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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

ENGENHARIA ELÉTRICA

ANA LUÍSA FUNARI PIMENTA

Projeto de filtros analógicos

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CORNÉLIO PROCÓPIO
2018
ANA LUÍSA FUNARI PIMENTA

Projeto de filtros analógicos

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação


de Engenharia Elétrica da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Vander Teixeira Prado

CORNÉLIO PROCÓPIO
2018
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Cornélio Procópio
Departamento Acadêmico de Elétrica
Curso de Engenharia Elétrica

FOLHA DE APROVAÇÃO

Ana Luísa Funari Pimenta

Projeto de Filtros Analógicos

Trabalho de conclusão de curso apresentado às 13:50hs do dia


22/11/2018 como requisito parcial para a obtenção do título de
Engenheiro Eletricista no programa de Graduação em Engenharia
Elétrica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O
candidato foi arguido pela Banca Avaliadora composta pelos
professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca
Avaliadora considerou o trabalho aprovado.

______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Vander Teixeira Prado - Presidente (Orientador)

______________________________________________
Prof(a). Me(a). Ângelo Feracin Neto - (Membro)

______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Luis Fernando Caparroz Duarte - (Membro)

A folha de aprovação assinada encontra-se na coordenação do curso.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à toda a minha família, primordialmente aos meus pais


Elcio Faria Pimenta e Maria Lídia Funari Pimenta, por me darem o suporte necessário para a
realização desta graduação e por acreditarem em mim em todos os momentos.
Ao meu orientador Prof. Dr. Vander Teixeira Prado, pela sabedoria com que me
guiou nesta trajetória, exibindo exímio conhecimento sobre o assunto abordado e
demonstrando-se a todo momento solicito a me ajudar na realização deste trabalho.
A UTFPR Campus Cornélio Procópio por oferecer a estrutura necessária para a
realização desse projeto.
Aos meus amigos, em especial à Alexandre Veridiano, Ana Paula Rocha, Ewerton
Vasques Balarez, Mariana Roberta Coccia, Mariana Botelho Maciel, Marcos Truiz, Nilo
Ramos, Priscilla Souza e Walter Anibal Rammazzina Filho, que me acompanharam nesta árdua
caminhada, sempre oferecendo um ombro amigo e boas risadas nos momentos mais difíceis.
Especialmente à Prof. Dra. Roberta Negrão de Araújo, tia e amiga, e ao meu amigo
de longa data Herman Lucas dos Santos que, além de contribuírem com suas amizades,
compartilharam seus conhecimentos técnicos indispensáveis para a conclusão deste trabalho.
Aos meus guias espirituais e à Deus, por me orientarem por toda a minha trajetória
me oferecendo a força necessária para completar essa etapa da minha vida.
Enfim, a todos os que por algum motivo contribuíram, direta ou indiretamente, para
a realização desta pesquisa.
RESUMO

PIMENTA, Ana Luísa Funari. Projeto de Filtros Analógicos. 2018. 135 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica), Universidade Tecnológica Federal
do Paraná. Cornélio Procópio, 2018.

Este trabalho elabora um estudo da teoria, simulação e solução de alguns casos considerando a
utilização de filtros analógicos ativos e passivos, visando complementar o estudo na área de
eletrônica do curso de Engenharia Elétrica da UTFPR Campus Cornélio Procópio. No trabalho
apresenta-se desde a teoria básica necessária para a compreensão do tema, abordando conceitos
sobre função de transferência, métodos de projeto (Butterworth, Chebyshev, Cauer e Bessel, ou
mesmo métodos empíricos) e circuitos para implementação a partir de circuitos eletrônicos
(circuitos passivos RLC e ativos KRC e biquad), até a realização do projeto do filtro,
englobando a simulação utilizando-se os softwares MATLAB® e Proteus® e implementação
em laboratório. São considerados neste trabalho os casos de um filtro passa-baixas anti-
aliasing, um filtro notch de 60 Hz e um filtro passa-faixa para extrair uma senoide a partir de
uma onda quadrada. A análise dos filtros exemplificados é fundamentada na comparação entre
os diferentes métodos de projeto e implementação, considerando-se realizações com valores
teóricos e reais dos componentes utilizados.

Palavras-chave: Filtro analógico. Filtro passivo. Filtro ativo. Projeto de filtros. Função de
transferência. Diagrama de Bode.
ABSTRACT

PIMENTA, Ana Luísa Funari. Analog Filters Design. 2018. 135 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Engenharia Elétrica), Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Cornélio Procópio, 2018.

Tthis work elaborates a study of the theory, simulation and solution of some cases considering
the use of active and passive analog filters, aiming to complement the study in the electronics
area of the Electrical Engineering course of the Federal Technological University of Paraná,
Cornélio Procópio Campus. In this paper, is presented the basic theory required to understand
the subject, approaching concepts about transfer function, design methods (Butterworth,
Chebyshev, Cauer and Bessel, or even empirical methods) and circuits for implementation from
electronic circuits ( RLC passive and KRC and biquad active circuits), until the filter design,
encompassing the simulation using MATLAB® and Proteus® software and laboratory
implementation. This paper considers the cases of an anti-aliasing low pass filter, a notch filter
of 60 Hz and a bandpass filter to extract a sinusoid from a square wave. The analysis of the
exemplified filters is based on the comparison between the different methods of design and
implementation, considering realizations with theoretical and real values of the components
used.

Keywords: Analog filter. Passive filter. Active filter. Analog filters design. Transfer function.
Bode diagram.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quadripolo representando um circuito eletrônico com entrada e saída. .................. 18


Figura 2 - Representação dos polos e zeros em um plano complexo. ...................................... 21
Figura 3 - Respostas de acordo com a localização dos polos. (a) Polos no semiplano esquerdo.
(b) Polos no semiplano direito. (c) Polos no eixo imaginário. ................................................. 22
Figura 4 - Curvas de respostas ideais e reais para os filtros PB, PA, PF E RF. ....................... 25
Figura 5 - Especificação das características de transmissão de um filtro PB. .......................... 26
Figura 6 - Plano 𝑠 e diagrama de Bode para o caso de um filtro PB de 1a ordem.................... 27
Figura 7 - Plano 𝑠 e diagrama de Bode para filtros PB de 1ª ordem. ....................................... 28
Figura 8 - Plano 𝑠 e diagrama de Bode para filtros PA de 1ª ordem. ....................................... 29
Figura 9 - Plano 𝑠 e diagrama de Bode para filtros PT de 1ª ordem com 𝑎1 > 0.................... 30
Figura 10 - Definição dos parâmetros 𝜔0 e 𝑄 de um par de polos conjugados. ...................... 31
Figura 11 - Típicas respostas de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑄: (a) Filtro PB e (b) Filtro
PA. ............................................................................................................................................ 32
Figura 12 - Plano 𝑠 e Diagrama de Bode para filtro PB de 2ª ordem. ...................................... 33
Figura 13 - Plano 𝑠 e Diagrama de Bode para filtro PA de 2ª ordem....................................... 34
Figura 14 - Plano s e Diagrama de Bode para filtro PF de 2ª ordem........................................ 35
Figura 15 - Típicas respostas de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑄 de um filtro PF. ........ 35
Figura 16 – Exemplos padrões de filtros notch. ....................................................................... 36
Figura 17 - Plano 𝑠 e Diagrama de Bode para filtros dente de segunda ordem: (a) RF, (b) PB e
(c) PA........................................................................................................................................ 37
Figura 18 - Típica resposta de filtro dente RF de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑄. ....... 38
Figura 19 - Plano s e diagrama de Bode para filtro PT de 2ª ordem. ....................................... 39
Figura 20 - Típica resposta de filtro PT de 2ª ordem para diferentes valores de Q. ................. 39
Figura 21 - Comparação das respostas de um filtro PB para diferentes valores de 𝑛. ............. 40
Figura 22 - Resposta em módulo para filtro Butterworth para diferentes ordens. ................... 42
Figura 23 - Construção gráfica para obtenção de polos de um filtro Butterworth. .................. 43
Figura 24 - Resposta em módulo para filtro Chebyshev. ......................................................... 46
Figura 25 - Atenuação de um filtro PB com aproximação Bessel para 𝑛 ordens..................... 52
Figura 26 - Atraso de fase um filtro PB com aproximação Bessel para 𝑛 ordens.................... 52
Figura 27 - Transformação de um filtro PB, normalizado na frequência 𝛺, para os filtros PA,
PF e RF de-normalizados na frequência 𝜔. .............................................................................. 55
Figura 28 - Transformação de um filtro PB, desnormalizado na frequência 𝜔, para os filtros
PA, PF e RF na frequência 𝜔. .................................................................................................. 56
Figura 29 - Implementações para filtros PB de 1ª ordem: (a) passiva e (b) ativa. ................... 58
Figura 30 - Implementações para filtros PA de primeira ordem: (a) passiva e (b) ativa.......... 59
Figura 31 - Ressonador paralelo RLC de segunda ordem. ....................................................... 60
Figura 32 - Estrutura genérica para filtros 𝑅𝐿𝐶........................................................................ 61
Figura 33 - Implementação de filtros de segunda ordem utilizando o ressonador LCR: (a) PB;
(b) PA; e (c) PF......................................................................................................................... 62
Figura 34 - Estrutura genérica para filtros do tipo notch. ......................................................... 63
Figura 35 - Implementação de filtros de segunda ordem do tipo notch utilizando o ressonador
LCR: (a) RF; (b) PB; e (c) PA. ................................................................................................. 64
Figura 36 - Circuito de simulação da indutância de Antoniou. ................................................ 66
Figura 37 - Análise do circuito de simulação da indutância de Antoniou. ............................... 66
Figura 38 - Realização da indutância flutuante. ....................................................................... 67
Figura 39 - (a) Ressonador 𝑅𝐶-Amp Op com substituição do indutor do circuito 𝐿𝐶𝑅 pelo
circuito de Antoniou. (b) Implementação de um amplificador de acoplamento 𝐾. ................. 68
Figura 40 - Implementação de algumas funções do filtro de 2ª ordem da Figura 38(a). (a) Filtro
PB; (b) Filtro PA; (c) Filtro PF; (d) Filtro notch regular. ......................................................... 70
Figura 41 - Implementação de um filtro PT utilizando a indutância de Antoniou. .................. 71
Figura 42 - Diagrama de blocos do circuito biquad. (a) Integradores; (b) Somador; (c)
Associação dos dois integradores e do somador resultando no circuito biquad. ...................... 72
Figura 43 – (a) Circuito biquad KHN obtido pela implementação direta do diagrama de blocos
da Figura 41(c) e (b) os pesos somados às saídas do filtro a fim de se obter um filtro PT. ..... 73
Figura 44 - Filtro biquad Tow-Thomas. (a) Diagrama de blocos; (b) Implementação prática; (c)
Implementação do circuito biquad com alimentação direta. .................................................... 76
Figura 45 - Malha de realimentação obtida por meio de uma rede 𝑅𝐶. ................................... 79
Figura 46 – (a) Rede 𝑅𝐶 (T em ponte) que possui zero de transmissão complexo e (b) rede RC
aplicada a uma malha de realimentação de um filtro ativo. ..................................................... 79
Figura 47 - Análise em etapas do circuito da Figura 45(b) com a injeção de um sinal de entrada.
.................................................................................................................................................. 81
Figura 48 – (a) Rede RC (T em ponte), (b) aplicação da rede RC na malha de realimentação e
(c) aplicação da transformação complementar da malha da Figura 47(b). ............................... 82
Figura 49 – (a) Rede 𝑅𝐶 (T em ponte) alternativa, (b) rede RC aplicada a uma malha de
realimentação de um filtro ativo e (c) circuito resultante após transformação linear............... 83
Figura 50 - Implementação, função de transferência e parâmetros de um filtro passivo PB. .. 85
Figura 51 - Etapas de um filtro em cascata para n=1, 2, ..., 6. ................................................. 87
Figura 52 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Butterworth. ... 93
Figura 53 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Chebyshev...... 94
Figura 54 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Bessel. ............ 94
Figura 55 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Elíptica. .......... 95
Figura 56 - Diagramas de Bode de um filtro PB anti-aliasing para diferentes aproximações. 96
Figura 57 - Diagrama de Bode para filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem. .................. 98
Figura 58 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem passivo do tipo RLC. ...................... 99
Figura 59 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF RLC da Figura 58. ........ 100
Figura 60 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF RLC da Figura 58. ................... 101
Figura 61 – Análise de transiente da tensão do filtro RF RLC da Figura 58. ........................ 102
Figura 62 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a indutância de
Antoniou. ................................................................................................................................ 103
Figura 63 - Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF Antoniou da Figura 62. . 104
Figura 64 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF Antoniou da Figura 62. ........... 105
Figura 65 – Análise de transiente da tensão do filtro RF Antoniou da Figura 63. ................. 106
Figura 66 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a topologia
biquadrática. ........................................................................................................................... 106
Figura 67 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF Biquad da Figura 66. .... 107
Figura 68 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF Biquad da Figura 66. ............... 108
Figura 69 – Análise de transiente da tensão do filtro RF Biquad da Figura 66...................... 109
Figura 70 – Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a topologia KRC. 110
Figura 71 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF KRC da Figura 70......... 111
Figura 72 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF KRC da Figura 70. .................. 111
Figura 73 – Análise de transiente da tensão do filtro RF KRC da Figura 70. ........................ 112
Figura 74 - Diagrama de Bode para filtro PF com aproximação Chebyshev. ........................ 115
Figura 75 – Detalhe do ripple na faixa de passagem para filtro PF com aproximação Chebyshev.
................................................................................................................................................ 115
Figura 76 – Associação em cascara de filtro PF de 1 kHz de ordem 6 do tipo Chebyshev. .. 116
Figura 77 - Magnitude da resposta em frequência para o filtro PF KRC da Figura 76. ......... 118
Figura 78 - Fase da resposta em frequência para o filtro PF KRC da Figura 76. ................... 118
Figura 79 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF RC com
indutância de Antoniou........................................................................................................... 124
Figura 80 – Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF biquad..... 125
Figura 81 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF KRC. ....... 125
Figura 82 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF RC com indutância
de Antoniou. ........................................................................................................................... 126
Figura 83 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF biquad. ............... 127
Figura 84 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF KRC. ................. 127
Figura 85 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro PF.................. 129
Figura 86 - Análise analógica da tensão para filtro PF experimental do Caso 3 (a) no limite
inferior mensurável da frequência, (b) na frequência de corte e (c) no limite superior mensurável
da frequência........................................................................................................................... 130
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Função 𝑇(𝑠) e ganho para filtros notch de 2ª ordem. ............................................. 38


Tabela 2 - Relação entre a ordem de um filtro e sua taxa de atenuação. .................................. 41
Tabela 3 - Polinômios de Butterworth normalizados em 𝜔0 = 1. ........................................... 45
Tabela 4 - Valores tabelados de frequência e fator de qualidade, normalizados em 1 Hz, para
filtros PB de 𝑛 ordens. .............................................................................................................. 45
Tabela 5 - Polinômios de Chebyshev normalizados em 𝜔𝑝 = 1 para diferente valores de
𝐴𝑚𝑎𝑥. ....................................................................................................................................... 48
Tabela 6 - Valores tabelados de frequência e fator de qualidade, normalizados em 1 Hz, para
filtros PB de 𝑛 ordens. .............................................................................................................. 49
Tabela 7 - Parâmetros para a determinação da função 𝑇(𝑠) da aproximação Bessel para 𝑇0 =
1 𝑠. ............................................................................................................................................ 52
Tabela 8 - Valores tabelados de frequência e 𝑄, normalizados em 1 Hz, para filtros PB de 𝑛
ordens. ...................................................................................................................................... 54
Tabela 9 - Transformações de frequência de filtros PB para filtros PA, PF e RF. ................... 57
Tabela 10 - Dados de projeto para o circuito da Figura 43(c). ................................................. 77
Tabela 11 - Propriedades da função de sensibilidade. .............................................................. 84
Tabela 12 - Especificações arbitrárias para um filtro PB anti-aliasing do Caso 1. .................. 90
Tabela 13 - Especificações arbitrárias para o filtro RF do Caso 2. .......................................... 97
Tabela 14 – Valores calculados e comerciais dos elementos passivos para filtro RF da Figura
59. ........................................................................................................................................... 100
Tabela 15 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da
Figura 62. ................................................................................................................................ 104
Tabela 16 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da
Figura 66. ................................................................................................................................ 107
Tabela 17 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da
Figura 71. ................................................................................................................................ 110
Tabela 18 - Especificações arbitrárias para o filtro PF do Caso 3. ......................................... 113
Tabela 19 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro PF da
Figura 77. ................................................................................................................................ 117
Tabela 20 – Lista de materiais utilizados na realização experimental de filtros. ................... 120
Tabela 21 – Valores de tensão e período aferidos conforme frequências pré-estabelecidas para
filtro RF. ................................................................................................................................. 122
Tabela 22 - Comparação dos valores de frequência de corte obtidos por meio de simulação e
experimentalmente.................................................................................................................. 126
Tabela 23 - Valores de tensão e período aferidos conforme frequências pré-estabelecidas para
filtro PF. .................................................................................................................................. 128
LISTA DE SIGLAS

AD Analógico-digital
AmpOp Amplificador Operacional
cc Corrente Contínua
DA Digital-analógico
PA Passa-altas
PB Passa-baixas
PF Passa-faixa
PS Processamento de Sinais
PT Passa-todas
RF Rejeita-faixa
SV State-Variable
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 14
1.3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 15
1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 15
1.3.2 Objetivos específicos................................................................................................ 15
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.............................................................................. 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 17
2.1 FILTROS ANALÓGICOS E SEUS CONCEITOS INICIAIS....................................... 17
2.1.1 Decibel (dB) ............................................................................................................. 17
2.1.2 Frequência de corte .................................................................................................. 19
2.1.3 Função de transferência, polos e zeros ..................................................................... 20
2.1.4 Resposta em frequência e o Diagrama de Bode ....................................................... 23
2.1.5 Classificação............................................................................................................. 23
2.1.6 Especificação de um filtro ........................................................................................ 26
2.2 FILTROS DE 1a ORDEM .............................................................................................. 27
2.2.1 Filtros PB de 1ª ordem ............................................................................................. 28
2.2.2 Filtros PA de 1ª ordem ............................................................................................. 29
2.2.3 Filtros PT de 1ª ordem.............................................................................................. 30
2.3 FILTROS DE 2a ORDEM .............................................................................................. 31
2.3.1 Filtros PB de 2ª ordem ............................................................................................. 33
2.3.2 Filtros PA de 2ª ordem ............................................................................................. 33
2.3.3 Filtros PF de 2ª ordem .............................................................................................. 34
2.3.4 Filtros notch de 2ª ordem ......................................................................................... 36
2.3.5 Filtros PT de 2ª ordem.............................................................................................. 38
2.4 FILTROS DE ORDENS SUPERIORES ........................................................................ 40
2.4.1 Aproximação Butterworth ........................................................................................ 41
2.4.2 Aproximação Chebyshev ......................................................................................... 46
2.4.3 Aproximação Cauer.................................................................................................. 50
2.4.4 Aproximação Bessel................................................................................................. 50
2.5 TRANSFORMAÇÕES DE FILTROS ........................................................................... 54
2.6 IMPLEMENTAÇÃO DE FILTROS ANALÓGICOS ................................................... 57
2.6.1 Filtros passivos e ativos de 1ª ordem ....................................................................... 58
2.6.2 Filtros passivos de 2ª ordem ..................................................................................... 60
2.6.3 Filtros ativos de 2ª ordem utilizando o circuito de Antoniou................................... 65
2.6.4 Filtros ativos de 2ª ordem Biquadráticos.................................................................. 71
2.6.5 Filtros ativos de 2ª ordem 𝐾𝑅𝐶 ................................................................................ 78
2.7 SENSIBILIDADE .......................................................................................................... 84
2.8 PROJETO DE FILTROS ................................................................................................ 86
3 SIMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE FILTROS ANALÓGICOS ....................... 89
3.1 CASO 1 – FILTRO PB ANTI-ALIASING .................................................................... 89
3.2 CASO 2 – FILTRO RF NOTCH DE 60Hz .................................................................... 97
3.2.1 Implementação passiva RLC .................................................................................... 99
3.2.2 Implementação ativa utilizando indutância de Antoniou ....................................... 102
3.2.3 Implementação ativa utilizando topologia biquadrática......................................... 106
3.2.4 Implementação ativa utilizando topologia KRC .................................................... 109
3.3 CASO 3 – FILTRO PF DE 1kHz ................................................................................ 113
3.3.1 Implementação ativa utilizando topologia KRC .................................................... 116
4 ANÁLISE EXPERIMENTAL DE FILTROS ANALÓGICOS .................................... 120
4.1 LISTA DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS ..................................................... 120
4.2 CASO 2 – FILTRO RF NOTCH DE 60Hz .................................................................. 121
4.3 CASO 3 – FILTRO PF DE 1kHz ................................................................................. 128
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 131
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 133
13

INTRODUÇÃO

Em nosso cotidiano estamos cercados por sinais, como por exemplo, os de voz,
vídeo ou imagem. Proakis; Manolakis (2006) define um sinal como um conjunto de dados ou
informações que variam com o tempo, espaço ou com qualquer outra variável independente.
Em seu processo de transmissão esses sinais sofrem algumas interferências, como
por exemplo, ruídos. Ruídos são informações aleatórias que alteram algumas características do
sinal, como, por exemplo, magnitude e fase instantânea. Dependendo do nível do ruído em
relação ao sinal, pode-se descaracterizar totalmente a informação. Estas anomalias no sinal
podem ocorrer no canal de transmissão, como cita Lathi (2007), ou mesmo originar-se nos
circuitos de emissão ou recepção da informação, como, por exemplo, um ruído de 60 Hz da
rede elétrica proveniente da fonte que alimenta o circuito receptor.
Em diversos processos, a ocorrência do ruído afeta diretamente o funcionamento
do sistema. O ruído pode possuir componentes em diferentes frequências que, por sua vez,
podem ser amplificadas devido a frequências de ressonância em equipamentos e podem vir a
causar danos nos mesmos. A fim de recuperar a informação original, ou seja, separar o sinal de
um ruído que o degrada, é realizado o processamento de sinais (PS), através da filtragem dos
mesmos. As áreas de aplicação do PS são cada vez mais numerosas, sendo de muita utilidade
no controle e análise de sistemas físicos de interesse a diversas áreas, não só da engenharia,
como também economia, medicina, biologia, entre outras. Entretanto, sua aplicação mais
comum é a filtragem de sinais para extração da informação de interesse.
Há dois tipos principais de filtro: o analógico e o digital. Eles são bastante distintos
tanto na implementação física como em seu funcionamento. Um filtro analógico usa circuitos
eletrônicos analógicos constituídos de componentes como resistores, indutores, capacitores e
amplificadores operacionais para produzir o efeito de filtragem exigido e é implementado a
nível de hardware, enquanto os filtros digitais utilizam um processador digital para executar
cálculos numéricos em valores amostrados do sinal de entrada, implementado em controladores
discretos.
Os filtros digitais possuem algumas vantagens sobre os analógicos. Entre elas estão
o fato do seu desempenho não depender dos elementos do circuito nem das condições do
ambiente e de proporcionarem uma grande amplificação no sinal de entrada. Ademais, devido
às suas características construtivas, o filtro digital consegue implementar com facilidade filtros
de ordem elevada e sua resposta em frequência poder ser mais facilmente modificada. Todavia,
considerando as etapas de conversão AD e DA e o processamento propriamente dito, os filtros
14

digitais apresentam uma velocidade de resposta inferior se comparados aos filtros analógicos.
Ainda, os erros inerentes aos processos de quantização e aproximação podem levar filtros
recursivos de alta ordem à instabilidade.
Apesar de muitas aplicações de filtros serem manipuladas por técnicas de
processamento digital de sinal e filtros digitais, Schaumann; Valkenburg (2001) ressaltam que
há muitas situações nas quais o uso de filtros analógicos demonstra-se necessário ou
proporciona uma solução mais econômica. Além de serem mais baratos e simples em sua
aplicação, estes possuem uma velocidade de resposta maior e são amplamente usados como
controladores de processo. Ainda, há situações em que a utilização de tais filtros mostra-se
necessária, por exemplo, quando deseja-se filtrar um sinal analógico antes de convertê-lo para
digital a fim de evitar o efeito de aliasing, como cita Lathi (2007), ou quando o processamento
de sinal deve ser realizado distante do sistema de aquisição, devido à periculosidade ou
condições adversas para o sistema de processamento. Os filtros analógicos são, portanto, o foco
principal deste trabalho.
Segundo Sedra; Smith (2007), a tecnologia mais antiga para a execução de filtros
analógicos faz uso de resistores, indutores e capacitores e os circuitos resultantes são chamados
de filtros passivos. Esses filtros, apesar de sua simplicidade e praticidade, apresentam um fator
negativo em aplicações de baixas frequências visto que, os indutores necessários são pesados,
volumosos e caros, podendo impossibilitar sua utilização, dependendo da aplicação.
Os filtros ativos por sua vez, são aqueles constituídos da associação de elementos
passivos a elementos ativos, tais como: válvulas, transistores e amplificadores. Pertence (2003)
aponta que, apesar dos filtros ativos exigirem uma fonte de alimentação e de que os
amplificadores operacionais utilizados na sua construção limitam a sua resposta em frequência,
eles apresentam certas vantagens, tais como, possibilitar a implementação de filtros sem a
utilização de indutores, obter a amplificação do sinal de entrada (ganho) e proporcionar maior
facilidade em projetos mais complexos, uma vez que eles podem ser facilmente associados em
cascata. Portanto, os filtros ativos têm se tornado cada vez mais úteis no campo da eletrônica
em geral.

