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PRÁTICAS DE
LABORATÓRIO
DE BIOQUÍMICA
Universidade Federal de Viçosa
ROTEIROS DE
PRÁTICAS DE
LABORATÓRIO
DE BIOQUÍMICA
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Roteiro 2 – Soluções, 23
Referências, 121
APRESENTAÇÃO
A Bioquímica é a ciência que estuda as biomoléculas e suas
relações, ou seja, moléculas envolvidas com a formação e a viabilidade
da célula. Neste contexto, aspectos estruturais e funcionais são
importantes para entendermos como estas estruturas estão envolvidas
com os mecanismos de transformação ou metabolismo, permitindo a
adaptação da célula ao ambiente.
As principais biomoléculas são os carboidratos, os lipídeos, as
proteínas, os ácidos nucléicos e as enzimas. Com base em suas
propriedades químicas, alguns experimentos podem ser feitos de forma
a caracterizar as biomoléculas e ajudar a compreender suas ações na
célula. A Bioquímica permite observar como a versatilidade das
biomoléculas é determinante para a formação da célula.
Dessa forma, nesta Série Didática realizaremos alguns
experimentos para determinar características estruturais e funcionais
das principais biomoléculas, a fim de facilitar o aprendizado da
bioquímica.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 9
ROTEIRO 1
PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS
Introdução
Durante a realização das práticas no Laboratório de
Bioquímica, os alunos deverão seguir algumas orientações importantes:
x Manter o asseio do ambiente laboratorial e realizar a limpeza das
vidrarias e bancadas após o uso.
x Estar atento à voltagem dos equipamentos antes de ligá-los à rede.
x Não consumir alimentos, bebidas e cigarros no laboratório.
x Evitar derramar reagentes nas balanças e limpá-las após o uso.
x Não utilizar a mesma vidraria para verter diferentes reagentes.
x Identificar corretamente as soluções após o preparo (nome,
concentração e data).
x Ao utilizar o bico de Bunsen, não abra a torneira do gás antes de
ter à mão a chama que deve acendê-lo. Após o uso, para evitar
acidentes, verificar se as torneiras do gás estão bem fechadas.
x Ler os rótulos dos reagentes antes do uso e não restituí-los aos
frascos em caso de sobras.
x Pipetar reagentes líquidos com o pipetador de sucção.
x Evitar tocar, cheirar ou manusear produtos que tenham
derramado ou extravasado de algum recipiente, pois existem no
laboratório substâncias tóxicas.
x Os descartes deverão ser feitos em locais apropriados.
x Ao manipular alguma vidraria com solução aquecida, direcionar
a boca desta de modo a não atingir a si e os demais alunos em
caso de ejeção do líquido ࡳ o que pode decorrer de agitações,
mudanças bruscas de pressão e choques térmicos.
10 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Objetivo geral
A disciplina Laboratório de Bioquímica tem como objetivo
fazer com que o aluno aprenda a manipular equipamentos e vidrarias
de rotina no laboratório, compreenda as propriedades físico-
químicas das biomoléculas (carboidratos, lipídeos, proteínas, ácidos
nucleicos e enzimas) e saiba interpretar e discutir os resultados
experimentais.
Material individual
Roteiro das aulas práticas; calculadora científica; lápis; pincel
para identificação de vidrarias; borracha; régua; equipamento de
proteção individual (EPI), como óculos de proteção e jaleco; sapato
fechado; calça comprida.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 11
Continua...
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 15
Continua...
16 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
13) Tela de
14) Almofariz e pistilo 15) Espátulas
amianto com tripé
Continua...
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 17
20) Suporte
19) Grade para tubos de
universal e 21) 22) Barras magnéticas
ensaio
garra acoplada
Continua...
18 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Continua...
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 19
Procedimento
Identificação de utensílios e vidrarias
Na bancada de trabalho, identificar cinco materiais de
laboratório, especificando as características de cada material (nome da
vidraria, tipo de graduação, capacidade e temperatura de calibração).
20 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Exercícios
1. Cite o utensílio ou vidraria usados para os seguintes
procedimentos:
a) Preparo de soluções.
b) Medição de volumes exatos de soluções tóxicas.
c) Medição de volumes com precisão de até 0,5%.
d) Medição de volumes variados e precisos.
2. Cite o tipo de pipeta utilizada e a graduação para medir
volumes com maior e menor precisão: a) 10 mL; b) 2 mL: c) 0,8 mL; e
d) 0,15 mL.
3. Quantos gramas (g) de carbonato de sódio (Na2CO3) existem
em 0,8 L da solução desse sal, de concentração 2,5M? Dados: Na = 23
g/mol, C = 12 g/mol; e O = 16 g/mol.
Resposta: 212 g.
4. Não podemos usar materiais do cotidiano, como faca, colher
e copos, dentre outros, no laboratório; para isso, temos materiais
22 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 2
SOLUÇÕES
Introdução
As interações entre os reagentes são geralmente desenvolvidas
em meios que permitam a interação entre as entidades químicas que os
compõem. Tais meios geralmente constituem soluções, ou seja, mistura
homogênea de duas ou mais substâncias. Os componentes de uma
solução são chamados soluto ou solvente, conforme descrito a seguir:
Soluto: substância que se dissolve no solvente e que, em geral,
está em menor quantidade na solução.
Solvente: substância que dissolve o soluto.
As soluções mais importantes para os seres vivos são aquelas
em que o solvente utilizado é a água, denominadas soluções aquosas. A
água é considerada o solvente universal, em virtude de suas
propriedades físico-químicas e por ser capaz de solubilizar ampla gama
de substâncias. O fluido dos tecidos, o plasma sanguíneo e a água que
bebemos são exemplos de soluções aquosas. As soluções podem ser
encontradas em qualquer fase de agregação: sólida, líquida ou gasosa.
De acordo com a proporção entre o soluto e o solvente, podem ser
classificadas como:
Solução diluída: possui pouca quantidade de soluto em relação
ao solvente.
Solução concentrada: possui grande quantidade de soluto.
Quanto à natureza do soluto, as soluções podem ser:
Iônicas: quando as partículas dispersas no meio são íons, em
decorrência do desmanche do retículo cristalino, de modo que os íons
gerados permitam a condução elétrica pela solução. Exemplo: cloreto
de sódio (NaCl) dissolvido em água destilada (H2O).
24 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Conceitos importantes
Fração em massa: geralmente expressa em porcentagem como
% (p/p); massa (g) do soluto em 100 g de solução. É comum encontrar
a mesma grandeza representada como % (w/w), sendo o “w”
proveniente do inglês weight (peso).
Fração em volume: também expressa em porcentagem como
% (v/v); volume (mL) de soluto em 100 mL de solução.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 25
Objetivo geral
Capacitar o aluno para preparar corretamente soluções
utilizando reagentes, vidrarias e equipamentos.
Reagentes
Hidróxido de sódio (NaOH) PA e ácido clorídrico (HCl)
concentrado.
Procedimento
Preparar duas soluções separadamente:
x 50 mL de uma solução de NaOH 1M; e
x 100 mL de uma solução de HCl 1M.
Obtenha os valores de pureza, peso molecular (PM) e densidade
dos reagentes nos seus rótulos e descreva detalhadamente o preparo
dessas duas soluções.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 27
Exercícios
1. Qual é o volume (mL) de ácido sulfúrico (H2SO4) necessário
para preparar 100 mL de uma solução 4 mol/L?
Dados: pureza = 96% (p/p); PM = 98 g/mol; e densidade = 1,84 g/mL.
Resposta: 22,2 mL.
2. Qual é a massa (g) de NaOH necessária para preparar 100 mL
de uma solução 2 mol/L? Dados: pureza = 98% (p/p); e PM = 40 g/mol.
