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A M O R , D O R , L U T O , S U P E R A Ç Ã O

À LUZ DA PSICANÁLISE

Sandra Marcondes
DIREITOS AUTORAIS

Este livro está protegido pela legislação


brasileira de Direitos Autorais. Todos os
direitos sobre esta obra são reservados. A
reprodução de qualquer parte deste livro deve
necessariamente citar a fonte.

ISBN 978-65-00-98099-8
SOBRE ESTA OBRA

“Relacionamentos Amorosos - Amor, Dor, Luto,


Superação à Luz da Psicanálise” desvenda as
profundezas dos relacionamentos amorosos e
mergulha profundamente nas águas tumultuadas
do amor. Da vertigem da paixão à agonia do luto,
a autora conduz uma viagem emocional repleta
de revelações.

Com sensibilidade ímpar, ela desvenda os


segredos mais íntimos do coração humano,
oferecendo um farol de sabedoria psicanalítica
em meio à tempestade dos sentimentos.

Através da pesquisa denominada “Moletom


Surrado” e a síndrome do “Moletom Surrado” daí
advinda, além de estudos de casos e entrevistas
reveladoras, este livro não apenas ilumina os
desafios emocionais, mas também sinaliza
caminhos à superação. Seja você um aventureiro
em busca de respostas amorosas ou um
profissional da psique, esta obra revela, como
um mapa precioso, as complexidades das dores
até o oásis da superação.

Prepare-se para uma jornada profunda de


autoconhecimento e crescimento pessoal, onde
cada página é um convite para relações mais
autênticas e gratificantes.
SOBRE A AUTORA

Sandra Marcondes, psicanalista, advogada,


professora de inglês, escritora, palestrante;
graduada, com licenciatura, em letras português
e inglês. Mestrado em Gestão Ambiental e Saúde
do Trabalho; Mestrado livre em Psicanálise,
Doutorado livre em Psicanálise. Auditoria
Ambiental pela EARA/IEMA – “Environmental
Auditors Registration Association/ Institute of
Environmental Management and Assessment”.
Possui livros publicados sobre temas de
sustentabilidade e espiritualidade para o público
adulto e infantil. Entre os seus livros, citemos
"Brasil, amor à primeira vista! Viagem ambiental
no Brasil do século XVI ao século XXI", 344
páginas, Editora Peirópolis, disponível na
Biblioteca da Universidade de Harvard.
Desenvolveu trabalhos sobre sustentabilidade
nos Estados Unidos e na Europa, entre os quais,
participações em delegações brasileiras em
reuniões internacionais sobre sustentabilidade
(mudanças climáticas/aquecimento global), na
sede da Organização das Nações Unidas e
Suécia.
OUTROS LIVROS PUBLICADOS POR
SANDRA MARCONDES

Brasil Amor à primeira vista! Viagem ambiental no


Brasil do século XVI ao XXI

Série “Guardiões...” para crianças (Editora


Anúbis):

Guardiões do Clima da Terra


Guardiões da Mata Atlântica
Guardiões da Limpeza da Terra
Guardiões da Camada de Ozônio
Guardiões da Água

Romances espiritualistas
(Editora Anúbis):

Alguém te Espera
O Pianista de Deus
Preto como o Leite e Branco como o café
Os Cristais do Fundo do Lago
Espelhos desfocados – no prelo

PUBLICAÇÕES PELA SECRETARIA DO MEIO


AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Guardiões da Camada de Ozônio


Guardiões da Mata Atlântica
SANDRA MARCONDES

RELACIONAMENTOS AMOROSOS
AMOR, DOR, LUTO, SUPERAÇÃO À LUZ DA PSICANÁLISE
AGRADECIMENTOS

Ao meu filho, Alexandre, minha Luz e meu


melhor, mais instigante e desafiador curso
intensivo de amor desta vida. Te amo mais que
tudo meu maior amor!

A todos que gentilmente responderam ao


questionário e concederam entrevistas para a
pesquisa deste trabalho denominada “Moletom
Surrado”.

A todas, todos e todes que amam!

Eu juro que eu pensei que aquele amor fosse para sempre...

Ele era tão lindo... Tudo o que eu tinha idealizado... Perfeito!

Só que ele, era ele, e não a minha fantasia.... Quanta dor...

Sandra Marcondes

O sofrimento que tem como origem as relações humanas

talvez seja o mais doloroso para nós do que qualquer outro.

Parafraseando Sigmund Freud


Sumário

i. Introdução – p. 11

ii. Justificativa – p. 15

iii. Objetivo - p. 17

1. O que é o amor nos relacionamentos amorosos? p. 18

2. O que é o amor para Freud? e a paixão? p. 21

3. O que faz alguém se conectar a outro alguém? (libido – pulsões

– teoria psicossexual – Complexo de Édipo). p. 24

4. Quem é esse outro (objeto de escolha), que elegemos amar e

como se dá a escolha amorosa? p. 32

5. Libido Narcísica – o amor nos relacionamentos amorosos na

periodização da história – da Idade Antiga à Idade Contemporânea.

p. 35

6. O amor refletido na literatura ocidental – da Idade Média às

Idades Moderna e Contemporânea. p. 43

8
7. O Coração Partido e a Síndrome do Coração Partido. O que é

isso? p. 56

8. Que dor é essa de amar? o que dói tanto numa ruptura

amorosa? p. 61

9. Há remédio para se proteger da dor de amar numa ruptura

amorosa? Quais são os sentimentos oriundos de uma separação

amorosa? p. 66

10. O que é o luto num rompimento amoroso p. 76

11. Como se dá o processo de elaboração do luto? p. 78

12. O que pode levar relacionamentos amorosos a serem

rompidos? p. 83

13. O que é apego emocional excessivo? (o chamado amor

patológico). p. 84

9
14. É possível superar a dor da perda do objeto amado? (a

psicanálise e a palavra – a loucura na história - a teoria da repressão

– o inconsciente) p. 89

15. E o que tudo isso tem a ver com a superação do luto da dor de

amar? p. 97

16. Pesquisa “Moletom Surrado” e a “Síndrome do Moletom

Surrado”. p. 99

17. Conclusões e Recomendações – Campanha “Dor de Amar –

Acolhimento e Ressignificação” p. 122

Referências p. 127

Referências Sigmund Freud p. 131

Sites pesquisados p. 132

10
i. Introdução

Quem nunca sentiu as pernas tremerem e o

coração disparar ao pensar ou estar à frente daquela pessoa? Quem

nunca se apaixonou, amou e sofreu por um relacionamento

amoroso? Quem nunca derramou e inundou o travesseiro de

lágrimas por saudades daquela pessoa, e por isso não conseguia

dormir e sentia dores pelo corpo? Quem nunca experimentou a

vertiginosa queda do paraíso até a miséria da dor nas profundezas

do inferno, como frequentemente dizem os poetas, devido ao

sentimento de perda da pessoa amada ou de um amor não

correspondido? Quem nunca sofreu por amor? Quem nunca?

Pois, bem! Eis o senhor todo poderoso, o

excelentíssimo “relacionamento amoroso”, tão presente no divã

psicanalítico! E como são desafiadores os relacionamentos

amorosos! Verdadeiros campos de complexidade! Podem começar

no êxtase, e desaguar nas profundezas abissais da dor! Afinal, na

intrincada teia dos relacionamentos amorosos, encontramos um

fascinante encontro de almas, em que cada um carrega consigo suas

próprias histórias, repletas de capítulos marcados por experiências

11
edificantes e desafiadores, que se entrelaçam em inseguranças,

medos, virtudes e imperfeições.

Nesse cenário dinâmico, é inevitável que uma

miríade de desafios se revele ao longo dessa incrível jornada, que é

inerente à natureza humana. É um caminho complicado, marcado por

alegrias, dores e sofrimentos que culminam, incontáveis vezes, em

separações, que ecoam na trajetória emocional de cada um! Ah, a

busca por um relacionamento feliz e perfeito com o par que

idealizamos é pura utopia!

Freud menciona em “Mal-estar na civilização”,

que o amor é uma das formas de o homem (ser humano), encontrar

a felicidade, e que o estabelecimento de vínculos afetivos é essencial

para o bem-estar psíquico das pessoas. Só que essa eficácia é

limitada, pois Freud nos alerta que nunca estamos tão vulneráveis ao

sofrimento como quando nós nos entregamos a esse sentimento do

amor. Aliás, a ausência ou a suposta ausência do objeto do amor,

nos deixa desamparados e mergulhados na infelicidade. Mas, ainda

assim, desafiamos o medo de sofrer, pois a ânsia inata de amar é

nossa essência como seres humanos que somos.

Quanto mais profundo o vínculo, mais intensa

é a dor! As lágrimas inundam o coração e haja travesseiro! A pessoa

passa por um processo de luto de alguém que ainda vive! Na

12
verdade, uma experiência de término de relacionamento amoroso é

vivida como uma experiência de morte e pode ser uma das

experiências mais dolorosas para o ser humano. Nesse processo,

dores se manifestam no âmbito psíquico e físico, muito embora essas

dores se entrelacem.

No âmbito psíquico citemos dores de rejeição,

culpa; autorrecriminação; tristeza; depressão; desespero, ansiedade;

baixa autoestima e angústia, sentimentos esses, que podem,

inclusive, levar ao extremo de ideações suicidas. Essas dores

psíquicas transbordam para as dores físicas, como o aperto no peito

e palpitações; sudorese; dores de cabeça; dores musculares

generalizadas; ausência ou excesso de apetite com a consequente

perda e/ou o ganho de peso; problemas gástricos; distúrbios do sono

como a insônia, entre outros.

A alma se desfaz em pedaços! Mas, o que é

esse enigma chamado amor em relacionamentos amorosos? Qual a

natureza da dor que vem junto com esse amor? Como enfrentar o

luto nos rompimentos amorosos? Existe superação? Essas são as

perguntas que pretendemos responder: a) à luz das obras

psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), campo do saber

criado por ele, que com a sua genialidade causou uma revolução ao

trazer tanta luz de conhecimento ao tema do amor; b) à luz de obras

13
de psicanalistas contemporâneos e de outros campos do saber; e, b)

através de uma pesquisa qualitativa e quantitativa disposta no final

deste trabalho denominada “Moletom surrado”.

A propósito, a psicanálise é uma experiência

em que a fonte é o amor. Freud diz que a Psicanálise “é a cura pelo

amor”! E aqui vale dizer, que durante o processo psicanalítico ocorre

um fenômeno denominado tecnicamente de “transferência”, pelo qual

sentimentos e experiências emocionais, boas e/ou não boas, do(a)

analisando são transferidas ao psicanalista de forma inconsciente.

Isso inclui sentimentos de amor, muito embora, ressalte-se que pela

“transferência” o analisando ama o que o(a) psicanalista representa

e não exatamente a pessoa do(a) psicanalista. Enquanto isso, o

psicanalista experimenta a "contratransferência", que são as

emoções e sensações provocadas pelo impacto das histórias do

paciente sobre ele(a), ou seja, sobre o(a) próprio(a) psicanalista.

Estejamos cientes, todavia, de que não se

tem, aqui, de forma alguma, a pretensão de esgotar o tema, isso

porque ele é repleto de incontáveis faces a serem exploradas e

estudadas, mesmo porque, a Psicanálise não trabalha com respostas

únicas e decisivas; fórmulas exatas e matemáticas para decifrar as

questões da psique; mas busca ampliar os estudos quanto à

compreensão da complexidade do ser humano que é uma sinfonia

14
de sentimentos, emoções, narrativas e históricos de vida. E aí? Topa

embarcar comigo nesta viagem? Bora lá...

ii.Justificativa deste trabalho

Um grande amigo meu, que cresceu e brincou

comigo pelas ruas de uma cidade do interior do Brasil, aos 25 anos

de idade morreu de suicídio devido a um término de namoro. Anos

depois, ao que parecia um dia comum, escutei um estrondo

ensurdecedor. Corri para fora do apartamento preocupada com o

prédio em que me encontrava. O elevador parecia até mais lento. No

térreo, vi um carro jogado contra as pedras no mar. O motorista de

38 anos havia tentado morrer por suicídio devido a um final de

relacionamento amoroso.

Essas experiências nunca me abandonaram.

Sempre me questionei sobre a intensidade da dor associada ao

amor, que leva pessoas a atos tão extremos. E aqui relevante

destacar que o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, não

se limitando a questões de ordem psiquiátrica. Fatores como por

exemplo, hereditariedade, idade, suporte social e situação financeira

desempenham papéis significativos no desfecho dessa condição

muito grave. Criticar aqueles que morreram de suicídio é cruel e

desconsidera a dor que enfrentaram. Em vez de julgar, é necessário

15
compreender a pessoa que passou por desafios de sofrimento,

lembrando que familiares e amigos enlutados também sofrem. Cada

um tem a sua própria história, e a compreensão é o caminho.

Assim, a partir do meu processo de atender

como psicanalista, fui exposta a histórias e mais histórias de dores

decorrentes de relacionamentos amorosos. Logo, quando considerei

o tema para o meu trabalho de conclusão de doutorado livre em

Psicanálise, o assunto amor em relacionamentos amorosos e suas

dores veio à minha mente instantaneamente.

Enfim, socialmente, é muito comum colorirmos

o amor como algo bonito, mas a sua dor pode ser visceral. A

dificuldade de lidar com a rejeição dilacera, e o sentimento de luto,

por alguém que ainda vive, costuma ser uma tormenta, e tudo isso

num maior ou menor grau a depender de cada um. Portanto, justifica-

se o estudo desse tema, de modo ele seja cada vez mais

compreendido, e possa contribuir para a busca de uma melhor

qualidade de vida e saúde mental daqueles que se deparam sem os

seus respectivos amores. Afinal, quem não conhece a cicatriz de uma

despedida amorosa?

16
iii.Objetivo

O objetivo deste trabalho é responder as

questões abaixo citadas, à luz da Psicanálise freudiana, além de

renomados autores contemporâneos, e com uma pesquisa

quantitativa e qualitativa, constante no final deste trabalho. Eis as

questões:

✓ O que é o amor nos relacionamentos amorosos?

✓ O que é o amor para Freud? E a paixão?

✓ O faz alguém se conectar a outro alguém?

✓ Quem é esse outro (objeto de escolha), que elegemos amar e

como se dá a escolha amorosa?

✓ Libido Narcísica – o amor nos relacionamentos amorosos na

periodização da história – da idade antiga à idade

contemporânea.

✓ O amor refletido na literatura ocidental – da idade média às

idades moderna e contemporânea.

✓ O coração partido e a síndrome do coração partido. O que é

isso?

✓ Que dor é essa de amar? o que dói tanto numa ruptura

amorosa?

17
✓ Há remédio para se proteger da dor de amar numa ruptura

amorosa? Quais são os sentimentos oriundos de uma

separação amorosa?

✓ O que é o luto num rompimento amoroso?

✓ Como se dá esse processo de elaboração do luto?

✓ O que pode levar relacionamentos amorosos a serem

rompidos?

✓ É possível superar a dor da perda do luto do objeto amado?

✓ Pesquisa “moletom Surrado” e a “Síndrome do Moletom

Surrado”.

✓ Conclusões e recomendações – Campanha Dor de amar –

Acolhimento e Ressignificação”. Sem mais delongas, bora

lá, meu amado leitor(a)!

1. O que é o amor nos relacionamentos amorosos?

O amor é uma experiência inata do ser humano.

Esse sentimento enigmático pode deixar marcas profundas e

florescer em contextos que variam desde uma simplória admiração

até a uma dedicação completa a alguém, objeto ou ideia que se torna

o epicentro do nosso amor. Por meio do amor, aspiramos a construir

fortes conexões com o que consideramos ideal, e personalizamos

18
essa busca de acordo com a vida, experiências, perspectivas, ideais

de cada um, tudo aliado a contextos históricos, sociais, ambientais,

econômicos, políticos, religiosos e culturais.

Todavia, não obstante o amor ser inerente ao

ser humano, Ferreira (2008)1 destaca que até o surgimento da

Psicanálise, ele foi negligenciado dos círculos acadêmicos e

científicos. Foi a Psicanálise que revolucionou a compreensão sobre

o amor, iluminando suas complexidades e profundas influências em

nosso psiquismo e comportamento. Antes da Psicanálise, apenas os

filósofos da Antiguidade Clássica, os poetas, e os escritores se

aventuraram a explorar o tema do amor2, e mostraram as mudanças,

no decorrer da história, nas maneiras de se viver o amor.

Platão, por exemplo, por volta de 380 a.C.,

abordou a natureza do amor em seu diálogo “O Banquete”3. Ele

destacou que, segundo Sócrates, o amor em relação a um objeto

ocorre apenas na ausência desse objeto, implicando que amamos

aquilo que não possuímos. Nesse contexto, já é possível detectar o

sofrimento nos relacionamentos amorosos, sofrimento esse, aliás,

1 FERREIRA, Nádia Paulo. “O Amor na Literatura e na Psicanálise” in


<https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/o.amor.nadia.pdf>, Rio de Janeiro, UERJ –
SR3 – DEPEXT – Publicações Dialogarts, 2008, p. 7. Acesso em 23.05.2023.
2 FERREIRA, Nádia Paulo. “O Amor na Literatura e na Psicanálise” in
<https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/o.amor.nadia.pdf>, Rio de Janeiro, UERJ –
SR3 – DEPEXT – Publicações Dialogarts, 2008, p. 7. Acesso em 23.05.2023.
3 PLATÃO. O banquete. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.

19
que ainda persiste nos dias de hoje, independentemente dos

progressos e avanços científicos e tecnológicos.

Narrativas antigas, como o Cupido lançando

flechas para facilitar o amor, e a busca pela plenitude da felicidade

por meio do encontro com a “alma gêmea”, “metade da laranja” e/ou

a “tampa da panela”, permanecem ainda hoje no imaginário popular,

refletindo uma visão idealizada e irreal do amor. Aliás, Platão já dizia

que “cada um de nós é (...) a metade complementar de outro (um

símbolo). Somos como uma das partes de um linguado cortado ao

meio, dois formando um. Cada qual anda à procura de seu próprio

complemento.”. (PLATÃO, 2009, p. 67).

Freud, em sua prática clínica, deparou-se com

aspirações amorosas impossíveis de serem satisfeitas, devido a

idealizações românticas de felicidade ligadas à busca de plenitude

com o outro. No “Mal-estar da Civilização”, Freud destaca que o

amor está profundamente enraizado na psique humana. E, apesar

das diferentes maneiras de buscar a felicidade, essa procura, através

do amor, seja talvez um meio invariante e constante para o ser

humano, porque proporciona intensas e prazerosas experiências. 4

4 MENEZES. José Euclimar Xavier de; BARROS, Maria Josephina Silveira. Ressonâncias do romantismo
no discurso freudiano sobre o amor. Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437 versão On-line ISSN 2175-3482
Estud. psicanal. n.31 Belo Horizonte out. 2008
In <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100010> Acesso em
12/01/2024.

