Você está na página 1de 4

MANIPUEIRA E URINA DE VACA NO MANEJO DE MUDAS DE ACEROLEIRA

INFESTADAS POR Meloidogyne javanica


1
Rosiane Silva Vieira ; Cecilia Helena Silvino Prata Ritzinger²; Rogério Ritzinger2; Liliane
Santana Luquine¹; Juliana Fernandes dos Santos¹; Elaine Silva da Cruz¹; Carlos Alberto da
Silva Ledo²
¹Mestranda, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia; E-mail: anesvieira@yahoo.com.br
²Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical; E-mail:
cecilia@cnpmf.embrapa.br

Introdução

A aceroleira (Malpighia emaginata) é cultivada comercialmente, na região Nordeste, onde


concentra a maior parte da produção de nacional. Em levantamentos realizados nessa
região, identificou-se o nematóide do gênero Meloidogyne (nematóide das galhas) como
principal problema fitossanitário na cultura, devido à dificuldade de manejo (Ritzinger et al.,
2007). O ataque desse nematóide caracteriza-se pela formação de nodulações nas raízes,
denominadas ‘galhas’. Os danos causados nas raízes, provocam o retardamento no
crescimento das mudas até a morte precoce da planta e são, freqüentemente, confundidos
com sintomas de deficiências nutricionais ou outras doenças na parte aérea da planta.
Estratégias de manejo não químicas como a utilização de resíduos orgânicos e agro-
industriais, a exemplo da manipueira (Franco, 1983; Ponte & Franco, 1981; Ponte, 1992),
farelo de mamona (Ritzinger & McSorley, 1998; Ritzinger et al., 2008) e a manipueira, foram
inicialmente testadas como ação nematicida em 1981. Desde então, tem sido confirmada sua
ação fungicida, inseticida, herbicida e até mesmo como adubo foliar por propiciar um melhor
desenvolvimento das plantas (Ponte, 1981; Franco, 1983; Ponte, 1992). A urina pode
constituir alternativa natural a agrotóxicos e/ou adubos químicos utilizados na agricultura,
devido sua composição por substâncias que, reunidas, melhoram a saúde das plantas,
tornando-as mais resistentes às pragas e doenças (PESAGRO-RIO, 1992). Desta forma, este
trabalho teve o objetivo de avaliar e identificar dosagens nematicidas e/ou fertilizantes dos
resíduos agro-industriais, manipueira e urina de vaca, em mudas de aceroleira infestadas
pelo nematóide das galhas.

Metodologia

O experimento foi conduzido em casa de vegetação e Laboratório de Nematologia, na


Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Cruz das Almas, BA, de janeiro a julho de 2010.
Procedeu-se a purificação e manutenção de Meloidogyne javanica em casa de vegetação.
As mudas sadias de aceroleira utilizadas para os testes foram obtidas por meio da técnica
de propagação vegetativa de mini-estaquia, de acordo com Ritzinger & Ritzinger (2003).
Após o transplante e aclimatização em solo esterilizado, as mudas foram infestadas com
1000 indivíduos J2 de Meloidogyne javanica, conforme os tratamentos. Os tratamentos
constituíram da irrigação com 30 mL de água ou urina de vaca e/ou manipueira,
isoladamente ou em conjunto (1:1), aplicadas mensalmente, conforme descrito: T0,
Testemunha absoluta; T1, Testemunha relativa, 1000 J2; T2, 1000 J2+ 5% urina; T3, 1000 J2
+ 10% urina; T4, 1000 J2 + 20% urina; T5, 1000 J2 + 5% manipueira; T6, 1000 J2 + 10%
manipueira; T7, 1000 J2 + 20% manipueira; T8, 1000 J2 + 5% (urina + manipueira); T9 1000
J2 + 10% (urina + manipueira); T10, 1000 J2 + 20% (urina + manipueira). O experimento foi
inteiramente casualizado com dez tratamentos e quatro repetições, avaliaram-se as
variáveis de desenvolvimento vegetativo a cada 30 dias. Após 180 dias, avaliou-se a massa
fresca e seca da parte aérea e das raízes, número de folhas, o índice de massa de ovos e
galhas, conforme descrito por Taylor & Sasser (1978) e população final (Pf). Para a extração
de nematóides no solo foi utilizado o método descrito por Jenkins, 1964. Os dados foram
submetidos à ANOVA, utilizando-se SAS (1989).