Resposta: 8,16 g.
3. Qual é o volume (mL) de água que deverá ser adicionado
para que 50 mL de H2SO4 3,5 mol/L se torne uma solução 2 mol/L?
Resposta: 87,5 mL.
4. Qual é o volume (mL) de HCl necessário para preparar 500
mL de uma solução 1 mol/L? Dados: pureza = 36,5% (p/p); PM = 36,5
g/mol; e densidade = 1,19 g/mL.
Resposta: 42,02 mL.
5. O biftalato de potássio (C8H5KO4) é usado como padrão
primário para a padronização de bases. Qual é a massa (g) deste
composto é necessária para preparar 200 mL de uma solução 0,5 mol/L?
Dados: pureza = 99,5% (p/p); e PM = 204,22 g/mol.
Resposta: 20,52 g.
6. Após a pesagem de 18 g de glicose (C6H12O6) e dissolução
em 50 mL de água destilada, a solução foi transferida para um balão
volumétrico de 100 mL e completado o volume. Calcule a concentração
da solução em:
a) mol/L; b) % (p/v); c) mol/L e % (p/v) quando 50 mL dessa
solução for diluída 10 vezes. Dado: PM = 180 g/mol.
Respostas: a) 1 mol/L; b) 18% (p/v); e c) 0,1 mol/L e 1,8% (p/v).
7. Calcule a concentração em % (p/v) e em mol/L de 50 mL de
uma solução composta de 0,158 g de KMnO4. Dado: PM = 158 g/mol.
Respostas: 0,32 % (p/v); e 0,02 mol/L.
8. Calcule a concentração em % (p/v) e em mol/L da solução da
questão anterior se a mesma for diluída: a) 10 vezes; b) 20 vezes; e c) 50 vezes.
Respostas: a) 0,032 % (p/v) e 2 × 10-3 mol/L; b) 0,016 % (p/v)
e 1 × 10-3 mol/L; c) 6,4 × 10-3; e 4 × 10-4 mol/L.
28 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 3
CARBOIDRATOS: CARACTERIZAÇÃO
BASEADA NA PRODUÇÃO DE FURFURAL E
HIDROXIMETILFURFURAL
Introdução
Os carboidratos, considerados moléculas orgânicas de maior
abundância na natureza, são compostos relativamente simples,
formados de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quimicamente, os
carboidratos são classificados de acordo com a função orgânica que
os define, podendo se apresentar como aldeídos ou cetonas
poliidroxilados. Se o grupo funcional for um aldeído, esse carboidrato
é denominado aldose; porém, se o grupo funcional for uma uma
cetona, ele é denominado cetose. Além da classificação química, os
carboidratos são classificados de acordo com o número de resíduos
glicídicos que compõem as moléculas. Os carboidratos mais simples,
formados por apenas um resíduo glicídico, são chamados
monossacarídeos, que podem ainda ser classificados de acordo com o
número de átomos de carbono que constitui sua molécula. Os dois
monossacarídeos mais simples são a diidroxiacetona e o gliceraldeído,
ambos apresentando três átomos de carbono (triose), sendo o tamanho
mínimo de um monossacarídeo. Na natureza, ainda podem ocorrer
monossacarídeos com quatro (tetrose), cinco (pentose) ou seis
(hexose) átomos de carbono; há outros tamanhos maiores e menos
comuns. A glicose, a frutose, a manose e a arabinose são exemplos
dos monossacarídeos mais comuns na natureza (Figura 3.1).
Carboidratos formados por dois a dez resíduos glicídicos são
classificados como oligossacarídeos, de forma geral. Aqueles
formados por dois resíduos glicídicos são chamados dissacarídeos e
os formados por três resíduos glicídicos, de trissacarídeos e assim por
diante. Existem ainda carboidratos de alta massa molecular, formados
por inúmeros resíduos de monossacarídeos, como o amido, o
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 29
Objetivo geral
Capacitar o aluno para realizar testes específicos (Molish,
Seliwanoff e Bial) para identificação de carboidratos, com base na
produção de compostos furfúricos.
Reagentes
Reagente de Molish: Į-naftol 5% (p/v) em etanol (CH3COOH) 95%
(v/v); reagente de Seliwanoff: resorcinol 0,03% (p/v) em HCl 3M;
reagente de Bial: orcinol 0,3% (p/v) em HCl concentrado com adição
de 1,5 mL de solução de cloreto férrico (FeCl3) 10% (p/v) em 1 L; e
amostras a serem identificadas: soluções de carboidratos (arabinose,
glicose, frutose, maltose, sacarose e amido) a 1% (p/v).
Teste de Molish
Este teste é utilizado para identificação de carboidratos. O
composto furfúrico formado a partir da reação de desidratação dos
monossacarídeos com o H2SO4 reage com um composto fenólico (Į-
naftol), formando um produto de condensação colorido de cor violeta
(Figura 3.7). Os oligossacarídeos e os polissacarídeos são hidrolisados
primeiro pelo ácido em seus monossacarídeos constituintes.
Procedimento
Para facilitar a realização dos experimentos e evitar a
contaminação das amostras desconhecidas, sugere-se que o grupo se
divida de modo que todos os testes sejam feitos após todas as amostras
terem sido pipetadas.
1. Enumere sete tubos de ensaio (de 1 a 6, conforme Tabela 3.1)
e sinalize um tubo como controle negativo (-).
2. Pipete 1 mL de cada amostra a ser identificada (item
Reagentes, p. 33), enumeradas de 1 a 6 em cada tubo de ensaio.
3. Pipete 1 mL de água destilada para o tubo controle negativo.
4. Adicione duas gotas do reagente de Molish em cada tubo e
misture.
5. Incline cada tubo e deixe escorrer pela parede 1 mL de H2SO4
concentrado, não deixando os dois líquidos se misturarem efetivamente.
Não agite os tubos depois desse passo. Essa etapa deve ser feita
vagarosamente na capela de exaustão.
6. Teste positivo: formação de uma região de cor violeta na
interface ácido-reagente.
Teste de Seliwanoff
Este teste é utilizado para identificação de cetoexoses. O
composto furfúrico formado a partir da reação de desidratação dos
monossacarídeos com o HCl diluído reage com um composto fenólico
(resorcinol), sob aquecimento, formando um produto de condensação
colorido de cor avermelhada (Figura 3.8). Os oligossacarídeos e os
polissacarídeos são hidrolisados primeiro, para que em seguida a cetose
liberada possa reagir. As aldoses também dão reação positiva com um
tempo de reação maior. Um teste semelhante para a identificação de
cetoses é o teste de Tollens, no qual as cetonas reagem com o cloreto de
prata (AgCl) em meio amoniacal formando um espelho de prata no tubo.
Note que o ácido utilizado no teste de Seliwanoff é diluído,
enquanto o usado no teste de Molish é concentrado. Essa diferença se
deve ao propósito dos testes: no de Molish, dada a sua universalidade
para carboidratos, o ácido é forte, de modo que todos os carboidratos
sejam hidrolisados (no caso dos oligossacarídeos e polissacarídeos) e
desidratados para reagirem com o Į-naftol. No de Seliwanoff, no qual
o tempo reacional é controlado de modo a permitir apenas a reação das
cetoses, o ácido é diluído para evitar falsos positivos.
Teste de Bial
Este teste é utilizado para identificação de pentoses. O furfural,
único composto possível formado pela desidratação de pentoses pelo
HCl diluído, reage com um composto fenólico (orcinol), sob
aquecimento, formando um produto de condensação colorido de cor
verde-azulada (Figura 3.9).
38 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Procedimento
1. Enumere sete tubos de ensaio (de 1 a 6, conforme Tabela 3.3)
e sinalize um tubo como controle negativo (-).
