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Módulo 3 – Pós-trauma

Neste módulo, você estudará as formas de enfrentamento de situações impactantes,


tais como acidentes, ocorrências com feridos ou com óbitos.

O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas:

Aula 1 – Processo de luto e tarefas do luto

Aula 2 – Posturas no atendimento de pessoas em luto

Aula 3 – Exposição a situações impactantes

Aula 4 – Reação aguda ao estresse e o transtorno de estresse pós-traumático

No filme “Vivendo no limite” (http://www.youtube.com/watch?v=sfUwvmRmMtw),


o ator Nicolas Cage interpreta Frank Pierce, um socorrista que enfrenta uma dura
rotina de trabalho a bordo de uma ambulância. Pierce se depara com situações
impactantes que implicam em sérias consequências para sua saúde mental. Leia a
sinopse.

Sinopse do filme “Vivendo no limite”

Sinopse: Que sentimentos passam pela cabeça de um ser humano obrigado a lidar
com os limites entre a vida e a morte diariamente? Martin Scorsese mergulhou no
mundo dos paramédicos novaiorquinos e esquadrinhou a vida cotidiana de homens e
mulheres que enfrentam, cara a cara, o desespero de pessoas à beira da morte. O
filme é estrelado por Nicolas Cage, no papel do paramédico Frank Pierce, que, aos
poucos, sucumbiu diante do peso de anos e anos salvando e perdendo vidas.

Assista esse filme e comente o que você sente ao atender a uma ocorrência em que
há feridos ou mortos.

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Reconhecer as experiências frente a situações impactantes é uma maneira, ainda que
inicial, de tratamento. Utilize as experiências descritas por você aqui para compará-
las com as reações que descritas adiante.

Aula 1 – Processo de luto e tarefas do luto

Adriana Calcanhoto, na música “Metade” (http://www.youtube.com/watch?v=i-


DkGcdSrq8&feature=related), descreve uma experiência pessoal marcada pela
sensação psicológica de ausência e de arrebatamento, descrita como “perder o
chão”. Pela falta de uma outra pessoa, a personagem da música se diz “ao meio” ou
em “milhares de cacos”, como se uma parte dela tivesse sido perdida quando essa
outra pessoa a deixou. Assim, tudo que costumava ser fácil para ela – falar, chegar na
hora, trancar a porta – torna-se difícil. Até mesmo a sensação de intimidade consigo
mesma é abalada, narrada como “não morar mais em si mesma”.

Metade
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será que você está
Agora?
(Adriana Calcanhoto)

Como você interpreta a experiência apontada na música?

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Resposta: Na interpretação da música, tente tematizar as reações características do
processo de luto: dificuldade em direcionar a afetividade e perda de interesse.

Nesta aula, você estudará o processo de luto e será capaz de:

● Descrever o processo de luto; e

● Citar as tarefas do luto.

Vários autores em psicologia abordam o tema do luto. Veja a perspectiva que a


psicanálise de Sigmund Freud conferiu a esse tema.

“ Freud (1980) define o luto como uma reação à perda de um ente querido ou à
perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a
liberdade ou o ideal de alguém. O luto pode ser vivido em decorrência da morte,
afastamento, perda de capacidades físicas ou psicológicas, por mudanças que exigem
uma reorganização interna e externa.” (Bromberg, 1994)

Como você deve ter verificado nas ocorrências de acidente, abordando pessoas que
perderam entes queridos, esses indivíduos estão se deparando com uma realidade
nova da qual as pessoas amadas foram repentinamente subtraídas. No caso de
calamidades, que os bombeiros tanto enfrentam em sua carreira profissional, o luto
pode advir em consequência à perda do ambiente – casa, bairro, cidade. E isso
também se coloca no caso de refugiados que têm que deixar seu país ou localidade
em que viviam.

