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Sumário

i,tl/LflFOCÔ
GRUPO c_,rn
5,1. 1' 6 · c,•~ -
A> ~!«(li de L íro, RJ
.,30-152 • f!,ode .1,111r
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·:>COJ . ro pede ser utiliz.M:la ou reproduzld;a sob Qu.alsQuer
p.;rtt (kste 1IV
~ · utoriz~ão por rscríto dos ~ itOn!s e autorrs. APRESENTAÇÃO ...............................................................................9
- , 0 cstt!fltõ s~ ;i

INTRODUÇÃO: O estudo da produçio de subjetividade e a ,esquia em

~j
. . de Cataiogaç.\o na Publiuçjo (CIP).
lrte"NCJ0~1S
comunicação e saúde ........................................................... _......... 11
Igor Sacramento e Julio Cesar Sanches
S!l:ld
sxnmento, lgor
Qisposidvcs de subjetlvaçJo: saúde. rultur a e m fdi.t/ org,mfzaç.:io de
lgOt sw-.imentoe Jullo (Mar 5.Jnches. - Rio de JaMiro : M ult i foco, 2019
PARTE 1: Tramformações nu noções de aaúde e doença
4 22 p. . 23cm. • (Comunicação. Cult\Jra e Saúde: 2).

1ndu1blblioar.ifla
Saúde e doença por um prisma significacional ....... ....... ... ..... .... ..... ... 43
tSBN 978•85·8273·828·3 José Carlos Rodrigues

1 sa~ 2. Comunicação 3. Cultura contemporãnea


Melodrama & salubridade: a medicina social vai ao cinema .... .... ... .. .. 57
1 ~ s. Julio Cesar (Org.) li. Título Simone do Vale
CDD: 341.76 A otimização de si: redefinições da saúde e da doença na mídia contem·
porânea ............................................... ................ ...... ..................... B4
Paula Sibilia e Marianna Ferreira Jorgr

PARTE li: Corpo, estética e poder

Autocuidado e gestão de si: a pedagogia da vida sau<lável nos St'manan ()~


brasileiros............................ .. ................................ .... .... ...... .... . l l l
Maria Rcf.na CJrid lo .~1oraõ
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'l'j' medicina social vai ao cinema
0 Sooút.:'<OIIOm t<' sraru.~. roce ntll.1 p,,ho Simone do Vale
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RODRIGLF..S. 1-0sr ( arlo..~ Htgient' e ilusão. Rio d:e Janeiro· 1t-: ftru l do ,;~eu.lo XIX. lo h>gndi.,:.. lLUn ~'- e.s m édJcos. fluo -
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_____ o corpo n.i tu.stóna. Rio de Jarmro· .Ed. Fiocnu. ;'!OOO •~i~c-opms e rndiognifwj ~ 1ornan1m pa.rtl! do n-pert6 rt,, visual cot, no
-- fabu di.> rorpo. Rio de Janeiro: Ed Flocruz. 200t.
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equipamento!I dt' fl hruigem.. 0 dl.scuno so bre a saúde C"oletiva ch ega.ria n.S

lorl:. Cme~on Hall. 1<n2 sab ,~ de c:in e mi\ n o inu:,-, do sk-"uJo ~"X
\ fG.-\RELLO l,,(-org~. u- proprc ele ~lt'. Paris. ~<'uil. 1985. Com O advento d o ti.-~grafo C'lt'trlro. a lmprc:n.<.a pas.,;ou a dcsempc-
nh,ir mais tHive memt- a robc-rturn mtemad on..1 Cllls noúclas dJvulgadas
pelas c-omurudaJes nqn t{fü:-3 .s, !':o c-:nt.mt0 , ap<"sar do fervor denttficisla
d,1 r po,:-a, J cl',"í\bcrtas e no , ...u tt>ntl'lí.\S não e ram Jtarontla de e spaço n o-
bre no11 jornais Era llN'<'<S..\ 1'1 0 ruusar frn_pacto o u ~uscltnr alguma cor -
rt5po ndenc rn rorn fato~ ruldo,<tO..'- Quando L0 uls Pasteur anu n cio u a va-
n na anltnábica t>nl julho tle 188$. po, cx.cmplo . u n oticm não ganh o u a
ntl'n,õo du ímpren:..1 do« EUA, onde os casos de rnl va t-ra.m raros. Em
di:-zt"ll'lb·ro do m.-s.rno ano, pon:m. quatro cnaoças for am atacadas por um .fi
·Lachorro lnuco~ cm Nt'wark. Nova jt'rsey. A comoç.ão provocada pelo in- !
agora. a vaci na de Pasteur
d rlt>nh· rca1"rnd~u o lntcres..~ dos jo rnais e,
Pn 1p:na ,is pnmetru.'l 1>agtnas, A disputa por ootorit-dade já mobilizava
l.abornto nos rivais tncluslve ero termos nacionaJistas. c:om o o s de Pasteur
e Robe n Koch. Por sua \'CZ, as notícias cientLficas competiam com O sen -
saciNmh.11no d..1 imprensa (Wamer. 2009. p. t 6). Corno as pnmeims radio-
f.U'M<\5. rcprodw;idas copiosamente J)t'los jornais britânicos e norte-ame-
ricanos após o .tnunclo da descoberta dos raios-X em 1895 (CartwTight.

