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~us s 43
Drummond:
Uma Poética do Risco
Iumna Maria Simon
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( UN l ·.S I' ).
DRUMMOND:
UMA POÉTICA DO RISCO
CAPA (/a yout): Ary Almeid a Norma nha
PREP ARAÇ ÂO DOS ORIG INAIS : Katum i Ussam i
DIAG RAMA ÇÂO: Elaine Regina de Oliveir a
SUPER VISÂO GRAF ICA: Ademi r C. Schnei der
CONSELHO EDITORIAL
PRIMEIRA PARTE
SEGUNDA PARTE
ar rucado,
12 APRES ENTAÇAO
Parece-me H't _eHf' o sentido mai5 .mbstL111cial cfos du,-is pùrT.t 'i
amrt. m de1te IHro Ou , /aull( /v wrw f,,uurv su11étin-1 dtstas
du~-
IJfJfft!l aiJt'1 '""' fi l" paru parti, ipaçiio o.u1111 cvnh.l Jt•'-·li,miem,,
pu.ru Ju,ma . t•, t.i
APRES ENTAÇAO 13
)
]8 N DIA l'R E I !MINA R
ade-
d n a realid~dc da ohra que perm1te surpreender seus signi-
qua a
hcado, mats profundos c v~r dadeiro~ .
, porque n~o - 'd
e~tra 1 os a força
de 1de1a.., c conceitos previame,.ntc. f 1xados. ~ ao d1s~?r da~
s?bre
e~t<.- pc,nto as diferentes tend encias da teo na e cn t1ca iltera
rias
con 1emporâncas ( de base analitica, in~erpretativa ou estru
~ raJista ),
ainda que sejam divergent ~s s~as vias de __a~esso ao obJeto,
seu
aparato conceitual e suas d1retnzes metodolog1cas.
Sirvam coma prirneiro exemplo os trabalhos dos assim cham
a-
dos form nlistas russos. Nos momento s de luta e polê mica cerra
da
contra as interpretaçôes extraliter arias do texto criativo, eles
foram
cateu:6ricos em suas declaraçô es, chegando mesmo, como expli
ca
Bor;_ Schn aiderman, a afirrnar a total independ ência da liter
atura
em rel açâo às demais ~îo rmas da vida social. Mas definfr as
posi-
çôes assumid as pelas parti cipantes do "Circulo Lingüisti co
de Mos -
cou'· e da OPO lAZ tendo como ponto de refer ênci a exclu
sivo
suas primeiras decl araçôes e "slogans" tâticos é desconhe
cer a
evoluçâo posterior de suas pesquisas e, corn isso, minimiza
r suas
.mportJntes contribuiçôes para o desenvolvimento dos
estudos
litera.rios contemporâneos 1 .
As resistênci as, ainda hoje freqüentes, aos trabalhos teéricos
e
a11alitic.c,~ dos formalistas, devem-se, em grande part e,
ao desco-
n hecim ento de muitas form ulaçôes importantes, relat ivas às
cor-
relaçôes dos diversos sistem as. Sao acusados em geral de
' ' redu-
'
1
\'c.:r o unpo rtao te e esclarecedor "Prefâcio" de Boris Schn
t.vlog rn hi 4~1le11 a dos form a listas russos. Teor ia da Liter
aider man à an-
a tura : formalis t~1s
rnf>~o:i 1n : f_JKHT.:.NUAU M , B. et alii. Teoria da Literatu
ra : forma.listas rus-
~~ ~Jt t de D1~n1 ~10 de_ Oliveira Toledo. p. YHl-XX II .
.M:t;
·
;:d; 0
~rtt~o e~crito por 8 . Eikbenbau m em 19'25, "A Tt<Or Î,l
do
orma l onde be encon tra um 6timo ro teiro du evolu çJo
J•e,,qu dns
ia Ôl'·1!.a:. 1urrnal1~li.i"-~, ,él J~clfl dc cw·dal.loba s ad vertt nna s A •
sûhre ~\S 1ntcrpre-
1a1,.•• d"v ~~h
•
lo est ud o
" De l' évo lut ion littéraire"
Exammc· rn-_se
. , pur cxe mP ' Orta
ris impo ntes teses e Ia b ora d as em co l a-
(192 7) de Tyn ,anov' c ' ·xpostas ern "L es problè
Jak mes des étude s
boraçâ o corn . obson, e ·
• · ucs" ( 19 28 ).
littéra ires ~t h_ngu• st~~ ·âo de evo luç
ao lite
No pnmciro,_a ç urna obra lite ra.r rar ia é pro po sta em ter-
ia ma nté m tan to corn a
mes da_s c?r.r~l,açoc~t~ uceom as "séries
vizinhas" (vi da social), corre-
''sé ric literana qu~ ern conta na o ap en as o pro ble ma
laçô~s que dev~t~ ,:::~çoes" .
ma s _como o . a: " :i " funçao lite
da s "for-
Da î a im po rtâ nc ia do s _con cei tos
de
··funç ao construtiva ' râr ia" 6 e "fu nç ao ve rbal", 7
· t ma con fi gur " / . 1· / . " ,,
poste que O SIS e ado pela sen e 1te ran
/ · l' a e, an t es de
mais nada, um "sistema da s funçocs /
da sen e 1t~rar~·a." queE, de ?ua
vcz esta em correlaçao constante cor
n as dem ais sen es. m v1sta
dis~ o, Ty nianov explica:
"O exame deve ir da funçâo
construtiva à funçâo lite-
raria, da funçâo literaria à funçâo verbal. De ve esc
interaçâo evolutiva das funçoes e das larecer a
formas. ( . .. ) 0 est ud o
da evo luçao literâria nâo rejeita
a signif icaçâo do mi na nte dos
prin cip ais fatores sociais, ao contrario
, nâo é senâo ne ste qua. .
dro que a sig nificaçâo pode ser esclar
( . ..
ecida em sua totalidade;
) ." 8
. t
O
estabeleci mento de relaçôe s mecân icas e unilate rais.
ou sc1 3 ~ con rat·ona na vérdad e, é o desvio de enfoqu e: a subver sào
0 que se ques 1 d
a o b ra d e arte ·11terana
• ,, .
' c
. · ·, dos valores •
const1t •
u1ntes .
d{'a h1erarqu1c1 .., · d
Observe-se ainda que, com os esenv_o lv1~ent · ·
os posten ores
.. ~ 1 formal " ha uma mudan ça de dtreçao que acomp anha
da esco a - , . f ·
d nça s de posiçôe s dos arttstas utunst as. 1 2 E· essa nova
as. mu - aocorrid a nos meado s da d eca ,, d a d e 20 , como
d treçao , exp 1·1ca K rys-
. F Th
tvna Pomorska em seu livro Russza n orma 1st . . ,, e?ry a~d z_
z· . p
ts oe-
r"- A m bience , é marcad a por um progra ma utihtan o e tecn1co , se-
;ndo O qual a obra literâri a é igualad a ao trabalh o dos opera-
rios, e O ''slogan " genera lizado é a " literatu ra do fato":
" Essa jase no desenv olvime nto da 'escola for mal' recebe u o
nom e do 's6cio-f ormali smo' (s6tzio -forma lism)-. 0 nome se
refere à tendênc ia para conside rar a literatu ra como um 'fato
social', num sentid9 muito particular. A obra literaria é
agora investigada corn referên cia a fatores tais como 'materi al
hist6rico', que é 'deform ado' no proces so de criaçâo , ou entâo
é vista em sua relaçâo a proble mas como 'merca do literario'
(literaturnirin ok) ". 13
També m Boris Schnai derman esclare ce que essa tentati va de
"erguer uma ponte entre o formal isme e o marxis me'' era, na época,
preocu paçao constan te dos f ormalis tas, tendo Maïakovski incenti -
vado esse tipo de trabalh o, princip alment e os esforço s desenv olvidos
par Boris Arvato v no sentido de estabel ecer as coorde nadas de um
.. método formalista-sociol6gico." 14
Contud o, ao referir-se aos fundam entos te6rico s do formal isme
russo, numa das sessôes do "Cfrcu lo Lingüi stico de Praga" ( em
12
., ~ conhecid,a a aliança entre a critica formali sta e a poesia revoluci o-
nan a no penodo tumultu oso e profund amente renovad or que precede e
alra ~~ssa a Re vol uçao Russa de 1917. Do "Circulo Lingüis tico de Moscou "
part1c1pa ram poetas como Maiak6v ski, Pastern ak, Assiéiev , Mandel stan. Cf.
h ro-asoN, Roman. " Vers une science de l'art littérair e." In : ToooROV ,
T zvetan (dir . ) . Théorie de la littératu re: textes des formalis tes russes. Con-
:~:me_ ~~m assin~Ja Bor_is _Schnaid erman, essa aliança nao se devia a mero
ac~ · os pr6pnos obJet1vos dos fotmalis tas eram os mesmos da poesia
mais ava nça,da da época - a de Khliébn ikov e M aiak6vs ki a do jovem
: .a~ter~ak ~ · · • ~, ~ do Mandel stan dos a nos da Revoluç ao ( .' .. ) , a poesia
tolema, ~ unech uti sta das rua s e dos comicio s, ( . . . ) . A R ussia procurava
e~trutur(21 -M: em novas form · ,
d a s, so 'b novos . , • .
prmc1p1 0s e o arroJO e nova-
vn~~1~ tadn to dos poe tas como <los estuùios os dn lite,ratn ra condizia m com
c.,, tbp 'ito <.> i. novo<i tem pos." I d. ibi I X-XI
1
1. Ut1l1.1.urn oh a t 1• <l üO b . .' '· p. ·
•• ~ ' ' H11 o . a t eo n~. uç rastl eiru : P O M ORSK A Kr ystyn·1 Fo ,·r•ialism o e
f ., 1,, •
f 1 · . '
J l CJ · \:".- · . a orma istn e seu am bien te ·poético ~ .p ~ 8 ,
· "'-HNA U)l' RM AN 8 0 118
·· , . . - '
Prosa. p . 3~ . ' · A Po étrrn d e Maia.k 6 vski atrav és d e sua
EN fRB FORMA E COMUNICAÇÂO 25
!~ fj·., Ibid.