O luto não pode ser entendido como um adoecimento, uma vez que é um
processo necessário para o psiquismo. No luto verifica-se uma inibição da
afetividade e perda de interesse no mundo externo. Ele implica num trabalho de
substituição do objeto amado, com a necessidade de redirecionar o investimento
afetivo. Quando o sujeito percebe que não possui mais o objeto amado, necessita
redirecionar sua afetividade para um novo amor. Essa exigência requer um trabalho
difícil, pois abandonar a antiga relação afetiva é uma manobra complicada.

As tarefas do luto começam com a aceitação da realidade da morte, sendo necessário


aceitar a irreversibilidade da morte e a impossibilidade do reencontro. Em seguida, é
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preciso reconhecer os sentimentos, criando um ambiente em que seja possível
expressá-los. Uma outra atitude refere-se ao ajuste ao ambiente na ausência do
falecido. Finalmente, a reorganização emocionalmente que inclui o investimento
afetivo em outras relações e em novos objetivos de vida. (Bromberg, 1994)

É importante frisar que quando o trabalho do luto se conclui, as relações afetivas


podem ser recuperadas. É por isso que o processo de luto é necessário, pois é por ele
que o sujeito recupera sua capacidade de amar.

Leia a letra da música “Começar de novo”, de Ivan Lins, e escreva suas impressões
sobre a ideia de que o processo de luto é uma tarefa para redirecionar uma relação
afetiva.
Começar de novo
(Ivan Lins)

Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Ter me rebelado
Ter me debatido
Ter me machucado
Ter sobrevivido
Ter virado a mesa
Ter me conhecido
Ter virado o barco
Ter me socorrido
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Sem as suas garras
Sempre tão seguras
Sem o teu fantasma
Sem tua moldura
Sem suas escoras
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Sem o teu domínio
Sem tuas esporas
Sem o teu fascínio
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Já ter te esquecido
Começar de novo

Para ouvir a musica entre neste endereço:


http://www.youtube.com/watch?v=Nj_X-Uv7yyA&feature=relatedpara ouvir a
música.

Aula 2 – Posturas no atendimento de pessoas em luto

Na aula passada, você estudou as tarefas do luto. Agora que você compreendeu o
processo psicológico envolvido nessa experiência, será fácil adotar uma postura
respeitosa no tratamento de pessoas enlutadas.

Ao final desta aula, você será capaz de:

● Atender pessoas enlutadas com empatia; e

● Sensibilizar-se para o reconhecimento de relações afetivas não usuais.

O que as pessoas precisam nessa hora é vivenciar suas emoções num ambiente de
compreensão e empatia. Muitas vezes a pessoa tem dificuldades para expressar seus
sentimentos, seja porque eles são duros de se reconhecer, seja porque as outras
pessoas criticam suas expressões. Não são poucos que relatam terem que se esconder
para chorar por um ente falecido, dada a reação que isso provoca nos outros ou por
não suportar ver outras pessoas sofrendo nessas ocasiões.

A atitude mais importante é ouvir, desenvolvendo as habilidades de escuta. Aceitar o


fato de que a pessoa enlutada precisa falar, pois isso ajuda em seu processo de
aceitação da realidade da morte.

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Uma outra postura diz respeito à conscientização de que não é possível “consertar a
dor” que o outro está passando. Não só não é possível poupá-lo do sofrimento, como
sua reconstrução precisa da vivência desses sentimentos. Não é preciso dar
conselhos, tentar fazer com que a pessoa “veja a situação de outra maneira” ou
mesmo concordar com o que ela diz. Num primeiro momento, seus sentimentos são
ainda muito intensos para que tal convite possa ser considerado ou você possa fazer
um debate de ideias. Você não precisa explicar para a pessoa porque o acidente
ocorreu ou o que deveria ter acontecido. Esclareça o que você sabe e informe que
você ainda não tem todos os elementos para explicar outras coisas.

Mas, quem são as pessoas que ficam de luto? O contexto social nos faz reconhecer
facilmente certas relações afetivas que “credenciam” uma pessoa a ser reconhecida
como enlutada. Porém, esse contexto muitas vezes exclui algumas relações afetivas
como se elas não fizessem parte do mundo do falecido e do enlutado. Chama-se essa
exclusão de luto não-reconhecido.

