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TERCEIRA AULA - Microeconomia

Departamento de Economia, UnB


Prof. José Guilherme de Lara Resende

1 O Problema (Primal) do Consumidor


1.1 O Problema
1.1.1 Duas Informações
As preferências  e o conjunto de possibilidade de consumo B contêm informações distintas sobre
o consumidor.

• As preferências ou as utilidades refletem o gosto do consumidor, sem considerar o que de


fato pode ser adquirido.

• A reta orçamentária reflete as possibilidades de compra do consumidor, sem considerar suas


preferências.

O problema (primal) do consumidor combina esses dois conceitos, ao caracterizar esse problema
como a maximização da utilidade sujeita à restrição orçamentária.

1.1.2 Caracterização do Problema


O problema do consumidor pode ser escrito como achar a cesta x∗ ∈ B tal que

x∗  x para todo x ∈ B. (1)

Vamos supor:
Hipótese 1.2 A relação de preferências  é completa, transitiva, contı́nua, estritamente monótona
e estritamente convexa em Rn+ .
Portanto, pelos teoremas 1.1 e 1.3,  pode ser representada por uma função de utilidade u contı́nua,
estritamente crescente e estritamente quasicôncava em Rn+ .

1.1.3 O Conjunto de Possibilidade de Consumo


Hipóteses sobre B:

1. Preços são positivos (p >> 0);

2. Preços são fixos;

3. Restrição orçamentária é linear;

4. Renda é exógena.

Nesse caso, temos que B = {x ∈ Rn+ , px ≤ y}.

1
1.1.4 Resolvendo o Problema
Se a hipótese 1.2 é válida, o problema do consumidor pode ser formulado de modo equivalente
como:
maxn u(x) tal que px ≤ y (2)
x∈R+

O consumidor escolhe os bens que maximizam a sua utilidade e que estão dentro da sua possibil-
idade de consumo (satisfazem a sua restrição orçamentária).
Se x∗ é solução do problema (2), então x∗ é solução do problema (1). O contrário também vale.

1.1.5 Encontrando a Solução


1. B 6= ∅, B é fechado e limitado (todos os preços são positivos), e convexo.

2. u : Rn+ −→ R é contı́nua, estritamente crescente e estritamente quasicôncava.

Pelo Teorema de Weierstrass, u(x) tem pontos extremos.


Como u(x) é estritamente crescente, a restrição orçamentária é satisfeita com igualdade.
E como u(x) é estritamente quasicôncava, a solução do problema (1) é única.

1.1.6 Demanda Marshalliana


Como a solução para o problema do consumidor existe e é única, podemos denotar essa solução
em função dos parâmetros do problema, p e y:

x∗ = x(p, y) (3)

Portanto, para cada bem, a sua demanda depende da renda e de todos os preços da economia:

x∗i = xi (p, y), para todo i = 1, ..., n (4)

A função x∗i = xi (p, y) é a demanda Marshalliana do bem i.

1.1.7 Resolvendo o Problema


Para resolver o problema do consumidor, usamos o método de Kuhn-Tucker. O Lagrangeano do
problema é:

L = u(x) + λ(y − px),

onde λ é o multiplicador de Lagrange.


Se x∗ >> 0, as condições de primeira ordem (CPO) desse problema são:

∗ ∂u(x∗ )


 λ p 1 = ∂x1
...

∗) (5)
 λ∗ pn = ∂u(x ∂x
 y = p x∗ + ... +n p x∗


1 1 n n

2
1.1.8 Resolvendo o Problema
As CPO (5) são apenas necessárias para a solução. Essas condições são suficientes se o problema
do consumidor satisfaz as hipóteses do teorema abaixo.
Teorema 1.4 Suponha que u(x) é contı́nua e quasicôncava em Rn+ , e que (p, y) >> 0. Se u é
diferenciável em x∗ e (x, λ) >> 0 é solução de (5), então x∗ é solução do problema do consumidor
(problema (2)).

1.1.9 TMS igual Relação de Preços


Se dividirmos a CPO de i pela de j, obtemos:
∂u(x∗ ) ∂u(x∗ )
pi
∂xi
∂u(x∗ ) = pj
ou − ∂xi
∂u(x∗ ) = − ppji
∂xj ∂xj

O lado esquerdo da equação acima é a TMS, que representa o valor marginal do bem i em termos
do bem j (inclinação da curva de indiferença).
O lado direito dessa equação é o custo de mercado do bem i em termos do bem j (a inclinação da
reta orçamentária).
A equação acima diz que o valor marginal do bem i em termos do bem j deve ser igual ao custo
marginal do bem i em termos do bem j.

1.1.10 Solução Gráfica


Para o caso de dois bens, a equação anterior tem a seguinte interpretação gráfica: no ponto
ótimo de consumo, a inclinação da curva de indiferença nesse ponto (que mede a TMS) é igual à
inclinação da reta orçamentária (que mede a taxa de troca de mercado dos dois bens).
Resumidamente, o consumidor tenta alcançar a curva de indiferença mais alta (que representa
um nı́vel de satisfação maior) possı́vel, isto é, que possua alguma cesta de bens factı́vel (que o
consumidor possa comprar). Essa curva é a que tangencia a reta orçamentária. Qualquer curva
de indiferença que dê um nı́vel de satisfação mais alto já não inclui nenhuma cesta de bens que
possa ser comprada.

1.1.11 Representação Gráfica


x2
6
Solução do
Q
Q Problema do Consumidor
Q
Q r
AQ
Q
Q
Q
Q
Q rE
Q
Q
Q
Q
Q
Qr
Q
B Q
Q
Q
Q-
x1

3
1.2 Demandas Marshallianas
1.2.1 Encontrando as Demandas
As CPO representam n+1 equações em n+1 variáveis, x1 , ..., xn e λ. A solução dessas equações do
problema do consumidor são as demandas Marshallianas dos bens (e o multiplicador de Lagrange),
funções dos preços e do nı́vel de renda:

xM M
i = xi (p, y), para todo i = 1, ..., n
λM = λM (p, y)
Nota: A dependência de xi em p e y e não diretamente na quantidade de outros bens não implica
que a escolha de consumo do bem i não dependa da escolha de consumo de outros bens, mas
apenas que a escolha desses outros bens está implicitamente incorporada na solução de xi .

1.2.2 Encontrando as Demandas - II


Por exemplo, a ligação entre a escolha das quantidades ótimas de café e de açúcar não é capturada
expressando a demanda de açúcar como função da demanda de café, mas por meio do efeito que
o preço do café tem na demanda por café e indiretamente na demanda por açúcar. Portanto, ao
medir o efeito de uma mudança de preço do café na demanda por café implicitamente se incorpora
o ajustamento que ocorre com a demanda de açúcar (por exemplo, um aumento no preço do café
pode causar uma diminuição no consumo de açúcar).

1.2.3 Encontrando as Demandas - III


A receita básica para achar essas funções é a seguinte (funciona quase sempre...):

1. Invertemos as duas primeiras CPO para achar x1 , x2 como funções dos preços e do multipli-
cador de Lagrange λ.

2. Substituı́mos esses valores para x1 , x2 na última CPO (a reta orçamentária) para achar λ
como função dos preços e da renda.

3. Substituı́mos esse valor de λ nas equações originais para x1 , x2 , o que nos dá as funções de
demanda Marshallianas.

1.2.4 Diferenciabilidade das Demandas


Teorema 1.5 Suponha que x∗ é a solução do problema (2) aos preços p0 >> 0 e renda y 0 > 0.
Se

• u é duas vezes diferenciável em Rn++ ;

• ∂u(x∗ )/∂xi > 0 para algum i = 1, ..., n;

• o Hessiano orlado de u é não singular em x∗ ,

então x(p, y) é diferenciável em (p0 , y 0 ).

Prova: Ver Debreu.

4
1.2.5 Utilidade Cobb-Douglas
O problema do consumidor com utilidade Cobb-Douglas é:

max xα1 x1−α


2 s.a p1 x1 + p2 x2 = y (α ∈ (0, 1))
x1 ,x2

Para resolver esse problema, montamos o Langrageano:

L = xα1 x1−α
2 + λ(y − p1 x1 − p2 x2 ),

As funções de demanda são dadas por:


y
x1 (p1 , p2 , y) = α
p1
y
x2 (p1 , p2 , y) = (1 − α)
p2

1.3 Casos Especiais


1.3.1 Quando o Método de Lagrange Não se Aplica
O método do Lagrangeano assume uma série de condições que nem sempre são satisfeitas.
Dois casos onde não podemos usá-lo:

1. Bens substitutos perfeitos (utilidade linear),

2. Bens complementares perfeitos (utilidade de Leontieff).

Como achar as demandas quando não podemos usar o Lagrangeano? A análise deve então ser
feita caso a caso. Para os dois exemplos abaixo (e na maioria dos casos de apenas dois bens), a
solução gráfica pode ajudar a achar as demandas. Vamos analisar esses exemplos agora.

