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Conselho Ad hoc
Marlon Herbert F. B. Soares – UFG Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de
Nidia Franca Roque – UFBA Bibliotecas e Informação PUC-Campinas
Viviani Alves de Lima – UFU
Revista Brasileira de Ensino de Química
Revista Brasileira de Ensino de Química Campinas, SP: Editora Átomo, 2006
v. 1, n. 1, jun./jun. 2006
rebeq@atomoealinea.com.br
www.atomoealinea.com.br/rebeq Semestral
Publicação científica-educacional
Revisão
1. Química – Periódicos.
Paola Maria Felipe dos Anjos
2. Ciências exatas – Periódicos.
Capa e Editoração Eletrônica
CDD 540
Fabio Diego da Silva
1. Química 540
A division of the
American Chemical Society Pede-se permuta. - Pide-se cange.
We ask for exchange. - On demande l’echange.
Si sollecita intercambio.
Wir bitten un aurstausch un publikationen.
Artigos
68 Uma Atividade Lúdica com Aplicação do Jogo Lince para o Ensino de Química:
reconhecimento das vidrarias presentes no laboratório
Maria Aparecida da Costa e Amanda Laís Nunes Miranda
Química Verde
História da Química
129 Resenha
131 Normas para Publicação
Contents
7 Editorial
Articles
68 Proposal for a Play Activity with Application of the Lynx Game for Chemistry
Teaching: recognition of the glassware present in the laboratory
Maria Aparecida da Costa and Amanda Laís Nunes Miranda
Green Chemistry
Chemistry History
129 Review
131 Editorial Standards
Editorial
Vivemos tempos conturbados. Alunos do ensino médio ocupam escolas e impedem
a entrada de professores, com apoio de parte da sociedade e, em muitos casos, de seus
próprios pais; universitários invadem e ocupam reitorias das mais bem-ranqueadas
universidades do país e do mundo, todos com o mesmo argumento: tudo pela melhoria
das condições e da qualidade do ensino. Professores estão sendo ameaçados por
alunos e impedidos de exercer suas atividades ao ponto de se esconderem para atender
os estudantes interessados e cerceados em seu direito de participar das aulas.
Recentemente, no Chile, os universitários se manifestaram por reformas
educacionais mobilizando todo o país; em Berkeley, a universidade parou e, no
México, chegou-se ao absurdo de conflitos violentíssimos, em que as consequências
foram as piores possíveis.
Será que nossos alunos involuíram? Será que os docentes estão perdendo a
habilidade de interagir com as novas gerações? No passado, os professores lidavam
com os estudantes utilizando-se de argumentos e autoridade que hoje não se aplicam.
Os familiares apoiavam os professores e também os tinham como parceiros na educação
das crianças e dos jovens. O respeito e os limites eram mais bem-compreendidos
e os resultados acadêmicos eram muito bons. Formávamos cidadãos para o mundo
e para a sociedade na qual viviam. Mas a realidade, hoje, é diferente; argumentos
de autoridade não se aplicam mais e só desencadeariam problemas mais drásticos e
muito mais sérios. O que fazer então?
Cedo ou tarde, todos teremos de parar e refletir sobre o papel dos professores, do
ensino, das escolas e das universidades. É certo que o aluno que já tivemos no passado,
as aulas que já ministramos e o convívio que já tivemos com estudantes e familiares
não voltam mais. Aquilo faz parte de um passado que, embora prático e eficiente,
foi sendo alterado e só existe na imaginação dos mais antigos. Esta reflexão terá de
convergir para uma série de explicações que as escolas e universidades terão de dar à
sociedade sobre o seu efetivo papel no momento pelo qual passamos. O que estamos
dando de volta para a sociedade como contrapartida de todo o investimento que é
feito no ensino fundamental, médio e superior? Pessoas portadoras de certificados
de conclusão de curso já existem aos milhares e... sobrando. Entretanto, profissionais
qualificados e preparados para nossa realidade são raros; pessoas que saibam respeitar
limites e que estejam buscando o aprimoramento pessoal antes do profissional são
disputadas pelo mercado de trabalho e estão muito bem-escondidas. Os pró-ativos
sumiram!
Na Química, conseguimos desvendar problemas de difícil compreensão, que
exigem a mais elevada capacidade de abstração, ensinamos nossos alunos a executar
complicadas tarefas de laboratório, mas não somos capazes de torná-los cidadãos.
Aparentemente, o ensino pelo ensino já não se justifica mais. Temos de ir adiante
e repensar nossa atividade. Será que nossos critérios de qualidade e excelência
contemplam os anseios da sociedade que nos patrocina? Será que respondemos
às necessidades do setor produtivo, que, no futuro, se tornarão benefícios para a
população? Será que respondemos pelo investimento e confiança que toda a sociedade
deposita sobre nós?
Aparentemente, teremos de nos debruçar sobre muitas questões e encontrar as
melhores respostas e as alternativas mais coerentes que atendam aos anseios desta
nova geração que já nos deu seu cartão de visitas. A universidade, em particular, deve
encontrar o melhor caminho para tal adaptação, que já se faz necessária e, se não for
realizada, certamente gerará uma lacuna que trará consequências ainda mais sérias em
breve. Obviamente, se o encontrarmos, sairemos desta situação muito fortalecidos e
respaldados pela confiança que já detivemos no passado.
A finalidade maior da ReBEQ é contribuir para uma melhoria efetiva do ensino
e ela continua aberta às iniciativas e propostas que contemplem a melhor e mais
abrangente formação de profissionais da Química, a qual os prepare para este mundo/
mercado cada vez mais desafiador.
Coordenação Editorial
Artigos
Articles
Evitando Funções Especiais no Método de Hartree-Fock
Avoiding Special Functions in the Hartree Fock Method
Augusto C. L. Moreira e José R. da Silva
Uma Atividade Lúdica com Aplicação do Jogo Lince para o Ensino de Química:
reconhecimento das vidrarias presentes no laboratório
Proposal for a Play Activity with Application of the Lynx Game for Chemistry Teaching: recognition of the
glassware present in the laboratory
Maria Aparecida da Costa e Amanda Laís Nunes Miranda
Resumo
Ao se utilizar o método de Hartree-Fock em ‘sistemas reais’, tais como átomos
e moléculas, é bastante comum, por parte dos estudantes, que as atenções sejam
demasiadamente voltadas para as operações matemáticas envolvendo funções espe-
ciais em detrimento de conceitos subjacentes à teoria em si. Este trabalho consiste
em uma tentativa de evitar tais funções e, ao mesmo tempo, manter as ideias cen-
trais do método de Hartree-Fock. Para isso, utilizaremos um sistema-modelo com-
posto por dois elétrons interagentes, confinados em um poço de potencial infinito
unidimensional. Uma vez que o potencial de interação elétron-elétron é modelado
por uma função de delta de Dirac e, como as funções de base são funções trigo-
nométricas (senos), podemos realizar todas as etapas de um ciclo auto-consistente
analiticamente. Além disso, já que a implementação computacional envolve uma
matriz 2x2, o cálculo numérico de autovalores e autovetores também torna-se fácil.
Palavras-chave: Hartree-Fock; Química Quântica; Poços Quânticos.
Abstract
Frequently, the concepts underlying the Hartree-Fock theory lose its scopes because
realistic systems like molecules always requires special mathematical functions.
This work is an attempt to avoid such functions and keep the core ideas of the
Hartree-Fock method. For this purpose we will use a model system composed by
two interactive electrons confined in a one dimensional box. Once the electron-
electron potential interaction is described by a Dirac delta function and the base
functions are ‘mathematically accessible’ (trigonometric functions) we can carry out all of the steps during a
self consistent cycle analytically. Furthermore, because the computational implementation involves a simple
2x2 matrix, the numerical computation of eigenvalues and
eigenvectors becomes easy too.
Key-words: Hartree-Fock; Quantum Chemistry; Quantum well.
unidimensional. Existem, na literatura, vários momento, considerar os núcleos fixos. Essa apro-
trabalhos envolvendo o método de Hartree-Fock ximação, crucial em química quântica, deve-se a
em poços quânticos (Thompsona; Alavi, 2005; Born e a Oppenheimer. Como consequência direta
Ryabinkin; Staroverov, 2011). Entretanto, diferen- dela, podemos negligenciar a energia cinética dos
temente desses trabalhos, o objetivo aqui consiste núcleos e considerar a repulsão entre eles como
em desenvolver um modelo didático que evite, em sendo constante. Dessa forma, basta tratar a parte
um primeiro momento, as funções especiais. Vale eletrônica do Hamiltoniano do sistema que é dada
salientar que esta preocupação, também compar- por (Szabo; Ostlund, 1996, p. 43):
tilhada por outros autores (Antunes et al., 1999; n N n n n n n n
// ε ba
Vtij jb . Em outras palavras, vemos que o operador
a=1 b=1
de Coulomb representa a interação entre o i-ésimo
em que os coeficientes εba são os multiplicadores elétron com o campo médio gerado pelo j-ésimo
de Lagrange – elementos de uma matriz hermi- elétron, como se este último estivesse distribuído
teana que pode ser diagonalizada mediante uma por todo o espaço. Dito de outra forma, não há
transformação unitária – obtemos uma equação de mais uma interação propriamente dita entre duas
autovalor dada por: partículas, mas sim uma interação entre uma par-
tícula (i-ésimo elétron) e o campo elétrico gerado
ft^ i h χa^ x h = εa χa^ x h
i i (4)
por uma distribuição de carga gerada pelo j-ésimo
onde ft^ i h é chamado de operador de Fock (do elétron no spin-orbital χb. Vale ressaltar, ainda,
i-ésimo elétron) dado por: que, ao substituirmos as interações instantâneas
n
entre os elétrons por valores médios de repulsão
ft^ i h = ht^ i h + / Jt b^ i h − Kb^ i h
t
(5) entre cada elétron e os restantes, as energias cal-
b=1
culadas pelo método de Hartree-Fock apresentam
sendo: um erro inerente à própria aproximação, chamado
de energia de correlação (Dias, 1980). Por fim, o
Jtb^ i h = #χ *
b^ x jh Vtij χb^ x h dτ j (6)
j
operador de troca ( Kt b^ i h ) não possui análogo clás-
sico. Contudo, podemos afirmar que este operador
e relaciona os movimentos dos elétrons localizados
nos spin-orbitais χa e χb, com spins paralelos, bai-
Kt b^ i h = #χ *
b^ x jh Vtij ^/
t ij χb^ x hh dτ j (7)
j
xando a energia, uma vez que esses elétrons ‘se
evitam’ (Ryabinkin; Staroverov, 2011). Assim,
t ij é chamado operador de per-
Na equação 7, / pelo fato do operador de troca depender da quan-
muta (Szabo; Ostlund, 1996) que atua, como o tidade de elétrons do sistema (par ou ímpar), dois
próprio nome sugere, permutando os elétrons nos casos distintos podem surgir: (i) camadas fechadas
spins-orbitais, ou seja: (closed shell), para um sistema com número par
t ij ^χb^ x h χa^ x hh = χb^ x h χa^ x h
/ i j j i (8) de elétrons; e (ii) camadas abertas (open shell),
quando o sistema tiver um número ímpar de elé-
Note agora que ht^ i h, Jtb^ i h e Kt b^ i h são operadores trons. Se o sistema possui camada aberta (open
que atuam apenas no i-ésimo elétron. O operador shell), pode usar-se o método de Hartree-Fock
ht^ i h é comumente chamado de Hamiltoniano de não restrito (UHF), caso contrário, se o sistema
caroço, pois a energia potencial que aparece nele tiver camadas completamente preenchidas, deve-
corresponde à interação elétron núcleo (‘caroço’). mos utilizar o método de Hartree Fock Restrito
Já os operadores Jtb^ i h e Kt b^ i h , apesar de atuarem (RHF). Grosso modo, neste último caso (RHF)
apenas no i-ésimo (operadores monoeletrônicos), a ideia consiste em usar orbitais espaciais dupla-
possuem o j-ésimo elétron alocado no spin orbital mente ocupadas. Assim, podemos “eliminar” os
χb. Tais operadores são chamados de operador de spins e trabalharmos apenas com orbitais espaciais
Coulomb e operador de Troca, respectivamente. de modo que, no caso restrito, o operador de Fock
A expressão para o operador de Coulomb ( Jtb^ i h ) passa a ser escrito como (Szabo; Ostlund, 1996,
permite interpretá-lo como a média de Vtij tomada p. 134):
n/2
/C ϕ .
centradas nos “núcleos”, ou seja: χa =
a
b=1 p p
p=1
Neste trabalho, iremos nos ater à versão restrita Nesta base, pode-se mostrar (Monte; Ventura,
do método (RHF) de modo que, daqui por diante, 2011) que o operador de Fock passa a ser escrito
todas as equações serão concernentes a esta versão. em termos de uma matriz Ft ^ Ft = Ht + Gt h cujos ele-
Sendo χu a^ x h os orbitais espaciais, as soluções das
i
mentos (Fpq) são dados por:
equações de HF consistem em resolver um problema 1
Fpq = H pq + /D rs ;^ pq rsh − ^ pq sqhE = H pq + G pq (10)
de autovalor conforme a equação 4, porém, trocando- rs 2
t t = εt SC
FC tt (14) 7. Converter Cu em Ct e calcular uma nova
matriz densidade (D);
Na prática, a equação 14 não é muito conve-
8. Calcular a nova energia total do sistema;
niente, uma vez que ela não possui a forma de
9. Retornar ao 5º item, até que a energia total
uma equação de autovalor. Contudo, definindo
do passo anterior não difira significativa-
as matrizes de transformação (Alcácer, 2007)
mente do passo atual.
Xt = St−1/2 e Yt = St1/2 , vemos que a equação 14 pode
ser escrita como: O restante deste trabalho consiste em apli-
car a versão restrita do método de Hartree-Fock-
u u = εt Cu
FC (15) Roothaan (RHFR) para um sistema-modelo
simples que, conforme dito anteriormente, dife-
=
Onde: Fu Xt= FX e Ct YC
@ t t t t . Este fato possibilitou rentemente dos livros usuais de química quântica
o uso de técnicas de álgebra linear para se obter os (Levine, 2000; Szabo; Ostlund, 1996), não faça
autovalores (εa) e os coeficientes C qa . de funções especiais: duas partículas (elétrons)
Vemos, então, que o conceito de base proposto interagentes confinadas em um poço de potencial
por Roothaan permitiu que o método de Hartree- infinito unidimensional. Para tal, definiremos uma
Fock pudesse ser realizado de modo sistemático, base, um potencial de interação, e detalharemos os
através de códigos computacionais contendo ope- passos do método de RHFR, citados anteriormente.
rações matriciais básicas tais como: diagonaliza-
ção, inversa de uma matriz, autovalores e auto-
4 Desenvolvimento das etapas de um
vetores. Por tal motivo, a formulação matricial ciclo SCF para duas partículas interagentes
decorrente da inserção de funções de base, recebe confinadas em um poço de potencial
o nome de método de Hartree-Fock-Roothaan unidimensional
(HFR). Este método segue os seguintes passos
(Levine, 2000): 4.1 Especificação do sistema
1. Especificar o sistema (poço de potencial, Adotaremos, neste trabalho, um potencial de
átomo, molécula, geometria etc.); interação elétron-elétron do tipo delta de Dirac
2. Calcular as integrais de um e dois elétrons Vt12 = γ δ^ x1 − x2h (Griffiths, 2011). Apesar de
e construir as matrizes Ht , Jt, Kt , St ( St é a alguns autores considerarem este potencial como
matriz de sobreposição com elementos não uma aproximação unidimensional do potencial de
nulos fora da diagonal principal, em caso Coulomb, neste trabalho ele tem caráter puramente
de uma base não ortogonal) etc...; alegórico e facilitador do ponto de vista matemá-
3. Diagonalizar a matriz St (caso a base não tico. As integrais de dois elétrons podem ser facil-
seja ortogonal) e obter as matrizes de mente resolvidas, já que, para a função delta de
transformação Xt e Yt que transformam a Dirac, temos que:
equação 14 na equação 15;
4. Escolher a primeira versão da matriz Dt ; f^ x0h se x0 ! 6xa, xb @
xb
# f^ xh δ^ x − x0h dx = ) (16)
5. Construir a matriz Ft e a matriz Fu ; 0 c.c.
xa
6. Diagonalizar a matriz Fu , para obter os
autovalores e autovetores (novos coefi- Por se tratarem de partículas em uma caixa,
cientes) Cu ; utilizaremos uma base com funções do tipo
Quadro 1. Integrais de dois elétrons para uma base com três elementos (B = 2 onde: p, q, r, s = 1, 2) e com γ = L. Por
simetria, vemos que apenas seis das dezesseis integrais possuem valores diferentes.
L L
_ pq | r s i =
4γ
L2 0
# # sin b p πL x l sin b q πL x l δ_ x - x i sin b r πL x l sin b s πL x l dx dx
1 1
1 2
2 2
1 2
0
L
4γ πx 4γ
_11 | 11i = sin 4 b 1 l dx1 = 2 $ 3 L = 1.5
#
L2 0 L L 8
L
4γ 2 π x1 4γ
_22 | 22i = sin 4 d
# n dx1 = 2 $ 3 L = 1.5
L2 0 L L 8
L
4γ 2 π x1 πx 4γ
_11 | 22i = _22 | 11i = sin 4 d
# n sin 2 b 1 l dx1 = 2 $ L = 1
L2 0 L L L 4
L
4γ 2 π x1 πx 4γ
_12 | 12i = _21 | 21i = _12 | 21i = _ 21 | 12i = sin 2 d
# n sin 2 b 1 l dx1 = 2 $ L = 1
L2 0 L L L 4
L
4γ πx 2 π x1 4γ
_12 | 11i = _21 | 11i = _11 | 12i = _11 | 21i = sin 3 b 1 l sin d
# n dx1 = 2 $ 0 = 0
L2 0 L L L
L
4γ 2 π x1 πx 4γ
_21 | 22i = _12 | 22i = _22 | 21i = _ 22 | 12i = sin 3 d
# n sin b 1 l dx1 = 2 $ 0 = 0
L2 0 L L L
Conforme dito anteriormente, como a base é Figura 1. Níveis de energia do sistema após a conver-
gência da energia. O “último” orbital ocupado HOMO
ortonormal, temos que Fu = Ft . com energia EHOMO = 2,5 u.a. e o primeiro orbital
desocupado (virtual) LUMO com energia ELUMO =
5,0 u.a. (u.a. – unidades arbitrárias)
4.6 Determinar os autovalores e autovetores
valor da energia do orbital espacial multiplicado inicial dado para os coeficientes que compõem a
por dois (já que ele é duplamente ocupado). Note matriz densidade. Em outras palavras, o sistema
que, se assim o fosse, estaríamos considerando a converge para o valor mínimo de ERHF. Espera-se
interação elétron-elétron duas vezes. que, quanto mais próximo o chute estiver da
‘solução correta’, menor será o número de itera-
4.9 Retornar ao item cinco, até que a ções realizadas para se chegar nela. Isso foi o que
energia total do passo anterior não difira aconteceu no nosso exemplo: o chute foi certeiro.
significativamente do passo atual Contudo, para que não haja dúvidas acerca da
Neste exemplo em particular, vemos que, afirmação anterior, desenvolvemos um programa
após um ciclo completo, a nova matriz densidade simples (ver material suplementar) em linguagem
(primeira ordem) é idêntica à nossa primeira ten- Octave, que realiza todos os passos (de 1 até 9,
tativa (ordem zero). Em outras palavras, vemos para uma base ortonormal) do método. Essas ite-
que nosso ‘chute’ foi certeiro. Logo, se fossemos rações vão se repetindo até que se obtenham os
adiante com o método, as demais iterações ‘con- autovalores e os autovetores para a energia (ERHF)
vergiriam’ para o mesmo resultado. Assim sendo, mínima. Posteriormente, seguem as Tabelas 1 e 2,
após a etapa 8, podemos encerrar o processo e afir- cada uma contendo um chute inicial distinto para a
mar que este convergiu. matriz densidade de ordem zero. Nas linhas “cada
Talvez, o fato mais intrigante do método do tabela”, colocamos os resultados das matrizes
campo autoconsistente é que o resultado final Dt , εt e Ct , além da energia total (ERHF), para algu-
sempre será o mesmo, não importando o chute mas iterações.
=
Tabela 1. Outra tentativa inicial para construção da matriz densidade de ordem zero =
com C11 1/ 2 e C 21 1/ 2 .
Iteração Matriz D Matriz F Matriz ε ERHF (u.a.)
11 2, 2500 1, 0000 1, 9472 0
n=1 e o e o e o 7,2500
11 1, 0000 5, 2500 0 5, 5528
2 0 2, 5 0 2, 5 0
n = 28 e o e o e o 3,5000
0 0 0 5 0 5
=
Tabela 2. Mais uma tentativa inicial para construção da matriz densidade de ordem zero =
com: C11 3/ 10 e C 21 1/ 10 .
Iteração Matriz D Matriz F Matriz ε ERHF (u.a.)
1, 8000 0, 6000 2, 4500 0, 6000 2, 3182 0
n=1 e o e o e o 4,3700
0, 6000 0, 2000 0, 6000 5, 0500 0 5, 1818
2 0 2, 5 0 2, 5 0
n = 25 e o e o e o 3,5000
0 0 0 5 0 5
do método HF, remove-se um obstáculo à apren- FREITAS, L. C. G. Prêmio nobel de química em 1998:
Walter Kohn e John A. Pople. Quim. Nova, v. 22,
dizagem deste importante método para estudantes n. 2, 1999.
que ainda não possuem o conhecimento dessas
FRISCH, M. J. T. et al. Gaussian, v. 3, 2003.
funções. Assim, para este estudante, o foco fica
GRIFFITHS, D. J. Mecânica quântica. São Paulo:
voltado ao método HF como um todo sem que Pearson Prentice Hall, 2011.
haja lacunas decorrentes do processo de resolução
JUAN, E. S. C. C. Molecular electronics: an introduc-
de integrais complicadas. Além disso, nos casos tion to theory and experiment word scientific, Vol. 1.
em que o chute inicial exige muitas iterações até a 2010.
convergência da energia total do sistema, o cálculo LEAL, R. C.; et al. A química quântica na compreensão
de teorias de química orgânica. Quim. Nova, v. 33,
de autovalores e autovetores envolve uma matriz
n. 5, 2010.
2x2 facilitando o desenvolvimento de um pro-
LEVINE, I. N. Quantum chemistry. 5. ed. Prentice Hall:
grama computacional para o método HF. New Jersey, 2000.
Outra vantagem de lidar com funções trigo- MESSINA, M. The Hartree-Fock self-consistent field:
nométricas diz respeito ao número de elementos an allegorical connection using two coupled harmo-
que a base possui e suas consequências. Com uma nic pscillators. Journal of Chemical Education, 76,
1999.
base contendo três elementos, por exemplo, ape-
MONTE, S. A. do; VENTURA, E. A importância do
sar de um número bem maior de integrais a serem
método de Hartree no ensino de química quântica.
resolvidas, elas são familiares aos estudantes que Quim. Nova, v. 34, n. 3, 2011.
possuem um curso básico de cálculo. O mesmo ROBERT, G.; PARR, W. Y. Density functional theory of
não se pode afirmar de uma base composta por atoms and molecules. New York: Oxford University
Press, 1989.
funções especiais onde, neste caso, surgem impre-
terivelmente integrais envolvendo três harmôni- RYABINKIN, I. G.; STAROVEROV, V. N. Accurate
explicitly correlated wave functions for two elec-
cos esféricos, inerentes aos sistemas atômicos e trons in a square. The Journal of Chemical Physics,
moleculares mais ‘reais’. Assim, conceitos como v. 7, 2011.
