Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PUC - SP
São Paulo
2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
São Paulo
2019
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
______________________________________
______________________________________
À minha inspiração, mãe e melhor amiga que, desde
o início da minha vida, lê cada palavra que escrevo,
acompanha cada passo que caminho e vibra
amorosamente com tudo o que sou. Eu sou tudo o
que sou porque você me ama.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu marido, Stefano, por todo o amor que vibramos juntos. Experienciar
a vida ao seu lado é maravilhoso. Você me inspira a ir além da forma mais leve e linda
que conheço! Obrigada por toda a paciência e todo o cuidado durante os fins de
semana em que estive imersa no processo de escrita.
Gratidão à minha mãe, Kathia, a quem dedico este trabalho e agradeço imensamente
por toda a generosidade e pelo amor capaz de transformar o mundo em um lugar mais
acolhedor. Ser sua filha é aprender diariamente o significado da força e do poder
femininos.
Agradeço ao meu pai, Luiz, por todo o apoio, conversas e sabedoria. Eu me orgulho
do quanto aprendemos um com o outro sobre a vida e principalmente sobre o amor.
Você me ensina a importância de traduzir o amor em ações, e reconhecer tanto de
você em mim faz com que eu tenha ainda mais coragem para seguir o meu caminho.
Agradeço ao meu irmão, Iannis, por tudo e por tanto. Com você divido tudo que sou e
aprendo tudo que ainda quero ser.
Agradeço a Marcela, minha cunhada, por toda ajuda, preocupação e escuta... longas
horas de escuta e empatia. Obrigada por toda a sensibilidade e por estar sempre
próxima.
Aos professores Marcelo Ribeiro e André Bruttin, verdadeiros mestres com os quais
eu tive a honra de aprender. Obrigada pela disponibilidade e por todas as
contribuições valiosas no meu processo de pesquisa.
Meu muito obrigada à professora Ana Claudia Mei pela conversa e pelo carinho. Em
momentos de incerteza, sua leitura crítica e atenta foi o que eu precisava para
continuar neste desafio acadêmico.
E aquela parte curiosa de mim que, ainda bem, existe e quer sempre mais!
FARJO, C. R. Os significados do propósito na carreira contemporânea. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.
RESUMO
ABSTRACT
The present work aims to understand matters that permeate the social and economic
relations, that refer to the work and values which are deepened in the political and
cultural structure, bringing work closer to career and, especially, the purpose
investigation, a widely disclosed and widespread term in the media and organizations,
but still fragile regarding its definition, concept and academic production.The literature
about the theme, mainly in the purpose field, it is still incipient, being most of the articles
published by magazines and companies that exposes a concept that is still under
construction. To trace the path of this search, we aim on reflecting from leaders of a
corporative educational company, located in São Paulo, the interdisciplinary
investigation of the concept of purpose and its meaning to the present-day career. For
that, a case study research was made, considering the desire to comprehend the
process of career from a new model of work that meets the need of an individual career
purpose, a complex social and contemporary phenomenon.To be part of the research,
we invited all the managing partners of the company (five), that have a leadership role,
considering the CNS/MS 466/2012 Resolution, complemented by the CNS/MS
510/2016 Resolution, after approval at the Ethical Committee opinion nº 3.063.547.
As methodology to acquire information, it was chosen the use of an adaptation of
Dialogue Interview, systematized by Otto Scharmer (2015a), that opened the
possibility to explore the individual career purpose of each participant, its relation to
the work environment and its influence on the sense of working. By that, the present
work pursues to contribute to this new field of study, developing a research in
Psychology that considers the relationship between individual and its context, that from
the data found on the case, exposes an opportunity to the definition of the purpose
concept.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 13
1.1 Apresentação ....................................................................................... 13
1.2 Relevância da Pesquisa ...................................................................... 17
1.3 Objetivo ................................................................................................ 20
1.3.1 Objetivos específicos ......................................................................... 20
3 carreiraS ................................................................................................. 43
3.1 Conceito ............................................................................................... 45
3.2 O Desenvolvimento do Conceito de Carreira ................................... 50
3.3 Carreira contemporânea como um processo de
autodesenvolvimento ................................................................................ 52
3.4 Novos Modelos de Carreiras .............................................................. 57
REFERÊNCIAS …………………………………………………………………. 66
APÊNDICES................................................................................................. 70
ANEXOS ......................................................................................................
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
1Headhunter é uma palavra em inglês para o profissional que faz a ponte entre os profissionais do
mercado e as posições executivas de empresas, considerando as competências necessárias e perfil
de candidatos compatíveis com a organização.
14
(PTM) que é uma declaração do propósito da organização que fala sobre valores da
empresa capaz de inspirar e conectar os colaboradores e clientes a uma aspiração ou
a um impacto no mundo. Exemplos como o TED (2019), uma série de conferências
realizadas online ou em um formato de evento presencial divulga o seu PTM como
“ideias que merecem ser espalhadas” ou o Google “organizar a informação do
mundo”, nos dão uma referência de como esta ideia deve ser aplicada.
Por existir uma referência de que organizações exponenciais lucram dez vezes
mais do que outras empresas e apresentam menos risco de se tornar obsoletas, o
propósito se tornou querido e essencial para as empresas. Existir uma frase que
demonstra o sonho ou como a empresa deseja impactar o mundo se tornou mais do
que uma boa prática, se transformou mandatório. Os clientes se sentem encantados
e os colaboradores inspirados pela possibilidade de fazer parte de algo maior, de
mudar o mundo, o que inicia um questionamento sobre o propósito de carreira
individual uma vez que passa a escolher uma empresa cujo propósito tenha relação
com o seu.
Diante deste cenário, o propósito vem sendo veiculado em diversas
reportagens, e-books empresariais, cursos abertos, treinamentos corporativos e
artigos que ressaltam a importância do tema, porém são escritos como se já estivesse
clara a definição do conceito. Realçam os benefícios de ter um propósito, o impacto
na decisão e escolha do consumidor ou na atratividade para os colaboradores, mas
carecem de uma definição do conceito. Assim, observamos atualmente que o
propósito é usado como sinônimo de diversos conceitos já estabelecidos, como
sentido, valor, missão ou ainda, motivação.
Um exemplo que nos permite fundamentar a discussão é o tema da revista
Exame de maio de 2019.2 Sua capa: A Força do Propósito: A ciência mostra que
enxergar significado no próprio trabalho, algo cada vez mais escasso em todo o
mundo, torna as pessoas mais saudáveis e produtivas. E é o caminho para uma vida
mais plena e feliz. Na reportagem Scherer (2019), aborda a busca por propósito
relacionada a uma crise de significado. A partir disso, é estabelecido o trabalho de
Viktor Frankl (1946) O Homem em Busca de um Sentido como referência nos estudos
sobre propósito:
Diante do objetivo da pesquisa que é refletir sobre o propósito das carreiras dos
líderes de uma empresa de educação em São Paulo e o impacto deste conceito em
suas carreiras, faz-se necessário introduzir alguns conceitos que serão fundamentais
para a discussão dos dados do estudo de caso.
Diante das mudanças nos ambientes de trabalho contemporâneos que se
ampliam e integram à vida pessoal, elegemos a Psicologia Ambiental como o fio
condutor da pesquisa, uma vez que nos permite refletir sobre a relação entre as
pessoas na interação com o seu ambiente ou comunidade em que está inserida.
Conforme sistematizado por Bassani, a Psicologia Ambiental estuda a inter-relação
entre a pessoa e o ambiente, seja este físico, construído ou natural, considerando a
capacidade de influência mútua em que um altera e modifica o outro 3. Este ambiente
amplia as suas fronteiras para a inter-relação entre pessoa e ambiente social,
promovendo a capacidade de facilitar ou dificultar estas interações.
Para esta pesquisa também serão importantes as contribuições de Moser
(2002, 2005), ao trazerem a perspectiva do ambiente como um campo multidisciplinar
incentivando a colaboração entre as disciplinas e dividindo a dimensão espacial em
quatro níveis: o primeiro nível, do microambiente, refere-se ao espaço privado; o
segundo, do nível interpessoal (comunidade), refere-se aos espaços compartilhados;
o terceiro nível são os ambientes públicos e, por fim, o quarto, que é social e considera
o ambiente na sua dimensão global.
O lugar de trabalho, nesse contexto, pode ser considerado como um ambiente
compartilhado, e será entendido a partir do conceito de comunidade articulado por
Bassani (2004) como uma célula da sociedade:
3 O uso da palavra pessoa foi cuidadosamente escolhido por Marlise Bassani (2003, 2004) com o
objetivo de ressaltar que a interação com o ambiente se refere ao ser humano com uma história de
vida, em um contexto cultural permeado por afetos e significados.
18
4 Nota de aula: conceito dado em aula sobre Identidade profissional em 20 de fev. de 2016 na Pós-
Graduação de Consultoria de Carreira na FIA-USP.
19
1.3 Objetivo
2 O TRABALHO DÁ TRABALHO
Este capítulo tem como principal objetivo introduzir a história do trabalho para
que possamos compreender o sentido e as noções deste percurso diante dos marcos
relevantes que nos permitiram chegar até este momento. Sendo assim, este primeiro
enfoque é o que possibilita a discussão do trabalho contemporâneo e suas futuras
articulações com a carreira, o propósito e os ambientes a partir de diversas pesquisas
complementares que propõem a autonomia, a diversidade e o retorno financeiro ou
como possibilidade de autodesenvolvimento, como aspectos fundamentais do
trabalho.
Alcmena, logo em seu nascimento foi hostilizado por duas serpentes enviadas por
Juno para matá-lo, porém o bebê estrangulou-as com as próprias mãos. Não
satisfeito, Juno o submeteu às ordens de Euristeus que lhe impôs o cumprimento de
tarefas consideradas impossíveis, conhecidas como Os Doze Trabalhos de Hércules.
Seus trabalhos eram árduos, como, por exemplo, lutar contra o leão de Nemeia e
trazer a pele como prova, matar um monstro de nove cabeças sendo a do meio imortal,
e, a cada cabeça que Hércules destruía, nasciam duas em seu lugar. O mito deu
origem à expressão “trabalho hercúleo”, utilizada, ainda hoje, para expressar uma
tarefa extraordinariamente difícil (BULFINCH, 2002).
Outro mito que descreve o trabalho como forma de sofrimento é a história de
Sísifo que foi condenado a empurrar uma grande pedra até o topo de uma montanha,
e, quando finalmente, após muito esforço, chegava ao topo, a pedra rolava abaixo e
então ele se via obrigado a repetir a tarefa. Na interpretação de Albert Camus (2010):
“Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o alto de uma
montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram, com certa razão,
que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança” (p. 137).
O autor percebe, portanto, que o grande desespero não está na subida da
montanha, pois este é o momento de esforço extremo que não permite os
pensamentos, mas sim na descida, levando-o à consciência do seu destino e
repetição de uma tarefa sem fim. O autor faz um paralelo com o trabalho mecânico e
repetitivo dos operários e atribui o sofrimento à tomada de consciência de um fazer
fadado ao fracasso e à exaustão e sem sentido.
Esse mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria sua pena
se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo? O operário de hoje
trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é
menos absurdo. Mas só é trágico nos raros momentos em que se torna
consciente. (CAMUS, 2010, p.139)
Figura 2: Hercules Fighting the Nemean Lion, 1615 - Peter Paul Rubens
Fonte: Little Rock, 2018.
25
Assim, o trabalho foi, durante séculos, visto como uma verdadeira tortura, e são
os escravos, súditos ou servos − trabalhadores de classes sociais mais numerosas e
socialmente desprovidas de poder (social, econômico ou político) − os que são
realmente obrigados a trabalhar.
É só a partir do Renascimento (séculos XIV e XVI) que o ser humano passa
filosoficamente a ser protagonista, a ser o elemento central das significações de seu
tempo e espaço, a peça-chave, onde é entendido pela primeira vez na história. Com
o humanismo rompendo as tradições e ideias medievais, novos tempos surgiam
marcados agora pela ênfase na experiência individual e na racionalidade. Neste
período se iniciam as navegações de longo curso e a transição do sistema feudal para
o pré-capitalismo. Essa época é marcada pela ascensão do individualismo e
celebração da singularidade. Como resultado desta individualização, a cultura era
altamente personalizada através dos autorretratos, diários, selo pessoal em cartas, o
que permite a ideia de que cada um é livre para realizar sua própria identidade e
moldar seu destino (KRZNARIC, 2012).
26
do trabalho como sofrimento como uma crítica aos processos de produção e alienação
do trabalhador que não usa seus dons e talentos e, por sua vez, é submetido a uma
atividade repetitiva e cansativa.
Adam Smith (1723-1790), grande teórico da economia moderna, capitalista,
define trabalho como uma atividade que exige que o trabalhador desista de sua
tranquilidade, liberdade, felicidade e de todo seu potencial criativo. O salário seria a
recompensa que o trabalhador recebe pelo seu sacrifício. Inclusive, a palavra salário,
do latim salarium, surge como um pagamento de uma porção de sal dada aos
soldados romanos por seus trabalhos. Considerado um alimento divino capaz de
conservar e dar sabor aos alimentos, o sal assume uma grande importância na vida
dos cidadãos, e, como o comércio era realizado através da troca de mercadorias, o
sal possuía um valor alto significando a valorização dos soldados (DIAS, 2005).
A divisão do trabalho acaba por dividir o próprio ser humano, que já não pode
desenvolver-se como ser inteiro, mas que vale mais pela capacidade de repetição e
especialização em determinada parte do processo produtivo. Este é um ponto crítico
do trabalho à medida que para Marx (1989) o trabalho é a ponte e o mediador do
homem com a natureza pois é através do trabalho que o homem transforma a natureza
e estabelece uma relação dialética: ao transformar a natureza, transforma a si mesmo.
29
Esta cisão do homem com a natureza cria condições artificiais dentro das
fábricas impedindo a integração do indivíduo com seus talentos, com o produto e com
o autodesenvolvimento a partir do seu trabalho. Dentro das fábricas, os trabalhadores
passam a não observar os movimentos da natureza e, inclusive, perder a noção do
tempo em um ambiente fechado e controlado.
Aos mais pobres, desprovidos de recursos, a opção era seguir os passos dos
antepassados trabalhando na terra ou nas fábricas, e aos de maiores posses, classes
mais avantajadas, era possível vislumbrar opções para adquirirem futuras profissões,
e nas mais “tradicionais”, como medicina, administração, economia, advocacia etc., a
chance de obter um futuro emprego era maior.
É notório que a história do trabalho, tanto a oral como a escrita, nos conta a
relação do homem com suas atividades e a forma como encontra, por meio de seu
fazer, possibilidades de sobrevivência, desenvolvimento, e só muito mais
recentemente autoconhecimento.
Assim, esta breve Introdução sobre valores, conceitos, características sociais
e históricas do trabalhar nos permitem observar que o termo era atrelado a esforço,
castigo. Em uma segunda etapa histórica, passou a designar a atividade que se realiza
para manter-se ou prover suas necessidades de vida. Hoje nos parece que o conceito
se abre em direção à realização cada vez mais subjetiva e pessoal do indivíduo, que
é protagonista das transformações de carreira e das mudanças relacionadas com o
significado do trabalho.
Buscaremos, diante deste contexto, compreender qual o sentido de trabalhar
na contemporaneidade, considerando a perspectiva do indivíduo no centro da relação
entre o seu fazer e a empresa ou atividade que realiza, circunscrito pelo contexto
social em que está inserido.
As questões que então se apresentam e que procuraremos refletir ao longo do
próximo capítulo são: em que consiste o caráter do trabalho contemporâneo? Como
se define o trabalho na contemporaneidade? O que faz com que a atividade tenha
sentido para o indivíduo?
30
que ocupa socialmente. Pessoas precisam trabalhar para finalizar, definir e redefinir
sua identidade criando a própria história sobre si e sobre os outros, e tanto o processo
do trabalho como o produto – material ou imaterial − criado a partir dele nos permitem
transformações e compreensão sobre quem se é (GINI; SULLIVAN,1987; CIULLA,
2000; DEJOURS, 2004).
Compreendendo a importância da experiência de trabalho para construção da
identidade e sociabilidade, o sentido do que se faz torna-se prioritário à medida que
transforma a narrativa do indivíduo, os outros e o ambiente como resultado deste
processo, pois um trabalho sem sentido impacta a própria construção da identidade.
Conforme define Codo (1997), o trabalho exige “[...] uma relação de dupla
transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado” (p.26). Este
significado permite uma relação dialética entre o trabalho e a natureza em que um
afeta o outro e caso exista rompimento pode gerar sofrimento. Realizar um trabalho
alienante, que não tem nenhum interesse humano ou que não tenha nenhuma
utilidade em um ambiente que não é promotor de vínculos e relações é um trabalho
sem sentido.
Para compreender o que torna um trabalho sem sentido, partiremos dos
conceitos propostos por Dejours (2004), autor da abordagem clínica da psicodinâmica
do trabalho e um dos principais autores no campo de estudo sobre o sofrimento entre
a relação homem-trabalho:
[...] a partir do olhar clínico, o trabalho é aquilo que implica, do ponto de vista
humano, o fato de trabalhar: gestos, saber-fazer, um engajamento do corpo,
a mobilização da inteligência, a capacidade de refletir, de interpretar e de
reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de inventar, etc. Em
outros termos, para o clínico, o trabalho não é em primeira instância a relação
salarial ou o emprego; é o <<trabalhar>>, isto é, um certo modo de
engajamento da personalidade para responder a uma tarefa delimitada por
pressões (materiais e sociais). (DEJOURS, 2004, p. 28)
Ressalta o autor que por sua vez: “[...] trabalhar é preencher a lacuna entre o
prescrito e o real” (DEJOURS, 2004, p.27). O prescrito traduz o que é dito nas
organizações considerando os padrões, procedimentos, normas e cultura, já o real, é
o contexto em que o prescrito acontece marcado pela imprevisibilidade das relações,
máquinas e acidentes. Por fim, este espaço em branco deve ser preenchido por
descobertas individuais, na relação entre a pessoa e o trabalho para enfrentar o
desapontamento ou possível sofrimento entre as normas estabelecidas e o que não
funciona. Em uma realidade cada vez mais complexa com mudanças aceleradas
32
torna-se mais necessário cuidar deste sofrimento uma vez que o que é expresso em
relação as normas muda com maior velocidade levando a pessoa a uma necessidade
de adaptação constante.
Este mal-estar se dá não apenas pela lacuna cada vez maior e mais complexa
de ser preenchida entre o estabelecido e a realidade causadora de sofrimento no
trabalho, mas também está associado à falta de conexão com a “vida interior” e o
sentido do trabalho para as pessoas pois, independentemente do trabalho ser “bom”
ou “ruim”5, é o que nos dá senso de direção, ajuda a construir valores e permite a
oportunidade para expressar a criatividade e encontrar realização. Cabe ressaltar que
um trabalho ruim não é aquele que se tem menor retorno financeiro ou com menor
prestígio social, mas sim um trabalho que não é fonte de significado.
Além da necessidade de preencher os espaços em branco deixados pelo
discurso das organizações e a experiência concreta das atividades de trabalho, é
importante equilibrar o trabalho com os valores que são fundamentais para o sentido
que o indivíduo encontra em seu fazer. Joanne Ciulla (2000), pesquisadora sobre
liderança e ética define quatro valores existentes capazes de moldar as escolhas de
trabalho: 1) significado, 2) tempo livre, 3) dinheiro e 4) segurança. Como a maioria dos
empregos não contempla tudo o que é importante, fazemos escolhas e abrimos mão
de alguns e, são exatamente essas escolhas que evidenciam aquilo que mais
valorizamos e, caso a atividade seja coerente e permita realizar as escolhas
priorizadas, as chances de um trabalho que faça sentido aumentam.
Sendo assim, os valores estão intrinsecamente relacionados ao sentido que o
indivíduo atribui a sua atividade e, à medida que escolhe o que faz, constrói sua
identidade, revê seus próprios valores que são construídos a partir das suas
experiências e determina como articula esta narrativa para o mundo.
Até aqui abordamos os significados e representatividade do trabalho para a
condição de ser humano uma vez que possibilita o autoconhecimento e
desenvolvimento, porém como encontrar um trabalho que faça sentido? Quais são os
fatores que permitem que este processo aconteça?
5De acordo com Schumacher, um bom trabalho é aquele que permite a possibilidade do trabalho como
elemento de beleza e verdade, dotados de sentido e permitem realização. Já um trabalho ruim é aquele
que se distancia da natureza e utiliza apenas uma pequena parte do potencial e das capacidades de
uma pessoa, não possibilitando chances de desenvolvimento.
33
6 Zygmunt Bauman (2001) usa o termo modernidade líquida para descrever a fluidez e velocidade das
relações e da individualização do mundo uma vez que o indivíduo contemporâneo é livre e
independente para conquistar o que deseja. Também aborda a inconstância e incertezas causadas
pela falta de referências sociais.
35
7 Domenico De Masi (2014) define a Pós Modernidade como um espaço cheio de tempo. Isso pois a
partir das novas tecnologias, acesso e disponibilidade de informações, as noções de tempo e espaço
são desestruturadas criando múltiplos níveis de realidade. Existe um abandono da racionalidade como
um valor e o resgate da sensibilidade e da emoção que se somam para produzir a era da criatividade.
8 Coworking é um fenômeno social crescente que nasce dentro do contexto da economia colaborativa
ou da ideia de compartilhamento e que reúne profissionais independentes de diversas áreas com locais
de trabalho flexíveis e constroem não apenas um ambiente de trabalho, como também um ambiente
de interação social que permite a construção de um senso de comunidade.
36
3 CARREIRAS
3.1 Conceito
9Notas de aula: conceito dado em aula sobre Identidade profissional em 20 de fev. de 2016 na Pós-
Graduação de Consultoria de Carreira na FIA-USP.
50
10 Economia Gig é o termo utilizado para descrever a economia sob demanda ou de freelancing que
promove uma rede entre trabalhadores autônomos e temporários com empresas que contratam estes
trabalhadores para projetos pontuais. Esta tendência pode ser exemplificada ao analisarmos o modelo
de empresas como Uber e Airbnb que conectam clientes com necessidades ou desejos pontuais a um
produto ou serviço. Esta tendência deve ser compreendida como uma maneira de flexibilizar e
aumentar as escolhas dos consumidores convergindo os fatores econômicos, políticos e sociais
contemporâneos.
54
carreiras tradicionais e depois migraram para uma carreira autônoma. O quinto padrão
abrange os indivíduos com carreiras tradicionais, porém com dedicação parcial de
tempo. O sexto padrão aborda um modelo de carreira fragmentado caracterizado por
períodos turbulentos que abrangem uma carreira tradicional, o desemprego e
carreiras com dedicação parcial de tempo. Por fim, o último padrão se associa a um
modelo empreendedor de carreira em que os indivíduos se dedicaram a um trabalho
autônomo durante toda a trajetória de carreira (BIEMANN; ZACHER; FELDMAN,
2012).
Esta pesquisa corrobora que existem diversas possibilidades presentes nas
carreiras contemporâneas, porém está mais associada aos dados quantitativos e não
considera o que leva o indivíduo a construir sua carreira em um determinado modelo,
ou o significado deste processo para ele.
Considerando a importância do sentido que o indivíduo atribui a sua carreira,
Marcelo Ribeiro (2015) propõe cinco padrões das carreiras contemporâneas
relacionados a conceitos de carreiras já existentes a partir da narrativa de 40
trabalhadores da cidade de São Paulo.
1. Nostalgia: Este discurso presente nas narrativas está relacionado ao modelo
organizacional de carreira em que o indivíduo busca a estabilidade dentro de uma
organização.
2. Fechamento: Busca a referência e proteção de comunidades ou profissões.
Sendo assim, o foco é em uma atividade determinada e especializada. São grupos
que se definem mediante uma identidade profissional.
3. Possibilidade: Está relacionada ao conceito da carreira Proteana e carreira
Sem Fronteiras, em que a principal característica é sua relação com projetos de
carreira. Sendo assim, dão ao indivíduo a possibilidade de mudar constantemente e
se adaptar aos novos contextos.
4. Instrumentalidade: Está associada a carreiras transitórias e visa a
adaptabilidade ao mundo de trabalho relacionados a projetos descontínuos. Os
indivíduos, portanto, não estabelecem vínculos ou se identificam com a carreira, mas
operacionalizam o trabalho para que forneçam os meios de satisfazer suas
necessidades.
5. Híbrida: Os indivíduos combinam elementos dos quatro padrões
mencionados acima construindo carreiras que compreendem tanto a estabilidade
como a mobilidade.
66
12 Durante alguns anos, de 2012 a 2015, atuei como headhunter, ou seja, contratada por empresas,
buscava pessoas interessadas em assumir cargos de média/alta responsabilidade.
13 A BVC Psi é uma biblioteca virtual de referência na América Latina em informação científica na área
internet.
69
(2018), que permite o acesso a artigos, livros e conteúdos digitais que têm como
objetivo refletir sobre as melhores práticas e tendências na gestão de negócios. Isso
porque o propósito tem sido amplamente abordado nas empresas tanto sob a
perspectiva individual quanto organizacional. Assim, pesquisamos no site da Amazon
do Brasil e Estados Unidos e no site da Harvard Business dos Estados Unidos, de
agosto a setembro de 2018, sem um recorte específico do período de publicação
entendendo a dificuldade em encontrar bibliografias e buscando ampliar as
possibilidades de compreensão associada ao propósito. Diante dos resultados,
analisamos alguns filtros de publicações em algumas áreas que julgamos
fundamentais para a análise do conceito e compreensão deste horizonte de pesquisa.
Para explicar este cenário, construímos a tabela a seguir que tem como objetivo
apresentar um panorama das publicações que encontramos.
70
A figura acima nos permite ressaltar que existe uma grande quantidade de
pesquisas relacionadas ao livro de Sri Prem Baba (2016) como referência das buscas
encontradas. Este é o livro mais vendido da Amazon do Brasil nos títulos associados
73
Figura 20: Career Purpose e Propósito de Carreira – Amazon (por ordem de relevância)
Fonte: Elaborado pela autora; ilustração Fabio Woody.
4.2 ConceitoS
15 Ernest Young é uma consultoria de serviços presente em 150 países que possui um instituto
chamado Beacon Institute que reúne os principais líderes de organizações com o objetivo de criar valor
e ajudar a compreender as forças que moldam e transformam o século XXI.
78
a noção de encontrar o seu propósito não é correta uma vez que este é um processo
em construção e atualização constante. Diante disso, identifica três equívocos sobre
o significado do termo propósito que resultam em uma má aplicação do conceito:
1o equívoco − O propósito é algo que você encontra: o propósito não pode ser
entendido como um chamado ou um evento que você vai ao encontro. Frases como
“os dois dias mais importantes da vida são o dia em que você nasce e o dia em que
encontra o seu porquê” amplamente divulgada pela mídia, ou ainda, a ideia de que
você descobre o seu chamado em um determinado momento do destino são
abordadas pelo autor como uma versão hollywoodiana do propósito. Sendo assim, é
uma ideia comercializada e divulgada que na realidade não se concretiza e pode
resultar em um processo de frustração do indivíduo ao invés de conduzi-lo à
realização.
2o equívoco – O propósito é único: geralmente o propósito é abordado como
uma única visão. Para explicar esta ideia, o autor usa o exemplo da Madre Teresa de
Calcutá que tem o seu propósito divulgado como alguém que viveu a vida para servir
aos pobres quando, na verdade, esta é apenas uma parte do que acreditava ser “um
chamado” maior.
3o equívoco – O propósito é estável: da mesma maneira que encontramos
sentido em diversas atividades e lugares, com o passar do tempo, a fonte ou o lugar
deste sentido pode se transformar. Por exemplo, um indivíduo que encontra sentido
trabalhando como executivo de uma grande empresa pode, em algum momento da
vida, passar por uma transformação e então sua atividade deixa de fazer sentido.
Assim, inicia-se a busca de um novo propósito em outros lugares e/ou relações.
A partir destes três equívocos, o autor propõe então três compreensões do que
é o propósito:
1. O propósito é um processo de construção, ou seja, algo que você
constrói e não algo que você encontra.
2. Cada indivíduo possui múltiplas fontes de propósito. Sendo assim,
deveríamos considerar a noção de propósitos como as múltiplas fontes
de significado que nos ajudam a identificar valor no trabalho e,
consequentemente, na vida.
3. O propósito pode mudar. Como é um processo em construção, não é
fixo, mas está sempre em transformação.
79
a partir dos negócios com propósito. Por fim, a terceira perspectiva se dá na relação
entre o indivíduo e a organização em que os indivíduos como consumidores
demandam marcas que inspiram e, ao mesmo tempo, socialmente pressionam as
empresas a serem mais responsáveis.
Diante dos conceitos abordados, e entendendo como objetivo do presente
trabalho a possibilidade de discutir a carreira com propósito, usaremos a definição do
conceito de propósito como processo de construção que nos permite relação tanto
com a dimensão individual como organizacional e possui maior afinidade com a
compreensão da carreira como possibilidade de autoconhecimento. Um ponto
importante que encontramos foi que à medida que analisávamos os conceitos,
encontramos uma ampliação da noção de finalidade para a ação. Se percebermos,
em todas as maneiras de compreender o propósito existe uma conotação de
movimento e ação. Por exemplo, o propósito como processo de construção é, à
medida que se tem consciência, permite-se que se modifique o lugar do qual agimos.
Discorreremos a seguir sobre a perspectiva individual seguida pela perspectiva
organizacional do propósito para então articular uma proposta das carreiras com
propósito.
17 No original “[…] purpose is an aspirational reason for being that is grounded in humanity and inspires
a call to action.”
84
pessoas a partir do desejo de contribuir para algo maior do que apenas os resultados
de uma empresa.
5. Cria pontes entre companhias e promove parcerias a partir da possibilidade
de inspirar a colaboração entre empresas, necessidades sociais e individuais.
Diante da contribuição do propósito para o sucesso de uma empresa, a
pesquisa aponta ainda alguns fatores sociais que fizeram com que este conceito
ganhasse relevância não apenas para os indivíduos, mas para as organizações,
como, por exemplo, o que chamam de déficit de confiança (trust deficit). As novas
gerações acreditam cada vez menos na centralização do poder por grandes empresas
e novas marcas estão mais acessíveis em mídias sociais, como Instagram e
Facebook. As mídias também possibilitam, em minutos, pesquisar as opiniões sobre
um produto e, a partir disso, formar uma rede de confiança de amigos e contatos que
escolhemos para nos apoiar na decisão do que e de onde compramos. Além disso,
80% dos entrevistados responderam que pagariam mais por produtos que são
produzidos de maneira responsável e, quando a qualidade e o preço dos produtos são
o mesmo, o propósito é o fator decisivo para a escolha de compra. Por fim, abordam
que, na revisão dos artigos e livros que tiveram acesso, muitos falam dos benefícios
de ter um propósito na empresa, mas poucos o definem e conseguem através de
exemplos tornar o conceito aplicável.
Para que possamos entender a relevância deste conceito dentro das empresas,
a universidade Harvard encomendou uma pesquisa realizada também pela Ernst
Young Beacon Institute (2015), em que entrevistaram 474 executivos americanos e,
como resultado, 89% dos respondentes disseram que acreditam que o propósito é um
fator importante para a satisfação individual e também para fidelizar o consumidor.
Entretanto, apenas 46% acreditam que a empresa já atua em um modelo em que as
decisões da empresa são dirigidas pelo propósito organizacional. Sendo assim, existe
ainda uma desproporção entre a relevância teórica sobre o tema e a realidade a partir
da dificuldade encontrada para aplicar o conceito de propósito no dia a dia de uma
empresa. A partir das respostas dos executivos, dividiram as empresas em 3
categorias: prioritizers (priorizadores), developers (desenvolvedores) e laggards
(retardatários). A primeira diz respeito a empresas que já possuem um propósito claro
e atuam estrategicamente a partir deste cenário, o que representa 39% das empresas.
A segunda categoria, os desenvolvedores, representa os 48% das empresas que
ainda não possuem um propósito bem definido, porém estão trabalhando para
85
desenvolvê-lo. Por fim, os 13% restantes se referem a empresas que ainda não
iniciaram a construção do propósito. Se consideramos estes dados, podemos
perceber a relevância do tema em empresas dos Estados Unidos em que a maior
parte já está se organizando para atuar a partir desta “revolução do propósito”. Isso
também corrobora a grande quantidade de artigos e livros encontrados no
levantamento bibliográfico que realizamos nas plataformas americanas. Um outro
dado expressivo da pesquisa aborda em que áreas as empresas estão focando para
integrar o propósito à empresa. Atualmente o maior esforço está centralizado no
treinamento e desenvolvimento da liderança e a mensuração da performance e metas,
porém os executivos entendem que as três áreas mais importantes que devem atuar
a partir do propósito são as áreas de estratégia, cultura e valores e a área de
marketing. Portanto, as empresas estão comunicando e treinando os seus
colaboradores para atuarem a partir de um propósito, mas ainda não encontraram
uma forma de aplicar o conceito no fazer e no dia a dia da operação que pode ser
responsável por uma frustração dos indivíduos que inicialmente se sentem motivados
para agir, porém não encontram o espaço necessário diante das atividades e
processos que não acompanham a mesma lógica. Faltam ainda pesquisas que nos
permitam, diante do contexto organizacional, compreender a realidade do Brasil
perante a organização das empresas para atuar a partir de um propósito.
Com um cenário novo, ainda não definido e com muitas abordagens que
refletem a importância do tema e pouco direcionamento para que o propósito seja
implementado nas empresas, mas percebendo que os indivíduos priorizam empresas
que atuam a partir de um propósito, Frederic Laloux no livro Reinventando as
organizações (2017) reflete este propósito organizacional como um processo
evolutivo. Como um organismo vivo, as empresas vão se adaptando e transformando
para responder as mudanças do ambiente no qual estão inseridas entendendo que
atualmente é preciso um espaço que potencialize as conexões e os talentos dos
indivíduos. O autor também aborda a consciência como determinante na construção
de um novo modelo organizacional e assim aborda que:
“melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio de uma alimentação totalmente
natural”, investem na produção de produtos orgânicos e possibilitam aos produtores e
clientes uma rede de impactos e resultados positivos. Apesar da definição do
propósito organizacional destas empresas, o modelo e o formato de trabalho ainda
operam em um nível de consciência de paradigmas mais antigos, ou seja,
implementa-se um propósito, mas ainda não reflete a transformação para um modelo
mais autônomo e flexível.
Considerando o processo de evolução do modelo de sobrevivência para um
modelo de propósito, o autor Marcos Braga (2017) considera que o propósito, embora
pareça um modismo por ser abordado e amplamente divulgado nas mídias sem uma
definição clara do conceito, é interessante porque é um fenômeno emergente que une
diversas teorias e propõe que as empresas revejam seus objetivos e a sua finalidade
para que possam ir além da produção de resultados. Com isso, retoma a teoria
econômica de shareholders e stakeholders. A primeira (shareholder) tem como foco a
riqueza e prosperidade do acionista e cria incentivos para os trabalhadores realizarem
suas atividades alinhadas ao interesse deste grupo de acionistas. A segunda
(stakeholders) propõe a responsabilidade além dos próprios interesses, cooperando
para atingir o objetivo da organização, dos indivíduos e do entorno, seja este social
ou ambiental. Sendo assim, o autor propõe pensar o conceito de propósito como ponte
para a teoria de shareholders e stakeholders, resultando na possibilidade de criar valor
compartilhado para os acionistas, indivíduos, sociedade e ambiente a partir de um
processo mais transparente e responsável.
Com todas estas novas articulações, a partir de uma pesquisa com 1.470
líderes americanos, e dos diferentes significados do propósito para cada um, propõe-
se o uso do termo Capital P que considera a multiplicidade do conceito do propósito
organizacional a partir de uma condição centrada no ser humano e no engajamento
social que permite criar valor para diversos interagentes (stakeholders) e ambientes
(MARK WEINBERGER, 2017).
Considerando o propósito transversal a qualquer negócio e compreendendo
que os indivíduos cada vez mais possuem outras escolhas que vão além das
organizações como carreiras empreendedoras e projetos autônomos, o autor Simon
Sinek (2009) aborda no livro Start With Why que:
89
Estudos apontam que mais de 80 por cento dos Americanos não possuem o
trabalho dos seus sonhos. Se mais pessoas soubessem construir
organizações que inspiram, poderíamos viver em um mundo em que as
estatísticas seriam o oposto – um mundo em que 80 por cento amassem seus
trabalhos. Pessoas que amam trabalhar são mais produtivas e criativas. Eles
vão para casa mais felizes e tem famílias mais felizes. Eles tratam seus
colegas e clientes melhor. Colaboradores inspirados tornam as organizações
e a economia mais fortes. (SINEK, 2009, p. 7, tradução nossa) 18
4.5 A Carreira com Propósito: uma articulação entre os desejos dos indivíduos
e um novo olhar sobre o sentido do trabalho
18 No original: Studies shows that over 80 percent of Americans do not have their dream job. If more
knew how to build organizations that inspire, we could live in a world in which the statistic was the
reverse – a world in which 80 percent love their jobs. People who love going to work are more productive
and more creative. They go home happier and have happier families. They treat their colleagues and
clients and customers better. Inspired employees make for stronger companies and stronger
economies.
90
carreiras sem fronteiras, proposta por Defillipi e Arthur em 1994, pois reforça a
importância do saber por que (knowing why) se faz uma atividade, saber o que é
preciso fazer ou qual a finalidade do que fazemos (knowing what) e complementa com
o saber quem (knowing whom) pode apoiar para o desenvolvimento uma determinada
atividade ou competência. Porém, ao que nos parece, Sinek a partir da noção do como
(how) se realiza determinada atividade, constrói uma ponte para a articulação com o
propósito. Se entendermos o propósito como um processo de construção que
impulsiona o indivíduo à ação, faz sentido pensar que a reflexão do como eu realizo
aquilo que faço é determinante para a noção de uma carreira com propósito.
Quando falamos de carreiras com propósito, existe uma interpretação e
conexão com as teorias geracionais como uma busca dos mais jovens, que estão
ingressando no mundo do trabalho, como as gerações Y (1980-2000) e Z (1990-2010).
Isso acontece porque as gerações anteriores trabalhavam para suprir necessidades e
dificuldades, e, supostamente, por terem pais que passaram por este momento mais
crítico, torna-se possível que os jovens tenham mais opções de escolha devido à
condição socioeconômica familiar. Esta é uma visão que está embasada no conceito
da Pirâmide de Maslow em que, conforme a imagem abaixo, precisamos primeiro ter
condições de satisfazer nossas necessidades fisiológicas, como comer, dormir ou
respirar. Em seguida, a demanda passa a ser de proteção e segurança, e à medida
que avançamos no cumprimento das necessidades da base da pirâmide, nos
movemos para o topo, o último estágio de realização pessoal.
91
Dessa forma, propósito está relacionado à soma das experiências que vivemos
(passado) a partir dos valores individuais, a reflexão ou significado que atribuímos a
esta experiência no momento (presente) e as escolhas e decisões (futuro) que afetam
os ambientes e relações aumentando a possibilidade de encontrar sentido. Portanto,
propósito não é sinônimo de sentido ou razão de existir, mas um processo anterior de
reflexão vivo e dinâmico que contribui para o sentido e se relaciona com os valores, o
significado das experiências e a motivação.
Se a carreira é um transformar-se contínuo através do que se faz, a carreira
com propósito é, portanto, ter consciência sobre este processo, ou seja, transformar-
se continuamente através do que se faz tornando-se consciente deste processo e do
impacto que causamos em nós, nos outros e no ambiente. Quanto mais consciente o
indivíduo é do processo e das transformações que ocorrem, mais propósitos encontra
e compreende como o que faz o transforma e como essa transformação modifica o
que faz.
Até o momento, tratamos sobre a importância do trabalho, da carreira e das
novas teorias contemporâneas, do que é o propósito e como podemos a partir disso
pensar conceitualmente a carreira com propósito. Diante dessa construção,
entendemos que existe uma nova dinâmica com o ambiente de trabalho, seja ele em
escritórios que facilitam o encontro e as relações com espaços de interação e jogos,
em casa nos modelos de home office ou ainda em espaços compartilhados ou de
coworking. Assim, buscaremos a partir da Psicologia Ambiental compreender como
estes espaços podem contribuir para uma carreira com propósito e para aumentar o
bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos no trabalho.
95
físico nas grandes cidades e pontua que: “Não é o telefone celular, por exemplo, que
provoca o estresse, mas, sim, a relação que a pessoa tem com ele” (p.123). Assim, o
objeto sozinho ou o ambiente não seria capaz de afetar o indivíduo, mas a relação
com o objeto cria uma dimensão simbólica do significado permitindo associar o objeto
à resposta ambiental, facilitando o aparecimento de doenças físicas ou mentais.
A partir destas interações, podemos compreender a Psicologia Ambiental como
uma área pluridisciplinar a fim de entender a complexidade a partir de diversas
abordagens e pontos de vista, colaborando com outras áreas do conhecimento,
pensando como ponto de partida a relação com o espaço. Assim, insere-se em
diversas áreas, como Geografia Humana, Arquitetura, Psicologia Social, Sociologia
entre outras. Nesse contexto, Moser (1998) aborda os diversos campos de atuação e
estudo da Psicologia Ambiental como as representações ecológicas e
comportamentos pró-ambientais, estudo do ambiente urbano, estudo do ambiente
natural e da qualidade do ambiente. Este último particularmente nos interessa, uma
vez que:
19Open Space (espaço aberto) é um conceito de espaço que, como o próprio nome sugere, é aberto.