1.3.2 Bens Substitutos Perfeitos


Dois bens são substitutos perfeitos se o consumidor aceita substituir um pelo outro a uma taxa
constante.
Exemplos: gasolina e álcool (para quem possui carro flex), Manteiga e margarina (para algumas
pessoas).
Se x1 e x2 são bens substitutos, a função de utilidade que representa essa relação é:

u(x1 , x2 ) = ax1 + bx2 , a > 0, b > 0

Os números a e b não tem significado isolado, porém determinam a taxa de substituição entre
os bens.

5
1.3.3 Curvas de Indiferença - Bens Substitutos
x2
6
Reta Orçamentária Curvas de Indiferença
m
p2 rE  u(x1 , x2 ) = x1 + x2
@
A
A@ Suponha que p1 = 2p2
A @
 Qual a solução?
@ A @
@A @
@A @
@ @ A @
@ A@ @
@ A @
@  @ A@ @
@ @
@A  @ @
@  @A  @
@@ @
@
@A @ -
m x1
p1

1.3.4 Bens Substitutos Perfeitos


A cesta de bens ótima é do consumidor que deseja escolher entre bens substitutos perfeitos é
consumir nada do bem mais caro e comprar somente o bem mais barato.
Então as funções de demanda serão:

 y/p1 , se p1 < p2
M
x1 (p1 , p2 , y) = qq coisa entre 0 e y/p1 , se p1 = p2
0, se p1 > p2


 0, se p1 < p2
xM 2 (p ,
1 2p , y) = qq coisa entre 0 e y/p2 , se p 1 = p2
y/p2 , se p1 > p2

1.3.5 Bens Substitutos Perfeitos


As demandas podem também ser achadas usando o método de Kuhn-Tucker. Nesse caso, as
restrições de folga devem ser checadas. Esse problema também pode ser resolvido por PL.

1.3.6 Bens Complementares Perfeitos


Dois bens são complementares perfeitos se consumidos conjuntamente, em proporções fixas.
Exemplo: sapato do pé esquerdo e sapato do pé direito (são tão complementares que sapatos
são sempre vendidos aos pares...), carro e gasolina, café e açúcar.
Se x1 e x2 são bens complementares perfeitos, a função de utilidade que representa essa relação
é dada por
u(x1 , x2 ) = min {ax1 , bx2 } , a > 0, b > 0
Os números a e b dizem o grau de complementaridade dos bens. No caso de sapatos, a = b = 1.
No caso de café e açúcar, se você usa três colheres de açucar (bem x1 ) para uma xı́cara de café
(bem x2 ), então a = 3b.

6
1.3.7 Curvas de Indiferença - Bens Complementares
x2
6 Curvas de Indiferença
u(x1 , x2 ) = min{x1 + x2 }
Suponha que p1 = 2p2

Qual a solução? =⇒ E
m 
p2 HH
HH
E
r
H
HH
HH
HH 
H
 HH
H
HH
H
H -
m x1
p1

1.3.8 Bens Complementares Perfeitos


A cesta de bens ótima é consumir quantidades iguais do bem (quando a = b = 1).
Por que essa é a solução? Exatamente porque os bens são complementares perfeitos: não há como
substituı́-los: se a = b = 1, então u(x1 , x2 ) = min {x1 , x2 }, e o consumidor compra os dois bens em

quantidades iguais, independente da relação de preços. Portanto, xM M
1 = x2 = x e, substituindo
na reta orçamentária, achamos:
y
xM M
1 (p1 , p2 , y) = x2 (p1 , p2 , y) =
p1 + p2

