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Aula 5

Microeconomia 1 – UnB (graduação)

Problema do Consumidor

2023/2
O problema do consumidor

Problema do consumidor
Dados os preços dos bens p = (p1 , . . . , pN ), e a sua renda w ∈ R,
escolher a cesta que prefere entre as que são factíveis. Podemos
expressar tanto em termos de preferência quanto de utilidade que
representa a relação de preferência.

Problema P≽ Encontrar x ∗ ∈ B(p, w ) tal que x ∗ ≽ x para todo


x ∈ B(p, w ).

Problema Pu Encontrar a cesta x ∗ que resolve o problema de


otimização abaixo.

max u(x)
x∈RN
+

s.a. x ∈ B(p, w ).
etaO orçamentária.
problema doAssim, a cesta(cont.)
consumidor (x*1, x*2) é a melhor que o consumido
.

RA 5.1 Escolha ótima. A posição ótima


Figura: Varian de consumo situa-se onde a
(livro)
iferença tangencia a reta orçamentária.
O problema do consumidor (cont.)

Perguntas importantes sobre o problema


1 Existe solução para o problema do consumidor? Se existe,
como encontrar?
2 A solução, quando existe, é única? Ou seja, é possível falar em
uma demanda “exata” do consumidor dados os preços e renda?
3 Quando existe, a solução está sobre a linha orçamentária?
4 Como a solução do problema do consumidor depende das
variáveis exógenas (preços e renda)?
O problema do consumidor (cont.)

Proposição 1
Seja X = R2+ e p1 , p2 , w ≥ 0 dados. Suponha que ≽ pode ser
representada por uma função de utilidade u : R2+ → R.
(a) Se u é contínua e p1 , p2 > 0, então existe solução para o
problema Pu .

(b) Se u é uma função estritamente quase-côncavaa , então a


solução de Pu , quando existir, é única.

(c) Se u é uma função monótona no sentido de x ≥ y e x ̸= y


implicarem u(x) > u(y ), então qualquer solução de Pu está
sobre a linha orçamentária.
a
I.e., u(x) = u(y ) com x ̸= y e λ ∈ (0, 1) implicam
u(λx + (1 − λ)y ) > u(x).
O problema do consumidor (cont.)

Observação
A proposição anterior se aplica também para o caso com N bens
em geral ao invés de apenas dois.

Ideia da demonstração.
Item (a). Segue de um resultado chamado de Teorema de
Weierstrass segundo o qual uma função contínua em um conjunto
compacto tem um ponto de máximo e de mínimo.
Item (b). Se x e x ′ são ambos solução, então u(x) = u(x ′ ). Como
definindo x̂ = (1/2)(x + x ′ ) temos (1/2)(p1 x1 + p2 x2 )
+(1/2)(p1 x1′ + p2 x2′ ) ≤ (1/2)(w + w ) = w , segue que x̂ ∈ B(p, w )
e u(x̂) > u(x), uma contradição.
Item (c). Se px1 + px2 < w , para ϵ > 0 “pequeno” no sentido de
ϵ < w −px 1 +px2
p1 +p2 temos u(x + (ϵ, ϵ)) > u(x).
Exemplos
Exemplo (Substitutos perfeitos)
Suponha que u(x) = ax1 + bx2 . Queremos resolver:

max ax1 + bx2


x∈RN
+

s.a. p1 x1 + p2 x2 ≤ w .

Suponha que a, b, p1 , p2 , w > 0.


1 A utilidade cresce de forma estrita em cada bem em separado,
qualquer solução está sobre a linha orçamentária.
2 Se x ∗ é solução com x1∗ , x2∗ > 0, então não existe h ∈ R2 com

p1 h1 + p2 h2 ≤ 0
ah1 + bh2 > 0.
p1 a
Logo (?) existe λ ≥ 0 tal que a = λp1 e b = λp2 : p2 = b
Exemplos (cont.)
Exemplo (Substitutos perfeitos (cont.))
3 Se x1∗ = 0, então não existe h ∈ R2 com

p1 h1 + p2 h2 ≤ 0
−h1 ≤ 0
ah1 + bh2 > 0.

Logo (?), existem λ1 , λ2 ≥ 0 tais que


     
a −1 p
= λ1 + λ2 1
b 0 p2
b
Assim, a ≤ λ2 p1 e λ2 = p2 , e

a p1
≤ .
b p2
quantidades dos bens 1 e 2 que satisfizerem a restrição orçamentária serão uma escolh
ótima. Assim, a função demanda do bem 1 será
Exemplos (cont.)
Exemplo (Substitutos perfeitos (cont.))
4 ∗
Se x2 resultados
= 0, por coerentes
análise similar,
Serão esses com o senso comum? Tudo o que dizem é que, s
dois bens são substitutos perfeitos, o consumidor
a p1 comprará o que for mais barato. E, s
ambos tiverem o mesmo preço, o consumidor ≥ não. se importará entre comprar um o
b p2
outro.