Uma relação afetiva pode não ser reconhecida em casos de relacionamentos


extraconjugais, relações a distância, amores platônicos (como ídolos), abortos, tipos
de união não-tradicional, parceria homossexual, perdas simbólicas (como papel
social, função, status) e amizades com animais. (Bromberg, 1994)

Os procedimentos abaixo relacionados podem auxiliá-lo na abordagem de uma


pessoa em luto:
● As notícias de ferimento, morte ou acidente devem ser dadas num ambiente
calmo, em que você não seja interrompido e que possa acomodar você e a pessoa,
ambos sentados;
● Trate a pessoa pelo nome e informe-se sobre o nome do(a) falecido(a). Pergunte;
● Diga mensagens claras, evite linguagem figurada;
● Diga uma informação nova de cada vez e perceba se a pessoa está compreendendo.
Considere ter que repetir várias vezes a mesma notícia;
● Evite expressões associadas à morte como “perder a cabeça”, “morrer de fome” ou
clichês e piadas;
● Disponha-se a ouvir o que a pessoa tem para te dizer, mesmo que a pessoa repita
muitas vezes a mesma história; e

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● Observe se a pessoa emite mensagens de suicídio. Se isso ocorrer, aborde o assunto
com ela, pergunte o que ela quer dizer com a mensagem e o porquê.

Escolha uma situação em seu cotidiano para praticar suas habilidades de escuta e
anote os resultados dessa experiência.

Resposta: Tente praticar a escuta, dando realce às seguintes habilidades:


- Escolha de um ambiente propício ao tipo de conversa que será realizada, atentando
para o conteúdo, barulho, acomodação, pessoas que possam incomodar.
- Referir-se à pessoa, utilizando seu nome.
- Utilizar mensagens claras para o que você tem a dizer.
- Monitorar se a pessoa está entendendo o que você diz.
- Ter paciência para repetir, caso seja necessário.
- Dispor-se a ouvir o que a pessoa tem para te dizer, mesmo que a pessoa repita
muitas vezes a mesma história.
Se você teve dificuldade em memorizar o que a pessoa estava dizendo, é possível
utilizar um bloco de anotações. Para isso, você precisará avisar à pessoa que você
está anotando para manter o máximo de informações que ela está te trazendo e que
talvez você tenha que olhar para o papel algumas vezes enquanto ela fala, mas ela
não precisa parar a conversa porque você estará escutando atentamente. (Mas, não
fique olhando para o papel o tempo todo.)

Aula 3 – Exposição a situações impactantes

Na aula anterior você estudou certas posturas no atendimento de pessoas em luto.


Agora, é indispensável estudar como a exposição a situações de lutos afeta os
profissionais que lidam diariamente com essas situações, fazendo com que sejam
vivenciadas algumas emoções nesse processo.

Nesta aula, você será capaz de reconhecer os efeitos da exposição a acidentes em


seu cotidiano.

Como foi retratado no filme “Vivendo no limite” mencionado na apresentação do


módulo, atender ocorrências com pessoas feridas ou mortas pode gerar sentimentos,

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como culpa, raiva, choque, dificuldade de acreditar no que aconteceu, tristeza ou
medo.

Tudo o que você estudou nas tarefas do luto, também se aplicam no caso do
profissional de socorros. Os socorristas, bombeiros ou policiais que atuam em
acidentes precisam aceitar seus limites com relação à realidade da morte. Isso vale
muito para as ocasiões em que há falecimento, apesar de todos os esforços da equipe
em garantir o suporte básico de vida. Todos os profissionais atuam numa realidade
que muitas vezes se impõe de forma a nos mostrar a fragilidade desses limites.

