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"SER O QUE SOU!

" (Revisado & Editado)


SPOILER: Texto Longo
TEXTO PUBLICADO EM: 24 de maio de 2020
ASSUNTO: ESCLARECIMENTOS - Dispensa ministerial, ocorrida em novembro de 2018

Não era minha intenção publicar este texto. Levei muito tempo para decidir se
publicaria ou não. Mas tenho recebido inúmeros questionamentos sobre a minha
dispensa do ministério. Talvez tais questionamentos sejam justificados pelo
reconhecimento das pessoas, do amor, zelo e compromisso que sempre dediquei a causa
de Deus, inclusive como Pastor. Diante disso, depois de muita reflexão e oração decidi
fazê-lo. Não para causar revolta ou decepção. Mas apenas para compartilhar quem sou
e da verdade diante das situações ocorridas relatadas abaixo. Desejo que o Senhor
ilumine seus pensamentos e entenda o que será exposto a seguir.

Como dito, este registro tem como objetivo esclarecer fatos e responder aos mais
diversos questionamentos que tenho recebido. Foi uma maneira que encontrei para
corresponder a confiança, amizade e consideração, de todas as pessoas que me
admiram, me respeitam e confiam em mim. Dessa forma alguns se sentirão
contemplados ao terem suas dúvidas sanadas. Outros ficarão tristes e outros talvez, vão
reprovar o que fiz. Respeito a opinião de todos. Mas aprendi, inclusive no ministério,
que TODOS devem ser “ouvidos”. As reações humanas são diversas e respeito cada umas
delas. Porém como disse, TODOS podem expor a verdade dos fatos. Primeiramente, não
culpo a Deus pelo que ocorreu comigo. O Senhor é maravilhoso e vou servi-Lo e amá-Lo
enquanto houver fôlego de vida em mim. Porém, infelizmente, há pessoas que tomaram
posse da igreja de Deus, e sim! Reafirmo ser essa é a Igreja de Deus, utilizando-se, de
forma equivocada, o “poder e influência”.
Tenho lutado diariamente para deixar de ser o que fui, mas o que sou persiste em
continuar. Não porque quero, mas pelo chamado que tive e pela essência do que sou.
Durante 9 anos, sendo 4 anos de seminário e mais 5 anos de trabalho como clérigo, fui
comissionado, por intermédio de uma resposta divina e por evidências pessoais e até
sobrenaturais, a um chamado para ser Pastor.

Infelizmente, muitos afirmam que essa é uma profissão vergonhosa e exploratória


das fraquezas humanas para benefício próprio e enriquecimento ilícito; Mas para mim,
ser um Pastor, é um chamado para servir! um chamado de Deus para cuidar da vida
espiritual das suas ovelhas que necessitam serem alimentadas, cuidadas e direcionadas
para que permaneçam no caminho da salvação. Portanto, desejo aqui, além de
compartilhar o meu conceito do que é ser um Pastor, como já dito acima, quero também
dar uma visão pessoal da experiência que tive dentro do sistema, do que seja um
ministério pastoral, para meus amigos, familiares e conhecidos.

Ser pastor, no século XXI, talvez seja um dos maiores desafios que exista dentro
deste contexto, pois não é como se pensa popularmente, somente cuidar de um
"rebanho". Termo utilizado em grande parte das igrejas cristãs. O desgaste pessoal,
familiar, físico e principalmente emocional é extremamente grandioso, muitas vezes
insuportável devido à grande gama de cobranças, para além daquelas que,
naturalmente, fazem sim, parte dessa função. É uma "conta" que jamais fecha a "razão"
(na linguagem contábil) e que, no final de tudo, o "balanço" sempre estará no "passivo"
e não no "ativo" como a maioria das pessoas costumam acreditar.

Você dedica sua vida, sua família, prioridades e projetos para um sistema, que
infelizmente, se tornou por parte de alguns, apenas uma “empresa”, que cobra
resultados e lucros. Ingenuamente, acreditei que havia pessoas, assim como eu, que
eram chamadas por Deus, mas que infelizmente, demonstraram na prática o contrário
em suas atitudes. Servi a uma instituição em tempo integral, em forma de equipe (como
foram os discípulos) com propósito e missão idênticas: amar, anunciar, apressar e
aguardar a maior promessa de Jesus Cristo feita para suas "ovelhas". Não vou
generalizar a situação, pois sei que há muitos nesse sistema que são cristãos sinceros,
verdadeiros, honestos, evidenciados em seu chamado por Cristo e que desejam fazer o
trabalho de Deus como deveria ser feito, mas muitos desses estão sofrendo, estão
adoecidos e até mesmo, sentindo-se oprimidos, tentando suportar tudo para
permanecerem como pastores. A maioria, juntamente com suas famílias, tem
enfrentado grandes problemas emocionais sérios, desgaste físico e pressão violenta dos
superiores, que prezam por resultados cada vez mais desgastantes e exorbitantes.
Muitos estão amordaçados e sufocados pelo sistema. Estes não saem por não saberem
o que fazer fora do ministério pastoral, pela certeza de um chamado divino e alguns por
conta de represálias.