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fll(':itJoi do1 nn.,. ~ .. Pótrct-1 , ia rni.i:.111..1-~. éílJOl'll j ~ a b ú fiJJYn ,~lo d&J boorb.1Ó1W ,m , ndult(!t.,
r4 ..rJn dil tiibrlca Jo, tiunltrt" •·m Lyo11 (Cnrtwr~, i, i:nt1;,,r11~
p<'l.i mtcrobwJQgto d.- P,uinu t Kc,d1, Ape;v <fa ,:;.-,t1tpt c,v~ t<..i~11t
uatf.Jpr "" , . _ , .. 'b'\I, l ii\9n ,
_ e.. cdc-brada .i gui.511 de: <'V t<lcfll u <-l<'tJtitktt 110 , l.-0t,. Jt:>s vhu~ e lxtcifna:i. pcrduwvt1 no 1111.'tl(ll\MtlJ 111hií,"' • ~ (iciqur Nld,
11 (.,1og,illkJ . ,., r tnltd1c,,$ <t-
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:.. r'harrm .,, filrrmgcM dt rnJcrotgimtSnw:i nllo t"' rd
rrs torne, - • . ,.. ~ir11rn l'JJllt!,. naçôei ~stilt"nl.as do soln ou da á(.,ua, ciú<>r, umtd.Mk, J)(íUCJt .,~tHfa!;:h1 ~
rlo~ ac..adtm1co-s, Em JQIO, durnttt<" a CClnv-e,içno P:. ·1, ,i <'fre..J.a a~orntrr1ÇÕN humana► eausu1L110 111fe«M,; e c,:nd<-tn1ab
no., m . '-4UJ,ift l"a F
t:t 'ih u·alaad..a em H-ru;,,.f"la., . emJlc ~lanchai d, lllll do.s precur llQrci d,. r11.-.
A p1 óprta baett'rlr,logia rett.eTou O) prínd p).()1 higtêníro~. { cmw •m
'"" ,....n4r.il e da vara.sHolog1a, ullllzou flJrnagen.i tn1CT,..,......,, ~ da nl'io h.avl.a cura para a tullt'f"culose, a tt-r;,j>é!uliflt dtmM~ do, s.r.-!L,
~~H~- -~~~ ~ rim não foi c01tiatada até :t chcpc.la do$ antibiótico• oo.s éinJJ'$ t<;4{1 Koch
paa rowprovar&e<1s1rncta rfa doença do oono. Até então, Pt<'ViJJe<:1a ~fi
lndícou qu~ o bacilo l'rn transmissível pt'la5 11ecteç~s do, f'nfttmrJ.S ~pie
~iu p;iri's O pr('rollCl.'110 de que o lt'laJ~ia era urn çomportam~I.Q lnerf'lltrr pcrmanttt"rlnm no ar ou sob a podrn, Consequenr.crnetite. a ~ari.a e ,.
am natlvos d;,s i:olóma, fT1nusas na Africa. Blaud1ard se torní\r'~ rn1t desinfecção de pertences ~soa i!J se t.r.,maram r<",g,,~ ck HJ&em- Pút,!tt:.i
ta ÚTfl dr-<
ptln.iettris coru&Jast.u do doema como meio para disserninar inf<tr . · (~rtofh. 2001. p.39). Dif~ente da Imagem do poeta boroilo e acfütk-ado,
de saúde ptíbL,cn. Qyafro anos dcpoiB. fundou a Liga Sanitáría r~ a tubcrculo~ começou a ser vístu como uma doença d0$ opc-t á11o:J qu(' -.e
dll«!a
Conlra a Mosca e o Rato (ligru: Sanítaire Françaibc contre lc M1iuchrt1k · amontoavam em fábricas abafadàs e corHços hualubres.
Rol} t produziu filmo sobre as precauções contra ~~s J.lustres prota_go- A.5s11n. quando não sob .i forma explícita das gra~ rcfonn.&, tu ·
banas que previam o atnra1nt'Tlto de charcos ou a abertwa ~ -,verurun
m5ta.s do ,·,nerna sawtário. aos quais M! uniria um g:ra11dtt elen.co de ,n,,
para arejar as cidades. o hlglenísmo persistiu na assodaçio entre dotnca r-
rey intfrnJIC'ion.ats como o mosquito da ft"bre amare.la e os élJ1cilÔ'i!o~
ckgradaçáo moral que ganharia novos contornos com o advento d.t ntitro
Aw rank ar. filmt>s de Blaoch.a.rd pas:sanaru a preconizar a mwLlnça ét bio logia, Mais tardt', já sob a tuteJa do neollbt-r.a!ísmo. C3sa ~por.dên~
háhtt<t, oo comportamentos como o alcoolismo por meio de rwrativi: era fol ck"Slocada para o campo dn responsab11idade !ndividu.d. :~ t . ~
mora.liuntes (BJoo.rn. 2008. p.106). Como veremos adiao.te, a tt:ndtr-.aà chama<io.s "comportamentos de risco·
moraluante do, filmo educativos em saúde foi acentuada pelos~-i- Para comprttndeT as traruform~ões dos conceitos dt' ~iii:k e d~
mentos da próptta t.rufústri.a cinematográfica quando, a part1t da I C-JJCr.a no sic-ulo XX. pori.1nto, este capitulo apresmta uma anáJist: d.as narraev.u
Mundial, o mrludrama. de origem norte •am.e ricana passou a- dofDJiili, ~ sanitaristas à luz dos melodramas sobre a prevmção t' o tratamc'nto <ÍJ
tubercui~ e dos /iJmrs educativos !iQbre as endemla.& rur.i~ Respen.tva•
s.a1a8 de robícao.
tn('nle, Hope: A Red Crcm Seal Story (fapeTall(a· uma histórta do 5do da
,...;o inicio ,lo século XX, portanto. confiantes no fasci.oiO do ór.n=a
Cruz Vermelha, 1912}. reafü.do pelo!! estádios de 'Jhomas EA:fü,cm pat3 li
31;~" pub.li<..'O. médicos e cient~ decidiram cxpJo~ a nova mid.lil ~ NationaJ Assoc1.atíon for Thc Study and Pr<!Vmlion o f T ~ t s {A3sc-
dlvwg.a.r infurmaçõcs tm larga escala Todavia. com as suas .s.a}as ~ d.açio NaclonaJ de Estudo e Prevenção d.t Tuberculose. ~AS-PTI e a Cr.r.:
mal . ,~;,,:
e vffl111adas. onde 5<' amontoavam plateias nutnt>W~ · if'OW Vermelha. e Lo límpte=a trae lnleno s.alud m.1 Cfnm~ i'irtnl? ~'th
'
0 Cln.tma ' · · ,l<fa~ ~ 1A hmpn4 a.trai sal.Ide, 1944). U4l d~ rul°bU"mettaft!Tl.'S ~ .trut:'...a\-"'10 it
- ~ítnboio do aY..mço ci<mtlfico (! dos 1df!:a1.s da \ ·
. . tnâJ ~11fr.lC> Wa!t D1snt•y Pkturd p;1ra .1 dn1s.ãt> mttmaciar:aJ Ja f und~çà.o , ocldr-i!~
uunbem ~TS-OUitka~•a a antíte~ <los precCJtos h igietustas ª . ..,e:
.11 ......
· 't'' "ar 00 t'Jltusia.;mc. o cmem..i também foi durrunente C()
mJr.i.tido •
..
J P ' IVAÇÁO ,. .~AúD1>, c; u r. rU HA e Mf o r"
5 oi sv s
o1sro~1r1v.i

! C O R SA C /IAMtNIO R J l/ 1, 10 í' U A/1 SA !'U : ll fS (rHHJ S ./


:NTIFJCOS PARA QUEM?
FIL)ffS CIE
e organiw,ão da educação san itá ria e Gaumont e do Instituto Pasteur. Como o original se perdeu, a direçã~ é
o processo d . . O,no di., .
Du.ra.nt~ . 1 a parasilologta ditaram o tónica do . Ctplin atTibulcla a Oliveira Borges, cujo filme sobre o mesmo assunto é mencro·
r<{icillB rroprca e . s Pr1rne1 . d,
am b prevenção e profilaxia. Por um lado O roa u,~ nado por Oswaldo Cruz em uma carta de 2<, de março de 19 11 (Mames.
ÍlflOS so re · rnovi 111
cu.niciir itrOU no combate às doenças tropícais J>or en10 sa. zo ts. p.23). Segundo a Cinemateca Brasileira, o filme de dezenove minutos
• w se conce• . que516es
nitaf'IS _r: midades como a rnalána e a febre amarela . er.o, sobre a camp8Ilha de Oswaldo Cruz contra a epídcmía de 1903 foi cn con·
ómícas - cruer . preJUdic irado colado ao documentário Febre Amarela: preparaçdo do vacina pela
n • das colónias europeias. Por outro lado. no âmbit d ª~arn
a exploraçao _ o ornés Fundação Rockfc/ler, produzido pelo INCE (Instituto Nacional de Cinema
• 11 ria para a erradicaçao das grandes epidemia~ _ . tito,
0 (oco se vo 'li . • • lllu11as e Educativo), órgão dirigido por Humberto Mauro, em 1938' . Combate á
ições advindas das guerras, do propno colonial• a~.
sadas por cond . . 1srn0 ou Febre Amarela não se direcionou apenas à comunidade cientilka: o filme
• 1 dustrial - e das endemms rurais. Na passagem . d.i
Rero luçao n . . Para a so0. combina Imagens macroscópicas das larvas do Aedes aegypti a uma abor·
·ta1ista. as pestilências e vemunoses constituíam um r-
dade capr . entrave . dagem didática. O fil me. porém, não se limita a cxplic.ar os métodos que
~~ 0
. marítimo e ao suposto avanço incessante do progresso. ao previam a entrada dos agentes sanitários - os "mata-mosquitos" - nas re-
Em uma época marcada por grandes transformações técnicas e , sidência~ para eliminar os focos de proliferação ou o isolamento doméstico
. d. . d t . c,en-
. consolidação das m ustnas o en retemmento e da publ· .·d dos doentes. Uma das cenas mais interessantes nesse sentido apresenta
11il,as, 8 . . . _ ICJ ad,.
0
potencial dos filmes med1cos como atraçao popular foí percebido
demora. No Rio de Janeiro, António Leal' documentou a separação
gica de gêmeas xifópagas pelo médico Eduardo Chapo! Prevost em 1907
r:i: três enfermeiras cuidando de um único paciente - uma imagem para ate·
nuar o temor da internação compulsória.
O interesse de Oswaldo Cruz pelo cinema se justifica à luz das im-
Ao contrário de permanecer restrito ao círculo médico, Operação das Ma- plicações da campanha documentada pelo filme exibido em Dresde. No
rias Xifópagas pelo Dr. Chapot Prevost foi exibido no Grande Cinema- comando da Diretoria GernJ de Saúde Públíca, Oswaldo Cruz empregou
métodos que consistiam em isolar os doentes nas próprias residências ou
tographo Parisiense de Jácomo Rosario Staffa. localizado na efervescrnit
interná-los à revelia no Hospital São Sebastião. Revistavam as casas sem
Avenida Central (Gomes, 1996, p.26; Johnson, 1987, p.28).
a permissão dos moradores e imóveis eram interditados ou demolidos.
Em 1911, e com um propósito diverso, durante a I Exposição Interna·
Consequentemente. no ano seguinte. em meio à devastadora epidemia de
nonal de Higiene em Dresde, Alemanha, a equipe liderada por Oswaldo
va ríola no Rio de Janeiro, a memória dos métodos invasivos da campanha
Cruz exibiu quatro filmes em sessões lotadas, ta mbém, por um ptibliro contra a febre amarela se somou a uma explosiva combínação de fatores
leigo. As sessões incluíram os seguintes documentários: a campanha Je - a crença nos miasmas. o antagonismo dos jornais, desemprego, escassez
controle da febre amarela no Rio de Janeiro; um estudo sobre crianças in· de moradias e a violenta política econômica do Encilhamento. Para acírrar
fectadas com a doença de Chagas em Lassance, Minas Gerais; a fabricaç.ão ainda mais os ânimos, a vacinação compulsória foi decretada, desenca-
de soro aoriofídiro no Instituto Butantà e da vacina contra a tuberculost deru1do a insurreição popular que se tomou conhecida como a Revolta da
bovina no Instituto Vacinogênico de São Paulo. Vacina (Sevcenko, 1984).
A cópia disponível de Combate à Febre Amarela (La /utte contrr la Já às vésperas da J Guerra Mundial, a indústria cinematográfica e 0
Fievre Jaune) ou Serviço de Febre Amarela, supostamente realiiado em seu circuito internacional de distribuição haviam se consolidado sob a

º
19 6• apresenta intertítulos em francês, além dos logotipos da produtora ~.Disponívtl em: http://t1nemotl'Cll.gov.br!cgi-b111J wxls.exe:iahf?ls.s.Scr1pt•1ahí iah.>.u;&
basr • fl L\ IOGRAflA& lang -P&nextActlon•seard1& exprScarch- 1D• OOO 12 7&form al • de-
tailcd.pft Acesso: ngosto.' 2016.
: Diretor df Os Estranguladores. pnmt'iro filme ficcional bras.ile1ro de suCCWJ·

60 ól
f'.'.j::;r~--,,;,,11,.,_.... O SA UOK, <, U 1, TU li A I'; MI 0 1A
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thías fra111:t•sa.s. Duranf(' o guerra I ,
111 d,u compar . , lorern i
/fC$t11lílO • J_1,.,,te 0 ~ seus proprlos filmes, grand · llli)n4
. . . de /erar a ,... . t',5 r
srbilfrodi» . G· urnont viram-se forçadas a substituir 0 P !l(lutl). termo adquiriu na c-uhura contemporânea, ~gundo Ben Singcr, m~elotlra-
Porlre e 'ª seu rna é um estilo qut' apresenta quatro cllracterfstlcas fundamentais ; palha~
rJJ como td dr pela distribulçilo d(' produções norte- Ptinci.
de aúv a . arner·1 lnlenso, emotividade acentuada, polarização moml e efeitos espetaculares
pJJ ramo . odJano se tornaría predominante no tnu . d Cllna,_
dtlo !Jolfywo li o, csp , .
() rno d d 19:io com a lntroduçflo do cint•ma falad ccí.JJ. {20 JJ, p.7).
itnlt "ª déca a e d . fll
n ii.iiadOJ Uru dos rnroduziu a·rca e J.300 mes silencioso~.
. o. Até 19
b 27,
Não necessariamente presentes ou dístribuídas de fonna equilibrada
' ,,o re s· . e cun 5 tantc em um único filme, estas quatro caracterísHcas podem ser
os de doeuças. alcançando milhões de espectadores âa v ,' <l\!de e
pr<'"tnçâo ) E d I C«-s co compreendidas como rnodulaçõa emocionais da narratíva mdodramáti·
, ú uJ (Pemlck, 2008. p.19 . sse es ocamento do ,· tn
um urmo t o . - • eixo da f ca. Mesmo s<1parados, esst's clemenlos estão presentes ern muílos dos pn·
· tognílka afetaria nao apenas a fortnQ., mas as p . , rr-
dustua Clf)etna . ratrca3 dt melros filmei; flcdonais desenvolvidos por associações sanitárias. Assim,
.A illcance dos filmes de saude.
dmrfbui,-.,o e O . . pode-se afirmar que grande parte dessa produção se enquadra na fónnula
NOS.pw . ;,... envolvidos, a guerra deixou um cenarlo desolador \ do 111elodrama (Pemidc., 2008; Posner, 2012).
,.., · I O r"c!Stro
1 ,..,0 somaram -se graves problemas de saúde pública d Na rrança, por volta de 1800, o termo "melodrama• foi usado pela pri-
d Ir
de r5 u 1.« • • • • Clllrc os
.,,.. drmía de gripe esp,urhola e a alta mcldencla de sífilis meira vez para designar a nova forma de expressão teatraJ que surgiu com
qua jsa rw1 • . . · 0 COotro/r
do /luxo de untgmntes, produtos e matcna-pnma nas fronteiras se torn0u 0 fim da censura aos diálogos nas dramatizações populares. O melodrama

objeto de um;i ~rie de conferências das autoridades sanitárias internacto- passa, t'ntão, a ser reconhecidu como um género com estrutura e elemen-
11.'llS (Horhrnan, 199/l, p. 217). Nesse co texto, T11e End of the road (O fim tos próprios. cujos efeitos provocam intensa sobrecarga emocional (Singer,
d.t cçtrada, 1914) e Fit '" jight (Nascido para lutar, 19H) foram filmado, 2013, pp.131-132). A íntensidade das smsações era definida pela polariza·
por meio de uma parceria entre o exército norte-americano e a Assooaç.jo ção entre as personagens principais sem ambiguJdade, as forças do bem
Nacional dt: Higiene para ensinar cuidados preventivos contra a sífilis e e do mal representadas por heróis/ heroínas e vilões eram bem definidas
e o conflito entre elas invariavelmente conduziria a situações extremas,
u gonorreia aos soldados. Após o fim da guerra, porém, novas vcrsõr~ de
capazes, portanto, de estimular diferentes emoções em doses cavalares.
ambos o~ filmes e111rnram em cartaz no circuito comercial._ Essas adapta·
Os vilões deveriam ser tão odiosos quanto os heróis, inocentes. Assim, o
ções c.,iusaram tullJI polêmica· acirrada mio apenas em virtude da tcrnálira
melodrama, tanto na expressividade exagerada dos atores originários das
sexual, nras porque muitos cincr111.1s passaram a explorar exatamente t'3se pantomimas, quanto na reaçào do público, era inteiramente experimenta-
aspec10 dos filmes para atrair o público (ParascandoJa, 2008, p.73). do com o corpo.
Qyando os Estados Unidos incluíram o circuito comercial corno fina· No melodrama de origem francesa, os enredos são movidos por um
/idade dos filmes sobre a preve11ção de doenças venéreas, o discurso cien· poderoso conflito entre personagens das classes populares e da elite. Ã
tífico ~e alrnhou deJlnjtivomente à indústria da publicidade, inaugurando, luz dos eventos de 1789, o melodrama pode ser considerado uma for-
assun, uma nova corúlguraç.ão que também consolidaria a autoridade do ma narrativa inspirada nos ideais revolucionários de soberania popular
médiro (Warner, 2009. p.19). Os primeiros filmes sobre a saúde produzidos e democracia. Les victims cloitrées (As vítímas enclausuradas, 1791) de
nos EUA também rt'correram à comédia e out.ros gêneros que, na época, t Boutet de Monvel é considerada a primeira montagem de um melodrama
ptrmant'.Ciam indefinidos. Da mesma forma. na década de 1910, «melodra· , (Ledger, 2009, p.75), gênero que se consagraria na lnglaterra e nos EUA.
rm( nâo correspondia a um gênero específico. mas a um leque de subgê- , No berço da Revolução Industrial, Charles Dickens se tomou um dos seus
0 maiores representantes. Alinhado com os ideais da Revolução francesa,
llt>ros como os '>ériados de ação, por exemplo. Diferente chi acepção que

u 63
0 1sPOSl flV OS DJ! s u e J ETI VAÇ ÃO: S A U D E
• C L L1 l; íl A E M f u,1\

ou as desigualdades instauradas no rast I GO H S AC RAM E NTO R J U l. 10 C l!SA R 5.\N C H l! S ( O H<, S. )


