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A HISTORIA “GUERRA DAS CORRENTES”

COMO RECURSO DIDATICO EM AMBIENTE DE


SALA DE AULA”

Miguel Frederico de Magalhães Freire

Relatório de estágio para a obtenção do grau de Mestre em Ensino da Física


e de Química no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário

Orientador: Professor Doutor Paulo Simeão

Porto, 2018
Aproveito este espaço para expressar os meus sinceros agradecimentos a todos, que, de
forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho.
Aos meus orientadores científicos, os Professores Doutores Paulo Simeão e Carla
Susana Lopes Morais, pelo apoio, estímulo e disponibilidade demonstrado ao longo
deste ano letivo, muito obrigado.
À Professora Isabel Reis, minha orientadora cooperante durante a Prática de Ensino
Supervisionada, por toda a sua colaboração e acompanhamento durante a realização do
estágio, pelo seu apoio, pelo modo como me recebeu e integrou na escola, pela
transmissão de conhecimentos e sugestões que me proporcionou. Obrigado pelas
críticas, pelas sugestões e pela disponibilidade, mas sobretudo pela amizade.… Foi sem
dúvida a melhor orientadora que poderia desejar.
Ao meu colega de estágio Marcelo Dumas, meu companheiro nesta longa e difícil
caminhada, obrigado pelo apoio e pelas dicas e discussões filosóficas…
Aos alunos, pela simpatia, empenho e cooperação durante as aulas que lecionei, sem os
quais não teria sido possível a realização dos meus projetos de investigação.
À minha mãe, ao meu irmão Thierry e a todos os meus amigos que acompanharam de
perto o meu trabalho, que com pequenas palavras e sorrisos me deram força para
continuar.
Por fim, mas não menos importante, a minha namorada Cristina um especial
agradecimento por me ter aturado nos momentos menos bons, por me ter apoiado e
demonstrado total disponibilidade. Mais do que namorada foi uma companheira que
soube aconselhar e criticar. Obrigada por compreenderes…

A todos, muito obrigado…

1
“Não se conhece completamente uma ciência enquanto não se
souber da sua história”.

Auguste Comte

2
O presente relatório tem como principal objetivo descrever as atividades desenvolvidas
durante o Estágio Pedagógico realizado no âmbito da unidade curricular Prática
Profissional do Mestrado Ensino de Física e de Química no 3.° Ciclo do Ensino Básico
e no Ensino Secundário, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
O ensino é cada vez mais complexo e exige do docente uma grande dose de criatividade
e de conhecimento diversificado, de modo a poder alargar o leque de metodologias e
estratégias que tem ao seu alcance para auxiliar os seus alunos. A história surge como
uma importante dimensão na promoção do conhecimento das ciências.
Descreve-se neste artigo uma experiência sobre o uso da história como recurso didático
em ambiente de sala de aula direcionado para o domínio eletromagnetismo, no âmbito
da disciplina de Ciências Físico-Químicas. A investigação foi efetuada em contexto
escolar real, os sujeitos foram 29 alunos da turma do11º ano de escolaridade (ensino
secundário). Com esta abordagem histórica pretendeu-se demonstrar que a Física pode
ser vista como uma evolução do pensamento científico; procurou-se estabelecer uma
reconstrução do processo de aprendizagem de Física, fazendo participar o contexto
sociocultural do período histórico.

3
This report aims to describe the main activities undertaken during the Pedagogical
Teacher Training Program carried out for the course of MSc Professional Practice
Teaching for Physics and Chemistry in Basic Education and Secondary Education in the
Faculty of Science of the University of Oporto.
The teaching process is becoming more and more complex and asks from the teacher a
great deal of creativity and knowledge, in order to be able to enlarge the set of
accessible methodologies and strategies and lead his/her students. The History plays an
important role in the promotion of the knowledge of sciences.
This article describes an experimente about the use of history as a didactic resource in
the learning of the domain of eletromagnetism, in the ambit of the school discipline of
physics and chemistry sciences. The research was conducted in real school context; the
subjects were 29 students from the 11th grade (high school). With this historical
approach it was tried to demonstrate that the Physics can be seen like an evolution of
the scientific thought; it was tried to establish a reconstruction of the learning process of
Physics, making participate the socio-cultural context of the historical period.

4
Agradecimentos...............................................................................................................1

Resumo.........……………………………………………………………………………3

1. Enquadramento teórico .............................................................................................7

1.1. Carga elétrica e campo elétrico......................................................................8

1.2. Campo magnético………………………………………………………….11

1.3. Indução eletromagnética…………………………………………………...17

2. A história em ambiente de sala de aula…………………………………………...22

2.1. O uso da história da Física no ensino……………………………………...22

2.2. A “Guerra das correntes”…………………………………………………..25

3. Estudo de caso: a história “Guerra das correntes” como recurso didático em


ambiente de sala de aula……………………………………………………………...31

3.1 Enquadramento curricular do tema no atual programa de Física do 11º ano


de escolaridade………………………………………………………………….31

3.1.1. Finalidades, Objetivos e Metas Curriculares…………………………….31

3.1.2. Orientações Gerais……………………………………………………….33

3.1.3. Desenvolvimento do programa…………………………………………..34

3.2 Caracterização dos participantes....................................................................35

3.3. Descrição das estratégias de intervenção pedagógica adotadas....................35

4. Apresentação e discussão dos resultados.................................................................36

4.1. Análise dos trabalhos de pesquisa elaborado pelos alunos…………… …..36

5. Conclusão ................................................................................................................ .38

5.1. Reflexão e autocrítica .................................................................................38


5
Referências bibliográficas ............................................................................................39

Índice das figuras


Figura 1: (a) carga de sinais iguais, força repulsiva (b) carga de sinais opostos, força atrativa...9
Figura 2: campo elétrico, 𝐸⃗ , produzido num ponto do espaço por uma carga pontual Q……...10
Figura 3: (a) Cargas simétricas (b) cargas positivas (b) cargas negativas….10
Figura 4: campo elétrico uniforme, criado por duas placas de metal paralelas………………..11
Figura 5: Interação dos ímanes sobre a limalha de ferro………………………………………12
Figura 6: Interação do íman sobre a limalha de ferro………………………………………….13
Figura 7: orientação das linhas de campo num íman…………………………………………..13
Figura 8: Espetro criado por íman em “U”…………………………………………………….14
Fonte: M. Neil G. C. Cavaleiro, M. Domingas Beleza, Novo FQ 9
Figura 9: campo magnético terrestre…………………………………………………………...14
Fonte (https://donaatraente.wordpress.com/enquadramento-teorico/campo-magnetico/campo-
magnetico-terrestre-podemos-colocar-coisas/ (visto 2018/06/30)
Figura 10: campo magnético criado por um fio retilíneo longo percorrido por uma corrente
elétrica…………………………………………………………………………………………..15
Fonte: M. Neil G. C. Cavaleiro, M. Domingas Beleza, Novo FQ 9
Figura 11: campo magnético criado por uma espira circular percorrida por uma corrente elétrica
Fonte: http://fisicabr.org/eletromag/fis25.html visto 2018/06/30................................................16

Figura 12: campo magnético criado por uma bobina percorrida por uma corrente elétrica…...16
Fonte http://www.alfaconnection.pro.br/fisica/eletromagnetismo/campo-magnetico/campo-
magnetico-produzido-por-corrente-eletrica/ visto 2018/06/30
Figura 13: fluxo magnético na situação de fluxo máximo……………………………………..18
Figura 14: fluxo magnético na situação de fluxo nulo…………………………………………18
Figura 15: espira………………………………………………………………………………..18
Figura 16: transformador……………………………………………………………………….21
Fonte: M. Neil G. C. Cavaleiro, M. Domingas Beleza, Novo FQ 9

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O eletromagnetismo é uma área da física na qual se explica a relação entre a eletricidade
e o magnetismo, teoria desenvolvida e unificada por James Maxwell. Esta teoria tem
como base o conceito de campo eletromagnético para explicar a relação entre essas duas
forças. O campo magnético, gerado a partir dos movimentos de cargas elétricas e o
campo elétrico como resultado da variação do fluxo magnético. Devido a
interdependência entre campo elétrico e campo magnético, surge uma única entidade
chamada campo eletromagnético.

