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PUC-SP
São Paulo - SP
2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo - SP
2014
BANCA EXAMINADORA:
___________________________
___________________________
___________________________
Akauã Kamaiurá
Diogo Faggiano
Djara Mbya
Elaine Santos
Felipe Musetti
Felipe Rodela
Kotok Kamaiurá
Glória Lopes
Guilherme Cassis
Luciano Faggiano
Mario Frugiuele
Mayaru Kamaiurá
Nelson Che
Rodolfo Machado
Samuel Friedman
Taciana Vitti
Takumã Kamaiurá
Agradeço ao CNPq por ter financiado esta pesquisa.
RESUMO
FAGGIANO, Daniel. O Tempo que Nos Resta, estudos Kamaiurá. 2014. 131 f.
Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2014.
In our transition process to the production and reproduction of capital mode through a
colonial via, we plated a particular colonial capitalism in the tropics. Colonial, since it
develops itself in atrophy, not completely, keeping and reinforcing Brazil as an
subaltern bond of the imperialism. Considering the particularity of each author, I
remark the works of Caio Prado Jr., Francisco Oliveira, Florestan Fernandes, José
Chasin, Octavio Ianni e Maurício Tragtenberg as fundamentals in the marxist
formulation of the Brazilian thoughts. The current work starts from The Brazilian
March to West, searching our historical particularity. Moved by a late industrialization
of the country, the myth of development takes violently all Brazilian people to be
submitted to this cause, while the profits pass to be concentrated, even more, in the
hands of farmers, national and international dealers. The domination of value of
change by the value of use, contradictory present in the products of capitalist
civilization, together with the transformation of lands to capital- private property,
reaches the limits of Parque Indígena do Xingu (MT) and, slowly, charmingly
penetrates the daily life of the aldeias. Considering the studies made since 1965 by
the anthropologist Carmen Junqueira, this work intends to critically analyze the
arriving of the goods with its values and of the capital-social relation in
the aldeia Kamaiurá from Ipavu, analyzing the way the sociability of capital breaks up
the existing collectivity, besides pointing out the arrangements and adjustments
made by the Kamaiurá when facing the destructive process of our colonial capitalism.
This work, contemporary to the capital’s crisis era, searches to confront the Brazilian
reality without loosing its human horizon, ontological. At last, it defends that the
Kamaiurá’s way of life, anchored in the collective element of their land, may be put,
humanly, against the capital and open, consciously, free paths among the rubble of
the amplified production and reproduction of life under the capital.
Rainer M. Rilke
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 2. A CEIA.. p. 16
FIGURA 3. “VW” p. 30
MAPA 1. Mapa das terras pertencentes ao Parque do Xingu vendidas pelo governo
do estado do Mato Grosso em 1954 .....................................................................p. 43
Carta ao Leitor. p. 14
Bibliografia. p. 125
Decerto, é muito difícil dizer: mudemos as coisas, busquemos novas possibilidades,
tentemos transformar os partidos, discutir, fazer análises, tentemos compreender a nova
estrutura social, elaborar novos programas econômicos. Pode ser difícil: mas tudo isso é
necessário, não há alternativa. Como também é necessário saber que há coisas que não
podem ser feitas do dia para a noite.1
Hoje, homens e mulheres, vivemos numa constante guerra de uns contra outros,
numa violenta luta de classes sob uma constante exploração do homem pelo
homem.
O capital chega aos mais distantes confins da sociedade humana, em nossas mais
íntimas relações, tornando nossas próprias entranhas estranhadas, negando nossas
expressões humanas e perpetuando nossa desumanização do mundo.
Qualquer sociedade que pretenda uma participação ativa de seus membros deve
traduzir seu conhecimento teórico em estratégias de luta e ação popular.
Que após a leitura de nossa história, sobre os exemplos dos povos indígenas, povos
dominados, mas ainda não organizados pelo capital, floresça em nossa consciência
uma práxis revolucionária.
Estejamos certos de que sem uma mudança radical de nossa sociabilidade, nosso
destino se encaminhará do caos ao fim da humanidade.
Boa leitura.
Daniel Faggiano
1
Agnes Heller. Para Mudar a Vida.
CAPÍTULO I
A Miséria da Antropologia.
Fonte: PENEDO, Clécio. A CEIA. Série “Comei-vos uns aos outros”.
17
política e ideológica na qual as formas culturais estavam sendo transmitidas no espaço e no tempo.
As duas escolas de pensamento manifestavam, portanto, preocupações muito diversas. Os
funcionalistas, por sua vez, rejeitavam a “história conjetural” dos difusionistas em favor da análise do
funcionamento interno em um todo supostamente isolado” (WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem
História, p. 39).
5
EVANS-PRITCHARD, Edward Evans. Antropologia Social.
6
Cf. LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social I.
7
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em Comum, p. 17.
19
mais que a classe dominante europeia chame os negócios com os povos originários
da América Latina de escambo, os indígenas continuam se reconhecendo enquanto
produtores de riqueza, enquanto trabalhadores, e sabem que sua força de trabalho,
desde o primeiro contato, é saqueada em benefício de outrem. Percebem, na
prática, os reflexos nocivos do contato colonial, independentemente do conceito
cultural que o europeu utilize para justificar suas ações na América Latina.
A antropologia, ao estudar o contato com estes povos, precisa tornar
inteligível a função de seu objeto estudado dentro de uma totalidade, dentro de uma
universalidade capitalista que é singular em cada caso concreto. A particularidade
constitui a singularidade mediatizada, ou seja, não é possível a compreensão do real
tão somente a partir dos dados imediatos.11
Dito de outra maneira: o que uma “coisa”, ou uma “entidade”, ou um “objeto”
é depende do contexto não só linguístico, mas também real em que se
encontra e, portanto, da função que cumpra. Isolar o objeto ou suas
“propriedades” nos conduz, no melhor dos casos, a uma teoria lógica que
recorre, como em Quine, à significação e aos fatos, mas que não põe o
acento na transformação dos fatos, nem na relação determinada que os
fatos guardam entre si e pela qual são modificados.12
11
CHASIN, José. Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica, p. 169.
12
LABATISDA, Jaime. O Objeto da História, p. 183.
13
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 32.
14
“O conceito neutro de mudança cultural é a continuação do projeto analítico não especulativo e
comparativo de Malinowski e Radcliffe-Brown. Enquanto que os vitorianos tinham concebido o
colonialismo em termos que o justificavam, e enquanto neles a linguagem descritiva e a linguagem
normativa e voluntarista se confundiam, os funcionalistas agarram-se a uma linguagem puramente
descritiva, que coloca entre parêntesis os móbiles do colonialismo, o qual chega a desaparecer como
sistema”. (LECLERC, Gérard. Crítica da Antropologia, pp. 76-77).
21
pensar e os produtos do seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas
a vida que determina a consciência”.15
No mesmo sentido, a antropologia ocidental desenvolveu-se ligada ao
colonialismo, permitindo a emergência de um novo tipo de intelectual: o
“antropólogo colonial”, a serviço da administração inglesa, holandesa ou
francesa, sugerindo ao poder medidas oportunas para a manutenção do
colonialismo.16
Basta pensar nos favores que a antropologia prestou à dominação colonial na
América Latina e na África. A mistificação da violenta realidade confunde a opressão
vivida pelo colonizado forjando uma falsa realidade da situação colonial.
Sartre:
Nas colônias, a verdade se mostrava nua; as “metrópoles” a preferiam
vestida; era preciso que o indígena as amasse. Como mães, de certa forma.