Dickens retra t - ro do
r meio das pesadas sensaçoes provocadas p capita];.
rno<krn° po . . eIo co fl· .,lllo
. «adoramente desproporc1ona1s, como <'rn 01 . n 1t0 ~ reside no conflito travado entre o herói e o destino que lhe é imposto pelos
torças esn1at>, , . iver Tw. ' lllre
. do novo mundo das fabricas. do consumo e da 1, 1st. lnd· deuses, o principal confüto de Espectros tem lugar no plano sociológico - a
sociave1 ecnica 1~
· Pott esfera onde as identidades são distribuídas de acordo co m normas morais,
05 melodramas . anr0,
Jurídicas e científicas (Newton, 2008, p.12).
(...) ofert'Ciam uma forma dramatizada para a d A trama da peça gira em torno de Oswald Alving, que sofre uma série
s a Versid d
guranças do mw1do moderno. As massas urb
anas se idenª es. e in~. de transformações fisicas e psicológicas decorrentes da sífilis adquirida do
com as situações nas quais boas pessoas enf:rentain a ltficara..,.., pai, o incorrigível Capitão Alving. Helene Alving, acostumada a encobrir
forças que escapam ao seu controle. Pobreza t . arneaça de as escapadelas do falecido marido para manter as aparências, envia Os-
' es ratifica • waJd para estudar pintura em Pa ris, longe da degeneração paterna . Porém,
ploração de classe, insegurança profissional ac·ct cao e ex.
. . • . ' 1 entes de Ir3 dez anos mais tarde, Helene não apenas descobre que OswaJd desenvolve u
sistemas contratua,s 1mp1edosos para aluguel e .
eniprestirno
balho.
a doença congênita, mas também se envolveu com a críada Regina, filh a
ceiro - estes e outros elementos semelha ntes da findJl.
nova ordern . ilegítima do Capitão. Entre outros dilemas, como a eutanásia, Ibsen expõe
capitalista (Singer, 201 3, p. 133). SOcíaJ a problemática associação vigente entre doença e desregramento moraJ.
Na segunda metade do século XVIII, marcado pela consoBdação do
Nos EUA o melodrama ganhou vida nos palcos dos teatros bar t capitalismo e o fluxo de camponeses em busca de trabalho que originou
· a me
populares. tornando-se alvo do desdém das ca madas abas tadas. No entan• ;is massas modernas, a medicina social surgiu como forma de controle da
to, Hollywood seguiu o modelo dos melodramas teatrais à risca e, espe- salubridade. Nesse contexto, a preocupação se voltava para o ambiente -
não para o indivíduo. Para erradicar a propagação de doenças, o movimen-
cialmente a parti r das inovações de D.W. Griffith em relação à montageme
to sanitarista, ou higienismo. articulou-se em tomo da teoria miasmática,
planos de filmagem, o melodrama começa a deixar para trás a imagem de
isto é. a ideia de que emanações pestilentas do solo, do ar e da água - os
teatro filmado para se transformar em cinema.
miasmas - causariam a transmissão de enfermidades e a contaminação do
ambiente. Esses vapores insalubres seriam provenientes de dejetos, cadá·
veres, da estagnação do ar, da água ou da terra, e deveriam ser tratados
O AR, A ÁGUA, OS LUGARES E OS CORPOS segundo os manuais médicos (Tomes, 1998, p.158).
A teoria miasmátlca, porém, não se originou no campo da medicina
Sra. Alví Espectros! Qyando ouví Regina e Oswald lá dentro, foi social, mas na Grécia do século V. Em grego, miasma (µlacrµa) correspon-
como se estivesse vendo fantasmas. Tenho pensado em todos nós de à "poluição", tema abordado por Hipócrates em Tratado do ar, da água
como espectros, pastor Manders. Não é apenas o que herdamos dr e dos lugares. Para Hipócrates, os homens são acometidos por uma mesma
· que vive
nossos pais , mas to da uma serr
. dentro de nos, · ·e de vclhai • enfermidade porque respiram o mesmo ar contaminado por núasmas. Po·
rém, se para Hipócrates os miasmas são entidades naturais que infectam
ideias mortas, de crenças mortas, coisas assim.
, "(JSSl) os corpos a eles expostos sem distinção, em Édipo Rei, a palavra ª miasma"
Henrik Ibsen, 'Espectras
é empregada com uma conotação moral. Na tragédia de Sófocles, a pes-
te que assolou Tebas após a morte de Laio é causada por um miasma : a
Crit ica co · d
rrosiva a moral vitoriana, Espectros descrita corno
p ode se r
.. mancha de sangue do rei, o indício de um assassinato. Isto é. o estigma de
uma trage·d·ta moderna. Diferente da tragédia clássica, cujo eixo
. · d aJJ18ueo
r Édipo, o parricida Oouanna. 2012, p .1 55).

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,,1~rr •~1 r1 • 0 ~ ('S H I RJ !!fJ\'I Ç ÀO ' S.\l' l)E ' . ~Ttr
c:u • fl A ll Mf o1-'

1 1U1tt'S das pesquisas de Pasteur e l< . n L I GU!l SA C ílA MF.NTO H J lJ LIO C l, S AJ< 9 1\NCH/d (/JR n S' )
l)r modo gera , 0'-11, S.1I 1
·te bubônica eram co111aglosas e qut- os _ . i «·:.e
a \ áJIOl,1 ,,u a pts . . . • Pronno , qt,,
. . ,,01 ,neio de algum efluvio .invisível PQr n . s doe,
ª' tf!lfl"'rulfrun r- º ,
. ,.\creditava-se que as roupas, len\'Ois e os
IC10 do h
áltt
l1c,i do ar - e sociais. E~tus úhimas estavom reL1cionadru; principalmente aos
da rran.sp1raÇOO,.. . . CJccrt'.'nie 0 e~, co1ll,:os e moradias abarrotados que abrigavam os hnbítantes pobres da
, ta1ninariam os ~ãos. Os samtarlstas simplesn1 . nro~J0 rapttul do lmpério. Dessa forma., o desordenamento urbano e a higiene
enferroof nm · . entl' I 1
i
UIIW j( eia b '
~eneralizada de que as doenças .senam transniítJd
, . os Por
"Plda,a,,, .,, prcrá1ia <las aglomerações eram apontados como ameaç11s à saúde fislca e
., ·semente· Assim, medkos, engenheiros e inarr/str• d ulllii e,. moral da populoçiio. Ern necessário transformar o Rio de J:meiro cm urna
pecle ue _ o a os se u .
e um projeto segundo o qual condições satJs.fato· . nlr:ui, ·mcrrópolc .salubre e moderna• (Benchimol, 1990, pp. l 16·118).
em ronlo J · . . • rins de '
erJOI 11 resposta para erradicar os m1asmas. Conseq·i " >an<' a , Como instrumento estatístico de saber sobre as populações, a medi·
men1o . . . knte,u0,. dna foi intt•grada ao µrojet o de governo das massa~ para organJzar os
1 .1 ,. 5 n11ro aka11 çar esse ob1etlvo Justilkaram a interven . . 11 ~.d1
mcui= ,,,- ,;ao n1~di . corpos 110 espaço liocial. Assim, não é estranho conceber qtic a cr1rninolo-
t"spa{'O urbano e na \'ida privada. Apesi1r da teoria dos gctmes. as ca nn
gla viesse a .srllr ular todo um sistema de vigUánda e controle inspirado
Je ordem •varrer. areJar e es metitr nao smram da ordem do . rai
. d 1-~ tt • , Palav
. h t· dia. l>d no ollinr da clinica. É a partir desse entrelaçamento que podemos falar
rontráno, a ideia do.~ m1asmas se a lm ou per cltamente à teoria de f'll4t~~ de "mcdlcallzaçào". Portanto, a função de "vigilante moral'' que caberá
(fomrs, J9<18, P· J). · aos médicos no sé<'ulo XIX derivou da necessidade política de distinçHo
Na frança, a medicina social assumiu um caráter de control entre os aparatos a serviço da repressão polida! e da assístêrtcia social
e cole11
\O semdhaute ao modelo da quarentena. Os seus principais objetos dt (Poucault, 20040, p.44). Con6cquentementc, o foco das campanhas d,• hi·
a~:.io cons1St11un cm zonas de aglomeração ou risco e em provJdêocins para giene púbHca se volta para as ações individuais, sobretudo as priiticas Jmu·
melhorar a cJrculação da água e do ar. Somente a partir da epidernia de nes ao controle legislativo - os hábllos cultivados na intimidade que não
cvlera em 1832 que a população proletária se tomaria o foco de temo- podem ser modificados por medidas eot·rdtivus romo quarentenas, deten-
ções ou varfnaçõ<.>s compulsórias (Perokk, 1978, p. 21).
res e inter.ençào sanitária. Na Paris do U Império, o l:'Sp11ço urbano fm
No pláno JurfdJco da S<'gunda metade do século XIX, a múltipla ac<.>p-
reorgani.rodo. sepa.rando pobres e ricos por medo de contarnim1çiio (fou-
çilo <lc "doença" - distürbío fislo/ógíco, psíquico ou moral - resultou l'm
nw/t, 2004a, pp. 79·88). Doravante, é necessário desinfetnr, de1indoriwrr
l1mn sfrie de medidas arbilnírias para resguardar a salubridade das clda-
desaglornernr os oper.írios que habitam a cidade (I'errot , 2001, p.3 14). <fes.. Cofncldt"ntc1 com a rcgulamc11tação da profissão médica no lnglatc·r-
~ ,ando a.s classes operárias se tornam a fonte do medo crescente Jo ra, por exemplo, as Leis das Doenças Contagiosas de 1864, 1866 e 18<>9 fo-
cont.-lgill, os corpos passam a ser dassitkados como limpos ou sujos. Ool- ram motivadas pelo aumento dos casos de sífilis entre as tropas. Contudo,
fato, ate então habituado às secreções corporais e aos excrewentos .11imda1 au mesmo tempo, essas medidas tronsformaram a prostJtuíção no "grande
diarfamente nus ruas, adquire uma nova sensibilidade. Surge a indú~inA mal da ~ocíedade". De acordo com as novas leis, policiais e médicos po-
de P<'rfümc-s ~. com ela, a distinçiio social pelo odor (Corbin, 19137). A00 dafom dC'ler quaf~qucr mulheres suspeitas de lti.lnsmltir a sífilis durante
gero das doenças passa a ser atrJbuída ta11to ao umblcnte quanto no cspaÇll llés ou até seis meses. O próprio Jhc Lanci:t conclcunou à detenção de sus-
peitas, como já ocorria em relaçfio aos portadores dn febre Lifóldc (Mort.
waal, onde os mais pobres, inevitavelmente, se tonwríam o foco do~Jlllc·
2000, pp. s:1- 54).
res.m poltctais e sanJtários.
A intervenção crescente do estado sobre o i-orpo gerou resistências.
11Na
No Rio de Janeiro, a medicina social adtjulrlu os cQntornos de luna ·w florcnrir Nightmga.le, pioneira da enfermagem profissional, não partici-
'j " · u!lttJJ1lll
' · m.e, ira - Os foros de insruuhridade se dividiam entre caus.:JS pava abcrtomente dit Ladies Natlonnl A11sociullon for the Repeal of thc:
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1.. ª umc o, pantanos pestilentos, morrQs que obstruiam n

