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Foi com essa constatação que Jacques Petit concluiu, há dez anos,
um primeiro debate dedicado à produção do texto e aos manuscritos
lirer:irios. 1 Te ndo em vista a distância do tempo, não é m ais a
provocação (ou seria a resignação?) da assertiva que impressiona, mas
sua data. Ela assinala de modo preciso o momento em que o texto
I
começa a suscitar um novo questionamento e um certo deslocamento
do olhnr. Sendo também a transformação de uma crítica qualificada
tksde então corno "genética", podemos nos interrogar sobre a relação
entre essas duas o rdens de fatos. Faz-se necessário, para falar de gênese
e dr texro, dar às palavras o seu sentido ou, m ais especificamente,
res tituir-lhes o sentido. Nesse caso, é preciso reto rnar no tempo, para
bern anres da última década.
A noção é, com efeito, o resultado de uma evolução muito singular
por sua dimensão histó rica. Compreende um p erío do d e grande
estabilidade que se inscreve numa lo nga duração e um p eríodo breve )A
e recen te de grandes mutações. O primeiro nos remete à Idade Média V/
') 'fit1d11rtio dt' ( i1r/01 J.:.dmmlo G,1/1•ào Braga, Jadra do N asdmmto Sih 1a, l~ylka Carlos Linu, Vida/
(J>ro;do •.' jl!elii de jo1é 1.Jtl.r do Rrgo'J. Esta tra<luçào foi originalmente publicada no Cndm,o
d, te.,toJ'. cri tica genética, João Pessoa, Curso <lc Pós-Graduação cm Letras, Universidade
h·drr:tl da Paraíba, s{oric 2, n. 5, 1991, pp. 15-31.
'•) Dirt·tor de Pesquisa do CN RS (lnstitut d es textes et manuscrits mode rnes) . Texto
origjnalrrn:nte publicado em Poitiqur, Paris: Scuil, n. 62, avr. 1985, pp. 147-158.
1J Les manuscrít$: tra nscription. éditio n. signi ficaúon, Colloquc CNRS-ENS, Paris, 1975
'.\ctcs publiés aux PENS en 1976).
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c;crito ordt111do. em opos1çio à, nütâs ou aos comtntários"; um
exemplo é mmadn de empréstimo a Chaucer: .. () \'crdadciro texto.
,crn nccess1d:1de de !(los:a.. , r os au1nre, especificam: .. Em sentido
~róprio, 1exm aplica-~e a ioda passagem que consorui empréstimo da
F.seriturJ par:t ser nb1e10 de uma pr~açio ou de um sermão".•
o c:inonr persiste, cfeu,·amcmr. com uma not~\'d m\'<inabilidacle
ror ,ntcrméd'.n de unu longa e\'oluçilo cuhur.al. !\la(de um século
,pós O Jtcionano da . \odem1a. a obra de Pierre 1.ar()usse -
bastante
dii,;:rcnte, contudo. cm rnspuacãn e método - . reruma ,1uasc
hter:tlmente: ·'Próprils pa]an-;,, do autor. cm opv,icio aos comcncirios )
/ .../. () 1ex1n da Sai.'Tllcl:l 1:<cnrur. / .../. Res;abdcccr um 1exco'".'
l' n:ico< sinais cios tempos. Sé as<1m podemos di1cr. são ..o 1cx1n de
pbriio". ci1odo como c-xcmpln ao ladu ,la Bibha, brm como as
··tradoçõc.~~.. mt.·ncron:icb, em oposiç2o .10 1cx10. Na mc"-tl1:l época.
k1t1<>S nu monumc·ntal li "ortrr/11,rh. fundJdu pdns 1rmãn< ( ;nmm:
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~bre-turio ~':cr '-:-llnJJ ru .\l,:nunh;1. \ tctor Tc.uint! oos. Esr..uJos
l"rudt)~ o)U Phl.br Gu~kd) M Gn-Bret:tnb~ vio-sc lnlere~~M pcb
p:c,"1.=n ..itlCJ d:i pn.J11c:i.o rc~ ruJl ~aqud:1 epoc.i. tal inu:r~sa: nio se
:tfin., c."1"Jttc..:mtu com ,1c, Jrnuis proc,c.'1lmentos t'°õrico~; nio hav,c ri
(vmoth:m:í, \°O..'"n o ~.c:t .. ,n:1.-:•~·· mglo-~.J..'tio. nem rd.ação com a
Tc:~-"'r;::.;'J-::~ .umü. ~"" lxm ilifcrl:otc: 1er:i lu~ ru F4ÍnÇ~ onde
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nias numa exigência cpLstt:ffli:1I09ci. J do pnndpi11 de cL11.1:.i.-ur.t. Com1)
u~n-~ ~c:m 1978, p.ort3.nto com um ccrtn fi"C\.10 1 ~16c-hd J.tn\,t:
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Julnd1\...., ~oro.;im.:nh: dJ,tmcu do pt111orc~t•, '"Jo r ,.. ta cl t q-.."C'
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l' (-nd ,1 oou c.k,.s.~ ,11h :rn..tllV,h IT''.'S uh.1 <l:i th\'cr.. 1J.:idt: su n;11tu rci:3! drn
nun~c11ro~. hem como ,1a, opç<.-1..~ IC'4'Íncas e.lo c.Jru,r. Ttit.i.1'.'I. ~ ,rim,
~ Jilxrta.m l,[!'ll ~Jmt"ntC d(• 1FJtUc.LrJnJJ ·'::tip:ir.un dt" "" ,1 n,in cr.· •• t n.x.;mJo
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f pn,s1~~- \ uu1,rJ1;iç;io nde t.antu p.H,l ,1, t~ona.,_ J..i e,:-,c,11t1r I quimo
p;,.r:J .I~ pr:111Ç.:B JJ. cchc:-.m. u,~rurn O corniumq ,J....... ii.:i."ll ro..