Sendo assim, não existem paredes ou barreiras físicas que dividem ou separam os colaboradores e
todos, independente do cargo, posição hierárquica na empresa, ocupam o mesmo espaço. Este modelo
se popularizou na década de 1960 a partir da necessidade de um espaço de trabalho mais econômico
e com a intenção de diminuir as barreiras e facilitar a comunicação entre os colaboradores (BRILL;
MARGULIS; KONAR, 1984).
99
20 No original: “It may be considered as a preference, expectation, value, need, and behavior. Privacy
means going toward others as well as going away from them; privacy is optimizing social interaction and
information transfer, not merely restricting them”.
21 Imagem construída a partir de GIFFORD (1997) para explicar os níveis de privacidade propostos por
6 MÉTODO
6.2 Instrumentos
papéis formais de cargos e liderança, o termo de autorização foi apenas assinado pois
não possuem carimbos.
Consta no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice A)
que será realizada uma apresentação dos resultados da pesquisa para todos os
colaboradores da empresa. Reitera-se este compromisso devido à especificidade do
grau de parentesco com 2 dos participantes da pesquisa em que a pesquisadora
desempenha papel de coordenadora.
Todos os procedimentos previstos na Resolução CNS/MS 466/2012
complementada pela Resolução CNS/MS 510/2016 foram cumpridos ressaltando a
possibilidade dos sujeitos solicitarem esclarecimentos e acompanhamentos da
pesquisa, bem como acesso ao Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP.
Por fim, trata-se de uma pesquisa de baixo risco, uma vez que todos os
cuidados éticos necessários foram tomados, considerando os procedimentos de
coleta escolhidos para a pesquisa. Contudo, caso algum tema da pesquisa mobilize
os sujeitos será dada a devida atenção e atendimento por parte da pesquisadora.
Além disso, os participantes serão convidados para um encontro de encerramento
para apresentação dos resultados, o que nos permitirá uma observação dos efeitos
da pesquisa e eventuais intervenções que se façam necessárias.
Os benefícios previstos, além de contribuição para um tema pouco estudado
com rigor científico em Psicologia, o retorno para a empresa poderá permitir novas
configurações das relações de trabalho, liderança e prestação de serviços.
Ressalta-se que todos os nomes citados dos sócios são fictícios a fim de
respeitar a confidencialidade das informações e assegurar a diminuição de vieses na
análise.
A segunda empresa do grupo foi fundada há seis anos em parceria com dois
novos sócios: Daniel e Flora. Os dois dividem a gestão da empresa atualmente e
atuam especificamente em projetos relacionados a risco, como gestão de risco,
imagem, compliance22, risco de crédito, entre outros. É importante ressaltar que estes
dois sócios não fazem parte da sociedade da primeira empresa, mas consideram-se
do mesmo grupo organizacional, uma vez que os três sócios da primeira empresa são
sócios desta. Sendo assim, a segunda empresa de educação para riscos possui cinco
sócios.
E, por fim, a terceira empresa do grupo, a mais recente, foi comprada há cinco
anos pelos mesmos sócios da primeira empresa (Lucas, Alexandre e Flora). Visando
se adequar e acompanhar as mudanças do mercado considerando a velocidade e a
tecnologia na educação, os sócios adquiriram uma empresa de educação digital que
desenvolve projetos unindo a educação à tecnologia. Sendo assim, atuam em dois
modelos diferentes: o primeiro com um portfólio de clientes diretos desenvolvendo
soluções como cursos online, infográficos, videoaulas, entre outros. E, segundo, com
projetos maiores atuando em parceira com as duas outras empresas do grupo
produzindo peças digitais para projetos presenciais.
Cada sócio hoje tem um papel como diretor de um negócio específico e o sócio
fundador atua como CEO (Diretor Executivo) das três empresas. Esta é uma
informação importante para frisar, uma vez que selecionamos apenas os executivos
das empresas como público-alvo do estudo de caso. Considerando o grupo, existe
atualmente uma rede de aproximadamente cinquenta colaboradores que trabalham
por tema e projeto. Sendo assim, não existem cargos fixos dentro das empresas com
exceção dos cargos administrativos.
Lucas
Sócio Fundador
Idade: 63 anos
Gênero: Masculino
Educação: Pós-Graduação
Experiências Profissionais: Vem de uma família sem recursos financeiros, começou
a sua carreira muito cedo como balconista de um bar. Foi conquistando novas
oportunidades na indústria metalúrgica e, por fim, em bancos multinacionais na área
de RH. Em um determinado momento, sentiu necessidade de abrir a sua empresa a
partir dos seus valores de liberdade e autonomia.
Objetivos de carreira: Já está há muito tempo à frente do negócio. Busca expandir a
empresa, porém entende que está em um momento de autorrealização. Já cumpriu o
seu papel e hoje faz parte da gestão das três empresas considerando deixar um
legado e manter o que construiu.
Desafios: Consolidar a perpetuação das empresas fazendo com que continuem
independente da sua gestão, criar uma linha sucessória e se afastar da empresa que
é a construção da sua própria trajetória.
Alexandre
Idade: 48 anos
Gênero: Masculino
Educação: Pós-Graduação
Experiências Profissionais: Vem de uma família sem recursos financeiros, começou
a trabalhar desde jovem em restaurantes. Em seguida, fez parte do exército o que o
ajudou a pagar os estudos e conquistar oportunidades em grandes empresas do
segmento de bebidas e bancos nacionais. Optou por deixar a carreira organizacional
pois estava sofrendo com o modelo de pressão e gestão.
Objetivos de carreira: Busca crescer e expandir o negócio do qual hoje é Diretor.
Está em um novo desafio pois não conhecia o “mundo digital” antes de assumir o
negócio. Também existe uma preocupação em fazer a gestão da equipe para que
possam crescer junto com a empresa.
Desafios: Seu maior desafio hoje é consolidar os resultados como diretor da empresa
que é a mais jovem do grupo. Existe uma necessidade constante de adaptação e
gestão de uma equipe fixa que também é um modelo novo em suas experiências.
Fabiana
Idade: 50 anos
Gênero: Feminino
Educação: Superior completo
Experiências Profissionais: Trabalhou em institutos de pesquisa, como voluntária
em organizações sem fins lucrativos e como professora em escolas construtivistas.
Foi buscar uma carreira que tivesse mais sentido e relação com os seus talentos.
114
Daniel
Idade: 40 anos
Gênero: Masculino
Educação: Superior Completo
Experiências Profissionais: Desde o início da sua carreira trabalhou em grandes
empresas no segmento de cosméticos, automóveis, bancos nacionais e
multinacionais. Saiu para empreender pois era contra o modelo organizacional
tradicional de horas, falta de autonomia e pouca possibilidade de equilibrar o trabalho
com a qualidade de vida.
Objetivos de carreira: Consolidar os resultados da empresa que é diretor, mantendo
a empresa e a rede de colaboradores ativa, posicionar o que a empresa quer ser no
mercado e continuar valorizando a qualidade nas entregas dos projetos. Outro
aspecto fundamental é manter a sua qualidade de vida.
Desafios: Trabalhar de forma mais integrada as outras empresas do grupo, continuar
crescendo sem impactar na satisfação do trabalho e da entrega e no equilíbrio entre
trabalho e qualidade de vida.
Flora
Idade: 38 anos
Gênero: Feminino
Educação: Superior Completo
Experiências Profissionais: Começou a trabalhar desde jovem pois sua família teve
dificuldades financeiras enquanto estava estudando. Trabalhou em lojas de shopping,
como professora de natação até que conseguiu uma oportunidade em um banco
multinacional. Passou por bancos nacionais e multinacionais muito nova e se tornou
gestora de uma operação. Optou por sair da carreira organizacional devido ao
sofrimento causado por excesso de responsabilidade e má gestão.
Objetivos de carreira: Gosta de se sentir desafiada e enxerga o trabalho como uma
diversão. Busca se provocar a todo o momento para melhorar a empresa e os
resultados. Exercer a liberdade no dia a dia a partir dos seus valores também é
fundamental.
Desafios: Manter as pessoas no centro do negócio no qual é diretora atualmente
mantendo o número, crescimento da empresa e os resultados e criar um ambiente
que reflita o que a empresa é.
115
Assim, a partir das entrevistas realizadas, selecionamos cinco eixos para a análise no
presente trabalho que nos ajudam a ampliar ou esclarecer como a carreira
contemporânea é vista pelos participantes: o sentido do trabalho, os valores que
motivam as decisões de carreira, o conceito de carreira, o conceito de propósito e a
influência dos ambientes neste contexto.
O que aparece com maior frequência nas dimensões abordadas quanto ao sentido do
trabalho está relacionado à necessidade de sobrevivência e à possibilidade de ganho
financeiro. Quatro dos cinco entrevistados relataram a importância do dinheiro
considerando que este é um aspecto fundamental, porém não o único. Discutiremos
a seguir a partir dos trechos selecionados das entrevistas quais são estes outros
fatores.
A partir do momento que a gente não tem perspectiva eu acho que o ser humano...
perde o sentido, então uma das coisas é de... atividades, de tarefas, de realizações,
de sonhos, de vontades enfim. A partir do momento que você perde perspectiva... eu
acho que a gente empobrece demais, então eu vejo, por exemplo, sei lá...
aposentadoria... eu acho que é um negócio que você pode até se aposentar, diminuir
o ritmo e tal, mas cara, não ter nada o que fazer, eu acho que você mata o teu... o ser
humano que tem em você. Então eu acho que o trabalho é uma forma de você...
satisfazer essa parte. A outra coisa é que a gente vive numa economia de mercado,
então infelizmente, gostando mais ou gostando menos, a gente precisa do trabalho
pra conquistar as coisas que a gente almeja. (Daniel, Diretor da Empresa de Educação
para Riscos)
Para Daniel, existem dois fatores prioritários em relação ao sentido individual que
encontra no seu trabalho. O primeiro associado à perspectiva ou a um horizonte e à
possibilidade de realizar sonhos. Em sua concepção, a perspectiva está relacionada
à própria condição de ser humano que quando não encontra um fazer acaba
empobrecendo. O segundo fator se relaciona ao dinheiro e à necessidade financeira,
porém algo importante de ressaltar é que condiciona o dinheiro à possibilidade de
realização destes sonhos. Portanto, o sentido do trabalho para Daniel nos parece que
é ter esta perspectiva e possibilidade de realizar os sonhos que precisam ser
financiados monetariamente. O dinheiro neste contexto é parte da finalidade e não a
finalidade em si.
116
A entrevista de Lucas, por sua vez, reflete um movimento sucessivo em que o trabalho
vai ganhando novos sentidos e se ampliando à medida que as necessidades vão
sendo satisfeitas.
Eu, quando estava no período de voltar para o Brasil, na Itália eu estava em uma
situação bastante difícil, a empresa não ia bem... eu tinha pouco trabalho, estava
endividado, a minha família estava no Brasil... estava devendo muito dinheiro, etc. (...)
aí chegou no final da apresentação, ele [DIRETOR DO BANCO MULTINACIONAL]
falou: “olha eu estou saindo da área de RH e eu queria te convidar para o cargo”. E
foi um grande dilema, porque isso naquele momento, resolveria grande parte dos
meus problemas, e aí meus valores foram colocados à prova. (Lucas, Sócio Fundador)
Neste momento, Lucas mesmo em um período financeiro difícil, escolhe não aceitar a
oferta de trabalho e voltar para o Brasil para fundar a empresa de educação
corporativa. Com essa decisão e sem o componente de segurança estabelecido,
renúncia a um emprego e ao status em uma organização e decide empreender, com
base no seu projeto, valores pessoais e autorrealização. Sendo assim, apesar da
narrativa lógica e sucessiva dos sentidos que o trabalho foi ganhando a partir de
conquistas por etapas, percebe-se um movimento e tomada de decisão baseada em
seus valores pessoais e necessidade de construir um projeto próprio para que
pudesse sentir-se realizado.
117
Como comecei a trabalhar desde que eu tinha 14 anos, para mim a vida não faz
sentido se não tiver trabalho. (Flora, Diretora da Empresa de Educação para Riscos)
Assim, o fazer compõe o sentido da própria vida integrado com outros aspectos e
dimensões da vida pessoal. Ainda em relação ao significado do trabalho, Flora diz
que:
“(...) eu nunca separei o trabalho como algo sério e o trabalho... e a diversão ficar fora
dele. o trabalho é diversão. (Flora, Diretora da Empresa de Educação para Riscos)
(...) meus pais se separaram, e quando eu voltei, porque eu fui morar com a minha
avó, fiquei longe da minha mãe e do meu pai... e aí quando eu voltei, a minha mãe
tinha conseguido se estruturar, alugou uma casa, meu irmão e eu fomos morar com
ela de novo... no primeiro mês em que a gente voltou, minha mãe virou para mim e
falou: “eu só posso garantir casa e comida! Se você quiser sapato, roupa nova,
dinheiro para tomar sorvete... não tenho, não tenho... você vai ter que trabalhar. (Flora,
Diretora da Empresa de Educação para Riscos)
“(...) o sentido do trabalho é que ele tenha sentido. E tem que fazer sentido né, tem
que ter um propósito... Acho que, na minha vida eu vivi vários momentos... talvez com
propósitos diferentes, mas o trabalho ele tem que ter algum sentido, e para mim... em
alguns momentos na minha vida esse sentido foi sobrevivência, talvez boa parte da
minha vida foi sobrevivência.(...) só que hoje eu enxergo o trabalho... o sentido do
trabalho para mim hoje, ele é de construir algo e ajudar... não gosto da palavra ajudar,
mas construir junto com outras pessoas. (Alexandre, Diretor da empresa de Educação
Digital)
Além disso, tal como Lucas, refere-se ao sentido do trabalho como propósito, ou seja,
uma outra palavra para o mesmo conceito. Também aborda a noção de flexibilidade
relacionada ao sentido do trabalho que se modifica com o tempo e pontua a
necessidade financeira como o primeiro sentido e que hoje está mais relacionado ao
compartilhar ou construir junto com outras pessoas. Em dado momento, Alexandre,
mesmo priorizando o ganho financeiro e sustento, também renunciou uma
oportunidade à medida que não era compatível com os seus valores pessoais:
O quanto eu ia ganhar. Sempre foi este o norte, porque eu nunca tive... nunca deitei
em berço esplêndido, então... eu comecei a trabalhar com 13 anos de idade [...] eu
gostava muito de história, mas eu sabia que se eu optasse por história ia ter uma
grande dificuldade de me manter, não vou nem dizer realizar profissionalmente, talvez
eu me realizasse profissionalmente aquela coisa de “ah estou fazendo alguma coisa
que eu amo”, só que isso nunca foi o mais forte para mim (...) claro que eu analisava
algumas coisas, por exemplo, na [CITA O NOME DA INDÚSTRIA NO SEGMENTO
DE BEBIDAS ALCOÓLICAS] eu fiquei dez meses, não aguentei porque aquilo não
118
me, não... a estrutura em si, a dinâmica da empresa, por mais que eu ficasse lá [e] eu
fosse crescer lá dentro, aquilo não servia para mim, então eu buscava a realização
financeira, mas o negócio tinha que fazer algum sentido para mim. (Lucas, Sócio
Fundador)
Sendo assim, é preciso que o ganho financeiro esteja alinhado ao sentido e valores
individuais mesmo quando este é a prioridade. Um trabalho capaz de apenas suprir a
necessidade de sobrevivência e ganho financeiro não faz sentido.