No âmbito desta atividade dar-se-á destaque à carga elétrica e campo elétrico, assim
como ao campo magnético e a indução eletromagnética ao nível do ensino secundário,
tendo-se usado como fonte de informação:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Eletromagnetismo (visto 2018/06/29)

Física, Marcelo Alonso, Edward J. Finn, Addison-Wesley, 1992


David J. Griffit’s Eletrodinamica, 3.ª edição, Pearson, 2011

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1.1 Carga elétrica e campo elétrico

A noção de força elétrica remonta há seculos e teve origem em experiências muito


simples, como a fricção de dois corpos. Se, após friccionarmos um objeto de plástico
num pano de lã, o aproximarmos a pedaços muito pequenos de papel, verificamos que
estes são atraídos pelo objeto. Fenómeno semelhante ocorre quando friccionamos uma
haste de vidro ou de âmbar num pedaço de tecido ou pele. Podemos concluir que, como
resultado da fricção, estes materiais adquiriram uma nova propriedade, a chamada de
eletricidade (de grego elektron, que significa âmbar).
Um campo elétrico tem origem em cargas elétricas. A carga elétrica é uma propriedade
fundamental das partículas que constituem a matéria. A unidade SI de carga elétrica é o
coulomb (C). A determinação da carga elétrica do eletrão aconteceu em 1909 em
experiências realizadas pelo norte-americano Robert Millikan. A carga do eletrão é
−1,602 × 10−19 C, por convenção tem carga negativa. A carga do protão é simétrica da
carga do eletrão e representa-se pela letra e: e = 1,602 × 10−19 C. Um corpo que tem
igual quantidade de cargas positivas e negativas, isto é, carga total zero designa-se
eletricamente neutro. É este o caso dos átomos e das moléculas. Dado que a matéria em
geral não apresenta grandes forças elétricas, pode-se supor que os átomos são
compostos por iguais quantidades de cargas negativas e positivas.

A carga elétrica de um corpo, uma grandeza simbolizada por Q (ou q), resulta das
cargas de todas as partículas que o formam. O seu módulo é sempre um múltiplo do
módulo da carga elementar.

|𝑄| = 𝑛𝑒 , sendo n um número inteiro.

Quando eletrões se transferem de um corpo para outro, um perde eletrões e outro ganha-
os, mas a soma algébrica de todas as cargas dos dois corpos é a mesma. Diz-se que a
carga elétrica se conserva, e esta é a ideia contida no princípio da conservação da carga
elétrica, que a carga total de um sistema isolado se mantém. Isso não impede que cargas
elétricas se criem ou se destruam num tal sistema. Assim, se for criada uma carga
positiva, terá de surgir uma carga negativa, simétrica da primeira.

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Um corpo eletrizado (ou carregado) interage com os corpos à sua volta, o que se
manifesta pela presença de forças elétricas sobre esses outros corpos. Para descrevermos
estas interações recorre-se à noção de campo elétrico.

Escolhe-se arbitrariamente um corpo de carga Q a que chamamos de carga pontual, que


se encontra num determinado ponto do espaço e queremos saber o que se passa quando
colocamos, num outro ponto, a uma distância d, uma outra partícula de carga q. Se tiver
o mesmo sinal da primeira, esta exercerá sobre a segunda uma força repulsiva, como
mostra a figura 1 (a). Esta força é, portanto, exercida à distância. Se tiver sinal contrário
ao primeiro, este exercerá sobre a segunda uma força atrativa, como mostra a figura 1
(b).

Figura 1: (a) (b)

As interações elétricas compreendem-se melhor recorrendo à ideia de campo:


imaginamos que a partícula de carga Q cria no espaço à sua volta um campo elétrico, e
que a partícula com carga q “sente” esse campo no ponto onde se encontra, ficando
sujeita a uma força. Diz-se que a carga Q cria o campo elétrico, e que a carga q sofre a
ação desse campo, ou seja, fica sujeita a uma força elétrica.

A expressão campo elétrico 𝐸⃗ , designa a grandeza vetorial que é definida em cada ponto
do espaço que esteja sob a influência de cargas elétricas, ou seja, designa-se campo
elétrico qualquer região onde uma carga elétrica experimenta uma força. A unidade SI
de campo elétrico é o volt por metro (V/m).

O campo elétrico num qualquer ponto criado por uma partícula de carga Q (positiva ou
negativa) depende dessa carga e da distância a ela, como se apresenta na figura 2. (o
tamanho dos vetores é proporcional à intensidade do campo).

9
Figura 2: campo elétrico, 𝐸⃗ , produzido num ponto do espaço por uma carga pontual Q.

A direção do campo elétrico, 𝐸⃗ , é radial, o sentido aponta para a carga se Q < 0 e no


sentido contrario se Q > 0. Quanto a intensidade (módulo) do campo elétrico, 𝐸⃗ ,
aumenta quando aumenta o módulo da carga que cria o campo e, diminui quando
aumenta a distancia do ponto à carga.

Se houver mais do que uma carga pontual a criar um campo elétrico, este será a
sobreposição dos campos produzidos por cada uma das cargas, podendo as linhas de
campo tomar formas diversas, como mostra a figura 3.

Figura 3: (a) Cargas simétricas (b) cargas positivas (b) cargas


negativas
O vetor campo elétrico, 𝐸⃗ , é tangente às linhas de campo. A densidade das linhas está
relacionado com a intensidade do campo, quanto maior a densidade de linhas, maior
intensidade do campo nessa região. As linhas de campo são linhas imaginárias que
partem de cargas positivas para as cargas negativas, e que nunca se cruzam.

Pode-se determinar a intensidade do campo elétrico num certo ponto do espaço, para
isso basta medir a força elétrica que atua numa carga elétrica ai colocada: o campo 𝐸⃗
será tanto mais intenso quanto maior for a força elétrica sobre ela.

10
A equação usada para se calcular a intensidade do vetor campo elétrico, 𝐸⃗ , é dada pela
relação entre a força elétrica, 𝐹 , e a carga, q:

𝐹
𝐸⃗ = 𝑞 ou 𝐹 = 𝑞𝐸⃗

A intensidade do campo elétrico exprime-se em newtons / coulomb ou NC-1, ou usando


as unidades fundamentais, 𝑚𝑘𝑔𝑠 −2 𝐶 −1. Quando uma partícula com carga q é colocada
num ponto onde existe um campo elétrico, 𝐸⃗ , fica sujeita a uma força, 𝐹 , cujas
características dependem do campo elétrico. Num campo elétrico uniforme o vetor 𝐸⃗ é
igual em intensidade, direção e sentido em todos os pontos de uma dada região, figura
4.

Figura 4: campo elétrico uniforme, criado por duas placas de metal paralelas.

Um campo elétrico uniforme é representado por linhas de campo retilíneas, paralelas,


com o mesmo sentido e igualmente espaçadas. Uma das melhores formas de produzir
um campo elétrico uniforme é carregar duas placas de metal paralelas com cargas iguais
e opostas. Os campos elétricos uniformes estão na base, por exemplo, da tecnologia
usada nas impressoras, fotocopiadoras, osciloscópios, etc.

1.2. Campo magnético

Muitas culturas ancestrais utilizavam os ímanes pelas suas propriedades terapêuticas e


de beleza. No Egipto, as pedras-ímanes (exatamente como as pedras preciosas) faziam

11
parte do arsenal da magia prática, e a sua utilização era notória na proteção contra as
más influências, para afastar os espíritos malignos.

De um modo geral, os povos antigos atribuíam um poder sobrenatural à pedra-íman e


muitos imaginavam que esta era possuidora de uma alma. Devido ao seu poder de
atracão, atribuía-se-lhe a capacidade de reunir os casais desavindos, de atrair a alma
gémea, de favorecer a comunicação entre as pessoas ou o contacto com os espíritos.
Seja qual for responsável por esta atração, ela não é de natureza eletrostática. É o nosso
primeiro encontro com uma força magnética. Enquanto uma carga estacionária apenas
produz um campo elétrico, 𝐸⃗ , no espaço a sua volta, uma carga em movimento gera,
⃗ . Para o detetar é necessário apenas uma bússola, ou
também, um campo magnético, 𝐵
um íman. Os ímanes podem ser de vários materiais e podem ter formas e tamanhos
diversos, mas têm sempre um polo norte e um polo sul. Polos iguais repelem-se e polos
diferentes atraem-se, tal como sucede com as cargas elétricas. No entanto, e ao contrário
destas, nunca se encontrou um polo magnético isolado. Quando se divide um íman em
dois, cada uma das partes fica sempre com um polo norte e um polo sul.

Tal como as cargas elétricas criam um campo elétrico, também os ímanes criam à sua
volta um campo magnético. Se espalharmos limalha de ferro à volta de ímanes, vemos
que ela é atraída para eles, figura 5.

Figura 5: Interação dos ímanes sobre a limalha de ferro

O campo magnético produzido pelo íman manifesta-se pelas forças magnéticas


exercidas sobre materiais como o cobalto ou o ferro de que a limalha é feita. As forças

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magnéticas são mais intensas junto dos polos dos ímanes, pelo que é aí que se concentra
mais limalha. Tal como no caso do campo elétrico, o campo magnético é caracterizado
⃗ . Esta grandeza define-se em cada ponto do
por uma grandeza vetorial simbolizada por 𝐵
espaço que está sob a influência de um ou mais ímanes. A unidade SI de campo
magnético é o tesla (símbolo T) em homenagem a Nikola Tesla.

Um campo magnético pode ser percecionado visualizando as suas linhas de campo,


como exemplo, por um íman em forma de barra através do seu efeito sobre limalha de
ferro, figura 6. A disposição da limalha de ferro permite visualizar as linhas de campo.

À volta do íman, a limalha de ferro alinha-


se segundo a direção do campo magnético,
como pequenas agulhas magnéticas. A esta
distribuição da limalha à volta do íman
chama-se espetro magnético.
Figura 6: Interação do íman sobre
a limalha de ferro.

As linhas de campo magnético orientam-se do polo norte para o polo sul, fora do íman,
e do polo sul para o polo norte, dentro do íman, formando linhas fechadas, figura 7.

⃗ é tangente à linha
Em cada ponto, o vetor 𝐵
de campo e tem o sentido dessa linha, sendo
mais intenso onde for maior a concentração
das linhas (junto às pontas).

Figura 7: orientação das linhas


de campo num íman.

Se o íman tivera forma de “U”, figura 8, e os seus ramos paralelos e compridos


relativamente à distância que os separa, as linhas de campo entre os ramos serão
aproximadamente paralelas e equidistantes, podendo-se considerar esse campo como
uniforme nessa região.

13
Figura 8: Espetro criado por íman em “U”.

A Terra possui um campo magnético pouco intenso, que é da ordem das dezenas de
microteslas. A forma do campo magnético terrestre assemelha-se à do campo que seria
produzido por um hipotético íman em forma de barra (mas que não existe, é apenas um
modelo) colocado no interior da Terra, figura 9.

O polo norte magnético não é coincidente


com o polo Norte geográfico estando
sempre em alteração. Designa-se, então,
por declinação magnética o ângulo
existente entre o polo geográfico e o
magnético.

Figura 9: campo magnético terrestre

O campo magnético da terrestre protege-nos das partículas carregadas de alta energia,


provenientes sobretudo do Sol, desviando-as para as regiões polares, que chegando à
atmosfera, excitam átomos e moléculas do ar. Na desexcitação há emissão de luz
característica do espetro de emissão dos gases envolvidos, originando as auroras boreais
no hemisfério norte e austrais no hemisfério sul.
Um campo magnético é criado por magnetes mas pode também ser criado por correntes
elétricas. Foi a conclusão a que chegou Hans Christian Oersted, na primeira metade do
século XIX. Notou, durante uma trovoada, que a agulha de uma bússola oscilava. Para
desvendar esse fenómeno, Oersted conduziu várias experiências, e observou que uma

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corrente elétrica a atravessar um condutor desviava uma agulha magnética colocada na
sua vizinhança, de tal modo que a agulha assumia uma posição diferente ao plano
definido pelo fio e pelo centro da agulha e, que esse desvio era perpendicular a esse fio.
Ao interromper a passagem da corrente elétrica, a agulha retornou à direção norte-sul.
Oersted concluiu que a corrente elétrica no fio tinha o comportamento de um íman
colocado próximo da agulha magnética. Ou seja, a corrente elétrica estabeleceu um
campo magnético no espaço a sua volta, e esse campo era o responsável pelo desvio da
agulha magnética. Assim, Oersted estabeleceu uma ligação direta entre magnetismo e
eletricidade. Foi o primeiro passo na sua unificação, que viria a ter enormes
consequências tanto no desenvolvimento científico como no desenvolvimento social.
A forma das linhas de campo magnético depende das características dos ímanes, ou dos
fios condutores onde passa corrente elétrica, que o produz, mas podem ser
caracterizados pelas linhas de campo a eles associados.
Vejamos o campo magnético criado por um fio retilíneo longo percorrido por uma
corrente elétrica. Se colocarmos limalha de ferro numa folha de papel perpendicular ao
fio, figura 11, furada por este, a limalha dispõe-se em circunferências concêntricas,
exibindo linhas de campo circulares.

Figura 10: campo magnético criado por um fio retilíneo longo percorrido por uma
corrente elétrica.
O sentido das linhas, que pode ser encontrado aplicando a “regra da mão direita” com o
polegar a apontar no sentido da corrente que percorre o fio, os outros dedos encurvados
⃗ , tem a mesma
apontam no sentido das linhas de campo. O campo magnético 𝐵
intensidade em pontos situados à mesma distancia do fio, ou seja, sobre a mesma linha
de campo. E a sua intensidade será tanto mais intenso quanto maior for a corrente
elétrica e quanto menor for a distancia do ponto ao fio.

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Se o fio percorrido por corrente tiver a forma de anel, a que chamamos espira circular,
as linhas de campo passam pelo interior da espira; sobre o eixo da espira o campo
magnético tem a direção do próprio eixo, figura 11.

Figura 11: campo magnético criado por uma espira circular percorrida por uma
corrente elétrica

Um fio condutor enrolado com a forma de um cilindro chama-se bobina. Uma bobina
longa chama-se solenoide. A figura 12 mostra o espetro magnético de uma bobina e as
respetivas linhas de campo.

No interior de um solenoide, o campo


magnético é praticamente uniforme, o que
o torna bastante útil em certos
dispositivos.

Figura 12: campo magnético criado por uma bobina percorrida por uma
corrente elétrica.

Os campos magnéticos têm aplicações fantásticas. Por exemplo, na levitação magnética de


comboios e na área da saúde, ressonância magnética.

16
1.3. Indução eletromagnética

Oersted observou que as correntes elétricas criavam campos magnéticos. Baseado


nestas observações, Michael Faraday, colocou a hipótese contrária. Poderiam os campos
magnéticos gerar correntes elétricas em circuitos? Foi em 1831 que Faraday confirmou
experimentalmente a sua hipótese. Foi essa descoberta que abriu caminho à produção
em larga escala de eletricidade, como veremos.
Para compreender os resultados de Faraday é necessário definir uma nova grandeza
física, chamada de fluxo do campo magnético, relacionada com o número de linhas de
campo magnético que atravessam uma superfície.
O fluxo magnético é uma medida do campo magnético total que atravessa uma
determinada área. É uma ferramenta útil para ajudar a descrever os efeitos da força
magnética sobre um corpo que ocupa uma determinada área. Podemos escolher uma
área qualquer e orientá-la de qualquer forma relativamente ao campo magnético.
Se usarmos a imagem da linha de campo de um campo magnético, então todas as linhas
de campo que atravessam uma determinada área contribuem com algum fluxo
magnético. O ângulo no qual a linha de campo intercepta a área também é importante.
Ao calcular o fluxo magnético, incluímos apenas a componente do vetor campo
magnético que é normal à área de teste. Consideremos, então, uma linha fechada que
delimita uma superfície plana, de área A, numa região do espaço onde existe um campo
⃗ . Seja, 𝑛⃗, o vetor unitário perpendicular à superfície e α o ângulo
magnético uniforme, 𝐵
⃗ . Então, o fluxo magnético, ɸ, será:
entre os vetores 𝑛⃗ e 𝐵

𝜙 = 𝐵𝐴𝑐𝑜𝑠𝛼

B – intensidade do campo magnético (T).