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l<IJl.q_ •qurnt<'tnrnte, ,1 ,nio/!em dr pólidos JJc> r. ..
t,isso k scnsíbi~J11de, rermfu,m, por pt>n.•cer cxpd111J , , , ~onndo~qu <', r1uJn.,;,, Em Jf/f/'J, por oi:a,~ifüJ do cr111cnárlo de! 11u~clmcnlo de l!dganl Allen
O
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r. em seu lugar ~lll(nle• ~d/t , ,1l"-lrt,'
l\w. <..irftnth dirigiu O Curvu (7111! Ravcri), Coru II dramotlcldoclc exacerba·
~e l'cr,.
d11,.pie caroett:'rlz.1o obra de Uriffilh, o illmc condcnsu uma biografü1 fon -
tu.,11.,)a do rscrflor tru -.t•tc mi nulo). Na versão de GrlJflth, Pot: S<:' enco11t ra
( 1 J?u•SC inicio J rr1i~o lht intllge111 frnpur J . 1·rn 1 ,ltuarlio Jc ab~oJ·u11-1penúria. AJé111 d1sso, o cspo~a estó multo dcbllílo·
a li ••o~ li
nwntrmlo·se fiel 1ws dích~ e~ploradcis pelo t
- . . Ollll1n11, 111
'''º' ~ d.i rwl11 tubrrculo5<'. O mestre da lit.ernturn gótko d.e vcrtcnlc nortc-umerl•
J Cllblr ~uemas ro11t.le11udou:.s da Ir.• '<J
1<'tória l 1(' Yl.(fa C\ ~, l':11111 roncd.1e o seu mJ.11$ famoso poema e tenta negoclor a publlca('tlo cm
'b 'd · · t' t d d r dc•s l'l'e
l,,,r111 mrnros ntn u, os aos a e a os o pdto, O•., l ltl~o,
um Jo111ul, 11 tempo de ob!tr 11lnht'lro paro cuidtlr da mulhn Paro acc-ntuur
ment<~i sonlllS t" ~1111itários Qllt" foram t'Sboçado.s - Pi•l1"''ti u c·;tr~p d, arn:ítlra, no filme, qua_ndo />oe finalmente ronsegue vrnder o
nuqurlr 01 pt1c•11w t' volto para casa animado e tarde demais. No verdade, Vlrglnla EII·
ro rurnpri,un o papel ncgudor do bMrnf11 r ct11 iubcrr º11:-:.;.
1
u,o" 1,u Clrmm Poe faleceu Je tuberculoS<' em Jll42. dois wws após u primeira
nuros da camada culta <' t'legarrte, tl"Cônhcccud . ~
. o .1 t,1n~un,,. publlcaçiio de O Cor11n.
romo rnfrrmfdad~ proprfa d11 popul11ç,lo pobre c m, ·-,~
. "rg1J1.1J1Z1.tt 1. Nt•ssc curto 111elodnuua. a tuberculose <:orno símbolo dos condições
pnrtlr dr entáo.•1 IO~n.·ulose fo1 assocmJ u à m,,fo,1 Jc pobrc1A1 e tlC'cndénci11 estóo sf111adas ll.lnt o esforço dos médicos para
qur d1111t.-.
., /umpt>111prolrtan<1do e os lrabaJhadores mdtL~!nQj• ~ • 11p11g11r II imab-cm rom.lntica ('uftivatl:1 por autores como o próprio POt'.
, . . . "' f llunt lllr,/
uuw lrgiào dr m1ust1çaJos que Fnednch En.t:eh llltJl,5-0u Combater u n,socwç•íio eu!rt· tu!Jcrculusr e scnslbllldadr como lapidada
.. A ,, ~
11 perSp<'Ci iva SOCJO1ogica ern .:-1tuaçào da Clas.1,• TruballiaJ.,, por Po<', Hyron. Shellcy, Dumas rdho e Oscar Wilde, denlre rnuilos outros
na /ngl.ircrro e que Vir tor I rugo Jraurntizou por melo ela Cfl",i c n11ton:s, tomu u·.\ r 11m projeto e,rttirn da medicina. De acordo com Martin
l1tmí11.1 em Os Misaá1·c!is (Brrtolll. :!00 1, p.411). :-. l'rrnirk, no cintrua, os méclicos drsenvolveriom uma reprcsi?nlaç-.io niio
11prn11s de1rradan1c, 11111$ repulsiva para o tuberculose (20015, p.2?).
t:nl rc 1910 e 191 5, a equipe de TI10mas EdJson produziu seis íllmes
\ falç ronvenieutt• à moralidade sauitaristu do que a palid<'7 rom.inlltl
p;1rn a NASl'T r a Crui Vrrmelhu. Além de elucidar as formas tlc contágio
11 uo\ ,1 R'p1rsentução do tuberculoso resulta de lltlW nsso<.:iaçiio rlll,1 ; r tr.1111mc11to, os ílhncs tinht111t wm1 fin11lidade pmmocionul: a venda de
peste branca• e os comportamentos extravagantes. Essa rcpreseotaç.io ~, ~elos naralinos da Cnu Vermelha. cujo rendo seria revertida para a cons-
riba reptrrussào no Brasil como se vê nas iJustraçfü>s de Valt- parJ JMc•r~ truçfo de :,anal,írlos. A s~ric de filmes Inclui 1/ie Red Cross Seal (O Selo da
de uma C'Oalte, publicada no j(lrnal carioca O Tupy em 1872. Os drSEI1,~, Cru, Vm11dho. 19 10): 771(• Ah·ake11i11g o/John 8011d (O desperta r ele John
1n-0~rram as dr..sYenruras de uma moçoila que, após se eutregar íl cnronuo· Bl•ml, 19 11): Jlopr: A Rcd Cross St!al Story (Esperança: uma história do
l.ibertiws, r.u viNmada pela terrível doença dos pulmões (Soms. 1°q• r ~elo da Cruz Vt'1111rlht1, 1912): The Price o{ Human Lives (O Preço da Vida
Humana. 1913). 71,e Temple ofMolm:h (0 Tt'rnplo de Moloch, 1914) e The
l30) !\a A1-gtntma. a ruberculosc se trn11sfomrn em uma docn(il 11'• .1'
• Ji Lone Game (O Jogo Solitário. 1'115).
no inicio do St'("U/o XX. passando a ser atribu ída a uma combtr.JÇJ''
Por ('Ollslstir em episódios ammis, a shi~ é parfü:ularmente relevan·
.~'[h •
trabw_ o esiafa11te e margma/Jdade feminina pcr.-,onfftcada pe ª> ni __
l · oça> -~
I<' porque pennifr o acompanhamento das transfonn a(·ões e vari.u\·ôes
burbanas . que ou,sam S<' a\·e-i1turar no mundo do trnba li ,o. s·ao aç· ,111ftmõ ..
da representação da doença ao longo <los anos em que foi produzida.
tas, dS cr,~turwinlus tísicas cantadas pdas letras dos tang<1s que. ari>' .~
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01sru;1ri ' º s o& SI sJRTll'A<; ,iO : SAÚD!! • RA I'• ,\ f (
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1oJron111
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liOr- foi escolllido .para. esta análise p 0 rque d , IGOR SACR AM tNT O E J UI.IO CF.S AR SANCJIRS ( 011( , S.)
O 11 '"' d 1, 5 narrativas san1tanstas por 1neio d0 esloca
co1úJ•
d<' OJº,~lida
..
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e( u ·
rópria tu bercu 1ose.
01 ,
11o ~llt r ,,, ·
. f,Jith e a P re
roina rd com Singer, uma planilha do esttíd.i '- não ,o111nrniná-los. por acaso, a heroú1a cncou trn o.ç panfletos da NASPT e
!k aro o . . . o e1e tct·1 dn Cru1 Vermelha no bolso do paletó do pai. Enquanto o primeiro é um pc·
_ rodução daquele ano nas segwntes cat . son d
dasWica~a a p . . . . . . < egonae e!•. qut•no manual sobre prevenção contra a tuberculose, o scgu11do, cujo titulo
histôrico h1stona iacnmeJante (sob sto ) illcloct '·
drama. dnuna ' . . , . · ry, hist0· . 1•· t ·'cspernnça' (hope), apresenta a dramática imagem de mãos louvando
. .• omédfa pastelao e comedia leve" (20 13 _ ria 'l'lf "
;oe10log1co, c . , p.::i). lJ l.iJ, uma cruz bri lhante, acompanhada por uma citação bíblica: "Aqueles que
. tA;ristas da série. James OppenJ1e11n, era reco .. Ili dus, ..,
C1pa1s ro ..... , . 1u1erido P~.:. viviam nas 1revas avistaram uma intensa luz. E a luz raiou para aqueles
. . ocial' Oppenhrirn tambem e autor do rote · con-,o qu.: viviam nos domínios da sombra da morte" (Ma1cus 4:16).
' escntor s · . • . tro de 11ie ·,
ltrs·ness (o crime da negbgenc1a), propaganda nielod . cri·,,,., Para Miri11m Posner, a sequenC'ia de planos alternados en tre os panfle·
carr .) . . rauiár
segurar1ça P .
:ira os operários de fabnca produzida pela Ect·isou St 1"'1 1c,,,r, tos e a personagem evoca o corpo e a alma, indicando que a ciência se une
il religião pata persuadir (20 12, p. 96). Porém, podemos ampliar ainda mais
1912 (Sloan, 2010, p.37). Embora os filmes da Cniz Vermelha
.• . 1• . ~
Ud105~
P<>ssarn .
. \'J·sta enqWldrar·se como soc10 og1cos ern funça- 0 d '' i>' essa compreensão se levarmos em co nta que essas imagens indicam, sobre·
metro • as quest . ·
w, abordadas e pela inspiração naturalista dos roteiros ~ il!
tudo, a solução para o enigma do contágio de Edith - a usura do paL Aqui, a
e1a.,.,. . .. , esses elern .. polarização moral do melodrama se define com clareza. Edith já não é a ví·
-
sa0 an'es mais conveiuentes aos confütos bem definidos q -er:.,
' ue contnb tima de uma fonte misteriosa de contágio. Como em tantas parábolas bíbli·
ara a fórmula emocional do melodrama. Dentre os quat l!I~
P . - ro elernen; cas. ela passa a carregar no corpo a marca (o miasma) da falta de compaixão
apontados por Singer, portanto, polanzaçao moral e emotiVidade a .0 do banqueiro para com os menos afortunados. Transformada em punição
• t I'tuJos comparad os - H ope Tlie Lo C\'
dà estão presentes nos tres , nn;..
' ne Gam1, divina. a tuberculose pode atingir qualquer um pela via do fracasso moral.
The Tt:mple ofMolodz. · Após ler os panfletos. Edi th decide se internar em um sanatório em
Dirigido por Charles]. Brabin, Hope (1912) tem o roteiro assinado·.,. Nova York, mas o pai, ao descobrir o que se passa, coopera com a Cruz
Oppenhei.JTL A história se inicia no escritório de um banqueiro que • \ Vermelha e const rói um sanatório na própria cidade. No filme. o sanatório
ese.,
citado por carta pela NASPT a comprar os selos para financiar a consti,, é re tratado como um recanto acolhedor, rodeado por uma bela paisagem.

