Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O DIREITO E O FUTURO
DA DEMOCRACIA
Tradução
Caio Farah Rodriguez
Mareio Soares Grandchamp
com consultoria do autor
Copyright© 1996 Roberto Mangabeira Unger
Copyright© 2004 da tradução, Boitempo Editorial
U48d
Unger, Roberto Mangabeira
O direito e o futuro da democracia / Roberto Mangabeira Unger ;
tradução de Caio Farab Rodriguez, Mareio Soares Grandchamp, com
consultoria do autor. - São Paulo : Boitempo, 2004.
ISBN 85-7559-005-7
1. Hermenêutica (Direito). 2. Direito - Metodologia. 3. Direito -
Filosofia. I. Título.
9
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
10
ENTENDIMENTO E TRANSFORMAÇÃO NA
CIÊNCIA NATURAL E NO ESTUDO SOCIAL
11
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
12
ENTENDIMENTO E TRANSFORMAÇÃO ...
13
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
deve pressupor também pessoas cuja vida de aspiração seja mais unidi-
mensional do que a nossa realmente é. Seu benthamiano imaginário ou
parte contratante hipotética do contrato social deve consistir em nós
menos um, e não nós mais um.
No cerne dessas ilusões da filosofia política acadêmica reside a inca-
pacidade para fazer justiça ao que será um dos temas centrais deste li-
vro.Chame-o, num vocabulário, a relação interna e, em outro, a relação
dialética, entre pensar sobre ideais e interesses e pensar sobre instituições e
práticas. Pensar sobre ideais e interesses e pensar sobre instituições e prá-
ticas não são momentos ou atividades separados: cada um incorpora o
outro sem ser redutível ao outro. Assim, cada ideal social e cada interesse
de grupo adquire parte de seu significado a partir das estruturas sociais
conhecidas que imaginamos representar ou realizar de fato. Ao mesmo tem-
po, contudo, há algo na aspiração abstrata dentro de nossos ideais e na
força bruta dentro de nossos interesses que luta, impacientemente, con-
tra os limites impostos pelas estruturas do momento. Damos crédito a
essa dualidade quando desenvolvemos a compreensão de nossos interesses
e ideais pelo ajuste, na imaginação e na prática, de suas formas concretas de
realização. A importância central desse ajuste é o sentido mais impor-
tante da relação interna entre pensar sobre ideais ou interesses e pensar
sobre instituições ou práticas.
Podemos, agora, entender o que de outra forma permaneceria uma
qualidade paradoxal da filosofia política dominante. Ela quer transcender
sua situação histórica, às vezes mais, às vezes menos (como sugere minha
discussão posterior da campanha para alcançar o meio-termo entre histori-
cismo e racionalismo). Contudo, ela quer alcançar essa liberação do mo-
mento e da circunstância no início dos seus argumentos por uma mano-
bra metodológica, em vez de ao final dos seus argumentos, por um trabalho
paciente da imaginação. Ela, portanto, deixa de reconhecer as ambigüi-
dades ideológicas e as oportunidades transformadoras que habitam a rela-
ção interna entre nossos ideais ou interesses e nossas instituições ou prá-
ticas. Não perceber essas oportunidades e ambigüidades significa
desperdiçar os meios pelos quais podemos manter efetivo distanciamento
das instituições reais. É por isso que grande parte da filosofia política
especulativa de hoje acaba, em retrospecto, por dar um brilho metafísico
às práticas fiscais compensatórias da socialdemocracia estabelecida. Um
reformismo pessimista, cético quanto a alternativas institucionais e resig-
nado a medidas compensatórias, guia os movimentos aparentemente abs-
14
ENTENDIMENTO E TRANSFORM/1.ÇÁO ...
15
DEMOCRACIA E EXPERIMENTALISMO
16
DEMOCRACIA E EXPERIMENTALISMO
17
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
A tese da convergência
18
DEMOCRACIA E EXPERIMENTALISMO
19
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
20
DEMOCRACIA E EXPERIMENTALISMO
21
A PROMESSA PRÁTICA DO
EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
Do atual debate sobre políticas públicas
à discussão programática
22
A PROMESSA PRÁTICA DO EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
23
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
24
A PROMESSA PRÁTICA DO EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
25
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
nos Estados Unidos desde o final do século XIX foi a passagem do seg-
mento de operários manuais para o de funcionários administrativos na
classe de trabalhadores: os filhos de operários e agricultores se tornaram
funcionários administrativos quase tão despossuídos e igualmente impo-
tentes como seus pais.
A resistência da estrutura de classes é relevante para meu argumento
sobre o aprofundamento institucional do debate convencional sobre políti-
cas públicas de diversas maneiras. O compromisso com a flexibilidade, ino-
vação e acesso a uma economia de mercado vibrante e democratizada não
pode ser conformado à designação impiedosa de indivíduos a um destino
de classe predeterminado. Tampouco, considerando a questão do ponto de
vista do fundamento fiscal das políticas públicas, poderíamos jamais espe-
rar produzir financiamento adequado para investimento em gente sem
reestruturar o direito, de modo que um direito público a herdar da socieda-
de viesse a suplantar um direito privado a herança da família. De maneira
mais geral, a inflexibilidade de hierarquias de classe joga uma luz retros-
pectiva perturbadora sobre as instituições econômicas e políticas que conti-
nuam a sustentá-las e a conservar sua marca. O conservadorismo institucional
começa a parecer desvirtuado se seu efeito é a conformação a estruturas que
constrangem o experimentalismo democrático porque reproduzem privilé-
gios de classe.
Contas sociais estabelecidas pela sociedade em nome de cada indíviduo
deveriam, portanto, substituir progressivamente a herança privada. Uma
parcela dessas contas representaria pretensões incondicionais oponíveis
ao Estado para a satisfação de necessidades mínimas e universais. Outra
parcela seria adequada à circunstância individual. E ainda outra parcela
poderia ser concedida como uma recompensa por potencial comprovado
ou realizações. Uma parte poderia consistir na provisão de serviços por
um aparato público unitário, no modelo tradicional do Estado de bem-
estar. Outra parte poderia resultar em pontos a serem gastos pelo indiví-
duo, por sua própria vontade ou com a aprovação de curadores, entre
prestadores de serviço concorrentes. O propósito principal de tais contas
seria a educação, orientada para a aquisição de habilidades práticas e
conceituais e que continuasse durante toda uma vida ativa. A escola
assumiria a sua missão predpua numa sociedade democrática de resga-
tar a criança e o adulto de sua família, sua classe, seu país, seu período
histórico e mesmo da sua personalidade, e de prover-lhe acesso a experiên-
cia desconhecida.
26
A PROMESSA PRÁTICA DO EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
27
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
28
A PROMESSA PRÁTICA DO EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
29
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
30
A IMAGINAÇÃO DE ALTERNATIVAS
Pressupostos socioteóricos
do experimentalismo democrático
31
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Rotina e revolução
32
A IMAGINAÇÃO DE ALTERNATIVAS
33
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
34
A IMAGINAÇÃO DE ALTERNATIVAS
35
AS DISCIPLINAS INSTRUMENTAIS DO
EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
36
AS DISCIPLINAS INSTRUMENTAIS DO EXPERIMENTALISMO DEMOCMTICO
37
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
38
AS DISCIPLINAS INSTRUMENTAIS DO EXPERIMENTALISMO DEMOCRÁTICO
39
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
40
O DESENVOLVIMENTO INTERROMPIDO
DO PENSAMENTO JURÍDICO
41
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
42
O DESENVOLVIMENTO INTERROMPIDO DO PENSAMENTO JURÍDICO
43
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
44
O DESENVOLVIMENTO INTERROMPIDO DO PENSAMENTO JURÍDICO
45
A EXECUÇÃO COMPLEXA NO LIMIAR DA
MUDANÇA ESTRUTURAL
46
A EXECUÇÃO COMPLEXA NO LIMIAR DA MUDANÇA ESTR:t-JTURAL
47
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Nada disso, obviamente, vai acontecer. E não vai acontecer porque ne-
nhuma sociedade, nem mesmo os Estados Unidos, permitirá que uma van-
guarda de advogados e juízes reconstrua de pouco em pouco suas institui-
ções, sob o pretexto claro de interpretar o direito. A massa de trabalhadores
pode estar adormecida. As classes instruídas e proprietárias não estão. Elas
não permitirão que seus destinos sejam determinados por um quadro res-
trito de reformadores missionários, desprovidos de limites. Elas colocarão
esses reformadores em seu lugar, substituindo-os por sucessores que não
precisem mais ser colocados em seu lugar.
