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João Loureiro convida para uma experiência inusitada por meio de sua obra “Escalas

de Cinzas”

Nos dias 22, 23, 29 e 30 de julho de 2023, dois finais de semana, ocorreu a ativação da
obra “Escala de Cinzas”, do artista paulista João Loureiro, na Pina Contemporânea —
um novo espaço integrado à já tradicional Pinacoteca de São Paulo, na região da Luz.

Propondo uma dinâmica pouco convencional, o trabalho, ativado pela primeira vez em
2012, na Argentina, conta com a fabricação e a comercialização de sorvetes produzidos
em seis diferentes tons de cinza e servidos em uma casquinha preta. Cada tom é
associado a um sabor diferente: iogurte, nata, cumaru, gengibre, capim santo e limão
(do tom mais claro ao mais escuro). Além disso, os sorvetes vendidos são compostos
de duas bolas — a serem escolhidas por quem experienciará a obra — e custaram R$15
na ocasião.

Este não é o único trabalho que tem a finalidade de subverter ou deslocar signos
estáveis da vida social produzido pelo mestre em Poéticas Visuais pela Escola de
Comunicação e Artes da USP. “Recepção, administração, produção e distribuição”, de
2002, e “Blue Jeans”, de 2009, por exemplo, são obras em que elementos conhecidos
do cotidiano — um móvel de escritório e uma baleia, respectivamente — são ora
desdobrados, ora realocados de tal forma que o efeito seja uma estranheza, uma
sensação de “isso não costuma ser assim ou estar aqui”. “Blue Jeans”, a imensa baleia,
assim como os sorvetes inusitados, também esteve instalada no espaço da Pinacoteca.

A principal proposta de “Escalas de Cinzas” vem expressa em seu título: ao apresentar


o nome da cor no plural, ele parece também convidar a algum tipo de deslocamento,
remete a outras possibilidades de significação e nos conduz ao questionamento: por
que “cinzas” e não “cinza”? A instalação completa foi originalmente criada para ser
ativada em Bariloche, na mostra “In Situ: Obras Públicas en la Ciudad de San Carlos de
Bariloche”. O cinza dos sorvetes tinha por objetivo, no contexto, propor novos
significados aos códigos visuais associados às cinzas que cobriram a cidade após a
erupção do vulcão Puyehue, que afetou a vida e a economia locais.

Durante a experiência, mesmo sem as cinzas do vulcão a compor o cenário, é possível


perceber corporalmente a estranheza de um sorvete cinza e refletir sobre novas
conotações para signos com os quais operamos na vida cotidiana e, por que não,
também na arte.

Gabriela de Araujo Carvalho - 5678704

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