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INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA
Apostila
A
Organizadores
Laboratório de Fitoquímica
Laboratório de Anatomia Vegetal Adriana dos Santos Lopes - adriana.lopes@usp.br
Arthur Kim Chan - arthur.chan@usp.br Elielson Rodrigo Silveira - elielson.bio@ib.usp.br
Carlos Eduardo V. Raymundo -carlos.raymundo@usp.br Tamara Machado Matos – tamaramm@ib.usp.br
Bianca Betina Betete - betina.betete@usp.br
Laboratório de Sistemática
Ricardo da Silva Ribeiro – rdsribeiro@usp.br
Professora Responsável
Claudia Maria Furlan - furlancm@ib.usp.br
p. il.
- - - -
LC .
ic a Catalogr ica elaborada por lisabete da Cruz eves. C -
PREFÁCIO, 4
Briófitas
O termo artificial “Briófita” denomina três divisões: Marchantiophyta, que
correspondem às Hepáticas, Bryophyta aos Musgos e Anthocerotophyta aos Antóceros.
Constituem o segundo maior grupo de plantas terrestres, estando atrás somente das
angiospermas. No mundo, há cerca de 20.000 espécies sendo 1.610 espécies registradas
no Brasil.
Aspectos gerais
São plantas avasculares, com reprodução sexuada dependente da água.
Apresentam anterozóides flagelados, e reprodução do tipo haplodiplobionte, uma vez que
a geração gametofítica (haplóide) é independente e dominante, enquanto a esporofítica é
efêmera e dependente do gametófito (diplóide) (Fig. 1.1).
Reprodução e desenvolvimento
Os gametófitos haplóides, desenvolvem-se a
partir de uma célula apical (não por meio de um
meristema), e produzem os gametângios, chamados de
Anterídios (masculinos) e Arquegônios (femininos), os
quais são os órgãos responsáveis pela produção dos Figura 1.2. Esquema básico
demonstrando a morfologia de
gametas. Os Anterídios e Arquegônios podem se um musgo. Elaborado por: E. L.
desenvolver num mesmo indivíduo (planta monóica), ou dos Santos.
estar em indivíduos separados (planta dioica). Frequentemente, os gametângios
encontram-se envolvidos por filídios (nesse caso chamados de perianto), que promovem
a proteção dessas estruturas. Os filídios que envolvem os gametângios são chamados de
perigônio (masculino) e periquécio (feminino) (Fig. 1.3).
O arquegônio tem forma de garrafa, com uma porção ventral mais larga e uma
porção apical alongada. A porção ventral possui a oosfera (gameta feminino), e na apical
alongada, frequentemente, encontram-se os anterozóides (gameta masculino), que são
produzidos nos anterídios. Quando os anterozóides chegam até a oosfera, ocorre a
fertilização e, consequentemente, a formação de um embrião. A partir de várias divisões
celulares, o embrião se desenvolve em Pé, estrutura que liga gametófito e esporófito e
transfere nutrientes entre estes (visto que em geral o esporófito não é fotossintetizante),
na Cápsula, local onde os esporos são produzidos, e na Seta, que eleva a cápsula acima
do gametófito, para a dispersão dos esporos ser mais efetiva.
Figura 1.3. A: filídios periqueciais no ápice do gametófito de um musgo (Trematodon Michx. sp.). B:
filídios do perianto em uma hepática folhosa (Lejeunea sp). Fotos: E. L. dos Santos.
Hábitat e substratos
As briófitas ocorrem em
diversos ambientes, sendo os locais
úmidos os mais adequados para a
sobrevivência destes organismos,
tendo em vista a necessidade de água
para a fecundação. Apesar disso, elas
são amplamente distribuídas no Figura 1.4. Exemplos de substratos das briófitas. Espécies:
A- terrestres, B- epíxilas, C- rupícolas, D- corticícolas, E-
mundo, ocorrem nos pólos, nos epífilas, e F- em materiais introduzidos pelo homem.
Fotos: J. S. de Lima.
trópicos, em ambientes submersos a
desérticos, com exceção apenas do ambiente marinho. Crescem em vários tipos de
substratos (Fig. 1.4), sendo consideradas como terrestres ou terrícolas, epífilas (sobre
Marchantiophyta – Hepáticas
As hepáticas podem ser
subdivididas em dois grupos morfológicos:
as plantas folhosas e as talosas (Fig. 1.5).
As hepáticas folhosas são caracterizadas
pela ausência da costa (espessamento de
células no centro do talo), pela presença ou
ausência dos anfigastros (filídios
diferenciados na posição ventral dos
Figura 1.5. A - hepática folhosa, B - hepática talosa
ramos) (Fig. 1.6), pelos lóbulos, que podem simples e C - hepática talosa complexa. Fotos: E. L. dos
Santos.
estar ausentes, reduzidos ou de tamanho
variável, e pela presença de rizóides
unicelulares.
As hepáticas talosas, que podem ser
simples ou complexas, não se diferenciam
em filídios, além disso, a costa pode estar
presente ou ausente no talo, os rizóides são
unicelulares, e podem apresentar escamas
pluricelulares ventrais.
Bryophyta – Musgos
Os musgos possuem as estruturas
mais variáveis entre as briófitas, variando na Figura 1.6. Exemplos de diferentes tipos de
anfigastros presentes nas hepáticas folhosas. Foto: J.
forma, no tamanho e na estrutura do S. de Lima.
gametófito (Fig. 1.7). O esporófito apresenta
frequentemente dentes do peristômio e um opérculo, já no gametófito diversas
especializações podem estar presentes, como a costa e as células alares.
Os musgos são artificialmente divididos em acrocárpicos e pleurocárpicos, isto
é, em relação às características do crescimento do gametófito e a posição de surgimento
do esporófito.
Anthocerotophyta – Antóceros
Os antóceros são talosos e multilobados (Fig. 1.8), possuem células com apenas
um cloroplasto (e geralmente um pirenóide), e rizóides unicelulares com paredes lisas. O
esporófito é persistente, apresenta crescimento contínuo, além de pseudoelatérios, que
são estruturas para dispersão dos esporos e não possuem seta. A ornamentação dos
esporos é bastante variável (visível em microscopia óptica), sendo uma característica
importante para a identificação dos gêneros.
Figura 1.8. Talos (em vermelho) e esporófitos (em branco) de Antóceros. Fotos: E. L. dos Santos & J. S.
de Lima.
escamas escamas
travesseiros, como combustível natural (turfeiras), para filtração de água, e para ação
antisséptica.
Referências
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Acesso em: 19 abril 2022.
Introdução
Licófitas e samambaias são termos que se referem às plantas vasculares, que não
produzem flores, frutos e sementes, as quais, são popularmente conhecidas como
samambaias, avencas, cavalinhas e licopódios. No ensino básico, elas são
tradicionalmente tratadas como “pteridófitas”, no entanto, a reunião desses dois grupos
de plantas sob o termo “pteridófita” é reconhecidamente uma classificação artificial, uma
vez que nem todas as espécies são derivadas a partir de um mesmo ancestral comum (ou
seja, é um agrupamento parafilético - ver Box 1 com os conceitos básicos empregados
durante este capítulo). Como atualmente um dos critérios para se estabelecer um grupo
biológico é este ser considerado monofilético (em oposição ao termo parafilético), ou
seja, incluir o ancestral comum e todos os descendentes daquela linhagem, o termo
“pteridófita” encontra-se praticamente em desuso pela comunidade científica.
A grosso modo, as licófitas se diferenciam pela presença de microfilos (folhas
geralmente pequenas, que apresentam uma nervura central não ramificada, associadas a
caules que apresentam xilema e floema organizados na forma de protostelo – Fig. 2.1 e
2.2), e esporângios situados nas axilas entre folhas e caules, formando os estróbilos (ou
cones). Já as samambaias apresentam folhas do tipo megafilos (geralmente grandes, com
nervuras ramificadas, formando uma rede bastante complexa no tecido laminar, associadas
a caules que apresentam sifonostelo, portanto, com medula e lacuna foliar), e esporângios
localizados na face abaxial ou na margem da folha.
Figura 2.2. Esquema demonstrando os tipos de cilindros vasculares presentes nas licófitas (protostelo) e
nas samambaias (sifonostelo). Elaborado por: A. P. Della.
Figura 2.3. Esquema simplificado demonstrando as relações filogenéticas dos principais grupos de plantas
atuais. O grupo das briófitas (plantas avasculares) é irmão de todas as plantas vasculares. No clado das
vasculares (flecha roxa), o grupo das licófita
Figura 2.4. Representantes dos grupos de plantas vasculares atuais. A: Araucaria angustifolia (Bertol.)
Kuntze (Araucariaceae, Gimnosperma); B: Lytoneuron ornithopus (Hook.) Yesilyurt (Pteridaceae,
Samambaia); C: Asteraceae (Angiosperma); D: Adiantopsis chlorophylla (Sw.) Fée (Pteridaceae,
Samambaia); E: Abutilon Mill. (Malvaceae, Angiosperma); F: Palhinhaea cernua (L.) Franco & Vasc.
(Lycopodiaceae, Licófita). Fotos: A. P. Della.
Evolução
A origem das licófitas e samambaias é muito antiga. Os primeiros registros fósseis
de organismos semelhantes a elas datam de 425 milhões de anos, no período geológico
conhecido como Siluriano. Porém, foi supostamente no Carbonífero (a cerca de 360
Reprodução
Reprodução sexuada
O ciclo de vida das licófitas e samambaias, assim como as demais plantas
terrestres, é diplobionte, ou seja, envolve a alternância de gerações. A geração
gametofítica, a qual produz os gametas, é haplóide (x=n) e efêmera, já a geração
esporofítica, que produz os esporos, é diplóide (x=2n) e de longa duração (Fig. 2.5).
Apresentaremos agora o ciclo de vida, tomando como exemplo uma samambaia
leptosporangiada (que corresponde a maioria das samambaias). Na maturidade de um
esporófito (diplóide) são produzidos os soros, que estão localizados, frequentemente, na
parte inferior das folhas (face abaxial). Os soros correspondem ao agrupamento de
esporângios, e cada esporângio abriga numerosos esporos, que por sua vez são células
haplóides, formadas por meiose.
Figura 2.5. Ciclo de vida de uma samambaia leptosporangiada. Elaborado por: A. P. Della.
Reprodução assexuada
A reprodução assexuada pode ocorrer por meio de apomixia e/ou de propagação
vegetativa. No ciclo de vida de uma samambaia apomítica, há produção de 32 esporos
diploides (por meio de falhas na disjunção dos cromossomos na meiose), ao invés dos 64
esporos haploides formados normalmente (ciclo de vida não apomítico). Dessa forma,
não há fecundação (fusão de gametas), uma vez que os esporos já são diploides. Estes
esporos apomíticos (diplóides) germinam e se desenvolvem em gametófitos menores do
que os normais, além disso, esses eles não produzem gametângios. Então, a partir de uma
célula do gametófito há o desenvolvimento de um esporófito, que apresenta raiz, rizoma
e folhas. O gametófito morre a medida que essa nova plântula se desenvolve. O esporófito
apomítico poderá produzir esporos, também apomíticos, fechando o ciclo.
A apomixia é bastante comum em alguns grupos de samambaias, que vivem em
ambientes onde a água é um fator limitante. Assim, uma alternativa evolutiva “encontrada”
por essas plantas foi a reprodução via apomixia, uma vez que não ocorre reprodução
sexuada, não havendo então, necessidade de água para fecundação.
A propagação vegetativa é uma alternativa mais rápida do que a reprodução
sexuada. As plantas (esporófito) produzem gemas, as quais podem estar localizadas tanto
na raque, quanto na lâmina foliar. Essas gemas se desenvolvem e dão origem a plântulas,
Figura 2.6. Imagem de Doryopteris rediviva Fée, onde se pode verificar uma plântula jovem formada a
partir da gema presente na base da fronde. Foto: A. P. Della.
Fase esporofítica
O esporófito da maioria das licófitas e samambaias é perene, ou seja, vive mais
do que um ano. Não sabemos quantos anos a maioria das espécies pode viver, mas há
registros de espécies com 32 até 150 anos. Em regiões tropicais as samambaias crescem
lentamente, o que significa que podem levar anos para se reproduzirem sexuadamente. A
morfologia do esporófito é bastante variável, e em geral, licófitas e samambaias
apresentam raízes, caules (frequentemente do tipo rizoma) e folhas (comumente
chamadas de frondes). Contudo, as licófitas e as samambaias possuem diferenças
morfológicas entre si (como comentado anteriormente). As licófitas apresentam
Figura 2.8. Diferentes formas e dissecções das frondes de samambaias. A: fronde inteira, simples. B: fronde
pinatissecta, simples. C: fronde pinada, composta. D: fronde pinada-pinatífida. E: fronde 2-pinada-
pinatífida. F: fronde 3-pinada-pinatífida. Fotos: A. P. Della.
Distribuição geográfica
As licófitas e samambaias apresentam ampla distribuição geográfica (plantas
consideradas cosmopolitas), ocorrendo desde as tundras geladas, acima do círculo polar
ártico, até as florestas tropicais, quentes e úmidas, na linha do equador. No entanto, o
Classificação
A classificação das licófitas e samambaias passou por muitas alterações ao longo
do tempo. Desde as primeiras classificações baseadas somente em caracteres
morfológicos (tais como: formas do rizoma, da fronde, a disposição dos soros, a presença
ou a ausência de indúsio, etc.), as quais, em geral não levam em conta as relações
filogenéticas, a classificações que passaram a incorporar dados moleculares (as quais,
partem de uma filogenia, e usam o princípio de monofiletismo para o estabelecimento dos
grupos).
O Pteridophyte Phylogeny Group I (PPG I, 2016), a classificação mais recente
desses grupos, corresponde de certa forma um resumo das diversas filogenias, que vem
sendo obtidas a partir de dados moleculares. As licófitas são tradadas como a classe
Lycopodiopsida, e as samambaias como Polypodiopsida (Fig. 2.9).
Figura 2.9. Esquema simplificado demonstrando as relações filogenéticas das ordens de Lycopodiopsida
(licófitas em azul) e Polypodiopsida (samambaias em vermelho) segundo o PPG I (2016). Entre parênteses
o número de espécies de cada ordem. Elaborado por: A. P. Della.
Tabela 2.1 As famílias mais ricas (em números de espécies) da classe Polypodiopsida. Dados
obtidos do PPG I (2016).
Como pode ser visto a partir da Tabela 2.1, as seis famílias mais ricas (em
espécies) de samambaias pertencem a Polypodiales. Essa ordem é caracterizada pelos
leptosporângios geralmente agrupados em soros, sendo a maioria das espécies
homosporadas. Como abriga mais de 8.000 espécies, essa ordem apresenta morfologia
bem variada. A seguir comentarei algumas características das famílias mais ricas.
A família Dryopteridaceae é caracterizada por rizomas eretos a longo-reptantes,
escamosos; pecíolo articulados ou não, com três ou mais feixes vasculares na base;
lâminas simples a 5-pinadas; soros arredondados ou acrosticóides; indúsio ausente ou
presente; e esporos monoletes.