O aprofundamento do alcance e a ampliação do âmbito da execução
complexa logo subtrairia do judiciário sua legitimidade política e consumi-
ria seus recursos práticos e cognitivos. Além do mais, em nome da autorida-
de para intervir de modo a melhor assegurar o efetivo gozo de direitos, os
juízes usurpariam uma parte cada vez maior do autêntico poder popular de
autogoverno.
Então, o que devem fazer os juízes, e o que fazem de fato? Algumas
vezes, eles pareceram querer fazer todo o possível para sair ilesos: melhor
alguma influência sobre o fundo estrutural da dominação do que nenhu-
ma; melhor organizações sociais marginais do que organização nenhuma. A
dificuldade decorre da desproporção entre a tarefa de reconstrução e o seu
agente institucional. A execução complexa é tanto estrutural quanto
episódica. O trabalho de intervenção estrutural e episódica parece necessá-
rio se tivermos que garantir o gozo efetivo de direitos e cumprir os preceitos
do direito material. Trata-se de um complemento procedimental necessá-
rio, e não de uma variação posterior acidental, à vocação do direito contem-
porâneo. Mas quem deve, no Estado democrático contemporâneo, executar
essa tarefa estrutural e episódica?
Nenhum órgão dos sistemas presidencialistas ou parlamentaristas contem-
porâneos, seja em razão de legitimidade política seja de capacidade prática,
parece qualificado o suficiente para fazê-lo. O governo baseado na maioria
do sistema parlamentarista ou o poder executivo do sistema presidencialista
não podem reinterpretar direitos e reformular estruturas fundadas em di-
reitos em cantos específicos da vida em sociedade sem ameaça à liberdade dos
cidadãos. Além do mais, eles logo ficariam perdidos e desmoralizados por
inúmeras formas de pequenos anseios e resistências. Agências administrati-
vas podem ter mais desprendimento e conhecimento técnico específico,
48
A EXECUÇÃO COMPLEXA NO UMIAR DA MUDANÇA ESTRUTURAL
49
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
50
O ENCANTO DA ANÁLISE JURÍDICA
RACIONALIZADORA
51
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
52
O ENCANTO DA ANÁLISE JURÍDICA RACIONALIZADORA
53
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
54
O ENCANTO DA ANÁLISE JURÍDICA RACIONALIZADORA
55
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
56
O ENCANTO DA ANÁLISE JURÍDICA RACIONALIZADORA
57
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
58
A ESTRUTURA COMPLEXA
DA CONSCIÊNCIA JURÍDICA
Nenhuma forma de discurso, não importa quão poderosa seja a sua in-
fluência, consegue ocupar a totalidade de uma cultura jurídica ou penetrar
completamente uma mente jurídica. Mesmo naqueles lugares em que é
mais articulada e eficaz, a análise jurídica racionalizadora alcança posição
peculiar a partir de sua coexistência com concepções diferentes do direito.
Antes de voltarmos nossa atenção para as raízes e os limites do modelo de
raciocínio jurídico orientado por políticas públicas e baseado em princí-
pios, consideremos a forma comum dessa coexistência hoje. Eu tiro meus
exemplos da cultura jurídica que mais avançou para além dos limites da
ciência jurídica do século XIX- a dos Estados Unidos - e conto a história na
forma de uma seqüência simplificada. Três momentos da consciência jurí-
dica, cada um combinando uma visão do direito com um método de análise
jurídica, seguiram-se no tempo. Os mais recentes, contudo, não substituem
completamente os anteriores. Eles ficam sobrepostos aos precedentes. Essa
sobreposição produz a coexistência complexa de idéias diferentes do direito
e práticas de análise que caracterizam a cultura jurídica em que nós, cada
vez mais, avançamos.
O primeiro momento nessa seqüência é o momento da ciência jurídica
do século XIX. O impulso animador é o esforço de tornar explícito o con-
teúdo jurídico oculto de uma ordem política e econômica livre. Esse conteúdo
consiste num regime de direitos contratuais e de propriedade e num siste-
ma de direito público com estruturas e direitos que resguardam a ordem
privada. O direito forte é o direito de coordenação distributivamente neutro,
definido por esse conteúdo jurídico ínsito a uma sociedade livre. Deve-se
diferenciá-lo do direito fraco, flexível e político: o resultado do seqüestro do
poder estatal por grupos que se utilizam do poder de produção do direito
para distribuir direitos e recursos para si mesmos.
59
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
60
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCIÊNCIA JURÍDICA
61
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
62
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCIÊNCIA JU\'ÜÚICA
63
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
64
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCIÊNCIA JURfDICA
65
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
66
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCifNCIA JURÍDICA
67
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
68
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCIÊNCIA JURÍDICA
69
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
70
A ESTRUTURA COMPLEXA DA CONSCIÊNCIA JURÍDICA
71
O PLURALISMO DE GRUPOS DE INTERESSE E A
ANÁLISE JURÍDICA RACIONALIZADORA
72
O PLURALISMO DE GRUPOS DE INI'ERESSE ...
73
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Mas por que, pode-se muito bem perguntar, deve a fronteira entre essas
duas abordagens do direito ser traçada num lugar e não em outro? Por que
não, por exemplo, projetar as palavras e métodos do pluralismo de grupos
de interesse sobre o contexto da aplicação do direito, usando-o como um
modo de decidir litígios, tanto como um modo de descrever a produção do
direito? Considere três objeções a tal projeção.
Uma primeira objeção é que o acordo, e o equilíbrio de forças a ele
subjacente, pode ser vago demais. Pode ser difícil dizer, por exemplo,
exatamente quão vitoriosos foram os produtores e distribuidores de leite
integral sobre os consumidores na criação de leis e regulamentos admi-
nistrativos que limitam a distribuição, ou o preço, dos substitutos em
leite em pó ao leite integral. Pode ser difícil dizer o quanto os sindicatos
tiveram que transigir aos empresários para assegurar a edição de leis que
limitam ou desaceleram o fechamento de indústrias em face da concor-
rência externa. Pode ser difícil, com efeito, identificar o exato acordo ou
pesar o poder efetivo dos interesses em movimento. Mas a questão per-
manece: em comparação a quê? Não importa quão vago o jogo entre con-
flito e acordo, e as identidades de vencedores e perdedores: eles têm raízes
numa realidade social tangível. Em oposição, falta aos objetivos e políticas
públicas idealizados da análise jurídica racionalizadora uma posição certa
na vida real da sociedade. Eles podem ser invocados em debates eleitorais
e legislativos. Na maioria dos casos, contudo, eles têm uma natureza variável
até que sejam apreendidos, refinados e desenvolvidos pelo discurso sistemá-
tico do intérprete do direito.
Uma segunda objeção reside no fato de que a própria contraposição das
duas abordagens não faz muito sentido. Políticas públicas e princípios têm
um papel formativo no conflito da política partidária e legislativa sobre a
produção do direito. Visões ajudam a moldar interesses. Políticos disputam
concepções concorrentes do bem comum. O analista jurídico racionalizador
apenas se aproveita desse elemento de atenção com a sociedade nos conteú-
dos do direito e realiza seu trabalho purificando-o e desenvolvendo-o, sepa-
rando-o dos resíduos de autofavorecimento a que ele possa estar atrelado. Essa
objeção, contudo, não leva corretamente em consideração a força do con-
traste entre essas duas abordagens do direito. Não precisamos entender o plu-
ralismo de grupos de interesse como uma doutrina que afirma e aceita a
superioridade de interesses materiais sobre posições ideológicas. Ao seu traço
74
O PLURALISMO DE GRUPOS DE INTERESSE ...
75
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
76
O PLURALISMO DE GRUPOS DE INTERESSE...
