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DA PESQUISA
Wayne c. Booth
Gregory G. Colomb
Joseph M. Williams
Tradução
HENRIQUE A. REGO MONTEIRO
Martins Fontes
São Paulo 2008
Índice
Esta obra foi publicada orig inal ment e em inglês com o título
TH E CRAIT OF RESEARCH por University of Chicago Press.
Licenced by The U n iversity Of Chicago Press, Chicag o. l llino is , EUA.
Copyright © 1995 by The U niversity of Chicago. AlI righ ts reseroed .
Copy right © 2000. Livraria Martin s Fontes Editora LIda .•
São Paul o, para a presente edição .
üpé
brir neles algum padrão ou implicação e formular uma afirma-
ção que, a seu ver, seja possível sustentar.
A grande maioria dos pesquisadores iniciantes, quando
começa a organizar seu material, ordena-o de acordo com os
dor
tópicos mais óbvios, dispõe esses tópicos em uma seqüência
plausível e começa a escrever. Infelizmente, os tópicos mais
óbvios podem ser os menos úteis, porque provavelmente refle-
a coisas
tem não o que você descobriu depois de árdua reflexão, mas ouvidas
tento
eu
o que suas fontes lhe ofereceram. E, mesmo que esses tópicos
fossem além do óbvio, é provável que só constituam uma
seqüência linear (A + B + C + ...), uma estrutura retórica rara-
mente forte o bastante para sustentar um argumento longo e foram
au
complexo . O pior resultado disso é que você simplesmente
resume as idéias dos outros. durmo
"1'
I
dia
razões e justificativas, isto é, com evidências.
e essa afirmação será a resposta a sua pergunta mais difícil, No entanto, você também precisa saber que aqueles leito-
sua justificativa para redigir o relatório. O elemento de susten- res que merecem seu respeito irão questionar suas evidências,
tação dessa resposta, dessa afirmação, tomará a forma de um talvez até mesmo sua lógica, e que será necessário explicar seu
textoLuiz
argumento de pesquisa. argumento, dividindo-o em afirmações subordinadas, elas pró-
prias sustentadas por outras evidências. Talvez você até ache
necessário explicar por que acredita que determinada evidên-
Argumento como discussão cia sustenta logicamente certa afirmação. Por fim , tem de pre-
ver que os leitores pensarão em objeções e alternativas, às quais
No Capítulo 4, fizemos a distinção entre problemas co- terá de responder, à medida que forem sendo apresentadas.
muns e aqueles que motivam projetos de pesquisa. Da mesma Seu objetivo em tudo isso não é obrigar os leitores a engo-
maneira, temos de distinguir os argumentos comuns daqueles lir suas opiniões, nem impor-lhes uma Verdade inequívoca, mas,
que organizam os relatórios da pesquisa. As pessoas normal- prevendo seus pontos de vista, posições e interesses, apresen-
mente pensam em discussões como disputas: crianças discutem tar as afirmações de um modo que os au xilie a reconhecer os
por causa de um brinquedo; companheiros de uma república próprios interesses. Ajudando-o a explorar os limites de suas
de estudantes, por causa do aparelho de som; motoristas, pela evidências e testar a profundidade de seu raciocínio, os elemen-
. preferencial. Tais discussões podem ser educadas, mas sempre tos da boa argumentação ajudam-no a trabalhar com seus lei-
representam conflitos, em que há vencedores e derrotados. tores, não contra eles, na procura e compreensão de uma ver-
Para sentir-se confiantes, os pesquisadores às vezes discutem dade que pode ser compartilhada por vocês todos.
III
por causa de uma evidência, fazem manobras para conseguir
vantagens e, às vezes, explodem em acusações de descuido, in-
competência e até mesmo fraude. Mas'não foi esse tipo de dis-
cussão que os transformou em pesquisadores.
Nos próximos quatro capítulos, vamos estudar um tipo de
discussão que é menos um debate litigioso e mais um diálogo
profundo, no qual, juntamente com outras pessoas, analisamos
idéi as sobre assuntos que todos consideram importantes.
Nessa di scussão, porém, os participantes fazem mais do
que apenas trocar idéias. Todos temos o direito de emitir opi-
niões e, numa discussão comum , nenhuma lei requer que expli-
Cmetáforas
Capítulo 7
Criando bons argumentos:
uma visão geral
Neste cap ítulo examinamos os quatro elementos de um ar-
gumento de p esquisa . No Cap ítulo 8 discutiremos os do is elemen-
tos essenciais a qualquer argumento e. nos Cap ítulos 9 e I O, dois
outros elementos que os pesquisadores experi entes deveriam do-
minar. e os principiantes. p elo m enos entender .
ir
pesquisa. Esse argumento representa a mesma troca de idéias de
uma discussão animada, com pessoas cuja inteligência você res-
peita, especialmente quando as perguntas podem ajudá-lo a refle-
tir encaminhando-o para a solução de um problema complicado.
A única diferença é que numa conversa você normalmente se
sente mais confiante quanto ao que sabe, além do que a outra
pessoa está bem à sua frente, fazendo perguntas que o encora-
jam a se concentrar no que acredita e em por que acredita:
A: Mas, e quanto ao curso de estatística que você precisa fazer? Suas respostas constituem sua argumentação. Você deve
[A indica uma evidência que poderia contrabalançar a evi- apresentar:
dência de R.]
B: É verdade que fui reprovado em cálculo, mas estatística é • uma afirmação;
mais fácil, e agora eu tenho um orientador que Rode explicar • evidências ou justificativas que a sustentem;
as coisas melhor do que os professores. [R reconhece a evi- • algo que chamamos de fundamento, um princípio geral que
dência contrária, mas a refuta, apresentando mais uma evi- explica por que você acha que sua evidência é importante
dência.] para sua afirmação;
A: Mas, então, não serão cinco os seus cursos? [Afaz outra res-
• ressalvas, que tornam suas afirmações e evidências mais pre-
salva.]
cisas.
B: Estou sabendo. Não vai ser fácil. [R faz uma concessão. pois
trata-se de um ponto que não pode contradizer.]
A: Acha que entrará na lista do reitor? [A indaga a respeito dos Ao reunir os argumentos, nenhum hábito mental lhe será
limites da afirmação de R.] mais útil do que o de imaginar-se num diálogo com seus leito-
B: Não garanto, mas acho que farei um bom papel. Sou capaz res: você fazendo afirmações, os leitores formulando boas per-
de tirar a nota de média, se não tiver de arrumar um empre- guntas, você respondendo a elas da melhor forma possível.
go de meio período. [R limita o âmbito da afirmação e, en-
tão, estipula uma condição que restringe sua confiança.]
animado
de pesquisa, porque os elementos são os mesmos. A única di- tos são sua afirmação e a evidência que a sustenta.
ferença é que, num relatório de pesquisa, você não só deve res-
É
ponder às perguntas de seus leitores, mas também fazer pergun- Afirmação Evidência
tas em nome deles. Entre as perguntas dos leitores podem-se
destacar:
• sua afirmação expressa aquilo em que você quer que os lei-
Perguntas do leitor Respostas que você dará tores acreditem;
• suas evidências ou justificativas são as razões pelas quais eles
Qual é o seu assunto? Eu afirmo que... devem acreditar na afirmação.
Que evidências você tem? Apresento como evidência...
i
Por que você acha que sua Apresento o seguinte princípio Afirmação: Deve ter chovido ontem à noite,
evidência sustenta sua geral... Evidência: porque as ruas estão molhadas.
afirmação? Afirmação: Você deveria fazer um exame para saber se sofre de
Mas, e quanto às ressalvas? Posso responder a elas. diabetes,
Primeiro, ... Evidência: porque sua leitura do glicômetro é 200.
Você está completamente seguro? Só se ... e contanto que... Afirmação: A emancipação dos camponeses russos foi meramen-
Não faz nenhuma ressalva, aqui? Devo admitir que... te simbólica,
Então, exatamente qual a força Eu a limito... Evidência: porque não melhorou a qualidade de sua vida diária.
de sua afirmação?
120 A A R TE DA PESQUISA
FAZENDO VAIA AFIRMA ÇÃO E SVS Tl::.N TANDO -A 121
Quando você apresenta um desses elementos sem o outro, todo o mundo simplesmente toma como certo o fundamento ,
parece que apresentou dados despropositados ou opinião in- o princípio geral que une a evidência das ruas molhadas com
j usti ficada. uma afirmação sobre chuva.
Afirmações e evidências são suficientes para conversas
corriqueiras, como a respeito da chuva de ontem à n,oite. Mas, Sempre que vemos a evidência das ruas m olhadas, de
ao fazer uma afirmação significativa, você está pedindo que manhã. podemos concluir que p rovavelmente chove u na noite
seus leitores mudem de opinião sobre algo importante. Consi- anterior.
derando que a maioria dos leitores resiste, quando se trata de
mudar de opinião facilmente, ainda mais quanto a assuntos im- (É claro que, se você mora numa cidade onde se usam irrigado-
portantes, você precisará ampliar sua argumentação com mais res para baixar a poeira, apenas o fundamento não seria bastan-
dois elementos: fundamentos e ressalvas. te, e você também iria querer saber se os irrigadores funciona-
ram naquela noite. Leia mais sobre este assunto no Capítulo 9.)
Tratando-se de outros tipos de afirmação, porém, as per-
7.3 Fundamentos guntas sobre fundamentos são inevitáveis. Suponha que você
faça um exame de sangue num daqueles quiosques armados
o fundamento de um argumento é seu princípio geral, uma em shopp ing centers. O encarregado dos testes faz a leitura do
suposição ou premissa que estabelece uma ponte entre a afir- aparelho que testa a dosagem de açúcar no sangue e diz: Você
mação e a evidência que a sustenta, ligando-as num par logi- deveria consultar seu médicoaJirmação porque sua leitura está
camente relacionado. Seu fundamento responde a perguntas, indicando 200·evidência Quase todos nós perguntaríamos por que
não sobre a precisão de sua evidência, mas sobre a pertinência 200 significa que deveríamos procurar um médico. Ao faz ê-
de sua afirmação, ou, dizendo de maneira inversa, responde se lo, estamos pedindo um fundamento, um princípio que justifi-
sua afirmação pode ser deduzida através de sua evidência. Pen- que, que ligue a evidência - 200 no aparelho - à afirmação de
se em seu fundamento como uma superestrutura que liga a evi-
. dência à afirmação: com que deveríamos consultar o médico. Bem , responde quem fez
o teste, s empre que uma p essoa tem uma leitura acima de 120,
ü
ses russos foi meramente simbólica e não disser nada mais, vai
parecer que espera que seu público acredite em tudo o que Afirmações e evidências
você diz simplesmente porque você diz, uma suposição muito
grosseira. Boas razões e ressalvas ponderadas ajudam a con-
Neste capítulo, discutimos os dois elementos que precisam
vencer seus leitores de que você é confiável.'· estar explícitos em toda argumentação. Isso é ímportante para to-
Quando faz uma afirmação, dá boas razões e acrescenta dos os que queiram elaborar uma argumentação confiável, sejam
ressalvas, você reconhece o desejo de seus leitores de traba- pesquisadores iniciantes ou experientes.
lhar com você, desenvolvendo e testando idéias novas. Por esse
prisma, o melhor tipo de argumento não é nenhuma coerção
verbal, mas um ato de cooperação e respeito. Essa estrutura de
iii
argumentação, no entanto, é ainda mais que isso. Também pode
ser um guia para sua pesquisa. Se entender como suas fontes
organizaram seus argumentos, você poderá lê-los mais critica- o ELEMENTO CENTRAL DE TODO RELATÓRIO é sua afirma-
ção principal, seu ponto de vista ou tese geral. É a culminação
mente e tomar notas com mais precisão. Se entender como terá coletâneas de sua análise, a declaração do que sua pesquisa significa. Mas,
que organizar seus argumentos, poderá planejar seu primeiro
rascunho com maior eficácia e testar suas descobertas com se quiser que seus leitores mudem de opinião a respeito de
maior confiança. algo importante para eles, você não pode simplesmente apre-
sentar a afirmação, precisa dar-lhes boas razões, evidências con-
fiáveis em que acreditar. Esse par, afirmação e evidência, cons-
titui o núcleo conceitual de todo relatório de pesquisa.
