento a seguir.

“Pesquisas recentes indicam que o número de obras literárias de poesia e ficção tem crescido
consideravelmente dentro do espaço cibernético nos últimos anos.” (l. 09 a 12)

Sobre esse fragmento, só NÃO se pode afirmar que

A) há duas orações e uma frase.

B) ocorrem três circunstâncias adverbiais.

C) trata-se de um período composto por coordenação e subordinação.

D) há uma conjunção integrante.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque temos duas orações aqui: “Pesquisas recentes indicam” e “que o
número de obras literárias de poesia e ficção tem crescido”. Há também a frase “consideravelmente
dentro do espaço cibernético nos últimos anos”.

A alternativa B está correta, porque temos três circunstâncias adverbiais “consideravelmente”, “dentro
do espaço cibernético” e “nos últimos anos”.

A alternativa C está incorreta, porque aqui temos apenas subordinação: a oração principal “Pesquisas
recentes indicam” e a objetiva direta “que o número de obras literárias de poesia e ficção tem crescido”.

A alternativa D está correta, porque o “que” aqui é conjunção integrante.

Gabarito: C
(Estratégia Militares – 1º simulado EPCAR 2022 – Professor Wagner Santos)

Assinale a alternativa em que a oração destacada em “Em linha com o senso comum, usuários de
mídias sociais e mecanismos de busca acabaram encontrando fontes de notícias mais polarizadas,
o que pode se traduzir numa visão de mundo mais extrema” está classificada corretamente.
a) Oração subordinada adjetiva restritiva

AULA 11 – Sintaxe III 148


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b) Oração coordenada sindética explicativa

c) Oração subordinada adjetiva explicativa

d) Oração subordinada substantiva objetiva direta

Comentários:

A oração em destaque é classificada como uma oração subordinada adjetiva restritiva, porque modifica o
pronome demonstrativo “o”, que temo o mesmo significado do “aquele” ou “aquilo”, construindo-se não
como um artigo e sim como um pronome demonstrativo, modificado, então, por uma oração subordinada
adjetiva. Esse fato é bastante comum na língua e costuma confundir vocês de forma muito constante.
Cuidado para não cair na marcação de uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

Gabarito: A
Texto para as próximas questões

Diminutivos

Sempre pensei que ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo, essa nossa mania de
reduzir tudo à mesma dimensão, seja um cafezinho, um cineminha ou uma vidinha. Só o que varia
é a inflexão da voz. Se alguém diz, por exemplo, "Ó vidinha!" você sabe que ele está se referindo a
uma vida com todas as mordomias. Nem é uma vida, é um comercial de cigarro com longa-
metragem. Um vidão. Mas, se disser "Ah vidinha ... ", o coitado está se queixando dela e com toda
-a razão. Há -anos que o seu único divertimento é tirar sapatos e fazer xixi. Mas, nos dois casos, o
diminutivo é usado com o mesmo carinho.

O francês tem o seu tout petit peu, que não é um diminutivo, é um exagero. Um "pouco todo
pequeno" é muita explicação para tão pouco. Os mexicanos usam o poco, o poquito e menos ainda
do que o poquito - o poquetim! Mas ninguém bate o brasileiro.

Era o que eu pensava até o dia, na Itália, em -- que ouvi alguém dizer que alguma coisa duraria
um mezzoretto. Não sei se a grafia é essa mesma, mas um povo que consegue, numa_ palavra.,
reduzir uma meia hora de tamanho - e você não tem nenhuma dúvida de que um mezzoretto dura
os mesmos 30 minutos de uma meia hora - convencional, mas passa muito mais depressa é
invencível em matéria de diminutivo.

O diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e precavida de usar a linguagem.


Afetuosa porque geralmente o usamos para designar o que é agradável, aquelas coisas tão afáveis
que se deixam diminuir sem perder o sentido. E precavida porque também o usamos para desarmar
certas palavras que, na sua forma original, são ameaçadoras demais.

Operação, por exemplo. É uma palavra assustadora. Pior do que intervenção cirúrgica, porque
promete uma intromissão muito mais radical nos intestinos. Uma operação certamente durará

AULA 11 – Sintaxe III 149


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horas, e os resultados são incertos. Suas chances de sobreviver a uma operação ... sei não. Melhor
se preparar para o pior.

Já uma operaçãozinha é uma mera formalidade. Anestesia local e duas aspirinas depois. Uma
coisa tão banal que quase dispensa a presença do paciente.

( ... )

Se alguém disser que precisa ter uma conversa com você, cuidado. É coisa da maior importância.
Os próprios destinos do Pacto do Atlântico podem estar em jogo. Uma conversa é sempre com hora
marcada.

Já uma conversinha raramente passa do nível da mais cândida inconsequência. E geralmente é


fofoca. A hora para uma conversinha é sempre qualquer hora dessas.

Num jogo você arrisca tudo, até a hora. Num joguinho, aceita-se até o cheque frio.

Entre ter um caso e ter um casinha, a diferença, às vezes, é a tragédia passional.


No Brasil, usa-se o diminutivo principalmente com relação à comida. Nada nos desperta
sentimentos tão carinhosos quanto uma boa comidinha.

- Mais um feijãozinho?

O feijãozinho passou dois dias borbulhando num daqueles caldeirões de antropófagos com
capacidade para três missionários. Leva porcos inteiros, todos os miúdos e temperos conhecidos e,
parece, um missionário. Mas a dona da casa o trata como um mingau de todos os dias.

(...)

O diminutivo é também uma forma de disfarçar o nosso entusiasmo pelas grandes porções. E
tem um efeito psicológico inegável. Você pode passar horas tomando cervejinha em cima
de cervejinha sem nenhum dos efeitos que sofreria depois de apenas duas cervejas.

- E agora, um docinho.

E surge um tacho de ambrosia que é um porta-aviões.

(Adaptado de VERÍSSIMO, L. F. Diminutivos. Comédia da vida privada. 101 crônicas escoihídas. Porto Alegre: LP&M, 1994).

(EAM - 2012)

Assinale a opção em que as orações mantem entre si o mesmo valor semântico que se apresenta
em "Era uma coisa banal, porque chamou de operaçãozinha".

A) Não usou diminutivos, mas tentou convencê-lo.

B) Traga logo o feijãozinho, que eu estou morrendo de fome.

C) O italiano diz "mezzoretto", e o brasileiro diz "meia horinha".

AULA 11 – Sintaxe III 150


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D) Queria disfarçar o entusiasmo, portanto pediu uma cervejinha.

E) Pediu uma comidinha, mas também queria uma cervejinha gelada.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois o conectivo “mas” traz uma noção adversativa ao período, que não está
no trecho em destaque no enunciado.

Alternativa B está correta, pois assim como no período em destaque no enunciado, a oração “que eu
estou morrendo de fome” também tem valor explicativo.

Alternativa C está incorreta, pois o conectivo “e” traz uma noção aditiva ao período, que não está no
trecho em destaque no enunciado.

Alternativa D está incorreta, pois o conectivo “portanto” traz uma noção conclusiva ao período, que não
está no trecho em destaque no enunciado.

Alternativa E está incorreta, pois o conectivo “mas” traz uma noção adversativa ao período, que não está
no trecho em destaque no enunciado.

Gabarito: B
(EAM - 2012)

Qual opção apresenta um período cujas orações estabelecem entre si uma relação de causa e
consequência, evidenciada pelo uso do conectivo?

A) A dona de casa trata o feijãozinho como um mingau de todos os dias.

B) Nada desperta em nós sentimentos tão bons quanto uma boa comidinha.

C) Aquela é uma situação tão banal que dispensa a presença do paciente.

D) As coisas afáveis se deixam diminuir, sem perder seu valioso sentido.

E) Certas palavras, que são ameaçadoras, precisam ser desarmadas .

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois aqui há uma noção comparativa, não de causa e consequência.

Alternativa B está incorreta, pois aqui há uma noção comparativa, não de causa e consequência.

Alternativa C está correta, pois o conectivo “tão... que” aqui traz noção de causa e consequência: a
consequência da banalidade da situação é que a presença do paciente seja dispensada.

Alternativa D está incorreta, pois aqui há uma noção concessiva, não de causa e consequência.

Alternativa E está incorreta, pois aqui há uma explicação para que palavras são essas, não uma relação de
causa e consequência.

AULA 11 – Sintaxe III 151


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Gabarito: C
(Col. Naval - 2019)

Redes sociais: o reino encantado da intimidade de faz de conta

Recebi, por e-mail, um convite para um evento literário. Aceitei, e logo a moça que me convidou
pediu meu número de Whatsapp para agilizar algumas informações. No dia seguinte, nossa
formalidade havia evoluído para emojis de coraçãozinho. No terceiro dia, eia iniciou a mensagem
com um "bom dia, amiga". Quando eu fizer aniversário, acho que vou convidá-la pra festa.

Postei no Instagram a foto de um cartaz de cinema, e uma leitora deixou um comentário no


Direct. Disse que vem passando por um drama parecido como do filme; algo tão pessoal, que ela só
quis contar para mim, em quem confia 100%. Como não chamá-la para a próxima ceia de Natal aqui
em casa? Fotos de recém-nascidos me são enviadas por mulheres que eu nem sabia que estavam
grávidas. Mando condolências pela morte do avô de alguém que mal cumprimento quando
encontro num bar. Acompanho a dieta alimentar de estranhos. Fico sabendo que o amigo de uma
conhecida troca, todos os dias, as fraldas de sua mãe velhinha, mas que não faria isso pelo pai, que
sempre foi seco e frio com ele - e me comovo; sinto como se estivesse sentada a seu lado no sofá,
enxugando suas lágrimas.

Mas não estou sentada a seu lado no sofá e nem mesmo sei quem ele é; apenas li um comentário
deixado numa postagem do Facebook, entre outras milhares de postagens diárias que não são pra
mim, mas que estão ao alcance dos meus olhos. É o reino encantado das confidências instantâneas
e das distâncias suprimidas: nunca fomos tão íntimos de todos.

Pena que esse mundo fofo é de faz de conta, intimidade, pra valer, exige paciência e convivência,
tudo o que, infelizmente, tornou-se sinônimo de perda de tempo. Mais vale a aproximação ilusória:
as pessoas amam você, mesmo sem conhecê-la de verdade. É como disse, certa vez, o ator Daniel
Dantas em entrevista à Marilia Gabriela: "Eu gostaria de ser a pessoa que meu cachorro pensa que
eu sou".

Genial. Um cachorro começa a seguir você na rua e, se você der atenção e o levar pra casa, ganha
um amigo na hora. O cachorro vai achá-lo o máximo, pois a única coisa que ele quer é pertencer. Ele
não está nem aí para suas fraquezas, para suas esquisitices, para a pessoa que você realmente é:
basta que você o adote.

A comparação é meio forçada, mas tem alguma relação com o que acontece nas redes. Farejamos
uns aos outros, ofertamos um like e, de imediato, ganhamos um amigo que não sabe nada de
profundo sobre nós, e provavelmente nunca saberá. A diferença - a favor do cachorro - é que este
está realmente por perto, todos os dias, e é sensível aos nossos estados de ânimo, tornando-se
íntimo a seu modo. Já alguns seres humanos seguem outros seres humanos sem que jamais venham
a pertencer à vida um do outro, inaugurando uma nova intimidade: a que não existe de modo
nenhum.

AULA 11 – Sintaxe III 152


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Martha Medeiros <https://www, revistaversar.com. br/redes-sociais-inttmÍdade/> - (com adaptações)

Assinale a opção que apresenta apenas um período composto por coordenação.

A) "Um cachorro começa a seguir você na rua e, se você der atenção e o levar pra casa, ganha um
amigo na hora". (6°§)

B) "Quando eu fizer aniversário, acho que vou convidá-la pra festa" (1°§)

C) "A diferença — a favor do cachorro — é que este está realmente por perto, todos os dias, e é
sensível aos nossos estados de ânimo, tornando-se íntimo a seu modo." (7°§)

D) "Farejamos uns aos outros, ofertamos um like e, de imediato, ganhamos uma amigo que não
sabe nada de profundo sobre nós, e provavelmente nunca saberá." (7°§)

E) "Postei no Instagram a foto de um cartaz de cinema e uma leitora deixou um comentário no


Direct." (2°§)

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois a oração “se você der atenção e o levar pra casa” tem valor condicional.

Alternativa B está incorreta, pois a oração “Quando eu fizer aniversário” tem valor temporal.

Alternativa C está incorreta, pois a oração “que este está realmente por perto” tem valor predicativo.

Alternativa D está incorreta, pois a oração “que não sabe nada de profundo sobre nós” tem valor adjetivo.

Alternativa E está correta, pois aqui as orações são coordenadas, unidas por um conectivo com valor
aditivo “e”.

Gabarito: E
(Col. Naval - 2018)

Correndo risco de vida

Em uma de suas histórias geniais, Monteiro Lobato nos apresenta o reformador da natureza,
Américo Pisca-Pisca. Questionando o perfeito equilíbrio do mundo natural, Américo Pisca-Pisca
apontava um desequilíbrio flagrante no fato de uma enorme árvore, como a jabuticabeira, sustentar
frutos tão pequeninos, enquanto a colossal abóbora é sustentada pelo caule fino de uma planta
rasteira. Satisfeito com sua grande descoberta, Américo deita-se sob a sombra de uma das
jabuticabeiras e adormece. Lá pelas tantas, uma frutinha lhe caí bem na ponta do seu nariz.
Aturdido, o reformador se dá conta de sua lógica.

Se os reformadores da natureza, como Américo Pisca-Pisca, já caíram no ridículo, os reformadores


da língua ainda gozam de muito prestígio. Durante muito tempo era possível usar a expressão

AULA 11 – Sintaxe III 153


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“fulano não corre mais risco de vida”. Qualquer falante normal decodificava a expressão "risco de
vida" como “ter a vida em risco”. E tudo ia muito bem, até que um desses reformadores da língua
sentenciou, do alto da sua vã inteligência: “não é risco de vida, é risco de morte”. Quer dizer que só
ele teve essa brilhante percepção, todos os outros falantes da língua não passavam de obtusos
irrecuperáveis. É o tipo de sujeito que acredita ter inventado a roda. E impressiona a fortuna crítica
de tal asneira. Desde então, todos os jornais propalam “o grande líder sicrano ainda corre o risco de
morte”. E me desculpem, mas risco de morte é muito pernóstico.

