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ISSN 1 R i 6-11145 Sumário

ASUPERIOR EXPEBIEm ij ~ R S ~ ~ A Ç ; ~
ELDERcÃMARA
Editom 9 IiARTOLOMEU nI3 I.hS CASAS:
0 DIREITO A S E l t V I Ç O DA
Diretor t a Umberto Stumpf SI. João Balista Moreira Pinta e VIlth DO M U H f :
Vice-Dir ms h a n i a s dc Sousa c Virgíiio de Mattos Pr. Hciirirpir rle Mniiro Faria
Estevão D ' a v 1 1 a dc Freitas Mnrrc rrn Fi!rn?fia p l a Funiifliia l'nivcnid&
b i c m n r c - Roma, l15iii
nksonwrc~çim
\IF%~B rrn Tmlopin prla l'cmlillcin Uniumida&
timgonnni - Roma. IiJiia
i'rrilrl~ir dc Filmr8Tii 1i.y F x o l a SepMor Dom tblrlcr
1 17 hdrm nin l l i l r i u d r i fiipynornbb
Ihiurtw cin nnrc?inCbviI VIU t'iiivrnirc
Cliiism -
dr I i m i i ri dcs Scienccr Siicrtilti iIc I',itir PARIS-! t
I'IIIICLVII th! CUIW d~ LTittuiii ,lil t l i t l r t ~ ~ ~ n t w
rr14ir~i<nmúorde p~ G I . ~ ~ I J J , I ,CJ ~I ZI II ~ I I C ~ I I ~
d4 ~II~IIILHIICS

tivo
Agostinho Ramnlho Marques Neia (UFh.IA), Alexandre Bemardino Costa (UnB), A FACE OCULTA 'DF,UM
Antônio Carlos n'olkmer (WSC), Caridad Navarrete Calderon (Univ. de La Havana
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HEFI.EXOFS SOIIHF,O P E S S A M ~
- Cuba 1, Francisco Haas (ESDHC), Jean-Christophe Merie (Univ. de Samc - UI:Al.FSC4YI)K<) 1tARAITA
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A irrnln'
-h), Jeaninne Nicolazzi Phi ti ppi (UFSC),Jos6 Geraldo de Sousa Júnior (UnB), X n l j i i e l ~ U c Cii,,rfii
:i%iir riiular de birir>l+ii da t)i#iie
Josd Luiz Quadros de Magalhaes (PUC-MG}, Manoel Eduardo Alves Camargo e -
'niwsdarlc i l c I r c ~ r lidlm
Gomes {UFPR).Maria Lúcia Knmm (IBCCRIMIRJ), Menelick de Carvalho Netto
(UnB), MicIiel Marie Le Ven (UFMG), Miracy Uarhosa de Sousa Gtistin (UFMG),
Rdaele i (Univ. k c e - Iiilia).

FAitoraçSo e arte-fina!: RBrnulo G r c i a s


RevisBo de Originais: Lairion Libcrato da Silvn YUNÇAO P O L I ~
DOC A LA CONDUCTA TIPICA Y I?t.SUJETO
EdiçHo e Disir[liuiçiío: Centro Cultural Dom Helder Çlmara 51 TRABALHOL
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Ehiiessa
A ORl)t<>t SOCIAL
Andrude r l t Ilurms
A L T I V O IiELDEI.IT0 E)I.:I,r\VAfiO
I)[.: I11NI.:RO EN 11, t)I':lt l. C1 I0 COXI?'i$AAt)i
IrnpressGo: O Lutador
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h i r m m Samlopia Clinici UnivmitC de Pari* VI1 , : Ia1 ( ; i t c ~ r J i ~
I j i ( 1 ~ 1 i 1I f t ~ n i i r ~ < i t<ti*
Tiragem: 1.500 exemplares P i i t l c r m Ad~untriEa C i r a i l u q b c Por-GaduyJu dii r)llulau~r n i Cienrid. Jarii:i,ar pela E iii,crri&& dr
Rpanamcnio d f hirulnpia h I FMG V ~ I c ~ ~C~r ipan ,i i
S i i i í c r u n d~ l'niucniiladc iIc I l a * a n i
thi I-rntiu dc lksquiiar leridicai r l i i hlrnirihni
U M A REFLEXAO C O N ~ C I O X AACEI~CA
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DOS D I R m O S FUNI)A?1ENTAIS l)l)PORTA-
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trirnnda cm Dimirn Unijul.RS
BRANT, V. O trabalho Encarrerodo. Tese apresentada ao Departamen- UMA REFLEXÃO CONSTITUCIONAL
to de Sociologia e Antropologia da FAFICH-UFMG 199 1. ACERCA DOS DIREITOS FUI\F]DAMENTAIS
DORNELLES, J.R.W. Conflito e Segurança (Entre Pombos e Falcões). iI DO PORTADOR DE SOFRIMENTO OU
Rio de Janeiro, 2003. i
I
I
TRANSTORNO MENTALEM CONFLITO
FERRAROlT, E Histoini er Histoiws de Vie. Paris: Meridiens Klinckçieçk, COM A LEI.
1990.
GAULEJAC, V. Les sottrces de 10 honre, Paris: Desclke de Brouwee, Menelick de CasvaIho Netto
t 996.

