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Renato Tiago Batata

Educação Para Paz, Democracia e Direitos Humanos

Licenciatura em Direito

Universidade Save

Maxixe

2023
Índice

Introdução..........................................................................................................................................1
Renato Tiago Batata
Educação Para Paz, Democracia e Direitos Humanos......................................................................2
Educação Para Paz.............................................................................................................................2
Contextualização histórica.................................................................................................................2
Conceito.............................................................................................................................................2
A Paz como necessidade...................................................................................................................3
Democracia e processo de democratização em Moçambique...........................................................4
Democracia........................................................................................................................................4
Conceito.............................................................................................................................................4
Educação Para Paz, Democracia e Direitos Humanos
Processo de democratização em Moçambique..................................................................................5
Direitos humanos e sistema de protecção de direitos humanos em Moçambique.............................7
O Desafio do empoderamento dos cidadãos em matéria dos Direitos Humanos............................10
Género e Direitos Humanos............................................................................................................10
Trabalho de investigação apresentado ao
Conclusão........................................................................................................................................12
Departamento de Direito, Delegação da
Referências bibliográficas...............................................................................................................13
Maxixe para efeitos de avaliação, na Cadeira
de Tema Transversal II: Educação para paz
democracia e direitos humanos.

Docente: Mestre Castro Magul.

Universidade Save

Maxixe

2023
Introdução

Contextualização

O tema da Educação para a Paz tem sido abundantes nessa última década, pois, falar deste tema,
está num caminho em que se cruzam entre o respeito humano, a valorização pessoal, a
capacitação profissional, a inclusão social, a tolerância e a igualdade de direitos, que nesse cenário
mapeiam todo o processo. Entretanto, nos dias de hoje, a Educação em Direitos Humanos e para a
Paz é concebida em sua tripla finalidade de informar, formar e transformar, constituindo um
importante instrumento de construção de uma nova cultura, aspiração antiga da sociedade e na
história da educação, assimilada e integrada hoje transversalmente por algumas reformas
educacionais em todo o mundo. E quanto a democracia pode ser entendida como sendo o sistema
ético-político baseado no pluralismo de expressão, na organização política, no respeito e garantia
dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.

Objectivo Geral

O presente trabalho tem como objectivo analisar e compreender sobre a Educação para Paz,
Democracia e Direitos Humanos.

Objectivos específicos

Este trabalho irá abordar sobre os seguintes objectivos específicos:

 Procurar entender fenómeno da Educação Para Paz;


 Procurar entender até que ponto a Paz é uma necessidade;
 Procurar entender o preceito da Democracia e processo de democratização em Moçambique;
 Falar de Direitos humanos e sistema de protecção de direitos humanos em Moçambique.

Metodologia do trabalho

A metodologia usada no presente trabalho de investigação científica, que permitiu ao pesquisador


alcançar os resultados consoante os objectivos traçados, foi o de pesquisa bibliográfica.

Estrutura de Trabalho

Exceptuando-se a introdução e a conclusão, o presente trabalho terá doze subtítulos, Educação


para Paz, Democracia e Direitos Humanos; Educação Para Paz; contextualização histórica,
conceito; a Paz como necessidade; democracia e processo de democratização em Moçambique;
democracia; conceito; Processo de democratização em Moçambique; Direitos humanos e sistema
de protecção de direitos humanos em Moçambique; o desafio do empoderamento dos cidadãos em
matéria dos Direitos Humanos; género e Direitos Humanos.
1
Educação Para Paz, Democracia e Direitos Humanos

Educação Para Paz

Contextualização histórica

Segundo JARES, a primeira onda da Educação para a Paz - surge como primeira iniciativa sólida
no início do século XX como reflexão educativa pela paz no movimento denominado Escola
Nova. No entanto, tinha um carácter internacionalista agrupando experiências pedagógicas e
pedagogos de diversas partes do mundo, pois, esse movimento abria espaço para um “modelo
pretendido de educação para a paz, que vai desde o enfoque dos grandes problemas sociais à
transformação do meio escolar”1.