1.2 JUSTIFICATIVA

Analisando a grade do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Tecnológica


Federal do Paraná, campus Cornélio Procópio (UTFPR-CP), nota-se que a área de eletrônica
voltada ao processamento analógico de sinais é pouco abrangida. Entretanto, entende-se que
15

aplicações de telecomunicações, como filtragem de áudio e sinais modulados, assim como a


área de instrumentação, para medição de sinais biomédicos, por exemplo, são também de suma
importância para o engenheiro eletricista.
Por conseguinte, o tema de filtros analógicos é abordado nesse trabalho, deixando
como contribuição um material de apoio que tem como conteúdo o projeto de filtros analógicos.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Elaborar um material de apoio que discrimina de forma objetiva os métodos de


projeto de filtros a partir de especificações desejadas, visando auxiliar não só os alunos do
curso, mas também qualquer pessoa interessada em se aprofundar no estudo e elaboração de
projetos de filtros analógicos.

1.3.2 Objetivos específicos

 Realizar um estudo teórico comparativo entre os diferentes tipos de filtros


analógicos ativos e passivos;
 Realizar simulações;
 Desenvolver testes práticos em bancada a fim de comparação com valores
simulados;
 A partir de exemplos pré-definidos, projetar detalhadamente os filtros
analógicos que solucionem e atendam as especificações de cada caso.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho proposto está dividido em cinco capítulos que compreendem a


introdução, revisão bibliográfica e a realização do projeto em si.
O primeiro capítulo, no qual está inserida a presente segmentação, compreende as
informações inicias, onde descreve-se minuciosamente os principais objetivos do trabalho e as
etapas a serem seguidas para a realização do mesmo.
16

No capítulo dois está explicitada toda a fundamentação teórica do trabalho,


subdividindo-se em segmentações que compreendem os conceitos iniciais sobre o tema, como
função de transferência e análise da resposta em frequência, a teoria sobre filtros de primeira e
segunda ordem, a realização de filtros de ordens superiores por meio dos métodos de
aproximação Butterworth, Chebyshev, Cauer e Bessel e a transformação de filtros. Ainda neste
capítulo, é explicitado a implementação de filtros passivos e ativos de primeira e segunda
ordem, abordando em seguida todas as etapas referentes ao projeto e análise dos mesmos.
O capítulo três sugere a implementação de três casos a fim de exemplificar a teoria
abordada no capítulo anterior. São eles: filtro PB anti-aliasing, filtro notch de 60 Hz e filtro PF
para extrair a frequência fundamental de uma onda quadrada de 1 kHz. Por meio dos exemplos
citados, o capítulo abrange a simulação de filtros por meio dos softwares MATLAB® e
Proteus®, explicitando detalhadamente a obtenção da função de transferência do sistema e
realizando a análise gráfica da resposta em frequência.
No capítulo quatro, os exemplos introduzidos na seção anterior são implementados
experimentalmente de modo a realizar a construção analítica do diagrama de Bode dos sistemas
e sua análise gráfica, comparando os resultados obtidos com àqueles aferidos no capítulo
anterior.
Por fim, o capítulo cinco trata das disposições finais do trabalho, oferecendo uma
conclusão concisa sobre as atividades realizadas ao decorrer do estudo proposto.
17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 FILTROS ANALÓGICOS E SEUS CONCEITOS INICIAIS

Segundo Pertence (2003), um filtro elétrico pode ser definido como “um quadripolo
capaz de atenuar determinadas frequências do espectro do sinal de entrada e permitir a
passagem das demais”.
A fim de se compreender melhor a teoria sobre filtros analógicos, é necessário um
estudo prévio de alguns conceitos iniciais que serão salientados a seguir.

2.1.1 Decibel (dB)

As especificações de um filtro, segundo Schaumann; Valkenburg (2001),


normalmente variam ao longo de amplas faixas de frequências, como por exemplo, entre 10 Hz
≤ 𝑓 ≤ 10 MHz, isto é, a especificação da resposta em frequência do filtro é válida para todo o
espectro, desde baixas frequências até frequências elevadas, considerando-se a aplicação em
questão. De maneira similar, o ganho (ou atenuação) também apresenta uma grande variação.
Para que essas variações possam ser registradas graficamente, sem que seja perdido nenhum
detalhe, são usadas escalas logarítmicas para representá-las.
A função logaritmo, além de ser utilizada para obter uma melhor visualização de
escalas quando a faixa de variação de valor é muito ampla, também demonstra-se útil quando
deseja-se transformar operações de multiplicação e divisão em operações de soma e subtração,
respectivamente.
Como citam Rohde & Schwarz (2015), embora a base 10 logarítmica da razão de
duas grandezas seja adimensional, é atribuída à ela uma unidade denominada “bel”, em
homenagem ao inventor do telefone Alexander Grahan Bell. Entretanto, Boylestad (1984)
aponta que o bel (B) é uma unidade de medida muito grande para propósitos práticos. Logo,
define-se o decibel (dB), de modo que 10 decibéis equivalem a 1 bel.
Segundo Albuquerque (1989), o conceito de decibel (dB) está ligado aos nossos
sentidos, em especial à audição. O ouvido humano não responde de forma linear aos estímulos
que lhe são impostos (potência sonora), mas sim de forma logarítmica. A título de exemplo, se
a potência sonora sofrer uma variação de 1 W para 2 W, a sensação sonora não dobrará. Para
que a sensação sonora dobre, a potência associada a ele deverá ser multiplicada por dez, ou seja,
18

deve variar de forma logarítmica. Deste modo, o decibel relaciona dois níveis de potência 𝑃 e
𝑃 de acordo com a equação (1).

𝑃
𝐺𝑃 = 10 log (1)
𝑃

Considerando-se, então, um quadripolo, como o exibido na Figura 1, representando


um circuito eletrônico que possui uma impedância de entrada 𝑍 e uma impedância de saída
𝑍 , e sabendo-se que potência ativa relacionada a uma resistência qualquer pode ser dada
através da divisão do quadrado da tensão pela resistência em si, o ganho de potência em dB
pode ser expresso por meio da equação (2).

𝑉
𝑃 𝑅
𝐺𝑃 = 10 log = 10 log
𝑃 𝑉
𝑅

𝑉 𝑅 𝑉 𝑅
𝐺𝑃 = 10 log . = 10 log + 10 log
𝑉 𝑅 𝑉 𝑅

𝑉 𝑅
𝐺𝑃 = 20 log + 10 log (2)
𝑉 𝑅

Figura 1 - Quadripolo representando um circuito eletrônico com entrada e saída.

Fonte: Adaptado de Mussoi (2004).

Visto que, usualmente, grande parte da análise dos filtros analógicos é feita através
do ganho de tensão, ou seja, da relação entre a tensão de saída e a tensão de entrada do sistema,
pode-se inferir da equação (2), fazendo-se 𝑅 = 𝑅 , que este é dado por:
19

𝑉
𝐺𝑉 = 20 log (3)
𝑉

2.1.2 Frequência de corte

De maneira geral, a frequência de corte é definida como a frequência limite entre


duas faixas de frequências distintas: uma a qual o filtro deixa passar, ou mesmo amplifica, e
outra que o filtro atenua em relação à faixa anterior. Mussoi (2004) diz que, matematicamente,
essa frequência é aquela na qual a potência média de saída é a metade da potência de entrada,
ou seja, quando o ganho de potência GP é igual a 0,5. Logo, considerando-se 𝑅 ≈ 𝑅 ,

𝑉
𝑅 𝑉 1
𝐺𝑃 = = =
𝑉 𝑉 2
𝑅

𝑉 1
= = 0,707 → 𝑉 = 0,707. 𝑉
𝑉 √2

Deste modo,

0,707. 𝑉
𝐺𝑉 = 20 log = 20 log (0,707) = 20(−0,15) = −3𝑑𝐵
𝑉

Dada essa dedução, Mussoi (2004) conclui que, a frequência de corte de qualquer
filtro que respeite as relações demonstradas anteriormente é aquela na qual a resposta em
frequência possui um ganho de -3 dB, ou seja, a tensão de saída é aproximadamente 70,7% da
tensão de entrada.
A designação de frequência de corte explicitada nesta secção é considerada a
definição clássica, utilizada amplamente pelas referências na área. Entretanto, entende-se que
dada uma situação, cabe ao projetista especificar qual a frequência de corte a ser utilizada e o
ganho do filtro concernente a tal frequência.
20

2.1.3 Função de transferência, polos e zeros

Segundo Ogata (2010), a função de transferência de um sistema representado por


uma equação linear invariante no tempo é definida como a relação entre as transformadas de
Laplace da saída e da entrada do mesmo, admitindo-se todas as condições iniciais nulas, ou
seja,

𝑌(𝑠) ℒ[𝑠𝑎í𝑑𝑎]
𝑇(𝑠) = = (4)
𝑋(𝑠) ℒ[𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎] çõ

Sedra; Smith (2007) definem que os filtros são circuitos lineares que podem ser
representados por uma malha geral de dois acessos (entrada e saída) e, portanto, sua função de
transferência pode ser definida como a descrita por Ogata (2010). Assim, pode-se transcrever a
equação (4) como uma razão de dois polinômios,

𝑉 (𝑠) 𝑎 𝑠 + 𝑎 𝑠 + ⋯+ 𝑎
𝑇(𝑠) = = (5)
𝑉 (𝑠) 𝑏 𝑠 +𝑏 𝑠 + ⋯+ 𝑏

sendo 𝑛 o grau do denominador, que representa a ordem do filtro, e 𝑚 o grau do numerador,


onde 𝑛 ≥ 𝑚.
Resolvendo-se a equação (5) para um regime permanente senoidal, isto é, fazendo-
se 𝑠 = 𝑗𝜔, obtém-se a chamada “transmissão” do filtro, que pode ser expressa em termos de
seu módulo e fase como

𝑇(𝑗𝜔) = |𝑇(𝑗𝜔)|𝑒 ( ) (6)

Schaumann; Valkenburg (2001) enunciam que essa função (|𝑇(𝜔)|) fornece


informações sobre o quanto a magnitude do sinal de entrada, em uma determinada frequência
𝜔, será atenuada ou ampliada, e 𝜙(𝜔) sobre a mudança de fase que o sinal de entrada sofre
durante a sua transmissão.
O módulo da amplitude de transmissão é comumente dado em decibéis e pode ser
expresso, segundo Sedra; Smith (2007), na forma
21

|𝑇(𝑗𝜔)| = 20 log|𝑇(𝑗𝜔)| (7)

De volta à equação (5), Sedra; Smith (2007) apontam que os seus polinômios podem
ser fatorados e T(s) pode ser expresso na forma

𝑎 (𝑠 − 𝑧 )(𝑠 − 𝑧 ) … (𝑠 − 𝑧 )
𝑇(𝑠) = (8)
𝑏 (𝑠 − 𝑝 )(𝑠 − 𝑝 ) … (𝑠 − 𝑝 )

Segundo Franco (2002), as raízes do numerador, 𝑧 , 𝑧 , ..., 𝑧 , e do denominador,


𝑝 , 𝑝 , ..., 𝑝 , são ditas os “zeros” e “polos” da função de transferência, respectivamente. Os
zeros representam os valores de 𝑠 para os quais a função transferência é nula, isto é, a magnitude
da função é zero, enquanto os polos são os valores de 𝑠 que zeram o denominador, ou seja,
fazem a magnitude da função tender ao infinito. Sabe-se ainda que o número de polos de uma
função é igual ao número de zeros, onde, 𝑚 representa o número de zeros finitos e 𝑛 − 𝑚 o
número de zeros no infinito.
Cada zero e polo pode ser um número real ou complexo, porém, quando eles são
complexos, eles ocorrem em pares conjugados, ou seja, se acontecer de 𝑝 = 𝜎 + 𝑗𝜔 ser um
polo, então 𝑝∗ = 𝜎 − 𝑗𝜔 também será um polo.
Costuma-se representar as raízes do numerador e denominador, isto é, os zeros e
polos, como pontos no plano complexo, ou plano s, dado que 𝜎 indica a parte real e é plotada
no eixo horizontal do plano, e 𝜔 indica a parte imaginária e é plotada no eixo vertical. Nesse
plano, os zeros e os polos são indicados pelas letras “o” e “x”, respectivamente, como ilustrado
na Figura 2. Esta plotagem é importante pois através dela é possível determinar algumas
características iniciais do filtro tais como estabilidade e a resposta em frequência (FRANCO,
2002).

Figura 2 - Representação dos polos e zeros em um plano complexo.

Fonte: Adaptado de Franco (2002).


22

Sedra; Smith (2007) apontam que para um filtro ser considerado estável todos os
seus polos devem estar à esquerda do plano complexo e, portanto, 𝑝 , 𝑝 , ..., 𝑝 devem todos
ter partes reais negativas. Caso os polos estejam posicionados no semiplano direito, a saída
crescerá indefinidamente ocasionando na prática a saturação do filtro ou até mesmo o dano de
algum componente. Se localizados no eixo imaginário, a resposta se mostrará oscilatória e com
magnitude constante. A resposta do filtro ocasionada por cada situação está representada na
Figura 3.

Figura 3 - Respostas de acordo com a localização dos polos. (a) Polos no semiplano esquerdo. (b) Polos no
semiplano direito. (c) Polos no eixo imaginário.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

Como em sua faixa de bloqueio é necessário que a transmissão seja nula ou muito
pequena, os zeros do filtro geralmente são posicionados sobre o eixo imaginário 𝑗𝜔 nas
frequências da faixa de bloqueio. Assim como os polos, os zeros complexos também ocorrem
aos pares conjugados.
23

2.1.4 Resposta em frequência e o Diagrama de Bode

O método da resposta em frequência segundo Lathi (2007), é a análise do


comportamento de um sistema em uma determinada faixa de frequência. A vantagem do uso
desse método reside no fato de que a mesma pode ser obtida experimentalmente, sem a
necessidade do conhecimento prévio da função de transferência.
A ferramenta visual mais utilizada para realizar o estudo de uma resposta em
frequência é a desenvolvida por Hendrik Wade Bode, denominada diagrama de Bode.
Considerando-se um sistema linear e invariante no tempo, ao aplicar-se uma
senoide na entrada, tem-se na saída, em regime permanente, uma senoide com frequência
equivalente à do sinal de entrada, podendo apresentar diferença na amplitude e na fase.
Variando-se então essa frequência, obtém-se a transferência do sistema com relação ao ganho
e fase. De acordo com Ogata (2010), o diagrama de Bode é a representação da função de
transferência de um sistema por meio de dois gráficos: um que representa a magnitude da
função de transferência e o outro a fase, ambos em função da frequência. Roberts (2010) ainda
destaca que a construção do diagrama de Bode, comumente realizada em escalas logarítmicas,
é uma maneira sistemática de esboçar a resposta em frequência total de um sistema que pode
conter múltiplas respostas em frequência associadas em cascata.
Além de analisar a resposta do sistema em regime permanente para diferentes
frequências, o diagrama de Bode também pode ser utilizado para realizar a análise da
estabilidade da resposta através dos conceitos de “margem de ganho” e “margem de fase”,
destacados em Ogata (2010).

2.1.5 Classificação

Os filtros podem ser classificados sob dois aspectos: quanto à tecnologia empregada
e quanto à função executada (PERTENCE, 2003). O primeiro aspecto de classificação dos
filtros eletrônicos nos permite dividi-los em três tecnologias fundamentais:
 Filtros passivos;
 Filtros ativos;
 Filtros digitais.
Os dois primeiros tipos citados são ditos “filtros analógicos” e se diferenciam entre
si pelos elementos utilizados em suas construções. Os filtros passivos são aqueles construídos
através da associação de resistores com elementos passivos, ou seja, elementos que possuem a
24

capacidade de armazenar energia, tais como capacitores e indutores. Ademais, esse tipo de filtro
é caracterizado pelo fato do ganho de tensão ser sempre menor ou igual a 1, pois não possuem
nenhum dispositivo ativo capaz de amplificar os sinais. Esse tipo de filtro possui diversas
aplicações em corrente alternada, tais como filtrar sinais de som, imagem e ruídos elétricos em
transmissões de dados. Em contrapartida, o seu uso em baixas frequências se mostra limitado
uma vez que exige indutores relativamente caros, volumosos e pesados.
Segundo Franco (2002), percebeu-se que com a incorporação de um amplificador
a um circuito de filtro tornaria possível a obtenção virtual de qualquer resposta, porém, sem a
utilização dos indutores. Esses filtros que são constituídos com elementos passivos associados
a elementos ativos, como por exemplo, os amplificadores operacionais, e portanto, são
chamados “filtros ativos”.
Os filtros digitais, segundo Pertence (2003), utilizam de componentes digitais em
sua composição. Um sinal analógico é convertido em sinal digital através de um sistema de
conversão analógico-digital. O sinal binário representativo do sinal de entrada, obtido pelo
processo citado, é filtrado pelo filtro digital e o resultado é convertido em sinal analógico por
um sistema de conversão digital-analógico. Tais filtros são utilizados em processos que
possuem uma baixa frequência e, apesar se serem mais caros quando comparados aos
analógicos, oferecem um desempenho superior.
A segunda classificação considera quatro tipos básicos de filtros (PERTENCE,
2003):
 Filtro Passa-Baixas (PB);
 Filtro Passa-Altas (PA);
 Filtro Passa-Faixa (PF);
 Filtro Rejeita-Faixa (RF).
Os filtros PB são aqueles que só permitem a passagem de componentes do sinal
com frequências abaixo de uma determinada frequência de corte 𝑓 , atenuando as superiores.
Considerando a condição ideal, para frequências abaixo da 𝑓 há um ganho de tensão 𝐾, que
pode ser igual a 1, estabelecendo que a tensão na saída possua a mesma magnitude da tensão
de entrada, ou, ser maior ou menor que a unidade, amplificando ou atenuando o sinal,
respectivamente, de acordo com o desejado. Já para frequências acima de 𝑓 , o ganho é nulo,
isto é, a tensão de saída será zero. Contudo, no caso do filtro real, sinais com frequência abaixo
de 𝑓 já sofrem atenuação, isto é, apresentam ganho menor do que 𝐾, e frequências acima da
frequência de corte não são eliminadas, mas sim atenuadas, como pode ser observado na Figura
25

4, na qual o termo |𝑇(𝑗𝜔)| representa o módulo da função de transferência, ou o ganho em


função da frequência angular 𝜔, sendo 𝜔 = 2𝜋𝑓.
Os filtros PA por sua vez, são opostos aos filtros PB, deixando passar apenas
componentes do sinal com frequências acima de uma determinada frequência de corte 𝑓 ,
atenuando as inferiores. A mesma consideração com relação à diferença entre o filtro real e o
ideal são observadas neste caso, como ilustrado na Figura 4.
Os filtros PF, como o próprio nome diz, são aqueles que permitem a passagem de
componentes do sinal com frequências situadas numa faixa delimitada por uma frequência de
corte inferior (𝑓 ) e outra superior (𝑓 ), atenuando as frequências abaixo de 𝑓 e acima de 𝑓 .
Por fim, os filtros RF permitem apenas a passagem de frequências situadas abaixo
de uma frequência de corte inferior 𝑓 e acima de uma superior 𝑓 , ou seja, atenuam ou
rejeitam a faixa de frequências delimitada por 𝑓 e 𝑓 .

Figura 4 - Curvas de respostas ideais e reais para os filtros PB, PA, PF E RF.

Fonte: Pertence (2003).


26

2.1.6 Especificação de um filtro

Como comentado no item anterior, na prática os circuitos físicos não conseguem


implementar as características ideais desejadas. Por conseguinte, para a realização do projeto
de um filtro deve-se levar em consideração as caraterísticas reais do mesmo. Sendo assim,
considerando-se a resposta de um filtro PB ilustrado na Figura 5, a sua especificação é dada
segundo Sedra; Smith (2007), por quatro parâmetros:
1. 𝐴 : é a máxima atenuação permitida na faixa de passagem;
2. 𝜔 : representa a frequência limite da faixa de passagem, implicando que a
atenuação para frequências no intervalo 0 ≤ 𝜔 ≤ 𝜔 não será maior do que
𝐴 ;
3. 𝐴 : é a atenuação mínima na faixa de bloqueio;
4. 𝜔 : representa a frequência limite da faixa de bloqueio, implicando que a
atenuação para frequências acima de 𝜔 será maior ou igual a 𝐴 .

Figura 5 - Especificação das características de transmissão de um filtro PB.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

A faixa de frequências entre 𝜔 e 𝜔 é denominada faixa de transição. Quanto


menor for a razão 𝜔 /𝜔 , também chamada de “fator de seletividade”, ou seja, quanto menor
for a faixa de transição, mais rigorosa será a especificação do filtro e, portanto, mais próxima
será a resposta em relação ao caso ideal.
27

Sendo 𝐴 a máxima atenuação na faixa de passagem, o ganho de tensão do filtro


nessa faixa pode assumir qualquer valor entre 𝐴 e 1 𝑉/𝑉, ou 𝐴 e 0 𝑑𝐵. Ainda, Sedra;
Smith (2007) explicitam que, dependendo do projeto do filtro pode-se obter ondulações na faixa
de passagem e, portanto, o termo 𝐴 também pode ser nomeado como “ondulação da faixa
de passagem” (passband ripple) e 𝜔 como “faixa de passagem da ondulação” (ripple
bandwidth).

2.2 FILTROS DE 1a ORDEM

A ordem de um filtro é conceituada em Sedra; Smith (2007) como o número de


polos da função de transferência de um filtro, isto é, o grau do polinômio do denominador.
A função de transferência geral para filtros de primeira ordem é dada por Sedra;
Smith (2007):
𝑎 𝑠+𝑎
𝑇(𝑠) = (9)
𝑠+𝜔

Essa função também é chamada em Schaumann; Valkenburg (2001) de bilinear pois


se trata de uma proporção entre duas equações de reta (ou polinômios de primeira ordem).
A função possui um polo em 𝑠 = −𝜔 , um zero em 𝑠 = − 𝑎 ⁄𝑎 e um ganho para
altas frequências (𝑠 → ∞) igual a 𝑎 . Na Figura 6 estão representadas as raízes e a magnitude
do diagrama de Bode.

Figura 6 - Plano 𝒔 e diagrama de Bode para o caso de um filtro PB de 1a ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).


28

Embora na Figura 6, de forma qualitativa, apresenta-se um ganho em baixas


frequências maior do que em altas frequências, pode-se ajustar os coeficientes da equação (9)
(𝑎 e 𝑎 ) de modo a obter a resposta contrária.

2.2.1 Filtros PB de 1ª ordem

Fazendo-se 𝑎 = 0 na equação (9), tem-se um zero no infinito, isto é, a função vai


zerar frequências muito elevadas, descrevendo matematicamente um filtro passa-baixas. Tal
função apresenta o polo em 𝑠 = −𝜔 e é descrita por:

𝑎 𝐾𝜔
𝑇(𝑠) = = (10)
𝑠+𝜔 𝑠+𝜔

sendo 𝐾 = 𝑎 /𝜔 o ganho do filtro em baixas frequências (𝑠 = 𝑗𝜔 → 0).


Para frequências muito superiores a 𝜔 , a função expressa na equação (10) pode ser
aproximada por 𝐾𝜔 /𝑠. Esta nova função possui a característica da magnitude decrescer a 20
dB/década, isto é, se em 𝜔 o ganho de um filtro é 𝐴 , em 10𝜔 e 100𝜔 será 𝐴 - 20 dB e 𝐴
- 40 dB, respectivamente.
A localização dos polos e zeros e a magnitude do diagrama de Bode de um filtro
PB de primeira ordem estão ilustrados na Figura 7.

Figura 7 - Plano 𝒔 e diagrama de Bode para filtros PB de 1ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

A aproximação da curva do diagrama de Bode por assíntotas, como representado


na Figura 7, facilita uma análise primária do circuito. Considerando-se a resposta real, a
29

magnitude diminui gradativamente até que em 𝜔 = 𝜔 o ganho será -3 dB com relação ao


ganho em 𝜔 = 0 (𝐾).

2.2.2 Filtros PA de 1ª ordem

Em oposição ao filtro passa-baixas, quando 𝑎 = 0, a função de transferência ainda


possuirá um polo em 𝑠 = −𝜔 só que desta vez, com um zero na origem (𝑠 = 0), fazendo com
que a função tenda a zero para baixas frequências. Tais particularidades caracterizam um filtro
passa-altas de equação

𝑎 𝑠 𝐾𝑠
𝑇(𝑠) = = (11)
𝑠+𝜔 𝑠+𝜔

sendo 𝐾 = 𝑎 o ganho do filtro em altas frequências (𝑠 = 𝑗𝜔 → ∞).

Figura 8 - Plano 𝒔 e diagrama de Bode para filtros PA de 1ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Para frequências muito menores que 𝜔 , a função descrita na equação (11) pode ser
aproximada por 𝐾𝑠/𝜔 , a qual possui a característica da magnitude crescer 20 dB/década, como
ilustrado na Figura 8. A assíntota demonstra um comportamento crescente com uma taxa de 20
dB/década até atingir a frequência de corte 𝜔 de modo que, para as frequências acima da
frequência de corte, esta assume um comportamento continuo e o circuito passa a ter um ganho
𝐾.
30

2.2.3 Filtros PT de 1ª ordem

Outro tipo relevante de filtro de primeira ordem apontado por Sedra; Smith (2007)
é o filtro passa-todas, representado na Figura 9. Esse tipo de filtro tem função de transferência
do tipo

𝑠−𝜔
𝑇(𝑠) = −𝑎 (12)
𝑠+𝜔

sendo que o coeficiente 𝑎 sempre assumirá valores maiores que 0.


Analisando a equação (12) nota-se que a função possui um zero em 𝑠 = 𝜔 e um
polo em 𝑠 = −𝜔 , ou seja, suas raízes estão posicionadas simetricamente em relação ao eixo
𝑗𝜔.

Figura 9 - Plano 𝒔 e diagrama de Bode para filtros PT de 1ª ordem com 𝒂𝟏 > 𝟎.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Esse tipo de filtro, como o próprio nome diz, deixa passar qualquer sinal sem
modificar a sua amplitude, desde que 𝑎 = 1. Contudo, introduz um atraso de fase que varia de
0° a -180°, com um valor de -90° em 𝜔 = 𝜔 (FRANCO, 2002).
Sendo assim, a principal função do filtro PT é atuar como deslocador de fase em
sistemas que necessitam condicionar a fase, como por exemplo, no projeto de equalizadores de
frequências, que são circuitos que fazem com que o tempo de atraso total de um sistema de
transmissão seja constante, independente da frequência.
31

2.3 FILTROS DE 2a ORDEM

A função de transferência geral de um filtro de segunda ordem é dada por Sedra;


Smith (2007) como:

𝑎 𝑠 +𝑎 𝑠+𝑎
𝑇(𝑠) = (13)
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

Como mencionado na secção 2.1.3, os polos do filtro são as raízes do denominador


de sua função de transferência e, portanto, são determinados pelos parâmetros 𝜔 e 𝑄 de acordo
com:

1
𝑝 ,𝑝 = − 𝜔 ± 𝑗𝜔 1 − (1⁄2𝑄) (14)
2𝑄

Os polos apresentados pela equação (14) são complexos conjugados com módulo
𝜔 . Deste modo, 𝜔 representa a distância radial dos polos a partir da origem, também chamada
de “frequência do polo”, e 𝑄, junto a 𝜔 , determina a distância dos polos ao eixo 𝑗𝜔 e é
denominado “fator de qualidade do polo”. Ambos os parâmetros estão representados no plano
𝑠 na Figura10.

Figura 10 - Definição dos parâmetros 𝝎𝟎 e 𝑸 de um par de polos conjugados.

Fonte: Sedra; Smith (2007).


32

Nota-se que, quanto maior o valor de 𝑄, mais próximos ao eixo 𝑗𝜔 os polos se


encontram e, consequentemente, mais seletiva se torna a resposta do filtro. Em contrapartida,
quanto mais próximo ao eixo 𝑗𝜔, maior a probabilidade do polo apresentar parte real positiva
e, sendo assim, estar mais próximo da instabilidade.
Na Figura 11 estão representadas as curvas da magnitude do ganho, em função da
frequência normalizada por 𝜔 , para diferentes valores de 𝑄.

Figura 11 - Típicas respostas de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑸: (a) Filtro PB e (b) Filtro PA.

Fonte: Adaptado de Franco (2002).

O filtro PB apresenta um ganho unitário até a frequência de corte 𝜔 . O valor do


ganho do filtro para tal frequência é 𝐾𝑄 = 𝑄 para 𝐾 = 1 (vide Figura 11). Se 𝑄 > 1, tem-se
uma amplificação na frequência de corte com relação ao ganho em baixas frequências, ou ganho
cc (Corrente Contínua), e a partir desta o sinal é atenuado. Se 𝑄 < 1, o sinal já começa a ser
atenuado para frequências abaixo de 𝜔 . Para frequências muito maiores que 𝜔 , a magnitude
cai a -40 dB/década, devido à existência de dois polos na função de transferência.
De forma análoga, a magnitude de um filtro PA em baixas frequências cresce a uma
taxa de 40 dB/década e na frequência de corte 𝜔 o ganho é 𝐾𝑄, podendo ser maior ou igual,
conforme com o valor do fator de qualidade 𝑄, ao ganho para frequências elevadas 𝐾.
33

2.3.1 Filtros PB de 2ª ordem

Assim como nos filtros de primeira ordem, os coeficientes 𝑎 , 𝑎 e 𝑎 , determinam


o tipo de função do filtro.
Os filtros PB de segunda ordem são obtidos quando os coeficientes 𝑎 e 𝑎 são
iguais a 0. Neste caso, a função de ganho cc igual a 𝐾 = 𝑎 ⁄𝜔 , possui dois polos complexos
conjugados localizados à esquerda no plano 𝑠, a uma distância radial 𝜔 da origem e dois zeros
no infinito, como ilustrado na Figura 12, acarretando com que a magnitude seja nula para 𝜔 →
∞, de acordo com:

𝑎
𝑇(𝑠) = (15)
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

Figura 12 - Plano 𝒔 e Diagrama de Bode para filtro PB de 2ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Para frequências muito maiores que 𝜔 , a função descrita na equação (15) pode ser
aproximada por 𝐾𝜔 /𝑠 , a qual possui a característica da magnitude decrescer a 40
dB/década.

2.3.2 Filtros PA de 2ª ordem

Quando os coeficientes 𝑎 e 𝑎 são iguais a zero, configura-se um filtro PA. Sua


função, dada pela equação (16), também possui dois polos localizados a uma distância 𝜔 da
origem, porém, ao contrário dos filtros PB, seus dois zeros estão localizados na origem,
implicando que a magnitude seja nula para 𝜔 → 0, como ilustrado na Figura 13.
34

𝑎 𝑠
𝑇(𝑠) = (16)
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

Figura 13 - Plano 𝒔 e Diagrama de Bode para filtro PA de 2ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Esse tipo de filtro possui um ganho em altas frequências 𝐾 equivalente ao


coeficiente 𝑎 . Para frequências muito menores que 𝜔 , a função explicitada na equação (16)
pode ser aproximada por 𝐾𝑠 /𝜔 , a qual possui a característica da magnitude crescer a 40
dB/década.

2.3.3 Filtros PF de 2ª ordem

Já no caso do filtro PF, representado Figura 14, os coeficientes 𝑎 e 𝑎 são nulos


implicando que a função de transferência assuma a forma:

𝑎 𝑠
𝑇(𝑠) = (17)
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

Na equação (17) observam-se dois zeros, um na origem (zerando frequências


próximas de zero) e outro no infinito (zerando frequências elevadas), e um ganho máximo 𝐾
entre esses dois extremos, na frequência central 𝜔 = 𝜔 .
Para baixas frequências a função de transferência pode ser aproximada por 𝐾𝑠/𝑄𝜔,
resultando em um acréscimo de 20 dB/década da magnitude até se aproximar da frequência
35

central 𝜔 . Para frequências elevadas, aproxima-se a função para 𝐾𝜔/𝑄𝑠, a qual apresenta uma
magnitude que decresce a 20 dB/década.

Figura 14 - Plano s e Diagrama de Bode para filtro PF de 2ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Conforme Sedra; Smith (2007), a seletividade desse filtro é usualmente medida por
sua faixa de passagem a 3 dB. Esta faixa está representada na Figura 14 pela diferença das
frequências 𝜔 e 𝜔 , que correspondem às frequências nas quais o módulo da resposta
apresenta 3 dB abaixo de seu valor máximo. Constata-se então que, à medida que 𝑄 aumenta,
a faixa de passagem diminui, ou seja, o filtro atuará em uma faixa menor do espectro de
frequências, e, consequentemente, se tornará mais seletivo. Por conseguinte, quanto maior o
valor de 𝑄, mais estreita é a faixa de passagem e, desta forma, maior é a atenuação para
frequências próximas à frequência central 𝜔 . O ganho máximo do filtro será 𝐾, como ilustrado
na Figura 15, para 𝐾 = 1.

Figura 15 - Típicas respostas de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑸 de um filtro PF.

Fonte: Adaptado de Franco (2002).


36

2.3.4 Filtros notch de 2ª ordem

Os filtros notch também são citados em algumas referências, como em Sedra; Smith
(2007), que os destaca como filtros “dente”, devido à caracterização do gráfico da magnitude
da resposta do filtro, como ilustrado na Figura 16.

Figura 16 – Exemplos padrões de filtros notch.

Fonte: Valkenburg (1982).

Os zeros do filtro são posicionados em 𝜔 = ±𝑗𝜔 , sendo 𝜔 um valor finito e


diferente de zero. Sendo assim, à medida em que 𝜔 se afasta de 𝜔 = 𝜔 , a magnitude se torna
diferente de zero.
Ao se estabelecer 𝜔 = 𝜔 , tem-se um filtro rejeita-faixa, correspondente ao
ilustrado na Figura 17(a). Este tipo de filtro se caracteriza por apresentar ganho nulo para a
frequência 𝜔 = 𝜔 , atenuando frequências próximas a esta. Inspecionando então o diagrama
de Bode nota-se que, à medida que a frequência se afasta de 𝜔 , a magnitude do ganho do filtro
tende ao valor do ganho em baixas frequências, equivalente, neste caso, ao ganho para
frequências elevadas.
Para os casos em que 𝜔 > 𝜔 , o filtro apresenta todos os polos dispostos antes da
frequência na qual o ganho é nulo, caracterizando um filtro PB com zeros em 𝜔 = 𝜔 . Para
frequências maiores que 𝜔 (faixa de bloqueio), a magnitude do ganho deixa de ser nula,
tendendo a um valor constante menor que o ganho em baixas frequências, como ilustrado na
Figura 17(b).
37

Adverso ao filtro PB, para 𝜔 < 𝜔 o filtro apresenta todos os polos dispostos
depois da frequência na qual o ganho é nulo, configurando um filtro PA com zeros em 𝜔 = 𝜔 .
Para frequências inferiores a 𝜔 (faixa de bloqueio), a magnitude do ganho deixa de ser nula,
tendendo a um valor constante menor que o ganho em altas frequências, como representado na
Figura 17(c).

Figura 17 - Plano 𝒔 e Diagrama de Bode para filtros dente de segunda ordem: (a) RF, (b) PB e (c) PA.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).


38

As funções dos filtros notch, assim como seus ganhos, estão representados na
Tabela 1.

Tabela 1 - Função 𝑻(𝒔) e ganho para filtros notch de 2ª ordem.

𝑻(𝒔) Ganho

𝑠 +𝜔
Notch RF 𝑇(𝑠) = 𝑎 Ganho CC = Ganho em altas frequências = 𝑎
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

𝑠 +𝜔
𝑇(𝑠) = 𝑎 Ganho CC = 𝑎 𝜔 ⁄𝜔
Notch PB 𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔
Ganho em altas frequências = 𝑎
𝑐𝑜𝑚 𝜔 ≫ 𝜔
𝑠 +𝜔
𝑇(𝑠) = 𝑎 Ganho CC = 𝑎 𝜔 ⁄𝜔
Notch PA 𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔
Ganho em altas frequências = 𝑎
𝑐𝑜𝑚 𝜔 ≪ 𝜔
Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Franco (2002) ainda destaca, por meio da Figura 18, a resposta em termos do fator
𝑄 para o caso do filtro notch regular RF. Nota-se que, quanto maior o valor de 𝑄, mais estreito
o dente se torna, ou seja, mais seletiva a sua resposta.

Figura 18 - Típica resposta de filtro dente RF de 2ª ordem para diferentes valores de 𝑸.

Fonte: Franco (2002).

2.3.5 Filtros PT de 2ª ordem

O filtro passa-todas de segunda ordem, cujas características estão demonstradas na


Figura 19, é empregado principalmente, segundo Paarmann (2001), no processo de
39

compensação de fase, visto que, introduz um atraso de fase no sinal, sem provocar quaisquer
alterações em sua amplitude. Referindo-se ao plano 𝑠, os dois zeros de transmissão estão à
direita do eixo 𝑗𝜔, posicionados simetricamente em relação aos polos. Este filtro pode
apresentar um ganho 𝑎 diferente de 1 e igual para todas as frequências, apresentando uma
função de transferência, dada por Sedra; Smith (2007), equivalente a

𝑠 − (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔
𝑇(𝑠) = 𝑎 (18)
𝑠 + (𝜔 ⁄𝑄 )𝑠 + 𝜔

Figura 19 - Plano s e diagrama de Bode para filtro PT de 2ª ordem.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Franco (2002) ainda aponta que o fator de qualidade do filtro PT é dado em função
da sua fase, como ilustrado na Figura 20.

Figura 20 - Típica resposta de filtro PT de 2ª ordem para diferentes valores de Q.

Fonte: Franco (2002).


40

2.4 FILTROS DE ORDENS SUPERIORES

Pertence (2003) define que, fisicamente, a ordem de um filtro corresponde ao


número de redes de atraso presentes em sua estrutura. Já em termos matemáticos, ela é definida
pelo número de polos existentes em sua função de transferência.
Considerando-se um filtro PB de 1ª ordem em frequências nas quais 𝜔 ≫ 𝜔 , a
magnitude da resposta em frequência decai 20 dB/década, ou 6 dB/oitava. A existência de um
segundo polo, no caso de filtros PB de 2ª ordem, implica em uma queda de 40 dB/década, ou
12 dB/oitava. Para um filtro PA, a existência de um zero na origem faz com que a magnitude
cresça a 20 dB/década. Como também apresenta um polo em 𝑠 = −𝜔 , a partir de 𝜔 ao
comportamento anterior é decrescido 20 dB/década, o que faz com que o ganho passe a ser
constante em altas frequências.
No caso do filtro PF, a magnitude cresce 20 dB/década em baixas frequências,
devido à existência de um zero na origem. Por possuir dois polos de magnitude 𝜔 , o
comportamento é subtraído de -40 dB/década, resultando em uma queda de -20 dB/década para
altas frequências.
Isto posto, a existência de polos e zeros e a quantidade dos mesmos altera esse
comportamento. Este conceito pode ser verificado tomando como exemplo um filtro PB.
Quanto maior for a ordem do filtro, maior será a sua taxa de atenuação, e, consequentemente,
mais a sua resposta se aproximará das curvas ideais, conforme verificado na Figura 21.

Figura 21 - Comparação das respostas de um filtro PB para diferentes valores de 𝒏.

Fonte: Pertence (2003).


41

Em suma, a taxa final de atenuação de um filtro de 𝑛-ordem é de ±𝑛.20 dB por


década, ou ±𝑛.6 dB por oitava, como observado na Tabela 2.

Tabela 2 - Relação entre a ordem de um filtro e sua taxa de atenuação.

𝒏 Taxa de atenuação
1 ±20dB/década ±6dB/oitava
2 ±40dB/ década ±12dB/ oitava
3 ±60dB/ década ±18dB/ oitava
4 ±80dB/ década ±24dB/ oitava
5 ±100dB/ década ±30dB/ oitava
6 ±120dB/ década ±36dB/ oitava
Fonte: Autoria própria.

Tendo em vista ainda um filtro PB, se os sinais que devem ser rejeitados e os que
devem passar possuírem frequências muito próximas, por exemplo 60 Hz e 100 Hz,
respectivamente, as características de corte de um filtro de primeira ou segunda ordem não
serão suficientes para garantir que a resposta desejada seja atingida.
Como já comentado no item 2.1.2 e ressaltado nesta segmentação, quanto maior for
a ordem de um filtro, maior será a sua seletividade. Sendo assim, para se obter uma resposta
mais próxima da ideal é necessário o uso de filtros que possuem ordem maior que 2, os quais
são comumente conhecidos como filtros de ordens superiores.
A obtenção desses filtros de ordens superiores será abordada nessa seção por meio
das aproximações de filtros (Butterworth, Chebyshev, Cauer e Bessel) para o caso do filtro PB.
O projeto dos demais tipos de filtros será obtido por meio da transformação de filtros discutida
no item 2.5.

2.4.1 Aproximação Butterworth

A aproximação Butterworth foi primeiramente descrita pelo engenheiro britânico


Stephen Butterworth e se caracteriza por maximizar a faixa de passagem, deixando-a mais plana
possível. Além disso, este tipo de aproximação exibe uma diminuição linear na transmissão
com todos os zeros em 𝜔 → ∞, tornando o filtro somente de polos.
A função de módulo para uma aproximação Butterworth de 𝑛-ésima ordem é dada
em Sedra; Smith (2007) por
42

1
|𝑇(𝑗𝜔)| =
𝜔 (19)
1+𝜖 𝜔

Na equação (19), 𝜖 representa uma constante que determina a máxima atenuação


da faixa de passagem em dB e é encontrada, segundo Sedra; Smith (2007), por

𝜖= 10 ⁄ −1 (20)

De modo inverso, a atenuação máxima na faixa de passagem é dada por

𝐴 = 20𝑙𝑜𝑔 1 + 𝜖 (21)

Como comentado previamente e ainda ressaltado por Franco (2002), uma das
características desse tipo de aproximação é a sua máxima planicidade. Isso se deve ao fato de
que as primeiras 2𝑛 − 1 derivadas de |𝑇(𝑗𝜔)| são zero em 𝜔 = 0, indicando uma curva o mais
plana possível em 𝜔 = 0.
Na Figura 22 estão representadas as respostas em módulo para filtros com
aproximação Butterworth de várias ordens, considerando 𝜖 = 1, e, consequentemente, 𝐴 =
3 dB.

Figura 22 - Resposta em módulo para filtro Butterworth para diferentes ordens.

Fonte: Adaptado de Pertence (2003).


43

Ao observar a figura nota-se que o grau de planicidade da faixa de passagem se


eleva à medida que a ordem n aumenta, ou seja, quanto maio for a ordem do filtro, mais a sua
resposta se aproximará da resposta ideal.
Dados os valores de 𝐴 ,𝐴 , 𝑓 e 𝑓 , previamente definidos pelo projetista, o
primeiro passo para o projeto do filtro consiste em determinar o valor de 𝜖 por meio da equação
(20). Com o valor de 𝜖 determinado, define-se então a ordem do filtro. Para a obtenção de uma
estimativa inicial, considera-se 𝐴(𝜔 ) = 𝐴 sendo, 𝐴(𝜔 ) a atenuação mínima na faixa de
bloqueio, quando 𝜔 = 𝜔 . Por meio da equação (22), calcula-se n de modo que, a ordem do
filtro será o menor valor inteiro de n que produz 𝐴(𝜔 ) ≥ 𝐴 . Caso essa relação não se
aplique à ordem do filtro calculada, testa-se a equação novamente para valores de ordem
maiores até que a condição se verifique. Para a utilização da equação (22), considera-se a
atenuação já em dB.

𝐴(𝜔 ) = 10𝑙𝑜𝑔 1 + 𝜖 𝜔 ⁄𝜔 (22)

A partir da obtenção da ordem do filtro é possível determinar os polos do mesmo


por meio da construção gráfica mostrada na Figura 23.

Figura 23 - Construção gráfica para obtenção de polos de um filtro Butterworth.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).


44

Pela análise da figura nota-se que os polos se localizam ao longo do círculo de raio
𝜔 (1⁄𝜖 ) e são espaçados por ângulos iguais equivalentes a 𝜋⁄𝑛, com o primeiro polo
distanciado em um ângulo 𝜋⁄2𝑛 em relação ao eixo 𝑗𝜔. Sedra; Smith (2007) ainda ressalta que,
como os polos possuem distâncias radiais iguais, a partir da origem todos têm as mesmas
frequências 𝜔 = 𝜔 (1⁄𝜖 ) .
Assim, uma vez encontrada a ordem do filtro e a posição de seus polos, sua função
de transferência será dada por

𝐾𝜔
𝑇(𝑠) = (23)
(𝑠 − 𝑝 )(𝑠 − 𝑝 ) … (𝑠 − 𝑝 )

sendo 𝐾 o ganho cc desejado para o filtro.


Por fim, Sedra; Smith (2007) resume o projeto de filtros do tipo Butterworth em
quatro passos básicos:
1. Determinar 𝜖 pela equação (20);
2. Determinar a ordem do filtro através da equação (22);
3. Utilizar a Figura 23 para determinar os 𝑛 polos do filtro;
4. Determinar 𝑇(𝑠) por meio da equação (23).

A fim de facilitar o cálculo das posições dos polos, Santos (2003) propõe o uso de
valores tabelados dos polinômios de Butterworth para determinadas especificações. Na Tabela
3 estão representados os polinômios da aproximação Butterworth para 𝑛 = 1, . . . ,10,
normalizados para frequência 𝜔 = 1. Caso se demonstre necessário a utilização de outro valor
/
para 𝜔 na função, substitui-se 𝑠 por 𝑠 .

Franco (2002) apresenta uma tabela alternativa com o valor de 𝜔 , normalizado, e


𝑄 para diferentes ordens, como ilustrado na Tabela 4. Neste caso, tem-se a frequência
normalizada para 1 Hz e 𝐴 igual a 3 dB. Considera-se a implementação de filtros a partir
de filtros de 2ª ordem em cascata, para ordem par, e um filtro de 1ª ordem e os demais de 2ª
ordem em cascata para ordem ímpar. Considerando-se as equações genéricas de um filtro PB,
dadas por (10) e (15), substitui-se 𝜔 da equação por 𝑥𝜔 , sendo 𝑥 o valor enconrado na tabela.
45

Tabela 3 - Polinômios de Butterworth normalizados em 𝝎𝟎 = 𝟏.

𝒏 Denominador de 𝑻(𝒔)
1 (𝑠 + 1)
2 (𝑠 + √2𝑠 + 1)
3 (𝑠 + 1) (𝑠 + 𝑠 + 1)
4 (𝑠 + 0,76537𝑠 + 1)(𝑠 + 1,84776𝑠 + 1)
5 (𝑠 + 1)(𝑠 + 0,61803𝑠 + 1)(𝑠 + 1,61803𝑠 + 1)
6 (𝑠 + 0,51764𝑠 + 1)(𝑠 + √2𝑠 + 1)(𝑠 + 1,93185𝑠 + 1)
7 (𝑠 + 1) (𝑠 + 0,44504𝑠 + 1)(𝑠 + 1,247𝑠 + 1)(𝑠 + 1,80194𝑠 + 1)
8 (𝑠 + 0,3902𝑠 + 1)(𝑠 + 1,1111𝑠 + 1)(𝑠 + 1,6629𝑠 + 1)(𝑠 + 1,9616𝑠 + 1)
9 (𝑠 + 1)(𝑠 + 0,3473𝑠 + 1) (𝑠 + 𝑠 + 1)(𝑠 + 1,5321𝑠 + 1)(𝑠 + 1,87939𝑠 + 1)
10 (𝑠 + 0,3129𝑠 + 1)(𝑠 + 0,908𝑠 + 1)(𝑠 + √2𝑠 + 1)(𝑠 + 1,782𝑠 + 1)(𝑠 + 1,9754𝑠 + 1)
Fonte: Adaptado de Santos (2003).

Tabela 4 - Valores tabelados de frequência e fator de qualidade, normalizados em 1 Hz, para filtros PB de
𝒏 ordens.
Filtro PB Butterworth

𝒏 𝒇𝟎𝟏 𝑸𝟏 𝒇𝟎𝟐 𝑸𝟐 𝒇𝟎𝟑 𝑸𝟑 𝒇𝟎𝟒 𝑸𝟒 𝒇𝟎𝟓 𝑸𝟓 Att (dB) em 𝟐𝒇𝒄

2 1 0,707 1 12,30

3 1 1,000 1 18,13

4 1 0,541 1 1,306 24,10

5 1 0,618 1 1,620 1 30,11

6 1 0,518 1 0,707 1 1,932 36,12

7 1 0,555 1 0,802 1 2,247 1 42,14

8 1 0,510 1 0,601 1 0,900 1 2,563 48,16

9 1 0,532 1 0,653 1 1,000 1 2,879 1 54,19

10 1 0,506 1 0,561 1 0,707 1 1,101 1 3,196 60,21

Fonte: Adaptado de Franco (2002).

O processo descrito pode ser facilitado com o uso de softwares específicos para o
projeto de filtros analógicos de ordens superiores, como por exemplo o FilterPro, da Texas
Instruments. Outra ferramenta amplamente utilizada para a determinação dos parâmetros do
filtros é o software MATLAB® que, por meio das funções ‘buttord’ e ‘butter’, realiza o cálculo
46

da ordem e frequência de corte do filtro Butterworth e a obtenção de seus zeros, polos e ganho,
respectivamente.

2.4.2 Aproximação Chebyshev

Para Franco (2002), em algumas aplicações de filtros é mais relevante a obtenção


de uma transição mais brusca do que uma máxima planicidade. Além disso, Pertence (2003)
ressalta que, para frequências próximas à frequência de corte, a resposta do tipo Butterworth
não se mostra eficiente para filtros de baixa ordem. Desta forma, uma aproximação alternativa
que pode ser utilizada quando se deseja atender aos critérios citados é a do tipo Chebyshev.
Este tipo de aproximação maximiza a taxa de corte da faixa de transição, contudo,
introduz ondulações (ripples) na faixa de passagem. Segundo Pertence (2003), o número de
ripples presente na faixa de passagem é igual à ordem do filtro e que, para 𝑛 ímpar, os ripples
apresentam em 𝜔 = 0 seu valor máximo, enquanto para 𝑛 par, eles apresentam em 𝜔 = 0 seu
valor mínimo, como mostrado na Figura 24.

Figura 24 - Resposta em módulo para filtro Chebyshev.

Fonte: Adaptado de Pertence (2003).

A função em módulo para uma aproximação Chebyshev, assim como sua atenuação
máxima na faixa de passagem, são definidas em Franco (2002) por
47

1
|𝑇(𝑗𝜔)| = −
𝜔 (24)
1 + 𝜖 cos 𝑛 cos 𝜔

𝐴 = 10log(1 + 𝜖 ) (25)

Assim, pela equação (25), é possível determinar o valor de 𝜖.