Embora a recessão de 1981-82 tenha ocorrido principal- Uma vez que a maioria dos leitores já acredita nisso, dizê-
mente porque a OPEP elevou os preços do petróleo, examinei lo não acrescenta nada de novo. Se nada do que lhes diz muda
o papel desempenhado pelo Federal Reserve Board. a opinião deles de maneira que os preocupe, você estará des-
perdiçando o tempo deles. Sua afirmação só será contestável
não
ou sobre o que seu relatório fará: se mudar algo em que eles já acreditam. Na medida em que
ela for contestável, seus leitores a considerarão importante.
Este relatório discutirá o papel da OPEP e do Federal Re- (Veja em "Sugestões úteis", no final deste capítulo, algumas
serve Board na recessão de 1981-82. maneiras comuns de os pesquisadores fazerem afirmações con-
testáveis.) Mas, novamente, se você está num de seus primei-
Isso não diz nada de substantivo sobre a OPEp, o Federal ros projetos de pesquisa, focalize seus próprios interesses, algo
Reserve Board ou a recessão, portanto também não há nenhu- que seja importante para você, ou para alguém com os seus
ma necessidade de um argumento para sustentá-lo. Afirmações interesses e conhecimento.
assim introduzem tipicamente um passeio a esmo por um campo
de informações.
A afirmação seguinte poderia ser substantiva o bastante 8.1.3 Sua afirmação deve ser especifica
para prender o interesse do leitor, porque faz uma afirmação
sobre a OPEP, os preços do petróleo, o Federal Reserve Board, Os leitores também esperam que sua afirmação seja ex-
a provisão de fundos e a recessão de 1981-82: pressa em linguagem suficientemente detalhada e específica
para reconhecerem os conceitos centrais que você desenvolve-
A recessão de 1981-82 não aconteceu porque a OPEP ele-
rá ao Ilongo de seu re 1atono.
,. C ompare:
vou os preços do petróleo, mas principalmente porque o Federal
Reserve Board restringiu a provisão de fundos.
Portanto, a emancipação dos camponeses russos não foi um
acontecimento importante.
8.1.2 Sua afirmação deve ser contestável Portanto, a emancipação dos camponeses russos não foi
importante porque, embora sua vida tenha mudado um pouco,
aii
Os leitores consideram uma afirmação importante na me- sua situação decaiu.
dida em que ela seja contestável. A afirmação deve levá-los a Portanto, a emancipação dos camponeses russos foi ape-
pensar, Você terá de explicar isso, seja porque sempre acredi- nas simbólica, porque, embora eles tenham obtido o controle de
ó
taram no contrário, ou porque nunca pensaram no assunto. Nin- seus negócios cotidianos, sua condição econômica deteriorou-
guém contesta uma afirmação que só se refere ao próprio rela- se tão nitidamente, que seu novo status social não afetou a qua-
tório ou a você, nem uma afirmação que repete algo em que lidade material de sua existência.
os leitores já acreditam:
A primeira afirmação é pouco substancial. A segunda é
Portanto, a Segunda Guerra Mundial mudou o curso da his- menos vaga, mas enuncia poucos conceitos específicos que os
tória ao permitir que a União Soviética dominasse a Europa leitores deveriam esperar (com exceção de decair). A terceira é
Oriental por quase meio século. explícita, enunciando vários conceitos que o autor precisa de-
senvolver para sustentá-la: simbólica, obter o controle, condi-
128 A A R TE DA PESQUISA FAZENDO UMA AFIRMAÇÃO E SUSThNTA NDO-A 129
ção econômica, deteriorar, novo status social, qualidade ma- A qualidade material de sua vida diária se deteriorou.
terial da existência. - Qu e evidênc ia se relaciona com "deteriorou "?
Ao expressar sua afirmação principal pela primeira vez,
no fim da introdução (conforme prefere a maioria dos leito- Cada termo é simultaneamente parte da afirmação prin-
res; veja as pp. 260-5), é importante que você o faça em lin- cipal e de subargumentos que precisarão de suas próprias evi-
guagem específica. Quando notarem que a linguagem se man- dências de sustentação. Quanto mais explícita for sua lingua-
tém sempre a mesma, é bem provável que os leitores sintam gem, mais evidências você precisará apresentar para sustentar
que seu texto é coerente. Quando não sabem que conceitos es- suas afirmações, e melhor verá quanta pesquisa ainda precisa
perar, os leitores podem perder os mais importantes e julgar fazer.
que o que estão lendo está desfocado, até mesmo que é uma Se estiver escrevendo seu primeiro relatório de pesquisa,
bagunça incoerente. a tarefa de formular uma afirmação significativa, contestável,
numa linguagem bastante específica, poderá parecer impossí-
vel, especialmente se seus leitores forem peritos no assunto de
8.2 Usando afirmações plausíveis para sua pesquisa. Como, você poderia perguntar, espera-se que eu
orientar sua pesquisa descubra algo que meu professor ainda não sabe ou em qu e
não acredita ? Os professores entendem esse problema e espe-
Seus leitores desprezarão suas afirmações se elas não fo- rarão que você faça uma afirmação que seja nova e contestá-
rem substantivas, contestáveis e explícitas. Essas característi- vel para alguém no seu nível de experiência e conhecimento,
cas também podem ser importantes para você, enquanto estiver talvez apenas nova para você . Nesse caso , faça sua pesquisa
pesquisando e redigindo o texto . Você entenderá melhor suas tendo em mente seus próprios interesses, ou os de seus colegas
fontes quando puder identificar suas afirmações principais e de classe. O que eles poderiam achar surpreendente, contestável,
as evidências que elas apresentam para sustentá-las. Você dá a importante?
si mesmo orientações para a pesquisa quando cria afirmações Contudo, se você é um estudante de nível adiantado, seus
substantivas com tópicos e conceitos explícitos: de que precisa- professores esperarão que faça uma afirmação que especialis-
ria para desenvolver obten ção do controle, condição ec onôm i- tas considerariam contestável - ou pelo menos merecedora de
ca, deterioração, novo status social, qualidade material de vida? ser posta à prova. Nesse caso, sua pesquisa precisa incluir aqui-
Você também pode usar esses conceitos para ordenar suas lo em que os especialistas acreditam no momento, em relação
evidências: ao problema, e como eles reagiram a outras similares. Pergunte .
ao seu professor o que ele espera.
Antes de os campon eses sere m emancipados , sua vida material
era suficiente para a sobrevivência .
- Que evidência se relaciona com "vida material "?
8.3 Apresentando evidências confiáveis
Seu nível social era baixo.
- Que evidência se rela ciona com "baixo" ?
Eles não tinham controle sobre a própria vida. A afirmação é o centro de seu relatório, mas a maior parte
- Que evidência se rela ciona com "controlar "? dele será dedicada às evidências que o sustentam. Se os leito-
Seu status social teve uma ligeira ascensão . res rejeitarem suas evidências de sustentação por considera-
- Qu e evidência se rela ciona com "ascensão"? rem-nas fracas, é porque eles não as julgaram exatas, precisas,
130 A ARTE DA PESQ UISA FAZENDO UM A A H RMA ÇÀ O E SUS TENTANDO -A 131
suficientes, representativas, autorizadas ou compreensíveis . (Os Filho: Você tem dinheiro para me comprar tênis nOVOS' evidência
imp lícita
leitores também podem rejeitar uma evidência por ser irrelevan-
Pai: Esqueça! [i.e., Não responderei , p orque sua evidência
te ou inadequada, mas, para testar as evidências por esses dois
não é adequada.]
critérios, você precisa saber mais sobre os fundamentos , que
discutiremos no próximo capítulo.) .
Se você puder se imaginar como o Pai, será capaz de testar a qua-
Esses critérios não são exclusivos dos argumentosde pes-
lidade das evidências de qualquer argumento de pesquisa.
quisa. Nós os usamos em nossas discussões mais corriqueiras.
A argumentação de "Filho", a seguir, fracassa em todos os seis
critérios de qualidade, além de não ser adequada: 8.3 .1 Exatidão
Filho: Preciso de tênis novos' afirmaçã o Os meus parecem aperta-
Acima de tudo, sua evidência deve ser exata; os leitores
dOS·evidência
Pai: Seus pés não cresceram tanto em um mês, e não parecem especialistas desdenham os erros. Leia novamente nossas adver-
doer muito. [i.e., Admito que o que você apresenta como tências no Capítulo 6 sobre fazer anotações que reflitam com
evidência poderia ser p ertinente à sua afirmação, mas a exatidão tanto o texto quanto o contexto das passagens que você
rejeito, primeiro p orque não é exata, e segundo porque, cita. (Veja as pp. 103-6.) Se seu relatório depende de dados co-
lecionados em laboratório ou no campo, registre seus dados
mesmo que fosse ex ata, "p are cem apertados " não é sufi-
cie n tem ente preciso.] completa e claramente, e então confirme essas duas caracterís- com
Filho: Mas os meus tênis estão com uma aparência horrível! Es- ticas antes e durante a redação. Os leitores predispostos a se-
tenham
tão sujos. Olhe só para esses cadarços puídos' evidência rem c éticos em relação a seus argumentos, como devem ser
trabalho
Indibilidade
Pai: Cadarços puídos e sujeira não são motivos suficientes para todos os leitores atentos, poderão aproveitar a menor falha em
comprar tênis novos. [i.e. , Sua afirmação pode ser efeti- seus dados, o mais trivial engano em uma citação ou menção
o que
no
vamente correta, e com mais evidências poderia valer a
(mesmo em sua ortografia e pontuação), como um sinal de in-
pena considerá-la, mas cadarços e sujeira, ap enas, não
são evidências suficientes da condição terminal de seus
tênis.]
confiabilidade irredimível. Manter a correção das coisas fáceis
demonstra respeito por seus leitores e é o melhor treinamento
aqui modelo
ser
wi
Filho: Todo o mundo acha que eu devia comprar tênis novos. evi_ para as dificeis.
dé ncía
Considerando que a exatidão é decisiva, uma maneira de textos pode
Pai: A opinião de todo o mundo não me importa. [i.e., M esmo selecionar suas evidências é avaliar sua confiabilidade. De qual
evidência você está mais seguro? Qual evidência gostaria que
forma
que seja ve rdade ira, não consideroautorizada a opinião
de outras p essoas.] ) fosse mais confiável? Você pode usar uma evidência questio-
Filho: Você não vê o modo como sou obrigado a
implícita
andar? evidêncio nável, desde que reconheça essa característi ca. Na verdade,
quando indica uma evidência que parece sustentar sua afirma- na todos
Pai: Não. [i.e., O modo como você anda poderia se qualifi- ção, e então a rejeita como não confiável, você está se mostran- e
pa
car como evidência, mas eu o tenho observado e não vi
do cauteloso e autocrítico.
nada de errado. Sua evidênci a não é nem um p ouco com-
preensível.]
Filho: Olhe como eu ando mancandO'evidência
Pai: Você estava caminhando direito um minuto atrás. [i.e., Sua
evid ênc ia não é repres entativa.]
132 A ARTE DA PESQUISA f''AZENDO UMA AfIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 133
mãos
alarme se você usar certas palavras que de alguma forma res- É típico dos principiantes apresentar evidências insufi-
trinjam sua afirmação, impedindo-os de avaliar seu conteúdo: cientes. Eles acham que provaram uma afirmação geral quan-
do encontram apoio em uma citação, em alguns dados, em uma
o Serviço Florestal gastou uma grande quantia para pre-
vai
experiência pessoal:
venir incêndios nas florestas, mas ainda há uma alta probabi-
ppw.me
lidade de grandes e dispendiosos incêndios. Shakespeare deve ter odiado as mulheres, porque em
Macbeth elas são todas diabólicas ou fracas.
