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Aula 1

Microeconomia 1 – UnB (graduação)

Alternativas e Restrições

2023/2
Consumidor

Como modelar e (talvez) prever escolhas feitas por uma


pessoa?

Opções Escolha
Consumidor (cont.)
Elementos importantes
1 Conjunto de todas as alternativas possíveis. Notação: X .
2 Conjunto de alternativas factíveis.

Exemplo (Caso típico do curso)


Consumo possível de dois bens perfeitamente divisíveis. A
quantidade dos bens 1 e 2 são representadas pela lista

x = (x1 , x2 )
= (consumo do bem 1, consumo do bem 2).

É razoável supor que

X = R2+ = {(x1 , x2 ) : xi ∈ R, xi ≥ 0, i = 1, 2}.

O que seria factível?


Consumidor (cont.)

Definição (Conjunto de alternativas)


Qualquer conjunto X que represente todas as alternativas
imagináveis que podem vir a ser objetos de deliberação e escolha.
No caso concreto onde o consumidor escolhe entre cestas de N
mercadorias perfeitamente divisíveis, teremos

X = RN
+ = {(x1 , . . . , xN ) : xi ∈ R, xi ≥ 0, i = 1, . . . , N},

que é o primeiro quadrante do espaço euclidiano.

(Ir)Realismo de se considerar X muito grande


O conjunto X é uma premissa do modelo. Ele também independe
da viabilidade física de certas alternativas, e pode conter uma cesta
com, por exemplo, 10100 toneladas de banana.
Consumidor (cont.)

Cuidado: as unidades de medida


Cada componente i do vetor de quantidades (x1 , . . . , xN ) refere-se
a um bem. Cada bem i refere-se a uma mercadoria, que pode ter
as características mais complicadas. Por exemplo:
1 xi = kilos de banana hoje.
2 xi = kilos de maçã verde com pintas amarelas hoje.
3 xi = toneladas de feijão entregues em 2025.
4 xi = 500 gramas de pão por semana até o fim do mês.
A restrição mais forte sendo feita é de que:

xi ≥ 0 : não há descarte (pode ser relaxado).


xi ∈ R : bem perfeitamente divisível (introduz complicações se
relaxado).
Consumidor (cont.)

Definição (Conjunto de alternativas factíveis)


Dado um conjunto de alternativas X , é qualquer conjunto A ⊆ X
tal que o indivíduo tem a oportunidade de escolher (no sentido de
possuir) qualquer x ∈ A. No caso concreto em que X = RN +, e a
pessoa escolhe entre cestas de N bens, em uma economia de
mercado um conjunto A típico é aquele onde

x ∈ A ⇔ Gasto com x ≤ Recursos disponíveis.

Exemplo (Casos extremos)


1 Indivíduo sem recursos: A = ∅.
2 Indivíduo com recursos “ilimitados”: A = X .
Consumidor (cont.)

Outro elemento importante consiste na modelagem das


escolhas do consumidor. Existem várias possibilidades a
depender do que é mais útil.
1 Preferências: forma clássica que diz como a pessoa compara
alternativas em X .
2 Utilidade: a pessoa age como se tivesse uma função objetivo a
ser maximizada.
3 Funções de escolha: dados problemas de escolha, identificados
com conjuntos factíveis A ⊆ X , dizemos que alternativas
podem ser escolhidas.
4 Escolha aleatória: observamos as frequências com que escolhas
são feitas, e por isso o objeto de análise são probabilidades de
escolha de cada x de um conjunto factível A ⊆ X .
5 Inúmeras outras.
O consumidor no mercado
Ideia: indivíduo escolhe uma cesta de bens (mercadorias) entre
o que é factível. Em geral, a factibilidade de uma cesta x de
bens pode ser escrita como

Gasto para comprar x ≤ Dinheiro disponível para pagar.

São as cestas no conjunto orçamentário da pessoa.

Definição (Conjunto orçamentário com dois bens)


Dada a renda w do indivíduo, e o preço p1 e p2 do indivíduo, as
cestas de consumo factíveis dos dois bens são aquelas no conjunto
orçamentário

B(p, w ) = {x ∈ R2+ : p1 x + p2 x2 ≤ w },

sendo p = (p1 , p2 ) o vetor de preços.


O consumidor no mercado (cont.)
Atenção: novamente as unidades de medida
Quando introduzimos a renda w , ela está denominada em unidades
monetárias, designadas genericamente por $. Independente do
contexto, será o total de recursos disponíveis em um momento
no tempo. Ou seja, representamos um “fluxo” em dado momento.
1 Quando a temporalidade não está especificada: p1 = $/bem 1,
p2 = $/bem 2 e w = $, e temos:
unidades do bem: x1
$ z }| { $
$= × bem 1 + × bem 2 ≤ w = $.
|bem
{z 1} bem 2
preço do bem: p1

2 Quando a temporalidade está explícita, por exemplo, tudo é


$ quantidade de i
mensal, teríamos pi expresso em bem i , xi = ms ,e
também w = no $mês .
O consumidor no mercado (cont.)
Graficamente quando p1 , p2 , w > 0:
x2

w
p2

B(p, w )

0 w x1
p1
O consumidor no mercado (cont.)

Definição (Conjunto orçamentário com N bens)


Analogamente ao caso com dois bens, o conjunto orçamentário
com N bens corresponde às cestas x = (x1 , . . . , xN ) cujo gasto
dado o vetor de preços p = (p1 , . . . , pN ) não excede a renda w do
indivíduo. Ou seja,

B(p, w ) = {x ∈ RN : p1 x1 + · · · + pN xN ≤ w , xi ≥ 0, i = 1, . . . , N}.