Implicações perturbadoras
77
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
78
O PLURALISMO DE GRUPOS DE INTERESSE ...
tanto uma versão parcial da missão que impulsiona a análise jurídica racio-
nalizadora como uma visão de suas fragilidades. Ligando a crítica desse discur-
so a um entendimento de sua tarefa a partir do seu próprio ponto de vista,
podemos esperar ganhar acesso ao seu mundo imaginativo interno. Se nossos
defeitos são a quinta-coluna de Deus dentro do coração humano, as fa-
lhas numa prática discursiva geram sua capacidade de auto-subversão. De-
vemos estudar a análise jurídica racionalizadora em profundidade porque
ela está se tornando o estilo mais influente de discurso jurídico no mundo
inteiro. Devemos estudá-la, ademais, porque ela pode fornecer, pela sua
auto-subversão, os meios pelos quais podemos transformar o pensamento
jurídico num instrumento de imaginação institucional.
79
AS QUATRO RAÍZES DA ANÁLISE
JURÍDICA RACIONALIZADORA
O preconceito contra a analogia
Um preconceito arraigado
80
AS QUATRO RAfZES - O PRECONCEITO CONTRA A ANALOGIA
Atributos da analogia
81
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
82
AS QUATRO RAfZES - O PRECONCEITO CONTRA A ANALOGIA
tico: limitada pela referência inicial aos materiais jurídicos e tornada ponde-
rada pela determinação de articular os objetivos de uma empreitada que é
tanto coletiva quanto coerciva.
83
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
84
AS QUATRO RAÍZES DA ANÁLISE
JURÍDICA RACIONALIZADORA
A defesa de um sistema de direitos
85
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
86
AS QUATRO RA1ZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
87
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
88
AS QUATRO RA1ZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
O poder de revisão
89
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
90
A5 QUATRO RAÍZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
91
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
que as forças de produção do direito não são tão distintas e opostas como
elas pensam ser. Elas atuam como agentes de pressupostos ocultos - uma
consciência ou ideologia latente e partilhada - ou de imperativos práticos
entendidos sem muita clareza - tais como os imperativos institu-
cionalmente determinados de eficiência e crescimento. Não é suficiente
que esses constrangimentos ocultos e conformadores sejam aplicados es-
taticamente a fatias do tempo histórico. Eles devem fornecer uma lógica
evolucionária, conduzindo o direito, no decorrer do tempo, em direção a
um esquema que possamos, retrospectivamente, redescrever na lingua-
gem de concepções ideais coerentes e em desenvolvimento. Do negro cam-
po de batalha, onde exércitos inconscientes se chocam, surge o esquema
racional. Somente conseguimos reconhecer seu contorno depois que ope-
rários quase sem saber tenham colocado suas peças no lugar certo. A in-
terseção das genealogias prospectiva e retrospectiva do direito repousa na
crença em uma racionalidade evolutiva imanente, prática ou moral, que
controle o desenvolvimento do direito e minimize o conflito transparente
entre os criadores do direito. A análise jurídica pode preencher as lacunas
e aparar as arestas no curso da realização legítima de sua função de aper-
feiçoamento. Numa grande medida, contudo, ela desempenha o papel da
Coruja de Minerva de Hegel, abrindo suas asas ao cair do crepúsculo e
i"evelando ao poder sua razão até então não percebida.
A distinção entre as genealogias prospectiva e retrospectiva do direito
se aplica com menos clareza ao direito criado pelos juízes, como na common
law anglo-americana. Perceba, contudo, a razão. A autoridade para decla-
rar o direito deve se concentrar numa elite relativamente isolada e contí-
nua no tempo. Essa elite pode considerar sua tarefa conio sendo a de
desenvolver, no decorrer do tempo, as exigências de normas implícitas de
organização humana ou hierarquia social, normas apenas tangencialmente
influenciadas por escolha deliberada. A pressuposição de uma lógica
evolutiva imanente continua a valer nessa visão. Conciliamos as genealogias
prospectiva e retrospectiva do direito ao limitarmos o âmbito do conflito
e da escolha sobre as condições da vida em soc~edade. À medida que vemos
os juízes e as decisões judiciais, num sistema de direito criado pelos juízes,
como agentes de interesses e visões conflituosos e parciais, o problema das
duas genealogias reaparece.
A distinção entre as genealogias prospectiva e retrospectiva do direito
deixou sua marca nos dois vocabulários convencionais de discussão do di-
reito: a linguagem dos grupos de interesse, do direito como acordos, e a
92
AS QUATRO RAfZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
93
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
94
AS QUATRO RAfZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
resistir à luz do dia; sua influência depende de sua natureza em grande medi-
da inconsciente.
Imagine, contudo, que uma explicação como essa da coincidência en-
tre as genealogias retrospectiva e prospectiva do direito fosse justificável.
As conseqüências seriam constrangedoras para as pretensões da democra-
cia. O autogoverno coletivo, com garantias ao pluralismo e à divergência
e com proteções contra a opressão pública e privada, permaneceria possí-
vel. Não obstante, o âmbito da vida em sociedade aberto à autodetermi-
nação coletiva - ou individual - se estreitaria drasticamente. A democra-
cia deve significar, entre outras coisas, a capacidade para escolhermos as
condições da vida em sociedade, não tê-las impostas, sem conhecimento
ou consentimento, pela influência oculta de forças determinantes. Se a
democracia limita o alcance da autodeterminação coletiva pela regra da
maioria e pelo sistema partidário, ela o faz não só em nome de respeito à
autodeterminação individual, mas também a partir do desejo de susten-
tar as condições de rotatividade no Estado. Um esquema racional oculto,
expresso retrospectivamente no desenvolvimento do direito, esvazia a auto-
determinação individual e coletiva de grande parte de seu poder. Ele as
transforma nos instrumentos inconscientes da afirmação de uma necessida-
de superior e divina. O conflito e o debate coletivo organizado podem parecer
menos importantes do que o conhecimento técnico no entendimento, como
um advogado, um economista ou um filósofo, os determinantes desse des-
tino racional. A democracia, contudo, confronta o destino, seja esse destino
racional ou não.
Os dois segredinhos sujos da teoria do direito contemporânea - a teoria do
direito na era da análise jurídica radonalizadora - são sua dependência sob uma
perspectiva hegeliana de direita da história jurídica e social e seu desconforto
com relação à democracia: a adoração do triunfo histórico e o medo da ativida-
de popular. O hegelianismo de direita encontra expressão numa prática cotidiana
que enfatiza a habilidade da história no desenvolvimento da ordem racional-
progressos na eficiência distributiva ou clarificações de responsabilidade
institucional ou princípios de dever moral ou político - a partir da subs-
tância nada promissora do conflito e compromisso histórico. O desconforto
com a democracia se evidencia em todas as áreas da cultura jurídica con-
temporânea: na identificação incessante de limitações à regra da maioria, em
vez de restrições ao poder de minorias dominantes, como a respónsabilida-
de principal de juristas e magistrados; na conseqüente hipertrofia de práti-
cas e estruturas contrárias à regra da maioria; na oposição a toda reforma
95
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
96
AS QUATRO RAfZES -A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
97
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
98
AS QUATRO RAÍZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
sas teorias e mais ricas que nossos compromissos. Dizemos que o grau cor-
reto de poder de revisão no raciocínio jurídico é apenas aquele que o racio-
cínio jurídico possui. Devemos, portanto, manter nossos dedos cruzados
para que a medida de revisão necessária para o exercício de boa-fé do méto-
do finalista de políticas públicas e princípios permaneça modesta, modesta
o suficiente para conservar as distinções entre legislação e aplicação do di-
reito, bem como entre o conflito aberto de interesses e ideologias e o desen-
volvimento racional do direito criado por juízes.
O que nos legitima a manter nossos dedos cruzados nessa expectativa?
Precisamos encontrar legitimidade nas crenças que explicariam como as
genealogias prospectiva e retrospectiva do direito poderiam, afinal, coin-
cidir substancialmente. O hiato entre as duas genealogias pode permane-
cer tão amplo que qualquer medida real em que a análise do direito rejeite
os conhecimentos aceitos do direito como equivocados pode ser insufi-
ciente para resgatar o direito de sua desordem analógica e política, mas
ainda assim grande demais para preservar a diferença entre direito e polí-
tica. Assim, a discussão do poder de revisão na teoria jurídica acaba por
reafirmar, em vez de atenuar, o problema da divergência entre o direito
tal como criado prospectivamente e o direito representado e reconstruído
retrospectivamente.
99
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
100
A5 QUATRO RAfZES - A DEFESA DE UM SISTEMA DE DIREITOS
101
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
uma descrição do direito, ele propõe outro modo de melhorá-lo. Além disso,
ele conquista parte de seu território a partir do recuo da democracia popular.