Ou seja, o pacto educacional global pela paz e contra todos os tipos de violência, a educação tem
de desempenhar um papel activo e comprometido, abrangendo os currículos, a formação de
professores, os conteúdos das diferentes áreas, os materiais curriculares, bem como os processos
organizacionais2. Portanto, a educação para a paz tem um legado amplo, rico e plural, com
diferentes ênfases, matizes e fontes geradoras, das quais a primeira fundamenta-se,
pedagogicamente, tanto na teoria quanto na prática, no movimento da Escola Nova que tem início
no século XX3.
Conceito

O conceito de educação surge em princípios dos anos de 1960 e procura recuperar os


pressupostos enunciados pelo educador Paulo Freire. A referência e a postura dialógica, pois
educar para a paz, requer relações de respeito e de solidariedade para uma reflexão que promova a
emancipação e não a domesticação4.
A educação é uma actividade proposital direccionada para atingir determinados objectivos, como
é o caso de transmitir conhecimentos ou promover habilidades e traços de carácter. Portanto, esses
objectivos podem incluir o desenvolvimento da compreensão, racionalidade, bondade,
honestidade5.

Paz é o estado de tranquilidade ou harmonia e pela ausência de conflitos ou violência, que pode
ser experienciado na sua vida pessoal, profissional, em família, com amigos, ou até mesmo

1
JARES, apud. TÂNIA, Tereza, pág. 32.
2
JARES, apud. PIMENTA, Jussara Santos. Pág. 84.
3
Ibdem JARES, apud. PIMENTA, Jussara Santos. Pág. 85.
4
PIMENTA, Jussara Santos, conceito de educação surge em princípios dos anos de 1960 e procura recuperar os
pressupostos enunciados pelo educador Paulo Freire. Pág. 87.
5
Wikipédia, acessado através de https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o.
2
globalmente6. Por isso que não é possível falar de Cultura de Paz e Educação para a Paz sem,
naturalmente, termos que nos remeter à questão da violência7.

Entretanto, a cultura de paz se constitui dos valores, atitudes e comportamentos que reflectem o
respeito à vida, à pessoa humana e a sua dignidade, aos direitos humanos, entendidos em seu
conjunto, interdependentes e indissociáveis. Viver em uma cultura de paz passou a significar um
“repúdio a todas as formas de violência, especialmente a quotidiana e promover os princípios da
liberdade, justiça, solidariedade e tolerância, bem como estimular a compreensão entre os povos e
as pessoas”8.

No entanto, os temas Cultura de Paz e Educação para a Paz, ainda são tratados de forma casual e
pontual nas escolas e sociedade moçambicana, mas há uma crescente preocupação em abordagens
da Escola para Paz por parte de pesquisadores e teóricos da área educacional e social 9.

Portanto, a Educação para Paz faz parte de uma educação com sentido de justiça, igualdade de
direitos e oportunidades de desenvolvimento. É necessário pensar pedagogicamente acções de
construção da paz para as escolas10.

A Paz como necessidade

O tema da Educação para a Paz tem sido abundantes nessa última década, pois, falar deste tema,
está num caminho em que se cruzam entre o respeito humano, a valorização pessoal, a
capacitação profissional, a inclusão social, a tolerância e a igualdade de direitos, que nesse cenário
mapeiam todo o processo11.

No entanto, com o objectivo de conhecer e aprofundar o conhecimento do tema da Paz, educação


para a Paz, torna-se necessário recorrer às raízes ideológicas e teóricas que nos dão entendimento
a palavra de ordem dos dias atuais 12. Entretanto, uma retrospectiva importante nas raízes da
educação para a Paz foi apresentada por uma pesquisa de tese de doutorado e posteriormente
publicada em formato de livro intitulada - Educação para a Paz, sua teoria e sua prática em 2002 13.

6
Universo Continente, acessado através de https://missao.continente.pt/blog/artigos/o-que-significa-a-paz-6-
ideias-para-conquista-la/.
7
TÂNIA, Tereza, pág. 9.
8
RABBANI, apud. TÂNIA, Tereza, pág. 19.
9
TÂNIA, Tereza, os temas Cultura de Paz e Educação para a Paz, ainda são tratados de forma casual e pontual nas
escolas (…), pág. 20.
10
Idem, TÂNIA, Tereza, pág. 20.
11
TÂNIA, Tereza, as vertentes que apontam para estudos e pesquisas envolvendo o tema da Educação para a Paz
tem sido abundantes nessa última década. Pág. 31.
12
Idem, TÂNIA, Tereza, pág. 31
13
JARES, apud. TÂNIA, Tereza, pág. 31.
3
Portanto, nos dias de hoje, a Educação em Direitos Humanos e para a Paz é concebida em sua
tripla finalidade de informar, formar e transformar, constituindo um importante instrumento de
construção de uma nova cultura, aspiração antiga da sociedade e na história da educação,
assimilada e integrada hoje transversalmente por algumas reformas educacionais em todo o
mundo14.