FIGURA 5.5 Escolha ótima com substitutos


Figura: perfeitos. Se os bens forem
Varian (livro)
substitutos perfeitos, a escolha ótima se situará, em geral, na fronteira.
Exemplos (cont.)

x2

w
p2

a p1
b < p2

B(p, w )
a p1
b > p2
0 w x1
p1
Exemplos (cont.)
Exemplo (Substitutos perfeitos (cont.))
5 É possível checar que as condição necessárias acima
caracterizam a solução.

p1
0,

 se ba < p2
h i
x1∗ = qualquer valor em 0, pw1 , se ba = p1
p2

w , p1
se a >

p1 b p2 .

p1 ∗
O valor ótimo de x2∗ será w − p2 x1 .

Intuição para o caso a/b > p1 /p2


A TMS excede em valor absoluto o custo de oportunidade de
consumir mais do bem 1 em termos do bem 2. Para ∆x1 = 1
perdemos ∆x2 = −p p1
p2 . Logo, ∆u = a − b p2 > 0.
1
Exemplos (cont.)

Exemplo (Complementares perfeitos )


Suponha que u(x) = min{ax1 , bx2 }. Queremos resolver:

max min{ax1 , bx2 }


x∈RN
+

s.a. p1 x1 + p2 x2 ≤ w .

Suponha que a, b, p1 , p2 , w > 0.


1 A utilidade é “crescente” no sentido de que x1 ≥ y1 e x2 ≥ y2
com x ̸= y implicam que u(x) > u(y ). Logo, em qualquer
solução p1 x1 + p2 x2 = w .
2 Se ax1 > bx2 então x não resolve o problema. De fato,
podemos escolher ∆x de modo que u(x + ∆x) > u(x).
Exemplos (cont.)
x2

w x1 b
p2 x2 = a

B(p, w )

0 w x1
p1
Exemplos (cont.)

Exemplo (Complementares perfeitos (cont.) )


Escolha ∆x1 negativo tal que

ax1 − b(x2 + ∆x2 )


∆x1 > −
a
p1
∆x2 = − ∆x1 .
p2
Basta tomar
ax1 − bx2
|∆x1 | < .
1 + b pp12

3 Argumento similar mostra que não podemos ter ax1 < bx2 na
solução.
Exemplos (cont.)

Exemplo (Complementares perfeitos (cont.) )


4 A única solução é encontrada resolvendo-se o sistema:

ax1 − bx2 = 0
p1 x1 + p2 x2 = w ,

o que fornece
bw
x1∗ =
p1 b + p2 a
aw
x2∗ =
p1 b + p2 a
Solução do problema com derivada
Ideia: quando a função de utilidade for derivável, podemos
tentar solucionar Pu usando as condições de primeira ordem
(CPO). Elas permitem fazer um “cálculo marginal” de
custo-benefício para identificar a cesta ótima.

Benefício

Custo

0 escolha ótima
Solução do problema com derivada (cont.)

Exemplo (Análise com utilidade quase-linear)


Suponha que

u(x1 , x2 ) = v (x1 ) + x2 ,

onde x1 é o bem sob análise e x2 e visto como o “troco” após pagar


pelo bem 1. Suponha que p1 = 10, p2 = 1 (preço do dinheiro), e
w = 700. Note que

∆u = ∆v (x1 ) + ∆x2 .

Compare as combinações possíveis na tabela abaixo, onde


indicamos a variação de v frente a ∆x1 = 1.
Solução do problema com derivada (cont.)

Quantidade (x1 ) Utilidade “Marginal” (∆v (x1 ))


0 100
5 90
10 80
20 60
30 40
40 20
45 10
50 0
55 -10
60 -20
65 -30
70 -40
Solução do problema com derivada (cont.)

Exemplo (Análise com utilidade quase-linear (cont.))


Para cada ∆x1 = 1 podemos computar ∆u levando em conta a
tabela acima e o fato de ∆x2 = −10∆x1 . A escolha será

x1∗ = 45
x2∗ = 700 − 10 · 45 = 250.

Por quê?

Em x1 = 30 : ∆x1 = 1 ⇒ ∆v = 40, ∆x2 = −10


Em x1 = 45 : ∆x1 = 1 ⇒ ∆v = 10, ∆x2 = −10
Em x1 = 50 : ∆x1 = 1 ⇒ ∆v = 0, ∆x2 = −10.

Note que no ótimo ∆v (x1∗ ) = p1 .


Solução do problema com derivada (cont.)
Solução com o Lagrangiano
Se soubermos de antemão que teremos a restrição orçamentária
com igualdade na solução, podemos resolver

max u(x1 , x2 )
x1 ,x2

s.a. p1 x1 + p2 x2 = w .

usando o Lagrangiano e as CPO dele:

L = u(x1 , x2 )+λ(w − p1 x1 − p2 x2 )
∂u(x)
− λp1 = 0
∂x1
∂u(x)
− λp2 = 0
∂x2
p1 x1 + p2 x2 = w .
Solução do problema com derivada (cont.)

Graficamente
Utilidade marginal e preços são proporcionais.

x2

∇u

0 x1
Referências

H. Varian
Microeconomia – uma abordagem moderna
Atlas, 9a ed, 2015.
Capítulos 4, 5.
M. J. Osborne, A. Rubinstein
Models in Microeconomic Theory
Open Book Publishers, 2nd ed, 2023.
Capítulo 5.
H. Varian
Microeconomic Analysis
W.W. Norton, 3rd ed, 1992.
Capítulo 7.

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