A interpretação e a defesa da análise jurídica racionalizadora como uma
exigência do estado de direito ou de um sistema de direitos, portanto, fra-
cassa. O estilo canônico de doutrina jurídica não pode ser entendido como
a conseqüência inevitável da necessidade de pensarmos clara e coerente-
mente sobre o direito. Tampouco podemos explicá-lo e justificá-lo como o
antídoto à arbitrariedade que protege o estado de direito ou um sistema de
direitos. Ele precisa de um propósito mais bem definido.
102
AS QUATRO RAÍZES DA ANÁLISE
JURÍDICA RACIONALIZADORA
O reformismo progressista pessimista
O reformismo conservador
103
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
104
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
105
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
106
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
107
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
108
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
ou fazer a doutrina jurídica ecoar os acordos políticos que haviam sido esta-
belecidos, e o impulso compensatório de contar uma história geral sobre o
direito que servisse como teoria política.
Qual é a história sobre o contorno da doutrina da igualdade perante a
lei que mantém as distinções doutrinárias reais, tal como se apresentavam
no final do século XX, ao mesmo tempo que permanece em comunhão
com uma concepção teórica dos ideais motivadores e da relação desses
ideais com práticas sociais? A título de simplificação, atente para uma das
metades da doutrina da igualdade perante a lei, o sistema de classifica-
ções suspeitas, que acentua o escrutínio judicial das leis que estabelecem
tratamento diferenciado das pessoas. A raça era o exemplo mais claro de
uma classificação suspeita, incitando o grau mais elevado de escrutínio. O
sexo e a idade foram acrescentados, incitando um grau mais baixo, "inter-
mediário", de escrutínio. Deficiências físicas e orientação sexual haviam
entrado mais recentemente na lista. Sua condição permaneceu indefini-
da. Compare isso com a metade complementar da doutrina, o esforço
para avaliar o tratamento diferencial com referência à natureza relativa-
mente fundamental dos interesses privados que ela viola, e a natureza
relativamente imperativa dos objetivos governamentais a que ela serve.
Dado que uma parcela tão grande de conflito acerca do conteúdo do
direito toma a forma de uma disputa sobre a diferença no tratamento das
pessoas, a doutrina da igualdade perante a lei ocupa um lugar especial no
sistema de idéias jurídicas. Ela não é apenas um outro tópico no direito;
ela é, também, por sinédoque, o próprio problema do direito, da mesma
forma que a propriedade não é apenas um outro direito, mas o exemplo
típico de direitos.
Para avaliar o potencial explosivo da doutrina da igualdade perante a lei, e
a natureza surpreendente dos constrangimentos impostos à sua expansão,
imaginemos sua aplicação ao âmbito vital de formação de cidadãos e cria-
dor de hierarquias que é a educação. A separação entre escolas públicas e
privadas nos Estados Unidos é parte de um sistema que permite à classe
profissional e de negócios em grande parte do país escolher sair do sistema
de escolas públicas e enviar seus filhos para escolas particulares privilegiadas.
A retração do sistema de escolas paroquiais, que nos Estados Unidos acompa-
nhou o declínio da classe trabalhadora católica, acentuou o contraste entre
as escolas particulares de elite e as escolas públicas. A combinação de demo-
cracia na educação pública com o controle pela localidade agravou ainda
mais o problema da hierarquia educacional: em primeiro lugar, tornando as
109
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
110
AS QUATRO RA1ZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
111
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
112
AS QUATRO RAíZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
113
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
A posição numa classe social estaria excluída, como de fato o é pela doutri-
na estabelecida.
Uma objeção inicial a essa abordagem é que, como a alternativa mais
ambiciosa que acabei de criticar, ela repousa sobre o critério restritivo e
insustentável da cumplicidade estatal. Além disso, ela confere às deficiências
físicas um privilégio que funda sua força em crenças equivocadas sobre a or-
dem social. De acordo com uma de tais crenças, o preconceito quanto à
participação em grupos caracterizados por aspectos físicos apresenta um
perigo especial a uma sociedade livre, principalmente quando o preconcei-
to encontra reforço no direito. É como se a estrutura institucional da socie-
dade, estabelecida e aperfeiçoada pelo direito, não apresentasse nenhum
obstáculo insuperável ao gozo efetivo de direitos salvo quando corrompida
em seu funcionamento por vícios espirituais: hostilidade irracional e su-
perstição cega. A partir do momento em que nós nos convencemos de que
a desvantagem e a marginalização têm raízes em práticas e instituições;
que economias, sociedades e comunidades políticas livres podem tomar
formas institucionais muito diferentes; e que essas formas variam ampla-
mente à medida que criam ou corrigem situações de desvantagem, o privi-
légio garantido por essa abordagem a origem e superstição se torna muito
menos convincente.
Uma das muitas conseqüências dessa ênfase é dar aos desfavorecidos e
aos desalentados um motivo irresistível para redescrever como destino ge-
nético formas de vida que podem conter elementos consideráveis de esco-
lha. Consideremos, por exemplo, a política da homossexualidade, tal como
ela se desenvolveu nos Estados Unidos. Para trazer a homossexualidade sob as
asas da doutrina da igualdade perante a lei deve haver pressão para defender
a idéia de que as pessoas herdam orientação sexual. Embora a herança possa
de fato acabar desempenhando um papel importante na orientação sexual,
parece igualmente provável que, como tantas outras coisas em nossa expe-
riência moral, concluir-se-á que ela é o resultado de predisposições adqui-
ridas, influências sociais e escolhas cumulativas. Uma concepção de sua
dignidade estaria mais bem servida por sua representação como um desti-
no escolhido do que como um destino cego. Ainda assim, tal representação,
por mais realista e digna, estaria fora do escopo de proteção da doutrina
da igualdade perante a lei.
Suponha que estipulássemos que os pressupostos empíricos de justifi-
cação do privilégio conferido ao preconceito contra grupos marcados fos-
sem justificados. Ainda haveria um problema de seletividade não justificada
114
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
115
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
116
A5 QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PES_SIMISTA
117
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Segundo, a política de grupismo opera por uma certa percepção das rela-
ções entre a classe trabalhadora majoritária no país e as minorias oprimidas.
A maioria pode estar estratificada econômica e educacionalmente, e perma-
necer vulnerável ao risco e à instabilidade econômica. Contudo, ela não
sofre de incapacidades profundamente arraigadas, impostas por formas de
preconceito e exploração que têm um toque do Estado. Em compensação,
mulheres e minorias sofrem das incapacidades, produzidas ou toleradas
pelo Estado, de opressão econômica e inexpressão cultural.
Terceiro, a atenção recai sempre sobre a classificação de pessoas em gru-
pos que são mais do que criaturas da política e das instituições: raça, naciona-
lidade, religião, sexo, orientação sexual (na medida em que se acredita que
a orientação sexual é inata) e deficiência física. Qual o denominador comum
desses grupos? Podemos usar o rótulo dos sociólogos, "grupo marcado"
[ascriptive group] e ressaltar dentro dos grupos marcados aqueles que pos-
suem uma manifestação física. O rótulo, contudo, deixa escapar a questão
mais importante. Os grupos que possuem um lugar central na política de
grupismo podem ser plausivelmente concebidos como recebendo muito de sua
realidade e identidade de forças que ultrapassam as construções institucionais
da política. Embora possam ser as vítimas da política e das instituições,
não são apenas seus produtos.
Reconhecer esse elemento recorrente na política de grupismo ·é entender
por que "classe" não pode ser a próxima classificação suspeita, ao lado de raça,
sexo e deficiência física. Pois a classe é uma realidade social que é muito direta-
mente o produto da política e das instituições. O rompimento de diferenças
de classe pode exigir mudanças na estrutura econômica e política da sociedade.
A incorporação de grupos marginalizados e perseguidos à estrutura estabele-
cida pode simplesmente não ser suficiente.