𝜖= 10 ⁄ −1 (26)

Observa-se que as equações (25) e (26) são idênticas às utilizadas no projeto de


filtro tipo Butterworth. De maneira análoga à aproximação Butterworth, a ordem do filtro é
então obtida em Sedra; Smith (2007) por meio da atenuação em 𝜔 , dada por:

𝐴(𝜔 ) = 10𝑙𝑜𝑔 1/ 1 + 𝜖 cosh 𝑛 cosh 𝜔 ⁄𝜔 (27)

Por meio da equação (27) nota-se que, para todos os valores práticos de 𝜖, a
aproximação Chebyshev produz uma atenuação mínima 𝐴(𝜔 ) maior em relação ao seu
correspondente Butterworth de mesma ordem, ou seja, o filtro Chebyshev requer uma ordem
menor do que o Butterworth para atender à mesma especificação (PAARMANN, 2001).
Ainda, os polos do filtro Chebyshev são encontrados através de

2𝑘 − 1 𝜋 1 1 2𝑘 − 1 𝜋 1 1
𝑝 = −𝜔 sin sinh sinh + 𝑗𝜔 cos cosh sinh (28)
𝑛 2 𝑛 𝜖 𝑛 2 𝑛 𝜖

Por fim, a função de transferência pode ser reescrita como

𝑘𝜔
𝑇(𝑠) = (29)
𝜖2 (𝑠 − 𝑝 )(𝑠 − 𝑝 ) … (𝑠 − 𝑝 )

Deste modo, Sedra; Smith (2007) resume o projeto de filtros do tipo Chebyshev em
quatro etapas:
1. Determinar 𝜖 pela equação (26);
48

2. Determinar a ordem do filtro através da equação (27);


3. Determinar os polos utilizando a equação (28);
4. Determinar a nova 𝑇(𝑠) através da equação (29).
Novamente, o uso de valores tabelados se mostra uma excelente ferramenta na
determinação de 𝑇(𝑠). De maneira análoga aos polinômios de Butterworth, os polinômios de
Chebyshev desnormalizados são obtidos por meio da substituição de 𝑠 por 𝑠/𝜔 nos valores
apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 - Polinômios de Chebyshev normalizados em 𝝎𝒑 = 𝟏 para diferente valores de 𝑨𝒎𝒂𝒙 .

(a) 𝑨𝒎𝒂𝒙 = 𝟎, 𝟐𝟓 𝒅𝑩

Numerador
𝒏 Denominador de 𝑻(𝒔)
Constante 𝑲
1 (𝑠 + 4,10811) 4,10811
2 (𝑠 + 1,79668𝑠 + 2,11403) 2,05405
3 (𝑠 + 0,76722) (𝑠 + 0,76722𝑠 + 1,33863) 1,02702
4 (𝑠 + 0,42504𝑠 + 1,16195)(𝑠 + 1,0261𝑠 + 0,45485) 0,51352
5 (𝑠 + 0,43695)(𝑠 + 0,27005𝑠 + 1,09543)(𝑠 + 0,707𝑠 + 0,53642) 0,25676
(b) 𝑨𝒎𝒂𝒙 = 𝟎, 𝟓𝟎 𝒅𝑩

Numerador
𝒏 Denominador de 𝑻(𝒔)
Constante 𝑲
1 (𝑠 + 2,86278) 2,86278
2 (𝑠 + 1,42562𝑠 + 1,51620) 1,43138
3 (𝑠 + 0,62646) (𝑠 + 0,62646𝑠 + 1,14245) 0,71570
4 (𝑠 + 0,35071𝑠 + 1,06352)(𝑠 + 0,84668𝑠 + 0,356412) 0,35785
5 (𝑠 + 0,362332)(𝑠 + 0,22393𝑠 + 1,03578)(𝑠 + 0,58625𝑠 + 0,47677) 0,17892
(c) 𝑨𝒎𝒂𝒙 = 𝟏, 𝟎𝟎 𝒅𝑩

Numerador
𝒏 Denominador de 𝑻(𝒔)
Constante 𝑲
1 (𝑠 + 1,96523) 1,96523
2 (𝑠 + 1,09773𝑠 + 1,10251) 0,98261
3 (𝑠 + 0,49417) (𝑠 + 0,49417𝑠 + 0,99420) 0,49130
4 (𝑠 + 0,27907𝑠 + 0,98650)(𝑠 + 0,67374𝑠 + 0,27940) 0,24565
5 (𝑠 + 0,28949)(𝑠 + 0,17892𝑠 + 0,98831)(𝑠 + 0,46841𝑠 + 0,42930) 0,12283
Fonte: Adaptado de Santos (2003).
49

Tabelas análogas à Tabela 4 são apresentadas por Franco (2002) para 𝐴 de 1 dB


e 0,1 dB, como pode ser observado na Tabela 6.

Tabela 6 - Valores tabelados de frequência e fator de qualidade, normalizados em 1 Hz, para filtros PB de
𝒏 ordens.

Filtro PB Chebyshev para 𝑨𝒎𝒂𝒙 = 𝟎, 𝟏 𝒅𝑩

𝒏 𝒇𝟎𝟏 𝑸𝟏 𝒇𝟎𝟐 𝑸𝟐 𝒇𝟎𝟑 𝑸𝟑 𝒇𝟎𝟒 𝑸𝟒 𝒇𝟎𝟓 𝑸𝟓 Att (dB) em


𝟐𝒇𝒄

2 1,820 0,767 3,31

3 1,300 1,341 0,969 12,24

4 1,153 2,183 0,789 0,619 23,43

5 1,093 3,282 0,797 0,915 0,539 34,85

6 1,063 4,633 0,834 1,332 0,513 0,599 46,29

7 1,045 6,233 0,868 1,847 0,575 0,846 0,377 57,72

8 1,034 8,082 0,894 2,453 0,645 1,183 0,382 0,593 69,16

9 1,027 10,178 0,913 3,145 0,705 1,585 0,449 0,822 0,290 80,60

10 1,022 12,522 0,928 3,921 0,754 2,044 0,524 1,127 0,304 0,590 92,04

Filtro PB Chebyshev para 𝑨𝒎𝒂𝒙 = 𝟏 𝒅𝑩

𝒏 𝒇𝟎𝟏 𝑸𝟏 𝒇𝟎𝟐 𝑸𝟐 𝒇𝟎𝟑 𝑸𝟑 𝒇𝟎𝟒 𝑸𝟒 𝒇𝟎𝟓 𝑸𝟓 Att (dB) em


𝟐𝒇𝒄

2 1,050 0,957 11,36

3 0,997 2,018 0,494 22,46

4 0,993 3,559 0,529 0,785 33,87

5 0,994 5,556 0,655 1,399 0,289 45,31

6 0,995 8,004 0,747 2,198 0,353 0,761 56,74

7 0,996 10,899 0,808 3,156 0,480 1,297 0,205 68,18

8 0,997 14,240 0,851 4,266 0,584 1,956 0,265 0,753 79,62

9 0,998 18,029 0,881 5,527 0,662 2,713 0,377 1,260 0,159 91,06

10 0,998 22,263 0,902 6,937 0,721 3,561 0,476 1,864 0,212 0,749 102,50

Fonte: Adaptado de Franco (2002).


50

O MATLAB® traz as funções ‘cheb1ord’ e ‘cheb2ord’ para o cálculo da ordem e


frequência de corte do filtro Chebyshev, e ‘cheby1’ e ‘cheby2’ para a obtenção de seus zeros,
polos e ganho, respectivamente.

2.4.3 Aproximação Cauer

A aproximação Cauer, também conhecida como “elíptica”, é a mais utilizada no


projeto de filtros pois esse tipo de aproximação é capaz de atender as mesmas especificações
utilizando um filtro de ordem menor do que os filtros obtidos por Butterworth e Chebyshev.
(FRANCO, 2002). O tipo de filtro que utiliza essa aproximação é muito utilizado em
equipamentos que exigem alta precisão no ponto de corte, bem como uma atenuação acentuada
na faixa de bloqueio.
Os filtros com aproximação Cauer apresentam ondulações, ou ripples, tanto na
faixa de passagem como na faixa de bloqueio. Todavia, a sua faixa de transição é bastante
estreita.
De acordo com Daryanani (1976), o desenvolvimento matemático da aproximação
elíptica é baseado em uma complexa teoria de funções elípticas, que ultrapassa o escopo deste
trabalho. O MATLAB® apresenta as funções ‘ellipord’ e ‘ellip’ para o cálculo da ordem do
filtro elíptico e obtenção de seus zeros, polos e ganho, respectivamente.
Paarmann (2001) ainda salienta que, o uso da aproximação elíptica se demonstra
vantajoso apenas se o interesse do projetista é obter uma mínima ordem possível dada uma
determinada especificação, pois, além deste tipo de filtro apresentar uma resposta em fase não-
linear, a sua implementação pode se tornar mais cara e complicada devido aos seus altos níveis
de seletividade.

2.4.4 Aproximação Bessel

Nos estudos das aproximações Butterworth, Chebyshev e Cauer, não foram levadas
em consideração a distorção da fase introduzida pelos filtros, porém, dependendo da aplicação
pode-se distorcer o sinal de forma significativa. Em vista disso, a informação da fase foi
considerada na aproximação Bessel ou Thomson, apresentada por Daryanani (1976). O objetivo
ao usar este tipo de aproximação é obter uma característica de atraso mais plana possível na
banda de passagem.
A função para uma característica ideal de atraso é dada por
51

𝑇(𝑠) = 𝑒 (30)

Nesse tipo de aproximação, o atraso na origem é maximamente plano, ou seja, o


máximo de derivadas possíveis são iguais a zero na origem. Por conveniência, a aproximação
Bessel, apresentada na equação (30), é determinada pela função normalizada da característica
ideal, considerando um atraso cc de 𝑇 = 1 𝑠. Logo, esta pode ser reescrita como

𝐵 (𝑠)
𝑇(𝑠) = (31)
𝐵 (0)

Na equação (31), 𝐵 é o polinômio de ordem n que é definido em Daryanani (1976)


pelas equações recursivas

𝐵 (𝑠) ≃ 1 e 𝐵 (𝑠) = 𝑠 + 1
e
𝐵 (𝑠) = (2𝑛 − 1)𝐵 (𝑠) + 𝑠 𝐵 (𝑠) (32)

Este processo pode ser melhor explicitado ao se considerar um filtro de ordem 2,


por exemplo. Substituindo 𝑛 = 2 na equação (32) e, resolvendo-a para 𝑠 = 0, obtém-se função
𝑇(𝑠) por meio da equação (31).

𝑠 + 3𝑠 + 3
𝑇(𝑠)| =
3

Novamente o uso de uma tabela que apresenta as formas fatoradas das funções de
aproximação se demonstra útil para a realização dos cálculos. Na Tabela 7 estão representados
os parâmetros para a aproximação Bessel para 𝑛 = 1, … , 5, quando 𝑇 = 1 𝑠. É importante
lembrar que, caso o atraso não seja 𝑇 = 1 𝑠, 𝑠 deve ser substituído nas funções de aproximação
por 𝑠𝑇 .
Outra maneira de se obter a função 𝑇(𝑠) é por meio do esboço da atenuação e do
atraso da aproximação Bessel para n ordens, representados nas Figuras 25 e 26,
respectivamente. Nelas, a frequência normalizada 𝛺 é dada por

𝛺 = 𝜔𝑇 (33)
52

Tabela 7 - Parâmetros para a determinação da função 𝑻(𝒔) da aproximação Bessel para 𝑻𝟎 = 𝟏 𝒔.


Denominador
𝒏 Numerador de 𝑻(𝒔)
Constante 𝑲
1 𝑠+1 1
2 𝑠 + 3𝑠 + 3 3
3 (𝑠 + 3,67782𝑠 + 6,45944)(𝑠 + 2,32219) 15
4 (𝑠 + 5,79242𝑠 + 9,14013)(𝑠 + 4,20758𝑠 + 11,4878) 105
5 (𝑠 + 6,70391𝑠 + 14,2725)(𝑠 + 4,64934𝑠 + 18,15631)(𝑠 + 3,64674) 945
Fonte: Adaptado de Doryanani (1976).

Figura 25 - Atenuação de um filtro PB com aproximação Bessel para 𝒏 ordens.

Fonte: Daryanani (1976).

Figura 26 - Atraso de fase um filtro PB com aproximação Bessel para 𝒏 ordens.

Fonte: Daryanani (1976).


53

Por meio da Figura 26 é possível realizar uma primeira estimativa da ordem do


filtro de acordo com as especificações de frequência e atrasos determinadas e, utilizando a
Figura 25, determina-se 𝜔 , correspondente à atenuação mínima especificada. Por conseguinte,
calcula-se 𝑇 pela equação (33). Caso 𝑇 = 1, utiliza-se os parâmetros da Tabela 7 para obter a
função 𝑇(𝑠) normalizada. Caso contrário, desnormaliza-se a função substituindo 𝑠 por 𝑄.
Ainda, analisando a Figura 26 nota-se que, quanto maior for a ordem do filtro, maior
será a faixa de frequências sobre a qual o atraso é plano. As características de atraso da
aproximação Bessel são muito superiores se comparadas com as das aproximações Butterworth
e Chebyshev, porém, o atraso plano é obtido às custas da atenuação da faixa de bloqueio que,
para a aproximação de Bessel, é ainda mais baixa do que para as outras aproximações citadas.
Em outras palavras, este tipo de filtro é consideravelmente menos seletivo se comparado aos
demais tipos estudados anteriormente (DARYANANI, 1976).
Por fim, para se projetar um filtro com aproximação do tipo Bessel é necessário
seguir os seguintes passos:
1. Estimar a ordem do filtro através da Figura 26, levando em consideração as
especificações pré-determinadas;
2. Determinar a frequência 𝛺 observando a Figura 25, verificando se esta
corresponde à frequência 𝜔 especificada;
3. Caso corresponda, verificar a função apropriada na respectiva tabela,
desnormalizando-a, se necessário, através da substituição de 𝑠 por 𝑠𝑇 ; Caso
não corresponda, elevar a ordem do filtro até que seus parâmetros se enquadrem
especificações desejadas.
Analogamente às tabelas 4 e 6, Sedra; Smith (2007) apresenta valores tabelados
para a obtenção da ordem do filtro, referentes a um 𝐴 de 3 dB, como pode ser observado na
Tabela 8.
O MATLAB® apresenta a função ‘besself’ para o cálculo dos zeros, polos e ganho
do filtro.
54

Tabela 8 - Valores tabelados de frequência e 𝑸, normalizados em 1 Hz, para filtros PB de 𝒏 ordens.


Filtro PB Bessel

𝒏 𝒇𝟎𝟏 𝑸𝟏 𝒇𝟎𝟐 𝑸𝟐 𝒇𝟎𝟑 𝑸𝟑 𝒇𝟎𝟒 𝑸𝟒 𝒇𝟎𝟓 𝑸𝟓

2 1,274 0,577

3 1,453 0,691 1,327

4 1,419 0,522 1,591 0,806

5 1,561 0,564 1,760 0,917 1,507

6 1,606 0,510 1,691 0,611 1,907 1,023

7 1,719 0,533 1,824 0,661 2,051 1,127 1,685

8 1,784 0,506 1,838 0,560 1,958 0,711 2,196 1,226

9 1,880 0,520 1,949 0,589 2,081 0,760 2,324 1,322 1,858

10 1,949 0,504 1,987 0,538 2,068 0,620 2,211 0,810 2,485 1,145

Fonte: Franco (2002).

2.5 TRANSFORMAÇÕES DE FILTROS

Todas as aproximações apresentadas até agora estavam diretamente aplicadas a


filtros passa-baixas. O processo de adaptação dessas aproximações para os filtros passa-alta,
passa-faixa e rejeita-faixa é chamado, segundo Schaumann; Valkenburg (2001), de
“transformação de filtros”.
A partir de um filtro PB obtido com o auxílio das Tabelas 4, 6 e 8, Franco (2002)
argumenta que, o seu equivalente PA pode ser alcançado utilizando-se a relação dada por

𝑓 = 𝑓 /𝑓 ( ) (34)

De maneira geral, Tan; Jiang (2008) sugere que o processo de transformação de


filtros seja feito em apenas uma etapa, transformando diretamente a função de um filtro PB,
normalizada na frequência 𝛺, para a função do filtro desejado (PA, PF ou RF ) desnormalizada
na frequência 𝜔, conforme a relação demonstrada matematicamente e visualmente por meio da
Figura 27.

𝑇 (𝑗𝛺) → 𝑇 , , (𝑗𝜔)
55

Figura 27 - Transformação de um filtro PB, normalizado na frequência 𝛺, para os filtros PA, PF e RF de-
normalizados na frequência 𝜔.

Fonte: Adaptado de Tan; Jiang (2008).

Na Figura 27, os parâmetros 𝑠 e 𝜔 representam a largura e o centro geométrico da


faixa de passagem, respectivamente, dos filtros PF e RF.
Outra abordagem da transformação de frequências consiste em dividir o processo
direto descrito anteriormente em duas etapas onde, primeiramente desnormaliza-se a função de
um filtro PB normalizado em 𝛺 para a sua respectiva frequência 𝜔 por meio da substituição de
𝑠 por 𝑄 e, subsequentemente, realiza-se a transformação de 𝜔 para 𝜔 de acordo com o filtro
desejado, conforme demonstrado na Figura 28.

𝑇 (𝑗𝛺) → 𝑇 (𝑗𝜔) → 𝑇 , , (𝑗𝜔)


56

Figura 28 - Transformação de um filtro PB, desnormalizado na frequência 𝜔, para os filtros PA, PF e RF


na frequência 𝜔.

Fonte: Adaptado de Tan; Jiang (2008).

Para explicitar essa equivalência, considera-se a função de um filtro Butterworth de


ordem 3, obtida por meio na Tabela 3, como a mostrada a seguir.

1
𝑇 (𝑗𝛺) =
(𝑠 + 1)(𝑠 + 𝑠 + 1)

Realizando a transformação de frequências em etapas, tem-se:

𝑇 (𝑗𝛺) = 𝑇 (𝑗𝜔)| / = 𝑇 (𝑗𝜔)| /

1
𝑇 (𝑗𝜔) =
𝑠 𝑠 𝑠
𝜔 +1 𝜔 +𝜔 +1

1 1
𝑇 (𝑗𝜔) = =
𝜔 𝜔 𝜔 𝜔 +𝑠 𝜔 + 𝑠. 𝜔 + 𝑠
𝑠. 𝜔 + 1 𝑠 .𝜔
+ 𝑠. 𝜔 + 1 𝑠 𝑠
57

1 𝑠
𝑇 (𝑗𝜔) = =
1 𝑠+𝜔 𝑠 + 𝜔 .𝑠 + 𝜔
𝑠+𝜔 𝑠 + 𝜔 .𝑠 + 𝜔
𝑠

Ainda, de maneira direta,

𝑇 (𝑗𝛺) = 𝑇′ (𝑗𝜔)| /

1 1
𝑇 (𝑗𝜔) = =
𝜔 𝜔 𝜔 𝜔 +𝑠 𝜔 + 𝜔 .𝑠 + 𝑠
𝑠 +1 𝑠 + 𝑠 +1
𝑠 𝑠
1 𝑠
𝑇′ (𝑗𝜔) = =
1 𝑠+𝜔 𝑠 + 𝜔 .𝑠 + 𝜔
𝑠+𝜔 𝑠 + 𝜔 .𝑠 + 𝜔
𝑠

Logo, comprova-se que 𝑇 (𝑗𝜔) = 𝑇′ (𝑗𝜔).


Em suma, as transformações de frequências do filtro PB para os filtros PA, PF e
RF, conforme as relações salientadas, estão representadas na Tabela 9.

Tabela 9 - Transformações de frequência de filtros PB para filtros PA, PF e RF.

Tipo do Filtro 𝑻𝑷𝑩 (𝒋𝜴) → 𝑻𝑷𝑨,𝑷𝑭,𝑹𝑭 (𝒋𝝎) 𝑻𝑷𝑩 (𝒋𝝎) → 𝑻𝑷𝑨,𝑷𝑭,𝑹𝑭 (𝒋𝝎)

𝜔 𝜔
PA 𝑠= 𝑠=
𝑠 𝑠

𝑠 +𝜔 (𝑠 + 𝜔 )𝜔
PF 𝑠= 𝑠= 𝐵 =𝜔 −𝜔
𝐵 𝐵

𝐵 𝐵
RF 𝑠= 𝑠= 𝜔 = 𝜔 𝜔
𝑠 +𝜔 (𝑠 + 𝜔 )𝜔

Fonte: Autoria própria.

2.6 IMPLEMENTAÇÃO DE FILTROS ANALÓGICOS

Independente da ordem do filtro a ser implementado, a sua classificação quanto à


função executada é determinada a partir dos diferentes tipos de conexão entre os componentes
do circuito.
58

A implementação de filtros utilizando os elementos passivos e ativos, citados até o


presente momento do estudo, apresenta uma gama muito ampla de variedades. Deste modo,
essa seção visa explicitar alguns exemplos de topologias de filtros, caracterizadas pela
utilização de circuitos passivos RLC e/ou amplificadores operacionais.

2.6.1 Filtros passivos e ativos de 1ª ordem

As topologias passivas e ativas para um filtro PB de primeira ordem são apontadas


por Sedra; Smith (2007) que as descreve por meio dos circuitos indicados na Figura 29(a) e (b),
respectivamente.

Figura 29 - Implementações para filtros PB de 1ª ordem: (a) passiva e (b) ativa.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Na implementação passiva de filtros PB (vide Figura 29(a)), para quaisquer valores


de 𝑅 e 𝐶 o ganho cc sempre será 1. Para sinais de baixa frequência, o capacitor apresenta uma
reatância muito alta em relação à resistência, se comportando como um circuito aberto. Deste
modo, a maior parcela da tensão de entrada estará sobre o mesmo, resultando em um ganho de
tensão aproximadamente unitário, ou seja, o circuito permite a passagem dessas baixas
frequências. De modo contrário, para sinais de altas frequências, o capacitor apresenta baixa
reatância, se comportando como um curto-circuito. Desta forma, a maior parcela da tensão de
entrada estará sobre o resistor e, portanto, o ganho será aproximadamente nulo, atenuando esses
sinais.
59

Já na correspondente ativa, indicada na Figura 29(b), para baixas frequências, onde


𝑍 ≫ 𝑅 , o circuito caracteriza-se como um amplificador inversor de ganho − 𝑅 ⁄𝑅 e a
assíntota é representada no diagrama de Bode através da linha horizontal. Para altas frequências,
onde 𝑍 ≪ 𝑅 , a assíntota assume a forma de uma linha que possui um declive de -20
dB/década, com uma frequência de corte 𝜔 = 1/𝑅 𝐶 (circuito integrador) (FRANCO, 2002).
Para o caso do filtro PA, Sedra; Smith (2007) apresentam as topologias passiva e
ativa indicadas nas Figuras 30(a) e (b), respectivamente.

Figura 30 - Implementações para filtros PA de primeira ordem: (a) passiva e (b) ativa.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Observando os circuitos propostos para o caso PA, constata-se que sua obtenção é
garantida por meio da manipulação dos elementos passivos dos circuitos correspondentes ao
caso PB, de modo que a análise desses circuitos é feita de maneira análoga a tal caso.
Na análise passiva, visto que neste caso a posição dos elementos passivos são
invertidas se comparadas ao circuito da Figura 29(a), em altas frequências a tensão de saída
assume um valor praticamente igual ao da tensão de entrada, ou seja, o circuito permite a
passagem das altas frequências. Em contrapartida, submetido a sinais de baixas frequências, o
circuito apresenta ganho aproximadamente nulo, atenuando tais sinais.
Comparando os filtros de primeira ordem PB e PA, nota-se que as implementações
ativas são bem mais versáteis que as suas correspondentes passivas, uma vez que, além de
possuírem uma impedância de saída muito baixa, o que possibilita uma ligação em cascata e
consequentemente a obtenção de filtros com ordens superiores, seus ganhos são ajustáveis,
60

podendo ser projetados modificando-se apenas alguns parâmetros da função transferência sem
que outros sejam afetados.

2.6.2 Filtros passivos de 2ª ordem

A análise dos filtros 𝑅𝐿𝐶 é feita, segundo Smith; Sedra (2007), a partir do
ressonador 𝑅𝐿𝐶 paralelo, apresentado na Figura 31.

Figura 31 - Ressonador paralelo RLC de segunda ordem.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

Aplicando-se a transformada de Laplace, considerando condições iniciais nulas, a


quaisquer equações do circuito da Figura 31, averígua-se que tais equações apresentarão o
mesmo denominador, sejam elas referentes a impedâncias, tensões ou correntes elétricas. O
denominador, comum a todas as equações, é a equação característica do circuito e suas raízes,
obtidas por meio da equação (35), são os polos de qualquer filtro obtido por meio deste
ressonador.

1 1
𝑠 + 𝑠+ =0 (35)
𝑅𝐶 𝐿𝐶

Comparando-se a equação característica do ressonador, dada pela equação (35), à


função genérica de um filtro de segunda ordem, destacada na seção 2.3 por meio da equação
(13), obtém-se:
61

𝜔 = 1/√𝐿𝐶 (36)

𝑄 = 𝜔 𝐶𝑅 (37)

Os valores atribuídos aos componentes passivos do circuito serão determinados,


então, a partir dos parâmetros pretendidos para cada função de transferência de segunda ordem
que se deseja implementar.
O próximo passo é determinar os zeros de transmissão do circuito a fim de se obter
o tipo de filtro desejado. Smith; Sedra (2007) explicita este conceito ao analisar a injeção de
um sinal de entrada no circuito ressonador da Figura 31. Os autores destacam que, um sinal de
entrada pode ser inserido em qualquer um dos nós do ressonador, a fim de se obter a função de
transferência desejada, sem que seus modos naturais sejam alterados. Por conseguinte, o
ressonador se transformará em um divisor de tensões, como o ilustrado na Figura 32, com
função de transferência genérica equivalente à apresentada na equação (38).