O que aconteceu comigo nesta trajetória? Por que não sou mais pastor? Eu errei?
Moralmente Não! Não existe NADA que deponha contra minha moral. Mas errei em
acreditar e confiar em quem não deveria. Errei em acreditar que todos foram chamados
por Deus e que eram cristãos de verdade. Errei em permitir ser traído por achar que
eram meus amigos, que eram meus líderes, meus parceiros de missão. Talvez tenha
“errado” para eles, em ser um Pastor na essência da palavra, e não ser um “gerente” de
uma empresa. Descobri que a instituição que eu amava e que estava disposto a dar a
minha vida para servir, virou um sistema de números, competição e politicagem. E se
há esse tipo de coisa é por interesses institucionais. Tudo é intencional para vender uma
imagem “perfeita” de um sistema que infelizmente está cheio de problemas para corrigir
e encontra-se na "UTI" espiritual, porém poucos tem coragem de admitir isso. Poucos
tem coragem de reconhecer que muitas coisas precisam ser revistas, inclusive, os
critérios com que são “avaliados” os Pastores, tendo como ênfase, e até mesmo
prioridade, uma performance de apenas resultados e cumprimentos de metas do campo
a serem alcançadas, em detrimento ao preparo espiritual, emocional e pessoal deles.

Da pior maneira possível, descobri que estava servindo a uma empresa e que sua
administração toma decisões, em grande parte, injustas e, portanto, contrárias a
vontade de Deus. Na teoria, afirma-se que a igreja local, onde estão as pessoas comuns,
são os que mais merecem toda atenção e cuidado. Na prática, a realidade é outra, os
membros das igrejas locais servem muitas vezes para promoção pessoal dos Ceo's. Estes
são eleitos para trabalharem em um período, a curto prazo, mas infelizmente são
constantemente reeleitos por eles mesmos, pois infelizmente, o sistema apresenta
falhas gritantes em suas eleições, deixando a decisão final nas mãos dos próprios Ceo's
que indicam candidatos desconhecidos. Estes indicados, como "cartas marcadas" são
apresentados para que os leigos sejam influenciados a votarem nestes candidatos sem
ao menos conhecerem, em grande parte, sua índole, competência técnica, se são
habilitados para assumirem posições de liderança ou estão sendo “escolhidos” por
motivos de cunho e interesse pessoal dos que estão à frente do processo. Alguns
membros leigos são escolhidos para participarem dessas “eleições”, mas poucos tem a
oportunidade de indicação final e assim, os mesmos Ceo's permanecem em suas
posições e privilégios administrativos. Discordar da falta de ética, e da falta de
transparência com que são conduzidos estes processos, bem como, de outras práticas
administrativas que são questionáveis, infelizmente, pode custar o ministério de um
Pastor, assim como custou o meu. Afinal de contas, a “orientação”, é que sempre
devemos “ler na cartilha” de quem está acima de nós, se queremos “sobreviver” ao
ministério. Porém minha autenticidade, minha índole, minha essência não me
permitiram compactuar com tais práticas.

E aí de você de levantar-se contra às determinações impostas, ou discordar de tais


posturas! Pois se isso acontece há represálias, perseguições, o "ficar queimado", ser
castigado com mudança para “locais difíceis” como disciplina e, em definitivo, a perca
da credencial de pastor como no meu caso. Confesso que neste ambiente fui humilhado,
desacreditado, ironizado e porquê não dizer “amordaçado”. Por diversas vezes, tive que
ficar em silêncio, pois não podia contestar ideias e projetos que perceptivelmente eram
motivados pelo orgulho, pela vaidade humana, pela presunção e pela busca de
“posições”, e não para honrar e glorificar a Deus. Tornei-me ameaça para alguns (de
quê? não sei, mas talvez porque já percebiam que eu não compactuava com o que “era
esperado” de mim) e, por conta disso, sofri preconceito, e comecei a ser tratado com
hipocrisia e falsidade. Apesar de todo este cenário, nunca fui desrespeitoso, competidor,
leviano, falso ou político, pelo contrário! Sempre os respeitei!

