Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sinopse: Que sentimentos passam pela cabeça de um ser humano obrigado a lidar
com os limites entre a vida e a morte diariamente? Martin Scorsese mergulhou no
mundo dos paramédicos novaiorquinos e esquadrinhou a vida cotidiana de homens e
mulheres que enfrentam, cara a cara, o desespero de pessoas à beira da morte. O
filme é estrelado por Nicolas Cage, no papel do paramédico Frank Pierce, que, aos
poucos, sucumbiu diante do peso de anos e anos salvando e perdendo vidas.
Assista esse filme e comente o que você sente ao atender a uma ocorrência em que
há feridos ou mortos.
Metade
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será que você está
Agora?
(Adriana Calcanhoto)
“ Freud (1980) define o luto como uma reação à perda de um ente querido ou à
perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a
liberdade ou o ideal de alguém. O luto pode ser vivido em decorrência da morte,
afastamento, perda de capacidades físicas ou psicológicas, por mudanças que exigem
uma reorganização interna e externa.” (Bromberg, 1994)
Como você deve ter verificado nas ocorrências de acidente, abordando pessoas que
perderam entes queridos, esses indivíduos estão se deparando com uma realidade
nova da qual as pessoas amadas foram repentinamente subtraídas. No caso de
calamidades, que os bombeiros tanto enfrentam em sua carreira profissional, o luto
pode advir em consequência à perda do ambiente – casa, bairro, cidade. E isso
também se coloca no caso de refugiados que têm que deixar seu país ou localidade
em que viviam.
O luto não pode ser entendido como um adoecimento, uma vez que é um
processo necessário para o psiquismo. No luto verifica-se uma inibição da
afetividade e perda de interesse no mundo externo. Ele implica num trabalho de
substituição do objeto amado, com a necessidade de redirecionar o investimento
afetivo. Quando o sujeito percebe que não possui mais o objeto amado, necessita
redirecionar sua afetividade para um novo amor. Essa exigência requer um trabalho
difícil, pois abandonar a antiga relação afetiva é uma manobra complicada.
Leia a letra da música “Começar de novo”, de Ivan Lins, e escreva suas impressões
sobre a ideia de que o processo de luto é uma tarefa para redirecionar uma relação
afetiva.
Começar de novo
(Ivan Lins)
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Ter me rebelado
Ter me debatido
Ter me machucado
Ter sobrevivido
Ter virado a mesa
Ter me conhecido
Ter virado o barco
Ter me socorrido
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Sem as suas garras
Sempre tão seguras
Sem o teu fantasma
Sem tua moldura
Sem suas escoras
Tópicos em Psicologia relacionados à Segurança Pública e Defesa Civil – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 10/06/2009
Página 4
Sem o teu domínio
Sem tuas esporas
Sem o teu fascínio
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Já ter te esquecido
Começar de novo
Na aula passada, você estudou as tarefas do luto. Agora que você compreendeu o
processo psicológico envolvido nessa experiência, será fácil adotar uma postura
respeitosa no tratamento de pessoas enlutadas.
O que as pessoas precisam nessa hora é vivenciar suas emoções num ambiente de
compreensão e empatia. Muitas vezes a pessoa tem dificuldades para expressar seus
sentimentos, seja porque eles são duros de se reconhecer, seja porque as outras
pessoas criticam suas expressões. Não são poucos que relatam terem que se esconder
para chorar por um ente falecido, dada a reação que isso provoca nos outros ou por
não suportar ver outras pessoas sofrendo nessas ocasiões.
Mas, quem são as pessoas que ficam de luto? O contexto social nos faz reconhecer
facilmente certas relações afetivas que “credenciam” uma pessoa a ser reconhecida
como enlutada. Porém, esse contexto muitas vezes exclui algumas relações afetivas
como se elas não fizessem parte do mundo do falecido e do enlutado. Chama-se essa
exclusão de luto não-reconhecido.
Escolha uma situação em seu cotidiano para praticar suas habilidades de escuta e
anote os resultados dessa experiência.
Tudo o que você estudou nas tarefas do luto, também se aplicam no caso do
profissional de socorros. Os socorristas, bombeiros ou policiais que atuam em
acidentes precisam aceitar seus limites com relação à realidade da morte. Isso vale
muito para as ocasiões em que há falecimento, apesar de todos os esforços da equipe
em garantir o suporte básico de vida. Todos os profissionais atuam numa realidade
que muitas vezes se impõe de forma a nos mostrar a fragilidade desses limites.
Em sua carreira profissional foi disponibilizado algum espaço para que suas
emoções fossem reconhecidas e expressadas?
Resposta: Caso positivo, tente avaliar se este espaço garantia uma comunicação
eficaz entre os participantes e descreva os resultados obtidos com essa experiência.
Nas aulas anteriores, você estudou o processo de luto. Agora você estudará uma
reação psico-fisiológica decorrente de forte impacto emocional. Podem constituir
situações desse tipo os acidentes, desastres, calamidades, catástrofes, sequestros,
estupros, traumas individuais ou coletivos.