Dentro desse mundo imaginativo, as elites dos grupos pré-políticos e
marginalizados exigirão, em nome dos grupos que representam, uma in-
corp0ração mais igualitária na estrutura estabelecida. Esse impulso assi-
milatório pode se alternar com uma ameaça secessionista: o abandono da
sociedade mais ampla, em direção a um mundo social separado. Assim,
de tempos em tempos, líderes negros norte-americanos voltaram suas costas
ao ideal de uma inserção igualitária na sociedade americana em favor do es-
forço de construir uma nação africana separada. Mesmo quando imbuído
de intenções sinceras e entusiásticas, contudo, é provável que falte ao seces-
sionismo realidade prática. Na prática, ele se torna uma antítese para o que
importa, seu oposto.
118
A5 QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
119
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
120
AS QUATRO RAÍZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
121
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
122
A5 QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
123
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
124
AS QUATRO RA1ZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
125
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
126
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
127
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
128
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PES~IMISTA
129
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
130
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
131
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
132
AS QUATRO RAfZES - O REFORMISMO PROGRESSISTA PESSIMISTA
133
AS QUATRO RAfZES DA ANÁLISE
JURÍDICA RACIONALIZADORA
O papel dominante do juiz
134
AS QUATRO RAÍZES - O PAPEL DOMINANTE DO JUIZ
mas que deixa o campo aberto para práticas de análise jurídica direcionadas
a outros fins. O fim precípuo é a especificação, no pensamento e na prá-
tica, da interação concreta entre ideais ou interesses e instituições ou práticas
pelo meio detalhado do direito e do pensamento jurídico. Antes de inves-
tigar, contudo, a relação da análise jurídica racionalizadora com a condi-
ção modelar do juiz, é útil lembrar alguns aspectos intrigantes da história
dessa condição.
A resolução de conflitos foi, junto com a conquista e a defesa, a fonte
suprema do Estado, pois nenhuma meta foi mais fundamental na história
da sociedade do que o esforço para estabelecer e manter a ordem, ameaçada
por conflito, usurpação e vingança. Aos nossos olhos modernos, portanto,
as formas primeiras de governo parecem não raro ser adjudicatórias. Essa
impressão, contudo, expressa uma meia verdade: confundimos a prática
abrangente de conciliação e julgamento por tais instituições prato-estatais
com o trabalho especializado, embora ambicioso, dos juízes modernos. O
aspecto mais importante a entender sobre essas instituições antigas é que
elas funcionaram num contexto de direito consuetudinário, sobre cujas partes
direito divino e intervenção régia podiam ser sobrepostos.
O direito consuetudinário toma forma em torno de uma série de conti-
nuidades entrelaçadas: do direito com as expectativas reais e exigências que
as pessoas fazem umas das outras de acordo com o papel social que ocupam;
de padrões normativos com comportamentos e crenças tornados rotineiros;
e dos atos pelos quais as pessoas definem o que é o direito com os atos pelos
quais elas o aplicam em casos concretos. O efeito cumulativo dessas con-
tinuidades é a naturalização da sociedade: colocando a maioria das estru-
turas sociais além do alcance de desafio e revisão efetivos, elas se tornam
na prática a ordem natural das coisas. Mesmo na Europa medieval, os
centros emergentes de governo permaneceram divididos entre jurisdictio e
gubernaculum. A jurisdictio reafirmava um direito comum e consuetudinário
no curso de sua aplicação. O gubernaculum principesco intervinha para
administrar crises e usar recursos e poderio humano sem procurar incomo-
dar a ordem natural da sociedade. Quando tal sentido reconhecido de
naturalidade tem que coexistir com uma consciência de diferenças entre
formas de vida em sociedades distintas, ele se transforma numa concepção
ricamente definida de identidade coletiva: os costumes romanos definin-
do o que significa ser um romano.
Só esporádica e ambivalentemente é que a common law da Inglaterra
ou o ius commune da Eurospa continental se desenvolveu em contraste
135
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
136
AS QUATRO RAfZES - O PAPEL DOMINANTE DO JUIZ
produzem esse corpo de direito, mas que essas divisões não sejam tão pro-
fundas, nem que as elites sejam tão fragmentadas e sectárias que não possam
deixar seus acordos relativamente inacabados e confiar em quadros especiais de
funcionários para completá-los. Uma maneira de entender a análise jurídi-
ca racionalizadora e o significativo poder judicial que ela tanto confere quanto
oculta é dizer que ela serve como o instrumento pelo qual as elites que criam o
direito, nos órgãos políticos do Estado, transferem a responsabilidade de com-
pletar os seus acordos a juízes e outros profissionais da aplicação do direito. A
transferência ostentatória de poder a aplicadores do direito, pelo uso de
regras e princípios indeterminados, é apenas o caso extremo de um hábito
inveterado. Contudo, os juízes poderiam não ser eficientes nessa tarefa de
tornar patente a lógica social oculta do que podem parecer compromissos
frágeis, se a eles coubesse empregar os métodos dos órgãos políticos.
Tampouco, empregando aqueles métodos, poderiam os juízes conciliar a
responsabilidade de aperfeiçoar o direito com a tarefa de respeitar e assegurar
direitos em litígios específicos. Assim, a análise jurídica racionalizadora,
como seus antecessores do século XIX, serve como a ferramenta discursiva
de um dilema institucional.
À medida que as divisões e as alternativas presentes na política democrá-
tica se acentuam, o expediente de tratar o direito como uma série de acordos
inacabados, com uma lógica interna suscetível de ser tornada patente retros-
pectivamente, perde seu apoio na realidade. Não há nenhum esquema racio-
nal em desenvolvimento que fragmentos diferentes do direito possam parecer
exemplificar. Antes de ser um problema para a democracia, a falta de tal
esquema latente é, de certa forma, unia pré-condição do vigor democrático,
pois a democracia se expande quando abre a vida em sociedade ao expe-
rimentalismo consciente. Pela mesma razão, a transferência da responsabi-
lidade de acabamento e reconstrução do direito a um grupo isolado de espe-
cialistas em discussão racional não faz sentido algum. Tal conhecimento
pertence aos cidadãos. Qualquer sociedade pluralista e democrática deve ter
boas razões para deixar alguns de seus acordos incompletos, mas só uma
democracia nas garras de superstição antidemocrática confiará a um quadro de
mistagogos sob a forma de juristas a tarefa de executar e especificar esses
acordos sob a luz de concepções sistemáticas de dever ou de bem-estar suposta-
mente latentes a esses ajustes.
Reconsiderada por esse ângulo, a análise jurídica racionalizadora e a ligação
que ela estabelece entre a aplicação do direito e a reconstrução racional do
direito parece depender de uma impressionante combinação de circunstâncias.
137
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
138
AS QUATRO RAfZES - O PAPEL DOMINANTE.DO JUIZ
139
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
140
A5 QUATRO RAÍZES - O PAPEL DOMINANTE DO JUIZ
141
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
142
AS QUATRO RAfZES - O PAPEL DOMINANTE DO )UIZ
143
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
144
AS QUATRO RAÍZES - O PAPEL DOMINANTE DO JUIZ
145
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
146
AS QUATRO RAÍZES - O PAPEL DOMINANTE .DÓ JUIZ
147
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS
DA TEORIA CONTEMPORÂNEA
148
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS DA TEORIA CONTEMPQRÂNEA
A indeterminação radicalizada
149
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
150
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS DA TEORIA CONTEMPORÂNEA
vez que o direito chega na mão dos intérpretes - assim eles fazem supor -,
tudo vai começar do princípio como se nada tivesse acontecido antes.
Não podemos, apenas ao dizê-lo, transformar uma derrota política num
jogo de palavras. Devemos sacrificar a metáfora da campanha e reconhecer
que o direito pode ser alguma coisa, e que faz diferença o que ele seja. Tendo
rejeitado a indeterminação radicalizada como uma exposição errônea de inten-
ções radicais, devemos prosseguir para repudiar o papel central do problema da .
determinação e da discricionariedade na teoria jurídica.
151
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
152
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS DA TEORIA CONTEMPORÂNEA
cada uma com sua expressão jurídica inata, só faltando a seqüência transfor-
madora do "socialismo".
O elemento funcionalista nessa abordagem é a crença de que o surgimento
e a difusão dos mecanismos jurídicos podem ser explicados por suas conse-
qüências e, em especial, por sua capacidade (singular) de preencher requi-
sitos imperativos da vida prática em sociedade. O elemento evolucionista é
a idéia de uma progressão ou convergência, se não por um caminho único,
pelo menos em direção a um resultado comum. O elemento de estrutura
profunda é a noção de que os entes fundamentais possuidores das vanta-
gens funcionais explicativas são supostamente sistemas indivisíveis de es-
truturas, tais como o "capitalismo" ou a "economia de mercado", impulsio-
nadas à frente por forças imperativas.