çáo de um sanatório na cidade. Convencido de que aquela região j;,rr,,_


Não se veem os sinais da doença - tosse, manchas de sangue. Todos pa·
rl'eem estnr apenas descansando numa atmosfera amistosa. Após a tem·
~
sena atingida pela tuberculose, o banqueiro rechaça o pedido. Em ca,,a,
porada no 11ovo sanatório construído com a doação do banqueiro, Edith f
{
sua filha Ed.itl1 é acometida por uma tosse. QJJeixando-se de um resfll.l,, retorna para casa curada, redimida da enfermidade por meio do arrepen-
Edith consulta o médico da família e é diagnosticada .com tubercu!c:t dimento paterno.
Em nenhum momento, o filme mostra como Edith foi infectada. Aún.~ Os dois últimos filmes da série - The Lone Game e 711e Temple of i\fo-
indic.ação é o panfleto da NASPT que informa simplesmente: a tubercuieli loch - seguem a convenção estrutural do melodrama: os heróis são vítimas
é uma doença contagiosa. Distante da correspondê ncia entre adoecimw~' de forças cujo controle lhes escapa. No primeiro filme, o trabalho excessivo
r pobreza. a tuberculose ganha a dimensão de uma força sobrenatural o, e um erro de diagnóstico somados a condições de pobreza. No segundo,
o <lese.aso de um empresário em relação à salubridade do ambiente da
de um destino implacável. um evento sem explicação.
fábrica. Ambos. porém, tomam a demarcar que a tuberculose é. sobretu·
Edith pede ao médico que não revele a doença ao p ai e parte f'!'
enconr O · e s motiV0!.;1 do. uma doença vinculada à miséria econdições degradantes de trabalho.
rar noivo e romper o compromisso, sem comessar 0 Como Hopc. The Temp/e ofMoloch, escrito po r Oppenheim e .\1ary Rider. a
súbita · · De volta a casa, onde resolve deixar os enres quendos f"1'
· decrsao.

73
72

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p 1<N1~1r1H'S oi: ~ u çJ~Tl \',, ~ .hJ • ~A llO R, CV L'tU 11 11 8 MJ
DI A

•• de Jhr Lo11e~ Ganu.•. também apt'/a 8


me.s.1na role-''º~111 . . n1urn1j,L I C. O R ~~ C~,Hl ~'-TO f. Jll Ltf> l , ~I A II S,U-11. ll l~ (O~ () ', '
.. 111 11 (unre de contag10 tem uma expJI • u.td~r
(kst, vez. pon- '
• ~ _1 da fabnrll, Como Posncr observo. o f11 rnc . ,1.
C'n.ç,.io 1
llg1~h-. "..

s.i/ubrtdoue . . ., _ Cu..rlglJ ""- ~ Proctor se csfor~·u p11111 erguer um p11.otc, -tS olhemu realçud,1~ pt>lo duw
• _ .l'S. Em relação aos pnme1ros, n rncnsarn ºªrllt ~
(10.' r opt·r.trt . . ' 0C.lt1 Pro(.' Pr~
. nda lilnntropia e as proV!Ú<'ncias relativas . Ilia ~ ·1 ,,onlrastt' do maq1.1lagem, ílc:rUI com o exprc&6lnnl'lmo.
0 u11rresse ..,- a s.egtJ ~ 1 o fi nal lnevitovelmrntc trAg,co do professor n-llg:s a wo bbtóna u
l)i , tCl al1~ uJtimos, o filme rcserv11 liçõl.'.s o,hic l'll~a li()
t,alho. ,.J.I3' 1 • . . . <1.s dr hr . ·v. dos outros pcrson11.gcns, Grncc e o estudantl' Dcan que, oo coo1tá1 l.o dQ5
" .. alusão aos sacri.ficros de crianças ao terrível d g1e1ie 1,.,
p. .J1 ). " eus co <v11 lrrniws, pertence a uma fom(Ji11 rica. Dean e Grace :se conhecem por acaGO
rndomido no Vcfüo Testamento é clara: a flibM lll ~ 4• ' quando a moça é atropelada por um bonde. Como Grace. De,m também
rouro m .. ' •ca, po ~
. . . . •ssimas condjçôcs Je lm1peza, tTansforruou-sc em t r ll"itifJ . ' ('(1nt11u a doença t• viaja para o Ot'Slc para se internar. Lá. ele encontrn ,,
sm1:; pc . . • crren0 r,· -<1
•r ra .;; Jo bacilo. Um dos operá.nos coutnu •t do · C/tiJ,,, antigo profes~or à brlrn do morte e recebe uma carta eudercçada á Gra-
4 prolJ1e \ 00
· . . . < en,·a e P<J '"'
. qu• conecta a família proktária .l família do ~rn r n1ti, . cc. Por wa vez, a moç,1 procurou um sanatório onde rt'.cebc o !ratamcnro
uma rew .. " pre!>ári . "
nn1bos _ patrão e empregado - adoecem. Por um lado O, llst:\ adequado. Os dois tomam a se reuni r e, vencida a luta contra a tuber -
de.,.. , ._ . . osn<-'c$,
mdos prla negligênc.tu. Por outro, a famOia operaria ê C'Oildenada S.Up, culose. o casal se abraça, sugerindo um en.lacr românl1co. Nesse S<'nlldo,
11,e umc Game: pode ser considerado transgressor, levando--se em coottJ
íanorJnria. o Dr. Jordan. médico que orienta os trabalhado ~ IQ
e • ~dafar, as leis baseadas nos princípios eugénico, que se enconJravam (!JD vigor
sobre mt>dida~ de higiene para evitar a tuberculose, visita a c-aSIJ do ~
em 31 estados norte-americanos. Se, íronicamcntc. lfope consegue driblar
rio e ensina as regras ocçessárias para que ele não t'ontamine Ojlf::,.
a represe11t.açào da tuberculose pela via da moral religiosa, a dinâmica
'd. · · t
bebê. Além disso. o me 1co u1s1s e para que a cnança seja le\'a<la
· a espo!õ t,
· emotiva própria do melodrama ajuda 711e lo.ne Game a criticar n.s teorias
preventório. um intemato infantil para iilbos de tuberculosos. A ~ar. ~ da degenerescência.
nuer,;i-.
dia a sugestão e a criança morre. A filha do empresário. porém. e~
a trmpo e, novamente romo em Hope. é redimida pelo a.rrependJmen:ol!:
pai. enfim convencido a transformar o ambiente insalubre da fábrica. AS ANIMAÇÕES DA WALT DISNEY PICTURES PARA A