A elite europeia pôs-se a confeccionar um indigenato de elite;
selecionavam-se adolescentes, marcavam-se em suas frontes, com ferro e
brasa, os princípios da cultura ocidental, introduziam-lhes na boca mordaças
sonoras, grandes palavras pastosas que colavam nos dentes; depois de
uma breve permanência na metrópole, mandavam-nos de volta,
falsificados.17
Gérard Leclerc:
A colonização clássica era, em muitos aspectos, a forma privilegiada deste
monólogo. Durante um longo período a Europa apenas contemplou, nas
outras culturas, a sua própria subjetividade, a matéria e o instrumento da
sua vontade. Que tenha considerado o bom selvagem um tema
desculpabilizante, que tenha praticado a antropologia para ficar com a
consciência tranquila, tudo isso é pouco, é apenas o aspecto ideológico.
Porque se trata da destruição de culturas, de sociedades. Passagem dos
modos de produção pré-capitalista ao modo de produção capitalista, é
certo.18
Aimé Césaire:
Não há uma colonização que destrói indígenas e atenta contra a “saúde
moral dos colonizadores”, e uma outra colonização, uma colonização
esclarecida, uma colonização apoiada na etnografia, que integraria,
harmoniosamente e sem riscos para a “saúde moral dos colonizadores”,
elementos culturais do colonizador no corpo das civilizações indígenas.19
Qualquer que seja o sentido abstrato e geral que a antropologia tente dar ao
colonialismo, se esconde seu sentido real, que outro não é senão o da expansão do
modo de produção capitalista, praticado através da exploração brutal dos povos
indígenas da América Latina. “Ignorar o drama desses povos seria associar-se ao
processo que os aniquila.” 20
15
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã, p. 94.
16
TRAGTENBERG, Maurício. A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder, p.
10.
17
SARTRE, Jean-Paul, Prefácio à edição de 1961, p. 23.
18
LECLERC, Gérard. Crítica da Antropologia, p. 149.
19
CÉSAIRE, Aimé apud LECLERC, Gérard. Crítica da Antropologia, p. 164.
20
JUNQUEIRA, Carmen. A questão indígena, p. 126.
22
21
IANNI, Octavio. Revolução e cultura, p. 33.
22
Ibidem, p. 33.
23
FERNANDES, Florestan. A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios, p. 11.
23
educação formal, produz armas não menos genocidas do que aquelas produzidas
nas fábricas.
Os conceitos forjados por uma determinada classe dominante, com sua
pompa acadêmica, são maciçamente propagandeados no resto do globo. Essa falsa
universalidade, estabelecida por caminhos equivocados, inculcou nos povos da
América Latina o péssimo hábito de que são eles (europeus) que devem pensar por
nós.
Dessa maneira, as relações sociais no mundo colonial se transformam num
significante à espera de significados europeus. A auto definição simbólica dos povos
americanos foi arrancada pela antropologia ao passo que a expansão colonialista
arrancava o destino destes mesmos povos. Estes, ou deixavam fisicamente de ser o
que eram, ao sucumbirem a doenças e chacinas, ou lhes era infligido um novo modo
de pensar, que não o seu.
Todas estas insuficiências e implicações ideológicas das noções clássicas
de mudança, de contato, etc., levaram G. Balandier a falar, de preferência,
em “situação colonial”. Esta noção implica, em primeiro lugar, a necessidade
de considerar o colonialismo como uma totalidade e não como um conjunto
de processos que se poderiam estudar independentemente uns dos outros
(monetarização da economia, difusão de um ensino europeu,
evangelização, etc.). Por outro lado implica que as mudanças operadas sob
o colonialismo não são as mesmas que teriam tido lugar numa outra
situação, que as mudanças de origem externa, isto é, colonial, são
fundamentalmente diferentes das mudanças indígenas, e sobretudo das
mudanças operadas num verdadeiro “give and take”. 24
Se o colonialismo deve ser interpretado dentro de uma totalidade, o mesmo
deve acontecer com nossa concepção de história. Ou seja, inexiste uma “história
indígena” destacada da uma “história branca”. O caminho da etnohistória atinge seu
objeto de maneira alienada, pois analisa o índio isolado da problemática do colonial.
A “história indígena” é apenas uma das relações do processo histórico humano e
não pode ser destacada de suas conexões.
Se existem conexões em todos os lugares, por que insistimos em
transformar fenômenos dinâmicos, interligados, em coisas estáticas,
desligadas? Parte disso se deve, talvez, ao modo como aprendemos nossa
própria história. Fomos ensinados, nas salas de aula e fora delas, que existe
uma entidade chamada Ocidente e que se pode pensar nesse Ocidente
como uma sociedade e uma civilização independentes e em oposição a
outras sociedades e civilizações. Muitos de nós até mesmo crescemos
acreditando que o Ocidente possui uma genealogia segundo a qual a Grécia
antiga gerou Roma, Roma gerou a Europa cristã, a Europa cristã gerou a
Renascença, a renascença gerou o Iluminismo, o Iluminismo gerou a
democracia política e a Revolução Industrial. A indústria, cruzada com a
24
LECLERC, Gérard. Crítica da Antropologia, p. 175.
24
25
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 27.
26
LENIN, Vladimir Ilitch. Imperialismo, estágio superior do capitalismo, p. 27.
27
Ibidem, p. 18.
25
28
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel, p. 156.
29
“Não é o predomínio de motivos econômicos na explicação da história que distingue decisivamente
o marxismo da ciência burguesa, mas o ponto de vista da totalidade.” (LUKÁCS, György. História e
consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista, p. 21).
30
JUNQUEIRA, Carmen. A questão indígena, p. 127.
31
RIBEIRO, Darcy. A América Latina existe?, p. 99.
26
Por mais “isolada” que esteja uma dada comunidade, e mesmo que esta não
se constitua como classe especificamente, hoje, com a expansão capitalista no
globo, seu futuro passa a ser operado de acordo com os mecanismos da divisão de
classes.
As várias contradições existentes nesse complexo se articulam em torno de
uma contradição fundamental do capital, que é a contradição de classes, e é
impossível pensá-las sem ser em relação com essa contradição fundamental. Em
seu cerne, o capitalismo se produz e reproduz suprimindo outros tipos de relações
não capitalistas, bem como usurpa das comunidades resistentes sua capacidade de
autodeterminação. Conduz dominantemente as demais consequências no mundo,
eliminando qualquer perspectiva histórica à margem da relação de classes imposta
na sociedade global.
Progressivamente, a dimensão étnica vai sendo subordinada à dimensão de
classe, que passa a ser uma matriz estrutural para o pensamento antropológico.
Desse modo, o antropólogo que estuda uma determinada comunidade indígena
deve ter claro que o índio também é um trabalhador explorado, “independentemente”
da percepção deste sobre si mesmo.
Percebemos que as contradições que devem ser resolvidas são estruturais
(de domínio e de classe social) e não apenas espaciais (de região ou de
enfrentamento de duas culturas distintas). Portanto, uma antropologia
verdadeiramente humana, não pode se esquivar do árduo trabalho de superação
estrutural do capital.
Se devemos buscar a ideia na sua própria realidade, 32 é na especificidade da
formação, produção e reprodução do capitalismo no Brasil que o antropólogo deve
situar seu objeto estudado. O conhecimento do objeto estudado não advém de
imediato, a certeza não provém da simples leitura ou do contato direito com o objeto.
É através, do desvelamento das diversas mediações que orbitam esse dado objeto
estudado, que a certeza pode surgir, após um longo caminho que se enceta no
questionamento da realidade posta; como ponto de partida tem-se a inicial incerteza
dos fatos.