GAULEJAÇ, V. La nevrose de classe. Paris: H&G Editeurs, 1991.


MA=, K.O capital, vol. 111, STio Paulo: Abril Cultural. 1993. Resumo: A Lei no 10.2 16, de 6/04/01, C tomada como mote para
MAUSS, M.Sociolagie et Anihmpologie. Paris: P.U.F., 1991. demcInstrar a força irradiante dos direiros fundamentais na dinãmica ccinsti-
tucio na1 como um processo permanente de aprendizado criletivo, embom
SALES, M.M. A favela 6 um negócio a fervilhar: olhares sobre a sem iqualquer garantia de nZo-retrocesso. 6 pressuposto de todo e texto o
estigrnatizaçáosocial e a busca de reconhecimento na Pedreira Prado Lapes. irnpa,cio que na Teoria da Constituição deve exercer a eferivn nssunçao do
Dissertaçh apresentada ao Mestrado em Psicologia Social da FAFiCH- saber científico como um saber que se sabe precriio, timirrido. hisriirico e
IJFMG, 2003. rlntar!!o, e que, portanto, requer a constante tematização dos riscos do que
ww.%.w

a f i mia e a conseqüente reconstrução dos fundamentos permanentes em


SANTOS,M.Soçiedade e Espaço: a formação social corno teoria e como que se assentam suas afirmações. Os direitos fundamentais são princípios
método. Tn: Boletim Pardlisro de Geografia, no 54, 1987.
anentes precisamente porque abertos, de conteUdo móvel c passivcF
visão e aprimoramento pdtico e conccitual, capazes de acompanhas e
ovocar o crescente e cada vez mais célere processo de increrncn!~da
~lexidadesocial. Fundamentos din3miças. sempre incorporadores de
- complexidade social, sua força inclusiva depende do aprendizado con-
do seu podes de exclusb. Toda inclusão produz novas exclusci.es.
se-se, desse modo, n lidar racionalmenie com os excessos de
nalidade, hoje sabidarnente irracionais, que ainda se encontram
rlmhf-centes
a uvp a determinadzts expectativas, perspectivas c prfit icns vinciila-
das r: into ao processo de criação do Direito, quanto ae de sua aplicação
admiriistrativa ou judicial.

Palavras-çhavc:direiios fundamentais: princípios çonsti~i~cioriais:


sso Iegislakivo; Interpretaçiio constiiucional; apIjcaç50 do Direiro; ci-
dadantia: portador de sofrimento ou transtorno mental em confi ito com a tei.
REFLEXA0 COMSTtTUCIONALAGFRCA 0 0 8 DIREITOS W W R R W R DE SDCRIWENTO MENTAL E M CONFLITO COM A LEI

