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4/3/2014 CONTRATO DE DEPÓSITO

CONTRATO DE DEPÓSITO

72. Noção
O contrato de depósito (art. 1185º CC) tem por objecto a guarda (custódia) de uma coisa. É
esta a obrigação dominante no negócio: o depositário recebe a coisa para a guardar.
Preceituando o art. 1185º CC que o depósito é um contrato pelo qual uma das partes
entrega à outra uma coisa, afirma esta disposição a sua entrega real. Não havendo entrega,
não há depósito. Sem entrega da coisa, pode haver, quanto muito, um contrato-promessa de
depósito, que tem por objecto a realização de um negócio jurídico e não a guarda de uma
coisa, e que são aplicáveis os arts. 410º segs. e não arts. 1185º segs. CC.
O depósito é as mais das vezes efectuado pelo proprietário ou dono da coisa. Mas nada
impede, que seja constituído por titulares de outros direitos, como pelo usufrutuário, locatário,
etc. O art. 1192º CC, prevê inclusivamente a possibilidade de o depósito ter sido efectuado
por quem não tenha direito a reter a coisa.
A afirmação de que o depositário há-de guardar a coisa e restitui-la, quando ela lhe for
exigida, não obsta a que as partes convencionem que a restituição haja de ser feita
independentemente de interpelação nesse sentido. O próprio depositário pode ter legítimo
interesse em efectuar a restituição antes de esta lhe ser exigida, para se libertar do dever que
assumiu, quando no tempo ultrapasse o prazo fixado para a guarda da coisa ou quando tenha
justa causa para o fazer (art. 1201º CC).
Entre as modalidades possíveis de depósito, o Código Civil destacou o depósito de coisa
controvertida feito pelos dos litigantes (regulado nos arts. 1202 segs. CC) e o depósito
irregular (arts. 1205º e 1206º CC) sem aludir ao depósito judicial.

73. Obrigações do depositário


Guardar a coisa, significa, providenciar acerca da sua conservação material, isto é, mantê-
la no estado em que foi recebida, defendendo-a dos perigos de subtracção, destruição ou
dano. A realização destes fins requer do depositário certa actividade, de conteúdo elástico e
variável segundo a natureza da coisa.
No desempenho da sua missão, o depositário não está subordinado às ordens ou à
direcção do dono da coisa.
A obrigação de restituir também está contida na noção de depósito (art. 1187º-C e 1185º
CC). A restituição deve ter lugar, quando o depositante a exigir. O prazo considera-se fixado
em favor do depositante, mesmo que o depositário seja oneroso (art. 1194º CC).
A coisa deve ser restituída ao depositante ou aos seus sucessores devidamente habilitados
e não a terceiros.

74. Obrigações do depositante


O pagamento da retribuição (art. 1199º-a CC) só tem lugar nos casos de depósito oneroso.
Sendo vários os depositários, cada um deles terá, em princípio, direito à sua quota na
retribuição global.
O depositário goza, em relação a este crédito, do direito de retenção sobre a coisa
depositada.
O depositante é obrigado a indemnizar o depositário pelos prejuízos sofridos em
consequência do depósito, salvo se aquele houver procedido sem culpa. Esta restrição põe
em relevo a circunstância de os prejuízos deverem, em princípio, correr por conta do
depositário, com risco do próprio negócio.
As indemnizações a que se referem o art. 1199º-b CC têm lugar tanto no depósito
onerosos, como no gratuito. A lei não distingue, visto essas obrigações não constituírem o
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correspectivo ou a contraprestação da obrigação assumida pelo depositário.


Para garantia destas obrigações goza também o depositário do direito de retenção (art.
755º/1-e CC).

75. Depósito irregular


“Diz-se irregular o depósito que tem por objecto coisas fungíveis” (art. 1205º CC).
No depósito, quando regularmente constituído, o depositário deve guardar e restituir eadem
res, móvel ou imóvel, que lhe foi entregue, mesmo que se trate de coisas que normalmente
sejam fungíveis ou consumíveis. Devendo a restituição ser feita, não in natura, mas apenas em
género, qualidade e quantidade (art. 207º CC) o depósito diz-se irregular.
“Não compete ao legislador, escreve Galvão Telles, decidir a controvérsia doutrinária,
porque ao legislador só pertence resolver problemas dessa ordem, quando isso se torne
necessário à conveniente estruturação das instituições ou à resolução dos conflitos de
interesses. Não é o caso. Por isso o projecto, adoptando a denominação corrente de
depósito irregular, e sem tomar posição no debate sobre a sua fisionomia jurídica, limita-se
a definir os seus efeitos e a mandar aplicar-lhe, em princípio, as disposições sobre o mútuo.
Esta remissão não significa atribuição da natureza do mútuo, mas extensão do seu regime,
que se justifica por motivos de ordem prática e económica, atendendo a que no depósito
irregular, como no mútuo, se faz entrega de objectos fungíveis, com translação do domínio e
consequente obrigação de restituição genérica”.
No depósito irregular, o fim principal continua a ser a guarda da coisa, a sua segurança
económica, portanto a satisfação dum interesse do tradens, e só acessoriamente a lei atribui
ao accipiens poderes de disposição. Em conclusão, mútuo e depósito irregular têm ambos a
mesma causa genérica, mas diversa a causa específica”.
“Consideram-se aplicáveis ao depósito irregular, na medida do possível as normas
relativas ao contrato de mútuo” (art. 1206º CC). Como regras aplicáveis do contrato de mútuo
ao contrato de depósito tem-se: arts. 1143º, 1144º CC, em virtude da translação do domínio,
tornam-se indirectamente aplicáveis ao depósito irregular as normas reguladoras do risco nos
contratos de alienação com eficácia real (arts. 408º e 796º CC); o art. 1148º/1 CC é aplicável
ao depósito irregular, pois é em atenção à natureza fungível da coisa que se faculta ao
devedor o prazo de trinta dias para cumprir a obrigação. São ainda aplicáveis as disposições
dos arts. 1149º e 1151º CC; a do art. 1150º CC confunde-se com os direitos normais do
depositante.
As disposições dos arts. 1145º, 1146º e 1147º CC que se referem ao mútuo oneroso são
inaplicáveis.

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