32
“Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente
oposta. Para Hegel, o processo do pensamento (...) é o criador do real, e o real é apenas sua
manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a
cabeça do ser humano e por ele interpretado.” (MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política, p.
16).
27
33
“A abstração é a capacidade intelectiva que permite extrair de sua contextualidade determinada (de
uma totalidade) um elemento, isolá-lo, examiná-lo; é um procedimento intelectual sem o qual a
análise é inviável.” (NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 44).
34
VAISMAN, Ester; FORTES, Ronaldo Vielmi. In: LUKÁCS. G. Prolegômenos para uma ontologia do
ser social, p. 21.
35
MARX, Karl. Condições históricas da Reprodução Social, p. 63.
36
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 27.
28
37
Cf. RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil
moderno.
38
MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e ciência social, p. 94.
29
CAPÍTULO II
39
MARX, Karl. Formações econômicas pré-capitalistas, p. 80.
40
Cf. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 2011.
32
41
“A polarização essencial do desenvolvimento é acelerar a industrialização e, em consequência,
favorecer e justificar a supremacia da burguesia industrial. Nesse processo, pois, está em jogo o
destino do capital, isto é, a luta pela apropriação da mais-valia e das técnicas de capitalização. Ou
seja, estão em jogo as relações de classes determinadas pelas orientações da circulação do capital.”
(IANNI, Octavio. Estado e Capitalismo, p. 102).
42
PRADO JR., Caio. História do Brasil, p. 315.
33
43
TRAGTENBERG, Maurício. A falência da política, p. 185.
44
“A industrialização de tipo capitalista, como ocorre no Brasil, produziu-se com o
desenvolvimentismo, que é seu ingrediente ideológico fundamental. Nacionalista ou associado ao
capital externo, esse desenvolvimento faz parte da corrente de ideias característica dessa etapa de
transição do sistema econômico-social nacional. No processo de conversão do capital agrícola,
comercial e bancário em capital industrial, essa doutrina constituiu-se como uma visão prospectiva da
civilização industrial. Exprime alguns conteúdos sociais e políticos dessa metamorfose, desse
processo civilizatório. Principalmente, exprime a conversão em que a hierarquia das classes sociais
se reordena em uma nova configuração. O Estado patrimonial se converte em Estado burguês. Nessa
concepção, desenvolvimento significa industrialização. Isto é, afirma-se que é geral (desenvolvimento
econômico, social, cultural, etc.) o que é, em primeiro lugar, particular (a supremacia da produção
industrial). É a ideologia da nova classe dirigente, na fase de ascensão do poder.” (IANNI, Octavio.
Estado e Capitalismo, p. 98).
45
VARGAS, Getúlio. No limiar do ano de 1938.
34
46
VARGAS, Getúlio. Cruzada rumo Oeste.
47
BASTOS, Pedro Paulo Zahluth; FONSECA, Pedro Cezar Dutra (orgs.). A Era Vargas:
desenvolvimentismo, economia e sociedade, p. 23.
35
48
“Tinha de ser assim porque a tendência “natural” num meio tropical, corporificado pelo indígena, era
um “comunismo selvagem” prevalecer. Somente o bandeirismo autoritário, antiliberal podia dar ordem
e impor a racionalidade a essa tendência, estabelecendo uma “democracia hierárquica”.”
(CASSIANO, Ricardo. Marcha para Oeste, p. 428).
49
“É como se a história do país se desenvolvesse em termos de signos, símbolos e emblemas,
figuras e figurações, valores e ideais; sem que se revelem relações, processos e estruturas de
dominação e apropriação com os quais se desvendam os nexos e movimentos da realidade social.”
(IANNI, Octavio. Tendências do pensamento brasileiro, pp. 55-74).
50
RICARDO, Cassiano. Marcha para Oeste, p. 324.
51
Ibidem, p. 324.
36
58
REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Expedição Roncador-Xingú, promovida pela
coordenação da mobilização econômica, pp. 514.
59
Cf. VILLAS-BOAS, Orlando. Marcha Para o Oeste: a epopeia da Expedição Roncador-Xingu.
60
“Na história que se deu até aqui é sem duvida um fato empírico que os indivíduos singulares, com a
expansão da atividade numa atividade histórico-mundial, tornaram-se cada vez mais submetidos a
um poder que lhes é estranho (cuja opressão eles também representavam como um ardil assim
chamado espírito universal etc.), um poder que se torna cada vez maior e que se revela, em última
instancia, como mercado mundial.” (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã, p. 40).
39
61
“No presente, devido à operação interna dos processos de concentração e centralização do capital,
aquelas descontinuidades foram retomadas interpretativamente pelo “desenvolvimentismo”, como
obstáculos à expansão industrial das forças produtivas. Todavia, os termos em que foram colocadas
(dois “brasis” ou suas variantes) revelam um entendimento mecanicista e a-histórico da realidade
nacional. O conceito de dualidade retira a historicidade da história, tomando o objeto presente em sua
existência manifesta. Por isso é que não ficamos sabendo por que a Amazônia se tornou um
problema nacional; em que medida o “ciclo” da borracha, determinado pelo capitalismo mundial, criou
o problema amazônico, traduzido em relações de trabalho escravizantes, numa alta concentração de
renda, etc. Apenas se afirma a existência do problema, sem que o diagnóstico recomponha a teia das
significações que reproduzem a realidade em toda sua riqueza. Em consequência, os fenômenos
guardam distancia entre si, como se fossem exteriores uns aos outros. Tomados superficialmente,
são discretos.” (IANNI, Octavio. Estado e Capitalismo, p. 73).
62
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
63
OLIVEIRA, João Pacheco. Uma viagem ao Brasil profundo, pp. 24-25.
40
64
FRANCHETTO, Bruna. Laudo antropológico: A ocupação indígena da região dos formadores e do
alto curso do Rio Xingu.
65
MEIRELES, Silo. Brasil Central, Notas e impressões, p. 220.
66
PRADO JR, Caio. História Econômica do Brasil, p. 329.
41
67
IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro, p. 174.
68
RÜSCHE, Ana. Rasgada, p. 31.
42
69
MENEZES, Maria Lucia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de um território estatal, p.
157.
70
MENEZES, Maria Lucia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de um território estatal, p.
189.
71
Ibidem, p. 165.
72
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 77.
43
MAPA 1. Mapa das terras pertencentes ao Parque do Xingu vendidas pelo governo
do estado do Mato Grosso em 1954.
Glebas Localização
1. Piratininga e Arraias Entre os rios Manitsuá-Missu
2. Atlântica Margem direita do rio Telles Pires
3. Colonizadora Norte de Mato Ambas as margens do rio Kuluene
Grosso
4. Colonizadora e representação Entre os rios Kurisevo e Kuluene
Brasil
5. Departamento Imobiliário Oeste Alto Xingu (até 55ºW)
Brasileiro Ltda.
6. Suiá-Missú Ambas as margens do rio Suiá-Missú
7. Formosa Margem direita do Telles Pires
73
Área aproximada de 21.600 km²
74
O Parque foi regulamentado pelo Decreto n° 51.084 de 1961, sendo ainda alterado pelos Decretos
n° 63.082 de 1968 e nª 68.909 de 1971, sendo a demarcação de seu perímetro atual estipulada em
1978.