2. Pipete 1 mL de cada amostra a ser identificada (item
Reagentes, p. 33), enumeradas de 1 a 6 em cada tubo de ensaio.
3. Pipete 1 mL de água destilada para o tubo controle negativo.
4. Adicione 1,5 mL do Reagente de Bial em cada tubo e misture.
5. Aqueça os tubos juntos em banho fervente por 4 min.
Obs.: O teste será positivo se a coloração for verde-clara e
negativo se for amarronzada.
Resultados
Preencher os resultados obtidos para os testes de Molish,
Seliwanoff e Bial na Tabela 4.4 – Roteiro 4.
Exercícios
1. Por que são usados reagentes ácidos nos testes de Molish,
Bial e Seliwanoff?
2. Quais são os compostos fenólicos utilizados nos testes de
Molish, Bial e Seliwanoff e qual a função destes?
3. Descreva como ocorre a produção de furfural e
hidroximetilfurfural.
4. Mostre as reações com a sacarose com o ácido e com o
composto fenólico dos testes de Molish, Bial e Seliwanoff.
5. Por que o ácido utilizado no teste de Molish é concentrado,
enquanto os ácidos usados nos testes de Seliwanoff e Bial são diluídos,
apesar de todos os testes explorarem a mesma propriedade dos
carboidratos?
6. Por que o tempo de aquecimento é importante para a
seletividade no teste de Seliwanoff?
40 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 4
CARBOIDRATOS: CARACTERIZAÇÃO
BASEADA NAS PROPRIEDADES
REDUTORAS
Introdução
As reações sofridas pelos carboidratos são reflexos das
propriedades físico-químicas dos grupos que caracterizam essas
moléculas. Por se tratarem exclusivamente de aldeídos ou cetonas,
que em condições brandas de oxidação podem levar à conversão da
carbonila a uma carboxila (ácido carboxílico), testes que exploram a
capacidade redutora, assim chamada, dos carboidratos podem ser
úteis na identificação dessas moléculas. Sabe-se que todo
monossacarídeo em solução é capaz de reduzir alguns íons, como
Cu2+ĺ Cu+ ou Fe3+ĺ Fe2+. No caso dos dissacarídeos, para que ele
seja redutor, uma das hidroxilas do carbono anomérico deve estar
livre. Dessa forma, se o dissacarídeo envolve apenas um carbono
anomérico na ligação glicosídica, ele é redutor. Exemplos de
dissacarídeos redutores: maltose (ܤ-D-glicopiranosil-(1ĺ4)-ܤ-D-
glicopiranose) e lactose (ȕ-D-galactopiranosil-(1ĺ4)-ܤ-D-
glicopiranose). Exemplos de dissacarídeos não redutores: trealose
(ܤ-D-glicopiranosil-(1ĺ1)-ܤ-D-glicopiranose) e sacarose (ܤ-D-
glicopiranosil-(1 ĺ 2)-ȕ-D-frutofuranose).
Objetivo geral
Capacitar o aluno para realizar testes específicos (Benedict,
Barfoed e Iodo) para identificação de carboidratos baseados em sua
capacidade redutora.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 41
Reagentes
Reagente de Benedict: solução com citrato de sódio (Na3C6H5O7)
17,3% (p/v), carbonato de sódio anidro (Na2CO3) 10% (p/v) e sulfato
cúprico pentaidratado (CuSO4.5H2O) 1,73% (p/v); reagente de Barfoed:
acetato de cobre (Cu(CH3COO)2) cristalino 6,65% (p/v) em água com
0,9 mL de ácido acético (CH3COOH) P.A; solução de Lugol: iodo 5%
(p/v) em iodeto de potássio (KI) 10% (p/v); H2SO4 concentrado;
amostras a serem identificadas: soluções de carboidratos (arabinose,
glicose, frutose, maltose, sacarose e amido) a 1% (p/v).
Teste de Benedict
Este teste é utilizado para identificação de açúcares redutores. O
Reagente de Benedict contém sulfato cúprico (CuSO4), agente oxidante,
carbonato de sódio (Na2CO3), que basifica o meio, favorecendo a oxidação
dos carboidratos, e citrato de sódio (Na3C6H5O7), o qual complexa com os
íons cúpricos, evitando sua precipitação em meio básico. A formação do
precipitado óxido cuproso (Cu2O), de cor vermelho-tijolo, em meio básico,
caracteriza a reação positiva para açúcares redutores (Figura 4.3).
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 43
Procedimento
1. Enumere sete tubos de ensaio (de 1 a 6, conforme Tabela 4.1)
e sinalize um tubo como controle negativo (-).
2. Pipete 1 mL de cada amostra a ser identificada (item
Reagentes, p. 41), enumeradas de 1 a 6 em cada tubo de ensaio.
3. Pipete 1 mL de água destilada para o tubo controle negativo.
4. Adicione 1 mL do Reagente de Benedict em cada tubo e misture.
5. Aqueça os tubos juntos em banho fervente por 5 min.
Obs.: O teste será positivo se houver formação do precipitado
vermelho-tijolo.
Teste de Barfoed
Este teste é utilizado para identificação de monossacarídeos,
baseado também na redução dos íons cúpricos, na presença de ácido
acético (CH3COOH). A formação do precipitado óxido cuproso
(Cu2O), de cor vermelho-tijolo, em meio ácido, caracteriza a reação
positiva apenas para os monossacarídeos nesse tempo de reação (Figura
4.4). Os dissacarídeos, após um tempo maior de aquecimento, sofrem
hidrólise ácida em seus monossacarídeos correspondentes,
apresentando também reação positiva para o teste de Barfoed.
Procedimento
1. Enumere sete tubos de ensaio (de 1 a 6, conforme Tabela 4.2)
e sinalize um tubo como controle negativo (-).
2. Pipete 1 mL de cada amostra a ser identificada (item
Reagentes, p. 41), enumeradas de 1 a 6 em cada tubo de ensaio.
3. Pipete 1 mL de água destilada para o tubo controle negativo.
4. Adicione 1 mL do reagente de Barfoed em cada tubo e
misture.
5. Aqueça os tubos juntos em banho fervente por 5 min.
Obs.: O teste será positivo se houver formação do precipitado
vermelho-tijolo.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 45
Procedimento
1. Enumere sete tubos de ensaio (de 1 a 6, conforme Tabela 4.3)
e sinalize um tubo como controle negativo (-).
2. Pipete 1 mL de cada amostra a ser identificada (item
Reagentes, p. 41), enumeradas de 1 a 6 em cada tubo de ensaio.
3. Pipete 1 mL de água destilada para o tubo controle negativo.
4. Adicione 1 gota de lugol em cada tubo e misture.
5. O teste será positivo se a solução apresentar coloração azul
intensa.
6. Adicione no tubo positivo água destilada na proporção de 1:3
(1 mL de solução de amido/iodo: 3 mL de água).
7. Aqueça o tubo em banho fervente por 5 min e observe a
mudança de coloração.
8. Resfrie o tubo em água corrente e observe novamente a
mudança de coloração.
Resultados
Complete a Tabela 4.4 e identifique o carboidrato
correspondente a cada amostra desconhecida, justificando os resultados
encontrados em cada teste.
Exercícios
1. Em que princípio se baseiam os testes de Benedict e Barfoed?
2. Defina açúcar redutor.
3. No teste de Benedict, qual é a função dos reagentes sulfato
cúprico, carbonato de sódio e citrato de sódio?
4. Explique por que as condições de reação do teste de Barfoed
são diferentes das do teste de Benedict.
5. Na reação do teste de Benedict, carbonos anoméricos são
susceptíveis de oxidação por vários agentes oxidantes contendo íons
cúpricos devido à presença de quais grupos livres?