Figura 32 - Estrutura genérica para filtros 𝑹𝑳𝑪.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

𝑉 (𝑠) 𝑍 (𝑠)
𝑇(𝑠) = = (38)
𝑉 (𝑠) 𝑍 (𝑠) + 𝑍 (𝑠)

Os zeros de transmissão então, serão os valores de 𝑠 em que 𝑍 (𝑠) é nulo (sem que
𝑍 (𝑠) seja nulo simultaneamente) e 𝑍 (𝑠) é infinito (sem que 𝑍 (𝑠) seja infinito
simultaneamente). Deste modo, realizando os procedimentos previamente descritos nesta
seção, é possível obter diferentes tipos de filtros por meio da manipulação da conexão dos nós
62

do ressonador com o sinal de entrada, respeitando, em todos os casos, a estrutura genérica


apresentada.
Na Figura 33 estão expressas as estruturas dos diferentes tipos de filtros estudados,
assim como suas funções de transferências, zeros de transmissão e coeficientes.

Figura 33 - Implementação de filtros de segunda ordem utilizando o ressonador LCR: (a) PB; (b) PA; e (c)
PF.

Fonte: Adaptado de Smith; Sedra (2007).

A topologia do filtro PT proposta por Smith; Sedra (2007), indicada na Figura


33(d), apresenta algumas particularidades.
63

Na Figura 33(d), observa-se que a função de transferência do filtro PT, indicada na


equação (18) da seção 2.3.5, pode ser reescrita em termos do filtro PF. Fisicamente, deseja-se
obter o filtro PT por meio da junção de um divisor de tensão e apenas um filtro PF, portanto, a
função de transferência é manipulada de modo a eliminar o coeficiente 2 presente no
numerador. Desta forma, se torna possível a construção do circuito utilizando o filtro PF da
Figura 33(c), de ganho na frequência central unitário, associado a um divisor de tensão de razão
de transmissão de 0,5.
Além de possuir um ganho plano de 0,5, diferente do ganho unitário esperado, esta
implementação também se diferencia das outras pelo fato da sua saída não ser referenciada ao
terra.
Analogamente aos filtros demonstrados anteriormente, os filtros do tipo notch
também são obtidos por meio da manipulação de uma estrutura genérica, como evidenciado na
Figura 34.

Figura 34 - Estrutura genérica para filtros do tipo notch.

Fonte: Smith; Sedra (2007).

Neste circuito, os valores atribuídos aos indutores e capacitores devem ser


escolhidos, de acordo com a equação (40), de modo a introduzir um par de zeros de transmissão
no eixo 𝑗𝜔, desde que seus modos naturais não sejam alterados. Desta forma,

1
𝐿 𝐶 = (39)
𝜔
𝐶 +𝐶 =𝐶 (40)
64

𝐿 ||𝐿 = 𝐿 (41)

Por meio das equações (40) e (41), nota-se que, eliminando o sinal de entrada, o
circuito será equivalente ao ressonador observado na Figura 31, implicando que os modos
naturais do circuito se mantém preservados.
Na Figura 35 estão destacadas as estruturas dos filtros notch e suas características.

Figura 35 - Implementação de filtros de segunda ordem do tipo notch utilizando o ressonador LCR: (a) RF;
(b) PB; e (c) PA.

Fonte: Adaptado de Smith; Sedra (2007).


65

2.6.3 Filtros ativos de 2ª ordem utilizando o circuito de Antoniou

Embora os filtros passivos estudados na seção 2.6.2 demonstram-se de fácil


implementação, fisicamente em um circuito, o uso de indutores apresentam algumas
desvantagens.
Circuitos que possuem um 𝑄 muito alto em baixas frequências, por exemplo,
exigem o uso de indutores de alto valor que, consequentemente, são caros, pesados e
volumosos. Paralelo a isso, Kumar & Shukla (1989) frisam que um dos principais objetivos no
ramo da eletrônica se apoia na ideia de reduzir o tamanho dos circuitos.
Entretanto, apesar da redução das dimensões de resistores e capacitores se provar relativamente
simples, atingi-la em porcentagem comparável a indutores provou-se impraticável. Em vista
disso, os autores propõem a substituição do indutor em filtros passivos por circuitos compostos
por elementos resistivos e capacitivos associados a um amplificador operacional.
Sedra; Smith (2007) ainda destacam que, além de realizar a função principal de
filtragem por um custo menor, o amplificador operacional acrescenta ao circuito a característica
de amplificação do sinal de entrada. O uso desse elemento ativo ainda permite a associação de
diversas etapas de filtragem sem que haja uma perda de intensidade de sinal significante.
Ante às questões apontadas, Kumar & Shukla (1989) indicam algumas formas de
se implementar circuitos 𝑅𝐶-AmpOp para realizar tal substituição. Dentre elas, estão
destacadas utilização do circuito de simulação de Antoniou, e da indutância flutuante, também
nomeada como indutância emulada.
A ideia principal do método de Antoniou, representado na Figura 36, baseia-se na
substituição do indutor, presente no ressonador 𝑅𝐿𝐶, por um circuito composto por elementos
passivos e amplificadores operacionais, garantindo que as relações entre corrente e tensão
observadas no indutor sejam mantidas. Em termos de projeto, deseja-se encontrar uma relação
entre as variáveis passivas do circuito e o valor do indutor 𝐿 desejado.
A Figura 37 destaca as etapas da análise de corrente e tensão do circuito de
Antoniou, representadas nas cores vermelha e verde, respectivamente.
66

Figura 36 - Circuito de simulação da indutância de Antoniou.

Fonte: Smith; Sedra (2007).

Figura 37 - Análise do circuito de simulação da indutância de Antoniou.

Fonte: Adaptado de Smith; Sedra (2007).

É importante ressaltar que os amplificadores utilizados possuem características


ideais, como curto-circuito virtual (𝐴 infinito) e correntes de entrada (polarização) nulas,
implicando que a tensão nos terminais positivo e negativo dos mesmos é a mesma, e, a corrente
que passa por eles é zero. Deste modo, aplicando-se as leis de Ohm e Kirchoff ao circuito
obtém-se a expressão da corrente de entrada do circuito 𝐼 . Esta expressão, em conjunto com a
tensão de entrada 𝑉 , é então comparada à equação do indutor, resultando na obtenção da
impedância de entrada do circuito, dada pela equação (42).
67

𝑉 (𝑠) 𝑉 (𝑠) 𝑉 𝑠𝐶 𝑅 𝑅 𝑅
= 𝑠𝐿 → = =
𝐼 (𝑠) 𝐼 (𝑠) 𝑉𝑅 𝑅
𝑠𝐶 𝑅 𝑅 𝑅

𝐶𝑅 𝑅 𝑅
𝐿= (42)
𝑅

Em uma situação real de projeto, Smith; Sedra (2007) diz que os capacitores e
resistores do circuito de simulação de Antoniou são determinados de modo que
𝑅 = 𝑅 = 𝑅 = 𝑅 = 𝑅 e 𝐶 = 𝐶, resultando na relação 𝐿 = 𝐶𝑅 . Empiricamente, os valores
sugeridos para o capacitor estão na faixa de 100 𝜇F a 0,01 𝜇F e o valor correspondente ao
resistor é determinado baseando-se no valor de 𝐿.
O outro modo de simulação de um indutor citado por Kumar & Shukla (1989), o
circuito de indutância flutuante, se diferencia da proposta de Antoniou pelo fato de consistir em
um circuito não aterrado, como mostra a Figura 38.

Figura 38 - Realização da indutância flutuante.

Fonte: Kumar & Shukla (1989).

De maneira análoga à análise do circuito de Antoniou, a impedância de entrada


desta topologia também respeita a relação 𝐿 = 𝐶𝑅 . Deste modo, o método de obtenção dos
valores de 𝑅 e 𝐶 é equivalente ao demonstrado para o caso do circuito de Antoniou.
Conforme mencionado em Smith; Sedra (2007), ao decorrer dos anos de estudo de
filtros, o método de Antoniou é o circuito 𝑅𝐶-AmpOp que se demonstrou mais eficiente para
operar como substituto do indutor de um filtro passivo. Em vista dessa vantagem, nesta seção
serão abordados diferentes tipos de filtros ativos de 2ª ordem que se baseiam no método em
questão para realizar a substituição do indutor.
68

Na Figura 39(a) observa-se o ressonador apresentado na seção 2.6.2 com a


substituição do indutor pelo circuito de Antoniou.

Figura 39 - (a) Ressonador 𝑹𝑪-Amp Op com substituição do indutor do circuito 𝑳𝑪𝑹 pelo circuito de
Antoniou. (b) Implementação de um amplificador de acoplamento 𝑲.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

O ressonador em questão apresenta as mesmas relações para a frequência de polo


𝜔 e o fator de polo 𝑄 indicados nas equações (36) e (37), porém, desta vez realiza-se a
substituição do valor de 𝐿 observado na equação (42).
Novamente, Sedra; Smith (2007) aponta que os valores dos capacitores e resistores
podem ser escolhidos arbitrariamente de modo que sejam iguais entre si e equivalham aos
valores de 𝐶 e 𝑅 da topologia passiva, respectivamente. Desta forma, a frequência e o fator do
polo para este caso são dados pelas equações (43) e (44).
69

𝜔 = 1/𝐶𝑅 (43)

𝑄 = 𝑅 /𝑅 (44)

O amplificador 𝐾, indicado na Figura 39(b), representa a topologia de um


amplificador não-inversor, observado em Valkenburg (1982), operando como um buffer.
O circuito buffer se caracteriza por ser um amplificador não-inversor de ganho igual
ou maior que 1, amplamente utilizado quando há a necessidade de se isolar o sinal de entrada
de uma determinada carga. Sedra; Smith (2007) aponta que, o amplificador 𝐾 demonstra-se
necessário na implementação do filtro estudado uma vez que, o acoplamento de uma carga à
saída do filtro pode alterar as características do mesmo. Deste modo, o buffer não só atua
isolando o sinal de saída do filtro, como também permite que seu ganho, dado pela equação
(45) descrita em Valkenburg (1982), seja ajustado de acordo com as características desejadas,
apenas com a manipulação das resistências 𝑟 e 𝑟 .

𝑟
𝑉 = 𝑉 (45)
𝑟 + 𝑟

Analogamente aos filtros passivos de 2ª ordem descritos na seção 2.6.2, os demais


tipos de filtros ativos podem ser obtidos por meio da mudança de conexão dos nós do circuito
original. Essas topologias podem ser utilizadas unicamente como um filtro de segunda ordem,
ou, podem ser acopladas utilizando o método de cascata, que será abordado posteriormente na
seção 2.8, para a obtenção de filtros com ordens superiores. Algumas destas topologias estão
representadas na Figura 40.
Baseado na ideia apresentada para o filtro passivo PT de segunda ordem, sua
implementação ativa também pode ser representada em termos da função de transferência do
filtro PF de maneira que, 𝑃𝑇 = 1 − (𝑃𝐹 𝑐𝑜𝑚 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑛𝑎 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑙 𝑖𝑔𝑢𝑎𝑙 𝑎 2).
Desta forma, o filtro PT é obtido a partir da associação de um filtro PF com 𝐾 = 2 ao circuito
não-inversor da Figura 39(b).
70

Figura 40 - Implementação de algumas funções do filtro de 2ª ordem da Figura 38(a). (a) Filtro PB; (b)
Filtro PA; (c) Filtro PF; (d) Filtro notch regular.

Fonte: Sedra; Smith (2007).


71

Figura 41 - Implementação de um filtro PT utilizando a indutância de Antoniou.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

2.6.4 Filtros ativos de 2ª ordem Biquadráticos

Os filtros biquadráticos, ou biquad, são assim nomeados, pois sua função de


transferência é obtida pela divisão de duas funções quadráticas, assim como a função de
transferência de um filtro PA de 2ª ordem verificada anteriormente na seção 2.3.2 pela equação
(16), por exemplo.
Este tipo de filtro, também conhecido como “filtro ativo universal”, é amplamente
empregado em projetos de filtros de segunda ordem devido a sua capacidade de atuar como um
filtro PB, PA e PF de maneira simultânea.
Fisicamente, Valkenburg (1982) sugere que o filtro seja composto a partir de
circuitos mais triviais a fim de facilitar sua implementação. Neste estudo, serão abordadas duas
configurações distintas para filtros biquad: o filtro KHN e o biquad Tow-Thomas.
A primeira topologia a ser considerada, proposta por Kerwin, Huelsman &
Newcomb e estudada mais tarde por Tow (1968), é denominada KHN em homenagem aos seus
autores. Este filtro também é chamado por Franco (2002) como filtro SV (do inglês State-
Variable).
Esse tipo de configuração se baseia no diagrama de blocos representado na Figura
42(c), o qual consiste na associação de dois integradores com AmpOp inversor e um somador.
72

Figura 42 - Diagrama de blocos do circuito biquad. (a) Integradores; (b) Somador; (c) Associação dos dois
integradores e do somador resultando no circuito biquad.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Analisando, então, o circuito da Figura 42(c), nota-se que, manipulando a equação


(16) para 𝑎 = 𝐾, este pode ser representado matematicamente em termos dos dois integradores
e do somador.

1 𝜔 1 𝜔
𝑉 = 𝐾𝑉 − 𝑉 − 𝑉 (46)
𝑄 𝑠 𝑄 𝑠

A equação (46) revela que o sinal de entrada 𝑉 , que alimenta os dois integradores,
é obtido por meio do circuito somador com pesos da Figura 42(b).
Ainda, a versatilidade deste circuito, comentada previamente, pode ser observada
verificando-se os sinais de saída do mesmo. Nota-se que a saída do primeiro e do segundo
integrador correspondem às funções dos filtros PF, com ganho na frequência central igual a
– 𝐾𝑄, e PB com granho cc igual a 𝐾, respectivamente, como demonstra as equações (47) e (48).

𝜔
− 𝑠 𝑉 𝐾𝜔 𝑠
= 𝜔 = 𝑇 (𝑠) (47)
𝑉 𝑠 +𝑠 𝑄 +𝜔

𝜔
𝑉 𝐾𝜔
𝑠 (48)
= 𝜔 = −𝑄𝑇 (𝑠)
𝑉 𝑠 +𝑠 𝑄 +𝜔
73

Uma vez definidas as propriedades do circuito, o objetivo agora se baseia na


implementação do mesmo. Para isto, o bloco dos integradores é substituído por integradores
inversores e o bloco do somador por um circuito AmpOp de soma não inversor, como evidencia
a Figura 43(a).

Figura 43 – (a) Circuito biquad KHN obtido pela implementação direta do diagrama de blocos da Figura
41(c) e (b) os pesos somados às saídas do filtro a fim de se obter um filtro PT.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

A fim de determinar os valores práticos dos componentes do circuito, Su (2003),


analisa empiricamente o filtro KHN considerando cada bloco à parte, expressando-os por meio
das equações (49), (50) e (51), respectivamente.

1
𝑉 =− 𝑉 (49)
𝑠𝑅 𝐶
74

1
𝑉 =− 𝑉 (50)
𝑠𝑅 𝐶

𝑅 (𝑅 + 𝑅 ) 𝑅 𝑅 (𝑅 + 𝑅 )
𝑉 = 𝑉 − 𝑉 + 𝑉 (51)
𝑅 (𝑅 + 𝑅 ) 𝑅 𝑅 (𝑅 + 𝑅 )

Substituindo então, as equações descritas na relação 𝑇(𝑠) = 𝑉 /𝑉 , obtêm-se


numericamente os valores da frequência e do fator do polo, 𝜔 e 𝑄, assim como o valor de 𝐾,
dados pelas equações (52), (53) e (54), respectivamente.

𝑅 1
𝜔 = . (52)
𝑅 𝑅 𝑅 𝐶𝐶

𝑅 𝑅 +𝑅 𝑅 𝑅 𝐶
𝑄= . . (53)
𝑅 𝑅 +𝑅 𝑅 𝑅 𝐶

𝑅 𝑅 +𝑅
𝐾= . (54)
𝑅 𝑅 +𝑅

Após o equacionamento, o interesse principal do projetista é determinar os valores


práticos dos componentes passivos do filtro. Para os elementos associados aos integradores,
Franco (2002) aponta que, seus valores são usualmente escolhidos de modo que, 𝑅 = 𝑅 = 𝑅
e 𝐶 = 𝐶 = 𝐶. Ainda, Sedra; Smith (2007) manipulam a equação do sinal de saída do somador,
de modo que esta seja transcrita em função de suas entradas, como evidencia a equação (55).
Esta equação é então comparada à equação (51), concluindo que 𝑅 /𝑅 = 1, ou seja, 𝑅 = 𝑅 .

𝑅 𝑅 𝑅 𝑅 𝜔 𝑅 𝜔
𝑉 = 1+ 𝑉 + 1+ − 𝑉 − 𝑉 (55)
𝑅 +𝑅 𝑅 𝑅 +𝑅 𝑅 𝑠 𝑅 𝑠

Dadas as relações descritas e sabendo que, em termos de projeto, os valores de 𝜔 ,


𝑄 e 𝐾 são pré-determinados de acordo com as necessidades do projetista, 𝜔 , 𝑄 e 𝐾 podem ser
reescritos como
75

𝜔 = 1/𝑅𝐶 (56)

𝑅
2𝑄 = +1 (57)
𝑅

𝐾 = 2 − (1/𝑄) (58)

Uma característica interessante desta topologia é que ela pode ser utilizada na
implementação de filtros notch. Essa configuração é obtida por meio do acoplamento do
circuito da Figura 42(b) aos terminais de saída 𝑉 , 𝑉 e 𝑉 do filtro 𝐾𝐻𝑁, resultando na soma
dos pesos dessas saídas. Matematicamente, essa relação pode ser expressa através da equação
(59).

𝑉 (𝑅 /𝑅 )𝑠 − 𝑠(𝑅 /𝑅 )𝜔0 + (𝑅 /𝑅 )𝜔
= −𝐾 (59)
𝑉 𝑠 + 𝑠(𝜔0 /𝑄) + 𝜔

Por inspeção nota-se que, ao assumir 𝑅 = ∞ e (𝑅 /𝑅 ) = (𝜔𝑛 /𝜔0 ) , essa


realização se torna possível.
O segundo tipo de filtro evidenciado nesse estudo, o “biquad Tow-Thomas”,
introduzido em Tow (1968) e mais tarde estudado por Thomas (1971), tinha como intuito
principal, minimizar o uso de componentes ativos na construção de um filtro e assim, diminuir
consideravelmente os custos de sua implementação.
Essa configuração, evidenciada nas Figuras 44(a) e 44(b), se diferencia da topologia
KHN por utilizar três amplificadores operando com a entrada no modo simples. De acordo com
Franco (2002), essa diferença pode ser encarada como uma desvantagem uma vez que o filtro
não engloba a função PA, demonstrando-se inferiormente versátil se comparado com a
topologia KHN. Contudo, o fato de todos os amplificadores utilizarem uma única entrada ativa
implica que o uso do somador se torna desnecessário, visto que a função de soma passa ser de
responsabilidade do inversor adicionado ao circuito.
76

Figura 44 - Filtro biquad Tow-Thomas. (a) Diagrama de blocos; (b) Implementação prática; (c)
Implementação do circuito biquad com alimentação direta.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

A análise matemática deste filtro é feita por Su (2003) de maneira análoga ao filtro
KHN, porém, como aponta Sedra; Smith (2007), desta vez não é utilizado um quarto AmpOp
para viabilizar as demais funções do filtro, mas sim, uma alimentação direta, denominada como
77

feed-forward, como mostra a Figura 44(c). Este tipo de alimentação, comentada por Ogata
(2010), tem como característica principal corrigir o efeito dos distúrbios antes que a saída do
circuito seja afetada.
Tomando então 𝑛 como a saída do integrador, a função de transferência do circuito
da Figura 44(c) pode ser descrita pela equação (60) e utilizada para a obtenção das funções
desejadas, conforme as relações evidenciadas na Tabela 10.

𝐶 1 1 𝑟 1
𝑉 𝑠 𝐶 + 𝑠 𝐶 𝑅 − 𝑅𝑅 +
𝐶 𝑅𝑅
=− (60)
𝑉 1 1
𝑠 + 𝑠 𝑄𝐶𝑅 +
𝐶 𝑅

Tabela 10 - Dados de projeto para o circuito da Figura 43(c).

Função 𝑫𝒂𝒅𝒐𝒔

1
Todos os casos 𝐶 = 𝑎𝑟𝑏𝑖𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜; 𝑅 = ; 𝑟 = 𝑎𝑟𝑏𝑖𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜
𝜔 𝐶

PB 𝐶 = 0; 𝑅 = ∞; 𝑅 = 𝑅/𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑐𝑐; 𝑅 = ∞

PF positivo 𝐶 = 0; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ∞; 𝑅 = 𝑄𝑟/𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑛𝑎 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑙

PF negativo 𝐶 = 0; 𝑅 = 𝑄𝑅/𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑛𝑎 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑙; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ∞

PA 𝐶 = 𝐶. 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑒𝑚 𝑎𝑙𝑡𝑎𝑠 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ∞

𝐶 = 𝐶. 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑒𝑚 𝑎𝑙𝑡𝑎𝑠 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ∞


Dente (todos os tipos) 𝜔
𝑅 =𝑅 /𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑒𝑚 𝑎𝑙𝑡𝑎𝑠 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑠;
𝜔

𝑅
PT 𝐶 = 𝐶. 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑛𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜; 𝑅 = ∞; 𝑅 = ; 𝑅 = 𝑄𝑟/𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜
𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).


78

2.6.5 Filtros ativos de 2ª ordem 𝐾𝑅𝐶

Conforme destacado na seção anterior, os filtros de 2ª ordem biquad demonstram


ótimo desempenho e apresentam como principal vantagem o fato de serem fáceis de serem
projetados e sintonizados após a sua montagem final. Todavia, essa configuração emprega o
uso demasiado de amplificadores, ocasionando um custo total alto.
Tendo isso em conta, Sedra; Smith (2007) propõem o uso de um determinado tipo
de filtro que utiliza apenas um único amplificador por seção de segunda ordem, os biquads com
amplificadores simples. Por sua construção ser embasada na associação de um circuito 𝑅𝐶 à
um amplificador operacional de ganho 𝐾, esses filtros são também nomeados por Franco (2002)
como filtros 𝐾𝑅𝐶.
Apesar de apresentarem um custo reduzido devido ao baixo número de
amplificadores em sua topologia, a configuração simplista do circuito acarreta uma maior
sensibilidade à variações dos parâmetros do circuito, como faixa de passagem e ganho finito do
AmpOp utilizado e, ainda, uma baixa tolerância em relação às nuances de valor dos resistores
e capacitores, sendo indicados primordialmente para situações nas quais se deseja projetar
filtros com especificações menos rigorosas.
Sabendo-se que para obter maior seletividade é necessário que os polos da função
de transferência sejam complexos conjugados (vide seção 2.1.2), a síntese desses filtros,
apresentada por Sedra; Smith (2007), se baseia no uso da realimentação visando a alocação dos
polos do circuito 𝑡(𝑠), naturalmente disposto no eixo real negativo, para a posição dos
conjugados complexos. Tal processo é segmentado em duas etapas de modo que, a primeira
realiza um par de polos conjugados por meio da malha de alimentação e a segunda injeta um
sinal de entrada a fim de se obter os zeros de transmissão pretendidos.
Considerando-se uma rede 𝑅𝐶 com transferência 𝑡(𝑠), como a representada na
Figura 45, a função de transferência resultante da inserção de uma malha de realimentação
𝑉 (𝑠)/𝑉 (𝑠), pode ser descrita como:

𝑁 (𝑠)
𝑉 𝑡(𝑠) 𝐷 (𝑠) 𝑁 (𝑠) 𝑁 (𝑠)
(𝑠) = = = = (61)
𝑉 1 + 𝐴 (𝑠) 𝑁 (𝑠) 𝐷 (𝑠) + 𝐴𝑁 (𝑠) 1
1+𝐴 𝐴 𝐴 𝐷 (𝑠) + 𝑁 (𝑠)
𝐷 (𝑠)
79

Figura 45 - Malha de realimentação obtida por meio de uma rede 𝑹𝑪.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Os polos do sistema realimentado são obtidos ao se igualar o denominador da


equação (61) a zero. Como o ganho em malha aberta do AmpOp (𝐴) é muito elevado,
considerando-o ideal, os polos são então encontrados fazendo-se 𝑁 (𝑠) = 0. Por conseguinte,
os polos do sistema realimentado são iguais aos zeros da rede 𝑅𝐶 sem alimentação. Desta
forma, basta adotar uma rede 𝑅𝐶 que apresente zeros de transmissão complexos conjugados e
aplicá-la em uma malha de realimentação, como a na Figura 45.
Dentre diversos circuitos 𝑅𝐶 possíveis, Sedra; Smith (2007) propõe o uso de uma
rede T em ponte, apresentada na Figura 46, de função de transferência equivalente à explicitadas
na equação (62).

Figura 46 – (a) Rede 𝑹𝑪 (T em ponte) que possui zero de transmissão complexo e (b) rede RC aplicada a
uma malha de realimentação de um filtro ativo.

Fonte: Sedra; Smith (2007).


80

1 1 1 1
𝑠 +𝑠 𝐶 +𝐶 𝑅 +𝐶 𝐶 𝑅 𝑅
𝑡(𝑠) = (62)
1 1 1 1
𝑠 +𝑠 𝐶 𝑅 +𝐶 𝑅 +𝐶 𝑅 +𝐶 𝐶 𝑅 𝑅

Equiparando então o polinômio dos polos do filtro ativos, destacado na Figura


46(b), ao zeros de transmissão da rede 𝑅𝐶, obtém-se os valores de 𝜔 e 𝑄, como demonstram
as equações (63) e (64).