45
indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só
matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.75
Sem apagar as contradições existentes no plano concreto, a antropóloga
Carmen Junqueira nos conta sobre a criação do Parque:
Não tardou que a nova região desbravada viesse a ser alvo de interesses
imobiliários. Sob as vistas da Fundação Brasil Central, a terra passou a ser
retalhada e vendida a particulares. Somente a reação enérgica dos líderes
da extinta expedição e do Serviço de Proteção aos Índios conseguiu sustar
a comercialização das terras indígenas. Finalmente, em 1961, é que se
logrou alcançar uma proteção mais definitiva desse território, com a criação
do Parque Nacional do Xingu.76
Tentando abarcar a preservação não apenas ambiental, mas também das
populações indígenas, a administração do Parque foi entregue a Orlando Villas
Boas.
A política indigenista então instituída pelos Villas Boas em relação aos
povos da região do Xingu era voltada para a preservação física dos grupos
indígenas e seus padrões tradicionais de vida. Fazia parte dessa política
assegurar a posse da terra, controlar as relações entre índios e “brancos”,
mediar as relações entre os grupos indígenas, promover assistência
médico-sanitária e prover condições necessárias à sobrevivência, incluindo
o suprimento regular de artigos industrializados, em sua maioria ligados à
produção.77
O Parque assegurou um território indígena que afastou, ao menos
inicialmente, a necessidade destes povos de venderem sua força de trabalho
enquanto trabalhadores assalariados. Não conseguiu, entretanto, evitar outros
efeitos nocivos. A mercadoria pouco a pouco driblou as fronteiras do Parque e
adentrou nas malocas, subjugando os índios a uma grande dependência econômica
em relação ao governo brasileiro.
Se em 1889 a República foi proclamada sob a bandeira “ordem e progresso”
e em 1930 bradou-se “nacionalismo e industrialização”, em 1964 a ascensão
golpista da ditadura Civil – Militar proclamou “segurança e desenvolvimento”.
Intensificaram-se os projetos imperialistas de colonização interna do Brasil. Os
incentivos financeiros e as parcerias entre o capital público e o privado formaram as
bases para o assentamento da dominação do modelo capitalista de produção na
região amazônica.
O que ocorreu na Amazônia, nos anos 1964-78, foi principalmente um
desenvolvimento extensivo do capitalismo. No extrativismo, na agricultura e
na pecuária, desenvolveram-se as relações capitalistas de produção,
juntamente com as forças produtivas. Esse foi o quadro geral no qual se
integrou a política estatal de ocupação, inclusive a colonização dirigida,
75
RIBEIRO, Darcy. Confissões, p. 230.
76
CAMARGO, Cândido Procópio F. de; JUNQUEIRA, Carmen; PAGLIARO, Heloísa. Reflexões
Acerca do Mundo Cultural e do Comportamento Reprodutivo dos Kamaiurá Ontem e Hoje, p. 122.
77
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 76.
48
78
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 55.
79
A FUNAI foi criada pela lei nº 5.371 de 1967.
80
CAVALCANTI José Costa apud CASALDÁLIGA, Pedro. Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o
Latifúndio e a Marginalização Social, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 183.
81
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 245.
49
82
FIGUEIREDO, Jader. Relatório Figueiredo, p. 02.
50
serviria mais ao homem, mas apenas à produção de gado. Dias após serem
transferidos para a Missão Salesiana de São Marcos, oitenta e três Xavante
morreram de sarampo.
Outra companhia multinacional que investiu recentemente na Amazônia foi
a firma italiana Liquigás. No início dos anos 70, a Liquigás comprou uma
participação importante na grande fazenda Suiá-Missú, em Mato Grosso. De
acordo com a revista Fortune, a Liquigás estava planejando expandir o
rebanho de 68 mil vacas zebus da Suiá-Missú para 300 mil cabeças,
cruzando-as com reprodutores Chianina e Marchigiana importados da Itália.
Também se informou que ela estaria construindo uma pista de pouso tão
grande que comportaria jatos fretados.87
A monopolização da propriedade privada não se faz sem seu antagônico
processo de resistência.88 Inexiste opressão livre de processos de resistência: sob o
capital, a cultura se articula, também, enquanto modo de luta. Num longo processo
de retomada, os Xavante se organizaram para reivindicar seu território original – a
Terra Indígena Marãiwatsédé:
Somos de Marãiwatsédé. Fomos expulsos de nosso território. Nosso Povo
sofreu muito longe da terra, muitos morreram. Agora resolvemos, não
vamos sair nunca mais da nossa terra. Estamos em guerra.89
Apenas em 1998 os Xavante conseguiram a homologação da Terra Indígena
Marãiwatsédé e somente em 2013 a desintrusão foi concluída pela polícia federal.
Mesmo assim, os Xavante ainda não conseguiram recuperar a totalidade de seu
território; em 2014, suas terras foram novamente invadidas por não índios. Numa
total omissão do governo do Mato Grosso, o cacique Xavante Damião Paridzané,
reclama não apenas seus direitos, mas também os direitos do povo brasileiro:
Os políticos não estão preocupados em melhorar a vida nem dos índios
nem dos não índios. Será que o governador se preocupa com a situação do
povo hoje? Em todos os municípios daqui, o povo não tem água, não tem
esgoto, não tem desenvolvimento. Ele, como autoridade de Mato Grosso,
tem a obrigação de atender as dificuldades do povo, mas ele não quer. Mas
os políticos preferem jogar o branco contra o índio, como se isso fosse
resolver alguma coisa.90
87
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 160.
88
“São numerosos os movimentos sociais rurais, de base camponesa e operária, que expressam a
luta pela posse e uso da terra. Também comunidades indígenas fazem parte dessa historia. À medida
que se desenvolve o capitalismo, a partir da indústria, comércio e banco, ou da cidade, os muitos
núcleos de trabalhadores rurais e as muitas comunidades indígenas são induzidos a proletarizarem-
se ou seguir adiante, em busca de outras terra. Muitos são os que resistem, lutam. Lutam para
continuar em suas terras, ou para reconquistá-las. Em face do desenvolvimento extensivo e intensivo
do capitalismo no campo, compreendendo a monopolização da propriedade e exploração da terra,
índios, posseiros, arrendatários, meeiros, parceiros, sitiantes, moradores e outros são levados à
proletarização, busca de outras terras; ou lumpenizam-se.” (IANNI, Octavio. Origens Agrárias do
Estado brasileiro, p. 251).
89
XAVANTE Damião Paridzané.
90
CIMI. Polícia Federal retorna à Terra Indígena Marãiwatsédé (MT) para conter invasão de não
índios.
53
Financiamento
Corporação Invasão de Terras
Superfície Internacional e
Agrícola indígenas
Assistência Técnica
91
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 195-196.
92
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 160.
54
USAID: empréstimo de
US$ 11,9 milhões ao
Fazenda de gado de
Várias tribos Caiapós Inst. Des. Regional do
Volkswagen do Brasil 22.400 hectares no
do norte Amapá, para
Araguaia, Pará
pesquisarem agricultura
e criação de gado.
USAID: empréstimo de
US$ 32 milhões para o
Fazenda de gado de
Inst. Int. de Pesquisa
Fazenda Suiá-Missu, 560 mil hectares Parque Nacional Xingu
(parcialmente
de propriedade da paralela ao rio Suiá- (norte) Xavante (sul e
financiado pela Fund.
Liquigás (Itália) Missu, no nordeste de leste)
Rockfeller), para estudo
mato Grosso
da produção de arroz
tropical na Amazônia.
Blue Spruce
66 companhias de terra International e
e gado em S. Paulo: International Research
área de grandes Municípios de Barra do Tapirapé, Parque Institute: projeto para
propriedades rurais de Garças e Luciara, Mato Indígena do Araguaia, 5 vender o herbicida 2, 3,
Stanley Amos Sellig Grosso reservas xavantes 5-T (Agente Laranja) ao
(empresário norte- governo brasileiro, para
americano de imóveis) desflorestamento da
Amazônia.
