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TEMPO DE LEITURA:10MINUTOS
1. Os 7 livros a mais que encontramos na Bíblia Católica. Ao passo que eles são
chamados pelos protestantes de “apócrifos”, em contrapartida os irmãos católicos
consideram tais livros como “deuterocanônicos”.
2. O significado dos termos “apócrifo” e “deuterocanônico”.
3. Um pouco da história de como esses livros foram parar na Bíblia Católica.
4. As razões para não aceitarmos tais livros como inspirados, embora tenham valor
histórico e contenham pensamentos de sabedoria. Assim sendo, darei duas razões
gerais para negarmos a inspiração deles. Em outras palavras, uma razão histórica e
outra Teológica.
A princípio, da língua grega “apócrifo” significa “aquilo que está oculto”, “escondido” ou
que é “difícil de entender”. Analogamente tais livros são assim considerados especialmente
porque sua autoria é “oculta”, “desconhecida”. Por exemplo, quando você vê ou lê o livro
de Tobias, saiba que os eruditos demonstraram que, na verdade, não foi Tobias quem o
escreveu. Certamente um autor desconhecido fez uso desse nome para dar “peso” a seu
escrito. Algo comum na época.
Contudo, foi Lutero quem denominou tais livros de “apócrifos” no século 16, em virtude de
conterem ensinos defendidos pela Igreja Católica. Não pela Bíblia Canônica, obviamente
(continue a leitura para saber quais são tais ensinamentos).
Por sua vez, a palavra “deuterocanônico”, usada pelos irmãos católicos para definir tais
livros, significa “segundo cânon”. De conformidade com isso, os “deuterocanônicos”,
segundo a compreensão Católica, foram canonizados em um segundo momento pela
Igreja. Em contrapartida, não foram canonizados pelos profetas bíblicos.
Assim, como protestante prefiro a primeira definição: “apócrifos”. Por que? Por uma
razão histórica e outra teológica. É o que veremos a seguir.
Razão Histórica
Primeiramente, tais livros foram produzidos durante os dois últimos séculos a.C.
No 4o século, São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso, iniciou uma revisão das Bíblias.
Posteriormente sua revisão culminou na tradução chamada Vulgata Latina. Por algum
motivo, Jerônimo incluiu os livros apócrifos em sua tradução, de modo que aparecem nas
Bíblia Católicas até hoje. Além disso, de modo diversificado os apócrifos apareceram na
tradução Septuaginta (LXX), versão grega do Antigo Testamento traduzida por 70 eruditos
judeus.
Entretanto, é interessante o fato de que Jerônimo, mesmo introduzindo-os na Vulgata, não
os definiu como canônicos. Surpreendentemente, para ele, tais livros não poderiam ser lidos
como os livros bíblicos inspirados. Ainda mais ser usados como fundamento doutrinário.
Da mesma forma, segundo Rodrigo Silva em sua obra A Bíblia de Álef a Ômega, autores
reconhecidos pela Igreja Católica também mantinham a opinião de Jerônimo. Entre eles:
João Damasceno
Papa Gregório Magno
Walafrid
Nicolau de Lyra
Tostado, etc.
Definitivamente, isso deveria ser avaliado por nossos irmãos católicos, e ao mesmo tempo
servir como um argumento histórico de peso para a rejeição dos “deuterocanônicos”. Desse
modo, tais livros não se constituem num “segundo cânon”. Por isso, a falta de consenso em
um assunto tão importante deveria levar nossos irmãos católicos a uma postura mais
equilibrada. Isso consiste em considerar tais livros com valor histórico e de sabedoria, mas
não como canônicos. Assim sendo, eles não foram inspirados pelo Espírito Santo, como as
demais Escrituras (leia Rm 15:4; 2Tm 3:15-17; 2Pe 1:19-21).
De fato, há outra parte interessante dessa história. Em 1540, o reformador Andreas Carltadt,
munido do Prologus de Jerônimo, afirmou dogmaticamente que aqueles livros deveriam ser
banidos das Bíblias cristãs. Tal afirmação foi feita em seu “De canonics Scripturis Libellus”.
A resposta foi o Concílio de Trento, realizado em 8 de abril de 1546. Neste meio tempo
oficializou-se que esses 7 livros deveriam fazer parte das Bíblias aprovadas pelo Papa.
Afinal, como visto acima, os “apócrifos” dão apoio à algumas doutrinas católicas. Todavia,
tais ensinos que não encontram apoio nos livros bíblicos inspirados. Semelhantemente, outra
doutrina apoiada pelos “apócrifos” é a doação de esmolas para purificar pecados (Tobias
12:8-9; Eclesiástico 3:30). Em outras palavras, isso contradiz abertamente a doutrina da
justificação unicamente pela fé em Jesus Cristo (Rm 5:1; Ef 2:8-10; 1Jo 1:7-9).