A – área da superfície (m2).
⃗ e um vetor perpendicular à superfície, 𝑛⃗.
α – ângulo entre o campo magnético 𝐵
O fluxo magnético, sendo um campo magnético multiplicado por uma área, expressa-se
em Tm2, unidade conhecida como weber em homenagem a Whilhelm E. Weber (1804-
1891), cujo símbolo é Wb, de modo que 𝑊𝑏 = 𝑇𝑚2 = 𝑚2 𝑘𝑔𝑠 −1 𝐶 −1 . o módulo do
fluxo magnético ɸ aumentará se aumentar a intensidade do campo, B, se aumentar a

17
área, A, e se aumentar cos α, ou seja, se diminuir o ângulo α (considerando ângulos
agudos).
O fluxo magnético será máximo se o plano da espira for perpendicular às linhas de
campo, figura 13.

α = 0°

φ = B A cos 0° = B A
É máximo o número de linhas de campo que atravessam a
superfície.

Figura 13: fluxo magnético na situação de fluxo máximo.

O fluxo magnético será mínimo (nulo) se o plano da espira for paralelo às linhas de
campo, figura 14.

α = 90°
φ = B A cos 90° = 0
Não há linhas de campo a atravessar a superfície.

Figura 14: fluxo magnético na situação de fluxo nulo.

Num enrolamento de fio condutor, ou seja, numa bobina (sobreposição de várias


espiras), figura 15, o fluxo obtém-se multiplicando o número N de espiras pelo fluxo
numa só espira:
𝛷𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 = 𝑁𝛷𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎
𝛷𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎 = 𝑁𝐵𝐴𝑐𝑜𝑠𝛼

Figura 15: espira

É com base no conceito de fluxo do campo magnético que interpretamos alguns


resultados obtidos por Faraday de produção de correntes elétricas.

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Quando Faraday aproximou dois circuitos elétricos, percebeu que no momento em que
um deles era ligado ou desligado, aparecia por uns momentos uma corrente no outro
circuito e que o sentido dessa era diferente se o circuito estava ligado ou desligado.
Para confirmar se seria um efeito magnético, ele aproximou um íman ao circuito e
observou também o aparecimento de uma corrente, apesar dessa corrente só se manter
enquanto o íman estava em movimento e que tinha sentido contrário dependendo se o
íman se aproximava ou se afastava. Obteve os mesmos resultados fixando o íman e
movimentando o circuito.
Faraday concluiu que o aparecimento de corrente elétrica era devido à existência de um
fluxo do campo magnético a variar ao longo do tempo. Este fenómeno designa-se por
indução magnética.
A indução eletromagnética é a criação de uma corrente elétrica induzida, Ii, num
circuito fechado que delimita uma superfície através da qual há um fluxo de campo
magnético variável.
Se a área dessa superfície se mantiver constante, o fluxo de campo magnético,
𝜙 = 𝐵𝐴𝑐𝑜𝑠𝛼, variará no tempo se mudar o campo magnético e a orientação do plano
da(s) espira(s) onde se induz a corrente, em relação às linhas de um campo magnético
que não varia no tempo.

A indução eletromagnética consiste na criação de um campo elétrico no circuito onde se


induz a corrente. Nos condutores sólidos, esse campo origina forças elétricas nos
eletrões que os obrigam a um movimento contrário ao sentido do campo elétrico (pois
carga do eletrão é negativa), a esse movimento dá-se o nome de corrente elétrica.

Oersted e Faraday mostraram, assim, que campos magnéticos e campos elétricos são
inseparáveis, podendo um ser a fonte do outro.

Quando se cria uma corrente induzida estabelece-se uma diferença de potencial elétrico
no circuito a que se dá o nome de força eletromotriz induzida (símbolo εi ou Ei). A sua
unidade SI é o volt (símbolo V).

A potência disponibilizada ao circuito é dada por:

P = εi Ii.

A força eletromotriz induzida, εi, será tanto maior quanto maior for a variação do fluxo
do campo magnético por unidade de tempo; o seu módulo é dado por:
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|∆Φ|
|𝜖𝑖 | =
Δ𝑡

A indução eletromagnética encontra aplicações nos microfones, altifalantes e na


produção industrial de energia elétrica, que se fará referência mais adiante, entre outros.

No transporte da corrente elétrica, das centrais até aos locais de consumo, são usados
transformadores que primeiro elevam e depois reduzem a diferença de potencial
elétrico. A razão pela qual se usam transformadores, deve-se ao facto de que na linha de
transporte parte da energia ser dissipada por efeito Joule. A potência que é dissipada é
dada pela relação 𝑃 = 𝑅𝐼 2 , com R a resistência da linha e I a corrente que nela circula.
Uma forma de se minimizar essa dissipação passa pela diminuição da corrente. Como a
potência fornecida à linha é constante e igual a 𝑃 = 𝑈𝐼, para diminuir a corrente
aumenta-se a diferença de potencial elétrico (tensão), U. Após o transporte de energia, a
tensão é reduzida em sucessivas subestações e postos de transformação, até ser entregue
nos locais de consumo (230 V).

Os transformadores são capazes de aumentar ou reduzir a diferença de potencial elétrico


(tensão). É baseado em dois princípios: o primeiro, descrito pela lei de Biot-Savart,
afirma que a corrente elétrica produz um campo magnético (eletromagnetismo);

A lei de BIOT-SAVART permite calcular o campo magnético produzido por uma corrente
num determinado ponto. Supor que o condutor AB é percorrido por uma corrente elétrica i.
Esta corrente elétrica produz um campo magnético. Para calcularmos o vetor campo H num
ponto P qualquer, imaginemos o condutor AB dividido em partes de comprimento muito
pequeno. Calculamos o campo magnético ΔH que cada uma destas partes produz em P,
depois efetuamos a soma vetorial de todos esses campos ΔH e obtemos o campo H total que
o condutor inteiro AB produz em P.

Sendo Δ λ [m] um pequeno elemento condutor AB, r [m] a distância entre o pequeno
elemento Δ λ e o ponto P, e θ o ângulo entre Δ λ , e r, figura 21.

ΔH = i Δ λ sen θ/ 4πr2

O sentido do campo é dado pela regra da


mão direita ou do saca-rolhas, (SENAI –
ES, 1999, p 53/54).

20
O segundo, descrito pela lei da indução de Faraday, já mencionada, implica que um
campo magnético variável no interior de uma bobina induz uma tensão elétrica nas
extremidades da bobina (indução eletromagnética). A tensão induzida é diretamente
proporcional à taxa temporal da variação do fluxo magnético no circuito. A alteração na
corrente presente na bobina do circuito primário altera o fluxo magnético nesse circuito
e também na bobina do circuito secundário, esta última montada de forma a encontrar-
se sob influência direta do campo magnético gerado no circuito primário. A mudança no
fluxo magnético na bobina secundária induz uma tensão elétrica na bobina secundária.

Um transformador, figura 16, é constituído por:

 Núcleo de ferro – onde se enrolam fios condutores (bobinas) e se produz um


campo magnético. É laminado para reduzir a energia dissipada por efeito Joule;

 Primário – bobina percorrida por corrente elétrica alternada que produz um


campo magnético variável;

 Secundário – bobina onde surge uma corrente induzida alternada, devido à


variação do fluxo do campo magnético criado no primário.

Quanto maior for o número de espiras da bobina, maior será a diferença de potencial
nos seus terminais. A relação entre a tensão no primário e no secundário é dado pela
𝑼𝒑 𝑼
seguinte expressão: 𝑵 = 𝑵𝒔
𝒑 𝒔

Figura 16: transformador

21
O uso de estratégias e recursos diversificados poderá facilitar a compreensão do
conhecimento cientifico, quer ilustrando a forma como este é construído, quer realçando
o seu caráter evolutivo.

Com este trabalho, irei tentar dar um passo nessa direção, expondo uma narrativa
histórica da física, nomeadamente a “Guerra das correntes”. Tentarei relacionar
necessidades passadas com as atuais, solidificar conceitos e associar a história à ciência.
Não se trata, contudo, de uma mera narrativa histórica de um episódio da física; trata-se
da recriação dos factos, da discussão das razões pelas quais foram feitas as descobertas,
da análise das reais necessidades de tais inventos e da consolidação científica dessas
descobertas. Tentarei solidificar valores, conceitos e construir uma forte relação afetiva
com essa disciplina, com a certeza de estar valorizando o aluno como pessoa, ao fazer
dessa ciência parte integrante da sua vida.

2.1. O uso da história da física no ensino

O sistema educativo é o conjunto de meios pelo qual se concretiza o direito à educação.


No centro de um sistema educativo deve situar-se o ser humano a educar. A tarefa
educativa consiste, na verdade, na capacidade de identificar e de acompanhar o
educando, mantendo vivo o amor pelo saber, despertando o coração e pondo em marcha
a sua razão, a sua liberdade e a sua autonomia.
Em Portugal, o sistema educativo exprime-se através da garantia de uma permanente
ação formativa orientada para favorecer o desenvolvimento global da personalidade, o
progresso social e a democratização da sociedade. Este ensino deve estar inserido num
processo contínuo de aprendizagem, construído ao longo do tempo e através das
atividades e projetos em que participa.
A minha maior preocupação, como futuro professor de física e química, centra-se em
tentar encontrar uma maneira de ensinar por intermédio da qual os alunos realmente
aprendam e que as minhas aulas não sejam tão chatas e sem qualidade como as que eu
tive no meu ensino secundário. Nessa perspetiva, pretendo promover mais do que uma

22
exposição de conceitos científicos seguidos de práticas exaustivas de resolução de listas
de exercícios que muitas vezes acabam sendo a prática em aulas de física.

No que diz respeito à formação pela física e química, e não a formação de físicos ou
químicos, deve-se ter em consideração as dimensões que a disciplina abrange:
conceitual, filosófica, histórica. Sendo imperativo fazer com que os alunos se
apaixonem pela física e química, para que o seu estudo se torne em algo prazeroso e não
numa penosa obrigação. O processo de ensino-aprendizagem é cada vez mais complexo
e exige do docente uma grande dose de criatividade e de conhecimento, de modo a
poder alargar o leque de metodologias e estratégias que tem ao seu alcance para auxiliar
os seus alunos.

Valdés (2002) chama a atenção para o facto: “o valor do conhecimento histórico não
consiste em ter uma bateria de histórias e anedotas curiosas para entreter os alunos, a
história pode e deve ser utilizada, para entender e fazer compreender uma ideia mais
difícil e complexa de modo mais adequado”.

A História “Guerra das correntes” como parte integrante e fundamental das aulas, será o ponto
fulcral da metodologia a ser apresentada, tendo em mente o seguinte:

“Inserir tópicos de História e de Filosofia no Ensino de Ciências não irá resolver todos
os seus problemas, muito menos substituí-lo, mas pode auxiliar na superação de
diversas dificuldades pelas quais passa a educação científica” (Martins, 2006).

A história da física e química é um recurso valioso para o processo de ensino e


aprendizagem da mesma. Através desta ferramenta, o professor tem a possibilidade de
fomentar atitudes e valores positivos frente ao conhecimento da física e química,
contextualizando, aumentando o interesse e atenção do aluno. Uma vez que a física e
química fazem parte do património cultural da sociedade e existem para responder às
suas necessidades, é nossa obrigação transmiti-la às novas gerações de forma correta e
ao mesmo tempo motivadora e potenciadora de conhecimentos. O trabalho procurou
contribuir na construção de uma física e química que valoriza a cultura duma sociedade,
partindo da história da mesma, respondendo às suas preocupações de forma rápida,
eficiente, coerente, e retirar os preconceitos de que o estudo da física e química é o
“bicho-papão” das disciplinas curriculares, que é “chata” e que “cai de paraquedas”,
como muitos alunos pensam. Através da história “Guerra das correntes”, tentarei

23
mostrar que essa ciência percorreu um longo caminho na história da humanidade,
passando por várias fases no seu processo evolutivo e tentarei estimular o espírito
crítico e também fazer com que os alunos compreendam as ideias subjacentes às teorias
e aos teoremas que são apresentados, em geral, na sua forma final.

Para Matthews (1991, p.151), não existe matéria que não se possa tornar mais
interessante com a introdução de considerações filosóficas. Segundo este autor, o
exercício não é ensinar Filosofia, mas potencializar a aprendizagem mediante a
conscientização sobre aspetos interessantes da Ciência. Para Matthews (1995), embora a
História, a Filosofia e a Sociologia da Ciência não resolvam todos os problemas do
Ensino de Ciências, podem auxiliar a resolvê-los na medida em que:
[...] podem humanizar as ciências e aproximá-las dos interesses pessoais, éticos,
culturais e políticos da comunidade; podem tornar as aulas de ciências mais
desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste modo, o desenvolvimento do pensamento
crítico; podem contribuir para um entendimento mais integral de matéria científica,
isto é, podem contribuir para a superação do mar de falta de significação que se diz ter
inundado as salas de aula de ciências, onde fórmulas e equações são recitadas sem que
muitos cheguem a saber o que significam; podem melhorar a formação do professor
auxiliando o desenvolvimento de uma epistemologia da ciência mais rica e mais
autêntica, ou seja, de uma maior compreensão da estrutura das ciências bem como do
espaço que ocupam no sistema intelectual das coisas. (Matthews 1995, p.165).

Mostrarei que a física e química surge, então, a partir da procura de soluções para
resolver problemas do quotidiano; apresentarei as preocupações dos vários povos em
diferentes momentos históricos, identificando a sua utilização em cada um deles,
percebendo as dificuldades evolutivas no seu desenvolvimento e, estabelecerei
comparações entre conceitos e processos científicos do passado e do presente. A história
da física pode ser um excelente recurso no processo de ensino e aprendizagem, com a
finalidade de manifestar de forma peculiar as ideias científicas, situar no tempo e no
espaço as grandes ideias e problemas e, as motivações.

Mendes (2001) afirma que “o conhecimento provém de diferentes grupos socioculturais


que se organizaram e se desenvolveram intelectualmente de acordo com as suas
necessidades, interesses e condições de sobrevivência, levados pela mobilidade

24
característica da sociedade humana e que a informação histórica pode contribuir para
a disseminação desse conhecimento”.

A história da física e química é considerada um tema importante na formação do aluno,


proporcionando-lhe a noção da ciência em construção, com erros e acertos e sem
verdades universais, contrariando a ideia positivista de uma ciência universal e de
verdades absolutas. A história da física e química tem este grande valor, de poder
contextualizar o saber, mostrar que os seus conceitos são fruto de uma época histórica,
dentro de um contexto social e político. Para Valdés (2002), “se estabelecermos um laço
entre o aluno, a época e a personagem relacionado com os conceitos estudados, se
conhecerem as motivações e dúvidas que tiveram os sábios da época, então ele poderá
compreender como foi descoberto e justificado um problema, um corpo de conceitos,
etc.”

2.2. A “Guerra das correntes”

Nas últimas décadas do séc. XIX, ocorreu um dos maiores debates tecnológicos de
todos os tempos:

Qual a melhor forma de distribuir a energia elétrica: Por corrente alternada ou por
corrente contínua?

Foi uma digladiação envolvendo três dos mais importantes cientistas que a humanidade
já viu: Thomas Edison (defendendo a corrente contínua) de um lado, contra Nikola
Tesla e George Westinghouse do outro (representando a corrente alternada).Thomas
Edison Foi o primeiro a criar uma central de distribuição elétrica, por corrente contínua.
Este sistema permitiu que fosse possível fazer chegar a fábricas e residências a energia
elétrica, substituindo os sistemas de energia a vapor e a iluminação a gás. No entanto,
revelou algumas limitações, nomeadamente, o facto de a energia fluir num só sentido,
os cabos muitas vezes aquecerem e o revestimento por vezes derreter (por efeito joule)
e, não ser possível transportá-la a mais de 2 km devido às perdas de energia por
dissipação por não se poder facilmente aumentar a d.d.p. no transporte, o que obrigou à
montagem de geradores e estações a cada 2 ou 4 km necessitando uma quantidade maior

25
de fios para manter a tensão, o que se tornava dispendioso especialmente em zonas
rurais que não podiam conceder recursos para a construção de uma estação local ou
pagar pela grande quantidade de grossos fios de cobre. E, pelo facto de não ser possível
alterar a sua tensão implicava uma linha de distribuição para as aplicações industriais e
outra para a iluminação.

Ciente das limitações do seu sistema, Thomas Edison contrata o jovem engenheiro
Nikola Tesla e oferece-lhe um prémio de 50,000$, caso este conseguisse melhorar o
sistema de distribuição de energia. Após um ano, Nikola Tesla afirma ter criado um
sistema que solucionava os problemas do transporte de energia elétrica. Tesla tinha
concebido um sistema de transporte de energia elétrica por corrente alternada em cabos
de alta tensão e que por meio de transformadores era possível diminuir a tensão no final
da linha. A corrente podia assim ser conduzida a longas distâncias (a altas tensões e a
baixas correntes), utilizando condutores mais finos (com menor gasto financeiro) e,
portanto, com maior eficiência de transmissão.

No transporte da corrente elétrica, por corrente alternada, das centrais até aos locais de
consumo, são usados transformadores que primeiro elevam e depois reduzem a
diferença de potencial elétrico. Na linha de transporte parte da energia é dissipada por
efeito joule. Essa potência dissipada é dada por 𝑃 = 𝑅 × 𝐼 2 , com R a resistência da
linha e I a corrente que nela circula. Para minimizar essa dissipação diminui-se a
corrente. Como a potência fornecida à linha é constante e igual a 𝑃 = 𝑈 × 𝐼, para
diminuir a corrente aumenta-se a diferença de potencial elétrico (tensão), U. as linhas de
transporte chamam-se, por isso, linhas de alta tensão. Os transformadores são
dispositivos capazes de aumentar ou reduzir a diferença de potencial elétrico (tensão). O
seu funcionamento baseia-se na indução eletromagnética.

Edison, por sua vez, temendo perder a sua vantagem comercial, não cumpriu a
promessa. Tesla demitiu-se da companhia de Edison (General Electric) e foi trabalhar
para a Westinghouse Corporation do empresário George Westinghouse.

Edison acabou difamando as ideias de Tesla, realizando campanhas contra a utilização


da corrente alternada com cartazes espalhados por diversas cidades que advertiam para
os perigos da corrente alternada. Edison chegou ao cúmulo de eletrocutar animais em
público, para demonstrar os perigos da corrente alternada.

26
O sistema de Tesla foi adotado pela Westinghouse Corporation do empresário George
Westinghouse e teve início, assim, uma guerra entre estas duas companhias.

Um momento crucial na história da eletricidade foi a iluminação da exposição Universal


de Chicago em 1893. Edison e a Westinghouse Corporation apresentaram orçamentos
para iluminar a feira com Edison a apresentar um custo de 554 000 dólares contra os
339 000 de Westinghouse. Westinghouse ganhou o contrato. Nessa exposição, a
corrente alternada demonstrou todas as suas potencialidades, provando que era a melhor
solução para a distribuição de energia elétrica. Nesta exposição, que contou com a
participação de 19 países e teve cerca de 27 milhões de visitantes, verificou-se que o
sistema defendido por Nikola Tesla, para além de ser mais barato e mais simples, não
necessitava de tantos cabos como o sistema de Edison. Uma das novidades da feira, foi
ter as lâmpadas elétricas alimentadas por geradores de corrente alternada que ganharam
destaque, pois permitiram que algumas exibições ficassem abertas durante a noite, algo
que nunca se tinha visto até então.

Após o sucesso da exposição, a Westinghouse Corporation recebeu o contrato da


comissão Internacional das Cataratas do Niágara, fornecendo a energia por corrente
alternada à cidade de Búfalo situada a 32 km da central hidroelétrica. Alguns duvidaram
de que o sistema gerasse eletricidade suficiente para a cidade de Búfalo, mas Tesla tinha
a certeza de que o sistema funcionaria, ao argumentar que as Cataratas do Niágara
tinham potencial suficiente para gerar energia para todo o leste dos Estados Unidos

Assim, Tesla conseguiu vencer o monopólio dominado por Edison, e a maioria das
empresas passaram a adotar a corrente alternada. Mesmo possuindo diferentes
personalidades e ideologias, é imprescindível afirmar que ambos os inventores
contribuíram fortemente para a sociedade atual com as suas invenções revolucionárias,
de modo a continuarem a ser utilizadas até hoje para abastecer a população.

Em seguida, enumeram-se algumas dessas contribuições e invenções revolucionárias


criadas por essas duas mentes prodigiosas. Enunciando, primeiro, algumas das
invenções de Thomas Edison e passando de seguida a enunciar outras de Nikola Tesla.

27
Thomas Edison registou mais de mil patentes ao longo da sua vida, uma das quais o
fonógrafo e a câmara cinematográfica. Muitas das suas invenções tinham relação
com a telegrafia, o processo de transmissão de mensagens a grandes distâncias.
Outras invenções perduram e há grande possibilidade de as usarmos atualmente.

Bateria de carro elétrico


No início do século 20, Thomas Edison lançou a bateria de níquel-ferro, mais
eficiente do que as baterias de ácido de chumbo usadas na época. Atualmente servem
para armazenar a eletricidade excedente de painéis solares e turbinas eólicas.

Câmara de cinema
Thomas Edison em 1888 exprime a sua ideia para o que seria uma câmara
cinematográfica: “Estou a experimentar um instrumento que faz com os olhos aquilo
que o fonógrafo faz com os ouvidos”. Esse novo dispositivo gravava uma série de
imagens que, se fossem exibidas em rápida sequência, pareciam ter movimento.

Caneta elétrica
a caneta elétrica criada por Edison produzia cópias de qualquer documento em
estêncil, de acordo com o que fosse escrito. A invenção, de 1875, não conseguiu
superar as máquinas de escrever, mas o projeto inicial teve outra utilidade e
colaborou para lançar a primeira agulha elétrica de tatuagens, em 1891.

Distribuição de energia elétrica


Em 1882, o primeiro sistema de distribuição de eletricidade desenvolvido por Edison
iluminou a Estação Pearl Street, primeira central elétrica de Nova Iorque, e alguns
locais da região. O sistema foi revolucionário para a época e, ao substituir o uso de
velas e lampiões, tornou a luz algo mais seguro e prática.

Embalagem a vácuo
Em 1881, Thomas Edison patenteou um método de preservação de frutas e outros
produtos orgânicos: basicamente, a técnica removia todo o ar de embalagens de
vidro, mesmo princípio usado hoje em pacotes e produtos embalados a vácuo.

28
Fonógrafo
Foi a primeira máquina capaz de gravar e reproduzir sons. Criado em 1877, o
aparelho foi descoberto enquanto Edison fazia experiências com o telégrafo e notou
que o movimento da fita de papel produzia sons parecidos com palavras.

Lâmpada incandescente
Com todas as opções modernas e mais eficientes de lâmpadas lançadas nos últimos
anos, a lâmpada incandescente pode ter perdido parte de sua popularidade, mas
continua a ser uma das maiores invenções de Thomas Edison. Em 1879, uma
lâmpada feita com algodão carbonizado dentro de um bolbo a vácuo que brilhou 45
horas seguida e representou o início da “Era da Eletricidade”, substituindo o uso de
velas, lampiões a gás e tochas de madeira.

Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2017/02/8-invencoes-de-
thomas-edison-que-mudaram-o-mundo.html (visto 2018/02/07).

Nikola Tesla era um Homem com grandes ideias, registou 300 patentes. Infelizmente,
ele estava muito à frente do seu tempo e enquanto a maior porte das suas ideias
teoricamente funcionavam, nunca foram bem aceites. Ele foi um inventor brilhante que
deu ao mundo algumas fantásticas e pioneiras inovações. Aqui estão algumas das mais
incríveis invenções de Nikola Tesla.

Corrente alternada

Sem sombra de dúvida, as mais importantes invenções de Nikola Tesla envolvem as


suas contribuições para a Corrente Alternada. Ele não inventou nem descobriu a
corrente alternada, mas as suas invenções fizeram com que ela pudesse ser aplicada
a nível global, ajudando a eletrificar o mundo.

Tele-autómato

Em 1898 na Electrical Exhibition em Madison Square Garden, Tesla apresentou


uma invenção a que ele chamou “Tele-autómato” que consistia de um barco
controlado por ondas rádio. Tesla controlou o barco que funcionava com uma
bateria, operando a hélice e as luzes através de ondas rádio.

