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Questões

Questão 1
Um consumidor possui utilidade quase-linear U(x,y) = ln(x) + y, em que
ln(x) denota o logaritmo natural de x. O preço do bem X é p > 0 e o do bem
Y é q > 0. Denote por r > 0 a renda do consumidor. Julgue como verdadeiros
ou falsos os itens a seguir:
(0) A demanda marshalliana pelo bem x apresenta efeito-renda nulo, qual-
quer que seja a renda r.
(1) Se x(r) denota a curva de Engel pelo bem x, então x(r) = r/p, se r ≤ q, e
x(r) = q/p, se r > q.
(2) Se r < q, então, com relação à demanda pelo bem x e seu comportamento
quanto ao próprio preço, o efeito-substituição é igual ao efeito-preço.
(3) A utilidade do consumidor é homotética.
(4) Seja e(p,q,u0) a função-dispêndio aos preços (p,q) e nível de utilidade u0. Se
p/q > exp(−u0), em que exp(θ) denota a exponencial de θ, então e(p,q,u0) =
q(1 + u0 + ln(p/q)).

Resolução
Primeiro, observe que o agente sempre consumirá uma quantidade não nula do
bem x, pois a utilidade marginal do bem x tende ao infinito quando x se aproxi-
ma de zero. Isso não ocorre para y, portanto, temos que analisar a possibilidade
de haver soluções de canto.
Se temos solução interior, então x * > 0, y * > 0 e a taxa marginal de substi-
tuição se iguala à razão entre os preços.
2 Microeconomia

1 p q r
= → x* = e y* = − 1
x *
q p q
Como y * > 0 , é necessário que r > q.
r
No caso de solução de canto, temos x * = , y * = 0 . Assim, as demandas
p
marshallianas são:
⎧ q
⎪ ,r > q ⎧ r
⎪ p ⎪ − 1,r > q
*
x =⎨ , y =⎨ q
*

⎪ r ⎪ 0,r ≤ q
,r ≤ q
⎪ p ⎩
(0) Falso. ⎩
∂x 1
Pela resolução anterior, quando r ≤ q , = ≠ 0.
∂r p
(1) Verdadeiro.
Essa é exatamente a demanda que encontramos na resolução.
(2) Falso.
Pela equação de Slutsky, o efeito preço é igual à soma do efeito substituição
com o efeito renda. Logo, o item só seria verdadeiro se o efeito renda fosse
nulo. Como vimos no item (0), não é esse o caso quando r ≤ q .
(3) Falso.
Uma função utilidade é homotética se a taxa marginal de substituição
para cestas que estão na mesma reta a partir da origem são iguais, isto
u (tx,ty) ux (x, y)
é, x = ∀t ∈ + . Isso não ocorre na função do enunciado,
u y (tx,ty) u y (x, y)
1 1
pois ≠ ,t ≠ 1.
tx x
(4) Verdadeiro.
Seja V ( p,q,r) a função utilidade indireta. Calculamos V substituindo as
demandas marshallianas na função utilidade. Já a função dispêndio é en-
contrada isolando a renda r na utilidade indireta. Temos então:
⎧ ⎛ q⎞ r ⎧ ⎛ q⎞ q
⎪ ln ⎜ ⎟ + − 1,r > q ⎪ q ⎜ u0 + 1− ln ⎟ ,u0 > ln
⎪ ⎝ p⎠ q ⎪ ⎝ p⎠ p
V ( p,q,r) = ⎨ , e( p,q,u0 ) = ⎨
⎪ ln r ,r ≤ q ⎪ peu0 ,u ≤ ln q
⎪ p ⎪ 0
p
⎩ ⎩
Questões 3

em que as condições da forma funcional foram obtidas substituindo r


⎛ q⎞ p
por q ⎜ u0 + 1− ln ⎟ em r > q . Como o item nos dá que > exp(−u0 ) ,
⎝ p⎠ q
p q
então ln > −u0 → u0 > ln . Observe que a função dada no enunciado
q p
é a mesma encontrada, utilizando a propriedade dos logaritmos de que
a b
ln = − ln .
b a

Questão 2
Suponha um consumidor racional que consuma toda a sua renda com dois
bens, X e Y. O preço de X é $ 10 por unidade, enquanto o preço de Y é $ 2 por
unidade. Quando a renda do consumidor é de $ 100, ele compra 5 unidades
de Y e 9 unidades de X. Quando sua renda aumenta para $ 120, ele compra
10 unidades de Y e 10 unidades de X. Neste caso, indique quais das seguintes
afirmações são verdadeiras e quais são falsas:
(0) X é um bem normal e Y é um bem inferior.
(1) X é um bem de luxo.
(2) Y é um bem de luxo.
(3) A curva de Engel para X tem inclinação negativa no intervalo de renda
considerado.
(4) A curva de Engel para Y tem inclinação positiva no intervalo de renda
considerado.

Resolução
(0) Falso.
ΔX ΔX ΔX R
Um bem X é normal se > 0 , inferior se < 0 e de luxo se > 1,
ΔR ΔR ΔR X
sendo R a renda do consumidor. Utilizando os dados do problema, temos:
R0 = 100, R1 = 120 → ΔR = 20
X 0 = 9, X 1 = 10 → ΔX = 1
Y0 = 5,Y1 = 10 → ΔY = 5
ΔX 1
= >0
ΔR 20
ΔY 5
= >0
ΔR 20
4 Microeconomia

Portanto, ambos os bens são normais.


(1) Falso.
ΔX R0 1 100 5
= = <1
ΔR X 0 20 9 9
(2) Verdadeiro.
ΔY R0 5 100
= = 5>1
ΔR Y0 20 5
(3) Falso.
A curva de Engel descreve a demanda marshalliana por um bem em fun-
ção da renda. Logo, ela terá inclinação positiva ou nula quando o bem for
normal e inclinação negativa quando se analisa um bem inferior. Como o
bem X é normal, a inclinação será necessariamente não negativa.
(4) Verdadeiro.
ΔY 5
Como = > 0 , a inclinação é positiva.
ΔR 20

