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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA
PROF. MARCELO S. PORTUGAL e ELEONORA DE OLIVEIRA
I SEMESTRE 2019
1º PROVA

2
√ 𝑥1 + 𝑥2
1. Considere a seguinte função de utilidade 𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) = .
1+ 2√𝑥1 + 𝑥2

i. Encontre as demandas para os dois bens 𝑥1 e 𝑥2 . (1,5 ponto)


Solução: Vamos, inicialmente, aplicar uma transformação monotônica para que possamos
encontrar as demandas marshallianas com mais facilidade.
Defina U’ = ln(U)
2
𝑥 + 𝑥2
Assim, temos que U’ = ln(1+√ 2 1𝑥 )
√ 1 + 𝑥2

Por propriedade de logaritmo, temos que U’ = ln( 2√𝑥1 + 𝑥2 ) – ln(1 + 2√𝑥1 + 𝑥2 )

Sejam 𝑝1 e 𝑝2 os preços dos bens 𝑥1 e 𝑥2 , respectivamente. E seja 𝑏 a renda do indivíduo.


No ponto ótimo do consumo a Taxa Marginal de Substituição (TMgS) iguala-se à relação de
preços, isto é,
𝑝1
𝑇𝑀𝑔𝑆 =
𝑝2

Para calcular a 𝑇𝑀𝑔𝑆, basta que tomemos as derivadas parciais de U’ em relação a 𝑥1 e 𝑥2 , como
segue:
𝜕𝑈′ 1 1 1 1
= × − ×
𝜕𝑥1 𝑥2 + √𝑥1 2√𝑥1 1 + 𝑥2 + √𝑥1 2√𝑥1

1 1 1
= ( − )
2√𝑥1 𝑥2 + √𝑥1 1 + 𝑥2 + √𝑥1
−1 −1
= (2√𝑥1 )−1 [(𝑥2 + √𝑥1 ) − (1 + 𝑥2 + √𝑥1 ) ]

𝜕𝑈′ 1 1
= × 1 − ×1
𝜕𝑥2 𝑥2 + √𝑥1 1 + 𝑥2 + √𝑥1
−1 −1
= [(𝑥2 + √𝑥1 ) − (1 + 𝑥2 + √𝑥1 ) ]

𝜕𝑈′
𝜕𝑥1 (2√𝑥1 )−1 [(𝑥2 + √𝑥1 )−1 − (1 +𝑥2 + √𝑥1 )−1 ] 1
Portanto, 𝑇𝑀𝑔𝑠 = 𝜕𝑈′ = [(𝑥2 + √𝑥1 )−1 − (1 +𝑥2 + √𝑥1 )−1 ]
= (2√𝑥1 )−1 = 2√𝑥1
𝜕𝑥2

1 𝑝1
Igualando a 𝑇𝑀𝑔𝑆 à relação de preços, ficamos com 2 = e elevando ao quadrado ambos os
√ 𝑥1 𝑝2
termos da equação anterior, vale que:
𝑝22
𝑥1 = .
4𝑝12

Note que esta já é a demanda pelo bem 𝑥1 .


Para obtermos a demanda marshalliana pelo bem 𝑥2 , substituímos 𝑥1 na restrição orçamentária,
ficando com:

𝑝22
𝑝1 ( 2 ) + 𝑝2 𝑥2 = 𝑏
4𝑝1

E daí temos que:


4𝑏𝑝1 − 𝑝22
𝑥2 = .
4𝑝1𝑝2

ii. Defina a elasticidade renda da demanda de um bem e classifique os bens a partir do valor da
elasticidade renda. Calcule o valor da elasticidade renda da demanda do bem 1 obtida no item
anterior. (1,0 ponto)
Solução: A elasticidade renda da demanda indicada como a quantidade demandada por
determinado bem 𝑥𝑖 varia dada uma certa variação na renda b. Matematicamente, temos:
𝜕𝑥𝑖 𝑏
𝜀𝑥𝑖 ,𝑏 =
𝜕𝑏 𝑥𝑖
𝜕𝑥𝑖
Observe que, como 𝑥𝑖 , 𝑏 > 0 ∀ 𝑥𝑖 , 𝑏, então o sinal de 𝜀𝑥,𝑏 será determinado por .
𝜕𝑏

𝜕𝑥𝑖
Se 𝜀𝑥,𝑏 < 0 , isto é, se < 0, então 𝑥𝑖 é um bem inferior.
𝜕𝑏

𝜕𝑥𝑖
Se 0 ≤ 𝜀𝑥,𝑏 < 1 , isto é, se 0 ≤ < 1, então 𝑥𝑖 é um bem normal.
𝜕𝑏

𝜕𝑥𝑖
Se 𝜀𝑥,𝑏 ≥ 1 , isto é, se ≥ 1, então 𝑥𝑖 é um bem superior.
𝜕𝑏

𝑝22 𝜕𝑥1
No caso do bem 𝑥1 , temos 𝑥1 = . Portanto, = 0. Consequentemente, o bem é normal.
4𝑝12 𝜕𝑏

2
iii O que acontece com a quantidade demanda do bem 2 se 𝑝2 = 2√𝑏𝑝1 , onde b é a renda e p1 e
p2 são os preços dos bens? E com a quantidade demandada do bem 1? (0,5 ponto)
4𝑏𝑝1 − 𝑝22
Solução: A demanda por 𝑥2 é 𝑥2 = . Portanto, se 𝑝2 = 2 2√𝑏𝑝1, temos:
4𝑝1𝑝2

2 2
4𝑏𝑝1 − (2√𝑏𝑝1)
𝑥2 =
4𝑝1𝑝2

4𝑏𝑝1 − 4𝑏𝑝1
𝑥2 =
4𝑝1𝑝2

𝑥2 = 0

𝑝22 2
A demanda por 𝑥1 é 𝑥1 = . Logo, se 𝑝2 = 2√𝑏𝑝1 , temos:
4𝑝12

2 2
(2√𝑏𝑝 1)
𝑥1 = 2
4𝑝1

4𝑏𝑝1
𝑥1 =
4𝑝12

Portanto, segue que:


𝑏
𝑥1 =
𝑝1

Assim, se 𝑝2 = 2 2√𝑏𝑝1 o consumidor substitui toda a demanda de 𝑥2 por 𝑥1 e passa a alocar toda
sua renda 𝑏 para o consumo do bem 𝑥1 .
2. Classifique as afirmativas como verdadeiras ou falsa, justificando detalhadamente sua
escolha.

i. Em um modelo de escolha intertemporal de dois períodos (t = 0, 1) em que toda a renda é


ganha no presente (isso é, b0 > 0 e b1 = 0 ) é impossível obter-se um equilíbrio onde o consumo
presente seja superior a renda presente (C0 > b0). Ou seja, esse consumidor será,
necessariamente, um poupador no período 0. (1,5 ponto)

Solução: No caso geral, há três possibilidades de consumo no período 0:


𝑐0 = 𝑏0
𝑐0 < 𝑏0 (poupador) ou
𝑐0 > 𝑏0 (tomador de empréstimo).
O caso que estamos interessados é o terceiro. Assumimos que esse consumidor é racional: se
importa apenas o seu próprio consumo nos dois períodos. Portanto, ao final do período 1, ele não
necessita deixar nenhuma parcela da sua riqueza. A partir Restrição Orçamentária Intertemporal
temos a seguinte relação de equilíbrio:
𝑐1 = 𝑏1 + (𝑏0 − 𝑐0 )

𝑐1 = 0 + (𝑏0 − 𝑐0 )

Onde 𝑏0 − 𝑐0 < 0 ⇒ 𝑐1 < 0, o que é um absurdo pois o consumo não pode ser negativo.
MAS ATENÇÃO: o consumidor não será, necessariamente um poupador, pois é possível que
𝑐0 = 𝑏0 ⇒ 𝑐2 = 0. Portanto, Falsa.
ii. A curva de demanda de um bem inferior cujo efeito renda é igual ao efeito substituição tem
elasticidade preço zero (perfeitamente inelástica). (1,5 ponto)
Solução: Toda vez que o preço de um bem varia isso gera uma variação da quantidade
demandada que pode ser dividida em 2 partes. Uma parte da variação da quantidade demanda
está associada à mudança dos preços relativos (efeito substituição), pois quando o preço do bem
varia ele fica relativamente mais caro ou barato em relação aos outros bens. Outra parte dessa
variação está associada à mudança na renda real causada pela variação do preço (efeito renda)
no caso dos bens inferiores esses efeitos ocorrem em sentidos contrários. O efeito final sobre a
quantidade demandada vai depender da intensidade relativa dos efeitos renda e substituição. Na
maior parte dos bens inferiores o efeito substituição é maior que o efeito renda. No caso dos bens
de Giffen ocorre o contrário, com o efeito renda maior que o efeito substituição, o que gera uma
relação positiva entre preço e quantidade demandada. A afirmativa acima indica um caso em que
os efeitos são de mesma magnitude, logo a quantidade demanda não vai se alterar. A curva de
demanda será uma reta vertical em uma dada quantidade.
Sendo assim, o bem é perfeitamente inelástico e a afirmação é Verdadeira.
iii. Curvas de indiferença nunca se cruzam. Se isso ocorresse haveria uma violação do axioma de
transitividade de preferências. (1,0 ponto)
Solução: Sejam x, y e z três cestas de bens quaisquer.
Se o consumidor prefere x a y, escrevemos:
𝑥≻𝑦
Se o consumidor é indiferente entre x e y, escrevemos:
𝑥∼𝑦
Se a cesta x é ao menos tão boa quanto y (preferência fraca), escrevemos:
𝑥 ≿ 𝑦
De acordo com o axioma da transitividade:
𝑦 ≿ 𝑧𝑒𝑧 ≿ 𝑥⇒𝑦 ≿ 𝑥
Se duas curvas de indiferença se cruzassem haveria
um ponto z, que seria o ponto de intersecção entre elas, tal
que:
𝑦 ≿ 𝑧𝑒𝑧 ≿ 𝑥

Mas nesse caso: 𝑦 ≵ 𝑥


Por não saciedade x é preferível a y
Isso violaria o axioma da transitividade. Portanto,
Verdadeira.

𝑘
iv. Considere a função de demanda 𝑥 = 𝑝 onde p é o preço, x é a quantidade e k é uma
constante. Neste caso, para qualquer par x e p que satisfaça a função de demanda, a receita na
margem vai ser sempre zero e a elasticidade preço será igual a um. (1,5 ponto)
Solução: A elasticidade preço da demanda é dada pela equação:
𝛥𝑥/𝑥 𝑝 𝛥𝑥 𝑝 𝜕𝑥
𝐸𝑝𝑑 = − = − = −
𝛥𝑝/𝑝 𝑥 𝛥𝑝 𝑥 𝜕𝑝
Nesse caso:
𝑝 𝑘 𝑘 𝑘 𝑘𝑝
𝐸𝑝𝑑 = − (− 2 ) = 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑥 𝑝𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠: 𝐸𝑝𝑑 = =1
𝑥 𝑝 𝑥𝑝 𝑝 𝑝𝑘
A relação entre receita na margem e elasticidade preço da demanda é dada por:
1
𝑀𝑅 = 𝑃 (1 − ) = 𝑃(0) = 0
𝐸𝑝𝑑

Sendo assim, a receita na margem será sempre zero e a elasticidade preço da demanda é igual a
1. Verdadeira.
5
3 . (ANPEC - adaptada) Um indivíduo possui a seguinte função de utilidade: 𝑈 = 10 − (𝑊), em
que 𝑤 > 0 é o valo presente líquido de sua renda futura. São oferecidas a ele duas opções
profissionais. A primeira permite ao indivíduo optar por uma renda de w = 60 com certeza. A
1
segunda alternativa, por sua vez, dará w = 500 com probabilidade de e w = 50 com
3
2
probabilidade de 3.
Pede-se:

i. Indique se o indivíduo descrito é avesso, neutro ou propenso ao risco (0,5 ponto).