de sem fundamentos absolutos e imutãveis, nSo reduziu, ma$,pelo contrftrio, que, é claro, vivem e sempre vivcmm em sociedade, vio colmar-se a qucsião.
incrementou e sofisticou a complexidade social. totalmente esclerdtica e destituída de sentido pam todo o pensamento c1,lssico e
medieval, corno vamos viver em sociedade? Onde tcmina o meir dircito e come-
-
1 A rnodernidade da sociedade moderna ça o do outro?
A consagração dos direitos fundamentais pressupae ;i exigencia mo-
A rnodernidade da sociedade moderna. como dernonsttaRaffaeFe De ral, universal e abstrata, do reconhecimento dessa igualdade e dcssn liberdade
Giatgi, reside em sua complexidade estrututal, decorrente de um processo de como inmntes a iodos os indivíduos, que hoje denominamos direitos h u m m ~ s
diferenciaç3o funcional que produziu subsistemas sociais operacionalrnentedi- e que, h epoca, os modernos conseguiram impor como o novo conteilido çemhn-
ferenciados. tico da antiga expressso "direito natural".
No campo nomativo, moral, Direito e política se diferenciam, p a - A forma constitucional (a casliter supra-legal da Constituição,
sam a cumprir funções especificas, que não mais se confundem, e que. por isso condicionando a validade de todas as demais leis) foi uma quisiçzo evolutiva
mesmo,podem prestar-se senriços mútuos,pois conquanto diferenciadas p a r - tardia no processe de moderni7~ç50da sociedade. Pdc-se afirmar, grosso modo.
dam entre si, como veremos, uma relaçno de complementaridade. que, no final do s&cuEoX W I , quando os norte-americanos a inventaram, busca-
A religib passa a ser vista como um direito individual, não mais po- vam garantir uma maior subordinnq3io do direito positivo i moral, aos direito7
dendo servir de fundamentoabsoluto e unitilrio para a rígida e estiitica estrutura naturais. Niklas Luhmmn demonstra que essa aquisição evolutiva veio, ao con-
hierárquica das sociedades tradicionais ou pré-modernas e que, dessa forma, t ~ i ocompletar
. o processode di ferencia@~do Direiio c da política. iornando
perde a sua força de elemento aglutinador c e n d do arnslgama nonnative historicamentediswnshel o recurso 3 idéia de direito natural pan a justificação
indifmnciado que regia essas sociedades em que a reprodução da ordem de do direito. A ConslituiçZoddefine as bases do Direito (os direitos fundamentais),
privilégios era assegurada por naturalizaç3o divinisada, por seu carfiter define as bases da política (da organização politica), e articula Dirci to e política
inquestionfivele imutável. A liberdade rel igiosa e a correlata necessidadede mo- de tal sorte que, por serem distintos, podem se prestar serviços rniituos, @ar-
nhecimento do pIura2ismo religioso acabaram por contribuir decisivamente para dando entre si uma relação ioncional de csmplernent~dade.A política pode
o desencadeamento do Estado constitucional. 6 no quadro desse processo de pmhrao Direito modemo (um conjunto de nomas gerais e abstrata?)cfcrividadc,
diluição dos fundamentos absolutos e unitários das sociedades tradicionais e de tomando imperativa a sua coercibilidade, mediante a atuação do aparato estatal;
afirmação do pluralismo religioso, politico e social que se d i rr invenç3s do indi- ao mesmo i e m p que recebe do Direi to legitimidade no se rleixarscgulnr por eIe.5
víduo. Os movimentos consiitucionalistas e a idçia mesma de Constituiç50,
A fonte da moral passa a ser interna ao indivfduo, inerente à sua no sentido moderno,pressupõem a dilui@o da unidade e da organicidndc típicas
sacionalidade. Os costumese as tradições perdem a f q a mnsccndente tmdici- das sociedades rradicionais, ou seja, a invençSo do indivldno, da sncicdade civi I.
ond de revelarem a "essEncia irnutiivel" da sociedade, para se trpnsfomarem em opluralismo religioso, político e social, a tensio socialmente constitutivn entre o
meros usos p~ssíveisde ser revistos e abandonados, configurando uma nova eu e o outro. De fato, somente uma sociedade complexa, plitral e que se sabc
etiçidade de cunho reflexivo. A antiga fonte da moral. os bons costumes são cindida peladivcrsidade dos inicresses, fomm de vida e estnrturiis dc persona-
agora reflexivamente definidos por essas exigtncias universais e abstratas de lidade dos seus membros q u e r urna Constituição.Como afirma Michcl Rnwnfeld,
reconhecimento da igunldde e da liberdade a que, por nascimento, todos os em uma sociedade homogènea ela seria desnecess5râa."
homens tem direi to. A afirmaç50 da natureza racional do homem implica tam-
bém o reconhecimento do indivíduo enquanto sujeito universal, agente moral, 4 BLUMENBERG, Illans.
dono do seu pr6prio destino. Assim, 6 possivei agora que se adote uma postura 5 LUHYi?LVN. W i k l a ~ ."Verfasntng als evoluiion5re Errungcnschaft". tn: R~chihts~nri.sclr~s
loitrnnl
. Viit. IX. t W ,pp. 176 a 721). Tnduçan iialiann de F. Fiow "IAcortituzionc çnriic :icqtii~iiione
crítica em relação às normas sociais. O reconhecimento do outro pressupk cvoluiiva". In: ZhCREREt-SKY, Gu\invo. POKTINARO. Pier Paoln. LUTHEK, 111rg. II Fuiiirrr
tamb&muma reciprocidade, ou seja, se lodos s5o iguais e livres, todos são autô- n'rllri Cosiiiiizion~.Torino: Einnudi, 1996
fi ROSENSELD, Michcl. "Comprehcnsivc plurnIism is nciihcr an ovcrlnppinp cnnscn\us nor a
nomos. Esses homens egoisticos e que passam a se auto-denominar modernos,
73
REFLEXA0 CONSTFRICWNN ACERCA W3 DIAEnOS W -&WR W S O F R I H E m MEHTAL EM COWLmi UW* A LEI