6. Explique a diferença no resultado do teste de Benedict para os
dissacarídeos maltose e sacarose.
7. Sugira uma explicação caso o teste de Barfoed tenha sido
positivo para a sacarose.
8. Mostre as reações com a manose nos testes de Benedict e Barfoed.
9. Em que consiste a reação de lugol?
48 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 5
LIPÍDEOS: CARACTERIZAÇÃO
Introdução
Os lipídeos, diferentemente dos carboidratos, que possuem
funções orgânicas bem definidas, são biomoléculas de natureza diversa,
mas compartilham uma propriedade físico-química em comum que os
caracteriza. De modo geral, os lipídeos são moléculas hidrofóbicas, ou
seja, insolúveis em água e solúveis em solventes apolares, como
clorofórmio e éter. A classificação dos lipídeos em grupos é feita de
acordo com a função biológica dessas moléculas. Basicamente, os
lipídeos dividem-se em dois grandes grupos: os de armazenamento (ou
reserva energética), como os triglicerídeos (óleos e gorduras), e os
estruturais (constituintes de membranas), como os glicerofosfolipídeos,
os esfingolipídeos e os esteróis (colesterol). Vale ressaltar que os
esteróis ainda podem ser classificados como lipídeos de sinalização
celular, uma vez que os hormônios esteroides são formados a partir do
núcleo isoprenoide do colesterol.
A maioria dos lipídeos existentes nos alimentos e no corpo
humano ocorre na forma de triglicerídeos, que são ésteres de ácidos
graxos do glicerol. Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos de cadeia
longa (de 6 a 20 átomos de carbono), que podem apresentar diferentes
propriedades físico-químicas de acordo com o tamanho da cadeia
carbônica e a geometria da molécula. De modo geral, os ácidos graxos
são classificados de acordo com a presença ou ausência de insaturações
na cadeia hidrocarbonada, sendo os ácidos graxos que não apresentam
duplas ligações ao longo de sua cadeia, denominados saturados,
enquanto aqueles que mostram uma ou mais insaturações são
denominados insaturados (Figura 5.1). Os ácidos graxos insaturados
ainda podem ser subdivididos em duas classes, de acordo com sua
isomeria geométrica. As insaturações em moléculas orgânicas podem
apresentar-se em duas geometrias, cis e trans, dependendo da
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 49
Objetivo geral
Capacitar o aluno para caracterizar as propriedades físico-
químicas de triglicerídeos (ésteres de ácidos graxos e sabões) e
identificar a presença do colesterol pelo Método de Salkowski.
Reagentes
Óleo de soja; NaOH PA; solventes: água, etanol (CH3CH2OH) 95%
(v/v), éter etílico (CH3CH2)2O e clorofórmio (CHCl3); solução de
cloreto de cálcio (CaCl2) 10% (p/v); solução saturada de cloreto de
sódio (NaCl); solução de NaOH 2M; solução de hidróxido de potássio
(KOH) 0,1% (p/v); ácido acético (CH3COOH) concentrado; solução de
fenolftaleína (C20H14O4) 0,1% (p/v); gema de ovo; H2SO4 concentrado;
e solução clorofórmica de colesterol: 0,1 g de gema de ovo em 10 mL
de clorofórmio (validade: 1 dia).
Procedimento
Avaliação da solubilidade dos triglicerídeos
1) Enumere quatro tubos de ensaio.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 55
Ressaponificação
1. Adicione 5 mL de água em um tubo de ensaio.
2. Transfira, cuidadosamente, usando uma pipeta Pasteur,
quatro gotas do ácido graxo formado no item Separação dos ácidos
graxos.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 57
Exercícios
1. Defina índice de acidez de um alimento. Quais são as
implicações para valores de índice de acidez maiores que o padronizado?
2. Por que ao final da reação do teste de acidez livre a solução
passa de rosada para esbranquiçada? Explique por meio da reação
química entre os ácidos graxos e o hidróxido de potássio.
3. A denominação água dura é usada nas regiões onde há
calcário (CaCO3). O que acontece quando são utilizados sabões com
essas águas? Mostre a reação ocorrida.
4. Quais são as características químicas e estruturais dos
lipídeos e como eles se classificam?
5. Quais são as funções biológicas desempenhadas pelos
lipídeos na célula?
6. Explique a baixa solubilidade dos lipídeos em solventes polares.
7. Descreva como ocorre o transporte de lipídeos pela corrente
sanguínea.
8. Defina indicador de pH e explique o seu funcionamento.
9. Faça a estrutura do ácido graxo 18:3 (ǻ9,12,15).
10. Explique como a adição de ácido concentrado e de solução
salina concentrada em uma amostra de triglicerídeos saponificados leva
à sua separação.
58 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 6
Introdução
Os ácidos nucleicos são as biomoléculas ligadas à
transmissão hereditária da informação genética. O ácido
desoxirribonucléico (DNA) é o repositório de toda a informação
que permite com que a célula se divida, execute suas funções e
morra. Em todo o ciclo celular, o DNA é constantemente acessado
para que genes específicos sejam expressos. Durante esse processo,
o DNA é transcrito em uma molécula de ácido ribonucléico (RNA),
um tipo de ácido nucléico com propriedades semelhantes às do
DNA, mas com algumas particularidades. Enquanto o DNA é uma
fita dupla de cadeias polinucleotídicas, o RNA é constituído por
uma fita simples. Além disso, os polímeros diferem na sua
constituição.
Os monômeros que constituem os ácidos nucleicos são
chamados nucleotídeos e formados por uma pentose, um grupo
fosfato e uma base nitrogenada. No caso dos ribonucleotídeos, que
constituem as moléculas de RNA, a pentose é a ribose, ligada ao
fosfato no carbono 5’ e à base nitrogenada no carbono 1’. A ligação
da ribose ao grupo fosfato é do tipo fosfodiéster e sua ligação com a
base nitrogenada do tipo N-glicosídica. Nos desoxirribonucleotídeos,
que compõem o DNA, a pentose é uma 2’- desoxirribose, ou seja,
uma molécula de ribose sem o oxigênio no carbono 2’ (Figura
6.1). Essa é uma das principais diferenças entre o DNA e o RNA
e reflete diretamente na estabilidade da molécula e no seu papel
biológico.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 59
Objetivo geral
Capacitar o aluno para extrair e evidenciar ácidos nucleicos
(DNA e RNA) no fermento biológico, mediante reações características
para as pentoses que o compõem.
62 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Reagentes
Fermento biológico; água destilada; éter etílico; ácido tricloroacético -
TCA (CCl3COOH) a 5 e 20% (p/v); padrão de RNA ou pentose (0,5
mg/mL); reativo de difenilamina: 1 g de difenilamina em 100 mL de ácido
acético (CH3COOH) mais 2,75 mL de H2SO4 concentrado; e reagente de
Bial: 0,2 g de orcinol em 60 mL de HCl concentrado mais 0,2 g de cloreto
férrico (FeCl3).
Procedimento
Preparo do homogeneizado
1. Pese 2 g de fermento biológico e coloque em um gral.
2. Adicione 5 mL de éter etílico e macere com o uso de um pistilo.
3. Adicione 5 mL de água destilada até formar um
homogeneizado.
Exercícios
1. Qual é o motivo da alta proporção de resíduos de arginina e
lisina nas proteínas histonas?
2. Por que os ácidos nucleicos têm caráter ácido? Explique
utilizando eventuais valores de pK de seus constituintes básicos.
3. Por que o material precisa ser macerado para isolar os ácidos
nucleicos?
4. Qual é a função do éter etílico no processo de extração dos
ácidos nucleicos?