Fonte: MARTINS, Edilson. Índios: quando a liberdade é negada, apud IANNI, Octavio. Ditadura e
Agricultura, p. 185.
sem terra para uma terra sem homens” (a). Constatamos hoje que os párias
nordestinos não tiveram, na malograda “colonização” da Amazônia, a
mesma sorte que os bois dos empresários do Sul e estrangeiros que hoje
engordam nos pastos formados onde deveriam estar as lavouras dos
“homens sem terra”. Pastos que, muitas vezes, ocuparam, também, o chão
dos legítimos “homens da terra”, indígenas que ali já habitavam desde
tempos imemoriais – como os xavantes do Mato Grosso, expulsos da área
que habitavam pelos proprietários da Agropecuária Suiá-Missú, hoje
vendida à Liquigás.
97
BALDUÍNO, Dom Tomás. O CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e a terra dos índios, apud
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 186-188.
98
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 89.
99
Ibidem, p. 177.
59
100
Ibidem, p. 92.
101
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, pp. 86-87.
102
RICARDO, Cassiano. Marcha para Oeste, p. 622.
60
103
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
104
CAPRIGLIONE, Laura. A missão.
105
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Livro da Verdade.
61
Fonte:
Conclusão:
106
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Livro Branco da Verdade, p. 13.
107
REALE, Miguel. Problemas Institucionais do Estado Contemporâneo, p. 45.
108
BRASIL. Lei Nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973.
63
O homem rural residente na área não estava preparado para uma mudança
tão radical de conceitos e valores; em geral, não lhe passava pelo espírito a
necessidade de revestir sua posse física do imóvel com um título de
propriedade legalmente reconhecido. A posse, para ele, já constituía todo o
direito necessário para deter a terra, nela morar e trabalhar.
De fato, o que a lei positiva estabelece é que posse não provada é posse
não tida. E como, em última análise, a prova da posse deve ser judicial –
portanto, dependente de uma estrutura complicada, cara e praticamente
ininteligível para o caboclo – este se vê de repente em total insegurança. Se
tenta recorrer ao aparelho burocrático do judiciário, sua vida em breve se
transforma num pesadelo kafkiano. Na esmagadora maioria dos casos, não
há possibilidade de recurso ao judiciário. A estrutura atual e os padrões de
funcionamento da justiça comum não respondem à dinâmica dos conflitos
na terra.
Há uma ética da posse, e essa ética exige que a posse mansa e pacífica
seja respeitada. Quando a legislação civil europeia consagrou a posse
mansa e pacífica como base de domínio, não estava senão
institucionalizando uma relação ética entre indivíduos humanos. Se esse
conteúdo ético perdido, se a pratica social conduz o formalismo jurídico e a
titulação a atuarem contra a posse pacífica; se o funcionamento de certos
organismos monta armadilhas contra o possuidor e erige em verdade a
ilusão, o sistema positivo de proteção dos direitos entra em antagonismo
com a ética da posse. Na verdade, entra em conflito com a ética, em geral e
passa a coonestar razões de poder dos grupos mais fortes.110
Como podemos observar no quadro a seguir, essa captura do Estado pela
empresa privada proporcionou uma rápida concentração das terras do oeste
brasileiro nas mãos dos empresários. Muitas empresas possuíam nomes nacionais,
mas seu controle acionário era estrangeiro. A desnacionalização do território
brasileiro abriu as portas para uma ampla penetração imperialista no Brasil.
110
SANTOS, Roberto Araújo de Oliveira, Sistema de Propriedade e Relações de Trabalho no Meio
Rural Paraense, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 96-97.
65
Mitsui Agrop.
Mitsui Co. JAP - PA 0,6 1,9 70
Ltda.
Twik
Novos
Agricultural Isenção de
Horizontes EUA 63.122 GO 73
and Industrial Impostos
S.A.
Developers
Frigorífico
Isenção de
Araguaína Idem EUA - GO -
Impostos
Doação
Área Recursos Próprios (incentivos
Nome Nacional Controle País Estado
(ha) (em milhões) ) da
Sudam
Agrop. Sul do Ester Panamá 5.000 PA 1,0 3,0 68
Pará Research Co.
Cofap-com
Cia. Nova participação
Fronteira da TRW EUA - PR 6,6 20,0 73
Thompson do
Brasil
Agrop. Toshio
Toyobo do
Cia. Ás de BrasilBco.
JAP - MT 3,1 9,8 73
Ouro Mitsubishi-
Yakult do
Brasil
Refrigeradores
Cônsul com
participação
da Brastemp
Agrop. Cônsul EUA - MT 4,2 12,6 72
que tem
capital da
Whirpool
Corporation
Agrop. Barra Part. Singer do
EUA - MT 17,0 51,0 -
dos Garças Brasil
Bradesco com
Cia Rio Capim
participaçãoda JAP 40.986 PA 13,3 54,9 76
Agrop.
Nichimen
Agropastoril John W.r. de
Suíça - MT 0,6 3,08 71
Nova Patrício Buys Rossingh
Imobiliária e
Desenvolvime
nto Sul-
Americana +
Piraguassu
Cia. Ianmar JAP 52.373 MT 17,2 50,1 76
Agrop.
Dit. De Maq. –
controlada
pela Lamaoka
Reality
Agropecuária Tsuzuki
JAP - GO 0,7 2,2 72
Araguaçu Spnnig
Frigorífico Union
ING 664.00 MT Desconhecidos -
Anglo International
National Bulk
Jari Florestal e Carriers 3.500. Isenção de
EUA PA -
Agrop. (Daniel 000 Impostos
Ludwig)
Fonte: HOLANDA, Sérgio Buarque de. A Capitania da Volkswagem, apud IANNI, Octavio. Ditadura e
Agricultura.
67
Enquanto no Sul do país, o tamanho médio das fazendas de gado era de 800
a 900 hectares de terra, tendo sua maior fazenda com cerca de 6 mil hectares, no
Mato Grosso a realidade era contrastante. Apenas uma única fazenda no Mato
Grosso com 15 mil cabeças de gado, propriedade de Orlando Ometo, rico produtor
68
111
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o Desenvolvimento e os Índios do Brasil, p. 62.
112
IANNI, Octavio. Estado e Capitalismo, p. 171.
113
Ibidem, p. 74.
69
por uma pequena promessa de indenização, que nunca se realiza, até que
os posseiros deixam a terra, amedrontados.
Cria-se, então, uma tensa situação social: os posseiros sabem que sem a
terra perderão a fonte de renda familiar e se tornarão desempregados. Se
procurarem outras áreas sem o título legal, correm o mesmo risco de
despejo.
114
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG),
“Problemática dos Posseiros”, Reforma Agrária, apud IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 145.
71
Acre 07 02 - 07
Amazonas 10 03 04 01
Roraima 02 01 - 03
Pará 15 03 08 02
Amapá - - - -
Maranhão 17 08 02 17
Piauí 01 - - -
Ceará - - - -
Rio grande
- - - -
do Norte
Paraíba 01 - - -
Pernambuco 02 - - -
Alagoas 02 - - -
Sergipe 01 - - -
Bahia 13 03 01 08
Espírito
01 - - -
santo
Rio de
- - - -
Janeiro
Guanabara - - - -
São Paulo 12 01 01 -
Paraná 06 01 - 13
Santa
- - - -
Catarina
Rio Grande
01 01 01 -
do Sul
Minas
02 - - -
Gerais
Goiás 02 02 05 02
Distrito
- - - -
Federal
Mato
19 07 07 06
Grosso
Rondônia 12 02 02 -
72
Total 126 34 31 59
Fonte: RODRIGUES, Vera L. G. da Silva; SILVA, José Gomes da. Conflitos de terras no Brasil, apud
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura.