A partir das análises dos trechos das entrevistas, podemos perceber que o sentido do
trabalho está intimamente relacionado à necessidade financeira, aos valores
individuais e à possibilidade de agir no mundo, ou seja, compartilhar este sentido do
fazer. Também é importante ressaltar a mudança do sentido do trabalho com o tempo,
assumindo a flexibilidade e mudança do próprio indivíduo e modificando o que faz
sentido a partir das suas experiências.
Durante a entrevista com Lucas, sócio fundador da empresa, ele deixa claro a
importância dos valores no processo de decisão de carreira:
O desafio mais angustiante que você tem que decidir na sua vida são aqueles desafios
onde colocam em jogo os teus valores. E muitas vezes você ter que renunciar, porque
o desafio não é a decisão que você toma, é aquilo que você renuncia, isso que é a
coisa mais difícil. E quando coloca em jogo os teus valores, é que você testa
efetivamente aquilo que te move. (Lucas, Sócio Fundador)
Sendo assim, para que possamos compreender como estes valores influenciam o
sentido do trabalho e as decisões de carreira, faremos uma análise do que motiva ou
motivou as decisões de carreira dos participantes baseada nos valores individuais.
119
Desde que eu entrei na carreira corporativa, tinha muita coisa boa, mas tinha assim
esse enlatado... das nove às seis, do horário, do... sempre... e isso me... sempre
gerava questionamentos (...) Mas sempre dava uns altos e baixos, porque tinha a
parte muito legal, mas tinha a parte do mundo corporativo que às vezes era muito
desgastante, muita politicagem... às vezes falta de autonomia, às vezes coisas...
enfim... coisas que eram muito engessadas... muito corporativo. Mas é uma escola,
eu tenho uma... uma percepção minha que eu acho que para todo mundo, mesmo
aqueles que são empreendedores natos... que cara... seria obrigatório ter uma
vivência em uma empresa grande. Acho que a gente aprende muita coisa. (Daniel,
Diretor da Empresa de Educação para Riscos)
Após passagem por diversas empresas de segmentos diferentes, Daniel optou por
sair e empreender. Diante desta escolha de carreira, podemos compreender que
apesar da experiência de aprendizado que o motivava, existia um valor relacionado à
qualidade de vida. Inclusive, quando se refere ao engessamento do modelo e da
pouca flexibilidade usa a expressão “muito corporativo” como um adjetivo, para
expressar a sua insatisfação com a dinâmica e formato do trabalho. Podemos associar
também outros valores que contribuíram para esta decisão como a autonomia e
liberdade visto que o horário “enlatado” reflete esta baixa possibilidade de realizar o
trabalho gerenciando o seu tempo e dividi-lo com outros interesses. Assim,
independentemente do crescimento, reconhecimento e ganhos financeiros, o trabalho
conflitava com valores fundamentais para Daniel. Portanto, direciona a sua carreira
para projetos que o permitam equilibrar a qualidade de vida, autonomia e liberdade:
São coisas que assim, eu sempre valorizei... sempre... então talvez a minha carreira
foi sendo direcionada para essas coisas que permitiam isso né. (Daniel, Diretor da
empresa de Educação para Riscos)
Acho que três coisas foram fundamentais e são fundamentais ainda hoje: a primeira,
independência né, eu sempre fui um espírito livre e em determinado momento eu
entendi que na empresa eu nunca controlaria a minha felicidade. Eu sempre estaria
condicionado a alguém ou a uma estrutura, e é correto que seja assim, [o] que não
me permitiria ser o protagonista da minha própria história, dos meus acertos e dos
meus erros. Então a questão da independência foi uma questão fundamental. Um
outro aspecto além da independência, acredito que foi propósito né, quer dizer, a
empresa, no mundo corporativo eu no máximo conseguia compartilhar dos propósitos
da empresa, mas nunca perseguir os meus próprios propósitos, o que significava... e
o que eu queria fazer né, e o que era a minha missão, o que eu entendia que era a
minha missão na... na minha vida... na minha vida aqui. E esse propósito era junto
com a independência era ser o responsável pela minha felicidade e pela minha
infelicidade né, então a ideia era ser sujeito da minha própria história e não objeto de
uma grande estrutura, de uma corporação etc. E o terceiro aspecto, é a questão da
humanidade, de poder criar relacionamentos verdadeiros e autênticos. Não precisar
fazer o jogo corporativo, não precisar fazer o jogo de carreira... não precisar fazer o
jogo político né, poder ter relacionamentos abertos e verdadeiros. Ser autêntico, me
propiciava liberdade e a liberdade me propiciava ser autêntico. Então essas três
coisas é que me motivaram a correr mais risco e deixar todas as comodidades, as
seguranças, e até sacrificar um pouco aquelas necessidades básicas de segurança
etc. (Lucas, Sócio Fundador)
Mais uma vez, ressaltamos aqui a abordagem do propósito confusa entre valores e
missão e objetivo (noção de finalidade). Lucas aponta três fatores determinantes para
a sua decisão de carreira sendo o segundo o propósito. Assim, enquanto fala dos
valores que suas decisões estavam pautadas, também explica seu desejo de
“perseguir” o seu próprio propósito. Assim percebemos a noção de finalidade ou
objetivo relacionada ao conceito. Em seguida, relaciona o propósito a sua missão.
121
Para Flora, existe também o valor de qualidade de vida e liberdade, porém associados
aos desafios e às conquistas:
Chegava nos dois anos, dois anos e meio, eu já começava a ter uma coisa assim que
parecia que eu já tinha feito o que deveria ser feito... eu não tinha mais o que ser
conquistado. Era um... e eu comecei a perceber, quando eu mudei de emprego, que
esse era o prazo, era um impulso para uma novidade sabe? (...) é diferente de você
ser dono do seu negócio, porque sendo dono do seu negócio, você fica. Porque você
mesmo se provoca desafios a todo momento, agora você ser o trabalho formal (...) do
jeito que eu vivi, horário para entrar... todas aquelas responsabilidades, aquela coisa
corporativa, aquela hierarquia toda... aquilo sempre me incomodou para falar a
verdade. Eu sempre achei um grande teatro... muitas vezes para eu não ficar mal, eu
olhava assim e ficava imaginando as pessoas estão dentro de um teatro (...) acho que
hoje eu tenho o trabalho dos meus sonhos, por conta da qualidade de vida que eu
tenho e por conta desse exercício de liberdade né? (Flora, Diretora da empresa de
Educação para Riscos)
Podemos observar que existe, para Flora, uma necessidade de mudança e um valor
associado a novidade e conquistas. Também aparece em seu relato a insatisfação
com as organizações em que passou associada à hierarquia e à baixa possibilidade
de liberdade e qualidade de vida. Este teatro a qual se refere também nos remete ao
discurso de Lucas, trazendo a impossibilidade de ser autêntico no ambiente de
trabalho. Sendo assim, as decisões de carreira de Flora foram tomadas considerando
a possibilidade de um novo desafio, ou a conquista de algo novo, o que podemos
associar a um valor de curiosidade e vontade de aprender coisas novas.
Os valores não impactam apenas nas decisões de carreira, mas também se articulam
e definem a própria existência de sentido atribuída ao fazer.
Eu comecei a ter crises existenciais do trabalho, em relação ao trabalho. Por quê? Foi
ali que deixou de ser diversão (...) eu fui head de cobrança com 24 anos... eu não
estava preparada, sinceramente... eu não tenho vergonha de falar... erraram! Não era
para eu ter ido para aquela cadeira naquele momento, e eu fui com muita
insegurança... aquilo foi me pressionando muito, sabe, por dentro... foi horroroso... foi
horroroso. E aí, eu tive aquela crise de... eu lembro que eu fui entrar em uma reunião
e meu coração começou a acelerar tanto que eu achei que eu estivesse tendo um
ataque cardíaco... e eu fui pro hospital. (Flora, Diretora da empresa de Educação para
Riscos)
Uma vez que Flora começa a vivenciar situações de sofrimento em relação ao trabalho
e sentir a pressão e hierarquia como predominantes no seu dia a dia, perde a diversão
que é a própria definição do sentido do trabalho usada por ela como já ressaltado no
eixo 1 de análise do sentido do trabalho. Além de perder o sentido, essa experiência
também gera um impacto na saúde com diversas consequências e desdobramentos
122
A hora que eu tenho que ficar carregando saco de lixo, carregando caixa de frango,
selando carne no negócio sendo queimado com óleo, não sei o que... eu falei isso
aqui não é para mim, eu tenho uma inteligência... apesar de que na época eu tinha 16
anos, mas aquilo para mim era uma agressão né?! (Alexandre, Diretor da empresa de
Educação Digital)
Esta reflexão nos permite reconhecer o uso da inteligência no que se faz como um
valor fundamental tanto que, uma vez não utilizada, é considerada por Alexandre
como uma agressão. Entendemos, portanto, que quando um trabalho fere nossos
valores pessoais e a autoavaliação da própria capacidade individual, existe um
impacto direto no sentido do fazer e no grau de sofrimento que o indivíduo experiencia.
Outros valores que Alexandre prioriza estão associados à honestidade e à
meritocracia:
Um outro valor que para mim... também impactou nas decisões profissionais é
honestidade... politicagem... a politicagem no sentido de um querer puxar o tapete do
outro, ou seja, eu vou subir independentemente do que eu preciso fazer para isso,
então isso eu vi muito no [CITA O NOME DO SEGUNDO BANCO EM QUE
TRABALHOU]... tinha muito essa questão, não tinha tanto a meritocracia... tinha
muito... tinha também, mas essa coisa da politicagem sem necessariamente envolver
competência passou a me incomodar e passou a me incomodar a limitação que a
empresa dá, eu trabalhava na área de marketing e eu lembro da sensação de que o
meu... eu cheguei parecia que eu estava dentro do universo e as paredes começaram
a se fechar, e eu comecei a poder usar pouco novamente as capacidades que eu
achava que eu tinha. E aí eu comecei a me limitar... quando eu percebi que e comecei
a me limitar e comecei a viver a mesquinhez do mundo corporativo, e da hierarquia e
cheguei no momento de ser confrontado não pela minha competência, mas
simplesmente por uma questão hierárquica, isso pegou. (Alexandre, Diretor da
empresa de Educação Digital)
é importante a gente sobreviver como empresa, é obvio isso tem sempre que olhar,
mas eu vou passar por cima de certas coisas? Não vou, então... né... (Fabiana,
Diretora da empresa de Educação Corporativa)
Com uma carreira menos organizacional, Fabiana relata experiências de uma outra
perspectiva. Formada em química, teve durante alguns anos uma carreira como
pesquisadora, professora de escolas construtivistas e, após o nascimento do seu filho,
se dedicou ao trabalho voluntário, só depois de alguns anos que se tornou sócia da
empresa. Mesmo assim, impõe um limite relacionado aos seus valores no trabalho,
questionando o faturamento e resultado da empresa em equilíbrio com os seus
valores.
Durante sua trajetória teve a oportunidade de fazer diversos cursos sobre liderança e
trabalhos de autoconhecimento. Em um dos cursos, Fabiana relembra:
foi muito interessante dois exercícios que me impactaram muito, que foi o desenho da
linha da vida... você vai desenhando... e você vai “linkando” o que, quais são os
valores né, que alimentaram aquela subida ou aquela descida tal... e aí acabou ficando
muito claro para mim que eu tinha embasado a minha vida em crenças e valores que
não eram meus. (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa)
A análise deste eixo nos permite compreender a influência dos valores individuais na
carreira e os limites pessoais uma vez que todos entendem o dinheiro e necessidade
de sobrevivência como um fator importante, porém, deixam claro que existem alguns
valores dos quais não abrem mão. Assim, optam por flexibilizar os ganhos, status,
possibilidades de crescimento de carreira e segurança para priorizar a qualidade de
vida, liberdade, autonomia, autenticidade, inteligência, meritocracia entre outros,
considerando o limite e impacto que estes valores possuem no sentido do fazer de
cada um. Também podemos inferir que, devido às experiências, sejam elas no mundo
corporativo ou em contexto de cursos, palestras e trabalho voluntário, é possível
aprender sobre si e ter consciência do que é importante individualmente.
A percepção dos participantes em relação à carreira é algo fluido, que vai acontecendo
e sendo desenhada conforme as experiências e o tempo que se dedicam a atividades
produtivas. Portanto, uma primeira visão é que não está apenas associada a um
planejamento ou sucessão de escadas já desenhadas pelas organizações.
Daniel fala da sua trajetória de carreira a partir deste movimento contínuo, não
direcionado que ao mesmo tempo que promove novas oportunidades e experiências,
também leva ao aprendizado à medida que aprende sobre si e sobre a atividade.