Por ocasião da minha demissão, fui pego de surpresa e não foi explicada a razão.
Apenas disseram que foram pelas minhas primeiras avaliações, nos primeiros anos de
ministério, que não foram satisfatórias. Sobre estas, infelizmente, tomei conhecimento
que foram manipuladas por pessoas que se diziam cristãs, e que deram informações
sem conhecer a minha pessoa, minha realidade de saúde na época e minha forma de
trabalho. Somado a este fato, alguns Ceo's que já haviam me “marcado”, achavam, na
visão deles, que eu não tinha condições de ser mais um pastor, por não está, segundo
eles, atingindo os alvos propostas. Cheguei a contar a minha situação para estes Ceo's.
Falei das minhas vivências, rotinas, desafios e principalmente meu estado de saúde.
Buscava apoio como um "Paulo" foi orientado por "Barnabé" a fazer, mas jamais
acreditaram no que foi dito, pelo contrário, me acharam “incapaz” por ter buscado
aconselhamento e ajuda deles nos momentos que julguei ser importante. E isso foi
interpretado como se eu não soubesse resolver as coisas da forma como gostariam. Não
tive o apoio e os esclarecimentos que precisei, e quando ocasionalmente me foram
dadas essas “orientações”, essas foram paliativas, generalizadas e descontextualizadas
da realidade em que eu estava inserido (16 igrejas no primeiro distrito). Percebi que
para os Ceo's, você tem que sair pronto do seminário para resolver as situações sem
ficar buscando orientações e conselhos deles. Mas não tinha sido isso que eu havia
aprendido no SALT. Hoje percebo que talvez eu tenha sido muito ingênuo em não ter
percebido a grande incoerência que existe entre o que é ensinado no seminário e o que
é praticado administrativamente. Muitas vezes busquei ajuda e conselhos. Mas isso não
foi bem visto. Talvez se sentissem importantes demais ou estivessem ocupados demais
para apascentar seus pastores. Me julgaram e sentenciaram, mas jamais sentaram
comigo para me ajudar como deveriam, a não ser, superficialmente. Tenho evidências
destas verdades que estou relatando e, há pessoas que acompanharam tudo de perto
sobre o ocorrido. Não sei se foi ironia dos supervisores, quando se reuniram comigo,
para dar a trágica notícia, mas disseram: “você é sincero e honesto demais” e em seguida
de forma contraditória, disseram que eu não tinha mais condições de continuar ligado
ao sistema como pastor. A partir desse momento, foram inúmeras desculpas por parte
deles para o indesculpável. Desculpas essas sem nexo ou fundamento e nitidamente
permeadas de injustiça. O que poderia eu fazer? Entregar nas mãos de Deus! Isso estava
e está fora do meu alcance. Não tenho interesse de fazer justiça com minhas próprias
forças. Não faz parte do meu perfil. Deus cuidará disso.

Tentarem me realocar para outro segmento dentro do sistema para apaziguar a


consciência deles. Afinal de contas, não havia nenhum motivo plausível, ou que
justificasse uma decisão tão cruel. Não existia nada que me desabonasse moralmente de
continuar sendo um Pastor licenciado! E lá no fundo eles sabiam disso! Também
estavam conscientes que precisariam “justificar” e acalmar os ânimos dos irmãos, que
na ocasião, estavam dispostos, por conta deles, e não por minha influência, a recorrerem
desta decisão. Eles tinham consciência que a dispensa ministerial seria prejudicial não
somente para mim, mas também seria muito sentida pelos membros de forma geral por
todos os distritos e áreas que atuei.

Chega a ser paradoxal ser tão amado pelos membros da igreja, mas não ser “bem
visto” pelos Ceo's. No novo local de trabalho tentei dar o meu melhor, mas minha
decepção por ter sido demitido (que foi surgindo com maior força após a dispensa),
começaram a abalar minha estrutura emocional e percebia agora de forma nítida que
minha saúde havia sido muito comprometida. Devido a isso, não tive outra escolha na
época. Pedi demissão do novo trabalho que eles haviam me dado para me tratar e aqui
estou. Fui indenizado do serviço, da função de pastor, pelos 5 anos trabalhados e
persuadido a assinar um documento que me impossibilita, humanamente falando, de
retornar a exercer esta função, embora nada me desabone moralmente.