𝜔 1 1 1 1
𝑠 +𝑠 +𝜔 =𝑠 +𝑠 + +
𝑄 𝐶 𝐶 𝑅 𝐶𝐶𝑅 𝑅

1
𝜔 = (63)
𝐶𝐶𝑅 𝑅

𝐶𝐶𝑅 𝑅 1 1
𝑄= + (64)
𝑅 𝐶 𝐶

Sedra; Smith (2007) aponta que, empiricamente, os valores dos resistores e


capacitores do filtro podem ser determinados de modo que 𝐶 = 𝐶 = 𝐶, 𝑅 = 𝑅 e 𝑅 = 𝑅/𝑚.
Assim, substituindo essas relações nas equações (65) e (66), é possível realizar o projeto do
filtro por completo.

𝑚 = 4𝑄 (65)

2𝑄
𝐶𝑅 = (66)
𝜔

Uma vez determinado os polos conjugados do filtro, o objetivo passa a ser a injeção
de um sinal de entrada de modo que estes não sejam alterados. Para isso, utiliza-se a
metodologia aplicada ao ressonador 𝐿𝐶𝑅, explicitada na seção 2.6.2, que consiste em
desacoplar um ou mais componentes do circuito do terra e conectá-los ao sinal de entrada.
Considerando-se a Figura 46(b), pode-se colocar a fonte de sinal entre o resistor 𝑅
e o ponto comum do circuito de modo que, ao se anular o efeito da fonte de tensão, tem-se a
mesma resposta natural anterior, não modificando o posicionamento dos polos do circuito. Tal
81

processo é ilustrado na Figura 47. Neste caso, além de inserir a fonte de tensão, dividiu-se o
resistor 𝑅 em duas resistências em paralelo: 𝑅 /𝛼 e 𝑅 /(1 − 𝛼), para valores de 𝛼 entre 0 e
1. Esse procedimento é realizado a fim de ajustar o ganho na frequência 𝜔 .

Figura 47 - Análise em etapas do circuito da Figura 45(b) com a injeção de um sinal de entrada.

Fonte: Sedra; Smith (2007).

A análise nodal do circuito é feita em Sedra; Smith (2007) de maneira análoga à do


circuito de simulação de Antoniou, novamente considerando o uso de um amplificador
operacional ideal. A última etapa da análise consiste em determinar a equação nodal do nó X e
substituir 𝑉 pela relação demonstrada em verde na figura. Deste modo, obtém-se a função de
transferência do circuito, dada pela equação (67).

𝑉 −𝑠(𝛼/𝐶 𝑅 )
𝑇(𝑠) = = (67)
𝑉 1 1 1 1
𝑠 +𝑠 𝐶 +𝐶 𝑅 +𝐶 𝐶 𝑅 𝑅

Examinando o circuito da Figura 47, nota-se que se trata de um filtro PF com ganho
na frequência central controlado pelo valor de 𝛼, como comentado previamente. Sedra; Smith
(2007) aponta que, demais implementações de filtros, como PB e PA, por exemplo, podem ser
obtidos aplicando-se a transformação linear da malha de realimentação.
82

Tal transformação, modifica o tipo de filtro sem alterar sua resposta natural, ou seja,
sem alterar os polos do circuito e, consequentemente, o denominador da função de
transferência. O procedimento é descrito por Sedra; Smith (2007) em três passos:
1. Trocar a entrada da rede 𝑅𝐶 pelo ponto comum do circuito, ligado ao terra;
2. Trocar as entradas do amplificador operacional;
3. Fazer uma realimentação negativa no AmoOp a fim de garantir a estabilidade.
Aplicando-se os passos descritos na rede 𝑅𝐶 da Figura 46(b), por exemplo, a saída
do AmpOp passa a ser ligada ao resistor 𝑅 , e o resistor 𝑅 e o capacitor 𝐶 passam a ser
conectados ao terra enquanto a saída da rede RC que estava ligada à entrada inversora do
AmpOp passar a ser conectada à entrada não inversora, como explicitado na Figura 48(c).

Figura 48 – (a) Rede RC (T em ponte), (b) aplicação da rede RC na malha de realimentação e (c) aplicação
da transformação complementar da malha da Figura 47(b).

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Considerando o circuito da Figura 48(c), é possível obter uma implementação PA


de segunda ordem injetando-se um sinal de entrada entre o capacitor 𝐶 e o terra.
Matematicamente, seu projeto é baseado nos parâmetros da rede RC da Figura 45(b), por meio
das equações (63) até a (66).
Sedra; Smith (2007) ainda sugere que as técnicas de análise realizadas na rede RC
da Figura 45(a) sejam utilizadas em uma rede RC (T em ponte) alternativa, equivalente à
representada na Figura 49(a), a fim de obter uma implementação PB por meio da injeção de um
sinal de entrada entre o resistor 𝑅 e o terra.
83

Figura 49 – (a) Rede 𝑹𝑪 (T em ponte) alternativa, (b) rede RC aplicada a uma malha de realimentação de
um filtro ativo e (c) circuito resultante após transformação linear.

Fonte: Adaptado de Sedra; Smith (2007).

Analogamente à análise matemática da implementação PA, o projeto do filtro PB


da Figura 49(c) é realizado por meio das equações a seguir.

1
𝜔 = (68)
𝐶𝐶𝑅 𝑅

𝐶𝐶𝑅 𝑅 1 1
𝑄= + (69)
𝐶 𝑅 𝑅

𝑚 = 4𝑄 (70)

2𝑄
𝐶𝑅 = (71)
𝜔

Os circuitos propostos nas Figuras 48 e 49 são representantes da família de filtros


Sallen-Key. Este tipo de configuração, também reconhecida em outras literaturas como VCVS
(voltage control voltage source), foi apresentada primeiramente em 1955 no artigo “A Pratical
Method of Designing RC Active Filters”, escrito por R. P Sallen e E. L. Key, e destaca-se dentre
as outras topologias primordialmente pela sua simplicidade.
84

2.7 SENSIBILIDADE

Como já constatado anteriormente, a resposta real de um filtro montado nunca será


igual à resposta ideal desejada, pois devem ser levadas em consideração as tolerâncias nos
valores dos componentes e as não idealidades do AmpOp, como o seu ganho finito e faixa de
passagem.
Como um meio para prever tal discrepância, os projetistas de filtros empregam o
conceito de “sensibilidade”. Daryanani (1976) define a sensibilidade como a medida do grau
de variação do comportamento da rede devido às mudanças dos elementos que a constituem.
Essas sensibilidades são quantificadas em Franco (2002) usando-se a função clássica da
sensibilidade dada por

𝛥𝑦⁄𝑦 𝜕𝑦 𝑥 𝜕 ln 𝑦
𝑆 = lim = = (72)
→ 𝛥𝑥 ⁄𝑥 𝜕𝑥 𝑦 𝜕 ln 𝑥

Ainda, para pequenas variações, pode-se assumir que

𝛥𝑦⁄𝑦
𝑆 ≃ (73)
𝛥𝑥 ⁄𝑥

Valkenburg (1982) descreve que, na equação (72), x representa o valor de um


componente do circuito (resistor, indutor, capacitor ou amplificador) e y representa um
parâmetro do circuito (𝜔 ou 𝑄, por exemplo). Deste modo, 𝛥𝑦⁄𝑦 e 𝛥𝑥 ⁄𝑥 representam a
variação por unidade em y e x, respectivamente, ou seja, o valor de 𝑆 pode ser usado para
determinar a variação por unidade em y em decorrência de dada variação por unidade em x.
A fim de facilitar a análise matemática da função de sensibilidade, Su (2003) lista
alguma das propriedades relacionadas a tal parâmetro, descritas da Tabela 11.

Tabela 11 - Propriedades da função de sensibilidade.

𝒚 𝟏/𝒚 𝒚 𝒚 𝟏 𝒚
(1) 𝑺𝟏/𝒙 = 𝑺𝒙 = −𝑺𝒙 (4) 𝑺𝒙𝒏 = 𝑺
𝒏 𝒙
.
(2) 𝑆 =𝑆 +𝑆 (5) 𝑆 = 𝑛𝑆

/
(3) 𝑆 =𝑆 −𝑆 (6) 𝑆 = 𝑦𝑆

Fonte: Adaptado de Su (2003).


85

Schaumann; Valkenburg (2001) exemplifica tal conceito por meio do filtro passivo
PB apresentado na Figura 50.

Figura 50 - Implementação, função de transferência e parâmetros de um filtro passivo PB.

Fonte: Adaptado de Schaumann; Valkenburg (2001).

Por análise direta, baseando-se nos conceitos explicitados, averigua-se que 𝑆 =


𝑆 = −1/2 e 𝑆 = 0. Ainda, 𝑆 = 1/2, 𝑆 = −1/2 e 𝑆 = −1, ou seja, a variação de 1%
no valor de 𝐿 implica na mudança de -0,5% do valor de 𝜔 e 0,5% no valor de 𝑄. A variação
de 1% no valor de 𝐶 resulta em variação de -0,5% nos valores de 𝜔 e Q. Já o valor de 𝑅, apesar
de não interferir no parâmetro 𝜔 , provoca uma mudança de -1% no valor de 𝑄 para cada 1%
de variação.
Por fim, sabe-se que os componentes do circuito do filtro (resistência, capacitor,
etc.) não são ideais e portanto, seus valores reais não correspondem aos especificados no
produto. Sendo assim, Schaumann; Valkenburg (2001) ressalta a importância do parâmetro de
sensibilidade para o projeto de um filtro uma vez que é de extrema importância determinar o
quanto essa variação dos componentes do circuito afetará o projeto do filtro em questão.
86

2.8 PROJETO DE FILTROS

Considerando-se a teoria sobre filtros analógicos elucidada até o presente momento


deste trabalho, esta seção visa explicitar as etapas essenciais para a realização do projeto de um
filtro.
Dadas as especificações do filtro pretendido, seu projeto divide-se em duas etapas
fundamentais: (i) obtenção da função de transferência do filtro e, posteriormente, (ii)
implementação da função obtida a partir de um circuito eletrônico.
Com o intuito de que o projeto tenha o menor custo possível, adota-se a resposta de
menor ordem que atenda as especificações desejadas. Portanto, para a etapa (i) considera-se:
1. Se um filtro de 1ª ordem atender as especificações, utiliza-se a função de
transferência genérica de um filtro de 1ª ordem, visto na seção 2.2, limitando-se
à taxa de 20 dB/década;
2. Se um filtro de 1ª ordem não atender as especificações, utiliza-se a um filtro de
segunda ordem que pode ser obtido por meio das funções de transferência
apresentadas da seção 2.3 para os filtros PB, PA, PF, RF, notch PB e notch PA,
ou, a partir de métodos empíricos utilizando filtros de 1ª ordem em cascata:
a. Passa-baixas: PBxPB;
b. Passa-altas: PAxPA;
c. Passa-faixa: PAxPB.
Embora a associação em cascata demonstra-se uma alternativa viável, este
tipo de topologia limita o valor do fator de qualidade a ser implementado
pelo fato de utilizar filtros de 1ª ordem em sua construção.
3. Pode-se obter uma resposta de forma empírica ou aplicar as aproximações de
filtros (vide seção 2.4) para a obtenção de um filtro PB do tipo Butterworth,
Chebyshev, Cauer ou Bessel por meio das equações, tabelas ou softwares, como
por exemplo, o FilterPro ou o MATLAB®. Caso o filtro desejado não seja PB,
utiliza-se as transformações de filtros apresentadas na seção 2.5.
Em todas as considerações citadas, a escolha dos parâmetros se dá de acordo com
as especificações do projeto ou de forma empírica, dependendo do caso.
A associação de filtros em cascata, citada previamente nesta seção, baseia-se na
associação de filtros de ordens inferiores em cascata a fim de obter ordens superiores
(FRANCO, 2002).
87

Esse conceito consiste na fatoração da função transferência 𝑇(𝑠) em produtos de


termos de ordens inferiores, como evidenciado na equação (74).

𝑇(𝑠) = 𝑇 (𝑠) ⨯ 𝑇 (𝑠) … ⨯ 𝑇 / (𝑠) (74)

Na Equação (74), se 𝑛 for par, a decomposição consistirá de 𝑛/2 termos de segunda


ordem. Caso 𝑛 seja ímpar, a fatoração também incluirá um termo de primeira ordem. Este
conceito está ilustrado na Figura 51.

Figura 51 - Etapas de um filtro em cascata para n=1, 2, ..., 6.

Fonte: Adaptado de Mancini (2002).

Na teoria, a ordem das seções que estão associadas em cascada é irrelevante, porém
na prática, os filtros devem ser posicionados em ordem crescente do seu fator de qualidade 𝑄 a
fim de evitar distorções nos sinais. Contudo, organizá-los de forma crescente não garante a
extinção dos ruídos internos do filtro. Essa característica é minimizada ao se posicionar os
filtros com 𝑄 mais alto na primeira posição da cascata. Assim, Franco (2002) ressalta que para
se determinar a ordem da cascata deve-se levar em consideração critérios como o espectro do
sinal de entrada, o tipo de filtro a ser utilizado e as características de ruídos de seus
componentes.
88

A associação de filtros em cascata possui inúmeras vantagens. Entre elas, destaca-


se o fato do design de cada seção ser relativamente simples e que o número de componentes
usados para formar essa composição é normalmente baixo.
Uma vez obtida a função de transferência, executa-se a etapa (ii) a partir da
implementação de tal função por meio dos circuitos explicitados na seção 2.6, tais como:
1. Filtro de 1ª ordem: circuitos 𝑅𝐿𝐶 apresentados nas Figuras 29 e 30;
2. Filtro de 2ª ordem: filtros de 1ª ordem em cascata, filtros 𝑅𝐿𝐶 utilizando-se
indutores reais ou emulados, filtros biquad, filtros 𝐾𝑅𝐶 e, inclusive, os demais
tipos de filtros encontrados na literatura, não apresentados neste trabalho;
3. Filtro de ordens superiores: filtros de 1ª e 2ª ordem em cascata.
Embora seja possível empregar filtros passivos, as implementações ativas são
distintamente mais versáteis uma vez que, além de possuírem uma impedância de saída muito
baixa, devido ao amplificador operacional, possibilitando uma ligação em cascata e,
consequentemente, a obtenção de filtros com ordens superiores, seus ganhos são ajustáveis,
podendo ser projetados alterando-se apenas alguns parâmetros da função transferência sem que
outros sejam afetados.
89

3 SIMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE FILTROS ANALÓGICOS

Nesta seção do trabalho são desenvolvidas simulações referentes à realização de


projetos de filtros analógicos a fim de fixar os conteúdos teóricos desenvolvidos previamente,
aplicando o conceito estudado a algumas situações que ocorrem habitualmente no âmbito da
eletrônica.
As simulações demonstradas nesta segmentação foram realizadas por meio dos
softwares MATLAB® R2015a e Proteus® 8.0 Professional, englobando toda a esfera
relacionada ao projeto de filtros analógicos, determinando desde a obtenção da função de
transferência do filtro a partir das aproximações, quanto a sua implementação a partir de
circuitos.

3.1 CASO 1 – FILTRO PB ANTI-ALIASING

No campo de processamento de sinais, precisamente no processo de conversão


analógico-digital, o Teorema de Nyquist-Shannon, também referenciado em algumas literaturas
como Teorema da Amostragem, é uma ponte fundamental entre os sinais de tempo contínuo
(sinais analógicos) e os sinais de tempo discreto (sinais digitais) (HAYKIN; VAN VEEN,
2001).
Este teorema, nomeado em homenagem aos seus desenvolvedores Harry Nyquist e
Claude Shannon é apresentado primeiramente em Nyquist (1928), e estabelece que a taxa de
amostragem de um sinal deve ser pelo menos o dobro da componente máxima de frequência do
sinal de interesse, isto é, a frequência máxima do sinal de entrada deverá ser menor ou igual à
metade da frequência de amostragem. Tal condição apresenta um papel primordial no processo
de conversão de sinais uma vez que permite que uma sequência discreta de amostras capture
toda a informação de um sinal de tempo contínuo de largura de banda finita.
Na prática, os sinais não são estritamente limitados em banda, provocando um
efeito indesejado conhecido como aliasing, definido em Lathi (2007) como uma distorção
observada quando o sinal reconstruído das amostras é diferente do sinal contínuo original. A
fim de eliminar tal distorção, comumente emprega-se um filtro PB que possui uma frequência
de corte igual (ou menor) à frequência de Nyquist, chamado de filtro anti-aliasing. Tal filtro
realiza a atenuação das componentes de alta frequência do sinal que não são essenciais para a
informação contida nele.
90

Em vista da suma importância da aplicação deste tipo de filtro no ramo da


eletrônica, essa seção exemplificará o projeto de um filtro a fim de eliminar o efeito de aliasing
de uma placa de som de computador.
Do ponto de vista físico, a audição humana é limitada aos sons compreendidos por
aqueles gerados por fenômenos vibratórios que estejam entre a faixa de 20 a 20.000 Hz, embora
na prática, escuta-se aproximadamente até 15.000 Hz. Dito isso, determinaram-se as
especificações do filtro, conforme Tabela 12.

Tabela 12 - Especificações arbitrárias para um filtro PB anti-aliasing do Caso 1.

𝑭𝒂𝒎 Frequência de amostragem 44,10 kHz


𝑭𝑷 Frequência máxima da faixa de passagem 16,00 kHz
𝑭𝑺 Frequência limite da faixa de rejeição 22,05 kHz
𝑨𝒎𝒂𝒙 Atenuação máxima na faixa de passagem 1,00 dB
𝑨𝒎𝒊𝒏 Atenuação mínima na faixa de bloqueio 30,00 dB
Fonte: autoria própria.

Neste primeiro caso, o objetivo principal baseou-se em demonstrar a discrepância


da resposta em frequência para os diferentes tipos de aproximação de filtros elucidados na seção
2.4. O código proposto para esta realização está descrito e comentado a seguir.

%% CASO 1 - FILTRO PB ANTI-ALIASING

clear all; close all; clc

% DADOS DO PROJETO

Wp = 2*pi*16e3; % Frequência máxima da faixa de passagem em rad/s


Ws = 2*pi*22.05e3; % Frequência limite da faixa de rejeição em rad/s
Rp = 1; % Atenuação máxima da faixa de passagem em dB (Amax)
Rs = 30; % Atenuação mínima da faixa de rejeição em dB (Amin)

%% APROXIMAÇÃO BUTTERWORTH

[n1,Wn] = buttord(Wp,Ws,Rp,Rs,'s');
[Z,P,K] = butter(n1,Wn,'low','s');
[num,den] = zp2tf(Z,P,K);
G1 = tf(num,den);

figure(1)
opts1 = bodeoptions('cstprefs');
opts1.FreqUnits = 'Hz';
opts1.YLim = {[-100 10];[-1170 490]};
opts1.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts1.Title.FontSize = 24;
opts1.XLabel.FontSize = 20;
opts1.YLabel.FontSize = 20;
91

bodeplot(G1,'g',opts1);
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PB Anti-aliasing Butterworth n =
%d',n1));
grid on;

%% APROXIMAÇÃO CHEBYSHEV

[n2,Wp] = cheb1ord(Wp,Ws,Rp,Rs,'s');
[Z,P,K] = cheby1(n2,Rp,Wp,'low','s');
[num,den] = zp2tf(Z,P,K);
G2 = tf(num,den);

figure(2)
opts2 = bodeoptions('cstprefs');
opts2.FreqUnits = 'Hz';
opts2.YLim = {[-100 10];[-630 90]};
opts2.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts2.Title.FontSize = 24;
opts2.XLabel.FontSize = 20;
opts2.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(G2,'b',opts2);
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PB Anti-aliasing Chebyshev n = %d',n2));
grid on;

%% APROXIMAÇÃO BESSEL

n3=25;
[Z,P,K] = besself(n3,2*pi*22.05e3);
[num,den] = zp2tf(Z,P,K);
G3 = tf(num,den);

figure(3)
opts3 = bodeoptions('cstprefs');
opts3.FreqUnits = 'Hz';
opts3.YLim = {[-100 10];[-2400 90]};
opts3.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts3.Title.FontSize = 24;
opts3.XLabel.FontSize = 20;
opts3.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(G3,'m',opts3);
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PB Anti-aliasing Bessel n = %d',n3));
grid on;

%% APROXIMAÇÃO ELÍPTICA

[n4,Wp] = ellipord(Wp,Ws,Rp,Rs,'s');
[Z,P,K] = ellip(n4,Rp,Rs,Wp,'low','s');
[num,den] = zp2tf(Z,P,K);
G4 = tf(num,den);

figure(4)
opts4 = bodeoptions('cstprefs');
opts4.FreqUnits = 'Hz';
opts4.YLim = {[-100 10];[-90 450]};
opts4.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts4.Title.FontSize = 24;
opts4.XLabel.FontSize = 20;
opts4.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(G4,'r',opts4);
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PB Anti-aliasing Elíptico n = %d',n4));
grid on;

%% COMPARAÇÃO

figure(5)
opts = bodeoptions('cstprefs');
opts.FreqUnits = 'Hz';
opts.YLim = {[-100 10];[-2400 450]};
92

opts.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts.Title.FontSize = 24;
opts.XLabel.FontSize = 20;
opts.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(G1,'g',opts);
hold on
bodeplot(G2,'b',opts);
bodeplot(G3,'m',opts);
bodeplot(G4,'r',opts);
grid on;
hold on
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PB Anti-aliasing'));
legend(sprintf('Aproximação Butterworth | n = %d ',n1),sprintf('Aproximação
Chebyshev | n = %d ',n2),sprintf('Aproximação Bessel | n = %d
',n3),sprintf('Aproximação Elíptica | n = %d ',n4));

A lógica do código proposto baseou-se em 5 etapas:


1. Especificar os parâmetros do filtro: as funções relacionadas às aproximações
de filtros disponíveis pelo MATLAB® requerem a especificação dos
parâmetros de atenuação (𝑅 e 𝑅 ) e frequência (𝜔 e 𝜔 ), por conseguinte,
deve-se determinar arbitrariamente tais parâmetros;
2. Determinar a ordem e a frequência de corte: por meio das funções ‘buttord’,
‘cheb1ord’ e ‘ellipord’ determina-se a menor ordem realizável do filtro e sua
frequência de corte, conforme os parâmetros de 𝑅 , 𝑅 , 𝜔 e 𝜔 estabelecidos
previamente, para as aproximações Butterworth, Chebychev e Elíptica,
respectivamente;
3. Determinar os zeros, polos e o ganho: por meio das funções ‘butter’, ‘cheby1’,
‘ellip’ e ‘besself’ determinam-se os zeros, polos e o ganho do filtro a partir dos
da ordem e frequência de corte obtidas no etapa 2, para as aproximações
Butterworth, Chebychev, Elíptica e Bessel, respectivamente;
4. Determinar a função de transferência do filtro: por meio da função ‘zp2tf’
converte-se os parâmetros 𝑍, 𝑃 e 𝐾 em numerador e denominador da função
de transferência e, utilizando-se a função ‘tf’, gera-se o modelo da mesma;
5. Plotar o diagrama de Bode da função de transferência gerada: por meio da
função ‘bodeplot’ gera-se o diagrama de Bode da função de transferência
obtida na etapa 4.
A execução do código descrito resulta nos diagramas de Bode para as aproximações
Butterworth, Chebyshev, Bessel e Elíptica, exibidos nas Figuras 52, 53, 54 e 55,
respectivamente. Ademais, na Figura 56 observa-se um comparativo entre tais respostas em
frequência de modo a realizar uma análise comparativa das mesmas.
93

Figura 52 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Butterworth.

Fonte: Autoria própria.

Em destaque no gráfico da Figura 52, observam-se os parâmetros de atenuação do


filtro. A resposta do filtro Butterworth respeita os limites dos parâmetros do projeto, todavia,
com uma ordem relativamente elevada, o que poderia ser inviável para uma possível realização
prática. Outra característica deste tipo de aproximação, constatada por meio do gráfico plotado,
é sua máxima planicidade na faixa de passagem.
No caso do filtro do tipo Chebyshev, a resposta em frequência apresenta o
comportamento esperado, exibindo uma curva de magnitude dentro dos parâmetros de
atenuação especificados, tal como observado na aproximação Butterworth. Contudo, observa-
se que este tipo de aproximação apresenta uma maximização da taxa de corte na faixa de
transição, implementando um filtro de ordem inferior em relação à realização Butterworth.
Ademais, outra característica observada por meio da análise gráfica do diagrama é a presença
dos ripples na faixa de passagem, ainda que dentro do limite [-1 0] dB.
Tratando-se da fase, ambas aproximações apresentam uma mudança de fase na
frequência de corte, tal qual previsto.
94

Figura 53 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Chebyshev.

Fonte: Autoria própria.

Figura 54 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Bessel.

Fonte: Autoria própria.

Para a aproximação Bessel em particular, o MATLAB® não dispõe de uma função


específica que determine a mínima ordem necessária para a implementação do filtro. Deste
95

modo, inseriu-se manualmente valores arbitrários para a ordem a fim de obter a resposta em
frequência a qual se adequasse aos parâmetros exigidos. Todavia, aferindo-se a ordem máxima
permitida pelo algoritmo do programa, correspondente a 25, nota-se que a curva ainda não
condiz com o especificado. Tal característica pode ser constata ao observar-se a Figura 54 que
demonstra que a curva apresenta uma atenuação na frequência de corte de -16,9 dB, valor este
abaixo do estipulado, correspondente a -1 dB.
Como comentado anteriormente na seção 2.4.4, a característica principal deste
tipo de aproximação é apresentar o atraso de fase mais plano possível na banda de passagem.
Comparando-se, então, sua curva de atraso às observadas nas aproximações previamente
analisadas, nota-se que esta apresenta um comportamento superiormente linear.
No caso da aproximação Elíptica, observada na Figura 55, nota-se que a curva
atende às especificações pré-estabelecidas implementando uma ordem inferior às obtidas nas
aproximações Butterworth e Chebyshev.
Além de apresentar uma atenuação acentuada na faixa de bloqueio, outra
característica observada na análise gráfica do diagrama é a presença de ripples, tanto na faixa
de passagem como na faixa de bloqueio. Tais ondulações não interferem na resposta do filtro,
contudo, provocam um comportamento irregular do atraso de fase.