SCHATZ, G. C.; RATNER, M. A. Quantum mechanics SZABO, A.; OSTLUND, N. S. Modern quantum che-
in chemistry. New York: Dover, 2002. mistry. Dover: New York, 1996.
SUMMERFIELD, J. H.; BELTRAME, G. S.; LOESER, THOMPSONA, D. C.; ALAVI, A. A comparison of
J. G. A simple model for understanding electron cor- Hartree-Fock and exact diagonalization solutions
relation methods. Journal of Chemical Education, for a model two-electron system. The Joural of
v. 76, 1999. Chemical Physics, v. 7, 2005.
Programa escrito em linguagem Octave, utilizado para construir as Tabelas 1 e 2 do texto disponível em
http://quimicanova.sbq.org.br, na forma de arquivo PDF, com acesso livre. Os comentários do programa estão em
itálico.
V6=[V2112-0.5*V2211;V2122-0.5*V2221];
G21=D1*V5+D2*V6;
V7=[V2211-0.5*V2112;V2212-0.5*V2122];
V8=[V2221-0.5*V2212;V2222-0.5*V2222];
G22=D1*V7+D2*V8;
Gpq=[G11 G12;G21 G22] % AQUI CONSTRUÍMOS A MATRIZ G PRÓPRIAMENTE DITA
F=H+Gpq %CONSTRUÇÃO DA MATRIZ DE FOCK F
[R M]=eig(F) % AQUI NÓS DIAGONALIZAMOS A MATRIZ DE FOCK OBTENDO OS AUTOVALORES (M) E AUTOVETORES (R)
P=D*(F+H) %AQUI MONTAMOS A MATRIZ P DA QUAL CALCULAREMOS A ENERGIA TOTAL DO SISTEMA, OU SEJA, O
TRAÇO DA MATRIZ P DIVIDIDO PELO FATOR 0.5 CONFORME A EQUAÇÃO 11 DO TEXTO.
E=0.5*(P(1,1)+P(2,2)) % CALCULO DA ENERGIA E (TRAÇO DA MATRIZ P)
K=[R(1,1);R(2,1)] % CÁLCULO DOS NOVOS AUTOVETORES
D=2*(K*K’) % AQUI REALIZAMOS A MONTAGEM DA NOVA MATRIZ DENSIDADE OBTIDA A PARTIR DO CÁLCULO DOS
NOVOS AUTOVETORES (K)
CICLO=CICLO+1
until ((EANT-E)<0.0001) % O CRITÉRIO DE PARADA CONSISTE EM VER SE A DIFERENÇA ENTRE A ENERGIA CALCULADA
NESTE CICLO (E) E A ENERGIA CALCULADA NO CICLO ANTERIOR (EANT) É MENOR QUE 0.0001.
Oficinas Educativas:
índice de qualidade da água e proteção ambiental
Educational Workshops:
water quality index and environmental protection
Marluce Teixeira Andrade Queiroz1, Leonardo Ramos Paes de Lima1, Millor Godoy Sabará2,
Mônica Maria Diniz Leão3, Camila Costa Amorim4 e Carolina Andrade Queiroz5
Resumo
O trabalho mostra os resultados alcançados em oficinas educativas direcionadas
para o entendimento dos parâmetros relativos à qualidade da água. O público-alvo
constituiu-se em alunos do ensino profissionalizante de escola pública localizada
em Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil. Argumentou em favor da educação
sedimentada no contexto socioambiental do indivíduo, como estratégia constru-
tiva, favorecendo a proteção do Ribeirão Caladinho. Para analisar o desempenho
do trabalho, foram aplicados testes em turmas de tratamento (1A e 1C), com ati-
vidades práticas e uma turma controle (1B) que participou apenas das aulas teó-
ricas. A análise dos resultados com Teste “t student” indicou que as diferenças
apresentadas entre as turmas 1B/1A e 1B/1C foram significativas (p < 0,05), já as
diferenças entre 1A/1C não foram significativas (p > 0,05), comprovando que as
turmas com aulas em laboratório alcançaram melhor entendimento. Reconheceu-se
a relevância das atividades práticas no estudo da ciência, facilitando a compreensão
das alterações existentes no mundo e oportunizando a proatividade em relação aos
problemas contemporâneos.
Palavras-chave: Educação; Qualidade da água; Proteção ambiental; Cidadania.
Abstract
The work presents the results achieved in educational workshops directed towards an understanding of the
parameters relating to water quality. The audience consisted of students in vocational education public
school located in Coronel Fabriciano, Minas Gerais, Brasil. Argued in favor of sedimented education in
socio-environmental context of the individual as a constructive strategy, favoring the protection of Ribeirão
Caladinho. To analyze the work performance tests were applied to treatment groups (1A and 1C), with
practical activities and a control class (1B) that participated only in the lectures. The analysis of the test
results with “student t” indicated that the differences observed between these groups and 1B/1A 1B/1C
were significant (p < 0.05) differences between 1A/1C were no longer significant (p > 0, 05), proving that
students with laboratory classes achieved better understanding. The importance of the practices in the study
of science was recognized by facilitating the understanding of the changes in the world, providing pro-
activity opportunities in relation to contemporary problems.
Key-words: Education; Water quality; Environmental protection; Citizenship.
da poluição. Cabe aí, a valorização do papel social disso, entender o signficado e construção do IQA,
e político do indivíduo em sua comunidade, com com atividades práticas, promove o envolvimento
destaque para os educadores que não devem se do aluno, oportunizando que o conhecimento seja
limitar apenas em transmitir informações aos edu- construído concretamente, promovendo a mudança
candos, mas capacitados para estimular a refle- conceitual (Possavatz et al., 2014).
xão ética como uma premissa irrefutável (Victor; Desse modo, o objetivo deste trabalho
Gomez, 2013). constituiu-se em apresentar os resultados obtidos
Sendo assim, o ensino deve ser didático, via- na realização de uma Oficina Educativa (OE) extra-
bilizando discussões pertinentes aos três quesitos curricular sobre a referida temática, baseada nas
básicos: tecnologia, qualidade de vida e preser- análises físico-químicas das amostras provenien-
vação ambiental. Nessa premissa são estimula- tes do Ribeirão Caladinho, Coronel Fabriciano, e
das ações para minimizar a degradação do solo, Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba (BHRP),
poluição das águas e contaminação do ar. Dessa Minas Gerais. As atividades foram direcionadas
maneira, desencadeia-se o entendimento da dinâ- para alunos do ensino médio oriundos de escola
mica ambiental e suas repercussões sobre o bem- pública, localizada em Coronel Fabriciano, e apli-
-estar público (Luzzi, 2012). cada por docentes e discentes vinculados aos pro-
Nessa perspectiva, a ação educativa deve jetos de extensão do Centro Universitário do Leste
incorporar diferentes linguagens, informal e cien- de Minas Gerais (Unileste – MG). Inicialmente, em
tífica, oportunizando o entendimento de conceitos sala de aula, foram desenvolvidos os conceitos teó-
científicos fundamentais, tais como a questão do ricos pertinentes ao IQA. Apresentou-se também a
Índice de Qualidade da Água (IQA). Trata-se de estruturação do trabalho e forma de avaliação.
um balizador extremamente importante, desenvol- Segundo Akil et al. (2012), as metodologias
vido para avaliar a água bruta e visando seu uso aplicadas para o desenvolvimento da educação
para o abastecimento público, após tratamento. ambiental devem ser encaradas como um labora-
Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são, tório. Os pesquisadores enfatizam que as práticas
em sua maioria, indicadores de contaminação vivenciadas devem ser disponibilizadas, contri-
causada pelo lançamento de esgotos domésticos. buindo para o enfrentamento dos desafios atuais
Ele apresenta limitações, já que não inclui vários pertinentes à apatia dos discentes, mediante a valo-
parâmetros igualmente significativos, tais como ração dos ensinamentos, explicitando a sua apli-
substâncias tóxicas – ex: metais pesados, pestici- cabilidade em seu cotidiano. Sendo assim, estudar
das, compostos orgânicos –, protozoários patogê- os problemas ambientais regionais favorece abor-
nicos e substâncias que interferem nas proprieda- dagens concretas de mudanças na comunidade
des organolépticas da água (Meireles et al., 2010). que as vivencia (Ireland, 2014). Dessa maneira, a
Entretanto, Güntzel et al. (2012) pontuam que ana- divulgação dos resultados desse estudo oportuniza
lisar os resultados do IQA nos remete ao saber sis- o delineamento de outras ações educacionais
têmico e contextualizado, na medida que leva aos similares, buscando, sobretudo, contribuir para a
questionamentos instigantes entre a relação do uso construção de um saber mais sistêmico e contex-
do corpo aquático com as suas distorções, opor- tualizado, potencializando, entre os atores sociais,
tunizando a interseção entre uma multiplicidade a adoção de uma postura proativa em relação aos
de saberes (científicos e socioambientais). Além problemas ambientais.
80
60
IQA
40
P1
20 P2
P3
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Amostra
Figura 1. IQA do Ribeirão Caladinho nos pontos de amostragem (P1, P2 e P3).
IQA = 67,42 σ ± 0,367 em P1, IQA = 48,24 σ ± dialogada, dentre outras. Destaca-se aí a relevân-
0,448 em P2, IQA = 42,18 σ ± 0,561 em P3. cia da experimentação científica. Silva e Razuck
Verificou-se em P1 que a elevação na concen- (2012) afirmam que as aulas de campo são requi-
tração de coliformes termolerantes representou o sitos essenciais, possibilitando a melhor percepção
maior problema relativo ao IQA (Figura 1), nota- dos discentes sobre o meio ambiente, através de
damente nos períodos com maior índice pluvio- uma explicação mais didática, levando à aprendi-
métrico, associado à criação de animais em seu zagem significativa.
entorno e uso irregular do reservatório pela popu-
lação. Além disso, verificou-se incremento nos 3.2 Avaliação da oficina ambiental
valores da DBO e Turbidez, apresentando correla- A totalidade dos alunos foi submetida à avalia-
ção inversa, siginificativa, com o IQA. O aumento ção em relação à temática do IQA, distribuída em
daquelas variáveis explicitou relação com o efeito três turmas (A, B, C). As turmas de tratamento A
da degradação da mata ciliar. e C participam das atividades práticas, enquanto
Os piores resultados de IQA em P2 e P3 (Figura para a turma B (grupo de controle) as experimen-
1) mostraram relação com a redução da cobertura tações laboratoriais não foram incluídas no plano
vegetal e incremento da antropização que acarre- de aulas, sendo limitadas às exposições dialogadas
tava o lançamento de resídos domésticos no corpo relativas ao conteúdo.
aquático. O estudo não contemplou a influência Os testes consistiram em aplicar provas escri-
da poluição por defensivos agrícolas ou agentes tas com questões fechadas para os grupos (A, B,
químicos específicos, tais como metais pesados; C) com sequência diferenciada, mesmo grau de
todavia, torna plausível inferir-se essa condição, dificuldade e conteúdo. A folha de resposta podia
frente ao desmatamento e a atividades agropecu- ser respondida uma única vez, com uso de caneta,
árias, como precursora de algum grau de poluição isenta de qualquer rasura. As respostas constituí-
nas águas do Ribeirão Caladinho (Assis; Timbó ram um banco de dados, sendo a variável de inte-
Elmiro, 2013). resse o número de acertos, formulando-se duas
O decréscimo do IQA pode ser atribuído às hipóteses:
altas concentrações médias anuais de sólidos dis- • H0: a aprendizagem com ou sem aula prá-
solvidos totais. Vale destacar que a BHRP está tica alcança o mesmo efeito;
inserida, segundo o zoneamento hidrossedimento- • H1: a aprendizagem com inclusão de aulas
lógico do Brasil, nas duas faixas com maiores con- práticas aumentou o número de acertos.
centrações médias anuais de sólidos em suspensão
do país, sendo acima de 150 mg.L-1 e 250 mg.L-1. Após a correção para verificar a confiabilidade
Outro aspecto se relacionou com a precipitação dos resultados, foi aplicado o Teste “t student”,
pluviométrica, cujo ciclo também varia espacial- mostrando que as diferenças apresentadas entre
mente, podendo afetar os teores pertinentes aos as turmas 1B/1A e 1B/1C foram significativas
indicadores físico-químicos nos rios (Meireles et (p < 0,05). Já as diferenças entre 1A/1C não foram
al., 2010). significativas (p > 0,05), o que comprova que as
A composição do IQA e a análise dos resulta- turmas que participaram das atividades práticas
dos foram repassadas para os discentes, com uso alcançaram um melhor nível de entendimento na
de ferramentas didáticas diversas, que incluíram compreensão do IQA. Os dados utilizados estão
atividades práticas, estudo fotográfico, exposição apresentados na Tabela 2.
A estatística descritiva dos resultados mostrou se buscou enfatizar a educação enquanto pro-
que a média de acertos na avaliação dos discentes cesso permanente, cotidiano e coletivo pelo qual
que tiveram aulas práticas na faixa 10 ≤ P ≤ 9 atin- agimos e refletimos, transformando a realidade e
giu para as turmas A e C, respectivamente, 42,67% avançando através da cidania. A atividade se rela-
e 40%, enquanto, para a turma B, apenas 10,67%. cionou com as profundas dicotomias que afetam o
O maior número de acertos para a turma B referiu- homem contemporâneo. Atualmente, é raro que o
-se à faixa 6 ≤ P ≤ 5, que atingiu 37,33% dos parti- indivíduo apresente plena consciência da sua par-
cipantes (Tabela 2). ticipação como um elemento da natureza, posicio-
A formação alcançada expressa a importância nando-se, muitas vezes, como um ser à parte, um
de investigar a concepção de professores em dife- observador, explorador e dominador da mesma,
rentes níveis escolares, com relação ao conceito buscando fundamentar suas ações equivocadas.
que atribuem à experimentação, bem como a rele- Verifica-se aí a premência de uma mudança nessa
vância das aulas práticas, visando à construção do visão de mundo.
conhecimento científico (Lima; Nuñez, 2013). A alta receptividade dos discentes e docentes
Além disso, retrataram a necessidade quanto participantes, e o nível de conscientização atingido,
a interação entre o instituto de ensino superior e explicitado nos resultados, comprovaram que o
escolas do nível fundamental e médio, através do ensino tradicional não é a melhor opção para a for-
desenvolvimento de projetos de extensão universi- mação de uma cultura de proteção do meio ambiente.
tária, aproximando o corpo estudantil e desafiando Isso reforça a necessidade da inclusão de aulas prá-
docentes para repensar suas práticas e concep- ticas nas grades curriculares em todos os níveis.
ções. Os achados indicaram que o estudo prático Certamente, não há dúvidas de que a abordagem
favorece a criticidade com base no entendimento adotada atuou numa frente essencial ao desenvolvi-
técnico-científico (Barrios et al., 2012). mento de uma gestão responsável dos recursos natu-
rais. Destaca-se que o modelo utilizado na Oficina
Ambiental extrapolou os limites da mera transmis-
4 Conclusões
são de conhecimentos, favorecendo a formação da
A proposta da Oficina Ambiental foi promover cidadania responsável nessa sociedade científica e
o entendimento quanto ao IQA e motivar a comu- tecnológica que vivenciamos e aguçou a criticidade
nidade escolar para a gestão proativa em relação dos participantes, contribuindo para direcioná-los na
à proteção das águas superficiais. Sendo assim, valoração do ser humano e seu habitat.
sidade de continuidade e aprofundamento das dis- GÜNTZEL, A. M. et al. Cladocerans from gut con-
tents of fishes associated to macrophytes from
cussões. Ações pontuais perdem em eficácia, já Taquari River Basin, MS, Brazil. Acta Limnologica
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Identificação e Tratamento de
Resíduos Químicos Desconhecidos em
Aulas Práticas de Química Analítica
Identification and Treatment of Unknown Chemical Residues in
Practical Classes of Analytical Chemistry
Amanda Andressa da Silva1, Amanda Caroline Pereira1,
Antonio César Teixeira de Toledo2 e Juliano Schimiguel3
Resumo
Resíduos químicos são classificados como sendo soluções e/ou reagentes que já
foram utilizados em algum tipo de processo (laboratorial, industrial, análise etc.),
e que não podem ser reutilizados ou descartados sem o tratamento correspondente.
Este artigo tem como objetivo geral a identificação e o tratamento de um resíduo
desconhecido gerado em aulas laboratoriais ministradas em um centro universitá-
rio no interior do estado de São Paulo. O trabalho busca demonstrar quais foram
os melhores métodos de identificação encontrados e qual o melhor tratamento e/ou
descarte do resíduo para que não provoque danos ao meio ambiente e nenhum perigo
à saúde pública.
Palavras-chave: Tratamento; Resíduos químicos; Meio ambiente; Descarte de
resíduo.
Abstract
Chemical residues are referred to as being solutions and/or reagents which have
been used in some kind of process (laboratory, industrial, analysis, and others)
and can not be reused or discarded without a corresponding treatment. This paper has as main goal the
identification and treatment of an unknown waste generated in laboratory classes in a university in the state
of São Paulo. The paper emphasizes the best methods of identification and focus the best treatment and/or
disposal of waste that does not cause damage to the environment and no danger to public health.
Key-words: Processing; Chemical waste; Environment; Waste discard.
Quadro 1. Caracterização preliminar dos resíduos que foram tratados no trabalho.
Teste a ser realizado Procedimento a ser seguido
Reatividade com água Adição de uma gota de água e observação de provável formação de chama, geração de gás, ou
qualquer outra reação violenta.
Inflamabilidade Introdução de um bastão de cerâmica no resíduo deixando escorrer o excesso e aproximando de uma
chama.
pH Usar papel indicador ou peagâmetro
Carater Redox É determinado através de dois ensaios em paralelo, em placa de toque: um com KI (agente redutor) +
H2SO4 diluído e outro com KMnO4 (agente oxidante) + H2SO4 diluído.
Presença de halogênios Com um fio de testes de chama limpo e previamente aquecido ao rubro no resíduo, leve à chama e
observe a coloração: o verde indica a presença de Halogênios.
Solubilidade em água Após o ensaio de reatividade, a solubilidade pode ser avaliada facilmente em placa de toque com
poucas gotas.
Presença de sulfetos Na amostra acidulada com HCl, o papel embebido em acetato de chumbo fica enegrecido quando na
presença de sulfetos.
Como possíveis compostos do resíduo, após Além do Iodeto, Brometo e Cloreto possi-
todos os experimentos realizados com auxilio de velmente presente na amostra, nos atentamos ao
um roteiro de aula, pudemos prever que o resíduo detalhe que no fundo do recipiente havia além da
poderia conter os seguintes compostos: (i) espécies solução violeta um precipitado esverdeado, o que
redutoras e/ou metais nobres (I , Br , S , Fe , Ag e
– – 2– 2+
nos sugeriu uma possível presença de Cromo na
Cu por exemplo) e (ii) metais alcalinos e alcalinos amostra.
terrosos (NH , Al , Zn , Ni , Cr por exemplo).
4+ 3+ 2+ 2+ 3+
No que diz respeito a separação de fases, um
problema encontrado durante o processo de iden-
3.1 Confirmação da composição do resíduo tificação de um resíduo heterogêneo é justamente
Após os testes de identificação da amostra con- a presença de mais de uma fase. Isso porque
cluímos que tratava de um resíduo em meio ácido, determinada substância (íons), pode se encontrar
provavelmente com água de cloro devido ao odor somente em uma das fases e se não for feita a cor-
característico, e com presença de iodo no preci- reta separação, a identificação pode apresentar
pitado devido a coloração violeta marcadas nos erros. No caso em questão, havia um precipitado e
materiais de análise. a fase líquida. O primeiro passo, portanto, antes de
Partindo do principio que havia iodo e água de qualquer procedimento, foi a divisão entre a fase
cloro no resíduo, decidimos procurar aulas labo- sólida e a líquida.
ratoriais, que além de utilizarem estes compostos, Os materiais utilizados foram: tubos de ensaios,
ainda pudessem obter uma solução ‘resíduo’ com as micropipeta e centrifuga. No procedimento reali-
mesmas características que a amostra em questão. zado, o frasco com o resíduo foi agitado, logo em
Durante a pesquisa conseguimos o seguinte seguida foi pipetado cerca de 2,5 mL do resíduo e
experimento realizado e o resultado obtido: colocado no tubo de ensaio. O tubo foi acomodado
na centrífuga e permaneceu lá por cerca de 5 minu-
[...] Oxidação dos íons brometo e iodeto:
Ao adicionar a água de cloro na solução que tos. Logo em seguida o líquido sobrenadante foi
continha íons brometo e íons iodeto, essa solu- transferido para outro tubo de ensaio e registrado
ção adquiriu uma coloração amarela, que é como R1, já o precipitado sólido permaneceu no
característica do cloreto. Mas com a adição do
seu tubo de ensaio de origem e foi denominado C1.
clorofórmio observou-se a formação de três
fases, uma que manteve a cor amarela, outra Este mesmo processo foi realizado mais de uma
(de densidade média) que obteve coloração vez de acordo com as necessidades de uso.
esbranquiçada caracterizando a reação entre os Na identificação do Íon Iodeto6, os materiais
íons brometo e o clorofórmio, e uma terceira
utilizados foram: tubo de ensaio contendo o C1
fase (de maior densidade) que resultou em uma
coloração rósea caracterizando a reação entre o (sólido) e bico de Bunsen. Como reagentes foi
clorofórmio e os íons iodeto. usado o ácido sulfúrico concentrado. No proce-
Oxidação do iodo: dimento realizado, no tubo de ensaio C1 foram
1 – Ao adicionar água de cloro na solução de adicionadas algumas gotas de ácido sulfúrico
iodeto de potássio, essa adquiriu coloração
concentrado, logo em seguida o tubo foi colo-
amarela, característica do cloreto; conforme a
reação abaixo: HClO + 2 KI + 2 HCl → 2 KCl cado em contato com a chama do bico de Bunsen.
+ I2 + H2OHCl [...]5 Como resultados obtidos, durante o aquecimento
5. Oxidação dos íons brometo e iodeto. Disponível em: <http:// 6. “Ácido sulfúrico concentrado: com o iodeto sólido, o iodo é
www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Oxida%C3%A7%C3% liberado; aquecendo, desprendem-se vapores de cor violeta
A3o-Dos-%C3%8Dons-Brometo-e-Iodeto/30812915.html>. [...]” (Vogel, 1981, p. 360).
observou-se a mudança de coloração da solução A reação que ocorreu pode ser descrita:
que se tornou marrom intensa, além da liberação
Cl– + Ag+ → AgCl
de vapores violeta, conforme Figura 1:
Confirmando a presença de íons cloretos.