É interessante adotar procedimentos como reuniões de equipe em que os


profissionais possam falar de suas emoções no confronto com acidentes. Essas
reuniões devem primar pelo clima de respeito e ajuda mútua, fazendo com que as
pessoas sintam-se confortáveis para reconhecer suas experiências e expressar
sentimentos.

Em sua carreira profissional foi disponibilizado algum espaço para que suas
emoções fossem reconhecidas e expressadas?

Você pode procurar o serviço de psicologia de sua instituição ou localidade para


consultar atendimentos clínicos individuais ou em grupo que podem auxiliá-lo na
elaboração das experiências decorrentes da exposição a situações impactantes.

Resposta: Caso positivo, tente avaliar se este espaço garantia uma comunicação
eficaz entre os participantes e descreva os resultados obtidos com essa experiência.

Aula 4 – Reação aguda ao estresse e o transtorno de estresse pós-traumático

Nas aulas anteriores, você estudou o processo de luto. Agora você estudará uma
reação psico-fisiológica decorrente de forte impacto emocional. Podem constituir
situações desse tipo os acidentes, desastres, calamidades, catástrofes, sequestros,
estupros, traumas individuais ou coletivos.

Nesta aula, você estudará:

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● Como orientar pessoas em reação aguda ao estresse quanto ao fenômeno e às
condutas adequadas; e

● Como orientar e encaminhar pessoas com transtorno de estresse pós-traumático


para tratamentos adequados.

De acordo com a classificação internacional de doenças (CID-10), a reação aguda ao


estresse constitui:
“Transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psíquico
excepcional e que desaparece em algumas horas ou dias. Os sintomas se manifestam
habitualmente nos minutos que seguem a ocorrência do estímulo ou do
acontecimento estressante e desaparecem no espaço de dois a três dias.” (CID-10)

Embora conste numa classificação de doenças, a reação aguda ao estresse não


deve ser entendida como uma patologia. Sua ocorrência deve-se à gravidade da
situação enfrentada pelo sujeito. Assim, ela é uma reação normal a uma situação
anormal.

A reação aguda ao estresse inclui os seguintes fenômenos:

● Lembrar do acidente sem a ação voluntária da consciência. De repente, a pessoa


revive momentos do acidente, rememorando imagens, sons e odores;
● Sonhos angustiantes e repetidos do acidente;
● Angústia intensa ao lembrar; e
● Reações fisiológicas, como aceleração dos batimentos cardíacos, suor ou tremores
ao lembrar.

Você deve orientar as pessoas que atender num acidente a procurar atendimento
médico, evitar o consumo de bebidas alcoólicas após o acidente, visto que certas
pessoas podem procurar consumir álcool para se acalmar, a se alimentar
corretamente e com regularidade, a manter a regularidade no sono, evitando o
uso descomedido de substâncias estimulantes.

De acordo com a classificação internacional de doenças (CID-10), o transtorno de


estresse pós-traumático compõe:

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“Resposta retardada a uma situação ou evento estressante (de curta ou longa
duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica. O período que
separa a ocorrência do traumatismo e do transtorno pode variar de algumas semanas
a alguns meses.”(CID-10)

A diferença entre a reação aguda ao estresse e o transtorno do estresse pós-


traumático refere-se ao tempo de ocorrência dos sintomas. Tem-se como norte a
ideia de que a permanência dos sintomas por mais de um mês pode apontar para a
ocorrência do transtorno. Pode ocorrer uma experiência traumática quando uma
pessoa se confronta com a morte, ameaça de morte, ferimentos sérios em si ou no
outro e reações de intensa dor, desamparo ou horror.

O transtorno conta com quatro fases:

1ª fase – Revivescência
São característicos os mesmos sintomas da reação aguda ao estresse:
● Lembrar do acidente sem a ação voluntária da consciência. De repente, a pessoa
revive momentos do acidente, rememorando imagens, sons e odores;
● Sonhos angustiantes e repetidos do acidente;
● Angústia intensa ao lembrar; e
● Reações fisiológicas ao lembrar, como aceleração dos batimentos cardíacos, suor
ou tremores.