Figura 55 - Diagrama de Bode para filtro PB anti-aliasing com aproximação Elíptica.

Fonte: Autoria própria.


96

Por fim, a Figura 56 apresenta a análise comparativa entre os quatro tipos de


aproximações propostos nesta segmentação.

Figura 56 - Diagramas de Bode de um filtro PB anti-aliasing para diferentes aproximações.

Fonte: Autoria própria.

Por meio de tal comparação é possível compreender de maneira mais clara a


discrepância da resposta em frequência dos diferentes tipos de aproximação abordados nesse
estudo.
Em suma, a aproximação elíptica demonstra-se a mais vantajosa dentre todas uma
vez que atende aos parâmetros do projeto por meio de um filtro de ordem 4, relativamente
simples de ser implementado, enquanto as demais aproximações exigem a realização de ordens
superiores para satisfazerem os mesmos critérios.
A aproximação Chebyshev de ordem 6 ainda é passível de implementação prática.
Em contrapartida, verifica-se que a realização dos circuitos utilizando-se as aproximações
Butterworth e Bessel passam a ser de difícil implementação devido ao número excessivo de
componentes utilizados.
97

3.2 CASO 2 – FILTRO RF NOTCH DE 60Hz

Comumente em projetos de eletrônica, a fonte de alimentação insere um ruído de


60 Hz no sinal medido que afeta diretamente o funcionamento de diversos aparelhos elétricos
e eletrônicos. Tal ruído é associado à parcela alternada da corrente da rede de energia e ocorre,
conforme White; Louie (1933), devido à irradiação de ondas eletromagnéticas oriundas das
linhas de transmissão de energia elétrica. Por sua vez, essas ondas induzem correntes de 60 Hz
nos cabos por indução eletrostática e eletromagnética, causando assim, a interferência no sinal,
usualmente chamada de “zumbido na rede”.
White; Louie (1933) explicitam meios de solucionar essa adversidade, como por
exemplo, inserir uma componente equivalente em amplitude e oposta em polaridade à
componente do ruído. Contudo, Vidyalal; Rajasree; Silvanand (2003) propõe o uso de um filtro
ativo rejeita-faixa que atenua a frequência de 60 Hz.
Baseando-se então na ideia de Vidyalal; Rajasree; Silvanand (2003) todavia
utilizando uma topologia díspar da empregada pelos autores, nesta seção será apresentado o
projeto de um filtro ativo RF notch de segunda ordem, que apresenta como característica
elementar a atenuação da frequência de 60 Hz.
A obtenção da resposta em frequência para este caso fundamenta-se na substituição
direta da frequência de corte e do fator de qualidade, escolhidos arbitrariamente conforme tabela
13, na função de transferência genérica do filtro notch RF de segunda ordem, disposta na tabela
1 da seção 2.3.4.

Tabela 13 - Especificações arbitrárias para o filtro RF do Caso 2.

𝑭𝒄 Frequência de corte 60 Hz
𝑸 Fator de qualidade 10
𝒏 Ordem do filtro 2
Fonte: Autoria própria.

O código proposto para a realização deste filtro, apresentado em sequência,


descreve detalhadamete a lógica utilizada para gerar o diagrama de Bode do sistema,
representado na Figura 57, tornando possível a análise do comportamento da tensão em relação
a frequência, verificando assim, o desempenho do filtro.
98

%% CASO 2 - FILTRO RF NOTCH 60Hz


clear all; close all; clc

% DADOS DO PROJETO

Wo = 2*pi*60; % Frequência de corte


Wn = Wo; % Condição para filtro dente regular
Q = 10; % Fator de qualidade

%% FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DO FILTRO RF

num = [1 0 Wn^2]; % Denominador da função de transferência do filtro RF


den = [1 (Wo/Q) Wo^2]; % Numerador da função de transferência do filtro RF
T = tf(num,den) % Retorna a função de transferência dados ‘num’ e ‘den’

%% DIAGRAMA DE BODE

opts = bodeoptions('cstprefs'); % Estabelece as características do gráfico


opts.FreqUnits = 'Hz';
opts.YLim = {[-300 20];[-180 180]};
opts.YLimMode = {'manual';'manual'};
opts.Title.FontSize = 24;
opts.XLabel.FontSize = 20;
opts.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(T,'r',opts); % Gera o diagrama de Bode da função ‘G’
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro RF Notch de 60 Hz n = 2'));
grid on;

Figura 57 - Diagrama de Bode para filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem.

Fonte: Autoria Própria.

Analisando-se a magnitude da resposta em frequência, destacada na Figura 57,


nota-se que o filtro realiza a sua função principal de atenuar o sinal na frequência de 60 Hz,
99

apresentando uma mudança de fase abrupta. Na prática, o fato do filtro possuir um zero em 60
Hz, implica que o ganho nesta frequência tende a -∞. No entanto, para gerar o gráfico, o
software utilizado atribui alguns valores arbitrários de frequência e calcula os parâmetros para
este caso a partir de tais valores. Ademais, a fim de atingir uma melhor visualização gráfica, o
software interpola os pontos, fazendo com que na frequência próxima a 60 Hz, ilustrada na
Figura 58, o ganho apresente um valor finito, correspondente a -278 dB.
Uma vez que o método de obtenção da função de transferência adotado demonstra-
se objetivo e de fácil compreensão, este caso é utilizado para exemplificar os diferentes tipos
de implementação evidenciados na seção 2.6, simulados através do software Proteus® e, a
posteriori, implementados experimentalmente.

3.2.1 Implementação passiva RLC

Para representar a topologia passiva, utilizou-se como exemplo o filtro notch


exposto na Figura 35(a) da seção 2.6.2, representado nesta segmentação por meio do circuito
da Figura 58. O circuito é alimentado com uma tensão AC de 4,08 V, valor adotado levando-se
em consideração a tensão aferida na implementação prática.

Figura 58 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem passivo do tipo RLC.

Fonte: Autoria própria.

O projeto desse filtro baseia-se em determinar arbitrariamente o indutor ou o


capacitor e, a partir deste valor, calcular os demais parâmetros. Neste caso, especificou-se um
indutor de 21 mH e, a partir da comparação do denominador da função de transferência G,
obtida por meio do código proposto, com o denominador da função de transferência do filtro
notch RF, tal qual explicitado na Figura 35(a), obteve-se os valores teóricos para o capacitor e
o resistor.
100

Uma vez que é impraticável obter tais valores teóricos empiricamente, deve-se
considerar os valores comerciais disponíveis para os componentes, visando obter um
equivalente mais próximo possível do projetado, como apresentado na tabela 14.

Tabela 14 – Valores calculados e comerciais dos elementos passivos para filtro RF da Figura 59.

Teórico Comercial
𝑳 [mH] 21,00 21,00
𝑹 [𝛺] 79,16 1 x 68,00 + 1 x 10,00
𝑪 [𝜇F] 335,07 330,00
Fonte: Autoria própria.

Com os valores teóricos e comerciais em mãos, efetuou-se a simulação de ambas


as realizações a fim de obter a resposta em frequência do filtro em tais situações e, por meio da
análise gráfica comparativa da magnitude e da fase, representada nas Figuras 59 e 60,
respectivamente, verificar o seu funcionamento.
Nos gráficos plotados a partir deste momento do trabalho, as curvas em verde
caracterizam a realização comercial, enquanto àquelas em vermelho representam os valores
teóricos.

Figura 59 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF RLC da Figura 58.

Fonte: Autoria própria.


101

Figura 60 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF RLC da Figura 58.

Fonte: Autoria própria.

Observa-se que, para este caso em particular, uma vez que os valores comerciais,
dos componentes não diferem tanto dos valores teóricos, a frequência de corte verificada
mantém-se a mesma para ambas realizações, verificando-se uma tênue diferença na curva de
magnitude. A fase, por sua vez, mantém o comportamento esperado, apresentando também uma
discrepância desprezível entre as realizações.
Outra análise pertinente a ser realizada neste circuito é a análise no domínio do
tempo, também nomeada de análise de transiente. Este tipo de análise, de acordo com
Alexander; Sadiku (2013), expressa o comportamento da tensão ou corrente de um circuito em
uma frequência específica à medida que o tempo varia. Na Figura 61 observa-se a análise
analógica da tensão do filtro, simulada no intervalo de tempo de 0 a 400 ms. As curvas em
vermelho e verde foram obtidas considerando-se os componentes em seus valores teóricos e
comerciais, respectivamente, ambas simuladas para uma senoide de 60 Hz na entrada. A curva
em azul, por sua vez, representa os componentes em seu valor comercial submetidos a uma
senoide de 10 Hz, escolhida arbitrariamente com o intuito de representar a amplitude da tensão
em frequências divergentes da frequência de corte.
102

Figura 61 – Análise de transiente da tensão do filtro RF RLC da Figura 58.

Fonte: Autoria própria.

Examinando o gráfico nota-se que, quando o circuito é submetido a uma frequência


qualquer, distinta da frequência de corte do filtro, a tensão mantém a sua amplitude original de
4,08 V, Em contrapartida, considerando-se uma situação ideal, quando o circuito está operando
especificamente na frequência de corte, a magnitude da tensão tende a zerar.
Embora a amplitude da tensão, não tenha decrescido o quanto esperado, mantendo
uma amplitude de 1,05 V e 502 mV para as realizações teórica e comercial, respectivamente,
seu comportamento em geral condiz com o esperado, demonstrando um decaimento
significativo na frequência de corte. Tal resultado pode ser justificado uma vez que,
implementações passivas de filtros analógicos possuem um fator de qualidade limitado,
demonstrando-se inviável, neste caso, a implementação de Q = 10.

3.2.2 Implementação ativa utilizando indutância de Antoniou

Como destacado na seção 2.6.3, a realização RF de um filtro ativo de segunda


ordem substituindo o indutor do filtro RLC pela indutância de Antoniou é obtida a partir do
circuito exibido na Figura 40(d), representado nesta simulação por meio do circuito da Figura
103

62. Analogamente à implementação RLC, este circuito é também alimentado com um tensão
alternada equivalente a 4,08 V.

Figura 62 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a indutância de Antoniou.

Fonte: Autoria própria.

Uma vez que o ganho estipulado do filtro é unitário e não se tem nenhuma carga
conectada em sua saída, não demonstrou-se necessária a implementação do amplificador de
acoplamento 𝐾, utilizado especificamente para ajustar tal parâmetro e casar a impedância com
a carga.
Comparando-se, então, a função de transferência genérica do filtro RF,
demonstrada na Tabela 1, a equação exibida na Figura 40(d), e, adotando arbitrariamente um
capacitor de 2,2𝜇F, obtiveram-se os valores teóricos para os demais elementos passivos do
circuito. Analogamente à implementação passiva, nesta em questão também serão dispostos os
valores comercias. Contudo, uma vez que os circuitos simulados a partir deste caso também
foram implementados experimentalmente, são considerados na análise os valores reais dos
componentes, aferidos por meio de um multímetro, a fim de se obter a resposta em frequência
mais precisa possível.
104

Tabela 15 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da Figura 62.

Teórico Comercial Real


𝑪𝟒 [𝜇F] 2,200 2,200 2,273

𝑪𝟔 [𝜇F] 2,200 2,200 2,227

𝑹𝟏 [k𝛺] 1,205 1,200 1,203

𝑹𝟐 [k𝛺] 1,205 1,200 1,191

𝑹𝟑 [k𝛺] 1,205 1,200 1,196

𝑹𝟓 [k𝛺] 1,205 1,200 1,189

𝑹𝟔 [k𝛺] 12,057 12,000 11,730

Fonte: Autoria própria.

Realizando-se, então, as simulações teórica e real do circuito da Figura 62, obtém-


se a resposta em frequência da magnitude e da fase, dispostas nas Figuras 63 e 64,
respectivamente.

Figura 63 - Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF Antoniou da Figura 62.

Fonte: Autoria própria.


105

Figura 64 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF Antoniou da Figura 62.

Fonte: Autoria própria.

Por meio da análise da Figura 63, observa-se que a realização com valores reais
apresenta uma modesta discrepância no valor da frequência de corte se comparado ao valor
esperado de 60 Hz. No entanto, tal divergência é previsível uma vez que deve-se levar em
consideração os erros dos componentes utilizados e do equipamento de medição. O atraso de
fase observado no entanto, é similar ao observado na topologia RLC.
A análise no domínio do tempo, exibida na Figura 65, apresenta valores distantes
dos almejados. A magnitude da tensão, considerando-se os valores teóricos é de,
aproximadamente, 1 V, enquanto a realização real decai apenas cerca de 50 % do valor original
do sinal.
As características observadas não são as ideais pois, neste caso, embora emule-se
um indutor a partir de uma implementação ativa, ainda assim verifica-se uma limitação
referente ao fator de qualidade. No entanto, o comportamento da curva implica que ocorre uma
atenuação da tensão na frequência de corte especificada, embora não na amplitude desejada,
comprovando a funcionalidade do filtro proposto.
106

Figura 65 – Análise de transiente da tensão do filtro RF Antoniou da Figura 63.

Fonte: Autoria própria.

3.2.3 Implementação ativa utilizando topologia biquadrática

A implementação RF biquad, explicitada na seção 2.6.4 por meio da Figura 44(c) e


dos parâmetros da Tabela 10, é representada nesta seção por meio do circuito da Figura 66,
submetido a uma tensão de entrada de 4,08 V de pico.

Figura 66 - Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a topologia biquadrática.

Fonte: Autoria própria.


107

Analogamente ao método de obtenção dos valores dos componentes utilizado nas


topologias anteriores, realizando-se a comparação entre a função de transferência do filtro notch
de segunda ordem e equação (60), obtiveram-se os valores teórico, comercial e real dos
elementos passivos do circuito, expostos na Tabela 16.

Tabela 16 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da Figura 66.

Teórico Comercial Real Teórico Comercial Real


𝑪 [𝜇F] 4,700 4,700 4,717 𝑄𝑅 [k𝛺] 5,643 5,600 5,500

𝑪′ [𝜇F] 4,700 4,700 5,067 𝑅 [k𝛺] 0,564 0,560 0,569

𝑪𝟏 [𝜇F] 4,700 4,700 4,548 𝑅𝐴 [k𝛺] 1,000 1,000 0,988

𝑹 [k𝛺] 0,564 0,560 0,565 𝑅𝐴′ [k𝛺] 1,000 1,000 1,004

𝑹′ [k𝛺] 0,564 0,560 0,568


Fonte: Autoria própria.

Por meio da simulação do circuito, gerou-se o diagrama de Bode do sistema,


representado por meio das Figuras 67 e 68, assim como a análise temporal da tensão, disposta
na Figura 69.

Figura 67 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF Biquad da Figura 66.

Fonte: Autoria própria.


108

Figura 68 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF Biquad da Figura 66.

Fonte: Autoria própria.

Novamente, por meio da análise das Figuras 68 e 69, verifica-se uma tênue
discrepância entre os valores de frequência de corte obtidos para as realizações, equivalente a
60,26 Hz considerando-se valores teóricos e 58,84 Hz para valores reais. Neste caso em
particular, o erro deve-se primordialmente pelos valores aferidos experimentalmente dos
capacitores, que apresentam uma discrepância considerável se comparados aos seus valores
comerciais.
A resposta em frequência referente à fase, por sua vez, difere daquela observada na
Figura 60. A diferença retratada deve-se exclusivamente às características construtivas do
circuito utilizado na implementação, que alteram o comportamento da fase sem modificar a
resposta final.
Por meio da Figura 69 nota-se que, tal qual observado nas implementações RLC e
RC utilizando indutância de Antoniou, o comportamento da magnitude da tensão não tende a
zero, divergindo do ideal, embora apresente um decaimento visível quando o circuito opera na
frequência de corte.
109

Figura 69 – Análise de transiente da tensão do filtro RF Biquad da Figura 66.

Fonte: Autoria própria.

Neste caso, o fator de qualidade igual a 10 não demonstra-se uma adversidade,


entretanto, observa-se pela Figura 67 que a frequência do zero não é exatamente 60 Hz e, por
conseguinte, para um sinal de entrada de 60 Hz, a saída não é eliminada por completo, mas sim
atenuada. Observa-se na magnitude da resposta considerando-se os componentes reais, que em
60 Hz o ganho é de aproximadamente -12 dB, isto é, aproximadamente 0,25 V/V. Sabendo-se
que o sinal de entrada tem amplitude de 4,08 V de pico, espera-se, de fato, na saída, um sinal
com amplitude de ligeiramente maior que 1 V de pico e não zero.

3.2.4 Implementação ativa utilizando topologia KRC

A última topologia a ser proposta para o caso do filtro notch RF é a KRC explicitada
na seção 2.6.5. Em teoria, um circuito RF é obtido fazendo-se PA + PB ou 1 - PF, ou seja,
somando-se um filtro PA a um PB, com mesmas frequências de corte e fator de qualidade, ou
subtraindo-se do sinal de entrada a saída de um filtro PF. Contudo, uma vez que a função de
transferência característica do filtro PF, apresentada na equação (67), apresenta um sinal
negativo em seu numerador, a implementação RF passa a assumir a forma 1 + PF, o que
corresponde empiricamente, na associação do filtro PF da Figura 47 a um amplificador
somador, como evidencia a Figura 70.
110

Figura 70 – Filtro RF notch de 60 Hz de segunda ordem ativo utilizando a topologia KRC.

Fonte: Autoria própria.

Analogamente aos procedimentos destacados previamente, os valores teóricos são


obtidos por meio da comparação das funções de transferência genérica e empírica do filtro. Tais
valores, assim como seus correspondentes comercial e real, estão expostos na Tabela 17.

Tabela 17 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro RF da Figura 71.

Teórico Comercial Real


𝑪𝟏 [𝜇F] 4,700 4,700 4,544

𝑪𝟐 [𝜇F] 4,700 4,700 4,712

𝑹𝟑 [k𝛺] 11,287 1 x 11,000 + 2 x 0,100 + 1 x 0,082 11,282

𝑹𝟒 [k𝛺] 0,0284 2 x 0,056 0,0290

𝑹𝟒 ′ [k𝛺] 5,644 1x5,600 + 1x0,047 5,647

𝑹𝑺𝟏 [k𝛺] 1,000 1,000 0,999

𝑹𝑺𝟐 [k𝛺] 1,000 1,000 0,996

𝑹𝑺𝟑 [k𝛺] 1,000 1,000 0,994

Fonte: Autoria própria.


111

Realizando-se a análise da resposta em frequência do circuito, simulado para uma


tensão de entrada de 4,08 V de pico, obtém-se o diagrama de Bode do sistema, representado
por meio das Figuras 71 e 72.

Figura 71 – Magnitude da resposta em frequência para o filtro RF KRC da Figura 70.

Fonte: Autoria própria.

Figura 72 - Fase da resposta em frequência para o filtro RF KRC da Figura 70.

Fonte: Autoria própria.


112

Conforme observado nos gráficos, a frequência de corte para ambas as realizações


demonstram-se equivalentes, fixadas em um valor de 60,26 Hz, apresentando uma discrepância
apenas na magnitude da atenuação do sinal, a qual está relacionada aos pontos de frequências
calculados pelo software e interpolação dos mesmos.
Analogamente à implementação biquadrática, a topologia do circuito escolhida para
a implementação do filtro modifica o comportamento da fase, sem alterar sua resposta final.

Figura 73 – Análise de transiente da tensão do filtro RF KRC da Figura 70.

Fonte: Autoria própria.

O comportamento da tensão em função do tempo, representado na Figura 73,


comprova que há uma atenuação do sinal de entrada na frequência de corte, onde o valor de
pico para as realizações teórica e real correspondem a aproximadamente 1 V e 650 mV,
respectivamente. Tais valores não apresentam as condições ideais, contudo, deve-se pontuar
que as frequências de corte observadas nas simulações dos circuitos diferem da frequência de
60 Hz, considerada nesta simulação.
113

3.3 CASO 3 – FILTRO PF DE 1kHz

Uma onda quadrada é uma forma de onda básica encontrada frequentemente nas
áreas da eletrônica e do processamento de sinais. Em sua forma ideal, ela alterna regularmente
e instantaneamente entre os dois níveis, que podem ou não incluir o zero.
Fundamentando-se nos conceitos da série de Fourier, sabe-se que uma onda
quadrada é composta por uma frequência fundamental somada a infinitas harmônicas,
representadas por senoides com frequências de valores múltiplos inteiros e ímpares da
frequência fundamental. Pode-se também apresentar um valor em corrente contínua,
relacionado ao offset da onda quadrada.
Para fins de exemplificação, considerou-se, neste caso, uma onda quadrada de 1
kHz na entrada e utilizando-Se um filtro PF para extrair a onda senoidal da frequência
fundamental. Esta seção trata, então, de um filtro PF que atenua as frequências harmônicas de
uma onda quadrada 1 kHz, conforme os dados pré-estabelecidos arbitrariamente pelo projetista,
expostos na Tabela 18.

Tabela 18 - Especificações arbitrárias para o filtro PF do Caso 3.


𝑭𝒂𝒎 Frequência da próxima harmônica 3,00 kHz
𝑭𝒑 Frequência limite da faixa de passagem (0,80 – 1,20) kHz
𝑭𝒔 Frequência limite da banda de rejeição (0,50 – 1,50) kHz
𝑨𝒎𝒂𝒙 Atenuação máxima na faixa de passagem 1,00 dB
𝑨𝒎𝒊𝒏 Atenuação mínima na faixa de bloqueio 20,00 dB
Fonte: Autoria própria.

Em teoria, a escolha da aproximação elíptica para exemplificar este caso seria a


opção mais viável uma vez que, dentre as aproximações abordadas neste trabalho, esta
demonstra-se a mais vantajosa em termos da resposta em frequência. Todavia, o fato de suas
características serem mais acentuadas e precisas, a implementação prática do filtro
considerando os parâmetros especificados torna-se inviável. Deste modo, a fim de exemplificar
este caso, optou-se pela aproximação Chebyshev, que permite a obtenção de um filtro de ordem
relativamente baixa e passível de implementação prática.
O código proposto para este exemplo, descrito e comentado a seguir, resulta em um
filtro de ordem 6 com uma resposta frequência equivalente à representada na Figura 74.
114

%% CASO 3 – FILTRO PF DE 1KHZ

clear all; close all; clc

% DADOS DO PROJETO

Wp = 2*pi*[0.8e3 1.2e3]; % Frequência máxima da faixa de passagem em rad/s


Ws = 2*pi*[0.5e3 1.5e3]; % Frequência limite da faixa de rejeição em rad/s
Rp = 1; % Atenuação máxima da faixa de passagem em dB (Amax)
Rs = 20; % Atenuação mínima da faixa de rejeição em dB (Amin)

%% APROXIMAÇÃO CHEBYSHEV

[n,Wp] = cheb1ord(Wp,Ws,Rp,Rs,'s');
[Z,P,K] = cheby1(n,Rp,Wp,'bandpass','s');
[num,den] = zp2tf(Z,P,K);
N=2*n; % Para filtros PF, a função ‘cheb1ord’ retorna n/2

% OBTENÇÃO DAS SEÇÕES DE SEGUNDA ORDEM DO FILTRO

if ceil(N/2) == N/2 % Caso 'n' seja par


for i = 1:2:N
den = conv([1 -P(i)],[1 -P(i+1)]);
num = [den(2) 0];
eval(['T' num2str((i-1)/2+1) '= tf(num,den);'])
end
else % Caso 'n' seja ímpar
for i = 1:2:N-1
den = conv([1 -P(i)],[1 -P(i+1)]);
num = [den(2) 0];
eval(['T' num2str((i-1)/2+1) '= tf(num,den);'])
end
i=i+1;
den = [1 -P(end)];
eval(['T' num2str((i)/2+1) '= tf(1,den);'])
end

G = K*T1*T2*T3; % Função de transferência final do filtro

%% DIAGRAMA DE BODE

opts = bodeoptions('cstprefs');
opts.FreqUnits = 'Hz';
opts.Title.FontSize = 24;
opts.XLabel.FontSize = 20;
opts.YLabel.FontSize = 20;
bodeplot(G,'r',opts);
title(sprintf('Diagrama de Bode | Filtro PF Chebyshev n = %d',N));
grid on;

A lógica do código baseou-se na ideia de que a implementação prática de um filtro


de ordem superior a 2 só é possível por meio da associação em cascata de filtros de primeira
e/ou segunda ordem, como explicitado na seção 2.8. Deste modo, a obtenção da função de
transferência geral do filtro não demonstra-se conveniente para este caso, uma vez que, faz-se
necessária a representação da função em seções de segunda ordem a fim de obter os parâmetros
do circuito a partir das equações dispostas na seção 2.6.
Neste exemplo, tais seções de segunda ordem estão representada por meio das
funções de transferência T1, T2 e T3 que, ao serem multiplicadas pelo ganho K do circuito,
115

resultam na função de transferência G do sistema, cujo diagrama de Bode está ilustrado na


Figura 74.

Figura 74 - Diagrama de Bode para filtro PF com aproximação Chebyshev.

Fonte: Autoria própria.

Figura 75 – Detalhe do ripple na faixa de passagem para filtro PF com aproximação Chebyshev.

Fonte: Autoria própria.