No entanto, educar para a paz é fundamental porque permite desenvolver a capacidade de


diálogo e de negociação sem limites, visto que sempre é possível conversar, expressar as ideias,
resgatar o melhor das experiências, buscar formas de negociação no plano interpessoal, grupal e
social15. Pois, trata-se de trabalhar muito a capacidade de escuta do outro, de repensar as próprias
convicções, de desenvolver a capacidade de negociação, de se preocupar em construir
conjuntamente uma sociedade de paz16.
Segundo GUIMARÃES, 2006, diz a educação tem um papel fundamental no processo de
implantação da paz entre as nações, por possibilitar a sensibilização dos educandos para as
questões sociais, ambientais e relacionais de sua realidade local e global 17. No entanto, a educação
para a paz pode contribuir para a expansão da consciência dos alunos em relação aos problemas
sociais, a fim de buscar formas possíveis, já existentes ou não, de resolução desses problemas.

Democracia e processo de democratização em Moçambique

Democracia

Conceito

Segundo, SARTORI: a democracia é um sistema ético-político no qual a influência da maioria é


confiada a minorias concretas que a asseguram, próprio através do mecanismo eleitoral 18.

Já para Dahl (1971), define a democracia como sendo a capacidade dos governos para satisfazer,
de forma continuada, as preferências dos cidadãos, num cenário de igualdade política 19.

Com base no previsto no artigo 3 da Constituição da República, pode-se definir a democracia


como sendo o sistema ético-político baseado no pluralismo de expressão, na organização política,
no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem20.

14
TÂNIA, Tereza, buscando o sentido na Educação em Direitos Humanos e para a Paz fazem reflexão com o seguinte
comentário (…). Pág. 43.
15
GONÇALVES, Josiane Peres, 1º Simpósio Nacional de Educação XX Semana da Pedagogia, pág. 3.
16
Idem, GONÇALVES, Josiane Peres, pág. 3.
17
GUIMARÃES, Marcelo, apud. GONÇALVES, Josiane Peres, pág. 3.
18
SARTORI, Giovanni, a teoria da democracia revisitada: o debate contemporâneo.
19
DAHL, Robert A., apud. SILVA, Pedro Gustavo de Sousa, pág. 160.
20
Artigo 3 da Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, que aprova a revisão pontual da Constituição da República.
4
Entretanto, o estudo sobre a democratização em Moçambique decorre num momento em que o
País avança para um outro patamar crucial deste processo. Dez anos após as primeiras eleições
multipartidárias, Moçambique pode ser caracterizado como um País onde vigora uma democracia
eleitoral, com eleições regulares, livres e mais ou menos justas21.

Processo de democratização em Moçambique

Ao longo dos anos, Moçambique tem enfrentado sérias dificuldades no estabelecimento de um