Quanto dinheiro é "uma grande quantia"? A que índice che-
www.o.FM
ga uma probabilidade "alta" - 30%? 50%? 80%? Quantos hec- Os pesquisadores quase sempre necessitam de mais do que
tares são destruídos num incêndio "grande"? Fique atento a pa- um pouco de dados para sustentar uma afirmação que seja subs-
lavras como alguns, a maioria, muitos, quase, sempre, normal- tantiva e contestável (embora às vezes umas poucas evidências
mente, freqüentemente, geralmente, e assim por diante. Esses contestem uma afirmação). Se você está fazendo uma afirma-
pirão
atributos restritivos podem estabelecer limites adequados a uma ção mesmo ligeiramente contestável, apresente sua melhor evi-
afirmação, mas também dar-lhe uma conotação de falsidade dência, mas saiba que sempre haverá mais evidências disponí-
ou superficialidade. (Voltaremos às ressalvas no Capítulo 10.) veis e que elas poderiam conter exemplos contrários que se-
riam fatais para a sua afirmação.
8.3.3 Suficiência
Paradoxalmente, alguns pesquisadores iniciantes citam a
própria falta de evidências como prova de sua afirmação: g
Da mesma forma como áreas diferentes julgam a precisão Nenhuma evidência demonstra que haja vida em outro lu-
da evidência de maneira diferente, assim também diferem ao gar no universo, portanto não deve haver nenhuma.
134 A AR7E DA Pé'SQUISA FAZENDO UMA AFIRMAÇÀO E SUSTENTANDO-A 135
Você pode observar como é inútil uma evidência negati- quisadores de sua área citam com maior freqüência, em que
va, quando reconhece que, na mesma pergunta, ela pode atuar procedimentos confiam, que registros citam regularmente. Se
de ambos os lados: você está lidando com fontes primárias (textos originais de li-
vros, peças, diários, e assim por diante), certifique-se de que
Nenhuma evidência demonstra que não pode haver vida sua edição seja recente e de que foi publicada por uma editora
em outro lugar no universo, portanto provavelmente deve haver. respeitável. Há edições eletrônicas on-line de Shakespeare,
editadas de modo tão precário, que usá-las rotularia você como
incompetente.
8.3.4 Representatividade Quando os estudantes não encontram, ou têm pouca fami-
liaridade com fontes secundárias autorizadas - periódicos ou
Os dados são representativos quando sua variedade refle-
livros especializados -, costumam recorrer a fontes terciárias: li-
te a variedade do meio do qual eles foram derivados, sobre a
vros didáticos, verbetes de enciclopédias, publicações de ampla
qual você faz sua afirmação. O que é considerado como repre-
circulação, como a revista Psicologia hoje (veja nossas adver-
sentativo também varia de acordo com a área. Os antropólo-
tências na p. 92). Se essas forem as únicas fontes disponíveis,
gos poderiam interpretar uma pequena cultura na Nova Guiné
que sejam, mas nunca as considere como autorizadas. Tome
com base no conhecimento profundo de alguns indivíduos, mas
nenhum sociólogo faria uma afirmação sobre as práticas reli- cuidado especial com livros de assuntos complexos dirigidos
giosas americanas, baseado em dados fornecidos por uma úni- ao grande público. Os autores que escrevem para o leitor co-
ca igreja batista do Oregon. Os principiantes sempre se arriscam mum, discorrendo sobre o cérebro ou os buracos negros, são
a apresentarevidências que não refletem todo o âmbito das evi- normalmente competentes, às vezes pesquisadores destacados.
dências disponíveis, não porque sejam descuidados, mas por- Mas eles têm sempre de simplificar, às vezes demais, e são sem-
que não podem imaginar como seria uma evidência mais re- pre desatualizados. Portanto, se você começar sua pesquisa com
presentativa. um livro popular, observe as datas dos periódicos especializa-
Ao coletar evidências, pergunte a seu professor, ou a al- dos citados na bibliografia.
guém experiente na área, quais outras eles achariam necessá- A autoridade também depende da atualidade, mas, aqui
rias para sustentar uma afirmação como a sua. Se você quer novamente, cada área julga a atualidade de maneira diferente.
aprender a julgar o assunto por conta própria, peça a seu pro- Nas ciências, "desatualizado" pode referir-se a um mês atrás. Na
fessor exemplos de argumentações que falharam por se basea- área de humanas, um estudioso poderia julgar como confiável
rem em evidências não representativas. Aprendemos o que é um livro com mais de um século de idade. A melhor maneira
considerado representativo, acumulando exemplos representa- de medir a atualidade é observar rapidamente nas bibliografias
tivos do que não é. as datas dos artigos de periódicos. Qual seria a data-limite a
ser levada em conta? Considere que a maioria dos livros didá-
ticos e livros de referências está desatualizada.
8.3.5 Autoridade
partodocomprem Lembre-se, no entanto, de que algumas das melhores pes-
quisas provam que uma idéia "atual e autorizada", há muito
Pesquisadores competentes citam as fontes mais autoriza- estabelecida, é na realidade uma inverdade. Durante décadas,
das, mas o que é considerado autorizado novamente varia de pessoas de diversas áreas citaram casualmente o "fato" de que
área para área. Observe quais são as autoridades que os pes- os povos inuits do Ártico têm dezenas de nomes para diversos
136 A ARTE DA PESQUISA FAZéNDO UMA AFlRMAÇÀO E SUSTENTAND O-A 137
tipos de neve. Apenas quando uma pesquisadora verificou o No teste de trabalho rotineiro, os valores metabólicos para
fato foi que descobriu que eles na verdade têm apenas três. (Ou os indivíduos 1, 3, 7 e 10 foram inválidos. Os dados da taxa de
pelo menos foi o que ela afirmou.) pulsação em 4, 8 e 10 minutos foram:
Por fim, faça a distinção entre evidência autorizada e "auto-
Indivíduo Descanso T=4 T =8 T= 10
ridades". Em toda área, se o Especialista A diz uma coisa o Es-
pecialista B afirmará o oposto. Alguém mais alegará ser o I 61 72 93 101
Especialista C, que na verdade não é especialista coisa nenhu- 2 73 88 105 110
ma. Ao ouvirem os especialistas discordar entre si, os pesqui- 3 66 85 99 110
sadores iniciantes (assim como o público em geral) podem tor- .4 73 88 105 110
nar-se céticos quanto à perícia e desprezar o conhecimento dos 5 66 85 99 110
peritos, julgando-o uma mera opinião. Não confunda o cinis- 6 81 97 I Ii 124
7 81 97 111 124
mo desinformado com o ceticismo informado e ponderado.
8 73 88 105 110
Se você é um pesquisador de nível intermediário, não acei- 9 66 85 99 110
te nenhuma fonte como autorizada até conhecer toda a pesqui- 10 81 97 111 124
sa na área. Nada revela incompetência mais depressa do que
citar alguém a quem todo o mundo na área despreza - ou, pior,
alguém de quem nunca ouviram falar. o que deveríamos ver nessa tabela? Só saberíamos se já
Cada área define todos esses critérios de modo diferente, tivéssemos conhecimento de que ocorrem efeitos metabólicos
mas todas requerem que as evidências os satisfaçam. Assista quando as taxas de pulsação por minuto sobem acima de 170%
a conferências e seminários, prestando atenção aos tipos de ar- da tax.a de descanso e pudéssemos calcular os percentuais de
gumentos que seus professores criticam por achar que apre- cabeça. Caso contrário, esses dados não se parecem com uma
sentam evidências inconsistentes. Peça exemplos de maus argu- evidência, mas com números crus, indigestos. (No Capítulo 12,
mentos aos professores, mesmo que eles tenham de inventá-los. apresentaremos alguns princípios para analisar e revisar tabelas
Você só entenderá o que é considerado confiável depois de ver como essa.)
exemplos do que não é. Adquirir esse conhecimento através dos Igualmente confusa é a citação "singela". Eis uma afir-
dos outros é menos doloroso do que fazê-lo à custa dos pr ó- mação de um estudante sobre Lincoln, citando como evidência
pnos erros. o "Discurso de Gettysburg":
pro
ta apenas a evidência sem interpretação, seu relatório parecerá
leitores. O esquema é útil até mesmo nas fases mais iniciais
um pastiche de citações e números, sugerindo que seus dados
nunca passaram pela análise crítica de uma mente atuante. da coleta de informações. Se entender como os pesquisadores
Sempre que você sustenta uma afirmação com números, reúnem seus argumentos, você poderá fazer um trabalho me-
diagramas, imagens, citações - o que quer que se pareça com lhor na leitura de suas fontes e nas anotações sobre elas.
dados primários -, não considere que o que você vê é o que À medida que for revisando seus dados, lembre-se de que
seu argumento deve estar sempre na forma de afirmação,
i
seus leitores captarão. Esclareça o que você quer que eles ve-
jam como o ponto central de sua evidência, sua importância. acrescida de uma evidência de sustentação. Mas você não con-
No que se refere a uma citação, um bom princípio é usar algu- seguirá convencer os leitores apenas acumulando dados sobre
mas de suas palavras-chave logo antes ou depois dela. Intro- dados, porque convencer não é apenas uma questão de quan-
duza um diagrama, tabela ou gráfico indicando tanto o que você tidade, ou mesmo de qualidade. Pesquisadores renomados tam-
quer que os leitores notem quanto o motivo pelo qual esse as- bém explicam suas evidências. Eles as apresentam e depois as
pecto é digno de nota. tratam como se fossem afirmações numa argumentação mais também
Para entender por que a evidência falha, você precisa de detalhada, que ainda requer mais evidências. À medida que vão
iaapos
experiência e de habilidade para se antecipar ao que é prová- elaborando argumentos explicativos para apoiar as evidências,
vel que os leitores aceitem ou rejeitem. Você adquire essa esses pesquisadores dão boas razões para que os leitores acre-
habilidade de duas maneiras. A mais dolorosa é ser objeto de ditem que suas evidências são bem fundamentadas.
crítica. A menos dolorosa é obter de seus professores exemplos No parágrafo seguinte, o autor afirma que o Serviço Flo-
.de argumentos que falharam. Entendendo os exemplos que restal desperdiçou milhões, e em seguida apresenta a evidên-
ii
falharam, você será capaz de avaliar os seus mais objetivamen- cia: apesar de todo o dinheiro gasto, não houve nenhuma dimi-
te . Portanto, pergunte. nuição na incidência de incêndios. Mas ele não pára aí. Segue
em frente para explicar a evidência e mostra que o número to-
tal de incêndios permaneceu constante, embora os incêndios
8.4 Usando evidências para desenvolver
grandes tenham diminuído. Então explica por que diminuíram.
e organizar seu relatório
Há boas razões para se acreditar que, desde 1950, o Ser-
Este esquema para avaliar os argumentos deve encorajá-
viço Florestal americano desperdiçou milhões, tentando preve-
lo a não abordar seus leitores com um espírito de conflito ou nir incêndios, quando poderia ter gasto esses recursos de modo
coerção. Em vez de firmar uma posição e defendê-la feroz- melhor, evitando incêndios pequenos que fogem ao controle e
mente contra aqueles que você espera que a ataquem, imagi- causam danos catastróficos' afirmaçào Apesar dos milhões gastos
ne-se num diálogo civilizado com seus leitores, todos colabo- em prevenção, o número de incêndios nas florestas da região
rando para desenvolver um novo conhecimento, o tipo de diá- oeste permaneceu inalterado desde 1930. Mas, a partir de 1950,
logo que você deve manter com suas fontes . o número de incêndios devastadores começou a cair, porque foi
140 A ARTE DA PESQUISA FAZENDO UMA AHRMA ÇÀO E SUS TENTAND O- A 141
então que o Serviço passou a usar sistematicamente aeronaves fichas de arquivo como na figura acima, depois experimente
de combate ao fogo para alcançar rapidamente incêndios pequenos combinações diferentes de subargumentos. Não se preocupe
e mantê-los sob controle antes que pudessem se espalhar. Se os com a organização das informações dentro de cada cartão: ape-
milhões gastos na prevenção de incêndios, desde então, tives- nas concentre-se em mantê-los em grupos de tamanho médio,
sem sido gastos em esforços para impedir que focos se que você possa organizar e reorganizar em diversas configu-
espalhassem, haveria menos incêndios de grandes proporções, rações.