116

Examinado-se, então, o diagrama de Bode resultante, nota-se que a curva da


magnitude apresenta a característica típica da resposta em frequência de um filtro PF, neste
caso, fixada em uma faixa de frequência de 800 Hz a 1,2 kHz, como evidenciado na Figura 75.
Tratando-se da função de transferência do sistema, cada ripple da faixa de passagem
representa uma seção de segunda ordem que, somadas, resultam em um filtro de ordem 6, de 3
estágios de segunda ordem. Ademais, nota-se que tais ondulações interferem na linearidade da
curva de fase, que apresenta discretas nuânces em seu atraso.

3.3.1 Implementação ativa utilizando topologia KRC

Até o presente momento do trabalho, abordou-se apenas a implementação de filtros


de ordem 2, obtidos diretamente por meio dos circuitos explicitados na seção 2.6. Todavia, uma
vez que este caso em particular apresenta um filtro de ordem superior a 2, faz-se necessária a
associação de filtros em cascata, conforme evidenciado na seção 2.8.
Dentre os arranjos possíveis, para este caso optou-se pela implementação do filtro
por meio da associação de 3 estágios PF de segunda ordem do tipo KRC, equivalentes ao
circuito representado na Figura 47, a um amplificador de ganho K acoplado ao final do circuito,
como evidencia a Figura 76. A escolha deste tipo de implementação se deve ao fato desta
topologia utilizar uma menor quantidade de amplificadores operacionais se comparada à
realização biquad.

Figura 76 – Associação em cascara de filtro PF de 1 kHz de ordem 6 do tipo Chebyshev.

Fonte: Autoria própria.

Analogamente ao exemplo explicitado na seção 3.2.4, os valores teóricos dos


componentes foram calculados por meio da comparação entre cada função de transferência de
segunda ordem resultante do código proposto e a função característica do filtro PF KRC,
117

considerando a escolha arbitrária de um capacitor de 3,3 𝜇F. Ademais, aferiram-se os valores


reais dos componentes por meio de um multímetro digital, conforme exposto na tabela 19.

Tabela 19 - Valores calculados, comerciais e reais para elementos passivos para filtro PF da Figura 77.

Teórico Comercial Real


1º ESTÁGIO

𝑪𝟏 [𝜇F] 3,300 3,300 3,263

𝑪𝟐 [𝜇F] 3,300 3,300 3,304

𝑹𝟏 [k𝛺] 0,817 0,820 0,818

𝑹𝟐 [k𝛺] 0,409 0,820 || 0,820 0,410

𝑹𝟐 ′ [𝛺] 2,012 10,000 || 10,000 || 10,000 || 10,000 || 10,000 || 10,000 2,100

2º ESTÁGIO

𝑪𝟑 [𝜇F] 3,300 3,300 3,237

𝑪𝟒 [𝜇F] 3,300 3,300 3,328

𝑹𝟑 [k𝛺] 0,488 (0,910 || 0,910) + 0,033 0,485

𝑹𝟒 [k𝛺] 0,244 (0,470 || 0,470) + 0,010 0,243

𝑹𝟒 ′ [𝛺] 5,068 10,000 || 10,000 5,500

3º ESTÁGIO

𝑪𝟓 [𝜇F] 3,300 3,300 3,263

𝑪𝟔 [𝜇F] 3,300 3,300 3,249

𝑹𝟓 [k𝛺] 1,210 1,200 1,228

𝑹𝟔 [k𝛺] 0,605 1,200 || 1,200 0,599

𝑹𝟔 ′ [𝛺] 2,978 10,000 || 10,000 || 10,000 3,200

AMPLIFICADOR DE GANHO 𝑲

𝑹𝑲𝟏 [k𝛺] 0,500 1,000 || 1,000 0,495

𝑹𝑲𝟐 [k𝛺] 11,000 10,000 + 1,000 11,720

Fonte: Autoria própria.

Nesta implementação, o ganho resultante do amplificador K foi calculado a fim de


obter-se uma atenuação de 0 dB na faixa de passagem.
118

Executando a simulação do filtro ajustado para as realizações teórica e real, obtém-


se a resposta em frequência do circuito, representada pelas Figuras 77 e 78.

Figura 77 - Magnitude da resposta em frequência para o filtro PF KRC da Figura 76.

Fonte: Autoria própria.

Figura 78 - Fase da resposta em frequência para o filtro PF KRC da Figura 76.

Fonte: Autoria própria.


119

Como observado na Figura 77, devido à sensibilidade do filtro aos valores dos
componentes, os limites da faixa de passagem das realizações consideradas diferem em certo
grau, contudo, uma vez que o filtro é projetado para deixar passar apenas a frequência
fundamental de 1 kHz e, sabendo-se que a próxima harmônica de uma onda quadrada de 1 kHz
apresenta a frequência de 3 kHz, considera-se este erro desprezível, visto que tais parâmetros
garantem a performance do filtro.
120

4 ANÁLISE EXPERIMENTAL DE FILTROS ANALÓGICOS

Uma vez que a seção 3 abordou a obtenção da função de transferência do filtro, por
meio do software MATLAB®, e sua simulação computacional com o auxílio do Proteus®, esta
segmentação visa explicitar a montagem prática dos casos simulados previamente a fim de
fornecer, por meio de situações reais, resultados mais concretos e efetivos.
Todas as realizações experimentais foram efetuadas no Laboratório G104 da
UTFPR Campus Cornélio, sob supervisão do orientador deste trabalho, utilizando-se de
materiais disponibilizados pela própria Universidade conforme descrito na seção a seguir.

4.1 LISTA DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS

Os materiais utilizados para a implementação experimental, assim como os


instrumentos de medição, estão descritos na Tabela 20.

Tabela 20 – Lista de materiais utilizados na realização experimental de filtros.


Material Descrição
MATERIAIS

Protoboard 2420 pontos

Amplificador Operacional Modelo TL082

Capacitores Poliester: 2,2𝜇F, 3,3 𝜇F e 4,7 𝜇F

Resistores Diversos

Fios de conexão Diversos

EQUIPAMENTOS

Multímetro digital Minipa, modelo ET-2507A

Osciloscópio Tektronix, modelo TDS 200 2B

Gerador de função Politerm, modelo POL-40

Gerador de tensão DC Keithey, modelo 2231A-30-3

Fonte: Autoria própria.


121

4.2 CASO 2 – FILTRO RF NOTCH DE 60Hz

Para o caso do filtro RF notch de 60 Hz, explicitado na seção 3.2, realizou-se a


implementação prática das topologias biquad, KRC e RC utilizando a indutância de Antoniou.
A topologia RLC não foi abordada neste segmentação uma vez que, considerando-se os
componentes disponíveis pela UTFPR Cornélio Procópio, sua implementação prática
demonstrou-se inviável.
Visto que o osciloscópio não disponibiliza a resposta em frequência do circuito de
maneira direta, o método de obtenção do diagrama de Bode baseou-se na construção manual
do mesmo, realizada por meio da aferição dos valores de tensão de pico a pico e a análise do
comportamento dos sinais senoidais de saída para diferentes frequências, determinadas
arbitrariamente.
Os circuitos das Figuras 62, 66 e 70 foram, então, montados no protoboard
utilizando-se os componentes disponibilizados, referentes os valores reais dispostos nas tabelas
15, 16 e 17. Os amplificadores operacionais foram alimentados com ±16 V por meio da fonte
de alimentação DC e o sinal de entrada senoidal foi inserido por meio do gerador de funções,
para um valor de tensão de pico a pico fixado em 𝑉 = 8,16 𝑉, valor escolhido arbitrariamente
e utilizado como referência para os valores de amplitude simulados previamente na seção 3.2.
Uma vez ajustados os parâmetros do circuito, acoplou-se a ponteira de medição do
osciloscópio na saída do filtro a fim de aferir as grandezas necessárias para a construção do
diagrama de Bode. Para a obtenção dos valores de tensão, utiliza-se a opção “medidas” do
osciloscópio configurada para apontar o valor de pico a pico da tensão. No caso da análise da
defasagem, seleciona-se a opção “cursor” configurada na função “tempo” e posiciona-se o
cursos manualmente na posição de 0 V, aferindo-se então, os valores de período para cada
frequência especificada.
Tal procedimento foi realizado para as três topologias ativas apresentas na seção
3.2 e os valores aferidos estão representados na Tabela 21.
122

Tabela 21 – Valores de tensão e período aferidos conforme frequências pré-estabelecidas para filtro RF.
FILTRO RC ANTONIOU FILTRO BIQUAD FILTRO KRC

𝑭 [Hz] 𝑻 [s] 𝑽𝒑𝒑 [V] 𝑭 [Hz] 𝑻 [s] 𝑽𝒑𝒑 [V] 𝑭 [Hz] 𝑻 [s] 𝑽𝒑𝒑 [V]

15,07 -9,00E-04 7,60 15,02 -1,20E-03 8,08 14,99 -1,40E-03 8,24


25,03 -4,00E-04 8,80 25,01 -7,00E-04 8,32 25,03 -7,20E-04 8,56
35,02 0,00E+00 8,96 35,04 -5,00E-04 8,56 35,01 -6,00E-04 8,56
45,00 4,00E-04 9,04 45,00 -4,00E-04 8,48 45,03 -4,40E-04 8,48
55,00 1,70E-03 8,72 55,03 -3,60E-04 6,96 55,02 -4,00E-04 8,08
56,04 2,10E-03 7,76 56,00 -4,40E-04 6,24 56,05 -4,00E-04 7,60
57,00 2,90E-03 6,00 57,05 -5,60E-04 4,96 57,04 -4,40E-04 7,04
58,05 4,10E-03 3,04 58,01 -1,30E-03 3,20 58,01 -5,60E-04 6,08
59,06 1,20E-04 0,64 59,00 -2,00E-03 0,88 59,02 -9,20E-04 4,32
60,00 -2,30E-03 2,24 60,02 -1,60E-03 2,40 60,15 -2,00E-02 0,16
61,01 -2,20E-03 4,40 61,00 -8,00E-04 4,24 61,04 -3,40E-03 1,76
62,00 -2,00E-03 5,52 62,02 -5,00E-04 5,60 62,00 -1,00E-03 4,24
63,00 -1,70E-03 6,32 63,01 -3,80E-04 6,48 63,01 -5,20E-04 6,00
64,01 -1,50E-03 6,88 64,03 -3,60E-04 6,96 64,00 -4,00E-04 6,96
65,05 1,30E-03 7,36 65,00 -3,20E-04 7,28 65,04 -3,40E-04 7,76
75,03 -6,00E-04 8,48 75,05 -2,40E-04 8,08 75,00 -2,40E-04 8,96
85,01 -4,00E-04 8,16 85,01 -2,00E-04 8,16 85,03 -2,40E-04 8,96
95,00 -3,20E-04 8,56 95,00 -2,00E-04 8,16 95,00 -2,00E-04 8,88
105,03 -3,60E-04 8,24 105,04 -1,60E-04 8,16 104,99 -2,00E-04 8,88
Fonte: Autoria própria.

Com os dados de tensão de defasagem em mãos, construiu-se analiticamente o


diagrama de Bode dos sistemas com o auxílio do MATLAB® e, por meio da execução do
código apresentado e comentado a seguir, realizou-se a análise comparativa das respostas em
frequências de tensão e fase das realizações em questão, conforme evidenciado nas Figuras 79,
80 e 81.
É importante ressaltar que os dados gráficos provenientes das curvas simuladas
computacionalmente podem ser exportadas para o MATLAB® por meio da opção “Export
Graph Data” disponível no software Proteus®.
123

%% DIAGRAMA DE BODE - MAGNITUDE

%% DADOS OBTIDOS POR MEIO DE SIMULAÇÃO

% S1 = [Fs1 Vs1_t Vs1_r] - Dados extraídos do Proteus

S1 = [
% Inserir dados exportados do gráfico simulado no Proteus para o filtro Antoniou
];

S2 = [
% Inserir dados exportados do gráfico simulado no Proteus para o filtro biquad
];

S3 = [
% Inserir dados exportados do gráfico simulado no Proteus para o filtro KRC
];

%% DADOS OBTIDOS EXPERIMENTALMENTE

% R1 = [Fr1 Tr1 Vr1] - Dados extraídos experimentalmente

R1 = [
% Inserir dados aferidos experimentalmente para o filtro Antoniou
];

R2 = [
% Inserir dados aferidos experimentalmente para o filtro biquad
];

R3 = [
% Inserir dados aferidos experimentalmente para o filtro KRC
];

%% PARÂMETROS PARA TOPOLOGIA ANTONIOU

Fs1 = S1(:,1); % Especifica o vetor da frequência F para valores simulados


Vs1_t = S1(:,2); % Especifica o vetor da tensão de saída para valores teóricos
Vs1_r = S1(:,3); % Especifica o vetor da tensão de saída para valores reais

Fr1 = R1(:,1); % Especifica o vetor da frequência F para valores experimentais


Tr1 = R1(:,2); % Especifica o vetor da defasagem para valores experimentais
Vr1 = R1(:,3); % Especifica o vetor da tensão de saída para valores
experimentais

Fase1 = Tr1*360.*Fr1; % Transforma os valores de período para graus


Gd1 = 20*log10(Vr1/8.16); % Calcula o ganho de tensão em dB

%% PARÂMETROS PARA TOPOLOGIA BIQUAD

Fs2 = S2(:,1);
Vs2_t = S2(:,2);
Vs2_r = S2(:,3);

Fr2 = R2(:,1);
Tr2 = R2(:,2);
Vr2 = R2(:,3);

Fase2 = Tr2*360.*Fr2;
Gd2 = 20*log10(Vr2/8.16);

%% PARÂMETROS PARA TOPOLOGIA KRC

Fs3 = S3(:,1);
Vs3_t = S3(:,2);
Vs3_r = S3(:,3);
124

Fr3 = R3(:,1);
Tr3 = R3(:,2);
Vr3 = R3(:,3);

Fase3 = Tr3*360.*Fr3;
Gd3 = 20*log10(Vr3/8.16);

%% PLOTAGEM DOS GRÁFICOS

figure(1)
plot(Fs1,Vs1_t,'g','linewidth',2);
hold on
plot(Fs1,Vs1_r,'r','linewidth',2);
plot(Fr1,Gd1,'*');
grid on
hold on
title(sprintf('Diagrama de Bode - Magnitude | Filtro RF ANTONIOU'));

figure(2)
plot(Fs2,Vs2_t,'g','linewidth',2);
hold on
plot(Fs2,Vs2_r,'r','linewidth',2);
plot(Fr2,Gd2,'*');
grid on
hold on
title(sprintf('Diagrama de Bode - Magnitude | Filtro RF BIQUAD'));

figure(3)
plot(Fs3,Vs3_t,'g','linewidth',2);
hold on
plot(Fs3,Vs3_r,'r','linewidth',2);
plot(Fr3,Gd3,'*');
grid on
hold on
title(sprintf('Diagrama de Bode - Magnitude | Filtro RF KRC'));

Figura 79 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF RC com indutância de


Antoniou.

Fonte: Autoria própria.


125

Figura 80 – Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF biquad.

Fonte: Autoria própria.

Figura 81 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro RF KRC.

Fonte: Autoria própria.


126

Analisando-se as comparações realizadas para todos os casos, nota-se que o


comportamento da magnitude aferido experimentalmente corresponde àqueles obtidos via
simulação, apresentando uma discrepância desprezível. A precisão do filtro pode ser observada
comparando-se os valores obtidos para as frequências de corte nas realizações computacional e
experimental, conforme propõe a Tabela 22.

Tabela 22 - Comparação dos valores de frequência de corte obtidos por meio de simulação e
experimentalmente.
RF Antoniou RF Biquad RF KRC

𝑭𝒕 [Hz] 59,98 60,26 60,26


𝑭𝒓 [Hz] 59,02 58,84 60,26
𝑭𝒑 [Hz] 59,06 59,00 60,15
Fonte: Autoria própria.

Utilizando-se da mesma lógica proposta para a comparação da magnitude, plotou-


se a análise comparativa das fases dos filtros propostos, conforme disposto nas Figuras 82, 83
e 84.

Figura 82 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF RC com indutância de


Antoniou.

Fonte: Autoria própria.


127

Figura 83 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF biquad.

Fonte: Autoria própria.

Figura 84 - Comparação da fase da resposta em frequência para filtro RF KRC.

Fonte: Autoria própria.


128

Examinando o comportamento das curvas de fase nota-se que em todos os casos a


realização prática apresenta uma pequena discrepância se comparada à realização efetuada por
meio de simulação. Contudo, entende-se que o comportamento de tais curvas correspondem ao
esperado, comprovando a eficácia do filtro proposto. Ademais, deve-se levar em consideração
a sensibilidade dos componentes utilizados no circuito e a divergência entre os valores
empíricos e calculados, que acarretam em pequenos erros na resposta final, tal qual observado.

4.3 CASO 3 – FILTRO PF DE 1kHz

Analogamente aos procedimentos realizados para o Caso 2, todavia desta vez


representando-se o sinal de entrada por meio de uma onda quadrada de 1 kHz com 𝑉 = 1,92𝑉,
o filtro PF exposto na Figura 76 foi montado no protoboard e os valores pertinentes aferidos
com o auxílio do osciloscópio. Tais valores estão expostos na Tabela 23.

Tabela 23 - Valores de tensão e período aferidos conforme frequências pré-estabelecidas para filtro PF.
FILTRO KRC

𝑭 [Hz] 𝑻 [s] 𝑽𝒑𝒑 [V] 𝑭 [Hz] 𝑻 [s] 𝑽𝒑𝒑 [V]

950 -9,80E-04 4.24 995 -2,64E-04 6,16


955 -9,60E-04 4,32 1000 -2,40E-04 6,08
960 -9,30E-04 4,64 1005 -2,08E-04 6,00
965 -9,20E-04 4,96 1010 -1,88E-04 5,76
970 -3,72E-04 5,20 1015 -1,64E-04 5,52
975 -3,48E-04 5,52 1020 -1,32E-04 5,04
980 -8,40E-04 5,76 1025 -1,20E-04 4,72
985 -3,08E-04 6,00 1030 -1,04E-04 4,48
990 -7,90E-04 6,08 1035 -8,40E-05 4,16
Fonte: Autoria própria.

Para este caso em particular, aferiu-se as grandezas relacionadas apenas na faixa de


frequência limitada de 950 a 1035 Hz, uma vez que, para um espectro acima ou abaixo destas
frequências específicas, o circuito apresentava uma resposta distorcida e ilegível,
impossibilitando a construção gráfica da resposta.
129

Exportando-se, então, os dados do diagrama de Bode, proveniente da simulação


computacional para o MATLAB® e realizando a comparação das curvas da simulação teórica,
real e prática por meio da análise gráfica das respostas em frequência, tal qual explicitado na
seção anterior, gera-se o gráfico comparativo de magnitude da resposta em frequência do
sistema, exibido na Figura 85.

Figura 85 - Comparação da magnitude da resposta em frequência para filtro PF.

Fonte: Autoria própria.

Como mencionado anteriormente, o número de dados aferidos empiricamente para


este caso não contempla a quantidade necessária a fim de obter-se uma comparação criteriosa
da magnitude da resposta em frequência. Contudo, realizando-se uma análise superficial da
curva plotada, é possível averiguar que o filtro demonstra o comportamento esperado de
atenuação nas frequências distintas daquelas que se encontram dentro dos limites da faixa de
passagem.
Examinando-se a curva de magnitude, nota-se que há uma discrepância entre os
valores para a frequência de corte obtidos. Esta divergência já é esperada uma vez que os valores
implementados empiricamente não condizem criteriosamente com os ideais, definidos
matematicamente. Ademais, deve-se levar em consideração os erros referentes aos
instrumentos de medição, ponteiras e componentes que, quando somados, contribuem para a
130

divergência das respostas. Para este caso a análise da fase demonstra-se inviável uma vez que
não há dados experimentais suficientes para plotar uma curva legível e passível de comparação.
Ainda, utilizando-se o osciloscópio, obteve-se a análise de transiente da tensão
referenciada aos valores críticos da resposta em frequência, representada por meio dos gráficos
dispostos na Figura 87, na qual o canal 1 representa o sinal de entrada, enquanto o canal 2
exprime a saída do filtro nas frequências críticas de (a) 950 Hz, (b) 995 Hz e (c) 1035 Hz.

Figura 86 - Análise analógica da tensão para filtro PF experimental do Caso 3 (a) no limite inferior
mensurável da frequência, (b) na frequência de corte e (c) no limite superior mensurável da frequência.

(a) (b)

(c)
Fonte: Autoria própria.

Analisando-se as curvas em questão averígua-se que, o sinal de entrada,


representado por uma onda quadrada de 1 kHz com 𝑉 = 1,92𝑉, é filtrado ao passar pelo filtro,
de modo a caracterizar-se apenas como o sinal senoidal da frequência fundamental de 1 k Hz,
apresentando 𝑉 = 7,44𝑉 na frequência de corte, comprovando-se, assim, o êxito da
implementação. Ainda, realizando-se uma análise visual, é possível observar o comportamento
de fase do circuito.
131

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseando-se na literatura abrangida no escopo deste trabalho, torna-se evidente a


importância do uso de filtros analógicos no âmbito da eletrônica, justificando a necessidade da
elaboração do material de apoio proposto.
Na seção 3.1 deste trabalho é apresentado o estudo dos métodos de aproximação de
filtros abordados teoricamente na seção 2.4, realizado por meio da exemplificação de um filtro
PB anti-aliasing. Analisando-se a comparação entre as aproximações por meio das funções
disponíveis no software MATLAB® nota-se que as aproximações Butterworth, Chebyshev e
Elíptica atendem às especificações previamente determinadas, sendo a Elíptica a mais eficaz
dentre elas umas vez que realiza a filtragem do sinal implementando um ordem inferior se
comparada as demais. A aproximação Bessel por sua vez, mesmo simulada considerando-se a
maior ordem disponibilizada pelo MATLAB®, não atende às especificações, contudo,
apresenta o comportamento de fase mais linear dentre todas as outras. Experimentalmente, as
aproximações Elíptica e Chebyshev demonstram-se passíveis de implementação enquanto as
implementações práticas das aproximações Butterworth e Bessel apresentam-se inviáveis pois,
por implementarem ordens altas, necessitam da utilização de um número excessivo de
componentes.
A análise computacional e prática das possíveis topologias de implementação de
filtros, conceituada na seção 2.6, está disposta nas seções 3.2 e 4.1, respectivamente, por meio
do estudo de caso de um filtro RF notch que tem como objetivo excluir o sinal de 60 Hz
proveniente da rede elétrica. Nas topologias ativas apresentadas (RC com indutância de
Antinou, biquadática e KRC), as respostas em frequência relativa à tensão obtidas por meio da
simulação dos circuitos no Proteus® e por implementação prática demonstraram-se equivalente
àquelas obtidas com o auxílio do software MATLAB®, apresentando uma leve discrepância,
já esperada uma vez que deve-se levar em consideração a divergência entre os valores
calculados teoricamente dos componentes e os reais medidos. Na análise de fase contata-se que
as implementações biquadrática e KRC apresentam uma resposta diferente das demais,
contudo, esta divergência deve-se às características construtivas dos componentes utilizados no
circuito, que provocam uma mudança no comportamento da fase, embora não alterem a resposta
final do filtro. No caso da topologia passiva RLC, a implementação prática demonstrou-se
inviável considerando-se os componentes disponíveis para a realização deste trabalho,
entretanto, por meio da simulação os resultados demonstram-se satisfatórios, apresentando uma
discrepância maior na atenuação da tensão na frequência de corte selecionada, justificada pelo
132

fato de implementações passivas de filtros analógicos possuírem um fator de qualidade


limitado, demonstrando-se inviável, neste caso, a implementação de Q = 10 arbitrado. De
maneira geral, todas as topologias atendem às especificações determinadas, sendo a KRC mais
vantajosa tratando-se de simplicidade de implementação e utilização de um menor número de
componentes.
Por fim, o último exemplo apresentado, referente a um filtro PF que visa extrair a
senoide da frequência fundamental de uma onda quadrada de 1 KHz, é explicitado nas seções
3.3 e 4.2. Para este caso, embora a aproximação elíptica demonstra-se mais vantajosa em vários
aspectos, sua implementação prática demonstrou-se impraticável para atender os parâmetros
desejados. Deste modo, optou-se pela realização Chebyshev uma vez que esta permite a
obtenção de um filtro de ordem relativamente baixa e passível de implementação prática.
Apresentando como foco principal a análise de filtros de ordens superiores, nesta segmentação
do trabalho foi realizada a implementação prática do caso citado empregando as topologias
ativas apresentadas previamente, exemplificadas por meio de 3 estágios de ordem 2 associados
em cascata, como destacado na seção 2.8. Todos os resultados obtidos via simulação
demonstraram-se satisfatórios, apresentando erros referentes às curvas de tensão e fase
considerados desprezíveis. Empiricamente, a obtenção de resultados demonstrou-se de difícil
aquisição. No entanto, considera-se tais resultados suficientes para a compreensão da teoria e a
validação dos resultados obtidos. Dentre as topologias analisadas, a biquadrática é a que
apresenta a resposta em frequência mais distinta da esperada devido ao uso de um maior número
de componentes, implicando que, quanto maior for a ordem do filtro, menos indicado é seu uso.
Em suma, sabe-se que o tema de filtros analógicos abrange uma vasta teoria que
compreende inúmeras topologias e possibilidades de implementação, demonstrando-se inviável
a realização de um trabalho contendo todo a temática do assunto. Contudo, o presente trabalho
aborda os principais pontos relacionados ao projeto e análise de filtros analógicos, oferecendo
ao leitor uma base concreta para fixar o conteúdo, possibilitando o aprofundamento do assunto
em trabalhos futuros.
133

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