Você deve orientar as pessoas que atender num acidente a procurar atendimento
médico, evitar o consumo de bebidas alcoólicas após o acidente, visto que certas
pessoas podem procurar consumir álcool para se acalmar, a se alimentar
corretamente e com regularidade, a manter a regularidade no sono, evitando o
uso descomedido de substâncias estimulantes.
1ª fase – Revivescência
São característicos os mesmos sintomas da reação aguda ao estresse:
● Lembrar do acidente sem a ação voluntária da consciência. De repente, a pessoa
revive momentos do acidente, rememorando imagens, sons e odores;
● Sonhos angustiantes e repetidos do acidente;
● Angústia intensa ao lembrar; e
● Reações fisiológicas ao lembrar, como aceleração dos batimentos cardíacos, suor
ou tremores.
2ª fase – Evitação
Ocorrem os seguintes fenômenos:
● Evitar pensamentos, atividades, pessoas e locais relacionados ao trauma;
● Incapacidade para recordar certos fatos ligados ao acidente;
● Interesse reduzido por atividades;
● Sensação de isolamento das pessoas;
● Restrição do afeto; e
● Sentimento de futuro abreviado.
3ª fase – Hiperexcitação
Desenvolvem-se os seguintes fenômenos:
● Dificuldade com sono ou hipervigilância (ficar acordado muito tempo);
● Irritabilidade; e
Tópicos em Psicologia relacionados à Segurança Pública e Defesa Civil – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 10/06/2009
Página 10
● Dificuldade em concentrar
Agora, você tem elementos para orientar pessoas no atendimento de acidentes com
relação aos seus efeitos traumáticos, seja com relação aos feridos, aos seus colegas
de trabalho ou mesmo orientar sua autopercepção. Certamente, não se exige que
você faça uma análise minuciosa desses conceitos, nem que proceda qualquer tipo de
avaliação diagnóstica, mas você poderá sempre estar atento aos fenômenos que
observar nas pessoas com quem se relaciona e poderá relatar suas percepções aos
profissionais da saúde que trabalham com você ou que integram os serviços de saúde
de sua localidade.
Algumas das descrições que você estudou nesta aula despertaram a análise de
situações que você viveu em sua carreira? Anote seus comentários.
Resposta: Uma vez que o processo de luto não pode ser interpretado como um
adoecimento, são esperadas reações de luto quando nos deparamos com a perda de
pessoas, objetos, crenças importantes para nós. Uma pessoa ferida que se quer salvar
pode representar para os profissionais de segurança pública e defesa civil um evento
de suma importância, cujo resultado pode gerar um processo de luto ou uma reação
aguda ao estresse. O importante é estar atento ao tratamento que é dado a essa
experiência. Lembre-se de que ter esse assunto como um tabu de que não se pode
falar não é uma medida recomendável, como vimos anteriormente em nossa aula. Se
você tem razões para acreditar que pode estar passando por uma dificuldade maior,
como o transtorno de estresse pós-traumático, vale procurar um serviço de saúde,
pois pode haver necessidade de acompanhamento por um profissional de saúde.
Conclusão
Neste curso foram estudados temas de interseção entre dois campos. O objetivo foi
apresentar essa disciplina de estudos o mais próximo de sua realidade profissional.
Referências bibliográficas
ARTWOHL, Alexis e CHRISTENSEN, Loren. Deadly force encounters: what cops need to
know to mentally and physically prepare for and survive a gunfight. Boulder,
Colorado: Paladin Press, 1997.
FREUD, Sigmund. (1980). Luto e melancolia (Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol.14). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1917 [1915] ).
KOPITTKE, Bruno Hartmut & SINZATO, Carmen Isabel Pereira e BONAZINA, Maria
Cristina Rath. Processo da percepção e das relações interpessoais do líder
através de um instrumento de treinamento gerencial: A janela de Johari – 1997.
LIPP, Marilda Novaes. Como enfrentar o stress. São Paulo, Ed. Ícone, 1998.
4. Marque (V) para uma afirmativa verdadeira e (F) para uma alternativa falsa.
Os procedimentos abaixo relacionados podem auxiliá-lo na abordagem de uma
pessoa em luto.
Gabarito
1. O luto não pode ser entendido como um adoecimento, uma vez que é um processo
necessário para o psiquismo.
2. Aceitação da realidade, reconhecimento dos sentimentos, ajuste ao ambiente e
investimento afetivo e na vida.
3. A atitude mais importante é ouvir, desenvolvendo as habilidades de escuta.
4. V – F – F – V – V – F – V - V
5. Reuniões de equipe em que os profissionais possam falar de suas emoções no
confronto com acidentes.
6. Transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psíquico
excepcional e que desaparece em algumas horas ou dias.
7. Sonhos angustiantes e repetidos do acidente.
8. Evitação, hiperexcitação e revivescência.
9. Colapso emocional, inibição da prontidão para a ação.
Patologias: Doenças.
Perceptivas: Para o escopo deste trabalho, percepção foi definida como o processo
em que os dados sensoriais (dos sentidos) são organizados na consciência. Existem
percepções visuais (percebidas pelos olhos), auditivas (pelo ouvido), tácteis (pela
pele), olfativas (pelo nariz), gustativas (pela boca) e cinestésicas (pelo esquema
corporal).