cujos custos tornam mínimo o dinheiro gasto na prevenção. Esse diagrama pode parecer um esboço, e ele é isso mes-
mo. Mas esboça não seu relatório, mas seu argumento. Quando
Todo pesquisador precisa sustentar afirmações contestá- começar a esboçar seu primeiro rascunho, você terá de pensar
veis com evidências, mas precisa depois explicá-las, tratando mais em seus leitores: como introduzir seu problema, fazen-
cada núcleo importante das evidências como uma afirmação do-o parecer importante para eles, quantos antecedentes apre-
de um argumento subordinado que precise de sua própria evi- sentar, como ordenar suas subafirmações, e assim por diante.
dência. Na verdade, todo relatório de pesquisa consiste de ar- Trata-se de questões importantes, mas elas não o farão sentir-se
gumentos múltiplos de tipos diferentes, mas todos a serviço da pressionado, enquanto você estiver apenas no ponto de desco-
afirmação central que o pesquisador quer fazer. Assim, a es- brir seu argumento.
trutura de seu relatório sempre será mais elaborada (e menos
linear) do que uma única afirmação sustentada por uma só evi-
dência. A evidência que sustenta uma afirmação principal será
ela própria dividida em grupos de argumentos menores, cada
um deles estruturado como uma (sub-)afirmação com sua pró-
pria evidência de sustentação:
Evidência
Evidência
Evidência
Afirmação
Outros tipos de contradiçõ es seguem padrões tão bási cos E m anos recentes , ve m -se s us te n tando que o atletismo é
só entretenimento e qu e p orta nto não devia ter lug a r no ens ino
que são com o aquelas categorias de perguntas que o in centi-
144 A ARTE DA PE"SQUI5A j;'AZENDO UMA AFIRMAÇÃO E 5U5TENTANDO-A 145
superior, mas, na verdade, pode ser demonstrado que sem o atle- I - Embora X pareça não ser causado por Y, é.
tismo a educação seria prejudicada. 2 - Embora X pareça causar Y, tanto X quanto Y são cau-
sados por Z.
Este exemplo é como a contradição de categoria, a não ser 3 - Embora X e Y pareçam correlatos, não são.
que você demonstre que se equivocaram quanto à relação entre 4 - Embora X pareça ser suficiente para causar Y, não é.
as partes de algo. . ". 5 - Embora X pareça causar apenas Y, também causa A,
I - Embora X pareça ser uma parte integrante de Y, não é. B e C.
2 - Embora X pareça ter Y como uma parte integrante,
não tem.
3 - Embora as partes de X pareçam ser sistemáticas, não são. Contradições de valor
4 - Embora X pareça ser geral, é só restrito.
Neste exemplo, você simplesmente contradiz julgamentos
de valor emitidos.
Contradições de desenvolvimento interno I - Embora X pareça ser bom, não é.
2 - Embora X pareça ser útil para Y, não é.
Recentemente, a mídia tem dado destaque ao crescimento
da criminalidade, mas na verdade o índice geral de criminali-
dade tem caído durante os últimos anos. Contradições de perspectiva
Neste exemplo, você afirma que os outros se equivocaram Algumas contradições ocorrem mais profundamente. No
quanto à origem, ao desenvolvimento ou à história de seu obje- exemplo de padrão de contradições de constituição, você inver-
to de estudo. te uma suposição amplamente mantida, mas não muda os ter-
I - Embora X pareça estar estável/subindo/caindo, não está. mos da discussão. Nas contradições de perspectiva, você sai da
2 - Embora X possa parecer ter se originado de Y, não foi discussão padronizada para sugerir que devemos encarar as coi-
o que aconteceu. sas de uma maneira completamente nova.
3 - Embora X e Y possam parecer ter se originado de Z,
esse não é o caso de X. Geralmente, consideram-se os anúncios como uma expres-
4 - Embora a seqüência de desenvolvimento de X pareça são puramente econômica, mas na verdade eles têm servido como
ser I, 2 e 3, não é. um laboratório para novos tipos e estilos de arte.
woo
redigir sua introdução. No Capítulo 15 discute-se mais so re
o assunto.
Para explicar por que seus dados são pertinentes, você terá
ww
algum .ww de enunciar uma parte de seu argumento que costuma perma-
necer subentendida. Ela mostra aos leitores por que um deter-
minado conjunto de dados deve ser considerado como evidên-
IÉ
cia em defesa de sua afirmação. Essa relação entre afirmação
e evidência é seu fundamento. Eis, outra vez, o argumento so-
bre as ruas molhadas e a chuva:
148 A ARTE DA PESQUISA FAZENDO UMA AFIRMAÇÃO E 5U5TENTANDO-A 149
mostrar como não considerar seus fundamentos certos demais, (Para outras relações, veja "Sugestões úteis", no final deste
como decidir se um fundamento é verdadeiro, se de fato ele lhe capítulo.)
permite relacionar uma determinada evidência a uma determi- Mas, ainda que o fundamento possa ser expresso de mui-
nada afirmação e quando você deve explicitar os fundamentos . tas maneiras, uma delas é mais útil para avaliá-lo e analisá-lo:
O conceito de fundamento é dificil, mas até você entendê-lo
estará se arriscando a elaborar argumentos que seus leitores Sempre que temos uma evidência como X, podemos fazer
poderão considerar como claramente ilógicos. -, uma afirmação como Y.
Talvez seja por isso que Thomas Jefferson expressou seu ligível e significativa, e sua evidência confiável, eles ainda re-
fundamento não uma, mas duas vezes. A Declaração de Inde- jeitarão seu argumento se acharem que seu fundamento é falso ,
pendência desafiou um fundamento anterior sobre a relação obscuro, do tipo errado para a sua comunidade de pesquisa, ou
entre o povo e o governo, de modo que Jefferson pode ter deci- que não dá validade a sua evidência.
dido que deveria deixar seu novo fundamento absolutamente Tais critérios não são incomuns; nós os aplicamos em nos-
claro, ainda mais que ele sentia que "um respeito digno pelas sas conversas mais comuns, mesmo nas relações entre pais e
opiniões da humanidade requer que [nós] declaremos as cau- j filhos.
sas que [nos] impelem à separação". Se tivesse deixado sua ló-
gica implícita, Jefferson se arriscaria a que o mundo imaginasse I - Fundamento falso
que ele achava que os colonos deviam se libertar do jugo do Filho: Todo o mundo está de tênis novos, eu também quero.
rei Jorge IH só porque este abusava deles. Afinal de contas, um Pai: Se todo o mundo pulasse num precipício, você também
monarquista poderia apresentar um fundamento para competir pularia? [Seu fundam ento é falso se vo cê considera que
com o seu: Se a pessoa é um rei, pode faz er o que quiser, por- sempre que todo o mundo tem algo novo você também
deve ter .]
tanto sua li sta d e supostas ofensas com etid as pelo rei J orge
não é pertinente.
2 - Fundamento obscuro
Mesmo de ixando de enunciar a ma ioria de seus funda- Filho: Olhe só este anúncio .
mentos, é um bom exercício enunciar os mais importantes, pe- Pai: E daí? [Mesmo que o anúncio esteja dizendo a verdade,
lo menos para si mesmo, de modo a poder testar a base con- não vejo o q ue ele tem a ver com eu lh e comp rar tênis,]
ceitual de seu argumento. Pensar nos fundamentos ajuda-o a I
encontrar os pontos duvidosos de seu argumento antes que seus 3 - Fundamento inadequado
leitores o façam. Talvez você tenha de defender seus funda- Filho: Você tem bastante dinheiro.
mentos com um argumento que os sustente (ou , como Jeffer- Pai: Esqueça! [O princípio que você assumiu - de que, desde
son fez, ap elando para uma verdade fundamental comunicada que eu possa lh e c omp rar algo. é meu dever fa zê-lo -
"diretam ente à mente humana: "Sustentamos essas verdades por é totalmente inadequado.]
serem patentes").
4 - Fundamento inaplicável
Filho: Você não me ama.
9.3 A qualidade dos fundamentos Pai: Ridículo. [Sua evidê nc ia implícita é verdadeira: eu
não vou lh e comprar tênis. E. m esmo admitindo que
seu fundam ento possa se r verdadeiro - pais que não
Os leitores opõem-se às afirmações por muitas razões. amam os filhos não lhes compram tênis - , sua afirma-
Algumas razões são injustificadas: a despeito da veracidade de ção não tem fundam ento. p orque o fato de um deter-
seu argumento, alguns leitores estão presos demais a seu modo minado pai não co mp rar tênis para os filhos não quer
de pensar para mudar de opinião, ou têm interesses que sua dizer que não os ame.]
afirmação ameaça, ou simplesmente não querem se esforçar
para entender sua exposição. Por outro lado, os leitores justi- Em cada diálogo, as evidências podem ser confiáveis : to-
ficadamente rejeitam afirmações mal formuladas ou baseadas do o mundo pode ter tênis novos, o anúncio pode fazer os tênis
em evidências duvidosas. Mesmo quando sua afirmação é inte- parecerem bons, o pai pode ter bastante dinheiro e, é claro, o
154 A AR1E DA PESQUISA FAZENDO UMA A FIRMAÇÃ O li S l/S7ENTANDO-A 155
pai não vai comprar tênis novos. Mas, se você conseguir enten- F I: Toda vez que muitas vozes da imprensa popular acusam um
der por que o pai ainda assim rejeita cada argumento, entende- presidente americano de conduzir o país para o caminho do
socialismo,parte da evidência esse presidente não é universal-
rá por que, mesmo quando sua evidência for confiável e suas
afirmações plausíveis, os leitores poderão rejeitar seus argu- mente populaLparte da afirmação
mentos se você ligar suas evidências às afirmações com fun-
Tendo expressado o fundamento nesse formato de "evi-
damentos falsos, obscuros, inadequados ou inaplicáveis.
dência-portanto-afirmação", você pode testar sua força, for-
Se você for um pesquisador atento, questionará seu argu-
mulando versões mais e menos abrangentes:
mento pelo menos uma vez, para ter certeza de que seus fim-
damentos unem suas evidências às afirmações de maneira con- F2 : Toda vez que qualquer forma de jornalismo ataca qualquer
fiável, um exercício que poderá fazê-lo repensar suposições líder, por qualquer razão , de qualquer maneira,parte da evidên-
deixadas sem análise por muito tempo, especialmente as supo- cia esse líder não permanece populaLparte da afirmação
sições fundamentais de sua área. Isso poderá abrir a porta para F3 : Toda vez que os jornais republicanos do Centro-Oeste, nos
mais pesquisas, aquelas do tipo que leva a resultados mais in- anos 30, acusaram um presidente de conduzir os Estados
teressantes e importantes. Unidos para o socialismo,porte da evidência ele se tomava impopu-
lar entre aqueles com interesses econômicos.jj.ç, da afirmação
9.3.1 Fundamentos falsos o que nos levaria a aceitar algum desses três fundamen-
tos? Seria dificil aceitar o mais geral (F 2) , porque podemos
Testa-se a veracidade de um fundamento como se faz com pensar em muitos exemplos contrários. Procuramos proble-
a veracidade de qualquer afirmação, porque a maioria dos fun- mas. lporém, quando estreitamos demais o fundamento, como
damentos são simplesmente afirmações de ordem superior, em F 3 : se a parte da evidência do fundamento é virtualmente
argumentos mais gerais, afirmações que precisam de sua pró- igual à evidência apresentada para sustentar a afirmação, então
pria evidência de sustentação, da mesma maneira que (percor- considera-se que o argumento "resolve a questão".
rendo passo a passo a cadeia de argumentos) uma porção da evi- Um bom princípio é adotar um fundamento geral o bas-
dência é uma afirmação precisando de sustentação própria. tante para incluir pelo menos uma categoria mais abrangente
Qual seria o fundamento para o próximo argumento? Além do que a evidência, mas não tão geral que você se abra em uma
de acreditar na veracidade da evidência, em que mais temos de miríade de exceções: faça de "Roosevelt" não "um líder qual-
acreditar, antes de aceitá-la como sustentação da afirmação? quer" mas " u m presidente americano", e faça de "j ornais" não
"qualquer forma de jornalismo" mas "imprensa popular".