Assim como o reformador da natureza não entende nada da dinâmica do mundo natural, esses
gramáticos que pretendem reformar o uso linguístico invocando sua pretensa racionalidade não
percebem coisa alguma da lógica de funcionamento da língua. Como bem ensinou Saussure,
fundador da linguística moderna, tudo na língua é convenção. A expressão risco de vida, estava
consagrada pelo uso e não se criava problemas na comunicação, porque nenhum falante, ao ouvir
tal expressão, pensava que o sujeito corra risco de viver.
A relação entre as formas linguísticas e o seu conteúdo é arbitrária e convencionada socialmente.
Em Japonês, por exemplo, o objeto precede o verbo. Diz-se "João o bolo comeu” em vez de “João
comeu o bolo”, como em português. Se o nosso reformador da língua baixasse por lá, tentaria
convencer os japoneses de que o verbo preceder o seu objeto é muito mais lógico!

Mas os ingênuos poderiam argumentar: o nosso oráculo gramatical não melhorou a língua
tornando-a mais lógica? Não, meus caros, ele a empobreceu. Pois, ao lado da expressão mais trivial
“correr o risco de cair do cavalo”, a língua tem uma expressão mais sofisticada: correr risco de vida.
Tal construção dissonante ampla as possibilidades expressivas da língua, criando um veio que pode
vir a ser explorado por poetas e demais criadores da língua. “Corrigir” risco de vida por risco de
morte é substituir uma expressão mais sutil e sofisticada por sua versão mais imediata, trivial e
óbvia. E um recurso expressivo passou a correr risco de vida pela ação nefanda dos fariseus no
templo democrático da língua.

LUCCHESI, Dante. Correndo risco de vida. A Tarde, 17 set.2006, p.3, Opinião - adaptado

Analise os enunciados abaixo e assinale a opção correta.

I- “Se os reformadores da natureza, como Américo Pisca - Pisca, já caíram no ridículo, os


reformadores da língua ainda gozam de muito prestígio.” (§2º)

II- “Se o nosso reformador da língua baixasse por lá, - tentaria convencer os japoneses de que o
verbo “preceder o seu objeto é muito mais lógico.” (§4º)

a) Os enunciados evidenciam um desvio do padrão normativo da Língua portuguesa, por apresentar


o início de um período por meio da conjunção.

AULA 11 – Sintaxe III 154


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b) Não há paralelismo sintático entre os enunciados.

c) O enunciado I configura um período composto coordenado e o enunciado II configura um período


composto por subordinação.

d) Os dois enunciados configuram períodos compostos por subordinação, cujas orações


subordinadas têm a mesma função.

e) Os dois enunciados configuram períodos compostos por coordenação, cujas orações


coordenadas têm a mesma função.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois não há incorreção gramatical em redigir um período na ordem indireta.

Alternativa B está incorreta, pois as orações apresentam paralelismo sintático, já que apresentam
sequências de estruturas sintáticas semelhantes.

Alternativa C está incorreta, pois ambos os períodos são compostos por orações subordinadas.

Alternativa D está correta, pois ambas as orações subordinadas, “Se os reformadores da natureza, como
Américo Pisca - Pisca, já caíram no ridículo” e “Se o nosso reformador da língua baixasse por lá” têm valor
condicional, ou seja, são orações subordinadas adverbiais condicionais.

Alternativa E está incorreta, pois ambos os períodos são compostos por orações subordinadas.

Gabarito: D

(Col. Naval - 2017)

Encontros e desencontros

Hoje, jantando num pequeno restaurante aqui perto de casa, pude presenciar, ao vivo, uma cena
que já me tinham descrito. Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da minha. Feitos os
pedidos ao garçom, o homem, bem depressinha, tira o celular do bolso, e não mais o deixa, a
merecer sua atenção exclusiva. A mulher, certamente de saber feito, não se faz de rogada e apanha
um livro que trazia junto à bolsa. Começa a lê-lo a partir da página assinalada por um marcador.
Espichando o meu pescoço inconveniente (nem tanto, afinal as mesas eram coladinhas) deu para
ver que era uma obra da Martha Medeiros.

Desse modo, os dois iam usufruindo suas gulodices, sem comentários, com algumas reações dele,
rindo com ele mesmo com postagens que certamente ocorriam em seu celular. Até dois estranhos,
postos nessa situação, talvez acabassem por falar alguma coisa. Pensei: devem estar juntos há
algum tempo, sem ter mais o que conversar. Cada um sabia tudo do outro, nada a acrescentar, nada
de novo ou surpreendente. E assim caminhava, decerto, a vida daquele casal.
O que me choca, mesmo observando esta situação, como outras que o dia a dia me oferece, é a
ausência de conversa. Sem conversa eu não vivo, sem sua força agregadora para trocar ideias, para

AULA 11 – Sintaxe III 155


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convencer ou ser convencido pelo outro, para manifestar humor, para desabafar sobre o que
angustia a alma, em suma, para falar e para ouvir. A conversa não é a base da terapia? Sei não, mas,
atualmente, contar com um amigo para jogar conversa fora ou para confessar aquele temor que lhe
está roubando o sossego talvez não seja fácil. O tempo também, nesta vida corre-corre, tem lá
outras prioridades. Mia Couto é contundente: “Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta
comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão.” Até se fala muito, mas ouvir o outro? Falo
de conversas entre pessoas no mundo real, Vive-se hoje, parece, mais no mundo digital. Nele, até
que se conversa muito; porém, é tão diferente, mesmo quando um está vendo o outro. O
compartilhamento do mesmo espaço, diria, é que nos proporciona a abrangência do outro, a
captação do seu respirar, as batidas de seu coração, o seu cheiro, o seu humor...

Desse diálogo é que tanta gente está sentindo falta. Até por telefone as pessoas conversam,
atualmente, bem menos. Pelo whatsApp fica mais fácil, alega-se. Rapidinho, rapidinho. Mas e a
conversa? Conversa-se, sim, replicam. Será? Ou se trocam algumas palavras? Quando falo em
conversa, refiro-me àquelas que se esticam, sem tempo marcado, sem caminho reto, a pularem de
assunto em assunto. O whatsApp é de graça, proclamam. Talvez um argumento que pode ser
robusto, como se diz hoje, a favor da utilização desse instrumento moderno.

Mas será apenas por isso? Um amigo me lembra: nos whatsApps se trocam mensagens por
escrito. Eu sei. Entretanto, língua escrita é outra modalidade, outro modo de ativar a linguagem, a
começar pela não co-presença física dos interlocutores. No telefone, não há essa co-presença física,
mas esse meio de comunicação não é impeditivo de falante e ouvinte, a cada passo, trocarem de
papéis e até mesmo de falarem ao mesmo tempo, configurando, pois, características próprias da
modalidade oral, Contudo, não se respira o mesmo ar, ainda que já se possa ver o outro. As pessoas
passaram a valer-se menos do telefone, e as conversas também vão, por isso, tornando-se menos
frequentes.

Gosto, mesmo, é de conversas, de preferência com poucos companheiros, sem pauta, sem temas
censurados, sem se ter de esmerar na linguagem. Conversa sem compromisso, a não ser o de evitar
a chatice. Com suas contundências, conflitos de opiniões e momentos de solidariedade. Conversa
que é vida, que retrata a vida no seu dia a dia. No grupo maior, há de tudo: o louco, o filósofo, o
depressivo, o conquistador de garganta, o saudosista ...Nem sempre, é verdade, estou motivado
para participar desses grupos. Porém, passado um tempo, a saudade me bate.

Aqueles bate-papos intimistas com um amigo de tantas afinidades, merecedores que nos
tornamos da confiança um do outro, esses não têm nada igual. A apreensão abrangente do amigo,
de seu psiquismo, dos seus sentimentos, das dificuldades mais íntimas por que passa, faz-nos sentir,
fortemente, a nossa natureza humana, a maior valia da vida.

Esses momentos vão se tornando, assim me parece, uma cena menos habitual nestes tempos
digitais. A pressa, os problemas a se multiplicarem, as tarefas a se diversificarem, como encontrar
uma brecha para aquela conversa, que é entrega, confiança, despojamento? Conversa que exige

AULA 11 – Sintaxe III 156


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respeito: um local calminho, sem gritos, vozes esganiçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas
estourando de geladas e uns tira-gostos de nosso paladar a exigirem nova pedida. Não queria perder
esses encontros. Afinal, a vida está passando tão depressa...

Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/

No contexto, o termo destacado em "[...] trocarem de papéis e até mesmo de falarem ao mesmo
tempo, configurando, pois, características próprias da modalidade oral." (5º §) expressa a ideia de

a) explicação.

b) concessão.

c) conclusão.

d) reiteração.
e) causa.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois o termo “pois” não tem aqui valor explicativo. Lembre-se que quando
esse conectivo vem posposto ao verbo ele tem valor conclusivo. Quando ele está anteposto é que seu
valor é explicativo.

Alternativa B está incorreta, pois não há aqui valor concessivo. Não se pode reescrever o período, por
exemplo, substituindo por um embora.

Alternativa C está correta, pois o termo “pois” entre vírgulas e posposto ao verbo tem valor conclusivo,
podendo ser substituído por um “portanto”, por exemplo: "[...] trocarem de papéis e até mesmo de
falarem ao mesmo tempo, configurando, portanto, características próprias da modalidade oral."

Alternativa D está incorreta, pois não há aqui valor de reiterar uma informação.

Alternativa E está incorreta, pois não há aqui noção de causa: “características próprias da modalidade
oral” não é a causa do restante da oração.

Gabarito: C
Texto para as próximas questões

O desaparecimento dos livros na vida cotidiana e a diminuição da leitura é preocupante quando


sabemos que os livros são dispositivos fundamentais na formação subjetiva das pessoas. Nos
perguntamos sobre o que os meios de comunicação fazem conosco: da televisão ao computador,
dos brinquedos ao telefone celular, somos formados por objetos e aparelhos.

Se em nossa época a leitura diminui vertiginosamente, ao mesmo tempo, cresce o elogio da


ignorância, nossa velha conhecida. Há, nesse contexto, dois tipos de ignorância em relação às quais

AULA 11 – Sintaxe III 157


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os livros são potentes ou impotentes. Uma é a ignorância filosófica, aquela que em Sócrates se
expunha na ironia do "sei-que-nada-sei". Aquele que não sabe e quer saber pode procurar os livros,
esses objetos que guardam tantas informações, tantos conteúdos, que podemos esperar deles
muita coisa: perguntas e, até mesmo, respostas. A outra é a ignorância prepotente, à qual alguns
filósofos deram o nome de "burrice". Pela burrice, essa forma cognitiva impotente e, contudo,
muito prepotente, alguém transforma o não saber em suposto saber, a resposta pronta é
transformada em verdade. Nesse caso, os livros são esquecidos. Eles são desnecessários como
"meios para o saber". Cancelada a curiosidade, como sinal de um desejo de conhecimento, os livros
tornam-se inúteis. Assim, a ignorância que nos permite saber se opõe à que nos deforma por
estagnação, A primeira gosta dos livros, a segunda os detesta.

[ ... ]

Para aprender a perguntar, precisamos aprender a ler. Não porque o pensamento dependa da
gramática ou da língua formal, mas porque ler é um tipo de experiência que nos ensina a
desenvolver raciocínios, nos ensina a entender, a ouvir e a falar para compreender. Nos ensina a
interpretar. Nos ajuda, portanto, a elaborar questões, a fazer perguntas. Perguntas que nos ajudam
a dialogar, ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem que este outro seja, em um primeiro
momento, apenas cada um de nós mesmos.

Pensar, esse ato que está faltando entre nós, começa aí, muitas vezes em silêncio, quando nos
dedicamos a esse gesto simples e ao mesmo tempo complexo que é ler um livro, É lamentável que
as pessoas sucumbam ao clima programado da cultura em que ler é proibido. Os meios tecnológicos
de comunicação são insidiosos nesse momento, pois prometem uma completude que o ato de ler
um livro nunca prometeu. É que o ato da leitura nunca nos engana. Por isso, também, muitos
afastam-se dele. Muitos que foram educados para não pensar, passam a não gostar do que não
conhecem. Mas há quem tenha descoberto esse prazer que é o prazer de pensar a partir da
experiência da linguagem - compreensão e diálogo - que sempre está ofertada em um livro.
Certamente para essas pessoas, o mundo todo - e ela mesma - é algo bem diferente.

(TIBURI, Márcia. Potência do pensamento: por uma filosofia política da leitura. Disponível em
http://revistacult.uol.com.br - 31 de jan. 2016 - com adaptações)

(Col. Naval - 2016)

Em qual opção o termo destacado tem a mesma classificação morfológica que "[...] é preocupante
quando sabemos que os livros são dispositivos fundamentais[...]." (1°§)?

A) "Aquele que não sabe e quer saber[...]." (2°§)

AULA 11 – Sintaxe III 158


Prof. Celina Gil

B) "Nem que este outro seja, [...]." (3°§)

C) "Perguntas que nos ajudam a dialogar[...]." (3°§)

D) "[...]há quem tenha descoberto esse prazer[...]." (4 °§)

E) "[...] impotente e, contudo, muito prepotente, [...]." (2° §)

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois “que” aqui é um pronome relativo.

Alternativa B está incorreta, pois “este” aqui é pronome demonstrativo.

Alternativa C está incorreta, pois “que” aqui é um pronome relativo.

Alternativa D está incorreta, pois “quem” aqui é pronome indefinido.

Alternativa E está correta, pois assim como o “que” do enunciado, “contudo” é uma conjunção.