A família Polypodiaceae apresenta rizomas curto a longo-reptantes,
frequentemente com escamas; pecíolo geralmente articulado com o rizoma, formando
filopódios (como pequenos “joelhos” na base dos pecíolos - polypodióides), ou contínuos
e não formando filopódios (grammitidóides); lâminas simples, furcadas, pinatífidas ou
variavelmente divididas a pinadas, raramente 2-pinadas ou mais divididas, glabras,
pubescentes e escamosas; soros arredondados a alongados; sem indúsio; e esporos
monoletes ou triletes.
A família Pteridaceae possui rizomas eretos a reptantes, escamosos ou pilosos;
pecíolos não articulados ao rizoma, com 1 a vários feixes vasculares na base; lâminas
XI BOTÂNICA NO INVERNO – 2022 30
TEMA 1: Diversidade e Evolução
Capítulo 2 - Della 2022
simples, ou 1 a 6-pinadas, glabras a pilosas; soros ao longo das nervuras, ou na margem
da pina/pínula protegidos por um falso indúsio (formado pela margem revoluta da
lâmina), ou acrosticóides; e esporos triletes ou monoletes.
A família Thelypteridaceae é caracterizada por rizomas eretos, ou curto a longo-
reptantes, geralmente revestido por escamas pilosas ou glabras; pecíolos não articulados
ao rizoma, na base com dois feixes vasculares em forma de cavalo marinho, que se unem
em um feixe em forma de U na porção distal; lâminas frequentemente 1-pinadas a 1-
pinado-pinatífidas, tricomas aciculares, simples, ramificados ou estrelados, unicelulares
ou pluricelulares presentes em várias partes das frondes; soros sobre as nervuras,
geralmente arredondados, raramente lineares ou oblongos, com ou sem indúsio; e esporos
monoletes.
A família Aspleniaceae apresenta rizomas eretos ou reptantes, geralmente
revestido por escamas clatradas; pecíolos não articulados ao rizoma, com dois feixes
vasculares que geralmente unem-se formando um “X” distalmente; lâminas simples a
várias vezes divididas, geralmente glabrescentes; soros elípticos a alongados, com indúsio
membranáceo a coriáceo, alongado a raramente cupuliforme; e esporos monoletes.
A família Athyriaceae possui rizomas reptantes, eretos ou decumbentes protegidos
por escamas (clatradas) no ápice; pecíolos não articulados ao rizoma, com dois feixes
vasculares dispostos face à face em secção transversal e unindo-se distalmente; lâminas
simples, pinadas ou 1-3-pinado-pinatífidas; soros oblongos, simples, pareados margeando
cada lado de uma vênula, ou forma de J atravessando a vênula de um lado para outro;
indúsio membranáceo ou cartáceo (raro sem indúsio); e esporos monoletes.
A ordem Cyatheales compreende as samambaias arborescentes, popularmente
chamadas de xaxins, aqui no Brasil. Essas plantas apresentam um rizoma ereto, chamado
de cáudice, e uma coroa de frondes no ápice deste. São plantas homosporadas, cujos soros
(na maioria das espécies) são arredondados, podendo ter ou não indúsio. As duas
principais famílias são Cyatheaceae e Dicksoniaceae, com destaque para esta última que
engloba Dicksonia sellowiana (Presl.) Hooker, espécie característica do Brasil, hoje
ameaçada de extinção.
A ordem Hymenophyllales, abriga a família Hymenophyllaceae, conhecidas
mundialmente como as “filmy ferns”. Esse nome deve-se a presença de frondes com 1 a
3 camadas de células e a ausência de estômatos. Nessas plantas homosporadas os soros
são protegidos por indúsio e estão dispostos na margem das frondes, e os esporos são
clorofilados e triletes.
Figura 2.10. Indivíduo pertencente à família Blechnaceae, onde se pode verificar as frondes jovens avermelhadas,
estratégia para evitar a herbivoria conhecida como atraso foliar. Foto: A. P. Della.
Conservação
A diversidade de licófitas e samambaiais, assim como de quase todos os
organismos presentes em florestas tropicais, é fortemente ameaçada pelo desmatamento.
As espécies que ocorrem no interior de florestas maduras dificilmente conseguem
sobreviver em ambientes alterados, tais como: pastagens, plantações, e florestas
secundárias. Assim, muitos táxons correm o risco de serem extintos.
Na Mata Atlântica, uma grande ameaça às licófitas e samambaias é a redução e
fragmentação dos ambientes florestais. O uso dos solos, antes ocupados por florestas, é
histórico, sendo que hoje a floresta cobre menos de 10% da área original, que existia antes
da chegada dos europeus. Muitas espécies endêmicas desse ecossistema estão fortemente
Importância econômica
Diversas espécies de licófitas e samambaias são usadas em todo o mundo, com
diferentes finalidades, por diferentes populações tradicionais. Na China, é muito comum
o emprego de espécies desses grupos na alimentação, sendo consumido tanto folhas e
báculos, quanto rizomas. Há estimativa de que 50 espécies sejam usadas para essa
finalidade nesse país. Nos Estados Unidos, frequentemente consome-se Matteuccia
struthiopteris (L.) Tod, principalmente em saladas.
Em regiões tropicais as samambaias e licófitas podem ser usadas como cosmético
(desodorante), também como tempero, ou mesmo para usos medicinais e na produção de
tintas e fibras. Na Amazônia, elas são usadas principalmente para fins medicinais,
havendo registro de uso de licófitas e samambaias no tratamento de dor de estômago,
diarréia, dor de dente, dores no corpo e nos rins, gripe, cicatrização de feridas, e inclusive
para uso veterinário.
A cavalinha (Equisetum L.) é comumente encontrada em casas de produtos
naturais para o emprego de infusões em problemas renais. Antigamente o talo de
Equisetum também era usado para polir panelas em virtude da alta concentração de sílica.
Conclusões
Licófitas e samambaias são dois grupos filogeneticamente distintos, que
tradicionalmente são tratadas pelo termo “pteridófita”. São plantas vasculares, que
apresentam ciclo de vida diplobionte (alterância de gerações), com fase esporofítica
dominante sobre a gametofítica. Foram grupos diversos e predominantes em todos os
ecossistemas terrestres do período Carbonífero ao Triássico. Atualmente apresentam
cerca de 12 mil espécies, ocorrentes em praticamente todo o globo, sendo, no entanto, a
região tropical a mais diversa. A maioria das espécies de licófitas e samambaias que
vemos atualmente são plantas muito recentes (pertencem a ordem Polypodiales,
originadas principalmente no Cenozóico), as quais apresentam morfologia muito variada,
principalmente, quanto as secções da lâmina foliar. Essa morfologia laminar atrai muita
atenção (pela sua beleza), por isso são plantas muito usadas como ornamentais. Hoje, no
entanto, com o desmatamento descontrolado, queimadas e fragmentação de habitats há
um grande risco de muitas dessas espécies serem extintas, principalmente, plantas
endêmicas.
Referências
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Pteridófitas. Âmbito Cultural, Rio de Janeiro. 239p.
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caUC.do#CondicaoTaxonCP. Acesso em: 08 feb 2022.
Angiospermas
As angiospermas, ou plantas com flores, são a maior parte das plantas atualmente
viventes do nosso planeta. Com c. 300 mil spp., elas são as árvores, arbustos, gramas,
cactos, palmeiras, plantas insetívoras, estão nas florestas, nos jardins e nas plantações, e
são as frutas e verduras que consumimos. Em qualquer lugar em que estejamos, as plantas
com flores certamente estarão por lá.
Se observarmos sua história evolutiva, as angiospermas são um grupo de plantas
com sementes com características que as tornam únicas se comparadas às outras plantas.
Essas características são as sinapomorfias, ou seja, características que evolutivamente
são compartilhadas pelos membros da linhagem, por exemplo: endosperma com dupla
fertilização, flores, frutos e gametófito feminino reduzido. Geralmente, quando comemos
um fruto carnoso, estamos nos alimentandos do tecido do ovário desenvolvido. Já quando
nos alimentamos de uma semente, por exemplo, a castanha-do-pará, Bertholletia excelsa
Bonpl. (Lecythidaceae), estamos nos alimentando do tecido de reserva resultante do
megagametófito feminino fecundado, o endosperma. A flor, geralmente com perianto,
estames e pistilos, apresenta muitas vezes a função de atração de polinizadores, os quais
buscam por recursos disponíveis nas flores (p. ex.: néctar, pólen e óleo) e garantem o
transporte de pólen e a reprodução das espécies. O fruto envolvendo a semente pode
fornecer proteção e auxiliar no processo de dispersão.
Após a deiscência das anteras, os grãos de pólen são transportados até os estigmas
(polinização), e em seguida se hidratam ao tocar a superfície estigmática resultando em
sua germinação, a qual dá origem ao tubo polínico. Caso a célula geradora não tenha se
dividido isso ocorre nesse momento, formando os dois gametas masculinos. Dessa forma,
o grão de pólen germinado com o núcleo da célula germinativa (célula do tubo) e os dois
gametas constituem o microgametófito maduro (gametófito masculino). Na maioria dos
casos, o tubo acessa o óvulo através da micrópila e penetra uma das sinérgides. Em
seguida, um núcleo espermático migra pelo tubo e penetra a oosfera e um segundo se une
com a célula central. Este processo é denominado dupla fecundação, ocorrendo apenas
Origem
Os primeiros fósseis atribuídos às Angiospermas são grãos de pólen com ca. de
135 milhões de anos e o primeiro fóssil com todas as partes identificáveis (i.e. folhas,
ramos e flores) é estimado em ca. de 125 milhões de anos, no Cretáceo Inferior, sendo
essa planta denominada Archaefructus sinensis Sun (Fig. 3.2). Apesar disso, estudos mais
recentes utilizando datação molecular de filogenias estimam o surgimento das
Angiospermas para períodos anteriores, a partir do Jurássico (anterior a 145 milhões de
anos).
No Cretáceo Médio, muitas das principais linhagens de Angiospermas aparecem
no registro fóssil, sendo que mais para o final do Cretáceo ocorreu uma diversificação
ainda maior. Nesse período, as Angiospermas tornaram-se as plantas dominantes em
muitos ambientes terrestres. Esse aumento da diversidade tem evidência no registro fóssil
e, além disso, essa diversificação ocorreu rapidamente, ou seja, muitos registros
apareceram após os primeiros fósseis. Esse fato chamou a atenção de Charles Darwin,
quem considerou esse um “mistério abominável”: Como um grupo poderia ter um
aumento tão grande de diversidade em tão pouco tempo? Isso o levou a hipotetizar a
existência de eventos anteriores ao Cretáceo que tenham culminado nesse aumento da
diversificação das plantas com flores, incluindo a hipótese de coevolução com animais
polinizadores.
Algumas hipóteses foram formuladas para tentar explicar a morfologia das
primeiras flores, dentre elas a Teoria Pseudantial e a Teoria Euantial ou Antostrobilar. Na
primeira, a hipótese é de que as primeiras flores seriam de tamanho reduzido, unissexuais
(flores masculinas e flores femininas separadas) e anemófilas (polinizadas pelo vento),
enquanto para a segunda hipótese, as flores seriam grandes, hermafroditas e entomófilas
(polinizadas por insetos). Por muito tempo a Teoria Pseudantial era a mais aceita, mas
isso mudou recentemente com um estudo que reconstruiu a possível morfologia da flor
Figura 3.3. Esquema de uma flor e suas partes morfológicas (Fonte: A. Frazão).
Figura 3.4. Diferenças morfológicas das angiospermas e sua síndrome de polinização. A: Sapromiofilia
(polinização por moscas) Aristolochia gigantea Mart. & Zucc. (Aristolochiaceae). B-C: Ornitofilia
(polinização por pássaros) B: Heliconia rostrata Ruiz & Pav. (Heliconiaceae), C: Salvia guaranitica A.St.-
Hil. ex Benth. (Lamiaceae). D: Anemofilia (polinização pelo vento) Rhynchospora speciosa (Kunth)
Boeckeler (Cyperaceae). E-F: Melitofilia (polinização por abelhas) E: Anemopaegma prostratum DC.
(Bignoniaceae), F: Leptostelma maximum D.Don (Asteraceae). G: Cantarofilia (polinização por besouros)
Couroupita guianensis Aubl. (Lecythidaceae). H: Quiropterofilia (polinização por morcegos) Triania sp.
(Solanaceae). Fotos: A-G Danilo Zavatin, H Nathan Muchhala.
Figura 3.5. Diversidade relativa das plantas terrestres (Embriófitas). (adaptada de Crepet & Niklas 2009).
Figura 3.6. Esquema do modelo ABC de desenvolvimento das flores. (Figura: Annelise Frazão)
Figura 3.7. Diferentes hábitos e habitats das Angiospermas. A: Terrestre (Ruellia makoyana Hort.Makoy
ex Closon, Acanthaceae). B: Aquático (Nymphaea sp., Nymphaeaceae) C: Rupícola (Acianthera teres
(Lindl.) Luer, Orchidaceae) D: Epífita (Cattleya viola
Filogenia
As Angiospermas foram classificadas classicamente em dois grandes grupos, as
Monocotiledôneas e as Dicotiledôneas, as quais eram caracterizadas, principalmente, pelo
número de cotilédones nas sementes. Atualmente, essa classificação não é mais adotada,
dado que, o estado de caráter “dois cotilédones nas sementes” é compartilhado por todas
as Espermatófitas, com exceção das Monocotiledôneas (Tabela 3.1). Portanto, essa é uma
característica simplesiomórfica e o grupo “Dicotiledôneas” não constitui uma linhagem
(ou seja, não é monofilético). A classificação mais atual das Angiospermas segue o
Angiosperm Phylogeny Group IV (APG IV 2016) onde normalmente são tratadas em
quatro grandes grupos: Grado ANA, Magnoliídeas, Monocotiledôneas e
Eudicotiledôneas (Fig. 3.8). O posicionamento das ordens Chloranthales e
Ceratophyllales ainda é incerto, pois estes grupos têm aparecido em diferentes
posicionamentos em trabalhos recentes. Com exceção do Grado ANA, esses três grandes
grupos são sustentados por sinapomorfias moleculares e morfológicas.
O Grado ANA é formado pelas ordens Amborellales, Nymphaeales e
Austrobaileyales. Essas ordens não formam um grupo monofilético e por isso são tratados
como grado, ao invés de clado. Apesar disso, o Grado ANA compartilha algumas
características, como, por exemplo, a angiospermia (i.e. fechamento do carpelo em torno
do óvulo) predominantemente pela via de secreção (exceção: Nymphaeaceae e algumas
Schisandraceae, antigas Illiciaceae), gametófito feminino com 4 núcleos e endosperma
Figura 3.8. Principais linhagens das Angiospermas: Grado ANA, Magnoliídeas, Monocotiledôneas,
Eudicotiledôneas (APG IV 2016).