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mt.·~·,rac.a.., 1mpl.J-..".;lln3! rr:açar um p.:moi.lm31 ~i.:r.ll e.los. t.~tu,lw, l.h., h\;nL ,t
,.. 41ut" cx{cckn~1 o meu propt1'!-ll• ,. P.1r.i dJt 11.I.H 1, v-.r!Hm,, d., t \'.Xlo~
, ~1.>1i.:en ,1rn1.Q di.:,u Lh..,1..u.....:i,,, t: bJ.-.r.mt(.'. s~".rn 1Íu\. hb, 1,;, m., ,dt r.u i , ..
drn) E,'laoc.lo mr,<ld, ,.,. dt• ~ul!ÜJ~e '-jUC o ,rrv•p•mllcm :10, do,-; ~~pccr, ,...
J;i t;:,.CnEun· pr• l(luçà,1 ~ prnduro.
\ pi. fl f ,hLlu J dni, upcv. de 1.lll\-:li.l!i; Jl)l'l(1.l:.tgcn,, d rnmeuu,
.?íJ I nru Ju1l..i r.m~.. r~, .., 11,,.,...,, r noctL,n, .1. puur dt 1rnt! pffl CW'\u,,: e ldl-
lO!,\ I'.'. r .~w . ~r.i. '\i, d.. 1~"4.
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bn-oc3r ct·d.ilhd1.· do 'k xro ..~ "'-"'in,ri.~r 1·U nU Clll!f'SO da h'J'S[nr1.2
21 ~• 1
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ic:ec1Jln P'l"''- ~h~U l)',J ale r, m1ru, <ln .11 u:.11"'' dt♦., ~it"rJlfll co:n-;;1Jt"r •• do ..
1ichirin, cnino :11 t1hr~ da: c\fnn Schm1d,). r~-,cunhu, (como os
c .. cru1., de Francis Pon~d. cc 1fa~1.·n-. Ji: c11 •cni:.·-. (como is primt:iras
prndu,ç,õ c, de l?ht'ii ?I"'i: So'Ucrs) - ,ern mic.-smn rit"n1on-HH ~n
a_rquêup,, de fim1tR1-·1's lf"okr. lr:n~do pnr ~cus cunc1e mpurineo'S.
como •Lbib1ri.a do Í'3:nãiticn ipc:)!r ipa.lav,ras, cn117:~,.)n1G"., ;:i:n1cs de at:intd,r
:;1 cnnJ.,çio J~ rrnr6tiru da criação moderna. E fica bem claro
,que 1::111 Jcm o:nsLr,:içfto. ,condl\ilzida !lrr.n·is de: uutr:1:s époc:Jis. podcri.ã
[\O'S 1lc'\' Jf ;j_ CORSl:lU'LÇÔCS :1nilo~:tl!i._
~bi~ tlt:DlllrlSCr.ui~·o u:inJ:.11 eo criemo de lci,t un.. pots de não .-cmcrc
:1ipcn:l!,, ªº circunsr:1.11d3[ t..Y.I h1~tnm: f por SUJ n:Hure:,a l1;uc O :)10 dt:"
h,:itt1:rn e.li form3 de l'e-X'(O :í ~ obiC!ru. Saoc-ise que e~ra faculdade:
eoconu i3 ,c xpressâ11 .aibso1u ta n.:1 poética ,tlc 1'1all.1no.ê, tiuw: cnn.smdrn
I l'"'", 1uJo" ~1.1!,,li mo..ldad,U!".!n olhu, m<,1llt> :;iu,nJ., l°>I< "' Jc,via \
d•,&,; ro 4.: con-.ide.r.1 .t p:11..a,t;;r:m. t\ l.h basu-nos pr;rm.1flcc1,•r nr i rntLm ,r-
~ i:.~;--;;criLn paro ,c un;;;;uL:ir q1:.u:: é ;1 l.enur.11 que m];~ pcrmi~,e- pa,;;,sar do
lll.1Ruscri'lo ao pt'<.1tucexcn e Gil< i5 "-ezc~ dilui a f'[(1ntcir.1 enbe de e e,
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:,o ~ran<lc público. a quem se d!L.~tin11m a.il~'!,; Ja~ ril'CC-tUes cdi'çt,õ.
de: m.1nu <!,cri co'5 iic~ r-J.no!!io. ~
t\,i;;. t1r.111,r;;;form.:içi~c:!= ,d:.i rustÓn3 ~ CU lc-in1ra. por SIJ13 v,:?.• rcxm em ,
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.