Gabarito: E

(Col. Naval - 2016)

Assinale a opção na qual o uso da conjunção mantém o sentido original do período "A primeira gosta
dos livros, a segunda os detesta. " (2°§).

A) A primeira gosta dos livros, e a segunda os detesta.

B) A primeira gosta dos livros, logo a segunda os detesta.

C) A primeira gosta dos livros, porque a segunda os detesta.

D) A primeira gosta dos livros, quando a segunda os detesta.

E) A primeira gosta dos livros, portanto a segunda os detesta.

Comentários:

Alternativa A está correta, pois assim como no enunciado, aqui há uma relação aditiva, enumerando
informações para compor o poema.

Alternativa B está incorreta, pois aqui há uma noção conclusiva que não existe no período original.

Alternativa C está incorreta, pois aqui há uma noção explicativa que não existe no período original.

Alternativa D está incorreta, pois aqui há uma noção temporal que não existe no período original.

Alternativa E está incorreta, pois aqui há uma noção conclusiva que não existe no período original.

Gabarito: A
(Col. Naval - 2015)

AULA 11 – Sintaxe III 159


Prof. Celina Gil

Quando se pergunta à população brasileira, em uma pesquisa de opinião, qual seria o problema
fundamental do Brasil, a maioria indica a precariedade da educação. Os entrevistados costumam
apontar que o sistema educacional brasileiro não é capaz de preparar os jovens para a compreensão
de textos simples, elaboração de cálculos aritméticos de operações básicas, conhecimento
elementar de física e química, e outros fornecidos pelas escolas fundamentais.

[...]

Certa vez, participava de uma reunião de pais e professores em uma escola privada brasileira de
destaque e notei que muitos pais expressavam o desejo de ter bons professores, satas de aula com
poucos alunos, mas não se sentiam responsáveis para participarem ativamente das atividades
educacionais, inclusive custeando os seus serviços. Se os pais não conseguiam entender que esta
aritmética não fecha e que a sua aspiração estaria no campo do milagre, parece difícil que consigam
transmitir aos seus filhos o mínimo de educação.

Para eles, a educação dos filhos não se baseia no aprendizado dos exemplos dados pelos pais.
Que esta educação seja prioritária e ajude a resolver os outros problemas de uma sociedade como
a brasileira parece lógico. No entanto, não se pode pensar que a sua deficiência depende somente
das autoridades. Ela começa com os próprios pais, que não podem simplesmente terceirizar essa
responsabilidade.

Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja
convencida de que todos precisam contribuir para tanto, inclusive elegendo representantes que
partilhem desta convicção e não estejam pensando somente nos seus benefícios pessoais.

Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se
tornando disponíveis no Brasil, nota-se que muitos estão se convencendo de que eles ajudam na
sua ascensão social, mesmo sendo precários. O número daqueles que trabalham para obter o seu
sustento e ajudar a sua família, e ao mesmo tempo se dispõe a fazer um sacrifício adicional
frequentando cursos até noturnos, parece estar aumentando.

A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão
está em alta. É tratada como prioridade tanto no governo como em instituições representativas das
empresas. O mercado observa a carência de pessoal qualificado para elevar a eficiência do trabalho.

Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras
penas, a sua distribuição de renda. Mas, para que este processo de melhoria do bem-estar da
população seja sustentável, há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que
permita, também, o aumento da parcela da renda destinada à poupança, que vai sustentar os
investimentos indispensáveis.

A população que deseja melhores serviços das autoridades precisa ter a consciência de que uma
boa educação, não necessariamente formal, é fundamental para atender melhor as suas aspirações.

AULA 11 – Sintaxe III 160


Prof. Celina Gil

(YOKOTA, Paulo. Os problemas da educação no Brasil. Em http://www, cartacapital.com.br/ educacao/os-problemas-


da-educacao-no-brasil- 657.html -—- Com adaptações)

Assinale a opção na qual o termo em destaque inicia uma oração subordinada substantiva.

a) "A demanda por cursos técnicos que elevam suas habilidades para o bom exercício da profissão
está em alta." (7º§)

b) "Muitos reconhecem que o Brasil é um dos países emergentes que estão melhorando, a duras
penas, a sua distribuição [...].” (8º§)

c) "Sobre a educação formal, aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos que estão se
tornando disponíveis [...].” (6º§)

d) "[...] há que se conseguir um aumento da produtividade do trabalho, que permita, também, o


aumento [...]." (8º§)
e) "Para que haja uma mudança neste quadro é preciso que a sociedade como um todo esteja
convencida [...]."(5º§)

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois a oração “que elevam suas habilidades para o bom exercício da
profissão” é adjetiva restritiva.

Alternativa B está correta, pois aqui a oração “que o Brasil é um dos países emergentes” assume função
de objeto direto de “Muitos reconhecem”.

Alternativa C está incorreta, pois a oração “aquela que pode ser conseguida nos muitos cursos é adjetiva
restritiva.

Alternativa D está incorreta, pois “há que” é uma locução verbal, logo, o “que” isoladamente não pode
ser analisado.

Alternativa E está incorreta, pois “para que” tem noção de finalidade, não de substantivo.

Gabarito: B
(Col. Naval - 2014)

Aumenta o número de adultos que não consegue focar sua atenção em uma única coisa por
muito tempo. São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente
desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo. Nós nos tornamos, à
semelhança dos computadores, pessoas multitarefa, não é verdade?

Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. Ela precisa estar atenta aos veículos que
vêm atrás, ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do

AULA 11 – Sintaxe III 161


Prof. Celina Gil

GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, às informações de alguma emissora
de rádio que comenta o trânsito, ao planejamento mental feito e refeito várias vezes do trajeto que
deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.

Quando me vejo em tal situação, eu me lembro que dirigir, após um dia de intenso trabalho no
retorno para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestressante.

O uso da internet ajudou a transformar nossa maneira de olhar para o mundo. Não mais
observamos os detalhes, por causa de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações.
Quantas vezes sentei em frente ao computador para buscar textos sobre um tema e, de repente,
me dei conta de que estava em temas que em nada se relacionavam com meu tema primeiro.

Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costume de ler na internet. Sofremos
de uma tentação permanente de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao ponto.
O problema é que alguns textos exigem a leitura atenta de palavra por palavra, de frase por frase,
para que faça sentido. Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá sentido e beleza
a um texto?

Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine, caro leitor, para as crianças. Elas
já nasceram neste mundo de profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde o
início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são estimuladas com diferentes
objetos, sons, imagens etc.

Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir de então, querem que as
crianças prestem atenção em uma única coisa por muito tempo. E quando elas não conseguem,
reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que sejam portadoras de síndromes que
exigem tratamento etc.

A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sabem usar programas complexos
em seus aparelhos eletrônicos, brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante aos
detalhes e, se deixarmos, passam horas em uma única atividade de que gostam.

Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é preciso, e não no que gostam.
E isso, caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.

As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a aprender isso. Aliás, boa parte
desse trabalho é nosso, e não delas.

Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada as ajuda. O que pode ajudar, por
exemplo, é analisarmos o contexto em que estão quando precisam focar a atenção e organizá-lo
para que seja favorável a tal exigência. E é preciso lembrar que não se pode esperar toda a atenção
delas por muito tempo: o ensino desse quesito no mundo de hoje é um processo lento e gradual.

SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos. Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 - adaptado.

AULA 11 – Sintaxe III 162


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Assinale a opção em que está expressa a ideia de consequência.

A) "E quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que
sejam portadoras de síndromes [...]."(7 °§)

B) "Sofremos de uma tentação permanente de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos
direto ao ponto." (5°§)

C) "Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é preciso, e não no que gostam."
(9°§)

D) "O que pode ajudar, por exemplo, é analisarmos o contexto [ .. .] e organizá-lo para que seja
favorável a tal exigência." (11°§)

E) "São tantos os estímulos e tanta a pressão [ . . . ] que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas
ao mesmo tempo [...]." (1°§)

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois há noção temporal em “quando elas não conseguem”, não de
consequência.

Alternativa B está incorreta, pois “apenas para irmos direto ao ponto” tem valor de finalidade.

Alternativa C está incorreta, pois aqui há noção adversativa, não consecutiva.

Alternativa D está incorreta, pois em “para que seja favorável a tal exigência” há valor de finalidade.

Alternativa E está correta, pois a oração “que aprendemos a ver” te valor consecutivo. Aprender a ver é
uma consequência dos estímulos e da pressão.

Gabarito: E

Texto para as próximas questões:

Eles blogam. E você?

Após o surgimento da rede mundial de computadores, no início da década de 1990,


testemunhamos uma revolução nas tecnologias de comunicação instantânea. Nós, que nascemos
em um mundo anterior à Internet, aprendemos a viver no universo constituído por coisas palpáveis:
casas, máquinas, roupas etc. O contato se estabelecia entre seres humanos reais por meios "físicos":
cartas, telefonemas, encontros.

Em um mundo concreto, a escola não poderia ser diferente: livros, giz, carteiras, quadro-negro,
mural. Esse espaço é ainda hoje definido por uma série de símbolos de um tempo passado e tem se
mantido relativamente inalterado desde o século XIX. Os alunos atuais, porém, são nativos digitais.
Em outras palavras: nasceram em um mundo no qual já existiam computadores, Internet, telefone
celular, tocadores de MP3, videogames, programas de comunicação instantânea (MSN, Google Talk

AULA 11 – Sintaxe III 163


Prof. Celina Gil

etc.) e muitas outras ferramentas da era digital. Seu mundo é definido por coisas imateriais:
imagens, dados e sons que trafegam e são armazenados no espaço virtual.

Um dos aspectos mais sedutores do ciberespaço é o seu poder de articulação social. Foi no fim
da década de 1990 que os usuários da Internet descobriram uma ferramenta facilitadora da
interação escrita entre diferentes pessoas conectadas em uma rede virtual: os weblogs, que logo
ficaram conhecidos como blogs. O termo é formado pelas palavras web (rede, em inglês) e log
(registro, anotação diária). A velocidade de reprodução da blogosfera é assustadora: 120 mil novos
blogs por dia, 1,4 blog por semana.

O blog se caracteriza por apresentar as observações pessoais de seu "dono" (o criador do blog)
sobre temas que variam de acordo com os interesses do blogueiro e também de acordo com o tipo
de blog. As possibilidades são infinitas: há blogs pessoais, políticos, culturais, esportivos,
jornalísticos, de humor etc.

Os textos que o blogueiro insere no blog são chamados de posts. Em português, o termo já deu
origem a um verbo, "postar", que significa "escrever uma entrada em um blog". Os posts são
cronológicos, porém apresentados em ordem inversa: sempre do mais recente para o mais antigo.
Os internautas que visitam um blog podem fazer comentários aos posts.

Justamente porque facilitam a comunicação e permitem a interação entre usuários de todas as


partes, os blogs são interessantes ferramentas pedagógicas. Se a escola é o espaço preferencial para
a construção do conhecimento, nada mais lógico do que levar os blogs para a sala de aula, porque
eles têm como vocação a produção de conteúdo. Por que não criar um blog de uma turma, do qual
participem todos os alunos, para comentar temas atuais, para debater questões polêmicas, para
criar um contexto real em que o texto escrito surja como algo natural?

Na blogosfera, informação é poder. E os jovens sabem disso, porque conhecem o ciberespaço. O


entusiasmo pela criação de um blog coletivo certamente será acompanhado pelo desejo de
transformá-lo em ponto de parada obrigatória para os leitores que vagam no universo virtual. E esse
desejo será um motivador muito importante. Para conquistar leitores, os autores de um blog
precisam não só ter o que dizer, mas também saber como dizer o que querem, escolher imagens
instigantes, criar títulos provocadores.

Uma vez criado o blog da turma, as possibilidades pedagógicas a ele associadas multiplicam-se.
Para gerar conteúdo consistente é necessário pesquisar, considerar diferentes pontos de vista sobre
temas polêmicos, avaliar a necessidade de ilustrar determinados conceitos com imagens, definir
critérios para a moderação dos comentários, escolher os temas preferenciais a serem abordados
etc. Todos esses procedimentos estão na base da construção de conhecimento.

Outro aspecto muito importante é que os jovens, em uma situação rara no espaço escolar, vão
constatar que, nesse caso, quem domina o conhecimento são eles. Pela primeira vez não precisarão
virar "analógicos" para se adaptar ao universo da sala de aula. Eu blogo. Eles blogam. E você?

AULA 11 – Sintaxe III 164


Prof. Celina Gil

Maria Luiza Abaurre, in Revista Carta na Escola. (adaptado)

(Col. Naval - 2009)

Assinale a opção em que a correspondência entre o conectivo e seu emprego sintático-semântico


está correta.

A) "Foi no fim da década de 1990 que os usuários da Internet..." (3° § ) - consequência

B) "Se a escola é o espaço preferencial para a construção..." (6° § ) - causa

C) "Justamente porque facilitam a comunicação e permitem..." (6° § ) - finalidade

D) "Por que não criar um blog de uma turma, do qual..." (6° § ) - explicação

E) "E os jovens sabem disso, porque conhecem. . . " (7 ° § ) - causa

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois o “que” aqui é partícula expletiva, servindo de realce.

Alternativa B está correta, pois o contexto todo dessa oração é “Se a escola é o espaço preferencial para
a construção do conhecimento, nada mais lógico do que levar os blogs para a sala de aula, porque eles
têm como vocação a produção de conteúdo”. Nesse contexto, o “se” tem valor causal, podendo ser
substituído por um “já que”: “Já que a escola é o espaço preferencial para a construção do conhecimento
(...)”. Esse caso ocorre especificamente no início de frases.

Alternativa C está incorreta, pois aqui há uma noção explicativa, não de finalidade.

Alternativa D está incorreta, pois aqui “Por que” é um termo interrogativo, não tendo valor de explicação.

Alternativa E está incorreta, pois aqui há uma noção de explicação, não de causa.

Gabarito: B
(Col. Naval - 2009)

Em "Os internautas que visitam um blog podem fazer comentários aos posts" (5° § ), a oração
destacada

A) explica a relação internauta/blog.

B) particulariza o termo ao qual se refere.

