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REALP: XXII Encontro da Rede de Estudos Ambientas de Países de Língua Portuguesa

Impactos da implantação do Complexo Industrial e Portuário de Suape e dos meios de


hospedagem de grande porte em Porto de Galinhas, Brasil

Área temática: Sustentabilidade e Economia Circular

Patrícia O. Campos, Universidade Federal de Pernambuco - PPGIC/UFPE, patricia.ocampos@ufpe.br


Ana Clara L. Nascimento, Universidade Federal de Pernambuco - PROPAD/UFPE
Arthur F. F. Lima, Universidade Federal de Pernambuco - DCG/UFPE

Gabriel A. Rizzato, Universidade Federal de Pernambuco - CAA/UFPE


Italo C. S. Soares, Universidade Federal de Pernambuco - PRODEMA/UFPE

Islla T. S. Soares, SEDUC/PE

Jailson A. Almeida, IFPE – Pesqueira


Paula Juliana S. Nascimento, Universidade Federal de Pernambuco - CAA/UFPE

Poliana N. Santana, Universidade Federal de Pernambuco - PROPAD/UFPE

Sandro Valença, Universidade Federal de Pernambuco - ProfAgua/UFPE; CAA/UFPE

Vanice Selva, Universidade Federal de Pernambuco - PRODEMA/UFPE

RESUMO

Introdução
Desde o fim do século XX, a região praieira de Ipojuca, em Pernambuco, tem sofrido com
a especulação imobiliária e as mudanças paisagísticas. Estes fenômenos estão
relacionados aos interesses do grande capital, expressos através da exploração turística
e da atividade industrial. No que se refere ao turismo, as transformações nas cidades e
nas relações humanas levaram à busca por lazer e entretenimento, o que fez com que o
setor se consolidasse. Locais como Porto de Galinhas, onde existe grande beleza
paisagística natural, foram “descobertos” como “refúgios” por oferecerem uma
possibilidade de estilo de vida mais tranquilo (Pessoa et al., 2018).
Diante disso, mostrou-se apropriado direcionar investimentos para o setor supracitado,
sobretudo para a prática do ecoturismo, vinculado a lazer e esportes náuticos. Assim,
intensificou-se a exploração dessa área litorânea, sem que fossem tomados os cuidados
necessários por parte dos governos municipal e estadual (Mesquita & Xavier, 2013).
Também foram realizados investimentos importantes no setor industrial, com destaque
para o Complexo Industrial e Portuário de SUAPE (CIPS), cuja concepção se deu em
meados da década de 1970, com o objetivo de dinamizar e afastar a atividade portuária
do Recife (Rocha & Cavalcanti, 2015). Tais investimentos — oriundos do grande capital,
reitera-se — vêm gerando, desde então, impactos positivos e negativos ao município.

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Com base na observação de fenômenos semelhantes, em inúmeros destinos do Brasil,


supõe-se que, em função das recompensas associadas à exploração econômica das
potencialidades desta região praieira, outras dimensões ambientais suas se encontram
sofrendo fortes impactos negativos (Coelho & Araújo, 2011). Não é incomum que
grandes companhias, conscientes ou não de suas ações, manipulem o cenário para que
a dimensão econômica se sobressaia ante as dimensões ecológica e sociocultural,
tornando a área ambientalmente desequilibrada e, em decorrência disto, insustentável
(Seiffert, 2009)
Em Porto de Galinhas e em seu entorno, a implantação de grandes empreendimentos
— com destaque aos turísticos — iniciou-se de forma espontânea, crescente e
acelerada, sem atenção a um planejamento prévio que levasse em consideração uma
mínima tentativa de equilíbrio entre as suas dimensões ambientais, então as
consequências esperadas eram que, em médio e longo prazos, o destino se apresentasse
dentro de um quadro de insustentabilidade (Valença, 2008). Amparado nestas
expectativas, fundamentou-se o objetivo da presente pesquisa: analisar os impactos da
implantação do Complexo Industrial e Portuário de Suape (CIPS) e dos meios de
hospedagem de grande porte — em especial, os resorts — sobre Porto de Galinhas.

Método
Adotou-se uma abordagem qualitativa. Logo, foram coletados dados e informações com
vistas à construção de um corpus de pesquisa representativo. Seus extratos foram
selecionados a partir de diversas fontes: evidências midiáticas e entrevistas com quinze
sujeitos — 8 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, que conhecem e frequentam a
área há, pelo menos, vinte anos. Em seguida, eles foram agrupados e categorizados após
observações em campo, enquadrando-se como o que Merriam e Tisdell (2015)
denominam de estudo qualitativo básico ou genérico.
As entrevistas foram norteadas por um roteiro que abordava três categorias de
interesse, quais sejam: (i) impactos da implantação do CIPS sobre Porto de Galinhas; (ii)
impactos da implantação dos meios de hospedagem de grande porte, em especial os
resorts, ao referido destino; e (iii) preocupação destes empreendimentos sobre a
sustentabilidade ambiental de suas próprias ações. A coleta foi encerrada com base no
critério de saturação — uma vez que não se identificavam informações novas —, e a
análise dos dados se deu a partir das categorias mencionadas.