Em síntese, este é o argumento histórico para rejeitarmos os apócrifos como inspirados:
foram acrescentados nas Bíblia tardiamente (em 1546). Além disso, até mesmo Jerônimo e
autoridades católicas ao longo da história, os rejeitaram como inspirados.
Aliás, o cardeal Caetano, um dos mais importantes opositores de Lutero, foi comissionado
pela Igreja para refutar os ensinos do protestantismo. Desse modo, ele escreveu um
comentário dedicado ao Papa. Em suma, nesse comentário ele apresenta sua opinião de
que os apócrifos não eram inspirados, muito menos canônicos. Por isso, não foram
incluídos em seu comentário do Antigo Testamento.
Em seguida vamos para a razão teológica para rejeitarmos os apócrifos como inspirados.
Razão Teológica
A seguir disponibilizarei uma Tabela Comparativa entre os livros apócrifos e os livros bíblicos inspirados.
Com essa tabela você poderá comparar algumas doutrinas apresentados em ambos os livros. Ao mesmo
tempo, verá que não existe harmonia doutrinária entre os mesmos.
Tobias 12:8-9; Dar esmolas purifica dos pecados Tito 2:11-14; 1Pedro 1:18,19,22; 1João 1:7-9
Eclesiástico 3:33
Eclesiástico 12:6 Deus “detesta” os pecadores Mt 5:44-48; Ez 18:23, 32; Pv 25:21; Rm 12:20
**Para refletir: “Se a mente divina inspirou cada escritor da Bíblia, o produto
desses diferentes autores deve estar em harmonia entre si”.
Em conclusão: após esta comparação feita entre os “apócrifos” com a Bíblia,
fica evidente que tais livros não estão de acordo com o ensino inspirado dos profetas.
Por sua vez, o Antigo Testamento não reconhece a canonização de tais livros. De fato, os
autores inspirados não fazem menções diretas a qualquer um deles, usando um “Assim diz
o Senhor” ou “Está Escrito”. Aliás, algo que Jesus fazia sempre que citava o Antigo
Testamento. Similarmente, os profetas não usam expressões do tipo: “como declarou o
profeta Tobias”; “como declarou Judite”, etc.
Ao mesmo tempo, alguns estudiosos pensam que há a hipótese de haver alguma alusão
indireta na Bíblia de pouquíssimos trechos dos apócrifos. Se isso for correto, demonstraria
no máximo que o autor bíblico conhecia tais livros. Todavia, jamais indicaria que os
considerava como parte da Palavra de Deus.
Segundo Lucas 24:44 (leia também o verso 27), a lista de livros reconhecidos como
inspirados por Jesus Cristo não continham os apócrifos:
“Em seguida, disse: “Enquanto ainda estava com vocês, eu lhes falei
que devia se cumprir tudo que a lei de Moisés, os profetas e
os salmos diziam a meu respeito” (Lc 24:44, Nova Versão
Transformadora)
Aliás, em seu estudo bíblico para “abrir o entendimento” dos discípulos sobre Sua morte e
ressurreição (leia Lucas 24:45), Jesus não usou nenhum apócrifo. Pelo contrário: fez uso da
divisão da Bíblia hebraica. Assim sendo, ela era composta pelos seguintes livros:
“Reinou então em Israel uma opressão como não houve outra desde o
final dos tempos dos profetas” (1Mc 9:27, Tradução Ecumênica da
Bíblia. Grifos acrescidos)
Por exemplo, em sua obra já citada, Rodrigo Silva cita um comentário católico
da Idade Média. O comentário chama-se “Glossa Ordinária”. De acordo com
Rodrigo, nele há a seguinte declaração, demonstrando que a aceitação dos
apócrifos não era um consenso entre os teólogos católicos da época:
“Os livros canônicos são fruto do ditado do Espírito Santo. Não sabemos, no
entanto, em que tempo ou por quais autores os não canônicos ou apócrifos
foram produzidos. Desde, porém, que eles sejam proveitosos e úteis e não
contenham qualquer contradição com os demais livros canônicos, é permitido
à Igreja lê-los para sua devoção e edificação. Sua autoridade, contudo, não é
considerada adequada naqueles assuntos que ainda são dúbios, nem servem
para confirmar a autoridade eclesiástica de um dogma, como o bem-
aventurado Jerônimo declara em seu prólogo ao livro de Judite e também aos
livros de Salomão. Por outro lado, os livros canônicos possuem tal autoridade
que tudo que está contido neles é para ser considerado uma firme verdade e
um assunto indiscutível” (Grifos acrescidos). ((Rodrigo Silva, A Bíblia de Álef
a Ômega: Um Guia Para Entender Como a Bíblia Chegou Até Nós” (São Paulo:
Ágape, 2020), p. 73.))
Certamente, esse comentário católico do período medieval resume muito bem a maneira
como devemos enxergar os apócrifos.
Considerações Finais
Em conclusão, como cristãos que têm a Bíblia como regra de fé e prática, devemos seguir o
conselho apostólico: