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Candidato 10

O avanço tecnológico, em uma constância histórica, sempre muda a


percepção em torno do trabalho e da realidade. Mas que pode acontecer quando a
velocidade desse avanço se torna desenfreada e o comportamento junto à produção
humana não conseguem responder nem em tempo ou forma adequadas? Os
receios dos usos e abusos de Inteligências Artificiais batem em nossa porta.
Karl Marx, em um século qual mal era sonhada a criação de computadores, já
elaborava a tese sobre a alienação: o estranhamento entre o ser humano e o
trabalho gera distorções na maneira em que o mesmo reconhece a si e ao seu
redor. Voltando ao século dos “storys”, em que conteúdo é apresentado e
consumido em questão de segundos, a IA cristaliza a dimensão dessa problemática
tanto nos campos da arte quanto da ciência. Como exemplificado de forma ilustrada
no terceiro texto de apoio, o reproduzir e gerar conhecimento artificial seduz e
muitas vezes substitui a noção de pesquisar e sintetizar aprendizado organicamente
processado e adquirido. Não se pode esquecer o papel destaque que divulgação e
compartilhamento ganharam nos últimos tempos, com muitos cortejando a
possibilidade de rapidamente angariar credibilidade e se tornarem reconhecidos
cientistas para terem sua voz e autoridade validadas. Esse último fenômeno foi
visível durante a pandemia, quando inúmeros médicos abusaram da sua autoridade
profissional e científica nas redes sociais promovendo métodos medicinais
milagrosos antes da vacina ser feita.
Entretanto, ignorar a existência dessa nova ferramenta, agora já integrada a
diversos sistemas de informação, é uma possibilidade fantasiosa. Principalmente
num panorama global regido por multinacionais e mentalidades que preconizam a
produtividade e aceleração acima de tudo, a tendência inevitável é a IA ser
incorporada ao cotidiano de qualquer pessoa que use tecnologia. O espaço
acadêmico é e continuará sendo um dos mais afetados, devido à necessidade
perene de trabalho humano criativo e autoral.
A proliferação de pseudoconhecimentos automatizados impede construir
novas perspectivas e linhas de pensamento. Progressivamente, novas combinações
de sistemas de avaliações, tanto humanos quanto robóticos, surgirão para
eficientemente avaliar inserções artificiais em pesquisas. Paralelo ao pânico que a IA
gera e o novo conflito de como lidar com a autoria na pesquisa é pertinente ressaltar
a posição das universidades e das ciências não apenas como meras legitimadoras
de obras, mas também como berços de transformações no tecido social e cultural.

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