64 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 7
TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA DE
AMINOÁCIDOS
Introdução
Os aminoácidos são moléculas com estrutura característica,
constituída por um grupo amino (NH2) e um grupo carboxílico
(COOH), ligados diretamente a um átomo de carbono (Figura 7.1). O
que diferencia um aminoácido do outro é a sua cadeia lateral (R),
comumente chamada de radical, totalizando 20 aminoácidos proteicos.
Uma vez que o átomo de carbono que forma os aminoácidos está ligado
a um átomo de hidrogênio, um grupo amino, um grupo carboxílico e
uma cadeia lateral R diferentes entre si, esse átomo de carbono constitui
um centro quiral e, por isso, é chamado carbono alfa (C)ܤ. Isso faz com
que os aminoácidos se apresentem em séries enantioméricas D e L,
assim como os carboidratos, dependendo da configuração em torno do
átomo de carbono. Na natureza, os aminoácidos proteicos são
exclusivamente da série L e somente a glicina não apresenta carbono
quiral, uma vez que sua cadeia lateral é um átomo de hidrogênio.
(1)
Define-se como Ka a constante de ionização desse ácido, dada
pela equação (2):
Ka = [H+].[A-] / [HA] (2)
Quanto maior a razão anterior definida, equação 2, maior será
a facilidade de um ácido de se dissociar; portanto, mais forte ele é.
Como os aminoácidos são ácidos fracos, os valores de Ka são muito
pequenos e, por isso, costuma-se representar a força de um ácido por
meio de seu pKa, que nada mais é que -logKa. O grupo carboxílico
apresenta caráter ácido, sendo relacionado à constante pK1, que tem
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 67
A equação de Henderson-Hasselbalch
O pH é uma função logarítmica da concentração de prótons
(H+) no meio de acordo com a equação (3):
pH = - log [H+] (3)
Outra relação é o pKa, também logarítmica e que se relaciona à
força de um ácido, conforme equação (4):
pKa = - log Ka (4)
Assim, podem-se incorporar as equações (3) e (4) na equação
de dissociação de um ácido, estabelecendo a seguinte relação,
determinada pela equação (5):
(5)
Logo, substituindo as equações (3) e (4) na dedução anterior,
equação (5), tem-se a equação (6) de Henderson Hasselbalch, que
determina como o pH afeta a ionização de um ácido ou de uma base:
pH = pKa - log ([HA]/[A-])
? pH = pKa + log ([A-]/[HA]) (6)
68 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Objetivo geral
Capacitar o aluno para entender o comportamento ácido-básico
dos aminoácidos e pela curva de titulação obtida e determinar os valores
de pK e pI de um aminoácido.
Reagentes
Solução de glicina 0,1M; solução de NaOH 0,5M; e HCl
concentrado.
70 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Procedimento
1. Meça 50 mL da solução de glicina em um balão volumétrico
e coloque em um béquer de 100 mL.
2. Coloque o béquer no agitador com uma barra magnética
dentro.
3. Coloque o eletrodo na solução de glicina e adicione 1 mL de
HCl concentrado até o pH aproximar do valor 1.
4. Ponha a solução de NaOH na bureta e titule a solução de
glicina adicionando de 1 em 1 mL, anotando os valores de pH
correspondentes.
5. Faça a curva de titulação da glicina, construindo um gráfico
de pH (eixo x) versus volume de NaOH (eixo Y) em papel milimetrado.
6. Assinale na curva de titulação os valores de pK e pI da glicina
e as regiões de tamponamento.
7. Anexe no relatório a curva de titulação obtida.
8. Escreva as estruturas da glicina nos seguintes valores de pH:
1; 2,34; 5,97; 9,60 e 13 e suas cargas líquidas.
Exercícios
1. Defina solução tampão.
2. Calcule o pH de uma solução sabendo-se que a concentração
+
de H é de 0,00565 mol/L. Resposta: 2,25.
3. Calcule a concentração de OH- em mol/L sabendo-se que o
pH de uma solução tem valor 6. Resposta: 1x10-8 mol/L.
4. Calcule o pH de uma solução-tampão formada por ácido
fórmico 0,05M (pK 3,75) e formiato de sódio (HCOONa) 0,1M.
Resposta: 4,05.
5. Calcule a relação de bicarbonato de sódio (NaHCO3) para
ácido carbônico (H2CO3) (pK 6,1) no plasma sanguíneo, sabendo-se
que o pH da solução-tampão tem valor 7,5.
Resposta: 25,12.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 71
ROTEIRO 8
SEPARAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE
AMINOÁCIDOS POR CROMATOGRAFIA
EM PAPEL
Introdução
O termo cromatografia, de modo geral, pode ser definido como
um procedimento analítico usado para separar e identificar
componentes de uma mistura de substâncias (aminoácidos, ácidos
graxos, carboidratos etc.), sendo separados pela carga, tamanho,
solubilidade ou outra propriedade de seus componentes. Existem
diversos meios de separação explorados em cromatografia, de acordo
com o sistema utilizado, o tipo de molécula que se deseja separar e o
tipo de solvente que se quer usar nessa separação.
O princípio geral das cromatografias baseia-se na interação das
moléculas entre duas fases, ou seja, uma que funciona como matriz para
a adsorção das moléculas, chamada fase estacionária (FE), e outra,
chamada fase móvel (FM), que de acordo com a afinidade entre as
moléculas e o solvente irá arrastar as moléculas ao longo da FE até o
fim da corrida cromatográfica.
A cromatografia é uma técnica antiga, utilizada pela primeira
vez em 1906 para a separação de pigmentos coloridos de folhas e flores
de plantas. Ao longo dos anos, ela vem sendo melhorada e refinada de
modo a se tornar mais eficiente na separação, identificação e
quantificação de biomoléculas. Como existe grande variedade de
possíveis combinações das condições cromatográficas, podem-se
classificar as cromatografias de acordo com:
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 73
Tipo de sistema:
. Cromatografia planar: cromatografia realizada em um
suporte plano, por exemplo papel (cromatografia em papel) ou lâminas
delgadas de metal ou vidro, nas quais se deposita uma camada fina de
uma matriz sólida, por exemplo a sílica (cromatografia em camada
delgada).
. Cromatografia em coluna: situação em que a FE é uma
matriz sólida particulada (geralmente pequenas beads) de agarose,
sefarose ou outro polímero modificado, contido dentro de uma coluna
de metal ou de vidro. A amostra é aplicada no topo da coluna e frações
de solventes são sucessivamente adicionadas a esta para arrastar a
amostra pela FE. Quanto maior a coluna cromatográfica, mais efetiva
será a separação das moléculas. Exemplos: cromatografia de exclusão
molecular, troca-iônica e afinidade.
Princípio de separação:
Nesse caso, dois principais tipos de interação regem os
sistemas: a que ocorre entre a FE e as moléculas a serem separadas
e aquela entre a FM e moléculas a serem separadas. Sendo assim,
podem-se distinguir a seguir alguns princípios de separação que
compartimentaliza as cromatografias.
1) Sorção/dessorção, cromatografia de troca-iônica e
cromatografia de afinidade: nesses tipos de cromatografia as
moléculas de interesse são separadas devido à sua interação com a
FE, que é sólida. Geralmente, elas se procedem em colunas contendo
uma matriz sólida particulada com grupos especiais que
proporcionam interações específicas com moléculas que se deseja
separar.
Na sorção/dessorção, resinas com grupos químicos
específicos formam a FE e podem interagir especificamente com
carboidratos ou lipídeos, como é o caso das resinas aminadas e com
caudas alifáticas, respectivamente.
Na cromatografia de troca-iônica, a matriz sólida contém
grupos carregados que irão interagir com moléculas de cargas
opostas. As colunas com grupos carregados positivamente são
chamadas catiônicas ou trocadoras de ânions e aquelas carregadas
negativamente são chamadas aniônicas ou trocadoras de cátions.