E. .RLICH, Victor. RuJ'Sian Formalism : history-doc trine. p. 206 .
p . 208 . (Grifos nossos)
81 1
A~ ESON , . Frederic. Marx ism and Form: twentieth-c entury dialectical
theones of hterature.
ENTRE FORMA E COMUNICAÇÂO 33
ativo em si mesmo - ja
precisa ser inte rpr eta do pois ja é signific
, essencialmente, como
é concreto, na me did a em que se apresenta
uma experiência hist6rica e social:
um a interpretaçâo
"As sim , o processo da critica nâo é tanto
, um desnudamento,
do conteu do, ma s sim uma revelaçâo dele
da experiência ori-
um a restauraçâo da mensagem original,
espécies de censura
gina l subjacente às distorçoes de varias
.. )" 37
que con tinuamente atuam sobre ele; ( .
do conceito de "fo r-
Em vis ta disso, propôe-se a ref ormulaçao
da "hi era rqu ia das moti-
ma interna " pelo modelo mais complexo
er que os diversos ele-
vaç ôes ", através do qual é possivel perceb
niveis, a par tir da super-
mentos da obr a sao ordenados em vârios
de trazer à e4 pre ssa o
fici e. Cad a um desses niveis existè a fim
eto " mesmo. Assim, o
aqu ele nivel mais pro fun do que é o "co ncr
endido como a passagem
mo vimento da critica marxista deve ser ent
jacente, de um obj eto
de um a superficie par a uma realidade sub
mais vasto do qua l
apa ren tem ent e autônomo par a um campo
esse objeto é um a par te ou articulaçao.
s complexos pro -
Res ta sa ber como se resolveria um dos ·mai
de nossos dias, no mo -
blemas enfrentados pela critica literaria
relaçôes ent re arte e
mento em que se pro pôe a examinar as
nivel a outro, ou seja,
realidade: como fazer a passagem de um
ema amplo da realidade
da especificidade da obr a literâria ao sist .
hist6rico-social? ble ma fun dam en-
A resposta do critico americano a esse pro
ta em si mesma, ma s
ta-se no fato de que a obr a nao é comple
ou verbal". Est e s6 se
transmi te um a espécie de "impulso gestual
de entender a situaçâo
torn ara compreensivel se formos capazes
responde. (Observe-se
na qual foi realizado e os interlocutores a que
Tynianov e Jak obs on, e
a semelh anç a corn al gum as formulaçôes de
sobretudo corn as de Mukarovsky). Assim:
literario ao s6cio-
"( . .. ) para o Marxismo, a passagem do
em de uma dis-
-econômico ou ao hist6rico niio é a passag
ento da especia-
ciplina esp ecializada a outra, mas o mo vim
lizaçiio em dire çiio do concreto mes mo ."
3 s
tendência a tomar o
. Esta resp osta coloca-se nào s6 contra a
traçao de teses socio-
obJeto arti stico como pre texto para a dem ons
37 I d ., ibid . p . 404.
HB Jd ., ibid . p . 377.
36 INTRODUÇAO
_
çoes que se seguem , res trit as a um a par cel a mi nim a da pro duç âo
critica desses dois autores.
Pa ra primeiro, a ob ra de art e " ref let e " .
O
• t, · na me did a me sm a em que ela a_ soc 1ed ade e a
111s, on a rec usa o social e rep res ent a
lt' . 'd d . d' 'd 1
o u im 0 refugio da subjet1v1 a e m 1v1 ua con t ra as f orç as h'1sto, -
· que ameaçam esmagâ-la. Em 1·m h as . , t . ~ d
nca s . gerais , e es a a pos1ça o o
critico de Fra nkf urt no ensa10 "D ' . b L' .
1s~urso so re . 1nc~ ~ Soc1.e d ~ d_e ,, ,
considerado como um dos ma is bn lha
nt~ s de sua at1v1_dade cnt1ca.
N O caso esp edf ico da exp res s a~ lin ~a,
deve configurar a imagem de um a vid Ad orn o a~ rm a qu~ ~la
a liv re da co_er__ça~ d~ prat1c~
dominante, ou seja, livre de uti lid ade
, e est a ex1gencia e,. em _s1
mesma, social, pois rep res ent a o pro
tes to con tra um a s1tuaç~o
hostil e opressora que se "im pri me
neg ati vam ent e na for ma çao
lfrica." 44
Po rta nto a referência ao social nao
' trario, deve per dev e ser abo lid a da obr a
poética; pelo con mi tir um a pen etr aça o ma is pro fun da
nela e a descoberta de algo essencial
do fun dam ent o de sua quali-
dade. Pa ra um a investigaçâo dessa
nat ure za, Ad orn o rec om end a o
procedimento imanente, um a vez que
os con cei tos sociais nâo po-
dem ser exteriores às "fo rm aço es lin
güisticas", ma s dev em ser ex-
traidos delas através de um a abo rda gem
int rin sec a ade qu ada :
"( . .. ) nada que nâo esteja nas obr
as, que nâo seja parte de
sua pr6pria f arma, legitima a decisâ
o acerca do qu e o con-
teudo delas, o poe tiza do me sm o, rep
res ent a soc ial me nte ." 45
0 procedimento im ane nte coloca-se
ceito de ideologia que o aut or define exa tam ent e con tra o con-
com o "nâ o ver dad e", "cons-
ciência falsa" - considerar um a gra
nde ob ra de art e com a "id eo-
16gica" é um a injustiça con tra sua pr6
pri a e ver dad eir a substância,
e, além disso, um a f alsificaçâo do con
ceito de ide olo gia :
4 4_ Cf. ADO
RNO , T. W. "Di scu rso sob re Lfr ica y
Soc ied ad. " In: Not
L!te ratu ra. Tra d. de Ma nue l Sac
4 " Id., rist an. Bar celo na, Ari el, 1962. p. as de
ibid . p. 5_5. Em "Id éias par a a 56.
s~rva: ( .. ) exige-se do soc i6lo go soc iolo gia da mu sica ", Ad orn o ob-
um con hec ime nto ent ran had o da
s1ca, q':e ':a até_ as min ima s célu las mu
~ sub~tancia social na figu ra
técnicas. Som ent e assi m, apr een d~n -
autônoI do
tico, e que lhe sera possivel dei xarI}a da obr a, com o o seu con teu do esté-
par a trâs as apr oxi ma çôe s fata lme
ext~rn~s. ent~e .as, ?br as do esp irito nte
soc_1olog1co e mutil, enq uan to nao e as rela çôe s sociais. Tod o o apa rato
t~tivos da musica. A significaçao esti ver ide ntif icad o aos term os consti-
soc
ravel da _ve!·d~de ou _falsidade destes, ial de fen ôm eno s mu sica is é insepa-
sua_ cons1ste~c~a ou mco de seu êxit o ou frac ass
nsistência. ADO RNO , T. W. ''Id éias o artistico, de
~gi f ~a Mu sica ." Tev ria e Prâ tica par a a Socio-
24 . Tra d. de Rob erto Sch war z.
n. 0 3,
b
ENTRE FORMA E COMUNICAÇAO 39
1
_ 1
ENTRE FORMA E COMUNICAÇ AO 41
mostrar qu e Os tem as ap are cem co mo "fi gu ras sec ret as" na cri açâ
poética, Be nja mi n co me ça po r de / o
cla rar qu e e o pro/ pn.o pro ces so
de ela bo raç âo da linguagem qu e
lhe s co nf ere pre sen ça:
"M as a secreta constelaçiio (on de
a be lez a da for ma torna-se
translucida até o fun do ) de ve ser ass
im en ten did a: lut an do con -
tra a multidiio espiritual das pa
lavras, do s fragmentas, dos
inicios de versos, o poeta, atr avé
s das rua s ab an do na da s, ga-
nha na po nta da espa d a, sua presa
po e"t.zca. ,, 5?-
.,...,-- Sobre o significado do ter na
da mu ltid ao , a ana.lise dei~a. claro
que na o se tra ta de urna classe esp
ecifica, ne m de um a coletiv1dad:,
mas simplesmente da mu ltid ao am
orf
dade, do publico da s rua s. Assim a de pas~antes na gran_d~ .c1-
, em bo ra na o ten ha se d1ng1?0
à "m ass a dos op rim ido s" ( co mo
o fez, po r ex em plo , o po eta Ba rbi er
em seus "po em as de tes e" que,
alias, ex erc er am for te inf luê nc ia
sobre o au tor de Le s fleurs du
ma l), na o ten ha pra tic ad o art e
"di rig ida " e ne m me sm o ten ha de
scr
-lhes mais fiel do qu e qu alq ue r ou ito as ma ssa s, Ba ud ela ire foi-
tro po eta
Em res um o: tan to no ensaio de Ad em pe nh ad o em sê-lo.
min, o qu e est a em discussao nâ o orn o co mo no de Be nja -
é o pro ble ma do en ga jam en to,
mas a ma ne ira especifica de ma nif
est açâ o do soc ial e do his t6r ico
na poesia lfriêa. Corno en car ar a
vin cu laç âo da po esi a à rea lid ad e
sem esquecer qu e o po eta , "an tes
de ma is na da , est a en ga jad o na
linguagem", co mo observa Au gu
formula de Jea n Ta rdi eu : "le langag sto de Ca mp os, ser vin do -se da
e l'e ng ag e".