29
Esta Invenção foi uma grande inovação em três áreas diferentes. A primeira foi
controlos remotos, influenciado o desenvolvimento de objetos como comandos de
televisão e comandos de garagem. Em segundo, o barco também foi um dos primeiros
robôs, sendo este um objeto mecânico que podia ser operado sem que o humano tivesse
que lhe tocar fisicamente. E por fim, a combinação de robótica com a tecnologia de
controlo rádio torna o barco de Tesla no Bisavô dos drones.

O motor de indução elétrica

O Motor de Indução Elétrica utiliza Corrente Alternada e é constituído por duas partes –
O Estator e o Rotor. O Estator permanece estático e utiliza eletroímanes para fazer girar
o rotor que está no meio. Os Motores de Indução Elétrica são reconhecidos por serem
extremamente duráveis, fáceis e de manutenção barata. O Motor de Indução Elétrica foi
extremamente importante e continua a ser utilizado em produtos do nosso dia-a-dia
como aspiradores, secadores de cabelo e ferramentas elétricas.

Fonte: http://www.ultimatescience.org/10-maiores-invencoes-de-nikola-tesla/ (visto


2018/07/02).

30
Com o objetivo de cativar os alunos e introduzir os novos conceitos, bem como as
relações significativas entre eles, recorreu-se à utilização de uma história introdutória
aos alunos de 11.º ano de escolaridade durante o estudo do tema eletromagnetismo. Nas
secções seguintes apresenta-se informação mais detalhada sobre o nosso estudo de caso.

3.1. Enquadramento curricular do tema no atual programa de Física do 11.º ano


de escolaridade

No programa curricular do Ensino secundário relativamente a disciplina de Física e


Química A faz parte da componente específica do Curso científico-humanístico de
Ciências e Tecnologias. É uma disciplina bienal (10.º e 11.º ano), dá continuidade à
disciplina de Físico-Química (Ciências Físico-Químicas) do Ensino Básico (7.º, 8.º e 9.º
anos) e constitui precedência em relação às disciplinas de Física e de Química do 12.º
ano, (MEC-2014, pág. 3).

3.1.1. Finalidades, Objetivos e Metas Curriculares

A disciplina “visa proporcionar formação científica consistente no domínio do respetivo


curso” (Portaria n.º 243/2012). Por isso, definem-se como finalidades desta disciplina,
(MEC-2014, pág. 3):

 Proporcionar aos alunos uma base sólida de capacidades e de conhecimentos da


física e da química, e dos valores da ciência, que lhes permitam distinguir
alegações científicas de não científicas, especular e envolver-se em
comunicações de e sobre ciência, questionar e investigar, extraindo conclusões e
tomando decisões, em bases científicas, procurando sempre um maior bem-estar
social.

31
 Promover o reconhecimento da importância da física e da química na
compreensão do mundo natural e na descrição, explicação e previsão dos seus
múltiplos fenómenos, assim como no desenvolvimento tecnológico e na
qualidade de vida dos cidadãos em sociedade.
 Contribuir para o aumento do conhecimento científico necessário ao
prosseguimento de estudos e para uma escolha fundamentada da área desses
estudos.

De modo a atingir estas finalidades, definem-se como objetivos gerais da disciplina:

 Consolidar, aprofundar e ampliar conhecimentos através da compreensão de


conceitos, leis e teorias que descrevem, explicam e preveem fenómenos assim
como fundamentam aplicações.
 Desenvolver hábitos e capacidades inerentes ao trabalho científico: observação,
pesquisa de informação, experimentação, abstração, generalização, previsão,
espírito crítico, resolução de problemas e comunicação de ideias e resultados nas
formas escrita e oral.
 Desenvolver as capacidades de reconhecer, interpretar e produzir representações
variadas da informação científica e do resultado das aprendizagens: relatórios,
esquemas e diagramas, gráficos, tabelas, equações, modelos e simulações
computacionais.
 Destacar o modo como o conhecimento científico é construído, validado e
transmitido pela comunidade científica.

Segundo o Despacho n.º 15971/2012, de 14 de dezembro, as metas curriculares


“identificam a aprendizagem essencial a realizar pelos alunos (...) realçando o que dos
programas deve ser objeto primordial de ensino”.
As metas curriculares permitem, (MEC-2014, pág. 6):
 Identificar os desempenhos que traduzem os conhecimentos a adquirir e as
capacidades que se querem ver desenvolvidas no final de um dado módulo de
ensino;
 Fornecer o referencial para a avaliação interna e externa, em particular para as
provas dos exames nacionais;

32
 Orientar a ação do professor na planificação do seu ensino e na produção de
materiais didáticos;
 Facilitar o processo de autoavaliação pelo aluno.

3.1.2. Orientações gerais, (MEC-2014, pág. 5 e 6)

Os domínios, bem como os subdomínios, são temas da física ou da química. Mas, dado
o impacto que os conhecimentos da física e da química e das suas aplicações têm na
compreensão do mundo natural e na vida dos seres humanos, sugere-se que a
abordagem dos conceitos científicos parta, sempre que possível e adequado, de
situações variadas que sejam motivadoras como, por exemplo, casos da vida quotidiana,
avanços recentes da ciência e da tecnologia, contextos culturais onde a ciência se insira,
episódios da história da ciência e outras situações socialmente relevantes. A escolha
desses contextos por parte do professor deve ter em conta as condições particulares de
cada turma e escola. Tal opção não só reforçará a motivação dos alunos pela
aprendizagem mas também permitirá uma mais fácil concretização de aspetos formais
mais abstratos das ciências em causa. Em particular, a invocação de situações da
história da ciência permite compreender o modo como ela foi sendo construída.
O desempenho do aluno também deve ser revelado na familiarização com métodos
próprios do trabalho científico, incluindo a adoção de atitudes adequadas face às tarefas
propostas, devendo a realização de trabalho prático-laboratorial constituir um meio
privilegiado para a aquisição desses métodos e desenvolvimento dessas atitudes.
O ensino da Física e Química A deve permitir que os alunos se envolvam em diferentes
atividades de sala de aula, incluindo a resolução de exercícios e de problemas, de modo
a que desenvolvam a compreensão dos conceitos, leis e teorias, interiorizando processos
científicos. Na resolução de problemas os alunos devem também desenvolver as
capacidades de interpretação das informações fornecidas, de reflexão sobre elas e de
estabelecimento de metodologias adequadas para alcançar boas soluções.
As atividades de demonstração, efetuadas pelo professor, recorrendo a materiais de
laboratório ou comuns, com ou sem aquisição automática de dados, constituem uma
forte motivação para introduzir certos conteúdos científicos ao mesmo tempo que
facilitam a respetiva interpretação. Também o recurso a filmes, animações ou

33
simulações computacionais pode ajudar à compreensão de conceitos, leis e teorias mais
abstratas.
Esta disciplina, pela sua própria natureza, recorre frequentemente a conhecimentos e
métodos matemáticos. Alguns alunos poderão ter dificuldades na interpretação de
relações quantitativas entre grandezas físico-químicas, incluindo a construção de
modelos de base matemática na componente laboratorial, ou na resolução de problemas
quantitativos por via analítica, devendo o professor desenvolver estratégias que visem a
superação das dificuldades detetadas. O recurso a calculadoras gráficas (ou a tablets, ou
a laptops) ajudará a ultrapassar alguns desses constrangimentos, cabendo ao professor,
quando necessário, introduzir os procedimentos de boa utilização desses equipamentos.
Os alunos devem ser incentivados a trabalhar em grupo, designadamente na realização
das atividades laboratoriais. O trabalho em grupo deve permitir uma efetiva colaboração
entre os seus membros, mas, ao mesmo tempo que aumenta o espírito de entreajuda,
desenvolver também hábitos de trabalho e a autonomia em cada um deles. Os alunos
devem igualmente ser incentivados a investigar e a refletir, comunicando as suas
aprendizagens oralmente e por escrito. Devem, no seu discurso, usar vocabulário
científico próprio da disciplina e evidenciar um modo de pensar científico, ou seja,
fundamentado em conceitos, leis e teorias científicas.