Segundo Vogel (1981), o método de identificação
do íon Brometo pode ser feito da seguinte maneira:
A reação pode ser descrita por: e logo em seguida entrou em contato com a chama.
Nos resultados obtidos, o contato do filamento con-
2 Br– + Cl2↑ → Br2↑ + 2 Cl–
tendo o C1 com a chama do bico de Bunsen resul-
Br2 + Cl2↑ → 2 BrCl tou em uma chama intensa de coloração vermelho
– amarelado, confirmando a presença de Cálcio.
Confirmado a presença de brometos.
Com relação a identificação do Íon Cromo III8
3.2 Tratamento do resíduo
Adicione carbonato de sódio a uma solução de Como havia mais de uma fase no resíduo, o
íons cromo III e verifique a formação de um primeiro passo para o tratamento foi a separação
precipitado verde-acinzentado de hidróxido de
do resíduo sólido (contendo Iodo e Cálcio) e o
cromo III, com borbulhamento de gás carbônico
[...] (Rocha, 1999). resíduo líquido (contendo íons Cloreto, Brometo
e Cromo III). Os materiais utilizados foram: funil
Os materiais utilizados foram: tubo de ensaio de Buchner, bomba a vácuo, anel de vedação,
contendo o R1 (líquido). O reagente foi o carbo- Kitassato e papel de vidro. Após agitação, filtra-
nato de sódio. Como procedimento realizado, no mos o resíduo com o auxilio do funil de Buchner e
tubo de ensaio R1, foram adicionadas algumas após filtragem observamos um sólido presente no
gotas de carbonato de sódio. Após a reação o tubo papel filtro e o resíduo líquido.
foi colocado em repouso. Como resultados obti- De acordo com os testes realizados, no resíduo
dos, assim que adicionado algumas gotas de car- sólido continha iodo e cálcio, muito provavel-
bonato de sódio, pôde-se notar a formação de gás mente como iodeto de cálcio. O iodeto de cálcio
carbônico que enegreceu a solução, após a reação a não apresenta literatura suficiente que nos mostre
solução ficou em repouso e notamos a presença de o tratamento adequado, por isso acabamos por
precipitado verde-acinzentado bem claro. transformá-lo em iodeto de potássio, que con-
A reação pode ser descrita por: forme FISPQ (Ficha de Informação de Segurança
de Produtos Químicos) pode ser descartado em
2 Cr3+(aq) + 3 CO32-(aq) + 3H2O → 2 Cr(OH)3(s) + 3CO2(g)
rede de esgoto depois de um tratamento adequado.
Confirmando a presença de cromo. Antes de realizar qualquer tipo de tratamento fize-
Com relação a identificação do Íon Cálcio , os 9
mos a pesagem e verificamos que havia 1,03 gra-
materiais utilizados foram: tubo de ensaio contendo mas de resíduo sólido de iodo.
o C1 (sólido), bico de Bunsen, fósforos e filamento Como todo o nosso resíduo encontrava-se no
de Platina. O reagente usado foi o ácido clorídrico papel filtro, o mesmo foi colocado em um béquer,
diluído. No procedimento realizado, o filamento e posteriormente adicionado 5 mL de hidróxido
de platina foi imerso primeiro no ácido clorídrico, de potássio. Após esta adição, lavamos o restante
logo em seguida colocado em contato com a chama do papel filtro com água destilada a fim de retirar
(para a limpeza do filamento). Já limpo, o filamento qualquer tipo de resíduo do papel.
foi colocado dentro do tubo contendo o C1 (sólido), Após a lavagem completa, o resíduo líquido
apresentou pH ainda um pouco ácido. Para o ajuste
8. “Solução de carbonato de sódio: precipitado de hidróxido apenas foram adicionadas algumas gotas de hidró-
de cromo (III) [...]” (Vogel, 1981). xido de potássio.
9. Ensaio por via seca – coloração da chama: os compostos
O pH foi ajustado para 7,07 (pH neutro).
voláteis de cálcio conferem uma cor vermelha amarelada à
chama do bico de Bunsen [...] (Vogel, 1981). Conforme Figura 4:
Após ajustado o pH o resíduo poderia ser des- Sais de Crômio (III): ajustar o pH entre 9-10 com
NaOH 3,0 mol.L–1. Evaporar a solução quase a
cartado na pia. Porém a solução, embora neutra,
secura. Filtrar o precipitado. Verificar se a preci-
encontrava-se com coloração amarelado esbran- pitação foi completa pela adição de uma quanti-
quiçado, por isso foi realizado o tratamento para dade adicional de NaOH ao filtrado. Repetir até
retirada dessa coloração. A eliminação de cor pode não haver mais precipitado. O filtrado deve ser
ser feita por um processo simples com o uso de neutralizado e logo depois despejado no esgoto
comum. O resíduo sólido deve ser guardado em
carvão ativado.
frasco plástico.11
O carvão ativado é utilizado para a purificação
O primeiro passo para o tratamento do resíduo
de produtos, remoção de cores residuais, odo-
res e contaminantes (Mucciacito, 2009). contendo Cromo III foi a precipitação do mesmo
e o reagente utilizado foi o Hidróxido de Sódio.
Os materiais utilizados foram: funil, papel de No procedimento realizado, no resíduo líquido foi
filtro, suporte e garra de filtro e béquer. O rea- adicionado cerca de 70 ml de Hidróxido de Sódio
gente foi carvão ativado em pó. No procedimento a fim de obter um pH entre 9 e 10. A solução foi
realizado, o papel filtro foi acomodado no funil, e deixada em repouso por alguns minutos. Como
em seguida adicionamos à solução uma pequena resultados obtidos, o resíduo líquido estava inicial-
quantidade de carvão ativado em pó. O resíduo mente com uma coloração marrom, e após a adição
foi filtrado lentamente. Como resultados obtidos, de 70 ml de Hidróxido de Sódio notou-se que a
após a filtragem com o carvão ativado, o resíduo solução enegreceu, ficando um verde acinzentado
ficou totalmente incolor, com pH neutro e sem bem escuro. Após a adição do Hidróxido de Sódio,
odor. verificou-se um pH de 9,09 (o ideal para o nosso
Conforme análises realizadas, o resíduo sólido tratamento).
apresentava íons Brometo, Cloreto e Cromo III, Após 10 minutos em repouso percebemos que
além do Cálcio. O Brometo e o Cloreto juntamente ocorreu a precipitação do Cromo. Como ainda
com o Cálcio, podiam ser descartados diretamente haviam muitas partículas em suspensão, a solução
na pia. Conforme citação a seguir:
Soluções aquosas de sais inorgânicos de metais 10. Cartilha de orientação de descarte de resíduo no sistema
FMUSP-HC/USP. Disponível em: <www2.fm.usp.br/gdc/
alcalinos e alcalinos terrosos: NaCl, KCl, CaCl2,
docs/cep_5_grss_2_cartilha.pdf>.
MgCl2, Na2SO4, MgSO4 e tampões PO43–, não
11. Gerenciamento de resíduos químicos – USP. Disponível em:
contaminados com outros produtos, podem <http://www.pcarp.usp.br/pages/lrq/pdf/normas_
ser descartados diretamente na rede de esgoto, gerenciamento.pdf>.
foi deixada por mais 30 minutos para a completa Como resultados obtidos, adicionou-se hidróxido
precipitação do Cromo. de sódio até que o pH estivesse em 12, porém não
De acordo com o procedimento, além da preci- houve nenhuma alteração ou indícios de precipita-
pitação, é preciso aquecer o resíduo quase à secura, ção; descartando assim a presença de mais Cromo
a fim de restar no recipiente apenas o cromo III, que na solução.
pode ser armazenado para reutilização. Os mate- Após a confirmação de que não havia mais
riais utilizados foram: recipiente com resíduo de cromo na solução, o processo de tratamento foi
Cromo III já precipitado, bico de Bunsen, suporte iniciado. Os materiais utilizados foram: peagâme-
para tela de amianto, tela de amianto e capela. No tro, Funil, Suporte Universal, Garra para funil e
procedimento realizado, o recipiente que já tinha o Papel filtro. Os reagentes foram: Ácido Clorídrico
precipitado de Cromo III, foi aquecido sobre a tela 3 mol/L e Carvão ativado em pó. No procedimento
de amianto. O processo foi realizado em capela. O realizado, como para o processo de confirmação
resíduo foi aquecido por cerca de 4 horas, até que da presença de excesso de Cromo, houve a neces-
estivesse quase seco. sidade de ajustar o pH para 12 com a adição de
Após a secura, a solução foi filtrada, a fim que HCl gota a gota para tornar a solução neutra. Após
separar o cromo do restante da solução. Após a o ajuste do pH para 7, a solução foi filtrada com
filtragem total, obtivemos os resíduos separados, carvão ativado para eliminação da coloração ama-
sendo que no papel filtro encontrava-se o cromo rela. Após a adição de cerca de 5 ml de ácido clo-
já tratado e no Kitassato a solução, conforme a rídrico a solução tornou-se neutra.
Figura 5. Após a neutralização da solução foi feita a fil-
tragem para a eliminação da cor, porém mesmo
filtrando mais de uma vez com carvão ativado a
solução permaneceu amarelada, e com excesso de
água foi clareando, conforme Figura 6.
A solução filtrada sem Cromo ainda apresen- Figura 6. Solução se mantendo amarelada, mesmo fil-
tava coloração amarelo esverdeado claro, por isso trando mais de uma vez com carvão ativado
não se tinha certeza de que todo Cromo havia se
depositado no processo de precipitação. Para ter a Mesmo a solução tratada apresentando colora-
certeza de que não havia mais Cromo na solução, o ção, não há indícios de presença de outras substân-
processo de precipitação foi realizado novamente. cias na solução.
3.3 Disposição correta dos resíduos imagens do armazenamento adequado podem ser
visualizadas na Figura 7.
Após todos os procedimentos já descritos foi
possível fazer o descarte correto, tanto do resíduo
inicial quanto de outros resíduos gerados durante o
processo de tratamento.
O resíduo sólido como já citado, continha Iodo
e Sódio, após o tratamento adequado apresentava-
-se como solução de iodeto de potássio, incolor,
sem odor e com pH neutro. Este resíduo por não
ter nenhuma característica que pudesse trazer
Figura 7. Armazenamento adequado do Cromo.
perigo ao meio ambiente e para saúde pública foi
descartado na pia com excesso de água.
Além do resíduo tratado e descartado na rede Durante o processo de recuperação do Cromo
de esgoto, o processo de tratamento do resíduo foram gerados resíduos secundários, sendo eles,
sólido contendo Iodo gerou dois papéis filtros. Um papéis de filtro contendo carvão ativado e a solu-
contendo apenas resíduo de iodeto de potássio, já ção filtrada sem a presença de cromo, provenientes
lavado do processo realizado na adição de KOH, do tratamento já citado. Como os papéis de filtro
e o outro contendo carvão ativado do processo de não apresentavam nenhuma substância contami-
retirada da coloração realizado no processo de eli- nante, puderam ser descartados no lixo comum.
minação da cor. Já a solução filtrada, mesmo com coloração
Ambos os papéis filtros, por não apresentarem não apresenta nenhum indicio de outras substân-
nenhum resíduo tóxico, oxidante, ácido ou que cias, além de estar neutra com pH 7,07. Esta colo-
pudesse causar qualquer dano ao meio ambiente e ração não causa riscos, uma vez que a adição de
a manipulação, após totalmente secos, foram des- água em excesso promove o clareamento grada-
cartados em lixo comum. tivo na solução. Desta forma a solução pôde ser
Como conseguimos recuperar o Cromo no descartada em rede de esgoto em excesso de água.
papel filtro, este papel não foi descartado. O papel
filtro contendo Cromo foi armazenado em um pote 4 Resultados obtidos
de plástico para reutilização em aulas laboratoriais,
já que não havia contaminações. O recipiente foi Os experimentos para identificação, tratamento
identificado para o devido armazenamento, sendo e descarte foram todos bem sucedidos, conforme
recuperados cerca de 2,15 gramas de Cromo. As Quadro 2 e fluxogramas a seguir.
Resíduo
Resíduo sólido no
papel filtro
Filtragem
Lavagem
no funil de
com KOH
Buchner
Resíduo Adição de
Resíduo
sólido no excesso de
líquido
papel filtro água
Descarte do Ajuste de
papel filtro em pH para
lixo comum neutro
Amostra com
coloração
amarela
Filtragem
com carvão
ativado
Descarte do
Resíduo
papel filtro em
tratado
lixo comum
Descarte na
pia em água
corrente
Resíduo
líquido Resíduo
líquido
Adição de
70 mL de
Ajuste
NaOH
pH
Enegrecimento Precipitação
Filtragem
da amostra de Cromo III
com carvão
ativado
Precipitação
total de Cromo Descarte do Adição de
III papel filtro em água em
lixo comum excesso
Aquecimento
até quase Descarte na
secura pia em água
corrente
Aspectos após
o aquecimento
por 4 horas
Filtragem em
funil de
Buchner
Cromo
armazenado
em recipiente
identificado
Resumo
A vitamina C em solução aquosa forma com o íon Fe3+ um complexo de cor azul,
denominado ascorbato de Fe (III). Com base nessa propriedade foi possível detec-
tar a vitamina C em polpas de frutas comerciais por cromatografia em papel. No
experimento foram empregados materiais alternativos acessíveis e de baixo custo,
como tiras de cartolina branca (“placas”) e soluções de etanol combustível/água
(fases móveis). Foi usada como revelador uma solução aquosa de FeCl2/FeCl3
obtida pela reação de uma esponja de lã de aço para limpeza com HCl comercial
(ácido muriático).
Palavras-chave: Cromatografia em papel; Revelador; Vitamina C; Ácido ascórbico.
Abstract
Vitamin C in aqueous solution with Fe3+ ion provides a blue color complex called
Fe(III)-ascorbate. Based on that property it was possible to detect vitamin C in
commercial fruit pulps by paper chromatography. In the experiment were used
alternative accessible and low cost materials, like stripes of white light pasteboard (“plates”) and combusti-
ble ethanol/water (mobile phases). It was used as developer a FeCl2/FeCl3 aqueous solution obtained by the
reaction of a steel wool sponge for cleaning with commercial HCl (muriatic acid).
Key-words: Paper chromatography; Developer; Vitamin C; Ascorbic acid.
Entretanto, inúmeros compostos orgânicos são mistura e, em seguida, filtrar em algodão. Transferir
incolores, como a vitamina C, e para sua visualiza- o filtrado para outro frasco de vidro e adicionar
ção é necessário o uso de reveladores. NaCl (duas pontas de espátula de sal de cozinha)
A cromatografia em papel foi utilizada neste para a remoção dos resíduos de água. Filtrar nova-
trabalho para detectar a vitamina C em polpas mente usando pipeta de Pasteur (ou conta-gotas)
comerciais de diferentes frutas, através do uso de com um pequeno chumaço de algodão.
“placas” (tiras) de cartolina branca, soluções de
água/etanol combustível (fases móveis) e solução 2.2.3 Soluções de desenvolvimento
aquosa de FeCl2/FeCl3 – preparada pela reação de Preparar uma solução (10 mL) de etanol com-
HCl comercial com uma esponja de lã de aço para bustível/água (5:1, v/v) e transferir parte dessa
limpeza (Fonseca et al., 2011) – utilizada como solução para um copo de vidro de, aproximada-
revelador, em um experimento desenvolvido com mente, 200 mL (cuba cromatográfica), permitindo
materiais alternativos acessíveis e de baixo custo. a solução ficar com cerca de 0,5 cm de altura.
Tampar a cuba com uma placa pequena de vidro
(ou com um pires transparente). Repetir o mesmo
procedimento com uma solução de etanol combus-
2 Procedimento experimental tível/água (3:1, v/v).
2.1 Preparação das “placas” de cartolina 2.2.4 Solução reveladora (FeCl2/ FeCl3)
Cortar uma folha de cartolina fina branca em Colocar uma esponja de aço para limpeza
“placas” de 8 x 4 cm. Marcar na “placa” (papel (Bombril® ou similar) em um copo de vidro de
cromatográfico), com uma lapiseira, ou lápis de cerca de 200 mL e adicionar, cuidadosamente,
ponta fina, quatro pontos igualmente espaçados 50 mL de uma solução de HCl comercial (ácido
para a aplicação das amostras, a uma altura de 1,5 muriático)/água (1:1). CUIDADO: o ácido muriá-
cm acima da base (3,2 cm) da tira de papel. tico é corrosivo! Usar luvas de borracha e óculos
de segurança. Deixar a mistura reagir durante 30
2.2 Preparação das soluções minutos, agitando ocasionalmente com um bastão
de vidro, com bastante cuidado. Filtrar em seguida
2.2.1 Solução de vitamina C
sobre algodão usando funil comum e diluir o fil-
Macerar um comprimido de vitamina C trado com 50 mL de água destilada. Observações:
(500 mg) em um frasco de vidro com 5-6 mL de (1) maiores quantidades de solução poderão ser
removedor de esmaltes (contendo 50% de ace- preparadas com 1 hora de reação; (2) a solução
tona). Filtrar a mistura usando pipeta de Pasteur, verde clara resultante poderá ficar estocada à tem-
ou conta-gotas, com um pequeno chumaço de peratura ambiente por cerca de 30 dias sem perder
algodão, e transferir o filtrado para outro frasco. sua atividade reveladora.
2.2.2 Soluções dos extratos das polpas de frutas 2.3 Testes da solução reveladora
Colocar em um frasco de vidro duas porções
(pontas de espátula ou palito de sorvete) de polpa de 2.3.1 Solução de vitamina C
fruta (acerola, goiaba ou caju) e 4-5 mL de remove- Colocar em um frasco de vidro 1 mL da solução
dor de esmaltes contendo 50% de acetona. Agitar a de vitamina C, adicionar 5 gotas de uma solução
aquosa de NaOH a 10% e, em seguida, 2-4 gotas FeCl3. Retirar a “placa”, colocar sobre uma toalha
da solução de FeCl3/FeCl2. O aparecimento de uma de papel e observar o resultado (Figura 3IV). Após
coloração azul escura indicará que o revelador foi a secagem da “placa”, circular as manchas com um
preparado corretamente. lápis. A “placa” revelada poderá ser fotografada
para utilização em futuras discussões.
2.3.2 Vitamina C em “placa” de cartolina
Aplicar a solução de vitamina C em alguns
3 Resultados e discussão
pontos de uma tira de cartolina, imergir a “placa”
na solução de Fe2+/Fe3+ e observar se ocorre o apa- A vitamina C, em presença de íons Fe3+, forma
recimento da cor azul nos pontos de aplicação. o complexo ascorbato de Fe(III) responsável
por uma coloração azul característica (Fornaro;
2.4 Aplicação das amostras
Coichev, 1998; Zümreoglu-Karan, 2006). A for-
Utilizando um capilar de aço – preparado com mação do complexo foi fundamental para a detec-
a retirada do encaixe de plástico de uma agulha de ção da vitamina C nas polpas de frutas comerciais
seringa descartável e posterior limpeza – para cada neste trabalho. A adição da solução reveladora
amostra, aplicar uma pequena quantidade da solu- contendo íons Fe2+/Fe3+, preparada pela reação
ção de vitamina C (padrão para comparação) e de de esponja de lã de aço para limpeza com ácido
cada uma das soluções de polpa em diferentes pon- muriático, HCl comercial (Fonseca et al., 2011), a
tos marcados na “base” da tira de papel (“placa”), uma solução de vitamina C/removedor de esmal-
esperando o solvente evaporar a cada aplicação. tes (contendo 50% de acetona), em meio básico,
É importante que as manchas sejam pequenas e levou ao surgimento de uma cor azul escura, indi-
que tenham aproximadamente o mesmo diâme- cando teste positivo e confirmando a preparação
tro. Após a última aplicação, aguardar cerca de 2 adequada do revelador.
minutos para a evaporação do solvente. Adicionalmente, a formação do complexo ascor-
bato de Fe (III) foi também evidenciada pelo apare-
2.5 Desenvolvimento cromatográfico cimento da cor azul, nos locais de uma tira de car-
Com o auxílio de uma pinça e com cuidado, tolina em que foram feitas aplicações da solução de
colocar a “placa de papel” na cuba cromatográfica vitamina C, quando a tira foi imersa em uma solução
contendo o solvente de desenvolvimento e tam- de FeCl2/FeCl3. Isso indicou que a solução de FeCl2/
par (Figura 3II). Aguardar o desenvolvimento por FeCl3 poderia ser usada como revelador, e a tira de
20 minutos, retirar a “placa”, traçar uma linha na cartolina como “placa”, para a detecção da vitamina
altura que o solvente chegar (linha de chegada da C (ácido ascórbico) em cromatografia em papel.
fase móvel) e deixar secar por cerca de 10 minutos. Evidências prévias indicaram que o complexo
de cor azul (Fornaro; Coichev, 1998; Zümreoglu-
2.6 Revelação Karan, 2006) é formado por duas moléculas de
Após a evaporação do solvente, com auxílio ácido ascórbico para cada íon Fe3+. Considerando
de uma pinça, imergir a “placa de papel” durante o complexo formado em meio básico, uma suges-
alguns segundos na solução reveladora de FeCl2/ tão para sua representação é mostrada na Figura 2.
Figura 3. Representação esquemática das quatro etapas cromatográficas: (I) aparência inicial da “placa” de papel; (II)
cuba, solvente e “placa”; (III) aparência da “placa” desenvolvida antes da revelação (IV) aparência da “placa” de papel após
a revelação: desenvolvimento em (A) etanol/água (5:1, v/v) e (B) etanol/água (3:1, v/v).
das “placas”. Sua identidade foi evidenciada pela BARCIA, M. T.; JACQUES, A. C.; PERTUZATTI,
P. B.; ZAMBIAZI, R. C. Determinação de ácido
comparação direta das alturas das manchas e cor-
ascórbico e tocoferóis em frutas por CLAE. Semina:
respondentes fatores de retenção (Rfs), com os Rfs Ciências Agrárias, v. 31, p. 381-390, 2010.
de um padrão, em solventes de desenvolvimento COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S.
com diferentes concentrações de água e etanol. Fundamentos de cromatografia, Campinas: Editora
da UNICAMP, 2006.
EVANGELISTA, R. M.; VIEITES, R. L. Avaliação da
4 Considerações finais qualidade de polpa de goiaba congelada, comercia-
lizada na cidade de São Paulo. Segurança Alimentar
O experimento mostrou que, apesar da vita- e Nutricional, v. 13, p. 76-81, 2006.
mina C não apresentar coloração quando desenvol- FIORUCCI, A. R.; SOARES, M. H. F. B.;
CAVALHEIRO, E. T. G. A importância da Vitamina
vida em “placa” de papel, foi possível fazer a sua
C na sociedade através dos tempos. Química Nova
revelação com uma solução reveladora contendo na Escola, n. 17, p. 3-7, 2003.
