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Coleção Emmanuel

Psicografia
Francisco Cândido Xavier
Coleção 1
Livro 1
1-A Caminho da Luz
2- O Consolador
3- Roteiro
4- Emmanuel
5-Pensamento e Vida
6-Religião do Espíritos
Livro 1
A Caminho da Luz
Antelóquio

Meus amigos, que Deus vos conceda paz.


É-me grata a vossa palestra a respeito dos nossos trabalhos.
Esperemos e supliquemos a bênção do Alto para o nosso esforço.
Dando seguimento aos nossos estudos, procuremos esforçar-nos por
mostrar a verdadeira posição do Evangelho do Cristo, tanta vez
incompreendido aí no mundo, em face das religiões e das filosofias
terrenas.
Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está
compilada e feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a
influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as
civilizações terrestres. O livro do irmão Humberto{1} foi à revelação da
missão coletiva de um país; nosso esforço consistirá, tão-somente, em
apontamentos à margem da tarefa de grandes missionários do mundo e de
povos que já desapareceram, esclarecendo a grandeza e a misericórdia do
Divino Mestre. Vamos esperar os dias próximos, quando tentaremos
realizar nossos planos humildes de trabalho. Que Deus vos conceda a
todos, tranquilidade e saúde, e a nós as possibilidades necessárias. Muito
vos agradeço o concurso de cada um no esforço geral. Trabalhemos na
grande colmeia da evolução, sem outra preocupação que não seja a de bem
servir Àquele que, das Alturas, sabe de todas as nossas lutas e lágrimas.
Confiemos n´Ele. Do seu coração augusto e misericordioso parte a fonte da
luz e da vida, da harmonia e da paz para todos os corações. Que Ele vos
abençoe.

EMMANUEL

Mensagem recebida em 17-8-1938.


Introdução

Enquanto as penosas transições do século XX se anunciam ao tinido


sinistro das armas, as forças espirituais se reúnem para as grandes
reconstruções do porvir.
Aproxima-se o momento em que se efetuará a aferição de todos os
valores terrestres para o ressurgimento das energias criadoras de um mundo
novo, e natural é que recordemos o ascendente místico de todas as
civilizações que surgiram e desapareceram, evocando os grandes períodos
evolutivos da Humanidade, com as suas misérias e com os seus
esplendores, para afirmar as realidades espirituais acima de todos os
fenômenos transitórios da matéria.
Esse esforço de síntese será o da fé reclamando a sua posição em face
da ciência dos homens, e ante as religiões da separatividade, como a
bússola da verdadeira sabedoria.
Diante dos nossos olhos de espírito passam os fantasmas das
civilizações mortas, como se permanecêssemos diante de um "écran"
maravilhoso. As almas mudam a indumentária carnal, no curso incessante
dos séculos; constroem o edifício milenário da evolução humana com as
suas lágrimas e sofrimentos, e até nossos ouvidos chegam os ecos
dolorosos de suas aflições. Passam as primeiras organizações do homem e
passam as suas grandes cidades, transformadas em ossuários silenciosos. O
tempo, como patrimônio divino do espírito, renova as inquietações e
angústias de cada século, no sentido de aclarar o caminho das experiências
humanas. Passam às raças e as gerações, as línguas e os povos, os países e
as fronteiras, as ciências e as religiões. Um sopro divino faz movimentar
todas as coisas nesse torvelinho maravilhoso.
Estabelece-se, então, a ordem equilibrando todos os fenômenos e
movimentos do edifício planetário, vitalizando os laços eternos que reúnem
a sua grande família.
Vê-se, então, o fio inquebrantável que sustenta os séculos das
experiências terrestres, reunindo-as, harmoniosamente, umas às outras, a
fim de que constituam o tesouro imortal da alma humana em sua gloriosa
ascensão para o Infinito.
As raças são substituídas pelas almas e as gerações constituem fases
do seu aprendizado e aproveitamento; as línguas são formas de expressão,
caminhando para a expressão única da fraternidade e do amor, e os povos
são os membros dispersos de uma grande família trabalhando para o
estabelecimento definitivo de sua comunidade universal.
Seus filhos mais eminentes, no plano dos valores espirituais, são
agraciados pela Justiça Suprema, que legisla no Alto para todos os mundos
do Universo, e podem visitar as outras pátrias siderais, regressando ao
orbe, no esforço abençoado de missões regeneradoras dentro das igrejas e
das academias terrenas.
Na tela mágica dos nossos estudos, destacam-se esses missionários
que o mundo muitas vezes crucificou na incompreensão das almas
vulgares, mas, em tudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de
espiritualidade que diviniza a matéria, encadeando o trabalho das
civilizações, e, mais acima, ofuscando o "écran" das nossas observações e
dos nossos estudos, vemos a fonte de extraordinária luz, de onde parte o
primeiro ponto geométrico desse fio de vida e de harmonia, que equilibra e
satura toda a Terra numa apoteose de movimento e divinas claridades.
Nossos pobres olhos não podem divisar particularidades nesse
deslumbramento, mas sabemos que o fio da luz e da vida está em suas
mãos. É Ele quem sustenta todos os elementos ativos e passivos da
existência planetária. No seu coração augusto e misericordioso está o
Verbo do princípio. Um sopro de sua vontade pode renovar todas as coisas,
e um gesto seu pode transformar a fisionomia de todos os horizontes
terrestres.
Passaram as gerações de todos os tempos, com as suas inquietações e
angústias. As guerras ensanguentaram o roteiro dos povos nas suas
peregrinações incessantes para o conhecimento superior.
Caíram os tronos dos reis e esfacelaram-se coroas milenárias. Os
príncipes do mundo voltaram ao teatro de sua vaidade orgulhosa, no
indumento humilde dos escravos, e, em vão, os ditadores conclamaram, e
conclamam ainda, os povos da Terra, para o morticínio e para a destruição.
O determinismo do amor e do bem é a lei de todo o Universo e a alma
humana emerge de todas as catástrofes em busca de uma vida melhor.
Só Jesus não passou na caminhada dolorosa das raças, objetivando a
dilaceração de todas as fronteiras para o amplexo universal.
Ele é a Luz do Princípio e em suas mãos misericordiosas repousam os
destinos do mundo. Seu coração magnânimo é a fonte da vida para toda a
Humanidade terrestre. Sua mensagem de amor, no Evangelho, é a eterna
palavra da ressurreição e da justiça, da fraternidade e da misericórdia.
Todas as coisas humanas passaram, todas as coisas humanas se
modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas as vidas terrestres, inacessível ao
tempo e à destruição.
Enquanto falamos da missão do século XX, contemplando os
ditadores da atualidade, que se arvoram em verdugos das multidões,
cumpre-nos voltar os olhos súplices para a infinita misericórdia do Senhor,
implorando-lhe paz e amor para todos os corações.
I
A Gênese planetária

A COMUNIDADE DOS ESPÍRITOS PUROS

Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os


fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e
Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as
rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.
Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um
dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas
proximidades da Terra, para a solução de problemas decisivos da
organização e da direção do nosso planeta, por duas vezes no curso dos
milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da
nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as
balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria
em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à
face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho
de amor e redenção.
A CIÊNCIA DE TODOS OS TEMPOS

Não é nosso propósito trazer à consideração dos estudiosos uma nova


teoria da formação do mundo. A Ciência de todos os séculos está cheia de
apóstolos e missionários. Todos eles foram inspirados ao seu tempo,
refletindo a claridade das Alturas, que as experiências do Infinito lhes
imprimiram na memória espiritual, e exteriorizando os defeitos e
concepções da época em que viveram, na feição humana de sua
personalidade.
Na sua condição de operários do progresso universal, foram
portadores de revelações gradativas, no domínio dos conhecimentos
superiores da Humanidade. Inspirados de Deus nos penosos esforços da
verdadeira civilização, as suas ideias e trabalhos merecem o respeito de
todas as gerações da Terra, ainda que as novas expressões evolutivas do
plano cultural das sociedades mundanas tenham sido obrigadas a
proscrever as suas teorias e antigas fórmulas.
Lembrando-nos, porém, mais detidamente, de quantos souberam
receber a intuição da realidade nas perquirições do Infinito, busquemos
recordar o globo terráqueo nos seus primeiros dias.
OS PRIMEIROS TEMPOS DO ORBE TERRESTRE

Que força sobre-humana pôde manter o equilíbrio da nebulosa


terrestre, destacada do núcleo central do sistema, conferindo-lhe um
conjunto de leis matemáticas, dentro das quais se iam manifestar todos os
fenômenos inteligentes e harmônicos de sua vida, por milênios de
milênios? Distando do Sol cerca de 149.600.000 quilômetros e deslocando-
se no espaço com a velocidade diária de 2.500.000 quilômetros, em torno
do grande astro do dia, imaginemos a sua composição nos primeiros
tempos de existência, como planeta.
Laboratório de matérias ignescentes, o conflito das forças telúricas e
das energias físico-químicas opera as grandiosas construções do teatro da
vida, no imenso cadinho onde a temperatura se eleva, por vezes, a 2.000
graus de calor, como se a matéria colocada num forno, incandescente,
estivesse sendo submetida aos mais diversos ensaios, para examinar-se a
sua qualidade e possibilidades na edificação da nova escola dos seres. As
descargas elétricas, em proporções jamais vistas da Humanidade,
despertam estranhas comoções no grande organismo planetário, cuja
formação se processa nas oficinas do Infinito.
A CRIAÇÃO DA LUA

Nessa computação de valores cósmicos em que laboram os operários


da espiritualidade sob a orientação misericordiosa do Cristo, delibera-se a
formação do satélite terrestre.
O programa de trabalhos a realizar-se no mundo requeria o concurso
da Lua, nos seus mais íntimos detalhes. Ela seria a âncora do equilíbrio
terrestre nos movimentos de translação que o globo efetuaria em torno da
sede do sistema; o manancial de forças ordenadoras da estabilidade
planetária e, sobretudo, o orbe nascente necessitaria da sua luz polarizada,
cujo suave magnetismo atuaria decisivamente no drama infinito da criação
e da reprodução de todas as espécies, nos variados remos da Natureza.
A SOLIDIFICAÇÃO DA MATÉRIA

Na grande oficina surge, então, a diferenciação da matéria ponderável,


dando origem ao hidrogênio.
As vastidões atmosféricas são amplo repositório de energias elétricas
e de vapores que trabalham as substâncias torturadas no orbe terrestre. O
frio dos espaços atua, porém, sobre esse laboratório de energias
incandescentes e a condensação dos metais verifica-se com a leve
formação da crosta solidificada.
É o primeiro descanso das tumultuosas comoções geológicas do
globo. Formam-se os primitivos oceanos, onde a água tépida sofre pressão
difícil de descrever-se. A atmosfera está carregada de vapores aquosos e as
grandes tempestades varrem, em todas as direções, a superfície do planeta,
mas sobre a Terra o caos fica dominado como por encanto. As paisagens
aclaram-se, fixando a luz solar que se projeta nesse novo teatro de
evolução e vida.
As mãos de Jesus haviam descansado, após o longo período de
confusão dos elementos físicos da organização planetária.
O DIVINO ESCULTOR

Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias desencadeadas;


com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopo da sua
misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a Sabedoria do Pai
deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. Operou a
escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e
grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade
e justiça.
Com os seus exércitos de trabalhadores devotados, estatuiu os
regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o
equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade
substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte
no universo galáxico.
Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o
indispensável à existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica
adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no
curso dos milênios; estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e
da estratosfera, onde se harmonizam os fenômenos elétricos da existência
planetária, e edificou as usinas de ozone a 40 e 60 quilômetros de altitude,
para que filtrassem convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a
composição precisa à manutenção da vida organizada no orbe. Definiu
todas as linhas de progresso da humanidade futura, engendrando a
harmonia de todas as forças físicas que presidem ao ciclo das atividades
planetárias.
O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE

A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na


intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo.
Substituíram-lhe a providência com a palavra "natureza", em todos os
seus estudos e análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da
criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na
imortalidade sem fim.
E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz
do Sol beijava, em silêncio, a beleza melancólica dos continentes e dos
mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu
pensamento.
Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços
ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso
laboratório planetário em repouso.
Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo
dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que
cobria toda a Terra.
Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada.
Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele,
lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros
homens.
II
A vida organizada

AS CONSTRUÇÕES CELULARES

Sob a orientação misericordiosa e sábia do Cristo, laboravam na Terra


numerosas assembleias de operários espirituais.
Como a engenharia moderna, que constrói um edifício prevendo os
menores requisitos de sua finalidade, os artistas da espiritualidade
edificavam o mundo das células iniciando, nos dias primevos, a construção
das formas organizadas e inteligentes dos séculos porvindouros.
O ideal da beleza foi a sua preocupação dos primeiros momentos, no
que se referia às edificações celulares das origens.
É por isso que, em todos os tempos, a beleza, junto à ordem,
constituiu um dos traços indeléveis de toda a criação.
As formas de todos os ramos da natureza terrestre foram estudadas e
previstas. Os fluidos da vida foram manipulados de modo a se adaptarem
às condições físicas do planeta, encenando-se as construções celulares
segundo as possibilidades do ambiente terrestre, tudo obedecendo a um
plano preestabelecido pela misericordiosa sabedoria do Cristo,
consideradas as leis do princípio e do desenvolvimento geral.
OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA

Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe


terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa,
era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de
todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma
definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação
da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras
manifestações dos seres vivos.
Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células
albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e
livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos
oceanos.
Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem
ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao
entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em
proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações;
esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu
origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos
superiores.
A ELABORAÇÃO PACIENTE DAS FORMAS

Decorrido muito tempo, eis que as amebas primitivas se associam


para a vida celular em comum, formando-se as colônias de infusórios, de
polipeiros, em obediência aos planos da construção definitiva do porvir,
emanados do mundo espiritual onde todo o progresso da Terra tem a sua
gênese.
Os reinos, vegetal e animal parecem confundidos nas profundidades
oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessas
sociedades de infusórios; mas, desses conjuntos singulares, formam-se
ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos organismos
superiores.
Milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos serviços
da elaboração paciente das formas.
A princípio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação da
existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles,
formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da
procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.
AS FORMAS INTERMEDIÁRIAS DA NATUREZA

A atmosfera está ainda saturada de umidade e vapores, e a terra sólida


está coberta de lodo e pântanos inimagináveis.
Todavia, as derradeiras convulsões interiores do orbe localizam os
calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas
necessárias à manutenção da vida animal.
Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos do
globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos,
surgindo, desse modo, as grandes extensões de terra firme, aptas a receber
as sementes prolíficas da vida.
Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos
crustáceos marinhos. Seguindo-lhes as pegadas, aparecem os batráquios,
que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes.
Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se veste de vegetação
luxuriante, prodigiosa, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as
minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.
OS ENSAIOS ASSOMBROSOS

Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos


evolutivos, no plano das formas.
A Natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos.
Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas.
Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a
combinação das substâncias, na retorta de acuradas observações,
analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos celulares,
cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com as suas
experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as
possibilidades e necessidades do porvir.
Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e
realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada, no
limite do possível, em face das leis físicas do globo.
Os tipos adequados à Terra foram consumados em todos os reinos da
Natureza, eliminando-se os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório
de suas perseverantes experiências.
A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto campo de
operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos marinhos,
conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais
monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores, desapareceram
para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do mundo as
interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.
OS ANTEPASSADOS DO HOMEM

O reino animal experimenta as mais estranhas transições no período


terciário, sob as influências do meio e em face dos imperativos da lei de
seleção.
Mas, o nosso raciocínio ansioso procura os legítimos antepassados das
criaturas humanas, nessa imensa vastidão do proscênio da evolução
anímica.
Onde está Adão com a sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos
procuram, aflitos, essas figuras legendárias, com o propósito de localizá-las
no Espaço e no Tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva
constituem uma lembrança dos Espíritos degredados ria paisagem obscura
da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das
criaturas.
Examinada, porém, a questão nos seus prismas reais, vamos encontrar
os primeiros antepassados do homem sofrendo os processos de
aperfeiçoamento da Natureza. No período terciário a que nos reportamos,
sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de
antropóides, no Plioceno inferior. Esses antropóides, antepassados do
homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo,
tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os parentescos
sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da
atualidade.
Reportando-nos, todavia, aos eminentes naturalistas dos últimos
tempos, que examinaram meticulosamente os transcendentes assuntos do
evolucionismo, somos compelidos a esclarecer que não houve
propriamente uma "descida da árvore", no início da evolução humana.
As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a
orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade dos
elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies,
dentro das quais o princípio espiritual encontraria o processo de seu
acrisolamento, em marcha para a racionalidade.
Os peixes, os répteis, os mamíferos, tiveram suas linhagens fixas de
desenvolvimento e o homem não escaparia a essa regra geral.
A GRANDE TRANSIÇÃO

Os antropoides das cavernas espalharam-se, então, aos grupos, pela


superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências
do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus tipos
diversificados; a realidade, porém, é que as entidades espirituais auxiliaram
o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.
Extraordinárias experiências foram realizadas pelos mensageiros do
invisível. As pesquisas recentes da Ciência sobre o tipo de Neanderthal,
reconhecendo nele uma espécie de homem bestializado, e outras
descobertas interessantes da Paleontologia, quanto ao homem fóssil, são
um atestado dos experimentos biológicos a que procederam os prepostos
de Jesus, até fixarem no "primata" os característicos aproximados do
homem futuro.
Os séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a
fronte dessas criaturas de braços alongados e de pelos densos, até que um
dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo
perispiritual preexistente, dos homens primitivos, nas regiões siderais e em
certos intervalos de suas reencarnações.
Surgem os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo à
elegância dos tempos do porvir.
Uma transformação visceral verificara-se na estrutura dos
antepassados das raças humanas.
Como poderia operar-se semelhante transição? Perguntará o vosso
critério científico.
Muito naturalmente.
Também as crianças têm os defeitos da infância corrigidos pelos pais,
que as preparam em face da vida, sem que, na maioridade, elas se lembrem
disso.
III
As raças adâmicas

O SISTEMA DE CAPELA

Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em


seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na Constelação do
Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Magnífico
sol entre os astros que nos são mais vizinhos, ela, na sua trajetória pelo
Infinito, faz-se acompanhar, igualmente, da sua família de mundos,
cantando as glórias divinas do Ilimitado.
A sua luz gasta cerca de 42 anos para chegar à face da Terra,
considerando-se, desse modo, a regular distância existente entre a Capela e
o nosso planeta, já que a luz percorre o espaço com a velocidade
aproximada de 300.000 quilômetros por segundo.
Quase todos os mundos que lhe são dependentes já se purificaram
física e moralmente, examinadas as condições de atraso moral da Terra,
onde o homem se reconforta com as vísceras dos seus irmãos inferiores,
como nas eras pré-históricas de sua existência, marcham uns contra os
outros ao som de hinos guerreiros, desconhecendo os mais comezinhos
princípios de fraternidade e pouco realizando em favor da extinção do
egoísmo, da vaidade, do seu infeliz orgulho.
UM MUNDO EM TRANSIÇÕES

Há muitos milênios, um dos orbes da Capela, que guarda muitas


afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos.
As lutas finais de um longo aperfeiçoamento estavam delineadas,
como ora acontece convosco, relativamente às transições esperadas no
século XX, neste crepúsculo de civilização.
Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da
evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas
daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de saneamento
geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua,
para a edificação dos seus elevados trabalhos. As grandes comunidades
espirituais, diretoras do Cosmos, deliberam, então, localizar aquelas
entidades, que se tornaram pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua,
onde aprenderiam a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu
ambiente, as grandes conquistas do coração e impulsionando,
simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores.
ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA

Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça,
aquela turba de seres sofredores e infelizes.
Com a sua palavra sábia e compassiva, exortou essas almas
desventuradas à edificação da consciência pelo cumprimento dos deveres
de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas.
Mostrou-lhes os campos imensos de luta que se desdobravam na
Terra, envolvendo-as no halo bendito da sua misericórdia e da sua caridade
sem limites. Abençoou-lhes as lágrimas santificadoras, fazendo-lhes sentir
os sagrados triunfos do futuro e prometendo-lhes a sua colaboração
cotidiana e a sua vinda no porvir.
Aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um
mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do
mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam
desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;
reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o
paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam
a suave luz da Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e
confortados na sua imensa misericórdia.
FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS

Com o auxílio desses Espíritos degredados, naquelas eras


remotíssimas, as falanges do Cristo operavam ainda as últimas experiências
sobre os fluidos renovadores da vida, aperfeiçoando os caracteres
biológicos das raças humanas.
A Natureza ainda era, para os trabalhadores da espiritualidade, um
campo vasto de experiências infinitas; tanto assim que, se as observações
do mendelismo fossem transferidas àqueles milênios distantes, não se
encontraria nenhuma equação definitiva nos seus estudos de biologia.
A moderna genética não poderia fixar, como hoje, as expressões dos
"genes", porquanto, no laboratório das forças invisíveis, as células ainda
sofriam longos processos de acrisolamento, imprimindo-se lhes elementos
de astralidade, consolidando-se lhes as expressões definitivas, com vistas
às organizações do porvir.
Se a gênese do planeta se processara com a cooperação dos milênios,
a gênese das raças humanas requeria a contribuição do tempo, até que se
abandonasse a penosa e longa tarefa da sua fixação.
ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS

Aquelas almas aflitas e atormentadas reencarnaram,


proporcionalmente, nas regiões mais importantes, onde se haviam
localizado as tribos e famílias primitivas, descendentes dos "primatas", a
que nos referimos ainda há pouco. Com a sua reencarnação no mundo
terreno, estabeleciam-se fatores definitivos na história etnológica dos seres.
Um grande acontecimento se verificara no planeta.
É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das
raças brancas.
Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o
istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se
igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América
guardam assinalados vestígios.
Não obstante as lições recebidas da palavra sábia e mansa do Cristo,
os homens brancos olvidaram os seus sagrados compromissos.
Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas
exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos
séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém, infelizes e retrógrados,
permanecem ainda na Terra, nos dias que correm, contrariando a regra
geral, em virtude do seu elevado passivo de débitos clamorosos.
QUATRO GRANDES POVOS

As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação


pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências.
As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações, até
que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.
Aqueles seres decaídos e degradados, a maneira de suas vidas
passadas no mundo distante da Capela, com o transcurso dos anos
reuniram-se em quatro grandes grupos que se fixaram depois nos povos
mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e linguísticas que os
associavam na constelação do Cocheiro.
Unidos, novamente, na esteira do Tempo, formaram desse modo o
grupo dos árias, a civilização do Egito, o povo de Israel e as castas da
Índia.
Dos árias descende a maioria dos povos brancos da família
indoeuropéia nessa descendência, porém, é necessário incluir os latinos, os
celtas e os gregos, além dos germanos e dos eslavos.
As quatro grandes massas de degredados formaram os pródromos de
toda a organização das civilizações futuras, introduzindo os mais largos
benefícios no seio da raça amarela e da raça negra, que já existiam.
É de grande interesse o estudo de sua movimentação no curso da
História. Através dessa análise, é possível examinarem-se os defeitos e
virtudes que trouxeram do seu paraíso longínquo, bem como os
antagonismos e idiossincrasias peculiares a cada qual.
AS PROMESSAS DO CRISTO

Tendo ouvido a palavra do Divino Mestre antes de se estabelecerem


no mundo, as raças adâmicas, nos seus grupos insulados, guardaram a
reminiscência das promessas do Cristo, que, por sua vez, as fortaleceu no
seio das massas, enviando-lhes periodicamente os seus missionários e
mensageiros.
Eis por que as epopeias do Evangelho foram previstas e cantadas
alguns milênios antes da vinda do Sublime Emissário.
Os enviados do Infinito falaram, na China milenária, da celeste figura
do Salvador, muitos séculos antes do advento de Jesus. Os iniciados do
Egito esperavam-no com as suas profecias. Na Pérsia, idealizaram a sua
trajetória, antevendo-lhe os passos nos caminhos do porvir; na Índia
védica, era conhecida quase toda a história evangélica, que o sol dos
milênios futuros iluminaria na região escabrosa da Palestina, e o povo de
Israel, durante muitos séculos, cantou-lhe as glórias divinas, na
exaltação do amor e da resignação, da piedade e do martírio, através da
palavra de seus profetas mais eminentes.
Uma secreta intuição iluminava o espírito divinatório das massas
populares.
Todos os povos O esperavam em seu seio acolhedor; todos O
queriam, localizando em seus caminhos a sua expressão sublime e
divinizada. Todavia, apesar de surgir um dia no mundo, como Alegria de
todos os tristes e Providência de todos os infortunados, à sombra do trono
de Jessé, o Filho de Deus em todas as circunstâncias seria o Verbo de Luz e
de Amor do Princípio, cuja genealogia se confunde na poeira dos sóis que
rolam no Infinito. (*)
__________
(*) Entre as considerações acima e as do capítulo precedente,
devemos ponderar o interstício de muitos séculos. Aliás, no que e refere à
historicidade das raças adâmicas, será justo meditarmos atentamente no
problema da fixação dos caracteres raciais. Apresentando o meu
pensamento humilde, procurei demonstrar as largas experiências que os
operários do Invisível levaram a efeito, sobre os complexos celulares,
chegando a dizer da impossibilidade de qualquer cogitação mendelista
nessa época da evolução planetária. Aos prepostos de Jesus foi necessária
grande soma de tempo, no sentido de fixar o tipo humano.
Assim, pois, referindo-nos ao degredo dos emigrantes da Capela,
devemos esclarecer que, nessa ocasião, já o primata hominis se encontrava
arregimentado em tribos numerosas. Depois de grandes experiências, foi
que as migrações do Pamir se espalharam pelo orbe, obedecendo a
sagrados roteiros, delineados nas Alturas.
Quanto ao fato de se verificar a reencarnação de Espíritos tão
avançados em conhecimentos, em corpos de raças primigênias, não deve
causar repugnância ao entendimento. Lembremo-nos de que um metal
puro, como o ouro, por exemplo, não se modifica pela circunstância de se
apresentar em vaso imundo, ou disforme. Toda oportunidade de realização
do bem é sagrada. Quanto ao mais, que fazer com o trabalhador desatento
que estraçalha no mal todos os instrumentos perfeitos que lhe são
confiados? Seu direito, aos aparelhos mais preciosos, sofrerá solução de
continuidade. A educação generosa e justa ordenará a localização de seus
esforços em maquinaria imperfeita, até que saiba valorizar as preciosidades
em mão. A todo tempo, a máquina deve estar de acordo com as disposições
do operário, para que o dever cumprido seja caminho aberto a direitos
novos.
Entre as raças negra e amarela, bem como entre os grandes
agrupamentos primitivos da Lemúria, da Atlântida e de outras regiões que
ficaram imprecisas no acervo de conhecimentos dos povos, os exilados da
Capela trabalharam proficuamente, adquirindo a provisão de amor para
suas consciências ressequidas. Como vemos, não houve retrocesso, mas
providência justa de administração, segundo os méritos de cada qual, no
terreno do trabalho e do sofrimento para a redenção. - (Nota de
Emmanuel.)
IV
A civilização egípcia

OS EGÍPCIOS

Dentre os Espíritos degredados na Terra, os que constituíram a


civilização egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e
no culto da Verdade.
Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos
possuíam perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus elevados
patrimônios morais, guardaram no íntimo uma lembrança mais viva das
experiências de sua pátria distante.
Um único desejo os animava, que era trabalhar devotadamente para
regressar, um dia, aos seus penates resplandecentes. Uma saudade
torturante do céu foi a base de todas as suas organizações religiosas. Em
nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão altamente
desenvolvido.
Em todos os corações morava a ansiedade de voltar ao orbe distante,
ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos. Foi por esse motivo
que, representando uma das mais belas e adiantadas civilizações de todos
os tempos, as expressões do antigo Egito desapareceram para sempre do
plano tangível do planeta.
Depois de perpetuarem nas Pirâmides os seus avançados
conhecimentos, todos os Espíritos daquela região africana regressaram à
pátria sideral.
A CIÊNCIA SECRETA

Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam


consigo uma ciência que a evolução da época não comportava.
Aqueles grandes mestres da antiguidade foram, então, compelidos a
recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente
reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos
iniciados nos seus mistérios.
Os conhecimentos profundos ficaram circunscritos ao círculo dos
mais graduados sacerdotes da época, observando-se o máximo cuidado no
problema da iniciação.
A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias de
poesia e de beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes, no
passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências misteriosas.
Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de experiências
terríveis para o candidato à ciência da vida e da morte - fatos esses que,
entre os gregos, eram motivo de festas inesquecíveis.
Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das
grandes revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre;
chegando de um mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento,
haviam guardado as mais vivas recordações, os sacerdotes mais eminentes
conheciam o roteiro que a Humanidade terrestre teria de realizar. Aí
residem os mistérios iniciáticos e a essencial importância que lhes era
atribuída no ambiente dos sábios daquele tempo.
O POLITEÍSMO SIMBÓLICO

Nos círculos esotéricos, onde pontificava a palavra esclarecida dos


grandes mestres de então, sabia-se da existência do Deus Único e
Absoluto, Pai de todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas os
sacerdotes conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de
Jesus, na execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária,
em virtude das suas experiências pregressas.
Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a
ideia politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e
do Céu, do Homem e da Natureza.
As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes
festividades exteriores da religião.
Já os sacerdotes da época conheciam essa fraqueza das almas jovens,
de todos os tempos, satisfazendo-as com as expressões esotéricas de suas
lições sublimadas.
Dessa ideia de homenagear as forças invisíveis que controlam os
fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na
categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das
árvores e ao som das flautas dos pastores, em contato permanente com a
Natureza.
O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE

Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação


insistente e constante da Morte. A sua vida era apenas um esforço para bem
morrer. Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores mistérios do
além-túmulo.
Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do
seu doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía
semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da
metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao
corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses.
A metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do
exílio penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre.
Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para
solenizar o regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.
Os mistérios de Isis e Osíris mais não eram que símbolos das forças
espirituais que presidem aos fenômenos da morte.
OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS

As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos


sacerdotes dos templos.
O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das existências
e dos mundos eram para eles, problemas solucionados e conhecidos. O
estudo de suas artes pictóricas positivam a veracidade destas nossas
afirmações. Num grande número de frescos, apresenta-se o homem
terrestre acompanhado do seu duplo espiritual.
Os papiros nos falam de suas avançadas ciências nesse sentido, e,
através deles, podem os egiptólogos modernos reconhecer que os iniciados
sabiam da existência do corpo espiritual preexistente, que organiza o
mundo das coisas e das formas. Seus conhecimentos, a respeito das
energias solares com relação ao magnetismo humano, eram muito
superiores aos da atualidade.
Desses conhecimentos nasceram os processos de mumificação dos
corpos, cujas fórmulas se perderam na indiferença e na inquietação dos
outros povos.
Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação, enfeixando
nas mãos todos os poderes espirituais e todos os conhecimentos sagrados.
É por isso que a sua desencarnação provocava a concentração mágica de
todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o túmulo de veneração e de
supremo respeito. Esse amor não se traduzia, apenas, nos atos solenes da
mumificação. Também o ambiente dos túmulos era santificado por um
estranho magnetismo. Os grandes diretores da raça, que faziam jus a
semelhantes consagrações, eram considerados dignos de toda a paz no
silêncio da morte.
Nessas saturações magnéticas, que ainda aí estão a desafiar milênios,
residem as razões da tragédia amarga de Lord Carnarvon e de alguns dos
seus companheiros que penetraram em primeiro lugar na câmara mortuária
de Tut Ankh Amon, e ainda por isso é que, muitas vezes, nos tempos que
correm, os aviadores ingleses observam o não funcionamento dos
aparelhos radiofônicos, quando as suas máquinas de voo atravessam a
limitada atmosfera do vale sagrado.
AS PIRÂMIDES

A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse


povo cheio de nobreza moral. Enviou-lhe auxiliares e mensageiros,
inspirando-o nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos
provocando a admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos.
Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características
espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na
Terra atingia o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos
iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam como
a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses
grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas:
representariam os mais sagrados templos de estudo e iniciação, ao mesmo
tempo que constituiriam, para os pósteros, um livro do passado, com as
mais singulares profecias em face das obscuridades do porvir.
Levantaram-se, dessarte, as grandes construções que assombram a
engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões
de toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua
justaposição o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam
esses monumentos.
As pirâmides revelam os mais extraordinários conhecimentos daquele
conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da vida. A par desses
conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da Humanidade
terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica, relativamente ao
sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no sistema solar.
Ali está o meridiano ideal, que atravessa mais continentes e menos
oceanos, e através do qual se pode calcular a extensão das terras habitáveis
pelo homem, a distância aproximada entre o Sol e a Terra, a longitude
percorrida pelo globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de um dia, a
precessão dos equinócios, bem como muitas outras conquistas científicas
que somente agora vêm sendo consolidadas pela moderna astronomia.
REDENÇÃO

Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do Egito


voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos.
Com o seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão desaparecendo
os conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por sua vez, os
receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.
Aos mistérios de Isis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis,
naturalmente transformados nas iniciações da Grécia antiga.
Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos
espirituais, os antigos degredados, com a sagrada bênção do Cristo, seu
patrono e salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde
os corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeições
mais santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos, estudiosos e
abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus, obedecendo a sagrados
imperativos do sentimento e, ao seu influxo divino, muitas vezes têm
reencarnado na Terra, para desempenho de generosas e abençoadas
missões.
V
A Índia

A ORGANIZAÇÃO HINDU

Dos Espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam


nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma
sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem
de ascendentes das coletividades do porvir.
As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização
egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde
sairiam mais tarde personalidades notáveis, como as de Abraão e Moisés.
As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido da
misericórdia do Cristo, de cuja palavra de amor e de cuja figura luminosa
guardaram as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos
Vedas e dos Upanishads.
Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo
terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados,
em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do porvir,
salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os
mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.
OS ARIANOS PUROS

Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os quais


cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o povo
hindu colocava as fontes de sua nobre origem. Alguns acreditavam se
tratasse do antigo continente da Lemúria, arrasado em parte pelas águas
dos Oceanos Pacífico e Indico, e de cujas terras ainda existem porções
remanescentes, como a Austrália.
A realidade, porém, qual já vimos, é que, como os egípcios, os hindus
eram um dos ramos da massa de proscritos da Capela, exilados no planeta.
Deles descendem todos os povos arianos, que floresceram na Europa e hoje
atingem um dos mais agudos períodos de transição na sua marcha
evolutiva.
O pensamento moderno é o descendente legitimo daquela grande raça
de pensadores, que se organizou nas margens do Ganges, desde a aurora
dos tempos terrestres, tanto que todas as línguas das raças brancas guardam
as mais estreitas afinidades com o sânscrito, originário de sua formação e
que constituía uma reminiscência da sua existência pregressa, em outros
planos.
O EXPANSIONISMO DOS ÁRIAS

Muitos séculos antes de qualquer prenúncio de civilização terrestre, os


árias espalharam-se pelas planícies hindus, dominando os autóctones,
descendentes dos "primatas", que possuíam uma pele escura e deles se
distanciavam pelos mais destacados caracteres físicos e psíquicos. Mais
tarde, essa onda expansionista procurou localizar-se ao longo das terras da
futura Europa, estabelecendo os primeiros fundamentos da civilização
ocidental nos bosques da Grécia, nas costas da Itália e da França, bem
como do outro lado do Reno, onde iam ensaiar seus primeiros passos as
forças da sabedoria germânica.
As balizas da sociedade dos gregos, dos latinos, dos celtas e dos
germanos estavam lançadas.
Cada corrente da raça ariana assimilou os elementos encontrados,
edificando-se os primórdios da civilização europeia; cada qual se baseou
no princípio da força para o necessário estabelecimento, e, muito cedo,
começaram no Velho Mundo os choques de suas famílias e tribos.
OS MAHATMAS

Da região sagrada do Ganges partiram todos os elementos


irresignados com a situação humilhante que o degredo da Terra lhes
infligia. As arriscadas aventuras forneceriam uma noção de vida nova e
aqueles seres revoltados supunham encontrar o esquecimento de sua
posição nas paisagens renovadas dos caminhos; lá ficaram, apenas, as
almas resignadas e crentes nos poderes espirituais que as conduziriam de
novo às magnificências dos seus paraísos perdidos e distantes.
Os cânticos dos Vedas são bem uma glorificação da fé e da esperança,
em face da Majestade Suprema do Senhor do Universo.
A faculdade de tolerar, e esperar, aflorou no sentimento coletivo das
multidões, que suportaram heroicamente todas as dores e aguardaram o
momento sublime da redenção.
Os "mahatmas" criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual
para o seu povo, que, ainda hoje, nenhum estrangeiro visita a terra sagrada
da Índia sem de lá trazer as mais profundas impressões acerca de sua
atmosfera psíquica.
Eles deixaram também, ao mundo, as suas mensagens de amor, de
esperança e de estoicismo resignado, salientando-se que quase todos os
grandes vultos do passado humano, progenitores do pensamento
contemporâneo, deles aprenderam as lições mais sublimes.
AS CASTAS

O povo hindu, não obstante o seu elevado grau de desenvolvimento


nas ciências do Espírito, não aproveitou de modo geral, como devia, o seu
acervo de experiências sagradas.
Seus condutores conheciam as elevadas finalidades da vida.
Lembravam-se vagamente das promessas do Senhor, anteriores à sua
reencarnação para os trabalhos do penoso degredo. A prova disso é que
eles abraçaram todos os grandes missionários do pretérito, vendo neles os
avatares do seu Redentor.
Viasa foi instrumento das lições do Cristo, seis mil anos antes do
Evangelho, cuja epopeia, em seus mínimos detalhes, foi prevista pelos
iniciados hindus, alguns milênios antes da organização da Palestina.
Krishna, Buda e outros grandes enviados de Jesus ao plano material, para
exposição de suas verdades salvadoras, foram compreendidos pelo grande
povo sobre cuja fronte derramou o Senhor, em todos os tempos, as
claridades divinas do seu amor desvelado e compassivo. Mas, como se a
questão fosse determinada por um doloroso atavismo psíquico, o povo
hindu, embora as suas tradições de espiritualidade, deixou crescer no
coração o espinho do orgulho que, aliás, dera motivo ao seu exílio na
Terra.
Em breve, a organização das castas separava as suas coletividades
para sempre. Essas castas não se constituíam num sentido apenas
hierárquico, mas com a significação de uma superioridade orgulhosa e
absoluta. As fortes raízes de uma vaidade poderosa dividem os espíritos no
campo social e religioso. Os filhos legítimos do país dão-se o nome de
árias, designação original de sua raça primitiva, e o seu sistema religioso,
de modo geral, chama-se "Ária-Darma", que eles afirmam trazer de sua
longínqua origem, e em cujo seio não existem comunidades especiais ou
autoridade centralizadora, senão profunda e maravilhosa liberdade de
sentimento.
OS RAJÁS E OS PÁRIAS

Na verdade, esses sistemas avançados de religião e filosofia evocam o


fastígio da raça no seu mundo de origem, de onde foi precipitada ao orbe
terreno pelo seu orgulho desmedido e infeliz.
Os arianos da Índia, porém, não se compadeceram das raças atrasadas
que encontraram em seu caminho e cuja evolução devia representar para
eles um imperativo de trabalho regenerador na face da Terra; os aborígenes
foram considerados como os párias da sociedade, de cujos membros não
podiam aproximar-se sem graves punições e severos castigos.
Ainda hoje, o espírito iluminado de Gandhi, que é obrigado a agir na
esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de raça não conseguiu
eliminar esses absurdos sociais do seio do grande povo de iniciados e
profetas. Os párias são a ralé de todos os seres e são obrigados a dar um
sinal de alarme quando passam por qualquer caminho, a fim de que os
venturosos se afastem do seu contágio maléfico.
A realidade, contudo, é que os rajás soberanos, ao influxo da
misericórdia do Cristo, voltam às mesmas estradas que transitaram sobre o
dorso dos elefantes ajaezados de pedrarias, como mendigos desventurados,
resgatando o pretérito em avatares de amargas provações expiatórias. Os
que humilharam os infortunados, do alto de seus palácios resplandecentes,
volvem aos mesmos caminhos, cheios de chagas cancerosas, exibindo a
sua miséria e a sua indigência.
E o que é de admirar-se é que nenhum povo da Terra tem mais
conhecimentos, acerca da reencarnação, do que o hindu, ciente dessa
verdade sagrada desde os primórdios da sua organização neste mundo.
EM FACE DE JESUS

Nos bastidores da civilização, somos compelidos a reconhecer que a


Índia foi a matriz de todas as filosofias e religiões da Humanidade,
inclusive do materialismo, que lá nasceu na escola dos charvacas.
Um pensamento de gratidão nos toma o íntimo, examinando a sua
grandeza espiritual e as suas belezas misteriosas, mas, acima dos seus
iogues e de seus "mahatmas", temos de colocar a figura luminosa dAquele
que é a luz do mundo, e cuja vinda à Terra se verificaria para trazer a
palma da concórdia e da fraternidade, para todos os corações e para todos
os povos, arrasando as fronteiras que separam os espíritos e eliminando os
laços ferrenhos das castas sociais, para que o amor das almas substituísse o
preconceito de raça no seu reinado sem-fim.
VI
A família indo-europeia

AS MIGRAÇÕES SUCESSIVAS

Se as civilizações hindu e egípcia definiram-se no mundo em breves


séculos, o mesmo não aconteceu com a civilização ariana, que ia iniciar na
Europa os seus movimentos evolutivos.
Somente com o escoar de muitos séculos regularizaram-se as suas
migrações sucessivas, através dos planaltos da Pérsia. Do Irá procederam
quase todas as correntes da raça branca, que representariam mais tarde os
troncos genealógicos da família indo-europeia.
Conforme afirmávamos, os arianos que procuravam as novas emoções
de uma terra desconhecida eram, na sua maioria, os espíritos revoltados
com as condições do seu degredo; pouco afeitos aos misteres religiosos
que, pela força das circunstâncias, impunham uma disciplina de resignação
e humildade, não cuidaram da conservação do seu tradicionalismo, na ânsia
de conquistar um novo paraíso e serenarem, assim, as suas inquietações
angustiosas.
A AUSÊNCIA DE NOTÍCIAS HISTÓRICAS

Aí reside a razão do escasso conhecimento dos historiadores, acerca


dos árias primitivos que lançaram os marcos da civilização europeia.
Caminheiros do desconhecido, erraram pelas planícies e montanhas
desertas, não como o povo hebreu, que guardava a palavra divina com a
sua fé, mas desarvorados e sem esperança, contando apenas com as
próprias forças, em virtude do seu caráter livre e insubmisso Suas
incursões, entre as tribos selvagens da Europa, datam de mais ou menos
dez milênios antes da vinda do Cristo, não obstante a humanidade
localizar-lhe a marcha apenas quatro mil anos antes do grande
acontecimento da Judéia.
É que, em vista de sua situação psicológica, os primitivos árias do
Velho Mundo não deixaram vestígios nos domínios da fé, único caminho,
daqueles tempos, através do qual poderia uma raça assinalar sua passagem
pela Terra.
Não guardavam a história verbal de uma religião que não possuíam.
Mais revoltados e enrijecidos que todos os demais companheiros exilados
no orbe terrestre, suas reminiscências da vida pregressa nos planos mais
elevados, qual a que haviam experimentado no sistema da Capela,
traduziam-se numa revolta íntima, amargurada e dolorosa, contra as
determinações de ordem divina.
Apenas, muito mais tarde, com a contribuição dos milênios, os celtas
retornaram ao culto divino, venerando as forças da Natureza, junto dos
carvalhos sagrados, e os germanos iniciaram a sua devoção ao fogo, que
personificava, a seus olhos, a potência criadora dos seres e das coisas,
enquanto outros povos começaram a sacrificar vítimas e objetos aos seus
numerosos deuses.
A GRANDE VIRTUDE DOS ÁRIAS EUROPEUS

A misericórdia do Cristo, porém, jamais deixou de acompanhar esse


grande povo no seu atribulado desterro. Ao influxo dos seus emissários, as
massas migratórias da Ásia se dividiram em grupos diversos, que
penetraram na Europa, desde o Peloponeso até as vastas regiões da Rússia,
onde se encontram os antepassados dos gregos, latinos, samnitas, úmbrios,
gauleses, citas, iberos, romanos, saxônios, germanos, eslavos. Essas tribos
assimilaram todos os elementos encontrados em seus caminhos,
impulsionando-lhes os passos nas sendas do progresso e do
aperfeiçoamento.
Enquanto os semitas e hindus se perderam na cristalização do orgulho
religioso, as famílias arianas da Europa, embora revoltadas e endurecidas,
confraternizaram com o selvagem e nisso reside a sua maior virtude.
Assimilando os aborígenes, engendraram as premissas de todos os surtos
das civilizações futuras.
Nessa movimentação para o estabelecimento de novo "habitat",
organizaram as primeiras noções políticas da vida coletiva, elegendo cada
tribo um chefe para a direção de sua vida em comum. A agricultura, as
indústrias pastoris, com elas encontraram os primeiros impulsos nas
estradas incertas dos que descendiam do "primata" europeu.
Com as organizações econômicas, oriundas do trato direto com o solo,
deixaram perceber a lembrança de suas lutas no antigo mundo que haviam
deixado. Bastou que inaugurassem na Terra o senso da propriedade, para
que o germe da separatividade e do ciúme, da ambição e do egoísmo lhes
destruísse os esforços benfazejos...
As rivalidades entre as tribos, na vida comum, induziram-nas aos
primeiros embates fratricidas.
O MEDITERRÂNEO E O MAR DO NORTE

Por essa época, novos fenômenos geológicos abalam a vida do globo.


Precisava Jesus estabelecer as linhas definitivas da grande civilização,
cujos primórdios se levantavam; e dessas convulsões físicas do orbe
surgem renovações que definem o Mediterrâneo e o Mar do Norte,
fixando-se os limites da ação daqueles núcleos de operários da evolução
coletiva.
O Cristo sabia valorizar a atividade da família indo-europeia, que, se
era a mais revoltada contra os desígnios do Alto, era também a única que
confraternizava com o selvagem, aperfeiçoando-lhe os caracteres raciais,
sem esmorecer na ação construtiva das oficinas do porvir. Através dos
milênios, aliviou-lhe os pesares no caminho sobrecarregado de lutas e
dores tenazes.
Assim, enviou-lhe emissários em todas as circunstâncias, atendendo-
lhe os secretos apelos do coração, no labor educativo das tribos primitivas
do continente. Suavizou-lhe a revolta e a amargura, ajudando a reconstruir
o templo da fé, na esteira das gerações. Nos bosques da Armórica, os celtas
antigos levantaram os altares da crença entre as árvores sagradas da
Natureza. Doces revelações espirituais caem na alma desse povo místico e
operoso, que, muito antes dos saxões, povoou as terras da Grã-Bretanha.
A reencarnação de numerosos auxiliares do Mestre, em seus labores
divinos, opera uma nova fase de evolução no seio da família indo-europeia,
já caracterizada pelas mais diversas expressões raciais. Enquanto os
germanos criam novas modalidades de progresso, o Lácio se ergue na Itália
Central, entre a Etrúria e a Campânia; a Grécia se povoa de mestres e
cantores, e todo o Mediterrâneo oriental evolve com o uso da escrita,
adquirido na convizinhança das civilizações mais avançadas.
OS NÓRDICOS E OS MEDITERRÂNICOS

O fenômeno das trocas e os primeiros impulsos comerciais levantam,


todavia, longa série de barreiras entre as relações desses povos.
De um lado, estavam os nórdicos e de outro permaneciam os
mediterrânicos, em luta acérrima e constante. A rivalidade acende nessas
duas facções os fogos da guerra, sob os céus tranquilos do Velho Mundo.
Uns e outros empunham as armas primitivas para as lutas de extermínio e
destruição das hostes inimigas, e a linha divisória dos litigantes se alonga
justamente no local onde hoje se traçam os limites da França e da
Alemanha contemporâneas.
É como se explica essa intensidade de aversão racial entre as duas
nações, contadas entre as mais progressistas e operosas do planeta. Tal
situação psicológica entre ambas haveria de tornar-se em fatalidade
histórica, oriunda dos atritos entre o Germanismo e a Latinidade, nas
épocas primitivas. O que se não justifica, porém, é a perpetuação dessas
animosidades no curso do tempo, pelo que se impõe, como imperativo
constante, a concentração de todos os pensamentos no objetivo da
fraternidade geral.
ORIGEM DO RACIONALISMO

Os arianos da Europa, como ficou esclarecido, não possuíram grandes


ascendentes religiosos na sua formação primitiva, em vista do senso prático
que os caracterizou nos primeiros tempos de sua organização.
O racionalismo de suas concepções, a tendência para as ciências
positivas e o amor pela hegemonia e liberdade são, dessa maneira,
elucidados dentro da análise dos seus primórdios. Em matéria de religião,
quase todos os seus passos foram orientados pelos povos semitas e hindus,
mas, pelo cultivo da razão, puderam aperfeiçoar a Ciência até às
culminâncias das conquistas modernas.
O mundo, se muitas vezes perdeu com as suas inquietações e com as
suas lutas renovadoras, muito lhes deve pela colaboração decidida e sincera
no labor do pensamento, em todas as épocas e períodos evolutivos.
AS ADVERTÊNCIAS DO CRISTO

A sua confraternização com os terrícolas primários, encontrados no


seu caminho, constitui uma dívida sagrada da Humanidade para com os
seus labores planetários.
O Senhor da semeadura e da seara não lhes desconhece essa grande
virtude e é por isso que as exortações de toda natureza são por ele enviadas
do Alto, nos tempos que correm, às nações europeias, a fim de que se
preservem do extermínio e da destruição terrestre, arrancando-as do
primitivismo para um elevado nível de aperfeiçoamento nos grandes
trabalhos construtivos da evolução global; se erraram muito, foram
igualmente muito sinceras, porque a sua inquietação era por levantar um
novo paraíso para si mesmas e para os homens terrestres, com cujas
famílias fraternizaram-se desde o princípio.
Faltaram-lhes os valores espirituais de uma perfeita base religiosa,
situação essa para a qual concorreram, inegavelmente, na utilização do
livre-arbítrio; mas o Cristo, nas dolorosas transições deste século, há de
amparar-lhes as expressões mais dignas e mais puras, espiritualmente
falando, e, no momento psicológico das grandes transformações, o fruto de
suas atividades fecundas há de ser aproveitado, como a semente nova, para
a civilização do porvir.
VII
O povo de Israel

ISRAEL

Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram


a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus
caracteres através de todas as mutações.
Examinando esse povo notável no seu passado longínquo,
reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de Deus,
muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da
verdade e da vida.
Consciente da superioridade de seus valores, nunca perdeu
oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia espiritual,
mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as demais raças do
orbe. Entretanto, em honra da verdade, somos obrigados a reconhecer que
Israel, num paradoxo flagrante, antecipando-se às conquistas dos outros
povos, ensinou de todos os tempos a fraternidade, a par de uma fé soberana
e imorredoura - Sem pátria e sem lar, esse povo heroico tem sabido viver
em todos os climas sociais e políticos, exemplificando a solidariedade
humana nas melhores tradições de trabalho; sua existência histórica,
contudo, é uma lição dolorosa para todos os povos do mundo, das
consequências nefastas do orgulho e do exclusivismo.
MOISÉS

As lendas da Torre de Babel não representam um mito nas páginas


antigas do Velho Testamento, porque o exílio na Terra não pesou tanto às
outras raças degredadas quanto na alma orgulhosa dos judeus, inadaptados
e revoltados num mundo que os não compreendia.
Sem procurarmos os seus antepassados, anteriores a Moisés, vamos
encontrar o grande legislador hebreu saturando-se de todos os
conhecimentos iniciáticos, no Egito antigo, onde o seu espírito recebeu
primorosa educação, à sombra do prestígio de Termútis, cuja caridade
fraterna o recolhera.
Moisés, na sua qualidade de mensageiro do Divino Mestre, procura
então concentrar o seu povo para a grande jornada em busca da Terra da
Promissão. Médium extraordinário, realiza grandes feitos ante os seus
irmãos e companheiros maravilhados. É quando então recebe, de
emissários do Cristo, no Sinai, os dez sagrados mandamentos que, até hoje,
representam a base de toda a justiça do mundo.
Antes de abandonar as lutas da Terra, na extática visão da Terra
Prometida, Moisés lega à posteridade as suas tradições no Pentateuco,
iniciando a construção da mais elevada ciência religiosa de todos os
tempos, para as coletividades porvindouras.
O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO

Estudando-se a trajetória do povo israelita, verifica-se que o Antigo


Testamento é um repositório de conhecimentos secretos, dos iniciados do
povo judeu, e que somente os grandes mestres da raça poderiam interpretá-
lo fielmente, nas épocas mais remotas.
Eminentes espiritualistas franceses, nestes últimos tempos,
procuraram penetrar os seus obscuros segredos e, todavia, aproximando-se
da realidade com referência às interpretações, não lhes foi possível
solucionar os vastos problemas que as suas expressões oferecem.
Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras
enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente
decifrado da ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não obstante a sua
feição esfingética, é no conjunto um poema de eternas claridades. Seus
cânticos de amor e de esperança atravessam as eras com o mesmo sabor
indestrutível de crença e de beleza. É por isso que, a par do Evangelho, está
o Velho Testamento tocado de clarões imortais, para a visão espiritual de
todos os corações. Uma perfeita conexão reúne as duas Leis, que
representam duas etapas diferentes do progresso humano. Moisés, com a
expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo espiritual as leis
básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce do
aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a Humanidade
a desferir, das sombras da Terra, o seu voo divino para as luzes do Céu.
O MONOTEÍSMO

O que mais admira, porém, naquelas tribos nômadas e desprotegidas,


é a fortaleza espiritual que lhes nutria a fé nos mais arrojados e espinhosos
caminhos.
Enquanto a civilização egípcia e os iniciados hindus criavam o
politeísmo para satisfazer os imperativos da época, contemporizando com a
versatilidade das multidões, o povo de Israel acreditava somente na
existência do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer
todas as injúrias e a tolerar todos os martírios.
Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como que
um curso de consolidação da sua fé, contagiosa e ardente.
Seguiu-lhe Jesus todos os passos, assistindo-o nos mais delicados
momentos de sua vida e foi ainda, sob o pálio da sua proteção, que se
organizaram os reinos de Israel e de Judá, na Palestina.
Todas as raças da Terra devem aos judeus esse benefício sagrado, que
consiste na revelação do Deus Único, Pai de todas as criaturas e
Providência de todos os seres.
O grande legislador dos hebreus trouxera a determinação de Jesus,
com respeito à simplificação das fórmulas iniciáticas, para compreensão
geral do povo; a missão de Moisés foi tornar acessíveis ao sentimento
popular as grandes lições que os demais iniciados eram compelidos a
ocultar. E, de fato, no seio de todas as grandes figuras da antiguidade,
destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os
mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a
alma simples e generosa do povo.
A ESCOLHA DE ISRAEL

No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor.


Todos os seus caminhos no mundo estão cheios de vozes proféticas e
consoladoras, acerca d´Aquele que ao mundo viria para ser glorificado
como o Cordeiro de Deus.
A cada século renovam-se as profecias e cada templo espera a palavra
de ordem dos Céus, através do Salvador do Mundo. Os doutores da Lei, no
templo de Jerusalém, confabulam, respeitosos, sobre o Divino Missionário;
na sua vaidade orgulhosa esperavam-no no seu carro vitorioso, para
proclamar a todas as gentes a superioridade de Israel e operar todos os
milagres e prodígios.
E, recordando esses apontamentos da história, somos naturalmente
levados a perguntar o porquê da preferência de Jesus pela árvore de
David, para levar a efeito as suas divinas lições à Humanidade; mas a
própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos de então, sendo
Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua
vaidade exclusivista e pretensiosa "Muito se pedirá de quem muito haja
recebido", e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria
de fé, sendo justo que se lhes exigisse um grau correspondente de
compreensão, em matéria de humildade e de amor.
A INCOMPREENSÃO DO JUDAÍSMO

A verdade, porém, é que Jesus, chegando ao mundo, não foi


absolutamente entendido pelo povo judeu. Os sacerdotes não esperavam
que o Redentor procurasse a hora mais escura da noite para surgir na
paisagem terrestre. Segundo a sua concepção, o Senhor deveria chegar no
carro magnificente de suas glórias divinas, trazido do Céu à Terra pela
legião dos seus Tronos e Anjos; deveria humilhar todos os reis do mundo,
conferindo a Israel o cetro supremo na direção de todos os povos do
planeta; deveria operar todos os prodígios, ofuscando a glória dos Césares.
E, no entanto, o Cristo surgira entre os animais humildes da
manjedoura; apresentava-se como filho de um carpinteiro e, no
cumprimento de sua gloriosa missão de amor e de humildade, protegia as
prostitutas, confundia-se com os pobres e com os humilhados, visitava as
casas suspeitas para de Ia arrancar os seus auxiliares e seguidores; seus
companheiros prediletos eram os pescadores ignorantes e humildes, dos
quais fazia apóstolos bem-amados.
Abandonando os templos da Lei, era frequentemente encontrado ao
longo do Tiberíades, em cujas margens pregava aos simples a fraternidade
e o amor, a sabedoria e a humildade. O judaísmo, saturado de orgulho, não
conseguiu compreender a ação do celeste emissário. Apesar da crença
fervorosa e sincera, Israel não sabia que toda a salvação tem de começar no
íntimo de cada um e, cumprindo as profecias de seus próprios filhos,
conduziu aos martírios da cruz o divino Cordeiro.
NO PORVIR

As organizações dos doutores da Lei subsistiram no curso incessante


dos tempos. Embalde esperaram eles outro Cristo, nestes dois milênios que
ora chegam a termo. A realidade é que um sopro de amargura pesou mais
fortemente sobre os destinos da raça, depois da ignominiosa tarde do
Calvário. As sombras simbólicas, que caíram sobre o Templo de
Jerusalém, acompanharam igualmente o povo escolhido em todas as
diretivas, pelas estradas longas do mundo, com amplos reflexos no
ambiente contemporâneo.
Israel continua a cultuar o Deus Todo-Poderoso dos seus profetas,
seus rituais prosseguem em pontos isolados do orbe inteiro.
É talvez a raça mais livre, mais internacionalista, mais fraternal, entre
si, mas também a mais altiva e exclusivista do mundo.
Apesar de não ter uma pátria (*) e não obstante todas as perseguições
e clamorosas injustiças experimentadas nas suas jornadas de sofrimento,
Israel faz o seu roteiro através das cidades tumultuosas, esperando o
Messias da sua redenção e da sua liberdade.
Jesus acompanha-lhe a marcha dolorosa através dos séculos de lutas
expiatórias e regeneradoras.
Novos conhecimentos dimanam do Céu para o coração dos seus
patriarcas e não tardará muito tempo para que vejamos os judeus
compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro
Cristianismo e aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada
salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor.
__________
(*) Nota da Editora: Este livro foi escrito em 1938, dez anos antes de
ser criado, na Palestina, o Estado de Israel.
VIII
A China milenária

A CHINA

Depois de nossas divagações a respeito da raça branca, que se


constituía dos antigos árias no ambiente da Terra, é cabível examinarmos a
árvore mais antiga das civilizações terrestres, a fim de observarmos a
assistência carinhosa e constante do Divino Mestre para com todas as
criaturas de Deus.
Inegavelmente, o mais prístino foco de todos os surtos evolutivos do
globo é a China milenária, com o seu espírito valoroso e resignado, mas
sem rumo certo nas estradas da edificação geral.
Quando se verificou o advento das almas proscritas do sistema da
Capela, em épocas remotíssimas, já a existência chinesa contava com uma
organização regular, oferecendo os tipos mais homogêneos e mais
selecionados do planeta, em face dos remanescentes humanos primitivos.
Suas tradições já andavam de geração em geração, construindo as
obras do porvir. Daí se infere que, de fato, a história da China remonta a
épocas remotíssimas, no seu passado multimilenário, e esse povo, que
deixa agora entrever uma certa estagnação nos seus valores evolutivos,
sempre foi igualmente acompanhado na sua marcha por aquela
misericórdia infinita que, do Céu, envolve todos os corações que latejam na
Terra.
A CRISTALIZAÇÃO DAS IDÉIAS CHINESAS

A cristalização das ideias chinesas advém, simplesmente, desse


insulamento voluntário que prejudicou, nas mesmas circunstâncias, o
espírito da Índia, apesar da fascinante beleza das suas tradições e dos seus
ensinos.
É que a civilização e o progresso, como a própria vida, dependem das
trocas incessantes. O Universo, na sua constituição maravilhosa, não criou
nem sanciona leis de isolamento na comunidade eterna dos mundos e dos
seres.
A existência é uma longa escada, na qual todas as almas devem dar-se
as mãos, na subida para o conhecimento e para Deus. Enquanto a família
indo-europeia pervagava no desconhecido, assimilando as expressões das
tribos encontradas - em longas iniciativas de construção e trabalho -, os
arianos da Índia estacionaram no repouso de suas tradições,
desenvolvendo-se, no curso do tempo, as mais prestigiosas lições de
experiência para a alma dos povos.
E agora, quando os israelitas são chamados por forças poderosas ao
deslocamento no seio das nações, a fim de aprenderem mais intimamente a
doce lição da fraternidade e do amor universal, renovando a fibra da sua fé
a caminho da perfeita compreensão do Cristo, a China é também
convocada, pelas transformações do século, à grande lição do
entrelaçamento da comunidade planetária, a fim de ensinar as suas virtudes
e aprender as virtudes dos outros povos.
Foi pela sua obstinada resistência que a ideia chinesa estagnou-se na
marcha do tempo, embora, nestas despretensiosas observações, sejamos
dos primeiros a reconhecer a grandeza de suas elevadas expressões
espirituais.
FO-HI

Jesus, na sua proteção e na sua misericórdia, desde os tempos mais


distantes enviou missionários àqueles agrupamentos de criaturas que se
organizavam, econômica e politicamente, entre as coletividades primárias
da Terra.
As raças adâmicas ainda não haviam chegado ao orbe terrestre e entre
aqueles povos já se ouviam grandes ensinamentos do plano espiritual, de
sumo interesse para a direção e solução de todos os problemas da vida.
A História não vos fala de outros, antes do grande Fo-Hi, que foi o
compilador de suas ciências religiosas, nos seus trigramas duplos, que
passaram do pretérito remotíssimo aos estudos da posteridade.
Fo-Hi refere-se, no seu "Y-King", aos grandes sábios que o
antecederam no penoso caminho das aquisições de conhecimento
espiritual. Seus símbolos representam os característicos de uma ciência
altamente evolutiva, revelando ensinamentos de grande pureza e da mais
avançada metafísica.
Em seguida a esse grande missionário do povo chinês, o Divino
Mestre envia-lhe a palavra de Confúcio ou Kong-Fo-Tsé, cinco séculos
antes da sua vinda, preparando os caminhos do Evangelho no mundo, tal
como procedera com a Grécia, Roma e outros centros adiantados do
planeta, enviando-lhes elevados Espíritos da ciência, da religião e da
filosofia, algum tempo antes da sua palavra mirífica, a fim de que a
Humanidade estivesse preparada para a aceitação dos seus ensinos.
CONFÚCIO E LAO-TSÉ

Confúcio, na qualidade de missionário do Cristo, teve de saturar-se de


todas as tradições chinesas, aceitar as circunstâncias imperiosas do meio,
de modo a beneficiar o país na medida de suas possibilidades de
compreensão.
Ele faz ressurgir os ensinamentos de Lao-Tsé, que fora, por sua vez,
um elevado mensageiro do Senhor para as raças amarelas. Suas lições estão
cheias do perfume de requintada sabedoria moral. No "Kan-Ing", de Lao-
Tsé, eis algumas de suas afirmações que nada ficam a dever aos vossos
conhecimentos e exposições do moderno pensamento religioso: - "O
Senhor dos Céus é bom e generoso, e o homem sábio é um pouco de suas
manifestações.
Na estrada da inspiração, eles caminham juntos e o sábio lhe recebe as
ideias, que enchem a vida de alegria e de bens."
Lao-Tsé, de cujos ensinamentos Confúcio fez questão de formar a
base dos seus princípios, viveu seis séculos antes do advento do Senhor, e,
em face dessa filosofia religiosa, avançada e superior, somos obrigados a
reconhecer a prodigalidade da misericórdia de Jesus, enviando os seus
porta-vozes a todos os pontos da Terra, com o objetivo de fazer
desabrochar no espírito das massas a melhor compreensão do seu
Evangelho de Verdade e de Amor, que o mundo, entretanto, ainda não
compreendeu, não obstante todos os seus sacrifícios.
O NIRVANA

Para fundamentar devidamente a nossa opinião relativa à estagnação


do espírito chinês, examinemos ainda as suas interessantes e elevadas
concepções religiosas.
De um modo geral, é o culto dos antepassados o princípio da sua fé.
Esse culto, cotidiano e perseverante, é a base da crença na
imortalidade, porquanto de suas manifestações ressaltam as provas diárias
da sobrevivência. As relações com o plano invisível constituem um
fenômeno comum, associado à existência do indivíduo mais obscuro. A
ideia da necessidade de aperfeiçoamento espiritual é latente em dos os
corações, mas o desvio inerente à compreensão do Nirvana é aí, como em
numerosas correntes do budismo, um obstáculo ao progresso geral.
O Nirvana, examinado em suas expressões mais profundas, deve ser
considerado como a união permanente da alma com Deus, finalidade de
todos os caminhos evolutivos; nunca, porém, como sinônimo de
imperturbável quietude ou beatifica realização do não ser. A vida é a
harmonia dos movimentos, resultante das trocas incessantes no seio da
natureza visível e invisível. Sua manutenção depende da atividade de todos
os mundos e de todos os seres. Cada individualidade, na prova, como na
redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e
elevação dos seus próprios valores. Os que aprenderam os bens da vida e
quantos os ensinam com amor, multiplicam na Terra e nos Céus os dons
infinitos de Deus.
A CHINA ATUAL

A falsa interpretação do Nirvana disturbou as elevadas possibilidades


criadoras do espírito chinês, cristalizou-lhe as concepções e paralisou-lhe a
marcha para as grandes conquistas.
É certo que essas conquistas não consistem nas metralhadoras e nas
bombardas da civilização do Ocidente, cheia de comodidades multifárias,
mas aqui me refiro à incompreensão geral acerca da lição sublime do
Cristo e dos seus enviados.
A China, como os outros povos do mundo, tem de esmar neste século
os valores obtidos na sua caminhada longa e penosa.
Destas palavras, não há inferir que a invasão japonesa, na sua incrível
agressividade, esteja tocada de uma sanção divina. O Japão poderá realizar,
na grande república, todas as conquistas materiais; usando a psicologia dos
conquistadores, poderá melhorar as condições sanitárias do povo, rasgar
estradas e multiplicar escolas; mas não amortecerá a energia perseverante
do espírito chinês, valoroso e resignado, que poderá até ceder-lhe as
próprias rédeas do governo, enchendo-o de fortuna, de suntuosidade e de
honrarias, sem desprestígio do seu próprio valor, porquanto a China
milenária sabe que os espíritos de rapina embriagam-se facilmente com o
vinho de sangue do triunfo, e tão logo o luxo lhes amoleça as fibras da
desesperação, todas as vitórias voltam, automaticamente, à reflexão, ao
raciocínio, à cultura e à inteligência.
O que se faz necessário examinar é o estado de estagnação da alma
chinesa nestes últimos séculos, para concluirmos pela sua necessidade
imperiosa de comungar no banquete de fraternidade dos outros povos.
A EDIFICAÇÃO DO EVANGELHO

É verdade que a palavra direta do Cristo, consubstanciada no seu


Evangelho, ainda não chegou até lá de um modo geral, aclarando o
caminho de todos os corações, mas um sopro de vida romperá as sombras
milenárias que caíram sobre a república chinesa, onde milhões de almas
repousam, indevidamente, na falsa compreensão do Nirvana e do Absoluto.
Mãos valorosas erguerão o monumento evangélico naquele mundo de
dolorosas antiguidades, e um novo dia raiará para a grande nação que se
tornou em símbolo de paciência e de perseverança, para os outros povos.
Esperemos a providência dAquele que guarda em suas mãos augustas
e misericordiosas a direção do mundo.
"Bem-aventurados os pacíficos, os aflitos, os humildes."
E as suas palavras mansas e carinhosas nos fazem lembrar a China
milenária, que, amando a paz, sofre agora o insulto das forças tenebrosas
da ambição, da injustiça e da iniquidade.
IX
As grandes religiões do passado

AS PRIMEIRAS
ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

As primeiras organizações religiosas da Terra tiveram, naturalmente,


sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus,
periodicamente, os seus mensageiros e missionários.
Dada a ausência da escrita, naquelas épocas longínquas, todas as
tradições se transmitiam de geração a geração através do mecanismo das
palavras. Todavia, com a cooperação dos degredados do sistema da Capela,
os rudimentos das artes gráficas receberam os primeiros impulsos,
começando a florescer uma nova era de conhecimento espiritual, no campo
das concepções religiosas.
Os Vedas, que contam mais de seis mil anos, já nos falam da
sabedoria dos "Sastras", ou grandes mestres das ciências hindus, que os
antecederam de mais ou menos dois milênios, nas margens dos rios
sagrados da Índia. Vê-se, pois, que a ideia religiosa nasceu com a própria
Humanidade, constituindo o alicerce de todos os seus esforços e
realizações no plano terráqueo.
AINDA AS RAÇAS ADÂMICAS

Não podemos, porém, esquecer que Jesus reunira nos espaços


infinitos os seres proscritos que se exilaram na Terra, antes de sua
reencarnação geral na vizinhança dos planaltos do Irá e do Pamir.
Obedecendo às determinações superiores do mundo espiritual, eles
nunca puderam esquecer a palavra salvadora do Messias e as suas divinas
promessas. As belezas do espaço, aliadas à paisagem mirífica do plano que
foram obrigados a abandonar, viviam no cerne das suas recordações mais
queridas.
As exortações confortadoras do Cristo, nas vésperas de sua dolorosa
imersão nos fluidos pesados do planeta terrestre, cantavam-lhes no íntimo
os mais formosos hosanas de alegria e de esperança. Era por isso que
aquelas civilizações antigas possuíam mais fé, colocando a intuição divina
acima da razão puramente humana.
A crença, como íntima e sagrada aquisição de suas almas, era a força
motora de todas as realizações, e todos os degredados, com os mais santos
entusiasmos do coração, falaram dEle e da sua infinita misericórdia
Suas vozes enchem todo o âmbito das civilizações que passaram no
pentagrama dos séculos sem-fim e, apresentado com mil nomes, segundo
as mais variadas épocas, o Cordeiro de Deus foi guardado pela
compreensão e pela memória do mundo, com todas as suas expressões
divinas ou, aliás, como a própria face de Deus, segundo as modalidades
dos mistérios religiosos.
A GÊNESE DAS
CRENÇAS RELIGIOSAS

A gênese de todas as religiões da Humanidade tem suas origens no


seu coração augusto e misericordioso. Não queremos, com as nossas
exposições, divinizar, dogmaticamente, a figura luminosa do Cristo, e sim
esclarecer a sua gloriosa ascendência na direção do orbe terrestre,
considerada a circunstância de que cada mundo, como cada família, tem
seu chefe supremo, ante a justiça e a sabedoria do Criador.
Fora erro crasso julgar como bárbaros e pagãos os povos terrestres
que ainda não conhecem diretamente as lições sublimes do seu Evangelho
de redenção, porquanto a sua desvelada assistência acompanhou, como
acompanha a todo tempo, a evolução das criaturas em todas as latitudes do
orbe.
A história da China, da Pérsia, do Egito, da Índia, dos árabes, dos
israelitas, dos celtas, dos gregos e dos romanos está alumiada pela luz dos
seus poderosos emissários. E muitos deles tão bem se houveram, no
cumprimento dos seus grandes e abençoados deveres, que foram havidos
como sendo Ele próprio, em reencarnações sucessivas e periódicas do seu
divinizado amor.
No Manava-Darma, encontramos a lição do Cristo; na China
encontramos Fo-Hi, Lao-Tsé, Confúcio; nas crenças do Tibete, está a
personalidade de Buda e no Pentateuco encontramos Moisés; no Alcorão
vemos Maomet. Cada raça recebeu os seus instrutores, como se fosse Ele
mesmo, chegando das resplandecências de sua glória divina.
Todas elas, conhecendo intuitivamente a palavra das profecias,
arquivaram a história dos seus enviados, nos moldes de sua vinda futura,
em virtude das lembranças latentes que guardavam no coração, acerca da
sua palavra nos espaços, tocada de esclarecimento e de amor.
A UNIDADE
SUBSTANCIAL DAS RELIGIÕES

A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antiguidade


guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações
evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao
Deus impersonificável, que é a essência da vida de todo o Universo, e no
tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperado em
todos os pontos do globo.
Os vários povos do mundo traziam de longe as suas concepções e as
suas esperanças, sem falarmos das grandes coletividades que floresciam na
América do Sul, então quase ligada à China pelas extensões da Lemúria, e
da América do Norte, que se ligava à Atlântida. Não é, porém, nosso
propósito estudar aqui outras questões que se não refiram à superioridade
do Cristo e à ascendência do seu Evangelho, nestes apontamentos
despretensiosos. Citando, porém, todos os povos antigos do planeta, somos
compelidos a recordar, igualmente, as grandes civilizações pré-históricas,
que desabrocharam e desapareceram no continente americano, de cujos
cataclismos e arrasamentos ficaram ainda as expressões interessantes dos
incas e dos astecas, que, como todos os outros agrupamentos do mundo,
receberam a palavra indireta do Senhor, na sua marcha coletiva através de
augustos caminhos.
AS REVELAÇÕES GRADATIVAS

Até à palavra simples e pura do Cristo, a Humanidade terrestre viveu


etapas gradativas de conhecimento e de possibilidades, na senda das
revelações espirituais.
Os milênios, com as suas experiências consecutivas e dolorosas,
prepararam os caminhos dAquele que vinha, não somente com a sua
palavra, mas, principalmente, com a sua exemplificação salvadora. Cada
emissário trouxe uma das modalidades da grande lição de que foi teatro a
região humilde da Galiléia.
É por esse motivo que numerosas coletividades asiáticas não
conhecem a lição direta do Mestre, mas sabem do conteúdo da sua palavra,
em virtude das próprias revelações do seu ambiente, e, se a Boa Nova não
se dilatou no curso dos tempos, pelas estradas dos povos, e que os
pretensos missionários do Cristo, nos séculos posteriores aos seus ensinos,
não souberam cultivar a flor da vida e da verdade, do amor e da esperança,
que os seus exemplos haviam implantado no mundo: abafando-a nos
templos de uma falsa religiosidade, ou encarcerando-a no silêncio dos
claustros, a planta maravilhosa do Evangelho foi sacrificada no seu
desenvolvimento e contrariada nos seus mais lídimos objetivos.
PREPARAÇÃO DO CRISTIANISMO

As lições da Palestina foram desse modo, precedidas de laboriosa e


longa preparação na intimidade dos milênios. Os sacerdotes de todas as
grandes religiões do passado supuseram, nos seus mestres e nos seus mais
altos iniciados, a personalidade do Senhor, mas temos de convir que Jesus
foi inconfundível.
À luz significativa da história, observamos muitas vezes, nos seus
auxiliares ou instrumentos humanos, as características das vulgaridades
terrestres.
Alguns foram ditadores de consciências, enérgicos e ferozes no
sentido de manter e fomentar a fé; outros, traídos em suas forças e
desprezando os compromissos sagrados com o Salvador, longe de serem
instrumentos do Divino Mestre, abusaram da própria liberdade, dando
ouvidos às forças subversivas da Treva, prejudicando a harmonia geral.
O CRISTO INCONFUNDÍVEL

Mas Jesus assinala a sua passagem pela Terra com o selo constante da
mais augusta caridade e do mais abnegado amor. Suas parábolas e
advertências estão impregnadas do perfume das verdades eternas e
gloriosas. A manjedoura e o calvário são lições maravilhosas, cujas
claridades iluminam os caminhos milenários da humanidade inteira, e
sobretudo os seus exemplos e atos constituem um roteiro de todas as
grandiosas finalidades, no aperfeiçoamento da vida terrestre. Com esses
elementos, fez uma revolução espiritual que permanece no globo há dois
milênios. Respeitando as leis do mundo, aludindo à efígie de César,
ensinou as criaturas humanas a se elevarem para Deus, na dilatada
compreensão das mais santas verdades da vida. Remodelou todos os
conceitos da vida social, exemplificando a mais pura fraternidade.
Cumprindo a Lei Antiga, encheu-lhe o organismo de tolerância, de
piedade e de amor, com as suas lições na praça pública, em frente das
criaturas desregradas e infelizes, e somente Ele ensinou o "Amai-vos uns
aos outros", vivendo a situação de quem sabia cumpri-lo.
Os Espíritos incapacitados de o compreender podem alegar que as
suas fórmulas verbais eram antigas e conhecidas; mas ninguém poderá
contestar que a sua exemplificação foi única, até agora, na face da Terra.
A maioria dos missionários religiosos da antiguidade se compunha de
príncipes, de sábios ou de grandes iniciados, que saíam da intimidade
confortável dos palácios e dos templos; mas o Senhor da semeadura e da
seara era a personificação de toda a sabedoria, de todo o amor, e o seu
único palácio era a tenda humilde de um carpinteiro, onde fazia questão de
ensinar à posteridade que a verdadeira aristocracia deve ser a do trabalho,
lançando a fórmula sagrada, definida pelo pensamento moderno, como o
coletivismo das mãos, aliado ao individualismo dos corações síntese social
para a qual caminham as coletividades dos tempos que passam - e que,
desprezando todas as convenções e honrarias terrestres, preferiu não
possuir pedra onde repousasse o pensamento dolorido, a fim de que
aprendessem os seus irmãos a lição inesquecível do "Caminho, da Verdade
e da Vida".
X
A Grécia e a missão de Sócrates

NAS VÉSPERAS
DA MAIORIDADE TERRESTRE

Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-


lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos
sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa
maturação do pensamento terrestre.
As cidades populosas do globo enchem-se, então, de homens cultos e
generosos, de filósofos e de artistas, que renovam, para melhor, todas as
tendências da Humanidade.
Grandes mestres do cérebro e do coração formam escolas numerosas
na Grécia, que assumia a direção intelectual do orbe inteiro. A maioria
esses pensadores, que eram os enviados do Cristo às coletividades
terrestres, trazem, do círculo retraído e isolado dos templos, os
ensinamentos dos grandes iniciados para as praças públicas, pregando a
verdade às multidões.
Assim como a organização do homem físico exigira as mais amplas
experiências da natureza, antes de se fixarem os seus caracteres biológicos
definitivos, a lição de Jesus, que representa o roteiro seguro para a
edificação do homem espiritual, deveria ser precedida pelas experiências
mais vastas no campo social.
É por essa razão que observamos, nos cinco séculos anteriores à vinda
do Cordeiro, uma aglomeração de inúmeras escolas políticas, religiosas e
filosóficas dos mais diversos matizes, em todos os ambientes do mundo.
ATENAS E ESPARTA

Muitas teorias científicas, que provocam o sensacionalismo dos


vossos dias como inovações ultramodernas, foram conhecidas da Grécia,
em cujos mestres têm os seus legítimos fundamentos.
Em matéria de doutrinas sociais, grandes ensaios foram realizados,
divulgando-se a mais farta colheita de ensinamentos; e quando meditamos
no conflito moderno entre os Estados totalitários, fascistas ou comunistas e
as repúblicas democráticas, devemos volver os olhos ao passado, revendo
Atenas e Esparta como dois símbolos políticos que nos fazem pensar na
plena atualidade da Grécia antiga.
Os espartanos, sob o regime atribuído a Licurgo, nome que constitui
apenas uma representação simbólica dos generais da época, vivendo a
existência absoluta do Estado, não expressaram a mesma fisionomia da
Alemanha e da Rússia atuais? A legislação de Esparta proibia o comércio,
condenava a cultura; cerceando o gosto pessoal em face das bagatelas
encantadoras da vida e do sentimento, decretou medidas de insulamento,
maltratando os estrangeiros; instituiu a uniformidade dos vestuários,
incumbiu-se da educação das crianças através dos órgãos do Estado, mas
não cultivava a parte intelectual, abalando todo o edifício sagrado da
família e criando, muitas vezes, o regime do roubo e da delação, em
detrimento das mais nobres finalidades da vida.
Por essa razão, Esparta passou à história como um simples povo de
soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma
significação construtiva para a Humanidade.
Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia. Povo que
amou profundamente a liberdade, sua dedicação à cultura e às artes iniciou
as outras nações no culto da vida, da criação e da beleza. Seus legisladores,
que, como Sólon, eram filósofos e poetas, reformaram todos os sistemas
sociais conhecidos até então, protegendo as classes pobres e desvalidas,
estabelecendo uma linha harmônica entre todos os departamentos da
sociedade, acolhendo os estrangeiros, protegendo o trabalho, fomentando o
comércio, as indústrias, a agricultura.
Lá começou o verdadeiro regime de consulta à vontade do povo, que
decidia, em assembleias numerosas, todos os problemas da cidade
venerável. E é fácil reconhecer aí o início das democracias modernas, que
agora se organizam, nas transições do século XX, para a repressão de todas
as doutrinas nefastas da força e da violência.
EXPERIÊNCIAS NECESSÁRIAS

Semelhantes experiências, no campo sociológico, foram incentivadas


e acompanhadas de perto pelos prepostos de Jesus, respeitadas as grandes
leis da liberdade individual e coletiva.
O mundo precisava conhecer a boa e a má semente, nas grandes
transformações da sua existência. A exemplificação do Cristo necessitava
de elevada compreensão no seio da cultura e da experiência de todos os
séculos transcorridos e, sem embargo das lutas renovadoras que a
antecederam no orbe, há dois milênios que o Evangelho do Mestre espera a
floração do perfeito entendimento dos homens.
A GRÉCIA

Ao influxo do coração misericordioso do Cristo, toda a Grécia se


povoa de artistas e pensadores eminentes, no quadro das filosofias e das
ciências. É lá que vamos encontrar as escolas Itálica e Eleática, à frente do
fervoroso idealismo de Pitágoras e Xenófanes, sem esquecermos,
igualmente, as escolas Jônica e Atomística com Tales e Demócrito, nas
expressões do mais avançado materialismo.
O século de Péricles, chegando a um apogeu de beleza e de cultura
com os elevados princípios recebidos da civilização egípcia, espalha os
mais soberbos clarões espirituais nos horizontes da Terra. Poucas fases da
evolução europeia se aproximaram desse século maravilhoso.
O Salvador contempla, das Alturas, essa época de elevadas conquistas
morais, cheio de amor e de esperança. O planeta terrestre aproximava-se da
sua maioridade espiritual quando, então, poderia Ele nutrir o coração
humano com a sementeira bendita da sua palavra. Envia, então, às
sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas figuras de
Ésquilo, Eurípedes, Heródoto e Tucídides, e por fim a extraordinária
personalidade de Sócrates, no intuito de realizar o coroamento do esforço
decidido de tantos mensageiros.
SÓCRATES

É por isso que, de todas as grandes figuras daqueles tempos


longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa figura de Sócrates,
na Atenas antiga.
Superior a Anaxágoras, seu mestre, como também imperfeitamente
interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filósofo está
aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos os
séculos planetários. Sua existência, em algumas circunstâncias, aproxima-
se da exemplificação do próprio Cristo. Sua palavra confunde todos os
espíritos mesquinhos da época e faz desabrochar florações novas de
sentimento e cultura na alma sedenta da mocidade. Nas praças públicas,
ensina à infância e à juventude o formoso ideal da fraternidade e da prática
do bem, lançando as sementes generosas da solidariedade dos pósteros.
Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto
progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro
de Jesus.
Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilando-lhes o
veneno da liberdade nos corações.
Preso e humilhado, seu espírito generoso não se acovarda diante das
provas rudes que lhe extravasam do cálice de amarguras. Consciente da
missão que trazia, recusa fugir do próprio cárcere, cujas portas se lhe
abrem às ocultas pela generosidade de alguns juízes.
Os enviados do plano invisível cercam-lhe o coração magnânimo e
esclarecido, nas horas mais ásperas e agudas da provação; e quando a
esposa, Xantipa, assoma às grades da prisão para comunicar-lhe a nefanda
condenação à morte pela cicuta, ei-la exclamando no auge da angústia e
desesperação:
- "Sócrates, Sócrates, os juízes te condenaram à morte..."
- "Que tem isso? - responde resignadamente o filósofo – eles também
estão condenados pela Natureza."
- "Mas essa condenação é injusta..." - soluça ainda a desolada esposa.
E ele a esclarece com um olhar de paciência e de carinho:
- "E quererias que ela fosse justa?"
Senhor do seu valoroso e resignado heroísmo, Sócrates abandona a
Terra, alçando-se de novo aos páramos constelados, onde o aguardava a
bênção de Jesus.
OS DISCÍPULOS

O grande filosofo que ensinara à Grécia as mais belas virtudes, como


precursor dos princípios cristãos, deixou vários discípulos, dos quais se
destacaram Antístenes, Xenofonte e Platão. Falaremos, apenas, deste
último, para esclarecer que nenhum deles soube assimilar perfeitamente a
estrutura moral do mestre inesquecível. A História louva os discursos de
Platão, mas nem sempre compreendeu que ele misturou a filosofia pura do
mestre com a ganga das paixões terrestres, enveredando algumas vezes por
complicados caminhos políticos. Não soube, como também muitos dos
seus companheiros, conservar-se ao nível de alta superioridade espiritual,
chegando mesmo a justificar o direito tirânico dos senhores sobre os
escravos, sem uma visão ampla da fraternidade humana e da família
universal.
Contudo, não deixou de cultivar alguns dos princípios cristãos legados
pelo grande mentor, antecipando-se ao apostolado do Evangelho, antes de
entregar a sua tarefa doutrinária a Aristóteles, que ia também trabalhar pelo
advento do Cristianismo.
PROVAÇÃO
COLETIVA DA GRÉCIA

A condenação de Sócrates foi uma dessas causas transcendentes de


dolorosas e amargas provações coletivas, para todos os espíritos que
participaram dela, na medida justa das responsabilidades pessoais entre si.
E é em razão disso que, mais tarde, vemos o povo nobre e culto de
Atenas fornecendo escravos valorosos e sábios aos espíritos agressivos e
enérgicos de Roma. Eles iam nas galeras suntuosas, humilhados e
oprimidos, sem embargo das suas elevadas noções da vida, do amor, da
liberdade e da justiça.
É verdade que iam instaurar um novo período de progresso espiritual
para as coletividades romanas, com os seus luminosos ensinamentos, mas o
processo evolutivo poderia ladear outros caminhos, longe do morticínio e
da escravidão. Todavia, sobre a fronte de muitos gregos ilustres, pairava o
sanguinolento labéu daquela injusta condenação, labéu ignominioso que a
Grécia deveria lavar com as lágrimas dolorosas da compunção e do
cativeiro.
XI
Roma

O POVO ETRUSCO

Reconhecendo as dedicações ao trabalho, por parte de todos os


Espíritos que se haviam localizado na Itália primitiva, então dividida em
duas partes importantes, que eram a Gália Cisalpina e a Magna Grécia, ao
norte e ao sul da península, os prepostos e auxiliares de Jesus projetam a
fundação de Roma, que se ergueu rapidamente, coroada de lendas
numerosas, para desempenhar tão grande papel na evolução do Mundo.
A esse tempo, o Vale do Pó era habitado pelos etruscos, que se viam
humilhados pelas constantes invasões dos gauleses. De todos os elementos
que formaram os ascendentes da Itália moderna, eram eles dos mais
esforçados, operosos e inteligentes. Nas regiões da Toscana, possuíam
largas indústrias de metais, marinha notável, destacado progresso no
amanho da terra e, sobretudo, sentimentos evolvidos que os faziam
diferentes das coletividades mais próximas. Acreditavam na sobrevivência
e ofereciam sacrifícios às almas dos mortos, venerando os deuses cujas
disposições, em cada dia, presumiam conhecer através dos fenômenos
comuns da Natureza. Atormentados e desgostosos em face das lutas
reiteradas com os gauleses, os etruscos decidiram tentar vida nova e,
guiados indiretamente pelos mensageiros do Invisível, grande parte
resolveu fixar-se na Roma do porvir, que, então, nada mais era que um
agrupamento de cabanas humildes e desprotegidas.
PRIMÓRDIOS DE ROMA

Defendida naturalmente pelo adensamento constante de população, a


cidade mergulhou as suas origens numa corrente profunda de histórias
interessantes e maravilhosas, onde as figuras de Enéias, de Réia Sílvia, de
Rômulo e Remo assumiram papel saliente e singularíssimo.
A verdade, porém, é que os etruscos, em grande maioria, edificaram
as primeiras organizações da cidade, fundando escolas de trabalho,
transportando para aí as experiências mais valiosas dos outros povos,
criando uma nova terra com o seu esforço enérgico e decidido. Lá
encontraram eles as tribos latinas Ramnenses, Titienses e Lúceres,
congregadas para a edificação comum, das quais assumiram a direção por
largos anos, construindo os alicerces das realizações futuras.
Quando Rômulo chegou, seus olhos já contemplaram uma cidade
próspera e trabalhadora, onde fez valer a sua enérgica inteligência, mas não
faltou à posteridade o gosto de tecer-lhe uma coroa lendária e fantasiosa,
chegando-se a afirmar que a sua figura fora arrebatada no carro dos deuses,
com destino ao Céu.
INFLUÊNCIAS DECISIVAS

Desnecessária será a autópsia da História nos seus pontos mais


divulgados e conhecidos, quando o nosso único propósito é esclarecer o
entendimento do leitor, quanto à direção do planeta, que se conserva, de
fato, no mundo espiritual, de onde o Cristo vela incessantemente pelo orbe
e pelos seus destinos.
Todavia, para fundamentar nossa asserção acerca das influências
etruscas nos primórdios de Roma, somos levados a recordar a figura de
Tarquínio Prisco, filho da Etrúria, que trouxe à cidade grandes reformas e
inúmeras inovações em todos os departamentos da sua consolidação e do
seu progresso, lembrando, entre as suas muitas renovações, a construção da
Cloaca Máxima e do Capitólio. Seu sucessor, Sérvio Túlio, era igualmente
da sua família. Este, dividiu todo o povo da cidade em classes e centúrias,
segundo as possibilidades financeiras de cada um, desgostando os
patrícios, a esse tempo já organizados, em virtude de essa reforma
apresentar-se dentro de características liberais, não obstante as suas
finalidades militares.
Onde, porém, mais se evidenciam as influências etruscas, nas
organizações romanas, é justamente na alma popular, devotada aos gênios,
aos deuses e às superstições de toda espécie, que seriam multiplicadas em
seus contatos com a Grécia. Cada família, como cada lar, possuía o seu
gênio invisível e amigo, e, na sociedade, alastravam-se as comunidades
religiosas, culminando no Colégio dos Pontífices, cuja fundação remonta
ao passado longínquo da cidade. Esse Colégio foi depois substituído pelo
Pontífice Máximo, chefe supremo das correntes religiosas, do qual os
bispos romanos iam extrair, mais tarde, o Vaticano e o Papado dos tempos
modernos.
Os romanos, ao contrário dos atenienses, não procuravam muitas
indagações transcendentes em matéria religiosa ou filosófica, atendendo
somente aos problemas do culto externo, sem muitas argumentações com a
lógica, e foi por isso que, com a evolução da cidade, o Panteão, seu templo
mais aristocrático, chegou a possuir mais de trinta mil deuses.
OS PATRÍCIOS E OS PLEBEUS

Depois dos últimos Tarquínios, que procuraram intensificar os


poderes militares da realeza, proclama-se a República, que fica governada
por dois magistrados patrícios, assistidos pelo Senado. Grandes medidas
são executadas para consolidar a supremacia romana, mas as classes
pobres, oprimidas pelas mais ricas, que gozavam de todos os direitos,
revoltaram-se em face da penosa situação em que as colocavam as
possibilidades da ditadura preconizada pelos senadores, em casos especiais
com poderes soberanos e amplos em todas as questões da vida e morte de
cada um.
Inspirados pelas forças espirituais que os assistiam, os plebeus em
massa abandonaram a cidade, retirando-se para o Monte Sagrado, mas os
patrícios, examinando a gravidade daquela atitude extrema, lhes enviam
Menênio Agripa, cuja palavra se desincumbe com felicidade da diligência
que lhe fora cometida, contando aos rebeldes o apólogo dos membros e do
estômago, que constituem, no mecanismo de sua harmonia, o perfeito
organismo de um corpo.
A plebe concorda em regressar à cidade, embora impondo condições
quase que irrestritamente aceitas. Os tribunos da plebe inauguram, então,
um período de belas conquistas dos direitos humanos, culminando na Lei
Canuleia, que permitia o casamento entre patrícios e plebeus e com a Lei
Ogúlnia, que conferia a estes últimos às próprias funções sacerdotais.
A FAMÍLIA ROMANA

Muito poderíamos comentar, à margem da História, mas outros são os


nossos fins, considerando-nos no dever de salientar aqui as sagradas
virtudes romanas, na instituição do colégio da família, em muitas
circunstâncias superior ao da própria Grécia cheia de sabedoria e beleza.
A família romana, em suas tradições gloriosas, está constituída no
mais sublime respeito às virtudes heroicas da mulher e na perfeita
compreensão dos deveres do homem, ante os seus sucessores e os seus
antepassados.
Lembrando-nos de Roma no seu áureo período de trabalho, enchesse-
nos o olhar de lágrimas amargas.... Que gênio maldito se imiscuiu nessa
organização sublimada em seus mais íntimos fundamentos, devorando-lhe
as esperanças mais nobres, corrompendo-lhe os sentimentos, relaxando-lhe
as energias? Que força devastadora derrubou todas as suas estátuas
gloriosas de virtude? Debalde, a mão misericordiosa de Jesus desceu sobre
a sua fronte, levantando-a de quedas tenebrosas, antes dos tristes
espetáculos do seu arrasamento. Os abusos de poder e de liberdade dos
seus habitantes fizeram do ninho do amor e do trabalho um amontoado de
rumarias, afundando-o num mar de lodo sanguinolento.
AS GUERRAS
E A MAIORIDADE TERRESTRE

Em breve, porém, a família romana, cheia das tradições de generosa


beleza, foi dilacerada pelos gênios militares e pelos espíritos guerreiros.
O progresso incessante da cidade formava a tendência geral ao
expansionismo em todos os domínios.
Entretanto, os pródromos do Direito Romano e a organização da
família assinalavam o período da maioridade terrestre. O homem com
semelhantes conquistas, estava a desferir o voo para as mais altas esferas
espirituais.
As legiões magnânimas do Cristo aprestam-se para as últimas
preparações de seus gloriosos caminhos na face do mundo. O Evangelho
deveria chegar como a mensagem eterna do amor, da luz e da verdade para
todos os seres.
Todavia, a liberdade pessoal e coletiva é respeitada pelo plano
invisível e Roma não se mostra digna das numerosas dádivas recebidas.
Em vez de estender os seus laços pela educação e pela concórdia,
deixa prender-se por uma legião de espíritos agressivos e ambiciosos,
alargando a sua influência pelo mundo com as balistas e catapultas dos
seus guerreiros. Depois das conquistas da Península, empreende a
conquista do mundo, com as guerras púnicas, terminando por submeter
todo o Oriente, onde também se encontrava a Grécia esgotada e vencida.
Os enviados do Cristo harmonizam esses terríveis movimentos no
instituto das provações necessárias aos indivíduos e aos seus
agrupamentos; todavia, a realidade é que Roma assumia, igualmente, as
mais pesadas responsabilidades e os mais penosos débitos, diante da
Justiça Divina. Suas águias vitoriosas cruzam, então, todos os mares; o
Mediterrâneo é propriedade sua e o Império Romano é o Império do
homem, ouvindo-se a voz diretora de um só homem para quase todas as
regiões povoadas da Terra.
NAS VÉSPERAS DO SENHOR

As forças do invisível, porém, não descansaram. Muitas lágrimas


foram vertidas, no Alto, em vista de tão nefastos acontecimentos.
O Cristo reúne as assembleias de seus emissários. A Terra não podia
perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria
ateniense e da família romana.
É então que se movimentam as entidades angélicas do sistema, nas
proximidades da Terra, adotando providências de vasta e generosa
importância. A lição do Salvador deveria, agora, resplandecer para os
homens, controlando-lhes a liberdade com a exemplificação perfeita do
amor. Todas as providências são levadas a efeito. Escolhem-se os
instrutores, os precursores imediatos, os auxiliares divinos. Uma atividade
única registra-se, então, nas esferas mais próximas do planeta, e, quando
reinava Augusto, na sede do governo do mundo, viu-se uma noite cheia de
luzes e de estrelas maravilhosas. Harmonias divinas cantavam um hino de
sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A
manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e,
enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se
esqueceria o Natal, a "noite silenciosa, noite santa".
XII
A vinda de Jesus

A MANJEDOURA

A manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo,


como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.
Começava a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade
terrestre, de vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o
código da fraternidade e do amor a todos os corações.
Debalde os escritores materialistas de todos os tempos vulgarizaram o
grande acontecimento, ironizando os altos fenômenos mediúnicos que o
precederam. As figuras de Simeão, Ana, Isabel, João Batista, José, bem
como a personalidade sublimada de Maria, têm sido muitas vezes objeto de
observações injustas e maliciosas; mas a realidade é que somente com o
concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da contribuição
de fervor, crença e vida, poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da
verdade inabalável.
O CRISTO E OS ESSÊNIOS

Muitos séculos depois da sua exemplificação incompreendida, há


quem o veja entre os essênios, aprendendo as suas doutrinas, antes do seu
messianismo de amor e de redenção. As próprias esferas mais próximas da
Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias
dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e
desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade,
a respeito do Salvador de todas as criaturas.
O Mestre, porém, não obstante a elevada cultura das escolas essênias,
não necessitou da sua contribuição. Desde os seus primeiros dias na Terra,
mostrou-se tal qual era, com a superioridade que o planeta lhe conheceu
desde os tempos longínquos do princípio.
CUMPRIMENTO
DAS PROFECIAS DE ISRAEL

Do seu divino apostolado nada nos compete dizer em acréscimo das


tradições que a cultura evangélica apresentou em todos os séculos
posteriores à sua vinda à Terra, reafirmando, todavia, que a sua lição de
amor e de humildade foi única em todos os tempos da Humanidade.
Dele asseveraram os profetas de Israel, muito tempo antes da
manjedoura e do calvário: - "Levantar-se-á como um arbusto verde,
vivendo na ingratidão de um solo árido, onde não haverá graça nem beleza.
Carregado de opróbrios e desprezado dos homens, todos lhe voltarão o
rosto. Coberto de ignomínias, não merecerá consideração. É que Ele
carregará o fardo pesado de nossas culpas e de nossos sofrimentos,
tomando sobre si todas as nossas dores. Presumireis na sua figura um
homem vergando ao peso da cólera de Deus, mas serão os nossos pecados
que o cobrirão de chagas sanguinolentas e as suas feridas hão de ser a
nossa redenção.
Somos um imenso rebanho desgarrado, mas, para nos reunir no
caminho de Deus, Ele sofrerá o peso das nossas iniquidades. Humilhado e
ferido, não soltará o mais leve queixume, deixando-se conduzir como um
cordeiro ao sacrifício. O seu túmulo passará como o de um malvado e a sua
morte como a de um ímpio. Mas, desde o momento em que oferecer a sua
vida, verá nascer uma posteridade e os interesses de Deus hão de prosperar
nas suas mãos."
A GRANDE LIÇÃO

Sim, o mundo era um imenso rebanho desgarrado. Cada povo fazia da


religião uma nova fonte de vaidades, salientando-se que muitos cultos
religiosos do Oriente caminhavam para o terreno franco da dissolução e da
imoralidade; mas o Cristo vinha trazer ao mundo os fundamentos eternos
da verdade e do amor. Sua palavra, mansa e generosa, reunia todos os
infortunados e todos os pecadores.
Escolheu os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a
intensidade de suas lições sublimes, mostrando aos homens que a verdade
dispensava o cenário suntuoso dos areópagos, dos fóruns e dos templos,
para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações, na praça
pública, verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e
desclassificados como a demonstrar que a sua palavra vinha reunir todas as
criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada luminosa
do amor. Combateu pacificamente todas as violências oficiais do judaísmo,
renovando a Lei Antiga com a doutrina do esclarecimento, da tolerância e
do perdão. Espalhou as mais claras visões da vida imortal, ensinando às
criaturas terrestres que existe algo superior às pátrias, às bandeiras, ao
sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda, enérgica e misericordiosa,
refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das ciências e já teria
irmanado todas as religiões da Terra, se a impiedade dos homens não
fizesse valer o peso da iniquidade na balança da redenção.
A PALAVRA DIVINA

Não nos compete fornecer uma nova interpretação das palavras


eternas do Cristo, nos Evangelhos. Semelhante interpretação está feita por
quase todas as escolas religiosas do mundo, competindo apenas às suas
comunidades e aos seus adeptos a observação do ensino imortal, aplicando-
a a si próprios, no mecanismo da vida de relação, de modo que se verifique
a renovação geral, na sublime exemplificação, porque, se a manjedoura e a
cruz constituem ensinamento inolvidável, muito mais devem representar,
para nós outros, os exemplos do Divino Mestre, no seu trato com as
vicissitudes da vida terrestre.
De suas lições inesquecíveis, decorrem consequências para todos os
departamentos da existência planetária, no sentido de se renovarem os
institutos sociais e políticos da Humanidade, com a transformação moral
dos homens dentro de uma nova era de justiça econômica e de concórdia
universal.
Pode parecer que as conquistas do verdadeiro Cristianismo sejam
ainda remotas, em face das doutrinas imperialistas da atualidade, mas é
preciso reconhecer que dois mil anos já dobaram sobre a palavra divina.
Dois mil anos em que os homens se estraçalharam em seu nome,
inventando bandeiras de separatividade e destruição. Incendiaram e
trucidaram, em nome dos seus ensinos de perdão e de amor, massacrando
esperanças em todos os corações. Contudo, o século que passa deve
assinalar uma transformação visceral nos departamentos da vida. A dor
completará as obras generosas da verdade cristã, porque os homens
repeliram o amor em suas cogitações de progresso.
CREPÚSCULO
DE UMA CIVILIZAÇÃO

Uma nuvem de fumo vem-se formando, há muito tempo, nos


horizontes da Terra cheia de indústrias de morte e destruição. Todos os
países são convocados a conferirem os valores da maturação espiritual da
Humanidade, verificada no orbe há dois milênios. O progresso científico
dos povos e as suas mais nobres e generosas conquistas são reclamados
pelo banquete do morticínio e da ambição, e, enquanto a política do mundo
se sente manietada ante os dolorosos fenômenos do século, registram-se
nos espaços novas atividades de trabalho, porque a direção da Terra está
nas mãos misericordiosas e augustas do Cordeiro.
O EXEMPLO DO CRISTO

Sem nos referirmos, porém, aos problemas da política transitória do


mundo, lembremos, ainda, que a lição do Cristo ficou para sempre na
Terra, como o tesouro de todos os infortunados e de todos os desvalidos.
Sua palavra construiu a fé nas almas humanas, fazendo-lhes entrever
os seus gloriosos destinos. Haja necessidade e tornaremos a ver a crença e
a esperança reunindo-se em novas catacumbas romanas, para reerguerem o
sentido cristão da civilização da Humanidade.
É, muitas vezes, nos corações humildes e aflitos que vamos encontrar
a divina palavra cantando o hino maravilhoso dos bem-aventurados.
E, para fechar este capítulo, lembrando a influência do Divino Mestre
em todos os corações sofredores da Terra, recordemos o episódio do
monge de Manilha, que, acusado de tramar a liberdade de sua pátria contra
o jugo dos espanhóis, é condenado à morte e conduzido ao cadafalso.
No instante do suplício, soluça desesperadamente o mísero condenado
- "Como, pois, será possível que eu morra assim inocente? Onde está a
justiça? Que fiz eu para merecer tão horrendo suplício?"
Mas um companheiro corre ao seu encontro e murmura-lhe aos
ouvidos: - "Jesus também era inocente!..."
Passa, então, pelos olhos da vítima, um clarão de misteriosa beleza.
Secam-se as lágrimas e a serenidade lhe volta ao semblante macerado,
e, quando o carrasco lhe pede perdão, antes de apertar o parafuso sinistro,
ei-lo que responde resignado: - "Meu filho, não só te perdoo como
ainda te peço cumpras o teu dever."
XIII
O Império Romano e seus desvios

OS DESVIOS ROMANOS

Reportando-nos ainda às conquistas romanas, antes da chegada do


Senhor para as primeiras florações do Cristianismo, devemos lembrar o
esforço despendido pelas entidades espirituais, junto das autoridades
organizadoras e conservadoras da República, no sentido de orientar-se a
atividade geral para um grande movimento de fraternidade e de união de
todos os povos do planeta.
Os pensadores que hoje sonham a criação dos Estados Unidos do
Mundo, sem os movimentos odiosos das guerras fratricidas, podem sondar
os desígnios do plano invisível naquela época. A Grécia havia perscrutado,
na medida do possível, todos os problemas transcendentes da vida. Nas
suas lutas expiatórias, transferira as suas experiências e conhecimentos
para a família romana, então apta para as grandes tarefas do Estado. À
força de educação e de amor, poderia esta última unificar as bandeiras do
orbe, criando um novo roteiro à evolução coletiva e estabelecendo as linhas
paralelas do progresso físico e moral da Humanidade terrestre. Todos os
esforços foram despendidos, nesse particular, pelos emissários do plano
invisível, e a prova desse grandioso projeto de trabalho unitário é que a
obra do Império Romano foi das mais primorosas, em matéria educativa,
com vistas à organização das nacionalidades modernas. O próprio instinto
democrático da Inglaterra e da França, bem como as suas elevadas obras de
socialização, ainda representam frutos da missão educativa do Império, no
seio da Humanidade.
O caminho dos romanos ficou juncado de sementes e de luzes para o
porvir. A realidade, contudo, é que, se os mensageiros do Cristo
conseguiram a realização de muitos planos generosos, no seio da
comunidade de então, não podiam interferir na liberdade isolada da grande
maioria dos seus membros.
OS ABUSOS
DA AUTORIDADE E DO PODER

Em breve, os abusos da autoridade e do poder embriagavam a cidade


valorosa. Toda a sede do governo parecia invadida por uma avalancha de
forças perversoras, das mais baixas esferas dos planos invisíveis.
A família romana, cujo esplendor espiritual conseguiu atravessar
todas as eras, iluminando os agrupamentos da atualidade, parecia
atormentada pelos mais tenazes inimigos ocultos, que, aos poucos, lhe
minaram as bases mais sólidas, mergulhando-a na corrupção e no
extermínio de si mesma, dada a ausência de vigilância de suas sentinelas
mais avançadas. Denso nevoeiro obscurecia todas as consciências, e a
sociedade alegre e honesta, rica de sentimentos enobrecedores, foi pasto de
crimes humilhantes, de tragédias lúgubres e miserandos assassínios.
As classes abastadas aproveitavam a pletora de poder instalando-se no
carro da opressão, que deixava atrás de si um rastro fumegante de revolta e
de sangue. Os Gracos, filhos da veneranda Cornélia, são quase que os
derradeiros traços de uma época caracterizada pela administração enérgica,
mas equânime, cheia de honestidade, de sabedoria e de justiça.
OS CHEFES DE ROMA

Depois de Caio, assassinado no Aventino, embora se fizesse supor um


suicídio, instala-se definitivamente um regime de quase completa
dissolução das grandes conquistas morais realizadas.
Sobe Mário ao poder, depois das vitórias contra Jugurta e contra os
germanos, que haviam, por sua vez, invadido o território das Gálias. Mas
os antagonismos sociais levam Sua ao poder, travando-se lutas cruentas,
como vésperas escuras de sangrentas derrocadas. Em seguida, surgem
Pompeu e a revolução de Catilina, muito conseguindo a prudência de
Cícero em favor da segurança da cidade. Verifica-se, logo após, o primeiro
triunvirato com a política maneirosa de Caio Júlio César, que se alia a
Pompeu e a Crasso para as supremas obrigações do governo.
As citações históricas, todavia, desviariam os objetivos do nosso
esforço. Nossa intenção é mostrar que o determinismo do mundo espiritual
era o do amor, da solidariedade e do bem, mas os próprios homens, na
esfera relativa de suas liberdades, modificaram esse determinismo superior,
no curso incessante da civilização.
Os generais romanos podiam conquistar a ferro e fogo, desviando-se
dos objetivos mais sagrados dos seus deveres e obrigações, levando aos
outros povos, pela força das armas, os liames que somente deveriam
utilizar com a sua cultura e experiência da vida; mas seus atos originaram
os mais amargos frutos de provação e sofrimento para a Humanidade
terrestre, e é por isso que, em sua quase totalidade, entraram no plano
espiritual seguidos de perto pelas suas numerosas vítimas, entre as vozes
desesperadas das mais acerbas acusações. Muitos deles, decorridos
decênios infindáveis de martírios expiatórios, podiam ser vistos sem as
suas armaduras elegantes, arrastando-se como vermes ao longo das
margens do Tibre, ou estendendo as mãos asquerosas, como mendigos
detestados do Esquilino.
O SÉCULO DE AUGUSTO

Terminados os triunviratos, eis que ia cumprir-se a missão do Cristo,


depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano.
A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo
era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova,
ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em
vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para
Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. Realizam-se
gigantescos esforços edificadores ou reconstrutivos.
Belos monumentos são erigidos. O espírito artístico e filantrópico de
Atenas revive na pessoa de Mecenas, confidente do imperador, cuja
generosidade dispensa a mais carinhosa atenção às inteligências estudiosas
e superiores da época, quais Horácio e Vergílio, que assinalam, junto de
outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado
"século de Augusto", com as suas obras numerosas.
TRANSIÇÃO DE UMA ÉPOCA

Depois de Augusto, aparece à barra da História a personalidade


disfarçada e cruel de Tibério, seu filho adotivo, que vê terminar a era de
paz, de trabalho e concórdia, com o regresso do Cordeiro às regiões
sublimadas da Luz.
É nesse reinado que a Judéia leva a efeito a tragédia do Gólgota,
realizando sinistramente as mais remotas profecias.

Não obstante o seu compassivo e desvelado amor, o Divino Mestre é


submetido aos martírios da cruz, por imposição do judaísmo, que lhe não
compreendeu o amor e a humildade. Roma colabora no doloroso
acontecimento com a indiferença fria de Pôncio Pilatos, retornando aos
seus festins e aos seus prazeres, como se desconhecesse as finalidades mais
nobres da vida.
Seguindo a mesma estrada escura de Tibério, Calígula inaugura um
período longo de sombras, de massacres e de incêndios, de devastação e de
sangue.
PROVAÇÕES COLETIVAS
DOS JUDEUS E DOS ROMANOS

Os seguidores humildes do Nazareno iniciam, nas regiões da


Palestina, as suas predicações e ensinamentos. Raros apóstolos sabiam da
missão sublimada daquela doutrina sacrossanta, que mandava fazer o bem
pelo mal e instituía o perdão aos próprios inimigos. De perto, seguem-lhes
a atividade os emissários solícitos do Senhor, preparando os caminhos da
revolução ideológica do Evangelho. Esses mensageiros do Alto iniciam,
igualmente e de modo indireto, o esforço de auxílio ao Império nas suas
dolorosas provações coletivas.
Um perfeito trabalho de seleção se verifica no ambiente espiritual das
coletividades romanas. Chovem inspirações do Alto preludiando as dores
de Jerusalém e as amarguras da cidade imperial. Vaticínios sinistros pesam
sobre todos os espíritos rebeldes e culpados, e a verdade é que, depois do
cerco de Jerusalém, quando Tito destruiu a cidade, arrasando-lhe o Templo
famoso e dispersando para sempre os israelitas, viu o orgulhoso vencedor
mudar-se o curso das dores para a sociedade do Império, atormentada pelas
tempestades de fogo e cinza que arrasaram Estábias, Herculânum e
Pompéia, destruindo milhares de vidas florescentes e desequilibrando a
existência romana para sempre.
FIM DA VAIDADE HUMANA

O Império Romano, que poderia ter levado a efeito a fundação de um


único Estado na superfície do mundo, em virtude da maravilhosa unidade a
que chegou e mercê do esforço e da proteção do Alto, desapareceu num
mar de ruínas, depois das suas guerras, desvios e circos cheios de feras e
gladiadores.
O imenso organismo apodreceu nas chagas que lhe abriram a incúria e
a impiedade dos próprios filhos e, quando não foi mais possível o paliativo
da misericórdia dos espíritos abnegados e compassivos, dada a
galvanização dos sentimentos gerais na mesa larga dos excessos e prazeres
terrestres, a dor foi chamada a restabelecer o fundamento da verdade nas
almas.
Da orgulhosa cidade dos imperadores não restaram senão pedras sobre
pedras. Sob o látego da expiação e do sofrimento, os Espíritos culpados
trocaram a sua indumentária para a evolução e para o resgate no cenário
infinito da vida, e, enquanto muitos deles ainda choram nos padecimentos
redentores, gemem sobre as ruínas do Coliseu de Vespasiano os ventos
tristes e lamentosos da noite.
XIV
A edificação cristã

OS PRIMEIROS CRISTÃOS

Atingindo um período de nova compreensão concernente aos mais


graves problemas da vida, a sociedade da época sentia de perto a
insuficiência das escolas filosóficas conhecidas, no propósito de solucionar
as suas grandes questões. A ideia de uma justiça mais perfeita para as
classes oprimidas tornara-se assunto obsidente para as massas anônimas e
sofredoras.
Em virtude dos seus postulados sublimes de fraternidade, a lição do
Cristo representava o asilo de todos os desesperados e de todos os tristes.
As multidões dos aflitos pareciam ouvir aquela misericordiosa exortação: -
"Vinde a mim, vós todos que sofreis e tendes fome de justiça e eu vos
aliviarei" - e da cruz chegava-lhes, ainda, o alento de uma esperança
desconhecida.
A recordação dos exemplos do Mestre não se restringia aos povos da
Judéia, que lhe ouviram diretamente os ensinos imorredouros.
Numerosos centuriões e cidadãos romanos conheceram pessoalmente
os fatos culminantes das pregações do Salvador. Em toda a Ásia Menor, na
Grécia, na África e mesmo nas Gálias, como em Roma, falava-se dEle, da
sua filosofia nova que abraçava todos os infelizes, cheia das claridades
sacrossantas do reino de Deus e da sua justiça. Sua doutrina de perdão e de
amor trazia nova luz aos corações e os seus seguidores destacavam-se do
ambiente corrupto do tempo, pela pureza de costumes e por uma conduta
retilínea e exemplar.
A princípio, as autoridades do Império não ligaram maior importância
à doutrina nascente, mas os Apóstolos ensinavam que, por Jesus-Cristo,
não mais poderia haver diferença entre os livres e os escravos, entre
patrícios e plebeus, porque todos eram irmãos, filhos do mesmo Deus. O
patriciado não podia ver com bons olhos semelhantes doutrinas. Os cristãos
foram acusados de feiticeiros e heréticos, iniciando-se o martirológio com
os primeiros editos de proscrição. O Estado não permitia outras
associações independentes, além daquelas consideradas como cooperativas
funerárias e, aproveitando essa exceção, os seguidores do Crucificado
começaram os famosos movimentos das catacumbas.
A PROPAGAÇÃO
DO CRISTIANISMO

Na Judéia cresce, então, o número dos prosélitos da nova crença. O


hino de esperanças da manjedoura e do calvário espalha nas almas um
suave e eterno perfume. É assim que os Apóstolos, cuja tarefa o Cristo
abençoara com a sua misericórdia, espalham as claridades da Boa Nova por
toda a parte, repartindo o pão milagroso da fé com todos os famintos do
coração.
A doutrina do Crucificado propaga-se com a rapidez do relâmpago.
Fala-se dela, tanto em Roma como nas Gálias e no norte da África.
Surgem os advogados e os detratores. Os prosélitos mais eminentes
buscam doutrinar, disseminando as ideias e interpretações. As primeiras
igrejas surgem ao pé de cada Apóstolo, ou de cada discípulo mais
destacado e estudioso.
A centralização e a unidade do Império Romano facilitaram o
deslocamento dos novos missionários, que podiam levar a palavra de fé ao
mais obscuro recanto do globo, sem as exigências e os obstáculos das
fronteiras.
Doutrina alguma alcançara no mundo semelhante posição, em face da
preferência das massas. É que o Divino Mestre selara com exemplos as
palavras de suas lições imorredouras.
Maior revolucionário de todas as épocas, não empunhou outra arma
além daquelas que significam amor e tolerância, educação e aclaramento.
Condenou todas as hipocrisias, insurgiu-se contra todas as violências
oficializadas, ensinando simultaneamente aos discípulos o amor
incondicional à ordem, ao trabalho e à paz construtiva. É por essa razão
que os Evangelhos constituem o livro da Humanidade, por excelência. Sua
simplicidade e singeleza transparecem na tradução de todas as línguas da
Terra, prendendo a alma dos homens entre as luzes do Céu, ao encanto
suave de suas narrativas.
A REDAÇÃO
DOS TEXTOS DEFINITIVOS

Nesse tempo, quando a guerra formidável da crítica procurava minar o


edifício imortal da nova doutrina, os mensageiros do Cristo presidem à
redação dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos
Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das
tradições. Os cristãos mais destacados trocam, entre si, cartas de alto valor
doutrinário para as diversas igrejas. São mensagens de fraternidade e de
amor, que a posteridade muita vez não pôde ou não quis compreender.
Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da
crítica histórica, para o estudo e elucidação desses documentos. A palavra
"apócrifo" generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias
numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os
sábios materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir que
a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria,
na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do
Cristianismo.
A grandeza da doutrina não reside na circunstância de o Evangelho
ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal
que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os
corações. Não há vantagem nas longas discussões quanto à autenticidade
de uma carta de Inácio de Antioquia ou de Paulo de Tarso, quando o
raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e
necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente,
segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá
apresentar a equação matemática do assunto. É que, portas a dentro do
coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das
conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão,
preludiando generosos e definitivos conhecimentos.
A MISSÃO DE PAULO

No trabalho de redação dos Evangelhos, que constituem, sem dúvida,


o portentoso alicerce do Cristianismo, verificavam-se, nessa época,
algumas dificuldades para que se lhes desse o precioso caráter
universalista.
Todos os Apóstolos do Mestre haviam saído do teatro humilde de seus
gloriosos ensinamentos; mas, se esses pescadores valorosos eram elevados
Espíritos em missão, precisamos considerar que eles estavam muito longe
da situação de espiritualidade do Mestre, sofrendo as influências do meio à
que foram conduzidos. Tão logo se verificou o regresso do Cordeiro às
regiões da Luz, a comunidade cristã, de modo geral, começou a sofrer a
influência do judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da doutrina,
pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e
associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo.
É então que Jesus resolve chamar o espírito luminoso e enérgico de
Paulo de Tarso ao exercício do seu ministério. Essa deliberação foi um
acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo. As
ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de
universalização da nova doutrina. De cidade em cidade, de igreja em igreja,
o convertido de Damasco, com o seu enorme prestígio, fala do Mestre,
inflamando os corações. A princípio, estabelece-se entre ele e os demais
Apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas sua
influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável
dentro da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de
simplicidade e pureza.
O APOCALIPSE DE JOÃO

Alguns anos antes de terminar o primeiro século, após o advento da


nova doutrina, já as forças espirituais operam uma análise da situação
amargurosa do mundo, em face do porvir.
Sob a égide de Jesus, estabelecem novas linhas de progresso para a
civilização, assinalando os traços iniciais dos países europeus dos tempos
modernos. Roma já não representa, então, para o plano invisível, senão um
foco infeccioso que é preciso neutralizar ou remover. Todas as dádivas do
Alto haviam sido desprezadas pela cidade imperial, transformada num
Vesúvio de paixões e de esgotamentos.
O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se
encontrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a
linguagem simbólica do invisível.
Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao
planeta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o
velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertências
extraordinárias do Apocalipse.
Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos.
É verdade que frequentemente a descrição apostólica penetra o terreno
mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar
fielmente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a
história da Humanidade. As guerras, as nações futuras, os tormentos
porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização
ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos. E a figura mais
dolorosa, ali relacionada, que ainda hoje se oferece à visão do mundo
moderno, é bem aquela da igreja transviada de Roma, simbolizada na besta
vestida de púrpura e embriagada com o sangue dos santos.
IDENTIFICAÇÃO
DA BESTA APOCALÍPTICA

Reza o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias


por 42 meses, acrescentando que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e
18). Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo
o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo de
30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260
anos comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da
nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, com o
imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX,
em 1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do
Vaticano, em face da evolução científica, filosófica e religiosa da
Humanidade.
Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os
números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos
romanos, em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos,
explicando que é o Sumo-Pontífice da igreja romana quem usa os títulos de
"VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS", "VICARIVS FILII DEI" e
"DVX CLERI" que significam "Vigário-Geral de Deus na Terra", "Vigário
do Filho de Deus" e "Príncipe do Clero". Bastará ao estudioso um pequeno
jogo de paciência, somando os algarismos romanos encontrados em cada
título papal a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles.
Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para
os destinos da Humanidade terrestre.
O ROTEIRO
DE LUZ E DE AMOR

Mas, voltemos aos nossos propósitos, cumprindo-nos reconhecer nos


Evangelhos uma luz maravilhosa e divina, que o escoar incessante dos
séculos só tem podido avivar e reacender. É que eles guardam a súmula de
todos os compêndios de paz e de verdade para a vida dos homens,
constituindo o roteiro de luz e de amor, através do qual todas as almas
podem ascender às luminosas montanhas da sabedoria dos Céus.
XV
A evolução do Cristianismo

PENOSOS
COMPROMISSOS ROMANOS

Debalde tentaram as forças espirituais o aproveitamento dos romanos


na direção suprema do mundo. Todos os recursos possíveis foram
prodigalizados inutilmente à cidade imperial. A canalização de
consideráveis riquezas materiais, possibilitando a consolidação de um
Estado único no planeta, não fora esquecida, ao lado de todas as
providências que se faziam necessárias, do ponto de vista moral. Em vão,
transplantara-se para Roma a extraordinária sabedoria ateniense e a
colaboração de todas as experiências dos povos conquistados.
Os Espíritos encarnados não conseguiram a eliminação dos laços
odiosos da vaidade e da ambição, sentindo-se traídos em suas energias
mais profundas, contraindo débitos penosos, perante os tribunais da Justiça
Divina.
A vinda do Cristo ao cenáculo obscuro do planeta, trazendo a
mensagem luminosa da verdade e do amor, assinalara o período da
maioridade espiritual da Humanidade. Essa maioridade implicava direitos
que, por sua vez, se fariam acompanhar do agravo de responsabilidades e
deveres para a solução de grandes problemas educativos do coração. Se ao
homem físico rasgavam-se os mais amplos horizontes nos domínios do
progresso material, os Evangelhos vinham trazer ao homem espiritual um
roteiro de novas atividades, educando-o convenientemente para as suas
arrojadas conquistas de ciência e de liberdade, com vistas ao porvir. O
aproveitamento desse processo educativo deveria ser levado a efeito pela
capital do mundo, de acordo com os desígnios do plano espiritual.
Pesadas forças da Treva, porém, aliaram-se às mais fortes tendências
do homem terrestre, constantemente inclinado aos liames do mal que o
prendiam à Terra, adstrito aos mais grosseiros instintos de conservação, e,
enquanto os Espíritos abnegados, do Alto, choram sobre os abusos de
liberdade dos romanos, a cidade dos Césares embriaga-se cada vez mais no
vinho do ódio e da ambição, contraindo dívidas penosas, entrelaçando os
seus sentimentos com o ódio dos vencidos e dos humilhados, criando
negras perspectivas para o longínquo futuro.
CULPAS E RESGATES
DOLOROSOS DO HOMEM ESPIRITUAL

Ao coração misericordioso de Jesus chegam as preces dolorosas de


todos os operários da sua bendita semeadura. Seu olhar percuciente,
todavia, penetrara o âmago das almas e não fora em vão que recomendara o
crescimento do trigo e do joio nas mesmas leiras, somente a Ele
competindo a separação, na época da ceifa.
A limitada liberdade de ação dos indivíduos e das coletividades é
integralmente respeitada. Cada qual é responsável pelos seus atos,
recebendo de conformidade com as suas obras.
Foi por isso que Roma teve oportunidade de realizar seus propósitos e
desígnios políticos; mas a Justiça Divina acompanhou-lhe todos os passos,
nos enormes desvios a que se conduziu, comprometendo para sempre o
futuro do homem espiritual, que somente agora conhecerá um
reajustamento nas amargurosas transições do século que passa. Um laço
pesado e tenebroso reuniu a cidade conquistadora aos povos que
humilhara. O ódio do verdugo e dos seus inimigos fundiu-se em séculos de
provações e de lutas expiatórias, para demonstrar que Jesus é o fundamento
da Verdade e só o amor é a sagrada finalidade da vida. Foi por essa razão
que o conquistador e os conquistados, unidos pelo ódio como calcetas
algemados um ao outro nas galés da amargura, compareceram
periodicamente, nos Espaços, ante a misericórdia suprema do Filho de
Deus, prometendo a reparação e o resgate recíprocos, nos séculos do
porvir, fundando a civilização ocidental, como abençoada oficina dos seus
novos trabalhos no esforço da fraternidade e da regeneração.
A bondade do Mestre fez florescer cidades valorosas e progressistas,
países cultos e fartos, onde as almas decaídas encontrassem todos os
elementos de edificação e aprimoramento. O homem físico continuou a
linha ascensional de sua evolução nas conquistas e descobrimentos, mas o
homem transcendente, a personalidade imortal, teria saído do oceano de
lodo onde se mergulhou, voluntariamente, há dois milênios?
Respondam por nós as angustiosas expectativas da hora presente.
OS MÁRTIRES

Antes do movimento de propagação das ideias cristãs no seio da


sociedade romana, já os prepostos de Jesus se preparavam para auxiliar os
missionários da nova fé, conhecendo a reação dos patrícios em face dos
postulados de fraternidade da nova doutrina.
As classes mais abastadas não podiam tolerar semelhantes princípios
de igualdade, quais os que preconizavam as lições do Nazareno,
considerados como postulados de covardia moral, incompatíveis com a
orgulhosa filosofia do Império, e é assim que vemos os cristãos sofrendo os
martírios da primeira perseguição, iniciada no reinado de Nero, de tão
dolorosas quão terríveis lembranças. Nenhum instrumento de suplício foi
esquecido na experimentação da fé e da constância daquelas almas
resignadas e heroicas. O açoite, a cruz, o cavalete, as unhas de ferro, o
fogo, os leões do circo, tudo foi lembrado para maior eficiência da
perseguição aos seguidores do Carpinteiro de Nazaré. Pedro e Paulo
entregam a vida na palma dos martírios santificadores e de Nero a
Diocleciano uma nuvem pesada, de sangue e de lágrimas, envolve a alma
cristã, cheia de confiança na Providência Divina. O próprio Marco Aurélio,
cuja elevada estatura espiritual recebera do Alto a Missão de paralisar
semelhantes desatinos, não conseguiu deter a corrente de forças trevosas,
mas o sangue dos cristãos era a seiva da vida lançada às divinas sementes
do Cordeiro, e os seus sacrifícios foram bem os reflexos da amorosa
vibração do ensinamento do Cristo, atravessando os séculos da Terra para
ser compreendido e praticado nos milênios do porvir.
OS APOLOGISTAS

A doutrina cristã, todavia, encontrara nas perseguições os seus


melhores recursos de propaganda e de expansão.
Seus princípios generosos encontravam guarida em todos os corações,
seduzindo a consciência de todos os estudiosos de alma livre e sincera.
Observa-se-lhe a influência no segundo século, em quase todos os
departamentos da atividade intelectual, com largos reflexos na legislação e
nos costumes. Tertuliano apresenta a sua apologia do Cristianismo,
provocando admiração e respeito gerais. Clemente de Alexandria e
Orígenes surgem com a sua palavra autorizada, defendendo a filosofia
cristã, e com eles levanta-se um verdadeiro exército de vozes que advogam
a causa da verdade e da justiça, da redenção e do amor.
O JEJUM E A ORAÇÃO

Os cristãos, contudo, não tiveram de início uma visão do campo de


trabalho que se lhes apresentava. Não atinaram que, se o jejum e a oração
constituem uma grande virtude na soledade, mais elevada virtude
representam quando levados a efeito no torvelinho das paixões
desenfreadas, nas lutas regeneradoras, a fim de aproveitar aos que os
contemplam. Não compreenderam imediatamente que esses preceitos
evangélicos, acima de tudo, significam sacrifício pelo próximo,
perseverança no esforço redentor, serenidade no trabalho ativo, que corrige
e edifica simultaneamente. Retirando-se para a vida monástica, povoaram
os desertos na suposição de que se redimiriam mais rapidamente para o
Cordeiro.
Uma ânsia de fugir das cidades populosas fazia então vibrar todos os
crentes, originando os erros da idade medieval, quando o homem supunha
encontrar nos conventos as antecâmaras do Céu.
O Oriente, com os seus desertos numerosos e os seus lugares
sagrados, afigura-se o caminho de todos quantos desejam fugir dos antros
das paixões. Só a grande montanha de Nítria chegou a possuir trinta mil
anacoretas, exilados do mundo e dos seus prazeres desastrosos.
Entretanto, examinando essa decisão desaconselhável dos primeiros
tempos, somos levados a recordar que os cristãos se haviam esquecido de
que Jesus não desejava a morte do pecador.
CONSTANTINO

As forças espirituais que acompanhavam e acompanham todos os


movimentos do orbe, sob a égide de Jesus, procuram dispor os alicerces de
novos acontecimentos, que devem preparar a sociedade romana para o
resgate e para a provação.
A invasão dos povos considerados bárbaros é então entrevista.
Uma forte anarquia militar dificulta a solução dos problemas de
ordem coletiva, elevando e abatendo imperadores de um dia para outro.
Sentindo a aproximação de grandes sucessos e antevendo a
impossibilidade de manter a unidade imperial, Diocleciano organiza a
Tetrarquia, ou governo de quatro soberanos, com quatro grandes capitais.
Retirando-se para Salona, exausto da tarefa governativa, ocorre a
rebelião militar que aclama Augusto a Constantino, filho de Constâncio
Cloro, contrariando as disposições dos dois Césares, sucessores de
Diocleciano e Maximiano. A luta se estabelece e Constantino vence
Maxêncio às portas de Roma, penetrando a cidade, vitorioso, para ser
recebido em triunfo. Junto dele, o Cristianismo ascende à tarefa do Estado,
com o edito de Milão.
O PAPADO

Desde a décima perseguição que o Cristianismo era considerado em


Roma como doutrina morta, mas os prepostos do Mestre não descansavam,
com o nobre fim de fazer valer os seus generosos princípios.
A fatalidade histórica reclamava a sua colaboração nos gabinetes da
política do mundo e, ainda uma vez, a indigência dos homens não
compreendeu a dádiva do plano espiritual, porque, logo depois da vitória,
os bispos romanos solicitavam prerrogativas injustas sobre os seus
humildes companheiros de episcopado. O mesmo espírito de ambição e de
imperialismo, que de longo tempo trabalhava o organismo do Império,
dominou igualmente a igreja de Roma, que se arvorou em suserana e
censora de todas as demais do planeta. Cooperando com o Estado, faz
sentir a força das suas determinações arbitrárias.
Trezentos anos lutaram os mensageiros do Cristo, procurando ampará-
la no caminho do amor e da humildade, até que a deixaram enveredar pelas
estradas da sombra, para o esforço de salvação e de experiência, e, tão logo
a abandonaram ao penoso trabalho de aperfeiçoar-se a si mesma, eis que o
imperador Focas favorece a criação do Papado, no ano de 607.
A decisão imperial faculta aos bispos de Roma prerrogativas e direitos
até então jamais justificados. Entronizam-se, mais uma vez, o orgulho e a
ambição da cidade dos Césares. Em 610, Focas é chamado ao mundo dos
invisíveis, deixando no orbe a consolidação do Papado. Dessa data em
diante, ia começar um período de 1260 anos de amarguras e violências para
a civilização que se fundava.
XVI
A Igreja e a invasão dos bárbaros

VITÓRIAS DO CRISTIANISMO

Constantino, no seu caminho de realizações, consegue levar a efeito a


nova organização administrativa do Império, começada no governo de
Diocleciano, dividindo-o em quatro Prefeituras, que foram as do Oriente,
da Ilíria, da Itália e das Gálias, que, por sua vez, eram divididas em
dioceses dirigidas respectivamente por prefeitos e vigários.
Com a influência do vencedor da ponte Mílvius, efetua-se o Concílio
Ecumênico de Nicéia para combater o cisma de Ário, padre de Alexandria,
que negara a divindade do Cristo.
Os primeiros dogmas católicos saem, com força de lei, desse
parlamento eclesiástico de 325.
Findo o reinado de Constantino, aparecem os seus filhos, que lhe não
seguem as tradições. Em seguida, Juliano, sobrinho do imperador, eleva-se
ao poder tentando restaurar os deuses antigos, em detrimento da doutrina
cristã, embora compreendesse a ineficácia do seu tentâmen.
Mas, por volta do ano 381, surge a figura de Teodósio, que declara o
Cristianismo religião oficial do Estado, decretando, simultaneamente, a
extinção dos derradeiros traços do politeísmo romano. É então que todos os
povos reconhecem a grande força moral da doutrina do Crucificado, pelo
advento da qual milhares de homens haviam dado a própria vida no campo
do martírio e do sacrifício, vendo-se o imperador, em 390, ajoelhar-se
humildemente aos pés de Ambrósio, bispo de Milão, a penitenciar-se das
crueldades com que reprimira a revolta dos tessalonicenses.
PRIMÓRDIOS DO CATOLICISMO

O Cristianismo, porém, já não aparecia com aquela mesma humildade


de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do
ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca, da época gloriosa das
virtudes apostólicas.
Seus concílios, como os de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e
Calcedônia, não eram assembleias que imitassem as reuniões plácidas e
humildes da Galiléia. A união com o Estado era motivo para grandes
espetáculos de riqueza e vaidade orgulhosa, em contraposição com os
ensinos dAquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça
dolorida.
As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o
povo, impondo-lhe suas ideias e suas concepções, e, longe de educarem a
alma das massas na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a
sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo
externo, tão do gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações
transcendentes.
A IGREJA DE ROMA

A igreja de Roma, que antes da criação oficial do Papado considerava-


se a eleita de Jesus, ao arvorar-se em detentora das ordenações de Pedro,
não perdia ensejos de firmar a sua injustificável primazia junto às suas
congêneres de Antioquia, de Alexandria e dos demais grandes centros da
época. Herdando os costumes romanos e suas disposições multisseculares,
procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela
posteridade, modificando as tradições puramente cristãs, adaptando textos,
improvisando novidades injustificáveis e organizando, finalmente, o
Catolicismo sobre os escombros da doutrina deturpada. Os bispos de
Roma, abusando do fácil entendimento com as autoridades políticas do
Estado, impunham suas inovações arbitrárias, contrariando as sublimes
finalidades do ensinamento dAquele que preconizara a humildade e o amor
como os grandes caminhos da redenção.
É assim que aparecem novos dogmas, novas modalidades
doutrinárias, o culto dos ídolos nas igrejas, as espetaculosas festas do culto
externo, copiados quase todos os costumes da Roma anticristã.
A DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO

A fraqueza e a impenitência dos homens não lhes deixou compreender


que o Cristianismo fora chamado à tarefa do governo tão somente para
educar o sentimento dos governantes, preparando-os para levar o
esclarecimento e a fraternidade aos outros povos da Terra, então
considerados bárbaros pela cultura do Império.
Não obstante todos os esforços em contrário, dos mensageiros de
Jesus, Bonifácio III cria o Papado em 607, contrapondo-se a todas as
disposições de humildade que deveriam reger a vida da Igreja. As forças do
mal, aliadas à incúria e vaidade dos homens, haviam obtido um triunfo
relativo e transitório.
Os gênios do Espaço, todavia, à claridade soberana da misericórdia do
Senhor, reúnem-se no Infinito, adotando providências novas, concernentes
ao progresso dos homens.
Todos os recursos haviam sido prodigalizados a Roma, a fim de que
as suas expressões políticas e intelectuais se estendessem pelo orbe,
abrangendo todas as gentes no mesmo amplexo de amor e de unidade; sua
alma coletiva, no entanto, havia deturpado todas as possibilidades sagradas
de edificação e renegado todos os grandes ensinamentos.
Advertências penosas não lhe faltaram do Alto, como nos
acontecimentos inesquecíveis e dolorosos do Vesúvio, nas cidades da
Campânia. Séculos de luta e de ensinamento se haviam escoado, sem que a
alma do Império se compenetrasse dos seus deveres necessários.
É então que Jesus determina a transformação do Império organizado e
poderoso. Suas águias orgulhosas haviam singrado todos os mares, o
Mediterrâneo era propriedade sua, todos os povos se lhe curvavam para a
homenagem e para a obediência, mas uma força invisível arrancou-lhe
todos os diademas, tirou-lhe as energias e lhe reduziu as glórias a um
punhado de cinzas.
Até hoje, o espírito que investiga o passado inquire o motivo desses
sinistros arrasamentos; mas a verdade é que todos os fundamentos da Terra
residem em Jesus-Cristo.
A INVASÃO DOS BÁRBAROS

Essas determinações do Cristo, verificadas após o reinado de


Constantino, foram seguidas das primeiras grandes invasões com os
visigodos que, fugindo dos hunos, transpõem o Danúbio e estabelecem-se
no oriente do Império, penetrando depois na Grécia e na Itália, espalhando
flagelos e devastações. Debalde surgem as vitórias de Estilicão, porque, em
410, atingem elas as portas de Roma, que fica entregue ao saque e às mais
duras humilhações.
Em 405, é Radagásio que parte à frente de duzentos mil soldados, em
demanda da cidade imperial, sendo vencido, porém roubando as mais
fortes economias romanas.
As provas expiatórias do Império prosseguem numa avalancha de
dores amargas. Aparecem as correntes bárbaras dos alanos, dos vândalos,
dos suevos, dos burgúndios. Em 450, os hunos comandados por Átila
atacam as Gálias, perseguindo populações pacíficas e indefesas. A unidade
imperial perde a sua tradição, para sempre. Com as suas vitórias, funda
Clóvis a monarquia dos francos. Os bretões, oprimidos pela invasão e
privados do auxílio dos exércitos romanos, apelam para os saxônios que
povoavam o sul da Jutlândia, organizando-se posteriormente a Heptarquia
Anglo-Saxônia.
O que Roma deveria fazer com a educação e o amparo perseverantes,
aqueles povos rudes e fortes vinham reclamar por si mesmos.
A grande cidade dos Césares poderia ter evitado a catástrofe do
desmembramento, se levasse a sua cultura a todos os corações, em vez de
haver estacionado tantos séculos à mesa farta dos prazeres e das
continuadas libações.
RAZÕES DA IDADE MÉDIA

A queda do Império Romano determinara no mundo extraordinárias


modificações. Muitas almas heroicas e valorosas, que se haviam purificado
nas lutas depuradoras, não obstante o ambiente pantanoso dos vícios e das
paixões desenfreadas, ascenderam definitivamente a planos espirituais mais
elevados, apenas voltando às atmosferas do planeta para o cumprimento de
enobrecedoras e santificantes missões.
A desorganização geral com os movimentos revolucionários dos
outros povos do globo terrestre, que embalde esperam o socorro moral do
governo dos imperadores, originara um longo estacionamento nos
processos evolutivos. É ai, nessa época de transições que agora atinge as
suas culminâncias, que vamos encontrar as razões da Idade Média, ou o
período escuro da história da Humanidade. Só esse ascendente místico da
civilização pôde explicar o porquê das organizações feudais, depois de tão
grandes conquistas da mentalidade humana, nos grandes problemas da
unidade e da centralização política do mundo. É que um novo ciclo de
civilização começava sob a amorosa proteção do Divino Mestre, e as
últimas expressões espirituais do grande Império retiravam-se para o
silêncio dos santuários e dos retiros espirituais, para chorar na solidão dos
conventos, sobre o cadáver da grande civilização que não soubera prover
ao seu glorioso destino.
MESTRES DO AMOR E DA VIRTUDE

Almas sublimadas e corajosas reencarnam, então, sob a égide de Jesus


e para a grande tarefa de orientar as forças políticas da igreja romana, agora
organizada à maneira das construções efêmeras do mundo.
O Papado era a obra do orgulho e da iniquidade; mas o Cristo não
desampara os mais infelizes e os mais desgraçados, e foi assim que
surgiram, no seio mesmo da Igreja, alguns mestres do amor e da virtude,
ensinando o caminho claro da evolução aos povos invasores, trazendo-os
ao pensamento cristão e destinando-os aos tempos luminosos do porvir.
XVII
A idade medieval

OS MENSAGEIROS DE JESUS

Em todo o século VI, de conformidade com as deliberações efetuadas


no plano invisível, aparecem grandes vultos de sabedoria e bondade,
contrastando a vaidade orgulhosa dos bispos católicos, que em vez de
herdarem os tesouros de humildade e amor do Crucificado, reclamaram
para si a vida suntuosa, as honrarias e prerrogativas dos imperadores. Os
chefes eclesiásticos, guindados à mais alta preponderância política, não se
lembravam da pobreza e da simplicidade apostólicas, nem das palavras do
Messias, que afirmara não ser o seu reino ainda deste mundo.
Todavia, nesse pantanal de ambições floresciam, igualmente, os lírios
da misericórdia de Jesus, em sublimadas realizações de sacrifício e
bondade. Espíritos heroicos e missionários, cuja maioria não se incorporou
aos nomes da galeria histórica terrestre, exerceram a função de novos
sacerdotes da ideia sagrada do Cristianismo, conservando-lhe o fogo divino
para as futuras gerações do planeta. Subordinados, embora, à disciplina da
Igreja romana, eles ouviam, no adito do coração, a palavra eterna e suave
do Divino Jardineiro e sabiam, por isso, que a sua missão era a da renúncia,
do sacrifício e da humildade. Roma podia negociar os títulos eclesiásticos
com a política do mundo e estabelecer a simonia nos templos sagrados,
esquecendo os mais severos compromissos; eles, porém, nas suas túnicas
rotas, atravessariam o mundo alentando a palavra das promessas
evangélicas, edificariam pousos de silêncio e de misericórdia, onde
guardassem as tradições escritas da cultura sagrada, para os dias do porvir.
Desses exércitos de abnegados que se organizaram com Jesus e por
Jesus, no seio da Igreja, somos levados a destacar os missionários
beneditinos, cujo esforço amoroso e paciente conduziu grande número de
coletividades dos povos considerados bárbaros, principalmente os
germanos, para o seio generoso das ideias do Cristianismo.
O IMPÉRIO BIZANTINO

Depois da morte do imperador Teodósio, eis que o mundo conhecido


se reparte em dois impérios - o do Ocidente e o do Oriente - divididos entre
os seus dois filhos, Honório e Arcádio. Com o assalto dos hérulos, em 476
desaparece o império ocidental e com ele, para sempre, os resquícios da
integridade do Império Romano, instalando-se depois, em 493, o reino
ostrogodo na Itália, tendo Ravena por capital.
Constantinopla é então a sucessora legítima da grande cidade
imperial. O império bizantino era o depositário da legislação e dos
costumes romanos. Um poderoso sopro de latinidade vitaliza as suas
instituições. Debalde, porém, as expressões romanas buscam um refúgio
nas outras terras, com o objetivo de uma perpetuação. Homens enérgicos,
como Justiniano, não conseguem salvá-las. Forças ocultas e poderosas
estavam incumbidas de sua visceral renovação, e, não obstante sua
resistência milenar, o império bizantino, herdeiro dos Césares, ia cair
exânime, em 1453, ao assalto de Maomet II.
O ISLAMISMO

Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram


compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que
ameaçavam todas as consciências. Muitos emissários do Alto tomam corpo
entre as falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja.
Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços do Cristo,
conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no penoso
trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras.
Numerosos Espíritos reencarnam com as mais altas delegações do
plano invisível. Entre esses missionários, veio aquele que se chamou
Maomet, ao nascer em Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua
missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de
modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do
Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da
Europa. Maomet, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que
deveria ser de sacrifício e exemplificação, torna-se rico após o casamento
com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra, traindo
nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes
faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos,
muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes
lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades
humanas. É por essa razão que o missionário do Islã deixa entrever, nos
seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume cristão que se
evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de
imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no Alcorão, existe a
doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso
uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro
transviado do seu verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que
poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de
Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma
vitória das Trevas contra a Luz e cujas raízes era necessário extirpar.
AS GUERRAS DO ISLÃ

Maomet, nas recordações do dever que o trazia à Terra, lembrando os


trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja para
Jesus, vulgarizou a palavra "infiel", entre as várias famílias do seu povo,
designando assim os árabes que lhe, eram insubmissos, quando a expressão
se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo.
Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava submetida à
sua doutrina, pela força da espada; e, todavia, os seus continuadores não se
deram por satisfeitos com semelhantes conquistas.
Iniciaram no exterior as guerras santas", subjugando toda a África
setentrional, no fim do século VII. Nos primeiros anos do século imediato,
atravessaram o estreito de Gibraltar, estabelecendo-se na Espanha, em vista
da escassa resistência dos visigodos atormentados pela separação, e
somente não seguiram caminho além dos Pirineus porque o plano espiritual
assinalara um limite às suas operações, encaminhando Carlos Martel para
as vitórias de 732.
CARLOS MAGNO

É depois dessa época que Jesus permite a reencarnação de um dos


mais nobres imperadores romanos, ansioso de auxiliar o espírito europeu
na sua amargurada decadência. Essa entidade renasceu, então, sob o nome
de Carlos Magno, o verdadeiro reorganizador dos elementos dispersos para
a fundação do mundo ocidental. Quase analfabeto, criou as mais vastas
tradições de energia e de bondade, com a superioridade que lhe
caracterizava o espírito equilibrado e altamente evolvido. Num reinado de
46 anos consecutivos, Carlos Magno intensificou a cultura, corrigiu
defeitos administrativos que imperavam entre os povos desorganizados da
Europa, deixando as mais belas perspectivas para a latinidade. Sabe Jesus
quanto de lágrimas lhe custou o cumprimento de uma tarefa dessa natureza,
cujo desempenho exigia as mais altas qualidades de cérebro e coração.
Mas, antecipando as doces comoções que o aguardavam no plano
espiritual, numerosos amigos invisíveis, que com ele haviam caminhado na
Roma do direito e do dever, cercam-lhe a personalidade na noite do Natal
do ano 800, quando o seu pensamento em prece se elevava a Jesus, na
basílica de São Pedro. Uma onda de vibrações harmoniosas invade o
ambiente suntuoso, pouco propicio às demonstrações da verdadeira
espiritualidade. Leão III, o papa reinante, sente-se tocado de
incompreensível arrebatamento espiritual, e, aproximando-se do grande
batalhador do bem, cinge-lhe a fronte com uma coroa de ouro, enquanto a
multidão designa-o, em vozes comovidas e entusiásticas, como "imperador
dos romanos".
Carlos Magno sente que aquela cidade era também dele. Parece-lhe
voltar ao passado longínquo, contemplando a Roma do pretérito, cheia de
dignidade e de virtude. Seu coração derrama lágrimas, como Jeremias
sobre a Jerusalém das suas dores, agradecendo a Jesus os favores divinos.
Decorridos alguns anos sobre esse acontecimento, o grande imperador
busca de novo as claridades do Além, para reconhecer que o seu esforço
caía sobre as almas qual uma bênção, mas o império por ele organizado
teria escassa duração.
O FEUDALISMO

Depois das nobres conquistas atenienses em matéria de política


administrativa, depois das grandes jornadas do direito romano à face do
mundo, custa-se a entender o porquê do feudalismo, que se estendeu pela
Europa, desde o século VIII até o século XII, figurando-se ao estudioso da
História um como retrocesso de toda a civilização.
Toda a unidade política desaparece nesses tempos de luzidas
lembranças para a Humanidade. A propriedade individual jamais alcançou
tamanha importância e nunca a servidão moral ganhou tão forte impulso.
Com semelhante regime, as lutas fratricidas tiveram campo largo no
território europeu, disputando-se uma hegemonia que jamais chegava na
equação dos movimentos bélicos. Somente as poucas qualidades cristãs da
Igreja Católica conseguiram atenuar o caráter nefasto dessa situação,
instituindo-se as chamadas "tréguas de Deus", obrigando os guerreiros ao
repouso em determinados dias da semana, com o objetivo de comemorar as
passagens da vida de Jesus-Cristo e defendendo-se a paz com a periódica
cessação das hostilidades.
RAZÕES DO FEUDALISMO

Esse regime, todavia, é facilmente explicável.