As explicações funcionais não teriam sua natureza característica e força
argumentativa se não se associassem aos pressupostos de estrutura profunda.
Nossa maneira de pensar sobre o direito na sociedade seria muito diferente
dessa se, por exemplo, pensássemos que as vantagens funcionais se estabili-
zam a partir das fontes institucionais e ideológicas que são criadas por várias
seqüências, pouco ligadas, de conflito, inovação e desordem; que ordens
institucionais são divisíveis, de forma que a reforma revolucionária - a
mudança pedaço por pedaço de uma estrutura formativa - seja o método
padrão de sua transformação; que a função interage com a seqüência con-
tingente, deixando um amplo e mal-definido espaço de possibilidade no
qual a vontade e a imaginação podem se mover; e que a sociedade pode ser
organizada de tal forma a fortalecer ou a reprimir esse poder de surpreender
e de recriar.
A crítica da abordagem funcionalista, evolucionista e de estruturas pro-
fundas do direito transforma-se na crítica da teoria social de que ela se
origina. Tratei desse debate em outro lugar e tentei mostrar que, levada às
últimas conseqüências, tal crítica conduz não ao agnosticismo, mas a um
estilo diferente de imaginação teórica, que separa a ambição explicativa da
defesa da necessidade histórica e que coloca o entendimento ao lado da li-
berdade transformadora.
Uma característica da aplicação do método funcionalista e de estruturas
profundas no direito merece uma ênfase especial, pois ela demonstra como o
método funcionalista-necessitário deixa escapar o que é mais interessante so-
bre a história do direito. Ela demonstra como o funcionamento auto-subver-
sivo do próprio pensamento jurídico moderno ajudou a desacreditar e a dissol-
ver a união da explicação funcionalista com pressupostos de estrutura profunda
153
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
154
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS DA TEORIA CONTEMPQRÂNEA
155
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
156
KENOSIS: EVITANDO OS DESCAMINHOS DA TEORIA CONTEMPORÂNEA
157
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Kenosis
158
A ANÁLISE JURÍDICA COMO
IMAGINAÇÃO INSTITUCIONAL
159
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Mapeamento e crítica
160
A ANÁLISE JURÍDICA COMO IMAGINAÇÃO INSTITUCIONAL
161
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
162
A ANÁLISE JURÍDICA COMO IMAGINAÇÃO INSTITUCIONAL
* Ver a discussão posterior sobre a campanha para alcançar o meio-termo entre raciona-
lismo e historicismo, p. 207.
163
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
164
A ANÁLISE JURfDICA COMO IMAGINAÇÃO INSTITUCIONAL
165
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS
DE UMA SOCIEDADE LIVRE
A socialdemocracia ampliada
166
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
167
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
168
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPI;IADA
169
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
170
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
171
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
172
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
173
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
174
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
175
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
176
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
177
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
178
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A SOCIALDEMOCRACIA AMPLIADA
179
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
estreito para testar um modo original de ser humano. Mas toda incursão no
espaço coletivo reintroduz conflito - conflito político - sobre a relativa
influência que deveria ser garantida a diferentes visões e interesses.
Há dois modos pelos quais a busca de impulso individual forte por uma
voz coletiva pode ser interrompido. Cada uma dessas formas de interrupção
apresenta o problema espiritual da socialdemocracia ampliada sob uma pers-
pectiva diferente. fu pessoas podem violar seu compromisso com a exigência
de uma forma original de vida em grupo porque elas, na verdade, não desen-
volveram visões e desejos fortes e originais. A política permanecerá, então,
pequena, apenas porque os indivíduos mesmos diminuíram.
Alternativamente, os indivíduos podem nutrir desejos fortes de um tipo
muito especial e comprometedor - desejos narcisistas ou auto-referenciais,
prendendo-os num labirinto de subjetividade e voltando-os para o seu inte-
rior, tendo em vista a experimentação com seus próprios gostos e sentimen-
tos. A possibilidade de tais desejos fornece uma exceção clara à natureza
relacional do desejo. É, contudo, uma exceção problemática: seu defeito
reside tanto na natureza restrita da experiência que torna possível como na
parcialidade mutiladora de seu alcance.
Impulsos narcisistas e auto-referenciais não são capazes de fazer jus à conci-
liação das condições irmãs de auto-afirmação: nossa necessidade simultânea
de nos envolvermos com os outros e de controlar ou superar as ameaças de
subjugação e despersonalização a que cada um desses relacionamentos nos
expõe. A experiência com tais desejos pode servir a um propósito de
desestabilização e auto-subversão, relacionado dialeticamente a um plano maior
de liberdade. Não obstante, tal experiência não nos oferece nenhuma pro-
messa real de passagem a uma liberdade e a um autodomínio maiores.
Assim, mais uma vez a política deve crescer sob pena de que os indiví-
duos diminuam; ou a força do esforço pessoal deve tender a diminuir em
proporção ao alcance da política; ou a coexistência de calor na biografia
individual com frieza na história deve ser sustentada pelo predomínio de
desejos auto-referenciais. Aqui, como em sua vulnerabilidade à tensão entre
aspirações ideais e conservadorismo institucional, as deficiências da social-
democracia ampliada espelham e acentuam as fragilidades de uma forma
de vida estabelecida, ao mesmo tempo que ampliam o alcance de seus ideais
mais sedutores. ·
180
IMAGINANDO FUTUROS
ALTERNATIVOS DE UMA SOCIEDADE LIVRE
A poliarquia radical
181
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
182
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
183
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
184
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
185
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
186
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
herdadas. Para tais grupos, deve haver algum sinal indiscutível de inclusão,
alguma restrição inata à expansão. Contudo, são exatamente esses sinais
naturais de participação em um grupo que um comunitarismo liberal deve
relegar a um papel secundário.
Ambos os aspectos do problema espiritual da poliarquia radical - o poder
de afinidades escolhidas e o refreamento de ideais fortes - dependem, para sua
administração, de uma medida de sucesso na mudança do caráter da experiên-
cia comunitária. Na medida em que entendemos a comunidade e a vivemos
como uma fusão de interesses e identidades por oposição a outras comunida-
des, ambas as facetas do problema se tornam mais agudas. Podemos, contudo,
trilhar outro caminho: a perda de importância do vínculo ao grupo e o enalte-
cimento dos envolvimentos recíprocos entre seus membros individuais.
A lealdade verdadeira, nessa visão, é algo que prestamos a pessoas de
carne e osso, não a tribos e organizações. Cada comunidade, em vez de reali-
zar uma fusão de identidades individuais, apresenta simplesmente uma área
de engajamento recíproco intensificado em alguma esfera prática da vida
em sociedade. O ideal regulador não é a relação entre a criança e seus pais
biológicos, um destino cego que pode se tornar mais benevolente, mas a
relação de um homem ou de uma mulher, no casamento, com a esposa que
ele, ou ela, escolheu.
A questão central é a plausibilidade de se estender para confins mais
amplos da vida em sociedade a experiência psicológica da aliança íntima
sem tribalismo. Aqui, como sempre, seria tolice condicionar um projeto
político ao sucesso na realização de uma mudança drástica e repentina em
nossas disposições atuais. Também não é sábio, contudo, desconsiderar as
interações sutis e penetrantes entre estruturas práticas e experiências subje-
tivas. A principal questão prática da poliarquia radical segue de perto seus
problemas espirituais.
187
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
188
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
189
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
190
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
191
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
192
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA 10-mcAL
193
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
194
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
195
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
196
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A POLIARQUIA RADICAL
197
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS
DE UMA SOCIEDADE LIVRE
A democracia mobilizadora
198
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A DEMOCRACIA MOBILIZADORA
soas logo buscariam se livrar - mas, no lugar disso, que a distância entre
perseguir interesses dentro de uma determinada estrutura e mudar partes
dessa estrutura, à medida que se avança, diminui. A mudança se torna
banal, à medida que a transparência do contexto institucional da ação, e
sua abertura a ajuste, aumentam. Isso não é uma passagem de estabilidade
para instabilidade; é uma troca na qualidade da estabilidade, uma troca
que apenas avança numa direção a que economias de mercado e a democra-
cia representativa já nos levaram.
