O avanço tecnológico, em uma constância histórica, sempre muda a
percepção em torno do trabalho e da realidade. Mas que pode acontecer quando a velocidade desse avanço se torna desenfreada e o comportamento junto à produção humana não conseguem responder nem em tempo ou forma adequadas? Os receios dos usos e abusos de Inteligências Artificiais batem em nossa porta. Karl Marx, em um século qual mal era sonhada a criação de computadores, já elaborava a tese sobre a alienação: o estranhamento entre o ser humano e o trabalho gera distorções na maneira em que o mesmo reconhece a si e ao seu redor. Voltando ao século dos “storys”, em que conteúdo é apresentado e consumido em questão de segundos, a IA cristaliza a dimensão dessa problemática tanto nos campos da arte quanto da ciência. Como exemplificado de forma ilustrada no terceiro texto de apoio, o reproduzir e gerar conhecimento artificial seduz e muitas vezes substitui a noção de pesquisar e sintetizar aprendizado organicamente processado e adquirido. Não se pode esquecer o papel destaque que divulgação e compartilhamento ganharam nos últimos tempos, com muitos cortejando a possibilidade de rapidamente angariar credibilidade e se tornarem reconhecidos cientistas para terem sua voz e autoridade validadas. Esse último fenômeno foi visível durante a pandemia, quando inúmeros médicos abusaram da sua autoridade profissional e científica nas redes sociais promovendo métodos medicinais milagrosos antes da vacina ser feita. Entretanto, ignorar a existência dessa nova ferramenta, agora já integrada a diversos sistemas de informação, é uma possibilidade fantasiosa. Principalmente num panorama global regido por multinacionais e mentalidades que preconizam a produtividade e aceleração acima de tudo, a tendência inevitável é a IA ser incorporada ao cotidiano de qualquer pessoa que use tecnologia. O espaço acadêmico é e continuará sendo um dos mais afetados, devido à necessidade perene de trabalho humano criativo e autoral. A proliferação de pseudoconhecimentos automatizados impede construir novas perspectivas e linhas de pensamento. Progressivamente, novas combinações de sistemas de avaliações, tanto humanos quanto robóticos, surgirão para eficientemente avaliar inserções artificiais em pesquisas. Paralelo ao pânico que a IA gera e o novo conflito de como lidar com a autoria na pesquisa é pertinente ressaltar a posição das universidades e das ciências não apenas como meras legitimadoras de obras, mas também como berços de transformações no tecido social e cultural.
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