3.1.3. Desenvolvimento do programa

As Metas Curriculares (MEC-2014) têm por base os elementos essenciais das


Orientações Curriculares para o Ensino Secundário: do Curso científico-humanístico de
Ciências e Tecnologias (MEC-2014). Neste documento - que tem como objetivo
traduzir e enunciar as aprendizagens que os alunos devem ser capazes de alcançar e de
evidenciar, de forma explícita - os objetivos gerais, pormenorizados por descritores,
estão organizados por domínios e subdomínios temáticos. Assim, para o 11.º ano foram
estabelecidos dois domínios temáticos: “Mecânica” e ”Ondas e eletromagnetismo. No
âmbito deste último domínio encontramos o subdomínio: eletromagnetismo, cujo
objetivo geral é: “origem e caracterização de campos elétricos e magnéticos,
enfatizando a indução eletromagnética e a sua aplicação na produção industrial de
corrente elétrica” (MEC-2014, p. 24). Na tabela 1 encontram-se os descritores mais
específicos que decorrem deste objetivo geral.

34
Tabela 1: Descritores associados ao subdomínio eletromagnetismo (MEC-2014, p 24)
1. Carga elétrica e sua conservação.
2. Campo elétrico criado por uma carga pontual, sistema de duas cargas pontuais e
condensador plano; linhas de campo; força elétrica sobre uma carga pontual.
3. Campo magnético criado por ímanes e correntes elétricas (retilínea, espira
circular e num solenoide); linhas de campo.
4. Fluxo do campo magnético, indução eletromagnética e força eletromotriz
induzida (Lei de Faraday).
5. Produção industrial e transporte de energia elétrica: geradores e
transformadores

3.2. Caracterização dos participantes

Os participantes foram 29 alunos, dos quais três são repetentes de uma turma de 11.º
ano da Escola Secundaria de Valongo, frequentada por uma população pertencente a um
nível socioeconómico heterogéneo, ou seja, baixo, médio e alto. Dentro dos 29 alunos
participantes, 9 são do sexo feminino e 20 do sexo masculino na faixa etária dos 17 aos
19 anos.

3.3. Descrição das estratégias de intervenção pedagógicas adotadas

A realização deste trabalho ocorreu no 1.º período do ano letivo 2017/2018 durante 2
aulas de 90 minutos.

Foi pedido aos alunos, no final da primeira aula (2018/01/30), para que em grupo,
realizassem uma pequena apresentação em PowerPoint, para apresentar na semana
seguinte com as seguintes questões (uma por grupo):

 Caracterize corrente alternada (CA);


 Caracterize corrente contínua (CC);
 Efeitos da corrente elétrica no corpo humano.

35
A finalidade deste trabalho foi o de dar supor teórico para a aprendizagem a ser
lecionada aos alunos, facilitando deste modo a sua consolidação. Pretendeu-se também,
verificar as dúvidas que os alunos teriam sobre corrente alternada e corrente contínua,
para mais tarde, no decorrer das aulas, poder colmatar essas mesmas dúvidas.

No início da aula de 2018/12/01, após a apresentação do trabalho dos alunos, apresentei


a história “Guerra das correntes”, os alunos já tinham as bases teóricas para
compreenderem todos os conceitos apresentados e terem conhecimento da história por
trás da matéria lecionada.

Neste ponto apresentar-se-ão os resultados decorrentes da análise aos trabalhos de


pesquisa elaborados pelos alunos.

4.1. Análise dos trabalhos de pesquisa elaborados pelos alunos

Tabela 2: principais conclusões a que os alunos apresentaram.

Corrente contínua: Corrente alternada:


 Sentido único em cada um dos  Sentido inverte periodicamente;
condutores formando polos  Mais eficiente para transmissão e
positivos e negativos. distribuição de energia elétrica,
 Menos eficiente para transmissão a pois a tensão pode ser aumentada
longas distâncias. por meio de transformadores,
 Menos perigosa do que a corrente diminuindo a corrente, utilizando
alternada entre frequências de 50 a condutores mais finos;
60 Hz.  Menor perda de energia no
 Maior perda de energia ao longo transporte;
da distribuição por efeito Joule,
P = RI2 e P = UI

36
Em relação aos efeitos da corrente elétrica no corpo humano, os alunos responderam
que, a passagem da corrente elétrica por organismos vivos age diretamente no sistema
nervoso, provocando contrações musculares, quando isso ocorre diz-se que sofreu um
choque elétrico.

O pior caso de choque é aquele que se origina quando uma corrente elétrica entra pela
mão de uma pessoa e sai pela outra. Nesse caso, atravessando o tórax de ponta a ponta,
há grande probabilidade da corrente afetar o funcionamento do coração e da respiração.

Em seguida apresenta-se um quadro resumo do valor da intensidade da corrente elétrica


e dos consequentes efeitos:

37
Este trabalho enfatizou a utilização da história “Guerra das correntes” como elemento
complementar nas aulas de física; não se trata do uso da história pela história, mas de
pesquisa histórica, os motivos pelos quais os conceitos foram sendo gerados ao longo da
evolução científica de determinado período, a origem dos termos utilizados, a origem
das fórmulas, as consequências e necessidades da sociedade.

Com a escolha desse tema, permitiu que os alunos revivessem as mudanças vividas pela
sociedade por alguns Físicos representantes da sua época. Como dito anteriormente, não
se quis fazer um estudo detalhado da História da Física, mas sim utiliza-la como um
instrumento didático, auxiliar a aprendizagem.

Verifica-se que, ao estudar esses representantes nas suas respetivas épocas (histórica,
geográfica, filosófica e artística), que houve um entendimento mais completo por parte
dos alunos da disciplina de Física, tal como se pretendia nos objetivos deste trabalho.

Ao analisar o trabalho de pesquisa dos alunos fica evidente que essas pesquisas feitas
antes da introdução do tema de aprendizagem colaborou de forma muito rica para a sua
compreensão e interesse.

5.1. Reflexão e autocritica

“A reflexão envolve a ação voluntária e intencional de quem se propõe refletir, o que


faz com que a pessoa que faz a reflexão mantenha em aberto a possibilidade de mudar,
quer em termos de conhecimentos e crenças quer em termos pessoais.” (Santos &
Fernandes, 2004).

Chegando ao fim desta etapa, sinto uma verdadeira satisfação, não só por ter chegado ao
fim, mas por ter alcançado com sucesso os desafios a que me tinha proposto. É também
satisfatório pelo facto de os alunos terem ganho algo com a realização da atividade, no
que diz respeito à aprendizagem dos conteúdos, ao desenvolvimento de um maior gosto
pela Física e pela quebra da “rotina” a que o ensino tradicional os habituou. Parto do
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princípio que consegui despertar-lhes a capacidade de reflexão e interesse, que contribui
para o desenvolvimento de novas competências pedagógicas com a atividade.

A nível pessoal e profissional manifesto uma opinião positiva sobre a utilização da


história como ferramenta pedagógica, pois foi uma experiencia enriquecedora mesmo a
nível pessoal. Seria interessante implementar o uso da história em Física em mais temas
de aprendizagem, para desse modo explorar melhor todo o seu potencial educativo.

Jader de Oliveira, SENAI – ES, 1999, “Eletrotécnica Básica – Instrumentação”.

Otávio Markus, “Circuitos Elétricos, Corrente Contínua e Corrente Alternada”, Editora Érica
LTDA.

Física, Marcelo Alonso, Edward J. Finn, Addison-Wesley, 1992.

David J. Griffit’s Eletrodinamica, 3.ª edição, Pearson, 2011.

Isabel Maria Mota Heitor Lourenço, 2008 “A HISTÓRIA DA FÍSICA NO ENSINO DA FÍSICA”.

Filipe Mathusso Lunavo, 2015 “A História da Matemática como Recurso didático para o Ensino
da Matemática”.

Martins, I. P. et al. (2007). Explorando plantas…Sementes, germinação e crescimento. (1.ª


edição). Lisboa: Ministério da Educação.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Eletromagnetismo, (visto 2018/06/29).

https://pt.khanacademy.org/science/physics/magnetic-forces-and-magnetic-fields/magnetic-
flux-faradays-law/a/what-is-magnetic-flux (visto 2018/07/01).

http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Secundario/Documentos/Documentos_Disciplinas_
novo/Curso_Ciencias_Tecnologias/Fisica_Quimica_A/programa_fqa_10_11.pdf (visto
2018/07/02).

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