Você está na página 1de 17

r

\ t' \ l)n"~~
•.. ..
)O ,Wflt"t 'JJ{f(I
.
por no,. \li il 1/,ld,l • ro mo 1"• tlt•,t •Ie ,uno • p r.,d
S l'l J
--nll' l l(Ol 'S til\ l'í~t 1tc,Hl,1s l' l'llll Ihht ,lll, h d,•, nnH·irio ,, wr,
,n ir ._1~1e, • •, 0 '\, qiu• n.w o
'\t'rf1 pnnc1p,1I.',1p.lp.11~,l lJ d~>trab alho ''.\ ,llt',l Cl'llt t .,1d,, H10d,• 1,m,·un· (rH<,l
ru·- ~) O!-~(·ogr.1tos ra, 10cas ,11irmamqt1t' " h ,1 n•n ,1r11, u,1..., 1lt •
l \l• l;"i, · 1·
l"'l
, t ,Ulrh p.u,
'íll>~ jllltHos d,1 nwtropoll' - nos h,tt11os <illl' ~t'rM ll tc•r,.,_1, 1111
. etn n : · . . . · · , j • l1
,. mol 1 o
,.i i
)[\'l on11
, 11. mll' .r,wl.1lunçtH11rs1denr1nl,

dt>•
Sl·nvolv1..•1.1111 ·w titrnht'nl •
ru, 1
11 111 l
·n lt 1.,
~rrr0mplr\ld,llfr,lllllll OS d,t~llt'lf'S$t' í\ 'lÇOS ,llt' t:llt. \O !-tl l'lll'Otl11.1dw, 11,t ,th'.I l't'II•
tr:tl. .\~sim, :11u.1lm~"n lt'. l'In _copal'nha~1,~,no ~lcu·r. t•m ~t.idtirt ' ll,t , n., 1,ju, ., ,,111
outro~ hnirros.proltfl.'1,llll IOJ.tS COll\CfCIJIS, l'OI\Stilltl1 in,;, h ,ll\t th , l IIH'lll,1, l'\\. 11l.h ,
rr,t,rnrontcs.barl's. pnrn ,llt'ncll•1 i\ populnçno n•:·ddt•ntl' no lnr ,1I.011n,1, ,,i."pii,:xt-
mtd,1d l'S (...) F,sl's h.111ros. dispondn do s :,;l'I vi,·os .1s:.in, 1l.1dm,. ll'fllt',t'lll,tm 11111I'·'
JWIcomplc-ml'ntar. dl ' l'l' nt ro dt• n t ividndl'S. St'I Hlo , pnt 1,rntn, dl•no 111111 ,1tf ,h
<.Uhl'l'nlro,". Na \ l'nladl'. romo \'l'temos. 11.1 P1,1~· 1 S, ll' l1" l't'l\,1 j.t 't' h,I\ 1,1 1,11m. tl,l
1,msubcrntro na d ec, 1d,1 de 1~l:lO.
o suhcl'lllro ron~1ste, port.11110. nunt.11 t•phn1 t'lll t,Hn,lllhu m,·1111t do 1~1•111,n
pnnnpal.l'Olll o qu,ll conro 1n• l'lll parll' c'lll, t'Ulll'l,111111 , ., t•lt•,e• 1t,:t1,1l,11 ,\tt·n,f<- u,~
llll'~rno!)rt'tJtlÍSllOs dl' OI illll ,' ,l(.10 dt•,1l'l'SS0 ,lpll' M'llt.tdo, ,llllt'l lell lllt'llt1~ p.lr ,1ti \'l'tl
iro p1incip,1I.1\ d1ten•11ça<\ qut> o ~ub <." t't\lro ,lfllt'l.,t'ltt,1 1.11-.1t·qtthllih .1p1•11,1, p.11,1
11m,1 porte da rid,Hk, t' o n·ntro princip,tl n11np1l• -u .; p.u,1 tlld,1,111d,1tlt·
,\ q1ws t,\o d,1 divt•rsidndc• t· dos,lgl'lll t•qt1ilrh1,1d.idl • tnlllt 'tC111 t • ,c'I\I\<'' t'
intportallll', po1:-.h,'l c·('lll ros t·~1wri~11i1.1dos(,1 1111 tl .i <'omnlui_,lll . ,•111\, l <l l '.uilu , ,
dus l' lll lust ll",; a S.1111,1 Fllgl'llin, t'lll n i. 1lt'I 1,11
cspcl'iali?.u t'l,•11,, , 1 t' t'lc•t10111,
·n ,l ,1\ ,.
111c1a Duqut· dl' Cn ,ia s, t•m nutopl'(n~. 1•1r .). ·1.,1:-.1·,•1111ni-,l' ,,1l1dn d, •, 1,n ,11,
nwnlt.' nll'tHlt·m a lodo a tí11•nlll<' I 1opc1ll11111a , 011 ,1111,1hHp.111,· dd .1, , ,111111
lrcqilt•ntt•
0 faz o centro prlndpnl. Pon ' m, prl 'ri:w nwntt ' por i-11,11•,11e•t 1,1ll1. 1\ ,111.'·"' 111111
',1 d 1h

_, t) '
lOm menor lreqü êndn ou por um menor numero de u s u ári os - e mb o ra espalha-
do -; por toda a região metropolitana -, enquanto o centr o prin c ipal exerce uma
atraçã o, ou polari zação, mai s con!)tantc sobre um núm e ro maior d e pe ssoa ~.

A evolução do s subcentros
A inve s tigação da his tória do s ·ubccntros é impo1 tante parn que seja possível
interpret á- los " entender ·eu papel no es paço metropolitan o.
O primeiro ,:;ubccntro a surgir no Bra s il foi o Brá s, em São Paulo , na dé cada de
19 1O; lo go cm ·cgt1ida, s urgiu o subccntro da Tijuca, na Praça Sae ns Pena. no Rio.
Na dé ca da de 1930, Copacabana era um bairro qua s e exc lus ivamente residen cial.
De um guia csµccialmcntc concebido para turi s ta s es trangeiro s fornm coligido s os
dado s no Quadro 41 sob re a localização de aJguns es tabelecimentos comerciai s no
Rio de Jane iro em 1940. 1
Es e quadro mostra que, na década de 1930, não havia sequer um embrião de
núcle o comercial voltado para o atendimento da s nece ssidade s de compra s e servi-
ços excepcionais dos moradores de Copacabana, pois aJj não havia nenhuma loja
digna de nota . Os únicos estabe lecime nto s de uso mais excepciona l eram os cine-
ma s. Os estabelecimentos registrados em maior número - hotéis e resraurante s -
de stinavam- sc em grande parte a pessoas que n ão moravam n a cidade. É importan-
te ter em mente que a fonte utili zada - um guia turístico para estrangeiros - não
menciona, evidenlemen te, os estabelecimentos que ex isti am, porventura, em bair-
ro s populare s. Na últ im a coluna, sob a rubrica de "Outros locais", não se de ve espe-
rar encontrar es tabelecimentos co m ercia is localizados no Méier ou em Madureira,
sequer na Tijuca. É vá lido acreditar qu e nesse guia tenham sido incluídos apenas
estabelecimentos que atendiam à elite carioca e que, assim, pudessem também aten-
der aos turistas estrange iros. No en tanto. havia naqueles bairros, na década de 19-10 ,
núcleo s comerciais razoavelmente de se nvolvido s, en quanto Copacabana atendia
apenas aos turi stas.
A análise histórica apresenta da a segu ir não se baseia, evidentemente, em
estatísticas, já que elas inexistem. Entretanto, as d escrições que obtivemos foram
suficientes para reconstituir de maneira aceitável a hi stória do s subcentros de algu·
mas de nossas metrópoles.

Rio de Janeiro
Co nstituiu o objetivo principal identificar a época em que os centros de bair-
ro atingiram a calegoria de s ub centro, ou seja, quando começaram a apresentares-
tabelecimentos de comércio e serviços, en tão só ocorrentes no centro principal, em
quantidade, porte e var iedade sign ificativo s. Tem-se então a necess idade de identi-
ficar o que se ri a ente ndido por "signi ficativo" nas d écadas de 1920 ou 1930. O con-
ceito de subce ntro é empírico, mas t em ha vido certo conse nso qu anto a alguns es-
tabelecimentos , co mo loja s de departamento , filiais de lojas do centro, profissionais
liberais, cinemas e rest aurante s. Tais esta bel eci mentos , ent retanto, devem ser histo-

294
--
- e
I'

::;
o o e. o o ,. --:,

o
---- r.,
~
,..,
::
~ o e ,..... -
,,
.,.

---~
~
~
~
e, .::;
.-: "'
...J
.J (.;
,-
J

---- ,,:1.
~

e
- ,.,
--
- w o
...,
--
.,
_, ,:.
,. ,::::,.
r o
,.!'
'"
~
,..
.., ]
... ;
::.,
;:
~
--
~
..,
,
~
,y;
r
~
r
rr, ç.
--
,-
-
.;,

~
-
- 0 ,e
..,
~
'.:, .,
:::
/.
:)

--
:.,
:;
~
t_.
e..,.~~
e-
~ .f
,..
.., e
-
:r
. -
;

~
/.
.:;
:;
r;;
,:; -
--,., - =
:.,
,..
~
J
:,
_:; "" ;;
,:;
,;

:i
e
e o o o ~
-
,... -
!.
-=
~

-::e ~

ç
:i
:J :
(.,
-:.
~
,, 'ti
-:, ,.,.
-. ,-..
__,
--
_,
-,.
~
!
J
-:;
,.
J'.
v =~
~

~
i;
~
-:;
-:::
v r .r. -:.;

-:.,
o ..... o ~ ,.:;.
.!!
;:

-
~
~
:..
':,
-=~ ~

" r:;..,
.., /
f"
-
,;

-!-
.::.
. :. r:.
..,
r: t -:i: -:..,
~
;
rr,
~. ,..,. ,.._, r,...
--
. ,-....
_"\
~

i
l
~
..,
-:.e ._ ~ -=
.; :r.
,-: ~
-
--
:..
..,
, ~
.r
-
;:
=
J
,;
-: 2,- 3 ..::.

~
~ .,- -,.
'":
',.. ,..
I'
~ ,:.,
_.
.;
,-

8
-....
•r
~ -
G
~
~
~
=--~-==
,..... ,-:; ,:,

-
1:.,
e,; ,.. ...,, e
- -:, r
~ e ., -
-:-
e
.r
,:.,

..
--:
:::,
.;,;
,:,
-o
~
,-:; ~
,...,
.. ~
r-
-
..::.
--
,-
1::
-.:;
-:
-
....
~
r:
e
_..,
r ~

::!
--:
/,
~ -;
.,;
..,
'=- "'
.,:;::
- :;
'j e!:: ~

295
ricament e s ituado s. J\nt cs de 1930, a qua se-to talidad e elas loja s de dcpanamcnto
limita va-se a vende r apenas peças de vestuário e a rtigo s têxteis. Rrirns eram ns lojas
co m o o Mappin, por exemp lo, que já na déc ada de 1920 possuía, além desses nrti-
gos, uma seção de ut e nsílios domést icos que anu nciava ''caçaro las, balança s e gela-
deiras a gelo e elé trica s". Sob re o ass un to, veja-se co mo se mnnifestavn o já mencio -
nado guia do Rio de Janeiro : ''Rio de Jan eiro d oes not po ~scss th e largc department
s Lorcs usually found in th e lar ger capita is, but th c rc are many cspec ially stores
provided wit h update fore ign nove ltie s" (sic; p. 205). Portanto , se ria descabido espe-
rar, na s décadas de 1920 ou 1930, a pre sença de lojas d e departamento como requi-
sito para a class ificação de uma aglomeração co m ercial como sub ce ntro .
Levando em conta essas circun stâ ncia s histór icas, é válido co ncluir qu e a Praça
Sae n s Pcüa ati ngiu a catego ria de subce ntro na d écada de 1930, a nt es do Méier, de
Madureira e Copacabana, bairro s qu e alingirnm essa co nd ição some nt e na década
de 1940. Só no início de ssa década surgiram no Meyer lojas que, para os padrões da
época, poderiam se r co nsiderada s rep rese ntati vas de um subcentro - é o caso de
um a filial da s Lojas Americanas. A Vieira d e Castro Comércio e Indú stri a S.A., exis-
tente no Méicr na década de 1970, abriu em 1932 uma perfum a ria, mas somente
por vo lta de 1940 o es tabelecimento pa sso u a incluir vá ria s seções como a de calça-
dos, ca misaria, chapela ria e perfum aria. 2
Nessa época , o Méie r já corntava co m vár ias lojas de ca lça do s e tecidos - lo-
ja s não co mun s nos bairros. Segundo p esqui sa reali zada e m 1976 (Villaça, 1978),
algu ns comerc iant es antigos do Méier eram de opinião de qu e esse ba irro já teria
sid o superado por Madur e ira na dé ca da de 1940. Mesmo que isso não seja exata-
m ente verdade iro, é válido admitir que ambos os núcleo s naquela épo ca era m se-
melhantes em porte e rea lmente tinham atingido a categoria de subcentro . De acor-
d o com Soa res (1968, 371), "o Mé ieré chamado ainda a ca pital dos subúr bio s, pois é,
sem dúvida , depoi s d e Copacabana, o maior subc e ntro da cidade". Botelho e Cardo-
so (1965-1966, 31-48) declaram que por vo lta de 1960 a lid e ran ça do Méier começou
a se r a balada. Têm -se no Quadro 42 os números m édios de pe ssoas presentes nas
tr ês admini st rações regiona is no s di as út eis, por atividade , seg und o os Estudos Ca-
riocas (es tado da Guanabara, 1965 ).
A Tijuca-Praça Saen s Pen a-, entretanto, j á era um su bce ntro ant es de 1940.
Talvez a primeira filial aberta por uma loja do centro do Río no centro de um bairro
ten h a sido a trad iciona l Casa Granado, p erf um a ria in stalada à rua Direita (Primeiro
d e Mar ço) , em 1870. Tal filia l, inaugurada e m 19 28 , s ituav a-se na rua Conde do
Bonfim, no m esmo loca l onde a inda se encontrava en1 199 4. 3 Nessa época, as perfu-
mari as era m loja s imp ortant es e essa filial era um indício signifi cat ivo da import ân-
cia d o ce ntro d aT iju ca. Na década de 1930 existia tamb ém n a Praça Saens Pena uma
filial d a co n ce ituad a loja Formo sinh o, que vend ia artigos de vestuá rio e qu e contava
com doi s esta bel ec in1enro s no ce ntro principal. Havia a ind a naTijuca um a loja Drago,
qu e ve ndia móv e is; o Jarro de Crista l, que ven d ia lou ças e cr ist ais; a Co nfe itari a Tijuca ;
a Ferreira, que vend ia ferragens, a lé m de várias lojas d e ca lçado s e tecidos. Na dé ca-
da em foco, o bairro contava co m n ada meno s que quatro cinem as: o Olinda , o