Figura 3.9. A: Gametófito feminino com 4 núcleos (2 Sinérgides + 1 Oosfera + 1 Núcleo polar) presente
em Austrobaileyales e Nymphaeales. B: Gametófito feminino com 8 núcleos (2 Sinérgides + 1 Oosfera +
2 Núcleos polares + 3 Antípodas) presentes em todas as angiospermas com exceção do grado ANA. C:
Gametófito feminino com 8 núcleos (3 Sinérgides + 1 Oosfera + 2 Núcleos polares + 3 Antípodas) presentes
em Amborellales. Sinérgides: representados em vermelho; oosfera: representados em amarelo, antípodas:
representados em marrom, núcleos polares: representados em azul. cc: célula central; pn : núcleos polares.
Figura 3.10. A-B: Folhas de Victoria amazonica (Poepp.) J.E.Sowerby. C: Folhas e flores de Nymphaea sp.
Fotos: A, B Danilo Zavatin, C Annelise Frazão.
Figura 3.11. Diversidade das Magnoliídeas. A - Guatteria sellowiana Schltdl. (Annonaceae). B - Magnolia sp.
(Magnoliaceae) C - Drymis sp. (Winteraceae). D - Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins (Monimiaceae). Fotos: A,
C, D Danilo Zavatin, B Carmen Ulloa.
Figura 3.12. Diversidade de Orchidaceae: A - Prosthechea sp. B - Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl. C - Cattleya
elongata Barb.Rodr. D - Vanda sp. Fotos: Danilo Zavatin.
Figura 3.13. Dyckia sp. (Bromeliaceae). B: Aechmea bromeliifolia (Rudge) Baker (Bromeliaceae). C:
Bulbostylis sp. (Cyperaceae). D: Gynerium sagittatum (Aubl.) P.Beauv. (Poaceae). Fotos: Danilo Zavatin
Figura 3.14. Principais linhagens e ordens das Rosídeas: Malvídeas e Fabídeas (APG IV 2016).
Figura 3.15 Diversidade de Caryophyllales. A: Pilosocereus sp. (Cactaceae). B: Echinopsis atacamensis (Phil.)
H.Friedrich & G.D.Rowley. C: Schlumbergera russelliana (Hook.) Britton & Rose. D: Drosera spirocalyx Rivadavia
& Gonella. Fotos: Danilo Zavatin.
Figura 3.16. Diversidade das Malvídeas. A: Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M.Perry (Myrtaceae). B:
Pilocarpus pennatifolius Lem. (Rutaceae). C: Anacardium occidentale L. (Anacardiaceae). D: Serjania sp.
(Sapindaceae). E: Ornithogalum caudatum Aiton
Figura 3.18. Principais linhagens e Ordens das Asterídeas: Campanulídeas e Lamiídeas (APG IV
2016).
Figura 3.19. Diversidade das Ericales. A: Laplacea fruticosa (Schrad.) Kobuski (Theaceae). B: Camellia
japonica Wall. (Theaceae). C: Gaylussacia reticulata Mart. ex Meisn. (Ericaceae). Fotos: Danilo Zavatin
Figura 3.20. Diversidade das Asterídeas. A - Coffea arabica L. (Rubiaceae). B - Pyrostegia venusta (Ker
Gawl.) Miers. (Bignoniaceae). C - Hyptis comaroides (Briq.) Harley & J.F.B.Pastore. (Lamiaceae). D -
Nematanthus sp. (Gesneriaceae). E - Nicotiana langsdorfii Weinm. (Solanaceae). F - Cichorium intybus L.
(Asteraceae). Fotos: A, B. E, F Danilo Zavatin C, D Guilherme Antar.
Tabela 3.1. Principais características dos grandes grupos: Grado ANA; Magnoliídeas;
Monocotiledôneas e Eudicotiledôneas.
Caráter Grado ANA Magnoliídeas Monocots Rosídeas Asterídeas
nº de 2 2 1 2 2
cotilédones
Referências
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Endress, P.K. & Igersheim, A. 2000. Gynoecium structure and evolution in basal
angiosperms. International Journal of Plant Sciences 161 (6): 211-223.
Figura 4.3. Representação das citocininas que não ocorrem naturalmente em vegetais (Adaptado de Taiz e Zeiger,
2006).
Figura 4.5. Transporte das citocininas em plantas (Adaptado de Davière e Achard, 2017).
Figura 4.6. Relação das citocininas e auxinas na morfogênese vegetal em massa celular indiferenciada in
vitro (calos). Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 4.7. Representação do efeito das citocininas endógenas em plantas. A – Planta adulta de Lantana
camara. B – Folhas com galhas ocasionadas por dípteros (Schismatodiplosis lantanae). Fonte: Elaborada
pelo autor.
A senescência foliar
É dito que a senescência é um processo fisiológico controlado de acordo com
alguns fatores, dentre eles, destaca-se a distribuição das citocininas das raízes às folhas.
Figura 4.8. Folha tratada com citocinina, representando áreas com retardo à senescência (Adaptado
Kerbauy, 2008).
Referências
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Suzuki, R. M.; Kerbauy, G. B. Zaffari, G. R. 2004. Endogenous hormonal levels and
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Taiz, L; Zeiger, E. 2006. Fisiologia Vegetal. 3 ed. Artmed.
Figura 5.1. Representação da reação química da fotossíntese mediada por luz (Adaptado de Taiz e Zeiger,
2006).
Figura 5.3. Ciclos da fotossíntese, redutiva (C3) e oxidativa (C2) (Adaptado de Kerbauy, 2008).
No caso das plantas C4 existem duas camadas celulares que são utilizadas durante
a fotossíntese, em que são feitos os ciclos de carboxilação e descarboxilação do CO2. A
primeira camada, mais próxima da atmosfera chamam-se as células do mesófilo e a
segunda camada chamam-se de células da bainha perivascular. Então há divisão espacial
das tarefas executadas nos tecidos. Nas células do mesófilo carboxila-se o ácido
fosfoenolpirúvico (PEP) através da enzima fosfoenolpiruvato carboxilase (PEPC) e
forma-se um ácido orgânico de quatro
carbonos. Este ácido de quatro carbonos é
transportado para as células da bainha
perivascular onde é descarboxilado em CO2 e
mais uma molécula de três carbonos, que volta
as células do mesófilo. O CO2 é então
concentrado no sítio da RUBISCO nas células
da bainha perivascular que produzirá os
carboidratos (Fig. 5.4). Figura 5.4. Ciclo C4 da fotossíntese (Adaptado
de Kerbauy, 2008).
Figura 5.5 Separação temporal dos processos do CAM. Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 5.6. Funcionamento metabolíco do CAM de acordo com o período em 24h (Adaptado de Taiz e
Zeiger, 2006).
Figura 5.7. Diferentes tipos de fotossínte CAM e a C3 com relação aos parâmetros de abertura estomática,
assimilação do CO2 e variação de ácidos orgânicos (Adaptado de Matiz et al, 2013 e Mioto et al., 2015).
Figura 5.8. Impacto na condição nutricional na atividade de uma das enzimas chaves do CAM de G.
mostachia adulta (Adaptado de Rodrigues et al, 2014).
Figura 5.9. Impacto de diferentes fontes de nitrogênio na atividade de PEPC das plantas adultas de G.
mostachia (Adaptado de Rodrigues et al, 2014).
Referências
Buchanan, B.B.; Gruissen, W.; Jones, R.L. 2015. Biochemistry and molecular biology of
plants. 2. ed. American Society of Plants Biologistis.
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Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on
Climate Change [Masson-Delmotte, V., P. Zhai, A. Pirani, S.L. Connors, C. Péan,
S. Berger, N. Caud, Y. Chen, L. Goldfarb, M.I. Gomis, M. Huang, K. Leitzell, E.
Lonnoy, J.B.R. Matthews, T.K. Maycock, T. Waterfield, O. Yelekçi, R. Yu, and
B. Zhou (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and
New York, NY, USA.
Kerbauy, G. B. 2008. Fisiologia Vegetal. 2 ed. Guanabara Koogan.
Figura 6.1. Experimento realizado por Charles Darwin e Franscis Darwin (Adaptado de Kerbauy, 2008).
Figura 6.2. Experimento realizado por Frits Warmolt Went (Adaptado de Kerbauy, 2008).
Nas plantas são encontradas algumas auxinas que ocorrem naturalmente, ou seja,
são naturais, produzidas por vias bissintéticas dos vegetais. Entretanto também são
produzidas substâncias chamadas de auxinas sintéticas, ou seja, sintetizadas em
laboratórios. É importante que tenhamos conhecimento destas susbtâncias, pois algumas
delas são utilizadas em maior quantidade em laboratório com testes de exposição externo
para indução de organogênese. Além da importância de conhecer sobre as respostas
fisiológicas internas dos vegetais as auxinas naturais. Em laboratórios usa-se com
frequência os naturais, ácido indol-3-acético (AIA) e ácido indolil-3-butírico (AIB), como
sintéticos são utilizados o ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) e ácido α-
naftalenoacético (α-ANA). Mas vale ressaltar que alguns protocolos de aplicação in vitro
ou ex vitro de auxinas utilizam outras substâncias das listadas na figura abaixo (Fig. 6.3).
Figura 6.4. Indução de raízes em bromélia por AIB. Fonte: Elaborada pelo autor.
Figura 6.5. Produção de auxinas por fungos (Adaptado de Fonseca et al., 2018).
Figura 6.6. Vias biossintéticas do ácido indol-3-acético (Adaptado de Taiz e Zeiger, 2006).
Divisão celular
O AIA que tem sua biossíntese nos tecidos jovens, especialmente em meristemas
apicais (caulinar e radicular), associa-se ao processo de divisão celular e alongamento
celular. Em partes aéreas das plantas, no meristema caulinar o AIA atua em rápidos
crescimentos celulares. Nas raízes o AIA por meio do transporte acrópeto no tecido de
parênquima vascular é importante para a divisão celular do periciclo. De acordo com a
literatura as auxinas em conjunto com as citocininas, promovem a progressão do ciclo
celular por meio da formação de um complexo ativo, chamado de CDK/a-CYC/D3
durante o intervalo da fase G1 para a fase S.
Diferenciação celular
A concentração de auxinas irá determinar o início da diferenciação celular em
elementos vasculares, como, por exemplo, o xilema, o qual a auxina impacta diretamente
na sua formação de acordo com a difusão do AIA. As auxinas estão presentes durante a
rediferenciação, após uma lesão no tecido. A concentração mais alta de auxinas foi
observada na literatura como promotora da diferenciação de xilema e floema, visto que
baixais concentrações, promovem diferenciação apenas de floema. Acredita-se que
células ao redor da lesão com maior capacidade de transporte basípeto das auxinas se
diferenciam novamente nos elementos de vasos perdidos durante a lesão. O evento de
rediferenciação, postula-se como semelhante ao que acontece para que células
meristemáticas apicais, os quais passam à formar células pró-cambiais e posteriormente
traqueais.
O AIA induz a formação de primórdios radiculares adjacentes aos vasos de
protoxilema em processo de diferenciação. Nesse processo as citocininas quando
trabalham em conjunto em maiores concentrações inibem a formação dos primóridos,
principalmente próximos do meristema apical radicular. Já em menores concentrações de
citocininas e em conjunto comparativo com auxinas em maiores concentrações que
citocininas, haverá formação das raízes laterias ou mesmo raízes adventícias em caules.
O AIA acrópeto que é transportado no sistema radicular na região do estelo é importante
para começar a divisão celular no periciclo e manter o desenvolvimento das células de
raízes laterais formadas.
Figura 6.9. Dominância apical realizada por AIA em Phaseolus vulgaris. A – Não foi decapitado o ápice
caulinar. B – Ápice caulinar decapitado e no local usada a lanolina sem AIA (gemas laterias desenvolvidas).
C – Ápice caulinar decapitado e no local usada a lanolina com AIA (gemas laterias não desenvolvidas)
(Adaptado de Taiz e Zeiger, 2006).
Abiscisão foliar
A abscisão foliar é importante processo para descartar folhas velhas ou
danificadas, como estratégia de liberar frutos e sementes já prontos para a dispersão. Os
órgãos separam-se da planta por meio de uma pequena região anatômica chamada de zona
de abscisão. No caso das folhas, essa região localiza-se na base do pecíolo que encontra
o caule, anatomicamente as células na zona de abscisão são conhecidas como camada de
abscisão. As células tem menor tamanho que outras células do tecido foliar ou caulinar
próximos e contém conteúdo citoplasmático denso. A sescência foliar ocorre devido a
expansão da camada celular de abscisão foliar, digestão das paredes das células, tornando-
as mais maleáveis e fracas à fraturas (Fig. 6.10).
Figura 6.10. Observação de folha senescente com foco na zona de abscisão foliar. Fonte: Elaborada pelo
autor.
Figura 6.11. Representação das respostas de auxina e etileno em diferentes idades de folhas (Adaptado de
Kerbauy, 2008).
Indução/crescimen
1,23,25,26,31,32
to de raízes P Auxinas (ANA, AIA, IBA)
,
Tricomas P Auxinas (ANA, AIA, 2,4-D) 18,29,38,39
*A lista de referência encontra-se no final do capítulo.
Figura 6.12. Caule de Garcinia humilis. A – Controle (Oxidado). B – Meio de cultivo in vitro com adição
de 2,4-D (formação de calogênese). Fonte: Elaborada pelo autor.
Considerações gerais
Buchanan, B. B.; Gruissen, W.; Jones, R. L. 2015. Biochemistry and molecular biology
of plants. 2. ed. American Society of Plants Biologistis.
Cid, L. P. B. 2010. Cultivo in vitro de plantas. Brasília: Embrapa informação tecnológica.
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Referências da Tabela 1
39. Zhang XS, O’Neill SD. 1993. Ovary and gametophyte development are coordinately
regulated by auxin and ethylene following pollination
Introdução
Os açúcares são moléculas presentes no metabolismo dos seres vivos e
desempenham um papel vital nos processos energéticos e de sinalização. Pequenas
variações em suas concentrações podem afetar não apenas o status energético, mas também
o acúmulo e a mobilização de carbono refletindo diretamente na atividade celular. Para
organismos fotossintetizantes, os açúcares são o produto direto da fotossíntese de modo
que uma complexa rede de regulação orquestra a distribuição de carbono entre os órgãos
fonte (que disponibilizam e exportam fotoassimilados, ex: folhas maduras) e os órgãos
dreno (que importam esses fotoassimilados, ex: raízes).
As plantas por sua natureza séssil apresentam uma alta capacidade de perceber e
responder à disponibilidade de recursos no ambiente, sendo um fator crucial para o seu
crescimento e sobrevivência. As respostas são primordialmente feitas à nível metabólico,
por meio de cascatas de sinalização que conectam as diversas camadas de regulação
celular (ex: transcrição, síntese de metabólitos, etc.). Neste contexto, a percepção
integrativa da planta e o manejo dos níveis de açúcares podem servir como um mecanismo
de controle para integrar a resposta biológica a fatores ambientais, homeostase de
nutrientes e estresse por meio do controle de processos anabólicos e catabólicos. Os
açúcares têm a habilidade de conectarem os processos dinâmicos como produção,
transporte, consumo e armazenamento, características que estão ligadas à fisiologia
celular, identidade do órgão e estágios de desenvolvimento.
