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Teoria Microeconômica I

LISTA IV - GABARITO

Professora: Valéria Pero


Monitor: Gabriel Neto Instituto de Economia - UFRJ

I) Considere uma economia de trocas com dois agentes, A e B, e dois bens, x e y. O agente
A possui 10 unidades do bem x e 1 do bem y, enquanto o agente B possui 5 unidades do bem
x e 4 do bem y. A função de utilidade do agente A é U (x, y) = x2 + ln(y) e a do agente B é
V (x, y) = 4x + 2y . Suponha que a função de bem-estar social seja dada por W (U, V ) = 2U + V .
a) Qual a alocação que maximiza o bem-estar dessa economia?
Dados do enunciado:
WA = (10, 1) − − > U (x, y) = x2 + ln(y)
WB = (5, 4) − − > V (x, y) = 4x + 2y
W (U, V ) = 2U + V
Como sabemos: XA + XB = WxA + WBx e YA + YB = WyA + WBy
Logo, temos:
XA + XB = 10 + 5 − − > XB = 15 − XA
YA + YB = 1 + 4 − − > YB = 5 − Y A
Função de bem-estar inicial: W (U, V ) = 2(x2A + ln(yA )) + (4xB + 2yB )
2
Função de bem-estar após as substituições: W (U, V ) = 2XA + 2ln(yA ) + 4(15 − xA ) + 2(5 − yA )
Para achar as demandas pelo bem X:
∂W
= 4xA − 4 = 0
∂xA
4xA = 4
xA = 1
xB = 15 − 1 = 14

Para achar as demandas pelo bem Y:


∂W 2
= −2=0
∂yA yA
2
=2
yA
yA = 1
yB = 4
(xA , xB ) = (1, 14)
(yA , yB ) = (1, 4)

b) O máximo de bem-estar social é uma alocação justa?


Para uma alocação ser justa, esta precisa ser eficiente no sentido de Pareto e equitativa - ou seja, não
existir inveja entre os indíviduos.
De antemão, sabemos que é um ponto eficiente, pois é uma alocação maximizadora. Devemos verificar se
ocorre inveja entre os indivíduos.

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O indivíduo A com sua própria cesta de bens: U (xA , yA ) = x2A + ln(yA ) = 12 + ln(1) = 1
O indivíduo A com a cesta de bens do indivíduo B: U (xA , yA ) = x2A + ln(yA ) = 142 + ln(4) ≈ 197, 39
Como ele prefere a alocação do outro indivíduo, há inveja, portanto a alocação de máximo bem-estar
social não é equitativa, tampouco justa.

c) Os dois agentes preferem a alocação que corresponde ao máximo de bem-estar social à


alocação inicial? Disserte sobre o resultado.
Indivíduo A com alocação inicial: U (xA , yA ) = x2A + ln(yA ) = 102 + ln(1) = 100
O indivíduo A com alocação final: U (xA , yA ) = x2A + ln(yA ) = 12 + ln(1) = 1
O indivíduo B com alocação inicial: V (xB , yB ) = 4xB + 2yB = 4.5 + 2.4 = 28
O indivíduo B com alocação final: V (xB , yB ) = 4xB + 2yB = 4.14 + 2.4 = 64
Como verificado, apenas o indivíduo B prefere a alocação que maximiza o bem-estar social.

II) Sobre Bem-estar, responda as questões abaixo: (1,5 ponto)


a) Toda alocação de bem-estar máximo tem que ser, necessariamente, uma alocação eficiente
no sentido de Pareto?
Suponhamos que não fosse. Então haveria alguma outra alocação factível que daria a todos uma utilidade
ao menos tão grande quanto essa, e a alguém uma utilidade estritamente maior. Mas a função de bem-estar
é uma função crescente da utilidade de cada agente. Portanto, essa nova alocação deveria ter um bem-estar
mais alto, o que contradiz o pressuposto de que tínhamos originalmente um bem-estar ótimo.

b) O segundo teorema do bem-estar diz que todo equilíbrio de Walras é Pareto-eficiente.


Falso. Precisamos conhecer o formato da curva de preferências dos agentes. O Segundo Teorema da Teoria
Econômica de Bem-Estar afirma que, desde que as preferências sejam convexas, toda alocação efi ciente no
sentido de Pareto pode ser sustentada como um equilíbrio competitivo.
c) Toda alocação que maximiza o bem-estar social é uma alocação igualitária?
Não necessariamente. Suponha uma alocação igualitária entre indivíduos com utilidades distintas. Logo
eles realizarão trocas para um ganho mútuo de satisfação, fazendo com que a alocação igualitária inicial não
seja eficiente no sentido de Pareto.