1.4 Condições de Segunda Ordem


1.4.1 Graficamente
A propriedade de preferências estritamente convexas garante que as condições de segunda ordem
(CSO) sejam satisfeitas. Para o caso de dois bens, é fácil ver graficamente que a solução do
problema do consumidor achada usando as CPO será única e de fato um máximo:
x2
6
Q
Q
Qr
Q
AQ
Q
Q
Q E Solução do
Qr Problema do Consumidor
Q
Q
Q
Q
Qr
BQQ
Q-
x1

7
1.4.2 Caso de Dois Bens
Algebricamente, as CSO são obtidas do Hessiano orlado (ou Hessiano com borda) da função de
Lagrange. Para o caso de dois bens, o Hessiano orlado é:
 ∂2L ∂2L ∂2L
  
∂λ 2 ∂λ∂x1 ∂λ∂x2
0 −p 1 −p 2
 ∂2L ∂2L ∂2L   −p1 ∂2L ∂2L
HO =  ∂x ∂λ ∂x ∂x  = 

1 ∂x 2
1 1 ∂x2
2 ∂x1 ∂x2  1
∂2L ∂2L ∂2L ∂2L ∂2L
∂x2 ∂λ ∂x2 ∂x1 ∂x22
−p2 ∂x2 ∂x1 ∂x22

Para o caso de dois bens, as CSO são satisfeitas se o determinante do Hessiano orlado, calculado
no ponto ótimo, for positivo. Nesse caso, é garantido que as demandas encontradas usando as CPO
são de fato um máximo para o problema do consumidor.

1.4.3 Caso de Dois Bens


Qual é o valor do determinante do Hessiano Orlado acima? O Lagrangeano do problema é:

L = u(x1 , x2 ) + λ (m − p1 x1 − p2 x2 ) ,

As CPO fazem com que p1 = u1 /λ e p2 = u2 /λ , onde ui = ∂u/∂xi , i = 1, 2. Substituindo


todas essas expressões no Hessiano orlado, temos:
 
0 −u1 /λ −u2 /λ
1
u12  = 2 2u1 u2 u21 − u22 u11 − u21 u22

det  −u1 /λ u11
λ
−u2 /λ u21 u22

A CSO é satisfeita se o determinante for maior do que zero. Como λ2 é sempre maior do que
zero, podemos simplificar a condição acima para:

2u1 u2 u21 − u22 u11 − u21 u22 > 0

1.4.4 Bens Complementares Perfeitos


Exemplo: Utilidade Cobb-Douglas: u(x1 , x2 ) = xα1 x21−α , α ∈ (0, 1). As derivadas primeiras e
segundas dessa função são:

u1 = αxα−1
1 x1−α
2 >0
α −α
u2 = (1 − α)x1 x2 > 0
u11 = α(α − 1)xα−2
1 x21−α < 0
u21 = u12 = α(1 − α)xα−1
1 x−α
2 > 0
α −α−1
u22 = −α(1 − α)x1 x2 <0

É fácil verificar que 2u1 u2 u21 − u22 u11 − u21 u22 é positivo quando 0 < α < 1. Nesse caso, as CSO para
a maximização da utilidade Cobb-Douglas são satisfeitas: as demandas achadas usando as CPO são de
fato a solução (maximizam a utilidade) do problema do consumidor.

8
1.4.5 Caso Geral
No caso geral de n bens, os determinantes dos menores principais do Hessiano orlado devem alternar
sinais. Por exemplo, no caso de quatro bens devemos ter que:

−p1 −p2
 
0
2
∂ L 2
∂ L
det  −p1 ∂x1 ∂x2  > 0
 
∂x21
2L ∂2L
−p2 ∂x∂2 ∂x 1 ∂x22
 
0 −p1 −p2 −p3
 −p1 ∂2L ∂2L ∂2L 
 ∂x21 ∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x3 
det 
 ∂2L ∂2L ∂2L
<0
 −p 2 ∂x 2 ∂x 1 ∂x22 ∂x 2 ∂x3 

2 L 2
∂ L 2
∂ L
−p3 ∂x∂3 ∂x 1 ∂x3 ∂x2 ∂x23
 
0 −p1 −p2 −p3 −p4
 −p ∂2L ∂2L ∂2L ∂2L 
 1 ∂x 2 ∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x3 ∂x1 ∂x4 
1
∂2L ∂2L ∂2L ∂2L
 
det  −p2 ∂x2 ∂x1 ∂x2 ∂x4  > 0
 
∂x22 ∂x2 ∂x3
2L ∂2L ∂2L ∂2L
 −p3 ∂x∂ ∂x
 
2
∂x ∂x ∂x ∂x

 3 1 3 2 ∂x3 3 4 
2 L 2
∂ L 2
∂ L 2
∂ L
−p4 ∂x∂4 ∂x 1 ∂x4 ∂x2 ∂x4 ∂x3 ∂x2
4

1.4.6 Caso Geral


O caso de n bens segue o mesmo padrão de alternância do sinal dos determinantes dos menores principais
do Hessiano orlado, no caso de um máximo.
Porém, no caso de um mı́nimo, os determinantes dos menores principais do Hessiano orlado devem ser
todos negativos.

1.4.7 Caso Geral com m Restrições


Se existem m < n restrições, o Hessiano orlado tem orla formado pelas m restrições.
A mesma regra se aplica, calculando-se os determinantes a partir dos menores principais de tamanho
(m + 1) × (m + 1) em diante, e usando a mesma regra de alternância de sinal para um máximo e a mesma
regra de determinantes negativos para um mı́nimo.

2 Propriedades das Demandas Marshallianas


2.1 A Função de Utilidade Indireta
2.1.1 A Função de Utilidade Indireta
A função de utilidade indireta, v : Rn+ × R+ −→ R, é definida como:
v(p, y) = maxn u (x) sujeito à px ≤ y.
x∈R+

A função de utilidade indireta está bem definida (teorema de Weierstrass). A função de utilidade indireta
diz qual o máximo de utilidade alcançável aos preços p e renda y.

Se a solução do problema do consumidor for única (caso de u estritamente quasicôncava), então temos
que:
v(p, y) = u(x(p, y))

9
2.2 Propriedades
2.2.1 Teorema 1.6
Teorema 1.6 Se u(x) é contı́nua e estritamente crescente em Rn+ , então v(p, y) é:
1. Contı́nua em Rn++ × R+ ,

2. Homogênea de grau 0 em (p, y),

3. Estritamente crescente em y e decrescente em p.

4. Quasiconvexa em (p, y),

5. Satisfaz a identidade de Roy: Se v(p, y) é diferenciável em (p0 , y 0 ) e ∂v(p0 , y 0 )/∂y 6= 0, então:

∂v(p0 , y 0 )/∂pi
xi (p0 , y 0 ) = − , i = 1, ..., n. (6)
∂v(p0 , y 0 )/∂y

2.2.2 Continuidade
A função de utilidade indireta é contı́nua nos preços e na renda.

Prova: Conseqüência do Teorema do Máximo.

2.2.3 Homogeneidade
As funções de demanda e a função de utilidade indireta são homogêneas de grau 0 nos preços e na renda:

xi (tp, ty) = xi (p, y), ∀t > 0, ∀i = 1, 2


v(tp, ty) = v(p, y) ∀t > 0

Lembre-se que se aumentarmos todos os preços e a renda pelo mesmo fator, nada muda na restrição
orçamentária. Portanto, o problema do consumidor permanece inalterado e as funções de demanda e a
utilidade máxima alcançável serão as mesmas.

2.2.4 Utilidade Indireta


A função de utilidade indireta é decrescente nos preços e estritamente crescente na renda:

Se p0 ≥ p, então v(p0 , y) ≤ v(p, y)


Se y 0 > y, então v(p, y) < v(p, y 0 )

Essa propriedade é natural: se os preços aumentam, a utilidade máxima possı́vel vai cair ou permanecer
a mesma. Se a renda aumenta, a utilidade máxima possı́vel necessariamente aumenta (supondo mais é
sempre melhor).

2.2.5 Multiplicador de Lagrange


O multiplicador de Lagrange mede a utilidade marginal da renda:
∂v(p, y)
λ= >0
∂y
Portanto, λ mede o aumento na utilidade máxima alcançável causado por um aumento de 1 Real na
renda.

10
2.2.6 Identidade de Roy
4. Identidade de Roy. A identidade de Roy conecta a demanda Marshalliana com a função de utilidade
indireta:
xi (p, y) = − ∂v/∂p
∂v/∂y
i

A identidade de Roy conecta a utilidade indireta com as funções de demanda Marshallianas. Se em algum
problema for dada a utilidade indireta, podemos calcular as demandas usando essa identidade.