Hexoquinase (HXK)
As HXKs são uma classe de enzimas do metabolismo central de açúcares que
promovem a fosforilação de hexoses (açúcares de seis carbonos). A atividade dessa
proteína, por sua vez, mostra- se dependente tanto da coenzima adenosina trifosfato
(ATP), para realizar a transferência de fosfato para açúcares de seis carbonos, bem como
do cofator Mg2+. Apesar de fosforilar várias hexoses, o sítio de ligação da HXK apresenta
maior afinidade com moléculas de glicose (Glc) em razão da melhor estabilização deste
substrato pelos resíduos de aminoácido do sítio catalítico.
As hexoses são geralmente fosforiladas em seu último carbono, sendo que o produto
da reação é indicado pelo nome do açúcar acompanhado do número do carbono
fosforilado seguido da palavra fosfato,por exemplo, glicose-6-fosfato (G6P) (Fig.7.1). Do
ponto de vista químico, a reação de fosforilação apresenta diversas vantagens biológicas
visto ser um processo exergônico (praticamente irreversível em condições fisiológicas)
que possibilita a retenção da molécula de açúcar dentro das células, visto que impede a
sua passagem pela membrana plasmática, bem como aumenta a probabilidade de ligação
entre o substrato e a enzima.
Figura 7.1. Atividade de fosforilação da glicose pela hexoquinase. Fonte: Elaborada pelos autores.
a) b)
SIN1
LST8 LST8
TOR TOR
RAPTOR RICTOR
Figura 7.2. Complexos proteicos TORC1 com rapamcina (a) e TORC2 (b). Fonte: Elaborada pelos
autores.
Figura 7.3. Sumarização do mecanismo de ação do complexo heterotrimérico SnRK1. O complexo SnRK1 é formado
or uma subunidade catalítica (α) ue desem en a a el de uinase, e duas subunidades regulat rias, e . Sn K1
responde à cenários de estresse e privação nutricional, direcionando respostas, tanto via regulação enzimática como a
partir do controle da transcrição, com a finalidade de inibir o crescimento e desenvolvimento vegetal. Fonte: Elaborada
pelos autores.
Trehalose-6-Phosphate (T6P)
Ao contrário dos outros sensores mencionados acima, a T6P é um metabólito
derivado da via do açúcar não redutor trealose que consiste em duas unidades de glicose
que estão presentes em bactérias, archaea, fungos, invertebrados e plantas. Esse açúcar,
por sua vez, desempenha várias funções como açúcar de transporte, osmólito, protetor
contra estresse e reserva.
O metabolismo da trealose parece ser universal no reino vegetal e possui origem
ancestral. Embora existam muitas vias de síntese de trealose, a única encontrada em
plantas envolve a ação coordenada de duas enzimas e o intermediário T6P.
Primeiramente, a trealose fosfato sintase (TPS) catalisa a transferência da glicose da
UDP-glicose para a glicose-6-fosfato produzindo T6P e uridina difosfato (UDP). Então a
trealose fosfato fosfatase (TPP) desfosforila a T6P para formar trealose e fosfato
inorgânico (Fig. 7.4). Ambas enzimas são codificadas por famílias multigênicas. Em A.
thaliana 11 genes (AtTPS1-11) codificam proteínas TPS e 10 genes (AtTPPA-J)
Os níveis de trealose são geralmente muito baixos para conferir uma contribuição
como açúcar de reserva ou transporte, sendo que estas funções já são realizadas pela
sacarose. Entretanto, o metabolismo de trealose é essencial em plantas, com a perda da
atividade catalítica de TPS sendo letal ao embrião e afetando severamente o crescimento
e desenvolvimento vegetal. A perda de isoformas específicas de TPP também afeta a
morfologia das plantas, assim como a superexpressão constitutiva de TPS ou TPP. Em
conjunto, os fenótipos opostos da modulação da atividade de TPS e TPP em plantas
transgênicas confirmam que tais alterações se devem às mudanças nos níveis de T6P ao
invés da trealose propriamente dita.
Atualmente, a maioria das pesquisas neste tema procuram desvendar a função de
T6P em plantas. Os níveis de T6P mudam de acordo com o conteúdo de sacarose em folhas
ao longo do ciclo diuturno. Assim, este açúcar é considerado tanto um sinalizador dos
níveis de sacarose como um regulador de sua produção, propiciando uma homeostase
similar ao controle da Glc pela insulina no sangue de animais. Os níveis de T6P carregam
consigo a informação sobre o status energético da planta, que em conjunto com outros
sinais endógenos (como fitormônios) e exógenos controlam o desenvolvimento e
crescimento vegetal. A sensibilidade e resposta mediada pela T6P é flexível e ajustada
para atender às demandas de tecidos individuais e estágios de desenvolvimento. Assim,
ao longo das transições do desenvolvimento vegetal o consumo de sacarose e outras
Conclusões
Embora descritas separadamente, os sensores de açúcares mencionados acima
podem se relacionar diretamente ou indiretamente entre si, com outras vias, com as
varáveis ambientais e formar complexas redes de sinalização que são extremamente
relevantes para o desenvolvimento das plantas. Em levedura, T6P controla a glicólise
inibindo HXK in vitro. Por outro lado, em plantas, nenhuma evidência experimental para
inibição da atividade de HXK por T6P foi relatada até agora. No entanto, como
mencionado na seção de HXK, em plantas ainda são poucos os trabalhos que caracterizam
todos os membros desta família, portanto, não é possível excluir a possibilidade de que
as plantas contenham algumas isoformas de HXK que são sensíveis a T6P. Curiosamente,
algumas interações entre T6P e SnRK1 foram demonstradas. SnRK1 fosforila
diretamente algumas isoformas de TPS e os níveis de T6P podem inibir sua atividade em
tecidos em desenvolvimento. Portanto, SnRK1 é tanto um alvo de T6P quanto um
regulador de sua quantidade nas células vegetais. A manipulação de SnRK1 em A.
thaliana altera a relação sacarose e T6P, influenciando como o conteúdo de sacarose é
traduzido em acúmulo de T6P e modulando o fluxo de carbono para o ciclo do ácido
tricarboxílico. Isso revela que, em condições favoráveis de crescimento, SnRK1
desempenha um papel na homeostase da sacarose, e sua atividade é influenciada por
flutuações de dieta nos níveis de T6P. Essas descobertas expõem importantes interações
entre as vias de açúcar e os sensores e aumentam a complexidade da rede de mecanismos
reguladores que coordenam o crescimento e o metabolismo das plantas.
Em ensaios in vitro, SnRK1 interage com TORC1 e inibe sua atividade pela
fosforilação da proteína RAPTOR, um trade-off que contribui para a partição de carbono
na planta por meio de mecanismos moleculares não totalmente compreendidos. Estudos
sugerem que SnRK1 limita mais diretamente o crescimento e pode estimular a morte
celular mediada por autofagia (possivelmente inibindo TORC1). De modo geral, essas
vias promovem ou inibem o crescimento através de uma rede de sinalização descrita
resumidamente na figura 7.5. As que promovem o crescimento são os sensores de glicose
(HXK), a T6P e o TORC1 enquanto a SnRK1 inibe. HXK está envolvida com sinalização
Figura 7.5 Visão geral dos mecanismos reguladores de crescimento envolvidos na detecção e sinalização
do status do carbono e suas interações. Fonte: Elaborada pelos autores.
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Figura 8.1. Ilustrações indicando prováveis passos evolutivos de microfilos e megafilos. A. Teoria da
Enação - Os microfilos se originaram a partir de projeções do eixo principal da planta, chamadas enações.
B. Teoria do Teloma - Os megafilos se originaram a partir da fusão de sistemas de ramos e achatamento
das porções terminais, chamadas teloma.
Figura 8.2. Ilustrações mostrando ápice caulinar. A) Meristema apical caulinar 1) sem protuberância e 2)
divisões periclinais na túnica provocando o surgimento das protuberâncias (setas pretas). B) Meristema
apical caulinar (MAC) de Passilfora herbertiana indicando primórdios foliares (foto: arquivo pessoal
Carlos Eduardo).
Iniciação
A fase de iniciação começa por divisões periclinais em um pequeno grupo de
células lateralmente situadas em relação ao MAC. É nesta zona periférica do meristema
apical que sucessivas divisões periclinais e anticlinais originam o primórdio foliar, o qual
consiste em uma protoderme, uma região de tecido meristemático fundamental e
procâmbio. O rápido desenvolvimento do primórdio resulta em uma estrutura cônica com
a face adaxial plana ou achatada e uma face abaxial geralmente convexa (Fig. 8.3a).
Desde o primórdio foliar, as folhas achatadas (flat) apresentam uma identidade
adaxial e abaxial, porém quando ocorre a perda desta polarização outros tipos de folha
são formados, a exemplo das folhas cilíndricas. A polaridade adaxial-abaxial é
determinada com base na posição relativa ao MAC. As células próximas ao MAC
diferenciam-se no domínio adaxial, e aquelas distantes do MAC tornam-se o domínio
abaxial, gerando uma folha bifacial (Fig. 8.3a).
Em geral, uma folha adulta e perpendicular ao eixo axial do caule apresenta o
domínio adaxial (superior) da folha consiste em uma epiderme com uma ou mais camadas
de parênquima paliçádico no mesofilo que otimizam a absorção de luz. Na face adaxial
também é possível encontrar estômatos, tricomas e outros anexos epidérmicos. O domínio
abaxial (inferior) da folha consiste em uma epiderme com estômatos e células do
parênquima esponjoso, que além de absorver energia luminosa, participam das trocas
gasosas e da regulação da transpiração, assim como também ocorre no parênquima
paliçádico. A vascularização foliar está alinhada ao longo do eixo adaxial/abaxial, com
tecido do xilema diferenciando adaxialmente e o floema abaxialmente.
Figura 8.3. Ilustração das três fases da morfogênese foliar. A, iniciação da folha. O primórdio da folha
expressa a simetria longitudinal e a simetria dorsiventral (diferenças entre lados adaxial e abaxial). B,
morfogênese primária. Blastozona marginal (sombreado) expressa potencial morfogenético para formar
lâmina, lóbulos e folíolos. Linha superior, vista adaxial da folha; Inferior, vista em corte transversal da
lâmina. C, Expansão e morfogênese secundária. Expansão isométrica e alométrica de lóbulos produzidos
durante a morfogênese primária.
Expansão e morfogênese 2ª
A terceira fase da morfogênese foliar, a morfogênese 2ª abrange um período de
tempo muito mais longo e representa um aumento da área superficial e volume através da
expansão e diferenciação celular. Nesta fase será definida a forma final da folha. O padrão
de expansão pode ser isométrico ou alométrico (Fig. 8.3c). O isométrico retém a forma
estabelecida pela morfogênese 1ª, já o alométrico altera essa forma. O restante do
crescimento se dá pela atividade do meristema intercalar e difuso, com um aumento na
área e volume (95% das células). É nessa fase que o tecido do mesofilo e do tecido
vascular é diferenciado, e as margens foliares se desenvolvem.
No processo da morfogênese foliar, diferentes meristemas estão envolvidos no
desenvolvimento e no crescimento das folhas. Eles agem simultaneamente ou
sequencialmente, e são denominados meristema apical, meristema adaxial, meristema em
placa, meristema intercalar e meristema marginal. A variação na forma foliar está
diretamente relacionada com a atividade e duração destes meristemas. Hageman (1996)
adotou a terminologia “Blastozone” como alternativa ao termo “Meristem”, com base no
argumento de que as regiões de crescimento formadoras das folhas são capacitadas à
morfogênese, diferente dos meristemas apicais os quais são capazes de exercer
organogênese.
Base foliar - A maioria das folhas apresenta uma forma achatada com duas superfícies,
a adaxial (superior) e abaxial (inferior), onde a epiderme é contínua e única em toda a sua
extensão. O número de camada da epiderme pode variar de uni à multisseriada. A
epiderme é caracterizada pela presença de estômatos, tricomas e células especializadas
(células buliformes, litocistos, etc.). Nos primeiros estágios da formação da folha,
projeções laterais da base podem surgir, as estípulas. As estípulas desempenham a função
primordial na proteção dos tecidos meristemáticos e jovens e possuem uma morfologia
variável, podendo ser cilíndricas, simétricas e assimétricas. Em outros casos há o
surgimento de uma estrutura entre a bainha e a lâmina foliar conhecida como lígula,
ocorre principalmente nas gramíneas.
Referências
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22.
Luiza Teixeira-Costa 5
Milena de Godoy-Veiga 1
Introdução
A anatomia vegetal é uma das disciplinas mais antigas da Botânica. De fato, os
primeiros estudos e publicações contendo diagramas e representações da estrutura interna
do corpo vegetal datam da invenção do primeiro microscópio simples no início do século
XVII. Desde então, essa disciplina tem servido como base para compreensão e ponto de
conexão entre vários outros ramos da Botânica, incluindo biologia molecular, fisiologia,
ecologia e evolução vegetal. Esse papel integrador da anatomia para a Botânica moderna
está centralizado na constante atualização da disciplina, tanto no aspecto teórico, com os
avanços produzidos pela biologia evolutiva do desenvolvimento, por exemplo, quanto em
termos práticos, com a modernização de técnicas e metodologias de investigação.
Um dos principais avanços técnicos em anatomia vegetal nas últimas décadas está
relacionado às metodologias para análise do corpo vegetal em três dimensões. De fato,
desde o surgimento da disciplina de anatomia vegetal e das primeiras observações sob
microscópio ótico, a interpretação do corpo tridimensional das plantas têm sido um
desafio. Diversas técnicas para a interpretação de amostras vegetais em 3D foram e
continuam sendo desenvolvidas. Por um lado, técnicas como a microscopia eletrônica de
varredura e a fotogrametria permitem análises tridimensionais da superfície ou da área
exterior de uma amostra. Entretanto, a reconstrução em três dimensões de estruturas
internas, ou seja, dos tecidos vegetais, permanece em muitos casos como uma fronteira
do conhecimento. Ao nível celular, equipamentos modernos de microscopia eletrônica
são capazes de acoplar a captura de múltiplas imagens ao seccionamento em série de um
pequeno bloco, resultando em uma sequência de imagens que é posteriormente
reconstruída tridimensionalmente através de um processo de renderização.
Para amostras um pouco maiores com alguns centímetros de espessura e
comprimento, o mesmo tipo de técnica pode ser utilizada para a reconstrução
tridimensional a partir de cortes anatômicos (Fig. 9.1a). Nesse tipo de análise, uma
sequência de cortes obtida com uso de um micrótomo rotatório pode ser renderizada em
um objeto tridimensional através do uso de uma série de programas e protocolos digitais
Figura 9.1. Comparação entre diferentes metodologias de análise em anatomia vegetal. A: Microscopia de
luz, incluindo as etapas de emblocamento, preparação de cortes anatômicos, montagem e fotografia (ou
escaneamento) das lâminas histológicas. Após esse processo, caso a perda de cortes em uma sequência seja
mínima, as imagens geradas podem ser reconstruídas em um objeto virtual 3D. B: Microscopia de
fluorescência em lâmina de luz, incluindo as etapas de clareamento dos tecidos, escaneamento com uso de
lâminas de luz fluorescente e análise em tempo real em 3D. C: Microtomografia computadorizada de raios-
X (micro-CT), através da qual o escaneamento da amostra gera uma série de projeções que serão
reconstruídas em um objeto virtual 3D. Fonte: BioRender (contrato número: JT23XPR4KA) e L. Teixeira-
Costa.