296
Quadro42 - Cidade do Rio de Janeiro - pessoas presente~ segundo admini~lra-
çõcsregionais por tipo de atividade (1965)

Atividade Copacabana Mé1er Madureira

Um trabalho.estudo,
compras
e diversões 220 928 135 683 154 599

2 Emoutras atividades 271 485 307 105 354 984

3.Total(incluisem
declaração) 493 634 443 850 511922

fonte:Es1udosCariocas, 1965.

Tijuquinha.
o América e o Ca rio ca. Recorde-se que em 1940, segundo o guia citado,
Copacabanatinha apenas três cin ernas. 4 Nessa mesma década - a dos anos 40 -,
aTijucarinha até uma loja que vendia automóvei s, a Importadora Tijuca. '>
Dessas informações podemos tirar pelo menos uma conclusão segura: a Pra-
çaSaens Pena foi o primeiro subcent ro a surgir no Rio de Janeiro , precedendo
Copacabana,e o único caso no país em que um subcentro voltado para as camadas
dealta renda surgiu antes que os subce ntro s populares.

SãoPaulo
O Brás podia se r considerado um subcentro já na década de 1920. Nos anos
40,as lojas, cinemas e restaurantes desse bairro se inclu ía m dentre os m aiores da
cidade.Nos anos 50, as lojas do Brás abriram filiais no centro de São Paulo.
Principal bairro de italianos que surgiu em São Paulo no final do século XIX,
formou-seno Brás um grupo estrangeiro que, inicialmente, viveu bastante isolado,
segregadodo restante da cidade. Sua população não tinha acesso econômico e so-
cialao centro, e essas condições contribuíram para que o Brás-e os demais bairros
popularesque em torno dele se formaram, como a Moóca, o Belenzinho e outros-
desenvolvesseintensa vida própria.
O isolamento de grupos étnicos é freqüentemente uma forma de autodefesa
numasociedade estranha, nova e até hostil. Em São Paulo houve alguns conflitos
entreitalianos e brasileiros no final do século passado. Segundo Morse ( 1970, 240),
em 1897,na capital, os italianos superava m os brasileiro s na proporção de dois para
um,e a assimilação de imigrantes italianos e m São Paulo foi relativamente pacífica.
''Houveuma perturbação de menos importância, por exemplo, quando, nos primei-
rosanos da imigração italiana , um empr esár io italian o destituído de esp íri to gentil-
mentededicou uma representação teatral 'à colônia brasileira'. Mais sér ia foi a ques-
tãodos Protocolos.(. ..) Quatro anos de recriminaçõe s culminaram em 1896quando

297
o cô nsul da Itália em São Paulo, em atitude de ópera bufo, marchou pelas ruas da
cidndc à frente de 200 co mpatriota s aos gritos de 'Viva a Itália' e 'Morra o BrasiJ', o
que teve como resultado tiroteios e incidentes (pág ina 333)." Em nota de rodapé à
página 265, esse autor fala de "diversos conflitos envo lvendo italiano s e negros" e,
à página 273, cita o seguinte diálogo de uma obra de Oswald de Andrade (A revolu-
ção melancólica, Marco Zero), que mo stra como o Brás era um mundo hostilizado
à parte:
- E o Carnaval? O Senhor gosta. seu Xavier?

- Gostei. .. do antigo.

Depois de um silên cio disse:

- O pessoal do 13rnztomou conta e estragou tudo.


Outro silê ncio
-As famílias não podem se divertir. Não há respeito.

O mundo para Xavier dividia-se perfeitamente em duas metade s. As familias e


o p essoa l do I3raz.

Paulo Sérgio Pinheiro (1977, tomo III, v. 2, p. 139) cita o censo da cidade de
São Paulo de 1893, segundo o qual "os estrangeiros contavam 71 468 numa popula-
ção de 130 468 habitantes".
A segregação inicial e a impossibilidade de se servirem do centro principal fize-
ram com que se criasse, no própr io bairro, uma grande demanda para comércio e
serviços. Até o início dos anos 40, toda a zona Leste já era polarizada pelo comércio do
Brás ; essa região constituía quase uma cidade à parte dentro de São Paulo. O grande
desenvolvimento do centro do Brás é uma clara manifestação de seu isolamento ini-
cial, que o levou a reforçar-se e ao mesmo tempo beneficiar-se dele.
Em 1908, o Brás inaugurou seu próprio teatro de ópera, o Colombo, onde se
apre se ntavam companhias e cantores italianos, paralelamente às temporadas dos
teatros do centro, o São José e depois o Municipal, inaugurado em 1911. Embora
sem se comparar em termos artísticos às temporadas dos grandes teatros da bur-
guesia, as temporadas do Colombo não deixavam a desejar. Pe la imprensa da época,
pode- se verificar, por exem plo, que a temporada de janeiro de 1913 contou com
"cenários e guarda-roupas da acreditada CasaAligia n i de Bueno s Aires" e ainda com
os serviços do cabeleireiro Marloni, também daquela cidade. A temporada estava a
cargo da Grande Comp anhia Lyrica Italiana, e o repertório incluía Cnrmen, li
Barb euro di SevigLia,I Pagliacci, Aida, La Traviata, fl Guarany, Ern.ani, La Giocondn
e Tosca,numa única temporada. Fanfulla, o grande jornal italiano de São Paulo, pu-
blicou em 1928 noticiário e propaganda da Grande Compagnia Italiana di Operette
de Clara Weiss que, depois de uma temporada no Cassino Antártica, no centro, exi-
biu-se no Olympia, à avenida Rangel Pestana n. 1533. Conforme o jornal de janeiro
de 1928: "La Casa delle Tre Ragazze richiamó ier i sera tanto publico da ríempir e il