A promulgação da Lei ao 10.216, em 6 de abril de 2001, por dizer Para Dworkin, a ConstituiçZo constitui assim uma comunidade fun-
respeito diretamente aos direiios fundamentais de igualdade e liberdade que =i- dada sobre principios. Mas o que significa uma cornunid;ide que se olicerça
procarnente nos reconhecemos, enunciados no art. 5" da Constituiç30 da Repú- sobre o reconhecimento seclproco da igualdade e da liberdade de todos e cada
blica, postula, de inicio, urna questão extremamente provocativa: p l e n a uma um de seus membros? Qual a natureza desses princípios de conteúdo rnonl?
lei. val idamente, arnptiar, ou seja, alterar, o dispostona Constitiniiqão? Seria também moral e nZojurídica?
A resposta ã essa questão requer uma refiexão previa mais profunda Retomar os textos resultantes da discuss3o entre Rannld Dwarkin e
acerca do sentido. n3a somente da ç18usula de abcrlura fixada no 3 2" do art. 5' Richad Pasner permite-nos aprsfundar na complexa relação complementar que.
da Constituiç20 da República. como parte integrante da prbpria dec1mção de na vis30 do primeiro autor, entre si guardam a moral, o Direito c a plítica. Brísica
direitos, mas cio significado da pr6pria Constituição e do sistemaconstitucional para que possamos efetivamente compreender todo o potencial seconstrutivo,
que ela institui como um todo? inclusivo e dernocr5iic0, de sua doutrina. que. no Brasil, é rccorrenterncnte mal
compreendida em r&o de traduções muito pouco cuidadosas.
-
2 Afinal de contas, o que uma Constituição constrtui? Para Richard Posner, não serispasslvel falar de uma moral que trans-
cendesse a moral individual ou de principios morais universais, A moral seria
Ao discutir com Richard Posner por que não aceita a distinção entre particular, local. Ela depende de tradições, de uma cultura, nao sendo possível
"direitos enumerados" e "direitos não-enumerados", Ronaid Dworkin afinna que estabelecerum denominador moral comum. Não seria possível, por total ausEn-
conquanto a linguagem da Constituiçjia, mais especificamente,da declaraçãode cia de critérios, julgar imoral, por exemplo, a disçriminaç;io dos judeus, dos
direitos. do Bill ofRights, empregue no mais das vetes os temos mais abstratos comunistas ou dos portadores de sofrimento mental pelos nazistas. Quando rc-
poçsiveis dos padrões de "comçno pol ltica" (poliricalmoral ity), d a pode pare- provamos atitudes como essas, e fazemos a partir de nmso prbprio ponto de
cer, em alguns contextos, preocupada exclusivamente com os procedimentos. vista. Para ele, no contexto das swiedades mdcrnas s6 se poderia fala- em
Ou seja. ela não imporia qualquer limite ao conteddo das Ieis que governos vies- pludismo rnonl. Portanto, analisar e direito à luz da moral nSo seria possivel,
sem a adotar, ela apenas estipulariacomo o governo p i e r i a promulgar e impor pois os juizes não podem decidir com base em suas crenças morais c nem
qualquer conteiido nkq leis a adotar. Nesse passo, salienta que a "hist6ria jurídica poderiam, dado o pludismo intrínseco ii sociedade moderna. Posner posicioria-
rejeitouessa intetpretaqão eswita e, no entanto, no momento em que eniende- se, assim,frontalmentecontra o que ele denomina rnonlisrno académico, a de-
mos que os dispositivos constitucionais sao tão substantivos quanto fesa da existência de uma moral universal, Dentre os autores que designa mon-
pxdimentais, o seu âmbito revela-se de uma amplitudeespantosa (breathtaking). lista açadèmicos, ele inclui com destaque Ronald Dworkin, com a sua teoria da