~ 10 x 5 x 5 cm
~ 10 x 5 x 5 cm, ~ 100 x 50 x 50 cm ou
Tamanho Limitado pela
Limitado por mais, de acordo com
máximo da capacidade de
equipamentos e tamanho do
amostra penetração da luz em
quantidade de cortes equipamento
cada material
< 1µm
Com uso de luz
Resolução
> 0.4 µm > 0.2 µm síncrotron e
máxima
magnificação óptica:
100 nm
Seccionar porção da
Seccionar porção da amostra caso Aplicação de contrastes,
amostra, emblocar, necessário, clarificar preparação para evitar
Preparação preparar cortes tecidos, aplicar ressecamento da
seriados, montar marcadores (fluoróforos amostra, montagem em
lâminas, fotografar específicos se suporte
necessário)
Microtomógrafo
Microscópio de compacto: aprox. R$1
Microscópio ótico:
Equipamento fluorescência em lâmina milhão
aproximadamente
e custos de luz: aprox. Microtomógrafo
R$4.000,00
R$500.000,00 grande: aprox. R$5
milhões
Análise de amostras
Vantagem Baixo custo 4 dimensões grandes; Método não
destrutivo
Figura 9.3. Exemplos de amostras escaneadas com micro-CT. A: Seção transversal do caule de Tipuana
tipu (Fabaceae) exibindo alto contraste entre tecidos da casca e da madeira. B: Seção transversal do caule
de Euphorbia polygona (Euphorbiaceae), uma planta suculenta, com baixo contraste entre os tecidos
lignificados e a matriz parenquimática. C: Seção transversal do caule de E. polygona (Euphorbiaceae)
tratado com solução contendo iodo, usado para realçar estruturas que armazenam amido (setas). D: Seção
transversal do ovário de Aechmea fasciata (Bromeliaceae) tratado com solução contendo tungstênio, usado
para realçar os óvulos. E: Seção transversal do pecíolo de A. brevicollis (Bromeliaceae) tratado sob vácuo
com solução contendo chumbo. F: Objeto tridimensional do caule de Pachira aquatica (Malvaceae) tratado
com solução contendo chumbo através do método de perfusão, utilizado para ressaltar a vascularização de
caule e folhas (setas). Fonte: L. Teixeira-Costa.
Referências
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Interactions. Journal of Visualized Experiments 179: e63423,
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Introdução
O metabolismo vegetal pode ser dividido em primário e secundário. Caracteriza-
se como metabolismo primário os processos comuns e pouco variáveis à grande parte dos
vegetais, e que levam à síntese de carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos. Tais
sínteses ocorrem por vias conhecidas como glicólise e ciclo de Krebs (ciclo do ácido
carboxílico) que, além de sintetizar intermediários para outras vias metabólicas, geram
energia e poder redutor a partir de reações de oxidorredução de compostos orgânicos.
Além destas vias, pode-se obter energia através da -oxidação de ácidos graxos e
degradação de produtos que não são essenciais para a planta. Esses processos compõem
a unidade fundamental de toda a matéria viva.
A distinção entre metabolismo primário e secundário (ou especial) se dá pelo
conceito de que metabólitos secundários não estão envolvidos em processos geradores de
energia e/ou de constituição do protoplasto. Outro ponto é que os metabólitos secundários
não estão presentes ubiquamente entre as plantas, expressando a individualidade de
famílias, gêneros e, até mesmo, espécies. A característica inerente do metabolismo
secundário é a sua elevada plasticidade genética e diversidade que garante adaptações
flexíveis à mediação de fatores bióticos e abióticos. Apesar do nome, as substâncias
oriundas de vias “secundárias” são vitais para as plantas, atuando como atrativos ou
repelentes de polinizadores, dissuasores de herbivoria, na proteção contra radiação UV e
poluição, estresse hídrico, na sinalização intraespecífica, na alelopatia, dentre outras
funções.
Essas substâncias secundárias são os chamados princípios ativos vegetais
comumente encontrados em diversos produtos e terapias. Mas o que de fato são esses
princípios ativos presentes nos vegetais? São substâncias formadas a partir de produtos
da fotossíntese com a função de defesa para a planta. Para nós, humanos, são essas as
substâncias responsáveis pelo efeito medicinal de uma planta, porém dependendo da dose
administrada, o efeito deixa de ser terapêutico e passa a ser tóxico. O princípio ativo é
Figura 10.1. Esquema geral das vias de biossíntese do metabolismo vegetal secundário (retângulos rosas)
e suas conexões com o metabolismo primário (retângulos vermelhos) – em detalhe os metabólitos primários
(verde) e os secundários (azul). Figura de Moreira, 2015.
Figura 10.2. Esquema da via acetato malonato – em verde as principais classes formadas. Fonte: Elaborado
pelos autores.
Policetídeos aromáticos
Os policetídeos aromáticos também são formados pela via do acetato-malonato.
A partir da cadeia carbônica denominada poli- -cetoéster diversas ciclizações formam os
policetídeos aromáticos (Fig. 10.2). Todas essas reações de biossíntese desses metabólitos
são intermediadas por proteínas homodiméricas, com dois sítios ativos, denominadas
Policetídeos Sintases do tipo III (PKS III).
As diferentes subclasses de policetídeos aromáticos dependem do tipo de
molécula utilizada como iniciadora da extensão da cadeia carbônica pela malonil-CoA.
A seguir são apresentados alguns exemplos dessas subclasses com as suas respectivas
unidades iniciadoras (Fig. 10.3).
Caso a unidade iniciadora seja a acetil-CoA ocorrerá a biossíntese das cromonas
e das antraquinonas. As cromonas possuem ampla distribuição nos diferentes clados do
APG IV, dentre esses compostos pode-se citar a visnagina, encontrada em frutos de Amni
visnaga (Apiaceae), que é utilizada medicinalmente como agente antiasmático. As
antraquinonas possuem uma distribuição mais restrita no APG IV, sendo encontrado nas
Fabaceae, Rhamnaceae, Rubiaceae, Polygonaceae e Xanthorrhoeaceae. Um exemplo
dessas substâncias são as emodinas, encontradas no gênero Cassia. Essas substâncias são
utilizadas medicinalmente como estimuladoras do movimento peristáltico do intestino.
Por outro lado, se a unidade iniciadora for um ácido graxo haverá a biossíntese dos ácidos
anarcádicos. Estes compostos estão presentes em espécies de Anacardiaceae e são
substâncias extremamente alergênicas.
Utilizando como unidade iniciadora o hexanoil-CoA haverá a produção de
canabinoides, que são encontrados em espécies do gênero Cannabis (Cannabaceae) e
possuem diversos efeitos sobre o sistema nervoso central de humanos.
Figura 10.3. Policetídeos aromáticos e seus respectivos precursores, unidades de extensão, vias de síntese,
classes e exemplos. Fonte: Elaborado pelos autores.
Substâncias fenólicas
O grupo das substâncias fenólicas inclui substâncias com ao menos um anel
aromático no qual houve a substituição de ao menos um hidrogênio por um grupo
hidroxila, sendo que estas substâncias podem ser simples ou com diversos graus de
Figura 10.4. Esquema da via de síntese das substâncias fenólicas. Modificado de Moreira (2015).
Terpenos
Os terpenos formam o maior grupo de produtos naturais, apresentando uma grande
diversidade estrutural, com mais de 35 mil substâncias identificadas. Eles são derivados
teóricos do isopreno, uma estrutura de cinco carbonos, e o número dessa unidade presente
na molécula é utilizado como critério de classificação das diferentes classes de terpenos,
Figura 10.5. Esquema da síntese de terpenos pelas vias MEV e MEP. Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 10.6. Exemplos de classes de alcaloides, seus respectivos precursores, fonte e uso por humanos.
Fonte: Elaborado pelos autores
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parasitada por Phoradendron crassifolium (Pohl ex DC.) Eichler (Santalaceae).
Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências, São Paulo. Universidade de São
Paulo (Orientadora: Furlan, C. M.).
Figura 11.1. Interação entre o metabolismo primário e as principais vias do metabolismo secundário
vegetal. Fonte: Modificado de Taiz & Zeiger (2009).
Figura 11.2. Principais de montagem do metabolismo secundário. Fonte: elaborada por L. Girotto.
Figura 11.3. Exemplos das diferentes classificações de terpenos. Isopentano, estrutura básica de cinco
carbonos acompanhado de quatro moléculas, respectivamente: o monoterpeno S-Limoneno, o diterpeno
ácido abiético, o triterpeno beta-amirina, e o tetraterpeno betacaroteno. Fonte: elaborada por L. Girotto.
Figura 11.4. Estrutura básica dos compostos fenólicos, o anel fenólico, seguido de quatro subclasses de
flavonoides: Antocianidinas, catequinas, flavonóis e flavonas. Fonte: elaborada por L. Girotto.
Figura 11.5 As estruturas moleculares dos alcaloides cocaína, atropina e cafeína. Fonte: elaborada por L.
Girotto.
Figura 11.6. Diferentes formas da liberação de compostos alelopáticos no meio ambiente até sua absorção
pela planta alvo. Fonte: elaborada por L. Girotto.
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Figura 12.1. Imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura das ceras da superfície abaxial de
folhas de Simarouba versicolor A. St. Hil. com morfologia do tipo plaquetas. Fonte: Imagem realizada
pelos autores.
Figura 12.2. Diagrama com a representação da estrutura cuticular e principais etapas de síntese das
substâncias alifáticas das ceras cuticulares. Os quadros em laranja representam as enzimas envolvidas em
cada etapa. Fonte: Elaborada pelos autores.
Figura 12.3. Representação de algumas substâncias cíclicas encontradas nas ceras cuticulares. Fonte:
Elaborada pelos autores.
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Introdução
Alga é um termo genérico, desprovido de significado taxonômico, que inclui
organismos procariotos e eucariotos que apresentam como características a presença de
Clorofila a, um talo não diferenciado em raiz, caule ou folhas, e hábito
predominantemente aquático. Dentre as algas, alguns filos possuem representantes
denominados de macroalgas, estes apresentam talos macroscópicos, ou seja, são visíveis
a olho nu. As macroalgas incluem diversos organismos, divididos em três categorias: as
algas verdes (Chlorophyta), as algas vermelhas (Rhodophyta) e as algas pardas
(Phaeophyceae) (Fig. 13.1).
Figura 13.1. Exemplos de macroalgas que representam os três grupos de macroalgas. (Fonte: Autor)
As algas têm sido utilizadas como alimentos por séculos. Hoje, elas têm recebido
mais e mais atenção devido ao fato de serem consideradas como fontes ricas de produtos
naturais com bioatividades. Além disso, as macroalgas são potenciais fontes de produtos
nutracêuticos, cosmecêuticos e fitoterápicos. Nutracêutico é um termo híbrido de nutrição
com farmacêutico. Um produto nutracêutico caracteriza-se por ser parte de um alimento
que possui propriedades nutricionais benéficas à saúde, incluindo prevenção ou
tratamento de doenças. Um alimento pouco processado ou um suplemento alimentar
podem ser considerados como produtos nutracêuticos se apresentarem benefícios à saúde
além da nutrição.
Acetato de
C4H8O2 77 0.894 1 4 0
etila
Acetona C3H6O 56 0.786 1 3 0
DMSO C2H6SO 189 1.092 2 2 0
Etanol C2H5OH 79 0.789 1 3 0
+
Metanol H OH 65 0.791 3 3 0
Água H2O 100 1.000 - - -
Composição química
As macroalgas apresentam um perfil nutricional de especial interesse, sendo uma
fonte rica de compostos pertencentes a diferentes grupos químicos como polissacarídeos,
proteínas, minerais, pigmentos, compostos fenólicos e lipídios. A composição bioquímica
das algas depende de várias condições abióticas, como sazonalidade, profundidade e
intensidade de luz, disponibilidade e qualidade dos nutrientes, localização na costa,
posição geográfica, salinidade, temperatura, exposição à radiação UV, poluentes e fatores
bióticos, como herbivoria, predação, competição ou ciclo de vida.
Lipídios
Os lipídios são formados por uma cadeia de ésteres, compostos por três moléculas
de ácidos graxos e uma de glicerol, formando um triglicerídeo. A natureza física de um
triglicerídeo é determinada pelo comprimento das cadeias carbônicas dos ácidos graxos
e pelo seu grau de saturação, sendo uma cadeia chamada de saturada quando não possui
insaturações ou insaturada quando apresenta uma ou mais insaturações. As algas
marinhas apresentam um teor entre 2 a 5% do seu peso seco em lipídios, sendo
encontrados tanto ácidos graxos saturados, como o ácido palmítico e o ácido eicosanoico,
quanto ácidos graxos monoinsaturados, como o ácido oleico, e ácidos graxos poli-
insaturados (PUFAs, do inglês polyunsaturated fatty acids). Dentre os PUFAs, são
encontrados lipídios essenciais das famílias do ômega-3 e ômega-6, como o ácido
linoleico (18:2), o ácido linolênico (18;3), o ácido eicosapentaenoico (EPA 20:5), o ácido
docosapentaenóico (DPA 22:5) e o ácido docosahexaenóico (DHA 22:6) (Tab. 13.2). O
metabolismo humano não consegue sintetizar ácidos graxos insaturados das famílias
ômega 3 e ômega 6, o que torna a ingestão desses ácidos através da alimentação ou
suplementação um fator importante para a saúde humana.
Outra classe de compostos de interesse encontrados nas macroalgas são os lipídios
complexos, como os fosfolipídios (PL) e os glicolipídeos (GL), ambos desempenham um
papel estrutural nos sistemas biológicos das macroalgas, representando os principais
blocos de construção das membranas citoplasmáticas e dos cloroplastos. Além disso, os
lipídios complexos exibem características únicas que não são encontradas em plantas
terrestres, por exemplo, os fosfolipídios marinhos têm melhor biodisponibilidade,
resistência à oxidação e maior teor de PUFAs do que lipídios de outras fontes. Já os
glicolipídeos de algas marinhas contêm PUFAs de cadeia longa (20 ou mais átomos de
carbono) com diversos potenciais de aplicações biotecnológicas. Assim como os PUFAs,
os lipídios complexos tem apresentado várias propriedades bioativas, como antioxidantes,
antitumorais, anti-inflamatórios e antimicrobianos, promovendo aplicações potenciais em
campos farmacêuticos, nutracêuticos e cosmecêuticos.
Bioatividades
Compostos Grupo
Classe Química Polaridade O B V I C T A F Outros
representantes algal
Ácidos graxos Ácido Palmítico
Todos
saturados Ácido Eicosanoico
Ácidos graxos
monoinsaturados Ácido oleico Todos
(MUFA)
Ácidos graxos
poli-insaturados Ômega 3, 6, 9 Todos Apolar
(PUFAs)
Lipídios Fosfolipídios (PLs) Todos
Complexos Glicolipídios (GLs) Todos
Fucosterol Hepato-
Esteroides Colesterol Todos protetora
Ergosterol
*O – antioxidante; B – antibacteriano; V – antiviral; I – anti-inflamatório; C – anticoagulante; T – antitumoral; A – antialérgico; F –
fotoproteção.