298
vastoteatrodei Brás".AI 111do Colombo, o já m •ncionnun Olvmpia l' o Mt1l,ildo1,tprl'·
sentavam programações seme lhantes às do cc111ro.
O Brás tinha seu próprio carnaval e seu cor:.,o tornou se f.11tHl'-º · plt'c ,•dC'11
do o das elites, que- mais tarde passou a ser feito lla avenida Pm1li\líl. No, .1110 ~ 20,
o Colombo tornou- se cinc-tcatro e jü não aprcsc·ntnvn 111n1s npl·1.a~;apt·nas dr.1
mase teatro de revista, além, cvidcnlcmcn tc, ele cintma . A rrop,1ga1Hla tio, l'st><·
táculosdo Colombo - como também cio Mnía lda I cio Olympia aparc·ci,1 no..,
jornais de São Paulo ao Indo tia do s cinemns e tr.aLro..,cio ct.•ntrn pr111rip, tl,
freqüentemente ocupando mais espaço q ue os anúncio s dns rnsns dr d1v,•rsnn d,t
burguesin,como o Teatro Santana (na rua 24 d e Maio) e o Cr1~si110 Anttirli, a. No
finaldos anos 20, cinco ci nemas do Brás anunc iavnm no s jomnis d<·Snn l'milo,
alémdo Colombo. Na década seg uin te, esse número mais que clobrari.i com a aber -
tura dos gigantescos cinemas Brás Politearna, Obc rdnn, Hoxi, Univcr"o, B.1bílf)11i.i
entre outros. Na década de 1920, abriram- se vária:> lojas que viriam n ser grandes
na década seguinte e enormes - as maiores de São Paulo - nos nnos 40 <' 50: n"i
lojasde Móveis Pascoal Bianco, as lojas de Móvei s Grnsil, aTcpcrm:rn e aquela q11c
foi,provavelmente, a maior loja do país, as lojas Pirnni -A Gigante c.JoBrác;.Esta.
já nos anos 20, era uma loja de departamentos para os padrõ es e.laépoc.1, pois
rendia móveis, tapetes, louças e cristais. Ainda consultando a imprensa, vNiílca-
mosque, nessa dé cad a, várias lojas do centro tinham filiais no Bnís. A-;tradicio-
nais lojas Clark, de calçados, tinham três filiais no Brás, a Líltima inaugurndn cm
1928.A Casa Lisboa era também uma loja de departamentos para os padr õc,;;da
década de 1920, visto que anunciava seções de fazendas, modas, mercearia,
camisaria,lingerie, artigos para cria nças e perfumaria; a matri z era no centro e a
filial,à avenida Rangel Pestana n . 358. A Casa Almeida frmãos, com matriz no lnr-
goda Liberdade, tinha uma filia l no Brás (na ave nida Range l Pestana n.201) já cm
19l7.Nos anos 20 havia no Brás várias lojas de automóve is.
Nessa década, além de várias lojas, o Brás tinha inúmeros restaurantes e
cantinase também suas próprias diversões - o jogo de "frontão'' ou ''pelota basca'',
posteriormente proibidos. Na década de 1930 o bairro passo u n ter lojas rnrns como
as de armas e artigos de caça e pesca; duas lojas vendiam discos e gramofones,
instrumenLos e partituras musicais. Nessa época já era grande o número de profis-
sionaisliberais no bairro, a ponlo de, em 1941, ser construído o ediíí<.:ioTcpcnnan,
comseis pavimentos exclusivamente para cscr i tórios, principalmen te consultóri-
os médicos. Nos anos 40, várias lojas do Brás começaram a abrir filiais no pr6prio
bairroe, na década segui nte, no centro princ ipal da cidade. Dentre elns, a Pirani, a
Tcpermane as lojas Ricó, de móveis para escritório. Mais tarde, a Elcrroradiobrás
-fundada no bairro em 1948 como loja de rádios - nbriu filiais por toda a cidade
e tornou-se uma elas m aiores cade ias de lojas e supe rmercados do país . Na década
de 1940,até mesmo trad icionais lojas de outras cidades aL>rirnmfilial no Brás. As
lojasHcnner, ele Porto Aleg re, tinh am duas filiais em São Pnulo: uma no centro e
outrano Brás. Cons iderando ape nas as lojas e serv iços que tinham telefo ne e que
apareciamna pr ime ira Lista Telefô ni ca de pág in as am«relas. pub licada cm 1947,

299
c1nm O!>M'guin tc5 O'>es1abcl cc im c 11toc, cx i <;tl:'nle s no 13rá-, 11a prim eira metade
clo1.o
anos -10:

• Calçado..,
( inclusive cin co filiais d e loja s do centro ) 32
• Vcstutírio lcrn inino, chap óus e bol sns 5
• Vestu ário ma-..culino 20
• M óve is, cortina s e tapete s SJ
• Lojas de departamento 2
• J loléii:; 3
• Jóias e relógios 12
• Cons ult ór ios médicos 55
• Cinemas 8

A absolu ta maioria dos médico s tinh a consu ltório se parado da residên cia,
como revelam os endereço s, com número do pavimento e da sala. Somente o já
mencionado eclifícioTcper man , na avenida Rangel Pestana n. 2251, po ssuía dezessete
consu ltórios médico s, ou seja, quase três por andar. Dentre eles havia o de um mé-
dico que mencionava o ende reço de sua residência à rua Itápolis, no aristocrático
Pacaembu, e anu nci ava qu e operava no Hospital Oswaldo Cruz e na Pró-Matre ,
ambos na região da ave nida Paulista. Vários m édicos tinha m dois consultórios, um
no Brás e outro no centro principal, atendendo três dias por sema na em um e três
em outro.
O Brás aparece, assim, como o primeiro sub centro do paí s. Pelo recensea-
mento estadual de l 934, o então município de São Paulo - excluindo o então mu-
nicípio de Santo Amaro - tinha um a população de l 033 202 habitantes e a zona de
influência do Brás (subdistrilos d e Belenzinho, Moóca, Pari, Penha, Tatuapé, ViJa
Matilde, ftaquera e Lageado, atual Guaianazes) tinha 350 515 habitantes, ou seja,
um terço da população da capital.
As eno rmes dimensõe s do centro do Brás e o fato de nele haver muitas filiais
de loja s do centro e consu ltórios de médicos que tinham tambén1 consultório no
centro mostram não só uma grande divisão da cidade, mas também a enorme classe
média que havia na zona de influ ência do Bras, isto é, a zona Leste. Foi a localização
de ss a enorme classe média que a segregação subseqüente revolucionou, com pro-
fundas impli cações na cidade e na zo na Leste, como já vimos no capítulo 5 e conti-
nuaremo s a ver adiante.
o~d e mai s sub ce ntro s de São Paul o, inclusive alguns poucos cen tros princi-
pai s de município s da região metropolitana, como Santo Andr é e São Caetano , to-
dos populares, co meçaram a se d ese nvolver na década de 1940, quando passaram a
abrigar general izadamente filiais de bancos e lojas do centro.

Porto Alegre e Belo Horizonte


A Área Metropolitana de Porto Aleg re tinha, na década de 1970, a terceira maior
rede de subce ntro s do país. Seu desenvo lvimento da t a dos anos 30 e chega a ser

300
surpreendente quando comparado com o de outra s metrópoles, c&pccia lm cnle BclrJ
Horizonte,a ouua grande metropole do sul do pais.
No inicio da décadn de 1930, Porto Alegre já contava com três subccnlro~.
conformemostra o Quadro 43, que inchd somente cstabe lec 11nentos que, pelo s pa-
drõesdessa uécadn. eram típicos de um centro prin cipal.

