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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
ECO 02277 TURMA A
TEORIA MICROECONÔMICA I
PROFS. MARCELO S. PORTUGAL e GABRIEL P. TORRES
1º PROVA - 2012/01
RESOLUÇÃO

1. Considere a curva de indiferença dada por

onde: x e y são dois bens;


é o nível de utilidade.
Obtenha a função de utilidade referente a essa curva de indiferença e as
quantidades ótimas consumidas quando os preços dos dois bens são iguais a 5 reais e a
renda é de 300 reais (1,5 ponto).
RESPOSTA 1:
Temos que os bens são x e y e o nível da curva de indiferença é . Então,
precisamos obter em função de x e y, e então deixar o nível variar. Ou seja:

(perceba-se que se está apenas re-escalonando a função,


multiplicando-a por (-1/4))
(aqui permitimos que ela varie).
Agora é possível resolver o problema de maximização. O Lagrangeano é dado
por:

(I)
(II)
(III)
De (I) e (II), e após substituindo em (III) temos:

2. Considere a seguinte função de utilidade:

i) Obtenha as funções de demanda pelos bens x e y (1,0 ponto);


ii) Para essas curvas de demanda, calcule as elasticidades renda e preço (1,0
ponto);
iii) Qual o valor de para que as demandas obtidas no item (i) sejam similares
àquelas geradas por uma função de utilidade tipo Cobb-Douglas? (0,5 ponto).

RESPOSTA 2:
i) Solucionando o problema de maximização temos:

(I)

(II)
(III)
De (I) e (II), e após substituindo em (III) temos:

(IV)

ii) Como as demandas são simétricas, precisamos calcular as elasticidades preço


e renda para apenas um deles, e obter a outra pela simetria. Assim:

iii) Temos que uma função de demanda obtida de uma função de utilidade Cobb-
Douglas é dada por (V):
(V)
Então, por (IV) em (i), fazendo temos:

Que é uma demanda oriunda de uma função de utilidade Cobb-Douglas quando


.

3. Seja um indivíduo com função de utilidade von Neumann-Morgenstern dada


por:

i) Suponha que a riqueza atual desse indivíduo seja 100.000 reais, e que ele
tenha um veículo no valor de 20.000 reais. Além disso, suponha que (a) a probabilidade
do evento "ter veículo roubado em 1 ano" seja de 0,2, e que (b) o preço de contratar um
seguro de automóveis seja 2.000 reais. Esse indivíduo contratará o seguro? (0,75 ponto)
ii) Qual o maior preço de seguro que esse indivíduo está disposto a pagar para
não correr o risco de ter seu veículo roubado em 1 ano? (1,25 ponto).
RESPOSTA 3:
i) Para verificar se o indivíduo contratará o seguro é necessário verificar qual a
sua utilidade esperada (ou expectativa de utilidade) em cada um dos cenários em
discussão, ou seja, "não contratar seguro" e "contratar seguro". Assim:
a) Não contrata seguro:

b) Contrata seguro

Logo, como esse indivíduo espera estar em melhor


situação quando contrata o seguro.

ii) Nesse caso queremos obter o preço reserva do indivíduo quanto ao serviço
"contratar seguro". O preço reserva é aquele ao qual o indivíduo fica indiferente entre
contratar ou não o seguro, fazendo-o em função de seu grau de aversão ao risco. Assim:

Assim, esse indivíduo estaria disposto a pagar até 4.664,44 reais pelo contrato de
seguro para não correr o risco de entrar na loteria "ter o veículo roubado em 1 ano".

4. Levando em conta seus conhecimentos de Teoria Microeconômica, discuta


(com alguma profundidade técnica) a aplicação de políticas sociais de combate à
pobreza que utilizam alternativamente a distribuição de bens ou de dinheiro para os
pobres. Considere ainda a possibilidade de subsidiar com recursos públicos o preço dos
bens consumidos em maior proporção pelos pobres. (2,0 pontos)
RESPOSTA 4:
Analisemos o seguinte gráfico sobre o problema de otimização de um indivíduo
passível de ser incluído no programa em discussão:

y
U2>U1>U0
m2 >m1 >m0
x2>x1>x0
y'0>y2>y1>y0
y'0 B
y2 C
y1 U2
D
U1
y0 A
U0

x0 x1 x2 m0/px m1/px m2/px x

1. No ponto A temos a escolha do indivíduo quando não está no programa. A


quantidade é aquela que a autoridade responsável deseja que ele consuma do bem y;
2. Quando a autoridade faz um programa de transferência de bens, ela doa ao
indivíduo , levando-o ao ponto B, com ;
3. Ocorre que esse ponto é sub-ótimo. O indivíduo poderia alcançar o nível se
tivesse renda , e alocá-la da forma que melhor desejasse. Assim, quando a autoridade
faz um programa de transferência de renda, o indivíduo é deslocado para o ponto C,
onde está num nível de utilidade melhor que B.
4. Outra forma de analisar o mesmo problema é considerar que B é um ponto
sub-ótimo quando o indivíduo tem renda para o mesmo nível de utilidade .
5. A diferença entre (3) e (4) é entre os objetivos do programa de transferência
de renda: se conferir aos indivíduos o nível ou se minimizar a despesa da autoridade
resposável.
6. Quanto aos impostos, quando os bens que são majoritariamente consumidos
pelos pobres são subsidiados há dois problemas: (i) há uma distorção nos preços
relativos, provocando uma alteração nos problemas de otimização de todos os demais
indivíduos (sejam beneficiários ou não do programa), e (ii) pessoas que não são
beneficiárias do programa também podem consumir os bens que estão sendo
subsidiados (pense em produtos básicos como leite e arroz, por exemplo), de forma que
o benefício não está alocado apenas no grupo desejado pela autoridade responsável.

5. Discuta (concordando ou discordando) as afirmações abaixo.


a) Para um bem normal o efeito renda positivo atua na direção contrária do efeito
substituição, que é sempre negativo. Exemplifique graficamente sua resposta supondo
uma elevação do preço do bem. (1,0 ponto)
b) O chamado “modelo de escolha racional” é apropriado para modelar o
comportamento de indivíduos “egoístas” ou “individualistas”, não sendo, portanto,
adequado para modelar o comportamento de agentes econômicos altruístas (1,0 ponto)
RESPOSTA 5:
a) Vejamos graficamente o que acontece quando há um aumento no preço de x,
para , quando um indivíduo estava sobre a curva de indiferença :
y
U0>U1
p'x>px
x0>x'0>x
B' 1

B
A

U0

U1
x1 x'0 m/px' x0 m/px x
ER ES

ET
1. No ponto A, com , a demanda do indivíduo é e a utilidade é ;
2. No ponto B, quando o preço sobe para , a renda real do indivíduo se
reduz, sua restrição orçamentária passa a ter intercepto horizontal , e o indivíduo
reduz sua demanda para e utilidade para : esse é o Efeito Total (ET);
3. No ponto B', o indivíduo foi compensado em renda (está de volta a ),
mas se manteve o aumento de preços ( ), para verificar o Efeito Substituição (ES): ele
reduz a demanda de para ;
4. Quando o indivíduo é descompensado e retorna ao ponto B ) ele reduz
a demanda ainda mais, para . Essa redução é o chamado Efeito Renda (ER).
5. Logo, percebe-se que para um bem normal o ER age no mesmo sentido do
ES. O aumento do preço do bem x reduz a sua demanda por tornar os demais bens
relativamente mais baratos e reduzir sua renda real.
b) Perceba que o chamado modelo de Escolha Racional apenas postula que
indivíduos fazem o que é melhor para si, em termos de bem-estar. Isso não significa que
ele não seja adequado para modelar indivíduos com fortes preferências sobre atitudes
consideradas altruístas (por exemplo, horas gastas com trabalho voluntário). Para um
indivíduo com tais preferências, horas de trabalho voluntário é um bem que lhe traz
bem-estar. Outro exemplo de comportamento aparentemente "irracional" é o do
matemático que resolveu a chamada Conjectura de Poincaré. Ele foi agraciado com a
Medalha Fields, um prêmio de US$ 1.000.000 e ainda recebeu uma oferta de trabalho
no MIT. Recusou todas as propostas para continuar ministrando aulas de Ensino Médio
na Rússia. É plausível que para a maioria dos indivíduos esse seja um comportamento
que lhes confira menos utilidade, mas não para esse matemático: ministrar aulas de
Ensino Médio na Rússia lhe dava mais bem-estar! Nesse sentido, ele agiu
racionalmente: optou pela escolha que lhe conferia mais utilidade, mais bem-estar.

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