Por fim, vale mencionar os esteróides das macroalgas. Apesar de ser o grupo de
lipídeos menos estudados nas macroalgas, os esteróides possuem grande importância
biológica e são considerados como “moléculas-chave” para manter o estado de fluidez da
membrana plasmática adequada para sua função normal. Nas algas pardas, são
encontrados em maior quantidade os fucosteróis, nas algas verdes os colesteróis e, nas
algas vermelhas, os ergosteróis. Assim como os outros lipídeos, os esteroides também
apresentam bioatividades, como atividade antioxidante e hepatoprotetora.
Pigmentos
As macroalgas contêm uma grande variedade de pigmentos que absorvem a luz
para a fotossíntese, muitos dos quais não são encontrados em plantas terrestres. As
espécies são caracterizadas por conjuntos específicos de pigmentos. As três classes
Proteínas
O teor de proteínas das macroalgas varia de acordo com o grupo algal, a
sazonalidade e o ambiente de crescimento das espécies. De forma geral, as algas pardas
apresentam teores em torno de 3 a 15% do seu peso seco, as algas verdes entre 9 a 26%,
e nas algas vermelhas, o teor de proteínas pode chegar a 47% dependendo da estação do
ano. A principal aplicação do uso de proteínas de macroalgas tem como alvo a nutrição
humana e a alimentação de animais. Dentre as proteínas encontradas nas macroalgas,
temos as lectinas, os aminoácidos do tipo micosporinas (MAAs, do inglês Mycosporine-
like Amino Acid), as ficobiliproteínas e os peptídeos bioativos (Tab. 13.4).
As glicoproteínas são proteínas ligadas a várias cadeias de oligossacarídeos. As
glicoproteínas estão localizadas na parede celular, na superfície da célula, ou livres após
a secreção, e suas funções incluem interações intercelulares e de reconhecimento. As
lectinas são glicoproteínas hidrossolúveis conhecidas por sua alta capacidade de ligação
com carboidratos de alta especificidade e têm sido reportadas por apresentarem atividade
antioxidante, antibacteriano, antiviral, toxicidade, como inibidores de agregação de
plaquetas e auxiliam na detecção de agentes infecciosos, como vírus, bactérias, fungos e
parasitas.
Tabela 13.44. Composição das principais proteínas encontradas em macroalgas (Fonte: elaborada
pelos autores).
Bioatividades
Compostos Grupo
Classe química Polaridade O B V I C T A F Outros
representantes algal
Inibição de
Glicoproteínas Lectinas Todos agregação de
plaquetas
anti-hipertensivas,
antitrombóticas,
Peptídeos Glu-Asp-Arg- hipocolesterolêmicas,
Todos
bioativos Leu-Lys-Pro opioides, ligação
mineral, supressão
Polar do apetite
Aminoácidos Palitina,
tipo asterina, porfira- Vermelhas Fotoestabilizadores
micosporinas 334, palitinol
Corantes naturais,
Ficoeritrina,
neuroprotetoras, anti-
Aloficocianina,
Ficobiliproteínas Vermelhas hepatotoxicidade,
Ficocianina,
antidiabético, anti-
Ficoeritrocianina
hipertensivo
*O – antioxidante; B – antibacteriano; V – antiviral; I – anti-inflamatório; C – anticoagulante; T – antitumoral; A – antialérgico; F –
fotoproteção.
Por fim, um fator importante que precisa ser considerado com relação às proteínas
é a sua qualidade. A qualidade das proteínas depende de dois fatores: 1) digestibilidade,
que está relacionado com a capacidade do corpo de absorver o nutriente que foi ingerido;
e 2) disponibilidade de aminoácidos essenciais. As proteínas de fontes animais são,
geralmente, consideradas como proteínas completas, pois são uma rica fonte de
aminoácidos essenciais que o corpo humano é incapaz de biossíntetizar. Por outro lado,
as proteínas vegetais são muitas vezes consideradas uma fonte de proteínas incompleta,
pois comumente não possuem um ou mais dos aminoácidos essenciais e são tipicamente
mais difíceis de digerir do que proteínas animais, isso porque, normalmente, estão
associadas a polissacarídeos insolúveis (fibras), o que dificulta sua digestibilidade.
Mesmo assim, as proteínas de fontes vegetais ainda podem ser consideradas como uma
fonte de proteína viável, a falta de um ou outro aminoácido essencial pode ser resolvida
com uma dieta variada de proteínas vegetais, por exemplo.
Carboidratos
As algas marinhas produzem polissacarídeos geralmente como produtos de
armazenamento e como parte de suas paredes celulares. Dentro deste último, essas
macromoléculas são encontradas tanto na parede fibrilar quanto na matriz intercelular,
geralmente em conjunto com outros biopolímeros. Polissacarídeos de relevância
industrial e biomédica foram isolados de algas vermelhas (carragenanas, agaranas etc.),
algas pardas (alginatos, fucoidanos, etc.) e algas verdes (ulvanas, xilanas, galactanas, etc).
Cada um desses polissacarídeos têm uma estrutura química definida, que pode variar entre
as espécies, estágios de vida, habitat e até procedimentos de extração.
No entanto, alguns polissacarídeos não possuem atividade biológica suficiente
para aplicações cosméticas, alimentícias ou nutracêuticas. A degradação (geralmente,
Bioatividades
Compostos Grupo
Classe química Polaridade O B V I C T A F Outros
representantes algal
Bioetanol,
nanoceluloses,
celulose
Celulose Todos
microcristalina,
carboximetilcelulos
e e bioplástico
Ulvanas
Xilanas
Verdes
Mananas
Galactanas
Agaranas Antitrombóticos
Polissacarídeos Carragenanas Polar
Amido Florídeo
Vermelhas
Porfiranas
Glucanas
Manitol
Fucanas
Nanotecnologia
Fucoidanos terapêutica,
Perdas antitrombóticos
Laminarina
Alginato Anti-hipertensivo
*O – antioxidante; B – antibacteriano; V – antiviral; I – anti-inflamatório; C – anticoagulante; T – antitumoral; A – antialérgico; F –
fotoproteção.
Vitaminas
Vitaminas são compostos orgânicos essenciais necessários para o corpo humano
para diferentes processos químicos e fisiológicos, porém não podem ser sintetizadas por
humanos ou apenas em quantidades limitadas e, portanto, devem ser obtidas a partir da
dieta. Embora as vitaminas sejam necessárias apenas em quantidades muito pequenas,
elas são essenciais para o bom funcionamento do corpo. A deficiência de vitaminas pode
ser causada não apenas pela ingestão insuficiente de alimentos ricos em vitaminas, mas
também por má absorção ou utilização inadequada de suplementos.
As vitaminas são comumente classificadas em dois grupos de acordo com sua
solubilidade: vitaminas solúveis em água, como as vitaminas do complexo B, como B1,
B2, B3, B6, B9 e B12, e a vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico; e
vitaminas solúveis em gordura, como as vitaminas A, D, E e K (Tab. 13.6).
Bioatividades
Classe Grupo
Compostos representantes Polaridade O B V I C T A F
química algal
Vitamina A (Retinol), D
Lipossolúvel (Colecalciferol e ergocalciferol), Todos Apolar
E (Tocoferol), K (Filoquinona)
Vitamina B1 (Tiamina), B2
(Riboflavina), B3 (Ácido
nicotínico), B6 (piridoxina), B9
Hidrossolúvel Todos Polar
(ácido fólico), B12
(Cobalamina), C (ácido
ascórbico)
*O – antioxidante; B – antibacteriano; V – antiviral; I – anti-inflamatório; C – anticoagulante; T – antitumoral; A – antialérgico; F –
fotoproteção.
Minerais
As algas contêm muitos micro e macro elementos em sua composição, como Na,
K, Mg, Fe, Zn, Mn e Cu (Tab. 13.7), podendo conter porcentagens significativas que
variam de 8 a 40%. Como esses organismos têm fortes capacidades de bioabsorção e
bioacumulativas, seu conteúdo mineral pode ser 10 a 100 vezes maior do que plantas
terrestres. O teor de cinzas de certas algas marinhas pode atingir até 40% do peso seco,
embora seus níveis sejam comumente muito variáveis, dependendo de suas características
morfológicas, condições ambientais e localização geográfica. Apesar dessa variabilidade,
o acúmulo de magnésio (Mg), e principalmente ferro (Fe), parece ser prevalente em
Chlorophyta, enquanto Rhodophyta e Phaeophyceae acumulam maiores concentrações
de manganês (Mn) e iodo (I), respectivamente.
Substâncias Fenólicas
Figura 13.2. Esquema geral dos principais compostos presentes em macroalgas e sua utilização como
recursos renováveis, inseridos na economia circular sustentável que integra os princípios da bioeconomia
azul. (Fonte: autor)
Diversas aplicações são possíveis com extratos de algas produzidos por diferentes
métodos. A escolha do método apropriado depende da natureza prevista do(s)
composto(s) bioativo(s) esperado(s). Vale ressaltar a importância de desenvolver métodos
de aproveitamento de resíduos pós-extração, como por exemplo, o seu uso como
fertilizantes e ração.
Além disso, o setor público deve criar um ambiente propício para facilitar o
desenvolvimento do cultivo de algas, tornando-o prioridade, uma vez que poucas espécies
são cultivadas e muitos compostos são obtidos a partir de bancos naturais, podendo afetar
o equilíbrio ecológico dos ecossistemas marinhos. Infelizmentos, o cultivo ilegal tem se
tornado uma prática comum em países com regulamentações e sistema de fiscalização
falhos, que pode inclusive culminar no cultivo de espécies invasoras, deteriorando os
ecossitemas locais. Assim, é preciso oferecer medidas ou projetos efetivos para seu
licenciamento, apoio financeiro e outros mecanismos para ajudar a recompensar o setor
por seus benefícios ambientais e serviços ecossistêmicos.
Vale ressaltar que é preciso integrar os conhecimentos das funções biológicas dos
compostos à ecologia química que eles desempenham. A compreensão dos mecanismos
bioquímicos e fisiológicos apoiarão o desenvolvimento de uma bioeconomia sustentável.
Referência
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Contextualização do tema
A utilização de plantas medicinais é considerada uma das mais remotas formas de
prática terapêutica para tratamento, cura e prevenção de doenças pela humanidade.
Mesmo com diversos adventos de modernização e industrialização, principalmente no
setor farmacêutico, o uso de plantas medicinais continua possuindo relevante importância
econômica, especialmente em países em desenvolvimento. Segundo estimativas da
Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 65-80% da população desses países
depende exclusivamente de plantas medicinais para cuidados básicos de saúde, o qual é
mais acessível se comparado aos serviços modernos de saúde.
No Brasil, por exemplo, em 2006 a Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos (Decreto Nº 5.813, de 22 de junho de 2006) com o objetivo de garantir
acesso seguro ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos foi criada. A partir desse
estímulo na utilização de fitoterápicos, o Ministério da Saúde publicou, em 2009, a lista
RENISUS, a qual elencou 71 espécies com o objetivo de estimular o desenvolvimento de
pesquisa destas espécies e de sua cadeia produtiva. Tal projeto, abre perspectivas para o
estudo com plantas medicinais, impulsionando o mercado de fitoterápicos no país.
São notáveis os avanços da pesquisa focada no estudo de plantas medicinais em
prol da saúde humana ao redor do mundo. A descoberta de novos medicamentos vem
sendo impulsionada, sendo que nas últimas 4 décadas, 1,881 novas moléculas foram
aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration) para serem utilizadas como
medicamentos. Dessas, 23,5% provêm de produtos naturais e seus derivados, o que indica
grande importância desta fonte para descoberta e desenvolvimento de novos
medicamentos. Comparados com moléculas de origem sintética, os compostos
provenientes de origem natural possuem estruturas químicas mais complexas, com
variedade de esqueletos, alta massa molecular, além de diversas características químicas
desejáveis para o aproveitamento em múltiplas bioatividades.
O Brasil compreende uma vasta biodiversidade, sendo considerado um dos 17
países megadiversos do mundo. Tal característica pode ser atribuída a variedade e
Universidade de São Paulo
XI BOTÂNICA NO INVERNO – 2022 194
TEMA 3: Recursos Econômicos
Capítulo 14 - Carvalho et al. 2022
diversidade de biomas vegetais pertencentes ao território brasileiro, compreendendo
biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Floresta Atlântica e Pampa. No
entanto, até o momento, apenas dois fitoterápicos oriundos da flora brasileira estão
disponíveis no mercado, o analgésico e anti-inflamatório Acheflan®, obtido através do
óleo essencial de Cordia verbenacea D.C. (Boraginaceae), e o Melagrião® utilizado no
tratamento de tosse e asma, desenvolvido a partir das folhas de Mikania glomerata
Spreng. (Asteraceae). Em 2016, a venda no Brasil desses dois fitoterápicos rendeu um
total de 53,9 milhões de reais, demonstrando a importância de incentivo no
desenvolvimento de fitomedicamentos de origem nacional.
Assim, torna-se cada vez mais explícito a necessidade de um maior incentivo
científico e tecnológico de qualidade nesse campo, a fim de contribuir para a prospecção
de produtos inovadores proveniente da biodiversidade vegetal brasileira e,
consequentemente, posicionar o Brasil em um papel de maior destaque no cenário do
mercado mundial de fitomedicamentos. Dessa forma, o capítulo foi organizado de modo
a abordar as principais estratégias e desafios utilizados na área de fitoquímica, destacando
o importante papel de plantas brasileiras nesses estudos.
Figura 14.2. Exemplo de diterpenos nor-cassanos isolados de Caesalpinia echinata. Fonte: Elaborado pelos
autores.
Figura 14.4. Representação das estruturas químicas de lanatosídeo A e ginkgetina. Fonte: Elaborado pelos
autores.
Figura 14.5. Representação das estruturas químicas da Salicina, do ácido salicílico e do ácido acetil
salicílico. Em rosa, o destaque para a modificação estrutural do composto. Fonte: Elaborado pelos autores.
Entretanto, a alta atividade biológica de um extrato bruto, ou uma fração, pode ser
resultado de vários compostos com atividade baixa ou moderada. Esses compostos,
quando presente no mesmo extrato, podem agir de forma sinérgica potencializando o
efeito biológico da amostra, sendo essa estratégia denominada de estudo bioguiado com
sinergia. Neste caso, o fracionamento/isolamento pode romper essa interação, resultando
em um declínio da atividade biológica, e o composto isolado obtido pode não apresentar
um desempenho satisfatório. Em muitos casos, esse efeito pode ser perdido desde o
primeiro fracionamento a partir do extrato bruto, indicando que todos, ou a maioria dos
compostos presentes na amostra são fundamentais para um bom resultado.