2ª fase – Evitação
Ocorrem os seguintes fenômenos:
● Evitar pensamentos, atividades, pessoas e locais relacionados ao trauma;
● Incapacidade para recordar certos fatos ligados ao acidente;
● Interesse reduzido por atividades;
● Sensação de isolamento das pessoas;
● Restrição do afeto; e
● Sentimento de futuro abreviado.

3ª fase – Hiperexcitação
Desenvolvem-se os seguintes fenômenos:
● Dificuldade com sono ou hipervigilância (ficar acordado muito tempo);
● Irritabilidade; e
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● Dificuldade em concentrar

A 4ª e última fase, de Burnout, caracteriza-se pelo colapso emocional, percepção


da situação como “sem saída”, inibição da prontidão para a ação.

Agora, você tem elementos para orientar pessoas no atendimento de acidentes com
relação aos seus efeitos traumáticos, seja com relação aos feridos, aos seus colegas
de trabalho ou mesmo orientar sua autopercepção. Certamente, não se exige que
você faça uma análise minuciosa desses conceitos, nem que proceda qualquer tipo de
avaliação diagnóstica, mas você poderá sempre estar atento aos fenômenos que
observar nas pessoas com quem se relaciona e poderá relatar suas percepções aos
profissionais da saúde que trabalham com você ou que integram os serviços de saúde
de sua localidade.

Algumas das descrições que você estudou nesta aula despertaram a análise de
situações que você viveu em sua carreira? Anote seus comentários.

Resposta: Uma vez que o processo de luto não pode ser interpretado como um
adoecimento, são esperadas reações de luto quando nos deparamos com a perda de
pessoas, objetos, crenças importantes para nós. Uma pessoa ferida que se quer salvar
pode representar para os profissionais de segurança pública e defesa civil um evento
de suma importância, cujo resultado pode gerar um processo de luto ou uma reação
aguda ao estresse. O importante é estar atento ao tratamento que é dado a essa
experiência. Lembre-se de que ter esse assunto como um tabu de que não se pode
falar não é uma medida recomendável, como vimos anteriormente em nossa aula. Se
você tem razões para acreditar que pode estar passando por uma dificuldade maior,
como o transtorno de estresse pós-traumático, vale procurar um serviço de saúde,
pois pode haver necessidade de acompanhamento por um profissional de saúde.

Conclusão

Neste curso foram estudados temas de interseção entre dois campos. O objetivo foi
apresentar essa disciplina de estudos o mais próximo de sua realidade profissional.

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Certamente, esse curso não propõe ser um estudo definitivo em sua capacitação
profissional. Existe uma gama de assuntos em psicologia em que você também poderá
se especializar e que oferecerão outros bons resultados para sua carreira.

Saiba que os profissionais de psicologia de sua instituição ou localidade muito têm a


conhecer com suas experiências e com sua forma particular de exercer essa profissão
tão importante quanto complexa dos ramos da segurança pública e da defesa civil.

Referências bibliográficas

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Francisco. Jossey Bass, 1968.

ARTWOHL, Alexis e CHRISTENSEN, Loren. Deadly force encounters: what cops need to
know to mentally and physically prepare for and survive a gunfight. Boulder,
Colorado: Paladin Press, 1997.

BROMBERG, Maria Helena Franco. A psicoterapia em situações de perdas e luto.


Campinas: Editorial Psy II, 1994.

BRUN, Charles Le. Alexander in Babylon, 1665. Museu do Louvre

CANFILD, Anderson Alberto. Uma nova ótica nos relacionamentos interpessoais -


Artigo publicado em veículo de divulgação interna do Centro Tecnológico OPET -
Curitiba.

DEJOURS, C, ABDOUCHELI, C e JAYET. Psicodinâmica do trabalho: Contribuições da


Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento. São Paulo: Atlas, 1994.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O homem; as viagens in: As impurezas do branco.


José Olympio, 1973.

