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LUTO: RITUAL DE PASSAGEM

Quando olhamos para os diversos ciclos do desenvolvimento humano,


observamos que entre uma fase e outra geralmente ocorrem práticas ou ritos conhecidos
como ritual de passagem. Ritual (Do lat. ritualis), porque trata-se de uma espécie de
cerimônia, de um evento, sendo, de passagem, porque trata-se de um passamento para
uma nova fase da vida, seja de caráter geral ou expressamente particular. Assim, temos
que um ritual de passagem significa fechamento de um ciclo ao mesmo tempo que a
entrada em um novo.

Tenho certeza que você já passou por diversos desses rituais. Ao entrar no
mundo, por exemplo, você abriu o berreiro e, com este sinal, anunciava a todos de sua
chegada. Quem não se lembra da própria festa de debutante, do trote sofrido por ocasião
da aprovação no vestibular, da festa e do cerimonial de formatura, das cerimônias civil e
religiosa do próprio casamento ou da lua de mel? Rituais de passagem que marcam
etapas da nossa existência. Até mesmo a Bíblia recomenda um ritual como prova do teu
testemunho como cristão. Estou falando da passagem que o Batismo significa. E o que
mesmo significa a simbologia deste evento? O próprio movimento de imersão e emersão
simboliza morte e ressurreição - fechamento e abertura da tua nova etapa espiritual na
terra.

Ainda referindo-me à Bíblia, penso naquele ritual particular pelo qual o apóstolo
Paulo sofreu. Precisou cair do cavalo, ficar cego e de jejum por três dias para fazer morrer
seu orgulho e experimentar uma nova fé. Que ritual!!! O mundo inteiro ganhou com isso.

E o luto? Ah, o luto é um dos rituais mais importantes da vida! É a elaboração


dos próprios sentimentos de perda, indispensável para que nossas emoções não fiquem
congeladas no tempo. Quem não ouviu falar a respeito da mãe que ainda mantém o
hábito de arrumar a cama do filho já ausente ou que põe o prato a mais à mesa mesmo já
o tendo sepultado? Ou, ainda, do viúvo que não mais se casou? Conheço em São Paulo
um irmão que mantinha até a pouco tempo e a todo custo, uma espessa barba como
forma de manter viva em si mesmo a imagem do pai.

Ler sobre luto em momentos de perdas marcantes talvez não seja algo
agradável. É coisa difícil, porém necessário. Difícil porque geralmente queremos negar a
ausência para melhor nos defender duma realidade que é triste. Necessário, porque, para
podermos dar continuidade à vida precisamos elaborar, processar nossa tristeza e
sentimentos de perda, ou seja, nossas misérias, para que a realidade possa, enfim, ser
absorvida e não o contrário. Nesse sentido, cada lágrima derramada, cada abraço de
comoção dado são passos fundamentais para que os ausentes sejam elaborados
internamente e o luto cumprido.

Só depois de ultrapassada esta fase, cumprido este ritual, é que podemos


então seguir em frente já desvincilhados das amarras que nos prendem, encerrando uma
etapa da existência e ressurgindo em paz em uma outra cheia de desafios. Afinal, como
diz Stephen Covey: "Nada é capaz de causar uma impressão mais forte e duradoura em
um ser humano do que ver alguém superar o sofrimento, transcender as circunstâncias,
abrigar e transmitir valores que inspiram, enobrecem e valorizam a vida."

ALEX AIGNER
Acadêmico do último ano de Psicologia da UCDB.

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