III) Considere a produção de dois bens, x e y, por duas firmas. Suas respectivas funções de
custo total e receita total são dadas por:(2,5 pontos)
Firma 1: CT (x) = 5x3

2
RT (x) = 60x
Firma 2: CT (y) = 30y 2 + 5x
RT (y) = 720y
a) Alguma das firmas gera externalidades de produção? Justifique sua resposta.
É possível identificar uma externalidade negativa de produção causada pela firma 1 sobre a firma 2.
Perceba que conforme aumenta a produção de x pela firma 1, o custo que a firma 2 terá de arcar para
produzir y também vai aumentar.
b) Qual será a produção, de ambos os bens, em mercados privados?
Em mercados privados:
Firma 1:
π = RT − CT
π = 60x − 5x3
∂π
= 60 − 15x2 = 0
∂x
x=2

Firma 2:
π = RT − CT
π = 720y − 30y 2 − 5x
∂π
= 720 − 60y = 0
∂y
y = 12
c) Caso a produção seja internalizada, quais serão as novas quantidades produzidas? Este
resultado é condizente com a correção de externalidades?
No caso de internalização, teremos uma função lucro única:
π = RT − CT
π = 60x + 720y − 5x3 − 30y 2 − 5x
∂π
= 60 − 15x2 − 5 = 0
∂x p
x = 3, 67 ≈ 1, 91
∂π
= 720 − 60y = 0
∂y
y = 12
Podemos afirmar que o resultado é condizente, pois na internalização a quantidade produzida da exter-
nalidade negativa é menor do que nos mercados privados.
IV) Marque Verdadeiro ou Falso e justifique sua resposta.(1,5 ponto)
a) A distorção causada pelas externalidades de produção ocorre porque as empresas de-
terminam seu nível de produção igualando o custo marginal privado de produção à receita
marginal privada de produção, desconsiderando o custo social de produção.
Verdadeira. Na presença de externalidades, o custo privado (que resulta no equilíbrio competitivo) é
sempre diferente do custo social. Assim, há distorções na alocação socialmente eficiente.
b) Em mercados com externalidades, se os direitos de propriedade são atribuídos sem am-
biguidade e se as partes podem negociar sem custos, a distribuição dos direitos de propriedade
não tem quaisquer consequências distributivas.

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Alternativa falsa. Para preferências quase lineares podemos afirmar que, em mercados com externalidades,
se os direitos de propriedade são atribuídos sem ambiguidade e se as partes podem negociar sem custos, um
Equilíbrio Eficiente de Pareto pode ser logrado via mercado. Mas há consequência distributiva com relação
à externalidade. Seu nível dependerá de como os direitos de propriedades foram atribuídos.
c) Na presença de externalidades positivas na produção, o mercado competitivo oferece uma
quantidade maior que a socialmente ótima de bem em questão.
Alternativa falsa. Em mercados competitivos, a quantidade (de externalidade positiva) oferecida é menor
que a socialmente ótima. Isso ocorre porque a quantidade oferecida é tal que o valor do benefício social
marginal é maior do que o benefício privado marginal.

V) Com relação à teoria dos bens públicos, julgue as afirmações: (1,5 ponto)
a) Um bem público é fornecido em quantidades diferentes conforme a dotação dos indivíduos.
Alternativa falsa. A provisão de um bem público não depende do quantidade de dotação dos indivíduos.
Por definição de bem público: "um bem que tem de ser fornecido na mesma quantidade para todos os
consumidores envolvidos". Cada cidadão pode avaliá-lo de um modo diferente – uns podem querer mais,
outros, menos – mas todos recebem a mesma quantidade.
b) Se um bem público puder ser provido em quantidade continuamente variável, então, para
que sua provisão seja eficiente, é necessário que a média dos benefícios marginais de todos os
usuários se iguale ao custo marginal de produção do bem.
Alternativa falsa.
Condição ótima: soma dos valores absolutos das taxas marginais de substituição entre o bem privado e
público dos dois consumidores se iguala ao custo marginal de prover uma unidade extra do bem público:
n=∞
X
T M gS = CM g
i=1
Assim, é a soma e não a média dos benefícios marginais que se iguala ao custo marginal de produção do
bem.
c) Como os bens públicos são não de uso exclusivo, a presença de "caronas"geralmente faz
com que mercados competitivos deixem de prover quantidades eficientes desses bens.
Alternativa verdadeira. A possibilidade de cada agente mentir sobre o seu preço de reserva (para pegar
carona) faz com que não haja provimento do bem, mesmo a condição necessária sendo satisfeita (r1+r2 ≥ C).
Varian: "(...) a atitude de deixar a tarefa para o outro fazer pode ser ótima do ponto de vista individual,
mas é ineficiente no sentido de Pareto do ponto de vista da sociedade como um todo".

VI) Considere uma cidade com 400 habitantes, sendo que 100 pessoas vivem no centro e
300 no entorno. O prefeito está pensando em construir uma praça para a toda a população
cidade. Suponha que a utilidade dos moradores do centro seja dada por U (X, S) = X + ln(S)
e que a utilidade dos moradores do entorno seja dada por U (X, S) = X + 2ln(s); onde X =
consumo de um bem privado e S = o tamanho da praça. Considere ainda que o custo total
para a construção da praça é de 2000S. Qual será o tamanho da praça que é Pareto-eficiente?
(1,0 ponto)
Dados do enunciado:
100 habitantes do centro e 300 habitantes do entorno da cidade
Utilidade genérica dos habitantes do centro: U (X, S) = X + ln(S)
Utilidade genérica dos habitantes do entorno: U (X, S) = X + 2ln(S)
CT (S) = 2000S
A condição para o Equilíbrio eficiente de Pareto é tal, que:
n
X PS
T M gS = CM g =
i=1
Px

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TMS dos habitantes do centro:
1
U M Gs 1
= S =
U M Gx 1 S
TMS dos habitantes do entorno:
2
U M Gs 2
= S =
U M Gx 1 S
∂CT
CMG: = 2000
∂S
Na condição de otimização:
1 2
100. + 300. = 2000
S S
700
= 2000
S
7
S= = 0, 35
20

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