A missão de Carlos Magno houvera sido organizada pelo plano
invisível como uma das mais vastas tentativas de reorganização do império
do Ocidente, mas, observando-se a inutilidade do tentame, em virtude do
endurecimento da maioria dos corações, as autoridades espirituais, sob a
égide do Cristo, renovaram os processos educativos do mundo europeu,
então no início da civilização atual, chamando todos os homens para a vida
do campo, a fim de aprenderem melhor, no trato da terra e no contato da
Natureza. Só o feudalismo podia realizar essa obra, e as suas normas,
embora grosseiras, foram aproveitadas na escola penosa das aquisições
espirituais, onde a reflexão e a sensibilidade iam surgir para a construção
do edifício milenar da civilização do Ocidente.
XVIII
Os abusos do poder religioso

FASES DA IGREJA CATÓLICA

Apesar dos numerosos desvios da Igreja romana, que esquecera os


princípios cristãos tão logo que chamada aos gabinetes da política do
mundo, nunca o Catolicismo foi de todo abandonado pelas potências do
bem, no mundo espiritual. Advertências inúmeras lhe foram enviadas em
todos os tempos da sua vida histórica, pela misericórdia do Cristo,
condoído da impiedade de quantos, sob o seu nome, manchavam o altar
dos templos.
Enquanto esteve subordinada aos imperadores de Constantinopla, a
instituição católica trabalhou para libertar-se de semelhante tutela,
procurando a mais ampla independência espiritual, somente conseguida
depois do papa Estêvão II, em 756, com a organização do chamado
Patrimônio de São Pedro. A esse tempo, os vários soberanos da época
dispunham da Igreja de acordo com os seus caprichos pessoais, conferindo
dignidades eclesiásticas às consciências mais apodrecidas. A sede do
Catolicismo se transformara em vasto mercado de títulos nobiliárquicos de
toda a espécie. Até depois do século X, semelhante situação de descalabro
moral marchava para a frente, num crescendo espantoso. Os Apóstolos do
Divino Mestre, nas claridades do Infinito, deploram semelhantes
espetáculos de indigência espiritual e promovem a reencarnação de
numerosos auxiliares da tarefa remissora, nas hostes da regra de São Bento.
Estes missionários da verdade e do bem operam a restauração do mosteiro
de Cluny, de onde sairiam pensamentos novos e energias regeneradoras.
GREGÓRIO VII

Foi nesse movimento de restauração que Hildebrando, conhecido


como Gregório VII, ouvindo as inspirações que lhe desciam ao coração, do
plano invisível, preparou-se para a missão que o esperava no Vaticano.
Sua figura é das mais importantes do século XI, pela fé e pela
sinceridade que lhe caracterizaram as atitudes. Eleito papa, após a
desencarnação de Alexandre II, reconheceu que as primeiras providências
que lhe competiam eram as do combate ao simonismo no seio da
instituição católica e as do restabelecimento da autoridade da Igreja, que
ele desejou sinceramente reconduzir ao seio do Cristianismo, embora as
lutas sustentadas contra Henrique IV façam parecer o contrário.
Convocando um concílio em Roma, no ano de 1074, procurou reprimir a
enormidade de tantos abusos referentes ao mercado dos sacramentos e às
honras eclesiásticas. Filipe I e Henrique IV prometem amparo e auxílio às
decisões do pontífice, no sentido de regenerar a organização da Igreja.
Henrique IV, porém, prestigiado pelos bispos culpados de simonia, fugiu
ao cumprimento da promessa e, depois de exortado por Gregório VII, tenta
depô-lo, reunindo em Worms um sínodo de sacerdotes transviados. O papa
excomunga o príncipe rebelado, ocorrendo então os célebres
acontecimentos de Canossa. A luta ainda não havia terminado, quando
Gregório VII se desprende do mundo em 1085, deixando, porém, o
caminho preparado para a Concordata de Worms, que se realizaria em
1122 com Henrique V, com a independência da Igreja e a regeneração
aproximada de sua disciplina.
AS ADVERTÊNCIAS DE JESUS

Instalada nas suas imensas riquezas e dispondo de todo o poder e


autoridade, a Igreja poucas vezes compreendeu a tarefa de amor, que
competia à sua missão educativa.
Habituada a mandar sem restrições, muitas vezes recebeu as
advertências de Jesus à conta de heresias condenáveis, que era preciso
combater e profligar.
As exortações do Alto não se faziam sentir tão-somente no seio das
ordens religiosas, onde penitentes humildes proporcionavam aos seus
orgulhosos superiores eclesiásticos as mais santas lições da piedade cristã.
Também na sociedade civil as sementes de luz deixavam entrever os mais
esperançosos rebentos de compreensão e de sabedoria, acerca do
Evangelho e dos exemplos do Cristo. Neste caso está Pedro de Vaux, que,
embora sendo um homem de negócios, em Lião, desligou-se de todos os
laços que o prendiam às riquezas humanas, despojando-se de todos os bens
em favor dos pobres e necessitados, comovido com a leitura da
exemplificação de Jesus no seu Evangelho de amor e redenção. Esse
homem extraordinário, a quem fora cometida a missão de instrumento da
vontade do Senhor, mandou traduzir os livros sagrados para leitura pública
e, junto de outros companheiros que passaram à História com o nome de
valdenses, iniciou amplo movimento de pregações evangélicas, à maneira
dos tempos apostólicos. Os "Pobres de Lião" foram excomungados,
primeiramente pelo arcebispo da cidade e mais tarde, em 1185, pelo
pontífice do Vaticano. A Igreja não poderia tolerar outra doutrina que não a
sua, feita de orgulho e mal disfarçada ambição. Qualquer lembrança
verdadeira e sincera, do seu divino Fundador, era tomada como heresia
abominável e suscetível das mais severas punições. A verdade, porém, é
que, se os valdenses foram caluniados pelas forças católicas, suas
pregações e apelos nunca mais desapareceram do mundo desde o século
XI, porque, com vários nomes, as suas organizações subsistiram na Europa
até à Reforma, não obstante os guantes de ferro da Inquisição.
FRANCISCO DE ASSIS

Os apelos do Alto continuaram a solicitar a atenção da Igreja romana


em todas as direções. As chamadas "heresias" brotavam por toda parte
onde houvesse consciências livres e corações sinceros, mas as autoridades
do Catolicismo nunca se mostraram dispostas a receber semelhantes
exortações.
Havia terminado, em 1229, a guerra contra os hereges, cujos embates
atravessaram o espaço de vinte anos, quando alguns chefes da Igreja
consideraram a oportunidade da fundação do tribunal da penitência, cujos
projetos de há muito preocupavam o pensamento do Vaticano.
Mascarar-se-ia o cometimento com o pretexto da necessidade de
unificação religiosa, mas a realidade é que a instituição desejava dilatar o
seu vasto domínio sobre as consciências.
Todavia, se a Inquisição preocupou longamente as autoridades da
Igreja, antes da sua fundação, o negro projeto preocupava igualmente o
Espaço, onde se aprestaram providências e medidas de renovação
educativa. Por isso, um dos maiores apóstolos de Jesus desceu à carne com
o nome de Francisco de Assis. Seu grande e luminoso espírito resplandeceu
próximo de Roma, nas regiões da Úmbria desolada. Sua atividade
reformista verificou-se sem os atritos próprios da palavra, porque o seu
sacerdócio foi o exemplo na pobreza e na mais absoluta humildade. A
Igreja, todavia, não entendeu que a lição lhe dizia respeito e, ainda uma
vez, não aceitou as dádivas de Jesus.
OS FRANCISCANOS

O esforço poderoso do missionário, todavia, se não conseguiu mudar


a corrente de ambições dos papas romanos, deixou traços fulgurantes da
sua passagem pelo planeta.
Seu exemplo de simplicidade e de amor, de singeleza e de fé,
contagiou numerosas criaturas, que se entregaram ao santo mister de
regenerar almas para Jesus.
A ordem dos Franciscanos chegou a congregar mais de duzentos mil
missionários e seguidores do grande inspirado. Eles repeliam qualquer
auxílio pecuniário, para aceitar tão-somente os alimentos mais pobres e
mais grosseiros, e o característico que mais os destacava das outras
comunidades religiosas era o seu alheamento dos mosteiros. Em vez de
repousarem à sombra dos claustros, na tranquilidade e na meditação, esses
espíritos abnegados reconheciam que a melhor oração, para Deus, é a do
trabalho construtivo, no aperfeiçoamento do mundo e dos corações.
A INQUISIÇÃO

Muito pouco valeram as lições do bem, diante do mal triunfante,


porque em 1231 o Tribunal da Inquisição estava consolidado com Gregório
IX. Esse instituto, ironicamente, nesse tempo não condenava os supostos
culpados diretamente à morte - pena benéfica e consoladora em face dos
martírios infligidos aos que lhe caíssem nos calabouços -, mas podia
aplicar todos os suplícios imagináveis.
A repressão das "heresias" foi o pretexto de sua consolidação na
Europa, tornando-se o flagelo e a desdita do mundo inteiro.
Longo período de sombras invadiu os departamentos da atividade
humana. A penumbra dos templos era teatro de cenas amargas e sacrílegas.
Crimes tenebrosos foram perpetrados ao pé dos altares, em nome d´Aquele
que é amor, perdão e misericórdia. A instituição sinistra da
Igreja ia cobrir a estrada evolutiva do homem com um sudário de
trevas espessas.
A OBRA DO PAPADO

Há quem tente justificar esses longos séculos de sombra pelos hábitos


e concepções daquele tempo. Mas, a verdade é que o progresso das
criaturas poderia dispensar esse mecanismo de crimes monstruosos.
Por isso, nos débitos romanos pesam essas responsabilidades tão
tremendas quão dolorosas.
A Inquisição foi obra direta do papado, e cada personalidade, como
cada instituição, tem o seu processo de contas na Justiça Divina. Eis por
que não podemos justificar a existência desse tribunal espantoso, cuja ação
criminosa e perversa entravou a evolução da Humanidade por mais de seis
longos séculos.
XIX
As Cruzadas
e o fim da Idade Média

AS PRIMEIRAS CRUZADAS

Reportando-nos ao século XI, as Cruzadas nos merecem especial


referência, dados os seus movimentos, característicos da época.
Desde Constantino que os lugares santos da Palestina haviam
adquirido considerável importância para a Europa ocidental. Milhares de
peregrinos visitavam anualmente a paisagem triste de Jerusalém,
identificando os caminhos da Paixão de Jesus, ou os traços da vida dos
Apóstolos. Enquanto dominavam na região os árabes de Bagdá ou do
Egito, as correntes do turismo católico podiam buscar, sem receio, as
paragens sagradas; mas a Jerusalém do século XI havia caído sob o poder
dos turcos, que não mais toleraram a presença dos cristãos, expulsando-os
dali com a máxima crueldade.
Semelhantes medidas provocam os protestos de todo o mundo
católico do Ocidente e, no fim do referido século, preparam-se as primeiras
cruzadas em busca da vitória contra o infiel. A primeira expedição que saiu
dos centros mais civilizados, sob o comando de Pedro, o Eremita, não
chegou a ausentar-se da Europa, dispersada que foi pelos búlgaros e
húngaros. Todavia, em 1096, Godofredo de Bouillon com seus irmãos e
Tancredo de Siracusa e outros chefes, depois de se reunirem em
Constantinopla, demandaram Nicéia, com um exército de 500.000 homens.
Depois da presa de Nicéia, apoderaram-se de Antioquia, penetrando
em Jerusalém com a palma do triunfo. Ali quiseram presentear Godofredo
de Bouillon com a coroa de rei, mas o duque da Baixa Lorena parecia rever
o vulto luminoso do Senhor do Mundo, cuja fronte fora aureolada com a
coroa de espinhos, e considerou sacrilégio o colocarem-lhe nas mãos um
cetro de ouro, quando o Cristo tivera, tão-somente, nas mãos augustas e
compassivas, uma cana ignominiosa. Depois de muita relutância, aceitou
apenas o título de "defensor do Santo Sepulcro", organizando-se logo em
seguida as ordens religiosas de caráter exclusivamente militar, como a dos
Templários e a dos Hospitalários.
Os turcos, porém, não descansaram. Depois de muitas lutas,
apossaram-se de Edessa, obrigando o papa Eugênio III a providenciar a
segunda Cruzada, que, chefiada por Luís VII da França e Conrado III da
Alemanha, teve os mais desastrosos efeitos.
FIM DAS CRUZADAS

Em fins do século XII Jerusalém cai em poder de Saladino. Os


príncipes cristãos do Ocidente preparam-se para a terceira Cruzada,
assinalando-se as vitórias de S. João d'Acre. As lutas no Oriente
sucederam-se anos a fio como furacões periódicos e devastadores. A
Palestina possuía, até então, os seus recantos maravilhosos de verdura
abundante. A Galiléia era um vasto jardim, cheio de perfume e de flores.
Mas tantos foram os embates dos exércitos inimigos, tantas as lutas de
extermínio e de ambição, que a própria Natureza pareceu maldizer para
sempre os lugares que mereciam o amor e o carinho dos homens.
As últimas Cruzadas foram dirigidas por Luís IX, o rei santo de
França que, depois da tomada de Damieta, caiu em poder dos inimigos,
pagando fabuloso resgate e vindo a desprender-se da vida terrestre em
1270, defronte de Túnis, vitimado pela peste.
Os mensageiros de Jesus, que de todos os acontecimentos sabem
extrair os fatores da evolução humana para o bem, buscam aproveitar a
utilidade desses acontecimentos dolorosos. Foi por essa razão que as
Cruzadas, não obstante o seu caráter anticristão, fizeram-se acompanhar de
alguns benefícios de ordem econômica e social para todos os povos.
Na Europa a sua influência foi regeneradora, enfraquecendo a tirania
dos senhores feudais e renovando a solução dos problemas da propriedade,
conjurando muitas lutas isoladas. Além disso, os seus movimentos
intensificaram, sobremaneira, as relações do Ocidente com o Oriente,
apenas paralisadas mais tarde, em vista da ferocidade dos turcos e dos
invasores mongóis.
O ESFORÇO
DOS EMISSÁRIOS DO CRISTO

No Infinito, reúnem-se os emissários do Divino Mestre, em


assembleias numerosas, sob a égide do seu pensamento misericordioso,
organizando novos trabalhos para a evolução geral de todos os povos do
planeta. Lamentam a inabilidade de muitos missionários do bem e do amor,
que, partindo dos Espaços, saturados dos melhores e mais santos
propósitos, experimentam no orbe a traição das próprias forças,
influenciados pela imperfeição rude do meio à que foram conduzidos.
Muitos deles se deixavam deslumbrar pelas riquezas efêmeras,
mergulhando no oceano das vaidades dominadoras, estacionando nos
caminhos evolutivos, e outros, como Luís IX, de França, excediam-se no
poder e na autoridade, cometendo atos de quase selvajaria, cumprindo os
seus sagrados deveres espirituais com poucos benefícios e amplos
prejuízos gerais para as criaturas.
Mas, compelidas pelas leis do amor que regem o Universo, essas
entidades compassivas jamais negaram do Alto o seu desvelado concurso a
favor do progresso dos povos, procurando aperfeiçoar as almas e guiando
os missionários do Cristo através dos mais espinhosos caminhos.
XX
A CAMINHO DA LUZ

POBREZA INTELECTUAL

No século XIII estava definitivamente instalado o governo real,


desaparecendo as mais fortes expressões do feudalismo. Cada região
europeia tratava de concatenar todos os elementos precisos à organização
de sua unidade política, mas a verdade é que os meios escassos de
instrução não permitiam uma existência intelectual mais avançada.
Os Estados que se levantavam, organizavam as suas construções à
sombra da Igreja, que tinha interesse em não dilatar os domínios da
educação individual, receosa de interpretações que não fossem
propriamente dela. Os pergaminhos custavam verdadeiras fortunas e o livro
era dificilmente encontrado. Até o século XII as escolas estavam
circunscritas ao ambiente dos mosteiros, onde muitos padres se ocupavam
de avivar a letra dos manuscritos mais antigos, produzindo outros para a
posteridade. A Ciência, cuja linha ascensional guarda o seu ponto de
princípio na curiosidade ou na dúvida, bem como a Filosofia, que se
constitui das mais altas indagações espirituais, estavam totalmente
escravizadas à Teologia, então senhora absoluta de todas as atividades do
homem, com poderes de vida e morte sobre as criaturas, considerando-se
os direitos absurdos do Tribunal da Inquisição, depois do século XIII,
quando, sob a inspiração do Alto, já se haviam fundado universidades
importantes como as de Paris e de Bolonha, que serviram de modelo às de
Oxford, Coimbra e Salamanca.
RENASCIMENTO

A esse tempo opera-se um verdadeiro renascimento na vida intelectual


dos povos mais evolvidos do mundo europeu. A universidade se constituía
de quatro faculdades - Teologia, Medicina, Direito e Artes - reunindo
milhares de inteligências ávidas de ensino, que seriam os grandes
elementos de preparação do porvir. Rogério Bacon, franciscano inglês,
notável por seus estudos e iniciativas, é um dos pontos culminantes dessa
renascença espiritual. A Igreja, contudo, proibindo o exame e a livre
opinião, prejudicou esse surto evolutivo, máxime no capítulo da Medicina,
que, desprezando a observação atenta de todos os fatos, se entregou à
magia, com sérios prejuízos para as coletividades.
Favorecida pela necessidade dos panoramas imponentes do culto
externo da religião e pela fortuna particular, a Arquitetura foi a mais
cultivada de todas as artes, em vista das grandes e numerosas construções
então em voga. Com a influência indireta dos Guias espirituais dos vários
agrupamentos de povos, consolidam-se as expressões linguísticas de cada
país, formando-se as grandes tradições literárias de cada região.
TRANSMIGRAÇÃO DE POVOS

É então que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação,


iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as
tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua
personalidade coletiva. A cada uma dessas nacionalidades seria cometida
determinada missão no concerto dos povos futuros, segundo as
determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo novo,
depois de tantos e tão continuados desastres da fraqueza humana.
Constroem-se os alicerces dos grandes países como a Inglaterra, que,
em 1258, organiza os Estatutos de Oxford, limitando os poderes de
Henrique III, e em 1265 erige a Câmara dos Comuns, onde a burguesia e as
classes menos favorecidas têm a palavra com a Câmara dos Lordes. A
Itália prepara-se para a sua missão de latinidade. A Alemanha se organiza.
A Península Ibérica é imensa oficina de trabalho e a França ensaia os
passos definitivos para a sabedoria e para a beleza.
A atuação do mundo espiritual proporciona à história humana a
perfeita caracterização da alma coletiva dos povos. Como os indivíduos,
as coletividades também voltam ao mundo pelo caminho da reencarnação.
É assim que vamos encontrar antigos fenícios na Espanha e em Portugal,
entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. Na antiga Lutécia,
que se transformou na famosa Paris do Ocidente, vamos achar a alma
ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo
caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. Andemos mais um
pouco e acharemos na Prússia o espírito belicoso de Esparta, cuja
educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do
pangermanismo na Alemanha da atualidade. Atravessemos a Mancha e
deparar-se-nos-á na Grã-Bretanha a edilidade romana, com a sua
educação e a sua prudência, retomando de novo as rédeas perdidas do
Império Romano, para beneficiar as almas que aguardaram, por tantos
séculos, a sua proteção e o seu auxílio.
FIM DA IDADE MEDIEVAL

Do plano invisível e em todos os tempos, os Espíritos abnegados


acompanharam a Humanidade em seus dias de martírio e glorificação,
lutando sempre pela paz e pelo bem de todas as criaturas.
Referindo-nos, de escantilhão, à nobre figura de Joana d'Arc, que
cumpriu elevada missão adstrita aos princípios de justiça e de fraternidade
na Terra, e às guerras dolorosas que assinalaram o fim da idade medieval,
registramos aqui, que, com as conquistas tenebrosas de Gêngis Khan e de
Tamerlão e com a queda de Constantinopla, em 1453, que ficou para
sempre em poder dos turcos, verificava-se o término da época medieval.
Uma nova era despontava para a Humanidade terrestre, com a
assistência contínua do Cristo, cujos olhos misericordiosos acompanham a
evolução dos homens, lá dos arcanos do Infinito.
XI
Renascença do mundo

MOVIMENTOS REGENERADORES

Nos albores do século XV, quando a idade medieval estava prestes a


extinguir-se, grandes assembleias espirituais se reúnem nas proximidades
do planeta, orientando os movimentos renovadores que, em virtude das
determinações do Cristo, deveriam encaminhar o mundo para uma nova
era.
Todo esse esforço de regeneração efetuava-se sob o seu olhar
misericordioso e compassivo, derramando sua luz em todos os corações.
Mensageiros devotados reencarnam no orbe, para desempenho de
missões carinhosas e redentoras. Na Península Ibérica, sob a orientação da
personalidade de Henrique de Sagres, incumbido de grandes e proveitosas
realizações, fundam-se escolas de navegadores que se fazem ao grande
oceano, em busca de terras desconhecidas. Numerosos precursores da
Reforma surgem por toda a parte, combatendo os abusos de natureza
religiosa.
Antigos mestres de Atenas reencarnaram na Itália, espalhando-nos
departamentos da pintura e da escultura as mais belas joias do gênio e do
sentimento. A Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão
democrática que o Cristo lhes conferira. O comércio se desloca das águas
estreitas do Mediterrâneo para as grandes correntes do Atlântico,
procurando as estradas esquecidas para o Oriente. Jesus dirige essa
renascença de todas as atividades humanas, definindo a posição dos vários
países europeus, e investindo cada qual com determinada responsabilidade
na estrutura da evolução coletiva do planeta. Para facilitar a obra
extraordinária dessa imensa tarefa de renovação, os auxiliares do Divino
Mestre conseguem ambientar na Europa antigas invenções e utilidades do
Oriente, como a bússola para as experiências marítimas e o papel para a
divulgação do pensamento.
MISSÃO DA AMÉRICA

O Cristo localiza, então, na América as suas fecundas esperanças. O


século XVI alvorece com a descoberta do novo continente, sem que os
europeus, de modo geral, compreendessem, na época, a importância de
semelhante acontecimento. As riquezas fabulosas da Índia deslumbram o
espírito aventureiro daquele tempo, e as testas coroadas do Velho Mundo
não entenderam a significação moral do continente americano.
Os operários de Jesus, porém, abstraídos da crítica ou do aplauso do
mundo, cumprem os seus grandes deveres no âmbito das novas terras.
Sob a determinação superior, organizam as linhas evolutivas das
nacionalidades que aí teriam de florescer no porvir. Nesse campo de lutas
novas e regeneradoras, todos os espíritos de boa-vontade poderiam
trabalhar pelo advento da paz e da fraternidade do futuro humano, e foi por
isso que, laborando para os séculos porvindouros, definiram o papel de
cada região no continente, localizando o cérebro da nova civilização no
ponto onde hoje se alinham os Estados Unidos da América do Norte, e o
seu coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o
Brasil, na América do Sul. Os primeiros guardam os poderes materiais; o
segundo detém as primícias dos poderes espirituais, destinadas à
civilização planetária do futuro.
O PLANO INVISÍVEL
E A COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO

Após a descoberta da América, grande esforço de seleção espiritual


foi levado a efeito no seio das lutas europeias, no intuito de criar no Novo
Mundo um outro sentido de evolução.
Se os colonizadores da região americana, nos primeiros tempos, eram
os degredados ou os proscritos das sociedades europeias, importa
considerar que esses colonos não vinham tão somente das grandes capitais
do antigo continente, na exclusiva observância do plano material. Do
mundo invisível, igualmente, partiram caravanas inúmeras de almas de
boa-vontade, que encarnaram nas terras novas, como filhos daqueles
degredados muitas vezes perseguidos pela iniquidade da justiça dos
homens. A esses Espíritos mais ou menos adiantados, aliaram-se
numerosas entidades da Europa, cansadas das lutas inglórias de hegemonia
e de ambição, buscando a redenção no esforço construtivo de uma nova
pátria em bases sólidas de fraternidade e amor, originando-se, desse modo,
entre os povos americanos, sentimentos mais elevados, quanto à
compreensão da comunidade continental. Se reconhecemos na América a
projeção espiritual da Europa, temos de convir que se trata de uma Europa
mais sábia e mais experiente, não só quanto aos problemas da concórdia
internacional e da solidariedade humana, como também em todas as
questões que significam os verdadeiros bens da vida.
APOGEU DA RENASCENÇA

Essa renascença, iniciada do Alto, clareou a Terra em todas as


direções.
A invenção da imprensa facultava o mais alto progresso no mundo das
ideias, criando as mais belas expressões de vida intelectual. A literatura
apresenta uma vida nova e as artes atingem culminâncias que a posteridade
não poderia alcançar. Numerosos artífices da Grécia antiga, reencarnados
na Itália, deixam traços indeléveis da sua passagem, nos mármores
preciosos. Há mesmo, em todos os departamentos das atividades artísticas,
um pronunciado sabor da vida grega, anterior às disciplinas austeras do
Catolicismo na idade medieval, cujas regras, aliás, atingiam rigorosamente
apenas quem não fosse parte integrante do quadro das autoridades
eclesiásticas.
RENASCENÇA RELIGIOSA

A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja,


desviada do caminho cristão. O plano invisível determina, assim, a vinda
ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a
renascença da religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros de
força. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero,
Calvino, Erasmo, Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma, na
Europa Central e nos Países Baixos.
Por ocasião dos primeiros protestos contra o fausto desmedido dos
príncipes da Igreja, ocupava a cadeira pontifícia Leão X, cuja vida
mundana impressionava desagradavelmente os espíritos sinceramente
religiosos.
Sob a sua direção criara-se, em 1518, o célebre "Livro das Taxas da
Sagrada Chancelaria e da Sagrada Penitenciaria Apostólica", onde se
encontrava estipulado o preço de absolvição para todos os pecados, para
todos os adultérios, inclusive os crimes mais hediondos. Tais
rebaixamentos da dignidade eclesiástica ambientaram as pregações de
Lutero e seus companheiros de apostolado. De nada valeram as
perseguições ameaças ao eminente frade agostiniano. Alguns historiadores
enxergaram na sua missão uma simples expressão de despeito dos seus
companheiros de comunidade, em face da preferência de Leão X
encarregando os Dominicanos da pregação das indulgências. A verdade,
contudo, é que o humilde filho de Eisleben tornara-se órgão da repulsa
geral aos abusos da Igreja, no capítulo da imposição dogmática e da
extorsão pecuniária. Os postulados de Lutero constituíram, antes de tudo,
modalidade de combate aos absurdos romanos, sem representarem o
caminho ideal para as verdades religiosas. Ao extremismo do abuso,
respondia com o extremismo da intolerância, prejudicando a sua própria
doutrina. Mas o seu esforço se coroou de notável importância para os
caminhos do porvir.
A COMPANHIA DE JESUS

Uma onda de claridades novas felicitava todas as consciências, mas os


Espíritos tenebrosos e pervertidos, que mostraram ao europeu outras
aplicações da pólvora, além daquelas que os chineses haviam enxergado na
beleza dos fogos de artifício, inspiraram ao cérebro obcecado e doentio de
Inácio de Loiola a fundação do jesuitismo, em 1534, colimando reprimir a
liberdade das consciências.
A Igreja, estendendo mão forte a essa ideia, inaugurava um dos
períodos mais tristes da história ocidental. O Tribunal da Inquisição, com
poderes de vida e morte nos países católicos, fez milhares e milhares de
vítimas, ensombrando o caminho dos povos. Espetáculos sangrentos e
detestáveis verificaram-se em quase todas as grandes cidades da Europa, os
autos-de-fé acenderam horrendas fogueiras do Santo-Ofício, por toda parte
onde existissem cérebros que pensassem e corações que sentissem.
Instituiu-se a devassa de todos os institutos sociais e a violação de todos os
lares. Na Espanha, queimavam o infeliz na praça pública; na França, tétrica
noite causava pesadelos coletivos em matéria de fé; na Irlanda, muitos
"fiéis" faziam questão de levar ao altar de Jesus a vela feita da gordura dos
protestantes.
AÇÃO DO JESUITISMO

A Companhia de Jesus, de nefasta memória, não procurava conhecer


os meios, para cogitar tão-somente dos fins imorais a que se propunha.
Sua ação desdobrou-se por largos anos de treva, nos domínios da
civilização ocidental, contribuindo amplamente para o atraso moral em que
se encontra o "homem científico" dos tempos modernos.
Suas hordas de predomínio, de cupidez e de ambição não
martirizaram apenas o mundo secular. Também os padres sinceros
sofreram largamente sob a sua preponderância nefasta. Tanto assim que,
quando o papa Clemente XIV tentou extingui-la, em 1773, com o seu breve
"Dominus ac Redemptor", exclamava desolado: - "Assino minha sentença
de morte, mas obedeço à minha consciência." Com efeito, em setembro de
1774, o grande pontífice entregava a alma a Deus, no meio dos mais
horrorosos padecimentos, vitimado por um veneno letal que lhe apodreceu
lentamente o corpo.
XXII
Época de transição

AS LUTAS DA REFORMA

Debalde a Dieta de Worms, em 1521, condenara Lutero como herege,


levando-o a refugiar-se em Wartburgo, porque as suas ideias libertárias
acenderam uma nova luz, propagando-se com a rapidez de um incêndio.
A Igreja começou a sofrer os golpes mais fortes e mais dolorosos,
porque alguns príncipes ambiciosos se aproveitaram do movimento das
massas, confiscando-lhe bens preciosos. Numerosos camponeses,
empolgados pelos direitos do pensamento livre, iniciaram grande
campanha contra a Igreja usurpadora, exigindo reformas agrárias e sociais,
em nome do Evangelho.
De 1521 a 1555, os centros cultos europeus viveram momentos de
angustiosas expectativas nos bastidores da tragédia religiosa, mas, depois
da Concordata de Augsburgo, instituiu-se um regime da mais larga
tolerância recíproca.
O direito do exame livre, porém, dividiu a Reforma em vários
departamentos religiosos, de acordo com a orientação pessoal de seus
pregadores, ou das conveniências políticas do meio em que viviam. Na
Alemanha era o Protestantismo, com os partidários dos princípios de
Martinho Lutero; na Suíça e na França era o Calvinismo e, na Escócia, a
Igreja Presbiteriana. Na Inglaterra, a questão veio a tornar-se mais grave.
Henrique VIII, defensor extremado da fé católica, a princípio, por
conveniência de caprichos pessoais tornou-se o chefe do poder político,
assumindo a direção da Igreja Anglicana. Na França, os huguenotes se
encontravam muito bem organizados, mas surgem às complicações de
natureza política, e o gênio despótico de Catarina de Médicis ordena a
matança de São Bartolomeu, no intuito de eliminar o almirante Coligny. O
movimento sinistro, que durou 48 horas, começou em 24 de agosto de
1572, sofrendo a "Reforma" um dos seus mais amargos reveses. Somente
em Paris e subúrbios, foram eliminadas três mil pessoas.
Os mensageiros do Cristo deploram tão dolorosos acontecimentos,
trabalhando por despertar a consciência geral, arrancando-a daquela
alucinação de morticínio e sangue, mas precisamos considerar que cada
homem, como cada coletividade, pode cumprir seus deveres ou agravar
suas responsabilidades próprias, na esfera de sua liberdade relativa.
A INVENCÍVEL ARMADA

As lutas na Europa, em todo o século XVI, longe de colimar um fim,


dilatavam-se em guerras tenebrosas, mergulhando os povos do Velho
Mundo num terrível círculo vicioso de reencarnações e resgates dolorosos.
Como se não bastassem as guerras religiosas, que trabalhavam o
organismo europeu desde muitos anos, surge a figura de um príncipe
fanático e cruel, na poderosa Espanha de então, complicando a existência
política das coletividades europeias. As lutas de Filipe II, sucessor de
Carlos V, prendiam-se, de algum modo, aos problemas da Reforma
protestante; mas, acima de tudo, colocava ele a sua ambição e o seu
despotismo. Animado com as vitórias sobre os turcos e os muçulmanos,
procurou reprimir a liberdade política dos Países Baixos, encontrando a
mais heroica resistência. Suas atividades maléficas, mascaradas com a
defesa do Catolicismo, espalhavam-se por toda a parte, obrigando o plano
espiritual a coibir-lhe os imensuráveis abusos do poder. Foi assim que,
havendo organizado a Invencível Armada, no ano de 1588, composta de
mais de uma centena de navios equipados com 2.000 canhões e 35.000
homens, a fim de atacar a Inglaterra sem motivo que justificasse
semelhante agressão, viu essa poderosa esquadra destruída totalmente por
uma tempestade aniquiladora. De conformidade com as providências do
plano invisível, apenas aportaram às costas inglesas os espíritos pacíficos,
compelidos pela força a participarem da armada destruída, e que foram lá
recebidos generosamente, encontrando uma nova pátria.
Se Henrique VIII havia errado como homem, o povo inglês estava
preparado para o cumprimento de uma grande missão, e ao mundo
espiritual competia trabalhar pela preservação dos seus patrimônios de
liberdade política.
GUERRAS RELIGIOSAS

A Europa, não obstante o amparo e a assistência dos abnegados


mensageiros do Cristo, transportou-se ao século XVII no meio de lutas
espantosas, agora agravadas com as tenebrosas criações do Tribunal da
Penitência. Quase se pode afirmar que os únicos jesuítas dignos do nome
de sacerdotes de Jesus foram aqueles que vieram para as regiões
desconhecidas da América, no cumprimento dos mais nobres deveres de
fraternidade humana, porque a quase totalidade da Companhia, no Velho
Mundo, mergulhou num oceano de tricas políticas, muitas vezes rematadas
em tragédias criminosas.
As guerras de natureza religiosa estavam longe de terminar, dada a
rebeldia de todos os elementos, e foi com penosos esforços que os
emissários do Alto conduziram as coletividades europeias ao Tratado de
Westphalia, em 1648, consolidando as vitórias do protestantismo, em face
das imposições injustificáveis do jesuitismo.
A FRANÇA E A INGLATERRA

A esse tempo, a França já se encontrava preparada para o


cumprimento da sua grande missão junto dos povos, e, sob a influência do
plano invisível, criavam-se os serviços benéficos da diplomacia. Nos
bastidores da sua política administrativa, firmavam-se os princípios do
absolutismo no trono, mas a sua grande alma coletiva, cheia de sentimento
e generosidade, já vislumbrava o precioso esforço que lhe competia no
porvir.
Ao seu lado, a Grã-Bretanha caminhava, a passos largos, para as mais
nobres conquistas humanas. Extinta, em 1603, a dinastia dos Túdores,
eleva-se ao trono o rei da Escócia, Jaime I.

Desejando reviver os princípios absolutistas, o descendente dos


Stuarts inaugurou um período de nefastas perseguições, o qual foi
intensificado por seu filho Carlos I, cujas disposições políticas se
constituíam das mais avançadas tendências para a tirania.
Rompendo com o Parlamento e dissolvendo-o, vezes consecutivas,
viu o povo da capital inglesa de armas na mão, em defesa dos seus
representantes, ensejando uma guerra civil que durou vários anos e só
terminada com a ação de Cromwell, que, de acordo com o Parlamento,
estabelece a República da qual se torna o "Lorde Protetor".
Cromwell era um espírito valoroso, mas, embriagado com o vinho
sinistro do despotismo, foi também um ditador vingativo, fanático e cruel.
Depois da sua morte, em face da incapacidade política do filho, verifica-se
a restauração do trono com os Stuarts.
O governo destes teria, porém, pouca duração, porque os ingleses,
desgostosos com a administração de Jaime II, e no seu tradicional amor à
liberdade, chamam Guilherme de Orange ao poder.
O Parlamento redige a famosa declaração de direitos, definindo a
emancipação do povo e limitando os poderes reais, elevando-se ao trono
Guilherme III com a revolução de 1688.
A Inglaterra havia cumprido um dos seus mais nobres deveres,
consolidando as fórmulas do parlamentarismo, porque assim todas as
classes eram chamadas à cooperação e fiscalização dos governos.
REFÚGIO DA AMÉRICA

Considerando o movimento das responsabilidades gerais e isoladas, o


plano invisível, sob a orientação de Jesus, conduzia para a América todos
os Espíritos sinceros e trabalhadores, que não necessitassem de
reencarnações ao mundo europeu, onde indivíduos e coletividades se
prendiam, cada vez mais, na cadeia das existências de provações
expiatórias.
Para o hemisfério do Novo Mundo afluíam todas as entidades
conclamadas à organização do progresso futuro. Muitas dessas
personalidades haviam adquirido o senso da fraternidade e da paz, depois
de muitas lutas no antigo continente.
Exaustas de procurar a felicidade nos limites estreitos dos sentimentos
exclusivistas, sentiam no íntimo as generosas florações de reformas
edificantes, compreendendo a verdadeira solidariedade, na comunidade
universal.
Foi por essa razão que, desde os seus primórdios, as organizações
políticas do continente americano se tornaram, baluartes de paz e de
fraternidade para o orbe inteiro. É que a permanência no seu solo e nas
luzes ocultas do seu clima social era considerada por todos os Espíritos
como uma bênção de Deus, em face das sucessivas inquietações europeias.
OS ENCICLOPEDISTAS

O século XVIII iniciou-se entre lutas igualmente renovadoras, mas


elevados Espíritos da Filosofia e da Ciência, reencarnados particularmente
na França, iam combater os erros da sociedade e da política, fazendo
soçobrar os princípios do direito divino, em nome do qual se cometiam
todas as barbaridades.
Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis
de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D'Alembert, Diderot, Quesnay. Suas
lições generosas repercutem na América do Norte, como em todo o mundo.
Entre cintilações do sentimento e do gênio, foram eles os instrumentos
ativos do mundo espiritual, para regeneração das coletividades terrestres.
Historiadores há que, numa característica mania de sensacionalismo, não se
pejam de vir a público asseverar que esses espíritos estudiosos e sábios se
encontravam a soldo de Catarina II da Rússia, e dos príncipes da Prússia,
contra a integridade da França; mas, semelhantes afirmativas representam
injúrias caluniosas que apenas afetam os que as proferem, porque foi dos
sacrifícios desses corações generosos que se fez a fagulha divina do
pensamento e da liberdade, substância de todas as conquistas sociais de que
se orgulham os povos modernos.
A INDEPENDÊNCIA AMERICANA

As ideias nobilitantes dos autores da Enciclopédia e das novas teorias


sociais haviam encontrado o mais franco acolhimento nas colônias inglesas
da América do Norte, organizadas e educadas no espírito de liberdade da
pátria do parlamentarismo.
O mundo invisível aproveita, desse modo, a grande oportunidade,
deliberando executar nas terras novas os grandes princípios democráticos
pregados pelos filósofos e pensadores do século XVIII. E enquanto a
Inglaterra desrespeita, para com as suas colônias, o grande princípio por ela
própria firmado, de que ''ninguém deve pagar contribuições sem as ter
votado", os americanos resolvem proclamar a sua independência política.
Depois de alguns incidentes com a metrópole, celebram a sua
emancipação em 4 de julho de 1776, organizando-se, posteriormente, a
Constituição de Filadélfia, modelo dos códigos democráticos do porvir.
XXIII
A Revolução Francesa

A FRANÇA NO SÉCULO XVIII

A independência americana acendera o mais vivo entusiasmo no


ânimo dos franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades,
depois do extravagante reinado de Luís XV.
O luxo desenfreado e os abusos do clero e da nobreza, em proporções
espantosas, haviam ambientado todas as ideias livres e nobres dos
enciclopedistas e dos filósofos, no coração torturado do povo.
A situação das classes proletárias e dos lavradores caracterizava-se
pela mais hedionda miséria. Os impostos aniquilavam todos os centros de
produção, salientando-se que os nobres e os padres estavam isentos desses
deveres. Desde 1614, não mais se haviam reunido os Estados-Gerais,
fortalecendo-se, cada vez mais, o absolutismo monárquico.
De nada valera o esforço de Luís XVI convidando os espíritos mais
práticos e eminentes para colaborar na sua administração, como Turgot e
Malesherbes. O bondoso monarca, que tudo fazia para reerguer a realeza
de sua queda lamentável, em virtude dos excessos do seu antecessor no
trono, mal sabia, na sua pouca experiência dos homens e da vida, que uma
era nova começava para o mundo político do Ocidente, com
transformações dolorosas que lhe exigiriam a própria vida.
Reunidos em maio de 1789 os Estados-Gerais, em Paris, explodiram
os maiores desentendimentos entre os seus membros, não obstante a boa
vontade e a cooperação de Necker, em nome do Rei. Transformada a
reunião em Assembleia Constituinte, precedida de numerosos incidentes,
inicia-se a revolução instigada pela palavra de Mirabeau.
ÉPOCA DE SOMBRAS

Derrubada a Bastilha em 14 de julho de 1789 e após a célebre


Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma série de reformas
se verifica em todos os departamentos da vida social e política da França.
Aquelas renovações, todavia, preludiavam os mais dolorosos
acontecimentos. Famílias numerosas aproveitavam a trégua, buscando o
acolhimento de países vizinhos, e o próprio Luís XVI tentou atravessar a
fronteira, sendo preso em Varenas e reconduzido a Paris.
Um mundo de sombras invadia as consciências da França generosa,
chamada, naquela época, pelo plano espiritual, ao cumprimento de sagrada
missão junto à Humanidade sofredora. Cabia-lhe tão-somente aproveitar as
conquistas inglesas, no sentido de quebrar o cetro da realeza absoluta,
organizando um novo processo administrativo na renovação dos
organismos políticos do orbe, de acordo com as sábias lições dos seus
filósofos e pensadores.
Todavia, se alguns Espíritos se encontravam preparados para a
jornada heroica daquele fim de século, muitas outras personalidades,
infelizmente, espreitavam na treva o momento psicológico para saciar a
sede de sangue e de poder. Foi assim que, depois de muitas figuras
notáveis dos primórdios revolucionários, surgiram espíritos tenebrosos,
como Robespierre e Marat. A volúpia da vitória generalizou uma forte
embriaguez de morticínio no ânimo das massas, conduzindo-as aos mais
nefastos acontecimentos.
CONTRA
OS EXCESSOS DA REVOLUÇÃO

A Revolução Francesa, desse modo, foi combatida imediatamente


pelas outras nacionalidades da Europa, que, sob a orientação de Pitt,
Ministro da Inglaterra, sustentaram contra ela, e por largos anos, uma luta
de morte.
A Convenção Nacional, apesar das garantias que a Constituição de
1791 oferecia à pessoa do Rei, decretou-lhe a morte na guilhotina,
verificando-se a execução aos 21 de janeiro de 1793, no local da atual
Praça da Concórdia. Em vão, tenta Luís XVI justificar sua inocência ao
povo de Paris, antes que o carrasco lhe decepasse a cabeça. As palavras
mais sinceras afluem-lhe aos lábios, suplicando a atenção dos súditos,
numa onda de lágrimas e de sentimentos que lhe burburinhavam no
coração, não obstante a sua calma aparente. Renovam-se as ordens aos
guardas do cadafalso e rufam os tambores com estrépito, abafando as suas
afirmativas.
A França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa
torrente de desatinos. Com a influência inglesa, organiza-se a primeira
coligação europeia contra o nobre país.
Mas, não somente nos gabinetes administrativos da Europa se
processavam providências reparadoras. Também no mundo espiritual
reúnem-se os gênios da latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a sua
proteção e misericórdia para a grande nação transviada. Aquela que fora a
corajosa e singela filha de Domrémy volta ao ambiente da antiga pátria, à
frente de grandes exércitos de Espíritos consoladores, confortando as almas
aflitas e aclarando novos caminhos. Numerosas caravanas de seres
flagelados, fora do cárcere material, são por ela conduzidos às plagas da
América, para as reencarnações regeneradoras, de paz e de liberdade.
O PERÍODO DO TERROR

A lei das compensações é uma das maiores e mais vivas realidades do


Universo. Sob as suas disposições sábias e justas, a cidade de Paris teria de
ser, ainda por muito tempo, o teatro de trágicos acontecimentos. Foi assim
que se instalou o hediondo tribunal revolucionário e a chamada junta de
salvação pública, com os mais sinistros espetáculos do patíbulo. A
consciência da França viu-se envolvida em trevas espessas. A tirania de
Robespierre ordenou a matança de numerosos companheiros e de muitos
homens honestos e dignos. Erradamente, Carlota Corday entregou-se ao
crime na residência de Marat, com o propósito de restituir a liberdade ao
povo de sua terra e expiando o seu ato extremo com a própria vida.
Ocasiões houve em que subiram ao cadafalso mais de vinte pessoas por
dia, mas Robespierre e seus sequazes não tardaram muito a subir
igualmente os degraus do patíbulo, em face da reação das massas anônimas
e sofredoras.
A CONSTITUIÇÃO

Depois de grandes lutas com o predomínio das sombras, conseguem


os gênios da França inspirar aos seus homens públicos a Constituição de
1795. Os poderes legislativos ficavam entregues ao "Conselho dos
quinhentos" e ao "Conselho dos anciães", ficando o poder executivo
confiado a um Diretório composto de cinco membros.
Estabelece-se dessa forma uma trégua de paz, aproveitada na
reconstrução de obras notáveis do pensamento. Os centros militares
lutavam contra os propósitos de invasão de outras potências europeias,
cujos tronos se sentiam ameaçados na sua estabilidade, em face do advento
das novas ideias do liberalismo, e os políticos se entregavam a uma vasta
operosidade de edificação, vingando nesse esforço as mais nobres
realizações.
Contudo, a França, depois dos seus desvarios de liberdade, estava
ameaçada de invasão e desmembramento. Povos existem, porém, que se
fazem credores da assistência do Alto, no cumprimento de suas elevadas
obrigações junto de outras coletividades do planeta. Assim, com
atribuições de missionário, foi Napoleão Bonaparte, filho de obscura
família corsa, chamado às culminâncias do poder.
NAPOLEÃO BONAPARTE

O humilde soldado corso, destinado a uma grande tarefa na


organização social do século XIX, não soube compreender as finalidades
da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole e de Rívoli, com a
paz de Campoformio, em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe
ensombrassem o pensamento.
A expedição ao Egito, muito antes de Waterloo, assinalava para o
mundo espiritual a pouca eficácia do seu esforço, considerado o espírito de
orgulho e de imperialismo que predominou nas suas energias
transformadoras. Assediado pelo sonho de domínio absoluto, Napoleão foi
uma espécie de Maomet transviado, da França do liberalismo. Assim como
o profeta do Islã pouco se aproximara do Evangelho, que a sua ação
deveria validar, também as atividades de Napoleão pouco se aproximaram
das ideias generosas que haviam conduzido o povo francês à revolução.
Sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e escuros,
demonstrando que a sua personalidade de general manteve-se oscilante
entre as forças do mal e do bem. Com as suas vitórias, garantia a
integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no seio de
outros povos. No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Código Civil,
estabelecendo as mais belas fórmulas do direito, mas difundiam-se a
pilhagem e o insulto à sagrada emancipação de outros, com o movimento
dos seus exércitos na absorção e anexação de vários povos.
Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradições
gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto, embora traído
em suas próprias forças; mas, no Além, seu coração sentiu melhor a
amplitude das suas obras, considerando providencial a pouca piedade da
Inglaterra que o exilou em Sta. Helena após o seu pedido de amparo e
proteção. Santa Helena representou para o seu espírito o prólogo das mais
dolorosas e mais tristes meditações, na vida do Infinito.
ALLAN KARDEC

A ação de Bonaparte, invadindo as searas alheias com o seu


movimento de transformação e conquistas, fugindo à finalidade de
missionário da reorganização do povo francês, compeliu o mundo
espiritual a tomar enérgicas providências contra o seu despotismo e
vaidade orgulhosa. Aproximavam-se os tempos em que Jesus deveria
enviar ao mundo o Consolador, de acordo com as suas auspiciosas
promessas.
Apelos ardentes são dirigidos ao Divino Mestre, pelos gênios tutelares
dos povos terrestres. Assembleias numerosas se reúnem e confraternizam
nos espaços, nas esferas mais próximas da Terra. Um dos mais lúcidos
discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão
consoladora, e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se
imperador, obrigando o papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame,
em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada
missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador
prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus-Cristo.
XXIV
O século XIX

DEPOIS DA REVOLUÇÃO

Afastado Napoleão dos movimentos políticos da Europa, adotam-se


no Congresso de Viena, em 1815, as mais vastas providências para o
ressurgimento dos povos europeus.
A diplomacia realiza memoráveis feitos, aproveitando as dolorosas
experiências daqueles anos de extermínio e de revolução.
Luís XVIII, conde de Provença, irmão de Luís XVI, é reposto no
trono francês, restabelecendo-se naquela mesma época antigas dinastias.
Também a Igreja é contemplada no grande inventário, restituindo-se-
lhe os Estados onde fundara o seu reino perecível.
Um sopro de paz reanima aquelas coletividades esgotadas na luta
fratricida, ensejando a intervenção indireta das forças invisíveis na
reconstrução patrimonial dos grandes povos.
Muitas reformas, porém, se haviam verificado após os movimentos
sanguinolentos iniciados em 89. Mormente na França, semelhantes
renovações foram mais vastas e numerosas. Além de se beneficiar o
governo de Luís XVIII com as imitações do sistema inglês, vários
princípios liberais da Revolução foram adotados, tais como a igualdade dos
cidadãos perante a lei, a liberdade de cultos, estabelecendo-se, a par de
todas as conquistas políticas e sociais, um regime de responsabilidade
individual no mecanismo de todos os departamentos do Estado. A própria
Igreja, habituada a todas as arbitrariedades na sua feição dogmática,
reconheceu a limitação dos seus poderes junto das massas, resignando-se
com a nova situação.
INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DA AMÉRICA

A maioria dos povos do planeta, acompanhando o curso dos


acontecimentos, procurou eliminar os últimos resquícios do absolutismo
dos tronos, aproximando-se dos ideais republicanos ou instituindo o regime
constitucional, com a restrição de poderes dos soberanos.
A América, destinada a receber as sagradas experiências da Europa,
para a civilização do futuro, busca aplicar os grandes princípios dos
filósofos franceses à sua vida política, caminhando para a mais perfeita
emancipação. Seguindo o exemplo das colônias inglesas, os quatro vice-
reinados da Espanha procuraram lutar pela sua independência.
No México os patriotas não toleraram outra soberania além da própria
e, no Sul, com a ação de Bolívar e com as deliberações do Congresso de
Tucumã, em 1816, proclamava-se a liberdade política das províncias da
América Meridional. O Brasil, em 1822, erguia igualmente o seu brado de
emancipação com Pedro I, sendo digno de notar-se o esforço do plano
invisível na manutenção da sua integridade territorial, quando toda a zona
sul do continente se fracionava em pequenas repúblicas, atento à missão do
povo brasileiro na civilização do porvir.
ALLAN KARDEC
E OS SEUS COLABORADORES

O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do


mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas.
As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade
sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da
esperança e da crença com todos os corações.
Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação,
fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores,
cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de
ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual
do século XIX. A Ciência, nessa época, desfere os voos soberanos que a
conduziriam às culminâncias do século XX.
O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos
de trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais
numerosos. A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias
férreas, estabelece o intercâmbio direto dos povos. A literatura enche-se de
expressões notáveis e imorredouras. O laboratório afasta-se
definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização.
Constrói-se a pilha de coluna, descobre-se a indução magnética,
surgem o telefone e o fonógrafo. Aparecem os primeiros sulcos no campo
da radiotelegrafia, encontra-se a análise espectral e a unidade das energias
físicas da Natureza. Estuda-se a teoria atômica e a fisiologia assenta bases
definitivas com a anatomia comparada. As artes atestam uma vida nova. A
pintura e a música denunciam elevado sabor de espiritualidade avançada.
A dádiva celestial do intercâmbio entre o mundo visível e o invisível
chegou ao planeta nessa onda de claridades inexprimíveis. Consolador da
Humanidade, segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha
esclarecer os homens, preparando-lhes o coração para o perfeito
aproveitamento de tantas riquezas do Céu.
AS CIÊNCIAS SOCIAIS

O campo da Filosofia não escapou a essa torrente renovadora.


Aliando-se às ciências físicas, não toleraram as ciências da alma o
ascendente dos dogmas absurdos da Igreja. As confissões cristãs,
atormentadas e divididas, viviam nos seus templos um combate de morte.
Longe de exemplificarem aquela fraternidade do Divino Mestre,
entregavam-se a todos os excessos do espírito de seita. A Filosofia
recolheu-se, então, no seu negativismo transcendente, aplicando ás suas
manifestações os mesmos princípios da ciência racional e materialista.
Schopenhauer é uma demonstração eloquente do seu pessimismo e as
teorias de Spencer e de Comte esclarecem as nossas assertivas, não
obstante a sinceridade com que foram lançadas no vasto campo das ideias.
A Igreja Romana era culpada de semelhantes desvios. Dominando a
ferro e fogo, conchegada aos príncipes do mundo, não tratara de fundar o
império espiritual dos corações à sua sombra acolhedora. Longe da
exemplificação do Nazareno, amontoara todos os tesouros inúteis,
intensificando as necessidades das massas sofredoras. Extorquia, antes de
dar, conservando a ignorância em vez de espalhar a luz do conhecimento.
A TAREFA DO MISSIONÁRIO

A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe


reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização
às suas profundas bases religiosas.
Atento à missão de concórdia e fraternidade da América, o plano
invisível localizou aí as primeiras manifestações tangíveis do mundo
espiritual, no famoso lugarejo de Hydesville, provocando os mais largos
movimentos de opinião. A fagulha partira das plagas americanas, como
partira igualmente delas a consolidação das conquistas democráticas.
A Europa busca ambientar as ideias novas e generosas, que encontram
o discípulo no seu posto de oração e vigilância, pronto a atender aos
chamamentos do Senhor. Numerosos cooperadores diretos da sua tarefa
auxiliam-lhe o esforço sagrado, desdobrando-lhe as sínteses em gloriosos
complementos. O orbe, com as suas instituições sociais e políticas, havia
atingido um período de grandiosas transformações, que requeriam mais de
um século de lutas dolorosas e remissoras, e o Espiritismo seria a essência
dessas conquistas novas, reconduzindo os corações ao Evangelho suave do
Cristianismo.
PROVAÇÕES COLETIVAS NA FRANÇA

Cumpre-nos assinalar as dolorosas provas da França, depois dos seus


excessos na Revolução e nas campanhas napoleônicas. Depois das
revoluções de 1830 e 1848, mediante as quais se efetuam penosos resgates
por parte dos indivíduos e das coletividades, surge a guerra franco-
prussiana de 1870. A grande nação latina, por causas somente conhecidas
no plano espiritual, é esmagada e vencida pela orgulhosa Alemanha de
Bismarck, que, por sua vez, embriagada e cega no triunfo, ia fazer jus às
dores amargas de 1914 -1918.

Paris, que assistira com certa indiferença às dores dos condenados do


Terror, comparecendo aos espetáculos tenebrosos do cadafalso e
aplaudindo os opressores, sofre miséria e fome em 1870, antes de cair em
poder dos impiedosos inimigos, em 28 de janeiro de 1871. As imposições
políticas do imperador Guilherme, em Versalhes, e as amarguras coletivas
do povo francês nos dias da derrota, significam o resgate dos desvios da
grande nação latina.
PROVAÇÕES DA IGREJA

Aproximando-se o ano de 1870, que assinalaria a falência da Igreja


com a declaração da infalibilidade papal, o Catolicismo experimenta
provações amargas e dolorosas.
Exaustos de suas imposições, todos os povos cultos da Europa não
enxergaram nas suas instituições senão escolas religiosas, limitando-se-lhes
as finalidades educativas e controlando-se-lhes o mecanismo de atividades.
Compreendendo que o Cristo não tratara de açambarcar nenhum
território do Globo, os italianos, naturalmente, reclamaram os seus direitos
no capítulo das reivindicações, procurando organizar a unidade da Itália
sem a tutela do Vaticano. Desde 1859, estabelecera-se a luta, que foi por
muito tempo prolongada em vista da decisão da França, que manteve todo
um exército em Roma para garantia do pontífice da Igreja. Mas a situação
de 1870 obrigara o povo francês a reclamar a presença dos guardas do
Vaticano, triunfando as idéias de Cavour e privando-se o papa de todos os
poderes temporais, restringindo-se a sua posse material.
Começa, com Pio IX, a grande lição da Igreja.
O período das grandes transformações estava iniciado, e ela, que
sempre ditara ordens aos príncipes do mundo, na sua sede de domínio, iria
tornar-se instrumento de opressão nas mãos dos poderosos.
Observava-se um fenômeno interessante. A Igreja, que nunca se
lembrara de dar um título real à figura do Cristo, assim que viu
desmoronarem-se os tronos do absolutismo com as vitórias da República e
do Direito, construiu a imagem do Cristo-Rei para o cume dos seus altares.
XXV
O Espiritismo
e as grandes transições

A EXTINÇÃO DO CATIVEIRO

O século XIX caracteriza-se por suas numerosas conquistas. A par dos


grandes fenômenos de evolução científica e industrial que o abalaram,
observam-se igualmente acontecimentos políticos de suma importância,
renovando as concepções sociais de todos os povos da raça branca.
Um desses grandes acontecimentos é a extinção do cativeiro.
Cumprindo as determinações do Divino Mestre, seus mensageiros do
plano invisível laboram junto aos gabinetes administrativos, de modo a
facilitar a vitória da liberdade.
As decisões do Congresso de Viena, reprovando o tráfico de homens
livres, encontrara funda repercussão em todos os países. Em 1834, o
parlamento inglês resolve abolir a escravidão em todas as colônias da Grã-
Bretanha. Em 1850, o Brasil suprime o tráfico africano. Na revolta de
1848, a França delibera a extinção do cativeiro em seus territórios. Em
1861, Alexandre II da Rússia declarava livres todos os camponeses que
trabalhavam sob o regime da escravidão, e, de 1861 a 1865, uma guerra
nefanda devasta o solo hospitaleiro dos Estados Americanos do Norte, na
luta da secessão, que termina com a vitória da liberdade e das ideias
progressistas da grande nação da América.
O SOCIALISMO

Grandes ideias florescem na mentalidade de então. Ressurgem, aí, as


antigas doutrinas da igualdade absoluta. Aparece o socialismo propondo
reformas viscerais e imediatas. Alguns idealistas tocam a Utopia de
Thomas More, ou a República perfeita, idealizada por Platão. Fundam-se
as alianças de anarquismo, as sociedades de caráter universal. Uma
revolução sociológica de consequências imprevisíveis ameaça a
estabilidade da própria civilização, condenando-a à destruição mais
completa.
O fim do século que passou é o cenário vastíssimo dessas lutas
inglórias. Todas as ciências sociais são chamadas aos grandes debates
levados a efeito entre o capitalismo e o trabalho.
A CAMINHO DA LUZ

Onde se encontram, porém, as forças morais capazes de realizar o


grande milagre da elucidação de todos os espíritos? A Igreja Romana, que
nutria a civilização ocidental desde o seu berço, era, por força das
circunstâncias, a entidade indicada para resolver o grande problema.
Todavia, após as afirmativas do Sílabo e depois do famoso discurso
do bispo Strossmayer, em 1870, no Vaticano, quando Pio IX decretava a
infalibilidade pontifícia, semelhante equação era muito difícil por parte da
Igreja. Entretanto, Leão XIII vem ao campo da luta com a encíclica
"Rerum Novarum", tentando conciliar o braço e o capital, apontando a
cada qual os seus mais sagrados deveres. Se o efeito desse documento teve
considerável importância para as classes mais cultas do Velho e do Novo
Mundo, tanto não se deu com as classes mais desfavorecidas, fartas de
palavras.
RESTABELECENDO A VERDADE

O Espiritismo vinha, desse modo, na hora psicológica das grandes


transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse o
fruto sagrado de quantos trabalharam e sofreram no esforço penoso da
civilização. Com as provas da sobrevivência, vinha reabilitar o
Cristianismo que a Igreja deturpara, semeando, de novo, os eternos
ensinamentos do Cristo no coração dos homens. Com as verdades da
reencarnação, veio explicar o absurdo das teorias igualitárias absolutas,
cooperando na restauração do verdadeiro caminho do progresso humano.
Enquadrando o socialismo nos postulados cristãos, não se ilude com
as reformas exteriores, para concluir que a única renovação apreciável é a
do homem íntimo, célula viva do organismo social de todos os tempos,
pugnando pela intensificação dos movimentos educativos da criatura, à luz
eterna do Evangelho do Cristo. Ensinando a lei das compensações no
caminho da redenção e das provas do indivíduo e da coletividade,
estabelece o regime da responsabilidade, em que cada espírito deve
enriquecer a catalogação dos seus próprios valores. Não se engana com as
utopias da igualdade absoluta, em vista dos conhecimentos da lei do
esforço e do trabalho individual, e não se transforma em instrumento de
opressão dos magnatas da economia e do poder, por consciente dos
imperativos da solidariedade humana. Despreocupado de todas as
revoluções, porque somente a evolução é o seu campo de atividade e de
experiência, distante de todas as guerras pela compreensão dos laços
fraternos que reúnem a comunidade universal, ensina a fraternidade
legítima dos homens e das pátrias, das famílias e dos grupos, alargando as
concepções da justiça econômica e corrigindo o espírito exaltado das
ideologias extremistas.
Nestes tempos dolorosos em que as mais penosas transições se
anunciam ao espírito do homem, só o Espiritismo pode representar o valor
moral onde se encontre o apoio necessário à edificação do porvir.
Enquanto os utopistas da reforma exterior se entregam à tutela de
ditadores impiedosos, como os da Rússia e da Alemanha, em suas sinistras
aventuras revolucionárias, prossegue ele, o Espiritismo, a sua obra
educativa junto das classes intelectuais e das massas anônimas e
sofredoras, preparando o mundo de amanhã com as luzes imorredouras da
lição do Cristo.
DEFECÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

Desde 1870, ano que assinalou para o homem a decadência da Igreja,


em virtude da sua defecção espiritual no cumprimento dos grandes deveres
que lhe foram confiados pelo Senhor, nos tempos apostólicos, um período
de transições profundas marca todas as atividades humanas.
Em vão o mundo esperou as realizações cristãs, iniciadas no império
de Constantino. Aliada do Estado e vivendo à mesa dos seus interesses
econômicos, a Igreja não cuidou de outra coisa que não fosse o seu reino
perecível. Esquecida de Deus, nunca procurou equiparar a evolução do
homem físico à do homem espiritual, prendendo-se a interesses rasteiros e
mesquinhos da política temporal. É por isso que agora lhe pairam sobre a
fronte os mais sinistros vaticínios.
LUTAS RENOVADORAS

O século XX surgiu no horizonte do Globo, qual arena ampla de lutas


renovadoras. As teorias sociais continuam seu caminho, tocando muitas
vezes a curva tenebrosa do extremismo, mas as revelações do além-túmulo
descem às almas, como orvalho imaterial, preludiando a paz e a luz de uma
nova era.
Numerosas transformações são aguardadas e o Espiritismo esclarece
os corações, renovando a personalidade espiritual das criaturas para o
futuro que se aproxima.
As guerras russo-japonesa e a europeia de 1914 -1918 foram
pródromos de uma luta maior, que não vem muito longe, e dentro da qual o
planeta alijará todos os Espíritos rebeldes e galvanizados no crime, que não
souberam aproveitar a dádiva de numerosos milênios, no patrimônio
sagrado do tempo.
Então a Terra, como aquele mundo longínquo da Capela, ver-se-á
livre das entidades endurecidas no mal, porque o homem da radiotelefonia
e do transatlântico precisa de alma e sentimento, a fim de não perverter as
sagradas conquistas do progresso. Ficarão no mundo os que puderem
compreender a lição do amor e da fraternidade sob a égide de Jesus, cuja
misericórdia é o verbo de vida e luz, desde o princípio.
Época de lutas amargas, desde os primeiros anos deste século a guerra
se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta.
A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de
segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria guerra, que
somente terminarão com o apogeu dessas lutas fratricidas, no processo de
seleção final das expressões espirituais da vida terrestre.
A AMÉRICA E O FUTURO

Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo determinismo


das circunstâncias de sua vida política, a América está destinada a receber
o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros.
Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as experiências
europeias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram na obra da
civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual, que há de
sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno conhecimento dos
grandes problemas do ser e do destino.
Para esse desiderato grandioso, apresta-se o plano espiritual, no afã de
elucidação dos nobres deveres continentais. O esforço sincero de
cooperação no trabalho e de construção da paz não é aí uma utopia, como
na Europa saturada de preconceitos multisseculares.
Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as
sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro. JESUS
Há no mundo um movimento inédito de armamentos e munições.
Teria começado neste momento? Não. A corrida armamentista do
século XX começou antes da luta de Porto Artur, em 1904. As indústrias
bélicas atingem culminâncias imprevistas. Os campos estão despovoados.
Os homens se recolheram às zonas de concentração militar, esperando o
inimigo, sem saber que o adversário está em seu próprio espírito. A Europa
e o Oriente constituem um campo vasto de agressão e terrorismo, com
exceção das Repúblicas Democráticas, que se veem obrigadas a grandes
programas de rearmamento, em face do Moloque do extremismo. Onde os
valores morais da Humanidade? As igrejas estão amordaçadas pelas
injunções de ordem econômica e política. Somente o Espiritismo,
prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de
manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem ignorante do
seu glorioso destino, barco que ameaça voltar às correntes da força e da
violência, longe das plagas iluminadas da Razão, da Cultura e do Direito.
Convenhamos em que o esforço do Espiritismo é quase superior às
suas próprias forças, mas o mundo não está à disposição dos ditadores
terrestres. Jesus é seu único diretor no plano das realidades imortais, e
agora que o mundo se entrega a todas as expectativas angustiosas, os
espaços mais próximos da Terra se movimentam a favor do
restabelecimento da verdade e da paz, a caminho de uma nova era.
Espíritos abnegados e esclarecidos falam-nos de uma nova reunião da
comunidade das potências angélicas do sistema solar, da qual é Jesus um
dos membros divinos. Reunir-se-á, de novo, a sociedade celeste, pela
terceira vez, na atmosfera terrestre, desde que o Cristo recebeu a sagrada
missão de abraçar e redimir a nossa Humanidade, decidindo novamente
sobre os destinos do nosso mundo.
Que resultará desse conclave dos Anjos do Infinito? Deus o sabe.
Nas grandes transições do século que passa, aguardemos o seu amor e
a sua misericórdia.
O Evangelho e o futuro

Um modesto escorço da História faz entrever os laços eternos que


ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta.
Muita vez, o palco das civilizações foi modificado, sofrendo
profundas renovações nos seus cenários, mas os atores são os mesmos,
caminhando, nas lutas purificadoras, para a perfeição dAquele que é a Luz
do princípio.
Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente
conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza
para a solução do problema vital, mas houve um tempo em que a sua
maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da Grécia e pelas
organizações romanas.
Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior
acontecimento para o mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna
mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino luminoso de Jesus, na hipótese
da assimilação do homem espiritual, com respeito aos ensinamentos
divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão
logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados
no globo terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos.
O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.
Decorridos três séculos da lição santificante de Jesus, surgiram a
falsidade e a má-fé adaptando-se às conveniências dos poderes políticos do
mundo, desvirtuando-se-lhe todos os princípios, por favorecer doutrinas de
violência oficializada.
Debalde enviou o Divino Mestre seus emissários e discípulos mais
queridos ao ambiente das lutas planetárias. Quando não foram trucidados
pelas multidões delinquentes ou pelos verdugos das consciências, foram
obrigados a capitular diante da ignorância, esperando o juízo longínquo da
posteridade.
Desde essa época, em que a mensagem evangélica dilatava a esfera da
liberdade humana, em virtude da sua maturidade para o entendimento das
grandes e consoladoras verdades da existência, estacionou o homem
espiritual em seus surtos de progresso, impossibilitado de acompanhar o
homem físico na sua marcha pelas estradas do conhecimento.
É por esse motivo que, ao lado dos aviões poderosos e da
radiotelefonia, que ligam todos os continentes e países da atualidade,
indicando os imperativos das leis da solidariedade humana, vemos o
conceito de civilização insultado por todas as doutrinas de isolamento,
enquanto os povos se preparam para o extermínio e para a destruição. É
ainda por isso que, em nome do Evangelho, se perpetram todos os absurdos
nos países ditos cristãos.
A realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar.
Na França temos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o machado na
Alemanha e a cadeira elétrica na própria América da fraternidade e da
concórdia, isto para nos referirmos tão-somente às nações supercivilizadas
do planeta. A Itália não realizou a sua agressão à Abissínia, em nome da
civilização cristã do Ocidente? Não foi em nome do Evangelho que os
padres italianos abençoaram os canhões e as metralhadoras da conquista?
Em nome do Cristo espalharam-se, nestes vinte séculos, todas as discórdias
e todas as amarguras do mundo.
Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores
humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos
últimos ''ais'' do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as
realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a
Humanidade.
O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo
neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de
Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques
da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os
seus verdadeiros caminhos.
No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa
cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a
nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão
compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos
ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma
reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios
que pesam sobre o seu império perecível.
Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e
inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a
vertigem de um pesadelo.
A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício.
Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do
reino de Deus e de sua justiça.
O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho.
O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a
dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor.
Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da
Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas
de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas
consciências enegrecidas.
Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e
políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o
Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com
vistas à civilização do porvir.

Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda


noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses
acontecimentos espantosos.
Todavia, os operários humildes do Cristo ouçamos a sua voz no
âmago de nossa alma:
"Bem-aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence!
Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação!
Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!"
Sim, porque depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes
consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento.
O homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua marcha
gloriosa no Ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus escombros
materiais a alma divina das religiões, que os homens perverteram, ligando-
as no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado.
Trabalhemos por Jesus, ainda que a nossa oficina esteja localizada no
deserto das consciências.
Todos somos dos chamados ao grande labor e o nosso mais sublime
dever é responder aos apelos do Escolhido.
Revendo os quadros da História do mundo, sentimos um frio cortante
neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. Lembremos a
misericórdia do Pai e façamos as nossas preces. A noite não tarda e, no
bojo (dentro, no meio) de suas sombras compactas, não nos esqueçamos de
Jesus, cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da
alvorada futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção.
Conclusão

Meus amigos, Deus vos conceda muita paz.


Agradeço a vossa colaboração, em face de mais este esforço humilde
do nosso grupo na propagação dos grandes postulados do Espiritismo
evangélico, como agradeço também à misericórdia divina o bendito ensejo
que nos foi concedido. Em nosso modesto estudo da História, um único
objetivo orientou as nossas atividades - o da demonstração da influência
sagrada do Cristo na organização de todos os surtos da civilização do
planeta, a partir da sua escultura geológica.
Nossa contribuição pode pecar pela síntese excessiva, mas não
tínhamos em vista uma nova autópsia da História do Globo em suas
expressões sociais e políticas, e sim revelar, mais uma vez, os ascendentes
místicos que dominam os centros do progresso humano, em todos os seus
departamentos.
Sinto-me feliz com a vossa colaboração dedicada e amiga. Algum dia,
Deus me concederá a alegria de falar dos laços que nos unem de épocas
remotas, porque não é sem razão que nos encontramos reunidos e
irmanados no mesmo trabalho e ideal.
Reitero-vos, aqui, meu agradecimento comovido e sincero.
Quando lá fora se prepara o mundo para as lutas mais dolorosas e
mais rudes, devemos agradecer a Jesus a felicidade de nos conservarmos
em paz em nossa oficina, sob a égide do seu divino amor. Prometemos, tão
logo seja possível, um ensaio no gênero romântico. (*) Permitirá Deus que
sejamos felizes. Assim o espero, porque não ponho em dúvida a sua
infinita misericórdia.
Que Deus vos guie e abençoe, conservando-vos a tranquilidade
sagrada dos lares e dos corações.

EMMANUEL

(Mensagem recebida em 21/ 9/1938.)


__________
(*) Refere-se ao "romance" de sua vida de patrício romano e legado
na Judéia ao tempo do Cristo, obra já concluída e publicada em dois
volumes, que são Há Dois Mil Anos e 50 Anos Depois. - (Nota da Editora.)
Livro 2
O Consolador
NOTA À PRIMEIRA EDIÇÃO.

DEFINIÇÃO

Na reunião de 31 de outubro de 1939, no grupo espírita “Luis Gonzaga”,


de Pedro Leopoldo, um amigo do plano espiritual lembrou aos seus
componentes a discussão de temas doutrinários, por meio de perguntas nossas
à entidade de Emmanuel, a fim de ampliar-se à esfera dos nossos
conhecimentos.

Consultado sobre o assunto, o Espírito Emmanuel estabeleceu um


programa de trabalhos a ser executado pelo nosso esforço, que foi iniciado
pelas duas questões seguintes:
-Apresentando o Espiritismo, na sua feição de Consolador prometido pelo
Cristo, três aspectos diferentes: científico, filosófico, religioso, qual desses
aspectos é o maior?

-Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado desse modo, como um


triângulo de forças espirituais.

“A ciência e a Filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a


Religião é o ângulo divino que a liga ao céu. No seu aspecto científico e
filosófico, a doutrina será sempre um campo nobre de investigações
humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que
visam o aperfeiçoamento da Humanidade. No aspecto religioso, todavia,
repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de
Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a
grandeza do seu imenso futuro espiritual”.

- A fim de intensificar os nossos conhecimentos, relativamente ao


triplicar aspecto do Espiritismo, poderemos continuar com as nossas
indagações?

- “Podemos perguntar, sem que possamos nutrir a pretensão de vos


responder com as soluções definitivas, embora cooperemos convosco da
melhor vontade”.
“Aliás, é pelo amparo recíproco que alcançaremos as expressões mais
altas dos valores intelectivos e sentimentais”.

Além do túmulo, o Espírito desencarnado não encontra os milagres da


sabedoria, e as novas realidades do plano imortalista transcendem aos
quadros do conhecimento contemporâneo, conservando-se numa esfera quase
inacessível às cogitações humana, em face da ausência de comparações
analógicas, único meio de impressão na tábua de valores restritos da mente
humana.
Além do mais, ainda nos encontramos num plano evolutivo, sem que
possamos trazer ao vosso círculo de aprendizado as últimas equações, nesse
ou naquele setor de investigação e de análise. É por essa razão que somente
poderemos cooperar convosco sem a presunção da palavra derradeira.
Considerada a nossa contribuição nesse conceito indispensável de
relatividade, buscaremos concorrer com a nossa modesta parcela de
experiência, sem nos determos no exame técnico das questões científicas, ou
no objeto das polêmicas da Filosofia e das religiões, sobejamente
movimentados nos bastidores da opinião, para considerarmos tão somente a
luz espiritual que se irradia de todas as coisas e o ascendente místico de todas
as atividades do espírito humano dentro de sua abençoada escola terrestre,
sob a proteção misericordiosa de Deus.

As questões apresentadas foram as mais diversas e numerosas. Todos os


componentes do Grupo, bem como outros amigos espiritistas de diferentes
pontos, cooperaram no acervo das perguntas, ora manifestando as suas
necessidades de esclarecimento íntimo, no estudo do Evangelho, ora
interessados em assuntos novos que as respostas de Emmanuel suscitavam.
Em seguida, o autor espiritual selecionou as questões, deu-lhes uma
ordem, catalogou-as em cada assunto particularizado, e eis ai o novo livro.

Que as palavras sábias e consoladoras de Emmanuel proporcionem a


todos os companheiros de doutrina o mesmo bem espiritual que nos fizeram,
são os votos dos modestos trabalhadores do Grupo Espírita “Luis Gonzaga”,
de Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
Pedro Leopoldo, 8 de março de 1940.

EMMANUEL – Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER


PRIMEIRA PARTE:
CIÊNCIA

1 – Tem o Espiritismo absoluta necessidade da ciência


terrestre?
-Essa necessidade de modo algum pode ser absoluta. O concurso
científico é sempre útil, quando oriundo da consciência esclarecida e da
sinceridade do coração. Importa considerar, todavia, que a ciência do mundo
se não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da destruição, tem
absoluta necessidade do Espiritismo, cuja finalidade divina é a iluminação
dos sentimentos, na sagrada melhoria das características morais do homem.
I
CIÊNCIAS FUNDAMENTAIS

Emmanuel

2 – Se reconhecermos a Química, a Física, a Biologia, a


Psicologia e a Sociologia como as cinco ciências
fundamentais, qual será a posição da ciência da vida, em
relação às demais?
- A Química e a Física, estudando a ação íntima dos corpos, suas relações
entre si e as suas propriedades, constituem a catalogação dos valores da
ciência material. A Psicologia e a Sociologia, examinando a paisagem dos
sentimentos e os problemas sociais, representam a tábua de classificação das
conquistas da ciência intelectual. No centro de todas está a Biologia,
significando a ciência da vida em suas profundezas, revelando a
transcendência da origem – o Espírito, o Verbo Divino.
Até agora, a Biologia está igualmente encarcerada nas escolas
materialistas da Terra, porém, nas suas expressões mais legítimas, evolverá
para Deus, com as suas demonstrações sublimes, cumprindo-nos reconhecer
que, mesmo na atualidade, seus enigmas profundos, são os mais nobres
apelos à realidade espiritual e ao exame das fontes divinas da existência.
QUÍMICA

3 – No campo da Química, as forças do plano espiritual


auxiliam o homem terrestre?
-Os prepostos de Jesus espalham-se por todos os setores do trabalho
humano e, em todos os tempos, cooperam com o homem no seu esforço de
aperfeiçoamento; aliás, os estudiosos e os cientistas do planeta não criaram os
fenômenos químicos, que sempre existiram desde a aurora dos tempos,
afirmando uma inteligência superior.

Os homens, em verdade, aprenderam a química com a Natureza,


copiaram as suas associações, desenvolvendo a sua esfera de estudos e
inventaram uma nomenclatura, reduzindo os valores químicos, sem lhes
aprender a origem divina.
4 – Nos estudos da Química, avaliam-se em cerca de um
quarto de milhão as substâncias da Terra, que podem ser
reduzidas, aproximadamente, como originárias de noventa
elementos. Quando os estudos dessa ciência forem
ampliados, poderão reduzir-se, ainda mais, as fontes de
origem?
-A Química necessita apresentar essa divisão de elementos para a
catalogação dos valores educativos, com vistas às investigações de natureza
científica, no mundo; contudo, se na sua base estão os átomos, na mais vasta
expressão de diversidade, mesmo assim tenderá sempre para a unidade
substancial, em remontando com as verdades espirituais às suas fontes de
origem.
Aliás, em se tratando das individualizações químicas, já conheceis que o
hidrogênio, no quadro dos conhecimentos terrestres, é o elemento mais
simples de todos. Seu átomo é a forma primordial da matéria planetária,
porque composto de um só elétron, de onde partem as demais individuações
no mecanismo evolutivo da matéria, em suas expressões rudimentares.
5-Nos chamados movimentos brownianos e nas
afinidades moleculares poderemos observar manifestações
de espiritualidade?
-Nos chamados movimentos brownianos, bem como nas atrações
moleculares, ainda não poderemos ver, propriamente, manifestações de
espiritualidade, como princípio de inteligência, mas fenômenos rudimentares
da vida em suas demonstrações de energia potencial, na evolução da matéria,
a caminho dos princípios anímicos, sob a bênção de luz da natureza divina.
6 – Houve uma unidade material para a formação das
várias expressões orgânicas existentes na Terra?
-Assim como o químico humano encontra no hidrogênio a fórmula mais
simples para estabelecer a rota de suas comparações substanciais, os espíritos
que cooperaram com o Cristo, nos primórdios da organização planetária,
encontraram, no protoplasma, o ponto de início para a sua atividade
realizadora, tomando-o como base essencial de todas as células vivas do
organismo terrestre.
7 - Existe uma lei de progresso para a individualização
química?
-Na conceituação dos valores espirituais, a Lei é de evolução para todos
os seres e coisas do Universo. As individualizações químicas possuem
igualmente a sua rota para obtenção das primeiras expressões anímicas, sendo
justo observarmos que, no círculo industrial, a individualização é trabalhada
pelos processos mais grosseiros, até que possa ser aproveitada pelo agente
invisível na química biológica, onde entra em novo círculo vital, na ascensão
para o seu destino.
8 – Qual a diferença observada pelos Espíritos entre a
química biológica e a industrial:
-Na primeira preponderam os ascendentes espirituais, em todas as
organizações; ao passo que na segunda todos os fatores podem ser de atuação
propriamente material.
Nisso reside a grande diferença. É que, na intimidade da célula orgânica,
o fenômeno da vida submete-se a um agente divino, em sua natureza
profunda, e, nos compostos industriais, as combinações químicas podem
obedecer a um agente humano.
9 – A radioatividade opera a destruição ou a evolução da
matéria?
-Através da radioatividade, verifica-se a evolução da matéria. É nesse
contínuo desgaste que se observam os processos de transformação das
individualizações químicas, convertidas em energia, movimento, eletricidade,
luz, na ascensão para novas modalidades evolutivas, em obediência às leis
que regem o Universo.
10 – Onde a fonte de energia para a matéria, de vez que
a radioatividade opera incessantemente, trabalhando as suas
forças?
-O Sol é essa fonte vital para todos os núcleos da vida planetária. Todos
os seres, como todos os centros em que se processam as forças embrionárias
da vida, recebem a renovação constante de suas energias através da chuva
incessante dos átomos, que a sede do sistema envia à sua família de mundos,
equilibrados na sua atração, dentro do Infinito.
11 – Como deveremos compreender a assertiva dos
químicos “nada se cria, nada se perde”?
-Em verdade, o espírito humano não cria a vida, atributo de Deus, fonte
da criação infinita e incessante; contudo, se o homem não pode criar o fluido
da vida, nada se perde da obra de Deus em torno dele, porque todas as
substâncias se transformam na evolução para mais alto.
12 – Em face da exatidão com que se efetuam as
combinações naturais da química orgânica, como entender
as diversas expressões da natureza em seus primórdios?
-As expressões diversas da Natureza terrestre, em suas primitivas
agregações moleculares, obedeceram ao pensamento divino dos prepostos de
Jesus, quando nas manifestações iniciais da vida sobre a crosta do orbe.
Remontando a essas origens profundas, podeis observar, então, o esforço
dos Espíritos sábios do plano invisível, na manipulação dos valores da
química biológica nos primórdios da vida planetária, estabelecendo a
caracterização definitiva dos processos da Natureza na fixação das espécies,
prevendo todo mecanismo da evolução no futuro, e entregando o seu trabalho
às leis da seleção natural que, sob a égide de Jesus, prosseguiram no
aperfeiçoamento da obra terrestre através do tempo.
13 – As forças espirituais organizaram igualmente a
atmosfera do mundo?
-Isso é indubitável. A inteligência com que foram dispostos os elementos
do cenário, para o desenvolvimento da vida no planeta, vo-lo comprova.
A algumas dezenas de quilômetros foram colocados os revestimentos do
ozônio, destinados a filtrar os raios solares; dosando-lhes a natureza para a
proteção da vida.

Da atmosfera recebe a maior porcentagem de nutrição para o


entretenimento das células.
E como o nosso escopo não é o de citações eruditas, nem o de redizer os
preceitos científicos do mundo, lembremos que um homem, na manutenção
da sua vida orgânica. Necessita de regular quantidade de oxigênio, quinze
gramas de azoto (alimentar) e quinhentos gramas de carbono (alimentar). O
oxigênio é uma dádiva de Deus para todas as criaturas; quanto ao azoto e ao
carbono, é pela obtenção que o homem luta afanosamente na Terra,
recordando-nos a exortação dos textos sagrados ao espírito que faliu –
“comerás o pão com o suor do teu rosto”.

O problema básico da nutrição, nessa conta de química, é uma


reafirmação da generosidade paterna do Criador e do estado expiatório em
que se encontram as almas reencarnadas neste mundo.
14 – Como compreender a afirmativa dos astrônomos
relativamente à morte térmica do planeta?
-É certo que todo organismo material se transformará, um dia, revestindo
novas formas. As energias do Sol, como as forças telúricas do orbe terrestre,
serão esgotadas aqui, para surgirem noutra parte. Alguns astrônomos
calculam a morte térmica do planeta para daqui a um milhão de anos,
aproximadamente.

Já se disse, porém, que a vida é p eterno presente. E o nosso primeiro


dever não é o de contar o tempo, demarcando, em bases inseguras, a duração
das obras conhecidamente sagrada para as edificações definitivas do nosso
espírito, as quais são inacessíveis a todas as transformações da matéria, em
face do Infinito.
FÍSICA

15 – Existem Espíritos especialmente encarregados da


execução das leis físicas no planeta terrestre?
-Essa verdade é incontestável, e o homem poderá examinar e estudar
constantemente, auferindo o melhor proveito na sua rotina de esforços
perseverantes; porém, todas as definições do materialismo serão inúteis em
face da realidade irrefutável dos fatores transcendentais, em todos os grandes
fenômenos físicos da Natureza.
16 – As novas revelações científicas positivadas pelos
professores Thomson, Rutherford, Ramsay e Soddy, entre
outros, no campo da Física, sobre os átomos e os elétrons,
são possíveis de fornecer o exato conhecimento de todas as
etapas da evolução anímica?
-A ciência, propriamente humana, poderá estabelecer bases
convencionais, mas não a sabe legítima, em sua origem divina, porquanto os
átomos e os elétrons são fases de caracterização da matéria, sem constituírem
o princípio nessa escala sem-fim, que se verifica, igualmente, para o plano
dos infinitamente pequenos.
17 – Como são considerados, no plano espiritual os
conhecimentos atuais da Física na Terra?
-As noções modernas da Física aproximam-se, cada vez mais, do
conhecimento das leis universais, em cujo ápice repousa a diretriz divina que
governa todos os mundos.
Os sistemas antigos envelheceram. As concepções de ontem deram lugar
a novas deduções. Estudos recentes da matéria vos fazem conhecer que os
seus elementos se dissociam pela análise, que o átomo não é indivisível, que
toda expressão material pode ser convertida em força e que toda energia volta
ao reservatório do éter universal. Com o tempo, as fórmulas acadêmicas se
renovarão em outros conceitos da realidade transcendente, e os físicos da
Terra não poderão dispensar Deus nas suas ilações, reintegrando a Natureza
na sua posição de campo passivo, onde a inteligência divina se manifesta.
18 – Onde o ponto imediato de observação para que a
Física reconheça a existência de Deus?
-Desde o ponto inicial de suas observações, a Física é obrigada a
reconhecer a existência de Deus em seus divinos atributos. Para demonstrar o
sistema do mundo, o cientista não recorreu ao chamado “eixo imaginário”?
Ilações mais altas, no domínio do transcendente.
A mecânica celeste prova a irrefutabilidade da teoria do movimento. O
planeta move-se na imensidade. A matéria vibra nas suas mais diversificadas
expressões.

Quem gerou o movimento? Quem forneceu o primeiro impulso vibratório


no organismo universal?
A Ciência esclarece que a energia faz o movimento, mas a força é cega e
a matéria não tem características de espontaneidade.

Só na inteligência divina encontramos a origem de toda coordenação e de


toda coordenação e de todo equilíbrio, razão pela qual, nas suas questões
mais íntimas, a Física da Terra não poderá prescindir da lógica com Deus.
19 – As noções de física conhecidas pelos homens são
definições reais ou definitivas?
-Os homens possuem da matéria a conceituação possível de ser fornecida
pela sua mente, compreende-se que o aspecto real do mundo não é aquele que
os olhos mortais podem abranger, porquanto as percepções humanas estão
condicionadas ao plano sensorial, sem que o homem consiga ultrapassar o
domínio de determinadas vibrações.

Mergulhadas nas vibrações pesadas dos círculos da carne, as criaturas têm


notícias muito imperfeitas do Universo, em razão da exiguidade dos seus
pobres cinco sentidos.

É por isso que o homem terá sempre um limite nas suas observações da
matéria, força e movimento, não só pela deficiência de percepção sensorial,
como também pela estrutura do olho, onde a sabedoria divina delimitou as
possibilidades humanas de análise, de modo a valorizar os esforços e
iniciativas da criatura.
20 – Como poderemos compreender o éter?
-Nos círculos científicos do planeta muito se tem falado do éter, sem que
possa alguém fornecer uma imagem perfeita da sua realidade, nas convenções
conhecidas.
E, de fato, o homem não pode imagina-lo, dentro das percepções
acanhadas da sua metade. Por nossa vez, não poderemos proporcionar a vos
outros uma noção mais avançada, em vista da ausência de termos de
analogia.

Se, como desencarnados, começamos a examina-lo na sua essência


profunda, para os homens da Terra o éter é quase uma abstração. De qualquer
modo, porém, busquemos entende-lo como fluído sagrado da vida, que se
encontra em todo o cosmo; fluído essencial do Universo, que, em todas as
direções, é o veículo do pensamento divino.
21 – Pode a Física oferecer-nos elementos para apreciar
o plano divino da evolução?
-Também aí podereis observar a profunda beleza das leis universais. Ao
sopro inteligente da vontade divina, condensa-se a matéria cósmica no
organismo do Universo. Surgem as grandes massas das nebulosas e, em
seguida, a família dos mundos, regendo-se em seus movimentos pelas leis do
equilíbrio, dentro da atração, no corpo infinito do cosmo.

O ciclo da evolução apresenta aí um dos seus aspectos mais belos. Sob a


diretriz divina, a matéria produz a força, a força gera o movimento, o
movimento faz surgir o equilíbrio da atração e a atração se transforma em
amor, identificando-se todos os planos da vida na mesma lei de unidade
estabelecida no Universo pela sabedoria divina.
22 – A substância é igual em todos os mundos? Como
compreender a revelação dos espectroscópios?
-Reconhecido o axioma de que o Universo obedece a uma lei de unidade,
somos obrigados a reconhecer que o que se encontra no todo existe
igualmente nas partes.
Contudo, o espectroscópio não vos poderá revelar todas as substâncias
que se encontram nos outros mundos, e não podemos esquecer que a Terra é
um apartamento muito singelo dentro do edifício universal, sem que
possamos conhecer, pelos seus detalhes, a grandeza infinita da obra do
Criador.
23 – Existe uma lei de equilíbrio e uma lei de fluídos?
-As grandes leis gerais do equilíbrio têm as suas sede sagrada em Deus,
fonte perene de toda vida; E, em se falando da lei de fluídos, cada orbe a
possui de conformidade com a sua organização planetária.
Com relação ao plano terrestre, somente Jesus e os seus mensageiros mais
elevados conhecem os seus processos, com a devida plenitude, constituindo
essa lei um campo divino de estudos, não só para a mentalidade humana,
como também para os seres desencarnados que já se redimiram dos labores
mais grosseiros junto dos círculos da carne, a fim de evoluírem nas esferas
mais próximos do cenário terrestre.
24 – As leis da gravitação são análogas em todos os
planetas?
-As leis da gravitação não podem ser as mesmas para todos os planetas,
mesmo porque, em face da vossa evolução científica, já compreendeis que os
princípios newtonianos foram substituídos, de algum modo, pelos conceitos
de relatividade, conceitos esses que, por sua vez, seguirão, o curso
progressivo do conhecimento.
25 – O teledinamismo é aplicado nas relações entre os
planos visíveis e invisíveis?
-Sendo o teledinamismo a ação de forças que atuam, à distância, cumpre-
nos esclarecer que, no fenômeno das comunicações, muitas vezes entram em
jogo as ações teledinâmicas, imprescindíveis a certas expressões de
mediunismo.
26 – Ante os princípios da Física, como poderemos
compreender o magnetismo e quais as características no
intercâmbio entre encarnados e desencarnados?
-O magnetismo é um fenômeno da vida, por constituir manifestação
natural em todos os seres.
Se a ciência do mundo já atingiu o campo de equações notáveis nas
experiências relativas ao assunto, provando a generalidade e a delicadeza dos
fenômenos magnéticos, deveis compreender que as exteriorizações dessa
natureza, nas relações entre os dois mundos, são sempre mais elevadas e
sutis, em virtude de serem, aí, uma expressão de vida superior.
BIOLOGIA

27 – Como devemos compreender a Natureza?


-A Natureza é sempre o livro divino, onde as mãos de Deus escrevem a
história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso
espiritual do homem, evolvendo constantemente com o esforço e a dedicação
de seus discípulos.
28 – As manifestações de vida nos vários reinos da
Natureza, abrangendo o homem, significam a expressão do
Verbo Divino, em escala gradativa nos processos de
aperfeiçoamento da Terra?
-Sim, em todos os reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como o
Verbo Divino da Criação Infinita, e, no quadro sem-fim do trabalho da
experiência, todos os princípios, como todos os indivíduos, catalogam os seus
valores e aquisições sagradas para a vida imortal.
29 – Os Espíritos cooperam no desenvolvimento do
embrião do corpo em que se vão reencarnar? E, em caso
afirmativo, chegam a operar nos complexos celulares da
herança física, para que os corpos futuros sejam dotados de
certos elementos aptos a satisfazerem as circunstâncias da
prova ou missão que hajam de cumprir?
-No caso dos espíritos envolvidos, senhores de realizações próprias,
inalienáveis, essa cooperação quase sempre se verifica, junto ao esforço dos
prepostos de Jesus, que operam nesse sentido, com vistas ao porvir de suas
lutas no ambiente material. Temos de considerar, todavia, que os espíritos
rebeldes, ou indiferentes, desprovidos dos valores próprios indispensáveis,
têm de aceitar a deliberação dos prepostos referidos, os quais escolhem as
substâncias que merecem ou que lhes são imprescindíveis no processo de
resgate ou de evolução.
30 – Há órgãos no corpo espiritual?
-Dentro das leis substanciais que regem a vida terrestre, extensiva às
esferas espirituais mais próximas do planeta, já o corpo físico; executadas
certas alterações impostas pela prova ou tarefa a realizar, é uma
exteriorização aproximada do corpo perispiritual, exteriorização essa que se
subordina aos imperativos da matéria mais grosseira, no mecanismo de
heranças celulares, as quais, por sua vez, se enquadram nas indispensáveis
provações ou testemunhos de cada indivíduo.
31 – A reencarnação inicia-se com as primeiras
manifestações de vida do embrião humano?
-Desde o instante primeiro de tais manifestações, a entidade espiritual
experimenta os efeitos de sua nova condição. Imposta reconhecer, todavia,
que o espírito mais lúcido, em contraposição com os mais obscurecidos e
ignorantes, goza de quase inteira liberdade, até a consolidação total dos laços
materiais com o novo nascimento na esfera do mundo.
32 – Quando o embrião está sendo formado, existe uma
interpenetração de fluídos entre a gestante e a entidade
então ligada ao feto? Existem consequências verificáveis?
-Essa interpenetração de fluídos é natural e justa, ocasionando, não raras
vezes, fenômenos sutilíssimos, como os chamados “sinais de nascença” que
somente mais tarde, poderão ser entendidos pela ciência do mundo,
enriquecendo o quadro de valores da Biologia, no estudo profundo das
origens.
33 – O Espírito, em cada uma de suas encarnações, faz
recapitulação das suas etapas evolutivas, assim como se
verifica com o embrião material que recorda, antes do
nascimento, toda a evolução da sua espécie?
-Essa recapitulação se verifica, na maioria dos casos, pela oportunidade
que oferece à alma encarnada de se portar retamente, nas mesmas
circunstâncias do passado culposo; porém, não constitui regra geral,
salientando-se que, quanto maiores as aquisições de sabedoria e de amor,
mais afastado se encontrará o Espírito, em aprendizado na Terra, dessa
rememoração das experiências materiais, de cuja intimidade dolorosa poderá
então prescindir, pela sua expressão superior de espiritualidade.
34 – A denominada árvore genealógica dos seres
humanos tem idêntica significação no plano espiritual?
-Na esfera espiritual persiste o mesmo esforço na conservação e dilatação
dos afetos familiares e, ora nos trabalhos regeneradores da Terra, ora na luz
santificante dos planos siderais, transformam-se as paixões ou sentimentos
ilegítimos em sagrados liames do espírito.
A árvore genealógica, porém, como se conhece na luta planetária, não se
transporta ao plano invisível, porque, aí, os vínculos de sangue são
substituídos pelas atrações dos sentimentos de amor sublime, purificados no
patrimônio das experiências e lutas vividas em comum.
35 – A genética está submetida a leis puramente
materiais?
-As leis da genética encontram-se presididas por numerosos agentes
psíquicos que a ciência da Terra está longe de formular, dentro dos seus
postulados materialistas. Esses agentes psíquicos, muitas vezes, são
movimentados pelos mensageiros do plano espiritual; encarregados dessa ou
daquela missão junto às correntes da profunda fonte da vida. Eis por que, aos
geneticistas, comumente se deparam incógnitas inesperadas, que deslocam o
centro de suas anteriores ilações.
36 – Pode a genética estatuir medidas que melhorem o
homem?
-Fisicamente falando, a própria natureza do orbe vem melhorando o
homem, continuadamente, nos seus processos de seleção natural. Nesse
sentido, a genética só poderá agir copiando a própria natureza material. Se
essa ciência, contudo, investigar os fatores espirituais, aderindo aos elevados
princípios que objetivaram a iluminação das almas humanas, então poderá
criar um vasto serviço de melhoramento e regeneração do homem espiritual
no mundo, mesmo porque, de outro modo, poderá ser uma notável mentora
da eugenia, uma grande escultora das formas celulares, mas estará sempre
fria para o espírito humano, podendo transformar-se em títere abominável nas
mãos impiedosas dos políticos racistas.
37 – As combinações de “genes”, aconselhadas pela
genética, podem imprimir no homem certas faculdades ou
certas vocações?
-Alguns cientistas da atualidade proclamam essas possibilidades,
esquecendo, porém, que a vocação ou faculdade é atributo da
individualização espiritual, inacessível aos seus processos de observação.
Os geneticistas podem realizar numerosas demonstrações nas células
materiais; todavia, essas experiências não passarão dessa zona superficial, em
se tratando das conquistas, das provações ou da posição evolutiva dos
Espíritos encarnados.
38 – Se a genética está orientada por elementos
psíquicos, como esclarecer as conclusões tão exatas do
mendelismo?
-O mendelismo realizou experiências notáveis, porém, ainda encontra
fenômenos inexplicáveis no processo de suas observações positivas. Faz-se
mister considerar, igualmente, que, em escala decrescente, nos reinos da
Natureza, a genética apresenta resultados felizes nas suas demonstrações,
pelo material simples e primitivo tomado para as suas observações práticas;
tais como os complexos celulares de plantas e de animais, constituídos por
expressões rudimentares. Em escala ascendente, contudo, onde a evolução
psíquica apresenta as suas características de intensidade e realização, a
genética encontrará sempre os fatores espirituais, convocando-a para um
campo mais vasto e mais sublime de operações.
39 – Quais as causas do nascimento de monstruosidades
entre os homens e entre os animais?
-Não podemos olvidar que entre os homens esses fenômenos dolorosos
decorrem do quadro de provações purificadoras, sem nos esquecermos,
igualmente, de que o mundo terrestre ainda é escola preparatória de
aperfeiçoamento.
Os produtos teratológicos constituem luta expiatória, não só para os pais
sensíveis, como para o Espírito encarnado sob penosos resgates do pretérito
delituoso.

Quanto aos animais, temos de reconhecer a necessidade imperiosa das


experiências múltiplas no drama da evolução anímica.
Em tudo, porém, busquemos divisar a feição educativa dos trabalhos do
mundo.

A Terra é uma vasta oficina. Dentro dela operam os prepostos do Senhor,


que podemos considerar como os orientadores técnicos da obra de
aperfeiçoamento e redenção. Em determinadas seções de esforço, os homens
são maus alunos ou trabalhadores rebelados. Nesses núcleos, os prepostos de
Jesus podem edificar o mesmo trabalho de sempre; todavia, encontra a
perturbação e a resistência dos próprios beneficiados, razão pela qual a fonte
de energias pura não pode ser responsabilizada pelos fenômenos que a
deturpam, operados pela indiferença, pela intenção criminosa ou pela
perversidade das próprias criaturas humanas, objeto constante do carinho
desvelado do Senhor, em todos os caminhos dos seus destinos.
40 – A fecundidade e a esterilidade são provas?
-No quadro de interpretações da Terra, esses conceitos podem indicar
situações de prova para as almas que se encontram em experiências
edificadores; todavia, se considerarmos a questão no seu aspecto espiritual;
somos obrigados a reconhecer que a esterilidade não existe para o espírito
que, na Terra, ou fora dela, pode ser fecundo em obras de beleza, de
aperfeiçoamento e de redenção.
41 – A ideia de evolução que tem influído na esfera de
todas as ciências do mundo, desde as teorias darwinianas,
representa agora uma nova etapa de aproximação entre os
conhecimentos científicos do homem e as verdades do
Espiritismo?
-Todas as teorias evolucionistas no orbe terrestre caminham para a
aproximação com as verdades do Espiritismo, no abraço final com a verdade
suprema.
PSICOLOGIA

42 – Como poderemos compreender, pelo Espiritismo, o


preceito da Psicologia que afirma a experiência dos nossos
cinco sentidos como todo o fundamento de nossa vida
mental?
-O Espiritismo esclarece que o homem é senhor de um patrimônio mais
vasto, consolidado nas suas experiências de outras vidas, provando que o
legítimo fundamento da vida mental não reside, de maneira absoluta, na
contribuição dos sentidos corporais, mas também nas recordações latentes do
pretérito, das quais os fenômenos da inteligência prematura, na Terra, são os
testemunhos mais eloquentes.
43 – Estabelecendo a psicologia do mundo como sede da
memória, do julgamento e da imaginação, as partes do
cérebro humano, cujas funções não são ainda devidamente
conhecidas pela Ciência, retardam a solução de um problema
que só pode ser satisfeito pelos conhecimentos espiritistas?
-Distante das cogitações de ordem divina, a psicologia terrestre efetua
essa procrastinação, até que consiga atingir o profundo estuário da verdade
integral.
44 – Poderá a Psicologia chegar a uma solução cabal do
problema das desordens mentais, denominadas
anormalidades psicológicas?
-Movimentando tão somente os materiais da ciência humana, a Psicologia
não atingirá esse desiderato, conservando-se no terreno das definições e dos
estudos, distantes da causa.
Os conhecimentos do mundo, porém, caminham para a evolução dessa
ciência à luz do Espiritismo, quando, então, seus investigadores poderão
alcançar as soluções precisas.
45 – A psicanálise freudiana, valorizando os poderes
desconhecidos do nosso aparelhamento mental, representa
um traço de aproximação entre a Psicologia e o Espiritismo?
-Essas escolas do mundo constituem sempre grandes tentativas para
aquisição das profundas verdades espirituais, mas os seus mestres, com raras
exceções, se perdem na vaidade dos títulos acadêmicos ou nas falsas
apreciações dos valores convencionais.

Os preconceitos científicos, por enquanto, impossibilitam a aproximação


legítima da Psicologia oficial e do Espiritismo.

Os processos da primeira falam da parte desconhecida do mundo mental,


a que chamam de subconsciente, sem definir essa cripta misteriosa da
personalidade humana, examinando-a apenas na classificação pomposa das
palavras.
Entretanto, somente à luz do Espiritismo poderão os métodos
psicológicos aprender que essa zona oculta, da esfera psíquica de cada um, é
o reservatório profundo das experiências do passado, em existências
múltiplas da criatura, arquivo maravilhoso em todas as conquistas do
pretérito são depositadas em energias potenciais, de modo a ressurgirem no
momento oportuno.
46 – Como poderemos compreender os chamados
complexos ou associações de ideias no fenômeno mental?
-Sabemos que as associações de ideias não têm causa nas células
nervosas, constituindo antes ações espontâneas do espírito dentro do vasto
mecanismo circunstancial; ações essas, oriundas do seu esforço incessantes,
projetadas através do cérebro mental, que não é mais que um instrumento
passivo.
47 – Por que, relativamente ao estudo dos processos
mentais, se encontram divididos no campo da opinião os
psicologistas do mundo?
-Os psicologistas humanos, que se encontram ainda distantes das
verdades espirituais, divide-se tão só pelas manifestações do personalismo,
dentro de suas escolas; mesmo porque, analisando apenas os efeitos, não
investigam as causas, perdendo-se na complicação das nomenclaturas
científicas, sem uma definição séria e simples do processo mental, onde se
sobrelevam as profundas realidades do espírito.
48 – O Espiritismo esclarecerá a Psicologia quanto ao
problema da sede de inteligência?
-Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência psicológica
definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou
glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal.
49 – Como devemos conceituar o sonho?
-Na maioria das vezes, o sonho constitui atividade reflexa das situações
psicológicas do homem no mecanismo das lutas de cada dia; quando as
forças orgânicas dormitam em repouso indispensável.
Em determinadas circunstâncias, contudo, como nos fenômenos
premonitórios, ou nos de sonambulismo, em que a alma encarnada alcança
elevada porcentagem de desprendimento parcial, o sonho representa a
liberdade relativa do espírito prisioneiro da Terra, quando, então, se poderá
verificar a comunicação Inter vivos, e, quanto possível, as visões proféticas,
fatos esses sempre organizados pelos mentores espirituais de elevada
hierarquia, obedecendo a fins superiores, e quando o encarnado em
temporária liberdade pode receber a palavra e a influência diretas de seus
amigos e orientadores do plano invisível.
50 – A vocação é uma lembrança das existências
passadas?
-A vocação é o impulso natural oriundo da repetição de análogas
experiências, através de muitas vidas.
Suas características, nas disposições infantis, são o testemunho mais
eloquente da verdade reencarnacionista.
51 – A loucura é sempre uma prova?
-O desequilíbrio mental é sempre uma provação difícil e dolorosa. Essa
realidade, contudo, podendo representar o resgate de uma dívida do pretérito
escabroso e desconhecido pode, igualmente, constituir uma resultante da
imprevidência de hoje, no presente que passa, fazendo necessária, acima de
todas as exortações, aquela que recomenda a oração e a vigilância.
52 –A alucinação é fenômeno do cérebro ou do espírito?
-A alucinação é sempre um fenômeno intrinsecamente espiritual, mas
pode nascer de perturbações estritamente orgânicas, que se façam reflexas no
aparelho sensorial, viciando o instrumento dos sentidos, por onde o espírito
se manifesta.
53 – Os bons ou maus pensamentos do ser encarnado
afetam a organização psíquica de seus irmãos na Terra, aos
quais sejam dirigidas?
Os corações que oram e vigiam, realmente, de acordo com as lições
evangélicas, constroem a sua própria fortaleza, para todos os movimentos de
defesa espontânea.
Os bons pensamentos produzem sempre o máximo bem sobre aqueles que
representam os seus objetivos, por se enquadrarem na essência da Lei Única,
que é o Amor em todas as suas divinas manifestações; os de natureza inferior
podem afetar o seu objeto, em identidade de circunstâncias, quando a criatura
se faz credora desses choques dolorosos, na justiça das compensações.

Sobre todos os feitos dessa natureza, todavia, prevalece a Providência


Divina, que opera a execução de seus desígnios de equidade, com
misericórdia e sabedoria.
SOCIOLOGIA

54 – Com a difusão da luz espiritual, alargará o homem a


noção de pátria, de modo a abranger no mesmo nível todas
as nações do mundo?
-A luz espiritual dará aos homens um conceito novo de pátria, de maneira
a proscrever-se o movimento destruidor pelos canhões e balas homicidas.

Quando isso se verifique, o homem aprenderá a valorizar o berço em que


nasceu, pelo trabalho e pelo amor, destruindo-se concomitantemente as
fronteiras materiais; e dando lugar à era nova da grande família humana, em
que as raças serão substituídas pelas almas e em que a pátria será honrada,
não com a morte, mas com a vida bem aplicada e bem vivida.
55 – A desigualdade verificada entre as classes sociais, no
universo dos bens terrenos, perdurará nas épocas do porvir?
-A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da
reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de
regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a
guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do
organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus
membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos
em Jesus Cristo; a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos.
56 – Pode admitir-se, em Sociologia, o conceito de
igualdade absoluta?
-A concepção igualitária absoluta é um erro grave dos sociólogos, em
qualquer departamento da vida. A tirania política poderá tentar uma
imposição nesse sentido, mas não passará das espetaculosas uniformizações
simbólicas para efeitos exteriores, porquanto o verdadeiro valor de um
homem está no seu íntimo, onde cada espírito tem sua posição definida pelo
próprio esforço.

Nessa questão existe uma igualdade absoluta de direitos dos homens


perante Deus, que concede a todos os seus filhos uma oportunidade igual nos
tesouros inapreciáveis do tempo. Esses direitos são os da conquista da
sabedoria e do amor, através da vida, pelo cumprimento do sagrado dever do
trabalho e do esforço individual. Eis por que cada criatura terá o seu mapa de
méritos nas sendas evolutivas, constituindo essa situação, nas lutas
planetárias, um a grandiosa progressiva em matéria de raciocínios e
sentimento, em que se elevará naturalmente todo aquele que mobilizar as
possibilidades concedidas à sua existência para o trabalho edificante da
iluminação de si mesmo, nas sagradas expressões do esforço individual.
57 – Poderão os homens resolver sem atritos as
chamadas questões proletárias?
-Sim, quando se decidirem a aceitar e aplicar os princípios sagrados do
Evangelho. Os regulamentos apaixonados, as greves, os decretos unilaterais,
as ideologias revolucionárias, são cataplasmas inexpressivas, complicando a
chaga da coletividade.
O socialismo é uma bela expressão de cultura humana, enquanto não
resvala para os polos do extremismo.

Todos os absurdos das teorias sociais decorrem da ignorância dos homens


relativamente à necessidade de sua cristianização. Conhecemos daqui os
maus dirigentes e os maus dirigidos, não como homens ricos e pobres, mas
como avarentos e a revoltados. Nesses dias Expressões, as criaturas operam o
desequilíbrio de todos os mecanismos do trabalho natural.
A verdade é que todos os homens são proletários da evolução e nenhum
esforço de boa realização na Terra é indigno do espírito encarnado.

Cada máquina exige uma direção especial, e o mecanismo do mundo


requer o infinito de aptidões e de conhecimentos.

Sem a harmonia de cada peça na posição em que se encontra, toda


produção é contraproducente e toda boa tarefa impossível.
Todos os homens são ricos pelas bênçãos de Deus e cada qual deve
aproveitar, com êxito, os “talentos” recebidos, porquanto, sem exceção de um
só, prestarão um dia, além-túmulo, contas de seus esforços.

Que os trabalhadores da direção saibam amar, e que os da realização


nunca odeiem. Essa é a verdade pela qual compreendemos que todos os
problemas do trabalho, na Terra, representam uma equação de Evangelho.
58 – Reconhecendo-se o Estado como aparelhamento de
leis convencionais, é justificável a sua existência, bem como a
das classes armadas, que sustentam no mundo?
-Na situação (ou condição) atual do mundo e considerando a
heterogeneidade dos caracteres e das expressões evolutivas das criaturas,
examinadas isoladamente, justifica-se a necessidade dos aparelhos estatais
nas convenções políticas, bem como das classes armadas que os mantém no
orbe, como institutos de ordem para a execução das provas individuais, nas
contingências humanas, até que o homem perceba o sentido de concórdia e
fraternidade dentro das leis do Criador; prescindindo então da
obrigatoriedade de certas determinações das leis humanas, convencionais e
transitórias.
59 – Tem o Espiritismo um papel especial junto da
Sociologia?
-Na hora atual da humanidade terrestre, em que todas as conquistas da
civilização se subvertem nos extremismos, o Espiritismo é o grande iniciador
da Sociologia, por significar o Evangelho redivivo que as religiões literalistas
tentam inumar nos interesses econômicos e na convenção exterior de seus
prosélitos (adeptos).

Restaurando os ensinos de Jesus para o homem e esclarecendo que os


valores legítimos da criatura são os que procedem da consciência e do
coração, a doutrina consoladora dos Espíritos reafirma a verdade de que a
cada homem será dado de acordo com seus méritos, no esforço individual,
dentro da aplicação da lei do trabalho e do bem; razão pela qual representa o
melhor antídoto dos venenos sociais atualmente espalhados no mundo pelas
filosofias políticas do absurdo e da ambição desmedida, restabelecendo a
verdade e a concórdia para os corações.
60 – Como se deverá comportar o espiritista perante a
política do mundo?
O sincero discípulo de Jesus está investido de missão mais sublime, em
face da tarefa política saturada de lutas materiais. Essa é a razão por que não
deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações
transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das
circunstâncias, deve aceitá-las não como galardão para a doutrina que
professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre
difícil. O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de um
mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas
na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir e consolar e instruir,
em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no
caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o
valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em
face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do
progresso universal, depreendendo-se daí que a verdadeira construção da
felicidade geral só será efetiva com bases legítimas no espírito das criaturas.
61 – Como devemos encarar a política do racismo?
-Se é justo observarmos nas pátrias o agrupamento de múltiplas
coletividades, pelos laços afins da educação e do sentimento, a política do
racismo deve ser encarada como erro grave, que pretexto algum justifica,
porquanto não pode apresentar base séria nas suas alegações, que mal
encobrem o propósito nefasto de tirania e separatividade.
62 – O “não matarás” alcança o caçador que mata por
divertimento e o carrasco que extermina por obrigação?
-À medida que evolverdes no sentimento evangélico; compreendereis que
todos os matadores se encontram em oposição ao texto sagrado.
No grau dos vossos conhecimentos atuais, entendeis que somente os
assassinos que matam por perversidade estão contra a lei divina. Quando
avançardes mais no caminho, aperfeiçoando o aparelho social, não tolerareis
o carrasco, e, quando estiverdes mais espiritualizados, enxergando nos
animais os irmãos inferiores de vossa vida, a classe dos caçadores não terá
razão de ser.

Lendo, os nossos conceitos, recordareis os animais daninhos e, no íntimo,


haveis de ponderar sobre a necessidade do seu extermínio. É possível, porém,
que não vos lembreis dos homens daninhos e ferozes. O caluniador não
envenena mais que o toque de uma serpente? Com frieza a maquinaria da
guerra incompreensível não é mais impiedosa que o leão selvagem? ...
Ponderemos essas verdades e reconheceremos que o homem espiritual do
futuro, com a luz do Evangelho na inteligência e no coração, terá modificado
o seu ambiente de lutas, auxiliando igualmente os esforços evolutivos de seus
companheiros do plano inferior, na vida terrestre.
63 – Considerando a determinação positiva do “não
julgueis”, como poderemos discernir do mal, sem
julgamento?
-Entre julgar e discernir, há sempre grande distância. O ato de julgar para
a especificação de consequência definitiva pertence à autoridade divina,
porém, o direito da análise está instituído para todos os Espíritos, de modo
que, discernindo o bem e o mal, o erro e a verdade, possam as criaturas traçar
as diretrizes do seu melhor caminho para Deus.
64 – Em face da lei dos homens, quando em presença do
processo criminal, deve dar se o voto condenativo, em
concordância com o processo-crime, ou absolver o réu em
obediência ao “não julgueis”?
-Na esfera de nossas experiências, consideramos que, à frente dos
processos humanos, ainda quando as suas peças sejam condenatórias, deve-se
recordar a figura do Cristo junto da pecadora apedrejada, pois que Jesus
estava também perante um júri.
“Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra” – é a sentença que
deveria lembrar, sempre, a nossa situação comum de Espíritos decaídos, para
não condenar esse ou aquele dos nossos semelhantes. “Vai e não peques
mais” – deve ser a nossa norma de conduta dentro do próprio coração,
afastando-se a erva do mal que nele viceje.

Nos processos públicos, a autoridade judiciária, como peça integrante da


máquina do Estado no desempenho de suas funções especializadas, deve
saber onde se encontra o recurso conveniente para o corretivo ou para a
reeducação do organismo social, mobilizando, nesse mister, os valores de sua
experiência e de suas responsabilidades.
Individualmente, porém, busquemos aprender que se podemos “julgar”
alguma coisa, julguemo-nos, sempre, em primeiro lugar, como o irmão mais
próximo daquele a quem se atribui um crime ou uma falta, a fim de estarmos
acordes com Aquele que é a luz dos nossos corações.

Nas horas comuns da existência, procuremos a luz evangélica para


analisar o erro e a verdade, discernir o bem e o mal; todavia, no instante dos
julgamentos definitivos, entreguemos os processos A Deus, que, antes, de
nós, saberá sempre o melhor caminho da regeneração dos seus filhos
trabalhadores.
65 – O homem que guarda responsabilidade nos cargos
públicos da Terra responde, no plano espiritual, pelas ordens
que cumpre e faz cumprir?
-A responsabilidade de um cargo público, pelas suas características
morais, é sempre mais importante que a concedida por Deus sobre um
patrimônio material. Daí a verdade que, na vida espiritual, o depositário do
bem público responderá sempre pelas ordens expedidas pela sua autoridade,
nas tarefas da Terra.
66 –O preceito evangélico – “assim, pois, aquele que
dentre vós não renunciar a tudo o que tem, não pode ser
meu discípulo” – deve ser interpretado no sentido absoluto?
-Ainda esse ensino do Mestre deve ser considerado no seu divino
simbolismo.
A fortuna e a autoridade humanas são também caminhos de experiências
e provas, e o homem que as atirasse fora de si, arbitrariamente, procederia
com a noção da irresponsabilidade, desprezando o ensejo do progresso que a
Providência Divina lhe colocou nas mãos.

Todos os homens são usufrutuários dos bens divinos e os convocados ao


trabalho de administração desses bens devem encarar a sua responsabilidade
como problema dos mais sérios da vida.
Renunciando ao egoísmo, ao orgulho, à fraqueza, às expressões de
vaidade, o homem cumprirá a ordenação evangélica, e, sentindo, a grandeza
de Deus, único dispensador no patrimônio real da vida, será discípulo do
Senhor em quaisquer circunstâncias, por usar as suas possibilidades materiais
e espirituais, sem os característicos envenenados do mundo, como intérprete
sincero dos desígnios divinos para felicidade de todos.
67 – Como interpretar o movimento feminista na
atualidade da civilização?
-O homem e a mulher, no instituto conjugal, são como o cérebro e o
coração do organismo doméstico.
Ambos são portadores de uma responsabilidade igual no sagrado colégio
da família; e, se a alma feminina sempre apresentou um coeficiente mais
avançado de espiritualidade na vida, é que, desde cedo, o espírito masculino
intoxicou as fontes da sua liberdade, através de todos os abusos, prejudicando
a sua posição moral no decurso das existências numerosas, em múltiplas
experiências seculares.

A ideologia feminista dos tempos modernos, porém, com as diversas


bandeiras políticas e sociais, pode ser um veneno para a mulher desavisada
dos seus grandes deveres espirituais na face da Terra. Se existe um
feminismo legítimo, esse deve ser o da reeducação da mulher para o lar,
nunca para uma ação contraproducente fora dele. É que os problemas
femininos não poderão ser solucionados pelos códigos do homem, mas
somente à luz generosa e divina do Evangelho.
68 – Como conceituar o estado de espírito do homem
moderno, que tanto se preocupa com o “estar bem na vida”,
“ganhar bem” e “trabalhar para enriquecer”?
-Esse propósito do homem viciado, dos tempos atuais. Constitui forte
expressão de ignorância dos valores espirituais na Terra, onde se verifica a
inversão de quase todas as conquistas morais.
Foi esse excesso de inquietação, no mais desenfreado egoísmo, que
provocou a crise moral do mundo, em cujos espetáculos sinistros podemos
reconhecer que o homem físico, da radiotelefonia e do transatlântico,
necessita de mais verdade que dinheiro, de mais luz que de pão.
II - CIÊNCIAS ABASTRATAS

69 – No quadro dos valores espirituais, qual a posição


das ciências abstratas como a Matemática, a Estatística e a
Lógica, por exemplo, que requerem o máximo de método e
observação para as suas atividades dedutivas?
-Ainda aqui, observamos a Matemática e a Estatística medindo,
calculando e enumerando o patrimônio das expressões materiais, e a Lógica
orientando as atividades intelectuais do homem, nas contingências de sua
vida no planeta.
Não podemos desprezar a cooperação das ciências abstratas nos
postulados educativos, por adestrarem as inteligências, dilatando a
espontaneidade nos espíritos, de maneira a estabelecer a facilidade de
compreensão dos valores da vida planetária, mas temos de reconhecer que as
suas atividades, quase todas circunscritas ao ambiente do mundo, são
processos ou meios para que o homem atinja a ciência da vida em suas mais
profundas revelações espirituais, ciência que simboliza a divina finalidade de
todas as investigações e análises das organizações existentes na Terra.
III-CIÊNCIAS ESPECIALIZADAS

70 – As ciências especializadas com a Astronomia, a


Meteorologia, a Botânica e a Zoologia, foram criadas pelo
esforço do espírito humano, na evolução das ciências
fundamentais?
-Como atividades complementares das ciências fundamentais, esses
estudos especializados representam um conjunto de conquistas do espírito
humano, no sagrado labor da entidade abstrata a que chamamos “civilização”.
Tais esforços constituem a catalogação das pesquisas e realizações
propriamente humanas: todavia, convergem para a ciência integral no plano
infinito, onde se irmanarão com os valores morais na glorificação do homem
redimido.
71 – Como julgar a posição da Terra em relação aos
outros mundos?
-A grandeza do plano sideral, onde se agita a comunidade dos sistemas, é
demasiado profunda para que possamos assinar-lhe a definição com os
mesquinhos formulários da Terra.
No turbilhão do Infinito, o sistema planetário centralizado pelo nosso Sol
é excessivamente singelo, constituindo um aspecto muito pobre da Criação.

Basta lembrar que Capela, um dos nossos vizinhos mais próximos, é um


sol 5.800 vezes maior que o nosso astro do dia, sem esquecermos que a Terra
é 1.300.000 vez menor que o nosso Sol.
Nessas cifras grandiosas, compreendemos a extensão da nossa humildade
no Universo, apiedando-nos sinceramente da situação dos conquistadores
humanos de todos os matizes, os quais no afã de açambarcarem patrimônios
materiais, nos dão a impressão de ridículos e vaidosos polichinelos da vida.
72 – Existem planetas de condições piores que as da
Terra?
-Existem orbes que oferecem piores perspectivas de existência que o
vosso e, no que se refere a perspectivas, a Terra é um plano alegre e formoso,
de aprendizado. O único elemento que aí destoa da Natureza é justamente o
homem, avassalado pelo egoísmo.
Conhecemos planetas onde os seres que os povoam são obrigados a um
esforço contínuo e penoso para aliciar os elementos essenciais à vida; outros,
ainda, onde numerosas criaturas se encontram em doloroso degredo.
Entretanto, no vosso, sem que haja qualquer sacrifício de vossa parte, tendes
gratuitamente céu azul, fontes fartas, abundância de oxigênio, árvores
amigas, frutos e flores, cor e luz, em santas possibilidades de trabalho, que o
homem há renegado em todos os tempos.
73 – A humanidade terrestre é idêntica a doutros orbes?
-Nas expressões física, semelhante analogia é impossível, em face das leis
substanciais que regem cada plano evolutivo; mas, procuremos entender por
humanidade a família espiritual de todas as criaturas de Deus que povoam o
Universo e, examinada a questão sob esse prisma, veremos a comunidade
terrestre identificada com a coletividade universal.

74 – O homem científico poderá encarar com êxito as


possibilidades de uma viagem interplanetária?
-Pelo menos, enquanto perdurar a sua atitude de confusão, de egoísmo e
rebeldia, a humanidade terrestre são deve alimentar qualquer projeto de
viagem interplanetária.

Que dizermos do homem que, sem dispor a ordem na sai própria casa,
quisesse invadir a residência dos vizinhos? Se tantas vezes as criaturas
terrestres têm menosprezado os bens que a Providência Divina lhes colocou
nas mãos, não seria justo circunscrevê-las ao seu âmbito acanhado e
mesquinho?
O insulamento da Terra é um bem inapreciável.

Observemos as expressões do progresso humano, movimentadas para a


guerra e para a destruição, nos triunfos da força, e rendamos louvores ao Pai
Celestial por não haver dilatado no orbe terreno os processos de observação
das suas vaidosas criaturas.
75 – Na diversidade de suas experiências, é o Espírito
obrigado a adaptar-se às condições fluídicas de cada orbe?
-Esse é um imperativo para aquisição de seus valores evolutivos dentro
das leis do aperfeiçoamento.
76 – Poderão os fenômenos da meteorologia ser
controlados, mais tarde, pelos homens?
-Os fenômenos meteorológicos, incontroláveis pelas criaturas humanas,
não o são pelos prepostos de Jesus, que buscam dispô-los de acordo com os
ascendentes espirituais a serem observados em todos os processos evolutivos.
Não olvidemos, contudo, que a Terra é uma escola.

Se não é possível conceder, por enquanto, um título de conhecimento


total aos discípulos rebeldes e preguiçosos. Isso será possível um dia, quando
a evolução moral houver atingido o nível indispensável ao aproveitamento
dessa ou daquela força, em benefício de todos.
77 – Os Espíritos se preocupam com a Botânica?
-Na Botânica encontrais as mesmas incógnitas dos princípios, apenas
explicáveis pelos fatores transcendentes, o que prova a atenção do plano
espiritual para com o chamado reino dos vegetais.
Esse departamento da Natureza, campo de evolução como os outros,
recebe igualmente o sagrado influxo do Senhor, através da assistência de seus
mensageiros, desde os pródromos (precursor, início) da organização
planetária.

Recordai-vos de que o homem é discípulo numa escola que o seu


raciocínio já encontrou organizada pela sabedoria divina e, em nome
d'Aquele que é a origem sagrada de nossas vidas, amai as árvores e tende
cuidado com o campo, onde florescem as bênçãos do céu.
78 – A Zoologia é também objeto de atenção dos planos
espirituais?
-Sem dúvida, também a Zoologia merece o zelo da esfera invisível, mas é
indispensável considerarmos a utilidade de uma advertência aos homens,
convidando-os a examinar detidamente os seus laços de parentesco com os
animais, dentro das linhas evolutivas, sendo justo que procurem colocar os
seres inferiores da vida planetária sob o seu cuidado amigo.

Os reinos da Natureza, aliás, são o campo de operação e trabalho dos


homens, sendo razoável considera-los, mais sob a sua responsabilidade direta
que propriamente dos Espíritos, razão por que responderão perante as leis
divinas pelo que fizerem, em consciência, com os patrimônios da natureza
terrestre.
79 – Como interpretar nosso parentesco com os animais?
Considerando que eles igualmente possuem diante do tempo, um porvir
de fecundas realizações, através de numerosas experiências chegarão, um dia,
ao chamado reino hominal, como, por nossa vez, alcançaremos, no escoar dos
milênios, a situação de angelitude. A escala do progresso é sublime e infinita.
No quadro exíguo dos vossos conhecimentos, busquemos uma figura que
nos convoque ao sentimento de solidariedade e de amor que deve imperar em
todos os departamentos da natureza visível e invisível. O mineral é atração. O
vegetal é sensação. O animal é instinto. O homem é razão. O anjo é
divindade.

Busquemos reconhecer a infinidade de laços que nos unem nos valores


gradativos da evolução e ergamos em nosso íntimo o santuário eterno da
fraternidade universal.
IV - CIÊNCIAS COMBINADAS

80 – As chamadas ciências combinadas, entre as quais a


História, a Geologia e a Geografia, surgiram no mundo tão só
pelo esforço dos Espíritos aqui encarnados?
-Indiretamente, as criaturas humanas têm recebido, em todas as épocas, a
cooperação do plano espiritual para a edificação dos seus valores mais
legítimos.

As chamadas ciências combinadas são expressões do mesmo quadro de


conhecimentos humanos, com igual convergência para a sabedoria integral,
no plano infinito.
A História, como a conheceis, não é uma estatística dos acontecimentos
do planeta através das palavras?

Todas elas são processos evolutivos para os valores intelectuais do


homem, a caminho das conquistas definitivas de sua personalidade imortal.
81 – Nos planos espirituais a história das civilizações
terrestres é conhecida nas mesmas características em que a
conhecemos através dos narradores humanos?
-A descrição dos fatos é aproximadamente a mesma; todavia, os métodos
de apreciação dos acontecimentos e das situações divergem de maneira quase
absoluta.
Muitas vezes os heróis nos livros da Terra são entidades misérrimas na
esfera espiritual. Verifica-se, então, o contrário. Conhecemos Espíritos
altíssimos que vieram do mundo cobertos de virtudes gloriosas, e que não
constam de nenhuma lembrança da Humanidade. Os altares e as galerias
patrióticas da Terra foram sempre comprometidos pela política rasteira das
paixões. Poucos heróis do planeta fazem jus a esse título no mundo da
verdade.

É por essa razão que a história do orbe sendo exata, no concernente à


descrição e à cronologia, é ilegítima no que se refere à justiça e à sinceridade.
82 – Os falsos julgamentos da História agravam a
situação dos que se desprendem do mundo, na qualidade de
heróis, sem que o sejam?
-As exéquias solenes, os necrológios brilhantes, os pomposos adjetivos
que se concedem aos “mortos”, em troca do ouro da posição convencional
que deixaram, afligem os que partiram pela morte, de maneira intraduzível.
Penosa situação de angústia se estabelece para esses Espíritos sofredores e
perturbados, que se envergonham de si mesmos, experimentando a mais
funda repugnância pelas homenagens recebidas.
Cessada essa fase do julgamento insincero do mundo, frequentemente se
poderá observar a incoerência dos homens.

O “antigo herói” volta ao orbe com as vestes do mendigo ou do proletário


rude, aprendendo nas lágrimas silenciosas a compor os cânticos do dever e do
trabalho santificantes; todavia, ninguém o vê, porque, na história do mundo,
em todos os tempos, o homem sempre incensou a tirania e raramente fixou o
olhar inquieto na flor carinhosa e humilde da virtude.
83 – É o historiador responsável pelos juízos falsos da
História?
-Considerando-se que cada Espírito, encarnado tem sua tarefa especial
nesse ou naquele setor evolutivo, os historiadores que se deixam mergulhar
no interesse econômico das sinecuras políticas; embriagados pelo vinho da
mediocridade; responderão além-túmulo pela exploração comercial da
inteligência que hajam praticado na Terra, adulterando a justiça e o direito,
evitando a verdade, ou fornecendo mentiras ao espírito confiante dos
pósteros.
84 – Se um Espírito no plano invisível não é realmente
uma criatura santificada, como receberá as orações de seus
devotos, se a história do mundo o canonizou?
-A canonização é um processo muito arrojado das ambições humanas,
para ser considerado perante a verdade espiritual.
Conhecemos inquisidores, verdugos de povos e traidores do bem,
conduzidos ao altar pelo falso julgamento da política humana. A prece dos
devotos invocando o seu socorro muitas vezes sem se lembrarem da
paternidade de Deus, ecoa-lhes no coração perturbado como vozes de
acusação terrível e dolorosa, porquanto reavivam ainda mais a nudez de suas
feridas.

Frequentemente, os Espíritos que se encontram nessa penosa situação


rogam a Jesus a concessão das experiências mais humildes na Terra, a fim de
olvidarem os ruídos nocivos das falsas glórias do planeta, no silêncio das
grandes dores que iluminam e regeneram.
85 – As primeiras formas planetárias obedeceram a um
molde especial preexistente?
- Jesus foi o divino escultor da obra geológica do planeta. Junto de seus
prepostos, iluminou a sombra dos princípios com os eflúvios sublimados do
seu amor, que saturaram todas as substâncias do mundo em formação.
Não podemos afirmar que as formas da Natureza, em sua manifestação
inicial, obedecessem a um molde preexistente, no sentido de imitação, porque
todas elas receberam o influxo sagrado do coração do Cristo.

A verdade é que, assim como as vossas construções materiais, todas as


obras viveram previamente no cérebro de um engenheiro ou de um arquiteto,
todas as formas de vida na Terra foram primeiramente concebidas na sua
visão divina.
86 – Tendo sido a Terra formada pelo poder divino, por
que passou o planeta por tantas etapas evolutivas, muitas
das quais duraram milhões de anos?
-No infinito do Universo, a evolução do princípio espiritual tem de
escapar a todas as vossas limitações de tempo e de espaço, na tábua dos
valores terrestres.
As aquisições de cada indivíduo resultam da lei do esforço próprio no
caminho ilimitado da criação, destacando-se daí as mais diversas posições
evolutivas das criaturas e compreendendo-se que tempo e espaço são
laboratórios divinos, onde todos os princípios da vida são submetidos às
experiências do aperfeiçoamento, de modo que cada um deva a si mesmo
todas as realizações, no dia de aquisição dos mais altos valores da vida.
87 – De onde foram tirados os elementos para a
formação da Terra?
-Sabemos que a aglutinação molecular, bem como o motor transcendente
do mundo, obedeceu ao sopro gerador da vida, oriundo do Todo-Poderoso e
lançado sobre o infinito da criação universal; contudo, achamo-nos ainda na
situação do aluno que encontrou a escola já edificada, cabendo-nos louvar e
buscar, pelo trabalho e pelo aperfeiçoamento, o seu Divino Autor.
88 – Deve o homem terrestre enxergar nas comoções
geológicas do globo elementos de provação para a sua vida?
-Os abalos sísmicos não são simples acidentes da Natureza. O mundo não
está sob a direção de forças cegas. As comoções do globo são instrumentos
de provações coletivas, ríspidas e penosas. Nesses cataclismos, a multidão
resgata igualmente os seus crimes de outrora e cada elemento integrante da
mesma quita-se do pretérito na pauta dos débitos individuais.
89 – Por que razão não existe nos textos sagrados uma
notícia positiva das terras descobertas posteriormente à
vinda de Jesus ao planeta?
-Nesse particular, temos de convir que a palavra das profecias, através de
todos os tempos e situações do planeta, como eco das regiões divinas, não
teve em mira senão a edificação do Reino de Deus nos corações, desprezando
as fundações humanas, precárias e perecíveis. Todavia, no desdobramento
das revelações, encontrareis notícias das novas terras, posteriormente
descobertas, informações essas que se encontram sob os véus dos símbolos,
como aconteceu com todas as demais notificações que o Velho e Novo
Testamentos legaram ao homem espiritual.
V - CIÊNCIAS APLICADAS

90 – As ciências aplicadas, como a Agricultura, a


Engenharia, a Medicina, a Educação e a Economia
representam o campo de esforço dos Espíritos encarnados,
para amplificação dos conhecimentos do homem, em
benefício material da Humanidade?
-As ciências aplicadas são as forças que se mobilizam para as
comodidades da civilização; todavia, apesar de suas características materiais,
é dentro de seus quadros que se organizam os esforços abençoados do
Espírito, em provas de regeneração ou em missões purificadoras, na sua
marcha ascensional para o perfeito.
Entrosando-se com as atividades complementares das demais expressões
científicas do planeta, todas se harmonizam, nas lutas do homem, como
recursos terrenos para o desiderato das finalidades divinas.
91 – No quadro das ciências, as inspirações do plano
superior são destinadas a determinados estudiosos ou
lançados de maneira geral para todos os cientistas?
-Nos departamentos da atividade científica existe às vezes, esse ou aquele
missionário, com tarefa especializada e conferida, tão somente ao seu
esforço.
Em se tratando, porém, de ideias e aparelhos novos, nos movimentos
evolutivos, as inspirações do plano espiritual são distribuídas em todas as
correntes do pensamento humano, percebendo-as, contudo, somente aqueles
que se encontram sintonizados com as suas vibrações.
92 – O agricultor, aplicando os conhecimentos da ciência
para a melhoria do seu meio ambiente e elevação do nível
social em que se encontra, cumpre, também, missão
espiritual?
-O homem recebeu, igualmente, uma grande tarefa junto ao solo do
globo, fonte de manutenção de sua existência, competindo-lhe o bom serviço
de cultivar e aperfeiçoar o trato da terra, sob a sua ordenação transitória,
porquanto é na oficina do orbe que ele se prepara, de modo geral, para o seu
futuro infinito, cheio de beleza e de realizações definitivas no plano eterno.
93 – O engenheiro, na movimentação dos patrimônios
materiais do orbe, alargando as possibilidades de
comunicação entre os povos, é amparado pelas forças
espirituais?
-As fontes de proteção do plano invisível amparam todos os esforços
generosos e sinceros que objetivam não só o aperfeiçoamento da escola
planetária, como também o de seus filhos. Assim, temos de reconhecer no
engenheiro abnegado um obreiro do progresso e da fraternidade.
Essa a razão pela qual as grandes obras da engenharia, em sua feição
beneficiária, apesar de materiais, possuem elevada significação pela extensão
de sua utilidade ao espírito coletivo.
94 – Como é considerada nos planos espirituais a
medicina terrena?
-A medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades
superiores, constitui uma nobre missão espiritual.
O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem; é um
apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a precisa assistência e
inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na
vida.
95 – Em face dos esforços da Medicina, como devemos
considerar a saúde?
-Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio perfeito dos
órgãos materiais; para o plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita
harmonia da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, há necessidade da
contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias da Terra.
96 – Toda moléstia do corpo tem ascendentes
espirituais?
-As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano,. O
corpo doente reflete o panorama interior do espírito enfermo. A patogenia é
um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico.

E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos


medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode
remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O
remédio eficaz está na ação do próprio espírito enfermiço.
Podeis objetar que as injeções e os comprimidos suprimem a dor; todavia,
o mal ressurgirá mais tarde nas células do corpo. Indagareis, aflitos, quanto às
moléstias incuráveis pela ciência da Terra e eu vos direi que a reencarnação,
em si mesma, nas circunstâncias do mundo envelhecido nos abusos, já
representa uma estação de tratamento e de cura e que há enfermidades d'alma,
tão persistentes, que podem reclamar várias estações sucessivas, com a
mesma intensidade nos processos regeneradores.
97 – Se as enfermidades são de origem espiritual, é justo
a aplicação dos medicamentos humanos, a cirurgia, etc, etc?
-O homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em favor do
seu equilíbrio orgânico. Por muito tempo ainda, a Humanidade não poderá
prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião e do farmacêutico,
missionários do bem coletivo. O homem tratará da saúde do corpo, até que
aprenda a preserva-lo e defende-lo, conservando a preciosa saúde de sua
alma.

Acima de tudo, temos de reconhecer que os serviços de defesa das


energias orgânicas, nos processos humanos, como atualmente se verificam,
asseguram a estabilidade de uma grande oficina de esforços santificadores no
mundo.

Quando, porém, o homem espiritual dominar o homem físico, os


elementos medicamentosos da Terra estarão transformados na excelência dos
recursos psíquicos e essa grande oficina achar-se-á elevada a santuário de
forças e possibilidades espirituais junto das almas.
98 – Nos processos de cura, como deveremos
compreender o passe?
-Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças
físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de
que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os
elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.
99 – Como deve ser recebidos e dados o passe?
-O passe poderá obedecer à fórmula que forneça maior porcentagem de
confiança, não só a quem o dá, como a quem o recebe. Devemos esclarecer,
todavia, que o passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual,
dispensando qualquer contacto físico na sua aplicação.
100 – A chamada “benzedura”, conhecida nos meios
populares, será uma modalidade do passe?
-As chamadas “benzeduras”, tão comuns no ambiente popular, sempre
que empregadas na caridade, são expressões humildes do passe regenerador,
vulgarizado nas instituições espirituais de socorro e de assistência.
Jesus nos deu a primeira lição nesse sentido, impondo as mãos divinas
sobre os enfermos e sofredores, no que foi seguido pelos apóstolos
do Cristianismo primitivo.

“Toda boa dádiva e dom perfeito vêm do Alto” – dizia o apóstolo, na


profundeza de suas explanações.
A prática do bem pode assumir as fórmulas mais diversas. Sua essência,
porém, é sempre a mesma diante do Senhor.
101 – Por que não será permitida às entidades espirituais
a revelação dos processos de cura da lepra, do câncer, etc?
-Antes de qualquer consideração, devemos examinar a lei das provações e
a necessidade de sua execução plena.
Na própria natureza da Terra e na organização de fluídos inerentes ao
planeta, residem todos esses recursos, até hoje inapreendidos pela ciência dos
homens. Jesus curava os leprosos com a simples imposição de suas mãos
divinas.

O plano espiritual não pode quebrar o ritmo das leis do esforço próprio,
como a direção de uma escola não pode decifrar os problemas relativos à
evolução de seus discípulos.
Além de tudo, a doença incurável traz consigo profundos benefícios. Que
seria das criaturas terrestres sem as moléstias dolorosas que lhes apodrecem a
vaidade? Até onde poderiam ir o orgulho e o personalismo do espírito
humano, sem a constante ameaça de uma carne frágil e atormentada?

Observamos as dádivas de Deus no terreno das grandes descobertas,


mobilizadas para a guerra de extermínio, e contemplemos com simpatia os
hospitais isolados e escuros, onde, tantas vezes, a alma humana se recolhe
para as necessárias meditações.
102 – Podem os espíritos amigos atuar sobre a flora
microbiana, nas moléstias incuráveis, atenuando os
sofrimentos da criatura?
-As entidades amigas podem diminuir a intensidade da dor nas doenças
incuráveis, bem como afasta-la completamente, se esse benefício puder ser
levado a efeito no quadro das provas individuais, sob os desígnios sábios e
misericordiosos do plano superior.
103 – No tratamento ministrado pelos Espíritos amigos, a
água fluidificada, para um doente, terá o mesmo efeito em
outro enfermo?
-A água pode ser fluidificada, de modo geral, em benefício de todos;
todavia, pode sê-lo em caráter particular para determinado enfermo, e, neste
caso, é conveniente que o uso seja pessoal e exclusivo.
104 – Existem condições especiais para que os Espíritos
amigos possam fluidificar a água pura, como sejam as
presenças de médiuns curadores, reuniões de vários
elementos, etc, etc?
-A caridade não pode atender a situações especializadas. A presença de
médiuns curadores, bem como as reuniões especiais, de modo algum podem
constituir o preço do benefício aos doentes, porquanto os recursos dos guias
espirituais, nessa esfera de ação, podem independer do concurso
medianímico, considerando o problema dos méritos individuais.
105 – O fato de um guia espiritual receitar para
determinado enfermo, é sinal infalível de que o doente terá
de curar-se?
-O guia espiritual é também um irmão e um amigo, que nunca ferirá as
vossas mais queridas esperanças.
Aconselhando o uso de uma substância medicamentosa, alvitrando essa
ou aquela providência, ele cooperará para as melhoras de um enfermo e, se
possível, para o pleno restabelecimento de sua saúde física, mas não poderá
modificar a lei das provações ou os desígnios supremos dos planos
superiores, na hipótese da desencarnação, porque, dentro da Lei, somente
Deus, seu Criador, pode dispensar.
106 – A eutanásia é um bem, nos casos de moléstia
incurável?
-O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda
que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja.
A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia
incurável pode ser um bem como a única válvula de escoamento das
imperfeições do Espírito da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos
são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos
problemas transcendentes das necessidades do Espírito.
107 – Um hospital espírita tem utilidade para a família
espírita?
-A fundação de um hospital, em cujos processos de tratamento estejam
vivos os princípios do Espiritismo evangélico, constitui realização generosa,
na melhor exaltação dos ensinos consoladores dos mensageiros celestiais.
As edificações dessa natureza, todavia, exigem o máximo de renúncia por
parte dos que as patrocinem, porquanto, dentro delas o médico do mundo é
compelido a esquecer os títulos acadêmicos, para ser um dos mais legítimos
missionários d'Aquele Médico das Almas que curou os cegos e os leprosos,
os tristes e os endemoninhados, exemplificando o amor e a humildade na
entrosagem de todos os serviços pelo bem dos semelhantes.

Um hospital espírita deve ser um lar de Jesus.


Seu aparelhamento é uma maquinaria divina, exigindo idênticas
superioridade nos operários chamados a movimentar-lhe as peças, de modo a
que se não deturpe a grandeza profunda dos fins.
108 – Onde a base mais elevada para os métodos de
educação?
-As noções religiosas, com a exemplificação dos mais altos deveres da
vida, constituem a base de toda a educação no sagrado instituto da família.
109 – O período infantil é o mais importante para a
tarefa educativa?
-O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos
princípios educativos.
Até aos sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para
a nova existência que lhe compete no mundo. Nessa idade, ainda não existe
uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do
plano espiritual são, por isso, mais vivas, tornando-se mais suscetível de
renovar o caráter e a estabelecer novo caminho, na consolidação dos
princípios de responsabilidade, se encontrar nos pais legítimos representantes
do colégio familiar.