Solução: Para analisarmos se o indivíduo é avesso, neutro ou propenso ao risco é necessário


avaliar como o mesmo se comporta em termos utilidade do valor esperado da renda, 𝑈(𝐸(𝑤)), e
da utilidade esperada da renda, 𝐸(𝑈(𝑤)).
𝑑𝑈 𝑑²𝑈
Se 𝑈(𝐸(𝑤)) > 𝐸(𝑈(𝑤)) então 𝑑𝑤 > 0 𝑒 < 0 e o indivíduo é avesso ao risco.
𝑑𝑤²

𝑑𝑈 𝑑²𝑈
Se 𝑈(𝐸(𝑤)) = 𝐸(𝑈(𝑤)) então 𝑑𝑤 > 0 𝑒 = 0 e o indivíduo é neutro ao risco.
𝑑𝑤²

𝑑𝑈 𝑑²𝑈
Se 𝑈(𝐸(𝑤)) < 𝐸(𝑈(𝑤)) então 𝑑𝑤 > 0 𝑒 > 0 e o indivíduo é propenso ao risco.
𝑑𝑤²

𝑑𝑈 5 𝑑²𝑈 −10
Temos que 𝑑𝑤 = > 0. E = < 0. Portanto, o indivíduo é avesso ao risco.
𝑤2 𝑑𝑤² 𝑤3

ii. Determine o valor monetário 𝑤 que torna o indivíduo indiferente entre escolher a segunda
alternativa e receber 𝑤 com certeza. Interprete o valor 𝑤 encontrado. (1,0 ponto).

Solução: O equivalente de certeza (EC) é o valor monetário que torna o indivíduo indiferente entre
um valor sem risco e uma loteria (que é o caso da segunda opção de carreira profissional).

Portanto, o valor monetário w é o EC. Para calcularmos o EC, devemos primeiramente calcular a
utilidade esperada da loteria. Em seguida, igualamos o valor encontrado à função de utilidade
U(EC) = 𝐸(𝑈(𝑤)).

Fazendo os cálculos:

1 2
𝐸(𝑈(𝑤)) = 𝑈(500) + 𝑈(50)
3 3

1 5 2 5
= (10 − ( )) + (10 − ( ))
3 500 3 50

1 2
= (9,99) + (9,90)
3 3
= 9,93

5
Fazendo U(EC) = 𝐸(𝑈(𝑤)), temos: 10 − (𝐸𝐶) = 9,93

5
= 10 − 9,93
𝐸𝐶
𝐸𝐶 = 71,43.

Assim, o valor monetário w que torna o indivíduo indiferente entre escolher a segunda opção e
gahar w com certeza é w = 71,43.

Note que o valor de 71,43 é superior ao valor oferecido na primeira opção de carreira profissional,
que dá ao indivíduo w = 60 com probabilidade 1. Isso sugere que o indivíduo irá preferir a
segunda opção de carreira ao invés da primeira mesmo sendo avesso ao risco. Se procedermos
com os cálculos confirmaremos nossa intuição.

𝐸(𝑈(𝑤))𝑜𝑝çã𝑜 2 = 9,93 (𝑗á ℎ𝑎𝑣í𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜)

5
𝐸(𝑈(𝑤))𝑜𝑝çã𝑜 1 = 𝑈(60) = (10 − ( )) = 9,92.
60

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