governo estável e democrático no país. Porém, o país conquistou sua independência somente em
1975, quinze anos depois da maioria dos países africanos, tendo o poder colonial deixado poucos
recursos para trás. Na sequência, o país foi quase imediatamente envolvido numa sangrenta guerra
civil, em grande parte financiada pelos regimes brancos minoritários da Rodésia e, depois, África
do Sul22.
Todavia, desde o final dos anos 1980, quando as principais forças políticas do país (FRELIMO e
RENAMO) deram início as negociações para a assinatura de um acordo de paz, deu início quando
processo de transição, em direcção ao estabelecimento de uma democracia de cariz liberal e uma
economia de mercado no país, pois Moçambique tem passado por uma série de mudanças
políticas e económicas de relevo23.
No entanto, os processos de reconciliação e reconstrução nacional, assim como a transição
democrática, trouxeram consigo imensos desafios, os quais, contudo, não têm impedido o país de
obter considerável sucesso em várias áreas, num esforço que tem sido correctamente elogiado
nacional e internacionalmente seis eleições gerais e seis eleições autárquicas foram realizadas sem
maiores conflitos e com poucos (embora houve alguns) incidentes mais sérios que ameaçassem
a sua legitimidade24.
Entretanto, com os partidos de oposição enfraquecidos, e com a FRELIMO a aumentar a sua
hegemonia da arena política, o facto de o país continuar a depender de ajuda externa para
financiar sua reconstrução e a expansão do aparelho de Estado também tem implicações para a
democratização25.
Neste contexto, a ajuda externa foi muito importante para sustentar a paz e contribuir para o
cumprimento do acordado nas negociações de paz em Roma, assim como para a desmobilização
21
LALÁ, Anícia, como limpar as nódoas do processo democrático? Os desafios da transição e democratização em
Moçambique, prefácio, viii.
22
Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 4.
23
Idem, Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 4.
24
Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 4.
25
Ibdem, Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 5.
5
das forças envolvidas na guerra civil, e desde o final da guerra, Moçambique recebe quantias
substanciais em ajuda-externa da comunidade internacional 26. Portanto, neste processo, directa e
indirectamente, os doadores têm exercido grande influência na governação e na definição do rumo
seguido pelo país, criando alguns obstáculos na prestação de contas do Estado aos cidadãos 27.
Portanto, na verdade, muitas pessoas acreditam que o governo tem prestado mais atenção às
demandas e pedidos dos doadores internacionais do que às demandas e necessidades de seus
cidadãos.
A transição democrática em Moçambique demonstra a relevância que os factores externos,
encerram em si próprios, para o início de um processo desta natureza. O processo de paz e a
subsequente implementação de estruturas democráticas com vista às eleições multipartidárias
realizadas em Outubro de 1994, caracterizaram-se, essencialmente, por pressões exercidas pela
comunidade internacional28.
Portanto, o quadro institucional do processo da democratização foi, primariamente,
determinado pelos antigos beligerantes: a Frelimo e a Renamo. Porém, os denominados partidos
não armados, criados a partir de 1990, tiveram poucas oportunidades para influenciar e moldar o
processo de transição, conforme demonstrou a conferência multipartidária para a preparação do
projecto de lei eleitoral29.
A oposição, sentindo-se excluída, assumiu que qualquer acção política desencadeada pela Frelimo
visava somente o seu próprio benefício, e neste sentimento de desconfiança não só foi alimentado
como também confirmado pelo partido no poder, o qual veio a ditar, consequentemente, as
condições e o direccionamento do processo de democratização30.
Iniciado o processo de democratização, Moçambique empenhou-se na edificação do seu
processo de democratização, através do acordo de paz firmado em 1992, que permitiu a realização
das primeiras eleições multipartidárias de 1994, e não só marcaram formalmente o fim da guerra
civil, como constituíram, igualmente, o passo inicial no caminho tortuoso rumo a uma estabilidade
política e à implementação de estruturas democráticas31.

26
Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 5.
27
Idem, Democracia e participação Política em Moçambique, relatório publicado pelo AfriMAP e pela Open Society
Initiative for Southern Africa, pág. 5.
28
LALÁ, Anícia, como limpar as nódoas do processo democrático? Os desafios da transição e democratização em
Moçambique, pág. 7.
29
Idem, LALÁ, Anícia, como limpar as nódoas do processo democrático? Os desafios da transição e democratização
em Moçambique, pág. 7.
30
LALÁ, Anícia, porém, o quadro institucional do processo da democratização foi, primariamente, determinado
pelos antigos beligerantes: a Frelimo e a Renamo. Pág. 7.
31
LALÁ, Anícia, Moçambique empenhou-se na edificação do seu processo de democratização, através do acordo de
paz firmado em 1992. Pág. 8.
6
Portanto, o sistema multipartidário implantado em Moçambique caracterizou-se, desde o início,
pelo legado do anterior conflito estrutural e pelo rivalidade existente entre a Frelimo e a Renamo,
e por conseguinte, as características bipolares do sistema partidário, a Frelimo tem conseguido
dominar o panorama político nacional32.
Patenteado nas eleições parlamentares e presidenciais bem-sucedidas de 1994, o processo de
democratização em Moçambique enfrentou o primeiro grande teste de relevo quando as eleições
das autarquias locais tiveram lugar em Maio de 1998, onde na ocasião, o boicote da Renamo,
acrescido da fraca participação de eleitores na ordem de 14.58% questionou o processo de
transição democrática33.