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FREUD, Sigmund.(1921) Psicologia das massas e análise do eu [online]. Disponível na
World Wide Web:

FREUD, Sigmund. (1980). Luto e melancolia (Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol.14). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1917 [1915] ).

KOPITTKE, Bruno Hartmut & SINZATO, Carmen Isabel Pereira e BONAZINA, Maria
Cristina Rath. Processo da percepção e das relações interpessoais do líder
através de um instrumento de treinamento gerencial: A janela de Johari – 1997.

LIPP, Marilda Novaes. Apostila do inventário de sintomas de stress para adultos


(ISSL), Casa do Psicólogo.

LIPP, Marilda Novaes. Como enfrentar o stress. São Paulo, Ed. Ícone, 1998.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. 5ª edição. Rio de Janeiro: José


Olympio, 1975.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE CID 10 Genebra, Suíça. Os direitos em língua


portuguesa são reservados ao centro colaborador da OMS para a classificação de
doenças em português (Centro Brasileiro de Classificação de Doenças) – CBCD /
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo FSP-USP / Organização
Mundial da Saúde – OMS / Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS.

SEYLE, Hans. The stress of life. NY: McGraw-Hill, 1956.

Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão


do conteúdo.
O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas
páginas anteriores.

1. Baseado em sua leitura sobre o luto, pode-se observar que:

( ) O luto é um estado de adoecimento que sentimos no sepultamento de um ente


querido.
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( ) O luto não pode ser entendido como um adoecimento, uma vez que é um
processo necessário para o psiquismo.
( ) No luto verifica-se um aumento da afetividade e perda de interesse no mundo
externo.

2. As tarefas do luto implicam em:

( ) Se fechar em reflexão, reconhecimento dos sentimentos, ajuste ao ambiente e


investimento monetário e na vida.
( ) Aceitação da realidade, sucumbir as pressões, ajuste ao ambiente e investimento
afetivo e na vida.
( ) Aceitação da realidade, reconhecimento dos sentimentos, ajuste ao ambiente e
investimento afetivo e na vida.

3. Uma atitude adequada ao lidar com indivíduos enlutados é:

( ) Sempre se adiantar e falar o que a pessoa enlutada está pensando.


( ) A atitude mais importante é ouvir, desenvolvendo as habilidades de escuta.
( ) A melhor atitude a ser adotada é dar conselhos.

4. Marque (V) para uma afirmativa verdadeira e (F) para uma alternativa falsa.
Os procedimentos abaixo relacionados podem auxiliá-lo na abordagem de uma
pessoa em luto.

( ) As notícias de ferimento, morte ou acidente devem ser dadas num ambiente


calmo, em que você não seja interrompido e que possa acomodar você e a pessoa,
ambos sentados.
( ) Trate a pessoa pelo nome e nunca mencione o nome do falecido.
( ) Use mensagem figurada é mais seguro.
( ) Diga uma informação nova de cada vez e perceba se a pessoa está
compreendendo.
( ) Considere ter que repetir várias vezes a mesma notícia.
( ) Use expressões associadas à morte como “perder a cabeça”, “morrer de fome”
ou clichês e piadas.
( ) Disponha-se a ouvir o que a pessoa tem para te dizer, mesmo que a pessoa repita
muitas vezes a mesma história.
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( ) Observe se a pessoa emite mensagens de suicídio. Se isso ocorrer, aborde o
assunto com ela, pergunte o que ela quer dizer com a mensagem e o porquê.

5. Um dos procedimentos a serem adotados como suporte a profissionais que se


expõem a situações de risco ou impactantes é:

( ) Reuniões de equipe em que os profissionais possam falar de suas emoções no


confronto com acidentes.
( ) Reuniões de equipe com temas divertidos para afastar as situações que envolvam
muita emoção.
( ) Se isolar sempre que terminar uma ocorrência impactante para recarregar as
energias.