2.3 Curva de Demanda


2.3.1 Lei da Demanda
As curvas de demanda são (quase sempre!) negativamente inclinadas: se o preço do bem aumenta,
compramos menos desse bem. Essa propriedade é chamada de lei da demanda.
Lei da Demanda: Para qualquer bem ou serviço, a lei da demanda afirma que se consume mais quando
o preço diminui (ou que se consume menos quando o preço aumenta), mantendo todo o resto constante
(condição de ceteris paribus).

Observações:
• Dizer que a demanda é negativamente inclinada ou que o valor marginal de um bem é decrescente
é a mesma coisa.
• Exceções são chamados de Bens de Giffen.

2.3.2 Curva de Demanda


quantidade
6

@
@
@
@ Curva de Demanda
@
@
@
@
@
@
@
@

-
preço

2.3.3 Qualificação Importante


A condição ”mantendo todo o resto constante” é fundamental. Muitos exemplos de supostos bens de
Giffen na verdade são exemplos onde alguma outra variável além do preço também mudou.
Exemplo: suponha que o preço do vinho Ivre é R$120. A vinı́cola que produz esse vinho comprou mais
terras ano passado e teve uma excelente safra de uvas. Ela resolve então baixar o preço do vinho para
R$40. Porém, a vinı́cola descobre que a quantidade vendida de vinho caiu após o preço baixar. Isso é
uma violação da lei da demanda?

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2.3.4 Interpretando a curva de demanda
Existem duas formas de se interpretar a curva de demanda:
1) Você me diz o preço, eu digo a quantidade que quero. Essa é a forma comum de ver a função demanda.
Para cada preço, sabemos qual será a quantidade demandada pelo consumidor.
2) Você me diz a quantidade, eu digo o valor marginal de mais uma unidade.

2.3.5 Função de Demanda Inversa


A função de demanda inversa p(x) mede a relação do valor marginal com a quantidade consumida: quanto
o consumidor está disposto a pagar pela última unidade x consumida.
A função de demanda inversa é muito usada em economia. Por exemplo, quando estudamos o problema de
decisão de produção de um monopolista, consideramos que o monopolista sabe que pode afetar os preços
escolhendo o seu nı́vel de produção. Ou seja, ele sabe que o preço depende da quantidade produzida, e
que essa relação é descrita pela função de demanda inversa.

2.3.6 Curva de Demanda Inversa


preço
6
@
@
@ Curva de Demanda Inversa
@
@
@
@
@
@
-
quantidade

2.3.7 Mudanças na Curva de Demanda


Quando estudamos o que ocorre com a quantidade demandada quando o preço do bem varia, todo o resto
constante, estamos estudando uma mudança ao longo da curva de demanda.
A quantidade de um bem a ser demandada é uma função do preço do produto e de uma série de outros
fatores, como os preços de outros bens e a renda, expressos explicitamente na função de demanda e também
de fatores implı́citos, como o tamanho da população, a renda per capita, os gostos, a expectativa sobre
preços futuros, o clima, etc. Enquanto todos esses outros determinantes da demanda não se alterarem,
uma mudança no preço do produto irá acarretar uma mudança na quantidade demandada.

2.3.8 Curva de Demanda


preço
6
@ @
I
@@
@ @ Mudança de Preço
@@
@@
@@
@@R
@
@@
-
quantidade
12
2.3.9 Mudanças na Curva de Demanda
Porém, se algum dos outros determinantes da demanda mudar, o resultado será um deslocamento de toda
a curva de demanda, que pode gerar tanto um aumento como uma queda da quantidade demandada para
cada nı́vel de preço, dependendo da direção do deslocamento. A figura abaixo ilustra essa situação.
Por exemplo, a demanda de sorvete depende do clima. Quando faz muito calor, a curva de demanda se
desloca para fora: mais sorvetes são consumidos a cada nı́vel de preço. Se faz muito frio, a demanda se
desloca para dentro: menos sorvetes são consumidos a cada nı́vel de preço.

2.3.10 Curva de Demanda


preço
6
@
@ @ Mudança de Outra Variável
@
@
@
@
(Diferente do Preço)
@ @
@
@  @
@
@ @
@ @
@ @
@ @
@
@
@

-
quantidade

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