Direitos humanos e sistema de protecção de direitos humanos em Moçambique

Os Direitos Humanos são valores universais que são vistos como direitos relativos, tomando em
atenção aos aspectos particulares de natureza cultural, social e económica de cada país ou região 34.
No entanto, do princípio, os Direitos Humanos são universais, pois o seu critério fundamental é a
dignidade humana, isto porque que a espécie humana é una, e essa dignidade deve ser baseada nos
mesmos princípios para todos que estão contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos
de 194835. Porém, os relativistas sustentam que esta Declaração não tinha a ver com todas as
culturas do mundo nem respeitava o desenvolvimento social e económico diferenciado no mundo
uma vez que os países subdesenvolvidos não participaram na sua elaboração36.

Portanto, no plano nacional, os Direitos Humanos também encontram uma consagração


satisfatória. Pois, em Moçambique, desde a conquista da independência que a temática dos
Direitos Humanos constitui uma preocupação de todos, principalmente, como forma de repor os
direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos, antes negados à maior parte da população pelo
colonialismo37.

A primeira Constituição da República Popular de Moçambique, promulgada em 1975, estipulava


uma série de direitos aos cidadãos e, de acordo com o sistema político da época, centrava-se nos
direitos sociais, económicos e nos direitos colectivos 38. Portanto, ainda neste período inicial da
República Popular de Moçambique, ratificaram alguns tratados internacionais e africanos

32
Ibdem, LALÁ, Anícia, pág. 8.
33
LALÁ, Anícia, como limpar as nódoas do processo democrático? Os desafios da transição e democratização em
Moçambique, pág. 8.
34
Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDM), pág. 6.
35
Idem, Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDM), pág. 6.
36
Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDM), os Direitos Humanos são universais, pois o seu critério
fundamental é a dignidade humana. Pág. 6.
37
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
38
Capítulo II, artigo 26 e seguintes da Constituição da República Popular de Moçambique de 1975.
7
relacionados aos Direitos Humanos, com destaque para Convenção das Nações Unidas para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial de 1983 e a Carta Africana dos Direitos
dos Homens e dos Povos de 198939.

A Constituição da República de 1990, reconhece o direito à vida ao consagrar que “todo o cidadão
tem direito à vida. Tem direito à integridade física e não pode ser sujeito a tortura ou tratamentos
cruéis ou desumanos. E na República de Moçambique não há pena de morte”40.

No entanto, Moçambique aderiu ao 2° Protocolo Opcional do Pacto Internacional dos Direitos


Civis e Políticos em vigor desde 199141, com vista à abolição da pena de morte (com atenção
especial para o artigo 1 deste protocolo e para o consagrado nos artigo 3 da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 194842 e 6 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966
(em vigor desde 1976)43.

Assim, não restam dúvidas quanto à determinação de que todas as execuções perpetradas por
órgãos do Estado ou não hão-de ter-se por execuções extrajudiciais, inconstitucionais e violadoras
dos Direitos Humanos.

Entretanto, a Constituição da República de Moçambique de 2004, reafirmou o seu compromisso


com a promoção e protecção dos Direitos Humanos. Desde o seu preâmbulo, podemos
encontrar reafirmado como princípios e objectivos fundamentais do Estado moçambicano “o
respeito e garantia pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos” e a “defesa e a
promoção dos Direitos Humanos e da harmonia social e individual”, respectivamente44.

Já na Constituição da República de 2018, o Direito da vida humana está prevista no artigo 40,
“todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou
tratamentos cruéis ou desumano. Na república de Moçambique não há pena de morte” 45. Portanto,
assim nota-se um claro reconhecimento de Direitos Humanos em Moçambique.