Nesse artigo, cujo titulo ja é be m
o po eta em greve" 53 - Au gu sto significativo - "M all arm é:
de Ca mp os, ale rta nd o a cri tic a
na cio na l co ntr a cer tas ab ord ag en s
ne
viciadas po r esquematizaçôes e slo ga tiv as da ob ra de Ma lla rm é,
gans ( "p oe sia pu r a", "a rte pe la
arte", "inevitâvel fra cas sa" , "o bra
fal ha da ", etc ... ) , ch am a a ate n-
çâo pa ra os asp ect as con str uti vo s
da ob ra e ob ser va :
"É significativo qu e Ma lla rm
é, para de fin ir o seu ma rgi na lis mo
de poeta, tenha ido bus car na o
um a me tâfora aristocrâtica
co ma a da 'torre de ma rfi m' , ma s
um a exp res sao ext rai da do
vocabulario eco nô mi co social,
a palavra 'greve', em ble -
52 Id., ibid . p. 237 .
53
CA MP OS, Au gus
f 01· rec ent em ent e to de.b. · "M alla rm é: o poe t·1 ' em gre ve,• , p • 3 . .Et t·
· d rep u hca do, cor n lige iras am p1 1·,, ç 0-es com o · t sd e -ar 1go
con Jun to . as trad uço- es de poe ' ' " , 1n ro uça o ao
pos , reu md as em CA MP OS, Auma s de Ma llar mé feit as por Au gus to de Ca m-
ld 0 d M Il , s- gus to de·
ro. e. a arm e. ' · P1G
· NAT ARI De' c ·
ao Pau lo, Ed. P ers pec tiva, ED 1O c
e AM POS H a-
"S1gnos", v. 2) US P 197 4 'cc0 t
' • · •
A
ENTRE FORMA E COMUNICAÇÂO 43
kins e Valéry
vista de técnicos da comunicaçao, de poetas como Hop
e de criticos como Ran som e Empson.
te, aos
A aber tura aos fenômenos semânticos e, parti cularmen
Genette coma
prob lema s da semiologia literâria, é considerada por
poética. Na
o cam inho mais fecundo para a ana.lise da linguagem
si mesma,
med ida em que essa ana.lise concentra-se na obra em
- psico logi-
aban dona ndo a pesqu~sa das determinaçôes exteriores
ser consi-
cas ou sociais - e visando as estruturas imanentes, pode
os chamam
dera da coma um equivalente daquilo que os american
o exemplo
close read ing, e que seria chamado na Euro pa, seguindo
iquem dife-
de Sptizer, estudo imanente das obras. Emb ora se verif
ente, quan to
renças entre o méto do estruturalista e o método iman
idera bast ante
à "posiçao criti ca" em relaçao ao objeto, Genette cons
fecundo o dia.logo entre eles.
É licito afirm ar enta o que, sejam quais forem as
diferenças, a
de levar em
legitimidade do méto do de ana.lise residira no fato
ao de seus
cons idera çao a reali dade especifica da obra : a observaç
caracteristi-
proc edim ento s proprios, das articulaçôes e correlaçôes
a uma inves-
cas de seu mod o parti cula r de organizaçao. Proceder
iatamente
tigaçao desse tipo significa, pois, parti r da realidade imed
linguagem.
observavel da obra : no caso da poesia, a realidade da
para a Lin-
Dai ser possivel. aplicar a mesma metodologia tanto
demonstrado
güistica quan td para a Poética - como vem sendo
uisas atuais
desde os traba lhos dos formalistas russos até as pesq
de seus obje-
- cons idera ndo- se nao so a identidade da natu reza
o sistemas de
tos, quan to o mod o de existência desses objetos com
rva Greimas,
relaçôes ( estruturas com plex as). Nesse sentido, obse
reto man do a linha das indagaçôes jakobsonianas:
devem
"( . . . ) os procedimentos de descriçâo para a poética
onga-
ser, pela menos num a primeira fase, a aplicaçâo e o prol5 9
men to dos procedimentos elaborados em lingüistica".
·
istico,
Isso quer dizer, por outr o lado, que o inventa.rio lingü
globalidade
por si so, nao da cont a do fenômeno poético em sua
Tom ando
- é prec iso levar em consideraçao seu estatuto proprio.
e o estat uto
a semântica como pont o de referência, Greimas defin
: dent ro do
proprio do objeto poético através da seguinte distinçâo
ôes reco ber-
universo semâ nti co, ou seja, da totalidade das significaç
tas por uma Iingu a natural, destaca-se o dominio
literario, cuja
(religiâo , di-
articulaçào prop ria fa-lo diferir dos outr as dominios
. f a t o d e n ao ap re se n ta r u m a "z o n a p ar ti
re1t o, et c; ·: · ) p el o te cu la r
da substanc1a ~o. co u d o " 0 o b je to po / .
et ic o, p o r d" t"
gue-se do dom1n10 l~ / .0 · em ge ra l p o r o u tr a p su a ve z, 1s m -
o "fechamento" do it ~ ra n ' ar ti cu la ri d ad e -
d1scurso:
" re te nd o o fl ux
( · :., ·) , du nd ân ci a das in fo rm aç oe s, da_ u1:1a n o va
a q u e ao in vé s d e si gn if i-
~afçao a r: va
m or m aç ao , i· , ao co nf ra ri o va lo ri za r
co ns
os
ti tu ir u m a pe rd a de
nad os e fechad os O fe ch am en to ' co n te u d o s se le ci o-
discurso em ob je to· tr an sf a rm a en ta- o
es tr ut ur al e a hi st or/ . ,., aq ui· o
ia em p er m a n en ci· ,, so
a
A distinçao en tr e
o litera.rio e o po ét
or de m qu an ti ta ti va ic o n âo é, po r~ an
- acréscimo d e u to , d e
mentar - m as qu m p la n o d e e~pre~
al it at iv a: o po ét ic sa
dos planos d a ex pr o re su lt a d a fu s~ o/ s1;1ple~
es sa o e do co nt eu do o in ti m a
"e st at ut o es tr ut ur al . D o ponto_ d e v1
" st
manifesta-se no nive a ad eq ua ça o en tr e a ex p re ss ao e o a d e ~eu
l co n te u d o
vés do jogo de id en da s m at ri ze s "f êm ic as " e "s êm ic as "
ti da q u e, at ra -
u m a pa rt e, a su bs tâ de s e op os iç ôe s da s ca te go ri as , ar ti
nc ia cu la ~
Se a ad eq ua ça o da d a ex pr es sa o, e de o u tr a, a d o co n \e , d e
anâlises de sonetos s "m at ri ze s" jâ foi udo.
b as ta n te il u st ra d
Nicolas R uw et , G rerealizadas p o r Ja k o b so n e L év i- S tr au a p el as
im as m os tr a qu e, ss , e p o r
poética ai nd a n ao p
conseguiu en co nt ra o r o u tr o la d o , a p es q u is a
d a significaçâo das r a
fo rm as po ét ic as , co so lu ça o p ar a o p ro b le m a
m ed id a em que se
co lo ca este pr ob le m lo ca do p o r Ja k o b so n . N a
quase in ex pl or ad o a, ab re -s e u m ca m
p ar a a po ét ic a: o po novo e
teudos semânticos. do m in io d a ana.tise
É p o r esse ca m
in ho q u e se en v er d o s co n -
lhores exemplos de ed am o s m e-
an
e Lévi-Strauss so br âlises po ét ic as re ce nt es , co m o a d e
e Ja
Além do le va nt am o so ne to "L es ch at s" d e C h ar le s B k o b so n
en au
tal estudo of erece b to da s es tr ut ur as po ét ic as , n o se nt id d el ai re .
o as pe rs pe ct iv as p ar o es tr it o,
semântica. a as ex pl or aç ôe s d
e n at u re za
Sao pesquisas co m
po ssibilidade de u m a es sa qu e, se gu nd
a d u p la le it ur a de o G re im as , at es ta
u m m es m o o b je to m a
no nivel d a articu
laçao do co nt eu do p o ét ic o ,
fech ad o" , on de as : o ob je to co m o
articulaçôes pa rc ia "s is te m a
e~trutur a paradigmât is in te gr am -s e em
ic~; o ob je to co m o
rnfest a, em u m de te "s is te m a ab er to " q u m a
rm u e m a-
cursivo, u m a co nt in m ad o m om en to de se u de se nv ol vi m
ui ento d is -
" tr ansfo rm aç ao di ac da de qu e p o d e ser in te rp re ta d a co
mo u ma
e de um depois semrô ni ca " do co nt eu do , co ns ti tuid a "d
ânticos." e u m an tes
60
Id ., ib id . p . 27 2.