20
Contudo, colocar o relacionamento amoroso

como foco principal para a felicidade humana tem sido ao longo da

história e até hoje, motivo de muitas dores, sofrimentos, desesperos

e frustrações. Mas, antes de falarmos sobre essa dor de amor, eis a

pergunta que não quer calar: o que é o amor para Freud? E a paixão?

2. O que é o amor para Freud? e a paixão?

Freud explorou as complexidades do amor ao

longo de sua obra e teceu teorias que o relacionam a diversos

elementos de estudo. Ele desvenda o amor como uma emoção um

tanto intrincada e suscetível a análises multifacetadas, como a

relação do amor com o objeto, com a infância, e como e dá a escolha

amorosa. É o que se passa a demonstrar nos próximos tópicos, mas

não sem antes um pequeno spoiler.

Para Freud, o amor é a força motriz que

impulsiona o "eu" em busca da realização do prazer supremo,

direcionando-se ao que ele descreve como o "objeto" - tudo aquilo

que não é o próprio "eu", podendo ser uma pessoa, um objeto físico

ou uma ideia. O primeiro objeto de amor é a figura materna ou

cuidador(a), com quem o bebê normalmente estabelece vínculos

afetivos que são expressos através de sorrisos, choros e gestos.

21
Essa ligação inicial é fundamental na

formação da compreensão do amor, moldando as relações

interpessoais ao longo da vida. Em outras palavras: a interação com

o cuidador(a) molda a nossa percepção sobre o nosso próprio valor,

no sentido de sermos ou não merecedores de amor, e a existência

de base segura ou não para amar.

Na obra "Narcisismo: Uma Introdução" (1914),

Freud explica que o amor ocorre quando alguém se identifica com a

pessoa amada, ou seja, o estado de amor é alcançado quando a

pessoa se sente igual a pessoa por quem se apaixona. Durante esse

processo, o indivíduo substitui o objeto idealizado da infância pelo

novo objeto de amor, que, no início, é visto como perfeito!

E por “perfeito” citemos a paixão, palavra do

latim “passionais”5 que significa passividade/sofrimento, que é

abordada por Freud em “Psicologia das Massas e Análise do Eu”

(1921)6. É um estado em que o apaixonado desvaloriza o próprio eu.

É uma espécie de patologia artificial. Freud equipara a conduta

psicológica de uma pessoa apaixonada ao estado do sono. O objeto

5“Oriunda do latim, passionis, que significava `passividade`, `sofrimento`, a palavra que corriqueiramente
é tida como o auge do amor e do êxtase, do fogo transcendente de alma e corpo, surgiu justamente no
século XIII: quando os portugueses medievais a grafavam paixon.”. “In”
<https://www.dicionarioetimologico.com.br/paixao/> Acesso em 12/12¹2023.

6FREUD, S. “Psicologia das Massas e Análise do Eu e outros textos (1920-1923). Obras Completas Volume
15. (Paulo César de Souza, Trad.). Companhia das Letras. Copyright 2011.

22
da paixão, uma pessoa, por exemplo, é considerada fascinante,

perfeita e transformada numa espécie de personagem sem quaisquer

máculas. A idealização do outro é maciça, muito forte. Estar

apaixonado é um estado de servidão em relação ao objeto da paixão,

ou seja, há um rebaixamento da autoestima. É algo biológico onde

ocorrem alterações químicas no cérebro, conforme demonstrado no

item 9 deste trabalho.

Mas, esse estado, em que a mente emocional

se sobrepõe à mente racional, tem prazo de validade. Então, o que

vem depois? Vem o amor. Como assim? Resposta: com o decorrer

do tempo, o amor, que não é necessariamente menos intenso do que

a paixão, vai se sobrepondo a ela (paixão). O amor adota um padrão

mais equilibrado, ele vai “afinando” a paixão. É mais “pé no chão”.

Reconhece as falhas e qualidades do outro de forma mais realista.

Paixão e amor são distintos, mas há momentos em que se

complementam. Enfim, para Freud o amor é fonte de satisfação e

felicidade, sendo que a capacidade de amar é parte crucial do ser

humano saudável.

No entanto, excesso de energia emocional

direcionada para o objeto amado e pouco investimento em si; e

digamos, um amor mal direcionado, pode resultar em muita dor e

sofrimento. Mas, antes de adentrarmos no tema dor, eis mais uma

23
pergunta que não quer calar: o que faz alguém se conectar a outro

alguém?

3. O que faz alguém se conectar a outro alguém? (libido – pulsões –

teoria psicossexual – Complexo de Édipo)7

De acordo com Freud é o amor e a libido que fazem

alguém se conectar a outro alguém! A libido é a energia psíquica que

representa a pulsão de vida. Mas, muita calma nessa hora, porque

antes de falarmos sobre a 'libido', precisamos discorrer sobre a teoria

freudiana das 'pulsões'.

Na Psicanálise, a palavra “pulsão” ecoa como

a fonte de toda a atividade mental, uma força interior que impulsiona

o comportamento, fluindo através do corpo e da psique. Ela é dividida

em duas ordens, a) a pulsão de vida, conhecida como Eros, o Deus

do amor, da paixão e do erotismo na mitologia grega, e o Cupido na

7Material de pesquisa:
1) FREUD, S. “Além do Princípio do Prazer e outros textos (1917-1920). Obras Completas Volume 14.
(Paulo César de Souza, Trad.). Companhia das Letras. Copyright 2010.

2) FREUD, S. “O Eu e o Id”, “Autobiografia e outros textos” (1923-1925). Obras Completas Volume 16.
(Paulo César de Souza, Trad.). Companhia das Letras. 4ª reimpressão. Copyright 2010.

4) FREUD, Sigmund. “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria
(O caso Dora) e outros textos”. Obras Completas Volume 06. (1901-1905). (Paulo César de Souza, Trad.).
Companhia das Letras. Copyright 2016.

3) EUZÉBIO. Alessandro. “Fases de Desenvolvimento Psicossexuual em Freud”. Instituto Gaio. “In”:


<https://e-gaio.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Fases-de-Desenvolvimeno-Psicossexuais-em-
Freud.pdf> Acesso em 11/02/2024.

24
mitologia romana; e, b) a pulsão de morte, Tânatos, que na mitologia

grega representa a morte.

Essas pulsões causam tensões e buscam a

sua liberação, seu escoamento. A pulsão de morte sussurra impulsos

inconscientes em direção à degeneração, à agressão, à destruição

de si ou de outra pessoa. Diante de adversidades insuportáveis,

como decepções amorosas, perdas profissionais, e lutos, o ser

humano enfrenta encruzilhadas emocionais, e em resposta, podem

surgir comportamentos autodestrutivos, como a automutilação e

situações extremas de ideações e ações suicidas.

A pulsão de vida em contraste com a sua

antítese, a pulsão de morte, é o fogo interior alimentado pelo amor,

criatividade e busca incessante pelo prazer, nutrindo desejos de

crescimento, felicidade e bem-estar. São os instintos e ações que

impulsionam o indivíduo em direção à existência e à sobrevivência.

Isso significa dizer que a pulsão de vida é uma força primordial que

zela pela autopreservação.

Ressalte-se, entretanto, que na visão de

Freud, as pulsões de vida e morte não existem em completo

antagonismo! Pelo contrário, elas coexistem numa perpétua tensão

e ao mesmo tempo num sutil equilíbrio. A estabilidade emocional e a

saúde mental se apoiam na interação de Eros e Tânatos. E aqui vale

25
dizer que nem sempre a pulsão de morte é negativa, pois às vezes é

necessária uma dose de agressividade frente a certos momentos da

vida, como o término de um relacionamento amoroso, em que

Tânatos está presente na necessidade de que um ciclo seja

encerrado de forma que surjam novas oportunidades! Eis aí a

tumultuada coreografia entre as forças pulsionais de vida e de morte

no ser humano.

Psicanaliticamente, a energia psíquica que

representa a pulsão de vida é denominada 'libido', utilizada aqui

como palavra técnica da Psicanálise e não no sentido atual e comum

do termo, que a relaciona tão somente a desejo sexual, “tesão”. A

palavra "libido", originada do latim "libere", significa "desejar" e é

feminina. Inicialmente concebida por Freud como uma força

estritamente sexual, ao longo de suas revisões, ele ampliou seu

significado para abranger todas as manifestações de amor, prazer e

autopreservação. Isso implica dizer que a teoria psicossexual,

explanada a seguir, central na Psicanálise, engloba diversos

aspectos sexuais e não sexuais relacionados à libido.

Segundo Freud, a sexualidade humana é a

busca pela satisfação do desejo físico e psíquico. No entanto, é

importante destacar que “sexualidade” para Freud é algo bem mais

amplo do que o ato sexual e a reprodução. A teoria psicossexual

26
desenvolvida por ele explora os estágios de desenvolvimento da

libido ao longo da vida, incluindo a fase oral, anal, fálica, latência e

genital. Freud destaca que o primeiro prazer humano reside no

próprio corpo, presente desde o nascimento. Porém, ao abordar a

sexualidade, Freud não se refere, de forma alguma, a prazer sexual

adulto nos bebês. Ele ensina que nos primeiros anos de vida, a

função sexual está intimamente ligada à sobrevivência e ao futuro

desenvolvimento psicológico.

Assim, na visão revolucionária de Sigmund

Freud, a libido é muito mais do que um simples conceito - é a

essência pulsante de sua teoria psicossexual. Ao explorar a

complexidade da sexualidade humana, Freud identifica na libido o

cerne que unifica mente e corpo, impulsionando-nos na busca

incessante pelo prazer físico e psíquico. Neste contexto, a libido

desponta como a força vital, que sintetiza todo o intricado mecanismo

da sexualidade humana. Em outras palavras: a sexualidade humana

é representada pela busca na satisfação de desejos físicos e

psíquicos, e é a libido quem faz a concentração do mecanismo da

sexualidade.

Como dito acima, o desenvolvimento

psicossexual desenrola-se em fases e cada uma delas está

intimamente vinculada a uma zona erógena, ou seja, a uma área em

27
que a libido (energia motora da pulsão de vida), se concentra de

forma predominante. Essas fases não são estanques e lineares,

podem variar em tempo de duração e, inclusive, se sobrepor,

apresentar avanços e retrocessos. E, podem, também, deixar marcas

traumáticas ou muito gratificantes, com repercussões por toda uma

vida. São elas8:

a) Fase oral (1 ano): a boca é o epicentro da existência,

não somente no quesito nutrição, mas também como

um portal pelo qual a criança experimenta prazer

através da estimulação oral. A criança aprende a

explorar não só o alimento, mas as emoções e

sensações que daí advém.

b) Fase anal (1-3 anos): o foco da libido está no controle

da bexiga e evacuações. Nessa fase o bebê precisa

aprender a controlar suas necessidades corporais.

Quando a criança desenvolve esse controle, tem um

sentimento de realização e independência.

88
EUZÉBIO. Alessandro. “Fases de Desenvolvimento Psicossexuual em Freud”. Instituto Gaio. “In”:
<https://e-gaio.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Fases-de-Desenvolvimeno-Psicossexuais-em-
Freud.pdf> Acesso em 11/02/2024.

28
c) Fase fálica (4-6 anos): a libido está concentrada nos

órgãos genitais. As crianças começam a descobrir

que há diferenças entre machos e fêmeas.

E aqui, necessário citar o “Complexo de Édipo”9 que

descreve os sentimentos de um menino em relação

à sua mãe (atração) e ao seu pai (repulsa), incluindo

o desejo pelo afeto materno e o ciúme em relação ao

pai. É como se o filho visse o pai como um rival pela

atenção e afeto da mãe.

Esse fenômeno surge da confusão inicial da criança

com a mãe durante a gestação, seguida pela

diferenciação gradual e a percepção de que o pai

pode ser visto como um obstáculo para receber

atenção materna. Um dos sintomas desse

“complexo” são os ciúmes do filho quando se dá

conta de um convívio íntima da mãe com o pai.

O termo Complexo de Édipo, vem da mitologia grega, forjado na saga de "Édipo Rei" escrita por Sófocles
em 427 a.C. Nessa trama, Édipo, alheio à sua própria origem, torna-se vítima de um destino cruel ao
assassinar seu próprio pai e desposar e ter filhos com a sua própria mãe, sem conhecer suas verdadeiras
identidades. O véu da ignorância é cruelmente levantado quando o oráculo revela a verdade amarga,
levando à trágica queda de Jocasta, sua mãe e esposa. Como punição por sua cegueira emocional, Édipo,
consumido pelo remorso, perfura seus próprios olhos, mergulhando na escuridão física que reflete sua
jornada de autodescoberta e redenção. “In”
<https://www.historiadomundo.com.br/grega/mito-de-edipo.htm> Acesso em 30/08/2023.

29
Segundo Freud, a resolução satisfatória dessa fase

implica que o menino se identifique com o pai,

abandonando a rivalidade e reconhecendo a

impossibilidade do incesto. Isso promoveria o

amadurecimento de uma identidade sexual

autônoma e madura. A não resolução correta desse

fenômeno pode levar adultos a dependência

exagerada no parceiro amoroso, e submissão, por

exemplo.

Vale dizer que a menina passa pelo mesmo

processo, ao qual Freud chamou de “Complexo de

Édipo Feminino”, e “Complexo de Electra, pelo

psiquiatra Carl Yung. Electra vem da mitologia grega

em que ela manda assassinar a mãe por descobrir

que essa havia mandado matar o seu pai.

Enfim, pode-se afirmar que o Complexo de Édipo é

uma terceira figura que entra na dinâmica entre o

cuidador(a) e o bebê.

d) Fase de latência (6 anos até a puberdade): os

interesses libidinais ficam suprimidos.

30
e) Fase genital (puberdade em diante): última fase do

desenvolvimento psicossexual em que o adulto

desenvolve interesse sexual. Começa na puberdade

e caminha para o restante da vida.

Assim, conforme o ser humano vai se

desenvolvendo, mudanças surgem na forma de gratificação e

interação com o mundo exterior. Desse modo, a libido se manifesta

como uma sensação intensa e inebriante, que nos impele à busca da

conexão com um objeto, e a satisfação com o objeto do nosso desejo.

Por objeto entendamos como sendo o alvo das pulsões, e no caso

de relacionamentos amorosos, geralmente, o objeto é uma outra

pessoa, para a qual são direcionados desejos sexuais e amorosos.

Portanto, na perspectiva psicanalítica, o amor é

caracterizado como um sentimento e uma ação que envolvem o

investimento de energia psíquica, ou seja, a libido, em relação a um

objeto! Ademais, importante ressaltar, que a conexão da libido com

o objeto desempenha um papel crucial em pelo menos dois

processos essenciais no psiquismo: a satisfação parcial do desejo,

evidenciada, por exemplo, nos relacionamentos amorosos, no prazer

erótico decorrente do encontro sexual; e o contínuo trabalho psíquico

de aprimoramento do eu na interação com o outro. O amor, portanto,

está ligado ao objeto do desejo, que não apenas proporciona prazer,

31
mas também constitui o fundamento para a construção contínua da

identidade do ser humano.

Desta feita, eis outra pergunta que não quer

calar: quem é esse outro que escolhemos para amar e como se dá a

escolha amorosa?

4. Quem é esse outro (objeto de escolha), que elegemos amar e

como se dá a escolha amorosa? 10

O outro amado, segundo o psicanalista Nasio

“é um excitante para nós, que nos deixa crer que ele pode levar a

excitação ao máximo. Ele nos excita, nos faz sonhar e nos

decepciona. Nosso amado é nossa carência.”. “O amado não é um

outro, mas uma parte de nós mesmos que recentra o nosso desejo.”.

“A pessoa do amado é como um cabide no qual se penduram as

nossas pulsões...”11.

10Material de pesquisa:
1) FREUD, S. “Além do Princípio do Prazer e outros textos (1917-1920). Obras Completas Volume 14.
(Paulo César de Souza, Trad.). Companhia das Letras. Copyright 2010.

2) FREUD, S. “O Eu e o Id”, “Autobiografia e outros textos” (1923-1925). Obras Completas Volume 16.
(Paulo César de Souza, Trad.). Companhia das Letras. 4ª reimpressão. Copyright 2010.

4) FREUD, Sigmund. “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Análise Fragmentária de uma Histeria
(O caso Dora) e outros textos”. Obras Completas Volume 06. (1901-1905). (Paulo César de Souza, Trad.).
Companhia das Letras. Copyright 2016.

11 NASIO, J-D. O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, página 62.

32
Segundo a Psicanálise, o objeto de escolha

compreende “o processo pelo qual um indivíduo seleciona um objeto

(geralmente outra pessoa) para dirigir os seus desejos sexuais e/ou

amorosos.”12. Mas, como se dá essa escolha do objeto amado? A

partir da perspectiva psicanalítica, a seleção do objeto de amor, ou

seja, a escolha do objeto é definida como o “ato de eleger uma

pessoa ou um tipo de pessoa como objeto de amor” (Laplanche &

Pontalis, 1998, p. 154).

Esse processo de escolha é descrito

por Freud como alguém psicologicamente significativo. E ainda que

seja um processo consciente, ele o é, também, profundamente

influenciado por conteúdos mentais inconscientes. Desse modo, no

âmbito freudiano, deparamo-nos com duas categorias de escolha de

objeto: a escolha anaclítica e a narcísica. Estas não se contrapõem

nem se excluem mutuamente, podem, ao contrário, intercalar-se,

sobressair-se ou combinar-se.

Na escolha anaclítica, a seleção do objeto se

dá a partir da relação que foi construída entre o bebê e o seu

cuidador, ou seja, se fundamenta no molde fornecido pelas figuras

parentais e/ou uma figura significativa da criança na infância. Isso

12 <https://enciclopediapsi.com.br/escolha-objetal> Acesso em 27.10.2023.

33
implica dizer que a conexão desenvolvida na fase adulta possui

afinidades com o que ocorreu em tempos pretéritos. É uma forma de

reencontro com o objeto amado do passado. Em suma, é um anseio

por ser amado e tratado tal como experenciado junto à mãe/pai

(cuidador). É uma escolha regressiva na qual a mulher alimenta e o

homem protege. Infantilização de modo a acentuar o papel parental

do outro (SALLES; SANCHES; ABRAS, 2013).