*Em algumas das notícias, ao invés de dizer-se o número exato dos mortos e feridos em determinado
conflito, dizia-se apenas “vários”. Para efeitos de tabulação, consideramos 3 o número de mortos ou
feridos em tais casos.
115
IANNI, Octavio. Estado e Capitalismo, p. 105.
116
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, p. 73.
74
117
IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro, p. 149.
118
IANNI, Octavio. Ditadura e Agricultura, pp. 95-96.
75
119
KRÄUTLER, Dom Erwin. As cruzes permanecem erguidas, mas a utopia do Bem Viver persiste, p.
07.
120
JUNQUEIRA, Carmen. A questão indígena, p. 123.
121
Ibidem, p. 124.
76
Quanto mais elevado o preço da terra, mais difícil para o médio produtor
encontrar área para produzir. Para o pequeno, nem se fala. O mercado
acabou dando preferencia a empresas maiores.125
125
FREITAS, Tatiana. “Megafazendas” lideram crescimento no Cerrado.
78
Dardanelos, rio Aripuanã, MT; Estreito, rio Tocantins, MA/TO; Ferreira Gomes, rio
Araguari, AP; Jatobá, rio Tapajós, PA; Jirau, rio Madeira, RO; Santo Antônio do Jarí,
rio Jarí, AP/PA; São Luiz do Tapajós, rio Teles Pires, MT; e Teles Pires, rio Teles
Pires, MT/PA.
126
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, pp. 129-130.
127
“Em 2010, quando ocorreu o leilão de Belo Monte, o vencedor Consórcio Norte Energia era
composto pela Chesf, Construtora Queiroz Galvão S/A, Galvão Engenharia S/A, Mendes Junior
Trading Engenharia S/A, Serveng-Civilsan S/A, J. Malucelli Construtora de Obras S/A, Cetenco
Engenharia S/A, Gaia Energia e Participações (Grupo Bertin) e Contern Construções. Entre 2010 e
2011, porém, parte das empresas privadas deixou o Consórcio, sendo substituídas por estatais e
fundos de pensão. Atualmente, a Norte Energia é composta por Eletrobrás, Chesf, Eletronorte,
Petros, Funcef, Caiza FIP Cevix, Cemig, Light, Neoenergia S.A, Vale Sinobras e J. Malucelli Energia
(estas últimas com participação de 1,00% e 0,25% respectivamente). Andrade Gutierrez, Camargo
Corrêa, Odebrechet, Queiroz Galvão, OAS, Contern, Galvão, Serveng, JJ. Malucelli e Cetenco
formaram o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras orçadas em mais de
R$ 25 bilhões”. (GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 141.
128
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 140.
80
Vocês inventam que nós somos violentos e que nós queremos guerra.
Quem mata nossos parentes? Quantos brancos morreram e quantos
indígenas morreram? Quem nos mata são vocês, rápido ou aos poucos.
Nós estamos morrendo e cada barragem mata mais. E quando tentamos
falar com vocês trazem tanques, helicópteros, soldados, metralhadoras e
armas de choque.131
Mas não só em nível nacional o capitalismo se articula. Em uma sistemática
sem fronteiras, no seu desenvolvimento desigual e combinado, Argentina, Brasil,
Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e
Uruguai se juntaram sob a batuta da ordem econômica internacional para
elaborarem uma gigantesca iniciativa de Integração de Infra Estrutura Regional Sul-
Americana (IIRSA). O objetivo não poderia ser outro que não o lucro a curto prazo. A
129
GLASS, Verena. PAC 2: acelerando a tristeza na Amazônia, p. 134.
130
MUNDURUKU. apud FAGGIANO, Daniel. Manifestações Munduruku: primeiras hipóteses, p. 121.
131
Carta do povo Munduruku distribuída durante a ocupação do canteiro central de Belo Monte, no dia
02 de maio de 2013.
81
governo as terras que antes eram dos de aqui. Pouco a pouco ou de repente, o
estrangeiro passa a dominar física e ideologicamente nossa região Amazônica. A
terra não pertence mais àqueles que sempre a cultivaram, mas agora, àqueles que
nela podem lucrar.
E o indígena somente é considerado “integrado”, “civilizado”, “brasileiro”,
“cidadão” quando abandona seu modo de vida, seu modo de luta, sua cultura, ou
seja, o indígena somente será reconhecido como nacional quando abandonar seu
modo de ser. O índio integrado é aquele que é destituído de seu modo de vida,
aquele que desterrado em sua terra passa a vender sua força de trabalho. O
indígena integrado não somente compra mercadorias, mas vende-se a si mesmo
como uma.
83
CAPÍTULO III
ALDEIA DE IPAVU135
135
Fotografias da Aldeia Kamaiurá de Ipavu, por Daniel Lopes Faggiano, julho/agosto de 2013.
85
86
87
136
O povo Kamaiurá, pertencente à família Tupi-Guarani (tronco Tupi).
137
SEKI, Lucy. O que habitava a boca dos nossos ancestrais, pp. 48-50.
138
Os Kamaiurá passaram a se denominar Apyap desde sua passagem por Morená.
139
Kara’ia’ip, Ka’atyp, Arupatsi e Mangatyp.
89
aldeias foram encontradas em 1887 pela expedição etnográfica organizada por Karl
Von den Steinen.140
Ficava mais próxima da bela laguna dos kamayurá. Da praça, avistava-se
um lindo panorama: passando por sobre um juncal vicejante, o olhar se
estendia até à água azul iluminada pelos raios solares.141
Dizimados por uma forte epidemia de gripe, as quatros aldeias foram
reduzidas a uma única aldeia (Jawaratymap), onde se aglutinaram os sobreviventes.
Sucessivos ataques dos Suyá e dos Juruna dispersam os Kamaiurá em três
territórios denominados Jawyrypywana Kwat,142 Aimakauku e Tuatuari.
Em 1947, quando o indigenista Orlando Villas Bôas conheceu pela primeira
vez a aldeia Kamaiurá, esta estava localizada a cerca de um quilômetro da lagoa de
Ipavu.143 Em 1968, quando Carmen Junqueira os visitou pela primeira vez, os
Kamaiurá já haviam iniciado a construção de uma nova aldeia a quinhentos metros
da lagoa de Ipavu (mudaram em 1971). 144 Em 2013, em minha primeira visita, a
aldeia localizava-se a cerca de duzentos metros da lagoa de Ipavu.145
A seguir, podemos observar o Mapa Kamaiurá (segundo os Kamaiurá)
indicando a rota seguida pelo grupo em sua vinda para o Alto Xingu:
140
Do ponto de vista cientifico, a região do Alto Xingu foi visitada pela primeira vez em 1884, pelo
etnógrafo alemão, Karl Von den Steinen (Índios do Brasil Central, 1940). “Von den Steinen, que
entrou em contato com os alto-xinguanos em fins do século passado, ao mesmo tempo que relata a
trama de relações intertribais pacíficas e cooperativas, registra o clima de tensão existente em alguns
grupos, decorrente de incursões guerreiras realizadas principalmente pelos suyá, trumai e kamaiurá.”
(JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 13).
141
DEN STEINEN, Karl Von. Entre os Aborígenes do Brasil Central, p. 148.
142
Nome Kamaiurá do atual Posto Indígena Leonardo que significa “Toca das Ariranhas”.
143
A lagoa de Ipavu localiza-se cerca de nove quilômetros do rio Kuluene e a doze do rio Tuatuari.