Eis por que o lar é tão importante para a edificação do homem, e por que
tão profunda é a missão da mulher perante as leis divinas.
Passada a época infantil, credora de toda vigilância e carinho por parte
das energias paternais, os processos de educação moral, que formam o
caráter, tornam-se mais difíceis com a integração do Espírito em seu mundo
orgânico material, e , atingida a maioridade, se a educação não se houver
feito no lar, então, só o processo violento das provas rudes, no mundo, pode
renovar o pensamento e a concepção das criaturas, porquanto a alma
reencarnada terá retomado todo o seu patrimônio nocivo do pretérito e
reincidirá nas mesmas quedas, se lhe faltou a Luz interior dos sagrados
princípios educativos.
110 – Qual a melhor escola de preparação das almas
reencarnadas, na Terra?
-A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do
sentimento e do caráter.
Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir,
mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade
poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem.

Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do


Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a
fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza,
entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade.
111 – É justa a fundação de institutos para a educação
sexual?
-Quando os professores do mundo estiverem plenamente despreocupados
das tabelas administrativas, dos auxílios oficiais, da classificação de salários,
das situações de evidência no magistério, das promoções, etc., para sentirem
nos discípulos os filhos reais do seu coração, serão acertados cogitar-se da
fundação de educandários dessa natureza, porquanto haverá muito amor
dentro das almas, assegurando o êxito das iniciativas.

Os professores do mundo, todavia, considerando o quadro legítimo das


exceções, ainda não passam de servidores do Estado, angustiados na
concorrência do profissionalismo. Na sagrada missão de ensinar, eles
instruem o intelecto, mas, de um modo geral, ainda não sabem iluminar o
coração dos discípulos, por necessitados da própria iluminação.

Examinada a questão desse modo, e atendendo às circunstâncias das


posições evolutivas, consideramos que os pais são os mestres da educação
sexual de seus filhos, indicados naturalmente para essa tarefa, até que o orbe
possua , por toda parte, as verdadeiras escolas de Jesus, onde a mulher, em
qualquer estado civil, se integre na divina missão da maternidade espiritual de
seus pequenos tutelados e onde o homem, convocado ao labor educativo, se
transforme num centro de paternal amor e amoroso respeito para com os seus
discípulos.
112 – Como renovar os processos de educação para a
melhoria do mundo?
-As escolas instrutivas do planeta poderão renovar sempre os seus
métodos pedagógicos, com esses ou aqueles processos novos, de
conformidade com a psicologia infantil, mas a escola educativa do lar só
possui uma fonte de renovação que é p Evangelho, e um só modelo de
mestre, que é a personalidade excelsa do Cristo.
113 – Os pais espiritistas devem ministrar a educação
doutrinária a seus filhos ou podem deixar de fazê-lo
invocando as razões de que, em matéria de religião,
apreciam mais a plena liberdade dos filhos?
O período infantil, em sua primeira fase, é o mais importante para todas
as bases educativas, e os pais espiritistas cristãos não podem esquecer seus
deveres de orientação aos filhos, nas grandes revelações da vida. Em
nenhuma hipótese, essa primeira etapa das lutas terrestres deve ser encarada
com indiferença.
O pretexto de que a criança deve desenvolver-se com a máxima noção de
liberdade pode dar ensejo a graves perigos. Já se disse, no mundo, que o
menino livre é a semente do celerado. A própria reencarnação não constitui,
em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma
necessitada de expiação e corretivo?

Além disso, os pais espiritistas devem compreender que qualquer


indiferença nesse particular pode conduzir a criança aos prejuízos religiosos
de outrem, ao apego do convencionalismo, e à ausência de amor à verdade.
Deve nutrir-se o coração infantil com a crença, com a bondade, com a
esperança e com a fé em Deus. Agir contrariamente a essas normas é abrir
para o faltoso de ontem a mesma porta larga para os excessos de toda sorte,
que conduzem ao aniquilamento e ao crime.

Os pais espiritistas devem compreender essa característica de suas


obrigações sagradas, entendendo que o lar não se fez para a contemplação
egoística da espécie, mas, sim, para santuário onde, por vezes, se exige a
renúncia e o sacrifício de uma existência inteira.
114 – A economia deve ser dirigida?
-No que se refere à técnica de produção, à necessidade da repartição e aos
processos de consumo, é mais que justa a direção da economia; porém, nesse
sentido, todo excesso político que prejudique a harmonia na lei das trocas, de
que o progresso depende inteiramente, é um erro condenável, com graves
conseqUências para toda a estrutura do organismo coletivo.
Tais excessos deram causa aos sistemas autárquicos de governos, da
atualidade, onde parecem todos os ideais de justiça econômica e de
fraternidade, em virtude dos erros de visão do mau nacionalismo.

A vida depende de trocas incessantes e toda restrição a esses elevados


princípios de harmonia é uma passagem para a destruição revolucionária,
onde se invertem todos os valores da vida.
Que a economia seja dirigida, mas que as paixões políticas não penetrem
os seus domínios de equilíbrios e reciprocidade, porquanto, na sua influência
nefasta, o “bastar-se a si mesmo” é a ideologia sinistra da ambição e do
egoísmo, onde o fermento da guerra encontra o clima apropriado para as suas
manifestações de violência e extermínio.
SEGUNDA PARTE:
FILOSOFIA

115 – É a Filosofia a interpretação sintética de todas as


atividades do espírito em evolução na Terra?
-A Filosofia constitui, de fato, a súmula das atividades evolutivas do
Espírito encarnado, na Terra.

Suas equações são as energias que fecundam a Ciência, espiritualizando-


lhe os princípios, até que unidas umas à outra, indissoluvelmente, penetrem o
átrio divino das verdades eternas.
VIDA: APRENDIZADO

116 – O homem físico está sempre ligado ao seu


pretérito espiritual?
-Como a maioria das criaturas humana se encontra em lutas expiatórias,
podemos figurar o homem terrestre como alguém a lutar para desfazer-se do
seu próprio cadáver, que é o passado culposo, de modo a ascender para a vida
e para a luz que residem em Deus.

Essa imagem temo-la na semente do mundo que, para desenvolver o


embrião, cheio de vitalidade e beleza, necessita do temporário
estacionamento no seio lodoso da Terra, a fim de se desfazer do seu
envoltório, crescendo, em seguida, para a luz do Sol e cumprindo sua missão
sagrada, enfeitada de flores e frutos.
117 – A inteligência, julgada pelo padrão humano, será a
súmula de várias experiências do Espírito sobre a Terra?
-Os valores intelectivos representam a soma de muitas experiências, em
várias vidas do Espírito, no plano material. Uma inteligência profunda
significa um imenso acervo de lutas planetárias. Atingida essa posição, se o
homem guarda consigo uma expressão idêntica de progresso espiritual, pelo
sentimento, então estará apto a elevar-se a novas esferas do Infinito, para a
conquista de sua perfeição.
118 –Como se registram as experiências do Espírito em
uma encarnação, para servirem de patrimônio evolutivo nas
encarnações subsequentes?
-É no próprio patrimônio íntimo que a alma registra as suas experiências,
no aprendizado das lutas da vida, acerca das quais guardará sempre uma
lembrança inata nos trabalhos purificadores do porvir.
119 – Como devemos proceder para dilatar nossa
capacidade espiritual?
-Ainda não encontramos uma fórmula mais elevada e mais bela que a do
esforço próprio, dentro da humildade e do amor, no ambiente de trabalho e de
lições da Terra, onde Jesus houve por bem instalar a nossa oficina de
perfectibilidade para a futura elevação dos nossos destinos de espíritos
imortais.
120 –Pode existir inteligência sem desenvolvimento
espiritual?
-Diremos, melhor: inteligência humana sem desenvolvimento
sentimental, porque nesse desequilíbrio do sentimento e da razão é que
repousa atualmente a dolorosa realidade do mundo. O grande erro das
criaturas humanas foi entronizar apenas a inteligência, olvidando os valores
legítimos do coração nos caminhos da vida.
121 – O meio ambiente influi no espírito?
-O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova
expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se
indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o
bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que
vivem na sua zona de influenciação.
122 –Que se deve fazer para o desenvolvimento da
intuição?
-O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação
sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos.
123 –Deve o crente criar imposições absolutas para si
mesmo, no sentido de alcançar mais depressa a perfeição
espiritual?
O crente deve esforçar-se o mais possível, mas, de modo algum, deve
nutrir a pretensão de atingir a superioridade espiritual completa, de uma só
vez, porquanto a vida humana é aprendizado de lutas purificadoras e, no
cadinho do resgate, nem sempre a temperatura pode ser amena, alcançando,
por vezes, ao mais alto grau para o desiderato do acrisolamento.
Em todas as circunstâncias, guarde o cristão a prece e a vigilância; prece
ativa, que é o trabalho do bem, e vigilância, que é a prudência necessária, de
modo a não trair novos compromissos. E, nesse esforço, a alma estará
preparada a estruturar o futuro de si mesma, no caminho eterno do espaço e
do tempo, sem o desalento dos tristes e sem a inquietação dos mais afoitos.
124 -Qual a importância da palavra humana para as
conquistas evolutivas do espírito?
-A palavra é um dom divino, quando acompanhada dos atos que a
testemunhem; e é através de seus caracteres falados ou escritos que o homem
recebe o patrimônio de experiências sagradas de quantos o antecederam no
mecanismo evolutivo das civilizações. É por intermédio de seus poderes que
se transmite, de gerações a gerações, o fogo divino do progresso na escola
abençoada da Terra.
125 –Reconhecendo que os nossos amigos do plano
espiritual estão sempre ao nosso lado, em todos os trabalhos
e dificuldades, a fim de nos inspirar, quais os maiores
obstáculos que a sua bondade encontra em nós, para que
recebamos os seus socorro indireto, afetuoso e eficiente?
-Os maiores obstáculos psíquicos, antepostos pelo homem terrestre aos
seus amigos e mentores da espiritualidade, são oriundos da ausência de
humildade sincera nos corações; para o exame da própria situação de
egoísmo, rebeldia e necessidade de sofrimento.
126 – As vibrações relativas ao bem e ao mal, emitidas
pela alma encarnada no seu aprendizado terrestre, persistem
no Espaço para exame e ponderação do futuro?
-Haveis de convir convosco que existem fenômenos físicos,
transcendentes em demasia, para que possamos examina-los, devidamente, na
pauta exígua dos vossos conhecimentos atuais.
Todavia, em se tratando de vibrações emitidas pelo Espírito encarnado,
somos compelidos a reconhecer que essas vibrações ficam perenemente
gravadas na memória de cada um; e a memória é uma chapa fotográfica, onde
as imagens jamais se confundem. Bastará a manifestação da lembrança, para
serem levadas a efeito todas as ponderações, mais tarde, no capítulo das
expressões do mal e do bem.
127 – O preceito do “corpo são, mentalidade sadia”,
poderá ser observado tão somente pelo hábito dos esportes
e labores atléticos?
-No que se refere ao; “corpo são”, o atletismo tem papel importante e
seria de ação das mais edificantes nos problemas da saúde física, se o homem
na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica
e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do
abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada
pelos imperativos da chamada eugenia ou pelas competições estranhas dos
grupos sectários, desviando de suas nobres finalidades um dos grandes
movimentos coletivos em favor da confraternização e da saúde.
Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia”
somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre
os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.
128 – A vida do irracional está revestida igualmente das
características missionárias?
-A vida do animal não é propriamente missão, apresentando, porém, uma
finalidade superior que constitui a do seu aperfeiçoamento próprio, através
das experiências benfeitoras do trabalho e da aquisição, em longos e
pacientes esforços, dos princípios sagrados da inteligência.
129 – É um erro alimentar-se o homem com a carne dos
irracionais?
-A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes
consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É
de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade
da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores
nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a
necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.

Temos de considerar, porém, a máquina econômica do interesse e da


harmonia coletiva, na qual tantos operários fabricam o seu pão cotidiano.
Suas peças não podem ser destruídas de um dia para o outro, sem perigos
graves. Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos,
dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres
poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos
inferiores.
130 –Operários do aprendizado terrestre, como devemos
encarar o texto sagrado do “lembra-te do dia de sábado para
santifica-lo”, quando as obrigações de serviço proporcionam
para isso os domingos?
O descanso dominical deve ser sagrado pelo homem, não por se tratar de
um domingo, mas em virtude da necessidade de se estabelecer uma pausa
semanal aos movimentos da vida física, para o recolhimento espiritual da
alma em si mesma, no caminho das atividades terrestres. O repouso
dominical substitui perfeitamente o sábado antigo, salientando-se que a
rigidez da sua observância foi instituída pelos legisladores hebreus, em
virtude da ambição e da prepotência dos senhores de escravos, numerosos na
época, e que, somente desse modo, atendiam à medida de humanidade,
concedendo uma trégua ao esforço exaustivo que costumava aniquilar a
existência de servos fracos e indefesos.
O descanso semanal deve ser sempre consagrado pelo homem `s
expressões de espiritualidade da sua vida, sem se dar, porém, a qualquer
excesso no domínio da letra, nesse particular, porque, após a palavra de
Moisés, devemos ouvir a lição do Senhor, esclarecendo que “o sábado foi
feito para o homem e não o homem par ao sábado”.
EXPERIÊNCIA

131 –Como adquire experiência o Espírito encarnado?


A luta e o trabalho são tão imprescindíveis ao aperfeiçoamento do
espírito, como o pão material é indispensável à manutenção do corpo físico.
É trabalhando e lutando, sofrendo e aprendendo, que a alma adquire as
experiências necessárias na sua marcha para a perfeição.
132 –Há o determinismo e o livre-arbítrio, ao
mesmo tempo, na existência humana?

Determinismo e livre-arbítrio coexistem na vida, entrosando-se na estrada


dos destinos, para a elevação e redenção dos homens.

O primeiro é absoluto nas mais baixas camadas evolutivas e o segundo


amplia-se com os valores da educação e da experiência. Acresce observar que
sobre ambos pairam as determinações divinas, baseadas na lei do amor,
sagrada e única, da qual a profecia foi sempre o mais eloquente testemunho.
Não verificais, atualmente, as realizações previstas pelos emissários do
Senhor há dois e quatro milênios, no divino simbolismo das Escrituras?

Estabelecida a verdade de que o homem é livre na pauta de sua educação


e de seus méritos, na lei das provas, cumpre-nos reconhecer que o próprio
homem, à medida que se torna responsável, organiza o determinismo da sua
existência, agravando-o ou amenizando-lhe os rigores, até poder elevar-se
definitivamente aos planos superiores do Universo.
133 –Havendo o determinismo e o livre-arbítrio, ao
mesmo tempo, na vida humana, como compreender
a palavra dos guias espirituais quando afirmam não
lhes ser possível influenciar a nossa liberdade?

Não devemos esquecer que falamos de expressão corpórea, em se


tratando do determinismo natural, que prepondera sobre os destinos humanos.

A subordinação da criatura, em suas expressões do mundo físico, é lógica


e natural nas leis das compensações, dentro das provas necessárias, mas, no
íntimo, zona de pura influenciação espiritual, o homem é livre na escola do
seu futuro caminho. Seus amigos do invisível localizam aí o santuário da sua
independência sagrada
Em todas as situações, o homem educado pode reconhecer onde falam as
circunstâncias da vontade de Deus, em seu benefício, e onde falam as que se
formam pela força da sua vaidade pessoal ou do seu egoísmo. Como ele,
portanto, estará sempre o mérito da escolha, nesse particular.
134 –Como pode o homem agravar ou amenizar o
determinismo de sua vida?

-A determinação divina a sagrada lei universal é sempre a do bem e da


felicidade, para todas as criaturas.

No lar humano, não vedes um pai amoroso e ativo, com um largo


programa de trabalhos pela ventura dos filhos? E cada filho, cessado o
esforço da educação na infância, na preparação para a vida, não deveria ser
um colaborador fiel da generosa providência paterna pelo bem de toda a
comunidade familiar? Entretanto, a maioria dos pais humanos deixa a Terra
sem ser compreendida, apesar de todo o esforço despendido na educação dos
filhos.
Nessa imagem muito frágil, em comparação com a paternidade divina,
temos um símile da situação.

O Espírito que, de algum modo, já armazenou certos valores educativos, é


convocado para esse ou aquele trabalho de responsabilidade junto de outros
seres em provação rude, ou em busca de conhecimentos para a aquisição da
liberdade. Esse trabalho deve ser levado a efeito na linha reta do bem, de
modo que esse filho seja o bom cooperador de seu Pai Supremo, que é Deus.
O administrador de uma instituição, o chefe de uma oficina, o escritor de um
livro o mestre de uma escola, tema a sua parcela de independência para
colaborar na obra divina e devem retribuir a confiança espiritual que lhes foi
deferida. Os que se educam e conquistam direitos naturais, inerentes à
personalidade, deixam de obedecer, de modo absoluto, no determinismo da
evolução, porquanto estarão aptos a cooperar no serviço das ordenações,
podendo criar as circunstâncias para a marcha ascensional de seus
subordinados ou irmãos em humanidade, no mecanismo de responsabilidade
da consciência esclarecida.
Nesse trabalho de ordenar com Deus, o filho necessita considerar o zelo e
o amor paternos, a fim de não desviar sua tarefa do caminho reto, supondo-se
senhor arbitrário das situações, complicando a vida da família humana, e
adquirindo determinados compromissos, por vezes bastante penosos, porque,
contrariamente ao propósito dos pais, há filhos que desbaratam os “talentos”
colocados em suas mãos, na preguiça, no egoísmo, na vaidade ou no orgulho.

Daí a necessidade de concluirmos com a apologia da Humanidade,


salientando que o homem que atingiu certa parcela de liberdade, está
retribuindo a confiança do Senhor, sempre que age com a sua vontade
misericordiosa e sábia, reconhecendo que o seu esforço individual vale
muito, não por ele, mas pelo amor de Deus que o protege e ilumina na
edificação de sua obra imortal.
135 – Se o determinismo divino é o do bem, quem
criou o mal?

-O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para a


comunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em
Deus, o homem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a
essa mesma lei, efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na
harmonia divina.

Eis o mal.
Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.

Eis o resgate.
Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado, não pode existir par
Deus, em virtude de representar um desvio do homem, sendo zero na
Sabedoria e na Providência Divinas.

O Criador é sempre o Pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando


os filhos transviados como incursos em vastas experiências. Mas, como Jesus
e os seus prepostos são seus cooperadores divinos, e eles próprios instituem
as tarefas contra o desvio das criaturas humanas, focalizam os prejuízos do
mal com a força de suas responsabilidades educativas, a fim de que a
Humanidade siga retamente no seu verdadeiro caminho para Deus.
136 –Existem seres agindo na Terra sob
determinação absoluta?

-Os animais e os homens quase selvagens nos dão uma ideia dos seres
que agem no planeta sob determinação absoluta. E essas criaturas servem
para estabelecer a realidade triste da mentalidade do mundo, ainda distante da
fórmula do amor, com que o homem deve ser o legítimo cooperador de Deus,
ordenando com a sua sabedoria paternal.

Sem saberem amar os irracionais e os irmãos mais ignorantes colocados


sob a sua imediata proteção, os homens mais educados da Terra exterminam
os primeiros, para sua alimentação, e escravizam os segundos para objeto de
explorações grosseiras, com exceções, de modo a mobiliza-los a serviço do
seu egoísmo e da sua ambição.
137 – O homem educado deve exercer vigilância
sobre o seu grau de liberdade?

-É sobre a independência própria que a criatura humana precisa exercer a


vigilância maior.

Quando o homem educado se permite examinar a conduta de outrem, de


modo leviano ou inconveniente, é sinal que a sua vigilância padece
desastrosa deficiência, porquanto a liberdade de alguém termina sempre onde
começa uma outra liberdade, e cada qual responderá por si, um dia, junto à
Verdade Divina.
138 – Em se tratando das questões do determinismo,
qualquer ser racional pode estar sujeito a erros?

-Todo ser racional está sujeito ao erro, mas a ele não se encontra
obrigado.

Em plano de provações e de experiências como a Terra, o erro deve ser


sempre levado à conta dessas mesmas experiências, tão logo seja reconhecido
pelo seu autor direto, ou indireto, tratando-se de aproveitar os seus resultados,
em idênticas circunstâncias da vida, sendo louvável que as criaturas
abdiquem a repetição dos experimentos, em favor do seu próprio bem no
curso infinito do tempo.
139 – Se na luta da vida terrestre existem
circunstâncias, por toda parte, qual será a melhor de
todas, digna de ser seguida?

Em todas as situações da existência a mente do homem defronta


circunstâncias do determinismo divino e do determinismo humano. A
circunstância a ser seguida, portanto, deve ser sempre a do primeiro, a fim de
que o segundo seja iluminado, destacando-se essa mesma circunstância pelo
seu caráter de benefício geral, muitas vezes com o sacrifício da satisfação
egoística da personalidade. Em virtude dessa característica, o homem está
sempre habilitado, em seu íntimo, a escolher o bem definitivo de todos e o
contentamento transitório do seu “eu”, fortalecendo a fraternidade e a luz, ou
agravando o seu próprio egoísmo.
140 – Os astros influenciam igualmente na vida do
homem?

As antigas assertivas astrológicas têm a sua razão de ser. O campo


magnético e as conjunções dos planetas influenciam no complexo celular do
homem físico, em sua formação orgânica e em seu nascimento na Terra;
porém, a existência planetária é sinônimo de luta. Se as influências astrais
não favorecem a determinadas criaturas, urge que estas lutem contra os
elementos perturbadores, porque, acima de todas as verdades astrológicas,
temos o Evangelho, e o Evangelho nos ensina que cada qual receberá por
suas obras, achando-se cada homem sob as influências que merece.
141 –Há influências espirituais entre o ser humano
e o seu nome, tanto na Terra, como no Espaço?

-Na Terra ou no plano invisível, temos a simbologia sagrada das palavras;


todavia, o estudo dessas influências requer um grande volume de
considerações especializadas e, como o nosso trabalho humilde é uma
apologia ao esforço de cada um, ainda aqui temos de reconhecer que cada
homem recebe as influências a que fez jus, competindo a cada coração
renovar seus próprios valores, em marcha para realizações cada vez mais
altas, pois que o determinismo de Deus é o do bem, e todos os que se
entregarem realmente ao bem, triunfarão de todos os óbices do mundo.
142 –Poderíamos receber um ensinamento sobre o
número sete, tantas vezes utilizado no ensino das
tradições sagradas do Cristianismo?

-Uma opinião isolada nos conduzirá a muitas análises nos domínios da


chamada numerologia fugindo ao escopo de nossas cogitações espirituais.

Os números, como as vibrações, possuem a sua mística natural, mas, em


face de nossos imperativos de educação, temos de convir que todos os
números, como todas as vibrações, serão sagrados para nós, quando
houvermos santificado o coração para Deus, sendo justo, nesse particular,
copiarmos a antiga observação do Cristo sobre o sábado, esclarecendo que os
números foram feitos para os homens, porém, os homens não foram criados
para os números.
143 –Deve acreditar-se na influência oculta de certos
objetos, como jóias, etc., que parecem
acompanhados de uma atuação infeliz e fatal?

-Os objetos, mormente os de uso pessoal, têm a sua história viva e por
vezes, podem constituir o ponto de atenção das entidades perturbadas, de seus
antigos possuidores no mundo; razão porque parecem tocados, por vezes, de
singulares influências ocultas, porém, nosso esforço deve ser o da libertação
espiritual, sendo indispensável lutarmos contra os fetiches, para considerar
tão somente os valores morais do homem na sua jornada para o Perfeito.
144 – Os fenômenos premonitórios atestam a
possibilidade da presciência com relação ao futuro?

-Os Espíritos de nossa esfera não podem devassar o futuro, considerando


essa atividade uma característica dos atributos do Criador Supremo, que é
Deus.

Temos de considerar, todavia, que as existências humanas estão


subordinadas a um mapa de provas gerais, onde a personalidade deve movi
movimentar-se com o seu esforço para a iluminação do porvir, e, dentro
desse roteiro, os mentores espirituais mais elevados podem organizar os fatos
premonitórios, quando convenham as demonstrações de que o homem não se
resume a um conglomerado de elementos químicos, de conformidade com a
definição do materialismo dissolvente.
145 – Que dizermos da cartomancia em face do
Espiritismo?

-A cartomancia pode enquadrar-se nos fenômenos psíquicos, mas não no


Espiritismo evangélico, onde o cristão deve cultivar os valores do seu mundo
íntimo pela fé viva e pelo amor no coração, buscando servir a Jesus no
santuário de sua alma, não tendo outra vontade que não aquela de se elevar ao
seu amor pelo trabalho e iluminação de si mesmo, sem qualquer preocupação
pelos acontecimentos nocivos que se foram, ou pelos fatos que hão de vir, na
sugestão nem sempre sincera dos que devassam o mundo oculto.
TRANSIÇÃO

146 – É fatal o instante da morte?

-Com exceção do suicídio, todos os casos de desencarnação são


determinados previamente pelas forças espirituais que orientam a atividade
do homem sobre a Terra.

Esclarecendo-vos quanto a essa exceção, devemos considerar que, se o


homem é escravo das condições externas da sua vida no orbe, é livre no
mundo íntimo, razão por que, trazendo no seu mapa de provas a tentação de
desertar da vida expiatória e retificadora, contrai um débito penoso aquele
que se arruína, desmantelando as próprias energias.
A educação e a iluminação do íntimo constituem o amor ao santuário de
Deus em nossa alma. Quem as realiza em si, na profundeza da liberdade
interior, pode modificar o determinismo das condições materiais de sua
existência, alcançando-a para a luz e para o bem. Os que eliminam, contudo,
as suas energias próprias, atentam contra a luz divina que palpita em si
mesmos. Daí o complexo de suas dívidas dolorosas.

E existem ainda os suicido lentos e gradativos, provocados pela ambição


ou pele inércia, pelo abuso ou pela inconsideração, tão perigoso para a vida
da alma, quanto os que se observam, de modo espetacular, entre as lutas do
mundo.

Essa a razão pela qual tantas vezes se batem os instrutores dos


encarnados, pela necessidade permanente de oração e de vigilância, a fim de
que os seus amigos não fracassem nas tentações.
147 –Proporciona a morte mudanças inesperadas e
certas modificações rápidas, como será de desejar?

-A morte não prodigaliza estados miraculosos para a nossa consciência.

Desencarnar é mudar de plano, como alguém que se transferisse de uma


cidade para outra, aí no mundo, sem que o fato lhe altere as enfermidades ou
as virtudes com a simples modificação dos aspectos exteriores. Importa
observar apenas a ampliação desses aspectos, comparando-se o plano
terrestre com a esfera de ação dos desencarnados.
Imaginai um homem que passa de sua aldeia para uma metrópole
moderna. Como se haverá, na hipótese de não se encontrar devidamente
preparado em face dos imperativos da sua nova vida?

A comparação é pobre, mas serve para esclarecer que a morte não é um


salto dentro da Natureza. A alma prosseguirá na sua carreira evolutiva, sem
milagres prodigiosos.
Os dois planos, visível e invisível, se interpenetram no mundo, e, se a
criatura humana é incapaz de perceber o plano da vida imaterial, é que o seu
sensório está habilitado somente a certas percepções, sem que lhe seja
possível, por enquanto, ultrapassar a janela estreita dos cinco sentidos.
148 –Que espera o homem desencarnado,
diretamente, nos seus primeiros tempos da vida de
além-túmulo?

-A alma desencarnada procura naturalmente as atividades que lhe eram


prediletas nos círculos da vida material, obedecendo aos laços afins, tal qual
se verifica nas sociedades do vosso mundo.

As vossas cidades não se encontram repletas de associações, de grêmios,


de classes inteiras que se reúnem e se sindicalizam para determinados fins,
conjugando idênticos interesses de vários indivíduos? Aí, não se abraçam os
agiotas, os políticos, os comerciantes, os sacerdotes, objetivando cada grupo
a defesa dos seus interesses próprios?
O homem desencarnado procura ansiosamente, no Espaço, as
aglomerações afins com o seu pensamento, de modo a continuar o mesmo
gênero de vida abandonado na Terra, mas, tratando-se de criaturas
apaixonadas e viciosas, a sua mente reencontrará as obsessões de
materialidade, quais as do dinheiro, do álcool, etc., obsessões que se tornam o
seu martírio moral de cada hora, nas esferas mais próximas da Terra.

Daí a necessidade de encararmos todas as nossas atividades no mundo


como a tarefa de preparação para a vida espiritual, sendo indispensável à
nossa felicidade, além do sepulcro, que tenhamos um coração sempre puro.
149 –Logo após a morte, o homem que se desprende
do invólucro material pode sentir a companhia dos
entes amados que o precederam no além-túmulo?

-Se a sua existência terrestre foi o apostolado do trabalho e do amor a


Deus, a transição do plano terrestre para a esfera espiritual será sempre suave.

Nessas condições, poderá encontrar imediatamente aqueles que foram,


objeto de sua afeição no mundo, na hipótese de se encontrarem no mesmo
nível de evolução. Uma felicidade doce e uma alegria perene estabelece-se
nesses corações amigos e afetuosos, depois das amarguras da separação e da
prolongada ausência.
Entretanto, aqueles que se desprendem da Terra, saturados de obsessões
pelas posses efêmeras do mundo e tocados pela sombra das revoltas
incompreensíveis, não encontram tão depressa os entes queridos que os
antecederam na sepultura. Suas percepções restritas à atmosfera escura dos
seus pensamentos e seus valores negativos impossibilitam-lhes as doces
venturas do reencontro.

É por isso que observais, tantas vezes, Espíritos sofredores e perturbadas


fornecendo a impressão de criaturas, desamparadas e esquecidas pela esfera
da bondade superior, mas, que, de fato, são desamparados por si mesmos,
pela sua perseverança no mal, na intenção criminosa e na desobediência aos
sagrados desígnios de Deus.
150 –É possível que os espiritistas venham a sofrer
perturbações depois da morte?

-A morte não apresenta perturbações à consciência reta e ao coração


amante da verdade e do amor dos que viveram na Terra tão somente para o
cultivo da prática do bem, nas suas variadas formas e dentro das mais
diversas crenças.

Que o espiritista cristão não considere o seu título de aprendiz de Jesus


como um simples rótulo, ponderando a exortação evangélica – “muito se
pedirá de quem muito recebeu”, preparando-se nos conhecimentos e nas
obras do bem, dentro das experiências do mundo para s sua vida futura,
quando a noite do túmulo houver descerrado aos seus olhos espirituais a
visão da verdade, em marcha para as realizações da vida imortal.
151 –O espírito desencarnado pode sofrer com a
cremação dos elementos cadavéricos?

-Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres,


procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais,
pois, de certo modo, existem sempre muitos ecos de sensibilidade entre o
Espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o “tônus vital”, nas
primeiras horas sequentes ao desenlace, em vista dos fluídos orgânicos que
ainda solicitam a alma para as sensações da existência material.
152 –A morte violenta proporciona aos
desencarnados sensações diversas da chamada
“morte natural”?

-A desencarnação por acidentes, os casos fulminantes de desprendimento


proporcionam sensações muito dolorosas à alma desencarnada, em vista da
situação de surpresa ante os acontecimentos supremos e irremediáveis. Quase
sempre, em tais circunstâncias, a criatura não se encontra devidamente
preparada e o imprevisto da situação lhe trazem emoções amargas e terríveis.

Entretanto, essas surpresas tristes não se verificam para as almas, no caso


das enfermidades dolorosas e prolongadas, em que o coração e o raciocínio se
tocam das luzes das meditações sadias, observando as ilusões e os prejuízos
do excessivo apego à Terra, sendo justo considerarmos a utilidade e a
necessidade das dores físicas, nesse particular, porquanto somente com o seu
concurso precioso pode o homem alijar o fardo de suas impressões nocivas
do mundo, para penetrar tranquilamente os umbrais da vida do Infinito.
153 –Se a hora da morte não houver chegado,
poderá o homem perecer sob os perigos que o
ameacem?

-Nos aspectos externos da vida, e desde que o Espírito encarnado proceda


de conformidade com os ditames da consciência retilínea e do coração bem-
intencionado, sem a imponderação dos precipitados e sem o egoísmo dos
ambiciosos, toda e qualquer defesa do homem reside em Deus.
154 –Quais as primeiras impressões dos que
desencarnam por suicídio?

-A primeira decepção que os aguarda é a realidade da vida que se não


extingue com as transições da morte do corpo físico, vida essa agravada por
tormentos pavorosos, em virtude de sua decisão tocada de suprema rebeldia.

Suicidas há que continuam experimentando os padecimentos físicos da


última hora terrestre, em seu corpo somático, indefinidamente. Anos a fio,
sentem as impressões terríveis do tóxico que lhes aniquilou as energias, a
perfuração do cérebro pelo corpo estranho partido da arma usada no gesto
supremo, o peso das rodas pesadas sob as quais se atiraram na ânsia de
desertar da vida, a passagem das águas silenciosas e tristes sobre os seus
despojos, onde procuraram o olvido criminoso de suas tarefas no mundo e,
comumente, a pior emoção do suicida é a de acompanhar, minuto a minuto, o
processo da decomposição do corpo abandonado no seio da terra, verminado
e apodrecido.
De todos os desvios da vida humana, o suicido é, talvez o maior deles
pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da lei do amor
e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca se fez sentir,
junto dos homens, sem a luz da misericórdia.
155 –O receio da morte revela falta de evolução
espiritual?

-Nesse sentido, não podemos generalizar semelhante definição.

No que se refere a esses receios, somos obrigados a reconhecer, muitas


vezes, as razões aduzidas pelo amor, sempre sublime na sua manifestação
espiritual. Todavia, não é justo que o crente sincero se encha de pavores ante
a ideia de sua passagem para o plano invisível aos olhos humanos, sendo
oportuno o conselho de uma preparação permanente do homem para a vida
nova que a morte lhe apresentará.
156 –Os Espíritos logo após a sua desencarnação
ficam satisfeitos pela possibilidade de se
comunicarem conosco?

-De um modo geral, muito reduzido é o número das criaturas humanas


que se preparam para as emoções da morte, no desenvolvimento dos seus
trabalhos comuns na Terra e, frequentemente, as meditações da enfermidade
não bastam para uma situação de perfeita tranquilidade, nos primeiros tempos
do além-túmulo. Eis o motivo por que tão salutares se fazem a vossas
reuniões de estudo e de evangelização, às quais concorre grande número de
irmãos nossos, ansiosos por uma palavra da Terra, porquanto as impressões
que trazem do mundo não lhes permitem a percepção dos mentores elevados,
das mais altas esferas espirituais.
157 –Os Espíritos desencarnados podem ouvir-nos e
ver-nos quando querem? Como procedem para
realizar semelhante desejo?

-Isso é possível, não quando querem, mas quando o mereçam, mesmo


porque, existem espíritos culpados que, somente muitos anos após o
desprendimento do mundo, conseguem a permissão de ouvir a palavra amiga
e confortadora dos seus irmãos ou entes amados, da Terra, a fim de se
orientarem no labirinto dos sofrimentos expiatórios. O comparecimento de
uma entidade recém desencarnada, às reuniões do Evangelho, já significa
uma bênção de Deus para o seu coração desiludido, porquanto essa
circunstância se faz acompanhar dos mais elevados benefícios para a sua vida
interior.

Quanto ao processo do seu contato convosco, precisamos considerar que


os seres do Além-Túmulo; em sua generalidade, para se comunicarem nos
ambientes do mundo, adaptam-se ao vosso modo de ser, condicionando suas
faculdades à vossa situação fluídica na Terra; razão pela qual nesses
instantes, na forma comum, possuem a vossa capacidade sensorial,
restringindo as suas vibrações de modo a se acomodarem, de novo, ao
ambiente terrestre.
158 –Se uma criatura desencarna deixando inimigos
na Terra; é possível que continue perseguindo o seu
desafeto, dentro da situação de invisibilidade?

-Isso é possível e quase geral, no capítulo das relações terrestres, porque,


se o amor é o laço que reúne as almas nas alegrias da liberdade, o ódio e a
algema dos forçados, que os prende reciprocamente no cárcere da desventura.

Se alguém partiu odiando, e se no mundo o desafeto faz questão de


cultivar os germens da antipatia e das lembranças cruéis, é mais que natural
que, no plano invisível, perseverem os elementos da aversão e da vindita
implacáveis, em obediência às leis de reciprocidade, depreendendo-se daí a
necessidade do perdão com o inteiro esquecimento do mal, a fim de que a
fraternidade pura se manifeste através da oração e da vigilância, convertendo
o ódio em amor e piedade, com os exemplos mais santos, no Evangelho de
Jesus.
159 –No caso das perseguições dos inimigos
espirituais, a ação deles se realiza sem o
conhecimento dos nossos guias amorosos e
esclarecidos?

-As chamadas atuações do plano invisível, de qualquer natureza, não se


verificam à revelia de Jesus e de seus prepostos, mentores do homem na sua
jornada de experiências para o conhecimento e para a luz.

As perseguições de um inimigo invisível têm um limite e não afetam o


seu objeto senão na pauta de sua necessidade própria, porquanto, sob os olhos
amoráveis dos vossos guias do plano superior, todos esses movimentos têm
uma finalidade sagrada, como a de ensinar-vos a fortaleza moral, a tolerância,
a paciência, a conformação, nos mais sagrados imperativos da fraternidade e
do bem.
160 –Os Espíritos desencarnados se dividem,
igualmente, nas esferas mais próximas da Terra, em
seres femininos e masculinos?

-Nas esferas mais próximas do planeta, as almas desencarnadas


conservam as características que lhes eram mais agradáveis nas atividades da
existência material, considerando-se que algumas, que perambulam no
mundo com uma veste orgânica imposta pelas circunstâncias da tarefa a
realizar junto às criaturas terrenas, retomam as suas condições anteriores à
reencarnação, então enriquecidas, se bem souberam cumprir os seus deveres
do plano das dores e das dificuldades materiais.

Dilatando, porém, a questão; devemos ponderar que os espíritos, com


esses ou aqueles traços característicos, estão em marcha para Deus,
purificando todos os sentimentos e embelezando as próprias faculdades, a fim
de refletirem a luz divina, transformando-se, então, nessas ou naquelas
condições, em perfeitos executores dos desígnios do Eterno.
SENTIMENTO

ARTE

161 –Que é arte?

-A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das


criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina
manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma.

O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu


trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do
sentimento humano, alçando-o da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os
caminhos a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas
de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
162 –Todo artista pode ser também um missionário
de Deus?

-Os artistas, como os chamados sábios do mundo, podem enveredar,


igualmente, pelas cristalizações do convencionalismo terrestre, quando nos
seus corações não palpite a chama dos ideais divinos, mas, na maioria das
vezes, têm sido grandes missionários das ideias, sob a égide do Senhor, em
todos os departamentos da atividade que lhes é próprios, como a literatura, a
música, a pintura, a plástica.

Sempre que a sua arte se desvencilha dos interesses do mundo,


transitórios e perecíveis, para considerar tão somente a luz espiritual que vem
do coração uníssono como cérebro, nas realizações da vida, então o artista é
um dos mais devotados missionários de Deus, porquanto saberá penetrar os
corações na paz da meditação e do silêncio, alcançando o mais alto sentido da
evolução de si mesmo e de seus irmãos em humanidade.
163 –Pode alguém se fazer artista tão só pela
educação especializada em uma existência?

-A perfeição técnica, individual de um artista, bem como as suas mais


notáveis características, não constituem a resultantes das atividades de uma
vida, mas de experiências seculares na Terra e na esfera espiritual, porquanto
o gênio, em qualquer sentido, nas manifestações artísticas mais diversas, é a
síntese profunda de vidas numerosas, em que a perseverança e o esforço se
casaram para as mais brilhantes florações da espontaneidade.
164 –Como devemos compreender o gênio?

O gênio constitui a súmula dos mais longos esforços em múltiplas


existências de abnegação e de trabalho, na conquista dos valores espirituais.

Entendendo a vida pelo seu prisma real, muita vez desatende ao círculo
estreito da vida terrestre, no que se refere às suas fórmulas convencionais e
aos seus preconceitos, tornando-se um estranho ao seu próprio meio, por suas
qualidades superiores e inconfundíveis.
Esse é o motivo por que a ciência terrestre, encarcerada nos cânones do
convencionalismo, presume observar no gênio uma psicose condenável,
tratando-o, quase sempre, como a célula enferma do organismo social, para
glorifica-lo, muitas vezes, depois da morte, tão logo possa aprender a
grandeza da sua visão espiritual na paisagem do futuro.
165 –Como poderemos entender o psiquismo dos
artistas, tão diferente do que caracteriza o homem
comum?

O artista, de um modo geral, vive quase sempre mais na esfera espiritual


que propriamente no plano terrestre.

Seu psiquismo é sempre a resultante do seu mundo íntimo, cheio de


recordações infinitas das existências passadas, ou das visões sublimes que
conseguiu apreender nos círculos de vida espiritual, antes da sua
reencarnação no mundo.
Seus sentimentos e percepções transcendem aos do homem comum, pela
sua riqueza de experiências no pretérito, situação essa que, por vezes, dá
motivos à falsa apreciação da ciência humana, que lhe classifica os
transportes como neurose ou anormalidade, nos seus erros de interpretação.

É que, em vista da sua posição psíquica especial, o artista nunca cede às


exigências do convencionalismo do planeta, mantendo-se acima dos
preconceitos contemporâneos, salientando-se que, muita vez, na demasia de
inconsiderações pela disciplina, apesar de suas qualidades superiores, pode
entregar-se aos excessos nocivos à liberdade, quando mal dirigida ou
falsamente aproveitada.
Eis por que, em todas as situações, o ideal divino da fé será sempre o
antídoto dos venenos morais, desobstruindo o caminho da alma para as
conquistas elevadas da perfeição.
166 –No caso dos artistas que triunfaram sem
qualquer amparo do mundo e se fizeram notáveis
tão só pelos valores da sua vocação, traduzem suas
obras alguma recordação da vida no Infinito?

-As grandes obras-primas da arte, na maioria das vezes, significam a


concretização dessas lembranças profundas. Todavia, nem sempre constituem
um traço das belezas entrevistas no Além pela mentalidade que as concebeu,
e sim recordações de existências anteriores, entre as lutas e as lágrimas da
Terra.

Certos pintores notáveis, que se fizeram admirados por obras levadas a


efeito sem os modelos humanos, trouxeram à luz nada mais nada menos que
as suas próprias recordações perdidas no tempo, na sombra apagada da
paisagem de vidas que se foram. Relativamente aos escritores, aos amigos da
ficção literária, nem sempre as suas concepções obedecem à fantasia,
porquanto são filhas de lembranças inatas, com as quais recompõem o drama
vivido pela sua própria individualidade nos séculos mortos.
O mundo impressivo dos artistas tem permanentes relações com o
passado espiritual, de onde os extraem o material necessário à construção
espiritual de suas obras.
167 – O grandes músicos, quando compõem peças
imortais, podem ser também influenciados por
lembranças de uma existência anterior?

-Essa atuação pode verificar-se no que se refere às possibilidades e às


tendências, mas, no capítulo da composição, os grandes músicos da Terra,
com méritos universais,não obedecem a lembranças do pretérito, e sim a
gloriosos impulsos das forças do Infinito, porquanto a música na Terra é, por
excelência, a arte divina.

As óperas imortais não nasceram do lodo terrestre, mas da profunda


harmonia do Universo, cujos cânticos sublimes foram captados parcialmente
pelos compositores do mundo, em momentos de santificada inspiração.
Apenas desse modo podereis compreender a sagrada influência que a
música nobre opera nas almas, arrebatando-as, em quaisquer ocasiões, às
ideias indecisas da Terra, para as vibrações do íntimo com o Infinito.
168 –Os Espíritos desencarnados cuidam
igualmente dos valores artísticos no plano invisível
para os homens?

-Temos de convir que todas as expressões de arte na Terra representam


traços de espiritualidade, muitas vezes estranhos à vida do planeta.

Através dessa realidade, podereis reconhecer que a arte, em qualquer de


suas formas puras, constitui objeto da atenção carinhosa dos invisíveis, com
possibilidades outras que o artista do mundo está muito longe de imaginar.
No Além, é com o seu concurso que se reformam os sentimentos mais
impiedosos, predispondo as entidades infelizes experiências expiatórias e
purificadoras. E é crescendo nos seus domínios de perfeição e de beleza que a
alma envolve para Deus, enriquecendo-se nas suas sublimes maravilhas.
169 –A emotividade deve ser disciplinada?

Qualquer expressão emotiva deve ser disciplinada pela fé, porquanto a


sua expansão livre, na base das incompreensões do mundo, pode fazer-se
acompanhar de graves consequências.
170 –Com tantas qualidades superiores para o bem,
pode o artista de gênio transformar-se em
instrumento do mal?

-O homem genial é como a inteligência que houvesse atingido as mais


perfeitas condições de técnica realizadora; essa aquisição, porém, não o
exime da necessidade de progredir moralmente, iluminando a fonte do
coração.

Em vista de numerosas organizações geniais, não haverem alcançado a


culminância de sentimento é que temos contemplado, muitas vezes, no
mundo, os talentos mais nobres encarcerados em tremendas obsessões, ou
anulados em desvios dolorosos, porquanto, acima de todas as conquistas
propriamente materiais, a criatura deve colocar a fé, como o eterno ideal
divino.
171 –De modo geral, todos os homens terão de
buscar os valores artísticos para a personalidade?

-Sim; através de suas vidas numerosas a alma humana buscará a aquisição


desses patrimônios, porquanto é justo que as criaturas terrenas possam levar
da sua escola de provações e de burilamento, que é o planeta, todas as
experiências e valores, suscetíveis de serem encontrados nas lutas da esfera
material.
172 –Existem, de fato, uma arte antiga e uma arte
moderna?

-A arte envolve com os homens e, representando a contemplação


espiritual de quantos a exteriorizam, será sempre a manifestação da beleza
eterna, condicionada ao tempo e ao meio de seus expositores.

A arte, pois, será sempre uma só, na sua riqueza de motivos, dentro da
espiritualidade infinita.
Ponderemos, contudo, que, se existe hoje grande número de talentos com
a preocupação excessiva de originalidade, dando curso às expressões mais
extravagantes de primitivismo, esses são os cortejadores irrequietos da glória
mundana que, mais distanciados da arte legítima, nada mais conseguem que
refletir a perturbação dos tempos que passam, apoiando o domínio transitório
da futilidade e da força. Eles, porém. Passarão como passam todas as
situações incertas de um cataclismo, como zangões da sagrada colméia da
beleza divina, que, em vez de espiritualizarem a Natureza, buscam deprimi-la
com as suas concepções extravagantes e doentias.
AFEIÇÃO

173 –Como devemos entender a simpatia e a


antipatia?

-A simpatia ou a antipatia tem as suas raízes profundas no espírito, na


sutilíssima entrosagem dos fluídos peculiares a cada um e, quase sempre, de
modo geral, atestam uma renovação de sensações experimentadas pela
criatura, desde o pretérito delituoso, em iguais circunstâncias.
Devemos, porém, considerar que toda antipatia, aparentemente a mais
justa, deve morrer para dar lugar à simpatia que edifica o coração para o
trabalho construtivo e legítimo da fraternidade.
174 –Poderemos obter uma definição da amizade?

-Na gradação dos sentimentos humanos, a amizade sincera é bem o oásis


de repouso para o caminheiro da vida, na sua jornada de aperfeiçoamento.

Quem sabe ser amigo verdadeiro e, sempre, o emissário da ventura e da


paz, alistando-se nas fileiras dos discípulos de Jesus, pela iluminação natural
do espírito que, conquistando as mais vastas simpatias entre os encarnados e
as entidades bondosas do Invisível, sabe irradiar por toda parte as vibrações
dos sentimentos purificadores.
Ter amizade é ter coração que ama e esclarece, que compreende e perdoa,
nas horas mais amargas da vida.

Jesus é o Divino Amigo da Humanidade.


Saibamos compreender a sua afeição sublime e transformaremos os
nossos ambientes afetivos num oceano de paz e consolação perenes.
175 –O instituto da família é organizado no plano
espiritual, antes de projetar-se na Terra?

-O colégio familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. Em


seus laços, reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a
desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva.

Preponderam nesse instituto divino os elos do amor, fundidos nas


experiências de outras eras; todavia, ai acorrem igualmente os ódios e as
perseguições do pretérito obscuro, a fim de se transfundirem em
solidariedade fraternal, com vistas ao futuro.
É nas dificuldades provadas em comum, nas dores e nas experiências
recebidas na mesma estrada de evolução redentora, que se olvidam as
amarguras do passado longínquo, transformando-se todos os sentimentos
inferiores em expressões regeneradas e santificadas.

Purificadas as afeições, acima dos laços do sangue, o sagrado instituto da


família se perpetua no Infinito, através dos laços imperecíveis do Espírito.
176 –As famílias espirituais no plano invisível são
agrupadas em falanges e aumentam ou diminuem,
como se verifica na Terra?

-Os núcleos familiares do Além agrupam-se, igualmente, em falanges,


continuando aí a obra de iluminação e de redenção de alguns componentes
dos grupos, elementos mais rebeldes ou estacionários, que são impelidos,
pelos seus companheiros afins, aos esforços edificantes, na conquista do
amor e da sabedoria.

De maneira natural, todos esses núcleos se dilatam, à medida que se


aproximam da compreensão do Onipotente, até alcançarem o luminoso plano
de unificação divina, com as aquisições eternas e inalienáveis do Infinito.
177 – As famílias espirituais possuem também um
chefe?

-Todas as coletividades espirituais estão reunidas, em suas características


familiares, pelas santas afinidades d'alma, e cada uma possuem o seu grande
mentor nos planos mais elevados, de onde promanam as substâncias eternas
do amor e da sabedoria.
178 –Poderíamos receber algum esclarecimento
sobre a lei das afinidades entre os espíritos
desencarnados?

-Na Terra, as criaturas humanas muitas vezes revelam as suas afinidades


nos interesses materiais, que podem dissimular a verdadeira posição moral da
personalidade; no mundo dos Espíritos elevados, porém, as afinidades
legítimas se revelam sem qualquer artifício, pelos sentimentos mais puros.
179 –No capítulo das afeições terrenas, o casar ou
não casar está fora da vontade dos seres humanos?

-O matrimônio na Terra é sempre uma resultante de determinadas


resoluções, tomadas na vida do Infinito, antes da reencarnação dos espíritos,
seja por orientação dos mentores mais elevados, quando a entidades não
possui a indispensável educação para manejar as suas próprias faculdades, ou
em consequência de compromissos livremente assumidos pelas almas, antes
de suas novas experiências no mundo; razão pela qual os consórcios humanos
estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro escuro das provas
expiatórias, ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam.
180 –A indiferença nas manifestações de
sensibilidade afetiva, dentro dos processos de
evolução da vida na Terra, nas horas de dor e de
alegria, é atitude justificável como medida de
vigilância espiritual?

-A indiferença que se traduz por cristalização dos sentimentos é sempre


perigosa para a vida da alma; todavia, existem atitudes no domínio da
exteriorização emocional, que se justificam pela natureza de suas expressões
educativas.
181 –Como entender o sentimento da cólera nos
trâmites da vida humana?

-A cólera não resolve os problemas evolutivos e nada mais significa que


um traço de recordação dos primórdios da vida humana em suas expressões
mais grosseiras.

A energia serena edifica sempre, na construção dos sentimentos


purificadores; mas a cólera impulsiva, nos seus movimentos atrabiliários, é
um vinho envenenado de cuja embriaguez a alma desperta sempre com o
coração tocado de amargosos ressaibos.
182 –O remorso é uma punição?

-O remorso é a força que prepara o arrependimento, como este é a energia


que precede o esforço regenerador. Choque espiritual nas suas características
profundas, o remorso é o interstício para a luz, através do qual recebe o
homem a cooperação indireta de seus amigos do Invisível, a fim de retificar
seus desvios e renovar seus valores morais, na jornada para Deus.
183 –Como se interpreta o ciúme no plano
espiritual?

-O ciúme, propriamente considerado nas suas expressões de escândalo e


de violência, é um indício de atraso moral ou de estacionamento no egoísmo,
dolorosa situação que o homem somente vencerá a golpes de muito esforço,
na oração e na vigilância, de modo a enriquecer o seu íntimo com a luz do
amor universal, começando pela piedade para com todos os que sofrem e
erram, guardando também a disposição sadia para cooperar na elevação de
cada um.

Só a compreensão da vida, colocando-nos na situação de quem errou ou


de quem sofre, a fim de iluminarmos o raciocínio para a análise serena dos
acontecimentos , poderá aniquilar o ciúme no coração, de modo a cerrar-se a
porta ao perigo, pela qual toda alma pode atirar-se a terríveis tentações, com
largos reflexos nos dias do futuro.
184 –Como devemos efetuar nossa autoeducação,
esclarecida pela luz do Evangelho, nos problemas
das atrações sexuais, cujas tendências egoístas
tantas vezes nos levam a atitudes antifraternais?

-Não devemos esquecer que o amor sexual deve ser entendido como o
impulso da vida que conduz o homem às grandes realizações do amor divino,
através da progressividade de sua espiritualização no devotamento e no
sacrifício.

Toda vez que experimentardes disposições antifraternais em seu círculo,


isso significa que preponderam em vossa organização psíquica as recordações
prejudiciais, tendentes ao estacionamento na marcha evolutiva.
É aí que urge o esforço da autoeducação, porquanto toda criatura
necessita resolver o problema da renovação de seus próprios valores.

Haveis de observar que Deus não extermina as paixões dos homens, mas
fá-las evoluir, convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios da alma,
competindo às criaturas dominar o coração, guias os impulsos, orientar as
tendências, na evolução sublime dos seus sentimentos.

Examinando-se, ainda, o elevado coeficiente de viciação do amor sexual,


que os homens criaram para os seus destinos, somos obrigados a ponderar
que, se muitos contraem débitos penosos, entre os excessos da fortuna, da
inteligência e do poder, outros o fazem pelo sexo, abusando de um dos mais
sagrados pontos de referência de sua vida.

É por esse motivo que observamos, muitas vezes, almas numerosas


aprendendo, entre as angústias sexuais do mundo, a renúncia e o sacrifício,
em marcha para as mais puras aquisições do amor divino.

Depreende-se, pois, que ao invés da educação sexual pela satisfação dos


instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a
compreensão sagrada do sexo.
DEVER

185 –Quais as características de uma boa ação?

-A boa ação é sempre aquela que visa o bem de outrem e de quantos lhe
cercam o esforço na vida.
Nesse problema, o critério do bem geral deve ser a essência de qualquer
atitude. A melhor ação pode, às vezes, padecer a incompreensão alheia, no
instante em que é exteriorizada, mas será sempre vitoriosa, a qualquer tempo,
pelo benefício prestado ao indivíduo ou à coletividade.
186 –O “acaso” deve entrar nas cogitações da vida
de um espiritista cristão?

-O acaso, propriamente considerado, não pode entrar nas cogitações do


sincero discípulo da verdade evangélica.

No capítulo do trabalho e do sofrimento, a sua alma esclarecida conhece a


necessidade da própria redenção, com vistas ao passado delituoso e, no que
se refere aos desvios e erros do presente, melhor que ninguém a sua
consciência deve saber da intervenção indébita levada a efeito sobre a lei de
amor, estabelecida por Deus, cumprindo-lhe aguardar, conscientemente, sem
qualquer noção de acaso, os resgates e reparações dolorosas do futuro.
187 –Qual a atitude mental que mais favorecerá o
nosso êxito espiritual nos trabalhos do mundo?

-Essa atitude deve ser a que vos é ensinada pela lei divina, na
reencarnação em que vos encontrais, isto é, a do esquecimento de todo o mal,
para recordar apenas o bem e a sagrada oportunidade de trabalho e
edificação, no patrimônio eterno do tempo.

Esquecer o mal é aniquila-lo, e perdoar a quem o pratica é ensinar o amor,


conquistando afeições sinceras e preciosas.
Daí a necessidade do perdão, no mundo, para que o incêndio do mal
possa ser exterminado, devolvendo-se a paz legítima aos corações.
188 –Como devem proceder aos cônjuges para bem
cumprir seus deveres?

-O matrimônio muito frequentemente, na Terra, constitui um aprova


difícil, mas redentora.

Os cônjuges, desvelados por bem cumprir suas obrigações divinas, devem


observar o máximo de atenção, respeito e carinho mútuo, concentrando-se
ambos no lar, sempre que haja um perigo ameaçando-lhe a felicidade
doméstica, porque na prece e na vigilância espiritual encontrarão sempre as
melhores defesas.
No lar, muitas vezes, quando um dos cônjuges se transvia, a tarefa é de
luta e lágrimas penosas; porém no sacrifício, toda alma se santifica e se
ilumina, transformando-se em modelo no sagrado instituto da família.

Para alcançar a paciência e o heroísmo domésticos, faz-se mister a mais


entranhada fé em Deus, tomando-se como espelho divino a exemplificação de
Jesus, no seu apostolado de abnegação e de dor, à face da Terra.
189 –Que deve fazer a mãe terrestre para cumprir
evangelicamente os seus deveres, conduzindo os
filhos para o bem e para a verdade?

-No ambiente doméstico, o coração maternal deve ser o expoente divino


de toda a compreensão espiritual e de todos os sacrifícios pela paz da família.

Dentro dessa esfera de trabalho, na mais santificada tarefa de renúncia


pessoal, a mulher cristã acende a verdadeira luz para o caminho dos filhos
através da vida.
A missão materna resume-se em dar sempre o amor de Deus, o Pai de
Infinita Bondade, que pôs no coração das mães a sagrada essência da vida.
Nos labores do mundo, existem aquelas que se deixam levar pelo egoísmo do
ambiente particularista; contudo, é preciso acordar a tempo, de modo a não
viciar a fonte da ternura.

A mãe terrestre deve compreender antes de tudo, que seus filhos,


primeiramente, são filhos de Deus.
Desde a infância, deve prepara-los para o trabalho e para a luta que os
esperam.

Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do abismo da


liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições
mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de
uma vida.

Deve sentir os filhos de outras mães como se fossem os seus próprios,


sem guardar, de modo algum, a falsa compreensão de que os seus são
melhores e mais altamente aquinhoados que os das outras.
Ensinará a tolerância mais pura, mas não desdenhará a energia quando
seja necessária no processo da educação, reconhecida a heterogeneidade das
tendências e a diversidade dos temperamentos.

Sacrificar-se de todos os modos ao seu alcance, sem quebrar o padrão de


grandeza espiritual de sua tarefa, pela paz dos filhos, ensinando-lhes que toda
dor é respeitável, que todo trabalho edificante é divino, e que todo
desperdício é falta grave.
Ensinar-lhes-á o respeito pelo infortúnio alheio, para que sejam
igualmente amparados no mundo, na hora de amargura que os espera, comum
a todos os espíritos encarnados.

Nos problemas da dor e do trabalho, da provação e da experiência, não


deve dar razão a qualquer queixa dos filhos, sem exame desapaixonado e
meticuloso das questões, levantando-lhes os sentimentos para Deus, sem
permitir que estacionem na futilidade ou nos prejuízos morais das situações
transitórias do mundo.
Será ele no lar o bom conselho sem parcialidade, o estímulo do trabalho e
a fonte de harmonia para todos.

Buscará na piedosa Mãe de Jesus o símbolo das virtudes cristãs,


transmitindo aos que a cercam os dons sublimes da humildade e da
perseverança, sem qualquer preocupação pelas gloriosas efêmeras da vida
material.

Cumprindo esse programa de esforço evangélico, na hipótese de


fracassarem todas as suas dedicações e renúncias, compete às mães
incompreendidas entregar o fruto de seu labores a Deus, prescindindo de
qualquer julgamento do mundo, pois que o Pai de Misericórdia saberá
apreciar os seus sacrifícios e abençoarão as suas penas, no instituto sagrado
da vida familiar.
190 – Quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis,
impermeáveis a todos os processos educativos,
como devem proceder os pais?

-Depois de movimentar todos os processos de amor e de energia no


trabalho de orientação educativa dos filhos, é justo que os responsáveis pelo
instituto familiar, sem descontinuidade da dedicação e do sacrifício, esperem
a manifestação da Providência Divina para o esclarecimento dos filhos
incorrigíveis, compreendendo que essa manifestação deve chegar através de
dores e de provas acerbas, de modo a semear-lhes, com êxito, o campo da
compreensão e do sentimento.
191 –Como poderão os pais despertar no íntimo do
filho rebelde as noções sagradas do dever e das
obrigações para com Deus Todo-Poderoso, de quem
somos filhos?

-Depois de esgotar todos os recursos a bem dos filhos e depois da prática


sincera de todos os processos amorosos e enérgicos pela sua formação
espiritual, sem êxito algum, é preciso que os pais estimem nesses filhos
adultos, que não lhes apreenderam a palavra e a exemplificação, os irmãos
indiferentes ou endurecidos de sua alma, comparsas do passado delituoso,
que é necessário entregar a Deus, de modo que sejam naturalmente
trabalhados pelos processos tristes e violentos da educação do mundo.

A dor tem possibilidades desconhecidas para penetrar os espíritos, onde a


linfa do amor não conseguiu brotar, não obstante o serviço inestimável do
afeto paternal, humano.
Eis a razão pela qual, em certas circunstâncias da vida, faz-se mister que
os pais estejam revestidos de suprema resignação, reconhecendo no
sofrimento que persegue os filhos a manifestação de uma bondade superior,
cujo buril oculto, constituído por sofrimentos, remodela e aperfeiçoa com
vistas ao futuro espiritual.
192 –A mentira retarda o desenvolvimento do
espírito?

-Mentira não é ato de guardar a verdade para o momento oportuno,


porquanto essa atitude mental se justifica na própria lição do Senhor, que
recomendava aos discípulos não atirarem a esmo a semente bendita dos seus
ensinos de amor.

A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo,


em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa
atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana,
retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito.
193 –A verdade quando dita com sinceridade e
franqueza rudes pode retardar o progresso
espiritual pela dor que causa?

-A verdade é a essência espiritual da vida.

Cada homem ou cada grupo de criaturas possui o seu quinhão de


verdades relativas, com o qual se alimentam as almas nos vários planos
evolutivos.
O coração, que retém uma parcela maior, está habilitado a alimentar seus
irmãos a caminho de aquisições mais elevadas; todavia, é imprescindível o
melhor critério amoroso na distribuição dos bens da verdade, porquanto esses
bens devem ser fornecidos de acordo com a capacidade de compreensão do
Espírito a que se destina o ensinamento, de maneira que o esforço não se faça
acompanhar de resultados contraproducentes.

Ainda aqui, podemos examinar os exemplos da natureza material.


A nutrição de um menino deve conter a substância mantenedora da vida,
mas não pode ser análoga à nutrição do adulto. A despreocupação nesse
assunto poderia levar a criança ao aniquilamento, embora as substâncias
ministradas estivessem repletas de elementos vitais.
194 –Devemos contar, de maneira absoluta, com o
auxílio dos guias espirituais em nossas realizações
humanas?

-Um guia espiritual poderá cooperar sempre em vossos trabalhos, seja


auxiliando-vos nas dificuldades, de maneira indireta, ou confortando-vos na
dor, estimulando-vos para a edificação moral, imprescindível à iluminação de
cada um; entretanto, não deveis tomas as expressões fraternas por promessa
formal, no terreno das realizações do mundo, porquanto essas realizações
dependem do vosso esforço próprio e se acham entrosadas no mecanismo das
provações indispensáveis ao vosso aperfeiçoamento.
195 –Como poderemos encontrar, dentro de nós
mesmos, o elemento esclarecedor de qualquer
dúvida, quanto à qualidade fraternal e excelente do
ato que pretendamos realizar nas lutas cotidianas
da vida de relação?

-Aqui, somos compelidos a recordar o antigo preceito do “amar o


próximo como a nós mesmos”.

Em todos os seus atos, o discípulo de Jesus deverá considerar se estaria


satisfeito, recebendo-os de um seu irmão, na mesma qualidade, intensidade e
modalidade com que pretende aplicar o conceito, ou exemplo, aos outros.
Com esse processo introspectivo, cessariam todas as campanhas levianas
dos atos e das palavras, e a comunidade cristã estaria integrada, em conjunto,
no seu legítimo caminho.
196 –Como encaram os guias espirituais as nossas
queixas

-Muitas são consideradas verdadeiras preces dignas de toda a carinhosa


atenção dos amigos desencarnados.

A maioria, porém, não passa de lamentação estéril, a que o homem se


acostumou como a um vício qualquer, porque, se tende nas mãos o remédio
eficaz com o Evangelho de Jesus e com os consoladores esclarecimentos da
doutrina dos Espíritos, a repetição de certas queixas traduz má vontade na
aplicação legítima do conhecimento espiritista a vós mesmos.
CULTURA

RAZÃO

197 –Como se observa, no plano espiritual, o


patrimônio da cultura terrestre?

-Todas as expressões da cultura humana são apreciadas, na esfera


invisível, como um repositório sagrado de esforços do homem planetário em
seus labores contínuos e respeitáveis.

Todavia, é preciso encarecer que, neste “outro lado” da vida, a vossa


posição cultural é considerada como processo, não como fim, porquanto este
reside na perfeita sabedoria, síntese gloriosa da alma que se edificou a si
mesma, através de todas as oportunidades de trabalho e de estudo da
existência material.
Entre a cultura terrestre e a sabedoria do espírito há singular diferença,
que é preciso considerar. A primeira se modifica todos os dias e varia de
concepção nos indivíduos que se constituem seus expositores, dentro das
mais evidentes características de instabilidade; a segunda, porém, é o
conhecimento divino, puro e inalienável, que a alma vai armazenando no seu
caminho, em marcha para a vida imortal.
198 –Pode o racionalismo garantir a linha de
evolução da Terra?

-Para si só, o racionalismo não pode efetuar esse esforço grandioso,


mesmo porque, todos os centros da cultura terrestre têm abusado largamente
desse conceito. Nos seus excessos, observamos uma venerável civilização
condenada a amarguradas ruínas. A razão sem o sentimento é fria e
implacável como os números, e os números podem ser fatores de observação
e catalogação da atividade, mas nunca criaram a vida. A razão é uma base
indispensável, mas só o sentimento cria e edifica. É por esse motivo que as
conquistas do humanismo jamais poderão desaparecer nos processos
evolutivos da Humanidade.
199 –Poderá a Razão dispensar a Fé?

-A razão humana é ainda muito frágil e não poderá dispensar a


cooperação da fé que a ilumina, para a solução dos grandes e sagrados
problemas da vida.

Em virtude da separação de ambas, nas estradas da vida, é que


observamos o homem terrestre no desfiladeiro terrível da miséria e da
destruição.
Pela insânia da razão, sem a luz divina da fé, a força faz as suas
derradeiras tentativas para assenhorear-se de todas as conquistas do mundo.

Falastes demasiadamente de razão e permaneceis na guerra da destruição,


onde só perambulam miseráveis vencidos; revelastes as mais elevadas
demonstrações de inteligência, mas mobilizais todo o conhecimento para o
morticínio sem piedade, pregastes a paz, fabricando os canhões homicidas;
pretendestes haver solucionado os problemas sociais, intensificando a
construção das cadeias e dos prostíbulos.
Esse progresso é o da razão sem a fé, onde os homens se perdem em luta
inglória e sem-fim.
200 –Onde localizar a origem dos desvios da razão
humana?

-A origem desse desequilíbrio reside na defecção do sacerdócio, nas


várias igrejas que se fundaram nas concepções do Cristianismo. Ocultando a
verdade para que prevalecessem os interesses econômicos de seus transviados
expositores, as seitas religiosas operaram os desvirtuamentos da fé, fixando a
sua atividade, por absoluta ausência de colaboração com o raciocínio, no
caminho infinito de conquistas da vida.
201 –No quadro dos valores racionais, Ciência e
Filosofia se integram mutuamente, objetivando as
realizações do espírito?

-Ambas se completam no campo das atividades do mundo, como dois


grandes rios que, servindo a regiões diversas na esfera da produção
indispensável à manutenção da vida, se reúnem em determinado ponto do
caminho para desaguarem, juntos, no mesmo oceano, que é o da sabedoria.
202 –No problema da investigação, há limites para
aplicação dos métodos racionalistas?

-Esses limites existem, não só para a aplicação, como também para a


observação; limites esses que são condicionados pelas forças espirituais que
presidem à evolução planetária, atendendo à conveniência e ao estado de
progresso moral das criaturas.

É por esse motivo que os limites das aplicações e das análises chamadas
positivas sempre acompanham e seguirão sempre o curso da evolução
espiritual das entidades encarnadas na Terra.
203 –Como apreciar os racionalistas que se
orgulham de suas realizações terrestres, nas quais
pretendem encontrar valores finais e definitivos?

-Quase sempre, os que se orgulham de alguma coisa caem no egoísmo


isolacionista que os separa do plano universal, mas, os que amam o seu
esforço nas realizações alheias ou a continuidade sagrada das obras dos
outros, na sua atividade própria, jamais conservam pretensões descabidas e
nunca restringem sua esfera de evolução, porquanto as energias profundas da
espiritualidade lhes santificam os esforços sinceros, conduzindo-os aos
grandes feitos através dos elevados caminhos da inspiração.
INTELECTUALISMO

204 –A alma humana poder-se-á elevar para Deus,


tão-somente com o progresso mora, sem os valores
intelectivos?

O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará


para a perfeição infinita.

No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como


adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos
examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos
reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém,
considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte
intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na
repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será
excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas.
205 –Podemos ter uma ideia da extensão de nossa
capacidade intelectual?

-A capacidade intelectual do homem terrestre é excessivamente reduzida,


em face dos elevados poderes da personalidade espiritual independente dos
laços da matéria.

Os elos da reencarnação fazem o papel de quebra-luz sobre todas as


conquistas anteriores do Espírito reencarnado. Nessa sombra, reside o acervo
de lembranças vagas, de vocações inatas, de numerosas experiências, de
valores naturais e espontâneos, a que chamais subconsciência.
O homem comum é uma representação parcial do homem transcendente,
que será reintegrado nas suas aquisições do passado, depois de haver
cumprido a prova ou a missão exigidas pelas suas condições morais, no
mecanismo da justiça divina.

Aliás, a incapacidade intelectual do homem físico tem sua origem na sua


própria situação, caracterizada pela necessidade de provas amargas.
O cérebro humano é um aparelho frágil e deficiente, onde o Espírito em
queda tem de valorizar as suas realizações de trabalho.

Imaginai a caixa craniana, onde se acomodam células microscópicas,


inteiramente preocupadas com sua sede de oxigênio, sem dispensarem por
um milésimo de segundo a corrente do sangue que as irriga, a fragilidade dos
filamentos que as reúnem, cujas conexões são de cem milésimos de
milímetro, e tereis assim uma ideia exata da pobreza da máquina pensante de
que dispõe o sábio da Terra para as suas orgulhosas deduções, verificando
que, por sua condição de Espírito caído na luta expiatória, tudo tende a
demonstrar ao homem do mundo a sua posição de humildade, de modo que,
em todas as condições, possa ele cultivar os valores legítimos do sentimento.
206 –Como é considerada, no plano espiritual, a
posição atual intelectiva da Terra?

-Os valores intelectuais do planeta, nos tempos modernos, sofrem a


humilhação de todas as forças corruptoras da decadência. A atual geração,
que tantas vezes se entregou à jactância, atribuindo a si mesma as mais altas
conquistas no terreno do raciocínio positivo, operou os mais vastos
desequilíbrios nas correntes evolutivas do orbe, com o seu injustificável
divórcio do sentimento.

Nunca os círculos educativos da Terra possuíram tanta facilidade de


amplificação, como agora, em face da evolução das artes gráficas; jamais o
livro e o jornal foram tão largamente difundidos; entretanto, a imprensa,
quase de modo geral, é órgão de escândalo para a comunidade e centro de
interesse econômico para o ambiente particular, enquanto que poucos livros
triunfam sem o bafejo da fortuna privada ou oficial, na hipótese de ventilarem
os problemas elevados da vida.
207 –A decadência intelectual pode prejudicar o
desequilíbrio do mundo?

-Sem dúvida. E é por essa razão que observamos na paisagem político-


social da Terra as aberrações, os absurdos teóricos, os extremismos operando
a inversão de todos os valores.

Excessivamente preocupados com as suas extravagâncias, os missionários


da inteligência trocaram o seu labor junto ao espírito por um lugar de
domínio, como os sacerdotes religiosos que permutaram a luz da fé
pelas prebendas tangíveis da situação econômica. Semelhante situação
operou naturalmente o mais alto desequilíbrio no organismo social do
planeta, e, como prova real desse asserto, devemos recordar que a guerra de
1914-1918 custou aos povos mais intelectualizados do mundo mais de cem
mil bilhões de francos, salientando-se que, com menos de centésima parte
dessa importância, poderiam essas nações haver expulsado o fantasma da
sífilis do cenário da Terra.
208-Há uma tarefa especializada da inteligência no
orbe terrestre?

-Assim como numerosos Espíritos recebem a provação da fortuna, do


poder transitório e da autoridade, há os que recebem a incumbência sagrada,
em lutas expiatórias ou em missões santificantes, de desenvolverem a boa
tarefa da inteligência em proveito real da coletividade.

Todavia, assim como o dinheiro e a posição de realce são ambientes de


luta, onde todo êxito espiritual se torna mais porfiado e difícil, o destaque
intelectual, muitas vezes, obscurece no mundo a visão do Espírito encarnado,
conduzindo-o à vaidade injustificável, onde as intenções mais puras ficam
aniquiladas.
209 –O escritor de determinada obra será julgado
pelos efeitos produzidos pelo seu labor intelectual
na Terra?

-O livro é igualmente como a semeadura. O escritor correto, sincero e


bem-intencionado é o lavrador previdente que alcançará a colheita abundante
e a elevada retribuição das leis divinas à sua atividade. O literato fútil, amigo
da insignificância e da vaidade, é bem aquele trabalhador preguiçoso e nulo
que “semeia ventos para colher tempestades”. E o homem de inteligência que
vende a sua pena, a sua opinião e o seu pensamento no mercado da calúnia,
do interesse, da ambição e da maldade, é o agricultor criminoso que humilha
as possibilidades generosas da Terra, que rouba os vizinhos, que não planta e
não permite o desenvolvimento da semeadura alheia, cultivando espinhos e
agravando responsabilidades pelas quais responderá um dia, quando houver
despido a indumentária do mundo, para comparecer ante as verdades do
Infinito.
210 – Os trabalhadores do Espiritismo devem
buscar os intelectuais para a compreensão dos seus
deveres espirituais?

-Os operários da doutrina devem estar sempre bem dispostos na oficina


do esclarecimento, todas as vezes que procurados pelos que desejem cooperar
sinceramente nos seus esforços. Mas provocar a atenção dos outros no intuito
de regenera-los, quando todos nós, mesmos os desencarnados, estamos em
função de aperfeiçoamento e aprendizado, não parece muito justo, porque
estamos ainda com um dever essencial, que é o da edificação de nós mesmos.

No labor da Doutrina, temos de convir que o Espiritismo é o Cristianismo


redivivo pelo qual precisamos fornecer o testemunho da verdade e, dentro do
nosso conceito de relatividade, todo o fundamento da verdade da Terra está
em Jesus-Cristo.
A verdade triunfa por si, sem o concurso das frágeis possibilidades
humanas. Alma alguma deverá procura-la supondo-se elemento indispensável
à sua vitória. Com seu órgão no planeta, o Espiritismo não necessita de
determinados homens para consolar e instruir as criaturas, depreendendo-se
que os próprios intelectuais do mundo é que devem buscar, espontaneamente,
na fonte de conhecimentos doutrinários, o benefício de sua iluminação.
211 –Como compreender a noção de personalidade?

-A compreensão da personalidade, no mundo, vem sendo muito desviada


de seus legítimos valores, pelos espíritos excêntricos, altamente preocupados
em se destacarem no vasto mundo das letras. Entendem muitos que “ter
personalidade” é possuir espírito de rebeldia e de contradição na palavra
sempre pronta a criticar os outros, no esquecimento de sua própria situação.
Outros entendem que o “homem de personalidade” deve sair mundo a fora,
buscando posições de notoriedade em falsos triunfos, porquanto exigem o
olvido pleno dos mais sagrados deveres do coração. Poucos se lembraram dos
bens da humildade e da renúncia, para a verdadeira edificação pessoal do
homem, porque, para a esfera da espiritualidade pura, a conquista da
iluminação íntima vale tudo, considerando que todas as expressões da
personalidade prejudicial e inquieta do homem terrestre passarão com o
tempo, quando a morte implacável houver descerrado a visão real da criatura.
212 –O homem sem grandes possibilidades
intelectuais é sempre um homem medíocre?

-O conceito de mediocridade modifica-se no plano de nossas conquistas


universalistas, depois das transições da morte.

Aí no mundo, costumais entronizar o escritor que enganou o público, o


político que ultrajou o direito, o capitalista que se enriqueceu sem escrúpulos
de consciência, colocados na galeria dos homens superiores. Exaltando-lhes
os méritos individuais com extravagâncias louvaminheiras, muitos falais em
“mediocridade”, sem “rebanho”, em “rotina”, em “personalidade superior”.
Para nós, a virtude da resignação dos pais de família, criteriosos e
abnegados, no extenso rebanho de atividades rotineiras da existência
terrestre, não se compara em grandeza com os dotes de espírito do intelectual
que gesticula desesperado de uma tribuna, sem qualquer edificação séria, ou
que se emaranha em confusões palavrosas na esfera literária, sem a
preocupação sincera de aprender com os exemplos da vida.

O trabalhador que passa a vida inteira trabalhando ao Sol no amanho da


terra, fabricando o pão saboroso da vida, tem mais valor para Deus que os
artistas de inteligência viciada, que outra coisa não fazem senão perturbar a
marcha divina das suas leis.
Vede, portanto, que a expressão de intelectualidade vale muito, mas não
pode prescindir dos valores do sentimento em sua essência sublime,
compreendendo-se afinal, que o “homem medíocre” não é o trabalhador das
lides terrestres, amoroso de suas realizações do lar e do sagrado cumprimento
de seus deveres, sobre cuja abnegação erigiu-se a organização maravilhosa do
patrimônio mundano.
213 –Devemos acalentar a preocupação de adquirir
os elementos do chamado magnetismo pessoal?

-Essa preocupação é muito nobre, mas ninguém suponha realiza-la tão-só


com a experiência da leitura de livros pertinentes ao assunto.

Não são poucos os que buscam essa literatura, desejosos de fórmulas


mágicas no caminho do menor esforço.
Todavia, o que indispensável salientar é que nenhum estudioso pode
conquistar simpatia sem que haja transformado o coração em manancial de
bondade espontânea e sincera. Na vida não basta saber. É imprescindível
compreender. Os livros ensinam, mas só o esforço próprio aperfeiçoa a alma
para a grande e abençoada compreensão. Esqueça a conquista fácil, a
operação mecânica; injustificáveis nas edificações espirituais, e volvei a
atenção e o pensamento para o vosso próprio mundo interior. Muita coisa aí
se tem a fazer e, nesse bom trabalho, a alma se ilumina, naturalmente,
aclarando o caminho de seus irmãos.
214 –Como interpretar os impulsos daqueles que
acreditam na influência dos chamados talismãs da
felicidade pessoal?

-Criaturas há que, para manter sua energia espiritual sempre ativa,


precisam concentrar a atenção em algum objeto tangível, visando os estados
sugestivos indispensáveis `s suas realizações, como esses crentes que não
prescindem de imagens e símbolos materiais para admitir a eficácia de suas
preces.

Ficam certos, porém, de que o talismã para a felicidade pessoal,


definitiva, se constitui de um bom coração sempre afeito à harmonia, à
humildade e ao amor, no integral cumprimento dos desígnios de Deus.
215 –Os chamados “homens de sorte” são guiados
pelos Espíritos amigos?

-Aquilo que convencionastes apelidar “sorte” representa uma situação


natural no mapa de serviços do Espírito reencarnado, sem que haja
necessidade de admitirdes a intervenção do plano inviável na execução das
experiências pessoais.

A “Sorte” é também um aprova de responsabilidade no mecanismo da


vida, exigindo muita compreensão da criatura que a recebe, no que se refere à
misericórdia divina, a fim de não desbaratar o patrimônio de possibilidades
sagradas que lhe foi conferido.
216 –O “amor-próprio”, o “brio”, o “caráter”, a
“honra”, são atitudes que a sociedade humana
reclama da personalidade; como proceder em tal
caso, quando os fatos colidem com os nossos
conhecimentos evangélicos?

-O círculo social exige semelhantes atitudes da personalidade , contudo,


essa mesma sociedade ainda não soube entende-las, senão pela pauta das suas
convenções, quando o amor-próprio, o brio, o caráter e a honra deveriam ser
traços do aperfeiçoamento espiritual e nunca demonstrações de egoísmo, de
vaidade e orgulho, quais se manifestam, comumente, na Terra.

Quando o homem se cristianizar, compreendendo essas posições morais


no seu verdadeiro prisma, não mais se verificará qualquer colisão entre os
acontecimentos da existência comum e os seus conhecimentos do Evangelho,
porquanto o seu esforço será sempre o da cooperação sincera a favor do
reerguimento e da elevação espiritual dos semelhantes.
217 –Qual o modo mais fácil de levar a efeito a
vigilância pessoal, para evitar a queda em
tentações?

-A maneira mais simples é o de cada um estabelecer um tribunal de


autocrítica, em consciência própria, procedendo para com outrem, na mesma
conduta de retidão que deseja da ação alheia para consigo próprio.
ILUMINAÇÃO: NECESSIDADE

218 –A propaganda doutrinária para a multiplicação


dos prosélitos é a necessidade imediata do
Espiritismo?

-De modo algum. A direção do Espiritismo, na sua feição do Evangelho


redivivo, pertence ao Cristo e seus prepostos, antes de qualquer esforço
humano, precário e perecível. A necessidade imediata dos arraiais espiritistas
é a do conhecimento e aplicação legítima do Evangelho, da parte de todos
quantos militam nas suas fileiras, desejosos de luz e de evolução. O trabalho
de cada uma na iluminação de si mesmo deve ser permanente e metodizado.
Os fenômenos acordam o espírito adormecido na carne, mas não fornecem as
luzes interiores, somente conseguidas à custa de grande esforço e trabalho
individual. A palavra dos guias e mentores do Além ensina, mas não pode
constituir elementos definitivos de redenção, cuja obra exige de cada um
sacrifício e renúncias santificantes, no laborioso aprendizado da vida.
219 –Nos trabalhos espiritistas, onde poderemos
encontrar a fonte principal de ensino que nos
oriente para a iluminação? Poderemos obtê-la com
as mensagens de nossos entes queridos, ou apenas
com o fato de guardarmos o valor da crença no
coração?

-Numerosos filósofos há compreendido as teses e conclusões do


Espiritismo no seu aspecto filosófico, científico e religioso; todavia, para a
iluminação do íntimo, só tende no mundo o Evangelho do Senhor, que
nenhum roteiro doutrinário poderá ultrapassar.

Aliás, o Espiritismo em seus valores cristãos não possui finalidade maior


que a de restaurar a verdade evangélica para os corações desesperados e
descrentes do mundo.
Teorias e fenômenos inexplicáveis sempre houve no mundo. Os escritores
e os cientistas doutrinários poderão movimentar seus conhecimentos na
construção de novos enunciados para as filosofias terrestres, mas a obra
definitiva do Espiritismo é a da edificação da consciência profunda no
Evangelho de Jesus-Cristo.

O plano invisível poderá trazer-vos as mensagens mais comovedoras e


convincentes dos vossos bem-amados; podereis guardar os mais elevados
princípios de crença no vosso mundo impressivo. Todavia, esse é o esforço, a
realização do mecanismo doutrinário em ação, junto de vossa personalidade.
Só o trabalho de auto-evangelização, porém, é firme e imperecível. Só o
esforço individual no Evangelho de Jesus pode iluminar, engrandecer e
redimir o espírito, porquanto, depois de vossa edificação com o exemplo do
Mestre, alcançareis aquela verdade que vos fará livre.
220 –Há alguma diferença entre a crença e a
iluminação?

-Todos os homens da Terra, ainda os próprios materialistas, creem em


alguma coisa. Todavia, são muito poucos os que se iluminam. O que creem,
apenas admite; mas o que se ilumina vibra e sente. O primeiro depende dos
elementos externos, nos quais coloca o objeto a sua crença; o segundo é livre
das influências exteriores, porque há bastante luz no seu próprio íntimo, de
modo a vencer corajosamente nas provações a que foi conduzido no mundo.

É por essa razão que os espiritistas sinceros devem compreender que não
basta acreditar no fenômeno ou na veracidade da comunicação com o Além,
para que os seus sagrados deveres estejam totalmente cumpridos, pois a
obrigação primordial é o esforço, o amor ao trabalho, a serenidade nas provas
da vida, o sacrifício de si mesmo, de modo a entender plenamente a
exemplificação de Jesus Cristo, buscando a sua luz divina para a execução de
todos os trabalhos que lhes competem no mundo.
221 –A análise pela razão pode cooperar, de modo
definitivo, no trabalho de nossa iluminação
espiritual?

-É certo que o homem não pode dispensar a razão para vencer na tarefa
confiada ao seu esforço, no círculo da vida; contudo, faz-se mister considerar
que essa razão vem sendo trabalhada, de muitos séculos no planeta, pelos
vícios de toda sorte.

Temos plena confirmação deste asserto no ultra racionalismo europeu,


cuja avançada posição evolutiva, ainda agora, não tem vacilado entre a paz e
a guerra, entre o direito e a força, entre a ordem e a agressão.
Mais que em toda parte do orbe, a razão humana ali se elevou às mais
altas culminâncias de realização e, todavia, desequilibrada pela ausência do
sentimento, ressuscita a selvageria e o crime, embora o fausto da civilização.

Reconhecemos, pois, que na atualidade do orbe toda iluminação do


homem há de nascer, antes de tudo, do sentimento. O sábio desesperado do
mundo deve volver-se para Deus como a criança humilde, para cuidar dos
legítimos valores do coração, porque apenas pela reeducação sentimental, nos
bastidores do esforço próprio, se poderá esperar a desejada reforma das
criaturas.
222 –Que significa o chamado “toque da alma”, ao
qual tantas vezes se referem os Espíritos amigos?

Quando a sinceridade e a boa vontade se irmanam dentro de um coração,


faz-se no santuário íntimo a luz espiritual para a sublime compreensão da
verdade.

Esse é o chamado “toque da alma”; impossíveis para quantos perseverem


na lógica convencionalista do mundo, ou nas expressões negativas das
situações provisórias da matéria, em todos os sentidos.
223 –Há tempo determinado na vida do homem
terrestre para que se possa ele entregar, com mais
probabilidades de êxito, ao trabalho de iluminação?

-A existência na Terra é um aprendizado excelente e constante. Não há


idades para o serviço de iluminação espiritual. Os pais têm o dever de
orientar a criança, desde os seus primeiros passos, no capítulo das noções
evangélicas, e a velhice não tem o direito de alegar o cansaço orgânico em
face desses estudos de sua necessidade própria.

É certo que as aquisições de um velho, em matéria de conhecimentos


novos, não podem ser tão fáceis como as de um jovem em função de sua
instrumentabilidade sadia, fisicamente falando; os homens mais avançados
em anos têm, contudo, a seu favor as experiências da vida, que facilitam a
compreensão e nobilitam o esforço da iluminação de si mesmos,
considerando que, se a velhice é a noite, a alma terá no amanhã do futuro a
alvorada brilhante de uma vida nova.
224 –As almas desencarnadas continuam
igualmente no serviço da iluminação de si próprias?

Nos planos invisíveis, o Espírito prossegue na mesma tarefa abençoada de


aquisição dos próprios valores, e a reencarnação no mundo tem por objetivo
principal a consecução desse esforço.
TRABALHO

225 –Como entender a salvação da alma e como


conquista-la?

-Dentro das claridades espirituais que o Consolador vem espalhando nos


bastidores religiosos e filosóficos do mundo de si mesma, a caminho das mais
elevadas aquisições e realizações no Infinito.
Considerando esse aspecto real do problema de “salvação da alma”,
somos compelidos a reconhecer que, se a Providência Divina movimentou
todos os recursos indispensáveis ao progresso material do homem físico na
Terra, o Evangelho de Jesus é a dádiva suprema do Céu para a redenção do
homem espiritual, em marcha para o amor e sabedoria universais.

Jesus é o Modelo Supremo.


O Evangelho é o roteiro para a ascensão de todos os Espíritos em luta, o
aprendizado na Terra para os planos superiores do Ilimitado. De sua
aplicação decorre a luz do espírito.

No turbilhão das tarefas de cada dia, lembrai a afirmativa do Senhor: -


“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Se vos cercam as tentações de
autoridade e poder, de fortuna e inteligência, recordai ainda as suas palavras:
- “Ninguém pode ir ao Pai senão por mim”. E se vos sentis tocados pelo
sopro frio da adversidade e da dor, se estais sobrecarregados de trabalhos no
mundo, buscai ouvi-Lo sempre no imo dalma: - “Quem deseje encontrar o
Reino de Deus tome a sua cruz e siga os meus passos”.
226 –Os guias espirituais têm uma parte ativa na
tarefa de nossa iluminação pessoal?

-Essa colaboração apenas se verifica como no caso dos irmãos mais


velhos, ou dos amigos mais idosos nas experiências do mundo.

Os mentores do Além poderão apontar-vos os resultados dos seus


próprios esforços na Terra, ou, então, aclarar os ensinos que o homem já
recebeu através da misericórdia do Cristo e da benevolência dos seus
enviados, mas em hipótese alguma poderão afastar a alma encarnada do
trabalho que lhe compete, na curta permanência das lições do mundo.
Que dizer de um professor que decifrasse os problemas comuns para os
alunos?

Além disso, os amigos espirituais não se encontram em estado beatífico.


Suas atividades e deveres são maiores que os vossos. Seus problemas novos
são inúmeros e cada espírito deve buscar em si mesmo a luz necessária à
visão acertada do caminho.
Trabalhai sempre. Essa é a lei para vós outros e para nós que já nos
afastamos do âmbito limitado do circulo carnal. Esforcemo-nos
constantemente.

A palavra do guia é agradável e amiga, mas o trabalho de iluminação


pertence a cada um. Na solução dos nossos problemas, nunca esperemos
pelos outros, porque de pensamento voltado para a fonte de sabedoria e
misericórdia, que é Deus, não nos faltará, em tempo algum, a divina
inspiração de sua bondade infinita.
227 –Deus concede o favor a que chamamos graça?

-São tão grandes as expressões da misericórdia divina que nos cercam o


espírito, em qualquer plano da vida, que basta um olhar à natureza física ou
invisível, para sentirmos, em torno de nós, uma aluvião de graças.

O favor divino, porém, como o homem pretende receber no seu


antropomorfismo, não se observa no caminho da vida, pois Deus não pode
assemelhar-se a um monarca humano, cheio de preferências pessoais ou
subornado por motivos de ordem inferior.
A alma, aqui ou alhures, receberá sempre de acordo com o trabalho da
edificação de si mesma. É o próprio espírito que inventa o seu inferno ou cria
as belezas do seu céu. E tal seja o seu procedimento, acelerando o processo
de evolução pelo esforço próprio, poderá Deus dispensar na Lei, em seu
favor, pois a Lei é uma só e Deus o seu Juiz Supremo e Eterno.
228 –A autoiluminação pode ser conseguida apenas
com a tarefa de uma existência na Terra?

-Uma encarnação é como um dia de trabalho. E para que as experiências


se façam acompanhar de resultados positivos e proveitosos na vida, faz-se
indispensável que os dias de observação e de esforço se sucedam uns aos
outros.

No complexo das vidas diversas, o estudo prepara; todavia, somente a


aplicação sincera dos ensinamentos do Cristo pode proporcionar a paz e a
sabedoria, inerentes ao estado de plena iluminação dos redimidos.

229 –Como entender o trabalho de purificação nos


ambientes do mundo?

-A purificação na Terra ainda é qual o lírio alvo, nascendo do lodo das


amarguras e das paixões.

Todos os Espíritos encarnados, porém, devem considerar que se


encontram no planeta como em poderoso cadinho de acrisolamento e
regeneração, sendo indispensável cultivar a flor da iluminação íntima, na
angústia da vida humana, no círculo da família, ou da comunidade social,
através da maior severidade para consigo mesmo e da maior tolerância com
os outros, fazendo cada qual, da sua existência, um apostolado de educação,
onde o maior beneficiado seja o seu próprio espírito.
230 –Como iniciar o trabalho de iluminação da
nossa própria alma?

-Esse esforço individual deve começar com o autodomínio, com a


disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores, com o trabalho silencioso
da criatura por exterminar as próprias paixões.

Nesse particular, não podemos prescindir do conhecimento adquirido por


outras almas que nos precederam nas lutas da Terra, com as suas experiências
santificantes – água pura de consolação e de esperança, que poderemos beber
nas páginas de suas memórias ou nos testemunhos de sacrifício que deixaram
no mundo.
Todavia, o conhecimento é a porta amiga que nos conduzirá aos
raciocínios mais puros, porquanto, na reforma definitiva de nosso íntimo, é
indispensável o golpe da ação própria, no sentido de modelarmos o nosso
santuário interior, na sagrada iluminação da vida.
231 –Considerando que numerosos agrupamentos
espíritas se formam apenas para doutrinação das
entidades perturbadas, do plano invisível, quais os
mais necessitados de luz: os encarnados ou os
desencarnados?

-Tal necessidade é comum a uns e outros. É justo que se preste auxílio


fraterno aos seres perturbados e sofredores, das esferas mais próximas da
Terra; entretanto, é preciso convir que os Espíritos encarnados carecem de
maior porcentagem de iluminação evangélica que os invisíveis, mesmo
porque, sem ela, que auxílio poderão prestar ao irmão ignorante e infeliz? A
lição do Senhor não nos fala do absurdo de um cego a conduzir outros cegos?

Por essa razão é que toda reunião de estudos sinceros, dentro da Doutrina,
é um elemento precioso para estabelecer o roteiro espiritual a quantos deseje
o bom caminho.
A missão da luz é revelar com verdade serena. O coração iluminado não
necessita de muitos recursos da palavra, porque na oficina da fraternidade
bastará o seu sentimento esclarecido no Evangelho. A grande maravilha do
amor é o seu profundo e divino contágio. Por esse motivo, o Espírito
encarnado, para regenerar os seus irmãos da sombra, necessita iluminar-se
primeiro.
ILUMINAÇÃO

232 – Em matéria de conhecimento, onde poderemos


localizar a maior necessidade do homem?

-Como nos tempos mais recuados das civilizações mortas, temos de


reafirmar que a maior necessidade da criatura humana ainda é a do
conhecimento de si mesma.
233 –Por que razão o homem da Terra tem sido tão
lento na solução do problema do seu conhecimento
próprio?

-Isso é explicável. Somente agora, a alma humana poderá ensimesmar-se


o bastante para compreender as necessidades e os escaninhos da sua
personalidade espiritual.

Antigamente a existência do homem resumia-se na luta com as forças


externas, de modo a criar uma lei de harmonia entre ele próprio e a natureza
terrestre. Muitos séculos decorreram para enfrentar os perigos comuns. A
organização da tribo, da família, das tradições, das experiências coletivas,
exigiu muitos séculos de luta e de infortúnios dolorosos. A ciência das
relações, o aproveitamento das forças materiais que o rodeavam, não
requisitaram menor porção de tempo.
Agora, porém, nas culminâncias da sua evolução física, o homem não
necessitará preocupar-se, de modo tão absorvente, com a paisagem que o
cerca, razão pela qual todas as energias espirituais se mobilizam, nos tempos
modernos, em torno das criaturas, convocando-as ao sagrado conhecimento
de si mesmas, dentro dos valores infinitos da vida.
234 –Que dizer dos que propugnam leis para o bem-
estar social, por processos mecânicos de aplicação
sem atender à iluminação espiritual dos
indivíduos?

-Os estadistas ou condutores de multidões, que procuram agir nesse


sentido, em pouco tempo caem no desencanto de suas utopias políticas e
sociais.

A harmonia do mundo não virá por decretos, nem de parlamentos que


caracterizam sua ação por uma força excessivamente passageira. Não vedes
que o mecanismo das leis humanas se modifica todos os dias? Os sistemas de
governo não desaparecem para dar lugar a outros que, por sua vez, terão de
renovar-se com o transcorrer do tempo? Na atualidade do planeta, tendes
observado a desilusão de muitos utopistas dessa natureza, que sonharam com
a igualdade irrestrita das criaturas, sem compreender que, recebendo os
mesmos direitos de trabalho e de aquisição perante Deus, os homens, por
suas próprias ações, são profundamente desiguais entre si, em inteligências,
virtude, compreensão e moralidade.
O homem que se ilumina conquista a ordem e a harmonia para si mesmo.
E para que a coletividade realize semelhante aquisição, para o organismo
social, faz-se imprescindível que todos os seus elementos compreendam os
sagrados deveres de autoiluminação.
235 –Há outras fontes de conhecimento para a
iluminação dos homens, além da constituída pelos
ensinamentos divinos do Evangelho?

-O mundo está repleto de elementos educativos, mormente no referente às


teorias nobilitantes da vida e do homem, pelo trabalho e pela edificação das
faculdades e do caráter.

Mas, em se tratando de iluminação espiritual, não existe fonte alguma


além da exemplificação de Jesus, no seu Evangelho de Verdade e Vida.
Os próprios filósofos que falaram na Terra, antes d'Ele, não eram senão
emissários da sua bondade e sabedoria, vindos à carne de modo a preparar-
lhe a luminosa passagem pelo mundo das sobras, razão por que o modelo de
Jesus é definitivo e único para a realização da luz e da verdade em cada
homem.
236 –Como interpretar a ansiedade do proselitismo
espírita, em matéria de fenomenologia, ante essa
necessidade de iluminação?

-Os espiritistas sinceros devem compreender que os fenômenos acordam


a alma, como o choque de energias externas que faz despertar uma pessoa
adormecida; mas somente o esforço opera a edificação mora, legítima e
definitiva.

É uma extravagância de consequências desagradáveis, atirar-se alguém à


propaganda de uma ideia sem haver fortalecido a si mesmo na seiva de seus
princípios enobrecedores. O espiritismo não constitui uma escola de
leviandade. Identificado com a sua essência consoladora e divina, o homem
não pode acovardar-se ante a intensidade das provações e das experiências.
Grandes erros praticariam as entidades espirituais elevadas, se prometessem
aos seus amigos do mundo uma vida fácil e sem cuidados, solucionando-lhes
todos os problemas e entregando-lhes a chave de todos os estudos.
É egoísmo e insensatez provocar o plano invisível com os pequeninos
caprichos pessoais.

Cada estudioso desenvolva a sua capacidade de trabalho e de iluminação


e não guarde para outrem o que lhe compete fazer em seu próprio benefício.
O Espiritismo, sem Evangelho, pode alcançar as melhores expressões de
nobreza, mas não passará de atividades destinadas a modificar-se ou
desaparecer, como todos os elementos transitórios do mundo. E o espírita que
não cogitou da sua iluminação com Jesus Cristo, poder ser um cientista e um
filósofo, com as mais elevadas aquisições intelectuais, mas estará sem leme e
sem roteiro no instante da tempestade inevitável da provação e da
experiência, porque só o sentimento divino da fé pode arrebatar o homem das
preocupações inferiores da Terra para os caminhos supremos d os paramos
espirituais.
237 –Existe diferença entre doutrinar e evangelizar?

-Há grande diversidade entre ambas as tarefas. Para doutrinar, basta o


conhecimento intelectual dos postulados do Espiritismo; para evangelizar é
necessária a luz do amor no íntimo. Na primeira, bastarão a leitura e o
conhecimento, na segunda, é preciso vibrar e sentir com o Cristo. Por estes
motivos, o doutrinador, muitas vezes não e senão o canal dos ensinamentos,
mas os sinceros evangelizados serão sempre o reservatório da verdade,
habilitado a servir às necessidades de outrem, sem privar-se da fortuna
espiritual de si mesmo.
238 –Para acelerar o esforço de iluminação, a
Humanidade necessitará de determinadas
inovações religiosas?

-Toda inovação é indispensável, mesmo porque a lição do Senhor ainda


não foi compreendida. A cristianização das almas humanas ainda não foi
além da primeira etapa.

Alguns séculos antes de Jesus, o plano espiritual, pela boca dos profetas e
dos filósofos, exortava o homem do mundo ao conhecimento de si mesmo. O
Evangelho é a luz interior dessa edificação. Ora, somente agora a criatura
terrestre prepara-se para o conhecimento próprio através da dor; portanto, a
evangelização da alma coletiva, para a nova era de concórdia e de
fraternidade, somente poderá efetuar-se, de modo geral, no terceiro milênio.
É certo que o planeta já possui as suas expressões isoladas de legítimo
evangelismo, raras na verdade, mas consoladora e luminosas. Essas
expressões, porém, são obrigadas às mais altas realizações de renúncia em
face da ignorância e da iniquidade do mundo. Esses apóstolos desconhecidos
são aquele “sal da Terra” e o seu esforço divino será respeitado pelas
gerações vindouras, como os símbolos vivos da iluminação espiritual com
Jesus Cristo, bem-aventurados de seu Reino, no qual souberam perseverar até
o fim.
EVOLUÇÃO

Emmanuel

DOR

239 –Entre a dor física e a dor moral, qual das duas


faz vibrar mais profundamente o espírito humano?

-Podemos classificar o sofrimento do espírito como a dor-realidade e o


tormento físico, de qualquer natureza, como a dor-ilusão.

Em verdade, toda dor física colima o despertar da alma para os seus


grandiosos deveres, seja como expressão expiatória, como consequência dos
abusos humanos, ou como advertência da natureza material ao dono de um
organismo.

Mas, toda dor física é um fenômeno, enquanto que a dor moral é essência.

Daí a razão por que a primeira vem e passa, ainda que se faça
acompanhar das transições de morte dos órgãos materiais, e só a dor
espiritual é bastante grande e profunda para promover o luminoso trabalho do
aperfeiçoamento e da redenção.
240 –De algum modo, pode-se conceber a felicidade
na Terra?

-Se todo espírito tem consigo a noção da felicidade, é sinal que ela existe
e espera as almas em alguma parte.

Tal como sonhada pelo homem do mundo, porém, a felicidade não pode
existir, por enquanto, na face do orbe, porque, em sua generalidade, as
criaturas humanas se encontram intoxicadas e não sabem contemplar a
grandeza das paisagens exteriores que as cercam no planeta. Contudo,
importa observar que é no globo terrestre que a criatura edifica as bases da
sua ventura real, pelo trabalho e pelo sacrifício, a caminho das mais sublimes
aquisições para o mundo divino de sua consciência.
241 –Onde o maior auxílio para nossa redenção
espiritual?

-No trabalho de nossa redenção individual ou coletiva, a dor é sempre o


elemento amigo e indispensável. E a redenção de um Espírito encarnado, na
Terra, consiste no resgate de todas as dívidas, com a consequente aquisição
de valores morais passíveis de serem conquistados nas lutas planetárias,
situação essa que eleva as personalidades espiritual a novos e mais sublimes
horizontes na vida no Infinito.
242 –Por que o Evangelho não nos fala das alegrias
da vida humana?

-O Evangelho não podia trazer os cenários do riso mascarado do mundo,


mas a verdade é que todas as lições do Mestre Divino foram efetuadas nas
paisagens da mais perfeita alegria espiritual.

Sua primeira revelação foi nas bodas de Canaã, entre os júbilos sagrados
da família. Seus ensinamentos, à margem das águas do Tiberíades,
desdobraram-se entre criaturas simples e alegres, fortalecidas na fé e no
trabalho sadio.
Em Jerusalém, contudo, junto das hipocrisias do Templo, ou em face dos
seus algozes empedernidos, o Mestre Divino não poderia sorrir, alentando a
mentira ou desenvolvendo os métodos da ingratidão e da violência.

Eis por que, em seu ambiente natural, toda a história evangélica é sempre
um poema de luz, de amor, de encantamento e de alegria.
243 –Todos os Espíritos que passaram pela Terra
tiveram as mesmas características evolutivas, no
que se refere ao problema da dor?

-Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos


que se resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do
passado, com exceção de Jesus Cristo, fundamento de toda a verdade neste
mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos
angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios.
244 –Existem lugares de penitência no plano
espiritual? E acaso poderá haver sofrimento eterno
para os Espíritos inveterados no erro e na rebeldia?

-Considerando a penitência em sua feição expiatória, existem numerosos


lugares de provações na esfera para vós invisíveis, destinados à regeneração e
preparo de entidades perversas ou renitentes no crime, a fim de conhecerem
as primeiras manifestações do remorso e do arrependimento, etapas iniciais
da obra de redenção.

Quanto à ideia do sofrimento eterno, se houvesse Espíritos eternamente


inveterados no crime, haveria para ele um sofrimento continuado, como o seu
próprio erro. O Pastor, porém, não quer se perca uma só de suas ovelhas. Dia
virá em que a consciência mais denegrida experimentará, no íntimo, a luz
radiosa da alvorada de Seu amor.
245 –Se é justo esperarmos no decurso do nosso
roteiro de provações na Terra, por determinadas
dores, devemos sempre cultivar a prece?

-A lei das provas é uma das maiores instituições universais para a


distribuição dos benefícios divinos.

Precisais compreender isso, aceitando todas as dores com nobreza de


sentimento.
A prece não poderá afastar os dissabores e as lições proveitosas da
amargura, constantes do mapa de serviços que cada Espírito deve prestar na
sua tarefa terrena, mas deve ser cultivada no íntimo, como a luz que se
acende para o caminho tenebroso, ou mantida no coração como o alimento
indispensável que se prepara, de modo a satisfazer à necessidade própria, na
jornada longa e difícil, porquanto a oração sincera estabelece a vigilância e
constitui o maior fator de resistência moral, no centro das provações mais
escabrosas e mais rudes.
PROVAÇÃO

246 –Qual a diferença entre provação e expiação?

-A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a


estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao
malfeitor que comete um crime.
247 –A lei da prova e da expiação é inflexível?

-Os tribunais da justiça humana, apesar de imperfeitos, por vezes não


comutam as penas e não beneficiam os delinquentes com o “sursis”?

A inflexibilidade e a dureza não existem para a misericórdia divina, que,


conforme a conduta do Espírito encarnado, pode dispensar na lei, em
benefício do homem quando a sua existência já demonstre certas expressões
do amor que cobre a multidão dos pecados.
248 –Como se verifica a queda do Espírito?

-Conquistada a consciência e os valores racionais, todos os Espíritos são


investidos de uma responsabilidade, dentro das suas possibilidades de ação;
porém, são raros os que praticam seus legítimos deveres morais, aumentando
os seus direitos divinos no patrimônio universal.

Colocada por Deus no caminho da vida, como discípulo que termina os


estudos básicos, a alma nem sempre sabe agir em correlação com os bens
recebidos do Criador, caindo pelo orgulho e pela vaidade, pela ambição ou
pelo egoísmo, quebrando a harmonia divina pela primeira vez e penetrando
em experiências penosas, a fim de restabelecer o equilíbrio de sua existência.
249 –A queda do Espírito somente se verifica na
Terra?

-A Terra é um plano de vida e de evolução como outro qualquer, e, nas


esferas mais variadas, a alma pode cair, em sua rota evolutiva, porquanto
precisamos compreender que a sede de todos os sentimentos bons ou maus,
superiores ou indignos, reside no âmago do espírito imperecível e não na
carne que se apodrecerá com o tempo.
250 –Como se processa a provação coletiva?

-Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados,


participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e
obscuro.

O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então


espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os
comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que,
muitas vezes, intitulais, “doloroso acaso”, as circunstâncias que reúnem as
criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do
corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus
compromissos individuais.
251 –A incredulidade é uma provocação?

-O ateísmo ou incredulidade absoluta não existe, a não ser no jogo de


palavras dos cérebros desesperados, nas teorias do mundo, porque, no íntimo,
todos os Espíritos se identificam com a ideia de Deus e da sobrevivência do
ser, que lhes é inata. Essa idéia superior pairará acima de todos os
negativismos e sairá vitoriosa de todos os decretos de força que se organizam
nos Estados terrenos, porque constitui a luz da vida e a mais preciosa
esperança das almas.
252 –Somente se recebe a ofensa a que se fez jus no
cumprimento das provas? E considerando a
intensidade dessa ou daquela provação, poderá
alguém reencarnar fadado ao suicídio e ao crime?

-Receberemos a dor de acordo com as necessidades próprias, com vistas


ao resgate do passado e à situação espiritual do futuro.

No capítulo da ofensa, quando a recebemos de alguém que se encontra


dentro do nosso nível de compreensão e do plano evolutivo, é certo que se
trata de provação bem amarga, indispensável ao nosso processo de
regeneração própria.
Existem, porém, no mundo, as pedradas da ignorância e da má-fé,
partidas dos sentimentos inferiores e convém que o cristão esteja preparado e
sereno, de modo a não recebê-las com sensibilidade doentia, mas com o
propósito de trabalho e esforço próprio, conhecendo que as mesmas fazem
parte do seu plano de vida temporária, aonde veio para se educar,
colaborando ao mesmo tempo na educação de seus semelhantes.

Relativamente ao suicídio é oportuno repetir que a obra de Deus é a do


amor e do bem, de todos os planos da vida, e devemos reconhecer que, se
muitos Espíritos reencarnam com a prova das tentações ao suicídio e ao
crime, é porque esses devem agir como alunos que, havendo perdido uma
prova em seu curso, voltam ao estudo da mesma no ano seguinte, até obterem
conhecimento e superioridade na matéria. Muitas almas efetuam a repetição
de um mesmo esforço e, por vezes, sucumbem na luta, sem perceberem a
necessidade de vigilância, sem que possamos, de modo algum, imputar a
Deus o fracasso de suas esperanças, porque a Providência Divina concede a
todos os seres as mesmas oportunidades de trabalho e de habilitação.
VIRTUDE

253 –A virtude é concessão de Deus, ou é aquisição


da criatura?

-A dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada


concedida por Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude
é sempre sublime e imorredoura aquisição do espírito nas estradas da vida,
incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no
esforço próprio.
254 –Que é paciência e como adquiri-la?

-A verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da alma que


realizou muito amor em si mesma, para dá-lo a outrem, na exemplificação.

Esse amor é a expressão fraternal que considera todas as criaturas como


irmãos, em quaisquer circunstâncias, sem desdenhar a energia para esclarecer
a incompreensão, quando isso se torne indispensável.
É com a iluminação espiritual do nosso íntimo que adquirimos esses
valores sagrados da tolerância esclarecida. E, para que nos edifiquemos nessa
claridade divina, faz-se mister educar a vontade, curando enfermidades
psíquicas seculares que nos acompanham através das vidas sucessivas, quais
sejam as de abandonarmos o esforço próprio, de adotarmos a indiferença e de
nos queixarmos das forças exteriores, quando o mal reside em nós mesmos.

Para levarmos a efeito uma edificação tão sublime, necessitamos começar


pela disciplina de nós mesmos e pela continência dos nossos impulsos,
considerando a liberdade do mundo interior, de onde o homem deve dominar
as correntes da sua vida.
O adágio popular considera que “o hábito faz a segunda natureza” e nós
devemos aprender que a disciplina antecede a espontaneidade, dentro da qual
pode a alma atingir, mais facilmente, o desiderato da sua redenção.
255 –Devemos nós, os espiritistas, praticar somente
a caridade espiritual, ou também a material?

-A divisa fundamental da codificação kardequiana, formulada no “fora da


caridade não há salvação”, é bastante expressiva para que nos percamos em
minuciosas considerações.

Todo serviço da caridade desinteressada é um reforço divino na obra da


fraternidade humana e da redenção universal.
Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclarecidos no Evangelho,
procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários,
reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da
iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da
consciência.

Dentro desses imperativos, é lícito encarecermos a excelência dos planos


educativos da evangelização, de modo a formar uma mentalidade espírita-
cristã, com vistas ao porvir.
Não podemos desprezar a caridade material que faz do Espiritismo
evangélico um pouso de consolação para todos os infortunados; mas não
podemos esquecer que as expressões religiosas sectárias também
organizaram as edificações materiais para a caridade no mundo, sem olvidar
os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase todas as suas
obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos Espíritos
encarnados.

A Igreja Romana é um exemplo típico.

Senhora de uma fortuna considerável e havendo construído numerosas


obras tangíveis, de assistência social, sente hoje que as suas edificações são
apenas de pedra, porquanto, em seus estabelecimentos suntuosos, o homem
contemporâneo experimenta os mais dolorosos desenganos.
As obras da caridade material somente alcançam a sua feição divina
quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores
íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na
Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será
naturalmente o asilo de todos os que sofrem.

Depreende-se, pois, que o serviço de cristianização sincera das


consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas
devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a
complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer
realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade.
256 –Como interpretar a esmola material?

-No mecanismo de relações comuns, o pedido de uma providência


material tem o seu sentido e a sua utilidade oportuna, como resultante da lei
de equilíbrio que preside o movimento das trocas no organismo da vida.

A esmola material, porém, é índice da ausência de espiritualização nas


características sociais que a fomentam.
Ninguém, decerto, poderá reprovar o ato de pedir e, muito menos, deixará
de louvar a iniciativa de quem dá a esmola material; todavia, é oportuno
considerar que, à medida que o homem se cristianiza, iluminando as suas
energias interiores, mais se afasta da condição de pedinte para alcançar a
condição elevada do mérito, pelas expressões sadias do seu trabalho.

Quem se esforça, nos bastidores da consciência retilínea, dignifica-se e


enriquece o quadro de seus valores individuais.
E o cristão sincero, depois de conquistar os elementos da educação
evangélica, não necessita materializar a ideia da rogativa da esmola material,
compreendendo que, esperando ou sofrendo, agindo ou lutando, nos esforços
da ação e do bem, há de receber, sempre, de acordo com as suas obras e de
conformidade com a promessa do Cristo.
257 –A esperança e a Fé devem ser interpretadas
como uma só virtude?

-A Esperança é a filha dileta da Fé. Ambas estão uma para outra, como a
luz reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol.

A Esperança é como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A Fé


é a divina claridade da certeza.
258 –No caminho da virtude, o pobre e o rico da
Terra podem ser identificados como discípulos de
Jesus?

-O título de discípulo é conferido pelo Divino Mestre a todos os homens


de boa-vontade, sem distinção de situações, de classes ou de qualquer
expressão sectária.

Com responsabilidade dos bens materiais ou sem ela, o homem é sempre


rico pela sua posição de usufrutuário das graças divinas e, além do mais,
temos de ponderar que, em toda situação, a criatura encontrará
responsabilidade na existência, razão por que os sinceros discípulos do
Senhor são iguais aos seus olhos, sem preferência de qualquer natureza.
259 –No que se refere à prática da caridade, como
interpretar o ensinamento de Jesus: Aquele que tem
será concedido em abundância e àquele que não
tem, até mesmo o que tiver, lhe será tirado?

-A palavra de Jesus, em todas as circunstâncias, foi tocada de uma luz


oculta, apresentando reflexos prismáticos, em todos os tempos, para a alma
humana, na sua ascensão para a sabedoria e para o amor.

Antes de tudo, busquemos ajustar o conceito a nós próprios.


Se possuirmos a verdadeira caridade espiritual, se trabalhamos pela nossa
iluminação íntima, irradiando luz, espontaneamente, para o caminho dos
nossos irmãos em luta e aprendizado, mais receberemos das fontes puras dos
planos espirituais mais elevados, porque, depois de valorizarmos a
oportunidade recebida, horizontes infinitos se abrirão no campo ilimitado do
Universo, para as nossas almas, o que não poderá acontecer aos que lançaram
mão do sagrado ensejo de iluminação própria nas estradas da vida, com a
mais evidente despreocupação de seus legítimos deveres, esquecendo o
caminho melhor, trocado, então, pelas sensações efêmeras da existência
terrestre, contraindo novas dívidas e afastando de si mesmo as oportunidades
para o futuro, então mais difíceis e dolorosas.
TERCEIRA PARTE:
RELIGIÃO

260 –Em face da Ciência e da Filosofia como interpretar a


Religião nas atividades da vida?

-Religião é o sentimento Divino, cujas exteriorizações são sempre o


Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia
operam o trabalho da experimentação e do raciocínio, a Religião edifica e
ilumina os sentimentos.
As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda personifica o Amor, as
duas asas divinas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos
sagrados da espiritualidade.
REVELAÇÃO

261 – “No princípio era o Verbo...” – Como


deveremos entender está afirmativa do texto
sagrado?

-O apóstolo João ainda nos adverte que “o Verbo era Deus e estava com
Deus”.

Deus é amor e vida e a mais perfeita expressão do Verbo para o orbe


terrestre era e é Jesus, identificado com a sua misericórdia e sabedoria, desde
a organização primordial do planeta.
Visível ou oculto, o Verbo é o traço da luz divina em todas as coisas e em
todos os seres, nas mais variadas condições do processo de aperfeiçoamento.

262 –Por que razão a palavra das profecias parece


dirigida invariavelmente ao povo de Israel?

-Em todos os textos das profecias, Israel deve ser considerada como o
símbolo de toda a humanidade terrestre, sob a égide sacrossanta do Cristo.
263 –Deve-se atribuir ao judaísmo missão especial,
em comparação com as demais ideias religiosas do
tempo antigo?

-Embora as elevadas concepções religiosas que floresceram na Índia e no


Egito e todos os grandes ideais de conhecimento da divindade, que povoaram
a antiga Ásia em todos os tempos, deve-se reconhecer no judaísmo a grande
missão da revelação do Deus único.

Enquanto os cultos religiosos se perdiam na divisão e na multiplicidade,


somente o judaísmo foi bastante forte na energia e na unidade para cultivar o
monoteísmo e estabelecer as bases da lei universalista, sob a luz da inspiração
divina.
Por esse motivo, não obstante os compromissos e os débitos penosos que
parecem perpetuar os seus sofrimentos, através das gerações e das pátrias
humanas no doloroso curso dos séculos, o povo de Israel deve merecer o
respeito e o amor de todas as comunidades da Terra, porque somente ele foi
bastante grande e unido para guardar a ideia verdadeira de Deus, através dos
martírios da escravidão e do deserto.
264 –Como deve ser considerada, no Espiritismo, a
chamadas “Santíssima Trindade”, da teologia
católica?

Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da


Igreja Romana, quanto à chamada “Santíssima Trindade”.

Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de


sutilezas teológicas sem base séria nos ensinamentos de Jesus.
Por largos anos, antes da Boa Nova, o bramanismo guardava a concepção
de Deus, dividido em três princípios essenciais, que os seus sacerdotes
denominavam Brama, Vishnu e Çiva. (*).

Contudo, a Teologia, que se organizavam sobre os antigos princípios do


politeísmo romano, necessitava apresentar um complexo de enunciados
religiosos, de modo a confundir os espíritos mais simples, mesmo porque
sabemos que se a Igreja foi, a princípio, depositária das tradições cristãs, não
tardou muito que o sacerdócio eliminasse as mais belas expressões do
profetismo, inumando o Evangelho sob um acervo de convenções religiosas e
roubando às revelações primitivas a sua feição de simplicidade e de amor.

Para esse desiderato, as forças que vinham disputar o domínio do Estado,


em face da invasão dos povos considerados bárbaros, se apressaram, no
poder, em transformar os ensinos de Jesus em instrumento da política
administrativa, adulterando os princípios evangélicos nos seus textos
primitivos e assimilando velhas doutrinas como as da Índia legendária, e
organizando novidades teológicas, com as quais o Catolicismo se reduziu a
uma força respeitável, mas puramente humana, distante do Reino de Jesus,
que na afirmação do Mestre, simples e profunda, não tem ainda fundamentos
divinos na face da Terra.

(*) –O Padre Alta, em O Cristianismo do Cristo e o de seus vigários,


nos diz que a fórmula do catecismo – 3-Pessoas em Deus – era verdadeira em
latim, onde o vocábulo persona significa forma, aspecto, aparência. É falsa,
porém, em francês ou em português, com acepção de indivíduo. –Nota da
Editora.
265 –Como interpretar a antiga sentença – “Deus fez
o mundo do nada?”.

-O primeiro instante da matéria está, para os Espíritos da minha esfera,


tão obscura quanto o primeiro momento da energia espiritual nos círculos da
vida universal.

Compreendemos, contudo, que sendo Deus o Verbo da Criação, o “nada”


nunca existiu para o nosso conceito de observação, porquanto o Verbo, para
nós outros, é a luz de toda a Eternidade.
266 –Os dias da Criação, nas antigas referências do
Velho Testamento, correspondem a períodos
inteiros da evolução geológica?

-Os dias da atividade do Criador, tal como nos refere o texto sagrado,
correspondem aos largos períodos de evolução geológica, dentro dos
milênios indispensáveis ao trabalho da gênese planetária, salientando-se que,
com esses, a Bíblia encerra outros grandes símbolos inerentes aos tempos
imemoriais, das origens do planeta.
267 –Qual a posição do Velho Testamento no
quadro de valores da educação religiosa do homem?

-No quadro de valores da educação religiosa, na civilização cristã, o


Velho Testamento, apesar de suas expressões altamente simbólicas, poucas
vezes acessíveis ao raciocínio comum, deve ser considerado como a pedra
angular, ou como a fonte máter da revelação divina.

268 –Os dez mandamentos recebidos por Moisés no


Sinai, base de toda justiça até hoje, no mundo,
foram alterados pelas seitas religiosas?

-As seitas religiosas, de todos os tempos, pela influenciação de seus


sacerdotes, procuram modificar os textos sagrados; todavia, apesar das
alterações transitórias, os dez mandamentos, transmitidos à Terra por
intermédio de Moisés, voltam sempre a ressurgir na sua pureza primitiva,
como base de todo o direito no mundo, sustentáculo de todos os códigos da
justiça terrestre.
269 –Como entender a palavra do Velho Testamento
quando nos diz que Deus falou a Moisés no Sinai?

-Estais atualmente em condições de compreender que Moisés trazia


consigo as mais elevadas faculdades mediúnicas, apesar de suas
características de legislador humano.

-É inconcebível que o grande missionário dos judeus e da Humanidade


pudesse ouvir o Espírito de Deus. Estais, porém, habilitados a compreender,
agora, que a Lei ou a base da Lei, nos dez mandamentos, foi-lhe ditada pelos
emissários de Jesus, porquanto todos os movimentos de evolução material e
espiritual do orbe se processaram, como até hoje se processam, sob o seu
augusto e misericordioso patrocínio.
270 –Apesar de suas expressões tão humanas,
Moisés veio ao mundo como missionário divino?

-Examinando-se os seus atos enérgicos de homem, há a considerar as


características da época em que se verificou a grande tarefa do missionário
hebreu, legítimo emissário do plano superior, para entregar ao mundo
terrestre a grande e sublime mensagem da primeira revelação.

Com expressões diversas, o grande enviado não poderia dar conta exata
de suas preciosas obrigações, em face da Humanidade ignorante e
materialista.
271 –Moises transmitiu ao mundo a lei definitiva?

-O profeta de Israel deu à Terra as bases da Lei divina e imutável, mas


não toda a Lei, integral e definitiva.

Aliás, somos obrigados a reconhecer que os homens receberão sempre as


revelações divinas de conformidade com a sua posição evolutiva.

Até agora, a Humanidade da era cristã recebeu a grande Revelação em


três aspectos essenciais: Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evangelho, a
revelação insuperável do Amor, e o Espiritismo em sua feição de
Cristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa da Verdade. No
centro das três revelações encontra-se Jesus Cristo, como o fundamento de
toda a luz e de toda a sabedoria. É que, com Amor, a Lei manifestou-se na
Terra no seu esplendor máximo; a Justiça e a Verdade nada mais são que os
instrumentos divinos de sua exteriorização, com aquele Cordeiro de Deus,
alma da redenção de toda a Humanidade. A justiça, portanto, lhe aplanou os
caminhos, e a Verdade, conseguintemente, esclarece os seus divinos
ensinamentos. Eis por que, com o Espiritismo simbolizando a Terceira
Revelação da Lei, o homem terreno se prepara, aguardando as sublimadas
realizações do seu futuro espiritual, nos milênios porvindouros.
272 –Qual a significação da lei de talião “olho por
olho, dente por dente”, em face da necessidade da
redenção de todos os espíritos pelas reencarnações
sucessivas?

-A lei de talião prevalece para todos os espíritos que não edificaram ainda
o santuário do amor nos corações, e que representam a quase totalidade dos
seres humanos.

Presos, ainda, aos milênios do pretérito, não cogitaram de aceitar e aplicar


o Evangelho a si próprios, permanecendo encarcerados em círculos viciosos
de dolorosas reencarnações expiatórias e purificadoras.
Moisés proclamou a Lei antiga; muitos séculos antes do Senhor. Como já
dito, o profeta hebraico apresentava a Revelação com a face divina da Justiça;
mas, com Jesus, o homem do mundo recebeu o código perfeito do Amor. Se
Moisés ensinava o “olho por olho, dente por dente”, Jesus Cristo esclarecia
que o “amor cobre a multidão dos pecados”.

Daí a verdade de que as criaturas humanas se redimirão pelo amor e se


elevarão a Deus por ele, anulando com o bem todas as forças que lhes possam
encarcerar o coração nos sofrimentos do mundo.
273 –Qual é verdadeiramente o segundo
mandamento? – “Não farás imagens esculpidas das
coisas que estão nos céus”, etc., segundo alguns
textos, ou “Não tomar o seu santo nome em vão”,
conforme o ensinamento da igreja católica de
Roma?

-A segunda fórmula foi uma tentativa de subversão dos textos primitivos,


levada a efeito pela Igreja Romana, a fim de que o seu sacerdócio encontrasse
campo livre para desenvolvimento das heranças do paganismo, no que se
refere às pomposas demonstrações do culto externo.
274 –Qual a intenção de Moisés no Deuteronômio,
recomendando “que ninguém interrogasse os
mortos para saber a verdade? ”.

-Antes de tudo, faz-se preciso considerar que a afirmativa tem sido objeto
injusto de largas discussões por parte dos adversários da nova revelação que
o Espiritismo trouxe aos homens, na sua feição de Consolador.
As expressões sectárias, todavia, devem considerar que a época de
Moisés não comportava as indagações do Invisível, porquanto o comércio
com os desencarnados se faria com um material humano excessivamente
grosseiro e inferior.
PROFETAS

75 –Os cinco livros maiores da Bíblia encerram


símbolos especiais para a educação religiosa do
homem?

-Todos os documentos religiosos da Bíblia se identificam entre si, no


todo, desde a primeira revelação com Moisés, de modo a despertar no homem
as verdadeiras noções do seu dever para com os semelhantes e para com
Deus.
276 –A previsão e a predição, nos livros sagrados,
dão a entender que os profetas eram diretamente
inspirados pelo Cristo?

-Nos textos sagrados das fontes divinas do Cristianismo, as previsões e


predições se efetuaram sob a ação direta do Senhor, pois só Ele poderia
conhecer bastante os corações, as fraquezas e as necessidades dos seus
rebeldes tutelados, para sondar com precisão as estradas do futuro, sob a
misericórdia e a sabedoria de Deus.
277 –Os Espíritos elevados, como os profetas
antigos, devem ser considerados como anjos ou
como Espíritos eleitos?

-Como missionário do Senhor, junto à esfera de atividade propriamente


material, os profetas antigos eram também dos “chamados” à iluminação
sementeira.

Para a nossa compreensão, a palavra “ano”, neste passo, deve designar


somente as entidades que já se elevaram ao plano superior; plenamente
redimidas, onde são “escolhidos” na tarefa sagrado d'Aquele cujas palavras
não passarão. O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha
reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe
terrestre só viu um eleito, que é Jesus Cristo.
A compreensão do homem, todavia, em se tratando de angelitude,
generalizou a definição, estendendo-a a todas as almas virtuosas e boas, nos
bastidores da sua literatura, o que justifica, entendendo-se que a palavra
“anjo” significa “mensageiro”.
278 – Devemos considerar como profetas somente
aqueles a que se referem as páginas do Velho
Testamento?

-Além dos ensinamentos legados por Elias ou um Jeremias, temos de


convir que numerosos missionários do plano superior precederam a vinda do
Cristo, distribuindo no mundo o pão espiritual de suas verdades eternas.

Um Çakyamuni, um Confúcio, um Sócrates, foram igualmente profetas


do Senhor, na gloriosa preparação dos seus caminhos. Se desenvolverem
ação distante do ambiente e dos costumes israelitas, pautaram a missão no
mesmo plano universalista, em que as tribos de Israel foram chamadas a
trabalhar, mas particularmente, pelo progresso religioso do mundo.
279 –Os profetas hebraicos representavam o papel
de sacerdotes dos crentes da Lei?

-Em todos os tempos houve a mais funda diferença entre sacerdócio e o


profetismo.

Os antigos profetas de Israel nunca se caracterizaram por qualquer


expressão de servilismo às convenções sociais e aos interesses econômicos,
tão ao gosto do sacerdócio organizado, em todas as eras e em todos os
lugares.
Extremamente dedicados ao esforço próprio, não viviam do altar de sua
fé, mas do trabalho edificante, fosse na indumentária dos escravos oprimidos,
ou no insulamento do deserto que as suas aspirações religiosas sabiam povoar
de um santo dinamismo construtivo.
280 –Os profetas do Cristo têm voltado à esfera
material para trazer aos homens novas expressões
de luz para o futuro da Humanidade?

-Em tempo algum as coletividades humanas deixaram de receber a


sublime cooperação dos enviados do Senhor, na solução dos grandes
problemas do porvir.

Nem sempre a palavra da profecia poderá ser trazida pelas mesmas


individualidades espirituais dos tempos idos; contudo, os profetas de Jesus,
isto é, as poderosas organizações espirituais dos planos superiores, têm
estado convosco, incessantemente, impulsando-vos à evolução em todos os
sentidos, multiplicando as vossas possibilidades de êxito nas experiências
difíceis e dolorosas. É verdade que os novos enviados não precisarão dizer o
que já se encontra escrito, em matéria de revelações religiosas; todavia, agem
nos setores da Ciência e da Filosofia, da Literatura e da Arte, levantando-vos
o pensamento abatido para as maravilhosas construções espirituais do porvir.
Igualmente, é certo que os missionários novos não encontram o deserto de
figueiras bravas, onde os seus predecessores se nutriam apenas de gafanhotos
e de mel selvagem, mas ainda são obrigados a viver no deserto das cidades
tumultuosas, entre corações indiferentes e incompreensíveis, cercados pela
ingratidão e pela zombaria dos contemporâneos, que, muitas vezes, lhes
impõem o pelourinho e o sacrifício.
O amor de Jesus, todavia, é a seiva divina que lhes alimenta a fibra de
trabalho e realização, e, sob as suas bênçãos generosas, as grandes almas
solitárias atravessam o mundo, distribuindo a luz do Senhor pelas estradas
sombrias.
281 –A leitura do Velho Testamento e do Evangelho,
nos círculos familiares, como é de hábito entre
muitos povos europeus, favorece a renovação dos
fluídos salutares de paz na intimidade do coração e
do ambiente doméstico?

-Essa leitura é sempre útil, e quando não produz a paz imediata, em vista
da heterogeneidade de condições espirituais daqueles que a ouvem em
conjunto, constitui sempre proveitosa sementeira evangélica, extensiva às
entidades do plano invisível, que a assistem, sendo lícito esperar mais tarde o
seu florescimento e frutificação.

II- EVANGELHO

JESUS

282 –Se devemos considerar o Velho Testamento


como a pedra angular da Revelação Divina, qual a
posição do Evangelho de Jesus na educação
religiosa dos homens?

-O Velho Testamento é o alicerce da Revelação Divina. O Evangelho é o


edifício da redenção das almas. Como tal, devia ser procurada a lição de
Jesus, não mais para qualquer exposição teórica, mas visando cada discípulo
o aperfeiçoamento de si mesmo, desdobrando as edificações do Divino
Mestre no terreno definitivo do Espírito.
283 –Com Referência a Jesus, como interpretar o
sentido das palavras de João: - “E o Verbo se fez
carne e habitou entre nós, cheio de graça e
verdade”?

-Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e


nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se
em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das
coletividades terrícolas.

Enviado de Deus, Ele foi a representação do Pai junto do rebanho de


filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada
nas ordenações sagradas da vida no Infinito.

Diretor angélico do orbe, seu coração não desdenhou a permanência


direta entre os tutelados míseros e ignorantes, dando ensejo às palavras do
apóstolo, acima referidas.
284 –O apóstolo João recebeu missão diferente, na
organização do Evangelho, considerando-se a
diversidade de suas exposições em confronto com
as narrações de seus companheiros?

-Ainda aí, temos de considerar a especialização das tarefas, no capítulo


das obrigações conferidas a cada um. As peças nas narrações evangélicas
identificam-se naturalmente, entre si, como partes indispensáveis de um todo,
mas somos compelidos a observar que, se Mateus, Marcos e Lucas receberam
a tarefa de apresentar, nos textos sagrados, o Pastor de Israel na sua feição
sublime, a João coube a tarefa de revelar o Cristo Divino, na sua sagrada
missão universalista.
285 –“Jesus Cristo é sem pai, sem mãe, sem
genealogia” – Como interpretar essa afirmativa, em
face da palavra de Mateus?

-Faz-se necessário entendermos a missão universalista do Evangelho de


Jesus, através da palavra de João, para compreender tal afirmativa no tocante
à genealogia do Mestre Divino, cujas sagradas raízes repousam no infinito do
amor e de sabedoria em Deus.
286 –O sacrifício de Jesus deve ser apreciado tão
somente pela dolorosa expressão do Calvário?

-O Calvário representou o coroamento da obra do Senhor, mas o


sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua
passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos
exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o
segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos
edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão demonstrar ao
calvário de suas dores, no momento oportuno.
287 –Numerosos discípulos do Evangelho
consideram que o sacrifício do Gólgota não teria
sido completo sem o máximo de dor material para o
Mestre Divino. Como conceituar essa suposição em
face da intensidade do sofrimento moral que a cruz
lhe terá oferecido?

-A dor material é um fenômeno como os dos fogos de artifícios, em face


dos legítimos valores espirituais.
Homens do mundo, que morreram por uma ideia, muitas vezes não
chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da
incompreensão do seu ideal.

Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e


chegareis a contempla-Lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e
indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus,
estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem.

Em sua exemplificação divina, faz-se mister considerar, antes de tudo, o


seu amor, a sua humildade, a sua renúncia por toda a Humanidade.

Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para


que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser
compreendida, não constitui o ponto essencial da sai perfeita renúncia pelos
homens?
Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo,
como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto,
quando se lhe fornece o conhecimento tomando por imagens o cabedal
imediato dos seus brinquedos.
288 –“Meu Pai e eu somos Um” – Poderemos
receber mais alguns esclarecimento sobre essa
afirmativa do Cristo?

-A afirmativa evidenciava a sua perfeita identidade com Deus, na direção


de todos os processos atinentes à marcha evolutiva do planeta terrestre.
289 –São muitos os Espíritos em evolução na Terra,
ou nas esferas mais próximas, que já viram o Cristo,
experimentando a glória da sua presença divina?

-Toda a comunidade dos Espíritos encarnados na Terra, ou localizados


em suas esferas de labor espiritual mais ligadas ao planeta, sentem a sagrada
influência do Cristo, através da assistência de seus prepostos; todavia,
pouquíssimos alcançarão a pureza indispensável para a contemplação do
Mestre no seu plano divino.
290 –Poder-se-á reconhecer nas parábolas de Jesus a
expressão fenomênica das palavras, guardando a
eterna vibração de seu sentimento nos ensinos?

-Sim. As parábolas do Evangelho são como as sementes divinas que


desabrochariam, mais tarde, em árvores de misericórdia e de sabedoria para a
Humanidade.
291 –Como interpretar o Anticristo?

-Podemos simbolizar como Anticristo o conjunto das forças que operam


contra o Evangelho, na Terra e nas esferas vizinhas do homem, mas, não
devemos figurar nesse Anticristo um poder absoluto e definitivo que pudesse
neutralizar a ação de Jesus, porquanto, com tal suposição, negaríamos a
previdência e a bondade infinita de Deus.
RELIGIÕES

292 – Em que sentido deveremos tomar o conceito


de religiões?

-Religiões, para todos os homens, deveria compreender-se como


sentimento divino que clarifica o caminho das almas e que cada espírito
apreenderá na pauta do seu nível evolutivo.

Neste sentido, a Religião é sempre a face augusta e soberana da Verdade;


porém, na inquietação que lhes caracteriza a existência na Terra, os homens
se dividiram em numerosas religiões, como se a fé também pudesse ter
fronteira, à semelhança das pátrias materiais; tantas vezes mergulhadas no
egoísmo e na ambição de seus filhos.
Dessa falsa interpretação tem nascido no mundo as lutas antifraternais e
as dissensões religiosas de todos os tempos.
293 –As religiões que surgiram no mundo, antes do
Cristo, tinham também por missão principal a
preparação da mentalidade humana para a sua
vinda?

-Todas as ideias religiosas, que as criaturas humanas traziam consigo do


pretérito milenário, destinavam-se a preparar o homem para receber e aceitar
o Cordeiro de Deus, com a sua mensagem de amor perene e reforma
espiritual definitiva.

O Cristianismo é a síntese, em simplicidade e luz, de todos os sistemas


religiosos mais antigos, expressões fragmentárias das verdades sublimes
trazidas ao mundo na palavra imorredoura de Jesus.
Os homens, contudo, não obstante todos os elementos de preparação,
continuaram divididos e, e dentro das suas características de rebeldia,
procrastinaram a sua edificação nas lições renovadoras do Evangelho.
294 –Reconhecendo-se que várias seitas nasceram
igualmente do Cristianismo, devemos considera-las
cristãs, ou simples expressões religiosas insuladas
da verdade de Jesus?

-Todas as expressões religiosas nascidas do Cristianismo se identificam


pela seiva de amor do tronco que as congrega, apesar dos erros humanos de
seus expositores.

Os sacerdotes das mais diversas castas inventaram os manuais teológicos,


os princípios dogmáticos e as fórmulas políticas; todavia, nenhum esforço
humano conseguiu deslustrar a claridade divina do “amai-vos uns aos
outros”, base imortal de todos os ensinos de Jesus, cuja luminosa essência
identifica as castas entre si, em todas as posições e tarefas especializadas que
lhes foram conferidas.
295 –Se as seitas religiosas nascidas do Cristianismo
têm uma tarefa especializada, qual será a das
correntes protestantes, oriundas da Reforma?

-A Reforma e os movimentos ou esse lhe seguiram vieram ao mundo com


a missão especial de exumar a “letra” dos Evangelhos, enterrada até então
nos arquivos da intolerância clerical, nos seminários e nos conventos, a fim
de que, depois da sua tarefa, pudesse o Consolador prometido, pela voz do
Espiritismo cristão, ensinar aos homens o “espírito divino” de todas as lições
de Jesus.
296 –O Espírito, antes de reencarnar, escolhe
também as crenças ou cultos a que se deverá
submeter nas experiências da vida?

-Todos os Espíritos, reencarnados no planeta, trazem consigo a ideia de


Deus, identificando-se de modo geral nesse sagrado princípio.

Os cultos terrestres, porém, são exteriorizações desse princípio divino,


dentro do mundo convencional, depreendendo-se daí que a Verdade é uma
só, e que as seitas terrestres são materiais de experiências e de evolução,
dependendo a preferência de cada um do estado de evolutivo em que se
encontre no aprendizado da existência humana, e salientando-se que a
escolha está sempre de pleno acordo com o seu estado íntimo, seja na viciosa
tendência de repousar nas ilusões do culto externo, seja, pelo esforço sincero
de evoluir, na pesquisa incessante da edificação divina.
297 –Considerando que a convenção social confere
aos sacerdotes das seitas cristãs certas prerrogativas
na realização de determinados acontecimentos da
vida, como interpretar as palavras de Mateus: -
“Tudo o que ligardes na Terra, será ligado no Céu”,
se os sacerdotes, tantas vezes, não se mostram
dignos de falar no mundo em nome de Deus?

-Faz-se indispensável observar que as palavras do Cristo foram dirigidas


aos apóstolos e que a missão de seus companheiros não era restrita ao
ambiente das tribos de Israel, tendo a sua divina continuação além das
próprias atividades terrestres. Até hoje, os discípulos diretos do Senhor têm a
sua tarefa sagrada, em cooperação com o Mestre Divino, junto da
Humanidade – a Israel mística dos seus ensinamentos.

Os méritos dos apóstolos de modo algum poderiam ser automaticamente


transferidos aos sacerdotes degenerados pelos interesses políticos e
financeiros de determinados grupos terrestres, depreendendo-se daí que a
Igreja Romana, a que mais tem abusado desses conceitos, uma vez mais
desviou o sentido da lição do Cristo.

Importa, porém, lembrarmos neste particular a promessa de Jesus, de que


estaria sempre entre aqueles que se reunisse sinceramente em seu nome.

Nessas circunstâncias, os discípulos leais devem manter-se em plano


superior ao do convencionalismo terrestre, agindo com a própria consciência
e com a melhor compreensão de responsabilidade, em todos os climas do
mundo, porquanto, desse modo, desde que desenvolvam atuação no bem,
pelo bem e para o bem, em nome do Senhor, terão seu atos evangélicos
tocados pela luz sacrossanta das sanções divinas.
298 – Considerando que as religiões invocam o
Evangelho de Mateus para justificar a necessidade
do batismo em suas características cerimoniais,
como deverá proceder ao espiritista em face desse
assunto?

-Os espiritistas sinceros, na sagrada missão de paternidade, devem


compreender que o batismo, aludido no Evangelho, é o da invocação das
bênçãos divinas para quantos a eles se reúnem no instituto santificado da
família.

Longe de quaisquer cerimônias de natureza religiosa, que possam


significar uma continuação dos fetichismos da Igreja Romana, que se
aproveitou do símbolo evangélico para a chamada venda dos sacramentos, o
espiritista deve entender o batismo como o apelo do seu coração ao Pai de
Misericórdia, para que os seus esforços sejam santificados no trabalho de
conduzir as almas a elas confiadas no instituto familiares, compreendendo,
além do mais, que esse ato de amor e de compromisso divino deve ser
continuado por toda a vida, na renúncia e no sacrifício, em favor da perfeita
cristianização dos filhos, no apostolado do trabalho e da dedicação.
299 – Qual o procedimento a ser adotado pelos
espiritistas na consagração do casamento, sem ferir
as convenções sociais, reflexas dos cultos religiosos?

-Os cultos religiosos, em sua feição dogmática, são igualmente


transitórios, como todas as fórmulas do convencionalismo humano.

Que o espiritista sincero e cristão, assumido os seus compromissos


conjugais perante as leis dos homens, busque honrar a sua promessa e a sua
decisão, santificando o casamento com o rigoroso desempenho de todos os
seus deveres evangélicos, ante os preceitos terrestres e ante a imutável lei
divina que vibra em sua consciência cristianizada.
300 – Como interpretar a missa no culto externo da
Igreja Católica?

-Perante o coração sincero e fraternal dos crentes, a missa idealizada pela


igreja de Roma deve ser um ato exterior, respeitável para nós outros, como
qualquer cerimônia convencionalista do mundo, que exija a mútua
consideração social no mecanismo de relações superficiais da Terra.

A Igreja de Roma pretende comemorar, com ela, o sacrifício do Mestre


pela Humanidade; todavia, a cerimônia se efetua de conformidade com
aposição social e financeira do crente.
Ocorrem, dessa maneira, as missas mais variadas, tais como a: “do galo”,
a “nova”, a “particular”, a “pontifical”, a “das almas”, a “seca”, a “cantada”,
a “chã”, a “campal”, etc., adstritas a um prontuário tão convencionalista e tão
superficial, , que é de admirar a adaptação ao seu mistifório, por parte do
sacerdote inteligente e afeito à sinceridade.
301 – As aparições e os chamados milagres
relacionados na história da origem das igrejas são
fatos de natureza mediúnica?

-Todos esse acontecimentos, classificados no domínio do sobrenatural,


foram fenômenos psíquicos sobre os quais se edificaram as igrejas
conhecidas, fatos esses que o Espiritismo veio a catalogar e esclarecer, na sua
divina missão de Consolador.
302 – Como compreender a afirmativa de Jesus aos
Judeus: - “Sois deuses?”.

-Em todo homem repousa a partícula da divindade do Criador, com a qual


pode a criatura terrestre participar dos poderes sagrados da Criação.

O Espírito encarnado ainda não ponderou devidamente o conjunto de


possibilidades divinas guardadas em suas mãos, dons sagrados tantas vezes
convertidos em elementos de ruína e destruição.
Entretanto, os poucos que sabem crescer na sua divindade, pela
exemplificação e pelo ensinamento, são cognominados na Terra santos e
heróis, por afirmarem a sua condição espiritual, sendo justo que todas as
criaturas procuram alcançar esses valores, desenvolvendo para o bem e para a
luz, a sua natureza divina.

Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu


erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia,
a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do
conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o
“pecado contra o Espírito Santo”, porque a alma humana estará, então, contra
si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades.

É lógico, portanto, que esses erros são os mais graves da vida, porque
consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles.
304 – Qual o espírito destas letras: - “Não cuideis
que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz,
mas a espada”?

-Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam,


são, quase sempre, fortes e incisivos.

Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as


fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se
iluminasse para os planos divinos.
E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser conhecida como a
“espada’ renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo,
extirpando os velhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela
ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho”.
305 –A afirmativa do Mestre: - “Porque eu vim pôr
em dissensão o filho contra seu pai, a filha contra
sua mãe e a nora contra sua sogra” – como deve ser
compreendida em espírito e verdade?

-Ainda aqui, temos de considerar a feição antiga do hebraico, com a sua


maneira vigorosa de expressão.

Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabelecer a perturbação no


sagrado instituto da família humana, nas suas elevadas expressões afetivas,
mas, sim, que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento divino
das opiniões, estabelecendo os movimentos naturais das ideias renovadoras,
fazendo luz no íntimo de cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de
todos os corações.
306 – “E tudo o que pedirdes na oração, crendo o
recebereis” – Esse preceito do Mestre tem aplicação
igualmente, no que se refere aos bens materiais?

-O “seja feita a vossa vontade”, da oração comum, constitui nosso pedido


geral a Deus, cuja Providência, através dos seus mensageiros, nos proverá o
espírito ou a condição de vida do mais útil, conveniente e necessário ao nosso
progresso espiritual, para a sabedoria e para o amor.

O que o homem não deve esquecer, em todos os sentidos e circunstâncias


da vida, é a prece do trabalho e da dedicação, no santuário da existência de
lutas purificadoras, porque Jesus abençoará as suas realizações de esforço
sincero.
307 – Por que disse Jesus que “o escândalo é
necessário, mas aí daquele por quem o escândalo
vier? ”.

-Num pano de vida, onde quase todos se encontram pelo escândalo que
praticaram no pretérito, é justo que o mesmo “escândalo” seja necessário,
como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos homens
falta ainda aquele “amor que cobre a multidão dos pecados”.

As palavras do ensinamento do Mestre ajustam-se, portanto, de maneira


perfeita, à situação dos encarnados no mundo, sendo lastimáveis os que não
vigiam, por se tornarem, desse modo, instrumentos de tentação nas suas
quedas constantes, através dos longos caminhos.
308 – As palavras de João: - “A luz brilha nas trevas
e as trevas não a compreenderam”, tiveram
aplicação somente quando da exemplificação do
Cristo, há dois mil anos, ou essa aplicação é
extensiva à nossa era?

-As palavras do apóstolo referiam-se à sua época; todavia, o simbolismo


evangélico do seu enunciado estende-se aos tempos modernos, nos quais a
lição do Senhor permanece incompreendida para a maioria dos corações, que
persistem em não ver a luz, fugindo à verdade.
309 –Em que sentido devemos interpretar as
sentenças de João Batista: - “A quem pertence a
esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que com
ele está e ouve, muito se regozija por ouvir a voz do
esposo. Pois este gozo eu agora experimento; é
preciso que ele cresça e que eu diminua”?

-O esposo da Humanidade terrestre é Jesus Cristo, o mesmo Cordeiro de


Deus que arranca as almas humanas dos caminhos escusos da impenitência.

O amigo do esposo é o seu precursor, cuja expressão humana deveria


desaparecer, a fim de que Jesus resplandecesse para o mundo inteiro, no seu
Evangelho de Verdade e Vida.
310 –A transfiguração do Senhor é também um
símbolo para a Humanidade?

-Todas as expressões do Evangelho possuem uma significação divina e,


no Tabor, contemplamos a grande lição de que o homem deve viver a sua
existência, no mundo, sabendo que pertence ao Céu, por sua sagrada origem,
sendo indispensável, desse modo, que se desmaterialize, a todos os instantes,
para que se desenvolva em amor e sabedoria, na sagrada exteriorização da
virtude celeste, cujos germes lhe dormitam no coração.
311- Qual o sentido da afirmativa do texto sagrado,
acerca de Jesus: - “Não tendo Deus querido
sacrifício, nem oblata, lhe formou um corpo? ”.

-Para Deus, o mundo não mais deveria persistir no velho costume de


sacrificar nos altares materiais, em seu nome, razão por que enviou aos
homens a palavra do Cristo, a fim de que a Humanidade aprendesse a
sacrificar no altar do coração, na ascensão divina dos sentimentos para o seu
amor.
312 – Como interpretar a afirmativa de João: - “Três
são os que fornecem testemunho no céu: o Pai, o
Verbo e o Espírito Santo? ”.

-João referia-se ao Criador, a Jesus, que constituía para a Terra a sua mais
perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e santificados que
cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização
terrestre, sob a misericórdia de Deus.
313 – Como entender a bem-aventurança conferida
por Jesus aos “pobres de espírito? ”.

-O ensinamento do Divino Mestre, referia-se às almas simples e singelas,


despidas do “espírito de ambição e de egoísmo” que costumam triunfar nas
lutas do mundo.

Não costumais até hoje denominar os vitoriosos do século, nas questões


puramente materiais, de “homens de espírito?” É por essa razão que, em se
dirigindo à massa popular, aludia o Senhor aos corações despretensiosos e
humildes; aptos a lhes seguirem o ensinamento; sem determinadas
preocupações rasteiras da existência material.
314 – Qual a maior lição que a Humanidade recebeu
do Mestre, ao lavrar ele os pés dos seus discípulos?

-Entregando-se a esse ato, queria o Divino Mestre testemunhar Pás


criaturas humanas a suprema lição da humildade, demonstrando, ainda uma
vez, que, na coletividade cristã, o maior para Deus seria sempre aquele que se
fizesse o menor de todos.
315 –Por que razão Jesus, ao lavar os pés dos
discípulos, cingiu-se com uma toalha?

-O Cristo, que não desdenhou a energia fraternal na eliminação dos erros


da criatura humana, afirmando-se como o Filho de Deus nos divinos
fundamentos da Verdade, quis proceder desse modo para revelar-se o escravo
pelo amor à Humanidade, à qual vinha trazer a luz da vida, na abnegação e no
sacrifício supremo.
316 –Aceitando Jesus o auxílio de Simão, o cirineu,
desejava deixar um novo ensinamento às criaturas?

-Essa passagem evangélica encerra o ensinamento do Cristo, concernente


à necessidade de cooperação fraternal entre os homens, em todos os trâmites
da vida.
317 –A ressurreição de Lázaro, operada pelo Mestre,
tem um sentido oculto, como lição à Humanidade?

-O episódio de Lázaro era um selo divino identificando a passagem do


Senhor, mas também foi o símbolo sagrado da ação do Cristo sobre o
homem, testemunhando que o seu amor arrancava a Humanidade do seu
sepulcro de misérias, Humanidade da qual tem o Senhor dado o sacrifício de
suas lágrimas, ressuscitando-a para o sol da vida eterna, nas sagradas lições
do seu Evangelho de amor e de redenção.
318 –Poderemos receber um ensinamento sobre a
eucaristia, dado o costume tradicional da Igreja
Romana, que recorda a ceia dos discípulos com o
vinho e a hóstia?

-A verdadeira eucaristia evangélica não é a do pão e do vinho materiais,


como pretende a igreja de Roma, mas, a identificação legítima e total do
discípulo com Jesus, de cujo ensino de amor e sabedoria deve haurir a
essência profunda, para iluminação dos seus sentimentos e do seu raciocínio,
através de todos os caminhos da vida.
319 –Quem terá recebido maior soma de
misericórdia n a justiça divina: - Judas, o discípulo
infiel, mas iludido e arrependido, ou o sacerdote
maldoso e indiferente, que o induziu à defecção?

-Quem há recebido mais misericórdia, por mais necessitado e indigente, é


o mau sacerdote de todos os tempos, que, longe de confundir a lição do
Cristo uma só vez, vem praticando a defecção espiritual para com o Divino
Mestre, desde muitos séculos.
320 –Que ensinamentos nos oferece a negação de
Pedro?

-A negação de Pedro serve para significar a fragilidade das almas


humanas, perdidas na invigilância e na despreocupação da realidade
espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais
tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legítimo e sincero,
na definitiva edificação de si mesmas.
321 –Qual a edição dos Evangelhos que melhor
traduz a fonte original?

-A grafia original dos Evangelhos já representa em si mesma, a própria


tradução do ensino de Jesus, considerando-se que essa tarefa foi delegada aos
seus apóstolos.

Sendo razoável estimarmos, em todas as circunstâncias, os esforços


sinceros, seja qual for o meio onde se desdobram, apenas consideramos que,
em todas as traduções dos ensinamentos do Mestre Divino, se torna
imprescindível separar da letra o espírito.
Poderia objetar que a letra deveria ser simples e clara.

Convenhamos que sim, mas importa observar que os Evangelhos são o


roteiro das almas, e é com a visão espiritual que devem ser lidos; pois,
constituindo a cátedra de Jesus, o discípulo que deles se aproximar com a
intenção sincera de aprender encontra, sob todos os símbolos da letra, a
palavra persuasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu Mestre
imortal.
AMOR

UNIÃO

322 – Há uma gradação do amor, no sei das


manifestações da natureza visível e invisível?

-Sem dúvida, essa gradação existiu em todos os tempos, como gradativa


é a posição de todos os seres na escala infinita do progresso.

O amor é a lei própria da vida e, sob o seu domínio sagrado, todas as


criaturas e todas as coisas se reúnem ao Criador, dentro do plano grandioso
da unidade universal.
Desde as manifestações mais humildes dos reinos inferiores da Natureza,
observamos a exteriorização do amor em sua feição divina. Na poeira
cósmica, sínteses da vida, têm as atrações magnéticas profundas; nos corpos
simples, vemos as chamadas “precipitações” da química; nos reinos mineral e
vegetal verificamos o problema das combinações indispensáveis. Nas
expressões da vida animal; observamos o amor em todo, em gradações
infinitas, da violência à ternura, nas manifestações do irracional.

No caminho dos homens é ainda o amor que preside a todas as atividades


da existência em família e em sociedade.

Reconhecida a sua luz divina em todos os ambientes, observaremos


a união dos seres como um ponto sagrado, de referência dessa lei única que
dirige o Universo.

Das expressões de sexualidade, o amor caminha para o supersexualismo,


marchando sempre para as sublimadas emoções da espiritualidade pura, pela
renúncia e pelo trabalho santificantes, até alcançar o amor divino, atributo
dos seres angelicais, que se edificaram para a união com Deus, na execução
de seus sagrados desígnios do Universo.
323 –Será uma verdade a teoria das almas gêmeas?

-No sagrado mistério da vida, cada coração possui no Infinito a alma


gêmea da sua, companheira divina para a viagem à gloriosa imortalidade.

Criadas umas para as outras, as almas gêmeas se buscam, sempre que


separadas. A união perene é-lhes a aspiração suprema e indefinível. Milhares
de seres, se transviados no crime ou na inconsciência, experimentaram a
separação das almas que os sustentam, como a provação mais ríspida e
dolorosa, e, no drama das existências mais obscuras, vemos sempre a atração
eterna das almas que se amam mais intimamente, envolvendo umas para as
outras, num turbilhão de ansiedades angustiosas, atração que é superior a
todas as expressões convencionais da vida terrestre. Quando se encontram no
acervo real para os seus corações – a da ventura de sua união pela qual não
trocariam todos os impérios do mundo, e a única amargura que lhes empana a
alegria é a perspectiva de uma nova separação pela morte, perspectiva essa
que a luz da Nova Revelação veio dissipar, descerrando para todos os
espíritos, amantes do bem e da verdade, os horizontes eternos da vida.
324 –Existe nos textos sagrados algum elemento de
comprovação para a teoria das almas gêmeas?

-Somos dos primeiros a reconhecer que em todos os textos necessitamos


separar o espírito da letra; contudo, é justo lembrar que nas primeiras páginas
do Antigo Testamento, base da Revelação Divina, está registrada: “e Deus
considerou que o homem não devia ficar só”.
325 –A atração das almas gêmeas é traço
característico de todos os planos de luta na Terra?

-O Universo é o plano infinito que o pensamento divino povoou de


ilimitadas e intraduzíveis belezas.

Para todos nós, o primeiro instante da criação do ser está mergulhado


num suave mistério, assim como também a atração profunda e inexplicável
que arrasta uma alma para outra, no instituto dos trabalhos, das experiências e
das provas, no caminho infinito do Tempo.
A ligação das almas gêmeas repousa, para o nosso conhecimento
relativo, nos desígnios divinos, insondáveis na sua sagrada origem,
constituindo a fonte vital do interesse das criaturas para as edificações da
vida.

Separadas ou unidas, nas experiências do mundo, as almas irmãs


caminham, ansiosas, pela união e pela harmonia supremas, até que se
integrem, no plano espiritual, onde se reúnem para sempre na mais sublime
expressão de amor divino, finalidades profundas de todas as cogitações do
ser, no dédalo do destino.
326 –A união das almas gêmeas pode constituir
restrição ao amor universal?

O amor das almas gêmeas não pode efetuar semelhante restrição,


porquanto, atingida a culminância evolutiva, todas as expressões afetivas se
irmanam na conquista do amor divino. O amor das almas gêmeas, em suma, é
aquele que o Espírito, um dia, sentirá pela Humanidade inteira.
327 –Se todos os seres possuem a sua alma gêmea,
qual a alma gêmea de Jesus Cristo?

-Não julguemos acertado trazer a figura do Cristo para condiciona-la aos


meios humanos, num paralelismo injustificável, porquanto em Jesus temos de
observar a finalidade sagrada dos gloriosos destinos do espírito.

Ele cessou os processos, sendo indispensável reconhecer na sua luz as


realizações que nos compete atingir.
Representando para nós outros a síntese do amor divino, somos
compelidos a considerar que de sua culminância espiritual enlaçou no seu
coração magnânimo, com a mesma dedicação, a Humanidade inteira, depois
de realizar o amor supremo.
328 –Perante a teoria das almas gêmeas, como
esclarecer a situação dos viúvos que procuram,
novas uniões matrimoniais, alegando a felicidade
encontrada no lar primitivo?

-Não devemos esquecer que a Terra ainda é uma escola de lutas


regeneradoras ou expiatórias, onde o homem pode consorciar-se várias vezes,
sem que a sua união matrimonial se efetue com a alma gêmea da sua, muitas
vezes distante da esfera material.

A criatura transviada, até que se espiritualize para a compreensão desses


laços sublimes, está submetida, no mapa de suas provações, a tais
experiências, por vezes pesadas e dolorosas.
A situação de inquietude e subversão de valores na alma humana justifica
essa provação terrestre, caracterizada pela distância dos Espíritos amados,
que se encontram num plano de compreensão superior, os quais, longe de
desdenharem as boas experiências dos companheiros de seus afetos, buscam
facultar-lhes com a máxima dedicação, de modo a facilitar o seu avanço
direto às mais elevadas conquistas espirituais.
329 –Os Espíritos evolutivos, pelo fato de deixarem
algum amado na Terra, ficam ligados ao planeta
pelos laços da saudade?

-Os espíritos superiores não ficam propriamente ligados ao orbe terreno,


mas não perdem o interesse afetivo pelos seres amados que deixaram no
mundo, pelos quais trabalham com ardor, impulsionando-os na estrada das
lautas redentoras, em busca das culminâncias da perfeição.

A saudade, nessas almas santificadas e puras, é muito mais sublime e


mais forte, por nascer de uma sensibilidade superior, salientando-se que,
convertida num interesse divino, opera as grandes abnegações do Céu, que
seguem os passos vacilantes do Espírito encarnado, através de sua
peregrinação expiatória ou redentora na face da Terra.
330 –Somente pela prece a alma encarnada pode
auxiliar um Espírito bem-amado que a antecedeu na
jornada do túmulo?

-A oração coopera eficazmente em favor do que partiu, muitas vezes com


o espírito emaranhado na rede das ilusões da existência material. Todavia, o
coração amigo que ficou aí no mundo, pela vibração silenciosa e pelo desejo
perseverante de ser útil ao companheiro que o precedeu na sepultura, para os
movimentos da vida, nos momentos de repouso do corpo, em que a alma
evoluída pode gozar de relativa liberdade, pode encontrar o Espírito sofredor
ou errante do amigo desencarnado, despertar-lhe à vontade no cumprimento
do dever, bem como orienta-lo sobre a sua realidade nova, sem que a sua
memória corporal registre o acontecimento na vigília comum.

Daí nasce à afirmativa de que somente o amor pode atravessar o abismo


da morte.
331 – Como devemos interpretar a sentença – “Há
eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do
reino dos céus”?

-Almas existem que, para obterem as sagradas realizações de Deus em si


próprias, entrega-se a labores de renúncia, em existência de santificada
abnegação.

Nesse mister, é comum abdicarem transitoriamente as ligações humanas,


de modo a acrisolarem os seus afetos e sentimentos em vidas de ascetismo e
de longas disciplinas materiais.
Quase sempre, os que na Terra se fazem eunucos para os reinos do céu,
agem de acordo com os dispositivos sagrados de missões redentoras, nas
quais, pelo sacrifício e pela dedicação, se redimem entes amados ou a alma
gêmea da sua, exilados nos caminhos expiatórios. Numerosos Espíritos
recebem de Jesus permissão para esse gênero de esforços santificantes,
porquanto, nessa tarefa, os que se fazem eunucos, pelos reinos do céu,
precipitam os processos de redenção do ser ou dos seres amados, submersos
nas provas e, simultaneamente, pela sua condição de envolvidos, podem ser
mais facilmente transformados, na Terra, em instrumentos da verdade e do
bem, redundando o seu trabalho em benefícios inestimáveis para os entes
queridos, para a coletividade e para si próprios.
PERDÃO

332 – Perdoar e não perdoar significa absolver e


condenar?

-Nas mais expressivas lições de Jesus, não existem, propriamente as


condenações implícitas ao sofrimento eterno, como quiseram os inventores
de um inferno mitológico.

Os ensinos evangélicos referem-se ao perdão ou à sua ausência.


Que se faz ao mal devedor a quem já se tolerou muitas vezes? Não
havendo mais solução para as dívidas que se multiplicam, esse homem é
obrigado a pagar.

É que se verifica com as almas humanas, cujos débitos, no tribunal da


justiça divina, são resgatados nas reencarnações, de cujo círculo vicioso
poderão afastar-se, cedo ou tarde, pelo esforço no trabalho e boa-vontade no
pagamento.
333 –Na lei divina, há perdão sem arrependimento?

-A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e
todas as criaturas do Universo ilimitado.

A concessão paternal de Deus, no que se refere à reencarnação para a


sagrada oportunidade de uma nova experiência, já significa, em si, o perdão
ou a magnanimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é concedida
quando o Espírito deseja regenerar-se e renovar seus valores íntimos pelo
esforço nos trabalhos santificantes.

Eis por que a boa-vontade de cada um é sempre o arrependimento que a


Providência Divina aproveita em favor do aperfeiçoamento individual e
coletivo, na marcha dos seres para as culminâncias da evolução espiritual.
334 –Antes de perdoarmos a alguém, é conveniente
o esclarecimento do erro?

-Quem perdoa sinceramente, fá-lo sem condições e olvida a falta no mais


íntimo do coração; todavia, a boa palavra é sempre útil e a ponderação
fraterna é sempre um elemento de luz, clarificando o caminho das almas.
335 –Quando alguém perdoa, deverá mostrar a
superioridade de seus sentimentos para que o
culpado seja levado a arrepender-se da falta
cometida?

-O perdão sincero é filho espontâneo do amor e, como tal, não exige


reconhecimento de qualquer natureza.
336 –O culpado arrependido pode receber da justiça
divina o direito de não passar por determinadas
provas?

-A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em sai mesma, um ato de


misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio
como a luz maravilhosa da vida.

Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos


concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão
dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a
única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo
infinito.
337 – “Concilia-te depressa com o teu adversário” –
Essa é a palavra do Evangelho, mas se o adversário
não estiver de acordo como bom desejo de
fraternidade, como efetuar semelhante conciliação?

-Cumpra cada qual o seu dever evangélico, buscando o adversário para a


reconciliação precisa, olvidando a ofensa recebida. Perseverando a atitude
rancorosa daquele, seja a questão esquecida pela fraternidade sincera, porque
o propósito de represália, em si mesmo, já constitui numa chaga viva para
quanto o conservam no coração.
338 –Por que teria Jesus aconselhado perdoar
“setenta vezes sete”?

-A Terra é um plano de experiências e resgates por vezes bastante


penosos, e aquele que se sinta ofendido por alguém, não deve esquecer que
ele próprio pode também errar setenta vezes sete.
339 –Em se falando de perdão, poderemos ser
esclarecidos quanto à natureza do ódio?

-O ódio pode traduzir-se nas chamadas aversões instintivas, dentro das


quais há muito de animalidade, que cada homem alijará de si, com os valores
da autoeducação, a fim de que o seu entendimento seja elevado a uma
condição superior.
Todavia, na maior parte das vezes, o ódio é o gérmen do amor que foi
sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho. As grandes
expressões afetivas convertidas nas paixões desorientadas, sem compreensão
legítima do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por vezes, no instante
das tempestades morais da vida, deixando atrás de si as expressões amargas
do ódio, como carvões que enegrecem a alma.

Só a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas a


um plano superior de compreensão, de modo a que jamais as energias
afetivas se convertam em forças destruidoras do coração.
340 –Perdão e esquecimento devem significar a
mesma coisa?

-Para a convenção do mundo, o perdão significa renunciar à vingança,


sem que o ofendido precise olvidar plenamente a falta do seu irmão;
entretanto, para o espírito evangelizado, perdão e esquecimento devem
caminhar juntos, embora prevaleça para todos os instantes da existência a
necessidade de oração e vigilância.
Aliás, a própria lei da reencarnação nos ensina que só o esquecimento do
passado pode preparar a alvorada da redenção.
341 –Os Espíritos de nossa convivência, na Terra, e
que partem para o Além, sem experimentar a luz do
perdão, podem sofrer com as nossas opiniões
acusatórias, relativamente aos atos de sua vida?

-A entidade desencarnada, muito sofre com o juízo ingrato ou precipitado


que, a seu respeito, se formula no mundo.
Imaginai-vos recebendo o julgamento de um irmão de humanidade e
avaliai como desejaríeis a lembrança daquilo que possuís de bom, a fim de
que o mal não prevaleça em vossa estrada, sufocando-vos as melhores
esperanças de regeneração.

Em lembrando aquele que vos precedeu no túmulo, tende compaixão dos


que erraram e sede fraternos.
Rememorar o bem é dar vida à felicidade. Esquecer o erro é exterminar o
mal. Além de tudo, não devemos esquecer de que seremos julgados pela
mesma medida com que julgarmos.
FRATERNIDADE

342 –A resposta de Jesus aos seus discípulos –


“Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos”, é
um incitamento à edificação da fraternidade
universal?

-O Senhor referia-se à precariedade dos laços de sangue, estabelecendo a


fórmula do amor, a qual não deve estar circunscrita ao ambiente particular,
mas ligada ao ambiente universal, em cujas estradas deveremos observar e
ajudar, fraternalmente, a todos os necessitados, desde os aparentemente mais
felizes, aos mais desvalidos da sorte.
343 –Nas leis da fraternidade, como reconhecer na
Terra, o Espírito em missão?

-Precisamos considerar que o Espírito em missão experimenta,


igualmente; as suas provas no trabalho a realizar, com a diferença de
permanecer menos acessível ao efeito dos sofrimentos humanos, pela
condição de superioridade espiritual.

Podereis, todavia, identificar a missão da alma pelos atos e palavras, na


exemplificação e no ensino da tarefa que foi chamada a cumprir, porque um
emissário de amor deixa em todos os seus passos o luminoso selo do bem.
344 –O “amar ao próximo” deve ser levado até
mesmo à sujeição, às ousadias e brutalidades das
criaturas menos educadas na lição evangélica, sendo
que o ofendido deve tolera-lo humildemente, sem o
direito de esclarece-las, relativamente aos seus
erros?

-O amor ao próximo inclui o esclarecimento fraterno, a todo tempo em


que se faça útil e necessário. A sujeição passiva ao atrevimento ou à grosseria
pode dilatar os processos da força e da agressividade; mas, ao receber as suas
manifestações, saiba o crente pulveriza-las com o máximo de serenidade e
bom senso, a fim de que sejam exterminada em sua fonte de origem, sem
possibilidades de renovação.
Esclarecer é também amar.

Toda a questão reside em bem sabermos explicar, sem expressões de


personalismo prejudicial, ainda que com a maior contribuição de energia,
para que o erro ou o desvio do bem não prevaleça.

Quanto aos processos de esclarecimentos, devem eles dispensar, em


qualquer tempo e situação, o concurso da força física, sendo justo que
demonstrem as nuanças de energia, requeridas pelas circunstâncias, variando,
desse modo, de conformidade com os acontecimentos e com fundamento
invariável no bem geral.
345 –O preceito evangélico – “se alguém te bater
numa face, apresenta-lhe a outra” – deve ser
observado pelo cristão, mesmo quando seja vítima
de agressão corporal não provocada?

-O homem terrestre, com as suas taras seculares, tem inventado


numerosos recursos humanos para justificar a chamada “legítima defesa”,
mas a realidade é que toda a defesa da criatura está em Deus.

Somos de parecer que, agindo o homem com a chave da fraternidade


cristã, pode-se extinguir o fermento da agressão, com a luz do bem e da
serenidade moral.
Acreditando, contudo, no fracasso de todas as tentativas pacificas, o
cristão sincero, na sua feição individual, nunca deverá cair ao nível do
agressor, sabendo estabelecer, em todas as circunstâncias, a diferença entre os
seus valores morais e os instintos animalizados da violência física.
346 –Nas lutas da vida, como levar a fraternidade
evangélica àqueles que mais estimamos, se, por
vezes, nosso esforço pode ser mal interpretado,
conduzindo-nos a situações mais penosas?

-De conformidade com os desígnios evangélicos, compete-nos esclarecer


os nossos semelhantes com amor fraternais, em todas as circunstâncias
desagradáveis da existência, como desejaríamos ser assistidos, irmãmente,
em situação idêntica dos que se encontram sem tranquilidade; mas, se o atrito
dos instintos animalizados prevalece naqueles a quem mais desejamos
serenidade e paz, convém deixar-lhes as energias, depois de nossos esforços
supremos em trabalho de purificação, na violência que escolheram, até que
possam experimentar a serenidade mental imprescindível para se
beneficiarem com as manifestações afetuosas do amor e da verdade.
347 –A Terra é escola de fraternidade, ou
penitenciária de regeneração?

-A Terra deve ser considerada escola de fraternidade para o


aperfeiçoamento e regeneração dos Espíritos encarnados.

As almas que ai se encontram em tarefas purificadoras, muitas vezes


colimam o resgate de dívidas assaz penosas. Daí o motivo de a maioria
encontrar sabor amargo nos trabalhos do mundo, que se lhes afigura rude
penitenciária, cheia de gemidos e de aflições.
A verdade incontestável é que os aspectos divinos da Natureza serão
sempre magníficos e luminosos; porém, cada espírito os verá pelo prisma do
seu coração. Mas, na dor como na alegria, no trabalho feliz como na
experiência escabrosa, todas as criaturas deverão considerar a reencarnação
um processo de sublime aprendizado fraternal, concedido por Deus aos seus
filhos, no caminho do progresso e da redenção.
348 –Onde a causa da indiferença dos homens pela
fraternidade sincera, observando-se que há
geralmente em todos grandes entusiasmos pela
hegemonia material de seus grupos, suas cidades,
clubes e agremiações onde se verifique a evidência
pessoal?

-É que as criaturas, de um modo geral, ainda têm muito da tribo,


encontrando-se encarcerados nos instintos propriamente humanos, na luta das
posições e das aquisições, dentro de um egoísmo quase feroz, como se
guardassem consigo, indefinidamente, as heranças da vida animal. Todavia; é
preciso recordar que, após a eclosão desses entusiasmos, há sempre o gosto
amargo da inutilidade no íntimo dos espíritos desiludidos da precária
hegemonia do mundo, instante esse em que a alma experimenta a dilatação de
suas tendências profundas para o “mais alto”. Nessa hora, a fraternidade
conquista uma nova expressão no íntimo da criatura, a fim de que o Espírito
possa alçar o grande vôo para os mais gloriosos destinos.
349 –Fraternidade e igualdade podem, na Terra,
merecer um só conceito?

-Já observamos que o conceito igualitário absoluto é impossível no


mundo, dada a heterogeneidade das tendências, sentimentos e posições
evolutivas no círculo da individualidade. A fraternidade, porém, é a lei da
assistência mútua e da solidariedade comum, sem a qual todo progresso, no
planeta, seria praticamente impossível.
350 –Pode a fraternidade manifestar-se sem a
abnegação?

-Fraternidade pode traduzir-se por cooperação sincera e legítima, em


todos os trabalhos da vida, e, em toda cooperação verdadeira, o personalismo
não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma
coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a
fraternidade não se manifestaria no mundo, de modo algum.
351 –Como entender o “amor a nós mesmos”,
segundo a fórmula do Evangelho?

-O amor a nós mesmos deve ser interpretado como a necessidade de


oração e de vigilância, que todos os homens são obrigados a observar.

Amar a nós mesmos não será a vulgarização de uma nova teoria de


autoadoração. Para nós outros, a egolatria já teve o seu fim, porque o nosso
problema é de iluminação íntima, na marcha para Deus. Esse amor, portanto,
deve traduzir-se em esforço próprio, em autoeducação, em observação do
dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em perseverança na
fé, em desejo sincero de aprender com o único Mestre, que é Jesus Cristo.
Quem se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não
necessita de outros processos para revelar a verdade, senão o de irradiar
espontaneamente o tesouro de si mesma.

Necessitamos encarar essa nova fórmula de amor a nós mesmos,


conscientes de que todo bem conseguido por nós, em proveito do próximo,
não é senão o bem de nossa própria alma, em virtude da realidade de uma só
lei, que é a do amor, e um só dispensador dos bens, que é Deus.
ESPIRITISMO

352 – Devemos reconhecer no Espiritismo o


Cristianismo Redivivo?

-O Espiritismo evangélico é o Consolador prometido por Jesus, que, pela


voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra,
restabelecendo a verdade e levantando o véu que cobre os ensinamentos na
sua feição de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a
era grandiosa da compreensão espiritual com o Cristo.
353 –O espiritismo veio ao mundo para substituir as
outras crenças?

-O Consolador, como Jesus, terá de afirmar igualmente: - “Eu não vim


destruir a Lei”.

O Espiritismo não pode guardar a pretensão de exterminar as outras


crenças, parcelas da verdade que a sua doutrina representa, mas, sim,
trabalhar para transforma-las, elevando-lhes as concepções antigas para o
clarão da verdade imortalista.
A missão do Consolador tem que se verificar junto das almas e não ao
lado das glorias efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro
religioso, onde quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz, pelos atos
e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores da fé,
representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os homens
se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe
um só Mestre, que é Jesus Cristo.
354 –Poder-se-á definir o que é ter fé?

-Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que


ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa
energia constante de realização divina da personalidade.

Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”,


mas afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do
sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e
sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor
ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.
Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que
sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e
significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição
sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do
Senhor”.
355 –Será fé acreditar sem raciocínio?

-Acreditar é uma expressão de crença, dentro da qual os legítimos


valores da fé em si mesma. Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um
exame minucioso, é caminhar para o desfiladeiro do absurdo, onde os
fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas
também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja
iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas
impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes.
356 –A dúvida racionada, no coração sincero, é uma
base para a fé?

-Toda dúvida que se manifesta na alma cheia de boa-vontade, que não se


precipita em definições apriorísticas dentro de sua sinceridade, ou que não
busca a malícia para contribuir em suas cogitações, é um elemento benéfico
para a alma, na marcha da inteligência e do coração rumo à luz sublimada da
fé.
357 –É justa a preocupação dominante em muitos
estudiosos do Espiritismo, pelas revelações do
plano superior, a título de enriquecimento da fé?

-Toda curiosidade sadia é natural. O homem, no entanto, deve


compreender que a solução desses problemas lhe chegará naturalmente,
depois de resolvida a sua situação de devedor ante os seus semelhantes,
fazendo-se, então, credor das revelações divinas.
358 –Para os Espíritos desencarnados, que já
adquiriram muitos valores em matéria de fé, qual o
melhor bem da vida humana?

-A vida humana, nas suas características de trabalho pela redenção


espiritual, apresenta muitos bens preciosos aos nossos olhos, na sequência
das lutas, esforços e sacrifícios de cada espírito. Para nós outros, porém, o
tesouro maior da existência terrestre reside na consciência reta e pura,
iluminada pela fé e edificada no cumprimento de todos os deveres mais
elevados.
359 –Nas cogitações da fé, o Espírito encarnado deve
restringir suas divagações ao limite necessário às
suas experiências na Terra?

-Pelo menos, é justo que somente cogite das expressões transcendentes


ao seu meio, depois de realizar todo o esforço de iluminação que o mundo lhe
pode proporcionar nos seus processos de depuração e aperfeiçoamento.
360 –Qual deve ser a ação do espiritista em face dos
dogmas religiosos?

-Os novos discípulos do Evangelho devem compreender que os dogmas


passaram. E as religiões literalistas, que os construíram, sempre o fizeram
simplesmente em obediência a disposições políticas, no governo das massas.

Dentro das novas expressões evolutivas, porém, os espiritistas devem


evitar as expressões dogmáticas, compreendendo que a Doutrina é
progressiva, esquivando-se a qualquer pretensão de infalibilidade, em face da
grandeza inultrapassável do Evangelho.
361 –Na propaganda da fé, é justo que os espíritas
ou os médiuns estejam preocupados em converter
aos princípios da Doutrina os homens de posição
destacada no mundo, como os juízes, os médicos, os
professores, os literatos, os políticos, etc.?

-Os espiritistas cristãos devem pensar muito na iluminação de si mesmos,


antes de qualquer prurido, no intuito de converter os outros.

E, ao tratar-se dos homens destacados no convencionalismo terrestre, esse


cuidado deve ser ainda maior, porquanto há no mundo um conceito soberano
de “força” para todas as criaturas que se encontram nos embates espirituais
para a obtenção dos títulos de progresso. Essa “força” viverá entre os homens
até que as almas humanas se compenetrem da necessidade do reino de Jesus
em seu coração, trabalhando por sua realização plena. Os homens do poder
temporal, com exceções, muitas vezes aceitam somente os postulados que a
“força” sanciona ou os princípios com que a mesma concorda. Ensandecidos
temporariamente pelos véus da vaidade e da fantasia, que a “força” lhes
proporciona, faz-se mister deixa-los em liberdade nas suas experiências. Dia
virá em que brilharão na Terra os eternos direitos da verdade e do bem,
anulando essa “força” transitória. Ainda aqui, tendes o exemplo do Divino
Mestre para todos os tempos, não teve a preocupação de converter ao
Evangelho os Pilatos e os Ântipas do seu tempo.
Além do mais, o Espiritismo, na sua feição de Cristianismo redivivo, não
deve nutrir a pretensão de disputar um lugar no banquete dos Estados do
mundo, quando sabe muito bem que a sua missão divina há de cumprir-se
junto das almas, nos legítimos fundamentos do Reino de Jesus.
PROSÉLITOS

362 –Poderemos receber um novo ensino sobre os


deveres que competem aos espiritistas?

-Não devemos especificar os deveres do espiritista cristão, porque palavra


alguma poderá superar a exemplificação do Cristo, que todo discípulo deve
tomar como roteiro da sua vida.

Que o espiritista, nas suas atividades comuns, dispense o máximo de


indulgência para com os seus semelhantes, sem nenhuma para consigo
mesmo, porque antes de cogitar da iluminação dos outros, deverá buscar a
iluminação de si mesmo, no cumprimento de suas obrigações.
363 –Como se justifica a existência de certas lutas
antifraternas dentro dos grupos espiritistas?

-OS agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu


aparelhamento não pode ser análogo ao das associações propriamente
humanas.

Um grêmio espírita-cristão deve ter, mais que tudo, a característica


familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os
sentimentos.
Em uma entidade doutrinária, quando surgem as dissensões e lutas
internas, revelando partidarismos e hostilidades, é sinal de ausência do
Evangelho nos corações, demonstrando-se pelo excesso de material humano
e pressagiando o naufrágio das intenções mais generosas.

Nesses núcleos de estudo, nenhuma realização se fará sem fraternidade e


humildade legítimas, sendo imprescindível que todos os companheiros entre
si, vigiem na boa-vontade e na sinceridade, a fim de não transformarem a
excelência do seu patrimônio espiritual numa reprodução dos conventículos
católicos, inutilizados pela intriga e pelo fingimento.
364 –O espiritista para evoluir na Doutrina
necessita estudar e meditar por si mesmo, ou será
suficiente frequentar as organizações doutrinárias,
esperando a palavra dos guias?

-É indispensável a cada um o esforço próprio no estudo, meditação,


cultivo e aplicação da Doutrina, em toda a intimidade de sua vida.

A frequência às sessões ou o fato de presenciar esse ou aquele fenômeno,


aceitando-lhe a veracidade, não traduz aquisição de conhecimentos.
Um guia espiritual pode ser um bom amigo, mas nunca poderá
desempenhar os vossos deveres próprios, nem vos arrancar das provas e das
experiências imprescindíveis à vossa iluminação.

Daí surge a necessidade de vos preparardes individualmente, na Doutrina,


para viverdes tais experiências com dignidade espiritual, no instante
oportuno.
365 –Como deveremos receber os ataques da crítica?

-Os espiritistas devem receber a crítica dos campos de opinião contrária,


como máximo de serenidade moral, reconhecendo-lhe a utilidade essencial.

Essas críticas se apresentam, quase sempre, com finalidade preciosa, qual


a de selecionar, naturalmente as contribuições da propaganda doutrinária,
afastando os elementos perturbadores e confusos, e valorizando a cooperação
legítima e sincera, porque todo ataque à verdade pura serve apenas para
destacar e exaltar essa mesma verdade.
366 –Como deverá agir o espírita sincero, quando
encontre perante certas extravagâncias doutrinárias?

-À luz da fraternidade pura, jamais neguemos o concurso da boa palavra


e da contribuição direta, sempre que oportuno, em benefício do
esclarecimento de todos, guardando, todavia, o cuidado de nunca transigir
com os verdadeiros princípios evangélicos, sem, contudo, ferir os
sentimentos das pessoas. E se as pessoas perseverarem na incompreensão,
cuide cada trabalhador da sua tarefa, porque Jesus afirmou que o trigo
cresceria ao lado do joio, em sua seara santa, mas Ele, o Cultivador da
Verdade Divina, saberia escolher o bom grão na época da ceifa.
367 –É justo que, a propósito de tudo, busque o
espiritista tanger os assuntos do Espiritismo nas
suas conversações comuns?

-O crente sincero precisa compenetrar-se da oportunidade, no tempo e no


ambiente, com relação aos assuntos doutrinários, porquanto, qualquer
inconsideração nesse particular, pode conduzir a fanatismo detestável, sem
nenhum caráter construtivo.
De modo algum se deverá provocar as manifestações mediúnicas, cuja
legitimidade reside nas suas características de espontaneidade, mesmo porque
o programa espiritual das sessões está com os mentores que as orientam do
plano invisível, exigindo-se de cada estudioso a mais elevada porcentagem de
esforço próprio na aquisição do conhecimento, porquanto o plano espiritual
distribuirá sempre, de acordo com as necessidades e os méritos de cada um.
Forçar o fenômeno mediúnico é tisnar uma fonte de água pura com a vasa das
paixões egoísticas da Terra, ou com as suas injustificáveis inquietações.
369 –É aconselhável a evocação direta de
determinados Espíritos?

Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso


algum.

Se essa evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente pode ser


examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos,
porquanto, no complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas
incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O
estudioso bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem
reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe
conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade
de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração.
Podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta,
procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu
esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidade de méritos
ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns.
370 –Seria lícito investigarmos, com os Espíritos
amigos, as nossas vidas passadas? Essas revelações,
quando ocorrem, traduzem responsabilidade para
os que as recebem?

-Se estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido é


indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não deveis provocar esse
gênero de revelações, porquanto os amigos espirituais conhecem melhores as
vossas necessidades e poderão provê-las em tempo oportuno, sem quebrar o
preceito da espontaneidade exigida para esse fim.

O conhecimento do pretérito, através das revelações ou das lembranças,


chega sempre que a criatura se faz credora de um benefício como esse, o qual
se faz acompanhar, por sua vez, de responsabilidades muito grandes no plano
do conhecimento; tanto assim que, para muitos, essas reminiscências
costumam constituir um privilégio doloroso, no ambiente das inquietações e
ilusões da Terra.
371 –Devem ser intensificadas no Espiritismo as sessões de
fenômenos mediúnicos?

-São muito poucos ainda, os núcleos espiritistas que se podem entregar à


prática mediúnica com plena consciência do serviço que têm em mãos;
motivo por que é aconselhável a intensificação das reuniões de leitura,
meditação e comentário geral para as ilações morais imprescindíveis no
aparelhamento doutrinário, a fim de que numerosos centros bem-
intencionados não venham a cair no desânimo ou na incompreensão, por
cauda de um prematuro comércio com as energias do plano invisível.
PRÁTICA

372 –Como deveremos entender a sessão espírita?

-A sessão espírita deveria ser, em toda parte, uma cópia fiel do cenáculo
fraterno, simples e humilde do Tiberíades, onde o Evangelho do Senhor fosse
refletido em espírito e verdade, sem qualquer convenção do mundo, de modo
que, entrelaçados todos os pensamentos na mesma finalidade amorosa e
sincera, pudesse a assembleia constituir aquela reunião de dois ou mais
corações em nome do Cristo, onde o esforço dos discípulos será sempre
santificado pela presença do seu amor.
373 –Como deve ser conduzida uma sessão espírita,
de sua abertura ao encerramento?

-Nesse sentido, há que considerar a excelência da codificação


kardequiana; contudo, será sempre útil a lembrança de que as reuniões
doutrinárias devem observar o máximo de simplicidade, como as assembleias
humildes e sinceras do Cristianismo primitivo, abstendo-se de qualquer
expressão que apele mais para os sentidos materiais que para a alma
profunda, a grande esquecida de todos os tempos da Humanidade.
374 –Nas sessões, os dirigentes e os médiuns têm
uma tarefa definida e diferente entre si?

-Nas reuniões doutrinárias, os papéis do orientador e do instrumento


mediúnicos devem estar sempre identificados na mesma expressão de
fraternidade e de amor, acima de tudo; mas, existem características a
assinalar, para que os serviços espirituais produzam os mais elevados efeitos,
salientando-se que os dirigentes das sessões devem ser o raciocínio e a lógica,
enquanto o médium deve representar a fonte de água pura do sentimento. É
por isso que, nas reuniões onde os orientadores não cogitam da lógica e onde
os médiuns não possuem fé e desprendimento, a boa tarefa é impossível,
porque a confusão natural estabelecerá a esterilidade no campo dos corações.
375 –Os agrupamentos espiritistas podem ser
organizados sem a contribuição dos médiuns?

-Nas reuniões doutrinárias, os médiuns são úteis, mas não indispensáveis,


porque somos obrigados a ponderar que todos os homens são médiuns, ainda
mesmo sem tarefas definidas, nesse particular, podendo cada qual sentir e
interpretar, no plano intuitivo, a palavra amorosa e sábia de seus guias
espirituais, no imo da consciência.
376 –Há estudiosos da Doutrina que se afastam das
reuniões, quando as mesmas não apresentam
fenômenos. Como se deve proceder para com eles?

-Os que assim procedem testemunham, por si mesmo, plena inabilitação


para o verdadeiro trabalho do Espiritismo sincero. Se preferirem as emoções
transitórias dos nervos ao serviço da auto-iluminação, é melhor que se
afastem temporariamente dos estudos sérios da Doutrina, antes de assumirem
qualquer compromisso. A compreensão do Espiritismo ainda não está
bastante desenvolvida em seu mundo interior, e é justo que prossigam em
experiências para alcança-la.

O êxito dos esforços do plano espiritual, em favor do Cristianismo


redivivo, não depende da quantidade de homens que o busquem, mas da
qualidade dos trabalhos que militam em suas fileiras.
378 –Por que motivo à doutrinação e a
evangelização nas reuniões espiritistas beneficiam
igualmente os desencarnados, se a estes seria mais
justo o aproveitamento das lições recebidas no
plano espiritual?

-Grande número de almas desencarnadas nas ilusões da vida física,


guardadas quase que integralmente no íntimo, conservam-se, por algum
tempo, incapazes de aprender as vibrações; do plano espiritual superior,
sendo conduzidas por seus guias e amigos redimidos às reuniões fraternas do
Espiritismo evangélico, onde, sob as vistas amoráveis desses mesmos
mentores do plano invisível, se processam os dispositivos da lei de
cooperação e benefícios mútuos, que rege os fenômenos da vida nos dois
planos.
379 –Como deverá agir o estudioso para identificar
as entidades que se comunicam?

-Os Espíritos que se revelam, através das organizações mediúnicas,


devem ser identificados por suas ideias e pela essência espiritual de suas
palavras.

Determinados médiuns, com tarefas especializadas podem ser auxiliares


preciosos à identificação pessoal, seja no fenômeno literário, nas equações da
ciência, ou satisfazendo a certos requisitos da investigação; todavia, essa não
é a regra geral, salientando-se que as entidades espirituais, muitas vezes, não
encontram senão um material deficiente que as obriga tão só ao
indispensável, no que se refere à comunicação.
Devemos entender, contudo, que a linguagem do Espírito é universal,
pelos fios invisíveis do pensamento, o que, aliás, não invalida a necessidade
de um estudo atento acerca de todas as ideias lançadas nas mensagens,
guardando-se muito cuidado no capítulo dos nomes ilustres que porventura as
subscrevem.

Nas manifestações de toda natureza, porém, o crente ou o estudioso do


problema da identificação, não pode dispensar aquele sentido espiritual de
observação que lhe falará sempre no imo da consciência.
380 –É justo que o espiritista, depois de sofrer pela
morte a separação de um ente amado, provoque a
comunicação dele nas sessões medianímicas?

-O espiritista sincero deve buscar o conforto moral, em tais casos, na


própria fé que lhe deve edificar intimamente o coração.

Não é justo provocar ou forçar a comunicação com esse ou aquele


desencarnado. Além de não conhecerdes as possibilidades de sua nova
condição na esfera espiritual; deveis atender ao problema dos vossos méritos.
O homem pode desejar isso ou aquilo, mas há uma Providência que
dispõe no assunto, examinando o mérito de quem pede e a utilidade da
concessão.

Qualquer comunicado com o Invisível deve ser espontâneo, e o espiritista


cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo
humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem
amou, e esperando a sua palavra direta, quando e como julguem os mentores
espirituais convenientes e oportunos.
381 –Muita gente procura o Espiritismo, queixando-
se de perseguições do Invisível. Os que reclamam
contra essas perturbações estão, de algum modo,
abandonados se seus guias espirituais?

-A proteção da Providência Divina estende-a a todas as criaturas.

A perseguição de entidades sofredoras e perturbadas justifica-se no


quadro das provações redentoras, mas, os que reclamam contra o assédio das
forças inferiores dos planos adstritos ao orbe terrestre, devem consultar o
próprio coração antes de formularem as suas queixas, de modo a observar se
o Espírito perturbador não está neles mesmos.
Há obsessores terríveis do homem, denominados “orgulho”, “vaidade”,
“preguiça”, “avareza”, “ignorância” ou “má-vontade”, e convém examinar se
não se é vítima dessas energias perversoras que, muitas vezes, habitam o
coração da criatura, enceguecendo-a para a compreensão da luz de Deus.
Contra esses elementos destruidores faz-se preciso um novo gênero de
preces, que se constitui de trabalho, fé, esforço e boa -vontade.
MEDIUNIDADE

DESENVOLVIMENTO

382- Qual a verdadeira definição da mediunidade?

-A mediunidade é aquela luz eu seria derramada sobre toda carne e


prometida pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador, atualmente em
curso na Terra.
A missão mediúnica se tem os seus percalços e as suas lutas dolorosas, é
uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção concedidas por
Deus aos seus filhos misérrimos.

Sendo luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito,


patrimônio da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura
terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo da virtude e da
inteligência, sempre que se encontre ligada aos princípios evangélicos na sua
trajetória pela face do mundo.
383 –É justo considerarmos todos os homens como
médiuns?

-Todos os homens têm o seu grau de mediunidade, nas mais variadas


posições evolutivas, e esse atributo do espírito representa, ainda, a alvorada
de novas percepções para o homem do futuro, quando, pelo avanço da
mentalidade do mundo, as criaturas humanas verão alargar-se a janela
acanhada dos seus cinco sentidos.

Na atualidade, porém, temos de reconhecer que no campo imenso das


potencialidades psíquicas do homem existem os médiuns com tarefa definida,
precursores das novas aquisições humanas. É certo que essas tarefas
reclamam sacrifícios e se constituem, muitas vezes, de provações ásperas;
todavia, se o operário busca a substância evangélica para a execução de seus
deveres, é ele o trabalhador que faz jus ao acréscimo de misericórdia
prometido pelo Mestre a todos os discípulos de boa-vontade.
384 –Dever-se-á provocar o desenvolvimento da
mediunidade?

-Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade,


porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se,
contudo, a floração mediúnica espontânea, nas expressões mais simples,
deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-
vontade, seja essa possibilidade psíquica a mais humilde de todas.

A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor


da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é
indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos
mentores do plano espiritual.
385 –A mulher ou o homem, em particular, possuem
disposições especiais para o desenvolvimento mediúnico?

-No capítulo do mediunismo não existem propriamente privilégios para


os que se encontram em determinada situação; porém, vence nos seu labores
quem detiver a maior porcentagem de sentimento. E a mulher, pela evolução
de sua sensibilidade em todos os climas e situações, através dos tempos, está,
na atualidade, em esfera superior à do homem, para interpretar, com mais
precisão o sentido de beleza, as mensagens dos planos Invisíveis.
386 –Qual a mediunidade mais preciosa para o bom
serviço à Doutrina?

-Não existe mediunidade mais preciosa uma que a outra.

Qualquer uma é campo aberto às mais belas realizações espirituais, sendo


justo que o médium, com a tarefa definida se encha de espírito missionário,
com dedicação sincera e fraternidade pura, para que o seu mandato não seja
traído na improdutividade.
387 –Qual a maior necessidade do médium?

-A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de


se entregas às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo poderá
esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua
missão.
388 –Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar,
igualmente, os imperativos da especialização?

-O homem do mundo, no círculo de obrigações que lhe competem na


vida, deverá sair da generalidade para produzir o útil e o agradável, nas
esferas de suas possibilidades individuais.

Em mediunidade, devemos submeter-nos aos mesmos princípios. O


homem enciclopédico, em faculdade, ainda não apareceu, senão em gérmen,
nas organizações geniais que raramente surgem na Terra, e temos de
considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer no conjunto
de atributos do homem transcendente.
A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de
sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de vulgarização
da verdade a realizar.
389 –A mediunidade pode ser retirada em determinadas
circunstâncias da vida?

-Os atributos medianímicos são como os talentos do Evangelho. Se o


patrimônio divino é desviado de seus fins, o mal servo torna-se indigno da
confiança do Senhor da seara da verdade e do amor. Multiplicados no bem,
os talentos mediúnicos crescerão para Jesus, sob as bênçãos divinas; todavia,
se sofrem os insultos do egoísmo; do orgulho; da vaidade ou da exploração
inferior, podem deixar o intermediário do invisível entre as sombras pesadas
do estacionamento, nas mais dolorosas perspectivas de expiação, em vista do
acréscimo de seus débitos irrefletidos.
390 –É justo que um médium confie em si mesmo para a
provocação de fenômenos, organizando trabalhos
especiais com o fim de converter os descrentes?

-Onde o médium em tão elevada condição de pureza e merecimento, para


contar com as suas próprias forças na produção desse ou daquele fenômeno?
Ninguém vale, na terra, senão pela expressão da misericórdia divina que o
acompanha, e a sabedoria do plano superior conhece minuciosamente as
necessidades e méritos de cada um. A tentativa de tais trabalhos é um erro
grave. Um fenômeno não edifica a fé sincera, somente conseguida pelo
esforço e boa-vontade pessoal na meditação e no trabalho interior. Os
descrentes chegarão à Verdade, algum dia, e a Verdade é Jesus. Anteciparmo-
nos à ação do Mestre não seria testemunho de confusão? Organizar sessões
medianímicas com objetivo de arrebanhar prosélitos é agir com demasiada
leviandade. O que é santo e divino ficaria exposto aos julgamentos
precipitados dos mais ignorantes e ao assalto destruidor dos mais perversos,
como se a Verdade de Jesus fosse objeto de espetáculos, nos picadeiros de
um circo.
391 – Os irracionais possuem mediunidade?

-Os irracionais não possuem faculdades mediúnicas propriamente ditas.


Contudo, têm percepções psíquicas embrionárias, condizentes ao seu estado
evolutivo, através das quais podem indiciar as entidades deliberadamente
perturbadoras, com fins inferiores, para estabelecer a perplexidade naqueles
que os acompanham em determinadas circunstâncias.
PREPARAÇÃO

392 –Pode contar um médium, de maneira absoluta,


com os seus guias espirituais, dispensando os
estudos?

Os mentores de um médium, por mais dedicados e evoluídos, não lhe


poderão tolher a vontade e nem lhe afastar o coração das lutas indispensáveis
da vida, em cujos benefícios todos os homens resgatam o passado delituoso e
obscuros, conquistando méritos novos.

O médium tem obrigação de estudar muito, observar intensamente e


trabalhar em todos os instantes pela sua própria iluminação. Somente desse
modo poderá habilitar-se para o desempenho da tarefa que lhe foi confiada,
cooperando eficazmente com os Espíritos sinceros e devotados ao bem e á
verdade.
Se um médium espera muito dos seus guias, é lícito que os seus mentores
espirituais muito esperam do seu esforço. E como todo progresso humano,
para ser continuado, não pode prescindir de suas bases já edificadas no
espaço, sempre que possível, criando o hábito de conviver com o espírito
luminoso e benefício dos instrutores da Humanidade, sob a égide de Jesus,
sempre vivo no mundo, através dos seus livros e da sua exemplificação.

O costume de tudo aguardar de um guia pode transformar-se em vício


detestável, infirmando as possibilidades mais preciosas da alma. Chegando-se
a esse desvirtuamento, atinge-se o declive das mistificações e das
extravagâncias doutrinárias, tornando-se o médium preguiçoso e leviano
responsável pelo desvio de sua tarefa sagrada.
393 –Como entender a obsessão: É prova, inevitável,
ou acidente que se possa afastar facilmente,
anulando-se os efeitos?

-A obsessão é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual. No


seu exame, contudo, precisamos considerar os méritos da vítima e a dispensa
da misericórdia divina a todos os que sofrem.

Para atenuar ou afastar os seus efeitos, é imprescindível o sentimento do


amor universal no coração daquele que fala em nome de Jesus. Não bastarão
as fórmulas doutrinárias. É indispensável a dedicação, pela fraternidade mais
pura. Os que se entregam à tarefa da cura das obsessões precisam ponderar,
antes de tudo, a necessidade de iluminação interior do médium perturbado,
porquanto na sua educação espiritual reside a própria cura. Se a execução
desse esforço não se efetua, tende cuidado, porque, então, os efeitos serão
extensivos a todos os centros de força orgânica e psíquica. O obsidiado que
entrega o corpo, sem resistência moral, as entidades ignorantes e perturbadas,
é como o artista que entregasse seu violino precioso a um malfeitor, o qual,
um dia, poderá renunciar à posse do instrumento que lhe não pertence,
deixando-o esfacelado, sem que o legítimo, mas imprevidente dono, possa
utiliza-lo nas finalidades sagradas da vida.
394 –Será sempre útil, para a cura de um obsidiado,
a doutrinação do Espírito perturbado, por parte de
um espiritista convicto?

-A cooperação do companheiro vale muito e faz sempre grande bem,


principalmente ao desencarnado; mas a cura completa do médium não
depende tão só desse recurso, porque, se é fácil, às vezes, o esclarecimento da
entidade infeliz e sofredora, a doutrinação do encarnado é a mais difícil de
todas, visto requisitar os valores do seu sentimento e da sua boa-vontade, sem
o que a cura psíquica se torna inexequível.
395 – Pode a obsessão transformar-se em loucura?

-Qualquer obsessão pode transformar-se em loucura, não só quando a lei


das provações assim o exige, como também na hipótese de o obsidiado
entregar-se voluntariamente ao assédio das forças noviças que o cercam,
preferindo esse gênero de experiências.
396 –Tratando-se da necessidade de preparação para
a tarefa mediúnica, é justo acreditarmos na
movimentação de fluídos maléficos em prejuízo do
próximo?

-É o caso de vos perguntarmos e não haveis movimentação as energias


maléficas, no decurso da vida, contra a vossa própria felicidade.

Num orbe como a Terra, onde a porcentagem de forças inferiores supera


quase que esmagadoramente os valores legítimos do bem, a movimentação de
fluídos maléficos é mais que natural; no entanto, urge ensinar aos que
operam, nesse campo de maldade, que os seus esforços efetuam a sementeira
infeliz, cujos espinhos, mais tarde, se voltarão contra eles próprios, em
amargurados choques de retorno, fazendo-se mister, igualmente, educar as
vítimas de hoje na verdadeira fé em Jesus, de modo a compreenderem o
problema dos méritos na tarefa do mundo.
A aflição do presente pode ser um bem a expressar-se em conquistas
preciosas o futuro, e, se Deus permite a influência dessas energias inferiores,
em determinadas fases da existência terrestre, é que a medida tem sua
finalidade profunda, ao serviço divino da regeneração individual.
397 –Por que razão alguns médiuns parecem sofrer
com os fenômenos da incorporação, enquanto
outros manifestam o mesmo fenômeno,
naturalmente?

-Nas expressões de mediunismo existem características inerentes a cada


intermediário entre os homens e os desencarnados; entretanto, a falta de
naturalidade do aparelho mediúnico, no instante de exercer suas faculdades, é
quase sempre resultante da falta de educação psíquica.
398 –É natural que, em plenas reuniões de estudo,
os médiuns se deixem influenciar por entidades
perturbadoras que costumam quebrar o ritmo de
proveitosos e sinceros trabalhos de educação?

-Tal interferência não é natural e deve ser muito estranhável para todos os
estudiosos de boa-vontade.

Se o médium que se entregou à atuação noviça é insciente dos seus


deveres à luz dos ensinamentos doutrinários, trata-se de um obsidiado que
requer o máximo de contribuição fraterna; mas, se o acontecimento se
verifica através de companheiro portador do conhecimento exato de suas
obrigações, no círculo de atividades da Doutrina, é justo responsabiliza-lo
pela perturbação, porque o fato, então, será oriundo da sua invigilância e
imprevidência, em relação aos deveres sagrados que competem a cada um de
nós, no esforço do bem e da verdade.
399 –Quando a opinião irônica ou insultuosa ataca
uma expressão da verdade, no campo mediúnico, é
justo buscarmos o apoio dos Espíritos amigos para
revidar?

-Vossa inquietação no mundo costuma conduzir-vos a muitos


despautérios.

Semelhante solicitação aos desencarnados seria um deles. Os valores de


um campo mediúnico triunfam por si mesmos, pela essência de amor e de
verdade, de consolação e de luz que contenham, e seria injustificável
convocar os Espíritos para discutir com os homens, quando já se demasiam as
polêmicas dos estudiosos humanos entre si.
Além do mais, os que não aceitam a palavra sincera e fraternal dos
mensageiros do plano superior, terão igualmente, de buscar o túmulo algum
dia, e é inútil perder tempo com palavras, quando temos tanto o que fazer no
ambiente de nossas próprias edificações.
400 –Poderá admitir-se que um médium se socorra
de outro médium para obter o amparo dos seus
amigos espirituais?

-É justo que um amigo se valha da estima fraternal de um companheiro de


crença, para assuntos de confiança íntima e recíproca, mas, na função
mediúnica, o portador dessa ou daquela faculdade deve buscar em seu
próprio valor o elemento de ligação com os seus mentores do plano invisível,
sendo contraproducente procurar amparo nesse particular, fora das suas
próprias possibilidades, porque, de outro modo, seria repousar numa fé
alheia, quando a fé precisa partir do íntimo de cada um, no mecanismo da
vida.

Além do mais, cada médium possui a sua esfera de ação no âmbito que
lhe foi assinalado. Abandonar a própria confiança para valer-se de outrem,
seria sobrecarregar os ombros de um companheiro de luta, esquecendo a cruz
redentora que cada Espírito encarnado deverá carregar em busca da claridade
divina.
401 –A mistificação sofrida por um médium
significa ausência de amparo dos mentores do
plano espiritual?

-A mistificação experimentada por um médium traz, sempre, uma


finalidade útil, que é a de afasta-lo do amor-próprio, da preguiça no estudo de
suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos excessos de confiança
em si mesmo.

Os fatos de mistificação não ocorrem à revelia dos seus mentores mais


elevados, que, somente assim, o conduzem à vigilância precisa e às
realizações da humildade e da prudência no seu mundo subjetivo.
402 –Seria justo aceitar remuneração financeira no
exercício da mediunidade?

-Quando um médium se resolva a transformar suas faculdades em fonte


de renda material, será melhor esquecer suas possibilidades psíquicas e não
se aventurar pelo terreno delicado dos estudos espirituais.

A remuneração financeira, no trato das questões profundas da alma,


estabelece um comércio criminoso, do qual o médium deverá esperar no
futuro os resgates mais dolorosos.
A mediunidade não é ofício do mundo, e os Espíritos esclarecidos, na
verdade e no bem, conhecem, mais que os seus irmãos de carne, as
necessidades dos seus intermediários.
403 –É razoável que os médiuns cogitem da solução
de assuntos materiais junto dos seus mentores do
plano invisível?

-Não se deve esquecer que o campo de atividades materiais é a escola


sagrada dos Espíritos incorporados no orbe terrestre. Se não é possível aos
amigos espirituais quebrarem a lei da liberdade própria de seus irmãos, não é
lícito que o médium cogite da solução de problemas materiais junto dos
Espíritos amigos. O mundo é o caminho no qual a alma deve provar a
experiência, testemunhar a fé, desenvolver as tendências superiores, conhecer
o bem, aprender o melhor, enriquecer os dotes individuais.

O médium que se arrisca a desviar suas faculdades psíquicas, para o


terreno da materialidade do mundo, este em marcha para as manifestações
grosseiras dos planos inferiores, onde poderá contrair os débitos mais
penosos.
404 –Deve o médium sacrificar o cumprimento de
suas obrigações no trabalho cotidiano e no
ambiente sagrado da família, em favor da
propaganda doutrinária?

O médium somente deve dar aos serviços da Doutrina a cota de tempo de


que possa dispor, entre os labores sagrados do pão de cada dia e o
cumprimento dos seus elevados deveres familiares.

A execução dessas obrigações é sagrada e urge não cair no declive das


situações parasitárias, ou do fanatismo religioso.
No trabalho da verdade, Jesus caminha antes de qualquer esforço humano
e ninguém deve guardar a pretensão de converter alguém, quando nas tarefas
do mundo há sempre oportunidade para o preciso conhecimento de si mesmo.

Que médium algum se engane em tais perspectivas. Antes sofrer a


incompreensão dos companheiros, que transigir com os princípios, caindo na
irresponsabilidade ou nas penosas dívidas de consciência.
405 –Poder-se-á admitir que os espiritistas se
valham de um apostolado mediúnico, para solução
de todas as dificuldades da vida?

-O médium não deve ser sobrecarregado com exigências de seus


companheiros, relativamente às dificuldades da sorte. É justo que seus irmãos
se socorram das suas faculdades, em circunstâncias excepcionais da
existência, como nos casos de enfermidades e outros que se lhe assemelhem.
Todavia, cercar um médium de solicitações de toda natureza é desvirtuar a
tarefa de um amigo, eliminando as suas possibilidades mais preciosas e, além
do mais, não se deverá repetir no Espiritismo sincero a atitude mental dos
católicos romanos, que se abandonam junto à “imagem” de um “santo”,
olvidando todos os valores do esforço próprio.

Os núcleos espiritistas precisam considerar que em seus trabalhos há


quem os acompanhe do plano superior e que receberão sempre o concurso
espiritual de seus irmãos libertos da carne, dependendo a satisfação desse ou
daquele problema particular dos méritos de cada um. Proceder em contrário é
eliminar o aparelho mediúnico, fornecendo doloroso testemunho de
incompreensão.
406 – Quando um investigador busque valer-se dos
serviços de um médium, é justo que submeta o
aparelho medianímico a toda sorte de experiência, a
fim de certificar-se dos seus pontos de vista?

-Depende do caráter dessas mesmas experiências e, quaisquer que elas


sejam, o médium necessita de muito cuidado, porquanto, no caminho das
aquisições espirituais, cada investigador encontra o material que procura. E
quem se aproxima de uma fonte espiritual, tisnando-a com a má-fé e a
insinceridade, não pode, por certo, saciar a sede com uma água pura.
407 – Para que alguém se certifique da verdade do
Espiritismo, bastará recorrer a um bom médium?

-Os estudiosos do Espiritismo, ainda sem convicção valorosa e séria no


terreno da fé, precisam reconhecer que em trabalhos dessa ordem não basta o
recurso de um bom médium. Faz-se mister que o investigador, a par de uma
curiosidade sadia, possua valores morais imprescindíveis, como a sinceridade
e o amor do bem, servindo a uma existência reta e fértil de ações puras.
408 – Seria proveitosa a criação de associações de
auxílio material aos médiuns?

-No Espiritismo é sempre de bom aviso evitar-se a consecução de


iniciativas tendentes a estabelecer uma nova classe sacerdotal no mundo.

Os médiuns, nesse ou naquele setor da sociedade humana, devem o


mesmo tributo ao trabalho, à luta e ao sofrimento, indispensáveis à conquista
do agasalho e do pão material. Ao demais, temos de considerar, acima de
toda proteção precária do mundo, o amparo de Jesus aos seus trabalhadores
de boa-vontade. Toda expressão de sacrifício sincero está eivada de luz
divina, todo trabalho sincero é elevação e toda dor é luz, quando suportada
com serenidade e confiança no Mestre dos mestres.
409 –Como deverá proceder ao médium sincero para
a valorização do seu apostolado?

-O médium sincero necessita compreender que, antes de cogitar da


doutrinação dos Espíritos, ou de seus companheiros de luta na Terra, faz-se
mister a iluminação de si próprio pelo conhecimento, pelo cumprimento dos
deveres mais elevados e pelo esforço de si mesmo na assimilação perfeita dos
princípios doutrinários.

No desdobramento dessa tarefa, jamais deve descuidar-se da vigilância,


buscando aproveitar as possibilidades que Jesus lhe concedeu na edificação
do trabalho estável e útil. Não deve cultivar o sofrimento pelas queixas
descabidas e demasiadas e nem recorrer, a todo instante, à assistência dos
seus guias, como se perseverasse em manter uma atitude de criança
inexperiente.
O estudo da Doutrina e, sobretudo, o cultivo da autoevangelização deve
ser ininterrupto. O médium sincero sabe vigiar, fugindo da exploração
material ou sentimental, compreendendo, em todas as ocasiões, que o mais
necessitado de misericórdia é ele próprio, a fim de dar pleno testemunho do
seu apostolado.
410 –Onde o maior escolho do apostolado
mediúnico?

-O primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo.


Frequentemente é personalismo, é a ambição, a ignorância ou a rebeldia no
voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho, fatores de
inferioridade moral que, não raro, o conduzem a invigilância, à leviandade e à
confusão dos campos improdutivos.

Contra esse inimigo é preciso movimentar as energias íntimas pelo


estudo, pelo cultivo da humildade, pela boa-vontade, com o melhor esforço
de autoeducação, à claridade do Evangelho.
O segundo inimigo mais poderoso do apostolado mediúnico não reside
no campo das atividades contrárias à expansão da Doutrina, mas no próprio
selo das organizações espiritistas, constituindo-se daquele que se convenceu
quanto aos fenômenos, sem se converter ao Evangelho pelo coração, trazendo
para as fileiras do Consolador os seus caprichos pessoais, as suas paixões
inferiores, tendências nocivas, opiniões cristalizadas no endurecimento do
coração, sem reconhecer a realidade de suas deficiências e a exiguidade dos
seus cabedais íntimos.

Habituados ao estacionamento, esses irmãos infelizes desdenham o


esforço próprio – única estrada de edificação definitiva e sincera – para
recorrerem aos espíritos amigos nas menos dificuldades da vida, como se o
apostolado mediúnico fosse uma cadeira de cartomante. Incapazes do
trabalho interior pela edificação própria na fé e na confiança em Deus, dizem-
se necessitados de conforto. Se desatendidos em seus caprichos inferiores e
nas suas questões pessoais, estão sempre prontos para acusar e escarnecer.
Falam da caridade, humilhando todos os princípios fraternos; não conhecem
outro interesse além do que lhes lastreia o seu próprio egoísmo. São irônicos,
acusadores e procedem quase sempre como crianças levianas e inquietas.
Esses são também aqueles elementos da confusão, que não penetram o tempo
de Jesus e nem permitem a entrada de seus irmãos.

Esse gênero de inimigos do apostolado mediúnico é muito comum e


insistente nos seus processos de insinuação, sendo indispensável que o
missionário do bem e da luz se resguarde na prece e na vigilância. E como a
verdade deve sempre surgir no instante oportuno, para que o campo do
apostolado não se esterilize, faz-se imprescindível fugir deles.
411 – Onde a luz definitiva para a vitória do
apostolado mediúnico?

-Essa claridade divina está no Evangelho de Jesus, com o qual o


missionário deve estar plenamente identificado para a realização sagrada da
sua tarefa. O médium sem Evangelho pode fornecer as mais elevadas
informações ao quadro das filosofias e ciências fragmentárias da Terra; pode
ser um profissional de nomeada, um agente de experiências do invisível, mas
não poderá ser um apóstolo pelo coração. Só a aplicação com o Divino
Mestre prepara no íntimo do trabalhador a fibra da iluminação para o amor, e
da resistência contra as energias destruidoras, porque o médium evangelizado
sabe cultivar a humildade no amor ao trabalho de cada dia, na tolerância
esclarecida, no esforço educativo de si mesmo, na significação da vida,
sabendo, igualmente, levantar-se para a defesa da sua tarefa de amor,
defendendo a verdade sem transigir com os princípios no momento oportuno.

O apostolado mediúnico, portanto, não se constitui tão somente da


movimentação das energias psíquicas em suas expressões fenomênicas e
mecânicas, porque exige o trabalho e o sacrifício do coração, onde a luz da
comprovação e da referência é a que nasce do entendimento e da aplicação
com Jesus Cristo.

Da Obra “O CONSOLADOR” – Espírito: EMMANUEL – Médium:


FRANCISCO CÂNDIDO

FIM
LIVRO 3
Roteiro
Emmanuel
FEB
1952
Definindo Rumos

Em verdade, meu amigo, terás encontrado no Espiritismo a tua renovação


mental.

O fenômeno terá modificado as tuas convicções.

As conclusões filosóficas alteraram, decerto, a tua visão do mundo.

Admites, agora, a imortalidade do ser.

Sentes a excelsitude do teu próprio destino.


Mas se essa transformação da inteligência não te reergue o coração com o
aperfeiçoamento íntimo, se os princípios que abraças não te fazem melhor, à
frente dos nossos irmãos da Humanidade, para que te serve o conhecimento?
Se uma força superior te não educa as emoções, se a cultura te não dirige para
a elevação do caráter e do sentimento, que fazes do tesouro intelectual que a
vida te confia?

Não vale o intercâmbio, somente pelo capricho atendido.

A expressão gritante do inabitual pode estar vazia de substância.


A ventania impetuosa que varre o solo, com imenso alarido, costuma
gerar o deserto, enquanto que o rio silencioso e simples garante a floresta e a
cidade, os lares e os rebanhos.

Se procuras contato com o plano espiritual, recorda que a morte do corpo


não nos santifica. Além do túmulo, há também sábios e ignorantes, justos e
injustos, corações no céu e consciências no inferno purgatorial...
As excursões no desconhecido reclamam condutores.

O Cristo é o nosso Guia Divino para a conquista santificante do Mais


Além...
Não te afastes dEle.

Registrarás sublimes narrações do Infinito na palavra dos grandes


orientadores, ouvirás muitas vozes amigas que te lisonjearão a personalidade,
escutarás novidades que te arrebatam ao êxtase, entretanto, somente com
Jesus no Evangelho bem vivido é que reestruturaremos a nossa
individualidade eterna para a sublime ascensão à Consciência do Universo.
***

Estas páginas despretensiosas constituem um apelo à congregação de


nossas forças em torno do Cristo, nosso Mestre e Senhor.
Sem a Boa Nova, a nossa Doutrina Consoladora será provavelmente um
formoso parque de estudos e indagações, discussões e experimentos, reuniões
e assembleias, louvores e assombros, mas a felicidade não é produto de
deduções e demonstrações.

Busquemos, pois, com o Celeste Benfeitor a lição da mente purificada, do


coração aberto à verdadeira fraternidade, das mãos ativas na prática do bem e
o Evangelho nos ensinará a encontrar no Espiritismo o caminho de amor e luz
para a Alegria Perfeita.

Emmanuel
Pedro Leopoldo, 10 de junho de 1952
1
O HOMEM ANTE A VIDA

No crepúsculo da civilização em que rumamos para a alvorada de novos


milênios, o homem que amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da
inteligência comum e acorda, dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe
incendeiam o coração.
Quem somos?

Donde viemos?
Onde a estação de nossos destinos?

À margem da senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos


ídolos mentirosos que adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam
à alma enfermiça, o anseio da vida superior lhe agita os recessos do seu, qual
braseiro vivo do ideal, sob a espessa camada de cinzas do desencanto.

Recorre à sabedoria e examina o microcosmo em que sonha.

Reconhece a estreiteza do círculo em que respira.

Observa as dimensões diminutas do Lar Cósmico em que se desenvolve.


Descobre que o Sol, sustentáculo de sua apagada residência planetária,
tem um volume de 1.300.000 vezes maior que o dela.

Aprende que a Lua, insignificante satélite do seu domicílio, dista mais de


380.000 quilômetros do mundo que lhe serve de berço.

Os Planetas vizinhos evolucionam muito longe, no espaço imenso.


Dentre eles, destaca-se Marte, distante de nós cerca de 56.000.000 de
quilômetros na época de sua maior aproximação.

Alongando as perquirições, além do nosso Sol, analisa outros centros de


vida.
Sírius ofusca-lhe a grandeza.

Pólux, a imponente estrela do Gêmea, eclipsa-o em majestade.


Capela é 5.800 vezes maior.

Antares apresenta volume superior.

Canópus tem um brilho oitenta vezes superior ao do Sol.


Deslumbrado, apercebe-se de que não existe vácuo, de que a vida é
patrimônio de gota d’água, tanto quanto é a essência dos incomensuráveis
sistemas siderais, e, assombrado ante o esplendor do Universo, o homem que
empreende a laboriosa tarefa do descobrimento de si mesmo volta-se para o
chão a que se imanta e pede ao amor que responda à soberania cósmica,
dentro da mesma nota de grandeza, todavia, o amor no ambiente em que ele
vive é ainda qual milagrosa em tenro desabrochar.

Confinado ao reduzido agrupamento consanguínea a que se ajusta ou


compondo a equipe de interesses passageiros a que provisoriamente se
enquadra, sofre a inquietação do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor. Não
sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar e, criando o choque
da exigência pra os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados
da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e
auxiliar-se.
Viu a Majestade Divina nos Céus e identifica em si mesmo a pobreza
infinita da Terra.

Tem o cérebro inflamado de glória e o coração invadido de sombra.

Orgulha-se, ante os espetáculos magnificentes do Alto e padece a miséria


de baixo.
Deseja comunicar aos outros quanto apreendeu e sentiu na contemplação
da vida ilimitada, mas não encontra ouvidos que o entendam.

Repara que o Amor, na Terra, é ainda a alegria dos oásis fechados.


E, partindo os elos que o prendem à estreita família do mundo, o homem
que desperta, para a grandeza da Criação, perambula na Terra, à maneira do
viajante incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a
sentir-se grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais.

Nesse homem, porém, alarga-se a acústica da alma e, embora os


sofrimentos que o afligem, é sobre ele que as Inteligências Superiores estão
edificando os fundamentos espirituais de Nossa Humanidade.
2
NO PLANO CARNAL

Isolado na concha milagrosa do corpo, o espírito está reduzido em suas


percepções a limites que se fazem necessários.

A esfera sensorial funciona, para ele, à maneira de câmara abafadora.

Visão, audição, tato, padecem enormes restrições.


O cérebro físico é um gabinete escuro, proporcionando-lhe ensejo de
recapitular e reaprender.

Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos


séculos aí jazem na forma estática de intuições e tendências.

Forças inexploradas e infinitos recursos nele dormem, aguardando a


alavanca da vontade para se externarem no rumo da superconsciência.
No templo miraculoso da carne, em que as células são tijolos vivos na
construção da forma, nossa alma permanece provisoriamente encerrada, em
temporário olvido, mas não absoluto, porque, se transporta consigo mais
vasto patrimônio de experiência, é torturado por indefiníveis anseios de
retorno à espiritualidade superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco,
em singulares e reiterados desajustes.

Dentro da grade dos sentidos fisiológicos, porém, o espírito recebe


gloriosas oportunidades de trabalho no labor de autossuperação.
Sob as constrições naturais do plano físico, é obrigado a lapidar-se por
dentro, a consolidar qualidades que o santificam e, sobretudo, a estender-se e
a dilatar-se em influência, pavimentando o caminho da própria elevação.
Aprisionado no castelo corpóreo, os sentidos são exíguas frestas de luz,
possibilitando-lhe observações convenientemente dosadas, a fim de que
valorize, no máximo, os seus recursos no espaço e no tempo.

Na existência carnal, encontra multiplicados meios de exercício e luta


para a aquisição e fixação dos dons de que necessita para respirar em mais
altos climas.
Pela necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a luz.

Pela necessidade, a abelha se transporta a enormes distâncias, à procura


de flores que lhe garantam o fabrico do mel.
Assim também, pela necessidade de sublimação, o espírito atravessa
extensos túneis de sombra, na Terra, de modo a estender os poderes que lhe
são peculiares.

Sofrendo limitações, improvisa novos meios para a subida aos cimos da


luz, marcando a própria senda com sinais de uma compreensão mais nobre do
quadro em que sonha e se agita.

Torturado pela sede de Infinito, cresce com a dor que o repreende e com o
trabalho que o santifica.
As faculdades sensoriais são insignificantes résteas de claridade
descerrando-lhe leves notícias do prodigioso reino da luz.

E quando sabe utilizar as sombras do palácio corporal que o aprisiona


temporariamente, no desenvolvimento de suas faculdades divinas, meditando
e agindo no bem, pouco a pouco tece as asas de amor e sabedoria com que,
mais tarde, desferirá venturosamente os voos sublimes e supremos, na
direção da Eternidade.
3
O SANTUÁRIO SUBLIME

Noutro tempo, as nações admiravam como maravilhas o Colosso de


Rodes, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Túmulo de Mausolo, e, hoje, não
há quem fuja ao assombro, diante das obras surpreendentes da engenharia
moderna, quais sejam a Catedral de Milão, a Torre Eiffel ou os arranha-céus
de Nova Iorque.
Raros estudiosos, no entanto, se recordam dos prodígios do corpo
humano, realização paciente da Sabedoria Divina, nos milênios, templo da
alma, em temporário aprendizado na Terra.

Por mais se nos agigante a inteligência, até agora não conseguimos


explicar, em toda a sua harmoniosa complexidade, o milagre do cérebro, com
o coeficiente de bilhões de células; o aparelho elétrico do sistema nervoso,
com os gânglios à maneira de interruptores e células sensíveis por receptores
em circuito especializado, com os neurônios sensitivos, motores e
intermediários, que ajudam a graduar as impressões necessárias ao progresso
da mente encarnada, dando passagem à corrente nervosa, com a velocidade
aproximada de setenta metros por segundo; a câmara ocular, onde as imagens
viajam, da retina para os recônditos do cérebro, em cuja intimidade se
incorporam às telas da memória, como patrimônio inalienável do espírito; o
parque da audição, com os seus complicados recursos para o registro dos sons
e para fixação deles nos recessos da alma, que seleciona ruídos e palavras,
definindo-os e catalogando-os na situação e no conceito que lhes são
próprios; o centro da fala; a sede miraculosa do gosto, nas papilas da língua,
com um potencial de corpúsculos gustativos que ultrapassa o número de
2.000; as admiráveis revelações do esqueleto ósseo; as fibras musculares; o
aparelho digestivo; o tubo intestinal; o motor do coração; a fábrica de sucos
do fígado; o vaso de fermentos do pâncreas; o caprichoso sistema sanguíneo,
com os seus milhões de vidas microscópicas e com as suas artérias vigorosas,
que suportam a pressão de várias atmosferas; o avançado laboratório dos
pulmões; o precioso serviço de seleção dos rins; a epiderme com os seus
segredos dificilmente abordáveis; os órgãos veneráveis da atividade genésica
e os fulcros elétricos e magnéticos das glândulas no sistema endocrínico.

No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma


das supermaravilhas da Obra Divina.
Da cabeça aos pés, sentimos a glória do Supremo Idealizador que, pouco
a pouco, no curso incessante dos milênios, organizou para o espírito em
crescimento o domicílio de carne em que alma se manifesta. Maravilhosa
cidade estruturada com vidas microscópicas quase imensuráveis, por meio
dela a mente se desenvolve e purifica, ensaiando-se nas lutas naturais e nos
serviços regulares do mundo, para altos encargos nos círculos superiores.

A bênção de um corpo, ainda que mutilado ou disforme, na Terra, é como


preciosa oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os
dons que o nosso Planeta pode oferecer.
Até agora, de modo geral, o homem não tem sabido colaborar na
preservação e na sublimação do castelo físico. Enquanto jovem, estraga-lhe
as possibilidades, de fora para dentro, desperdiçando-as impensadamente, e,
tão logo se vê prejudicado por si mesmo ou prematuramente envelhecido,
confia-se à rebelião, destruindo-o de dentro para fora, a golpes mentais de
revolta injustificável e desespero inútil.

Dia surge, porém, no qual o homem reconhece a grandeza do templo vivo


em que se demora no mundo e suplica o retorno a ele, como trabalhador
faminto de renovação, que necessita de adequado instrumento à conquista do
abençoado salário do progresso moral para a suspirada ascensão às Esferas
Divinas.
4
NA SENDA EVOLUTIVA

Quantos milênios gastou a Natureza Divina para realizar a formação da


máquina física em que a mente humana se exprime na Terra?

O corpo é para o homem santuário real de manifestação, obra-prima do


trabalho seletivo de todos os reinos em que a vida planetária se subdivide.

Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste na


estruturação do organismo da alma?
Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao instinto, do instinto à
inteligência e da inteligência ao discernimento, século e séculos correram
incessantes.

A evolução é fruto do tempo infinito.

A morte da forma somática não modifica, de imediato, o Espírito que lhe


usufrui a colaboração.

Berço é túmulo são simples marcos de uma condição para outra.

Assim é que, para as consciências primárias, a desencarnação é como se


fora a entrada em certo período de hibernação. Aves sem asas, não se elevam
à altura. Aguardam o momento de novo regresso ao ninho carnal para a
obtenção de recursos que as habilitem para os grandes voos. Crisálidas
espirituais, imobilizam-se na feição exterior com que se apresentam, mas no
íntimo conservam as imagens de todas as experiências que armazenaram nos
recessos do ser, revivendo-as em forma de pesadelos e sonhos, imprimindo
na mente as necessidades de educação ou reparação, com que devem
comparecer no cenário da carne, em momento oportuno.
Para semelhantes inteligências, a morte é como que a parada compulsória,
por algum tempo, diante de mais altos degraus da escada evolutiva que ainda
não se acham aptas a transpor. Sem os instrumentos de exteriorização, que
lhes cabe desenvolver e consolidar, essas mentes, quando desencarnadas,
sofrem consideráveis alterações da memória. Quase sempre, demoram-se nos
acontecimentos que viveram e, de alguma sorte, perdem, temporariamente, a
noção do tempo. Cristalizam-se, dessa maneira, em paixões e realizações do
passado que lhes é próprio, para renascerem, na arena da luta material, com
as características do quadro moral em que se coloram, desintegrando erros e
corrigindo falhas, edificando, pouco a pouco, as qualidades sublimes com que
se transportarão às Esferas Mais Altas.

Em razão disso, os Espíritos delinquentes ressurgem nas correntes da vida


física, reproduzindo no patrimônio congenial as deficiências que adquiriram à
face da Lei.
O malfeitor conservará consigo longo remorso por haver desequilibrado o
curso do bem, impondo lamentável retardamento ao avanço espiritual que lhe
diz respeito e, com essa perturbação, represará na própria alma grande
número de imagens que, na zona mental dele mesmo, se digladiarão
mutuamente, inibindo, por tempo indeterminável, o acesso de elementos
renovadores ao campo do próprio “eu”.

Purificado o vaso íntimo do sentimento, renascerá na paisagem das


formas, com o defeito adquirido através do longo convívio com o desespero,
com o arrependimento ou com a desilusão, reajustando o corpo perispirítico,
por intermédio de laborioso esforço regenerativo na esfera carnal.
Os aleijões de nascença e as moléstias indefiníveis constituem transitórios
resultados dos prejuízos que, individualmente, causamos à corrente
harmoniosa da evolução.

De átomo a átomo, organizam-se os corpos astronômicos dos mundos e


de pequenina experiência em pequenina experiência, infinitamente repetidas,
alargasse-nos o poder da mente e sublimam-se-nos as manifestações da alma
que, no escoar das eras imensuráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se
na virtude, estruturando, pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o
veículo glorioso com que escalaremos, um dia, os impérios deslumbrantes da
Beleza Imortal.
5
NOS CÍRCULOS DA MATÉRIA

Superando as vulgaridades que lhe assinalam a romagem na carne, o


Espírito reconhece a sua posição de internado nos círculos da matéria que, a
seu turno, é simplesmente o conjunto das vidas inferiores, suscetível de ser
examinado pela nossa capacidade de apreciação.

Em seus múltiplos estados, a matéria é força coagulada, dentro de


extensas faixas dinâmicas, guardando a entidade mental de tipos diversos, em
seu longo roteiro evolutivo.
Corpos sólidos, líquidos, gasosos, fluidos densos e radiantes, energias
sutis, raios de variadas espécies e poderes ocultos tecem a rede em que a
nossa consciência se desenvolve, na expansão para a imortalidade gloriosa.

O homem é gênio divino em aperfeiçoamento ou um anjo nascituro, no


grande império das existências microscopias, em cujo âmbito é escravo
natural das ordenações superiores e legítimo senhor das potências menores.

Em torno dele tudo é movimento, transformação e renovação. No seio


multifário da natureza em que se agita, tudo se modifica no embate
turbilhonário das energias que lhe favorecem a experiência e a ascensão.
Embora a ordem dominante nos elementos infra infinitesimais, tudo aí se
desfaz e se refaz incessantemente, oferecendo ao Espírito fases importantes
de materialização e desmaterialização, dentro de leis sistemáticas que
funcionam em igualdade de condições para todos.

Mas, além dos elementos químicos analisados, entre o hidrogênio e o


urânio, que se agrupam no Planeta, através de infinitas combinações, jazem
as linhas de força do mundo subatômico, geradas pelos potenciais elétricos e
magnéticos que presidem a todos os fenômenos da vida e, por trás dessas
linhas positivas, neutras ou negativas, que constituem a matéria, verdadeira
aglomeração de sistemas solares microscópicos e de nebulosas infinitesimais,
permanece o pensamento que tudo cria, renova e destrói para refazer.

A energia mental é o fermento vivo que improvisa, altera, constringe,


alarga, assimila, desassimila, integra, pulveriza ou recompõe a matéria em
todas as dimensões.
Por isso mesmo, somos o que decidimos, possuímos o que desejamos,
estamos onde preferimos e encontramos a vitória, a derrota ou a estagnação,
conforme imaginamos.

A história da Criação, no livro de Moisés, idealizando o Senhor diante do


abismo, simboliza a força da mente e perante o cosmo.
“Faça-se a Luz - determinou a Divina Vontade - e a luz se fez sobre as
trevas”.

Por nossa vez, cada dia, proclamamos com as nossas ideias, atitudes,
palavras e atos: - “Faça-se o destino!” E a vida nos traz aquilo que dela
reclamamos.

Os acontecimentos obedecem às nossas intenções e provocações


manifestas ou ocultas.

Encontraremos o que merecemos, porque merecemos o que buscamos.

A existência, pois, para nós, em qualquer parte, será invariavelmente


segundo pensamos.
6
O PERISPÍRITO

Como será o tecido sutil da espiritual roupagem que o homem envergará,


sem o corpo de carne, além da morte?

Tão arrojada é a tentativa de transmitir informes sobre a questão aos


companheiros encarnados, quão difícil se faria esclarecer à lagarta com
respeito ao que será ela depois de vencer a inércia da crisálida.

Colado ao chão ou à folhagem, arrastando-se, pesadamente, o inseto não


desconfia que transporta consigo os germes das próprias asas.
O perispírito é, ainda, corpo organização que, representando o molde
fundamental da existência para o homem, subsiste, além do sepulcro, de
conformidade com o seu peso específico.

Formado por substâncias químicas que transcendem a série


estequiogenética conhecida até agora pela ciência terrena, é aparelhagem de
matéria rarefeita, alterando-se, de acordo com o padrão vibratório do campo
interno.

Organismo delicado, extremo poder plástico, modifica-se sob o comando


do pensamento. É necessário, porém, acentuar que o poder apenas existe
onde prevaleçam a agilidade e a habilitação que só a experiência consegue
conferir.
Nas mentes primitivas, ignorantes e ociosas, semelhante vestidura se
caracteriza pela feição pastosa, verdadeira continuação do corpo físico, ainda
animalizado ou enfermiço.

O progresso mental é o grande doador de renovação ao equipamento do


espírito em qualquer plano de evolução.
Note-se, contudo, que não nos reportamos aqui ao aperfeiçoamento
interior.

O crescimento intelectual, com intensa capacidade de ação, pode


pertencer a inteligências perversas.
Daí a razão de encontrarmos, em grande número, compactas falanges de
entidades libertas dos laços fisiológicos, operando nos círculos da
perturbação e da crueldade, com admiráveis recursos de modificação nos
aspectos em que se exprimem.

Não adquiriram, ainda, a verticalidade do Amor que se eleva aos


santuários divinos, na conquista da própria sublimação, mas já se iniciaram
na horizontalidade da Ciência com que influenciam aqueles que, de algum
modo, ainda lhes partilham a posição espiritual.
Os “anjos caídos” não passam de grandes gênios intelectualizados com
estreita capacidade de sentir.

Apaixonados, guardam a faculdade de alterar a expressão que lhes é


própria, fascinando e vampirizando nos reinos inferiores da natureza.

Entretanto, nada foge à transformação e tudo se ajusta, dentro do


Universo, para o geral aproveitamento da vida.
A ignorância dormente é acordada e aguilhoada pela ignorância desperta.

A bondade incipiente é estimulada pela bondade maior.


O perispírito, quanto à forma somática, obedece a leis de gravidade, no
plano a que se afina.

Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele se expressam


fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos no demoraremos nas
esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando a
nossa indumentária e embelezando-a, a fim de preparar, segundo o
ensinamento de Jesus, a nossa veste nupcial para o banquete do serviço
divino.
7
NO APRIMORAMENTO

No aperfeiçoamento do corpo espiritual, além do primitivismo de certas


almas que jazem, longo tempo, entorpecidas após a morte física, observemos,
ainda, o quadro das mentes evolvidas intelectualmente, mas submersas nas
densas vibrações decorrentes de compromissos escuros.
Não permanecem no regime da inércia, em sono larval; entretanto,
agitam-se nos desvarios da loucura.

Criam imagens que vivem e se movimentam na intimidade delas próprias,


por tempo indeterminado, cuja duração varia com a força do impulso de suas
paixões.
Carregam consigo os dramas intensos de que se fizeram autoras.

Encarnada na Terra, a inteligência vive entre as provocações da esfera


carnal e as sugestões silenciosas da mente. Quanto mais intelectualizada a
criatura, mais profundamente respira no plano das ideias, influenciando e
sendo influenciada.

Geralmente, porém, o homem desequilibra os próprios sentimentos,


inclinando-se, em maior ou menor percentagem, para o afastamento das leis
com as quais se deve nortear. Atravessa os caminhos humanos, ganhando
pouco e quase sempre perdendo muito, dentro de si mesmo, obscurecendo-se
nas pesadas sombras dos pensamentos inquietantes que produz para o
consumo de suas necessidades mentais.
Assim é que a desencarnação não lhes modifica o campo íntimo.

Encasulada no círculo vibratório das criações que lhe dizem respeito, a


alma sofre naturais inibições, ante a paisagem da vida gloriosa. Não possui
ainda órgão de percepção para sintonizar-se com os espetáculos
deslumbrantes da imensidade, encarcerada, qual se encontra, entre as paredes
estranhas das concepções obscuras e estreitas em que se agita.

Como a lâmpada vive no seio das próprias irradiações, imitindo luz que é
também matéria sutil, a alma permanece no seio das criações que lhe são
peculiares, prendendo-se à paisagem em que prevaleçam as forças e desejos
que lhe são afins, porque o pensamento é também substância rarefeita,
matéria dentro de expressões inabordáveis até agora pelas investigações
terrestres.

Podendo alimentar-se, por tempo indefinível, das emanações dos próprios


desejos, entidades existem que estacionam, durante muitos anos, dentro dos
quadros emocionais em que se comprazem, atrasando a marcha evolutiva, até
que reencarnam na recapitulação das experiências em que faliram, retomando
o serviço de purificação interior para a sublimação de si mesmas.

Desse modo, somos defrontados por dolorosos fenômenos congeniais.


Suicidas recomeçam a luta física, no círculo de moléstias ingratas, e
criminosos reaparecem no berço, com deploráveis mutilações e defeitos;
alcoólatras regressam à existência, em companhia de pais que se sintonizam
com eles e grandes delinquentes reencetam a viagem do aprimoramento
moral, na esfera de provas temíveis, quais sejam as de enfermidades
indefiníveis e de aflições dificilmente remediáveis.

No extenso e abençoado viveiro de almas que é o mundo, pouco a pouco,


de século a século e de milênio a milênio, usando variados corpos e diversas
posições no campo das formas, nosso espírito constrói lentamente, para o
próprio uso, o veículo acrisolado e divino, com que o Senhor nos reserva em
plena imortalidade vitoriosa.
8
A TERRA

A Terra é um magneto enorme, gigantesco aparelho cósmico em que


fazemos, a pleno céu, nossa viagem evolutiva.

Comboio imenso, a deslocar-se sobre si mesmo e girando em torno do


Sol, podemos comparar as classes sociais que o habitam a grandes vagões de
categorias diversas.

De quando em quando, permutamos lugar com os nossos vizinhos e


companheiros.
Quem viaja em instalações de luxo volta a conhecer os bancos humildes
em carros de condição inferior.

Quem segue nas acomodações singelas, ergue-se, depois, a situações


invejáveis, alterando as experiências que lhe dizem respeito.

Temos aí o símbolo das reencarnações.

De corpo em corpo, como quem se utiliza de variadas vestiduras,


peregrina o Espírito de existência em existência, buscando aquisições novas
para o tesouro de amor e sabedoria que lhe constituirá divina garantia no
campo da eternidade.

Podemos, ainda, filosoficamente, classificar o Planeta, com mais


propriedade, tomando-o por nossa escola multimilenária.
Há muitos aprendizes que lhe ocupam as instalações, na expectativa
inoperante, mas o tempo lhes cobra caro a ociosidade, separando-os, por fim,
de paisagens e criaturas amadas ou relegando-os à paralisia ou à cristalização,
em largos despenhadeiros de sombra.
Outros alunos indagam, dia e noite... e, com as perquirições viciosas,
perdem os valores do tempo.

Imaginemos um educandário, em cuja intimidade comparecessem os


discípulos de primária iniciação, exigindo retribuições e homenagens, antes
de se confiarem ao estudo das primeiras lições.
O menino bisonho não poderia reclamar esclarecimentos, quanto à
congregação que dirige a casa de ensino onde está recebendo as primeiras
letras.

E, ante a grandeza infinita da vida que nos cerca, não passamos de


crianças no conhecimento superior.
Vacilamos, tateamos e experimentamos, a fim de aprender e amealhar os
recursos do Espírito.

Compete-nos, assim, tão-somente, um direito: - o direito de trabalhar e


servir, obedecendo às disciplinas edificantes que a Sabedoria Perfeita nos
oferece, através das variadas circunstâncias em que a nossa vida se
movimenta.

Ninguém se engane, julgando mistificar a Natureza.


O trabalho é divina lei.

Pesquisar indefinidamente, na maioria das vezes é disfarçar a preguiça


intelectual.
A vida, porém, é ciosa dos seus segredos e somente responde com
segurança aos que lhe batem à porta com o esforço incessante do trabalho que
deseja para si a coroa resplandecente do apostolado no serviço.
9
O GRANDE EDUCANDÁRIO

De portas abertas à glória do ensino, a Terra, nas linhas das atividades


carnal, é, realmente, uma universidade sublime, funcionando, em vários
cursos e disciplinas, com dois bilhões de alunos, aproximadamente,
matriculados nas várias raças e nações.
Mais de vinte bilhões de almas conscientes, desencarnadas, sem nos
reportarmos aos bilhões de inteligências sub-humanas que são aproveitadas
nos múltiplos serviços do progresso planetário, cercam o domicílio terrestre,
demorando-se noutras faixas de evolução.

Para a maioria dessas criaturas, necessitadas de experiência nova e mais


ampla, a reencarnação não é somente um impositivo natural, mas também um
prêmio pelo ensejo de aprendizagem.
Assim é que, sob a iluminada supervisão das Inteligências Divinas, cada
povo, no passado ou no presente, constitui uma seção preparatória da
Humanidade, à frente do porvir.

Ontem, aprendíamos a ciência no Egito, a espiritualidade na Índia, o


comércio na Fenícia, a revelação em Jerusalém, o direito em Roma e filosofia
na Grécia. Hoje, adquirimos a educação na Inglaterra, a arte na Itália, a
paciência na China, a técnica industrial na Alemanha, o respeito à liberdade
na Suíça e a renovação espiritual nas Américas.

Cada nação possui tarefa especifica no aprimoramento do mundo. E ainda


mesmo quando os blocos raciais, em desvairo, se desmandam na guerra,
movimentam-se à procura de valores novos no próprio engrandecimento.
Nós círculos do Planeta, vemos as mais primitivas comunidades
dirigindo-se para as grandes aquisições culturais.

Se é verdade que a civilização refinada de hoje voa, pelo mundo,


contornando-o em algumas horas, caracterizando-se pelos mais altos
primores da inteligência, possuímos milhões de irmãos pela forma,
infinitamente distantes do mundo moral. Quase nada diferindo dos
irracionais, não conseguiram ainda fixar a mínima noção de responsabilidade.
Os anões docos da Abissínia, sem qualquer vestuário e pronunciando
gritos estranhos à guisa de linguagem, mais se assemelham aos macacos.

Os nossos irmãos negros de Kytches passam os dias estirados no chão, à


espera de ratos com que possam mitigar a própria fome.
Entre grande parte dos africanos orientais, não existe ligação moral entre
pais e filhos.

Os Latucas, no interior da África, não conhecem qualquer sentimento de


compaixão ou dever.

Remanescentes dos primitivos habitantes das Filipinas erram nas


montanhas, à maneira de animais indomesticáveis.
E, não longe de nós, os botocudos, entregues à caça e à pesca, são
exemplares terríveis de bruteza e ferocidade.

No imenso educandário, há tarefas múltiplas e urgentes para todos os que


aprendem que a vida é movimento, progresso, ascensão.
Na fé religiosa como na administração dos patrimônios públicos, na arte
tanto quanto na indústria, nas obras de instrução como nas ciências agrícolas,
a individualidade encontra vastíssimo campo de ação, com dilatados recursos
de evidenciar-se.

O trabalho é a escada divina de acesso aos lauréis imarcescíveis do


espírito.

Ninguém precisa pedir transferência para Júpiter ou Saturno, a fim de


colaborar na criação de novos céus. A Terra, nossa casa e nossa oficina, em
plena paisagem cósmica, espera por nós, a fim de que a convertamos em
glorioso paraíso.
10
RELIGIÃO

A ciência multiplica as possibilidades dos sentidos e a filosofia aumenta


os recursos do raciocínio, mas a religião é a força que alarga os potenciais do
sentimento.
Por isso mesmo, no coração mora o centro da vida. Dele partem as
correntes imperceptíveis do desejo que se substanciam em pensamento no
dínamo cerebral, para depois se materializarem nas palavras, nas resoluções,
nos atos e nas obras de cada dia.

Na luta vulgar, há quem menospreze a atividade religiosa, supondo-a


mero artifício do sacerdócio ou da política, entretanto, é na predicação da fé
santificante que encontraremos as regras de conduta e perfeição de que
necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na direção das
conquistas divinas.
A humanidade, sintetizando o fruto das civilizações, é construção
religiosa.

Dos nossos antepassados invertebrados e vertebrados caminhamos nos


milênios, de reencarnação em reencarnação, adquirindo inteligência, por
intermédio da experimentação incessante, mas não é somente a razão o fruto
de nosso aprendizado, no decurso dos séculos, mas também o discernimento
ou a luz espiritual, com que pouco a pouco aperfeiçoamos a mente.

A religião é a força que está edificando a Humanidade. É a fábrica


invisível do caráter e do sentimento.
Milhões de criaturas encarnadas guardam, ainda, avançados patrimônios
de animalidade. Valem-se da forma humana, como quem aproveita de uma
casa nobre para a incorporação de valores educativos. Possuem coração para
registrar o bem, contudo, abrigam impulsos de crueldade. O instinto da
pantera, a peçonha da serpente, a voracidade do lobo, ainda imperam no
psiquismo de inumeráveis inteligências.

Só a religião consegue apagar as mais recônditas arestas do ser.


Determinando nos centros profundos de elaboração do pensamento, altera,
gradativamente, as características da alma, elevando-lhe o padrão vibratório,
através da melhoria crescente de suas relações com o mundo e com os
semelhantes.

Nascida no berço rústico do temor, a fé iniciou o seu apostolado,


ensinando às tribos primárias que o Divino Poder guarda as rédeas da
suprema justiça, infundindo respeito à vida e aprimorando o intercâmbio das
almas. Dela procedem os mananciais da fraternidade realmente sentida, e,
embora as formas inferiores da religião, na antiguidade, muita vez
incentivando a perseguição e a morte, em sacrifícios e flagelações
deploráveis, e apesar das lutas de separação e incompreensão que dividem os
templos nos dias da atualidade, arregimentando-os para o dissídio em
variadas fronteiras dogmáticas, ainda é a religião a escola soberana de
formação moral do povo, dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem
da sublimação.

A ciência construirá para o homem o clima do conforto e enriquecê-lo-á


com os brasões da cultura superior; a filosofia auxiliá-lo-á com valiosas
interpretações dos fenômenos em que a Eterna Sabedoria se manifesta, mas
somente a fé, com os seus estatutos de perfeição íntima, consegue preparar
nosso espírito imperecível para a ascensão universal.
11
A FÉ RELIGIOSA

Em todos os tempos, o homem sonha com a pátria celestial.

As ideias do céu e inferno jazem no pensamento de todos os povos.

Os indígenas da América admitem o paraíso de caça abundante e danças


permanentes, com reservas inesgotáveis de fumo.
Os esquimós localizavam o éden nas cavernas adornadas.

As tribos maori, que cultivam a guerra, por estado natural de felicidade,


esperam que o céu lhes seja uma rinha eterna, em que se digladiem,
indefinidamente.

Entre os hindus, as noções de responsabilidade e justiça estão fortemente


associados à ideia da sobrevivência. De conformidade com a crença por eles
esposadas, nas eras mais remotas, os desencarnados eram submetidos às
apreciações do Juiz dos Mortos. Os bons seriam destinados ao paraíso, a fim
de se deliciarem, ante os coros celestes, e os maus desceriam para os
despenhadeiros do império de Varuna, o deus das águas, onde se instalariam
em câmaras infernais, algemados uns aos outros, por laços vivos de
serpentes. Situados, porém, na sementeira da verdade, sempre admitiram que
do palácio celeste ou do abismo tormentoso, as almas regressariam à esfera
carnal, de modo a se adiantarem na ciência da perfeição.
Os assírios-caldeus supunham que os mortos viviam sonolentos em
regiões subterrâneas, sob amplo domínio das sombras.

Na Grécia, a partir dos mistérios de Orfeu, as concepções de justiça


póstuma alcançam grau mais alto. No Hades terrificante de Homero, os
Espíritos são julgados por Minos, filho de Zeus.
Os gauleses aceitavam a doutrina da transmigração das almas e eram
depositários de avançadas revelações da Espiritualidade Superior.
Os hebreus localizavam os desencarnados no "scheol", que Job classifica
como sendo "terra de miséria e trevas, onde habitam o pavor e a morte".

Com Virgílio, encontramos princípios mais seguros no que se refere às


leis de retribuição. Na entrada do Orco, há divindades infernais para os
trabalhos punitivos, quais a Guerra, o Luto, as Doenças, a Velhice, o Medo, a
Fome, os Monstros, os Centauros e as Harpias, as Fúrias e a Hidra de Lerna,
simbolizando os terríveis suplícios mentais das almas que se fazem presas da
ilusão, durante a vida física. Entre esses deuses do abismo, ergue-se o velho
ulmeiro, em cujos galhos se dependuram os sonhos, aí principiando a senda
que desemboca no Aqueronte, enlameado e lodoso, com largos redemoinhos
de água fervente.
Os egípcios atravessavam a existência, consagrando-se aos estudos da
morte, inspirados pelo ideal da justiça e da felicidade, além-túmulo.

Mais recentemente, Maomet estabelece novas linhas à vida espiritual,


situando o Céu em sete andares e o inferno em sete subdivisões. Os eleitos
respiram em deliciosos jardins, com regatos de água cristalina, leite e mel, e
os condenados vivem no território do suplício, onde corre ventania cruel,
alimentando estranho fogo que tudo consome, e Dante, o vidente florentino,
apresenta quadros expressivos do Inferno, do Purgatório e do Céu.

As realidades da sobrevivência acompanham a alma humana que a vida


não se encontra circunscrita às estreitas atividades da Terra.
O corpo é uma casa temporária a que se recolhe nossa alma em
aprendizado. Por isso mesmo, quando atingido pelas farpas da desilusão e do
cansaço, o espírito humano recorda instintivamente algo intangível que se lhe
afigura ao pensamento angustiado como sendo o paraíso perdido.

Desajustado na Terra, pede ao Além a mensagem de reconforto e


harmonia. Semelhante momento, porém, é profundamente expressivo no
destino de cada alma, porque, se o coração que pede é portador da boa
vontade, a resposta da vida superior não se faz esperar e um novo caminho se
desdobra à frente da alma opressa e fatigada que se volta para o Além, cheia
de amor, sofrimento e esperança.
12
O SERVIÇO RELIGIOSO

Desde quando começou na Terra o serviço de adoração a Deus? Perde-se


o alicerce da fé na sombra de evos insondáveis.

Dir-se-ia que o primeiro impulso da planta e do verme, à procura da luz,


não é senão anseio religioso da vida, em busca do Criador que lhes instila o
ser.

Considerando, porém, as escolas religiosas dos povos mais antigos,


vemos no sistema egípcio a ideia central da imortalidade, com avançadas
concepções da Grandeza Divina, mas enclausurada nos templos do
sacerdócio ou no palácio dos faraós, sem ligação com o espírito popular,
muita vez relegado à superstição e ao abandono.
Na Índia, identificando o culto da sabedoria. Instrutores eminentes aí
ensinam que a bondade deve ser a raiz de nossas relações com os
semelhantes, que as nossas virtudes e vícios são as forças que nos seguirão,
além do túmulo, propagando-se abençoadas lições de aperfeiçoamento moral
e compreensão humana; entretanto, o espírito das castas aí sufocou os
santuários, impedindo a desejável extensão dos benefícios espirituais aos
círculos do povo.

Na Pérsia, temos no zoroastrismo a consagração do nosso dever para com


o Bem; todavia, as comunidades felicitadas por seus respeitáveis
ensinamentos se confiam a guerras de conquista e destruição.

Entre os Judeus, sentimos o sopro da revelação do Deus Único,


estabelecendo o reino da justiça na Terra, mas, apesar da glória sublime que
coroa a fronte de Moisés e dos profetas que o sucederam, o orgulho racial é
uma chaga viva no coração do Povo Escolhido.
Na China, possuímos a exaltação da simplicidade, através de lições que
fulguram em todas as suas linhas sociais, destacando o equilíbrio e a
solidariedade, contudo, o grande povo chinês não consegue superar as
perturbações do separativismo e do cativeiro.

Na Grécia, encontramos o culto da Beleza. Os mistérios de Orfeu traçam


formosos ideais e constroem maravilhosos santuários. O aprimoramento da
arte e da cultura, porém, não consegue criar no espírito helênico a noção do
Amor Universal. Generais e filósofo usam a inteligência para a dominação e,
de modo algum, se furtam às tentações do campo bélico, acendendo a
abominável fogueira da discórdia e do arrasamento.
Em Roma, surpreendemos o Direito ensinando que o patrimônio e a
liberdade do próximo devem ser respeitados, no entanto, em nenhuma
civilização do mundo observamos juntos tantos gênios da flagelação e da
morte.

Hermes é a Sabedoria.
Buda é a Renunciação.

Zoroastro é o Dever.

Moisés é a Justiça.
Confúcio é a Harmonia.

Orfeu é a Beleza.
Numa Pompílio é o Poder.

Em todos os grandes períodos da evolução religiosa, antes do Cristo,


vemos, porém, as demonstrações incompletas da espiritualidade. Não há
padrões absolutos de perfeição moral, indicando aos homens o caminho
regenerador e santificante. Aparecem linhas divisórias entre raças e castas,
com vários tipos de louvor e humilhação para ricos e pobres, senhores e
escravos, vencedores e vencidos.

Com Jesus, no entanto, surge no mundo o vitorioso coroamento da fé. No


Cristianismo, recebemos as gloriosas sementes de fraternidade que
dominarão os séculos. O Divino Fundador da Boa Nova entra em contato
com a multidão e o santuário do Amor Universal se abre, iluminado e
sublime, para a santificação da Humanidade inteira.
13
A MENSAGEM CRISTÃ

Não se reveste o ensinamento de Jesus de quaisquer fórmulas


complicadas.

Guardando embora o devido respeito a todas as escolas de revelação da fé


com os seus colégios iniciáticos, notamos que o Senhor desce da Altura, a
fim de libertar o templo do coração humano para a sublimidade do amor e da
luz, através da fraternidade, do amor e do conhecimento.

Para isso, o Mestre não exige que os homens se façam heróis ou santos de
um dia para outro. Não pede que os seguidores pratiquem milagres, nem lhes
reclama o impossível.
Dirige-se a palavra dEle à vida comum, aos campos mais simples do
sentimento, à luta vulgar e às experiências de cada dia.

Contrariamente a todos os mentores da Humanidade, que viviam, até


então, entre mistérios religiosos e dominações políticas, convive com a massa
popular, convidando as criaturas a levantarem o santuário do Senhor nos
próprios corações.

Ama a Deus, Nosso Pai - ensinava Ele -, com toda a tua alma, com todo o
teu coração e com todo o teu entendimento.
Ama o próximo como a ti mesmo.

Perdoa ao companheiro quantas vezes se fizerem necessárias.


Empresta sem aguardar retribuição.

Ora pelos que te perseguem e caluniam.


Ajuda aos adversários.

Não condenes para que não sejas condenado.

A quem te pedir a capa cede igualmente a túnica.

Se alguém te solicita a jornada de mil passos, segue com ele dois mil.
Não procures o primeiro lugar nas assembleias, para que a vaidade te não
tente o coração.

Quem se humilha será exaltado.

Ao que te bater numa face, oferece também a outra.


Bendize aquele que te amaldiçoa.

Liberta e serás libertado.


Dá e receberás.

Sê misericordioso.

Faze o bem ao que te odeia.


Qualquer que perder a sua vida, por amor ao apostolado da redenção,
ganhá-la-á mais perfeita, na glória da eternidade.

Resplandeça a tua luz.


Tem bom ânimo.

Deixa aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos.

Se pretendes encontrar-me na luz da ressurreição, nega a ti mesmo,


alegra-te sob o peso da cruz dos próprios deveres e segue-me os passos no
calvário de suor e sacrifício que precede os júbilos da aurora divina!
E, diante desses apelos, gradativamente, há vinte séculos, calam-se as
vozes que mandam revidar e ferir! ... E a palavra do Cristo, acima de editos e
espadas, decretos e encíclicas, sobe sempre e cresce cada vez mais, na
acústica do mundo, preparando os homens e a vida para a soberania do Amor
Universal.
14
EVANGELHO E ALEGRIA

Grande injustiça comete quem afirma encontrar no Evangelho a religião


da tristeza e da amargura.

Indubitavelmente, o sacerdócio muita vez impregnou o horizonte cristão


de nuvens sombrias, com certas etiquetas do culto exterior, mas o
Cristianismo, em sua essência, é a revelação da profunda alegria do Céu entre
as sombras da Terra.

A vinda do Mestre é precedida pela visitação dos anjos.


Maria, jubilosa, conversa com um mensageiro divino que a esclarece
sobre a chegada do Embaixador Celestial.

Nasce Jesus na manjedoura humilde, que se deslumbra ao clarão de


inesperada estrela.

Tratadores rústicos são chamados por um emissário espiritual,


repentinamente materializado à frente deles, declarando-se portador das
“notícias de grande alegria” para todo o povo. No mesmo instante, vozes
cristalinas entoam cânticos na Altura, glorificando o Criador e exaltando a
paz e a boa-vontade entre os homens.
Começam a reinar o contentamento e a esperança...

Mais tarde, o Mestre inicia o seu apostolado numa festa nupcial,


assinalando os júbilos da família.
Como que percebendo limitação e estreiteza em qualquer templo de pedra
para a sua palavra no mundo, o Senhor principia as suas pregações à beira do
lago, em pleno santuário da natureza. Flores e pássaros, luz e perfume
representam a moldura de sua doutrinação.

Multidões ouvem-lhe a voz balsamizante.

Doentes e aleijados tocam-se de infinitas consolações.

Pobres e aflitos entreveem novos horizontes no futuro.


Mulheres e crianças acompanham-no, alegremente.

O Sermão da Montanha é o hino das bem-aventuranças, suprimindo a


aflição e o desespero.

Por onde passa o Divino Amigo, estabelece-se o contentamento


contagiante.
Em pleno campo, multiplica-se o pão destinado aos famintos.

O tratamento dispensado pelo Mestre aos sofredores, considerados inúteis


ou desprezíveis, cria novos padrões de confiança no mundo.
Desdobra-se o apostolado da Boa Nova, no clima da alegria perfeita.

Cada criatura que registra as notas consoladoras do Evangelho começa a


contemplar o mundo e a vida, através de prisma diferente.

Surge-lhe a Terra por bendita escola de preparação espiritual, com serviço


santificante para todos.

Cada enfermo que se refaz para a saúde é veículo de bom ânimo para a
comunidade inteira.

Cada sofredor que se reconforta constitui edificação moral para a turba


imensa.
Madalena, que se engrandece no amor, é a beleza que renasce eterna, e
Lázaro, que se ergue do sepulcro, é a vida triunfante que ressurge imortal.

E, ainda, do suor sangrento das lágrimas da cruz, o Senhor faz que flua o
manancial da vida vitoriosa pra o mundo inteiro, com o sol da ressurreição a
irradiar-se para a Humanidade, sustentando-lhe o crescimento espiritual na
direção dos séculos sem-fim.
15
EVANGELHO E INDIVIDUALIDADE

Efetivamente, as massas acompanhavam o Cristo, de perto, no entanto,


não vemos no Mestre a personificação do agitador comum.

Em todos os climas políticos, as escolas religiosas, aproximando-se da


legalidade humana, de alguma sorte partilham da governança, estabelecendo
regras espirituais com que adquirem poder sobre a multidão.

Jesus, porém, não transforma o espírito coletivo em terreno explorável.


Proclamando as bem-aventuranças à turba no monte, não a induz para a
violência, a fim de assaltar o celeiro dos outros. Multiplica, Ele mesmo, o pão
que a reconforte e alimente.

Não convida o povo a reivindicações.

Aconselha respeito aos patrimônios da direção política, na sábia fórmula


com que recomendava seja dado “a César o que é de César”.

Muitos estudiosos do Cristianismo pretendem identificar no Mestre


Divino a personalidade do revolucionário, instigando os seus contemporâneos
à rebeldia e à discórdia; entretanto, em nenhuma passagem do seu ministério
encontramos qualquer testemunho de indisciplina ou desespero, diante da
ordem constituída.

Socorreu a turba sofredora e consolou-a; não se mostrou interessado em


libertar a comunidade das criaturas, cuja evolução, até hoje, ainda exige lutas
acerbas e provações incessantes, mas ajudou o Homem a libertar-se.
Ao apóstolo exclama - “vem e segue-me.”
Á pecadora exorta - “vai e não peques mais”.

Ao paralítico fala, bondoso - “ergue-te e anda”.

Á mulher siro-fenícia diz, convincente - “a tua fé te curou”.

Por toda parte, vemo-lo interessado em levantar o espírito, buscando


erigir o templo da responsabilidade em cada consciência e o altar dos serviços
aos semelhantes em cada coração.
Demonstrando as preocupações que o tomavam, perante a renovação do
mundo individual, não se contentou em sentar-se no trono diretivo, em que os
generais e os legisladores costumam ditar determinações... Desceu, Ele
próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os
enfermos, com as mulheres e as crianças.

Entreteve-se em dilatadas conversações com as criaturas transviadas e


reconhecidamente infelizes.

Usa a bondade fraternal para com Madalena, a obsidiada, quanto emprega


a gentileza no trato com Zaqueu, o rico.
Reconhecendo que a tirania e a dor deveriam permanecer, ainda, por
largo tempo, na Terra, na condição de males necessários à retificação das
inteligências, o Benfeitor Celeste foi, acima de tudo, o orientador da
transformação individual, o único movimento de liberação do espírito, com
bases no esforço próprio e na renúncia ao próprio “eu”.

Para isso, lutou, amou, serviu e sofreu até à cruz, confirmando, com o
próprio sacrifício, a sua Doutrina de revolução interior, quando disse: “e
aquele que deseja fazer-se o maior no Reino do Céu, seja no mundo o
servidor de todos”.
16
EVANGELHO E CARIDADE

Antes de Jesus, a caridade é desconhecida.

Os monumentos das civilizações antigas não se reportam à divina virtude.

Os destroços do palácio de Nabucodonosor, no solo em que ser erguia a


grandeza de Babilônica, falam simplesmente de fausto e poder que os séculos
consumiram.
Nas lembranças do Egito glorioso, as Pirâmides não se referem à
compaixão.

Os famosos hipogeus de Persépolis são atestados de orgulho racial.

As muralhas da China traduzem a preocupação de defesa.


Nos velhos santuários da Índia, o Todo-Poderoso é venerado por milhões
de fiéis, indiscutivelmente sinceros, mas deliberadamente afastados dos
semelhantes, nascidos na condição de párias desprezíveis.

A acrópole de Atenas, com as suas colunas respeitáveis, é louvor à


inteligência.
O coliseu de Vespasiano, em Roma, é monumento levantado ao triunfo
bélico, para as expansões da alegria popular.

Por milênios numerosos, o homem admitiu a hegemonia dos mais fortes e


consagrou-a através da arte e da cultura que era suscetível de criar e
desenvolver.

Com Jesus, porém, a paisagem social experimenta decisivas alterações.


O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio com a
multidão e materializa-o com o próprio esforço.

Cura os doentes na via pública, sem cerimoniais, e ajuda a milhares de


ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de
natureza moral, sem valer-se das etiquetas do culto externo.
Lega aos discípulos a parábola do bem samaritano, que exalta a missão
sublime da caridade para sempre.

A história é simples e expressiva.

Transmite Lucas a palavra do Celeste Orientador, explicando que “descia


um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que o
despojaram, espancando-o e deixando-o semimorto. Ocasionalmente, passava
pelo mesmo caminho um sacerdote e, vendo-o, passou de largo. E, de igual
modo, também um levita, abordando o mesmo lugar e observando-o, passou
a distância. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e,
reparando-o, moveu-se de íntima piedade. Abeirando-se do infortunado,
aliviou-lhe as feridas e, colocando-o sobre sua cavalgadura, cuidadosamente
asilou-o numa estalagem”.

Vemos, dentro da narrativa, que o Senhor situa no necessitado


simplesmente “um homem”.

Não lhe identifica a raça, a cor, a posição social ou os pontos de vista.

Nele, enxerga a Humanidade sofredora, carecente de auxílio das criaturas


que acendam a luz da caridade, acima de todos os preconceitos de classe ou
de religião.

Desde aí, novo movimento de solidariedade humana surge na Terra.


No curso do tempo, dispersam-se os apóstolos, ensinando, em variadas
regiões do mundo, que “mais vale dar que receber”.

E, inspirados na lição do Senhor, os vanguardeiros do bem substituem os


vales da imundície pelos hospitais confortáveis; combatem vícios
multimilenários, com orfanatos e creches; instalam escolas, onde a cultura
jazia confiada aos escravos; criam institutos de socorro e previdência, onde a
sociedade mantinha a mendicância para os mais fracos. E a caridade, como
gênio cristão na Terra, continua crescendo com os séculos, através da
bondade de um Francisco de Assis, da dedicação de um Vicente de Paulo, da
benemerência de um Rockfeller ou da fraternidade do companheiro anônimo
da via pública, salientando, valorosa e sublime, que o Espírito do Cristo
prossegue agindo conosco e por nós.
17
EVANGELHO E TRABALHO

A glorificação do trabalho é serviço evangélico.

Antecedendo a influência do Mestre, a Terra era vasto latifúndio povoado


de senhores e escravos.

O serviço era considerado desonra.


Dominadas pelo princípio da força, as nações guardavam imensa
semelhança com as tabas da comunidade primigênia.

O destaque social resultava da caça.

Erguiam-se os tronos, quase sempre, sobre escuros alicerces de


rapinagem.
Os favores da vida pertenciam aos mais argutos e aos mais poderosos.

Qualquer infelicidade econômica redundava em compulsório cativeiro.

Trabalho era sinônimo de aviltação.

Os espíritos mais nobres, na maioria das vezes, demoravam-se na


subalternidade absoluta, suando e gemendo para sustentar o carro purpúreo
dos opressores.

Em toda as cidades, pululavam escravos de todos os matizes e somente a


eles era conferido o dever de servir, como austera punição.
Roma imperial jazia repleta de cativos tomados ao Egito e à Grécia, á
Gália e ao Ponto. Só na revolução de Espártaco, no ano de 71, antes da era
cristã, foram condenados à morte trinta mil escravos na Via Ápia, cuja única
falta era aspirar ao trabalho digno em liberdade edificante.

Com Jesus, no entanto, nova época surge para o mundo.

O ministério do Senhor é, sobretudo, de ação e movimento.

Levanta-se o Mestre com o dia e devota-se ao bem dos semelhantes pela


noite a dentro.
Médico - não descansa no auxílio efetivo aos doentes.

Professor - não se fatiga, repetindo as lições.

Juiz - exemplifica a imparcialidade e a tolerância.


Benfeitor - espalha, sem cessar, as bênçãos do amor infinito.

Sábio - coloca a ciência do bem ao alcance de todos.


Advogado - defende os interesses dos fracos e dos humildes.

Trabalhador divino - serve a todos, sem reclamação e sem recompensa.

O exemplo do Cristo é sublime e contagiante.


Cada companheiro de apostolado ausenta-se, mais tarde, do comodismo
para ajudar e ensinar em seu nome, raspando horizontes mais vastos à
compreensão da vida, em regiões distantes do berço que os vira nascer.

Mais tarde, em Roma, o desejo de auxílio mútuo entre os cristãos atinge


inconcebíveis realizações no capítulo do trabalho.
Pessoas convertidas ao Evangelho se consagram, inteiramente, ao serviço
como o objetivo de amparar os companheiros necessitados.

Espalham-se aprendizes da Boa Nova nas atividades da indústria e da


agricultura, das artes e das ciências, da instrução e do comércio, da
enfermagem e da limpeza pública, disputando recursos para o auxílio aos
associados de ideal, na servidão ou na indigência, no sofrimento e nas
prisões. Há quem jejue por dois e três dias seguidos, a fim de economizar
dinheiro para os serviços de assistência ao próximo, sob a direção do pastor.

O trabalho passa, então, a ser interpretado por benção divina.

Paulo de Tarso, transferindo-se da dignidade do Sinédrio para o duro


labor do tear, confeccionando tapetes para não ser pesado a ninguém e
garantindo, por esse modo, a sua liberdade de palavra e de ação, é o símbolo
do cristão que educa e realiza, demonstrando que à claridade do ensino deve
aliar-se a glória do exemplo.

E, até hoje, honrando no trabalho digno a sua norma fundamental de ação,


o Cristianismo é a força libertadora da Humanidade, nos quadrantes do
mundo inteiro.
18
EVANGELHO E EXCLUSIVISMO

Quase todos os santuários religiosos divididos entre si, na esfera


dogmática, isolam-se indebitamente, disputando privilégios e primazias. E até
mesmo nos círculos da atividade cristã, o espírito de exclusivismo tem
dominado grupos de escol, desde os primeiros séculos de sua constituição.
Em nome do Cristo, muitas vezes a tirania política e o despotismo
intelectual organizaram guerras, atearam fogueiras, incentivaram a
perseguição e entronizaram a morte.

Pretendendo representar o Mestre, que não possuía uma pedra onde


repousar a cabeça dolorida, o Imperador Focas estabelece o Papado, em 607,
exalçando a vaidade romana. Supondo agir na condição de seus defensores,
Godofredo de Bulhão e Tancredo de Siracusa organizam, em 1096, um
exército de 500.000 homens e estimulam conflitos sangrentos, combatendo
pela reivindicação de terras e relíquias que recordam a divina passagem de
Jesus pela Terra. Acreditando preservar-lhe os princípios salvadores,
Gregório IX, em 1231, consolida o Tribunal da Inquisição, adensando a
sombra e fortalecendo criminosas flagelações, no campo da fé religiosa.
Convictos de garantir-lhe a Doutrina, os sacerdotes punem com o suplício e
com a morte valorosos pioneiros do progresso planetário, quais sejam
Giordano Bruno e João Huss.
Semelhantes violências, todavia, não passam de manifestações do espírito
belicoso que preside as inquietudes humanas.

Cristo nunca endossou o dogmatismo e a intransigência por normas de


ação.

Afirma não haver nascido par destruir a Lei Antiga, mas para dar-lhe fiel
cumprimento.

Não hostiliza senão a perversidade deliberada.

Não guerreia.

Não condena.
Não critica.

Combate o mal, socorrendo-lhe as vítimas.

Dá-se a todos.
Ensina com paciência e bondade o caminho real da redenção.

Começa o ministério da palavra, conversando com os doutores do


Templo, e termina o apostolado, palestrando com os ladrões.
A ninguém desdenha e os transviados infelizes lhe merecem mais
calorosa atenção.

Prepara o espírito dos pescadores para os grandes cometimentos do


Evangelho, com admirável confiança e profunda bondade, sem exigir-lhes
qualquer atestado de pureza racial.

Auxilia mulheres desventuradas, com serenidade e desassombro, em


contraposição com os preconceitos do tempo, trazendo-as, de novo, à
dignidade feminina.
Não busca títulos e, sim, inclina-se, atencioso, para os corações.

Nicodemos, o mestre de Israel, e Bartimeu, o cego desprezado, recebem


dEle a mesma expressão afetiva.
A intolerância jamais compareceu ao lado de Jesus, na propagação da
Boa Nova.

O isolacionismo orgulhoso, na esfera cristã, é simples criação humana,


fadado naturalmente a desaparecer, porque, na realidade, nenhuma doutrina,
quanto o Cristianismo, trouxe, até agora, ao mundo atormentado e dividido os
elos de amor e luz da verdadeira solidariedade.
19
EVANGELHO E SIMPATIA

Do apostolado de Jesus, destaca-se a simpatia por alicerce da felicidade


humana.

A violência não consta da sua técnica de conquistar.

Ainda hoje, vemos vasta fileira de lidadores do sacerdócio usando, em


nome dEle, a imposição e a crueldade; todavia, o Mestre, invariavelmente,
pautou os seus ensinamentos nas mais amplas normas de respeito aos seus
contemporâneos.
Jamais faltou com o entendimento justo para com as pessoas e as
situações.

Divino Semeador, sabia que não basta plantar os bons princípios e sim
oferecer, antes de tudo, à semente favoráveis condições, necessários à
germinação e ao crescimento.

Certo, em se tratando do interesse coletivo, Jesus não menoscaba a


energia benéfica.
Exprobra o comercialismo desenfreado que humilha o Templo, quanto
profliga os erros de sua época.

Entretanto, diante das criaturas dominadas pelo mal, enche-se de


profunda compaixão e tolerância construtivas.
Aos enfermos não indaga quanto à causa das aflições que os vergastam,
para irritá-los com reclamações.

Aos enfermos não indaga quando à causa das aflições que os vergastam,
para irritá-los com reclamações.

Auxilia-os e cura-os.

Os apontamentos que dirige aos pecadores e transviados são


recomendações doces e sutis.

Ao doente curado do Tanque de Betesda, explica despretensioso:


- Vai e não reincidas no erro para que te não aconteça coisa pior.

À pobre mulher, apedrejada na praça pública, adverte, bondoso:

- Vai e não peques mais.


Não indica o inferno às vítimas da sombra. Reergue-as, compassivo, e
acende-lhes nova luz.

Compreende os problemas e as lutas de cada um.


Atrai as crianças a si, compadecidamente, infundindo nova confiança aos
corações maternos.

Sabe que Pedro é frágil, mas não desespera e confia nele.

Contempla o torvo drama do espírito de Judas, no entanto, não o expulsa.


Reconhece que a maioria dos beneficiários não se revelam à altura das
concessões que solicitam, contudo, não lhes nega assistência.

Preso, recompõe e orelha de Malco, o soldado.


À frente de Pilatos e da Ántipas, não pede providências suscetíveis de
lançar a discórdia, ainda mesmo a título de preservação da justiça.

Longe de impacientar-se com a presença dos malfeitores que também


sofreram a crucificação, inclina-se amistosamente para eles e busca entendê-
los e encoraja-los.

Á turba que o rodeia com palavrões e cutiladas envia pensamentos de paz


e votos de perdão.

E, ainda além da morte, não foge aos companheiros que fugiram.


Materializa-se, diante deles, induzindo-os ao serviço da regeneração humana,
com o incentivo de sua presença e de seu amor, até ao fim da luta.
Em todas as passagens do Evangelho, perante o coração humano,
sentimos no Senhor o campeão da simpatia, ensinando como sanar o mal e
construir o bem. E desde a Manjedoura, sob a sua divina inspiração, um novo
caminho redentor se abre aos homens, no rumo da paz e da felicidade, com
bases no auxílio mútuo e no espírito de serviço, na bondade e na
confraternização.
20
EVANGELHO E DINAMISMO

Desde os primórdios da organização religiosa no mundo, há quem estime


a vida contemplativa absoluta por introdução imprescindível às alegrias
celestiais.
Cristalizado em semelhante atitude, o crente demanda lugares ermos
como se a solidão fosse sinônimo de santidade.

Poderá, contudo, o diamante fulgurar no mostruário da beleza, fugindo ao


lapidário que lhe apura o valor?
Com o Cristo, não vemos a ideia de repouso improdutivo como
preparação do Céu.

Não foge o Mestre ao contato com a luta comum.

A Boa Nova em seu coração, em seu verbo e em seus braços é


essencialmente dinâmica.

Não se contenta em ser procurado para mitigar o sofrimento e socorrer a


aflição.

Vai, Ele mesmo, ao encontro das necessidades alheias, sem alardear


presunção.
Instrui a alma do povo, em pleno campo, dando a entender que todo lugar
é sagrado para a Divina Manifestação.

Não adota posição especial, a fim de receber os doentes e impressiona-


los.

Na praça pública, limpa os leprosos e restaura a visão dos cegos.


À beira do lago, entre pescadores, reergue paralíticos.

Em meio da multidão, doutrina entidades da sombra, reequilibrando


obsidiados e possessos.
Mateus, no capítulo nove, versículo trinta e cinco, informa que Jesus
“percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nos templos que encontrava,
pregando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades que
assediavam o povo”.

Em ocasião alguma o encontramos fora de ação.

Quando se dirige ao monte ou ao deserto, a fim de orar, não é a fuga que


pretende e sim a renovação das energias para poder consagrar-se, mais
intensamente, à atividade.

Certamente, para exaltar os méritos do Reino de Deus, não se revela


pregoeiro barato da rua, mas afirma-se, invariavelmente, pronto a servir.

Atencioso, presta assistência à sogra de Pedro e visita, afetuosamente, a


casa de Levi, o publicano, que lhe oferece um banquete.
Não impõe condições para o desempenho da missão de bondade que o
retém ao lado das criaturas.

Não usa roupagens especiais para entender-se com Maria de Magdala,


nem se enclausura em preconceitos de religião ou de raça para deixar de
atender aos doentes infelizes.
Seja onde for, sem subestimar os valores do Céu, ajuda, esclarece, ampara
e salva.

Com o Evangelho, institui-se entre os homens o culto da verdadeira


fraternidade.

O Poder Divino não permanece encerrado na simbologia dos templos de


pedra.
Liberta-se.
Volta-se para a esfera pública.

Marcha ao encontro da necessidade e da ignorância, da dor e da miséria.

Abraça os desventurados e levanta os caídos.

Não mais a tirania de Baal, nem o favoritismo de Júpiter, mas Deus, o


Pai, que, através de Jesus Cristo, inicia na Terra o serviço da fé renovadora e
dinâmica que, sendo êxtase e confiança, é também compreensão e caridade
para a ascensão do espírito humano à Luz Universal.
21
EVANGELHO E EDUCAÇÃO

Quando o mestre confiou ao mundo a divina mensagem da Boa Nova, a


Terra, sem dúvida, não se achava desprovida de sólida cultura.

Na Grécia, as artes haviam atingido luminosa culminância e, em Roma,


bibliotecas preciosas circulavam por toda parte, divulgando a política e a
ciência, a filosofia e a religião.

Os escritores possuíam corpos de copistas especializados e professores


eméritos conservavam tradições e ensinamentos, preservando o tesouro da
inteligência.
Prosperava a instituição, em todos os lugares, mas a educação demorava-
se em lamentável pobreza.

O cativeiro consagrado por lei era flagelo comum.

A mulher, aviltada em quase todas as regiões, recebia tratamento inferior


ao que se dispensava aos cavalos.

Homens de consciência enobrecia, por infelicidade financeira ou por


questiúnculas de raça, eram assinalados a ferro candente e submetidos à
penosa servidão, anotados como animais.

Os pais podiam vender os filhos.


Era razoável cegar os vencidos e aproveita-los em serviços domésticos.

As crianças fracas eram, quase sempre, punidas com a morte.

Enfermos eram sentenciados ao abandono.


As mulheres infelizes podiam ser apedrejadas com o beneplácito da
justiça.

Os mutilados deviam perecer nos campos de luta, categorizados à conta


de carne inútil.
Qualquer tirano desfrutava o direito do reduzir os governados à extrema
penúria, sem ser incomodado por ninguém.

Feras devoravam homens vivos nos espetáculos e divertimentos públicos,


com aplauso geral.

Rara a festividade do povo que transcorria sem vasta efusão de sangue


humano, como impositivo natural dos costumes.

Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento.

Condenado ao supremo sacrifício, sem reclamar, e rogando o perdão


celeste para aqueles que o vergastavam a feriam, instila no ânimo dos
seguidores novas disposições espirituais.
Iluminados pela Divina Influência, os discípulos do Mestre consagram-se
ao serviço dos semelhantes.

Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados.


Instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de
evangelização para o espírito popular.

Pouco a pouco, altera-se a paisagem social, no curso dos séculos.

Dilacerados e atormentados, entregues ao supremo sacrifício nas


demonstrações sanguinolentas dos tribunais e das praças públicas, ou
trancafiados nas prisões, os aprendizes do Evangelho ensinam a compaixão e
a solidariedade, a bondade e o amor, a fortaleza moral e a esperança.
Há grupos de servidores, que se devotam ao trabalho remunerado para a
libertação de numerosos cativos.

Senhores da fortuna e da terra, tocados nas fibras mais íntimas, devolvem


escravos ao mundo livre.

Doentes encontram remédio, mendigos acham teto, desesperados se


reconfortam, órfãos são recebidos no lar.
Nova mentalidade surge na Terra.

O coração educado aparece, por abençoada luz, nas sombras da vida.


A gentileza e a afabilidade passam a reger o campo das boas maneiras e,
sob a inspiração do Mestre Crucificado, homens de pátrias e raças diferentes
aprenderam a encontrar-se com alegria, exclamando, felizes: - “meu irmão”.
22
O ESPIRITISMO NA ATUALIDADE

O Espiritismo, nos tempos modernos, é, sem dúvida, a revivescência do


Cristianismo em seus fundamentos mais simples.

Descerrando a cortina densa, postada entre os dois mundos, nos domínios


vibratórios em que a vida se manifesta, mereceu, desde a primeira hora de
suas arregimentações doutrinárias, o interesse da ciência investigadora que
procura escravizá-lo ao gabinete ou ao laboratório, qual se fora mera
descoberta de energias ocultas da natureza, como a da eletricidade, que o
homem submete a seu bel-prazer, na extensão de vantagens ao comodismo
físico...

Interessada no fenômeno, a especulação analisa-lhe os componentes,


acreditando encontrar, no intercâmbio entre as duas esferas, nada mais que
respostas a velhas questões de filosofia, sem qualquer consequência de ordem
moral, na experiência humana.
Erra, todavia, quem se norteia por essas normas, de vez que o
Espiritismo, positivando a sobrevivência além da morte, envolve em si
mesmo vasto quadro de ilações, no campo da ética religiosa, constrangendo o
homem as mais largas reflexões no campo da justiça.

Não cogitamos aqui de dogmática, de apologética ou de qualquer outro


ramo das escolas de fé em seus aspectos sectários.

Não nos reportamos a religiões, mas à Religião, propriamente


considerada como sistema de crescimento da alma para celeste comunhão
com o Espírito Divino.
Desdobrando o painel das responsabilidades que a vida nos confere, o
novo movimento de revelação implica abençoado e compulsório
desenvolvimento mental.

A permuta com os círculos de ação dos desencarnados compele a criatura


a pensar com mais amplitude, dentro da vida.
Novos aspectos da evolução se lhe descortinam e mais rico material de
pensamento lhe enriquece os celeiros do raciocínio e da observação.

Entretanto, como cada recipiente guarda o conteúdo dessa ou daquela


substância, segundo a conformação e a situação que lhe são próprias, a
Doutrina Renovadora, com os seus benefícios, passa despercebida ou
escassamente aproveitada pelos que se inclinam às discussões sem utilidade,
pelos que se demoram no êxtase improdutivo ou pelos que se arrojam aos
despenhadeiros da sombra, companheiros ainda inaptos para os
conhecimentos de ordem superior, trazidos à Terra, não para a defesa do
egoísmo ou da animalidade, mas sim para a espiritualização de todos os
seres.
De que nos valeria a prodigiosa descoberta de Watt, se o vapor não fosse
disciplinado, a benefício da civilização? Que faríamos da eletricidade, sem os
elementos de contenção e transformação que lhe controlam os impulsos?

No Espiritismo fenomênico, somos constantemente defrontados por


aluviões de forças inteligentes, mas nem sempre sublimadas, que nos
assediam e nos reclamam.

Aprendemos que a morte é questão de sequência nos serviços da


natureza.
Reconhecemos que a vida estua, ao redor de nossos passos, nos mais
variados graus de evolução.

Daí o impositivo da força disciplinar.


Urge o estabelecimento de recursos para a ordenação justa das
manifestações que dizem respeito à nova ordem de princípios que se instalam
vitoriosos na mente de cada um.
E, para cumprir essa grande missão, o Evangelho é chamado a orientar os
aprendizes da ciência do espírito, para que, levianos ou desavisados, não se
precipitem a imensos resvaladouros de amargura ou desilusão.
23
NA EXTENSÃO DO SERVIÇO

Que seria do Espiritismo se não guardasse finalidades de aperfeiçoamento


da própria Terra, onde se expressa por movimento libertador doas
consciências?
Seria louvável subtrair o homem do campo à função laboriosa da
sementeira, distraindo-o com narrativas brilhantes e induzindo-o à inércia?

Seria aconselhável a imposição do êxtase ao esforço ativo, congelando-se


preciosas oportunidades de realização para o bem?
Mas, se nos abeirarmos do trabalhador, com o intuito de estimula-lo ao
serviço, auxiliando-lhe o entendimento, para que a tarefa se lhe faça menos
sacrificial, e favorecendo-o a fim de que descubra, por si mesmo, os degraus
da própria elevação, estaremos edificando o bem legítimo, no aprimoramento
da vida e da coletividade.

De que valeria a intimidade do homem com os Espíritos domiciliados em


outras esferas, sem proveito para a existência que lhe é peculiar? Não será
deplorável perda de tempo informarmo-nos, sem propósito honesto, quanto
aos regulamentos que regem a casa alheia? Se a criatura humana ainda não
pode dispensar o suprimento de proteínas e carboidratados, de oxigênio e
vitaminas, se não pode prescindir do banho e da leitura, por que a induzir ao
ocioso prazer das indagações sem elevação de vistas?

Atendamos, acima de tudo, ao essencial.


É curioso notar que o próprio Cristo, em sua imersão nos fluidos
terrestres, não cogitou de qualquer problema inoportuno ou inadequado.

Não se sentou na praça pública para explicar a natureza de Deus e, sim,


chamou-lhe simplesmente “Nosso Pai”, indicando os deveres de amor e
reverência com que nos cabe contribuir na extensão e no aperfeiçoamento da
Obra Divina.

Embora asseverasse que “na casa do Senhor há muitas moradas”, não se


deteve a destacar pormenores quanto aos habitantes que as povoam.
Não obstante exaltar o Reino Celeste, nele situando a glória do futuro,
não olvidou o Reino da Terra, que procurou ajudar com todas as
possibilidades de que dispunha.

Curando cegos e leprosos, loucos e paralíticos, deu a entender que vinha


não somente regenerar as almas e sem também socorrer os corpos enfermos,
na recuperação do homem integral.
Não se contentou, porém, com isso.

Em todas as ocasiões, exaltou nossos deveres de amor para com a vida


comum.

Recorre à semente de mostarda e à dracma perdida para alinhar preciosos


ensinamentos.
Compara o mundo a vinha imensa, onde cada servidor recebe
determinada quota de obrigações.

Consagra especial atenção as criancinhas, salientando o amparo que


devemos às gerações renascentes.
Nessa mesma esfera de realizações, os princípios do Espiritismo
Evangélico se estenderão em favor da Humanidade.

Os desencarnados testemunham a sobrevivência individual, depois da


morte, provam que a alma se transfere de habitação sem alterar-se, de
imediato, mas, preconizando o estudo e a fraternidade, a cultura e a
santificação, o trabalho e a análise, em obediência e ditames superiores,
objetivam, acima de tudo, a melhoria da vida na Terra, a fim de que os
homens se façam, efetivamente, irmãos uns dos outros no mundo
porvindouro que será, indiscutivelmente, iluminada seção do Reino Infinito
de Deus.
24
O FENÔMENO ESPÍRITA

Em todas as civilizações, o culto dos desencarnados aparece como facho


aceso de sublime esperança.

Rápido exame nos costumes e tradições de todos os remanescentes da


vida primitiva, entre os selvagens da atualidade, nos dará conhecimento de
que as mais rudimentares organizações humanas guardam no intercâmbio
com os “mortos” suas elementares noções de fé religiosa.

Aparições e vozes, fenômenos e revelações do mundo espiritual


assinalam a marcha das tribos e das povoações do princípio.
No Egito, os assuntos ligados à morte assumem especial importância para
a civilização. Anúbis, o deus dos sarcófagos, era o guardião das sombras e
presidia à viagem das almas para o julgamento que lhes competia no Além.

Na China multimilenária, os antepassados vivem nos alicerces da fé. Em


todas as circunstâncias da vida, os Espíritos dos avoengos são consultados
pelos descendentes, recebendo orações e promessas, flores e sacrifícios.

Na Índia encontram nos “rakchasas”, Espíritos maléficos que residem nos


sepulcros, os portadores invisíveis de moléstias e aflições.
Os gregos acreditavam-se cercados pelas entidades que nomeavam por
“demônios” ou familiares intangíveis, as quais os inspiram na execução de
tarefas habituais.

Em Roma, os Espíritos amigos recebem o culto constante da intimidade


doméstica, onde são interpretados como divindades menores. Para a antiga
comunidade latina, as almas bem-intencionadas, que haviam deixado, na
Terra, os traços da sabedoria e da virtude eram os “deuses lares”, com
recursos de auxiliar amplamente, enquanto que os fantasmas das criaturas
perversas eram conhecidos habitualmente por “larvas”, cuja aproximação
causava dissabores e enfermidades.

Os feiticeiros das tabas primitivas eram nas civilizações recuadas


substituídos por magos, cujo poder imperava sobre a espada dos guerreiros e
sobre a coroa dos príncipes.
E ainda, em todos os acontecimentos religiosos que precederam a vinda
do Cristo, a manifestação dos desencarnados ou o fenômeno espírita
comparece por vívido clarão da verdade, orientando os sucessos e guiando as
supremas realizações do esforço coletivo.

Com a supervisão de Jesus, porém, a marcha da espiritualidade na Terra


adquire novos característicos.
Ele é o disciplinador dos sentimentos, o grande construtor da
Humanidade legítima.

Por trezentos anos, os discípulos do Senhor sofrem, lutam, sonham e


morrem para doar ao mundo a doutrina de luz e amor, com a plena vitória
sobre a morte, mas a política do Império Romano reduz, por dezesseis
séculos consecutivos, o movimento libertador.

Os séculos, contudo, na eternidade, são simples minutos e, em seguida às


sombras da grande noite, o evangelismo puro surge, de novo.

Cristianismo - doutrina do Cristo...

Espiritismo - doutrina dos Espíritos...


Volta à influência do Mestre sobre a imensa coletividade humana,
constituída por mentes de infinita gradação.

Homens por homens, inteligências por inteligências, incorreríamos talvez


no perigo de comprometermos o progresso do mundo, isolados em nossos
pontos de vista e em nossas concepções deficitárias, mas, regidos pela
Infinita Sabedoria, rumaremos para a perfeição espiritual, a fim de que, um
dia, despojados em definitivo das escamas educativas da carne, possamos
compreender a excelsa palavra da celeste advertência: - “vós sois deuses”...
25
ANTE A VIDA MENTAL

Quando a criatura passa a interrogar o porquê do destino e da dor e


encontra a luz dos princípios espiritistas a clarear-lhe os vastos corredores do
santuário interno, deve consagrar-se à apreciação do pensamento, quanto lhe
seja possível, a fim de iniciar-se na decifração dos segredos que, para nós
todos, ainda velam o fulcro mental.
Se as incógnitas do corpo fazem no mundo a paixão da ciência, que
designa exércitos numerosos de hábeis servidores para a solução dos
problemas de saúde e genética, reconforto e eugenia, além-túmulo a grandeza
na mente desafia-nos todos os potenciais de inteligência, no trato metódico
dos assuntos que lhe dizem respeito.

A psicologia e a psiquiatria, entre os homens da atualidade, conhecem


tanto do espírito, quanto um botânico, restrito ao movimento em acanhado
círculo de observação do solo, que tentasse julgar um continente vasto e
inexplorado, por alguns talos de erva, crescidos ao alcance de suas mãos.

Libertos do veículo de carne, quando temos a felicidade de sobre pairar


além das atrações de natureza inferior, que, por vezes, no imantam à crosta da
Terra, indefinidamente, compreendemos que o poder mental reside na base de
todos os fenômenos e circunstâncias de nossas experiências isoladas ou
coletivas.