Quadro.43 - Cidade de Porto Alegre: número de estabelecimentos selecionado s


nosprincipais subccntros {1932)

Estabelecimentos Navegantes Azenha Floresta

Cinemas 2 1 2
Chapelarias, teodos, confecções 13 8 11
Calçados 7 2 1
Joalheriase reloJoanas 3* o 1
Restaurantes e confeitarias 5 7 8
Móveis, fogões ou pianos 2 2 1
Perfumanas 1 o o
Bancos 2 o o
Floricultura 1 1 2
Dentistas 8 4 9
Médicos 1 o o
Livrariase papelarias 2 o o
Louçase cristais 1 o 1

(') Inclusiveumo filial eleloja do ccm ro, a e.isa Masson.


Fonte:Guia Público de Po1to Alegre, l l11goMu!Jcr (org.), Porto Alegre, 1932. 1'

Alémdos subcentro s do mun icípio da cap ital, a Área Metropolitana de Porto


Alegreapresenta vários subcentros de porte que são os centros principais de alguns
deseus municípios. Pesquisa realizada em 1976 (Villaça, 1978, 328), contando e pon-
derandodistintos estabelecimentos de comércio e serviços, conferiu à Azenha, com
115pontos, o primeiro lugar e dentre os vários subcentros da Área Metropolitana
de PortoAlegre e ao centro da cidade de Guaíba, com 48 ponto s, o décimo primei-
ro lugar.Na Região Metropolitana de Belo Horizont e, essa mesma pesquisa não re-
gistrounenhum subce ntro com 48 pontos. O maior deles, o Barreiro, teve apenas 44
pomos.O Quadro 44 mostra as pontuações dos centros principais e dos principais
subcentrosdas áreas metropolitanas de Porto Alegre e Belo l lorizonte naqu ele ano.*

'A pesquisaconwu todos os cinemas, bancos e lojas - classificadas cm lojas de departamento, lojas
médiase grandes- , ponderando esses estabclccirncntos de um {lojas módias) o três pontos tlojas de
depanamento e cinemas).

301
,\ his tc)fia d o , subcc nLros da rcgiâ<.> m e tro p o lit a n a d e Pu no Aleg re ind ica q ue
p •lo nwn os u m dele s - N.,vegn nt cs - :,,e j ü n ão ·rn u m "iu bce n tro n a d écada de
1~B0 , n ' 1ta m en te j~\ o era n n d éca da d e 40 .
dé cnda de 1870 m a ,c:ou o rip ogeu tclnt ivo d os sub cc n l roc; qu e, com suas
lL1j ns de dc p a n am c n to ~ e em es p ec ia l com sc 11s e n o rm es cinc m ns, po lariza vam for -
te m e nt e gr:111efrs ?.on as de inílu (·n c in. Em term o s ab so lut o s, c·lc s co n tinuam cres-
cend o e' mui tos 110\'0 S s u b cc n1ros t r m sur gido . Mai s rccc n tcrn e n tc , s h o p p ing ccntc rs
co m p e rfil n iti d nm cn tc popul a r vê m se nd o in s ta la d os cm cenlro s p opula res, in clu-
Sl\ 'C' c m pl en o ce nt ro p rincip nl, co m o c m Salvado r. No Rio (Mad u re ira) ou em São
Paul o (Pe n ha) . eles rcfo r(a m sub ccn tro s t ra di cio n ai s . Os shop pin gs popu lares ain-
dn repr ese nta m um a pa rce la p eq uen a n o comérc io va rej is ta da s ca m ada s popu la-
res: entreta nt o, e in egáve l q u e, ca d a vez m nis, e mbo ra le n tamente , o s s ubcentro s
tradi cio n aL deve rão o u co n co rre r co m ess es s hoppin gs, o u in corporá -los. Apes ar
de p o u co divl' l" iíicn<lo s , aind a, p o is o s serv iço s n e les e stã o su b -repre sentado s (pro -
n ss10 1rnis liberai ~. se rviço s públi co s, e n s ino, s a(1dc, e tc .) , e o s sh o pp ing ce n ter s lo-
cali zados fora d os sub rc ntr o s p o pular es es tão cada vez m a is co n c.;orre ndo com o
co mercio trn di cio nal.

Qua dro 44 - Po rt o Aleg re e Belo Hori zont e


Po ntuaçõe s d os ce ntro s prin cip a is e su b ce ntro s ( 1975)

Porto Alegre Belo Honzo nte

1 Centro Pnnc 1pal 728 1 Ce ntr o Prin cipa l 570


2 Azenha 1 15 2 . Bar reiro 44
3 ASS IS Brasil (P. d a Areia) 11 2 3. Flo resta 42
4 Novo Ham burgo 88 4 . Lag oi nh a 28
5. Canoas 87 5 . Sava ss1 25
6 São Leopoldo 82
7 Navegantes 57
8 Este io 51
9. Assi s Brasil (S João) 51
10 Partenon 49

fo nl c Villaça. 1978.

O sh oppi ng cen ter


O pr im eir o sho pp ing ce nt e r bra sile iro - o lgu a te mi -s ur giu pion eiram ente
em São Pa ul o e m 1966. O se gund o - o Contin ent a l, na d ivisa e nt re São Pa ulo e
Osasco - foi um frac ass o, vis to ter s id o um a te m e rid a d e, naqu e la é poca (in ício da
d éca d a d e 1970) loca lizar um sh o ppin g n um subúrbio d e cl a sse m édi a e m éd ia bai-
xa. A partir d e m e ado s d a d éca d a d e 1970, os shopping s co m eça ram a se vu lgarizar
e m toda s as m e tr ópo les bra sile iras. Embora predom in a ndo na reg ião d e alt a con-

3 02
n•11 11aç:ln d11:- r:\ln,1dn-. dt· nlt ~1 l<'IHl.i , t 0 111< ·~·n1an1, 110 lin ,il do , ,1110•, HO. ,1 ·,,·r
ronstn11do!, tamlwm l' lll l l'glO cs po pula11•s .
O shopping l'l'lllt•t l' o M1t · t· ....so1 d.i loja dt· d(•J>tt1l,1111t•nlo 1.i,q111· po, !.ill , 1 v1·1.1· ,1
llurrssornda loj.1geral , dt· 1rn·aclD s do :wculo XIX. rt·m c•111<011111111o f.ilt1 clt· 11:1 •,<•,11
~e1111 economia d<'.1glo11wr:1~·ao <'n a varit •dad(' d e•p1od111 0, qw · r.,c•, 0111pl1 ·11ir111,1111
(l'lll oposi(, in :\ t·s1wri, 11lz,1~·.w) . l.;;so, al ias, todo s ,,.....,,.., llfHJ ', dt· 1·sl ,dwl1·<irrn·111n•,
llim<'íllcomum c:0111as c11t·a ~ rornc1cínis divcrsili c.id a, 1r:1tliclo11n l" w, \llh< 1·111t<>',.
Cnlwnqt1i t1rrnlisa 1 o s ignificado dr ssíl co 111pl c:11H•11t :1ridnclt•, u11H1 vc•1.q1u• t'l:1
cst:\ muito ligml :1 ,10 poder t•st, ut11rnclo1 de• 11111 n·nt ro t<'l'c i:í1io, ..,,,jr1,,1,, r.,hopp111J{
ct'ntcr,sl'jn sul>Cl' lllro I raclirionnl. O poder polnrizndor po1ta1rto r , t r ur11rndnr
drum centro terciá rio (dl' ro nH'rcio (' se rviços) é f1111~·ao d(•ssuro mpl<·11H ·11tariclndt•,
ouseja,da vnrkclncfr cqui lihrnd:i q ue nr,rcscntu d e co111 é 1cio t· s1·1viçot, NCJ., e,•111 rc,1.,
1raclk1onnis (principni s CHI sub cc nt ros). cssn variccl.i <.I C'cqullibiacla ,~alrnn~ml.1 pc>
lns forçasdo merend o. O centro ou o sub cenl ro, ~oba iníl11l' 11 d n dt !.\t1\ Jor<y,t"t,
1
:ic n
banão lendo nem lojns de cnlça dos demai s, nem loja\ ele inform ática de nwn<J\;
nemdentistas demai s, nem escolas ele inglês de menos. I! o c<rnh ·ciclo mix a q11r
:ilmcjarnos shopping ccnt ers. (.)uai o signifkndo dc s!-ia"vari cdnclc c·q11ilib1ada"? ",1g-
nificareduzir no mínimo o núm ero de dcslocnmcnlo s doe;cliPntc s. C)11nntomaior a
variedadede comér cio e servi ços existentes num ce ntro , menor o mírrn:ro de• vin
gensque um consumidor pr ec isa fazer para l er toda s suas nccci,.sid adcs atcn dicfas
Surgeaqui, novamcnlC1,o poder es trutu rador dos deslocamen tos de pessoas. Os gran-
dessubcentros "têm de t uclo", inclu sive no tocante nos servi ço!!, públiccJ"te pri va<.J m,,
e nissose opõem aos centro s es pecia lizados. Nesses, o cliente foz um a línic.:nviagem
paraatender n um a ú nica neces sidade . Por isso, sua zona ele inílu ência abrange ou
todauma árcn mct ropol i lnna, ou grande parte dc ln - uma zona de inílu ência bem
maiorque a de um sub cc ntro Lr;idicional ou um shopping ccntec. Em co ntp cn~nçàc),
a populaçãodessa gran de zona de inlluência vai mais rnrnmcntc a um centro espe-
cializadoe co m mnior freqüência ao ce ntr o clivcr siíi cnclo; clní o lr ágil poder
cstrnturador dos sub cc ntro s especializ ado s. O sub centro clivcr~ificado ntcndt• as
necessidndcsmais freqü ent es, de maior nlÍmcro de pcssoac;,porém de um a lOtw de
iníluênciamenor. Seu maior pod er estruturador decorre do foto de eles apresenta -
remuma variedade eq uilibrada de co m ércio e serviços, ou seja, serem o nposto tio
centro especializado. Então , o mix, que no s centros tradi cion ah é dcímido pelo
mercado,no shoppi ng center é fruto d e várias pc squi 'ias e imposto pelo'! promoto-
res do empreendi mento (capital im ob ili ário e finan ceiro) aos comc rcian l c'i (capi tal
mercantil).
llá , entreta nt o, umn diJerença fundam enta l entre, de um Indo, o shop ping
centere, de outro , a loja de depa rt ame n tos e as loja s dos s11bccntros tradicionais .
Nestesúltimos, o come rcian te é quem toma vár ias deci sões importante s a respeito
de seu cm p rccnd i m en to, a co m eçar pe l a lo ca l ização do estabelecimento; no
shopping, é o pro m otor imobili ári o quem de fi ne não só a locali zação, rnas uma
série c.lenorma s ao comerciante, como hor ár io de funciona mento, aspecto~ de

303
comunicaçüo visual, normas de segura nç a, etc. Ao co ntr olar e impor o mix, tam -
bém h .í um domínio do capital imobiliário sobre o mercanlil. O shopp ing repre-
senta poi s a penetração do capi tal imobiliári o n a es fern do capiLal mercantil e a
sujeição do comércio varejis t a e dos se rviços ao capita l im obiliá ri o e - ntravés
de s te - ao financeiro .
Como vimos, a tendência inexorável do ca p ita lismo em tran sfo rm a r em mer-
cadoria todos os produtos do trabalho encont rn na mcrcantilização do "ponto" uma
barreira sé ria . Trata -se de um a das mais á rdua s batalha s travada s pelo cap ital no
sentido de con s eguir produzir algo que, em última in st ância, n ão lh e é possível pro-
du zir; é impossível transformar os "po nt os" em mercadoria . Já mencionan1os que
não há . em teoria, dois "pontos" iguais; é impossível reproduzir a esquina da aven i-
da São João com a avenida Ipiranga, e mbora e las sejam produto do trabalho. A te n -
tativa do capita l de produzir ''po nto s" sob forma de mercadoria cons iste na produ-
ção de aglomerações imobiliárias - pacotes imobiliários - cada vez maiore s e
complexas , pois só elas produzem os "pontos". Nos Estados Unidos, há muito tempo
a promoção imobili ária procura produzir não simples loteamentos ou conjuntos
residenciais, por maiore s que sejam, mas cidade s no vas inteira s, com infra-e st ru tu-
ra, edificações residenciais e comerciais, e até mesmo industriais. Entre nós, os
Alphavilles, em São Paulo, já es tão se aproximando disso. Na França ou n a Inglater-
ra, as políticas públicas de cons truç ão de cidades novas representam as mais avan-
çadas tentativas do capital imobiliário no se ntido de produzir"pontos" /mercador i-
as por meio da produção de aglomerações in te ira s.
Através do shopping ce nter, o promotor imobiliário produz e põe à venda,
em poucos anos, "ponto s" que o comércio tradicional levaria décadas para produzir
com as ag lom erações tradicionai s de comércio e serv iço s. É claro que o próprio
shopping cen ter depende, para seu sucesso, de um bom "ponto", de uma boa locali-
zação. Nos Estados Unidos, a cresce nte homogen eização d o espaço urbano, propi-
ciada por uma grande classe média, pela difusão do automóvel e pelas vastas rede s
de vias expressas, amplia as opções de localização dos s h oppi ng centers, dificultan-
do a escolha do "ponto". Quanto mais homogêneo o espaço, como nas metrópoles
médias americanas, mais difícil a esco lha do "ponto" para um s h opp in g. Quanto
mai s desiguais o esp aço urbano e a distribuição territorial da renda, como nas me-
trópo les brasileiras, menos difícil a esco lha dos "pontos". O espaço urbano desigual
leva então a uma desigual distribuição dos s hopping s (co m o aliás, do comé rcio e
serviços em geral), que apresentam alta incidência nas Áreas de Gra nd e Concentra -
ção das Camadas de Alta Renda (AGCCAR). A conce n tração dos shopp in gs em tais
áreas é vista nas figuras 44, 45 e 46. Em janeiro de 1997, exis tiam vi nte e seis shopping s
na Área Metropolitana. de São Paulo. Desse total, quinze (57,7%) se locali zavam no
setor Sudoeste (setoresVeVJ; Figura 18), onde, em 1991, residiam 24,89% da popu-
lação (veja Quadro 11), e onze (42,31 %) se loc a liza vam dentro da Área de Grande
Concentração das Camadas de Alta Renda, onde residiam apenas 13,72% da popu-
lação da á rea metropolitana. No Rio , em janeiro de 1997, na Área d e Grande Con -

304
..

<:.
«·
~-~,
,.
'(f

..
• D
D
e
MíACDn:IOIIO,
C,U,O,.CC,UAII(-,-
CJ.;Jl,DA 0( ,11.fA l!OOOA.
SH-CV!ltll
l.'llrrtG( WI.IHd'C)
,,. ,

W[T!!CHlO 11
- l i

t-..-
rONTL
t
CDOTRO
rCUIAoc sio ~AIA.O.cx:mao oc lfM
,. ...

Figura44 -Área Metropo litana de São Paulo: loca lização de shopp ing ccnters

..
D."
.
...
p
't
~

~
~
~
o
o•

• s;o>""" com:M
0Mu.(~ IH)
D~ DC Al.1A lll);~

Figur;:i45-Área
.
FOll'l'll.-

"º""-
Metropo litana do Rio de Jane iro: localiwção de shoppi ng centers
DO-.._

··-
. 11 CC ....... Dt tH•

305
A

f)
)
c:::],,_,.~c111•~ •
{=:J C...W .t.OAS 0C: Jtrt..l• "'1.)0. 4 ..-..n
• -a,;,o
- AV 00 ~
-- uwrrcoc:.._,,,,
Rl'<T1.'.S, CS1/ll,D,O Ili - ,. . li( ~ 01[ ... .

·º -~ ·"2

Pit='\H, .u,- \n•.1 ~ktmp~)\tt ,.1n.-1lk lk lo 110 1i,o nt t•: loc atí 1.ação de shop p ing ccn tcr s

'Cntt.1(10 das ('.n1rnda s de Alta Renda , qu e abri gava ap e n as 9 ,40 % d a p opulação


nll'tr0pt11i1,,na. cs t.n r-am no ve do s d ezesse t e s hopping s da á rea m etro po lita n a, ou
st"l ,l 52.~1\\,d l'le s.. Em Relo 1to rizo nte·, se is do s n ove s hoppin gs es tav a m localizados
n .1qnl'l.1,Hc .1. S(' co n s ideranno s a Área Bruta Locá ve l (ABL), e m Sã o Paulo 65,43% da
~Rl :-t~ \()c,1li1n\'a dentr o da AGCCAR e, no Rio, 49,3 8%. 7
o~$ho ppi ng, co m o o ~s up ermer cado s e o s hip e rm e rcado s, re pr es ent am uma
~nn k força de co n ce nt raçã o e de rentabilid a d e es p a cial. Um s uperm e rcado tem
um , t)lunw de \'c ndns equival ent e a muita s quitanda s, padaria s, aço u gu es e e m pO·
nn~ ( u, nd,,s (h oje prat ica mente ex tinta s), p erfumaria s e peixari as, os q uais ele fez
d('$Jp ..ln.'crr ou redu 1.ir muit o. Evide nt e m e nt e, o núm e ro d esses es tabel eci m ent os
:::"n..1 muito maior d o qu e é se n ão ex is tisse m o s s up e rm e rc ado s, e isso é extensivo
Jt) hq t'rmen:,u .io e ao shoppin g. A nll a rentabilidad e es pacial d esses es tab eleci men-
tos t ' rL'plt"St'nt~1da p o r se u elev ado vo lum e d e ve nda s por uni d ad e d e á rea. Sem con -
sicfrrar o (':-t:1ci<H1:1m cnt o - qu e os ce nt ros tradicionai s qua se n ão ofe rece m -, o
, ohtmc de \'cn<l,l:- d e um hiperm e rc ad o o u shopping centcr por unid ad e de área
ünut,1 loc.1, t~l o u d e te rre n o) é mai o r do qu e o de um agrupament o d e lojas tra d icio-
nais t'Om o me mo \ Olum c brut o tk ve nda s. Ao e liminar (sub s tituindo e co n cen-
tr,rnd<>) d (•1en ,1s de p e rfumnri ns, quit nnd.1s , ve nda s , açougue s, p e ixari as, e tc. e lojas
diversas. o s upe rm erca d o, o hip e rmerc ado e o s hopping ce nt e r tendem a prod uzir
f'S J), lÇO$ ur h nn os co m men o r di vcr s i<lad e de u s o, ou se ja, mai s ''puro s'' no sentid o de

306
queneleshá mcno usoc; co merciai5 espalhados pelo s bairros do que haveria caso
semamh·essco comércio lradicionaL De um lado, á reas mais puramente rcsidt·nctat'>;
de outro.mais puram ente comercia is. O fato de o shoppi ng atrai r comércio p.irn
suasvizinhançae; não deve Jevar a ilusão de que elec;aL11nc>ntamas árca'i comer<...iais.
Uma característica marcante desses estabelecimento s ahamcntc concentrn -
dossãoos problemas de tráfego que podem acarretar . Desde sua difusão clrc; vl·m
preocupando muita s prefeitura s municipais que não dispõem de instrum ento'i le-
gaispara enfrentar o impa cto por eles provocados. Por que o mesmo não ocorre
comoi>subccnrros tradi cionais? O com ércio cspalhndo r difuso provoca, propor ci-
onalmente, tráfego igualmente difuso. Se os subce nt ros tradicionai s hoje provocam
congestiona mento de tráfego, é porque eles se localizam em áreas antigas, com sis-
1em a viário antiquado e porque são enormes. Nessa comp aração entre os centro s
tradicionais e os concen trado s, o volu me de pessoa s atraídas por um subcentro gran-
deou médio(~téicr, Madureira, Pinheiros e Lapa, por exemp lo) é bem maior do que
aqueleatraído por um grande shopping. Na verdade, a "novidade" ou o prob lema
novoque esses estabe lecime nto s trazem não é propriamente o vulto de seus impac-
tos.maso fato de eles ocor rerem qu ase instantaneamente. Um subcentro tradicio-
nallevadécadas para se co nstituir e seu impacro se produz lentamente, sendo ab-
sorvidolemamente pela vizinhança, que aos poucos também se transforma. O
shoppingcenter, ao contrário, é produzido instantaneamente , sem dar tempo à vi-
zinhançade a ele se adaptar. A instantaneidade - mais que a dimen são - dos
empreendimentos imobi liários carac terísticos dessa nova era de alta concentra-
çãode capital imobiliário (produção de pacotes imobiliários) é que está provo-
candouma revolução nas áreas nobre s de nossas cidades e em nosso urbanismo.
Nossascidades grandes - n ão tanto as média s - têm ainda um espaço do passa-
do, leis de zoneamento e ex igências urbanísticas do passado, inad eq uad as a
macroempreendimentos. Daí os ap elos dos urbanista s municipais para a elabora-
çãode leis "mais ílexíveis" e o su rgimento de novos mecanismos urbanísticos,
comoos Estudos de Imp acto Ambiental : Daí, tamb ém , a dificu ldad e de enquadra r
essesmacroempreendimen to s em leis urbaní sti cas genéricas, como as tradicio-
nais,e o advento das aná lises caso a caso por parte dos urbanista s municipai s.
Os shoppings e os hipermercado s - como os novos condomínios fechados
-são manifestação da alta concentração de capita l no setor imobiliário . Outrora, o
centrocomercial tradicional era produzido lentamente por dezenas de comercian-
tes,quasesempre sem uma produção imobiliária proporcional, já que muito s esta-
belecimentosse instalavam em ed ifícios preexistentes que eram adaptados. Hoje, o
shoppinge o hipermercado const ituem um único e enorme empreendimento que,
emdoisanos, cria, num local res trito, um grande foco de empregos e de geração de
viagens. Por mnior que lenha sido o desenvolvimento dos shopping cen ters e
hipcrmercaclos1 eles não tiveram ainda um imp acto significat ivo sobre nossas es-
truturas metropolitanas, cm face da hegemonia dos subcen tros tradi cionais. Os
shoppingsvém aprese ntand o, entretanto, um a parti cipação significativa no prosse -