Pois fica claro. ent30, que a declaração de direitos (Bill ofRights) não ordena única resposta comia,
nada menos da que a determinação de que o governo trate a todos os sujeitos ao O que Posnerdenorninaplumlisrno moral 4, como vimos, na verdade,
seu domfnio com igual respeito e çonsidemção, vedando-o de infringir as suas efetivamente pressuposto da democracia e do constitucianalismo. Por herança
mais bhicas Uberdades. as liberdades essenciais ou, corno disse o Ministro do libenlismo, reconhece-se precisamente a possibilidade de distintas visciks de
Cardozo, a idéia mesma de 1ibem'ade ordenada". " mundo concorrentes conviverem simultaneamente.
-
Contudo, contra Posner, há que se notar que essa pluraIidadc de vi-
madirs vii.~ndi:a i-eply io Pmfessors Arato, Avincri. and Michcman" in CARDOZO U W R E t sões de mundo só se toma possível a partir do reconhecimentoda igualdade e da
Vol. 21. 2000. $. 1971 a 1997.
.
7 "Art 5 O I. .I
liberdade dos indivlduos. Ao se declarar que todos os homens são livres c iguais
I. - -1 por nascimento, as constituições e declarações de dircitos não pretenderam d i m
J 20 que t d o s os noste-americanos ou iodos os fmçeses seriam materialrnenic iytiais.
Os direitos c g a r i a s crpnssos nesu Constituiçlo nSo çaclutm wiros dccomntcs do rtginie e
dos principias por e18 ~ d o w d w .wi dos Tmiadw Inrcrnacionais em que e Repiiblica Fcderriliva do A id&a t que idos os homens, precisamente por serem homens, nascem livres
Brasil seja parte.'"griior nossoa).
e iguais. A moral p6s-convencional&, pois, principiol6gica, reflexiva. E uma
8 DWORKt N. Ronald. "The conccpt nf non cnumcraied righis" in Univcrsily af Chicngo h xri
Rcview. Val. 59. 1992. p. 381. moral de principiar extremamente abstratos, objetivos. universais. e que guar-
75
dam uma tensão entre si. submetidos iis mesmas normas, decorrentes de um procedimento aceito, a par-
Essa mora! moderna, contudo, por ser extremamente abstrata, uni- tir, por exemplo, de uma regra de reconhecimento (o est8gio convencionnl de
versal e interna, 6 por demais "fraca"', etérea, para impor. por si s6. comporta- Kohlkg).
mentos vinculantes, obrigatórios. Nesse contexto, retomamos a afirmação de Uma verdadeira comunidade, que Dworkin denomina de princípios. i
Richard Posner, segundo a qual ainda queexistissemprincípios universais, esses uma comunidade especial, Alem de companilhar esses princípios comuns,eles
não teriam a menor utilidade, uma vez que n30 seria possivel extrair desses a compreendem çomo uma comunidade de principie, pais seus membros sc
princípios soluções para os casos concretos. O autor, contudo. ignora, ou acre- reconhecem reciprocamente como livres e iguais; hA um respeito pela di fercnça
dita impossível. a relaç5o entre o Diteite e a moral. De fato, a rnonl moderna ?t do outro que n3o se confunde com a e m g S o moral, o aliniísmo ou o amor. As
extremamente abstrata. Contudo, ao serem acolhidos corno conteúdodo Direi- obrigações reciprocas dessa comunidade decorrem dessa nniurezsi especial que
to, esses princlpios extremamenie abstratos ganham densidade como direitos lhe é constitutivsi. Não se obedece a essns normas como realizaç50 dc urna
fundamentais, tomando-se obrigat6r?as,impondo comportamentosexternos, justiqa global. univerçal, no exemplo dado p r Dworkin.Tais obrigaçks nascem
Direito e m o d relacionam-se, não em um sentido de sujeiçãodo Di- justamente desse senso de pcriencirnento a uma cornunid3de que compartilha os