Na cromatografia de afinidade, moléculas específicas estão
ligadas à FE de modo a interagirem especificamente com uma ou um
pequeno grupo de moléculas. Um exemplo é a resina de
concanavalina-A, uma proteína imobilizada sobre beads de
polímeros inertes capaz de se ligar com grande afinidade em
proteínas glicosiladas, permitindo sua separação de extratos
protéicos brutos.
2) Cromatografia de gel filtração (peneira ou exclusão
molecular): nesse tipo não há qualquer interação entre as moléculas
com as fases FM ou FE. As moléculas são arrastadas através de uma
matriz com poros de diâmetro definido (FE), de modo a serem
separadas por tamanho. Moléculas menores que o poro podem
adentrar-se na malha da resina, percorrendo todo o volume da coluna
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 75
até a sua eluição, o que exige um tempo maior para que sejam
detectadas nas frações coletadas na cromatografia. Porém, moléculas
grandes não entram na malha e percorrem um volume menor da
coluna, sendo eluídas primeiramente.
3) Partição: a partição compreende um princípio físico-
químico no qual as moléculas dividem-se entre a FM e a FE de
acordo com a solubilidade da molécula em uma dessas fases. No caso
da cromatografia em papel, a FE é considerada líquida, formada por
uma rede de moléculas de água que interagem com os resíduos de
glicose da celulose no papel por ligações de hidrogênio, sendo o
papel apenas o suporte da corrida cromatográfica. A FM é uma
mistura de solventes apolares ou pouco polares, de modo que os
compostos, de acordo com sua natureza diversa, interajam mais com
a água ou com a mistura de solventes, realizando a partição entre
eles.
A cromatografia em papel é uma técnica qualitativa, simples,
de baixo custo, de boa resolução e nela são utilizadas pequenas
quantidades de amostras. Esta técnica será usada nesta aula prática
para separação e identificação de aminoácidos. Para entendermos
tais fundamentos devemos considerar a solubilidade dos
aminoácidos em determinado solvente (variando em função da
temperatura) e a propriedade dos aminoácidos de se tornarem
coloridos após reagirem com substâncias específicas. Como os
aminoácidos em pH fisiológico são polares (já que exibem cargas
positiva e negativa), dependendo da estrutura da cadeia lateral
destes, apresentarão diferentes solubilidades no solvente empregado,
mantida a temperatura constante. A capacidade de determinado
solvente (contido em um recipiente) subir contra a força da
gravidade através de um papel absorvente é muito importante nesta
técnica de cromatografia em papel (Figura 8.1). Conforme o solvente
sobe pelo papel absorvente, ele pode levar consigo diferentes
aminoácidos a diferentes distâncias separando-os a partir de uma
mistura inicial de aminoácidos. Técnica baseada no mecanismo de
partição, onde os componentes separam devido às diferenças de
solubilidade nas fases líquidas (FE e FM).
76 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Objetivo geral
Capacitar o aluno para entender o processo cromatográfico,
separar e identificar aminoácidos em uma mistura por cromatografia em
papel e calcular os seus fatores de retenção (Rf).
Reagentes
Mistura de solventes: butanol (C4H9OH), ácido acético (CH3COOH) e
água, na proporção de 20:6:5; soluções de aminoácidos (alanina,
isoleucina e aspartato) a 0,1M; misturas desconhecidas (1 e 2) de dois
aminoácidos em cada; e solução reveladora: ninhidrina 0,1% (p/v) em
acetona (CH3(CO)CH3).
Procedimento
1. Trace uma linha horizontal a 2 cm da borda inferior do papel
(linha básica) sobre a qual, posteriormente, serão distribuídas manchas
das soluções contendo os aminoácidos. Trace pontos de aplicação das
soluções com 5 cm de distância entre eles, conforme esquema a seguir.
Obs.: Não toque o papel diretamente com as mãos para evitar contaminação.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 79
Exercícios
1. O que é cromatografia? Em que se baseia a separação de
aminoácidos por cromatografia em papel?
2. Qual é a coloração dos aminoácidos vistos na prática na
reação com a ninhidrina? Por que a coloração seria diferente (amarela)
se usássemos o aminoácido prolina?
80 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 9
SEPARAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE
AMINOÁCIDOS POR ELETROFORESE EM
PAPEL
Introdução
Eletroforese compreende um conjunto de técnicas analíticas de
separação e identificação de moléculas carregadas por migração em um
campo elétrico. Por ser uma técnica com bom poder de resolução, é
muito utilizada na separação, purificação e análise de ácidos nucleicos
e proteínas, principalmente. Qualquer tipo de biomolécula pode ser
submetido à eletroforese, desde que nas condições experimentais
apresentem carga líquida diferente de zero.
Quando uma molécula carregada é submetida ao efeito de um
campo elétrico, as forças atrativa e repulsiva que regem as interações
entre as cargas fazem com que ela se afaste do polo com carga igual à
sua e migre em direção ao polo com carga oposta. Essa migração em
misturas de biomoléculas é ainda regida pelo tamanho e formato destas.
Quanto maiores as moléculas, mais elas ficam retidas pela matriz em
que acontece a eletroforese, podendo ser fibras de celulose no papel
embebido em tampão ou um gel de agarose ou poliacrilamida. A forma
da molécula também influencia na migração; moléculas com
organização espacial em formas globulares passam mais facilmente nas
malhas dos suportes, migrando mais eficientemente que as moléculas
mais distendidas.
A eletroforese em papel é um processo realizado em condições
laboratoriais, em que o pH do meio é controlado através de uma
solução-tampão, usando-se alta voltagem (300V), produzindo assim um
campo elétrico, que faz com que os aminoácidos migrem em
82 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Objetivo geral
Capacitar o aluno para entender o processo de eletroforese em
papel, pela separação e identificação de alguns aminoácidos.
Reagentes
Solução-tampão de ácido acético (CH3COOH)-acetato de sódio
(CH3COONa) 0,1M, pH 4,6; solução de aminoácidos (glicina, arginina
e ácido glutâmico) a 0,1M; e solução reveladora: ninhidrina 0,1% (p/v)
em acetona (CH3(CO)CH3).
Procedimento1
1. Faça uma marcação no meio do papel Whatman com lápis,
onde serão aplicadas as amostras. Não se esqueça de anotar os nomes
dos aminoácidos que estão sendo aplicados em cada ponto. Nas bordas,
faça uma marcação (+) e (-), que serão conectadas aos polos positivos
e negativos, respectivamente.
2. Aplique as amostras com o tubo capilar ao longo da linha
tracejada e deixe secar.
3. Embeba cada tira de papel em solução-tampão de maneira que
suas extremidades fiquem mergulhadas no tampão da cuba e a sinalização
dos polos esteja corretamente posicionada com o cátodo (-) e o ânodo (+).
4. Feche o aparelho, ligue-o e ajuste a voltagem para 300V.
5. Deixe a corrida proceder por aproximadamente uma hora,
desligue o aparelho, retire o papel e seque-o em estufa (90-100 °C)
por 2 min.
1Utilize este endereço para fazer uma simulação virtual da eletroforese:
http://www.iq.usp.br/bayardo/softwares/eletroforese/ .
84 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Exercícios
1. Qual é a finalidade do uso da solução-tampão?
2. Calcular a massa (g) de acetato de sódio e o volume (mL) de
ácido acético para preparar 1 L de uma solução-tampão 0,1M, pH 4,6.
Dados: acetato de sódio PM = 136,08 g/mol; e ácido acético PM = 60,05
g/mol, d =1,05 g/mL. Verificar o valor de pK na Tabela 9.1.
3. Defina ponto isoelétrico (pI) e justifique a importância de
determinar o pI de um aminoácido ou de uma proteína.