Exemplo (N = 3)
No caso de 3 mercadorias, com preços p1 = p2 = p3 = 1 e renda
w = 2, faça o gráfico do conjunto orçamentário
B(p, w ) = {x ∈ R3 : x1 + x2 + x3 ≤ 2, xi ≥ 0, i = 1, 2, 3}.
O consumidor no mercado (cont.)

x3

(0, 0, 2)

(2, 0, 0) (0, 2, 0) x2
x1
O consumidor no mercado (cont.)

Definição (Linha orçamentária quando com dois bens)


A linha orçamentário é a parte do conjunto orçamentário onde a
renda do indivíduo é totalmente usada para o consumo dos bens
modelados. Ou seja, são os pontos x ∈ B(p, w ) com

p1 x1 + p2 x2 = w ,

ou seja, para p2 ̸= 0,
w p1
x2 = − x1 .
p2 p2
|{z}
inclinação
O consumidor no mercado (cont.)

Interpretação da inclinação da linha orçamentária


Como preços e renda são dados, qualquer variação no consumo de
um dos bens leva uma variação no consumo do outro bem a fim de
a cesta permanecer factível. Dados (x1 , x2 ) na linha orçamentária e
variações ∆x1 e ∆x2 ,

p1 (x1 + ∆x1 ) + p2 (x2 + ∆x2 ) ≤ w ⇔ p1 ∆x1 + p2 ∆x2 ≤ 0.

Ou seja, em termos líquidos a nova cesta x + ∆x não acrescenta


gasto. Por isso, se ∆x1 = 1, então a perda do consumo do bem 2 é
p1
∆x2 ≤ − .
p2

A inclinação da linha orçamentária é o custo de oportunidade


de consumir o bem 1 em termos do bem 2.
O consumidor no mercado (cont.)

Observação (Orçamento em termos reais)


Dividindo o dispêndio e a renda pelo preço p2 do bem 2, temos
p1 w
x1 + x2 ≤ ,
p2 p2
ou seja,
consumo do bem 2 sacrificado
em favor do bem 1
z }| {
w p1
x2 ≤ − x1 .
p2 p2
|{z}
renda real em
termos do bem 2
O consumidor no mercado (cont.)

Como o sinal e a magnitude dos preços e renda afetam o


conjunto orçamentário B(p, w )?

B(p, w ) p1 p2 w Interpretação
Nenhuma
R2+ 0 0 0 ou +
restrição
Sem renda
{(0, 0)} + + 0
nenhum consumo

∅ 0 ou + 0 ou + − Renda negativa?
Consumo ilimitado
R+ × [0, w /p2 ] 0 + +
do bem 1
O consumidor no mercado (cont.)

1. Variação na renda: ∆w > 0.

x2
w +∆w
p2

w
p2

0 w w +∆w x1
p1 p1
O consumidor no mercado (cont.)

2. Variação no preço do bem 1: ∆p1 > 0.

x2
w
p2

0 w w x1
p1 +∆p1 p1
O consumidor no mercado (cont.)

3. Variação % idêntica nos preços de (100 · α)%, sendo α > 0:

∆p1 = αp1
∆p2 = αp2 .

Logo, o novo orçamento é


 
w
B(p + ∆p, w ) = x ∈ R2+ : p1 x1 + p2 x2 = .
1+α

Temos o mesmo efeito de ∆w < 0.


O consumidor no mercado (cont.)

4. Variação % idêntica em tudo


∆p1 ∆p2 ∆w
= = .
p1 p2 w

Isso equivale a multiplicar preços e renda por 1 + α, onde α


expressa a variação percentual comum. Por isso, o orçamento
não se altera (inexiste ilusão monetária):

(1 + α)p1 x1 + (1 + α)p2 x2 ≤ (1 + α)w ⇔ p1 x1 + p2 x2 ≤ w .


O consumidor no mercado (cont.)

Uma alteração comum no conjunto orçamentário: impostos.


1 Ad-valorem: (1 + τ )p1 x1 + p2 x2 = w .
2 Quantidade: (p1 + τ )x1 + p2 x2 = w .
3 Lump-sum: p1 x1 + p2 x2 + T = w .
4 Renda: p1 x1 + p2 x2 = (1 − τ )w .

Em cada um dos casos temos uma variação de preço ou renda.

Gráfico?
O consumidor no mercado (cont.)
Outra alteração em B(p, w ): racionamento.

B(p, w ) = {x ∈ R2+ : p1 x1 + p2 x2 ≤ w , x1 ≤ x̄1 }

x2
w
p2

0 x̄1 w x1
p1
O consumidor no mercado (cont.)
Mais uma alteração: preço variando com quantidade.
• Subsídio para consumo de baixa renda.
• Tarifa de energia variando com total consumido.

Exemplo
Considere w = 20, p2 = 1, e o preço unitário do bem 1 depende da
unidade consumida
(
1, 0 ≤ x1 ≤ 10
p1 (x1 ) =
2, 10 < x1 .

Linha orçamentária:
Até x1 = 10: x1 + x2 = 20.
A partir de x1 = 10: 10 + 2(x1 − 10) + x2 = 20.
O consumidor no mercado (cont.)

O exemplo anterior graficamente.

x2

20

0 10 15 x1
Referências

H. Varian
Microeconomia – uma abordagem moderna
Atlas, 9a ed, 2015.
Capítulo 2.
G. Debreu
Theory of Value
Wiley & Sons, 1959.
Capítulo 2.

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