íons Fe2+/Fe3+, preparada com materiais alternati- FONSECA, S. F.; SOUZA, K. S.; SANTOS, M. C.
vos, acessíveis e de baixo custo. Foi também veri- Caracterizando fenóis com um reagente preparado
ficado que a cartolina fina de cor branca apresen- com esponja de lã de aço para limpeza e ácido muri-
ático. Revista Brasileira de Ensino de Química, v. 6,
tou rigidez adequada para que suas tiras pudessem n. 1-2, p. 84-87, 2011.
ser usadas como “placas”, sendo uma alternativa
FORNARO, A.; COICHEV, N. Ácido L-ascórbico:
viável, embora com limitações, para ser utilizada reações de caracterização e de óxido-redução com
em experimentos de introdução à cromatografia alguns íons metálicos de transição. Quim. Nova,
v. 21, p. 642-650, 1998.
em papel.
Entretanto, é importante salientar que a aplica- OLIVEIRA, R. G.; GODOY, H. T.; PRADO, M. A.
Quantificação dos isômeros ácido L-ascórbico e
ção do experimento exigirá uma abordagem prévia ácido D-iso-ascórbico em geleias de frutas por cro-
de tópicos como funções orgânicas, forças intermo- matografia liquida de alta eficiência. Quim. Nova,
v. 35, p. 1020-1024, 2012.
leculares e solubilidade de substâncias orgânicas.
SILVA, S. L. A.; FERREIRA, G. A. L.; SILVA, R. R.
À procura da vitamina C. Química Nova na Escola,
5 Referências n. 2, p. 31-32, 1995.
ZÜMREOGLU-KARAN, B. The coordination che-
AHUJA, S. Chromatography and Separation Science, mistry of Vitamin C: An overview. Coordination
Vol. 4. New York: Academic Press, 2003. Chemistry Reviews, v. 250, p. 2295-2307, 2006.
Resumo
A Educação Inclusiva é compreendida como uma reestruturação educacional que,
para ocorrer de forma bem-sucedida, necessita que os professores sejam forma-
dos em vertentes de ensino e comunicação diferentes das vertentes tradicionais.
Trata-se da prática de inclusão de todos os alunos, independentemente de suas
deficiências, em sala de aula comum. Neste sentido, é perceptível a necessidade de
se investir na formação (inicial e/ou continuada) de professores, para que estes pos-
sam desenvolver os modelos inclusivos em suas práticas educativas. Desta forma,
procurou-se saber sobre a formação e vivências do corpo docente do Curso de licen-
ciatura em Química do IFRN/Campus Currais Novos, na perspectiva da Educação
Inclusiva. Diante dos dados coletados, foi visto que ainda há um expressivo dis-
tanciamento entre a teoria e a prática nesta vertente. Grande parte dos docentes do
curso, embora não possua grande experiência com Educação Inclusiva, já que não
teve disciplina relacionada à inclusão durante sua graduação ou mesmo no curso de
formação continuada, mostra-se disposta a desenvolver-se nessa perspectiva atual
e necessária que é a Educação Inclusiva.
Palavras-chave: Educação inclusiva; Inclusão; Formação de professores.
Abstract
Inclusive Education is understood as an educational restructuring that, to occur successfully, requires teach-
ers be trained in different aspects of teaching and communication of traditional strands. It is the practice of
inclusion of all students, regardless of their disabilities, in the ordinary classroom. In this sense, it is notice-
able the need to invest in training (initial and /or continued) for teachers, so that they can develop inclusive
models in their own educational practices. Thus, we sought to know about the training and experience of the
professors in view of Inclusive Education of the Chemistry degree course in IFRN /Currais Novos Campus.
From the collected data, it was seen that there is still a significant gap between theory and practice in this
regard. Although much of the professors lack great experience with inclusive education, especially because
most of them had not even a discipline during their undergraduate or continuing education course, these
professionals show up willing to develop this current and necessary perspective, which is the Inclusive
Education itself.
Key-words: Inclusive education; Inclusion; Teacher training.
-educacionais da normalização e integração da lhes permita estabelecer relações entre a sua ação
pessoa portadora de necessidades especiais” nos pedagógica e os pressupostos teóricos subjacentes
currículos dos cursos de Pedagogia, Psicologia a ela, visando constituir novas posturas a respeito
e licenciaturas, e através do Decreto nº 5626, de das necessidades individuais dos alunos.
2005, ocorreu a regulamentação da inclusão da Sant’Ana (2005) também defende a necessidade
disciplina “Libras” no currículo dos cursos de dessa formação voltada para a Educação Inclusiva,
licenciatura (Brasil, 2005, p. 28), visando preparar pois os educadores precisam estar habilitados para
os futuros docentes para o ensino de alunos com atuar de forma competente junto às diferenças e às
necessidades educacionais especiais. As práticas necessidades individuais dos alunos inseridos nos
pedagógicas, fruto da política da inclusão escolar, vários níveis de ensino. Nessa perspectiva, Bueno
inclusive aquelas dos professores de classe regular (1999) defende que, para que o ensino seja de qua-
com alunos com necessidades educacionais espe- lidade para os portadores de necessidades educati-
ciais, ainda são recentes no Brasil. vas especiais, no âmbito de uma educação inclu-
É interessante que estas práticas possam ser siva, dentre muitos aspectos, destacam-se os dois
monitoradas e avaliadas, para que possamos tipos de docentes: professores “generalistas” do
socializar indicadores de sucesso e, também, os ensino regular, com o mínimo de conhecimento e
problemas encontrados com vistas a superá-los. prática sobre os mais variados alunos, e professores
Dentro desta perspectiva, os professores formado- “especialistas” nas diferentes “necessidades educa-
res dos cursos das licenciaturas devem conhecer tivas especiais”, seja ele com o intuito de trabalhar
essa realidade e, neste sentido, este trabalho bus- efetivamente com os alunos ou dar apoio ao traba-
cou analisar os professores formadores do curso lho realizado por professores de classes regulares
de Licenciatura em Química do IFRN Campus que realizem a integração destes alunos.
Currais Novos dentro da perspectiva da Educação No processo de implantação da política de edu-
Inclusiva. cação inclusiva no Brasil são muitos os desafios
encontrados, mas a falta de preparo dos docentes
1.2 Formação de professores e a ganha destaque quando o tema é abordado. Sonza
educação inclusiva
(2013) destaca a necessidade de o professor ter
Segundo defende Benite et al. (2009), no que conhecimento sobre as possibilidades de aprendi-
se refere à inclusão, a educação precisa se modifi- zagem que o aluno portador de necessidades espe-
car, ou, talvez, se reestruturar a partir da formação ciais possui, adequando o currículo à necessidade
de professores, uma vez que os professores são destes, sem que ninguém seja excluído. Assim, a
agentes de primeira ordem no processo de ensino- própria escola tem um papel importante neste sen-
-aprendizagem e, assim, podem contribuir para a tido, uma vez que:
reorganização da escola, viabilizando o acesso e a
O propósito da escola deveria ser o de desen-
permanência de todos nas classes regulares. Dessa volver as inteligências e ajudar as pessoas a
forma, torna-se imprescindível formar o professor atingirem objetivos de ocupação e passatempo
para trabalhar com a diferença. adequados ao seu espectro particular de inte-
Os autores Pereira, Benite e Benite (2011), ligências. As pessoas que são ajudadas a fazer
isso, acredito, se sentem mais engajadas e com-
afirmam que tal formação deve ser pautada em
petentes, e, portanto mais inclinadas a servi-
situações de análise e reflexão sobre suas pró- rem à sociedade de uma maneira construtiva
prias condições de trabalho e experiências, e que (Gardner, 1995).
Uma escola com essa perspectiva, sem dúvida, Para Peterson (2006), os programas de inclu-
contribuiria para a prática do princípio fundamen- são não podem ser bem-sucedidos em escolas
tal das escolas inclusivas: públicas se ambos, professores da educação geral
e da Educação Especial (os dois “tipos” de profes-
O princípio fundamental das escolas inclusivas
sores citados por Bueno, 1999), não forem capa-
consiste em todos os alunos aprenderem jun-
citados para implementar programas de ensino
tos, sempre que possível, independentemente
das dificuldades e das diferenças que apresen- colaborativo. Nesse sentido, é preciso reconstruir/
tem. Estas escolas devem reconhecer e satis- reformular a formação de professores, pois formá-
fazer as necessidades diversas dos seus alunos, -los é projetar para o futuro, uma vez que esses
adaptando-se aos vários estilos e ritmos de
professores irão continuar formando estudantes
aprendizagem, de modo a garantir um bom nível
de educação para todos, através de currículos
que constituirão a sociedade de amanhã, pois,
adequados, de uma boa organização escolar, de como defende Libâneo (1998), é importante des-
estratégias pedagógicas, de utilização de recur- tacar que, geralmente, a formação recebida pelos
sos e de uma cooperação com as respectivas professores influencia, diretamente, no desenvol-
comunidades. É preciso, portanto, um conjunto
vimento dos alunos.
de apoios e serviços para satisfazer o conjunto
de necessidades especiais dentro da escola.
(UNESCO, 1994, Declaração de Salamanca, 2 Procedimento metodológico
11-12).
No desenvolvimento deste trabalho, apli-
No que se refere à formação docente, consi- camos um questionário aos docentes do Curso
derando a educação especial, as próprias políticas de Licenciatura em Química do IFRN Campus
têm criado mecanismos que buscam inserir o pro- Currais Novos, que foi composto por 9 questões,
fissional neste contexto. Podemos observar, nos das quais 2 abertas e 7 dicotômicas, tendo como
indicadores apresentados em documentos oficiais enfoque a Educação Inclusiva. Neste questioná-
(Brasil, 2008, p. 13-14), que: rio, foram abordadas algumas dimensões, sendo
elas: a experiência dos docentes com a Educação
[...] em 1998, 3,2% possuíam ensino funda-
mental; 51% possuíam ensino médio e 45,7% Inclusiva, o conhecimento sobre inclusão, em
ensino superior. Em 2006, dos 54.625 profes- que se avaliava se o docente cursara na gradua-
sores que atuam na educação especial, 0,62% ção alguma disciplina relacionada à Educação
registraram somente ensino fundamental, 24% Inclusiva ou se cursara algum tipo de formação
registraram ensino médio e 75,2% ensino supe-
continuada que tivesse relação nesse aspecto, bem
rior. Nesse mesmo ano, 77,8% destes profes-
sores declararam ter curso específico nessa área como a sua opinião sobre o comportamento diante
de conhecimento. de uma sala de aula inclusiva etc. O questionário
foi elaborado tomando como base os artigos cien-
A evolução das ações da educação especial tíficos da área.
nos últimos anos se expressa no crescimento do O curso de licenciatura em Química da IES
número de municípios que registram ampliação investigada possui um corpo docente com nove
de matrículas, acessibilidade arquitetônica em professores, sendo 2 deles da área Pedagógica e os
prédios escolares, formação de professores com o outros 7 da área de Química. Todos os 9 professo-
objetivo de assegurar a inclusão do aluno e garan- res participaram da pesquisa proposta por meio da
tir seu acesso e continuidade (Brasil, 2008). aplicação do questionário.
Educação Inclusiva, especialmente no que con- necessitar de mecanismos que potencializem seu
cerne a deficiências físicas –, é possível perceber- trabalho na perspectiva da Educação Inclusiva.
-se a predisposição deste grupo. Mesmo assim, Afinal, como opina Weiss (2008), o fracasso esco-
torna-se necessário e urgente a capacitação de tais lar é causado por uma conjugação de fatores inter-
profissionais na área de Educação Inclusiva, atra- ligados que impedem o bom desempenho do aluno
vés de cursos de formação continuada, uma vez em sala de aula, inclusive, a atuação inadequada
que eles não tiveram essa formação em seus cursos do educador.
de graduação – 67% dos professores pesquisados
não cursaram disciplinas relacionadas à Educação
4 Considerações finais
Inclusiva –, tanto para lidarem com o contexto que
vier a surgir dentro da sua prática, quanto para Os docentes que atuam no curso de Química
orientarem os licenciandos do curso dentro dela. do IFRN ainda são iniciantes em suas experiências
Na verdade, como a Educação Inclusiva é em Educação Inclusiva – especialmente no que se
relativamente nova, e apenas a partir de 2005 se refere a deficiências físicas –, pois sua maioria não
tornaram obrigatórias disciplinas que a envolvam, vivenciou disciplinas relacionadas em seus cursos
é natural que os docentes dos cursos das licencia- de graduação, nem cursos de formação continuada,
turas não estejam totalmente preparados para tal e apresentam poucas vivências com situações rela-
realidade. Villela-Ribeiro e Benite (2010) observa- cionadas à experiência com Educação Inclusiva.
ram que: Desta forma, torna-se necessário focar nestes pro-
fessores, através de cursos de formação continuada,
Percebe-se que o professor relaciona a educa-
visando ampliar a experiência destes de forma a ser
ção inclusiva apenas com alunos deficientes, e
não a educação voltada para todos os grupos de possível o direcionamento de pesquisas e orienta-
pessoas excluídas da escola. E ainda, relaciona ções pedagógicas dos discentes por eles formados,
o fato da não preparação para educação inclu- melhorando, assim, a formação inicial do professor
siva como consequência de falta de preparo dos formado pelo Curso de Licenciatura em Química
próprios professores formadores.
do IFRN Campus Currais Novos, conforme refor-
Em síntese, çado por Villela-Ribeiro e Benite (2013).
Aline de Araújo Silva1, Lilian Mamedes dos Santos1, Paulo Ricardo Alves da Silva1,
Leandro S. de Oliveira1, Nathália Kellyne Silva Marinho Falcão1,
Jailson Machado Ferreira1 e Humberto Gomes1
Resumo
O QuimKids trata-se de uma proposta com caráter inovador que objetiva levar
a Ciência de forma dinâmica e interativa a crianças do ensino fundamental I e
II. Realizado anualmente nas escolas de ensino fundamental, busca desenvolver
o interesse por esta área do conhecimento aguçando a curiosidade das crianças
despertando-as para uma consciência científica do ambiente que as cerca, sendo
realizado através de diversas temáticas, dentre elas o meio ambiente, conhecimento
imprescindível que deve ser trabalhado desde cedo nos indivíduos, preparando-
-os para agirem como parte não apenas integrante, mas, principalmente, ativa da
sociedade.
Palavras-chave: QuimKids; Ensino de Química; Formação de cidadãos.
Abstract
The QuimKids is an innovative motion that aims to bring science in a dynamic
and interactive approach to children in elementary school. This activity is under-
taken annually in schools during the month of October, when it is celebrated “the
children’s month”. The purpose of QuimKids is to stimulate the interest of students,
awakening their curiosity in a playful way through practices that sharpen mainly
the visual character. In order to develop a scientific understanding of the environment around them, prepar-
ing students to work effectively in society.
Key-words: Quimkids; Chemistry teaching; Raising citizens.
avançar ou retornar até a casa que equi- em questão, ou o alimento, sendo estes
vale às características do material a ser uma maçã e alguns brinquedos. Como
descartado. O jogo acaba quando o pino ambos não precisam da visão como
de um dos componentes da equipe che- auxílio, alguns alunos com deficiência
gar à casa com o nome final. visual presentes puderam participar e
»» Jogo da velha – o jogo da velha é um algumas observações puderam ser feitas
clássico conhecido por muitos; para a através da sua participação. O intuito
confecção deste material foram utiliza- foi, principalmente, mostrar a ligação
dos papelão, cartolina, tinta guache, fita entre a química e as sensações do nosso
adesiva e tampas. O material foi utili- organismo.
zado principalmente para descontração »» Bingo Químico – esse jogo tem como
e também para mostrar como se dá o objetivo possibilitar a interação das
reaproveitamento de alguns materiais crianças com os elementos químicos
que poderiam ser descartados. presentes no cotidiano e identificar em
»» Jogo “a Química das Sensações” – os quais materiais eles podem ser encon-
alimentos ingeridos ou a percepção de trados. Trata-se de uma tabela, em que
alguns objetos estão relacionados com ao invés de números, têm-se elementos
alguns sentidos do nosso corpo, como, químicos, representados por seus sím-
por exemplo, o olfato. Este sentido está bolos e uma imagem de algum mate-
relacionado com a percepção do sabor rial no qual ele pode ser encontrado.
dos alimentos; geralmente, quando este À medida que os elementos vão sendo
sentido está, de alguma forma compro- sorteados pelo mediador do jogo, as
metido, o paladar fica também compro- crianças marcam na tabela e o vencedor
metido. Podemos observar que, quando é aquele que completá-la primeiro.
ficamos resfriados, praticamente não • Sala de reutilização: nesta sala, as crian-
sentimos o gosto dos alimentos por ças foram postas em contato com um con-
não podermos sentir o seu cheiro. O ceito fundamental para a formação de um
tato também pode ser utilizado para cidadão consciente: compreender a impor-
identificar alguns objetos; nos deficien- tância da reutilização de determinados
tes visuais, geralmente, este sentido é materiais para a preservação ambiental.
mais desenvolvido, portanto, o tato, em Após uma breve explanação sobre o tema
alguns momentos, torna-se os olhos do e o despertar do interesse de transformar
deficiente visual. Para este momento, materiais considerados lixo em diversão,
foram utilizados iogurte com corante foi o momento de começar sua confecção.
azul, e os alunos foram levados a tapa- Foram confeccionados três materiais: um
rem o nariz e a sentirem o sabor da bilboquê, um marca-página e um mosaico.
bebida com a finalidade de identifica- »» Bilboquê – esse é um brinquedo antigo
rem-na, explorando, assim, os sentidos constituído por uma esfera de madeira
paladar e olfato. Em outro momento, (ou de forma semelhante) que possui um
os alunos tiveram os olhos vendados e orifício central e é presa por uma corda
solicitou-se que identificassem o objeto numa espécie de suporte. Através do
movimento das mãos, esta bola deve ser picados de revistas antigas com variadas
encaixada no suporte. Os materiais uti- cores. A montagem do mosaico consiste
lizados para sua confecção foram: uma basicamente em preencher os espaços
garrafa PET descartável com tampa; do desenho com pequenos pedaços de
jornal antigo; fita adesiva colorida; bar- papel, dando-lhe uma aparência dife-
bante; tesoura e materiais para enfeitar rente, criativa e divertida.
o brinquedo. A garrafa PET é cortada na
altura do gargalo, lembrando uma taci- Durante toda a atividade buscou-se a interação
nha; amassa-se o jornal até formar uma efetiva das crianças, convidando-as a dançarem e
bolinha, com o tamanho aproximado de a participarem das atividades experimentais e das
uma bola de ping pong. Em seguida, ela salas. As explicações foram realizadas de forma
é revestida com durex colorido, para a simples e corrente, propiciando, assim, um melhor
bolinha ficar consistente; corta-se cerca entendimento, além de perceberem que a Ciência
de 30 cm de barbante, sendo que uma está presente em tudo, o que despertou seu inte-
de suas pontas é amarrada na bolinha resse e curiosidade.
e a outra na tampa da garrafa PET; em
seguida, enfeita-se o bilboquê com os 4 Resultados e discussões
materiais que estiverem à disposição.
»» Marca-página – esse objeto é muito útil O conhecimento das ciências é um fator
para as crianças que estão iniciando as imprescindível para que possamos compreender
primeiras leituras, sendo um incentivo os acontecimentos que ocorrem a nossa volta e,
para continuarem a ler as histórias, um atualmente, tem ganhado destaque principal-
marca-página diferente e criativo. Os mente devido à nova formulação dos Parâmetros
materiais utilizados foram: palitos de Curriculares Nacionais que atribuiu, às Ciências
picolé lavados e secos; caneta hidrocor; Naturais, o papel de colaborar para que o homem
pedaços de papel em variados formatos possa entender transformações, tornando-se um
geométricos; cola e tesoura. Cobriu-se indivíduo participativo e parte integrante do uni-
o palito de picolé com um pedaço de verso, capaz de questionar os diferentes modos de
papel colorido retangular; em seguida, intervir na natureza como também compreender as
com um pequeno pedaço de papel com diferentes formas de utilizar os recursos naturais
formato triangular, quadrado ou cir- (Brasil, 1997).
cular, faz-se uma carinha feliz com o A execução do QuimKids consistiu em quatro
auxílio da caneta hidrocor e, logo após, atividades que proporcionaram aos alunos uma
cola-se o mesmo na parte superior do visão da ciência de maneira atraente, divertida,
objeto. integrante e essencial para a sociedade. A reali-
»» Mosaico – essa é uma atividade inte- zação do Mini-Química em Show, com o auxílio
ressante porque se trata de uma técnica de trilhas sonoras, propiciou uma melhor intera-
milenar, utilizada para decoração ou ção e envolvimento dos alunos com a atividade,
registro de fatos e lendas. Os materiais trabalhando as informações químicas passadas de
utilizados foram: desenho impresso maneira prazerosa por estar tratando de percepção
numa folha de papel ofício e papéis e da memória visual e auditiva. Tais características
audiovisuais fornecem estratégias para trabalhar -se um resultado eficiente e eficaz, uma vez que
em sala de aula, começando pelo sensorial, pelo se tem o envolvimento e a participação total das
afetivo, antes de falar de conceitos, de teoria. crianças.
A apresentação do curta-metragem possibilitou O foco ambiental do QuimKids foi de grande
o entendimento das contribuições, tanto positivas importância para a formação cidadã dos indiví-
quanto negativas, ao abordar o tema poluição e duos, pois através do Mini-Química em Show, da
degradação do meio ambiente. Após essa conscien- exibição do curta-metragem, dos jogos educacio-
tização, os alunos foram direcionados para a sala de nais e da oficina de reciclagem, buscou-se possi-
jogos e química das sensações onde puderam obser- bilitar que estes se identificassem como parte inte-
var e entender como a química está presente em seu grante da natureza, levando-os a perceberem que
corpo, influenciando cada uma das suas sensações, suas ações eram capazes de modificar o meio no
e se mostrando, inclusive, bastante eficaz para o qual estavam inseridos.
ensino de ciências com alunos deficientes, já que,
em sala, havia um deficiente visual que também
6 Referências
pôde participar das dinâmicas e de alguns jogos.
Na sala reciclagem, as crianças puderam compre- BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil. São Paulo: Ática,
1998.
ender porque alguns materiais são mais poluentes
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
através da explanação do tempo de degradação de Parametros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997.
alguns objetos e como poderiam contribuir para
______. Diretrizes Curriculares Nacionais Para a
diminuir os impactos derivados da utilização destes Educação Infantil, 2010. Acesso em: 12 mar. 2014.
materiais através da reciclagem para confecção de FILHO, A. B. S.; SANTANA, J. R. S.; CAMPOS, T.
brinquedos com materiais alternativos. D. O Ensino de Ciências Naturais nas Séries/
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. V Colóquio
Internacional, “Educação e Contemporaneidade”.
5 Conclusão São Cristóvão – SE, 2011.
HARLEN, W. Enseñanza y aprendizaje de las ciencias.