C) expressa a finalidade da visita a um blog.

D) opõe-se àquilo que foi mencionado na oração anterior.

E) acrescenta uma informação suplementar a um termo já definido.

AULA 11 – Sintaxe III 165


Prof. Celina Gil

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois a oração aqui não é explicativa, mas restritiva, o que se comprova pela
ausência de vírgulas.

Alternativa B está correta, pois “que visitam um blog” é uma oração adjetiva restritiva, particularizando o
termo “os internautas” a que ele se refere.

Alternativa C está incorreta, pois aqui há uma atribuição de característica para “internautas”, não uma
finalidade para sua ação.

Alternativa D está incorreta, pois não há aqui noção adversativa, mas restritiva.

Alternativa E está incorreta, pois a definição vem justamente dessa oração adjetiva.

Gabarito: B
(ESA - 2017)

Marque a alternativa em que há uma relação de causa e consequência entre as orações.

a) A criança era tão determinada como seus pais o foram em seus tempos de escola.

b) Haverá vacinação no próximo mês como foi anunciado pelo Ministério da Saúde.

c) Como motorista conseguiu sobreviver àquele grave acidente?

d) Não só faltou a muitas aulas, como deixou de fazer as provas na data prevista.

e) Como estava dispensado pelo médico, permaneceu o resto do dia em casa.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois há aqui uma noção comparativa, não de causa e consequência.

Alternativa B está incorreta, pois há aqui uma noção de conformidade, não de causa e consequência.

Alternativa C está incorreta, pois há aqui uma construção interrogativa, não uma noção de causa e
consequência.

Alternativa D está incorreta, pois há aqui uma noção aditiva, não de causa e consequência.

Alternativa E está correta, pois há aqui uma noção de causa (por causa da dispensa dada pelo médico) e
de consequência (consequentemente pode permanecer o resto do dia em casa).

Gabarito: E
(ESA - 2016)

Em todas as alternativas, há Orações Subordinadas Adverbiais, exceto:


A) Estude bastante, porque amanhã haverá uma prova.

AULA 11 – Sintaxe III 166


Prof. Celina Gil

B) Estudou tanto que teve um ótimo desempenho na prova.

C) Você terá um excelente desempenho desde que estude.

D) Os alunos realizaram a prova assim que chegaram na escola.

E) Não compareceu à aula ontem porque viajou.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois aqui há uma construção coordenada explicativa, não subordinada
adverbial.

Alternativa B está correta, pois aqui há uma noção consecutiva, portanto, subordinada adverbial.

Alternativa C está correta, pois aqui há uma noção condicional, portanto, subordinada adverbial.

Alternativa D está correta, pois aqui há uma noção temporal, portanto, subordinada adverbial.

Alternativa E está correta, pois aqui há uma noção causal, portanto, subordinada adverbial.

Gabarito: A

Texto para as próximas questões

Falta de educação e velocidade

Os anjos da morte estão cansados de nos recolher, a nós que nos matamos ou somos
assassinados no tráfego das estradas, cidades, esquinas deste país. Os anjos da morte estão
exaustos de pegar restos de vidas botadas fora. Os anjos da morte andam fartos de corpos mutilados
e almas atônitas. Os anjos da morte suspiram por todo esse desperdício.

Não sei se as propagandas que tentam aos poucos aliviar essa tragédia ajudam tanto a preservar
vidas quanto as intermináveis, ricas e coloridas propagandas de cerveja ajudam a beber mais e mais
e mais, colaborando para uma parte dessa carnificina. Mas sei que estou no limite. Não apenas
porque abro jornais, TV e computador e vejo a mortandade em andamento, mas porque tenho
observado as coisas em questão. Recentemente, dirigindo numa autoestrada, percebi um motorista
tentando empurrar para o canteiro central um carro que seguia à minha frente na faixa esquerda,
na velocidade adequada ao trajeto. Chegava provocadoramente perto, pertinho, pertíssimo, quase
batia no outro, que se desviava um pouco lutando para manter-se firme no seu trajeto sem
despencar.

[...]

Atenção: os jovens são – em geral, mas não sempre – mais arrojados, mais imprudentes, têm
menos experiência na direção. Portanto, são mais inclinados a acidentes, bobos ou fatais, em que a
gente mata e morre. Mas há um número impressionante de adultos – mais homens do que
mulheres, diga-se de passagem, porque talvez sejam biologicamente mais agressivos – cometendo

AULA 11 – Sintaxe III 167


Prof. Celina Gil

loucuras ao dirigir, avançando o sinal, quase empurrando o veículo da frente com seu parachoque,
não cedendo passagem, ultrapassando em locais absurdos sem a menor segurança, bebendo antes
de dirigir, enfim, usando o carro como um punhal hostil [...].

Cada um se porta como quer – ou como consegue. Isso vem do caráter inato, combinado com
a educação recebida em casa. Quando esse comportamento ultrapassa o convívio cotidiano e pode
mutilar pais de família, filhos e filhas amados, amigos preciosos, ou seja lá quem for, então é preciso
instaurar leis férreas e punições comparáveis. Que não permitam escapadelas nem facilitem
cometer a infração com branda cobrança. Que não admitam desculpas e subterfúgios, não premiem
o erro, não pequem por uma criminosa omissão.

Precisamos em quase tudo de autoridade e respeito, para que haja uma reforma
generalizada, passando da desordem e do caos a algum tipo de segurança e bem-estar. [...]

Autoridade justa, mas muito rigorosa, é o que talvez nos deixe mais lúcidos e mais bem-educados:
em casa, na escola, na rua, na estrada, no bar, no clube, dentro do nosso carro. E os fatigados anjos
da morte poderão, se não entrar em férias, ao menos relaxar um pouco.

Lya Luft

(ESA - 2013)

Em “Todos os soldados viram, durante o combate, que os inimigos foram derrotados”, pode-se
classificar a oração que foi sublinhada como oração subordinada substantiva

A) completiva nominal.

B) predicativa.

C) objetiva indireta.

D) objetiva direta.

E) apositiva.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois a oração aqui complementa o sentido de um verbo, não de um termo
nominal.

Alternativa B está incorreta, pois há aqui nenhum verbo de ligação que justifique a existência de um
predicativo do sujeito.

Alternativa C está incorreta, pois não há aqui nenhuma preposição antes da oração que indique que essa
oração poderia ser um objeto indireto.

AULA 11 – Sintaxe III 168


Prof. Celina Gil

Alternativa D está correta, pois “que os inimigos foram derrotados” corresponde ao objeto direto da
oração, explicitando o que foi que os soldados viram: Todos os soldados viram isso (que os inimigos foram
derrotados).

Alternativa E está incorreta, pois a oração não tem a função de adicionar informações a um termo
anteriormente citado.

Gabarito: D
(ESA - 2013)

No período: “Espero que ele venha a São Paulo.”, a oração em destaque classifica-se sintaticamente
como

A) subordinada substantiva objetiva direta.

B) subordinada substantiva objetiva indireta.

C) subordinada substantiva subjetiva.

D) subordinada adjetiva restritiva.

E) subordinada adjetiva explicativa.

Comentários:

Alternativa A está correta, pois “que ele venha a São Paulo” corresponde ao objeto direto da oração,
explicitando o que “eu espero”: Espero isso (que ele venha a São Paulo).

Alternativa B está incorreta, pois não há aqui nenhuma preposição antes da oração que indique que essa
oração poderia ser um objeto indireto.

Alternativa C está incorreta, pois o sujeito da oração é um sujeito oculto, compreendido pela desinência
verbal de “espero”.

Alternativa D está incorreta, pois a oração não tem o sentido de caracterizar nenhum termo nominal.

Alternativa E está incorreta, pois, assim como em D, a oração não tem o sentido de caracterizar nenhum
termo nominal.

Gabarito: A

(ESA - 2012)

01 Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho

vagaroso com vagarosas

paradas

em cada estaçãozinha pobre

05 para comprar

AULA 11 – Sintaxe III 169


Prof. Celina Gil

pastéis

pés-de-moleque

sonhos

- principalmente sonhos!

10 porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar;

elas suspirando maravilhosas viagens

e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando

sempre...Nisto,

o apito da locomotiva

15 e o trem se afastando

e o trem arquejando é preciso partir


é preciso chegar

é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

20 ...no entanto

eu gostava era mesmo de partir...

e - até hoje - quando acaso embarco

para alguma parte

acomodo-me no meu lugar

25 fecho os olhos e sonho:

viajar, viajar

mas para parte nenhuma...

viajar indefinidamente...

como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

(QUINTANA, Mário. Baú de Espantos. in: MARÇAL, Iguami Antônio T. Antologia Escolar, Vol.1; BIBLIEX; p. 169.)

“Não era um craque, mas sua perda desfalcaria o time”.

No trecho, a segunda oração é, na gramática normativa, uma oração:

A) subordinada substantiva.

AULA 11 – Sintaxe III 170


Prof. Celina Gil

B) coordenada assindética.

C) subordinada adjetiva.

D) coordenada sindética

E) subordinada adverbial.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois as orações aqui são coordenadas, não subordinadas.

Alternativa B está incorreta, pois a presença do conectivo “mas” faz com que a oração seja sindética, não
assindética.

Alternativa C está incorreta, pois as orações aqui são coordenadas, não subordinadas.

Alternativa D está correta, pois as orações aqui são coordenadas, ligadas por um conectivo. Logo, é uma
oração coordenada sindética.

Alternativa E está incorreta, pois as orações aqui são coordenadas, não subordinadas.

Gabarito: D
(ESA - 2009)

No período “Não esqueçam que só nós temos Um canal aberto para lá (...) e que pode ser vital, se
nada der certo.” a oração destacada é:

A) subordinada adverbial consecutiva

B) subordinada adverbial concessiva

C) subordinada adverbial causal

D) subordinada adverbial condicional

E) subordinada adverbial comparativa

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois não há aqui uma noção de consequência: nada dar certo não é
consequência de ter um canal aberto.

Alternativa B está incorreta, pois não há uma ideia concessiva em “se nada der certo”, não podendo ser
substituída por “embora” por exemplo.

Alternativa C está incorreta, pois “nada dar certo” não é a causa de ter um canal aberto.

Alternativa D está correta, pois a noção aqui é condicional: caso nada dê certo, na condição de nada dar
certo, ainda temos um canal aberto.

AULA 11 – Sintaxe III 171


Prof. Celina Gil

Alternativa E está incorreta, pois não há aqui uma comparação entre ter um canal aberto e tudo dar certo.

Gabarito: D

(ESA - 2007)

Em “E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em


um só segundo”, os dois pontos foram empregados para:

A) introduzir uma citação.

B) anunciar a fala da personagem no discurso direto.

C) introduzir uma oração apositiva.

D) introduzir uma oração objetiva direta.

E) introduzir uma enumeração

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois aqui não há uma citação, mas uma continuidade do que foi dito pela
mesma pessoa.

Alternativa B está incorreta, pois aqui há a continuidade do que foi dito pela mesma pessoa.

Alternativa C está correta, pois a oração “que eu inventei toda a minha história em um só segundo” explica
e aprofunda o significado do termo “verdade” que vem antes dos dois pontos.

Alternativa D está incorreta, pois essa oração não complementa o sentido de nenhum verbo.

Alternativa E está incorreta, pois não há aqui uma enumeração, mas uma explicação.

Gabarito: C

(EEAR – 2020/2)

Em qual alternativa a oração em destaque é subordinada adjetiva reduzida?

a) Ele é nossa principal testemunha, pois foi a primeira pessoa a entrar no local do crime.

b) Entrando repentinamente no recinto, ele foi o primeiro a presenciar a cena do crime.

c) Sendo o primeiro a entrar no recinto, ele é nossa principal testemunha.

d) Ao entrar no recinto, ele presenciou primeiramente a cena do crime.

Comentários:

Alternativa A está correta, pois perceba que temos uma oração subordinada adjetiva restritiva: “Ele é
nossa principal testemunha, pois foi a primeira pessoa que entrou no local do crime”.

Alternativa B está incorreta, pois temos uma oração subordinada adverbial reduzida.

AULA 11 – Sintaxe III 172


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Alternativa C está incorreta, pois temos uma oração subordinada adverbial causal reduzida: Já que foi o
primeiro a entrar no recinto, ele é nossa principal testemunha

Alternativa D está incorreta, pois temos uma oração subordinada adverbial temporal reduzida: quando
entrou no recinto, ele presenciou primeiramente a cena do crime.

Gabarito: A
(EEAR – 2020/2)

Se transformarmos os períodos simples em períodos compostos, em qual alternativa haverá uma


oração coordenada sindética adversativa?

a) “Tenha paciência. Deus está contigo”.

b) “Eu quis dizer. Você não quis escutar”.

c) “Não me venham com conclusões. A única conclusão é morrer”.

d) “O mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos”.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois para ser uma oração com característica adversativa, precisa de ter ideias
diferentes. Nesse alternativa isso não acontece.

Alternativa B está correta, pois podemos juntar as ideias e obter uma oração coordenada sindética
adversativa: eu quis dizer, mas você não quis escutar.

Alternativa C está incorreta, pois apresenta o mesmo erro da alternativa A.

Alternativa D está incorreta, pois apresenta o mesmo erro das alternativas A e C.

Gabarito: B
(EEAR – 2020/2)

Leia:

“O taverneiro declarou que nada podia saber ao certo. Tinha certeza de que lhe invadiram a
propriedade.”

No texto acima, as orações substantivas em destaque são, respectivamente,

a) subjetiva e predicativa.

b) objetiva direta e objetiva indireta.

c) objetiva direta e completiva nominal

d) objetiva indireta e completiva nominal.

AULA 11 – Sintaxe III 173


Prof. Celina Gil

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois as duas orações estão classificadas de forma errada, a primeira é objetiva
direta e a segunda é completiva nominal.

Alternativa B está incorreta, pois a segunda oração está classificada errada.

Alternativa C está correta, pois as frases estão classificadas corretamente. A primeira é objeto direto,
indicando o que o taverneiro declarou. A segunda, por sua vez, indica o complemento do substantivo
abstrato “certeza”, o que faz dela uma completiva nominal.

Alternativa D está incorreta, pois a primeira frase está classificada errada.

Gabarito: C

(EEAR – 2020/2)

Em qual alternativa há uma oração subordinada adverbial final?


a) Os professores, quando decidiram fazer um trabalho de reforço com os alunos, tinham a intenção
de obter um resultado melhor no Exame Nacional, em relação ao ano anterior.

b) O trabalho de reforço daqueles professores foi tão importante que o resultado no Exame
Nacional, em relação ao ano anterior, foi bem melhor.

c) Como os professores fizeram um trabalho de reforço com os alunos, o resultado no Exame


Nacional, em relação ao ano anterior, foi bem melhor.

d) Para que o resultado do Exame Nacional fosse melhor em relação ao ano anterior, os professores
fizeram um trabalho de reforço com os alunos.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois há oração subordinada adverbial temporal “quando decidiram fazer um
trabalho de reforço com os alunos”.

Alternativa B está incorreta, pois temos uma subordinada adverbial consecutiva: “O trabalho de reforço
daqueles professores foi tão importante[causa] que o resultado no Exame Nacional, em relação ao ano
anterior, foi bem melhor [consequência do bom trabalho]”.

Alternativa C está incorreta, pois temos uma oração subordinada adverbial explicativa ( o “como” pode
ser substituído pelo “já que”).

Alternativa D está correta, pois essa alternativa apresenta uma oração subordinada adverbial final. O
“para que” pode também ser substituído pelo “a fim de que”.

Gabarito: D
(EEAR – 2019/2)

Leia as frases e responda ao que se pede.

AULA 11 – Sintaxe III 174


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1 – As esculturas expostas nesta galeria são de um artista desconhecido.

2 – Os políticos, que estão engajados no processo eleitoral, só pensam na vitória.

3 – O supermercado do centro foi o primeiro a expor o novo produto em suas prateleiras.

4 – O jogador de Futebol Rogério Ceni, desafiando o tempo, jogou até os 42 anos de idade em alto
nível.

Em qual alternativa há oração subordinada adjetiva explicativa?

a) 1 e 4.

b) 1 e 3.

c) 2 e 3.

d) 2 e 4.

Comentários:

Alternativa A está incorreta, pois a frase 1 possui apenas oração principal.

Alternativa B está incorreta, pois nenhuma das duas frases (frase 1 e frase 3) possui uma oração
subordinada adjetiva explicativa.

Alternativa C está incorreta, pois a frase 3 não possui uma oração subordinada adjetiva explicativa e sim
uma oração subordinada substantiva completiva nominal completando “primeiro”.

Alternativa D está correta, pois na frase 2 a oração: ‘que estão engajados no processo eleitoral’ é uma
oração subordinada adjetiva explicativa e na frase 4 a oração: ‘desafiando o tempo’ é uma oração
subordinada adjetiva explicativa.

Gabarito: D
(EEAR – 2019/2)

Leia:

“Doutor Urbino era demasiado sério para achar que ela dissesse isso com segundas intenções. Pelo
contrário: perguntou a si mesmo, confuso, se tantas facilidades juntas não seriam uma armadilha
de Deus.”

As orações subordinadas em destaque são, respectivamente,

a) substantiva objetiva direta e substantiva objetiva direta.

b) substantiva objetiva direta e adverbial condicional.


c) substantiva subjetiva e substantiva objetiva direta.

AULA 11 – Sintaxe III 175


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d) adjetiva restritiva e adverbial condicional.

Comentários:

1ª oração: é objeto direto do verbo achar (“achar isso”).

2ª oração: é objeto do verbo perguntou (“perguntou a si mesmo isso”).

Alternativa A está correta, pois as orações em negrito estão classificadas corretamente.

Alternativa B está incorreta, pois a segunda oração em negrito está classificada incorretamente.

Alternativa C está incorreta, pois a primeira oração está classificada incorretamente.

Alternativa D está incorreta, pois as duas orações estão classificadas incorretamente.

Gabarito: A
(EEAR – 2019/2)

Leia os períodos e depois assinale a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as orações
adverbiais em destaque.

1 – A filha é traiçoeira como o pai.

2 – O Chefe de Estado agiu como manda o regulamento.

3 – Como era esperado, ele negou a participação no sequestro.

4 – Como não estava bem fisicamente, não participou da maratona.

a) Causal, comparativa, causal, comparativa.


b) Comparativa, conformativa, causal, causal.

c) Comparativa, conformativa, conformativa, causal.

d) Conformativa, causal, comparativa, conformativa.

Comentários:

Oração 1: adverbial comparativa, o que é indicado pelo ”como”.

Oração 2: adverbial conformativa (experimente trocar o “como” pelo “conforme”.)

Oração 3: adverbial conformativa (experimente trocar o “como” pelo “conforme”.)

Oração 4: adverbial causal (o motivo de não ter participado foi o mal estar).

AULA 11 – Sintaxe III 176


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Alternativa A está incorreta, pois nenhuma oração em negrito está classificada corretamente.

Alternativa B está incorreta, pois a terceira oração está classificada de forma incorreta.

Alternativa C está correta, pois todas as orações estão corretamente classificadas.

Alternativa D está incorreta, pois nenhuma oração em negrito está classificada corretamente.

Gabarito: C
(EEAR – 2018/2)

Há, no texto abaixo, uma oração reduzida em destaque. Leia-a com atenção e, a seguir, assinale a
alternativa que traz sua correspondente classificação sintática.

...o foco narrativo mostra a sua verdadeira força na medida em que é capaz de configurar o nível de
consciência de um homem que, tendo conquistado a duras penas um lugar ao sol, absorveu na sua
longa jornada toda a agressividade latente de um sistema de competição. (Alfredo Bosi)

a) oração subordinada adverbial consecutiva

b) oração subordinada adjetiva explicativa

c) oração subordinada adjetiva restritiva

d) oração subordinada adverbial causal

Comentários:

Alternativa A é errada: a parte em destaque não é uma consequência de algo da outra oração.

Alternativa B é errada: a frase destacada não explica algo, mas fala a razão de ter feito algo.

Alternativa C é errada: ela não especifica o sentido de um termo, tornando seu sentido mais restrito.

Alternativa D é correta: a sentença em destaque foi a causa de ter absorvido na sua longa jornada toda a
agressividade. Substituindo: .”..o foco narrativo mostra a sua verdadeira força na medida em que é capaz
de configurar o nível de consciência de um homem que, por ter conquistado a duras penas um lugar ao
sol, absorveu na sua longa jornada toda a agressividade latente de um sistema de competição”.

Gabarito: D
(EEAR – 2017/B)

Leia:

I. Todos os brasileiros que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira devem gastar longas horas
de estudo e dedicação.

AULA 11 – Sintaxe III 177


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II. Todos os brasileiros, que desejam ingressar na Força Aérea Brasileira, devem gastar longas horas
de estudo e dedicação.

Marque a alternativa correta.

a) A frase I possibilita a conclusão de que todos os brasileiros, indiscriminadamente, desejam


ingressar na Força Aérea Brasileira.

b) As frases I e II estão em desconformidade com as normas gramaticais vigentes em relação às


Orações Subordinadas Adjetivas.

c) A frase I, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, não apresenta vírgulas. Esse fato
está em conformidade com as normas gramaticais vigentes.

d) A frase II, por conter Oração Subordinada Adjetiva Restritiva, apresenta vírgulas. Esse fato está
em conformidade com as normas gramaticais vigentes.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a ausência de vírgulas faz com que o trecho que desejam ingressar na
Força Aérea Brasileira seja uma oração subordinada adjetiva restritiva, de modo que separa os brasileiros
entre aqueles que querem ingressar na Força Aérea Brasileira, e aqueles que não querem. Com isso,
ocorre uma restrição, e não uma generalização.

A alternativa B está incorreta, pois as orações estão formuladas corretamente (uma apresenta ambas
vírgulas, enquanto a outra não apresenta vírgula).

A alternativa C está correta, pois, como se explicou na alternativa A, a ausência de vírgulas demarca uma
oração subordinada adjetiva restritiva (a presença de vírgulas produz uma oração subordinada adjetiva
explicativa).

A alternativa D está incorreta, pois a presença de vírgulas indica uma oração subordinada adjetiva
explicativa, que generaliza a afirmação.

Gabarito: C

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)


Assinale, a seguir, a alternativa em que a reescrita da oração destacada mantém-se com o mesmo
significado da oração original.

“E ela consegue isso por uma estranha norma estética: a que decreta a criatividade deturpada da
publicidade enquanto as potências da arte são confinadas ao espaço dos especialistas.”

a) “quando há confinamento, no espaço dos especialistas, das potências de arte”.

b) “ao mesmo tempo em que são confinadas, ao espaço dos especialistas, as potências da arte”.

AULA 11 – Sintaxe III 178


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c) “de modo que há confinamento das potências da arte ao espaço dos especialistas”.

d) “depois que as potências da arte são confinadas ao espaço dos especialistas”.

e) “agora que há confinamento, no espaço dos especialistas, das potências da arte”.

Comentários

Alternativa A: incorreta. O trecho apresenta significação completa, sem nenhum problema de construção.
Contudo, a significação não é a mesma por dois motivos: a discussão possível para o quando, que
apresenta uma noção de tempo, mas não de concomitância, como no original; e o uso de “no espaço dos
especialistas”, que determina a existência de um local para colocar-se os elementos artísticos.

Alternativa B: correta. Nessa reescritura, o que temos é a inversão de alguns elementos, fato que não
atrapalha a compreensão do trecho reescrito. Além disso, houve a troca pela conjunção que continua a
dar noção de concomitância.

Alternativa C: incorreta. “De modo que” é uma conjunção consecutiva, fato que altera o significado
original do trecho. Apesar de não haver outras modificações de significação, a troca do conectivo altera
completamente o sentido original do trecho.

Alternativa D: incorreta. O elemento conectivo “depois que” não apresenta a mesma noção de
concomitância do elemento original, modificando a semântica do trecho.

Alternativa E: incorreta. Mais uma vez, o elemento conectivo utilizado na reescritura, não apresenta a
mesma leitura de concomitância do original.

Gabarito: B

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Em “da verruga que se perdia no meio uma cabeleira crespa e bela”, a oração destacada apresenta
significação de

a) consequência.

b) causa.

c) restrição.

d) explicação.

Comentários

Alternativa A: incorreta. Para que tivéssemos uma consequência era necessário que tivéssemos uma
causa. Sempre busque a relação de causa e consequência, sendo uma extremamente ligada e necessária
à outra.

Alternativa B: incorreta. Para que tivéssemos uma causa era necessário que tivéssemos uma consequência
no mesmo período. Sempre busque a relação de causa e consequência, sendo uma extremamente ligada
e necessária à outra.

AULA 11 – Sintaxe III 179


Prof. Celina Gil

Alternativa C: correta. Por ser uma oração ligada a um nome e iniciada por um pronome relativo, podemos
afirmar, sem maiores problemas que se trata de uma oração subordinada adjetiva com valor de restrição.
Nesse caso, a oração torna particular a verruga em questão, em meio a um contexto em que outras fossem
possíveis.

Alternativa D: incorreta. a explicação pode ser aplicada também a uma oração adjetiva que, para
representar essa ideia de explicação, deve vir, obrigatoriamente, separada por vírgulas. Sempre busque,
como indicação de explicação para as adjetivas, uma vírgula, representação escrita da pausa da fala.

Gabarito: C
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Assinale, a seguir, a alternativa em que as orações se relacionam somente por coordenação.

a) Os pais que iam à escola sempre eram muito educados com os professores.

b) Estávamos estudando muito, passaremos, pois, na nossa prova desse mês.

c) É improvável que todos consigam sair de casa ao mesmo tempo, como pensado.

d) Quando ficamos em casa e nos alimentamos, temos uma vida mais saudável.

Comentários

Alternativa A: incorreta. Nesse caso, temos somente uma oração principal e uma oração subordinada
adjetiva. Dessa forma, essa resposta não pode se aplicar ao enunciado da questão.

Alternativa B: correta. Essa é a resposta correta, porque a primeira oração está coordenada à segunda,
uma sindética conclusiva, indicada pela modificação de posição da conjunção usualmente explicativa
“pois”.

Alternativa C: incorreta. Nesse caso, temos uma oração subordinada substantiva, iniciada pelo “que”, a
qual funciona como o sujeito do verbo “ser”, encontrado na primeira oração.

Alternativa D: incorreta. Essa resposta não está correta, visto que, apesar de termos uma coordenação
entre as duas orações temporais, não há somente coordenação, visto que essas são orações subordinadas.

Gabarito: B
INÉDITA – Celina Gil

Entre as várias técnicas do yoga, os exercícios respiratórios (Pránayáma) parecem ser os que
exercem maior influência nos estados de humor, justamente pela notória relação das emoções com
a respiração. A regulação respiratória depende de uma série de mecanismos involuntários, podendo
ser realizada sem a interferência do controle voluntário. Assim, as características da respiração se
ajustam de acordo com as emoções. Entretanto, é possível alterar voluntariamente seu ritmo,
frequência e profundidade. As técnicas respiratórias orientam justamente esse controle voluntário,
exercendo influência em mecanismos involuntários que regulam a respiração e o sistema
cardiovascular, podendo modular a interação entre sistema nervoso simpático e parassimpático e,

AULA 11 – Sintaxe III 180


Prof. Celina Gil

consequentemente, o eixo HPHPA. Esses exercícios ativam o sistema nervoso autônomo com a
finalidade de inibir o sistema simpático e estimular o sistema parassimpático.