Nunca muito direcionei qual seria o trabalho e tal, as coisas foram acontecendo (...)
uma vez bancário... fui... sendo bancário... e aí as coisas foram acontecendo. Falar:
“você direcionou para a área de risco?” não direcionei para nada, eu entrei na área de
risco e foi assim no cartão [CITA O BANCO ONDE TRABALHOU], aí saí do [BANCO
ONDE TRABALHOU] e fui para o [OUTRA EMPRESA DO SEGMENTO BANCÁRIO],
eu entrei na área de cobrança, estavam estruturando a área de cobrança inteira,
contratando sistema, implantando sistema de cobrança, implantando política, regra,
não tinha nada... contratando empresa, terceirizando... enfim, foi uma grande escola
(...). (Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos)
Entrei como analista júnior, depois sênior, pleno, sênior, blá-blá-blá aí fui pra analista
sênior... fui pra crédito... aí de lá eu fui pra microcrédito, onde fiquei dois anos e aí eu
já fui efetivado, fui promovido como gerente do microcrédito... para estruturar toda a
parte de cobrança do microcrédito... e aí... depois me chamaram de volta para ser
gerente da área de cobrança (amigável), que era a área onde eu tinha feito toda a
parte inicial de analista (...). (Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos)
Neste momento, Daniel reflete sobre a carreira corporativa usando a perspectiva mais
tradicional associada à sucessão de posições hierárquicas. Reflete o processo de
início como analista e sua trajetória ascendendo a posições de maior prestígio e status
dentro da empresa. Essa subida, como uma escada, nos dá a sugestão que o modelo
das empresas ainda é prioritariamente organizado, dividido e estruturado em posições
sequenciais e, à medida em que o indivíduo avança, agrega novas responsabilidades
a sua função. A partir da decisão de empreender, Daniel reflete também sobre as
dificuldades de romper com o modelo tradicional de carreira e se adaptar a um novo
contexto:
Os primeiros seis meses eu demorei muito para me adaptar né, porque mudou
completamente... uma hora você ganha ou não ganha nada, uma hora você fatura,
[outra] hora você não fatura... muito sazonal né... a gente ainda não tinha acertado
muito a mão de como era o modelo da consultoria (...) E aí eu me boicotava muito,
entendeu? Porque tinha horas que você tem tempo livre, e aí eu ao invés de aproveitar
esse tempo livre, eu ficava martelando o dedo falando “cara, mas poxa, que
vagabundagem, quarta-feira à tarde, e eu aqui fazendo “nothing”, e nesse horário eu
deveria estar trabalhando né, então teve duas coisas que foram difíceis assim, uma
coisa é você saber equilibrar esse seu tempo livre, não boicotar a você mesmo e a
125
outra coisa é a questão financeira né, porque assim... durante os 12 anos que eu
trabalhei em banco, todo dia 25, sei lá, dia 28 o dinheiro cai, o plano de saúde está lá
(...) e na consultoria não é bem assim... então isso para mim foi um tempo de conflito
assim (...) então é um grande aprendizado de empreendedor. (Daniel, Diretor da
empresa de Educação para Riscos)
Eu tenho vontade de ter outro negócio ou outros negócios, só que de novo, eu não
vou entrar em nenhum negócio que não me satisfaça, não quero entrar em nada que
seja oportunidade financeira, oportunidade de dinheiro (...) pode até ser que eu queira,
hoje eu não quero. E uma outra coisa que eu queria muito, que até hoje eu não
consegui me organizar para... e aí às vezes é de talvez de dedicar tempo, de... que é
como é que a gente pode contribuir para pessoas que não têm esse acesso... né...
que... como que a gente pode fazer algum voluntariado... e eu acho que a gente
trabalha numa empresa de educação e é onde o nosso país falha... então como a
gente poderia contribuir, como a gente conseguiria doar um pouco do que a gente tem
aqui, dentro dos temas que a gente tem... para que as pessoas possam empreender
melhor. (Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos)
Assim a atividade que realiza hoje precisa fazer sentido para Daniel além de existir
um desejo de impactar outras pessoas compartilhando aquilo que aprendeu durante
a sua trajetória profissional. Neste relato também percebemos atividades paralelas e
complementares, sendo que não existe mais apenas uma atividade considerada como
carreira, mas diversas atividades coexistindo. Isso pois Daniel já é sócio de um
negócio, mas tem vontade de abrir outros negócios alinhados aos seus valores e que
façam sentido para ele além de dedicar parte do seu tempo para projetos voluntários
compartilhando conhecimento e preocupando-se em como melhorar os negócios a
partir da educação, propiciando a mais gente empreender com sucesso. Como
resultado da carreira, espera hoje não apenas ganhar dinheiro com o que faz, mas
estabelecer relacionamentos verdadeiros e impactar as pessoas e ambiente ao seu
redor.
Este raciocínio de uma carreira mais aberta também está presente no relato de Lucas
que compreende a carreira plural como um fator determinante e reconhece toda
126
atividade como carreira. Em um dado momento da entrevista, após contar sobre sua
trajetória e como as coisas foram acontecendo diante do seu momento, seus valores
e atividades, explica a carreira como um processo que depende mais do estilo de vida,
das oportunidades que o indivíduo escolhe, dos valores individuais do que de uma
organização:
Por que que eu estou contando tudo isso? Porque tudo isso é carreira, né? Então
carreira é você olhar as oportunidades que te oferecem, ver se essas oportunidades...
elas... você consegue capturá-las, ver se elas estão dentro dos seus valores,
propósitos, da tua independência e aproveitar esses momentos, então assim... aquela
pergunta que você me fez no início de que carreira está ligada ao mundo corporativo
e você estar dentro de uma estrutura organizacional, não necessariamente. Todo esse
processo é carreira (...) Você antes de fazer uma opção de carreira, está fazendo uma
opção de estilo de vida e essas coisas hoje, elas estão sobrepostas né, o teu estilo de
vida, ele determina a tua carreira e tua carreira determina o teu estilo de vida (...).
(Lucas, Sócio Fundador)
Para exemplificar esta realidade, dá o exemplo de uma pessoa com quem trabalhou
e aprendeu esta possibilidade da carreira construída a partir de diversos projetos
alinhados aos valores e desejos e sentido da atividade para o indivíduo:
Uma pessoa muito sábia me ensinou uma coisa muito importante, que é a questão da
pluralidade, e no Brasil em termos de carreira, isso não é algo que é muito pensado,
muito planejado. Então você fica 30, 40 anos dentro de uma empresa, de uma
atividade, dentro de um trabalho e pensa muito pouco em alternativas profissionais
para isso. Depois você tem seus hobbies, tem sua família, mas não é isso que estou
dizendo, é de outras atividades profissionais. Você só vai pensar em outra atividade
profissional quando essa acaba, e a pluralidade hoje é de você ter muitas mais
atividades né, de você ser um empresário e em outro aspecto você tem uma atividade
acadêmica, em outro aspecto você... enfim... eu sempre dou esse exemplo, ele é um
empresário e dá consultoria, é também músico. Então na mesma agenda que ele tem
lá para os trabalhos, ele tem uma agenda como músico. Além de músico ele restaura
móveis venezianos do século XV, tem momentos que ele está restaurando móvel,
porque essa é a agenda dele. Então essa pluralidade é saudável. (Lucas, Sócio
Fundador).
Além disso, como fundador, Lucas reflete que antigamente considerava a carreira
mais aberta e flexível uma opção para quem estava diante de um momento de vida
de encerramento de ciclo profissional, os consultores costumavam estar aposentados,
ou em processo de saída do mundo corporativo. Com o tempo, percebeu que houve
um grande interesse de pessoas mais jovens por este modelo de carreira. Refletindo
os motivos que levam pessoas mais jovens a buscarem uma carreira mais aberta
mesmo com a incerteza relacionada aos ganhos, segurança e status explica, a partir
do seu ponto de vista, que:
As pessoas querem liberdade, querem ser donos do seu próprio tempo, querem ter a
opção de em uma terça-feira ir nadar sem ter que dar satisfação e justificar para o seu
chefe que isso é uma coisa boa para sua saúde, sem receber punição por isso, e mais
que qualquer coisa, principalmente quem vem do mundo corporativo, sem ter culpa
né...( Lucas, Sócio Fundador)
127
Essa carreira de ser dono, ela passa pelo quê? Gerir pessoas, fazer a gestão de
pessoas eu já li algumas coisas, mas para mim, o que sempre ficou marcado que é
fazer a gestão das pessoas com sucesso é essas pessoas crescerem (...) hoje eu sei
que eu tenho que fazer essa empresa dar resultados e isso só vai funcionar se os
talentos se manifestarem e também se eu conseguir trazer os talentos que eu
preciso... e aí tem uma série de coisas, mas o desafio da minha carreira eu acho que
é isso... e talvez isso vai me... me dar as condições de ser de fato um... ser de fato o
gestor desse negócio... eu tenho esse desafio. (Alexandre, Diretor da empresa de
Educação Digital)
Essa carreira começou a tomar forma... essa nova carreira. Então eu diria que eu sai
de um empregado para ser um cara livre que era um consultor, e perder um pouco o
porquê... minha formação era marketing, eu fiz pós-graduação em marketing... de
repente eu virei um professor de sala de aula... eu virei um desenvolvedor de
conteúdo, mas aí eu comecei a ver que eu era um comercial, que eu era um
coordenador, que eu era um gestor, e aí isso começou a tomar forma.(...) Então, isso
começou a tomar forma dessa transição, então demorou... demorou. Mas,
obviamente, que depois talvez de uns dois anos, três, eu sabia que eu não seria mais
empregado formal, eu sabia que para lá eu não voltaria, mas eu não tinha ainda muita
certeza do que eu era. (Alexandre, Diretor da empresa de Educação Digital)
também deixam claro que estão felizes com esta opção de carreira e não abririam
mão se tivessem a oportunidade.
Com o passar do tempo, eu tive momentos de crise... porque faltou trabalho, poxa,
porque eu olhava e via os que trabalhavam comigo e falava: “putz e se eu tivesse
ficado lá hein? Eu ia estar ganhando...” Eu tinha uma previdência privada lá no [CITA
O NOME DO SEGUNDO BANCO EM QUE TRABALHOU]... eu tive momentos de
crise financeira e nessas horas você não tem estabilidade né. Não que no mundo
corporativo você tenha, mas é diferente... quando você está empregado, você ganha
décimo terceiro, férias... auxílio... Eu banco meu plano de saúde e dos meus filhos há
16 anos e não é pouco, então eu aprendi a ser independente nesse sentido, só que
demorou para que, da coisa de eu ser o cara que trabalha em casa, que não tem
horário e não sei o que, para de repente o cara que não sabe se escolheu bem ou se
tomou a decisão certa. (Alexandre, Diretor da empresa de Educação Digital)
Acho que para mim a carreira é a forma como você se expressa, uma das formas
como você se expressa no mundo (...) eu me lembrei muito da [CITA O NOME DE
UMA ORGANIZAÇÃO COLABORATIVA SEM FINS FINANCEIROS]... que uma das
primeiras reuniões estava todo mundo em transição de carreira né, e eu achei muito
engraçado, porque eu estou em transição de carreira e tinha 30 pessoas e todo mundo
estava em transição de carreira... e eu não sei se essa palavra é uma palavra legal,
sabe? Porque eu acho não existe transição de carreira, existe carreira né, então
assim, hoje você está aqui... não tem transição... não precisa pensar né... não sei se
porque o meu movimento foi muito... sem planejar, é engraçado isso, foi meio não
planejado... meio assim, eu tenho talvez essa visão, mas cara, carreira é aquilo que
você faz (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa).
Acho que o grande indicador do sucesso é a minha serenidade né... quando eu estou
serena, quando eu estou... a harmonia que eu tenho com o meu entorno, com os meus
relacionamentos... e quando eu falo relacionamento, não é só com as pessoas, é
relacionamento com o trabalho, é relacionamento com a natureza... quando eu sinto
que essa harmonia ela está acontecendo... essa leveza... eu sinto que eu tenho
sucesso (...). (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa)
129
Fabiana ressalta esta possibilidade de estar conectada não apenas com as relações
e pessoas, mas também com a natureza como o resultado esperado da sua carreira.
Sendo assim, prioriza a serenidade e harmonia com o entorno e associa este resultado
como ter sucesso na carreira. Diferentemente dos outros discursos analisados até
aqui, refere-se ao sucesso como um estado de equilíbrio, porém estamos também
diante de uma fala em que a carreira se mostra intimamente ligada ao estilo de vida,
uma vez que as decisões e opções por uma carreira mais aberta e flexível, para
Fabiana, permitem este equilíbrio. Isso nos mostra o quanto a carreira é subjetiva à
medida que cada indivíduo interpreta a partir dos seus valores, experiências e
aprendizado o que consideram sucesso e priorizam em relação as suas decisões.
E aí tudo foi indo... não é que eu... eu nunca na minha vida, em nenhum momento, eu
pensei assim... olha, nunca! Na parte de trabalho... “eu quero fazer isso” e fui fazer,
nunca! Tudo foi acontecendo (...) e comecei a trabalhar no [CITA O NOME DE UM
BANCO MULTINACIONAL EM QUE TRABALHOU], e foi a maior escola da vida e
todas as pessoas que trabalharam comigo no [REFORÇA O NOME DO BANCO
MULTINACIONAL EM QUE TRABALHOU], na área de risco, quando a gente se
encontra, a gente fala: “aquilo que a gente viveu lá, não existe em lugar nenhum”,
porque não parecia trabalho, era demais (...). (Flora, Diretora da empresa de
Educação para Riscos)
Quando decidiu sair do banco em que trabalhava e pedir demissão após um período
de sofrimento, reflete sobre o processo de busca de uma nova atividade que fizesse
sentido e deixa claro a sua necessidade de colocar em prática tudo o que havia
aprendido na sua trajetória até o dado momento.