No final da década de 30, FranklinD. Roosevelt não podia
Procure testar a veracidade de seu fundamento com expres-
ter presidente amplamente popularajirmação porque mui-
tos Jornais o acusaram de conduzir o país para o caminho do sões como "sempre", "em todos os lugares", "invariavelmente".
socialismO-evidência
Ao analisar seu argumento em termos tão fortes, você reco-
nheceráas ressalvas que talvez precise acrescentar e, quem sabe,
Conforme dissemos, embora os pesquisadores expressem alguma pesquisa a mais que precise fazer para sustentar seu
os fundamentos de diversas maneiras, o meio mais prático de fundamento. Se não o fizer, algum leitor o fará. Conferir a ve-
examinar um fundamento é dividi-lo em duas partes distintas, racidade dos fundamentos é dificil, e não só porque raramente
uma que expresse o tipo geral de evidência que o fundamento se pensa neles. Quando você questiona os fundamentos, ques-
admite e outra que expresse a afirmação que ele permite: tiona as bases conceituais de sua comunidade de pesquisa.
156 A ARTE DA PESQUISA /''AZENDO UMA AFIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 157
9.3.2 Fundamentos obscuros chamados "fidalgos" podia assinar seu nome legiti-
mamente com "Mr.", e apenas o filho de um gentil-
homem, ou fidalgo, podia assinar com "Esq·"funda-
Cada comunidade de pesquisa tem seus próprios funda-
Em 1580 menos da metade ....
mental'
dos estudantes de
mentos, tipicamente não expressos, ocultos em seus proce- Oxford podia assinar seu nome legitimamente acom-
dimentos de pesquisa, até mesmo em suas máquinas. Os cien- panhado de "Mr." ou "Esq.".evidênciaJ Portanto, me-
tistas que estudam o cérebro usam como evidênci<f imagens nos da metade dos estudantes dessas faculdades
obtidas por um scanner de ressonância magnética, um apare- eram fidalgos ou filhos destes·afirmaçãoJ
lho que registra num gráfico a atividade de eletroquímica do
cérebro. Quando um pesquisador aponta para um ponto ver- PASSO 2: Quando as classes sociais em uma população uni-
melho em uma tela de computador e diz: "Esta área é ativada versitária são geralmente proporcionais aos núme-
quando a pessoa visualiza objetos ausentes", está tirando uma ros da população como um todo, a universidade pode
ser considerada igualitária.fundamento2 O baixo núme-
conclusão a partir de uma cadeia de argumentos que são invi-
ro de estudantes universitários no final do século XVI
síveis aos leigos. que eram fidalgos ou filhos destes [da afirmação I]
Ao dar como certos tais fundamentos, é muito fácil você reflete aproximadamente o fato de que menos da
apresentar uma evidência que você pode pensar que está rela- metade da população inglesa era composta de fidal-
cionada a sua afirmação, mas cuja relevância pode frustrar seus gos ou de seus filhos [de "minoria", no fundamen-
leitores. Isso costuma acontecer quando você toma um atalho to 1]"eVIidéenCla"2 Assim , essas faculdades eram mais ou
por diversos argumentos interligados, saltando passos interme- menos igualitárias.afirmação2
diários: Por exemplo, se você tem pouca familiaridade com al-
gumas verdades gerais sobre história social inglesa do século IpASSO 3: Reiteração demonstrando que entre 1600 e 1900 mais
fidalgos que cidadãos comuns freqüentaram Oxford,
XVI, a passagem a seguir poderá desconcertá-lo:
tomando-a menos igualitária, mas que depois de
1900 ela foi freqüentada por mais cidadãos comuns
Em 1580, menos da metade dos estudantes de algumas do que por fidalgos, o que a tomou mais igualitária
faculdades da Universidade de Oxford podia assinar seu nome outra vez.
legitimamente, "John Jones, Esq." ou "Mr. JoneS".evidência As-
sim, seriam precisos mais de 300 anos para que as universida- Assim, seriam precisos mais de 300 anos para que as uni-
des inglesas voltassem a ser tão igualitárias.afirmação versidades inglesas voltassem a ser tão igualitárias. afirmação
Como passamos das assinaturas do século XVI às univer- Apenas alguém familiarizado com a história inglesa po-
sidades igualitárias do século XX? Omitindo os passos inter- deria entender como a evidência das assinaturas no século XVI
mediários: poderia ser pertinente a uma afirmação sobre as universidades
do século XX. O restante das pessoas ficaria confuso.
Em 1580, menos da metade dos estudantes de algumas fa- Esse tipo de equívoco acontece quando os principiantes
culdades da Universidade de Oxford podia assinar seu nome le- presumem que uma cadeia de relações que lhes parece óbvia
gitimamente "John Jones, Esq. .. ou "Mr. Jones ".evidência
deve ser igualmente óbvia para os leitores, como fez o estu-
dante citado no capítulo anterior, que afirmou:
PASSO 1: Na Inglaterra do final do século XVI, apenas um
homem pertencente à minoria relativa dos homens
158 A ARTE DA PESQUISA FAZENDO UMA A FIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 159
Lincoln acreditou que os Fundadores apoiariam o Norteajir_ Os sons da primeira estrofe reforçam a idéia de bosques
ma çào porque, como ele disse, o país "constituiu-se de acordo com quietos, reconfortantes, porque a maioria das vogais é grave/gu-
a proposição de que todos os homens são criados iguais".evidência tural, e a maioria das consoantes é branda e sonora:
Whose woods these are I think I know.
Observe atentamente os passos de seu argumento para de- His house is in the vil/age though;
terminar se pulou algum. Caso isso tenha ocorrido, v ocê terá He wil/ not see me stopping here
de elaborá-lo novamente. To watch his woods fill up with s now.
Ao testar seu argumento, antes de redigi-lo, seja explícito.
Mas, ao redigir, terá de se decidir quão explícito você pode e deve O fundamento não expresso é um daqueles que os estu-
ser. Quando deixa fundamentos implícitos, você pratica um ato dantes de literatura aceitam, mas raramente tornam explícito,
social importante. Os integrantes de uma comunidade de pes- porque a comunidade o considera como ponto pacífico:
quisa compartilham inúmeros fundamentos, porque estes com-
põem a trama de princípios comuns e verdades não expressas Quando ouvimos melancólicos sons brandos, nós os asso-
que constituem a razão de ser de uma comunidade. Ao assumir ciamos com imagens brandas e melancólicas.
esses fundamentos, você assume a participação na comunidade,
no que diz respeito a você e a seus leitores. Mas, como disse- Mas esse tipo de fundamento não está entre os admitidos
mos, ao tornar os fundamentos desnecessariamente explícitos, por pesquisadores de outras áreas. Um historiador, por exem-
você poderá insultar os leitores que mais preza. À medida que plo, afirmaria que, na eleição presidencial de 1952, os eleito-
adquire experiência e credibilidade, você o demonstra não só res preferiram Dwight Eisenhower porque o viram como uma
pelo que diz , mas pelo que não precisa dizer (veja novamente figura paternal. Mas é pouco provável que elaborasse um argu-
os dois exemplos sobre bloqueadores de cálcio nas pp. 15-7). mento assim:
uma sensação de conforto. Dos 78 indivíduos que ouviram as menta é infundado, você precisa ajustá-lo de uma forma que
gravações da voz dele durante dez minutos, 56 tiveram a taxa de altere sua estrutura lógica. Mesmo quando sua afirmação, sua
pulsação diminuída em 3 batidas por minuto, a pressão sanguí- evidência e seu fundamento são todos verdadeiros, seu leitor
nea baixou em 3,6% e a tensão muscular, em 7,9 %. ainda poderá rejeitar seu argumento como inválido se a relação
entre. eles for infundada - e o que conta na pesquisa de quali-
o fundamento, aqui, é algo como: dade não 'é simplesmente a aparente veracidade de suas con-
clusões, mas a qualidade do raciocínio que o levou até ali.
Quando as batidas do coração, a pressão sanguínea e a ten- Eis novamente aquele exemplo simples sobre a chuva:
são muscular diminuem, a pessoa está sentindo-se mais confor-
tável, Deve ter chovido ontem à noite, porque as ruas estão mo-
lhadas esta manhã.
um fundamento de tipo adequado, no universo dos psicólogos. Por que você acha que isso significa que cho veu ontem à
A evidência de laboratório poderia ser usada para susten- noite?
tar a afirmação de que os sons de "Stopping by Woods" tam- Nesta época do ano, sempre chove à noite.
bém nos deixam mais confortáveis, e tal evidência empírica po-
deria interessar a certos psicólogos. Mas, ao mesmo tempo em O problema é óbvio . Mas testar outros argumentos pode
que os críticos literários poderiam aceitar a afirmação e a evi- ser mais dificil:
dência como plausíveis por si sós, eles desprezariam o argumen-
to e rejeitariam como totalmente tolo qualquer fundamento que Desde 1950 , o Serviço Florestal americano desperdiçou
justificasse medir a reação estética através de um aparelho de tnilhões tentando prevenir incêndios. Apesar dos milhões gas-
avaliar a pressão sanguínea preso ao braço de alguém. tos com a prevenção, o número de inc êndios em florestas na re-
O trabalho do pesquisador iniciante é entender quais fun- gião oeste pennanece o mesmo de sde 1930.
damentos combinam com que áreas, algo que só se aprende com
a experiência. Entendemos que tal conselho pode parecer o mes- O argumento parece razoável, mas como vamos saber se
mó que dizer: Você vai entender quando for mais velho. Mas os leitores pensarão o mesmo? Precisamos decompor o argu-
. esse é um daqueles assuntos em que só a experiência pode aju- mento e verificá-lo . São três os passos a seguir:
dar. Você não pode saber se um argumento vai funcionar até
conhecer os fundamentos com que seus leitores lidam. O que • Passo 1: Deduza o fundamento e expresse-o em duas partes,
só se aprende convivendo com eles durante algum tempo. uma afirmando o tipo de evidência que admite; a
)
outra, o tipo de afirmação que permite.
A parte da evidência do A parte da afirmação do Quando as crianças vêem elas são influenciadas
fundamento refere-se à evidência fundamento permite constantemente imagens de para o piOf.parte da afirmação
geral sobre afirmações referentes ao perversa violência e
• serviço público, gasto de dinheiro pelo sadismo,parte da evidência
• gastar dinheiro , serviço público em geral.