O segundo tipo de escolha de acordo com

Freud é a “escolha narcísica”, pela qual o indivíduo tem a si mesmo

como modelo da relação. São pessoas que procuram, de uma certa

maneira, a si mesmos como objeto de amor. É a relação do indivíduo

consigo mesmo. Ama-se o que se é, o que se foi ou o que se gostaria

de ser, ou, ainda, uma pessoa que foi parte da própria pessoa. Em

outras palavras: a pessoa orienta seus desejos amorosos ou sexuais

em direção a alguém que é percebido como uma representação

idealizada de si mesma13. Na verdade, é amado aquilo que falta ao

ego (eu) de modo a satisfazer o seu ideal14.

Para resumir, do exposto, vale dizer que na

escolha anaclítica opta-se por um parceiro que ofereça apoio e

13
“In” <https://enciclopediapsi.com.br/escolha-objetal-narcisista> Acesso em 20.08.2023.

14
“In” <https://enciclopediapsi.com.br/escolha-objetal-narcisista> Acesso em 20.08.2023.

34
carinho nos modelos parentais, com um parceiro que represente

qualidades de proteção ou nutrição. Por outro lado, na escolha

narcísica, o indivíduo busca a si mesmo como objeto de amor. Logo,

segundo a teoria psicanalítica de Freud, a escolha amorosa não é

aleatória. Os seres humanos têm dois objetos sexuais: nós mesmos

e o cuidador na infância. Isso implica que todos possuímos traços

narcísicos, o que influencia nossos relacionamentos amorosos.

Assim, analisaremos a "libido narcísica" (desejo em si mesmo), no

decorrer da história ocidental, para compreender as variações na

forma como vivenciamos os relacionamentos amorosos, vivência

essa moldada pelo período histórico em que a pessoa está inserida.

5. Libido narcísica – o amor nos relacionamentos amorosos na

periodização da história ocidental – da Idade Antiga à Idade

Contemporânea.

No contexto da Psicanálise, o narcisismo

evoca o mito grego de Narciso, um jovem muito belo, que despreza

pretendentes, e é fascinado com a própria beleza, apaixona-se por

sua imagem refletida nas águas de um rio, o que o levou à morte ao

se afogar tentando tocar a imagem refletida. Ele morre como

35
consequência de um amor sem limites sobre si mesmo. Esse

afogamento pode ser visto como uma metáfora pela qual na definição

de narcisismo nos prendemos ao nosso mundo interno em

desconsideração e ignorando o externo que nos circunda.

Assim, a libido narcísica representa o

investimento emocional em si mesmo, o desejo por si mesmo,

direcionando a energia psíquica para a autoestima e buscando

satisfação interna15. Isso quer dizer que todos nós somos numa certa

medida um pouco narcísicos e isso é importante para possamos nos

delimitar em relação aos outros e ao mundo exterior. É uma proteção.

De acordo com Freud, nos apaixonamos por

indivíduos que refletem nossos ideais de nós mesmos, preenchendo

nossas necessidades narcísicas. Porém, a energia emocional

focada em nós mesmos (libido narcisista), não nos satisfaz

completamente. É importante direcionar parte dessa energia para os

outros, pois um excesso de foco em nós pode fortalecer o impulso de

autodestruição. Lembra do Narciso? E isso levaria a um narcisismo

prejudicial. Freud argumenta que o amor é uma força que limita o

15AMENDOEIRA, Wilson. Comemoração ao centenário das Conferências Introdutórias à Psicanálise


(1916-1917) de S. Freud A teoria da libido e o Narcisismo. “In”
<https://febrapsi.org/storage/2017/02/a-teoria-da-libido-e-o-narcisismo--wilson-amendoeira.pdf>

36
narcisismo (CÂMARA, 2008)16. Libido narcísica não equilibrada e

excessiva pode resultar em limites à própria pessoa como pessoa,

absolutamente centrada em si mesma e, também, pode levar a

problemas de relacionamentos.

E quando o amor é recíproco, a tensão entre

o eu e o outro diminui, aliviando a inveja em relação às qualidades e

habilidades do parceiro. Os músicos contemporâneos Djavan e

Fernando Mendes capturam todo esse conceito de libido narcísica

nas respectivas letras das músicas “Oceano” e "Você não me

ensinou a te esquecer".

“Oceano”

... Amar é um deserto e seus temores

Vida que vai na sela dessas dores

Não sabe voltar, me dá teu calor

Vem me fazer feliz porque eu te amo

Você deságua em mim e eu oceano

Esqueço que amar é quase uma dor

Só sei viver se for por você...

16
CÂMARA, Gabriel. “Paixão e amor na nossa MPB”.
“In” Cógito versão impressa ISSN 1519-9479. Cogito v.9 n.9 Salvador. 2008
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792008000100006> Acesso em
20/02/2024.

37
“Você não me ensinou a te esquecer”

...Agora o que eu faço da vida sem você. Você não me ensinou a te

esquecer. Você só me ensinou a te querer. E te querendo vou

tentando me encontrar. E nesse desespero em que eu me vejo já

cheguei a tal ponto de me trocar diversas vezes por você. Só pra

ver se te encontro...

Na Antiguidade Clássica onde se originam as

primeiras reflexões sobre o amor na cultura ocidental, a libido

narcísica se manifestava de maneira mais aberta em comparação

com outros períodos da história ocidental. Diversos tipos de relações

amorosas e sexuais, como a pederastia, eram socialmente aceitos

(PUCCI e SANCHES apud SOUZA) 17. Naquela época, a vida sexual

não era vista como pecaminosa, mas sim como algo natural e

essencial, discutida abertamente por meio da arte e da mitologia.

Durante a Idade Média, à medida que o

feudalismo se consolidava e os preceitos cristãos ganhavam poder

através da Igreja, a expressão da sexualidade passou a ser

considerada condenável e pecaminosa. Nesse período, houve uma

17<https://ensinarhistoria.com.br/periodizacao-da-historia-uma-discussao-sem-fim/> Acesso em
02.07.2023

38
intensa luta para suprimir a dimensão narcísica do amor, devido à

forte repressão aos prazeres corporais e sexuais.

Entretanto, apesar de todas as restrições a

libido narcísica persistia, buscando oportunidades para se expressar.

Um exemplo é o chamado “amor cortês”, no qual o ser amado é

exaltado intensamente, é um objeto de renúncia e não concretização,

e acompanhado de conflitos e sofrimentos, sendo que para Freud

(1914), a satisfação sexual não se limita ao ato em si, podendo

ocorrer também de outras formas além da interação sexual com a

pessoa18.

Na Idade Moderna (1453-178919), os padrões

de relacionamento ainda refletiam a influência da era medieval,

mantendo a restrição à libido narcísica20. No século XVIII surge o

"amor romântico", onde a idealização do amor persiste, similar ao

amor cortês. Nesse contexto, a outra pessoa é vista como uma fonte

de completude e realização. Contudo, o impacto mais significativo

18PUSSI, Anna Sophia. SANCHES, Aline. “RELAÇÕES AMOROSAS AO LONGO DA HISTÓRIA


OCIDENTAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO CONCEITO DE NARCISISMO” “In” VII CIPSI 08 a 08 de
junho de 2018 –
<https://www.npd.uem.br/eventos/assets/uploads/files/evt/6/trabalhos/6_974_1523803930.pdf> página 03
no online. Acesso em 06.07.2023.
19“...a Idade Moderna começou com a conquista de Constantinopla pelos otomanos em 1453 e se
encerrou com a tomada da Bastilha em 1789...” “in”
<https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/idade-moderna.htm > Acesso em 04.07.2023.

20PUSSI. Anna Sophia. SANCHES, Aline. “RELAÇÕES AMOROSAS AO LONGO DA HISTÓRIA


OCIDENTAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO CONCEITO DE NARCISISMO” “In” VII CIPSI 08 a 08 de
junho de 2018 –
<https://www.npd.uem.br/eventos/assets/uploads/files/evt/6/trabalhos/6_974_1523803930.pdf> página 03
no online. Acesso em 06.07.2023.

39
desse período foi a possibilidade de casamentos por amor,

impulsionada pela nova estrutura econômica industrial e a formação

da família nuclear21.

Assim, segundo Pucci e Sanches (2018)

“seria a primeira vez na história ocidental que se tem relatos da

junção da corrente sensual e da corrente afetiva em um único

companheiro.” 22
. Foi nesse momento que a mulher, mesmo

confinada monogamicamente para sempre ao casamento, começa a

construir sua identidade como mulher-esposa-mãe e os maridos

passam a ser reconhecidos como parceiros na criação de uma

conexão emocional. Ademais, os ideais desse “amor romântico”

foram transmitidos pela primeira vez para a grande massa através da

literatura do gênero “romance”23.

Mais à frente, com a ascensão do capitalismo

e a transição para uma sociedade de consumo, os relacionamentos

amorosos passaram por transformações profundas. Na sociedade

contemporânea, há uma gama de novas dinâmicas: relacionamentos

abertos, homoafetivos, autonomia na escolha dos parceiros, trocas

21 Ibid. p. 04.
22 Ibid. p. 04.
23TOLDY, Teresa Maria L. de Assunção M. “Transformações da Intimidade de Giddens à Luz de Alguns
Conceitos Fundamentais de Max Weber”. Faculdades de Ciências Humanas e Sociais, UFP. Professora
auxiliar. “In”
<https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/642/1/225-241FCHS2004-9.pdf> Acesso em 18/11/2023.

40
igualitárias, falta de compromisso, receio de se entregar ao

sentimento, mudanças frequentes de parceiros, imediatismo, falta de

paciência e a percepção de que nada é duradouro. Os vínculos

afetivos se formam e se desfazem com a mesma velocidade,

refletindo a rapidez da vida moderna24.

O sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017)

cunhou o termo "Modernidade Líquida" para descrever o momento

histórico que vivemos, caracterizado pela busca rápida e superficial

de tudo. Para esse autor, na nossa era, as relações são tratadas

como mercadorias e sem espaço para construções sólidas. Os

indivíduos enfrentam dificuldades na formação de laços afetivos,

desejando o amor como um objeto descartável. Os relacionamentos

amorosos têm se apresentado voláteis. Priorizam-se finais rápidos e

sem dor, buscando evitar o sofrimento a todo custo.

De acordo com Lasch (1993), conforme

discutido por Pucci e Sanches25, as relações atuais são influenciadas

por uma cultura narcisista, onde o indivíduo coloca seus próprios

24Smeha, Luciane Najar; Oliveira, Micheli Viera de. (2023) “Os relacionamentos amorosos na
contemporaneidade sob a óptica dos adultos jovens”. “In” Psicol. teor. prat. vol.15 no.2 São
Paulo ago. 2013. “In” <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
36872013000200003#:~:text=Os%20relacionamentos%20amorosos%20da%20contemporaneidade,meno
s%20paci%C3%AAncia%20e%20mais%20imediatismo> Acesso em 14.07.2023.

25PUSSI. Anna Sophia. SANCHES, Aline. “RELAÇÕES AMOROSAS AO LONGO DA HISTÓRIA OCIDENTAL: UMA
ANÁLISE A PARTIR DO CONCEITO DE NARCISISMO” “In” VII CIPSI 08 a 08 de junho de 2018 –
<https://www.npd.uem.br/eventos/assets/uploads/files/evt/6/trabalhos/6_974_1523803930.pdf> página 04 no
online. Acesso em 06.07.2023.

41
prazeres acima do bem coletivo. Nesse contexto, o desejo de

satisfazer a libido narcísica afeta as conexões interpessoais,

resultando em uma diminuição do interesse por relacionamentos

genuínos26.

Todavia, por outro lado, “os males do amor,

da impossibilidade de amar e ser amado ou de construir relações

amorosas estáveis tornaram-se o pivô de boa parte dos estados

depressivos atuais e das demandas de psicanálise”. (Menezes apud

Costa, 1998, p.48)27. Apesar da prevalência do aspecto narcísico

atual, persiste a crença em um amor forte e resiliente capaz de

superar todos os obstáculos e manter os apaixonados unidos e

felizes.

Por fim, é importante destacar que tudo o que

foi exposto acima, ou seja, a forma como os relacionamentos

amorosos se desenvolveu ao longo da história no tocante à libido

narcísica, ressoa no campo da literatura. Aliás, esse canal foi

profundamente explorado por Freud ao longo de sua obra. Portanto,

26Ibid. p. 04.

27 MENEZES. José Euclimar Xavier de; BARROS, Maria Josephina Silveira. Ressonâncias do romantismo
no discurso freudiano sobre o amor. Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482
Estud. psicanal. n.31 Belo Horizonte out. 2008
In <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100010> Acesso em
12/01/2024.

42
vamos mergulhar na jornada literária do amor e do sofrimento que o

acompanha!

6. O amor refletido na literatura ocidental – da Idade Média às

Idades Moderna e Contemporânea.

Psicanálise, amor e literatura são elementos

que se entrelaçam e se sobrepõem no nosso psiquismo28. A

literatura, através dos seus personagens, no decorrer do tempo,

discorre sobre os dilemas do amor nos relacionamentos amorosos,

contemplando incontáveis conflitos emocionais estudados por Freud.

Aliás, para o pai da psicanálise, a literatura representava o futuro da

Psicanálise, pois capturava as narrativas dos sofrimentos humanos,

desde os textos clássicos gregos até a literatura moderna,

oferecendo formas de explorar as questões mentais dos seres

humanos. Assim, Freud trouxe uma perspectiva inovadora para a

compreensão dos fenômenos humanos, incluindo emoções, desejos

e relacionamentos interpessoais, que, por sua vez, desempenham

um papel fundamental na literatura.29

28
<https://www.sympla.com.br/evento-online/amor-literatura-e-psicanalise-uma-introducao-a-obra-de-
elena-ferrante/1737138> Acesso em 02.11.2023.

29
<https://www.sympla.com.br/evento-online/amor-literatura-e-psicanalise-uma-introducao-a-obra-de-
elena-ferrante/1737138> Acesso em 02.11.2023.

43
A literatura, portanto, ao longo da história,

reflete as grandes transformações na forma de vivenciar os

relacionamentos amorosos. Ela (literatura), ao criar e recriar textos,

está sempre a buscar meios de definir o que é o sentimento do amor,

e tudo isso sempre dentro de contextos históricos, sociais,

ambientais, econômicos, políticos, religiosos e culturais.

Mais. A literatura desempenha um papel

essencial na conexão entre o analista e o paciente, possibilitando que

este último narre sua história, emoções e pensamentos, tanto

conscientes quanto inconscientes. Essa expressão engloba diversas

experiências emocionais, enriquecidas por influências desde a

infância, como filmes, novelas, livros, contos de fadas e música.

Segundo Ferreira30, na literatura ocidental, o

tema amor tem início com os trovadores31 do sul da França32, na

região da Provença, que influenciaram as cantigas galego-

portuguesas. Nesse ambiente, surge, na literatura medieval, o

chamado "amor cortês", já citado neste trabalho, através das

30 FERREIRA, Nádia Paulo. “O Amor na Literatura e na Psicanálise” in


<https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/o.amor.nadia.pdf>, Rio de Janeiro, UERJ –
SR3 – DEPEXT – Publicações Dialogarts, 2008, p. 7. Acesso em 23.05.2023.
31 “O Trovadorismo é um movimento literário medieval que tem representações principalmente nas
regiões onde hoje estão localizados a França, a Espanha e Portugal. As produções literárias do
Trovadorismo são chamadas de cantigas.”. In
<https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/trovadorismo.htm> Acesso em 14.06.2023.
32 FERREIRA, Nádia Paulo. “O Amor na Literatura e na Psicanálise” in
<https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/o.amor.nadia.pdf>, Rio de Janeiro, UERJ –
SR3 – DEPEXT – Publicações Dialogarts, 2008, p. 7. Acesso em 23.05.2023.

44
denominadas “cantigas de amor”. Esse amor tem por base um amor

impossível e a renúncia ao objeto amado, onde os homens sofrem

de amor, porque desejavam mulheres da corte que normalmente

eram casadas com nobres.

Esses indivíduos, muitas vezes cavaleiros e

vassalos da mesma corte da mulher amada, a idealizavam como uma

figura inatingível, celestial e quase divina, a quem dedicavam um

amor sublime, caracterizando uma relação de vassalagem amorosa33


34
. No amor cortês, tanto o objeto amado quanto o próprio sentimento

são idealizados. A partir desse período, especialmente no século XII,

o tema do amor passa a estar intrinsecamente ligado a dor e ao

sofrimento.

Para além do amor cortês, os trovadores

medievais também celebraram o amor apaixonado por meio das

"cantigas de amigo", onde homens expressavam os sentimentos de

mulheres apaixonadas. Nessas composições, embora o amor seja

exaltado como fonte de felicidade, a dor e o sofrimento também estão

presentes. Nas "cantigas de amigo", a mulher sofre pela separação

do amigo, que pode ser também seu amante ou namorado, vivendo

33 FERREIRA, Nádia Paulo. “O Amor na Literatura e na Psicanálise” in


<https://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/o.amor.nadia.pdf>, Rio de Janeiro, UERJ –
SR3 – DEPEXT – Publicações Dialogarts, 2008, p. 7. Acesso em 23.05.2023.
34 In https://www.dicio.com.br/amor-cortes/ > Acesso em 10.06.2023.

45
na incerteza sobre seu retorno ou se será substituída por outra

pessoa.

No final do século XVIII, nasce na Europa o

movimento literário “Romantismo”, que se estende até finais do

século XIX. Nesse período o amor é retomado como sentimento de

paixão, através da incorporação de elementos das Cantigas de Amor

e Amigo, ou seja, sentimentalismo profundo, amor platônico, e

idealismo da mulher amada. “Busca-se a unidade absoluta entre os

amantes” (MENEZES; BARROS apud ABBAGNANO, 2002, P. 862).


35

No Romantismo, o drama amoroso atinge

níveis extremos, levando os amantes a sacrificarem suas próprias

vidas em nome do amor (FERREIRA, 2008, p. 08). Um exemplo

marcante é o romance "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774)36,

de Goethe, considerado o primeiro romance romântico publicado. A

história narra a paixão avassaladora de um homem por uma mulher

comprometida, culminando em seu suicídio. Este livro é associado a

inúmeros casos de suicídio no século XVIII. O jovem Werther

35 MENEZES. José Euclimar Xavier de; BARROS, Maria Josephina Silveira. Ressonâncias do romantismo
no discurso freudiano sobre o amor. Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482
Estud. psicanal. n.31 Belo Horizonte out. 2008
In <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100010> Acesso em
12/01/2024.
36GOETHE, Johann Wolfgang. Tradução: Marcelo Backes. “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. L&PM
Pocket. Edição comentada. 2001.

46
exemplifica as lições de Freud, mostrando como o ser humano se

torna vulnerável ao sofrimento quando está amando, especialmente

quando perde ou não é correspondido pelo objeto de seu amor.

Além disso, no que diz respeito à intensidade

dramática dessa corrente literária, destaca-se um dos mais

proeminentes e influentes escritores brasileiros, Machado de Assis.

Este autor navegou por uma vasta gama de estilos literários,

concentrando-se especialmente em contos e romances. Em suas

obras românticas, Machado de Assis mergulhou nas paixões e

costumes da época, explorando os intricados aspectos da psique

humana. Seu estilo é marcado pelo pessimismo e por uma crítica

sarcástica à condição humana: “amor repelido é amor multiplicado”;

“o amor é egoísmo duplicado”37.

Dentro do contexto dramático do romantismo,

destaca-se o romance "Iracema", de José de Alencar, onde o amor

entre o personagem herói português Martim e a índia Iracema,

conhecida como a "Virgem dos Lábios de Mel", é retratado de forma

idealizada, destacando a pureza de Iracema. Na realidade, Iracema

é a guardiã de um segredo vital e, por isso, deve preservar sua

castidade para manter-se viva, o que intensifica a atração entre os

37 “In” <https://www.pensador.com/frases_de_amor_de_machado_de_assis/> Acesso em 14/02/2024.

47
dois personagens38. É interessante observar um paralelo com a

música contemporânea "Tua Boca", do cantor Belo, que diz:

Mel, tua boca tem o mel

E melhor sabor não há

Que loucura te beijar

Céu tua boca tem o céu

Infinito no prazer

Toda vez que amo você...39

Após o período romântico, surge no início do

século XX o movimento literário conhecido como "Modernismo".

Neste cenário, os autores, ao romperem com as tradições literárias,

exploram a complexidade dos relacionamentos amorosos,

enfatizando as emoções individuais e os conflitos internos dos

personagens. Em suma, no Modernismo, há uma ruptura com as

limitações das regras estéticas, uma valorização da subjetividade e

uma representação mais fiel da realidade da época. Os escritores

38<https://editoraunesp.com.br/blog/romance-de-jose-de-alencar-mescla-enredo-ficcional-e-argumento-
historico> Acesso em 16/01/2024.

39 <https://www.letras.mus.br/belo/44479/> Acesso em 16/01/2024.

48
buscam chocar e se conectar com o público, comunicando-se por

meio de humor e ironia40.

No Brasil, um exemplo emblemático é a obra

"Macunaíma", do renomado modernista Mário de Andrade. Neste

romance, o protagonista é um anti-herói que se destaca por sua

malandragem, preguiça, individualismo e vaidade. Ele mente com

facilidade e faz o que deseja sem restrições, entregando-se às suas

aventuras amorosas e aos prazeres carnais de maneira desenfreada.

Outro autor do Modernismo é o aclamado

Carlos Drummond de Andrade, que explora e questiona a idealização

romântica do amor. No poema “A Quadrilha”, Drummond mostra o

amor como um jogo de desencontros, desafios e sofrimentos ao usar

a metáfora da quadrilha, que é uma dança popular brasileira, em que

os pares se trocam entre si no decorrer da dança:

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que

amava Lili que não amava ninguém. João foi

para os Estados Unidos, Teresa para o

convento, Raimundo morreu de desastre,

40 “In” <https://www.politize.com.br/modernismo-e-pos-modernismo/ > Acesso em 15/01/2024.

49
Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e

Lili se casou com J. Pinto Fernandes que não

tinha entrado na história.41

No contexto do Modernismo, destaca-se

Vinícius de Moraes, cujas célebres palavras na música "Soneto de

Fidelidade" ecoam: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas

que seja infinito enquanto dure...” 42


Aqui, Vinícius enfatiza que o

amor pode ser intenso, mas, como destacado por Acselrad e Barbosa

(2017) 43, ele se extingue como uma chama, sugerindo viver o amor

com plenitude e intensidade até queimar-se. É a experiência intensa

do amor romântico, embora sem a promessa de eternidade dos

"felizes para sempre".

Nessa conjuntura, surge uma nova

perspectiva no século XX, com a introdução do desquite, que no

Brasil foi estabelecido em 1942 pelo artigo 315 do antigo Código Civil

de 1916 (revogado pelo Código Civil de 2002). Essa modalidade

permitia a separação legal do casal e a divisão de seus bens, porém,

proibia novos casamentos. Somente em 1977, com a Lei do Divórcio

41
< https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/files/2016/08/QUADRILHA.pdf> Acesso em 30.06.2023.
42
https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/86563/ Acesso em 02.07.2023.
43ACSELRAD, Marcio. BARBOSA. Rafaelly Rocha Lima. “O amor nos tempos do Tinder: Uma análise
dos relacionamentos amorosos na contemporaneidade a partir da compreensão de adultos e jovens
adultos”. Estudos e Pesquisas em Psicologia E-ISSN: 1808-4281 revispsi@gmail.com Universidade do
Estado do Rio de Janeiro Brasil. (2017). ‘In”
<https://www.redalyc.org/pdf/4518/451855912010.pdf> Acesso em 12/01/2024.

50
nº 6.515/197744, foi possível revogar a indissolubilidade do vínculo

matrimonial, sendo que essa Lei foi revogada pela Emenda

Constitucional nº 66/2010, que tornou o divórcio direto possível, sem

a necessidade de separação prévia judicial.

Clarice Lispector45, mais uma modernista,

com seu estilo, inovador, intimista e de monólogo interior46, declara

que “No amor, a dor e a felicidade andam de mãos dadas. Quanto

mais profundo o amor, maior a dor de sua perda” e “Amar é não ter

medo da dor, é entregar-se de corpo e alma, mesmo sabendo que

um dia poderá doer”. E escreve:

Porque eu fazia do amor um cálculo

matemático errado: pensava que, somando

as compreensões, eu amava. Não sabia que,

somando as incompreensões é que se ama

verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido

carinho, pensei que amar é fácil.47

44

A Lei do Divórcio nº 6.515/1977 foi revogada pela Emenda Constitucional nº 66/2010, que tornou o
divórcio direto possível, sem a necessidade de separação prévia judicial.
45
Lispector fez terapia psicanalítica na década de 40 na Suíça, e, posteriormente, na sua volta ao Brasil 45,
muito embora, ela se sentisse envergonhada por isso e não queria que tal fato chegasse ao público
[SIMÕES apud MOSER (2011, p. 504)]45. Na verdade, a escritora chega a negar que tivesse feito análise45.

46ALVES, Igor. “Psicanálise e Literatura – relações e autores”. “In”


<https://www.psicanaliseclinica.com/psicanalise-e-literatura/>

47
“A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. Nota: Trecho da crônica Perdoando Deus. “In”
<https://www.pensador.com/frases_de_amor_de_clarice_lispector/> Acesso em 13.11.2023.

51
Dessas palavras podemos compreender uma

profunda reflexão da autora sobre o amor. Ela fala de uma visão

equivocada que tinha sobre o amor. Acreditava ela que para amar

bastaria a soma de compreensões mútuas, entretanto, Lispector se

dá conta que o verdadeiro amor surge não só dessas compreensões,

mas, sim, de incompreensões, adversidades, desafios e dificuldades.

Após o modernismo, em meados do século

XX, surge o movimento literário “pós-modernismo”48, pelo qual os

escritores esquadrinham relacionamentos não convencionais e

momentâneos, em que se verifica a incerteza nas relações

amorosas. Eis Mario Quintana49 com sua poesia ao falar do

sofrimento do amor, que mais parece, e aqui quem ousa dizer é esta

que ora escreve, uma “alma” que se rasga:

Amar, nunca me coube

Mas sempre transbordou

O rio de lembranças

Que um dia me afogou

48 <https://www.todamateria.com.br/escolas-literarias/> Acesso em 16/01/2024.

49“Alfredo Bosi, em sua compilação da literatura brasileira, situa Mario Quintana na poesia pós-modernista
(BOSI, 2015, p. 496).” ALVES, Priscila Viana Alves. MIRANDA, Elis de Araújo. “A CIDADE MODERNA SOB
O OLHAR DO POETA MARIO QUINTANA”. II Congresso Internacional Caleidoscópio da Cidade
Contemporânea. 05 a 08 de junho de 2027. Campos dos Goytacazes. RJ – Brasil. “In”
<https://congressointernacionalcaleidoscopio.uff.br/wp-content/uploads/sites/619/2022/06/A-CIDADE-
MODERNA-SOB-O-OLHAR-DO-POETA-MARIO-QUINTANA.pdf> Acesso em 13.11.2023.

52
E nesta correnteza

Fiquei a navegar

Embora, com certeza,

Não possa me salvar

Amar nunca me trouxe

Completo esquecimento

Mas antes me somou

Ao antigo tormento

E assim, cada vez mais,

Me prendo neste nó

E cada grito meu

Parece ser maior50

Finalmente, mencione-se a literatura chamada

de contemporânea, que é a literatura que se vive hoje, com uma

multiplicidade de tendências que varia de autor para autor. Eis o que

diz a pós-modernista Lya Luft e a seguir, Martha Medeiros, sobre o

amor, que vem acompanhado de dor:

50
<https://www.pensador.com/amor_mario_quintana/> Acesso em 15/01/2024.

53
O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo

dos nossos pés, faz com que nos defrontemos com medos e

fraquezas aparentemente superados, mas também com

insuspeita audácia e generosidade. E como habitualmente

tem um fim - que é dor - complica a vida. Por outro lado, é um

maravilhoso ladrão da nossa arrogância.

Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de

vir com jeito. Somos um território mais difícil de invadir,

porque levantamos muros, inseguros de nossas forças

disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares imponentes.

A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar

com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade,

querer com mais doçura.

Às vezes é preciso recolher-se.51

Lya Luft

Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um

novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos52.

Martha Medeiros

51

<https://www.pensador.com/lya_luft_sobre_o_amor/#:~:text=A%20maturidade%20me%20permite%20olh
ar,vezes%20%C3%A9%20preciso%20recolher%2Dse.&text=N%C3%A3o%20importa%20quanto%20tem
po%20j%C3%A1,o%20mesmo%2C%20e%20a%20esperan%C3%A7a.> Acesso em 16/01/2024.
52 <https://www.pensador.com/martha_medeiros_pensamentos_sobre_o_amor/> Acesso em 16/02/2024.

54
Sobre aceitar a partida de um amor.

[...] Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.

É o arremate de uma história que terminou,

externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também

sair de dentro da gente…

E só então a gente poderá amar, de novo53

Martha Medeiros.

Enfim, conforme se depreende da literatura

ocidental ora discorrida, verifica-se que no decorrer da história até

hoje, o relacionamento amoroso traz consigo a ideia de idealização,

êxtase, intensidade, dor e sofrimento. Presentes estão na literatura a

necessidade de amar e, por ouro lado, o fantasma do sofrimento.

Histórias contadas mostram mocinhos e mocinhas cheios de

obstáculos para ficarem juntos e alcançarem o conhecido final

“felizes para sempre”, mas só depois de muito sofrimento. Um

exemplo é o romance da Juma e do Jovi na novela Pantanal, que

tanto sucesso fez na primeira e segunda versões. Foram obstáculos

e mais obstáculos, dores e mais dores até que finalmente no final da

história eles encontraram a utópica “felicidade suprema do amor!”

53 <https://www.pensador.com/martha_medeiros_pensamentos_sobre_o_amor/> Acesso em 16/02/2024.

55
De todo o exposto, Freud é preciso:

...Nunca somos tão indefesos contra o sofrimento quando

amamos, nunca tão impotentes e infelizes como quando

perdemos o objeto amado ou o seu amor.

E haja sofrimento! E haja dor!

Ah! A dor do coração partido! Afinal, o que é isso?

7. O Coração Partido e a Síndrome do Coração Partido.

O que é isso?

Durante a vida, a realidade, por incontáveis

vezes, não condiz com os nossos desejos e vontades, e isso

geralmente traz sofrimentos. O coração partido pode ser um desses

sofrimentos. Coração partido é uma metáfora que traz a

compreensão de como nos sentimos frente a uma desilusão

amorosa, em que acreditamos que não há solução alguma, mas, que,

por outro lado, com paciência, poderemos acabar por perceber que

é possível tirar lições desse sofrimento, ou seja, ressignificar tudo

56
isso e tocar adiante. Mas, enfim, o que é esse tal de “coração

partido”?

De acordo com Freud e como já mencionado

neste trabalho, o bebê ao nascer tem o seu investimento libidinal

(desejo), no próprio corpo. Esse investimento inicial leva o nome de

narcisismo primário54, que é mantido pelo amor dos pais

(cuidadores), e que dá ao bebê a sensação de completude e

onipotência. A criança acredita que é tudo para a mãe (cuidador), só

que com o tempo percebe que isso era uma ilusão, pois a mãe

(cuidador) também tem interesses por outras pessoas, situações e

coisas, como uma vida amorosa e profissional, por exemplo.

E, é exatamente isso que acontece quando

nos apaixonamos, e já discorrido no item 2 deste trabalho, ou seja,

no estado da paixão imaginamos e acreditamos que a pessoa amada

irá preencher todas as nossas expectativas, assim como

acreditávamos nisso quando éramos bebês. Ledo engano! Nossas

expectativas e idealizações jamais serão 100% atendidas pelo outro,

aliás, muito longe disso. Nós é que construímos, consciente e

inconscientemente, dentro da nossa “cabecinha”, a imagem da

54 FREUD, Sigmund. “Introdução ao Narcisismo, Ensaios de metapsicologia e outros textos”. Obras


Completas Volume 12. (914-1916). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda,
2010.

57
pessoa ideal, da “cara metade”, do “amor eterno”. Lembra do amor

cortês lá da Idade Média, discorrido neste trabalho, em que a

idealização está absolutamente presente na forma de amar? Pois é...

No filme "500 dias com ela", de 2009, o

personagem Tom desafia convenções ao ser retratado como o

homem que idealiza o amor, acreditando que sua existência ganhará

sentido ao encontrar sua alma gêmea. Ele se depara com Summer

(palavra inglesa com o significado de “verão), uma mulher que

desdenha de relacionamentos convencionais e, ao mencionar seu

interesse por Will Smith assim como Tom, ele aposta todas as suas

fichas na esperança de que ela corresponda às suas fantasias

amorosas. Entretanto, Summer deixa claro que não busca

compromissos e rejeita a ideia de uniões estáveis. Em vez de seguir

o enredo previsível de romances convencionais, onde o protagonista

convenceria a protagonista do amor verdadeiro para viverem felizes

para sempre, o filme adverte: "Esta é a história do rapaz que encontra

a garota. Mas saiba que não é uma história de amor." Tom constrói

o par perfeito e se coloca de vítima quando o outro não

corresponde55.

55
“In” <https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/a-idealizacao-do-amor-romantico-em-500-
dias-com-ela/> Acesso em 14/02/2024.

58
Quando idealizamos alguém estamos

fadados à frustração e à desilusão. É como esperar que uma maçã

se transforme magicamente em uva só porque preferimos uvas. No

início, podemos estar cegos pelo amor, vendo nosso parceiro como

a uva dos nossos sonhos. Mas eventualmente, os sinais da maçã

começam a aparecer. A desilusão se instala. Por mais que tentemos

moldar a maçã à nossa vontade, ela nunca será uma uva. Cada

pessoa é única e oferece o que tem, pode e quer, ou sabe querer.

Se tentarmos forçar uma maçã a ter o sabor e

a cor de uma uva, ela simplesmente não se importará. Talvez até

tente se adequar, mas inevitavelmente se rebelará. Imaginem a

angústia de uma maçã sendo forçada a se tornar uma uva! Na vida

cotidiana, vemos inúmeras tentativas de moldar e tentar encaixar a

nós mesmos, e outras pessoas em padrões. O resultado?

Sofrimento.

Quando bebês, acreditamos que os nossos

desejos são realidade, e, repita-se, temos as sensações de

completude e onipotência. Na vida adulta, projetamos a completude

e onipotência no objeto do nosso amor. O adulto tenta resgatar as

sensações da infância ora citadas. E como consequência, muitos

acreditam que não podem viver sem o objeto amado e se sentem

incompletos. Quem nunca passou por isso?

59
É inevitável nutrir certas esperanças e

expectativas, porém, desde que assumamos o controle disso. É

crucial compreender que a nossa felicidade depende de nós

mesmos. Libertar-se dessa prisão emocional significa não se

submeter ao domínio das ações ou emoções alheias e, também

desvincular-se de autoridades que não têm poder sobre nós.

Depositar nossas necessidades de

completude em outra pessoa traz dor e sofrimento, e quando a

relação termina ou há o temor do rompimento, sentimos o chão

desaparecer sob os nossos pés, e isso pode causar, inclusive, a

chamada “síndrome do coração partido”, em que os sintomas

apresentados são similares aos de um ataque cardíaco, como dor no

peito, falta de ar e cansaço56.

Essa síndrome é considerada uma condição

rara e geralmente ocorre em momentos de grande estresse

emocional, como separações ou perdas familiares. Embora seja mais

comum em mulheres próximas aos 40 anos, pode afetar pessoas de

qualquer idade, incluindo homens. E, apesar de ser vista

tradicionalmente como uma condição psicológica, estudos mostram

que durante a síndrome, os ventrículos cardíacos não funcionam

56
“In” https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/hcor-alerta-sobre-importancia-dos-esportes-no-
combate-a-sindrome-do-coracao-partido/> Acesso em 14/02/2024.

60
corretamente, mimetizando um ataque cardíaco e resultando em uma

aparência semelhante à de um coração partido. Essa condição tem

sido objeto de estudo por muitos anos por se tratar de algo muito

perigoso (hcor.com.br- Associação Beneficente Síria)57.

Mas afinal, o que é essa dor de amar? O que

tanto dói numa separação amorosa?

8. Que dor é essa de amar? o que dói tanto numa ruptura amorosa?

...Enquanto há dor, também temos as forças disponíveis para

combatê-la e continuar a viver (Nasio, 1997). 58.

Na tragédia grega, Sófocles explora a dor por

meio de conflitos carregados de trágico, e enfatiza a angústia diante

do inevitável destino da humanidade: a dor. Willian Shakespeare

afirmava que “todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem

a sente.”59. Na literatura romântica do século XIX, o poeta britânico

Lorde Byron expressa sobre a alternância entre amor e dor: “A dor é

57
“In” https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/hcor-alerta-sobre-importancia-dos-esportes-no-
combate-a-sindrome-do-coracao-partido/> Acesso em 14/02/2024.

58
NASIO, J-D. “O livro da dor e do amor” (p. 20). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
59
Trecho da peça "Muito Barulho Por Nada", de William Shakespeare. In
<https://www.pensador.com/frase/MTUxMA/> Acesso em 22.05.2023

61
o preço que pagamos por amar verdadeiramente”, “No amor alternam

a alegria e a dor”60.

A “dor” transpassa as páginas da obra de

Sigmund Freud61, como um eco constante da condição humana.

Encarada como um desafio na prática clínica, ela, a dor, se revela

resistente a uma interpretação definitiva, pois não existe um olhar

possível e definitivo para essa condição62. Segundo Freud, a dor

primordial reside na condição de desamparo como bebê humano. A

dor está, portanto, intimamente entrelaçada à condição humana.

Todos nós passamos por dores ao longo da

vida - a perda de um ente querido, o fim de relacionamentos,

momentos difíceis, problemas financeiros, desemprego e doenças.

Embora as origens da dor possam se assemelhar, cada pessoa a

sente de maneira única e pessoal. Ninguém pode sentir a dor de

outra pessoa, pois cada um tem sua própria história. A dor é subjetiva

60
<www.pensador.com.br> Acesso em 10/03/2024.

61 Freud explorou diferentes aspectos da dor e do prazer em várias de suas obras, incluindo a distinção
entre dor e sofrimento, dor e desprazer, e a ligação entre dor e desamparo. Ele também investigou a
capacidade de tolerar a frustração, o investimento na dor corporal e a dor associada à perda do objeto
amado, além de abordar a relação quantitativa entre dor e prazer. Em seus trabalhos, Freud diferenciou a
dor corporal, narcísica e mental, destacando suas concepções teóricas sobre a angústia e a dor em relação
aos objetos e à mente.
Obras em que Freud discorre sobre os temas citados logo acima:
“Projeto para uma Psicologia Científica” - “Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental”
- “Sobre o narcisismo: uma introdução” - “Mais além do princípio do prazer” - “O problema econômico do
masoquismo” - “O problema econômico do masoquismo” - “Inibição, sintoma e angústia”

62BRAGA, Heuthelma Ribeiro; RODRIGUES, Hermano de França Rodrigues. “A EXPERIÊNCIA DA DOR


NA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA” “In”
TRABALHO_EV108_MD1_SA13_ID1578_21052018185306.pdf (editorarealize.com.br). Acesso em
25/01/2024.

62
e, às vezes, serve como um alerta de que algo não está certo em

nosso corpo e/ou mente.

A dor pode ser física e/ou psíquica. A dor

física se localiza na carne enquanto a dor psíquica encontra sua

morada no espaço imaterial, muito embora, saibamos que a dor

psíquica e/ou emocional traz repercussões físicas e vice-versa, ou

seja, elas se entrelaçam. Desse modo, do ponto de vista da

Psicanálise, “não há diferença entre dor física e dor psíquica. A razão

disso é que (...) a dor é um fenômeno misto que surge no limite entre

corpo e psique”63.

Especificamente quanto a dor de amar, vale

dizer que para Freud o amor é a base intransponível das nossas

aflições e sofrimentos. Diz o pai da Psicanálise que “quanto mais se

ama, mais se sofre” (FREUD apud NASIO, 1997, p. 53). Sendo

assim, surge a questão: o que dói tanto numa ruptura amorosa?

Freud ensina que é justamente a “perda do

ser amado ou do seu amor” 64. A expressão “perda do ser amado” é

usada por Freud essencialmente nos trabalhos “Inibição, Sintoma e

Angústia”, e “Mal-Estar na Civilização” (NASIO, 1996). Neste último

63 NASIO, J-D. “O livro da dor e do amor” (p. 19). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

64
SEMER, Norma Lottenberg. (2012) “Dor e sofrimento psíquico: uma reflexão sobre as relações e
repercussões corpo e mente”. Revista Brasileira de Psicanálise · Volume 46, n. 3, 188-199 · 2012. “In”
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbp/v46n3/v46n3a13.pdf> Acesso em 03.09.2023.

63
trabalho, Freud traz três fontes de sofrimento do ser humano, quais

sejam: os sofrimentos do corpo (doenças, velhice), o mundo externo

(dinossauros no passado e as notícias trágicas, violentas e cheias de

sangue que nos inundam nos dias de hoje), e as relações com os

outros, com todas as suas frustrações. E Freud é preciso no sentido

de que o sofrimento proveniente das relações humanas é talvez o

mais difícil para nós do que qualquer outro.

A dor num fim de relacionamento amoroso é

como um corte entre mim e o outro(a). O ‘eu” entra em desespero e

fica desolado. A perda da pessoa amada faz com que o “eu” mobilize

suas forças vitais para concentrá-las na representação psíquica do

amado perdido. A partir desse ponto, o “eu” se empenha em

preservar intensamente a imagem mental da pessoa que partiu65. A

dor de amar é direcionada e investida na representação da pessoa

que se ama. Em outras palavras: o sofrimento se concentra na

imagem da pessoa amada e no descarte das outras imagens66.

O objeto do amor não sai da mente por um

tempo, muitas vezes a sensação é que a pessoa está quase que as

65 NASIO, J-D. “O livro da dor e do amor” (p. 19). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

66 Ibid. p. 19.

64
24 horas do dia, dos sete dias da semana no nosso pensamento.

Afinal,

...O amado me protege contra a dor enquanto o seu ser palpita em

sincronia com os batimentos dos meus sentidos. Mas basta que ele

desapareça bruscamente ou me retire o seu amor, para que eu

sofra como nunca. 67

Daí se depreende que quando alguém está

com o seu amado desfruta das delícias e maravilhas da sua

presença. Porém, na ausência do parceiro, mergulhamos em um

mundo interior, repleto de dores, desejos e, também, fantasias. E

toda essa dor é vivida através de um processo de luto, que é uma

reação à perda do objeto amado ou do seu amor, ou seja, a pessoa

sente a “morte” da presença de alguém que está vivo(a). De todo

modo, atualmente, na sociedade individualista em que vivemos, o

sujeito contemporâneo busca a felicidade, a satisfação e o prazer de

forma incessante e imediata. Há uma verdadeira fuga contra a dor e

o sofrimento, e cada um que dê conta de seus próprios sentimentos

frente a uma separação amorosa.

Afinal, quem gosta de sofrer?

O sofrimento, hoje, é evitado a todo custo por muitos, mas ele não

67
Ibid. p. 27.

65
desaparece por vontade própria. Ocultar a dor e o luto atualmente é

comum, mas não resolve. Suprimir emoções não é uma solução

eficaz; pois, eventualmente, essas emoções se manifestam de outras

formas, como irritabilidade inexplicável ou até mesmo problemas de

saúde. Além disso, somos seres sociais e o sofrimento faz parte das

interações humanas.

Mas, há remédio para se proteger da dor de

amar? Segundo Freud, sim! E, quais são os sentimentos oriundos

de uma separação amorosa?

9. Há remédio para se proteger da dor de amar numa ruptura

amorosa? Quais são os sentimentos oriundos de uma separação

amorosa?

Qual seria esse remédio para se proteger da

dor de amar? O amor ao próximo! Oi? Oi? Como assim? Muita calma

nesta hora... Diz Freud: “Se você ama sofre. Se não ama, adoece.”.

O psicanalista Nasio esclarece:

Certamente, nada mais natural do que amar para evitar o conflito

com o outro. Vamos amar, sejamos amados e afastaremos o mal.

66
Entretanto, é o contrário que ocorre. O clínico Freud constata:

“Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como

quando amamos, nunca estamos tão irremediavelmente infelizes

como quando perdemos a pessoa amada ou o seu amor.” 68

E, embora cada separação amorosa seja

única e singular, eis sentimentos comuns que surgem aos que

vivenciam esse processo: estresse, queda na autoestima, tristeza,

raiva, culpa, fadiga, ansiedade, solidão, fraqueza, déficit de memória,

revolta com a vida, isolamento e sensações físicas, como dores no

peito, falta de ar, alterações no sono e no apetite. Aliás, na hierarquia

das causas de estresse, a separação amorosa se posiciona

imediatamente após a perda de um ente querido ou o impacto de ser

preso, e pode ser considerada (separação amorosa), equivalente ao

trauma causado pela perda da única fonte de subsistência (GIUSTI

apud MARCONDES et al, 2006).

Além disso, vale dizer que rompimento de

relacionamentos amorosos também traz sentimentos ambivalentes,

ou seja, contraditórios, é o amor e ódio lado a lado. De acordo com

Baker (Baker, 2001), o indivíduo experimenta um desejo de reparar

68 NASIO, J-D. “O livro da dor e do amor” (p. 27). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

67
a perda e destruir o objeto amado até então internalizado como “bom”

(Baker, 2002). Em outras palavras, nessa fase, podem surgir

desejos, por vezes inconscientes de destruir o objeto do amor, que

anteriormente à perda era idealizado e internalizado como bom,

positivo.

Nesse sentido, para o psicanalista J.-D. Nasio

“o objeto ao qual estamos ligados e cuja separação brusca gera dor

é um objeto igualmente amado, odiado e angustiante.”. E os

sentimentos negativos podem ser uma forma de tentar aliviar a dor.

Afinal aquela pessoa “não tem todo esse valor...”. E aqui, importante

destacar que, a depender do grau dos sentimentos negativos em

relação ao outro, eles podem desencadear vários tipos de violência,

como a psicológica, sexual, patrimonial e até homicídios em que ex-

companheiros ou companheiras tiram a vida de suas parceiras ou ex-

parceiros.

A propósito, mais comuns são os feminicídios,

em que mulheres são mortas em razão de sua condição de gênero e

envolve violência familiar e menosprezo e discriminação à condição

de mulher69. Notícias sobre esses crimes aparecem todos os dias nos

noticiários brasileiros! Aliás, segundo um estudo divulgado pelo

69 “In” https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/03/brasil-registra-mais-de-10-mil- Acesso em


07/03/2024.

68
Fórum Brasileiro de Segurança Público, noticiado em 07.03.2024,

pelo jornal Folha de São Paulo, no período de março de 2015

(momento em que a Lei 13.104, de 9 de março de 2015, sobre o tema

foi criada) até dezembro de 2023, o Brasil registrou 10.655 casos de

feminicídio70 71.

Outra questão importante de se destacar

que é comum nos tribunais, são genitores tentando sabotar ou

romper os laços entre o(s) filho(s) e o outro genitor, sem justificativa

real72. Esse fenômeno é conhecido como "complexo de Medeia"

(Levy; Gomes apud Depaulis, 2008). Medeia é a protagonista trágica

e vingativa de Eurípedes, que demonstra sua astúcia ao assassinar

a nova esposa de seu ex-marido, Jasão, com um vestido

envenenado, e ao matar seus próprios filhos. Seu objetivo não é

apenas expressar sua loucura devido ao abandono, mas sim infligir

a Jasão um sofrimento eterno de remorso por tê-la deixado. Jasão, o

pai negligente, envolvido em um novo casamento, também falha em

70 “In” https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/03/brasil-registra-mais-de-10-mil- Acesso em


07/03/2024.
71“A Lei 13.104, de 9 de março de 2015, qualificou o crime de feminicídio quando ele é cometido contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino. Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.” “In”
<https://forumseguranca.org.br/painel-violencia-contra-a-mulher/> Acesso em 07/03/2024.

72 LEVY, Lidia; GOMES, Isabel Cristina. “Relações amorosas: rupturas e elaborações”. Tempo psicanalítico
versão impressa ISSN 0101-4838
Tempo psicanal. vol.43 no.1 Rio de Janeiro jun. 2011. “In”
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382011000100003> Acesso em
17/02/2024.
sites

69
proteger seus filhos, permitindo que sua ex-mulher controle

totalmente suas vidas.

É a arte imitando a vida em que a mãe ou o

pai utiliza seus filhos como armas contra ex-maridos (ex-mulheres).

Inveja, solidão, abandono, traição e outros fatores alimentam a

hostilidade, gerando ódio e incitando desejos de vingança e

destruição. O genitor que assim age está dominado pela raiva e

movido por vingança (Levy, gomes apud Lago e Bandeira 2009)73.

Em síntese, de um lado há a imagem da

pessoa amada e de outro há a constatação de que esse amor está

perdido. E a imagem do amado “teima” em aparecer o tempo todo à

mente, povoada de pensamentos, como por exemplo: como estará a

pessoa; se ela sente falta ou não do relacionamento; se a pessoa vai

se arrepender de ter terminado e está sofrendo; se vai voltar para a

relação; e/ou se já está em outro relacionamento. Além disso, muito

comum a pessoa checar o tempo todo se a pessoa amada enviou

alguma mensagem e tentar descobrir sobre a vida do outro através

73LEVY, Lidia; GOMES, Isabel Cristina. “Relações amorosas: rupturas e elaborações”. Tempo psicanalítico
versão impressa ISSN 0101-4838
Tempo psicanal. vol.43 no.1 Rio de Janeiro jun. 2011. “In”
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382011000100003> Acesso em
17/02/2024.

70
das redes sociais, o que gera mais e mais sofrimento e até atitudes

obsessivas que podem fugir ao controle.

Ademais, “a dor da separação é com

frequência sentida fisicamente” (MARCONDES et al, 2006). São

comuns dores dor no peito, sufocamento e falta de ar (MALDONADO,

1995 apud MARCONDES et al, 2006). Além disso, também se

observam oscilações de peso, disfunção sexual, e distúrbios de sono

(CARTER & MCGOLDRICK, 1995 apud MARCONDES et al, 2006).

Caruso afirma que na separação “há uma sentença de morte

recíproca: `o outro morre em vida dentro de mim e eu também morro

na consciência do outro`" (CARUSO, 1981, p. 12 apud MARCONDES

et al, 2006).

A antropóloga e bióloga Helen Fisher, da

Universidade de Rutgers, estudou a atração romântica interpessoal

por mais de trinta anos74, e realizou pesquisas com ressonância

magnética para estudar o cérebro em diferentes estágios do amor.

Quando alguém se apaixona, substâncias químicas vinculadas ao

sistema de gratificação saturam o nosso cérebro, gerando uma gama

de reações físicas e emocionais: o pulso se acelera, as palmas das

74“In” <https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2022/12/o-que-acontece-com-o-cerebro-quando-
nos-apaixonamos> Acesso em 20/02/2024.

71
mãos transpiram, as bochechas se ruborizam, e o sujeito

experimenta sensações de paixão e inquietação.

Os estudos de Fisher75 com ressonância

magnética indicam três circuitos cerebrais principais relacionados

aos sentimentos amorosos e sexuais. O primeiro, influenciado pela

testosterona, está ligado ao desejo sexual; o segundo, controlado

pela dopamina, está associado à paixão; e o terceiro, envolvendo a

oxitocina, está relacionado ao apego a longo prazo. Esses estudos

revelam que esses sentimentos podem coexistir simultaneamente no

cérebro, não necessariamente em uma ordem específica. Assim, é

possível sentir desejo sexual por alguém, apaixonar-se por outra

pessoa e estabelecer um relacionamento duradouro com uma

terceira. Esses circuitos cerebrais são independentes, o que significa

dizer que é comum experimentar diferentes sentimentos ao mesmo

tempo por pessoas diversas. No entanto, é importante salientar que

se esses sentimentos serão consumados a depender de

circunstâncias individuais76.

75 “In” <https://estadodaarte.estadao.com.br/anatomia-do-amor-uma-historia-natural-de-conquista-
casamento-e-porque-nos-perdemos/> Acesso em 14.09.2023.

76 “In” <https://estadodaarte.estadao.com.br/anatomia-do-amor-uma-historia-natural-de-conquista-
casamento-e-porque-nos-perdemos/> Acesso em 14.09.2023.

72
Na contramão disso, após uma separação

amorosa, os estudos de Fisher demonstraram a presença de

atividade cerebral relacionada ao controle e obsessão, causando

intensa sensação de nervosismo77. Mais. Estudos de neuroimagem

revelaram que a rejeição, mesmo vinda de um estranho, desencadeia

a ativação de várias áreas cerebrais associadas à dor física78. A

pessoa sente os “nervos à flor da pele”79. Ademais, a neurocientista

Lucy Brown, que também estuda como o cérebro lida com o amor,

afirma que a rejeição amorosa tem um impacto significativo no

cérebro, envolvendo sistemas equiparáveis à fome ou sede 80.

Diante disso, vale dizer que embora finais de

relacionamentos amorosos sejam comuns atualmente, fato é que o

término muitas vezes pode ser desafiador e impactante para os

envolvidos. Diante disso, surge a necessidade de compreender como

as pessoas lidam com essa experiência delicada e suas

77 “In” <https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/comportamento/veja-10-maneiras-de-lidar-com-o-fim-de-um-
relacionamento,1a49430f5de27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html#:~:text=A%20antrop%C3%B3lo
ga%20Helen%20Fisher%20conduziu,voc%C3%AA%20pode%20se%20sentir%20louco> Acesso em
20/02/2024.
78“In” <https://activa.pt/emocoes/2022-02-11-a-forma-surpreendente-como-o-cerebro-reage-ao-fim-de-
um-relacionamento/> Acesso em 05/01/2024.
79 “In” <https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/comportamento/veja-10-maneiras-de-lidar-com-o-fim-de-um-
relacionamento,1a49430f5de27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html#:~:text=A%20antrop%C3%B3lo
ga%20Helen%20Fisher%20conduziu,voc%C3%AA%20pode%20se%20sentir%20louco.> Acesso em
12.09.2023.

80
“in” <https://www.megacurioso.com.br/comportamento/73061-o-que-acontece-com-o-cerebro-de-
quem-leva-um-pe-na-bunda.htm> Acesso em 14.09.2023.

73
consequências emocionais. Neste contexto, este trabalho apresenta

a pesquisa quantitativa e qualitativa denominada “Moletom Surrado”,

com o título: “Como você enfrentou o término de um relacionamento

amoroso?”, que pode ser verificada no item 16 deste trabalho.

Ademais, importante mencionar, também,

uma pesquisa realizada por BASTOS, ROCHA e ALMEIDA, sobre os

efeitos do rompimento de um relacionamento em estudantes

universitários. Essa pesquisa envolveu 100 estudantes do Ensino

Superior (81 mulheres e 19 homens, com idades entre 18 e 36 anos),

que passaram por uma perda de relacionamento amoroso. O objetivo

foi compreender a relação entre “Dificuldades de Regulação

Emocional, Sintomatologia do Luto Prolongado, Estresse Pós-

Traumático e Amargura”. Os resultados mostraram que as

estudantes do sexo feminino apresentaram níveis mais altos de

sintomas traumáticos. Além disso, aqueles que não estavam num

novo relacionamento após a perda mostraram maior sintomatologia

de luto prolongado em comparação com os que estavam em um novo

relacionamento. Perdas inesperadas levaram a sintomas traumáticos

e amargura, enquanto aqueles que projetavam uma vida em comum

tiveram níveis mais elevados de sintomas de luto prolongado em

74
comparação aos que não faziam essa projeção. (BASTOS, ROCHA

e ALMEIDA, 2019)81.

Outro estudo foi conduzido por Marcondes,

Trierweiler e Crux (2006), com o objetivo de examinar os sentimentos

predominantes no término de relacionamentos amorosos, testando

hipóteses da literatura existente, que sugerem que os sentimentos

negativos mais comuns nessas situações são aqueles ligados à

infelicidade e ao desconforto. Essa pesquisa contou com 68

participantes (31 mulheres e 37 homens, idades de 17 a 44 anos),

todos com experiência de término de relacionamento amoroso.

Foram investigados sentimentos pós-término considerando gênero,

duração do relacionamento, e iniciativa de encerramento.

Os resultados mostraram prevalência de atitudes

negativas em ambos os sexos, sendo as mulheres mais intensas.

Além disso, o sofrimento não se vinculou à duração do

relacionamento. E concluem a pesquisa no sentido de que é crucial

que fenômenos como amor, atração e paixão sejam estudados como

temas científicos, não apenas confinados à arte e à filosofia. Isso é

81
BASTOS, Vânia. ROCHA, José Carlos. ALMEIDA, Thiago de. “Os Efeitos do Rompimento de um
Relacionamento Amoroso em Estudantes Universitários”.
PSICOLOGIA, SAÚDE & DOENÇAS, 2019, 20(2), 402-413 ISSN - 2182-8407 Sociedade Portuguesa de
Psicologia da Saúde - SPPS - www.sp-ps.pt DOI: http://dx.doi.org/10.15309/19psd200210. “In”
<file:///C:/Users/Sandra/Downloads/OSEFEITOSDOROMPIMENTODEUMRELACIONAMENTOAMOROS
OEMESTUDANTESUNIVERSITRIOS.pdf> Acesso em 12.10.2023.

75
fundamental devido aos problemas de relacionamento entre as

pessoas. É necessário desenvolver ferramentas de pesquisa que

permitam uma análise científica desses assuntos, anteriormente

considerados obscuros. Essas ferramentas podem ser usadas em

programas de intervenção para resolver problemas de

relacionamento (MARCONDES et al, 2006)82.

No final das contas, fato é que, como dito

acima, na separação amorosa, muitas pessoas apresentam

sofrimento e, inclusive, sentimentos de luto de pessoa viva. Daí se

depreende que a ruptura amorosa é vivida e sentida como uma

experiência de morte em vida! É um luto! E, afinal, o que é o luto num

rompimento amoroso?

10. O que é o luto num rompimento amoroso?

Na perspectiva psicanalítica, o luto é um

processo lento e doloroso no qual o indivíduo enfrenta a perda de

algo significativo, não apenas na morte, mas separações que

interrompam vínculos afetivos. Pode ser uma conexão com uma

82< https://www.scielo.br/j/pcp/a/f93bdgbVXW7Gfxx7JrmTWYD/> Acesso em 12.10.2023.

76
pessoa amada, viva ou morta, animal, emprego, dinheiro ou objeto

sentimental, e deixa uma sensação de ausência.

Para Freud, o luto está intimamente ligado ao

conceito da dor, e é algo consciente, porque o enlutado sabe o que

perdeu (“Luto e Melancolia” - 1915). Aliás, em 1926, o pai da

Psicanálise dispõe que a “dor”, na dimensão mental, também é uma

reação real à perda do objeto83. E, entre as características do luto

citemos: profunda tristeza, perda de interesse pelo mundo externo,

desânimo, distanciamento de atividades que não estejam ligadas ao

objeto perdido, e incapacidade de substituição por um novo objeto de

amor.

É um processo natural e necessário para a

elaboração da perda da pessoa amada. É um movimento essencial

e uma resposta adaptativa que os seres humanos apresentam para

garantir a sobrevivência diante de uma separação ou perda

(CARVALHO, GUSMÃO e VIANA-MEIRELES, 2020)84. É uma

adaptação a uma nova realidade. Quando o vínculo é rompido,

83CAVALCANTI, Andressa Katherine Santos; SAMCZUK, Milena Lieto Samczuk; Bomfim, Tânia Elena. ‘O
conceito psicanalítico do luto: uma perspectiva a partir de Freud e Klein”. Psicologo informacao.
versão impressa ISSN 1415-8809. Psicol inf. vol.17 no.17 São Paulo dez. 2013. “In”
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
88092013000200007#:~:text=Considera%C3%A7%C3%B5es%20acerca%20do%20Luto%20em%20Freu
d&text=Al%C3%A9m%20disso%2C%20o%20luto%20%C3%A9,%2C%20interfer%C3%AAncias%20torna
m%2Dse%20prejudiciais. Acesso em 01.10.2023.
84 https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/26308/1/Leticia%20Fascina%20Ishikawa.pdf

77
enlutado enfrenta diversas mudanças em sua vida, abrangendo

aspectos sociais, econômicos, familiares, e afeta profundamente o

estado psicológico (BRAZ e FRANCO, 2017). Há a quebra de

vínculos, laços emotivos, sexuais e afetivos criados, tanto pelo amor

como pelo ódio, pelas brigas e reconciliações de acordo (GIUSTI,

1987).

E como se dá o processo de elaboração do

luto?

11. Como se dá esse processo de elaboração do luto?

“Atualmente considera-se que cada processo

de luto é único” 85. Nesse sentido, a Psicanálise, que se compromete

com a singularidade de cada indivíduo, considera que cada história

de vida é única, e, portanto, cada um tem o seu próprio caminho para

resolver os seus respectivos conflitos. Em outras palavras, vale dizer

que a adaptação à ausência do objeto amado é uma jornada singular,

cuja intensidade e duração varia de pessoa para pessoa, mesmo

85 https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/26308/1/Leticia%20Fascina%20Ishikawa.pdf

78
poque os vínculos cultivados são diferentes para cada um de nós.

Ademais, o processo do luto é influenciado por inúmeras variáveis,

como as características do enlutado, do falecido, o contexto, a

natureza da perda, questões de gênero e aspectos culturais (Franco,

2012) 86.

Porém, independentemente da singularidade

do processo de luto, é relevante mencionar, devido à grande

aceitação por parte de muitos autores87, que a literatura aponta 05

fases emocionais comuns às pessoas durante esse processo de

reconciliação com a perda. Essas fases foram delineadas, de modo

pioneiro, pela psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross, no seu livro “Sobre a

Morte e o Morrer” (KUBLEER-ROSS, 1996). Traduzido para 30

línguas88, esses estágios descrevem o que os pacientes passam

frente a uma doença fatal ou potencialmente ameaçadora para a

86 https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/26308/1/Leticia%20Fascina%20Ishikawa.pdf

87 https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/26308/1/Leticia%20Fascina%20Ishikawa.pdf

88AFONSO, S.B.; MINAYO, M.C. Uma releitura da obra de Elisabeth Kubler-Ross. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, ed. 9, 2013. “In”
<https://www.scielo.br/j/csc/a/r6v4mjCXnj8RYrdFktJ5z3J/> Acesso em 14.09.2023.

79
vida, e podem ser adaptadas ao contexto do luto. São eles: negação,

raiva, barganha, depressão e aceitação:

a. Negação e isolamento. Inicialmente, o

indivíduo busca negar a realidade da

perda e recusa-se a aceitar e acreditar

que perdeu o objeto amado. É um

momento de desespero. Nessa fase é

muito comum a fala de que “não pode

ser verdade”, e “isso não está

acontecendo comigo”.

b. Raiva. Neste momento em que não é

mais possível manter a negação, e à

medida que a realidade se torna mais

clara em relação à perda e a própria

situação, surgem sentimentos de raiva,

revolta, inveja, frustação e

ressentimento, por exemplo.

c. Barganha/negociação. Nesse

momento, a pessoa tenta reverter a

80
perda inevitável. Aguarda-se uma

ressureição milagrosa. O enlutado tenta

encontrar estratégias para que a

situação seja revertida.

d. Depressão. A pessoa fica consciente da

perda, o que traz muita tristeza, medos

e sentimentos de desolação, dor e

solidão. É comum que neste momento

haja uma reflexão profunda sobre a

vida.

e. Aceitação. Fase da aceitação e a

pessoa consegue seguir a vida e a

saudade se acalma.

Essas fases não apresentam uma estrutura

rígida; não são lineares; a sequência pode ser diferente para cada

pessoa; o tempo de duração de cada fase depende de pessoa para

pessoa; nem todos passam por todos esses estágios; e mais de uma

fase pode ser vivida simultaneamente. Kübler-Ross “considerou que

estas etapas eram muito úteis para categorizar e conceituar de um

81
modo relativamente simples as nuances do modo de como se

administra o luto” (AFONSO e MINAYO, 2013) 89.

Diante disso, vale dizer que quando a pessoa

entende e acolhe o término do laço emocional que a ligava a alguém,

o processo de luto é percebido como dentro do padrão normal,

mesmo porque, de acordo com Freud o luto não é uma condição

patológica, não exige tratamento médico e é superável após

determinado lapso temporal (Freud, Luto e Melancolia, 1917).

Entretanto, quando se verifica uma inabilidade quanto à nova

realidade, estamos diante de sua versão patológica, pela qual Freud

traz o conceito de “melancolia”, que apresenta os mesmos traços do

luto, porém, com um sinal a mais, ou seja, a autoestima é abalada, e

não se mantém preservada, como no luto. “O melancólico se

autodeprecia de maneira exagerada e, esse estado tem um caráter

mais inconsciente...”90

Ademais, na melancolia, a pessoa, que se

sente profundamente ligada ao objeto perdido, experimenta uma

89AFONSO, S.B.; MINAYO, M.C. Uma releitura da obra de Elisabeth Kubler-Ross. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, ed. 9, 2013. “In”
<https://www.scielo.br/j/csc/a/r6v4mjCXnj8RYrdFktJ5z3J/> Acesso em 14.09.2023.

90CAVALCANTI, Andressa Katherine Santos; SAMCZUK, Milena Lieto Samczuk; Bomfim, Tânia Elena. ‘O
conceito psicanalítico do luto: uma perspectiva a partir de Freud e Klein”. Psicologo informacao.
versão impressa ISSN 1415-8809. Psicol inf. vol.17 no.17 São Paulo dez. 2013. “In”
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
88092013000200007#:~:text=Considera%C3%A7%C3%B5es%20acerca%20do%20Luto%20em%20Freu
d&text=Al%C3%A9m%20disso%2C%20o%20luto%20%C3%A9,%2C%20interfer%C3%AAncias%20torna
m%2Dse%20prejudiciais. Acesso em 01.10.2023.

82
lamentação intensa e age como se parte de si mesma tivesse sido

perdida junto com o objeto amado. Isso resulta em desmotivação e

profunda tristeza. O luto pode persistir por anos sem melhora

significativa, representando um amor congelado em torno de uma

imagem91. A psicanálise considera a melancolia como o estágio mais

extremo da depressão, onde o processo de luto fica estagnado92.

Mas, o que pode levar relacionamentos

amorosos a serem rompidos?

12. O que pode levar relacionamentos amorosos a serem

rompidos?

Múltiplos fatores podem levar a rompimentos

de relacionamentos e seria muita pretensão listar todos aqui como se

fosse uma matemática em que dois mais dois são quatro, mesmo

porque, como ensina a Psicanálise, cada qual tem a sua própria

individualidade e singularidade! Assim, optamos por discorrer a

respeito do apego emocional, porém, não o saudável que faz parte

da natureza humana, mas, sim, o excessivo, que pode levar ao

adoecimento psíquico e até físico.

91 GAIO, Instituto. Athenas Educação. “Psicopatologia Psicanalítica”. Núcleo Psicanalítico


Presencial/EAD. Página 34.
92 GAIO, Instituto. Athenas Educação. “Psicopatologia Psicanalítica”. Núcleo Psicanalítico

Presencial/EAD. Página 34.

83
Enfim, mais uma pergunta que não quer calar:

o que é apego emocional excessivo?

13. O que é apego emocional excessivo? (o chamado amor

patológico).

É o apego, que mantém a permanência numa

relação amorosa. O apego é, portanto, necessário, mas a questão é

quando esse apego se torna excessivo. Senão vejamos.

A dependência emocional, também chamada

de Co dependência ou dependência afetiva é a dificuldade de uma

pessoa em lidar com os seus relacionamentos, sejam eles amorosos,

familiares, e/ou de amizade. Isso ocorre porque o dependente

emocional possui uma necessidade excessiva de atenção,

aprovação e validação do objeto de sua dependência.

Há um exagero no cuidar do outro, pois ao

colocá-lo no centro de sua vida, o dependente emocional perde a sua

autonomia, identidade, é negligente com as suas próprias

necessidades, e torna-se alguém submisso e carente na busca de

satisfação emocional. A consequência são comportamentos

84
prejudiciais e até autodestrutivos. 93 94 O dependente emocional tenta

isolar o objeto da dependência, ou seja, tenta afastar o objeto dos

outros relacionamentos e mesmo os da própria família. E a questão

é que muitas vezes, nem se dá conta desse comportamento e o

confunde com amor, que, é, justamente, o oposto disso, ou seja, a

liberdade.

E quais seriam as causas da dependência

emocional? Segundo a literatura bibliográfica, não há uma única

causa, mas vários fatores que podem contribuir para essa situação.

De acordo com a Psicanálise tudo aquilo que ocorre nos primeiros

anos de vida tem um papel crucial na formação da personalidade de

uma pessoa. Assim, o dependente pode ter sido, por exemplo,

alguém que foi abandonado na infância, física e/ou emocionalmente

e por isso procura alguém que supra as suas necessidades físicas e

emocionais, e, assim, coloca todas as suas expectativas num único

relacionamento. 95

93 <https://guiadaalma.com.br/dependencia-emocional-psicanalise/ >Acesso em 13.10.2023.


94 <https://www.psicanaliseclinica.com/dependencia-emocional/> Acesso em 13.10.2023.

95<https://www.sanarmed.com/dependencia-emocional-o-que-causa-como-identificar-e-tratar-pospsq>
Acesso em 25.10.2023.

85
A propósito, a pessoa, ao evitar entrar em

contato com os próprios sentimentos de abandono e rejeição, busca

relações como criança, ou seja, espera do parceiro o que esperaria

dos pais. Freud aponta que o medo da rejeição repousa sobre a

necessidade de proteção inerente ao ser humano, que é uma marca

infantil que que ecoa em nós ao longo da vida adulta. 96

O proeminente psicanalista e médico pediatra

britânico, Donald Winnicott, afirmava que: “no começo, éramos, em

todos os aspectos, dependentes, e quando digo todos, quero dizer

absolutamente todos”. E Winnicott prossegue ao explicar que o bebê

deve progredir a partir de um estado chamado psicanaliticamente

“fusional” com a mãe, ou seja, em que ele se confunde com a figura

da própria mãe a um estado em que ele começa a reconhecer a outra

pessoa como algo distinto de si mesmo. E se essa distinção não é

estabelecida de forma adequada, há a possibilidade de que surja um

adulto que desenvolve dependência emocional97. Salientamos que

na falta da figura da mãe, citemos a figura do(a) cuidador(a), que faz

o papel de mãe.

96 <https://www.psicanaliseclinica.com/dependencia-emocional-o-que-e/> Acesso em 19.10.2023.


97 <https://guiadaalma.com.br/dependencia-emocional-psicanalise/ >Acesso em 13.10.2023.

86
Outro fator a ser destacado e que pode causar

o surgimento de um dependente emocional são pessoas que tiveram

excesso de zelo na infância. Essas pessoas, muitas vezes, quando

adultos, se tornam dependentes de atenção especial. E por isso,

esses indivíduos acreditam que não têm condições de tomar suas


98
próprias decisões e de viver sem a outra pessoa. Além disso,

geralmente, pessoas que desenvolvem dependência emocional são

muito inseguras consigo mesmas, com autoestima reduzida e, daí,

se submetem a qualquer tipo de relação para manter o outro no

relacionamento. 99 A pessoa se anula para atender os desejos do

outro como se, ao assim agir, tivesse a garantia de que a pessoa não

a abandonaria.

Ademais, em relação às causas de

dependência emocional, que, como já discorrido neste trabalho,

...não amamos o outro simplesmente pelo

que o outro é, mas principalmente pelo que

admiramos nele que é parecido conosco. Na

98<https://www.sanarmed.com/dependencia-emocional-o-que-causa-como-identificar-e-tratar-pospsq>
Acesso em 25.10.2023.

99<https://www.sanarmed.com/dependencia-emocional-o-que-causa-como-identificar-e-tratar-pospsq>
Acesso em 25.10.2023.

87
verdade, o que amamos é o efeito que aquela

pessoa provoca em nós...

(RIVERA, Lourdes, 2023)100.

Nesse sentido, vale ressaltar que a

dependência emocional opera de forma semelhante à dependência

de substâncias, que causam efeitos no nosso corpo e geralmente

prejudiciais101. A propósito, BUTION E WECHSLER (2016)

esclarecem que os sentimentos amorosos utilizam as mesmas vias

neurais que substâncias psicoativas, ativando os sistemas de

recompensas do cérebro e gerando sintomas de dependência

similares102.

E eis que vem outra pergunta que não quer

calar: afinal, é possível superar a dor do luto da perda do objeto

amado? Hum... Atualmente dispomos de muitos meios como auxílio

100RIVERA, Lourdes Maria. “Como se livrar da dependência emocional? a Psicanálise pode


ajudar!” ”In” <https://guiadaalma.com.br/dependencia -emocional-psicanalise/> Acesso em
17.10.2023.
101RIVERA, Lourdes Maria. “Como se livrar da dependência emocional? a Psicanálise pode
ajudar!” ”In” <https://guiadaalma.com.br/dependencia -emocional-psicanalise/> Acesso em
17.10.2023.
102 BUTION, Denise Catricala; WECHSLER, Amanda Muglia. “Dependência emocional: uma revisão
sistemática da literatura.” Estudos Interdisciplinares em Psicologia
versão On-line ISSN 2236-6407. Est. Inter. Psicol. vol.7 no.1 Londrina jun. 2016. “In”
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072016000100006> Acesso em
17.10.2023.

88
para que dores sejam trabalhadas. A Psicanálise é uma grande

aliada nesse processo! Mas, o que ela diz sobre isso?

14. É possível superar a dor da perda do objeto amado? O

que a psicanálise tem a ver com isso? (a psicanálise – a

palavra – a loucura na história - a teoria da Repressão – o

inconsciente)

Frente à dor, Sigmund Freud legou à

humanidade uma ferramenta inestimável: a palavra. É através dela

que o ser humano exorciza suas dores conscientes e/ou

inconscientes; desenterra traumas e desvenda os recantos mais

escondidos e sombrios da vida, muitas vezes “guardados” a sete

chaves e que a pessoa nem consciência disso tem. A linguagem é o

bálsamo que cicatriza, tornando visível o que foi suprimido pela

comunicação. Como assim? O que isso significa? Vem comigo!

A Psicanálise, disseminada mundialmente,

surge como fruto da genialidade do médico neurologista Sigmund

Freud, o visionário que revolucionou os tratamentos mentais ao criar

uma das teorias mais arrebatadoras, influentes e instigantes da

história. Freud não se contentou em diagnosticar as aflições

89
humanas, ele desafiou o entendimento do tecido psíquico ao buscar

incansavelmente as origens mais profundas dos dilemas da mente.

Trata-se de uma verdadeira odisseia da

alma humana guiada por Freud para libertar-nos das amarras da

nossa própria psique. Mas, antes de entrarmos especificamente na

Psicanálise, importante um mergulho no tempo de como eram vistas

e tratadas pessoas consideradas “loucas” 103, mesmo porque, essas

pessoas tidas com desordens mentais poderiam até parar nas

fogueiras da Inquisição.

Homero (por volta de 1000 a.C.) acreditava

que a loucura era uma punição dos deuses. Pitágoras, por volta de

500 a.C., via o cérebro como o centro do pensamento e a origem da

doença mental, enquanto Hipócrates (460 a.C.) elaborou a primeira

classificação dessas doenças, incluindo epilepsia, mania, melancolia

e paranoia. Aristóteles (384 a.C.), descreveu a consciência,

percepção, estados afetivos e a memória, considerando o

pensamento como um esforço para aliviar a dor e alcançar o

entendimento104.

103
Carvalho, Alexandre. “Freud sem Traumas”. 2021. Casa dos Mundos. Le Ya Brasil. Página 09.
104
MENDONÇA, José Lorenzato. “Breve História da Psicossomática: da Pré-História à era Romântica”.
“In” Revista Médica de Minas Gerais.
<https://rmmg.org/artigo/detalhes/1444> Acesso em 31/01/2024.

90
Na Idade Média, os transtornos mentais eram

vistos como possessões demoníacas. Em 1484, os alemães Kraemer

e Sprenger, com apoio do Papa Inocêncio VII, do rei de Roma e da

Universidade de Colônia, publicaram o "Manual da Inquisição" e, em

1487, organizaram o Malleus Maleficarum, propondo a destruição

sumária, entre outros, dos doentes mentais. E, por destruição

sumária, diga-se que aquele (a) que demonstrasse sinais de


105
desordens mentais poderia ser queimado vivo na fogueira! .

Imagine uma crise de ansiedade, depressão ou um sentimento de

pânico nesses tempos! Enfim...

No século XVIII, uma era em que, perguntar

ao “pai da psiquiatria americana”, Benjamin Rush (1746-1813), sobre

as origens dos transtornos mentais, as respostas,

surpreendentemente aceitáveis à época, seriam: masturbação e

excesso de sangue no cérebro. Rush, assim, contraindicava a

masturbação e tratava os pacientes com sangria, em que até quatro

quintos do sangue da pessoa era drenado106.

Portanto, num passado muito próximo, o sexo

solitário era apontado como causador da loucura e, também,

105
Carvalho, Alexandre. “Freud sem Traumas”. 2021. Casa dos Mundos. Le Ya Brasil. Página 09.
106
Ibid. p. 09.

91
pasmem, da calvície, insinuando que o ato poderia deter o

crescimento capitar na cabeça e estimular o nascimento de cabelos

na mão. Nesse contexto, pessoas consideradas “loucas” eram

relegadas ao esquecimento nos conhecidos “depósitos de loucos” 107.

E o incrível é que Freud nasceria tão somente 40 anos após a morte

de Rush108.

Assim, diferentemente do que era difundido

anteriormente a Freud, no sentido de que os transtornos mentais

seriam orgânicos e provocados por algum dano físico no cérebro,

Freud

...afirmou que a causa está nos processos mentais

do indivíduo. E que a cura ou o alívio dos sintomas passa

necessariamente pela descarga de emoções

reprimidas... No tratamento à maneira de Freud é o

paciente é quem fala – e fala muito – o que lhe vier a

telha.109

Freud, dessa maneira, tira o protagonismo do

médico! Ele “vira a clínica de cabeça para baixo...” 110., e cria um

107
Ibid. p. 09.
108
Ibid. p. 09.
109
Ibid. p. 10.
110
Ibid. p. 10.

92
modelo seguido, com mais ou menos adaptações, por todas as

psicoterapias após ele111.

Eis as palavras de Freud sobre o início da

análise psicanalítica:

Diga, pois, tudo que lhe passa pela mente.

Comporte-se como faria, por exemplo, um passageiro

sentado no trem ao lado da janela que descreve para seu

vizinho de passeio como cambia a paisagem em sua

vista. Por último, nunca se esqueça que prometeu

sinceridade absoluta, e nunca omita algo alegando que,

por algum motivo, você ache desagradável comunicá-lo.

(Freud, 1913, p. 136)

Mas, Freud, vai além da cura pela palavra, ele

construiu uma teoria grandiosa sobre o funcionamento da mente,

sendo que a ideia principal é que:

...sob a superfície de cada emoção, de cada

escolha, de cada comportamento agressivo ou amoroso,

e até das nossas piadas levemente ofensivas, há um

111
Ibid. p. 10.

93
oceano oculto chamado inconsciente. E agora vem a má

notícia: não temos quase nenhum controle sobre ele112.

Freud introduziu o conceito de repressão

como um elemento central de sua teoria psicanalítica. De acordo com

ele, a repressão ocorre quando um pensamento, memória ou

sentimento se torna demasiado perturbador e doloroso para a

pessoa. Consequentemente, de forma inconsciente, a mente

impulsiona esse conteúdo para além do alcance da consciência,

tornando-o assim inconsciente de sua própria existência. Alguém, por

exemplo, que tem fobia por aranhas, pode ter sofrido um evento

traumático na infância com esse animal, não se lembra da

experiência e na fase adulta apresenta a fobia sem compreender as

suas razões.

Assim, Freud desvendou a essência humana,

ao destacar que a persona que exibimos ao mundo não deriva de

nossas escolhas conscientes, e sejam elas sensatas ou não, mas é,

sim, forjada por conflitos mentais inacessíveis ao nosso controle, o

inconsciente. É a nossa caixa-preta, ou seja, algo fora do consciente!

A propósito, hoje, “os cientistas estimam que apenas 5% dos

112
Carvalho, Alexandre. “Freud sem Traumas”. 2021. Casa dos Mundos. Le Ya Brasil. Página 10.

94
processos cognitivos passem pelo nosso controle racional. Os outros

95% ficam no domínio do inconsciente.” 113. Carvalho (2021, página

11) ensina que Freud substituiu o homem cartesiano movido pela

consciência racional por um homem moldado por uma razão

imperfeita. Mas, como chegar no inconsciente? Como desvendá-lo?

Freud esclarece que desvendar as entranhas

do inconsciente é como explorar os mistérios mais profundos da

mente, onde se revelam os sonhos que dançam e cantam nas

sombras da noite; a troca casual de nomes que escapa

sorrateiramente (trocar o nome do marido pelo do ex-companheiro);

as palavras descontextualizadas que escapam sem aviso, as ações

realizadas na penumbra da nossa consciência e os momentos em

que, sem perceber, nos aventuramos por territórios desconhecidos,

agindo de formas que desafiam nossa própria natureza. Esses são

os sinais fascinantes do inconsciente, que se revelam em um balé

misterioso e envolvente.

E para alcançarmos o inconsciente, na

genialidade de Freud, nasceu o revolucionário método da

"Associação Livre", onde o analisando é encorajado a liberar todos

os pensamentos sem restrições. Nessa técnica fascinante,

113
Carvalho, Alexandre. “Freud Para Entender de uma Vez”. Super Interessante. Editora Abril. Página 11.

95
denominada "associação livre", o paciente explora sua mente com

palavras, silêncios intrigantes e até contradições aparentes. Vale

ressaltar que o inconsciente opera seu mecanismo de censura, mas

ao longo de várias sessões psicanalíticas, analista e indivíduo

moldam padrões mentais que desvendam a intricada psique do

paciente.

Por isso, a Psicanálise é a "cura pela fala"

onde a expressão verbal (incluída a linguagem dos sinais), se torna

o canal para purgar traumas, sentimentos e vivências passadas. A

arte da fala psicanalítica envolve o ato corajoso de verbalizar a dor,

liberando aquilo que perturba e aflige, pois é na comunicação que a

cura se materializa, transformando aquilo que está reprimido numa

narrativa libertadora.

Entretanto, o psicanalista não está com o seu

analisando para dizer que entende todo o seu sofrimento, e que tudo

deve ser muito desafiador e complicado para ele(a). O psicanalista

está ali para colocar em questão todo o material trazido pelo

analisando de forma que o(a) ajude a chegar ao ponto em que ele(a)

encontre discernimento em quão frágeis são as bases de

sustentação de seu sofrimento

E o que exatamente tudo isso tem a ver com

a superação do luto da dor de amar?

96
15. E o que tudo isso tem a ver com a superação do luto da dor de

amar?

O luto não é apenas a despedida de algo

externo, mas, também, é a despedida de uma parte do nosso próprio

“eu”. Esse verdadeiro despedaçar do “eu” mergulha a nossa psique

num desequilíbrio, em que a intervenção de um especialista em

Psicanálise tem condições de fazer toda a diferença. E isso porque,

o discurso do enlutado tem o condão de desencadear a simbolização

da perda, traduzida em palavras que delineiam seu significado

pessoal. É nesse diálogo que a transição do luto tem início porque

permite ao indivíduo enfrentar a dor e elaborar a continuidade da sua

jornada na vida. A fala, é a ponte que tem seu início no luto em

direção a um processo de reconstrução! Todo esse trabalho de luto

é para Freud o desligamento gradual da libido do objeto ou das

ideias. Isso é um processo em que o paciente é convidado a olhar

para dentro de si, olha, sente e elabora a sua própria dor!

A prática psicanalítica desdobra-se num

trabalho meticuloso em que, passo a passo, e de acordo com o ritmo

singular de cada pessoa, vai desenvolvendo no indivíduo a

capacidade de lidar com as inevitáveis, incontáveis e desafiadoras

frustrações da vida, que sempre estarão presentes na vida. E isso é

desafiador, já que, nós, seres humanos, temos a forte inclinação ao

97
apego, o qual se encontra entranhado em nossos processos mentais,

desde as fases mais primordiais do nosso desenvolvimento.

A tarefa da psicanálise é, portanto, conduzir

amorosamente, delicadamente, tecnicamente e sem julgamentos, os

sujeitos tão agarrados às suas questões conscientes e inconscientes.

O percurso desse caminho é uma jornada que vai desvendando a

complexa trilha da tolerância às frustrações, que é absolutamente

essencial na construção da experiência do desapego.

Não é mágica em que se aperta um botão e

tudo está resolvido! A Psicanálise é um percurso de viagem interior!

Como diz Freud, é o relembrar, repetir e elaborar! Esse caminho

normalmente começa na dor e desagua na libertação! Não existem

atalhos nesse caminho. Todavia, no homem contemporâneo,

verifica-se uma resistência à frustração. Há uma obrigação de ser

feliz o tempo todo como já mencionado neste trabalho. Há uma

relutância em enfrentar a dor e o sofrimento! Há uma busca

incessante e ensandecida por soluções milagrosas, e imediatas, em

que uma pílula se transformou numa panaceia em que tudo se

resolve num piscar de olhos, frente aos desafios da vida, de modo a

calar e silenciar o sofrimento.

Sinto dizer, mas dor e sofrimento não

desaparecem porque simplesmente o queremos! A gente pode até

98
tentar colocar o sofrimento dentro de um baú num porão com a chave

lançada no fundo do mar! Mas, o porão continua lá. O baú continua

lá de forma a latejar mesmo que inconscientemente. A Psicanálise

busca a chave e vai abrindo caminho para chegar até o baú para que

tudo, repita-se, seja lembrado, repetido em palavras e elaborado. E

tudo isso demanda desconforto, tempo, muita coragem, e

persistência. Não basta um clique! Não é mágica. Mas, hoje, o

homem tem tanta pressa que não se dá tempo.

Enfim, há de se ressaltar que, trabalhar a dor

não significa se resignar nela! Por outro lado, dores abafadas

retornam na forma de sintomas, como por exemplo aquele vazio no

peito que a pessoa não sabe de onde vem... Aquela crise de

ansiedade e por aí vai...

E, agora, finalmente, passemos para a

pesquisa “Moletom Surrado”, que mostra na prática a teoria até aqui

desenvolvida. Bora lá!

16. Pesquisa “Moletom Surrado” e a “Síndrome do Moletom Surrado”

▪ Nome: “Moletom Surrado”.

Esta pesquisa leva o nome de “Moletom Surrado” porque é

assim que uma pessoa entrevistada se descreveu, ou seja, ela

99
se sente um moletom surrado dentro do relacionamento

amoroso. Está velho e rasgado, mas não compra outro por

receio do futuro. Vai ficando na relação...

Por essa razão, na fala dessa pessoa surgiu a expressão

"Síndrome do Moletom Surrado", pela qual se descreve uma

situação em que alguém não está nem um pouco feliz em seu

relacionamento amoroso, e apesar de ser financeiramente

independente, essa pessoa continua e insiste na relação, e

alega não compreender os motivos para isso. É como se

preferisse manter e usar metaforicamente um moletom velho e

desgastado, mesmo tendo a possibilidade de comprar um

novo.

• Título da pesquisa Moletom Surrado: Como você enfrentou o

término de um relacionamento amoroso?

• Itens constantes da Moletom Surrado:

I. dados quantitativos (coleta de dados

numéricos e mensuráveis), colhidos em

questionário disponibilizado na plataforma

100
Google Forms - aqui denominada

pesquisa (A1),

II. dados qualitativos (coleta de narrativas)

colhidas na plataforma Google Forms no

mesmo questionário acima citado - aqui

denominada pesquisa (B2), e

III. falas colhidas por meio de 03 entrevistas

de forma oral à autora deste trabalho - aqui

denominada pesquisa (C3).

▪ Introdução.

Pesquisa (A1): utilizamos um questionário online na

plataforma Google Forms para coletar dados sobre

o enfrentamento de término em relacionamentos

amorosos. Este questionário foi elaborado

meticulosamente e disponibilizado para uma

amostra representativa da população-alvo. Foram

colhidas 60 respostas.

A plataforma do Google Forms ofereceu uma

abordagem acessível e de fácil resposta,

101
possibilitando uma ampla distribuição do

questionário e a coleta eficaz de dados, o que

facilitou a análise e interpretação dos resultados.

Pesquisa (B2): solicitado aos participantes da

pesquisa que definissem em poucas palavras como

se sentiu após o outro terminar um relacionamento

amoroso. Optou-se, aqui, por transcrever as

palavras dos participantes exatamente como cada

um escreveu, sem alterações de qualquer eventual

erro de digitação, de forma a ser exatamente fiel

com as respostas aqui inseridas, talvez no calor da

emoção no momento das respostas.

Pesquisa (C3): foi concedida à autora deste

trabalho três entrevistas, de forma oral, entre janeiro

e fevereiro de 2024. Embora as entrevistas sejam

anônimas, ainda assim, as pessoas entrevistadas

autorizaram, de forma oral, que as suas falas

fossem inseridas neste trabalho, com a única e

irrestrita finalidade de estudo.

102
▪ Objetivo.

Esta pesquisa visa compreender os aspectos envolvidos nos

rompimentos de relacionamentos amorosos e como as

pessoas lidam com essa experiência emocional.

▪ Metodologia.

A presente pesquisa emprega abordagens qualitativas e

quantitativas para obter uma compreensão abrangente da

questão do enfrentamento quanto aos términos de

relacionamentos amorosos. A elaboração das questões tem

por base o “Sumário” deste trabalho.

▪ Público-alvo.

Mulheres e homens (tão somente no sentido anatômico dos

termos “mulheres” e “homens”), com idades entre 18 e mais de

55 anos.

❖ Resultados pesquisa (A1)

Os resultados prevalentes mostram que:

103
30% das pessoas que responderam têm entre 36-45 anos. 23,3%

idades entre 46-55 anos. 21,7% possuem mais de 55 anos de idade.

20% entre 26 e 35 anos de idade. 5% entre 18 e 25 nos de idade,

36,7% respostas do sexo masculino e 63,3% do sexo feminino.

96,7% das pessoas passaram por um relacionamento amoroso em

que o outro pediu para terminar.

71,2% das pessoas passaram pelo rompimento por iniciativa do outro

há mais de 03 anos.

Sentimentos prevalentes após o término: “muitíssima tristeza”

(21,7%), seguida de “muita tristeza” (20%), sentimento de luto

(18,3%), alívio (8,3%), solidão (6,7%), “pouca tristeza (5%), “tristeza

média” (3,3%), e “tristeza” (3,3%).

Entre os principais motivos para o término destacamos as mudanças

de interesses ou valores (48,3%), seguido de infidelidade (31,7%) e

falta de comunicação (28,3%).

104
Quanto à idealização do outro(a), 78,3% das respostas foram no

sentido de que a pessoa se sentiu desapontada com a pessoa que

encerrou o relacionamento. Tal pessoa se revelou diferente do que

era imaginada.

65% dizem que não costumavam ou costumam verificar as redes

sociais da pessoa do antigo relacionamento; 21,7% disseram que

“sim” e 13,7% responderam que “não”.

68,3% acreditam ser mais fácil superar um término quando nós

pedimos o fim e não o outro.

26,7% sentem culpa pelo outro ter terminado a relação.

96,7% responderam que é possível superar um término de

relacionamento amorosos.

No que diz respeito ao tempo de superação do término, 60%

acreditam que não é possível definir um tempo para superação,

seguido de 13% que responderam que a superação leva de 01 até

03 meses.

105
58,3% acreditam que não poderiam ter feito nada de diferente para

evitar o término. 41,7% acreditam que sim, ou seja, poderiam ter feito

algo diferente.

Com relação a possibilidade de manter a amizade com o ex-

parceiro(a), 35% responderam que sim; 35% responderam que não

e 30% disseram “talvez”.

75% não buscaram ajuda emocional profissionalizada devido ao

término, e 25% disseram “sim” nesta procura.

70% das pessoas não buscaram ajuda alternativa, 18% as buscaram,

entre as quais, religião, igreja, umbanda, meditação, coisas

espirituais, jiu-jitsu, busca de Deus.

15% procuraram um psiquiatra pela possibilidade de tomar mediação

para aliviar a dor. 85% responderam “não”.

20% sentiram vontade de morrer com o final da relação. 80%

responderam que não tiveram essa vontade.

106
3,3% responderam que tentaram algo com relação a vontade de

morrer (isso significa que de 60 respostas, 2 responderam sim.

96,7% responderam que não tentaram nada com relação à vontade

de morrer.

20,3% sentiram vontade de destruir o outro(a) que deu o fora. 1,7%

queriam que o que deu o fora sentisse a mesma dor daquele que

levou o fora. 78% não sentiram vontade de destruir o outro.

70% buscaram apoio de familiares e amigos. 30% não buscaram

esse apoio.

▪ Resultados pesquisa (B2). Você se identifica com falas

abaixo?

SENTIMENTOS PÓS-TÉRMINO EM QUE A OUTRA

PESSOA PEDIU PARA TERMINAR.

De 60 respostas:

A palavra “triste” aparece 13 vezes.

A palavra “lixo” aparece 04 vezes.

A palavra “traída” aparece 03 vezes.

A palavra “luto” aparece 03 vezes.

A palavra “solidão” aparece 03 vezes.

107
A palavra “angústia” aparece 02 vezes.

A palavra “raiva” aparece 02 vezes.

A palavra “péssima(s)” aparecem 02 vezes.

A palavra “fracasso” aparece 01 vez.

A palavra “culpa” aparece 01 vez.

A palavra “desapontamento” aparece 01 vez.

A palavra “desapontada” aparece 01 vez.

A palavra “culpada” aparece 01 vez.

A palavra “rejeição” aparece 01 vez.

A palavra “sufocada” aparece 01 vez.

Eis as respostas abaixo transcritas praticamente como foram

escritas pelas pessoas:

Triste

Arrasado.

Muito triste, pois realmente gostava da pessoa, me senti

ferida, traída.

Na época eu me senti um nada... Incapaz, inútil, destruída é

como se algo dentro de mim tivesse morrido e nunca mais iria

ressuscitar. Me sentia incompleta em todas as áreas da vida

108
e incapaz de reiniciar novamente. Enfim me senti em total luto

e perdas emocionais.

Rejeitado, triste, de luto.

Ele terminou comigo antes de eu descobrir das milhões de

traições. Então quando ele terminou eu senti uma sensação

como se tivesse perdido alguém, achei que não conseguiria

viver uma vida sem a pessoa. Quando eu descobri das

traições, eu me senti usada, manipulada, enganada e uma

tristeza sem fim.

Indesejada, feia.

Descartável.

Fiquei tranquila pois ele entrou na minha vida por carência e

solidão e ele querendo se dar bem. Eu me senti usada e

quando terminou, senti um alívio e medo de me relacionar de

novo e decidi mesmo com solidão viver das lembranças boas

de meu marido que sou viúva.

Morto, sem sentido, sem vida.

Um lixo.

Desamparada, sem ter para onde ir no sentido emocional.

109
Me senti usada, um lixo, a angústia que sentia em relação a

ser usada e depois descartada.

Perdido, sem referências

Sensação de fracasso, vazio e solidão.

Traída

Mal!

Me sentia culpada por tudo e na época acabava cedendo tudo

que o outro pedia, foram anos assim de términos e voltas e

abuso emocional.

Muito triste. Enlouqueci. Não entendia o porquê. Não aceitava

que ele simplesmente não gostava mais depois de tantos

anos. Ficamos muito tempo (anos) nós torturando mesmo

terminados, mas não largavam os o osso (ambos). Apenas

quando cortamos totalmente é que ficamos bem. Bem

inclusive para seguimos nossa vida, hoje em dia ambos

casados e com filhos, mas sem rancor e amigos.

Tristeza

Confuso

110
Aliviado e disposto a amadurecer.

Perdido e sem chão, mas aos poucos me recuperei e superei

a fase do “luto”.

Como se tivesse perdido toda alegria da vida

Mal por muito tempo.

Ludibriada

Foi uma situação traumática, me senti muito triste, muito

perdido se rumo mesmo, já que projetava meu futuro com

essa pessoa. E o término em si foi de uma forma ruim.

Inesperada para mim, por isso me causou traumas e marcas

que perduram até hoje, e estou trabalhando para superar tudo

isso.

Me senti sem valor pessoal, impotente diante da situação,

tentando encontrar argumentos para consertar o que poderia

ter causado o término. Mesmo sustentando minhas escolhas

e hábitos antes do término, me coloquei a disposição por

mudanças só para o agrado da ex. A dor emocional nessa

111
circunstância é tão profunda que se confundi com dores

físicas, péssimas sensações!!!!

No começo fica faltando algo e mais reservado.

Arrasada

Alívio imediato e depois tristeza profunda

Hoje sei que o tempo cura tudo, mas na época não sabia,

então sofri muito.

Aliviado, era algo que eu queria ter feito muito antes, mas não

fazia por pena, ou receio de a pessoa fazer qualquer bobagem

Um sentimento de ter fracassado.

Reflexiva

Foi bem muito doloroso, porém não senti culpa e nem quis

tirar a minha vida por essa pessoa. O que busquei vale muito

mais e está sempre comigo que é Deus, hoje vejo que nada é

112
para a morte e sim para nos tornar pessoas melhores,

ponderada, livres, e melhores para amar pessoas digamos

compatíveis com a nossa perspectiva de visão.

Um erro, dona de todos os defeitos

Apesar da tristeza profunda busquei apoio de amigos e família

assim como da psicoterapia. Depois fiz curso de Reik e tornei-

me voluntária. Assim dei um novo sentido à vida. Estou

casada e sou muito feliz. Mudei de país e sinto que estou

super realizada com as novas oportunidades que conquistei

até aqui.

Triste, porém com a consciência tranquila.

Me sentir tranquilo acredito que todos temos live arbítrio. Se

não deu certo cada um segue sua vida.

Péssima

Uma mistura de tristeza profunda com angústia.

113
Mal

Literalmente um lixo ... Um papel amassado e jogado no lixo.

Ele revelou coisas que eu nem imaginava e defendeu atos de

violência como as armas... Não dá

A pessoa sofre de TOC termina a relação por WhatsApp pois

acha que está sendo traída e some .... Com 65 anos de idade

e ainda anda armado...

Senti que somente eu estava na relação!

Sim

Tristeza, raiva, desapontamento,

Triste pragmático.

Vazio

Indignada, pois acreditava que tudo estava muito bem

114
Me senti traído.

Muito ruim, nas em paz.

Sentimento de que eu precisava rever situações pessoais

minhas.

Sufocada

Rejeição

Desapontada

Muita tristeza e raiva

Pesquisa C3

➢ Quem É Esse Outro (Objeto De Escolha), Que Elegemos Amar

E Como Se Dá A Escolha Amorosa?

❖ “Ele era o meu tudo. Meu protetor. Ele cuidava de mim”.

115
❖ “Eu queria a pessoa para cuidar de mim. Preciso de alguém

para cuidar de mim. Alguém que me pergunte como foi o meu

dia. Meu pai era assim comigo”.

❖ “A pessoa era como o meu pai foi para mim”.

➢ LIBIDO NARCÍSICA

❖ “No começo gostávamos das mesmas coisas”.

❖ “Éramos um! Éramos únicos! Uma unidade!”

❖ Ele era eu e eu era ele.

❖ A pessoa gostava dos mesmos filmes que eu. Incrível como a

pessoa era igualzinha a mim. Eu era a pessoa, a pessoa era

eu. Um verdadeiro espelho. Foi lindo e desmoronou.

➢ O CORAÇÃO PARTIDO (DESILUSÃO AMOROSA) PARA A

PSICANÁLISE. O QUE É ISSO? (SÍNDROME DO CORAÇÃO

PARTIDO)

❖ “Senti como se o coração tivesse se partido ao meio!”

❖ “A agonia era palpável, uma dor que vinha desde o estômago

até o peito, como se o coração estivesse sendo cruelmente

espremido.”

116
❖ “A dor no peito era tanta que chegava a ser física. Eu perdia o

ar. Queria a pessoa de volta, mas ela não queria, e tinha outra

pessoa.”

➢ A DOR

❖ “Quando ele finalmente saiu de casa, foi como se eu tivesse

perdido uma parte de mim mesma. Senti a perda de uma parte

do meu próprio corpo.”

❖ Uma parte do meu corpo foi embora com a pessoa.

❖ “Senti dor na alma.”

❖ “Era uma dor física, uma sensação física, uma sensação de

vazio dilacerante que parecia consumir cada centímetro do seu

ser.”

❖ “Lutava desesperadamente para entender por qual motivo ele

não me amava mais”.

❖ “Enfrentei crises de pânico durante o processo de separação.”

❖ “Meu coração não cabe mais no peito de tanta dor”.

❖ “Quando a pessoa saiu de casa eu desejei acabar comigo.

Nada mais valia a pena.”

❖ “A intensidade da dor era tanta que precisei de medicação”.

117
➢ SENTIMENTOS ORIUNDOS DE UMA SEPARAÇÃO

AMOROSA

❖ “Sentia muita culpa por ele ter pedido a separação. Quais eram

os meus erros? Até que eu descobri que estava sendo traída”.

❖ “Foi muita humilhação implorar incontáveis vezes pela volta

dele. Meses de humilhação.”

❖ “As noites de sono eram interrompidas por uma ansiedade

paralisante. Cada segundo era uma batalha contra a incerteza

do futuro, onde a venda do apartamento era tanto um alívio

quanto uma fonte de preocupação, pois significava um novo

começo, mas também o desconhecido”.

❖ Não durmo mais. Não consigo. A angústia é profunda.

➢ SENTIMENTOS AMBIVALENTES

❖ “Ela não é tudo isso!”.

❖ “Tive muita raiva da pessoa”.

❖ “Vou acabar com ele. Vou vê-lo na sarjeta”.

❖ Eu odeio essa pessoa. Vou destruir tudo o que ele tem. Vai ficar

sem um centavo no bolso. Vou tirar tudo. É meu direito. Se hoje

a pessoa tem dinheiro é porque eu estive do lado o tempo todo.

Vai acabar na sarjeta.

118
➢ IDEALIZAÇÃO

❖ “Ele era meu tudo. Tudo o que eu havia imaginado como

família. Jamais ele, um dia, desejaria se separar de mim.

Quanta desilusão.

❖ A pessoa ficou comigo uma vida e agora larga. Não

admito. Ele se casou para ficar comigo para o resto da

vida e vai ficar querendo ou não”.

➢ O LUTO NO ROMPIMENTO AMOROSO

❖ “Era um luto, uma dor tão profunda quanto a perda de um ente

querido. Às vezes, até mais difícil, pois não havia um

encerramento definitivo. Enquanto na morte há uma

inevitabilidade, na vida a separação era uma escolha

consciente, uma rejeição dolorosa que se repedia dia após dia.”

❖ “Sinto como se a pessoa tivesse morrido, mas está aí me

fazendo sofrer”.

➢ COMO SE DÁ O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO LUTO?

❖ “Muito duro o processo do luto! Complicado. Acho que se

tivesse havido a morte na acepção da palavra seria mais fácil.

Mas, saber que ele estava ali e com outra, que eu acreditava

mais bonita e sexy do que eu, era desesperador.”

119
❖ “Ver aquela mulher andando pela rua, feliz, e com outro era a

morte para mim. Foi difícil demais. Tentei contra mim mesmo,

mas, não consegui, então, hoje estou aqui falando com você (a

psicanalista).”

➢ O QUE É APEGO EMOCIONAL EXCESSIVO?

❖ “Acreditava que ele era perfeito. Tudo na minha vida. Ele era a

minha própria vida. Viver sem ele? Impossível.”

❖ “Ela é minha. Vai ficar comigo quer queira ou não”.

❖ “Ela jamais terá outro homem”.

❖ “O que será que a outra faz com ele na cama. Eu preciso

descobrir para fazer igual”.

❖ “Ou fica comigo ou com ninguém”.

❖ Ele é meu marido. É meu. Ninguém tasca.

❖ O que será que ela faz na cama com ele? Vou fazer descobrir

e fazer igual. Ela deve usar produtos da sex shop. Vou lá

comprar também.

➢ É POSSÍVEL SUPERAR A DOR DA PERDA DO LUTO DO

OBJETO AMADO?

❖ “Não sem ajuda profissional. Fiz terapia, apometria,

Constelação familiar, mapa astral e tarô.

120
❖ “Entrei numa clínica social de escola de Psicanálise e fui

atendida por uma psicanalista. Eu precisava falar e falar. A

dor era intensa.”

❖ “Fiz tratamento com psicólogo e psiquiatra, caso contrário não

conseguiria”.

➢ O HOJE

❖ Neste momento, me sinto menos emocionalmente dependente

dele, mais individualizada. Embora em alguns momentos seja

feliz com ele, percebe que não depende dele para ser feliz

consigo mesma.

❖ “Pelo menos ele continua aí. Não compreendo como ainda me

submeto a tantos mal tratos. Faço essa pergunta a mim todos

os dias.”

➢ O MOLETOM SURRADO

❖ Compara o relacionamento a um moletom surrado, cheio de

buracos e rasgos. Prefere não comprar um novo.

➢ CONCLUSÕES

❖ Eu até consigo comprar outro moletom. Mas prefiro ficar com o

“conforto” do velho e rasgado. Dá trabalho ir até a uma loja

121
comprar um novo, mesmo por que como vou saber o futuro com

um novo e sem o velho? Assim, vou ficando... Prefiro me

manter nesse desconforto... Tenho medo do novo.

➢ E COMO SE SENTE, HOJE, NESSA RELAÇÃO?

❖ Ah! Já foi pior. Mas, eu não sei se isso significa que ele que

melhorou ou eu que estou mudando. Estou indo... Por

enquanto mantenho o velho e rasgado moletom.

17. Conclusões e recomendações

- Campanha “dor de amar – acolha e ressignifique! –

De todo o exposto neste trabalho, inclusive

quanto às pesquisas A1, B2 e C3, conclui-se que a idealização do

outro(a) chega ao patamar de 78,3% nas respostas; e vivenciar

amores, paixões, e términos de relacionamentos amorosos podem

ser experiências profundamente dolorosas e complexas. O

sofrimento com um término de relação é realidade e não pode ser

minimizado e romantizado. Trata-se de uma experiência que pode

afetar a pessoa em seu bem-estar geral. Ignorar essa dor e tê-la

desprezada pode prolongar o sofrimento com desfechos extremos.

122
Esse sofrimento pode ser gatilho

para:

a) Depressões, e até desejos de morrer (20%), com iniciativas

para tal como responderam 2 pessoas de 60 que participaram

da pesquisa “Moletom Surrado”.

b) desejos e às vezes concretizados, de destruir o outro, como se

verifica da pesquisa “Moletom Surrado” em que 20,3% das

pessoas afirmaram ter tido essa vontade (pensemos, por

exemplo, em destruição financeira, emocional, feminicídios, e

no Complexo de Medeia (alienação parental seja por parte da

mãe e/ou do pai).

É fundamental reconhecer que o término de

um relacionamento pode desencadear uma variedade de emoções

intensas, como tristeza, raiva, ódio, confusão e até mesmo um

sentimento de perda de identidade. Essas emoções são verdadeiras,

legítimas e merecem validação. O sofrimento não deve ser

minimizado, subestimado, motivo de piadas ou mesmo romantizado,

ao contrário, precisa ser tratado e quando necessário com o auxílio

de profissionais qualificados. Não se apaga dor num clique!

123
Cada pessoa age e reage ao seu próprio

modo, portanto, não há uma receita de bolo que sirva para todos

indistintamente. Entretanto, há, sim, a necessidade de seja criado um

espaço seguro, empático e acolhedor para que as emoções

consigam ser processadas de uma maneira saudável. Não é

frescura a dor de amar. Muito ao contrário. É algo sério e a

Psicanálise é uma ferramenta para que essa dor possa ser

trabalhada; mas, cada qual escolhe a ferramenta que melhor lhe

convier!

Assim, recomenda-se que assuntos de amor,

paixão e seus finais sejam estudados cada vez mais de modo que

daí possam surgir instrumentos de pesquisa para auxiliar quem

passa ou passou por tais momentos, ou seja, praticamente todo ser

humano. Além disso, é interessante que sejam desenvolvidas

campanhas, quer sejam da inciativa privada ou governamental no

sentido de alertar que sofrer por amor não é algo banal, mesmo

porque, as consequências dessa dor podem ser avassaladoras. Eis

uma sugestão de campanha, como uma forma de estratégia de

prevenção de consequências extremas devido a rompimentos de

relações afetivas:

“Dor de Amar – Acolhimento e Ressignificação!

124
Objetivos da campanha:

1. Aceitação. Dores podem surgir em finais de relacionamentos.

2. Compreensão. Dor faz parte do processo em términos de

relacionamentos. Dores acolhidas e compreendidas trazem a

possibilidade do não desencadeamento de depressões, alienação

parental, e atitudes extremas como assassinatos e suicídios.

3. Dores não são elaboradas e tratadas instantaneamente com

cliques e com “receitas de bolo”, que servem indistintamente a todos,

todas e todes.

4. Cuidado pessoal. Demonstrar importância de buscar apoio e se

necessário o auxílio de profissionais especializados.

5. Fornecer informações de clínicas sociais e grupos de apoio.

Ressaltar que terapia de cunho psicológico não é conversa de gente

louca! Salientar a importância do autoconhecimento para a saúde

mental.

Enfim, finalizo este trabalho com muito

amor, feliz, e já com sentimentos de saudades, porque esta pesquisa

se tornou um objeto de amor para mim! E, também, eu termino com

as lições de Freud no sentido de que a verdadeira cura não reside no

esquecimento, mas sim na evocação do reprimido que está

“escondidinho” lá no nosso inconsciente, de modo que, assim,

possamos transformar a dor em entendimento, compreensão e poder

125
dar início a uma nova etapa. É um processo delicado, mas ao mesmo

tempo forte, pois trata-se de uma viagem interior e autodescoberta.

Parafraseando Freud: a cura não está no esquecimento, está no

lembrar sem a dor, sem sofrimentos. É uma caminhada... É um

processo!

Para mim, mergulhar na jornada psicanalítica

é uma experiência verdadeiramente enriquecedora! É um contínuo

despertar repleto de novos significados, proporcionando-me uma

sensação de liberdade genuína. É o incrível aprendizado de como

lidar com as frustrações, reconhecendo que elas são uma parte

inerente da nossa jornada na vida.

Beijos para você que ama, já viveu, vive ou vai

viver um grande amor, recheado de imperfeições que tecem os fios

da beleza da natureza humana!

Enfim, vou dar uma caminhada no parque sob

a sombra das árvores, e sentir o perfume das folhas e das flores ao

sabor do vento... O bailado da vida é desafiador, mas ao mesmo

tempo lindo e como me ensinou e disse a minha avó Lydia nos seus

últimos suspiros: Sandrinha, meu amor, a vida não é só estudar e

trabalhar... A vida é amar... A vida é amor... A vida vale super a pena!

Beijos recheados de Luz!

Sandra

126
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