144
Em 1971, viviam perto da lagoa de Ipavu, em sete casas, perfazendo um total de 131 pessoas.
(JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 13).
145
Atualmente, além desta, existem duas outras aldeias Kamaiurá. Segundo a pesquisadora Vaneska
Taciana Vitti em estudo realizado em julho de 2013, a aldeia de Morená possui 10 casas com 67
habitantes, enquanto a aldeia de Jacaré possui 02 casas com 21 habitantes.
90
Fonte: SEKI, Lucy. Gramática do Kamaiurá: língua Tupi-Guarani do Alto Xingu, p. 50.
Atualmente (2013) os Kamaiurá da lagoa Ipavu têm uma população de 351
habitantes divididos em 22 casas. Dispostas ao redor de um pátio circular, elas
circunscrevem o centro da aldeia onde está localizada a Casa das Flautas - Tapyyj
(espaço destinado tradicionalmente ao encontro e diálogo dos homens). As casas,
medindo entre 20 e 15 metros de comprimento, abrigam uma família extensa; no seu
interior, as redes de dormir, antes feitas de fibra de buriti e algodão, hoje
91
manufaturadas, são armadas em leque, a partir dos dois esteios centrais para os
lados.
A lagoa de Ipavu está situada no Alto do rio Xingu, região dos formadores do
rio Xingu,146 zona de transição entre cerrado dominante na parte sul, e floresta
tropical amazônica, ao norte, com matas ciliares, rios e lagoas. O relevo é
majoritariamente plano com duas estações bem definidas, a chuva (inverno –
outubro/março) e a seca (verão – abril/setembro). Nessa região, os Kamaiurá
mantêm uma constante relação intertribal com nove outros povos:
a) Ywalapiti, Waurá e Mehinako (família Aruak)
b) Kuikuro, Kalapalo, Matypu e Nahukwa (família Karib)
c) Aweti (tronco Tupi)
d) Trumai (tronco Tupi)
Não temos informações suficientes para determinar as raízes desses contatos
intertribais, os quais, apesar das diferenças linguísticas, forjaram no Alto Xingu uma
“uniformidade cultural” muito semelhante entre os povos que ali residem. Uma
uniformidade não apenas ergológica, mas também mitológica e social, formando um
complexo sistema de parentesco. Eduardo Galvão denominou a área cultural do Alto
Xingu como “área do uluri” em referência a uma pequena peça da indumentária
feminina presente exclusivamente nos povos do Alto Xingu.
Conforme destacamos em nossos estudos iniciais sobre o conceito de cultura,
não podemos jamais circunscrever e isolar determinada cultura. Devemos, ao
contrário, alargar suas fronteiras, borrar seus limites e ampliar sua história em
contexto. Ou seja, a região do Alto Xingu, deve ser compreendida como um sistema
aberto, composto por diversos sistemas culturais em contínua relação entre si. Ao
mesmo tempo em que esta interação grupal proporciona uma difusão cultural e sua
consequente uniformidade, estimula a permanência de elementos distintivos de
caráter indentitário e exclusivos.
Cada povo, sempre que possível, destaca as qualidades intrínsecas ao seu
grupo, valorizando sua particularidade grupal e assim distanciando-se dos demais
povos vizinhos. Um exemplo disso é a especialização tecnológica que encontramos
nessa região, mas não apenas, os índios alto xinguanos sempre que possível
146
A bacia dos formadores do rio Xingu localiza-se na região centro-oeste brasileira, entre os
paralelos 11 e 13 e os meridianos 52 e 55 W.G.
92
147
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 28.
148
Ibidem, p. 25.
93
mercado, surgir daquele para ocupar um domínio que lhe seria próprio e
submetido às suas próprias leis.149
O Alto Xingu situa-se na área que, em parte, foi incluída no território do
Parque Indígena do Xingu.150 O Parque, além de assegurar a posse da terra, busca
assegurar a sobrevivência dos povos indígenas que nele habitam ou a ele foram
transferidos. O Parque contem dois Postos Indígenas; o Posto Leonardo Villas Boas
(assiste aos Kalapalo, Kuikuro, Nahukwá, Matipuhy, Waurá, Mehinako, Iawalapiti,
Kamaiurá, e Aweti) e o Posto Diawarum (assiste aos Trumai, Suyá, Cayabi, Juruna).
O Posto Indígena dedica-se centralmente na preservação do bem estar físico
do índio. Conta com programas médicos de combate de epidemias, de vacinação e
acompanhamento preventivo, mas não só, também desenvolve atividades que visam
o aumento nutricional dos recursos alimentares.
Mas, garantir a sobrevivência dos índios não é apenas zelar por sua saúde
física. Da mesma forma que o alto xinguano foi atingido pelas doenças
transmitidas pelo civilizado, também o foi – por instrumentos de metal,
armas de fogo, machados, enxadas, etc., seja pela troca, saque, ou ainda,
ganhos como presente do civilizado, firmaram-se dentro do contexto cultural
nativo e hoje fazem parte de seu instrumental de trabalho. Estabelecido
esse novo tipo de necessidades que não podem ser satisfeitas pelos
próprios recursos técnicos do índio, cabe ao Posto a tarefa de repor,
regularmente, em todos os grupos, o equipamento de metal de que
necessitam. Ao lado dos objetos de ferro essenciais à produção indígena,
outros artigos também alcançaram as populações alto xinguanas e são hoje
fornecidas pelo Posto: miçangas de porcelana, linhas de náilon para pesca,
anzóis, corantes químicos para tingimento do fio de algodão, laminas de
barbear, etc.151
Assim, boa parte dos instrumentos de trabalho indígenas, foi substituída por
mercadorias tecnologicamente superiores, as quais possibilitavam ao índio um maior
rendimento de seu trabalho. À medida que as relações econômicas entre índio e
Posto são estreitadas, isto é, à medida que o índio passa a depender mais do
fornecimento de artigos civilizados, diminui a importância econômica das relações
entre os diversos grupos alto xinguanos.152
O caso dos kamaiurá (...) não escapou para se manter, tornou-se
dependente do fornecimento de bens realizado por uma agência externa. E
149
MEILLASSOUX, Claude. Mulheres, Celeiros & Capitais, pp. 17-18.
150
“Instala-se uma nova ordem no Brasil Central. Grupos agressivos são neutralizados, hostilidades
intertribais são contidas. Metal, nylon, corantes deixam de ser bens escassos. Chegam os remédios,
os médicos e a possibilidade de novo equilíbrio demográfico. Os índios fazem seu ingresso na
História do homem civilizado. Reproduzem suas condições de existência, submetidos a uma política
protecionista que lhes assegura a relativa tranquilidade de uma vida de reserva, de uma vida sob
tutela.” (JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, pp.
29-30)
151
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 32.
152
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 75.
94
153
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 21.
154
GODELIER, Maurice. Comunidade, sociedade, cultura: três modos de compreender as identidades
em conflito, p. 55.
155
MÉSZÁROS, István. Para além do capital, p. 14.
156
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá. 2ª ed. São
Paulo: Ática, 1978, p. 21.
95
157
IANNI, Octavio. Origens Agrárias do Estado brasileiro.
158
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 87.
159
Ibidem, p. 93.
160
“Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de
existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de
mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, vida humana.” (MARX, Karl. O
capital. Crítica da economia política, p. 50).
96
161
“[...] a sociabilidade, a primeira divisão do trabalho, a linguagem etc. surgem do trabalho, mas não
numa sucessão temporal claramente identificável, e sim, quanto à sua essência, simultaneamente.”
(LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social, 2, p. 44).
162
LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social, 2, pp. 43-44.