• prevenir desastres naturais, Os dados demonstram que A violência na televisão é hoje
• sem mudanças na freqüência . a violência entre crianças uma das influências mais
de 12-16 anos está aumentando destrutivas sobre nossas
A evidência específica refere-se a A afirmação específica mais rapidamente do que entre crianças'ajirmação
• um órgão específico (o Serviço refere-se a um órgão qualquer outro grupo
Florestal), específico (O Serviço
etário'evidêllCia
• o gasto de uma quantia Florestal) desperdiçando
específica (milhões), uma quantia específica.
deixar de prevenir um desastre
específico (incêndios nas florestas), Mesmo cada parte desse argumento seja verdadeira,
• nenhuma mudança na freqüência o argumento ainda não é válido, porque seu fundamento não
de incêndios. admite sua evidência nem sua afirmação. A evidência não é
164 A ARTE DA PESQ UISA FAZENDO UMA AFIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 165
do tipo de evidência que o fundamento permita, evidência que violência realmente aparecem na televisão. Mas não acredito
precisa se referir a crianças "vendo constantemente imagens que essas imagens sejam "perversas" ou "sádicas ", Portanto, o
de perversa violência e sadismo". Nem a afirmação específi- fundamento não pode admitir essa evidência, que é muito geral
ca combina com o tipo de afirmação permitido pela parte da para o tipo específico de evidê ncia que seu fundamento admi-
afirmação do fundamento . -, te. Além disso, sua afirmação - "uma das causa s principais de
Para consertar esse argumento, primeiro temos de Jazer a violência" - é mais extrema que "influência para pior ". É mui-
to específica e, portanto, vai além da afirmação que seu funda-
evidência se ajustar ao fundamento, e então reformular a afir-
mento permite.
mação:
Poucas pessoas duvidam de que, quando expomos as crian- Agora vemos por que assuntos importantes são continua-
ças a histórias de coragem, compaixão e generosidade, nós as mente tão contestáveis, por que quando você sente que elabo-
influenciamos para melhor. Como podemos negar, então, que, rou uma prova inequívoca de seu caso, seus leitores ainda
quando um meio como a televisão as expõe constantemente a podem dizer: Espere um minuto. E quanto a ? Eu não con-
imagens de violência e sadismo, isso pode influenciá-las para cordo que sua evidência seja importante para Os leitores não
pior? Todos os nossos dados indicam que a violência entre crian- inclinados a aceitar suas afirmações questionarão a confiabi-
ças de 12-16 anos vem aumentando mais rapidamente do que lidade de sua evidência, a veracidade de seu fundamento e a
entre qualquer outro grupo etário. Isso é o resultado de muitos fa- relevância deste para seu argumento específico . Então, eles
tores, mas já não podemos ignorar a conclusão de que, uma vez
debaterão pontos sutis.
que a televisão é a principal fonte de imagens de violência para
as crianças, ela deve ser a principal causa da violência infantil. E nem mesmo consideramos aqueles exemplos em que
podeihaver fundamentos que se chocam, perfeitamente legíti-
mos individualmente:
Quando um meio expõe esse meio as influencia para
constantemente as crianças a pior'parte da afirmação Quando queremos nos expressar em público, temos o direi-
imagens de perversa violência to de fazê-lo .
. e sadismo,parte da evidência Quando estamos em público, temos o dire ito de não ser in-
comodados por alguém que se comporta de um modo que inva-
A televisão é uma das principais A televisão é uma das de nossa privacidade e nosso espaço pessoal.
fontes de imagens de violência principais causas da violência
para a crianÇa ' evidência in fan ti l. alinnação
Qual desses fundamentos se aplica a mendigos? A oradores
de esquina, usando alto-falantes? A músicos de rua? Aos tipos
mentalmente perturbados? A pessoas gritando com outras em
A evidência e a afirmação agora parecem ser do tipo que
o fundamento admite. um ato de protesto? Que evidências poderíamos apresentar para
Mas um leitor atento pode não deixar a discussão termi- provar um ou outro fundamento? Que fundamentos de ordem
nar por aí. Mesmo que o argumento agora parecesse formal- superior admitiriam uma evidência dessas?
mente correto, ele ainda poderia objetar: Sempre que você elabora um argumento, precisa apresen-
tar aos leitores uma evidência que eles considerarão confiável
Espere um p ouco. Sua ev idênc ia, na verdade, não se ajus- para sustentar uma afirmação qu e eles julgarão como especí-
ta ao seu fundam ento. Su a evidência é verdadeira - imagen s de fica e contestável. Mas, mesmo quando sua evidência é corre-
166 A ARTE DA PESQUISA
ta, suas afirmações significativas e seus fundamentos são ver- Sugestões úteis:
dadeiros, você ainda precisa prever que seus leitores irão se de-
sapontar se tiverem uma suposição profundamente arraigada que Contestando fundamentos
não lhes permita associar sua evidência com sua afirmação. (Um jogo para os mais ousados)
Ao começar a pensar no tipo de argumento que terápe apre-
sentar, pare um pouco e pergunte-se que tipo de evidência e de
fundamento serão necessários para convencer seus leitores . Não
basta você achar que tem um caso irrefutável, evidente, 100% Quanto mais seu argumento pedir que seus leitores mudem
sólido. Comece com suas convicções, mas lembre-se de que terá de opinião, mais ele deverá parecer importante (e mais convin-
de terminar com as de seus leitores: Que tipo de argumento eles cente terá de ser). Assim, seus argumentos mais fortes serão
aceitarão? Que tipo rejeitarão? Permita que as respostas a essas aqueles que contestam não só as afirmações e as evidências
perguntas contribuam para a forma do seu argumento. aceitas por sua comunidade de pesquisa, mas também os fun-
A vida é curta demais para testar todos os seus argumen- damentos que estão por trás delas. Não existe uma argumen-
tos , mas teste aqueles que sej am mais importantes do ponto de tação mais dificil do que aquela em que você precisa pedir aos
vista de seus leitores. Infelizmente, como sempre acontece leitores que mudem de opinião, não só quanto àquilo em que
com esse tipo de conselho, o truque é saber quais argumentos eles acreditam, mas por que e com o acreditam.
testar. É como saber que palavras procurar num dicionário. As Ao elaborar um argumento que conteste os fundamentos
palavras em que você tropeça são aquelas que você pensa que de seus leitores, procure entender o que há por trás de tais fun-
sabe como se escreve, mas que na verdade não sabe. Da mesma damentos. Lembre-se de que a maioria deles são afirmações de
maneira, os argumentos que parecem muito óbvios geralmen- argumentos de "ordem superior". Desempenhando esse papel,
te precisam ser testados com mais cuidado. eles têm sua própria evidência de sustentação (juntamente com
seu próprio fundamento, também de ordem superior). Se você
souber que tipo de evidência sustenta um fundamento, encon-
trará a melhor maneira de contestá-lo. No entanto, a base de
sustentação de alguns fundamentos não se resume a um sim-
ples argumento, mas é constituída de um conjunto mais amplo
e complexo de crenças e convicções.
Primeiro de tudo, antes de contestar um fundamento, você
precisa desmontá-lo para entender o que o sustenta. Por exem-
plo, um economista poderia sustentar:
Alguém poderia argumentar que a população de Zackland 1 - Fundamentos baseados na exp eriência empírica
não deveria ser reduzida, porque isso seria um erro. Questionada,
essa pessoa poderia apresentar um fundamento assim: Esses são os fundamentos que deduzimos da experiência
acumulada. Solicitados a defendê-los, nós nos referimos à ex-
Sempre que uma pessoa ou grupo desencoraja os casais de periência direta, a relatos confiáveis de terceiros, ou à sabedo-
terem filhos, a pessoa ou o grupo estão fazendo uma coisa ineren- ria acumulada ao longo do tempo. Alguns baseiam-se em pes-
temente má. quisa sistemática que produz evidências explícitas:
Indagada sobre a evidência que sustenta esse fundamen- Quando certos inseticidas entram no ecossistema, a casca
to, a pessoa poderia apontar não dados quantitativos, mas um dos ovos dos pássaros ficam tão fracas que são choc ados menos
conjunto de princípios morais ou religiosos. filhotes, e a população de pás saros declina.
Uma terceira pessoa poderia concordar que o controle I
populacional é um erro, mas apresentando um fundamento di- Alguns baseiam-se em conhecimentos obscuros desenvol-
ferente: vidos com o passar do tempo :
Sempre que nos dedicamos a um problema de limitação de Quando uma pessoa aparece em meu consultório com os
recursos , conseguimos resolvê-lo . sintomas X, é provável que essa pessoa tenha a doença Y.
Já esse fundamento tem um tipo diferente de sustentação, Alguns são derivados da experiência cotidiana:
derivado de um padrão geral de postura cultural, segundo a qual
todos devemos nos conscientizar e acreditar, Onde há fumaça, há fogo.
Esses três fundamento s são diferentes'e conflitantes. Cada
um é sustentado por uma evidência de tipo diferente: número Contestação: Uma vez qu e esses fundamento s são sus-
de exemplos, um sistema de verdades reveladas ou uma crença tentados por muitas evidênc ia s, grande parte baseada na expe-
herdada. Para contestar qualquer um desses fundamentos, você riência, você precisa contestar sua qualidade. Assim, é neces-
precisa contestar seu tipo específico de sustentação. (Da mesma sário apresentar uma evidência contrária para demonstrar que
maneira, esteja atento ao ler os diversos tipos de fundamentos o fundamento é falso , ou pelo menos não completamente con-
em que suas fontes se baseiam.) fiável. C on siderando que essas afirmações já são ac eitas por
seus leitores, você precisa encontrar dados melhores do que os
que servem de sustentação para o fundamento.
Y·
Por fim, há um tipo de fundamento além dos fundamentos: ANTES DE PASSARMOS para a arte de qualificar as afirma-
Thomas Jefferson invocou-o quando escreveu: "Sustentamos ções, devemos revisar os três elementos necessários a todo ar-
essas verdades por serem evidentes..." Esse fundamento é sus- gumento.
tentado pela experiência direta da verdade:
Sempre que uma afirmação é vivida diretamente como uma 10.1 .1 Afirmações e evidência
verdade revelada, essa afirmação é verdadeira.
Para criar um argumento, você precisa enunciar dois ele-
Esse é o tipo de verdade que para alguns não permite nega- mentos explicitamente:
ção. É uma declaração de fé e não requer nenhuma evidência.
l-e Evidência
aguentar
Afirmação
pião
estivesse promovendo o socialismo'evidencia
por
wow
em afirmações subordinadas, sustentadas por mais evidências
- evidências que sustentam evidências. No exemplo a respei- Como dissemos no Capítulo 9, quando você escreve como
to de Roosevelt, a evidência sobre sua impopularidade é o ata- alguém da área para outras pessoas da mesma área, raramente
que dos jornais, pois supunham que ele promovesse o socia-
ii
expressa todos os seus fundamentos, mas você ajudaria tanto
lismo. Mas é provável que os leitores vejam essa evidência a seus leitores quanto a si mesmo se, antes de redigir, testasse
como outra afirmação e levantem uma questão perfeitamente seus principais fundamentos. Em nosso exemplo, o fundamen-
razoável : Qual é a sua e vidência para a afirmação de que os to parecia ser uma convicção geral sobre o papel dos jornais
jornais atacaram Roosevelt esp ecificamente por promover o como uma influência na opinião pública:
socialismo?
Quando os jornais atacam um funcionário público ameri-
Atualmente, Franklin D. Roosevelt é venerado como um cano por promover o socialismo, esse funcionário fica em difi-
dos personagens mais admirados da história americana,contexto culdade com os eleitores da classe média.
embora no final de seu segundo mandato ele aparentemente não
fosse muito popular entre a classe média'afirmação Sofreu ataques Raramente expressamos os fundamentos de maneira tão
regulares dos jornais, por exemplo, porque acreditavam que ele explícita e doutrinária, preferindo deixá-los implícitos:
estivesse promovendo o socialismo-evidencia/afirmação Em 1938,70 %
dos jornais do Centro-Oeste acusaram-no de querer que o
Atualmente, Franklin D. Roosevelt é venerado como um
governo administrasse o sistema bancário···e";ctencia adicionoI dos personagens mais admirados da h ist ória americana,contexto
embora no final de seu segundo mandato ele aparentemente não
Você tem de sustentar suas afirmações com evidências, fosse muito popular entre a classe m édia'afi rmação Sofreu ataques
mas, geralmente, deve considerar suas evidências como suba- regulares dos jornais, por exemplo, porque acreditavam que ele
firmações que também precisam ser sustentadas. estivesse promovendo o socialismo,evidência/afirmação um sinal de
que uma administração moderna tem problemas com elei-
tores bem informados'fundamento Em 193 8, 70 % dos jornais do
Centro-Oeste acusaram -no de ...evidência adicional
176 A ARTE DA Pl:.'SQUISA FAZENDO UMA AFIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 177
Elaborando seus argumentos com esses três elementos, Com essa finalidade, neste capítulo acrescentamos um
você dá aos seus leitores bons motivos para mudar de opinião. quarto componente ao nosso modelo, representado por aque-
les elementos que levam em conta objeções e os limites de sua
certeza.