307
guimc n to do esvaziame n to dos ce n tros principai s de no ssas metrópoles, embora o
declínio desses ce n tros tenha se ini ciado a nt es da vulgarização dos shopping s. Como
os ce ntr os principais tradicionais atraíam clientela de alta renda e os shopp ings tam-
bém, os tíltimos têm contribuído mai s para o prosseguimenLo do esvaziamento dos
centros principai s do que do s subcen tros. Por outro lado, o reforço de subcentros
populares por shoppings (Mad ur e ira, no Rio, ou Penha , cm São Paulo ) ainda é pe-
queno, mas representa uma te nd ência sa lutar de contenção de uma eventual ten-
dência à sub urbani zação e dependência do automóvel. O mesmo pode ser dito com
relação à construção de shopp ings no s ce ntro s principais, como vem ocorrendo em
Salvador.

Notas
1. Guias do Brasil Ltda. Rio de Janeiro and its enuirons, 2nd edition, Rio de Janeiro, 1940.
2. As informações sobre o comércio do Méier n o pas sa do foram obtidas através de entrevistas
feitas, em 1976, com com ercia nt es ant igos, a saber: sen h or Artur F.Brun oci lla, da loja A Cidade
do Meyer, e Vítor Manuel Vieira de Castro, um do s sócios da firma Vieira de Castro Comércio
e Indú stri a S.A., e out ros comerciantes do bairro .
3. Informação prestada em entrevista rea lizada em 11 de setemb ro de 1976 com o sen hor José
Joaqu im da Cunha , ge rent e da filial da Tijuca d a Casa Granado.
4. Segundo o guia citado n a nota l. as lojas Formos inh o do centro loca lizava m -se um a à avenida
Rio Bran co n . 17 1, e outra à ru a do Ouvidor n . 136. As atividade s sob re o co mér cio da Tijuca
foram obtidas em 1976 através de ent revista com o se nh or Eriderson da Rocha Coelho, um
dos sócios da Casa Itamar, loja de tecido s abe rta em 1942 à Praça Sae ns Pena, e outros
com erciantes do bairro.
5. Loca lizava-se no atua l número 426 da ru a Cond e do Bon fim , o nd e, n a década de 1970, estava
a Casa Khalil M. Gebara.
6. Foram co nsiderado s, na p esqu isa realizada em J976, os estabe lecimentos localizado s na então
ave nid a Eduardo (hoj e Pres iden te Rooseve lt) e na rua (hoje ave nid a) São Pedro e ainda da
aven ida Bras il. Azenha incluiu os esta bel ecimentos loca lizados n a rua da Azenha, até
aprox im ada m ente o n ú m ero 1600, e n a aven ida João Pessoa, apro ximadamente, entre a rua
Venâncio Aires e a aveni d a Ipiranga. A Floresta incluiu apenas a rua Cristóvão Colombo,
entre as ruas Pelotas e Almirant e Barroso. Todos os três são hoj e suhcentros popular es.
7. Foram computados todos os shopp ings com cinema, segundo anúncio da Folha deS. Paulo,
O Estado deS. Paulo, o Jornal do Brasil em janeiro de 1997 e O Estado de Mi nas em dezembro
d e 1996 .
Quanto à ABL, os d ado s são os segu int es:

308
<_lu:tJroA-ShopptnK c.~111t•1, - d1'itribrn ç.10 por AHI ( 1«1
f17)

SÃO PAULO PJODE JA/tORO

Den
tro da AGCCAR ABL em m2 DP.ntroda AGCCAR ABl em m'

'ltnial
(O" ' 28 612 Oarrashoppng 74 600
O& OShopping 11 8511 Ca~~hormmg 18 501
Mü<umb, 46 082 Reue 1O l6 2
Butantã 7 055 R,o Design Cen•e, S 180
19uatem1 33 S2Q R,o Off Prire 7106
Sul 8 769 [{10 ;,JI •18107
D 16 060 5:Sor nnr ,1cJof ashtor1 12 SOO
Eldorado 6 1 015 Via Parqu,. 3 700
10,r
.1puera 5 1 773
!nterl
agos 58 963
Jardim Sul 17 516
01t PriceRaposo 15 002
Tarriboré 29 000
Matarazzo 22 180
Pa.. ,sta 22 089
\\~t Plaza 39 870

169lôppings 469 389 8 shopp1ngs 222 756


65,43% ,19.38%

FORADA AGCCAR íORA DA AGCCAR

Amencanas {Osasco) 3 155 Outra 1 15 97J


01retáoS Miguel Pauh!.ta 5 000 Iguaçu Top 13 150
LarCenter 35 809 Ilha Plaza 199 80
Mog1shoppmg 20778 Madureira 25 000
Osasco
Plaza 11 861 Norteshopp1ng 65 103
ABC 19 473 Nova América Outlet 21 000
Tatuapé
C~1c 3 473 Plaza N1ter61 30000
Lap
a 9 665 lguatem1 24 699
Norte 64000 Paço do Ouvidor 1 415
Penha 17 495 West 12 000
Ancan
duva 41 000
Metrópole 16 256

12shopprngs 247 965 1O shopprngs 228 321


34,57% 50,62%

Total 717 354 451 077

AGCCAR- J\rca de Grande Concentração das Camadas de Alta ncnda


Associ:içãollrasilcir.i de Shopping Ccntcrs, exceto para o P,1uli~lae o Wc:.1Pla,a,
í-ontes:
cuiasiníonnaçõcsforam cedidas pela Pluza Paulista /\dminis1ruçilo de Shopµing CcntCI"'\!:,/C
Notn:inclui,segundo a ADRASCE,shoppings a serem i11augumdos cm 1997.

309

Você também pode gostar