Resultados e Discussão

Não houve diferença significativa (P>0,05) para as variáveis de desenvolvimento vegetativo


avaliados, com exceção da altura (Tabela 1).

Tabela 1. Efeito de resíduos agroindustriais nos parâmetros vegetativos. Valores de F da


ANOVA. Cruz das Almas, BA. 2010.

Variáveis Altura Diâmetro Número de folhas


Tratamento 0,430* 0,1003ns 0,0529
época 0,000*** 0,000*** 0,000***
Tratamento x época 0,000*** 0,1091ns 0,6049ns
CV (%) 21,25 13,75 41,36
** e * Significativo a 1% e a 5% de probabilidade, respectivamente, pelo teste F; ns Não significativo.

O desenvolvimento das mudas, na ausência de nematóides (T0) foi melhor, do que na


presença (T1), indicando viabilidade do inóculo. Contudo, a Pf foi baixa, nos tratamentos
inoculados, não se detectou diferença significativa (P>0,05) entre as dosagens de resíduos
para as variáveis de dano, índice de galhas, massa de ovos e na população final.
Em relação às variáveis de desenvolvimento vegetativo, observou-se um possível efeito
tóxico dos resíduos nos tratamentos T4 (1000 J2 + 20% urina) e T10 (1000 J2 + 20% (urina +
manipueira) e benéfico nos tratamentos T6 (1000 J2 + 10% manipueira); T7 (1000 J2 + 20%
manipueira); T8 (1000 J2 + 5% (urina + manipueira) (Figuras 1A, B, C). Observou-se maior
população de nematóides de vida livre nos tratamentos sob utilização de urina e manipueira
(Figura 1 D, E, F), mas não houve diferença significativa. Vieira et al. (2006), trabalhando
com urina de vaca em aceroleiras infestadas pelo nematóide das galhas, observaram o
efeito tóxico aos 60 dias após a aplicação, provavelmente, devido ao alto teor de sódio
acumulado na rizosfera da planta.

3.05 4. 5
18

Número de fol has (uni dade)


Número de fo lhas (u nidade)
12 3 4
16
Altura de pl anta (cm )

Al tura de p lan ta (cm)


10 2.95 3. 5
14
2.9 3
12
8 2.85 2. 5
10
2.8 2
6 8
2.75 1. 5
6
4 2.7
4 1
2.65
2 2 0. 5
2.6
0 0
0 2.55
Tes t.Relativa 5% manipueira 10% 20%
Test. Relativa 5% uri na de 10% urina de 20% urina de manipueira manipueira
vaca vaca vac a A ltura
Al tura Tra tam entos Número de folhas
Tratamentos
Número de folhas

A B

3.5
18
Número de folhas (unidade)

População de nematóides/
18
16
16 3
Al tura de p lanta (cm)

14

100 cm³ de solo


14 2.5
12 12
2
10
10
8 1.5
6 8 y = -1,5x +12,1
1
4 6 R² = 0,4651
0.5
2
4 y= -3,03x + 17,4
0 0
Tes t.Relativa 5% (urina de 10% (urina de 20% (urina de 2 R² = 0,5876
vaca + vaca+ vaca+ 0
manipueira) manipueira) manipueira)
ti va ca ca ca
A ltura .Re la de va de va de va
Test rina urina urina
Tra tam entos
Número de folhas 5% u 10% 20% Meloidogyne
Tratamentos Vida livre
C
D
14 18
População de nematóides/