lhe w ne Game, filme que encerra a série, é uma adaptação do;:;- • FUNDAÇÃO ROCKFELLER

T& Playing the lone Game o/ Consumption (Tuberculose: o Jogo ;oh •


Os filmes produzidos pela divisão mtemacional de saúde da fundação
rio da consumação), relato autobiográfico de Thomas Crawford Gaibrt<..;;
Rockfeller traduzem a mentalidade dos seus mem.bros filantro~ como o
lançado no mesmo ano. O filme se divide entre as trajetórias de iró ~· notóno conselheiro Frederick Taylor Gates, para quem ·a doença é o mal
sonagens em busca da cura A narrativa se irúcia na casa do profrssori\ supremo da humanidade. e e a principal fonte de todas 3$ outras mazelas
Proctor qur, para custe.ar o aluguel e os estudos da innã, Grace. ~ humanas - a pobreza. o crime. a ignorância. o \.Ício. a indkiéncia. as ca-
uma rigorosa rotina de aulas extradasse. A tosse const.ante denum'lJ ~ r.:: racterísticas hereditárias e muitos outros males" (apudOsther. 20l2. p.122)
,irá a ~gwr. Como Galbreatl1, Proctor foi diagnosticado com malind. r.i! O primeiro filme educativo produzido pela Rodc:foUer, Uri liooking (M
a tosse insisrent, o leva a procurar outro médico. O professor. ent,:c·. :lts" hooh.·orm (Coro11tt films o( Prondenre.1920), teve por objeti1:o ~la~r
a população pobre do Sul do, Esuldos l 'aido$ ~bre as formas de <'On'bigio
hre que contraiu tuberrulose e viaja para oeste, roteiro de peregnr.a,;ii : ·
e tratamento da anciJostomoS(:, vulgannerue c-onhec-irla c.mno e -~foerlÇa
epoca para aqueles em busca da terapéutica climática (Posner, ioi: P '
da preglilça". No"amentc>, os elcmCl'lt~ fundamen~ do rnelodm-ma e,-
Todavia, 0 dmheiro que economizou não é suficiente p.mi O tr3t~ · tão pre~nt~. mas. desta '<a. rombtna<los aos t>Ít1tos ~ da.\
e ele st vê forçado a aceitar um emprego de carregador. :\ cena t:: ;>

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... .-~r r sli f>... ~ Oi ~1.l DI ET I V~ l, ~ IJ" SA l! fl l\' , \. IJ Lt t •
l'IA. ~, Mln 1,,.
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• .tmntogr"lic.t.S. O füme t<llllbtua ,._


, 11,1:tS uvef{l• 11 ' , . . q-r1:u d r"c oo H C ROl,kNt O I! /1, l l () 1,. li O• ) .tN U HS (O lh, ~.i
'i('llt./( • -~picas ,, roma,ias realistas n~~ (}UaJs t' .Jflt~.
"""'l> t11l(rtlS• . U.tl1 lllc <G; .•
lll'..'l>-. ~-- da dotJl\-'9- c1.msaço constanie e- rnau-,-, illil:1 ,____ •
b< '$ silln>ffi..., . o•P)!.1 Uli ..,,:,.
1
~ "' ,ntr-J O ilrn"ilo~torno po<fe. S('r vene-i,fo .. n - Pu,;J_ A risca pdas ,:amplltlh.U de saúde btai.ile-ll'~ m,,demas EJ1tn•t.inro. not-
"A gutrrn l'\, . -,ll,,1 O)~
' rãnría º. av1s.1 o le.trl'lro, paro em Bt'.'gu,da d 1110 r 1,.. r<'lato:i <ta exp"diçáo do~ mt'dkos 13«-h:sAr!o l'c:'nna e Ariu, Nen·,, do ln1t1 ·
1..-, rom ,guo ,\r I" ·•. tuto Os~a!do Crui ao lnlcrto, do llrasll <'OI l<Jl 7., a!I e.iu.sa.s dt1 íttdolênrw
it.. do oom:0 lntrioa 110 qumtn~ rodeada \te gat J
.-:õ.'ilr.hola 11tt · _ . _ l>On-'O, ~ . ""'- do sertanejo ~/lo atrlbu fd.is osmáç condi('C,es de s.w.came11to Ctlu&'1da.5 peil>
, _•• um eíent1sta exam1J1a uma amo.str(l eolhi·L 8,tjtll.~
\ <l :;eqllifflc-.... . . . . l.lil nu -: 4bandono das rl'giôcs int1·rlomnas pelo própno governo, Os reloto, fo1am
_ n.,.. , roloca sob o mrcroscopm. Dtantt' da plat:ei.a tl'la gt)ta . pubfü:ados pdo jornal O Diário da Ma nhd.
~,l'\~UIV t li . ~tll;>ef '
- -'a a ex.ist~ntu1 das miríades de ~ rc.s lllvtsí.-.. • <ltJ r,, Monteiro Lobato, notório entusiasta do sanitnnsrrw como .sal"--ação no ·
µ,1Dl_pnwl!U . -.1s arne.i , •
c i,. .,,...-nra amda uma t-cna na quaJ s.10 col<>~d,.,_,~,.urnostr-4$·~,.,
0 11u."l(' .i,...,.- don:il e pa.rtid~no da teoria da degencresccncla, romo muitos outro.s pt)·
, duas nrrso11ager1s. A primdrn., caracterizada como ée ~ s1Hvistas, de-screverla o caboclo como uma "praga nacional, urn parasttl\•.
~~ u i' ,,. • . um holll
• e anrest'Ilta.da l'OIUO uma V'Í tima do ,1ncilóstomo • . Cb ~ tUl5 páginas de O Estado de São Pauw tm 19 14 (Oliveira, 2008. pp.66·6 7),
c.tmpo. t' , ' enqll.lnto
rur.da. um esfl.'{'(!\°ltrpo urbano, representa um homem ~SêlUdáv ªi. Qyatro ano.s nuu.~ farde, 110 mtaoto, Lobato voltaria utrás inspirado no
r- . e1e llt:•ro:- ~ dcbiHe provocado pela repercussà.o das conclusõe, da expedição /tigíems,-
Dq,ci.s que médico é apresentado com~ aquele que tem a c-ap:i,ld.:i;~
O
ta, drfcnJeudo a.gora que o ca ráter lndolente at:nbuído a seu personagem
•mamr l) parasita, mostra-se um banhelro externo novo ('rn fou,.a co ~ caipira Jeca Tatu não miús 'ie devia às desditas da meshçagm1.. e tiro ao
e ltll"iMo