ENTRE FORMA E COMUNICAÇAO 47
6:lEco, Umberto. "A Mensagem E stética. " In·. A Estrutura Ausente: in-
troduçao à pesqu isa sem iolé gica . p. 68 .
64 Id ., ibid. p. 68 .
A ROSA DO POVO: UMA POÉTICA EM TENSAO 49
anti-poesi a" caracteriz ada por uma "nova austeridad e" (conforme a
designaçào de Hamburge r), produto da Segunda Guerra. A sobre-
posiçào de um polo - a dessacraliz açâo da "aura" do objeto artis-
tico no caso Dada e a destruiçâo dos "artiffcios " definidore s do
"poético" no caso da "nova anti-poesia " - nâo implica todavia
eliminaçào do outro: o conflito continua sendo a mola impulsiona -
dora da criaçâo. Trata-se da "dominânc ia" de um polo e nâo do
simples desapareci mento do outro, como explicam os formalista s
russos ao utilizarem o fecundo conceito de "dominan te" para o
estudo da evoluçâo litera.ria:
"Na evoluçâo da forma poética, trata-se muito menas do de-
saparecim ento de certos elementos e da emergênci a de outras,
do que de. deslocame ntos nas relaçôes mutuas de di versos
elementos do sistema, dito de outra forma, de uma mudança
de dominante . No interior de um dada conjunto de normas
poéticas gerais, ou entii.o, mais particularmente, num conjunto
de normas validas para um dada gênera poético, elementos
que eram originalme nte dominante s nao têm mais senâo uma
21
importânc ia m~nèr' e se tornam facultativo s".
No caso especifico da "nova anti-poesia " realizada ap6s a
Segunda Guerra, os acontecime ntos politicos sociais estâo na raiz
da assim chamada "nova austeridad e", coma ocorre, por exemplo,
na poesia de _Bertold Brecht, um dos antecipado res desse tipo de
pratica poética~1 Todavia, explica Hamburge r, nâo se deve pensar
que as caracterfst icas dessa "austerida de" sejam encontrave is apenas
em poetas preocupad os corn a "marxista politizaçâo da arttt) Com-
parecem também em algumas obras de T. S. Eliot (Four Ouartets
e obras posteriore s) e nos poemas p6s-45 de Gottfried Benn ou
de Eugenio Montale, para citar apenas alguns exemplos. Corn a
diferença que Brecht pôde falar na primeira pessoa e contudo falar
publico e politicame nte, enquanto poetas coma os citados acima e
outras, nâo chegam, embora ensaiem, a atingir o rigor do poeta
alemao, pois "seu gesto e imagem sâo dominados menas pela even-
to recordado do que pela resposta do poeta a ele, e esta resposta
nào vem de uma sensibilidade tao completam ente politizada coma
a de Brecht" 2 :2.
. Np casa de Drummon d, pode-se afirmar que, sobretudo no
livro de 45, ele se propoe o exercicio da " poesia impura' ':
;: ~~- _ lAKOBSO N, , ~oman. "La dominante." In: TODOROV, Tzve tan (dir.) .
i·/2' 10
ns d e poe/tque. p . 148. (Grifos nossos)
f . H A MB UR GE R , Michael. T h e Truth of Poetry : tensions in mod ern
poet ry from Baud ela ire to ninetee n-sixti es. p . 221.
56 JNTRODUÇAO
mrq_ulca_ P_11ra ",~,rn époc:a dada ." Cf. ''Les problèmes des étud :s litteraires
et lrnguistiqucs. Jn : ToooRov, Tzvctan (dir. ). Questions de poétique. P•
139. (Grifos nossos)
A ROS A DO POV O: U MA PO ÉTI CA EM TEN
SA O 59
qu e , do qu est ion am en to da val
iclacle da po esi a - pa rti cip an
ind ivi du al , pu ra ou im pu ra, "si te ou
gn o" ou "co isa " - ch eg a ao
tio na me nto da va lid ad e da pr6 qu es-
pri a lite rat ura e, ma is · rad ica lm
da eh ca cia do liv ro co mo su po en te,
rte in str um en tal do "c an to" qu
no me ia A R osa d o Po vo. , e se
P? rad ox alm en te - ou jus tam en
te po r tud o isso - rea liz a-s e
um a da s gra nd es ob ras da lite rat
ura pa rti cip an te no Br asil. 0 Dr
mo nd de A Ro sa do Po vo é, um -
co ma afi rm a a ma ior ia da crftic
tad a ne ste tra ba lho , um Dr um a ci-
mo nd ap ice - o pri me iro po eta
bra sil eir o "em sit ua çâo ".
É o mo me nto da pro cu ra
!
1 do "êx ito ":
''A po esi a é um per de- ga nh a.
E o po eta au tên tic o pre fer e pe
de r até à mo rte para ganhar. r-
( . .. ) Se, po rta nto , qu ise rm os
f a[a,· do en ga jam en to do po eta , dig am
se eng aja para per der ". :{u _ '-'1 os qu e é o ho me m qu e
.
f.
. .
r
60 INTRODUÇÂ O
P {J-2-4} == 3
E {5-7-25-30-31-43-44-45-46-47-48-49-50} 13
F {J 3-14-15-16-17-18-19-20-21-22-26} == 11
M == {Jl-2 4-34- 35-36 -37-3 8-39- 42-52 } == 10
I {3-6-8-9-1 0-l 2-23- 28-33 -40-4 1-51- 53} == 13
A {27-29} == 2
D {32} == 1
C {54-5 5} == 2
A enumeraçao dos textos, de acordo corn a seqüência em que
aparecem na obra, permite verificar que esses conjuntos reunem
poemas dispersas pelo livro todo, havendo, porém, aqueles momen-
tos de maior concentraçao de elementos sucessivos. É o caso dos
conjuntos E (engajamento), F (fechamento) e M (mem 6ria) . Ob-
serve-se, por outro lado, a dispersao dos poemas do conjunto I (in-
divid uo), dispersao essa denunciadora das constantes oscilaç6es do
poeta entre o engajamento nos acontecimentos de seu tempo e o
apelo à subjetividade.
Neste trabalho, daremos especial atençao à ana.lise dos con-
juntos E e F, que atualizam e ilustram, no nivel da pr6pr ia com-
posiçao da obra, a contradiçao fundamental do signo poético entre
autonomia e comunicaçao. A fim de analisarmos as oposiç6es entre
tais conjuntos, tomaremos coma ponto de referência a opera çao
metalingüistica que percorre todo o livro. Quanto aos demais poe-
mas, serao considerados em relaçao a esses dois grupos, uma vez
que atualizam as tens6es geradas pela antinomia bâsica.
Em vista disso, o trabalho foi organizado em duas grandes
partes: I. PO:ËTICA DO RISCO: 0 RISCO DA POES IA e II.
POÉ TICA DA PRO CUR A: A PRO CUR A DA POES IA. Cada
uma dessas partes apresenta-se dividida em três capîtulos que, con-
forme indicam seus proprios titulos, objetivam esclarecer as tens6es
dialéticas que caracterizam A Rosa do Povo, tanto sob o ponta de
vista da reflexao critica do poeta, coma dos procedimentos poéticos
praticados na obra.
1. Consideraçao do Po em a _,,..
2. Pro cu ra da Poesia _,
3. A Flo r e a Nausea·,,,,
4. Carrego Comigo
5. 0 Medo
6. Anoitecer
7. Nosso Te mp o
8. Passagem do Ano
9. Passagem da Noite
10 . Um a Ho ra e mais Outra
11 . No s Aureos Tempos
12 . Ro la Mu nd o
13 . Ap oro
14 . On tem
15 . Fragilidade
16 . 0 Po eta Escolhe seu Tumulo
17 . Vi da Me no r
18 . Campo, Chinés e Sono
19 . Epis6dio
20 . No va Cançao do Exilio
21 . Ec on'omia dos Mares Terrestres
22 . Equivoco
23 . Movimento da Es pa da
24 . Assalto
25 . Anuncio da Rosa
26 . Ediffcio Sao Borja
27 . 0 Mito
28 . Residuo
29 . 0 Caso do Vestido
30 . 0 Elefante
31 . Mo rte do Leiteiro ✓
32 . Noite na Repartiçao
33 . Mo rte no A viao
34 . Desfile
64 INTRODUÇAO
35 . Consola na Praia
36. Retrato de Famflia
3 7. Corno um Presente
38. Interpretaçâo de Dezembro
39. Rua da Madrugada
40 . Idade Madura
41 . Versos à Boca da Noite
42 . No Pais dos Andrades
43. Noticias
44. América
45 . Cidade Prevista
46 . Carta a Stalingrado
4 7. Telegrama de Moscou
48 . Mas Viveremos
49 . Visào 1944
50 . Corn o Russo em Berlirn
51 . Indicaçôes
52. Onde Ha Pouco Falavamos
53 . Os ûltimos Dias
54 . Mario de Andrade Desce aos Infernos
55. Canto ao Hoinem do Povo Charlie Chaplin
PRIMEIRA PARTE
Poética do Risco: ·o Risco da Poesia
5 Estamos nos servindo da disrinç.ao feita por Jean-Paul Sartre entre prosa
(--paiana-signo" J e poesia ("palavra-<:oisa" ) em '·Qu'est-<:e qu'écrire?" :
- r . .. J o império dos signos é a prosa; a poesia esta ao lado da pintura,
da esculrura, da musica. ( .. . ) Os poetas sao homens que se recusam ~
uti/izar a linguagem. ( . .. ) Na realidade, o poeta se descartou, de um so
go!pe, da linguagem-instm mento; optou definitivamente pela atitude poé-
ti,;a que ronsidera as palavras como roisas e nao como signas. Porque
a ambigüidade do signo implica que se possa atravessa-lo, à vontade, como
um cri.staJ, e perseguir mais além a coisa significada ou voltar a vista em
direçao de sua realidade e considera-lo como objeto. 0 homem que fala
e~t.~ aJém das palavras, perto do objeto; o poeta esta aquém." S~~'
Jean-Paul. Qu'esi-ce que la Ji11éra1ure? p. 17- 18. ··( . .. ) A prosa e uuh-
taria por e~acia; eu definiria de bom grado o prosista como o bomem
que re serve das palavras." Id., ibid. p. 26.