Para que este projeto fosse concretizado, Flora também reflete o processo de
autogestão e desenvolvimento de novas habilidades e competências que precisou
buscar ou aprender:
130
Do que pudemos perceber em relação aos relatos dos participantes sobre a carreira
contemporânea é que os resultados reconhecidos não são mais os mesmos da
carreira tradicional em que uma carreira de sucesso é medida pelo status e pelo
reconhecimento financeiro. Outros fatores ou recompensas estão presentes
atualmente como a qualidade de vida, o equilíbrio, o sentido do que se faz, a liberdade,
a harmonia, entre outros. Também precisamos considerar o processo de aprendizado
como uma questão central na carreira contemporânea. À medida que se deparam com
situações ou problemas complexos, que os indivíduos não possuem repertório,
buscam as competências e habilidades que lhes faltam. Até pela pluralidade das
atividades que realizam, muitas vezes o aprendizado da faculdade ou que o preparou
para determinada atividade não é suficiente. Também pela velocidade da informação,
o aprendizado é contínuo e autodirigido nas carreiras contemporâneas.
acho que é contribuir nessas três frentes: de formar time, de diversificar cliente, de...
e tem essa parte de administrativo, de financeiro que é uma coisa que eu tenho muita
facilidade e gosto. (Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos).
Como que eu poderia... são coisas que estão aqui dentro de casa... coisas que, sei
lá... gestão de risco, gestão financeira, gestão de negócio... um monte de conteúdo
que a gente fez já para grandes empresas, e que poderiam ser perfeitamente
adaptados para a turma que está querendo empreender... desde a molecada jovem,
que tem estudo, que tem acesso, mas que está... sei lá... que não teve esse
direcionamento... até pro pessoal que não tem acesso a nada, que é um
empreendedor natural. (Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos)
Existe, assim, um movimento a partir dos seus valores que influenciam no processo
de decisão de carreira, que reflete no autoconhecimento em relação aos aprendizados
das funções e habilidades que possui, como o relacionamento com o time e com os
clientes, a facilidade para os cálculos e área financeira e, por fim, a capacidade de
agir afetando os ambientes e relações tanto do seu trabalho como a partir de um
projeto futuro de compartilhar com a sociedade aquilo que aprendeu.
O propósito é, portanto, a consciência da transformação em movimento que permite
refletir os aprendizados e significados que experimentamos a partir dos nossos
valores e contribuem para uma nova tomada de decisão com mais sentido para o
indivíduo.
Hoje, a minha visão da carreira do empresário é você criar uma estrutura onde você
consiga ter pessoas que compartilhem esse propósito, onde você tenha mais trabalho
para que mais pessoas possam compartilhar isso né, então hoje qual é o meu objetivo
de carreira? É fazer com que minha empresa cresça, que mais pessoas participem
disso, que mais pessoas compartilhem dos valores que essa empresa se propõe.
(Lucas, Sócio Fundador)
Bom, com o desenrolar da tua experiência profissional eu acredito que o trabalho vai
mudando de sentido, vai mudando de propósito. (Lucas, Sócio Fundador)
Então... olha, acho que o meu propósito... ele passa por... entregar aquilo que eu me
propus. Cara para mim é um propósito, porque eu decidi em algum momento da minha
vida que eu queria constituir uma família, e, com tudo que isso implica e eu não tinha
ideia do que isso implicava. Eu tenho um propósito ali, porque eu tenho pessoas que
dependem de mim, mas que também estão sendo formadas por mim, estão também
me formando... Tem uma troca... a relação (...) Somado a esse propósito eu tenho um
outro propósito que é eu ter o que eu chamo de realização pessoal. O que é hoje a
minha realização pessoal? É a banda que eu tenho. O meu propósito é ser bem-
sucedido e ter sucesso no que eu faço para que também aqueles que estão a minha
volta, e que compartilham comigo isso também tenham sucesso (...) propiciar um
ambiente de trabalho com propósito, de potencializar o que existe de bom nas pessoas
(...). (Alexandre, Diretor da empresa de Educação Digital)
Diante deste relato, percebemos que tanto a família quanto a realização pessoal que
atribui à banda, como também um ambiente de trabalho que permita compartilhar e
potencializar as pessoas, são propósitos que contribuem para que este processo de
transformação e a consciência o impulsionem a uma vida com mais sentido. O
propósito, portanto, não é o objetivo ou a finalidade de uma ação, mas o processo de
refletir e se tornar consciente das suas experiências e do que valoriza, dos seus
aprendizados e compreender o significado de cada um, por exemplo, tocar na banda
significa para Alexandre realizar-se pessoalmente. Assim, a capacidade de colocar
em ação estes significados, aprendizados e experiências refletem os propósitos de
carreira de Alexandre e contribuem para que encontre mais sentido no seu fazer, nos
ambientes que está inserido e nas suas relações.
133
Então... tem gente que confunde o propósito com missão, com visão... eu também não
sei muito qual é o conceito de propósito, eu também não sei te dizer. Eu só sei dizer
para você da maneira mais simples possível, eu quero continuar esse meu trabalho,
que não é trabalho... é a vida, é a minha vida! Desse jeito, onde eu consigo ter a minha
qualidade de vida... consigo trabalhar com... fazer coisas que eu gosto. (Flora, Diretora
da empresa de Educação para Riscos)
Também se refere ao propósito como um fluxo, um movimento que faz parte do dia a
dia e da própria vida explicitando uma relação direta com a motivação. Podemos
entender assim que quanto mais temos consciência deste processo de transformação
(as experiências e valores, o significado dessas experiências e a motivação para agir),
mais sentido encontramos na vida. Este motivo para agir no mundo refere-se à própria
capacidade de colocar em prática as experiências e significados afetando os
ambientes e relações inseridas neste contexto.
então... acho que às vezes a gente fica complicando muito para definir o que é o seu
propósito, mas é a coisa mais simples do mundo! É o dia a dia né... aquilo que te faz
levantar da cama todos os dias e vir aqui, trabalhar... e se você não tem essa emoção
diária, você não tem propósito nenhum, então o propósito nasce na hora que você
abre os olhos... você está na sua cama, acorda, abriu o olho, é ele que te faz levantar,
escovar os dentes, tomar o banho e ir para o mundo né... e ir para o mundo. (Flora,
Diretora da empresa de Educação para Riscos)
essa coisa do propósito, do porquê eu estou fazendo isso né... (Fabiana, Diretora da
empresa de Educação Corporativa)
Assim, relembra que em um dado momento da sua trajetória tinha muito claro o seu
propósito, inclusive em uma definição escrita e formulada. Com o tempo, passou a
desconstruir esta ideia de que o propósito era uma definição e que estaria mais
associado ao movimento.
(...) a palavra principal do meu propósito, que eu vi naquele momento era a questão
do servir... e que depois ao longo dos anos eu fui entendendo o que era esse servir
né... num primeiro momento eu falei: “ah!” então fui fazer ações voluntárias e o servir
não era isso, o servir, para mim hoje não é isso... o servir é o estar, hoje... eu nem uso
mais essa palavra servir... é essa energia de estar em movimento né... o trabalho estar
acontecendo porque ele sai de dentro para fora, e volta para dentro e para fora... é
interessante essa sua pergunta, porque... (...) eh... hoje, para mim, eu não tenho –
antes até uns anos atrás eu tinha um propósito muito definido até com uma frase...
né, assim: “este é meu propósito”... cara, hoje eu só sinto que eu estou dentro do meu
propósito de vida, vivendo... sabe... e vivendo... e vivendo! (Fabiana, Diretora da
empresa de Educação Corporativa)
134
Esta reflexão sobre o movimento do propósito fez com que Fabiana associasse a
imagem de um coração pulsando. Explica que tem menos a ver com a emoção e está
mais associada ao ritmo:
defender o crédito que você estava propondo para determinada empresa, com uma
série de análises e balanços... em um certo momento, tinha uma empresa grande,
uma empresa de papel que me pediu uma linha de crédito. Precisavam tomar uma
linha de crédito grande... eu fiz a defesa no comitê e o comitê não aprovou o crédito...
Fiquei inconformado, defendi em todas as instâncias a aprovação de crédito e
finalmente foi aprovado... seis meses depois, por uma gentileza muito grande do
diretor financeiro da empresa, ele me liga domingo à noite dizendo: “como você
defendeu esse crédito de forma tão enfática para nós, eu tive a obrigação de te
comunicar em primeira mão que amanhã nós vamos pedir concordata”. E aí eu falei:
“meu, como é que vai acontecer agora? Eu vou ser mandado embora...” e eu
precisava muito daquele emprego, então eu falei assim: “o que é que eu vou dizer
quando me chamarem, como é que eu vou justificar a defesa que eu fiz desse
crédito?” e aí eu entrei em um processo de estudo etc. e criei uma nova modalidade
de análise de crédito (...) Quando me chamaram, eu fui lá mostrar para eles que eu
tinha defendido o crédito porque não existia uma análise desse tipo de componente.
E aí eu consegui manter o meu emprego, só que eu passei e fui designado para
ministrar esse módulo nos treinamentos institucionais do [BANCO MULTINACIONAL]
porque na época o Latin America Trainee Center era no Brasil, então todos os
treinamentos da América Latina saíam do Brasil e eles tinham um programa sobre
empréstimos problemáticos... e eu, durante um ano e meio, passei nos países onde o
[BANCO MULTINACIONAL] tinha [agência] na América Latina, contando a besteira
que eu tinha feito. Foi a minha punição, mas por outro lado foi o meu prêmio, porque
eu encontrei minha área, um negócio que eu adorava fazer, que era treinamento.
(Lucas, Sócio Fundador)
causa inclusive uma dificuldade em assimilar a proposta da atividade, uma vez que,
poucas pessoas tem a condição de escrever uma frase definindo a razão de sua
existência, resultando em ansiedade e falta de referência prática para concretizar esta
razão. Isso pois, apenas as experiências ou a reflexão sem a dimensão prática e
objetiva de transformar em ação não dá ao indivíduo a possibilidade de compartilhar
ou afetar os ambientes e relações que o permeiam.
Por fim, o propósito tem um impacto nas pessoas e ambientes por meio das ações
dos indivíduos e empresas. Para isso, analisaremos a importância do ambiente neste
contexto.
Algo que é importante salientar antes das análises das percepções dos participantes
é que todas as empresas compartilham o mesmo espaço, porém, a única empresa
que tem um espaço fixo de trabalho é a equipe de Educação Digital. Os outros
negócios usam esporadicamente em reuniões específicas as salas que existem e
ambientes disponíveis na casa.
Daniel, por exemplo, considera que não existe um espaço que identifique a empresa.
Considera a casa que a empresa está hoje confortável, porém sem uma identidade e
sem a possibilidade de compartilhar entre as pessoas da empresa. O fazer junto, estar
junto nos parece a questão que mais o incomoda em relação ao espaço.
A gente tem uma casa aqui... sei lá... é legal, é confortável... beleza... mas eu acho
que, acho que não nos identifica, como o que a gente quer, o que a gente quer mostrar
né (...) eu imagino algo mais contemporâneo, mais moderno, mais integrado, né... aqui
a gente está muito repartido, eu imaginaria um espaço muito mais amplo onde todo
mundo trabalha no mesmo espaço, com algumas poucas salas para, às vezes, as
reunião que a gente precisar fazer, ou poucos espaços reservados, um modelo muito
mais contemporâneo (...) e acho que a gente tem que ter um lugar de... ideias...
assim... uma copa... mas assim... bacana entendeu, que as pessoas se sintam
confortáveis de ir para lá... que seja para tomar um bom café...(Daniel, Diretor da
empresa de Educação para Riscos)
137
Esta noção do ambiente físico como um espaço de encontro também está no relato
de Lucas, sócio fundador que não via relevância nem necessidade de um espaço
físico de trabalho mas, à medida que a empresa se transformou em um grupo, passou
a compreender a necessidade dos brasileiros de “estar junto” ou usar o espaço como
um lugar de encontro.
Eu sempre fui muito reticente a questão de estrutura física né, pelo nosso próprio
trabalho... eu, na Itália eu fiz um curso de pós-graduação... onde o orientador da minha
tese era o [CITA O NOME DO SEU ORIENTADOR] e já na época... 20 anos atrás, 30
anos atrás, se falava que um dos aspectos do futuro do trabalho era em qualquer
lugar, a qualquer hora, sem a necessidade da presença física. E eu acredito que isso
é verdade. Eu continuo acreditando que o trabalho que nós desenvolvemos e com
toda a tecnologia que temos à disposição, o espaço físico não é determinante para a
realização do trabalho, mas também entendo hoje o espaço físico como um local de
encontro... onde as pessoas... o brasileiro precisa disso... nós temos diversos casos
na empresa de que as pessoas trabalhavam muito bem a distância, mas estavam mal
emocional e psicologicamente, porque nós precisamos nos encontrar. No Brasil é
importante o contato humano, o relacionamento, tomar cafezinho, falar da família,
olhar nos olhos, o toque... isso é uma necessidade nossa né....... Então eu vejo o
espaço físico muito mais como uma questão de encontro do que como lugar de
trabalho. (Lucas, Sócio Fundador)
(...) será que é intangível a gente calcular quanto que um espaço que combine com o
nosso espírito, com a nossa visão de mundo... será que eu tenho que calcular esse
investimento como eu calculo outras coisas? Porque isso vai trazer muito mais
sinergia, vai trazer muito mais proximidade com as pessoas... a gente está há anos-
luz com relação ao espaço (...) eu acho que a gente erra nisso... quando a gente fala
que é um grupo... nós não somos um grupo de verdade... a gente ainda trabalha de
maneira muito separada. (...) Eu acho que a gente teria um ganho enorme na nossa
satisfação, enquanto... o dia a dia do trabalho se a gente tivesse um espaço que
combinasse com o nosso jeito de ver o mundo, e nós teríamos uma outra coisa, a
gente poderia fazer coisas com os nossos clientes dentro do nosso espaço, que hoje
a gente não faz. (Flora, Diretora da empresa de Educação para Riscos)
para o colorido que está ao seu redor, porque isso inspira. Eu acho que seria um
espaço assim... eu imagino um loft, um negócio aberto, todo com aquela arquitetura...