4. Calcule o pI dos aminoácidos glicina e aspartato. Com base
em seu cálculo, sugira um pH para a separação eletroforética desses
aminoácidos em mistura e faça um esquema simulado dessa separação.
Utilize as tabelas do Adendo para justificar o uso do ácido e sua base
conjugada com os quais o tampão será preparado.
Respostas: 5,97 e 2,77.
5. Explique por que os aminoácidos podem migrar tanto para o
polo positivo como para o polo negativo, dependendo do valor de pH
do tampão em que estiverem em solução. Em seu raciocínio, construa
uma relação entre cargas positivas, cargas negativas e o pI.
Adendo
Tabela 9.1 - Valores de pK de alguns ácidos e bases
Ácido ou base Fórmula pK
Ácido acético CH3COOH 4,76
Ácido bórico HBO3 9,24
Ácido carbônico H2CO3 3,77
Ácido fosfórico H3PO4 2,14
Bicarbonato HCO3- 10,20
Etanolamina C2H7NO 9,44
Fosfato di-hidrogênio H3PO4- 6,86
Fosfato mono-hidrogênio HPO2-4 12,4
Tris (hidroximetil aminometano) NH2C(CH2OH)3 8,10
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 85
ROTEIRO 10
ESTUDO DA SOLUBILIDADE DE
PROTEÍNAS
Introdução
As proteínas são macromoléculas formadas por resíduos de
aminoácidos unidos por ligação peptídica. Na formação desse tipo de
ligação, os elétrons disponíveis do átomo de nitrogênio no grupo amino
de um aminoácido atacam o carbono da carboxila de outro aminoácido,
deficiente em elétrons, formando uma ligação amídica (Figura 10.1).
. Reagentes ácidos
Na presença de determinados ácidos (por exemplo, ácido
tricloroacético – TCA) a solubilidade de algumas proteínas é reduzida,
levando à formação de sais insolúveis.
. Solventes orgânicos
Os solventes alteram a constante dielétrica das soluções e
podem conferir funções adicionais como ação crioscópica,
estabilização estrutural proteica, efeito caotrópico ou cosmotrópico,
formação de quelatos com íons metálicos, ação antioxidante e
inibição de proteases. Em relação à solubilidade, podem-se aplicar
solventes orgânicos (etanol ou acetona, por exemplo) para reduzir a
constante dielétrica da solução, contribuindo para reduzir a interação
proteína-meio, ocasionando a precipitação das proteínas. Ao
contrário, um aumento da constante dielétrica da solução favorece a
interação proteína-meio, aumentando a solubilidade da proteína.
Objetivo geral
Capacitar o aluno para entender como alguns fatores
(temperatura, força iônica e pH da solução) influenciam a
solubilidade de proteínas.
Reagentes
Água destilada; solução de ovoalbumina 1% (v/v) (usar clara de ovo);
clara de ovo in natura; Solução de caseína 1% (p/v); ácido
tricloroacético (TCA) 10% (p/v); NaCl 0,1M; e solução saturada de
sulfato de amônio ((NH4)2SO4).
94 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Procedimento
Efeito da temperatura
1. Pipete 2 mL da solução de ovoalbumina 1% (v/v) e coloque
em um tubo de ensaio.
2. Pipete 2 mL da solução de caseína 1% (p/v) e coloque em
outro tubo de ensaio.
3. Aqueça os tubos em banho-maria fervente por 5 min.
4. Observe os resultados.
Exercícios
1. Critique a seguinte afirmativa: a desnaturação causa
precipitação da proteína e toda a proteína precipitada está desnaturada.
2. Qual é a diferença entre desnaturação e degradação de
proteínas?
3. Cite duas técnicas de precipitação de proteínas utilizadas
para purificação sem que haja perda da atividade da proteína purificada.
4. Explique como a temperatura afeta a solubilidade das
proteínas.
5. Que técnica poderá ser utilizada para separar proteínas com
pesos moleculares diferentes? E com pI diferentes e próximos?
6. O que é uma substância dielétrica?
7. Por que os solventes orgânicos, como acetona ou etanol,
causam redução da solubilidade das proteínas?
96 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 11
Introdução
em que:
T: transmitância;
H: coeficiente de extinção molar;
L: espessura da solução atravessada pela luz (espessura da
cubeta); e
C: concentração da substância.
Esta é uma função logarítmica, mostrando que, conforme o
esperado, à medida que a concentração da solução aumenta, a
transmitância diminui (Figura 11.2A). Aplicando log na equação (2)
obtemos a equação (3):
log T = -H.L.C (3)
Os espectrofotômetros, que são os instrumentos capazes de
medir a transmitância, costumam fornecer os dados em valores de
absorbância (A), ou seja, uma medida da quantidade de luz retida na
solução – equação (4).
T=1-A (4)
De acordo com a equação (4), a quantidade de luz transmitida
é igual a 100% da luz incidida menos a luz que foi absorvida pelas
moléculas. Portanto, de (4) em (3), tem-se a equação (5):
log 1 - log A = -log H.L.C.
0 - log A = - log H.L.C.
A = H.L.C. (5)
Note que a absorbância é uma função linear dos mesmos
parâmetros que definem a transmitância (Figura 11.2), e, caso se saiba
o coeficiente de extinção molar do analito em questão, basta substituir
os valores na equação (5) para determinar sua concentração. Essa
relação é chamada Lei de Lambert-Beer (a absorbância da substância
é diretamente proporcional à concentração da substância e à espessura
da solução atravessada pela luz em um determinado comprimento de
onda).
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 99
(6)
(7)
A qualidade da regressão linear pode ser dada pelo coeficiente
de correlação de dados (R2), que indica o quão próximos os pontos
teóricos de uma reta estão dos pontos obtidos na curva-padrão. Essa
medida é dada pela seguinte fórmula:
(8)
Quanto mais próximo de uma for esse valor, mais bem
relacionados estão os dados, portanto, melhores serão as predições
utilizando esse modelo. Valores de R > 0,98 são aceitáveis para boas
predições.
Para facilitar a compreensão, suponha a construção de uma
curva-padrão com soroalbumina bovina (BSA), feita com cinco pontos,
com as concentrações e absorbâncias correspondentes listadas na
Tabela 11.1.
FD = VT/Vanalito (9)
Objetivo geral
Capacitar o aluno para quantificar as proteínas presentes no
leite desnatado pelo método do Biureto usando a técnica de
espectrofotometria.
Reagentes
Leite desnatado; soluções-padrão de proteína (caseína): 1, 2, 4, 6, 8 e
10 mg/mL; HCl 2% (v/v); reagente de Biureto: 1,5 g de sulfato de cobre
(CuSO4) cristalizado, 6 g de tartarato duplo de sódio; e potássio
(KNaC4H4O6.4H2O) dissolvidos em 500 mL de água destilada.
Adicionar 300 mL de NaOH 10% (p/v) sob agitação, completar o
volume com água destilada para 1 L e filtrar a solução preparada.
Procedimento
Preparo das amostras para quantificação das
proteínas
Exercícios
1. O que diz a lei de Lambert-Beer? As soluções-padrão de
proteína obedeceram a esta lei nas concentrações definidas?
2. Por que devemos construir uma curva-padrão?
3. Em que consiste o método de Biureto?
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 109
ROTEIRO 12
Introdução
As enzimas são catalisadores que medeiam os processos
bioquímicos e que apresentam alta especificidade reacional
(regiosseletividade, seletividade de substrato, seletividade de grupo
funcional e estereosseletividade). A cinética de uma enzima é regida
pela sua concentração da mesma e de seu(s) substrato(s), pela
temperatura e pelo pH. As enzimas são identificadas pelo sistema
proposto pela Enzyme Commission (EC), no qual quatro números
indicam, respectivamente: a classe da reação; a subclasse da reação,
com indicação do tipo de substrato ou grupo químico transferido; a
natureza do co-substrato e o número individual da enzima. Dentre as
seis principais classes de enzimas estão as oxidorredutases, cujo
primeiro algarismo na classificação da EC é 1, indicando que realizam
reações de oxidação-redução.