Com a prática dos exercícios propostos pelo yoga, os quimiorreceptores sensíveis à elevação de CO2,
localizados no centro respiratório do cérebro (no tronco cerebral), começam a responder menos a
esse aumento durante a expiração, de modo que o indivíduo consegue expirar mais
prolongadamente, reduzindo a frequência cardíaca. As técnicas têm como finalidade prolongar a
expiração e valorizar a retenção de ar. Esse princípio conduz a um treinamento tão forte do SNA que
ocorre um aumento das variações da frequência cardíaca, mesmo quando o indivíduo não está
praticando, pois o padrão respiratório involuntário é profundamente alterado. Essas pesquisas
talvez expliquem por que os praticantes de ioga sejam menos propensos a desenvolver transtornos
de ansiedade e de humor e respondam melhor às alterações emocionais negativas.

Uol, setembro de 2009. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_ciencia_da_ioga.html>


Acesso em 01 mai.2019.

Assinale a alternativa em que a oração destacada expressa ideia de consequência:

a) “(...) mesmo quando o indivíduo não está praticando, pois o padrão respiratório involuntário é
profundamente alterado”

b) “(...) começam a responder menos a esse aumento durante a expiração, de modo que o indivíduo
consegue expirar mais prolongadamente, reduzindo a frequência cardíaca”

c) “Com a prática dos exercícios propostos pelo yoga, os quimiorreceptores sensíveis à elevação de
CO2”

d) “Esses exercícios ativam o sistema nervoso autônomo com a finalidade de inibir o sistema
simpático e estimular o sistema parassimpático.”

e) “Essas pesquisas talvez expliquem por que os praticantes de ioga sejam menos propensos a
desenvolver transtornos de ansiedade.”

Comentários: O conector que melhor expressa a ideia de consequência é o “de modo que”, presente na
oração da alternativa B. É possível comprovar essa hipótese pela substituição do termo por um advérbio
de consequência: começam a responder menos a esse aumento durante a expiração, consequentemente,
o indivíduo consegue expirar mais prolongadamente, reduzindo a frequência cardíaca. Por isso, a
alternativa B é alternativa correta.

A alternativa A está incorreta, pois o conector “pois” expressa ideia de causa. Para comprovar, basta
comprovar substituir por conectores de consequência. Assim, fica claro que o sentido não se mantém:
“mesmo quando o indivíduo não está praticando, de modo que o padrão respiratório involuntário é
profundamente alterado”

AULA 11 – Sintaxe III 181


Prof. Celina Gil

A alternativa C está incorreta, pois o conector “com”, nesse caso, expressa ideia de causa. Para comprovar,
basta comprovar substituir por conectores de consequência. Assim, fica claro que o sentido não se
mantém: “De modo que a prática dos exercícios propostos pelo yoga, os quimiorreceptores sensíveis à
elevação de CO2”

A alternativa D está incorreta, pois o conector “com a finalidade de” expressa ideia de finalidade. Para
comprovar, basta comprovar substituir por conectores de consequência. Assim, fica claro que o sentido
não se mantém: ““Esses exercícios ativam o sistema nervoso autônomo de modo a inibir o sistema
simpático e estimular o sistema parassimpático.”

A alternativa E está incorreta, pois o “que” aqui é conjunção integrante, antecedendo um termo que
exerce função de objeto direto. Para comprovar essa afirmação, basta substituir a oração por um “isso”:
“Essas pesquisas talvez expliquem isso”.

Gabarito: B
INÉDITA – Celina Gil

Nenhuma linhagem é tão icônica para a Paleontologia quanto a linhagem dos dinossauros.
Muitas crianças despertam seu interesse pela ciência desde cedo quando começam a ler sobre estes
gigantes (nem todos) da Era Mesozóica. Neste mês, senti um misto de nostalgia e de felicidade ao
me deparar com relançamento do famoso álbum do extinto chocolate Surpresa. Em minha infância,
colecionando os cards que continham informações dos animais no verso, pude retornar ao tempo
pela primeira vez. Nem todos os cards retratavam dinossauros, havia um pterossauro, um
lepidossauro, um ictiossauro e até mesmo um sinapsídeo. É comum que o conhecimento popular e
a própria divulgação científica nomeiem erroneamente de dinossauros todas estas linhagens
distintas. Cabe aos professores de Paleontologia colocar “cada dinossauro no seu galho”. E cabe
aos mesmos ensinar sobre uma das mais conhecidas divisões dentro de uma linhagem de
organismos. Tradicionalmente, os dinossauros são divididos em dois grupos: os ornitísquios
(Ornithischia), que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos répteis, e os saurísquios
(Saurischia), que apresentam os ossos da pelve como nas aves, sendo estes últimos divididos em
saurísquios saurópodes (Saurischia Sauropodomorpha), herbívoros, e saurísquios terópodes
(Saurischia Theropoda), carnívoros.

No entanto, há poucos dias, três pesquisadores da Universidade de Cambridge e do Museu de


História Natural de Londres propuseram, em um artigo da revista Nature, uma nova hipótese que
fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros. Como contam em seu artigo, desde 1887 já são
reconhecidas as linhagens Ornisthischia e Saurischia. Desde antes de que a própria linhagem
Dinossauria fosse proposta, o que aconteceu em 1974, com a junção daquelas duas linhagens. Como
se vê, por mais de um século, os paleontólogos consideram os ornitísquios e os saurísquios como
representantes de linhagens distintas. Este se tornou um dogma da Paleontologia. Na opinião dos
autores do artigo, muitas análises filogenéticas foram feitas ao longo dos anos sem dar a devida
atenção a possibilidade de que a clássica divisão da linhagem Dinossauria pudesse estar equivocada.

AULA 11 – Sintaxe III 182


Prof. Celina Gil

Através de um levantamento muito completo de inúmeros caracteres de dinossauros basais (tanto


de saurísquios quanto de ornitísquios) e de representantes dos Dinosaurophorma (grupo-irmão dos
dinossauros, composto por répteis que quase são dinossauros), os autores propõe uma hipótese
nova para as relações de parentesco dentro da linhagem Dinossauria. É a derrocada de um dogma
centenário!

[...]

Rafael Faria, Dinossauros e Dogmas In: PaleoMundo, 11/04/2017. Disponível em:


<https://www.blogs.unicamp.br/paleoblog/2017/04/11/dinossauros-e-dogmas/> Acesso em 02 mai.2019.

Assinale a única alternativa em que o termo destacado não pode ser considerado uma oração
subordinada adjetiva:

a) “os ornitísquios (Ornithischia), que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos répteis,”
b) “e os saurísquios (Saurischia), que apresentam os ossos da pelve como nas aves,”

c) “(...) uma nova hipótese que fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros.”

d) “grupo-irmão dos dinossauros, composto por répteis que quase são dinossauros”

e) “É comum que o conhecimento popular e a própria divulgação científica nomeiem erroneamente


(...).”

Comentários: Para responder a essa questão, é preciso realizar a análise sintática das orações uma a uma:

Alternativa A: “os ornitísquios (Ornithischia), que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos
répteis,”

Oração principal: “os ornitísquios (Ornithischia)” subtendendo-se um verbo “ser”, presente na oração
anterior. Deve-se entender aqui que a oração seria “são os ornitísquios”.

Oração subordinada: “que apresentam os ossos pélvicos como na maioria dos répteis,”

Essa oração está dando uma característica ao termo “ornitísquios”, portanto, é uma oração adjetiva, nesse
caso explicativa, pois está entre vírgulas.

Alternativa B: “e os saurísquios (Saurischia), que apresentam os ossos da pelve como nas aves,”

Oração principal: “e os saurísquios (Saurischia)” subtendendo-se um verbo “ser”, presente na oração


anterior. Deve-se entender aqui que a oração seria “são os saurísquios”.

Oração subordinada: “que apresentam os ossos da pelve como nas aves,”

AULA 11 – Sintaxe III 183


Prof. Celina Gil

Essa oração está dando uma característica ao termo “saurísquios”, portanto, é uma oração adjetiva, nesse
caso explicativa, pois está entre vírgulas.

Alternativa C: “(...) uma nova hipótese que fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros.”

Oração principal: “três pesquisadores da Universidade de Cambridge e do Museu de História Natural de


Londres propuseram (...) uma nova hipótese”.

Oração subordinada: “que fez tremer a árvore filogenética dos dinossauros”

Essa oração está dando uma característica ao termo “hipótese”, portanto, é uma oração adjetiva, nesse
caso restritiva, pois se apresenta sem vírgulas.

Alternativa D: “grupo irmão dos dinossauros, composto por répteis que quase são dinossauros”

Oração principal: “composto por répteis”

Oração subordinada: “que quase são dinossauros”

Essa oração está dando uma característica ao termo “répteis”, portanto, é uma oração adjetiva, nesse
caso restritiva, pois se apresenta sem vírgulas.

Alternativa E: “É comum que o conhecimento popular e a própria divulgação científica nomeiem


erroneamente (...).”

Oração principal: “É comum”

Oração subordinada: “que o conhecimento popular e a própria divulgação científica nomeiem


erroneamente”

Essa oração, diferente das anteriores, não dá características ao termo anterior. Sua relação com a oração
principal, portanto, é de subordinação substantiva – já que o pronome “que” não aparece nas orações
adverbiais. Substituindo-se a oração por um isso, teremos: “É comum isso”. Na ordem direta, “Isso é
comum”. Portanto, é uma oração substantiva com valor de sujeito.

Gabarito: E

INÉDITA – Celina Gil

Aurélia concentra-se de todo dentro de si; ninguém ao ver essa gentil menina, na aparência tão calma
e tranquila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência; e prepara-
se para sacrificar irremediavelmente todo o seu futuro.

AULA 11 – Sintaxe III 184


Prof. Celina Gil

Alguém que entrava no gabinete veio arrancar a formosa pensativa à sua longa meditação. Era D.
Firmina Mascarenhas, a senhora que exercia junto de Aurélia o ofício de guarda-moça.

A viúva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina, que só nessa
ocasião acordou da profunda distração em que estava absorta.

Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura
por uma cadeia de ouro fosco.

Entretanto D. Firmina, acomodando a sua gordura semissecular em uma das vastas cadeiras de
braços que ficavam ao lado da conversadeira, dispunha-se a esperar pelo almoço.

- Está fatigada de ontem? Perguntou a viúva com expressão de afetada ternura que exigia seu cargo.

- Nem por isso; mas sinto-me lânguida; há de ser o calor, respondeu a moça para dar uma razão
qualquer de sua atitude pensativa.

Estes bailes que acabam tão tarde não devem ser bons para a saúde; por isso é que no Rio de Janeiro
há tanta moça magra e amarela. Ora, ontem, quando serviram a ceia pouco faltava para tocar matinas
em Santa Teresa. Se a primeira quadrilha começou com o toque do Aragão!... Havia muita confusão; o
serviço não esteve mau, mas andou tão atrapalhado!...

D. Firmina continuou por aí além a descrever suas impressões do baile de véspera, sem tirar os olhos
do semblante de Aurélia, onde espiava o efeito de suas palavras, pronta a desdizer-se de qualquer
observação, ao menor indício de contrariedade.

Deixou-a a moça falar, desejosa de desprender-se e embalar-se ao rumor dessa voz que ouvia, sem
compreender. Sabia que a viúva conversava acerca do baile; mas não acompanhava o que ela dizia.

(José de Alencar, Senhora, 2013, p.40)

Assinale a alternativa que não apresenta período composto por coordenação:

a) “A viúva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina”

b) “Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa à
cintura por uma cadeia de ouro fosco.”

c) “Nem por isso; mas sinto-me lânguida”

d) “Estes bailes que acabam tão tarde não devem ser bons para a saúde; por isso é que no Rio de
Janeiro há tanta moça magra e amarela”

e) “o serviço não esteve mau, mas andou tão atrapalhado!...”

Comentários: Para responder a essa questão é preciso fazer a análise sintática de cada alternativa:

Alternativa A: “A viúva aproximou-se da conversadeira para estalar um beijo na face da menina”

AULA 11 – Sintaxe III 185


Prof. Celina Gil

Oração principal: “A viúva aproximou-se da conversadeira”

Oração subordinada: “para estalar um beijo na face da menina”

O conector “para” indica noção de finalidade ligada ao verbo (a fim de que ela se aproximou?).
Portanto, essa oração é subordinada adverbial final.

Alternativa B: “Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa
à cintura por uma cadeia de ouro fosco.”

Oração coordenada: “e interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura por uma cadeia de ouro
fosco.”

O conector “e” indica noção de adição (uma ação + outra). Portanto, essa oração é coordenada
sindética aditiva.

Alternativa C: “Nem por isso; mas sinto-me lânguida”

Oração coordenada: “mas sinto-me lânguida”

O conector “mas” indica noção de oposição (uma ação X outra). Portanto, essa oração é
coordenada sindética adversativa.

Alternativa D: “Estes bailes que acabam tão tarde não devem ser bons para a saúde; por isso é que no Rio
de Janeiro há tanta moça magra e amarela”

Oração coordenada: “por isso é que no Rio de Janeiro há tanta moça magra e amarela”

O conector “por isso” indica noção de explicação. Portanto, essa oração é coordenada sindética
explicativa.

Alternativa E: “o serviço não esteve mau, mas andou tão atrapalhado!...”

Oração coordenada: “e interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura por uma cadeia de ouro
fosco.”

O conector “mas” indica noção de oposição (uma ação X outra). Portanto, essa oração é
coordenada sindética adversativa.

Portanto, apenas a alternativa A não apresenta oração coordenada.

AULA 11 – Sintaxe III 186


Prof. Celina Gil

Gabarito: A
Texto para as próximas questões

Um caboclo mal-encarado entrou na sala. Mendonça franziu a testa. Quis despedir-me; receei,
porém, que o momento fosse impróprio e conservei-me sentado, esperando modificar a impressão
desagradável que produzia. As moças me achavam maçador, evidentemente.

- Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo: isto vira lama e não nasce um pé de
mandioca.

- Decerto, concordou Mendonça, visivelmente aporrinhado com o caboclo, que me olhava


tranquilo, sem levantar a cabeça.

- Pois até logo, exclamei de chofre. A eleição domingo, hem? Entendido. Mato um... (Ia dizer
um boi. Moderei-me: todo o mundo sabia que eu tinha meia dúzia de eleitores.) um carneiro. Um
carneiro é bastante, não? Está direito. Até domingo.