Sabe aquela sensação, quando você percebe que nasceu para fazer algo e alguém
tira isso de você e, percebe que não sabe fazer outra coisa a não ser aquilo? Assim
aconteceu comigo quando me dispensaram. Após muitas reflexões, decepções e choros,
digerindo e tentando achar os por quês, entendi que Deus sabe o que é melhor para mim
e certamente tem planos que eu desconheça. Continuarei, como sempre, confiando em
Sua providência na minha vida.
Decidi seguir um novo rumo daqui para a frente que me dê condições de cuidar
de mim e da minha família. Não está sendo nada fácil manter nossa fé, querendo ou não,
por melhor que seja o discurso motivacional e espiritual que tenho escutado por muitos
que tentam me ajudar, esse tipo de situação nos afeta, pois fazíamos parte de um corpo
que é composto de pessoas. Reconheço que como ser humano não sou perfeito. Mas
amava o que fazia e fazia de forma dedicada e verdadeira. Continuo amando esta igreja,
continuo defendendo seus princípios que são bíblicos, e continuo crendo na mensagem
de esperança, e no Deus que nos possibilitou que esta mensagem de salvação chegasse
a mim e a meus familiares.

Creio no agir de Deus em nossas vidas para servir a outros. Confesso que a maioria
dos lugares que passei tive muitas bênçãos, conheci pessoas maravilhosas, destes, tenho
amigos, ganhei nova família, pessoas especiais que carregarei comigo para sempre.
Quanto aos colegas de ministério, muitos conhecem essa história e de como fui
injustiçado em minhas avaliações. Infelizmente, por medo de represálias, muitos não
tiveram coragem de me defender, apesar de saberem a quem recorrer. Isso sempre
acontecia depois das avaliações, reconheço que alguns até tentaram, mas foram
impedidos pela instituição a questionar o ocorrido. A esses meu muito obrigado!

Em outras situações, lidei com pessoas reprodutores de tudo que vinha da


instituição sem passar por uma análise criteriosa, um “filtro” de transparência e
sinceridade. Alguns me apunhalaram pelas costas, me traíram, me avaliaram
erroneamente sem me conhecer, me feriram, me fizeram chorar, me humilharam, isto,
simplesmente pelo fato de projetarem um pastor conforme a visão deles e não na visão
de Deus. Sempre era pouco o que fazia para estes, pois apesar de ser uma obrigação
minha fazer, jamais reconheceram que estava fazendo o meu melhor diante da
experiência que tinha e por amor ao chamado que fui comissionado. Não tenho mágoa
destes, mas, infelizmente, perderam a oportunidade de serem justos e reconhecerem
quem eu sou de verdade e o quanto eu estava disposto a crescer e a ajudá-los servindo
a esta causa. Assim fui demitido do sistema, mas não podia compactuar com práticas
que ainda afirmo que não são aprovadas por Deus.

Gostaria de deixar bem esclarecido esses detalhes e dizer que não sou mais um
pastor da Instituição, mas continuarei a ser um Pastor na minha ESSÊNCIA! Tenho
convicção plena de que o Senhor que me chamou. A partir de agora, sem as intervenções
do sistema, sou apenas, Virgílio Neto, homem, pecador (nunca deixei de ser, mesmos
tendo a função de pastor), e com limitações como qualquer um, mas filho de Deus, salvo
pela graça de Cristo, herdeiro das promessas eternas, viúvo, pai, filho e no possível,
amigo de todos. Sei que muitos ainda continuarão me chamando de pastor, fiquem à
vontade se assim o desejarem fazer, pois minha consciência está em paz em relação ao
que fiz e ao que fui ao exercer o meu ministério!

Ser “chamado de pastor” é um privilégio e ao mesmo tempo, uma


responsabilidade. Este privilégio me foi tirado institucionalmente. Mas entendo que foi
tirada apenas a função, mas O CHAMADO DE DEUS PERMANECE! Enfim, neste
momento, estou em processo de renovação pessoal, profissional e familiar. Continuarei,
no que tiver ao meu alcance, contribuindo na obra de Deus, sendo um Pastor em minha
essência, um servo disposto a servir por intermédio do uso das habilidades que o Senhor
me concedeu. Novos desafios surgirão e sei que o Senhor, que jamais me abandonou,
estará comigo em todas as situações me auxiliando, concedendo sabedoria e me
iluminando por meio do Espírito Santo a continuar sendo um instrumento de bênçãos
na obra de Deus, honrando o chamado que a mim confiou!
Conto com suas orações e fico agradecido por sua atenção por ler esse texto que apesar
de longo, foi necessário e esclarecedor.

Desejo-lhe bênçãos, saúde, paz e muitas vitórias. Que a graça de Cristo seja
presente, renovando a sua vida e alimentando a certeza de suas promessas em nossos
corações e na grande esperança de sua volta!

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