reito h moral, guardam. como vimos, uma relaç50 de complementaridade, em mesmos princípios.
que o Direito, ao recepcionar o abstrato conteúdo moral, fornece a moral maior
densidade e concretude, recebendo da moral. por sua vez, legitimidade. -
4 O Conceito de Integridade no Direito
Desse modo é que esse conteúdo, quando incorporado ao Direito
como direitos fundamentais, como principios constitucionais, ou seja, como a Assim, para Dworkin. o Direito é um sistema abeno de princípios e
igualdade reciprocamente reconhecida de modo constitucional n iodos e por regras. Principias d o normas abertas e que não buscam conrrolar previnmctite
todos os cidadãos, bem como, ao mesmo tempo, a todos e por todos é tamb4m sua prbpna aplicação. Regras s3a proposiç6es nomativaç que buscam controlrir
reconhecida reciprocamente a lilserdade. s6 pode significar, como hist6rica e a sua aplicação; por isso, no scgundo modelo de cornunidadc, e na primeira frise
muito concretamente pudemos aprender, a igualdade do respeito lis diferegas, do estágio pós-convencional, conduziram a aplicação dos prhprios princípios a
pois embora tenhamos diferentes condições sociais e materiais, distintas cores ser pensada e praticada como uma aplicaçsn que deveria se conformar h tipica
de pele, diferentes credos religiosos, pertençamos a generos distintos ou n3o das regras, JrI os princípios, por sua vez, conquanto sejam abertos e
tenhamos as rnesmaq opções sexuais. devemos nos respeitar, ainda msirn, como indeterminados, d o , porém,passíveis de serdensificados nas situaçries concre-
se iguais fbssemos, nHo importando t d a s essas diferenças. tasde aplicaçfo sepndo a sua adequabilidadezl unicidade e irrepetibilidade d : ~
caracterísiicas do caso em teia, em termos de sua capacidade de regencia. sem
-
3 0 Conceito de Integridade na Polftica produzir resíduos de injustiça, em face aos demais princípios.
Por isso mesmo, pnnclpios contrfirios ç50 n5ao somente opostos. rn:ls
Portanto, para Dworkin. t p~ecisamenleo conteiido mora! incorpora- se q u e r e m cornpIementmenie çomo parte da integridade complexa do Idirei-
do ao Direito como direitos fundamentais. funcionando como Direitoe não mais ro no momento de sua aplicaçilo, nunca podem ser considcrndos isoladnnienre;
como moral, que garante o pluralismo e a crescente complexidade da sociedade jB as regras, em seu modo típico de aplicaçiio, ao invés, requerem a crença, qiie
moderna. . hoje sabemos implausivel, de que aq normas. por si s6s, seriam capazes cIe
regular as sizuações stmpte individuais, concretas e infiniinincnre complexas da
Em relação é um suposto indstAvel da teoria do direito de Dworkin.
Para ele, d tarefa de uma comunidade concreta densifiçar, interpretar reflexiva- vida, sem a rnediaçb do aplicador. Por isso puderam gerar a çrenqri em uma
mente, esses princípios. Essa comunidade não @e mais compreender a si mesma çoncepçio de imparcialidade do aplicador que requereria a sua cegticirn 3s
como um grupo de pessoas unidas apenas por razões acidentais, externas e especificidades das situações de aplicação, dando curso ao mito ilurninistn, iotaI-
inconüol6veis,históricas ou territoriais (o estágio pdconvenciond de Kohlberg). rnenie irracional, sabemos hoje, exatamente pela confianqn excessiva em uma
Tampouco n50 6 mais capaz de se ver como um g m p apenas por rerern estado racionalidade sobre-humana, perfeitq eterna, isenta de todos os condiciannntcs
R L F L E X ~CDHSTITUCION*L IGERCA w sWREITW peR a o r n i r r m MSNTU EU wwLIrn COM A LEI
DO P D ~ ~ ~ W