.
....
/
,pcn2s 1r.11or o 2u11Jr de modo diícrcnre. mas umlx:m dizer algc,
00,·o sobre o cscnto. Este \cri o propósito da mmha sci:unJa
obscf\·,ç;io.
:\ 2náh,;,c do~ se-nodos. da,;, formas e Jns c:Íl'Hn~ lt:\-a :t rr:ttar o
tc:tto como um ~1qcm:i <lcpcndcntc de um:1 lt.·i única. <lc mcJ.4.lo lJUt
nenhuma de: '-UJ.._ p;artl'~ podcn2 '-t:r rtl(l(lifinu.b ,;,c.•m compromc.·H.· r 2
wnl1d2dt·. Se cx;unm:u 1110, lll'Ma pcnpccdv;1 u pocu\A c~l1.·hr\.' (k
p ,ui Eluard:
IJh.·nl>ue ..
(l llUl' :lC( •ntl"Cl' cm~l,, llll~rndo o manuscnco no._ cncan:1 "lUI: c ~t2
p:tb,T,l 11.1~cc.· u til" um., cnrr..·çiu > r:udu (e tfUl' o ;.uc1)r not.. con ÍIA o
non'I<.' <.i.t mulher .imad:i <JUl' dc\'c.·n:a .1pu1.:crr c:rn 1-c.·u lu)r♦lr)? ~hu"
um1 \·c.•7 ,l 1c.·,,,..,:,,1.J ,:in :l ç,,111 ., ••lh.,r '"lu"· lanç:uru"" o;.clht{' n , c:xt,l.
PJ.r-.1 o lus.tnn.1do r. n.1d.1 muduu: io1 o tcnu 1.h hlxnbde ,Jth.'. dc:u .10
pocnu ,u:1 fl''~oninc1:i. n.u: 100:1I n., ép<K'l .. b 1i/xflJllDn, c.· n<.·nhurn
m.1nu:-crno podcnl nH.tt.l1tic:~tr um frnc\mc.:11,, dt rrccpç:io cokrivl
qut· p<:rtcncc <lor:i, Jlllc: j htstonJ lttf.'cin.1. Pu:, o c.·~pt.-ci:ah~r:t llc f.:lu.a.rd,
. :11nh:rprc1açào J:a nbr:1 p nhn c:onturnn, nn1~ pn•CJ$<lS e comprovação:
J comut:içlo J o~ rc.·rmo, tkn10m,rr:1 J rt:bç:iu do$ u.--mas.: l rt."bç~o do
4 .l
. s ticnm mais complexas para quern f1
., ·riror. .\ s co1s:1 re etc
t:. e , ,;;;rrurur.i confirma certamente as suas leis· s"bre,
rcxro. Nr 1e .1 t: . b . . a substi ,
· . . !J'tl:trra mudou a o ra no seu conJunto· ,, . 11.itci
de u1n:1 un1c:1 . . , . 1.Jbcr 'J
. . • 01 n r:tnnnre. nc,n rnesmo uma o utra ,·is' dadf•
11:10 e ntn 11u · .
.<l . ~ Nusch - e un1 outro poema. l\fas a gen
do ªº
POelh.
conccbI o P·1•·· . . . ese nos r ··ili
. rcnlpO que es ta obra pnmeira. e diferente era' un..
,Hl 111c:-Inn
_1
.. , UO<;
C\·e~
' jUl' :.pei:ar cli sso • se acha 1ncl uso ou subsun..:d
nao ~ 11 ,,
'J/t.'
l1 n r<', Lu. , . - . • •'u o n
e ~rt•nd".,. Fni
..Jl' , outras palavras: n escritura nao vem se eonsurnª l)bra
,.,cn·10 'l'":1.he1 sri.1 preciso t~nrar pensar o texto como 11111 O'J. • ar no
e. . "°' 1:.. • , d , - SI/e 111e, •
couio uro,1 das reaw:tcoc.;s e.: un1 processo que pcrman . ,e11a,,~.
ecc sc:rn
n rtu.tlin<!nte presente em segundo plano e consti tui u Prt
. ma terct·1
d,n,en~o do cscnro. Nesse espaço aberro (ou entreaberto) . ra
0
da obra e· dec1"dido enrre 1mperos • e esgotamentos tartamud ' destJno
. ' • ez e "aii
rupn1ras e inac:ibamenros que nos confundem. O rexro na' . bo os,
. oea li
ness.::i profundidade de campo - ele apa rece simplesmente do
· . . como u
ob ero bem n1:us con1plcxo que nossos n1odclos anti os, be ~
ale:tcório 9ue nossos n1odelos arua1s. C) a alo produzido elam ~
·- . , 1 • d d • p cnaCJ
geneac.1 .11nt :t nao cessou e pro uzir seus efeitos. Será se
· d , . , gut-amence
un1 desa fi10 para a pesqwsa ao 1ongo os proxunos anos. '