A par da substancial consagração normativa dos Direitos Humanos, encontramos também, ao


nível nacional, a existência de Instituições nacionais de protecção dos Direitos Humanos, que vão
desde as Instituições genéricas, como Tribunais, Provedor de Justiça, Departamentos ministeriais,

39
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
40
Ao abrigo do artigo 70 da Constituição da República de Moçambique de 1990.
41
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado pela REsolucao n.o 5/91 de 12 de Dezembro.
42
Declaração Universal dos Direitos Humanos
43
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, adoptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, de 16 de
Dezembro de 1966.
44
Preâmbulo, da Constituição da República de Moçambique de 2004.
45
De acordo com artigo 40 da lei n.o 1/2018, que aprova a revisão pontual da Constituição da República de
Moçambique.
8
até às Instituições especializadas46, mormente, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, criada
pela Lei n.33/2009 de 22 de Dezembro47.

No entanto, se a consagração normativa e institucional é uma realidade ao nível nacional, os


Direitos Humanos constituem também objectivos concretos, plasmados em diversas políticas
públicas moçambicanas48.

Em regra, as políticas públicas actuais não são explícitas ao relacionar o seu objectivo com os
Direitos Humanos, mas as políticas específicas, como as Políticas do Ambiente e a Política do
Trabalho, por exemplo, buscam realizar o Direito Humano ao trabalho e o Direito Humano ao
ambiente saudável; ao passo que as políticas de desenvolvimento de médio-prazo, como o Plano
de Acção do Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP) e o Programa Quinquenal do
Governo, referem-se à importância da protecção e promoção dos Direitos Humanos em diversas
situações, além de elencarem as estratégias e prioridades directamente relacionadas com os
Direitos Humanos, como nas áreas de habitação, género, saúde, educação, pessoas com
deficiências, de entre muitas outras49.

Entretanto, estudos apontam que, não obstante este quadro normativo, institucional e de políticas
públicas, a efectivação ou implementação dos Direitos Humanos no mundo passa por uma maior
consciencialização dos principais actores em matéria de Direitos Humanos, com destaque para os
cidadãos, sobre a existência, importância e protecção dos Direitos Humanos 50. Contudo, dos
estudos em alusão pode-se, perfeitamente, incluir Moçambique.

O Desafio do empoderamento dos cidadãos em matéria dos Direitos Humanos

Ao nível nacional, podemos registar uma certa apropriação do discurso dos Direitos Humanos
pelas instituições governamentais, com uma crescente referência aos Direitos Humanos em
documentos oficiais e outras estratégias de médio-prazo, assim como nas políticas e estratégias
sectoriais51.

No entanto, a distância que separa o discurso da prática ainda é muito significativa e, se o seu
encurtamento passa pela afirmação clara do Estado, através dos seus órgãos e agentes, como

46
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
47
Lei n.o 33/2009, de 22 de Dezembro, que cria a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
48
Idem, a percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
49
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
50
Pinheiro, Paulo Sérgio e Baluarte, David Carlos, apud. a percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos
Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 12.
51
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
9
promotor, protector e provedor dos Direitos Humanos, ele passa também pelo empoderamento dos
cidadãos em matéria dos Direitos Humanos52.
Entretanto, a falta de um conhecimento pleno dos cidadãos sobre os seus Direitos Humanos e
como protegê-los, tem contribuído, significativamente, para alargar a distância entre o quadro
normativo-institucional, o discurso do governo e a efectiva implementação dos Direitos Humanos
em Moçambique53.

Neste caso construir uma cultura nacional dos Direitos Humanos, mediante uma educação em
Direitos Humanos que contemple todos os segmentos da sociedade moçambicana, desde a tenra
idade até a fase adulta, mostra-se indispensável para a efectiva implementação dos Direitos
Humanos em Moçambique54.

No entanto, é preciso incentivar o exercício da cidadania em Direitos Humanos, através, não só da


promoção de valores éticos e sociais que valorizam a universalidade e a diversidade, de acções
que estimulem atitudes e práticas, em conformidade com os padrões dos Direitos Humanos e,
sobretudo, municiam o cidadão com ferramentas para a compreensão, promoção e defesa dos
Direitos Humanos55. Sendo assim, um dos principais desafios, em matéria dos Direitos Humanos,
é o empoderamento dos cidadãos, e para tal, é necessário aferir o nível de consciência dos
cidadãos sobre os Direitos Humanos e propor acções para a sua melhoria56.