que marcam nossa humanidade. segundo o qual a elaboraqb de nomas gerais e comum. bem como, em uma dimensão diacrônica, a leitura ,imelhor luz da sua
abstratas perfeitas dirninaria o problema do Direito, pois ao aplicador restaria histõrin institucional como um prmesso de aprendizado em que cada geração
apenas um trabalho de aplicação rnecsnica e siloglstica dessas mesmas normas busca, da melhor forma que pode, vivenciar esse ideal. Desse segundo sentido
situaçõesconcretas de vida sempre passíveis de serem reduzidas a situações- decorre a metáfora do romance em cadeia.
padrão. Desconhecia-se, precisamente. que a advento de normas gerais e abs- Ao levarmos em conta a histbria constitucional, podemos ver o que
tratas, v8lidas para toda a swiedade, jncrernentam a complexidade social em esse duro processo de aprendizado insiitucional nos ensinou a respeito dos direi-
geral. e do direito em especial, sempre abrindo a possibilidade, pelo simples fato tos fundameníais h igualdade e 1liberdadev.A produtiva tensao constitutiva inc-
de terem sido positivadas,de que pretensões abusivrts de aplicação em si tuações sente a esses principios encontra-se presente em todas as dicotornins clSsçicas
concretas que, na verdade, nunca se deixaram reger por elas, venham a ser típicas da modernidade, como público e privado, soberania popular e
levantadas. Aprendemos, a duras penas, que racional e o saber que sabe da mnstiiucionalismo,republicanismo e libenlisrno, etc., pois a F n 3 s apareniemente
precariedadede nosso pr6pna sakr e busca lidar racionalmente com os riscos apresentam uma natureza pandoxal. Também aqui esses ~ 5 1 0 sefetivamente
que ela a c m t a . opostos sgo, também. a um s6 tempo, conçtitutivos um do outro, de tal sorte
O ponto de partida de Dworkin aqui, portanto, t! a da crítica ao exçes- que instauram uma rica, produtiva e ptxmanente tensno, capaz de dorar a doutri-
so de racionalidade inconsciente que marcava a visão anteriorli80 s6 do concei- na constitucicinal da complexidade necessiuia para enfrentar problemas que ela
to de ci&nciamas do pr6pno conceito de direito, de norma e de ordennmento antes nem era capaz de ver.
jurídico. saber que uma norma geral e abstrata nunca regulará. por si só aq Não h5 espaçopúbtico sem respeito aos direitos privados tl diferença,
siiaaç&s de apIiçoção individuais e concretas, at6 mesmo @a incotporaç20 de nem direitos pivados que n3o sejam, cm si mesmos,destinados a preservar o
maior complexidade ao ordenamentode principios que a sua adoção necessari- respeito piibIice 3s diferenças individuais e coletivas na vida social. N3n h5 de-
amente significa, ao dar uma densidade maior aos princípios constitucionais mocracia, sokrnnia popular. sem a observância dos limites constitucionais 5
b h i m e ao, simultaneamente,abrir novaspsibilidades de pretensb abusivas. vontade da majoria. pois ai hB, na verdade, ditadura; nem constiiucionalismo
Assim 6 que, para ele, todz~as normas, mesmo as regras, que, se constitucio- sem legitimidade popular, pois ai h6 auioritarismo.
nalmente vhlidas nada mais s30 do que densificaçks desses princípios naquele A iguatdade do respeito às diferenças inclui e, ao mesmo tempo, ex-
m p a especifico de sua força irradiadosa, sejam sempre aplicadas de modo clui. Sempre que afirmamos quem somos nós, os rirulms do ditriio i igualdade.
racional, ou melhor, com a clareza de que, por si s6s, nada regulam, pois reque- fechamos o sujeito constitucional que, conforme nos ensina Michel Rosenfeld e
sem a intermediaç2io da sensibilidade do interprete capaz de reconstmir não o requer o .j2"do art. Soda Const ituição da República, h5 que sempre permanecer
sentido de um texto nonnativo tido como apriori aplicivel. mas aquela especi- aberto ao reconhecimento como igualdade de di ferenqac antes discriminadas e
fica situação individual e concreta de aplicação, em sua unicidadee irrepetihilidade, insustentSiveis em um debate público quando questionadas. Podemos aporn biis-
do ponto de vista de todos os envolvidos, levando a s6ria as pretensões a direi- car responder, com a necessdria complexidade, hquela perplcxidarle que a Lei no
tos, as pretensões nomativas levantadas por cada um deles para garantir a inte- 10,levanta e que seria impossivel responder de modo minimamente sntisfariirio
gridade do direito, ou seja, que se assegure na decisgo, a um s6 tempo, a aplica- com o enfoque e os elementos da doutrina constitucional clSssiça.
ção de uma norma previamente aprovada Vglrness - aqui empregada no sentido
de respeito As regas dojogo, algo prfiximo do que Kelsen denominava certeza -
5 Em que sentido uma Iei me,válida e legitimamente,
do direito) e a justiça no caso concreto.Cada caso t único e irrepetivel. 6 nesse alterar, amplias a Constituiqão?
contexto que Dworkin levanta a tese da 6nica resposta correta.
A integridade do Direito significa, a um só tempo, a densificação Na verdade. a resposta a essa q~iest30requer que rctriinemoq O con-
vivencial do ideal da comunidade de principio, ou seja, urna comunidade em que ceitode Ronald Dworkin sobre ri integridadedo Direi to, em sua ';egund;i n c c ~ 5 0 .
seus membros se reconhecem reciprocamentecomo livres t iguais e como ço-
-
autores das leis que fizeram para reger efetivamente a sua vida cotidiana em 9 Ver a cssc prop6sito o parecer rcfcrido na notn 2.
?3
A E F L E K h CONSTITUÇIOWAL ACEACA DOS DIRElTO5 W W M A W DE BdFAIUEHfi LAEIFTL* EM COWFLRO COU LEI