1
' Corno ja foi observado, estaremos utilizando o texto da ediçâo Fazen-
defro do Ar & Poesia até Agora. Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Ed.,
1~55. p. 207-380.
; In: ÛJ(;Tf.NHO, Afrânio (org.) . Obra Comp/eta. p. 505.
POÉTICA DO RISCO: 0 RISCO DA POESIA 69
ido,
"Se_la~·ei , 1:en~a- murc~a, meu comércio incompreend
se compôs
pois 1amazs vzrao pedir-me, eu sei, o que de melhor
[na noite,"
("Anuncio da Ros a")
" ·.... ... ... ... ... ... ... ... .. . Vejo tudo
impossivel e nitido, no espaça".
("Versos à Boca da Noite")
la?
"Corno f azer uma cidade? Cam que elementos tecê-
[Quant os f ogos tera?"
("América")
Berlim?"
"Coma lutar, sem armas, penetrando com o russo em
("Corn o Russo em Berlim")
usivamente
O poeta de A Rosa do Povo nâo é, portanto, excl
uma etapa defi-
o poet a engajado. 0 lirismo social e politico nâo é
nos momentos
nitiva de sua criaçao: o "fracassa" o fascina, mesnio
a participaçâo .
em que se afirma a crença, ou em que se realiza
versos:
Observe-se, por exemplo, o conflito que percorre estes
de angustia
e você , girafa, tentando".
("Onde Hü Pouco Falavarnos")
t r ,1w /f ,> " " 1 ·,1111 0 do !1 , 111u·111 0 11 rio mlt11u l n11 r1 w 1 rodr1,
.t/i,11 ,,•v,, ,,,,, ,/,· ( rl!/{ ( I rlr/(U' ï,rl , jo11,1J H lrn l,1 J)(Jr' lltn nûrn cro de
rç;a1;a,
("Jdad c Madura,, J
"o eco
ja nii.o correspondendo ao apelo, e este fundindo-se,"
( "Vida Men or")
3. Um tan.ta de madeira
4. tirado a velhos m6veis
5. talvez llze dê apoio.
6. E o en.cho de algodâo,
7. de paina, de doçura.
8. A cola vai f ixar
9. suas orelhas pensas.
10. A tromba se en.ove/a,
11 . é a parte mais feliz
12. de sua arquitetura.
13. Mas ha também as presas,
14. dessa matéria pura
15 . que n.ao sei f igurar.
16. Tao alva essa riqueza
17 . a espo jar-se nos circos
18 . sem p ?.rda ou corrupçao.
19 . E ha por fim os olhos,
20. onde se deposita
21 . a parte do elefante
22. mais fluida e permanente,
23 . alheia a toda fraude." ( Grifos nossos)
1"'
ü CANT O SE OPE RTA AO POVO 77
"AN ll NC'lO DA ROSA ":
deno tado e a
taur a tamb ém a tensào entr e a unidnde do objeto
m de mate-
plura1idade da .ima ge m criada poe ti ca mente ( montage
ri ais hete rogè neos ).
res da
Imp ureza e fra gmentaçào sao •OS traças caracterizado
a poesia, ha
cria çào poética: assim corna ha o risco de se perd er
( comunicaçâo
tam bém o risco de nào se atingir o objet ivo visado
a-se, desde
atrav~s da imagem recr iada poeticamente) . Manifest
l ogo, a desconfiança do poet a corn relaçào ao
seu proj eta de cons-
truç ào da lirica part icip ante .
sinta-
Sob o pon to de vista do plan a da expressào, a estru tura
a ao processo
tica dos primeiros versos (versos 1 a 14) é isom6rfic
e". 0 texto
de desa rticu laçâ o/ rearticulaçào da imagem do "elefant
repr esen tam a
frag men ta-se em peri odos simples que, justapostos,
a, uma sin-
cons truç âo frag men taria do elefante poético. Em sum
taxe de "cola" evidencia a precariedade da montagem.
mon ta-
Além da fragilidade da "cola" como procedimento de
ico "vai fixa r"
gem aind a nào efetivado - o processo verbal perifrast
( verb o ir+ infinitivo) indic a açâo ainda nâo realizada ( versos 8
cadores do
e
9 ) - sâo dignos de nota outr as traças lingüisticos indi
o ("ta lvez ")
risco que a prat ica part icip ante corre: o hipotético apoi
o, resistente e
proc urad o em um material que é, ao mesmo temp
ssibilidade de
desg asta do pelo temp o (versos 3, 4 e 5) e a impo
figu raçâ o da "ma téria pura " (versos 13, 14 e 15).
ntra seu
A fragilidade manifesta-se em todos os niveis e enco
odos simples
refe rent e sintatico na passagem da construçâo de peri
à de perfo_dos com post as por llipo taxe , (versos
15-2 3). No verso
subo rdin açâo
15, a oraç âo relativa "que nâo sei figurar" indica a
relativa "ond e
do poet a à "ma téria pura "; nos versos 19 e 20, a
do poét ico
se depo sita" é indice, por outro lado, da subordinaçâo
processos
aos "olhos" - registro objetivo do fato concreto. Tais
s: arte pura
sintâticos atualizam aquela oscilaçâo entre os dois pôlo
( dista ncia da da real idad e) e arte humanizada ( com prom etid a corn
1
os vari as nf veis da existência).
ivo dos fatos presentes,
-1Os "olhos", como form a sensorial de registro objet
e parti cipan te: "olhos
ocor rem corn alta freqüência nos poernas de fndic ("Nosso Tem po") ;
acesos " ( " 0 Med o"); ''rneu olho que ri e despreza" s sâo pequ enos para
olho
;•os olhos sabern e calarn-se" . (''Am érica " ); ''Meus
do poem a "Visâo 1944 ");
ver H (reite rado no infcio de todas as 25 estrofes o rnsso em Berli m."
"S6 os olhos / no retra to, no mapa. S6 os olhos / corn Arra nco os olhos e
( "Corn o Russo ern Berl im") ; "Estou cego e vejo. üineo vejo." ("Ma rio
vejo. / F uro as paredes e vejo. Através do mar sang s olhos / pessimistas,
de Andr ade Desc e aos Infer nos" ); "surges a nosso o.lhos sao profu ndos
os
qu e te inspecionarn e meditam" ( ... ) , "entr etant o Char lie Chap lin") .
em do Povo
e a boca vern de long e." (''Ca nto ao Hom
e apelo ao passado (me-
Inclu sive, deve -se nota r que a r enun cia ao presente
p
-.J,
-
82 CAP. I - "ANU NCIO DA ROSA ": 0 CANT O SE OFER TA AO POVO
.-, J> i\ / , Octavio. '·Los Signos en Rotacion." In: El A rco y la Lira. p. 278 .
fi N: 1 cronica "Boadell a en tre Elefantes", Drummond destaca a alta fre-
qü ência de ''e lefan tes" na poesia de José Boadella, considerando-os coma
p!-. eud ônimos do proprio poeta - 'Todos sâo Boadella, mas o poeta se
c:o mpraz cm conser va-los sob a espécie elefantina, bichos poderosos e igno-
rn11 t l!J de s11a força ( ... ) " - e se nuto-refere coma "pobre elefantezinlw
niîo mi:tr,fisico, que mal sei abanar a tromba". Co11 fissoes de Minas. ln:
( n u T JNJh >, Afrü ni o (o r g . ). Obra Completa. p. 553.
84 CAP. I - "ANUNCIO DA ROSA": 0 CANTO SE OFERTA AO POVO
,
CAPITULO II
5 Esse poema servira como ponto de ref erência à abordagem dos demais,
uma vez que reune os traços marcantes da pratica participante.