Os educadores devem se preocupar em desen- 2. ed. Madrid: Morata, 1994.
volver novas metodologias que despertem, desde HAYASHI, A. M.; PORFIRIO, N. L. S.; FAVETTA, L.
cedo, o interesse dos alunos pelos estudos, estimu- R. A. A importância da experimentação na constru-
ção do conhecimento científico nas séries iniciais
lando-os, desde pequenos, na busca de um futuro do Ensino Fundamental. Mostra acadêmica, São
promissor. Sendo assim, as atividades exibidas Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.unimep.
no QuimKids, de forma descontraída e dinâmica, br/phpg/mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/300.
pdf>. Acesso em: 14 maio 2013.
são uma maneira informal de comunicação, pri-
MORAIS, P. Educação, ciência e sociedade: educa-
vilegiando a imaginação e a criatividade em seus
ção científica presente, passado e futuro. 2011.
aspectos sensoriais e emocionais. Partir do con- Disponível em: <http://www.novaecs.net/refsint/
creto para o abstrato, do imediato para o mediato, ecstrabs/pe dromoraistrab.pdf>. Acesso em: 15
maio 2013.
da ação para a reflexão, da produção para a teori-
ZANCAN, G. T. Educação científica: uma prioridade
zação, chamando a atenção pela sensibilidade, tem
nacional. São Paulo em Perspectiva, v. 1, n. 14, p.
se mostrado uma boa prática. Desta maneira, tem- 3-7, São Paulo, 2000.
Resumo
Atividades envolvendo jogos lúdicos têm sido cada vez mais utilizadas pelos pro-
fessores buscando promover um melhor aprendizado em sala de aula. Este trabalho
teve como objetivo desenvolver um jogo para ajudar no reconhecimento das vidra-
rias presentes no laboratório de química. O jogo possui uma apostila com os nomes
e as figuras das vidrarias, incluindo suas utilizações, um tabuleiro com a figura das
vidrarias e um total de 32 cartas contendo os nomes de cada uma. O jogo, que pode
ser aplicado para alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, foi confeccionado
com materiais de baixo custo por duas alunas do IFG Campus Itumbiara-GO, do
curso de licenciatura em Química, e que participam do PIBID. Para comprovar a
eficácia da aplicação da atividade, foi aplicado um questionário para que os alunos
pudessem expor suas opiniões sobre o jogo e como o mesmo contribuiu para o
processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: Jogos; Ensino; Química.
Abstract
Activities involving educational games have been increasingly used by teachers, looking for a better learning
in the classroom. This study aimed to develop a game for recognition the glass works present in the labora-
tory. The game has a booklet with names and figures of the glassworks and its uses, a board with figures
of glasswares and a total of 32 cards containing the name of the glassworks. The game can be applied to
students of the 1st, 2nd and 3rd year of high school. The game was made with inexpensive materials by two
chemistry students of the IFG Campus Itumbiara-GO participating in the PIBID program. To prove the effec-
tiveness of the implementation of this activity, a questionnaire directed to students was applied so that they
could express their opinions about the game and how it contributed to the process of teaching and learning.
Key-words: Games; Education; Chemical.
para suas aulas, fazendo com que os alunos criem, O ensino da Química, quando trabalhado somente
em si, uma motivação pelas aulas de Química. Isso de forma teórica, pode dificultar muito a compre-
nos leva a uma busca incessante por alternativas ensão dos alunos. É de fundamental importância
que possam reverter ou modificar nossa realidade; que o professor trabalhe metodologias diferencia-
para tanto, muitos estudos têm sido realizados, das, tornando, assim, a disciplina mais atrativa, e
com o objetivo de encontrar essas alternativas que promovendo um melhor entendimento do determi-
possam melhorar o ensino de Química (Wanderley nado conteúdo que está sendo estudado.
et al., 2005). Sendo assim, segundo Santos (1997), além dos
conhecimentos teóricos, é necessário que o edu-
cador tenha a oportunidade de vivenciar situações
2 Fundamentação teórica lúdicas associadas à aprendizagem escolar, pois
essas experiências poderão facilitar a utilização do
Atividade lúdica é todo e qualquer movimento lúdico na prática docente, tornando esse processo
que tem como objetivo produzir prazer quando de mais natural e significativo.
sua execução, ou seja, divertir o praticante. Se há Portanto, existe uma maior facilidade ao ava-
regras, essa atividade lúdica pode ser considerada liar os alunos com a utilização de jogos, pois estes
um jogo (Soares, 2008). terão uma maior tranquilidade em solucionar os
O adulto que volta a brincar não se torna criança problemas e uma aprendizagem mais satisfatória.
novamente, apenas ele convive, revive e res- É necessário que todos estejam empenhados em
gata com prazer a alegria do brincar, por isso é alcançar resultados positivos e significativos para
importante o resgate desta ludicidade, afim de a educação. Professores, alunos e a comunidade
que se possa transpor essa experiência para o
escolar como um todo, são sujeitos que devem par-
campo da educação, isto é, a presença do jogo
(Friedmann, 1996, p. 14). ticipar ativamente do processo de ensino-aprendi-
zagem, pois se sabe que existem dificuldades, des-
Segundo Kishimoto (1994), o jogo, conside- motivação e pouco incentivo, mas isso não pode
rado um tipo de atividade lúdica, possui duas fun- ser um empecilho na busca para melhorar o ensino
ções: a lúdica e a educativa. Elas devem estar em (Souza; Falconieri, 2006).
equilíbrio, pois se a função lúdica prevalecer, não Os jogos proporcionam ao aluno uma forma
passará de um jogo, e se a função educativa for prazerosa e divertida de estudar, além de ofere-
predominante, será apenas um material didático. cer ao professor uma maneira diferente de avaliar
Os jogos são indicados como um tipo de recurso a assimilação do alunado em relação aos conteú-
didático educativo que pode ser utilizado em dos estudados, de revisar conteúdos ou como um
momentos distintos, como na apresentação de um meio mais dinâmico de fixar o conhecimento, per-
conteúdo, na ilustração de aspectos relevantes ao mitindo a identificação de erros de aprendizagem
conteúdo, como revisão, ou síntese de conceitos (Zanon et al., 2008). Quando as situações lúdicas
importantes, e na avaliação de conteúdos já desen- são criadas pelo professor visando estimular a
volvidos (Cunha, 2004). aprendizagem, revela-se então a dimensão educa-
Segundo os PCNs (Brasil, 1999), a Química não tiva (Szundy, 2005); Soares (2008) defende o uso
deve ser entendida como um conjunto de conhecimen- de atividades lúdicas, dentre elas os jogos didáti-
tos isolados, prontos e acabados, mas sim como uma cos, como ferramentas para auxiliar a construção
construção da mente humana, em contínua mudança. do aprendizado.
questões somente abertas, pois, assim, podem-se ensino, mas apenas colaboram para que as aulas
extrair outras concepções que podem não estar se tornem mais produtivas e facilitem a aprendiza-
relatadas nas perguntas. gem. Os jogos lúdicos utilizados em sala de aula
devem ser vistos pelo professor como suporte para
suas aulas e motivação aos alunos.
5 Comentários finais
O jogo pode ser uma oportunidade de entro-
6 Referências
samento entre aluno-professor como forma de
enriquecimento e motivação para a aprendiza- BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curri-
gem. É uma atividade em que se reconstroem as culares nacionais. Brasília: MEC; SEMTEC, 1997.
relações sociais e, embora possa ser aplicado com CUNHA, M. B. Jogos no ensino de química: conside-
uma grande variedade de temas, todo ele contri- rações teóricas para sua utilização em sala de aula.
bui, por princípio, ao mesmo conteúdo: a atividade Química Nova Na Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, maio
2012. Disponível em: <http://www.qnesc.sbq.org.
do homem e as relações sociais entre as pessoas br/online/qnesc34_2/07-PE-53-11.pdf>. Acesso em:
(Elkonim, 1998). 12 maio 2014.
Os jogos lúdicos, além de propiciarem aos edu- ELKONIN, D. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins
cadores uma forma alternativa de ministrar seus Fontes, 1998.
conteúdos, contribuem para uma melhor interação FRIEDMAN, A. Brincar, crescer e aprender – o resgate
do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.
entre professor e aluno, e uma melhor convivência
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São
dos alunos com seus colegas de classe. Paulo: Pioneira, 1994.
É importante esclarecer que as atividades lúdi-
LUCKESI, C. Ludicidade e atividades lúdicas:
cas não substituem os métodos tradicionais de uma abordagem a partir da experiência interna.
Mãos na Massa:
a química na panificação
Hands-on:
the chemistry involved in panification and bread-making
Thiago Henrique Barnabé Corrêa1 e Pedro Faria dos Santos Filho2
Resumo
Do amassamento ao cozimento, muitos fenômenos químicos podem ser observa-
dos no preparo de pães, o que demonstra uma riqueza conceitual do tema alimentos
quando empregado no ensino de Ciências. Ao explorar a cozinha e os alimentos,
como o pão, a química torna-se uma abordagem global que permeia outras áreas do
saber e ganha sentido no dia a dia do aluno. A fim de apresentar os alimentos como
uma abordagem promissora para o ensino de conceitos de Química, em particular,
explorando a química por trás da panificação, sob os mais diferentes aspectos, desde
a constituição de seus componentes até a sua preparação caseira, este artigo traz inter-
pretações para alguns fenômenos que ocorrem na cozinha, sob a ótica da Química.
Palavras-chave: Química dos alimentos; Fermentação; Ensino de química.
Abstract
From kneading to baking, many chemical phenomena can be observed in the
preparation of bread, which shows a conceptual richness of theme foods when
used in the teaching of science. To explore the cuisine and the food, such as bread,
chemistry becomes a global approach that permeates other areas of knowledge
and makes sense in everyday life of the student. In order to present the food as a
promising approach to the teaching of chemistry concepts, in particular exploring the chemistry behind the
bakery, under many different aspects, from the formation of its components to your home preparation, this
article aims to interpret some phenomena in the kitchen from the chemistry perspective.
Key-words: Food chemistry; Fermentation; Chemistry teaching.
2 A Química do pão nosso de cada dia lares que podem se estabelecer entre as cadeias são
ligações hidrogênio, forças de van der Waals, inte-
Mais do que uma mera mistura, a composição rações eletrostáticas e pontes dissulfeto. Algumas
dos ingredientes do pão é a chave para entendermos destas interações são exemplificadas na Figura 1.
as transformações que ocorrem durante a sua prepa-
ração. Basicamente, o processo de preparo do pão se
Cadeia proteica Cadeia proteica
dá em três etapas, que são o amassamento, a fermen- Ligação
NH2
tação ou levedação, e o cozimento; seus principais hidrogênio
CH2 OH O C CH2 CH2
ingredientes são farinha de trigo, água, fermento e
Interação eletrostática
sal. Embora a farinha seja o ingrediente majoritário, CH2 CH2 NH3
+
O
o fermento e o sal são indispensáveis para a forma- C CH2 CH2
O
ção de uma massa mais forte e menos pegajosa, que CH2
CH CH3
se expande antes mesmo do cozimento.
CH3 CH3
CH3 CH CH2
5 Fermentação
Agora que sabemos a importância de se amas-
sar o pão, estamos prontos para compreender a
segunda etapa do processo: a fermentação, tam-
bém chamada de levedação (do latim levere =
4 O sal na mistura de farinha de trigo e água elevar/tornar leve). O sucesso deste fenômeno
químico se deve a dois personagens, o amido, pre- Sabe-se que o desenvolvimento dos levedos é
sente na farinha de trigo, e principal fonte de açú- mais rápido a 35 ºC; entretanto, nesta temperatura,
car, e o fermento biológico, um fungo pertencente metabólitos amargos são gerados, o que tornaria
à família das leveduras chamado Saccharomyces o pão menos atrativo. Dessa maneira, indica-se a
cerevisae. Mesmo em pequena quantidade, e temperatura entre 27 e 35 ºC. É importante dizer
sendo um ser vivo muito simples (unicelular), a que, acima de 45 ºC, a atividade enzimática das
levedura desempenha um grande papel no preparo leveduras começa a baixar devido à desnaturação
de pães. Para se ter uma ideia, 1 grama de fermento das moléculas, além de levar à morte celular. Por
biológico possui aproximadamente 25 bilhões de isso, costuma-se envolver a massa com um pano
Saccharomyces cerevisae. para a manutenção da faixa adequada de tempe-
A mistura de açúcar e alguns microorganismos ratura (This, 2007; Manarini, 2013). Um período
como a levedura é uma combinação perfeita, já entre 40 e 120 minutos é necessário para se atingir
que essa última se alimenta da glicose presente no o limiar da reação de fermentação.
amido que, através da ação de catalisadores bioló- Apesar de não ser comum o emprego do fer-
gicos – enzimas (zimase e invertase) – decompõem mento químico no preparo de pães, qual a diferença
a glicose em álcool etílico e dióxido de carbono em entre o fermento biológico, também chamado de
um processo denominado de fermentação anaeró- fermento de padaria, e o fermento químico (em
bica (na ausência de oxigênio). pó)? Por que devemos armazenar o fermento bio-
lógico na geladeira enquanto o fermento químico
C6H12O6(aq) 2C2H6O(aq) + 2CO2(g)
deve ser conservado em local seco e fresco?
zimase / invertase
glicose etanol dióxido de De acordo com a Resolução nº 38 de 1977 da
carbono
Comissão Nacional de Normas e Padrões para
Fermentação anaeróbica
Alimentos (CNNPA), o fermento químico é defi-
nido como o produto formado de substância ou
Como já afirmamos, o amido é uma mistura de mistura de substâncias químicas que, pela influên-
duas macromoléculas – a amilose e a amilopec- cia do calor e/ou umidade, produz desprendimento
tina – formadas por unidades menores (glicose) gasoso capaz de expandir massas elaboradas com
ligadas entre si. Ao misturarmos a farinha com a farinhas, amidos ou féculas, aumentando-lhes o
água estamos promovendo a quebra das ligações volume e a porosidade. Ainda segundo a referida
entre essas moléculas (hidrólise) e, assim, dispo- resolução, para que um produto seja definido como
nibilizando a glicose no meio para o consumo das fermento químico este deverá atender à seguinte
leveduras. especificação (característica físico-química): 18 g
Descrita na primeira etapa, a sova se torna de fermento químico, deverão libertar (média de 3
muito importante para o processo de fermentação amostras) no mínimo 1450 mL (mil quatrocentos e
uma vez que tem por finalidade misturar os ingre- cinquenta mL) de dióxido de carbono, calculados a
dientes e formar as redes (cadeias) de glúten. São 25°C e 700 mm de Hg (ANVISA, 1977).
essas redes que aprisionam o CO2 liberado pelas De acordo com a ANVISA, na composição dos
leveduras (Manarini, 2013), o qual exerce uma fermentos químicos poderão entrar como compo-
força multidirecional e proporciona a expansão da nentes essenciais as seguintes substâncias ou com-
massa e, consequentemente, o seu crescimento. binação entre elas:
ser sólidos à temperatura ambiente e devem ser mico ou biológico, se separe uma pequena amostra
armazenados na ausência de umidade. Isso acon- da massa e a amolde na forma e tamanho de uma
tece porque o caráter ácido/base de Bronsted só bolinha de gude; em seguida, deve-se introduzir
se manifesta na presença de água, ou seja, o ácido essa bolinha de massa em um copo com água.
fosfórico, na ausência de água, não é ácido ou não Observa-se que, ao introduzir a bolinha no copo
tem o seu caráter ácido manifestado porque não com água, ela afunda. Isso indica que ela é mais
existe ali um aceptor de próton. O mesmo pode- densa que a água, ou seja, que ela ocupa o espaço
mos dizer da base de Bronsted. Desta maneira, mais eficientemente que a água.
enquanto a mistura do ácido com base estiver na Continuando, o conhecimento popular orienta
ausência de umidade, ela permanece inalterada e que é ideal esperar que a bolinha de massa flutue
pode ser armazenada por longos períodos. na superfície da água antes de esticá-la e assá-la.
Por outro lado, se a mistura for armazenada Na verdade, durante o tempo que a bolinha se
inadequadamente, ou em local impróprio, que encontra no fundo do copo com água, o ácido e
favoreça a manifestação dos caráteres ácido e a base que constituem o fermento químico estão
básico, os dois componentes da mistura reagirão e reagindo e liberando um gás, normalmente o CO2.
liberarão um gás, tornando a mistura inativa para a À medida que o gás vai sendo liberado, a massa
finalidade para a qual se destinava. vai se expandindo, mas mantendo o mesmo peso,
O conceito ou definição ácido/base de Bronsted ou seja, a mesma massa passa a ocupar um volume
explica ou justifica a aplicação das misturas defini- maior. Desta maneira, com o passar do tempo, o
das pela ANVISA como fermentos químicos. Em gás vai sendo liberado, mas permanece aprisio-
qualquer caso, a base é potencialmente capaz de nado na massa que se expande e vai se tornando
eliminar um gás (CO2 ou NH3), razão pela qual os menos densa. Em outras palavras, a mesma massa
seus íons essenciais nas misturas são carbonato, passa a ocupar um volume maior do que quando
bicarbonato ou amônio. Por outro lado, a grande ela foi colocada para descansar.
maioria dos ácidos empregados nas misturas são Esse aumento de volume da massa vai acon-
orgânicos e/ou fracos, desde que se apresentem tecendo gradativamente, até que a relação entre a
no estado sólido e sejam inertes à temperatura massa de farinha, expressa em gramas, e o volume
ambiente e na ausência de umidade. ocupado pela mesma, expresso em cm3, se torne
O fato de estes ácidos serem fracos justifica a menor do que um, fazendo com que a bolinha boie
prática de que a massa formada a partir da farinha na superfície da água. Isso indica que uma quanti-
de trigo deva ‘descansar’ durante algum tempo, dade suficiente de gás foi liberada e a massa já se
antes de ser esticada. O descanso garante que expandiu o suficiente e está pronta para ser esti-
toda a base seja consumida, eliminando o gás que cada e assada.
expande a massa. Mas, qual o tempo necessário
para que a fermentação esteja concluída?
7 Cozimento
A amilose e a amilopectina, constituintes dos
6 O teste da bolinha
grãos de amido presentes na farinha de trigo, resis-
Para aqueles que estão habituados a fazer pão tem a todas as transformações e procedimentos
caseiro, o conhecimento popular recomenda que, efetuados na massa de farinha de trigo. A amilose
após o amassamento na presença de fermento quí- ainda se encontra dissolvida em água e misturada
à massa; como a água evapora durante a cocção, cialmente em meio alcalino com 3 etapas distintas
ela arrasta parte da amilose para a superfície, onde conforme pode ser observado na Figura 4.
ela se recristaliza, tornando-se dura e cristalina. A reação de Maillard se desenvolve numa série
Como a amilose recristalizada se encontra agora de etapas em que ocorre, inicialmente, a formação
na superfície da massa que está sendo cozida, esta da base de Schiff a partir da glicose e um ami-
se torna dura e consistente. noácido. Em seguida, ocorrem rearranjos e algu-
Como já sabemos, é durante a etapa de cozi- mas reações intermediárias, a partir das quais se
mento que o pão adquire duas de suas característi- formam o furfural e o hidroximetilfurfural que,
cas mais apreciadas: a crocância e o aspecto dou- quando polimerizados, originam as melanoidi-
rado. Estes fenômenos são decorrentes da reação nas, compostos químicos responsáveis pelo odor
de Maillard, assim chamada em homenagem ao característico do pão e pela cor dourada da casca
químico francês Louis-Camille Maillard (1878- (Oetterer; Reginato-D’Arce; Spoto, 2006).
1936), o qual descobriu que o calor do forno pro-
voca reação entre proteínas e os açúcares.
Caracterizada pela junção do grupo carbonila
dos açúcares redutores com o grupo amínico das
proteínas, a reação de Maillard ocorre preferen-
Na presença de água, o amido interage pouco mados nesta Ciência ganham sentido no nosso dia
entre si; entretanto, quando aplicada sobre uma a dia.
superfície porosa, a cola, além de permanecer entre
as duas partes que deve colar, também penetra nos
poros existentes na superfície do material. Com o
11 Referências
tempo, a água evapora lentamente, e o polímero, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
neste caso o amido, forma um filme polimérico, o SANITÁRIA. Resolução - CNNPA n. 38, de 1977.
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/anvisa-
qual começa a interagir entre si e com o material legis/resol/38_77.htm>. Acesso em: 15 dez. 2015.
sobre o qual foi aplicado, unindo as duas partes
BOLAFFI, G. A saga da comida. 2. ed. Rio de Janeiro:
através de ligações hidrogênio. Record, 2000.
BULÉON, A. et al. Starch granules: structure and bio-
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10 Conclusão Biological Macromolecules, v. 23, n. 2, p. 85-112,
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Como é possível perceber, desde os ingredien-
CHAGAS, A. P. As ferramentas do químico. Química
tes do pão, até o seu preparo, muita química está Nova na Escola, n. 5, maio 1997.
envolvida neste processo. Ainda que cozinhar seja
FRENCH, D. Organization of starch granules. In:
uma prática ordinária, muitos fenômenos químicos WHISTLER, R. L.; BEMILLER, J. N.; PASCHAL,
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percebidos, mas podem se tornar objeto de estudo,
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Ressaltamos que, para cozinhar, não é preciso Alexandria, 2003.
ter domínio do conhecimento sistematizado da LINEBACK, D. R. The starch granule: organization and
Química, porém, esta atividade nos aproxima de properties. Bakers Digest, v. 58, n. 2, p. 16-21, 1984.
um dos dois aspectos do ofício de um químico: o MANARINI, T. A química da comida saudável. São
aspecto prático de modificar a matéria. Contudo, Paulo: Abril, 2013.
ao cozinharmos, dificilmente, ou nunca, pensa- MIZUKAMI, H.; TAKEDA, Y.; HIZUKIRI, S. The
structure of the hot-water soluble components in
mos sobre os alimentos enquanto matéria e suas
the starch granules of new Japanese rice cultivars.
modificações em termos de átomos e moléculas Carbohydrate Polymers, v. 38, n. 4, p. 329-335, 1999.
(aspecto teórico) (Chagas, 1997), o que de fato NABESHIMA, E. H.; HASHIMOTO, J. M.; EL-DASH,
difere o cozinheiro de um químico. A. A. Efeito da adição de emulsificantes em mas-
sas alimentícias sem glúten produzidas com extru-
Enquanto professores de química, temos
sora termoplástica. Boletim do Centro de Pesquisa
em mãos ferramentas para explicar, à luz desta e Processamento de Alimentos, Curitiba-PR, v. 21,
Ciência, os fenômenos cotidianos que nos cercam, n. 2, p. 223-228, 2003.
sobretudo, os que se passam na cozinha. A riqueza OETTERER, M.; REGINATO-D’ARCE, M. A. B.;
conceitual do tema alimentos e seu potencial edu- SPOTO, M. H. F. Fundamentos de ciência e tecno-
logia de alimentos. Barueri: Manole, 2006.
cativo é um dos caminhos para aproximarmos o
TEJERO, F. Conservación Del pan e la confeitaria.
aluno do conhecimento químico. Ao explorarmos Revista FEVIPAN, n. 15, jun, p. 24-26, 2004.
a cozinha e os alimentos, como o pão, a Química
THIS, H. Um cientista na cozinha. Tradução de Marcos
torna-se, assim, uma abordagem universal que Bagno. 4. ed. São Paulo: Ática, 2013.
permeia outras áreas do saber, em que a corporei- WOLKE, R. L. O que Einstein disse a seu cozinheiro 1:
ficação do conhecimento e dos conceitos amalga- a ciência na cozinha. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
Resumo
Na sociedade atual, o uso das chamadas tecnologias da informação e comuni-
cação (TICs) está promovendo uma revolução nas formas de ensinar e aprender
através das modalidades de cursos à distância, especialmente no ensino superior.