A mente é manancial vivo de energias criadoras.

O pensamento é substância, coisa mensurável.


Encarnados e desencarnados povoam o Planeta, na condição de habitantes
dum imenso palácio de vários andares, em posições diversas, produzindo
pensamentos múltiplos que se combinam, que se repelem ou que se
neutralizam.

Correspondem-se as ideias, segundo o tipo em que se expressam,


projetando raios de força que alimentam ou deprimem, sublimam ou
arruínam, integram ou desintegram, arrojados sutilmente do campo das
causas para a região dos efeitos.
A imaginação não é um país de névoa, de criações vagas e incertas. É
fonte de vitalidade, energia, movimento...

O idealismo operante, a fé construtiva, o sonho que age, são os pilares de


todas as realizações.
Quem mais pensa, dando corpo ao que idealiza, mais apto se faz à
recepção das correntes mentais invisíveis, nas obras do bem ou do mal.

E, em razão dessa lei que preside à vida cósmica, quantos se adaptarem,


ao reto pensamento e à ação enobrecedora, se fazem preciosos canais da
energia divina, que, em efusão constante, banha a Humanidade em todos os
ângulos do Globo, buscando as almas evoluídas e dedicadas ao serviço de
santificação, convertendo-as em médiuns ou instrumentos vivos de sua
exteriorização, para benefício das criaturas e erguimento da Terra ao concerto
dos mundos de alegria celestial.
26
AFINIDADE

O homem permanece envolto em largo oceano de pensamentos, nutrindo-


se de substância mental, em grande proporção.

Toda criatura absorve, sem perceber, a influência alheia nos recursos


imponderáveis que lhe equilibram a existência.

Em forma de impulsos e estímulos, a alma recolhe, nos pensamentos que


atrai, as forças de sustentação que lhe garantem as tarefas no lugar em que se
coloca.
O homem poderá estender muito longe o raio de suas próprias
realizações, na ordem material do mundo, mas, sem a energia mental na base
de suas manifestações, efetivamente nada conseguirá.

Sem os raios vivos e diferenciados dessa força, os valores evolutivos


dormiriam latentes, em todas as direções.

A mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se


constantemente para o alto destino que lhe compete atingir.
Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente.

De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante,


projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em
nós mesmos.
Por isso, quem não se habilite a conhecimentos mais altos, quem não
exercite à vontade para sobrepor-se às circunstâncias de ordem inferior,
padecerá, invariavelmente, a imposição do meio em que se localiza.
Somos afetados pelas vibrações de paisagens, pessoas e coisas que
cercam.

Se nos confiamos às impressões alheias de enfermidade e amargura,


apressadamente se nos altera o “tônus-mental”, inclinando-nos à franca
receptividade de moléstias indefiníveis.
Se nos devotamos ao convívio com pessoas operosas e dinâmicas,
encontramos valioso sustentáculo aos nossos propósitos de trabalho e
realização.

Princípios idênticos regem as nossas relações uns com os outros,


encarnados e desencarnados.
Conversações alimentam conversações.

Pensamentos ampliam pensamentos.

Demoramo-nos com que se afina conosco.


Falamos sempre ou sempre agimos pelo grupo de espíritos a que nos
ligamos.

Nossa inspiração está filiada ao conjunto dos que sentem como nós, tanto
quanto a fonte está comandada pela nascente.
Somos obsidiados por amigos desencarnados ou não e auxiliados por
benfeitores, em qualquer plano da vida, de conformidade com a nossa
condição mental.

Daí o imperativo de nossa constante renovação para o bem infinito.

Trabalhar incessantemente é dever.


Servir é elevar-se.

Aprender é conquistar novos horizontes.


Amar é engrandecer-se.
Trabalhando e servindo, aprendendo e amando, a nossa vida íntima se
ilumina e se aperfeiçoa, entrando gradativamente em contato com os grandes
gênios da imortalidade gloriosa.
27
MEDIUNIDADE

Esmagadora maioria dos estudantes do Espiritismo situam na


mediunidade a pedra basilar de todas as edificações doutrinárias, mas
cometem o erro de considerar por médiuns tão somente os trabalhadores da fé
renovadora, com tarefas especiais, ou os doentes psíquicos que, por vezes,
servem admiravelmente à esfera das manifestações fenomênicas.
Antes de tudo, é preciso compreender que tanto quanto o tato é o alicerce
inicial de todos os sentidos, a intuição é a base de todas as percepções
espirituais e, por isso mesmo, toda inteligência é médium das forças
invisíveis que operam no setor de atividade regular em que se coloca.

Dos círculos mais baixos aos mais elevados da vida, existem entidades
angélicas, humanas e sub-humanas, agindo através da inteligência encarnada,
estimulando o progresso o divinizando experiências, brunindo caracteres ou
sustentando abençoadas reparações, protegendo a natureza e garantindo as
leis que nos governam.

Desvendando conhecimentos novos à Humanidade, o Espiritismo


incorpora ao nosso patrimônio mental valiosas informações sobre a vida
imperecível, indicando a nossa posição de espíritos imortais em temporário
aprendizado, nas classes da raça, da nação e do grupo consanguíneo a que
transitoriamente pertencemos na Terra.

Cada individualidade renasce em ligação com os centros de vida invisível


do qual procede, e continuará, de modo geral, a se instrumento do conjunto
em que mantém suas concepções e seus pensamentos habituais. Se deseja,
porém, aproveitar a contribuição que a escola sublime do mundo lhe oferece,
em seus cursos diversos de preparação e aperfeiçoamento, aplicando-se à
execução do bem, nos menores ângulos do caminho, adquirindo mais amplas
provisões de amor e sabedoria, é aceita pelos grandes benfeitores do mundo,
nos quadros da evolução humana, por intérprete da assistência divina, onde
quer que se encontre, seja na construção do patrimônio de conforto material
ou na santificação da alma eterna.

É necessário, contudo, reconhecer que, na esfera da mediunidade, cada


servidor se reveste de características próprias.
O conteúdo sofrerá sempre a influenciação da forma e da condição do
recipiente.

Essa é a lei do intercâmbio.


Uma taça não guardará a mesma quantidade de água, suscetível de ser
sustentada numa caixa com capacidade para centenas de litros.

O perfume conservado no frasco de cristal puro não será o mesmo,


quando transportando num vaso guarnecido de logo.

O sábio não poderá tomar uma criança para confidente, embora a criança,
invariavelmente, detenha consigo tesouros de pureza e simplicidade que o
sábio desconhece.
Mediunidade, pois, para o serviço da revelação divina reclama estudo
constante e devotamento ao bem para o indispensável enriquecimento de
ciência e virtude.

A ignorância poderá produzir indiscutíveis e belos fenômenos, mas só a


noção de responsabilidade, a consagração sistemática ao progresso de todos,
a bondade e o conhecimento conseguem materializar na Terra os
monumentos definitivos da felicidade humana.
28
SINTONIA

As bases de todos os serviços de intercâmbio, entre os desencarnados e


encarnados, repousam na mente, não obstantes as possibilidades de
fenômenos naturais, no campo da matéria densa, levados a efeito por
entidades menos evoluídas ou extremamente consagradas à caridade
sacrificial.
De qualquer modo, porém, é no mundo mental que se processa a gênese
de todos os trabalhos da comunhão de espírito a espírito.

Daí procede à necessidade de renovação idealística, de estudo, de


bondade operante e de fé ativa, se pretendemos conservar o contato com os
Espíritos da Grande Luz.
Simbolizemos nossa mente como sendo uma pedra inicialmente burilada.
Tanto quanto a do animal, pode demorar-se, por muitos séculos, na
ociosidade ou na sombra, sob a crosta dificilmente permeável de hábitos
nocivos ou de impulsos degradantes, mas se a expomos ao sol da experiência,
aceitando os atritos, as lições, os dilaceramentos e as dificuldades do caminho
por golpes abençoados do buril da vida, esforçando-nos Por aperfeiçoar o
conhecimento e melhorar o coração, tanto quanto a pedra burilada reflete a
luz, certamente nos habilitamos a receber a influência dos grandes gênios da
sabedoria e do amor, gloriosos expoentes da imortalidade vitoriosa,
convertendo-nos em valiosos instrumentos da obra assistencial do Céu, em
favor do reerguimento de nossos irmãos menos favorecidos e para a elevação
de nós mesmos às regiões mais altas.

A fim de atingirmos tão alto objetivo é indispensável traçar um roteiro


para a nossa organização mental, no Infinito Bem, e segui-lo sem recuar.
Precisamos compreender - repetimos - que os nossos pensamentos são
forças, imagens, coisas e criações visíveis e tangíveis no campo espiritual.

Atraímos companheiros e recursos, de conformidade com a natureza de


nossas ideias, aspirações, invocações e apelos.
Energia viva, o pensamento desloca, em torno de nós, forças sutis,
construindo paisagens ou formas e criando centros magnéticos ou ondas, com
os quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação dos outros.

Nosso êxito ou fracasso dependem da persistência ou da fé com que nos


consagramos mentalmente aos objetivos que nos propomos alcançar.
Semelhante lei de reciprocidade impera em todos os acontecimentos da
vida.

Comunicar-nos-emos com as entidades e núcleos de pensamentos, com os


quais no colocamos em sintonia.

Nos mais simples quadros da natureza, vemos manifestado o princípio da


correspondência.
Um fruto apodrecido ao abandono estabelece no chão um foco infeccioso
que tende a crescer, incorporando elementos corruptores.

Exponhamos a pequena lâmina de cristal, limpa e bem cuidada, à luz do


dia, e refletirá infinitas cintilações do Sol.

Andorinhas seguem a beleza da primavera.

Corujas acompanham as trevas da noite.

O mato inculto asila serpentes.


A terra cultivada produz o bom grão.

Na mediunidade, essas leis se expressam, ativas.


Mentes enfermiças e perturbadas assimilam as correntes desordenadas do
desequilíbrio, enquanto que a boa-vontade e a boa intenção acumulam os
valores do bem.

Ninguém está só.

Cada criatura recebe de acordo com aquilo que dá.

Cada alma vive no clima espiritual que elegeu, procurando o tipo de


experiência em que situa a própria felicidade.
Estejamos, assim, convictos de que os nossos companheiros na Terra ou
no Além são aqueles que escolhemos com as nossas solicitações interiores,
mesmo porque, segundo o antigo ensinamento evangélico, “tecemos nosso
tesouro onde colocamos o coração”.
29
ALÉM DA MORTE

O reino da vida, além da morte, não é domicílio do milagre.

Passa o corpo, em trânsito pra a natureza inferior que lhe atrai os


componentes, entretanto, a alma continua na posição evolutiva em que se
encontra.

Cada inteligência apenas consegue alcançar a periferia do círculo de


valores e imagens dos quais se faz o centro gerador.
Ninguém pode viver em situação que ainda não concebe.

Dentro da nossa capacidade de autoprojeção, erguem-se os nossos limites.

Em suma, cada ser apenas atinge a vida, até onde possa chegar a onda do
pensamento que lhe é próprio.
A mente primitivista de um mono, transposto o limiar da morte, continua
presa aos interesses da furna que lhe consolidou os hábitos instintivos.

O índio desencarnado dificilmente ultrapassa o âmbito da floresta que lhe


acariciou a existência.
Assim também, na vastíssima fauna social das nações, cada criatura dita
civilizada, além do sepulcro, circunscreve-se ao círculo das concepções que,
mentalmente, pode abranger.

A residência da alma permanece situada no manancial de seus próprios


pensamentos.

Estamos naturalmente ligados às nossas criações.


Demoramo-nos onde supomos o centro de nossos interesses.

Facilmente explicável, assim, a continuidade dos nossos hábitos e


tendências, além da morte.
A escravidão ou a liberdade residem no imo de nosso próprio ser.

Corre a fonte, sob a emanação de vapores da sua própria corrente.


Vive a árvore rodeada pelos fluidos sutis que ela mesma exterioriza,
através das folhas e das resinas que lhe pendem dos galhos e do tronco.

Permanece o charco debaixo da atmosfera pestilencial que ele mesmo


alimenta, e brilha o jardim, sob as vagas do perfume que produz.

Assim também a Terra, com o seu corpo ciclópico, arrasta consigo, na


infinita paisagem cósmica, o ambiente espiritual de seus filhos.
Atravessado o grande umbral do túmulo, o homem deseducado prossegue
reclamando aprimoramento.

A criatura viciada continua exigindo satisfação aos apetites baixos.


O cérebro desvairado, entre indagações descabidas, não foge, de
imediato, ao poço de obscuridades em que se submergiu.

E a alma de boa-vontade encontra mil recursos para adiantar-se na senda


evolutiva, amparando o próximo e descobrindo na felicidade dos outros a
própria felicidade.

Em razão das leis que nos governam a vida, nem sempre o mensageiro
que regressa do país da morte procede de planos superiores e nem a
mediunidade será sinônimo de sublimação.
Determinadas inteligências desencarnadas se comunicam com
determinados instrumentos mediúnicos.

Os habitantes de outras esferas buscam no mundo aqueles com os quais


simpatizam e a mente encarnada aceita a visita das entidades com as quais se
afina.
A necessidade do Evangelho, portanto, como estatuto de edificação moral
dos fenômenos espíritas, é impositivo inadiável. Com a Boa Nova, no mundo
abençoado e fértil da nossa Doutrina de luz e amor, possuímos a estrada rela
para a nossa romagem de elevação.
30
RENOVAÇÃO

As revelações dos Espíritos convidam naturalmente a ideais mais


elevados, a propósitos mais edificantes.

Para as inteligências realmente dispostas à renunciação da animalidade,


são elas, sublime incentivo à renovação interior, modificando a estrutura
fluídica do ambiente mental que lhes é próprio.

Se a civilização exige o desbravamento da mata virgem, para que cidades


educadas surjam sobre o solo e para que estradas se rasguem soberanas, é
indispensável a eliminação de todos os obstáculos, à custa do sacrifício
daqueles que devotam ao apostolado do progresso.
A Humanidade atual, em seu aspecto coletivo, considerada mentalmente,
ainda é a floresta escura, povoada de monstruosidades.

Se nos fundamentos evolutivos da organização planetária encontramos os


animais pré-históricos, oferecendo a predominância do peso e da ferocidade
sobre quaisquer outros característicos, nos alicerces da civilização do espírito
ainda perseveram os grandes monstros do pensamento, constituídos por
energias fluídicas, emanadas dos centros de inteligência que lhes oferecem
origem.

Temos, assim, dominando ainda a formação sentimental do mundo, os


mamutes da ignorância, os megatérios da usura, os iguanodontes da vaidade
ou os dinossauros da vingança, da barbárie, da inveja ou da ira.
As energias mentais dos habitantes da Terra tecem o envoltório que os
retém à superfície do Globo. Raros são aqueles cuja mente vara o teto
sombrio com os raios de luz dos sentimentos sublimados que lhes fulguram
no templo íntimo.

O pensamento é o gerador dos infra corpúsculos ou das linhas de força do


mundo subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou
decadência, vida ou morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige.
E a moradia dos homens ainda está mergulhada em fluidos ou em
pensamentos vivos e semicondensados de estreiteza espiritual, brutalidade,
angústia, incompreensão, rudeza, preguiça, má-vontade, egoísmo, injustiça,
crueldade, separação, discórdia, indiferença, ódio, sombra e miséria...

Com a demonstração da sobrevivência da alma, porém, a consciência


humana adquire domínio sobre as trevas do instinto, controlando a corrente
dos desejos e dos impulsos, soerguendo as aspirações da criatura para níveis
mais altos.
Os corações despertados para a verdade começam a entender as linhas
eternas da justiça e do bem. A voz do Cristo é ouvida sob nova expressão na
mais profunda acústica da alma.

Quem acorda converte-se num ponto de luz no serro denso da


Humanidade, passando a produzir fluidos ou forças de regeneração e
redenção, iluminando o plano mental da Terra para a conquista da vida
cósmica no grande futuro.

Em verdade, pois, nobre é a missão do Espiritismo, descortinando a


grandeza da universalidade divina à acanhada visão terrestre; no entanto,
muito maior é muito mais sublime é a missão do nosso ideal santificante com
Jesus para o engrandecimento da própria Terra, a fim de que o Planeta se
divinize para o Reino do Amor Universal.
31
DESAJUSTE APARENTE

Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes


indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado
individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação
desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.
Tais enunciados, porém, não encontram guarida nos fundamentos da
verdade.

O Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.


A visão mais escura do Universo e a mais alta concepção da justiça
dilatam na mente a sede de libertação, para mais altos voos do espírito, e a
compreensão mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade,
estabelece sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de
interesse para o campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas
que transcendem a experiência vulgar.

Realmente, para quem estima os padrões convencionalistas, com plena


adaptação ao menor esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos
domínios da fé, porque os desvairamentos da personalidade invariavelmente
nos espreitam, tentando-nos a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de
ser.

Dentro da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo


de cristalização dogmática ou de tirania intelectual.
A imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro
espiritual do aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera
comum.
As inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em
torno de núcleos de força, que as influenciam sustentam.

O panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nosso ideal, atrai o


cérebro e o coração para outros poderes, e a criatura encarnada,
imperceptivelmente induzida a operar em serviços diferentes, parece
desajustada e sedenta, à procura de valores efetivamente importantes para os
seus destinos na vida eterna.
As escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos
de estabilidade econômicas, habitualmente gravitam em derredor da riqueza
perecível ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela ideia
de domínio e influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união,
de vez que a maioria dos espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz,
reúnem-se e obedecem alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre
os mais fracos.

Mas no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o


estandarte nivelador da convenção.
Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam a
escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina
Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.

Aceita as facilidades humanas - para dar com largueza e desprendimento


da posse.

Disputa o contentamento de trabalhar - para servir.


Busca a liberdade - para submeter-se às obrigações que lhe cabem.

Adquire luz - para ajudar na extinção das trevas.


“Está no mundo sem ser do mundo.”

É alguém que, em negando a si mesmo, busca a Mestre da Verdade,


recebendo, de boa vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de
ressurreição.
E demorando-se cada discípulo, em esfera variada de trabalho,
observamos que eles todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima
- cada qual contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra -
, oferecem o espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas
entre si, porquanto os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos
mesmos quadros de cada dia, com a repetição das mesmas nuances de
claridade solar, não conseguem esquecer, de improviso, as velhas atitudes de
muito tempo em nem podem entender o roteiro dos que se desinteressam da
ilusão, caminhando, em sentido contrário ao deles, ao encontro de outra luz.
32
COLABORAÇÃO

Em sua condição de movimento renovador das consciências, a Nova


Revelação vem despertar o homem para o lugar determinado que a
Providência lhe confere, esclarecendo-o, acima de tudo, de que o egoísmo,
filho da ignorância e responsável pelos desvarios da alma, é perigosa ilusão.
Trazendo-nos a chave dos princípios religiosos, vem compelir-nos à
observância das leis mais simples da vida, revelando-nos o impositivo de
colaboração a que não conseguiremos fugir.

A vida, pródiga de sabedoria em toda parte, demonstra o princípio da


cooperação, em todos os seus planos.

O verme enriquece a terra e a terra sustenta o verme.

A fonte auxilia as árvores e as árvores conservam a fonte.


O solo ampara a semente e a semente valoriza o solo.

As águas formam as nuvens e a nuvens alimentam as águas.

A abelha ajuda a fecundação das flores e as flores contribuem com as


abelhas no fabrico do mel.
Um pão singelo é gloriosa síntese do trabalho de equipe da natureza. Sem
as lides da sementeira, sem as dádivas do Sol, sem as bênçãos da chuva, sem
a defesa contra os adversários da lavoura, sem a assistência do homem, sem o
concurso do moinho e sem o auxílio do forno, o pão amigo deixaria de
existir.

Um casaco inexpressivo é fruto do esforço conjugado do fio, do tear, da


agulha e do alfaiate, solucionando o problema da vestidura.
Assim como acontece na esfera das realizações materiais, a Nova
Revelação convida-nos, naturalmente, a refletir sobre a função que nos cabe
na ordem moral da vida.

Cada criatura é peça significativa na engrenagem do progresso.

Todos possuímos destacadas obrigações no aperfeiçoamento do espírito.


Alma sem trabalho digno é sombra de inércia no concerto da harmonia
geral.

Cérebros e corações, mãos e pés, em disponibilidade, palavras ocas e


pensamentos estanques constituem congelamento deplorável do serviço da
evolução.

A vida é a força divina que marcha para diante.


Obstruir-lhe a passagem, desequilibrar-lhe os movimentos, menoscabar-
lhe os dons e olvidar-lhe o valor é criar aflição e sofrimento que se voltarão,
agora ou mais tarde, contra nós mesmos.

Precatem-se, portanto, aqueles que julgam encontrar na mensagem do


Além o elixir do êxtase preguiçoso e improdutivo.
O mundo espiritual não abriria suas portas para consagrar a ociosidade.

As almas que regressam do túmulo indicam a cada companheiro da Terra


a importância da existência na carne, acordando-lhe na consciência não só a
responsabilidade de viver, mas também a noção do serviço incessante do
bem, como norma de felicidade imperecível.
33
INDIVIDUALISMO

Em contato com os ideais da Revelação Nova, o homem, sentindo lhe


dilatar-se naturalmente a visão, começa a perceber, com mais amplitude, os
problemas que o cercam.

Aguça-se-lhe a sensibilidade, intensifica-se-lhe a capacidade de amar.


Converte-se-lhe o coração em profundo estuário espiritual, em que todas as
dores humanas encontram eco.

Por isso mesmo, acentuam-se-lhe os sofrimentos, de vez que as suas


aspirações não surpreendem qualquer sintonia nos planos inferiores em que
ainda respira.
Desejaria o aprendiz acompanhar-se por todos aqueles que ama, na
caminhada para a vida superior, entretanto, à medida que se adianta em
conhecimentos e se sutiliza em sensações, reconhece quase sempre que os
amados se fazem dele mais distantes.

Aqui, é a companheira que persevera em rumo diferente, além, é o


coração paternal que, por afetividade mal dirigida, dificulta a ascensão para a
luz.... Ontem, era um filho a golpear-lhe as fibras mais íntimas; hoje, é um
amigo que deserta...

Se o discípulo não se rende à perturbação e ao desânimo, gradativamente


começa a compreender que está sozinho, em si mesmo, para aprender e
ajudar, entendendo, outrossim, que na boa-vontade e no sacrifício adquire
valores eternos para si próprio.

Quanto mais cede a favor de todos, mais é compensado pela Lei Divina
que o enriquece de força e alegria no grande silêncio.

Na marcha diária, chega à conclusão de que o individualismo ajustado


aos princípios inelutáveis do bem é a base do engrandecimento da
coletividade. Reconhece que o espírito foi criado para viver em comunhão
com os semelhantes, que é a unidade de um todo em processo de
aperfeiçoamento e que não pode fugir, sem danos, à cooperação, mas, à
maneira da árvore no reino vegetal, precisa crescer e auxiliar com eficiência
para garantir a estabilidade do campo e fazer-se respeitável.

Ninguém vive só, mas chega sempre um momento para a alma em que é
imprescindível saber lutar em solidão para viver bem.
Para valorizar o celeiro e enriquecer a mesa, a semente descansa entre
milhões de outras que com ela se identificam; todavia, quando chamada a
produzir com a vida para o conforto geral, deve aprender a estar isolada no
seio frio da terra, desvencilhando-se dos envoltórios inferiores, como se
estivesse reduzida a lodo e morte, a fim de estender novos ramos e elevar-se
para o Sol.

Sem o indivíduo forte e sábio, a multidão agitar-se-á sempre entre a


ignorância e a miséria.
Esforço e melhoria da unidade, para o progresso e sublimação do todo, é
uma lei.

A navegação a vapor, atualmente, é patrimônio geral, mas devemo-la ao


trabalho de Fulton.

A imprensa de hoje é força direcional de primeira ordem, contudo, não


podemos olvidar o devotamento de Gutenberg, que lhe amparou os passos
iniciantes.
A luz elétrica, nos dias que passam, é questão resolvida, no entanto, a
Edison coube a honra de sofrer para que semelhante bênção desintegrasse as
noites do mundo.

A locomotiva, agora, é máquina vulgar, mas no princípio dela temos a


dedicação de Stephenson.
Na Terra, surgira Newton, invariável, à frente de todos os conhecimentos
alusivos à gravitação universal e o nome de Marconi jamais será apagado na
base das comunicações sem fio.
Cada flor irradia perfume característico.

Cada estrela possui brilho próprio.

Cada um de nós é portador de determinada missão.

O Espiritismo, confirmando o Evangelho, vem amparar os homens e


convidar o homem a aprimorar-se e engrandecer-se, consoante a sabedoria da
Lei que determina: "a cada um, segundo as suas obras".
34
OBSERVAÇÕES

Quase todos os que se abeiram das atividades espíritas estimariam o


desenvolvimento rápido das faculdades psíquicas de que são portadores e, por
vezes, quando não atendidos, padecem nocivo arrefecimento de ideal.
Esmaece o fervor dos primeiros contatos como a fé, porque o propósito
fixo de surpreenderem o milagre transforma-se neles em aflitiva obsessão.

Contudo, há singularidades no assunto, que não podemos menosprezar.


Que seria da ordem e do equilíbrio dos serviços terrestres, se a totalidades
das criaturas, instruídas ou não, se pusessem a investigar quanto à vida nos
outros mundos?

Toda colheita exige preparação e sementeira.

Imaginemos um avião moderno, perfeitamente equipado, sobrevoando


pacífico vilarejo do século XIV, sem aviso prévio. Que lucraria a ciência
náutica, de imediato, senão espalhar o terror? Que recompensa adviria, em
nosso favor, se constrangêssemos uma taba indígena a ouvir um concerto de
Paganíni, sem oferecer-lhe os rudimentos da educação musical?
O progresso, como a luz, precisa graduar-se para não ferir ou cegar as
pupilas que o contemplam.

Compreendamos, acima de tudo, que a existência não é fenômeno que se


articule à revelia dos Grandes Responsáveis da Evolução.
A liberdade do homem interferirá nos domínios da matéria densa,
alterando o que pode ser; todavia, jaz extremamente distante das regiões do
espírito puro, onde se guarda o controle das leis universais.
Desdobrando novos painéis da vida, diante da mente sequiosa de
conhecimento e renovação, não é o mundo espiritual que deve descer para o
homem e sim o homem que precisa elevar-se ao encontro dele.

E semelhante ascensão não será simples serviço da mediunidade


espetacular. É obra de sublimação interior, gradativa e constante, sobre os
alimentos alicerces do bem, ao alcance de todos.
As pontas do tesouro psíquico estão vigiadas com segurança.

A direção de uma central elétrica não pode ser confiadas às frágeis mãos
de um menino.
Como conferir, de improviso, ao primeiro candidato à prosperidade
mediúnica a chave dos interesses fundamentais e particulares de milhões de
almas, colocadas nos mais variados planos da escada evolutivas?

Naturalmente que as grandes responsabilidades não são inacessíveis, mas


a criança precisa crescer para integrar-se em serviços complexos; e o
colaborador iniciante, em qualquer realização, necessita do tempo e do
esforço a fim de converter-se em auxiliar prestimoso.

Nos problemas de intercâmbio com a Esfera Superior, desse modo, antes


do progresso medianímico, há que considerar o aprimoramento da
personalidade para melhor ajustar-se à obra de perfeição geral.

O grande rio, sem leito adequado, ao invés de correr, beneficiando a


paisagem, encharca o solo, transformando-o em pântano letal.

A ponte quebradiça não suporta a passagem das máquinas de grande


porte.
A mediunidade, como recurso de influenciar para o bem, não se manifesta
sem instrumento próprio.

Só o grande amor pode compreender as necessidades de todos. Só a


grande boa-vontade pode trabalhar e aprender incessantemente para servir
sem distinção.
Antes de nos mediunizarmos, amemos e nos eduquemos. Somente assim
receberemos das ordenações de mais alto o verdadeiro poder de ajudar.
35
ENTRE AS FORÇAS COMUNS

Indiscutivelmente a mediunidade, no aspecto em que a conhecemos a


Terra, é a resultante de extrema sensibilidade magnética, embora, no fundo,
estejamos informados de que os dons mediúnicos, em graus diversos, são
recursos inerentes a todos.
Cada ser é portador de certas atividades e, por isso mesmo, é instrumento
da vida.

A luz nasce da chama sem ser a chama.


O perfume vem da flor sem ser a flor.

A claridade do núcleo luminoso une-se a radiações dos ambientes e o


aroma da rosa mistura-se a emanações do meio, dando origem a variadas
criações.

Assim também o pensamento invisível do homem se associa no invisível


pensamento das entidades espirituais que o assistem, estabelecendo múltiplas
combinações, em benefício do trabalho de todos, na evolução geral.
Importa reconhecer, porém, que existem mentes reencarnadas, em
condições especialíssimas, que oferecem qualidades excepcionais para os
serviços de intercâmbio entre os vivos da carne e os vivos do Além. Nessas
circunstâncias, identificamos os medianeiros adequados aos fenômenos de
manifestação do espírito liberto, nos círculos de matéria mais densa.

Contudo, nem sempre os donos dessas energias são mensageiros da


sublimação interior.
Na extensa comunidade de almas da Terra avultam, em maioria, as
consciências ainda enfermiças, por moralmente endividadas com a Lei
Divina; consequentemente, a maior pare das organizações medianímicas, no
Planeta, não podem escapar a essa regra.

Mais de dois terços dos médiuns do mundo jazem, ainda, nas zonas de
desequilíbrio espiritual, sintonizados com as inteligências invisíveis que lhes
são afins. Reclamam, em razão disso, estudo e boa vontade no serviço do
bem, a fim de retomarem a subida harmônica aos cimos da luz, assim como
os cooperadores de qualquer instituição respeitável da Terra necessitam
exercício constante no trabalho esposado para crescerem na competência e no
crédito moral.
Ninguém se esqueça de que estamos assimilando incessantemente as
energias mentais daqueles com quem nos colocamos em relação.

E, além disso, estamos sempre em contato com o que podemos nomear


como sendo “geradores específicos de pensamentos”. Através deles, outras
inteligências atuam sobre a nossa.
Um livro, um laço afetivo, uma reunião ou uma palestra são geradores
dessa classe. Aquilo que lemos, as pessoas que estimamos, as assembleias
que contam conosco e aqueles que ouvimos influenciam decisivamente sobre
nós.

Devemos ajudar a todos, mas precisamos selecionar os ingredientes de


nossa alimentação mais íntima.

Certo, não podemos menosprezar o nosso irmão que se arrojou aos


despenhadeiros do crime, constituído simples dever nosso o auxílio objetivo
em favor do reajuste e soerguimento dele, todavia, não podemos absorver-lhe
as amarguras e os remorsos, que se dirigem a natural extinção.
Visitaremos o enfermo, encorajando-o e levantando-lhe o bom ânimo,
contudo, não será aconselhável adquirir-lhe as sensações desequilibrantes,
que precisam desaparecer, tanto quanto os detritos de casa que nos cabe
eliminar.

A obra da caridade tudo transforma em favor do bem.


A atitude é oração. E, pela atitude, mostramos a qualidade dos nossos
desejos.

Os pensamentos honestos e nobres, sadios e generosos, belos e úteis,


fraternos e amigos, são a garantia do auxílio positivo aos outros e a nós
mesmos.
Quanto mais nos adiantamos na ciência do espírito, mais entendemos que
a vida nos responde, de conformidade com as nossas indagações.

O princípio dos “semelhantes com os semelhantes” é indefectível em


todos os planos do Universo.
Caminhamos no encontro de nós mesmos e, por isso, surpreendemos
invariavelmente conosco aqueles que sentem com o nosso coração e pensam
com a nossa cabeça.

Os médiuns, em qualquer região da vida, filtros que são de rogativas e


respostas, precisam, pois, acordar para a realidade de que viveremos sempre
em companhia daqueles que buscamos, de vez que, por toda parte,
respiramos ajustados ao nosso campo de atração.
36
DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO

Tentando definir a mediunidade, podemos ainda interpreta-la como sendo


a capacidade de fazer-se alguém intermediário entre pessoas e regiões
distintas. E assim como existem agentes de variada espécie para variados
assuntos da vida humana, temos medianeiros de especialidades múltiplas para
a vida espiritual.
Informados hoje de que a morte física não expressa sublimação, não
podemos assim admitir que o desenvolvimento das faculdades psíquicas
constituía só por si, credencial de superioridade.

Daí o imperativo de fixarmos no aprimoramento pessoal a condição


primária do êxito em qualquer tarefa de intercâmbio.
Aqui, encontramos clarividentes notáveis e além somos defrontados por
excelentes médiuns falantes, mas se aquele que vê não possui discernimento
para o esforço de seleção e se aquele que se faz portador do verbo não
consegue auxiliar a obra de esclarecimento construtivo, o trabalho de
transmissão sofre naturalmente consideráveis prejuízos, desajudando ao invés
de ajudar.

Nesse sentido, somos obrigados a reconhecer que o espírito do


Cristianismo jamais foi alterado, em sua pureza essencial, mas os
representantes ou medianeiros delem, no curso dos séculos, impuseram-lhe
cultos, interpretações, aspectos e atividades, simplesmente artificiais.

O médium de agora deve exprimir-se em mais altos níveis.


Acham-se, frente a frente, os dois grandes grupos da Humanidade -
encarnados e desencarnados - e, em ambos, persistem os “altos e baixos” do
mundo moral...

Se o intermediário entre eles não se aperfeiçoa, convenientemente,


permanece na posição do aprendiz retardo, por tempo indefinível, nas letras
iniciantes, quando lhe constitui obrigação avançar sempre, na direção da
sabedoria.
O artista é o representante da música.

O violino é o instrumento.

Mas se o violino aparece irremediavelmente desajustado, como revelar-se


o portador da melodia?

A força elétrica é o reservatório de poder.

A lâmpada é o recipiente da manifestação luminosa.


Mas se a lâmpada estiver quebrada, como aproveitar a energia para
expulsar as travas?

O benfeitor espiritual é o mensageiro da perfeição e da beleza.


O homem é o veículo de sua presença e intervenção.

Todavia, se o homem está mergulhado no desespero ou no desalento, na


indisciplina ou no abuso, como desempenhar a função de refletor dos
emissários divinos?

Há muita gente que se reporta ao automatismo e à inconsciência nos


estudos da mediunidade, perfeitamente cabíveis no círculo dos fenômenos.
Não podemos olvidar, entretanto, que o serviço de elevação exige esforço e
boa vontade, vigilância e compreensão daquele que o executa, a fim de que a
tarefa espiritual se sustente em voo ascensional para os cimos da vida.
Por esse motivo, quem se disponha a cooperar em semelhante ministério,
precisará buscar no bem a sua própria razão de ser.

Amando, arrancamos no caminho as mais belas notas de simpatia e


fraternidade, que constituem vibrações positivas de auxilio e apoio, na
edificação que nos compete efetuar.

A bondade e o entendimento para com todos representam o roteiro único


para crescermos em aprimoramento dos dons psíquicos de que somos
portadores, de modo a assimilarmos as correntes santificantes dos planos
superiores, em marcha para a consciência cósmica.
Não há bom médium, sem homem bom.

Não há manifestação de grandeza do Céu, no mundo, sem grandes almas


encarnadas na Terra.

Em razão disso, acreditamos que só existe verdadeiro e proveitoso


desenvolvimento psíquico, se estamos aprendendo a estudar e servir.
37
EXPERIMENTAÇÃO

Sabendo que a força mental é energia atuante e que os pensamentos são


recursos objetivos, é imperioso reconhecer que a experimentação nos
domínios do psiquismo exige noção de responsabilidade, perante a vida, para
que o êxito seja a reposta justa às indagações sinceras.
Um lavrador bem avisado investiga o solo, plantando com devoção e
confiança. Não se ri do pedregulho. Afasto-o, atencioso. Não ironiza o
espinheiro. Remove-o, a benefício da lavoura que lhe é própria. Não goza
com o duelo entre os grelos tenros e os vermes destruidores. Combate os
insetos devoradores com vigilância e serenidade, e defendendo o futuro do
bom grão.

Não acontece assim, na Terra, com a maioria dos pesquisadores da


espiritualidade.
A pretexto de se garantirem contra a mistificação, espalham duros
obstáculos sobre a gleba moral onde operam com a charrua da observação e,
por isso, muitas vezes inutilizam seus próprios instrumentos de trabalho,
antes de qualquer resultado.

Transformam companheiros em cobaias, exigem das outras qualidades


que eles mesmos são possuem, tratam com deliberado desprezo o pequenino
embrião da realidade e acabam, habitualmente, na negação, incapazes de
penetrar o tempo do espírito.

Importa reconhecer que o fruto é sempre a vitória do esforço de equipe.


Sem a árvore que o matem, sem a terra que sustenta a árvore, sem as águas
que alimentam o solo e sem as chuvas que regeneram a fonte, jamais ele
apareceria.
Sem trilhos, não corre a locomotiva.

O avião não prestaria serviço ao homem, sem campo de aterrissagem.

As revelações do Céu reclamam base para se fixarem na Terra.

Geralmente, quem procura notícias da vida invisível integra-se num


círculo de pessoas, com as quais se devota ao cometimento. Quase sempre,
no entanto, espera a colaboração alheia, sistematicamente, sem oferecer de si
mesmo senão reiteradas reclamações.

A natureza, todavia, revela a necessidade de colaboração em suas


humildes atividades.

Um simples bolo pede ingredientes sadios para materializar-se com


proveito. Se diminuta porção de veneno aparece ligada à farinha, o conjunto
intoxica ao invés de nutrir.

Quem deseja inundar-se de claridade espiritual traga consigo o


combustível apropriado.
Não adquirimos a confiança, usando o sarcasmo, nem compramos a
simpatia, distribuindo marteladas, indiscriminadamente.

O grande rio é a reunião de córregos pequeninos.


A cidade não se levanta de improviso.

Todas as realizações pedem começo com segurança.

Um erro quase imperceptível de cálculo pode comprometer a estabilidade


de um edifício.
A experimentação psíquica, realmente, não caminha com firmeza, sem os
alicerces morais da consciência enobrecida.

Cada espírito humano _ microcosmo do Universo _ irradia e absorve.


Emitir a leviandade e a cobiça, o ciúme e o egoísmo, a vaidade e a
ferocidade, através da atitude menos digna ou da crítica destruidora, é
amontoar trevas em torno dos próprios olhos.
Ninguém fará luz dentro da noite, estragando a lâmpada, embora o centro
de força continue existindo.

Ninguém recolherá água pura num poço terrestre, trazendo à tona o lodo
que descansa no fundo.
Não se colhe a verdade, na vida, como quem engaiola uma ave na
floresta.

A verdade é luz. Somente o coração alimentado de amor e o cérebro


enriquecido de sabedoria podem refletir-lhe a grandeza.
38
MISSÃO DO ESPIRITISMO

A missão do Espiritismo, tanto quanto o ministério do Cristianismo, não


será destruir as escolas de fé, até agora existentes.

Cristo acolheu a revelação de Moisés.

A Doutrina dos Espíritos apoia os princípios superiores de todos os


sistemas religiosos.
Jesus não critica a nenhum dos Profetas do Velho Testamento.

O Consolador Prometido não vem para censurar os pioneiros dessa ou


daquela forma de crer em Deus.

O Espiritismo é, acima de tudo, o processo libertador das consciências, a


fim de que a visão do homem alcance horizontes mais altos.
Há milênios, a mente humana gravita em derredor de patrimônios
efêmeros, quais sejam os da precária posse física, atormentada por pesadelos
carnais de variada espécie.

Guerras de todos os matizes consomem-lhe as forças.


Flagelos de múltiplas expressões situam-lhe a existência em limitações
aflitivas e dolorosas.

Com a morte do corpo, não atinge a liberação.

Além-túmulo, prossegue atenta às imagens que a ilusão lhe armou no


caminho, escravizada a interesses inconfessáveis.
Em plena vida livre, guarda, ordinariamente, a posição da criatura que
venda os olhos e marcha, impermeável e cega, sob pesadas cargas a lhe
dobrarem os ombros.

A obstinação em disputar satisfações egoísticas, entre os companheiros da


carne, constitui-lhe deplorável inibição e os preconceitos ruinosos, os
terríveis enganos do sentimento, os pontos de vista pessoais, as opiniões
preconcebidas, as paixões desvairadas, os laços enfermiços, as concepções
cristalizadas, os propósitos menos dignos, a imaginação intoxicada e os
hábitos perniciosos representam fardos enormes que constrangem a alma ao
passo vacilante, de atenção voltada para as experiências inferiores.

A nova fé vem alargar-lhe a senda para mais elevadas formas de


evolução.

Chave de luz para os ensinamentos do Cristo, explica o Evangelho não


como um tratado de regras disciplinares, nascidas do capricho humano, mas
como a salvadora mensagem de fraternidade e alegria, comunhão e
entendimento, abrangendo as leis mais simples da vida.
Aparece-nos, então, Jesus, em maior extensão de sua glória.

Não mais como um varão de angústia, insinuando a necessidade de


amarguras e lágrimas e sim na altura do herói da bondade e do amor,
educando para a felicidade integral, entre o serviço e a compreensão, entre a
boa-vontade e o júbilo de viver.

Nesse aspecto, vemo-lo como o maior padrão de solidariedade e


gentileza, apagando-se na manjedoura, irmanando-se com todos na praça
pública e amparando os malfeitores, na cruz, à extrema hora, de passagem
para a divina ressurreição.
O Espiritismo será, pois, indiscutivelmente, a força do Cristianismo em
ação para reerguer a alma humana e sublimar a vida.

O Espaço Infinito, pátria universal das constelações e dos mundos, é, sem


dúvida, o clima natural de nossas almas, entretanto, não podemos esquecer
que somos filhos, devedores, operários ou companheiros da Terra, cujo
aperfeiçoamento constitui o nosso trabalho mais imediato e mais digno.
Esqueçamos, por agora, o paraíso distante para ajudar na construção do
nosso próprio Céu.

Interfiramos menos na regeneração dos outros e cogitemos mais de nosso


próprio reajuste, perante a Lei do Bem Eterno, e, servindo incessantemente
com a nossa fé à vida que nos rodeia, a vida, por sua vez, nos servirá,
infatigável, convertendo a Terra em estação celestial de harmonia e luz para o
acesso de nosso espírito à Vida Superior.
39
DIANTE DA TERRA

Diante da luta humana, o espírito que amadureceu o raciocínio e


despertou o coração, sente-se cada vez mais só, mais desajustado e menos
compreendido.
Por vagas crescentes de renovação, gerações diferentes surgem no
caminho, impondo-lhe conflitos sentimentais e lutas acerbas.

Estranha sede de harmonia invade-lhe a alma.


Habitualmente, identifica-se por estrangeiro na esfera da própria família.

Ilhado pela corrente escura das desilusões, a se sucederem, ininterruptas,


confiasse ao tédio infinito, guardando enrijecido o coração.

Essa, porém, não é a hora da desistência ou do desânimo.


O fruto amadurecido é a riqueza do futuro.

Quem se equilibra no conhecimento é o apoio daquele que oscila na


ignorância.
Que será da escola quando o aluno, guindando à condição de mestre,
fugir do educandário, a pretexto de não suportar a insipiência e a rudeza dos
novos aprendizes? E quem estará assim tão habilitado, perante o Infinito, ao
ponto de menoscabar a oportunidade de prosseguir na aquisição da
Sabedoria?

A Terra é a venerável instituição onde encontramos os recursos


indispensáveis para atender ao nosso próprio burilamento.

Milhões de vidas formam o pedestal em que nos erigimos e, alcançando o


grande entendimento, cabe-nos auxiliar as vidas iniciantes, por nossa vez.

Por isso, na plenitude do discernimento, reclamamos uma fé que nos


reaqueça a alma e nos soerga a visão, a fim de que a madureza de espírito
seja reconhecida por nós como o mais belo e o mais valioso período de nossa
romagem no mundo, ensinando-nos a agir sem apego e a servir sem
recompensa.
Situados no cimo da grande compreensão, não prescindimos da grande
serenidade.

Se, com o decurso do tempo, registramos o nosso isolamento íntimo,


quando alimentados pelo ideal superior, depressa observamos a nossa
profunda ligação com a Humanidade inteira.
Informamo-nos, pouco a pouco, de que ninguém é tão indigente que não
possa concorrer para o progresso comum e tomamos, com firmeza, o lugar
que nos compete no edifício da harmonia geral, distribuindo fragmentos de
nós mesmos, no culto da fraternidade bem vivida.

Valendo-nos da ressurreição de hoje para combater a morte de ontem,


encontramos na luta o esmeril que polirá o espelho de nossa consciência, a
fim de nos convertermos em fiéis refletores da beleza divina.

O mundo, por mais áspero, representará para o nosso espírito a escola de


perfeição, cujos instrumentos corretivos bendiremos, um dia. Os
companheiros de jornada que o habitam, conosco, por mais ingratos e
impassíveis, são as nossas oportunidades de materialização do bem, recursos
de nossa melhoria e de nossa redenção, e que, bem aproveitados por nosso
esforço, podem transformar-nos em heróis.
Não há medida para o homem, fora da sociedade em que ele vive. Se é
indubitável que somente o nosso trabalho coletivo pode engrandecer ou
destruir o organismo social, só o organismo social pode tornar-nos
individualmente grandes ou miseráveis.

A comunidade julgar-nos-á sempre pela nossa atitude dentro dela,


conduzindo-nos ao altar do reconhecimento, ao tribunal da justiça ou à
sombra do esquecimento.

O Espiritismo, sob a luz do Cristianismo, vem ao mundo para acordar-


nos.
A Terra é o nosso temporário domicílio.

A Humanidade é a nossa família real.


Todos estamos destinados por Deus a gloriosa destinação.

Em razão disso, Jesus, o Divino Emissário do Amor para todos os


séculos, proclamou com a realidade irretorquível: - “Das ovelhas que o Pai
me confiou nenhuma se perderá.”
40
ANTE O INFINITO

Amadurecida a compreensão na maioridade mental, percebe o homem a


sua própria pequenez, à frente do Infinito. Reconhece que a vida divina
palpita soberana, desde os princípios magnéticos do mundo subatômico até as
mais remotas constelações. Observa que o planeta, grande e sublime pelas
oportunidades de elevação que nos oferece, é simples grão de areia, quando
comparado ao imenso universo. Cercado por sóis e mundos incontáveis,
ergue-se, dentro de si mesmo, para indagar, quanto aos problemas da morte,
do destino, da dor.... Suas perguntas silenciosas atravessam o Espaço
incomensurável, em busca das eternas revelações...
Para o coração alimentado pela fé e elevado á glória do ideal superior, o
Espiritismo com Jesus traz a sua mensagem iluminada de esperança.

Interrogando o infinito, que se estende triunfante, no Estado e no Tempo,


os homens ouvem a palavra dos vivos que os antecederam, na grande viagem
do túmulo, afirmando com imponente beleza:

- Irmãos, a vida não cessa!...

Tudo é renovação e eternidade.

Tanto quanto as leis cósmicas nos governam a experiência física,


indefectíveis leis morais nos dirigem o espírito.
Abstende-vos do mal.

Os compromissos da alma com os planos inferiores constituem aumento


de densidade em seu veículo de manifestação.
Nosso corpo espiritual, em qualquer parte, refletirá a luz ou a treva, o céu
ou o inferno que trazemos em nós mesmos.

Cultivai a fraternidade e o bem, porque, hoje e amanhã, colheremos da


própria sementeira.
Além das fronteiras de sombra e cinza, onde se esfriam e se desintegram
os derradeiros farrapos da carne, a vida continua impondo-nos o resultado de
nossas próprias ações.

Amai o trabalho e engrandecei-o! É por ele que a civilização se levanta,


que a educação se realiza e que a nossa felicidade se perpetua.

Na Pátria das Almas, chora amargamente o espírito que lhe esqueceu a


riqueza oculta, olvidando que somente pelo serviço conseguimos desenvolver
as nossas possibilidades de crescimento interior para a imortalidade.

Aceitai o ato de servir a ajudar, não como castigo, mas sim como preciosa
honra que o Divino Poder nos confere.

Não vos inquietem no mundo o orgulho coroado de louros e o vício com


a iniquidade, aparentemente vitoriosos! ...
A Justiça reina, imperecível.

Quem humilha os outros será humilhado pela própria consciência e o


instituto universal das reencarnações funciona igualmente para todos,
premiando os justos e corrigindo os culpados.

Cada falta exige reparação.

Cada desequilíbrio reclama reajuste.

Os padecimentos coletivos da sociedade humana constituem a redenção


de séculos ensanguentados pela guerra e pela violência. As aflições
individuais são remédios proveitosos à cura e refazimento das almas.
Anexai os desejos do reino de vosso “eu” aos sábios desígnios do Reino
de Deus.

O egoísmo e a vaidade nos encarceram na lama da Terra.


Lede as páginas vivas da Natureza e buscai a vida sã e pura, usando a boa
vontade para com todos.

Simplificai vossos hábitos e reduzi as vossas necessidades.


Tende confiança, sede benevolentes, instruí-vos, amai de esperai! ....
Crescei no conhecimento e na virtude para serdes mais fortes e mais úteis.

Além dos horizontes que o nosso olhar pode abranger, outros mundos e
outras humanidades evolvem no rumo da perfeição! ...

Todos somos irmãos, filhos de um só Pai, que nos aguarda sempre, de


braços abertos, para a suprema felicidade no eterno bem! ...

E, ouvindo os sagrados apelos de Cima, o coração que desperta para a


vida superior compreende, enfim, que Deus é a Verdade Soberana, que o
trabalho é a nossa bênção, que o amor e a sabedoria representam a nossa
destinação e que a alma é imortal.

FIM
LIVRO 4
Emmanuel
Explicando...

Lembro-me de que, em 1931, numa de nossas reuniões habituais, vi a


meu lado, pela primeira vez, o bondoso Espírito Emmanuel.

Eu psicografava, naquela época, as produções do primeiro livro


mediúnico, recebido através de minhas humildes faculdades e experimentava
os sintomas de grave moléstia dos olhos.
Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma
envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava
era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos
luminosos que tinham a forma de uma cruz.

Às minhas perguntas naturais, respondeu o bondoso guia:


- "Descansa! Quando te sentires mais forte, pretendo colaborar
igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre os
teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos
espíritos se encontram unidos pelos laços mais santos da vida e o sentimento
afetivo que me impele para o teu coração tem suas raízes na noite profunda
dos séculos ..."

Essa afirmativa foi para mim imenso consolo e, desde essa época, sinto
constantemente a presença desse amigo invisível que, dirigindo as minhas
atividades mediúnicas, está sempre ao nosso lado, em todas as horas difíceis,
ajudando-nos a raciocinar melhor, no caminho da existência terrestre. A sua
promessa de colaborar na difusão da consoladora Doutrina dos Espíritos tem
sido cumprida integralmente.
Desde 1933, Emmanuel têm produzido, por meu intermédio, as mais
variadas páginas sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades
nossos para se pronunciar sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o
mais alto grau de tolerância, afabilidade e doçura, tratando sempre todos os
problemas com o máximo respeito pela liberdade e pelas ideias dos outros.

Convidado a identificar-se, várias vezes, esquivou-se delicadamente,


alegando razões particulares e respeitáveis, afirmando, porém, ter sido, na sua
última passagem pelo planeta, padre católico, desencarnado no Brasil.
Levando as suas dissertações ao passado longínquo, afirma ter vivido ao
tempo de Jesus, quando então se chamou Públio Lêntulos.

E de fato, Emmanuel, em todas as circunstâncias, tem dado a quantos o


procuram os testemunhos de grande experiência e de grande cultura.

Para mim, tem sido ele de incansável dedicação. Junto do Espírito


bondoso daquela que foi minha mãe na Terra, sua assistência tem sido um
apoio para meu coração nas lutas penosas de cada dia.

Muitas vezes, quando me coloco em relação com as lembranças de


minhas vidas passadas e quando sensações angustiosas me prendem o
coração, sinto-lhe a palavra amiga e confortadora.

Emmanuel leva-me, então, às eras mortas e explica-me o grande e


pequeno porquê das atribulações de cada instante. Recebo invariavelmente,
com a sua assistência, um conforto indescritível, e assim é que renovo minhas
energias para a tarefa espinhosa da mediunidade, em que somos ainda tão
incompreendidos.

Alguns amigos, considerando o caráter de simplicidade dos trabalhos de


Emmanuel, esforçaram-se para que este volume despretensioso surgisse no
campo da publicidade.

Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na


minha competência. Apenas me cumpria o dever de prestar ao generoso guia
dos nossos trabalhos a homenagem do meu reconhecimento, com a expressão
da verdade pura, pedindo a Deus que o auxilie cada vez mais, multiplicando
suas possibilidades no mundo espiritual, e derramando-lhe n´alma fraterna e
generosa as luzes benditas do seu infinito amor.
Pedro Leopoldo 16 de Setembro de 1937.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
A TAREFA
DOS GUIAS ESPIRITUAIS

Os guias invisíveis do homem não poderão, de forma alguma, afastar as


dificuldades materiais dos seus caminhos evolutivos sobre a face da Terra.

O Espaço está cheio de incógnitas para todos os Espíritos.

Se os encarnados sentem a existência de fluidos imponderáveis que ainda


não podem compreender, os desencarnados estão marchando igualmente para
a descoberta de outros segredos divinos que lhes preocupam a mente.
Quando falamos, portanto, da influência do Evangelho nas grandes
questões sociológicas da atualidade, apontamos às criaturas o corpo de leis,
pelas quais devem nortear as suas vidas no planeta. O chefe de determinados
serviços recebe regulamentos necessários dos seus superiores, que ele deverá
pôr em prática na administração. Nossas atividades são de colaborar com os
nossos irmãos no domínio do conhecimento desses códigos de justiça e de
amor, a cuja base viverá a legislação do futuro. Os Espíritos não voltariam à
Terra apenas para dizerem, aos seus companheiros, das beatitudes eternas nos
planos divinos da imensidade. Todos os homens conhecem a fatalidade da
morte e sabem que é inevitável a sua futura mudança para a vida espiritual.
Todas as criaturas estão, assim, fadadas a conhecer aquilo que já
conhecemos. Nossa palavra é para que a Terra vibre conosco nos ideais
sublimes da fraternidade e da redenção espiritual. Se falamos dos mundos
felizes, é para que o planeta terreno seja igualmente venturoso. Se dizemos do
amor que enche a vida inteira da Criação Infinita, é para que o homem
aprenda também a amar a vida e os seus semelhantes. Se discorremos acerca
das condições aperfeiçoadas da existência em planos redimidos do Universo,
é para que a Terra ponha em prática essas mesmas condições. Os códigos
aplicados, em outras esferas mais adiantadas, baseados na solidariedade
universal, deverão, por sua vez, merecer ai a atenção e os estudos precisos.
O orbe terreno não está alheio ao concerto universal de todos os sóis e de
todas as esferas que povoam o Ilimitado; parte integrante da infinita
comunidade dos mundos, a Terra conhecerá as alegrias perfeitas da harmonia
da vida. E a vida é sempre amor, luz, criação, movimento e poder.

Os desvios e os excessos dos homens é que fizeram do vosso planeta a


mansão triste das sombras e dos contrastes.
Fluidos misteriosos ligam a Deus todas as belezas da sua criação perfeita
e inimitável. Os homens terão, portanto, o seu quinhão de felicidade
imorredoura, quando estiverem integrados na harmonia com o seu Criador.

Os sóis mais remotos e mais distantes se unem ao vosso orbe de sombras,


através de fluidos poderosos e intangíveis. Há uma lei de amor que reúne
todas as esferas, no seio do éter universal, como existe essa força ignorada,
de ordem moral, mantendo a coesão dos membros sociais, nas coletividades
humanas. A Terra é, pois, componente da sociedade dos mundos. Assim
como Marte ou Saturno já atingiram um estado mais avançado em
conhecimentos, melhorando as condições de suas coletividades, o vosso orbe
tem, igualmente, o dever de melhorar-se, avançando, pelo aperfeiçoamento
das suas leis, para um estágio superior, no quadro universal.
Os homens, portanto, não devem permanecer embevecidos, diante das
nossas descrições.

O essencial é meter mãos à obra, aperfeiçoando, cada qual, o seu próprio


coração primeiramente, afinando-o com a lição de humildade e de amor do
Evangelho, transformando em seguida os seus lares, as suas cidades e os seus
países, a fim de que tudo na Terra respire a mesma felicidade e a mesma
beleza dos orbes elevados, conforme as nossas narrativas do Infinito.

EMMANUEL
DOUTRINANDO A FÉ

I
AS ALMAS ENFRAQUECIDAS

Minhas palavras de hoje são dirigidas aos que ingressam nos estudos
espiritistas, tangidos pelos azorragues impiedosos do sofrimento; no auge das
suas dores, recorreram ao amparo moral que lhes oferecia a doutrina e
sentiram que as tempestades amainavam... Seus corações reconhecidos
voltaram-se então para as coisas espirituais; todavia, os tormentos não
desapareceram. Passada uma trégua ligeira, houve recrudescência de prantos
amargos.

Experimentando as mesmas torturas, sentem-se vacilantes na fé e baldas


do entusiasmo das primeiras horas e é comum ouvirem-se as suas
exclamações: – “Já não tenho mais fé, já não tenho mais esperanças...”
Invencível abatimento invade-lhes os corações tíbios e enfraquecidos na luta,
desamparados na sua vontade titubeante e na sua inércia espiritual.

Essas almas não puderam penetrar o espírito da doutrina, vogando apenas


entre as águas das superficialidades.

O QUE É
O MODERNO ESPIRITUALISMO

O moderno Espiritualismo não vem revogar as leis diretoras da evolução


coletiva. As suas concepções avançadas representam um surto evolutivo da
Humanidade, uma época de mais compreensão dos problemas da vida, sem
oferecer talismãs ou artes mágicas, com a pretensão de derrogar os estatutos
da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento dos véus que encobrem o
destino do ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veículo do seu progresso e
da sua redenção.

Traz consigo o nobre objetivo de enriquecer, com as suas benditas


claridades, os homens que as aceitam, longe da vaidade de prometer-lhes
fortunas e gozos terrestres, bens temporais que apenas servem para fortificar
as raízes do egoísmo em seus corações, agrilhoando-os ao potro das gerações
dolorosas.

NECESSIDADE DO ESFORÇO PRÓPRIO

Pergunta-se, às vezes, por que razão não obstam os Espíritos esclarecidos,


que em todos os tempos acompanham carinhosamente a marcha dos
acontecimentos do orbe, as guerras que dizimam milhões de existências e
empobrecem as coletividades, influenciando os diretores de movimentos
subversivos nos seus planos de gabinete; inquire-se o porquê das existências
amarguradas e aflitas de muitos dos que se dedicam ao Espiritismo, dando-
lhes o melhor de suas forças e sempre torturados pelas provas mais amargas e
pelos mais acerbos desgostos. Daqui, contemplamos melancolicamente essas
almas desesperadas e desiludidas, que nada sabem encontrar além das
puerilidades da vida.
Em desencarnando, não entra o Espírito na posse de poderes absolutos. A
morte significa apenas uma nova modalidade de existência, que continua,
sem milagres e sem saltos.

É necessário encarar-se a situação dos desencarnados com a precisa


naturalidade. Não há forças miraculosas para os seres humanos, como não
existem igualmente para nós. O livre-arbítrio relativo nunca é ab-rogado em
todos nós; em conjunto, somos obrigados, em qualquer plano da vida, a
trabalhar pelo nosso próprio adiantamento.
A PRECE

Faz-se preciso que o homem reconheça a necessidade da luta como a do


pão cotidiano.
A crença deve ser a bússola, o farol nas obscuridades que o rodeiem na
existência passageira e a prece deve ser cultivada, não para que sejam
revogadas as disposições da lei divina, mas a fim de que a coragem e a
paciência inundem o coração de fortaleza nas lutas ásperas, porém
necessárias.

A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em mente senão a


humildade sincera na aceitação de sua vontade superior.

AOS ENFRAQUECIDOS NA LUTA

Almas enfraquecidas, que tendes, muitas vezes, sentido sobre a fronte o


sopro frio da adversidade, que tendes vertido muitos prantos nas jornadas
difíceis em estradas de sofrimentos rudes, buscai na fé, os vossos
imperecíveis tesouros.

Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de vossa resistência ao


desespero. Ânimo e coragem! No fim de todas as dores, abre-se uma aurora
de ventura imortal; dos amargores experimentados, das lições recebidas, dos
ensinamentos conquistados à custa de insano esforço e de penoso labor, tece
a alma sua auréola de eternidade gloriosa; eis que os túmulos se quebram e da
paz cheia de cinzas e sombras, dos jazigos, emergem as vazes comovedoras
dos mortos. Escutai-as!... elas vos dizem da felicidade do dever cumprido,
dos tormentos da consciência nos desvios das obrigações necessárias.
Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os caminhos da prova com
destemor e serenidade. As lágrimas que dilaceram, as mágoas que pungem,
as desilusões que fustigam o coração, constituem elementos atenuantes da
vossa imperfeição, no tribunal augusto, onde pontifica o mais justo,
magnânimo e integro dos juízes. Sofrei e confiai, que o silêncio da morte é o
ingresso para uma outra vida, onde todas as ações estão contadas e gravadas
as menores expressões dos nossos pensamentos.

Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque o amor é a única


moeda que assegura a paz e a felicidade no Universo.
II
A ASCENDÊNCIA DO EVANGELHO

Nenhuma expressão fornece imagem mais justa do poder d’Aquele a


quem todos os espíritos da Terra rendem culto do que a de João, no seu
Evangelho – “No princípio era o Verbo...”
Jesus, cuja perfeição se perde na noite imperscrutável das eras,
personificando a sabedoria e o amor, tem orientado todo o desenvolvimento
da Humanidade terrena, enviando os seus iluminados mensageiros, em todos
os tempos, aos agrupamentos humanos e, assim como presidiu à formação do
orbe, dirigindo, como Divino Inspirador, a quantos colaboraram na tarefa da
elaboração geológica do planeta e da disseminação da vida em todos os
laboratórios da Natureza, desde que o homem conquistou a racionalidade,
vem-lhe fornecendo a ideias da sua divina origem, o tesouro das concepções
de Deus e da imortalidade do espírito, revelando-lhe, em cada época, aquilo
que a sua compreensão pode abranger.

Em tempos remotos, quando os homens, fisicamente, pouco


dessemelhavam dos antropopitecos, suas manifestações de religiosidade eram
as mais bizarras, até que, transcorridos os anos, no labirinto dos séculos,
vieram entre as populações do orbe os primeiros organizadores do
pensamento religioso que, de acordo com a mentalidade geral, não
conseguiram escapar das concepções de ferocidade que caracterizavam
aqueles seres egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade.
Começaram aí os primeiros sacrifícios de sangue aos ídolos de cada facção,
crueldades mais longínquas que as praticadas nos tempo de Baal, das quais
tendes notícia pela História.

AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
Vamos encontrar, historicamente, as concepções mais remotas da
organização religiosa na civilização chinesa, nas tradições da índia védica e
bramânica, de onde também se irradiaram as primeiras lições do culto dos
mortos, na civilização resplandecente dos faraós, na Grécia com os
ensinamentos órficos e com a simbologia mitológica, existindo já grandes
mestres, isolados intelectualmente das massas, a quem ofereciam os seus
ensinos exóticos, conservando o seu saber de iniciados no círculo restrito
daqueles que os poderiam compreender devidamente.

OS MISSIONÁRIOS DO CRISTO

Fo-Hi, os compiladores dos Vedas, Confúcio, Hermes, Pitágoras,


Gautama, os seguidores dos mestres da antiguidade, todos foram mensageiros
de sabedoria que, encarnando em ambientes diversos, trouxeram ao mundo a
ideia de Deus e das leis morais a que os homens se devem submeter para a
obtenção de todos os primores da evolução espiritual. Todos foram
mensageiros d´Aquele que era o Verbo do Princípio, emissários da sua
doutrina de amor. Em afinidade com as características da civilização e dos
costumes de cada povo, cada um deles foi portador de uma expressão do
“amai-vos uns aos outros”. Compelidos, em razão do obscurantismo dos
tempos, a revestir seus pensamentos com os véus misteriosos dos símbolos,
como os que se conheciam dentro dos rigores iniciáticos, foram os
missionários do Cristo preparadores dos seus gloriosos caminhos.

A LEI MOSAICA

A lei mosaica foi à precursora direta do Evangelho de Jesus. O protegido


de Termutis, depois de se beneficiar com a cultura que o Egito lhe podia
prodigalizar, foi inspirado a reunir todos os elementos úteis à sua grandiosa
missão, vulgarizando o monoteísmo e estabelecendo o Decálogo, sob a
inspiração divina, cujas determinações são até hoje a edificação basilar da
Religião da Justiça e do Direito, se bem que as doutrinas antigas já tivessem
arraigado a crença de Deus único, sendo o politeísmo apenas uma questão
simbológica, apta a satisfazer à mentalidade geral.

A legislação de Moisés está cheia de lendas e de crueldades compatíveis


com a época, mas, escoimada de todos os comentários fabulosos a seu
respeito, a sua figura é, de fato, a de um homem extraordinário, revestido dos
mais elevados poderes espirituais. Foi o primeiro a tornar acessíveis às
massas populares os ensinamentos somente conseguidos à custa de longa e
penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes verdades.

JESUS

Com o nascimento de Jesus, há como que uma comunhão direta do Céu


com a Terra. Estranhas e admiráveis revelações perfumam as almas e o
Enviado oferece aos seres humanos toda a grandeza do seu amor, da sua
sabedoria e da sua misericórdia.
Aos corações abre-se nova torrente de esperanças e a Humanidade, na
Manjedoura, no Tabor e no Calvário, sente as manifestações da vida celeste,
sublime em sua gloriosa espiritualidade.

Com o tesouro dos seus exemplos e das suas palavras, deixa o Mestre
entre os homens a sua Boa Nova. O Evangelho do Cristo é o transunto de
todas as filosofias que procuram aprimorar o espírito, norteando-lhe a vida e
as aspirações.

Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de sua


bondade infinita.

O EVANGELHO E O FUTURO

Raças e povos ainda existem, que o desconhecem, porém não ignoram a


lei de amor da sua doutrina, porque todos os homens receberam, nas mais
remotas plagas do orbe, as irradiações do seu espírito misericordioso, através
das palavras inspiradas dos seus mensageiros.
O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a
resistência das trevas. A má-fé, a ignorância, a simonia, o império da força
conspiração contra ele, mas tempo virá em que a sua ascendência será
reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é para a sua luz
eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança. Então, novamente
se ouvirão as palavras benditas do Sermão da Montanha e, através das
planícies, dos montes e dos vales, o homem conhecerá o caminho, a verdade,
a vida.
III
ROMA E A HUMANIDADE

Meus caros amigos, alguns de vós, que aqui vos achais, possuís dedicação
e amor à causa da Luz e da Verdade; é lícito, portanto, procuremos
corresponder aos vossos esforços e aspirações de conhecimento, ofertando-
vos todas as coisas do espírito, dentro das nossas possibilidades, para que vos
sirvam de auxílio na escalada difícil da verdade.
Numerosas são as falanges de seres que se entregam à difusão das teorias
espiritualistas e que operam, na atualidade, o milagre do ressurgimento da
filosofia cristã, em sua pureza de antanho. É que chegados são os dias das
explicações racionais de todos os séculos que tendes atravessados com os
olhos vendados para os domínios da espiritualidade, devidos aos preconceitos
das posições sociais e sentimentos de utilitarismo de vários sistemas
religiosos e filosóficos, desvirtuados em suas finalidades, em seus princípios.

Nossos desejos seriam os de que a nossa voz fosse ouvida, veiculando-se


a palavra da imortalidade sobre toda a Terra; todavia, não serão feitos em vão
os nossos apelos.

Por constituir tema de interesse geral para quantos mourejam nas fainas
benditas do conhecimento da verdade, subordinei estas palavras à epígrafe
“Roma e a Humanidade”, a fim de levar-vos a minha pequena parcela de
instrução sobre o Catolicismo que, deturpando nos seus objetivos as lições do
Evangelho, se tornou uma organização política em que preponderam as
características essencialmente mundanas.

ROMA EM SEUS PRIMÓRDIOS


Fundada em tempos remotíssimos, por agrupamentos de homens que
experimentavam a necessidade de recíproca defesa e proteção mútua,
edificou-se Roma, sobre as lendas de Rômulo, do rapto das sabinas e outras.
Habitada por indivíduos acostumados à rudeza, tornou-se populosa com os
reforços de habitantes que constantemente lhe vinham dos núcleos
circunvizinhos, vindo a ser em breve a cidade que se transformaria na célebre
república, depois império, e que tão fortemente predomina sobre os destinos
humanos.

Como, porém, não é objeto da nossa palestra o estudo da História


Universal, sintetizemos, para alcançar o nosso desiderato.

O CRISTIANISMO EM SUAS ORIGENS

Edificante é a investigação, o estudo acerca do Cristianismo nos


primeiros tempos de sua história; edificante lembrarmos as apagadas figuras
de pescadores humildes, grosseiros e quase analfabetos, a enfrentarem o
extraordinário e secular edifício erguido pelos triunfos romanos, objetivando
a sua reforma integral.
Afrontando a morte em todos os caminhos, reconheceram, em breve, que
inúmeros Espíritos oprimidos os aguardavam e com eles se transformavam
em anunciadores da causa do Divino Mestre.

A história da Igreja cristã nos primitivos séculos está cheia de heroísmos


santificantes e de redentoras abnegações. Nas dez principais perseguições aos
cristãos, de Nero a Diocleciano, vemos, pelo testemunho da História, gestos
de beleza moral, dignos de monumentos imperecíveis. Foi assim que,
contando com a animadversão das autoridades da filosofia em voga na época,
os seguidores de Cristo sentiram forte amparo na voz esclarecida de
Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e outras sumidades do tempo.

OS BISPOS DE ROMA

Nos primitivos movimentos de propaganda da nova fé, não possuíam


nenhuma supremacia os bispos romanos entre os seus companheiros de
episcopado e a Igreja era pura e simples, como nos tempos que se seguiram
ao regresso do seu divino fundador às regiões da Luz. As primeiras
reformas surgiram no quarto século da vossa era, quando
Basílio de Cesaréia e Gregório Nazianzeno instituíram o
culto aos santos.
Os bispos romanos sempre desejaram exercer injustificável primazia entre
os seus coirmãos; todavia, semelhantes pretensões foram sempre profligadas,
destacando-se entre os vultos que as combateram a venerável figura de
Agostinho, que se tornara adepto fervoroso do Crucificado à força de ouvir as
prédicas de Ambrósia, bispo de Milão, a cujos pés se prosternou Teodósio, o
Grande, penitenciando-se das crueldades perpetradas ao reprimir a revolta
dos tessalonicenses.

Desde o primeiro concílio ecumênico de Nicéia,


convocado para condenação do cisma de Ário, continuaram as
reuniões desses parlamentos eclesiásticos, onde eram debatidos todos os
problemas que interessavam ao movimento cristão. Datam dessas famosas
reuniões as inovações desfiguradoras da beleza simples do Evangelho; ainda
aí, contudo, nesses primeiros séculos que sucederam à implantação da
doutrina de Jesus, destinada a exercer tão acentuada influência na legislação
de todos os povos, não se conhecia, em absoluto, a hegemonia da Igreja de
Roma entre as outras congêneres. Somente no princípio do século VII a
presunção dos prelados romanos encontrou guarida no
famigerado imperador Focas, que outorgou a Bonifácio a
primazia injustificável de bispo universal. Consumada essa
medida, que facilitava ao orgulho e ao egoísmo toda sua nociva
expansibilidade, tem-se levado a efeito, até hoje, os maiores
atentados, que culminaram, em 1870, na declaração da
infalibilidade papal.
INOVAÇÕES E DOGMAS ROMANOS
A doutrina de Jesus, concentrando-se à força na cidade de Césares, aí
permaneceu como encarcerada pelo poder humano e, passando por
consecutivas reformas, perdeu a simplicidade encantadora das suas origens,
transformando-se num edifício de pomposas exterioridades. Após a
instituição do culto dos santos, surgiram imediatamente os primeiros ensaios
de altares e paramentos para as cerimônias eclesiásticas, medidas aventadas
pelos pagãos convertidos, os quais, constantemente, foram adaptando a Igreja
a todos os sistemas religiosos do passado. O dogma da trindade é uma
adaptação da Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do
bramanismo os três deuses – Brama, Vishu e Siva. É verdade que as coisas
inacessíveis ainda à vossa compreensão e que constituem os mistérios
celestes, só vos podem ser transmitidas em suas expressões simbólicas; mas,
o Catolicismo não pode aproveitar-se desse argumento para impor-se como
única doutrina infalível e soberana. Ele era uma escola religiosa, como
qualquer outra que busque nortear os homens para o bem e para Deus, mas
que perdeu esse objetivo, pecando constantemente por orgulho dos seus
dirigentes, os quais raras vezes sabem exemplificar a piedade cristã.

A história do papado é a do desvirtuamento dos princípios do


Cristianismo, porque, pouco a pouco, o Evangelho quase desapareceu sob as
suas despóticas inovações, Criaram os pontífices o latim nos rituais, o culto
das imagens, a canonização, a confissão auricular, a adoração da hóstia, o
celibato sacerdotal e, atualmente, noventa por cento das instituições são de
origem humaníssima, fora de quaisquer características divinas.

AS PRETENSÕES ROMANAS

Perdido o cetro da sua hegemonia na antiguidade, o espírito de


supremacia perdurou, entretanto, na grande cidade, outrora teatro de todos os
aviltamentos e corrupções da Humanidade. Foi dessa ânsia, de operar um
retrospecto da História, que nasceu provavelmente o desejo de o bispo
romano arvorar-se em chefe do Cristianismo; o que Roma perdera, com o
progresso e com a expansão dos povos, reaveria nos domínios das coisas
espirituais.
E assim aconteceu.
O Vaticano, porém, não soube senão produzir obras de caráter
exclusivamente material, tornando-se potência de poder e autoridade
temporais. Afogou-se na vaidade, obtendo o que procurava, porquanto tem o
seu império na Terra, que ainda não é o reino de Jesus. O seu fastígio, as suas
suntuosas basílicas, as suas pomposas solenidades recordam o politeísmo e as
dissipações da sociedade romana e, quando o sumo-pontífice aparece em
vossos dias na sédia gestatória, é o retrato dos cônsules do antigo senado
quando saiam a público, precedidos de litores. O símile é perfeito.

Meu objetivo foi mostrar-vos a inexistência do selo divino nas


instituições católicas. Toda a força da Igreja, na atualidade, vem da sua
organização política, que busca contemporizar com a ignorância. O milagre
que se operou nalguns espíritos de eleição, como o divino inspirado da
Úmbria, gerou-se da beleza do Evangelho e dos tempos apostólicos,
unicamente, porque, entre Jesus e o papa, entre os apóstolos e os clérigos, há
uma distância imensurável.
O Vaticano conservará seu poderio, enquanto puder adaptar-se a todos os
costumes políticos das nacionalidades; mas, quando o Evangelho for
integralmente restabelecido, quando a onda de uma reforma visceral purificar
o ambiente das democracias com a luminosa mensagem da fraternidade
humana, desaparecerá, não podendo ser absolvido na balança da História,
porque ao lado dos poucos bens que espalhou está o peso esmagador das suas
muitas iniquidades.
IV
A BASE RELIGIOSA

No futuro, viverá a Humanidade fora desse ambiente de animosidade


entre a Ciência e a Religião e julgo mesmo que em nenhuma civilização pode
a primeira substituir a segunda. Uma e outra se completam no processo de
evolução de todas as almas para o Criador e para a perfeição de sua obra. As
suas aparentes antinomias, que derivam, na atualidade, da compreensão
deficiente do homem, em face dos problemas transcendentes da vida, serão
eliminadas, dentro do estudo, da análise e do raciocínio.

O TÓXICO DO INTELECTUALISMO

Nos tempos modernos, mentalidades existem que pugnam pelo


desaparecimento das noções religiosas do coração dos homens, saturadas do
cientificismo do século e trabalhadas por ideias excêntricas, sem perceberem
as graves responsabilidades dos seus labores intelectuais, porquanto hão de
colher o fruto amargo das sementes que plantaram nas almas jovens e
indecisas. Pede-se uma educação sem Deus, o aniquilamento da fé, o
afastamento das esperanças numa outra vida, a morte da crença nos poderes
de uma providência estranha aos homens. Essa tarefa é inútil. Os que se
abalançam a sugerir semelhantes empresas podem ser dignos de respeito e
admiração, quando se destacam por seus méritos científicos, mas
assemelham-se a alguém que tivesse a fortuna de obter um oásis entre
imensos desertos. Confortados e satisfeitos na sua felicidade ocasional, não
veem as caravanas inumeráveis de infelizes, cheias de sede e fome,
transitando sobre as areias ardentes.

EXPERIÊNCIA QUE FRACASSARIA


O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se
uma educação pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos
naturais do homem. A experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me
refiro aqui à moral religiosa, que deverá inspirar a formação do caráter e do
instituto da família e não ao sectarismo do círculo estreito das Igrejas
terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente das escolas
públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade de
pensamento. Falo do lar e do mundo íntimo dos corações.

No dia em que a evolução dispensar o concurso religiosos para a solução


dos grandes problemas educativos da alma do homem, a Humanidade inteira
estará integrada na religião, que é a própria verdade, encontrando-se unida a
Deus, pela Fé e pela Ciência então irmanadas.

A FALIBILIDADE HUMANA

Em cada século o progresso científico renova a sua concepção acerca dos


mais importantes problemas da vida.
Raramente os verdadeiros sábios são compreendidos por seus
contemporâneos. Se as contradições dos estudiosos são o sinal de que a
Ciência evolve sempre, elas atestam, igualmente, a fraqueza e inconsistência
dos seus conhecimentos e a falibilidade humana.

O SUBLIME LEGADO

Diz-se que o pensamento religioso é uma ilusão. Tal afirmativa carece de


fundamento. Nenhuma teoria científica, nenhum sistema político, nenhum
programa de reeducação pode roubar do mundo a ideias de Deus e da
imortalidade do ser, inatas no coração dos homens. As ideologias novas
também não conseguirão eliminá-la. A religião viverá entre as criaturas,
instruindo e consolando, como um sublime legado.

RELIGIÃO E RELIGIÕES
O que se faz preciso, em vossa época, é estabelecer a diferença entre
religião e religiões.
A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As
religiões são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles
próprios; dignas de todo o acatamento pelo sopro de inspiração superior que
as faz surgir, são como gotas de orvalho celeste, misturadas com os
elementos da terra em que caíram. Muitas delas, porém, estão desviadas do
bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição lamentável dos seus
expositores; mas a verdade um dia brilhará para todos, sem necessitar da
cooperação de nenhum homem.

SABEDORIA
INTEGRAL E ORDEM INVIOLÁVEL

Cabe-nos, pois, a nós que depois da morte já não encontramos nenhum


ponto de dúvida, exclamar para os que creem e esperam:

- “Ó irmãos nossos que confiais na Providência Divina, dentro da


escuridão do mundo!... Do portal de claridade do Além-Túmulo, nós vos
estendemos mãos fraternas!... Nossas palavras correm pelo mundo como
sopro poderoso de verdades. A morte não existe e o Espírito é a única
realidade imutável da existência. Todas as Babilônias do passado jazem no
pó dos tempos, com as suas glórias reduzidas a um punhado de cinzas, mas
dentro do Universo mil laços nos unem. Sobre as ruínas, sobre os escombros
das civilizações mortas e dos templos desmoronados, nós viveremos
eternamente. Uma justiça soberana, íntegra e misericordiosa, preside aos
nossos destinos. Na Terra ou no Espaço, unamos os nossos esforços pelo bem
coletivo. Guardai convosco o sagrado patrimônio das crenças porque, acima
das coisas transitórias do mundo, há uma Sabedoria Integral e uma Ordem
Inviolável. Lutemos, pois, com destemor e coragem, porque Deus é justo e a
alma é imortal.
V
A NECESSIDADE DA EXPERIÊNCIA

Em vossos dias, a luta a cada momento recrudesce sobre a face do


mundo; inúmeras causas a determinam e Deus permite que ela seja
intensificada, em benefício de todos os seus filhos. Todas as classes são
obrigadas a grandes trabalhos, mormente aos trabalhos intelectuais,
porquanto procuram, com afinco, a solução da crise generalizada em todos os
países.
Ponderando a grande soma dos males atuais, buscam elas remédios para
as suas preocupações, espantadas com a situação econômica dos povos, cuja
precariedade recai sobre a vida das individualidades, multiplicando as suas
angústias na luta pelo pão cotidiano.

O quadro material que existe na Terra não foi formado pela vontade do
Altíssimo; ele é o reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo
egoísmo.
O Céu admite apenas que o mundo sofra as consequências de tão
perniciosos elementos, porque a experiência é necessária como chave bendita
que descerra as portas da compreensão.

Cada um, pois, medite no quinhão de responsabilidades que lhe toca e


não evite o trabalho que eleva para as Alturas.

O MOMENTO DAS GRANDES LUTAS

Há quem despreze a luta, mergulhando em nociva impassibilidade, ante


os combates que se travam no seio de todas as coletividades humanas; a
indiferença anula na alma as suas possibilidades de progresso e oblitera os
seus germens de perfeição, constituindo um dos piores estados psíquicos,
porque, roubando à individualidade o entusiasmo do ideal pela vida, a obriga
ao estacionamento e à esterilidade, prejudiciais em todos os aspectos à sua
carreira evolutiva.

Semelhante situação não se pode, todavia, eternizar, pois para todos os


espíritos, talhados todos para o supremo aperfeiçoamento, raia, cedo ou tarde,
o instante da compreensão que nos impele a contemplar os altos cimos... A
alma estacionária, até então refratária às pugnas do progresso, sente em si a
necessidade de experiências que lhe facultarão o meio de alcançar as
culminâncias vislumbradas... Atira-se ai à luta com devoção e coragem.
Vezes inúmeras fracassa em seus bons propósitos, porém, é nesse turbilhão
de incessantes combates que ela evoluciona para a perfeição infinita,
desenvolvendo as suas possibilidades, aprimorando os seus poderes,
enobrecendo-se, enfim.

OS PLANOS DO UNIVERSO SÃO INFINITOS

Para os desencarnados da minha esfera, o primeiro dia do Espírito é tão


obscuro como o primeiro dia do homem o é para a Humanidade. Somente
sabemos que todos nós, indistintamente, possuímos germens de santidade e
de virtude, que podemos desenvolver ao infinito.
Podendo conhecer a causa de alguns dos fenômenos do vosso mundo de
formas, não conhecemos o mundo causal dos efeitos que nos cercam, os
quais constituem para vós outros, encarnados, matéria imponderável em sua
substância.

Se para o vosso olhar existem seres invisíveis, também para o nosso eles
existem, em modalidade de vida que ainda estudamos nos seus primórdios,
porquanto os planos da evolução se caracterizam pela sua multiplicidade
dentro do Infinito.
Aqui reconhecemos quão sublime é a lei de liberdade das consciências e
dessa emancipação provém a necessidade da luta e do aprendizado.
O PROGRESSO ISOLADO DOS SERES

A Ciência, a Arte, a Cultura, a Virtude, a Inteligência não constituem


patrimônios eventuais do homem, conforme podeis observar; semelhantes
atributos só se revelam, na Terra, nos organismos dos gênios, os quais
representam a súmula de extraordinários esforços individuais, em existências
numerosas de sacrifício, abnegação e trabalho constantes. Todos os seres,
portanto, laboram insuladamente, na aquisição dessas prerrogativas, de
acordo com as suas vocações naturais, dentro das lutas planetárias.

Paulatinamente, vencem imperfeições, aparam arestas, aniquilam defeitos


em suas almas, norteando-as para o progresso, último objetivo de todas as
nossas cogitações comuns.

O FUTURO É A PERFEIÇÃO

Integrada no conhecimento de suas próprias necessidades de


aprimoramento, a alma jamais abandona a luta. Volta às existências
preparatórias do seu futuro glorioso. Reúne-se aos seres que lhe são afins,
desenvolvendo a sua atividade perseverante e incansável nos carreiros da
evolução.

Em existências obscuras, ao sopro das adversidades, amontoa os seus


tesouros imortais, simbolizados nas lições que aprende, devotadamente, nos
sofrimentos que lhe apuram a sensibilidade, Cada etapa alcançada é um ciclo
de dores vencidas e de perfeições conquistadas.

O QUE SIGNIFICAM
AS REENCARNAÇÕES

Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por


esse motivo, o ser humano deve amar a sua existência de lutas e de amarguras
temporárias, porquanto ela significa uma benção divina, quase um perdão de
Deus.
A golpes de vontade persistente e firme, o Espírito alcança elevados
pontos na sua escalada, nos quais não mais estacionará no caminho
escabroso, mas sentirá cada vez mais a necessidade de evolução e de
experiência, que o ajudarão a realizar em si as perfeições divinas.
VI
PELA REVIVESCÊNCIA
DO CRISTIANISMO

Irmãos e amigos. Ainda é para o estudo e a prática do Evangelho, em sua


primitiva pureza, que tereis de voltar o vosso entendimento, se quiserdes
salvar da destruição o patrimônio de conquistas grandiosas da vossa
civilização.

ÉPOCA DE DESOLAÇÃO

Tocastes a época da desolação, em que os homens não mais se


compreendem uns aos outros. A morte de todos os vossos ideais de
concórdia, a falência dos vossos institutos pró-paz requerem a atenção
acurada da Sociologia e esta somente poderá solucionar os problemas que vos
assoberbam, cheios de complexidades e transcendência, com o estudo do
Evangelho do Cristo, porém, não segundo os ditames da convenção social,
que há muitos séculos vem transformando o ideal de perfeição do Crucificado
num acervo de exterioridades, que os homens adotaram por questões de
esnobismo ou de acordo com os interesses da facção ou da personalidade.
Novos sistemas políticos, sobre as bases dos nacionalismos que vêm
criando no seio dos povos a terrível autarquia, ou sobre os alicerces frágeis
desse comunismo que objetiva a extinção do sagrado instituto da família,
apenas correrão o orbe com a sua feição de ideologias ocas, envenenando os
espíritos e intoxicando as consciências.

A NORMA DE AÇÃO EDUCATIVA

O psicólogo, o pedagogista, o formados das novas gerações, para


entrarem na arena da luta a prol do aperfeiçoamento de cada individualidade
sobre a Terra, terão de buscar a sua norma de ação dentro do próprio
Cristianismo, em sua simplicidade inicial, se não quiserem que a
Humanidade atinja a culminância dos arrasamentos e das destruições.

As religiões literalistas passaram, desdobrando com as suas filosofias,


sobre a fronte da Humanidade, um manto rico de fantasias e de concepções
variadas, mas baldas de essência e de espírito que lhes vivificassem os
ensinamentos.

A FALHA DA IGREJA ROMANA

A Igreja Católica, amigos, que tomou a si o papel de zeladora das ideias e


das realizações cristãs, pouco após o regresso do Divino Mestre às regiões da
Luz, falhou lamentavelmente aos seus compromissos sagrados. Desde o
concílio ecumênico de Nicéia, o Cristianismo vem sendo deturpado pela
influenciação dos sacerdotes dessa Igreja, deslumbrados com a visão dos
poderes temporais sobre o mundo. Não valeu a missão sacrossanta do
iluminado da úmbria, tentando restabelecer a verdade e a doutrina de piedade
e de amor do Crucificado para que se solucionasse o problema milenar da
felicidade humana.
As castas, as seitas, as classes religiosas, a intolerância do clericalismo
constituíram enormes barreiras a abafarem a voz das realidades cristãs. A
moral católica falhou aos seus deveres e às suas finalidades.

A Espanha atual, alimentada de catecismo romano desde a sua formação,


é bem, com os seus incêndios e depredações de tudo o que fora feito, um
atestado da falência dos ensinamentos ou da orientação de Roma para
alcançar o desiderato do progresso coletivo e da ética social.
Não nos elícito influenciar os homens e as suas instituições. Todavia,
podemos apreciar a influência das ideias sobre as massas, apreciando-lhes os
resultados. É o que desejamos evidenciar, solicitando vossa atenção para o
complexo de fenômenos dolorosos, de ordem social e política, que vindes
observando há alguns anos. Fazendo-o, temos o objetivo de vos demonstrar a
que resultado conduziu os povos a deturpação da palavra do Cristo, e a
necessidade de voltar-se o raciocínio individual e coletivo para a
compreensão dos deveres que dela decorrem.

O PROPÓSITO DOS ESPÍRITOS

O nosso propósito, na atualidade, é cooperar convosco pela obtenção da


paz e da concórdia no seio da coletividade humana.

Agora, filhos, já não são mais os homens os donos do trabalho, os


senhores absolutos da tarefa. Tomando por seus companheiros os de boa-
vontade que se acham aí no planeta, buscando o aprimoramento anímico e
psíquico onde aí se encontrem, são os gênios do Espaço que, sob a égide do
Divino Mestre, vêm proclamar, por entre as sociedades terrenas, as
consoladoras verdades, as grandiosas verdades.
Já agora, não mais se poderá abafar o ensinamento no silêncio escuro dos
calabouços, porquanto uma nova concepção do direito e da liberdade felicita
as criaturas.

É em razão disso que os túmulos falam, que os mortos voltam da sombra


e do amontoado das cinzas, para dizer-vos que a vida é o eterno presente e
que a imortalidade, dentro dos institutos da justiça incorruptível, que nos
observa e julga, é um fato incontestável.

Conclamando os homens, nossos irmãos, trazemos a todos o fruto


abençoado de nossas penosas existências, asseverando a cada um que o
problema da paz e da felicidade está solucionado no estatuto divino. Todas as
nossas atividades objetivam a revivescência do Cristianismo na Terra, de
modo que um templo se levante em cada lar e um hostiário em cada coração.

Auxiliai-nos, trazendo-nos o concurso da vossa boa-vontade, de vosso


querer; ajudai-nos em nossos propósitos benditos de reedificação do Templo
de Jesus, de cujos altares os maus sacerdotes se descuidaram, levados pelos
cantos de sereia da vaidade e dos interesses do mundo.

Que o Mestre abençoe a cada um de vós, fortalecendo-vos a fé, para que


possamos com Ele, com a sua proteção e a sua misericórdia, vencer na luta
em que nos achamos emprenhados.
VII
O LABOR DAS ALMAS

Descerradas as pesadas cortinas materiais que aí na Terra nos cobriam os


olhos do Espírito, experimentamos, aliado às comoções de êxtase diante da
imensidade, o desejo de comunicar a verdade a todas as criaturas. Como,
porém, atingir semelhante desiderato?
Obstáculos inúmeros se nos antolham, avultando o da falta de um
estabelecimento direto entre o plano material e o espiritual, que somente
poderíamos obter através de poderosa mediunidade generalizada, capaz de
registrar de maneira palpável todas as maravilhas do mundo psíquico.
Todavia, o porvir humano nos faz entrever essa ligação mais íntima dos
Espíritos, pertençam ou não ao orbe mental.

DIFICULDADES DA COMUNICAÇÃO

Na atualidade, quase todo fato mediúnico constitui o fenômeno, o


mistério, o acontecimento que exorbita das leis naturais, considerado,
portanto, erradamente pelos seus observadores. Daí o nascerem numerosas
dificuldades para que muitas entidades atuem de forma sensível em vossas
existências. Mas, se lhes é impossível a comunicação direta, é fácil a sua
participação em vossos afazeres, estudos, pensamentos e preocupações. Os
Espíritos, prepostos a esse ou àquele mister no seio da Humanidade e da
natureza, formam um conjunto harmonioso e muito maior do que julgais.

Rompido o laço que a une à matéria, um dos primeiros pensamentos da


alma é para os seres queridos que ficaram à distância, e a ansiedade de revê-
los constitui um dos mais santos objetivos de suas aspirações. Nem sempre
isso lhes é permitido, porquanto uma ordem indefectível preside às leis
cósmicas que são as leis divinas. Fazem tudo, porém, para que se tornem
dignas da confiança superior, e é assim que inúmeras criaturas desencarnadas
se entregam, em vossos ambientes, a misteres dignificantes e redentores.

O TRABALHO DOS ESPÍRITOS

Em vossa vida, tomam parte as entidades do Além: sem que as vejais,


perambulam em vosso meio, atuam em vossos atos, sem que os vossos
nervos visuais lhes registrem a presença;

Edificante é observarmos o sacrifício de tantos seres evolvidos que se


consagram a sagrados labores, no planeta das sombras, quais os da
regeneração de individualidades obcecadas no mal, operando abnegadamente
a serviço da redenção de todas as almas, atirando-se com destemor a tarefas
penosas, cheios de renúncia santificadora.

NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO

Fora da carne, compreende-se a excelência da abnegação e do sacrifico e


prol de outrem. A maioria das nossas obras pessoais são como bolhas de água
sabonada que se dispersam nos ares, porque, visando ao bem-estar e ao
repouso do “eu”, têm como base o egoísmo que atrofia a nossa evolução.
Toda a felicidade do Espírito provém da felicidade que deu aos outros, todos
os seus bens são oriundos do bem que espalhou desinteressadamente.

Compreendendo essas verdades, muitas vezes após as transformações da


morte, não as assimilamos tardiamente, porque, de posse das realidades
próximas do Absoluto, concatenamos as nossas possibilidades, laborando
ativamente na obra excelsa do bem comum e do progresso geral,
encontrando, assim, forças novas que nos habilitam a merecido êxito em
novas existências de abnegação que nos levarão às esferas felizes do
Universo.

Venturosos são os raros Espíritos que sentem a excelsitude dessas


verdades na vida corporal. Sacrificando-se em benefício dos semelhantes,
experimentam, mesmo sob a cruz das dores, a suave emoção das venturas
celestes que os aguardam nos planos aperfeiçoados do Infinito.
DESENVOLVIMENTO DA INTUIÇÃO

Faz-se mister, em vossos tempos, que busqueis desenvolver todas as


vossas energias espirituais – forças ocultas que aguardam o vosso desejo para
que desabrochem plenamente. O homem necessita das suas faculdades
intuitivas, através de sucessivos exercícios da mente, a qual, por sua vez,
deverá vibrar ao ritmo dos ideais generosos.

Cada individualidade deve alargar o círculo das suas capacidades


espirituais, porquanto, poderá, como recompensa à sua perseverança e
esforço, certificar-se das sublimes verdades do mundo invisível, sem o
concurso de quaisquer intermediários.

O que se lhe faz, porém, altamente necessário é o amor, o devotamento, a


aspiração pura e a fé inabalável, concentrados nessa luz que o coração almeja
fervorosamente; esse estado espiritual aumentará o poder vibratório da mente
e o homem terá então nascido para uma vida melhor.
VIII
A CONFISSÃO AURICULAR

Interpelado, há dias, a respeito da confissão auricular, nada mais pude


fazer que dar uma resposta resumida, de momento, adiando o instante de
expender outras considerações atinentes ao assunto.
Padre católico que fui, na minha última romagem terrena, sinto-me à
vontade para falar com imparcialidade sincera.

Não será a minha palavra que vá condenar qualquer religião, todas elas
nascidas de uma inspiração superior que os homens viciaram, acomodando as
determinações de ordem divina aos seus próprios interesses e conveniências,
desvirtuando-lhes os sagrados princípios.
Todas as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser no seio das
coletividades, onde foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de
concórdia humana. Todos os seus males provém justamente dos abusos do
homem, em amoldá-las ao abismo de suas materialidades habituais; e, de
fato, constitui um desses abusos a instituição da confissão auricular, pela
Igreja Católica.

A CONFISSÃO NOS TEMPOS APOSTÓLICOS

Se é verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o


sistema de confessar publicamente as suas faltas e os seus erros, tal costume
diferia essencialmente de tudo quanto criou a Igreja Católica, nesse
particular, depois da partida, para o Além, dos elevados Espíritos que
lançaram, com o sangue dos seus sacrifícios e com a mais sublime renúncia
dos bens terrenos, as bases da fé, as quais têm resistido ao bolor dos séculos.
A confissão pública dos próprios defeitos, nos tempos apostólicos, constituía
para o homem forte barreira, evitando sua reincidência na falta. Um
sentimento profundo de verdadeira humildade movia o coração nesses
momentos, oferecendo-lhe as melhores possibilidades de resistência ao
assédio das tentações, e semelhante princípio representava como que uma
vacina contra as úlceras do remorso e das chagas morais.

Todavia, os tempos decorreram e, no seu transcurso, observou-se a


transformação radical de todas as leis sublimes de fraternidade cristã,
anteriormente preconizadas.

A CONFISSÃO AURICULAR
E SUA GRANDE VÍTIMA

A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do amontoado das


doutrinas desvirtuadas do romanismo. E é justamente a mulher, pelo espírito
sensível de religiosidade que caracteriza, a maior vítima do confessionário.
Infelizmente, toda a série de absurdos do inqualificável sacramento da
penitência é oriunda dos superiores eclesiásticos, dos teólogos e falsos
moralistas da Igreja que, perversamente, criaram os longos e indiscretos
interrogatórios, aos quais terá a mulher de submeter-se passivamente, diante
de um homem solteiro, estranho, que ela, inúmeras vezes, nem conhece.

Os padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento dos sagrados


deveres da paternidade, não a vão interpelar no tocante ás obrigações austeras
do governo da casa; ferem exatamente os problemas mais íntimos e mais
delicados da vida do casal, violando o sagrado respeito das questões do lar,
dando pasto aos pensamentos mais injustificáveis e, às vezes, repugnantes. E
o véu de modéstia e de beleza que Deus concedeu à mulher, para que ela
pudesse mergulhar qual lírio de espiritualidade nos pântanos deste mundo, é
arrancado justamente por esse homem que se inculca ministro das luzes
celestes. Muitas vezes, é no confessionário que começa o calvário social da
mulher. Dolorosos e pesados tributos são cobrados das católicas-romanas,
que, confiadas em Deus, se lançam aos pés de um homem cheio das mesmas
fraquezas dos outros mortais, na enganosa suposição de que o sacerdote é a
imagem da Divindade do Senhor.
REFORMA NECESSÁRIA

Não podeis calcular as imensidade de crimes perpetrados à sombra dos


confessionários penumbrosos, onde almas aflitas e fervorosas buscam
consolação e conforto espiritual.

O que se faz necessário em vossos dias é a reforma de semelhantes


costumes. Quando essa renovação não parta das autoridades eclesiásticas, que
ela possa nascer dos esforços conjugados de todos os esposos e de todos os
pais, substituindo eles os confessores junto de suas esposas e de suas filhas.

Muitas vezes, quando procurado por consciência polutas, que me vinham


fazer o triste relato de suas existências repletas de deslizes, eu nunca me senti
com autoridade bastante para ouvi-las.

CONFESSAI-VOS UNS AOS OUTROS

Todo espírito do Evangelho, legado pelo Mestre à Humanidade sofredora,


foi deturpado pelo homem, dentro dos seus interesses mesquinhos e das suas
ideias de antropomorfismo.
Por isso, nós, que já trazemos o coração trabalhado nas mais penosas
experiências, podemos declarar, diante da nossa consciência e diante de Deus
que nos ouve, que nenhum bem pode prodigalizar a confissão auricular ao
espírito, sendo um costume eminentemente nocivo, com seus característicos
de depravação moral, merecendo, portanto, toda a atenção da sociologia
moderna.

Confessai-vos uns aos outros, buscando de preferência aqueles a quem


ofendestes e, quando a vossa imperfeição não vo-lo permita, procurai ouvir a
voz de Deus, na voz da vossa própria consciência.
IX
A IGREJA DE ROMA
NA AMÉRICA DO SUL

A Igreja Romana movimenta-se na América do Sul. Sentindo os perigos


da Europa, onde os produtos ideológicos de novas doutrinas lhe criaram uma
situação profundamente embaraçosa, a organização política do Catolicismo
volta-se para a América Meridional, onde os neolatinos, vivendo a existência
reflexa dos grandes centros ocidentais, trabalham ainda por adquirir uma
personalidade coletiva.
Os últimos congressos eucarísticos na Argentina e no Brasil representam
o apogeu das suas atividades, no sentido de manter a sua falsa posição, à
custa de exterioridade suntuosas, dentro daquela megalomania característica
das águias dominadoras do império romano.

A GRANDE USURPADORA

Vivendo à custa da economia dos que trabalham, a Igreja Romana é a


atual usurpadora de grande percentagem do esforço penoso das coletividades.

Sem dúvida, a sua influência no passado beneficiou a civilização, muito


embora tenha sido essa influência saturada de movimentos condenáveis, à
sombra do nome de Deus e em nome do Evangelho. As guerras santas, a
inquisição, as renovações religiosas dos séculos pretéritos, apoiam a nossa
assertiva. As obras beneficentes da Igreja estão ainda cheias de sangue dos
mártires. Quase todos os bens que o Vaticano conseguiu trazer à civilização
nascente fizeram-se acompanhar de terríveis acontecimentos.

O CATOLICISMO
NA EUROPA MODERNA

A Europa moderna, pobre de possibilidades econômicas e


compreendendo de perto a ação defraudadora da Igreja Católica, tornou-se
campo quase estéril para as suas explorações. As tendências da mentalidade
geral para uma organização econômica, sobre a base da justiça que deve
prevalecer em todas as leis do futuro, fizeram dos países europeus terreno
impróprio para uma indústria religiosa. Com exceção da política de Berlim e
de Roma, outras nacionalidades europeias custariam a tolerar esses
movimentos de audaciosas explorações. A mística fascista é a única que
procura o amparo das ilusões religiosas do Catolicismo, com o objetivo de
manter a coesão popular, em torno da idolatria do Estado. Ainda agora,
existem pronunciadas tendências da nova Alemanha para que se crie, nos
bastidores da política hitlerista, uma Igreja nacionalizada. Mas os países
democráticos, que se encaminham, com os seus estatutos de governo, para o
socialismo cristão do porvir, sentiriam dificuldade em suportar tutelas dessa
natureza. Trabalhadores por doutrinas libertárias, eles vêm pagando com
sangue os seus progressos penosamente obtidos. Longe de nós o aplaudirmos
a política nefasta de Stalin ou a suas atividades nos gabinetes de Léon Blum
ou de Azaña; apenas salientamos a tendência das massas para a liberdade,
sacudindo o jugo milenar do Catolicismo, que a, pretexto de prosseguir na
obra cristã, apossou-se do Estado para dominar e escravizar as consciências.
A Igreja, se bem haja desempenhado missão preponderante no destino desta
civilização que, na atualidade, toca ao apogeu, fez mais vítimas que as dez
perseguições mais notáveis, efetuadas pelos imperadores de Roma antiga
contra os adeptos da abençoada doutrina do Crucificado.

A IGREJA CATÓLICA
PROVOCANDO A POBREZA NO MUNDO

Integrada no conhecimento dessas grandes verdades é que a Europa de


agora se apresenta como um campo perigoso para as grandes concentrações
católicas; e os sacerdotes romanos que, com escasso automatismo de
sibaritas, bem compreendem que a visão dos seus faustos e de suas grandezas
açulam o instinto terrível das massas, trabalhadas pelas necessidades mais
duras, reconhecendo, de modo extraordinário, os movimentos homicidas dos
extremismos da atualidade, cujas lutas nefastas vêm amargurando a alma dos
povos. Ninguém ignora a fortuna gigantesca que se encerra, sem benefício
para ninguém, nos cofres pesados do vaticano; capitais que para eles se
canalizam, com fertilidade assombrosa, ali repousam sem se converterem em
benefício dos que trabalham, conquistando com penoso suro o pão de cada
dia. Os milhões de liras que ali se arquivam, em detrimento da economia de
todas as classes que produzem, têm apenas uma utilidade, que é a do
engrandecimento da obra suntuária do humildes continuadores de Jesus.

AMARGOS CONTRASTES

Enquanto há fome e desolação no mundo, Sua Santidade distribui


bênçãos e títulos nobiliárquicos, compensados com os mais pingues tributos
de ouro. As canonizações custam verdadeiras fortunas aos países católicos.
Para que a França conseguisse o altar para a sua heroína de Domremy, muitos
milhares de francos foram arrancados à economia popular. A América do Sul
ainda não conseguiu alguns santos do Vaticano, em virtude da sua carência
de recursos financeiros à consecução de tal projeto. Enquanto o vaticano se
entende com o Quirinal sobre as mais pesadas somas de ouro, destinadas às
atividades guerreiras, os padres se reúnem a e falam de paz; enquanto Pio XI
se debruça nos seus ricos apartamentos, passeando pelas suas galerias de arte
de todos os séculos e pelas vastas bibliotecas, exibindo a imagem do
Crucificado nas suas sandálias, ou entregando-se ao repouso no Castel
Gandolfo, há criaturas morrendo à mingua de trabalho, entregues a toda sorte
de misérias e de vicissitudes.

O MUNDO TEM SEDE DE CRISTO

Inspirando-se na inteligência de Leão XIII, que deixou a sua “Rerum


novarum” como alto documento político de conciliação das classes
proletárias e capitalistas, Pio XI publicou a sua “Quadragésimo anno”,
tentando estabelecer barreira ás doutrinas novas, que vêm pôr em xeque a
falsa posição da Igreja Católica. Alguns países vêm inspirando-se nessas
bulas pontifícias, para a criação de dispositivos constitucionais, aptos a
manter o equilíbrio social; todavia, importa considerar que a igreja é
impotente e suspeita para tratar dos interesses dos povos. Na sua situação
parasitária, não pode falar aos que trabalham e sofrem, aprendendo nas
experiências mais dolorosas da vida.

A vossa civilização sente necessidade da prática evangélica, tem sede de


Cristo, fome de idealismo genuinamente cristão e, diante desse surto novo de
fé das coletividades, nada valem os congressos eucarísticos, porquanto é
chegado o tempo de se fecharem as portas da indústria da cruz. O Cristo terá
de ressurgir dos escombros em que foi mergulhado pela teologia do
Catolicismo. O dogma conhecerá o seu fim com o advento das verdades
novas e é para esse movimento grandioso do porvir que os mortos vêm dar as
mãos aos vivos de boa-vontade. Que a Igreja Romana se transforme,
buscando guardar a essência dos exemplos terríveis desta última revolução
espanhola; que as provações coletivas hajam chegado ao seu termo, sem
necessidade de mais sangue, e de mais lágrimas e de mais vidas; que Roma
compreenda tudo isso e esclareça os seus tutelados, antes que os escravos de
suas ilusões recordem de sacudir as algemas por si mesmos; que a lei de
Jesus impere desde já, sem precisar das grandes dores que, por tantas vezes,
têm lacerado o coração sofredor da Humanidade terrestre.
X
AS PRETENSÕES CATÓLICAS

Achai possível e, sobretudo, conveniente que a Igreja volte a sagrar o


chefe do Estado no Brasil? Em caso afirmativo, qual a Igreja caberia essa
função? Deverá o poder da República receber a sagração de todos os cultos?
As perguntas acima revelam o assunto palpitante dos interesses inferiores
da Igreja de Roma na América do Saul, mormente no Brasil, segundo as
nossas considerações em anterior comunicado.

Motivam-nas algumas declarações feitas ultimamente por um padre


católico, considerando a “origem divina do poder sobre a Terra”, tentando
reconduzir o Estado às antigas bases absolutistas e teocráticas.
Decididamente, a igreja não esconde o seu propósito de escravizar ainda
as consciências humanas e, com os seus continuados pruridos de hegemonia
sobre todos os outros cultos, revela suas fundas saudades do Santo Ofício,
para algemar o pensamento dos homens às enxovias dos seus interesses.

Em pleno século XX, fala-se na necessidade de se delatarem os crimes


dos pais, dos esposos, dos irmãos; preconiza-se a devassa das instituições,
dos lares e das consciências. Não será surpresa para ninguém, se os padres
católicos exumarem amanhã, das cinzas da Idade Média para os dias que
correm, o célebre Livro das Taxas, do tempo de Leão X, em que todos os
preços do perdão para os crimes humanos estão estipulados.

O CULTO RELIGIOSO E O ESTADO

A evolução dos códigos políticos da América do Sul deveria merecer


mais respeito por parte dos elementos que se acham sob as ordens do
Vaticano.

Falar-se em sagração do chefe do Estado pela Igreja Romana, aliando o


direito divino às obrigações políticas, depois de tantas conquistas sociais da
República, seria quase infantilidade, se isso não representasse algo de
perigoso para os próprios códigos de natureza política do país.
Nenhum culto, que se prenda a Deus pela devoção e por determinados
deveres religiosos, tem o direito de interferir nos movimentos transitórios do
Estado, como este último não tem o direito de interferir na vida privada da
personalidade, em matéria de gosto, de sentimento e de consciência, segundo
as velhas fórmulas do liberalismo. Há muito tempo, os fenômenos do
progresso político dos povos proscrevem essas nefastas influências religiosas
sobre a política administrativa das coletividades.

SEMPRE COM CÉSAR

Já o próprio Cristo asseverava nas suas divinas lições; - “A César o que é


de César e a Deus o que é de Deus.”

Mas, a Igreja Católica Romana jamais ocultou sua preferência pela


amizade de César.
Os tempos apostólicos, que ainda iluminam o coração da Humanidade
sofredora, até os tempos modernos, pela sua união com o Evangelho, foram
muito curtos. Não tardou que a organização dos bispos romanos
preponderasse sobre todos os núcleos do verdadeiro Cristianismo, sufocando-
os com as suas forças temporais.

Inventaram-se todas as novidades para o ideal de simplicidade e pureza


de Jesus e, desde épocas remotas, o Catolicismo é bem retrato do farisaísmo
dos tempos judaicos, que conduziu o Divino Mestre a crucificação. Amiga
dos poderosos, em todos os tempos, bastilha do pensamento livre da
Humanidade que tentou a civilização cristã, é talvez, por esse motivo, que a
Igreja, pela voz dos seus teólogos mais eminentes, procurou sempre revestir o
poder transitório dos felizes da Terra com um caráter de divindade. Batida
pela demagogia céptica de todos os filósofos e cientistas que seguiram no
luminoso caminho das concepções liberais, retirada da sua posição de
opressora para se transformar em instrumento humilde de outros opressores
das criaturas humanas, a Igreja, na sua assombrosa capacidade de adaptação,
esperou pacientemente outras oportunidades para reaquisição dos seus
poderes e de suas tiranias e as encontrou dentro da mística do Estado
totalitário.
XI
MENSAGEM AOS MÉDIUNS

Venho exortar a quantos se entregaram na Terra à missão da


mediunidade, afirmando-lhes que, ainda em vossa época, esse posto é o da
renúncia, da abnegação e dos sacrifícios espontâneos. Faz-se mister que todos
os Espíritos, vindas ao planeta com a incumbência de operar nos labores
mediúnicos, compreendam a extensão dos seus sagrados deveres para a
obtenção do êxito no seu elevado e nobilitante trabalho.
Médiuns! A vossa tarefa deve ser encarada como um santo sacerdócio; a
vossa responsabilidade é grande, pela fração de certeza que vos foi
outorgada, e muito se pedirá aos que muito receberam. Faz-se, portanto,
necessário que busqueis cumprir, com severidade e nobreza, as vossas
obrigações, mantendo a vossa consciência serena, se não quiserdes tombar na
luta, o que seria crestar com as vossas próprias mãos as flores da esperança
numa felicidade superior, que ainda não conseguimos alcançar! Pesai as
consequências dos vossos mínimos atas, porquanto é preciso renuncieis à
própria personalidade, aos desejos e aspirações de ordem material, para 'que a
vossa felicidade se concretize.

VIGIAR PARA VENCER

Felizes daqueles que, saturados de boa-vontade e de fé, laboram


devotadamente para que se espalhe no mundo a Boa Nova da imortalidade.
Compreendendo a necessidade da renúncia e da dedicação, não repararam nas
pedras e nos acúleos do caminho, encontrando nos recantos do seu mundo
interior os tesouros do auxílio divino. Acendem nos corações a luz da crença
e das esperanças, e se, na maioria das vezes, seguem pela estrada
incompreendidos e desprezados, o Senhor enche com a luz do seu amor os
vácuos abertos pelo mundo em suas almas, vácuos feitos de solidão e
desamparo.

Infelizmente, a Terra ainda é o orbe da sombra e da lágrima, e toda


tentativa que se faz pela difusão da verdade, todo trabalho para que a luz se
esparja fartamente encontram a resistência e a reação das trevas que vos
cercam. Daí nascem as tentações que vos assediam, e partem as ciladas em
que muitos sucumbem, à falta da oração e da vigilância apregoadas no
Evangelho.

QUEM SÃO OS MÉDIUNS


NA SUA GENERALIDADE

Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção


comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que
contrariaram, sobremaneira, o curso das leis divinas, e que resgatam, sob o
peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado
obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de
graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são Espíritos que
tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da
fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se
sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das sendas
luminosas da fé, da caridade e da virtude. São almas arrependidas que
procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam, reorganizando, com
sacrifícios, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas
arbitrariedades e de condenável insânia.

AS OPORTUNIDADES DO SOFRIMENTO

As existências dos médiuns, em geral, têm constituído romances


dolorosos, vidas de amargurosas dificuldades, em razão da necessidade do
sofrimento reparador; suas estradas, no mundo, estão repletas de provações,
de continências e desventuras. Faz-se, porém, necessário que reconheçam o
ascetismo e o padecer, como belas oportunidades que a magnanimidade da
Providência lhes oferece, para que restabeleçam a saúde dos seus organismos
espirituais, combalidos nos excessos de vidas mal orientadas, nas quais se
embriagaram à saciedade com os vinhos sinistros do vício e do despotismo.

Humilhados e incompreendidos, faz-se mister que reconheçam todos os


benefícios emanantes das dores que purificam e regeneram, trabalhando para
que representem, de fato, o exemplo da abnegação e do desinteresse,
reconquistando a felicidade perdida.

NECESSIDADE DA EXEMPLIFICAÇÃO

Todos os médiuns, para realizarem dignamente a tarefa a que foram


chamados a desempenhar no planeta, necessitam identificar-se com o ideal de
Jesus, buscando para alicerce de suas vidas o ensinamento evangélico, em sua
divina pureza; a eficácia de sua ação depende do seu desprendimento e da sua
caridade, necessitando compreender, em toda a amplitude, a verdade contida
na afirmação do Mestre: “Dai de graça o que de graça receberdes.”
Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e viciosos, podem
perfeitamente cumprir seus deveres em qualquer posição social a que forem
conduzidos, sendo uma de suas precípuas obrigações melhorar o seu meio
ambiente com o exemplo mais puro de verdadeira assimilação da doutrina de
que são pregoeiros.

Não deverão encarar a mediunidade como um dom ou como um


privilégio, sim como bendita possibilidade de reparar seus erros de antanho,
submetendo-se, dessa forma, com humildade, aos alvitres e conselhos da
Verdade, cujo ensinamento está, frequentemente, numa inteligência
iluminada que se nos dirige, mas que se encontra igualmente numa provação
que, humilhando, esclarece ao mesmo tempo o espírito, enchendo-lhe o
íntimo com as claridades da experiência.

O PROBLEMA DAS MISTIFICAÇÕES

O problema das mistificações não deve impressionar os que se entregam


às tarefas mediúnicas, os quais devem trazer o Evangelho de Jesus no
coração. Estais muito longe ainda de solucionar as incógnitas da ciência
espírita, e se aos médiuns, às vezes, torna-se preciso semelhante prova,
muitas vezes os acontecimentos dessa natureza são também provocados por
muitos daqueles que se socorrem das suas possibilidades.

Tende o coração sempre puro. E com a fé, com a pureza de intenções,


com o sentimento evangélico, que se podem vencer as arremetidas dos que se
comprazem nas trevas persistentes. ê preciso esquecer os investigadores
cheios do espírito de mercantilismo!... Permanecei na fé, na esperança e na
caridade em Jesus - Cristo, jamais olvidando que só pela exemplificação
podereis vencer.

APELO AOS MEDIUNS

Médiuns, ponderai as vossas obrigações sagradas! preferi viver na maior


das provações a cairdes na estrada larga das tentações que vos atacam,
insistentemente, em vossos pontos vulneráveis.
Recordai-vos de que é preciso vencer, se não quiserdes soterrar a vossa
alma na escuridão dos séculos de dor expiatória. Aquele que se apresenta no
Espaço como vencedor de si mesmo é maior que qualquer dos generais
terrenos, exímio na estratégia e tino militares. O homem que se vence faz o
seu corpo espiritual apto a ingressar em outras esferas e, enquanto não
colaborardes pela obtenção desse organismo etéreo, através da virtude e do
dever comprido, não saireis do círculo doloroso das reencarnações.
XII
A PAZ DO ÚLTIMO DIA

Já pensastes na paz do último dia na Terra?

Há, na alma prestes a regressar à sua eterna pátria, um modo de sensações


desconhecidas.

Nesses olhos nublados de pranto, num corpo lavado pelo copioso suor da
agonia, gangrenado e semiapodrecido, onde os órgãos rebeldes, em conflito,
são centros das mais violentas e rudes dores, existe todo um amontoado de
mistérios indecifráveis para aqueles que ficam.
Nesses rápidos minutos, um turbilhão de pensamentos represa-se nesse
cérebro esgotado pelos sofrimentos... O Espírito, no limiar do túmulo, sente
angústia e receio; e, nos estertores de sua impotência, vê numa continuidade
assombrosa de imagens movimentadas, toda inutilidade das ilusões da vida
material. Todas as suas vaidades e enganos tombam furiosamente, como se
um ciclone impiedoso os arrancasse do seu íntimo, e os que somente para
esses enganos viveram sentem-se, na profundeza de suas consciências, como
se atravessassem um deserto árido e extenso; todos os erros do passado
gritam nos seus corações, todos os deslizes se lhes apresentam, e nessa
quietude aparente de uns lábios que se cerram no doloroso ricto da morte,
existem brados de blasfêmia e desesperação, que não escutais, em vosso
próprio benefício.

OS QUE SE DEDICAM
AS COISAS ESPIRITUAIS
Nunca nos cansaremos de repetir que a existência no orbe terreno
constitui, para as almas mais ou menos evolvidas, um estágio de aprendizado
ou degredo; junto desses seres sensíveis, vivem os espíritos retardados no seu
adiantamento e aqueles que se encontram no início da evolução.

Para todos, porém, a luta é a lei purificadora.


Os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram
maiores elementos de paz e felicidade no futuro; para eles, que sofreram mais
em razão do seu afastamento da vida mundana, a morte é um remanso de
tranquilidade e de esperança.

Encontrarão a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes, e


sociedades esclarecidas os esperam em seu seio, para celebrarem dignamente
os seus atos de heroísmo na tarefa árdua de resistência às inúmeras seduções
que a existência planetária oferece.

AS ALMAS TORTURADAS

Quão triste, toda via, é a situação dos que no mundo se apegaram,


demasiadamente, às alegrias mentirosas e aos prazeres fictícios. Muitos anos
de dor os aguardam, nas regiões espirituais, onde contemplam
incessantemente os quadros do seu pretérito, em desoladoras visões
retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os obsidiam.

Amantes do ouro, ali ouvem, continuamente, o tilintar de suas supostas


moedas; ingratos, escutam os que foram enganados pelas suas traições; cenas
penosas se verificam e muitas almas piedosas se entregam ao mister de guias
e condutores espirituais desses Espíritos enceguecidos na ilusão e nos
tormentos. Só ao amor dessas almas carinhosas permite que as esperanças
não desfaleçam, cultivando-as incessantemente no coração abatido e desolado
dos sofredores, a fim de que renasçam para os resgates necessários.

A OUTRA VIDA

A vida no além é também atividade, trabalho, luta, movimento. Se as


almas estão menos submetidas ao cansaço, não combatem menos seu
aperfeiçoamento.

A leis das afinidades a tudo preside, entre os seres despidos dos


indumentos carnais, e, liberto o Espírito dos laços que o agrilhoavam à
matéria, recebe o apelo de quantos se afinam pelas suas preferências e
inclinações.

ESPÍRITOS FELIZES

Bem-aventurados todos aqueles que, ao palmilharem seus derradeiros


caminhos, encontram a alvorada da paz, luminosa e promissora; nos celeiros
da luz, recolhem o pão da verdade e da sabedoria, porque bem souberam
cumprir suas obrigações morais.
À sombra das árvores magnânimas que planaram com seus atos de
caridade, de fé e de esperança, repousam a cabeça dilacerada nos amargores
da Terra; divinas inspirações descem das Alturas sobre suas mentes, que
iluminam como tabernáculos sagrados e, interpretando fielmente as
disposições da vontade diretora do Universo, transformam-se em
mensageiros do Altíssimo.

AOS MEUS IRMÃOS

Homens, meus irmãos, considerai a fração de tempo da vossa passagem


pela Terra. Observai o exemplo das almas nobres que, em épocas diferentes,
vos trouxeram a palavra do Céu na vossa ingrata linguagem; suas vidas estão
cheias de sacrifícios e dedicações dolorosas. Não vos entregueis aos desvios
que conduzem ao materialismo dissolvente. Olhando o vosso passado, que
constitui o passado da própria Humanidade, uma cruciante amargura domina
o vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa, ante os problemas da
evolução, impele-vos à descrença a ao egoísmo; muitos se recolhem nas suas
posições de mando e há uma sede generalizada de gozo material, com
perspectiva do nada, que a maioria das criaturas acredita encontrar no
caminho silencioso da morte; mas eis que, substituindo as religiões que
faliram, à falta de cultivadores fiéis, ouve-se a voz do Espírito da Verdade em
todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e os vossos bem-amados vos
dizem das experiências adquiridas e das dores que passaram. Há um sublime
conúbio do Céu com a Terra.

Vinde ao banquete espiritual onde a Verdade domina em toda a sua


grandiosa excelsitude. Vinde sem desconfianças, sem receios, não como
novos Tomes, mas como almas necessitadas de luz e de liberdade; não basta
virdes com o espírito de cristicismo, é preciso trazerdes um coração que saiba
corresponder com sentimento elevado a um raciocínio superior.
Outros mundos vos esperam na imensidade, onde os sóis realizam os
fenômenos de sua eterna trajetória. Dilatai vossa esperança, porque um dia
chegará em que, na Terra, devereis abandonar o exílio onde chorais como
seres desterrados. Que todos vós possais, no caso da existência, contemplar
no céu da vossa consciência estrelas resplandecentes da paz que representará
a vossa glorificação imortal.
XIII
AS INVESTIGAÇÕES DA CIÊNCIA

Não é condenável, sob o ponto de vista do bom senso, sem quaisquer


dogmatismos intransigentes, a dúvida que levou a Ciência da vossa época a
se recolher nas realidades positivas; é claro que, segundo a opinião religiosa,
o materialismo é pernicioso, debaixo de todas as modalidades em que se nos
apresente, mas é necessário vos convencerdes de que em qualquer
circunstância predomina sempre a lei do progresso.
O ateísmo reinante deriva dos abusos dogmáticos que a intransigência de
alguns sistemas tem pretendido impor à consciência humana, livre em suas
íntimas expansões. Todavia, na certeza absoluta da evolução que se realiza,
através de todos os óbices interpostos no seu caminho pela ignorância e pela
má-fé, eis que, na atualidade, a própria dúvida serve de base ao monumento
da fé raciocinada do futuro.

O RESULTADO DAS INVESTIGAÇÕES

Vê-se a Ciência no dever de investigar, de estudar, e, no seu afã


incessante de saber, rolam por terra ideias errôneas, mantidas até hoje como
alicerces de todas as suas perquirições, como, por exemplo, a da teoria da
indivisibilidade atômica. Descobrindo centros imponderáveis de atração,
como os eletrônicos componentes do átomo infinitesimal e os iônios, atinge a
verdade, quanto às teorias da vibração, que preside, na base da matéria
cósmica, a todos os movimentos da vida no Universo.

A ciência infatigável procura, agora, a matéria-padrão, a força-origem,


simplificada, da qual crê emanarem todos os compostos, e é nesse estudo
proveitoso que ela própria, afirmando-se ateia, descrente, caminha para o
conhecimento de Deus.
O FRACASSO DE MUITAS INICIATIVAS

Não são poucos os estudiosos que procuram investigar os domínios da


ciência psíquica, na sede de encontrar o lado verdadeiro da vida; porém, se
muitas vezes acham apenas o malogro das suas esperanças, o soçobro dos
seus ideais, é que se entregam os estudos arriscados sem preparação prévia
para resolver tão altas questões, errando voluntariamente com espírito de
cepticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho de raciocínio
acurado, profundo. O êxito no estudo de problemas tão transcendentais
demanda a utilização de fatores morais, raramente encontrados; daí a
improdutividade de entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e sinceros.

O UTILITARISMO

A ausência de demonstrações histológicas não implica a inexistência do


Espírito. E essa certeza que compete à Ciência atingir.
Muitos obstáculos, contudo, se opõem à obtenção desse desiderato,
aliando-se ao preconceito acadêmico o utilitarismo desenfreado que infesta a
política e a religião; é ele o maior inimigo da expansão das verdades
espiritualistas no mundo, porque oriundo de interesses inferiores e
mesquinhos. A própria tendência ao ateísmo, imperante em quase todas as
classes sociais, é um derivativo lógico do espírito de interesse, que tem

destruído a beleza dos princípios religiosos, desvirtuados pelo utilitarismo


de falsos missionários.
Mas, confiemos na influência do espiritualismo; em futuro próximo, a sua
atuação eminentemente benéfica há de se fazer sentir, destruindo tudo quanto
de nocivo e inútil encontrar em sua passagem.

OS TEMPOS DO PORVIR

Marchamos, pois, para uma época de crença firme e consoladora, que


derramará o bálsamo da fé pura e iluminada sobre as almas que adorarão o
Criador, sem qualquer véu de formalidades inadequadas e obsoletas.

Semelhantes transformações serão efetuadas após muitas lutas, que


encherão de receios e de espantos os espíritos encarnados. Lembremo-nos,
porém, de que “Deus está no leme”.
É esse o porvir do orbe em que viveis. Contudo, quanto tempo decorrerá,
até que essa nova era brilhe nos horizontes do entendimento humano?
Ignoramos. Conjuguemos, todavia, os nossos esforços a fim de alcançarmos
esse desiderato.

Demonstrai, com o vosso exemplo, que a luz permanece em vossos


corações e cooperareis conosco, em favor dessas mutações precisas.
Toda reforma terá de nascer no interior. Da iluminação do coração vem a
verdadeira cristianização do lar, e do aperfeiçoamento das coletividades
surgirá o novo e glorioso dia da Humanidade.
XIV
A SUBCONSCIÊNCIA
NOS FENÔMENOS PSÍQUICOS

Todas as teorias que pretendem elucidar os fenômenos mediúnicos,


alheios à Doutrina Espiritista, pecam pela insuficiência e falsidade.
Em vão, procura-se complicar a questão com termos rebuscados,
apresentando-se as hipóteses mais descabidas e absurdas, porquanto os
conhecimentos hodiernos da Física, da Fisiologia e da Psicologia não
explicam fatos como os de levitação, de materialização, de natureza, afinal,
genuinamente espírita.

Para a ciência anquilosada nas concepções dogmáticas de cada escola, a


fenomenologia mediúnica não deve constituir objeto de ridículo e de
zombaria, mas sim um amontoado de materiais preciosos à sua observação.
Felizmente, se muitos dos pesquisadores criaram os mais complicados
sistemas elucidativos, cheios de extravagância nas suas enganadoras ilações,
alguns deles, desassombradamente, têm colaborado com a filosofia
espiritualista para a consecução dos seus planos grandiosos, que implicam a
felicidade humana.

A SUBCONSCIÊNCIA

A subconsciência, tão investigada em vosso tempo, não elucida os


problemas dos chamados fenômenos intelectuais. Estudos levados a efeito
sobre essa câmara escura da mente são ainda mal orientados, apesar disso,
muitas teorias apressadas presumem explicar todo o mediunismo com a sua
estranha influência sobre o “eu” consciente. De fato, existem fenômenos
subliminais; todavia, a subconsciência é o acervo de experiências realizadas
pelo o ser em suas existências passadas. O Espírito, no labor incessante de
suas múltiplas existências, vai ajudando as séries de suas conquistas, de suas
possibilidades, de seus trabalhos; no seu cérebro espiritual organiza-se, então,
essa consciência profunda, em cujos domínios misteriosos se vão arquivando
as recordações, e a alma, em cada etapa da sua vida imortal, renasce para uma
nova conquista, objetivando sempre o aperfeiçoamento supremo.

O OLVIDO TEMPORÁRIO

O esquecimento, nessas existências fragmentárias, obedecendo ás leis


superiores que presidem ao destino, representa a diminuição do estado
vibratório do Espírito, em contato com a matéria. Esse olvido é necessário, e,
afastando-se os benefícios espirituais que essa questão implica, à luz das
concepções cientificas, pode esse problemas ser estudado atenciosamente.

Tomando um novo corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse


instrumento. Precisa abandonar a bagagem dos seus vícios, dos seus defeitos,
das suas lembranças nocivas, das suas vicissitudes nos pretéritos tenebrosos.
Necessita de nova virgindade; um instrumento virgem lhe é então fornecido.
Os neurônios desse novo cérebro fazem a função de aparelhos quebradores da
luz; o sensório limita as percepções do Espírito, e, somente assim, pode o ser
reconstruir o seu destino. Para que o homem colha benefícios da sua vida
temporária, faz-se mister que assim seja.

Sua consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual;


seus sentidos constituem apenas o necessário à sua evolução no plano
terrestre. Daí, a exiguidade das suas percepções visuais e auditivas, em
relação ao número inconcebível de vibrações que o cercam.

AS RECORDAÇÕES

Todavia, dentro dessa obscuridade requerida pela sua necessidade de


estudo e desenvolvimento, experimenta a alma, ás vezes, uma sensação
indefinível... é uma vocação inata que impele para esse ou aquele caminho; é
uma saudade vaga e incompreensível, que a persegue nas suas meditações;
são os fenômenos introspectivos, que a assediam frequentemente.
Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa a câmara de
sombras, impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o
Espírito em vaga relação com o seu passado longínquo; tais fatos são
vulgares nos seres evolvidos, sobre quem a carne já não exerce atuação
invencível. Nesses vagos instantes, parece que a alma encarnada ouve o
tropel das lembranças que passam em revoada; aversões antigas, amores
santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece numa fração no seu mundo
consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que alcance êxito na
luta.
XV
A IDÉIA DA IMORTALIDADE

Embalde os corifeus do ateísmo propagarão as suas amargas teorias, cujo


objetivo é o aniquilamento da ideia da imortalidade entre os homens;
embalde o ensino de novos sistemas de educação, dentro das inovações dos
códigos políticos, tentará sufocá-la, porque todas as criaturas nascem na Terra
com ela gravada nos corações, inclusive os pretensos incrédulos, cuja
mentalidade, não conseguindo solucionar os problemas complexos da vida, se
revolta, imprecando contra a sabedoria suprema, como se os seus gritos
blasfematórios pudessem obscurecer a luz do amor divino, estacando os
sublimes mananciais da vida. Pode a política obstar à sua manifestação,
antepondo-lhe forças coercitivas: a ideia da imortalidade viverá sempre nas
almas, como a aspiração latente do Belo e o do Perfeito.
Acima do poder temporal dos governantes e da moral duvidosa dos
pregadores das religiões, ela continuamente prosseguirá dulcificando os
corações e exaltando as esperanças, porque significa em si mesma o luminoso
patrimônio da alma encarnada, como recordação perene da sua vida no Além,
simbolizando o laço indestrutível que une a existência terrena à Vida Eterna,
vislumbrada, assim, pela sua memória temporariamente amortecida.

A IDÉIA DE DEUS

Desde os pródromos da Civilização a ideia da imortalidade é congênita no


homem. Todas as concepções religiosas da mais remota antiguidade, se bem
que embrionárias e grosseiras em suas exteriorizações, no-la atestam. Entre as
raças bárbaras abundaram as ideias terroristas de um Deus, cuja cólera
destruidora se abrandaria à custa dos sacrifícios humanos e dos holocaustos
de sangue, e, por toda a parte, onde homens primitivos deixaram os vestígios
de sua passagem, vê-se o sinal de uma divindade a cuja providência e
sabedoria as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos.

A CONSCIÊNCIA

Na história de todos os povos, observar-se a tendência religiosa da


Humanidade; é que, em toda personalidade existe uma fagulha divina – a
consciência, que estereotipa em cada espírito a grandeza e a sublimidade de
sua origem; no embrião, a princípio rude nas suas menores manifestações, a
consciência se vai despindo dos véus de imperfeição e bruteza que rodeiam,
debaixo de muitas vidas do seu ciclo evolutivo, em diferentes círculos de
existência, até que atinja a plenitude do aperfeiçoamento psíquico e o
conhecimento integral do seu próprio “eu”, que, então, se unirá ao centro
criador do Universo, no qual se encontram todas as causas reunidas e de onde
irradiará o seu poema eterno de sabedoria e amor.

É a consciência, centelha de luz divina, que faz nascer em cada


individualidade a ideia da verdade, relativamente aos problemas espirituais,
fazendo-lhe sentir a realidade positiva da vida imortal, atributo de todos os
seres da criação.

O ANTROPOMORFISMO

Nos tempos primeiros, como na atualidade, o homem teve uma


concepção antropomórfica de Deus. Nos períodos primários da Civilização,
como preponderavam as leis da força bruta e a Humanidade era uma
aglomeração de seres que nasciam da brutalidade e da aspereza, que apenas
conheciam os instintos nas suas manifestações, a adoração aos seres
invisíveis que personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios
inadmissíveis em vossa época. Hodiernamente, nos vossos tempos de
egoísmo utilitário, Deus é considerado como poderoso magnata, a quem se
pode peitar com bajulação e promessa, no seio de muitas doutrinas religiosas.

O CULTO DOS MORTOS


Dentro, porém, de quase todas as ideias dessa natureza, no seio das raças
primigênias em seus remotíssimos agrupamentos, o culto dos mortos atinge
proporções espantosas. Inúmeras eram as tribos que se entregavam às
invocações dos traspassados, por meio de encantamentos e de cerimônias de
magia. As excessivas homenagens aos mortos, no seio da civilização dos
egípcios, constituem, até em vossos dias, objeto de estudos especiais. Toda a
vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e, no Ocidente, pode-se
reparar, entre as raças primitivas, a do povo celta como a depositária de
tradições longínquas, que dizem respeito à espiritualidade.

A EVOLUÇÃO
DOS SISTEMAS RELIGIOSOS

A ideia da imortalidade é latente em todas as almas e é o substrato de


todas as religiões antigas e modernas.

Os sistemas religiosos, em cada período de progresso humano, renovam-


se na fonte de verdade relativa que promana do Alto, compatível com a
época.
Nos tempos modernos, as ideias novas, referentes ao espiritualismo e à
imortalidade, necessitam difusão por toda parte. Não mais a concepção de
Deus terrível, criando a eternidade dos tormentos, segundo a teologia em
voga, que tem ensinado erradamente a ideia de um paraíso beatífico, insípido,
e um inferno aterrador, irremissivelmente eterno; não mais a religião que
malsina o progresso e a investigação, mas a ideia pura e verdadeira da
imortalidade para todas as criaturas, a vida estuando em todo o Universo, e a
luta em todos os seus mais recônditos argamassando, à custa dos esforços de
cada um, o portentoso edifício da evolução humana.
XVI
AS VIDAS SUCESSIVAS E OS MUNDOS
HABITADOS

Alguns estudiosos, há muitos séculos, guardam as verdadeiras


concepções do Universo, o qual não se encontra circunscrito ao minúsculo
orbe terreno e é representado pelo infinito dos mundos, dentro do infinito de
Deus.
Não obstante as teorias do sistema geocêntrico, que encarava a Terra
como o centro do grupo de planetas em que vos encontrais, a ideia da
multiplicidade dos sóis vinha, de há muito, animando o cérebro dos
pensadores da antiguidade.

Apesar da objetiva dos vossos telescópios, que descortinam, na


imensidade, “as terras do céu”, julga-se erradamente que apenas o vosso
mundo oferece condições de habitabilidade e somente nele se verifica o
florescimento da vida.
Infelizmente, são inúmeros os que duvidam dessa realidade inconteste,
aprisionados em escolas filosóficas que pecam pelo seu caráter obsoleto e
incompatível com a evolução da Humanidade, em geral.

É que não reconhecem que a Terra minúscula é apenas um ponto obscuro


e opaco, no concerto sideral, e nada de singular existe nela que lhe outorgue,
com exclusividade, o privilégio da vida; em contraposição aos assertos dos
negadores, podeis notar, cientificamente, que é mesmo, em vosso plano, o
local do Universo onde a vida encontra mais dificuldades para se estabelecer.

ESPONTANEIDADE IMPOSSÍVEL
Grande é a tortura dos seres racionais que, no mundo terráqueo, buscam
guarda para as suas aspirações de progresso, porquanto, do berço ao túmulo,
suas existências representam grande soma de esforços combatendo com a
Natureza inconstante, com as mais diversas condições climatéricas,
arrasadoras da saúde e causas de um combate acérrimo da parte do homem,
porque não lhe é possível viver em afinidade perfeita com a natureza
submetida às mais bruscas mutações, sendo obrigado a criar a sua moradia,
organizar a sua habitação, que representa, de fato, a sua escravidão, que
representa , de fato, a sua escravidão primeira, impedindo-lhe um a existência
cheia de harmonia e espontaneidade.

O vosso mundo vos obriga a uma vida artificial, já que sois obrigados a
buscar, cotidianamente, o sustento do corpo que se gasta e consome nessa
batalha sem tréguas. Nele, as mais belas faculdades espirituais são
frequentemente sufocadas, em virtude das mais imperiosas necessidades da
matéria.

HÁ MUNDOS INCONTÁVEIS

Que se calem os que puderem descobrir a vida apenas em vossa obscura


penitência de náufragos morais.
Por que razão a Vontade Divina colocaria na amplidão essas plagas
longínquas? Enxergar nesses mundos distantes somente objetos de estudo da
vossa Astronomia é um erro; eles estão, às vezes, regulados por forças mais
ou menos idênticas às que controlam a vossa vida. Em sua superfície
observam-se os fenômenos atmosféricos e outros, cuja explicação é
inacessível ao vosso entendimento. Por que os formaria o Criador para o
ermo do silêncio e do deserto? Podereis conceber cidades bem construídas,
abarrotadas de tesouros e magnificências, apodrecendo sem habitantes?

Há mundos incontáveis e muitos deles formados de fluidos rarefeitos,


inatingidos, na atualidade, pelos vossos instrumentos de ótica.

MUNDO DE EXÍLIO
E ESCOLA REGENERADORA
A terra não representa senão um detalhe obscuro no ilimitado da Vida,
região da amargura, da provação e do exílio; constituindo, porém, uma plaga
de sombras, varrida, muitas vezes, pelos cataclismos do infortúnio e da
destruição, deve representar, para todos quantos a habitam, uma abençoada
escola, onde se regenera o Espírito culpado e onde ele se prepara,
demandando glorioso porvir.

Significa um dever de todo homem o trabalho próprio, no sentido de


atenuar as más condições do seu meio ambiente, aplainando todas as
dificuldades de ordem material e moral, porquanto a evolução depende de
todos os esforços individuais no conjunto das coletividades.
Forças ocultas, leis desconhecidas, esperam que a alma humana delas se
utilize e, à medida que se espalhe o progresso moral, mais os homens se
beneficiarão na fonte bendita do conhecimento.

O ESTÍMULO DO CONHECIMENTO

Para a Humanidade terrestre a revelação de outras pátrias do firmamento,


fragmentos da Pátria Universal, não deve constituir uma razão para desânimo
de quantos se entregam aos labores profícuos do estudo. Os desequilíbrios
que se verificam no orbe terreno obedecem a uma lei de justiça, acima de
todas as coisas transitórias; e, além disso, a primeira obrigação de todo
homem é colaborar, em todos os minutos de sua passageira existência, em
prol da melhoria do seu próximo, consciente de que trabalhar a benefício de
outrem é engrandecer-se.

O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros mundos, não


deve trazer abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve
encher o coração humano de sagrados estímulos.
Saudai, pois, o concerto da vida, do seio dos vosso combates
salvadores!...

Sóis portentosos, luzes policrômicas, mundos maravilhosos, existem


embalados pelas harmonias que a perfeição eleva à Entidade Suprema!...
Além do Grande Cão, da Ursa, de Hércules, outras constelações testam a
grandeza divina. Os firmamentos sucedem-se ininterruptamente nas
amplidões etéreas, mas a Humanidade, para Deus, é uma só e o laço do seu
amor reúne todos os seres.
XVII
SOBRE OS ANIMAIS

Com o desenvolvimento das ideias espiritualistas no mundo, torna-se um


estudo obrigatório, e para todos os dias, o grande problema que implica o
drama da evolução anímica.
Teria sido a alma criada no momento da concepção, na mulher, segundo
as teorias antirreencarnacionistas? Como será a preexistência? O espírito já é
criado pela potência suprema do Universo, apto a ingressar nas fileiras
humanas? E os pensadores se voltam para os vultos eminentes do passado. As
autoridades católicas valem-se de Tomás de Aquino, que acreditava na
criação da alma no período de tempo que precede o nascimento de um novo
ser, esquecendo-se dos grandes padres da antiguidade, como Orígenes, cuja
obra é um atestado eterno em favor das verdades da preexistência. Outras
doutrinas religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus
teólogos, relutando em aceitar as realidades luminosas da reencarnação.
Pascal, escrevendo na adolescência o seu tratado sobre os cones, e inúmeros
Espíritos de escol, laborando com a sua genialidade precoce nas grandes
tarefas para as quais foram chamados à Terra, constituem uma prova
eloquente, aos olhos dos menos perspicazes e dos estudiosos de mentalidades
tardas no raciocínio, a prol da verdade reencarnacionista.

O homem atual recorda instintivamente os seus labores e as suas


observações do passado. Sua existência de hoje á a continuação de quanto
efetuou nos dias do pretérito. As conquistas de agora representam a soma dos
seus esforços de antanho, e a civilização é a grande oficina onde cada um
deixa estereotipada a própria obra.

A SOMBRA DOS PRINCÍPIOS


Contempla-se, porém, até hoje, a sombra dos princípios como noite
insondável sobre abismos.

Os desencarnados de minha esfera não se acham indenes, por enquanto,


do socorro das hipóteses. A única certeza obtida é a da imortalidade da vida e
como não é possível observar a essência da sabedoria, sem iniciativas
individuais e sem ardorosos trabalhos, discutimos e estudamos as nobres
questões que, na Terra, preocupavam o nosso pensamento.
Um desses problemas, que mais assombram pela sua singular
transcendência, é o das origens. Se na Terra o progresso humano se verifica,
através de dois caminhos, o da Ciência e o da Revelação espiritual, ainda não
encontramos, em identidade de circunstâncias, em nossa evolução relativa,
nenhuma estrada estritamente científica para determinar o Alfa do Universo,
senão a das hipóteses plausíveis. Contudo, saturada da mais profunda
compreensão moral, copiosa é a nossa fonte de revelações, a qual constitui
para nós um elemento granítico, servindo de base à sabedoria de amanhã.

OS ANIMAIS, NOSSOS PARENTES PRÓXIMOS

Se bem haja no próprio círculo dos estudiosos dos espaços o grupo dos
opositores das grandes ideias sobre o evolucionismo do princípio espiritual
através das espécies, sou dos que o estudam, atenta e carinhosamente.

Eminentes naturalistas do mundo, como Charles Darwin, vislumbram


grandiosas verdades, levando a efeito preciosos estudos, os quais, aliás, se
prejudicaram pelo excessivo apego à ciência terrena, que se modifica e se
transforma, com os próprios homens; e, dentro das minhas experiências,
posso afirmar, sem laivos de dogmatismo, que oriundos na flora microbiana,
em séculos remotíssimos, não poderemos precisar onde se encontra o acume
as espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal. E, como o
objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores,
sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu
acanhado círculo evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da
teimosia de quantos persistem em o não reconhecer.
Considera-se, às vezes, como afronta ao gênero humano a aceitação
dessas verdades. E pergunta-se como poderíamos admitir um princípio
espiritual nas arremetidas furiosas das feras indomesticadas, ou como
poderíamos crer na existência de um rio de luz divina na serpente venenosa
ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros. Semelhantes inquirições, contudo, são
filhas de entendimento pouco atilado. Atualmente, precisamos modificar
todos os nossos conceitos acerca de Deus, porquanto nos falece autoridade
para defini-lo ou individualizá-lo. Deus existe.

Eis a nossa luminosa afirmação, sem poder, todavia, classificá-lo, em sua


essência. Os que nos interpelam por essa forma, olvidam as histórias de
calúnias, de homicídios, no seio das perversidades humanas. Para que o
homem se conservasse nessa posição especial de perfectibilidade única,
deveria apresentar todos os característicos de uma entidade irrepreensível,
dento do orbe onde foi chamado a viver. Tal não se verifica e, diariamente,
comentais os dramas dolorosos da Humanidade, os assassínios, os
infanticídios nefandos, efetuados em circunstâncias nas quais, muitas vezes,
as faculdades imperfeitas dos irracionais agiriam com maior benignidade e
clemência, dando testemunho de melhor conhecimento das leis de amor que
regem o mecanismo do mundo.

A ALMA DOS ANIMAIS

Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência


rudimentar, com atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do
homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo.
Seria difícil ao médico legista determinar, nas manchas de sangue, qual o
que pertence ao homem ou ao animal, tal a identidade dos elementos que o
compõem. A organização óssea de ambos é quase a mesma, variando apenas
na sua conformação e observando-se diminuta diferença nas vértebras.

O homem está para o animal, simplesmente como um superior


hierárquico. Nos irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades
intelectuais. O sentimento de curiosidade é, na maioria deles, altamente
avançado e muitas espécies nos demonstram as suas elevadas qualidades,
exemplificando o amor conjugal, o sentimento da paternidade, o amparo ao
próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para verificar a
existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de
observação e de análise.

Inúmeros espíritos trouxeram à luz o fruto de suas pacientes indagações,


que são para vós elementos de inegável valor. Entre muitos, citaremos
Darwin, Gratiolet e vários outros estudiosos dedicados a esses notáveis
problemas.
Os mais ferozes animais têm para com a prole ilimitada ternura. Aves
existem que se deixam matar, quando não se lhes permite a defesa das suas
famílias. Os cães, os cavalos, os macacos, os elefantes deixam entrever
apreciáveis qualidades de inteligência. É conhecido o caso dos cavalos de um
regimento que mastigavam o feno para um de seus companheiros, inutilizado
e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo, muito conhecida pela sua
mansidão, gostava de recolher os macaquinhos, os gatos e os cães, dos quais
cuidava com desvelado carinho; certo dia, um gato revoltou-se contra a sua
benfeitora, arranhando-lhe o rosto, e a mãe adotiva, revelando a mais refletida
inteligência, examinou-lhe as patas, cortando-lhe as unhas pontiagudas com
os dentes. Constitui um fato observável a sensibilidade dos cães e dos cavalos
ao elogio e às reprimendas.