6 Ao caracterizar os pronomes "eu" e "tu" pela "marca de pessoa" ( eu =
= "pessoa-eu" ou "pessoa subjetiva"; tu = "pessoa nâo-eu" ou "pessoa
nâo subjetiva" ) , Benveniste explica as relaçôes que se estabelecem entre
eles: "ao par eu / tu pertence propriamente uma correlaçâo especial, que cha-
maremos, à falta de melhor, correlaçifo de subjetividade. 0 que diferencia
"eu" de "tu" é primeiramente o fato de ser, no caso de "eu", interior. ao
enunciado e exterior a "tu", mas exterior de uma maneira que nâo supnme
a realidade humana do dialogo; pois a 2.a pessoa dos empregos citad?s , ~m
ru sso, etc. , é um a fo rma que presume ou suscita uma '·pe, soa" f1ct•c,ta,
e corn isso institui uma relaçao vivida entre "eu" e esta "quase-pessoa" ; al~m
disse , "eu" é sempre transcendente corn rel açâo a " tu". B ENVE NISTE , Émi~e.
"Stru ct ure d es relations de personne dans le verb e." I n: Pro blèm es de lui·
guistiqu e générale. p. 232.
0 RI SC O DA POESIA: A AB E R TURA DO . . . 91
E1 1. "Stalingrado . ..
2. Depois de Madri e de Londres, ainda ha grandes
[cidades!
3. 0 mundo nâo acabou, pois que entre as ruinas
4. outras homens surgem, a face negra de p6 e de
[p6lvora,
5. e o habita selvagem da liberdade
6. dilata os seus peitos, Stalingrado,
7. seus peitos que estalam e caem
8. enquanto outras, vingadores, se elevam."
1
1
"Visâo 1944":
E13
entre la tas, na areia, entre formigas
incompreensîveis, feias e vorazes.
. . . . . . . . . . .. .. . .. .. .... ... . .. .. .
sem noticia dos seus e ,perguntando
ao sonho, aos passarinhos, às ciganas.
E22 ..................................
essa imagem calada, que se aviva,
que ganha em cor, em forma e profusâo.
AS APORIAS DA PARTICIPAÇAO
C an ta um a ca nç âo
no ermo continente,
baixo, nâo te exaltes.
Olha ao pé do fogo
ho m en s agachados
esperando comida.
Corno a barba cresce
,
co m o as m âo s sâo dura
s,
negras de cansaço.
C an ta a estela maia,
reza ao deus do milho,
mergulha no so nh o
anterior às artes,
qu an do a fo rm a he si ta
em consubstanciar-se.
C an ta os elementos
em bu sc a de forma.
En tr et an to a vida
elege semblante.
0 lha: um a cidade.
Q ue m a viu nascer?
0 so no dos ho m en s
ap6s tanto esf orço
te m frio de morte.
N âo vas acorda-los,
se é qu e estâo dorntin
do."
( Grif os nossos)
As formas verbais impe
rativas designam nâ o
raçâo do po et a aos "c s6 o apelo-admi-
an ta do re s" populares,
-advertência dirigido a como um conselho-
si mesmo: retorno às
da poesia corn a music 9 origens, reconciliaçâo
a. Seriam o rito prim
za ") e a cançâo po pu la itivo ( "c anto " e "r e-
r (" vi ol a" ou "b an jo ")
os meios adequados
9
l':. licito ap ro xi m ar
essa po ss ib ili da de av
m aç ao de Ez ra Po un en
d qu e no s ob rig a a re ta da pe lo po et a de um a afir-
af et am a po es ia co nt em pe ns ar m ui to s do s pr
po râ ne a: "A m us ic a ob le
da da nç a. A po es ia ap od re ce qu an do se af m as qu e
se at ro fia qu an do se asta m ui to
espécies de m elo pé ia, af as ta m ui to da m us
a sa be r, po es ia fe ita ic a. Ha trê s
m od ia da ou en to ad a; pa ra se r ca nt ad a; pa
pa ra se r fa la da . Qu ra se r sa l-
mais a ge nt e ac re di an to m ais ve lh o a
ta na pr im ei ra ." Po uN o, Ez gent e fic
p. 61. ra . AB C da Li terat a,
ura.
AS APORIAS DA PARTJCIPAÇA O 117
à expressâo do canto-rosa do povo? "Talvez apenas um ai de
seresta, quem sabe". 10
10 Mais uma vez cabe anotar aqui observaçôes f eitas por Drummond a
respeito do sistema poético de Garda Lorca, posto que revelam uma
concepçao geral sobre a poesia e o poeta, e, sobretudo, evidenciam o con-
flito crucial que aflora no momento de participaçao: "( ... ) Nâo era ho-
mem de partido. Era um poeta, ou seja, um individuo dotado do poder
de recriar os objetos e a atmosfera em que eles se realizam. E era tam-
bém poeta no sentido medieval e eterno em que a poesia é dom que
se distribui, meio de comunicaçiio entre os homens, e fusâo lfrica da massa
concentrando-se num individuo e refluindo sobre a massa através dos cân-
ticos que o individuo produziu sob sua influência e o seu ditado. ( ... )
Garda Lorca ( ... ) soube distinguir entre as contradiçôes de sua pâtria
e achar, através delas, o seu justo caminho. Ficou corn o povo, apro-
priando-se assim do opulento cabedal lirico que o povo costuma .of erecer
aos que realmente o penetram e assimilam. Dai essa "poesia de veias aber-
tas ", que um critico lhe assinalou, e que nada tem da enfâtica receita
nietzschiana da literatura escrita corn o sangue." "Morte de Frederico Gar-
da Lorca." DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Confissoes de Minas. In:
CounNHO, Afrânio (org.). Obra Completa. p. 547. (Grifos nossos)
--
CAP. Ill _ AS APORIAS DA PARTICIPAÇAO
118
sam ser <litas. / Ha o indis~into mover _de labios no galpào, ha
. tudo silêncio,") mas se instaura e cna o poema. 0 traço co-
so l'J, e . eI
q ue identifica e integra ta1s ementos e, a " so 11·d ao
- "
( "da
mum
Améric a", ·:'de milhoes de corpos ,, , " . h 1·ct - " )
, ~m a so.' . ~o ,
atraves da
quai paradoxa lmente, é entrev1sta a umca poss1b1hdade de comu-
nica~âo - "Solidâo é Palavra de Amor" - comunica çâo do
silêncio:
vefculo
0 poem a que se auto -crit ica e se nega com a form a e
te vincu lada
de expr essa o, ao prop or uma prâti ca poét ica diret amen
à vida e acess fveJ a todo s os habi tante s de "nos so pais"
( versos
o calca da
16 a 20), nad a mais é do que o exerc fcio de 'uma dicçà
licid ade: é
num ritm o de acen tuad o sabo r popu lar e de gran de simp
as maiores,
a expe rime ntaç âo de uma nova form a em redo ndilh
poem a nâo
Jingu agem desp ojad a e diret a, mas nâo popu lar. 0
que se
deix a de ser, porta nto, a pr6p ria imag em do para doxo
fato de se
reveJa c se reali za com o tal: e nâo é para doxa l o
conti nui-
conv ocar em os "bar das" e " vago s canto res tupis " a dar
cons truçâ o J\
dade ("Re toma i minh as pala vras ") a um proje ta de
imobilizada·
do "pais de ri so e gl6ri a" expr esso em lingu agem cuita,
no Jivro'?
AS APORIAS DA PART ICIPAÇÂO 121
Cansado de vâ pergunta,
farta de contemplaçâo,
quisera fazer do poema
nâo uma flor: uma bomba
e corn essa bomba ramper
o mura que envolve Espanha."
É claro que nestes versos a negaçâo tem um sentido mais
amplo: a intençâo ( ainda que como ~~!tao hipotética) é sair da
esfera da arte para a açâo concreta. Ja nos poemas "América" e
"Cidade Prevista", o problema se coloca em termos de busca de
uma forma poética mais eficiente, que torne efetivo o ato da co-
municaçâo, e, assim, possibilite a colaboraçâo na tarefa geral da
12 Nos "Apontamentos Literarios", reunidos no livro de crônicas Passeios·
na llha (19 52), Drummond anota: "Nao ha tempo de epopéia, reclamando
poetas aptos -para interpreta-lo. Ha - ou nao ha - poetas épicos, capazes
de extrair seu alimenta do contemporâneo mais algido, como do passado,
ou do futuro." In: CouTINHO, Afrânio (org.). Obra Completa. p. 663.
13 Sobre o problema da "nostalgia de uma poesia feita por todos e para
todos", Octavio Paz manifesta-se da seguinte maneira: "( ... ) cuando
el libro substituy6 a la voz viva, impuso al oyente una sola lecciôn Y le
retir6 el derecho de replicar o interrogar. ( ... ) En su origen poesfa, mu-
sica y danza eran un todo. La division de las artes no impidi6 que du-
rante muchas siglos el verso fuese todavfa, con o sin apoyo musical, canto.
En Provenza los poetas componfan la musica de sus poem~s. ~sa ~ue
la ultima ocasi6n en que la poesia de Occidente pudo ser mus1ca sm deJar
de ser palabra. Desde entonces, cada vez que se ha intentado reunir ambas
a~~es, la poesia se pierde como palabra, disuelta en el sonido. 1~ inven-
cwn de la imprenta no fue la causa del divorcio pero la acentuo de_ t~!
modo que la poesia, en /ugar de ser algo que se dice y se oye. se convzrll?
en algo que se escrihe y se lee. ( ... ) Transito d(!l acto pu_blico al P"~
vado: la experiencia se vuelve solitaria ." PAZ, Octavio. "Los S1gnos en Ro-
taci6n." In: El Arco y fa Lira. p. 277-78. (Grifos nossos)
r
122 CAP. llI - AS APO RlAS DA P ART H.. IP AÇÀ O
_ ,
"Aur ora
entretanto eu te divisa ainda timida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartiras corn todos os ho mens.