E saí, descontente. Creio que foi mais ou menos o que aconteceu. Não me lembro com precisão.
Atravessei o pátio e entrei no atalho que ia ter a São Bernardo. Que vergonha! Tomar a terra dos
outros e deixá-la com aquelas veredas indecentes, cheias de camaleões, o mato batendo no rosto
de quem passava!

Percorri a zona da encrenca. A cerca ainda estava no ponto em que eu a tinha encontrado no
ano anterior. Mendonça forcejava por avançar, mas continha-se; eu procurava alcançar os limites
antigos, inutilmente. Discórdia séria só esta: um moleque de São Bernardo fizera mal à filha do
mestre de açúcar de Mendonça, e Mendonça, em consequência, metera o alicate no arame; mas eu
havia consertado a cerca e arranjado o casamento do moleque com a cabrochinha.

(Graciliano Ramos, São Bernardo, 2013, p. 37 – 38)

INÉDITA – Celina Gil

“Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo: isto vira lama e não nasce um pé de
mandioca.”

Sobre o período acima, é correto afirmar que:

I. Em “Se o inverno vindouro for como este, desgraça-se tudo” há uma construção na ordem indireta,
já que a oração subordinada vem escrita antes da principal.

II. Há uma coordenação assindética presente nesse período.

III. Em “isto vira lama e não nasce um pé de mandioca” há uma noção de somatória na relação entre
as orações.

AULA 11 – Sintaxe III 187


Prof. Celina Gil

Está correto o que se afirma em:


f) I. e II.
g) I. e III.
h) II. e III.
i) Apenas III.
j) Todas.

Comentários:

O item I. está correto, pois o período, se escrito na ordem direta seria “Tudo se desgraça se o inverno
vindouro for como este”. As orações estabelecem entre si uma relação de subordinação condicional.

O item II. está correto, pois entre os termos que vê mantes e os que vêm depois dos dois pontos há uma
relação de coordenação, já que são frases independentes entre si: “Se o inverno vindouro for como este,
desgraça-se tudo” e “isto vira lama e não nasce um pé de mandioca.”

O item III. está correto, pois a conjunção “e” tende a assumir valor de adição. No caso expresso no
enunciado, as orações são coordenadas sindéticas aditivas.

Gabarito: E

INÉDITA – Celina Gil

Assinale a alternativa em que a oração destacada assume o valor de objeto direto:

a) “visivelmente aporrinhado com o caboclo, que me olhava tranquilo, sem levantar a cabeça.”

b) “todo o mundo sabia que eu tinha meia dúzia de eleitores”

c) “receei, porém, que o momento fosse impróprio”


d) “entrei no atalho que ia ter a São Bernardo”

e) esperando modificar a impressão desagradável que produzia.

Comentários: Para responder à questão, é preciso fazer a análise sintática dos períodos de todas as
alternativas:

Alternativa A: “visivelmente aporrinhado com o caboclo, que me olhava tranquilo, sem levantar a cabeça.”

“que me olhava tranquilo” refere-se a “caboclo”, de modo a caracterizá-lo. Por isso, essa oração tem valor
de adjunto adnominal.

Alternativa B: “todo o mundo sabia que eu tinha meia dúzia de eleitores”

“que eu tinha meia dúzia de eleitores” é objeto de “sabia”.

AULA 11 – Sintaxe III 188


Prof. Celina Gil

O verbo saber, no sentido de “ter conhecimento de algo”, é transitivo indireto. Portanto, “que eu tinha
meia dúzia de eleitores” é objeto indireto. Comprova-se substituindo-se a oração por um isso: “todo o
mundo sabia disso”.

Alternativa C: “receei, porém, que o momento fosse impróprio”

A oração a ser analisada é ““receei que o momento fosse impróprio”. “que o momento fosse impróprio”
é objeto de receei.

Substituindo-se a oração por um isso: “receei isso”. Portanto, a oração tem valor de objeto direto.

Alternativa D: “entrei no atalho que ia ter a São Bernardo”

“que ia ter a São Bernardo” refere-se a “atalho”, de modo a caracterizá-lo. Por isso, essa oração tem valor
de adjunto adnominal.

Alternativa E: “esperando modificar a impressão desagradável que produzia”

“que produzia” refere-se a “impressão desagradável”, de modo a caracterizá-la. Por isso, essa oração tem
valor de adjunto adnominal.

Gabarito: C

Texto para as próximas questões

As senhoras casadas eram bonitas; a mesma solteira não devia ter sido feia, aos vinte e cinco
anos; mas Sofia primava entre todas elas.

Não seria tudo o que o nosso amigo sentia, mas era muito. Era daquela casta de mulheres que
o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias. Essas
esculturas lentas são miraculosas; Sofia rastejava os vinte e oito anos; estava mais bela que aos
vinte e sete; era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se não quisesse
prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos.

Os olhos, por exemplo, não são os mesmos da estrada de ferro, quando o nosso Rubião falava
com o Palha, e eles iam sublinhando a conversação... Agora, parecem mais negros, e já não
sublinham nada; compõem logo as coisas, por si mesmos, em letra vistosa e gorda, e não é uma
linha nem duas, são capítulos inteiros. A boca parece mais fresca. Ombros, mãos, braços, são
melhores, e ela ainda os faz ótimos por meio de atitudes e gestos escolhidos. Uma feição que a dona
nunca pôde suportar, — coisa que o próprio Rubião achou a princípio que destoava do resto da cara,
— o excesso de sobrancelhas, — isso mesmo, sem ter diminuído, como que lhe dá ao todo um
aspecto muito particular.

AULA 11 – Sintaxe III 189


Prof. Celina Gil

Traja bem; comprime a cintura e o tronco no corpinho de lã fina cor de castanha, obra simples,
e traz nas orelhas duas pérolas verdadeiras, — mimo que o nosso Rubião lhe deu pela Páscoa.

A bela dama é filha de um velho funcionário público. Casou aos vinte anos com este Cristiano
de Almeida e Palha, zangão da praça, que então contava vinte e cinco. O marido ganhava dinheiro,
era jeitoso, ativo, e tinha o faro dos negócios e das situações. Em 1864, apesar de recente no ofício,
adivinhou, — não se pode empregar outro termo, — adivinhou as falências bancárias.

— Nós temos coisa, mais dia menos dia; isto anda por arames. O menor brado de alarme leva
tudo.

O pior é que ele despendia todo o ganho e mais. Era dado à boa-chira; reuniões frequentes,
vestidos caros e joias para a mulher, adornos de casa, mormente se eram de invenção ou adoção
recente, — levavam-lhe os lucros presentes e futuros. Salvo em comidas, era escasso consigo
mesmo. Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco, — mas ia
menos por si que para aparecer com os olhos da mulher, os olhos e os seios. Tinha essa vaidade
singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para mostrar aos outros as
suas venturas particulares. Era assim um rei Candaules*, mais restrito por um lado, e, por outro,
mais público.

E aqui façamos justiça à nossa dama. A princípio, cedeu sem vontade aos desejos do marido;
mas tais foram as admirações colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às circunstâncias, que
ela acabou gostando de ser vista, muito vista, para recreio e estímulo dos outros. Não a façamos
mais santa do que é, nem menos. Para as despesas da vaidade, bastavam-lhe os olhos, que eram
ridentes, inquietos, convidativos, e só convidativos: podemos compará-los à lanterna de uma
hospedaria em que não houvesse cômodos para hóspedes. A lanterna fazia parar toda a gente, tal
era a lindeza da cor, e a originalidade dos emblemas; parava, olhava e andava. Para que escancarar
as janelas? Escancarou-as, finalmente; mas a porta, se assim podemos chamar ao coração, essa
estava trancada e retrancada.

*Rei Candaules: lenda helênica sobre rei de acreditava ser casado com a mulher mais bela de todas.
Ele obriga um criado a vê-la nua escondido para provar seu ponto. Ele não sabia, porém, que havia
uma maldição: se outro homem a visse nua, um deles deva morrer. O criado, então, o mata e se
casa com a rainha.

(Machado de Assis, Quincas Borba, CAPÍTULO XXXV, 1994)

INÉDITA – Celina Gil

Quais orações estabelecem entre si relação de causa e consequência

a) “(...) era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos retoques, se não quisesse
prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos”

AULA 11 – Sintaxe III 190


Prof. Celina Gil

b) “(...) mas tais foram as admirações colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às
circunstâncias, que ela acabou gostando de ser vista”

c) “Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, em que se divertia um pouco”

d) “Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que podia, e até onde não podia, para
mostrar aos outros as suas venturas particulares”

e) “podemos compará-los à lanterna de uma hospedaria em que não houvesse cômodos para
hóspedes”

Comentários: O período que melhor estabelece relação de causa e consequência é o da alternativa B, “(...)
mas tais foram as admirações colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às circunstâncias, que ela
acabou gostando de ser vista”. A causa são “as admirações” e a consequência é “que ela acabou gostando
de ser vista”. Para comprovar que essa é a única alternativa em que há relação de causa e consequência,
basta substituir os conectores dos períodos das demais alternativas por conectores de causa ou
consequência:

A alternativa A está incorreta, pois se houver a substituição do conectivo por outro de causa ou
consequência, o sentido não se manterá: “era de supor que só aos trinta desse o escultor os últimos
retoques, de modo que não quisesse prolongar ainda o trabalho, por dois ou três anos”.

A alternativa C está incorreta, pois se houver a substituição do conectivo por outro de causa ou
consequência, o sentido não se manterá: ““Ia muita vez ao teatro sem gostar dele, e a bailes, de modo
que se divertia um pouco”

A alternativa D está incorreta, pois se houver a substituição do conectivo por outro de causa ou
consequência, o sentido não se manterá: “Tinha essa vaidade singular; decotava a mulher sempre que
podia, e até onde não podia, de modo a mostrar aos outros as suas venturas particulares”.

A alternativa E está incorreta, pois se houver a substituição do conectivo por outro de causa ou
consequência, o sentido não se manterá: “podemos compará-los à lanterna de uma hospedaria de modo
que não houvesse cômodos para hóspedes”.

Gabarito: B
INÉDITA – Celina Gil

Casou aos vinte anos com este Cristiano de Almeida e Palha, zangão da praça, que então contava
vinte e cinco.

Sobre o período transcrito acima, é correto afirmar que:


IV. O sujeito dessa oração é indeterminado, pois não está expresso na oração e não é possível
identificá-lo a partir da flexão verbal.

AULA 11 – Sintaxe III 191


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V. O termo “zangão da praça” assume a função sintática de aposto, caracterizando Cristiano


de Almeida e Palha a partir de uma metáfora.
VI. “que então contava vinte e cinco” é uma oração que assume função de adjunto adnominal
de “Cristiano de Almeida e Palha”, ainda que esses termos estejam separados por outro
termo entre vírgulas.

A alternativa que apresenta os itens incorretos é:

a) I. e II.

b) I. e III.

c) II. e III.

d) I.

e) II.

Comentários:

O item I. está incorreto. O sujeito dessa oração é oculto. Ainda que não seja possível identificar o sujeito
pela flexão verbal, pelo contexto é possível saber que o sujeito é “a bela dama”, sujeito da oração anterior.

O item II. está correto, pois o termo “zangão da praça” possui as características de um aposto: aparece
entre vírgula e explica/adiciona informações ao nome a que se refere.

O item III. está correto. Nada impede que o adjunto adnominal esteja mais distante do termo a que se
refere, principalmente quando esse termo é um termo acessório como um aposto. De fato, “que então
contava vinte e cinco” caracteriza “Cristiano de Almeida e Palha”.

Gabarito: D
(INÉDITA – Celina Gil)

Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu
ou ensinou, ou se fez ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi
somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas
da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

— Está na sala, penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.

(Dom Casmurro, Machado de Assis)

Leia atentamente o trecho destacado e assinale a alternativa correta.

D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

AULA 11 – Sintaxe III 192


Prof. Celina Gil

O trecho destacado transmite a ideia de

a) causa.

b) consequência.

c) explicação.

d) restrição.

e) tempo.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois aqui temos uma caracterização da situação em que se encontrava D.
Fortunata, não uma possível causa de alguma ação.

A alternativa B está incorreta, pois aqui temos uma caracterização da situação em que se encontrava D.
Fortunata, não uma possível consequência de alguma ação.

A alternativa C está correta, pois a oração destacada é uma oração adjetiva explicativa, ou seja, explica
onde estava D. Fortunata naquela situação. Isso se comprova pelo seu aparecimento entre vírgulas.

A alternativa D está incorreta, pois para haver valor de restrição, essa oração adjetiva não poderia vir
entre vírgulas.

A alternativa E está incorreta, pois ainda que pudesse haver uma interpretação adverbial, ela seria de
lugar, não tempo.

Gabarito: C
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

As orações destacadas no trecho “Descobriu-se que o Facebook realiza experiências clandestinas


para avaliar o efeito psicológico em seus usuários manipulando o ‘conteúdo emocional’ das
publicações e notícias sugeridas” são classificadas, respectivamente, como:

a) subordinada substantiva subjetiva e subordinada adverbial causal reduzida de gerúndio.

b) subordinada substantiva objetiva direta e subordinada adverbial modal reduzida de gerúndio.

c) subordinada substantiva predicativa e subordinada adjetiva restritiva reduzida de gerúndio.

d) subordinada substantiva completiva nominal e subordinada adverbial temporal reduzida de


infinitivo.

Comentários

Alternativa A: correta. A primeira oração desempenha a função de sujeito com relação à sua principal,
que a antecede. Isso ocorre, porque o verbo, com a partícula “se”, está na voz passiva sintética, que
sempre apresenta sujeito. A segunda oração, por sua vez, tem valor adverbial de causa, utilizando-se
somente do gerúndio para construir-se.

AULA 11 – Sintaxe III 193


Prof. Celina Gil

Alternativa B: incorreta. Essa é a distratora mais forte, porque é comum que os estudantes analisem a
primeira oração como objeto direto da principal, fato impossibilitado pela construção desse primeiro
verbo em voz passiva, que rejeita objeto. A segunda é uma classificação não reconhecida pela gramática.