Muitas indústrias farmacêuticas fazem uso dessa técnica para buscar novos
medicamentos, como por exemplo a Aché, uma das maiores farmacêuticas da América
do Sul. Após vários anos de pesquisa, em 2005 a empresa lançou seu primeiro produto,
um anti-inflamatório tópico denominado Acheflan®. Um fracionamento bioguiado a
partir do óleo volátil da erva de baleeira (Cordia verbenaceae DC. – Boraginaceae) levou
a identificação dos princípios ativos que resultou na atividade anti-inflamatória, sendo
ue tal efeito foi relacionado a resen a de α-humuleno e trans-cariofileno, dois
sesquiterpenos representados na figura 14.7.
Figura 14.7. Sesquiterpenos presentes no óleo volátil da erva de baleeira responsáveis pela atividade anti-
inflamatória do Acheflan®. Fonte: Elaborado pelos autores.
Figura 14.8. Compostos identificados em Connarus suberos. Fonte: Elaborado pelos autores.
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Drug Metabolism 14: 381–391.
Bruno Edson-Chaves 1
Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva 4
Introdução
A Botânica é uma das áreas da Biologia mais abrangente, além do estudo das
plantas, nos mais diversos aspectos (foco principal de estudo), frequentemente nos cursos
de graduação. Também contempla conteúdos de Fungos e Algas. É uma das áreas mais
antigas e estruturais da Biologia, cujos conhecimentos auxiliam o aluno, e porque não
dizer cidadão, a entender e superar os desafios da época atual como: compreensão da
diversidade vegetal, urbanização, poluição atmosférica, escassez de alimentos, saúde
pública, biorremediação de áreas degradadas, entre outras; além de fazer conexões com
diversas outras disciplinas como, por exemplo, geografia, história, sociologia,
meteorologia, ecologia e farmacologia.
Apesar de grande importância é comum os conteúdos de Botânica serem
ministrados: (i) de modo descontextualizado, com uma aparente falta de aplicabilidade
desses conhecimentos na vida cotidiana do discente, (ii) utilizando frequentemente
nomenclaturas técnicas e focando na memorização de conceitos, (iii) de modo
fragmentado e desvinculados de outros conteúdos da Botânica e da própria Biologia, e
(iv) desprovido do seu papel histórico na construção do conhecimento biológico. O
conjunto dessas características acaba gerando falta de interesse, daí serem,
frequentemente, preteridos por grande parte dos estudantes, agravando cada vez mais a
cegueira Botânica.
Em virtude desta problemática, observa-se que o ensino de Botânica deve ir além
dos aspectos teóricos apontados nas aulas e da simples utilização de informações
presentes nos livros didáticos. Sobre este ponto de vista, é comum observar na literatura
o incentivo de estratégias didáticas que complementem o ensino tradicional, como o caso
das metodologias ativas que fogem do pragmatismo da aula expositiva e que possibilitem
vias de ensino-aprendizagem mais atraentes, despertando a autonomia, curiosidade e
compreensão dos conceitos pelos alunos.
Tais metodologias focam no protagonismo e independência dos alunos, permitindo
diversas formas de interação, e cuja construção do conhecimento ocorre de acordo com
suas experiências individuais para aprender a interpretar as informações, preparando-o e
Universidade de São Paulo Se retaria stadual de nsino SP
XI BOTÂNICA NO INVERNO – 2022 210
TEMA 4: Temas Transversais
Capítulo 15 – Edson-Chaves & Silva 2022
aproximando-o da vida real. Paralelamente, também permitem despertar e manter o
interesse sobre os conteúdos ministrados, além de lhes proporcionem competências e
habilidades para resolver problemas cotidianos.
O uso de metodologias ativas vem sendo cada vez mais difundidas e se tornando
mais frequente nos últimos anos, especialmente após o período de ensino remoto. De
modo que muitos autores se detiveram em descrever diversos tipos de metodologias que
auxiliam no protagonismo estudantil, dentre as quais pode-se destacar: (i) jogos e
atividades gamificadas, (ii) estratégias de microaprendizagem, e (iii) estratégias artísticas.
Figura 15.1. Materiais do jogo Labirinto móvel. A. Cartelas iniciais; B. Cartelas gerais do labirinto; C.
Cartelas finais; D. 25 peças de chave, essas peças são individualizadas e colocados em um saco. A
movimentação dos jogadores ocorre nas casas brancas e amarelas, as casas de cor cinzas são paredes que
devem ser contornadas. Fonte: imagem elaborada pelos autores para este material.
Para o jogo, os jogadores são divididos em 4 equipes, cada equipe coloca a sua
cartela inicial na mesa, com o seu jogador em uma estrela. Essas cartelas devem ser
conectadas pelas portas (paredes de cor marrom). Em cada rodada o jogador lança o dado
Figura 15.2. Exemplos de Slides para o PK com o foco sobre a “importância da Botânica”. Fonte: fotos
retiradas do Google.
Para um bom PK é interessante que no slide inicial ocorra uma breve apresentação
do tema, com algo que desperte a atenção do interlocutor. Nos slides seguintes
contextualizar o tema historicamente e ir detalhando os assuntos que pretende apresentar.
Nos slides finais mostrar possibilidades e desdobramentos práticos do assunto
apresentado, por fim concluir com uma reflexão sobre o tema.
A arte já é apontada como uma ferramenta de ensino desde o período grego, sendo
defendido por vários filósofos, como Platão e Aristóteles, que a arte era parte da educação.
No contexto educacional, a arte proporciona: (i) o autoconhecimento, (ii) a reflexão e
memorização de conceitos, (iii) experiências sensoriais diversas permitindo uma nova
forma de observar a natureza, (iv) o aprendizado tanto do ponto de vista cultural como
informativo, (v) contextualização dos assuntos, (vi) valorização dos aspectos culturais e
a própria identidade do sujeito, e (vii) o desenvolvimento da imaginação e a criatividade.
Dentre as atividades artísticas podem-se destacar: teatro, cinema, música/paródias,
vídeos em Stopmotion, histórias em quadrinhos, cordéis, desenhos, narração de histórias,
pinturas e fotografias. Porém, independente da linguagem utilizada (p. ex. visual, musical
e cênica), é possibilitada por meio de um baixo custo, uma significativa e enriquecedora
troca de experiência e produção do conhecimento. Além disso, pode ser aplicado em
qualquer nível de ensino e, até mesmo, em alunos com deficiência.
Trabalhos envolvendo arte podem ser realizados de modo individual ou em equipe,
sendo sempre recomendado este último. Contudo, é necessário que a equipe esteja em
sintonia e que as funções de cada membro estejam muito claras. O fazer arte dentro de
um contexto de ensino de Botânica ao mesmo tempo em que foge da reprodução da aula
teórica tradicional, agrega na formação docente/discente pois permite o desenvolvimento
de habilidades interpessoais, assim como também permite uma construção do conteúdo
junto com os alunos de uma forma diversificada, promovendo a motivação, entusiasmo e
encantamento no aprender Botânica.
A cena começa assim que a música começa a tocar. O apresentador entra em cena
e se dirige ao púlpito central, assim que chega, ele agradece ao público abrindo os braços.
Neste momento entra pela direita o Ipê amarelo e pela esquerda o trigo, eles vão para
frente do apresentador, apertam as mãos e se dirigem para seus púlpitos, assim que eles
chegam aos seus lugares a música vai abaixando de volume até não poder mais ser ouvida.
ARAUCÁRIA:
Senhoras e senhores, boa noite, a todos!
A Tropical TV abre agora o debate aos candidatos para a presidência da Floresta com
transmissão ao vivo pelo canal da tropical TV no YouTube. Desde já gostaria de
agradecer a presença dos candidatos aqui presentes. Handroanthus impetiginosus, o ipê
roxo do PNB - Partido Nativo Brasileiro, e Triticum aestivum, o trigo do PA - Partido
Alimentício. O debate da Floresta TV apresenta pergunta de 40 segundos e resposta será
de 1min e 30seg e a réplica será dada em 1 minuto, mesmo tempo para tréplica. O
candidato se sentir ofendido, poderá solicitar direito de resposta de até 30 segundos assim
que o outro terminar de falar. As perguntas serão feitas por meio de sorteio realizado
previamente. Deste modo a primeira pergunta será sobre infraestrutura e será feita pelo
candidato Ipê roxo.
IPÊ ROXO:
Obrigado Sr. Araucária. Caro Trigo, considerando a importância da Floresta,
como você, que é uma monocotiledônea e não apresenta crescimento secundário, irá
desenvolver a infraestrutura deste país?
TRIGO:
Esta pergunta é muito interessante e pertinente! É comumente citado que nós, por
sermos monocotiledôneas não apresentamos crescimento secundário, todavia,
IPÊ ROXO:
Apesar de seus exemplos serem pertinentes, as Eudicotiledôneas compreendem
cerca de 75% das angiospermas e dominam a região da Floresta, tanto do aspecto arbóreo
como herbáceo. As árvores do nosso grupo contribuem significativamente para a
biomassa vegetal. Além disso, o tronco, devido ao seu crescimento simpodial, pode
suportar uma quantidade maior de epífitas que os estipes das palmeiras e colmos dos
bambus e outras gramíneas. Nossa copa frondosa permite o sombreamento da floresta e
as raízes profundas evitam a erosão. De modo que somos mais eficazes no que se refere
a infraestrutura da floresta.
Figura 15.3. Tirinha comentando sobre a diversidade floral produzida pelo Comika. Imagem produzida para
este material. Fonte: Autoria pessoal.
Considerações gerais
De um modo geral, existem várias formas por onde se pode trabalhar os conteúdos
da Botânica por meio da ludicidade e que desperta o interesse dos alunos. Trazer questões,
observações para a aula e apresentar aos alunos as mais diversas formas de se trabalhar o
conteúdo, pode deixar o ensino mais leve e tornar a aprendizagem cada vez mais
prazerosa e a disciplina de Botânica menos assustadora.
Utilizar metodologias lúdicas faz com que o aluno se aproprie do conhecimento de
modo muito mais robusto e que contextualiza a sua realidade. A importância desses tipos
Referências
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(Dias Filho C.R., Francez P.A.C, orgs.). 2ª Ed. São Paulo: Millennium Editora.
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2014. E-aulas USP. Disponível em:
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Bordenave, J.D.; Pereira, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 12 Ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2002.
Borges, T. S.; Alencar, G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do
estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação
crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, v. 3, n. 4, p. 119-43,
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Bresinsky, A. Tratado de Botânica de Strasburger. 36ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
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Caetano, A. P. S; Cortez, P. A. 2014. Reprodução assexuada. In: Biologia da Polinização
(Rech, A. et al., orgs. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Projeto Cultural. 64-81p.
Castoldi, R.; Polinarski, C. A. A utilização de recursos didático-pedagógicos na
motivação da aprendizagem. In: I Simpósio Nacional de Ensino de Ciências e
Tecnologia, 1. Anais. Paraná: UTFPR, 2009. p. 684–692.
Fotografia Botânica
Direito autoral
• Cada fotografia é um trabalho autoral, ou seja, não pode ser copiada,
compartilhada ou utilizada sem a autorização do profissional.
• Se o fotógrafo compartilhou o trabalho em redes sociais e você deseja
compartilhar, sempre faça menção ao autor.
• Nunca faça print do trabalho e edite qualquer item, ainda que alterada, a imagem
continua sendo plágio.
equipamento para entender onde está cada botão de cada função, ou ainda, procure um
tutorial online que explique especificamente a parte física do seu modelo.
A câmera dispõe de diversos outros botões e funções que não serão tratadas aqui,
mantendo apenas as funções essenciais para a fotografia manual.
Figura 16.1 Botões com as funções básicas de uma câmera para fotografia em Modo Manual. Autor da Imagem:
Danilo Zavatin.
Modo Manual
Após selecionar o Modo Manual (A) e verificar que a câmera está nesse modo
(C), certifique-se de que a dioptria (E) está de acordo com seu grau de visão. A dioptria
é um botão de rolagem onde o fotógrafo, olhando no visor óptico, ao rolar o botão vai
ajustando a nitidez do foco de acordo com seu grau de visão. Ao rolar o botão, o fotógrafo
vai perceber um desfoque do campo de visão, até encontrar o campo de visão
completamente focado. Esse botão é devido a diferença na visão de cada pessoa, sendo
útil para ajustar o grau, como a função dos óculos.
Exposição
O fotômetro (Fig. 16.2) é o responsável por informar o Valor de Exposição (EV)
de uma foto, antes mesmo dela ser produzida. O EV é uma unidade de medida universal
utilizada na fotografia, em escala exponencial com valores negativos e positivos. A cada
EV a quantidade de luz dobra, ou seja, se o fotômetro estiver marcando o EV em 1, ao
ajustarmos as configurações e o EV mudar para 2, não é apenas um ponto de luz que
aumentou, mas sim, dobrou em relação a quantidade de luz anterior; e assim
respectivamente para valores negativos onde há a redução de luz.
Sendo assim, a Exposição é o valor que mostra o quanto a cena a fotografar está
exposta a luz. É a exposição que informa se a foto, está sub-exposta (mais escura), bem
exposta ou superexposta (mais clara) (Fig. 16.3).
Figura 16.3. Fotografia de Lecythis pisonis. Da esquerda para direita: valor negativo do fotômetro gera
uma foto sub-exposta, valor centralizado ou neutro do fotômetro gera foto bem exposta e valor positivo
do fotômetro gera foto superexposta. Autor da Imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.4. No visor ótico, é possível verificar os valores que representam o ajuste feito para o obturador,
diafragma e ISO. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Obturador
O obturador (Fig. 16.5) é uma peça que fica na câmera. Esse elemento fica fechado
permanentemente para proteger o sensor e abre para efetuar a foto. O obturador controla
por quanto tempo a luz passará até o sensor. A escala do obturador é expressa em fração
de segundos ou segundos inteiros (Fig. 16.6) e é o fotógrafo quem define a velocidade.
Essa velocidade também é chamada de tempo de exposição.
Por exemplo, em 1/1000 significa que o obturador vai se abrir por 1 milésimo de
segundo, o que é muito rápido. Já 1/100, significa que a velocidade é de 1 centésimo de
segundo, que é mais lento do que a velocidade anterior. É possível fotografar mais
devagar, com velocidade de 1 , , 10 ou 1 segundos inteiros.
Além de controlar a luz, a velocidade do obturador traz como resultado imagens
de assuntos rápidos que foram congelados ou de assuntos rápidos que se deseja capturar
o caminho desse movimento e gerar um borrão proposital na imagem (Fig. 7). Na
botânica, se usa apenas tempo de exposição mais curto (velocidades mais rápidas) para
obter imagem da planta estática no ambiente perturbado por vento (Fig. 8). Geralmente,
a partir de 1/125 é possível manter estática a imagem de plantas que estejam sobre ação
de vento leve e a partir de 1/250 de vento moderado.
Figura 5. Obturador na câmera. À Esquerda, o obturador está aberto, sendo possível ver o sensor de
recepção de luz. À direita, o obturador está fechado. Autor da imagem: Sony.jp.