Estudos mostram que alunos nesta modalidade apresentam grandes dificuldades
no processo de aprendizagem, principalmente quando tratamos de disciplinas
experimentais e com alto grau de abstração como a Química. O objetivo do pre-
sente trabalho é promover melhorias no processo de ensino e aprendizagem na
disciplina ‘Química da Vida’ ofertada para o curso de licenciatura em Química na
modalidade à distância da UFRN. Para isto foram analisadas provas do semestre
2011.2, com o intuito de identificar quais são as principais dificuldades dos alu-
nos nos aspectos conceituais abordados na disciplina. Com base dessas dificulda-
des foram desenvolvidas vídeoaulas, referentes aos assuntos que geram maiores
dificuldades aos alunos e a sua eficiência foi avaliada mediante o conhecimento
adquirido pelos alunos.
Palavras-chave: Educação à distância; Vídeoaulas; Química; Dificuldades de
aprendizagem.
Abstract
In today’s society the use of so-called information technology and communication (ICT), is promoting a
revolution in the forms of teaching and learning through the methods of distance learning courses, especially
in higher education. Studies show that students in this way have great difficulties in the learning process,
especially when dealing with experimental subjects that require high power of abstraction as chemistry.
The goal of this work is to promote improvement in the teaching and learning in the discipline Chemistry of
Life offered for the Bachelor’s Degree in Chemistry in distance UFRN. For this we analyzed evidence of the
semester 2011.2, in order to identify what are the main difficulties of the students on the assessments. That’s
why video lessons related to matters that create the majority of difficulties for students were developed and
evaluated.
Key-words: Distance of education; Video lessons; Chemistry; Learning of difficulties.
dificuldades dos alunos, que favoreça a aprendi- No ensino à distância existe esse problema de
zagem na disciplina Química da Vida, na moda- forma mais agravada ainda, já que os alunos são
lidade à distância, utilizando a vídeoaula como os principais responsáveis pelo processo de apren-
ferramenta para seu alcance. dizagem, o que torna a vídeoaula uma ferramenta
importante.
Moran (2000), afirma que
2 Fundamentação teórica
A televisão e o vídeo partem do concreto, do visí-
2.1 Utilização de vídeoaulas no processo de vel, do imediato, do próximo – daquilo que toca
ensino-aprendizagem todos os sentidos. Mexem com o corpo, com a
pele – nos tocam e “tocamos” os outros, estão
Temos atualmente uma variedade de filmes ao nosso alcance através dos recortes visuais, do
de caráter educativo que podem ser utilizados close, do som estéreo envolvente. Pela TV e pelo
para fins didáticos; se levarmos em conta o obje- vídeo sentimos, experimentamos sensorialmente
o outro, o mundo, nós mesmos... (p. 37).
tivo, tipo de produção e o conteúdo, há diferentes
classificações para os filmes, como: industrial, Um importante papel na utilização dos vídeos é
técnico, cientifico, ocupacional e documentário. minimizar as dificuldades no processo de aprendiza-
No caso dos filmes citados neste trabalho pode- gem, que são manifestadas a partir de respostas que
mos classificá-los como vídeos didáticos, já que não condizem com o comando das questões na avalia-
estão diretamente ligados ao currículo da EaD de ção ou pelo estudante, por não conseguir se expressar
Química. de forma convincente devido ao fato de não ter com-
Nestes filmes didáticos apresentamos aulas preendido bem no material impresso; dessa forma se
que compõem a disciplina Química da Vida, em torna importante conhecer algumas das principais
que são utilizadas animações, projeções de mídia, dificuldades de aprendizagem apresentadas.
lousa e modelos moleculares. A forma pela qual os
alunos da EaD se comunicam com os professores é 2.2 Dificuldades de aprendizagem e erros
através de ambientes virtuais, que são sistemas de
Ao refletir sobre o termo dificuldade, o mesmo
softwares desenvolvidos sobre metodologia peda-
remete a obstáculos, barreiras ou impedimentos que
gógica para auxiliar o professor na promoção do
alguém se depara quando tenta realizar algo que deseja
ensino-aprendizagem virtual ou semipresencial.
executar (Rebelo, 1993).
Diversos estudos mostram que os alunos da
Segundo Fonseca (1976) a dificuldade de
EaD consideram cada vez mais que apenas o mate-
aprendizagem
rial impresso, muitas vezes não é suficiente para
sanar todas as suas necessidades; em virtude disso, é uma desarmonia do desenvolvimento nor-
a utilização das vídeoaulas se torna uma ferra- malmente caracterizada por uma imaturidade
psicomotora que inclui perturbações nos pro-
menta importante para esta modalidade de ensino
cessos receptivos, integrativos e expressivos da
(ABRAEAD, 2008). atividade simbólica (p. 58).
Nélio Parra e Ivone Parra (1985) observam que
Rebelo (1993), indica-nos que as dificulda-
os recursos audiovisuais bem planejados e uti-
des de aprendizagem podem impedir que o aluno
lizados podem despertar de modo superior à
mera exposição, a atenção dos alunos e manter atinja os objetivos propostos, por não aprender os
seu interesse por mais tempo. conteúdos, e levando a reprovações sucessivas que
Aplicação de
Identificação Preparação e
Seleção das ferramentas
das dificuldades apresentação
vídeoaulas para análise da
dos alunos das vídeoaulas
aprendizagem
22
11
8
0 0 0
Alunos Alunos Alunos Alunos Alunos Alunos
com nota com nota com nota com nota com nota com nota
0,0 entre entre entre entre entre
0,1 e 2,0 2,1 e 4,0 4,1 e 6,0 6,1 e 8,0 8,1 e 10,0
Figura 2. Relação entre o número de alunos e seu desempenho na primeira avaliação de Química da Vida no semestre
de 2011.2
54%
Alunos com nota
entre 0,1 e 2,0
Figura 3. Desempenho dos alunos na primeira avaliação de Química da Vida no semestre de 2011.2
4.1.6 Erros e dificuldades mais frequentes Nos itens ‘b’ e ‘c’, apesar de não exigir uma
justificativa para escolha, o aluno tem que com-
Os alunos apresentaram grandes dificulda-
preender que quanto mais distantes estivessem os
des para visualizar modelos moleculares em três
grupos maiores, menores seriam as repulsões gera-
dimensões, isso faz com que eles não consigam
das pelas nuvens eletrônicas, acarretando em uma
nomear, muito menos representá-los em diferentes
menor energia para a molécula, levando ao aumento
projeções. Isso foi evidenciado a partir das respos-
da estabilidade da estrutura. De forma contrária, se
tas dos alunos a esta questão.
esses grupos volumosos estivessem próximos tería-
Para exemplificar, foi selecionada uma res-
mos muitas repulsões acarretando um aumento da
posta dada por um aluno que faz parte dos 51,5%
energia potencial da molécula, consequentemente
que não conseguiram pontuar nessa questão
diminuindo sua estabilidade (Bruice, 2009).
(Figura 5).
No item ‘d’ o aluno escreveu a fórmula de
No item ‘a’, o aluno não respondeu correta-
cavalete para a estrutura do 2-metilbutano na
mente a nomenclatura, o que sinaliza dificuldade
forma eclipsada, o que não corresponde à estrutura
em visualizar a estrutura da molécula através da
do confôrmero 4, que se encontra na conformação
projeção de Newman para fornecer a nomencla-
alternada, mais uma vez mostrando dificuldades
tura sistemática correta. Uma possível explicação
em visualizar estruturas moleculares representadas
seria que o aluno tem acesso apenas aos conteúdos
por projeções.
em material impresso, não dispondo de modelos
moleculares em três dimensões para discutir esse
4.2 Acessos às vídeoaulas durante o semestre
conteúdo. Apesar de o aluno perceber que havia
uma ramificação na cadeia (grupo metila), o Após a postagem das vídeoaulas, foi verificado
mesmo nomeou a cadeia principal de forma equi- que houve um número considerável de acesso às
vocada como “Hexagonal”, levando a entender mesmas pelos alunos (Tabela 2), sendo, portanto,
que ele encontrou seis carbonos e na verdade só relevantes para utilização como material comple-
temos quatro carbonos na cadeia principal. mentar ao material já utilizado.
Figura 5. Resposta que faz parte do grupo que não pontuou na questão.
4.3 Análise da aprendizagem dos alunos Tabela 3. Desempenho dos alunos na questão 1 da
que assistiram às vídeoaulas lista de exercícios (valor 0,5 ponto), antes de assistir às
vídeoaulas.
A melhor compreensão dos conceitos por parte
Notas Aluno
dos alunos foi observada após análise das respos- 0,2 A
tas fornecidas pelos mesmos às questões da lista de 0,15 B
exercícios aplicada antes e após o acesso às vídeo- 0,1 C
0,15 E
aulas, conforme transcrita e discutida a seguir:
0,2 G
0,1 H
Questão 01: As formas moleculares temporárias são chamadas
de conformações da molécula e são originadas a partir da rotação 0,1 I
de uma ligação sigma; existem diferentes conformações para
uma mesma molécula e a análise conformacional é responsável
Tabela 4. Desempenho dos alunos na questão 1 da lista
por analisar a variação de energia que ocorre quando uma
de exercícios (valor 0,5 ponto), após assistir às vídeo-
mesma molécula possui diferentes conformações. Sabendo disso
responda as questões abaixo:
aulas.
a) Forneça as possíveis conformações em projeção de Newman
Notas Aluno
para a molécula de Butano? 0,35 A
b) Qual das conformações é a mais estável? Justifique. 0,15 B
c) Qual das conformações é a menos estável? Justifique. 0,1 C
0,3 E
0,35 G
4.3.1 Conteúdos abordados na questão 0,2 H
0,2 I
• Nomenclatura de alcanos acíclicos;
• Análise conformacional de alcanos acíclicos;
• Projeção de Newman. Observa-se que antes de assistirem às vídeo-
aulas (Tabela 3), nenhum aluno atingiu um nível
4.3.2 Habilidades exigidas em cada item de acerto igual ou superior a 50%, isso pode ser
a) Conseguir visualizar a molécula do butano relacionado à dificuldade de compreensão do
em três dimensões, conhecer os diferentes material impresso. No entanto, após assistirem às
vídeoaulas (Tabela 4), a maior parte dos alunos as respostas dos mesmos ao questionário de pes-
teve melhoria nas notas obtidas nessa questão, quisa de avaliação destas.
tais como os alunos A e G, que tiveram um acerto Num universo de 35 alunos matriculados na dis-
de 70%. Apesar disso, dois alunos permaneceram ciplina, 10 responderam ao questionário mostrado
com a mesma nota (B e C) por terem enviado o no Apêndice 1. Os resultados indicaram que 10%
mesmo arquivo nas duas ocasiões. dos alunos que responderam ao questionário não
O enunciado da questão apresenta clareza, e o assistiram às vídeoaulas. Contudo, os 90% que as
seu grau de dificuldade é pertinente para alunos assistiram manifestaram um elevado grau de satisfa-
que cursam uma graduação em Química. Mesmo ção, ao mesmo tempo em que as consideraram uma
assim, alguns alunos apresentaram dificuldades ferramenta muito importante para o curso na moda-
acertando até 40% da questão. Entretanto, os alu- lidade EAD. Além disso, os resultados também indi-
nos que assistiram às vídeoaulas apresentaram uma caram que todos os alunos que assistiram às vídeo-
evolução com relação ao desempenho na mesma, aulas o fizeram em suas casas, mostrando que esta
como é mostrado nas Tabelas 3 e 4. ferramenta é bastante viável para essa modalidade
de ensino devido à sua flexibilidade no acesso.
4.4 Avaliações das vídeoaulas As respostas às questões subjetivas estão trans-
Após o diagnóstico da aprendizagem dos alu- critas no quadro abaixo, em que os 10 alunos partici-
nos que assistiram as vídeoaulas, foram analisadas pantes desta atividade foram identificados de A até J.
em diferentes projeções. Esta análise se torna Dentre os 15 alunos não evadidos, 40% conse-
relevante, já que visualizar e escrever estruturas guiram alcançar a aprovação ao final da disciplina,
tridimensionais no papel é um conhecimento fun- sendo que destes, apenas oito acessaram todas as
damental para cursar uma disciplina da Química vídeoaulas. Estes obtiveram uma taxa de sucesso
Orgânica. ao final da disciplina que resultou em torno de
Foi possível avaliar que o recurso da vídeo- 75% de aprovação. Isso demonstra que os vídeos
aula é válido na modalidade à distância já que, atuaram como facilitadores no entendimento das
apesar de apenas 8 dos 35 alunos matriculados diferentes projeções e conformações, o que acar-
terem acessado todos os vídeos, estes foram bas- reta na compreensão das estruturas das molécu-
tante visualizados, o que pôde ser evidenciado las. Segundo Vigotsky, toda linguagem evolui na
pela Tabela 2. A confirmação sobre o papel da mesma medida que as estruturas do pensamento
vídeoaula no que diz respeito à complementação evoluem do concreto para o abstrato e vice-versa.
do material impresso pôde ser visualizada no ques- Os vídeos servem de auxílio para os alunos, dimi-
tionário, em que 90% dos alunos consideraram a nuindo em parte as dificuldades em escrever estru-
vídeoaula um importante complemento para o turas tridimensionais no papel. Dessa forma, eles
material impresso. Analisando as respostas dadas são considerados boas ferramentas para o processo
pelos alunos às questões subjetivas do questioná- de aprendizagem dos alunos na modalidade à dis-
rio avaliativo, foi possível perceber que todos que tância, já que, além do que já foi explicitado, os
assistiram às vídeoaulas demonstraram satisfação vídeos criam uma identidade entre o aluno e pro-
em relação a este recurso como material comple- fessor, criando um vínculo afetivo.
mentar, considerando que as mesmas apresenta- Os vídeos mostraram ser uma boa alternativa
vam clareza e objetividade quanto às informações nos dias atuais para dar suporte ao aluno; contudo,
contidas e que as aulas gravadas foram de boa qua- não devemos considerar que os recursos utiliza-
lidade, sendo consideradas um suporte importante, dos nas décadas de 1960 a 1990 são ultrapassados
diante das dificuldades apresentadas pelos alunos ou que não eram viáveis, pois devemos entender
no processo de aprendizagem. que, como afirmam (Dias; Leite, 2010), uma nova
Com relação à análise da aprendizagem dos tecnologia nunca desconsidera ou rejeita as mais
alunos, foi mais evidente a melhoria de rendimento antigas. Diante disso, elas afirmam que a EaD do
entre eles na questão 1 da lista de exercícios, uma passado foi uma espécie de projeto ou experiência
vez que 71,43% dos alunos reelaboraram suas para o atual formato de Educação à Distância.
respostas após assistirem aos vídeos. A questão 1
abordou o tema “análise conformacional de alca-
nos acíclicos” e todos aqueles que reelaboraram 6 Referências
suas respostas obtiveram uma melhoria do rendi-
ABRAEAD. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação
mento. Isso pode ser explicado em parte devido Aberta e à Distância. São Paulo: Instituto Monitor,
ao vídeo sobre análise conformacional de alcanos 2004, 2005, 2006, 2007, 2008.
acíclicos ter sido aquele que teve o maior número BARBOSA, D. N. F. et al. Educação à distância no
de visualizações por parte dos alunos (60 acessos). ensino superior: caminhos organizacionais percor-
ridos e suas propostas de formação de professores.
Contudo, todos aqueles que reelaboraram sua res- Revista Digital da CVA, Ricesu, v. 4, n. 16, 2007.
posta tiveram uma melhoria no rendimento, a qual BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa:
foi evidenciada na prova escrita. Edições 70, 2004.
DIAS, R. A.; LEITE, L. S. Educação à distância: da matemática: o novo ensino médio. Porto Alegre:
legislação ao pedagógico. Rio de Janeiro: Editora Sulina, 2004.
Vozes, 2010.
PARRA, N.; PARRA, I. C. C. Técnicas audiovisuais de
FONSECA. Insucesso escolar: abordagem psicopeda- educação. 5. ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora,
gógica às dificuldades de aprendizagem. Lisboa: 1985.
Editorial Âncora, 1999. PETERS, O. Didática do ensino à distância. São
GOODE, W. J.; HATT, P. K. K. Métodos em pesquisa Leopoldo: Unisinos, 2003. Petrópolis: Vozes, 1995.
social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1979. POZO, J. I.; CRESPO, M. A. G. A aprendizagem e o
MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. ensino de ciências. Madrid: Morata, 1998.
A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São REBELO, J. A. S. Dificuldades da leitura e da escrita em
Paulo: Papirus, 2000. alunos do ensino básico. Rio Tinto: Edições ASA, 1993.
NUÑES I. B.; RAMALHO, B. L. Fundamentos do VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São
ensino-aprendizagem das ciências naturais e da Paulo: Martins Fontes, 1989.
1) Você considera que as vídeoaulas foram ferramentas importantes no processo de ensino e aprendizagem
desta disciplina?
a) Muito importante.
b) Importante.
c) Não interfere nem positivamente nem negativamente.
d) Me atrapalhou no processo de ensino-aprendizagem.
e) Não assisti a nenhuma vídeoaula.
2) Se tivesse que atribuir um conceito com relação às vídeoaulas gravadas para a disciplina de Química da Vida,
você as julgaria:
a) Excelente.
b) Ótima.
c) Boa.
d) Regular.
e) Não assisti a nenhuma vídeoaula.
4) Você achou a linguagem utilizada nas vídeoaulas clara e condizente com o material do ensino à distância?
a) Sim, em todos os aspectos.
b) Apenas em alguns aspectos.
c) Não, em nenhum aspecto.
d) Não assisti a nenhuma vídeoaula.
5) Você considera que as vídeoaulas tiveram papel importante como complemento do material didático?
a) Sim.
b) Não.
c) Complementou apenas em parte.
d) O material e as vídeoaulas não têm nenhuma relação.
Resumo
Este estudo buscou investigar as contribuições da elaboração e validação de
Sequências de Ensino Aprendizagem (SEA) com base na História da Ciência em
meio a uma intervenção no âmbito da formação inicial de professores. O estudo
foi realizado por meio de um grupo focal de seis estudantes que aceitaram, volun-
tariamente, participar de um ciclo de discussões paralelas às atividades da gradua-
ção sobre os processos de elaboração e aplicação de SEA. Os resultados, relativos
a este grupo, apontam que a maioria deles apresenta compreensão contextual de
aspectos da História das Ciências durante a elaboração e, em partes, na validação
das SEA.
Palavras-chave: Formação de professores; Sequências de ensino-aprendizagem;
História da ciência.
Abstract
This study tried to investigate the contributions of creation and validation of
Teaching Learning Sequences (TLS) with bases on History of Sciences in an appli-
cation in the field of teacher’s graduation. The study was achieved by a focus
group of six students who accepted voluntarily to participate in a discussions cycle
(parallel their activities of graduation) about elaboration and application of TLS process. The results rela-
ted to this group showed that most of their components demonstrated contextual comprehension of History
Sciences aspects during the elaboration and, in part, in validation of TLS.
Key-words: Teachers graduation; Learning teaching skills; History of Science.
processo de reflexão. Nessa perspectiva, é possível em formação durante suas experiências práticas de
alinhar uma abordagem que considere a promoção ensino, representa uma ocasião para investigar o
das Comunidades de Aprendizagens (Mizukami, processo de aprender e ensinar usando elementos
2006; Eraut, 2002). Para Abreu (2013), as de História das Ciências na construção de SEA,
Comunidades de Aprendizagens referentes ao pro- que são elaboradas e validadas durante o estágio
cesso de formação de professores, podem ser opor- supervisionado.
tunidades sistemáticas de aprendizagem de conteú- Nos cursos de formação inicial de professores
dos científicos e pedagógicos a serem trabalhados. para a Educação Básica, verifica-se que as recen-
Dessa forma, as Comunidades de Aprendizagens tes reformas educacionais no Brasil apontam para
podem, então, se configurar em oportunidades a História e Filosofia da Ciência (HFC) como uma
de aprender sobre os conteúdos específicos e os das perspectivas a serem levadas em consideração
conteúdos pedagógicos em um processo que con- nas Diretrizes para a Formação de Professores
sidera as habilidades e conhecimentos individuais, (Brasil, 2010). Uma forma de se apropriar dos
buscando a discussão reflexiva e o crescimento do pressupostos da HFC no âmbito da formação
grupo (Abreu, 2013). docente pode ser abordagem Contextualista de
Neste sentido, pode-se pensar em uma Matthews (1995). Essa orientação está apoiada na
Comunidade de Aprendizagem de Professores ideia de que o Ensino de Ciências informado pela
(CAP) que problematize os múltiplos contextos, História e Filosofia da Ciência propicia um ensino
possibilitando, aos participantes, formas de inter- contextualizado, além de apresentar uma visão
pretar, formular questionamentos e estabelecer mais adequada da natureza da ciência.
argumentos e relações sobre os elementos ineren- Desde o final do século passado, na década de
tes à vivência do ser professor (Mizukami, 2006). 1990, vem se acentuando um discurso no âmbito
A exploração das Sequências de Ensino do Ensino de Ciências do quanto é importante o
Aprendizagem nas Comunidades de Aprendizagem papel da História da Ciência (HC) na construção
permitirá ao grupo o compartilhamento das histó- do conhecimento científico. Em outras palavras,
rias de cada um, fomentar o encorajamento e par- ensinar ciência com base no desenvolvimento da
tilhar identidades sem perder a autonomia de seus própria ciência, buscando estabelecer relações
membros, fazendo com que o grupo possa consi- entre o que existe hoje e o passado (Oki, 2000).
derar, nas reflexões, valores de outros campos e Matthews (1995), um dos mais contunden-
outros grupos periféricos (Schwier, 2002). tes debatedores da relação Ensino de Ciências,
Deste modo, justifica-se, como caminho viá- História e Filosofia da Ciência, afirma que tanto
vel, o desenvolvimento de um projeto orientado de a teoria quanto a prática do ensino de Ciências
materiais didáticos próprios junto aos futuros pro- podem ser enriquecidas pelos aportes advindos
fessores, onde seja problematizado o “ser” profes- da História e Filosofia da Ciência. O autor argu-
sor no contexto da sala de aula e se discuta sobre menta que, tanto a História e a Filosofia, além
questões acerca da Ciência e de fazer Ciência, o da Sociologia da Ciência, ajudam a humanizar a
que implica em um argumento favorável à presença Ciência ao colocar em discussão questões de inte-
da História e Filosofia da Ciência no currículo dos resses pessoais, éticos, culturais e políticos, por
cursos de licenciatura (Pereira; Martins, 2009). exemplo.