Género e Direitos Humanos

Uma das principais críticas que se faz à construção conceptual dos Direitos Humanos é a
subalternização da questão de género. Portanto, trata-se de uma construção baseada na igualdade
formal entre homens e mulheres, ignorando as profundas desigualdades sociais e assimetrias de
poder que ainda subsistem no mundo entre estes, pondo em causa, mesmo, a essência dos Direitos
Humanos57. A necessidade de uma concepção dos Direitos Humanos que tenha em conta a
questão de género é advogada para a edificação e implementação efectiva dos Direitos Humanos.

Entretanto, desde 1979, com a aprovação, pela organização das Nações Unidas, da Convenção
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, novas concepções
dos Direitos Humanos que tenham em conta a questão de género, são exigidas. Ou seja, a ideia de

52
Idem, a percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
53
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
54
Idem, A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
55
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
56
Idem, a percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
57
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
10
que o homem e a mulher, enquanto seres sociais, devem ter a oportunidade de fazer e refazer o
mundo, deve nortear a construção e implementação dos Direitos Humanos58.

Neste caso, um olhar necessário e atento à questão de género na produção e interpretação de


dados sobre Direitos Humanos mostra-se crucial para a uma plena compreensão da percepção dos
Direitos Humanos pelos cidadãos moçambicanos, principalmente, quando se sabe que problemas
como, a feminização da pobreza, a baixa representatividade das mulheres nos espaços de poder do
Estado e da sociedade, o distanciamento entre os instrumentos legais nacionais e internacionais e
as práticas sociais, etc. ainda minam a promoção e o respeito dos Direitos Humanos, em
Moçambique59.

O ter em conta a questão de género, durante a pesquisa, constatou-se que o critério da


universalidade dos Direitos Humanos, antes pelo contrário, reafirma a necessidade de entender os
contextos e as sociedades em que estão inseridos os moçambicanos e, consequentemente,
apresentar uma radiografia mais completa da questão da percepção dos Direitos Humanos pelos
cidadãos moçambicanos.

Conclusão

Após o término da pesquisa e desenvolvimento do trabalho, cujo tema versa sobre Educação para
Paz, Democracia e Direitos Humanos, concluí que a Educação para Paz faz parte de uma
educação com sentido de justiça, igualdade de direitos e oportunidades de desenvolvimento, pois
mostra-se necessário pensar pedagogicamente acções de construção da paz para as escolas.
Entretanto, a educação para paz é fundamental no processo de implantação entre as nações, por
possibilitar a sensibilização dos educandos para as questões sociais, ambientais e relacionais de
58
A percepção dos cidadãos Moçambicanos sobre Direitos Humanos, Mundi Consulting Moçambique. Pág. 13.
59
TELES, Nair e BRÁS, Eugénio José (Org.): Género e Direitos Humanos em Moçambique. Departamento de
Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane. 2010.
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sua realidade local e global. E por conseguinte educar para a paz é fundamental porque permite
desenvolver a capacidade de diálogo e de negociação sem limites, visto que sempre é possível
conversar, expressar as ideias, resgatar o melhor das experiências, buscar formas de negociação
no plano interpessoal, grupal e social.

Outrossim, concluí que no quadro institucional do processo da democratização em Moçambique,


foi primariamente, determinado pelos antigos beligerantes: a FRELIMO e a RENAMO. Mas os
denominados partidos não armados, criados a partir de 1990, tiveram poucas oportunidades para
influenciar e moldar o processo de transição, conforme demonstrou a conferência multipartidária
para a preparação do projecto de lei eleitoral. Enfim, deu para perceber que Moçambique observa
a questão dos Direitos Humanos, conforme o previsto no artigo 40, “todo o cidadão tem direito à
vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou
desumano. Na república de Moçambique não há pena de morte”, pois a par desta consagração
normativa dos Direitos Humanos, encontramos também, ao nível nacional, a existência de
Instituições nacionais de protecção dos Direitos Humanos, que vão desde as Instituições
genéricas, como Tribunais, Provedor de Justiça, Departamentos ministeriais, até às Instituições
especializadas, mormente, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, criada pela Lei n.º
33/2009 de 22 de Dezembro.

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Constituição da República de Moçambique de 1990;

Constituição da República de Moçambique de 2004;

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Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, que aprova a revisão pontual da Constituição da República;

Lei n.o 33/2009, de 22 de Dezembro, que cria a Comissão Nacional dos Direitos Humanos
(CNDH);

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado pela Resolução n. o 5/91 de 12 de
Dezembro;

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