O paralelo espiritual à hipótese empírica que informa o programa da de-
mocracia mobilizadora é um esforço para realizar o ideal pagão de grandeza -
revigoramento coletivo e individual, em nosso vocabulário moderno -, que
pode ser mais prontamente conciliado com o ideal cristão do amor, e com
os compromissos igualitários e solidaristas que esse ideal ajudou a motivar.
Na doutrina da democracia mobilizadora, encontramos novas razões para
afirmar as ligações entre as três queixas mais importantes da sociedade mo-
derna: de que somos desiguais demais, separados demais uns dos outros e
pequenos demais. Descobrimos que, para repararmos as duas primeiras
queixas, devemos reparar a terceira.
Em outra direção, a hipótese causal fortalece a pretensão do projeto da
democracia mobilizadora emlevar adiante a antiga esperança radical-democrá-
_tica de explorar a área de intersecção possível entre as condições institucionais
do progresso prático - principalmente de crescimento econômico - e as condi-
ções institucionais da independência do indivíduo de hierarquia extrema e
arraigada. A causa do experimentalismo prático - e suas reivindicações por
uma liberdade mais ampla de ajuste das estruturas - é o que esses dois proje-
tos têm em comum. A democracia mobilizadora aposta na afinidade entre a
flexibilidade que a inovação econômica e tecnológica permanente exige e o
interesse humano numa experiência mais plena de liberdade.
199
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
200
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A DEMOCRACIA MOBILIZADORA
201
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
202
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A DEMOCRACIA MOBILIZADORA
203
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
Uma vez que tenhamos excluído a falsa objeção da hostilidade aos direi-
tos humanos, contudo, as ameaças verdadeiras ao projeto da democracia
mobilizadora começam a entrar em cena. Os aspectos espirituais e práticos
desses perigos têm uma fonte comum na dependência excessiva das insti-
tuições da democracia mobilizadora sobre um nível de vigilância e participa-
ção intensificado permanentemente. A democracia mobilizadora não é outra
versão da tentativa autoritária e utópica de substituir o indivíduo de carne
e osso, preocupado consigo mesmo e perseguidor de interesses, incura-
velmente ambivalente acerca da política e da sociedade, pela figura mítica do
cidadão altruísta e transparente. Ela busca ampliar, e não substituir, a ativida-
de normal de definição e perseguição de interesses.
Se a democracia mobilizadora dependesse do ideal radical-republicano da
participação incondicional, ela se privaria tanto de seu realismo quanto de
sua atratividade. Seu poder de atração repousaria numa imagem parcial e
indefensável das disposições humanas. Na prática, uma minoria de cidadãos
faladores e autopromovedores encontrariam oportunidades ampliadas para
promoção enquanto a maioria se retrairia dessa oligarquia de intrometidos e
buscaria restabelecer um mundo social centrado nas carreiras individuais
e na vida familiar. A maioria resistiria, e com acerto, ao sacrifício de densos
204
IMAGINANDO FUTUROS ALTERNATIVOS - A DEMOCRACIA MOBILIZADORA
205
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
O risco espiritual é que se abra um abismo cada vez maior entre os dogmas
do compromisso cívico dos quais dependem o regime e a realidade humana
com a qual ele deve viver. Na escuridão desse abismo preocupações huma-
nas maiores podem ser reprimidas, enquanto aparências de participação
cívica começam a ocultar a busca estreita de interesses próprios.
A questão mais problemática para a democracia mobilizadora continua a
ser sua incapacidade de economizar adequadamente energia política e virtude
política. O regime está perdido se tiver que escolher entre absorver a atenção
das pessoas e sucumbir a suas preocupações privadas.
206
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO
ENTRE RACIONALISMO E HISTORICISMO
A deflação do racionalismo
207
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
208
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO ...
209
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
210
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO ...
restrições sobre a negociação entre grupos, para seu próprio benefício, que
ocorre pela política majoritária. Eles buscam proteger os grupos que pare-
cem incapazes de se proteger. Pouco a pouco, o impulso para restringir essa
intervenção corretiva e purificadora ao que possa ser considerado, de modo
plausível, como interpretação do direito e para se ajustar à estrutura
institucional estabelecida na sociedade muda seu sentido. O desejo de rei-
terar fé na necessidade e autoridade das estruturas atuais agora enfraquece.
O que gradualmente tomou seu lugar é um reconhecimento franco dos
constrangimentos, de poder e legitimidade, sobre os papéis institucionais
que o analista do direito pode esperar ocupar e o trabalho reconstrutivo que
ele pode efetivamente empreender. Assim, os juristas acrescentam um ceti-
cismo involuntário a uma benevolência resignada.
A inflação do historicismo
211
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
212
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO ...
213
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
214
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-T):<:RMO ...
215
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
À luz dessa crítica, como deve ser reorientada a campanha para alcançar
um meio-termo entre o racionalismo e o historicismo? Que métodos dife-
rentes teríamos para empregar e que resultados diferentes ele teria que pro-
duzir para superar essas objeções? O começo de uma resposta a essas ques-
tões é uma percepção de que o que descrevi como a prática unificada de
mapeamento e crítica é apenas um caso especial de tal reorientação da cam-
panha para alcançar um meio-termo entre o racionalismo e o historicismo.
Essa prática começa a partir do meio do material, investigando e explorando
as incongruências entre programas partidários ou concepções ideais profes-
sadas e as estruturas institucionais que tanto constrangem sua realização
quanto empobrecem seu significado.
Reconsidere sob essa luz o lado da crítica dessa prática de mapeamento e
crítica. Comece pela idéia de que a matéria-prima da crítica é uma série de
promessas de felicidade. Criticar é tratar de promessas de felicidade. Promessas
de felicidade são rotas para a realização, reconciliação e correção de nossas aspi-
rações mais fortes, de acordo com concepções que evocam fé e não são inequivo-
camente desconfirmadas pela experiência. Essas promessas de felicidade assu-
mem duas formas principais. Uma delas é um projeto existencial, uma biografia
típica, um modelo de como viver no mundo. Outra forma que elas assumem é
216
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO ...
217
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
cada vez mais explicitamente de histórias que elas contam para si mesmas
acerca dos mundos sociais alternativos para os quais elas poderiam se mudar.
Essas histórias fornecem visões alternativas sobre as direções em que elas po-
dem desenvolver seus ideais e seus interesses.
De acordo com uma visão difundida, a tarefa predpua do juízo político
e da teoria política é discernir - a partir de um ponto de vista imparcial ou,
de algum outro modo, com autoridade - entre os muitos projetos e ideolo-
gias conflitantes com que nos defrontamos na política contemporânea. Um
tema implícito neste livro é que o nosso problema é menos o fato de que
temos projetos demais do que o fato de que temos apenas um projeto: o
único projeto político com autoridade no mundo moderno, o programa do
experimentalismo democrático do século XVIII até hoje, o projeto que li-
berais partilham com socialistas. Seu compromisso central é levantar a grade
de divisão e hierarquia social que pesa sobre nossos relacionamentos práticos,
emocionais e cognitivos uns com os outros.
Temos dois motivos principais para perseguir esse projeto: primeiro,
para aumentar as capacidades práticas produtivas da sociedade; e, segun-
do, para diminuir o grau em que participação na vida em grupo nos prende
a mecanismos de dependência e despersonalização, e assim desmerece a
auto-afirmação, o esforço para desenvolver e manter uma presença indivi-
_dual no mundo. A grande aposta que esse projeto político realiza é que
podemos projetar e estabelecer instituições que nos capacitem a explorar a
área de coincidência potencial entre as condições desses bens morais e prá-
ticos: entre o desenvolvimento das capacidades práticas produtivas da socie-
dade e a criação de condições em que indivíduos conquistem independên-
cia das circunstâncias de dependência e despersonalização. N assas concepções
herdadas das divisões entre versões esquerdistas e direitistas, ou liberais e
socialistas desse projeto político moderno, permanecem emaranhadas num
denso feixe de superstição sobre as formas institucionais de pluralismo polí-
tico e econômico. Uma tarefa da crítica é ir além de distinções falsas ou super-
ficiais entre, por exemplo, compromissos pró-governo ou antigoverno, de
modo que conflitos ideológicos novos e mais significativos possam surgir.
Neste livro, ofereci dois exemplos principais de tal prática de crítica.