Por outro lado, verificar e identificar como A História da Ciência no Ensino de Ciências
essas questões são incorporadas pelos professores possibilita uma alternativa mais elaborada de
conceber Ciência, evitando, assim, aquilo que desenvolvimento cognitivo do aluno por meio de
é considerado uma deficiência no ensino atual, conflitos cognitivos. Essa perspectiva é lembrada
como conceber a Ciência como verdadeira, pronta como sendo a aprendizagem por descoberta (Freire
e acabada, feita por super-humanos acima do bem Jr., 2002).
e do mal (Oki, 2000). Para mudar esse contexto Matthews (1995) destaca que essa é uma alter-
de visões não históricas é necessário modificar nativa temerária, pois, além dos alunos optarem
projetos buscando novas orientações para a prática por suas concepções intuitivas, aspectos de natu-
do professor, assim como novos materiais didá- reza política, econômica e social para ensinar
ticos. Assim, é necessário rever o currículo das Ciência dificilmente são considerados nessa abor-
instituições formadoras de professores, incorpo- dagem. Batista (2007) argumenta que é importante
rando a eles, criticamente, essas questões de HFC que os professores possam analisar seus próprios
(Matthews, 1995). materiais didáticos e que pensem neles como um
No que tange aos livros e manuais didáticos instrumento de superação de ideias não históricas
brasileiros, em geral, até o início dessa década, não no Ensino de Ciências. Matthews (1995), citando
oferecem a devida atenção ao uso da História da Whitaker (1979), afirma que essas ideias configu-
Ciência. Normalmente, apresentam informações ram uma espécie de falsificação da história, ainda
de modo não histórico, linear, que enfatiza os cien- que sejam advindas de uma história genuína.
tistas como heróis (Peduzzi, 2001). O que se tem De encontro a esses enfoques, Matthews
a rigor, nos manuais didáticos, é a apresentação (1995) apresenta a visão contextualista da História
dos cientistas que “deram certo”, deixando de lado da Ciência como favorecedora de uma perspectiva
qualquer debate ou controvérsia histórica que tenha mais crítica de como se faz Ciência e de como ela
ocorrido. Alguns materiais até fazem uma abor- influencia e é influenciada pela sociedade. Dessa
dagem mais detida sobre aspectos históricos do forma, os feitos históricos são tratados como obras
desenvolvimento de Teorias, Princípios e Leis, mas da mente humana, considerando diversos contex-
ainda enfatizam os cientistas que “deram certo”, tos como ético, social, histórico, filosófico e tec-
apresentando, no máximo, alguns poucos nomes nológico, numa clara evidência da existência de
daqueles que não obtiveram êxito (Batista, 2002). debates, controvérsias e rupturas na Ciência.
Há também materiais que tratam a HFC como A elaboração de materiais didáticos por parte
paralelismo ao desenvolvimento dos processos psi- dos professores pode ajudar a explorar elementos
cológicos do estudante, ou seja, a aprendizagem da HC. Contudo, tais materiais pouco problema-
do aluno pode ocorrer de modo similar ao que se tizam como podem se dar as bases de elaboração
desenvolveu a Ciência (Freire Jr., 2002). Matthews desses materiais. Alguns autores apresentam, no
(1995) argumenta que as concepções intuitivas e ensino de Ciências, a utilização de Sequências de
concretas dos estudantes podem sim refletir deter- Ensino Aprendizagem (SEA), do inglês Teaching-
minados estágios históricos do desenvolvimento Learning-Sequences (TLS), como uma possibili-
do conhecimento científico. Todavia, esta forma de dade de aprendizagem mais expressiva de conte-
atrelar HFC no ensino pode trazer muitas compli- údos por parte dos alunos (Méheut; Psillos, 2004;
cações, o que coloca em cheque possíveis avanços. Kabapinar; Leach; Scott, 2004; Méheut, 2005). Há
A discussão dessa abordagem no ensino de um consenso entre os pesquisadores de que as SEA
Ciências está associada ao movimento cogniti- propiciam duas frentes, a da pesquisa e a melhoria
vista da Mudança Conceitual, a qual prevalece do no processo ensino-aprendizagem, usadas como
ferramentas de pesquisas e/ou inovações (Leach; mente. As análises prévias devem considerar a
Scott, 2002; Méheut; Psillos, 2004; Méheut, 2005). epistemologia dos conceitos científicos envolvi-
Sobre a eficácia das SEA, há argumentos de dos, o trato com as concepções prévias dos alunos,
que esses materiais ajudam a promover um desem- a busca da superação das dificuldades e possíveis
penho melhor dos alunos com relação a outros sub- obstáculos à aprendizagem.
metidos a abordagens mais tradicionais de ensino. A questão psicocognitiva está relacionada à
A tese dos pesquisadores é a de que sequências investigação dos conhecimentos espontâneos dos
curtas ajudam a promover a compreensão concei- alunos, das possíveis concepções alternativas dos
tual dos conhecimentos científicos, pois os alunos estudantes, da análise das situações de ensino e pos-
conseguem estruturar modelos mentais nas expli- síveis aprendizagens. Na didática, devem-se con-
cações sobre o que é abordado (Leach et al., 2005). siderar questões relacionadas ao funcionamento
Méheut e Psillos (2004) e Méheut (2005), apre- da instituição de ensino e ainda se enquadram as
sentam um esquema representativo que considera condições de funcionamento, calendário escolar e
questões de cunhos epistêmicos e pedagógicos. Na projeto político pedagógico, por exemplo. Depois
dimensão epistêmica, leva-se em consideração a dessas etapas, realiza-se a construção do projeto
relação existente entre o mundo material (contex- de intervenção e pesquisa da Engenharia Didática.
tual) e o conhecimento científico (Conceitual). Já Por fim, a fase de experimentação e análise a
a dimensão pedagógica se relaciona mais com a posteriori é o momento de colocar todo o aparato
forma que o professor estabelece o diálogo com didático (SEA) em funcionamento. Nessa etapa de
os alunos, ou seja, leva em consideração a relação análises, visando possíveis correções e reformula-
professor/aluno e aluno/aluno. ções, é importante construir um conjunto de infor-
O modelo de SEA de Méheut ancora-se na mações que venham a ser analisadas e comparadas
metodologia da Engenharia Didática de Artigue com as realizadas a priori, a fim de verificar a efi-
(1996). Essa abordagem caracteriza-se por ser uma cácia da SEA. Ainda que se enfatize a comparação
atividade visando o sucesso escolar na sala de aula. entre grupos com e sem intervenção das sequên-
O que simboliza a Engenharia Didática é a analo- cias, esse modelo de Artigue (1996) valoriza, em
gia ao trabalho de engenheiro, principalmente os sua abordagem, situações-problemas como forma
níveis de macro e microengenharia, sendo o pri- de investigar o desenvolvimento cognitivo dos
meiro nível as variáveis macrodidáticas relativas alunos.
à organização global do projeto de pesquisa, e o A ideia de Reconstrução Educacional também
segundo, as variáveis microdidáticas relaciona- é bastante marcante no trabalho de Méheut (Duit
das às etapas do projeto, o que chama de análise et al., 2012). Essa abordagem caracteriza-se pela
a priori. importância dada ao conteúdo da Ciência, pois
Na Engenharia Didática consideram-se três tem este como início dos estudos e o propósito de
facetas: a epistemológica, a psicocognitiva e a relacioná-los às ideias cotidianas dos alunos com
didática. A epistemológica é caracterizada pelo forte tendência à mudança conceitual, pois o nome
estudo da gênese do conteúdo, problemas rela- se fundamenta na ideia de reconstrução conceitual
cionados ao ensino e aprendizagem dos conceitos por parte do aluno, ou seja, as concepções dos alu-
a serem estudados, e o levantamento do grau de nos são utilizadas no processo de reconstrução do
complexidade dos conceitos a serem abordados conhecimento. Neste modelo, percebe-se visivel-
como, por exemplo, como foi gerado historica- mente a relação mundo material e conhecimento
2 Metodologia
3 Discussão dos resultados
No segundo semestre de 2011, em quatro dis-
ciplinas de Estágio Supervisionado em Ensino Do processo de elaboração resultaram 25
de Química, realizaram-se estudos teóricos sobre SEA dos 43 acadêmicos, considerando as três dos
Sequências de Ensino Aprendizagem. Foi pedido a licenciandos participantes desse estudo. Antes de
um grupo de licenciandos, 43 estudantes do curso realizar a análise, verificou-se que as SEA pro-
de Licenciatura em Química da Universidade duzidas e aplicadas nas Disciplinas de Estágio
Federal de Sergipe – SE, que confeccionassem Supervisionado apresentavam a estrutura suge-
e aplicassem SEA de acordo com as orientações rida nas orientações pedidas pelos professores
dadas pelos professores formadores com base no formadores, ou seja, todas elas estavam compre-
Projeto Político Pedagógico do curso. Nesse pro- endendo 10 horas/aulas com as atividades des-
cesso, foram consideradas as tendências do Ensino critas detalhadamente (textos, aula expositiva,
de Ciências: cotidiano, interdisciplinaridade e his- questões problematizadoras, vídeo didático, aula
tória da ciência. experimental etc.).
A discussão com base na análise da tendên- “[...] a gente vai trabalhar a máquina
cia História da Ciência das três SEA produzidas vapor, como ela foi usada no passado, o
é apresentada de acordo com os encontros reali- carvão vai transformar energia térmica
zados. Na primeira reunião do grupo, os futuros em energia mecânica [...] depois a gente
professores, com base em um instrumento, realiza- vai falando dos outros vários tipos de
ram a análise das tendências de ensino Cotidiano, energia [...] Eu creio que mais História da
Interdisciplinaridade e História da Ciência de suas Ciência” (L3).
respectivas SEA. Após isso, o grupo passou às
questões relacionadas com as disposições explo- Quanto à análise da SEA Radioatividade, os
radas nos materiais didáticos, objetivando discutir licenciandos L5 e L6 concluem que a SEA carac-
detidamente as variáveis da dimensão epistemo- teriza-se na abordagem histórica como feito dos
lógica, com base nas duplas que as construíram, cientistas, enfatizando, mais detidamente, a obra
debatendo cada uma das tendências das SEA. de um grande cientista (Peduzzi, 2001).
qual foi a contribuição realmente que cada “A questão foi que a gente tinha dividido
um deu pra questão da radioatividade Roentgen, Becquerel e Marie Curie e tinha
[...]” (L6). colocado Ernest Rutheford antes de tudo
[...] é a ideia agora, falar de Roentgen [...]
A fim de buscar mais elementos nessa direção aproveita e fala de Marie Curie e Becquerel
foi perguntado aos licenciandos L5 e L6 sobre os ao mesmo tempo, nessas duas aulas, por-
avanços da SEA atual em relação à primeira versão que esse vídeo fala de Becquerel também,
e L5 argumenta que a sequência atual traz avanços aí depois fala de [...] Marie Curie aí fala de
em relação à anterior, justificando a abordagem Ernest Rutherford [...] o modelo atômico
do texto que apresenta os episódios históricos de dele, aí então a ideia, por que mudou, aí é
modo não fragmentado. melhor, e quando trabalhar o modelo atô-
mico dá para trabalhar partícula alfa, beta
“[...] a anterior ficou assim um tanto con-
e gama, porque é melhor que trabalhar com
fuso, que justamente isso, que História da
Becquerel, elas se encaixam melhor” (L5).
Ciência, estava utilizando um texto e esse
texto estava sendo fragmentado no decor- A tendência História da Ciência parece ter
rer das aulas. Com relação à História, alcançado níveis mais complexos nos materiais
ficou melhor na questão de que, porque didáticos dos licenciandos, pois ficou evidente
como eu já havia dito esse texto faz uma que as SEA trazem elementos que apresentam a
síntese de toda a História, para posterior- evolução científica dos conceitos da época consi-
mente abordarmos cada detalhe individu- derando-se as mudanças de paradigmas. A desta-
almente, de acordo com cada aula, pra car ainda a SEA Radioatividade, reelaborada pelos
enfatizar melhor essa questão” (L5). licenciandos L5 e L6 que, segundo eles, o material
apresentou elementos da exploração da evolução
Então, L6 é categórico ao afirmar que o mate- científica dos conceitos considerando as mudanças
rial traz as contribuições dos cientistas que apre- de paradigmas do desenvolvimento histórico cien-
sentaram os primeiros trabalhos sobre a radioati- tífico em meio a debates e controvérsias em seus
vidade já citados em falas anteriores. Reforçando contextos extracientíficos (Matthews, 1995; Oki,
a questão das contribuições de cada um dos cien- 2000; Peduzzi, 2001; Freire Jr., 2002).
tistas, apresentam-se as explicações seguintes de O terceiro encontro de discussões para coleta
ambos: de dados buscou investigar nos relatos dos licen-
ciandos, as impressões, os entendimentos e posi-
“[...] na sequência didática anterior todo
cionamentos acerca da HC. Iniciando a análise
esse conteúdo, só que não foi dada a devida
pelos licenciandos L1 e L2, verifica-se que a SEA
atenção a cada um como deveria ter sido
Eletroquímica sofreu uma sensível reformulação
e agora não, nessa reelaboração a gente
em aspectos de HC. Neste sentido, L1 e L2 argu-
tentou sintetizar as aulas, o texto e ten-
mentam essa tendência na primeira SEA elaborada:
tar abordar a contribuição que cada um
deu [...] é o ponto principal, Marie Curie, “[...] a questão da História da Ciência, na
Becquerel [...] que o aluno entenda qual foi primeira fase de elaboração era apenas um
realmente a contribuição de cada um (cien- recorte, seria meramente uma citação, só a
tista) [...]” (L6). teoria sobre a salinidade da água do mar.
raios catódicos no final do século XIX, forneceram patamar da abordagem contextual de História da
para as pesquisas de Joseph John Thomson. Ciência (Matthews, 1995). O que pode justificar de
forma mais evidente a forte intenção de contemplar
“[...] lembrando a intenção de William a abordagem contextual na SEA Radioatividade é a
Crookes, que ele tinha que estudar a natu- fala de L6, pois o licenciando argumenta que exis-
reza elétrica da matéria, ao mesmo tempo tiu também a preocupação com questões sociais na
Thompson também tinha essa intenção. abordagem do material didático.
Que na verdade Thompson fez uso da
ampola de Crookes, justamente para isso. “[...] nas sequências que a gente está
Como era que a gente conseguia relacio- fazendo meio que diferencia [...] a gente
nar, por exemplo, de que forma Thompson está tratando mais de questões sociais,
descobriu a natureza elétrica da matéria, claro que a questão da usina nuclear [...]
que na verdade, quando você aborda mode- apresentei valores na semana passada, da
los atômicos você diz como ele descobriu a questão da usina nuclear, a gente apresen-
natureza elétrica da matéria [...] ele disse tou valores [...]” (L6).
que o átomo era uma esfera maciça com
cargas positivas e negativas, simples assim A partir dessas discussões, com base nas falas,
[...]” (L5). reforça-se a ideia de que a tendência História da
Ciência parece apresentar resultados bastante
É possível inferir aqui a importância que os satisfatórios, pois foram manifestados patamares
licenciandos L5 e L6 atribuíram à História da mais elaborados nos materiais produzidos pelos
Ciência na SEA, ao abordar contribuições históricas licenciandos. Infere-se sobre essa constatação que
que um grupo de cientistas pode oferecer a outros, o materiais mais elaborados do ponto de vista da HC
que é novamente percebido nos comentários: indicam que os licenciandos alcançaram o entendi-
mento dos níveis mais complexos da tendência do
“A questão é que na primeira fase que a gente ensino de Ciências.
aplicou [...] eu acho que não deixou claro
exatamente quais foram as contribuições de
cada um [...] na segunda reformulação, eu 4 Conclusão
acho que isso está ficando claro” (L6).
O caminho escolhido, a elaboração de
“Porque ficou muito solto, [...] Eu não con- Sequências de Ensino Aprendizagem, foi impor-
seguia é ligar um cientista à descoberta de tante para o entendimento de diferentes enfoques
outro cientista [...] nessa segunda etapa [...] de abordagem da História da Ciência no Ensino
a gente criou uma linha, que um fato seria de Ciências.
de partida para outro fato [...] um cientista Os licenciandos do curso de Licenciatura em
fazia uso das ideias de outros cientistas [...] Química da Universidade de Sergipe puderam dis-
por isso que a História, nesse sentido, pra cutir e refletir sobre a produção de material didá-
mim, é muito importante” (L5). tico explorando a História da Ciência em diferentes
momentos de produção e aplicação das SEA. Nesse
Essa forma de conceber a HC é fundamen- sentido, pode-se argumentar que a formação das
tal para que o material didático possa chegar ao Comunidades de Aprendizagens pode contribuir
próprios entendimentos dos níveis mais complexos KABAPINAR, F.; LEACH, J.; SCOTT, P. The design
and evaluation of a teaching–learning. International
da tendência do ensino de Ciências como a ideia Journal of Science Education, v. 26, n. 5, p. 635-
de controvérsias históricas na abordagem no ensino 652, 2004.
de Ciências, ou seja, a abordagem em questão pos- LEACH, J.; SCOTT, P. Designing and Evaluating
sibilitou aos futuros professores poderem discutir Science Teaching Sequences: An Approach Drawing
upon the Concept of Learning Demand and a Social
elementos da elaboração e validação de SEA consi-
Constructivist Perspective on Learning. Studies in
derando a visão contextualista de Mattews. Science Education, v. 38, p. 115-142, 2002.
Em contrapartida, os licenciandos, aparente- ______. et al. Designing and evaluating short science
mente por se identificarem com a própria apren- teaching sequences: improving student learning.
dizagem proporcionada pelos aspectos históricos, In: BOERSMA, K. et al. Research and The Quality
of Science Education. Dordrecht: Spring, 2005, p.
não discutiram mais detidamente as questões rela- 209-220.
cionadas ao processo de aplicação das SEA no
MATTHEWS, M. R. História, Filosofia e Ensino de
contexto escolar, não permitindo, assim, debater Ciências: a tendência atual de reaproximação. Cad.
efetivamente as limitações do uso de Sequências Cat. Ens. Fís., v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995.
de Ensino Aprendizagem no processo de ensino, o MÉHEUT, M. Teaching learning sequences tools for
que ocorreu com as duas outras tendências discuti- learning and/or research. In: BOERSNA, K. et al.
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Implicações da Inserção da
Química Verde na Formação Inicial de
Professores de Química
Implications of Inserting Green Chemistry in
Initial Formation (Graduation) of Chemistry Teachers
Marilei Casturina Mendes Sandri1 e Ourides Santin Filho2
RESumo
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa-ação que buscou promover a
inserção da Química Verde na formação inicial de professores de Química de uma
Instituição de Ensino Superior paranaense e avaliar as implicações conceituais dela
resultantes. Tal inserção ocorreu por meio da realização de sequências didáticas
(SD) elaboradas conforme as orientações de Zabala (1998) e desenvolvidas em
duas etapas, nas disciplinas de Instrumentação para o Ensino de Química I e II. Os
dados da primeira etapa permitiram avaliar as contribuições conceituais das ações
desenvolvidas na SD. A construção dos dados se deu por meio da aplicação de
questionários e elaboração de sínteses pelos acadêmicos. A análise textual discur-
siva empregada sobre o corpus permitiu identificar as concepções iniciais e finais
dos acadêmicos, sobre os temas tratados. Seus conhecimentos prévios demonstra-
ram associações da QV com o ambiente, a sustentabilidade e a prevenção à geração
de resíduos. Essas ideias mostraram-se pertinentes, porém, restritivas ao demons-
trar visões simplistas de ambiente e sustentabilidade, ambas atreladas apenas aos
aspectos ecológicos/preservacionistas. Sendo assim, as respostas iniciais foram
vinculadas à vertente técnica/instrumental da QV (Zuin, 2011). As reflexões pro-
movidas pelas atividades da SD problematizaram o conceito de sustentabilidade e
ambiente e sua relação com a QV, agregando elementos conceituais que permitiram
Abstract
This paper presents the results of an action research which aimed to promote the inclusion of Green
Chemistry in the initial training of Chemistry teachers of a Higher Education Institute from Paraná and
evaluate the conceptual implications resulting from it. Such insertion occurred through the realization of
didactic sequences (DS) prepared in accordance with guidelines of Zabala (1998) and developed in two
stages, in Instrumentation disciplines for the Teaching of Chemistry I and II. The data from the first stage
allowed evaluating the conceptual contributions of the actions developed in DS. The construction of the
data was accomplished through the use of questionnaires and preparation of summaries by academics. The
textual discursive analysis of the corpus identified the initial and final views of the academics on the issues
discussed. Their previous knowledge demonstrated GC associations with the environment, sustainability and
preventing the generation of waste. These ideas proved to be relevant, however, restrictive for demonstrating
simplistic visions of environment and sustainability, both linked only to ecological / preservationist aspects.
Thus, the initial answers were related to technical / instrumental aspects of GC (Zuin, 2011). The reflections
promoted by the DS activities discuss the concept of sustainability and the environment and its relationship
with GC, adding conceptual elements which enabled them to overcome the technical pragmatism initially
associated with GC, and thus allowing students envision a more comprehensive understanding on this issue.
Key-words: Teacher training; Green Chemistry; Education for sustainability.
1 Introdução
históricas que fazem parte do processo de forma-
No contexto nacional atual, o prenúncio de gran- ção docente.
des reformas educacionais, tais como a implantação O saber docente, conforme Tardiff (2002), é
da Base Nacional Comum para a Educação Básica social, e isso implica dizer que esses saberes são
e as novas Diretrizes Curriculares para os cursos de moldados pelas transformações sociais, que aca-
licenciatura, reacende os debates e reflexões sobre a bam por imprimir novas demandas para o ensino e
formação inicial e continuada de professores, con- por consequência à formação dos professores.
siderando seu papel fundamental e estratégico na O desenvolvimento científico e tecnológico
concretização de propostas que buscam a elevação assistido, principalmente a partir da metade do
da qualidade da educação em nosso país. século XX, e suas implicações sociais e ambien-
Os desafios que se infligem sobre a formação tais nem sempre benéficas, trouxeram para a edu-
de professores são quantitativos e qualitativos e cação científica a tarefa de tornar o conhecimento
requerem, portanto, suprir a carência de profissio- científico instrumento para a prática social funda-
nais oportunizando-lhes as reflexões acerca das mentada, responsável, crítica e transformadora e
dimensões epistemológicas, sociais, políticas e promover a educação para a sustentabilidade.
começaram a ser difundidos no meio acadê- (QUIVES), a qual defende que esta nova aborda-
mico, governamental e industrial no início deste gem da Química deverá embutir, nos jovens cien-
século. Quanto à difusão dessa proposta no país, tistas, as competências éticas e práticas requeridas
Leal e Marques (2008) apontam alguns projetos para reorientar a tecnologia química no sentido da
de pesquisa e a divisão de Química Ambiental da Sustentabilidade. Para isso o autor propõe inserir
Sociedade Brasileira de Química, como importan- os princípios da QV em todos os níveis educacio-
tes contribuintes diretos ou indiretos para o desen- nais, exemplificando sua necessidade, possibilida-
volvimento da QV em instituições de ensino, pes- des e vantagens de aplicação.
quisa e extensão. Também Vilches e Perez (2002) defendem que
Percebe-se, por meio do exposto, que a QV tar- a QV passe a fazer parte dos cursos de formação
dou a chegar ao Brasil, comparado com a data de profissional, visando difundir essa nova proposta
seu nascimento nos EUA. Nota-se, porém, que as e levar a cabo essa nova racionalidade tanto no
tentativas de difusão e incorporação de seus pres- âmbito da indústria, quanto na Educação Básica,
supostos são crescentes, a notar pelo surgimento colaborando em várias frentes para o desafio de
de grupos de pesquisa destinados a investigações um futuro sustentável.
nesse campo, e pelos ensejos governamentais de Apesar dos reiterados apelos para que a QV
incluí-los nos planejamentos de desenvolvimento componha os currículos de formação profissional, e
sustentável do país. os reconhecidos esforços para que esta proposta se
Contudo, ao avaliarmos o âmbito educacional, viabilize nos cursos de graduação e pós-graduação
percebemos a incipiência de grupos de pesquisa e em nível mundial, encontramos na literatura nacio-
trabalhos acadêmicos dedicados a avaliar, propor nal indícios de que essas propostas ainda não atin-
e inserir a QV nos currículos e na prática da sala giram sua plenitude, embora sejam promissoras.
de aula, nos diferentes níveis educacionais, con- Antonin et al. (2011) consideram que a difu-
trariando o que defende Anastas e Kirchoff (2002) são dos princípios da QV nos cursos superiores de
– pioneiros da QV no contexto estadunidense – ao Química no Brasil, mesmo que em sua dimensão
afirmarem que estudantes de todos os níveis devem instrumental, ainda é incipiente. O quadro não é
ser introduzidos na filosofia e prática da Química Verde diferente na formação de professores de Química,
(p. 691) para assim caminharmos em direção aos onde os princípios da QV ainda são pouco
desafios da sustentabilidade. difundidos (Rollof, 2011).
