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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL e LUANA P. BETTI
II SEMESTRE 2014
1º PROVA

1) Um indivíduo possui a função de utilidade ( ) {[ ] }, onde  é uma


constante com valores positivos. Considerando px, py e b como o preço do bem x,
preço do bem y e a renda total do indivíduo, respectivamente, todos maiores que
zero, responda:
a) Encontre a demanda marshalliana pelo bem . (2,0 pontos).
b) O bem x é um bem inferior? Mostre como você chegou a essa conclusão. (1,0
ponto).
Respostas

Item (a):

Max {[ ] }
s.a

é o mesmo que resolver o seguinte problema de maximização

Max
s.a

pois transformações monotônicas não alteram o ponto de ótimo.

Assim, montando o Lagrangeano:


( ) ( )
As condições de primeira ordem:
(1)
(2)
(3)
Dividindo-se (1) por (2):

√ (4)

Isolando-se x de (4) e substituindo em (3):

(√ ) √

Isolando-se y, temos

Função de Demanda pelo Bem y:



Item (b):
O bem inferior é aquele bem no qual sua demanda varia inversamente com a variação da renda do
indivíduo, ou seja, a demanda se reduz quando ocorre um aumento da renda. Para analisarmos
isso, deve-se calcular a derivada da função de demanda de x em relação à renda:

(1)

Por simetria, obtemos a função de demanda de x:


(2)

Como o denominador é sempre positivo, pois p i  0, portanto , sendo um bem normal.

2) João Pedro tem uma riqueza não nula e sua função de utilidade tipo von Neumann-
Morgenstern tem uma forma funcional ( ) , em que a e C são constantes
positivas e W é a riqueza. Este indivíduo é convidado a participar de um campeonato de
pôquer que triplica sua riqueza com probabilidade p e a reduz à terça parte com
probabilidade 1- p. Dadas essas informações, responda de forma detalhada:
a) João Pedro é avesso ou amante do risco? (1,0 ponto)
b) Qual deve ser o valor mínimo de p para que o João Pedro aceite participar da do
campeonato de pôquer? (1,0 ponto)
c) Considerando as respostas dos itens acima, agentes avessos ao risco participam de
loterias? (0,5 pontos)
Respostas

Item (a)
Para analisarmos a aversão ao risco do indivíduo, deve olhar a segunda derivada de sua utilidade:
( )
( ) ( )
( ) ( )
( ) ( )( )
Assim, como ( ) , João Pedro é avesso ao risco.

Item (b)
O valor mínimo para a participação do indivíduo na loteria é aquele que o deixa indiferente entre
participar ou não, ou seja: Utilidade de Não Participar da Loteria = Utilidade de Participar da
Loteria. Assim, temos

Utilidade de Não Participar da Loteria = (1)


Utilidade de Participar da Loteria = [ ( ) ] ( )[ ( ) ] (2)

Igualando-se (1) a (2), tem-se

= [ ( ) ] ( ) ( )
= ( ) ( ) ( )
=
=
=
( )= ( )
( )= ( )

( )
Probabilidade que deixa João Pedro indiferente em entrar ou não no campeonato.
( )
Para aceitar entrar na loteria a Utilidade de Não Participar da Loteria tem de ser menor do que a
( )
Utilidade de Participar da Loteria, assim: .
( )

Do enunciado, tem-se a informação que . Assim, atribuindo-se qualquer valor positivo a ,


encontra-se um valor de p. Assim, supondo , temos:

( )
ou
( )

Item (c)
Agentes avessos ao risco participam de loterias, desde que a utilidade esperada de participar da
loteria supere a utilidade esperada de não participar de loterias. No caso dos itens acima, isso
( )
ocorre quando . Isso ocorre, uma vez que fazem escolhas ótimas analisando os pay-
( )
offs que obterão. Ou seja, ser avesso ao risco, não implica não correr riscos.