sabe aquela coisa industrial? Eu faria um negócio desse tipo. Eu faria um espaço
desse tipo, onde as pessoas poderiam se conectar mais (...) outra coisa que eu acho
que o espaço tem que ter, planta! Para caramba! Que troque energia! (Flora, Diretora
da empresa de Educação para Riscos)
Então... esse espaço não é meu. Esse espaço não é meu... acho que eu falei agora
pouco sobre isso... não é meu, não tem a cara disso que eu falei para você que é a
essência (...) Eu sinto que você entra aqui e fala: é uma casa bonita, dos anos 50, é
um lugar agradável, mas assim... eu não estou aqui, a minha marca não está aqui, a
marca dos sócios não está aqui... não é um espaço de criatividade (...) então é
interessante, porque a gente trabalha, a gente fala aqui que compartilha com o mundo
o que temos de melhor, os nossos talentos. Mas cadê o talento de cada um aqui no
ambiente? (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa)
O quintal ser um lugar cheio de plantas, com algumas coisas assim, com lugares que
a gente possa trabalhar embaixo, como chama? Um pergolado! A gente podia pôr um
pergolado no quintal, colocar umas mesas né... e não são coisas estruturais, são
coisas simples né... ter uma horta... isso ali a gente tem uma... uma... uma parte
grande ali... uma hortinha seria sensacional, daria para plantar alface, tomate, os
temperos, seria muito legal a gente ter um espaço gostoso, ter rede para as pessoas
deitarem. (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa)
As pessoas se sentem bem aqui nos ambientes... eu vou falar muito do ambiente que
eu construí para a minha equipe. Acho que é um ambiente extremamente confortável
(...) o ambiente, para mim, é muito favorável para o trabalho que a gente precisa
fazer... ele é acolhedor, ele favorece o conceito de família, comunidade, amigos... de
respeito, porque as pessoas aqui usam a cozinha, banheiro, dividem esses espaços
de forma conjunta, então é um ambiente que permite isso e exige que as pessoas
tenham esse respeito com o outro, porque o outro também usa esse espaço e o
espaço é cuidado por nós mesmos, então acho que o ambiente permite isso.
(Alexandre, Diretor da empresa de Educação Digital)
Isso nos permite refletir que quanto mais o ambiente é utilizado, mais o indivíduo se
sente pertencendo ao lugar e ao grupo. A possibilidade de se apropriar do espaço, de
colocar as marcas individuais no ambiente possibilita aumentar o nível de satisfação
e sentir-se parte de uma comunidade ou de um ambiente compartilhado.
Você me perguntou de forma objetiva... qual o propósito da empresa e que tem a ver
com o seu propósito. Sinceramente, você se distancia desse negócio e você fala putz,
140
realmente eu tenho um propósito que tem uma identificação. Você fica só na gestão,
só no faturamento só que você está de repente esquecendo que você está
desenvolvendo um monte de pessoas... tem um monte de consultor, um monte de
treinamento, está todo mundo fazendo... e é um propósito que fica meio esquecido,
porque eu não estou mais tanto lá na sala. Então é legal para a gente pensar nisso.
(Daniel, Diretor da empresa de Educação para Riscos)
Lucas, sócio fundador, reflete após a entrevista sobre uma necessidade de se pensar
a carreira contemporânea a partir das transformações que acontecem neste contexto.
Isso porque, principalmente as empresas, ainda não estão adaptadas ou buscando
encontrar novas formas de lidar com os indivíduos. Usa como exemplo a baixa
autonomia e a necessidade do local fixo de trabalho para explicar como existe ainda
um atraso em relação às organizações para pensar e abrir o modelo de carreira.
Acho que tem um negócio que me veio agora em mente que eu acho que hoje eu vejo
que eu estou construindo um legado. Eu estou construindo algo que eu posso deixar...
em uma empresa, no mundo corporativo, eu nunca vi isso, até porque eu era muito
novo... hoje eu tenho pessoas abaixo de mim, eu tenho pessoas novas chegando,
pessoas saindo, mas eu vejo que a gente está construindo algo e que em algum
momento eu vou deixar isso para alguém. Eu vou deixar para a sociedade, eu vou
deixar para o mercado... eu estou construindo algo. O legado não é só quando acaba,
o conceito de legado é aquilo que você constrói. (Alexandre, Diretor da empresa de
Educação Digital)
A gente nunca para pra pensar na trajetória né... você nunca para pra pensar, não fica
muito tempo pensando nisso, e aí quando você vai fazer uma entrevista dessa, você
para pra pensar: “nossa, eu saí desse ponto e cheguei a esse” e não falo de evolução
material, falo de evolução de maturidade né... se eu olhar quem eu era quando eu
comecei a fazer os treinamentos lá em 2006, 2005, nossa, eu sou completamente
outra pessoa. (Flora, Diretora da empresa de Educação para Riscos)
A primeira coisa que me veio é que foi uma oportunidade muito grande de pensar na
minha carreira e de pensar em mim, porque acho que é a mesma coisa né, até pela
forma como eu defini o trabalho... e que eu acho que a gente deveria ter mais
processos assim, para dar essa parada e refletir. Acho que as perguntas foram
sensacionais... vieram numa estrutura muito lógica e muito provocativa em alguns
aspectos, para mim. (Fabiana, Diretora da empresa de Educação Corporativa)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BABA, Sri Prem. Propósito: a coragem de ser quem somos. Fortaleza: Sextante,
2016. 160 p.
BERSIN, Josh. Catch the Wave: The 21st- century career. Deloitte Review, United
States, n. 21, p.64-79, jul. 2017. Disponível em:
https://www2.deloitte.com/content/dam/insights/us/articles/3943_Catch-the-
wave/DUP_Catch-the-wave-reprint.pdf. Acesso em: 20 jan. 2019.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Ed. antiga. Bestbolso. São Paulo: Best Seller,
2010.
CAREER PLANNER.com. List of over 12,000 Careers. Carrer Testing Since 1997-
2018. Disponível em: https://www.careerplanner.com/ListOfCareers.cfm. Acesso em:
4 fev. 2019.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 17. ed. São Paulo: Editora Paz e
Terra, 2016. 632 p. (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v.1.).
CHANLAT, Jean François. Quais carreiras e para qual sociedade? Rae: Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, v. 6, n. 35, p.67-75, nov. 1995.
CIULLA, Joanne B. The Working Life: The Promise and Betrayal of Modern Work.
New York: The Rivers Press, 2000.
147
COLEMAN, John. You don´t find your purpose - you build it. 2017a. Harvard
Business Review. Disponível em: https://hbr.org/2017/10/you-dont-find-your-
purpose-you-build-it. Acesso em: 10 fev. 2019.
________. To find meaning in your work, change how you think about it. 2017b.
Harvard Business Review. Disponível em: https://hbr.org/2017/12/to-find-meaning-in-
your-work-change-how-you-think-about-it?autocomplete=true. Acesso em: 10 fev.
2019.
CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra?: inquietações propositivas sobre Ética,
Liderança e Gestão. São Paulo: Vozes, 2007.
________. Por que fazemos o que fazemos?: aflições vitais sobre trabalho, carreira
e realização. São Paulo: Planeta do Brasil, 2016. 176 p.
CRAIG, Nick; SNOOK, Scott. From Purpose to Impact. Publicado em 24 mai. 2014.
Disponível em: https://hbr.org/2014/05/from-purpose-to-impact. Acesso em: 25 jan.
2019.
DIAS, Geraldo José Amadeu Coelho. O SAL e sua ambivalente dimensão: Sabor
da comida e Símbolo de preservação religiosa. Universidade do Porto: Instituto de
História Moderna da Universidade do Porto, 2005. Disponível em: https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/22826/2/geraldodiassal000091784.pdf. Acesso em: 25
jan. 2019.
148
EXAME. 10 nomes que marcaram o mundo das startups em 2017. Publicado em:
26 dez. 2017 por Mariana Fonseca. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/pme/10-startups-que-marcaram-o-ano-de-2017/. Acesso
em: 10 jan. 2019.
GINI, A. R.; SULLIVAN, T. Work: The Process and the Person. Journal of Business
Ethics. Netherlands, 1987, p. 649-655.
GINI, A. Work, Identity and Self: How We Are Formed by the Work We Do. Journal
of Business Ethics, v. 17, n. 7, maio 1998, p. 707-714.
GOLER, Lori; GALE, Janelle; HARRINGTON, Brynn; GRANT, Adam. The 3 Things
Employees Really Want: Career, Community, Cause. Harvard Business Review,
2018. Disponível em: https://hbr.org/2018/02/people-want-3-things-from-work-but-
most-companies-are-built-around-only-one. Acesso em: 13 fev. 2019.
GRATTON, Lynda. The Future of Work. Business Strategy Review, New Jersey,
Eua, v. 21, n. 3, p.16-24, set. 2010. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-8616.2010.00678.x. Acesso em: 1o
maio 2019.
HALL, Douglas Tim. The Career Is Dead, Long Live The Career: A Relational
Approach to Careers. San Francisco: Jossey-bass, 1996a. 358 p.
________. The study of careers. In: Careers in and out of organizations. Thousand
Oaks. CA: Sage, 2002. p. 3-16.
HALL, Douglas Tim; CHANDLER, Dawn E. Psychological Success: When the career
is a calling. Journal of Organizational Behavior. Boston, v. 26, n. 2, p. 155-176,
2005.
HAQUE, Umair. How to let your purpose find you. 2012. Harvard Business
Review. Disponível em: https://hbr.org/2012/10/how-to-let-your-purpose-find-
y?autocomplete=true. Acesso em: 10 fev. 2019.
HISTORY OF IDEAS – Work. Publicado em 17 jun. 2015. In Youtube por The School
of Life. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cKnSMCjzmco. Acesso em:
27 jan. 2019.
HUGHES, Everett. Men and their Work. United States: Free Press, 1958. 184 p.
(Classics of the Social Sciences).
KOFMAN, Fred. Liderança & Propósito: o novo líder e o real significado do sucesso.
Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018.
LITTLE ROCK. Hercules and the Nemean Lion. Rubens, Peter Paul, 1577-1640.
Publicado em 28 fev. 2018 por Chery Felmann. Disponível em:
https://ualr.edu/tv/2018/02/05/march_2018_feature_leothelion/rubens-peter-paul-
1577-1640-hercules-and-the-nemean-lion/. Acesso em: 25 jan. 2019.
MAINEIRO, Lisa; SULLIVAN, Sherry. The opt-out revolt: why people are leaving
companies to create kaleidoscope careers. California: Davies-black, 2006.
MARX, Karl. O capital, Livro I, volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
MARK WEINBERGER. Ey Beacon Institute (Org.). How can purpose reveal a path
through disruption?: mapping the journey from rhetoric to reality. 2017. Disponível
em: https://www.ey.com/Publication/vwLUAssets/ey-how-can-purpose-reveal-a-path-
through-uncertainty/$File/ey-how-can-purpose-reveal-a-path-through-uncertainty.pdf.
Acesso em: 10 fev. 2019.
MASLOW, Abraham H. Motivation and personality. 2. ed. New York, Harper &
Row, 1970. 369p.
MEGIDO, Victor Falasca. Negócio com propósito, isso é possível? 2017. IED
Apresenta. Disponível em: https://hbrbr.uol.com.br/negocio-com-proposito-isso-e-
possivel/. Acesso em: 20 set. 2018.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
75902001000300002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 4 nov. 2018.
MORGAN, Jacob. The Employee Experience Advantage: How to Win the War for
Talent by Giving Employees the Workspaces they Want, the Tools they Need, and a
Culture They Can Celebrate. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2017.
PWC. Workforce of the future: the competing forces shaping 2030. 2018.
Disponível em: https://www.pwc.com/gx/en/services/people-organisation/workforce-
of-the-future/workforce-of-the-future-the-competing-forces-shaping-2030-pwc.pdf.
Acesso em: 16 nov. 2018.
REIMAN, Joey. Propósito: por que ele engaja colaboradores, constrói marcas fortes
e empresas poderosas. (tradução Marcela Andrade). São Paulo: HSM Editora, 2013.
153
________. Theory U: leading from the future as it emerges. 2. ed. San Francisco,
California: Berrett- Koehler, 2016. 471 p.
SINEK, Simon. Start With Why: how great leaders inspire everyone to take action.
New York: Penguin, 2009.
SMITH, Adam. Riqueza das nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
STAKE, Robert E. Case Studies. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S.
(Ed.). Handbook of Qualitative Research. 2. ed. Thousand Oaks: Sage
Publications, 1994. Cap. 14. p. 236-247.
154
STAKE, Robert E. The art of Case Study Research. Thousand Oaks: Sage
Publications, 1995. 192 p.
TARGET TEAL. Liderança nas organizações. Publicado em: 23 mar. 2018 por
Rodrigo Bastos. Disponível em: https://targetteal.com/pt/blog/lideranca-nas-
organizacoes/. Acesso em: 5 fev. 2019.
VEICH, Jennifer. Work Environments. In: NATHAN, Peter (Ed.). The Oxford
Handbook of Environmental and Conservation Psychology. New York: Oxford
University Press, 2012. Cap. 14. p. 249-274.
VIMEO. The evolution of the desk. Harvard Innovation Lab, 2014 P&B. Disponível
em: https://vimeo.com/107569286. Acesso em: 25 jan. 2019.
WANG, Caroline; BURRIS, Mary. Photovoice: Concept, Methodology, and Use for
Participatory Needs Assessment. Health Education & Behavior. Thousand Oaks, p.
369-387. jun. 1997.
WESTIN, Alan. Privacy and freedom. New York: Athenum, 1967. 487 p.
WRIGHT, Emily. What will the ‘office’ look like in 10 years’ time? 2017.
Disponível em: <https://thespaces.com/what-will-the-office-look-like-in-10-years-
time/>. Acesso em: 4 nov. 2018.
156
APÊNDICES
157
Nome do Participante:
CPF:
Assinatura:
Nome da Pesquisadora:
CPF:
Assinatura:
158
ANEXOS