163
“O ser social – e a sociabilidade resultante elementarmente do trabalho, que constituirá o modelo
de práxis – é um processo, movimento que se dinamiza por contradições, cuja superação o conduz a
patamares de crescente complexidade, nos quais novas contradições impulsionam a outras
superações.” (NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx, p. 31).
97
Assim, o seu modo próprio de ser homem parece somente como um meio
de se manter enquanto indivíduo abstrato. A vida individual apartada da
generidade se volta para si mesma enquanto sobrevivência física imediata e
toda produção humana tem apenas o objetivo de manter o homem físico
individual vivo. A autêntica essência humana se transforma assim em meio
da existência individual abstrata. A individualidade separada do gênero é
uma abstração porque transforma em meio a essência última do homem e
em fim os meios de sobrevivência.169
Desse modo, a tarefa de uma ontologia materialista consiste em descobrir
historicamente a gênese, o crescimento e as contradições dentro desse
desenvolvimento processual unitário, entre o homem como produtor de si (como ser
individual) e, ao mesmo tempo, como produtor da sociedade (como ser genérico).
164
LUKÁCS, György. O jovem Marx e outros escritos de filosofia, p. 228.
165
Ibidem, p. 233.
166
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos.
167
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 85.
168
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 164.
169
COSTA, Mônica Hallak M. da. A exteriorização da vida nos manuscritos econômico-filosóficos de
1844, p. 180.
98
170
LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco.
171
MEILLASSOUX, Claude. Mulheres, Celeiros & Capitais, p. 28.
172
GALVÃO, Eduardo. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil, p. 111.
99
173
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, pp. 123-124.
174
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 125.
175
“[...] Esses mapeamentos preenchem inúmeras funções. Em primeiro lugar permitem que os
grupos reivindiquem privilégios com base no parentesco. Em segundo lugar, servem para permitir ou
negar às pessoas o acesso aos recursos estratégicos. Em terceiro lugar, organizam a troca de
pessoas entre grupos que têm um pedigree, por meio de suas definições sobre os laços de
parentesco por afinidade; o casamento, em vez de ser um relacionamento que se dá unicamente
entre a noiva e o noivo, torna-se um nexo de aliança política entre grupos. Em quarto lugar, os
mapeamentos permitem que se deleguem funções gerenciais a determinadas posições na
genealogia, distribuindo-as assim de maneira desigual no campo político e legal, quer se trate dos
mais velhos em relação aos mais jovens, das linhas dos primogênitos em relação às linhas dos
caçulas ou das linhas de hierarquia mais elevada em relação às de hierarquia mais baixa. Nesse
processo o parentesco, no nível legal-político, inclui e organiza o parentesco no nível familiar-
doméstico, tornando as relações interpessoais sujeitas a mapeamentos que servem para uma
inclusão ou exclusão categórica.” (Ibidem, p. 125).
100
185
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, pp. 62-63.
186
JUNQUEIRA, Carmen. Os Índios de Ipavu: um estudo sobre a vida do grupo Kamaiurá, p. 46.
104
187
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 133.
188
WOLF, Eric R. A Europa e os Povos sem História, p. 128.
189
JUNQUEIRA, Carmen. Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingu, p. 63.
105
192
O beiju pode ser consumido à maneira do nosso pão, estando presente em quase todas as
refeições Kamaiurá, ou, misturado com água, na forma de mingau (Kauím).
107
193
JUNQUEIRA, Carmen. Crianças Kamaiurá, p. 01.
194
TRAGTENBERG, Maurício. A delinquência acadêmica: o poder sem saber e o saber sem poder, p.
09.
195
Cf. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 2011.
108
199
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil
moderno, p. 232.
200
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista, p. 44.
201
MARX, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, p. 159.
111
202
JUNQUEIRA, Carmen. Antropologia fora da Universidade, p. 24.
203
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 44.
112
70
60
50
40
Trabalho
Adornos
30 Novidades
20
10
0
1966 1968 1970 2003
O item Adorno, que tem maior número de pedidos nas quatro listas
examinadas, reúne uma variedade grande de objetos ligados ao vestuário e
costura (tecido, roupas, linha de costura e agulha), ao uso pessoal (lâminas
de barbear, navalha, espelho, pinça, pente, canivete, tesoura, cobertor, rede
de dormir) e adornos propriamente ditos (linha de algodão para confecção
de braçadeiras, joelheiras, novelos de lã, miçangas, contas, guizos) que, em
todo esse conjunto, são os presentes mais apreciados.205
204
Ibidem, pp. 33-34.
205
JUNQUEIRA, Carmen. Revisitando a cultura Kamaiurá, p. 34.
113
214
JUNQUEIRA, Carmen. Disputa Política na Sociedade Kamaiurá, p. 225.
215
TRAGTEMBERG, Maurício. Sobre educação, sindicalismo e política, p. 150.
117
118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
119
216
STEINBECK, John. As vinhas da ira, p. 294.
120
219
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Lutas de classes na Rússia, p. 93.
122
Não existe uma teleologia previamente inscrita na história de uma vez por
todas, o futuro dos povos indígenas está em aberto, e existem possibilidades
históricas no vir a ser humano. No entanto, uma vez desaparecido o elemento
coletivo das terras indígenas, também desaparecerão os diversos modos indígenas
de exteriorização da vida humana, e assim desaparecerão o próprio índio e suas
possibilidades históricas.
A contemporaneidade do modo de vida indígena com a produção capitalista
abriu aos povos indígenas a possibilidade de se apropriarem do desenvolvimento
genérico das forças produtivas geradas através da barbárie do capital, antes que
sejam extintos ou destituídos pelo capitalismo.
Nesse sentido, na possibilidade de trocar de pele sem precisar se suicidar,
Marx evidência no plano do pensamento essa alternativa histórica às comunas
russas:
Falando em termos teóricos, a “comuna rural” russa pode, portanto,
conservar-se, desenvolvendo sua base, a propriedade comum da terra, e
eliminando o princípio da propriedade privada, igualmente implicado nela;
ela pode tornar-se um ponto de partida direto do sistema econômico para o
qual tende a sociedade moderna; ela pode trocar de pele sem precisar se
suicidar; ela pode se apropriar dos frutos com que a produção capitalista
enriqueceu a humanidade sem passar pelo regime capitalista, regime que,
considerando exclusivamente do ponto de vista de sua duração possível,
conta muito pouca na vida da sociedade. Porém, é preciso descer da teoria
pura à realidade russa.220
No caso brasileiro, estudamos nos capítulos anteriores sua entificação
capitalista através da via colonial, forjando nos trópicos um capitalismo colonial. Mas
em que tempo se reproduz nosso capitalismo colonial?
A permanente sucessão de crises, colapsos financeiros cada vez mais
agudos, a destruição do meio ambiente, o desemprego estrutural crescente e as
constantes guerras, são sintomas mundiais de nossa crise estrutural do capital.221
Não vivemos o fim dos tempos, mas tempos de crise aguda na civilização capitalista.
Os povos indígenas, na presente crise estrutural do capital, dada a sua
particularidade de inserção no mundo capitalista, têm a possibilidade de romper as
correntes da propriedade privada e transmutar para “uma forma superior do tipo
arcaica de propriedade, isto é, pela propriedade comunista”.222 Ou seja, o elemento
coletivo da terra indígena possui uma mola propulsora capaz de fecundar
humanamente nosso futuro.
220
Ibidem, p. 96.
221
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital.
222
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Lutas de classes na Rússia, p. 104.
123
223
MARS, Karl. Manuscritos Económicos-Filosóficos, pp. 192-193.
124
125
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