10.2 Qualificando seu argumento
,
'\
Se, no entanto, você elabora seus argumentos com esses Fundamento
três elementos apenas, poderá ter um problema, porque mui-
tos leitores irão considerar um argumento singelo assim como
despretensioso beirando a ingenuidade. Pesquisadores inician- Afirmação
tes tendem a apresentar argumentos de uma maneira franca,
sem reservas, seja porque pensam que o melhor argumento é
o que menos precisa de qualificação, seja porque não reconhe- Ressalvas
cem as próprias limitações. E assim escrevem: Refutações
um minuto! E quanto a ... ? - o tipo de leitura que você deveria ca, ataques tão difundidos quanto esses são um sinal confiável
fazer com suas fontes. Ao elaborar seu argumento, você pre- I de que uma administração moderna tem problemas com elei-
cisa tomar conhecimento de seus leitores, prevendo as pergun- tores de classe média. Vários estudos mostraram correlações
fim
confiáveis entre o enfoque editorial e a opinião popular...
tas deles e tornando explícitos os limites de suas afirmações.
É mais provável que os leitores questionem,a qualidade
coisa
I Pesquisadores astutos acolhem de bom grado tais obje-
muitaI
das evidências ou dos fundamentos. A maneira corno você irá
refutar essas objeções vai depender da natureza delàs. Por exem- ções, chegando mesmo a procurá-las, não só para melhorar
plo, se você suspeita de que um leitor poderia considerar sua suas chances de acerto, mas também para indicar aos leitores
aí
evidência insuficiente ou inadequada, porque conhece algu- que estão familiarizados com outros pesquisadores que estu-
ma evidência que contradiz sua afirmação, então deve mostrar daram o mesmo problema e chegaram a conclusões diferentes.
que considerou essa evidência adicional, mas a rejeitou por Ao acolher objeções, você evita fazer afirmações exageradas
referênid
uma boa razão :
quemuito
ra no final de seu segundo mandato ele aparentemente não fosse dosamente. Com três deles você deve lidar especificamente.
muito popular entre a classe média. Os j ornais, por exemplo, enquanto pode discutir ou ignorar o quarto.
atacaram-no por promover o socialismo, um sinal de que uma I - Considere levantar objeções e alternativas para suas
administração moderna tem problemas com eleitores bem infor- afirmações, aquelas que, durante o andamento da pesquisa, você
mados. Em 1938, 70% dos jornais do Centro-Oeste acusaram-no idioma considerou, mas rejeitou.
no
de querer que o governo administrasse o sistema bancário. (...) Não precisa levantá-las, se não quiser, porque é imprová-
Alguns alegaram o contrário, incluindo Nicholson (1983, vel que os leitores se preocupem com elas, mas compartilhá-
pão
1992) e Wiggins (1973), que relatam episódios que mostram
las é uma maneira de convidar os leitores para o diálogo. Você
Roosevelt sempre merecedor de grande consideração, ape-
não deve ressaltar todo beco sem saída ou pista falsa. Em vez
sar de que tais relatos apenas sejam sustentados pelas lem-
branças daqueles que tinham interesse em endeusar FDR.
disso, destaque os pontos fortes de seu caso, levantando e refu-
tando afirmações plausíveis mas equivocadas. Parecerá espe-
cialmente sensato se rejeitar evidências que pareçam sustentar
Ou, prevendo a objeção de que seu fundamento é falh o.
suas afirmações, mas que você sabe que não são confiáveis. Re-
você pode mostrar por que acredita que é correto:
jeitando evidências que outros menos cuidadosos poderiam
Atualmente, Franklin D . Roo se velt é ven era do como um aceitar, você aumenta sua credibilidade.
do s personagens mais a dm irados da históri a americana, embo- 2 - Preveja objeções que os leitores poderão fazer.
ra no final de seu segund o mandato ele ap arentemente não fos se Você deve prever as objeções baseadas num argumento
muito popular entre a classe média. Os jornais, por exempl o, conhecido, que contradiz alguns aspectos do seu, ou um que
°
atacaram-no por promover socialismo. Em 1938,70% dosj or- surja pelo fato de você usar um fundamento que sabe que seus
nais do Centro-Oeste ac us aram-no de querer qu e o governo leitores não aceitarão. Se deixar de considerar as objeções
administrasse o sistema bancári o. (...) Embora Tanaka (1988) dos leitores, antes que eles pensem nelas, vo cê parecerá des-
tenha demonstrado que os jornais freqüentemente tivessem denhar as convicções deles, ou ignorar o trabalho desenvol vi-
mais a intenção de criar do que de refletir a opinião públí- do em sua área.
180 A ARTE DA PESQUISA FAZENDO UMA AHRMA ÇAO E 5U5THNTANDO-A 18]
3 - Preveja alternativas em que seus leitores possam pensar. • Você generalizou demais uma evidência muito pequena.
Pode ser que seus leitores não rejeitem especificamente Tratamos deste assunto quando discutimos a suficiência
uma explicação que você apresente, mas eles talvez pensem em de sua evidência (pp. 132-4). Você vai quase inevitavelmente ge-
explicações alternativas que acreditam que você deveria ao me- neralizar demais, simplesmente porque não há horas suficien-
nos ter considerado. Pense em alternativas, explique-as e, se tes no dia para recolher todos os dados de que você precisa para
puder, refute-as. " fazer uma generalização confiável. O que você pode fazer é
4 - Preveja objeções que possam ocorrer a seus leitores reunir tudo o que puder e relatar a respeito. Na verdade, pes-
enquanto eles lêem. quisadores experientes raramente esperam provar qualquer coi-
Tais objeções são as mais difíceis de prever, mas as mais sa com 100% de certeza, porque possivelmente não podem en-
importantes: sob certo aspecto, uma evidência que pareça con- contrar todas as evidências disponíveis no mundo. Eles podem
sistente para você poderá parecer duvidosa a seus leitores, ou apenas apresentar sua afirmação e convidar os leitores a apre-
você pode dar um passo que distorça sua lógica. Em tais casos, sentar evidências que a neguem.
se você não houver previsto as objeções, parecerá ignorar os o Você não considerou exemplos contrários e casos especiais.
limites de seu próprio argumento e ser indiferente aos julga- Levando em conta que os leitores sempre tentarão pensar
mentos críticos de seus leitores. Em vez de discordar de ques- em exemplos contrários a qualquer generalização, você deve
tões prosaicas - da exatidão ou precisão de suas evidências -, tentar pensar neles primeiro. Se aqueles em que pensar forem
é mais provável que os leitores apresentem objeções nestes casos aberrantes ou marginais, você pode reconhecer simples-
quatro campos: mente que de fato existem exemplos contrários, mas afirmando
• Você definiu termos-chave incorretamente. que eles não restringem sua generalização seriamente.
Você deve ter certeza de que seus leitores concordarão A maneira mais fácil de descobrir objeções como essas é
com suas definições, porque suas definições estão entre seus com a ajuda de um professor, amigo ou colega. Peça para qual-
fundamentos sistemáticos (veja p. 170). Se você estiver pes- quer um representar o papel de um leitor atento e discordar de
.' quisando sobre vícios, por exemplo, indague-se: Quando os exe- tudo o que parecer até mesmo ligeiramente duvidoso. No fim ,
cutivos das fábricas de cigarro dizem que fumar não vicia, eles porém, a responsabilidade é sua. Se você fosse pago para refutar
estão negando um fato, ou definindo o vício de maneira dife- seu próprio caso, o que poderia dizer? Diga, e então refute.
rente de quem afirma o contrário ? Bem antes de começar a
esboçar seu argumento, descubra se seus leitores irão entender
seus termos centrais assim como você os entende. Lembre-se 10.2 .2 A ceite o que não puder refutar
de que as definições estão sempre a serviço de uma meta. Im-
ponha definições que favoreçam sua afirmação. Pode ser que você não consiga responder a algumas obje-
o Você simplificou demais causas e efeitos. ções. Mas, se estiver elaborando um argumento honesto, pre-
Poucos efeitos têm uma causa única, e algumas causas têm cisará reconhecê-las. Ao fazê-lo, você se arrisca a revelar uma
um único efeito. Se você alega que X causa Y, pode ter certe- falha possivelmente fatal em seu raciocínio, mas leva a vanta-
za de que alguém objetará: Espere um minuto, X causa Y. mas gem de reconhecer seus limites com franqueza. Você deve, é
só se C, D e E também ocorrerem, mas não se Z estiver presen- claro, acreditar que o equilíbrio de sua sustentação mais do que
te, e, além disso, A e B também causam Y sob as circunstân - compensará a objeção.
cias certas. Evite respostas simples a perguntas complexas.
lH2 A ARTE DA PESQUISA FAZENDO UMA AHRMAÇÀO E SU5TENTANDO-A l83
Atualmente, Franklin D. Roosevelt é venerado como um dos /0.2.3 Imponha condições limitadoras
personagens mais admirados da história americana, embora no final
de seu segundo mandato ele aparentemente não fosse muito po- Existe outro tipo de objeção que os pesquisadores não po-
pular entre a classe média. Os jornais, por exemplo, atacaram-no dem refutar e com o qual normalmente não se incomodam.
por promover o socialismo. Em 1938, 70% dos jornais do Cen- Trata-se de uma reserva em relação a mudanças imprevisíveis
tro-Oeste acusaram-no de querer que o governo administrasse de certas condições, algo que você considera que não ocorrerá,
o sistema bancário. ( ... ) Alguns alegaram o contrário, incluindo mas que pode acontecer.
Nicholson (1983, 1992) e Wiggins (1973), que relatam episó-
dios em que Roosevelt aparecia sempre como merecedor de alta Ganharemos mais jogos este ano, contanto que não venha-
cunsideração, apesar de que tais relatos apenas sejam sustenta- mos a sofrer baixas por contusões.
dos pelas lembranças daqueles que tinham interesse em endeu- Podemos concluir que o terremoto ocorreu na região cen-
sar FDR. Os amplos ataques nos jornais em todo o país demons- tral da Costa Rica, desde que os instrumentos tenham sido cali-
tram um descontentamento importante com sua presidência. brados com precisão.
Reconhecidamente, os mesmos jornais louvaram seus esfor-
ços para superar o desemprego. Mas as evidências indicam Os autores costumam silenciar sobre condições limitado-
que, não fosse pela Segunda Guerra Mundial, Roosevelt pode- ras, especialmente as que estabelecem que as pessoas e coisas
ria não ter sido reeleíto para um terceiro mandato. devem se comportar como esperamos. Você ouvirá com fre-
qüência os comentaristas esportivos referirem-se, em suas pre-
Se descobrir cedo as objeções irrefutáveis, você poderá visões, a condições como contusões, porque são comuns e
revisar seu argumento, talvez até mesmo sua afirmação. Se previstas em muitos esportes. Mas só raramente os cientistas
deixar para mais tarde, terá um problema. Poderia ignorar a irão declarar que suas afirmações dependem de os instrumen-
objeção e esperar que seus leitores não percebam. Mas, se per- tos funcionarem corretamente, não só porque isso é muito óbvio,
ceberem, o problema será ainda maior, porque eles poderão mas também porque todo o mundo espera que eles se assegu-
pensar que você não percebeu as objeções ou, pior, que tentou rem de que os instrumentos funcionarão direito.
escondê-las. Se não tiver nenhuma boa resposta, reconheça Eventualmente estipulamos alguma reserva, tanto para in-
francamente uma objeção como um "problema" que precisa de dicar uma precaução, quanto para nos resguardarmos a respeito
mais estudo, ou mostre que a preponderância de outra evidên- de uma possibilidade previsível e plausível:
cia a minimiza.