Esses exemplos se ligam de uma forma que esclarece tanto a vocação quanto
os limites do direito contemporâneo nas democracias industriais. O pri-
meiro exemplo é a discussão dos constrangimentos que o conservadorismo
institucional impõe sobre a principal idéia animadora do direito e do pen-
samento jurídico contemporâneos: o compromisso de garantir o gozo efeti-
218
A CAMPANHA PARA ALCANÇAR UM MEIO-TERMO ...
219
PROFECIA E PROSTRAÇÃO
NO PENSAMENTO JURÍDICO
220
PROFECIA E PROSTRAÇÃO NO PENSAMENTO JURfDICO
221
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
livro enfatizou, contudo, um lado diferente do custo de nossa busca por uma
ordem imanente no direito estatal: a imunização das instituições básicas da
sociedade, definidas no direito, contra crítica, desafio e revisão efetivos. Ao
adotarmos formas de pensamento, discurso e prática- como a análise jurídi-
ca racionalizadora - que contribuem para sua imunização, frustramos nossos
interesses, traímos nossos ideais e diminuímos nossas esperanças.
Para evitarmos pagar esse preço, não basta esfriar o fervor de nossa
estadolatria dissolvendo o vínculo entre o culto do Estado e seu direito e a
busca por uma ordem moral latente. Devemos ir além e nos livrarmos dos
resíduos da própria idéia de uma ordem moral latente. Em seu lugar deve-
mos colocar uma visão das grandes forças construtivas a que a análise jurídi-
ca corno imaginação institucional deve servir.
Urna dessas forças é o experimentalismo prático adotado para intensificar
nossas capacidades de entendimento de nossas circunstâncias e de emancipa-
ção da servidão, da fraqueza e da insegurança. No coração do progresso práti-
co jaz a relação entre cooperação e inovação. Para progredirmos em qualquer
âmbito da vida prática devemos inovar e cooperar. A inovação tanto re-
quer quanto ameaça a cooperação. Ela ameaça a cooperação colocando em
risco as lealdades, reciprocidades e expectativas estáveis nas quais relações
humanas reais se incrustam e a partir das quais os tradicionalistas deduziram
a idéia de ordem moral imanente. A tarefa máxima na elaboração de estrutu-
ras que contribuem para o progresso prático, portanto, é sempre imaginar e
estabelecer as estruturas de cooperação, no nível dos detalhes e no nível do
conjunto, que sejam as menos propensas a impedir inovação permanente.
A outra grande força construtiva é a exigência de auto-afirmação e liberda-
de pessoais. Ela é muito mais do que a necessidade de proteções contra a
opressão estatal. É a busca por soluções - por soluções melhores, e não perfei-
tas ou definitivas - de dois problemas que se intersectam. Nós tanto precisa-
mos das outras pessoas como precisamos ser protegidos delas. Devemos ser
capazes de participar com fervor de sociedades e culturas específicas, de formas
específicas de experiência e consciência, mas mesmo assim não podemos sub-
meter nossas capacidades de desejo ou entendimento a qualquer uma dessas
versões de humanidade ou qualquer agrupamento delas. Além disso, deve-
mos viver de um modo que reconheça a verdade de que há mais nós, indivi-
222
PROFECIA E PROSTRAÇÃO NO PENSAMENTO JUR.fDICO
223
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
ela se afasta tanto da religião estabelecida que seria inútil defendê-la. Além
disso, ela quebra um tabu - um tabu intolerável para qualquer um que leve
religião a sério - contra a crítica religiosa da religião. A parábola sugere uma
lição sobre a religião do direito nas sociedades democráticas.
Como o cristianismo ou o islamismo, o judaísmo é uma religião históri-
ca. Ele trata a história como uma cena de acontecimentos decisivos em que
propósito divino e ação humana se encontram, não como um pano de fun-
do epifenomênico para a realidade espiritual permanente. Ele crê que a
realidade do mundo e a individualidade das pessoas são tudo o que há, em
vez de dispensá-las como ilusões que ocultam a verdadeira essência. Ele re-
presenta a relação entre Deus e a humanidade segundo o modelo das relações
entre as pessoas. A revelação de Deus na história lembra a misteriosa e
sempre parcial revelação de uma pessoa a outra. As histórias da religião
contêm verdades que aprofundam as verdades antecipadas nas histórias que
contamos sobre nós mesmos. O pessoal vale mais do que o impessoal.
No centro da religião dos judeus reside o monoteísmo, revelado na
história humana por um conflito entre idolatria e iconodasmo. Deus
escolheu os judeus por motivos que ninguém pode compreender, mas a
singularidade que resulta da escolha pertence mais ao roteiro do que à
mensagem. Quando Deus primeiro fez seu pacto com os judeus por
meio de Abraão (Gênesis, 15 e 17), ele nada disse sobre obediência ao
direito. (Deus realizou o pacto anterior, de Gênesis 7 - do qual ele deu .
o arco-íris como sinal-, por Noé com toda a humanidade em vez de com
os judeus.) Ele apenas disse a Abraão que trilhasse seu caminho perante
ele e que fosse perfeito. Ele ordenou que os judeus circuncizassem seus
filhos homens, e os filhos dos estrangeiros que eles comprassem, como
um símbolo do pacto. Ele os marcou antes de lhes dar quaisquer regras.
Quando Deus testou Abraão, instruindo-o para sacrificar Isaac, ele es-
tava examinando a fé de Abraão - quer dizer, sua confiança - e, portan-
to, também sua esperança, mas não estava estabelecendo direito; ele
deu sua ordem somente para revogá-la no momento de sua execução
premente. A exigência de Deus era tão desconcertante que Abraão nun-
ca a mencionou ao filho que estava próximo de sacrificar, preferindo,
como sugere Kierkegaard, que Isaac odiasse a seu pai em vez de odiar a
Deus. Depois, no Sinai, Deus apresentou regras. Aqui começou um
interesse irresistível pelo direito. Contudo, a fonte inicial de energia
religiosa reside num encontro que não produziu nenhum direito, num
pacto a ser testado repetidas vezes à luz de um conflito entre idolatria e
224
PROFECIA E PROSTRAÇÃO NO PENSAMENTO JU.RfDICO
225
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
226
PROFECIA E PROSTRAÇÃO NO PENSAMENTO JURÍDICO
falariam. Mas, mais uma vez, nunca sabemos antes de acontecer. Filósofos
judeus contemporâneos não disseram outra coisa. Mesmo eles, contudo,
foram relutantes em extrair as implicações perturbadoras de seu ensinamento
personalista para o culto do direito. À objeção de que perseguir essas impli-
cações seria inventar uma religião diferente, a resposta é que a dialética
permanente da idolatria e do iconoclasmo à luz do pacto é a religião, se
alguma coisa o é. Numa religião histórica, quando a história chega ao fim,
profecia e lembrança voltam-se juntas para a aceitação sincera do presente,
e a fé dá lugar à visão.
De nobis fobula narratur. Todos nós assumimos o lugar dos judeus numa
história como essa. A aliança entre o culto do Estado e a crença numa ordem
moral latente transformou nossa compreensão do direito mais num escudo
contra as forças subversivas, transformadoras e redentoras do experimentalismo
prático e da liberdade individual, do que num instrumento para seu desen-
volvimento na vida institucionalizada da sociedade. Contudo, podemos baixar
o escudo e transformá-lo em algo diferente. Nossa época de dificuldades nunca
termina. Não obstante, a paz duradoura e parcial está lentamente destruin-
do muitos de nossos pretextos para a idolatria de nossas instituições e para
sua representação idólatra no pensamento jurídico e na economia política.
Embora os caminhos institucionais e imaginativos pelos quais as forças cons-
trutivas podem se desenvolver sejam sempre contestáveis e divergentes, eles
também são, como mostra a discussão anterior sobre futuros alternativos da
democracia, específicos. Sua particularidade e sua ligação de volta a nossa cir-
cunstância atual, por inúmeros passos de transição, permite-nos imaginá-las
como direito e empreendê-las como política.
O realista e o visiondrio
227
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
228
ÍNDICE REMISSNO
229
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
230
ÍNDICE REMISSIVO
231
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
232
ÍNDICE REMISSIVO
233
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
234
ÍNDICE REMISSNO
235
O DIREITO E O FUTURO DA DEMOCRACIA
236