Resultados
Para melhor se assimilar os resultados, é importante compreender que parte
considerável da população original de Porto de Galinhas — a que esteve lá desde a
década de 1970 — gradualmente migrou das faixas de praias — áreas tidas como nobres
— para o interior do município de Ipojuca e/ou outros próximos, em função das
especulações imobiliárias e industriais do grande capital e, a rigor, não conseguiu
aproveitar os benefícios ambientais e sociais gerados pelo grande capital.
No que se refere aos impactos da implantação do CIPS, a maioria dos sujeitos apontaram
a geração de emprego e renda para a população como o principal ponto positivo.
Contudo, eles indicaram muitos pontos negativos relacionados à degradação ecológica,

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com destaque para o desmatamento do mangue, a destruição da fauna — que afetou a


cultura de pesca local e o ciclo de reprodução de tubarões — e o risco de vazamento de
resíduos químicos tóxicos. Não obstante, percebeu-se que os sujeitos são coniventes
com a gestão da localidade, pois acreditam que abrir mão da qualidade de vida —
atrelada aos danos ambientais locais — em prol da geração de emprego e renda é uma
barganha justa, o que evidencia, na prática, sua dependência trabalhista e a ideia de
coação econômico-política da população, a qual se torna refém dos interesses do grande
capital e de certos atores políticos.
Em relação aos impactos da implantação de meios de hospedagem de grande porte, em
grande medida, os entrevistados levantaram os mesmos pontos positivos e negativos —
geração de emprego e renda, e degradação ambiental, respectivamente —,
demonstrando ciência sobre o que a região sacrifica em favor do progresso das
atividades turísticas, devido ao caloroso mercado turístico e à grande especulação que
ele traz consigo, uma vez que os resorts são instalados, via de regra, em áreas onde há
vegetação natural. Como consequência, ocorre o desmatamento, ou seja, uma
interferência na dinâmica natural da área — um dano —, o que, por lógica, contraria o
cerne daquilo a que eles se propõem, tendo em vista o nicho comercial turístico no qual
esses meios de hospedagem desenvolvem suas atividades, em que predomina a ideia
de proximidade com a natureza e fuga do caos urbano.
Por fim, no tocante à preocupação destes empreendimentos com a sustentabilidade
ambiental, os sujeitos percebem certa contradição entre o dito e o feito, especialmente
porque o ambiente natural é o principal atrativo dos referidos empreendimentos, mas,
ainda assim, eles promovem danos à dimensão ecológica de modos variados, direta e
indiretamente. A maioria dos relatos se referem aos meios de hospedagem de grande
porte, incluindo resorts, que poluem o mangue e provocam desequilíbrio faunístico pela
má execução de suas atividades, mas também, possivelmente, pelos visitantes que
hospeda, os quais não recebem nenhuma orientação de conscientização e educação
ambiental. Além disso, muitos resorts possuem interesse em expandir sua área de
ocupação, o que exige o desmatamento de mais áreas de mangue. Observa-se, desse
modo, que parte dos complexos hoteleiros adotam uma prática exploratória e
predatória, que leva apenas o lucro em consideração.

Considerações finais
Diante do que foi apresentado, constatou-se que a implantação do CIPS e dos meios de
hospedagem de grande porte promoveu certa melhoria em Porto de Galinhas e suas
adjacências, associada principalmente à geração de emprego e renda. No entanto, isso
teve um custo alto, que recaiu sobre as dimensões sociocultural e ecológica. Ressalta-
se, portanto, que embora seja inegável a necessidade de haver uma maior desenvoltura
econômica local para criar e manter fontes de renda para a população, este não deve
ser o único fator ponderado para se avaliar a melhoria do padrão de qualidade de vida
de uma comunidade. De fato, o equilíbrio dimensional é uma finalidade precípua a ser
considerada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Coelho, C. F., & Araújo, M. E. Divulgação de pesquisas científicas como ferramenta


para sensibilização de turistas: O caso da Praia dos Carneiros, Pernambuco, Brasil.
Revista de Gestão Costeira Integrada – Journal of Integrated Coastal Zone
Management, 11(2), 247-255, 2011.
2. Merriam, S. B., & Tisdell, E. J. (2015). Qualitative research: A guide to design and
implementation. [Sine loco]. John Wiley & Sons.
3. Mesquita, D., & Xavier, G. (2013). O turismo e a sua atuação na expansão do espaço
urbano: O caso Porto de Galinhas – Ipojuca – PE. Turismo – Visão e Ação, 15(2), 207–
225.
4. Pessoa, R. A. C., Diniz, F. R., & Reis, J. V. (2018). Política ambiental e as faces do
mercado imobiliário na RMR : Apropriação da natureza, empreendedorismo e
símbolos ambientais. Revista Brasileira de Meio Ambiente, 2(1), 70-80.
5. Rocha, D. M., & Cavalcanti, H. W. V. (2015). Caminhos do desenvolvimento:
transformações socioespaciais e culturais nos municípios do Complexo Industrial
Portuário de Suape, Pernambuco. XVI ENANPUR - Encontro Nacional da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, p.19.
6. Seiffert, M. E. B. (2009). Gestão ambiental: Instrumentos, esferas de ação e educação
ambiental. (2. ed.). São Paulo: Atlas.
7. Valença, S. (2008). Modelo para elaboração de um sistema de gestão sustentável
para um destino turístico de zona costeira: Um estudo em Porto de Galinhas, no
município de Ipojuca, em Pernambuco. Tese de Doutorado, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, Brasil.

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