Sob o umid o véu de raivas, queixas e humilhaçôes,
adivinho-te que sobes, vapor r6seo, expulsando a treva
/ t[noturna.
0 1riste mund o fascista se deco mpôe ao contato de teui' dedos ,
.... ... ... .. . .... . . . . . . .... .. .. . . .. .
Essa metâ fora da luz - que tamb ém para E. H. Gombrich
é tao simples e compreensivel coma a balan ça da justiça 1 7
16
C f. FRYE, North rop. Anato mia da Crztica: quatr o ensaios.
p. 119.
~ 17
C f . G O MBRIC H, E. H. Freud y la Psicologia de l Arte : estilo
estruc~ura a la luz del psicoa nalisis. Barce lona, Barra l, 197 1. , forma y
p. 51.
Tamb em Jean Starobinski, ao cham ar a atença o para a grand
e vigência das
metâf oras da luz que tt'iunfa sobre as trevas, da vida brota ndo
da morte , do
mund o que ret~rn a . a. sua origem , na época da Revol uçao Franc
ao carate r de s1mpltc1dade e ao valor de repres entaça o coleti esa, alude
va dessas rne-
tafora s ,- "~~titeses antidiluvianas, carreg adas de significado
rante_ seculos . . E e~plica: "Desd e que o ant igo regim e ha religioso du-
em lmgu agem s1mb61I ca, a aparê ncia de u ma nuvem escura , de via adqui rido,
um flagelo
• AS A PO RIAS DA PARTICIP AÇAO 125
persiste em A Rosa do p ovo, d ando contin 'd d '
t . . UI a e a esperança do
Poe a na revoluç âo proleta . 1 ,,
do Poema "' ela corn are na. a no pnme1ro texto, "Consideraçâo
e "far6is "; desde aî itravce, sob _as formas variantes de "lanterna"
O
simples de "luz" ( "N essTa hv~? todo, seja sob .as formas mais
" osso empo ) ' "sol". ( "M ov1mento da Es-
pa d a , "Canto ao Homem d p
( "Morte do Leiteir o" "M o y·ovo Charlie Chaplin") e "aurora"
Povo Charlie Chapli n';) se~s ive~emos", "Canto ao Homem do
"estrel a" "brilho " "d.' " J~, slob d1versas outras modalid ades coma
' .
ia ' c ara manhâ" , para c1tar apenas os·
exemp les' mais notaveis.
Apesar dessa grand e .ocorren ,
" • o nucleo simb6Iico da obra
de 45 é ~ cia,
a nao menas secular imagem a rosa " . E m ambos
d "
os casas ( "auror a" e " ,,
ticas". mas lh ros~, ) ' .~~de-se fa~ar em "imagens apocalîp-
.d '. a esco a da rosa como s1mbolo condutor da obra
do politic · 1 - d a obra que representa o
" e ma1or conteu
. . 0 e socia
_sa1!~ p~rtlci pante" e busca o trânsito para a açâo - é bastante
sign~fi_cativa. S~g_:1ndo Northrop Frye, "no Ocidente a rosa ocupa
tradic10nal pos1çao de prioridade entre as flores apocalipticas: o
us~ da rosa como um s1mbolo de comunhâo do Paradiso vem-nos
fac1I1:1-ente ao espirito ( ... ) " 18 0 significado dessa escolha pode
ser a1nda avaliado através de uma bela crônica de Eça de Queiroz
"As Rosas" ( 1893), que se desenvolve exatamente em torno d~
simbol ogia da "rosa" - a flor de "carreira mais triunfal", embora
nâo pertenc ente à grande aristocracia floral coma a açucena ou o
loto. Eis como Eça termina sua crônica:
"E flor profun dament e interesseira e astuta! la no dia primeiro
de Maio, que se vai tornando o grande festival do proletariado,
eu vejo a rosa quieta e contente nas calosas maos dos opera-
rios em folga. Nos jardinetes dos mineiros, em lnglaterra e
em França, ja floresce sempre, entre as saladas democraticas,
um pé de roseira viçoso e prometedor. Em todos os meetings,
nas greves, é usual que a rosa venha armando a casaca dos
chefes, ou apareça, bordada e ja corn a autoridade dum em-
blema, nas bandeiras das associaçôes. . . E estou antevendo
que esta habit e intrigante flor, que foi sucessivamente helénica,
pagii, imperial, feudal, cat6lica, mistica; que, captando-lhes o
amor, parti/hou o poder dos her6is, dos senados, dos césares,
dos baroes, dos papas, dos santos; que se identif icou arteira-
rnente corn Vénus, quand~ era__Vénus que no seu cinto fe-
chava o rnundo todo, e se zdentzf zcou logo corn a V irgem Ma-
1
ria quando por seu turno foi a Virgern que pousou os pés so-
bre o orbe - anda a realizar a sua /enta conversào , e pouco
i
1
a pouco se insinua e se entrelaça no nova e trernend o poder
que se levanta, e toda ela se prepara, e se avermelha, e se per-
furna para ser, oficialrnente e ritualrnente, a flor do socialis-
rno" . 19
Hl Q u EJROZ , Eça de. '"No tas Contem po râneas. " ln : Ob rns . p. 1526.
li
RTICIPAÇAO 127
AS APORJAS DA PA
d
con_junto metaf6rico "A rosa o povo .
,, H.,
. . a momentos, in clusive
en am ente . '
em que aparec em pl
, . 1dent1 f1 cadas como, por exemplo,
ne ste s versos de IIM as v1veremos":
enidas,
"E le c,aminhara nas av1· .,
entrara nas casas' ab o ira os morios
El . . v' .
. e via1a sempre, esse .fià io,
essa sa, esse canto, essa palavra".
. ro
( Grifos nossos)
/
"me u cora çâo"
~
"qua lque r pont o da terra "
i.
1 PAS SAD O 1 1 PRJ EN TE 1
chineses
indios
negros
MU NDO PED RA
"mu ndo de toda s as cores" "mu ndo escu ro"
NAV IO RUA
-
CAP. llT _ AS APORIAS DA PARTICIP AÇAO
132
A ~viagem-----
. do quarto
requena apenas
a chama da vela.
Que longa, se o rosto
f echado no livro.
23 Ao analisar o pensamento mftico, Ernst Cassirer observa: "Os limites
entre as diferentes esferas nâo sâo obstaculos insuperaveis senâo fluentes e
oscilantes; nao existe dif erença espedfica entre os di versos reinos da vida.
Nada possui uma fo rma definida, invariavel, estatica ; mediante uma t;m eta-
morfose subita, qualquer coisa pode-se converter em qualquer coisa. S~
existe algum traço caracteristic o e saliente do mundo mitico , alguma lei
que o governa, é a metamorfos e. " CASSIRER, Ernst. A ntropologfa Filos6-
fica: introducci6n a una filosofia de la cultura . p. 126.
134 CAP. III - AS APORIAS DA PARTICIPAÇAO
E dos subterrâneos
a chave era nossa,
..................
Chegando ao limite
dos tempos atuais,
eis-nos interditos
enquanto prosperam
os jardins da gripe,
os bondes do tédio,
as lojas do pranto.
0 espaço é pequeno.
Aqui amontoados,
e de mâo em mâo
um pape[ circula
em branco e sigilo,
talvez o prospecta
dos aureos tempos.
"tu pequeno,
tu simples, tu qualquer.
o dem onst rar nest e capf tulo : o/ poet a nâo de scon f'I a
mos proc urad ~ . ., . , . .
apenas de sua expe nenc ia, poet tca. mas da prop na valid ade d a poe-
d 1· l d . f com unic acào D ,
\ s 1.a e o 1,To com o ve1cu o e m orm açâo e , • f.a1
term os ressa 1ta do os mom ento s em que se afirm a a cren ça na e 1-
, · f ·1· d outr es vefculos com o os telegra mas,
cac1.a de . o rmas utt 1zad as ,por .
os JOrna1s e. no caso o u 1timo poem a, o cine ma.
2s
realiza uma
Por outr o lado , ~od_e-se afi~n:iar tamb ém que se
a brasileira n
das gran des obra s de md1ce part icip ante da liter atur ·
Consciència da crise mas nào renuncia à poesia:
des poe-
"( . .. ) a part ir de Une saison en enfer nues tros gran
a mas alta
tas han hech o de la nega ci6n de la poes ia la form
cia poética
de la poesia: sus poem as son critica de la experien
a mism o'.
crîtica del leng uaje y el significado, critica del poem
bra .
La pala bra poét ica se sust enta en la negaci6n de la pala
El circ ula se ha cerr ado" . 30
CAPfTULO 1
E1 27. N âo recomponhas
28. tua sepultada e merenc6ria infância.
29. N âo osciles entre o espelho e a
30. mem6ria em dissipaçâo.
31. Que se dissipou, nâo era poesia.
32. Que se partiu, cristal nâo era ."
( Grifos nossos)
o dO
re cu pe ra ça o da po es ia na da mais é, portant que a
A
ao da pa la vr a pe la exploraçâo de t~d
busca de revitaliz aç
na E as as suas
se de fin e :
vi rtualidades. É o qu e
6
ra
rto e contempla as palav s.