No dum ptocesso histórico de aprendizado do que significam para A RELAÇAO HOMEM, MEIO AMBIENTE,
116sos direitos fundamentais & liberdade e i igualdade pudemos compreender
que, se a afirmação formal desses dkitos. desconhecendo o Direito as desigual-
DESENVOLVIMENTO E O PAPEL
dades mateiais efetivas entre as pessoas. gera uma exploração sem precedente DO DZREITOAMBENãAL
histárico dos materialmente em desvantagem, por outro lado, condicionaro seu

r
reconhecimento à satisfaçáo de determinadas condiçks materiais. pnvntiza o Raquel Fnbiana b p e s Sparernbet-ptr
público e gera apenas clientela e não a cidadania prometida. E isso porque, se a
Doutora em Dirciio
todos devem ser asseguradas oportunidadesrninimas para dcançarern as condi- Professora Curse de Mesirado em Desenvolvirncnto da Universitladc Regioniil dn
ç"s materiais necessárias ao pleno exercício dos seus direitos conçtitucionaiç FI'omcste do E ~ I Fdo
~ PRio -
~ OGrande do Sul Unijui c do Programa rlc bIe<imdo cm
Dirciio Ambicntnl. da Univcr\idade de Carias tln Sul - LKS-RS.
fundamentais de liberdade e de igualdade, C precisamente porquejd os teconhe-
cernos como cidadãos iguais e livres, como membros da comunidade de princí-
pios. Devem ser mlados, postato, como cidadãos, desde o início, livres e Daniclle Aita da SiIvn
iguais, titulares dos direitos fundamentais, tendo c~portuniddede responder por
Mesirwda crn Dirrito - Un~jui-RS.
suas opções e de com elas aprender. E essa cidadania necessariamente envolve a
permanente reconsmição do que se entende por direitos fundamentais consoan- Resumo: Atualmente, a humanidade vem se preoctipando sempre mais cnm n nc-
te uma dirnensb de tempotalidade que abarque a5 vivencia5 e exigéncias cons- cessidnde da preservaçjio do meio ambiente. Ta1 urgCnciri de preservnç5o decorre
titucionais das gerações passadas. das presentes e das f u i u m da deterionç30 d;i natureza c do seu uso sem nnedidas c ,impruttente. h ' e w sentido,
Assim 6 que,justamente pelo caráter abstrato e universal da-lingua- este trabalho analisa como ocorreu a relaçho tl o homem com o mcio ambiente até o
despertar para a necessidiiiie de preservar. Cuns idem n crfiica que 11 Dii-eih Arnbienral
gem em que se expressam constitucionalrnentc esses direitos fundamentais, C faz à tradicional vis50 antropocCnlrica que coloca o homem como o centro de toda
posslvel a sua ampliaq50 mediante a explicitaçãoem lei do que agora eles signifi- a natureza. e enfoca tarnbeni a teoria que faz oposiçh n esta, o biocenirisino. An:i-
cam para 116s.Torna-se clara agora, para n6s, que o reconhecimento dessa lisa, ainda, a crise ambicntfil e seus reff exos c de que maneira ;iecologia j~irídicno u
diferençaespcifiça como direito à igualdade sempre esteve autorimdopela afir- o Direito, pela sua tuiels, poderi proreger nu cantri buir para a preservaçrio do meio
ambiente.
rnaç3o desses pnncfpios; nds, que não &ramoscapazes de ver a injustiça até
ent,io perpetrada.Dessa sorte é que essaexplicitação mediante Iei. atuação admj- Palavras-chave: Homem; PreseniaçZo; Meia Ambienre: Ecologia Jurídica.
nistntiva ou decisãojudicial, na verdade, r150aitera a Constituiçio,sipena?expl Ecita
o patamar aIcançado por nossa comunidade de princípios no mais Fiel cumpri-
mento da Constituição. comprovando o sucesso vivo e pulsante do que ela cons-
tituiu.
Por fim, cabe somente salientar que o reconhecimento da internaçiio Resumen: Açfuulmenre Ia Iirrmcinidm! viene preocupdnrfase siertrpiu tri.[i,r cor! Irt
necesidud de Ia preserrrnciriri d ~ rtt~cIioarrrb/en!e.
l Tal riygencici rk prrsen.clciriri
permanente corno uma violência aos direitos fundamentais dos ponadores de
ri~rii~ a deferiorode In notttra!e:n Y de sir iiao sin ntedirlas e i m p n r d ~ n ~En
riel r. c s ~
sofrimento mental. em que pese a tipologia de inrernações ali criada, rit6 mesmo sentido, esre rrabajo an no ocurn;ó Ia relaciút~tlcl i~ornbrecan e1
pela única autoizaçHo legal para tanto ser para os que já tenham sido definitiva- medíoantbientc Irosta ei d 7ara lo ntncesidad ( 1 prr.renrni:
~ Considera lo
mente prejudicados pelo suposto tratamento segregacionista,ela s6 pode ser criríca qiie el Dereche AJ,,~,~,,,,,, I-.," ,I A ~rfidicionalrisi6n niirrnnoc6rttricn
rt

que coloca al Itombw corrio e1 ceniro de rnrk~!a riartrn lbiéti In


constitucionalmente ~(ilida, em qualquer das modalidades, se transitória e tem- reoría que hace oposicidri n ksr~i,e1 biocclifrisrno. A r cri si.^
podia, enquantoepisddio de um tratamento que respeita e promove íicidadania anihiemal ji s ~ .pejos
s de qtie manera In r c o l o ~ í ójtr i por sir
r

dos que por ele têm que passar. riirelo, po& prOleRcr O crinfribrrirporn /aprcsen~nciclnner rrt~fllonr~iiiicrrie.

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