Todavia, Zuin (2011) faz o alerta de que o sim-
ples “esverdeamento” do currículo não garante,
3 A QV e a formação profissional
por si só, uma formação capaz de modificar por
Tanto no cenário internacional quanto nacional meio de conhecimentos e ferramentas tecnocien-
muitas vozes se somam para reivindicar a inser- tíficas o modelo atual de profissionalização para o
ção dos princípios da QV nos cursos de formação enfrentamento da crise ambiental contemporânea.
profissional em Química, em nível de graduação e Isso, certamente, remete à necessidade de inserir
pós-graduação (Vilches; Perez, 2010; Prado, 2003; de forma transversal os princípios da QV, ou seja,
Machado, 2004, 2011; Marques et al., 2007, 2013; permeá-los em diferentes disciplinas e práticas
Zuin, 2011). metodológicas, oportunizando-lhes um caráter
Machado (2004) cita a Declaração de Tóquio teórico, prático e vivencial de forma problemati-
(2003), sobre Química Verde e Sustentável zada, contextualizada e crítica.
Participaram dessa etapa 19 acadêmicos regu- vos ou finalidades que se tem em relação ao apren-
larmente matriculados, que foram identificados dizado dos alunos. No caso de uma perspectiva
de A1 a A19, a fim de preservar suas identidades. construtivista de ensino, Zabala (1998) chama a
Porém, apenas 14 alunos foram assíduos a todas as atenção para que os conteúdos abordados não sejam
aulas desta SD e, portanto, a análise de deu sobre apenas de caráter conceitual ou fatual e, valendo-se
os dados produzidos por esses sujeitos. Os dados de Coll (1986), solicita que também os conteúdos
foram obtidos por meio de questionários para procedimentais e atitudinais sejam explorados.
levantamento de ideias prévias e das sínteses finais Embora congreguemos dos ensinamentos de
elaboradas individualmente pelos acadêmicos. Zabala (1998), que afirma que as tipologias do
A análise dos dados se deu mediante a aplica- conhecimento constituem faces diferentes de um
ção da Análise Textual Discursiva (ATD), proposta mesmo poliedro e que as linhas que as separam são
por Moraes e Galiazzi (2011). Esse método de muito sutis e confusas, dificultando sua separa-
análise prevê as etapas de unitarização, categori- ção no momento do ensino, entendemos também,
zação e elaboração dos metatextos, que permitem segundo esse autor, que a estratégia de diferencia-
captar a nova compreensão que emerge do contato ção ganha sentido a partir da análise da aprendizagem
intenso com o corpus de análise. (p. 40). Por isso, neste trabalho a análise se deterá
aos conhecimentos conceituais.
Ao tratar da aprendizagem conceitual, Zabala
5 Resultados e discussão (1998) situa o conceito de forma bastante ampla,
podendo ser entendido desde sua forma estrita,
5.1 O panorama inicial
como por exemplo, o conceito de mamífero, den-
Zabala (1998) afirma que as atividades de uma sidade, romantismo etc., ou ainda, de maneira
SD devem ser elaboradas de acordo com os objeti- mais abrangente, à compreensão e construção
pessoal que se origina quando novos conteúdos “A química que defende o meio ambiente.
de aprendizagem se relacionam substantivamente [...]” (A19).
com os conhecimentos prévios e que permitem
Essa relação é também encontrada na litera-
assim a utilização desse conceito para a interpre-
tura. Machado (2004) situa a QV como sendo a
tação, conhecimento de situações ou construção
Química para o ambiente, em distinção da Química
de outras ideias. É sob essa última definição que
do ambiente associada à Geoquímica e da Química
realizamos a análise do corpus, buscando identifi-
no ambiente, associada à Química Ambiental. Para
car as concepções iniciais e finais dos licenciandos
esse autor a QV suscita a
acerca do tema QV.
A primeira atividade da SD, descrita no [...] proteção do ambiente por parte de quem
Quadro 1, consistiu, portanto, na aplicação de um pratica a química – procura que esta seja realizada
de modo a conservar o ambiente, por exemplo,
questionário que permitiu levantar as concepções
com limitação ou, preferivelmente, impedimento
iniciais desses sujeitos acerca dessa temática. da dispersão de poluentes e contaminantes tóxi-
A identificação dessas concepções é essencial cos por parte da Química Industrial e atividades a
quando se considera que os indivíduos não são jusante (Machado, 2004, p. 59).
desprovidos de conhecimento, mas que trazem
Porém, há que se notar que ao falar de
consigo concepções arraigadas em seu processo
“ambiente” os acadêmicos o associam apenas ao
formativo e vivencial, as quais podem se cons-
meio físico natural (seres vivos, mares, rios, lagos,
tituir em obstáculo ao aprendizado, quando não
atmosfera), como denota a fala de A3:
devidamente consideradas.
Mediante a aplicação da ATD sobre as respos- “A QV é a preocupação com o ambiente
tas obtidas, foi possível identificar três categorias, e a sociedade, pois busca por menos resí-
como demonstrado no Quadro 2. É importante duos colocados ao alcance dos seres vivos,
salientar que algumas falas enquadraram-se em menos contaminação nos mares, rios e
mais de uma categoria. lagos”.
Da análise sobre o corpus, depreendeu-se que
Posicionamentos como estes indicam visões
os acadêmicos estabelecem relações da QV com
naturalistas/preservacionistas de meio ambiente,
três aspectos marcantes: meio ambiente, sustenta-
nas quais considera-se apenas uma de suas mui-
bilidade e resíduos.
tas dimensões, tornando reduzida também a pers-
Como apontado no Quadro 2, 10 (dez) acadê-
pectiva de compreensão da QV, pois ao tomar o
micos estabelecem a relação da QV com o meio
ambiente somente em sua dimensão natural, a QV
ambiente, como demonstram as falas:
passa a corresponder tão somente a uma ferra-
“Uma química preocupada com o ambiente menta de ordem instrumental, que pode evitar ou
[...]” (A16). amenizar danos.
Quadro 2. Categorias das respostas iniciais dos acadêmicos sobre QV.
Unidades de Significado Número de Alunos
Categoria 1 – Protetora do ambiente Natureza/Ambiente 10
Categoria 2 – Promotora de sustentabilidade Sustentabilidade 7
Categoria 3 – Redutora de resíduos Prevenção/Resíduos 8
Ao manter-se sobre essa compreensão, os aca- Assim, com o passar do tempo, alguns termos
dêmicos podem incorrer em uma tendência que ainda pouco compreendidos são incorporados e
usados sem que as pessoas sintam a necessidade
Tozzoni-Reis (2008) chamou de cognoscente. O
de se perguntarem o que eles significam. Viram
sujeito cognoscente percebe a relação homem- chavões, portanto (p. 4).
-natureza mediada pelos conhecimentos científi-
cos, em que a intervenção predatória do homem O termo sustentabilidade parece se encaixar
pode ser modificada pelo avanço científico e nessa situação, pois é um termo relativamente novo
tecnológico, ou seja, sob essa visão se crê que o que ganhou rápida projeção, veiculação e adesão,
avanço científico e tecnológico trará as soluções sem haver, contudo, aprofundamento sobre seus
para os danos já causados ao ambiente e permitirá propósitos e princípios, por parte da população.
avançar em desenvolvimento, sem danificá-lo. Assim, julgou-se importante e necessário apro-
Concepções como estas fundamentam posicio- fundar as investigações sobre tais concepções, o
namentos salvacionistas em relação à ciência e à que foi realizado por meio da atividade b, descrita
tecnologia, e reducionistas em relação ao ambiente no Quadro 1. A análise permitiu identificar o meio
e sua complexidade. Ignora-se, sob essa concepção, ambiente como principal elemento associado à
os aspectos éticos, morais, políticos e econômicos sustentabilidade, seguido da ideia de durabilidade
que podem interferir na relação sociedade-natureza e e autonomia.
também no desenvolvimento científico-tecnológico.
Quadro 3. Categorias presentes nas concepções pré-
Da análise depreende-se, portanto, que apesar vias dos acadêmicos sobre sustentabilidade.
da relação apontada pelos acadêmicos, entre QV Categorias Nº de Alunos
e meio ambiente ser pertinente, suas compreen- a) Sustentabilidade relacionada ao meio
12
ambiente.
sões reducionistas sobre “ambiente”, acabam por
b) Sustentabilidade relacionada a algo
restringir também a compreensão de QV, a qual durável, que se automantém, perene, in- 8
mantém-se presa ao aspecto técnico. dependente.
mente relacionam a sustentabilidade a compor- des químicas, embora ainda se reporte ao seu trata-
tamentos e produtos “ambientalmente corretos mento, como nos indica a fala de A9:
ou amigáveis”. Além disso, Fonseca e Bursztyn
“A QV vem para dar uma nova consciência
(2007) se valem da teoria de Bordieu (1983) para
para uma redução de resíduos e uma pre-
explicar que a sustentabilidade tornou-se um capi-
ocupação de como eles são descartados”.
tal simbólico que expressa certo comprometi-
mento ambiental e que, pelo poder econômico ou A ideia de evitar ou diminuir a geração de resí-
cultural que tal capital representa, é usado como duos recobra pressupostos como a Prevenção à
apoio discursivo a ações “pró-ambiente” (Fonseca; Poluição e a Minimização de Resíduos, que cons-
Bursztyn, 2007). taram como princípios fundantes da QV (Machado,
Assim, o termo sustentabilidade torna-se um 2011). Para esse autor, a relação da QV com a pre-
marketing ou um slogan que autoanuncia compro- venção à geração de resíduos e com o ambiente
metimento ambiental. Essa concepção de sustenta- é intrínseca, pois a QV surgiu como resposta aos
bilidade, associada à QV, pode conduzir a posturas problemas ambientais decorrentes da crescente
nas quais também esta se torna um slogan propa- produção de resíduos pela indústria química.
gandístico, como chama atenção Zuin (2011): Entendemos, porém, que restringir a QV à
minimização de resíduos lhe imputa muitas outras
O slogan propagandístico que pode vir asso- facetas, ao mesmo tempo que reduz à perspectiva
ciado à Química Verde, e é espetacularmente
técnica. Assim, a partir da análise das concepções
difundido pelos canais de divulgação, não esti-
mula mais discussão, reflexão e posicionamen-
iniciais dos acadêmicos, é possível inferir que
tos críticos do conceito e seus usos, pois ele se estes sujeitos possuíam concepções pertinentes
realiza como imagem autossustentável (p. 33). sobre a QV, relacionando a esta o cuidado com o
ambiente, a busca pela sustentabilidade ou ainda a
Na categoria 3, identificou-se a relação da QV redução de resíduos nas práticas químicas.
com a prevenção à geração de resíduos, como ilus- Porém, ao averiguar mais profundamente suas
tra a fala: concepções sobre ambiente e sustentabilidade,
ambas reduzidas ao meio ambiente natural/eco-
“Diminuir a emissão de poluidores ou
lógico, assevera-se que as concepções iniciais
diminuir a quantidade de resíduos em
podem ser consideradas reducionistas, retroali-
nosso ambiente” (A11).
mentando a ideia de sustentabilidade como solu-
Como chamam atenção Machado (2011) e ção tecnicamente intermediária entre exploração
Zuin e colaboradores (2015), o foco da QV não e conservação (Tozzoni-Reis, 2008) e a QV como
está no gerenciamento e tratamento de resíduos, ou “meio” para viabilizá-la, ao menos no campo da
ainda na remediação ambiental. Seu foco principal Química.
está na ação preventiva, que pode ter como uma Zuin (2011) ressalta que há duas vertentes na
das suas consequências benéficas a diminuição da Química Verde. Segundo a autora
geração de resíduos.
Em relação ao desenvolvimento sustentável e à
Portanto, a ideia de prevenção, suscitada pelos
Educação, há na Química Verde, uma concepção
acadêmicos que compuseram essa categoria, nos que defende, quase exclusivamente por meio de
parece pertinente, pois demonstra uma nova forma “praticas e técnicas ambientalmente corretas”
de pensar nos problemas decorrentes das ativida- injetar comportamentos nos estudantes. Já outra
concepção apregoa que por meio da produção A primeira categoria foi denominada ‘incre-
ressignificada – baseada em novas racionalidades mento às concepções iniciais’ porque segundo
que levem em conta a sustentabilidade socioam-
nosso julgamento, os discursos que nela se enqua-
biental e suas implicações éticas –, de aparatos
científicos e tecnológicos menos impactantes aos
dram não demonstram abandono das concepções
seres vivos e ao meio, há a possibilidades de se iniciais, notadamente relevantes, mas referem-se
engendrar processos formativos críticos e eman- a visões mais complexas destas e, ao nosso ver,
cipatórios, que solicitam a participação efetiva do mais adequadas para estabelecer o diálogo entre
indivíduo, que pensa e sente, para a construção
as vertentes técnica e abrangente da QV. Como
do bem coletivo (p. 78).
apontado, 12 (doze) acadêmicos passaram a con-
Sendo assim, as concepções prévias dos aca- siderar outras dimensões, além da ambiental, tor-
dêmicos, embora pertinentes, foram entendidas nando suas compreensões mais abrangentes sobre
como estando presas à vertente técnica/instru- os temas tratados, como demonstra a fala:
mental. Todavia, como apontado por essa mesma
“Sustentabilidade assim como QV não está
autora as vertentes conceituais da QV não são
relacionada apenas ao meio ambiente,
estanques em si e podem dialogar e rever-se conti-
mas sim a todos os parâmetros: sociedade,
nuamente. Dessa forma, o desenvolvimento da SD
política, ambiente e economia” (A7).
procurou problematizar as concepções iniciais dos
acadêmicos, focando principalmente na discussão Igualmente, as concepções de ambiente e sus-
acerca do ambiente e da sustentabilidade, a fim de tentabilidade tornaram-se mais abrangentes, como
propiciar concepções que coloquem em diálogo as demonstram as falas de A2 e A6:
vertentes conceituais descritas.
“No início a visão de preservação da
natureza era não jogar lixo, plantar árvo-
res etc., [...] mas a natureza também está
6 As transformações alcançadas
interligada ao social, tecnologia, ciência,
Considerando a síntese individual redigida ambiente. É uma cadeia [...]” (A2).
pelos acadêmicos ao final da SD, foi possível
“Sustentabilidade é muito maior que somen-
averiguar em que medida as concepções iniciais
-te reciclagem e menos poluição [...]” (A6).
sobre QV e Sustentabilidade foram modificadas.
A análise desses dados possibilitou a identificação Nesse sentido, tendo havido uma ampliação
de apenas duas categorias, uma que demonstra a da compreensão de ambiente e sustentabilidade,
ampliação das concepções iniciais e a outra que compreende-se que também a concepção de QV
indica sua permanência, como mostra o Quadro 4. encaminhou-se para a vertente mais abrangente.
As falas dos acadêmicos também indicam crí- novos elementos ofertados pela professora e pelos
ticas ao modelo econômico, e apontam o consu- interlocutores teóricos, num movimento que per-
mismo e a busca pelo desenvolvimento a qualquer mite atualizar seus esquemas, compará-los com o
custo como os principais problemas para alcançar que é novo, identificar semelhanças e diferenças
a sustentabilidade. Nesse sentido, compreendem e integrá-las aos seus esquemas iniciais (Zabala,
também as limitações da QV, pois compreendem 1998). Assim, ao reler suas respostas iniciais e
que esta pode contribuir com a sustentabilidade, tecer a síntese pessoal, a maioria dos acadêmicos
mas não dar conta de toda sua problemática, como (12) se autoavaliou percebendo concepções restri-
aponta A9: tas ou incompletas sobre QV e Sustentabilidade,
como indicam as falas:
“A QV é uma auxiliadora no processo de
um mundo sustentável. Portanto, existe a “A minha visão inicial de QV estava
Química Verde dentro da sustentabilidade, somente relacionada com o ambiente até
que por sua vez se encontra dentro de um porque na mídia e nas escolas onde estudei
novo paradigma. [...] não se trata da grande o foco era preservação apenas para o meio
solução como muitos pensam”. ambiente e o não poluir [...]” (A7).
Reconhecer as limitações da QV e da própria Inicialmente, o pensamento sobre QV e
proposta de sustentabilidade é algo importante, sustentabilidade era um tanto restrito, [...]
conforme nos aponta Marques et al. (2013). Assim, Pensava-se mais em reutilização, recicla-
aprofundar o entendimento sobre essa nova filoso- gem para que diminuísse o impacto sobre
fia dentro da Química pode favorecer posiciona- o meio ambiente” (A9).
mentos mais fundamentados, que não se polarizam
em uma visão salvacionista da Ciência – na qual Nesse sentido, destaca-se a importância das
a QV pode ser vista como tábua de salvação às atividades de revisão propostas na SD, pois
degradações ambientais – nem sob a visão fatalista
[...] a estrutura cognitiva dos indivíduos está
que atribui à conta das atividades químicas, princi- configurada em uma rede de esquemas de
palmente as industriais, a culpa por danos ambien- conhecimento e [...] a situação de aprendizagem
tais e sociais. pode ser concebida como um processo de com-
paração, de revisão e construção de esquemas
Os acadêmicos ainda manifestaram a respon-
de conhecimento (Zabala, 1998, p. 37).
sabilidade intergerações e necessidade de bem-
-estar e justiça social, como elementos da susten- Além disso, destaca-se a importância dos tra-
tabilidade e compromissos dos químicos verdes. balhos e discussões em grupo, que são caracterís-
Corroborando, Brasil (2012) considera que esses ticas das propostas construtivistas de ensino, e que
elementos são alguns dos princípios-chave para a permitem o confronto, o debate e a reestruturação
sustentabilidade, a qual comporta muitas dimen- conceitual mediada pela interação com o outro.
sões e deve assegurar no mínimo a inter-relação eco- Por fim, através da análise dos novos discursos
lógica, econômica e social (p. 12). é possível inferir que as atividades desenvolvidas
É importante ressaltar que no decorrer da SD na SD possibilitaram a ampliação da concepção
os acadêmicos tiveram a oportunidade de rever e técnica/instrumental – inicialmente imperante –
reestruturar suas respostas seguidas vezes, con- para uma concepção abrangente e crítica, na qual a
frontando seus conhecimentos iniciais com os QV é compreendida em sua relação sinérgica com
a sustentabilidade socioambiental, para tornar-se, de alguns princípios da QV, sem haver, contudo,
de fato, uma nova racionalidade para as atividades transformações mais profundas, que envolvem
químicas. necessariamente uma nova forma de conceber as
Há que se destacar, porém, que as questões éti- relações sociedade-natureza.
cas referentes a sustentabilidade e a QV não foram Destaca-se nesse ínterim, a possibilidade de
mencionados por nenhum acadêmico. Sendo a QV ser trabalhada nas disciplinas de Prática
assim, identifica-se uma possível lacuna a ser como Componente Curricular (PCC) – tal como a
sanada nas próximas intervenções, para que cada Instrumentação para o Ensino de Química – que
vez mais os acadêmicos possam atualizar seus por seu caráter de buscar aliar os conhecimen-
esquemas mentais, burilando suas compreensões. tos pedagógicos e específicos podem ajudar a
fundamentar práticas docentes mais adequadas,
nas quais a QV respaldada em sua vertente mais
7 Considerações finais
abrangente pode colaborar para que o educadores
A incipiência da QV nos cursos de formação assumam e impulsionem o compromisso com a
inicial e seu pouco alcance na Educação Básica ser- educação para a sustentabilidade (Vilches; Perez,
viram de motivação para a realização da pesquisa- 2011; Burmeiser; Rusch; Eilks, 2012).
-ação aqui apresentada. A inserção desta corrente Defende-se por fim, que os cursos de formação
na formação de professores de Química é por nós de professores de Química incorporem a QV em
compreendida como uma forma de viabilizá-la seus currículos tendo por base:
também no ensino de Química, auxiliando proces- • as relações CTSA;
sos de AC e educação para a sustentabilidade. • as bases morais da QV;
Os resultados mostraram que apesar de já • sua relação com a sustentabilidade socio-
conhecerem os princípios da QV, as concepções ambiental;
iniciais dos acadêmicos, embora pertinentes, • seus pressupostos como uma nova raciona-
foram encerradas somente em sua dimensão téc- lidade para a atuação química; e
nica. Assim, é possível depreender dos estudos • suas potencialidades para uma educação
realizados, a importância de a inserção dos prin- ambiental crítica, para assim fomentar prá-
cípios da QV não ser pontual ou restrita apenas às ticas docentes sensíveis às demandas atuais
disciplinas específicas do curso, que pouco susci- da educação.
tam momentos de reflexão e aprofundamentos teó-
ricos mais abrangentes sobre essa nova racionali-
8 Referências
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Considera-se, portanto, que a QV deve fazer ACEVEDO DIAZ, J. A. et al. Papel de la educación
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O Modelo Atômico de
Bohr-Ishiwara-Wilson-Sommerfeld
The Atomic Model of Bohr-Ishiwara-Wilson-Sommerfeld
José Maria F. Bassalo e Robson Fernandes de Farias
α2 Z 2 1 nφ
;1 + c + m + ... E
Z 2 Rh
W =−
n 2 n 4 nr
Bohr
Sommerfeld
13. Physikalische Zeitschrift (v. 17, p. 148 e 313); Annalen der Physik (v. 50, p. 489).
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15. Physikalische Zeitschrift (v. 17, p. 507); Nachrichten Königlich Gesellschaft der Wissenchaften zu
Göttingen (p. 142).
16. Physikalische Zeitschrift (v. 17, p. 491); Annales de Physique Leipzig (v. 51, p. 1 e 125).
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portanto, não remunerado. O autor principal receberá, gratuitamente, um (01) exemplar
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