E 6 48 . "Chega mais pe
a
49 . Cada um
50 . tem m il faces secr
etas sob a face neutra
interesse pela resposta,
51 . e te pergunta, sem lhe deres:
52. pobre ou terrivel, qu e
"
53 . Trouxeste a chave?
un to lo ng o co m po sta pe la E 5, esta estrofe
D es ta ca da do co nj pe ne tra çâ o no "reino das pa-
pr oc es so de
re pr es en ta o climax do en çâ o pa ra as multiplas e infinitas
a a at
la vr as ", visto qu e ch am ic o qu an do su rp reendido em si mes-
gü ist
virtualidades do signa lin do cr ia do r corn o objeto de sua criaçao
face
mo. 0 co nf ro nt a face a ra sa lv ar a pa la vr a do desgaste a que
el pa
é o unico ca m in ho viav a un ic a po ss ib ili dade de se continuar
nt o,
esta su bm et id a e, po rta rq ue im pl ic a a descoberta das "mil
et ud o po
a fazer poesia. So br ut ra ", ou se ja, de dimensôes inexplo-
fa ce ne
faces secretas sob a ili da de po ét ic a que se propôe a utili-
s à se ns ib
radas, imperceptivei m a m ei o ou instrumenta para a co-
am en te co
za r a pa la vr a unic s ou fa to s. 12
, se nt im en to
m un ic aç âo de idéias 49 e 50 , ao contrario; focalizando
s ve rs os
A asserçâo feita no ct iv as in us itadas para a arte
ab re pe rs pe
a pa la vr a co m a "coisa", ta de no va s pr ismas significantes e
sc ob er
da linguagem - a de
- a
ad e de es co lha , ma s tam bé m - e sobretudo en-
criadora significa Jiberd a consciência seletiva e crftic a." Nota acr m- esc
1iberdade vigiada po r um nologia da Composiçao à Matematica da Co
me
tada ao ensaio "D a Feno esia Concreta. p. 93.
posiçao." In : Teor ia da Po a ?a au ;
sso Kh leb nik ov , pr eo cu pa do corn o problem s~dad e ,:
1 2 0 grande po eta ru ") - a neces
ra em si, en qu an to tal o
e dar-Ihe uma "vida ~~0
da pa lav ra (" a pa lav
nomia pr ov oc ad a pe lo us o"
o ., :
liberta-Ia da "petrificaça e eficiente co mp ar aç ao entre as sementes dats ) ·
pr ia" -, faz um a bela es") e os fonemas da Ifngua ("graines de Mo
resta ("poignée de grain heiri~iho~ · -~
carvalhos, pin he iro s, pin s e cnad
es ta nu m ba sq ue , vê
"Se você nc os, galho
ade de folhagens, tro
M as Ioda esta diversid s qu e pr ati ca me nte nada dis tin gue uns
iïo
de um pu nh ad o de gr sta do fu tu ro ca be ria na pa lm a de sua
da a flo re lav~as
dos ou tros. To sin a qu e tod a a di ve rsi dade das pa O"raos
nt ica en
miio. N os.sa semâ eq uiv alente aos 1'/ " CIO
•
combina çao e succssa o dos sintag mas lingLiîsti cos, para chegar a ser "Sin-
taxe", no sentiJ o m a l la rm ean o d e " todas as relaç6es (so bre a P agina) " .
C f . CoHN, Ro bert (] ree r. L'Oc ul're d e Mallarm é - Ull co u p d e d és . nota
4, p . 18.
, ri E pfgrafc ao cnpitul o Ir. " Kl ein e T ex th eorie." ln : Ein fii lmm g in die
i11fo rm u tio 11 s t/1 eor i e Aslli etik . Hambur g, Ro wo hlt, 1969 . p. 73.
I;
162 CAP. I - DA "ROSA DO POVO" À "oRQU IDEA ANTIEUCLIDIANA"
54. "Repara:
55. ermas de melodia e conceito,
56. elas se refugiaram na noite, as palavras."
;~ Apud ~AMPo~, Harold~ _de. "A Nova Estética de Max Bense." In: M eta-
21;guagem . ensa1os de cntica e teoria literâria. p. 13.
CAdMPoCs, Augusto de; PIGNATAR I, Décio e C AMPOS Haroldo de. "A
M oe a oncreta da Pal a " T .· d p . ' ,.
'f ' '· • eo11a a oesza Con creta· textos cnt1cos e
!;;arn e~t~s, 1950-1960. p. 113. ·
- Id., 1b1d. p. 112.
DA ''ROSA DO POVO" À "oRQUIDEA ANTIEUCLIDIANA" 167
p. 112.
~2 /d., ibid.
2a e portanto, situar o programa de "Procura da Poesia" no quadro
lfcito,
geral da vanguarda artfstica que se afirma no Brasil na década de 50. Por
isso mesmo é que pudemos utilizar alguns textos e manifestos constantes
da Teoria da Poesia Concreta para a anâlise do poema. Se os poetas con-
cretos, em seus manifestos ou em sua atividade crftica, referem-se a um
"cerlo" Drummond - de "Uma Pedra no M eio do Caminho", ' "Cidade-
IDIAN A ;'
168 CAP. 1 - DA " ROSA DO POVo ' ' À " oRQU lDEA AN TJ EUCL
1 !,2-
2 CAMPOS, Augusto de. "A Moed a Concr eta da .Pala." Op. cit .. P·
l'i
nal. Re-
:to Cf. CAMPOS, Haroldo de. •'Poes ia Concretu e Realidade Nacio
vista Terulh 1cia , 4. p. 93 .
,
1
CAPITULO II
A PROCURA DA POESIA:
0 FECHAMENTO DO DISCURSO POÉTICO
Foi a pesquisa formalista que demon strou claram ente que a mu-
3 "( •• • )
dança, a evoluçâo, nâo sâo somente asserçôes de ordem hist6ri ca (de inicio
ça é
havia A, depois A 1 se instalou no lugar de A), mas que a mudan
também um fato sincrônico diretam ente vivido, e ·um valor artistico perti-
nente." JAKOBSON, Roman. "La domin ante." In: ToooROV, Tzveta n (dir.).
Questions de poétique. p. 150.
4 Id. p. 148.
5 Cf. MuKAROVSKY, Jan. "L'art comm e fait sémiol ogique " e "La dénomi-
p.
nation poétique et la fonction esthétique de la langue." Poétiq ue 3.
387-98.
També m Jakobson, ao afirma r que a funçâo poética nao é a (mica funçao
as
presente na arte da linguagem - é a "domi nante" a que se subme tem
218)
demais funçôes - tanto em ''Linguistique et poétiq ue" (Essais. p.
aponta para a questa o da
como em "La domin ante" (Questions. p. 148),
dialética entre o fecham ento e abertu ra da mensa gem poética .
6 Servindo-se da tese de Max Bense sobre a "corre alidad e da inform açao
de
estética", Harold o de Campo s levanta a hip6te se de uma "corre alidade
verbal , na medid a em que
segundo grau" para o caso da obra de arte
ou da
"como observa Roland Barthes, a literatu ra, diferen tement e da pintura
a de
musica, é uma mensagem segunda, que se erige como um sistem
te. f:
conota çao sobre a mensa gem primei ra da Hngua denota tiva corren
fisicali dade do som ou
um sistema complexo, fundad o nao sobre a mera
signifi cado de
das formas e cores, mas sobre a unidade de significante e
.''
um outro sistema de base, o sistem a da Hngua ou da linguag em verbal
A PROCURA DA POESIA: 0 FECH.-\MENTO DO ••. 173
"O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e corn suas palavras, intuiçoes, simbolos e outras armas
promete ajudar
a destrui-lo
como uma pedreira, uma f loresta,
um verme.''
12 . eu me sinto hem
13 . e ai me sepulto
14. para sempre e um dia."
E1 1. "Um sabia
2. na palmeira, longe.
. .. ............ ...
Ea 9. S6, na noite,
10. seria feliz:
. ... ..... ..... . .. ...
E5 19. Ainda um grito de vida e
20. voltar
21. para onde é tudo belo
22. e fantastico:
23. a palmeira, o sabia,
24. o longe."
"a queixa
no vacuo"
_ A PROC URA DA POESI A: 0 FECHA MENT O DO
184 CA P . Il • ••
. Corn ? se pode obser var, o movi ment o e meta morf ose das
1magens e at~al~zado
eor um proces~o de mont agem em que os
cartes,, metomm1cos sao efet~a~os 1ustamente pelôs "enja mbe-
ments e ~elas pausa s gramaticais locali zadas no interi or dos ver-
sos ( especrnlmente as pausa s fortes verificaveis nos verso s 2,
3,
A PROCURA DA POESIA: 0 FECHAMENTO DO . . • 185
"Os alcoois:
Sua alma sua palma
seu tédio seu epicédio
sua fraqueza sua condenaçao.
Samos o cristal, o mita, a estrela,
em n6s o mundo recomeça,
as contradiçoes beijam-se a boca,
o espesso conduz ao sutil.
Somas a essência, o logos, o poema .
Brandy anisette kümme l nuvens -azuis
cascata de palavras . .. "
("Noit e na Repart içao")
27Este poema mereceri a ser trnnscrito inteirn mente, visto que é umn das
experiên cias mais rad ica is, enqu an to globalid ade de procedi mentos in usitados .
de toda A R osa du Povo.