correto, altm de uma casa com ext>elente aparntci,... 0 ablôr. . . 1t;
.• flagelo endêmico das verminoses:
(l!)O~to do casf'l>re ml.SCfávcl onde reside o menino do<'nte. E. dO Ílrci ::
filme. 0 espect,1dor é brindado com a inevítáve! moral samtári.'l d., h·,.st,,:-:i , Um dia um ,foutor pon ou lá por caU.'1-a
·a CAS.'i bmpa gaa!meote é wn lar felu., saudável e próspero". fas:. Pt1!i .. da chuva e o-pamou•$f de .talltll m ~ia.
na pe,"<1 de cinema silencioso, que circutou até l 9J6, foi C'x ibidu d~;~ Vcn.do o caboclo tão amarelo e diucro.
~ comerciais. mas n:io sem o~ protestos dos seus propneta-nv1 ~.,, resolveu cx.ammã·lo.
- Amigo Jeca, o que você tem f doença.
prdmam r.ntreter o públiro com atrações menos repulsivas. Se J-'llr i:.-:
- Pode ser Smto uma can~1ra 5C!Jl fim
lado o r~ismo ttt.'Tllífiro do fü1.ne ajuda,•a a convencer a plakia qiJll.,nr
<' dor de cabeça, e uma pontada
à ('x1st~ncta do-s microrgamsmos tran~missores de doe1iras, p,.,r i:,;::-· , aqui no j>é'tto que re>-poorle na carunda.
visão amphada de larvas e vermes morto:s não foi c-on.siderada das ~ - Isso mesmo Você sof1t de anqullo.stomíaR
~ r-.¾davtL, Toda~ia, o filme foi levado para a,s áreas ru nus, coroo a ,:-.u, ' - Anqu1 . o qui?
de- l.o111vtlk onde o seu grande .suces.so convenceu um bom nú.'!!C" J: - Sofre de amarelão. m~e? fJ:na dOfflC}
~ llf u- submderem ao exam.t' (Os.t.her, 20 12, p. J22j. que muitos ronfundtm rum am.al<-Jta .
A,t1 l'1do ds im,esnda bem-sucedida a fav or d.a erred.íca.ç.Jc .:!ah eI, · - fasa ta! rn.k11a não <' .t ~ .fio"
1 - Isso im"stno. Mak:1t-a, ~tz.10. lebre.- palu.. ~
JruJ:Uides do campo. por~ po~za e ignorãnd a ::.e m..L.'õ'tunim s=·b J -~
e ·· ou fcf>~ lllf~ tentt" thdo e 11,
sa~~. com ~ de man.etnl a produzir um coq,o para iJ5 ~
m.-s-tn.J roisa. e.ta cntmden<it' ·,
·llli.ls rU:..tars. um esti>rrotipo mui.to conhecrdo nu Jargão norte: •ar..lW•"'·
..1., . . • t.t M'-- .f\ ~ tambem produz aneruia m,-~u
wn:w "'nl~·mul, - o Juo branro crupu-a, mISerJve! e- tgno-ra» ,, .. 1: ~ dt'lãrumo do a.~ .o; mas e JJIÍ'rmJt'
6se· i;,;emw retrw, d.l.SC'n:Dlfnató.no do humem do çan1po t·01 '""1Wt)$,>'
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C'flnh ec-e.. .se ·1 IC:0 1< 5,\C llA M l!N f O K J CLIO C P. i A íl SIINCHY.~ (O k (.~ . )
. • ' IUa /f'·
a rrepio, ou c1t/at,; 0 n li;,,...
,ue J1 ,.../,.
,rebrc que Vetn "• Pors é .·
1111
Sf!ltlpre ~ni " sm1i1úrín colonia lista da RockfoUer, enfim , dá adeus à pedagogia do n~a-
certas e ,..,, h~r4
~v1r1 lf1u ito i lb mo científico - que convencia o púb/íco, mas também causava repuba
O qu e voce teni é ~110,
p.11<l adt'rir às estra tégias do cspet:frulo hollywoodíano.
0 utra
<'ti,~ É interessante comentnr outras implicações desse invcslimen lo peda-
((.obaro, 197
earudre/>
~ ·d() góglco sunít.arista na América La tina. Se nos países Jnti no-arnericanos os
-. p, i7,/ íl lrnes da Rockfeller introduziram os valores supremos da ciéncla hlgie·
. bo·lo e redimido co mo indi viduo doente Por . nista internacio nal. o efcílo que eles causaram sobre o público no rte-ame ·
Assun. ora e . . . . . ftle10 da
. ... i·--1.izada 80 uives de const1tutr a personifl,.... .. ~ ric.1110, no co11 trário, foi o de reforçar estereóti pos e preconrd tos, o que
rcsei.iw,a.i n.t-ulca ' .... çao de
P• . caus.,do por uma infeliz hereditariedade. Ele -â .- ijrn n•çu]tou numa intensificação das políticas de "boa vízín hanç·a» do governo
ddlat b101ogico • • • . 1 nao é nia
como uma entre as raças de va nado matiz fo . Hoo~evcl t, pois:
n,to por Loba
to 15
. . ' nttadorc13
·'e e metidas entre o estrangeiro rece nte e O abo .
,fa nacwna 1Idau · . . . n gene de Os fi lmes de saúde para a Amfrka Latma mnmun um fosdn io e
. 1. Lw, sem qualquer fina lidade ex1stenc1aI cna tu,.,.. "·
tabWfülÜ no 110 ,v • " , ' ' " IUcapai
uma repulsa mais amplos cm relação às rulturn.s la tino-amcrica·
0
1 <:,10•, unpenetnívd 11 0 progresso
e\ O11 . Porem, tra ta-se de ur:n corpo
1
ue nas. O especlro da doença e do con tág io retratados de for ma tão
cujo vl!lcr permanecerá negativo.
ameaçadora nesses filme s foi, parn o pú hlr co norte-america no, em ·
t:mk, l'ntre os anos J920 e 1930. a Rockfrller realizaria rnaís flJ.
.\ lati blemátiro de um pt'rigo mais generalizado que Jaz no contato c·orn
mc5 de educação sanitária. dessa vez sobre a malária e a poliomielite. Na cultura~ estrangeiras e part irularmentr 'primitivas' - uma ansieda-
década Jt 1940, Já à beira da eclosão da II Gra nde Guerra, Walt Disncv e de inlensitlcada pelo contato crescente entre os EUA e a América
uma equipe de animadores participaram de uma turnê pela América la- do Sul (... ) atra vés da expansão corpora liva (Cart wright; Go ldfarb.
tina thlanciada pelo governo norte-america no e pela .Fundação RockfeHer. 199 4, p 170).

Con~'l'ncidos da eficácia pedagógka de Disney para conq uistar não apenas


o p1Jil1co. mas também as autoridades em função da sua popularidade en- Ncs~es fil mes, em part iru lar, ao contrário do imaginário festivo dos
três l011gas-mctrage11S ri tados, o foco se concent ra nos corpos dos sujeitos
tre as cnanças, rsperava-se que a sua presença fosse capaz de comover Ge-
inva navelmente caracteri zados como preguiçosos e ignoran tes. Para Usa
tú/10 Vargas. \'isto pelas agencias de inteligência norte-americanas como
Cartwright e Brian Go ldfarb. essa série de oni mações tinha por fina lidade
um .mnpat!Zâ.Tlte do nazismo (Ca rtwright; Goldfarb, 1994, p.174).
os
dome~ticar aspectos mais ín timos da vida, constituindo uma tentativa
Da sfríe de quinze filmes produzidos sobre o tema, alguns em portu·
dr "controlar e regular os corpos e vidas de trabalhadores e camponeses"
g,.w.s, os três mais conhecidos são Ao sul da f ronteira com Disney (i942); (1 994, p. 170).
.>1 /ó, Amigos (1943), que introduz a personagem Zé Carioca e Os /rés cara· Novamente. a associação entre limpeza e moral dá o tom das nar-
1945
feiro:. < ). O restante é fruto de um contrato e11tre a Rockfeller e a Walt rativas didáticas dos fümes da RockfeUer. La limpieza trae huena sa/ud
Disnrr Pietures para a produção de fllmes de animação sobre eduraç;io é uma iwimaç1fo que apresenta a história de duas fa mílias. A primeira,
d
------·----
em saú l' para serem exibidos nos países da América La tina ·. :\ campanha
"· b. 1.0BATO \ lo:i
, ,..,.. 1.
.. .•
· • teiro. Urupcs. ~ao Paulo: Brasiliense. 199-1 .
Ramón esta enfermo ( 1944); E/ cuidado dei nulo ( 19 45); E/ cuerpo humano ( 19H): La e1ifer-
medad se prc>pt1gu (JQH):iQ!J-' es enfcrmedad? ( 1945): Es fac,/ C'omer bien (1945): Jnsecros
c1ts,i ,Tmtra {a lnrYJSt' (l 94. . .
.. •.i.. -. . J sn•~r- qu.: transmiten rnfu medades (1945): La ltmpieza trae bueno solud (J'144): Soneami('llftJ dei
• • , ,9 . ' vn lJ: Water: frie11d or e11emy? (JQ43); The wmget
~• • ~J,I, l.a ~uton·a de 7, · {1913 · (!9 H,.. ombl,•11te ( 1945): la tuberculosis ( 1945) e L'ncinariasis ( 194.5),
- Jse ). Jvse comi' b1en ( 1944 ); la historia de Ramon
~ 3
79

....__ T " ,. ,- •
..
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