Questão 3
Uma firma possui função de produção f(K, L) = K1/4 L1/4, em que K é a quan-
tidade de capital por unidade de tempo e L é a quantidade de trabalho por
unidade de tempo. Se q é a quantidade a ser produzida, então q = f(K, L). Do
ponto de vista da firma, a melhor alternativa para o capital é investir cada
$ 1 em um ativo com taxa de retorno de r = 10% por unidade de tempo. O
custo de oportunidade de cada unidade de trabalho por unidade de tempo é
w = $ 10. Julgue os itens a seguir:
(0) A função de produção não é homotética.
⎛5 3 ⎞
(1) A demanda fatorial por capital e trabalho é (𝐾∗, 𝐿∗) = ⎜ q 2 , q 2 ⎟ .
⎝4 4 ⎠
(2) A função de custo médio é CMe(q) = q, em que q é a quantidade a ser pro-
duzida por unidade de tempo. _
(3) Suponha que, no curto prazo, o capital está fixo em K = 1. Então, a função
1
custo de curto prazo é cCP (q) = + 10q 4 .
10
(4) Em um mercado competitivo, sem custos fixos, se p é o preço do bem e q é
a quantidade (por unidade de tempo), então a oferta da firma será 𝑝 = 4𝑞.
Questões 5

Resolução
(0) Falso.
Uma função é homotética se ela é uma transformação monotônica de algu-
ma função homogênea. Perceba que f (K, L) = K 0,5 L0,5 e K 0,5 L0,5 é uma
função homogênea de grau 1. Logo, trata-se de uma função homotética.
Outra forma de provar que a função é homogênea é calcular a razão entre
as produtividades marginais dos fatores e verificar que essa razão não se
altera se multiplicarmos as quantidades de ambos os fatores por t ∈R + .
(1) Falso.
A demanda por fatores é encontrada resolvendo o problema de minimiza-
ção de custos da firma.

mín K ,L10L + 0,1K s.a. K 0,25 L0,25 = q


L = 10L + 0,1K − λ (K 0,25 L0,25 − q)
[L] :10 = 0,25λ K 0,25 L−0,75
[K] : 0,1 = 0,25λ K −0,75 L0,25
K 0,25 L0,25 = q

Dividindo as duas condições de primeira ordem encontradas, encontra-


mos K em função de L, que podemos substituir na restrição do problema
e encontrar L* . Assim, temos:
K
100 = → (100L)0,25 L0,25 = q
L
q2
L* = → K * = 10q 2
10
(2) Falso.
Substituindo as demandas fatoriais encontradas no item anterior na fun-
ção custo:
q2
c(q) = 10 ⋅ + 0,1⋅10q 2 = 2q 2
10
2q 2
CMe(q) = = 2q
q
(3) Verdadeiro.
A demanda por trabalho quando K = 1 é dada por
L0,25 ⋅10,25 = q → L* = q 4
6 Microeconomia

Substituindo na função custo:


1
cCP (q) = 10 ⋅ q 4 + 0,1⋅1 = 10q 4 +
10
(4) Verdadeiro.
Como não há custos fixos, a função custo será a encontrada no item (2) e
a curva de oferta será a curva de custo marginal. Calculando o custo mar-
ginal, temos que Cmg(q) = 4q = p.

Questão 4
Com relação ao comportamento do produtor, indique quais dos itens a se-
guir são verdadeiros e quais são falsos:
(0) Em uma função de produção do tipo Q = Af(K, L), o parâmetro A repre-
senta o nível de produtividade total dos fatores.
(1) Uma empresa emprega 100 trabalhadores e 50 unidades de capital. O pre-
ço do trabalho é $ 15/hora e o do capital é $ 30/hora. O produto marginal
do trabalho é 60 e o produto marginal do capital é 90. A empresa está mi-
nimizando seus custos.
(2) Se a taxa marginal de substituição técnica de uma empresa não varia ao
longo da isoquanta, sendo sempre igual a −1, os insumos são substitutos
perfeitos.
(3) Custos fixos como proporção importante dos custos totais é uma fonte de
retornos crescentes de escala.
(4) A presença de “aprender fazendo” (learning by doing) de forma significa-
tiva no processo produtivo de uma empresa é uma fonte de retornos cres-
centes de escala.

Resolução
(0) Verdadeiro.
Essa é a definição de produtividade total dos fatores.
(1) Falso.
No ótimo do problema de minimização de custos, a razão entre os pro-
dutos marginais do trabalho e do capital é igual à razão entre os preços
60 15
desses insumos. Pelos dados do problema, pode-se observar que ≠ .
90 30
Assim, a empresa não está minimizando seus custos.
Questões 7

(2) Verdadeiro.
De acordo com Varian, a taxa marginal de substituição técnica (TMST)
entre o insumo x e o insumo y é o negativo da razão entre as produtivi-
dades marginais dos dois insumos, respectivamente. Se essa quantidade é
sempre igual 1 ao longo da isoquanta, então os dois insumos têm as mes-
mas produtividades marginais para quaisquer quantidades, constituindo-
-se, assim, em substitutos perfeitos.
É importante notar que alguns autores, inclusive alguns presentes na
própria bibliografia da prova, como Nicholson e Snyder, definem a taxa
marginal de substituição técnica entre o insumo x e o insumo y como a
quantidade de insumo x que a firma está disposta a abrir mão em troca de
uma unidade adicional de insumo y. Assim, a TMST não pode ser negativa
e, portanto, o item deveria ser falso, caso se adotem as definições desses
autores.
(3) Verdadeiro.
Há retornos crescentes de escala quando a curva de custo médio é decres-
cente em relação à quantidade produzida. Quando os custos fixos consti-
tuem uma proporção alta dos custos totais, situação em que temos mono-
pólio natural, a curva de custo médio será decrescente. Isso ocorre porque
se o custo fixo for muito alto, o aumento do custo variável médio em face
da produção da unidade adicional não compensa a redução do custo fixo
por unidade. Podemos ver isso derivando a função de custo médio (CMe):

C(q) = CF + CV (q)
CF
CMe(q) = + CVMe(q)
q
dCMe(q) CF dCVMe(q) CF
=− 2 + = CMg(q) − 2 < 0
dq q dq q
dCMe(q)
∃CF tal que CF > q 2CMg(q) → <0
dq
(4) Verdadeiro.
Existe learning by doing quando a repetição do processo produtivo gera
aumento de produtividade. O crescimento da produtividade pode ser en-
tendido como um deslocamento da curva de custo médio para baixo, o
8 Microeconomia

que pode fazer com que a curva de custo médio seja negativamente incli-
nada, resultando em retornos crescentes de escala.

Questão 5
Indique quais dos itens a seguir são verdadeiros e quais são falsos:
(0) No caso de um bem discreto X e de um consumidor com utilidade quase
linear em X, a utilidade do consumo de “n” unidades de X é exatamente a
soma dos “n” primeiros preços de reserva.
(1) Se for subtraída do benefício bruto do consumidor com um bem X a
quantia gasta com a aquisição de X, o resultado será o excedente do
consumidor.
(2) Não se pode usar a variação compensadora e a variação equivalente para
medir o impacto monetário de uma variação de preço.
(3) A variação no excedente do consumidor não deve ser interpretada como a
variação na utilidade que corresponde à variação de preço.
(4) Se a utilidade for quase linear, as variações compensadora, equivalente e
do excedente do consumidor serão iguais.

Resolução
(0) Verdadeiro.
No caso de um bem discreto e demanda quase linear, o preço de reserva é
uma medida da utilidade necessária para induzir o consumidor a escolher
mais uma unidade do bem. Assim, para induzir o consumidor a consumir
n unidades, a utilidade do consumo de X deverá ser a soma dos n primei-
ros preços de reserva.
Podemos ver esse fato de maneira mais formal definindo r1 como o
primeiro preço de reserva, de modo que r1 é o preço que deixa o con-
sumidor indiferente entre consumir uma unidade do bem ou nenhu-
ma. Seja u(x1 , x2 ) = v(x1 ) + x2 tal que v(0) = 0 e normalizemos o preço
do bem 2 para 1. Então, r1 deve satisfazer u(0,m) = u(1,m − r1 ) . Logo,
v(0) + m = v(1) + m − r1 → r1 = v(1) .
Definindo r2 de maneira análoga, temos que ter u(1,m − r1 ) = u(2,m − 2r2 ) .
Substituindo na utilidade quase-linear, chegamos a r2 = v(2) − v(1) e, por
i
indução, ri = v(i) − v(i − 1) . Assim, ∑r j
= v(i) , que é exatamente a utili-
j=1
dade que se obtém ao consumir n unidades de X.
Questões 9

(1) Verdadeiro.
O benefício bruto com um bem X do consumidor dada certa quantidade
q é a área sob a curva de demanda inversa, representada pela área preen-
chida da figura. Já o benefício líquido, ou excedente do consumidor, é a
área entre a curva de demanda inversa e o preço pago pelo consumidor,
representada pela área hachurada da figura. Observe que a diferença entre
as duas áreas é justamente a despesa com o bem X.

(2) Falso.
Os conceitos de variação compensatória e variação equivalente surgiram
justamente para medir o impacto monetário de uma variação de preço.
A variação compensatória é a quantidade monetária a ser dada ao con-
sumidor para que ele fique indiferente entre o cenário antes da mudança
de preços e depois da mudança. Já a variação equivalente é a quantidade
monetária máxima que o consumidor está disposto a pagar para que os
preços voltem a ser como antes.
(3) Falso.
Pode-se provar que a variação do excedente do consumidor é uma boa
aproximação para a variação compensatória e para a variação equivalente.
Essa aproximação será tão melhor quanto menor for o efeito renda. Assim,
variações no excedente do consumidor podem ser interpretadas como
10 Microeconomia

variações no bem-estar. O item, porém, diz que tais variações podem ser
vistas como variações na utilidade, o que não é verdade, pois a utilidade é
um conceito ordinal e a diferença de utilidade pode variar diante de uma
transformação monótona na função.
(4) Falso (discordância do gabarito).
Quando a utilidade é quase-linear e o consumo dos dois bens é estritamen-
te positivo, o efeito renda será nulo quando se tem consumo estri­tamente
positivo dos dois bens. Assim, a demanda marshalliana será igual à de-
manda hicksiana e suas integrais, que definem os conceitos de variação no
excedente do consumidor; variação compensatória e variação equivalente
serão iguais.
p1x
ΔEC = ∫ x( px , p y , I )dx
px0

p1x
VC = ∫ x h ( px , p y ,u0 )dx = E( p1x , p y ,u0 ) − E( px0 , p y ,u0 )
px0

p1x
VE = ∫ x h ( px , p y ,u1 )dx = E( p1x , p y ,u1 ) − E( px0 , p y ,u1 )
px0

Note, no entanto, que, como visto na Questão 1, isso só vale se há consumo


estritamente positivo de ambos os bens. Como o item não deixa isso claro,
a alternativa é falsa.

Questão 6
Em um ano, uma empresa apresentou os seguintes dados contábeis: $ 1 mi-
lhão de receitas, $ 300 mil de compras de matérias-primas, $ 30 mil de des-
pesas com água e energia elétrica, $ 100 mil de gastos com a folha de salários
e $ 120 mil de gastos com o salário do proprietário da empresa. O empresá-
rio tem a opção de fechar sua empresa e alugar as instalações por $ 200 mil
por ano. Ele também tem duas ofertas de emprego: uma com salário anual
de $ 90 mil e outra com salário anual de $ 150 mil. O proprietário somente
pode aceitar uma dessas ofertas, caso decida fazê-lo, e seria obrigado a fe-
char seu negócio. Levando em conta essas informações e a teoria dos custos,
indique quais das afirmações a seguir são verdadeiras e quais são falsas:
(0) O custo contábil anual da empresa é de $ 550 mil.
(1) O custo econômico anual da empresa é de $ 780 mil.
(2) O lucro econômico anual da empresa é de $ 100 mil.
Questões 11

(3) Sendo racional, o proprietário deve continuar a operar sua empresa, pois
o lucro econômico é positivo.
(4) O proprietário deveria fechar sua empresa se tivesse registrado um custo
irrecuperável de $ 300 mil.

Resolução
(0) Verdadeiro.
O custo contábil é a soma das despesas ligadas a matérias-primas e fatores
de produção, como salários e capital. Neste caso, será a soma das despesas
com matérias-primas, água, energia elétrica e folha de salários, incluindo
o salário do proprietário. Fazendo os cálculos, pode-se ver que o custo
contábil anual será de $ 550 mil.
(1) Verdadeiro.
Se o empregador fechasse sua empresa, ele poderia alugar as instalações e
trabalhar sob um salário anual de $ 150 mil, auferindo, então, uma renda
anual de $ 350 mil. Em compensação, ele ainda teria que pagar pelas ma-
térias-primas já compradas, pelas contas de luz e água e pelos salários de
seus funcionários, com exceção de seu próprio salário, totalizando, assim,
$ 430 mil anual. Seu custo econômico, isto é, o custo de exercer a melhor
alternativa disponível, é, portanto, de $ 430 mil + $ 350 mil = $ 780 mil.
(2) Falso.
O lucro econômico é a diferença entre a receita e o custo econômico. As-
sim, lucro = $ 1 milhão − $ 780 mil = $ 220 mil.
(3) Verdadeiro.
Como o lucro econômico é positivo, sabemos que o lucro contábil de ope-
rar a empresa é maior do que o lucro contábil da melhor alternativa dispo-
nível, que é a de fechar a empresa, alugar o espaço e trabalhar na melhor
oportunidade que o empresário possui.
(4) Falso.
A despesa de $ 300 mil é irrecuperável; logo, independentemente de con-
tinuar ou não operando a empresa, tal valor deverá ser pago, não influen-
ciando, assim, a decisão de fechar ou não a firma.

Questão 7
Considere uma indústria perfeitamente competitiva com 300 produtores.
Desses, 200 são produtores de alto custo, cada um deles com uma curva de
12 Microeconomia

oferta de curto prazo dada por QAC = 4p, em que p é o preço de mercado.
Os 100 produtores restantes são de baixo custo, com uma curva de oferta
individual de curto prazo dada por QBC = 6p. Levando essas informações em
consideração, indique quais das afirmações a seguir são verdadeiras e quais
são falsas:
(0) A oferta do setor é dada por QS = 1800p.
(1) Se a curva de demanda for dada por QD = 6000 – 100p, o preço de equilí-
brio será de $ 6.
(2) Cada empresa de alto custo produz 10 unidades.
(3) Cada empresa de baixo custo produz 18 unidades.
(4) O excedente do produtor para o setor é de $ 14.000.

Resolução
(0) Falso.
A curva de oferta do setor é a soma das curvas de oferta individuais. Logo,
QS = 200 ⋅ 4 p + 100 ⋅6 p = 1400 p.
(1) Falso.
1400 p* = 6000 − 100 p* → p* = 4
(2) Falso.
*
QAC = 6 p* = 24
(3) Falso.
*
QBC = 4 p* = 16
(4) Falso.
QS* = 1400 p* = 5600
QS* ⋅ p*
EP = = 11200
2

Questão 8
Com relação aos ativos de risco, indique quais das afirmativas a seguir são
verdadeiras e quais são falsas:
(0) A taxa marginal de substituição entre risco e retorno tem de ser igual ao
preço do risco na escolha ótima.
(1) Se um ativo se move em direção oposta à direção dos demais ativos da
carteira, ele ajuda a reduzir o risco total da carteira.
Questões 13

(2) O beta de um ativo mede a quantidade de risco do ativo em relação ao


risco do mercado.
(3) Para uma pessoa avessa ao risco, a variância do retorno é um mal.
(4) O risco da contraparte é o risco de que a outra parte de uma transação não
pague seus compromissos.

Resolução
(0) Verdadeiro.
Na escolha ótima, a taxa marginal de substituição entre risco e retorno se
iguala à taxa pela qual o mercado está disposto a trocar risco por retorno,
r −r
isto é, o preço do risco ou índice de Sharpe, definido por p = i F , sen-
σi
do ri o retorno do ativo de risco e σ i seu desvio-padrão, enquanto rF é o
retorno do ativo livre de risco.
(1) Verdadeiro.
Representemos o retorno e o desvio-padrão do ativo em questão por ( ri ,σ i )
e w o seu peso na carteira. Representemos os outros ativos como compo-
nentes de uma única carteira ( rA ,σ A ), sendo σ Ai a covariância entre essa
carteira e o ativo i. Logo, a variância do retorno da carteira total será
σ C2 = w2σ i2 + (1− w)2 σ 2A + 2w(1− w)σ Ai
Se σ Ai < 0 , isso é, se o ativo se move em direção oposta aos demais ati-
vos da carteira considerados em conjunto, a inclusão dele necessariamente
reduzirá a variância total da carteira. Se σ ij < 0 ∀ j ≠ i , outra possível in-
terpretação do que é dito no item, ainda temos que σ Ai < 0 e o resultado
continua sendo válido.
(2) Falso (discordância do gabarito)
Cov(ri ,rM )
Pode-se mostrar que β = , sendo ri ,rM os retornos do ativo de
Var(rM )
risco em questão e do ativo representativo do mercado, respectivamente.
Logo, se o retorno do ativo for pouco correlacionado ao retorno do índice
de mercado, seu β será próximo de zero. Isso não quer dizer, no entanto,
que o ativo apresenta baixo risco, apenas que o risco do ativo é pouco in-
fluenciado pelo risco do mercado.
14 Microeconomia

O beta de um ativo, na verdade, mede a sensibilidade média do retorno em


excesso de um ativo em relação ao retorno em excesso do mercado, isto é,
E[ri − rF ] = β [rM − rF ], sendo rF o retorno do ativo livre de risco.
(3) Verdadeiro.
Pessoas avessas ao risco sempre preferem carteiras com menor variância
dado certo nível de rentabilidade. Portanto, se considerarmos o retorno de
uma carteira de ativos e sua variância como bens que o investidor/consu-
midor pode transacionar, a variância do retorno seria um mal.
(4) Verdadeiro.
Essa é exatamente a definição de risco de contraparte.

Questão 9
No mercado doméstico de um certo bem existem oito ofertantes, cada um
ofertando uma única unidade discreta, e oito demandantes, cada um de-
mandando uma única unidade discreta. Os preços de oferta de cada ofertan-
te e de demanda de cada demandante são dados nas tabelas que se seguem:

Demandante i Preço de oferta Ofertante j Preço de demanda

i=1 1 j=1 6
i=2 2 j=2 6
i=3 3 j=3 5
i=4 4 j=4 5
i=5 5 j=5 5
i=6 6 j=6 4
i=7 7 j=7 3
i=8 8 j=8 2

O bem pode ser livremente adquirido no mercado internacional ao preço


competitivo de $ 3. Suponha que, se indiferente entre comprar no mercado
doméstico ou importar, o demandante compre no mercado doméstico; o
mesmo valendo se a escolha for integralmente dentro do mercado domés-
tico, o demandante compra no mercado doméstico; se indiferente entre
importar ou não importar, o demandante importa. O governo cria uma
tarifa de importação de $ 1 por unidade. Julgue os itens a seguir:
(0) Após a tarifa de importação, a importação se reduz em duas unidades.
(1) Com a tarifa, o governo arrecada $ 3.
Questões 15

(2) O custo de eficiência da tarifa (deadweight loss) é de $ 2.


(3) Com a tarifa, o lucro do ofertante que entra no mercado doméstico graças
à política de proteção tarifária é uma transferência de renda dos importa-
dores para ele, não um acréscimo de excedente social.
(4) A parcela do custo de eficiência da tarifa arcada pela produção doméstica
se caracteriza pelo fato de que o valor pago pela sociedade pelo sacrifício
dos recursos domésticos deslocados para a produção adicional induzida
pela proteção tarifária é maior do que o valor que a própria sociedade atri-
bui a esses recursos, configurando-se, portanto, em perda social.

Resolução
Note que a questão possui alguns erros de digitação nos títulos das colunas
da tabela. Onde está demandante era para ser ofertante e vice-versa. Há
ainda uma contradição no parágrafo posterior às tabelas no que diz res-
peito a de onde o demandante compra caso seja indiferente entre importar
e consumir no mercado doméstico. As resoluções a seguir tomam como
dado que o demandante, indiferente entre comprar do mercado interna-
cional e do mercado doméstico, opta por comprar no mercado doméstico.
(0) Verdadeiro.
Ao preço $ 3, os ofertantes 1, 2 e 3 vendem uma unidade cada e os de-
mandantes 1 a 7 compram uma unidade cada. A importação é a diferença
entre unidades compradas e unidades produzidas no país, que, nesse caso,
é igual a 4. O preço de equilíbrio no mercado doméstico é $ 5, o que faz
com que cinco unidades sejam demandadas e cinco sejam ofertadas. Logo,
com a tarifa de importação, o preço continua sendo dado pelo mercado
internacional e se torna $ 4. Com a tarifa, quatro ofertantes vendem uma
unidade cada e seis demandantes consomem uma unidade cada. Assim,
duas unidades são importadas. A tarifa de importação, portanto, reduz a
quantidade importada em duas unidades.
(1) Falso.
A cada unidade importada, o governo arrecada $ 1. Assim, o total arreca-
dado é $ 2.
(2) Falso.
Como calculado no item anterior, a variação no excedente do governo é de
$ 2. Calculemos a variação no excedente do produtor e do consumidor de-
16 Microeconomia

terminando o excedente individual de cada consumidor e produtor antes


e depois da tarifa.

Ofertante Preço de oferta Excedente quando p = 3 Excedente quando p = 4

1 1 2 3

2 2 1 2

3 3 0 1

4 4 - 0

5 5 - -

6 6 - -

7 7 - -

8 8 - -

Demandante Preço de demanda Excedente quando p = 3 Excedente quando p = 4

1 6 3 2

2 6 3 2

3 5 2 1

4 5 2 1

5 5 2 1

6 4 1 0

7 3 0 -

8 2 - -

Fazendo a diferença da soma das últimas duas colunas, vemos que a varia-
ção do excedente do produtor é $ 3 e a variação do excedente do consumi-
dor é −$ 6. A variação no excedente total é, então, de −6 + 2 + 3 = −1.
(3) Verdadeiro.
O lucro do ofertante que entra no mercado em função da tarifa de im-
portação não deve ser visto como acréscimo de excedente social, mas
sim como uma transferência de excedente dos consumidores para os
produtores.
(4) Verdadeiro.
Ocorre perda social quando a sociedade valoriza mais os recursos que es-
tão sendo sacrificados para a produção doméstica adicional.
Questões 17

Questão 10
Com relação à discriminação de preços de segundo grau, assinale quais dos
itens a seguir são verdadeiros e quais são falsos:
(0) A aplicação da discriminação de preços de segundo grau não exige que a
empresa consiga evitar a revenda.
(1) A aplicação da discriminação de preços de segundo grau pressupõe que os
consumidores tenham a mesma curva de demanda.
(2) A aplicação da discriminação de preços de segundo grau pressupõe que a
empresa não consiga identificar diretamente as demandas individuais dos
consumidores antes das compras.
(3) A condição para o sucesso da discriminação de preços de segundo grau,
por meio de descontos de acordo com a quantidade adquirida, é a de que
os consumidores que compram grandes quantidades tenham demandas
relativamente mais elásticas do que os consumidores que compram peque-
nas quantidades.
(4) Diz-se haver compatibilidade de incentivos em uma estratégia de discri-
minação de preços de segundo grau quando o preço oferecido a cada gru-
po de consumidores é escolhido pelo grupo em questão.

Resolução
(0) Falso.
Toda discriminação de preços exige que a empresa consiga evitar a reven-
da. No caso da discriminação de preços de segundo grau, caso isso não
seja possível, um arbitrador compra várias unidades voltadas para o públi-
co menos disposto a pagar e as vende para o público com maior disposição
a pagar. Pense no exemplo clássico da pipoca vendida no cinema: basta
comprar os sacos de pipoca maiores, que possuem uma razão quantidade
por preço menor, e vender em pacotes menores por um preço menor do
que o vendido pela empresa.
(1) Falso.
A discriminação de preços de segundo grau exige que existam diferentes
tipos de consumidores para, então, oferecer um pacote ótimo de preço e
quantidade para cada tipo.
(2) Verdadeiro.
A discriminação de preços de segundo grau é uma solução de second-best,
uma vez que a firma não consegue extrair todo o excedente do consumi-
18 Microeconomia

dor. O melhor para a firma seria conhecer a demanda individual de cada


um dos consumidores a fim de cobrar exatamente a disposição máxima a
pagar de cada um e extrair para si todo o excedente gerado pelas transa-
ções, o que consistiria em uma discriminação de preços de primeiro grau
e seria uma solução de first-best.
(3) Verdadeiro.
Para um mesmo preço e quantidade, a disposição marginal a comprar, me-
dida pela inclinação da curva de demanda, dos consumidores com maior
elasticidade será maior do que os consumidores mais inelásticos. Logo,
seja uma situação inicial em que há somente um preço e que quantidade
demandada é igual para os dois consumidores. Só será possível aumentar
a quantidade consumida pelo consumidor mais elástico se o monopolista
oferecer um desconto para quantidades maiores tal que o consumidor me-
nos elástico não esteja propenso a aumentar sua quantidade.
(4) Verdadeiro.
Há compatibilidade de incentivos em uma discriminação de preços de se-
gundo grau quando os consumidores de determinado tipo não possuem
incentivo para escolher o pacote de preço e quantidade destinada para um
tipo diferente do seu, fazendo com que eles escolham o pacote destinado
justamente a eles.

Questão 11
Com relação à teoria de decisão sob incerteza, julgue os itens a seguir:
(0) Suponha que um indivíduo tenha utilidade Von Neumann-Morgenstern
U(W) = ln(W + 1), em que ln(W + 1) denota o logaritmo de W + 1 e em
que W seja sua riqueza aleatória. Então, sua medida relativa de aversão ao
risco de Pratt ρ(W) satisfaz lim𝑊→∞ ρ(W) = 1.
(1) Considere um indivíduo avesso ao risco, com utilidade Von Neumann-
-Morgenstern e que investe em um ativo arriscado. Se o rendimento do
ativo arriscado é taxado, então o consumidor tem um incentivo para in-
vestir menos nesse ativo.
(2) Suponha que o β (beta) de um ativo seja igual a 1,25, que o retorno de
mercado seja de 10,5% e que o retorno do ativo sem risco seja de 4,5%. O
valor esperado do ativo é de $ 56. Então, de acordo com o modelo CAPM,
o preço que esse ativo deveria ser vendido hoje é de $ 50.
Questões 19

(3) Considere o modelo média-variância e um indivíduo avesso ao risco. Su-


ponha que o retorno de mercado seja de 11%, que o retorno do ativo sem
risco seja de 5% e que a variância do ativo arriscado, como em um investi-
mento em um grande fundo mútuo de ações, seja de 25%. Então, o preço
do risco é p = 0,24.
(4) Suponha que um indivíduo tenha utilidade Von Neumann-Morgenstern e
seja neutro ao risco. Se sua riqueza é aleatória, então a utilidade esperada
da riqueza é maior que a utilidade da riqueza esperada.

Resolução
(0) Verdadeiro.
u′′(w)
ρ (w) = −w
u′(w)
1 −1
u′(w) = , u′′(w) =
1+ w (1+ w)2
w
ρ (w) =
1+ w
w 1
lim ρ (w) = lim = lim =1
w→∞ w→∞ 1+ w w→∞ 1
+1
w
(1) Falso.
A aplicação de um imposto no rendimento de um ativo arriscado aumen-
tará a quantidade investida no ativo de risco. No caso de um ativo com
dois estados, a ideia é a de que, apesar de ganhar menos no caso bom, o
investidor perde menos no caso ruim, reduzindo o risco a ele associado. O
retorno esperado menor, por sua vez, pode ser compensado aumentando-
-se a quantidade investida no ativo de risco, gerando o mesmo retorno que
tinha antes.
Suponhamos que w seja a riqueza do investidor, x a quantia investida no
ativo de risco, rg o retorno no caso bom e rb o retorno no caso ruim. Seja a
probabilidade de ocorrer o estado bom e t a alíquota de imposto. A quan-
tidade de riqueza no estado bom será WG = (1− t)[(w − x) + x(1+ rG )] = (1− t)(w +
− x) + x(1+ rG )] = (1− t)(w + xrg ) e, de modo análogo, WB = (1− t)(w + xrb ) .
A utilidade esperada será:
E[U ](x) = π u(w + x(1− t)rg ) + (1− π )u(w + x(1− t)rb )
20 Microeconomia

Maximizando em relação a x, a condição de primeira ordem nos dá que:


E[U ′](x) = π u′(w + x(1− t)rg )(1− t)rg + (1− π )u′(w + x(1− t)rb )(1− t)rb = 0
E[U ′](x) = π u′(w + x(1− t)rg )rg + (1− π )u′(w + x(1− t)rb )rb = 0
em que na segunda equação cancelamos o termo (1 – t). Chamemos de x*
a solução quando t = 0 e x̂ a solução quando t ≠ 0. Pela CPO anterior, temos:
π u′(w + x̂(1− t)rg )rg + (1− π )u′(w + x̂(1− t)rb )rb = 0
π u′(w + x *rg )rg + (1− π )u′(w + x *rb )rb = 0
Como u'(.) é estritamente decrescente, x * = (1− t) x̂ , isto é, x̂ ≥ x * , como
queríamos demonstrar.
Esta questão foi retirada de um exemplo do apêndice do capítulo “Incerte-
za” do livro de Hal R. Varian, Microeconomia: uma abordagem moderna.
7. ed. São Paulo: Elsevier, 2003.
(2) Verdadeiro.
De acordo com o modelo CAPM, para todo ativo i, tem-se ri = rF + β i (rM − rF )
E[P]
ri = rF + β i (rM − rF ). Além disso, ri = − 1 . Para o ativo dado no enunciado, temos:
P
ri = 4,5% + 1,25(10,5% − 4,5%)
ri = 4,5% + 7,5% = 12%
56 5600
1,12 = →P= = 50
P 112
(3) Falso.
O preço do risco é o retorno em excesso da carteira de mercado em relação
ao ativo livre de risco dividido pelo desvio-padrão da carteira de mercado,
r −r 0,06
isto é, p = M F = = 0,12.
σM 0,5
(4) Falso.
Se um investidor é neutro ao risco, então ele é indiferente entre participar
da loteria que define seu nível de riqueza ou receber o valor esperado dessa
loteria. Dito de outra forma, a utilidade esperada que ele obtém ao partici-
par da loteria, isto é, a utilidade esperada da riqueza, é igual à utilidade da
riqueza esperada.
A utilidade esperada da riqueza só seria maior do que a utilidade da rique-
za esperada se o investidor fosse propenso ao risco, o que não é o caso.
Questões 21

Questão 12
Com relação à economia do setor público, julgue os itens abaixo:
(0) Considere dois agentes, 1 e 2, em uma economia com um bem público e um
bem privado. O agente 1 tem utilidade 𝑈1(𝐺, 𝑥1) = 4 ln(𝐺) + 𝑥1 sobre a
quantidade G do bem público e a quantidade 𝑥1 do bem privado. Para
o agente 2, 𝑈2(𝐺, 𝑥2) = 6 ln(𝐺) + 𝑥2. Suas rendas são, respectivamente,
w₁ = 4 e w₂ = 6. Seja 𝑔𝑖 a contribuição do agente, i = 1,2 para a produ-
ção do bem público e suponha que a função de produção desse bem seja
𝐺 = 𝑔1 + 𝑔2 . Se τ 1* e τ 2* denotam as taxas de Lindahl do agente 1 e do
2 3
agente 2, respectivamente, então τ 1* = e τ 2* = .
5 5
(1) A firma A vende seu produto em um mercado competitivo, no qual a cur-
va de demanda é dada por 𝑝(𝑥) = 120 − 𝑥. A função de custo privado é
𝑐(𝑥) = 40𝑥. Entretanto, a produção de x unidades do bem gera uma exter-
nalidade negativa para a firma B de acordo com a função 𝑒(𝑥) = 𝑥2. Então,
o imposto pigouviano que induz a produção da quantidade socialmente
eficiente é de $ 40.
(2) Suponha que os direitos de propriedade estejam bem definidos e que os
custos de transação sejam nulos. Nessas condições, segundo o Teorema de
Coase, a negociação privada entre duas firmas envolvidas em uma situa-
ção de externalidades levará à alocação socialmente eficiente, desde que os
direitos de propriedade estejam alocados em favor do agente que sofre a
externalidade.
(3) Suponha que o sindicato dos caminhoneiros de um país despenda recur-
sos para fazer lobby no parlamento e, assim, implementar escolhas polí-
ticas de modo a capturar rendas mediante o subsídio ao preço do diesel.
Então, o sindicato exerce rent-seeking.
(4) A regra de votação majoritária pode apresentar o paradoxo do voto, mas
se as preferências são de pico único, então a regra de votação majoritária
aplicada a questões públicas mensuradas monetariamente (unidimensio-
nais) resultará em políticas preferidas pelo eleitor mediano.

Resolução
(0) Verdadeiro.
As taxas de Lindahl são aquelas que, aplicadas ao bem público, fazem com
que os consumidores escolham de maneira descentralizada a quantidade
22 Microeconomia

ótima de provisão do bem público. Assim, para encontrá-las, precisamos


encontrar o nível ótimo de bem público e depois resolver o problema des-
centralizado.
Encontramos o nível ótimo de bem público a partir da maximização do
problema do planejador central

⎧⎪ u (x , g) = u
máx x ,x ,G u1 (x1 , g) s.a. ⎨ 2 2
⎪⎩ x1 + x2 + G = w1 + w2
1 2

U G1 U G2
O problema nos dá como solução a Regra de Samuelson: + = C ′(G),
U 1X U X2
4 6
que aplicada ao problema resulta em *
+ * = 1→ G * = 10 . Isso signi-
G G
fica que todos os recursos da sociedade serão alocados para a provisão
de bem público, assim, g1* = 4 e g 2* = 6 . O problema descentralizado do
consumidor 1 é
máx x ,g u(x1 , g1 , g 2* ) s.a. x1 + τ 1g1 = w1
1 1

máx x ,g 4ln(6 + g1 ) + x1 s.a. x1 + τ 1g1 = 4


1 1

4
−τ * = 0
6 + g1* 1
4 2
g1* = 4 → τ 1* = =
10 5
O problema descentralizado do consumidor 2 é análogo:
máx x ,g 6ln(4 + g 2 ) + x2 s.a. x2 + τ 2 g 2 = 6
2 2

6
*
− τ 2* = 0
4 + g2
6 3
g 2* = 6 → τ 2* = =
10 5
(1) Falso.
A função de custo social é dada por c(x) = 40x + x 2 . O nível ótimo de
produção do bem ocorre quando o custo marginal social se iguala ao va-
lor marginal que a sociedade dá ao bem, isto é, ao seu preço. Portanto, no
80
ótimo, 40 + 2x * = 120 − x * e, assim, x * = .
3
Questões 23

O custo marginal privado com o imposto pigouviano é de CMg P (x) = 40 + τ


CMg P (x) = 40 + τ . No ótimo, como se trata de um mercado competitivo, o custo
80 160
marginal se iguala ao preço. Assim, 40 + τ = 120 − → τ = ≠ 40.
3 3
(2) Falso.
Segundo o Teorema de Coase, a negociação privada entre duas firmas
envolvidas em uma situação de externalidades levará à alocação social-
mente eficiente independentemente de qual firma possua os direitos de
propriedade.
(3) Verdadeiro.
O rent-seeking ocorre quando um grupo de interesse despende recursos
para tentar convencer os formuladores de políticas públicas a garantir van-
tagens econômicas como aumento de subsídios para os membros do gru-
po em detrimento do restante da sociedade, situação essa que se enquadra
no cenário descrito pelo item.
(4) Verdadeiro.
O paradoxo do voto diz que não é possível garantir que as preferências so-
ciais sejam completas e transitivas por meio de um mecanismo de votação,
mesmo que as preferências individuais sejam completas e transitivas.
Já as preferências de pico único ocorrem quando a utilidade líquida como
função do gasto do bem público apresenta apenas um ponto de máximo.
Define-se utilidade líquida como a utilidade que se obtém com determi-
nado nível de bem público descontada a desutilidade gerada pelo gasto
necessário para prover essa quantidade.
Quando se tem esse tipo de preferências individuais, o nível de gasto esco-
lhido por um sistema de votação será aquele em que metade da população
quer gastar mais e metade quer gastar menos. A intuição por trás desse
resultado é que, caso mais da metade da população quisesse um nível de
gasto maior, eles teriam votado por mais, de modo que o resultado seria
maior. Assim, o nível de gasto escolhido será aquele preferido pelo eleitor
mediano.
É importante notar que não há qualquer consideração sobre eficiência. Em
geral, preferências de pico único não conduzem à provisão ótima de bem
público. Para mais informações sobre esse tópico, ver Varian, Microecono-
mia, 9. ed., capítulo 37, seção 8.
24 Microeconomia

Questão 13
Considere duas empresas, a empresa 1 e a empresa 2, atuando de acordo
com o modelo de Bertrand com restrição de capacidade e produto homo-
gêneo. A função de demanda é dada por Q(p) = 200 – 2p, em que Q(p) é a
quantidade demandada e p é o preço. A função custo total das empresas é
dada por C(qi) = 2qi, i = 1,2, em que qi é a quantidade produzida pela em-
presa i. Seja pi o preço praticado pela empresa i, com i = 1,2. Suponha que
a restrição de capacidade produtiva para qualquer uma das duas empresas
seja de 120 unidades. Assinale quais dos itens a seguir são verdadeiros e
quais são falsos:
(0) Se p1 < p2, então o lucro da empresa 1 será igual a (p1 – 2)mín{200 – 2p1,
60}.
(1) Se p1 = p2 = 2, então o modelo está em equilíbrio.
(2) O lucro da empresa 1 será nulo se p1 > p2 e p2 > 40.
(3) O lucro da empresa 1 será igual a (p1 – 2)(200 – 2p1) se p1 > p2 e p2 < 40.
(4) O lucro da empresa 1 será (1/2)(p1 – 2)(200 – 2p1) se p1 = p2.

Resolução
(0) Falso.
Se p1 < p2 , os consumidores preferirão comprar da firma 1 até que sa-
tisfaçam sua demanda ou a firma 1 não seja capaz de produzir uni-
dades adicionais em razão da restrição de capacidade. A quantida-
de demandada é maior que a restrição de capacidade da firma 1, se o
preço for menor do que 40 por unidade. Logo, a quantidade vendida
pela firma 1 será q1 = 200 − 2 p1 , p1 > 40 e q1 = 120, p1 ≤ 40 . Observe
que para p1 > 40,q1 < 120 e, assim, podemos representar a quantida-
de vendida como q1* = mín{200 − 2 p1 ,120}. O lucro é, então, dado por
π 1 = ( p1 − 2)q1* = ( p1 − 2)mín{200 − 2 p1 ,120}.
(1) Falso.
O modelo está em equilíbrio se nenhuma das firmas tem incentivo a des-
viar. No caso da firma 1, isto equivale a dizer que a função melhor respos-
ta, dado p2 = 2, é fazer p1 = 2 .
Como as firmas são iguais, é razoável supor que a quantidade vendida por
ambas será igual quando p1 = p2 = 2 . Logo, q1 = 98 → π 1 = 0 . A firma 1
Questões 25

não desviará para preços inferiores, uma vez que resultaria em lucros ne-
gativos dado o custo marginal ser igual a 2.
Se a firma 1 escolher um preço maior do que 2, a firma 2 venderá até atin-
gir sua restrição de capacidade, que é de 120 unidades. Assim, a demanda
residual para a firma 1 será de QR = 80 − 2 p . Como a firma 1 é a única
ofertante dentro dessa demanda residual, ela atuará como monopolista.
Basta, então, encontrar a produção de monopólio.
máx p (80 − 2 p) p − 2(80 − 2 p), p ≤ 40
[ p] :80 − 4 p + 4 = 0 → p* = 21
A resposta ótima da firma 1 é diferente de 2, fazendo com que p1 = p2 = 2
não seja um equilíbrio.
(2) Verdadeiro.
Se p2 = 40 , a demanda para a firma 1 será nula se p1 > p2 . Portanto, para
p1 > p2 > 40, a demanda continuará sendo nula. A firma 1 não produzirá
nenhuma unidade, tendo, assim, lucro zero.
(3) Falso.
Como feito no item (1), se p1 > p2 , p2 < 40 , o lucro da firma será de
π 1 = (80 − 2 p1 )( p1 − 2), p1 ≤ 40.
(4) Verdadeiro.
Como as firmas são iguais, é razoável supor que as quantidades vendidas
por cada uma delas serão iguais, caso pratiquem os mesmos preços. Ob-
serve que, mesmo com as restrições de capacidade, as duas firmas jun-
tas são capazes de atender todo o mercado, portanto, q1 < 120 e, como
Q 1 1
q1 = = (200 − 2 p1 ), o lucro da firma 1 será π 1 = ( p1 − 2)(200 − 2 p1 ).
2 2 2

Questão 14
Considere o dilema dos prisioneiros dado pelo jogo a seguir, em que C =
“cooperar” e N = “não cooperar”:

Jogador 2
C N
C 8,8 2 , 10
Jogador 1
N 10 , 2 4,4
26 Microeconomia

O jogo é repetido infinitamente, com estratégia de punição do tipo


Trigger, ou seja, o Equilíbrio de Nash do jogo estático, que é Pareto-
-inferior, é jogado para sempre em caso de desvio de um jogador. Seja
δ 0 ∈(0,1) o menor fator de desconto intertemporal tal que, para qual-
quer fator de desconto intertemporal δ ∈(δ 0 ,1), a cooperação no jogo
infinitamente repetido pode ser implementada como equilíbrio perfei-
to de subjogo. Suponha que a verdadeira taxa de desconto intertem-
δ +1
poral dos jogadores seja δ = . Como o jogo é simétrico, o valor
2
presente 𝑉(𝛿) do fluxo de payoffs, descontado à taxa 𝛿, no equilíbrio
perfeito de subjogo do jogo infinitamente repetido, é o mesmo para
cada jogador. Determine 𝑉(𝛿).

Resolução
O valor presente dos payoffs para um jogador caso os dois jogadores coo-
8
perem é 8 + 8δ + 8δ 2 + ... = .
1− δ
Se um dos jogadores desviar, ele obterá um payoff de 10 no período em
que houve o desvio e 4 nos períodos seguintes. Assim, o valor presente dos

payoffs será 10 + 4δ + 4δ 2 + ... = 10 + .
1− δ
8 4δ
O jogador não desvia se ≥ 10 + . Rearranjando a inequação e
1− δ 1− δ
sabendo que δ < 1, isto é, o mesmo que 8 ≥ 10 − 6δ , o menor valor de δ
que torna essa desigualdade verdadeira é justamente quando ela vale com
1
igualdade, que é δ 0 = .
3
Substituindo na fórmula dada pelo enunciado, obtemos a verdadeira taxa
de desconto intertemporal.
1 1 1 2
δ= ⋅ + =
3 2 2 3
Como δ > δ 0 , sabemos que os jogadores não desviarão e podemos, então,
calcular o valor presente do fluxo de payoffs:
8
V (δ ) = = 24
2
1−
3
Questões 27

Questão 15
Um consumidor tem utilidade u(x, y) = xy e renda r = 85. O vetor de pre-
ços no período t = 0 é ( p0 ,q0 ) = (25,4) e no período t = 1 é ( p1 ,q1 ) = (18,8) .
Determine a variação compensatória.

Resolução
A variação compensatória é igual a VC = e( p1 ,q1 ,u0 ) − e( p0 ,q0 ,u0 ), em que
e( p,q,u) é a função dispêndio e u0 é a utilidade que o consumidor ob-
tém aos preços ( p0 ,q0 ) e renda r. Temos, então, que resolver o problema
do consumidor e obter as demandas marshallianas. Após isso, construir a
função utilidade indireta, achar a função dispêndio e então obter a varia-
ção compensatória.
Como u é uma Cobb-Douglas com α e β iguais a 0,5, a solução será ne-
cessariamente interior e, no ótimo, o consumidor gastará metade de sua
renda em cada bem. Assim, temos que a demanda marshalliana será:
r * r
x* = ,y =
2p 2q
Substituímos na função utilidade e obtemos a utilidade indireta:

r r
V=
2 p 2q
r
V ( p,q,r) =
2 pq
Podemos calcular a utilidade que o consumidor obtém aos preços iniciais
17
substituindo na função utilidade indireta, assim, u0 = V (25,4,85) = .
4
Isolando r na utilidade indireta, obtemos a função dispêndio:
e( p,q,u) = 2u pq
Calcula-se, então, a variação compensatória:
17 17
VC = e(18,8, ) − e(25,4, )
4 4
17
VC = ( 18⋅8 − 25⋅ 4)
2
17 17
VC = (12 − 10) = ⋅ 2 = 17
2 2

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