Pesquisadores experientes e professores entendem que a Atualmente, Franklin D. Roosevelt é venerado como um
verdade é sempre complicada, normalmente ambígua, sempre dos personagens mais admirados da história americana, embora
passivel de ser contestada. Eles formarão uma opinião melhor no final de seu segundo mandato ele aparentemente não fosse
a seu respeito e de seu argumento se você reconhecer seus li- muito popular entre a classe média. Os jornais, por exemplo,
mites, especialmente os limites que o restringem mais do que atacaram-no por promover o socialismo. Em 1938, 70% dos jor-
seria desejado. A concessão é outra maneira de convidar os lei- nais 'do Centro-Oeste acusaram-no de querer que o governo
administrasse o sistema bancário. (...) Alguns alegaram o con-
tores ao diálogo. trário, incluindo Nicholson (1983,1992) e Wiggins (1973), que
relatam episódios em que Roosevelt aparecia sempre merece-
dor de grande consideração, apesar de que tais relatos apenas
sejam sustentados pelas lembranças daqueles que tinham inte-
184 A ARTt: DA PESQUiSA r-AZENDO UMA AHRMAÇÀO E SUSTENTA N D O-A 185
resse em endeusar FDR. A menos que possa ser demonstrado evidências sugere que, não fosse pela Segunda Guerra Mundial,
que os jornais que criticaram Roosevelt eram controlados Roosevelt provavelmente não teria sido reeleito para um ter-
por interesses particulares, seus ataques demonstram um des- ceiro mandato.
contentamento importante com sua presidência. Reconhecida-
mente, os mesmos jornais louvaram seus esforços para superar As palavras e frases que limitam suas evidências e afir-
o desemprego. Mas as evidências indicam que Roosevelt pode- mações dão as nuanças de seu argumento.
ria não ter sido reeleito para um terceiro mandato.não fosse pela Você não precisa declarar cada instante de incerteza, mas
Segunda Guerra Mundial.
apenas os mais importantes. Se você colocar ressalvas demais,
parecerá tímido ou inseguro. Mas, na maioria das áreas, é toli-
ce evitar todo " parece que", "pode ser que" e "provavelmente",
/0.2.4 Limite o alcance e a certeza de sua afirmação
na vã esperança de que os leitores ficarão impressionados com
e de suas evidências
a certeza positiva. Alguns professores cortam todas as restri-
Mesmo depois de ter refutado todas as objeções impor- ções. Não diga que você acredita ou que acha que algo é assim.
puri
tantes, você raramente pode afirmar em sã consciência que tem Simplesmente diga! Mas o de que a maioria deles não gosta é
are
100% de certeza, que sua evidência é 100% confiável e que de restrições qualificando toda e qualquer afirmação banal. E
deve ser reconhecido que, em algumas áreas, as limitações são
suas afirmações são incontestavelmente verdadeiras. Sua cre-
dibilidade requer que você limite o alcance de seus argumentos, coro
desenvolvido consideradas mais censuráveis que em outras. Os professores e
restringindo a certeza de suas afirmações e evidências com pa- ocoro editores que condenam todas as ressalvas simplesmente estão
erra90s quanto à maneira como a maior parte dos pesquisado-
lavras e frases restritivas. desde
do res cuidadosos relata suas descobertas . Todo pesquisador pre-
cisa saber parecer confiante com ponderação, o que significa
e
Atualmente, Franklin D . Roosevelt é amplamente venera-
do como um dos personagens mais admirados da história ame- saber expressar os limites dessa conf iança.
ricana, embora por volta do final de seu segundo mandato ele Todos estes pontos visam implicitamente o que chama-
não fosse especialmente muito popular entre os prováveis elei- mos sua persona ou ethos - a imagem do seu caráter. que os
tores. Os jornais, por exemplo, geralmente o atacaram por pro-
leitores deduzem de seu estilo de escrever e pensar. Poucos ele-
mover o socialismo, um bom indicio de que uma administração
moderna tem problemas com eleitores de classe média. Em mentos influenciam mais significativamente a maneira como
1938 , 70 % dos jornais do Centro-Oeste acusaram-no de querer eles julgam seu caráter do que o modo como você trata as in-
que o governo administrasse o sistema bancário. (...) Alguns ale- certezas e limitações. É preciso jogo de cintura. Apresente li-
garam o contrário, incluindo Nicholson (1983, 1992) e Wiggins mitações demais, e parecerá indeciso; de menos, e parecerá
(1973), que relatam epi sódios em que Roosevelt aparecia sem- presunçoso . Infelizmente, a linha entre impor limitações e co-
pre como merecedor de grande consideração, apesar de que tais meter tolices é muito tênue. Como sempre, observe como os
relatos tendem a ser sustentados pelas lembranças daqueles que outros em sua área lidam com a questão da incerteza, e então
podiam ter interesse em endeusá-lo. A menos que possa ser de-
monstrado que os jornais que criticaram Roosevelt eram con-
aja de maneira sem e lhante .
trolados por interesses particulares, seus ataques demonstram
um descontentamento importante com aspectos-chave de sua
presidência. Reconhecidamente, muitos dos mesmos jornais lou-
varam seus esforços para superar o de semprego. Mas o peso das
L86 A ARTH DA PESQUISA f'AZENDO U'WA AFlRt'WAÇÀ O H S US ThNTANDO-A 187
10.3 Elaborando um argumento completo Embora atualmente Franklin D. Roosevelt seja venerado
como um dos personagens mai s admirados da história america-
Eis novamente a estrutura completa: na, evidências sugerem que, na época, ele não foi tão popu-
lar quanto muitos afirmam; na verdade, não fosse pela Se-
gunda Guerra Mundial, poderia nem ter sido reeleito para
Fundamento o terceiro mandato. No final da década de 1930. muitos jornais
o atacaram por promover o socialismo , um sinal de que qual-
quer administração moderna pode ter problemas com as pes-
www.w
soas, ou pelo menos entre os segmentos mais bem informados.
Em 1938. por exemplo. 70% dos jornais no Centro-Oeste acu-
saram-no de querer que o governo administrasse o sistema ban- mostrar
cário. (...) A menos que esses j ornais fossem controlados p or
com
no
interesses particulares, seus ataques demonstram que Roose-
velt não era tão amplamente admirado quanto se tem suge-
o
entre frases de argumentos convergem para
uma urnca afirmaç ão, E, o que é mais importante, um argumen- Nofinal da década de 1930, osjornais louvaram Franklin
to grande e complexo é elaborado a partir de argumentos sim- D. Roosevelt por suas tentativas de acabar com o desemprego. e
ples de tipos diferentes que dependem não só de fundamentos alguns pesquisadores afirmaram recentemente que na época ele
diferentes, mas de tipos diferentes de fundamentos. Apesar des- era amplamente es timado. (Nicholson 1982, Wiggins 1973).
sas aparentes diferenças, todo argumento responsável é elabo- Realmente, nos dias atuais, Roosevelt é venerado como um dos
rado a partir desses quatro elementos. personagens mais admirados da história americana, mas OS
Você pode começar qualquer argumento básico com uma QUE REIVINDICAM QUE ELE FOI ESTIMADO AMPLA-
afirmação, ou concluir com ela; pode refutar objeções no come- MENTE PODEM TER-SE APOIADO MUITO FORTEMEN-
ço do argumento, no meio, logo antes da afirmação final ou até TE NAS LEMBRANÇAS DE PESSOAS INTERESSADAS EM
mesmo depois dela. Suponha que organizemos agora os elemen- ENDEUSÁ-LO. Na verdade. muitos desses mesmos jornais que
tos .do "mesmo" argumento de dois modos diferentes. No pri- o louvaram ata caram-no por promover o socialismo, um bom
meiro exemplo, o argumento começa com uma declaração di- sinal de que qualquer administração moderna pode ter problemas
com as pessoas, ou pelo menos entre os segmentos mais instruí-
reta da. negrito) e a (sublinhada), depois
dos da população. Em 1938. por exemplo. 70 % dos jornais no
a qualifica (em itálico) e refuta as objeções (em maiúsculas).
Centro-Oeste acusaram-no de querer que o governo admini stras-
O se?undo apresenta as qualificações e refutações primeiro e se o sistema bancário. (...) A menos que esses jornais fossem
depois para a afirmação. Conforme você pode ver, os efei- co ntrolados por inte resses particulares. os ataques demonstram
tos retóricos são bastante diferentes: que Roosevelt não era tão amplamente admirado como alguns
1
I
I
IHH A ARTE DA PESQUISA
I
FAZENDO UMA A FIRMAÇÃO E SUSTENTANDO-A 189
I
sugeriram recentemente. Na verdade, algumas evidências su- 5 - E, por fim, os elementos do argumento poderão ajudá-
gerem que, não fosse pela Segunda Guerra Mundial, Roose- lo a prever o que os leitores pensarão a seu respeito, porque
velt poderia não ter sido eleito para o terceiro mandato. nada revela mais sobre o caráter de uma pessoa do que a ma-
neira como essa pessoa tenta convencer os outros a mudar de
, opinião.
10.4 O argumento como guia para a pesquisa e 'a leitura
A estrutura de um argumento é de valor inestimável para I 0.5 Algumas palavras sobre sentimentos fortes
ajudá-lo a refletir ao longo do projeto, do princípio ao fim .
Nos últimos capítulos, expusemos um exemplo de argu-
I - Seus elementos poderão orientar sua pesquisa. Se con- mento enfatizando uma lógica fria . Em muitas áreas - a de ciên-
seguir prever o que precisa incluir no relatório - não só afirma- cias naturais, por exemplo - nada é mais altamente valorizado
ções e evidências mas fundamentos e ressalvas -, você poderá do que um argumento que passe de uma evidência confiável
ler adequadamente e procurar não só por sustentação, mas tam- para uma afirmação importante de maneira paciente, impar-
bém discordâncias para refutar. cial e, acima de tudo, lógica. Mas todos os leitores reagem com
2 - Os elementos do argumento o ajudarão a ler mais cri- mais do que lógica fria quando sentem também, num argumen-
q
ticamente. À medida que for lendo suas fontes de informações, to correto, o caloroso envolvimento do pesquisador com o que
por
deverá fazer as mesmas perguntas que seus leitores pro vavel- ele acredita ser a verdade. Quando os leitores encontram num
mente farão: não só a voz da razão, mas sinais de envolvimento,
Suas perguntas
ou mesmo de paixão, quando a paixão é requerida, eles pres-
tam mais atenção a esse argumento do que a outro que pareça
muito
mim
As respostas de sua fonte
Qual é sua opinião ? Digo que... ter a mesma correção intelectual, mas é frio, apático. Essa é
Qu e alcance tem a s ua Eu a limito a... uma questão que não pode ser ignorada em nenhuma discus-
afirmação? são de argumento.
Quais são suas evidên cias? Apresento com o evidências...· Mas também é uma qualidade do discurso quase impos-
O que liga as e vidências Ofereço este princípio... sível de ser ensinada diretamente. Ao avaliar a lógica de um argu-
à afirmação ? mento, o seu fogos, você pode procurar as partes dela na pági-
Ma s e quanto a...? Posso refutar isso. Primeiro... na , reconstruir as partes que não conseguir encontrar, analisar
Ma s e se... ? Minha afirmação p ermanece até... suas relações e, então, decidir se o autor ganhou sua aprova-
Nã o há nenhum problema ? Bem, tenho de admitir que... ção. Ao analisar uma argumentação desse modo, você se envol-
ve no mesmo tipo de raciocínio que está estudando e avaliando,
3 - Esses elementos poderão ajudá-lo a organizar suas in- e, se sua análise for contestada, poderá examinar criticamente
formações e opiniões, enquanto você se prepara para o seu pri- seu próprio raciocínio da mesma maneira que fez com o do
meiro rascunho. Seus primeiros esboços devem enfocar os el e- autor. Por outro lado, ao avaliar a força do envolvimento pes-
mentos do argumento. soal do autor com sua afirmação, você só tem como evidência
4 - Os elementos de seu argumento poderão ajudá-lo a uma resposta imediata, inconsciente e intuitiva. Apenas a par-
identificar as partes do relatório e orientar o rascunho. tir de sua própria reação ao pathos de um argumento - uma rea-
190 A A R TE DA P ESQUISA
Simplicidade confortável
i,
!
! PARTE IV
Preparando-se para redigir,
redigindo e revisando
Prólogo: Planejando novamente