Figura 16.6. Escala em terços de pontos de EV. A partir de 1/125 é possível congelar imagem de plantas
sob ação de vento leve e a partir de 1/250 sob vento moderado a forte. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.7. A velocidade do obturador define o tempo de exposição à luz e os efeitos de borrão ou
captura do caminho percorrido por um objeto ou o efeito de congelamento de um objeto em movimento.
(A) Tribo indígena em Manaus fazendo ritual: o tempo de exposição mais longo (velocidade do obturador
mais lenta), na foto utilizado em 1/60, não foi suficiente para congelar a imagem, gerando um efeito
de borrão. (B) Esponja de aço queimando: o tempo de exposição mais longo (velocidade do obturador
mais lenta), na foto utilizado em 8 segundos, foi o suficiente para capturar todo o movimento das faíscas
de luz, desde sua saída da esponja de aço, seu caminho percorrido, até tocar o chão. (C, D) Criança
brincando na chuva: o tempo de exposição mais curto (velocidade do obturador mais rápido), nas fotos
utilizado em 1/800 e 1/640, foi o suficiente para congelar a imagem dos movimentos da criança e da
água. (E) Morcego se alimentando: o tempo de exposição mais curto (velocidade do obturador mais
rápido), na foto utilizado em 1/2000, foi o suficiente para congelar a imagem do morcego voando.
Autor das imagens: Danilo Zavatin.
Figura 16.8. Thunbergia grandiflora. A velocidade do obturador percebida na botânica. (A) O tempo de
exposição mais longo (velocidade do obturador mais lenta), na foto utilizado em 1/30, não foi suficiente
para congelar o movimento da planta trepidando ao vento. (B) O tempo de exposição mais curto (velocidade
do obturador mais rápido), na foto utilizado em 1/250, foi suficiente para congelar o movimento da planta
trepidando ao vento. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Diafragma
O diafragma é uma peça que fica na objetiva e controla a quantidade de luz que
entra até o sensor (Fig. 16.9). Cada objetiva possui um valor de abertura do diafragma
diferente. Na câmera, o diafragma é representado pelo f. Além do controle da luz junto a
outras configurações, o diafragma define a profundidade de campo da foto. Na botânica,
quando não dominamos bem o uso do diafragma, acontece pontos de desfoque em uma
flor (como exemplo), com pontos focados e pontos desfocados na imagem (Fig. 16.9).
Entender o diafragma é muito importante para colocar todas as partes da flor em foco.
Além disso, o diafragma é responsável por desfocar o fundo da imagem.
Figura 16.9. A esquerda é possível ver o diafragma da objetiva em seu fechamento máximo permitindo a
passagem de luz apenas pelo orifício central. A direita, Barbacenia spectabilis com pontos de foco e
desfoque. As linhas brancas mostram partes da flor que ficaram desfocadas enquanto a amarela, em foco.
Autor da Imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.10. Da esquerda para direita. O valor mais alto de f representa diafragma mais fechado e como
resultado, maior profundidade de campo na foto. Conforme o valor de f é reduzido, o diafragma vai se
abrindo e como resultado, menor profundidade de campo na foto. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.11. Da esquerda para direita. Hibiscus sp. Quanto mais fechado o diafragma, maior a
profundidade de campo, como em f 22 é possível ver mais nitidamente o solo atrás da flor. Quanto mais
fechado o diafragma, menor a profundidade de campo, como em f 1.4 onde o solo está bastante desfocado.
Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Morfologia da planta
Cada planta possui morfologia específica, portanto ao fotografar é preciso analisar
a morfologia da planta, a luz do ambiente e o objetivo da profundidade de campo: mostrar
mais detalhes, ou esconder algo com desfoque por exemplo. No exemplo abaixo (Fig.
16.12) as plantas estavam no mesmo ambiente, ou seja, com as mesmas condições de luz;
após o ajuste das configurações para a luz adequada, o fotógrafo manteve a abertura do
diafragma igual para as três plantas: f 2.8.
Apesar do ambiente ter a mesma luz e o diafragma ter sido usado igual para as
três fotos, o resultado foi diferente. Isso ocorreu devido a morfologia. Para entender como
trabalhar o diafragma de acordo com a morfologia, é preciso entender que a flor é um
Figura 16.12. (A, B). Bromélias. (C) Delphinium elatium. Todas as fotos foram feitas no
mesmo lugar, sob mesma condição de luz e mesmo valor de diafragma, mas com
resultados diferentes. Autor da imagem: Danilo Zavatin
Se desejamos focar toda a inflorescência das Bromélias, o ideal é fechar mais o
diafragma (Fig. 16.13).
Figura 16.13. Bromélia. Para obter foco em todas as partes da inflorescência é preciso considerar a
morfologia tridimensional da planta: quanto mais tridimensional a planta, é necessário maior profundidade
de campo (= diafragma mais fechado). Na imagem, as linhas amarelas representam possíveis ajustes no
diafragma para que as demais partes pudessem ter sido focadas. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Distância focal
Quanto menor a distância focal da objetiva em relação a planta, maior será a
profundidade de campo ou quanto maior a distância focal da objetiva, menor a
profundidade de campo (Fig. 16.14).
Figura 16.14. Vitex polygama. Da esquerda para direita. Com a objetiva em 35 mm se obtém maior
profundidade de campo com mais informações dentro da foto e desfoque médio do plano de fundo. Em 55
mm, há menor profundidade de campo com menos informações dentro da foto e desfoque moderado do
plano de fundo. Em 100 mm, há a menor profundidade de campo, com menos informação dentro da foto
(apenas uma flor) e desfoque severo do plano de fundo. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Distância do objeto
A distância em que o fotógrafo está do objeto também altera a profundidade de
campo. Quanto mais próximo a planta, menor será a profundidade de campo e quanto
mais distante da planta, maior a profundidade de campo (Fig. 16.15). Como exemplo
nessa imagem, ao fotografar Justicia riparia sob mesma condição de luz, mesma abertura
do diafragma e mesma distância
focal, obteve-se resultado diferente
devido à distância do fotógrafo em
relação a planta.
Figura 16.16. Petrea subserrata. Parâmetros na foto: diafragma f 2.8, distância focal em 65 mm e distância
do objeto de 1 metro. Resultado: menor profundidade de campo. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.17. Petrea subserrata. Parâmetros na foto: diafragma f 22, distância focal em 100 mm e distância
do objeto de 2 metros. Resultado: maior profundidade de campo. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
ISO
O ISO (Fig. 16.18) é a medida que indica a sensibilidade do sensor da câmera à
luz do ambiente, ou seja, quanto maior o valor do ISO, maior sensibilidade à luz, e quanto
menor o valor do ISO, menos luz é percebida pelo sensor. A cada vez que o ISO é
aumentado, a sensibilidade do sensor a luz dobra em relação a luz percebida
anteriormente (ver Fig. 16.1 e 16.4 para entender onde a informação do ISO fica
disponível na câmera). O ISO reflete diretamente na qualidade da foto: quanto menor o
ISO, mais qualidade a foto terá e quanto maior o ISO, menor a qualidade.
Figura 18. Escala de ISO. Quanto menor o valor do ISO, menos sensível à luz está o sensor da câmera e
resultará em foto de maior qualidade. Quanto maior o ISSO, mais sensível à luz está o sensor da câmera e
resultará em foto de menor qualidade. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Veremos a diferença entre fotos feitas com ISO baixo e ISO alto. Na figura 16.19,
a Barbacenia spectabilis foi fotografada com ISO 100, ou seja, pouco sensível a luz e
com preservação de maior qualidade da imagem. Entretanto, olhando a imagem à
distância nem sempre é possível perceber a dimensão de sua qualidade, mas ao ampliar,
é notável a preservação de detalhes em alta qualidade (Fig. 16.20). Quando fotografamos
com o ISO alto, como na Figura 16.21, com Siphocampylus nitidus fotografado em ISO
3200, apesar da imagem mais ampliada mostrar com clareza a foto, ao ampliar, percebe-
se o ruído e consequente perda da qualidade da imagem, visível na Figura 16.22.
Figura 16.19. Barbacenia spectabilis. Utilizou-se ISO 100, pouco sensível à luz, mas com preservação da
qualidade da imagem. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.20. Barbacenia spectabilis. Em ampliação, é possível ver os detalhes das glândulas do escapo
floral.
Figura 16.21. Siphocampylus nitidus. Utilizou-se ISO 3200, muito sensível a luz, mas com perda na
qualidade da imagem. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.22. Siphocampylus nitidus. Em ampliação é possível ver granulação da imagem por perda de
qualidade. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Resumo
Fotografia é luz!
É preciso entender as configurações e parâmetros para o aproveitamento da luz
em diferentes ambientes, sejam eles muito escuros ou claros.
Obturador
Controla por quanto tempo a luz vai entrar até o sensor. É ele que define o
movimento de arraste ou congelamento de uma imagem.
Diafragma
Controla a quantidade de luz que vai entrar até o sensor. É ele que define a
profundidade de campo de uma imagem.
ISO
Controla a sensibilidade à luz. É ele que define a qualidade da imagem.
Triângulo de Exposição
Já entendemos que os três pilares da fotografia são: o obturador, diafragma e o
ISO. A velocidade do obturador, na botânica é sempre utilizado em uma velocidade que
consiga congelar qualquer sinal de trepidação da planta, mas afinal, por que as vezes se
usa velocidade mais baixa? Se ao fotografar uma planta com diafragma mais aberto,
desfoca o fundo e realça a planta, por que usar o diafragma mais fechado? Se o ISO mais
baixo garante a qualidade da imagem, por que usar ISO baixo e perder a qualidade?
Figura 16.23. Triângulo de exposição. Para realizar os ajustes de compensação de luminosidade deve-se
seguir a prioridade de ajustes (1-2-3) a fim de obter uma imagem equilibrada em condições desfavoráveis.
Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Vento
Se o ambiente estiver com vento ao ponto de trepidar a planta, a prioridade de
ajuste é a velocidade do obturador (1). Nesse caso, quanto mais rápido a velocidade do
obturador, melhor será o congelamento da imagem. Se aumentar a velocidade representa
luz entrando por menos tempo e o fotômetro indicar imagem subexposta, tente equilibrar
uma velocidade do obturador no limiar, onde seja possível congelar a imagem sem deixar
a imagem escura. Se mesmo assim, ainda não foi possível o ajuste, basta seguir a lógica
do triângulo de exposição e ajustar a abertura do diafragma (2) e o ISO (3) se necessário.
Foco
Para entender o que o fotógrafo quer que seja fotografado a câmera busca
contraste na cena. Sem contraste, muitas vezes a objetiva fica buscando, escutamos o
motor da câmera se esforçando, mas mesmo apertando o botão para disparar, a câmera
sequer aceita registrar a foto. Isso acontece quando a cena não oferece contraste suficiente
e a câmera não entendeu qual assunto é importante. O contraste é relativamente fácil de
resolver, seja mudando a posição do fotógrafo, a posição da planta ou adicionando algum
recurso simples, como um tecido preto (Fig. 16.25). Na botânica, os principais problemas
de contraste são: contraste de cores semelhantes entre a planta fotografada e o fundo e
contraste de formato da planta fotografada semelhante ao formato do fundo (Fig.16. 26).
Figura 16.25. Exemplo de problemas típicos de contraste em plantas. (A) Planta verde com fundo verde
causado por vegetação ao fundo. (B) Adicionando um tecido preto ao fundo, mudando a posição da foto ou
mudando a posição da planta, cria-se o contraste. (C) Planta alva com fundo alvo (contra o céu ou solo
claro). (D) Adicionando um tecido preto ao fundo, mudando a posição da foto ou mudando a posição da
planta, cria-se o contraste. (E) Flores escuras em ambiente escuro. (F) Mudando a posição do fotógrafo, da
planta ou adicionando tecido claro ao fundo, cria-se o contraste. (G) Falta de contraste por forma. Planta
herbácea ou arbustiva à frente de outras plantas herbáceas ou arbustivas. (H) Removendo a planta e
posicionando em um local sem plantas ao fundo, ou adicionando um tecido preto, cria-se o contraste. Autor
da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.26. Típicos problemas na botânica para se obter foco por falta de contraste. (A) Roupala montana.
Problema de contraste de cor e forma. (B) Bomarea edulis. Problema de contraste de forma. (C) Mucuna
pruriens. Problema de contraste de cor. (D) Austroeupatorium inulaefolium. Problema de contraste de cor.
Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Fundo infinito
O fundo infinito (Fig. 16.27) é uma técnica bastante útil e de muita qualidade
estética para uso na botânica. A técnica precisa do uso do flash, mesmo o flash que já
vem na câmera é suficiente. Os principais ajustes para o sucesso dessa técnica são: a
posição da flor a fotografar, o ajuste das configurações e o uso do flash.
Figura 16.27. Musa sp. O fundo infinito retira toda a cena atrás da planta, realçando sua percepção em
detalhes. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.28. Paubrasilia echinata. Com as configurações pré-ajustadas, ao fazer a foto, o flash disparará
sobre a flor e atrás dela não haverá conteúdo para retornar a câmera, produzindo o fundo infinito. Autor da
imagem: Danilo Zavatin.
Se o fundo da imagem
revelar elementos indesejados sendo
capturados, o fotógrafo pode mudar
de posição, remover o que está
gerando esse ruído ou mudar a
posição da flor (Fig. 16.30).
outros planos, até gerar uma sombra no plano de fundo. Além disso, como as estruturas
florais estavam em planos diferentes, a abertura do diafragma não conseguiu focar em
três planos diferentes de profundidade, focando apenas em um plano e deixando os
demais desfocados.
Figura 16.31. Oxalis triangularis. Devido a tridimensionalidade da planta, é possível traçar três planos
imaginários. O flash (linha amarela) incidiu no primeiro plano e gerou sombra nos demais. Na imagem à
direita, as setas amarelas indicam os pontos de sombra indesejados. É possível ver sombra também no
escapo floral posterior, gerado pela posição das flores em primeiro plano. Autor da imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.33. Manettia gracilis. A vegetação atrás da planta comprometeu o fundo infinito. Autor da
imagem: Danilo Zavatin.
Figura 16.34. Schlumbergera russeliana. O barranco atrás da planta comprometeu o fundo infinito. Autor
da imagem: Danilo Zavatin.
Em campo, a solução mais viável é o uso do tecido preto, fosco e que não amasse.
O tecido pode ser colocado mais distante da planta ou mesmo como suporte da própria
planta. Caso seja colocado mais distante da planta, o fundo infinito será produzido. Se o
tecido preto for utilizado como suporte, há a vantagem de “modelar” o formato da planta,
abrindo suas folhas e ajustando esteticamente a disposição das partes, sem que as folhas
fiquem sobrepostas, realçando as flores, contudo a trama do tecido será registrada, sendo
necessário edição em software para remover a trama e preservar o fundo preto (Fig.
16.35).
Outra opção boa é um papel preto fosco, especialmente para partes menores como
as flores. O papel não tem trama à ser capturado pela câmera, mas também demandará
edição para remover a textura de fundo. Em campo, o papel não é útil devido ao desgaste.
Figura 16.35. (A, B) Cariniana estrellensis. (C, D) Nymphaea rubra. Plantas colocadas sobre tecido e
com fundo editado posteriormente. Autor da imagem: Danilo Zavatin.