Longe iríamos com as citações. O que podemos assegurar é que, sobre os


mundos, laboratórios da vida no Universo, todas as forças naturais
contribuem para o nascimento do ser.

TODOS SOMOS IRMÃOS

De milênios remotos. Viemos todos nós, em pesados avatares.


Da noite dos grandes princípios, ainda insondável para nós, emergimos
para o concerto da vida. A origem constitui, para o nosso relativo
entendimento, um profundo mistério, cuja solução ainda não nos foi possível
atingir, mas sabemos que todos os seres inferiores e superiores participam do
patrimônio da luz universal.
Em que esfera estivemos um dia, esperando o desabrochamento de nossa
racionalidade? Desconheceis ainda os processos, os modismos dessas
transições, etapas percorridas pelas espécies, evoluindo sempre, buscando a
perfeição suprema e absoluta, mas sabeis que um laço de amor nos reúne a
todos, diante da Entidade Suprema do Universo.

É certo que o Espírito jamais retrograda, constituindo uma infantilidade


as teorias da metempsicose dos egípcios, na antiguidade. Mas, se é
impossível o regresso da alma humana ao círculo da irracionalidade, recebei
como obrigação sagrada o dever de amparar os animais na escala progressiva
de suas posições variadas no planeta. Estendei até eles a vossa concepção de
solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais profundamente, os
grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces mistérios
da vida.
XVII
A EUROPA MODERNA EM FACE DO
EVANGELHO

É inegável a importância da tarefa dos europeus, impulsando o progresso


dos outros continentes do planeta. Foi a sua grandiosa civilização, cujos
primórdios o Cristianismo alimentou com a rica substancialidade dos seus
ideais, que renovou as atividades cientificas e industriais dos povos do
Oriente, inaugurando, ainda, nas terras americanas, uma vida nova, não
obstante as atrocidades execráveis praticadas pelos conquistadores, para
submeterem o elemento indígena.
Com exceção das doutrinas filosóficas, que a Civilização Ocidental não
poderia oferecer, com uma substancia superior, aos povos orientais, de vez
que a obra cristã se encontrou sempre deturpada desde a sua união com as
forças políticas do Estado, foram os europeus que instituíram, com a sua
imaginação criadora, um surto novo de progresso para as fontes da cultura
humana. Os seus esforços são inapreciáveis; suas atividades, grandiosas,
nesse movimento de inventar as comodidades da Civilização e as utilidades
dos povos. Todavia, espiritualmente, os povos europeus cometeram o erro
terrível de perturbar a evolução do Cristianismo, assimilando-o às obsoletas
concepções da mitologia grega e às velhas tradições de imperialismo dos
patrícios de Roma, de cujo confucionismo nasceu à doutrina da simplicidade
cristã.

DORES INEVITÁVEIS

É ociosa qualquer referência à falsa posição dessa Igreja, que se mantém


no mundo atual ao preço da ignorância de uns e do interesse condenável de
outros, vivendo a existência transitória das organizações políticas.
Compete aos estudiosos somente a análise comparativa dos tempos,
tentando, com os seus esforços, operar a regeneração das sociedades,
procurando salvar da destruição tudo o que possa beneficiar os Espíritos nos
eu aprendizado sobre a face da Terra. Todavia, apesar de nossas atividades
conjugadas com as de todos os homens de boa vontade que aí representam os
instrumentos sadios da vontade do Alto, no sentido de preservar do
arrasamento o patrimônio de conquistas úteis da Humanidade, não é possível
criar-se um obstáculo às grandes dores que, inevitavelmente terão de
promover o movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, onde as
criaturas mergulharão a alma no batismo de purificação pelo sofrimento.

AUSÊNCIA DE UNIDADE ESPIRITUAL

Aventam-se todas as hipóteses com o objetivo de verificar-se na Europa,


eixo das atividades políticas do mundo, um grande movimento de unificação
e de paz, chegando-se à tentativa de uma frente única europeia, para evitar a
queda irremediável da civilização do Ocidente. Essa frente única é, porém,
impossível. Não existe ali a unidade espiritual necessária à consecução desse
grandioso projeto. Apenas o Cristianismo, se não fossem os desvios
lamentáveis da Igreja Romana, poderia fornecer essa intangibilidade de fé a
todos os espíritos. Mas, a obra cristã ali se encontra virtualmente degenerada.
E, em virtude de semelhantes desequilíbrios, todos os ideais antifraternos
foram desenvolvidos no Velho Mundo, intensificando-se o regime de
separatividade entre as nações. Cada país europeu procura insular-se da
comunidade continental e somente o Pacto de Versalhes e o instituto
genevriano representam, com a sua atuação, essa trégua de 18 anos, depois do
conflito de 1914; contudo, esses dois diques, que impediam os movimentos
armados, sem, aliás, obstar-lhes a preparação, têm as suas influencias
anuladas. O Tratado de Versalhes caiu com as deliberações políticas do novo
Reich e a Liga das Nações compreendeu a inaplicabilidade do seu estatuto,
no momento decisivo da campanha italiana na Abissínia.

A PAZ ARMADA

Todos os povos entenderam bem essas profundas desilusões. Procura-se a


paz na corrida aos armamentos. Mais de 100.000 homens mecanizados estão
preparados no Velho Continente, só para a ofensiva do ar. Busca-se a todo
transe uma solução para os problemas da guerra. Uma reforma visceral nos
estatutos da Sociedade de Genebra é inutilmente sugerida. Estuda-se a
possibilidade de um acordo entre a França e a Itália, no sentido de assegurar-
se a paz continental, atendendo-se às necessidades da região danubiana e
equilibrando a Alemanha com o resto da Europa. Tenta-se a colaboração de
todos os gabinetes. Os partidos iniciam a guerra das ideologias. Mas a
Europa, nos seus conflitos inquietantes, conhece perfeitamente a sua
condenação à guerra.

SOCIEDADES EDIFICADAS NA PILHAGEM

A ilação dolorosa que se pode extrais da situação atual é a de que essas


sociedades foram edificadas à revelia do Evangelho, necessitando as suas
bases de mais profundas transformações. Fundadas com o rótulo de
Cristianismo, elas não o conheceram. A sombra do Deus antropomórfico que
criaram para as suas comodidades, inverteram todas as lições do Salvador,
em cujo ideal de fraternidade e pureza asseveraram progredir e viver.
Distanciadas, porém, como se encontram, de uma identidade perfeita com os
estatutos evangélicos, as sociedades europeias sucumbem sob o peso da sua
opulência miserável. Suas fontes de cultura acham-se visceralmente
envenenadas com as suas descobertas e ciências, que são recursos macabros
para a destruição e para a morte. Não existe, ali, nenhuma unidade espiritual,
à base do espírito religioso, mantenedora do progresso coletivo.

Como poderá persistir de pé uma civilização dessa natureza, se todos os


seus trabalhos objetivam o extermínio dos mais fracos, estabelecendo o
condenável critério da força? O Ocidente terá de conhecer uma vida nova.
Um sopro admirável de verdades há de confundir os seus erros seculares. As
sociedades edificadas na pilhagem hão de purificar-se, inaugurando o seu
novo regime à base da lição fraterna de Jesus.
Esperemos, confiantes, a alvorada luminosa que se aproxima, porque,
depois das grandes sombras e das grandes dores que envolverão a face da
Terra, o Evangelho há de criar, no mundo inteiro, a verdadeira Cristandade.
XIX
A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

É imprescindível não perdermos de vista os aspectos sociais da


civilização moderna, para encontrarmos os falsos princípios das suas bases e
o fim próximo que a espera inevitavelmente.
As corridas armamentistas e as angustiosas conversações diplomáticas
destes últimos tempos, no continente europeu, que representa o cérebro da
Civilização Ocidental, denotam os perigos ameaçadores da guerra. Todo o
organismo social da Europa moderna repousa em bases militaristas. Da
indústria das armas, mais que da agricultura, e isso é lamentável, depende a
estabilidade da civilização de todo o Ocidente. Os exércitos compactos, as
casas manufatureiras do canhão e da bomba explosiva, as coletividades
atentas às atividades bélicas, constituem os elementos vitais da evolução
europeia. Um surto de civilização dessa natureza não pode prescindir da
guerra e é por essa razão que o perigo iminente da carnificina bate de novo à
porta da alma humana, saturada de temores e sofrimentos.

Não bastou ao Velho Mundo a dolorosa experiência de 1914, que lhe


custou trezentos bilhões de dólares e mais de trinta milhões de vidas. A
guerra quer devorar as derradeiras energias desses povos que não souberam
edificar suas leis.
A Europa é um grande vulcão em repouso. Nos gabinetes os estadistas se
desenganam à procura de uma solução objetiva, em favor da paz
internacional. Há uma pergunta angustiosa e aflitiva em todos os corações.
As mentalidades diretoras dos povos tremem ao enunciar as suas sentenças e
julgamentos. Ninguém deseja arcar com as responsabilidades da última
palavra.

Enquanto isso ocorre, observa-se a decadência da Civilização Ocidental


para orientar o pensamento do mundo.

POSSIBILIDADES DO ORIENTE

Desde o primeiro quartel do século XX, após a vitória japonesa em


Tsushima, multiplicam-se as possibilidades do Oriente, para onde parece
transportar-se o centro evolutivo da Humanidade. O Pacífico volve a revestir-
se de vida nova. A China movimenta-se com as suas revoluções internas. Em
centros remotos, como o Afeganistão e a Turquia, percebe-se uma onda de
renovação geral. A Rússia soviética, há muito tempo, dirige as suas vistas
para o Extremo Oriente. k na Sibéria Oriental que repousam, na atualidade, as
mais importantes de suas bases militares. A Nova Zelândia e a Austrália são
celeiros de possibilidades infinitas. A Índia, não obstante o domínio britânico,
fornece ao planeta exemplos e doutrinas regeneradoras. Figuras preeminentes
dos povos orientais são hoje acatadas em todo o mundo. A figura de Gandhi
tem a sua projeção universal. As costas do Pacifico estão cheias de
movimentos comerciais; nas suas margens, as Repúblicas da América
Meridional acusam uma vida nova, no plano da cultura, do progresso e do
pensamento. Todos os movimentos mais importantes do orbe afiguram-se-
nos, mais ou menos, deslocados de novo para a Ásia, onde o Japão assume o
papel de orientador desse incontestável movimento de organização.

O FANTASMA DA GUERRA

A Europa, na atualidade, é o gigante cansado, à beira do seu túmulo.


Infelizmente, o senso arraigado do militarismo envenenou-lhe os centros de
força. A Alemanha e a Itália superlotadas apeiam para os recursos que a
guerra lhes oferece. Não obstante todos os tratados e pactos em favor da
tranquilidade europeia, nunca, como agora, foi a paz, ali, tão vilipendiada. O
Tratado de Versalhes e os Acordos de Locarno nada mais foram que
fenômenos diplomáticos da própria guerra em perspectiva. Nunca houve um
propósito sincero de fraternidade e de igualdade nessas alianças. Em 1928,
foi assinado o Pacto Briand-Kellogg, como se fora uma esperança para todas
as nacionalidades. Entretanto, jamais, como nestes últimos anos, o
armamentismo tomou tanto incremento, em todos os países do planeta. Só a
França, nas suas estatísticas do ano passado, acusava uma despesa de mais de
treze bilhões de francos, invertidos nos programas de sua defesa. E, atrás dos
grandes vasos de guerra, das metralhadoras de pesado calibre, das granadas
destruidoras, escondem-se os novos gases asfixiantes e os terríveis elementos
da guerra bacteriológica, que os algozes da ciência engendraram
criminosamente para suplício dos povos. O momento é de angústia
justificável. A própria Inglaterra, que nunca se encontrou tão poderosa e tão
rica quanto agora, sente de perto a catástrofe; sua missão colonizadora toca,
igualmente, o fim. Ao lado dos bens que os ingleses prodigalizaram a
diversas regiões do planeta, houve de sua parte lamentável esquecimento: o
de que cada povo tem a sua personalidade independente.

ÂNSIA DE DOMÍNIO E DE DESTRUIÇÃO

Diz-se que todo o Oriente se ocidentaliza na atualidade; todavia, o


Oriente apenas aproveita o fruto de experiências que hoje lhe entrega a
Civilização Ocidental, pressentindo o sintoma de sua decadência.

O Cristianismo, deturpado na Europa, degenerado pela influenciação dos


bispos romanos, não conseguiu ser o baluarte dessa civilização que, aos
poucos, vai desmoronando.
As nações do Velho Mundo apenas cuidaram de dominar os outros países
como seus vassalos; mas, é passada a época desses domínios injustificáveis.
Os pretextos de expansionismo não se justificam dentro dos princípios da paz
internacional e os movimentos de conquista apenas servem para enfraquecer
a economia dos povos que se abandonam aos seus excessos. A Europa
moderna esqueceu-se de que a Ásia tem a massa considerável de setecentos
milhões de almas, como elementos de energia potencial, aguardando
igualmente o instante de sua necessária expansão; olvidou que a América é
consciente, agora, de sua importância e de suas infinitas possibilidades,
prescindindo da sua tutela e dos seus estatutos e, no momento atual, o
continente europeu reconhece a ineficácia de suas teorias de paz, diante da
sua necessidade irrevogável de guerra, de destruição. Integrada no
conhecimento de seus falsos princípios, edificados, todos eles, na base
armamentista, a Civilização Ocidental reconhece o seu próprio desprestígio;
há muitos anos, o vírus do morticínio lhe vem solapando os alicerces, e as
épocas de aflição e de crise periodicamente se repetem. A França que, em
1870, foi procurar socorro às portas da Rússia poderosa dos czares, acossada
pela Alemanha, volta-se hoje para a união pseudocomunista de Stalin,
pedindo a mesma aliança para conjurar o perigo germânico. A Grã-Bretanha
observa, da sua tribuna, o movimento e prepara-se para surpresas eventuais;
tentando conservar seu

poderio, volve à política de conciliação; todavia, a guerra é inevitável no


ambiente dessa civilização de monumentos grandiosos de ciência no plano
material, mas feita de fogos fátuos no domínio da espiritualidade. Os povos,
em virtude da organização de suas leis, têm necessidade de deflagração dos
movimentos bélicos. Não poderão viver muito mais tempo sem eles. A
destruição lhes é necessária.
A quem caberá então o cetro da cultura, a liderança do pensamento?
Sabe-o Deus.

O FUTURO DAS GRANDEZAS MATERIAIS

Dentro de alguns séculos, os colossos de Paris, de Roma e' de Londres


serão contemplados com o embevecimento histórico das recordações; a torre
Eiffel, a Abadia de Westminster serão como as ruínas do Coliseu de
Vespasiano e das construções antigas do Spalato. Os ventos tristes da noite
hão de soluçar sobre os destroços, onde os homens se encontraram para se
destruírem, uns aos outros, em vez de se amarem como irmãos. Os raios da
Lua deixarão ver, nas margens do Tamisa, do Tibre e do Sena, o local onde a
Civilização Ocidental suicidou-se à míngua de conhecimentos espirituais. O
império britânico conhecerá então, como a Península Ibérica, a recordação
dos seus domínios e das suas conquistas. A França sentirá, como a Grécia
antiga, um orgulho nobre por ter cooperado na enunciação dos Direitos do
Homem e a Itália se lembrará melancolicamente de suas lutas.

De cada vez que os homens querem impor-se, arbitrários e despóticos,


diante das leis divinas, há uma força misteriosa que os faz cair, dentro dos
seus enganos e de suas próprias fraquezas. A impenitência da civilização
moderna, corrompida de vícios e mantida nos seus maiores centros à custa
das indústrias bélicas, não é diferente do império babilônico que caiu, apesar
do seu fastígio e da sua grandeza. No banquete dos povos ilustres da
atualidade terrestre, leem-se as três palavras fatídicas do festim de Baltasar.
Uma força invisível gravou novamente o “Mane – Thécel – Phares” na festa
do mundo.

Que Deus, na Sua misericórdia, ampare os humildes e os justos.


XXA
DECADÊNCIA
INTELECTUAL DOS TEMPOS MODERNOS

Pesam sobre os corações atribulados da Terra amargas apreensões, com


respeito ao fatalismo da guerra. E, infelizmente, ninguém poderá calcular a
extensão dos movimentos que se preparam, objetivando a luta do porvir. A
Europa moderna não representa a vanguarda da cultura dos povos, e é fácil
estabelecer-se um estudo analítico de sua situação de pura decadência
intelectual, depois da catástrofe de 1914-1918.

PROFUNDA POBREZA INTELECTUAL

As ditaduras europeias revivem, na atualidade, a época napoleônica da


pátria francesa, quando, segundo Chateaubriand, tudo respirava o senhor,
homenageava o senhor, vivia para o senhor. No velho Mundo, em quase
todos os países que o constituem, vive-se o governo e mais nada. O livro, a
escola, o jornal, a oficina, são núcleos de recepção do pensamento dos
maiores ditadores que o mundo há conhecido. A imprensa, manietada pelas
medidas draconianas, não pode criar o cooperativismo intelectual das classes
e das administrações, obrigada a viver a fase de absoluta união com os
programas de governo; os grandes pensadores que sobreviveram à Grande
Guerra não podem produzir expressões de pensamento livre, que abranjam a
solução dos enigmas destes tempos novos, trabalhados por leis vexatórias e
humilhantes, e vemos, pelo mundo inteiro, a invasão das forças perversoras
da consciência humana. Jornais integrados nas doutrinas mais absurdas, falsa
educação pelo rádio que vem complicar, sobremaneira, a situação, e os livros
da guerra, a literatura bélica, inflada de demagogia e de estandartes, de
símbolos e de bandeiras, incentivando a separatividade. Qualquer estudioso
desses assuntos poderá verificar a realidade de nossas afirmativas.
Os homens, nessa fase de preparação armamentista, vivem uma época de
profunda pobreza intelectual.

O porvir há de falar aos pósteros, dessas calamidades dolorosas. O mundo


chegou a uma fase evolutiva em que é preciso encarar-se de frente a questão
da fraternidade humana para resolve-la com justiça.

DITADURAS
E PROBLEMAS ECONÔMICOS

Os governos fortes, fatores da decadência espiritual dos povos, que


guardavam consigo a vanguarda evolutiva do mundo, não podem trazer
solução satisfatória aos problemas profundos que vos interessam.
Afigura-se-nos que a função das ditaduras é preparar as reações
incendiarias das coletividades. A atualidade do mundo necessita criar um
novo mecanismo de justiça econômica entre os povos. Que se aventem
medidas conciliatórias para essa situação de pauperismo e alto imperialismo
das nações. Os que estudam a política internacional podem resolver grande
parte dos fenômenos revolucionários que convulsionam o mundo, analisando
a chamada questão das matérias-primas. Matérias-primas quer dizer colônias
e colônias significam possibilidades de vida e de expansão. É verdade que na
Espanha atual, antes de tudo, reside o imperativo da dor, redimido grandes
culpados de outrora, constituindo essa dolorosa situação um dos quadros mais
pungentes das provações coletivas; mas não somente as ideologias
extremistas ali se combatem, pressagiando um novo organismo político para
o planeta. Um dos dois diretores de um manicômio espanhol asseverava, há
pouco tempo, que mais de quatrocentas pessoas, em um ano, tinham
procurado refúgio naquele pouso de alienados, como loucas, em virtude das
necessidades da fome. A Espanha é pobre de terras. De cem hectares de
terrenos, talvez somente uns trinta poderão oferecer campo propicio à
agricultura. E não só a velha península se debate nessas necessidades tão
duras. A China não está suportando o aumento continuo da sua população? O
Japão se vem fortificando para poder nutrir o seu povo. A Polônia estuda um
projeto de colocar na África ou na América mais de cinco milhões de
criaturas, que a sua possibilidade econômica não comporta.
NECESSIDADE
DA COOPERAÇÃO FRATERNA

Nessas aluviões de protestos, ouvem-se os tinidos das armas, e melhor


fora que o homem voltasse as vistas para o campo fraterno, antes da
destruição que se fará consumar. Seria melhor estudar-se a questão
carinhosamente, analisando-se os códigos das leis imigratórias e que as
nações não se deixassem dominar pelo prurido de mau nacionalismo,
tentando estabelecer um plano de concessões racionais e resolvendo-se a
questão da troca de produtos entre os países, solucionando-se o enigma da
repartição que a economia política não pôde conseguir até hoje, apesar da sua
perfeição técnica, no círculo da direção das possibilidades produtoras.

O que verificamos é que, sem a pratica da fraternidade verdadeira, todos


esses movimentos pró-paz são encenações diplomáticas sem fundo pratico,
não obstante intenções respeitáveis.

Mas, consideremos também que o mundo não marcha à revelia das leis
misericordiosas do Alto, e estas, no momento oportuno, saberão opor um
dique à chacina e ao arrasamento; confiemos nelas, porque os códigos
humanos serão sempre documentos transitórios, como o papel em que são
registrados, enquanto não se associarem, parágrafo por parágrafo, ao
Evangelho de Jesus.
XXI
CIVILIZAÇÃO EM CRISE

Alguns modernos escritores europeus, estudando o caos da sociedade


moderna, após a Grande Guerra, tentaram estabelecer as causas profundas da
crise da Civilização Ocidental.
O movimento armado de 1914 - 1918 veio destruir grande número de
princípios filosóficos que reagiam a vida das coletividades. Nas suas ruínas
fumegantes caíram muitas ilusões sociais e políticas, e os povos, na sua
existência de profundas inquietações, iniciaram em todo o período “post
bellum” uma série de longas experiências.

FASE DE EXPERIMENTAÇÕES

A Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos


trazem, para o amontoado de várias considerações, o resultado dos seus
estudos. Alguns proclamam que toda civilização tem a fragilidade de uma
vida; outros aventam hipóteses mais ou menos aceitáveis, e alguns apeiam
para a cristianização dos espíritos. Estes últimos estão acertados em seus
pareceres; todavia, não no sentido de um retorno à Idade Média, à
preponderância da fradaria, à disseminação dos princípios católico-romanos;
mas no de se organizar, de fato, no mundo, um espírito cristão sobre a base
do Evangelho. As novas experiências da Europa, em matéria de política
administrativa, não poderão conduzi-la senão aos movimentos armados,
inevitáveis. Dentro das vibrações antagônicas do fascismo e do bolchevismo,
fórmulas transitórias de atividades políticas do Velho Mundo, todos os que
falam em decadência do liberalismo estão errados. Os governos fortes da
atualidade, tenham eles os rótulos de nacionalismo ou internacionalismo, hão
de voltar-se, do círculo de suas experiências, para as conquistas liberais do
espírito humano, caminhando com essas conquistas na sua estrada evolutiva,
progredindo e avançando para o socialismo cristão do porvir.

NA DEPENDÊNCIA DA GUERRA

Terminada a última guerra, todos os povos ponderaram a necessidade de


paz, dentro de uma política regeneradora. Esgotadas e empobrecidas, as
nações europeias idealizaram tratados, conferências e institutos que
equilibrassem o continente, prevenindo-se contra a possibilidade de futuros
arrasamentos. Alterou-se a carta geográfica do mundo europeu repartindo-se
colônias, criou-se uma literatura antibélica e iniciaram-se novas experiências
políticas com a formação das repúblicas soviéticas. Mas a verdade é que cada
país multiplicou os seus organismos de guerra; cada qual pensou na paz,
trabalhando na sombra para as lutas do porvir. E quando, depois de anos a fio
de conversações diplomáticas e de citações de determinados artigos dos
supostos estatutos da tranquilidade coletiva, caíram os sonhos de um
desarmamento geral e diminuíram em eficácia os processos da Sociedade de
Genebra, o mundo viu, aterrado, aumentar os efetivos das forças armadas de
todas as nações.

Vê-se, mais que nunca, que toda a vida do Ocidente depende da guerra.
Milhares de operários têm suas atividades postas ao serviço da manufatura
das armas homicidas.

Milhares de homens estão empregados no trabalho de militarização.


Milhares de criaturas se movimentam e ganham o pão cotidiano nas
indústrias guerreiras.

SENTENÇA DE DESTRUIÇÃO

A civilização está em crise porque conheceu a sua sentença de destruição.


A guerra, no seu mecanismo industrial, econômico e político, é
imprescindível e inevitável.

Comunismo e fascismo, nas suas oposições ideológicas, só poderão


apressá-la.
Ainda há pouco tempo, um jovem europeu exclamava para um colega
americano: “Ai de nós! se nos prepararmos pelo estudo para a luta de nossas
próprias edificações! bem sabemos que o Estado exigirá, amanhã, as nossas
vidas. Temos de rir e beber para esquecer essas fatalidades irremediáveis.”

Essa observação caracteriza, de fato, as calamidades morais da sociedade


moderna.
A ausência de um apoio espiritual estabelece a vacilação moral das
criaturas. O sentimento dos homens requer uma base religiosa, e a
transformação de quase todos os valores religiosos do Velho Mundo, em
forças de política transitória, deu causa às fundas inquietações
contemporâneas. As criaturas vivem a sua tragédia de pessimismo e
descrença, à sombra dos governos de experiências tão penosas às
coletividades e encaminham-se, com indiferença, para a subversão e para a
desordem.

O FUTURO PERTENCERÁ AO EVANGELHO

A Civilização está em crise, repetimos com os observadores do mundo.


Pode-se apontar como uma das causas desse estado caótico a defecção
espiritual da Igreja Católica, negando-se a cumprir as determinações divinas
para disputar um lugar de dominação, no banquete dos poderes temporários
do mundo. Se houvesse mantido a sua posição espiritual, fortificando as
almas no seu longo caminho evolutivo, como mediadora entre o Céu e a
Terra, as transições sociais, inevitáveis, não seriam tão penosas para as
gerações do século XX. A estabilidade da Civilização Ocidental, sua
evolução para o socialismo de Jesus, dependiam da fidelidade da Igreja
Católica aos princípios cristãos. Mas, a Igreja negou-se ao cumprimento de
sua grandiosa missão espiritual e o resultado temo-lo na desesperação das
almas humanas, em face dos problemas transcendentes da vida.

A luta está travada.


A Civilização em crise, organizada para a guerra e vivendo para a guerra,
há de cair inevitavelmente; mas o futuro nascerá dos seus escombros, para
viver o novo ciclo da Humanidade, sem os extremismos antirracionais, na
época gloriosa da justiça econômica.

Não duvidemos, dentro da nossa certeza incontestável. O porvir humano


pertence à vitória do Evangelho.
XXII
FLUIDOS MATERIAIS
E FLUIDOS ESPIRITUAIS

1º - Serão os fluidos correntes de eletrônicos? 2º - Serão essas correntes


de duas naturezas – uma para atuar sobre a matéria e outra sobre o Espírito
preso a essa matéria? 3º - A corrente espiritual será formada pelas ondas
eletrônicas? 4º - O eletrônico da corrente espiritual será o mesmo da corrente
material?
1º – A ciência terrestre classifica o eletrônico como a derradeira unidade
de matéria, de carga elétrica negativa. No mundo do Infinitesimal, porém,
temos um caminho ilimitado e progressivo a percorrer.

O homem, diante da incapacidade da sua estrutura e em face da sua zona


sensorial limitada, não consegue ir além, no labirinto de segredos do
microcosmo e, para que nos façamos entendidos, não podemos convir
convosco em que os fluidos, de um modo geral, sejam correntes de
eletrônicos, ainda mesmo considerando-se a necessidade de representar-se,
com essa unidade, uma base para a vossa possibilidade de compreensão e de
análise, porque os eletrônicos são ainda expressões de matéria em estado de
grande rarefação.
2º, 3º e 4° – Embora sintéticas, pela sua construção fraseológica, essas
proposições são bastante complexas em si mesmas.

As correntes de fluidos espirituais têm a sua organização particular e


estão aptas a determinar a transformação das correntes de força material, em
qualquer circunstância. Seria aconselhável nunca se confundir as ondas
eletrônica com os fluidos de natureza espiritual. A matéria, atingindo
sublimidades de quintessência, quase se confunde no plano puro do espírito,
constituindo tarefa difícil para o eletromagnetismo positivar onde termina
uma e onde começa outro.

Ainda agora, os cientistas, investigando a natureza da radioatividade em


todos os corpos da matéria viva, perguntam ansiosos qual a fonte permanente
e inesgotável onde os corpos absorvem, incessante e automaticamente, os
elementos necessários a essa perene e inextinguível irradiação. No que se
refere às ondas eletrônicas ou aos elementos radioativos da matéria em si
mesma, essa fonte reside, sem dúvida, na energia solar, que vitaliza todo o
organismo planetário. O orbe terrestre é um grande magneto, governado pelas
forças positivas do Sol. Toda matéria tangível representa uma condensação
de energia dessas forças sobre o planeta e essa condensação se verifica
debaixo da influência organizadora do princípio espiritual, preexistindo a
todas as combinações químicas e moleculares. É a alma das coisas e dos seres
o elemento que influi no problema das formas, segundo a posição evolutiva
de cada unidade individual.
Todas as correntes eletrônicas, portanto, ou ondas de matéria rarefeita,
são elementos subordinados às correntes de fluidos ou vibrações espirituais;
aquelas são os instrumentos passivos, estas as forças ativas e renovadoras do
Universo.

Os corpos terrestres encontram no Sol a fonte mantenedora de suas


substâncias radioativas, mas todas essas correntes de energia são
inconscientes e passivas. Os Espíritos, por sua vez, encontram em Deus a
fonte suprema de todas as suas forças, em perene evolução, no drama
dinâmico dos sistemas. As correntes fluídicas no mundo espiritual são, pois,
vibrações da alma consciente, dentro da sua gloriosa imortalidade.
Concluímos, assim, que há fluidos materiais e fluidos espirituais; que os
primeiros são elementos inconscientes e passivos e os últimos a força eterna e
transformadora dos mundos, salientando-se que uma só lei rege a vida, em
sua identidade substancial. Nas ondas eletrônicas, filhas da energia solar,
chama-se-lhe afinidade, magnetismo, atração, e, nas correntes de fluidos
espirituais, filhas da alma, partícula divina, chama-se-lhe misericórdia,
simpatia, piedade e amor. Nessa lei única, que liga a Criação ao seu Criador e
da qual estudamos os fenômenos isolados, desenrola-se o drama da evolução
do espírito imortal.
XXIII
A SAÚDE HUMANA

Justifica-se o esforço dos experimentadores da medicina tentando


descobrir um caminho novo para atenuar a miséria humana; todavia, sem
abstrairmos das diretrizes espirituais, que orientam os fenômenos patogênicos
nas questões das provas individuais, temos necessidade de reconhecer a
imprescindibilidade da saúde moral, antes de atacarmos o enigma doloroso e
transcendente das enfermidades físicas do homem.

A RENOVAQÃO DOS MÉTODOS DE CURA

Em todos os séculos tem-se estudado o problema da saúde humana.


Até à metade do século XVIII, admitia-se plenamente a medicina da
Idade Média que, por sua vez, representava quase integralmente o mesmo
processo de cura dos egípcios, na antiguidade. Todas as moléstias eram
atribuídas à vacilação dos humores, baseando-se a maior parte dos métodos
terapêuticos na sangria e nas substâncias purgativas. No século XIX, as
grandes descobertas científicas eliminaram esses antigos conhecimentos. Os
aparelhos de laboratório perquirindo o mundo obscuro e vastíssimo da
microbiologia, as novas teses anatomopatológicas, apresentadas pelos
estudiosos do assunto, estabelecem, com a severidade das análises, que as
moléstias residem na modificação das partes sólidas do organismo,
abandonando-se a teoria da alteração dos humores. Os médicos esqueceram,
então, o estudo dos líquidos viciados do corpo, concentrando atenções e
pesquisas na lesão orgânica, criando novos métodos de cura.

OS PROBLEMAS CLÍNICOS INQUIETANTES


Não obstante a nobreza e a sublimidade da missão de quantos se
entregam ao sagrado labor de aliviar as amarguras alheias ai no mundo,
reconhecemos que muitos estudiosos perdem um tempo precioso,
mergulhados na discussão de mesquinhas rivalidades profissionais, quando
não se acham atolados no pântano dos interesses exclusivistas e particulares,
desconhecendo a grandiosidade espiritual do seu sacerdócio.

O que se torna altamente necessário nos tempos modernos é reconhecer-


se, acima de todos os processos artificiais de cura da atualidade, o método
indispensável da medicina natural, com suas potencialidades infinitas.

Analisando-se todos os descobrimentos notáveis dos sistemas


terapêuticos dos vossos dias, orientados pelas doutrinas mais avançadas, em
virtude dos novos conhecimentos humanos com respeito à bacteriologia, à
biologia, à química, etc., reconhecemos que, com exceção da cirurgia, que
teve com Ambroise Paré, e outros inteligentes cirurgiões de guerra, o mais
amplo dos desenvolvimentos, pouco têm adiantado os homens na solução dos
problemas da cura, dentro dos dispositivos da medicina artificial por eles
inventada. Apesar do concurso precioso do microscópio, existem hoje
questões clínicas tão inquietantes, como há duzentos anos. Os progressos
regulares que se verificam na questão angustiosíssima do câncer e da lepra,
da tuberculose e de outras enfermidades contagiosas, não foram além das
medidas preconizadas pela medicina natural, baseadas na profilaxia e na
higiene. Os investigadores puderam vislumbrar o mundo microbiano sem
saber eliminá-la. Se foi possível devassar o mistério da Natureza, a
mentalidade humana ainda não conseguiu apreender o mecanismo das suas
leis. O que os estudiosos, com poucas exceções, se satisfazem com o mundo
aparente das formas, demorando-se nas expressões exteriores, incapazes de
uma excursão

espiritual no domínio das origens profundas. Sondam os fenômenos sem


lhes auscultarem as causas divinas.

MEDICINA ESPIRITUAL

A saúde humana nunca será o produto de comprimidos, de anestésicos, de


soros, de alimentação artificialíssima. O homem terá de voltar os olhos para a
terapêutica natural, que reside em si mesmo, na sua personalidade e no seu
meio ambiente. Há necessidade, nos tempos atuais, de se extinguirem os
absurdos da “fisiologia dirigida”. A medicina precisa criar os processos
naturais de equilíbrio psíquico, em cujo organismo, se bem que remoto para
as suas atividades anatômicas, se localizam todas as causas dos fenômenos
orgânicos tangíveis. A medicina do futuro terá de ser eminentemente
espiritual, posição difícil de ser atualmente alcançada, em razão da febre
maldita do ouro; mas os apóstolos dessas realidades grandiosas não tardarão a
surgir nos horizontes acadêmicos do mundo, testemunhando o novo ciclo
evolutivo da Humanidade. O estado precário da saúde dos homens, nos dias
que passam, tem o seu ascendente na longa série de abusos individuais e
coletivos das criaturas, desviadas da lei sábia e justa da Natureza. A
Civilização, na sua sede de bem-estar, parece haver homologado todos os
vícios da alimentação, dos costumes, do sexo e do trabalho. Todavia, os
homens caminham para as mais profundas sínteses espirituais. A máquina,
que estabeleceu tanta miséria no mundo, suprimindo o operário e
intensificando a facilidade da produção, há de trazer, igualmente, uma nova
concepção da civilização que multiplicou os requintes do gosto humano,
complicando os problemas de saúde; há de ensinar às criaturas a maneira de
viverem em harmonia com a Natureza.

O MUNDO MARCHA PARA A SÍNTESE

Marcha-se para a síntese e não deve causar surpresa a ninguém a minha


assertiva de que não vos achais na época em que a ciência prática da vida vos
ensinará o método do equilíbrio perfeito, em matéria de saúde. Os corpos
humanos serão alimentados, segundo as suas necessidades especiais, sem
dispêndio excessivo de energias orgânicas. As proteínas, os hidratos de
carbono e as gorduras, que constituem as matérias-primas para a produção de
calorias necessárias à conservação do vosso corpo e que representam o
celeiro das economias físicas do vosso organismo, não serão tomados de
maneira a prejudicar-se o metabolismo, estabelecendo-se, dessa forma, uma
harmonia perfeita no complexo celular da vossa personalidade tangível,
harmonia essa que perdurará até o fenômeno da desencarnação.
Mas, todas essas exposições objetivam a necessidade de aplicarmos
largamente as nossas possibilidades na solução dos problemas humanos para
a melhoria do futuro.

É verdade que, por muito tempo ainda, teremos, em oposição ao nosso


idealismo, a questão do interesse e do dinheiro, porém, trabalhemos
confiantes na misericórdia divina.
Emprestemos o nosso concurso a todas as iniciativas que nobilitem o
penoso esforço das coletividades humanas, e não olvidemos que todo bem
praticado reverterá em benefício da nossa própria individualidade.

Trabalhemos sempre com o pensamento voltado para Jesus,


reconhecendo que a preguiça, a suscetibilidade e a impaciência nunca foram
atributos das almas desassombradas e valorosas.
XXIV
O CORPO ESPIRITUAL

De todos os fenômenos da vida, os que se apresentam ao raio visual da


ciência humana, mantenedores do seu entretenimento, são os da assimilação e
desassimilação; todavia, os que afetam mais particularmente a percepção do
homem não são os da atividade vital em si mesma, consubstanciados nas
sínteses orgânicas assimiladoras, mas justamente os fenômenos da morte. É
um axioma fisiológico a extinção das células que constituem o suporte de
todas as manifestações e apenas fazeis geralmente uma ideia da vida por
intermédio desses movimentos destruidores.

A VIDA CORPORAL – EXPRESSÃO DA MORTE

Quando, no homem ou nos irracionais, um gesto se opera, a Natureza


determina o desaparecimento de certa percentagem de substância da
economia vital; quando a sensibilidade se exterioriza e os pensamentos se
manifestam, eis que os nervos se consomem, gastando-se o cérebro em suas
atividades funcionais.

A vida corporal é bem a expressão da morte, através da qual efetuais as


vossas observações e os vossos estudos.

Não dispondes, dentro da exiguidade dos vossos sentidos, senão de


elementos constatadores da perda de energia, da luta vital, dos conflitos que
se estabelecem para que os seres se mantenham no seu próprio habitat.

A vida, em suas causalidades profundas, escapa aos vossos escalpelos e


apenas o embriologista observa, no silêncio da penumbra, infinitésima fração
do fenômeno assimilatório das criações orgânicas.
INACESSIVEL
AOS PROCESSOS DA INDAGAÇÃO CIENTÍFICA

Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula primitiva é comum a todos


os seres vertebrados e espanta ao embriólogo a lei organogênica que
estabelece a ideia diretora do desenvolvimento fetal, desde a união do
espermatozoário ao óvulo, especificando os elementos amorfos do
protoplasma; nos domínios da vida, essa ideia diretriz conserva-se inacessível
até hoje aos vossos processos de indagação e de análise, porquanto esse
desenho invisível não está subordinado a nenhuma determinação físico-
química, porém, unicamente ao corpo espiritual preexistente, em cujo molde
se realizam todas as ações plásticas da organização, e sob cuja influência se
efetuam todos os fenômenos endosmóticos.

O organismo fluídico, caracterizado por seus elementos imutáveis, é o


assimilador das forças protoplasmáticas, o mantenedor da aglutinação
molecular que organiza as configurações típicas de cada espécie,
incorporando-se, átomo por átomo, à matéria do germe e dirigindo-a segundo
a sua natureza particular.

RESPONDENDO ÀS OBJEÇÕES

Algumas objeções científicas têm sido apresentadas à teoria irrefutável do


corpo espiritual preexistente, destacando-se entre elas, por mais digna de
exame, a hereditariedade, a qual somente deve ser ponderável sob o ponto de
vista fisiológico. Todos os tipos de reino mineral, vegetal, animal, incluindo-
se o hominal, organizam-se segundo as disposições dos seus precedentes
ancestrais, dos quais herdam, naturalmente, pela lei das afinidades, a sua
sanidade ou os seus defeitos de origem orgânica, unicamente.

De todos os estudos referentes ao assunto, em vossa época, salienta-se a


teoria darwiniana das gêmulas, corpúsculos infinitesimais que se transmitem
pela vida seminal aos elementos geradores, contendo na matéria embrionária
disposição de todas as moléculas do corpo, as quais se reproduzem dentro de
cada espécie. A maioria das moléstias, inclusive a dipsomania, é
transmissível; porém, isso não implica um fatalismo biológico que engendre
o infortúnio dos seres, porque inúmeros Espíritos, em traçando o mapa do seu
destino, buscam, com o escolher determinado instrumento, alargar as suas
possibilidades de triunfo sobre a matéria, como um fato decorrente das
severas leis morais, que, como no ambiente terrestre, prevalecem no mundo
espiritual, o que não nos cabe discutir neste estudo.

Não obstante a preponderância dos fatores físicos nas funções


procriadoras, é totalmente inaceitável e descabido o atavismo psicológico,
hipótese aventada pelos desconhecedores da profunda independência da
individualidade espiritual, hipótese que aventada pelos desconhecedores da
profunda independência da individualidade espiritual, hipótese que reveste a
matéria de poderes que nunca ela possuiu em sua condição de passividade
característica.
Reconhecendo-se, pois, a veracidade da argumentação de quantos
aceitam a hereditariedade fisiológica nos fenômenos da procriação,
representando cada ser o organismo que provêm por filiação, afastemos a
hipótese da hereditariedade psicológica, porquanto, espiritualmente, temos a
considerar, apenas, ao lado da influência ambiente, a afinidade sentimental.

ATRAVÉS DOS ESCANINHOS


DO UNIVERSO ORGÂNICO

De todas as funções gerais que caracterizam os seres viventes, somente os


fenômenos de nutrição podem ser estudados pela perquirição científica e,
mesmo assim, imperfeitamente, há uma força inerente aos corpos
organizados, que mantém coesas as personalidades celulares, sustentando-se
dentro das particularidades de cada órgão, presidindo aos fenômenos
partenogenéticos de sua evolução, substituindo, através da segmentação,
quantas delas se consomem nas secreções glandulares, no trabalho
mantenedor da atividade orgânica.

Essa força é o que denominais princípio vital, essência fundamental que


regula a existência das células vivas, e no qual elas se banham
constantemente, encontrando assim a sua necessária nutrição, força que se
encontra esparsa por todos os escaninhos do universo orgânico, combinada às
substâncias minerais, azotadas e ternárias, operando os atos nutritivos de
todas as moléculas. O princípio vital é o agente entre o corpo espiritual, fonte
de energia e da vontade, e a matéria passiva, inerente às faculdades superiores
do Espírito, que o adapta segundo as forças cósmicas que constituem as leis
físicas de cada plano de existência, proporcionando essa adaptação às suas
necessidades intrínsecas. Essa força ativa e regeneradora, de cujo
enfraquecimento decorre a ausência de tônus vital, precursor da destruição
orgânica, é simplesmente a ação criadora e plasmadora do corpo espiritual
sobre os elementos físicos.

O SANTUÁRIO DA MEMÓRIA

O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de constituir a fonte


da misteriosa força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é
também ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e,
sobretudo o santuário da memória, em que o ser encontra os elementos
comprobatórios da sua identidade, através de todas as mutações e
transformações da matéria.

O PRODIGIOS ALQUIMISTA

Todas as células orgânicas renovam-se incessantemente; e como poderia


a criatura conhecer-se entre essas continuadas transubstanciações? Para que
se manifeste o pensamento – que desconhece as glândulas que o segregam,
porquanto constitui a vibração do corpo espiritual dentro de sua profunda
consciência – quantas células se consomem e se queimam?

O cérebro assemelha-se a complicado laboratório onde o espírito,


prodigioso alquimista, efetua inimagináveis associações atômicas e
moleculares, necessárias às exteriorizações inteligentes.
É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve a maravilha da memória,
misteriosa chapa fotográfica, onde tudo se grava, sem que os menores
coloridos das imagens se confundam entre si.
ALMA E CORPO

Tem-se procurado explicar, pela prática dos neurologistas, toda a classe


de fenômenos intelectuais, através das ações combinadas do sistema nervoso;
e, de fato, a Ciência atingiu certezas irrefutáveis, como, por exemplo, a de
que uma lesão orgânica faz cessar a manifestação que lhe corresponde e que a
destruição de uma rede nervosa faz desaparecer uma faculdade.

Semelhante asserto, porém, não afasta a verdade da influência de ordem


espiritual e invisível, porque se faz mister compreender, não a alma insulada
do corpo, mas ligada a esse corpo, o qual representa a sua forma objetivada,
com um aglomerado de matérias imprescindíveis à sua condição de
tangibilidade, animadas pela sua vontade e por seus atributos imortais.

Algumas escolas filosóficas fizeram da alma uma abstração, mas a


psicologia moderna restabeleceu a verdade, unindo os elementos psíquicos
aos materiais, reconhecendo no corpo a representação da alma, representação
material necessária, segundo as leis físicas imperantes na Terra, as quais
colocaram no sensório o limite das percepções humanas, que são exíguas em
relação ao número ilimitado das vibrações da vida, que para elas se
conservam inapreensíveis.
É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu
molde, à sua estrutura, a fim de materializar-se no mundo palpável. Sem ele,
a fecundação constaria de uma composição amorfa e todas as manifestações
inteligentes e sábias da Natureza, que para todos nós devem significar a
expressão da vontade divina, constituiriam uma série de atos irregulares e
incompreensíveis, sem objetivo determinado.

A EVOLUÇÃO INFINITA

E como se tem operado a evolução do corpo espiritual?

Remontai ao caos telúrico do vosso Globo nas épocas primárias.

Cessadas as perturbações geológicas, estabelecido o repouso em algumas


grandes extensões de matéria resfriada, eis que, entre as forças cósmicas
associadas, aparece o primeiro rudimento de vida organizada – o
protoplasma. Eis que os séculos se escoam... eis as amebas, os zoófilos, os
seres monstruosos das profundidades submarinas...Recapitulemos os milênios
passados e acharemos a nossa própria história; a individualidade, o nosso
“ego” constitui o nosso maior triunfo. E, chegados ao raciocínio e ao
sentimento da Humanidade, através de vidas inumeráveis, teremos atingido o
zênite da nossa evolução anímica? Não. Se nos achamos acima dos nossos
semelhantes inferiores – os irracionais -, acima de nós se encontram os seres
superiores da espiritualidade, que se hierarquizam ao infinito e cuja perfeição
nos compete alcançar.
XXV
OS PODERES DO ESPÍRITO

Grande será o dia em que todos os homens reconhecerem sobre a matéria


a soberana influência do Espírito.

Toda a imensa bagagem de progresso das civilizações não se fez sem o


princípio espiritual: dele, as menores coisas dependeram, como ainda
dependem; do seu reconhecimento, por parte de quantos habitam o orbe,
advirão os resplendores da época de luz e de esclarecimento.

Esse tempo há de assinalar a época da crença pura e reconfortadora das


almas, como manancial de esperanças; só esse surto de espiritualidade pode
vivificar as construções religiosas, combalidas atualmente pelos abusos da
grande maioria dos seus expositores, que, traindo os seus compromissos, se
desviaram do píncaro luminoso do exemplo para o chavascal de mesquinhas
materialidades.

OS MENDIGOS DA SABEDORIA

Nos últimos tempos, a sede humana de saber o que existe além da Terra
tem feito com que o homem engendre as mais fantasiosas teorias
concernentes aos mistérios do ser e do destino, sobre o orbe terreno; no afã de
estraçalhar os véus espessos que cobrem os enigmas da sua evolução, muitos
foram os que descambaram para terrenos perigosos, onde encontram, apenas,
os espinhos do ateísmo dissolvente. Esses Espíritos que, torturados com os
problemas da vida, aí se entregam à criação de engenhosos sistemas,
afiguram-se-nos desesperados à porta da sabedoria, orgulhosos na sua
impotência e na sua incapacidade.

Muitos deles, anos e anos, persistem no mesmo trabalho e no mesmo


esforço, alegando não terem encontrado o espírito em suas indagações
científicas, abandonando a vida material com um passado que os encobre
pela atividade, bem-intencionada, por eles despendida, mas desolados, em
reconhecendo infrutuosos os seus esforços, que outra coisa não conseguiram
senão lançar a descrença e a confusão nas almas.

INSUFICIÊNCIA SENSORIAL

Reconhecem, então, a insuficiência sensorial que lhes obstava a


compreensão do verdadeiro panorama da vida, no seu desdobramento
universal; sentem a exiguidade dos sentidos do homem carnal e a relatividade
de suas funções, ao penetrarem no domínio de vibrações que se lhes
conservaram inacessíveis, chegando à conclusão de que as filosofias não
podem ser substituídas pelas ciências positivas, e que sobre o mundo físico e
objetivo paira uma região transcendente, onde a investigação não se pode
fazer sentir, à falta de elementos de ordem material.

A INÚTIL TENTATIVA

É inútil a tentativa de afastamento do Espírito na obra da evolução


terrena. É ele, desde os primórdios da Civilização, a alma de todas as
realizações; e indestrutível é a doutrina biológica do vitalismo, porque o
sistema do monismo e o mecanicismo da seleção natural, se satisfazem a
algumas questões insuladas, não resolvem os problemas mais importantes da
vida.

O princípio das espécies, a origem dos instintos, as organizações


primitivas das raças, das sociedades e das leis, só as teorias espiritualistas
explicam satisfatoriamente.

TUDO É VIBRAÇÃO ESPIRITUAL

Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito, no tocante às


questões fisiológicas, quais sejam as dos fenômenos osmóticos, a autonomia
de certos órgãos que parecem independentes na sua cão dentro do organismo,
o trabalho da célula que fabrica a antitoxina apta a destruir o micróbio que a
ataca, a estrutura do princípio fetal, os sinais de nascença que a Ciência tem
negado, baseando-se na ausência de ligação nervosa entre o feto e o
organismo materno, desçamos ao mundo zootécnico. Somente a intervenção
do princípio espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o mimetismo,
como o embrião dos instintos e das possibilidades do futuro. Tudo, nos
domínios da matéria, se concatena e se reúne, sob a orientação de um
princípio estranho às suas qualidades amorfas.

A MATÉRIA

A matéria não organiza, é organizada. E não representa senão uma


modalidade da energia esparsa no Universo. Os seus elementos não fazem
outra coisa senão submeter-se às injunções do Espírito; e é a soberana
influência deste último que elucida todos os problemas intrincados dos seres
e dos destinos, É ao seu apelo, cedendo aos seus desejos, que todas as
matérias brutas se vêm rarefazendo, oferecendo aspectos novos e delicados.
A Civilização, as conquistas científicas e as concepções religiosas
representam o fruto dos labores dos Espíritos que, na Terra, se iniciaram nos
trabalhos que regeneram e aperfeiçoam. O que lhes compete, na atualidade é
o não estacionamento nos domínios conquistados, laborando para que os
ideais de justiça, de verdade e de paz se concretizem na face do orbe. É nessa
tarefa bendita que devem concentrar os seus esforços para que o planeta
terrestre não veja sucumbir, na aluvião de insânias das guerras, o seu
patrimônio de progressos, obtidos à custa de trabalhos penosos e ingentes
sacrifícios.
XXVI
OS TEMPOS DO CONSOLADOR

A permissão de Deus para que nos manifestássemos ostensivamente,


entre os agrupamentos dos nossos irmãos encarnados, chegou, justamente, a
seu tempo, quando o espírito humano despido das vestes da puberdade, com
o juízo amadurecido para assimilar algo da Verdade, tateava entre vacilações
e incertezas, estabelecidas pela investigação da Ciência, sem conseguir
adaptar-se ao demasiado simbolismo das ideias religiosas, latentes na alma
humana, desde os tempos primevos dos trogloditas.
Justamente na época requerida, consoante as profecias do Divino Mestre,
derramou-se da sua luz sobre toda a carne, e os emissários do Alto, segundo
as suas possibilidades e aos méritos individuais, têm auxiliado a ascensão dos
conhecimentos humanos para os planos elevados da espiritualidade.

A CONCEPÇÃO DA DIVINDADE

Desde as eras primárias da Civilização, a ideia de um poder superior,


interferindo nas questões mundanas, vem guiando o homem através dos seus
caminhos e a Religião sempre constituiu o maior fator da moral social, se
bem que apresentasse a divindade à semelhança do homem, em seus
ensinamentos exotéricos.

O Cristianismo, inaugurando um novo ciclo de progresso espiritual,


renovou as concepções de Deus no seio das ideias religiosas; todavia, após a
sua propagação, várias foram as interpretações escriturísticas, dado azo a que
as facções sectaristas tentassem isoladamente, ser as suas únicas
representantes; a Igreja Católica e as numerosas seitas protestantes, nascidas
do ambiente por ela formado, têm levado longe a luta religiosa, esquecidas de
que a Providência Divina é Amor. Estabeleceram com a sua acanhada
hermenêutica os dogmas de fé, nutrindo-se das fortunas iníquas a que se
referem os Evangelhos, prejudicando os necessitados e os infelizes.

A FÉ ANTE A CIÊNCIA

Mas, como o progresso não conhece obstáculos, os artigos de fé


equivaleram a estagnações isoladas. Se conseguiram satisfazer à Humanidade
em um período mais ou menos remoto da sua evolução, caducaram desde que
o laboratório obscureceu a sacristia.

A Ciência desvendou o espírito humano as perspectivas inconcebíveis do


Infinito; o telescópio descortinou a grandeza do Universo e os novos
conhecimentos cosmogônicos demandaram outra concepção do Criador.
Desvendando, paulatinamente, as sublimes grandiosidades da natureza
invisível, a Ciência embriagou-se com a beleza de tão lindos mistérios e
estabeleceu o caminho positivo para encontrar Deus, como descobrira o
mundo microbiano, ao preço de acuradas perquirições. É que a Divindade das
religiões vigentes era defeituosa e deformada pelos seus atributos
exclusivamente humanos; as igrejas estavam acorrentadas ao dogmatismo e
escravizadas aos interesses do mundo. A confusão estabeleceu-se. Foi quando
o Espiritismo fez sentir mais claramente a grandeza
do seu ensinamento, dirigindo-se não só ao coração, mas igualmente ao
raciocínio. O céu descerrou um fragmento do seu mistério e a voz dos
Espaços se fez ouvir.

OS ESCLARECIMENTOS
DO ESPIRITISMO

Foi assim que a religião da verdade surgiu na Terra, no momento


oportuno. As Igrejas estagnadas encontravam-se no obsoletismo, incapazes
de sancionar as ideias novas, vivendo quase que exclusivamente das suas
características de materialidade e do seu simbolismo, terminado o tempo de
sua necessária influência no mundo. As conquistas científicas não se
coadunavam n com o espírito dogmático, e o Espiritismo, com as suas lições
magníficas, alargou infinitamente a perspectiva da vida universal. Explicando
e provando que a existência não se observa somente na face da Terra opaca e
cheia de dores.

Há céus inumeráveis e inumeráveis mundos onde a vida palpita numa


eterna mocidade; todos eles se encadeiam, se abraçam dentro do magnetismo
universal, vivificados pela luz, imagem real da alma Divina, presente em toda
parte.
A carne é uma vestimenta temporária, organizada segundo a vibração
espiritual, e essa mesma vibração esclarece todos os enigmas da matéria.

NÓS VIVEREMOS ETERNAMENTE

A Doutrina dos Espíritos, pois, veio desvendar ao homem o panorama da


sua evolução e esclarece-lo no problema das suas responsabilidades, porque a
vida não é privilégio da Terra obscura, mas a manifestação do Criador em
todos os recantos do Universo.

Nós viveremos eternamente, através do Infinito e o conhecimento da


imortalidade expõe os nossos deveres de solidariedade para com todos os
seres, em nosso caminho; por esta razão, a Doutrina Espiritista é uma síntese
gloriosa de fraternidade e de amor. O seu grande objeto é esclarecer a
inteligência humana.

Oxalá possam os homens compreender a excelsitude do ensinamento dos


Espíritos e aproveitar o fruto bendito das suas experiências; com o
entendimento esclarecido, interpretarão com fidelidade o “Amai-vos uns aos
outros”, em sua profunda significação.

Os instrutores dos planos espirituais, em que nos achamos, regozijam-se


com todos os triunfos da vossa ciência, porque toda conquista importa em
grande e abençoado esforço e, pelo trabalho perseverante, o homem
conhecerá todas as leis que lhe presidem ao destino.
XXVII
OS DOGMAS E OS PRECONCEITOS

Os maiores obstáculos, para que se propaguem no seio das sociedades


modernas os ensinamentos salutares e proveitosos do Consolador, são
constituídos pelas imensas barreiras que lhes levantam os dogma e
preconceitos de todos os matizes, nas escolas científicas e facções religiosas,
militantes em todas as partes do Globo.

AÇÕES PERTURBADORAS

Muitos espíritos, afeitos ao tradicionalismo intransigente e rotineiro, são


incapazes de conceber a estrada ascensional do progresso, como de fato ela é,
cheia de lições novas e crescentes resplendores; é assim que, completando as
longas fileiras de retardatários, perturbam, às vezes, a paz dos que estudam
devotamente no livro maravilhoso da Vida, com as suas opiniões
disparatadas, prevalecendo-se de certas posições mundanas, abusando de
prerrogativas transitórias que lhes são outorgadas pelas fortunas iníquas.

Não conseguem, porém, mais do que estabelecer a confusão, sem que as


suas mentes egoístas tragam algo de belo, de novo ou de verdadeiro, que
aproveite ao progresso geral. Seus trabalhos se prestam unicamente às suas
experiências pessoais nos domínios do conhecimento, não conseguindo viver
na memória dos pósteros, porquanto a veneração da posteridade é uma
galeria gloriosa reservada, quase que invariavelmente, aos que passaram na
Terra perseguidos e desprezados, e que se impuseram A Humanidade
ofertando-lhe generosamente o fruto abençoado dos seus sacrifícios imensos
e das suas dores incontáveis.

CARACTERÍSTICAS
DA SOCIEDADE MODERNA

Desalentadoras são as características da sociedade moderna, porque, se a


coletividade se orgulha dos seus progressos físicos, o homem se encontra,
moralmente, muito distanciado dessa evolução. Semelhante anomalia é a
consequência inevitável da ignorância das criaturas, com respeito à sua
própria natureza, desconhecimento deplorável que as incita a todos os
desvios. Vivendo apenas entre as coisas relativas à matéria, submergem nas
superficialidades prejudiciais ao seu avanço espiritual. Ignoram, quase que
totalmente, o que sejam as suas forças latentes e as suas possibilidades
infinitas, adormecendo ao canto embalador dos gozos falsos do “eu pessoal”,
e apenas os sofrimentos e as dificuldades as obrigam a despertar para a
existência espiritual, na qual reconhecem quanta alegria dimana do exercício
do Bem e da prática da virtude, entre as santas lições da verdadeira
fraternidade.

A CIÊNCIA E A RELIGIÃO

Infelizmente, se a Ciência e a Religião constituem as forças matrizes de


esclarecimento das almas, vemos uma empoleirada na negação absoluta e a
outra nas afirmações arriscadas e absurdas. A Ciência criou a academia, e a
religião sectarista criou a sacristia; uma e outra, abarrotadas de dogmas e
preconceitos, repelindo-se como polos contrários, dentro dos seus conflitos
têm somente realizado separação em vez de união, guerra em vez de paz,
descrença em vez de fé, arruinando as almas e afastando-as da luz da
verdadeira espiritualidade.
Entre a força de um preconceito e o atrevimento de um dogma, o espírito
se perturba, e, no círculo dessas vibrações antagônicas, acha-se sem bússola
no mundo das coisas subjetivas, concentrando, naturalmente, na esfera das
coisas físicas, todas as suas preocupações.

O TRABALHO DOS INTELECTUAIS

É por essa razão que de grandes responsabilidades se investem aqueles


que se entregam na Terra aos labores espirituais sob todos os aspectos em que
se nos apresentam; grandes serviços constam de suas incumbências e elevada
conta lhes será solicitada dos seus afazeres sobre a face do planeta. Dolorosas
decepções os aguardam na existência de além-túmulo, quando menosprezam
as suas possibilidades para o bem comum, fazendo de suas faculdades
intelectuais objeto de mercantilismo, em troca de prebendas, as quais,
augurando-lhes um porvir de repouso egoístico na vida transitória, os fazem
estacionários e nocivos às coletividades, o que equivale a existências de
provas amargas, entre prolongadas obliterações dos seus poderes de
expressão.

Não é que o artista e o pensador devam aderir a este ou àquele sistema


religioso, ou alistar-se sob determinada bandeira filosófica; o que se faz
mister é compreender a necessidade da tarefa de espiritualização, trabalhando
no edifício sublime do progresso comum, colaborando na campanha de
regeneração e de reforma dos caracteres, auxiliando todas as ideias nobres e
generosas, em qualquer templo, facção ou casta em que vicejem,
espiritualizando as suas concepções, transformando a ação inteligente num
apelo a todos os espíritos para a perfeição, desvendando-lhes os segredos da
beleza, da luz, do bem, do amor, através da arte na Ciência e na Religião, em
suas manifestações mais rudimentares.
Que todos operem na difusão da verdade, quebrando a cadeia férrea dos
formalismos impostos pelas pseudo-autoridades da cátedra ou do altar,
amando a vida terrena com intensidade e devotamento, cooperando para que
se ampliem as suas condições de perfectibilidade, convencendo-se de que as
suas felicidades residem nas coisas mais simples.
XXVIII
AS COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS

Por todos os recantos da Terra, fazem-se ouvir, nos tempos que correm,
as vazes dos Espíritos que, na sua infatigável atividade, conduzem a luz da
verdade a todos os ambientes, dosando as suas lições segundo o grau de
perceptibilidade daqueles que as recebem.
Os ensinamentos do Espaço pululam nas escolas, nos templos, nas
oficinas e, aos poucos, ides compreendendo a comunhão do orbe terráqueo
com os planos invisíveis. O Espiritismo tem doutrinado convenientemente a
Fé e a Ciência, preparando-as para os esponsais do porvir.

Se é verdade que a tibieza de alguns trabalhadores, obcecados pelos


preconceitos, tem entravado a marcha da doutrina consoladora, devemos
reconhecer que muitas mentalidades, saturadas de suas claridades benditas,
têm concorrido com os melhores esforços da sua existência em favor da
propagação dos seus salutares princípios, desobrigando-se nobremente dos
seus deveres para com a bondade divina.

O MEDIUNISMO

Vários autores não têm visto, na extensa bibliografia dos escritores


mediúnicos, senão reflexos da alma dos médiuns, emersões da
subconsciência, que impelem os mais honestos a involuntárias mistificações.

Excetuando-se alguns casos esporádicos, em que abundam os elementos


prestantes à identificação, as mensagens mediúnicas são repositórios de
advertências morais, cuja repetição se lhes afigura soporífera. Todavia, erram
os que formulam semelhantes juízos. Diminuta é a percentagem dos
intrínsecos, já que todo o mediunismo, ainda que na materialização e no
automatismo perfeitos, se baseia no Espiritismo e Animismo conjugados.

A COMUNHÃO DOS DOIS MUNDOS

Os desencarnados não podem imiscuir-se na vida material com a


plenitude das faculdades readquiridas e o médium, por sua vez,
frequentemente, em vista das suas condições e circunstâncias, está
impossibilitado de corresponder à potencialidade vibratória daqueles que o
procuram para veicular o seu pensamento.

A alma, emancipada dos liames terrestres, integra a comunidade do outro


mundo, que não é o da carne, e, daí, a necessidade imprescindível de
submeter-se às condições de ordem material para se manifestar; esse fato
constitui uma dificuldade extraordinária à consciência depurada, que já
desferiu o voo altíssimo aos denominados planos felizes do Universo,
dificuldade que essa adaptação à materialidade implica.
A comunhão dos dois mundos, o físico e o invisível, está, pois, baseada
nos mais sutis elementos de ordem espiritual.

Por essa razão, as luminosas mensagens dos grandes mentores da


Humanidade são inspiradas aos seres terrenos através de processos
inacessíveis ao seu entendimento atual, e a maioria das entidades
comunicantes são verdadeiros homens comuns, relativos e falhos, porquanto
são almas que conservam, às vezes integralmente, o seu corpo somático e
cujo habitat é o próprio orbe que lhes guarda os despojos e as vastas zonas
dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio planeta, que poderíamos
classificar de colônias terrenas nos planos da erraticidade.
Ai se congregam os seres afins e, nesse meio, vivem e operam muitas
elites espirituais, constituídas por Espíritos benignos, mas não aperfeiçoados,
os quais, sob ordens superiores, laboram pelo seu próprio adiantamento e a
prol da evolução humana, volvendo novamente à carne ou trabalhando pelo
progresso no seio das coletividades terrestres.

O QUE
REPRESENTAM AS COMUNICAÇÕES

Dos motivos expostos, infere-se que a suposta vulgaridade dos ditados


mediúnicos é um fato naturalismo, porque emanam das almas dos próprios
homens da Terra, imbuídos de gosto pessoal, já que o corpo das suas
impressões persiste com precisão matemática, e somente os séculos, com o
seu consequente aglomerado de experiências, conseguem modificar as
disposições cármicas ou perispirituais de cada indivíduo. Procuram agir no
plano físico unicamente para demonstração da sobrevivência além da morte,
levantando os ânimos enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da
esperança no futuro, porém, jamais serão portadores da palavra suprema do
progresso, não só porque a sua sabedoria é igualmente relativa, como também
porque viriam anular o valor da iniciativa pessoal e a insofismável realidade
do arbítrio humano.

OS PLANOS DA EVOLUÇÃO

Assim como o Infinito é uma lei para os estados das consciências, temos
o infinito de planos no Universo e todos os planos se interpenetram, dentro da
maravilhosa lei de solidariedade; cada plano recebe, daquele que lhe é
superior, apenas o bastante ao seu estado evolutivo, sendo de efeito
contraproducente ministrar-lhe conhecimentos que não poderia suportar.
A evolução, sob todos os seus aspectos, deve ser procurada com afinco,
pois é dentro dessa aspiração que vemos a verdade da afirmação evangélica –
“a quem mais tiver, mais será dado”.

À medida que o homem progride moralmente, mais se aperfeiçoará o


processo da sua comunhão com os planos invisíveis que lhe são superiores.
XXIX
DO “MODUS OPERANDI” DOS ESPÍRITOS

O “modus operandi” das entidades que se comunicam, nos ambientes


terrestres, tem a sua base no magnetismo universal, dentro do qual todos os
seres e mundos gravitam para a perfeição suprema; e incalculável é a
extensão do papel que a sugestão e a telepatia representam nos fenômenos
mediúnicos.

O PROCESSO DAS COMUNICAÇÕES

O processo das comunicações entre os planos visível e invisível,


mormente quando se trata de trabalhos que interessam de perto o progresso
moral das criaturas, trabalhos esses que requerem a utilização de inteligências
nobilíssimas do Espaço, cujo grau de elevação o meio terrestre não pode
comportar, verifica-se, quase que invariavelmente, dentro de um
teledinamismo poderoso, que estais longe ainda de apreciar nas vossas
condições de espíritos encarnados.

Entidades sábias e benevolentes, que já se desvencilharam totalmente dos


envoltórios terrenos, basta que o desejem, para que distâncias imensas sejam
facilmente anuladas, a fim de que os seus elevados ensinamentos sejam
ministrados, desde que haja cérebro possuidor de capacidade receptiva e que
lhes não ofereça obstáculos insuperáveis.

OS APARELHOS MEDIÚNICOS

Aqueles que possuem essas faculdades registradoras dos pensamentos,


que dimanam dos planos invisíveis, são os chamados sensitivos ou médiuns,
porém, essa condição será a de todos os homens do porvir. São inúmeras as
legiões de seres que perambulam convosco, sem os indumentos carnais, e que
permanecem nas latitudes do vossa planeta, sendo necessário considerar que
a maioria dos que evolutiram e se conservam nas esferas de um
conhecimento muito superior ao vosso, pelas condições inerentes à sua
própria natureza, não vos podem estar próximos. Enviam aos homens a sua
mensagem luminosa dos cimos resplandecentes em que se encontram, e,
formulando o desejo de ação nos planos da matéria, atuam com a sua vontade
superior sobre o cérebro visado, o qual se encontra em afinidade com as suas
vibrações e, através de forças teledinâmicas, que podereis avaliar com os
fluidos elétricos, cuja utilização encetais na face do Globo, influenciam a
natureza particular do sensitivo, afetando-lhe o sensório, atuando sobre os
seus centros óticos e aparelhos auditivos, desaparecendo perfeitamente as
distâncias que se, não medem; na alma do “sujet” começa então a operar-se
uma série de fenômenos alucinatórios sob a ação consciente do Espírito que o
guia dos planos intangíveis. Este, segundo a sua necessidade, o induz a ver
essa ou aquela imagem, em vibrações que o envolvem, as quais são
traduzidas pelo sensitivo de acordo com as suas possibilidades intelectivas e
sentimentais. Há instrumentos que interpretam com fidelidade o que se lhes
entrega; outras, porém, não dispõem de elementos necessários para esse fim.

Não se conjeture a necessidade, por parte dos desencarnados, de trabalho


fatigante para que tais fenômenos se verifiquem, concretizando-se no plano
físico; tais fatos se realizam naturalmente, bastando para isso o seu desejo e o
poder de fazê-la.

A IDEOPLASTICIDADE DO PENSAMENTO

Ignorais, na Terra, a maravilhosa ideoplasticidade do pensamento.


Conhecendo a plenitude de suas faculdades, após haver triunfado em muitas
experiências que lhes asseguraram elevada posição espiritual, senhores de
portentosos dons psíquicos, conquistados com a fé e com a virtude
incorruptíveis, os Espíritos superiores possuem uma vontade potente e
criadora de todas as formas da beleza. Às vezes, apresentam-se ao vidente
grandiosas cenas da história do planeta, multidões luminosas, legiões de
almas, quadros esses que, na maioria das vezes, constituem os pensamentos
materializados das mentes evoluídas que os arquitetam, e que atuam sobre os
centros visuais dos sensitivos, objetivando o progresso geral.

É assim que se estabelece a união dos dois mundos, o físico e o espiritual,


através de fatores inacessíveis às vossas medidas e instrumentos materiais.
O tempo reserva muitas surpresas ao homem, dentro da proporção da sua
evolução moral, concretizando o edifício imortal de todas as ideias
altruísticas, nobres e generosas, sendo totalmente inútil que alguns deles se
arvorem em supremas autoridades nos variados ramos da vida, porque, dentro
da sua pretensiosa indigência, se perderão fatalmente no labirinto discursivo
dos seus argumentos mateotécnicos.
XXX
EVANGELIZAÇÃO
AOS DESENCARNADOS

São-nos gratas a todos nós que já nos libertamos da cadeia material, as


vossas reuniões de evangelização. A alguém poderá parecer que, com essa
preferência, criamos também, para cá dos limites da Terra, um círculo
vicioso, onde eternamente nos debatemos. Tal opinião, porém, será
erradamente emitida, porquanto, desconhecendo o nosso "modus vivendi",
muitas vezes não considerais que o homem, acima de tudo, é espírito, alma,
vibração e que esse espírito, somente em casos excepcionais, não se conserva
o mesmo, após a morte do corpo, com idênticos defeitos e as mesmas
inclinações que o caracterizavam na face do mundo.
Conduzimos, portanto, frequentemente, até o vosso meio, afim de se
colocarem em contato com a verdade da sua nova situação, aqueles dos
nossos semelhantes que aqui se encontram ainda impregnados das sensações
corporais.

A SITUAÇÃO
DOS RECÉM-LIBERTOS DA CARNE

Identificados por tal forma com a matéria, sentindo tão intensamente as


suas impressões, não se encontram aptos a compreender a nossa linguagem e
precisam ouvir a voz materializada daqueles que, cumprindo os desígnios do
Alto, ainda se conservam no exílio, aguardando a alvorada de sua redenção

É ainda reduzido o número dos que despertam na luz espiritual,


plenamente cônscios da sua situação, porque diminuta é a percentagem de
seres humanos que se preocupam sinceramente com as questões do seu
aprimoramento moral. A maioria dos desencarnados, nos seus primeiros dias
da vida além do túmulo, não encontra senão os reflexos dos seus péssimos
hábitos e das suas paixões que, nos ambientes diversos de outra vida, os
aborrecem e deprimem. O corpo das suas impressões físicas prossegue
perfeito, fazendo-lhes experimentar acerbas torturas e inenarráveis
sofrimentos.

AS EXORTAÇÕES EVANGÉLICAS

As exortações evangélicas são, pois, lenitivos de muitos padecimentos


morais, de muitas dores amaríssimas que acompanham as almas, após a
travessia da morte, cheia de sombras ou de claridades. Há sofrimentos a
aliviar, ignorantes a instruir, sedentos de paz e de amor. Quando assim
acontece, é natural que o tempo seja dedicado à nobre tarefa de espalhar a luz
do ensino e do conforto espiritual.

Numa assembleia dos que se consagram ao estudo das ciências, é natural


a discussão sobre a matéria cósmica, sobre a onda hertziana, mas, ao lado da
turba dos infelizes, é preciso mostrar a estrada da regeneração e da verdadeira
ventura.
O Espiritismo não é somente o antídoto para as crises que perturbam os
habitantes da Terra; os seus ensinamentos salutares e doces reerguem nos
desencarnados as esperanças desfalecidas à falta de amparo e de alimento; é
aí que a doutrina edifica os transviados do dever e os sofredores saturados
desses acerbos remorsos que somente as lágrimas fazem desaparecer.

A LIÇÃO DAS ALMAS

Cada alma que se vos apresenta e que leva até aos vossos ouvidos o eco
das suas palavras, traz em sua fronte o estatuto da verdade que vos compele
aos atos puros e meritórios e aos pensamentos elevados que enobrecem a
consciência.

Não regressaríamos da morte, sem um alto e nobre objetivo.


O escopo das nossas atividades é a demonstração da realidade
insofismável de que vivemos e regressamos do plano invisível para vos dizer
que o Espaço, como um livro misterioso, encerra toda a nossa vida. Uma
intenção, uma lágrima oculta, uma virtude nobilitante estão patentes nas suas
páginas prodigiosas que, por uma disposição, inacessível ainda à vossa
compreensão, registra os mais recônditos pensamentos e ações da nossa
existência.

Objetivamos, portanto, cultivar em vossos corações a certeza consoladora


da crença pura, trabalhando para que a tolerância, a meditação e a caridade
sejam as vossas companheiras assíduas.

ENSINAR E PRATICAR

Todas as ciências estão ricas de especulações teóricas, todas as religiões


que se divorciaram do amor estão repletas de palavras, quase sempre vazias e
incompreensíveis.
As predicações são ouvidas, por toda parte; mas a prática, esta é rara e daí
a necessidade de se habituar a ela com devotamento, para que os atos revelem
os sentimentos, operando com o espírito de verdadeira humildade.

Caminhai, pois, nos pedregosos caminhos das provações. À medida que


marchardes, cheios de serenidade e de confiança, mais belas provas colhereis
da luminosa manhã da imortalidade que vos espera, além do silêncio dos
túmulos.
XXXI
OS ESPÍRITOS DA TERRA

Está cheio o vosso mundo de Espíritos atrasados em sua evolução,


encarnados e desencarnados, em cujas mentes ainda não se fixaram
nitidamente as noções do dever em todos os seus prismas.
Admirai-vos, às vezes, os que vos acolheis sob a bandeira da paz da
consoladora Doutrina dos Espíritos, da incompreensão que lavra no mundo e
da teimosia de muitas consciências rebeldes à luz e refratárias à Verdade; a
Terra está cheia de dores, oriundas dos abusos levados a efeito por elevado
número dos seus habitantes que, aliás, constituem considerável maioria.

Vós, porém, que estudais e vos sentis possuídos da aspiração de melhorar,


procurai ponderar todas as questões que se vos apresentem, com acurada
atenção, procurando resolver todos os problemas à luz de esclarecido
entendimento.

ESPÍRITOS DA TERRA

A Terra está povoada, em quase todas as latitudes, de seres que se


desenvolveram com ela própria e que se afinam perfeitamente às suas
condições fluídicas.

Pequena percentagem de homens é constituída de elementos espirituais de


outros orbes mais elevados que o vosso; dai, a enorme diferença de avanço
moral entre os seres humanos e os abnegados apóstolos da luz que, em todos
os tempos, tentam clarear-lhes as estradas do progresso. É comum
conhecerem-se pessoas que nutrem perfeita adoração a todos os prazeres que
o mundo lhes oferece. Por minuto de voluptuosidade, pela contemplação dos
seus haveres efêmeros, por uma hora de contato com as suas ilusões, jamais
procurariam o conhecimento das verdades da eterna vida do espírito;
procuram toda casta de gozos, evitam qualquer estudo ou meditação e se
entregam, freneticamente, ao bem-estar que a carne lhes oferta. Essas
criaturas, invariavelmente, são espíritos estritamente terrenos, que não saem
dos âmbitos da existência mesquinha do planeta; esta afirmação, porém, não
implica, de modo geral, a origem desses seres em vosso próprio orbe, mas,
sim, a verdade de que muitos deles, pelas suas condições psíquicas,
mereceram viver em sua superfície, como prova, expiação ou meio de
progresso. Apegam-se com fervor a tudo quanto seja carnal e experimentam
o pavor da morte, inseguros na sua fé e falhos de conhecimentos quanto à sua
vida futura.

COMO SE OPERA
O PROGRESSO GERAL

O progresso espiritual dessas criaturas verifica-se com a vinda incessante,


ao planeta, de almas esclarecidas, que já tiveram a ventura de conhecer outros
planos mais elevados do Universo, e que deles vêm mais ricas em
conhecimento e virtude, derramando lições preciosas nos ambientes em que
encarnam. Quando notardes, em meio de uma coletividade, certas almas que
dela se distanciam por suas elevadas qualidades morais, mais adiantadas que
seus irmãos em noções dignificadoras do espírito, podeis crer que esses seres
estão na Terra temporariamente, isto é, por tempo breve, resgatando desvios
de pretérito longínquo ou desempenhando o elevado papel de missionários.
Trazem sempre exemplos nobilitantes, que obrigam os seus semelhantes à
imitação ou realizam reformas nos domínios das atividades a que se dedicam,
com o conhecimento inato de que são portadores, em razão da sua
permanência em outras esferas.

É assim que se observa a evolução moral e intelectual do homem terreno,


que vem adaptando, através dos evos, o que tem recebido dos nobres
mensageiros das mansões iluminadas do Universo, corporificados em seu
meio ambiente.

OS PERÍODOS DE RENOVAÇÃO
Quando se verifica um “statu quo” nas correntes evolutivas, que
parecem, às vezes, estagnar, grandes conjuntos de almas evolvidas combinam
entre si uma vinda coletiva ao orbe terreno, e ativamente abrem novas portas
à Arte, à Ciência, à Virtude e à Inteligência da Humanidade.

Conheceis, em vossa História, desses períodos de ressurreição espiritual!


Tendes exemplos relevantes no século de Péricles, na antiga Hélade e no
movimento de renovação que se operou na Europa, com os artistas inspirados
que encheram de luz os dias da Renascença.

MISSÃO DO ESPIRITISMO

Em vossos dias, o Espiritismo, que representa o Consolador prometido


pelo Cristo aos séculos posteriores à sua vinda ao mundo, é uma
extraordinária mensagem do Céu à Terra, e faz-se necessário aquilatar-lhe o
valor.
Inda existem multidões de Espíritos rebeldes, porém, a consciência
terrena, em suas características gerais, está agora apta a receber, depois de
tantos anos de lutas, o conhecimento espiritual que lhe fará desprezar os
últimos resquícios da materialidade inconsciente, aprendendo a discernir os
seus erros. Espalhando a boa nova da imortalidade a doutrina de amor abrirá
novos horizontes à esperança dos homens, conduzindo-os à aquisição do
tesouro espiritual, reservado por Deus a todas as suas criaturas.

Quando todos os homens compreenderem o sentido de suas magníficas


lições, o vosso planeta terá atingido uma nova fase evolutiva e o Espiritismo
terá concluído, entre vós, a sua sagrada e gloriosa missão.
XXXII
DOS DESTINOS

Não poucas vezes vos preocupais, nas lides planetárias, com as provações
necessárias, que julgais excessivas para as vossas forças.

Crede! O fardo que faz vergar os vossos ombros não é demasiado para as
vossas possibilidades.

Deus tudo prevê e, sobretudo, a escolha de semelhantes provações é uma


questão de preferência individual; é frequente a vossa incompreensão a
respeito desse ensinamento espiritualista.
Estais, porém, entre as masmorras da carne, a vossa consciência limitada
frequentemente se nega a encarar a luz em todos os seus divinos
resplendores.

A VIDA VERDADEIRA

Somente fora da existência material podeis refletir acertadamente sobre a


verdade. Apenas a vida espiritual é verdadeira e eterna.
E estais certos de que, com a satisfação dos menores caprichos sobre a
face do mundo, poderíeis adquirir elementos meritórios para a existência
real? O gozo reiterado não vos enlaçaria, mais ainda, na trama da carne
passageira? Sabeis se poderíeis suportar a riqueza sem os desregramentos, a
mesa lauta sem os desvios da gula, a posse sem o egoísmo, o bem-estar
próprio com o interesse caridoso pela sorte dos outros seres?

Ponderai tudo isso e descobrireis o motivo pelo qual a quase totalidade


dos seres humanos escolheu o cenário obscuro e triste das dores para
argamassar o tesouro de suas felicidades imorredouras e o patrimônio de suas
aquisições espirituais.

A ESCOLHA DAS PROVAÇÕES

Várias vezes já têm sido repetidos os ensinamentos que estou


transmitindo sobre as provações terrenas de cada indivíduo.

Muito antes da encarnação, o Espírito faz o cômputo de suas


possibilidades, estuda o caminho que melhor se lhe afigura na luta da
perfectibilidade e, de acordo com as suas vocações e segundo o grau de
evolução já alcançado, escolhe, em plena posse de sua consciência, a estrada
que se lhe desenha no porvir, fecunda de progressos espirituais.
Dentro do infinito do Universo e com as faculdades integrais do seu
próprio “eu”, reconhece a alma que somente a luta lhe oferta inúmeras
possibilidades de evolução, em todos os setores da atividade humana; e, daí, a
preferência pelos ambientes de dor e privação, abençoados corretivos que a
Providência lhe oferece para a redenção do passado ou para o
desenvolvimento das suas forças latentes e imprecisas; cada Espírito,
voluntariamente, escolhe as suas sendas futuras, conforme o seu progresso e
de acordo com os desígnios superiores.

O ESQUECIMENTO DO PASSADO

Na existência corporal, todavia, a alma sente a memória obscurecida, num


olvido quase total do passado, a fim de que os seus esforços se valorizem; a
consciência então é fragmentária, parcial, porquanto as suas faculdades estão
eclipsadas pelos pesados véus da matéria, os quais atenuam ao mínimo as
suas vibrações, constituindo, porém, esses poderes prodigiosos, mas ocultos,
as extraordinárias possibilidades da vasta subconsciência, que os cientistas do
século estudam acuradamente.

Tais forças e progressos adquiridos, o Espírito jamais os perde; são parte'


integrante do seu patrimônio e, na vida material, podem emergir no exercício
da mediunidade, nas hipnoses profundas, ou em outras circunstâncias que
facilitam o desprendimento temporário dos elementos psíquicos.
O HOMEM E SEU DESTINO

Isoladamente, cada um tem no planeta o mapa das suas lutas e dos seus
serviços. O berço de todo homem é o princípio de um labirinto de tentações e
de dores, inerentes à própria vida na esfera terrestre, labirinto por ele mesmo
traçado e que necessita palmilhar com intrepidez moral.

Portanto, qualquer alma tem o seu destino traçado sob o ponto de vista do
trabalho e do sofrimento, e, sem paradoxos, tem de combater com o seu
próprio destino, porque o homem não nasceu para ser vencido; todo espírito
labora para dominar a matéria e triunfar dos seus impulsos inferiores.

A VIDA É SEMPRE AMOR

É dessa verdade que necessitais convencer-vos. Existe a provação e faz-se


mister não se entregar inteiramente a ela. O espírito ordena e o corpo
obedece. A luta é o meio para o êxito na conquista da vida. E a vida integral
não é a existência terrena, repleta de vicissitudes sem conta; é a glorificação
do amor, da atividade, da luz, de tudo quanto é nobre e belo no Universo; e a
consciência é o laço que liga cada espírito a esse “nec plus ultra” que
denominamos – a Eternidade.
XXXIII
QUATRO QUESTÕES DE FILOSOFIA

DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO

Pergunta – O futuro, de um modo geral, estará rigorosamente


determinado, como parece demonstrado pelos fenômenos ditos
premonitórios, ou esses fenômenos envolvem um determinismo conciliável
com os dados imediatos da consciência sobre os quais são geralmente
estabelecidas as noções de liberdade e responsabilidade individuais? E em
que termos, nestes últimos casos, se exerce esse determinismo, do ponto de
vista teleológico?

Resposta – Os seres da minha esfera não conhecem o futuro, nem podem


interferir nas coisas que lhe pertencem. Acreditamos, todavia, que o porvir,
sem estar rigorosamente determinado, está previsto nas suas linhas gerais.
Imaginai um homem que fosse efetuar uma viagem. Todo o seu trajeto
está previsto: dia de partida, caminhos, etapas, dia de chegada. Todas as
atividades, contudo, no transcurso da viagem, estão afetas ao viajante, que se
pode desviar ou não do roteiro traçado, segundo os ditames da sua vontade.
Daí se infere que o livre-arbítrio é lei irrevogável na esfera individual,
perfeitamente separável das questões do destino, anteriormente preparado. Os
atas premonitórios são sempre dirigidos por entidades superiores, que
procuram demonstrar a verdade de que a criatura não se reduz a um
complexo de oxigênio, fosfato, etc., e que, além das percepções limitadas do
homem físico, estão as faculdades superiores do homem transcendente.

O TEMPO E O ESPAÇO
Pergunta – O espaço e o tempo serão apenas formas viciosas do intelecto,
ou terão uma expressão objetiva no esquema da realidade pura? E, neste
último caso, quais serão as relações fundamentais entre espaço e tempo?

Resposta – No esquema das realidades eternas e absolutas, tempo e


espaço não têm expressões objetivas; se são propriamente formas viciosas do
vosso intelecto, elas são precisas ao homem como expressões de controle dos
fenômenos da sua existência. As figuras, em cada plano de aperfeiçoamento
da vida, são correspondentes à organização através da qual o Espírito se
manifesta.

ESPÍRITO E MATERIA

Pergunta – Será licito considerar-se espírito e. matéria como dois estados


alotrópicos de um só elemento primordial, de maneira a obter-se a
conciliação das duas escolas perpetuamente em luta, dualista e monista,
chegando-se a uma concepção unitária do Universo?
Resposta – É licito considerar-se espírito e matéria como estados diversos
de uma essência imutável, chegando-se dessa forma a estabelecer a unidade
substancial do Universo. Dentro, porém, desse monismo físico-psíquico,
perfeitamente conciliável com a doutrina dualista, faz-se preciso considerar a
matéria como o estado negativo e o espírito como o estado positivo dessa
substância. O ponto de integração dos dois elementos estreitamente unidos
em todos os planos do nosso relativo conhecimento, ainda não o
encontramos.

A ciência terrena, no estudo das vibrações, chegará a conceber a unidade


de todas as forças físicas e psíquicas do Universo. O homem, porém, terá
sempre um limite nas suas investigações sobre a matéria e o movimento. Esse
limite é determinado por leis sábias e justas, mas, cientificamente poderemos
classificar esse estado inibitório como oriundo da estrutura do seu olho e da
insuficiência das suas faculdades sensoriais.

O PRINCÍPIO DE UNIDADE
Pergunta – Todos nós temos consciência dos princípios de unidade e
variação, ou de universalidade e individualidade, que funcionam juntos em
nosso mundo. Onde se encontra o ponto de interação, ou lugar de reunião
desses dois termos opostos?

Resposta – Se temos aí consciência dos princípios de unidade e variação,


ainda aqui os observamos, sem haver descoberto o seu ponto íntimo de união.
Todavia, o princípio soberano de unidade absorve todas as variações,
crendo nós que, sem perdermos a consciência individual no transcurso dos
milênios, chegaremos a reunir-nos no grande princípio da unidade, que é a
perfeição.
XXXIV
VOZES NO DESERTO

A psicologia dos tempos modernos, no planeta terrestre, apresenta as


questões mais interessantes à observação das inteligências atiladas e
estudiosas dos problemas sérios da vida.
Todos os sociólogos falam da necessidade de providências que amparem
os homens, à beira dos abismos escuros do morticínio e da destruição.

Ante o domínio das crises de toda natureza, foi na Europa que começaram
os clamores e as exortações. Todos os analistas dos problemas sociais
falaram em morte da Civilização, em necessidades imperiosas dos povos, em
doutrinas novas de revigoramento das coletividades, dentro do propósito de
solucionar as suas questões econômicas. No exame de quase todos os
problemas desse jaez, solicitou-se a colaboração da Sociedade de Genebra,
com objetivo da cooperação necessária de todos os países. Surgiram, então,
regimes de experiência, em que, na atualidade, assistimos às atividades dos
manipuladores das massas. E nesses mesmos clamores transportam-se à Ásia.
Enquanto a China preferia descansar no seio das suas tradições, o Japão
estabelecia um pacto de cooperação com o Ocidente, organizava tratados e
entendimentos, criando, apressadamente, a sua hegemonia pelas armas, com a
doutrina da unidade asiática.
Todas as nações organizadas da Europa e do Oriente se queixam da
superlotação e da necessidade de colônias. Os clamores então se transportam
igualmente para a América, que, se já sofria os funestos efeitos da inquietude
do mundo, sentia-se na obrigação de salvaguardar os seus imensos
patrimônios territoriais e as suas não menores possibilidades econômicas,
contra possíveis avanços do imperialismo político e da pilhagem das grandes
potências. As místicas nacionalistas são então exaltadas. Alguns artistas do
pensamento se vendem à exibição e à falsa glória do Estado e, como
D’Annunzio, abençoam os ventres maternos que tiveram a ventura de gerar
um soldado para os massacres da pátria e exaltam o adolescente que
encontrou numa ponta de baioneta o seu primeiro e último amor.

A verdade, porém, é que os esforços de todos os estudiosos do assunto


não têm passado de um jogo deslumbrante de palavras.
Há muitos anos se fala que o mundo necessita de paz. Entretanto, talvez
que a corrida armamentista de agora exceda a de 1914. Todos os países
organizam as suas armadas, as suas frotas aéreas e os seus exércitos
mecanizados, com todos os requisitos estratégicos, isto é, integrados no
conhecimento de toda a tecnologia moderna e com a guerra química, na
qualidade de complemento indispensável das atividades bélicas de cada
nação.

Há muitos anos se fala da necessidade de um entendimento econômico


entre todos os países. Cada vez mais, porém, complica-se a questão com as
doutrinas do isolamento, com as barreiras alfandegárias, oriundas do
nacionalismo de incompreensão, com a ausência formal de qualquer
colaboração e com princípios absurdos que vão paralisando milhões de
braços para o trabalho construtor, gerando a miséria, a desarmonia e a morte.
A cultura moderna sai a campo para pregar as necessidades dos tempos.
Escritores, artistas, homens do pensamento, reformistas, falam exaltadamente
da regeneração esperada; condenam a sociedade, de cujos erros participam
todos os dias, fazem a exposição das angústias da época, relacionam as suas
necessidades, mas, se as criaturas bem-intencionadas lhes perguntam sobre a
maneira mais fácil de socorrer o homem aflito dos tempos atuais, essas vozes
se calam ou se tornam incompreensíveis, no domínio das sugestões duvidosas
e das hipóteses inverossímeis.

É que o espírito humano está esgotado com todos os recursos das


reformas exteriores. Para que a fórmula da felicidade não seja uma
banalidade vulgar, é preciso que a criatura terrestre ouça aquela voz –
“aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.
Os reformadores e os políticos falarão inutilmente da transformação
necessária, porque todas as modificações para o bem têm de começar no
íntimo de cada um. E por essa razão que todos os apelos morrem, na
atualidade, na boca dos seus expositores, como as vazes clamantes no
deserto; ninguém os entende, porque quase todos se esqueceram da
transformação de si mesmos, e é ainda por isso que, no frontispício social dos
tempos modernos, no planeta terrestre, pesam os mais sombrios e sinistros
vaticínios.
XXXV
EDUCAÇÃO EVANGÉLICA

Todas as reformas sociais, necessárias em vossos tempos de indecisão


espiritual, têm de processar-se sobre a base do Evangelho.

Como? – podereis objetar-nos. Pela educação, replicaremos.

O plano pedagógico que implica esse grandioso problema tem de partir


ainda do simples para o complexo. Ele abrange atividades multiformes e
imensas, mas não é impossível. Primeiramente, o trabalho de vulgarização
deverá intensificar-se, lançando, através da palavra falada ou escrita do
ensinamento, as diminutas raízes do futuro.

O RESULTADO DOS ERROS RELIGIOSOS

Toda essa demagogia filosófico-doutrinária, que vedes nas fileiras do


Espiritismo, tem sua razão de ser. As almas humanas se preparam para o bom
caminho. A missão do Cristianismo na Terra não era a de mancomunar-se
com as forças políticas que lhe desviassem a profunda significação espiritual
para os homens. O Cristo não teria vindo ao mundo para instituir castas
sacerdotais e nem impor dogmatismos absurdos. Sua ação dirigiu-se,
justamente, para a necessidade de se remodelar a sociedade humana,
eliminando-se os preconceitos religiosos, constituindo isso a causa da sua
cruz e do seu martírio, sem se desviar, contudo, do terreno das profecias que
o anunciavam.

Todas essas atividades bélicas, todas as lutas antifraternas no seio dos


povos irmãos, quase a totalidade dos absurdos, que complicam a vida do
homem, vieram da escravização da consciência ao conglomerado de preceitos
dogmáticos das Igrejas que se levantaram sobre a doutrina do Divino Mestre,
contrariando as suas bases, digladiando-se mutuamente, condenando-se umas
às outras em nome de Deus.

Aliado ao Estado, o Cristianismo deturpou-se, perdendo as suas


características divinas.

FIM DE UM CICLO EVOLUTIVO

Sabemos todos que a Humanidade terrena atinge, atualmente, as


cumeadas de um dos mais importantes ciclos evolutivos. Nessas
transformações, há sempre necessidade do pensamento religioso para manter-
se a espiritualidade das criaturas em momentos tão críticos. A ideia cristã se
encontrava afeto o trabalho de sustentar essa coesão dos sentimentos de
confiança e de fé das criaturas humanas nos seus elevados destinos; todavia,
encarcerada nas grades dos dogmas católico-romanos, a doutrina de Jesus não
poderia, de modo algum, amparar o espírito humano nessas dolorosas
transições.
Todas as exterioridades da Igreja deixam nas almas atuais, sedentas de
progresso, um vazio muito amargo.

URGE REFORMAR

Foi justamente quando o Positivismo alcançava o absurdo da negação,


com Auguste Comte., e o Catolicismo tocava às extravagâncias da afirmativa,
com Pio IX proclamando a infalibilidade papal, que o Céu deixou cair à Terra
a revelação abençoada dos túmulos.

O Consolador prometido pelo Mestre chegava no momento oportuno.


Urge reformar, reconstruir, aproveitar o material ainda firme, para destruir os
elementos apodrecidos na reorganização do edifício social. E é por isso que a
nossa palavra bate insistentemente nas antigas teclas do Evangelho cristão,
porquanto não existe outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida
atormentada dos homens. A atualidade requer a difusão dos seus divinos
ensinamentos. Urge, sobretudo, a criação dos núcleos verdadeiramente
evangélicos, de onde possa nascer a orientação cristã a ser mantida no lar,
pela dedicação dos seus chefes. As escolas do lar são mais que precisas, em
vossos tempos, para a formação do espírito que atravessará a noite de lutas
que a vossa Terra está vivendo, em demanda da gloriosa luz do porvir.

NECESSIDADE
DA EDUCAÇÃO PURA E SIMPLES

Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo,


dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducação.
Evangelizado o indivíduo, evangeliza-se a família; regenerada esta, a
sociedade estará a caminho de sua purificação, reabilitando-se
simultaneamente a vida do mundo.

No capítulo da preparação da infância, não preconizamos a educação


defeituosa de determinadas noções doutrinárias, mas facciosas, facilitando-se
na alma infantil a eclosão de sectarismos prejudiciais e incentivando o
espírito de separatividade, e não concordamos com a educação ministrada
absolutamente nos moldes desse materialismo demolidor, que não vê no
homem senão um complexo celular, onde as glândulas, com as suas
secreções, criam uma personalidade fictícia e transitória. Não são os suco e os
hormônios, na sua mistura adequada nos laboratórios internos do organismo,
que fazem a luz do espírito imortal. Ao contrário dessa visão audaciosa dos
cientistas, são os fluidos, imponderáveis e invisíveis, atributos da
individualidade que preexiste ao corpo e a ele sobrevive, que dirigem todos
os fenômenos orgânicos que os utopistas da biologia tentam em vão
solucionar, com a eliminação da influência espiritual. Todas as câmaras
misteriosas desse admirável aparelho, que é o mecanismo orgânico do
homem, estão repletas de uma luz invisível para os olhos mortais.

FORMAÇÃO DA MENTALIDADE CRISTÃ

As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de se caracterizar


pela sua feição evangélica e espiritista, se quiserem colaborar no grandioso
edifício do progresso humano.
Os estudiosos do materialismo não sabem que todos os seus estudos se
baseiam na transição e na morte. Todas as realidades da vida se conservam
inapreensíveis às suas faculdades sensoriais. Suas análises objetivam somente
a carne perecível. O corpo que estudam, a célula que examinam, o corpo
químico submetido à sua crítica minuciosa, são acidentais e passageiros. Os
materiais humanos postos sob os seus olhos pertencem ao domínio das
transformações, através do suposto aniquilamento. Como poderá, pois, esse
movimento de extravagância do espírito humano presidir à formação da
mentalidade geral que o futuro requer, para a consecução dos seus projetos
grandiosos de fraternidade e de paz? A intelectualidade acadêmica está
fechada no círculo da opinião dos catedráticos, como a ideia religiosa está
presa no cárcere dos dogmas absurdos.

Os continuadores do Cristo, nos tempos modernos, terão de marchar


contra esses gigantes, com a liberdade dos seus atas e das suas ideias.
Por enquanto, todo o nosso trabalho objetiva a formação da mentalidade
cristã, por excelência, mentalidade purificada, livre dos preceitos e
preconceitos que impedem a marcha da Humanidade. Formadas essas
correntes de pensadores esclarecidos do Evangelho, entraremos, então, no
ataque às obras. Os jornais educativos, as estações radiofônicas, os centros de
estudo, os clubes do pensamento evangélico, as assembleias da palavra, o
filme que ensina e moraliza, tudo à base do sentimento cristão, não
constituem uma utopia dos nossos corações. Essas obras que hoje surgem,
vacilantes e indecisas no seio da sociedade moderna, experimentando quase
sempre um fracasso temporário, indicam que a mentalidade evangélica não se
acha ainda edificada. A andaimaria, porém, ai está, esperando o momento
final da grandiosa construção.

Toda a tarefa, no momento, é formar o espírito genuinamente cristão;


terminado esse trabalho, os homens terão atingido o dia luminoso da paz
universal e da concórdia de todos os corações.
XXXVI
AOS TRABALHADORES DA VERDADE

Nos tempos atuais, todo o trabalho de quantos se devotam à disseminação


das teorias espiritistas deve ser o de colaboração com os estudiosos da
Verdade. Não é o desejo de proselitismo ou de publicidade que os deve
animar, porém, a boa-vontade em cooperar com os seus atas, palavras e
pensamentos, a favor da grande causa.
Todos nós objetivamos, com a nossa árdua tarefa, ampliar o
conhecimento humano, com respeito às realidades espirituais que constituem
a vida em si mesma, a fim de que se organize o ambiente favorável ao
estabelecimento da verdadeira solidariedade entre os homens.

A FENOMENOLOGIA ESPÍRITA

A fenomenologia, nos domínios do psiquismo, em vosso século, visa ao


ensinamento, à formação da profunda consciência espiritual da Humanidade,
constituindo, desse modo, um curso propedêutico para as grandes lições do
porvir. f por essa razão que necessitamos de operar ativamente para que a
Ciência descubra, nos próprios planos físicos, as afirmações de
espiritualidade.

Pode parecer que o materialismo separou para sempre a Ciência da Fé;


isso, porém, não aconteceu, e o nosso trabalho de agora simboliza o esforço
para que os investigadores cheguem a compreender o que o Céu tem revelado
em todos os tempos.

A PSICOLOGIA E A “MENS SANA”


A psicologia antiga pecava extremamente pela insuficiência dos seus
métodos. O ser pensante achava-se, para ela, isolado do corpo, estudando
assim os seus fenômenos introspectivos de maneira deficiente e imperfeita.

A psicologia moderna vai mais longe. A sua metodologia avançada


estuda racionalmente todos os problemas da personalidade humana, unindo
os elementos materiais e espirituais, resolvendo uma das grandes questões
dos cientistas de antanho.
O corpo nada mais é que o instrumento passivo da alma, e da sua
condição perfeita depende a perfeita exteriorização das faculdades do
espírito. Da cessação da atividade deste ou daquele centro orgânico, resulta o
término da manifestação que lhe é correspondente: daí provém toda a verdade
da “mens sana” e o grande subsídio que a psicologia moderna fornece aos
fisiologistas como guia esclarecedor da patogenia.

O corpo não está separado da alma; é a sua representação. As suas células


são organizadas segundo as disposições perispiriticas dos indivíduos, e o
organismo doente retrata um espírito enfermo. A patologia está orientada por
elementos sutis, de ordem espiritual.

O PROGRESSO ANÍMICO

Os porquês da evolução anímica devem impressionar a quantos se


consagram ao estudo. Os progressos da vida terrestre podem ser verificados
pelos geólogos, pelos antropologistas. Há no planeta toda uma escala
grandiosa de ascensão. No fundo de vossos oceanos ainda existem os
infusórios, os organismos unicelulares, que remontam a um passado
multimilenário e cujo aparecimento é contemporâneo dos princípios da vida
organizada do orbe.

A TRAJETÓRIA DAS ALMAS

Que longa tem sido a trajetória das almas!...

A origem do princípio anímico perde-se dentro de uma noite de


labirintos; tudo, porém, dentro do dinamismo do Universo, se encadeia numa
ordem equânime e absoluta.

Da irritabilidade à sensação, da sensação à percepção, da percepção ao


raciocínio, quantas distâncias preenchidas de lutas, dores e sofrimentos!...
Todavia, desses combates necessários promana o cabedal de experiências do
Espírito em sua evolução gloriosa. A racionalidade do homem é a suprema
expressão do progresso anímico que a Terra lhe pode prodigalizar; ela
simboliza uma auréola de poder e de liberdade que aumenta naturalmente os
seus deveres e responsabilidades. A conquista do livre-arbítrio compreende
as mais nobres obrigações.
Chegado a esse ponto, o homem se encontra no limiar da existência em
outras esferas, onde a matéria rarefeita oferece novas modalidades de vida,
em outras mais sublimes manifestações, as quais escapam naturalmente à
insuficiência dos vossos sentidos.

AS REALIDADES DO FUTURO

Os Espíritos se regozijam a cada novo passo de progresso da ciência


humana, porque dos seus labores, das suas dedicações, brotará o
conhecimento superior, que felicitará os núcleos de criaturas, porquanto
ficará patente, plenamente evidenciada, a grande missão do Espírito como
elemento criador, organizador e conservador de todos os fenômenos que
regulam a vida material.

Quanto mais avançam os cientistas, mais se convencem das realidades de


ordem subjetiva, nos fenômenos universais.
As palavras natureza, fatalismo, tônus vital não bastam para elucidar a
alma humana, quanto aos enigmas da sua existência: faz-se mister a
intervenção das sínteses espirituais, reveladoras das mais elevadas verdades.

É para essas grandiosas afirmações que trabalhamos em comum, e esse


desiderato constituirá a luminosa coroa da Ciência do porvir.
FIM
LIVRO 5
Pensamento e Vida
EMMANUEL
FEB
1958
PENSAMENTO E VIDA

Perguntou-nos coração amigo se não possuíamos algum livro no Plano


Espiritual, suscetível de ser adaptado às necessidades da Terra.

Algumas páginas que falassem, ao espírito, dos problemas do espírito...


Algo leve e rápido que condensasse os princípios superiores que nos orientam
a rota...

E lembramo-nos, por isso, de singela cartilha falada de que dispomos em


nossas tarefas, junto aos companheiros em trânsito para o berço, utilizada em
nossas escolas de regeneração, entre a morte e o renascimento.
Anotações humildes que repontam do cérebro como flores que rebentam
do solo, sem pertencerem, no fundo, ao jardim que as recolhe, por nascerem
da Bondade de Deus que conjuga o Sol e a gleba, a fonte e o ar, o adubo e o
vento, para nelas instilar a cor e a forma, a beleza e o perfume...

Eis aqui, portanto, adaptada quanto possível ao campo do esforço


humano, a nossa cartilha simples.
“Pensamento e Vida”, chamamos-lhe no Mundo Espiritual e, sob a
mesma designação, oferecemo-la aos nossos irmãos de luta, temporariamente
internados na esfera física, para informá-los, ainda uma vez, de que o nosso
pensamento cria a vida que procuramos, através do reflexo de nós mesmos,
até que nos identifiquemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria
Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o Pensamento e a Vida de
Nosso Pai.

EMMANUEL

Pedro Leopoldo, 11 de fevereiro de 1958.


1
O ESPELHO DA VIDA

A mente é o espelho da vida em toda parte.

Ergue-se na Terra para Deus, sob a égide do Cristo, à feição do diamante


bruto, que, arrancado ao ventre obscuro do solo, avança, com a orientação do
lapidário, para a magnificência da luz.
Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas humanas
surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se nos Espíritos
Aperfeiçoados por brilhante precioso a retratar a Glória Divina.

Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos achamos


entre a animalidade e a angelitude, somos ímpelidos a interpretá-la como
sendo o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o
conhecimento adquirido nos permite operar.
Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a
face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do
pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo
para acrísolar e sublimar.

Em todos os domínios do Universo vibra, pois, a influência recíproca.

Tudo se desloca e renova sob os princípios de interdependência e


repercussão.
O reflexo esboça a emotividade.

A emotividade plasma a idéia.


A idéia determina a atitude e a palavra que comandam as ações.

Em semelhantes manifestações alongam-se os fios geradores das causas


de que nascem as circunstâncias, válvulas obliterativas ou alavancas
libertadoras da existência.

Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente,


muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos
todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de
assimilação.
Ninguém permanece fora do movimento de permuta incessante.

Respiramos no mundo das imagens que projetamos e recebemos. Por


elas, estacionamos sob a fascinação dos elementos que provisoriamente nos
escravizam e, através delas, incorporamos o influxo renovador dos poderes
que nos induzem à purificação e ao progresso.
O reflexo mental mora no alicerce da vida.

Refletem-se as criaturas, reciprocamente, na Criação que reflete os


objetivos do Criador.
2
Vontade

Comparemos a mente humana — espelho vivo da consciência lúcida — a


um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço.

Aí possuímos o Departamento do Desejo, em que operam os propósitos


e as aspirações, acalentando o estimulo ao trabalho; o Departamento da
Inteligência, dilatando os patrimônios da evolução e da cultura; o
Departamento da Imaginação, amealhando as riquezas do ideal e da
sensibilidade; o Departamento da Memória, arquivando as súmulas da
experiência, e outros, ainda, que definem os investimentos da alma.

Acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade.


A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os
setores da ação mental.

A Divina Providência concedeu-a por auréola luminosa à razão, depois da


laboriosa e multimilenária viagem do ser pelas províncias obscuras do
instinto.
Para considerar-lhe a importância, basta lembrar que ela é o leme de
todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento.

A eletricidade é energia dinâmica.

O magnetismo é energia estática.


O pensamento é força eletromagnética.

Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em todas as


manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinidade, assimilação
e desassimilação, nos campos múltiplos da forma que servem à romagem do
espírito para as Metas Supremas, traçadas pelo Plano Divino.
A Vontade, contudo, é o impacto determinante.
Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia
da máquina.

O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade


de reflexão que lhe é própria; no entanto, na Vontade temos o controle que a
dirige nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os
problemas do destino.
Sem ela, o Desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação
e sofrimento, a Inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a
Imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não
obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a
Natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.

Só a Vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do


espírito.
Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate
da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei
inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que
administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem.
3
COOPERAÇÃO

Para que alguém dirija com êxito e eficiência uma empresa importante,
não lhe basta a nomeação para o encargo.

Exige-se-lhe um conjunto de qualidades superiores para que a obra se


consolide e prospere. Não apenas autoridade, mas direção com
discernimento. Não só teoria e cultura, mas virtude e juízo claro de
proporções.

Dilatados recursos nas mãos, a serviço de uma cabeça sem rumo,


constituem tesouros nos braços da insensatez, assim como a riqueza sem
orientação é navio à matroca.
Quem governa emitirá forças de justiça e bondade, trabalho e disciplina,
para atingir os objetivos da tarefa em que foi situado.

Quando o poder é intemperante (desprovido de comedimento), sofre o


povo a intranquilidade e a mazorca (perturbação da ordem, tumulto,
desordem, barulho), e, quando a inteligência não possui o timão do caráter
sadio, espalha, em torno, a miséria e a crueldade.
Daí, conhecermos tantos tiranos nimbados de grandeza mental e tantos
gênios de requintada sensibilidade, mas atolados no vício.

No mundo íntimo, a vontade é o capitão que não pode relaxar no mister


que lhe édevido.

E assim como o administrador de um serviço reclama a ajuda de


assessores corretos, a vontade não prescindirá da ponderação e da lógica,
conselheiros respeitáveis na chefia das decisões.
No entanto, urge que o senso de cooperação seja chamado a sustentar-lhe
os impulsos.

Nas linhas da atividade terrestre, quem orienta com segurança não ignora
a hierarquia natural que vige na coexistência de todos os valores
indispensáveis à vida.

Na confecção do agasalho comum, o fio contará com o apoio da máquina,


a máquina esperará pela competência do operário, o operário edificar-se-á no
técnico que lhe supervisiona o trabalho, o técnico arrimar-se-á na diretoria da
fábrica e a diretoria da fábrica equilibrar-se-á no movimento da indústria,
dele extraindo o combustível econômico necessário à alimentação do núcleo
de serviço que lhe obedece aos ditames.
Observamos, assim, que no Estado Individual a vontade, para satisfazer à
governança que lhe compete, sem colapsos de equilíbrio, precisa socorrer-se
da colaboração a fim de que se lhe clareie a atividade.

A cooperação espontânea é o supremo ingrediente da ordem.


Da Glória Divina às balizas subatômicas, o Universo pode ser definido
como sendo uma cadeia de vidas que se entrosam na Grande Vida.

Cooperação significa obediência construtiva aos impositivos da frente e


socorro implícito às privações da retaguarda.

Quem ajuda é ajudado, encontrando, em silêncio, a mais segura fórmula


de ajuste aos processos da evolução.
4
INSTRUÇÃO

Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de


Deus.

Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.

Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se


ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de
suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do
conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe
comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a para o Alto.
Através do amor valorizamo-nos para a vida.

Através da sabedoria somos pela vida valorizados.


Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.

Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra, a


dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.

Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste de aviso,
que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o sucumbir ao
tormento da sede.
Todos temos necessidade de instrução e de amor.

Estudar e servir são rotas inevitáveis na obra de elevação.


Toda a cultura intelectual é formada em cadeia de gradativa expansão.

As civilizações sucedem-se, ininterruptas, ao influxo da herança mental.

A arte, na palavra ou na música, no buril ou no pincel, evolui e se


aprimora, por intermédio da repercussão a exprimir-se no trabalho dos
cultivadores do belo, que se inspiram uns nos outros.
A escola é um centro de indução espiritual, onde os mestres de hoje
continuam a tarefa dos instrutores de ontem.

O livro representa vigoroso ímã de força atrativa, plasmando as emoções


e concepções de que nascem os grandes movimentos da Humanidade, em
todos os setores da religião e da ciência, da opinião e da técnica, do
pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia criadora, encontramos
os mais adiantados serviços de telementação, porqüanto, a imensas
distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as idéias dos espíritos
superiores que passaram por nós, há Séculos.

Sócrates reflete-se nas páginas dos discípulos que lhe comungavam a


intimidade, e, ainda hoje, consumimos os elevados pensamentos de que foi
ele o portador.

Retrata-se Jesus nos livros dos apóstolos que lhe dilataram a obra, e
temos no Evangelho um espelho cristalino em que o Mestre se reproduz, por
divina reflexão, orientando a conduta humana para a construção do Reino de
Deus entre as criaturas.
Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-nos a
caminho de novos horizontes na vida.

Corre-nos, pois, o dever de estudar sempre, escolhendo o melhor para que


as nossas idéias e exemplos reflitam as idéias e os exemplos dos paladinos da
luz.
5
EDUCAÇÃO

Disse-nos o Cristo: “brilhe vossa luz...”{2}

E ele mesmo, o Mestre Divino, é a nossa divina luz na evolução


planetária.

Admitia-se antigamente que a recomendação do Senhor fosse mero aviso


de essência mística, conclamando profitentes do Culto externo da escola
religiosa a suposto relevo individual, depois da morte, na imaginária corte
celeste.
Hoje, no entanto, reconhecemos que a lição de Jesus deve ser aplicada em
todas as condições, todos os dias.

A própria ciência terrena atual reconhece a presença da luz em toda parte.


O corpo humano, devidamente estudado, revelou-se, não mais como
matéria coesa, senão espécie de veículo energético, estruturado em partículas
infinitesimais que se atraem e se repelem, reciprocamente, com o efeito de
microscópicas explosões de luz.

A Química, a Física e a Astronomia demonstram que o homem terrestre


mora num reino entrecortado de raios.

Na intimidade desse glorioso império da energia, temos os raios mentais


condicionando os elementos em que a vida se expressa.
O pensamento é força criativa, a exteriorizar-se, da criatura que o gera,
por intermédio de ondas sutis, em circuitos de ação e reação no tempo, sendo
tão mensurável como o fotônio que, arrojado pelo fulcro luminescente que o
produz, percorre o espaço com Velocidade determinada, sustentando o hausto
fulgurante da Criação.
A mente humana é um espelho de luz, emitindo raios e assimilando-os,
repetimos.
Esse espelho, entretanto, jaz mais ou menos prisioneiro nas sombras
espessas da ignorância, à maneira de pedra valiosa incrustada no cascalho da
furna ou nas anfractuosidades do precipício. Para que retrate a irradiação
celeste e lance de si mesmo o próprio brilho, é indispensável se desentrance
das trevas, à custa do esmeril do trabalho.

Reparamos, assim, a necessidade imprescritível da educação para todos


os seres.

Lembremo-nos de que o Eterno Benfeitor, em sua lição verbal, fixou na


forma imperativa a advertência a que nos referimos:

“Brilhe vossa luz.”


Isso quer dizer que o potencial de luz do nosso espírito deve fulgir em sua
grandeza plena.

E semelhante feito somente poderá ser atingido pela educação que nos
propicie o justo burilamento.

Mas a educação, com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento


do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude,
não será conseguida tão-só à força de instrução, que se imponha de fora para
dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando
ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode
libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de
refletir a Vida Gloriosa e transformar, conseqüentemente, o cérebro em
preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e
sublimação.
6

Para encontrar o bem e assimilar-lhe a luz, não basta adimitír-lhe a


existência. É indispensável buscá-lo com perseverança e fervor.

Ninguém pode duvidar da eletricidade, mas para que a lâmpada nos


ilumine o aposento recorremos a fios Condutores que lhe transportem a força,
desde a aparelhagem da usina distante até o recesso de nossa casa.

A fotografia é hoje fenômeno corriqueiro; contudo, para que a imagem se


fixe, na execução do retrato, é preciso que a emulsão gelatinosa sensibilize a
placa que a recebe.
A voz humana, através da radiofonia, é transmitida de um continente a
outro, com absoluta fidelidade; todavia, não prescinde do remoinho
eletrônico que, devidamente disciplinado, lhe transporta as ondulações.

Não podemos, desse modo, plasmar realização alguma sem atitude


positiva de confiança.
Entretanto, como exprimir a fé? — indaga-se muitas vezes.

A fé não encontra definição no vocabulário vulgar.

É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de


Deus que é a sabedoria da própria vida. Palpita em todos os seres, vibra em
todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que se recompõe, humilde, e
revela-se na árvore decepada que se refaz, gradativamente, entregando-se às
leis de renovação que abarcam a Natureza.
Todas as operações da existência se desenvolvem, de algum modo, sob a
energia da fé.

Confia o campo no vigor da primavera e cobre-se de flores.


Fia-se o rio na realidade da fonte, e dela não prescinde para a sua caudal
larga e profunda.

A simples refeição é, para o homem, espontâneo ato de fé. Alimentando-


se, confia ele nas vísceras abdominais que não vê.
Todo o êxito da experiência social resulta da fé que a comunidade
empenhe no respeito às determinações de ordem legal que lhe regem a vida.
Utilizando-nos conscientemente de semelhante energia, é-nos possível
suprimir longas curvas em nosso caminho de evolução.
Para isso, seja qual for a nossa interpretação religiosa da idéia de Deus, é
imprescindível acentuar em nós a confiança no bem para refletir-lhe a
grandeza.

Recordemos a lente e o Sol. O astro do dia distribui equitativamente os


recursos de que dispõe. Convergindo-lhe porém, os raios com a lente comum,
dele auferimos poder mais amplo.
O Bem Eterno é a mesma luz para todos, mas concentrando-lhe a força
em nós, por intermédio de positiva segurança íntima, decerto com mais
eficiência lhe retrataremos a glória.

Busquemo-lo, pois, infatigavelmente, sem nos determos no mal.

O tronco podado oferece frutos iguais àqueles que produzia antes do


golpe que o mutilou.
A fonte alcança o rio, desfazendo no próprio seio a lama que lhe atiram.

Sustentemos o coração nas águas vivas do bem inexaurível.


Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos sucessos que nos
cruzem a lide cotidiana. Teremos, assim, o espelho de nossa mente voltado
para o bem, incorporando-lhe os tesouros eternos, e a felicidade que nasce da
fé, generosa e operante, libertar-nos-á dos grilhôes de todo o mal, de vez que
o bem, constante e puro, terá encontrado em nós seguro refletor.
7
TRABALHO

Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos Superiores, é


indispensável que a nossa vontade abrace espontaneamente o trabalho por
alimento de cada dia.

No pretérito, apreciávamo-lo por atitude servil de quantos caíssem sob o


ferrete da injúria.

A escola, as artes, as virtudes domésticas, a indústria e o amanho do solo


eram relegados a mãos escravas, reservando-se os braços supostos livres para
a inércia dourada.
Hoje, porém, sabemos que a lei do trabalho é roteiro da justa
emancipação. Sem ela, o mundo mental dorme estanque. Fugir-lhe aos
impositivos é situar-se à margem do caminho, onde o carro da evolução
marcha inflexível, deixando à retaguarda quantos se amolgam à ilusão da
preguiça.

O usurário não padece apenas a infelicidade de sequestrar os bens devidos


ao Bem de Todos, mas igualmente o infortúnio de erguer para si mesmo a
cova adornada em que se lhe estiolarão as mais nobres faculdades do espírito.

Não vale, contudo, agir por agir.

As regiões infernais vibram repletas de movimento.

Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é necessário nos


atenhamos ao prazer de servir.
Nas contingências naturais do desenvolvimento terrestre, o espírito
encarnado é compelido a esforço incessante, para o sustento do corpo físico.
Recolhe, de graça, a água pura, os princípios solares e os recursos nutrientes
da atmosfera; entretanto, é preciso suar e sofrer em busca da proteína e do
carboidrato que lhe assegurem a euforia orgânica.
Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em que
transitoríamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir a ventura do
serviço voluntário aos semelhantes todo aquele que descerre O espelho da
própria alma aos reflexos da Esfera Divina.
O trabalho-ação transforma o ambiente.

O trabalho-serviço, transforma o homem.

As tarefas remuneradas conquistam o agradecimento de quem lhes recebe


o concurso, mas permanecem adstritas ao mundo, nas linhas da troca vulgar.

A prestação de concurso espontâneo, sem qualquer base de recompensa,


desdobra a influência da Bondade Celestial que a todos nos ampara sem
pagamento.
A maneira que se nos alonga a ascensão, entendemos com mais clareza a
necessidade de trabalhar por amor de servir.

Quando começamos a ajudar o próximo, sem aguilhões, matriculamo-nos


no acrisolamento da própria alma, entrando em sintonia com a Vida
Abundante.

Nos círculos mais elevados do espírito, o trabalho não é imposto. A


criatura consciente da verdade compreende que a ação no bem é ajustamento
às Leis de Deus e a ela se rende por livre vontade.

Por isso, nos domínios superiores, quem serve avança para os cimos da
imortalidade radiosa, reproduzindo dentro de si mesmo as maravilhas do Céu
que nos rodeia a espelhar-se por toda parte.
8
ASSOCIAÇÃO

Se o homem pudesse contemplar com os próprios olhos as correntes de


pensamento, reconheceria, de pronto, que todos vivemos em regime de
comunhão, segundo os princípios da afinidade.

A associação mora em todas as coisas, preside a todos os acontecimentos


e comanda a existência de todos os seres.

Demócrito, o sábio grego que viveu na Terra muito antes do Cristo,


assevera que “os átomos, invisíveis ao olhar humano, agrupam-se à feição
dos pombos, à cata de comida, formando assim os corpos que conhecemos”.
Começamos agora a penetrar a essência do microcosmo e, de alguma
sorte, podemos simbolizar, por enquanto, no átomo entregue à nossa
perquirição, um sistema solar em miniatura, no qual o núcleo desempenha a
função de centro vital e os eletrons a de planetas em movimento gravitativo.

No plano da Vida Maior, vemos os sóis carregando os mundos na


imensidade, em virtude da interação eletromagnética das forças universais.
Assim também na vida comum, a alma entra em ressonância com as
correntes mentais em que respiram as almas que se lhe assemelham.

Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos.

É que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintonizamo-nos com


as emoções e idéias de todas as pessoas, encarnadas ou desencarnadas, da
nossa faixa de simpatia.
Estamos invariavelmente atraindo ou repelindo recursos mentais que se
agregam aos nossos, fortificando-nos para o bem ou para O mal, segundo a
direção que escolhemos.
Em qualquer providência e em qualquer Opinião, somos sempre a soma
de muitos.
Expressamos milhares de criaturas e milhares de criaturas nos expressam.

O desejo é a alavanca de fosso sentimento, gerando a energia que


consumimos, segundo a nossa vontade.

Quando nos detemos nos defeitos e faltas dos Outros, o espelho de nossa
mente reflete-os, de imediato, como que absorvendo as imagens deprimentes
de que se constituem, Pondo-se nossa imaginação a digerir essa espécie de
alimento, que mais tarde se incorpora aos tecidos Sutis de nossa alma. Com o
decurso do tempo nossa alma não raro passa a exprimir, pelo seu veículo de
manifestação o que assimilara fazendoo seja pelo corpo carnal, entre os
homens, seja pelo corpo espiritual de que nos servimos, depois da morte.

É por esta razão que geralmente os censores do procedimento alheio


acabam praticando as mesmas ações que condenam no próximo, porquanto,
interessados em descer às minúcias do mal, absorvem-lhe inconscientemente
as emanações, surpreendendo-se, um dia, dominados pelas forças que o
representam.

Toda a brecha de sombra em nossa personalidade retrata a sombra maior.

Qual o pequenino foco infeccioso que, abandonado a si mesmo, pode


converter-se dentro de algumas horas no bolo pestífero de imensas
proporções, a maledicência pode precipitar-nos no vício, tanto quanto a
cólera sistemática nos arrasta, muita vez, aos labirintos da loucura ou às
trevas do crime.
Pensando, conversando ou trabalhando, a força de nossas idéias, palavras
e atos, alcança de momento, um potencial tantas vezes maior quantas sejam
as pessoas encarnadas ou não que concordem conosco, potencial esse que
tende a aumentar indefinidamente, impondo-nos, de retorno, as
conseqüências de nossas próprias iniciativas.

Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, ajudando,


aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque, nessa atitude,
retletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança o nosso
problema de companhia.
9
SUGESTÃO

Comenta-se o fenômeno da sugestão mental, qual se fora privativo de


gabinetes magnéticos específicos, mobilizando-se hipnotizadores e
hipnotizados, à conta de taumaturgos.

Grasset, o eminente neurologista da escola de Montpellier, chega a


classificar as sugestões em duas categorias: — as intra-hipnóticas, que se
efetuam no curso do sono provocado, e as pós-hipnóticas, que se realizam
além do despertar.

Entretanto, a sugestão é acontecimento de toda hora, na vida de todos os


seres, com base na reflexão mental permanente.
Dela se apropriou com mais empenho a magia, que, significando o
governo das forças ocultas, tem sido, antes de tudo, o clima de todas as
cerimônias religiosas na Terra, cerimônias essas em que se conjugam as
forças de poderosas mentes encarnadas e desencarnadas, gerando sucessos
que impressionam a mente popular, disciplinando-lhe os impulsos.

Força mental pura e simples, carreando a idéia por imagem viva, a


sugestão, como a eletricidade, o explosivo, o vapor e a desintegração
atômica, não é boa nem má, dependendo os seus efeitos da aplicação que se
lhe confere. Temo-la, assim, não apenas no altar da oração e nos simbolos
sagrados do serviço religioso, aconselhando a virtude e o progresso ao
coração do povo, mas também nos espetáculos deprimentes dos ritos bárbaros
e na demagogia de arrastamento, ressumando o psiquismo inferior que inspira
a licenciosidade e a rebelião.
Nossas emoções, pensamentos e atos são elementos dinâmicos de
indução.

Todos exteriorizamos a energia mental, configurando as formas sutis com


que influenciamos o próximo, e todos somos afetados por essas mesmas
formas, nascidas nos cérebros alheios.
Cada atitude de nossa existência polariza forças naqueles que se nos
afinam com o modo de ser, impelindo-os à imitação consciente ou
inconsciente.
É que o princípio de repercussão nos comanda a atividade em todos os
passos da vida.
A escola é um lar de iniciação para as almas que começam as lides do
burilamento intelectual, constituindo, simultaneamente, um centro de reflexos
condicionados para milhões de espíritos que reencarnam para readquirir pelo
alfabeto o trabalho das próprias conquistas na esfera da inteligência.

Com o auxílio dos múltiplos instrutores que nos guiam da cátedra e da


tribuna, pelo livro e pela imprensa, retomamos no mundo a nossa realidade
psíquica, determinada pela soma de nossas aquisições emocionais e culturais
no passado, com a possibilidade de mais ampla educação da vontade para o
devido ajustamento à Vida Superior.
Somos hoje, deste modo, herdeiros positivos dos reflexos de nossas
experiências de ontem, com recursos de alterar-lhes a direção para a
verdadeira felicidade.

Auxiliando a outrem, sugerimos o auxilio em nosso favor. Suportando


com humildade as vicissitudes da senda regenerativa, instilamos paciência e
solidariedade, para conosco, em todos aqueles que nos rodeiam.

Ajudando, ajudamo-nos.

Desservindo, desservimo-nos.

Por intermédio da sugestão espontânea, plantamos os reflexos de nossa


individualidade, colhendo-lhes os efeitos nas individualidades alheias, como
semeamos e obtemos no mundo o cânhamo e o trigo, a cenoura e a batata.
Somos, assim, responsáveis pela nossa ligação com as forças construtivas
do bem ou com as forças perturbadoras do mal.
10
ENTENDIMENTO

O cultivador do campo não prescinde do arado com que sulcará o corpo


da gleba.

O estatuário recorrerá ao buril para afeiçoar o mármore à idéia criadora


que lhe inflama a cabeça.

A criatura interessada na produção de reflexos mentais protetores de sua


senda não dispensará o entendimento por alicerce do trabalho renovador.
Entendimento que simbolize fraternidade operante.

Simpatia que se converta em fulcro de força atrativa, exteriorizando-nos a


melhor parte, para que a melhor parte dos outros se exteriorize ao nosso
encontro.
Todos somos compulsoriamente envolvidos na onda mental que emitimos
de nós, em regime de circuito natural.

Categorizamo-nos bons ou maus, conforme o uso de nossos sentimentos e


pensamentos, que, no fundo, constituem cargas de energia eletromagnética,
com as quais ferimos ou acalentamos, ajudamos ou prejudicamos,
vitalizamos ou destruimos, e que voltam, invariavelmente, a nós mesmos,
impregnadas dos recursos felizes ou infelizes com que lhes marcamos a rota.

Quando coléricos e irritadiços, agressivos e ásperos para com os outros,


criamos por atividade reflexa o desalento e a intemperança, a crueldade e a
secura para nós mesmos, e, quando generosos e compreensivos, prestimosos
e úteis para com aqueles que nos cercam, criamos, conseqüentemente, a
alegria e a tranqüilidade, a segurança e o bom ânimo para nós próprios.
Responde-nos a vida em todas as coisas e em todas as criaturas, segundo
a natureza de nosso chamamento.
Até o ingresso na Consciência Cósmica, todos os seres se distinguem pela
face de luz com que se alteiam para os cimos da evolução e pela face de
sombra pela qual ainda sofrem a influência da retaguarda.
A própria posição vulgar do homem na Terra vale por símbolo dessa
condição específica. Por cima o fulgor pleno do Sol, por baixo a escuridade
do abismo.

Todos recolhemos do Pai Celeste os estimulos ao futuro e todos


padecemos os reflexos do passado a se nos projetarem sobre a existência.

Desatando, assim, as algemas do mal que nós mesmos forjamos em


detrimento de nossas almas, há que buscar o bem, senti-lo, mentalizá-lo e
plasmá-lo com todos os potenciais de realização ao nosso alcance.

Para começar, precisaremos separar o criminoso da criminalidade, como


o lavrador que estabelece diferença entre o verme e a plantação, para abolir o
domínio do primeiro e enriquecer a utilidade da segunda. E assim como o
trabalhador rural extingue a praga, salvando a lavoura, é necessário que o
nosso entendimento improvise meios de auxiliar o companheiro que caiu sob
o guante da delinqüência, sem alentá-la.

Apequenar-se para ajudar, sem perder altura, é assegurar a melhoria de


todos, acentuando a própria sublimação.

Entretanto, só o culto infatigável do entendimento pode garantir-nos o


equilíbrio indispensável no serviço de autoburilamento em que devemos
empenhar os nossos melhores sonhos, de vez que apenas o amor puro é capaz
de criar em nossa mente a energia da luz divina, a expandir-se de nós em
reflexos de protetora renovação.
11
BERÇO

Excetuando-se os planos organizados para as obras especiais, em que


Espíritos missionários senhoreiam as reservas fisiológicas para a criação de
reflexos da Vida Superior entre os homens, impelindo-os a maior ascensão,
todo berço de agora retrata o ontem que passou.

O caminho que iniciamos em determinada existência é o prolongamento


dos caminhos que percorremos naquelas que a precederam.

Esfalfa-se a investigação científica na Terra, estudando o continuísmo


biológico.
Núcleos de cromossomos e veículos citoplásmicos, fatores de ambiente e
genealogias familiares são chamados pelos geneticistas à equação dos
problemas da origem e é natural que de suas indagações surjam resultados
notáveis, quais sejam aqueles que tangem aos caracteres morfológicos e às
surpresas da adaptação.

O escalpelo da observação humana, porém, não consegue, por agora,


ultrapassar o recinto externo da constituição orgânica, detendo-se no exame
da conformação e da estatura, da pigmentação e do grupo sangüineo, alusivos
à filiação corpórea, já que os meandros da hereditariedade psíquica são, por
enquanto, quase que integralmente inacessíveis à sondagem da inteligência
terrestre.
E que as células germinais, por sementes vivas, reproduzem os nossos
clichês da consciência no trabalho impalpável da formação de um corpo
novo.

Na câmara uterina, o reflexo dominante de nossa individualidade


impressiona a chapa fetal ou o conjunto de princípios germinativos que nos
forjam os alicerces do novo instrumento físico, selando-nos a destinação para
as tarefas que somos chamados a executar no mundo, em certa quota de
tempo.
Nisso não vai qualquer exaltação ao determinismo absoluto, porque
ninguém pode suprimir o livre-arbítrio, com o qual articulamos as causas de
sofrimento ou reparação em nossos destinos, dentro do determinismo relativo
em que marchamos para mais altas formas de emoção e pensamento, na
conquista da liberdade suprema.

Pelo transe da morte física, regressamos à Vida Maior com a soma de


realizações que nem sempre são aquelas que devêramos efetuar. Em muitas
circunstâncias, as imagens trazidas da permanência na carne são fantasmas
temíveis, nascidos de nossas próprias culpas, exigindo reajuste e pagamento,
a modelarem para os nossos sentidos o inferno torturante em que se nos
revolvem as queixas e aflições.
Eis, porém, que a Justiça Fiel, por misericórdia, nos concede o retorno
para a bênção do reinício. Retomamos, assim, através do berço, o contato
direto com os nossos credores e devedores para a liquidação dos débitos que
contraímos, cujo balanço efetivo jaz devidamente contabilizado nas Leis
Divinas.

É desta maneira que comumente renascemos na Terra, segundo as nossas


dívidas ou conforme as nossas necessidades, assimilando para esse fim a
essência genética daqueles que se nos afinam com o modo de proceder e de
ser.

Os problemas da hereditariedade, em razão disso, descendem, de forma


geral, dos reflexos mentais que nos sejam próprios.
Em verdade, por vezes, abnegados corações, cultivando a leira do amor
pelo sacrifício, trazem a si corações desditosos, guardando transitoriamente,
nos braços, monstruosas aberrações que destoam do elevado nível em que já
se instalaram; contudo, devemos semelhantes exceções ao espírito de
renúncia com que fazem emergir das regiões infernais, velhos laços afetivos,
distanciados no tempo, usando o divino atributo da caridade.
De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo é o reflexo
de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós, quando na reencarnação,
honrá-lo com trabalho digno de restauração, melhoria ou engrandecimento,
na certeza de que a ele fomos trazidos ou atraídos, segundo os problemas da
regeneração ou da mordomia de que carecemos na recomposição de nosso
destino, perante o futuro.
12
FAMÍLIA

A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o


centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou desagradáveis
que o pretérito nos devolve.

Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução que, trazidos


ao ambiente comum, superam-no, de imediato, criando o clima mental que
lhes é peculiar, atendendo à renovação de que se fazem intérpretes.

Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.


Cada criatura está provisoriamente ajustada ao raio de ação que é capaz
de desenvolver ou, mais claramente, cada um de nós apenas, pouco a pouco,
ultrapassará o horizonte a que já estenda os reflexos que lhe digam respeito.

O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria taba, mas aí


renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado demora-se longo
tempo no plano racial em que assimila as experiências de que carece, até que
a soma de suas aquisições o recomende a diferentes realizações.
É assim que na esfera do grupo consangüíneo o Espírito reencarnado
segue ao encontro dos laços que entreteceu para si próprio, na linha mental
em que se lhe caracterizam as tendências.

A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a


natural aglutinação dos espíritos que se afinam nas mesmas atividades e
inclinações.

Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em esfera


estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a manifestação do gênio
pacientemente elaborado no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua
individualidade em gigantesco trabalho criativo.
Todavia, na senda habitual, o templo doméstico recine aqueles que se
retratam uns nos outros.
Uma família de músicos terá mais facilidade para recolher companheiros
da arte divina em sua descendência, porque, muita vez, os Espíritos que
assumem a posição de filhos na reencarnação, junto deles, são os mesmos
amigos que lhes incentivavam a formação musical, desde o reino do Espírito,
refletindo-se reciprocamente na continu idade da ação em que se empenham
através de séculos numerosos.

É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos, comerciantes e


agricultores quase sempre se dão as mãos, no culto dos melhores valores
afetivos, continuando-se, mutuamente, nos genes familiares, preservando
para si mesmos, mediante o trabalho em comum e segundo a lei do
renascimento, o patrimônio evolutivo em que se exprimem no espaço e no
tempo. Também é ar, de conformidade com o mesmo principio de sintonia,
que vemos dipsomanos e cleptomaníacos, tanto quanto delinqüentes e
enfermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam
espiritualmente as deficiências e as provas, porqüanto muitas inteligências
transviadas se ajustam ao campo genético daqueles que lhes atraem a
companhia, por força dos sentimentos menos dignos ou das ações deploráveis
com que se oneram perante a Lei.

A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da conjunção de débitos,


situando-nos no plano genético enfermiço que merecemos, à face dos nossos
compromissos com o mundo e com a vida. Dessa forma, somos impelidos a
padecer o retorno dos nossos reflexos tóxicos através de pessoas de nossa
parentela, que no-los devolvem por aflitivos processos de sofrimento.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já
conseguimos tecer, por intermédio do amor louvavelmente vivido, mas
também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais recolhemos, de
volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do
destino e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício,
paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de
reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior,
conturbada e infeliz.
13
FILHOS

Nasce a criança, trazendo consigo o patrimônio moral que lhe marca a


individualidade antes do renascimento no plano físico; no entanto, receberá
os reflexos dos pais e dos mestres que lhe imprimirão à nova chapa cerebral
as imagens que, em muitas ocasiões, lhe influenciarão a existência inteira.

Indiscutivelmente, a instrução espera-lhe o espírito em nova fase,


enriquecendo-lhe o caminho nesse ou naquele mister; contudo, importa
reconhecer que a palavra escrita, em confronto com a palavra falada ou com o
exemplo direto, revela poderes de repercussão menos vivos, mormente
quando torturada entre os preconceitos da forma gramatical.

E que a voz e a ação prática jazem impregnadas do magnetismo indutivo


que se desprende da reflexão imediata, operando significativas
transformações para o bem ou para o mal, segundo a natureza que lhes
personaliza as manifestações.
As crianças confiadas na Terra ao nosso zelo são portadoras de
aparelhagem neurocerebral completamente nova em sua estrutura orgânica, à
feição de câmara fotográfica devidamente habilitada a recolher impressões. A
objetiva, que na máquina dessa espécie é constituída por um sistema de lentes
apropriadas, capazes de colher imagens corretas sobre recursos sensíveis, é
representada na mente infantil por um espelho renovado em que se conjugam
visão e observação, atenção e meditação por lentes da alma, absorvendo os
reflexos das mentes que a rodeiam e fixando-os em si própria, como
elementos básicos de Conduta.

Os pequeninos acham-se, deste modo, à mercê dos moldes espirituais dos


que lhes tecem o berço ou que lhes asseguram a escola, assim como a argila
frágil e viva ante as idéias do oleiro.
Não podemos, pois, esquecer na Terra que nossos filhos, embora
carreando consigo, a sedimentação das experiências passadas, em estágios
anteriores na gleba fisiolõgica, são Companheiros que nos retomam
transitoriamente o convívio, quase sempre para se reajustarem conosco, aos
impositivos da Lei Divina, necessitados quanto nós mesmos, de provas e
ensinamentos, no que tange ao trabalho da regeneração desejada.

Excetuados aqueles que transcendem os nossos marcos evolutivos, à face


da missão particular de que se investem na renovação do ambiente comum,
todos eles nos sofrem os reflexos, assimilando impressões entranhadamente
perduráveis que, às vezes, lhes acompanham os passos desde a meninice até a
morte do corpo denso.
Tratá-los à conta de enfeites do coração será induzi-los a funestos
enganos, porqüanto, em se tornando ineficientes para a luta redentora, quando
se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se ajustam ao reflexo
dominante das inteligências aclimatadas na sombra ou na rebeldia, gravitando
para a influência do pretérito que mais deveríamos evitar e temer.

É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso vivo a


arrecadar-nos as imagens da experiência diária, competindo-nos, pois, o
dever de traçar-lhe noções de justiça e trabalho, fraternidade e ordem,
habituando-a, desde cedo, à disciplina e ao exercício do bem, com a força de
nossas demonstrações, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e
esperança. Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o coração da
infância é urna preciosa a incorporar-nos os reflexos, troféu que nos retratará
no grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na função de
herdeiros das nossas próprias obras.
14
CORPO

Abstendo-nos de qualquer digressão científica, porqüanto os livros


técnicos de educação usual são suficientemente esclarecedores no que reporta
aos aspectos exteriores do corpo humano, lembremo-nos de que o Espírito,
inquilino da casa física, lhe preside à formação e à sustentação, consciente ou
inconscientemente, desde a hora primeira da organização fetal, não obstante
quase sempre sob os cuidados protetores de Mensageiros da Providência
Divina.

Trazendo consigo mesmo a soma dos reflexos bons e menos bons de que
é portador, segundo a colheita de méritos e prejuízos que semeou para si
mesmo no solo do tempo, o Espírito incorpora aos moldes reduzidos do
próprio ser as células do equipamento humano, associando-as à própria vida,
desde a vesícula germinal.

Amparado no colo materno, estrutura-Se-lhe o corpo mediante as células


referidas, que, em se multiplicando ao redor da matriz espiritual, como a
limalha de ferro sobre o ímã, formam, a principio, os folhetos blastodérmicos
de que se derivam o tubo intestinal, o tubo nervoso, o tecido cutâneo, os
ossos, os músculos, os vasos.
Em breve, atendendo ao desenvolvimento espontâneo, acha-se o Espírito
materializado na arena física, manifestando-se pelo veículo carnal que o
exprime. Esse veículo, constituído por bilhões de células ou individuações
microscópicas, que se ajustam aos tecidos sutis da alma, partilhando-lhes a
natureza eletromagnética, lembra uma oficina complexa, formada de bilhões
de motores infinitesimais, movidos por oscilações eletromagnéticas, em
comprimento de onda específica, emitindo irradiações próprias e
assimilando-as irradiações do plano em que se encontram, tudo sob o
comando de um único diretor: a mente.
Desde a fase embrionária do instrumento em que se manifestará no
mundo, o Espírito nele plasma os reflexos que lhe são próprios.
Criaturas existem tão conturbadas além-túmulo com os problemas
decorrentes do suicídio e do homicídio, da delinqüência e da viciação, que,
trazidas ao renascimento, demonstram, de imediato, os mais dolorosos
desequilíbrios, pela disfunção vibratória que os cataloga nos quadros da
patologia celular.

As enfermidades congênitas nada mais são que reflexos da posição infeliz


a que nos conduzimos no pretérito próximo, reclamando-nos a internação na
esfera física, às vezes por prazo curto, para tratamento da desarmonia interior
em que fomos comprometidos.

Surgem, porém, outras cambiantes dos reflexos do passado na existência


do corpo.

Culpa disfarçada e dos remorsos ocultos.


São plantações de tempo certo que a lei de ação e reação governa,
vigilante, com segurança e precisão.

É por isso que, muitas vezes, consoante os programas traçados antes do


berço, na pauta da dívida e do resgate, a criatura évisitada por estranhas
provações, em plena prosperidade material, ou por desastres fisiológicos de
comovente expressão, quando mais irradiante se lhe mostra a saúde.
Contudo, é imperioso lembrar que reflexos geram reflexos e que não há
pagamento sem justos atenuantes, quando o devedor se revela amigo da
solução dos próprios débitos.

A prática do bem, simples e infatigável pode modificar a rota do destino,


de vez que o pensamento claro e correto, com ação edificante, interfere nas
funções celulares, tanto quanto nos eventos humanos, atraindo em nosso
favor, por nosso reflexo melhorado e mais nobre, amparo, luz e apoio,
segundo a lei do auxílio.
15
SAÚDE

A saúde é assim como a posição de uma residência que denuncia as


condições do morador, ou de um instrumento que reproduz em si o zelo ou a
desídia das mãos que o manejam.

A falta cometida opera em nossa mente um estado de perturbação, ao qual


não se reúnem simplesmente as forças desvairadas de nosso arrependimento,
mas também as ondas de pesar e acusação da vítima e de quantos se lhe
associam ao sentimento, instaurando desarmonias de vastas proporções nos
centros da alma, a percutirem sobre a nossa própria instrumentação.

Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocando lesões


funcionais diversas.
A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam zonas
mórbidas de natureza particular no cosmo orgânico, impondo às células a
distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de defesa, abrindo-se
leira fértil à cultura de micróbios patogênicos nos órgãos menos habilitados à
resistência.

É assim que, muitas vezes, a tuberculose e o câncer, a lepra e a ulceração


aparecem como fenômenos secundários, residindo a causa primária no
desequilíbrio dos reflexos da vida interior.
Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células em estado
de mitose, estabelecendo fatores de desagregação.

Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da nutrição


constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.

Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais que nos


Constituem o veículo de existência retratem as substâncias que ingerimos.
Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa quantidade de
bactérias patogênicas que, em se instalando comodamente no mundo celular,
podem determinar moléstias infecciosas de variegados caracteres,
compelindonos a recolher, assim, de volta, os resultados de nossa
imprevidencia.
Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se originam os
processos patológícos multiformes.
Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam, geram
estados enfermiços.

Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos voltam-se


sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o
serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas vísceras, na medula e
no tronco cerebral, desempenham as mais avançadas funções técnicas;
acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se derramando sobre
o córtex encefálico, produzem alucinações que podem variar da fobia oculta à
loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companheiros encarnados
ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e de ser, nos
atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos a
deploráveis fenômenos de alienação mental, na obsessão comum, ainda
mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como pessoas
espiritualmente sadias.

Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto pode


esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carência de
equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático os desvarios e as
perturbações que lhe são conseqüentes.
16
VOCAÇÃO

A vocação é a soma dos reflexos da experiência que trazemos de outras


vidas.

É natural que muitas vezes sejamos iniciantes, nesse ou naquele setor de


serviço, diante da evolução das técnicas de trabalho que sempre nos
reclamam novas modalidades de ação; todavia, comumente, retomamos no
berço a senda que já perlustramos, seja para a continuação de uma obra deter
minada, seja para corrigir nossos próprios caminhos.

De qualquer modo, o titulo profissional, em todas as ocasiões, é carta de


crédito para a criação de reflexos que nos enobreçam.
O administrador, o juiz, o professor, o médico, o artista, o marinheiro, o
operário e o lavrador estão perfeitamente figurados naquela parábola dos
talentos de que se valeu o Divino Mestre para convidar-nos ao exame das
responsabilidades próprias perante os empréstimos da Bondade Infinita.

Cada espírito recebe, no plano em que se encontra, certa quota de


recursos para honrar a Obra Divina e engrandecê-la.
Acontece, porém, que, na maioria das circunstâncias, nos apropriamos
indebitamente das concessões do Senhor, usando-as no jogo infeliz de nossas
paixões desgovernadas, no aloucado propósito de nos antepormos ao próprio
Deus.

Daí a colheita dos reflexos amargos de nossa conduta, quando se nos


desgasta o corpo terrestre, com o doloroso constrangimento do regresso às
dificuldades do recomeço, em que o instituto da reencarnação funciona com
valores exatos.

E como cada região profissional abrange variadas linhas de atividade, o


juiz que criou reflexos de crueldade, perseguindo inocentes, costuma voltar
ao mesmo tribunal, onde exercera as suas luzidas funções, com as lágrimas
de réu condenado injustamente, para sofrer no próprio espírito e na própria
carne as flagelações que impôs, noutro tempo, a vítimas indefesas. O médico
que abusou das possibilidades que lhe foram entregues, retorna ao hospital
que espezinhou, como apagado enfermeiro, defrontado por ásperos
sacrifícios, a fim de ganhar o pão.

O grande agricultor que dilapidou as energias dos cooperadores humildes


que o Céu lhe concedeu, para os serviços do campo, vem, de novo, à gleba
que explorou com vileza de sentimento, na condição de pobre lidador,
padecendo o sistema de luta em que prendeu moralmente as esperanças dos
outros. Artistas eméritos, que transformaram a inteligência em trilho de
acesso a desregramentos inconfessáveis, reaparecem como anônimos
companheiros do pincel ou da ribalta, debai xo de inibições por muito tempo
insolúveis, à feição de habilidosos trabalhadores de última classe. Mulheres
dignificadas por nomes distintos, confiadas ao vicio e à dissipação, com
esquecimento dos mais altos deveres que lhes marcam a rota, freqüentemente
voltam aos lares que deslustraram, na categoria de infimas servidoras,
aprendendo duramente a reconquistar os títulos veneráveis de esposa e mãe...

E, comumente, de retorno suportam preterição e hostilidade, embaraços e


desgostos, por onde passem, experimentando sublimes aspirações e
frustrações amargosas, porqüanto é da Lei venhamos a colher os reflexos de
nossas próprias ações, implantados no ânimo alheio, retificando em nós
mesmos o manancial da emoção e da idéia, para que nos ajustemos à corrente
do bem, que parte de Deus e percorre todo o Universo para voltar a Deus.
17
PROFISSÃO

Pelos contatos da profissão cria o homem vasta escola de trabalho,


construindo a dignidade humana; contudo, pela abnegação emite reflexos da
beleza divina, descerrando trilhos novos para o Reino Celestial.

A profissão, honestamente exercida, embora em regime de retribuição,


inclina os semelhantes para o culto ao dever.
A abnegação, que é sacrifício pela felicidade alheia, sublima o espírito.

É por isso que todos os povos sentem necessidade de erguer, no ímo do


próprio seio, um altar permanente em que rendam preito aos legítimos heróis.
A abnegação que começa onde termina o dever possibilita a repercussão
da Esfera Superior sobre o campo da Humanidade.

O delinqüente comum, algemado ao cárcere, inspira piedade e


sofrimento, O paladíno de uma causa nobre, injustamente recluso no mesmo
sítio, provoca respeito e imitação.

O administrador consciente e amigo que reparte os bens do serviço,


gastando a parte que lhe compete com escrupulosa probidade, é um padrão de
virtudes terrenas. O homem que cede suor e sangue de si mesmo, a benefício
de todos, sem cogitar do seu interesse, é um apóstolo das virtudes celestes.
A ama, devidamente paga por seu trabalho, junto à criança que lhe recebe
carinho, é credora natural de atenção e reconhecimento, mas o coração
materno, em constante renúncia, arrebata, quem o contempla, à glória do
amor puro.

É assim que o matemático, laureando-se de considerações públicas,


dignamente gratificado pela obra que realiza, é catalogado à conta de
cientista, e o cientista, mergulhado no trabalho incessante, em favor da
tranqüilidade e da segurança da civilização, esquecido de si mesmo, é
classificado por benfeitor.

Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigações, o homem melhora a


si mesmo, e, pela abnegação, o anjo aproxima-se do homem melhorado,
aprimorando a vida e o mundo.

Nas atividades que transcendem o quadro de serviços remuneráveis na


Terra, fruto das almas que ultrapassaram o impulso de preservação do próprio
conforto, descem os reflexos mentais das Inteligências Celestes que operam,
por amor, nas linhas da benemerência oculta, linhas em que encontramos os
braços eternos do Divino Incognoscível, que é Deus.
Nessa província moral do devotamento sem lindes, em que
surpreendemos todos os corações humanos consagrados ao serviço
espontâneo do bem, nem sempre respira o gênio, por vezes onerado de
angústia pela soma dos reflexos infelizes que carreia consigo desde o passado
distante, mas identificamos facilmente os altos sacerdotes de todas as
religiões, os admiráveis artistas de todas as pátrias, os nobres inventores de
todos os climas, os artífices iluminados de todos os povos e as grandes mães,
tanta vez esquecidas e sofredoras, de todas as latitudes. Por todos esses a
Espiritualidade Superior desce gradativamente à esfera humana, sem
qualquer ligação com o pagamento da popularidade e do ouro, porque é aí,
pelo completo desprendimento de si mesma, no auxilio aos outros, que a
alma vive o apostolado sublime da renúncia santificante, atraindo o
Pensamento Divino para o burilamento e a ascensão da Humanidade.
18
SOCIEDADE

A sociedade humana pode ser comparada a imensa floresta de criações


mentais, onde cada espírito, em processo de evolução e acrisolamento,
encontra os reflexos de si mesmo.

Aí dentro os princípios de ação e reação funcionam exatos.

As pátrias, grandes matrizes do progresso, constituem notáveis fulcros da


civilização ou expressivos redutos de trabalho, em que vastos grupos de
almas se demoram no serviço de auto-educação, mediante o serviço à
comunidade, emigrando, muita vez, de um país para outro, conforme se lhes
faça precisa essa ou aquela aquisição nas linhas da experiência.
O lar coletivo, definindo afinidades raciais e interesses do clã, é o
conjunto das emoções e dos pensamentos daqueles que o povoam. Entre as
fronteiras vibratórias que o definem, por intermédio dos breves aprendizados
“berço-túmulo”, que denominamos existências terrestres, transfere-se a alma
de posição a posição, conforme os reflexos que haja lançado de si mesma e
conforme aqueles que haja assimilado do ambiente em que estagiou.

Atingida a época de aferição dos próprios valores, quando a morte física


determina a extinção da força vital corpórea, emprestada ao espírito para a
sua excursão de desenvolvimento e serviço, reajuste ou elevação, na esfera da
carne, colhemos os resultados de nossa conduta e, bastas vezes, é preciso
recomeçar o trabalho para regenerar atitudes e purificar sentimentos, na
reconstrução de nossos destinos.
Dessa forma, os corações que hoje oprimem o próximo, a se
prevalecerem da galeria social em que se acastelam, na ilusória supremacia
do ouro, voltam amanhã ao terreno torturado da carência e do infortúnio,
recolhendo, em impactos diretos, os raios de sofrimento que semearam no
solo das necessidades alheias. E se as vitimas e os verdugos não souberem
exercer largamente o perdão recíproco, encontramos no mundo social
verdadeiro círculo vicioso em que se entrechocam, constantemente, as ondas
da vingança e do ódio, da dissensão e do crime, assegurando clima favorável
aos processos da delinqüência.

Sociedades que ontem escravizaram o braço humano são hoje obrigadas a


afagar, por filhos do próprio seio, aqueles que elas furtaram à terra em que se
lhes situava o degrau evolutivo. Hordas invasoras que talam os campos de
povos humildes e inermes, neles renascem como rebentos do chão
conquistado, garantindo o refazimento das instituições que feriram ou
depredaram. Agru pamentos separatistas, que humilham irmãos de cor,
voltam na pigmentação que detestam, arrecadando a compensação das
próprias obras. Citadinos aristocratas, insensíveis aos problemas da classe
obscura, depois de respirarem o conforto de avenidas suntuosas costumam
renascer em bairros atormentados e anônimos, bebendo no cálix do
pauperismo os reflexos da crueldade risonha com que assistiram, noutro
tempo, à dor e à dificuldade dos filhos do sofrimento.

Em todas as épocas, a sociedade humana é o filtro gigantesco do espírito,


em que as almas, nos fios da experiência, na abastança ou na miséria, na
direção ou na subalternidade, colhem os frutos da plantação que lhes é
própria, retardando o passo na planície vulgar ou acelerando-o para os cimos
da vida, em obediência aos ditames da evolução.
19
PROSPERIDADE

Prosperidade na Terra quer dizer fortuna, felicidade.

Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia relevo,


autoridade, domínio...

Gastam-se largos patrimônios da existência para conquistar-lhe o


prestigio e não falta quem surja no prélio estudando as forças ocultas para
incorporar-lhe o bafejo.
Milhões dos homens de hoje vivem à cata de ouro e predominância, com
o mesmo empenho com que antigamente, em aprendizados mais simples, se
entregavam aos misteres primitivos de caça e pesca.

E que, na procura desse ou daquele valor da vida, mobilizamos a energia


mental, constituída à base de nossas emoções e desejos.
O espelho do coração, constantemente focado no rumo dos objetos e
situações que buscamos, traz-nos à rota os elementos que nos ocupam a alma.

Não esqueçamos, todavia, que, na laboriosa jornada para a Glória Divina,


nos confundimos sempre com aquilo que nos possui a atenção, demorando-
nos nesse ou naquele setor de luta, conforme a extensão e duração de nossos
propósitos.

Como no filme cinematográfico, em que a história narrada é feita pelos


quadros que se sucedem, ininterruptos, a experiência que nos é peculiar,
nessa ou naquela fase da vida, constitui-se dos reflexos repetidos de nossos
sentimentos, gerando idéias contínuas que acabam plasmando os temas de
nossa luta, aos quais se nos associa a mente, identificando-se, de modo quase
absoluto, com as criações dela mesma, à maneira da tartaruga que na
carapaça, formada por ela própria, se isola e refugia.
Em razão disso, o conceito de prosperidade no mundo é sempre
discutível, porqüanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar com
proveito para os sagrados objetivos da Criação.

Muita gente, pela reflexão mental incessante em torno dos recursos


amoedados, progride em títulos materiais; entretanto, se os não converte em
fatores de enriquecimento geral, cava abismos dourados nos quais se
submerge, gastando longo tempo para libertar-se do azinhavre da usura.

Legiões de pessoas no século ferem o solo da vida, com anseios repetidos


de saliência individual, e adquirem vasto renome na ciência e na religião, nas
letras e nas artes; contudo, se não movimentam as suas conquistas no amparo
e na educação dos companheiros da senda humana, quase sempre, muito
embora fulgurem nas galerias da genialidade, sofrem o retorno das ondas
mentais de extravagância que emitem, caindo em perigosos labirintos de
purgação.
Há, por isso, muita prosperidade aparente, mais deplorável que a miséria
material em si mesma, porque a mesa vazia e o fogão sem lume podem ser
caminhos de louvável reparação, enquanto o banquete opíparo e a bolsa farta,
em muitas ocasiões, apenas significam avenidas de licença que correm para o
despenhadeiro da culpa, de onde só conseguiremos sair ao preço de longos
estágios na perturbação e na sombra.

Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus o progresso


material dos ímpios. Em verdade, porém, semelhante fortuna não existe, de
vez que a prosperidade, ausente da reta conduta, não passa de apropriação
indébita e é como roupa brilhante cobrindo chagas ocultas, que exigem a
formação de reflexos contrários aos enganos que as originaram, a fim de que
a prosperidade legítima, a expressar-se em serviço e cultura, amor e retidão,
confira ao espírito o reflexo dominante da luz.
20
HÁBITO

O hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando


constante indução à rotina.

Herdeiros de milênios, gastos na recapitulação de muitas experiências


análogas entre si, vivemos, até agora, quase que àmaneira de embarcações ao
gosto da correnteza, no rio de hábitos aos quais nos ajustamos sem
resistência.

Com naturais exceções, todos adquirimos o costume de consumir os


pensamentos alheios pela reflexão automática, e, em razão disto, exageramos
as nossas necessidades, apartando-nos da simplicidade com que nos seria
fácil erguer uma vida melhor, e formamos em torno delas todo um sistema
defensivo à base de crueldade, com o qual ferimos o próximo, dilacerando
conseqüentemente a nós mesmos.
Estruturamos, assim, complicado mecanismo de cautela e desconfiança,
para além da justa preservação, retendo, apaixonadamente, o instinto da posse
e, com o instinto da posse, criamos os reflexos do egoísmo e do orgulho, da
vaidade e do medo, com que tentamos inutilmente fugir às Leis Divinas,
caminhando, na maioria das circunstâncias, como operários distraídos e
infiéis que desertassem da máquina preciosa em que devem servir
gloriosamente, para cair, sufocados ou inquietos, nas engrenagens que lhes
são próprias.

Nesse círculo vicioso, vive a criatura humana, de modo geral, sob o


domínio da ignorância acalentada, procurando enganar-se depois do berço,
para desenganar-se depois do túmulo, aprisionada no binômio ilusão-
desilusão, com que despende longos séculos, começando e recomeçando a
senda em que lhe cabe avançar.
Não será lícito, porém, de modo algum, desprezar a rotina construtiva. É
por ela que o ser se levanta no seio do espaço e do tempo, conquistando os
recursos que lhe enobrecem a vida.
A evolução, contudo, impõe a instituição de novos costumes, a fim de que
nos desvencilhemos das fórmulas inferiores, em marcha para ciclos mais
altos de existência.

É por esse motivo que vemos no Cristo — divino marco da renovação


humana —todo um programa de transformações viscerais do espírito. Sem
violência de qualquer natureza, altera os padrões da moda moral em que a
Terra vivia há numerosos milênios. Contra o uso da condenação metódica,
oferece a prática do perdão. A tradição de raça opõe o fundamento da
fraternidade legítima.

No abandono à tristeza e ao desânimo, nas horas difíceis, traz a noção das


bem-aventuranças eternas para os aflitos que sabem esperar e para os justos
que sabem sofrer.
Toda a passagem do Senhor, entre os homens, desde a Manjedoura, que
estabelece o hábito da simplicidade, até a Cruz afrontosa que cria o hábito da
serenidade e da paciência, com a certeza da ressurreição para a vida eterna, o
apostolado de Jesus é resplendente conjunto de reflexos do caminho celestial
para a redenção do caminho humano.

Até agora, no mundo, a nossa justiça cheira a vingança e o nosso amor


sabe a egoísmo, pelo reflexo condicionado de nossas atitudes irrefletidas nos
milênios que nos precedem o “hoje”. Não podemos desconhecer, todavia, que
somente adotando a bondade e o entendimento, com a obrigação de educar-
nos e com o dever de servir, como hábitos automáticos nos alicerces de cada
dia, colaborando para a segurança e felicidade de todos, ainda mesmo à custa
de nosso sacriffcio, é que refletiremos em nós a verdadeira felicidade, por
estarmos nutrindo o verdadeiro bem.
21
DEVER

O dever define a submissão que nos cabe a certos princípios estabelecidos


como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvolvimento de nossas
faculdades.

Para viver em segurança, ninguém desprezará a disciplina.

Obedecem as partículas elementares no mundo atômico, obedece a


constelação na glória da Imensidade.
O homem viajará pelo firmamento, a longas distâncias do lar em que se
lhe vincula o corpo físico; no entanto, não logrará fazê-lo sem obediência aos
princípios que vigem para os movimentos da máquina que o transporta.

Dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de ação no


bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilidade, para a sustentação
da ordem e da evolução em Sua Obra Divina, no encalço de nosso próprio
aperfeiçoamento.
Cada consciência bafejada pelo sol da razão será interpretada, assim, à
conta de raio na esfera da vida, evolvendo da superfície para o centro,
competindo-lhe a obrigação de respeitar e promover, facilitar e nutrir o bem
comum, atitude espontânea que lhe valerá o auxilio natural de todos os que
lhe recolhem a simpatia e a cooperação. Com semelhante atitude, cada
espírito plasma os reflexos de si mesmo, por onde passa, abrindo-se aos
reflexos das mentes mais elevadas que o impulsionam à contemplação de
mais vastos horizontes do progresso e à adequada assimilação de mais altos
valores da vida.

Desse modo, pela execução do dever — região moral de serviço em que


somos constantemente alertados pela consciência —, exteriorizamos a nossa
melhor parte, recolhendo a melhor parte dos outros.

Acontece, porém, que muitas vezes criamos perturbações na linha das


atividades que o Senhor nos confia, e não apenas desconjuntamos a peça de
nossa existência, como também colocamos em desordem muitas existências
alheias, desajustando outras muitas peças na máquina do destino.

Surge então para nós o inexorável constrangimento à luta maior, que


podemos nomear como sendo o dever-regeneração, pelo qual somos
compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de nossa
individualidade, à frente daqueles que se fizeram credores das nossas quotas
de sacrifício.

É dessa maneira que recebemos, por imposição das circunstâncias, a


esposa incompreensiva, o esposo atrabiliário, o filho doente, o chefe
agressivo, o subalterno infeliz, a moléstia pertinaz ou a tarefa compulsória a
beneficio dos outros, como gleba espiritual para esforço intensivo na
recuperação de nós mesmos.
E por esse motivo que de nada vale desertar do campo de duras
obrigações em que nos vejamos sitiados, por força dos acontecimentos
naturais do caminho, de vez que na intimidade da consciência, ainda mesmo
que a apreciação alheia nos liberte desse ou daquele imposto de devotamento
e renúncia, ordena a razão estejamos de sentinela na obra de paciência e de
tolerância, de humildade e de amor, que fomos chamados intimamente a
atender; sem isso, não obstante a aparência legal de nosso afastamento da
luta, somos invencivelmente onerados por ocultas sensações de desgosto ante
as nossas próprias fraquezas, que, começando por ligeiras irritações e
pequeninos desalentos, acabam matriculando-nos o espírito nos institutos da
enfermidade ou na vala da frustração.
22
CULPA

Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do


qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos
brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.

E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa


lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental, envenenando-nos,
pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida
íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio.

A feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda criatura


traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas que lhe marca a
índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. Épor esse halo
que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da
afinidade.
Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incorporamos,
quando moralmente desalentados, os princípios corrosivos que emanam de
todas as Inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entrosem
conosco no ámbito de nossa atividade e influência.

Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a


culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por
silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente
alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros.
É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto de nós,
assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para a acústica de
nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desânimo, angústia
e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica em que respiramos,
metamorfoseando-nos em autênticos rebeladoS sociais, famintos de
insulamento ou de escândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação
virulada pelas mórbidas sensações de nossas próprias culpas.
É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de sentimentos e
pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total da harmonia
orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais
complicada diagnose da patologia clássica.

A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que lhe são
conseqüentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do corpo
ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.

Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que,


alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por
vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração.
Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o
reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se
não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações.

É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também
como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos
adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a
encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão
sem limites.
23
AUXÍLIO

Auxiliar espontaneamente é refletir a Vida Divina por intermédio da vida


de nosso “eu”, que se dilata e engrandece, à proporção que nos desdobramos
no impulso de auxiliar.

A Eterna Providência é o reservatório do Amor Infinito, em doação


permanente, solicitando canais de expressão que o distribuam, aos quais
provê com matemática precisão.

É necessário, porém, estejamos de atalaia no celeiro de nós mesmos, a


fim de que não impeçamos o eterno dar-se de Nosso Pai, dando
incessantemente dos bens de que Ele nos enriquece.
Quem observa os princípios da eletricidade não ignora que o fluxo
constante da força, para a consecução dos benefícios que ela produz, reclama
um circuito completo. Se não houvesse pólos positivos e negativos, não
disporíamos do favor da luz e do movimento.

Quem conhece igualmente o manancial sabe que a água, para manter-se


pura, exige escoadouro.
Toda obstrução, por isso mesmo, significa inércia e enfermidade.

A lei do auxílio permite a solicitação, mas determina a expansão para que


a ajuda não desajude.

O sangue que não circula gera a necrose que traduz cadaverização dentro
do corpo vivo.
O homem que saiba governar muitos bens reunidos, construindo com eles
a base do trabalho e da educação de muitos, é qual represa em lide, no campo
social, missionário do progresso que as leis da vida nutrem de esperança e
saúde, segurança e alegria; ao passo que o detentor de numerosos bens, sem
qualquer serventia para a comunidade, é um sorvedouro em sombra à
margem do caminho, usurário infeliz que as mesmas leis da vida cercam de
angústia e medo, solidão e secura.

O amparo que recolhemos corresponde ao amparo que dispensamos. E o


amparo que dispensamos está invariavelmente seguido de vastos acréscimos
potenciais para a hipótese de nos fazermos mais úteis.
Lembremo-nos de que refletir as bênçãos de Deus no socorro espontâneo
ao próximo, sem o tambor da vaidade a estimular-nos o exclusivismo, é atrair
os reflexos de Deus para aqueles que nos cercam e que, igualmente em
silêncio, se deslocam ao nosso encontro, prestando-nos assistência efetiva.

Ajudar com o sentimento, com a idéia, com a palavra e com a ação,


ajudar a todos e melhorar sempre é invocar, em nosso favor, o apoio integral
da vida.

Não nos esqueçamos, pois, de que o auxilio que prestamos às criaturas,


sem exigência e sem paga, é a nossa rogativa silenciosa ao Socorro Divino,
que nos responde, invariável, com a luz da cooperação e do suprimento.
24
HUMILDADE

A humildade, por força divina, reflete-se, luminosa, em todos os


domínios da Natureza, os quais expressam, efetivamente, o Trono de Deus,
patrocinando o progresso e a renovação.

Magnificente, o Sol, cada dia, oscula a face do pântano sem clamar contra
o insulto da lama; a flor, sem alarde, incensa a glória do céu. Filtrada na
aspereza da rocha, a água se revela mais pura, e, em seguida às grandes
calamidades, a colcha de erva cobre o campo, a fim de que o homem
recomece a lida.

A carência de humildade, que, no fundo, é reconhecimento de nossa


pequenez diante do Universo, surgem na alma humana doentios
enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobiça, o egoísmo e
a vaidade, que se responsabilizam pela discórdia e pela delinqüência em todas
as direções.
Sem o reflexo da humildade, atributo de Deus no reino do “eu”, a criatura
sente-se proprietária exclusiva dos bens que a cercam, despreocupada da sua
condição real de espírito em trânsito nos carreiros evolutivos e, apropriando-
se da existência em sentido particularista, converte a própria alma em
cidadela de ilusão, dentro da qual se recusa ao contato com as realidades
fundamentais da vida.

Sob o fascínio de semelhante negação, ergue azorragues de revolta contra


todos os que lhe inclinem o espírito ao aproveitamento das horas, já que, sem
o clima da humildade, não se desvencilha da trama de sombras a que ainda se
vincula, no plano da animalidade que todos deixamos para trás, após a
auréola da razão.
Possuída pelo espírito da posse exclusivista, a alma acolhe facilmente o
desespero e o ciúme, o despeito e a intemperança, que geram a tensão
psíquica, da qual se derivam perigosas síndromes na vida orgânica, a se
exprimirem na depressão nervosa e no desequilíbrio emotivo, na ulceração e
na disfunção celular, para não nos referirmos aos deploráveis sucessos da
experiência cotidiana, em que a ausência da humildade comanda o incentivo
à loucura, nos mais dolorosos conflitos passionais.

Quem retrata em si os louros dessa virtude quase desconhecida aceita sem


constrangimento a obrigação de trabalhar e servir, a benefício de todos,
assimilando, deste modo, a bênção do equilíbrio e substancializando a
manifestação das Leis Divinas, que jamais alardeiam as próprias dádivas.

Humildade não é servidão. Ë, sobretudo, independência, liberdade


interior que nasce das profundezas do espírito, apoiando-lhe a permanente
renovação para o bem.
Cultivá-la é avançar para a frente sem prender-se, é projetar o melhor de
si mesmo sobre os caminhos do mundo, é olvidar todo o mal e recomeçar
alegremente a tarefa do amor, cada dia.

Refletindo-a, do Céu para a Terra, em penhor de redenção e beleza, o


Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despediu-se dos homens
pelos braços da Cruz.
25
TOLERÂNCIA

Vive a tolerância na base de todo o progresso efetivo.

As peças de qualquer máquina suportam-se umas às outras para que surja


essa ou aquela produção de benefícios determinados.

Todas as bênçãos da Natureza constituem larga seqüência de


manifestações da abençoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.
Tolerância, porém, não é conceito de Superfície.

É reflexo vivo da compreensão que nasce, límpida, na fonte da alma,


plasmando a esperança, a paciência e o perdão com esquecimento de todo o
mal.
Pedir que os outros pensem com a nossa cabeça seria exigir que o mundo
se adaptasse aos nossos caprichos, quando é nossa obrigação adaptar-nos,
com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposição de ajudá-lo.

A Providência Divina reflete, em toda parte, a tolerância sábia e ativa.

Deus não reclama da semente a produção imediata da espécie a que


corresponde. Dá-lhe tempo para germinar, crescer, florir e frutificar. Não
solicita do regato improvisada integração com o mar que o espera. Dá-lhe
caminhos no solo, ofertando-lhe o tempo necessário à superação da marcha.
Assim também, de alma para alma, éimperioso não tenhamos qualquer
atitude de violência.

A brutalidade do homem impulsivo e a irritação do enfermo deseducado,


tanto quanto a garra no animal e o espinho na roseira, representam indícios
naturais da condição evolutiva em que se encontram.
Opor ódio ao ódio é operar a destruição.
O autor de qualquer injúria invoca o mal para si mesmo. Em vista disso, o
mal só é realmente mal para quem o pratica. Revidá-lo na base de
inconseqüência em que se expressa é assimilar-lhe o veneno.

É imprescindível tratar a ignorância com o carinho medicamentoso que


dispensamos ao tratamento de uma chaga, porqüanto golpear a ferida, sem
caridade, será o mesmo que converter a moléstia curável num aleijão sem
remédio.

A tolerância, por esse motivo, é, acima de tudo, completo esquecimento


de todo o mal, com serviço incessante no bem.
Quem com os lábios repete palavras de perdão, de maneira constante,
demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se acomoda perdendo
tempo.

Perdoar é olvidar a sombra, buscando a luz.

Não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade mendaz,


teatralizando os impulsos do coração, mas sim persistir no trabalho
renovador, criando o bem e a harmonia, pelos quais aqueles que não nos
entendam, de pronto, nos observem com diversa interpretação,
compreendendo-nos o idioma inarticulado do exemplo.

Oferece-nos o Crísto o modelo da tolerância ideal, em regressando do


túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados. Longe de reportar-se à
deserção de Pedro ou àfraqueza de Judas, para dizer com a boca que os
desculpava, refere-se ao serviço da redenção, induzindo-os a recomeçar o
apostolado do bem eterno.

Tolerar é refletir o entendimento fraterno, e o perdão será sempre


profilaxia segura, garantindo, onde estiver, saúde e paz, renovação e
segurança.
26
ORAÇÃO

A oração é divino movimento do espelho de nossa alma no rumo da


Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza.

Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do espírito às Potências Celestes, quer


vestido na fórmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa
mensagem da vibração.

Imaginemos a face de um espelho voltada para o Sol, desviando-lhe O


fulgor na direção do abismo.
Esta, na essência, é a função da prece, buscando o Amor Divino para
concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorância e do sofrimento, da
miséria e do ódio, que ainda se estendem no mundo.

Graduada, desde o mais simples desejo, a exteriorizar-se dos mais


ínfimos seres, até a exaltação divina dos anjos, nada se faz na Terra sem o
impulso da aspiração que orienta o passo de todas as criaturas...
No corpo ciclópico do Planeta, a oração é o movimento que o mantém na
tela cósmica; no oceano, é o fenômeno da maré, pelo qual as águas aspiram
ao grande equilíbrio. Na planta, é a chamada fototaxia ou anseio com que o
vegetal se levanta para a luz, incorporando-lhe os princípios; no animal, é o
instinto de curiosidade e indagação que lhe alicerçam as primeiras conquistas
da inteligência, tanto quanto, no homem comum, éa concentração natural,
antes de qualquer edificação no caminho humano.

O professor planeando o ensinamento e o médico a ensimesmar-se no


estudo para sanar determinada moléstia, o administrador programando a
execução desse ou daquele serviço, e o engenheiro engolfado na confecção
de uma planta para certa obra, estão usando os processos da oração,
refletindo na própria mente os propósitos da educação e da ciência de curar,
da legislação e do progresso, que fluem do plano invisível, à feição de
imagens abstratas, antes de se revelarem substancialmente ao mundo.
Orar é identificar-se com a maior fonte de poder de todo o Universo,
absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da renovação permanente que
governam os fundamentos da vida.

A prece impulsiona as recônditas energias do coração, libertando-as com


as imagens de nosso desejo, por intermédio da força viva e plasticizante do
pensamento, imagens essas que, ascendendo às Esferas Superiores, tocam as
inteligências visíveis ou invisíveis que nos rodeiam, pelas quais comumente
recebemos as respostas do Plano Divino, porqüanto o Pai Todo-Bondoso se
manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons.

A vontade que ora, tange o coração que sente, produzindo reflexos


iluminativos atra vés dos quais o espírito recolhe em silêncio, sob a forma de
inspiração e socorro íntimo, o influxo dos Mensageiros Divinos que lhe
presidem o território evolutivo, a lhe renovarem a emoção e a idéia, com que
se lhe aperfeiçoa a existência.
Dispomos na oração do mais alto sistema de intercâmbio entre a Terra e o
Céu.

Pelo divino circuito da prece, a criatura pede o amparo do Criador e o


Criador responde à criatura pelo princípio inelutável da reflexão espiritual,
estendendo-lhe os Braços Eternos, a fim de que ela se erga dos vales da vida
fragmentária para os cimos da Vida Vitoriosa.
27
OBSESSÃO

Observando-se a mediunidade como sintonia, a obsessão é o equilíbrio de


forças inferiores, retratando-se entre si.

Fenômeno de reflexão pura e simples, não ocorre tão-somente dos


chamados mortos para os chamados vivos, porque, na esséncia, muita vez
aparece entre os próprios Espíritos encarnados a se subjugarem
reciprocamente pelos fios invisíveis da sugestão.

A mente que se dirige a outra cria imagens para fazer-se notada e


compreendida, prescindindo da palavra e da ação para insinuar-se, porqüanto,
ambientando a repetição, atinge o objetivo que demanda, projetando-se sobre
aquela que procura influenciar. E, se a mente visada sintoniza com a onda
criadora lançada sobre ela, inicia-se vivo circuito de força, dentro do qual a
palavra e a ação se incumbem de consolidar a correspondência, formando o
círculo de encantamento em que o obsessor e o obsidiado passam a viver,
agindo e reagindo um sobre o outro.
Não há, por isto, obsessão unilateral. Toda ocorrência desta espécie se
nutre àbase de intercâmbio mais ou menos completo. Quanto mais
sustentadas as imagens inferiores de um Espírito para outro, em regime de
permuta constante, mais profundo o poder da obsessão, de vez que se afastam
da justa realidade para o circuito de sombra em que entregam a mútuo
fascínio.

É o mesmo que se verifica com a pedra quando em serviço de gravação.


Quanto mais repetida a passagem do buril, mais entranhado o sulco
destinadO a perpetuar a minudência da imagem.
Lembremo-nos, ainda, do disco comum, em cujas reentrâncias sutis
permanecem os sons fixados para repetição à nossa vontade. Muita vez a
mente obsidiada se assemelha à chapa de ebonite, arquivando ordens e avisos
do obsessor (notadamente durante O sono habitual, quando liberamos os
próprios reflexos, sem o controle da nossa consciência de limiar), ordens e
avisos que a pessoa obsessa atende, de modo quase automático, qual o
instrumento passivo da experiência magnética, no cumprimento de sugestões
pós-hipnóticas.

Quanto mais nos rendamos a essa ou àquela idéia, no imo de nós mesmos,
com maior força nos convertemos nela, a expressar-lhe os desígnios.

É assim que se formam estranhos desequilíbrios que, em muitas


circunstâncias, concretizam moléstia e desalento, aflição e loucura, quando
não plasmam a crueldade e a morte.
Toda obsessão começa pelo debuxo vago do pensamento alheio que nos
visita, oculto.

Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois, fazer-se


um painel vigoroso, do qual assimilamos apelos infelizes que nos aprisionam
em turbilhões de trevas.

Urge, pois, que saibamos fugir, desassombrados, aos enganos da inércia,


porque o espelho ocioso de nossa vida em sombra pode ser longamente
viciado e detido pelas forças do mal que, em nos vampirizando, estendem
sobre os outros as teias infernais da miséria e do crime.
Dar novo pasto à mente pelo estudo que eleve e consagrar-se em paz ao
serviço incessante é a fórmula ideal para libertar-se de todas as algemas, pois
que, na aquisição de bênçãos para o espírito e no auxílio espontâneo à vida
que nos cerca, refletiremos sempre a Esfera Superior, avançando, por fim, da
cegueira mental para a divina luz da Divina Visão.
28
ENFERMIDADE

Ninguém poderá dizer que toda enfermidade, a rigor, esteja vinculada aos
processos de elaboração da vida mental, mas todos podemos garantir que os
processos de elaboração da vida mental guardam positiva influenciação sobre
todas as doenças.

Há moléstias que têm, sem dúvida, função preponderante nos serviços de


purificação do espírito, surgindo com a criatura no berço ou seguindo-a, por
anos a fio, na direção do túmulo.

As inibições congeniais, as mutilações imprevistas e as enfermidades


dificilmente curáveis catalogam-se, indiscutivelmente, na tabela das
provações necessárias, como certos medicamentos imprescindíveis figuram
na ficha de socorro ao doente; contudo, os sintomas patológicos na
experiência comum, em maioria esmagadora, decorrem dos reflexos infelizes
da mente sobre o veículo de nossas manifestações, operando desajustes nos
implementos que o compõem.
Toda emoção violenta sobre o corpo é semelhante a martelada forte sobre
a engrenagem de máquina sensível, e toda aflição amimalhada é como
ferrugem destruidora, prejudicando-lhe o funcionamento.

Sabe hoje a medicina que toda tensão mental acarreta distúrbios de


importância no corpo físico.
Estabelecido o conflito espiritual, quase sempre as glândulas salivares
paralisam as suas secreções, e o estômago, entrando em espasmo, nega-se à
produção de ácido clorídrico, provocando perturbações digestivas a se
expressarem na chamada colite mucosa. Atingido esse fenômeno primário
que, muita vez, abre a porta a temíveis calamidades orgânicas, os
desajustamentos gastrintestinais repetidos acabam arruinando os processos da
nutrição que interessam o estímulo nervoso, determinando variados sintomas,
desde a mais leve irritação da membrana gástrica até a loucura de abordagem
complexa.
O pensamento sombrio adoece o corpo são e agrava os males do corpo
enfermo.

Se não é aconselhável envenenar o aparelho fisiológico pela ingestão de


substâncias que o aprisionem ao vício, é imperioso evitar os desregramentos
da alma que lhe impõem desequilíbrios aviltantes, quais sejam aqueles
hauridos nas decepções e nos dissabores que adotamos por flagelo constante
do campo íntimo.

Cultivar melindres e desgostos, irritação e mágoa é o mesmo que semear


espinheiros magnéticos e adubá-los no solo emotivo de nossa existência, é
intoxicar, por conta própria, a tessitura da vestimenta corpórea, estragando os
centros de nossa vida profunda e arrasando, conseqüentemente, sangue e
nervos, glândulas e vísceras do corpo que a Divina Providência nos concede
entre os homens, com vistas ao desenvolvimento de nossas faculdades para a
Vida Eterna.
Guardemos, assim, compreensão e paciência, bondade infatigável e
tolerância construtiva em todos os passos da senda, porque somente ao preço
de nossa incessante renovação mental para o bem, com o apoio do estudo
nobre e do serviço constante, é que superaremos o domínio da enfermidade,
aproveitando os dons do Senhor e evitando os reflexos letais que se fazem
acompanhar do suicídio indireto.
29
MORTE

Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade que, na


morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente ínsculpidas
por nosso desejo, àcusta da reflexão reiterada, de modo intenso. Guardando o
pensamento — plasma fluídico — a precisa faculdade de substancializar suas
próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a
maioria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente
obcecada pelos quadros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos
alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das
circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do
aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os reflexos
das sensações primárias a que ainda se ajusta.

Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da


educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do espírito se
efetuam na base de lições recapituladas.

As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando, por


intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares
naqueles que as compõem.
É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos
bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo a experiência anterior
dos orientadores que lhe precederam os passos na senda profissional
escolhida.

O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instrumentos de


guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de estratégia, e o médico
porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos, os ensinos e experimentos
dos especialistas, antes do juramento hipocrático.
Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância,
a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo
de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determinados fins,
sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições
persistentes e progressivas.

Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do


tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo
campo de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coletividade.

Segundo o mesmo princípio, a morte nos confere a certidão das


experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada espírito, mais ou
menos, se transforma naquilo que imagina. É deste modo que ela, a morte,
extrai a soma de nosso conteúdo mental, compelindo-nos a viver,
transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa
parcela de céu, correspondente ao melhor da construção que efetuamos em
nós, e se esse conteúdo é o mal estaremos necessariamente detidos na parcela
de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o
inferno de purgação merecida, criado por nós mesmos na intimidade da
consciência.
Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação e a
sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a
produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor na circulação
do bem comum, consubstanciando as idéias fixas em que passamos a respirar
depois do túmulo, à feição de loucos autênticos, por nos situarmos distantes
da realidade fundamental.

É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no


mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de
nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados em região alucinatória
decorrente do nosso monoideísmo na sombra, ou transferindo-nos
simplesmente de plano, melhorando o clima de nossos reflexos ajustados ao
bem, avançando em degraus conseqüentes para novos horizontes de ascensão
e de luz.
30
AMOR

O amor puro é o reflexo do Criador em todas as criaturas.

Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma vibração de sabedoria e


beleza.

É fundamento da vida e justiça de toda a Lei.

Surge, sublime, no equilíbrio dos mundos erguidos à glória da


imensidade, quanto nas flores anônimas esquecidas no campo.

Nele fulgura, generosa, a alma de todas as grandes religiões que


aparecem, no curso das civilizações, por sistemas de fé à procura da
comunhão com a Bondade Celeste, e nele se enraíza todo o impulso de
solidariedade entre os homens.
Plasma divino com que Deus envolve tudo o que é criado, o amor é o
hálito dEle mesmo, penetrando o Universo.

Vemo-lo, assim, como silenciosa esperança do Céu, aguardando a


evolução de todos os princípios e respeitando a decisão de todas as
consciências.

Mercê de semelhante bênção, cada ser éacalentado no degrau da vida em


que se encontra.
O verme é amado pelo Senhor, que lhe concede milhares e milhares de
séculos para levantar-se da viscosidade do abismo, tanto quanto o anjo que o
representa junto do verme. A seiva que nutre a rosa é a mesma que alimenta o
espinho dilacerante. Na árvore em que se aninha o pássaro indefeso, pode
acolher-se a serpente com as suas armas de morte. No espaço de uma
penitenciária, respira, com a mesma segurança, o criminoso que lhe padece as
grades de sofrimento e o correto administrador que lhe garante a ordem.

O amor, repetimos, é o reflexo de Deus, Nosso Pai, que se compadece de


todos e que a ninguém violenta, embora, em razão do mesmo amor infinito
com que nos ama, determine estejamos sempre sob a lei da responsabilidade
que se manifesta para cada consciência, de acordo com as suas próprias
obras.

E, amando-nos, permite o Senhor perlustrarmos sem prazo o caminho de


ascensão para Ele, concedendo-nos, quando impensadamente nos
consagramos ao mal, a própria eternidade para reconciliar-nos com o Bem,
que é a Sua Regra Imutável.

Herdeiros dEle que somos, raios de Sua Inteligência Infinita e sendo Ele
Mesmo o Amor Eterno de Toda a Criação, em tudo e em toda parte, é da
legislação por Ele estatuída que cada espírito reflita livremente aquilo que
mais ame, transformando-se, aqui e ali, na luz ou na treva, na alegria ou na
dor a que empenhe o coração.
Eis por que Jesus, o Modelo Divino, enviado por Ele à Terra para clarear-
nos a senda, em cada passo de seu Ministério tomou o amor ao Pai por
inspiração de toda a vida, amando sem a preocupação de ser amado e
auxiliando sem qualquer idéia de recompensa.

Descendo à esfera dos homens por amor, humilhando-se por amor,


ajudando e sofrendo por amor, passa no mundo, de sentimento erguido ao Pai
Excelso, refletindo-lhe a vontade sábia e misericordiosa. E, para que a vida e
o pensamento de todos nós lhe retratem as pegadas de luz, legou-nos, em
nome de Deus, a sua fórmula inesquecível: — “Amai-vos uns aos outros
como eu vos amei.”

Fim
LIVRO 6
Religião dos Espíritos

Emmanuel

FEB

1990
1
SE TIVERES AMOR

Reunião pública de 5/1/59


Questão nº 887

Se tiveres amor, caminharás no mundo como alguém que transformou o


próprio coração em chama divina a dissipar as trevas...

Encontrarás nos caluniadores almas invigilantes que a peçonha do mal


entenebreceu, e relevarás toda ofensa com que te martirizem as horas...
Surpreenderás nos maldizentes criaturas desprevenidas que o veneno da
crueldade enlouqueceu, e desculparás toda injúria com que te deprimam as
esperanças...

Observarás no onzenário a vítima da ambição desregrada, acariciando a


ignomínia da usura em que atormenta a si próprio, e no viciado o irmão que
caiu voluntariamente na poça de fel em que arruína a si mesmo...
Reconhecerás a ignorância em toda manifestação contrária à justiça e
descobrirás a miséria por fruto dessa mesma ignorância em toda parte onde
o sofrimento plasma o cárcere da delinquência, o deserto do desespero, o
inferno da revolta ou o pântano da preguiça...

Se tiveres amor saberás, assim, cultivar o bem, a cada instante, para


vencer o mal a cada hora...

E perceberás, então, como o Cristo fustigado na cruz, que os teus mais


acirrados perseguidores são apenas crianças de curto entendimento e de
sensibilidade enfermiça, que é preciso compreender e ajudar, perdoar e
servir sempre, para que a glória do amor puro, ainda mesmo nos suplícios
da morte, nos erga o espírito imperecível à bênção da vida eterna.
2
ABORTO DELITUOSO

Reunião pública de 9/1/59


Questão nº 358

Comovemo-nos, habitualmente, diante das grandes tragédias que agitam


a opinião.

Homicídios que convulsionam a imprensa e mobilizam largas equipes


policiais...
Furtos espetaculares que inspiram vastas medidas de vigilância...

Assassínios, conflitos, ludíbrios e assaltos de todo jaez criam a guerra de


nervos, em toda parte; e, para coibir semelhantes fecundações de ignorância
e delinquência, erguem-se cárceres e fundem-se algemas, organiza-se o
trabalho forçado e em algumas nações a própria lapidação de infelizes é
praticada na rua, sem qualquer laivo de compaixão.
Todavia, um crime existe mais doloroso, pela volúpia de crueldade com
que é praticado, no silêncio do santuário doméstico ou no regaço da
Natureza...

Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e
nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reação.

Referimo-nos ao aborto delituoso, em que pais inconscientes


determinam a morte dos próprios filhos, asfixiando-lhes a existência, antes
que possam sorrir para a bênção da luz.
Homens da Terra, e sobretudo vós, corações maternos chamados à
exaltação do amor e da vida, abstende-vos de semelhante ação que vos
desequilibra a alma e entenebrece o caminho!

Fugi do satânico propósito de sufocar os rebentos do próprio seio,


porque os anjos tenros que rechaçais são mensageiros da Providência,
assomantes no lar em vosso próprio socorro, e, se não há legislação humana
que vos assinale a torpitude do infanticídio, nos recintos familiares ou na
sombra da noite, os olhos divinos de Nosso Pai vos contemplam do Céu,
chamando-vos, em silêncio, às provas do reajuste, a fim de que se vos
expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetrastes.
3
TENTAÇÃO E REMÉDIO

Reunião pública de 12/1/59


Questão nº 712

Qual acontece com a árvore, a equilibrar-se sobre as próprias raízes,


guardamos o coração na tela do presente, respirando o influxo do passado.

É assim que o problema da tentação, antes que nascido de objetos ou


paisagens exteriores, surge fundamentalmente de nós – na trama de sombra
em que se nos enovelam os pensamentos...
Acresce, ainda, que essas mesmas ondas de força experimentam a
atuação dos amigos desenfaixados da carne que deixamos a distância da
esfera física, motivo por que, muitas vezes, os debuxos mentais que nos
incomodam levemente, de início, no campo dessa ou daquela ideia infeliz,
gradualmente se fazem quadros enormes e inquietantes em que se nos
aprisionam os sentimentos, que passam, muita vez, ao domínio da obsessão
manifesta.

Todavia, é preciso lembrar que a vida é permanente renovação


propelindo-nos a entender que o cultivo da bondade incessante é o recurso
eficaz contra o assédio de toda influência perniciosa.

É o trabalho, por essa forma, o antídoto adequado, capaz de anular toda


enquistação tóxica do mundo íntimo, impulsionando-nos o espírito a novos
tipos de sugestão, nos quais venhamos a assimilar o socorro dos Emissários
da Luz, cujos braços de amor nos arrebatam ao nevoeiro dos próprios
enganos.

Assim, pois, se aspiras à vitória sobre o visco da treva que nos arrasta
para os despenhadeiros da loucura ou do crime, ergue no serviço à
felicidade dos semelhantes o altar dos teus interesses de cada dia,
porquanto, ainda mesmo o delinquente confesso, em se decidindo a ser o
apoio do bem na Terra, transforma-se, pouco a pouco, em mensageiro do
Céu.
4
MEMÓRIA ALÉM-TÚMULO

Reunião pública de 16/1/59


Questão nº 220

Automaticamente, por força da lógica, elege o homem na contabilidade


uma das forças de base ao próprio caminho.

Contas maiores legalizam as relações do comércio e contas menores


regulamentam o equilíbrio do lar.
Débitos pagos melhoram as credenciais de qualquer cidadão, enquanto
que os compromissos menosprezados desprestigiam a ficha de qualquer um.

Assim também, para lá do sepulcro, surge o registro contábil da


memória como elemento de aferição do nosso próprio valor.
A faculdade de recordar é o agente que nos premia ou nos pune, ante os
acertos e os desacertos da rota.

Dessa forma, se os atos louváveis são recursos de abençoada renovação


e profunda alegria nos recessos da alma, as ações infelizes se erguem, além
do túmulo, por fantasmas de remorso e aflição no mundo da consciência.

Crimes perpetrados, faltas cometidas, erros deliberados, palavras


delituosas e omissões lamentáveis esperam-nos a lembrança, impondo-nos,
em reflexos dolorosos, o efeito de nossas quedas e o resultado de nossos
desregramentos, quando os sentidos da esfera física não mais nos acalentam
as ilusões.
Não olvideis, assim, que, além da morte, a vida nos aguarda em
perpetuidade de grandeza e de luz, e que, nessas mesmas dimensões de
glorificação e beleza, a memória imperecível é sempre o espelho que nos
retrata o passado, a fim de que a sombra, reinante em nós, se dissolva, nas
lições do presente, impelindo-nos a seguir, desenleados da treva, no encalço
da perfeição com que nos acena o futuro.
5
BENEFICÊNCIA ESQUECIDA

Reunião pública de 19/1/59


Questão nº 920

Na solução aos problemas da caridade, não olvides a beneficência do


campo mais íntimo, que tanta vez relegamos à indiferença.

Prega a fraternidade, aproveitando a tribuna que te componha os gestos


e discipline a voz; no entanto, recebe na propriedade ou no lar, por
verdadeiros irmãos, os companheiros de luta, assalariados a teu serviço.
Esclarece os Espíritos conturbados e sofredores nos círculos
consagrados ao socorro daqueles que caíram em desajuste mental; contudo,
acolhe com redobrado carinho os parentes desorientados que a provação
desequilibra ou ensandece.

Auxilia a erguer abrigos de ternura para as crianças abandonadas;


todavia, abraça em casa os filhinhos que Deus te deu, conduzindo-lhes a
mente infantil, através do próprio exemplo, ao santuário do dever e do
trabalho, do amor e da educação.
Espalha a doutrina de paz que te abençoa a senda, divulgando-a, por
intermédio do conceito brilhante que te reponta da pena, mas não olvides
exercê-la em ti próprio, ainda mesmo à custa de aflição e de sacrifício. para
que o teu passo, entre as quatro paredes do instituto doméstico, seja um
marco de luz para os que te acompanham.

Cede aos necessitados daquilo que reténs no curso das horas...

Dá, porém, de ti mesmo aos semelhantes, em bondade e serviço,


reconforto e perdão, cada vez que alguém se revele faminto de proteção e
desculpa, entendimento e carinho.
Beneficência! Beneficência!
Não lhe manches a taça com o veneno da exibição, nem lhe tisnes a
fonte com o lodo da vaidade!

Recebe-lhe as sugestões de amor no imo do coração e, buscando-a


primeiramente nos escaninhos da própria alma, sentiremos nós todos a
intraduzível felicidade que se derrama da felicidade que venhamos a
propiciar aos outros, conquistando, por fim, a alegria sublime que foge ao
alarde dos homens para dilatar-se no silêncio de Deus.
6
ALIENAÇÃO MENTAL

Reunião pública de 23/1/59


Questão nº 373

Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se


nos estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.

É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio


da mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça,
furtando a segurança e a felicidade dos outros.
Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com
peçonhento apetite de sangue e ouro, legisladores despóticos que
perverteram a autoridade, magnatas do comércio que segregaram o pão,
agravando a penúria do próximo, profissionais do direito que buscaram
torturar a verdade em proveito do crime, expoentes da usura que
trancafiaram a riqueza coletiva necessária ao progresso, artistas que
venderam a sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da
multidão, e homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas
aventuras da deserção, acabando no suicídio ou na delinquência,
encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando, depois, na vida
espiritual como fantasmas de arrependimento e remorso, arrastando consigo
as telas horripilantes da culpa em que se lhes agregam os pensamentos.

E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de


sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso físico
– cela preciosa de tratamento –, na condição de crianças-problemas em
dolorosas perturbações.
Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da
razão, conchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre,
laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto
auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de
nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na
clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória
da luz.
7
AO REDOR DO DINHEIRO

Reunião pública de 26/1/59


Questão nº 816

Efetivamente, perante a visão da Esfera Espiritual, o homem afortunado


na Terra surge sempre à feição de alguém que enorme risco ameaça.

Operários da evolução, a quem se confiou a mordomia do ouro, aqueles


que detêm a finança comum afiguram-se nos companheiros constantemente
afrontados pelas perspectivas de desastre iminente, assim como os
responsáveis pela condução da energia elétrica, em contato com agentes de
alta tensão, ou, ainda, como os especialistas de laboratório, quando
impelidos a manusear certa classe de vírus ou de venenos, com vistas à
preservação e ao benefício do povo.
Considerando, porém, as inconveniências e desvantagens que assinalam
a luta dos que foram chamados a transportar semelhantes cruzes amoedadas,
é forçoso convir que o coração voltado para Jesus pode sustentar-se, nesse
círculo de incessantes inquietações, na tarefa sublime da paz e da luz, da
ascensão e da liberdade.

Isso porque, se o dinheiro nas garras da usura pode agravar os flagícios


da orfandade e os tormentos da viuvez, nas mãos justas do bem converte o
pauperismo em trabalho e o sofrimento em educação.
Se a riqueza entesourada sem o lucro de todos pode gerar o colapso do
progresso, o centavo movimentado ao impulso da caridade é o avivamento
do amor na Terra, por transformar-se, a cada minuto, no remédio ao enfermo
necessitado, no livro renovador das vítimas do desânimo, no teto
endereçado aos que vagueiam sem rumo e na gota de leite que tonifica o
corpo subnutrido da criancinha sem lar.

Ninguém tema, desse modo, a grave responsabilidade da posse efêmera


entre as criaturas humanas, mas que toda propriedade seja por nós recebida
como empréstimo santo, cujos benefícios é preciso estender em proveito
geral, atentos à lei de que a felicidade só é verdadeira felicidade quando
respira na construção da felicidade devida aos outros.

Assim, pois, compreendamos, com a segurança da lógica e com a


harmonia da sensatez, que, em verdade, não se pode servir a Deus e a
Mamon, mas que é nossa obrigação das mais simples colocar Mamon a
serviço de Deus.
8
CADINHO

Reunião pública de 30/1/59


Questão nº 260

Muitas vezes, na Terra, na posição de cultores da delinquência,


conseguimos escapar das sentinelas da punição.

Faltas não previstas na legislação terrestre, como sejam certos atos de


crueldade e muitos crimes da ingratidão, muros a dentro de nossa vida
particular, quase sempre acarretam a queda e a perturbação, a enfermidade e
a morte de criaturas que a Divina Bondade nos põe no caminho.
De outra feita, quando positivamente enodoados com o ferrete da culpa,
conseguimos aligeirar nossas penas ou delas nos exonerar, subornando
consciências dolosas, no recinto dos tribunais.

Todavia, a reta justiça nos espera, infalível, e além da morte, ainda


mesmo quando tenhamos legado ao mundo vastas parcelas de cultura e
benemerência, eis que as marcas de ignomínia se nos destacam do ser, então
expostas à Grande Luz.
Nessa crise inesperada, imploramos nós mesmos retorno e readmissão
nos cursos de trabalho em que se nos desmandaram a deserção e a falência,
a fim de ressarcirmos os débitos que os homens não conheceram, mas que
vibram, obcecantes, no imo de nossas almas.

É assim que voltamos ao cadinho fervente da purgação, retomando nos


fios da consanguinidade a presença daqueles que mais ferimos, para
devolver-lhes em ternura e devotamento os patrimônios dilapidados,
rearticulando os elos da harmonia que nos ligam a todos, na universalidade
da vida, perante a Lei.

Reverenciemos, desse modo, no lar humano, não apenas o templo de


carinho em que se nos reabastecem as forças, no exercício do bem eterno,
mas igualmente a rude escola da regeneração, em que retomamos o
convívio dos velhos adversários que nós mesmos criamos, a ressurgirem na
forma de aversões instintivas e desafetos ocultos, que nos constrangem cada
hora à lição da renúncia e à mensagem do sacrifício.

E por mais inquietante se nos afigure a experiência no educandário


doméstico, guardemos, dentro dele, extrema devoção ao dever, perdoando e
ajudando, compreendendo e amparando sem descansar, pois somente aquele
que se engrandeceu, entre as quatro paredes da própria casa, é que pode, em
verdade, servir à obra de Deus no campo vasto do mundo.
9
MAIS

Reunião pública de 2/2/59


Questão nº 716

O “mais” é sempre a equação nas contas da Lei Divina.

Ao criar a criatura, determinou o Criador tudo se crie na Criação.

Por isso mesmo, a antiga legenda “crescei e multiplicai-vos” comparece,


ativa, em todos os planos da Natureza.

Entreguemos o fruto nutritivo aos fatores de desagregação e, em poucas


horas, transmutar-se-á em bolo pestífero.
Ajudemos a semente preciosa, amparando-lhe a cultura, e, no curso de
algum tempo, responsabilizar-se-á pela fartura do celeiro, transfigurando
pântanos e charnecas em campos de flor e pão.

É assim que o mesmo princípio se revela, insofismável, em todo o


caminho humano.

Cede a lente de teus olhos às arestas do mal e, a breve espaço, não


apreenderás senão sombras.

Entorpece a antena dos ouvidos no enxurro da maledicência convertida


em lama sonora e acordarás no charco da calúnia, aviltando a ti mesmo.

Fase da língua instrumento de críticas incessantes e acabarás guardando


na boca uma placenta envenenada, servindo à parturição da crueldade e do
crime.
Conserva os braços na estufa da preguiça e terminarás a existência
transpirando bolor e inutilidade.

Entretanto, se te confias ao amor puro, buscando estender-lhe a


claridade sublime, através do serviço aos outros, atrairás, em teu próprio
favor, a influência benéfica de quantos te observam as horas, entre a
simpatia e a cooperação, acrescentando-te possibilidades e forças para que
transformes a vida num cântico de beleza, a caminho da esfera superior.

Do que escolhas cada dia para sentir e pensar, encontrarás auxílio para
falar e fazer.
Assim, pois, vigia o coração e fiscaliza teus atos com a lâmpada viva da
lição de Jesus, porque terás sempre mais do que faças, em colheita de treva
ou luz, conforme a tua sementeira de mal ou bem.
10
EXAMINA A PRÓPRIA AFLIÇÃO

Reunião pública de 13/2/59


Questão nº 908

Examina a própria aflição para que não se converta a tua inquietude em


arrasadora tempestade emotiva.

Todas as aflições se caracterizam por tipos e nomes especiais.


A aflição do egoísmo chama-se egolatria.

A aflição do vício chama-se delinquência.


A aflição da agressividade chama-se cólera.

A aflição do crime chama-se remorso.

A aflição do fanatismo chama-se intolerância.


A aflição da fuga chama-se covardia.

A aflição da inveja chama-se despeito.


A aflição da leviandade chama-se insensatez.

A aflição da indisciplina chama-se desordem.

A aflição da brutalidade chama-se violência.


A aflição da preguiça chama-se rebeldia.

A aflição da vaidade chama-se loucura.


A aflição do relaxamento chama-se evasiva.

A aflição da indiferença chama-se desânimo.


A aflição da inutilidade chama-se queixa.

A aflição do ciúme chama-se desespero.

A aflição da impaciência chama-se intemperança.

A aflição da sovinice chama-se miséria.


A aflição da injustiça chama-se crueldade.

Cada criatura tem a aflição que lhe é própria.

A aflição do reino doméstico e da esfera profissional, do raciocínio e do


sentimento...
Os corações unidos ao Sumo Bem, contudo, sabem que suportar as
aflições menores da estrada é evitar as aflições maiores da vida e, por isso,
apenas eles, anônimos heróis da luta cotidiana, conseguem receber e
acumular em si mesmos os talentos de amor e paz reservados por Jesus aos
sofredores da Terra, quando pronunciou no monte a divina promessa:

– “Bem-aventurados os aflitos!”
11
PUREZA

Reunião pública de 16/2/59


Questão nº 632

“Bem-aventurados os puros, porque verão a Deus.”

Estudando a palavra do Mestre Divino, recordemos que no mundo, até


hoje, não existiu ninguém quanto Ele, com tanta pureza na própria alma.
Cabe-nos, pois, lembrar como Jesus via no caminho da vida, para
reconhecermos com segurança que, embora na Terra, sabia encontrar a
Presença Divina em todas as situações e em todas as criaturas.

Para muita gente, a manjedoura era lugar desprezível; entretanto, Ele via
Deus na humildade com que a Natureza lhe oferecia materno colo e
transformou a estrebaria num poema de excelsa beleza.
Para muita gente, Maria de Magdala era mulher sem qualquer valor, pela
condição de obsidiada em que se mostrava na vida pública; no entanto, Ele
via Deus naquele coração feminino ralado de sofrimento e converteu-a em
mensageira da celeste ressurreição.

Para muita gente, Simão Pedro era homem rude e inconstante, indigno
de maior consideração; contudo, Ele via Deus no espírito atribulado do
pescador semianalfabeto que o povo menosprezava e transmutou-o em
paradigma da fé cristã, para todos os séculos.

Para muita gente, Judas era negociante de expressão suspeita, capaz de


astuciosos ardis em louvor de si mesmo; no entanto, Ele via Deus na alma
inquieta do companheiro que os outros menoscabavam e estendeu-lhe
braços amigos até ao fim da penosa deserção a que o discípulo distraído se
entregou, invigilante.
Para muita gente, Saulo de Tarso era guardião intransigente da Lei
Antiga, vaidoso e perverso, na defesa dos próprios caprichos; contudo, Ele
via Deus naquele espírito atormentado, e procurou-o pessoalmente, para
confiar-lhe embaixada importante.

Se purificares, assim, o coração, identificarás a presença de Deus em


toda parte, compreendendo que a esperança do Criador não esmorece em
criatura alguma, e perceberás que a maldade e o crime são apenas
espinheiro e lama que envolvem o campo da alma – o brilhante divino que
virá fatalmente à luz...
E aprendendo e servindo, ajudando e amando passarás, na Terra, por
mensagem incessante de amor, ensinando os homens que te rodeiam a
converter o charco em berço de pão e a entender que, mesmo nas
profundezas do pântano, podem surgir lírios perfumados e puros para
exaltar a glória de Deus.
12
SOBRAS

Reunião pública de 20/2/59


Questão nº 715

A sobra em todas as situações é o agente aferidor do nosso ajustamento


à Lei Eterna que estatui sejam os recursos do Criador divididos
justificadamente por todas as criaturas, a começar pela bênção vivificante
do Sol.

É assim que o leite a desperdiçar-se, na mesa, é a migalha de alimento


que sonegas à criancinha órfã de pão, tanto quanto a roupa a emalar-se,
desnecessária, no recanto doméstico, é o agasalho que deves à nudez que a
noite fria vergasta.
Por isso mesmo, é pelo supérfluo acumulado em vão que começam
todos os nossos desacertos perante a Bênção Divina.

Formações miasmáticas invadem-te o lar pelos frutos apodrecidos que


recusas à fome dos semelhantes; prolifera a traça na moradia, pelo vestuário
que segregas a distância de quem sofre a intempérie; multiplicam-se víboras
e espinheiros na gleba que guardas, inútil; arma-te a inveja ciladas soezes,
ao pé de patrimônios materiais que reténs, sem qualquer benefício para a
necessidade dos outros, e, sobretudo, os expoentes da criminalidade e do
vício senhoreiam-te a vida, nas horas vagas em que te refestelas nos braços
da ilusão, exaltando a leviandade e a preguiça.
Não olvides, assim, que toda sobra desaproveitada nos bens que
desfrutas, por efeito de empréstimo da Providência Maior, se converte em
cadeia de retaguarda, situando-te pensamentos e aspirações na cidadela da
sombra. E, repartindo com o próximo as vantagens que te enriquecem os
dias, seguirás, desde a Terra, pelos investimentos do amor puro e incessante,
em direitura à Plenitude Celestial.
13
DIZES-TE

Reunião pública de 23/2/59


Questão nº 888

Dizes-te pobre; entretanto, milionários de todas as procedências dar-te-


iam larga fortuna por ínfima parte do tesouro de tua fé.

Dizes-te desorientado; contudo, legiões de companheiros, cujo passo a


cegueira física entenebrece, comprar-te-iam por alta recompensa leve
migalha da visão que te favorece, para contemplarem pequena faixa da
Natureza.
Dizes-te impedido de praticar o bem; todavia, multidões de pessoas
algemadas aos catres da enfermidade oferecer-te-iam bolsas repletas por
insignificante recurso da locomoção com que te deslocas, de maneira a se
exercitarem no auxílio aos outros.

Dizes-te desanimado, sem te recordares, porém, de que vastas fileiras de


mutilados estariam dispostos a adquirir, com a mais elevada quota de ouro,
a riqueza de teus pés e a bênção de teus braços.
Dizes-te em provação, mas olvidas que, na triste enxovia dos
manicômios, inúmeros sofredores cederiam quanto possuem para que lhes
desses um pouco de equilíbrio e de lucidez.

Dizes-te impossibilitado de ajudar com a luz da palavra; no entanto,


mudos incontáveis fariam sacrifícios ingentes para deter algum recurso do
verbo claro que te vibra na boca.

Dizes-te desamparado; entretanto, milhões de criaturas dariam tudo o


que lhes define a posse na vida para usar um corpo harmônico qual o teu, a
fim de socorrerem os filhos da expiação e do sofrimento.
Por quem és, não lavres certidão de incapacidade contra ti mesmo.
Lembra-te de que um sorriso de confiança, uma prece de ternura, uma
frase de bom ânimo, um gesto de solidariedade e um minuto de paz não têm
preço na Terra.

Antes de censurar o irmão que traz consigo a prova esfogueante das


grandes propriedades, sai de ti mesmo e auxilia o próximo que, muita vez,
espera simplesmente uma palavra de entendimento e de reconforto, para
transferir-se da treva à luz.
E, então, perceberás que a beneficência é o cofre que devolve
patrimônios temporariamente guardados a distância das necessidades
alheias, e que a caridade, lídima e pura, é amor sempre vivo, a fluir,
incessante, do amor de Deus.
14
CENSURA

Reunião pública de 27/2/59


Questão nº 903

Imagina-te aplicando vasta porção de borralho sobre a plantação


nascente da qual esperas colheita farta; servindo líquido antisséptico na
água destinada àqueles cuja sede te propões extinguir; misturando certa
quantidade de cal bruta à refeição do companheiro de quem desejas matar a
fome; deitando fel na iguaria endereçada ao vizinho a quem almejas agradar
ou vestindo alguém com determinada peça forrada com alfinetes espetantes,
e compreenderás, certamente, o que seja a prática da censura incorporada ao
teu propósito de servir.
15
RENASCIMENTO

Reunião pública de 2/3/59


Questão nº 169

Não aguardes o lance da morte para atender, em ti mesmo, à grande


renovação.

Se a chama de tuas esperanças mais caras surge agora reduzida a pó e


cinza, aproveita os resíduos dos sonhos mortos por adubo à nova sementeira
de fé e caminha para diante, sem descrer da felicidade.
Muitos desertam do quadro escabroso em que o Céu lhes permite a
quitação com as Leis Divinas, deitando-lhe insultos, como se se retirassem
de província infernal, mas voltarão a ele, em momento oportuno, com
lágrimas de tardio arrependimento, para reajustar suas disposições, quando
poupariam larga quota de tempo se lhe buscassem compreender as lições
ocultas.

Outros muitos fogem de entes amados, reprochando-lhes a conduta e


anatematizando-lhes a existência, qual se se ausentassem de desapiedados
verdugos; no entanto, voltarão, igualmente mais tarde, a tributar-lhes
paciência e carinho, a fim de curar-lhes as chagas de ignorância e ajudá-los
no pagamento de débitos escabrosos, entendendo, por fim, que teriam
adquirido enorme tesouro de experiência se lhes houvessem doado apoio e
entendimento, perdão e auxílio justo, no instante difícil em que se
mostravam desmemoriados e inconscientes.
Não deixes, assim, para amanhã o trabalho bendito da caridade que te
pede ação ainda hoje.

O caminho de angústia e a mão do insensato despontam do pretérito,


cujas dívidas precisamos solver.

Desse modo, se te não é lícito possuir esse ou aquele patrimônio que te


parece adequado à realização do mais alto ideal, faze da tela escura em que
estagias a escola da própria sublimação e, se não podes receber, em
determinada condição, a alma que amas no mundo, consagra-lhe mesmo
assim o melhor de teu culto, estendendo-lhe a bondade silenciosa, na
bênção da simpatia.

Não encomendes, pois, embaraços e aversões à loja do futuro, porque, a


favor de nossa própria renovação, concede-nos o Senhor, cada manhã, o Sol
renascente de cada dia.
16
MEDIUNIDADE E DEVER

Reunião pública de 2/3/59


Questão nº 799

No campo da mediunidade, não olvides que o dever retamente cumprido


é a bússola que te propiciará rumo certo.

Deslumbrar-te-ás na contemplação de painéis assombrosos na esfera


extrafísica, mas se não enxergas o quadro das próprias obrigações a fim de
atendê-las honestamente, a breve espaço sofrerás a espionagem das
inteligências que pervagam nas trevas, a converterem-te as horas em pasto
de vampirismo.
Escutarás sublimes revelações, inacessíveis ao sensório comum; todavia,
se não estiveres atento para com as ordenações da consciência laboriosa e
tranquila, em pouco tempo serás ouvido pelos agentes da sombra a
enredarem-te os passos no fojo de perturbações aviltantes.

Assimilarás o influxo mental de Espíritos nobres, domiciliados além da


Terra, e transmitir-lhes-ás a palavra construtiva em discursos admiráveis;
contudo, se não demonstras reta conduta à frente dos outros, no exemplo
vivo do trabalho e do entendimento, sem demora te encontrarás envolvido
nas vibrações de criaturas retardadas e delinquentes, a chumbarem-te os pés
na fossa da obsessão.
Psicografarás páginas brilhantes, nas quais a ciência e a fé se estampam,
divinas; no entanto, se teus braços desertam do serviço santificante,
transformar-te-ás facilmente no escriba da vaidade e da insensatez.

Fornecerás importantes notícias do mundo espiritual, utilizando recursos


ainda ignorados pela percepção dos teus ouvintes; entretanto, se foges do
estudo que te faculta discernimento, serás para logo detido no nevoeiro da
ignorância.
Se a mediunidade evidente é tarefa que te assinala o roteiro, não te
afastes dos compromissos que a vida te impõe.

Sobretudo, lembra-te sempre de que o talento mediúnico, encerrado nas


tuas mãos, deve ser a tela digna em que os mensageiros da Espiritualidade
Maior possam criar as obras-primas da caridade e da educação, porquanto,
de outro modo, se buscas comprazimento na indisciplina, do pano roto de
tuas energias descontroladas surgirá simplesmente a caricatura das bênçãos
que te propunhas veicular, debuxada pelos artistas do escárnio, que se valem
da fantasia, a detrimento da luz.
17
Jesus e humildade

Reunião pública de 9/3/59


Questão nº 937

Estudando a humildade, vejamos como se comportava Jesus no


exercício da sublime virtude.

Decerto, no tempo em que ao mundo deveria surgir a mensagem da Boa-


Nova, poderia permanecer na glória celeste e fazer-se representar entre os
homens pela pessoa de mensageiros angélicos, mas preferiu descer, Ele
mesmo, ao chão da Terra, e experimentar-lhe as vicissitudes.
Indubitavelmente, contava com poder bastante para anular a sentença de
Herodes que mandava decepar a cabeça dos recém-natos de sua condição,
com o fim de impedir-lhe a presença; entretanto, afastou-se prudentemente
para longínquo rincão, até que a descabida exigência fosse necessariamente
proscrita.

Dispunha de vastos recursos para se impor em Jerusalém, ao pé dos


doutores que lhe negavam autoridade no ensino das novas revelações;
contudo, retirou-se sem mágoa em demanda de remota província, a valer-se
dos homens rudes que lhe acolhiam a palavra consoladora.

Possuía suficiente virtude para humilhar a filha de Magdala, dominada


pela força das sombras; no entanto, silenciou a própria grandeza moral para
chamá-la docemente ao reajuste da vida.

Atento à própria dignidade, era justo mandasse os discípulos ao


encontro dos sofredores para consolá-los na angústia e sarar-lhes a
ulceração; todavia, não renunciou ao privilégio de seguir, Ele mesmo, em
cada canto de estrada, a fim de ofertar-lhes alívio e esperança, fortaleza e
renovação.

Certo, detinha elementos para desfazer-se de Judas, o aprendiz


insensato; porém, apesar de tudo, conservou-o até o último dia da luta, entre
aqueles que mais amava.

Com uma simples palavra, poderia confundir os juízes que o rebaixavam


perante Barrabás, autor de crimes confessos; contudo, abraçou a cruz da
morte, rogando perdão para os próprios carrascos.
Por fim, poderia condenar Saulo de Tarso, o implacável perseguidor, a
penas soezes, pela intransigência perversa com que aniquilava a plantação
do Evangelho nascente; mas buscou-o, em pessoa, às portas de Damasco,
visitando-lhe o coração, por sabê-lo enganado na direção em que se movia.

Com Jesus, percebemos que a humildade nem sempre surge da pobreza


ou da enfermidade que tanta vez somente significam lições regeneradoras, e
sim que o talento celeste é atitude da alma que olvida a própria luz para
levantar os que se arrastam nas trevas e que procura sacrificar a si própria,
nos carreiros empedrados do Mundo, para que os outros aprendam, sem
constrangimento ou barulho, a encontrar o caminho para as bênçãos do Céu.
18
HERANÇA

Reunião pública de 13/3/59


Questão nº 264

O exemplo de ontem é a raiz oculta que deita as vergônteas floridas ou


espinhosas na árvore da tua experiência de hoje.

Tens do que deste, tanto quanto recolhes compulsoriamente do que


semeaste.
Nos pais irascíveis e intolerantes, recebes os parceiros de outras eras,
com os quais te acumpliciaste na delinquência, a fim de que lhes reconduzas
o passo à quitação perante a Lei.

Na esposa impertinente e enferma, surpreendes a mulher que viciaste a


distância de obrigações veneráveis, para que, à custa de abnegação e
carinho, lhe restaures no espírito a dignidade do próprio ser.
No companheiro insensato e infiel, tens o ânimo defrontado pelo homem
que desviaste de deveres santificantes, de modo a lhe despertares na
consciência, a preço de sofrimento e renúncia, as verdadeiras noções da
honra e da lealdade.

Nos filhos ingratos, encontras, de novo, aquelas mesmas criaturas que


atiraste ao precipício da irreflexão e da violência, a exigirem-te, em
sacrifício incessante, a escada do reajuste.

Nos empeços da vida social dolorosa e difícil, recuperas exatamente os


estorvos que armaste ao caminho alheio, para que venhas a esculpir, no
santuário das próprias forças, o respeito preciso para com a tarefa dos
outros.
No corpo mutilado ou desfalecente, impões a ti mesmo a resultante dos
abusos a que te dedicaste, esquecido de que todos os patrimônios da marcha
são empréstimos da Providência Maior e que sempre devolveremos em
época prevista.

Herdamos, assim, de nós mesmos tudo aquilo que se nos afigura


embaraço e miséria no cálice do destino.
Se desejas, portanto, conquistar em ti mesmo a vitória da luz, lembra-te,
cada dia, de que o meirinho da morte chegará de improviso, reclamando-te
em conta tudo aquilo que o mundo te confia à existência, sejam títulos
nobres e afeições respeitáveis, sejam posses e privilégios que perduram
apenas no escoar de alguns dias, para que, enfim, recebas, por vera
propriedade, os frutos bons ou maus de teus próprios exemplos, que
impelirão tua alma à descida na treva ou à glória imortal da divina ascensão.
19
CORRIGIR

Reunião pública de 16/3/59


Questão nº 822

Toda corrigenda, antes que se exprima em palavras, há de vazar-se em


amor para que a vida se eleve.

Senão vejamos, em comezinhos incidentes da Natureza.


Não amaldiçoarás a gleba que o deserto alcançou, mas oferecer-lhe-ás a
graça da fonte para que retorne aos talentos da produção.

Não condenarás o pântano em que a lama se acumulou, provocando a


inutilidade, mas drenar-lhe-ás o leito de lodo, a fim de que se restaure em
leira fecunda.
Não reprovarás simplesmente a veste que os detritos desfiguraram, mas
mergulhá-la-ás na água pura, recompondo-lhe a forma para a bênção da
serventia.

Não martelarás indiscriminadamente a máquina, cuja engrenagem se


nega à função devida, e sim lhe examinarás, com atenção, os implementos
defeituosos, de modo a recuperá-la para o justo exercício.

Não derrubarás a plantação nascente que a praga invadiu, mas


mobilizarás carinho e cuidado para libertá-la do elemento destruidor,
propiciando-lhe recurso preciso ao refazimento.
Não aniquilarás certa província corpórea, porque se mostre enfermiça,
mas fornecer-lhe-ás adequado remédio, normalizando-lhe os movimentos.

Repreensão sem paciência e esperança, ainda mesmo quando se


fundamente em razões respeitáveis, é semelhante ao punhal de ouro
fulgurando rara beleza, mas carreando consigo a visitação da morte.
Corrigir é ensinar e ensinar será repetir a lição, com bondade e
entendimento, tantas vezes quantas se fizerem necessárias.

Unge-te, pois, de compaixão, se desejas retificar e servir.


Lembra-te de que o próprio Cristo, embora portador de sublimes
revelações no tope do monte, antes de ministrar a Verdade à mente dos
ouvintes sequiosos de luz, ao reparar-lhes a fome do corpo, deu-lhes,
compassivo, um pedaço de pão.
20
Carrasco

Reunião pública de 20/3/59


Questão nº 913

Verdugo invisível, onde se lhe evidencie a influência, aparecem a


rebeldia e o azedume, preparando a perturbação e a discórdia.

Mostra-se na alma que lhe ouve as pérfidas sugestões, à maneira de fera


oculta a atirar-se sobre a presa.
Assimilando-lhe a faixa de treva, cai a mente em aflitiva cegueira,
dentro da qual não mais enxerga senão a si mesma.

E assim dominada, a criatura, ao pé dos outros, é a personificação da


exigência, desmandando-se, a cada instante, em reclamações descabidas,
incapaz de anotar os sofrimentos alheios. Pisa nas dores do próximo com a
dureza do bronze e recebe-lhe as petições com a agressividade do
espinheiro, expelindo pragas e maldições. Onde surge, pede os primeiros
lugares e, se lhos negam, à face das tarefas que a previdência organiza, não
se peja de evocar direitos imaginários, condenando, sem análise, tudo
quanto se lhe expõe ao discernimento. Desatendida nos caprichos
particulares com que se aproxima dos setores de luta que desconhece,
mastiga a maledicência ou gargalha o sarcasmo, lançando lodo e veneno
sobre nomes e circunstâncias que demandam respeito. Se alguém formula
ponderações, buscando-lhe o ânimo à sensatez, grita, desesperada, contra
tudo o que não seja adoração a si mesma, na falsa estimativa dos minguados
valores que carrega no fardo de ignorância e bazófia.
E, então, a pessoa, invigilante e infeliz, assim transformada em temível
fantasma de incompreensão e de intransigência, enrodilha-se na própria
sombra, como a tartaruga na carapaça, e, em lastimável isolamento de
espírito, não sabe entender ou perdoar para ser também perdoada e
entendida, enquistando-se na inconformação, que se lhe amplia no
pensamento e na atitude, na palavra e nos atos, tiranizando-lhe a vida, como
a enfermidade letal que se agiganta no corpo pela multiplicação
indiscriminada de perigosos bacilos.

Atingido esse estado d’alma, não adota outro rumo que não seja o da
crueldade com que, muitas vezes, se arroja ao despenhadeiro da
delinquência, associando-se a todos aqueles que se lhe afinam com as
vibrações deprimentes, em largas simbioses de desumanidade e loucura,
formando o pavoroso inferno do crime.
Irmãos, precatai-vos contra semelhante perseguidor, vestindo o coração
na túnica da humildade que tudo compreende e a todos serve, sem cogitar
de si mesma, porque esse estranho carrasco, que nos alenta o egoísmo, em
toda parte chama-se orgulho.
21
Obterás

Reunião publica de 23/3/59


Questão nº 660

Obterás o que pedes.

Não olvides, contudo, que a vida nos responde aos requerimentos,


conforme a nossa conduta na petição.
Sedento, se buscas a água do poço, vasculhando-lhe o fundo, recolherás
tão somente nauseante caldo do lodo.

Faminto, se atiras lama ao vaso que te alimenta, engolirás substância


corrupta.
Cansado, se procuras o leito, comunicando-lhe fogo à estrutura, deitar-
te-ás numa enxerga de cinzas.

Doente, se injurias a medicação que se te aconselha, alterando-lhe as


doses, prejudicarás o próprio organismo.

Isso acontece porque a fonte, encravada no solo, é constrangida a


guardar os detritos com que lhe poluem o seio; o prato é forçado a reter os
resíduos que se lhe imponham à face; o colchão é impelido a desintegrar-se
ao calor do incêndio, e o remédio, aplicado com desrespeito, pode exercer
ação contrária a seus fins.
Ocorre o mesmo, em plena analogia de circunstâncias, na esfera
ilimitada do espírito.

Desesperado ou infeliz, desanimado ou descrente, não te valhas do


irmão de que te socorres, tentando convertê-lo em cobaia para teus
caprichos, porque toda alma é um espelho para outra alma e teremos nos
outros o reflexo de nós mesmos.
Sombra projetada significa sombra de volta.

Negação cultivada pressagia a colheita de negação.

Se aspiras a desembaraçar-te das trevas, não desajustes a tomada


humilde, capaz de trazer-te a força da usina.

Oferece-lhe meios simples para o trabalho certo e a luz se fará correta na


lâmpada.
Clareia para que te clareiem.

Auxilia para que te auxiliem.

Estuda, servindo, para que o cérebro hipertrofiado não te resseque o


coração distraído.
Indaga, edificando, para que a inércia te não confunda.

Fortaleçamos o bem para que o bem nos encoraje.


Compreendamos a luta do próximo, a fim de que o próximo nos entenda
igualmente a luta.

Lembra-te, pois, da eficácia da prece e ora, fazendo o melhor, para que o


melhor se te faça, sem te esqueceres jamais de que toda rogativa alcança
resposta segundo o nosso justo merecimento.
22
Ante falsos profetas

Reunião pública de 30/3/59


Questão nº 624

Acautela-te em atribuir aos falsos profetas o fracasso de teus


empreendimentos morais.

Recorda que todos somos tentados, segundo a espécie de nossas


imperfeições.
Não despertarás a fome do peixe com uma isca de ouro, nem atrairás a
atenção do cavalo com um prato de pérolas, mas, sim, ofertando-lhes à
percepção leve bocado sangrento ou alguma concha de milho.

Desse modo, igualmente, todos somos induzidos ao erro, na pauta de


nossa própria estultícia.
Dominados de orgulho, cremos naqueles que nos incitam à vaidade e,
sedentos de posse, assimilamos as sugestões infelizes de quantos se
proponham explorar-nos a insensatez e a cobiça.

É preciso lembrar que todos somos, no traje físico ou dele


desenfaixados, espíritos a caminho, buscando na luta e na experiência os
fatores da evolução que nos é necessária, e que, por isso mesmo, se já
somos aprendizes do Cristo, temos a obrigação de buscar-lhe o exemplo
para metro ideal de nossa conduta.

Não vale, assim, alegar confiança na palavra de quantos nos sustentem a


fantasia, com respeito a fictícios valores de que sejamos depositários, no
pressuposto de que venham até nós, na condição de desencarnados; pois que
a morte do corpo é, no fundo, simples mudança de vestimenta, sem afetar,
na maioria das circunstâncias, a nossa formação espiritual.
“Não creias, desse modo, em todo Espírito” – diz-nos o Apóstolo –,
porquanto semelhante atitude envolveria a crença cega em nossos próprios
enganos, com a exaltação de reiterados caprichos.

O ouvido que escuta é irmão da boca que fala.


Ilusão admitida é nossa própria ilusão.

Apetite insuflado é apetite que acalentamos.


Mentira acreditada é a própria mentira em nós.

Crueldade aceita é crueldade que nos pertence.

De alguma sorte, somos também a força com a qual entramos em


sintonia.
Procuremos, pois, o Mestre dos mestres como sendo a luz de nosso
caminho. E cotejando, com as lições dEle, avisos e informes, mensagens e
advertências que nos sejam endereçados, desse ou daquele setor de
esclarecimento, aprenderemos, sem sombra, que a humildade e o serviço
são nossos deveres de cada hora, para que a verdade nos ilumine e para que
o amor puro nos regenere, preservando-nos, por fim, contra o assédio de
todo mal.
23
Sofrimento e eutanásia

Reunião pública de 3/4/59


Questão nº 944

Quando te encontres diante de alguém que a morte parece nimbar de


sombra, recorda que a vida prossegue, além da grande renovação...

Não te creias autorizado a desferir o golpe supremo naqueles que a


agonia emudece, a pretexto de consolação e de amor, porque, muita vez, por
trás dos olhos baços e das mãos desfalecentes que parecem deitar o último
adeus, apenas repontam avisos e advertências para que o erro seja sustado
ou para que a senda se reajuste amanhã.
Ante o catre da enfermidade mais insidiosa e mais dura, brilha o socorro
da Infinita Bondade facilitando, a quem deve, a conquista da quitação. Por
isso mesmo, nas próprias moléstias reconhecidamente obscuras para a
diagnose terrestre, fulgem lições cujo termo é preciso esperar, a fim de que
o homem lhes não perca a essência divina.

E tal acontece, porque o corpo carnal, ainda mesmo o mais mutilado e


disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento em que a
alma é chamada a acender a flama de evolução.

É por esse motivo que no mundo encontramos, a cada passo, trajes


físicos em figurino moral diverso.

Corpos – santuários...

Corpos – oficinas...
Corpos – bênçãos...

Corpos – esconderijos...
Corpos – flagelos...
Corpos – ambulâncias...

Corpos – cárceres...

Corpos – expiações...

Em todos eles, contudo, palpita a concessão do Senhor, induzindo-nos


ao pagamento de velhas dívidas que a Eterna Justiça ainda não apagou.
Não desrespeites, assim, quem se imobiliza na cruz horizontal da doença
prolongada e difícil, administrando-lhe o veneno da morte suave, porquanto,
provavelmente, conhecerás também mais tarde o proveitoso decúbito
indispensável à grande meditação.

E usando bondade para os que atravessam semelhantes experiências,


para que te não falte a bondade alheia no dia de tua experiência maior,
lembra-te de que, valorizando a existência na Terra, o próprio Cristo
arrancou Lázaro às trevas do sepulcro, para que o amigo dileto conseguisse
dispor de mais tempo para completar o tempo necessário à própria
sublimação.
24
Reencarnação

Reunião pública de 6/4/59


Questão nº 617

Reencarnação nem sempre é sucesso expiatório, como nem toda luta no


campo físico expressa punição.

Suor na oficina é acesso à competência.


Esforço na escola é aquisição de cultura.

Porque alguém se consagre hoje à Medicina, não quer isso dizer que
haja ontem semeado moléstias e sofrimentos.
Muitas vezes, o Espírito, para senhorear o domínio das ciências que
tratam do corpo, voluntariamente lhes busca o trato difícil, no rumo de mais
elevada ascensão.

Porque um homem se dedique presentemente às atividades da


engenharia, não exprime semelhante escolha essa ou aquela dívida do
passado na destruição dos recursos da Terra.

Em muitas ocasiões, o Espírito elege esse gênero de trabalho, tentando


crescer no conhecimento das leis que regem o plano material, em marcha
para mais altos postos na Vida Superior.
Entretanto, se o médico ou o engenheiro sofrem golpes mortais no
exercício da profissão a que se devotam, decerto nela possuem serviço
reparador que é preciso atender na pauta das corrigendas necessárias e
justas.

Toda restauração exige dificuldades equivalentes. Todo valor evolutivo


reclama serviço próprio.
Nada existe sem preço.
Por esse motivo, se as paixões gritam jungidas aos flagelos que lhes
extinguem a sombra, as tarefas sublimes fulgem ligadas às renunciações que
lhes acendem a luz.

À vista disso, não te habitues a medir as dores alheias pelo critério de


expiação, porque, quase sempre, almas heroicas que suportam o fogo
constante das grandes dores morais, no sacrifício do lar ou nas lutas do
povo, apenas obedecem aos impulsos do bem excelso, a fim de que a
negação do homem seja bafejada pela esperança de Deus.
Recorda que, se fosses arrebatado ao Céu, não tolerarias o gozo
estanque, sabendo que os teus filhos se agitam no torvelinho infernal. De
imediato, solicitarias a descida aos tormentos da treva para ajudá-los na
travessia da angústia...

Lembra-te disso e compreenderás, por fim, a grandeza do Cristo que,


sem débito algum, condicionou-se às nossas deficiências, aceitando, para
ajudar-nos, a cruz dos ladrões, para que todos consigamos, na glória de seu
amor, soerguer-nos da morte no erro à bênção da Vida Eterna.
25
Muito e pouco

Reunião pública de 10/4/59


Questão nº 716

É na bênção do “pouco” que rasgas, de imediato, a senda ideal para o


sol da alegria.

Enquanto o “muito” é constrangido a sopesar responsabilidades maiores,


no campo dos compromissos que envolvem o bem geral, podes, com o fruto
do teu trabalho, semear a divina felicidade que nasce do coração.
Dentro do “pouco” que te limita a existência, atenderás, desse modo, às
necessidades que, hoje, aparentemente sem expressão, quais sementes
desvaliosas, serão, de futuro, verdadeiras messes de talentos celestiais.

É assim que solucionarás modestas despesas de conteúdo sublime, quais


sejam:
• O copo de leite para a criança necessitada...

• A sopa eventual para os que passam sem rumo...

• O remédio para o doente esquecido...

• O socorro fraterno às mães caídas em abandono...

• O agasalho singelo aos hóspedes da calçada...


• O prato adequado ao enfermo difícil...

• O colchão que alivie o paralítico em sombra...

• A lembrança espontânea que ampara o menino triste...


• O concurso silencioso, conquanto humilde, em favor do amigo
hospitalizado...
• O serviço discreto às casas beneficentes...

• O livro renovador ao companheiro em desânimo...

• A gentileza para com o vizinho enjaulado na provação...

• A cooperação indiscriminada a esse ou àquele setor de luta...


Não esperes, portanto, que a vida te imponha uma cruz de ouro para
ajudar e servir.

Lembra-te de que os chamados ricos, por se encarcerarem nas algemas


do “muito”, nem sempre podem auxiliar, sem delongas, presas que são de
suspeitas atrozes, na defensiva dos patrimônios que foram chamados a
manobrar, na extensão do progresso...

Ora por eles, ao invés de reprochar-lhes a hesitação e a conduta,


porquanto, se tens amor, sairás de ti mesmo com o “pouco” abençoado que
o Senhor te confia e, de pronto, obedecerás ao próprio Senhor, espalhando,
em Seu nome, a força da paz e o benefício da luz.
26
Na Terra e no Além

Reunião pública de 13/4/59


Questão nº 807

Interessado em desfrutar vantagens transitórias no imediatismo da


existência terrestre, quase sempre o homem aspira à galhardia de
apresentação e a porte distinto, elegância e domínio, no quadro social em
que se expressa; entretanto, conduzido à Esfera Superior, pela influência
renovadora da morte, identifica as próprias deficiências, na tela dos
compromissos inconfessáveis a que se junge, e implora da Providência
Divina determinados favores na reencarnação, que envolvem, de perto, o
suspirado aprimoramento para a Vida Maior.

É assim que cientistas famosos, a emergirem da crueldade, rogam


encarceramento na idiotia; políticos hábeis, que abusaram das coletividades
a que deviam proteção e defesa, suplicam inibições cerebrais que os
recolham a precioso ostracismo; administradores dos bens públicos que não
hesitaram em esvaziar os cofres do povo, a favor da economia particular,
solicitam raciocínio obtuso que lhes entrave a sagacidade para o furto
aparentemente legal; criminosos que brandiram armas contra os
semelhantes requisitam braços mutilados, assinando aflitivas sentenças
contra si mesmos; suicidas que menosprezaram as concessões do Senhor,
atendendo a deploráveis caprichos, recorrem a organismos quebrados ou
violentados no berço, para repararem as faltas cometidas contra si mesmos;
tribunos da desordem pedem os embaraços da gaguez; artistas que se
aviltaram, arrastando emoções alheias às monstruosidades da sombra,
invocam a internação na cegueira física; caluniadores eminentes, que não
vacilaram no insulto ao próximo, requerem o martírio silencioso dos surdos-
mudos; desportistas eméritos e bailarinos de prol, que envileceram os dons
recebidos da Natureza, exoram nervos doentes e glândulas deficitárias que
os segreguem a distância de novas quedas morais; traidores que expuseram
corações respeitáveis, no pelourinho da injúria, demandam a própria
detenção no catre dos paralíticos; mulheres que desertaram da excelsa
missão feminina, a se prostituírem na preguiça e na delinquência, solicitam
moléstias ocultas que lhes impeçam a expansão do sentimento enfermiço, e
expoentes da beleza e da graça que corromperam a perfeição corpórea,
convertendo-a em motivo para transgressões lamentáveis, requestam longos
estágios em quadros penfigosos (doença na pele) que lhes desfigurem a
forma, de modo a expiarem nas chagas da presença inquietante as culpas
ominosas (nefasto; execrável; abominável )que lhes agoniam os
pensamentos...

Ajudai-vos, assim, buscando no auxílio constante aos outros o


pagamento facilitado das dívidas do pretérito, porquanto, amanhã, sereis na
Espiritualidade as consciências que hoje somos, abertas à fiscalização da
Verdade, com a obrigação de conhecer em nós mesmos a ulceração da treva
e a carência da luz.
27
Palavra aos espíritas

Reunião pública de 17/4/59


Questão nº 798

Espiritismo revivendo o Cristianismo – eis a nossa responsabilidade.

Como outrora Jesus revelou a Verdade em amor, no seio das religiões


bárbaras de há dois mil anos, usando a própria vida como espelho do
ensinamento de que se fizera veículo, cabe agora ao Espiritismo confirmar-
lhe o ministério divino, transfigurando-lhe as lições em serviço de
aprimoramento da Humanidade.
Espíritas!

Lembremo-nos de que templos numerosos, há muitos séculos, falam


dEle, efetuando porfiosa corrida ao poder humano, olvidando-lhe a
abnegação e a humildade.
E porque não puderam acomodar-se aos imperativos do Evangelho,
fascinados que se achavam pela posse da autoridade e do ouro, erigiram
pedestais de intolerância para si mesmos.

Todavia, a intolerância é a matriz do fratricídio, e o fratricídio é a guerra


de conquista em ação. E a lei da guerra de conquista é o império da rapina e
do assalto, da insolência e do ódio, da violência e da crueldade,
proscrevendo a honra e aniquilando a cultura, remunerando a astúcia e
laureando o crime, acendendo fogueiras e semeando ruínas em rajadas de
sangue e destruição.

Somos, assim, chamados à tarefa da restauração e da paz, sem que essa


restauração signifique retorno aos mesmos erros e sem que essa paz traduza
a inércia dos pântanos.
É imprescindível estudar educando e trabalhar construindo.
Não vos afasteis do Cristo de Deus, sob pena de converterdes o
fenômeno em fator de vossa própria servidão às cidadelas da sombra, nem
algemeis os punhos mentais ao cientificismo pretensioso.

Mantende o cérebro e o coração em sincronia de movimentos, mas não


vos esqueçais de que o Divino Mestre superou a aridez do raciocínio com a
água viva do sentimento, a fim de que o mundo moral do homem não se
transforme em pavoroso deserto.
Aprendamos do Cristo a mansidão vigilante.

Herdemos do Cristo a esperança operosa.


Imitemos do Cristo a caridade intemerata.

Tenhamos do Cristo o exemplo resoluto.

Saibamos preservar e defender a pureza e a simplicidade de nossos


princípios.
Não basta a fé para vencer. É preciso que a fidelidade aos compromissos
assumidos se nos instale por chama inextinguível na própria alma.

Nem conflitos estéreis.


Nem fanatismo dogmático.

Nem tronos de ouro.

Nem exotismos.
Nem perturbação fantasiada de grandeza intelectual.

Nem bajulação às conveniências do mundo.


Nem mensagens de terror.

Nem vaticínios mirabolantes.

Acima de tudo, cultuemos as bases codificadas por Allan Kardec, sob a


chancela do Senhor, assinalando-nos as vidas renovadas, no rumo do Bem
Eterno.

O Espiritismo, desdobrando o Cristianismo, é claro como o Sol.


Não nos percamos em labirintos desnecessários, porquanto ao espírita
não se permite a expectação da miopia mental.

Sigamos, pois, à frente, destemerosos e otimistas, seguros no dever e


leais à própria consciência, na certeza de que o nome de Nosso Senhor
Jesus-Cristo está empenhado em nossas mãos.
28
Desce elevando

Reunião pública de 20/4/59


Questão nº 1.018

Desce, elevando aqueles que te comungam a convivência, para que a


vida em torno suba igualmente de nível.

Se sabes, não firas o ignorante. Oferece-lhe apoio para que se liberte da


sombra.
Se podes, não oprimas o fraco. Ajuda-o, de alguma sorte, a fortalecer-se,
para que se faça mais útil.

Se entesouraste a virtude, não humilhes o companheiro que o vicio


ensandece. Estende-lhe a bênção do amor como adequada medicação.
Se te sentes correto, não censures o irmão transviado em desajustes do
espírito. Dá-lhe o braço fraterno para que se renove.

Se ajudas, não recrimines quem te recebe o socorro. Pão amaldiçoado é


veneno na boca.

Se ensinas, não flageles quem te recebe a lição. Benefício com açoite é


mel em taça candente.
Auxilia em silêncio para que o teu amparo não se converta em tributo
espinhoso na sensibilidade daqueles que te recolhem a dádiva, porque toda
caridade a exibir-se no palanque das conveniências do mundo é sempre
vaidade, em forma de serpe no coração, e toda modéstia que pede o apreço
dos outros, para exprimir-se, é sempre orgulho em forma de lodo nos
escaninhos da alma.

Nesse sentido, não te esqueças do Mestre que desceu até nós, revelando-
nos como sublimar a existência.
Anjo entre os anjos, faz-se pobre criança necessitada do arrimo de
singelos pastores; sábio entre os sábios, transforma-se em amigo anônimo
de pescadores humildes, comungando-lhes a linguagem; instrutor entre os
instrutores, detém-se, bondoso, entre enfermos e aflitos, crianças e
mendigos abandonados, para abraçar-lhes a luta e, juiz dos juízes, não se
revolta por sofrer no tumulto da praça o iníquo julgamento do povo que o
prefere a Barrabás, para os tormentos imerecidos.

Todavia, por descer, elevando quantos lhe não podiam compreender a


refulgência da altura, é que se fez o caminho de nossa ascensão espiritual, a
verdade de nosso gradativo aprimoramento e a vida de nossas vidas, a
erguer-nos a alma entenebrecida no erro, para a vitória da luz.
29
Versão prática

Reunião pública de 24/4/59


Questão nº 627

Reconhecendo, embora, a alusão de Jesus aos povos de seu tempo,


quando traçou a parábola do festim das bodas, recordemos o caráter
funcional do Evangelho e busquemos a versão prática da lição para os
nossos dias.

Compreendendo-se que todos os recursos da vida são pertences de Deus,


anotaremos o divino convite à lavoura do bem, em cada lance de nossa
marcha.
Os apelos do Céu, em forma de concessões, para que os homens se
ergam à Lei do Amor, voam na Terra em todas as latitudes. Todavia, raros
registram-lhes a presença.

Há quem recebe o dote da cultura, bandeando-se para as fileiras da


vaidade; quem recolhe a mordomia do ouro, descendo para os antros da
usura; quem senhoreia o tesouro da fé, preferindo ajustar-se ao comodismo
da dúvida malfazeja; quem exibe o talento da autoridade, isolando-se na
fortificação da injustiça; quem dispõe da riqueza das horas, mantendo-se no
desvão da ociosidade, e quem frui o dom de ajudar, imobilizando-se no
palanque da crítica.
Quase todos os detentores dos privilégios sublimes lhes conspurcam a
pureza.

Contudo, quando mais se acreditam indenes de responsabilidade e


trabalho, eis que surge o sofrimento por mensageiro mais justo, convocando
bons e menos bons, felizes e infelizes, credores e devedores, vítimas e
verdugos ao serviço da perfeição, e, sacudidos nos refolhos do próprio ser,
os pobres retardatários anseiam libertar-se do egoísmo e da sombra,
consagrando-se, enfim, à obra do bem de todos, em cuja exaltação é
possível reter a celeste alegria.

Entretanto, ainda aí, repontam, desditosos, espíritos rebeldes, agressivos


e ingratos.
Para eles, porém, a vida, nessa fase, reserva tão-somente a cessação do
ensejo de avanço e reajuste, porquanto, jugulados pela própria loucura, são
forçados na treva a esperar que o futuro lhes oferte ao caminho o tempo
expiatório em cárceres de dor.

Desse modo, se a luta vos concita a servir para o Reino de Deus, com a
aflição presidindo os vossos novos passos, tende na paciência a
companheira firme, a fim de que a humildade, por excelsa coroa, vos guarde
o coração na beleza e na alvura da caridade em Cristo, que vos fará vestir a
túnica da paz no banquete da luz.
30
Orientação espírita

Reunião pública de 27/4/59


Questão nº 802

Declaras-te necessitado de orientação para que te faças melhor ante o


Cristo de Deus; todavia, o Espiritismo, em nos revelando a Vida Maior,
expõe claramente a essência e o plano de nossas obrigações.

Todos somos férteis em petições ao Senhor, invocando-lhe auxílio,


esquecendo-nos, contudo, de que no campo das necessidades humanas
clama o Senhor igualmente por nossos braços.
Não peças, assim, a outrem para que te empreste os ouvidos.

Ouçamos o apelo da Esfera Superior que nos pede melhoria para que o
mundo melhore.
Do degrau de conhecimento a que te elevas, descortinarás o vale imenso
em que se movem nossos irmãos nos labirintos da experiência.

Muitos enlouqueceram de dor sobre o ataúde de um coração, em troca


do qual dariam a própria vida, outros jazem parafusados em catres de
sofrimento. Multidões deles mascaram-se de alegria, despedaçados
intimamente por lâminas de aflição e remorso, e outros muitos se alistam, a
serviço das trevas, arrastando-se, espantados, na lama taciturna do crime...

Contempla as estradas que se entrecruzam na sombra. Há quem agoniza


no desespero, quem se afoga no vício, quem cambaleia de angústia, quem se
requeima, sem perceber, no fogo da ambição desmedida, quem transfigura a
oração em blasfêmia e quem mitiga a sede nas próprias lágrimas.
Desce do pedestal em que te levantas e estende-lhes mãos amigas.

Quem sabe?
É possível que semelhantes companheiros de luta estejam contigo, entre
as paredes da própria casa.

Envolvidos no nevoeiro da ilusão e da ignorância, rogam-te socorro na


cartilha do exemplo, para que se libertem do desajuste a que se escravizam.
Não te queixes, nem te revoltes.

Não censures, nem firas.


Ampara-os a todos, como e quanto puderes.

Não importa pertençam a outros lares, outros credos, outras raças, outras
bandeiras...

A caridade, filha de Deus, não tem ponto de vista. Recorda que o


Senhor, cada dia, te situa a presença no lugar certo, onde possas servir mais
e melhor, no momento justo.
Desse modo, não solicites ao irmão do caminho te trace roteiro às
atividades, porque o próximo está vinculado a problemas que desconheces.

Lembra-te de que somos chamados a ajudar e sublimar hoje e sempre, e


de que, se estás anotado entre os homens pela feição que aparentas, perante
a Verdade serás conhecido pelo que és.
Empenha-te, pois, em merecer a aprovação da tua consciência pelo bem
que pratiques e pela justiça que faças, pela paz que entesoures e pela tarefa
que realizes, porquanto, se te devotas ao serviço da perfeição em ti mesmo,
perceberás, no que tange ao aprimoramento dos outros, que, seja onde for e
com quem for, a Bondade de Deus fará sempre o resto.
31
Veneno

Reunião pública de 4/5/59


Questão nº 938

Corrosivo no coração, a surgir do conúbio entre a revolta e o desânimo,


tisna o manancial da emotividade e sobe à cabeça em forma de nuvem. E,
chegado ao cérebro, transfigura o pensamento em plasma sutil de lodo,
conturbando a visão que se envolve em clamoroso desequilíbrio.

A vítima, desse modo, não mais enxerga o bem que o Céu espalha em
tudo, para ver simplesmente o mal que traz consigo, e imagina, apressada,
espinheiros e pântanos onde há flores e bênçãos, mentalizando o crime onde
brilha a virtude. Em funesto delírio, chega a lançar de si escárnio e
vilipêndio à própria Natureza que revela a Bondade Infinita de Deus.
Mas o agente sombrio não descansa nos olhos, porque invade os
ouvidos, procurando a maldade nas palavras do amor, e descendo, letal, para
a zona da língua, converte a boca em fossa de azedia e amargura,
concitando os ouvintes ao império da sombra, como se pretendesse
escurecer o Sol e enlutar as estrelas.

Desde então, julga achar em toda criatura expoente do vício, aceitando a


suspeita em lugar da esperança e exaltando a mentira, com que faz de si
mesma um campo deplorável de aspereza e loucura.
Paralisando as mãos na preguiça insensata, acusa o mundo e a vida, sem
doar-lhes a menor expressão de auxílio e entendimento.

E atingindo o apogeu da demência cruel, acalenta, infeliz, o desejo da


morte, com a qual se precipita à cova do suicídio, para sofrer, depois, a
expiação tremenda do insulto à Lei Divina e da injúria a si mesma.

Guardai-vos, pois, assim, no clima luminoso do serviço constante,


amando e perdoando, ajudando e aprendendo, porquanto esse veneno que
corrói a alma humana, dela fazendo, enfim, triste charco de trevas, chama-
se pessimismo.
32
O obreiro do Senhor

Reunião pública de 8/5/59


Questão nº 897

Cada criatura mora espiritualmente na seara a que se afeiçoa.

É assim que, se o justo arrecada prêmios da retidão, o delinquente, em


qualquer parte, recolhe os frutos do crime.
O obreiro do Senhor, por isso mesmo, onde surja, é conhecido por traços
essenciais.

Não cogita do próprio interesse.


Não exige cooperação para fazer o bem.

Não cria problemas.

Não suspeita mal.


Não cobra tributos de gratidão.

Não arma ciladas.

Não converte o serviço em fardo insuportável nos ombros do


companheiro.

Não transforma a verdade em lâmina de fogo no peito dos semelhantes.

Não reclama santidade nos outros, para ser útil.


Não fiscaliza o vintém que dá.

Não espia os erros do próximo.


Não promove o exame das consciências alheias.
Não se cansa de auxiliar.

Não faz greve por notar-se desatendido.

Não desconhece as suas fraquezas.

Não cultiva espinheiros de intolerância.


Não faz coleção de queixas.

Não perde tempo em lutas desnecessárias.

Não tem a boca untada com veneno.


Não sente cóleras sagradas.

Não ergue monumentos ao derrotismo.


Não se impacienta.

Não se exibe.

Não acusa.
Não critica.

Não se ensoberbece.

Entretanto, frequentemente aparece na Seara Divina quem condene os


outros e iluda a si mesmo, supondo-se na posse de imaginária dominação.

O obreiro do Senhor, todavia, encarnado ou desencarnado, em qualquer


senda de educação e em qualquer campo religioso, segue à frente, ajudando
e compreendendo, perdoando e servindo, para cumprir-lhe, em tudo, a
sacrossanta Vontade.
33
Oração e provação

Reunião pública de 11/5/59


Questão nº 663

A oração não suprime, de imediato, os quadros da provação, mas


renova-nos o espírito, a fim de que venhamos a sublimá-los ou removê-los.

Repara o caminho que a névoa amortalha, quando a noite escura te


distância do Sol.
Em cima, nuvens extensas furtam-te aos olhos o painel das estrelas e,
em baixo, espinheiros e precipícios ameaçam-te os pés.

Debalde, consultarás a bússola que a treva densa embacia.


Se avanças, é possível te arrojes na lama de covas escancaradas; se
paras, é provável padeças o assalto de traiçoeiros animais...

Faze, porém, pequenina luz, e tudo se modifica.

O charco não perde a feição de pântano e a pedra mantém-se por desafio


que te adverte na estrada; entretanto, podendo ver, surgirás, transformado e
seguro, para seguir à frente, vencendo as armadilhas da sombra e as
aperturas da marcha.
Assim, também, é a oração nos trilhos da experiência.

Quando a dor te entenebrece os horizontes da alma, subtraindo-te a


serenidade e a alegria, tudo parece escuridão envolvente e derrota
irremediável, induzindo-te ao desânimo e insuflando-te o desespero;
todavia, se acendes no coração leve flama da prece, fios imponderáveis de
confiança ligam-te o ser à Providência Divina.
Exteriormente, em torno, o sofrimento não se desfaz da catadura
sombria; a morte, ainda e sempre, é o véu de dolorosa separação; a prova é
o mesmo teste inquietante e o golpe da expiação continua sendo a luta
difícil e inevitável, mas estarás, em ti próprio, plenamente refeito, no imo
das próprias forças, com a visão espiritual iluminada por dentro, a fim de
que compreendas, acima das tuas dores, o plano sábio da vida, que te ergue
dos labirintos do mundo à bênção do amor de Deus.
34
Responsabilidade e destino

Reunião pública de 15/5/59


Questão nº 470

O Criador, que estabelece o bem de todos como lei para todas as


criaturas, não cria Espírito algum para o exercício do mal.

A criatura, porém, na Terra ou fora da Terra, segundo o princípio de


responsabilidade, ao transviar-se do bem, gera o mal por fecundação
passageira de ignorância que ela mesma, atendendo aos ditames da
consciência, extirpará do próprio caminho, em tantas existências de
abençoada reparação, quantas se fizerem indispensáveis.
Deus concede ao homem os agentes da nitroglicerina e da areia e
inspira-lhe a formação da dinamite, por substância explosiva capaz de
auxiliá-lo na construção de estradas e moradias, mas o artífice do progresso,
quase sempre, abusa do privilégio para arrasar ou ferir, adquirindo dividas
clamorosas em sementeiras de ódio e destruição; empresta-lhe a morfina por
alcalóide (Alcaloide é uma substância de caráter básico derivada
principalmente de plantas que contém, em sua fórmula, basicamente
nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e carbono) beneficente, a fim de acalmar-
lhe a dor, entretanto, enfermo amparado, em muitas ocasiões escarnece do
socorro divino, transformando-o em corrosivo entorpecente das próprias
forças, com que prejudica as funções de seu corpo espiritual em largas
faixas de tempo; galardoa-o com o ferro, por elemento químico flexível e
tenaz, de modo a ajudá-lo na indústria e na arte, todavia, o servo da
experiência, em muitas circunstâncias, converte-o no instrumento da morte,
a desajustar-se em compromissos escusos, que lhe reclamam agonia e suor,
em séculos numerosos; dá-lhe o ouro por metal nobre, suscetível de
enriquecer-lhe o trabalho e desenvolver-lhe a cultura, mas o mordomo da
posse nele talha, frequentemente, o grilhão de sovinice e miséria em que se
amesquinha a si mesmo; e confere-lhe a onda radiofônica para os serviços
da verdadeira fraternidade entre os povos, mas o orientador do intercâmbio,
por vezes, nela transmite notas macabras, em que promove o aniquilamento
de populações indefesas, agravando-se em débitos aflitivos para o futuro.

É assim que o Supremo Senhor nos cede os dons inefáveis da vida,


como sejam as bênçãos do corpo e da alma e os tesouros do amor e da
inteligência.
Do uso feliz ou infeliz de semelhantes talentos, resultam para nós vitória
ou derrota, felicidade ou infortúnio, saúde ou moléstia, harmonia ou
desequilíbrio, avanço ou retardamento nos caminhos da evolução.

Examina, pois, a ti mesmo e encontrarás a extensão e a natureza de tua


dívida, pela prova que te procura ou pela tentação que padeces, porque o
bem verte, puro, de Deus, enquanto que o mal é obra que nos pertence –
transitório fantasma de rebeldia e ilusão que criamos, ante as leis do
destino, por conta própria.
35
Mensageiros divinos

Reunião pública de 18/5/59


Questão nº 501

Ser-nos-á sempre fácil discernir a presença dos mensageiros divinos ao


nosso lado, pela rota do bem a que nos induzam.

Ainda mesmo que tragam consigo o fulgor solar da Vida Celeste, sabem
acomodar-se ao nosso singelo degrau nas lides da evolução, ensinando-nos
o caminho da Esfera Superior. E ainda mesmo se alteiem a culminâncias
sublimes na ciência do Universo, ocultam a própria grandeza para guiar-nos
no justo aproveitamento das possibilidades em nossas mãos.
Sem ferir-nos de leve, fazem luz em nossas almas, a fim de que vejamos
as chagas de nossas deficiências, de modo a que venhamos saná-las na luta
do esforço próprio.

Nunca se prevalecem da verdade para esmagar-nos em nossa condição


de espíritos devedores, usando-a simplesmente como remédio dosado para
enfermos, para que nos ergamos ao nível da redenção, e nem se valem da
virtude que adquiriram para condenar as nossas fraquezas, empregando-a
tão só na paciência incomensurável em nosso favor, de modo a que a
tolerância nos não desampare à frente daqueles que sofrem dificuldades de
entendimento maiores que as nossas.
Se nos encontram batidos e lacerados, jamais nos aconselham qualquer
desforço ou lamentação e, sim, ajudam-nos a esquecer a crueldade e a
violência, com força bastante para não cairmos na posição de quem nos
insulta ou injuria, e, se nos surpreendem caluniados ou perseguidos, não nos
inclinam à revolta ou ao desânimo, mas recompõem as nossas energias
desconjuntadas, sustentando-nos na humildade e no serviço com que
possamos reajustar o pensamento de quem nos apedreja ou difama.

Erigem-se na estrada por invisível apoio aos nossos desfalecimentos


humanos e aclaram-nos a fé na travessia das dores que fizemos por merecer.

São rosas no espinheiral de nossas imperfeições, perfumando-nos a


agressividade com o bálsamo da indulgência, e estrelas que brilham na noite
de nossas faltas, acenando-nos com a confiança no esplendor da alvorada
nova, para que não chafurdemos o coração no lodo espesso do crime.
E, sobretudo, diante de toda ofensa, levantam-nos a fronte para o Justo
dos justos que expirou no madeiro, por resistir ao mal em suprema renúncia,
entre a glória do amor e a bênção do perdão.
36
O homem inteligente

Reunião pública de 22/5/59


Questão nº 592

Em verdade, o homem inteligente não é aquele que apenas calcula, mas


sim o que transfunde o próprio raciocínio em emoção para compreender a
vida e sublimá-la. Podendo senhorear as riquezas do mundo, abstém-se do
excesso para viver com simplicidade, sem desrespeitar as necessidades
alheias. Guardando o conhecimento superior, não se encastela no orgulho,
mas aproxima-se do ignorante para auxiliá-lo a instruir-se. Dispondo de
meios para fazer com que o próximo se lhe escravize ao interesse, trabalha
espontaneamente pelo prazer de servir. E, entesourando virtudes
inatacáveis, não se furta à convivência com as vítimas do mal, agindo, sem
escárnio ou condenação, para libertá-las do vício.

O homem inteligente, segundo o padrão de Jesus, é aquele que, sendo


grande, sabe apequenar-se para ajudar aos que caminham em subnível,
consagrando-se ao bem dos outros, para que os outros lhe partilhem a
ascensão para Deus.
37
O Guia real

Reunião pública de 25/5/59


Questão nº 625

Na procura de orientação para a conquista da felicidade suprema, com


base na alegria santificante, lembra-te de que não podes encontrar a diretriz
integral entre aqueles que te comungam a experiência terrestre.

Nem na tribuna dos grandes filósofos.


Nem no suor dos pioneiros da evolução.

Nem na retorta dos cientistas eméritos.


Nem no trabalho dos pesquisadores ilustres.

Nem na cátedra dos professores distintos.

Nem na veste dos sacerdotes abnegados.


Nem no bastão dos pastores experientes.

Nem no apelo dos porta-vozes de reivindicações coletivas.

Nem nas orientações dos administradores mais dignos.

Nem nos decretos dos legisladores mais nobres.

Nem no verbo flamejante dos advogados do povo.


Nem na palavra dos juízes corretos.

Nem na pena dos escritores enobrecidos.


Nem na força dos condutores da multidão.

Nem no grito contagioso dos revolucionários sublimes.


Nem nas arcas dos filantropos generosos.

Nem na frase incisiva dos pregadores ardentes.

Nem na mensagem reconfortante dos benfeitores desencarnados.

Em todos, surpreenderás, em maior ou menor porção, defeito e virtude,


fealdade e beleza, acertos e desacertos, sombras e luzes.
Cada um deles algo te ensina, beneficiando-te de algum modo; contudo,
igualmente caminham, vencendo com dificuldade a si mesmos... Cada um é
credor de nossa gratidão e de nosso respeito pelo amor e pela cultura que
espalha, mas no campo da Humanidade só existe um orientador completo e
irrepreensível.

Tendo nascido na palha, para doar-nos a glória da vida simples, expirou


numa cruz pelo bem de todos, a fim de mostrar-nos o trilho da eterna
ressurreição.

Sendo anjo, fez-se homem para ajudar e, sem cofres dourados, viveu
para os outros, descerrando os tesouros do coração.
É por isso que Allan Kardec, desejando indicar-nos o guia real da
ascensão humana, formulou a pergunta 625, em “O Livro dos Espíritos”,
indagando qual o Espírito mais perfeito que Deus concedeu ao mundo para
servir de modelo aos homens, e os mensageiros divinos responderam, na
síntese inolvidável: – “Jesus” –, como a dizer-nos que só Jesus é bastante
grande e bastante puro para ser integralmente seguido na Terra, como sendo
o nosso Mestre e Senhor.
38
Perseguidos

Reunião pública de 29/5/59


Questão nº 781

Batido no ideal de bem fazer, desculpa e avança à frente.

Açoitado no coração, enxuga as lágrimas e segue adiante.

A indulgência é a vitória da vítima e o olvido de todo mal é a resposta


do justo.

Acúleos despontam no corpo da haste verde, mas a rosa, em silêncio,


floresce, triunfante, por cima deles, enviando perfume ao céu.
Sombras da noite envolvem a paisagem terrestre na escuridão do nadir;
todavia, o Sol, sem palavras, expulsa as trevas, cada manhã, recuperando-a
para a alegria da luz.

Lembra-te dos perseguidos sem causa, que se refugiaram na paz da


consciência, em todas as épocas.

Sócrates bebe a cicuta que lhe impõem à boca; entretanto, ergue-se à


culminância da filosofia.

Estevão morre sob pedradas, abrindo caminho a três séculos de


flagelação contra o Cristianismo nascente; contudo, faz-se o padrão do
heroísmo e da resistência dos mártires que transformam o mundo.

Gutenberg é processado como devedor relapso, mas cria a imprensa,


desfazendo o nevoeiro medieval.
Jan Hus é queimado vivo, mas imprime novos rumos à fé.

Colombo expira abandonado numa enxerga em Valladolid; no entanto,


levanta-se, para sempre, na memória da América.
Galileu, preso e humilhado, desvenda ao homem nova contemplação do
Universo.

Lutero, vilipendiado, ressuscita as letras do Evangelho.


Giordano Bruno, atravessando pavoroso suplício, traça mais altos rumos
ao pensamento.

Lincoln tomba assassinado, mas extingue o cativeiro no clima de sua


pátria.

Pasteur é ironizado pela maioria de seus contemporâneos; no entanto,


renova os métodos da ciência e converte-se em benfeitor de todos os povos.

E, ainda ontem, Gandhi cai sob golpe homicida, mas consagra o


princípio de não violência.

Entre os perseguidores, contam-se os obsidiados, os intemperantes, os


depravados, os infelizes, os caluniadores, os calculistas e os criminosos, que
descem pelas torrentes do remorso para a necessária refundição mental nos
alambiques do tempo, mas, entre os perseguidos sem razão, enumeram-se
quase todos aqueles que lançam nova luz sobre as rotas da vida.
É por isso que Jesus, o Divino Governador da Terra, preferiu alinhar-se
entre os escarnecidos e injuriados, aceitando a morte na cruz, de maneira a
estender a glória do amor puro e a força do perdão, para que se aprimore a
Humanidade inteira.
39
Amanhã

Reunião pública de 19/6/59


Questão nº 166

Muitas vezes por semana repetimos a palavra “amanhã”.

Costumamos dizer “amanhã” para o vizinho que nos pede cooperação e


consolo.
Habitualmente relegamos para amanhã toda tarefa espinhosa.

Sempre que surge a dificuldade, pedindo maior esforço, apelamos para


amanhã.
Sem dúvida, o “amanhã” constitui luminosa esperança, com a renovação
do Sol no caminho, mas também representa o serviço que deixamos de
realizar.

É da lei que a conta durma com o devedor, acordando com ele no dia
seguinte.

No instituto da reencarnação, desse modo, transportamos conosco, seja


onde for, as oportunidades do presente e os débitos do passado.

É assim que os ricos de hoje, enquistados na avareza e no egoísmo,


voltarão amanhã no martírio obscuro dos pobres, para conhecerem, de perto,
as garras do infortúnio e as duras lições da necessidade; e os pobres,
envenenados de inveja e ódio, retornarão no conforto dos ricos, a fim de
saberem quanto custam a tentação e a responsabilidade de possuir; titulados
distintos do mundo, quais sejam os magistrados e os médicos, quando
menosprezam as concessões com que o Senhor lhes galardoa o campo da
inteligência, delas fazendo instrumento de escárnio às lutas do próximo,
ressurgirão no banco dos réus e no leito dos nosocômios, de modo a
experimentarem os problemas e as angústias do povo; filhos indiferentes e
ingratos tornarão como servos apagados e humildes no lar que enlameiam, e
pais insensatos e desumanos regressarão no tronco doméstico, recolhendo
nos descendentes os frutos amargos da criminalidade e do vício que
cultivaram com as próprias mãos; mulheres enobrecidas que fogem ao
ministério familiar, provocando o aborto delituoso pela fome de prazer,
reaparecerão enfermas e estéreis, tanto quanto homens válidos e robustos,
que envilecem a vida no abuso das forças respeitáveis da natureza,
ressurgirão na ribalta do mundo, carregando no próprio corpo o
desequilíbrio e a moléstia que adquiriram, invigilantes.

Não te esqueças, portanto, de que o bem é o crédito infalível no livro da


eternidade, e recorda que o “depois” será sempre a resultante do “agora”.
Todo dia é tempo de renovar o destino.

Todo instante é recurso de começar o melhor.


Não deixes, assim, para amanhã o bem que possas fazer.

Faze-o hoje.
40
Servir a Deus

Reunião pública de 5/6/59


Questão nº 673

Em nome do amor a Deus, acumulam-se, na Terra, tesouros e


monumentos.

Centenas de santuários, sob a rubrica de cultos diversos, espalham-se


em todos os continentes.
Pagodes e mesquitas, catedrais e basílicas, torres e capelas aparecem,
majestosos, na Ásia e na África, na Europa e na América, pretendendo
honorificar a Providência Divina.

É assim que surgem, aqui e ali, casas de adoração com variada


nomenclatura.
Templos-palácios.

Templos-estilos.

Templos-museus.

Templos-consagrações.

Templos-claustros.
Templos-troféus.

Os altares para os ofícios religiosos, que os hebreus da antiguidade


remota situavam em mesas de pedra, no alto dos montes, são hoje relicários
suntuosos, faiscantes de pedraria.

E para o curso das orações, convertidas em cerimônias complexas, há


todo um ritual de cores e perfume, reclamando vasos e paramentos que
valem por vigorosas afirmações, nos domínios da posse material.
Longe de nós, porém, qualquer crítica destrutiva aos irmãos que
adornam, assim, o campo da própria fé.

A intenção nobre e reta, seja onde for, é sempre digna e respeitável.


Contudo, em nos reportando à interpretação espírita, que exprime o
pensamento cristão claro e simples, como honrar o Criador, relegando-lhe as
criaturas aos desvãos da miséria e às sombras da enfermidade? Que dizer da
estância, em que os filhos felizes, a pretexto de homenagear a munificência
paterna, fingem desconhecer a presença dos próprios irmãos, mais fracos e
mais humildes, extorquindo-lhes o direito da herança? Como glorificar o
Todo Compassivo, inscrevendo-lhe o nome bendito em tábuas de ouro e
prata, junto daqueles que se cobrem de andrajos e soluçam de fome?

Lembremo-nos de Jesus, o expoente maior da maior lealdade ao Senhor


Supremo.
Anjo entre os anjos – desce ao mundo num leito rude de estrebaria.

Engenheiro de excelsas rotas – pisa a lama terrestre em louvor do bem.

Puro entre os puros – é a esperança dos pecadores.


Mensageiro da luz – toma a direção dos que se afligem nas trevas.

Magistrado incorruptível – de ninguém exigia certidão de pobreza a fim


de ser útil.

Embaixador da harmonia sublime – é remédio aos doentes.

Detentor de conquistas eternas – vale-se de barcos emprestados para o


ensino da Boa-Nova.

Justo dos justos – deixa-se crucificar entre malfeitores, para


engrandecer, entre os homens, o poder do perdão e a força da humildade.
Cultiva, pois, tua fé, conforme os ditames do coração, mas não te
esqueças de que, no fundo da consciência, ajudar com desinteresse e instruir
sem afetação é a única maneira – a mais justa e a mais alta – de servirmos
ao Nosso Pai.
41
O caminho da paz

Reunião pública de 8/6/59


Questão nº 743

Dos grandes flagelos do mundo antigo, salientavam-se dez que


rebaixavam a vida humana:

A barbárie, que perpetuava os desregramentos do instinto.


A fome, que atormentava o grupo tribal.

A peste, que dizimava populações.


O primitivismo, que irmanava o engenho do homem e a habilidade do
castor.

A ignorância, que alentava as trevas do espírito.

O insulamento, que favorecia as ilusões do feudalismo.


A ociosidade, que categorizava o trabalho à conta de humilhação e
penitência.

O cativeiro, que vendia homens livres nos mercados da escravidão.


A imundície, que relegava a residência terrestre ao nível dos brutos.

A guerra, que suprime a paz e justifica a crueldade e o crime entre as


criaturas.

*
Veio a política e, instituindo vários sistemas de governo, anulou a
barbárie.

Apareceu o comércio e, multiplicando as vias de transporte, dissipou a


fome.

Surgiu a ciência, e exterminou a peste.

Eclodiu a indústria, e desfez o primitivismo.

Brilhou a imprensa, e proscreveu-se a ignorância.


Criaram-se o telégrafo sem fio e a navegação aérea, e acabou-se o
insulamento.

Progrediram os princípios morais, e o trabalho fulgiu como estrela na


dignidade humana, desacreditando a ociosidade.

Cresceu a educação espiritual, e aboliu-se o cativeiro.


Agigantou-se a higiene, e removeu-se a imundície.

Mas nem a política, nem o comércio, nem a ciência, nem a indústria,


nem a imprensa, nem a aproximação entre os povos, nem a exaltação do
trabalho, nem a evolução do direito individual e nem a higiene conseguem
resolver o problema da paz, porquanto a guerra – monstro de mil faces que
começa no egoísmo de cada um, que se corporifica na discórdia do lar e se
prolonga na intolerância da fé, na vaidade da inteligência e no orgulho das
raças, alimentando-se de sangue e lágrimas, violência e desespero, ódio e
rapina, tão cruel entre as nações supercivilizadas do século 20, quanto já o
era na corte obscurantista de Ramsés 2º – somente desaparecerá quando o
Evangelho de Jesus iluminar o coração humano, fazendo que os habitantes
da Terra se amem como irmãos.
É por isso que a Doutrina Espírita no-lo revela, atualmente, sob a luz da
Verdade, fiel ao próprio Cristo que nos advertiu, convincente: –
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos fará livres.”
42
Nós mesmos

Reunião pública de 12/6/59


Questão nº 930

Que é preciso trabalhar na conquista honesta do pão, todos sabemos.

Obrigação para cada um, no edifício social, é problema pacífico.

Não ignoramos, porém, que muitos companheiros do caminho


permanecem à margem, esquecidos na carência, mergulhados na provação,
chafurdados na delinquência, agoniados no desespero e penitentes na
enfermidade...

Quem são, no mundo, os chamados para lhes prestarem socorro, em


nome do Cristo?
Dizes que são os administradores; contudo, os administradores, via de
regra, jazem inquietos, criando verbas e leis.

Dizes que são os políticos; entretanto, frequentemente, os políticos


andam apreensivos na arregimentação partidária, estudando interesses e
decisões.

Dizes que são os cientistas; todavia, os cientistas quase sempre estão


concentrados em suas pesquisas, multiplicando indagações e dúvidas
infindáveis.
Dizes que são os filósofos; mas os filósofos, na maioria das vezes,
respiram encarcerados em suas doutrinas, alentando tribunas e discussões.

Dizes que são os milionários; todavia, os milionários comumente sofrem


responsabilidades sem conta, fiscalizando posses e haveres.
Dizes que são os comerciantes; contudo, os comerciantes, muitas vezes,
caminham absorvidos em suas transações, conjugando assuntos de compra e
venda.

Tão pejados de compromissos vivem na Terra os governantes e os


legisladores, os matemáticos e os intelectuais, os abastados e os
negociantes, que serão todos eles categorizados sempre à conta de
filantropos e heróis, benfeitores e apóstolos, toda vez que forem vistos nas
faixas mais simples da caridade.
Lembra-te de Jesus, quando passou entre os homens cumprindo a Lei de
Deus.

Em circunstância alguma formulou exigências e apelos aos titulados da


Terra.
Em todos os lugares e em todos os serviços, irmanavam-se, Ele e o
povo, na execução da solidariedade em nome do Amor Divino.

Assim, pois, se lembramos Jesus com fidelidade, quem deve alimentar


os famintos e agasalhar os nus, sossegar os aflitos e consolar os que choram,
instruir os ignorantes e apoiar os desfalecentes, antes de qualquer cristão
desmemoriado ou inibido, somos sempre nós mesmos.
43
Examinadores

Reunião pública de 15/6/59


Questão nº 258

Observando a Terra, do ponto de vista espiritual, podemos compará-la a


imensa escola, com vários cursos educativos.

O aluno inicia o aprendizado pelo número de matrícula.


O Espírito começa o grande estágio carnal pela certidão do berço.

O primeiro ingressa na classe que lhe compete.


O segundo é conduzido ao ambiente a que mais se ajusta.

Pequeninos, sorriem no jardim da infância, ensaiando ideias da vida.

Almas primitivas, na verdura da selva, adquirem noções de


comportamento.
Há crianças, nas letras primárias, dominando o alfabeto.

Há irmãos, em lutas menores, penetrando os domínios da experiência.

Existem jovens, nos bancos da instrução intermediária, disputando


conquistas mais altas.

Possuímos inúmeros companheiros em tarefa importante, marchando


para mais elevados conhecimentos.

Contam-se, ainda, aqueles que se ergueram às instituições de ensino


superior, buscando a especialização profissional ou científica, de modo a
participarem da elite cultural, no progresso da Humanidade.
Vemos, igualmente, corações amadurecidos, a transitarem na
universidade do sofrimento, procurando as aquisições de amor e sabedoria
que lhes confiram acesso ao escol da sublimação, na Espiritualidade
Vitoriosa.

Assim, pois, se te vês no círculo das grandes aflições ou dos grandes


problemas, é que já ascendeste aos centros de adestramento maior para a
assimilação de virtudes excelsas.
Recebe, desse modo, os parentes difíceis e os amigos complexos, os
adversários gratuitos e os irmãos desafortunados, tanto quanto aqueles que
te apedrejam e ferem, perseguem e caluniam, por examinadores constantes
de teu aproveitamento nas ciências da alma, por instrutores na luta
cotidiana... Cada um deles, hora a hora, te examina o grau de paciência e
serviço, caridade e benevolência, perdão e fé viva, bom ânimo e
entendimento.

E, lembrando-te de que o próprio Cristo sofreu ironia e espancamento


entre eles, no dia da cruz, asserena-te na banca de provas em que te
encontras, aprendendo a valorizar, em teu próprio favor, o poder da
humildade e a força da compaixão.
44
Na grande barreira

Reunião pública de 19/6/59


Questão nº 159

A crônica terrestre costuma anotar esse ou aquele acontecimento em


torno da morte dos chamados “grandes do mundo”.

Carlos 5º, da Espanha, soberano de vasto império, termina os seus dias


na penumbra do claustro, experimentando o féretro que lhe carrearia o
corpo para o sepulcro, à feição de obsesso vulgar.
Elisabeth 1º, da Inglaterra, depois de manobrar largamente o poder,
separa-se do trono, rogando, desesperada:

– “Senhor, Senhor, cedo todo o meu reino por um minuto a mais de


vida! “
Moliére tem os próprios restos sentenciados ao abandono.

Napoleão, o estrategista coroado imperador, plasmou com punhos de


bronze o temor e a admiração em milhões de súditos, mas não soube
guerrear o câncer que lhe exauriu a força vital na solidão de Santa Helena.

Comte, o fundador do Positivismo, superestimando o próprio valor,


grita, desapontado, perante a fronteira de cinza:
– “Que perda irreparável!”

Mas assim como os reis e os conquistadores, os filósofos e os artistas se


despedem da autoridade e da fama, legiões de criaturas, de todas as
procedências e condições, deixam a Terra, todos os dias.
Despojadas dos empréstimos que lhes honorificavam a existência, ante a
grande libertação guardam somente o resultado das próprias obras.
Nem posses, nem latifúndios...

Nem títulos, nem privilégios...

Nem armas, nem medalhas...

Nem pena que fira, nem tribuna que amaldiçoe...


Nem depósitos bancários, nem caderneta de cheques na mortalha sem
bolso...

Imobilizam-se e dormem...

E acordam buscando os planos em que situaram os sentimentos, dando a


impressão de estranha ornitologia, nas esferas do espírito.
Almas nobres e heroicas renascem da letargia, quais pombos viandeiros
(caminheiro, viajante), remontando à glória do firmamento.

Corações dedicados à virtude e à beleza recobram a atividade como


andorinhas, sequiosas da primavera.
Preguiçosos despertam, copiando o insulamento das corujas que se
aninham na escuridão.

Viciados e malfeitores diversos ressurgem, à maneira de abutres,


espalhando entre os homens os germens da peste.

Faladores impenitentes reaparecem, de praça em praça, a repetirem


solenemente conceitos que lhes vibravam na pregação sem obras,
lembrando a gritaria inconsequente do bem-te-vi.
Homicidas e suicidas, semelhantes a marrecos desavisados, reabrem os
olhos nos abismos serpentários a que se arrojam por gosto.

Não te esqueças, assim, de que terás também a boca hirta e as mãos


enregeladas, na grande noite, e acende, desde agora, a luz do bem constante,
na rota de teus dias, para que a sombra imensa te não furte ao olhar a visão
das estrelas.
45
Esquecimento
e reencarnação

Reunião pública de 22/6/59


Questão nº 392

Examinando o esquecimento temporário do pretérito, no campo físico,


importa considerar cada existência por estágio de serviço em que a alma
readquire, no mundo, o aprendizado que lhe compete.

Surgindo semelhante período, entre o berço que lhe configura o início e


o túmulo que lhe demarca a cessação, é justo aceitar-lhe o caráter acidental,
não obstante se lhe reconheça a vinculação à vida eterna.
É forçoso, então, ponderar o impositivo de recurso e aproveitamento,
tanto quanto, nas aplicações da força elétrica, é preciso atender ao problema
de carga e condução.

Encetando uma nova existência corpórea, para determinado efeito, a


criatura recebe, desse modo, implementos cerebrais completamente novos,
no domínio das energias físicas, e, para que se lhe adormeça a memória,
funciona a hipnose natural como recurso básico, de vez que, em muitas
ocasiões, dorme em pesada letargia, muito tempo antes de acolher-se ao
abrigo materno. Na melhor das hipóteses, quando desfruta grande atividade
mental nas esferas superiores, só é compelida ao sono, relativamente
profundo, enquanto perdure a vida fetal. Em ambos os casos, há prostração
psíquica nos primeiros sete anos de tenra instrumentação fisiológica dos
encarnados, tempo em que se lhes reaviva a experiência terrestre.
Temos, assim, mais ou menos três mil dias de sono induzido ou hipnose
terapêutica, a estabelecerem enormes alterações nos veículos de
exteriorização do Espírito, as quais, acrescidas às consequências dos
fenômenos naturais de restringimento do corpo espiritual, no refúgio
uterino, motivam o entorpecimento das recordações do passado, para que se
alivie a mente na direção de novas conquistas. E, como todo esse tempo é
ocupado em prover-se a criança de novos conceitos e pensamentos acerca
de si própria, é compreensível que toda criatura sobrenade na adolescência,
como alguém que fosse longamente hipnotizado para fins edificantes,
acordando, gradativamente, na situação transformada em que a vida lhe
propõe a continuidade do serviço devido à regeneração ou à evolução clara
e simples.

E isso, na essência, é o que verdadeiramente acontece, porque, pouco a


pouco, o Espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, na estrutura
psicológica do destino, reavendo o patrimônio das realizações e das dívidas
que acumulou, a se lhe regravarem no ser, em forma de tendências inatas, e
reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as simpatias e as aversões, as
vantagens e as dificuldades, com as quais se ache afinizado ou
comprometido.
Transfigurou-se, então, a ribalta, mas a peça continua.

A moldura social ou doméstica, muitas vezes, é diferente, mas, no


quadro do trabalho e da luta, a consciência é a mesma, com a obrigação de
aprimorar-se, ante a bênção de Deus, para a luz da imortalidade.
46
Trabalha servindo

Reunião pública de 26/6/59


Questão nº 676

A cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a bênção do


trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes
cria luminoso caminho para a glória na Criação.

Não permitas, portanto, que o repouso excessivo te anule a divina


oportunidade.
Assim como o relaxamento é ferrugem na enxada, a benefício do joio
que te prejudica a seara, o tempo vazio é flagelo na alma, em favor das
energias perniciosas que devastam a vida.

Não há corrosivo da ociosidade que possa resistir aos antídotos da ação.


Não acredites, desse modo, no poder absoluto das circunstâncias
adversas, a se mostrarem, constantes, nos eventos da marcha.

Se a injúria te persegue, trabalha servindo, e o sarcasmo far-se-á


reconhecimento.

Se a calúnia te apedreja, trabalha servindo, e a ofensa converter-se-á em


louvor.
Se a mágoa te alanceia, trabalha servindo, e a dor erguer-se-á por
utilidade.

Se o obstáculo te aborrece, trabalha servindo, e o embaraço surgirá por


lição.
No trabalho em que possas fazer o melhor para os outros, encontrarás a
quitação do passado, as realizações do presente e os créditos do futuro. E é
ainda por ele que conquistarás o respeito dos que te cercam, a riqueza da
experiência, a láurea da cultura, o tesouro da simpatia, a solução para o
tédio e o socorro a toda dificuldade.

Importa anotar, porém, que há trabalho nas faixas superiores e inferiores


do mundo.
Movimento que aprisiona e atividade que liberta, atração para o abismo
e impulso para o Céu...

O egoísmo trabalha para si mesmo.

A vaidade trabalha para a ilusão.

A usura trabalha para o azinhavre.

O vício trabalha para o lodo.


A indisciplina trabalha para a desordem.

O pessimismo trabalha para o desânimo.


A rebeldia trabalha para a violência.

A cólera trabalha para a loucura.

A crueldade trabalha para a queda.


O crime trabalha para a morte.

Todas essas monstruosidades do campo moral representam fruto amargo


e venenoso de audiências da alma com a inteligência das trevas, no palácio
deserto das horas perdidas.
Todavia, o trabalho dos que trabalham servindo chama-se humildade e
benevolência, esperança e otimismo, perdão e desinteresse, bondade e
tolerância, caridade e amor, e, somente através dele, o espírito caminha, na
senda de ascensão, em harmonia com as leis de Deus.
47
Contradição

Reunião pública de 29/6/59


Questão nº 770

Muitos companheiros, a pretexto de se guardarem contra o mal, evitam


contatos com esse ou aquele círculo de serviço, caindo frequentemente em
males de maior monta.

E para isso, quase sempre, recorrem a negativas de vária espécie.


Dizem-se pecadores, mas fogem deliberadamente ao ensejo que lhes
propicia a aquisição de virtude.

Afirmam-se devedores, quando, nesse aspecto, lhes cabe maior


diligência na solução dos compromissos de que se oneram.
Declaram-se inúteis, ausentando-se dos quadros de trabalho em que
poderiam mostrar os préstimos de que são mensageiros.

Asseveram-se imperfeitos, desertando da luta capaz de conferir-lhes


mais amplo burilamento.

Escrevem longas confissões de remorso, sem ânimo de gastar ligeiros


minutos na reparação dos erros em que se anunciam incursos.
Proclamam-se cansados, esquecendo-se de que, assim, exigem mais
dura cooperação dos semelhantes, em diversas ocasiões, muito mais
fatigados do que eles mesmos.

Intitulam-se doentes, reclamando o sacrifício dos outros.


Inculcam-se por vítimas do desencanto, veiculando o pessimismo com
que esmagam as esperanças alheias.

Categorizam-se por neurastênicos angustiados, sem compaixão para


com aqueles que lhes suportam a bile.

Acreditam-se perseguidos por Espíritos inferiores, sem jamais ofertar-


lhes qualquer recurso de amor à renovação.
Lamentam-se. Colecionam queixumes. Exageram sintomas. Escusam-se
e choram.

Ante a educação que ilumina e a caridade que levanta, imaginam-se


ignorantes e fracos, malogrados e infelizes, muitas vezes mentalizando
infortúnio e frustração, tédio e suicídio.

Transitam aqui e ali, entre a desconfiança e o desânimo, sentindo-se


habitualmente desamparados e incompreendidos, destacando-se, onde
surjam, à maneira de sensitivas ambulantes, temendo ciladas e tentações.

E encerram-se, por fim, na reclusão de si mesmos como se, insulados e


inertes, estivessem conquistando altura moral. Contudo, nada mais
conseguem que a fuga do dever a cumprir, porque, se, em verdade,
procuram a apetecida libertação do mal, é imprescindível entendam que a
melhor maneira de extinguir-se o mal será fazermos para com todos e em
toda parte a maior soma de bem.
48
Suicídio

Reunião pública de 3/7/59


Questão nº 957

No suicídio intencional, sem as atenuantes da moléstia ou da ignorância,


há que considerar não somente o problema da infração ante as Leis Divinas,
mas também o ato de violência que a criatura comete contra si mesma,
através da premeditação mais profunda, com remorso mais amplo.

Atormentada de dor, a consciência desperta no nível de sombra a que se


precipitou, suportando compulsoriamente as companhias que elegeu para si
própria, pelo tempo indispensável à justa renovação.
Contudo, os resultados não se circunscrevem aos fenômenos de
sofrimento íntimo, porque surgem os desequilíbrios consequentes nas
sinergias do corpo espiritual, com impositivos de reajuste em existências
próximas.

É assim que após determinado tempo de reeducação, nos círculos de


trabalho fronteiriços da Terra, os suicidas são habitualmente reinternados no
plano carnal, em regime de hospitalização na cela física, que lhes reflete as
penas e angústias na forma de enfermidades e inibições.

Ser-nos-á fácil, desse modo, identificá-los, no berço em que repontam,


entremostrando a expiação a que se acolhem.

Os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram,


renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho
digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endocrínicas, tanto quanto
outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne
amargam as agruras da ictiose (Ictiose é uma doença dermatológica
congênita causada por uma anomalia no processo de regeneração da pele,
pelos e unhas) ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas
ou nas correntes de gás, exibem os processos mórbidos das vias
respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se
enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso,
como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que
estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras,
experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se
relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura
reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou
da osteíte difusa.

Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias


orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas,
inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura,
a representarem terapêutica providencial na cura da alma.
Junto de semelhantes quadros de provação regenerativa, funciona a
ciência médica por missionária da redenção, conseguindo ajudar e melhorar
os enfermos de conformidade com os créditos morais que atingiram ou
segundo o merecimento de que disponham.

Guarda, pois, a existência como dom inefável, porque teu corpo é


sempre instrumento divino, para que nele aprendas a crescer para a luz e a
viver para o amor, ante a glória de Deus.
49
O homem bom

Reunião pública de 6/7/59


Questão nº 918

Conta-se que Jesus, após narrar a Parábola do Bom Samaritano, foi


novamente interpelado pelo doutor da lei que, alegando não lhe haver
compreendido integralmente a lição, perguntou, sutil:

– Mestre, que farei para ser considerado homem bom?


Evidenciando paciência admirável, o Senhor respondeu:

– Imagina-te vitimado por mudez que te iniba a manifestação do verbo


escorreito e pensa quão grato te mostrarias ao companheiro que falasse por
ti a palavra encarcerada na boca.
Imagina-te de olhos mortos pela enfermidade irremediável e lembra a
alegria da caminhada, ante as mãos que te estendessem ao passo incerto,
garantindo-te a segurança.

Imagina-te caído e desfalecente, na via pública, e preliba o teu consolo


nos braços que te oferecessem amparo, sem qualquer desrespeito para com
os teus sofrimentos.

Imagina-te tocado por moléstia contagiosa e reflete no contentamento


que te iluminaria o coração, perante a visita do amigo que te fosse levar
alguns minutos de solidariedade.
Imagina-te no cárcere, padecendo a incompreensão do mundo, e recorda
como te edificaria o gesto de coragem do irmão que te buscasse testemunhar
entendimento.

Imagina-te sem pão no lar, arrostando amargura e escassez, e raciocina


sobre a felicidade que te apareceria de súbito no amparo daqueles que te
levassem leve migalha de auxílio, sem perguntar por teu modo de crer e sem
te exigir exames de consciência.

Imagina-te em erro, sob o sarcasmo de muitos, e mentaliza o bálsamo


com que te acalmarias, diante da indulgência dos que te desculpassem a
falta, alentando-te o recomeço.
Imagina-te fatigado e intemperante e observa quão reconhecido ficarias
para com todos os que te ofertassem a oração do silêncio e a frase de
simpatia.

Em seguida ao intervalo espontâneo, indagou-lhe o Divino Amigo:

– Em teu parecer, quais teriam sido os homens bons nessas


circunstâncias?

– Os que usassem de compreensão e misericórdia para comigo –


explicou o interlocutor.

– Então – repetiu Jesus com bondade –, segue adiante e faze também o


mesmo.
50
Pena de morte

Reunião pública de 10/7/59


Questão nº 760

Todos os fundadores das grandes instituições religiosas, que ainda hoje


influenciam ativamente a comunidade humana, partiram da Terra com a
segurança do trabalhador ao fim do dia.

Moisés, ancião, expira na eminência do Nebo, contemplando a Canaã


prometida.
Sidarta, o iluminado construtor do Budismo, depois de abençoada
peregrinação entre os homens, abandona o corpo físico, num horto florido
de Kucinagara.

Confúcio, o sábio que plasmou todo um sistema de princípios morais


para a vida chinesa, encontra a morte num leito pacífico, sob a vigilância de
um neto afetuoso.
E, mais tarde, Maomé, o criador do Islamismo, que consentiu em ser
adorado pelos discípulos, na categoria de imortal, sucumbe em Medina,
dentro de sólida madureza, atacado pela febre maligna.

Com Jesus, entretanto, a despedida é diferente.

O divino fundador do Cristianismo, que define a Religião Universal do


Amor e da Sabedoria, em plena vitalidade juvenil, é detido pela perseguição
gratuita e trancafiado no cárcere.
Ninguém lhe examina os antecedentes, nem lhe promove recursos à
defensiva.

Negado pelos melhores amigos, encontra-se sozinho, entre juízes


astuciosos, qual ovelha esquecida em meio de chacais.
Aliam-se o egoísmo e a crueldade para sentenciá-lo ao sacrifício
supremo.

Herodes, patrono da ordem pública, chamado a pronunciar-se em seu


caso, determina se lhe dê o tratamento cabível aos histriões.
Pilatos, responsável pela justiça, abstém-se de conferir-lhe o direito
natural.

E, entregue à multidão amotinada na cegueira de espírito, é preferido a


Barrabás, o malfeitor, para sofrer a condenação insólita.

Decerto, para induzir-nos à compaixão, aceitou Jesus padecer em


silêncio os erros da justiça terrestre, alinhando-se, na cruz, entre os
injuriados e as vítimas sem razão, de todos os tempos da Humanidade.

Cristãos de todas as interpretações do Evangelho e de todos os


quadrantes do mundo, atentos à exemplificação do Eterno Benfeitor, apartai
o criminoso do crime, como aprendestes a separar o enfermo da
enfermidade!

Educai o irmão transviado, quanto curais o companheiro doente!


Desterrai, em definitivo, a espada e o cutelo, o garrote e a forca, a
guilhotina e o fuzil, a cadeira elétrica e a câmara de gás dos quadros de
vossa penalogia, e oremos, todos juntos, suplicando a Deus nos inspire
paciência e misericórdia, uns para com os outros, porque, ainda hoje, em
todos os nossos julgamentos, será possível ouvir, no adito (O adito é o
começo da laringe) da consciência, o aviso celestial do nosso Divino
Mestre, condenado à morte sem culpa:

– “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra!”


51
Felicidade e dever

Reunião pública de 13/7/59


Questão nº 922

A procura da felicidade assemelha-se, no fundo, a uma caçada difícil.

Taxando-a por dom facilmente apresável (de apresáveis), há quem a


procure entre os mitos do ouro, enferrujando as mais belas faculdades dá
alma, na fossa da usura; quem a dispute no prazer dos sentidos, acordando
no catre da enfermidade; quem lhe suponha a presença na exaltação do
poder terrestre, acolhendo-se à dor de extrema desilusão, e quem a busque
na retenção do supérfluo, apodrecendo de tédio em câmaras de preguiça.
Não há felicidade, contudo, sem dever corretamente cumprido.

Observa, pois, o dever de que a vida te incumbe.


Vê-lo-ás, hora a hora, no quadro das circunstâncias.

Na fé que te pede serviço.

No serviço que te roga compreensão.

No ideal que te pede caráter.

No caráter que te roga firmeza.


No exemplo que te pede disciplina.

Na disciplina que te roga humildade.

No lar que te pede renúncia.


Na renúncia que te roga perseverança.

No caminho que te pede cooperação.


Na cooperação que te roga discernimento.

Por mais agressivos se façam os empeços da marcha, não te desvies da


obrigação que te recomenda o bem de todos, sempre que puderes e quanto
puderes, seja onde for.
Porque te mostres leal a ti mesmo, é possível que a maioria te categorize
à conta de ingrato e rebelde, fanático e louco.

A maioria, no entanto, nem sempre abraça o direito.

Não podemos esquecer que, no instante supremo da Humanidade, ela, a


maioria, estava com Barrabás e contra o Cristo.

Cumpre, assim, teu dever e, tomando da Terra somente o necessário à


própria manutenção, de modo a que te não apropries da felicidade dos
outros, estarás atingindo a verdadeira felicidade, que fulge sempre, como
bênção de Deus, na consciência tranqüila.
52
A mulher ante o Cristo

Reunião pública de 3/8/59


Questão nº 817

Toda vez nos disponhamos a considerar a mulher em plano inferior,


lembremo-nos dela, ao tempo de Jesus.

Há vinte séculos, com exceção das patrícias do Império, quase todas as


companheiras do povo, na maioria das circunstâncias, sofriam extrema
abjeção, convertidas em alimárias de carga, quando não fossem vendidas em
hasta pública.
Tocadas, porém, pelo verbo renovador do Divino Mestre, ninguém
respondeu com tanta lealdade e veemência aos apelos celestiais.

Entre as que haviam descido aos vales da perturbação e da sombra,


encontramos em Madalena o mais alto testemunho de soerguimento moral,
das trevas para a luz; e entre as que se mantinham no monte do equilíbrio
doméstico, surpreendemos em Joana de Cusa o mais nobre expoente de
concurso e fidelidade.
Atraídas pelo amor puro, conduziam à presença do Senhor os aflitos e os
mutilados, os doentes e as crianças. E, embora não lhe integrassem o círculo
apostólico, foram elas – representadas nas filhas anônimas de Jerusalém –
as únicas demonstrações de solidariedade espontânea que o visitaram,
desassombradamente, sob a cruz do martírio, quando os próprios discípulos
debandavam.

Mais tarde, junto aos continuadores da Boa-Nova, sustentaram-se no


mesmo nível de elevação e de entendimento.

Dorcas, a costureira jopensé, depois de amparada por Simão Pedro, fez-


se mais ativa colaboradora da assistência aos infortunados. Febe é a
mensageira da epístola de Paulo de Tarso aos romanos. Lídia, em Filipos, é
a primeira mulher com suficiente coragem para transformar a própria casa
em santuário do Evangelho nascituro. Lóide e Eunice, parentas de Timóteo,
eram padrões morais da fé viva.

Entretanto, ainda que semelhantes heroínas não tivessem de fato


existido, não podemos olvidar que, um dia, buscando alguém no mundo
para exercer a necessária tutela sobre a vida preciosa do Embaixador
Divino, o Supremo Poder do Universo não hesitou em recorrer à abnegada
mulher, escondida num lar apagado e simples...
Humilde, ocultava a experiência dos sábios; frágil como o lírio, trazia
consigo a resistência do diamante; pobre entre os pobres, carreava na
própria virtude os tesouros incorruptíveis do coração, e, desvalida entre os
homens, era grande e prestigiosa perante Deus.

Eis o motivo pelo qual, sempre que o raciocínio nos induza a ponderar
quanto à glória do Cristo – recordando, na Terra, a grandeza de nossas
próprias mães –, nós nos inclinaremos, reconhecidos e reverentes, ante a luz
imarcescível da Estrela de Nazaré.
53
Sexo e amor

Reunião pública de 7/8/59


Questão nº 201

Ignorar o sexo em nossa edificação espiritual seria ignorar-nos.

Urge, no entanto, situá-lo a serviço do amor, sem que o amor se lhe


subordine.
Imaginemo-los ambos, na esfera da personalidade, como o rio e o dique
na largueza da terra.

O rio fecunda.
O dique controla.

O rio espalha forças.

O dique policia-lhes a expansão.


No rio, encontramos a Natureza.

No dique, surpreendemos a disciplina.

Se a corrente ameaça a estabilidade de construções dignas, comparece o


dique para canalizá-la proveitosamente, noutro nível. Contudo, se a corrente
supera o dique, aparece a destruição, toda vez que a massa líquida se dilate
em volume.

Igualmente, o sexo é a energia criativa, mas o amor necessita estar junto


dele, a funcionar por leme seguro.

Se a simpatia sexual prenuncia a dissolução de obras morais


respeitáveis, é imprescindível que o amor lhe norteie os recursos para
manifestações mais altas, porquanto, sempre que a atração genésica é mais
poderosa que o amor, surgem as crises de longo curso, retardando o
progresso e o aperfeiçoamento da alma, quando não lhe embargam os
passos na loucura ou na frustração, na enfermidade ou no crime.

Tanto quanto o dique precisa erguer-se em defensiva constante, no


governo das águas, deve guardar-se o amor em permanente vigilância, na
frenação do impulso emotivo.
Fiscaliza, assim, teus próprios desejos.

Todo pensamento acalentado tende a expressar-se em ação.

Quase sempre, os que chegam ao além-túmulo sexualmente depravados,


depois de longas perturbações renascem no mundo, tolerando moléstias
insidiosas, quando não se corporificam em desesperadora condição
inversiva, amargando pesadas provas como consequências dos excessos
delituosos a que se renderam.

À maneira de doentes difíceis, no leito de contenção, padecem inibições


obscuras ou envergam sinais morfológicos em desacordo com as tendências
masculinas ou femininas em que ainda estagiam, no elevado tentame de
obstar a própria queda em novos desmandos sentimentais.

Ama, pois, e ama sempre, porque o amor é a essência da própria vida,


mas não cogites de ser amado.
Ama por filhos do coração aqueles de quem, por enquanto, não podes
partilhar a convivência mais íntima, aprendendo o puro amor fraterno que
Jesus nos legou.

Mas, se a inquietação sexual te vergasta as horas, não te decidas a


aceitar o conselho da irresponsabilidade que te inclina a partir levianamente
“ao encontro de um homem” ou “ao encontro de uma mulher”, muitas vezes
em perigoso agravo de teus problemas.
Antes de tudo, procura Deus, na oração, segundo a fé que cultivas, e
Deus que criou o sexo em nós, para engrandecimento da criação, na carne e
no espírito, ensinar-nos-á como dirigi-lo.
54
Jovens

Reunião pública de 10/8/59


Questão nº 218

No estudo das ideias inatas, pensemos nos jovens, que somam às


tendências do passado as experiências recém adquiridas.

Com exceção daqueles que renasceram submetidos à observação da


patologia mental, todos vieram da estação infantil para o desempenho de
nobre destino.
Entretanto, quantas ansiedades e quantas flagelações quase todos
padecem, antes de se firmarem no porto seguro do dever a cumprir!...

Ao mapa de orientação respeitável que trazem das Esferas Superiores, a


transparecer-lhes do sentimento, na forma de entusiasmos e sonhos juvenis,
misturam-se as deformações da realidade terrestre que neles espera a
redenção do futuro.
Muitos saem da meninice moralmente mutilados pelas mãos
mercenárias a que foram confiados no berço, e outros tantos acordam no
labirinto dos exemplos lamentáveis, partidos daqueles mesmos de quem
contavam colher as diretrizes do aprimoramento interior.

Muitos são arremessados aos problemas da orfandade, quando mais


necessitavam de apoio amigo, junto de outros que transitam na Terra, à
feição das aves de ninho desfeito, largados, sem rumo, à tempestade das
paixões subalternas.

Alguns deles, revoltados contra o lodo que se lhes atira à esperança,


descem aos mais sombrios volutabros ( Lodaçal, lameiro )do crime,
enquanto outros muitos, fatigados de miséria, se refugiam em prostíbulos
dourados para morrerem na condição de náufragos da noite.
Pede-se lhes o porvir, e arruína-se lhes o presente. Engrinalda-se lhes a
forma, e perverte-se lhes a consciência.

Ensina-se lhes o verbo aprimorado em lavor acadêmico, e dá-se lhes na


intimidade a palavra degradada em baixo calão.
Ergue-se lhes o ideal à beleza da virtude, e zomba-se deles toda vez que
não se revelem por tipos acabados de animalidade inferior.

Fala-se lhes de glorificação do caráter, e afoga-se lhes a alma no delírio


do álcool ou na frustração dos entorpecentes.

Administra-se lhes abandono, e critica-se lhes a conduta.

Não condenes a mocidade, sempre que a vejas dementada ou


inconsequente.

Cada menino e moço no mundo é um plano da Sabedoria Divina para


serviço à Humanidade, e todo menino e moço transviado é um plano da
Sabedoria Divina que a Humanidade corrompeu ou deslustrou.
Recebamos os jovens de qualquer procedência por nossos próprios
filhos, estimulando neles o amor ao trabalho e a iniciativa da educação.

Diante de todos os que começam a luta, a senha será sempre – “velar e


compreender” –, a fim de que saibamos semear e construir, porque, em
todos os tempos, onde a juventude é desamparada, a vida perece.
55
Sonâmbulos

Reunião pública de 14/8/59


Questão nº 425

Sonâmbulos sublimes, temo-los no mundo honorificados no


Cristianismo, por terem testemunhado, valorosos, a evidência do Plano
Espiritual.

E muitos dos mais eminentes sofrem os efeitos de suas atividades


psíquicas na própria constituição fisiológica, tolerando, muitas vezes, os
tremendos embates das forças superiores, que glorificam a luz, com as
forças inferiores que se enquistam nas trevas.
Paulo de Tarso, o apóstolo intrépido, após o comentário de suas próprias
visões, fora do corpo denso, exclama na segunda carta aos coríntios: – “E
para que me não exaltasse pelas excelências recebidas, foi-me concedido
um espinho na carne...”

Antão, o venerado eremita do vilarejo de Coma, no Egito,


intensivamente assaltado por Espíritos obsessores, e em estado cataléptico,
é tido como morto, despertando, porém, entre aqueles que lhe velavam o
suposto cadáver.

Francisco de Assis, o herói da humildade, ouve, prostrado de febre, em


Spoleto (Spoleto é uma comuna da província de Perúgia, na região da
Úmbria, na Itália), as vozes que lhe recomendam retorno à terra natal, para
o cumprimento de sua missão divina.

Antônio de Pádua, o admirável franciscano, por várias vezes entra em


sono letárgico, afastando-se do corpo para misteres santificantes.

Teresa de Ávila, a insigne doutora da literatura religiosa na Espanha,


permanece em regime de parada cardíaca, por quatro dias consecutivos,
acordando subitamente, entre círios acesos, quando já se lhe preparava
conveniente sepulcro, no convento da Encarnação.

Medianeiros excelsos foram todos eles, pelas revelações que trouxeram


do Plano Divino ao acanhado círculo humano.
Entretanto, fora do hagiológio conhecido, encontramos uma infinidade
de sonâmbulos outros, em todas as épocas.

Sonâmbulos de inteligência enobrecida e sonâmbulos enfermos na


atividade mental.

Sabe-se que Maomé recebia mensagens do Além, no intervalo de


convulsões epileptóides.

Dante, apesar do monoideísmo político, registra impressões hauridas por


ele mesmo, fora dos sentidos normais.

Através de profundas crises letárgicas, Auguste Comte escreve a sua


Filosofia Positiva.
Frederica Hauff, na Alemanha, em princípios do século 19, doente e
acamada, entra em contacto com a Esfera Espiritual.

Guy de Maupassant, em França, vê-se obsidiado pelas entidades


desencarnadas que lhe inspiram os contos notáveis, habitualmente grafados
por ele em transe.

Van Gogh, torturado, pinta, sob influências estranhas, padecendo


acessos de loucura.

E além desses sensitivos, categorizados nas classes a que nos


reportamos, surpreendemos atualmente os sonâmbulos do sarcasmo, que se
valem de assunto tão grave, qual seja o sonambulismo magnético, para
motivo de hilaridade, em diversões públicas, com evidente desrespeito à
dignidade humana.

Todavia, igualmente hoje, com a bênção do Cristo, vemos a Ciência


estudando a hipnose para aplicá-la no vasto mundo patológico em que lhe
cabe operar, e a Doutrina Espírita a reviver o Evangelho, disciplinando e
amparando os fenômenos da alma, no campo complexo da mediunidade, de
modo a orientar a consciência dos homens no caminho da Nova Luz.
56
Ante o Além

Reunião pública de 17/8/59


Questão nº 182

Há quem lamente a incapacidade dos amigos desencarnados para mais


amplo concurso na solução dos enigmas que atormentam a vida moral na
Terra.

Estudiosos inúmeros desejariam que os chamados mortos se utilizassem


dos sensitivos comuns, quais instrumentos mecânicos, para espetaculares
eventos, e reclamam deles a intervenção positiva no laboratório terrestre,
para a cura de moléstias dificilmente reversíveis; a revelação de fórmulas
milagrosas na matemática das finanças; a descoberta de forças ocultas da
Natureza e a materialização de estadistas ilustres, domiciliados no Além,
para que, de manifesto, venham falar ao povo na praça pública.
Suponhamos, porém, que uma escola seja diariamente assaltada por
teorias inoportunas, com desrespeito à autoridade do magistério,
desconhecendo-se a necessidade particular da instrução em cada discípulo...

Imaginemos um tribunal, sistematicamente invadido por sugestões


exóticas, que alarmem o ânimo da magistratura, ignorando-se o imperativo
do exame especial de todos os processos alusivos à regeneração de cada
delinquente em si mesmo...
Conjeturemos quanto à perturbação de um hospital, incessantemente
acometido de indicações extemporâneas, que transcendam o quadro dos
experimentos da Medicina, estranhando-se o impositivo do tratamento
individual para cada enfermo...

Decerto que à produtividade sobreviria a frustração, tanto quanto à luz


do serviço se oporia a sombra do caos.

É mais do que justo nos empenhemos todos no amparo ao aprendiz, no


auxílio ao encarcerado e no socorro ao doente, mas, além disso, ninguém
espere que os companheiros desencarnados interfiram na atividade humana,
favorecendo a inconsequência ou a desordem.

Quando os mensageiros da espiritualidade enobrecida recebem a


permissão necessária para contribuir no progresso do Globo, corporificam-
se no berço, à feição dos homens vulgares, comungando-lhes as vicissitudes
e as dores.
É assim que encontramos um Thomas Edison vendendo jornais para se
manter, aos quinze anos de idade, atingindo a posição de um dos maiores
gênios técnicos de todos os tempos e deixando nada menos de oitocentas
invenções registradas, e um Louis Pasteur, filho pobre de um curtidor, que,
sem ser médico, pode ser considerado como sendo o fundador da
microbiologia, apesar do trabalho valioso de seus predecessores.

Lembremo-nos do Cristo, o Divino Mestre por excelência.


Ele que podia, como ninguém, influenciar ambientes e criaturas, surge,
entre os homens, como qualquer criança necessitada de arrimo; vive, em sua
época, ao modo de homem normal e, embora a luz e o amor lhe coroem a
presença sublime, expira num lenho áspero, à maneira de qualquer
condenado à morte, sem culpa.

Realmente, os Espíritos desencarnados não podem penetrar assuntos que


a Humanidade ainda não pode compreender; entretanto, guarda a convicção
de que te trazem eles a notícia mais importante de todas – a verdade de que
a vida prossegue, além do sepulcro, e de que todos nós, desencarnados e
encarnados, seja onde for, receberemos sempre de acordo com as nossas
obras.
57
Fenômeno mediúnico

Reunião pública de 21/8/59


Questão nº 525

O fenômeno mediúnico é de todos os tempos e ocioso seria mostrar,


num estudo simples, o papel que lhe cabe na gênese de todos os caminhos
religiosos.

Importa anotar, porém, que os povos primitivos, sentindo a influência


dos desencarnados a lhes pesar no orçamento psíquico, promovem medidas
com que supõem garantir-lhes segurança e tranquilidade no reino da morte.
Egípcios, assírio-caldeus, gregos, israelitas e romanos prestam-lhes
homenagens e considerações.

E para vê-los e ouvi-los conservam consigo certa classe de iniciados


característicos.
Equivalendo aos médiuns modernos, havia sacerdotes em Tebas, magos
em Babilônia, oráculos em Atenas, profetas em Jerusalém e arúspices
(Áugures ou arúspices eram sacerdotes da Roma Antiga que usavam os
hábitos dos animais para tirar presságios, exemplos disso são o seu voo, o
seu canto e suas próprias entranhas, e o apetite dos frangos sagrados) em
Roma.

Administrações e cometimentos, embaixadas e expedições, exércitos e


esquadras movimentam-se, quase sempre, sob invocações e predições.

A civilização faraônica adquire mais largo esplendor, ao pé dos túmulos.


A comunidade ninivita consulta adivinhos e astrólogos.

Especifica a tradição que a alma de Teseu, em refulgente armadura,


guiava as legiões helênicas, em Maratona.
Conta o Velho Testamento que dedos intangíveis escrevem terrível
sentença no festim de Baltasar.

A sociedade patrícia celebra as festas lemurianas, com o intuito de


apaziguar os Espíritos errantes.
Contudo, quase todas as manifestações de intercâmbio, entre os vivos da
Terra e os vivos da Espiritualidade, evidenciavam-se mescladas de sombra e
luz.

No delírio de símbolos e amuletos, em nome dos mortos, estimulavam-


se preces e libações, virtudes e vícios, epopeias e bacanais.
Com Jesus, no entanto, recolhe o homem o necessário crivo moral para
definir responsabilidades e objetivos.

Em sua luminosa passagem, o fenômeno mediúnico, por toda parte, é


intimado à redenção da consciência.

É assim que surpreendemos o Divino Mestre afirmando-se em atitudes


claras e decisivas.
Não somente induz Maria de Magdala a que se liberte dos perseguidores
invisíveis que a subjugam, mas também a criar, em si própria, as qualidades
condignas com que se fará, mais tarde, a mensageira ideal da ressurreição.

Socorre, generoso, os alienados mentais do caminho, desalgemando-os


das entidades infelizes que os atenazam; contudo, entretém-se, ele mesmo,
com Espíritos glorificados, no cimo do Tabor.
Promete a Simão Pedro auxiliá-lo contra o assalto das trevas e,
tolerando-lhe pacientemente as fraquezas na hora da negação, conduze-o,
pouco a pouco, à exaltação apostólica.

Honorificando a humildade de Estevão, que suporta sereno as fúrias que


o apedrejam, aciona-lhe os mecanismos da clarividência, e o mártir percebe-
lhe a presença sublime, antes de se render à imposição da morte.

Compadece-se de Saulo de Tarso, obsidiado por seres cruéis que o


transformam em desalmado verdugo, e aparece-lhe, em espírito, na senda de
Damasco, para ensiná-lo, através de longos anos de renunciação e martírio,
a converter-se em padrão vivo de bondade e entendimento.

E continuando-lhe o ministério divino, dispomos hoje, na Terra, da


Doutrina Espírita a restaurar-lhe as lições como força que educa o fenômeno
psíquico, joeirando-lhe as expressões e demonstrando-nos a todos que não
bastam mediunidades fulgurantes, endereçadas ao regozijo da inteligência,
no palanque das teorias ou no banquete das convicções, e sim que,
sobretudo, é inadiável a nossa purificação de espírito para o levantamento
do Bem Eterno.
58
Ante os que partiram

Reunião pública de 24/8/59


Questão nº 936

Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele


coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde
transporta para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que


mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como
despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.
Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho
transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando
debalde mover os lábios mudos; uma companheira cujas mãos consagradas
à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais
se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada
mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última
lágrima.

Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à


frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a
derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de
saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam,
gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia, no adito dos
próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que
partiram.
Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o
desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os
chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam
a alma como chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram. Atravessam a faixa do


sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo
dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na
onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que
os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam
para o suicídio.

Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na


regeneração que lhes diz respeito.
Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.

Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas


horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.
Tranquiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além,
suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória,
abraçando com nobreza os deveres que te legaram.

Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre


eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto
terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.

E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer
que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em
noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde
pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da
manhã, no fulgor de um jardim.
59
Fenômeno magnético

Reunião pública de 28/8/59


Questão nº 427

Quem admite hoje o fenômeno magnético, por novidade, se esquece


naturalmente de que, no Egito dos Ramsés, velho papiro trazido aos nossos
dias já preceituava quanto ao magnetismo curativo:

– “Pousa a tua mão sobre o doente e acalma a dor, afirmando que a dor
desaparece.”
Séculos transcorreram, até que ele adquirisse extensa popularidade com
as demonstrações de Mesmer e atravessasse, tímido, o pórtico da
experimentação científica com personalidades marcantes, quais James Braid
e Durand de Grosa, Charcot e Liébeault.

E, nos tempos últimos, ei-lo em foco, desde os mais avançados


gabinetes das ciências psicológicas até os espetáculos públicos nos quais a
hipnose é conduzida, indiscriminadamente, para fins diversos.
Entretanto, importa considerar que é justamente em Nosso Senhor Jesus-
Cristo que ele atinge o seu ponto mais alto na Humanidade.

Todavia, não se vale dele o Senhor para alardear os poderes que lhe
exornam o Espírito.

Não lhe mobiliza os recursos para impressionar sem proveito.


Não lhe requisita os valores para discussões estéreis.

Não lhe concentra as possibilidades para a defesa de si próprio.


Jesus é o amor divino alongando os braços à angústia humana.

Estende a mão e cegos veem, e paralíticos se levantam, e feridentos se


alimpam e obsidiados se recuperam.

Fita Madalena em casa de Simão e dá-lhe forças para que se liberte das
entidades sombrias que a subjugam; contempla Zaqueu no sicômoro e
modifica-lhe as noções da riqueza material; fixa Judas no cenáculo e o
companheiro infeliz foge apressado, incapaz de suportar-lhe a presença, e
endereça a Pedro um simples olhar das grades da prisão e o amigo que o
negara pranteia amargamente.
Ainda assim, não se detém nos casos particulares. Junto ao povo,
tempera cada manifestação com autoridade e doçura, humildade e comando,
respeito e compreensão.

De ninguém indaga a prática religiosa, para fazer o bem.


No ensinamento, utiliza parábolas para não ferir fosse a quem fosse.

A todos oferece o apaziguamento da alma, antes da cura física.

Não procura os poderosos da Terra para qualquer entendimento e, sim,


busca de preferência os que passam curvados sob o jugo das aflições.
Não se faz precedido de arautos e batedores.

Não demanda lugares especiais para a exibição dos fenômenos que lhe
vertem das faculdades sublimes.

E, para imprimir o magnetismo divino da Boa-Nova na mente popular,


traça no monte as bem-aventuranças da vida eterna, proclamando veemente:

“Felizes os humildes de espírito, porque a eles toca o reino dos Céus.

Felizes os que choram, porque serão consolados.


Felizes os afáveis, porque possuirão a Terra.

Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.


Felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia.
Felizes os que trazem consigo o coração puro, porque sentirão a
presença de Deus.

Felizes os pacíficos e os pacificadores, porque serão chamados filhos do


Altíssimo.
Felizes os que forem perseguidos sem causa, porque o reino dos Céus
lhes pertence.”

Se afeiçoas, assim, ao fenômeno magnético, seja qual for o filão de tuas


atividades, poderás estudá-lo e incrementá-lo, estendê-lo e defini-lo, mas,
para que dele faças motivo de santidade e honra, somente em Jesus-Cristo
encontrarás o luminoso e indiscutível padrão.
60
Estranho delito

Reunião pública de 31/8/59


Questão nº 798

Observando a hostilidade manifesta que vem sofrendo a Doutrina


Espírita, desde a enunciação dos seus princípios com Allan Kardec,
estudemos o motivo pelo qual teria sido Jesus condenado, na barra dos
tribunais humanos.

Todos sabemos que o Cristo não foi vítima de assassínio vulgar.


Não obstante, sem razão foi preso, inquirido, processado, qualificado na
posição de réu e condenado à morte pelo mais alto conselho da comunidade
a que pertencia.

O libelo não permaneceu circunscrito ao âmbito religioso da nação


israelita.
A sentença foi conduzida à ratificação do arbítrio romano, na pessoa de
Pilatos, submetida à consideração da autoridade provincial, na presença de
Antipas, e, em seguida, exposta ao veredicto da multidão.

Dentre todos os poderes a que foi apresentado, não se tem notícia de voz
alguma que se levantasse para defendê-lo.

Entretanto, qual teria sido a culpa do Mestre nos quadros do seu tempo?
Ter-se-ia incompatibilizado com os sacerdotes?

Declarava, ele mesmo, que não vinha destruir a Lei, mas sim dar-lhe
cumprimento.
Afrontaria, acaso, os abastados do mundo?

Não possuía uma pedra em que repousar a cabeça. Guerreara os


políticos dominantes?

Ensinava o respeito à legalidade, proclamando que se deve dar a César o


que é de César e a Deus o que é de Deus.
Menoscabara, porventura, o prestígio dos médicos?

Valia-se apenas da oração e do magnetismo divino de que se fazia


intérprete no socorro aos doentes.
Dilapidara o interesse dos comerciantes?

Em sua época, qual acontece ainda hoje, pratica a beneficência quem


multiplique pães e peixes em favor dos famintos.

Insultara os filósofos e os pesquisadores do espírito, sequiosos de


experiência?
Ele mesmo anunciou que todos conheceremos a verdade para que a
verdade nos faça livres.

E, depois de crucificado, seus continuadores legítimos por muito tempo


foram perseguidos, humilhados, espancados, martirizados e ridicularizados,
apodrecendo nos cárceres, algemados a ferros, supliciados em gabinete de
tortura, passados a fio de espada ou cedidos à sanha de feras sanguinárias
nos espetáculos públicos.

E agora que a Doutrina Espírita lhe revive os ensinamentos, quantos lhe


esposam o programa de educação e justiça, de libertação moral e
fraternidade pura – já que a evolução do Direito, entre os homens, não mais
permite se ergam cruzes e fogueiras para os que crêem na Sabedoria e no
Amor da Providência Divina – padecem calúnia e vilipêndio, sarcasmo e
perseguição.

Isso, porém, acontece simplesmente porque a infração do Espiritismo,


que reverencia a Religião, ilumina a Filosofia e venera a Ciência, tanto
quanto o delito de Jesus e de seus genuínos seguidores, nos primeiros três
séculos do Cristianismo apostólico, é o de combater o cativeiro da
ignorância e o império do vício, a sombra da mentira e o domínio da
opressão, ajudando a alma do povo a sentir e a raciocinar.
61
Doenças escolhidas

Reunião pública de 4/9/59


Questão nº 259

Convictos de que o Espírito escolhe as provações que experimentará na


Terra, quando se mostre na posição moral de resolver quanto ao próprio
destino, é justo recordar que a criatura, durante a reencarnação, elege,
automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe
incorporam às preocupações.

Não precisamos lembrar, nesse capítulo, as grandes calamidades


particulares, quais sejam o homicídio, de que o autor arrasta as
consequências na forma de extrema perturbação espiritual, ou o suicídio
frustrado, que assinala o corpo daquele que o perpetra com dolorosos e
aflitivos remanescentes.
Deter-nos-emos, de modo ligeiro, no exame das decisões lamentáveis,
que assumimos quando enleados no carro físico, sem saber que lhe
martelamos ou desagregamos as peças.

Sempre que já tenhamos deixado as constrições do primitivismo, todos


sabemos que a prática do bem é simples dever e que a prática do bem é o
único antídoto eficiente contra o império do mal em nós próprios.
Entretanto, rendemo-nos, habitualmente, às sugestões do mal, criando
em nós não apenas condições favoráveis à instalação de determinadas
moléstias no cosmo orgânico, mas também ligações fluídicas aptas a
funcionarem como pontos de apoio para as influências perniciosas
interessadas em vampirizar-nos a vida.

Seja na ingestão de alimento inadequado, por extravagâncias à mesa,


seja no uso de entorpecentes, no alcoolismo mesmo brando, no aborto
criminoso e nos abusos sexuais, estabelecemos em nosso prejuízo as
síndromes abdominais de caráter urgente, as úlceras gastrintestinais, as
afecções hepáticas, as dispepsias crônicas, as pancreatites, as desordens
renais, as irritações do cólon, os desastres circulatórios, as moléstias
neoplásicas, a neurastenia, o traumatismo do cérebro, as enfermidades
degenerativas do sistema nervoso, além de todo um largo cortejo de
sintomas outros, enquanto que na crítica inveterada, na inconformação, na
inveja, no ciúme, no despeito, na desesperação e na avareza, engendramos
variados tipos de crueldade silenciosa com que, viciando o próprio
pensamento, atraímos o pensamento viciado das Inteligências menos felizes,
encarnadas ou desencarnadas, que nos rodeiam.

Exteriorizando ideias conturbadas, assimilamos as ideias conturbadas


que se agitam em torno de nosso passo, elementos esses que se nos ajustam
ao desequilíbrio emotivo, agravando-nos as potencialidades alérgicas ou
pesando nas estruturas nervosas que conduzem a dor.
Mantidas tais conexões, surgem frequentemente os processos obsessivos
que, muitas vezes, sem afetarem a razão, nos mantêm no domínio de
enfermidades – fantasmas que nos esterilizam as forças e, pouco a pouco,
nos corroem a existência.

Guardemo-nos, assim, contra a perturbação, procurando o equilíbrio e


compreendendo no bem – expressando bondade e educação – a mais alta
fórmula para a solução de nossos problemas.
E ainda mesmo em nos sentindo enfermos, arrastando-nos embora,
aperfeiçoemo-nos ajudando aos outros, na certeza de que, servindo ao
próximo, serviremos a nós mesmos, esquecendo, por fim, o mercado da
invigilância onde cada um adquire as doenças que deseja para tormento
próprio.
62
Ao sol do amor

Reunião pública de 7/9/59


Questão nº 569

Brilhando por luz de Deus, ainda mesmo nas regiões em que a


escuridade aparentemente domina, o amor regenera e aprimora sempre.

Podem surgir grandes malfeitores abalando a ordem pública, mas,


enquanto existirem pais e mães responsáveis e devotados, o lar fulgirá no
mundo, cooperando para que se dissolva a lama da delinquência na charrua
do suor ou na fonte das lágrimas.
Podem surgir crianças-problemas e jovens transviados de todos os
matizes, mas, enquanto existirem professores dignos do nome bendito que
carregam, erguer-se-á a escola por santuário da educação.

Podem surgir doentes agoniados em todas as estâncias da vida, mas,


enquanto existirem cientistas consagrados ao socorro dos semelhantes,
levantar-se-á o hospital, como pouso da Bênção Divina para a redenção dos
enfermos.
Podem surgir criminosos de todas as procedências, gerando reações
populares pelos delitos em que estejam incursos, mas, enquanto existirem
juízes compreensivos e humanos, destacar-se-á o instituto correcional por
cidadela do bem, onde as vítimas da sombra retornem de novo à luz.

Podem surgir empreiteiros do ateísmo e do ódio, da intolerância e da


guerra, como verdadeiros alienados mentais, mas, enquanto existirem
sacerdotes e missionários da fé, com bastante abnegação para ajudar e
perdoar, luzirá o templo, nas diversas confissões religiosas do mundo, como
autêntica oficina de acrisolamento da alma.

É justificável, portanto, que a afeição não repouse, além da morte.


Para lá da fronteira de cinza, agiganta-se o trabalho para todos os
corações acordados ao clarão do amor sem mácula.

Mães esquecidas na legenda do túmulo transformam-se em anjos


invisíveis de renúncia, ao pé de filhos desmemoriados e ingratos, para que
não resvalem de todo nas tenebrosidades do abismo; esposas renascidas do
nevoeiro carnal apoiam companheiros desorientados no infortúnio, para que
se restaurem no tálamo doméstico; filhos, desligados do corpo físico,
tornam, despercebidos, à convivência dos pais, arrebatando-os às tentações
do desânimo ou do suicídio, e arautos de ideias renovadoras sustentam-se,
em espírito, ao lado daqueles que lhes continuam as obras.
Se te encontras, assim, em tarefas de sacrifício, não recalcitres contra os
aguilhões que te acicatam as horas, consciente de que a matemática do
destino não nos entrega problemas de que não estejamos necessitados.

Humilha-te e serve, desculpa e edifica, diante dos que se fazem


complicados instrumentos de tua dor.
A prova antecipa o resgate, a luta anuncia a vitória e a dificuldade
encerra a lição.

E embora se te situem as esperanças no agressivo espinheiro do


sofrimento, ama os que te não compreendem e ora pelos que te injuriam,
porque a Lei conhece o motivo pelo qual cada um deles te cruza os passos, e
erguer-te-á o ânimo, aqui e além da Terra, para que prossigas no apostolado
do amor, em perpetuidade sublime.
63
Na grande transição

Reunião pública de 11/9/59


Questão nº 155

Por muitas sejam as tuas dores, repara o mundo em que a Divina


Bondade te situa a existência e deixa que a vida te renove a esperança.

Tudo é serviço por toda parte.


Apesar dos profetas do pessimismo, bulcões (Aglomeração de nuvens
densas e compactas) ameaçadores transformam-se, na hora da tempestade,
em lagos volantes, acalentando a gleba sedenta; fontes de longo curso
atravessam as garras pontiagudas da rocha, convertendo-se em padrão de
pureza; pântanos drenados deitam messes de reconforto e árvores podadas
multiplicam a produção.

Todas as energias que sustentam a Terra esquecem todo o mal, buscando


todo o bem.
Dir-se-ia que o próprio Senhor criou a noite como exaustor das
inquietações do dia, para que o homem, cada manhã, consiga reaprender e
recomeçar.

Colocado, assim, no trono da razão, ante os elementos inferiores que te


servem, humildes, olvida a sombra para que a luz te favoreça.

Ouve a própria consciência, seja qual for a ideia religiosa a que te filias,
e perceberás que nasceste para realizar o melhor.
E quem realiza o melhor desconhece o que exprima ofensa ou
descaridade, porque a ofensa é espinho da ignorância e a descaridade é
chaga da delinquência, que somente a educação e o remédio conseguirão
liquidar.

Tudo aquilo que desfrutas é depósito santo.


Dotes de espírito e afeições preciosas, autoridade e influência, títulos e
haveres são talentos emprestados que devolverás na hora prevista.

Desse modo, ainda mesmo que a maioria te escarneça o propósito de


bem fazer, perdoa sempre e fase o bem que possas.
O tempo que te traz hoje a oportunidade presente será amanhã o
portador do minuto necessário à grande transição que a morte impõe sempre
a justos e injustos... E, na grande transição, o bem que houveres feito, muita
vez superando sacrifícios e trevas, ser-te-á o orvalho fecundante depois da
nuvem, a água pura acrisolada na pedra, o ramo virente (Que verdeja) a
destacar-se do lodo e o fruto ótimo a pender do tronco dilacerado.

Segue, pois, ao clarão do bem, para que o crepúsculo das forças físicas
te descerre a senda estrelada.
Não digas que tens o lar à feição de penitenciária, que te falta a
compreensão alheia, que não dispões de recursos para ajudar ou que sofres
inibições invencíveis.

Recorda que, certo dia, um anjo transfigurado em homem subiu


agressivo monte, sentenciado à morte sem culpa, mas, em razão de haver
aceitado a cruz, por amor de todos, embora desolado e sozinho, clareou para
sempre a rota do mundo inteiro.
64
Meditemos

Reunião pública de 14/9/59


Questão nº 4

Revelando avançada paranoia, pela hipertrofia do orgulho ante as


conquistas da civilização atual, há quem pretenda banir a ideia de Deus do
pensamento humano, encastelando-se na demência disfarçada de grandeza.

No torvo cometimento, situam-se todos os mentores do ateísmo


histórico e prático, notadamente entre os povos-polvos, sequiosos de
hegemonia e influência.
Todavia, quantos se consagram a semelhante monstruosidade do
raciocínio esquecem-se de que apenas há quatro lustros as nações mais
cultas do Globo se empenharam em pavorosa carnificina.

No prélio terrível, salientavam-se os países superalfabetizados do


mundo... Bastaram, porém, simplesmente alguns meses de luta para que se
rebaixassem à condição de feras, fazendo renhir as garras sanguissedentas e
fulminando as aquisições do espírito, com o objetivo de aniquilar a
soberania da razão.

Quanto acontece agora, dispunham todos eles de tratados que lhes


salvaguardavam as instituições livres...

Isso, no entanto, não impediu esquecessem os compromissos


internacionais, arrasando cidades abertas e incendiando vilarejos pacíficos.

Enfileiravam largas bibliotecas de ciências sociais, em louvor da


dignidade humana, mas caíram como chacais sobre mulheres e crianças
indefesas, cruentando populações inermes.
Contavam com alevantado progresso da navegação marítima e com
elevados princípios a lhes nortearem os movimentos, mas converteram os
oceanos em teatros de pirataria e de sangue.

Possuíam as mais nobres invenções, quais o avião e o rádio, o cinema e


a grande imprensa, inclusive o domínio iniciante da energia nuclear;
contudo, mobilizaram todos esses recursos no assalto a lares e hospitais,
escolas e templos.
Nos campos reservados à concentração de prisioneiros, o
envenenamento e o suplício da fome, a bestialidade e o assassínio foram
considerados atos legais.

Do sinistro balanço constaram milhões de cadáveres, milhões de


mutilados, milhões de órfãos, milhões de feridos, milhões de desajustados...
Não valeram descobertas da indústria, avanços da ciência, alturas
filosóficas, ajustes políticos ou exaltações das letras.

Tudo desceu às trevas da carnagem.

É que, quando a ambição se desregra entre os homens, cresce a força da


injustiça, e, quando a injustiça se erige como poder supremo na face da
Terra, habitualmente aparece o esquecimento de Deus, no âmago das elites.
E, com o esquecimento do Criador, desentendem-se as criaturas, gerando
conflito e destruição.
Entregue ao livre-arbítrio, nos recessos da própria alma, pode o homem
olvidar a Paternidade Divina e escarnecer a ideia religiosa que lhe traça
roteiro moral, mas tomba nos arrastamentos da irresponsabilidade e da
delinquência; pode, com ingratidão e crueldade, pregar à vida o desrespeito
a Deus, mas a vida lhe responde com as trevas do caos.
65
Reencarnação e progresso

Reunião pública de 18/9/59


Questão nº 196

Comentando as necessidades da reencarnação, anotemos alguns quadros


da Natureza.

O celeiro é a casa ideal das sementes.


Aí se congregam todas, em saborosa intimidade, e quando semelhante
reunião se delonga em demasia degeneram-se na essência, por ação de
agentes químicos, tornando-se imprestáveis.

Conduzidas, porém, ao replantio, embora padeçam solidão e abandono


nas vicissitudes do solo, voltam de novo à glória da vida, em forma de
verdura e flor, espiga e pão.
A gleba de calcário friável é, comumente, o refúgio de numerosos tratos
de argila que aí descansam, às vezes por séculos, através de lentas
modificações sem maior proveito; entretanto, se trazidos ao clima
esfogueante do forno, materializam nobres sonhos do oleiro, atendendo a
largas tarefas de utilidade em planos superiores.

Além da morte física, pode a alma retemperar-se ao calor de afeições


caras, condicionada ao campo de afinidades em que se lhe expressam
emoções e desejos; todavia, superada a fase de justo refazimento, aparece a
ociosidade que, se mantida, faz que o Espírito por muito tempo se mantenha
estanque, ante a luz do progresso.

É por isso que a reencarnação se mostra imprescindível e inadiável.


Determinado companheiro terá resolvido os problemas da sexualidade
inferior, mas guardará consigo a febre de cupidez. Outro sentir-se-á liberado
das tentações da usura, entretanto permanecerá em conflito com o vício da
inconformação.

Alguém terá vencido o hábito da rebeldia sistemática, mas sofrerá em si


mesmo o estilete magnético do ciúme. Esse e aquele amigo se revelarão
livres dessa praga mental, contudo, sustentam-se, ainda, algemados à
vaidade infantil ou ao orgulho tirânico.
E para que essas chagas ocultas sejam extirpadas de nossa alma é
imperioso nos voltemos para o renascimento na arena física, onde
encontraremos a adversidade naqueles que não pensam por nossas medidas,
para que aprendamos a respirar nas dimensões da Vida Maior.

Em nosso presente estágio de evolução será preciso renascer, na Terra


ou noutros mundos que se lhe assemelhem, tantas vezes quantas se fizerem
necessárias, não somente no resgate dos erros e culpas do pretérito, em
louvor da Justiça, mas também no aperfeiçoamento de nós mesmos, em
obediência ao Amor.
Toda máquina algo produz vencendo a inércia pela força do movimento
e toda fonte que desistisse de caminhar, com receio de pedra e lodo, nada
mais seria que água parada na calmaria do charco.

O mundo é, assim, nossa escola.

A família consanguínea é o grupo estudantil a que pertencemos.

O lar é a banca da experiência.

Amigos representam explicadores.


Adversários desempenham o papel de fiscais.

Os parentes difíceis são cadernos de prova.

O trabalho espontâneo no bem é o curso da iluminação interior que


podemos aproveitar segundo a nossa vontade.
E sendo Jesus o nosso Divino Mestre, a cada instante da vida a
dificuldade ser-nos-á como bênção portadora de preciosas lições.
66
Abençoa

Reunião pública de 21/9/59


Questão nº 752

Deixa que a bênção de Deus te alumie o coração para que saibas


abençoar.

Ninguém prescinde do amor para viver.


Observa os que marcham, desdenhosos, ignorando-te a presença,
habituados à convicção de que o ouro pode comprar a felicidade.

Abençoa-os e passa.
Ninguém conhece o rochedo em que o barco da ilusão lhes infligirá o
derradeiro travo de angústia.

Vês, inquieto, os que se desmandam no poder. Abençoa-os e passa.

Muitos deles simplesmente arrastam as paixões que os arrastarão para o


gelo do ostracismo ou para a cinza do esquecimento.
Contemplas, espantado, os que são portadores de títulos preciosos, a te
exigirem considerações e tributos especiais.

Abençoa-os e passa.
O tempo cobrar-lhes-á aflitivo imposto da alma pelas distinções que lhes
conferiu.

Ouves, triste, os que injuriam e amaldiçoam.

Abençoa-os e passa.
São eles tão infelizes que ainda não podem assinalar as próprias
fraquezas.
Fitas, admirado, os que fazem tábua rasa dos mais altos deveres para
desfrutarem prazeres loucos, enquanto a vitalidade lhes robustece o corpo
jovem.

Abençoa-os e passa.
Amanhã, surgirão acordados, em mais elevado nível de entendimento.

Se alguém te fere, abençoa.


E se esse mesmo alguém volta a ferir-te, abençoa outra vez.

Não te prevaleças da crueldade para mostrar a justiça, porque a justiça


integral é de Deus e todos viverão para conhecê-la.

Se teu filho é rebelde e insensato, abençoa teu filho, porque teu filho
viverá.
Se teus pais são irresponsáveis e desumanos, abençoa teus pais, porque
teus pais viverão.

Se o companheiro aparece ingrato e desleal, abençoa teu companheiro,


porque continuará ele vinculado à existência.
Se há quem te calunia ou persegue, abençoa os que perseguem e
caluniam, porque todos eles viverão.

Humilhado, batido, esquecido ou insultado, abençoa sempre.

Basta a vida para retificar os erros da consciência. Inquirido, certa vez,


pelo Apóstolo quanto ao comportamento que lhe cabia perante a ofensa,
afirmou Jesus:
– “Perdoarás não sete vezes mas setenta vezes sete.”

Com isso o Divino Mestre desejava dizer que ninguém precisa vingar-
se, porque o autor de qualquer crueldade tê-la-á como fogo nas próprias
mãos.
67
Materialistas

Reunião pública de 25/9/59


Questão nº 799

Não podemos afirmar que os materialistas vêm vindo...

Estão nos tempos modernos, por toda parte, tentando inconscientemente


apagar a luz do espírito.
Assestam telescópios na direção das galáxias e supõem resolver os
enigmas do Universo pelas acanhadas impressões dos cinco sentidos da
esfera física.

Devotam-se aos mais altos estudos da Psicologia transcendente e


atestam que o homem não passa de símio complexo, sem maiores
possibilidades de evolução.
Dizem que estamos longe de equacionar os problemas do destino e do
ser, e estabelecem padrões para a genética humana, tomando por alicerce o
comportamento de drosófilas (Drosophila é um gênero formado por um
grande número de espécies de pequenas moscas ) e de ratos nas atividades
reprodutivas.

Asseveram que é preciso plasmar elites de condutores e dirigem-se à


mocidade acadêmica subtraindo-lhe as noções da alma, à feição de
sorridentes carrascos da responsabilidade moral.

Destacam o imperativo da solidariedade e preconizam a sumária


eliminação dos que nasçam doentes ou incapazes.
Proclamam-se campeões da liberdade e desprezam quem lhes não aceite
o figurino mental.

Recomendam a investigação das questões do espírito e injuriam as


inteligências sinceras e desassombradas que a elas se afeiçoem.
Aconselham o respeito às religiões e, em vez de ajudá-las no apostolado
de amor pela extinção do sofrimento, solapam-lhes a existência, a golpes de
sarcasmo sutil.

Claro que não nos reportamos aos pesquisadores respeitáveis, porque a


Ciência – matriz do progresso – será sempre, no mundo, a interrogação
vestida de luz, entesourando experiências, diante da verdade.
Referimo-nos aos epicuristas de todas as épocas, sejam eles autores de
fulgurantes pensamentos destrutivos, em alentados livros sobre a Natureza,
ou meros conversadores de salão, interessados nas sensações inferiores, a
detrimento da sublimação íntima.

Desde as primeiras horas de nossa formação doutrinária, os mensageiros


do Cristo explicaram que o Espiritismo contribuirá no aperfeiçoamento da
Terra, anulando o materialismo, por ensinar aos homens a dignificação do
futuro, mantendo-os livres de seitas e cores, castas e privilégios.
Temos, assim, a tarefa de conduzir para a frente a bandeira da
imortalidade, com o trabalho incessante que lhe é consequente, mas, para
atingirmos a meta, é imperioso se disponha cada um de nós a viver em si
mesmo os princípios que prega, com a obrigação de servir e com o dever de
estudar.
68
Materialismo

Reunião pública de 28/9/59


Questão nº 148

Para dissipar a sombra do materialismo a espessar-se no espírito


humano, é forçoso evitemos a atitude daquelas autoridades da antiga
Bizâncio, que discutiam bagatelas, enquanto os inimigos lhes cercavam as
portas.

Reconhecendo a impossibilidade de vincular essa anomalia às raízes da


ignorância, de vez que o epicurista é, invariavelmente, alguém que se
prevalece da cultura intelectual para extrair da existência o máximo de
prazer com esquecimento da responsabilidade, interpretemos o materialismo
como sendo enfermidade obscura, espécie de neoplasma da mente, a
degenerar-lhe os mecanismos. Da tumoração invisível surge a violência e a
crueldade, a desumanidade e o orgulho por metástases perigosas, suscetíveis
de criar as piores deformidades no mundo íntimo.
E tanto quanto a ciência médica ainda encontra dificuldades para definir
a etiologia do câncer, surpreendemos, de nossa parte, os maiores entraves
para explicar a causa de semelhante calamidade, porquanto, sendo a ideia de
Deus imanente em todas as leis do Universo, não é compreensível se isole,
voluntariamente, a razão da sua origem divina.

Convençamo-nos, porém, de que todo desequilíbrio do espírito pede, por


remédio justo, a educação do espírito.
Veiculemos, assim, o livro nobre.

Estendamos a mensagem edificante.

Acendamos a luz dos nossos princípios nas colunas da imprensa.


Utilizemos a onda radiofônica, auxiliando o povo a pensar em termos de
vida eterna.

Relatemos as nossas experiências pessoais, no caminho da fé, com o


desassombro de quem se coloca acima dos preconceitos.
Amparemos a infância e a juventude para que não desfaleçam à míngua
de assistência espiritual.

Instruamos a mediunidade.
Aperfeiçoemos nossos próprios conhecimentos, através da leitura
construtiva e meditada.

Instituamos cursos de estudo do Evangelho de Jesus e da obra de Allan


Kardec, em nossas organizações, preparando o futuro.

Ofereçamos pão ao estômago faminto e alfabeto ao raciocínio


embotado.
Plantemos no culto da caridade o culto da escola.

E, sobretudo, considerando o materialismo como chaga oculta, não nos


afastemos da terapia do exemplo, porque, em todos os climas da
Humanidade, se a palavra esclarece, o exemplo arrasta sempre.
69
Diante das tentações

Reunião pública de 2/10/59


Questão nº 893

Tentado à permanência nas trevas, embora de pés sangrando, dirige-te


para a luz.

Enquanto não atravesse o suor e o cansaço da plantação, lavrador algum


amealha a colheita.
Até que atinjamos, um dia, o clima do reino angélico, seremos almas
humanas, peregrinos da evolução nas trilhas da eternidade.

Aqui e ali, ouviremos cânticos de exaltação à virtude e, louvando-a,


falaremos por nossa vez, acentuando-lhe os elogios.
Entretanto, manda a sinceridade nos vejamos por dentro, e por dentro de
nós ruge o passado, gritando injúrias contra as nossas mais belas aspirações.

Toma, porém, o facho que o Cristo te coloca nas mãos e clareia a


intimidade da consciência, parlamentando contigo mesmo.

Hora a hora, esclareçamos a nós próprios, tanto quanto nos lançamos no


ensino aos outros.
Reparando os caídos em plena viciação, inventaria as próprias fraquezas
e perceberás que, provavelmente, respirarias agora numa enxerga de lodo,
não fosse a migalha do conhecimento que te enriquece.

Diante dos que se desvairam na crítica, observa a facilidade com que te


entregas aos julgamentos irrefletidos e pondera que serias igualmente
compelido ao braseiro da crueldade, não fosse algum ligeiro dístico da
prudência que consegues mentalizar.
À frente daqueles que se envileceram na carruagem do ouro ou da
influência política, recorda quantas vezes a vaidade te procura, por dia, nos
recessos do coração e reconhecerás que também forçarias as portas da
fortuna e do poder, caso não fosse o leve fio de responsabilidade que te
frena os impulsos.

Analisando os que sofrem na tela da obsessão, pensa nos reiterados


enganos a que te arrojas e compreenderás que ainda hoje chorarias nas
angústias do manicômio, não fosse a pequenina faixa de serviço no bem a
que te afeiçoas.
Perante os companheiros atolados no crime, anota a agressividade que
ainda trazes contigo e concluirás que talvez estivesses na penitenciária,
amargando aflitiva sentença, não fosse o raiúnculo de oração que acendes
na própria alma.

E as lutas que te marcam a rota assinalam também o campo de serviço


em que ainda estagias junto aos desencarnados da nossa esfera de ação.
Situemo-nos no lugar dos que erram e nosso raciocínio descansará no
abrigo do entendimento.

Nenhum lidador vinculado à Terra se encontra integralmente livre das


tendências inferiores.

Todos nós, ante a sublimidade do Cristo, somos almas em libertação


gradativa, buscando a vitória sobre nós mesmos.

E se a estrada para semelhante triunfo se chama “caridade constante


para com os outros”, o primeiro passo de cada dia chama-se “compaixão”.
70
Na hora da crise

Reunião pública de 5/10/59


Questão nº 466

Na hora da crise, emudece os lábios e ouve as vozes que falam,


inarticuladas, no imo de ti mesmo.

Perceberás, distintamente, o conflito.


É o passado que teima em ficar e o presente que anseia pelo futuro.

É o cárcere e a libertação.
A sombra e a luz.

A dívida e a esperança.

É o que foi e o que deve ser.


Na essência, é o mundo e o Cristo no coração.

Grita o mundo pelo verbo dos amigos e dos adversários, na Terra e além
da Terra.

Adverte o Cristo, através da responsabilidade que nos vibra na


consciência.

Diz o mundo: “acomoda-te como puderes.

Pede o Cristo: “levanta-te e anda”.


Diz o mundo: “faze o que desejas”.

Pede o Cristo: “não peques mais”.


Diz o mundo: “destrói os opositores”.
Pede o Cristo: “ama os teus inimigos”.

Diz o mundo: “renega os que te incomodem”.

Pede o Cristo: “ao que te exija mil passos, caminha com ele dois mil”.

Diz o mundo: “apega-te à posse”.


Pede o Cristo: “ao que te rogue a túnica cede também a capa”.

Diz o mundo: “fere a quem te fere”.

Pede o Cristo: “perdoa sempre”.


Diz o mundo: “descansa e goza”.

Pede o Cristo: “avança enquanto tens luz”.


Diz o mundo: “censura como quiseres”.

Pede o Cristo: “não condenes”.

Diz o mundo: “não repares os meios para alcançar os fins”.


Diz o Cristo: “serás medido pela medida que aplicares aos outros”.

Diz o mundo: “aborrece os que te aborreçam”.

Pede o Cristo: “ora pelos que te perseguem e caluniam”.

Diz o mundo: “acumula ouro e poder para que te faças temido”.

Diz o Cristo: “provavelmente nesta noite pedirão tua alma e o que


amontoaste para quem será?”
Obsessão é também problema de sintonia.

O ouvido que escuta reflete a boca que fala.


O olho que algo vê assemelha-se, de algum modo, à coisa vista.

Não precisas, assim, sofrer longas hesitações nas horas de tempestade.


Se realmente procuras caminho justo, ouçamos o Cristo, e a palavra
dele, por bússola infalível, traçar-nos-á rumo certo.
71
Justiça e amor

Reunião pública de 9/10/59


Questão nº 876

Sempre que te reportes à justiça, repara que Deus a fez assistida pelo
amor, a fim de que os caídos não sejam aniquilados.

Terás contigo a lógica indicando-te os males e o entendimento


inspirando-te o necessário socorro aos que lhes sofrem o assédio.
Onde passes, compadece-te dos vencidos que contemples à margem...

Muitos pranteiam as ilusões que lhes trouxeram arrependimento e


remorso e muitos se levantam ainda sobre os próprios enganos, à maneira de
trapezistas inconscientes, ensaiando o último salto ao precipício da morte.
Dir-te-ão alguns não precisarem de teu consolo, fugindo-te à presença,
com receio da verdade que te brilha na boca, e outros, que descreram do
poder renovador do trabalho, preferem rolar no vício, descendo, mais cedo,
os degraus do sepulcro.

Além deles, porém, surgem outros... Os que desanimaram em plena luta,


recolhendo-se ao frio da retaguarda, os que enlouqueceram de sofrimento,
os que perderam a fé por falta de vigilância, os que se transviaram à míngua
de reconforto e os que se abeiram do suicídio, tomados pelo superlativo do
desespero.

Tentando dar-lhes remédio, ergue o mundo penitenciárias e hospitais,


reformatórios e manicômios; no entanto, para ajudá-los, confere-te o Cristo
a flama do amor no santuário do coração.
Todos esses padecentes da estrada têm algo para ensinar.

Os que tombam esmagados de aflição induzem-te ao serviço pelo


mundo melhor, e os que se arrojam a monstruosos delitos falam, sem
palavras, em louvor do equilíbrio de que dispões, auxiliando-te a preservá-
lo.

Não permitas que a justiça de tua alma caminhe sem amor, para que se
não converta em garra de violência.
Ao pé dos maiores celerados da Terra, Deus colocou mães que amam,
embora esses filhos desditosos de sua bênção lhes transformem a vida em
fonte de lágrimas.

Diante, pois, dos vencidos de todas as condições e de todas as


procedências, não mostres desprezo, nem grites anátema.
Não lhes conheces a história desde o princípio e não percebes, agora, a
causa invisível da dor que os degrada.

Ora e auxilia em silêncio, porque não sabes se amanhã raiará teu


instante de abatimento e de angústia, e manda a regra divina façamos aos
outros aquilo que desejamos nos seja feito.

Justiça sem amor é como terra sem água.


Recorda que o próprio Cristo, reconhecendo que os vencedores do
mundo habitualmente se inclinam à vaidade – perigosa armadilha para
quedas maiores –, preferiu nascer na palha dos que vagueiam sem rumo,
viver na dificuldade dos menos felizes e morrer na cruz reservada às vítimas
do crime e aos filhos da escravidão.
72
Essas outras crianças

Reunião pública de 16/10/59


Questão nº 383

Quando abraçares teu filho, no conforto doméstico, fita essas outras


crianças que jornadeiam sem lar.

*
Dispões de alimento abundante para que teu filho se mantenha em linha
de robustez.

Essas outras crianças, porém, caminham desnorteadas, aguardando os


restos da mesa que lhes atiras, com displicência, findo o repasto.
*

Escolhes a roupa nobre e limpa de que teu filho se vestirá, conforme a


estação.

Todavia, essas outras crianças tremem de frio, recobertas de andrajos.


*

Defendes teu filho contra a intempérie, sob teto acolhedor, sustentando-


o à feição de jóia no escrínio.
Contudo, essas outras crianças cochilam estremunhadas, na via pública,
quando não se distendem no espaço asfixiante do esgoto.

Abres ao olhar deslumbrado de teu filho os tesouros da escola.


E essas outras crianças suspiram debalde pela luz do alfabeto, acabando,
muita vez, encerradas no cubículo das prisões, à face da ignorância que lhes
cega a existência.

Conduzes teu filho a exame de pediatras distintos, sempre que


entremostre leve dor de cabeça.

Entretanto, essas outras crianças, minadas por moléstias atrozes,


agonizam em leitos de pedra, sem que mão amiga as socorra.
*

Ofereces aos sentidos de teu filho a festa permanente das sugestões


felizes, através da educação incessante.

No entanto, essas outras crianças guardam olhos e ouvidos quase sempre


sintonizados no lodo abismal das trevas.
*

Afaga, assim, teu filho no trono familiar, mas desce ao pátio da


provação onde essas outras crianças se agitam em sombra ou desespero e
ajuda-as, quanto possas!
*

Quem serve no amor do Cristo sabe que a boa palavra e o gesto de


carinho, o pedaço de pão e a peça de vestuário, o frasco de remédio e a
xícara de leite operam maravilhas.

*
Proclamas, a cada passo, que esperas, confiante, o esplendor do futuro,
mas, enquanto essas outras crianças chorarem desamparadas, clamaremos
em vão pelo mundo melhor.
73
Amigos

Reunião pública de 19/10/59


Questão nº 938

À medida que avances, montanha acima, nas trilhas da evolução, é


possível que muitos de teus amigos se transformem, porque não possam ver
o que vês.

É qual se o vinho capitoso surgisse transfigurado em resíduo de fel, ou


como se o brilhante longamente acariciado se metamorfoseasse em pedra
falsa.
Consagras-te agora à luz.

Dormitam muitos na sombra.


Escolhes hoje servir.

Demoram-se muitos reclamando o serviço alheio.

Buscas presentemente a verdade.


Afeiçoam-se muitos à máscara da ilusão.

Desapegas-te de prazeres inferiores e posses materiais.


Algemam-se muitos à egolatria.

Estranhando-te a nova atitude, quase sempre te classificam os anseios de


elevação com adjetivos injuriosos.

Porque não mais te acomodas nas trevas, há entre eles quem te chame
orgulhoso.
Porque conservas a humildade na luz da abnegação, há entre eles quem
te chame covarde.
Porque não mais te relaciones com a mentira, há entre eles quem te
chame fanático.

Porque esqueces a ti mesmo no culto do amparo a outrem, há entre eles


quem te chame idiota.
Entretanto, ama-os, mesmo assim, sem exigir que te amem, cultivando o
trabalho que a vida te confiou.

O serviço sustentado nas tuas mãos falará, sem palavras, de teus bons
propósitos a criaturas diferentes que, tangidas pelo divino amor, chegarão
de outros campos em teu auxílio.
Para isso, porém, é indispensável não entres no labirinto das
lamentações vinagrosas.

Censurar é ferir, e queixar-se é perder tempo.

Renuncia, pois, à satisfação da convivência com aqueles que, embora


continuem amados em teu coração, não mais te comunguem as esperanças.
Se te esquecerem, perdoa.

Se te desprezarem, perdoa mais uma vez.


Se te insultarem, perdoa novamente.

Se te atacarem, perdoa sempre.

Seja qual for a maneira pela qual te apareçam, nos dias da


incompreensão, ajuda-os quanto puderes.
O silêncio em serviço é uma prece que fala.

Deus, que concede à semente o refúgio da terra e a bênção da chuva


para que germine, em louvor do pão, dar-te-á também outras almas, com as
quais te associes para a glória do bem.
74
Campanha na campanha

Reunião pública de 23/10/59


Questão nº 886

“Campanha”, além de outros significados na sinonímica, pode também


figuradamente expressar “esforço para conseguir alguma coisa”.

Possuímos, desse modo, campanhas múltiplas no terreno da


solidariedade, como simples dever; todas, porém, rogando a campanha da
indulgência, no âmago de si mesmas.
Ouçamos, assim, o que nos diz semelhante campanha íntima.

*
Ajuda a construir o templo de tua fé, mas não creias que os outros
devam crer conforme crês.

Ergue um lar que recolha os infortunados da via pública; entretanto, não


expulses do coração as vítimas do mal, para que o mal não as aniquile.

Agasalha a epiderme desnuda do companheiro; todavia, não exponhas a


vida do próximo às rajadas mortíferas da censura.
*

Estende o prato reconfortante ao faminto; contudo, não te falte apoio


moral para os sedentos de compreensão.

*
Traze a cadeira de rodas à necessidade do paralítico; no entanto, não
deixes de levantar os caídos em desapreço.

Protege os obsidiados como puderes, mas desculpa incondicionalmente


os amigos perturbados da própria rota, quando te compliquem a experiência.

*
Dá remédio aos enfermos; entretanto, não negues algum bálsamo de
esperança aos corações tombados no vício.

Ampara a criança menosprezada; contudo, não a escravizes à tua


exigência.
*

Promove a pregação da virtude; no entanto, atende ao culto incessante


da gentileza para com todos, começando da própria casa.
*

Presta serviço aos irmãos do caminho, mas não lhes cobres favores
especiais.

Realmente, em quaisquer campanhas de redenção, não te despreocupes


da campanha da indulgência na campanha a que te afeiçoes.

*
Indulgência exprime “entendimento” e “entendimento” quer dizer
“simpatia fraterna”.

Jesus, entre os homens, partilhou campanhas diversas, inclusive aquelas


do amor pelos inimigos e da oração pelos que perseguem e caluniam.

Entretanto, fosse na tolerância aos sarcasmos da rua ou no perdão aos


ingratos, em momento algum se esqueceu da própria consagração à
campanha da bênção.
75
Em plena prova

Reunião pública de 26/10/59


Questão nº 266

Aguardas a melhora que parece tardia...

Suspiras em vão pelo amigo ideal...

Anseias inutilmente pela concórdia doméstica...

Clamas debalde pelo socorro em serviço...


Todavia, mesmo nos transes mais duros, espera com paciência.

Ontem devastamos lares alheios.


Hoje é preciso reconstruí-los.

Ontem traçamos caminhos de lodo e sombra aos pés dos outros.


Hoje é preciso purificá-los.

Ontem retínhamos sem proveito a fortuna de todos.

Hoje é preciso devolvê-la em trabalho, acrescida de juros.


Ontem cultivamos aversões.

Hoje é preciso desfazê-las, a preço de sacrifício.


Ontem abraçamos o crime, supondo preservar-nos e defender-nos.

Hoje é preciso reparar e solver.

Ontem cravamos no próximo o espinho do sofrimento.


Hoje é preciso experimentá-lo por nossa vez.

Se sobes calvário agreste, irriga em suor e pranto a senda para o futuro.

Qual ocorre ao enfermo que solicita assistência adequada antes da


consulta, imploraste, antes do berço, a prova que te agracia.
Aspirando a sanar as chagas do pretérito, comissionaste o próprio
destino para que te entregasse à existência o problema inquietante e a
frustração temporária, o embaraço imprevisto e a trama da obsessão, o
parente amargoso e a doença difícil.

Não atraiçoes a ti mesmo, fugindo ao merecimento da concessão.

Milhares de companheiros desenleados da carne suplicam o ensejo que


já desfrutas.
Mergulhados na dor maior, tudo dariam para obter a dor menor em que
te refazes.

*
Desse modo, quando estiveres em oração, sorvendo a taça de angústia,
na sentença que indicaste a ti próprio diante das Leis Divinas, roga a bênção
da saúde e a riqueza da paz, a luz da consolação e o favor da alegria, mas
pede a Deus, acima de tudo, o apoio da humildade e a força da paciência.
76
Jesus e atualidade

Reunião pública de 30/10/59


Questão nº 626

Hoje, sabe a Física que a luz é uma forma de energia e que todas as
coisas criadas são composições energéticas, vibrando em ondas
características.

Disse o Cristo: “Brilhe vossa luz.”

Começa a magnetologia{3} a provar cientificamente a reencarnação.

Elucidou o Senhor: “Necessário vos é nascer de novo.”


Conclui a medicina que o homem precisa desembaraçar-se de tudo o que
lhe possa constituir motivo à cólera ou tensão, em favor do próprio
equilíbrio.

Ensinou Jesus, por fórmula de paz e proteção terapêutica: “Amai os


vossos inimigos, fazei bem aos que vos façam mal e orai pelos que vos
perseguem e caluniam.”

Afirma a psicanálise que todo desejo reprimido marca a personalidade à


feição de recalque.
Aclarou o Divino Mestre: “Não é o que entra na boca do homem o que
lhe torna a vida impura, mas o que lhe sai do coração.”

A penalogia transforma os antigos cárceres de tortura em escolas de


educação e de reajuste.
Proclamou o Eterno Amigo: “Misericórdia quero e não sacrifício,
porque os sãos não necessitam de médico.”

A sociologia preceitua o trabalho para cada um, na comunidade, como


simples dever.

Informou Jesus: “Quem dentre vós deseje a posição de maior seja o


servo de todos.”
A política de ordem superior exige absoluta independência entre o
Estado e as crenças do povo.

Falou o Cristo: “Dai a César o que a César compete, e a Deus o que a


Deus pertence.”

A Astronáutica examina o campo físico da Lua e dirige a atenção para a


vida material em outros planetas.

Anunciou o Mestre dos mestres: “Na casa de meu Pai há muitas


moradas.”

A unidade religiosa caminha gradativamente para o culto da assistência


social e da oração, acima dos templos de pedra.
Asseverou o Emissário Sublime: “Nossos antepassados reverenciavam a
Deus no alto dos montes, e dizeis agora que Jerusalém é o lugar adequado a
isso, mas tempos virão em que os verdadeiros religiosos adorarão a Deus
em espírito, porque o Pai procura os que assim o procuram.”

A navegação rápida e a aviação, o telefone e o rádio, o cinema e a


televisão, apesar das faixas de sombra espiritual que por enquanto lhes
obscurecem os serviços, indicam a todos os povos um só caminho – a
fraternidade.
Recomendou o Senhor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Eis por que a Doutrina Espírita nos reconduz ao Evangelho em sua


primitiva simplicidade, porquanto somente assim compreenderemos, ante a
imensa evolução científica do homem terrestre, que o Cristo é o Sol Moral
do mundo, a brilhar hoje, como brilhava ontem, para brilhar mais
intensamente amanhã.
77
Oração no dia dos mortos

Reunião pública de 2/11/59


Questão nº 823

Senhor Jesus!

Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram hoje à lembrança dos


mortos-vivos que se desenfaixaram da carne, oramos também pelos vivos
mortos que ainda se ajustam à teia física...
Pelos que jazem sepultados em palácios silenciosos, fugindo ao
trabalho, como quem se cadaveriza, pouco a pouco, para o sepulcro;

Pelos que se enrijeceram gradativamente na autoridade convencional,


adornando a própria inutilidade com títulos preciosos, à feição de belos
epitáfios inúteis;
Pelos que anestesiaram a consciência no vício, transformando as
alegrias desvairadas do mundo em portões escancarados para a longa
descida às trevas;

Pelos que enterraram a própria mente nos cofres da sovinice,


enclausurando a existência numa cova de ouro;

Pelos que paralisaram a circulação do próprio sangue, nos excessos da


mesa;
Pelos que se mumificaram no féretro da preguiça, receando as cruzes
redentoras e as calúnias honrosas;

Pelos que se imobilizaram no paraíso doméstico, enquistando-se no


egoísmo entorpecente, como desmemoriados, descansando no espaço
estreito do esquife...
E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos das penitenciárias que
ouviram as sugestões do crime e clamam agora na dor do arrependimento;

Pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, que gemem, relegados à


solidão, na noite da enfermidade;
Pelos mortos de desânimo, que se renderam, na luta, às punhaladas da
ingratidão;

Pelos mortos de desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores


da renúncia e da paciência;

Pelos mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais
dariam a própria vida;

e por esses outros mortos, desconhecidos e pequeninos, que são as


crianças entregues à via pública, exterminadas na vala do esquecimento...

Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como
choraste sobre Lázaro morto...
E trazendo igualmente hoje a cada um deles a flor da esperança e o lume
da oração, sabemos que o teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte,
ensinando-nos o caminho da eterna ressurreição.
78
Pluralidade
dos mundos habitados

Reunião pública de 6/11/59


Questão nº 55

Enquanto o homem se encaminha para a Lua, estudando-a de perto,


comove-nos pensar que a Doutrina Espírita se referia à pluralidade dos
mundos habitados, precisamente há mais de um século.

Acresce notar, ainda, que os veneráveis orientadores da Nova


Revelação, guiando o pensamento de Allan Kardec, fizeram-no escrever a
sábia declaração: “Deus povoou de seres vivos todos os mundos,
concorrendo esses seres ao objetivo final da Providência.”
Sabemos hoje que moramos na Via Láctea – a galáxia comparável a
imensa cidade nos domínios universais. Essa cidade possui mais de
duzentos milhões de sóis, transportando consigo planetas, asteroides,
cometas, meteoros, aluviões de poeira e toda uma infinidade de turbilhões
energéticos.

Entre esses sóis está o nosso, modestíssimo foco de luz, considerando-se


que Sírius, um de seus vizinhos, apresenta brilho quarenta vezes maior. E,
acompanhando-o, a nossa Terra, com todo o cortejo de suas orgulhosas
nações, tem a importância de uma “casa nos fundos”, visto que, se a Lua é
satélite nosso, o Globo que nos asila é satélite pequenino desse mesmo Sol
que nos sustenta.
Viajando a luz com a velocidade de trezentos mil quilômetros por
segundo, gasta milhares de anos para atravessar, de um ponto a outro, o
continente galáctico em que residimos.

Mas os espelhos telescópicos do homem já conseguem assinalar a


existência de milhões e milhões de outras galáxias, mais ou menos
semelhantes à nossa, a se espraiarem na vastidão do Universo.
Até agora, neste breve lembrete, nos reportamos simplesmente ao
campo físico observável pelos homens encarnados, atreitos, como é natural,
ao raio reduzido da percepção que lhes é própria, sem nos referirmos às
esferas espirituais mais complexas que rodeiam cada planeta, quanto cada
sistema.

Nesse critério, vamos facilmente encontrar, em todos os círculos


cósmicos, os seres vivos da asserção de Kardec, embora a instrumentação
do homem não os divise a todos. Eles se desenvolvem através de
inimagináveis graus evolutivos, cabendo-nos reconhecer que, em aludindo à
pluralidade dos mundos habitados, não se deverá olvidar a gama infinita das
vibrações e os estados múltiplos da matéria.
Temos, assim, no Espaço Incomensurável, mundos-berços e mundos-
experiências, mundos-universidades e mundos-templos, mundos-oficinas e
mundos-reformatórios, mundos-hospitais e mundos-prisões.

Saudamos, pois, o advento da nova era, em que o homem físico,


valendo-se principalmente do rádio e do radar, do foguete e do cérebro
eletrônico, pode incursionar além da Lua, auscultando, em regime de
limitação.
É compreensível, as faixas de matéria em que psiquicamente se entrosa.

E desejando-lhe paz, a fim de que prossiga em suas arrojadas e preciosas


perquirições, podemos assegurar que em todos os planos a consciência
acordada à luz da razão e da responsabilidade surpreenderá sempre, por
base de todo aperfeiçoamento moral, o preceito do Cristo que coloca “o
amor a Deus e ao próximo” como sendo o coração da vida, pulsando,
invariável, no peito da Justiça Divina que manda, em toda parte, conferir a
cada um segundo as próprias obras.
79
Abnegação

Reunião pública de 9/11/59


Questão nº 912

No estudo da abnegação, fitemos em Cristo o exemplo máximo.

Emissário de Deus entre os homens, podia exigir um palácio para


nascer, mas preferiu asilar-se no abrigo dos animais.
Podia frequentar, na meninice, os mais altos grêmios filosóficos e
religiosos da nação que o contava entre os seus; todavia, preferiu as rudes
experiências da carpintaria de Nazaré.

Podia aderir aos programas de dominação dos maiorais em Jerusalém,


impondo-lhes a sua própria condição de missionário excepcional;
entretanto, preferiu incorporar-se ao trabalho de pescadores humildes,
revelando-se a eles sem violência.
Podia escolher as damas ilustres para entreter-se, com elas, acerca do
Reino de Deus, através de tertúlias afetivas no terraço de casas nobres;
contudo, preferiu entender-se com as mulheres simples do povo, sem
esquecer a filha de Magdala, submetida aos flagelos da humilhação.

Podia insinuar-se no ambiente mais íntimo de Caifás ou Pilatos e


agradar-lhes a parentela para ganhar influência; no entanto, preferiu
aproximar-se dos enfermos esquecidos na via pública.

Podia acumular ouro e prata, mobilizando os poderes de que dispunha,


mas preferiu viver entre os desfavorecidos do mundo, sem reter uma pedra
onde repousar a cabeça.
Podia afastar Iscariotes do círculo doméstico, depois de perceber-lhe os
primeiros sinais da deserção; todavia, preferiu conservá-lo entre os
aprendizes, para não lhe frustrar as oportunidades de reajuste.
Podia agitar a multidão contra os detratores de sua causa; entretanto,
preferiu que os detratores a comandassem.

Podia recorrer à justiça de modo a defender-se contra a perseguição sem


motivo; no entanto, preferiu morrer perdoando aos algozes, alinhando-se
entre os condenados à morte sem culpa.
Não te despreocupes, assim, da abnegação dentro da própria vida, a fim
de que possas auxiliar as vidas que te rodeiam.

Supérfluo que nos enfeita é carência que aflige os outros.

O grande egoísmo da Humanidade é a soma dos pequenos egoísmos de


cada um de nós.

Sofrer por obrigação é resgate humano, mas sofrer para que outros não
sofram é renúncia divina.

Ninguém sabe se existe virtude nos prisioneiros da expiação; entretanto,


a virtude mostra-se viva em todo aquele que, podendo acolher-se ao bem
próprio, procura, acima de tudo, o bem para todos.
Se podes exigir e não exiges, se podes pedir e não pedes, se podes
complicar e não complicas, se podes parar de servir e prossegues servindo,
estarás conquistando o justo merecimento.

Não vale, pois, reclamar a abnegação dos outros para a melhoria do


mundo, porque o próprio Cristo nos ensinou, à força de exemplos, que a
melhoria do mundo começa de nós.
80
Doutrina Espírita

Reunião pública de 13/11/59


Questão nº 838

Toda crença é respeitável.

No entanto, se buscaste a Doutrina Espírita, não lhe negues fidelidade.

Toda religião é sublime.


No entanto, só a Doutrina Espírita consegue explicar-te os fenômenos
mediúnicos em que toda religião se baseia.

Toda religião é santa nas intenções.


No entanto, só a Doutrina Espírita pode guiar-te na solução dos
problemas do destino e da dor.

Toda religião auxilia.

No entanto, só a Doutrina Espírita é capaz de exonerar-te do pavor


ilusório do inferno, que apenas subsiste na consciência culpada.

*
Toda religião é conforto na morte.

No entanto, só a Doutrina Espírita é suscetível de descerrar a


continuidade da vida, além do sepulcro.
*
Toda religião apregoa o bem como preço do paraíso aos seus profitentes.

No entanto, só a Doutrina Espírita estabelece a caridade incondicional


como simples dever.
*

Toda religião exorciza os Espíritos infelizes.


No entanto, só a Doutrina Espírita se dispõe a abraçá-los, como a
doentes, neles reconhecendo as próprias criaturas humanas desencarnadas,
em outras faixas de evolução.

Toda religião educa sempre.


No entanto, só a Doutrina Espírita é aquela em que se permite o livre
exame, com o sentimento livre de compressões dogmáticas, para que a fé
contemple a razão, face a face.

*
Toda religião fala de penas e recompensas.

No entanto, só a Doutrina Espírita elucida que todos colheremos


conforme a plantação que tenhamos lançado à vida, sem qualquer privilégio
na Justiça Divina.

*
Toda religião erguida em princípios nobres, mesmo as que vigem nos
outros continentes, embora nos pareçam estranhas, guardam a essência
cristã.

No entanto, só a Doutrina Espírita nos oferece a chave precisa para a


verdadeira interpretação do Evangelho.
*
Porque a Doutrina Espírita é, em si, a liberalidade e o entendimento, há
quem julgue seja ela obrigada a misturar-se com todas as aventuras
marginais e com todos os exotismos, sob pena de fugir aos impositivos da
fraternidade que veicula.

Dignifica, assim, a Doutrina que te consola e liberta, vigiando-lhe a


pureza e a simplicidade, para que não colabores, sem perceber, nos vícios da
ignorância e nos crimes do pensamento.
“Espírita” deve ser o teu caráter, ainda mesmo te sintas em reajuste,
depois da queda.

“Espírita” deve ser a tua conduta, ainda mesmo que estejas em duras
experiências.
“Espírita” deve ser o nome de teu nome, ainda mesmo respires em
aflitivos combates contigo mesmo.

“Espírita” deve ser o claro adjetivo de tua instituição, ainda mesmo que,
por isso, te faltem as passageiras subvenções e honrarias terrestres.

Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo. E a Doutrina do Cristo


é a doutrina do aperfeiçoamento moral em todos os mundos.
Guarda-a, pois, na existência, como sendo a tua responsabilidade mais
alta, porque dia virá em que serás naturalmente convidado a prestar-lhe
contas.
81
Professores diferentes

Reunião pública de 16/11/59


Questão nº 290

Entre familiares e amigos, encontras, na Terra, a oficina do teu


burilamento.

Com raras exceções, todos apresentam problemas a resolver:


problemas na emoção e no pensamento;

problemas na palavra e na ação;


problemas no lar e no trabalho;

problemas no caminho e nas relações.

Prossegues, assim, junto deles, como quem respira ao pé de múltiplos


instrutores num instituto de ensino.
Muitos reclamam trabalho, lecionando-te paciência, enquanto outros te
ferem a sensibilidade, diplomando-te em sacrifício. Há os que te
escandalizam incessantemente, adestrando-te em piedade, e aqueles que te
golpeiam a alma, com as lâminas invisíveis da ingratidão, para que aprendas
a perdoar.

E as lições vão surgindo, à maneira de testes inevitáveis.


Agora, é o esposo que deserta, dobrando-te a carga de obrigações, ou,
noutras circunstâncias, é a esposa que se rebela aos compromissos,
agoniando-te as horas... Hoje, ainda, são os pais que te contrariam as
esperanças, os filhos que te aniquilam os sonhos ou os amigos que se
transformam em duros entraves no serviço a fazer.

Nenhum problema, entretanto, aparece ao acaso e, por isso, é imperioso


te armes de amor para a luta íntima.

Fugir da dificuldade é, muitas vezes, a ideia que te nasce como sendo o


melhor remédio. Semelhante atitude, porém, seria o mesmo que debandar,
menosprezando as exigências da educação.
Carrega, pois, com serenidade e valor o fardo de aflições que o pretérito
te situa nos ombros, convicto de que os associados complexos do destino
são antigos parceiros de tuas experiências, a repontarem do caminho,
solicitando contas e acertos.

Seja qual for o ensinamento de que se façam intérpretes, roga à


Sabedoria Divina te inspire a conduta, a fim de que não percas o
merecimento da escola a que a vida te conduziu.
Ainda mesmo em lágrimas, lê, sem revolta, no livro do coração, as
páginas de dor que te imponham, ofertando-lhes por resposta as equações
do amor puro, em forma de tolerância e bondade, auxílio e compreensão.

Recorda que o próprio Cristo, sem débito algum, transitou, cada dia, na
Terra, entre esses professores diferentes do espírito. E, solucionando, na
base da humildade, os problemas que recebia na atitude e no
comportamento de cada um, submeteu-se, a sós, à prova final da suprema
renúncia, à qual igualmente te submeterás, um dia, na conquista da própria
sublimação – o único meio de te elevares ao clima glorioso dos
companheiros já redimidos que te aguardam, vitoriosos, nas eminências da
Espiritualidade.
82
O outro

Reunião pública de 20/11/59


Questão nº 630

Se já recolheste migalha de luz, diminui a sombra no outro.

Vê-lo-ás, em toda parte, esperando-te auxílio.

Esse apela para teu pão.

Aquele aguarda a sombra de tua veste.


Esse esmola bagatela de tua bolsa.

Aquele roga um minuto de gentileza.

Entretanto, mais que isso, o outro pede compreensão.


Estava pressionado e feriu-te.

Falava sem pensar e disse a palavra que te magoou.


Superestimou a si mesmo e rolou no charco.

Enlouqueceu e tenta arrastar-te ao desequilíbrio.

Ainda quando te faça perder as últimas forças nas últimas lágrimas,


compadece-te dele e ampara sempre.
Se soubesse o que sabes, não seria problema.

Se pudesse sustentar-se, não cairia.


Muitas vezes terá tido o propósito de acertar, mas, perdido no nevoeiro
da ignorância, tomou o erro pela verdade.

Estimaria, decerto, sentir como sentes; contudo, ainda não recebeu no


caminho as oportunidades que recebeste.

Se te ironiza, oferece-lhe paciência.

Se te ofende, consagra-lhe paciência maior. Ainda mesmo em se


mostrando embaraçado no crime, não lhe roubes o testemunho de amizade e
esperança, porque amanhã, colhido no esfogueante tribunal do remorso,
lembrará teu consolo como gota de bênção.

Se és a vítima, compadece-te ainda mais, porque não desconheces


quanta dor há na conta da vida para o verbo que amaldiçoa e para a mão que
apedreja.
O outro é pedaço de nossa história, retratista de nossos atos, espelho de
nossas aquisições, reflexo de nós mesmos.

Em casa, é quem te comunga a faixa doméstica.

No mundo, é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou


no gral da aversão.
Desse modo, sempre que impelido ao discernimento do bem, pensa no
outro...

Seja quem seja, será sempre a notícia do bem que vibre em tua alma,
porque o bem que lhe ofertes é o bem verdadeiro que a Lei te credita no
livro da consciência.

A árvore é julgada pelos frutos.

A criatura é vista pelas próprias obras.

Em todos os sucessos que partilhemos, alguém nos carrega a imagem.


Aquilo, pois, que fizeste ao outro, a ti mesmo fizeste.
83
Se desejas

Reunião pública de 23/11/59


Questão nº 843

Toda melhora parece distante.

Toda superação surge como sendo quase impossível. Pediste, porém, o


berço terrestre, no exato lugar em que te cabe aprender e reaprender.
Não olvides, por isso, que o domínio da lição não dispensa a vontade.

Recebeste no lar muitos daqueles que te não alimentam a simpatia.


No entanto, se desejas, podes transformar toda aversão em amor, desde
que te decidas a ajudá-los com paciência.

Sofres o chefe insano, a crivar-te de inúmeros dissabores.

Contudo, se desejas, podes convertê-lo em amigo, desde que te


disponhas a auxiliá-lo sem pretensão.
Padeces dura condição social, renteando o infortúnio.

Todavia, se desejas, podes transfigurar a subalternidade em elevação,


desde que te eduques, para que a vida te use em plano mais alto.
Trazes o órgão enfermo, a cercar-te de inibições. Entretanto, se desejas,
podes aproveitá-lo, na própria sublimação, em nível superior.

Ainda hoje, é possível encontres sombras enormes...

O obstáculo dos que te não compreendem, a palavra dos que te insultam,


o apontamento insensato ou as lágrimas que a prova redentora talvez te
venha pedir.
Mas podes usar o silêncio e a oração, clareando o caminho...
Declaras-te sem trabalho, amargando posição desprezível, mas, se
desejas, podes ainda agora começar humilde tarefa, conquistando respeito e
cooperação.

Acusam-te de erros graves, criando-te impedimentos, mas, se desejas,


podes tomar, em bases de humildade e serviço, a atitude necessária à justa
renovação.
Sentes-te dominado por esse ou aquele hábito vicioso, que te exila no
desapreço, mas, se desejas, podes reaver o próprio equilíbrio, empenhando
energia e tempo no suor do trabalho digno.

Afirmas-te na impossibilidade de socorrer os necessitados, mas, se


desejas, podes efetuar pequeninos sacrifícios domésticos em favor dos
outros, de modo a que tua vida seja uma bênção na vida de teus irmãos.
Para isso, porém, é preciso não esquecer os recursos singelos que tanta
gente deixa ao olvido...

O minuto de tolerância.

O esquecimento de toda injúria.


O concurso anônimo.

A bondade que ninguém pede.

O contacto do livro nobre.

A enxada obediente.

A panela esquecida.
O tanque de lavar.

A agulha simples.
A flor da amizade.

O resto de pão.
Queixas-te de necessidade e desencanto, fadiga e discórdia, abandono e
solidão, mas, se realmente desejas, tudo pode mudar.
84
Cada hora

Reunião pública de 27/11/59


Questão, nº 721

Faze de cada hora – um poema de amor.

Renúncia vazia – terra seca.

Oração sem serviço – candeia apagada.

Alegria sem trabalho – flor sem proveito.


Cultura sem caridade – árvore estéril.

Sermão sem exemplo – trovoada sem chuva.

Tribuna sem suor – esquife sonoro.


Inteligência trancada – luz no deserto.

Vida sem ação – enterro lento.


Filosofia sem bondade – conversa vã.

Talento oculto – fonte escondida.

Fé parada – vaso inútil.


Virtude sem movimento – ninho morto.

Lição sem obras – museu de ideias.


Repara os recursos de que dispões:

pensamento nobre;

conhecimento superior;
raciocínio pronto;

diretrizes claras;

ouvidos percucientes;

olhos iluminados;
verbo fácil;

movimentos livres;

mãos seguras;
pés hábeis.

Não te afeiçoes a mortificações improfícuas. Cada criatura, onde passa,


deixa o próprio reflexo.
Só a inércia vagueia no mundo como sombra na sombra.

Tu, porém, deves caminhar, à feição do raio solar, dissipando as trevas.

Cada hora, podes fazer a dor menos amarga.


Cada hora, podes fazer a luta mais construtiva.

Imensos são os males do mundo – não os agraves com o desespero.

Enormes são as mágoas dos outros – não as multipliques com o fel da


reprovação.

Onde estiveres, restaura, conserta, alivia, ampara e desculpa...

Em qualquer circunstância, recorda o Cristo, que passou entre os


homens entendendo e ajudando...
E ainda mesmo quando se viu condenado sem culpa, pelos mesmos
homens aos quais servia, partiu para a morte, perdoando e amando...

Torturado na cruz, mas de braços abertos.


85
No grande minuto

Reunião pública de 30/11/59


Questão nº 646

No grande minuto da experiência, disseste, desapontado:

– Só vejo o mal pelo bem.

– Não posso mais.

– Fracassei.
– Agora é parar com tudo.

– Fiz o possível.

– Não me fales mais nisso.


– Estou farto.

– Muito difícil.
– Em tudo é desilusão.

– Sofri que chega.

– Continue quem quiser.


– Ninguém me ajuda.

– Deixa-me em paz.
– Estou vencido.

– Não quero complicações.

– É problema dos outros.


– Não sou santo.

– Desisti.

– Basta de lutas.

Entretanto, sombra vencida é porta de luz maior.


Se os amigos fugiram, continua fiel ao bem.

Se tudo é aflição em torno, não desanimes.

Se alguém te calunia, responde sempre fazendo o melhor que possas.


Se caíste, levanta-te renovado e corrige a ti mesmo.

Não existe merecimento naquilo que nada custa. Todos nós aprendemos
e trabalhamos, dias e dias, e, às vezes, por muitos anos, para vencer nesse
ou naquele grande momento chamado “crise”.
É a vitória na crise que nos confere mais ampla capacidade.

Se pedes roteiro para mirar, recorda o Cristo, na derrota aparente.

Humilhado e batido, supliciado e crucificado, torna ao mundo, em


Espírito, sem que ninguém lhe requeira a volta.
E, materializando-se, divino, entre os mesmos companheiros que o
haviam abandonado, longe de referir-se aos remoques e tormentos da
véspera, recomeça o trabalho, dizendo simplesmente:

– “A paz seja convosco.”


86
Dominar e falar

Reunião pública de 4/12/59


Questão nº 904

Dominas o fogo, escravizando-o à lide caseira.

Burilas a pedra, arrancando-lhe obras-primas.

Conquistas os metais, neles plasmando complicadas expressões de


serviço.

Amansas os animais ferozes, deles fazendo cooperadores na economia


doméstica.
Disciplinas o vapor e o combustível, anulando as distâncias.

Diriges tratores pesados, transfigurando a face da gleba.

Submetes a eletricidade, e glorificas a civilização.


Retiras o veneno de serpentes temíveis, fabricando remédios.

Senhoreias a energia nuclear e começas a alterar, com ela, a fisionomia


do mundo.
Controlas a velocidade, e inicias vigorosa excursão, para além do
Planeta.

Entretanto, ai de nós! Todos trazemos leve músculo selvagem, muito


distante da educação.
Com ele, forjamos guerras.

Libertamos instintos inferiores.


Destruímos lares.

Empestamos vidas alheias.

Envilecemos o caminho dos outros.

Corrompemos o próximo.
Revolvemos o lixo moral da Terra.

Veiculamos o pessimismo.

Criamos infinitos problemas.


Injuriamos.

Criticamos.
Caluniamos.

Deprimimos.

*
Esse órgão minúsculo é a língua – lâmina pequenina, embainhada na
boca.

Instrumento sublime, feito para louvar e instruir, ajudar e incentivar o


bem, quantas vezes nos valemos dela para censurar e vergastar, perturbar e
ferir!...
Governemo-la, pois, transformando-a em leme de paz e amor, no barco
de nossas vidas!

E, alicerçados nas lições do Evangelho, roguemos a Deus nos inspire


sempre a dizer isso ou aquilo como o próprio Jesus desejaria ter dito.
87
Contigo

Reunião pública de 7/12/59


Questão nº 114

A lei protege.

O lar acolhe.

A família une.

O tempo concede.
O ensejo faculta.

A ação cria.

O mestre orienta.
O livro instrui.

O trabalho habilita.
A luta desbasta.

A prova define.

O hábito mecaniza.
A experiência prepara.

O título endossa.
A dor avisa.

A doença depura.

A tentação experimenta.
O obstáculo desafia.

O amigo ampara.

O adversário incentiva.

O afeto nutre.
O auxílio encoraja.

A bondade abençoa.

A fé sustenta.
A oração fortalece.

A morte examina.
O mérito, no entanto, a fim de que recolhas novo alento e passagem para
planos superiores, é problema contigo.

E, em toda circunstância, depende da melhora que fizeres, buscando


educar a ti mesmo, aprendendo e servindo, amando e perdoando, para a
glória da vida, ante a glória de Deus.
88
O teste

Reunião pública de 11/12/59


Questão nº 469

Lutando, disseste: “não posso mais”.

E ajudaste os que te roubam a fortaleza.

Batido, clamaste: “reagirei”.

E amparaste os que te induzem à violência.


Esquecido, gemeste: “estou sozinho”.

E ajudaste os que te bloqueiam a confiança.

Caluniado, gritaste: “vingar-me-ei”.


E amparaste os que te guiam à crueldade.

Ferido, bradaste: “quero justiça”.


E ajudaste os que te furtam a tolerância.

Por isso mesmo, asseveras frequentemente:


– Morro de angústia.

– Enjoei de viver.
– A fadiga me vence.

– Tudo perdido.

– Nada mais a fazer.


Tentando justificar-te, recorres à filosofia de ocasião e repetes rifões e
chavões antigos:

– A dança obedece à música.


– Faço como me ensinam.

– Seja virtuoso quem puder ser.


– Amanhã virá quem bom me fará.

– Tarde demais.

– Fiz tudo.
– Depois eu faço.

– Lavei as mãos.
*

Recorda, porém, que toda dificuldade é teste renovador.

Todos somos tentados na imperfeição.


Queixa é fuga.

Impaciência é perigo.

Censura é auxílio ao perseguidor.

Revolta é força que apressa o crime.

Ataque é óleo no fogo.


Desforço é golpe que apaga a luz.

Desespero é chave ao ladrão.


*

Maltratado, busca o bem.


Injuriado, fala o bem.

Contrariado, procura o bem.

Traído, renova o bem.

Assaltado, conserva o bem.


A única fórmula clara e segura de vencer, no teste contra as influências
inferiores, será sempre, o que for, com quem for e seja onde for, esquecer o
mal e fazer o bem.
89
Simpatia

Reunião pública de 14/12/59


Questão nº 931

Compadece-te de quem se aproxima.

Não te encarceres nas aparências.

Ha risadas que disfarçam soluços.

Muita veste custosa esconde feridas.


O legislador que te parece feliz muita vez gemerá em desespero
silencioso.

O administrador que passa, indiferente, carrega na cabeça tão


esfogueantes problemas que deixou de saudar-te.

O expositor de ensinamentos sublimes que se te afigura a cavaleiro das


vicissitudes humanas caminhará, talvez, cada dia, atormentado de tentações.
O titulado que respira sob o apreço público, pela elevação cultural e
profissional a que se guindou, em muitas ocasiões transporta consigo
amargas experiências.

O comerciante que supões regalado, na mesa opípara (Esplêndida.


Suntuoso, pomposo), guarda provavelmente o estômago ulceroso, com
extrema dificuldade para comer.
O artista que presumes campeão do prazer, porque trabalha sorrindo,
quase sempre possui no coração um vaso de lágrimas.

A mulher que julgas vaidosa, porque anda adornada, em muitas


circunstâncias chora por dentro, crucificada no martírio doméstico.

A pessoa que acreditas insensata, por revelar-se autoritária ou


pretensiosa, na maioria das vezes é simples caso de obsessão.

A sociedade é filtro gigantesco do espírito. Cada consciência permanece


no crivo que lhe é necessário.
Atende à fome do corpo, mas não desprezes a fome da alma.

Alivia aqueles que exibem chagas à mostra; no entanto, ampara também


os que trazem chagas ocultas.
Toda criatura pede auxílio e entendimento.

E ninguém há que não seja digno de socorro e compreensão.

Cede, assim, aos outros a simpatia que advogas em favor de ti mesmo.


Todos sabemos que a Terra é ainda estação de lutas expiatórias, mas será
de futuro o domicílio do Eterno Bem.

Contudo, estejamos certos de que o bem de todos começa sempre no


esforço construtivo de cada um.
90
Louvor do Natal

Reunião pública de 18/12/59


Questão nº 1.017

Senhor Jesus!

Quando vieste ao mundo, numerosos conquistadores haviam passado,


cimentando reinos de pedra com sangue e lágrimas.
Na retaguarda dos carros de ouro e púrpura, em que lhes fulgia a vitória,
alastravam-se, como rastros da morte, a degradação e a pilhagem, a
maldição do solo envilecido e o choro das vítimas indefesas.

Levantavam-se, poderosos, em palácios fortificados e faziam leis de


braço e cutelo, para serem, logo após, esquecidos no rol dos carrascos da
Humanidade.
Entretanto, Senhor, nasceste nas palhas e permaneceste lembrado para
sempre.

Ninguém sabe até hoje quais tenham sido os tratadores de animais que
te ofertaram esburacada manta por leito simples, e ignora-se quem foi o
benfeitor que te arrancou ao desconforto da estrebaria para o clima do lar.

Cresceste sem nada pedir que não fosse o culto à verdadeira


fraternidade.
Escolheste vilarejos anônimos para a moldura de tua palavra sublime...
Buscaste para companheiros de tua obra homens rudes, cujas mãos
calejadas não lhes favoreciam os voos do pensamento. E conversaste com a
multidão, sem propaganda condicionada.

No entanto, ninguém conhece o nome das crianças que te pousaram nos


joelhos amigos, nem das mães fatigadas a quem te dirigiste na via pública!
A História, que homenageava Júlio César, discutia Horácio, enaltecia
Tibério, comentava Virgílio e admirava Mecenas, não te quis conhecer em
pessoa, ao lado de tua revelação, mas o povo te guardou a presença divina e
as personagens de tua epopeia chamam-se “O cego Bartimeu”, “o homem
de mão mirrada”, “o servo do centurião”, “o mancebo rico”, “a mulher
cananéia”, “o gago de Decápolis”, “a sogra de Pedro”, “Lázaro, o irmão de
Marta e Maria”...

Ainda assim, Senhor, sem finanças e sem cobertura política, sem


assessores e sem armas, venceste os séculos e estás diante de nós, tão vivo
hoje quanto ontem, chamando-nos o espírito ao amor e à humildade que
exemplificaste, para que surjam, na Terra, sem dissensão e sem violência, o
trabalho e a riqueza, a tranquilidade e a alegria, como bênção de todos.
É por isso que, emocionados, recordando-te a manjedoura, repetimos em
prece:

– Salve, Cristo! Os que aspiram a conquistar desde agora, em si


mesmos, a luz de teu reino e a força de tua paz, te glorificam e te saúdam!...
91
Tempo e serviço

Reunião pública de 21/12/59


Questão nº 683

Terminando as tarefas de cada dia, podes, perfeitamente, efetuar o


balanço das próprias horas.

*
Tempo de higiene.

Conheceste os mais finos produtos da assepsia necessária ao teu


conforto.
Tempo de lanche.

Conheceste o café mais saboroso ou o leite mais puro.

Tempo de dever.
Conheceste os melhores cálculos e as técnicas mais justas, valorizando o
próprio interesse ou mecanizando as próprias atividades.

Tempo de refeição.
Conheceste os acepipes mais agradáveis ao paladar.

Tempo de conversa.

Conheceste pessoas e problemas, assuntos e comentários, convites e


propostas que, ainda agora, te batem mentalmente às portas do espírito.
Tempo de distração.

Conheceste passeios e entretenimentos diversos.


Tempo de leitura.
Conheceste noticiários e livros, escolhendo reportagens e autores que
mais te alimentem as emoções.

Tempo de repouso.
Conheceste os mais adequados processos de descansar, preferindo leitos
ou poltronas, redes generosas ou bancos acolhedores ao ar livre.

*
Conheceste, assim, algo de tudo o que representa conforto e segurança,
rotina e convenção no caminho diário.

Entretanto, fazendo o inventário de teus impulsos e palavras,


movimentos e ações, recorda que a Lei Divina te conhece igualmente.

Não por teu nome, nem pelo espaço que ocupas.


Não por teu título, nem pelos direitos que te competem.

Não por tua crença religiosa, nem pelo consolo que ela te dá.
Não pela extensão dos teus dias, nem por teu grupo doméstico.

Na Esfera Superior és visto pelo que fazes.

O auxílio que prestas ao bem dos outros é nota de crédito em tua ficha.

E como a Divina Bondade te deixa livre para fazer o bem como queiras,
onde queiras e quando queiras, depende de ti limitar o repouso, olvidar o
que seja inútil e evitar o que prejudica, a fim de atenderes, em regime de
ação constante, ao serviço do bem, e seres assim mais amplamente
conhecido e naturalmente credenciado diante da Lei de Deus.

--- Fim da Coleção 1---

Súmula
Livro 1 A Caminho da Luz
Antelóquio
Introdução
I A Gênese planetária
A COMUNIDADE DOS ESPÍRITOS PUROS
A CIÊNCIA DE TODOS OS TEMPOS
OS PRIMEIROS TEMPOS DO ORBE TERRESTRE
A CRIAÇÃO DA LUA
A SOLIDIFICAÇÃO DA MATÉRIA
O DIVINO ESCULTOR
O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE
II A vida organizada
AS CONSTRUÇÕES CELULARES
OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA
A ELABORAÇÃO PACIENTE DAS FORMAS
AS FORMAS INTERMEDIÁRIAS DA NATUREZA
OS ENSAIOS ASSOMBROSOS
OS ANTEPASSADOS DO HOMEM
A GRANDE TRANSIÇÃO
III As raças adâmicas
O SISTEMA DE CAPELA
UM MUNDO EM TRANSIÇÕES
ESPÍRITOS EXILADOS NA TERRA
FIXAÇÃO DOS CARACTERES RACIAIS
ORIGEM DAS RAÇAS BRANCAS
QUATRO GRANDES POVOS
AS PROMESSAS DO CRISTO
IV A civilização egípcia
OS EGÍPCIOS
A CIÊNCIA SECRETA
O POLITEÍSMO SIMBÓLICO
O CULTO DA MORTE E A METEMPSICOSE
OS EGÍPCIOS E AS CIÊNCIAS PSÍQUICAS
AS PIRÂMIDES
REDENÇÃO
V A Índia
A ORGANIZAÇÃO HINDU
OS ARIANOS PUROS
O EXPANSIONISMO DOS ÁRIAS
OS MAHATMAS
AS CASTAS
OS RAJÁS E OS PÁRIAS
EM FACE DE JESUS
VI A família indo-europeia
AS MIGRAÇÕES SUCESSIVAS
A AUSÊNCIA DE NOTÍCIAS HISTÓRICAS
A GRANDE VIRTUDE DOS ÁRIAS EUROPEUS
O MEDITERRÂNEO E O MAR DO NORTE
OS NÓRDICOS E OS MEDITERRÂNICOS
ORIGEM DO RACIONALISMO
AS ADVERTÊNCIAS DO CRISTO
VII O povo de Israel
ISRAEL
MOISÉS
O JUDAÍSMO E O CRISTIANISMO
O MONOTEÍSMO
A ESCOLHA DE ISRAEL
A INCOMPREENSÃO DO JUDAÍSMO
NO PORVIR
VIII A China milenária
A CHINA
A CRISTALIZAÇÃO DAS IDÉIAS CHINESAS
FO-HI
CONFÚCIO E LAO-TSÉ
O NIRVANA
A CHINA ATUAL
A EDIFICAÇÃO DO EVANGELHO
IX As grandes religiões do passado
AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
AINDA AS RAÇAS ADÂMICAS
A GÊNESE DAS CRENÇAS RELIGIOSAS
A UNIDADE SUBSTANCIAL DAS RELIGIÕES
AS REVELAÇÕES GRADATIVAS
PREPARAÇÃO DO CRISTIANISMO
O CRISTO INCONFUNDÍVEL
X A Grécia e a missão de Sócrates
NAS VÉSPERAS DA MAIORIDADE TERRESTRE
ATENAS E ESPARTA
EXPERIÊNCIAS NECESSÁRIAS
A GRÉCIA
SÓCRATES
OS DISCÍPULOS
PROVAÇÃO COLETIVA DA GRÉCIA
XI Roma
O POVO ETRUSCO
PRIMÓRDIOS DE ROMA
INFLUÊNCIAS DECISIVAS
OS PATRÍCIOS E OS PLEBEUS
A FAMÍLIA ROMANA
AS GUERRAS E A MAIORIDADE TERRESTRE
NAS VÉSPERAS DO SENHOR
XII A vinda de Jesus
A MANJEDOURA
O CRISTO E OS ESSÊNIOS
CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS DE ISRAEL
A GRANDE LIÇÃO
A PALAVRA DIVINA
CREPÚSCULO DE UMA CIVILIZAÇÃO
O EXEMPLO DO CRISTO
XIII O Império Romano e seus desvios
OS DESVIOS ROMANOS
OS ABUSOS DA AUTORIDADE E DO PODER
OS CHEFES DE ROMA
O SÉCULO DE AUGUSTO
TRANSIÇÃO DE UMA ÉPOCA
PROVAÇÕES COLETIVAS DOS JUDEUS E DOS ROMANOS
FIM DA VAIDADE HUMANA
XIV A edificação cristã
OS PRIMEIROS CRISTÃOS
A PROPAGAÇÃO DO CRISTIANISMO
A REDAÇÃO DOS TEXTOS DEFINITIVOS
A MISSÃO DE PAULO
O APOCALIPSE DE JOÃO
IDENTIFICAÇÃO DA BESTA APOCALÍPTICA
O ROTEIRO DE LUZ E DE AMOR
XV A evolução do Cristianismo
PENOSOS COMPROMISSOS ROMANOS
CULPAS E RESGATES DOLOROSOS DO HOMEM ESPIRITUAL
OS MÁRTIRES
OS APOLOGISTAS
O JEJUM E A ORAÇÃO
CONSTANTINO
O PAPADO
XVI A Igreja e a invasão dos bárbaros
VITÓRIAS DO CRISTIANISMO
PRIMÓRDIOS DO CATOLICISMO
A IGREJA DE ROMA
A DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO
A INVASÃO DOS BÁRBAROS
RAZÕES DA IDADE MÉDIA
MESTRES DO AMOR E DA VIRTUDE
XVII A idade medieval
OS MENSAGEIROS DE JESUS
O IMPÉRIO BIZANTINO
O ISLAMISMO
AS GUERRAS DO ISLÃ
CARLOS MAGNO
O FEUDALISMO
RAZÕES DO FEUDALISMO
XVIII Os abusos do poder religioso
FASES DA IGREJA CATÓLICA
GREGÓRIO VII
AS ADVERTÊNCIAS DE JESUS
FRANCISCO DE ASSIS
OS FRANCISCANOS
A INQUISIÇÃO
A OBRA DO PAPADO
XIX As Cruzadas e o fim da Idade Média
AS PRIMEIRAS CRUZADAS
FIM DAS CRUZADAS
O ESFORÇO DOS EMISSÁRIOS DO CRISTO
XX A CAMINHO DA LUZ
POBREZA INTELECTUAL
RENASCIMENTO
TRANSMIGRAÇÃO DE POVOS
FIM DA IDADE MEDIEVAL
XI Renascença do mundo
MOVIMENTOS REGENERADORES
MISSÃO DA AMÉRICA
O PLANO INVISÍVEL E A COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO
APOGEU DA RENASCENÇA
RENASCENÇA RELIGIOSA
A COMPANHIA DE JESUS
AÇÃO DO JESUITISMO
XXII Época de transição
AS LUTAS DA REFORMA
A INVENCÍVEL ARMADA
GUERRAS RELIGIOSAS
A FRANÇA E A INGLATERRA
REFÚGIO DA AMÉRICA
OS ENCICLOPEDISTAS
A INDEPENDÊNCIA AMERICANA
XXIII A Revolução Francesa
A FRANÇA NO SÉCULO XVIII
ÉPOCA DE SOMBRAS
CONTRA OS EXCESSOS DA REVOLUÇÃO
O PERÍODO DO TERROR
A CONSTITUIÇÃO
NAPOLEÃO BONAPARTE
ALLAN KARDEC
XXIV O século XIX
DEPOIS DA REVOLUÇÃO
INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DA AMÉRICA
ALLAN KARDEC E OS SEUS COLABORADORES
AS CIÊNCIAS SOCIAIS
A TAREFA DO MISSIONÁRIO
PROVAÇÕES COLETIVAS NA FRANÇA
PROVAÇÕES DA IGREJA
XXV O Espiritismo e as grandes transições
A EXTINÇÃO DO CATIVEIRO
O SOCIALISMO
A CAMINHO DA LUZ
RESTABELECENDO A VERDADE
DEFECÇÃO DA IGREJA CATÓLICA
LUTAS RENOVADORAS
A AMÉRICA E O FUTURO
O Evangelho e o futuro
Conclusão

Livro 2 O Consolador
NOTA À PRIMEIRA EDIÇÃO.
PRIMEIRA PARTE: CIÊNCIA
SEGUNDA PARTE: FILOSOFIA
VIDA: APRENDIZADO
EXPERIÊNCIA
132 –Há o determinismo e o livre-arbítrio, ao mesmo tempo, na
existência humana?
133 –Havendo o determinismo e o livre-arbítrio, ao mesmo tempo,
na vida humana, como compreender a palavra dos guias espirituais
quando afirmam não lhes ser possível influenciar a nossa liberdade?
134 –Como pode o homem agravar ou amenizar o determinismo de
sua vida?
135 – Se o determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?
136 –Existem seres agindo na Terra sob determinação absoluta?
137 – O homem educado deve exercer vigilância sobre o seu grau
de liberdade?
138 – Em se tratando das questões do determinismo, qualquer ser
racional pode estar sujeito a erros?
139 – Se na luta da vida terrestre existem circunstâncias, por toda
parte, qual será a melhor de todas, digna de ser seguida?
140 – Os astros influenciam igualmente na vida do homem?
141 –Há influências espirituais entre o ser humano e o seu nome,
tanto na Terra, como no Espaço?
142 –Poderíamos receber um ensinamento sobre o número sete,
tantas vezes utilizado no ensino das tradições sagradas do Cristianismo?
143 –Deve acreditar-se na influência oculta de certos objetos, como
jóias, etc., que parecem acompanhados de uma atuação infeliz e fatal?
144 – Os fenômenos premonitórios atestam a possibilidade da
presciência com relação ao futuro?
145 – Que dizermos da cartomancia em face do Espiritismo?
TRANSIÇÃO
146 – É fatal o instante da morte?
147 –Proporciona a morte mudanças inesperadas e certas
modificações rápidas, como será de desejar?
148 –Que espera o homem desencarnado, diretamente, nos seus
primeiros tempos da vida de além-túmulo?
149 –Logo após a morte, o homem que se desprende do invólucro
material pode sentir a companhia dos entes amados que o precederam
no além-túmulo?
150 –É possível que os espiritistas venham a sofrer perturbações
depois da morte?
151 –O espírito desencarnado pode sofrer com a cremação dos
elementos cadavéricos?
152 –A morte violenta proporciona aos desencarnados sensações
diversas da chamada “morte natural”?
153 –Se a hora da morte não houver chegado, poderá o homem
perecer sob os perigos que o ameacem?
154 –Quais as primeiras impressões dos que desencarnam por
suicídio?
155 –O receio da morte revela falta de evolução espiritual?
156 –Os Espíritos logo após a sua desencarnação ficam satisfeitos
pela possibilidade de se comunicarem conosco?
157 –Os Espíritos desencarnados podem ouvir-nos e ver-nos
quando querem? Como procedem para realizar semelhante desejo?
158 –Se uma criatura desencarna deixando inimigos na Terra; é
possível que continue perseguindo o seu desafeto, dentro da situação de
invisibilidade?
159 –No caso das perseguições dos inimigos espirituais, a ação
deles se realiza sem o conhecimento dos nossos guias amorosos e
esclarecidos?
160 –Os Espíritos desencarnados se dividem, igualmente, nas
esferas mais próximas da Terra, em seres femininos e masculinos?
SENTIMENTO
ARTE
161 –Que é arte?
162 –Todo artista pode ser também um missionário de Deus?
163 –Pode alguém se fazer artista tão só pela educação
especializada em uma existência?
164 –Como devemos compreender o gênio?
165 –Como poderemos entender o psiquismo dos artistas, tão
diferente do que caracteriza o homem comum?
166 –No caso dos artistas que triunfaram sem qualquer amparo do
mundo e se fizeram notáveis tão só pelos valores da sua vocação,
traduzem suas obras alguma recordação da vida no Infinito?
167 – O grandes músicos, quando compõem peças imortais, podem
ser também influenciados por lembranças de uma existência anterior?
168 –Os Espíritos desencarnados cuidam igualmente dos valores
artísticos no plano invisível para os homens?
169 –A emotividade deve ser disciplinada?
170 –Com tantas qualidades superiores para o bem, pode o artista
de gênio transformar-se em instrumento do mal?
171 –De modo geral, todos os homens terão de buscar os valores
artísticos para a personalidade?
172 –Existem, de fato, uma arte antiga e uma arte moderna?
AFEIÇÃO
173 –Como devemos entender a simpatia e a antipatia?
174 –Poderemos obter uma definição da amizade?
175 –O instituto da família é organizado no plano espiritual, antes de
projetar-se na Terra?
176 –As famílias espirituais no plano invisível são agrupadas em
falanges e aumentam ou diminuem, como se verifica na Terra?
177 – As famílias espirituais possuem também um chefe?
178 –Poderíamos receber algum esclarecimento sobre a lei das
afinidades entre os espíritos desencarnados?
179 –No capítulo das afeições terrenas, o casar ou não casar está
fora da vontade dos seres humanos?
180 –A indiferença nas manifestações de sensibilidade afetiva,
dentro dos processos de evolução da vida na Terra, nas horas de dor e
de alegria, é atitude justificável como medida de vigilância espiritual?
181 –Como entender o sentimento da cólera nos trâmites da vida
humana?
182 –O remorso é uma punição?
183 –Como se interpreta o ciúme no plano espiritual?
184 –Como devemos efetuar nossa autoeducação, esclarecida pela
luz do Evangelho, nos problemas das atrações sexuais, cujas tendências
egoístas tantas vezes nos levam a atitudes antifraternais?
DEVER
185 –Quais as características de uma boa ação?
186 –O “acaso” deve entrar nas cogitações da vida de um espiritista
cristão?
187 –Qual a atitude mental que mais favorecerá o nosso êxito
espiritual nos trabalhos do mundo?
188 –Como devem proceder aos cônjuges para bem cumprir seus
deveres?
189 –Que deve fazer a mãe terrestre para cumprir evangelicamente
os seus deveres, conduzindo os filhos para o bem e para a verdade?
190 – Quando os filhos são rebeldes e incorrigíveis, impermeáveis a
todos os processos educativos, como devem proceder os pais?
191 –Como poderão os pais despertar no íntimo do filho rebelde as
noções sagradas do dever e das obrigações para com Deus Todo-
Poderoso, de quem somos filhos?
192 –A mentira retarda o desenvolvimento do espírito?
193 –A verdade quando dita com sinceridade e franqueza rudes
pode retardar o progresso espiritual pela dor que causa?
194 –Devemos contar, de maneira absoluta, com o auxílio dos guias
espirituais em nossas realizações humanas?
195 –Como poderemos encontrar, dentro de nós mesmos, o
elemento esclarecedor de qualquer dúvida, quanto à qualidade fraternal
e excelente do ato que pretendamos realizar nas lutas cotidianas da vida
de relação?
196 –Como encaram os guias espirituais as nossas queixas
CULTURA
RAZÃO
197 –Como se observa, no plano espiritual, o patrimônio da cultura
terrestre?
198 –Pode o racionalismo garantir a linha de evolução da Terra?
199 –Poderá a Razão dispensar a Fé?
200 –Onde localizar a origem dos desvios da razão humana?
201 –No quadro dos valores racionais, Ciência e Filosofia se
integram mutuamente, objetivando as realizações do espírito?
202 –No problema da investigação, há limites para aplicação dos
métodos racionalistas?
203 –Como apreciar os racionalistas que se orgulham de suas
realizações terrestres, nas quais pretendem encontrar valores finais e
definitivos?
INTELECTUALISMO
204 –A alma humana poder-se-á elevar para Deus, tão-somente
com o progresso mora, sem os valores intelectivos?
205 –Podemos ter uma ideia da extensão de nossa capacidade
intelectual?
206 –Como é considerada, no plano espiritual, a posição atual
intelectiva da Terra?
208-Há uma tarefa especializada da inteligência no orbe terrestre?
209 –O escritor de determinada obra será julgado pelos efeitos
produzidos pelo seu labor intelectual na Terra?
210 – Os trabalhadores do Espiritismo devem buscar os intelectuais
para a compreensão dos seus deveres espirituais?
211 –Como compreender a noção de personalidade?
212 –O homem sem grandes possibilidades intelectuais é sempre
um homem medíocre?
213 –Devemos acalentar a preocupação de adquirir os elementos
do chamado magnetismo pessoal?
214 –Como interpretar os impulsos daqueles que acreditam na
influência dos chamados talismãs da felicidade pessoal?
215 –Os chamados “homens de sorte” são guiados pelos Espíritos
amigos?
216 –O “amor-próprio”, o “brio”, o “caráter”, a “honra”, são atitudes
que a sociedade humana reclama da personalidade; como proceder em
tal caso, quando os fatos colidem com os nossos conhecimentos
evangélicos?
217 –Qual o modo mais fácil de levar a efeito a vigilância pessoal,
para evitar a queda em tentações?
ILUMINAÇÃO: NECESSIDADE
218 –A propaganda doutrinária para a multiplicação dos prosélitos é
a necessidade imediata do Espiritismo?
219 –Nos trabalhos espiritistas, onde poderemos encontrar a fonte
principal de ensino que nos oriente para a iluminação? Poderemos obtê-
la com as mensagens de nossos entes queridos, ou apenas com o fato
de guardarmos o valor da crença no coração?
220 –Há alguma diferença entre a crença e a iluminação?
221 –A análise pela razão pode cooperar, de modo definitivo, no
trabalho de nossa iluminação espiritual?
222 –Que significa o chamado “toque da alma”, ao qual tantas
vezes se referem os Espíritos amigos?
223 –Há tempo determinado na vida do homem terrestre para que
se possa ele entregar, com mais probabilidades de êxito, ao trabalho de
iluminação?
224 –As almas desencarnadas continuam igualmente no serviço da
iluminação de si próprias?
TRABALHO
225 –Como entender a salvação da alma e como conquista-la?
226 –Os guias espirituais têm uma parte ativa na tarefa de nossa
iluminação pessoal?
227 –Deus concede o favor a que chamamos graça?
228 –A autoiluminação pode ser conseguida apenas com a tarefa
de uma existência na Terra?
229 –Como entender o trabalho de purificação nos ambientes do
mundo?
230 –Como iniciar o trabalho de iluminação da nossa própria alma?
231 –Considerando que numerosos agrupamentos espíritas se
formam apenas para doutrinação das entidades perturbadas, do plano
invisível, quais os mais necessitados de luz: os encarnados ou os
desencarnados?
ILUMINAÇÃO
232 – Em matéria de conhecimento, onde poderemos localizar a
maior necessidade do homem?
233 –Por que razão o homem da Terra tem sido tão lento na
solução do problema do seu conhecimento próprio?
234 –Que dizer dos que propugnam leis para o bem-estar social,
por processos mecânicos de aplicação sem atender à iluminação
espiritual dos indivíduos?
235 –Há outras fontes de conhecimento para a iluminação dos
homens, além da constituída pelos ensinamentos divinos do Evangelho?
236 –Como interpretar a ansiedade do proselitismo espírita, em
matéria de fenomenologia, ante essa necessidade de iluminação?
237 –Existe diferença entre doutrinar e evangelizar?
238 –Para acelerar o esforço de iluminação, a Humanidade
necessitará de determinadas inovações religiosas?
EVOLUÇÃO
DOR
239 –Entre a dor física e a dor moral, qual das duas faz vibrar mais
profundamente o espírito humano?
240 –De algum modo, pode-se conceber a felicidade na Terra?
241 –Onde o maior auxílio para nossa redenção espiritual?
242 –Por que o Evangelho não nos fala das alegrias da vida
humana?
243 –Todos os Espíritos que passaram pela Terra tiveram as
mesmas características evolutivas, no que se refere ao problema da dor?
244 –Existem lugares de penitência no plano espiritual? E acaso
poderá haver sofrimento eterno para os Espíritos inveterados no erro e
na rebeldia?
245 –Se é justo esperarmos no decurso do nosso roteiro de
provações na Terra, por determinadas dores, devemos sempre cultivar a
prece?
PROVAÇÃO
246 –Qual a diferença entre provação e expiação?
247 –A lei da prova e da expiação é inflexível?
248 –Como se verifica a queda do Espírito?
249 –A queda do Espírito somente se verifica na Terra?
250 –Como se processa a provação coletiva?
251 –A incredulidade é uma provocação?
252 –Somente se recebe a ofensa a que se fez jus no cumprimento
das provas? E considerando a intensidade dessa ou daquela provação,
poderá alguém reencarnar fadado ao suicídio e ao crime?
VIRTUDE
253 –A virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da criatura?
254 –Que é paciência e como adquiri-la?
255 –Devemos nós, os espiritistas, praticar somente a caridade
espiritual, ou também a material?
256 –Como interpretar a esmola material?
257 –A esperança e a Fé devem ser interpretadas como uma só
virtude?
258 –No caminho da virtude, o pobre e o rico da Terra podem ser
identificados como discípulos de Jesus?
259 –No que se refere à prática da caridade, como interpretar o
ensinamento de Jesus: Aquele que tem será concedido em abundância e
àquele que não tem, até mesmo o que tiver, lhe será tirado?
TERCEIRA PARTE:
RELIGIÃO
REVELAÇÃO
261 – “No princípio era o Verbo...” – Como deveremos entender está
afirmativa do texto sagrado?
262 –Por que razão a palavra das profecias parece dirigida
invariavelmente ao povo de Israel?
263 –Deve-se atribuir ao judaísmo missão especial, em comparação
com as demais ideias religiosas do tempo antigo?
264 –Como deve ser considerada, no Espiritismo, a chamadas
“Santíssima Trindade”, da teologia católica?
265 –Como interpretar a antiga sentença – “Deus fez o mundo do
nada?”.
266 –Os dias da Criação, nas antigas referências do Velho
Testamento, correspondem a períodos inteiros da evolução geológica?
267 –Qual a posição do Velho Testamento no quadro de valores da
educação religiosa do homem?
268 –Os dez mandamentos recebidos por Moisés no Sinai, base de
toda justiça até hoje, no mundo, foram alterados pelas seitas religiosas?
269 –Como entender a palavra do Velho Testamento quando nos
diz que Deus falou a Moisés no Sinai?
270 –Apesar de suas expressões tão humanas, Moisés veio ao
mundo como missionário divino?
271 –Moises transmitiu ao mundo a lei definitiva?
272 –Qual a significação da lei de talião “olho por olho, dente por
dente”, em face da necessidade da redenção de todos os espíritos pelas
reencarnações sucessivas?
273 –Qual é verdadeiramente o segundo mandamento? – “Não
farás imagens esculpidas das coisas que estão nos céus”, etc., segundo
alguns textos, ou “Não tomar o seu santo nome em vão”, conforme o
ensinamento da igreja católica de Roma?
274 –Qual a intenção de Moisés no Deuteronômio, recomendando
“que ninguém interrogasse os mortos para saber a verdade? ”.
PROFETAS
75 –Os cinco livros maiores da Bíblia encerram símbolos especiais
para a educação religiosa do homem?
276 –A previsão e a predição, nos livros sagrados, dão a entender
que os profetas eram diretamente inspirados pelo Cristo?
277 –Os Espíritos elevados, como os profetas antigos, devem ser
considerados como anjos ou como Espíritos eleitos?
278 – Devemos considerar como profetas somente aqueles a que
se referem as páginas do Velho Testamento?
279 –Os profetas hebraicos representavam o papel de sacerdotes
dos crentes da Lei?
280 –Os profetas do Cristo têm voltado à esfera material para trazer
aos homens novas expressões de luz para o futuro da Humanidade?
281 –A leitura do Velho Testamento e do Evangelho, nos círculos
familiares, como é de hábito entre muitos povos europeus, favorece a
renovação dos fluídos salutares de paz na intimidade do coração e do
ambiente doméstico?
II- EVANGELHO
JESUS
282 –Se devemos considerar o Velho Testamento como a pedra
angular da Revelação Divina, qual a posição do Evangelho de Jesus na
educação religiosa dos homens?
283 –Com Referência a Jesus, como interpretar o sentido das
palavras de João: - “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de
graça e verdade”?
284 –O apóstolo João recebeu missão diferente, na organização do
Evangelho, considerando-se a diversidade de suas exposições em
confronto com as narrações de seus companheiros?
285 –“Jesus Cristo é sem pai, sem mãe, sem genealogia” – Como
interpretar essa afirmativa, em face da palavra de Mateus?
286 –O sacrifício de Jesus deve ser apreciado tão somente pela
dolorosa expressão do Calvário?
287 –Numerosos discípulos do Evangelho consideram que o
sacrifício do Gólgota não teria sido completo sem o máximo de dor
material para o Mestre Divino. Como conceituar essa suposição em face
da intensidade do sofrimento moral que a cruz lhe terá oferecido?
288 –“Meu Pai e eu somos Um” – Poderemos receber mais alguns
esclarecimento sobre essa afirmativa do Cristo?
289 –São muitos os Espíritos em evolução na Terra, ou nas esferas
mais próximas, que já viram o Cristo, experimentando a glória da sua
presença divina?
290 –Poder-se-á reconhecer nas parábolas de Jesus a expressão
fenomênica das palavras, guardando a eterna vibração de seu
sentimento nos ensinos?
291 –Como interpretar o Anticristo?
RELIGIÕES
292 – Em que sentido deveremos tomar o conceito de religiões?
293 –As religiões que surgiram no mundo, antes do Cristo, tinham
também por missão principal a preparação da mentalidade humana para
a sua vinda?
294 –Reconhecendo-se que várias seitas nasceram igualmente do
Cristianismo, devemos considera-las cristãs, ou simples expressões
religiosas insuladas da verdade de Jesus?
295 –Se as seitas religiosas nascidas do Cristianismo têm uma
tarefa especializada, qual será a das correntes protestantes, oriundas da
Reforma?
296 –O Espírito, antes de reencarnar, escolhe também as crenças
ou cultos a que se deverá submeter nas experiências da vida?
297 –Considerando que a convenção social confere aos sacerdotes
das seitas cristãs certas prerrogativas na realização de determinados
acontecimentos da vida, como interpretar as palavras de Mateus: - “Tudo
o que ligardes na Terra, será ligado no Céu”, se os sacerdotes, tantas
vezes, não se mostram dignos de falar no mundo em nome de Deus?
298 – Considerando que as religiões invocam o Evangelho de
Mateus para justificar a necessidade do batismo em suas características
cerimoniais, como deverá proceder ao espiritista em face desse assunto?
299 – Qual o procedimento a ser adotado pelos espiritistas na
consagração do casamento, sem ferir as convenções sociais, reflexas
dos cultos religiosos?
300 – Como interpretar a missa no culto externo da Igreja Católica?
301 – As aparições e os chamados milagres relacionados na
história da origem das igrejas são fatos de natureza mediúnica?
302 – Como compreender a afirmativa de Jesus aos Judeus: - “Sois
deuses?”.
304 – Qual o espírito destas letras: - “Não cuideis que vim trazer paz
à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada”?
305 –A afirmativa do Mestre: - “Porque eu vim pôr em dissensão o
filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra” –
como deve ser compreendida em espírito e verdade?
306 – “E tudo o que pedirdes na oração, crendo o recebereis” –
Esse preceito do Mestre tem aplicação igualmente, no que se refere aos
bens materiais?
307 – Por que disse Jesus que “o escândalo é necessário, mas aí
daquele por quem o escândalo vier? ”.
308 – As palavras de João: - “A luz brilha nas trevas e as trevas não
a compreenderam”, tiveram aplicação somente quando da
exemplificação do Cristo, há dois mil anos, ou essa aplicação é extensiva
à nossa era?
309 –Em que sentido devemos interpretar as sentenças de João
Batista: - “A quem pertence a esposa é o esposo; mas o amigo do
esposo, que com ele está e ouve, muito se regozija por ouvir a voz do
esposo. Pois este gozo eu agora experimento; é preciso que ele cresça e
que eu diminua”?
310 –A transfiguração do Senhor é também um símbolo para a
Humanidade?
311- Qual o sentido da afirmativa do texto sagrado, acerca de
Jesus: - “Não tendo Deus querido sacrifício, nem oblata, lhe formou um
corpo? ”.
312 – Como interpretar a afirmativa de João: - “Três são os que
fornecem testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo? ”.
313 – Como entender a bem-aventurança conferida por Jesus aos
“pobres de espírito? ”.
314 – Qual a maior lição que a Humanidade recebeu do Mestre, ao
lavrar ele os pés dos seus discípulos?
315 –Por que razão Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, cingiu-se
com uma toalha?
316 –Aceitando Jesus o auxílio de Simão, o cirineu, desejava deixar
um novo ensinamento às criaturas?
317 –A ressurreição de Lázaro, operada pelo Mestre, tem um
sentido oculto, como lição à Humanidade?
318 –Poderemos receber um ensinamento sobre a eucaristia, dado
o costume tradicional da Igreja Romana, que recorda a ceia dos
discípulos com o vinho e a hóstia?
319 –Quem terá recebido maior soma de misericórdia n a justiça
divina: - Judas, o discípulo infiel, mas iludido e arrependido, ou o
sacerdote maldoso e indiferente, que o induziu à defecção?
320 –Que ensinamentos nos oferece a negação de Pedro?
321 –Qual a edição dos Evangelhos que melhor traduz a fonte
original?
AMOR
UNIÃO
322 – Há uma gradação do amor, no sei das manifestações da
natureza visível e invisível?
323 –Será uma verdade a teoria das almas gêmeas?
324 –Existe nos textos sagrados algum elemento de comprovação
para a teoria das almas gêmeas?
325 –A atração das almas gêmeas é traço característico de todos os
planos de luta na Terra?
326 –A união das almas gêmeas pode constituir restrição ao amor
universal?
327 –Se todos os seres possuem a sua alma gêmea, qual a alma
gêmea de Jesus Cristo?
328 –Perante a teoria das almas gêmeas, como esclarecer a
situação dos viúvos que procuram, novas uniões matrimoniais, alegando
a felicidade encontrada no lar primitivo?
329 –Os Espíritos evolutivos, pelo fato de deixarem algum amado
na Terra, ficam ligados ao planeta pelos laços da saudade?
330 –Somente pela prece a alma encarnada pode auxiliar um
Espírito bem-amado que a antecedeu na jornada do túmulo?
331 – Como devemos interpretar a sentença – “Há eunucos que se
castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus”?
PERDÃO
332 – Perdoar e não perdoar significa absolver e condenar?
333 –Na lei divina, há perdão sem arrependimento?
334 –Antes de perdoarmos a alguém, é conveniente o
esclarecimento do erro?
335 –Quando alguém perdoa, deverá mostrar a superioridade de
seus sentimentos para que o culpado seja levado a arrepender-se da
falta cometida?
336 –O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito
de não passar por determinadas provas?
337 – “Concilia-te depressa com o teu adversário” – Essa é a
palavra do Evangelho, mas se o adversário não estiver de acordo como
bom desejo de fraternidade, como efetuar semelhante conciliação?
338 –Por que teria Jesus aconselhado perdoar “setenta vezes
sete”?
339 –Em se falando de perdão, poderemos ser esclarecidos quanto
à natureza do ódio?
340 –Perdão e esquecimento devem significar a mesma coisa?
341 –Os Espíritos de nossa convivência, na Terra, e que partem
para o Além, sem experimentar a luz do perdão, podem sofrer com as
nossas opiniões acusatórias, relativamente aos atos de sua vida?
FRATERNIDADE
342 –A resposta de Jesus aos seus discípulos – “Quem é minha
mãe e quem são os meus irmãos”, é um incitamento à edificação da
fraternidade universal?
343 –Nas leis da fraternidade, como reconhecer na Terra, o Espírito
em missão?
344 –O “amar ao próximo” deve ser levado até mesmo à sujeição,
às ousadias e brutalidades das criaturas menos educadas na lição
evangélica, sendo que o ofendido deve tolera-lo humildemente, sem o
direito de esclarece-las, relativamente aos seus erros?
345 –O preceito evangélico – “se alguém te bater numa face,
apresenta-lhe a outra” – deve ser observado pelo cristão, mesmo quando
seja vítima de agressão corporal não provocada?
346 –Nas lutas da vida, como levar a fraternidade evangélica
àqueles que mais estimamos, se, por vezes, nosso esforço pode ser mal
interpretado, conduzindo-nos a situações mais penosas?
347 –A Terra é escola de fraternidade, ou penitenciária de
regeneração?
348 –Onde a causa da indiferença dos homens pela fraternidade
sincera, observando-se que há geralmente em todos grandes
entusiasmos pela hegemonia material de seus grupos, suas cidades,
clubes e agremiações onde se verifique a evidência pessoal?
349 –Fraternidade e igualdade podem, na Terra, merecer um só
conceito?
350 –Pode a fraternidade manifestar-se sem a abnegação?
351 –Como entender o “amor a nós mesmos”, segundo a fórmula do
Evangelho?
ESPIRITISMO

352 – Devemos reconhecer no Espiritismo o Cristianismo Redivivo?
353 –O espiritismo veio ao mundo para substituir as outras crenças?
354 –Poder-se-á definir o que é ter fé?
355 –Será fé acreditar sem raciocínio?
356 –A dúvida racionada, no coração sincero, é uma base para a
fé?
357 –É justa a preocupação dominante em muitos estudiosos do
Espiritismo, pelas revelações do plano superior, a título de
enriquecimento da fé?
358 –Para os Espíritos desencarnados, que já adquiriram muitos
valores em matéria de fé, qual o melhor bem da vida humana?
359 –Nas cogitações da fé, o Espírito encarnado deve restringir
suas divagações ao limite necessário às suas experiências na Terra?
360 –Qual deve ser a ação do espiritista em face dos dogmas
religiosos?
361 –Na propaganda da fé, é justo que os espíritas ou os médiuns
estejam preocupados em converter aos princípios da Doutrina os
homens de posição destacada no mundo, como os juízes, os médicos,
os professores, os literatos, os políticos, etc.?
PROSÉLITOS
362 –Poderemos receber um novo ensino sobre os deveres que
competem aos espiritistas?
363 –Como se justifica a existência de certas lutas antifraternas
dentro dos grupos espiritistas?
364 –O espiritista para evoluir na Doutrina necessita estudar e
meditar por si mesmo, ou será suficiente frequentar as organizações
doutrinárias, esperando a palavra dos guias?
365 –Como deveremos receber os ataques da crítica?
366 –Como deverá agir o espírita sincero, quando encontre perante
certas extravagâncias doutrinárias?
367 –É justo que, a propósito de tudo, busque o espiritista tanger os
assuntos do Espiritismo nas suas conversações comuns?
369 –É aconselhável a evocação direta de determinados Espíritos?
370 –Seria lícito investigarmos, com os Espíritos amigos, as nossas
vidas passadas? Essas revelações, quando ocorrem, traduzem
responsabilidade para os que as recebem?
PRÁTICA
372 –Como deveremos entender a sessão espírita?
373 –Como deve ser conduzida uma sessão espírita, de sua
abertura ao encerramento?
374 –Nas sessões, os dirigentes e os médiuns têm uma tarefa
definida e diferente entre si?
375 –Os agrupamentos espiritistas podem ser organizados sem a
contribuição dos médiuns?
376 –Há estudiosos da Doutrina que se afastam das reuniões,
quando as mesmas não apresentam fenômenos. Como se deve proceder
para com eles?
378 –Por que motivo à doutrinação e a evangelização nas reuniões
espiritistas beneficiam igualmente os desencarnados, se a estes seria
mais justo o aproveitamento das lições recebidas no plano espiritual?
379 –Como deverá agir o estudioso para identificar as entidades
que se comunicam?
380 –É justo que o espiritista, depois de sofrer pela morte a
separação de um ente amado, provoque a comunicação dele nas
sessões medianímicas?
381 –Muita gente procura o Espiritismo, queixando-se de
perseguições do Invisível. Os que reclamam contra essas perturbações
estão, de algum modo, abandonados se seus guias espirituais?
MEDIUNIDADE
DESENVOLVIMENTO
PREPARAÇÃO
392 –Pode contar um médium, de maneira absoluta, com os seus
guias espirituais, dispensando os estudos?
393 –Como entender a obsessão: É prova, inevitável, ou acidente
que se possa afastar facilmente, anulando-se os efeitos?
394 –Será sempre útil, para a cura de um obsidiado, a doutrinação
do Espírito perturbado, por parte de um espiritista convicto?
395 – Pode a obsessão transformar-se em loucura?
396 –Tratando-se da necessidade de preparação para a tarefa
mediúnica, é justo acreditarmos na movimentação de fluídos maléficos
em prejuízo do próximo?
397 –Por que razão alguns médiuns parecem sofrer com os
fenômenos da incorporação, enquanto outros manifestam o mesmo
fenômeno, naturalmente?
398 –É natural que, em plenas reuniões de estudo, os médiuns se
deixem influenciar por entidades perturbadoras que costumam quebrar o
ritmo de proveitosos e sinceros trabalhos de educação?
399 –Quando a opinião irônica ou insultuosa ataca uma expressão
da verdade, no campo mediúnico, é justo buscarmos o apoio dos
Espíritos amigos para revidar?
400 –Poderá admitir-se que um médium se socorra de outro
médium para obter o amparo dos seus amigos espirituais?
401 –A mistificação sofrida por um médium significa ausência de
amparo dos mentores do plano espiritual?
402 –Seria justo aceitar remuneração financeira no exercício da
mediunidade?
403 –É razoável que os médiuns cogitem da solução de assuntos
materiais junto dos seus mentores do plano invisível?
404 –Deve o médium sacrificar o cumprimento de suas obrigações
no trabalho cotidiano e no ambiente sagrado da família, em favor da
propaganda doutrinária?
405 –Poder-se-á admitir que os espiritistas se valham de um
apostolado mediúnico, para solução de todas as dificuldades da vida?
406 – Quando um investigador busque valer-se dos serviços de um
médium, é justo que submeta o aparelho medianímico a toda sorte de
experiência, a fim de certificar-se dos seus pontos de vista?
407 – Para que alguém se certifique da verdade do Espiritismo,
bastará recorrer a um bom médium?
408 – Seria proveitosa a criação de associações de auxílio material
aos médiuns?
409 –Como deverá proceder ao médium sincero para a valorização
do seu apostolado?
410 –Onde o maior escolho do apostolado mediúnico?
411 – Onde a luz definitiva para a vitória do apostolado mediúnico?

LIVRO 3 Roteiro
Definindo Rumos
1 O HOMEM ANTE A VIDA
2 NO PLANO CARNAL
3 O SANTUÁRIO SUBLIME
4 NA SENDA EVOLUTIVA
5 NOS CÍRCULOS DA MATÉRIA
6 O PERISPÍRITO
7 NO APRIMORAMENTO
8 A TERRA
9 O GRANDE EDUCANDÁRIO
10 RELIGIÃO
11 A FÉ RELIGIOSA
12 O SERVIÇO RELIGIOSO
13 A MENSAGEM CRISTÃ
14 EVANGELHO E ALEGRIA
15 EVANGELHO E INDIVIDUALIDADE
16 EVANGELHO E CARIDADE
17 EVANGELHO E TRABALHO
18 EVANGELHO E EXCLUSIVISMO
19 EVANGELHO E SIMPATIA
20 EVANGELHO E DINAMISMO
21 EVANGELHO E EDUCAÇÃO
22 O ESPIRITISMO NA ATUALIDADE
23 NA EXTENSÃO DO SERVIÇO
24 O FENÔMENO ESPÍRITA
25 ANTE A VIDA MENTAL
26 AFINIDADE
27 MEDIUNIDADE
28 SINTONIA
29 ALÉM DA MORTE
30 RENOVAÇÃO
31 DESAJUSTE APARENTE
32 COLABORAÇÃO
33 INDIVIDUALISMO
34 OBSERVAÇÕES
35 ENTRE AS FORÇAS COMUNS
36 DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
37 EXPERIMENTAÇÃO
38 MISSÃO DO ESPIRITISMO
39 DIANTE DA TERRA
40 ANTE O INFINITO

LIVRO 4 Emmanuel
Explicando...
A TAREFA DOS GUIAS ESPIRITUAIS
DOUTRINANDO A FÉ
I AS ALMAS ENFRAQUECIDAS
II A ASCENDÊNCIA DO EVANGELHO
III ROMA E A HUMANIDADE
IV A BASE RELIGIOSA
V A NECESSIDADE DA EXPERIÊNCIA
VI PELA REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO
VII O LABOR DAS ALMAS
VIII A CONFISSÃO AURICULAR
IX A IGREJA DE ROMA NA AMÉRICA DO SUL
X AS PRETENSÕES CATÓLICAS
XI MENSAGEM AOS MÉDIUNS
XII A PAZ DO ÚLTIMO DIA
XIII AS INVESTIGAÇÕES DA CIÊNCIA
XIV A SUBCONSCIÊNCIA NOS FENÔMENOS PSÍQUICOS
XV A IDÉIA DA IMORTALIDADE
XVI AS VIDAS SUCESSIVAS E OS MUNDOS HABITADOS
XVII SOBRE OS ANIMAIS
XVII A EUROPA MODERNA EM FACE DO EVANGELHO
XIX A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
XXA DECADÊNCIA INTELECTUAL DOS TEMPOS MODERNOS
XXI CIVILIZAÇÃO EM CRISE
XXII FLUIDOS MATERIAIS E FLUIDOS ESPIRITUAIS
XXIII A SAÚDE HUMANA
XXIV O CORPO ESPIRITUAL
XXV OS PODERES DO ESPÍRITO
XXVI OS TEMPOS DO CONSOLADOR
XXVII OS DOGMAS E OS PRECONCEITOS
XXVIII AS COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS
XXIX DO “MODUS OPERANDI” DOS ESPÍRITOS
XXX EVANGELIZAÇÃO AOS DESENCARNADOS
XXXI OS ESPÍRITOS DA TERRA
XXXII DOS DESTINOS
XXXIII QUATRO QUESTÕES DE FILOSOFIA
XXXIV VOZES NO DESERTO
XXXV EDUCAÇÃO EVANGÉLICA
XXXVI AOS TRABALHADORES DA VERDADE

LIVRO 5 Pensamento e Vida


PENSAMENTO E VIDA
1 O ESPELHO DA VIDA
2 Vontade
3 COOPERAÇÃO
4 INSTRUÇÃO
5 EDUCAÇÃO
6 FÉ
7 TRABALHO
8 ASSOCIAÇÃO
9 SUGESTÃO
10 ENTENDIMENTO
11 BERÇO
12 FAMÍLIA
13 FILHOS
14 CORPO
15 SAÚDE
16 VOCAÇÃO
17 PROFISSÃO
18 SOCIEDADE
19 PROSPERIDADE
20 HÁBITO
21 DEVER
22 CULPA
23 AUXÍLIO
24 HUMILDADE
25 TOLERÂNCIA
26 ORAÇÃO
27 OBSESSÃO
28 ENFERMIDADE
29 MORTE
30 AMOR

LIVRO 6 Religião dos Espíritos


1 SE TIVERES AMOR
2 ABORTO DELITUOSO
3 TENTAÇÃO E REMÉDIO
4 MEMÓRIA ALÉM-TÚMULO
5 BENEFICÊNCIA ESQUECIDA
6 ALIENAÇÃO MENTAL
7 AO REDOR DO DINHEIRO
8 CADINHO
9 MAIS
10 EXAMINA A PRÓPRIA AFLIÇÃO
11 PUREZA
12 SOBRAS
13 DIZES-TE
14 CENSURA
15 RENASCIMENTO
16 MEDIUNIDADE E DEVER
17 Jesus e humildade
18 HERANÇA
19 CORRIGIR
20 Carrasco
21 Obterás
22 Ante falsos profetas
23 Sofrimento e eutanásia
24 Reencarnação
25 Muito e pouco
26 Na Terra e no Além
27 Palavra aos espíritas
28 Desce elevando
29 Versão prática
30 Orientação espírita
31 Veneno
32 O obreiro do Senhor
33 Oração e provação
34 Responsabilidade e destino
35 Mensageiros divinos
36 O homem inteligente
37 O Guia real
38 Perseguidos
39 Amanhã
40 Servir a Deus
41 O caminho da paz
42 Nós mesmos
43 Examinadores
44 Na grande barreira
45 Esquecimento e reencarnação
46 Trabalha servindo
47 Contradição
48 Suicídio
49 O homem bom
50 Pena de morte
51 Felicidade e dever
52 A mulher ante o Cristo
53 Sexo e amor
54 Jovens
55 Sonâmbulos
56 Ante o Além
57 Fenômeno mediúnico
58 Ante os que partiram
59 Fenômeno magnético
60 Estranho delito
61 Doenças escolhidas
62 Ao sol do amor
63 Na grande transição
64 Meditemos
65 Reencarnação e progresso
66 Abençoa
67 Materialistas
68 Materialismo
69 Diante das tentações
70 Na hora da crise
71 Justiça e amor
72 Essas outras crianças
73 Amigos
74 Campanha na campanha
75 Em plena prova
76 Jesus e atualidade
77 Oração no dia dos mortos
78 Pluralidade dos mundos habitados
79 Abnegação
80 Doutrina Espírita
81 Professores diferentes
82 O outro
83 Se desejas
84 Cada hora
85 No grande minuto
86 Dominar e falar
87 Contigo
88 O teste
89 Simpatia
90 Louvor do Natal
91 Tempo e serviço
{1} "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho".
{2} Mateus, 5:16 — Nota do autor espiritual.

{3} Nota digital: Estudo dos efeitos magnéticos

provocados pela ação de imãs e correntes elétricas, e das


propriedades magnéticas da matéria

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