2) A empresa Metta S.A. de consultoria resolveu elevar o salário hora de seus


empregados com o objetivo de impulsionar o número de horas trabalhadas de seu
corpo funcional. Contudo, nem todos os funcionários elevaram sua carga horária,
havendo casos de redução de número de horas trabalhadas. Com base em seus
conhecimentos em microeconomia, discuta os efeitos de na escolha ótima do
indivíduo da alocação das horas entre trabalho e lazer. (1,5 pontos)
Resposta:
Os indivíduos escolhem a alocação de seu tempo entre trabalho e lazer de forma a maximizar a
utilidade dado o nível de salário real. Ao valorizar o salário por hora, o indivíduo pode aumentar
ou reduzir as horas trabalhadas.
Caso o lazer seja considerado um bem normal, o impacto no número de horas de trabalho
ofertadas pelo indivíduo dependerá do efeito líquido dos efeitos substituição e do efeito renda. O
efeito substituição tende a aumentar o número de horas trabalhadas, pois a elevação do salário
torna o lazer mais caro, ou seja, o individuo perde um valor maior em termos de salários a cada
hora não trabalhada e consumida em lazer. Por outro lado, o efeito renda tende a reduzir as horas
trabalhadas, uma vez que o aumento de salário eleva o poder de compra do indivíduo, o qual pode
comprar mais horas de lazer. Posto isso, como esses dois efeitos atuam em direções opostas no
que tange a demanda por horas de lazer, o efeito total dependerá de qual efeito prevalecerá. Nos
casos onde o objetivo da empresa foi obtido, o efeito substituição é maior que o efeito renda. Já,
nos casos em que os trabalhadores reduziram a oferta de números de horas trabalhadas, a
magnitude do efeito renda foi maior que o efeito substituição.
Por outro lado, caso o lazer seja considerado um bem inferior, a curva de oferta de trabalho será
negativamente inclinada e uma variação positiva no salário real reduz as horas trabalhadas.
Graficamente, no gráfico a, o ES (movimento para o ponto S) se sobrepõe ao ER, e um salário
maior implica redução nas horas de lazer para o ponto H 1, e, assim, horas de trabalho crescem. No
gráfico b, o ER é mais forte do que o ES, e H cresce para H 1. Nesse caso as horas de trabalho vão
decrescer.
3) Comente as seguintes afirmativas, discordando ou concordando:

a) A utilidade de Izadora é dada por U(s,b)=Min(s,b), onde s e b são pares de


sapatos e bolsas respectivamente. Caso o preço das bolsas caia, então o Efeito
Renda é zero e o Efeito Total se iguala ao Efeito Substituição. (1,0 ponto)
Falsa.
Devido ao formato da curva da utilidade, percebe-se que os bens são complementares perfeitos,
ou seja, a utilidade só é atingida quando um par de sapatos é consumido conjuntamente com uma
bolsa. É o caso de curvas de indiferença em L, onde a alocação ótima ocorre na quina:

Dessa forma, a redução no preço das bolsas não acarreta efeito substituição entre pares de
sapatos e bolsas, apenas gerando o efeito renda. Portanto, o efeito total consistirá no efeito renda.

b) Supondo que a curva de demanda por cookies seja negativamente inclinada e


linear, a elasticidade-preço da demanda por cookies será constante. (1,0 ponto)
Falso.
A elasticidade preço da demanda de funções de demanda lineares não é constante: ela torna-se
mais elástica conforme o preço cresce.
A curva de demanda linear é representada por e, a elasticidade preço da demanda
por . Ao longo da demanda linear, a derivada é constante igual a b. Assim,
. Dessa forma, a elasticidade preço variará da seguinte forma:

Quando ,

Quando

Quando

Quando

Quando
Graficamente, temos:

c) Em um modelo de escolha intertemporal com dois períodos, a alocação ótima do


consumo ao longo do tempo ocorrerá quando a taxa marginal de substituição do
consumo no primeiro período pelo consumo no segundo período iguala-se a
divisão da taxa de preferência no tempo pela taxa de juros. (1,0 ponto)

Falso

O indivíduo escolherá a alocação de seu consumo de forma a maximizar a sua utilidade


intertemporal. No caso de dois períodos, temos que o indivíduo ganha renda apenas no primeiro
período, tem-se:

Em termos de valor presente:

Max U(C1)+ U(C2)


s.a C1+ C2 = b

( ) ( ) ( ) ( )
( ) (1)
( ) (2)
(3)

Dividindo-se (1) por (2), temos:

( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )

Ou seja, o indivíduo escolhe alocação de forma que a se iguala a taxa de juros


descontada pela a taxa de preferência pelo tempo, e não ao contrário como está no enunciado.
Dessa forma, quanto maior a taxa de juros, maior é valor futuro da poupança (ou o não consumo)
do presente e, portanto, maiores são as possibilidades de consumo no futuro. Dessa forma,
quanto maior é a taxa de juros, maior é o estímulo à poupança e ao consumo no futuro, em
detrimento do consumo no presente. Por outro lado, quanto maior é a taxa de impaciência (taxa
de preferência no tempo), maior é o desconto do consumo futuro e, portanto, menor é seu valor
presente. Portanto, quanto maior é a referida taxa, maior é o incentivo ao consumo no presente,
em detrimento do consumo no futuro.

d) Sejam três cestas de bens: A, B e C. Se, para um consumidor, temos as relações de


preferências tais que A B, A ~ C e C ~ B, então para este consumidor se aplica o
princípio de que duas curvas de indiferença não se cruzam. (1,0 ponto)
Falso.
Nesse caso, as curvas de indiferença se cruzam, invalidando o princípio de transitividade. Em
outras palavras, o indivíduo não faz escolhas de forma racional. Se a cesta A é estritamente
preferível a B e indiferente a cesta C, então a cesta C deveria ser preferível à cesta B e não
indiferente segundo o axioma da transitividade. Ou seja,A B, A ~ C, então C B. A única
forma a qual A B, A ~ C e C ~ B torna-se válida, é com o cruzamento das curvas de
indiferença como e na Figura 2.

Figura 1: A B, A ~ C, então C B Figura 2: A B, A ~ C e C ~ B

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