6. O estresse pós-traumático tem como definição:

( ) Transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psíquico


excepcional e que desaparece em algumas horas ou dias.
( ) Transtorno permanente que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psíquico
excepcional e que desaparece em algumas horas ou dias.
( ) Transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse psíquico excepcional
e que desaparece em alguns anos.

7. A reação aguda ao estresse inclui o seguinte fenômeno:

( ) Sonhos angustiantes e repetidos do acidente.


( ) Sonhos divertidos e sem ligação com o acidente.
( ) Alívio intenso ao lembrar.

8. Qual é a segunda fase da reação aguda?

( ) Evitação, hiperexcitação e revivescência.


( ) Anunciação, hiperexcitação e revivescência.
( ) Evitação, perda e revivescência.

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9. O que é a síndrome de Burnout?

( ) Dificuldade com sono.


( ) Colapso emocional, inibição da prontidão para a ação.

Este é o final do módulo 3 – Pós-trauma

Gabarito

1. O luto não pode ser entendido como um adoecimento, uma vez que é um processo
necessário para o psiquismo.
2. Aceitação da realidade, reconhecimento dos sentimentos, ajuste ao ambiente e
investimento afetivo e na vida.
3. A atitude mais importante é ouvir, desenvolvendo as habilidades de escuta.
4. V – F – F – V – V – F – V - V
5. Reuniões de equipe em que os profissionais possam falar de suas emoções no
confronto com acidentes.
6. Transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psíquico
excepcional e que desaparece em algumas horas ou dias.
7. Sonhos angustiantes e repetidos do acidente.
8. Evitação, hiperexcitação e revivescência.
9. Colapso emocional, inibição da prontidão para a ação.

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Glossário

Adaptação: Existem diversas definições de adaptação em ciência, a maioria delas


compartilha de alguma forma o conceito inaugural oferecido pela biologia de Charles
Darwin. Nesse trabalho, foi adotado o termo adaptação em referência à capacidade
do indivíduo em se integrar ao ambiente e dar respostas adequadas a novas
situações. Relaciona-se ao conceito de flexibilidade, a disponibilidade para rever
padrões de atuação já estabelecidos, reestruturando-os diante de situações novas e
imprevistas.

Comportamento não-condicionado: Foi definido pela psicologia do comportamento


como a conduta observável que independe de aprendizagem, de condicionamento.

Doenças psicossomáticas: Doenças psicossomáticas evidenciam as relações entre


corpo e mente.

Endocrinologista: O endocrinologista é um médico que estuda o sistema endócrino,


que integra uma rede de glândulas que secretam hormônios na corrente sanguínea.

Enlutado/a: Pessoa em processo de luto.

Intrusivos: Lembranças ou pensamentos intrusivos apresentam-se na consciência de


forma recorrente e independente da ação voluntária e consciente do sujeito.

Laboral: Relativo ao trabalho. Contexto laboral é o contexto do trabalho.

Mnemônicas: Alterações mnemônicas são relativas à memória, à capacidade mental


de receber, guardar e retornar informações.

Patologias: Doenças.
Perceptivas: Para o escopo deste trabalho, percepção foi definida como o processo
em que os dados sensoriais (dos sentidos) são organizados na consciência. Existem
percepções visuais (percebidas pelos olhos), auditivas (pelo ouvido), tácteis (pela
pele), olfativas (pelo nariz), gustativas (pela boca) e cinestésicas (pelo esquema
corporal).

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Prontidão para ação: A prontidão para ação como a capacidade de agir com
iniciativa, presteza e independência em situações que envolvam tomadas de decisão.

Psiquismo: Termo utilizado em referência ao aparelho psíquico, mente.

Situações impactantes: Para o escopo deste trabalho, situações impactantes foram


definidas a partir dos exemplos de acidentes, desastres, calamidades, catástrofes,
sequestros, estupros, traumas individuais ou coletivos. Pode ocorrer uma experiência
traumática quando uma pessoa se confronta com a morte, ameaça de morte,
ferimentos sérios em si ou no outro e reações de intensa dor, desamparo ou horror.

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