Alternativa C: incorreta. Apesar dos predicativos do sujeito, diferente do que pensamos muitas vezes, não
exigirem um verbo de ligação obrigatório, esse tipo de classificação das orações necessita de um verbo de
ligação, em específico, o “ser”. A segunda classificação está incorreta, porque não temos uma modificação
nominal causada pela oração gerundiva.

Alternativa D: incorreta. Como explicado anteriormente, as duas orações não são classificadas dessa
forma, sendo a primeira subjetiva e a segunda claramente causal.

Gabarito: C
(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

Considere a frase:

“É o cheiro dela que é o cheiro da minha casa em qualquer lugar do mundo”.

Pode-se dizer que a frase apresentada conta com uma expressão que

a) substitui um nome.

b) tem valor de realce.

c) introduz oração subordinada.

d) exprime uma reação.

e) tem valor prepositivo.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o “que” aqui não é pronome relativo, ou seja, não há nenhum nome
eu ele poderia substituir.

A alternativa B está correta, pois o “que”, acompanhado do “é”, forma uma expressão de realce. Aqui, o
“é que” serve apenas para realçar a ideia. Perceba que se escrito “o cheiro dela é o cheiro da minha casa”,
não há perda de sentido.

A alternativa C está incorreta, pois aqui há apenas uma oração, ou seja, não há introdução de
subordinação.

A alternativa D está incorreta, pois não há aqui uma reação, ou seja, não á a presença de uma interjeição.

A alternativa E está incorreta, pois o “que” só tem valor prepositivo quando acompanha os verbos “ter” e
“haver”.

Gabarito: B

(Estratégia Militares 2020 – Inédita)

AULA 11 – Sintaxe III 194


Prof. Celina Gil

No trecho “E mesmo que ela nunca me obedeça, eu continuarei dizendo” a palavra sublinhada
expressa ideia de

a) adição.

b) comparação.

c) concessão.

d) hipótese.

e) condição.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois não há aqui uma ideia de adição nessa expressão, mas no conectivo
“e”.

A alternativa B está incorreta, pois não há aqui a ideia de colocar duas ideias em contraste uma com a
outra.

A alternativa C está correta, pois aqui a expressão “mesmo” tem valor concessivo. Pode ser substituído
sem prejuízo de sentido por “ainda que”, por exemplo: “E ainda que ela nunca me obedeça, eu continuarei
dizendo”.

A alternativa D está incorreta, pois não há aqui a ideia de levantar projeções hipotéticas.

A alternativa E está incorreta, pois não se estabelece aqui uma condição para que algo aconteça.

Gabarito: C
(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

Observe os itens abaixo:

I. Como estivesse doente, não foi à aula.

II. É bom levar um guarda-chuva, pois vai chover.

III. Já que você não gosta dessa música, vou desligar o rádio.

IV. Não terminou a lição, uma vez que não tinha o livro.

Há relação de causa entre as orações nos itens:

a) I., II., III.

b) II., III., IV.

c) I., II., IV.

d) I., III., IV.

AULA 11 – Sintaxe III 195


Prof. Celina Gil

e) todas.

Comentários:

No item I. há uma relação de causa: a razão de não ir à aula era a doença.

No item II. há uma relação de explicação: a justificativa da necessidade de levar um guarda-chuva é a


potencial chuva.

No item III. há uma relação de causa: vou desligar o rádio por causa do seu sentimento.

No item IV. há uma relação de causa: o motivo para não terminar a lição é a não ter o livro.

CUIDADO: a linha entre causa e explicação é muito tênue!

Explicação: Há duas informações independentes, porém uma explica a outra.

Causa: Uma informação depende da outra para ser entendida.

Gabarito: D
(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

O termo em destacado tem valor

a) adição.

b) adversidade.

c) concessão.

d) hipótese.

e) condição.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois aqui não há valor de adicionar informações.
A alternativa B está correta, pois aqui há a oposição entre duas informações: as dores que ele
teve; as dores que ele não têm.

AULA 11 – Sintaxe III 196


Prof. Celina Gil

A alternativa C está incorreta, pois aqui não se abre concessão pra nenhuma informação dita
anteriormente.
A alternativa D está incorreta, pois não há aqui o levantamento de uma ideia que não se concretiza
na materialidade
A alternativa E está incorreta, pois não há aqui uma ideia de uma oração condicionada à outra.
Gabarito: B

(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

Assinale a opção que contém o maior número de orações.

a) De qualquer forma, como poderia um homem da minha geração - nasci em 1917 - não ser
otimista?

b) Os marcos da era incluem a fundação da Organização das Nações Unidas e da Unesco, a


proclamação dos direitos do homem e a descolonização.
c) Em termos mais gerais, houve o reconhecimento das culturas não europeias, do qual derivou uma
queda do eurocentrismo e da suposta desigualdade entre os povos "civilizados" e os "não-
civilizados".

d) Houve também uma redução na distância entre as classes sociais, pelo menos nos países
ocidentais.

e) No momento da queda do Muro de Berlim, começamos a acreditar que enfim seria realizada a
transição da cultura da guerra para a cultura da paz.

Comentários:

Lembre-se que as orações se constroem em torno de verbos. Então para saber o número de orações,
basta contar os verbos ou locuções verbais.

A alternativa A está correta, pois há aqui três orações: “como poderia um homem da minha geração”,
“nasci em 1917” e “não ser otimista”.

A alternativa B está incorreta, pois há aqui uma oração: “Os marcos da era incluem a fundação da
Organização das Nações Unidas e da Unesco, a proclamação dos direitos do homem e a descolonização”.

A alternativa C está incorreta, pois há aqui duas orações: “houve o reconhecimento das culturas não
europeias” e “do qual derivou uma queda do eurocentrismo e da suposta desigualdade entre os povos
"civilizados" e os "não-civilizados".”

A alternativa D está incorreta, pois há aqui uma oração: “Houve também uma redução na distância entre
as classes sociais”.

A alternativa E está incorreta, pois há aqui duas orações: “começamos a acreditar” e “que enfim seria
realizada a transição da cultura da guerra para a cultura da paz”.

AULA 11 – Sintaxe III 197


Prof. Celina Gil

Gabarito: A
(Estratégia Militares – 2020 – Celina Gil)

No trecho “E cantaram na chuva: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, a palavra sublinhada
expressa ideia de

a) conclusão.

b) certeza.

c) temporalidade.

d) hipótese.

e) ressalva.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois não se pode dizer que haja aqui uma conclusão de alguma ideia, mas
uma ressalva a um fato.

A alternativa B está incorreta, pois a ideia de certeza está na construção verbal “há de ser”, não no “apesar
de”.

A alternativa C está incorreta, pois a ideia de temporalidade está em “amanhã” não em “apesar de”

A alternativa D está incorreta, pois aqui não há ideia de projeção ou hipótese, mas de ressalva: ainda que
não pareça hoje, amanhã há de ser outro dia.

A alternativa E está correta, pois a ideia da oração é que ainda que haja um “você” que tenha tornado a
situação difícil, tudo há de passar, pois sempre há um dia após o outro. Então a ideia aqui é de ressalva.

Gabarito: E
(Estratégia Vestibulares – Inédita 2020 – Prof. Celina Gil)

Assinale a alternativa que relaciona de maneira incorreta o conectivo destacado e seu valor
semântico
a) Já reparou como as pessoas sempre mudam de opinião quando confrontadas com dados que
contradizem suas convicções mais profundas? – temporalidade.

b) Os criacionistas, por exemplo, rejeitam as provas da evolução oferecidas por fósseis e pelo DNA,
porque temem que os poderes laicos estejam avançando sobre o terreno da fé religiosa. –
explicação.

c) Isso os leva a defender que as vacinas causam autismo, embora o único estudo que relacionava
essas duas coisas tenha sido desmentido há bastante tempo – concessão.

AULA 11 – Sintaxe III 198


Prof. Celina Gil

d) acreditam que o Governo mentia e realizou operações secretas a fim de criar uma nova ordem
mundial. – finalidade.

e) Se os dados que deveriam corrigir uma opinião só servem para piorar as coisas, o que podemos
fazer para convencer o público sobre seus equívocos? – causa

Comentários:

A alternativa A está correta, pois “quando” aqui indica o momento em que as pessoas mudam de opinião.

A alternativa B está correta, pois “porque” aqui indica a explicação para a rejeição por parte dos
criacionistas de provas da evolução: o temor de que isso acabe por negar a religião.

A alternativa C está correta, pois “embora” aqui indica uma ressalva à afirmação de que vacinas causem
autismo: essa afirmação já foi contestada.

A alternativa D está correta, pois “a fim de”, aqui, indica a finalidade de realizar operações secretas.

A alternativa E está incorreta, pois o “se” nesse caso, tem valor de hipótese, é condicional.

Gabarito: E
(Estratégia Vestibulares – Inédita 2020 – Prof. Celina Gil)

A alternativa cujo termo destacado exerce função sintática diferente das demais é

a) Pensei que viesse vestida esportivamente

b) Juro que eu tinha que ver ainda uma vez toda essa beleza

c) Veja que lama.

d) E você acha que eu iria?

e) a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois o trecho destacado assume aqui função de objeto direto. É, portanto
uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

A alternativa B está incorreta, pois o trecho destacado assume aqui função de objeto direto. É, portanto
uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

A alternativa C está incorreta, pois o trecho destacado assume aqui função de objeto direto. É, portanto
uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

A alternativa D está incorreta, pois o trecho destacado assume aqui função de objeto direto. É, portanto
uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

A alternativa E está correta, pois essa é a única alternativa em que o termo destacado é adjunto
adnominal. Essa é uma oração adjetiva explicativa, portanto.

AULA 11 – Sintaxe III 199


Prof. Celina Gil

Gabarito: E
(IBMEC - 2012)

Ele se encontrava sobre a estreita marquise do 18º andar. Tinha pulado ali a fim de limpar pelo lado
externo as vidraças das salas vazias do conjunto 1801/5, a serem ocupadas em breve por uma firma
de engenharia. Ele era um empregado recém-contratado da Panamericana – Serviços Gerais. O fato
de haver se sentado à beira da marquise, com as pernas balançando no espaço, se devera
simplesmente a uma pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele não queria
dispensar este prazer, misturando-o com o trabalho.

Quando viu o ajuntamento de pessoas lá embaixo, apontando mais ou menos em sua direção, não
lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções. Não estava habituado a ser este
centro e olhou para baixo e para cima e até para trás, a janela às suas costas.

Talvez pudesse haver um princípio de incêndio ou algum andaime em perigo ou alguém prestes a
pular. Não havia nada identificável à vista e ele, através de operações bastante lógicas, chegou à
conclusão de que o único suicida em potencial era ele próprio. Não que já houvesse se cristalizado
em sua mente, algum dia, tal desejo, embora como todo mundo, de vez em quando... E digamos
que a pouca importância que dava a si próprio não permitia que aflorasse seriamente em seu campo
de decisões a possibilidade de um gesto tão grandiloquente. E que o instinto cego de sobrevivência
levava uma vantagem de uns quarenta por cento sobre seu instinto de morte, tanto é que ele viera
levando a vida até aquele preciso momento sob as mais adversas condições.

(In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores contos brasileiros do século.

R. Janeiro: Objetiva, 2000)

Em “... não lhe passou pela cabeça que pudesse ser ele o centro das atenções”, os pronomes
pessoais destacados exercem, respectivamente, a função sintática de

a) objeto indireto, sujeito.

b) complemento nominal, objeto direto.

c) adjunto adnominal, sujeito.

d) objeto indireto, predicativo do objeto.

e) adjunto adnominal, predicativo do sujeito.


Comentários: Os pronomes pessoais da oração são “lhe” e “ele”. Vamos analisar a oração em que
cada um aparece.
“não lhe passou pela cabeça”

AULA 11 – Sintaxe III 200


Prof. Celina Gil

Normalmente, o “lhe” tem valor de objeto indireto. Isso ocorre quando o lhe for
complemento verbal. Não é o caso aqui. O verbo “Passar”, nesse caso, não vem acompanhado de
preposição. Por isso, “lhe” não pode assumir a função de objeto indireto. Nessa oração, o “lhe”
tem valor de adjunto adnominal, pois está ligado à “cabeça”, caracterizando-a. Se
fossemos reescrever a oração com o termo a que o “lhe” se refere, teríamos:
“Não passou pela cabeça dele.”
Lhe, portanto, substitui um pronome possessivo, de modo
reflexivo.

“que pudesse ser ele o centro das atenções”


Essa oração está na frase indireta. Se a reescrevêssemos na ordem direta, teríamos:
“que ele pudesse ser o centro das atenções”
Portanto, nesse caso, ele é sujeito da oração. Veja toda a análise sintática dessa oração:
Sujeito: ele
Verbo: pudesse ser
Objeto direto: o centro das atenções (onde “das atenções” é adjunto adnominal de centro)
Gabarito: C
(UNESP - 2010)

“Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da utopia.”

Na oração, “o terreno da utopia” exerce a função sintática de:

a) objeto direto.

b) complemento nominal.

c) sujeito.

d) predicativo do sujeito.

e) predicativo do objeto.
Comentários: Essa oração está na ordem indireta. Se estivesse na ordem direta, essa oração seria:
“O terreno da utopia está aberto no espetáculo do circo”
Realizando a análise sintática dessa oração, teremos:
Sujeito: “O terreno da utopia”
Verbo: “está aberto”
Adjunto adverbial: “no espetáculo do circo”

AULA 11 – Sintaxe III 201


Prof. Celina Gil

Portanto, a alternativa que expressa corretamente a função sintática de “o terreno da utopia” é


alternativa C.
Gabarito: C

6 - Considerações Finais
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum ou nas redes sociais.
Prof.ª Celina Gil

/professora.celina.gil Professora Celina Gil @professoracelinagil

AULA 11 – Sintaxe III 202

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