16
População de nematóides/

12 14
y= 1,92x + 8,05
100 cm³ de solo

R² = 0,5491
100 cm³ de solo

10 12
10
8 y = -0,12x+ 9,8 8
R² = 0,0154 6
6
y= -1,07x + 11,75 4 y = -3,18x + 12,35
4 R²= 0,3154 2 R² = 0,8843
0
2
tiva ir a) eira) eira)
Re la ipue nipu nipu
T est. ca +
m an + ma + ma
0 vac a vac a
de va a de a de
ri na (urin (urin
a ueira a a 5% (u 10% 2 0%
e lati v manip ipueir ipueir Meloidogyne
T est.R 5% man man
10% 20% Meloidogyne Tratamentos Vida livre
Tratamentos Vida livre
F
E

Figura 1: Variáveis respostas de desenvolvimento vegetativo sob diferentes resíduos agro-industriais


aos 180 dias: A) urina de vaca, B) manipueira e C) urina de vaca + manipueira. População final de
nematóides no solo: D) urina de vaca, E) manipueira, F) urina de vaca + manipueira. Cruz das Almas
- BA, 2010.

Conclusões

O monitoramento deve ser realizado, em testes com resíduos, para verificar a eficiência do
inoculo nos testes, mesmo sob condições controladas.
Nas condições de baixa população de nematóides, as doses de 10% de urina de vaca +
10% manipueira (T9) e 20% de urina de vaca + 20 % manipueira (T10) reduzem a
população de Meloidogyne javanica no solo, quando comparadas com a testemunha
relativa, sem aplicação de resíduos.
Referências
FRANCO, A., Subsídio à utilização da manipueira como nematicida. Fortaleza, UFC/CCA,
53p. (Tese de Mestrado).
JENKINS, W.R. A. rapid centrifugal-flotation technique for separating nematodes from soil.
Plant Disease Reporter, v.48, p.692, 1964.
PONTE, J.J da; FRANCO, A. Manipueira, um nematicida não convencional de comprovada
potencialidade. Publ. Soc. Brás. Nematol, Piracicaba, v.5, p.23-25, 1981.
PONTE, J.J. da. Histórico das pesquisas sobre a utilização da manipueira (extrato líquido as
raízes) como defensivo agrícola. Fitopatologia Venezuelana, Maracay, v.5, n.2, p.2-5,
1992.
RITZINGER, C.H.S.P.; FANCELLI, M., Matéria orgânica e o manejo integrado de
nematóides. In: SOPRANO, E.; TCACENCO, F.A.; LICHTEMBERG, L.A.; GONÇALVES,
M.I.G.; KOLLER, O. L. SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE BANANICULTURA, 6., 2004,
Joinville, SC. Sistemas alternativos de produção. Anais... Itajaí: SBF/ACAFRUTA, 2006.
p.92-105.
VIEIRA, R.S.; RITZINGER, C.H.S.P.; RITZINGER, R.; CALDAS, R.C.; LUQUINE, L.S.;
DAMASCENO, J.C.A.; SAMPAIO, A.H.R. Sobrevivência de mudas de aceroleira infestadas
pelo nematóide das galhas sob aplicação de diferentes resíduos orgânicos e agro-industriais
In: SEMANA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS, 1., 2006, Cruz das
Almas. Anais eletrônicos... Cruz das Almas, BA: Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, 2006. 1 CD-ROM.
SAS INSTITUTE, Inc. SAS/STAT user´s guide. 4 ed. North Carolina. Sas Institute Inc.,
1989. v.2. 846p.
TAYLOR, A.L.; SASSER, J.N. Biology, identification and control of root-knot nematodes
(Meloidogyne species). North Carolina State University Graphics, Raleigh, NC. 1978.
URINA de Vaca para Repelente de Insetos ou fertilizante. Disponível em:
http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/2014419960.doc. Acessado em 23 de julho de 2009.

Você também pode gostar