Uma das principais enzimas da classe das oxidorredutases é a
polifenoloxidase (PFO), ou polyphenol oxidase (PPO), que oxida
compostos fenólicos na presença do oxigênio molecular (O2). Primeiro
a PFO catalisa a hidroxilação de monofenóis, formando ortodifenóis
(posição 1 e 2 das OH) e, segundo, catalisa a oxidação de ortodifenóis
formando as o-quinonas e p-quinonas. Estas são bastante reativas e
podem polimerizar-se gerando produtos de alta massa molecular, como
as melaninas, que apresentam coloração escura (Figura 12.1).
De maneira análoga, a oxidação de compostos fenólicos na
fração orgânica de compostagens também leva à formação de polímeros
de coloração escura, que caracterizam as substâncias húmicas. A função
biológica, ainda que não completamente elucidada, é relacionada a
fatores de proteção bioquímicos pós-formados, que constituem um
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 111
Objetivo geral
Capacitar o aluno para entender algumas características da
PFO, como especificidade de substrato e efeito da temperatura.
Reagentes
Água destilada; substratos a 0,1 mM (ácido cafeico, ácido químico,
ácido gálico, hidroquinona, tirosina, glicose, fenol, catecol, resorcinol e
floroglucinol); Tampão fosfato de sódio 0,1M, pH 6,5.
Procedimento
Preparo do extrato da PFO
1. Adicione ao liquidificador 150 mL de tampão fosfato de
sódio 0,1M, pH 6,5 e por um minuto triture uma batata inglesa
descascada e picada.
2. Filtre o conteúdo do liquidificador em um béquer usando
uma peneira de náilon e um bastão de vidro e deixe em repouso em
banho de gelo por 5 min.
3. Separe o sobrenadante (extrato de PFO), mantendo-o em
banho de gelo.
Resultados
Tabela 12.1 - Estudo da especificidade da PFO
Intensidade da
Tubos Substratos
coloração
1 Água destilada
2 Ácido cafeico
3 Hidroquinona
4 Ácido quínico
5 D-glicose
6 Floroglucinol
7 Resorcinol
8 Ácido gálico
9 Catecol
10 Fenol
11 L-tirosina
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 115
Exercícios
1. Cite dois fatores que interferem em uma reação enzimática.
Justifique.
2. Qual foi a especificidade da enzima PFO em relação ao
substrato?
3. Como você desenvolveria um experimento para verificar o
efeito do pH na atividade da PFO?
4. Construa gráficos dos efeitos da concentração do substrato e
da enzima na velocidade de uma reação enzimática.
116 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
ROTEIRO 13
Objetivo geral
Capacitar o aluno para realizar as hidrólises ácida e enzimática
do amido, acompanhando sua degradação pela formação de açúcar
redutor, utilizando solução de lugol e o teste de Benedict,
respectivamente.
Reagentes
Tampão acetato de sódio 10 mM, pH 5,5, contendo cloreto de cálcio
(CaCl2)100 mM; solução de amido 1% (p/v) em água; solução de amido
1% (p/v) em tampão acetato de sódio 10 mM, pH 5,5 contendo CaCl2
100 mM; amilase salivar; HCl concentrado; reagente de Benedict;
solução de lugol: 1 g de iodo, 5 g de iodeto de potássio (KI); e 100 mL
de água destilada.
Procedimento
Hidrólise ácida
1. Enumere dois conjuntos de tubos de ensaio, sendo cada
conjunto de 1 a 5.
2. Adicione uma gota de lugol no primeiro conjunto de tubos e
1 mL do reagente de Benedict no segundo conjunto de tubos e reserve.
3. Coloque 25 mL da solução de amido 1% (p/v) em um frasco
erlenmeyer.
4. Coloque o frasco erlenmeyer em banho fervente por 5 min.
5. Pipete 1 mL de HCl concentrado na capela de exaustão,
adicione vagarosamente ao erlenmeyer em banho fervente, misture
(com cuidado) e retire imediatamente 1 mL da mistura.
Obs.: Mantenha sempre a mistura de amido e HCl em banho
fervente.
6. Transfira 0,5 mL para cada tubo 1 de cada conjunto de tubos
(tempo zero).
7. Após 5 min, retire outra alíquota de 1 mL da mistura, colocando
0,5 mL para cada tubo 2 de cada conjunto de tubos (tempo: 5 min).
8. Repita o mesmo procedimento para retirar os tempos 10, 20 e
30 min, colocando 0,5 mL para os tubos 3, 4 e 5 de cada conjunto de tubos.
9. Após 30 min de hidrólise, coloque o conjunto de tubos
contendo o hidrolisado com o reagente de Benedict em banho-maria
fervente por 5 min.
10. Observe se houve a formação do precipitado vermelho-
tijolo e a quantidade desenvolvida ao longo do tempo.
11. Anote na Tabela 13.2 as variações de cor observadas nos testes
usando lugol e o reagente de Benedict durante a hidrólise ácida do amido.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 119
Hidrólise enzimática
1. Enumere dois conjuntos de tubos de ensaio, sendo cada conjunto
de 1 a 5.
2. Adicione uma gota de lugol no primeiro conjunto de tubos e 1
mL do reagente de Benedict no segundo conjunto de tubos e reserve.
3. Coloque 25 mL da solução de amido 1% (p/v) tamponada em um
frasco erlenmeyer.
4. Coloque o frasco erlenmeyer em banho-maria a 37 °C por 5 min.
5. Coloque a amilase salivar (extrato enzimático) em um béquer.
6. Adicione 1 mL do extrato enzimático ao erlenmeyer em banho-
maria, misture e retire imediatamente 1 mL.
Obs.: Mantenha sempre a mistura de amido e extrato enzimático em
banho-maria a 37 °C.
7. Transfira 0,5 mL para cada tubo 1 de cada conjunto de tubos
(tempo zero).
8. Após 5 min, retire outra alíquota de 1 mL da mistura, colocando
0,5 mL para cada tubo 2 de cada conjunto de tubos (tempo: 5 min).
9. Repita o mesmo procedimento para retirar os tempos 10, 20 e 30
min, colocando 0,5 mL para os tubos 3, 4 e 5 de cada conjunto de tubos.
10. Após 30 min de hidrólise, coloque o conjunto de tubos contendo
o hidrolisado com o reagente de Benedict em banho fervente por 5 min.
11. Observe se houve a formação do precipitado vermelho-tijolo e
a quantidade formada ao longo do tempo.
12. Anote na Tabela 13.2 as variações de cor observadas nos testes
usando lugol e o reagente de Benedict durante a hidrólise ácida do amido.
Resultados
Tabela 13.2 - Resultados das hidrólises ácida e enzimática do amido
Tempo da
Hidrólise ácida Hidrólise enzimática
reação (min)
Testes Testes
Iodo Benedict Iodo Benedict
0
5
10
20
30
120 Viana, Raimundo, Melo e Siqueira
Exercícios
1. Compare as hidrólises ácida e enzimática citando vantagens
e desvantagens de cada uma delas.
2. Quais são os produtos das hidrólises ácida e enzimática,
respectivamente?
3. Mostre as reações dos testes positivos do iodo e de Benedict.
4. Se fosse utilizado o polissacarídeo glicogênio dariam
positivos os testes usando iodo e o reagente de Benedict? Justifique.
Roteiros de Práticas de Laboratório de Bioquímica 121
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